UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Defesa, conversão, vingança: a guerra justa contra ameríndios entre letrados e leis castelhanas (1492-1573) Fernanda Elias Zaccarelli Salgueiro Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em História. Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto de Moura Ribeiro Zeron São Paulo 2015 (versão corrigida) UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL Defesa, conversão, vingança: a guerra justa contra ameríndios entre letrados e leis castelhanas (1492-1573) Fernanda Elias Zaccarelli Salgueiro São Paulo 2015 RESUMO SALGUEIRO, Fernanda Elias Zaccarelli. Defesa, conversão, vingança: a guerra justa contra ameríndios entre letrados e leis castelhanas (1492- 1573). 2015. 315 páginas. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Nesta dissertação, partiu-se da herança da tradição cristã do direito de guerra justa a fim de compreender as modulações experimentadas pelo conceito quando de sua aplicação, na legislação castelhana, aos processos de conquista e colonização das Índias Ocidentais de 1492 a 1573. Tendo em conta a polêmica instaurada com a dúvida acerca da legitimidade da conquista, foram consideradas as posições de alguns dos mais influentes teólogos, juristas, conquistadores e administradores coloniais. Deu-se especial atenção ao pensamento de Francisco de Vitoria e Domingo de Soto, os maiores expoentes da Escola de Salamanca, em razão do debate historiográfico pendente na direção da coadunação entre a doctrina communis apresentada por eles quanto à guerra e as normas de Castela. Observou-se que, durante quase todo o período analisado, o teor da legislação pressupôs a inferioridade dos nativos, bem como uma interpretação teocrático-pontifical das bulas papais de 1493. O rol de causas disparadoras da guerra se mostrou variável, conforme o texto e a circunstância, abarcando imperativos de defesa, castigo, conversão, vingança, domínio e civilização. Palavras-chave: Guerra justa, ameríndios, Escola de Salamanca, legislação castelhana, século XVI ABSTRACT SALGUEIRO, Fernanda Elias Zaccarelli. Defense, conversion, revenge: the just war against Amerindians among letrados and Castilian laws (1492- 1573). 2015. 315 páginas. Master’s Thesis – Faculty of Philosophy, Letters and Human Sciences, University of Sao Paulo, Sao Paulo, 2015. In this thesis, the heritage of the Christian tradition of just war was considered in order to understand the modulation experienced by the concept upon its application, in Castilian legislation, to the processes of conquest and colonization of the West Indies from 1492 to 1573. Taking into account the controversy brought with the doubt concerning the legitimacy of the conquest, the positions of some of the most influential theologians, jurists, conquerors and colonial administrators were analyzed. Special attention was provided to the thought of Francisco de Vitoria and Domingo de Soto, the greatest exponents of the School of Salamanca, given the pending historiographical debate toward coadunition between their doctrina communis about war and the rules of Castile. It was observed that, during most of the period studied, the content of the legislation assumed the inferiority of the natives, as well as a theocratic- pontifical interpretation of the papal bulls of 1493. The list of triggering causes of war was variable, according to the text and the circumstance, covering defense, punishment, conversion, revenge, domination and civilization imperatives. Keywords: Just war, Amerindians, School of Salamanca, Castilian legislation, sixteenth century AGRADECIMENTOS Antes de tudo, agradeço a Carlos Alberto de Moura Ribeiro Zeron, meu orientador, por quem minha admiração só fez crescer, pelos muitos ensinamentos, conversas, trocas e apoio nos momentos mais difíceis. A Silvia Patuzzi e Janice Theodoro, da banca de qualificação, pelas sugestões e críticas que espero ter assimilado de forma positiva no texto. A Íris Kantor e Eduardo Natalino dos Santos pelo incentivo e pelas provocações, e também aos colegas do grupo de estudos de Metodologia da História, que contribuíram para a minha formação. A Leandro Karnal e Franklin Leopoldo e Silva pelos comentários críticos durante a banca de defesa. Agradeço à Capes pelo financiamento. Minha gratidão a Rômulo, Julia, Tábata, Rachel, Marininha, Ram e Larryson pelos momentos de partilha. A Juliana Brito devo, ademais, pela solidariedade, a Cristiano, por todo o apoio, e às amigas Paula Mikami e Natália Mello, sou grata, ainda, pela leitura atenta de longas partes deste texto e pelas sugestões. Um abraço aos(as) amigos(as) do Ativismo ABC, Liberta e Bloco Fluvial do Peixe Seco pelas experiências de vida. A meus avós Cira, Ida e Meco, a meus pais Zé, Su e Ju, a meus irmãos Rafa e Bia, à Maria, às primas Mainá e Mariá, e aos tios Nelson e Maga. A Mariana, cor dos dias e poesia do convívio. ÍNDICE 1. Introdução.....................................................................................................1 1.1. Panorama das “conquistas hispânicas”.......................................5 1.2. Breve revisão bibliográfica.........................................................23 1.3. Percurso da pesquisa................................................................36 2. Constituição da doutrina cristã da guerra justa: séculos XII a XV.......39 3. A guerra justa aplicada aos ameríndios: visões de letrados castelhanos no século XVI...........................................................................66 3.1. John Mair ......................................................................................67 3.2. Francisco de Vitoria ......................................................................72 3.3. Domingo de Soto ..........................................................................96 3.4. Palacios Rubios ..........................................................................107 3.5. Hernán Cortés .............................................................................117 3.6. Juan Ginés de Sepúlveda ...........................................................130 3.7. Bartolomé de las Casas ..............................................................144 3.8. Vasco de Quiroga .......................................................................151 3.9. Alonso Maldonado de Buendía ...................................................153 4. Guerra justa contra ameríndios na legislação castelhana (1492-1573) ..................................................................................................174 4.1. Os expedicionários ......................................................................174 4.2. O Conselho de Índias ..................................................................180 4.3. Flutuação de um conceito ...........................................................189 4.4. Síntese dos fundamentos e contornos do direito de guerra castelhano contra ameríndios (1492-1573).............................259 5. Conclusões ..............................................................................................273 Referências Bibliográficas..........................................................................277 Apêndice ......................................................................................................295 Anexo ...........................................................................................................310 LISTA DE DOCUMENTOS DO APÊNDICE E DO ANEXO Documentos do Apêndice Gráfico 1 – Formação da presidência do Conselho de Índias Gráfico 2 – Formação dos conselheiros de Índias Gráfico 3 – Origem dos acadêmicos da presidência do Conselho de Indias Gráfico 4 – Origem dos conselheiros acadêmicos do Conselho de Índias Tabela 1 – Formação e origem acadêmica dos presidentes do Conselho de Índias (séc. XVI) Tabela 2 - Formação e origem acadêmica dos conselheiros do Conselho de Índias (séc. XVI) Documento do Anexo Gráfico 1 – Importação total de metais preciosos na Espanha por períodos de cinco anos (1503-1660) LISTA DE ILUSTRAÇÕES Desenho Desenho 1 – As “mesquitas” dos mouros astecas (p. 120) Desenho 2 – Modelos de torres de igrejas de Toledo copiadas de minaretes árabes (p. 121) Fotos Foto 1 – Maquete do Recinto Cerimonial de México-Tenochtitlán (p. 122) Foto 2 – Detalhe da sede papal na Portada Rica (p. 183) Foto 3 – Detalhe de brasões da Portada Rica (p. 184) Foto 4 – Detalhe dos patronos da Universidade (p. 184) Foto 5 – Fachada da Universidade de Salamanca (p. 185) Mapas Mapa 1 – Rota de pontos de conquista entre 1514 e 1526 (p. 267) LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS AGI Archivo General de Indias, Sevilha. BNE Biblioteca Nacional de Espanha. CDD Colección documental del descobrimiento (1470-1506), organizada por Juan Pérez de Tudela, Madrid: Mapfre; Real Academía de Historia, 1994. 3 vols. CDHH Colección de documentos para la historia de la formación social de Hispanoamérica (1493-1810), organizada por Richard Konetzke, Madrid: CSIC, 1953. Utilizou-se apenas o volume I (1493-1592). CDHF Colección de varios documentos para la historia de la Florida y tierras adyacentes. Tomo I, Londres: 1857. CDHM Colección de documentos para la historia de México, publicada
Details
-
File Typepdf
-
Upload Time-
-
Content LanguagesEnglish
-
Upload UserAnonymous/Not logged-in
-
File Pages320 Page
-
File Size-