PUBLICAÇÃO MENSAL DA AUTORIDADE NACIONAL DE PROTECÇÃO CIVIL / N.º57 / DEZEMBRO 2012 / ISSN 1646–9542

Ativado Plano de Operações Nacional Serra da Estrela

Dezembro57 de 2012

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Esta revista é redigida ao abrigo do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. EDITORIAL

Serra da Estrela: lazer em segurança

Tendo assumido recentemente as funções de Presidente da Autoridade Nacional de Proteção Civil, saúdo, nesta primeira oportunidade em editorial, todos os agentes de proteção civil, dirigentes e demais trabalhadores da ANPC, bem como todos os intervenientes no Sistema Integrado de Operações de Proteção e Socorro. Sendo a proteção civil, como é sabido, uma missão de todos para todos, onde se cru- zam os valores da cidadania e do serviço público, é por demais honroso dirigir esta instituição onde o interesse coletivo prevalece no desempenho das funções que lhe estão cometidas: identificação de riscos, informação, desenvolvimento dos sistemas de alerta e aviso, planeamento de emergência, coordenação das operações de prote- Manuel Mateus Couto ção e socorro, entre tantas outras. Presidente da ANPC À semelhança dos anos anteriores, o Plano de Operações Nacional da Serra da Estre- la (PONSE) é ativado a partir de 1 de dezembro. Através de um dispositivo que integra Bombeiros Voluntários, GNR e Força Especial de Bombeiros "Canarinhos" da ANPC, procura-se acompanhar e responder à procura particularmente sazonal de que é ob- jeto a Serra da Estrela por parte de um número cada vez maior de visitantes e que, se por um lado se traduz na ocorrência de acidentes, sobretudo relacionados com ativi- dades desportivas, de lazer e rodoviárias, por outro lado tem permitido aperfeiçoar, ano após ano, o dispositivo conjunto de proteção e socorro, que inclui também ações de sensibilização e informação. Costuma dizer-se que "os incêndios se apagam no inverno e as cheias se tratam no verão". Por essa razão, incluímos neste número do PROCIV um artigo de opinião so- bre incêndios rurais e necessárias medidas preventivas. São do domínio público os custos diretos suportados pela ANPC este ano no com- bate aos incêndios rurais (florestais e outros), no período compreendido entre 15 de maio e 30 de outubro: acima de 74 milhões de euros. Não sendo o vetor mais impor- tante a ter em conta – a salvaguarda de vidas humanas e bens está e sempre estará no topo das nossas preocupações – a vertente económica não é despicienda face ao acrés- cimo na ordem dos 10,3%, relativamente ao período homólogo de 2011, representando o montante referido apenas uma parte dos encargos assumidos pelo Estado. A situação do país não comporta estes valores. É imperativo mudar de paradigma e fundamental a adoção de uma nova atitude!

Projecto co-financiado por:

PUBLICAÇÃO MENSAL

Edição e propriedade – Autoridade Nacional de Protecção Civil Diretor – Manuel Mateus Couto Redação e paginação – Núcleo de Sensibilização, Comunicação e Protocolo Fotos: Arquivo da Autoridade Nacional de Protecção Civil, exceto quando assinalado Impressão – Textype Tiragem – 2000 exemplares ISSN – 1646–9542

Os artigos assinados traduzem a opinião dos seus autores. Os artigos publicados poderão ser transcritos com identificação da fonte.

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P.2 . PROCIV Número 57, dezembro de 2012 BREVES

Simulacro de evacuação de edifícios testa capacidade Exercício internacional testa Sistema de Alerta para de mobilização de condóminos Tsunamis

Realizou-se no passado , através da ANPC e do Instituto Português do dia 10 de novembro, em Mar e da Atmosfera (IPMA), participou, nos dias 27 e 28 de Oeiras, distrito de Lisboa, novembro, no exercício NeamWave'12, no decorrer do qual um simulacro de incêndio foi simulada a ocorrência de um sismo com potencial de e evacuação de edifícios, geração de tsunami, ao qual se seguiu a disseminação de com a participação dos mensagens de alerta de tsunami. A ANPC, enquanto pon- moradores das emblemáti- to focal do Sistema de Alerta para Tsunamis do Atlântico cas "Torres das Palmeiras" Nordeste, Mediterrâneo e Mares Conexos (NEAMTWS), (4 torres de habitação com 16 pisos cada). Tratou-se de uma recebeu as mensagens de alerta emitidas pelo IPMA e ava- iniciativa organizado pela REDE – Associação Nacional de liou quais os procedimentos a implementar para a resposta Voluntários de Proteção Civil, tendo como principal obje- a esta ocorrência. O exercício envolveu a participação de 19 tivo treinar os procedimentos tidos como mais adequados países, do Nordeste do Atlântico e do Mediterrâneo. em caso de incêndio em edifícios. Previamente ao simula- Este sistema encontra-se atualmente numa fase experi- cro, cada administrador de condomínio identificou o nú- mental, estando já em operação os Centros Nacionais de mero de inquilinos por andar, incluindo os moradores com Alerta para Tsunami da Turquia, Grécia e França. mobilidade reduzida, elementos fundamentais para quem Prevê-se que Portugal implemente o seu Centro Nacional presta o socorro numa situação real. de Alerta no final de 2013.

ANPC participou em exercício NATO Despacho conjunto promove plano setorial de preven- ção e redução de riscos Decorreu, de 14 a 16 de novembro, o exercício de gestão de crises da NATO CMX'12. Tratou-se de um exercício de ní- O secretário de Estado da vel estratégico político-militar destinado a praticar, testar Administração Interna, e validar a gestão, as medidas e os mecanismos relaciona- Filipe Lobo d’Avila, e o se- dos com o processo de consulta e de decisão coletiva na cretário de Estado do Am- resposta a crises. O cenário centrou-se numa ameaça mul- biente e do Ordenamento tidimensional onde foram empregues armas de destruição do Território, Pedro Afonso massiva (ADM) e/ou Químicas, Biológicas e Radiológi- de Paulo, assinaram no pas- cas (QBR), contra populações, forças e infraestruturas da sado dia 20 de novembro NATO, ocorrendo ainda incidentes de natureza cibernética um despacho conjunto que determina a elaboração de um que ameaçaram as infraestruturas de informação civis e Plano Setorial de Prevenção e Redução de Riscos. Este Plano militares da NATO e nacionais. Para o acompanhamento visa estabelecer a estratégia nacional integrada de preven- do exercício foi constituída, a nível nacional, uma Célula ção dos riscos, definir as medidas de prevenção e mitigação de Resposta Nacional (CRN), sob a coordenação do Minis- dos seus efeitos, no quadro das políticas públicas de orde- tério da Defesa Nacional e com várias entidades do Estado namento do território, de urbanismo e de proteção civil, com responsabilidades e competências na área da seguran- e proceder ao enquadramento normativo dos riscos, em ça e defesa, entre as quais a ANPC. função da legislação setorial e dos guias técnicos existentes e de acordo com as atuais medidas de proteção de recursos Setúbal: Simulacro de acidente industrial na Mitrena hídricos em matéria de riscos, previstos no Regime Jurídi- testou capacidades da Proteção Civil co da Reserva Ecológica Nacional.

Mais de 3.000 pessoas participaram no passado dia 8 de no- Projeto «Disaster» apresentado em Cascais vembro no Mitrex 2012, um simulacro de acidente industrial que visou testar a capacidade de resposta das autoridades Investigadores das Universidades de Lisboa, Porto em caso de sinistro na península da Mitrena, em Setúbal. e Coimbra conceberam, ao longo dos últimos dois anos, Uma explosão fictícia, no que poderiam ser as instalações o projeto Disaster, uma base de dados que resultou da aná- de uma das muitas empresas que trabalham com materiais lise exaustiva de milhares de edições de 16 jornais por- perigosas naquela localidade, foi o ponto de partida para a tugueses que relataram, ao longo dos últimos 150 anos, iniciativa. A explosão "provocou" um incêndio que amea- episódios de inundações e deslizamentos de terras em çou atingir reservatórios adjacentes de resíduos agroindus- Portugal Continental, em que ocorreram vítimas mortais. triais, em resultado do qual trabalhadores de diversas em- O projeto, apresentado no dia 26 de novembro em Cascais, presas tiveram que ser evacuados. O exercício visou ainda prevê a disponibilização na internet da informação reco- treinar o acionamento do Plano de Emergência Externo da lhida, segundo o seu coordenador, José Luís Zêrere. Mitrena, aprovado em março passado...... PROCIV . P.3 Número 57, dezembro de 2012 TEMA

Serra da Estrela Ativado Plano de Operações Nacional

Foto: Nuno Azevedo

A Serra da Estrela é um dos pontos turísticos do Operações Nacional da Serra da Estrela), o qual define, de país de maior interesse paisagístico e importância forma proativa e plurianual, mecanismos de resposta céle- económica, atraindo todos os anos, especialmente res e coordenados das diversas forças e entidades com res- no inverno, milhares de visitantes para a prática de ponsabilidade de intervenção nesta região. atividades ligadas ao usufruto da natureza. As pre- O dispositivo conjunto de proteção e socorro na Serra ocupações com a proteção e socorro aos turistas não da Estrela (DICSE), tem vindo a evoluir, a diversificar e a podem ser alheias a esta dinâmica. solidificar a sua actividade e capacidade de intervenção, ano após ano, essencialmente através das lições aprendi- os exigentes dias de hoje, em que impera a proficiên- das em cada campanha e está preparado para responder Ncia e a qualidade, o sistema de proteção e socorro têm transversalmente às situações que recorrentemente suce- que obrigatoriamente acompanhar a dinâmica do universo dem na região, destacando a sua especialização na resposta tecnológico, económico, cultural e social do País, contri- a acidentes relacionados com a prática de montanhismo, buindo significativamente para a manutenção e incremen- passeios pedestres e outras atividades relacionadas, a imo- to da atração e distinção destes locais enquanto destinos bilização de veículos e pessoas devido a condições meteo- turísticos seguros. Estes aspetos, a par da frequência com rológicas adversas, a acidentes rodoviários com vítimas e a que ocorrem situações de perigo para o grande afluxo de deslizamentos ou movimentos de vertentes. visitantes do Parque Natural da Serra da Estrela, levam a Este ano, fruto da experiência adquirida, pretende-se en- Autoridade Nacional de Proteção Civil a planear e opera- riquecer e reforçar a capacidade técnica do dispositivo na cionalizar anualmente um dispositivo conjunto específico vertente pré-hospitalar, pelo que vai ser disponibilizado para assegurar uma resposta operacional eficaz e eficien- pela Guarda Nacional Republicana (GNR) um Desfibrila- te no âmbito da proteção e socorro, envolvendo diversos dor Automático Externo (DAE), possibilitando o acesso ao agentes de proteção civil, devidamente articulados sob um terceiro elo da cadeia de sobrevivência em tempo útil, logo Plano de Operações Nacional, designado PONSE (Plano de após um socorro imediato e efectivo, prestado por parte ...... P.4 . PROCIV Número 57, dezembro de 2012 TEMA

FORÇA ESPECIAL DE BOMBEIROS Grupo de Resgate em Montanha apto a intervir nos cenários mais complexos

A FEB possui meios humanos com elevadas qualifica- ções e equipamentos de resposta operacional, capazes de responder com eficácia às necessidades de proteção e socorro dos cidadãos. Assim, foi criado no seu seio, o Grupo de Resgate em Montanha, competindo-lhe a execução de missões de proteção e socorro no âmbito do salvamento em montanha com ou sem ambiente de neve. Distribuído pelas Bases Permanentes existentes nos dis- tritos da Guarda e de Castelo Branco, e desenvolvendo a sua missão na área definida no PONSE (ver texto ao lado), pode, no entanto, ser mobilizado para outras áre- as de intervenção por indicação do Comandante Opera- cional Nacional da ANPC ou por imposição que decorra da ativação de planos e diretivas nacionais. Pode ainda prosseguir as suas atribuições fora do território conti- nental, quando mandatado legalmente para esse efeito. É constituído por um Chefe de Grupo, 2 Chefes de Brigada, 2 Chefes de Equipa e dezasseis Bombeiros. Para o cumprimento eficaz da missão que lhe está atri- buída, foram disponibilizados diversos meios, entre os quais 2 Veículos de Operações Especificas, 3 Veículos de Transporte de Pessoal Tático, 2 Quadriciclos – "Moto4" e 1 Veículo de Comando, sendo este dispositivo re- forçado a partir do dia 11 de Dezembro com mais um veículo com equipamento técnico de apoio (VETA). Para além destes meios, o Grupo conta com um conjunto de equipamentos específicos de trabalho, na vertente do Montanhismo, que integram a carga operacional destes, e que permite desenvolver uma operação de qualquer tipo neste ambiente ou em outro similar. De destacar ainda dos operacionais do DICSE devidamente habilitados para a recente aquisição de equipamento de salvamento e de- o efeito. sencarceramento portátil, de elevada autonomia e facil- No próximo dia 1 de dezembro, o PONSE será ativado mente transportável para os locais de acesso mais difícil. e o DICSE retomará a sua atividade numa zona de inter- Em qualquer momento e face à complexidade da missão venção que abrange os municípios de Covilhã, , a desenvolver, este Grupo pode ser reforçado com meios e Gouveia, no território com altitude superior a 1400 humanos e materiais provenientes dos Grupos Territo- metros, e a sua força de empenhamento permanente con- riais da Guarda e de Castelo Branco. tará com a habitual participação dos Corpos de Bombeiros da Covilhã, Manteigas, Seia, , São Romão e Gouveia, e ainda do Grupo de Intervenção em Proteção e Socorro (GIPS) da GNR e da Força Especial de Bombeiros da ANPC. Este dispositivo incluirá ainda o imprescindível apoio dos demais agentes de proteção civil e instituições coope- rantes, entre os quais, se destacam os Corpos de Bombeiros daquela região, GNR, Polícia de Segurança Pública, Insti- tuto Nacional de Emergência Médica, Estradas de Portugal, Cruz Vermelha Portuguesa, Direção Geral de Saúde, Insti- tuto de Conservação da Natureza e das Florestas, Institu- to Português do Mar e da Atmosfera e Empresa de Meios Aéreos, realçando o papel fundamental e determinante dos Serviços Municipais de Proteção Civil territorialmente competentes.

...... PROCIV . P.5 Número 57, dezembro de 2012 OPINIÃO Incêndios Rurais Apostar na prevenção e na sensibilização das populações

Parece existir a noção, tendem© R. Santo eliminars sobrantes de exploração rural ou mes- entre os portugueses, mo renovar pastagens. de que o calor é equi- A ideia acima expressa, de combinar vontades na Vítor Vaz Pinto valente a incêndios gestão do espaço por via do fogo, materializa-se quei- Comandante Operacional florestais, e que, dessa mando de forma acompanhada. Fazendo um levan- Nacional da ANPC forma, é inevitável que tamento de necessidades, todos os anos, e agendando [email protected] durante o Verão ou em com os cidadãos os melhores momentos para proceder outros momentos do à queima acompanhada, em condições de segurança. ano de maior secura, Territórios que sejam geridos desta forma são terri- os incêndios ocorram. O fogo, sabe-se, é um instrumen- tórios onde os incêndios durante o Verão provavel- to eficaz e de uso tradicional de gestão da paisagem. Téc- mente não ocorrerão ou, caso ocorram, terão muito nica barata, permite às populações rurais gerir os com- menor severidade, obrigando a um esforço humano bustíveis© Ana Livramento nos territórios dos quais retiram rendimento, e material francamente mais reduzido. Trata-se de uma e o fogo “técnica” redunda em fogo “incêndio” quando abordagem diferente, face ao esforço de combate clássi- sobre ele se perde o controlo, e sobretudo quando se ig- co, que desafia a noção da inevitabilidade incendiária, nora a necessidade de gerir o território e dar resposta às contrapondo uma metodologia de prevenção activa, necessidades de quem ocupa espaços não urbanizados. usando o fogo de uma forma compatível com o interesse A forma como os incêndios rurais são mediatizados de todos e para benefício nacional. parece contribuir para a noção de inevitabilidade. São Mas existe, ainda, uma outra perceção – incorrecta – imagens fortes de fim-de-tarde durante o verão que os que convirá clarificar: todos os incêndios são iguais e portugueses consomem em frente às televisões, e que que, dessa forma, precisam de apagar-se rapidamente, dão a quem as vê uma forte imagem do esforço de com- em força, com todo o esforço possível. Observa-se que bate, com todos os agentes de protecção civil que con- os cidadãos menos familiarizados com os incêndios ru- tribuem para extinguir um incêndio. O cidadão menos rais e com as paisagens onde estes ocorrem não parecem informado tenderá a atribuir as principais responsabi- compreender que um incêndio possa manter-se ativo lidades pelo sucesso ou insucesso da contabilização de durante várias horas ou, até, que o esforço de combate incêndios e áreas queimadas às forças que efetivamente seja mais conservador, evitando-se uma mobilização se colocam no terreno quando se torna imperioso ex- massiva de meios. Os incêndios rurais não são, de facto, tinguir o fogo. Na verdade, essa perceção está enviesada todos iguais. Um incêndio rural que represente perigo e esconde o facto de os incêndios serem a consequência imediato para áreas de valor instalado, como povoa- última de um conjunto de fatores a mon- mentos florestais e património edificado tante, tornando o combate ao fogo a úl- Temos que ou de inquestionável valor natural, deve- tima opção. Um incêndio rural começa a adoptar comportamentos rá ser objecto de uma primeira interven- apagar-se, evitando-o. E também quando conscientes através dos ção muito capaz e célere, aplicando todos as populações adotam boas práticas e evi- quais demonstramos que os recursos disponíveis para, com eficiên- tam, elas mesmas, usar o fogo sem condi- tipo de espaço rural cia, reduzir a perda de valor ao mínimo. ções de segurança, respeitando as indica- desejamos ter. Inversamente, um incêndio rural que se ções das autoridades, tendo o cuidado de apresente de progressão lenta, em paisa- medir as consequências das suas acções. Os incêndios gens contínuas de mato com pouco ou nenhum valor a começam, ainda, a apagar-se quando se previnem por defender, ou em paisagens rochosas de difícil progres- via de um correcto ordenamento do território, com a são para homens e máquinas, não precisa entender-se, limpeza adequada dos espaços florestais, com a criação necessariamente, como algo a extinguir rapidamente. de mosaicos de paisagem e com uma clara e segura sepa- Nesses casos, parece revelar-se bastante mais proveitoso ração entre perímetros edificados e espaços combustí- tratar esse incêndio como um fogo de gestão, estabele- veis. Um incêndio rural evita-se, também, quando se vai cendo apenas uma defesa perimétrica, mas deixando ao encontro da necessidade das populações, admitindo, que o fogo evolua controladamente, queimando o que a título de exemplo, que essas populações procurarão se mostrar vantajoso queimar, sem colocar em perigo sempre queimar os combustíveis dos espaços onde pre- a segurança dos operacionais e sem dispender recursos ...... P.6 . PROCIV Número 57, dezembro de 2012 TEMAOPINIÃO

materiais e financeiros que podem ser aplicados noutras a dar bons resultados a este nosso país. ocorrências mais gravosas. A ANPC realizou, a tempo da mais recente campa- É necessário entender-se, também, que Portugal não nha do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios é um país de pirómanos. Sem prejuízo para as causas Florestais, 185 acções de treino operacional, envol- intencionais, criminosas, que efectivamente exis- vendo directamente 5333 operacionais dos diversos tem, Portugal é sobretudo um país onde os comporta- agentes de proteção civil e entidades cooperantes, mentos negligentes e as atitudes de passividade face à procurando, dessa forma, um incremento constante auto-protecção imperam. São exemplos da eficiência, da uniformização de pro- de comportamentos negligentes o uso Apagar os incêndios cedimentos e em métodos e linguagem do fogo e de maquinaria agrícola em deve ser considerada comuns. Integraram pela primeira vez dias de extrema secura na proximidade uma acção de fim-de-li- o DECIF no ano transato (2011), equipas de combustíveis finos, facilmente infla- nha, quando tudo o que pré-formatadas de Posto de Comando, com máveis, ou o uso do fogo para lazer em está para trás falhou. operacionais treinados para enfrentarem espaços florestais. A passividade face à as mais exigentes operações de proteção auto-protecção observa-se quando as habitações confi- e socorro e a par deste investimento fundamental na nam com espaços combustíveis, facilitando a chegada procura da necessária proficiência das forças de respos- do fogo às habitações que, mesmo que em muitos casos ta foi normalizado e operacionalizado no terreno o sis- possam não sofrer dano considerável, geram um ine- tema de gestão de operações, procurando uniformizar vitável transtorno às populações e dispersam meios de as metodologias que se praticavam de forma heterogé- combate, favorecendo a progressão do fogo. Este fenó- nea um pouco por todo o país, dotando a estrutura de meno sazonal – que não exclui surpresas fora dos me- ferramentas de comando e controlo universais, as quais ses de maior calor – não admite a desresponsabilização. importa agora sedimentar. A todos cabe uma parte. Este é o momento de alterar a forma como se enca- Ao combate cabe, também, a sua parte. A do final da li- ra o problema, sobejamente conhecido e estudado, nha e aquela onde se coloca a exigência de salvaguardar dos incêndios rurais. Este é o momento para maior pessoas e bens. A parte de preparar uma resposta capaz, especialização, para maior investimento em pre- na plena consciência de que é impossível para qualquer venção, para mudança de práticas na relação com as país ter um dispositivo sobre-dimensionado, habili- populações rurais que precisam do fogo. Esta mis- tado a responder mesmo às situações mais extremas. são ganha-se com a vontade de todos, muito antes No equilíbrio entre o que é possível e o que é perfeito, tem- de ser necessário combater um incêndio. A ANPC se realizado um esforço considerável para proteger os es- está empenhada em contribuir, como sempre, para paços rurais nacionais, que necessita de um investimento a minimização deste problema. sustentado na prevenção e boas-práticas para continuar

© Paulo Santos

Foto: Pedro Santos ...... PROCIV . P.7 Número 57, dezembro de 2012 AGENDA

1 de dezembro 5 e 6 de dezembro 8 de dezembro Distritos de Castelo Branco e Guarda Bruxelas, Bélgica Barcelos – Bombeir0s Voluntários ATIVADO PLANO DE OPERAÇÕES Reunião do grupo de traba- Conferência SOBRE Medicina NACIONAL DA SERRA DA ESTRELA lho PROCIV, do Conselho da HiPerbárica e Subaquática Este Plano de Operações Nacional define, de União Europeia O encontro, organizado pela Escola forma proativa e plurianual, mecanismos de O encontro, organizado sob a égide da de Mergulho de Barcelos, Serviço de resposta céleres e coordenados das diversas Presidência Cipriota do Conselho da Medicina Hiperbárica do Hospital de forças e entidades com responsabilidade de União Europeia, inclui na sua agenda Pedro Hispano e Bombeiros Voluntá- intervenção nesta região, que recebe anual- a análise do relatório da Presidência rios de Barcelos, abordará temas re- mente, especialmente no inverno, milhares sobre o seminário realizado em Nico- lacionados com câmaras hiperbáricas de turistas nacionais e estrangeiros. sia sobre boas práticas no acolhimento na saúde, acidentes de descompressão ...... a voluntários em cenários de proteção e intoxicações por monóxido de car- civil e ajuda humanitária, a criação bono. Informações e inscrições em 3-5 dezembro de um Corpo Europeu de Voluntários www.embarcelos.com/conferen- Estoril – Centro de Congressos (em fase de projeto-piloto) e a discus- cia2012 NFPA-APSEI FIRE & SECURITY 2012 são da nova proposta legislativa para ...... Promovida pela Associação Portugue- a área da proteção civil. sa de Segurança (APSEI) e subordina- ...... 11 de dezembro do ao tema Tendências e Tecnologias na Nisa – Sala Auditório da Biblioteca Proteção e Segurança de Pessoas e Bens, 7 dezembro Municipal a terceira edição deste evento pre- Carnide, Lisboa – Escola Secundária Seminário “Reabilitação tende promover o debate técnico, o Virgílio Ferreira Preventiva, Intervenção intercâmbio de experiências e conhe- SESSÃO DE DIVULGAÇÃO DOS Local” cimentos, a formação e dar a conhe- RESULTADOS DO PROGRAMA Este Seminário, organizado pela cer as oportunidades de negócio neste OPERACIONAL DE VALORIZAÇÃO ANPC e pela Câmara Municipal de domínio. DO TERRITÓRIO – 2012 Nisa, compreende painéis de debate A sessão será dedicada à apresentação sobre “Proteção Civil e problemas de resultados do POVT e do contributo do Ordenamento do Território”, dos projetos cofinanciados pelo Fun- “Reabilitação Preventiva" e “Equipas do de Coesão para o Ambiente e desen- Multidisciplinares de Intervenção volvimento Sustentável. Local”. A entrada é livre.