NUNO FILIPE DE ANDRADE CARDOSO
TEOREMAS DE DECOMPOSIÇÃO, DEGENERESCÊNCIA E ANULAMENTO EM CARACTERÍSTICA POSITIVA
CAMPINAS 2014
i ii UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica
NUNO FILIPE DE ANDRADE CARDOSO
TEOREMAS DE DECOMPOSIÇÃO, DEGENERESCÊNCIA E ANULAMENTO EM CARACTERÍSTICA POSITIVA
Dissertação apresentada ao Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Mestre em Matemática.
Orientador: Marcos Benevenuto Jardim
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO ALUNO NUNO FILIPE DE ANDRADE CARDOSO, E ORIENTADA PELO PROF. DR. MARCOS BENEVENUTO JARDIM.
Assinatura do Orientador
CAMPINAS 2014
iii Ficha catalográfica Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica Ana Regina Machado - CRB 8/5467
Cardoso, Nuno Filipe de Andrade, 1988- C179t CarTeoremas de decomposição, degenerescência e anulamento em característica positiva / Nuno Filipe de Andrade Cardoso. – Campinas, SP : [s.n.], 2014.
CarOrientador: Marcos Benevenuto Jardim. CarDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica.
Car1. Hodge, Teoria de. 2. Teoria de deformação (Matemática). 3. De Rham, Cohomologia de. 4. Witt, Vetores de. 5. Categorias derivadas (Matemática). I. Jardim, Marcos Benevenuto,1973-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: Decomposition, degeneration and vanishing theorems in positive characteristic Palavras-chave em inglês: Hodge theory Deformation theory (Mathematics) De Rham cohomology Witt vectors Derived categories (Mathematics) Área de concentração: Matemática Titulação: Mestre em Matemática Banca examinadora: Marcos Benevenuto Jardim [Orientador] Elizabeth Terezinha Gasparim Abdelmoubine Amar Henni Data de defesa: 24-07-2014 Programa de Pós-Graduação: Matemática
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Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) v vi ABSTRACT
The Hodge degeneration theorem and the Kodaira, Akizuki and Nakano’s vanishing theorem are of paramount importance in the theory of complex manifolds. Using Serre’s comparison theorem, both can be translated to the context of smooth projective schemes over a field of characteristic zero. For fields of positive characteristic, however, both fail to hold without additional hypotheses, and the first counterexamples were found by Mumford and Raynaud. Our goal in this dissertation is to present a theorem due to Deligne and Illusie that ensures the degeneration of the Hodge-de Rham spectral sequence and a version of the theorem of Kodaira, Akizuki and Nakano for certain smooth projective schemes over a perfect field of positive characteristic. We tried to keep the treatment as self-contained as possible. Keywords: Hodge Theory, Deformation Theory, De Rham Cohomology, Witt Vectors, Derived Categories.
RESUMO
Os teoremas de degenerescência de Hodge e de anulamento de Kodaira, Akizuki e Nakano são de suma importância na teoria de variedades complexas. Usando o teorema de comparação de Serre, ambos podem ser traduzidos para o contexto de esquemas projetivos e suaves sobre um corpo de característica zero. Para corpos de característica positiva, no entanto, os dois deixam de valer sem hipóteses adicionais, sendo que os primeiros contra-exemplos foram encontrados por Mumford e Raynaud. O objetivo desta dissertação é apresentar um teorema devido a Deligne e Illusie que assegura a degenerescência da seqüência espectral de Hodge-de Rham e uma versão do teorema de Kodaira, Akizuki e Nakano para certos esquemas projetivos e suaves sobre um corpo perfeito de característica positiva. Nos propusemos a dar um tratamento, na medida do possível, auto-suficiente. Palavras-chave: Teoria de Hodge, Teoria de Deformação, Cohomologia de de Rham, Vetores de Witt, Categorias Derivadas.
vii viii SUMÁRIO
Introdução...... 1
§ 1. Cálculo diferencial...... 5 1.1. Derivações e módulos de diferenciais...... 5 1.2. Extensões de álgebras e sua relação com derivações...... 19 1.3. O complexo de de Rham...... 29
§ 2. Morfismos suaves, não-ramificados e étales...... 37 2.1. Propriedades diferenciais gerais...... 38 2.2. Suavidade, regularidade e platitude...... 55 2.3. Levantamentos de esquemas...... 66
§ 3. Peculiaridades da característica positiva...... 71 3.1. Morfismos de Frobenius...... 71 3.2. O isomorfismo de Cartier...... 75
§ 4. Degenerescência da seqüência espectral de Hodge-de Rham...... 83 4.1. Categorias derivadas e seqüências espectrais...... 84 4.2. Decomposição do complexo de de Rham e aplicações...... 100
Bibliografia...... 107
ix x A todos aqueles que, por infortúnios da vida, não puderam dar continuidade ao sonho de se tornarem matemáticos.
xi xii AGRADECIMENTOS
Primeiramente, gostaria de expressar o meu apreço a todos os professores que tive ao longo da vida. Em particular, ao meu orientador, Prof. Dr. Marcos Jardim, pela paciência e pela liberdade que me proporcionou durante este projeto, à minha orientadora de iniciação científica, Prof.a Dr.a Dessislava Kochloukova, por ter me ensinado quase toda a álgebra homológica que utilizei para elaborar este texto, aos professores de inglês e francês, sem os quais nenhuma das referências bibliográficas poderia ter sido lida, e aos de português, que me ajudaram a aprimorar o idioma do presente documento. Agradeço à Capes e ao CNPq por terem provido o apoio monetário indispensável para uma dedicação exclusiva a este trabalho e à Unicamp por ter propiciado um ambiente adequado à aprendizagem. Gostaria também de manifestar minha profunda gratidão a todos os meus amigos e colegas, sem os quais provavelmente não teria tido forças para concluir esta empreitada. Em especial, ao Francismar por ter me cedido o código-fonte da sua dissertação, ao Gilmar por ter lido uma versão preliminar do primeiro parágrafo e ao Júlio por ter assistido pacientemente à primeira apresentação que fiz deste trabalho. Por fim, e mais importante, rendo graças à minha família, à qual devo tudo que sou.
xiii xiv Décidément, nous sommes hors du monde. Plus aucun son. Mon tact a disparu. Ah ! mon château, ma Saxe, mon bois de saules. Les soirs, les matins, les nuits, les jours... Suis-je las ! —Arthur Rimbaud, Une Saison en Enfer
xv xvi INTRODUÇÃO
Sejam k um corpo e X um k-esquema próprio e suave. A cohomologia de de Rham de
X sobre k, denotada HdR .X=k/, é definida como sendo a hipercohomologia do complexo de formas diferenciais relativas X =k de X sobre k e é o limite da seqüência espectral de Hodge-de Rham ij j i i j (0.0.1) E H .X; / H C .X=k/: 1 D X=k ) dR Para cada n, temos uma filtração 0 Fn 1.Hn .X=k// Fn.Hn .X=k// F0.Hn .X=k// Hn .X=k/; D C dR Â dR Â Â dR D dR chamada a filtração de Hodge de X sobre k. Existem, para todo i, isomorfismos canônicos i;n i i n i 1 n E F .HdR.X=k//=F C .HdR.X=k// e, caso a seqüência espectral (0.0.1) degenere em 1 !e E1, isomorfismos canônicos Hn i .X; i / Fi .Hn .X=k//=Fi 1.Hn .X=k//: X=k !e dR C dR Em virtude do teorema de finitude de Serre-Grothendieck, (0.0.1) consiste de k-espaços vetoriais de dimensão finita e temos, em geral, que X dim .Hj .X; i // dim .Hn .X=k//; k X=k k dR i j n C D sendo que a igualdade é válida para todo n se, e somente se, (0.0.1) em E1. Pergunta (0.1). — Sejam k um corpo e X um k-esquema próprio e suave. É verdade que a seqüência espectral de Hodge-de Rham de X sobre k sempre degenera em E1? Em 1968, Deligne [Del68] mostrou que se k é um corpo de característica zero, então a resposta para (0.1) é afirmativa. A demonstração utiliza o lema de Chow e o teorema de resolução de singularidades de Hironaka para reduzir a questão ao caso projetivo, o princípio de Lefschetz para reduzir ao caso em que k é o corpo dos números complexos C e por fim os critérios de comparação estabelecidos por Serre em [GAGA] para obter o resultado a partir do teorema de degenerescência de Hodge para variedades kählerianas compactas. Por muito tempo se buscou uma demonstração puramente algébrica deste fato. Faltings [Fal88], em 1985, foi o primeiro a obter uma que não utiliza a teoria de Hodge. Para isso, ele emprega o seu teorema de existência de uma decomposição de Hodge-Tate para a coho- mologia étale p-ádica de variedades próprias e suaves sobre corpos locais de característica desigual. No entanto, seu argumento não é completamente algébrico, pois faz uso do teorema de comparação de Artin-Grothendieck entre a cohomologia étale e a cohomologia singular para variedades sobre C. Se, no entanto, k é um corpo de característica positiva, mesmo um algebricamente fechado, então a resposta para a pergunta (0.1) é negativa. O primeiro contra-exemplo foi obtido por Mumford [Mum61] ao construir superfícies projetivas e suaves possuindo 1-formas globais não fechadas. Essa deficiência nos leva a fazer a seguinte Pergunta (0.2). — Sejam k um corpo de característica p > 0 e X um k-esquema próprio e suave. Quando podemos garantir que a seqüência espectral de Hodge-de Rham de X sobre k degenera em E1? Em 1985, Kato [Kato87], no caso projetivo, e Fontaine e Messing [FM87] no caso próprio, obtiveram condições que garantem a veracidade de (0.2). Basta exigir que k seja um corpo
1 2 INTRODUÇÃO perfeito, que dim.X/ < p e que X se levante sobre o anel W.k/ de vetores de Witt de k. Uma variante do princípio de Lefschetz permite, então, provar (0.1) no caso de um corpo de característica zero. Essa foi a primeira demonstração puramente algébrica desse fato. O objetivo desta dissertação é expor um aprimoramento dos resultados de Kato, Fontaine e Messing devido a Deligne e Illusie [DI87] e daí obter algumas conseqüências. Uma delas e o seguinte Teorema (0.3) (Deligne-Illusie). — Sejam k um corpo perfeito de característica p > 0 e X um k-esquema suave. Se X admite um levantamento sobre o anel W2.k/ de vetores de Witt de comprimento dois de k, então X dim .Hj .X; i // dim .Hn .X=k// k X=k D k dR i j n C D para todo n < p. Em particular, se X for um k-esquema próprio e dim.X/ < p, então a seqüência espectral de Hodge-de Rham degenera em E1. O teorema (0.3) é obtido a partir de um resultado mais preciso sobre o complexo de de Rham de X sobre k. Denotemos por X0 o esquema deduzido de X através da extensão de escalares k k que leva x em xp e por F X X o morfismo de Frobenius de X relativo a !e W ! 0 k. Vale, então, o seguinte: Teorema (0.4) (Deligne-Illusie). — Sejam k um corpo perfeito de característica p > 0 e X um k-esquema suave. Todo levantamento eX de X sobre o anel W2.k/ de vetores de Witt de comprimento dois de k determina um isomorfismo M i ®X X =kŒ i £