Mulheres em situação de violência na cidade do : identificação e análise dos padrões espaciais

Danielle Faria Peixoto1 Maiara Santos Silva2 Pedro Aguiar Tinoco do Amaral3

Palavras-chaves: Violência contra a mulher; Vulnerabilidade; Rio de Janeiro

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2 Graduanda em Geografia do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro. 3 Mestrando do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. INTRODUÇÃO

A violência contra mulher se constitui como um fenômeno multifacetado e complexo, e configura-se a princípio, como uma violação de direitos humanos. Pode ser compreendida por atos violentos fundamentados em relações de gênero, manifestando- se de diferentes formas, abarcando, dentre outras, as dimensões da violência psicológica, moral, física e sexual, tanto nas esferas pública como privada (Artigo 1 e 2, Convenção do Pará, 1994). Esta se manifesta em diferentes escalas, podendo ser observada no âmbito familiar, exemplificada por abusos físicos, sexuais ou psicológicos por parte do parceiro íntimo ou por outras pessoas neste ambiente, e também no âmbito comunitário, representado por violências físicas, sexuais ou psicológicas que acontecem no ambiente público e são praticadas ou toleradas pelo Estado. (Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher, 1995) No ambiente privado, a violência doméstica destaca-se como sua principal manifestação, e geralmente se sustenta em uma estrutura cíclica, que pode ser denominada de “ciclo de violência”, processo repetitivo e progressivo que oscila entre agressões psicológicas e físicas. A violência contra a mulher não irá se restringir à ruptura da integridade física da vítima, mas também estará presente nas dimensões do simbólico e da linguagem (Bourdieu ,1999). A partir deste entendimento, o objetivo desse trabalho é o de buscar mostrar como o fenômeno da violência contra a mulher se expressa: espacialmente, utilizando para isto o recorte do município do Rio de Janeiro, e demograficamente, buscando identificar o perfil da mulher que sofre violência. Para isso o trabalho se dividiu, essencialmente, em três partes. Na primeira parte foi feito um levantamento bibliográfico sobre o histórico de compreensão e combate da violência. A segunda parte consistiu em analisar a distribuição espacial das diferentes formas de violência contra a mulher (psicológica e moral; física; sexual e homicídio). Essa parte foi elaborada a partir de dados coletados no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) da Secretaria Municipal de Saúde para cada uma dessas violências nos anos de 2010 a 2014 (por conta da disponibilidade dos dados e a proximidade ao Censo de 2010). Já na terceira parte foram relacionada a violência com dados socioeconômicos da população para se traçar o perfil dos grupos que sofrem maior violência. Para isso foram coletados também no DATASUS, para os mesmos anos, a informações de raça/cor, idade e escolaridade relacionadas a violência, e para estabelecer uma comparação foram coletadas, a partir do Banco Multidimensional Estatístico do IBGE, essas mesmas informações e mais a renda para o ano de 2010 (por conta do Censo Demográfico).

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: HISTÓRICO DE LUTAS E SUAS DEFINIÇÕES

Estudos acadêmicos e Conferências Internacionais

O estudo sobre o tema entre acadêmicos se deu concretamente em pesquisas no Brasil durante a década de 80, o que pode ser explicado pelo crescimento do movimento feminista no país, alavancado durante o período de redemocratização, e a criação da primeira delegacia para mulheres, em 1985 (Santos & Izumino, 2005). A visibilidade da temática possui relação com as convenções internacionais que possibilitaram maior projeção para o tema. Dentre estas, destacam-se a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção do Pará, 1994) e a Conferência Mundial Sobre a Mulher (Beijing, China 1995), onde a questão da violência contra a mulher pode ser mais explorada e problematizada, considerando o gênero como um fator determinante para ocorrer violência. Embora deste destaque internacional, houve uma negligência por parte do Brasil em relação ao não cumprimento dos acordos estabelecidos nestas conferências, provocando no início dos anos 2000 algumas contestações por parte dos organismos internacionais (Oliveira e Camacho, 2012). Impulsionadas também por isto, uma série de iniciativas começaram a ser tomadas, como por exemplo, a Criação da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência da República, em 2003, que tem como principal objetivo alcançar a igualdade de gênero, tendo como suas linhas de ação: Políticas do Trabalho e da Autonomia Econômica das Mulheres, Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e Programas e Ações nas áreas de Saúde, Educação, Cultura, Participação Política, Igualdade de Gênero e Diversidade. Apesar deste processo de consolidação de políticas públicas e estruturas de combate e prevenção à violência contra a mulher, o Brasil ainda apresenta uma situação crítica, ocupando a quinta colocação no ranking mundial de homicídios de mulheres atingindo uma taxa de 4,8 homicídios a cada 100 mil mulheres. (Mapa da Violência, 2015).

Conceituação da violência

Cabe ressaltar uma diferença conceitual entre os termos “violência de gênero” e “violência contra a mulher”. Saffioti (2001) ressalta que o conceito de violência de gênero é mais amplo, uma vez que se refere a todos os indivíduos que de alguma forma são atingidos por uma ordem patriarcal, incluindo não apenas mulheres, mas também crianças e jovens de todos os sexos. A violência de gênero é legitimada ou ao menos tolerada por um sistema que permite que os homens controlem e violentem mulheres. Considerando a complexidade do tema, coloca-se como relevante explorar o conceito de gênero, que faz referência às diferenças entre homens e mulheres construídas social e culturalmente, e não necessariamente corresponde a um produto direto do sexo biológico do indivíduo. (Giddens, 2005, p.102 e 103). Como defende Saffioti (1994) “o conceito de gênero se situa na esfera social, diferente do conceito de sexo, posicionado no plano biológico” (SAFFIOTI, 1994, p. 183). A articulação entre as categorias de gênero e poder vai ser essencial no que diz respeito a violência contra mulher, uma vez que a dominação masculina irá funcionar como mecanismo de coerção e legitimação de poder. Na Plataforma de ação da Quarta Conferência Mundial da Mulher, em Beijing (1995), colocou-se que:

A violência contra a mulher é uma manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens, que têm causado a dominação da mulher pelo homem, a discriminação contra ela e a interposição de obstáculos ao seu pleno desenvolvimento. (Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher, 1995)

Violência e Vulnerabilidade

Segundo o Fórum Nacional de Educação em Direitos Humanos (2006), a violência pode atingir todas as mulheres, sem distinção de classe. Apesar dessa afirmativa, é possível que existam grupos de mulheres que estejam em locais onde há uma situação mais suscetível a violência, seja pela sua condição social vulnerável ou pela inexistência de um suporte institucional próximo. É válido colocar que é inviável homogeneizar o perfil da mulher que sofre violência, visto que são afetadas de maneiras diversas de acordo com suas diferenças econômicas, culturais, etárias, raciais, religiosas, fenotípicas, dentre outras, sendo necessário realizar um recorte sócio espacial e de classe (Modelo de protocolo latino- americano de investigação das mortes violentas de mulheres por razões de gênero, 2014). Em consonância a isto, o Artigo 9 da Convenção do Pará, ressalta a situação da mulher vulnerável a violência por motivos de raça, origem étnica, refúgio, dentre outros. Ainda ressalta a situação de mulheres em situações sócio-econômicas desfavoráveis, colocando que estas estariam mais sujeitas a sofrer violência. (Convenção do Pará, 1994). Desta forma, considera-se as mulheres enquanto um grupo vulnerável, que difere da perspectiva de um grupo de risco, como exposto em:

“[...] enquanto a noção de grupos de risco tende a individualizar e personificar a adversidade vivida, relacionando-a a uma questão de conduta, a perspectiva da vulnerabilidade social propõe-se a entendê-la como resultado de um processo social que remete à condição de vida e dos suportes sociais”. (Morais, Rafaelli, Koller, 2012:119)

A atenção pretendida a este estudo é para a vulnerabilidade de gênero. Segundo Guilhem (2000), vulnerabilidade entende-se como o grupo de fatores de natureza biológica, epidemiológica, social e cultural cuja interação aumenta ou diminui a proteção de um indivíduo frente a um determinado risco. Um indicador sintético de vulnerabilidade social que tem como ponto de partida a definição das demandas básicas para as mulheres a ser eminente é a educação, renda e o local de moradia. A interação do indivíduo com a sociedade e o meio, em certo momento histórico, é consequência da organização dos padrões interiores de reações emocionais e racionais. Segundo Scarpellini e Carlos (2011), a questão da subjetividade da mulher fundamenta-se em dois aspectos que visualizam a subjetividade: 1) ângulo sócio-econômico; 2) ângulo corporal (constituição física da mulher). Desta forma, neste presente trabalho iremos abordar como estes dois enfoques poderiam se dar no caso da cidade do Rio de Janeiro. Outro fator que se faz imprescindível é a presença do aparato estatal nos eixos territoriais localizados em áreas de vulnerabilidade social, principalmente aos lugares que abarcam os grupos de mulheres que necessitam de proteção, com a finalidade de sistematizar, coordenar e praticar os serviços de acolhimento básico de uma política auxiliar. Sua finalidade é proporcionar as condições essenciais e mínimas para que as mulheres, como grupo social, desenvolvam capacidades, superando as situações de vulnerabilidade social, a médio e a longo prazo. Freire (2015) ressalta que as políticas públicas voltadas para a violência contra a mulher se concentram no campo do enfrentamento e não prevenção da violência, pautadas em concepções punitivas ou clínicas. Isto pode ser observado ao analisar o caso do Rio de Janeiro, que, apesar de um aumento progressivo de políticas para mulheres, pouco abrange a face de uma política preventiva, revelando como apenas os efeitos da violência e não suas causas são encaradas como um problema. No caso do Rio de Janeiro, esta estrutura será denominada como a Rede Especializada de Atendimento à mulher, composta por Núcleos Especializados, Serviços de Atendimento Especial, Delegacias Especializadas, Serviços de Saúde Especializados e Promotorias Especializadas. Entretanto estes serviços se concentram nos bairros mais centrais do município, o que muitas vezes não vai necessariamente corresponder a demanda, levando a questionar se estaria sendo uma solução estratégica.

A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS VIOLÊNCIAS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Violência Psicológica/Moral

Atos corporais de violência são em parte, mais fáceis de serem reconhecidos, punidos e repudiados pelo corpo social em geral. As situações de violência psicológica e/ou moral ainda que originem danos profundos à saúde das mulheres, são mais toleradas pela população e mais sujeitas de subnotificação. São diversas as situações que pressionam o sigilo de tais ações, fazendo com que a lei não seja empregada ou que a mulher não chegue a buscar ajuda. Desta maneira, estas podem ser definidas como toda ação que causa danos emocionais, refletindo em sua autoestima, segurança e desenvolvimento. Na legislação brasileira a violência psicológica está determinada na Lei nº 11.340, posta a seguir: [...] qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação. (BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006). Já a violência moral é definida, na mesma lei, como: “qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria” (BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006). Dessa forma é possível entender que ambas estão inseridas dentro do ciclo da violência como parte da sua primeira fase. Esta fase seria a que é criada uma tensão entre o agressor e a vítima, sendo essa feita a partir da humilhação e diminuição da mulher, a colocando em uma posição subjugada (FNEDH, 2006). Essa violência é, desta forma, o modo pelo qual o agressor induz a vítima ao ciclo no qual esta forma de violência pode evoluir para uma violência física. Pela dificuldade de identificação, seu caráter silencioso e aparência mais branda, este tipo de violência muitas vezes não é encarada como tal. Analisar os locais onde há um alto grau de denúncias mostra-se então de fundamental importância, uma vez que pode-se identificar os locais onde a violência já se faz presente nos primeiros estágios (Mapa I). Mapa I - Violência Psicológica/Moral

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014) As maiores concentrações de mulheres vítimas de violência psicológica/moral estão na zona oeste da cidade, em bairros como , Campo Grande, Santa Cruz e Realengo. Deve-se destacar também a atenção para a , que apesar de estar localizada na Zona Sul, se diferencia em relação aos demais bairros da região. O bairro (que se restringe à comunidade da Rocinha) registrou o maior número de casos de toda a cidade, 208 casos desta violência em específico. Desta forma, é possível observar-se, em geral, uma centralização dos registros nestas áreas de favelas e/ou áreas periféricas da cidade. No restante do município, a espacialização é mais dispersa, com poucos casos, com 123 bairros registrando menos de 20 casos de violência psicológica moral ao longo dos 5 anos analisados.

Violência Física

A violência física, como abordado anteriormente, se apresenta de forma mais clara para a vítima, pois além de serem atitudes físicas, nas quais vão transgredir o seu corpo, ela ainda pode deixar marcas. Como definida pela Lei Maria da Penha a violência física envolve: “qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal”. (BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006). Essa violência também vai estar presente dentro do ciclo, no qual aparece ainda na primeira fase, na forma de pequenas agressões, artificio utilizado para tentar impor uma situação na qual mulher se encontraria em posição inferiorizada. Isso pode resultar em um aumento progressivo da tensão, que, em muitos casos, levaria para a segunda fase do ciclo. Essa fase consistirá, basicamente, na agressão física à mulher, tornando o ato algo recorrente (FNEDH, 2006). Apesar desta característica mais visual a violência física tem também, provavelmente, um número maior de ocorrências do que aquelas que são registradas. A criação da Lei Maria da Penha em 2006 e a maior divulgação das formas de denúncia contribuíram para mudar este panorama, porém é provável que ainda hajam casos de subnotificação decorrentes do medo gerado pelo agressor à sua vítima. Embora exista essa possibilidade, a violência física mostrou os maiores números de ocorrências registradas na cidade do Rio de Janeiro (Mapa II). Como será visto na analise a seguir é uma violência presente em quase toda a cidade com um quantitativo muito superior quando comparado com as demais formas de violência aqui analisadas. Em termos quantitativos foram registrados, no total dos 5 anos, 6193 casos de violência física, muito superior aos pouco mais 2.835 casos de violência psicológica e 2.552 casos de violência sexual.

Mapa II - Violência Física

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014)

Como na violência psicológica, a Rocinha será o local com o maior quantitativo: 651 casos de violência entre os anos de 2010 a 2014. Os bairros que aparecem a seguir, que, apesar de terem muitos casos de violência física, estão muito abaixo da Rocinha, se encontram na classe de 201 a 300 ocorrências registradas. Estes são Bangu, Realengo, Campo Grande e Sepetiba, todos estes localizados na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Sobre o padrão espacial percebido, afirmamos que se assemelha ao apresentado pela violência psicológica/moral. Portanto, assim como a psicológica, a violência física também está concentrada na zona oeste da cidade, com exceção da Rocinha. Além disso, os demais bairros possuem um quantitativo de casos de violência física bem mais reduzido, com 133 bairros com menos de 50 casos de violência. Hipóteses a serem levantadas é que, em primeiro lugar, é possível que os casos que abarcavam a violência psicológica evoluíram para a física, ou ocorreram concomitantemente. Neste caso, o maior número de denúncias de violência física pode apontar para um maior número de ocorrências desse tipo, porém também pode estar atrelado ao fato de que as denúncias de violência física são mais recorrentes por conta da fácil percepção da violência e da maior divulgação para se denunciar elas.

Violência Sexual

A violência sexual pode ser definida como o controle e subordinação sexual de maneira não consensual da vítima, compreendendo o abuso, o estupro e exploração sexual, e geralmente está associada a outras manifestações de violência (Cavalcanti, Gomes e Minayo, 2006). A violência sexual contra as mulheres irá reunir a especificidade da grande frequência do autor da violência ter uma relação íntima com a vítima, contendo grau de parentesco ou não, como pais, maridos e namorados. (Villela, Lago, 2007). Na legislação brasileira, esta violência é abordada na Lei nº 11.340, que a define como: [...] qualquer conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sexualidade, que impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de direitos sexuais e reprodutivos. (BRASIL. Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006).

A violência sexual será, muitas vezes, uma forma de abuso pelo uso da força ou por conta de uma situação de vulnerabilidade por parte da vítima (como nos casos de abuso infantil ou de pessoas debilitadas). Ela, diferente das outras, não está sempre presente no ciclo de violência, porém ela pode aparecer como mais uma forma de tentativa de dominação por parte do agressor em relação à vítima (FNEDH, 2006). Desta forma os locais nos quais há uma presença maior da violência sexual mostram um risco maior à integridade corporal, no sentido sexual, das mulheres (Mapa III). Além disso, é importante destacar que em alguns casos isso pode implicar na transmissão de doenças sexualmente transmissíveis para as vítimas da violência sexual.

Mapa III - Violência Sexual

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014)

Observando o mapa, podemos constatar que há um maior número de casos de violência sexual nos bairros de Bangu, Realengo e Campo grande, semelhante às demais violências. Isso nos mostra que estes locais, dentro da zona oeste da cidade, se apresentam de forma destacada em relação à violência contra a mulher. O que nos chama atenção também, neste mapa, é a menor ocorrência quando comparado com as demais violências. O local com mais ocorrências, Campo Grande, apresenta 161 casos, e 14 bairros não apresentaram registros nos 5 anos. O que se observa, portanto, é que ela está distribuída de uma forma mais uniforme na cidade, sem grandes concentrações de violência.

Violência Total

A violência total aqui não seria a representação do somatório das violências analisadas anteriormente, mas sim o número de mulheres que sofreram qualquer tipo de violência e que a denunciaram. A diferença consiste no fato de que muitas vezes uma mulher vai denunciar que sofreu mais de um tipo de violência quando for feito o seu registro dentro do hospital. Sendo assim, esse dado será importante, justamente, para destacar este quantitativo total de mulheres que sofreram violência na cidade do Rio de Janeiro (Mapa IV). Mapa IV - Violência total

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014)

De acordo com o mapa, há uma concentração dos casos de violência contra a mulher principalmente nos bairros da Zona Oeste da cidade, sendo de forma mais destacada Bangu, Realengo, Campo Grande, Santa Cruz (que estão acima dos 300 casos). Além destes, chama a atenção, mais uma vez, a Rocinha na Zona Sul. Esse bairro teve registrado o maior número de casos e toda a cidade. Foram 760 casos ao longo dos 5 anos analisados. Isso significa, em média, um caso de violência contra a mulher em menos de 3 dias. Esses registros mostram, novamente, os padrões da distribuição espacial dos casos de violência total na cidade. Destaca-se que, com exceção da Rocinha, esses são os locais geograficamente mais afastados do centro da cidade e que, no Rio de Janeiro. Além disso, historicamente, eles concentram uma população que em geral possui um padrão econômico reduzido em comparação aos demais. Além dos locais de maior presença da violência contra a mulher é importante destacar a sua evolução ao longo dos anos em toda a cidade (Gráfico I). Estes números de registros podem mostrar mudanças na percepção das mulheres em relação à violência, o que pode aumentar a denúncia, assim como mudanças na violência em si. Gráfico I – Evolução da violência total contra mulheres no Rio de Janeiro

Nº total de registros de violência contra a mulher na cidade do Rio de Janeiro 4500 4000 3869 3500 3000 3178 2500 2320 2000 1500 1216 Nº Nº registros de 1000 500 448 0 2010 2011 2012 2013 2014 Anos

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014)

Os dados apresentados no gráfico evidenciam um crescimento da violência de forma geral na cidade. Enquanto que em 2010 foram 448 casos, 2014 foram 3869 registros (isso representa um crescimento de quase 800% na comparação de um ano com o outro). Como destacado anteriormente esta diferença pode ser explicada não apenas pelo aumento da violência, mas também por conta do maior número de denúncias por parte da vítima. Outro fator que pode ser destacado, e que pode ser vinculado à essa diferença no número de registros é existência de subnotificações em anos anteriores ser mais frequente, por conta de uma ausência maior do suporte às vitimas.

Homicídio de mulheres

Uma das expressões mais severas da violência corresponde ao homicídio, um grave problema social, elencado na legislação brasileira enquanto um crime contra a pessoa humana. Mesmo considerando que um homicídio pode ser ocasionado por razões de violência em geral, há de se considerar aqueles que ocorrem por razões de gênero, podendo ser resultante de um quadro encadeado de violência. A estes, se deu o nome de feminicídio, termo que foi utilizado primeiramente por Diana Hussel em 1976, em sua fala no Tribunal Internacional de Crimes contra Mulheres em Bruxelas, sendo definido como “assassinato de mulheres por homens por serem mulheres”. No entanto, passou-se a qualificar o homicídio de mulheres pelo fato de ser mulher como feminicídio no Brasil apenas em 2015, a partir da Lei 13.104/15, tornando-o, assim, um crime hediondo. A análise que será feita aqui, apesar de não incluir apenas os homicídios de mulheres pelo fato de ser mulher, ou seja, os feminicídios, dará um panorama para a violência fatal de mulheres (Mapa V). Destes números muitos dos casos podem estar classificados como feminicídios, mostrando, da forma mais aproximada possível, o quantitativo de mulheres que morreram decorrentes do resultado do ciclo de violência da mulher que chegaram a sua fase final ou de casos de homicídios decorrente da violência de gênero.

Mapa V - Homicídios

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014)

Como pode ser observado no mapa os casos de homicídios de mulheres concentraram-se em bairros já destacados anteriormente, sendo estes: Bangu, Campo Grande, Santa Cruz e Realengo, mostrando um padrão espacial contínuo da violência na Zona Oeste da cidade. É válido salientar que esta localidade historicamente reúne populações com situações socioeconômicas desfavoráveis, com altos índices de pobreza e baixa escolaridade. Pode-se inferir que o quantitativo de homicídios, reflete, mais uma vez, a situação vulnerável que as mulheres ali residentes se encontram, visto a constante presença de casos de violência nestas localidades.

RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA E O PERFIL SOCIOECONÔMICO DA MULHER

Violência total a cada mil mulheres

Com a finalidade de analisar o perfil das mulheres que sofrem mais violência, mostrou-se necessário identificar os bairros que tiveram maiores taxas de violência, ou seja, o número de registros de violência relativo ao total de mulheres por bairro. A utilização destes valores relativos permite apresentar o representativo de mulheres que sofrem violência em relação à população total de mulheres, o que posteriormente contribuiu para a identificação do perfil dessas mulheres. Para isto foi feito o seguinte cálculo: o número total de registros de violência por bairro divido pelo total de mulheres por bairro, e o resultado multiplicado por mil, por conta do tamanho da população do recorte geográfico do bairro.

Mapa VI - Violência Sexual

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014)

Por ser um resultado relativizado podemos observar neste mapa um padrão diferenciado dos demais. Os lugares em destaque foram Rocinha, Vidigal, Pedra de e , que apresentaram pelo menos 10 casos de violência a cada mil mulheres. Com essa mudança para as taxas relativas os bairros da Zona Oeste se destacam menos do que nos outros mapas. Por possuir numerosa população, o resultado da violência a cada mil mulheres fica mais reduzido, sendo na maior parte dos casos, uma taxa entre 2,5 e 5 casos. Isso mostra que, apesar da violência estar mais presente na região da Zona Oeste, ela atinge um maior percentual de mulheres nos bairros com grande número de habitações subnormais.

Raça ou Cor

A raça (ou cor da pele) aparece como um dos fatores que podem indicar a vulnerabilidade da mulher (Gráfico II). Como apresentado anteriormente no Artigo 9 da convenção do Pará a violência pode se diferenciar por conta da questão racial, além disso se encaixa no segundo eixo de fatores que estão atrelados a vulnerabilidade, que é a constituição física da mulher.

Gráfico II – Violência total X Raça ou cor

Casos de violência a cada mil mulheres por sua raça ou cor

8 7,21 7 6 5 4,63

4 3,31 3 2,53 1,93 2 1 0

Branca Preta Amarela Parda Indigena Casos de violência 1.000amulheres cadaviolência Casos de Raça/Cor

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014) e Censo Demográfico do IBGE (2010)

Dois grupos raciais de mulheres vão se destacar por sofrerem, relativamente, mais violência. O primeiro é o grupo de mulheres indígenas, porém dessas é preciso ressaltar que em termos absolutos é um valor baixo (apenas 27 casos nos 5 anos). Elas aparecem com maior destaque por serem poucas na cidade do Rio de Janeiro. Um fator que pode ter contribuído para esse número de mulheres indígenas sofrendo violência foi a retirada do grupo de índios da Aldeia Maracanã no ano de 2013 (ano que também ocorreram mais registros de violência), que foi feita sobre protestos e com violência policial4.

4 Fonte: Tumulto marca retirada de índios da Aldeia Maracanã. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/03/130322_aldeia_cq_atualiza O segundo grupo que mais se destaca é o de mulheres pretas, mostrando o peso que existe na questão racial em relação à vulnerabilidade da mulher. Diversos fatores contribuem para a situação vulnerável da mulher preta. Além do racismo, enraizado na cultura brasileira por conta do histórico escravista, há desigualdades que se mantém, resultando em uma menor escolaridade e menor renda desta população (dois fatores que também contribuem para a vulnerabilidade da mulher).

Idade

Outro fator analisado foi o da idade das mulheres que sofreram violência (Gráfico III). Assim como a raça ou cor, esse é um elemento referente ao ângulo corporal da mulher. A variável idade tem um peso significativo devido a forma como cada grupo pode reagir às diferentes formas de violência e ao quanto esse grupo pode ser vulnerável a ela, como para o caso de crianças e jovens.

Gráfico III – Violência total X Idade

Casos de violência a cada mil mulheres por grupos de idade 7 5,92 6 5,73

5

4 3,27 3

2 1,04 1,07 1

0

0-14 15-24 25-44 45-64 65+ Casos de violência 1.000amulheres cadaviolência Casos de Grupos de Idade (anos)

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014) e Censo Demográfico do IBGE (2010)

Os grupos de idade que apresentaram um maior número de ocorrências a cada mil mulheres foram justamente os dos jovens (15 a 24 anos) e de crianças (0 a 14 anos). Isso mostra que pelo fato de serem grupos vulneráveis a violência se torna mais recorrente neles. Agrava-se ainda no caso do grupo de 0 a 14 por se tratar de uma faixa etária de menores de idade, sendo assim dependentes dos responsáveis, que muitas vezes são os próprios agressores.

Escolaridade A escolaridade, diferente dos elementos analisados anteriormente, se enquadra como um ângulo socioeconômico da vulnerabilidade da mulher (Gráfico IV). As baixas escolaridades tendem a ser mais vulneráveis à violência por dois fatores: o primeiro é que a baixa instrução pode contribuir para uma situação de desinformação para as vítimas, e a segunda é de que a escolaridade também pode estar atrelada a sua idade, que, como visto, as mais jovens tendem a sofrer mais violência também.

Gráfico VI – Violência total X Escolaridade5

Casos de violência a cada mil mulheres por escolaridade 2 1,75 1,8 1,6 1,42 1,4 1,2 1,04 1 0,8 0,6 0,33 0,4 0,2 0 Sem instrução e Fundamental completo Médio completo e Superior completo

fundamental incompleto e médio incompleto superior incompleto Casos de violência 1.000amulheres cada violência Casos de Escolaridade

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014) e Censo Demográfico do IBGE (2010)

Ao analisar as notificações de violência do DATASUS, notou-se o padrão de casos de violência em baixas escolaridades, como sem instrução e fundamental incompleto ou com fundamental completo e médio incompleto. Notam-se menos casos em altas escolaridades, com ensino superior. Comparando com os dados censitários, o grupo que possui mais notificações de violência concentra-se na escolaridade de fundamental completo e médio incompleto com 1,75 caso a cada mil mulheres. É possível também associar as variáveis de idade e escolaridade, uma vez que há maior concentração de notificações de violência nas faixas etárias de 0 a 14 anos e 15 a 24 (Crianças e jovens).

Renda

Outro elemento que vai corresponder ao ângulo socioeconômico da mulher e que pode resultar em sua vulnerabilidade é a questão da renda. Como o DATASUS não

5 Foram desconsiderados os casos notificados com escolaridade não determinada, reduzindo o número de casos, pois foram 1.855 mulheres se encaixam nessa categoria levanta a renda da vítima foi necessário para esse dado estabelecer uma correlação entre os dados de violência gerado pelo próprio e os de renda do IBGE separando nas classes de até 3 salários mínimos (Gráfico V) e de mais de 10 salários mínimos (Gráfico VI) para estabelecer o comparativo entre a classe baixa e a classe alta da população de mulheres. Gráfico V – Violência total X Renda (Até 3 Salários Mínimos)

Violência X Renda (até 3 Salários Minímos)

25,00

20,00

15,00

10,00

5,00

0,00

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Casos de violência/Total de Mulheres de violência/Total Casos de % das mulheres com renda de até 3 s.m.

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014) e Censo Demográfico do IBGE (2010)

Gráfico VI – Violência total X Renda (Mais de 10 Salários Mínimos)

Violência X Renda (mais de 10 Salários Minímos)

25,00

20,00

15,00

10,00

5,00

0,00

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 Casos de violência/Total de Mulheres de violência/Total Casos de % das mulheres com renda de pelo menos 10 s.m

Fonte: Autoria própria. Dados: DATASUS (2010-2014) e Censo Demográfico do IBGE (2010)

Apesar de não haver uma correlação perfeita, é possível observar que há uma tendência aos locais com um maior percentual de mulheres com renda inferior a três salários mínimos ter também uma maior quantidade de notificações de violência a cada mil mulheres. Por outro lado, se verifica a relação oposta no gráfico da população com mais de 10 salários mínimos, pois os locais que possuem um maior percentual de mulheres com essa renda tem uma quantidade de notificações menor para cada mil mulheres. Essa relação mostra que a renda é mais um fator que compõe o quadro da vulnerabilidade da mulher na cidade do Rio de Janeiro. Os locais que tem uma população de menor renda, tendem a ter também uma maior taxa de violência para cada mil mulheres, algo que apareceu também quando foram apresentados os locais de maior violência em números absolutos, pois eram os que historicamente concentram uma população menos abastada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises realizadas constatam que a violência contra a mulher ainda é um problema frequente no município do Rio de Janeiro, engendrada não apenas por fatores econômicos e sociais, mas também históricos e culturais. O presente projeto se dirige em sentido de que as mulheres em geral, a princípio são vulneráveis na conjuntura da cidade, e o que os dados e informações referentes nos mostraram que existe um grupo dentro do universo das mulheres que tende a ser mais vulnerável seja por estar inserida em um contexto do local de grande violência, segregado espacialmente, seja pelo seu contexto socioeconômico. Esse possível grupo e seu padrão espacial pelo Rio de Janeiro é um dos pontos mais reveladores desta análise. Como colaboração preliminar, o trabalho exibe a partir das informações produzidas, um panorama comparativo do perfil socioeconômico das mulheres na cidade e a potencialidade destas em locais de seus números de ocorrências em padrões locais. Consideramos como um resultado deste trabalho, que faça parte deste grupo as mulheres de cor de pele preta, pobres, de baixo nível educacional e espacialmente as que moram em favelas e/ou na zona oeste da cidade.

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