Departamento de História

ELE ERA FUNKEIRO, MAS ERA PAI DE FAMÍLIA: A CRIMINALIZAÇÃO DO NOS ANOS 1990

Aluna: Daiane Geremias Goulart Professor: Romulo Costa Mattos

Introdução Rio, anos 1990. Nesse período, a violência urbana cresceu de forma escalar em grande parte por causa da expansão do trafico de drogas a partir de meados da década de 1980, cujos efeitos atingiram majoritariamente negros, pobres e moradores de favela. “Desde os arrastões de 1992 nas praias de Ipanema, uma narrativa conservadora amarrava de forma naturalizada tráfico de drogas-funk-jovens-negros-favelas. O crescimento vertiginoso das mortes e da corrupção proporcionado pelo embate permanente entre traficantes e agentes da lei alimentava uma imprensa que, ecoando a opinião publica e seus leitores, exigia ordem e monopólio da violência (leia-se extermínio) por parte das forças de segurança do Estado”. (COELHO, 2014, p. 17). Ao mesmo tempo que os bailes de corredor faziam da violência moeda lucrativa, donos de equipes e DJs passaram organizar os festivais de galera, espécie de gincanas que incluíam etapas com raps que deveriam falar sobre a origem das galeras e pedir paz nos bailes – tendo sido esse movimento fundamental para o processo de nacionalização do funk. Agora a poesia da favela era “feita por aqueles que curtiam o ritmo e se identifica com os seus estilos de vida” (FACINA, 2009, p. 4). No decorrer dos anos 1990, os artistas relacionados com tal gênero começaram a despertar o interesse da indústria fonográfica e a conquistar espaço na mídia. Ao expandir fronteiras e encontrar espaços mais amplos entre a classe média, o funk passou a ameaçar setores sociais que preferiam o silêncio sobre a realidade por ele divulgada, antes confinada nos guetos destinados aos pobres (FACINA, 2009, p. 5). Nesse contexto, ocorre uma forte criminalização do funk, visualizada no fechamento da maioria dos bailes dos clubes – que teve como consequências a piora significativa nas condições econômicas de artistas e a falência de equipes antigas que atuavam no ramo.

Objetivos Por da análise de músicas do funk, procura-se ampliar a percepção da criminalização do funk pelos seus próprios artistas. Trata-se de investigar como tais agentes vivenciaram a conjuntura de acirramento da repressão ao universo do funk e, acima de tudo, tentaram mostrar por meio da palavra musicada uma realidade alternativa àquela propagada pela polícia e pela imprensa.

Metodologia Pensar o contexto em que as musicas foram criadas implica em analisar os anos 1990 e suas especificidades, como por exemplo a guerra às drogas e a criminalização da favela, dos seus moradores e da sua cultura, o funk. Mas a utilização da musica como fonte principal de analise é interessante para pensar a arte como expressão do meio, ao mesmo tempo que ela influência esse meio – vale enfatizar que a musica é um tipo de arte com mais fácil difusão. É importante pensar ainda que a obra é o real através do prisma do artista. Portanto, para analisá-las se faz necessário pensar na tríade obra-meio-autor, lembra Antonio Candido (SOUZA, 2000). Nessa perspectiva, essa pesquisa tenta iluminar as mencionadas questões de tensão nos anos 90, e como elas repercutem nas musicas de funk desse período.

Conclusões Departamento de História

Conclui-se que o funk foi uma importância ferramenta de denúncia da opressão sofrida pelos moradores de favelas e periferias dos anos 1990, para além do fato de possibilitar o entendimento de uma visão alternativa ao senso comum alimentado por policiais e jornalistas de que tal estilo musical era um mero desdobramento da violência do tráfico. Esse tipo de entendimento fez com que a construção social do funk na grande imprensa tenha se realizado não nos cadernos culturais, e sim nas páginas policiais. O estudo dos funks dos anos 1990 pode ser para o pesquisador uma porta de entrada para o reconhecimento de potencialidades humanas e práticas culturais não encontradas no discurso dominante e generalizador – que tantos prejuízos acarretou (e ainda acarreta) aos direitos humanos de uma grande parcela dos moradores da cidade do Rio de Janeiro.

Referências COELHO, Frederico. : . Rio de Janeiro: Cobogó, 2014 ESSINGER, Silvio. Batidão: uma história do funk. Rio de Janeiro, Record, 2005 VIANNA, Hermano. 1988. O mundo funk carioca. Rio deJaneiro, Jorge Zahar. FACINA, Adriana. 2009. “Não Me Bate Doutor”: Funk E Criminalização Da Pobreza. V Encontro de Estudos Multidiciplinares em Cultura. Faculdade de Comunicação, Salvador, Bahia. SOUZA, Antonio Cândido de Mello e. “A literatura e a vida social”, Literatura e sociedade, São Paulo: T. A. Queiroz, 2000; Publifolha, 2000 [1965], pp. 17-35