UNIVERSIDADE FEDERAL DE

INSTITUTO DE CIENCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

Programa de Pós – Graduação em Geografia

PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DO MUNICIPIO DE -MT

Anderson Boaventura da Cunha

Cuiabá/MT 2011 ANDERSON BOAVENTURA DA CUNHA

PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO DO MUNICIPIO DE NOBRES - MT

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Geografia, do Instituto de Ciencias Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Geografia, na área de Concentração “Ambiente e Desenvolvimento Regional”

Orientadora: Prof. Dr. Márcia Ajala Almeida

CUIABÁ – MT 2011

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FICHA CATALOGRÁFICA

C972p Cunha, Anderson Boaventura da.

Processo de formação do espaço urbano do município de Nobres - MT / Anderson Boaventura da Cunha. – 2011. xv, 146 f. : il. color.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Márcia Ajala Almeida. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Pós-Graduação em Geografia, Área de Concentração: Ambiente e Desenvolvimento Regional, 2011.

Bibliografia: f. 141-146.

1. Nobres (MT) – Espaço urbano. 2. Nobres (MT) – Desenvolvimento urbano. 3. Nobres (MT) – Aspectos socioeconômicos. I. Título.

CDU – 911.375.6(817.2)

Ficha elaborada por: Rosângela Aparecida Vicente Söhn – CRB-1/931

Anderson Boaventura da Cunha

Processo de Formação do Espaço Urbano do município de Nobres-MT

Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Geografia, do Instituto de Ciencias Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso, como parte dos requisitos para obtenção do título de mestre em Geografia, na área de Concentração “Ambiente e Desenvolvimento Regional”

Dissertação defendida e ______em ____ de outubro de 2011, pela comissão julgadora.

______

Prof. Dr. Márcia Ajala Almeida (Orientadora)

Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFMT - Cuiabá

______

Prof. Dr. Cornélio Silvano Vilarinho Neto

Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFMT - Cuiabá

______

Prof. Dr. Zuleika Alves de Arruda

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia - IFMT/MT Cuiabá

Cuiabá – MT – BRASIL

2011 iii

A todos como eu, nobrense de “chapa e cruz” e também aos que pretendem ser só cruz, dedico este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Este espaço é de agradecimentos e reconhecimentos que incluem os mais diversos sentidos da minha vida. A todos agradeço, e as citações subseqüentes com exceção da primeira não devem levar em questão o grau de importância.

Primeiramente agradeço a Deus, pai de infinita misericórdia, pela oportunidade maravilhosa da vida.

A minha família, em especial, meus pais de relação sanguínea e os de ligação espiritual, aos meus irmãos e a os meus caros amigos D²JP (Daniel, Diogo, Jared e Pierre), bem como ao Danilo e a Marina Gimenes, bem como a cara amiga Anita Aiko, agradeço a todos vocês por me incentivarem e apoiarem nos momentos de provação.

Á dona Martinha (in memória), pessoa pelo qual serei eternamente agradecido a Deus por ter a conhecido. Com ela pude compreender o que é lealdade, dedicação e honestidade, meus mais sinceros agradecimentos.

A Prof. Dr. Márcia Ajala Almeida, querida orientadora, que pela paciência e abnegação me guiou, no mestrado, especialmente nos momento que mais necessitei de sua compreensão e amizade.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, pela permissão do financiamento do Estado por meio de concessão de bolsa para a realização da presente pesquisa.

Aos funcionários do ICHS/UFMT, Campus de Cuiabá, em especial a secretária Regina do PPGG, pela paciência e dedicação; e aos professores do PPG Geografia, que contribuíram decisivamente para o meu aperfeiçoamento acadêmico.

Aos queridos amigos que juntos comigo caminharam o mesmo caminho, com ajuda mútua, com fé e certeza na vitória em especial, Reginaldo Carlos de Abreu, Paulo Daniel Curti de Almeida, Euzemar Fátima Lopes Siqueira, Ana Paula Konrad, Selton Evaristo de Almeida Chagas, Francisco Luiz Bohns Ribeiro, Érika Mota do Carmo, Francisco Vieira da Silva, Josemara de Brito Souza, Marcos Amaral Mendes, Laércio dos Santos, Adelaine Alves Cezar, Adriana Oliveira Barros, Osvaldo Alexandre Paris.

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Ao Prof. Dr. Cornélio Silvano Vilarinho Neto (inspiração acadêmica), e a nobre Prof. Dr. Zuleica Alves de Arruda, pelos entendimentos valiosos que me oportunizaram no exame de qualificação.

Aos moradores do município de Nobres, conterrâneos aos quais tenho total respeito e carinho e em especial, ao Sr Mario, prof. Durval, prof. Sidnei, dona Martinha, dona Lira, dona Moça, Prof. Janes, Anita, Marina entre outros que gentilmente se dispuseram a me mostrar o seu modo de ver o processo de formação do nosso querido município de Nobres.

Às outras instituições em especial ao IBGE que foi meu companheiro em todo o período da pesquisa me disponibilizando dados de ontem e de hoje em relação ao meu objeto de estudo. Agradeço também aos órgãos públicos do Estado de Mato Grosso, mesmo sem citá-los nominalmente, agradeço a todos que contribuíram com minhas buscas e levantamentos de material documental.

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O criador tão grandioso foi generoso com a terra em que nasci pois me deu tanta beleza e riqueza sem fim Sua história é tão singela porém feita de labor seu futuro é de grandeza tu és Nobres a princesa da serra do Tombador

Seu futuro é de grandeza Tu és Nobres a princesa Da serra do Tombador

Nobres terra que eu canto Os seus encantos Paraíso multicor De honras cobre vossos filhos Que te amam com ardor Do explendente Mato Grosso Tu és Nobres a capital Do cimento e do calcário Este seu lindo cenário Deus criou com muito amor

Seu futuro é de grandeza Tu és Nobres a princesa Da serra do Tombador

(Juscelino Diniz Brandão, Hino de Nobres)

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RESUMO

CUNHA, Anderson Boaventura. Processo de Formação do espaço urbano do município de Nobres-MT. 2011. 143 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, 2011

Esta dissertação realizou estudo sobre o processo de formação do espaço urbano de Nobres, Estado de Mato Grosso. Seu objetivo geral foi o de investigar os processos que acarretaram a forma do espaço urbano de Nobres e sua formação desde sua emancipação aos dias atuais, tendo como objetivos específicos o diagnóstico das transformações no espaço urbano de Nobres, a compreensão dos processos que acarretaram a formação do espaço urbano de Nobres e a identificação das funções que o espaço urbano de Nobres desempenha/desempenhou desde sua emancipação em 1963 até os dias atuais caracterizando assim a estrutura urbana do município. Foi realizado um estudo de caso, onde se empregou como coleta de dados a entrevista semi-estruturada, bem como pesquisa bibliográfica. A pesquisa investigou as mudanças ocorridas no espaço urbano nobrense procurando entender os processos que lhe formaram a paisagem urbana. Os resultados mostram que o município nasceu por interesses políticos, se consolidou como espaço urbano por meio da exploração mineral do calcário e está em faze de reestruturação urbana capitaneada pela promissora nova função econômica o turismo.

Palavras-chave: Nobres – espaço urbano – função urbana

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RESUMEN

CUNHA, Anderson Boaventura. Proceso de formación del espacio urbano en la ciudad de Nobres-MT. 2011. 143 F. Disertación (MA) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, 2011

Esta disertación realizó un estudio sobre el proceso de formación del espacio urbano de la ciudad de Nobres, del Estado de Mato Grosso. Su objetivo general fue de investigar los procesos que resulto la forma del espacio urbano de Nobres y su formación desde su emancipación hasta la actualidad, con los objetivos específicos de lo diagnóstico de los cambios en lo espacio urbano de Nobres, la comprensión de los procesos que condujeron la formación del espacio urbano de Nobres y la identificación de las funciones que el espacio urbano de Nobres juega/jugó desde su emancipación en 1963 hasta la actualidad caracterizando la estructura del municipio urbano. Se realizó un estudio de caso, en que fue utilizada la colecta de datos a la entrevista semi-estructurada, bien como la pesquisa bibliográfica. El estudio investigó los cambios que se produjo en lo espacio urbano nobrense buscando entender los procesos que le formaron el paisaje urbana. Los resultados mostraron que la ciudad nació por intereses políticos, se ha consolidado como un espacio urbano por causa de la extracción de piedra caliza y está en fase del reestructuración urbana encabezada por el prometedor nuevo papel económico: lo turismo.

Palabras clave: Nobres – espacio urbano – función urbana

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Linha de demarcação entre terras atribuídas a Portugal e Espanha ______54 Figura 2 Mapa do município de Nobres a partir de dados presentes na lei de criação do município, 1963 ___ 59 Figura 3 - Mapa do Município de Nobres, 1976 ______60 Figura 4 - Mapa do Município de Nobres com seus distritos subordinados em 1980 ______61 Figura 5 - Mapa do Município de Nobres com o desmembramento de , 1986 ______62 Figura 6 - Mapa atual do município de Nobres, 2011 ______65 Figura 7 - Mapa de localização da cidade de Nobres______67 Figura 8 Mapa Geológico da Faixa Paraguai no Centro Oeste de Mato Grosso ______69 Figura 9 - Distribuição da população por distrito no município de Rosário Oeste/MT ______72 Figura 10 - Distribuição percentual da população do distrito de Nobres, década de 1940 ______73 Figura 11 - Distribuição da população absoluta do distrito de Nobres, década de 1950 ______76 Figura 12- Mapa do projeto de emancipação do distrito de Nobres, 1963 ______78 Figura 13 - Escola Municipal Rural Mista do Mangavalzinho, 1975 ______80 Figura 14 - Casa construída no inicio da década de 1960 e Calçamento em rua revestida em paralelepípedo final da década de 1970 e inicio de 1980 ______81 Figura 15 - Distribuição percentual da população no Município de Nobres ______85 Figura 16- Foto oficial de posse dos eleitos no ano de 1970 ______86 Figura 17 - Placa de inauguração da Escola Estadual Profº. Nilo Póvoas, 1973 ______88 Figura 18 - Vista da antiga sede do executivo municipal e da Praça Josino Serra ______90 Figura 19 - Situação demográfica do município de Nobres ______92 Figura 20 - Vista da Avenida Getulio Vargas ______94 Figura 21 - Vista da antiga rodoviária municipal de Nobres ______95 Figura 22 - Ponto de taxi municipal “São Luiz” ______96 Figura 23 - Situação demográfica do município de Nobres ______100 Figura 24 - Percentual origem das pessoas formadoras da população nobrense ______101 Figura 25 - Avenida Juscelino Kubistchek, 1996 ______103 Figura 26 - Corredor comercial secundário – Avenida Getulio Vargas - Centro ______104 Figura 27 - Comércio com as portas fechadas, situação vivenciada neste período pela Cidade ______105 Figura 28 - Estabelecimentos comerciais varejista de baixo padrão – Avenida JK - Centro ______105 Figura 29 - Ocupações de mão de Obra no Município de Nobres, ano 2000 ______106 Figura 30 - Avenida Marzagão (MT-241), bairro Jardim Petrópolis ______108 Figura 31 - Vista parcial da Cohab Marzagão, 1997 ______110 Figura 32 - Unidade habitacional da Cohab Marzagão, Bairro Jardim Petrópolis, 2010 ______111 Figura 33 - Ponte de Ferro sobre o rio Nobres, 2010______112 Figura 34 - Rotatório da Avenida Buriti ligação entre o Centro da cidade e o bairro Jardim Petrópolis ____ 113 Figura 35 - Vista do termina rodoviário de Nobres “Jaime Campos” ______114 Figura 36 - Vista da rua 02 no Bairro Jardim Carolina, fundo com a Rodoviária ______115 Figura 37 - O Grupo Votorantim no mundo, 2011 ______118 Figura 38 - Mapa de localização das unidades da Votorantin Cimentos, 2011 ______119 Figura 39 - Vista Parcial da Unidade fabril de cimento da Votorantim em Nobres – MT ______120 Figura 40 – Dados da implantação da Cimento Mato Grosso S.A – Nobres, MT ______121 Figura 41 – Dados da Produção e mercado consumidor da Cimento Mato Grosso S.A – Nobres, MT ______122 Figura 42 - Cimento Mato Grosso S.A. Unidade: Nobres ______123 Figura 43 - Distribuição da população do município de Nobres ______126 Figura 44 - Evolução populacional do município de Nobres 1970 a 2010 ______127 Figura 45 - Distribuição percentual da população residente por bairro em Nobres, 2010 ______128 Figura 46- Fachada de uma das casas no Residencial Primavera, 2010 ______131 x

Figura 47 - Residencial Morada do Sol – Vila B - Aeroporto, 1997 ______132 Figura 48 - Praça da Bíblia, bairro Jardim Glória ______133 Figura 49 - Praça da Matriz, 2009 ______135 Figura 50 - Vista Aérea da Avenida JK______136

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland

BEMAT – Banco do Estado de Mato Grosso

CEFEM – Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais

CIMAG – Cimento Mato Grosso S.A.

DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo

EMPAER – Empresa de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso

FCO – Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste

FES – Formação Econômica e Social

FIEMS – Federação das Indústrias de Mato Grosso

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICHS – Instituto de Ciências Humanas e Sociais

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviço

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária xxi

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MRG – microrregião Geográfica

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MT – Mato Grosso

PEA – População Economicamente Ativa

PIB – Produto Interno Bruto

PIN – Programa de Integração Nacional

POLAMAZÔNIA – Programa Especial de Pólos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia

POLOCENTRO – Programa Especial de Desenvolvimento dos Cerrados

PRODOESTE – Programa de Desenvolvimento do Centro-Oeste

PROMAT - Programa de Desenvolvimento de Mato Grosso

RAIS – Relatório Anual de Informações Sociais

SEMA – Secretaria Estadual do Meio Ambiente

SEPLAN/MT – Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral do Estado de Mato Grosso

SNIC – Sindicato Nacional da Indústria do Cimento

SUDAM – Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

SUDECO – Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste

UFMT – Universidade Federal do Estado de Mato Grosso

WWW – Word Wid Web

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...... 1

ENSAIOS CONCEITUAIS DE ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE ...... 24

1.1 – O ESPAÇO GEOGRÁFICO ...... 24

1.2 – PAISAGEM ...... 30

1.3 – O TERRITÓRIO ...... 32

1.4 – A CIDADE E O URBANO ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ...... 33

1.5. – FUNÇÃO URBANA...... 41

CONTEXTUALIZAÇÃO ESPACIAL DO OBJETO DE ESTUDO ...... 51

2.1– CONTEXTUALIZANDO O ESPAÇO REGIONAL ...... 54

2.2 – ÁREA DE ESTUDO ...... 57

PRODUÇÃO DO ESPAÇO REGIONAL: DA CONQUISTA DO TERRITORIO A CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE ...... 71

3.1 - A CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO NOBRENSE – PERÍODO DE 1960 A 1970...... 76

3.1.1 – A FORMA E A FUNÇÃO DE NOBRES NO PERÍODO PRÉ-EMANCIPAÇÃO ...... 79

3.1.2 – ASPECTOS POLÍTICOS DO PRINCIPIO DA CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE ... 82

3.2 - POLÍTICAS PÚBLICAS, E A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE – PERÍODO DE

1971 A 1980 ...... 83

3.2.1 – ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE NO PERÍODO DE 1971 A 1980 . 84

3.2.2 – A PAISAGEM URBANA NOBRENSE NO PERÍODO DE 1971 A 1980 ...... 85

3.3 – URBANIZAÇÃO NOBRENSE, UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE SUA FUNÇÃO

ECONÔMICA REGIONAL – PERÍODO DE 1981 A 1990 ...... 91

3.3.1 - ASPECTOS DEMOGRÁFICOS DO PERÍODO...... 91

3.3.2 – ASPECTO SÓCIO ECONÔMICO DO PERÍODO DE 1981 A 1990 ...... 92

3.4 - CONSOLIDAÇÃO URBANA E AS NOVAS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO

– PERÍODO DE 1991 A 2000 ...... 97

3.4.1 – ASPECTOS POLÍTICOS DO PERÍODO ...... 98 xiv

3.4.2 – ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS PARA O PERÍODO ...... 99

3.4.3 – A FORMA E A FUNÇÃO URBANA PARA O PERÍODO ...... 107

3.5 – UMA FUNÇÃO ECONÔMICA, COMO REFERÊNCIA GEOGRÁFICA ...... 116

3.5.1 – O GRUPO VOTORANTIM ...... 117

3.5.2 – O GRUPO VOTORANTIM EM NOBRES- MT ...... 119

3.6 - NOVAS PERSPECTIVAS DE DESENVOLVIMENTO A ATUAL CONFIGURAÇÃO URBANA

NOBRENSE – PERÍODO DE 2001 A 2011 ...... 124

3.6.1 – ASPECTOS POLÍTICOS PARA ESTE PERÍODO DE 2001 A 2011 ...... 124

3.6.2 - ASPECTOS DEMOGRÁFICOS ...... 125

3.6.3 – FORMA ATUAL DO ESPAÇO URBANO ...... 129

3.6.4 – NOVOS APARELHOS URBANOS ...... 132

3.6.5 – A FORMA E A FUNÇÃO URBANA PARA O PERÍODO DE 2001 A 2011 ...... 135

CONSIDERAÇÕES FINAIS...... 138

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...... 141

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INTRODUÇÃO

O intenso processo de urbanização do território brasileiro, principalmente a partir da metade do século XX, impulsionado pelo revolucionário processo de industrialização patrocinado pelo governo brasileiro sob influência do mercado externo, tem sido motivo de diversos trabalhos científicos, principalmente pelas transformações ocasionadas no modo de vida dos brasileiros que tinham até então como base de vida o ambiente rural.

Esta mudança de perfil social trouxe diversos desafios, tendo em vista que o Estado não se preparou para este novo cenário que se colocava em construção de forma acelerada. Aspectos como o desemprego, a falta de condições básicas de infra-estrutura e moradia, violência urbana dentre outros, trouxeram questões a serem analisada referente a este fenômeno urbano.

No Estado de Mato Grosso este processo de urbanização teve como referência principalmente as políticas de ocupação da Amazônia proporcionadas pelo governo militar, que possibilitaram um aumento demográfico no território mato-grossense, bem como um fluxo intenso dos habitantes das áreas rurais em direção aos centros urbanos.

O município de Nobres em especial sua sede, não diferente do Estado de Mato Grosso, sofreu a partir dos anos de 1970, um aumento demográfico considerável, incentivado pelas políticas publicas, em que o movimento transitório da população da área rural em direção a urbana, vindo em busca das facilidades oferecidas pelo novo plano social e econômico, teve nesse fato importante reflexo na consolidação do espaço urbano nobrense, pois naquele período, o pouco que tinha se encontrava nas cidades.

Além disso, é importante considerar a tendência das pesquisas em centralizar seu foco nas metrópoles, cidades grandes e médias, não dando uma atenção maior ao estudo das pequenas cidades, motivo este, embalado pelas condições econômicas que colocam as pequenas cidades à margem do estudo, e não dos processos. Neste ponto nos embasa Correa (1999, p45) quando nos traz que “os esforços de reflexão empreendidos sobre o espaço urbano e a cidade tem preferencialmente, privilegiado as grandes cidades” sendo que há grande necessidade do estudo desse fenômeno urbano nas pequenas cidades, pois isso se faz

16 necessário principalmente no Estado de Mato Grosso, que é constituído em sua maior parte de pequenas cidades, justificando assim, o presente estudo para que se possa entender o universo urbano regional.

Diante disso a pesquisa tem como objetivo geral investigar os processos que acarretaram a forma do espaço urbano de Nobres e sua função desde sua emancipação até os dias atuais. Sendo este objetivo detalhado nos seguintes objetivos específicos: diagnosticar as transformações na forma do espaço urbano de Nobres; compreender os processos que acarretaram a formação do espaço urbano de Nobres; identificar as funções que o espaço urbano de Nobres desempenha/desempenhou desde sua emancipação em 1963 até os dias atuais e caracterizar a estrutura urbana do município de Nobres.

Em contemplando as questões alocadas, a pesquisa tem um papel social de suma importância por possibilitar o acesso da população local às informações de como o lugar onde vivem foi constituído, permitindo conhecer esse espaço e por ele tomar partido de forma consciente.

Sabemos que na dialética „homem x natureza‟ base do desenvolvimento e transformação das sociedades humanas, será desenvolvida como base conceitual apoiada em autores como Lefebvre, Milton Santos e Lobato Corrêa, entre outros que trabalham a questão geográfica, para melhor compreensão de conceitos básicos, Espaço Geográfico, Paisagem (forma urbana), Território, Cidade, urbano e urbanização e a função urbana.

Segundo CORRÊA (1989), a complexidade do espaço urbano capitalista pode ser entendida em quatro aspectos indissociáveis, intrínsecos à sua própria definição. Na forma, o espaço urbano capitalista aparece como que fragmentado, separado pelas diversas atividades produtivas e de consumo. Na realidade a divisão desse espaço é apenas na sua configuração espacial já que não há autonomia dos chamados fragmentos em relação ao urbano como um todo; Esse é totalmente articulado, dadas as relações espaciais de natureza social, por exemplo, as decisões do poder constituído, a circulação de informações e investimentos de capital e a ideologia, entre outros, que unem em um só espaço, os demais fragmentos da cidade. O espaço urbano é reflexo não só das relações sociais ocorridas hoje, mas também das que ocorreram outrora, no passado. Ele reflete todo o avanço social sofrido através da sua

17 formação. O autor ressalta ainda que o espaço urbano capitalista, por refletir as relações sociais e ser fragmentado, é visivelmente dessemelhante, e, pelo mesmo fato ele refle as relações sociais, que estão sempre em mutação. Essas mudanças variam em ritmo, direção ou natureza. Numa outra esfera, as formas espaciais não só proporcionam como também condicionam a reprodução das mesmas, criando condicionantes referenciais de produção do espaço.

Sendo assim, segundo CORRÊA, (1989, p.9) o processo de reprodução das classes sociais “envolve o cotidiano e o futuro próximo, bem como as crenças, valores e mitos criados no bojo da sociedade de classes e, em parte, projetados nas formas espaciais: monumentos, lugares sagrados, uma rua especial etc.” Identifica-se por essas formas sociais a “dimensão simbólica” do espaço urbano que varia de acordo com os diferentes grupos, seja em atividades sociais, faixa etária, entre outros aspectos constituintes do espaço geográfico. A desigualdade social existente no espaço da cidade acarreta em diversos movimentos, conflitos e lutas sociais justificadas pelo desejo de conquista do direito à cidade, à igualdade social e, como disse o mesmo autor, à cidadania plena.

As formas espaciais surgem como resultado da estruturação de relações sociais imbricadas entre si e de difícil desarticulação, de sorte que se mostram como uma só tessitura e diferenciam o espaço. O espaço urbano, portanto, não diz respeito apenas ao modo de produção, mas a todas as relações sociais que lhe são inerentes, sejam políticas, religiosas, econômicas, jurídicas, melhor dizendo, diz respeito a todo o seu cotidiano. Nessa direção, Carlos (1994, p. 181) entende que:

(...) a idéia de urbano transcende aquela de mera concentração do processo produtivo stricto sensu. O urbano é um produto do processo de produção de um determinado momento histórico, não só no que se refere à determinação econômica do processo (produção, distribuição, circulação e consumo), mas também no que se refere às determinações sociais, políticas, ideológicas, jurídicas que se articulam na totalidade da formação econômica e social. Assim, “o urbano é mais que um modo de produzir, é também um modo de consumir, pensar, sentir, enfim é um modo de vida.

O espaço é produzido e consumido diferentemente, comparando-se os padrões de uso e ocupação do espaço urbano e suas relações de poder e dominação inter e intra-espacial, ou ainda, analisando-se o comportamento de dois núcleos urbanos na disputa por mercados.

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Existem, assim, dois tipos de valores atribuídos ao espaço: o valor de uso (espaço efetivo) e o valor de troca (espaço consumido). A produção para a troca, no modo capitalista de produzir, implica uma nova relação com a natureza, procurando produzir valor monetário a ela. Tudo, inclusive as pessoas, é „transformado‟ em moeda, ou faz parte de relações de interesse ou de comércio.

A velocidade tornou-se necessária dentro do processo de acumulação de capital, e produzir mais em menos tempo, num menor espaço, é vital para o modo de produção. A fibra óptica, os semicondutores, os satélites, enfim a tecnologia de ponta alterou o ritmo de vida da sociedade urbana. O grau deste impacto é determinado pelo uso das técnicas, objetos, resquícios dos processos técnicos anteriores, e do fator histórico ou temporal da sociedade em estudo, alterando a relação espaço-tempo e as relações sociedade-natureza. Segundo o entendimento de Santos:

(...) o espaço é formado de objetos; mas não são os objetos que determinam os objetos. É o espaço que determina os objetos: o espaço visto como um conjunto de objetos organizados segundo uma lógica e utilizados (acionados) segundo uma lógica. (SANTOS, 1997 p. 239)

A lógica do capital em distribuir os objetos, as técnicas e os serviços no espaço urbano varia de acordo com seus interesses, individuais ou coletivos (de grupos ou de uma classe). O acúmulo de trabalho (serviços) e objetos (infra-estrutura, natureza etc.) num determinado espaço, qualifica-o como sinônimo de modernidade, poder, conforto, bem viver.

A fragmentação dos espaços serve para diferenciar, valorizar ou desvalorizar os mesmos, conforme a intenção de aproximar e/ou afastar deles, pessoas e objetos. Sem representatividade, a população menos favorecida fica a mercê dos detentores do poder/saber, apenas sobrevivendo e reproduzindo a classe trabalhadora. Este modelo é altamente cômodo e rentável para o processo de exploração e acumulação do capital.

Santos (1996, p.10), ao analisar o processo de urbanização brasileira, destaca que: Ao longo do século, mas, sobretudo nos períodos mais recentes, o processo brasileiro de 19 urbanização revela uma crescente associação com a da pobreza, cujo lócus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos. A indústria se desenvolve com a criação de pequeno número de empregos e o terciário associa formas modernas a formas primitivas que remuneram mal e não garantem a ocupação.

Diante da realidade descrita, a presente pesquisa busca investigar em que medida os programas de desenvolvimento regional, aplicado pelo Estado brasileiro em Mato Grosso, teve reflexo na configuração da estrutura urbana de Nobres, buscando responder as seguintes questões: a) Quais foram as bases econômicas do Município de Nobres a contar de sua emancipação política até os dias atuais? b) Qual o papel da indústria de exploração do Calcário na estrutura urbana de Nobres? c) Quais condições físicas possibilitaram a consolidação da indústria do calcário em Nobres d) Qual a influência da fábrica de Cimento, indústria ligada ao Grupo Votorantim nos processo de formação ou de transformação do espaço urbano nobrense nos últimos 20 anos? d) Quais Programas de desenvolvimento regional proporcionados pelo Estado brasileiro estão presentes no processo de formação do espaço urbano de Nobres? e) Qual a função do espaço urbano de Nobres na divisão regional do trabalho no processo do agronegócio? f) Quais foram os reflexos percebidos no espaço urbano nobrense com as divisões no território do município? Quais mudanças podem ser observadas na paisagem urbana da cidade de Nobres? A pesquisa se desenvolve no município de Nobres, Estado de Mato Grosso. Cidade localizada na mesorregião norte mato-grossense, microrregião do Alto Teles Pires, distante da capital Cuiabá, cerca de 140 km, e população segundo último recenseamento de 15.003 habitantes (IBGE, 2010). Em relação às atividades econômicas do município, Nobres tem como principal atividade a produção do calcário e cimento, sendo o maior produtor de calcário no Estado, e único de cimento até o momento. Nobres, apresenta também uma atividade agropecuária em ascensão, principalmente na parte nordeste de seu território. Outra atividade que tem grande expectativa é a exploração do turismo, pois o município conta com grande número de atrativos naturais, sendo reconhecido como um potencial roteiro turístico do Estado de Mato Grosso.

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Os procedimentos técnicos e metodológicos adotados na pesquisa foram: levantamento bibliográfico, ampla pesquisa empírica com moradores locais, pesquisa exploratória, documental, cartográfica, fotográfica e levantamentos de dados estatísticos nos diversos órgãos públicos; notadamente o IBGE, nos seus recenseamentos demográficos (1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 2000), SEPLAN (Anuário Estatístico) 1960, 1970, 1980, 1990, 2000, 2007, 2008. Segue abaixo as etapas trabalhadas.

Etapa 1 – Coleta e compilação de dados de identificação das fontes e das técnicas da pesquisa, através das seguintes ações:

 Levantamento Bibliográfico sobre a área em estudo (localização, aspectos físicos, históricos, demográficos e socioeconômicos)  Leituras sobre os temas Espaço, Forma e Função urbana  Seleção de órgãos públicos e privados para levantamento de dados de pesquisa.  Elaboração de questionários e roteiros de entrevistas para moradores locais

Etapa 2 – Trabalho de Campo:

A pesquisa de campo foi efetuada com visitas programadas in loco, aplicação de questionários sobre o padrão de ocupação das quadras, a tipologia das edificações, rede técnica instalada e projetada, densidades de equipamentos comunitários, mobiliário urbano. A pesquisa se utilizou de mapas de natureza diferenciada, tendo em vista os objetivos e metas a alcançar. Foram também utilizados na pesquisa softwares e gráficos para fazer a vetorização de mapas temáticos, tendo por base imagem aerofotogramétrica.  Pesquisa nos seguintes locais; (1) Prefeitura Municipal de Nobres (2) Arquivo Público do Estado de Mato Grosso (3) Instituto Histórico da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso (4) Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado de Mato Grosso (5) Prefeitura Municipal de Rosário Oeste (6) Câmara Municipal de Nobres

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 Aplicação de questionários semi-estruturados para a população envolvida na construção das Referências de produção do espaço urbano nobrense.  Compilação e digitalização de fotografias históricas da cidade obtidas junto à comunidade, sendo utilizado neste processo, Scanner Epson.  Registro fotográfico para visualização dos elementos geográficos que compõe a paisagem urbana hoje da cidade de Nobres. Nesta atividade se utilizou de maquina fotográfica digital (SONY – Cybershot 1.2 Mega Pixels)  Junto à prefeitura foi obtido Mapa Cadastral de Nobres para melhor visualização espacial dos fenômenos na construção do espaço urbano a serem estudados – Secretaria de Tributos de Nobres (ano, 2007) na escala de 1:4.000 (Anexo II);

Etapa 3 – Sistematização dos dados e conclusão

A questão metodológica fundamental é a necessidade de consorciação entre fontes escritas – análises produzidas por estudiosos, documentação primaria com a observação e a interpretação dos relatos das pessoas entrevistadas. Essa metodologia propiciou conhecer o objeto de estudo da pesquisa e problematizá-lo a partir de observações, pesquisa empírica, embasamento teórico, entrevista e informações obtidas em órgãos e diversas entidades. Tudo isso deu suporte para a compilação de mapas e escrita do trabalho, sendo essa última etapa da pesquisa. O trabalho apresenta a seguinte estrutura:

A primeira parte, Ensaios conceituais de análise do Espaço Urbano Nobrense, percorre meandros conceituais em torno do espaço urbano, que vão desenhando teoricamente o objeto de estudo proposto.

A segunda parte, intitulado Contextualização Espacial do Objeto de Estudo contextualiza o objeto de estudo, traçando um breve relato de ocupação regional, criando subsídios para a análise no nível local.

Finalmente, a terceira parte, Produção do Espaço Regional da conquista do Território a consolidação do Espaço Urbano Nobrense, apresenta as formas urbanas e as suas funções no

22 espaço-tempo. Os elementos geográficos tomados como Referência retratam e confirmam a posição de Nobres como uma centralidade pelos serviços oferecidos nos setores da educação, saúde, transporte bem como a existência de vários escritórios de órgãos públicos e privados instalados na cidade em função da sua posição estratégica, da infra-estrutura e dos equipamentos oferecido pela mesma.

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CAPÍTULO I

ENSAIOS CONCEITUAIS DE ANÁLISE DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE

A urbanização como processo, e a cidade, forma concretizada deste processo... (SPOSITO, 2008:11)

Ensaios conceituais de análise do espaço urbano nobrense devem ser entendidos como uma breve discussão e/ou exposição dos principais conceitos trabalhados dentro das temáticas que são pertinentes a este estudo.

Essencialmente teórico e conceitual vai explanar as idéias que remetem ao tema do trabalho. Serão trabalhados os conceitos de espaço geográfico, a paisagem nesse caso entendida como forma, o urbano e suas funções e como processo a urbanização. A visão de alguns autores acerca desses conceitos auxiliará na composição de todo o trabalho, tendo em vista as suas colocações mais relacionadas ao objetivo central do trabalho que é o processo de formação do espaço urbano nobrense. Optamos no desenvolver das idéias dar ênfase a visão miltoniana, por entender que o mesmo contempla os anseio propostos no desenvolvimento da pesquisa, não esquecendo que outros grandes autores trabalham também estes conceitos com grande maestria intelectual. Os ensaios visarão abordar algumas das várias escalas de análise, sendo que todas têm como viés principal o espaço local, dando uma maior atenção a questões que envolvem as pequenas cidades, natureza do nosso objeto de estudo.

1.1 – O espaço Geográfico

O espaço apresenta uma multiplicidade de definições e significações, por ser mutável no tempo, portanto é possível falar no espaço de uma casa, de uma cidade, região etc. Fazendo-se, referência ao espaço das expressões das materialidades geográficas onde se pode falar do espaço enquanto conteúdo abstrato: espaço das relações sociais.

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O espaço concebe-se como o lugar da reprodução das relações sociais de produção, ou seja, reprodução da sociedade. Assim, a formação social não pode ser compreendida sem referência à noção de espaço, o qual deve ser considerado segundo Santos:

Como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Daí porque evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares (SANTOS, 1986, p. 122).

Diante desta perspectiva miltônia podemos entender a natureza de inter-relação do espaço geográfico levando em questão as condições estabelecidas num determinado momento e num determinado lugar, possibilitando assim diferentes situações sociais, promovidos pelos mais diversos agentes produtores do espaço geográfico.

Já em outra obra, o autor afirma que “o espaço é uma estrutura social dotada de um dinamismo próprio e revestida de certa autonomia, na medida em que sua evolução se faz segundo leis que lhes são próprias” (Santos, 1988:15).

Este conceito está fundamentado na relação indissociável entre espaço e sociedade. Continuando com autor “o espaço geográfico é considerado como uma porção bem delimitada da sociedade local quanto das influências externas e até mesmo estrangeiras, cujo peso nem sempre é perceptível à primeira vista” (Santos, 1986:62).

A partir dessa linha teórica de construção do pensar o espaço como parte integrante da dinâmica social que a cria e se associa na formação da sociedade mundial até a local. Santos diz ainda que;

Essa percepção do espaço pode servir como fundamento à compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a serviço do homem. Pois a História não se escreve fora do espaço e não há sociedade não especializada. O espaço, ele mesmo, é social. (Santos, 1977, p.81)

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Categorizar o espaço geográfico deve levar em consideração três eventos de produção geográfica. O primeiro diz respeito à produção do mesmo, o espaço do beber, do alimentar-se, do vestir e do habitar. O segundo nos remete a reprodução desse espaço. E o terceiro diz respeito à difusão deste espaço (SILVA, 1980 apud Carvalho Junior, 2007, p.7).

Já Santos concebe o espaço geográfico como sendo "um sistema de objetos e um sistema de ações” (Santos, 1997:39), onde o mesmo deve ser considerado como um conjunto indissociável de que participam, de um lado, arranjos de objetos geográficos, objetos estes naturais e objetos sociais, e, de outro, a vida que os preenche e os anima, ou seja, a sociedade em movimento. O espaço seria então um conjunto indissociável e contraditório de objetos e ações. Assim, o espaço possui arranjos visíveis que imprescindivelmente se relacionam entre si com e por meio da sociedade em movimento. Nesse sentido, os objetos e arranjos de objetos são construídos, (re)construídos e (des)construídos para atender a dinâmica social, produtiva e espacial de um dado período passível de contextualização. É a partir desse entendimento que se pode definir as categorias filosóficas de analise – forma, função, estrutura e processo – como método de análise da Geografia.

Carlos afirma que “o espaço é condição tanto da reprodução do capital quanto da vida humana, de outro ele é produto e nesse sentido é trabalho materializado” (Carlos, 1994:24). O produto de um espaço, o território, remete a idéia de um controle e de um poder para a sua materialização. Um território cujos homens são determinados por suas ações, seu domínio no espaço, sua influência e controle sobre ele, também vai fazer com que este mesmo espaço passe a ser um lugar, pois os sujeitos deste território atribuirão um sentido, um valor e um significado a ele, através de suas percepções, sentimentos e memórias, como já comentados anteriormente.

Continuando ainda com o autor a forma é o aspecto visível de uma determinada coisa. São os objetos e arranjos de objetos que compõe o espaço, isto é, casas, condomínios, parques, escolas avenidas e etc., tudo gerado historicamente, organizando o presente e projetando o futuro. A atividade desenvolvida pela forma é colocada como Função (Santos, 1985, p 50-51). É ela que dá sentido à forma visto que um objeto no espaço não subsiste desprovido de tarefa e, por outro lado, a tarefa não pode ser desempenhada sem a forma, daí a relação direta entre as duas. Um terceiro aspecto da análise miltoniana é a estrutura. O autor

26 assinala ainda que "estrutura implica a inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção” É o aspecto "invisível” construído pela inter-relação das diversas funções desempenhadas pelas/nas formas. Por isso para compreendê-la é preciso sempre considerar a dinâmica social de cada período.

Em relação à estrutura espacial de um dado lugar é colocado como o resultado da interação de várias estruturas que subsistem indissociavelmente.

A estrutura espacial é algo assim: uma combinação localizada de uma estrutura demográfica específica, de uma estrutura de produção específica, de uma estrutura de renda específica, de uma estrutura de consumo específica, de uma estrutura de classes específica e de um arranjo específico de técnicas produtivas e organizativas utilizadas por aquelas estruturas e que definem as relações entre os recursos presentes (SANTOS, 1985, P. 17).

A questão dos vieses de análise da sociedade, que nos possibilitam a identificação das relações que a sociedade se estabelece numa porção do planeta produzindo o espaço geográfico, construindo assim uma estrutura básica para o desenvolvimento dos fenômenos sociais.

Para apreensão da realidade a geografia não pode se interessar mais pela forma das coisas do que pela sua formação. Por isso, outro fator inerente ao estudo do espaço é o processo. Este seria o constante devir social que constrói, (re)constrói e (des)constrói as formas ao longo de sua formação. O processo é dinâmico, ou seja, processa e é processado, modifica e é modificado, é ao mesmo tempo resultado e condição da formação. Desse modo, o estudo do processo se faz necessário na medida em que se busca entender a gestação das formas, o que impreterivelmente facilitará a compreensão das funções por elas exercidas. Nesse sentido a formação se constitui numa ferramenta intimamente relacionada, a qual é preciso recorrer constantemente.

À primeira vista o geógrafo pode ser induzido a estudar pura e simplesmente a forma. Porém, não se pode a separar concreta e conceitualmente das demais categorias sob pena de não se compreender a contento os diversos aspectos que compõe o espaço.

Como nos afirma Santos (1985. p.56):

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Para se compreender o espaço social em qualquer tempo, é fundamental tomar em conjunto a forma, a função e a estrutura, como se tratasse de um conceito único. Não se pode analisar o espaço através de um só desses conceitos, ou mesmo de uma combinação de dois deles. Se examinarmos apenas a forma e a estrutura, eliminando a função, perderemos a história da totalidade espacial, simplesmente porque a função não se repete duas vezes.

Observamos então que o todo necessita de seu relacionamento das partes, para uma compreensão estrutural da complexidade social a que se estuda e nesse caso o ambiente urbano, característica complexa da relação social não pode ser concebida de um só meio de interpretação. Santos (1985, p. 56), ainda diz que;

Separando estrutura e função, o passado e o presente são suprimidos, com o que a idéia de transformação nos escapa e as instituições se tornam incapazes de projetar- se no futuro. Examinar forma e função, sem a estrutura, deixa-nos a braços com uma sociedade inteiramente estática, destituída de qualquer impulso dominante. Como a estrutura dita a função, seria absurdo tentar uma análise sem esse elemento.

Concordamos com autor, pois, forma, função, estrutura e processo, este último sinônimo de tempo, quando consideradas em conjunto impedem a compreensão superficial e descritiva dos fenômenos que todo cientista deve evitar. Portanto, esse método constitui uma base forte de auxilio ao geógrafo na leitura e interpretação da realidade

Nesta perspectiva de espaço geográfico, onde acontece numa realidade relacional, o mesmo é entendido como um conjunto interligado. O conteúdo da sociedade não é independente da forma sendo estes os objetos geográficos e cada forma encerra em si uma parte do conteúdo. Milton Santos nos arremete ao entendimento da complexidade de entendimento proposta pelo conceito. Não sendo o espaço geográfico um fenômeno com características pré-estabelecidas e sim um fenômeno social, pois o espaço geográfico é produzido pelas sociedades presentes neste espaço que antes era natural, sendo parte da superfície terrestre, ganha aspectos de mutação de acordo com as necessidades.

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[...] o espaço, como as outras instancias sociais, tende a reproduzir-se, uma reprodução ampliada, que acentua os seus traços já dominantes. A estrutura espacial, isto é, o espaço organizado pelo homem é como as demais estruturas sociais, uma estrutura subordinada-subordinante. E como as outras instancias, o espaço embora submetido à lei da totalidade, dispõe de uma certa autonomia que se manifesta por meio de leis próprias específicas de sua própria evolução (SANTOS, 1986, p. 145).

Diante disso o espaço deve ser considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço que se define como um conjunto de formas representativas das relações estabelecidas socialmente no passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos olhos e que se manifestam através de processos e funções. Santos (1985) alerta que “o espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Diante disso que se concebe que a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares”. Ao observarmos as categorias de análise do espaço propostos por Santos, forma, estrutura, função e processos, temos a idéia da convergência para um quadro de totalidade, que possibilite uma interpretação clara do espaço.

Santos (1996) nos diz ainda que “é de conhecimento na história que a ordem global busca impor a todos os lugares, uma única racionalidade, e os lugares respondem ao mundo segundo os diversos modos de sua própria racionalidade, cada lugar é ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de outra local, convivendo dialeticamente”. O lugar entendido como a porção do espaço que tem sentido para a vida, que é vivido, reconhecido e constituído por identidade. Cada lugar, mesmo globalizado, deve ser único para dar sentido à existência do sujeito. O lugar que é a parte, pela sua complexidade representa o todo e difere-se do todo enquanto parte, existe pela comunicabilidade das suas particularidades.

Assim, pode-se apresentar que, na verdade, o lugar é criado a partir da construção de conhecimento e valores sobre o espaço, que, sob a influência dos indivíduos e sua força de trabalho, vai se transformar em um território marcado pelas relações sociais dando margem também à criação e o sentido do lugar. O lugar passa a se tornar também uma interpretação do território, que lhes atribui sentido e valor, cujas interações sociais estão permanentemente agrupadas e em processo. Segundo Massey (2000, p.184), “os lugares podem ser conceituados em termos das interações sociais que agrupam; então, essas interações em si 29 mesmas não são coisas inertes, congeladas no tempo: elas são processos” Através das interações o espaço faz-se movimentar, criando assim natureza própria de acordo com o lugar onde se estabelece de acordo com o conteúdo neste ambiente criado e desenvolvido.

A análise do espaço deve ser feita numa perspectiva de totalidade, onde possibilite o desconstruir seus elementos formadores, para depois novamente reconstruí-los. Santos (1985) nos traz esses elementos formadores, sendo eles: os homens, as firmas, as instituições, e o meio ecológico e as infra-estruturas. Pode ser observado que esses elementos são equivalentes e redutíveis entre si.

A dificuldade posta hoje na análise do espaço está na dificuldade da análise numa perspectiva de totalidade, onde se deve fragmentar o todo para depois fazer a união desses fragmentos para se ter uma visão total e contextualizada desse espaço.

O espaço é presente, uma construção horizontal, uma situação única, diferentemente da paisagem que é altamente mutável. O espaço reúne além do conjunto material (o que pode ser visto ou sentido) um sistema de objetos de ações no qual a paisagem é construída.

1.2 – Paisagem

Numa perspectiva clássica podemos considerar a paisagem como a expressão materializada das relações do homem com a natureza num espaço circunscrito. Sendo que muitos, o limite da paisagem se condiciona as possibilidades visuais. Nesta discussão se baseamos principalmente nas idéias de Troll, Bertrand e Santos, por entender que os mesmos contemplam os nossos objetivos conceituais, não deixando de ter em vista que outros autores também trabalham o conceito de Paisagem.

Em relação à paisagem devemos considerar a mesma para além da forma. Em Troll (1950), ao se referir à paisagem, o autor a observa como sendo um conjunto de interações homem e meio. Esse conjunto, segundo ele, se apresentava sob dois vieses de analise: a primeira sendo a forma (configuração) e a segunda, o da funcionalidade, sendo esta última entendida como a interação de diversos fatores geográficos entre eles a economia e a paisagem cultural. Concebendo assim uma paisagem além do que se pode ser observado, 30 sendo o resultado de processos articulados entre os elementos constituintes. A paisagem segundo o autor deveria ser "estudada na sua morfologia, estrutura e divisão além da ecologia da paisagem, nível máximo de interação entre os diferentes elementos". Esta análise, em sua visão, poderia se estabelecer exclusivamente no campo natural (paisagens naturais) ou de ordem humana (paisagens culturais).

Bertrand (1968) ao propor o estudo de Geografia Física Global, pensou a paisagem como "resultado sobre certa porção do espaço, da combinação dinâmica e, portanto, instável dos elementos naturais, biológicos e antrópicos que interagindo dialeticamente uns sobre os outros fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em contínua evolução".

Já Santos (1997) com sua visão contemporânea vê a paisagem como a expressão materializada do espaço geográfico, interpretando-a como forma. Neste sentido considera paisagem como um constituinte do espaço geográfico (sistema de objetos). Para ele, "paisagem é o conjunto de formas que num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza", ou ainda, “a paisagem se dá como conjunto de objetos reais concretos".

Tudo aquilo que nós vemos, o que nossa visão alcança, é a paisagem. Esta pode ser definida como o domínio do visível, aquilo que a vista abarca. Não é formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons etc. (Santos 1988. p 21).

Entendemos paisagem nesta perspectiva de estudo, como sendo os fenômenos sociais materializados, pelos quais através dos sentidos sensoriais podem ser sentidos possibilitando a partir dos entendimentos adquiridos o seu reconhecimento.

Nesta perspectiva, diferencia paisagem de espaço: paisagem é "transtemporal" juntando objetos passados e presentes, uma construção transversal juntando objetos. Espaço é sempre um presente, uma construção horizontal, uma situação única. Ou ainda, paisagem é um sistema material, nessa condição, relativamente imutável, espaço é um sistema de valores, que se transforma permanentemente.

Assim, percebe-se paisagem como um conceito operacional, ou seja, um conceito que nos permite analisar o espaço geográfico sob uma dimensão, a qual seja o da conjunção de

31 elementos naturais e tecnificados, sócio-econômicos e culturais. Pela opção de análise geográfica a partir do conceito de paisagem, pode-se concebê-la enquanto forma (formação) e funcionalidade (organização). Não necessariamente entendendo forma–funcionalidade como uma relação de causa e efeito, mas percebendo-a como um processo de constituição e reconstituição de formas na sua conjugação com a dinâmica social. Neste sentido, a paisagem pode ser analisada como a materialização das condições sociais de existência diacrônica e sincronicamente. Nela poderão persistir elementos naturais, embora já modificados. O conceito de paisagem privilegia a coexistência de objetos e ações sociais na sua face econômica e cultural manifestada.

1.3 – O Território

Outro aspecto a ser delineado é o território. Historicamente, a geografia política trata o território como sendo um espaço de poder, na qual a sociedade moderna é caracterizada pela figura do Estado. Para Santos citado por Vilarinho Neto (2002, p.32) em relação à formação do território, em seu comentário sobre Espaço e Território, afirma que Estado-nação tem como base de sua formação três elementos: 1) o território; 2) um povo; 3) a soberania. A utilização do território pelo povo cria o espaço. As relações entre o povo e seu espaço e as relações entre os diversos territórios nacionais são reguladas pela função da soberania. O território é imutável em seus limites, uma linha traçada de comum acordo ou pela força. Este território não tem forçosamente a mesma extensão através no decorrer do seu processo de formação, num dado momento ele representa um dado fixo. Ele se chama espaço logo que encarado segundo a sucessão de situações de ocupação efetiva de um povo, como resultado da ação de um povo, do trabalho de um povo, resultado do trabalho realizado segundo as regras fundamentadas do modo de produção adotado e que o poder soberano torna em seguida coercitivas. É o uso de este poder que, de resto, determina os tipos de relações entre as classes sociais e as formas de ocupação do território.

Pode-se afirmar a partir dessa exposição, que espaço e lugar estão intimamente associados, assim como espaço e território. Espaço ligado ao meio onde tudo está inserido, os homens, a natureza, as edificações, as ruas, enfim, às coisas que estão a nossa volta e que nos influencia e controla as nossas ações. Então perguntaremos: - Seria o controle e a dominação 32 que transformam o espaço em território? – Para Raffestin (1993) em seu texto O que é o Território, enfatiza a formação de uma territorialidade a partir do espaço citando Lefebvre faz essa associação:

Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo, pela representação), o ator “territorializa” o espaço. Lefebvre mostra muito bem como é o mecanismo para passar do espaço ao território: „A produção de um espaço, o território nacional, espaço físico, balizado, modificado, transformado pelas redes, circuitos e fluxos que aí se instalam: rodovias, canais, estradas de ferro, circuitos comerciais e bancários, auto-estradas e rotas aéreas etc.‟ O território, nessa perspectiva, é um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. O espaço é a „prisão original‟, o território é a prisão que os homens constroem para si (LEFEBVRE, 1978 apud RAFFESTIN, 1993).

Para o autor, “o espaço é anterior ao território” e que “ao se apropriar de um espaço, o indivíduo territorializa o espaço”. Ainda afirma que “o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço”. Território está associado ao local onde os sujeitos projetam um trabalho, onde são reproduzidas as práticas espaciais, as representações simbólicas. Território é a funcionalidade do espaço.

Coloca-se neste momento uma dialética existente entre espaço, lugar e território. E por meio desta lógica, como organizar a idéia de produção do espaço urbano? Primeira observação a ser tomada é em relação ao espaço marcado pelas relações de poder e domínio que passam a considerar um território. Neste caso o território ganha uma conotação simbólica, onde estão inseridos os sentimentos as percepções, as imagens, associadas à idéia de lugar.

1.4 – A cidade e o urbano algumas considerações

Neste item não podemos deixar de antecipadamente dizer que muitos autores brasileiros trabalham a questão proposta, cito eles; Ana Fani, Amélia Damiani, Arlete Moisés, Odete Seabra, Eliseu Sposito, Silvana Pintaudi, Rosélia Piquet, Carlos César Gomes, Lobato Corrêa, Erminia Maricato entre outros, mas que por opção nossa se utilizamos dos entendimentos de Singer (1994), Davis (1994, Lefebvre (1999) e Santos (1994) por entender que os mesmo contemplam os nossos objetivos com o desenvolvimento deste tópico.

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A relação entre cidade e campo se situa, histórica e teoricamente, no centro das sociedades humanas. A dominação da cidade sobre o campo, como resultado da divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual e através do comando do mercado sobre as atividades de produção, é fato que marcou as sociedades humanas desde tempos remotos, e particularmente as sociedades capitalistas industriais modernas nas quais estamos inserimos.

Os termos, urbano e rural, quase sempre tomados com, referência à cidade e ao campo, ganharam autonomia apenas recentemente e dizem respeito a uma gama de relações culturais, sócio-econômicas e espaciais entre formas e processos derivados da cidade e do campo sem, no entanto, permitirem a clareza dicotômica que os caracterizava até o século passado. Ao contrário, cada vez mais as fronteiras entre o espaço urbano e o espaço rural são difusas e de difícil identificação. Podemos supor que isto acontece porque hoje esses termos carecem da sua referência substantiva original, na medida em que tanto a cidade como o campo não são mais conceitos puros, de fácil identificação ou delimitação. O que são, hoje, as cidades de Cuiabá, São Paulo, Rio de Janeiro, Sinop ou Nobres, qualquer cidade grande, média, ou pequena, do Brasil contemporâneo ou no mundo? Onde começam e onde terminam? Quais são as nossas Referências de delimitação do que é hoje o campo? Em qualquer esforço de delimitação dos limites e da natureza, tanto do campo como da cidade é cada vez mais difusa e difícil.

Legalmente, no Brasil, cidades são definidas pelos perímetros urbanos das sedes municipais, e os territórios e populações considerados urbanizadas incluem os perímetros das vilas, sedes dos distritos municipais. Entretanto, as áreas urbanizadas acabam por englobar amplas regiões circunvizinhas às cidades cujo espaço urbano integrado se estende sobre territórios limítrofes e distantes em um processo expansivo iniciado no século XIX e acentuado de forma irreversível no século XX.

Por outro lado, cada vez mais as cidades, ou o espaço político e sócio-cultural formado a partir delas, acabam por se tornar o centro da organização da sociedade e da economia. Numa escala mundial, poucas cidades organizam e comandam grandes blocos de interesses e reordenam o espaço econômico global; nas escalas local, regional e nacional, as cidades

34 definem as formas de organização da população e localização das atividades econômicas, referentes às identidades sociais, definem as formas várias de constituição comunitária.

Cidade e campo, elementos sócio-espaciais opostos e complementares, constituem a centralidade e a periferia do poder na organização social. As cidades garantem a diversidade na escala da vida social bem como a competição e cooperação características da vida humana contemporânea.

O rural e o urbano, por sua vez, tão diversos entre si, garantem também diversidades dentro das suas homogeneidades extensivas e escalas de produção quando tomados de forma abrangente. Contém também processos de competição e cooperação, mesmo gerenciados pelas cidades e limitados pela auto-suficiência relativos que ainda mantêm.

A cidade, na sua formação econômica e política, constituem o resultado do aprofundamento da divisão sócio-espacial do trabalho em uma comunidade. Este aprofundamento resulta de estímulos provocados pelo contato externo e abertura para outras comunidades envolvendo processos regulares de troca baseados na cooperação e na competição. Implica, assim, de um lado um sedentarismo e uma hierarquia sócio-espacial interna à comunidade e de outro, movimentos regulares de bens e pessoas entre comunidades. Localmente, exige uma estrutura de poder sustentada pela extração de um excedente regular da produção situada no campo. Assim, a cidade implica a emergência de uma classe dominante que extrai e controla este excedente coletivo através de processos ideológicos acompanhados, certamente, pelo uso da força.

Segundo Singer (1973), a cidade é o modo de organização (sócio) espacial que permite à classe dominante maximizar a extração regular de um mais-produto do campo e transformá- lo em garantia alimentar para sua sustentação e de um exército que garanta a regularidade dessa dominação e extração. Posto dessa forma estabelece-se assim o que Lefèbvre (1999) denominou cidade política, ou seja, a cidade que mantém seu domínio sobre o campo (com a conseqüente extração do mais-produto ou excedente) a partir do controle apenas político. Nesse contexto, a produção é centrada no campo e a cidade, espaço não-produtivo privilegiado do poder político e ideológico, retira do excedente produzido no campo as

35 condições de reprodução da classe dominante e de seus servidores diretos, militares e civis, que a habitam.

Lefèbvre propõe que se pense uma a cidade política como processo de constituição do espaço urbano, passando pela cidade mercantil e pela cidade industrial. A primeira passagem é marcada pela entrada do mercado no interior das muralhas das cidades que tinham como controle os mosteiros ou castelos. Incentivadas pelas feiras locais e regionais de artigos de luxo, as elites gradativamente permitiram a entrada da burguesia nascente no espaço do poder, logo deslocando a centralidade do poder dos palácios e mosteiros para a praça de mercado, consolidando a economia de mercado que teve nas cidades seu espaço privilegiado. Assim, a cidade mercantil, o lugar central para onde os excedentes regionais eram voluntariamente trazidos e comercializados, resulta da entrada da burguesia na cidade, e sua eventual conquista. Os burgos mercantis deram novo sentido e força à cidade política, transformando-a em centro mercantil. A relação campo-cidade teve então sua primeira inflexão, e a extração do mais produto não era mais apenas possibilitada pela coerção político-ideológica e militar, mas também de um movimento voluntário do campo em direção à capacidade articuladora da cidade enquanto lócus do mercado. A inflexão do campo à cidade foi então marcada pela economia: a produção do campo só se realizava na praça de mercado, modificando e ampliando a dominação da cidade sobre o campo.

Cabe ressaltar também a sinergia da vida urbana na cidade mercantil, lugar central de inovação e provimento dos bens e serviços para produção no campo e também espaço privilegiado da vida em comunidade onde a divisão do trabalho se aprofunda através das especialidades e complementaridades que ali se desenvolvem.

Singer (1973) nos aponta que uma das transformações efetivas da cidade em direção ao urbano teve como marco a indústria na cidade, processo que ao longo da sua formação ocidental se consolidou. Na verdade, a urbanização tal como hoje a entendemos se iniciou com a cidade industrial. Até o surgimento da indústria fabril e sua concentração nas cidades e metrópoles européias, o processo de urbanização se restringia a algumas poucas cidades onde o poder e/ou o mercado se concentravam.

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Observamos que eram poucas aglomerações humanas que hoje poderiam ser chamadas cidades no período que antecedeu à “revolução industrial”. A população vivendo em cidades não ultrapassava 20% em quase todos os Países (DAVIS, 1970) e a cidade significou condição fundamental para o desenvolvimento da indústria, concentrando a população consumidora, os trabalhadores, e as condições gerais de produção para instalação das empresas fabris, nesse momento presentes apenas em algumas cidades, como até recentemente acontecia no Brasil.

A cidade industrial foi assim marcada pela entrada da produção no seio do espaço do poder, trazendo com ela a classe trabalhadora, o proletariado. A cidade passou a não mais apenas controlar e comercializar a produção do campo, mas também a transformá-la e a ela agregar valor em formas e quantidades jamais vistas anteriormente. O campo, até então predominantemente isolado e auto-suficiente, passou a depender da cidade para sua própria produção, das ferramentas e implementos aos bens de consumo de vários tipos, chegando hoje a depender da produção urbano-industrial até para alimentos e bens de consumo básico. Para Lefèbvre (1999), essa inflexão significa a subordinação total do campo à cidade.

Na cidade industrial, há também uma transformação radical. A indústria impõe à cidade sua lógica centrada na produção e o espaço da cidade organizado como lócus privilegiado do excedente econômico, do poder político e da festa cultural, legitimado como obra e regido pelo valor de uso coletivo, passa a ser privatizado e subordinado ao valor de troca. O autor ainda ressalta que , a cidade se transforma também em produto industrial, segundo as mesmas leis econômicas que regem a produção.

O espaço privilegiado da reprodução da sociedade fica, então, subordinado à lógica do “industrialismo” e às necessidades industriais e como tal, devendo reunir as condições de produção necessárias. Entre essas, com destaque, está à reprodução coletiva da força de trabalho, sintetizada pela habitação e demandas complementares. O espaço urbanizado passa então a se constituir em função das demandas colocadas ao Estado tanto no sentido de atender à produção industrial quanto, e particularmente, às necessidades da reprodução coletiva da força de trabalho. As grandes cidades industriais se estendem então sobre suas periferias de

37 modo a acomodar as indústrias, seus provedores e trabalhadores, gerando amplas regiões urbanizadas no seu entorno: regiões metropolitanas.

A cidade, no entanto, lócus da tríade do excedente coletivo, do poder político e da festa não poderia desaparecer, pois representa e sintetiza a sociedade que a gerou. Lefebvre (1999) descreve então, metaforicamente, o que lhe acontece: a cidade industrial sofre um duplo processo, de implosão e explosão. A implosão se dá na cidadela sobre si mesma, sobre a centralidade do excedente/poder/festa que se adensa e reativa os símbolos da cidade ameaçada pela lógica (capitalista) industrial. A explosão se dá sobre o espaço circundante, com a extensão do tecido urbano, forma e processo sócio-espacial que carrega consigo as condições de produção antes restritas às cidades estendendo-as ao espaço regional imediato e, eventualmente, ao campo longínquo conforme as demandas da produção (e reprodução coletiva) assim o exijam.

Diante disso o tecido urbano sintetiza, o processo de expansão do fenômeno urbano que resulta da cidade sobre o campo e, virtualmente, sobre o espaço regional e nacional como um todo.

O urbano no mundo contemporâneo é entendido como forma, sintetizada da antiga dicotomia cidade-campo, que se estabelece com um terceiro elemento na oposição dialética, cidade-campo, a manifestação material e sócio-espacial da sociedade urbano-industrial contemporânea como um espaço social. Lefebvre (1999) usa a expressão sociedade urbana como síntese dialética da dicotomia cidade-campo, superada na etapa contemporânea do capitalismo que ele produz uma sociedade burocrática de consumo dirigido (Lefebvre, 1991). O urbano, ou o espaço urbano-industrial contemporâneo, se transforma em espaço social (re)definido pela urbanização, se estendendo virtualmente por todo o território através do tecido urbano, essa forma sócio espacial sucessora da cidade que caracteriza o fenômeno urbano contemporâneo e a sociedade urbana.

O tecido urbano prolifera, estende-se, corrói os resíduos de vida agrária. Estas palavras, „o tecido urbano‟, não designam, de maneira restrita, o domínio edificado nas cidades, mas o conjunto das manifestações do predomínio da cidade sobre o campo. Nessa acepção, uma segunda residência, uma rodovia, um supermercado em pleno campo, fazem parte do tecido urbano (LEFEBVRE, 1999, 17). 38

O autor demonstra nesta oportunidade que a presença dos aparelhos geográficos apossados pela cidade como condição de permanência neste espaço, quando presente no campo cria uma condição de interpretação da produção do espaço urbano, não estritamente ligado a cidade, se estendendo suas teias além das definições politicamente estabelecidas. Somente com a cidade industrial que vamos observar a ampliação da sua área de atuação e desenvolvimento sobre as regiões circundantes dando origem a uma nova forma de urbanização que ao mesmo tempo estendeu e integrou também a práxis sociopolítica e espacial própria do espaço urbano-industrial ao espaço social como um todo. À medida que o tecido urbano se estendeu sobre o território, levou com ele os germes da polis, da civitas, da práxis política urbana que era própria e restrita ao espaço da cidade. A luta política pelo controle dos meios coletivos de produção que caracterizavam a cidadania contemporânea bem como os movimentos sociais no ambiente urbano que emergiram nos anos de 1970 mostrou que a luta pela cidadania estava latente nas cidades e nas áreas urbanas. A década de 1980, no entanto, mostrou que esses movimentos haviam se estendido para além desses limites, atingindo todo o espaço social. Os movimentos sociais perderam sua adjetivação de urbanos na medida em que passaram a abranger populações rurais e tradicionais, como índios, seringueiros, trabalhadores sem terra, entre outras.

Assim, a questão urbana havia se transformado na questão espacial em si mesma e a urbanização passou a constituir uma metáfora para a produção do espaço social contemporâneo como um todo, cobrindo potencialmente todo o território nacional em bases urbano-industriais. Por outro lado, a politização própria do espaço urbano agora estendido ao espaço regional reforça preocupações com a qualidade da vida quotidiana, o meio ambiente, enfim, a reprodução ampliada da vida. O industrial passou a ser, pelo menos virtualmente, submetido a limitações do urbano e por exigências da reprodução. Nesse contexto, a re- politização da vida urbana torna-se a re-politização do espaço social, Lefebvre (1991), aponta que “a problemática do espaço, a qual dialogamos os problemas da esfera urbana ( a cidade e suas extensões) e da vida cotidiana (consumo diário) deslocou a problemática da industrialização”.

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Diante do exposto já se pode falar de uma sociedade virtualmente urbana no Brasil. A urbanização brasileira se intensificou na segunda metade do século XX, quando o capitalismo industrial ganhou momento no País e dinamizou a economia a partir da consolidação das grandes cidades industriais, particularmente São Paulo, o grande pólo industrial do Brasil. A transformação de uma economia agro-exportadora em uma economia centrada na substituição de importações para o mercado interno redefiniu a cidade industrial como pólo de dinamização e de transformações seletivas no espaço e na sociedade brasileiras.

A cidade industrial surgiu no Brasil a partir de duas vertentes principais, não necessariamente excludentes entre si: a primeira, a transformação da cidade política, tradicional sede do aparelho burocrático de Estado e espaço de comando das oligarquias rurais ligadas à economia agroexportadora, em cidade mercantil, marcada pela presença do capital exportador e/ou concentração de comércio e serviços centrais de apoio às atividades produtivas rurais em centro de produção industrial; a segunda, a criação e/ou captura de pequenas cidades como espaços de produção mono-industrial por grandes indústrias. Apenas essas cidades industriais, grandes, médias ou pequenas (mono-industrial) reuniam as condições exigidas pelo capitalismo industrial, onde o Estado regulava as relações entre capital e trabalho, fazia investimentos em infra-estrutura, garantia os meios de consumo coletivo, enfim, criava as condições gerais de produção para a indústria. Essas condições de produção estavam restritas ao que Santos (1994) chamou arquipélago urbano, evidenciando o caráter fragmentário e desarticulado da sociedade urbana brasileira. Nesse contexto, a cidade industrial era peça central da dinâmica capitalista articulando-se com cidades comerciais e centros urbanos que canalizavam a produção para sua área de influência e controle. Era também nessas cidades, e apenas nelas, que se concentravam as possibilidades de acesso às facilidades da vida moderna, à cidadania, à urbanidade e à modernidade.

O tecido urbano, no Brasil, teve sua origem na política territorial ao mesmo tempo concentradora e integradora dos governos militares em seqüência à centralização e expansionismo do período Vargas e às ações de interiorização do desenvolvimento do período Juscelinista. O velho binômio “Energia e Transporte” transformaram-se nos anos de 1970 em investimentos em infra-estrutura (rodovias, hidrelétricas), comunicações, serviços financeiros, entre outros. Os capitais internacionais que demandaram o Brasil associaram-se à construção

40 civil, ao latifúndio subsidiado e a agroempresa, que constituíam alguns dos acordos das elites econômicas nacionais e regionais para apoio ao militarismo (inter)nacional. Através do tecido urbano estenderam-se o (aparato do) Estado, a legislação (trabalhista e previdenciária), redes de comunicações, serviços urbanos e sociais (produção e consumo), potencialmente por todo o País, dos centros dinâmicos às fronteiras de recursos naturais.

1.5. – Função urbana

No âmbito deste estudo, a função urbana está sendo tomado como resultado e representações de relações, estabelecidas entre o espaço natural e a sociedade que o ocupa. Neste sentido, Santos esclarece:

Instância econômica e a instância cultural-ideológica. Isso significa que, como instância, ele contém e é contido pelas demais instâncias, assim como cada uma delas o contém e é por ele contido. A economia está no espaço, assim como o espaço está na economia. O mesmo se dá com o político- institucional e com o cultural-ideológico. Isso quer dizer que a essência do espaço é social. Nesse caso, o espaço não pode ser apenas formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto é a Natureza. O espaço é tudo isso, mas a sociedade; cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual (SANTOS, 1992, p. 1-2).

Observamos a partir desta Referência que o autor vê o espaço geográfico como um inter-relacionamento de objetos da natureza com as ações desenvolvidas pela sociedade que possibilitam a construção dos significados sociais no espaço-tempo.

Diante disso a intensificação do fenômeno de mundialização, ocorrido do século XX, as sociedades abriram-se para uma circularidade mais ampla de influências culturais e econômicas diversas e de informações. Neste contexto, as relações de identidade dos sujeitos são fabricadas pelo seu modo de vida nos espaços que construíram e pelos quais transitam. Ou seja, os sujeitos se apropriam, criam, definem, (des)constroem, legitimam e relacionam-se nos espaços.

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É válido ressaltar, nesta perspectiva, que a sua própria natureza é resultado de ações que lhe atribuem um dinamismo e uma funcionalidade específica, construindo uma significação social, como fato e fator, que segundo Carlos:

Um espaço que, em última instância, é uma relação social que se materializa formalmente em algo passível de ser apreendido, entendido e aprofundado. Um produto concreto, a cidade, o campo, o território – nessa perspectiva o espaço, enquanto dimensão real que cabe intuir – coloca-se como elementos visíveis, representação de relações sociais reais que a sociedade é capaz de criar em cada momento do seu processo de desenvolvimento. Conseqüentemente, essa forma apresenta-se como história, especificamente determinada, logo concreta (CARLOS, 2001, p. 28).

Neste contexto, a cidade se apresenta, como:

[...] uma realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo do processo histórico e que ganha materialização concreta, diferenciada, em função de determinações históricas específicas. [...] A cidade, em cada uma das diferentes etapas do processo histórico, assume formas, características e funções distintas. Ela seria assim, em cada época, o produto da divisão, do tipo e dos objetos de trabalho, bem como do poder nela centralizado (CARLOS, op. cit., p. 57).

A cidade de Nobres como realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo do processo formação como um ponto de confluência regional no médio norte mato- grossense, assume em função com posição estratégica no mínimo interessante, por estar na rota da principal rodovia do federal BR-163/364 que liga a capital ao norte do Estado.

A constituição da cidade de Nobres se estabelece num processo histórico mais amplo, relacionado à formação do perfil territorial brasileiro, que, a partir do século XX, se engaja no processo de integração mundial como parte integrante da atual configuração do mundo capitalista, atrelado às relações de formação e reprodução do capital. Neste contexto, a localidade estudada interage no processo de formação do seu espaço a partir da suas várias relações produtivas com o capitalismo em desenvolvimento e ganha visibilidade regional. Neste processo encontram-se estratégias e movimentos centralizadores, estando este ato firmado num contexto imbricado nas condições econômicas, sociais, políticas e ambientais, que, juntas tornam as cidades pontos estratégicos dos planos de ações e planejamentos, centrados nas condições de desenvolvimento que cada uma, por si, necessita para seu desempenho no contexto da hierarquia das cidades. Um dos fatores que contribuiu e continua

42 sendo um forte atrativo para a formação e a permanência da centralidade da cidade é a sua localização geográfica.

Entre os pioneiros da articulação do tempo/espaço, em relação à urbanização, temos Lefebvre (1972), para quem o espaço não se resumiria a um reflexo das relações sociais de produção e a urbanização, por sua vez, enquanto processo de disseminação do urbano, que se ampliava e generalizava-se em escala mundial – “deveria ser entendida enquanto expressão das relações sociais ao mesmo tempo em que incidiria sobre elas”

Diante do que se estabeleceu sobre o espaço geográfico, o espaço urbano, a questão que se coloca é a seguinte: se há um meio (estrutura) e se há movimentos (processos) deve haver uma paisagem apropriada para a ação dos produtores sociais. Nesta perspectiva surge um novo conceito a ser colocado: forma, que representa os tempos múltiplos, indicando mudanças, mas também estabilidade. As mudanças e estabilidade representam a presença de tempos passados no tempo presente.

De acordo com Santos (1985), forma é o aspecto visível, exterior, de um objeto, seja visto isoladamente, seja considerando-se o arranjo de um conjunto de objetos, formando um padrão espacial. A forma, se apresentada isoladamente, apreenderíamos apenas a aparência, abandonando a essência e as relações sociais aí estabelecidas (ibid., 1995, p. 28). Em virtude disso, forma e função não podem ser dissociadas. A noção de função aqui posta, apoiado em Corrêa (1989), implica um trabalho, atividade ou papel a ser desempenhada pelo objeto criado, a forma. Habitar, vivenciar o cotidiano em suas múltiplas dimensões – trabalho, comprar, lazer, etc. – são algumas das funções associadas à casa, ao bairro, à cidade e à rede urbana

No caso abordado, o município de Nobres, é um espaço territorial e social sob os moldes do modo capitalista de produção. A cidade de Nobres é composta por diversos bairros – subespaços, e em cada subespaço ocorrem simultaneamente movimentos e ações.

Essas ações ocorrem tanto na fábrica de cimento, ou calcário, como numa casa comercial, ou numa casa habitacional, numa avenida asfaltada [formas]. A fábrica [forma] abriga uma atividade – produzir cimento [função]; a casa comercial [forma] – vende produtos 43 manufaturados [função]; a casa habitacional [forma] – é residência [função]; na avenida asfaltada [forma] – viandantes e carros dividem o direito de ir e vir [função]. Forma e função representam tempos múltiplos, de mudanças e permanência.

A área da cidade de Nobres, por muitos anos, fazia parte da zona rural do município de Rosário Oeste: onde se encontrava propriedades perpassadas, sítios, que tinham como base econômica a agricultura de subsistência, tendo a criação de gado e os alambiques como principais setores econômicos. Nas demais propriedades se desenvolviam a criação de pequenos animais (pato, galinhas, vacas leiteiras, entre outros); passou de propriedade privada para área pública, transformou-se em setor habitacional, área urbana. Em virtude dessas transformações, tanto na sua forma quanto na sua função houve a instituição de uma nova paisagem, agora urbana, completamente diferente da original. Como afirma Santos:

O mundo oferece as possibilidades: e o lugar oferece as ocasiões. Não se trata aqui de um „exército de reserva‟ de lugares, senão da produção raciocinada de um espaço, no qual cada fração do território é chamada a revestir características específicas em função de atores hegemônicos, cuja eficácia depende doravante de uma produtividade espacial, fruto de um ordenamento intencional e específico (SANTOS, 1994, p. 50).

As idéias expostas do autor pretendem que se apreenda o espaço como estrutura indissolúvel, cuja essência é mutável e que é, na força do trabalho humano, que está a transformação do espaço natural e das relações sociais, como Santos desvenda:

[...] estrutura é muito mais fácil de apropriar, pois é o presente, ao passo que a forma é o resíduo de estruturas que foram presentes no passado.Destas, algumas já desapareceram da nossa visão, e às vezes mesmo do nosso entendimento. Nos conjuntos que o presente nos oferece, a configuração territorial, apresentada ou não em forma de paisagem, é a soma de pedaços de realizações atuais e de realizações do passado (SANTOS, 1994, p. 69).

Nesta visão concordamos com o autor, pois a nossa condição de entendimento em relação ao conteúdo das formas constituídas no presente e no passado só podem ser apuradas com a estrutura estabelecida no momento de construção ou de reconstrução do seu conteúdo, tendo como referência as suas funções a sociedade.

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Apreendendo este princípio, perceberá a alteração da realidade, por que o espaço, além de abrigar as várias dimensões de poder é o suporte de variadas atividades com seus limites políticos e territoriais e, principalmente, é o palco das desigualdades sociais.

As disposições em questão objetivam, ainda, demonstrar que o processo como fator de produção do espaço, promoveu na cidade de Nobres transformações substanciais na paisagem, onde se incorporaram novas formas: residências, lojas comerciais, ruas, entre outros, promovendo o surgimento de conjuntos habitacionais e a chegada de diversas fábricas extrativistas. Estas novas formas guardam em si a memória de tempos diferentes. É a materialidade e também à historicidade que se podem encontrar explicações desta dialética, tempo-espaço: o novo e o antigo coexistindo. A cidade de Nobres apresenta como um conjunto de elementos (bairros) sem grandes diferenças estruturais e sociais, tendo sim hierarquia, mas com diferenças não muito expressivas: são áreas nobres, áreas comerciais, áreas suburbanas, etc., de forma que, aparentemente, ela apareça dividida, mas, abarcando um mesmo território limítrofe, é integrada: é o entendimento planificado de singularidades, coordenado pela “mão invisível” do capitalismo.

Assim, a cidade, como lugar materializado, é definida pela capacidade sócio- econômica de seus habitantes, pois para apropriar e utilizar-se do solo urbano, paga-se um valor, restringindo, dessa forma, sua apropriação. Esta apropriação privilegia aos donos do capital ou ao poder institucional, como bem afirma Rodrigues:

Para morar é necessário ter capacidade de pagar por esta mercadoria não fracionável, que compreende a terra e a edificação, cujo preço depende também da localização em relação aos equipamentos coletivos e à infra-estrutura existente nas proximidades da casa terreno (RODRIGUES, 2003, p.14).

A idéia do autor no leva a refletir no direcionamento que a mancha urbana toma no decorrer do seu processo de formação, pela necessidade de se pensar além das condições naturais da área de ampliação, o seu valor, que vem a determinar o publico pelo qual a área pretende estabelecer.

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Um exemplo dentro da cidade de Nobres é a Cohab Marzagão, área territorial adquirida pelo poder municipal para fins de habitação popular, aprovado seu financiamento junto a Caixa Econômica Federal. O loteamento teve destinação e direcionamento a abrigar uma população de baixo poder aquisitivo, não havendo reserva para áreas comercial e/ou industrial.

Santos, define esses lugares, “como a extensão do acontecer homogêneo ou do acontecer solidário e que se caracteriza por dois gêneros de constituição: uma é a própria configuração territorial outra é a norma, a organização, os regimes de regulação” (Santos, 1994:36). Com a criação desses lugares o mapa da cidade vai se redefinindo, pois acolhe novas formas, ampliando o urbano, reordenando os lugares, as ações e os atores - seja pela semelhança ou pela diferença. Para se compreender a dinâmica na construção dos espaços urbanos, e o processo de degradação ambiental resultante, Carlos propõe uma análise do contexto sócio-espacial a partir da organização da produção e das relações sociais que se estabelecem no processo produtivo. O desenvolvimento das forças produtivas produz mudanças constantes e, com essas, a modificação do espaço urbano. Essas mudanças são hoje cada vez mais rápidas e profundas, gerando novas formas de configuração espacial, novo ritmo de vida, novo relacionamento entre as pessoas, novos valores (Carlos, 1997:69).

Dentro dessa lógica capitalista – que compensatoriamente traria uma melhor qualidade de vida ao citadino – o que realmente interessa é viabilizar economicamente os novos empreendimentos. Para tanto, as atividades produtivas capitalistas agem como determinantes na conformação dos espaços, impondo aos habitantes, sobretudo nas periferias, seus objetivos, seu ritmo, seus interesses. Veja ainda o que diz Carlos:

É no espaço urbano que se reproduz a contradição. É, sobretudo, a divisão social do trabalho que diferencia o campo da cidade e que joga quem foi expropriado de seus meios de vida na convivência com os que se apropriam do espaço. É, portanto, teia viva de relações sociais e, no caso da cidade orgulhosamente capitalista, é também expressão imediata de uma forma de exploração social e econômica (CARLOS, 1997, p.28).

O autor demonstra que o espaço urbano é lugar da relação explorador e explorado, tema central do desenvolvimento e estabelecimento do capitalismo, sendo a cidade sua referência prática demonstrada a partir da divisão regional do trabalho.

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A concentração da riqueza na cidade acompanha o aumento da miséria. Segundo Carvalho “a conseqüência desse processo é o surgimento de uma cidade fragmentada em blocos formais, que têm base na produção capitalista, e blocos informais, que têm base na produção espontânea” (Carvalho, 1999:48). Já na visão de Spósito (1997), “as áreas mais afastadas e densamente povoadas, ficam entregues ao descaso do poder público”. Essa lógica pode ser entendida como sendo a necessidade que tem o capitalismo de dar continuidade ao ciclo de produção e circulação do capital. A concentração da riqueza, característica própria do capital, e a expansão urbana não planejada levam à supervalorização de alguns espaços, forçando a retirada deles aqueles que não conseguem caminhar de acordo com o processo estabelecido. Por sua vez, estes se deslocam desbravando espaços ainda não tão supervalorizados. É nesta lógica que atuam as migrações rural-urbanas e intra-urbanas.

Segundo Gottidiener (1999), forças políticas e ideológicas são igualmente importantes na produção do espaço, “já que a interseção dessas forças sociais envolve um processo contingente, muitas vezes com resultados contenciosos, a produção de espaço é bem mais apreendida como complexa articulação entre estrutura e ação, que está sempre em movimento”

Os investimentos públicos, geralmente, visam garantir a reprodução do capital, seja garantindo infra-estrutura para tal, seja conduzindo o uso e ocupação do solo urbano. O poder público atua como mediador entre a sociedade e o capital, gerenciando conflitos que possam interferir na realização do ciclo do capital. Neste contexto, as relações de produção se manifestam através dos conflitos e contradições inerentes à sociedade. Tais conflitos e contradições estão vinculados à divisão territorial do trabalho, à distribuição de renda, ao acesso à infra-estrutura, aos serviços e bens de consumo. De acordo com Corrêa (1989) “por ser um reflexo social, o espaço é fragmentado e, especialmente na cidade capitalista é profundamente desigual”.

De acordo com Santos (1994), a temporalidade e, conseqüentemente, o componente cultural - da informação, dos costumes, dos valores – não podem ser esquecidos no processo

47 de construção dos espaços. Aliás, vive-se atualmente uma fase da história em que cresce o enfoque da importância dos fatores culturais na construção da paisagem.

Em síntese, a produção do espaço urbano e, se explica, em grande parte, pela estrutura produtiva, pelas ações do poder público e por fatores culturais que permeiam esses processos. Tomando como Referência o processo de urbanização brasileira, observa-se que de acordo com o contexto sócio econômico do momento muda a natureza do seu desenvolvimento. Se utilizando das contribuições de CHAFFUN (1997), identificamos que o processo de urbanização no Brasil seguiu uma regra de transformações que tinha como reflexo a estrutura econômica, social, política e demográfica ocorridas. Para ele este processo se divide em três períodos; o primeiro se estabelece entre os anos de 1930 a 1945, período em que a distribuição populacional brasileira acabava por refletir as características dos diversos ciclos econômicos. O Brasil tinha como estrutura uma sociedade rural, tendo suas cidades, localizadas, em sua maioria na costa leste do País, mais precisamente no litoral brasileiro, tendo estas cidades o porte pequeno, não ocorrendo relacionamento entre si. Estas cidades correspondiam a 32% da população total.

O outro período é marcado pelo advento da segunda guerra mundial, que acabou por alavancar a aceleração da atividade industrial no País. Nesse momento surgem novas oportunidades de emprego na própria indústria, no comércio e na prestação de serviços. Com as conquistas tecnológicas que possibilitaram a modernização do setor produtivo, observa-se neste momento um grande fluxo migratório, incentivados principalmente pelos investimentos em infra-estrutura nas cidades. Onde há a inversão na distribuição populacional, com o aumento expressivo da população urbana em relação à rural.

Já no período compreendido pós anos 1980 ocorre à diminuição no ritmo de crescimento urbano nas metrópoles e o aumento considerável de cidades com população em torno de 20 a 50 mil habitantes. Fato ocorrido pelo crescimento de outras atividades econômicas no País, que absorvem número de trabalhadores não expressivo. Outro fator é a preferência por muitos, que fugindo das crises econômicas passadas pelo País de se estabelecerem longe das metrópoles. Diante desses dados observa-se que a formação bem como o desenvolvimento das cidades brasileiras acontece de forma acelerada e “desordenada”

48 de acordo com os interesses políticos e econômicos do momento histórico sem a menor intenção em se preocupar com as possíveis conseqüências.

Já Santos (1993), nos trás que o processo de formação do espaço urbano no Brasil teve três séculos para o seu nascimento desenvolvimento e consolidação até chegar ao estágio atual. Seu desenvolvimento teve inicio no século XVIII, quando o residir na cidade ganhou importância social. Já no século XIX se intensificou o processo de urbanização, mas somente no século XX, que vamos observar o aumento e a superação d população urbana em relação à rural. Sendo que apesar de o processo de urbanização ter seu inicio no século XVIII, somente a partir de 1940 vamos ter um acentuado desenvolvimento do fenômeno no Brasil. Santos (1993) aponta que em 1994 a população urbana brasileira atingia 26,35% da população total. Já em 1960 a porcentagem de população urbana atingiu 45,52%. E nas décadas de 1970 e 1980 temos mais da metade da população brasileira residindo na área urbana, chegando em 1980 a 68,86%. Já na década de 1990 o índice de urbanização ultrapassou a casa de 75% atingindo os anos 2000 81,24%.

Menezes (1996) em sua análise retrospectiva acerca das políticas de desenvolvimento urbano no Brasil;

 Observa que até 1930, a cidade não era motivo de preocupação por parte do estado, que tinha naquele momento como ambiente econômico o espaço rural que movimentavam o modelo agro exportador que o País vivia. A cidade neste momento já é vista como ambiente comercial, lugar de acumulação de capital pelas autoridades burocráticas, mas não tendo ainda planos estratégicos de governo visando o desenvolvimento das cidades neste período.

 No período compreendido a partir de 1930, a cidade ganha novos aspectos. Neste momento temos o inicio da industrialização no País, ocorrendo o uso do excedente criado pela economia agro-exportadora, acarretando acelerado deslocamento da população do campo em direção a cidade, ampliando a divisão social do trabalho.

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 No período compreendido pós 1964, o Estado Brasileiro é visto a partir de um prisma desenvolvimentista. Nesse momento as políticas públicas de estado são centralizadas no governo federal, passando a ser responsável pela superação dos entraves políticos da gestão publica local, aos quais se julgavam ser praticas ineficientes. Nesse momento surge políticas de (re)adequação do espaço urbano de parcela da população que se encontravam desajustadas em relação ao modelo urbano que o Estado exigia, criando programas habitacionais subsidiados pelo Banco Nacional de Habitação (BNH) e pelo Sistema Federal de Habitação (SFH) ambos criados em 1964.

 A partir de 1970, período conhecido como o “Milagre Brasileiro”, ela já era tida como um elemento importante ao processo econômico do País, exigindo por parte do Estado um olhar planejador a partir desse momento. Neste momento cria-se a idéia da preparação da cidade para industrialização, sendo este fator de desenvolvimento e modernização.

A partir das Referências do autor, observamos o processo de produção do espaço social e econômico brasileiro, tendo como viés de analise as cidades brasileiras com momentos diversificados, obtendo grau de importância do Estado a partir do momento que a sociedade “escolheu” se estabelecer na cidade, obrigando o mesmo a observar este espaço social com olhar especifico organizacional, pois o mesmo se tornou foco de transformação e em muitos casos de resistência a determinas políticas publicas implementadas pelo Estado.

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CAPITULO II

CONTEXTUALIZAÇÃO ESPACIAL DO OBJETO DE ESTUDO

O presente estudo toma como referência o espaço urbano nobrense, palco das realizações sociais complexas onde se estabelece a construção do espaço ocorre no processo de constituição dos sujeitos, na apropriação e uso de valores histórico-sociais e culturais. Portanto, perceber o espaço consiste num movimento de apreensão de tramas tecidas em torno de sua geografia, sua história, sua economia, sua política e as práticas sociais dos agentes produtores envolvidos.

No âmbito deste estudo, o espaço está sendo tomado como resultado e representações de relações várias, estabelecidas entre o espaço natural e a sociedade que o ocupa. Neste sentido, Santos infere que:

Instância econômica e a instância cultural-ideológica. Isso significa que, como instância, ele contém e é contido pelas demais instâncias, assim como cada uma delas o contém e é por ele contido. A economia está no espaço, assim como o espaço está na economia. O mesmo se dá com o político-institucional e com o cultural- ideológico. Isso quer dizer que a essência do espaço é social. Nesse caso, o espaço não pode ser apenas formado pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo conjunto é a Natureza. O espaço é tudo isso, mas a sociedade; cada fração da natureza abriga uma fração da sociedade atual (SANTOS, 1992, p. 1-2).

A partir do fenômeno de mundialização, ocorrido do século XX, as sociedades abriram-se para uma inter-relação mais ampla de influências culturais e econômicas diversas e de informações. Nesse contexto, as relações de identidade dos sujeitos são fabricadas pelo seu modo de vida nos espaços que construíram e pelos quais transitam, ou seja, os sujeitos se apropriam, criam, definem, destroem e constroem, legitimam e relacionam-se nos espaços.

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Ressalta-se que a própria natureza do espaço é resultado de ações que lhe atribuem um dinamismo e uma funcionalidade específica, construindo uma significação social, como fato e fator, que segundo Carlos sendo:

[...] em última instância, é uma relação social que se materializa formalmente em algo passível de ser apreendido, entendido e aprofundado. Um produto concreto, a cidade, o campo, o território – nessa perspectiva o espaço, enquanto dimensão real que cabe intuir – coloca-se como elementos visíveis, representação de relações sociais reais que a sociedade é capaz de criar em cada momento do seu processo de desenvolvimento. Conseqüentemente, essa forma apresenta-se como história, especificamente determinada, logo concreta (CARLOS, 2001, p. 28).

Entendemos que a cidade de Nobres, é o resultado da realização humana, criação esta que vai se concretizando ao longo do processo de formação regional mato-grossense obedecendo as necessidades postas pelos agentes produtores em cada momento, criando no espaço urbano de Nobrense um ponto de confluência regional no médio norte mato-grossense, com a função estratégica, num primeiro momento de acessibilidade econômica entre as regiões sul e oeste do Estado, retomando as antigas funções do primeiro núcleos urbano, sendo um entreposto comercial, um centro intermediário entre as cidades de Cuiabá e , que após os anos de 1970 sofre mutação funcional obedecendo a um novo papel no cenário regional econômico, o de fornecedor de insumo agrícola, especificamente o calcário, bem como no momento inicial oferecendo serviços e mão de obra para a abertura desta nova frente de expansão econômica no Estado de Mato Grosso. Carlos ainda confirma o seu entendimento dizendo que a cidade é uma:

A cidade, em cada uma das diferentes etapas do processo histórico, assume formas, características e funções distintas. Ela seria assim, em cada época, o produto da divisão, do tipo e dos objetos de trabalho, bem como do poder nela centralizado (CARLOS, op. cit., p. 57).

O estabelecimento da cidade de Nobres se dá num processo mais amplo, relacionado à formação do perfil territorial brasileiro, que, a partir do século XX, situa-se no bojo da configuração do mundo tendo como Referência a formação e reprodução do capital. Neste contexto, a localidade estudada interage no processo de formação do seu espaço a partir da suas várias relações produtivas com o capitalismo e ganha visibilidade regional. 52

Nesse processo encontram-se estratégias e movimentos centralizadores, estando esse ato firmado num contexto imbricado nas condições econômicas, sociais, políticas e ambientais, que, juntas tornam as cidades pontos estratégicos dos planos de ações e planejamentos, centrados nas condições de desenvolvimento que cada uma, por si, necessita para seu desempenho no contexto da hierarquia das cidades.

Cabe deixar claro ainda que entendemos Nobres com características funcionais de “cidade-local”. Que em relação ao entendimento sobre esta questão de pequenas cidades, tomamos como referência Santos (1979), que situa as cidades pequenas, pelo entendimento de “cidades locais”, ele ainda faz um chamamento dizendo que os estudos de cidade pequenas devem receber uma maior atenção nos estudos. Santos, entende ainda que quando se fala em cidades pequenas tem-se a idéia de valores numéricos da população, tendo uma natureza delimitada pelo “número que exprime a população” continuando com o autor ele nos diz que a cidade local pode ser entendida como “a aglomeração capaz de responder às necessidades vitais mínimas, reais ou criadas, de toda uma população, função esta que implica uma vida de relações” (Santos, 1981:71). Neste caso a cidade local “facilita o acesso da população aos bens e serviços” a um valor inferior ao dos centros de nível superior. Considerando o sistema urbano, a cidade local, independente de sua localização, sempre se encontra na periferia do sistema. Daí a importância das cidades média como referências primeiras no atendimento das demandas das cidades locais, num movimento de “dirigir-se a um nível urbano mais elevado na rede que oferece produtos e serviços quantitativamente e qualitativamente mais diversificados” (Santos, 1981:243).

Não podemos deixar de dizer que no estado de Mato Grosso, o nível de ruralidade da população dos pequenos municípios apresenta interessante participação. Continuando ainda nas pequenas cidades, Santos coloca que as estatísticas internacionais estabeleceram o marco de 20 mil habitantes para as cidades com características de cidade local, sendo necessário o não perder de vista as questões referentes a outros fatores que acabam por influenciar no entendimento conceitual da mesma (Santos, 1981, p. 15).

Um dos fatores que contribuiu e continua sendo um forte atrativo para a formação e a consolidação do espaço urbano nobrense foi a sua condição geológica e a sua localização geográfica.

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2.1– Contextualizando o espaço regional

Para entender o espaço urbano nobrense precisamos primeiramente estabelecer algumas condições quanto ao processo de produção do espaço regional ao longo da recente ocupação ocidental/européia do atual território mato-grossense, não deixando de reconhecer que esse espaço antes da chegada dos bandeirantes já tinha dono, mas que a partir da chegada dos mesmos, sofreu grandes mudanças sociais, culturais, econômicas e ambientais que se refletem nos dias atuais.

Traçando uma linha do processo de ocupação do território mato-grossense de acordo com o tratado de Tordesilhas, conforme pode ser visualizado a seguir na figura 1 datado de 1494 entre os reinos de Portugal e Espanha que instituía as terras descobertas a oeste desta linha pertenceria à Espanha, contrariamente as que se encontrassem a outra margem pertenciam a Portugal, o território hoje conhecido como Mato Grosso pertenceria à Espanha.

Figura 1 - Linha de demarcação entre terras atribuídas a Portugal e Espanha Fonte: Ferreira, 2001,p.27 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 54

Segundo Póvoas(1995) A incorporação do território mato-grossense a coroa portuguesa despontou a partir dos interesses despertados na mesma em relação aos metais preciosos encontrados além da linha de Tordesilhas (1494) que aos poucos foi sendo desrespeitada, e que após o tratado de Madri em 1750 acabou por legitimar estes avanços portugueses em território espanhol. Higa analisa que;

Objetivando ampliar seus domínios territoriais, descobrir metais preciosos, aprisionar índios para mão-de-obra escrava e, conseqüentemente, aumentar a produção mercantil, foram organizadas no século XVII expedições designadas de Entradas e Bandeiras, que deixaram a faixa litorânea e se aventuraram em direção ao oeste, na tentativa de ocupar definitivamente as vastas áreas oficialmente espanholas (HIGA, 2001 p.79).

A presença da coroa portuguesa na região do hoje território Estado de Mato Grosso teve como fatores responsáveis, primeiro a não apropriação por parte da coroa espanhola das áreas interioranas de sua posse, sendo que as principais áreas de atenção da coroa espanhola se encontravam na costa oeste do continente sul-americano, de onde nos século XVI, XVII e XVIII, tinham como principal foco de exploração a prata. Siqueira (2002, p. 27) nos mostra o desinteresse por parte da Coroa espanhola pela porção central do continente sul-americano, fato este que se deve principalmente pela abundância de metais preciosos na porção ocidental e também pela grande presença contingencial de povos indígenas acuados pelos portugueses que adentravam o continente de leste a oeste, formando assim uma grande fronteira viva entre os dois impérios.

Inicialmente o interesse dos bandeirantes paulistas que adentraram na região era exatamente o de capturar índios e mercadoria abundante na região, para sua comercialização nos mercados de São Paulo.

Póvoas(1975) nos trás ainda que em 1719, membros da expedição de Pascoal Moreira Cabral, ao descobrirem algumas pepitas de ouro nas denominadas Minas de Cuiabá, pertencentes na época à Espanha, mas que com as investidas da Capitania de São Paulo, iniciaram o ciclo de exploração das minas no território mato-grossense. Diante destas descobertas de ouro e respaldado pela grande divulgação da descoberta das "Lavras do Sutil", em 1722, fez com que a migração oriunda de todas as partes da colônia se tornasse muito

55 intensa, fato que tornaria Cuiabá segundo Ferreira (2001), no período de 1722 a 1726, uma das cidades mais populosas do País.

A ocupação do território mato-grossense, que fora iniciada no século XVIII na porção Sul do Estado, em decorrência das descobertas e do desenvolvimento das atividades de mineração de ouro e diamante, durante o século XIX instalou-se, pReferêncialmente, nas áreas do Pantanal Mato-grossense e nas Depressões do , Cuiabana e Guaporé (SEPLAN-MT, 2002).

Embora existam significativas discrepâncias relacionadas às datas de criação dos municípios mais antigos, foi no período que se estende pelos séculos XVIII e XIX, que ocorreu segundo Vilarinho Neto(2002) a criação de povoados como Cuiabá (1719), Vila Bela da Santíssima Trindade (1737), Diamantino (1728), Cáceres (1778) e Poconé (1778). Além do garimpo, a exploração da poaia (Cephaëlis ipecacuanha A.Rich), planta possuidora de propriedades eméticas, que ocorria em ambientes da Floresta Estacional, entre os rios Paraguai e Guaporé, propiciou o desenvolvimento de Cáceres, além de condicionar o surgimento de Barra do Bugre, às margens do Rio Paraguai Silva, (1992, p. 33).

No início do século XX a ocupação estendeu-se progressivamente para Leste, no sentido da Bacia do Araguaia e das rotas de ligação entre as regiões meridionais e setentrionais do País. Nessa área a ocupação também ocorreu em função da atividade de mineração, criando centros para o suprimento de bens de consumo para a população atraída por essa atividade.

A primeira metade do século XX é marcada pelas descobertas de jazidas diamantíferas na porção Sudeste do Estado, no vale dos rios Araguaia, Garças e São Lourenço, dando início ao processo de povoamento dessa região, com a criação dos núcleos que originaram as atuais cidades de , Barra do Garças, , , , , Alto Garças, Poxoréo, e . Simultaneamente, expande-se também a ocupação na região de Alto Paraguai e Diamantino, pelo desenvolvimento das atividades agropecuárias nessa região e no entorno de Cuiabá, com ênfase para o cultivo da cana-de-açúcar. (SEPLAN-MT, 2002).

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Expedições exploratórias e científicas, como a Expedição Roncador-Xingu e a Expedição Rondon, esta implantou a linha telegráfica, induziram a criação de diversos núcleos urbanos como Rondonópolis, General Carneiro, , Porto Esperidião e foram importantes no processo de ampliação da ocupação do território mato-grossense.

Nessa época, os principais eixos de penetração correspondiam ao interflúvio entre o Rio Araguaia e o Rio Xingu, na região de São Félix do Araguaia e Cocalinho, no Vale do Guaporé e nas regiões mineradoras de Diamantino e Alto Paraguai.

Nesse espaço em produção do Estado de Mato Grosso, está Nobres, conhecida como a capital do cimento e do calcário, pelo qual na seqüência estaremos fazendo breve contextualização do seu processo de formação.

2.2 – Área de Estudo

Iniciamos este tópico sem presunção nenhuma de estabelecer um processo definitivo do município de Nobres, mas simplesmente construir uma referência para o desenvolvimento analítico do trabalho proposto. A formação de Nobres necessita de um olhar específico de estudo que deveria ser entendido pelo poder público local como uma ferramenta de formação essencial para construção/consolidação da identidade da população em relação ao espaço que vive.

Como explicitado no tópico anterior o processo de ocupação do território mato- grossense, desenvolvemos aqui breves explanações sobre o processo de formação e consolidação do território do município de Nobres, território esse localizado na mesorregião norte mato-grossense, micro região do Alto Teles Pires, conforme figura a seguir (Figura 2).

Distante 140 km de Cuiabá, ao norte tem como limite político administrativo limitando-se com os municípios de Diamantino e , ao nordeste o município de , ao oeste com o município de Alto Paraguai e ao sul com o município de Rosário Oeste.

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Segundo informações presentes no livro, A História do Município de Nobres, de autoria de Wagner Florentino, (2001), tendo ainda em contato com informações de moradores mais antigos da cidade entre outras referências encontradas, o município tem como base territorial três sesmarias, sendo estas conceitualmente regiões incultas e despovoadas, que os reis de Portugal ou os governadores das capitanias concediam às pessoas de merecimentos de serviços, quer para nela tratarem da agricultura, quer para situarem os seus gados. (José Octávio, 1983, p. 76). Elas faziam parte do sesmarilismo sistema este que teve suas origens em Portugal e foi criado com o objetivo principal de promover a ocupação produtiva de terras não agricultadas através de doações realizadas pelo Estado.

As três sesmarias onde se estabeleceu a criação do município de Nobres foram, Bananal, Pontezinha e Francisco Nobre (região do atual município de Sorriso), essa última sesmaria que acabou por dar nome à região. É importante ressaltar que a região onde se localiza a sede municipal de Nobres, era território da sesmaria Bananal que tinha área territorial de 13.300 hectares, sendo por esse motivo a região anteriormente ser conhecida como Bananal.

Etimologicamente o nome Nobres, segundo Ferreira (2008 p.124) é um termo no plural do adjetivo de dois gêneros “nobre” sendo empregado para sobrenomes sob a forma “Nobre”. A palavra tem como origem no latim “nobïlis,ë” (arcaico: gnobïlis), designa-se titulo nobiliárquico, pertencente à nobreza, descendência ilustre, notável, digno de ser conhecido (GGS, AH). Homenagem à família Nobre.

O município de Nobres foi criado pela lei estadual Nº 1943, de 11 de novembro de 1963, por meio de movimentação política capitaneada pelo prefeito em exercício de Rosário Oeste e futuro primeiro prefeito eleito de Nobres, José Carrachid Sobrinho, que acabou por culmina com a emancipação política de Nobres, arregimentada pela Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso e sancionada pelo governador na época, Fernando Correa da Costa. Apesar de ter sido criado em 11 de novembro de 1963, somente em 01 de maio de 1965 ocorreu sua efetiva consolidação política administrativa, com a eleição e posse do primeiro prefeito eleito por sufrágio universal, pelo antigo PSD, José Rachid Sobrinho.

Em relação à Formação e consolidação do território do município de Nobres vamos ter as seguintes Referências;

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A região que hoje compreende o município de Nobres, nas divisões territoriais datadas de 31 de dezembro de 1936 e 31 de dezembro de 1937, se configurava oficialmente já como distrito jurisdicionado ao município de Rosário Oeste. Permanecendo essa situação administrativa na divisão territorial datada de 01 julho de 1960.

O Decreto Legislativo nº 475, de 09 de maio de 1962, desapropriou área para formação do patrimônio, sendo elevado o distrito de Nobres à categoria de município com a denominação de Nobres, pela lei estadual nº 1943, de 11 novembro de 1963, desmembrado do município de Rosário Oeste e Chapada dos Guimarães. Tendo sua sede à vila de Nobres, sede do antigo distrito de Nobres, ocorrendo sua instalação em 01 de maio de 1965.

Figura 2 Mapa do município de Nobres a partir de dados presentes na lei de criação do município, 1963 Fonte/Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 59

Em divisão territorial datada de 3 de dezembro de 1968, o município de Nobres é constituído somente do distrito sede, permanecendo isso até 29 de junho de 1976, quando parte de seu território foi destinado a criação do distrito de Sinop subordinado ao município de Chapada dos Guimarães.

Figura 3 - Mapa do Município de Nobres, 1976 Fonte/Organização: Anderson Boaventura, 2011

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Seguindo ainda a ordem cronológica territorial o município de Nobres teve nova reformulação administrativa pelas leis estadual nº 4265, de 12 de dezembro de 1980, onde foi criado o distrito de Santa Rita e a lei estadual nº 4.278, de 26 de dezembro de 1980, criando o distrito de Sorriso, ambos jurisdicionados ao município de Nobres.

Figura 4 - Mapa do Município de Nobres com seus distritos subordinados em 1980 Fonte/Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 61

Em 13 de maio de 1986, pela lei estadual nº 5.002 de autoria da mesa diretora da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso e sancionada pelo então governador na época Julio Campos foi criado o município de Sorriso. “Artigo 1º - Fica criado o município de Sorriso, desmembrado dos municípios de Nobres, e Sinop.”

Figura 5 - Mapa do Município de Nobres com o desmembramento de Sorriso, 1986 Fonte/Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 62

Na divisão territorial datada de 1988, o município de Nobres é constituído de dois distritos, sendo eles o distrito de Nobres, onde se localiza a cidade principal, objeto deste estudo sendo a sede administrativa do município. O outro distrito é o Santa Rita compreendido pelas regiões de São Manoel, Ranchão.

No decorrer do ano de 1988 ocorreu o processo de emancipação de Nova Mutum que por meio de plebiscito autorizado pelo decreto nº 2.678, de 10 de março de 1988, apurou resultado favorável á anexação do território compreendido pela região do distrito de Santa Rita passa-se a ser subordinado ao novo município que estava a surgir Nova Mutum, criado pela Lei nº 5.321, de 04 de julho de 1988, de autoria do deputado Hermes de Abreu e sancionado pelo governador Carlos Gomes Bezerra. “Artigo 1º - Fica criado o município de Nova Mutum, com área desmembrada dos municípios de Diamantino e Nobres”. A anexação somente vem a ocorrer em 20 de dezembro de 1991 por meio da lei estadual nº 5.916 sancionada pelo governador na época Jaime Campos, anexando à Nova Mutum, as comunidades Pacoval e Santa Rita.

No período compreendido pós-desmembramento do distrito de Santa Rita o município de Nobres não apresentou outras perdas significativas de território, ocorrendo neste período mudanças administrativas, tais como a criação de Novos distritos. Em divisão territorial datada de 1995, o município de Nobres é constituído de 3 distritos: Nobres (sede), Bom Jardim e Coqueiral, assim permanecendo até os dias atuais. Cabe ressaltar que já desde o inicio da década dos anos 2000 começou a tramitar na Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, projeto que prevê a emancipação do distrito de Coqueiral, mas que por força do decreto presidencial promulgado no ano 2003 que retirou a autonomia dos estados em criar novos municípios não obteve até o momento condição jurídica favorável.

Aproveitando as considerações do processo de formação do território nobrense, registramos abaixo a redação presente no projeto de lei estadual nº 1943, de 11 de novembro de 1963 aprovando e sancionando a criação do município de Nobres.

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A lei Nº 1943 de 11 de novembro de 1963, cria o município de Nobres e dá outras providencias

Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso decreta e eu sanciono a seguinte lei:

Artigo 1º - Fica criado o município de Nobres, desmembrado dos municípios de Rosário Oeste e Chapada dos Guimarães.

Artigo 2º - O município de Nobres terá os seguintes limites e confrontações: Partindo do marco da Silva na serra do Tombador, até a barra do córrego do Bananal no rio Cuiabá, por este acima, pela margem direita até a sua mais alta cabeceira do Ribeirão Beija-flor; por esse abaixo, margem esquerda até a sua barra ao rio Teles Pires, sendo nesses limites, confrontando pelo município de Rosário Oeste; daí desviando em direção leste até encontrar a serra Daniel, e, pelo seu espigão divisor, até a ponta norte; daí uma linha a mais alta cabeceira do ribeirão Roquete, e por este abaixo, até a sua foz no rio Teles Pires, limitando-se nesta confrontação, com o município de Chapada dos Guimarães; daí seguindo-se pelas confrontações do município de Diamantino até as divisas do município de Alto Paraguai e pelas divisas deste ao ponto de partida.

Artigo 3º - Vetado

Artigo 4º - A câmara municipal de Nobres, até disposição em contrario terá cinco vereadores.

Artigo 5º - Esta lei entrará em vigor a 1º de janeiro de 1964 revogada as disposições em contrario.

Palácio Alencastro em Cuiabá, 11 de novembro de 1963, 142º da independência e 75º da Republica.

Fernando Correa da Costa (Diário oficial 27 de Novembro de 1963, p.3. Ex vila de Nossa Senhora do Rosário do Rio Acima – Rosário Oeste – Nobres)

No decorrer do processo de formação do território do atual município de Nobres ocorreram diversas modificações em sua configuração. Nesses quase 48 anos de emancipação política administrativa, o município que nasceu no período da terceira República (Ferreira, 2001) com território desmembrado politicamente do município de Rosário Oeste, com uma área de aproximadamente 25 mil km², configuração essa permanecida até a emancipação do distrito de Sorriso em 1986, ficando com território de pouco mais de 15 mil km². Em 1988 e 1991 respectivamente o município de Nobres sofre novas perdas territoriais, com o desmembramento de parte de seu território do então distrito de Santa Rita para anaexação a Nova Mutum, perdendo território Nobres passando respectivamente a ter área territorial de 7.331 km² em 1988 e os atuais aproximadamente 4.000 km². O município apresenta mapa sob 64 a forma de um paralelogramo irregular (ver figura a seguir), sendo entrecortado pelo complexo da serra do Tombador (FLORENTINO, 2001). Sob o seu domínio territorial há a presença das grandes bacias hidrográfica amazônica e do prata.

Figura 6 - Mapa atual do município de Nobres, 2011 Fonte/Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

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O acesso a cidade de Nobres faz-se por duas principais vias a BR-163/364 e pela Rodovia MT-010,conforme podemos observar na figura 7, havendo outras, mas que até o momento com pouco fluxo:

A primeira alternativa e a mais próxima são partindo da cidade de Nobres pela BR- 163/364 até a cidade de Rosário Oeste cerca de 20 km, sendo este trecho se encontra pavimentado desde a segunda metade da década de 1980., daí pela MT-010 (rodovia Ary Leite de Campos) passando pelo distrito da Guia até o perímetro urbano de Cuiabá, distante por este caminho 100 km, totalizando os dois trechos aproximadamente 120 Km (Nobres - Cuiabá). Cabe ressaltar que este trecho teve sua pavimentação iniciada e concluída no governo do Sr. Blairo Maggi (2003-2010).

Outra, alternativa tem como característica ser mais distante que o caminho anteriormente citado, sendo o caminho mais antigo e de maior trafego BR-163/364 (Rodovia Cuiabá-Porto Velho) passando pelas cidades de Rosário Oeste, Jangada e Várzea Grande. Por este caminho a distancia da capital até o município de Nobres é de 140 km, este caminho é pavimento desde a segunda metade da década de 1980.

Já outro caminho é feito a partir de Nobres pela MT 241 até o entroncamento que dá acesso ao distrito de Bom Jardim sendo este trecho ainda não se encontra pavimentado. Desse ponto pela MT-494 até a APM-Manso, este trecho está em fase de pavimentação, com previsão de termino no ano de 2011. Desse ponto pela MT – 251 e MT 351 até a cidade Cuiabá, sendo este trecho pavimentado. Por este caminho distancia da cidade de Nobres até a cidade de Cuiabá é de aproximadamente 150 km.

Em relação a característica demográfica o município de Nobres segundo o IBGE apresentava em 2000, uma população absoluta de 14.983 habitantes, já no Censo 2010 apresentou uma população de 15.002 habitantes, isso mostra que o município na última década apresentou um aumento absoluto populacional não significativo de aproximadamente 19 habitantes em relação ao inicio da década dos anos 2000, fato este visto pelo poder publico local como sendo de grande satisfação, pois apesar de ter tido grande êxodo populacional de moradores, foi compensada pela chegada de novos moradores que se estabeleceram e

66 começaram a consolidar essa nova fase de transformação da paisagem urbana da cidade que passou na última década do século XX com aspectos de estagnação econômica e social.

Figura 7 - Mapa de localização da cidade de Nobres Fonte: Base cartográfica disponibilizada pela SEPLAN-MT, 2009 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

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Em relação aos seus aspectos naturais o município apresenta clima no extremo norte equatorial quente e úmido, no médio norte quente e sub-úmido. O município apresenta duas estações bem definidas, sendo o verão quente e úmido com precipitação média anual de 2.000 mm, com intensidade máxima de chuvas em janeiro, fevereiro e março e inverno quente e seco ocorrendo entre os meses de maio a setembro, o período com as mais baixas médias do ano de umidade do ar. A temperatura média anual é de 24ºC, maior máxima de 38ºC, e a menor 0ºC (Ferreira, 2001, p.514).

O clima quente e seco de Nobres provoca intenso desconforto térmico para sua população nos horários de pico do sol. Os efeitos do calor nas pessoas, principalmente nas crianças e nos idosos, podem causar problemas de saúde (desidratação, fadiga, dermatites, câncer de pele, etc.), agravados também pela poluição do ar atmosférico ocasionadas principalmente pelo lançamento de poeira de calcário produzida pelas fábricass localizadas no entorno da cidade.

Em relação a sua superfície, segundo Ferreira (2001) Nobres possui área de 3.860 km², com altitude média de 350 metros acima do nível do mar. Localiza-se na mesorregião norte mato-grossense, microrregião do Alto Teles Pires (IBGE, 2010) e na região de planejamento VI (SEPLAN-MT, 2007)

O seu relevo é delineado pela província serrana e a depressão do Rio Paraguai, calha rio Cuiabá. Possui ainda em seu interior a grande serra do Tombador, serra Daniel, serra Formosa e Chapada dos Parecis Ferreira (2001).

Segundo Ferreira (2001) geologicamente o município é situado em coberturas não dobradas do Fanerozóico, Bacia Quaternária do Xingu. Tendo a presença de coberturas dobradas do Proterozóico com granitóides associados. Grupo Alto Paraguai e Formação Gorotide. Faixa móvel Brasiliana.

Podemos observar na figura 3 que nos trás as principais formações geológicas que ocorrem em Mato Grosso, se destacando a Faixa do Paraguai, sendo principal área explorada de Mato Grosso do mineral calcário, dando um destaque a Nobres, nosso objeto de estudo e suas formações geológicas. Cabe ressaltar que a faixa apresentada na figura corta o território dos principais municípios produtores de calcário do estado de Mato Grosso.

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Segundo Cabral in Boaventura, 2008, o primeiro registro de rochas calcárias no estado de Mato Grosso remonta o final do século XIX, sendo este localizado no município de Rosário Oeste no hoje distrito de Bauxi, nome alterado pelo decreto lei estadual nº 545 de 31 de dezembro de 1943 que antes era conhecida a região como distrito de Araras, por isso o nome dado a essa formação.

Figura 8 Mapa Geológico da Faixa Paraguai no Centro Oeste de Mato Grosso Fonte: Alvarenga in Cabral, 2006 Organização: Anderson Boaventura, 2010

A formação Araras, Segundo Alvarenga (1984) citado por Cabral (2006, p 97) está estratigraficamente situada dentro do Grupo Alto Paraguai, com os seus contatos inferiores e superiores gradacionais com a Formação Raizama respectivamente.

Continuando ainda a descrição geológica, Cabral (2006, p 98) cita Luz et al. (1978),

Subdividiram a Formação Araras em dois membros (Inferior e Superior), sendo o inferior formado por margas conglomeraticas, calcários margosos, calcários e calcários dolomíticos, com intercalados a siltitos e argilitos. O Superior é formado predominantemente por dolomitos, com intercalações de arenitos e argilitos calcíferos, sendo comum para o topo a ocorrência de níveis silicificados e níveis de silexito (cherts). Todo pacote preserva numerosas estruturas primárias.

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O calcário é a principal matéria prima explorada no município de Nobres, e é a base da economia municipal até o momento, sendo de suma importância para a agricultura nacional, por possibilitar a produção agrícola em terras antes vistas como impossível de ser utilizada, por conter teores de acidez muito alto.

No Estado de Mato Grosso, segundo Ferreira (2001) a principal área de ocorrência das rochas calcárias em Mato Grosso são localizadas na Província Serrana, se distribuindo na porção centro-sul do Estado, na forma de extensa faixa longitudinal, arqueada para o sul, passando pelos municípios de Cáceres - Nobres/ Rosário Oeste e Paranatinga.

Apresentado o município de Nobres, no próximo capítulo apresentamos o processo de formação do espaço urbano de Nobres, principal enredo desse trabalhado.

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CAPITULO III

PRODUÇÃO DO ESPAÇO REGIONAL: DA CONQUISTA DO TERRITORIO A CONSOLIDAÇÃO DO ESPAÇO URBANO NOBRENSE

A breve contextualização da cidade que vimos no capítulo II e as transformações no espaço-tempo urbano é o tema deste capítulo. Para isso coube construir as referências de mudanças na cidade junto aos moradores, atores principais deste processo de formação do espaço urbano nobrense. Destacamos a colaboração de ex-gestores municipais, políticos entre outros atores sociais. Aqui também serão apresentadas de maneira resumida as épocas formação da cidade relacionando-as com a atuação da administração municipal para serem delineadas de forma clara como se deu a construção da cidade de Nobres.

Iniciamos nossas interpretações estabelecendo alguns fatos que antecederam e possibilitaram a consolidação do hoje atual espaço urbano nobrense. O município de Nobres surge como território político administrativo num período de grandes transformações do território brasileiro, proporcionados pelos interesses novos postos pela gestão federal em relação à sua ocupação.

Nas décadas de 1960 e 1970, durante a ditadura militar foram implantados diversos programas de caráter nacional de atuação regional que impactaram em toda região do Centro- Oeste do Brasil. Compreender esse momento é fundamental para entender o processo de consolidação do território nobrense e de toda situação atual da região, pois, correspondem ao momento de maior intervenção do governo federal, atingindo o seu auge nas transformações espaciais. Estas transformações tiveram seu inicio nas décadas de 1930, 1940 e 1950, sendo esse período de fundamental importância para a formação da estrutura produtiva e a urbanização atual.

Cabe ressaltar que nesse período o território do hoje município de Nobres, já era reconhecido administrativamente como distrito de Rosário Oeste pela lei estadual nº 145 de 29 de março de 1938, sendo que as referências espaciais desse período têm sua origem nos dados produzidos e disponibilizados pelo senso de 1940, onde já é entendida a comunidade de Nobres, como distrito pertencente ao município de Rosário Oeste.

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Municipio de Rosario Oeste - 1940

Rosario Oeste (sede) Araras Nobres

5127 5082

3877

1

Figura 9 - Distribuição da população por distrito no município de Rosário Oeste/MT Fonte: Censo Demográfico de 1940/IBGE Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2010

Observando o gráfico da figura 9 teremos dados quantitativos em relação à distribuição da população pelo município de Rosário Oeste, por distrito, no período compreendido da década de 1940. Nesse momento os principais distritos do município de Rosário Oeste não apresentavam discrepância considerável em suas populações, lembrando que esses dados levavam em consideração o conjunto populacional urbano e rural. Cabe ressaltar que em relação aos dados dos distritos apresentados no gráfico acima a cidade de Rosário Oeste (distrito sede) apresentava a maior taxa urbana naquele período, em relação aos demais citados.

Nesta analise devemos levar em consideração o momento vivido pelo País que apresentava naquele momento ainda taxas e características rurais, mas com um processo em intenso êxodo rural e conseqüentemente um intenso processo de urbanização, que teve seu inicio na primeira metade do século XX, e se consolidou a partir da segunda metade do mesmo século, tendo como base o processo de industrialização tardia brasileira.

É diante desse cenário rural, que tinha como base uma agricultura de subsistência, que a região de Nobres começou a desenvolver-se estabelecendo como território político e econômico, onde os programas patrocinados pelos Governos Federal e Estadual que visavam à ocupação da região tiveram que mudar o perfil rural-urbano para urbano-rural na região.

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Distrito de Nobres - 1940

URBANO SUBURBANO RURAL

2%2%

96%

Figura 10 - Distribuição percentual da população do distrito de Nobres, década de 1940 Fonte: Censo Demográfico da década de 1940 - IBGE Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Analisando a figura 5 observamos que quase a totalidade da população do distrito de Nobres residia na área rural. Essa pequena parcela urbana era composta principalmente pelos comerciantes que utilizavam da sede do distrito como um pequeno entreposto comercial de atendimento da população rural do distrito. No período compreendido entre a década de 1940 e 1980 o capital privado começa encontrar uma tendência governamental de ocupação da região, ocorrendo nesse período volumosos investimentos na infra-estrutura, a concessão de incentivos fiscais e no crédito estatal, possibilitando condições de investimento e de introdução na região de modelos novos de apropriação do território.

No âmbito das ações de caráter nacional, as quais foram promotoras de migração, geração de infra-estrutura e estimuladoras da inversão de capitais na região, podemos citar principalmente para região onde se situa o município de Nobres a criação do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) em 1965, do qual teve seu auge de financiamentos em 1979, que serviu para financiar a expansão da agricultura que via no território mato-grossense a construção de uma nova fronteira agrícola, possibilitando assim, com os créditos a produção, a sua mecanização, implementando redes de armazenagem, incorporando novas áreas a produção agropecuária e financiando a comercialização (SILVA, 2002).

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Outro fator contribuinte para as transformações econômica na região foi à constituição das empresas de pesquisa estatais, tais como a EMBRAPA e o sistema EMATER, essas foram de fundamental importância para o desenvolvimento e o aprimoramento de espécies agrícolas adaptadas ao cerrado, assim como, para o aumento da fertilidade do solo na região pela correção da acidez. Dentro desta proposta foram desenvolvidos, programas tais como: Programas Integrados de Colonização (PIC), iniciados em 1970, que de forma geral estavam associados com a agricultura de subsistência e fixação de migrantes ou “excedentes populacionais” vindos das regiões Nordeste e Centro-Sul em direção ao Centro Oeste.

O Programa de Redistribuição de Terras e Desenvolvimento Agroindustrial (PROTERRA) também estava dentro do âmbito dos programas de colonização, que procurava estimular concomitantemente com os programas privados através de financiamento para a aquisição de terras. As áreas de maior influência foram o norte do Mato Grosso e o Tocantins.

A região de Nobres teve também a presença do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO) iniciado em 1975, que visava o desenvolvimento a partir de pólos regionais, sendo considerado o principal programa de incentivo ás frentes comerciais, pois era o mais completo subsidio, para a implantação da agropecuária no Centro-Oeste. Segundo Povoas, 1978:

O principal obstáculo a exploração agrícola reside nas condições de solo inadequado para emprego de sistemas de manejo primitivo, obstáculo comprovadamente superável, para grande variedade de culturas, pela utilização de insumos modernos (calcário, fertilizantes, mecanização, etc.)...

Diante da informação do autor podemos visualizar a dificuldade que se apresentava em relação aos investimentos na produção agrícola motivada por características naturais no Estado de Mato Grosso, mas que por meio do desenvolvimento tecnológico possibilitou a sua superação observamos ai à presença das “Técnicas” que segundo Santos, (1997 p.16) São [...] um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço” (Santos, 1997 p.16).

Seguindo ainda este raciocínio lembramos os investimentos promovidos em Mato Grosso pelo Governo Federal que possibilitou a consolidação da principal fronteira agrícola 74 mato-grossense, neste ponto em especial se desenvolve a principal atividade econômica do município de Nobres a indústria de Calcário. Neste contexto Póvoas (1978) nos trás que no pacote de investimento do POLOCENTRO, previa para a região do Parecis, área do qual Nobres nesse planejamento dos investimento fazia parte, previu a construção de 360 km de estradas vicinais, a construção ainda de linha de transmissão Cuiabá - Nobres, a construção de unidades armazenadoras com capacidade para 100.00 toneladas e a instalação de moinhos de calcário para uma produção de 120.000 t/ano.

Os investimentos na região de Nobres possibilitaram a instalação de indústrias de exploração de calcário com modernos equipamentos que possibilitaram ter a extração do produto com menor custo, necessitando menos mão de obra, ao se utilizar uma maior mecanização, o que antes era impossibilitado com a falta ou a deficiência energética. O calcário é a principal matéria prima explorada e beneficiada no município de Nobres, sendo o setor a principal referência na economia municipal, tendo importância para a agricultura nacional, pois possibilita a produção agrícola em terras antes vistas como impossível de ser utilizada, por conter teores de acidez muito alta.

No Estado de Mato Grosso, segundo Ferreira (2001):

A principal zona de ocorrência de rochas calcaria de Mato Grosso, encontra-se condicionada a Província Serrana, que se distribuem pela porção centro-sul do estado, na forma de extensa faixa longitudinal, arqueada para o sul, acompanhando aproximadamente as cidades de Cáceres - Nobres/ Rosário Oeste - Paranatinga.

O conjunto dos aspectos naturais e as condições possibilitadas pelos investimentos por parte da gestão federal e estadual que tinham como objetivo o de estimular a empresas agrícolas tecnificada a incorporar mais de 3 milhões de hectares do cerrado a agropecuária, sendo que deste 1,8 milhões para a lavoura, surtiram efeito em Nobres, pois a partir de então foi instalada a primeira fábrica de calcário no Estado e consolidando a indústria de calcário vocação natural do município. Cabe ressaltar que em Mato Grosso as regiões estimuladas pelo governo federal foram às regiões de Xavantina e Parecis, sendo que do montante total do dinheiro disponível ao programa POLOCENTRO, 34,1% foi aplicado em Mato Grosso. (SILVA, 2002).

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3.1 - A Construção do Território Nobrense – Período de 1960 a 1970.

Num primeiro momento cabe ressaltar o processo de consolidação político administrativa do território de Nobres, que inevitavelmente refletia nas conceições sócio- econômicas desenvolvidas no núcleo urbano do antigo distrito e neste momento município de Nobres.

Diante disso cabe falar sobre a situação política que antecipou a emancipação político administrativa de Nobres, em relação ao município de Rosário Oeste. Como já visto no capítulo anterior, o município de Nobres nasce desmembrado de Rosário Oeste pelo projeto de lei nº 1.943 de 11 de novembro de 1963 do então deputado estadual Valdon Varjão. Esse desmembramento se faz pela articulação política capitaneada pelo então prefeito de Rosário Oeste José Rachid Sobrinho, vulgo “Zécarrachid” que viria a se tornar o primeiro prefeito eleito de Nobres no ano de 1965.

O município de Nobres nasce com uma sede sem estrutura e uma paisagem estritamente rural, conforme pode ser observado pelos dados apresentados no gráfico da figura 6 que mostra a população do novo município em sua maior parte residindo ainda na área rural, não se diferenciando da década anterior. Segundo ainda relatos a cidade era formada por vários sítios espalhados uns dos outros tendo como referência de núcleo urbano o mercado varejista da família Rachid que se localizavam no final da hoje Avenida Marechal Rondon nas proximidades da margem direita do Rio Nobres.

3000 2500 2000 URBANO 1500 SUBURBANO 1000 RURAL 500 0 1

Figura 11 - Distribuição da população absoluta do distrito de Nobres, década de 1950 Fonte: Censo Demográfico da década de 1950, IBGE Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 76

Em relação às informações presentes no gráfico acima citado, cabe ressaltar que no período da realização do recenseamento, o Estado de Mato Grosso, tinha 109 Distritos, 35 Cidades e 74 Vilas (IBGE, 1956 p.9).

Dentre outras referências “urbanas” pelo menos em sua paisagem a cidade de Nobres tinha a linha telegráfica que cortava o distrito, via esta que passou a ser denominada de Avenida Marechal Rondon, homenagem esta pela representação do caminho, pois por ali passou a linha de integração nacional chefiada por Marechal Rondon. Em relação aos dados utilizados e apresentados pelo censo de 1950, metodologicamente eram entendidos como áreas urbanas e suburbanas, áreas correspondente a cidade (sede municipal) ou vila (sede distrital) (IBGE, 1950:13).

No ano de 1960 o Estado de Mato Grosso ainda uno apresentava 64 municípios, numa visão, mais ampla em relação ao território mato-grossense, temos os estudos de Vilarinho Neto (2002), como referência os dados do IBGE de 1960 mostra uma população mato- grossense de 332.472 habitantes, ocorrendo nesse momento em relação ao censo demográfico anterior 1950 teve aumento percentual de 43,75% (101.195 habitantes) e a malha urbana teve um aumento de 15 para 29 municípios. Seguindo esse processo de ampliação do processo de apropriação do território mato-grossense, seguimos ainda com Vilarino Neto:

O Estado só veio entrar em um rítmo acelerado de crescimento populacional a partir dos anos de 1960, coincidindo com o desenvolvimento do capitalismo na Amazônia, [...]. Neste contexto os fatores importantes para o Estado de Mato Grosso são o movimento migratório, o crescimento vegetativo e o processo de criação de novos municípios que, nas décadas de 1940, 1950, 1960 e 1970 quando tiveram um desempenho considerado lento em relação ao procedimento que o mesmo tomou a partir dos anos de 1980. Nessa década entrou em ritmo acelerado, haja vista que nesse período foram criados 43 municípios, passando de 53 para 96, uma quantidade significativa, apenas 10 municípios a menos do que a quantidade criada nas 4 décadas anteriores. Marcando, assim, na década de 1980, o crescimento populacional de Mato Grosso em ritmo acelerado. (VILARINHO NETO, 2002 p. 82)

É nesse processo de expansão urbana e de aumento populacional ocorrido no território mato-grossense que Nobres vem a nascer por necessidade primeiramente das instituições oficiais na ocupação da região, e em segundo pelos interesses políticos postos pelos articuladores do poder econômico local naquele momento em busca de garantias para manutenção e expansão de suas atividades.

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Nesse momento sua população em sua maioria residência no interior do distrito, mantendo relacionamento mais próximo com a cidade de Rosário Oeste e Cuiabá a capital do Estado, Na figura 7 observamos o mapa da área planejada para desmembramento e instituição do município de Nobres.

Figura 12- Mapa do projeto de emancipação do distrito de Nobres, 1963 Fonte: Instituto Memória da Assembléia Legislativa do Estado de Mato Grosso, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2010

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Na figura acima temos o mapa presente no projeto de emancipação do município de Nobres, projeto este que apresentava área abrangendo os atuais municípios de Sorriso que foi distrito de Nobres criado pela lei nº 4.265 de 26/12/1980, obtendo sua emancipação por meio da lei estadual nº 5.002, de 13 de maio de 1986 e Santa Rita do Trivelato distrito criado pela lei nº 4.278 de 12/12/1980, ocorrendo seu desmembramento de Nobres e a sua anexação ao município de Nova Mutum por meio da Lei nº 5.321, de 04 de julho de 1988.

3.1.1 – A forma e a função de Nobres no período pré-emancipação

Utilizamos para uma visualização deste período as informações referentes ao distrito de Nobres, presentes no projeto de lei de emancipação do município, produzidas pela agência municipal de estatística de Rosário Oeste, datada de 12 de julho de 1963.

Segundo o documento o distrito de Nobres, jurisdicionado a época ao município de Rosário Oeste, apresentava naquele momento histórico, vinte e cinco comerciantes inscritos, dezessete veículos emplacados, dezenove escolas públicas estaduais destas duas se encontravam na vila de Nobres e dezessete eram multiseriadas localizadas na zona rural do distrito, apresentando em média duas salas conforme pode ser visto na figura a seguir escola localizada na região leste do município nas proximidades do limite municipal com Rosário Oeste. Pode-se observar que em sua maior parte os grupos escolares se encontravam no interior do distrito, fato ocorrido pelo predomínio da população residindo na zona rural. O distrito apresentava ainda cinco escolas municipais multisseriadas.

Cabe também como registro, que o município possuía já neste período agência dos correios, agencia criada pela portaria nº 1065/49 de 05 de Novembro de 1949, um ambulatório médico e um açougue modelo.

Em relação à população residente no distrito, segundo os dados apresentados pela agência acima citada, no distrito sede foram recenseados em 1960, 852 habitantes residentes, população esta que em 1962 saltou para 1.984 habitantes, apresentando um acréscimo de 1132 habitantes. Enquanto a população total do distrito de Nobres era de 17.862 habitantes, número não condizente com a que o Censo 1970 apresentaria. Imagina-se que o inflacionamento nos 79 dados de população presente no projeto de emancipação se dá principalmente pelos interesses políticos na época, em relação à emancipação da localidade.

Figura 13 - Escola Municipal Rural Mista do Mangavalzinho, 1975 Fonte: Sidnei Ferreira Mendes, 2011 Organização: Anderson Boaventura da Cunha

O distrito apresentava nesse momento paisagem com características rural-urbana, contando o distrito sede com 287 prédios, sendo que 07 eram públicos.

A estrutura econômica do município apresentava duas máquinas de beneficiar arroz, nove caieiras, uma cerâmica, três olarias, duas fábricas de água ardente, três serrarias a motor, uma laminação de borracha e uma padaria, sendo esses as principais Referências de empregabilidade no município. Importante pólo de extração de seringa no município de Rosário Oeste, o distrito registrou no ano de 1962 valor arrecadado em borracha de Cr$ 52.230,117, 00. Em relação à arrecadação de impostos municipais contribuiu o distrito naquele momento com a importância de Cr$ 187.410,00.

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Na figura 9 pode ser observada a casa construída no inicio da década de 1960. Segundo relato do proprietário da residência, a mesma foi construída ainda antes de ter sido estabelecido o traçado das ruas na cidade, sendo que as referências quando da delimitação das vias seguiram a localização das residências estabelecidas naquele momento. O proprietário da citada casa exercia naquele momento atividades junto à empresa responsável pela abertura da BR-364. Lembrou ainda que nesse período a maior parte das casas da cidade recém emancipada eram auto construídas a partir de materiais disponíveis na natureza, que possibilitava uma fácil manipulação, sendo em sua maior parte feitas a partir de palha de babaçu, bambu e argila entre outros.

Figura 14 - Casa construída no inicio da década de 1960 e Calçamento em rua revestida em paralelepípedo final da década de 1970 e inicio de 1980 Fonte: Carlito, 2009 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

A residência hoje não mais existe, tendo sido derrubada no final do ano de 2009, fazendo parte da onda que está a reformular a cidade num processo de modernização das residências, fato esse que está destruindo as poucas referências de produção do espaço regional nobrense já desbravado desde os idos de 1700.

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Diante desse processo de construção do território nobrense observa-se a abertura da Rodovia BR-364 que proporcionou o intercambio comercial dos municípios de Diamantino, Alto Paraguai, Nortelândia e Arenápolis com a capital Cuiabá, tendo Nobres, o seu desenvolvimento urbano se consolidou como ponto de passagem entre as cidades que neste período apresentavam uma economia ligada principalmente ao garimpo.

3.1.2 – Aspectos políticos do principio da consolidação do espaço urbano nobrense

A questão política foi marcada inicialmente pelas articulações capitaneadas por José Rachid Sobrinho entre outras referências políticas de Nobres naquele período de emancipação do distrito de Nobres em relação ao município de Rosário Oeste. Analisando a ata de instalação do município de Nobres, observa-se que a mesma foi redigida em 01 de janeiro de mil novecentos e sessenta e quatro (1964) e o município de Nobres foi criado pela lei nº 1943 de 11 de novembro de 1963, não tendo tempo hábil para realização de eleições municipais, sendo no momento de instalação do município com a ata de criação que se nomeou ao cargo de chefe do executivo nobrense o Sr Nelson da Silva Nonato que viria a assumir o cargo em 01 de Janeiro de 1964, empossado pelo juiz de direito, Sr. Rafael Araújo de Arruda, mas que pelos fatos ocorridos posteriormente com a imposição do golpe militar, fez com que ele não exercesse a função, ficando a mesma ainda sob o encargo do prefeito de Rosário Oeste. Entre os nomes presentes no ato de instalação do município de Nobres temos; o Sr Airton Serra(escrivão do cartório do 1º oficio), o Sr. Rafel A. de Arruda, Nelson da Silva Nonato, Benedito lonso Barreto, Jayme Feike Joaquim, José Rachid Sobrinho, Artur Jerônimo da Silva, José Figueiredo Loureiro, Frei Eraldo Dústes, Elaquim Aleixo de Morais, Lourival J. Aquino, Abediel Silva, Benedito Vasco Moreira, Cilicío de Campos Bueno, Auro Borges Serra, Oscarino Ourives, Almir Moreira Santos, Jerônimo Ojeda, Hermenegildo de França, Ciriaco Armando de Campos, Edmundo de Frei “Airton Serra”. Muitos destes vieram a ser administradores e legisladores do município anos posteriores. Nas eleições municipais de 04 de abril de 1965 foram eleitos para primeiro prefeito de Nobres, o Sr. José Rachid Sobrinho e vice Eurides da Silva Rondon efetivando em definitivo a condição de Nobres, território desmembrado administrativamente do município de Rosário

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Oeste. A posse de ambos bem como dos representantes do legislativo ocorreu em 03 de maio de 1965. Sendo os primeiros legisladores nobrense eleitos; Germano Mendes Pedroso (vice- presidente), Jerônimo Nonato de Almeida (presidente da câmara), Rutênio da Silva Rondon, Valdir Pires Maciel e Luzith Dias de Carvalho, exercendo as suas representatividades, bem como cumprindo o período da gestão por parte de José Rachid Sobrinho, mandatos estes exercidos no período de 03 de maio de 1965 a 30 de janeiro de 1967.

Em 15 de novembro de 1966 nas eleições para escolha dos novos representantes do executivo e do legislativo nobrense, foram eleitos para prefeito o Sr. Auro Borges Serra, tendo como vice-prefeito o Sr. Eluizio Nunes da Luz. Os vereadores para essa legislatura foram: Germano Mendes Pedroso, Luzith Dias de Carvalho, Osvaldo Ramos, Osvaldo Neves da Silva, Candido Dias Pedroso, Maximiano da Fonseca, Jeronimo Nonato de Almeida, Benedito Vasco M. da Silva, que tomara posse em 31 de maio de 1967.

Neste final de década observamos nomes que se consolidaram como força política e vão marcar a condução admnistrativa do município nos próximos 20 anos, sendo que somente no final da década de 1980 que vamos começar a observar a chegada de novos grupos políticos.

3.2 - Políticas Públicas, e a produção do Espaço Urbano Nobrense – Período de 1971 a 1980

Seguindo a ordem cronológica do período compreendido pelos anos de 1971 a 1980 foi marcado por grandes transformações no território mato-grossense, e não diferente no município de Nobres, quando o mesmo sofre diversas modificações e reestruturações.

Este período foi marcado pelo surgimento dos primeiros moinhos de calcário e pela abertura da BR-163. Na paisagem urbana nobrense ocorreu nesse período o surgimento dos primeiros bairros constituídos, bem como o primeiro delineamento do que seria a Nobres que hoje conhecemos.

Ao analisar o contexto regional tomamos como referência os estudos de Vialrinho Neto (2002, p. 93) que mostram que o Estado de Mato Grosso nesse período compreendido da 83 década de 1971 a 1980 experimentou considerável crescimento populacional. Fato este proporcionado pelas políticas de Estado já mencionadas que vem a trazer a modernização das cidades. O Estado vê acontecer profundas transformações em seu território. Entre os fatos por ele entendidos como determinante para isso, foram por exemplo a pavimentação das rodovias BR-364 que liga São Paulo a Porto Velho, passando por Goiás e Mato Grosso, com exceção do trecho que liga Cuiabá a Porto Velho que só foi pavimentado em 1984; a BR l63 que liga Cuiabá a São Paulo, passando pelo Mato Grosso do Sul; a BR Belém-Brasília e a BR 070 Cuiabá-Brasília, via Barra do Garças, todas foram pavimentadas nos anos 1970.

Outro aspecto citado por Vilarinho Neto (2002, p.93) são os investimentos governamentais para o desenvolvimento da região a partir de criação de programas tais como: POLOCENTRO e o POLOAMAZÔNIA que deram grande impulso econômico ao estado. Aproveitando do momento de investimentos no território mato-grossense o governo do estado programou e realizou investimentos no setor rodoviário estadual, com o asfaltamento de rodovias intermunicipais, possibilitando melhor/maior apropriação do território mato- grossense.

3.2.1 – Aspectos demográficos do espaço urbano nobrense no período de 1971 a 1980

Em relação ao aspecto demográfico regional o Estado de Mato Grosso, apresentou no final da década de 1970 segundo o censo/IBGE,1980, população de 957.746 habitantes. Distribuída em 53 municípios e uma densidade demográfica de 1,06hab/km² (VILARINHO NETO, 2002 p.93).

Demograficamente o município de Nobres começa a década de 1970 apresentando população de 5.692 habitantes. Com característica essencialmente rural a distribuição populacional do município de Nobres apresentava a área rural com 71% da população total do município, restando outros 29% residindo na cidade conforme pode ser visto na figura 3.2a.

A década de 1970 seria um marco na consolidação da área urbana nobrense, pois começava-se a surgir a idéia nos habitantes, pois com os serviços públicos mais próximos dos mesmos, principalmente saúde e educação, os moradores das áreas mais longínquas começaram a tomar a cidade como lócus de habitação da família, tendo sempre no ideário o

84 sentimento de satisfação pessoal, pois morar na cidade começou a ser objeto de misticismo social quem tinha casa na cidade era considerada família com auto poder aquisitivo e um dos meios de demonstrar isso era indo para a cidade ou mantendo residência na mesma.

População Nobrense - 1970

Urbana Rural

29%

71%

Figura 15 - Distribuição percentual da população no Município de Nobres Fonte: Censo demográfico 1970, IBGE Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

O fato apresentado não permanece até o fim do período, chegando ao final do mesmo o município apresentando 58% da população residindo na área urbana, fato este demonstrando o processo urbanização nobrense.

3.2.2 – A paisagem Urbana nobrense no período de 1971 a 1980

Esse período se inicia com a administração municipal sob a gestão de Dacio Velasco Rondon e o seu vice Germano Mendes Pedroso, eleitos na eleição de 30 de novembro de 1969. No dia 31 de janeiro de 1970 tomam posse junto aos chefes do executivos os vereadores, que podem ser acompanhados na figura a seguir.

Para essa legislatura foram eleitos sete vereadores, sendo eles; Benedito Vasco (presidente da câmara 1969/70), Nelson da Silva Nonato (presidente da câmara 1971/72), Pedro Nolasco de Almeida (vice-presidente 1971/72), Osvaldo da Silva Campos, Eurípedes Videira (vice-presidente 1969/70), Aritino Carlos da Costa, José Cupertino de Queiroz. 85

Figura 16- Foto oficial de posse dos eleitos no ano de 1970 Fonte: Mario Moreira Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Na figura acima temos ao centro o prefeito eleito Sr. Dacio Velasco Rodon, a sua direita o ex-prefeito que estava a entregar o cargo Sr. Auro Borges Serra e a sua esquerda o vice prefeito eleito Sr. Germano Mendes Pedroso.

Nesse período o município de Nobres não apresenta modificações estruturais importantes, permanecendo nesse início de década com as mesmas características apresentas na década anterior. Uma cidade com características de ambiente rural, mas com as ruas traçadas. No inicio da década de 1970, cidade muito pequena com casas simples e a maioria delas distantes umas das outras, um dos motivos disto era o modelo de loteamento empregado na cidade onde os lotes tinham em média 20 m de largura por 60 de fundo. A Avenida Marechal Rondon era uma das avenidas mais movimentadas, superada apenas pela Avenida Getúlio Vargas que naquele período era o traçado original da BR-364, sendo que nesse último

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área mais movimentada se localizava nas proximidades do hotel Santiago que servia como ponto de ônibus, ou como os moradores da época designava esse meio de transporte Baleia.

Comercialmente a cidade apresentava neste período quatro lojas de tecidos e confecções (Casa Milagrosa, Casa Barateira, Tecidos Bom Preço e Casa Fênix), e ainda a mercearia do Virgulino, um açougue e um restaurante com vendas de bolos e pudins. A Avenida Getúlio Vargas era sem pavimentação asfáltica e seu nível topográfico era bem abaixo do que é hoje, via estreita e de mão dupla. Nessa época nenhuma rua era pavimentada, nem mesmo a BR-364 que até então tinha como traçado original a atual Avenida Getúlio Vargas.

Como aparelhos urbanos a Avenida Marechal Rondon se destacavam o Clube Social, a Escola Estadual Professor Nilo Póvoas, construída em 1977 conforme pode ser visto na placa de inauguração na figura 12. Nas suas proximidades se encontrava a padaria do Sr. “Fifio”. Tinha também a Escola Estadual Doutor Fábio Silvério de Farias que teve seu atual prédio construído em 1973, mas com funcionamento desde 1913, tendo sua localização recuada na margem direita em relação à avenida citada. Nessa mesma avenida ainda encontramos a Igreja matriz Católica São Sebastião que localizada após a praça. Nessa época tinham apenas três igrejas, a matriz católica e duas protestantes (Assembléia de Deus e a igreja Batista Maranata).

A Praça Josino Serra era simples e tinha uma televisão no centro, onde hoje é o Pronto Socorro Municipal era a prefeitura e nas ruas as margens dessa praça se realizavam os desfiles cívicos das escolas nos dias primeiro de maio dia em que se comemora o aniversário do município, e sete de setembro dia da Independência do Brasil. No entroncamento da Rua Mato Grosso com a Avenida Getúlio Vargas já existia um posto de gasolina e atrás do posto tinha um alto falante em que se anunciavam fatos ocorridos na cidade, sendo o programa principal às 18 horas, onde era apresentada a reza da Ave Maria.

Ao sul a cidade ia somente até o entroncamento das Avenidas Marechal Rondon e Getúlio Vargas, para se chegar ao cemitério local tinha que passar por uma área de Cerrado bem intenso. Onde hoje se localiza a Avenida Filinto Müller era uma espécie de corredor de formigas cortadeiras que iniciava onde hoje está o Bairro Jardim Paraná e ia até as proximidades do rio Nobres, era tanta formiga que se costuma dizer “cidade de carregador”.

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Figura 17 - Placa de inauguração da Escola Estadual Profº. Nilo Póvoas, 1973 Fonte: Anderson Boaventura da Cunha, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

A oeste a cidade limitava-se basicamente na Av. Getúlio Vargas, a leste ia praticamente até onde hoje está a antiga Rua 13 de Junho, rua esta que até 1976 era estrada de charretes, ocorrendo sua abertura, juntamente com algumas outras do bairro São José, após 1977. Nesse trecho do bairro, onde as ruas eram rudimentares até então, a maioria das casas eram de palha, de famílias que resolviam construir casas próximas e não respeitavam os traçados por onde passaria a rua futuramente.

O abastecimento de água era feito no bairro São José através de caminhão pipa e mesmo assim era escasso, a população tinha que andar bastante para pegar água em algumas casas que tinham poços artesianos, às vezes na escola Nilo Póvoas ou no rio Nobres, sendo comum o fretamento de charrete para transporte de tambor de água (tambores de 200 litros). Nos locais onde tinha água encanada era comum faltar água por alguns dias sendo nos anos 1976/1977 rotineiro muitos moradores se deslocarem para o rio com bacias de roupas para serem lavadas, o ponto mais freqüentado era as proximidades do encontro dos rios Nobres e Serragem.

A iluminação pública era feita através de postes de madeira sendo que no bairro São José o último poste era localizado no entroncamento da rua Mato Grosso com a 13 de junho, 88 sendo que somente após o ano de 1977 se estendeu as demais regiões. Antes era restrito ao centro da cidade. Com relação à distribuição de energia era tão precária que tinha até um ditado em que diziam: “cachorro mijou no poste acaba a luz”

Outra característica marcante no bairro São José naquela época, mesmo após a abertura das ruas, a população cortar atalhos, devido às moradias serem geralmente dispersas e muitos terrenos baldios entre uma casa e outra, outro fator interessante era a não existências de muros ou cercas entre as propriedades. Naqueles tempos só existia um canal de televisão e mesmo assim era comum ficar por longos períodos fora do ar, já até sabia que poderia não assistir o final de uma novela ou o início da outra.

Um problema natural ocorrido nesse período em grande parte da cidade, sendo mais presentes no bairro São José é a presença de formigas que pela tomada da ocupação humana de seu habitat natural, muitos moradores da região não plantavam praticamente nada por causa disso, a maior concentração delas no bairro era nas proximidades onde foi construída a Escola Estadual Inocência Rachid Jaudy.

Nesse período segundo relatos a cidade apresentava elevado índice de homicídios e apesar de ainda estar no período militar, à questão da segurança era extremamente precária, fato este ocorrido por Nobres ser ponto de parada para os mais diversos trabalhadores que ganhavam seus salários na zona rural ou em garimpos localizados no médio norte.

Nesse período muitos moradores da cidade e de outras regiões do Estado trabalhavam em garimpo, sendo o município de Alto Paraguai um dos principais destinos de empregabilidade no setor. Muitos destes trabalhadores gastavam em bares da periferia de Nobres, criando ambientes propícios para a ocorrência de brigas e em muitos casos mortes, sem contar os serviços de pistolagens que eram exercidos naquele período.

Na figura 13 observamos a fachada da prefeitura de Nobres e parte da Praça Josino Serra, no bairro centro. Nessa localidade se instalou as principais referências das políticas publicas disponíveis pelo poder publico municipal. Centro do poder político era a área mais bem urbanizada da cidade, sendo fator que direcionava as famílias tradicionais na época que procuravam se estabelecer nas imediações desta referência geográfica. A Praça Josino Serra vem a ser o primeiro núcleo da cidade de valoração urbana, apesar de que nesse período a prefeitura ainda dispor de muitos lotes, sendo em muitos casos utilizado pelos agentes

89 públicos como meio de promoção política, com a distribuição dos mesmos sem muita atenção a licitude dos mesmos.

Figura 18 - Vista da antiga sede do executivo municipal e da Praça Josino Serra Fonte: Anita Aiko Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Em relação à questão administrativa do município o período termina com a eleição de 15 de novembro de 1976 onde foram eleitos para Prefeito o Sr Mario Abraão Nassardem, e para vice prefeito o Sr Eluizio Nunes da Luz “Baliza”. Para vereadores foram eleitos; Germano Mendes Pedroso (presidente da câmara 1977/78), Osvaldo da Silva Campos (Presidente da câmara 1979/80), Eurípedes Videira (vice-presidente 1977/78), Fernando Rei da Silva (vice-presidente 1981/82), Benedito Mario M da Silva (vice-presidente 1979/80), Miguel de Souza, Roberto Campos Correia, Laurindo Takase. A posse do prefeito, vice- prefeito e vereadores ocorreu em 01 de fevereiro de 1977. Este período administrativo foi marcado pelo trágico acidente que levou a desencarne o Prefeito eleito Mario Abraão Nassardem, fato este ocorrido no início do mês abril de 1977, dois meses depois da sua posse, assumindo em 14 de abril de 1977 o controle administrativo da cidade o seu vice agora prefeito Eluizio Nunes da Luz “Baliza”

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O governo “Baliza” é responsável por grandes transformações urbanas na cidade de Nobres, é neste período que a cidade vê o seu primeiro calçamento de vias publicas, sendo beneficiadas as vias centrais, calçadas com paralelepípedo. Neste período também ocorre à construção do estádio municipal que acabou por receber o seu nome “Balizão”, bem como ocorreu os traços viários da cidade em definitivo.

3.3 – Urbanização nobrense, um processo de construção de sua função econômica regional – Período de 1981 a 1990

No período compreendido entre 1981 a 1990 o município de Nobres, se consolida como referência na produção agrícola do Estado, com o estabelecimento em seu território das principais indústrias extrativistas de calcário do Estado de Mato Grosso. Nesse período se dá também a criação e o início da construção das instalações da Fábrica de Cimento Itaú.

Nesse período, um fator que acabou por impulsionar a consolidação do espaço urbano nobrense foi à pavimentação da BR-163/364, que possibilitou que a cidade recebe-se as suas primeiras vias pavimentadas, bem como o desvio da BR-163/364 que cortava a cidade colocando-a a sua margem.

3.3.1 - Aspectos demográficos do período

Em relação aos aspectos demográficos, esse período pode ser reconhecido como o da urbanização nobrense. Nesses 10 anos, a população nobrense teve acréscimo populacional de 7.424 habitantes em relação à década anterior.

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Rural 17%

Urbana 83%

Figura 19 - Situação demográfica do município de Nobres Fonte: Censo demográfico, 1991 – IBGE Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 Esse aumento apresentado na área urbana em parte é conseqüência do aumento de pessoas em direção ao distrito de Sorriso, que se encontrava em grande crescimento econômico e se consolidava como núcleo urbano, outro fator foi à chegada de muitos migrantes a cidade de Nobres, aumentando assim consideravelmente o percentual de população urbana nessa década.

3.3.2 – Aspecto sócio econômico do período de 1981 a 1990

Nesse período temos alguns acontecimentos políticos que reconfiguraram o território nobrense. Pela lei nº4.728 foi criado o distrito de Sorriso em 26 de dezembro de 1980, o povoado que teve seu inicio em 1975, fundado pelo catarinense Claudio Francio apresentou no decorrer da década de 1980 um significativo desenvolvimento econômico tendo como base a produção agrícola que junto a esse fenômeno o crescimento demográfico o que possibilitou a criação do município, sendo desmembrado do município de Nobres pela lei nº5.002 de 13 de maio de 1986 sancionada pelo então governado Julio Campos.

Em 15 de novembro de 1982 são realizadas eleições no município de Nobres, sendo eleitos; prefeito Luiz Gonzaga Nogueira Barbosa e como vice-prefeito Auro Borges Serra. Os vereadores eleito neste pleito eleitoral foram: Valdemir Paes Landim (presidente da câmara 1983/84), Eugen Wener Durks (presidente da câmara 1985/86), Jorge Araujo Martins (presidente da câmara 1987/88), Adão Carvalho da Silva, Edson Luiz Pinto (vice-presidente 1983/84), Ary Antonio Ferreira de Pinho (vice-presidente 1985/86), Eurico Alves de Oliveira

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(vice-presidente 1985/86), Celito Barbie, Germano Mendes Pedroso, Olicio Real da Silva, Lira Queiroz de Carvalho. A posse do prefeito e seu vice bem como os vereadores ocorreram em 1983, fato este que acabou por imprimir um novo cenário político na cidade, tendo Dr. Luiz como o principal articulador. Essa nova configuração política permaneceu até o seu falecimento já no início da década de 1990.

Este período administrativo sob o comando de Dr. Luiz é marcado por vários momentos de turbulência política que acabara com o seu afastamento do executivo municipal pela justiça, assumindo o comando o presidente da câmara Jorge Araujo Martins, em 04 de dezembro de 1987, fato este que até hoje não se tem esclarecido o porquê de o presidente da câmara e não o vice-prefeito ter assumido o comando do paço municipal, assumindo o vice somente em 03 de julho de 1988.

Nesse período Nobres viu ser sancionada a lei nº 4.964 de 26 de Dezembro de 1985, criando a comarca de Nobres, sendo solenemente instalada em 21 de fevereiro de 1987. Neste período também foi construída a prefeitura municipal de Nobres no bairro Jardim Paraná, com o objetivo da promoção da ocupação desta nova área de expansão que se estabelecia na cidade, mas que por desentendimentos políticos entre o grupo político capitaneado por Dr. Luiz e o grupo político do prefeito que viria a assumir a prefeitura Amélio Dalmolim. O novo espaço de gestão municipal somente iria vir a ser ocupado pela administração publica municipal na gestão de Lidia Barbosa Nogueira, irmã do prefeito que a construiu.

Nas eleições de 15 de novembro de 1988 foram eleitos para prefeito Amélio Dalmolin e vice-prefeito Olicio Real da Silva. Os vereadores eleitos para essa legislatura foram; José Ramão da S. Maciel (presidente da câmara 1989/90), José Inácio Guimarães (1991/92), Edison Luiz Pinto (presidente da câmara 1991/92), Ediberto Marques L. Pinto, Antonio Carlos da Costa (vice-presidente 1989/90), Pedro Luiz Galo (vice-presidente 1991/92), Manoel Fermino Pinho, Ney José de Campos, Ranulfo Lopes de Andrade, Juvêncio Dias Pedroso, Adir Vicente Fischer, Edinaldo Albuquerque da Silva.

Esse período é marcado pela consolidação da função econômica de Nobres, com a instalação nesse período de diversas indústrias de calcário, bem como a implantação do projeto de construção da fábrica de cimento que viria a começar a produzir na década seguinte. Esse período foi marcado também pela consolidação da atual configuração do

93 território de Nobres, com o desmembramento e a criação do município de Sorriso e depois a anexação do distrito de Santa Rita do Trivelato ao município de Nova Mutum.

Na figura a seguir, temos a vista da Avenida Getulio Vargas, que neste período estudado era o traçado original da BR-364. Essa via foi a primeira a receber pavimentação no município, juntamente com as avenidas Marechal Rondon e a Avenida Juscelino Kubitscheck. Esse fato trouxe ar de modernidade à cidade, ajudando na permanência de muitos migrantes que tinham como destino mais ao norte a ficarem no município, com a expectativa do desenvolvimento econômico da cidade. A avenida nesse período era a principal área comercial da cidade, pois ali se encontravam os principais empreendimentos comerciais da cidade, desde instituições financeiras a lanchonetes que atendiam os viajantes que pela rodovia passavam. No canto esquerdo da figura a seguir observamos uma das primeiras residências de alvenaria construídas no município, sendo seu proprietário o senhor José dos Santos, mas conhecido como “Zé Paraná” que detinha a posse das áreas hoje pertencentes ao bairro jardim Paraná, nome dado em sua homenagem e outra parte das terras hoje pertencentes ao bairro jardim Carolina.

Figura 20 - Vista da Avenida Getulio Vargas Fonte: Anderson Boaventura, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

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Na figura acima temos a avenida que é cartão de visita da cidade, cortando o perímetro urbano de sul a norte, sendo que nesse ponto apresentado divide os bairros Jardim Paraná à esquerda e Jardim Carolina à direita.

Como dito uma das referências dessa avenida antes do rio Nobres existir ponto de parada de ônibus que transportavam passageiros com destino ao norte do Estado e em direção a Cuiabá ou vice e versa. Com a pavimentação da BR 163/364 ocorreu o desvio da rodovia, deslocando-o do centro da cidade, fazendo assim com que o fluxo rodoviário diminua a partir desse momento no centro da cidade. Neste momento é construída a primeira rodoviária de Nobres, localizada em frente da Igreja matriz São Sebastião em frente à igreja matriz (católica) São Sebastião, sendo utilizada pelos ônibus para acesso a BR-163/364 a Rua Osvaldo da Silva Campos. A figura 16 mostra o fundo da Rodoviária municipal, onde era feito o embarque e desembarque de passageiros, lembrando que na cidade antes este atendimento era feito em lanchonetes localizadas num primeiro momento Avenida Getulio Vargas(antigo curso da BR-364) e depois na Avenida Juscelino Kubitschek.

Figura 21 - Vista da antiga rodoviária municipal de Nobres Fonte: Carlito, início da década de 1990 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

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Na figura 17, observamos o primeiro ponto de taxi da cidade construído no governo de Dr. Luiz Gonzaga Nogueira Barbosa, situado em frente ao hospital e maternidade “São Luiz” de propriedade da família Nogueira Barbosa, prestando serviço nesse ponto da avenida que começava a ganhar status de referência comercial na cidade, que no período anterior se localizava na Avenida Getulio Vargas.

Figura 22 - Ponto de taxi municipal “São Luiz” Fonte: Carlito, início da década de 1990 Organização: Anderson Boaventura da Cunha

Para este período o município de Nobres contava com cinco escolas estaduais atendendo o ensino fundamental (antigo 1º grau) e uma escola atendendo alunos do ensino

96 médio (antigo 2º grau). As escolas municipais somavam vinte e seis, com o total de alunos matriculados no ano de 1989 de 3.431 cursando o ensino fundamental (antigo 1º grau) e trezentos e vinte e oito cursando o ensino médio (antigo 2º grau). As escolas são atendidas por cento e trinta professores da rede estadual de ensino e trinta e dois professores da rede municipal de ensino. A cidade apresentava ainda quatro agências bancarias, sendo elas Banco Bradesco, Banco BEMAT, Banco Itaú e a Caixa Econômica Federal.

A cidade ainda apresentava ainda uma agência dos correios, seis hotéis, sete restaurantes, um hospital sendo o mesmo particular cito Hospital e maternidade São Luiz, três postos de saúde, trezentos e quatorze empresas comerciais, vinte indústrias, oito postos de combustível e um aeroporto não pavimentado. Em relação à comunicação o município era atendido por trezentos terminais telefônicos. Em relação ao atendimento de produção agrícola o município tinha em seu território dez armazéns de grãos. Na questão produção agrícola o município apresentou área plantada de arroz de 10.000 ha com uma produção de 15.000 toneladas. 4.000 ha de área planta de milho com produção de 9.120 toneladas e 40.000 ha de área plantada de soja plantada com produção de aproximadamente 90.000 toneladas. O seu rebanho bovino somava 57.252 cabeças, suíno 6.025 cabeças e 39.218 cabeças de ave (CARDOSO, 1986 p.186).

Neste período o município de Nobres apresenta seu acelerado processo de urbanização com a saída da população do campo em direção a cidade, bem como com a chegada de novos moradores advindos das mais diferentes regiões do Brasil, em busca da nova fronteira agrícola brasileira, sendo a cidade de Nobres, como ponto de apoio no processo de colonização ocorrido no norte do Estado de Mato Grosso desde as décadas de 1970.

3.4 - Consolidação urbana e as Novas Perspectivas de desenvolvimento Urbano – Período de 1991 a 2000

O Período proposto de analise foi marcado pelo inicio do funcionamento da fábricas de cimento, a Cimento Mato Grosso S.A, empresa hoje ligada ao grupo Votorantin Cimentos. A década compreendida de 1991 a 2000, apesar das novas perspectivas econômicas, apresentou um momento de acomodação populacional, algo que pode parecer incoerente, pois neste mesmo período houve o surgimento de dois novos bairros, sendo o Jardim Petrópolis 97 surgindo no inicio da década com a implantação da Cohab Marzagão e segundo bairro o Jardim Carolina que se consolida na primeira metade da década, sendo formado pelo conjunto de três loteamentos; Loteamento Jardim Tropical, Loteamento São Jorge e Loteamento Jardim Carolina, sendo este ultimo loteamento que acabou por identificar este novo bairro que surgia.

O padrão de organização do espaço urbano Nobrense para este período possuía aspectos, médio-baixo padrão de organização urbana (CNEC, 1997 p.401), aspecto este promovido pelo momento de decadência econômica representada pela baixa diversificação de seus usos e pelas precárias condições de infra-estrutura urbana e de moradia observada em grande parcela da cidade. As indústrias no município se localizam as margens da BR-163, afastadas do centro urbano, não se configurando como distrito industrial.

3.4.1 – Aspectos políticos do período

Este período se inicia na metade do governo de Amélio Dalmolin, eleito em 15 de novembro de 1988. Já nas eleições de 1992 foram eleitos; para prefeito Lidia Barbosa Nogueira, tendo como vice Lira Queiroz de Carvalho. A eleição de Lidia foi personificada ao nome do irmão, Dr. Luiz Gonzaga Nogueira Barbosa, político muito querido pela população nobrense, mas que por força de decisão judicial não pode sair novamente candidato a prefeito, encabeçando assim sua “irmã” ao preito eleitoral, se sagrando vitoriosa, apesar de a população não ter conhecimento da mesma. Esta eleição é marcada pelo retorno do grupo político capitaneado por Dr Luiz, mas que não duraria por muito tempo, com a morte do mesmo no ano de 1994.

Para essa legislatura foram eleitos os vereadores; Ranulfo Lopes de Andrade (presidente da câmara 1993/94), Edson Luiz Pinto (presidente da câmara 1995/96), Odonel Real da Silva, José Inácio Guimarães, André Avelino Bezerra (vice-presidente 1993/94), Irineu Langer (vice-presidente 1995/96), Ademir Messias da Silva, Ney José de Campos, Manoel Firmino Pinho, Devair Valim de Melo.

Nas eleições de 1996 foram eleitos para prefeito; Devair Valim de Melo e vice- prefeito Jorge Araujo Martins “Jorge peru”. Para essa legislatura foram eleitos; Odonel Real da Silva - PFL (presidente da câmara 1997/98) eleito com 264 votos, Wanderley de Almeida

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“Dena” - PDT (presidente da câmara 1999/2000) eleito com 218 votos, Esmeraldo Almeida da Silva – PSDB 264 votos, Lucio Leite de Almeida – PTB com 232 votos, Waner Rondon – PPB com 215 votos, Celso Tadeu Antoniacomi – PTB, 206 votos, Jose Ely Queiroz – PSDB 184 votos, Jaques Santana da Silva – PSC 183 votos, Silvana Ferreira Silva de Almeida – PSDB 180 votos, Daniel Oliveira Leite – PFL 175 votos, Duirço Ribeiro Sampaio – PPB 162 votos.

Este período foi um dos mais conturbados politicamente na história recente do município de Nobres, onde o chefe do executivo municipal deste período Devir Valim de Melo responde até os dias de hoje por improbidades administrativas exercidas naquela ocasião administrativa, sendo os votos pelo mesmo conquistado na última eleição terem sido considerados nulos, por ser considerado inelegível. As acusações vão desde desvios de recursos do FUNDEF a emissão de cheques sem fundos em nome da prefeitura. O mesmo não conseguiu se reeleger nas eleições de 2000. Outras tentativas frustradas foram no ano de 2004 e 2008. Todo esse problema político acabou por influenciar economicamente o município que se viu nesse período em franca estagnação.

3.4.2 – Aspectos socioeconômicos para o período

A população nobrense neste momento apresenta características de miscigenação tendo sua composição de origem das mais diversas regiões do Brasil, estando presente nas mais diversas áreas da produção sócio espacial nobrense.

De acordo com o Censo demográfico do ano 2000 (IBGE) residiam no município de Nobres naquele ano 14.942 habitantes, sendo distribuídos em 7.693 homens e 7.249 mulheres, sendo que deste total 3.007 habitantes residiam na zona rural e 11.935 habitantes residiam no núcleo urbano sendo este na cidade e nas vilas dos distritos. Segundo Florentino(2000) a taxa de crescimento médio no município levando em conta os anos de 1998, 1999 e 2000 foi de (-) 0,53%. Continuando com o autor, a população do município apresenta neste período uma população consideravelmente jovem, estando 41% da sua população na faixa etária de 0 a 14 anos. O município apresenta ainda uma população acima de 60 anos corresponde a 4,5% da população total.

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Em relação à ocupação territorial, o município apresenta neste período uma densidade demográfica na área urbana de 422 hab/km². Em relação á área rural a densidade demográfica chaga a casa de 0,78 hab/km², ocorrendo em áreas do município densidade abaixo de 0,5 hab/km². Tomando como Referência a população geral, o município apresenta uma densidade demográfica de 3,8hab/km² (Florentino,2000 p.69)

No gráfico abaixo temos a distribuição percentual da população do município de Nobres, distribuídos percentualmente em habitantes da zona rural e urbana.

População nobrense - ano 2000

Urbana Rural

20%

80%

Figura 23 - Situação demográfica do município de Nobres Fonte: Censo demográfico, 2000 - IBGE Organização: Anderson Boaventura da Cunha

Observamos que a taxa de urbanização nobrense, levando em consideração a população residente na cidade de Nobres é de 80% dos habitantes residentes no total do município, e a população rural corresponde 20% da população total do município. Tomando como referência os dados compreendidos ao distrito de Nobres, área onde a cidade de Nobres faz parte administrativamente dentro do município, a população urbana chega a 92% contra 8% população residindo na zona rural ao entorno da cidade.

Continuando com Florentino (2000), observa-se neste período que na composição da população nobrense, há a presença de trabalhadores envolvidos com atividades rurais e garimpos, sendo em sua maior parte residindo principalmente na periferia da cidade. Suas atividades são desenvolvidas em geral em propriedades rurais e garimpos da região,

100 ocorrendo por isso um grande fluxo de trabalhadores, com taxas de flutuação mínimas constante de aproximadamente 20% dos moradores das áreas periféricas.

É interessante citar que neste período foi criado no município mais um assentamento, o Coqueiral/Quebó em 1990 ocupando uma área de 49.386 ha, planejado para atendimento de 728 famílias. O município já contava no final da década de 1980 com o assentamento Gleba Serragem.

Região Região Sudeste Região Sul Nordeste 8% 7% Região 4% País estrangeiro Norte 0% 1%

Distrito Federal 0%

Goias Mato Grosso 1% 77%

Mato Grosso do Sul 2% Origem da População Nobrense

Figura 24 - Percentual origem das pessoas formadoras da população nobrense Fonte: Censo Demográfico, 2000 Organização: Anderson Boaventura da Cunha

Na figura acima temos a distribuição percentual da população nobrense, em relação a sua origem para este período estudado. Observamos que a maior parte da população que compõe a estrutura social do município é de origem do próprio Estado de Mato Grosso, atingindo a casa de 77% da população. Continuando ainda temos 8% da população nobrense tendo origem da região Sudeste, seguido pela região Sul com 7%, Nordeste 4% e as demais com menos de 2% da população.

Nos aspectos econômicos do município para este período (1991 a 2000) se utilizará dos dados apresentados por Florentino (2001) onde diz que as atividades econômicas desenvolvidas em Nobres se dividem nos setores: Primário, Secundário e Terciário.

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Em relação ao setor Primário o município começou a apresentar modificação em sua estrutura econômica passando de uma agricultura de subsistência para a uma agricultura de valor comercial. Isso pode ser observado pelos dados do tamanho de propriedade e produção do município, que no ano de 1999 os empreendimentos comerciais estavam organizados em tamanho da seguinte forma: 495 propriedades de 0 a 50 hectares, 610 propriedades de 51 a 100 hectares, 135 propriedades de 101 a 500 hectares e 275 propriedades acima de 500 hectares.

Em relação ao setor Secundário para este período a cidade de Nobres não possui um distrito industrial, sendo as atividades desenvolvidas pelas indústrias existentes no município, se concentram em maior parte ao longo das margens da BR-163/364, junto as suas jazidas de calcário. Esses estabelecimentos industriais por empreendimento extrativistas mineral apresentam grandes estruturas montadas para a exploração mineral, sendo que dentre elas a que se destaca neste momento a Fábricas de Cimento Portland do Mato Grosso – Cimento Itaú. Cabe destacar que estes empreendimentos são responsáveis por transformações na paisagem do município, ao fazer a retirada das rochas calcarias das áreas serranas, criando cicratizes em áreas antes cobertas pela vegetação. Outro fator é destes empreendimentos exercerem suas atividades a céu aberto acarretando a emissão de poluentes (calcário) na atmosfera, o que acaba por provocar grandes danos à saúde da população. Sendo que no período da seca é o mais critico de danos a saúde pública.

O setor é formado principalmente pela sua indústria extrativista de calcário, que apresentou no ano de 1999 a produção de 841.156 toneladas de calcário agrícola e 719.078 toneladas de calcário cimento. O município produziu ainda 100.658 toneladas de brita.

O município apresentava no final deste período cinco fábricas de calcário, cal e brita, e um fábrica de cimento, todas elas localizadas junto as suas jazidas de exploração. O município apresentava ainda duas metalúrgicas, quatro madeireiras, quatro mobiliários, duas químicas, duas fábricas de perfume, sabão e velas, uma fábrica têxtil, oito fábricas de produtos alimentícios, três fábricas de bebidas (álcool etílico e vinagre), três gráficas, totalizando trinta e cinco estabelecimentos industriais.

Em relação ao setor Terciário, temos em Nobres o comércio e a prestação de serviços. No comercio o município apresentava 350 estabelecimentos comerciais no ramo do varejo,

102 distribuídos nas áreas alimentícias, metalurgia, materiais para construção entre outros. Já no setor atacadista o município contava naquele momento com 15 estabelecimentos, distribuídos nos ramos alimentícios, de extrativismo mineral, ferragens e metalurgia, bebidas e fumo e artigos diversos.

Já em relação à prestação de serviços o município apresentava naquele momento 200 prestadores ativos, distribuídos nas mais diversas áreas de atuação. O município neste setor tinha como principais prestadores de serviço três restaurantes, uma churrascaria, quatro hotéis, duas pousadas, quatro escritórios contábeis, duas eletrônicas, duas imobiliárias, três construtoras, sete empresas de transporte coletivo e cargas, quatro agencias de viagem e turismo, cinco oficinas mecânicas, três auto-eletrifica, cinco escritórios de advocacia, quatro clinicas odontológicas, cinco postos de gasolina, duas escolas particulares entre outros.

Neste ponto observa-se a área comercial e de prestação serviços no município com concentração maior parte na cidade nas avenidas Getulio Vargas e Juscelino Kubitschek, formando um “L” comercial no centro da cidade (CNEC, 1997 p. 401).

Na figura abaixo temos a principal via econômica da cidade, Avenida Juscelino Kubistchek.

Figura 25 - Avenida Juscelino Kubistchek, 1996 Fonte: CNEC, 1996-1997 Organização: Anderson Boaventura da Cunha

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Essa avenida sofreu uma remodelação urbana, no período compreendido de 1997 a 2000 não mais apresentando hoje as características presentes nesta figura. Essas mudanças tiveram como objetivo incrementar visualmente o centro comercial da cidade, bem como readequar a via para um tráfego de carros com maior fluidez, consolidando assim esta via como a principal área comercial da cidade, estando presentes nesta via os principais empreendimentos comercial do município.

Na figura a seguir temos a outra via comercial da cidade a Avenida Getulio Vargas, que na década de 1980 era considerada a principal referência comercial do município, que nos anos 1990 acabou por migrar para a JK, passa agora a via a uma posição secundaria comercialmente.

Figura 26 - Corredor comercial secundário – Avenida Getulio Vargas - Centro Fonte: CNEC, 1997 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Em relação ao comércio, evidencia neste período um corredor com uma quase nulidade comercial, fato este observado pelo grande número de empreendimentos comerciais, bem como prestadores de serviço com suas portas fechadas. Área antes ocupada por bancos, postos de gasolina, loja de móveis e eletrodomésticos, distribuidoras de bebidas entre outros, migraram quase que totalmente para a JK, ou simplesmente encerram suas atividades no município.

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Figura 27 - Comércio com as portas fechadas, situação vivenciada neste período pela Cidade Fonte: CNEC, 1997 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

O comércio do município se restringia a oferta de artigos básicos, com exceção de algumas lojas de materiais de construção e supermercados de médio e grande porte, sendo que em sua grande maioria o comercio do município era composto por empreendimentos considerados de pequeno porte e de padrão regular a ruim de conservação, como pode ser visto na figura a seguir. Isso demonstra uma desmotivação dos empresários locais em promover investimentos mais acentuados em seus empreendimentos por não observarem na época um momento interessante para isso no município de Nobres.

Figura 28 - Estabelecimentos comerciais varejista de baixo padrão – Avenida JK - Centro Fonte: CNEC, 1997 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 105

Segundo ainda Florentino (2001) em relação às duas agências bancarias do município, cito BRADESCO e Banco do Brasil elas juntas:

[...] obtiveram em 1999, uma aplicação total de R$ 15.373.267,68 e uma poupança de 2.289.043,94, foram realizados depósitos a vista no valor de R$ 2.014.112,08, depósitos a prazo no valor de R$ 480.296,90. Entre os financiamentos agropecuários foram 475 contratos de custeio no valor de 1.562.956,38 e 24 contratos de investimentos no valor de R$7.030.782,98, para uma comercialização total de R$ 1.777.925,41, enquanto os financiamentos agrícolas registraram 485 contratos agrícolas no valor de R$ 1.515.253,00 e 14 contratos pecuários no valor de R$ 262.173,00. FCO realizou 02 contratos de R$ 47.012,00 para o desenvolvimento rural, 185 contratos do PRONAF no valor de 408.847,00 e 39 contratos do PROCERA no valor de R$ 117.138,00.

Na figura a seguir temos a distribuição no município da ocupação de mão de obra pelos principais setores da economia municipal.

Ocupação de Mão de Obra Extração Prestação de Mineral e Outros Serviços Vegetal 11% 18% 12% Construção Serviço Civil Público 10% 8% Comércio 23%

Agricultura 18%

Figura 29 - Ocupações de mão de Obra no Município de Nobres, ano 2000 Fonte: Florentino, 2001 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Em relação à ocupação da população nobrense, o município apresentava no ano 2000, o comercio como sendo o setor de maior empregabilidade, seguido dos serviços e da agricultura, sendo que esta última a maior parte dos trabalhadores exercendo suas atividades temporárias em outros municípios. Logo em seguida aparece o setor de extração mineral, sendo atendido principalmente pelas fábricas de calcário e cimento do município. O setor de 106 construção civil empregava 10% da população, sendo que em sua grande maioria neste período os trabalhadores exerciam suas atividades sem registro trabalhista. Já o serviço público ocupava 8% da mão de obra do município e outras atividades 11%.

3.4.3 – A forma e a função urbana para o período

Em relação à forma urbana deste período, a cidade de Nobres apresentava padrão residencial na região central considerada como regular baixa, por haver quantidade considerável de habitações em estágios precários.

As áreas que apresentam os melhores padrões habitacionais na cidade se localizam na porção noroeste da cidade, sendo os condomínios fechados de propriedade do Grupo Votorantin, vilas residenciais destinadas à moradia dos funcionários da empresa. Essas propriedades apresentavam naquele momento pouco inter-relacionamento com a malha urbana da cidade, contribuindo em pouco com as atividades comerciais, consumindo pouco na cidade.

Em relação à configuração da cidade de Nobres temos o bairro Jardim Paraná, local onde se situa a prefeitura municipal de Nobres, área afastada do centro, com baixa taxa de ocupação naquele momento, mas se constituindo como um bairro de médio padrão de renda (CNEC, 1997 p.405).

Segundo ainda o relatório CENEC (1997) os piores padrões de urbanização na cidade de Nobres, se encontram nas demais áreas periféricas, onde se encontram os loteamentos de baixa renda como, Aglomerado (atual Jardim Carolina), Ponte de Ferro, Serragem, Sapolândia (atual Jardim Glória), Aeroporto, Petrópolis e COHAB Marzagão (hoje os dois formam um bairro só o Jardim Petrópolis), todos eles desprovidos de infra-estrutura urbana e com precárias condições de moradia, e grande número de casas construídas com materiais alternativos tais como palha, barro e lona plástica.

Segundo os dados do Censo, 1991(IBGE), a cidade de Nobres apresentava naquele momento 3.160 domicílios urbanos permanentes, sendo estimado que 35% das residências apresentam condições precárias. A cidade conta ainda com 300 casas populares divididas em

107 três conjuntos habitacionais (Florentino, 2001), sendo eles Cohab Jardim Paraná, COHAB Marzagão e COHAB Jardim Petrópolis.

Neste cenário cabe fazer algumas considerações em relação ao Bairro Jardim Petrópolis que teve sua consolidação com a construção de aproximadamente 164 casas através de convenio entre o executivo municipal sob a administração de Amélio Dalmolin e o governo do Estado de Mato Grosso na época sob o governo de Jaime Campos e financiamento junto a Caixa Econômica Federal. O Residencial denominado COHAB Marzagão, nome este dado pela localização do mesmo a margem esquerda da rodovia que liga a cidade de Nobres a comunidade Marzagão distrito de Rosário Oeste.

Na figura 30 temos a vista parcial da Avenida Marzagão, principal meio de ligação entre a cidade de Nobres com os distritos de Coqueiral e Bom Jardim, bem como com os principais pontos turísticos comercializados pelo município. Este ponto é o entroncamento da MT-241 com a BR- 163/364.

Figura 30 - Avenida Marzagão (MT-241), bairro Jardim Petrópolis Fonte: Anderson Boaventura da Cunha, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 . 108

O Bairro Jardim Petrópolis localiza-se a margem direita da rodovia BR 163/364 (Cuiabá-Santarém), estando à sombra da serra do “vai – quem – quer”, um dos pontos turísticos do município de Nobres. O bairro é o reflexo da nova tendência pensada pelos governantes da época em trazer a rodovia para dentro (novamente) da mancha urbana municipal, que tinha sido retirada quando da pavimentação da BR-163/364 na década de 1980.

O bairro é um dos que mais cresce em Nobres, sendo o principal foco do executivo municipal para os novos investimentos em habitações sociais, “casas populares”. O bairro conta com precária infra-estrutura, tendo em sua maior parte ruas sem pavimentação, sem esgoto e em alguns pontos sem água e luz. O bairro é formado pela já falada COHAB Marzagão, o Residencial “Pôr-do-sol” o loteamento Jardim Petrópolis, loteamento este ultimo que dá nome ao bairro.

Corrêa nos fala sobre essa camada da população no papel de agentes modeladores do espaço:

É na produção da favela, em terrenos públicos ou privados invadidos, que os grupos sociais excluídos tornam-se efetivamente, agentes modeladores, produzindo seu próprio espaço, na maioria dos casos independentemente e a despeito dos outros agentes. A produção deste espaço é, antes de, mais nada, uma forma de resistência, e ao mesmo tempo, uma estratégia de sobrevivência. Resistência e sobrevivência as adversidades impostas aos grupos sociais recém-expulsos do campo ou provenientes de áreas urbanas submetidas ás operações de renovação, que lutam pelo direito á cidade [...]. (CORRÊA, 1989, p.30)

Na figura a seguir é apresentada vista parcial de uma das unidades habitacionais da COHAB Marzagão ainda em partes com a fachada original preservada. Estas unidades apresentavam dois cômodos sendo um quarto, uma sala e cozinha junto e um banheiro. As residências foram financiadas pela Caixa Econômica Federal com prazo de pagamento de 15 anos.

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Figura 31 - Vista parcial da Cohab Marzagão, 1997 Fonte: CNEC, 1997 Organização: Anderson Boaventura, 2011

Conjunto habitacional considerado neste período para população de baixa renda, na COHAB Marzagão observa-se muitos vazios urbanos, configurando um núcleo urbano de baixo-média densidade, sendo considerado junto com o jardim Carolina na época como extensos bolsões de pobreza. (CNEC, 1997)

Por ser área considerada periférica da cidade o bairro apresenta os menores valores por metro quadrado da cidade de terreno urbano, sendo a área visada pelo governo municipal de direcionamento de novos projetos habitacionais de cunho social pelo baixo custo das áreas nesta região. Isso nos faz recordar de Santos quando diz que "estrutura implica a inter-relação de todas as partes de um todo; o modo de organização ou construção” (1985, p.50). É o aspecto "invisível” construído pela inter-relação das diversas funções desempenhadas pelas/nas formas. Observa-se diante disso que a cidade necessitava deste novo espaço de expansão, mas essa expansão visava o atendimento a um público com poder aquisitivo baixo, mas que tivesse condições de pagar uma mensalidade, sendo necessariamente que os novos moradores desta nova área tivessem condições de assumir esta responsabilidade financeira. Diante disso observamos uma tendência no atendimento com moradia os trabalhadores com funções na fábrica de cimento, pois os mesmo teriam condição de pagamento desta mensalidade.

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Figura 32 - Unidade habitacional da Cohab Marzagão, Bairro Jardim Petrópolis, 2010 Fonte: Anderson Boventura da Cunha, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Os moradores do bairro viveram por quase meia década com dificuldades de ligação com o centro da cidade, pois esta área por muito tempo permaneceu separada por uma barreira natural o “Rio Nobres”. A única via de ligação urbana era uma ponte de aço construída logo após a construção da COHAB Marzagão pelo qual tinha como função o atendimento dos pedestres que vinham da nova área urbana da cidade para o centro. Na figura a seguir temos o principal meio de ligação do bairro com o centro, até os idos dos anos de 1997 e 1998 quando com recurso do governo do Estado, na época sob o governo de Dante de Oliveira quando foi construída e inaugurada ponte de concreto sobre o Rio Nobres que até hoje serve como principal meio de ligação do bairro com a área central da cidade pela avenida Buriti.

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Figura 33 - Ponte de Ferro sobre o rio Nobres, 2010 Fonte/Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Logo abaixo temos figura da rotatória da Avenida Buriti no bairro ponte de Ferro que dá acesso a ponte sobre o rio Nobres principal e única via de ligação urbana do Bairro Jardim Petrópolis com o centro comercial da cidade de Nobres. A avenida foi pavimentada durante a primeira gestão do Prefeito Flávio Dalmolin. Por ser uma área de várzea e a obra desde a sua pavimentação não aparentar uma qualidade satisfatória, a via tem aspectos de deteorização. Após a sua abertura a Avenida Buriti possibilitou investimentos públicos e privados nesse trecho que vai da ponte até o entroncamento com a Avenida Marechal Rondon que acarretou a criação do Bairro Ponte de Ferro. Neste trecho da avenida no sentido Centro- Jardim Petrópolis encontra-se principalmente pequenas chácaras na sua margem esquerda, já no outro lado algumas residências podem ser observadas. Este bairro apresenta desafios para a construção de prédios ou estabelecimento de empreendimentos, por ser uma área de várzea como já dito anteriormente, recebendo as águas de chuvas de toda área mais alta da cidade (bairros: São José e Carolina e parte do centro)

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Figura 34 - Rotatório da Avenida Buriti ligação entre o Centro da cidade e o bairro Jardim Petrópolis Fonte: Anderson Boaventura da Cunha, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Este período também foi marcado pela criação do bairro Jardim Carolina, que surgiu primeiramente a base de três loteamentos chamados de Aglomerado, Jardim Carolina, São Jorge e Topical. Esta nova área de ocupação na cidade teve seu maior interesse comercial a partir do anuncio de que iria ocorrer à mudança pelo poder publico municipal do terminal Rodoviário do município, que seria construído com recursos do governo do Estado, sob então o governo de Jaime Campos na região onde hoje se encontra o bairro Jardim Carolina, fazendo assim impulsionar a venda dos terrenos do lugar, por assim acreditar os compradores na época os compradores que com essa mudança do terminal rodoviário, bem como com a presença já anteriormente da prefeitura e do fórum nas proximidades da localidade aconteceria uma valorização das propriedades ali estabelecidas. Na figura a seguir temos o terminal rodoviário “Jaime Campos” sendo a porta de entrada do bairro Jardim Carolina que se encontra ao fundo.

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Figura 35 - Vista do termina rodoviário de Nobres “Jaime Campos” Fonte: Anderson Boaventura, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

O terminal que surgiu com toda pompa de ser a referência de expansão urbana, não surtiu efeito no primeiro momento, pelo seu pouco fluxo de passageiros, que em sua maior parte se utilizavam de ponto de ônibus nas imediações da antiga rodoviária. Situação esta ocorrida pela distância do mesmo que se encontrava em área retirada em relação ao centro da cidade e principalmente em relação aos bairros como Serragem, Aeroporto e Jardim Glória, que preteriam a rodoviária ao se utilizar do ponto de ônibus pela comodidade que isso lhes proporcionava.

O novo bairro que surgiu passou a abrigar família com baixo poder aquisitivo, com moradias precárias, ou construídas com materiais alternativos. Na primeira parte dos anos 2000 o bairro começa a apresentar modificações estruturais e sociais com a construção de moradias permanentes e a diminuição das moradias construídas com materiais alternativos.

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Figura 36 - Vista da rua 02 no Bairro Jardim Carolina, fundo com a Rodoviária Fonte: CNEC/Set1996 – ago/1997 Organização: Anderson Boaventura

Tendo como base o relatório produzido pelo grupo de trabalho responsável pelos estudos do zoneamento sócio econômico ecológico do Estado de Mato Grosso em relação ao município de Nobres, identificaram nos idos de 1996 a 1997 como sendo o Bairro Jardim Carolina (na época conhecido como aglomerado) uma área de expansão, sendo ela a única na cidade naquele momento. O seu padrão de ocupação foi considerado baixo com uma baixa densidade residencial conforme pode ser visto na figura acima da rua 02 no fundo da rodoviária(ver figura 31).

Em relação as suas vias, o município apresenta em seu território estimativamente 200 km de estradas vicinais, sendo ainda entrecortado o município por duas rodovias estaduais a MT-240 que liga a BR-163/364 (Boteco Azul) a localidade Sete Placas, município de Santa Rita do Trivelato, totalizando 160 km. A outra rodovia é a MT-241 que liga a cidade de Nobres ao distrito Marzagão no município de Rosário Oeste, passando pela Vila Bom Jardim (hoje distrito), e pelo distrito de Coqueiral, com uma extensão aproximada de 70 km (FLORENTINO, 2001 p.73), ambas as rodovias estaduais não são pavimentadas. A cidade ainda é cortada no sentido sul-norte pela BR-163/364, pavimentada, percorrendo pelo

115 território do município cerca de 40 km. A rodovia que liga Nobres à Cuiabá, capital do Estado e com a região norte mato-grossense.

Em relação aos equipamentos de atendimento a população nobrense neste período se encontravam distribuídos por toda a cidade. No bairro Jardim Paraná se localiza a prefeitura municipal, o Fórum, a Exatoria e a escola municipal de 1º grau Profª Niva Matos de Oliveira (hoje o prédio abriga a Assistência Social do Município). No bairro Aglomerado (hoje Jardim Carolina) temos a rodoviária e o cemitério municipal. Já no bairro São Jose, encontramos a igreja matriz “São Sebastião”, a biblioteca municipal (derrubado o prédio para dar lugar à nova praça da matriz), a câmara municipal e a escola Estadual de ensino fundamental (antigo 1º grau) Inocência Rachid Jaudy. No centro encontramos o Pronto Socorro municipal, a escola Estadual de ensino fundamental e médio (antigo 1º e 2º graus) Professor Nilo Póvoas e o Clube Social. No bairro Ponte de Ferro temos o estádio municipal “Balizão” e a Feira-Livre (área derrubada para dar lugar a estacionamento), e a escola Estadual de ensino fundamental (antigo 1º grau) Dr. Fábio Silvério de Farias. Já no bairro Sapolândia (hoje Jardim Glória) a escola Estadual de ensino fundamental e médio (antigo 1º e 2º graus) Mario Abraão Nassardem. No bairro Aeroporto temos a escola particular de ensino Fundamental (antigo 1º grau) SESI.

Diante das informações obtidas da cidade de Nobres em relação a este período estudado observamos uma estagnação econômica no município, que acabava por influenciar no tipo de estrutura social e na condição das moradias utilizadas pela população. Observamos em relação aos conjuntos habitacionais direcionados a população de poder aquisitivo baixo, a segregação sócio-territorial característica básica deste modo capitalista de produção do espaço, onde a se tinha infra-estrutura precária com aparente descaso por parte do poder publico em relação ao que acontecia a população local. Fator preponderante para este momento é o estabelecimento da configuração urbana nobrense que viria a sofrer novas modificações na segunda metade da primeira década dos anos 2000, com o surgimento de novas áreas de expansão urbana.

3.5 – Uma função econômica, como referência geográfica

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Este tópico vem a complementar o tópico 3.4, onde construiremos algumas referências em relação à principal empresa extrativista no município, a cimento Mato Grosso S.A, empresa ligada ao grupo Votorantim. Segundo Singer (1977), a ocupação do Brasil se fez de várias formas, pois nem todas as regiões do país apresentavam as mesmas facilidades para a produção de artigos para o mercado mundial.

Construir esse momento no trabalho se deu pela necessidade de transcrever o processo histórico deste principal empreendimento instalado na cidade, que proporcionou além de impostos e empregos o reconhecimento em nível nacional e internacional do município, por estar localizado em seu território uma das unidades fabris da Votorantim, um dos maiores grupos econômicos da América Latina.

3.5.1 – O Grupo Votorantim

A fábrica de Cimento Itaú é uma empresa do Grupo Votorantim, que teve sua origem a partir de uma fábrica de tecidos fundada em 1918, Sorocaba, São Paulo e que vem diversificando suas atividades ao longo dos anos, tornando-se uma das maiores empresas da América Latina (Votorantim, 1999, p.51). Apesar de ser uma empresa genuinamente brasileira sua área de abrangência econômica se estende com suas atividades em mais de 20 países, distribuídos nos continentes americano, europeu, africano e asiático.

Na America do norte a empresa apresenta 6 fábricas de cimento e 150 unidades de cimento e agregados (brita e areia). Já na América do sul, sua participação se estende além do Brasil, na Bolívia, Chile, Paraguai, Argentina, Uruguai e Peru. O grupo Votorantim ainda é dono de 21,2% na CIMPOR, empresa portuguesa que tem atuação em 11 países europeus, além do continente africano e asiático.

Na figura a seguir observamos o grupo VOTORANTIN no espaço mundial, empregando cerca de 35 mil profissionais, sendo que sua área de atuação vai além do cimento, estando presente na mineração e metalurgia, siderurgia, celulose e papel, suco concentrado de laranja, auto geração de energia e no mercado financeiro.

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Figura 37 - O Grupo Votorantim no mundo, 2011 Fonte: Votorantin Cimentos S.A Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

O Grupo Votorantim é líder no mercado nacional brasileiro na produção de materiais básicos de construção, sendo detentor de cerca de 40% da participação no mercado de cimento no Brasil. Nesse ramo econômico a companhia é considerada uma das 10 maiores empresas na produção de cimento no mundo, sendo que toda essa grandiosidade econômica construída ao longo dos seus 75 anos de existência.

Na figura 33 temos a distribuição espacial no território Brasileiro dos centros de produção de cimento do grupo Votorantin, bem como a informações referentes aos investimentos na ampliação fabril com a construção de novas plantas industriais a serem construídas. Em relação a sua capacidade de produção a empresa apresenta; 36 milhões de toneladas de cimento por ano produzido, bem como a produção de 12 milhões de m³ de concreto por ano e cerca de 29 milhões de toneladas de agregados (areia e brita) produzidos ano. Diante desses dados ela se consolida como uma multinacional Brasileira.

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Figura 38 - Mapa de localização das unidades da Votorantin Cimentos, 2011 Fonte: Votorantin Cimentos S.A. 2011 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Nas figuras acima podemos visualizar a interligação de Nobres com o mundo por meio da relação de fluxos econômico estabelecidos por esta empresa que tem atuação internacional. Nobres, é observado no cenário nacional e internacional como um dos tentáculos econômico desta multinacional brasileira.

3.5.2 – O Grupo Votorantim em Nobres- MT

Entende-se que um dos percussores na exploração do cimento no território nobrense foi Monsenhor Henrique que em 1940 identificou através de pesquisa em laboratório na cidade de São Paulo, calcário próprio para a fábricasção de Cimento na antiga fazenda Tombador. Anos mais tarde vieram geólogos na região e confirmaram a existência de calcário próprio para a fábricasção de cimento. O Grupo Santa Rita, empresa italiana, adquiriu primeiramente a área da família Moreira e começou a construção da planta industrial da 119

Cimento Portland Mato Grosso S/A, que anos depois seria vendida ao grupo Itaú, o projeto reformulado no ano de 1984, sendo que nesse período a empresa modificou o programa, ampliando e modernizando o parque industrial que estava sendo construído, ocorrendo o seu Star-Up no dia 16 de agosto de 1991, com um custo total de implantação de 150 milhões de dólares. A partir de 1997 a empresa passou a fazer parte do Holding Votorantim Cimentos, que englobou o Grupo Itaú.

Figura 39 - Vista Parcial da Unidade fabril de cimento da Votorantim em Nobres – MT Fonte: CIMAG Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

A unidade fabril de Nobres, em destaque acima na figura 34, está entre as mais modernas e compactas fábricas de Cimento da América Latina. Tendo assumido importante papel no mercado industrial na região-centro norte do Brasil, atendendo não só a região centro norte do Brasil, indo além em comercializando com mercado internacional, Bolívia e Paraguai. Além disso, a fábrica tem como finalidade a produção de materiais e insumos necessários a produção de cimento para atendimento da demanda da fábrica de cimento localizado no estado de Rondônia. A seguir temos figuras com dados referentes à fábrica ITAÚ de propriedade da Cimento Mato Grosso S.A:

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Implantação do Projeto - 1984

INVESTIMENTOS GLOBAIS - $150 milhões de dólares

Start-up - 16 de 218 agosto de 1991 Funcionários

Figura 40 – Dados da implantação da Cimento Mato Grosso S.A – Nobres, MT Fonte: CIMAG, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

A unidade fabril cimento Mato Grosso S.A, apresenta uma área total de extração (mina) e produção (fábrica) de 62 ha, produzindo cimento Itaú CP IV e CP II Z. Até o ano de 2009 a indústria produzia calcário agrícola, mas que pelo aumento da demanda no consumo de cimento no Estado de Mato Grosso, bem como os investimentos por parte do governo federal no setor energético tais como a construção das Usinas Hidrelétricas de Giral e Santo Antonio ambas localizadas em Rondônia, obrigou a empresa a colocar seu parque industrial totalmente a disposição da produção de cimento. Na figura a seguir temos os dados dos principais produtos produzidos e sua quantidade bem como sua área de atuação comercial.

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Materia Produção prima: 1.220 Area de Região Centro Nominal mil atendimento Oeste: Goias e toneladas/ano comercial Mato Grosso Clíquer: 876 mil toneladas/ano Regiõ Norte: Rondonia, Acre e Pará Cimento: 1.000 toneladas/ano Exportação: Bolivia e Peru Calvario Agricola: 300 mil toneladas/ano

Figura 41 – Dados da Produção e mercado consumidor da Cimento Mato Grosso S.A – Nobres, MT Fonte: CIMAG, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Na figura 37 a seguir, temos uma vista parcial da área da fábrica e da mina, a partir de imagem orbital do ano de 2005 disponibilizada pelo Google Earth, esta visualização possibilita ter uma idéia do tamanho do empreendimento no território nobrense. No último ano a empresa ampliou sua produção influenciada pelo aumento da demanda apresentada pelo Estado de Mato Grosso, fato esse acarretado pela escolha por parte da FIFA da cidade de Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso como uma das 12 cidades sedes da copa do mundo de 2014.

Diante desse novo quadro de possibilidades econômicas proporcionadas pela Copa de 2014 os investimentos em infra-estrutura bem como a ampliação de atividades comerciais envolvidas com o atrativo esportivo e de turismo no Estado ampliaram o consumo de cimento. Neste cenário de aumento do consumo do produto em 2012 o grupo Votorantin inaugurará uma nova unidade fabril de cimento no distrito da Guia município de Cuiabá. Fato este noticiado na mídia impressa e veiculada no Estado. Esses investimentos têm como base em negociações e incentivos fiscais disponibilizados pelo governo do Estado de Mato Grosso na redução do ICMS em 50% por 10 anos. Este empreendimento tem a expectativa de gerar na construção, mil empregos diretos e outros quatrocentos indiretos.

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Figura 42 - Cimento Mato Grosso S.A. Unidade: Nobres Fonte : Google Earth – data image 23-06-2009 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Em relação a fábricas de Nobres, a empresa investiu na sua ampliação produtiva com um novo forno de pozolana com capacidade de produção de cerca de 300 mil toneladas por ano. Hoje a fábrica tem funcionamento 24 horas.

Observamos nessas tendências de investimentos por parte da empresa no Estado de Mato Grosso a preocupação por parte do grupo Votorantim em primeiro lugar não dar espaço a oportunidade que se abre nestes últimos anos de expansão no setor proporcionado pelo crescimento econômico do Estado, para que outro grupo do ramo de produção de cimento se adentre no mercado regional, outro fator que diz respeito aos novos investimentos por parte do grupo diz respeito às oportunidades proporcionadas pelo Estado através de “incentivos” fiscais que possibilitam a ampliação do lucro da empresa, pois os incentivos que o grupo Votorantim detinha com a unidade industrial de Nobres se expiraram no início desta década. Cabe a reflexão da possibilidade de ampliação da unidade de Nobres que se encontra a pouco mais de 120 Km da Capital com uma estrutura já pré definida, onde não seria oneroso ao Estado através de seus incentivos, ou construir um novo empreendimento, com novas possibilidades de ganhos com os incentivos fiscais? 123

3.6 - Novas Perspectivas de desenvolvimento a Atual Configuração Urbana Nobrense – Período de 2001 a 2011

Neste momento compreendido no período de 2001 a 2011, encontramos as novas tendências consolidadas de expansão urbana e a construção da idéia junto ao poder público em estruturar na cidade a função turística. Período marcado pela abertura de novas áreas urbanas bem como adensamento e novas frentes de expansão. Observaremos neste momento, o atual mapa urbano da cidade, bem como as novas funções adquiridas ou em fase de consolidação.

3.6.1 – Aspectos políticos para este período de 2001 a 2011

No campo político observamos neste período após a turbulência do final da década de 1990 na gestão publica de Nobres, a possibilidades de novas perspectivas administrativas.

Nas eleições realizadas em 2000 foram eleitos para prefeito Flávio Dalmolin e como vice Ney José de Campos, obtendo vitória sobre o então prefeito e candidato a reeleição Devair Valim de Melo. Esta nova gestão que se começava era tida com da reorganização administrativa do município, pois o prefeito empossado assumia uma prefeitura altamente endividada, com folhas de pagamento atrasados entre outras pendências. Para esta legislatura foram eleitos os vereadores; Sebastião Alves de Albuquerque – PSDB eleito com 197 votos (presidente da câmara 2001/02), Glaudio Humberto Valandro - PSDB (presidente da câmara 2003/04) eleito com 242 votos, Cleide de Castro Duarte – PFL 249 votos, Julia Teixeira da Silva – PSDB 212 votos, Paulina Dias da Silva – PFL 206 votos, Vidal Rodrigues de Souza – PPS 201 votos, Ademir Messias da Silva – PFL 200 votos, Silvana Ferreira Silva Almeida – PFL 199 votos, Lucia Luiza de Andrade Takeuti – PPS 193 votos, Wanderley de Almeida – PSB 158 votos, Lucio Leite de Almeida – PTB 131 votos.

Já nas eleições de 2004 ocorreu a primeira reeleição em Nobres para o cargo do executivo municipal Flávio Dalmolin, tendo agora como vice-prefeito uma nova liderança política que se formou em Nobres, Sebastião Gilmar Luis da Silva “Gilmarzinho da Ecoplan”.

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Os vereadores eleitos para essa legislatura foram; Vidal Rodrigues de Souza – PMDB 228 votos(presidente da câmara 2005/06), Carmelindo de Souza – PFL 352 votos (presidente da câmara 2007/08), Glaudio Huberto Colognense Valandro – PSDB 498 votos, José das Neves de Almeida – PMDB 431 votos, Carlos Marques Ribeiro – PP 336 votos, Lucia Luiza de Andrade Takeuti – PP 268 votos, Paulina Dias Pedrozo – PFL 268 votos, Waner Rodon – PFL 198 votos, Sebastiana Marques da Silva – PDT 186 votos.

Na últimas eleições realizadas na década do anos 2000 para os cargos eletivos municipal, se elegeu como prefeito Dr. José Carlos da Silva , tendo como vice-prefeito Ismael Barravieira. Para os cargos no legislativo nobrense, foram eleitos vereadores; Glaudio Humberto Valandro – PSDB 294 votos (presidente da câmara 2009/10), Manoel Fermino Pinho – DEM 319 votos (presidente da câmara 2011/12), Zilmai Ferreira de Jesus – PP 418 votos, Paulina Dias da Silva – PP 374 votos, Adão Valdinei Pereira – PP 343 votos, Joel Junior da Silva – PP 326 votos, Silvestre da Silva Campos – PR 288 votos, José Dias Filho – DEM 241 votos, Herberto Buri – PDT 219 votos. Sendo estes representantes eleitos para gestão do município até o presente momento. Essa gestão foi marcada pela consolidação das leis de ordenamento jurídico de ocupação urbana da cidade, fazendo cumprir a legislação vigente, algo que anteriormente era relegado a questões políticas.

3.6.2 - Aspectos Demográficos:

O período compreendido entre 2001 e 2011 é marcado demograficamente pela quase estagnação populacional nobrense. Neste período o município não apresentou crescimento expressivo, mas em compensação não apresentou perda de moradores.

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População Distrito de Nobres - 2010

6%

Urbana Rural 94%

Figura 43 - Distribuição da população do município de Nobres Fonte: IBGE, Censo demográfico, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011 Na figura 43, observamos dados referentes ao município de Nobres, dando ênfase a área administrativa do seu distrito sede, Nobres, onde se localiza a área urbana estudada apresentando em 2010 uma taxa populacional de 94% residindo na área urbana, isso demonstra a consolidação do seu aspecto de urbanidade, fato este que é realidade em quase totalidade do território brasileiro, onde em maior parte dos municípios a população se encontra nos núcleos urbanos.

Se levarmos em consideração o total da população do município contando a população dos três distritos (Nobres, Coqueiral e Bom Jardim) temos 83% da população total residindo na zona urbana, realidade essa que apresenta um diferencial considerável de 11%, demonstrando que à medida que se distancia do principal núcleo urbano aumenta a taxa de pessoas que só moram na zona urbana. Não devemos deixar de considerar que no município ainda tem dois outros distritos que apresentam vilas consideradas no contexto de núcleos urbanos; distrito de Bom Jardim (Vila Bom Jardim) e o distrito Coqueiral (Vila Roda D‟água).

Analisando de forma mais ampla, observamos que no decorrer do processo de formação e consolidação do território nobrense, tomando como Referência a partir do ano de 1970, apresentou neste período até o ano de 2010, aumento populacional considerável, tendo seu ápice de aumento na década de 1980, onde a partir daí o município teve uma aparente estagnação populacional.

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Evolução Populacional Nobrense

16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 Valores absolutos Valores 0 1 1970 5.692 1980 13.446 1991 15.174 2000 14.983 2010 15.002

Figura 44 - Evolução populacional do município de Nobres 1970 a 2010 Fonte: IBGE/Censos, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Conforme pode ser observado no gráfico acima bem como a partir dos dados presentes no decorrer do trabalho observa-se um momento populacional de estagnação, inicialmente esse aumento foi impulsionado por investimentos feitos pelo poder público, procurando o incentivo da vinda de trabalhadores de outras regiões para povoação do estado de Mato Grosso, e depois a partir da diminuição destes incentivos proporcionados pelas crises econômicas do final da década de 1980 e década de 1990, começa-se um momento de pouca evolução urbana. Diante dos dados disponibilizados pelo IBGE, 2010, podem-se criar as referências de adensamento humano no espaço urbano nobrense. Conforme pode ser visto na figura a seguir, temos a distribuição percentual da população de Nobres por Bairro.

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População Nobrense JARDIM SÃO JOSÉ AEROPORTO CENTRO CAROLINA 25% 5% 11% 12%

SERRAGEM 7%

PONTE DE FERRO 4% JARDIM GLÓRIA 10% JARDIM PETRÓPOLIS JARDIM PARANÁ 16% 10% Figura 45 - Distribuição percentual da população residente por bairro em Nobres, 2010 Fonte: IBGE, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Segundo o IBGE, 2010, o município de Nobres apresenta área territorial de 3.892,1 km², com uma população de 15.003 habitantes, apresentando densidade demográfica de 3,85 habitantes por quilômetro quadrado. A distribuição da população nos bairro da cidade de Nobres pode ser visualizada na seguinte proporção: 528 pessoas residem no bairro Aeroporto correspondendo a 5% da população da cidade; 1.124 pessoas residem no Centro da cidade correspondendo a 11% da população da cidade; no Bairro Jardim Carolina foram contados como residentes 1.259 pessoas, o que corresponde a 12% da população urbana de Nobres; já no bairro Jardim Glória moram 1.036 pessoas, correspondendo a 10% da população urbana; no bairro Jardim Paraná residem 1.071 pessoas, que correspondem a casa de 10% da população urbana de Nobres; o bairro Jardim Petrópolis corresponde a 16% da população urbana com 1.748 habitantes; já no bairro Ponte de Ferro residem cerca de 437 habitantes correspondendo a 4% da população nobrense; no bairro Serragem moram 700 pessoas que correspondem a 7% da população da cidade; e o São Jose desponta como maior bairro da cidade com 2.595 habitantes, correspondendo a 25% da população nobrense.

Em relação à distribuição da população por distritos o município apresenta 10.498 habitantes residindo no distrito de Nobres, já o distrito de Bom Jardim apresenta 1.132 moradores, e o distrito de Coqueiral apresentou o número de 1.527 habitantes, lembrando que 128 nos distritos de Bom Jardim e Coqueiral são considerados os moradores da vila e da área rural todos juntos.

Em relação ao atendimento escolar o município disponibiliza como aparelhos de Estado responsáveis pela educação em Nobres, treze unidades educacionais, sendo distribuídas da seguinte forma; uma creche municipal – “Alda Pacheco Serra”, um Centro de Educação Básica Municipal “Maria Honorata de Campos”, uma APAE – Escola “Nova Vida”, uma Escola Municipal Dalcy Cândida de Souza, uma Escola Estadual de Ensino Médio “Professor Nilo Póvoas”, três Escolas Estaduais de ensino Fundamental “Fabio Silvério de Farias” nesta escola também funciona EJA - Ensino Fundamental, “Inocência Rachid Jaudy” e “Mario Abraão Nassardem” onde funciona EJA-Ensino Médio, todas essas localizadas no perímetro urbano. Dentro ainda do perímetro urbano temos o Centro Educacional Cooperativo – CEC, de característica particular. A zona Rural é atendida pelas Escolas Municipal Zeferino Dorneles Costa, localizada no distrito Bom Jardim, tendo como clientela alunos do ensino fundamental e o Distrito Coqueiral é atendido pela Escola Estadual Marechal Candido Rondon, atendendo alunos do ensino fundamental e Médio. Já na aldeia indígena o atendimento escolar é feito pela Escola Municipal Indígena “Cel. Olavo Mendes Duarte” que atende alunos do ensino fundamental e médio.

3.6.3 – Forma Atual do Espaço Urbano

A atual forma da mancha urbana nobrense em relação à década anterior teve grandes modificações principalmente a partir da segunda metade da primeira década do século XXI, mais precisamente a partir dos anos de 2007, 2008 até os dias atuais, fato este ocasionado principalmente pela valoração do espaço urbano, este impulsionado pelos investimentos iniciais do setor turístico no município bem como investimentos em infra-estrutura na região por parte do governo federal e estadual e das empresas extrativistas de calcário no município.

Apesar do município apresentar grande vocação turística, algo que faz parte do ideário da população desde a década 1990, somente agora nos últimos 10 anos, vem ocorrendo investimentos pontuais e objetivos para que se possa tornar o município equipado como atrativo turístico. Esses investimentos passam pela reforma e a construção de novas áreas de

129 lazer, tais como praças públicas e a readequação de vias urbanas, com manilhamento e pavimentação entre outras intervenções.

Outro setor que teve incentivos em relação à questão turística é o comércio local com vista a melhorias dos estabelecimentos no que tange ao atendimento das estruturas físicas bem como através de cursos capacitando a população com o objetivo de prepar para um bom atendimento dessa possível demanda turística.

A cidade de Nobres apresenta uma área urbana de 1.256 ha, dividida em 10 bairros, sendo eles: Centro, Jardim Paraná, Jardim Carolina, São José, Ponte de Ferro, Jardim Glória, Serragem, Jardim Petrópolis, Aeroporto e Bairro da Torre.

A cidade apresenta três residenciais, sendo dois condomínios fechados de propriedade da Votorantim Cimentos, ambos localizados no bairro Aeroporto. E o terceiro residencial teve sua construção a partir de convênio da prefeitura com o governo do Estado para famílias sem teto, localizado no Bairro Jardim Petrópolis. Os residenciais de propriedade da Votorantim Cimentos, localizados a noroeste da cidade conta com uma única via de acesso a malha viária da cidade, criando uma perspectiva de auto-segregação do perímetro urbano da cidade.

O Residencial Primavera, popularmente conhecido como Vila A, é residencial construído em 1987, abrigando 28 casas residenciais de auto padrão arquitetônico em relação às construções da cidade. Na figura 46, temos a vista parcial de uma das unidades habitacionais. Essa vila é destinada para moradia de funcionários de alto escalão na fábrica, residindo nela gerentes e os funcionários da empresa com cargo de chefia na empresa. A empresa também sede moradias em alguns casos a funcionários públicos de alto escalão no município, um exemplo o delegado da cidade, tendo como objetivo a garantia de segurança do ambiente residencial, estabelecendo um ambiente elitista

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Figura 46- Fachada de uma das casas no Residencial Primavera, 2010 Fonte: Missada, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Nesta vila temos aparelhos de lazer tais como quiosques, quadra poliesportiva de concreto, piscina com raias olímpicas e uma praça central muito bem arborizada, sendo as ruas pavimentadas em concreto.

Já o Residencial “Por do Sol” (ver figura, 48), conhecido popularmente como Vila B, é um residencial que apresenta 50 casas residenciais, tendo ainda um prédio com três pavimentos, com aproximadamente 16 apartamentos. Neste conjunto habitacional se encontram ainda apartamentos térreos kit nets apelidados pelos moradores como “Carumbé” para funcionários solteiros, num total aproximado de 12. Em todas as residências desta vila os moradores não têm despesas com água sendo esta despesa custeada pela Votorantim, já em relação aos moradores do chamado Carumbé as despesas de água e luz são custeadas pela indústria.

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Figura 47 - Residencial Morada do Sol – Vila B - Aeroporto, 1997 Fonte: CNEC, 1996-1997 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Nesta vila os espaços não ficam ociosos apresentando até cadastro de reserva para moradia em uma das casas, as residências vistas na figura acima são destinadas a empregados com família, oficialmente casados.

3.6.4 – Novos aparelhos urbanos

Nesse processo de reconfiguração urbana pelo qual a cidade de Nobres vem sofrendo nos últimos anos observamos a construção e readequação de área e aparelhos urbanos na cidade. Dentro dessas novas áreas encontramos áreas de lazer e a ampliação de áreas residenciais. Dentro das novas áreas de lazer podemos citar a Praça da Bíblia ver figura 44, construída no ano de 2007, no bairro Jardim Glória. Construída atendendo pedido da comunidade evangélica da cidade, este novo espaço social e de lazer atende diversas atividades culturais bem como se tornou um lugar de encontro dos moradores da região. Neste espaço são realizados pela comunidade evangélica eventos e celebrações ecumênicas, shows artísticos gospel entre outras atividades direcionadas a valorização da questão espiritual. Neste espaço também são realizadas atividades artísticas promovidas pela Escola Estadual

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Mario Abraão Nassardem, que se encontra enfrente a este logradouro publico. Diante da dúvida de se Nobres é o único município mato-grossense a abrigar uma praça pública com a função de atendimento dos anseios dos evangélicos, encontramos em outras localidades a presença de outros espaços com o mesmo objetivo, demonstrando a força social e política que a cada dia este grupo religioso vem ganhando no cenário nacional, sendo que em Nobres apresenta grande representatividade, com igrejas espalhadas por toda a cidade.

O novo espaço valorizou a paisagem da região, bem como criou um novo ambiente educativo para os alunos da escola Estadual Mario Abraão Nassardem. A praça atende a toda sociedade nobrense em especial os moradores dos bairros, Jardim Glória e Serragem.

Figura 48 - Praça da Bíblia, bairro Jardim Glória Fonte: Carlito, 2009 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Em entrevista com os moradores da região nota-se a satisfação por esse novo espaço social, primeiro por ter valorizado as residências das áreas próximas, segundo por ter mais próximo um espaço público de lazer, antes quase que todos concentrados no centro da cidade. Outra diferença são os investimentos feitos após a construção da praça pelos moradores na melhoria das residências nas proximidades da praça, valorizando ainda mais o espaço.

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Outro espaço público de lazer criado e de grande satisfação dos moradores da cidade é a nova Praça da Matriz. Tendo seu inicio de construção no ano de 2008 e seu término no ano de 2009, se tornou uma área de grande circulação de pessoas, principalmente nos finais de semana. Nessa área se encontrava a biblioteca municipal, que sobre a pressão da igreja católica que foi em busca de assinaturas pela cidade conseguiu “sensibilizar” administração pública municipal a realizar a demolição do prédio que abrigava a biblioteca, diga de passagem esse mesmo prédio abrigou à primeira rodoviária de Nobres, sendo substituído pela praça, desejo do clero nobrense numa tentativa de contraponto a outra área construída tendo como referência os evangélicos da cidade. Essa prática de apossamento de áreas públicas por parte da igreja católica em Nobres já vem de longa data tendo em outros momentos episódios referente a isso, como o da construção do novo prédio da igreja matriz sobre uma via pública, com o consentimento do poder público municipal.

A praça foi construída com recurso federal, tendo como objetivo melhorias estruturais da paisagem urbana tendo como foco o turismo. Na figura a seguir temos vista parcial da praça.

Neste espaço que tem identidade da igreja, é um espaço onde ocorrem algumas das atividades litúrgicas da igreja, eventos apostólicos entre outros de cunho religioso. Na praça foi construído parquinho pela prefeitura que diariamente é ocupado por crianças vindas das mais variadas regiões da cidade de Nobres, sendo um dos atrativos que possibilita com que o espaço esteja quase o dia todo com movimentação.

Turismo que é uma das fortes possibilidades de ampliação econômica do município de Nobres, com variados atrativos naturais espalhados pelo seu território. Hoje quase que todas as diretrizes de ordenamento urbano da cidade bem como atividades desenvolvidas pelo poder público municipal visam a criar novas frentes de atrativos turísticos em nível urbano, isso pode ser demonstrado pelas readequações visuais e estruturais para melhor atendimento dos consumidores turísticos dos atrativos que o município disponibiliza. Essa necessidade se impõe ao município que não consegue mais atender a demanda social somente com a tradicional atividade econômica com base no extrativismo mineral, sendo necessária a diversificação econômica como meio de desenvolvimento social.

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Figura 49 - Praça da Matriz, 2009 Fonte: Carlito, 2010 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Os investimentos que visam à consolidação de Nobres como referencial turístico no Estado de Mato Grosso ainda são poucos observados, mas já é uma realidade que em décadas anteriores se encontravam nos parágrafos somente de jornais e discursos políticos, fato este por nós entendidos como fator de pressão para que os investimentos ocorressem pelo motivo de que o Estado estará sediando jogos da Copa 2014 necessitando criar possibilidades máximas de ampliação de ganhos com a ocorrência deste evento de nível internacional, e Nobres estando a menos de 200 km do local sede deste acontecimento passou a ser peça chave neste processo.

3.6.5 – A forma e a função urbana para o período de 2001 a 2011

Observamos na figura 46 imagem da Avenida JK que se consolidou como referência comercial do município. Nesta avenida localizam-se as principais empresas do ramo atacado e varejo do município, sendo o referencial comercial e financeiro da cidade.

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No campo comercial varejista temos os principais supermercados da cidade, supermercado Polo Centro, supermercado Supermat, entre outras lojas do ramo de vestuário e eletro domésticos. Estes estabelecimentos atendem não só os moradores da cidade como a população rural, moradores dos distritos de Coqueiral e Bom Jardim, bem como a comunidade Marzagão e a Gleba Forquilia, chegando seu campo de influência até aldeia dos índios Bakairi, a mais de 100 km da cidade, vindo até a mesma fazer sua compras.

Figura 50 - Vista Aérea da Avenida JK Fonte: Carlito, 2007 Organização: Anderson Boaventura da Cunha, 2011

Na avenida ainda se encontram duas sucursais dos principais bancos do País; Banco do Brasil e o Bradesco, também uma lotérica representante comercial da Caixa Econômica Federal. Neste espaço encontramos os serviços de saúde, estando todas as farmácias da cidade, bem como o único hospital do município, o hospital e maternidade Laura de Vicunha, de natureza privado, efetuando atendimento por meio de convenio com a Secretaria Municipal de Saúde/Ministério da Saúde, sendo em sua maior parte os atendimentos do cidadão que necessita de atendimento “gratuito”. Encontramos ainda o CIRETRAN-MT ligado ao

136 departamento de trânsito do Estado de Mato Grosso. E ao final da avenida no entroncamento com a avenida Marechal Rondon um dos lugares mais movimentados da noite a lanchonete “Jeito Brasil” ponto de encontro da maior parte da população, sendo seu ponto alto de aglomeração aos finais de semana. Este último empreendimento revitalizou esta região da cidade que por muito tempo era vista como uma área de pouco interesse comercial, por não ter tido sucesso os empreendimentos anteriores.

Diante dos dados para este período, observamos a ampliação dos parques industriais de exploração do calcário e na produção de cimento, ampliação esta que teve como fator responsável os investimentos promovidos tanto pelo setor público em infra-estrutura como no setor privado no processo de ampliação de ganhos econômicos. Observamos a vontade política local e a nível regional na consolidação dessa nova função econômica do município a vocação natural para o turismo, por entender os agentes econômicos neste momento um campo promissor para ampliação dos ganhos econômico do Estado e principalmente do setor privado, com a realização da Copa. Calcário, cimento, turismo e serviços, base funcionais econômicas do município de Nobres.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos dados apresentados no decorrer do trabalho, observamos que o processo de urbanização nobrense se consolidou a partir do momento em que a indústria extrativista mineral (exploração do calcário e a produção de cimento) se estabelece em Nobres, juntamente com os investimentos proporcionados principalmente pelo governo estadual e federal para o desenvolvimento econômico da região seguindo a tendência demonstrada nos estudos clássicos trazidos no capitulo relacionado aos ensaios conceituais referente ao processo de urbanização brasileira.

Observamos que o marco deste processo se deu no final da década de 1970 e no decorrer da década de 1980, com migração inicialmente da população do campo em direção a cidade em busca de emprego, melhores condições de vida e o acesso as políticas publicas centralizadas no ambiente urbano. Observamos a evolução populacional do município de Nobres, tendo um salto significativo entre os anos de 1970 e 1980, fato este marcado também entre outros fatores pela vinda dos primeiros imigrantes sulistas e pela saída do homem do campo em direção a cidade. Mas também observamos a estagnação populacional do município a partir da década de 1980, motivada principalmente pelas crises econômicas ocorridas no final da década de 1980, que diminuíram os investimentos/financiamentos na agricultura, principal mercado consumidor do calcário nobrense, bem como o desmembramento territorial do município criando novas referências de assentamento social na região.

A partir deste momento a cidade começa a expandir sua mancha urbana criando novas áreas de expansão, possibilitando o surgimento de novos bairros, tais como o Jardim Paraná, que surge inicialmente como projeto de COHAB, financiada pelo governo federal, direcionando nova frente de ocupação da cidade, fator este incentivado pela administração pública municipal, com a construção dos principais órgãos municipais nesta área ocorrendo assim valorização imobiliária a região, trazendo o interesse de muitos para este novo bairro que surgia.

No inicio dos anos 1990 surge dois novos bairros, o Jardim Petrópolis e o Jardim Carolina. O primeiro nasce a partir de projeto de assentamento social com a construção de unidades habitacionais financiadas pela caixa econômica através da parceria entre a prefeitura 138 de Nobres e o Estado de Mato Grosso, criando uma nova área de expansão no sentido nordeste trazendo a cidade para a rodovia novamente. Já o segundo cria uma nova área de expansão no sentido sul, intensificado também pelo poder público municipal com a construção da rodoviária neste novo bairro que surgia, o que trouxe perspectivas de desenvolvimento desta região, algo que até o momento a população ainda espera.

Em relação a sua função, o território de Nobres, que no seu processo de emancipação surge inicialmente por condução política, se consolida a partir da década de 1970 através de sua função econômica a produção de mineral (calcário), para atendimento da demanda apresentada pela nova fronteira agrícola que se estabelecida no estado de Mato Grosso, fato este que vem a ser consolidando como um dos maiores produtores do Brasil década de 1980. Nos anos de 1990 o município ganha novo aporte no setor de produção mineral com a instalação da primeira e única até o momento, fabrica de cimento, fator este que teve impacto expressivo na sua formação urbana.

A partir dos anos 2000 surge uma nova possibilidade econômica para o município, o turismo. Apesar de já ser propagado desde a década de 1990, somente no período de 2001 a 2011, o setor ganha uma especial atenção pelas três esferas governamentais. Atenção esta ampliada com a condição de Cuiabá como sede de jogos da copa de 2014. Período marcado por transformações em aparelhos históricos urbanos da cidade e a criação de novas formas.

Uma preocupação que surgiu no decorrer do desenvolvimento do presente trabalho nos possibilitou diagnosticar uma questão em relação ao desenvolvimento de pesquisas relacionadas ao processo de formação urbana de Nobres, mas sendo uma realidade em muitos municípios do Brasil, o não interesse por parte do poder público no diagnóstico, organização e manutenção de documentos oficiais referente à história do município, motivo que nos dificultou o desenvolvimento desta pesquisa. Não apresentando em nenhuma instancia da administração pública municipal em desenvolvimento até o momento atividades tendo como objetivo a manutenção de arquivos públicos históricos do que foi produzido na história de produção do espaço urbano do município, bem como do que está sendo produzido hoje, necessitando urgentemente de um olhar por parte da administração pública bem como da população nobrense em relação à manutenção da história que está sendo construída e o resgate histórico da cidade, bem como o registro contemporâneo da produção do espaço urbano nobrense. Sugerimos a criação de um grupo de trabalho especializado no resgate

139 histórico da cidade, bem como a criação de um projeto político que vislumbre a criação de um espaço exclusivo e responsável pela manutenção e o registro histórico do município para que se possa construir uma cultura de conservação e preocupação em relação à questão história de Nobres. Fato este que possibilitará a disponibilização de material essencial para que se possa futuramente construir referências efetivamente argumentativas em relação à produção do espaço urbano nobrense.

Outra questão que deve ser estudada pela administração pública junto com os moradores locais são as perspectivas de desenvolvimento pelos os cidadãos nobrense almejam para a cidade, pois sabemos que o crescimento das cidades não resulta em melhorias nas condições de vida dos moradores, mas na maioria das experiências aumenta as disparidades socioeconômicas da cidade. Diante disso o debate que tem que ser aberto se estabelece na dicotomia desenvolver, sendo para isso não é necessariamente exigido o aumento do numero populacional ou crescer, expandindo sua mancha urbana correndo o risco do aumento das desigualdades sociais na cidade. Para que essa discussão possa ser aberta deve-se o poder publico municipal tomar frente com a implantação do plano diretor municipal, com o seu desenvolvimento sendo discutidos junto com a população, principais agentes de transformação do espaço nobrense.

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