De Organizações À Grupo: “Globo, Um Caso De Amor Com Você”
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DE ORGANIZAÇÕES À GRUPO: “GLOBO, UM CASO DE AMOR COM VOCÊ”. JORNAL NACIONAL, UM CASO DE AMOR COM O PODER Fábio Carlos Rodrigues Alves1 Dulce Consuelo Andreatta Whitaker2 RESUMO: O presente texto tem por objetivo contribuir para o atual cenário político- social brasileiro, no que tange à influência da mídia, mais precisamente a Rede Globo, no processo e na formação de opinião da tomada de decisões. Traçaremos um breve histórico e buscaremos apontar, paralelemente, a relação entre o jornalismo da Globo, leia-se Jornal Nacional (JN) e as principais decisões políticas, sociais e econômicas adotadas pelos Governos. Se a Globo exerce poder e influência, esse texto tentará demonstrar os caminhos, causas e consequências. Palavras-chave: Mídia. Televisão. Grupo Globo. Jornal Nacional. FROM ORGANIZATIONS TO THE GROUP: "GLOBO, A LOVE AFFAIR WITH YOU". NATIONAL JOURNAL, A CASE OF LOVE WITH POWER ABSTRACT: The present text aims to contribute to the current Brazilian socio- political scenario, in what concerns the influence of the media, more precisely the Globo Network, in the process and in the formation of opinion of the decision-making. We will trace a brief history and try to point out, in parallel, the relationship between Globo's journalism, read Jornal Nacional (JN) and the main political, social and economic decisions adopted by governments. If Globo exercises power and influence, this text will try to demonstrate the ways, causes and consequences. Keywords: Media. Television. Grupo Globo. Jornal Nacional. 1Doutorando em Desenvolvimento Territorial e Meio Ambiente e Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente: UNIARA - Universidade de Araraquara; Bacharel em Direito - Advogado; Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho. UNIARA - Universidade de Araraquara. Araraquara. São Paulo. Brasil. E-mail: [email protected] 2Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1967), Mestrado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (1979), Doutorado em Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (1984) e Pós-doutorado em Sociologia pela Universidade de Oxford (1986). Atualmente é professora voluntária e colaboradora, atuando na pós- graduação em Educação Escolar do Campus de Araraquara, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e Professora da Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente do Centro Universitário de Araraquara - UNIARA. Araraquara. São Paulo. Brasil. E-mail: [email protected] 4 Profanações (ISSNe – 2358-6125) Ano 4, n. 1, p. 4-46, jan./jul. 2017. De organizações à grupo: “Globo, um caso de amor com você”. Jornal Nacional, um caso de amor com o poder INTRODUÇÃO Montesquieu na obra o “Espírito das Leis” criou o chamado sistema de freios e contrapesos, no qual os poderes instituídos pelo Estado serão independentes, mas harmônicos entre si. Um poder exerce uma espécie de contenção sobre outro poder. Assim, no Brasil os poderes são divididos pela função típica exercida por eles: Poder Executivo, tendo como função típica administrar a coisa pública; Poder Legislativo, tendo como função legislar e fiscalizar e o Poder Judiciário, tendo como função típica julgar ou aplicar a lei a um caso concreto. Contudo, não é raro encontrarmos em artigos acadêmicos ou mesmo obter através do senso-comum, a indicação de outro poder: o Poder da Mídia, ou a Mídia como Quarto Poder – em referência aos três poderes instituídos pela Constituição Federal de 1988, quais sejam o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Será que a mídia tem todo esse poder? De qual poder estamos falando? Qual a envergadura desse poder? Quais as empresas que representam esse poder no Brasil? Se a mídia possuir todo esse poder (ou mesmo parte do poder que lhe atribuem) deveria sofrer contenção por parte de outro poder, como no sistema de freios e contrapesos criado por Montesquieu? Ou a própria sociedade civil é capaz de ditar a programação de determinada rede de televisão? Essa discussão é atual, pois muitos entendem que, qualquer, ingerência governamental na mídia, por mínima que for, é nociva. Por outro lado, outros estudiosos entendem que a mídia é livre, mas que o Governo pode, e deve, interferir principalmente no conteúdo apresentado. Aqueles que advogam pela não intervenção do Estado (que somente existe para servir a sociedade), nos meios de comunicação, enaltecendo a liberdade de imprensa, o fazem com base nos “anos de chumbo”, ou melhor, dizendo, devido ao período de censura (1964-1985) proporcionado pelos militares. Mas aqui há um paradoxo, que podemos trabalhar ao longo do artigo: se o Grupo Globo, antiga Organizações Globo, através da pessoa de seu fundador, Roberto Marinho, é acusada de manter, no mínimo, uma cumplicidade velada com a ditadura, e atualmente é a maior e mais influente rede de televisão do país, representante maior da ideologia burguesa hodierna, ao defendermos a ausência 5 Profanações (ISSNe – 2358-6125) Ano 4, n. 1, p. 4-46, jan./jul. 2017. Fábio Carlos Rodrigues Alves; Dulce Consuelo Andreatta Whitaker total de regulação da mídia, não estamos corroborando com o atual modelo desta poderosa Rede de Televisão? Em outras palavras, não queremos a volta da ditadura e de seus métodos antidemocráticos, mas aceitamos passivamente que um de seus maiores apoiadores, o Grupo Globo tenha toda a liberdade possível no conteúdo apresentado? Como vivemos em uma sociedade capitalista, a tendência é tudo ser transformado em mercadoria. Dessa forma, a educação se transformou em mercadoria visando à formação da massa, a saúde, por meio dos seus contratos de adesão, também virou uma mercadoria. Enfim, mesmo os chamados serviços públicos não escapam à sanha de arrecadação de capital por parte do capitalista. Mas a mídia, que abarca os meios de comunicação em geral, também virou um produto massificado? A televisão produz em “série”, como se fosse uma linha de produção da mídia? A programação televisiva tornou-se o produto de uma “indústria cultural” (SILVA, 1985). A televisão busca seu espaço no mercado de consumo proporcionando programas que se assemelham às mercadorias, produzidos em série, por profissionais que não reconhecem o próprio fruto de seu trabalho. Assim podemos dizer que a programação televisiva criou algumas mercadorias que são altamente consumidas por nós telespectadores, como o Domingão do Faustão, o Programa Silvio Santos. As novelas em geral também são uma mercadoria muito consumida, o Programa do Ratinho, entre outros. Mas, e o Jornalismo do Grupo Globo, mais especificamente o Jornal Nacional, é uma mercadoria? O Jornal Nacional produz informação e as distribui por meio da comunicação televisiva. O que existe são os fatos, que após serem industrializados no “forno” do Jornal Nacional, podem, ou não, serem comunicados aos telespectadores. Objetivando ilustrar a importância da isonomia da informação, vamos trazer um exemplo de flagrante omissão por parte do Jornal Nacional. Em entrevista concedida ao Jornal Folha de São Paulo, o prêmio Nobel de Economia (2008) Paul Krugman é questionado pelo repórter se a crise pela qual passa o país é uma das piores da sua recente história. O economista é enfático ao dizer que do ponto de vista político nossa situação é delicada, mas do ponto de vista econômico nossa situação não é tão desesperadora quanto à propalada. Utilizando sua experiência 6 Profanações (ISSNe – 2358-6125) Ano 4, n. 1, p. 4-46, jan./jul. 2017. De organizações à grupo: “Globo, um caso de amor com você”. Jornal Nacional, um caso de amor com o poder ele diz que a “situação fiscal não é desesperadora e o país está longe de ter que imprimir dinheiro para pagar suas contas”. Sobre a taxa de câmbio Paul Krugman diz que está alta, mas longe dos níveis associados a crises graves. Contudo, o Jornal Nacional se omitiu e não informou seus telespectadores da visão do premio Nobel de Economia sobre a situação econômica do país. Mas quais os motivos que levaram a essa omissão? Por que a Rede Globo de Televisão veicula matérias em que critica os atuais rumos da economia nacional, mas não noticia visões divergentes da sua? Outro ponto crucial da economia e que é citado periodicamente pelo Jornal Nacional: a classificação de risco Standard & Poor’s. Não é raro o Jornal Nacional veicular a notícia, associando-a ao (mau) desempenho da economia brasileira: o país perde grau de investimento (concedido) pela agência de risco Standard & Poor’s. Mas, o economista Paul Krugman, ao ser questionado justamente sobre possíveis perdas de grau de investimento da referida agência, afirmou que nos países desenvolvidos essas classificações de risco não tem nenhum efeito. E mais, disse que essas sondagens geram mais manchete, sendo que o importante mesmo é a percepção dos investidores. Esse é um fato muito importante. Se o Jornal Nacional utiliza de forma tão trivial a perda de grau de investimento do país, associando-a ao mau desempenho da economia, deveria, então, explicar aos seus telespectadores o que significa realmente essas explorações feitas pela agência Standard & Poor’s: nada, ou quase nada, segundo o próprio premio Nobel de Economia Paul Krugman, pois o mercado capitalista é dinâmico. Como contraponto a este episódio, em 1º de outubro de 2014, o Jornal o Estado de São Paulo estampou manchete de primeira página intitulada: “Petistas nos Correios ajuda Dilma, diz deputado”. Neste mesmo dia, em uma reportagem de aproximadamente quatro minutos, por meio do âncora Willian Bonner, o Jornal Nacional noticiou: “Um vídeo divulgado pelo site do Jornal O Estado de São Paulo, mostra um deputado do PT de Minas Gerais declarando que os petistas dos Correios ajudaram a conseguir votos para a Presidente Dilma no Estado [...]”. A questão crucial não é avaliar se as análises do economista Paul Krugman são consistentes ou se o Jornal Nacional cumpriu seu papel em informar a questão do PT com os Correios, mas sim, buscar explicações sobre quais os motivos que 7 Profanações (ISSNe – 2358-6125) Ano 4, n.