UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO

LEONARDO PAIVA DE OLIVEIRA DE AZEVEDO CAMPOS

MEGAEVENTO PARA QUEM? UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS DOS JOGOS OLÍMPICOS RIO 2016 NO TERRITÓRIO DA LAGOA RODRIGO DE FREITAS SOB O PRISMA DE DISTINTOS STAKEHOLDERS LOCAIS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela Responsabilidade Social.

Orientador:

Prof. Fernando Oliveira de Araujo, Dr.Eng. Universidade Federal Fluminense

Niterói 2016

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Ficha Catalográfica

C 198 Campos, Leonardo Paiva de Oliveira de Azevedo. Megaeventos para quem? Uma análise dos impactos dos jogos olímpicos Rio 2016 no território da Lagoa Rodrigo de Freitas sob o prisma de distintos stakeholders locais / Leonardo Paiva de Oliveira de Azevedo Campos. – Niterói, RJ, 2016. 112 f. Orientador: Fernando Oliveira de Araújo. Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) – Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2016. Bibliografia: f. 95-100.

1. Jogos olímpicos. 2. (RJ). 3. Gestão de stakeholder. I. Título.

CDD 796.48

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Vera, por todo amor, amizade, carinho, compreensão, apoio e incentivo na minha formação e em todas as etapas de minha vida. Meu amor e meu exemplo. A minha namorada, Juliana, por compreender as ausências nos finais de semanas e no relacionamento, sendo cúmplice nesta etapa tão importante. Ao meu orientador, professor Fernando de Araujo, por me dar um choque de realidade e por acreditar não só em mim, mas que juntos poderíamos construir um projeto em um curto espaço de tempo. Ele fez a diferença e a faz. Professor inquestionável que levarei por toda a vida e com quem aprendi que precisamos transformar indicadores de esforço em indicadores de resultado. Ao Raynne Freitas por me estender a mão e auxiliar com seus conhecimentos, sem ao menos me conhecer. Ao Guilherme Miziara por ser um grande amigo e por compartilhar as aflições em fechar esta etapa. Aos professores Carlos Lidizia e Eduardo Vilela por toda cooperação na jornada acadêmica. Aos professores de todos os módulos do curso por participarem comigo dessa experiência. À equipe do curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense por todo carinho e atenção ao longo do curso, em especial, a colaboradora Bianca Feitosa. Aos entrevistados neste trabalho pela compreensão, disponibilidade e atenção. Em especial, aos vendedores de coco que compartilharam gratuitamente seus cocos na Lagoa Rodrigo de Freitas sob o sol forte. À Colônia de Pescadores Z-13 por me receber muito bem, em especial, deixo meus sentimentos pelo falecimento do presidente, Pedro Marins, que faleceu durante esta pesquisa. A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuem para o meu crescimento profissional, em especial, meus amigos. Ao Comandante Rene Alonso que me apresentou ao BOPE (Batalhão de Operações Especiais), sendo tal equipe fonte de inspiração: missão dada é missão cumprida. A Deus por ser o maior responsável por toda essa jornada dentro e fora do mestrado.

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RESUMO

Os mega-eventos, um dos segmentos de megaprojetos, podem ser compreendidos como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois promovem impactos transformadores na população e no local onde ocorrem, de acordo Horne & Whannel (2016). Sendo assim, os mega-eventos, segundo Zhai et al. (2009), apresentam maior investimento, maior complexidade, diversidade de stakeholders e sofrem influências mais amplas em comparação a projetos simples. Neste sentido, buscou-se promover uma sinergia entre a diversidade de stakeholders com os impactos transformadores provenientes dos efeitos do mega-evento, culminando no objetivo deste estudo: analisar os efeitos provenientes do megaevento, Jogos Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, sob o prisma de distintos stakeholders durante a realização dos referidos Jogos. Para realizar esta análise, primeiramente, foi realizado o levantamento de dados secundários através da revisão da literatura especializada, utilizando o método webibliomining e proknow-c. Em seguida, foi realizado o levantamento de dados primários através de observação participativa e entrevistas realizadas em todo o território da Lagoa Rodrigo de Freitas, objeto deste estudo. Estas entrevistas apresentaram duas abordagens: questionários focalizados nos transeuntes e questionários focados nos empreendimentos. Ao todo, 71 respondentes participaram das entrevistas que apresentou uma abordagem qualitativa. Todavia, cabe destacar que para a análise dos dados primários aventados foram usados os métodos de estatística descritiva e análise de conteúdo. Após os resultados obtidos através do tratamento dos dados e confrontação entre os primários e secundários, pode-se verificar que a heterogeneidade dos stakeholders locais da Lagoa Rodrigo de Freitas produziu percepções distintas sobre os Jogos Olímpicos, influenciando diretamente no gerenciamento do próprio megaevento. Sendo assim, realizar o gerenciamento dos stakeholders locais, pode contribuir para a melhor efetividade dos resultados pretendidos dos megaprojetos, gerando benefícios a até, porventura, um legado.

Palavras-chave: Megaprojetos. Mega-eventos. Gestão de Stakeholder. Jogos Olímpicos. Rio 2016.

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ABSTRACT

Mega-events can be understood as one of the most important political initiatives of the modern era, as it promotes transformative impacts on the population and the place where they happen, according to Horne & Whannel (2016). Thus, the mega-events, according to Zhai et al. (2009), need higher investment, greater complexity, diversity of stakeholders and suffer broader influences compared to simple projects. In this sense, we sought to promote a synergy between the diversity of stakeholders and the transformative impacts of the mega- event, culminating in the objective of this study: analyze the effects of the mega-event, Olympic Games Rio 2016, in the territory of Rodrigo de Freitas Lagoon, under the prism of different stakeholders during the accomplishment of these Games. In order to perform this analysis, we first carried out the survey of secondary data through a review of the specialized literature, using the method webibliomining and proknow-c. Then, the primary data were collected through participatory observation and interviews conducted throughout the territory of Rodrigo de Freitas Lagoon, the object of this study. These interviews presented two approaches: questionnaires focused on passers-by and questionnaires focused on entrepreneurship. In all, 71 respondents participated in the interviews that presented a qualitative approach. However, it should be noted that for the analysis of the primary data, the methods of descriptive statistics and content analysis were used. After the results obtained through data processing and confrontation between primary and secondary, was verified that the heterogeneity of the local stakeholders of Rodrigo de Freitas Lagoon produced distinct perceptions about the Olympic Games, directly influencing the management of these mega-event. Therefore, managing the local stakeholders can contribute to the effectiveness of the desired results of megaprojects, generating benefits to, perhaps, a legacy.

Keywords: Megaprojects. Mega-events. Stakeholder Management. Olympic Games. Rio 2016.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01- Estatísticas Oficiais dos Jogos Rio 2016...... 15 Figura 02 - Mapa de Realização dos Jogos da Rio 2016 ...... 17 Figura 03 – A Área da Lagoa Rodrigo de Freitas...... 18 Figura 04 – Cercamento do Espelho D’água na Fonte da Saudade…...... 19 Figura 05 – Restaurante Fechado no Parque dos Patins…...... 19 Figura 06 – Cercamento da Academia da Terceira Idade na Parte do …...... 19 Figura 07 – Cercamento da Colônia de Pescadores Z-13 no Parque dos Patins...... 20 Figura 08 – Restaurante Sem Quaisquer Clientes à Noite no Parque dos Patins...... 20 Figura 09 – Cercamento do Restaurante La Gôndola no Parque dos Patins...... 22 Figura 10 – Casa Suíça no Corte do Cantagalo…...... 22 Figura 11 – Estrutura Metodológica do Estudo...... 26 Figura 12 - Nuvem das Palavras-Chave dos Artigos Pesquisados…...... 30 Figura 13 – Distribuição das Publicações Encontradas nas Bases por Ano...... 31 Figura 14 – Sumarização das Etapas da Pesquisa: Vertente Empírica...... 49 Figura 15 – Procedimentos Metodológicos da Coleta de Dados Primários...... 53 Figura 16 – Fragmentação da Lagoa Rodrigo de Freitas em Microrregiões...... 56 Figura 17 – Distribuição de Nível de Escolaridade em Relação ao Gênero...... 61 Figura 18 – Distribuição dos Entrevistados pela Relação que Apresentam com a Lagoa Rodrigo de Freitas...... 61 Figura 19 – Conhecimento sobre os Possíveis Impactos Gerados na Lagoa Rodrigo de Freitas com a Realização dos Jogos Olímpicos...... 63 Figura 20 – Opinião sobre a Organização Eficaz das Olimpíadas na Lagoa Rodrigo de Freitas...... 66 Figura 21 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...... 66 Figura 22 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...... 67 Figura 23 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Localização na Lagoa Rodrigo de Freitas...... 69 Figura 24 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto por Categoria...... 70 Figura 25 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Formalização e Tempo de Atuação

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na Lagoa Rodrigo de Freitas...... 71 Figura 26 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto ao Número de Funcionários...... 72 Figura 27 – Percepção dos Entrevistados sobre as Consequências do Megaevento no Cotidiano do Negócio...... 73 Figura 28 – Distribuição sobre o Aumento no Volume de Vendas do Empreendimento...... 74 Figura 29 – Certificado do Curso de Noções Básicas de Manipulação de Alimentos do Sr. Ofir...... 75 Figura 30 – Quadra Esportiva Sendo Utilizada para as Instalações do Remo do Clube de Regatas do Flamengo no Corte do Cantagalo...... 77 Figura 31 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...... 76 Figura 32 – Distribuição das Questões sobre a Relação Entre a Organização do Jogos Olímpicos e a Comunidade Local...... 79 Figura 33 – Distribuição Sobre a Construção de Relação entre a Organização do Jogos e a Comunidade Local...... 80 Figura 34 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco de Atividades das Olimpíadas 2016...... 81 Figura 35 – Matéria da Revista Época sobre Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização...... 82 Figura 36 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização...... 82 Figura 37 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização...... 83 Figura 38 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização...... 83 Figura 39 – Reforma da Colônia de Pescadores Z-13...... 86 Figura 40 – Espaço do Campo de Beisebol a Ser Revitalizado...... 86

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 - Estruturação das Diretrizes Iniciais da Pesquisa...... 29 Quadro 02 - Estruturação do Protocolo Final da Pesquisa...... 31 Quadro 03 – Total de Publicações Selecionadas por Periódicos...... 32 Quadro 04 – Revisão da Literatura na Base Web of Science e Scopus...... 34 Quadro 05 – Comparação entre Projetos Simples e Complexos...... 37 Quadro 06 – Sistema de Categorias das Características de Megaprojetos………….….…...38 Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de Megaeventos...... 42 Quadro 08 – Categorias vs. Práticas de Gestão de Stakeholders...... 55 Quadro 09 – Escolaridade vs. Localidade em que o Entrevistados Residem...... 62 Quadro 10 – Principais Mudanças Positivas e Negativas no Cotidiano dos Entrevistados....64 Quadro 11 – Principais Consequências Positivas e Negativas Comuns ao Cotidiano dos Empreendimentos e dos Transeuntes...... 84 Quadro 12 – Práticas de Gestão de Stakeholders Percebidas nas Partes Interessadas da Lagoa Rodrigo de Freitas...... 88

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BAB - Banco de Artigos Bruto CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior DW - Deutsche Welle GPI – Grandes Projetos de Investimento Lagoa – Lagoa Rodrigo de Freitas MP – Megaprojetos MPI – Megaprojetos de Infraestrutura OE – Objetivo Específico PMERJ - Polícia Militar do Estado do Rio De Janeiro PMI – Project Management Institute PPP - Parcerias Público-Privadas ProKnow-C - Knowledge Development Process Constructivist Rio – Rio de Janeiro SESGE - Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos UFF – Universidade Federal Fluminense

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...... 13 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS...... 13 1.2. FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA...... 15 1.3. OBJETIVOS...... 23 1.3.1. GERAL...... 23 1.3.2. ESPECÍFICOS...... 23 1.4. QUESTÕES-PROBLEMA...... 23 1.5. RELEVÂNCIA DO ESTUDO...... 24 1.6. DELIMITAÇÕES DO ESTUDO...... 25 1.7. ESTRUTURA METODOLÓGICA...... 25 1.8. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO...... 27 2. REFERENCIAL TEÓRICO...... 28 2.1. PESQUISA BIBLIOMÉTRICA...... 28 2.2. MEGAPROJETOS...... 36 2.2.1. MEGAEVENTOS...... 41 2.3. STAKEHOLDERS...... 43 2.4. APRECIAÇÃO CRÍTICA DA LITERATURA E CORRELAÇÃO COM OS OBJETIVOS DA PESQUISA………………...……………...…………………..47 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA…………………..…...49 3.1. INCORPORAÇÃO DE DADOS SECUNDÁRIOS…………………………...... 49 3.2. CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA…………..……...... ………………………50 3.3. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS……………...…………………..…...…52 3.3.1. ENTREVISTAS……….…...... ……………………………..………...…54 3.4. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS……………………...... ……58 3.5. LIMITAÇÕES DO MÉTODO………………………..………………………….59 4. ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS……….………………….………60 4.1. ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS TRANSEUNTES...... 60 4.1.1. ANÁLISE DO PERFIL DOS TRANSEUNTES...... 60 4.1.2. ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS TRANSEUNTES SOBRE O MEGAEVENTO...... 63 4.2. ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS EMPREENDIMMENTOS...... 68

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4.2.1. ANÁLISE DO PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS...... 68 4.2.2. ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOBRE O MEGAEVENTO...... 73 4.3. ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRANSEUNTES E EMPREENDIMENTOS...... 84 4.4. CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO DA LITERATURA...... 87 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS...... 91 REFERÊNCIAS...... 95 APÊNDICE 1: Diário de Bordo...... 101 APÊNDICE 2: Questionário Transeuntes...... 102 APÊNDICE 3: Questionário Empreendimentos...... 104 APÊNDICE 4: Trocas de E-mails do Restaurante Arab...... 106 APÊNDICE 5: Revista Época - Na Lagoa e no Aterro, os Excluídos da Olimpíada Aparecem...... 108 APÊNDICE 6: Revista Época - Rio 2016, uma Olimpíada para ficar na memória.....110 APÊNDICE 7: Site Alemão DW - Imprensa europeia destaca desânimo com a Rio 2016...... 111 APÊNDICE 8: Site Alemão DW - Opinião: Jogos Olímpicos libertam o Rio...... 112

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1. INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Os megaeventos, tais como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, são ocasiões únicas que, todavia, podem deixar marcas permanentes na sociedade. Conforme afirma Müller (2015), o megaevento, além de atrair milhares de visitantes e ter alcance mundial, demanda significativos investimentos em infraestrutura, que geram impactos sobre o ambiente construído e a comunidade local. Os megaeventos estão intimamente ligados aos grandes projetos de infraestrutura que visam à reformulação urbana. Segundo Oliveira (2011), os megaeventos podem ser percebidos como estratégia deliberada de crescimento econômico e social, pois compartilham de alguns elementos em comum: a) atração de investimentos; b) alavancagem do turismo; c) ações urbanas pontuais; e d) o acionamento de parcerias público-privadas (PPP). Eventos de grande porte, em especial os esportivos, são considerados um dos segmentos de megaprojetos. Segundo Flyvbjerg (2014), os megaprojetos são empreendimentos complexos que custam normalmente na ordem de bilhões de dólares, demandam muitos anos para se desenvolver e executar, envolvem múltiplos stakeholders (partes interessadas) e são transformacionais, na medida em que afetam milhões de pessoas. Os megaprojetos também podem ser denominados tecnicamente de projetos de capital (ROMERO & ANDERY, 2016), além de possuírem outros termos que podem ser verificados na literatura especializada: grandes projetos; grandes projetos de Desenvolvimento; GPI – grandes projetos de investimento (VAINER & ARAÚJO, 1992), além de MPI – megaprojetos de infraestrutura (ZENG et al., 2015). Estes projetos, usualmente, estão orientados aos setores de mineração e energia, caracterizados por uma complexa demanda de tecnologia e sólida gestão de processos, conforme Romero e Andery (2016). No entanto, os megaprojetos (MP) podem ser vislumbrados em várias áreas: infraestrutura, fusões e aquisições, defesa territorial, plantas de processamento industrial, tecnologia da informação, viagens espaciais, iniciativas empresariais, sistemas administrativos e grandes eventos. Cada vez mais, os MPs têm sido o modelo preferido de entrega para produtos e serviços por uma gama de organizações e setores (FLYVBJERG, 2014). Vale ressaltar, segundo Flyvbjerg (2014), que os megaprojetos não são apenas versões

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ampliadas de projetos menores, tratam-se de empreendimentos completamente diferentes no que tange à natureza, prazos de entrega, complexidade e participação das partes interessadas. Todavia, as divergências vão além, especialmente, no que se refere à complexidade social, pois envolve o gerenciamento de muitos atores - executores do projeto - e múltiplos stakeholders, tanto de caráter público e privado, gerando conflitos de interesses (AALTONEN & KUJALA, 2010). Para Freitas (2016), a magnitude e complexidade deste tipo de projeto o deixa mais suscetível a riscos em relação aos demais projetos de menor porte, notadamente, no que se referem aos riscos sociais, englobando especialmente os stakeholders. De acordo com o PMBoK (PMI, 2013), os stakeholders são pessoas, grupos ou organizações que podem impactar ou serem impactados pela implementação de um projeto ou evento, sendo necessário desenvolver estratégias de gerenciamento apropriadas para o engajamento e a comunicação eficaz dessas partes, tanto nas tomadas de decisões, quanto na execução. De acordo com Zeng et al. (2015), os grandes projetos podem ser vislumbrados como posicionamento estratégico para o estímulo da economia nacional e para o desenvolvimento social. Neste sentido, os megaeventos, sendo os Jogos Olímpicos uma das principais referências mundiais, devem ser pensados como megaprojetos, pois apresentam propósitos e práticas de gerenciamento que se assemelham. Vale evidenciar também, conforme Zimbalist (2015), que os grandes eventos requerem investimentos através de uma gama de megaprojetos de infraestrutura – transporte, energia, rede hoteleira e comunicação – para serem realizados com eficácia. Os desafios de se gerenciar um grande evento não são puramente técnicos, implicam também em como estruturar um contexto que abranja e dialogue com as várias partes interessadas que percebem a iniciativa sob distintos prismas socioculturais. O gerenciamento dos stakeholders se faz necessário em projetos globais especialmente quando executados em ambientes institucionalmente exigentes (AALTONEN et al., 2008; AALTONEN, 2010). Sendo assim, a compreensão clássica de sucesso em projetos e eventos, conforme Jugdev e Muller (2005), que vincula fortemente ao atendimento das expectativas de escopo, tempo e custo, pode ser considerada ineficaz para os dias atuais. Esta perspectiva não considera os aspectos que permeiam os riscos sociais, no que se refere aos múltiplos stakeholders, e os possíveis impactos, enfatizando somente os critérios técnicos. Segundo Vargas (2016), diante da pressão de um contexto de mudanças e cenários improváveis, é preciso viabilizar processos estruturados e lógicos capazes de lidar com

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eventos que se caracterizam pela novidade, complexidade e dinâmica ambiental. Logo, saber interpretar a atitude e gerenciar os stakeholders representam um elemento central das boas práticas de gerenciamento de projetos (ARAUJO et al., 2015). Os Jogos Rio 2016, realizados na cidade do Rio de Janeiro e sendo a primeira edição da Olimpíada e Paralimpíada na América do Sul, representaram uma possibilidade de transformação na sociedade, impactando a vida de milhões de indivíduos. A Figura 01 oferece um panorama das principais estatísticas relacionadas aos eventos.

Figura 01- Estatísticas Oficiais dos Jogos Rio 2016

Fonte: Cidade Olímpica (2016)

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

Os megaeventos, como os Jogos Olímpicos, têm sido questionados a respeito dos impactos que geram e dos investimentos econômicos que necessitam. Segundo Zimbalist (2015), faz-se necessário avaliar como os megaeventos podem promover algum tipo de

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benefício ou retorno econômico à comunidade local, especialmente, àqueles que possuem menores condições sociais. De acordo com Flyvbjerg (2016), os Jogos Olímpicos realizados ao longo da década 2004-2014 custaram em média 8,9 bilhões de dólares, não incluindo transporte, aeroporto e infraestrutura hoteleira, que muitas vezes custam mais do que os jogos em si. Logo, a cidade anfitriã, neste caso o município do Rio de Janeiro, precisa passar por uma série de transformações que sejam capazes de viabilizar a realização da Olimpíada. Algumas medidas, no entanto, impactam de forma negativa nos stakeholders, pois podem provocar: deslocamento espacial de uma comunidade; desvio de recursos sociais para a construção de espaços e estruturas; e a criação de infraestruturas que não tenham uso efetivo após os jogos (ZIMBALIST, 2015). Neste sentido, as práticas de gerenciamento de projetos, no que tange a gestão de stakeholders, devem ser analisadas a fim de estarem alinhadas com a intenção de gerar benefícios para a comunidade local. Os Jogos Rio 2016 foram realizados em distintas localidades geográficas da cidade anfitriã, Rio de Janeiro, de 05 a 21 de agosto, a Olimpíada (objeto do presente estudo), e de 07 a 21 de setembro, a Paralimpíada. A Olimpíada, segundo o site oficial Rio 2016 (2016), envolveu 42 modalidades esportivas, 306 provas, 37 arenas e 205 países. Apesar de toda estrutura deste evento se ramificar por toda macrorregião do Rio de Janeiro, alguns bairros se destacam, concentrando as competições: Deodoro, Copacabana, Barra da , Maracanã e Lagoa Rodrigo de Freitas, conforme ilustra a Figura 02.

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Figura 02 - Mapa de Realização dos Jogos da Rio 2016

Fonte: Meirelles (2014, p.58).

A magnitude e complexidade deste megaevento engloba uma gama de vários atores que compõe as partes interessadas e que possuem diferentes interesses. Todavia, segundo Clark et al. (2016), um foco excessivo no megaevento possibilita facilmente ignorar o micro, isto é, as comunidades locais que são impactadas pelo evento. Sendo assim, para se aprofundar em uma análise sobre o gerenciamento de stakeholders, faz-se necessário uma melhor compreensão sobre o território no qual ocorreu a Rio 2016, segmentando-o em microrregiões. Cada microrregião apresenta um elevado número de atores que formam uma comunidade local que foi impactada com a Olimpíada. Fragmentar o megaprojeto em áreas menores pode possibilitar uma análise mais consolidada sobre o objeto de estudo. Logo, a microrregião selecionada para devido fins de estudo foi a Lagoa Rodrigo de Freitas (Figura 03).

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Figura 03 – A Área da Lagoa Rodrigo de Freitas

Fonte: Google Earth (2016)

A Lagoa Rodrigo de Freitas, além de ser considerada um dos cartões postais da cidade do Rio de Janeiro, é um espaço de interligação entre vários bairros da zona sul da cidade (Humaitá, Jardim Botânico, Gávea, Leblon, e Copacabana), apresentando uma heterogênea comunidade local com indivíduos de diferentes culturas e posições sociais. Vale também ressaltar que a própria Lagoa foi cenário dos jogos, sendo arena para algumas competições e também abrigando algumas casas temáticas das delegações. Para receber as competições de remo e canoagem de velocidade, a Lagoa Rodrigo de Freitas, um monumento tombado pelo município e também em nível federal 1 , sofreu transformações necessárias, no espelho d’água e seu entorno, para viabilizar os jogos. Todavia, essas mudanças desencadearam uma série de consequências que devem ser analisadas. Para evidenciar estes impactos, foram registradas algumas imagens, conforme as Figuras 04, 05, 06, 07 e 08:

1 PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Bens Tombados. Disponível em . Acesso em: 30 jul. 2016.

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Figura 04 – Cercamento do Espelho D’água na Fonte da Saudade

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Figura 05 – Restaurante Fechado no Parque dos Patins

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Figura 06 – Cercamento da Academia da Terceira Idade na Parte do Leblon

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

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Figura 07 – Cercamento da Colônia de Pescadores Z-13 no Parque dos Patins

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Figura 08 – Restaurante Sem Quaisquer Clientes à Noite no Parque dos Patins

Fonte: Leonardo Campos em 26 de julho de 2016.

Neste sentido, os registros fotográficos corroboram como o cercamento na Lagoa

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Rodrigo de Freitas para a realização dos Jogos Olímpicos modificou a paisagem e o dia a dia dos indivíduos e empreendimentos locais. Cabe destacar, segundo a SESGE - Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, as cercas foram instaladas como medida de segurança a pedido do comitê organizador Rio 2016 a fim de gerar proteção2. Todavia, a compreensão sobre este cercamento desperta outras percepções:  Empreendimentos (Figuras 05 e 08) – muitos empreendimentos foram impactados de forma negativa com o cercamento, pois não tinha trânsito de pessoas por essas áreas. Sendo assim, muitos ficavam fechados em horário de expediente, devido à falta de clientes;  Colônia de Pescadores (Figura 07) – a colônia Z-13 ficou impossibilitada de utilizar a Lagoa para a pesca, uma vez que a própria lagoa estava cercada;  Clubes de Remo (Figura 04) – os principais clubes, Flamengo, e Vasco da Gama não podiam utilizar o espelho d’água, logo, os alunos e atletas de remo dos referidos clubes não podiam treinar.  Transeuntes e praticantes de esporte (Figura 06) – com a trajetória da ciclovia modificada e o cercamento, inclusive da academia da terceira idade, vários indivíduos tiveram o seu dia a dia impactados, diminuindo a circulação de pessoas pela Lagoa Rodrigo de Freitas.

Ainda a título de ilustração, em conversa com o Sr. Carlos, proprietário do restaurante La Gondola, o entrevistado reiterou o impacto negativo que cercamento da Lagoa Rodrigo de Freitas ofereceu no cotidiano do seu estabelecimento, provocando um isolamento geográfico e diminuindo drasticamente a quantidade de clientes. O empresário ainda ressaltou a dificuldade para abastecer o próprio empreendimento. A Figura 09 ilustra a situação do restaurante:

Figura 09 – Cercamento do Restaurante La Gôndola no Parque dos Patins

2 FOLHA DE SÃO PAULO. Trecho da Lagoa é cercado com grades de 2,5 metros para provas da Rio-2016. Disponível em: Acesso em: 30 jul. 2016.

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Fonte: Leonardo Campos em 04 de agosto de 2016.

Os Jogos Olímpicos Rio 2016 provocaram na Lagoa Rodrigo de Freitas um oximoro3: em um mesmo contexto é possível averiguar áreas vazias e impactadas de forma negativa devido ao cercamento; e por outro prisma, áreas que obtiveram grande circulação de pessoas, estimulando a movimentação nos estabelecimentos localizados próximos ao Baixo Suíça, casa de hospitalidade do governo suíço que funcionou duante a Olimpíada e Paralimpíada. Tal efeito está ilustrado na relação das Figuras de 04 a 09 com a Figura 10.

Figura 10 – Casa Suíça no Corte do Cantagalo

Fonte: Leonardo Campos em 17 de agosto de 2016. Sendo assim, é possível compreender que a Lagoa Rodrigo de Freitas foi fragmentada

3 Segundo Loregian (2012), oximoro pode ser caracterizado por ser uma figura de pensamento que harmoniza dois conceitos opostos, formando assim um terceiro conceito, que dependerá muito da interpretação de quem estiver lendo.

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em zonas dicotômicas, na quais, os indivíduos são impactados de maneiras distintas e podem possuir percepções diferentes em relação ao megaevento. Este efeito, segundo Clark et al. (2012), de priorizar o macro em relação ao micro em grandes projetos e não analisar a heterogeneidade dos territórios e seus stakeholders, pode reduzir a capacidade de gerar benefícios a comunidade local, até mesmo, impactar de maneira deletéria um possível legado.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1. GERAL

O presente estudo tem como objetivo analisar os efeitos provenientes do megaevento, Jogos Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, sob o prisma de distintos stakeholders durante a realização dos referidos Jogos.

1.3.2. ESPECÍFICOS

. Identificar quais foram as práticas de gerenciamento de stakeholders aplicadas nos Jogos Olímpicos Rio 2016, no que se refere o território da Lagoa Rodrigo de Freitas; . Identificar quais são as percepções sobre o evento entre os variados stakeholders - estabelecimentos formais, informais, comunidade de pescadores, transeuntes e turistas - durante a realização dos Jogos Rio 2016; . Verificar se existem percepções distintas entre os stakeholders do megaprojeto; . Identificar as consequências geradas pelos Jogos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas e avaliar se estas consequências se relacionam com as possíveis práticas de gerenciamento de stakeholders utilizadas; . Propor aprimoramentos nas práticas de gerenciamento de projetos, no sentido de contribuir para melhor efetividade dos resultados pretendidos; . Consolidar lições aprendidas visando ao compartilhamento dos ensinamentos de um aludido caso de sucesso em megaeventos.

1.4 QUESTÕES-PROBLEMA

Observando o contexto e considerando os objetivos supracitados, as seguintes questões-problemas são foco de investigação deste trabalho:  Quais foram os principais impactos (positivos e/ ou negativos) percebidos por distintos

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stakeholders durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas?  Quais foram as práticas de gerenciamento de stakeholders adotadas nos Jogos Olímpicos Rio 2016, com base na percepção da comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas em relação ao megaevento?  As práticas de gerenciamento de stakeholders adotadas consideram a heterogeneidade de públicos constituintes dos distintos territórios?  Na perspectiva dos stakeholders, os Jogos Olímpicos Rio 2016 deixaram um legado para a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas?  Quais as lições aprendidas sobre boas práticas em gerenciamento de stakeholders em megaeventos?

1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Esta pesquisa busca produzir uma literatura especializada sobre um tema relevante e contemporâneo relacionado ao gerenciamento de megaprojetos: a gestão dos stakeholders, evidenciando a importância de se analisar a heterogeneidade das partes interessadas. Em termos empíricos, explora-se o caso de um dos megaeventos de maior referência no planeta: os Jogos Olímpicos Rio 2016, através do estudo das potencialidades e limitações das práticas de gerenciamento de projetos, compartilhando importantes aprendizagens provenientes da complexidade, magnitude e heterogeneidade da atuação do projeto. Diante dos questionamentos que os megaeventos têm sofrido, relacionados aos elevados montantes de investimentos necessários, os impactos que produzem na população local e se concebem benefícios aos envolvidos; este estudo vislumbra analisar o método de gerenciamento de projetos no que se refere à gestão de stakeholders. Sendo assim, contribuir para a racionalização dos recursos de maneira mais eficaz - maximizando resultados - e mais eficiente - reduzindo custos - na implantação de megaprojetos. Além de discutir a importância de se realizar a análise sobre a heterogeneidade de stakeholders e percepção de sucesso vinculada às boas práticas de gestão, esta pesquisa visa a estimular formas mais sustentáveis e colaborativas de trabalho e comunicação em mega eventos. Nesse sentido, este estudo ainda pode ser inspirador para outras organizações do segmento de megaprojetos.

1.6 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

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A pesquisa está delimitada territorialmente à cidade do Rio de Janeiro, mais especificamente a Lagoa Rodrigo de Freitas, e temporalmente de julho a novembro de 2016. A análise do caso é particularmente de um evento global que aconteceu na cidade carioca: os Jogos Olímpicos Rio 2016, atendo-se ao período da Olimpíada e não considerando as Paralimpíada. O foco desta pesquisa engloba somente a visão da comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas e outras partes interessadas, não contemplando a perspectiva do comitê gestor do megaevento Rio 2016. Vale ressaltar que os resultados apresentados não constituem um diagnóstico total sobre o gerenciamento de stakeholders ou a respeito do segmento de megaprojetos e megaeventos, no entanto, tais resultados podem servir como inspiração para estudos futuros, a fim de contribuir para o desenvolvimento do tema em questão.

1.7 ESTRUTURA METODOLÓGICA

A estrutura metodológica, aplicada para execução deste trabalho, consiste em etapas seriadas e distribuídas em duas vertentes: uma empírica e outra teórica que se complementam e se confrontam para responder aos objetivos propostos, conforme ilustra a Figura 11.

Figura 11 – Estrutura Metodológica do Estudo

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Fonte: Adaptado de Araujo (2011).

A primeira etapa, vertente teórica, baseia-se na revisão de literatura, através da realização de pesquisas em fontes bibliográficas e eletrônicas, com a finalidade de apresentar um embasamento teórico sobre os temas abordados. Nesta etapa, são analisadas os princípios e requisitos de mega eventos e de gerenciamento de stakeholders. O resultado esperado desta etapa é um modelo teórico que seja aplicável a vertente empírica. A vertente empírica se baseia na identificação, coleta, análise e divulgação dos dados, através do emprego de questionários na Lagoa Rodrigo de Freitas com os empreendimentos formais, informais, comunidade de pescadores, clubes e transeuntes, objetivando identificar e analisar as práticas de gestão de stakeholders utilizadas pela Rio 2016. A última etapa abrangerá a conclusão que vislumbra responder as questões-problema e a realização de aprimoramento no que tange o gerenciamento de projetos. 1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Este trabalho está estruturado em 5 capítulos distribuídos da seguinte maneira:

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 Capítulo 1 - Apresenta a introdução com as considerações iniciais, a descrição da situação problema da pesquisa, os objetivos (geral e específicos), as questões- problema, a relevância do estudo, delimitações do estudo, estrutura metodológica e, por fim, a estrutura metodológica.  Capítulo 2 - Oferece a fundamentação teórica do tema abordado neste trabalho com os conceitos, definições e características sobre megaprojetos, megaeventos e gerenciamento de stakeholders. Neste capítulo será possível produzir uma discussão mais sólida sobre os assuntos mencionados. Expõe a revisão da literatura e análise dos textos com base na bibliografia publicada em periódicos de âmbito nacional indexados na base SciELO e em periódicos de contexto internacional nas bases Scopus, ISI Web of Science, com a finalidade produzir uma discussão mais sólida sobre os assuntos mencionados.  Capítulo 3 – Descreve a metodologia proposta para a vertente empírica, com embasamento na revisão da literatura técnico cientifica. Neste sentido, para uma análise sobre a problemática desta pesquisa, se utiliza uma abordagem quantitativa para a coleta de dados. No entanto, vale destacar que a análise dos dados primários é embasada por uma análise de conteúdo e estatística descritiva.  Capítulo 4 – Apresenta as etapas da pesquisa de campo e, posteriormente, a análise e discussão de resultados. Este capítulo confronta o levantamento bibliográfico realizado com a pesquisa em campo, identificando similaridades e divergências no que se refere as práticas de gerenciamento de stakeholders.  Capítulo 5 – Conclusões da pesquisa sobre as questões aventadas e sugestões de estudos futuros.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo apresenta os principais fundamentos teóricos que embasam o desenvolvimento do presente estudo e que sustentarão o entendimento sobre os resultados obtidos através desta pesquisa. Neste sentido, o capítulo apresenta quatro seções: levantamento bibliográfico, megaprojetos, mega eventos, gerenciamento de stakeholders. Além de apresentar tais temas, buscar-se-á identificar e estabelecer sinergia entre eles.

2.1 PESQUISA BIBLIOMÉTRICA

O levantamento bibliométrico, conforme Silva & Costa (p. 108, 2015), “compreende o estudo relativo às técnicas e métodos para o desenvolvimento de métricas para documentos e informações, visando associar estatísticas à pesquisa bibliográfica”. Neste sentido, o levantamento bibliométrico torna-se um instrumento relevante para a estruturação sólida do referencial teórico. Para a pesquisa bibliométrica, realizada no recorte temporal de julho a setembro de 2016, foram selecionadas três bases de dados: Scopus (Elsevier); Scielo (Scientific Electronic Library Online) e ISI Web of Science (Thomson Reuters Scientific). A escolha por essas bases de dados deve-se pela multidisciplinaridade e disponibilidade de conteúdo que possuem, sendo importantes fontes de referenciais técnico-científicos. O tema stakeholders possui uma ampla aplicabilidade na literatura especializada, perpassando variadas áreas do conhecimento, desde a medicina até a engenharia. Logo, para os devido fins da pesquisa, o assunto stakeholders será abordado através de uma amostragem que se relacione com a macro temática: megaprojetos. Portanto, a elaboração de um núcleo básico de artigos referentes a uma amostragem será construída através do método webibliomining. Segundo Costa (2010), este método consiste em uma garimpagem de texto na rede web com a finalidade de se organizar um referencial bibliográfico inicial acerca de um determinado tema. O método webibliomining, conforme Costa (2010), apresenta seis etapas: (1) Definição da amostra da pesquisa; (2) Pesquisa na amostra, com as palavras-chave; (3) Identificação dos periódicos com o maior número de artigos sobre tema; (4) Identificação dos autores com o maior número de publicações; (5) Levantamento da cronologia da

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produção, identificando os períodos de maior número produção; (6) Seleção dos artigos para a composição do núcleo de partida. Sendo assim, a sistematização das etapas referentes ao webibliomining inicia-se com a definição das palavras associadas às temáticas megaprojetos e stakeholders, inserindo a utilização de operadores booleanos: OR e AND, não sendo incorporado o operador NOT. Cabe ressaltar que esta pesquisa ficará restrita aos artigos provenientes de periódicos peer reviewd que abranjam os idiomas português e inglês. Logo, o Quadro 01 apresenta a seguinte estruturação com base nos temas da pesquisa:

Quadro 01 - Estruturação das Diretrizes Iniciais da Pesquisa

Tema da pesquisa Operadores booleanos Palavras associadas à Mega eventos Stakeholders OR stakeholders Mega events Stakeholders AND

Palavras associadas a Megaprojetos Mega projetos OR megaprojetos Megaprojects Mega projects Protocolo Inicial 1: ("mega eventos" OR "stakeholders") AND ("megaprojetos" OR "mega projetos") Protocolo Inicial 2: ("mega events" OR "stakeholders") AND ("megaprojects" OR "mega projects") Fonte: o autor (2016).

Através do protocolo inicial 1, não foram encontrados resultados na Base de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Em seguida, foi aplicado o protocolo inicial 2, que gerou um resultado com 45 artigos, representando o banco de artigos bruto (BAB), conforme Vilela (2012). Todavia, fez-se necessário verificar a existência de possíveis lacunas entre as palavras-chave e a temática proposta, a fim de analisar a maior quantidade possível de artigos que serviam para o embasamento desta pesquisa. Sendo assim, foi realizado um teste de aderência das palavras-chave que pertence ao método ProKnow-C. Segundo Vilela (2012), este teste consiste em selecionar dois artigos do BAB, cujos títulos estejam em adequação com o tema da pesquisa. Em seguida, analisou-se se as palavras-chave utilizadas pelos autores dos dois artigos possuíam aderência com as palavras-chave usadas para a construção do Banco de Artigos Bruto, com a intenção de verificar se havia um alinhamento entre as palavras ou se era necessário readequá-las. Seguindo com o teste de aderência das palavras-chave, para este foram selecionados os dois artigos que possuíam maior aproximação com cada uma das temáticas da pesquisa: megaprojetos, mega eventos e stakeholders, totalizando seis artigos.

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Vale ressaltar que o método ProKnow-C (Knowledge Development Process – Constructivist), oriundo da Universidade Federal de Santa Catarina, apresenta similaridade com o webibliomining. Conforme Ensslin et al. (2010), este método trata-se da sistematização do processo de busca e seleção de artigos sobre um determinado tema, aplicando o uso de técnicas de análise bibliométrica a fim de construir um portfólio bibliográfico que atenda aos objetivos da pesquisa. Neste sentido, após averiguar os arquivos selecionados, de acordo com Silva & Costa (2015), os resumos destes artigos foram destacados e processados no Wordle (www.wordle.net), gerando a seguinte nuvem de palavras:

Figura 12 - Nuvem das Palavras-Chave dos Artigos Pesquisados

Fonte: Wordle (2016).

Diante do teste de aderência das palavras-chave e do quadro 01, foi possível verificar a existência de lacunas no protocolo inicial 1 e 2, como por exemplo, não considerar a pluralidade de grafia e de sinônimos da palavra “megaprojetos”. Por conseguinte, faz-se necessário readequar as diretrizes iniciais da pesquisa com base em Peng et al. (2012) e Freitas (2016), além de integrar a utilização de frases completas através de (“ ”) e de truncaturas (*) que permitem pesquisar várias palavras com o mesmo radical ou raiz, conforme ilustra o Quadro 02.

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Quadro 02 - Estruturação do Protocolo Final da Pesquisa Tema da Palavras-chave Operadores booleanos Pesquisa ("mega construction proj*" OR "mega proj*" OR "mega- Palavras associadas a Megaprojetos proj*" OR "megaproj*" OR "major proj*" OR "big proj*" megaprojetos OR "large scale proj*") AND Palavras associadas à ("mega-event*" OR "megaevent*" OR "mega event*" OR megaeventos "major sport* event*") Stakeholders OR Palavras associadas à stakeholders ("stakehold*") ("mega construction proj*" OR "mega proj*" OR "mega- proj*" OR "megaproj*" OR "major proj*" OR "big proj*" Protocolo OR "large scale proj*") AND ("mega-event*" OR Final: "megaevent*" OR "mega event*" OR "major sport* event*" OR "stakehold*") Fonte: o autor (2016).

O protocolo final foi aplicado às bases de dados, obtendo o seguinte resultado parcial: 89 artigos na ISI Web of Science (Thomson Reuters Scientific); 123 artigos na Scopus (Elsevier); e nenhum artigo na Scielo (Scientific Electronic Library Online), totalizando 212 documentos a serem analisados. Na Figura 13, apresenta-se o total de artigos encontrados em cada base e segmentados pela ocorrência de publicações em cada ano. Cabe ressaltar que um artigo pode ser disponibilizado, simultaneamente, nas duas bases analisadas.

Figura 13 – Distribuição das Publicações Encontradas nas Bases por Ano

Fonte: O autor (2016)

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É possível verificar através do gráfico do Quadro 06, a evolução da produção científica relativa ao tema. Vale destacar, que nesta análise, os artigos sobre o referido assunto iniciaram-se no ano de 1996, embora os anos de 1998 e 2000 não apresentem produção de conteúdo. Todavia, a partir do ano de 2008, os artigos com aderência ao tema começaram a possuir um crescimento considerável, tendo como ápice o ano de 2015. Conforme os métodos webibliomining e Proknow-C, foram selecionados somente artigos de periódicos em inglês ou português, não considerando outros tipos de documentos, como comunicações em eventos, dissertações ou teses. Do novo banco de artigos brutos, representados por um universo de 212 artigos, foram destacados: 20 artigos da ISI Web of Science (Thomson Reuters Scientific) e 13 artigos da Scopus (Elsevier). Para esta seleção, foram atendidos os seguintes critérios, segundo Martens et al. (2013) e Freitas (2016):

. Artigos completos – disponibilidades através do Periódicos CAPES e nos idiomas inglês e português; . Tema – aderência ou permeando as macro temáticas: megaprojetos e stakeholders; . Palavras-Chave – presença ou similaridade com “megaprojetos” e “mega eventos” e/ou “stakeholders”; . Abordagem do Artigo - discussão conceitual ligado ao tema, estudos de caso e práticas adotadas em megaprojetos;

A averiguação dos artigos selecionados ocorreu com base nos títulos e resumos, analisando também os artigos com maior relevância para a pesquisa, autores com maiores números de publicação e periódicos com destaque ou aderência ao tema. Entre os periódicos, vale realçar, os que obtiveram destaque: International Journal of Project Management com 7 artigos e o Project Management Journal com 3 artigos.

Quadro 03 – Total de Publicações Selecionadas por Periódicos

Periódico Qtd WebQualis Área de Avaliação CAPES ISSN Administração, Ciências International Journal Of Project A1 7 Contábeis e Turismo 0263-7863 Management A2 Engenharias III Project Management Journal 3 B1 Engenharias III 8756-9728 Planejamento Urbano e Regional Cities 2 A1 0264-2751 / Demografia Journal Of Management In 2 - - 0742-597X Engineering Administração, Ciências Journal Of Engineering And A1 1 Contábeis e Turismo 0923-4748 Technology Management - JET-M A1 Engenharias III

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Journal Of Environmental 1 A1 Engenharias I 0301-4797 Management Planejamento Urbano e Regional A1 Habitat International 1 / Demografia 0197-3975 A2 Engenharias I International Journal Of Urban And 1 A2 Interdisciplinar 1468-2427 Regional Research Administração, Ciências A2 Contábeis e Turismo

Energy Policy 1 A2 Engenharias III 0301-4215 A2 Interdisciplinar B1 Engenharias I Journal Of Civil Engineering And 1 B1 Engenharias I 1392-3730 Management Journal Of Construction Engineering 1 B1 Engenharias I 0733-9364 And Management Project Management Journal B1 Engenharias III 8756-9729 Project Management Journal B1 Engenharias III 8756-9730 Public Administration And Administração, Ciências 1 B1 0271-2075 Development Contábeis e Turismo Administração, Ciências International Journal Of Managing B2 1 Contábeis e Turismo 1753-8378 Projects In Business B4 Engenharias III Change Management 1 - - 2327-798X Construction Economics And 1 - - 2204-9029 Building Construction Innovation 1 - - 1471-4175 Corporate Social Responsibility And 1 - - 1535-3958 Environmental Management Eurasian Geography And Economics 1 - - 1538-7216 European Planning Studies 1 - - 0965-4313 Geoforum 1 - - 0016-7185 International Journal Of Energy 1 - - 2146-4553 Economics And Policy Journal Of Infrastructure Systems 1 - - 1076-0342 Political Studies Review 1 - - 1478-9302

Fonte: O autor (2016).

O Quadro 03 também exibe a classificação Qualis/CAPES (sucupira.capes.gov.br) que o periódico apresenta. Esta classificação, que passa por processo de atualização anualmente, ocorre de acordo com a área de avaliação na qual o periódico pode ser enquadrado. Vale destacar que o mesmo periódico, ao ser classificado em duas ou mais áreas distintas, pode receber diferentes avaliações, representando mais de um estrato indicativo de qualidade4: A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5, C. Neste sentido, foram selecionadas as áreas dos veículos que possuíam mais aderência com o tema desta pesquisa, vislumbrando

4 COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR. Classificação da produção intelectual. Disponível em: . Acesso em: 12 set. 2016.

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a submissão de artigos inspirados na pesquisa. Para averiguar a classificação desses periódicos junto a CAPES foi utilizado o ISSN de cada veículo, a fim de elaborar o Quadro 03. Após analisar os periódicos, foi construído o Quadro 04, englobando os 33 artigos selecionados e seguindo a referida classificação: autor, título, ano, número de citações e base. Destaca-se que os artigos estão distribuídos em ordem cronológica decrescente.

Quadro 04 – Revisão da Literatura na Base Web of Science e Scopus

N° Autor Título Ano Periódico Base Citações van Fenema, Paul Stability & reconstruction operations as mega International Web C.; Rietjens, projects: Drivers of temporary network 2016 Journal of Project 0 Of Sebastiaan; van effectiveness Management Science Baalen, Peter Spatial scale, time and process in mega- Web Clark, Julie; Kearns, events: The complexity of host community 2016 Cities 0 Of Ade; Cleland, Claire perspectives on neighbourhood change Science Projects, people, professions: Trajectories of Web Grabher, Gernot; learning through a mega-event (the London 2015 Geoforum 1 Of Thiel, Joachim 2012 case) Science The Rocky Road to Legacy: Lessons from the Project Web Molloy, Eamonn; 2010 FIFA World Cup South Africa Stadium 2015 Management 1 Of Chetty, Trish Program Journal Science Major project managers' internal and International Web Mazur, Alicia K.; external stakeholder relationships: The 2015 Journal of Project 0 Of Pisarski, Anne development and validation of measurement Management Science scales Mok, Ka Yan; Shen, Stakeholder management studies in mega International Web Geoffrey Qiping; construction projects: A review and future 2015 Journal of Project 10 Of Yang, Jing directions Management Science Fahri, Johan; Biesenthal, Construction Web Understanding Megaproject Success beyond Christopher; 2015 Economics And 0 Of the Project Close-Out Stage Pollack, Julien; et Building Science al. Williams, Nigel L.; Project Web Online Stakeholder Interactions in the Early Ferdinand, Nicole; 2015 Management 0 Of Stage of a Megaproject Pasian, Beverly Journal Science Understanding the Determinants of Program Hu, Yi; Chan, Journal of Web Organization for Albert P. C.; Le, 2015 Management In 0 Of Construction Megaproject Success: Case Yun Engineering Science Study of the Shanghai Expo Construction Mazur, Alicia; Rating defence major project success: The International Web Pisarski, Anne; role of personal attributes 2014 Journal of Project 6 Of Chang, Artemis; et and stakeholder relationships Management Science al. Web Gezici, Ferhan; Er, What has been left after hosting the Formula 2014 Cities 0 Of Serra 1 Grand Prix in Istanbul? Science Van de Graaf, Thijs; Thinking big: Politics, progress, and security Web Sovacool, Benjamin in the management of Asian and European 2014 Energy Policy 9 Of K. energy megaprojects Science Project complexity and systems integration: International Web Davies, Andrew; Constructing the London 2012 Olympics and 2014 Journal of Project 12 Of Mackenzie, Ian Paralympics Games Management Science

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Chang, Artemis; Reconceptualising mega project success in International Web Chih, Ying-Yi; Australian Defence: Recognising the 2013 Journal of Project 11 Of Chew, Eng; et al. importance of value co-creation Management Science Web European Planning Priemus, Hugo Mega-projects: Dealing with Pitfalls 2010 12 Of Studies Science Journal of Civil Web Risk Performance Indexes dnd Measurement Kim, Seon-Gyoo 2010 Engineering And 11 Of Systems for Mega Construction Projects Management Science Beyond the 'iron Toor, Shamas-ur- International Web triangle': Stakeholder perception of key Rehman; Ogunlana, 2010 Journal of Project 73 Of performance indicators (KPIs) for large-scale Stephen O. Management Science public sector development projects Understanding the Value of Project Zhai, Li; Xin, Project Web Management From a Stakeholder's Yanfei; Cheng, 2009 Management 14 Of Perspective: Case Study of Mega- Chaosheng Journal Science Project Management Corporate Social Responsibility Web A Case Study of Shell at Sakhalin: Having a Ray, Subhasis 2008 And 10 Of Whale of a Time? Environmental Science Management Public Web Consensus' participation: an example for Administration Warner, M 1997 13 Of protected areas planning And Science Development Journal of Shokri, S., Ahn, Current status of interface management in Construction S., Lee, S., Haas, construction: Drivers and effects of 2016 1 Scopus Engineering And C.T., Haas, R.C.G. systematic interface management Management Hydropower megaprojects in Colombia and International Sierra, the influence of local communities: A view Journal of Energy R.G., Sarmiento, from prospect theory to decision making 2016 1 Scopus Economics And A.Z. process based on expert judgment used in Policy large organizations Martin, Nigel; Using offsets to mitigate environmental Journal of Evans, Megan; Rice, impacts of major projects: 2016 Environmental 0 Scopus John; et al. A stakeholder analysis Management Hu, Y., Chan, From Construction Megaproject Management Journal of A.P.C., Le, Y., Jin, to Complex Project Management: 2015 Management In 4 Scopus R.-Z. Bibliographic Analysis Engineering A new megaproject model and a new funding Habitat Bon, B. model. Travelling concepts and local 2015 1 Scopus International adaptations around the Delhi metro Reputation and mega-project management: Change Randeree, K. Lessons from host cities of the olympic 2014 0 Scopus Management games Eurasian After Sochi 2014: Costs and impacts of Müller, M. 2014 Geography and 8 Scopus Russias Olympic Games Economics Governing the games: High politics, risk and Political Studies Jennings, W. 2013 3 Scopus mega-events Review International Variations of the entrepreneurial city: Goals, Journal of Urban Doucet, B. roles and visions in rotterdam's kop van zuid 2013 6 Scopus And Regional and the glasgow harbour megaprojects Research Al Nahyan, Transportation infrastructure development in M.T., Sohal, Construction the UAE: Stakeholder perspectives on 2012 1 Scopus A.S., Fildes, Innovation management practice B.N., Hawas, Y.E.

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Lambert, Prioritizing Infrastructure Investments in J.H., Karvetski, Journal of Afghanistan with Multiagency Stakeholders C.W., Spencer, 2012 Infrastructure 19 Scopus and Deep Uncertainty of Emergent D.K., (...), Ditmer, Systems Conditions R.D., Linkov, I. Journal of Engineering and Stakeholders’ roles in virtual project Pokharel, S. 2011 Technology 6 Scopus environment: A case study Management - JET-M International Teo, Community-based protest against Journal of M.M.M., Loosemor construction projects: The social determinants 2010 6 Scopus Managing Projects e, M. of protest movement continuity In Business Fonte: O autor (2016).

Logo, através do levantamento bibliográfico realizado, será estruturado um embasamento teórico capaz de suportar as temáticas desta pesquisa e promover sinergia entre elas: megaprojetos, mega eventos e stakeholders em projetos.

2.2 MEGAPROJETOS

A demanda por megaprojetos, nos mais diversos segmentos, conforme Kardes et al. (2013), têm viabilizado uma gama de transformações no mundo: crescimento populacional, urbanização, desenvolvimento tecnológico, enriquecimento e infraestrutura capaz de viabilizar os confortos da vida moderna. Segundo He et al. (2015), embora seja uma temática atual, os estudos sobre projetos complexos ainda são muito restritos. De acordo com Kardes et al. (2013), o tema megaprojetos necessita de estudos específicos, pois este assunto é resultado da expansão das redes globais de negócios, envolvendo o aumento no número de colaboradores nesta área e a complexidade de gestão deste tipo de empreendimento. Conforme Peng et al. (2012), este tema, ainda, apresenta complexidade e singularidade únicas, possibilitando a existência de múltiplas compreensões. Para Flyvbjerg (2014), os projetos de grande escala, também denominados mega projetos de infraestrutura, possuem aplicação nos mais diversos setores: infraestrutura, água e energia, tecnologia da informação, plantas industriais, cadeias de suprimento, sistemas administrativos governamentais, reestruturação urbana, exploração espacial e grandes eventos. Conforme evidenciados pela literatura especializada de Flyvbjerg et al. (2016); Grabher e Thiel (2015); He et al. (2015); Molloy e Chetty (2015); Lopez del Puerto et al. (2014); Kardes et al. (2013), os megaprojetos estão ramificados por todos os continentes:

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Expo Shanghai 2010; Rodovia Durango-Mazatlán; Aeroporto Internacional de Pequim; Hidrelétrica Three Gorges Dam na China; Galileo, navegação via satélite na Europa; Copa do Mundo da FIFA 2010 na África do Sul; os Jogos Olímpicos de Londres em 2012, Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016 realizados no Brasil. Os megaprojetos, segundo Flyvbjerg (2014), têm sido o modelo preferido por empresas para a entrega de produtos referentes a bens e serviços. Dulcet (2013), vai além, afirma que os megaprojetos representam espaços urbanos nos quais estratégias empreendedoras foram implementadas, referindo-se a transformação que eles produzem ao local e à comunidade. Conforme Zhai et al. (2009), megaprojetos apresentam maior investimento, maior complexidade, diversidade de stakeholders e sofrem influências mais amplas em comparação a projetos simples. Quadro 05 – Comparação entre Projetos Simples e Complexos

Projeto de Dimensões de Projeto de Alta Projeto Independente Complexidade Megaprojetos Complexidade Complexidade Moderada 5-10 membros na >10 membros na Múltiplas equipes Tamanho 3-4 membros na equipe equipe equipe diversificadas Tempo <3 meses 3-6 meses 6-12 meses Vários anos Custo <$250 K $250k–$1 M >$1 M Milhões a Bilhões Cronograma/ Flexível Pequenas Variações Inflexível Agressivo Orçamento Contratos Direto Direto Complexo Alta Complexidade Compreensão Definido e não tão Definido, mas Indefinida e incertezas. do Problema e Definido e claro. Fácil claro. Parcialmente ambíguo. Não Indefinida e sem Oportunidade compreensão compreensível clarificada precedentes. de Solução Requerimentos Compreensível, Baixa compreensão, Compreensível, direto Incertezas, envolvimento de Riscos instável volátil Ampla, impactando no Implicações Grande, impacta no propósito de múltiplas Nenhuma Pequena Políticas propósito do projeto organizações, regiões e países Árdua e altamente Comunicação Direta Desafiadora Complexa complexa Múltiplos stakeholders Múltiplos grupos de Gestão de 2-3 grupos de heterogêneos: Direta stakeholders com Stakeholders stakeholders organizações, regiões, conflitos de interesse países, órgão regulatórios Unidade única de 2-3 unidades de Várias empresas com Múltiplas Organizações, Mudanças negócios. negócios. Processos. processos. Sistemas estados, países. Novo Organizacionais Empresa familiar. Sistemas de TI múltiplos de Ti transformador de riscos Sistema único de TI Inovação comercial e Desafios Sem desafios. Baixa Moderada prática Novo comércio e cultura nova cultura de Comerciais prática comercial comercial de práticas práticas Nível de Risco Baixo Moderado Alto Altamente elevado

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Sucesso do projeto depende em grande parte Metas principais Restrições Influência de alguns dos fatores externos: Sem influência externa dependem de fatores Externas fatores organizações externas, externos Estados, países, reguladores Grande esforço de Sem problemas de Pequeno esforço para Cuidado significativo Integração integração, porém, integração integração para integração desconhecido Imatura, complexa e Altamente complexa, Aprovada e Comprovada, mas fornecida por inovadora e sem Tecnonologia compreendida nova para organização colaboradores antecedentes na externos engenharia Múltiplos sistemas Complexidade Desenvolvimento Desenvolvimento Desenvolvimento complexos a se de Tecnologia aplicado, integrada e aplicado, integrada e aplicado, integrada e desenvolver e a serem da Informação entendida facilmente utilizada amplamente difícil compreensão integrados Fonte: Adaptado de Kardes et al. (2013) e Hass (2009).

Hu et al. (2015), Mazur et al. (2015), Chang et al, (2013), Zhai et al. (2009) ratificam as divergências entre os megaprojetos e projetos simples: (a) orçamento superior a 500 milhões de dólares; (b) grande grau de complexidade, incerteza, ambiguidade e interfaces dinâmicas; (c) envolvimento de tecnologia e períodos longos de execução; (d) elevada atração de interesse público e político; e/ou (e) definidos mais por efeitos do que por soluções. Peng et al. (2012) detalha as características dos megaprojetos que podem ser sistematizadas em dois grandes blocos, propriedades internas e externas, apresentando 21 indicadores. Quadro 06 – Sistema de Categorias das Características de Megaprojetos

Característica Categoria N° Indicadores específicos Descrição Principal 1 Número de objetivos Multi propósitos ou propósito único Objetivo 2 Nível dos objetivos Propósitos estratégicos ou táticos Ciclo de vida 3 Restrição de cronograma Duração do projeto número de investimento e tempo de retorno 4 Fundos do capital Orçamento, recursos 5 Restrição dos orçamentos e dos recursos restritos Custo de gerenciamento da informação e 6 Custo de gerenciamento da comunicação Propriedades 7 Recursos Humanos Investimento em recursos humanos Internas Custo e Requisito de 8 Ativos Fixos Investimento em ativos fixos Relacionamento prioritário Relacionamento prioritário restrito as Desempenho 9 restrito atividades específicas do projeto Escala e nível de 10 Grande ou pequeno, alto ou baixo performance Grau de mutação de Desempenho do projeto conduzido ao 11 desempenho propósito original ou não 12 Riscos Projeto tem risco alto ou baixo 13 Incertezas Incertezas causadas por diversos efeitos

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Número ou a relação com fornecedores e 14 Stakeholders outras partes interessadas Comunicação entre os setores da gestão do 15 Interação dos participantes Departamentos projeto e as partes interessadas envolvidos e 16 Escala do Projeto Escala do Projeto habilidades Multidisciplinaridade, qualidade do profissionais 17 Complexidade técnica investimento em tecnologia, etc A estrutura do projeto ou a complexidade 18 Complexidade das etapas de execução Impacto da economia e do ambiente social 19 Abertura do Projeto Interação entre no projeto Propriedades megaprojetos e o Impacto no ambiente Impacto dos megaprojetos na economia e Externas 20 ambienta externo externo no ambiente social 21 Implicações Políticas Impacto da política nos megaprojetos Fonte: Adaptado de Peng et al. (2012).

Segundo He et al. (2015), os megaprojetos de infraestrutura ou construção apresentam uma complexidade necessária que se manifesta através de seis áreas: (1) tecnologia (2) organização; (3) objetivo; (4) ambiente; (5) cultura; e (6) informação. Verifica-se que estas áreas estão em alinhamento com as características propostas por Peng et al. (2012). A alta tecnologia complexa (1), em empreendimentos de grande porte, está atrelada aos processos e operações no gerenciamento destes projetos, de forma a facilitar a utilização e desenvolvimento de conservação de energia, novos materiais, tecnologia limpa e promover maior interação entre os atores do projeto, conforme He et al. (2015); e Chang et al. (2013). A complexidade organizacional (2) compreende a equipe direta que executará o projeto, a estrutura organizacional com suas burocracias e os demais departamentos. O contexto organizacional é um fator relevante para a fluidez ou estagnação das operações do projeto de acordo Van Fenema et al. (2016) e He et al. (2015). A complexidade relativa ao objetivo (3) do projeto, segundo He et al. (2015) e Mazur et al. (2014) é normalmente causada pela grande quantidade de atividades, recursos limitados, vários requisitos e o envolvimento de vários participantes, o que pode dificultar o alinhamento e execução de variadas metas, oriundas dos objetivos do projeto. A complexidade ambiental (4) refere-se às forças externas que podem impactar os megaprojetos: natural, política, mercado e órgãos regulatórios, de acordo com He et al. (2015). Todavia, o ambiente também engloba a variedade e diversidade de stakeholders que participam ou são impactados com o projeto. (MAZUR et al., 2015). A complexidade cultural (5) está associada à pluralidade cultural dos indivíduos da equipe e da diversidade de perspectivas da mentalidade humana, que se manifesta como confiança na equipe, flexibilidade cognitiva, inteligência emocional e pensamento sistêmico.

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Além destes, a complexidade cultural pode ser segmentada em três níveis: cultura nacional e cultura industrial que dialogam com ambiente externo à organização e cultura organizacional que engloba o ambiente interno (HE et al. 2015; BROCKMANN E GIRMSCHEID, 2008). A complexidade informacional (6), segundo Williams et al. (2015) e He et al. (2015) está relacionada a capacidade de viabilizar uma comunicação eficaz entre o time gestor do megaprojeto e entre este time e os stakeholders, através de processos, sistemas de informações e ferramentas tecnológicas. A comunicação é um fator relevante, pois possibilita analisar as percepções das partes interessadas sobre o projeto. Neste sentido, é possível observar que o modelo tradicional de gerenciamento de projetos, evidenciado na literatura, que preconiza tempo, custos e qualidade técnica, não comporta todas as singularidades e complexidades dos grandes empreendimentos, conforme Fahri et al. (2015). Faz-se necessário analisar e gerenciar outros indicadores para a execução de megaprojetos: segurança, utilização eficiente dos recursos, satisfação dos stakeholders, gestão dos riscos e redução de conflitos e disputas, afirmam Toor e Ongulana (2010). Vale ressaltar, que Kardes et al. (2013) realça a importância de se analisar e gerenciar os aspectos sociais que podem ser compreendidos, segundo Zeng et al. (2015), como os impactos que permeiam as partes interessadas e o ambiente. O gerenciamento dos stakeholders torna-se um aspecto fundamental para as boas práticas de gestão de megaprojetos, implicando em ser um possível critério de sucesso em grandes empreendimentos, conforme Zhai et al. (2009). Os megaprojetos, de acordo come Mok et al. (2015) e Jia et al. (2011), apresentam três funções básicas para o desenvolvimento de uma sociedade: satisfazer necessidades humanas, sociais e econômicas; divulgar e elevar a imagem do país ou região; e fornecer infraestrutura para grandes eventos. Neste sentido, os megaeventos, também considerados megaprojetos, apresentam um ambiente multi-projeto, isto é, com vários projetos individuais que englobam: transporte, alojamento e infraestrutura desportiva, mídia e instalações médicas, sistemas de informação, comunicação e segurança, conforme Müller (2014) e Randeree (2014). Segundo Clark et al. (2016), no que diz respeito à escala, os Jogos Olímpicos podem ser considerados a maior representação do segmento de megaeventos. Sendo assim, os eventos de grande escala podem ser compreendidos como estruturas capazes de promover mudanças em uma região, impactando diferentes partes interessadas, afirma Randeree (2014). Logo, dentro deste contexto, é importante analisar como ocorre o gerenciamento de

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stakeholders em eventos de grande porte.

2.2.1 MEGAEVENTOS

O governo da África do Sul descreveu a Copa do Mundo da FIFA 2010 como um dos maiores projetos de investimento em infraestrutura realizados no país, com o propósito explícito de acelerar o crescimento e o desenvolvimento local, segundo Molly e Chetty (2015). Essa afirmação corrobora a similaridade dos megaeventos com os megaprojetos e os impactos que proporcionam. Neste sentido, hospedar um megaevento, de acordo com Horne & Whannel (2016), pode ser entendido como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois promovem impactos transformadores da população e do local. Segundo Flyvbejrg et al. (2016), Randeree (2016), Müller (2015), Molloy & Chetty (2015), Müller (2014), Gezici e Er (2014) e Jennings (2013), os megaeventos podem ser compreendidos como expos, cúpulas políticas, convenções, festivais, Jogos Olímpicos de Verão e Inverno, Copa do Mundo de Futebol, Rugby World Copa, Fórmula 1 e Super Bowl. A organização e planejamento de um megaevento, de acordo com Grabher e Thiel (2015), como os Jogos Olímpicos, envolvem várias organizações especializadas na execução que são encarregadas de assegurar os custos do megaprojeto, concluir as infraestruturas, negociar com várias partes interessadas e gerenciar o dia a dia do evento. Os megaeventos, embora sejam considerados megaprojetos, são implementados por um curto e específico período de tempo, separando-os de outras atividades turísticas e divergindo do próprio conceito de projetos complexos, conforme Gezici e Er (2014). Todavia, vale realçar, que a infraestrutura essencial capaz de viabilizar estes megaeventos necessitam de vários anos para serem construídas. Segundo Müller (2015), há quatro dimensões que devem ser consideradas a respeito de receber um megaevento em uma dada localidade: capacidade de atrair visitantes, alcance imediato, custo e impactos transformadores. Conforme Müller (2015), de um lado há a atratividade turística e o alcance imediato que os megaeventos proporcionam, do outro, há os custos de se sediar e viabilizar um megaevento que podem chegar a centenas de milhões, se não a bilhões de dólares. Segundo Randeree (2014), os altos custos dos eventos de grande porte estão relacionados à infraestrutura necessária para hospedar o evento, como transporte, telecomunicações,

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eletricidade e hospedagem, mas também, com os custos diretos de se organizar o próprio espetáculo, como os salários dos profissionais envolvidos, segurança ou arenas para realização das competições. Fourie e Gallego (2011) afirmam que os megaeventos podem produzir benefícios tangíveis: infraestrutura e retorno econômico, e benefícios intangíveis, difíceis de serem mensurados: orgulho nacional, patriotismo e visibilidade do local sede. Gezici e Er (2014) ainda afirmam que os eventos globais são construtores de imagem para as cidades que os recebem, podendo viabilizar a atração de investimentos internacionais para a própria localidade e aumento do turismo. Já Müller (2014), acrescenta que a divulgação da imagem é uma das principais consequências positivas para localidades emergentes, como China, Índia, África do Sul e Brasil. Cabe destacar, de acordo com a NBR ISO 20121:2012 (Sistemas de Gestão para a Sustentabilidade de Eventos - Requisitos com Orientações de Uso), cada vez mais os eventos de pequeno a grande porte devem ser pensados e estruturados de forma sustentável, a fim de viabilizarem um legado positivo após suas realizações. Conforme Oliveira (2016), a NBR ISO 20121:2012, além de mitigar os impactos potencialmente negativos, fornece orientações capazes de maximizar o engajamento dos processos de inclusão social e responsabilidade: social, ambiental, econômica, da ética e da transparência, por meio de um gerenciamento mais sustentável e efetivo. Neste sentido, além de se buscar construir eventos mais sustentáveis, segundo Randeree (2014), o gerenciamento de megaprojetos ou megaeventos deve possuir ações estratégicas capazes de construir uma boa reputação do evento para a comunidade local e para as outras partes interessadas. Logo, Müller (2015) destaca que o negligência de determinados requisitos sensíveis ao gerenciamento de megaevento, pode produzir consequências negativas:

Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de Megaeventos

Requisitos Descrição Consequência Promessas de benefícios Remanejamento de recursos Superestimar os efeitos positivos do evento potencializadas Perda de confiança com os cidadãos Remanejamento de recursos Lucratividade duvidosa Subestimação dos custos Orçamento real > orçamento planejado Baixa qualidade de construção Orçamento deficitário Necessidades do evento restringem-se as necessidades de infraestrutura Prioridades do evento tornam-se as Evento como prioridade Infraestrutura de grandes dimensões prioridades da localidade (possíveis "elefantes brancos") Infraestrutura inacabada

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Os fundos públicos são limitados ou sem Riscos tomados como Riscos públicos para benefícios privados benefícios públicos públicos Lucratividade duvidosa Deslocamentos Exceção a regra Suspensão do Estado de Direito regular Redução da supervisão pública Participação pública limitada Paisagem urbana irregularmente desigual Foco elitista Distribuição desigual dos recursos Gentrificação5 Evento determina as prioridades de financiamento Megaeventos tornam-se aparentemente Ignorando os processos do gerenciamento Evento como solução soluções rápidas para os desafios de regular planejamento local Desperdício de recursos no evento como alavanca para o desenvolvimento urbano Fonte: Adaptado de Müller (2015).

Jennings (2013) realça que os megaeventos podem ainda provocar déficits democráticos, excessos de custo e uma possível redistribuição dos recursos econômicos do setor público para as empresas privadas. Sendo assim, Jennings (2013) questiona sobre quem ganha e quem perde com organização de grandes eventos. Diante das possíveis consequências negativas, de acordo com Randeree (2014), o gerenciamento de megaeventos deve contemplar ações estratégicas participavas, isto é, propiciar um contexto capaz de estimular a participação e colaboração das várias partes interessadas. As partes interessadas, segundo Gezici e Er (2014), devem ser informadas dos riscos que os grandes eventos carregam e que estes podem ocorrer. Esta interação com os stakeholders é uma forma de legitimar o próprio evento e gerenciar as expectativas. Segundo Clark et al. (2016), o megaevento tem a capacidade de remodelar o espaço físico, reconfigurando as relações sociais e influenciado a forma como a população local e o lugar são compreendidos.

2.3 STAKEHOLDERS

A natureza complexa e incerta dos megaprojetos requer um gerenciamento eficaz dos stakeholders, a fim de suportar os múltiplos interesses das partes interessadas e evitar conflitos, de acordo com Mok et al. (2015). Todavia, antes de aprofundar uma análise sobre o assunto em questão, faz-se necessário entender o próprio conceito de stakeholder. Segundo Slinger (1999), a palavra stakeholder foi utilizada pela primeira vez, em

5 Segundo Lauriano (2015), um dos princípios da urbanização é promover o desenvolvimento de uma localidade. Todavia, este desenvolvimento pode produzir a valorização de um local, através de novos pontos comerciais ou novos edifícios, afetando negativamente a população de baixa renda local e favorecendo outras faixas de renda. Sendo assim, há uma estreita relação entre urbanizar e enobrecer. Gentrificar.

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1963, por Marion Doscher em um relatório de planejamento no Instituto de Pesquisa de Stanford (atualmente, SRI International). Na ocasião, o termo em debate foi usado com o intuito de fazer menção as pessoas envolvidas em todas relações de um negócio e possuía um embasamento oriundo da economia. Vale destacar, de acordo com Torres (2013), as palavras inglesas stake (interesse e participação) e holder (aquele que possui) ao serem aglutinadas formaram o sentido da palavra stakeholder: indivíduo ou grupo que possui interesse ou participação em um negócio. No entanto, desde 1963, o conceito sobre stakeholders tem sido contornado e reformulado, apresentando novas discussões e definições. Conforme ratifica Freeman (2010), na área da administração, o stakeholder de uma organização é qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pela realização dos objetivos da própria organização. Já na área de gerenciamento de projetos, de acordo com o PMBoK (PMI, 2013) e Mazur e Pisarski (2015), o conceito de stakeholder refere-se a um indivíduo, grupo ou organização que pode afetar, ser afetado, ou sentir-se afetado por uma decisão, atividade, ou resultado de um projeto ou megaprojeto. Logo, os stakeholders podem ser: fornecedores, clientes, funcionários, investidores, sociedade e governo. Neste sentido, segundo Mazur e Pisarski (2015), os stakeholders podem ser classificados como internos ou externos a organização que executa o megaprojeto. Internos são os indivíduos ou grupos pertencentes as organizações responsáveis pelo projeto. Já os externos podem ser compreendidos como a comunidade local e outros atores que possuem interesse ou são impactados com o megaprojeto. As partes interessadas também podem ser categorizadas quanto a participação que possuem no megaprojeto: stakeholders organizacionais, compreendem os executivos, líderes de linha, funcionários e sindicatos; stakeholders de produto, englobam os clientes, fornecedores, governos e público em geral; e os stakeholders de mercado de capitais que podem ser acionistas, investidores, credores e bancos. (MAZUR e PISARSKI, 2015), Por último, as partes interessadas podem apresentar uma terceira classificação: primários ou secundários. De acordo com Mazur e Pisarski (2015), Al Nahyan et al. (2012) e Winch (2004), no que se refere aos stakeholders primários, estes podem ser qualquer indivíduo contratualmente envolvido com o projeto, como por exemplo os financiadores, engenheiros, fornecedores, patrocinadores e clientes diretos. Já a classificação secundária compreende as partes interessadas que são envolvidas indiretamente pelo megaprojeto e não possuem alguma formalização através de contrato, tais como moradores e empreendimentos

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locais, além de agências reguladoras. Vale ressaltar que os indivíduos, tanto das partes interessadas assim como das organizações, estão inseridos em um contexto mais amplo e podem ter relações tanto com a própria organização do projeto quanto entre si. Este contexto resulta em um cenário complexo de concorrência de interesses e que, simultaneamente, exige cooperação os stakeholders, de acordo com Williams et al. (2015). Para Al Nahyan et al. (2012), as partes interessadas possuem múltiplos interesses e múltiplos papéis. Todos estão agrupados em um grande grupo pertencente ao megaprojeto, apresentando um macro interesse comum, no entanto, podem não compartilhar necessariamente de um objetivo comum. Sendo assim, conforme Al Nahyan et al. (2012), as múltiplas partes interessadas externas podem influenciar nas várias etapas de um projeto. Logo, o gerenciamento dos stakeholders deve ser iniciado ainda durante as fases de concepção e planejamento do megaprojeto, objetivando: a comunicação eficaz, a partilha de conhecimentos e tomada de decisões em conjunto com as partes interessadas. Assim, segundo Mazur e Pisarski (2015), a gestão das partes interessadas deve viabilizar a relação interpessoal entre os gestores do projeto e os stakeholders, estimulando o diálogo entre eles. O gerenciamento das partes interessadas é uma das áreas sensíveis da gestão de megaprojetos, pois pode mitigar os riscos do projeto e promover a multiplicidade dos benefícios relacionados aos próprios stakeholders, segundo Mazur e Pisarski (2015). O gerenciamento dos stakeholders deve alinhar variados valores, visões e objetivos específicos do megaprojetos com as diferentes posições das partes interessadas, contemplando estratégias distintas e específicas, podendo produzir resultados diferentes Doucet (2013). Segundo Mazur e Pisarski (2015), o gerenciamento dos stakeholders diz respeito a um processo que envolve uma série de etapas: identificar as partes interessadas; definir um modelo de gestão capaz de promover interação com as partes interessadas e categorizá-las para definição de estratégias; envolver-se e criar engajamento com os stakeholders; e manter a relação para viabilidade do projeto. Já para Mok et al. (2015), o gerenciamento das partes interessadas deve ser contemplado sob quatro prismas: (1) interesses e influências das partes interessadas; (2) gestão de partes interessadas durante o processo; (3) métodos de análise das partes interessadas; e (4) engajamento das partes interessadas. O engajamento das partes interessadas é uma maneira de salvaguardar o interesse público, conforme Mok et al. (2015). Sendo assim, embora as partes interessadas, muitas

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vezes, não tenham uma autoridade ou representatividade formal no projeto, os stakeholders podem gerar conflitos e criar resistências, afetando o desenvolvimento do projeto. Neste sentido, Ng et al. (2012) apresenta três elementos que podem estimular o engajamento das partes interessadas em megaprojetos: (a) identificar as entidades que possuem influência e os demais stakeholders; (b) definir as possíveis restrições e preocupações no que se refere ao processo de engajamento das partes interessadas; e (c) elaborar estratégias específicas de engajamento. A gestão ineficaz das partes interessadas pode apresentar as seguintes consequências: menor probabilidade de êxito no projeto; reduzir a satisfação dos stakeholders com os resultados do megaprojeto; impactar negativamente o projeto, inviabilizando a geração de benefícios; e criar obstáculos para a colaboração das partes interessadas junto à gestão, afirma Mazur e Pisarski (2015). Conforme Clark et al. (2016), o não envolvimento das partes interessadas no gerenciamento do megaprojeto pode ser considerado um fator de risco à execução do projeto, pois interfere na entrega de resultados, minimizando e suprimindo os benefícios que podem ser gerados. Logo, Mok et al. (2015) afirmam que se faz necessário desenvolver ferramentas de gestão capazes de promover a colaboração com os stakeholders, aprendizagem social, compartilhamento dos objetivos do projeto e das informações e proporcionar processos éticos, a fim de manter a equidade. Warner (1997) já afirmava que a participação da comunidade local é fundamental para a execução eficaz de projetos. Segundo ainda Warner (1997), o gerenciamentos dos stakeholders deve proporcionar a interação entre os indivíduos, baseando-se em duas premissas: (a) alcançar o consenso entre as partes interessadas para negociar e estabelecer um acordo com os executores do projeto; e (b) capacidade em estimular os heterogêneos stakeholders em contribuir efetivamente para os processos do projeto. Sendo assim, o próprio Warner (1997) sugere um modelo de gestão mais inclusivo e participativo, contemplando o envolvimento da população local e as influências políticas. Pokharel (2011) ainda corrobora que o desenvolvimento de um modelo de gerenciamento de stakeholders precisa alinhar os vários objetivos referentes as diferentes partes interessadas. Por conseguinte, a comunicação eficaz e a gestão de relacionamento podem ser consideradas estratégias-chave para alcançar o sucesso de um megaprojeto no que tange o gerenciamento de stakeholders, conforme Chang et al. (2013). Já para Zhai et al. (2009), os valores ou benefícios de um projeto de grande escala podem apresentar múltiplas dimensões,

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todavia, estas dimensões devem ser coordenadas pelas demandas distintas dos stakeholders heterogêneos que englobam o megaprojeto. Conforme Chang et al. (2013) e Zhai et al. (2009), os benefícios dos projetos de grande porte podem ter funções explícitas: as infraestruturas e eventos que proporcionam; e implícitas: a experimentação cognitiva e emocional que produzem. Contudo, estes benefícios explícitos e implícitos podem provocar percepções distintas nas partes interessadas de um projeto. Neste sentido, a aplicação ou não das práticas referentes ao gerenciamento de stakeholders internos e externos pode influenciar fortemente nos valores e benefícios percebidos, impactando no desenvolvimento do projeto de grande escala.

2.4 APRECIAÇÃO CRÍTICA DA LITERATURA E CORRELAÇÃO COM OS OBJETIVOS DA PESQUISA

O referencial teórico foi construído com o intuito de criar um suporte aos objetivos estabelecidos na pesquisa, a fim de compreender os conceitos, mapear as percepções e estabelecer sinergias entre os temas: megaprojetos, megaeventos e stakeholders. Conforme verificado através da literatura, os megaprojetos, segundo Flyvbjerg (2014), têm sido o modelo preferido por empresas para a entrega de produtos referentes a bens e serviços, promovendo transformações nas localidades nas quais são aplicados. Compreendidos também como projetos complexos, os megaprojetos, de acordo com Dulcet (2013), promovem uma nova significação dos espaços urbanos. Neste sentido, os megaeventos, como os Jogos Olímpicos Rio 2016, apresentam similaridades com os megaprojetos, pois viabilizam mudanças nas comunidades onde são realizados. De acordo com Horne & Whannel (2016), hospedar um evento de grande porte pode ser entendido como uma das mais relevantes iniciativas políticas da era moderna, pois promovem impactos transformadores na população e no local. Warner (1997) já afirmava que a participação da comunidade local é fundamental para a execução eficaz de projetos. A comunidade local pode ser percebida como um dos stakeholders de um megaprojeto. Sendo assim, segundo Mazur e Pisarski (2015), os stakeholders são indivíduos ou grupos que possuam alguma aderência, interesse ou aspecto de direito em um determinado projeto, podendo contribuir ou serem impactados pelos resultados do projeto. Logo, o gerenciamento de stakeholders é uma das áreas sensíveis da gestão de megaprojetos, pois pode mitigar os riscos do projeto e maximizar os benefícios relacionados

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às próprias partes interessadas, segundo Mazur e Pisarski (2015). Neste sentido, a revisão da literatura possibilita entender como o gerenciamento das partes interessadas é representado no estado da arte e como este estado pode ser retratado na realidade. Vale realçar que o gerenciamento de stakeholders envolve uma gama de elementos: social; cultural; ambiental; político; econômico, incluindo o turismo; esportivo; psicológico; físicos, como a infraestrutura local, rede hoteleira, estádios e renovação urbana; informação e conhecimento; e símbolos, memória e história, fundamentais a construção dos megaeventos, representando a complexidade e pluralidade da temática em questão.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

Este capítulo visa a oferecer o procedimento sistemático necessário para obter as soluções das questões-problema propostas nesta pesquisa, conforme Gray (2012). Sendo assim, a Figura 14, inspirada em Freitas (2016), ilustra de forma resumida as etapas da pesquisa no que se refere a vertente empírica. Cabe destacar que a Figura 14 é um desdobramento da Figura 11, na qual está representada toda a metodologia deste estudo. Figura 14 – Sumarização das Etapas da Pesquisa: Vertente Empírica

Fonte: Adaptado de Freitas (2016).

3.1 INCORPORAÇÃO DE DADOS SECUNDÁRIOS

A revisão da literatura, através do levantamento bibliométrico, foi realizada a fim de estruturar os conceitos, características, metodologias e práticas referentes ao gerenciamento de stakeholders em megaprojetos, especialmente, no segmento de megaeventos. Sendo

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assim, foram selecionados artigos, com base nos títulos e resumos, em português e inglês que possuíam aderência às temáticas propostas. Através da base de artigos, foram definidas e analisadas as práticas que contemplam o gerenciamento de stakeholders, sendo fundamentais para a elaboração dos roteiros das entrevistas futuras.

3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

De acordo com os conceitos estabelecidos por Oliveira et al. (2016), Prodanov e Freitas (2013), Gray (2012) e Ensslin et al. (2010), buscou-se uma metodologia capaz de viabilizar as respostas para as questões-problema da pesquisa. Sendo assim, é possível categorizar o método da seguinte maneira:

 Natureza do objetivo. o Pesquisa Explicativa: nesta pesquisa busca-se identificar quais são as práticas que contribuem para o gerenciamento de stakeholders em megaprojetos, em especial, megaeventos. o Pesquisa Descritiva: este estudo tem como finalidade uma análise sobre o gerenciamento de stakeholders, como este ocorre, quais são as características, quais impactos podem ocorrer, de forma a descrever este fenômeno.

 Lógica da pesquisa. o Processo dedutivo: este processo possibilita, conforme Gray (2012), elaborar um conjunto de princípios e ideias que podem ser testadas pela observação empírica ou experimentação.

 Abordagem do problema. o Pesquisa qualitativa: o estudo em questão baseada na análise e na descrição de dados, com a adoção de técnicas do gerenciamento de stakeholders em megaprojetos, na categoria de megaeventos, aplicadas à pesquisa em ciências sociais aplicadas.

 Coleta de dados.

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o Primários: levantamento de dados através de entrevistas presenciais realizadas entre os dias 18 de agosto e 26 de setembro, portanto durante a realização dos Jogos Rio 2016, para análise do fenômeno de estudo e proposição de relação entre as variáveis. Cabe destacar que foram feitos esforços para entrevistar presencialmente todos os estabelecimentos formais e informais do entorno da Lagoa Rodrigo de Freitas (45 empreendimentos entrevistados), bem como entrevistas com transeuntes, como moradores, turistas e praticantes habituais de esportes na região (22 transeuntes entrevistados). Cumpre-se destacar ainda que à época de realização dos Jogos, o clima psicológico da população do Rio de Janeiro foi, em grande medida, de acolhimento e alegria, apesar da insatisfação anterior proveniente das muitas intervenções de obras para mobilidade e transformação da cidade, sem falar na instabilidade institucional apresentada pelo país, em geral, e pelo Estado do RJ, em particular. Nesse sentido, reconhece-se a possibilidade de que a atmosfera positiva tenha, de alguma forma, incorporado algum grau de subjetividade nas respostas obtidas. Por outro lado, considerando-se a representatividade e quantidade de respondentes, tem-se presente que eventuais vieses estão atenuados. o Secundários: levantamento bibliográfico e análise de documentação técnica referente à temática.

 Métodos. o Observação aberta e participante: este instrumento possibilita uma maior interação in loco do pesquisador com o contexto social, buscando gerar dados através da observação e escuta de indivíduos. o Entrevistas semiestruturadas e questionários: foco em coletar dados primários que somente a observação aberta e participante não é capaz de gerar. o Análise de conteúdo: abordagem selecionada para realizar inferências sobre os dados obtidos através dos questionários e entrevistas realizados em campo. o Estatística descritiva: descrição das características das pesquisa, através de histogramas e outras tipos gráficos.

 Instrumentos. o Registros fotográficos: documentos visuais que retrataram o dia a dia do

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território na Lagoa Rodrigo de Freitas no período de realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e auxiliaram para a evidenciação do problema de pesquisa e estruturação do estudo. o Gravações das entrevistas: ferramenta necessária para que não haja perda de informação durante a própria entrevista. o Diário de bordo: registros diários sobre o desenvolvimento e acontecimento das atividades de pesquisa em campo durante a realização dos Jogos Rio 2016 (Diário completo encontra-se no apêndice 1). o Tablet e smartphone: o primeiro foi utilizado para a aplicação dos questionários das entrevistas, promovendo dinamismo e organização a pesquisa. O segundo foi usado para os registros fotográficos e gravação dos áudios das entrevistas presenciais. o Camisa pesquisador: foram confeccionadas 3 unidades de camisas com o logotipo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e a seguinte identificação: pesquisador. A camisa também foi pensada como uma maneira de aumentar o engajamento dos possíveis entrevistados em participar da pesquisa, além de identificar o próprio pesquisador.

 Resultado da pesquisa. o Pesquisa Aplicada: a referida pesquisa vislumbra contribuir com a adição de novos conhecimentos para a aplicação na prática e novos questionamentos a fim de fomentar novos estudos.

3.3 TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Segundo Flick (2013), na pesquisa social há três maneiras de se coletar de dados: fazendo perguntas às pessoas, observando-as ou estudando documentos. O próprio autor ainda ressalta a relevância de se combinar diferentes métodos de coleta de dados, a fim de construir um embasamento sólido. Sendo assim, neste estudo, buscou-se utilizar mais de um instrumento para a coleta de dados. Para facilitar a compreensão das fases da pesquisa, foi elaborado um modelo dos procedimentos metodológicos, conforme ilustra 15:

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Figura 15 – Procedimentos Metodológicos da Coleta de Dados Primários

Fonte: Adaptado de Araujo e Altro (2014).

A Figura 15 representa o detalhamento das etapas 3 e 4 da Figura 14, estabelecendo a metodologia utilizada na coleta de dados primários. Primeiramente, ocorre o levantamento de dados secundários oriundos da revisão da literatura e que embasam a construção dos roteiros (apêndices 2 e 3) para as entrevistas. Vale ressaltar que esta etapa está contemplada e detalhada no capítulo 2 deste estudo, no qual se pode compreender conceitos, características e fenômenos que embasam a temática: gerenciamento de stakeholders em megaprojetos. Após esta etapa, são realizadas as coletas de dados referentes as fontes primárias. Esta fase compreende as seguintes ações: elaboração do roteiro da pesquisa, aplicação do roteiro em uma pré-testagem, entrevistas na Lagoa Rodrigo de Freitas, análise da coleta de dados e, por fim, identificação dos fatores críticos no que se refere a gestão de stakeholders em megaeventos. Sendo assim, os questionários são aplicados à indivíduos que compõe a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas ou as partes interessadas desta localidade.

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A terceira e última etapa retrata a consolidação do estudo, resultando em reunir os achados da pesquisa através do registro documental e elaboração das lições aprendidas. Vale destacar que o procedimento global da pesquisa que envolve as três etapas tem como finalidade promover conclusões teóricas e empíricas.

3.3.1 ENTREVISTAS

Uma entrevista, de acordo com Gray (2012), é uma conversa, organizada e com uma metodologia entre pessoas na qual uma cumpre o papel de pesquisador. Conforme ainda este mesmo autor, as pesquisas podem apresentar cinco abordagens: estruturadas, semiestruturadas, não diretivas, direcionadas e entrevistas com conversas formais. Neste sentido, a entrevista semiestruturada é utilizada para o levantamento dos dados primários, pois se julga ser a mais eficaz no contexto desta pesquisa. As entrevistas semiestruturadas, segundo Flick (2013), são métodos que apresentam um guia de perguntas que cobrem um escopo, e os entrevistadores podem se desviar da sequência de perguntas. As entrevistas semiestruturadas são usadas para coletar dados para análise qualitativa, de acordo com Gray (2012). As pesquisas semiestruturadas podem ser compreendidas como o cerne na obtenção de dados primários deste estudo. Todavia, vale destacar que outros métodos também foram utilizados, como a observação aberta participante. Sendo assim, cabe realçar que, anterior a execução da pré-testagem e da aplicação dos questionários, ocorreu uma observação do campo, Lagoa Rodrigo de Freitas, no intuito de promover o levantamento de algumas evidências empíricas. Nesta etapa anterior à realização ampliada da pesquisa, foi possível estabelecer: conversas informais com transeuntes e estabelecimentos, envidar registros fotográficos e desenvolver reconhecimento pormenorizado do território da Lagoa, suas nuances, e o seu entorno. Consequentemente, neste primeiro contato, foi possível compreender a necessidade de fragmentar o território da Lagoa em zonas menores e perceber que alguns indivíduos ficavam desconfortáveis em comentar sobre os efeitos provenientes dos Jogos Rio 2016 no seu cotidiano. O reconhecimento do espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas e os registros fotográficos realizados auxiliaram na confecção dos roteiros. Logo, foram elaborados dois roteiros cujas perguntas possuem como base o Quadro 08:

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Quadro 08 – Categorias vs. Práticas de Gestão de Stakeholders

Categorias Autores Práticas Mapeamento do perfil social da população local Divisão da população de acordo com o perfil social Elaboração de ações com base no perfil e demandas sociais Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações sociais integradas Comunicação com os stakeholders locais é feita estritamente através da gestão social Ações e projetos são desenvolvidos o mais próximo possível ao público alvo Gou et al. (2014); Jia Participação em reuniões e conselhos comunitários et al. (2011); Jordhus- lier (2015); Kytle e Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e Ruggie (2015); Liu et lideranças comunitárias Partes Interessadas al. (2016); Mok et al. As obras em locais críticos, sob a perspectiva de instabilidade (2015); Sami (2013); social e violência, são acompanhadas pelo mediador da Shi et al. (2015); Teo comunidade e Loosemore (2010); Canal de comunicação direta entre a comunidade e a organização Promoção de acesso à cultura, lazer e entretenimento Diálogo com entidades públicas Medidas assecuratórias Comunicação de obra com todos os impactos causados pela implementação do megaprojeto de acordo com a área afetada Comitê de gestão de crise Mobilização social antes da operacionalização da obra Gou et al. (2014); Kytle e Ruggie (2005); Liu et al. Medidas para permitir a operacionalização de empresas e Econômica (2016); Shi et al. comércios no site do projeto (2015); Teo e Loosemore (2010); Fonte: Adaptado de Freitas (2016).

O Quadro 08 contempla as práticas de gerenciamentos de stakeholders que envolvam os stakeholders. Este Quadro é uma adaptação da pesquisa de Freitas (2016), na qual o referido autor realizou um levantamento, confrontando as prática encontradas na literatura científica com as práticas encontradas no estudo de caso. Com o suporte do Quadro 08, o primeiro roteiro proposto foi com foco nos transeuntes da Lagoa Rodrigo de Freitas, constituído por 20 perguntas abertas e fechadas segmentadas em 3 seções. O segundo roteiro já focaliza nos empreendimentos formais e informais ou associações também localizados na Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo constituído por 28 perguntas abertas e fechadas segmentadas em 3 seções. Ambos roteiros propostos, que estão disponibilizados nos apêndices 2 e 3 deste estudo,

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possuem 3 seções de perguntas nesta ordem que representam: identificação social; práticas de gerenciamento de stakeholders aplicadas ao dia a dia do respondente; e percepção de satisfação com a realização do megaevento. Todas as seções possuíam perguntas abertas e fechadas. Cabe realçar que o território da Lagoa Rodrigo de Freitas foi fragmentado em 7 áreas: Fonte da Saudade, Curva do Calombo, Corte do Cantagalo, Lado de Ipanema, Lado do Leblon, Lado do Jardim Botânico e Lado Jardim Botânico/Parque dos Patins, a fim de contemplar a totalidade do espaço. A Figura 16 ilustra as microrregiões:

Figura 16 – Fragmentação da Lagoa Rodrigo de Freitas em Microrregiões

Fonte: Adaptado do Google Maps (2016).

Vale destacar, conforme evidenciado na literatura através de Mazur e Pisarski (2015), Al Nahyan et al. (2012) e Winch (2004), que os roteiros elaborados tem como foco os indivíduos ou empreendimentos que estejam na qualidade de stakeholder:

 Stakeholders externos – englobam as partes interessadas que não compõem as

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organizações executoras do megaevento Rio 2016;  Stakeholders de produto – envolvem os clientes, fornecedores, governos e público em geral;  Stakeholders primários ou secundários – os impactados direta e indiretamente pelo megaevento.

Após a elaboração dos roteiros de pesquisa, estes foram avaliados e validados junto ao orientador. Posteriormente, foi submetido a avaliação de um pesquisador com a titulação de mestre e com conhecimentos específicos na área. Sendo assim, foram realizadas as alterações necessárias ou incorporação de novas perguntas. Em seguida, o instrumento foi submetido a uma pré-testagem com dois estabelecimentos e com dois transeuntes, a fim de verificar a consistência e a validação do referido instrumento. A pré-testagem tem a finalidade de averiguar os níveis de compreensão e entendimento das perguntas, disposição da ordem das perguntas e formas de abordar o entrevistado para assim, mapear oportunidade de melhorias, conforme Flick (2013), Gray (2012) e Bardin et al. (2000). Neste sentido, a pré-testagem ocorreu no dia 17 de agosto de 2016 e foi realizada em duas microrregiões da Lagoa Rodrigo de Freitas: Lado Jardim Botânico e Parque dos Patins, sendo direcionadas a dois estabelecimentos - Caipirinha & Filé e Quiosque do Índio – e a dois transeuntes. Através da pré-testagem foi possível avaliar que os roteiros das entrevistas foram construídos de maneira equivocada, pois os entrevistados ficavam ansiosos em comentar sobre o que achavam da Olimpíada e não em responder as perguntas do roteiro. Sendo assim, foi coerente realizar algumas modificações:  Perguntas abertas: passaram a iniciar o questionário após a seção de identificação social. Assim, o entrevistado realizava um grande brainstorming 6 , possibilitando uma aproximação e uma empatia entre o pesquisador e o entrevistado.  Escala Likert: inicialmente, a escala apresentava a seguinte medição: 0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, na qual 0 era um indicador negativo ou menos favorável e 10 positivo ou mais favorável. Todavia, esta escala gerou confusão aos entrevistados. Sendo assim, fez-se necessário minimizar a escala (de 0 a 5), tornando-a mais simplificada: (1) discordo totalmente; (2) discordo; (3) não

6 Segundo Gary (2012) e Jarvis (1995), o brainstorming é uma técnica para gerar e refinar ideias, priorizando que a quantidade de ideias produzidas é mais importante do que a qualidade. Vale realçar que não há ideias certas ou erradas e sim as que possuem mais aderência ou não ao propósito que se deseja.

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discord/concordo; (4) concordo; e (5) concordo totalmente.  Vocabulário: foi necessário realizar adequação, pois o vocabulário apresentado estava técnico, o que ocasionava um distanciamento do entrevistado ou a não compreensão da pergunta, uma vez que a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas apresenta um diversificado nível de escolaridade.  Abordagem ao entrevistado: a própria abordagem estava técnica, ocasionando distanciamento do entrevistado ou até mesmo provocar uma percepção de superioridade do pesquisador. Neste sentido, foi adotada uma postura menos técnica, com uma linguagem mais simples e objetiva.

3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS

Devido aos múltiplos métodos utilizados nesta pesquisa, foi adotada uma fundamentação lógica que consiste, neste caso, o estudo de caso, entrevistas e pesquisas de levantamento, atrelados às perspectivas do pesquisador. Esta fundamentação é denominada triangulação, conforme Yin (2015) e Gray (2012). Sendo assim, o tratamento dos dados brutos obtidos através das entrevistas foram sistematizados, a fim de gerar um conteúdo e informações relevantes à pesquisa. Todavia, isto não é suficiente. Logo, foi utilizada umas das abordagens mais comuns à análise de dados qualitativos, de acordo com Gray (2012): a análise de conteúdo. A análise de conteúdo é “um método empírico para a descrição sistemática e intersubjetivamente transparentes das características substanciais e formais das mensagens” (Früh, 1991, p.25). A análise de conteúdo é pode ser considerada uma das abordagens dedutivas de análise qualitativa. (GRAY, 2012). Segundo Berg (2006), a análise de conteúdo também funciona como testagem de hipótese e sugere três fases: (1) elabore uma hipótese bruta com base em observação dos dados; (2) pesquise os dados para encontrar casos que não se alinhem à hipótese; e (3) se forem encontrados casos negativos, reformule a hipótese. Já para Bardin et al. (2000), a análise de conteúdo possui quatro etapas: a codificação, categorização, interpretação e inferência. Além da análise de conteúdo, também foi usado o método de estatística descritiva para discussão dos resultados. Segundo Gray (2012), este método consiste em descrever as características básicas de um estudo, utilizando uma análise gráfica. O referido autor ainda ressalta que este método pode favorecer a uma comunicação eficaz dos dados, através de um

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formato gráfico prontamente acessível. A análise estatística dos dados se faz necessária como estratégia para melhor estruturar as informações relevantes à pesquisa. Neste sentido, Flick (2013) e Kromrey (2006) corroboram sobre a importância da análise quantitativa: “é um procedimento estritamente orientado para o objetivo, que visa à ‘objetividade’ dos seus resultados por meio de uma padronização de todos os passos na medida do possível, e que postule uma verificação intersubjetiva como a norma central para a garantia da qualidade.”

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Em relação ao levantamento bibliométrico, pode ocorrer a omissão de alguma palavra- chave importante ou a inserção de algum conectivo de forma equivocada. Sendo assim, alguns artigos podem não ter sido localizados, logo, não passando por uma análise que permitisse a seleção desses artigos. Vale ressaltar, também, que uma busca mais ampla em outras bases de dados poderia sugerir periódicos diferenciados capazes de promover uma abordagem distinta ao estudo. Outras limitações deste trabalho podem estar enraizadas nas percepções do pesquisador. Embora haja uma metodologia sólida que suporte esta pesquisa, em algumas etapas do processo metodológico, a subjetividade do pesquisador se faz presente, como na seleção de artigos, de acordo com Paiva Júnior et al., (2011). Neste contexto, a subjetividade é representada como uma atividade interpretativa necessária à pesquisa. Por fim, ainda no que tange o universo deste estudo e devido ao fato de a pesquisa ter sido realizada durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 – evento que observou forte apelo emocional (para o bem e para o mal) de grande parte da população do Rio de Janeiro, esta pesquisa contemplou, durante as entrevistas, momentos em que os entrevistados se exaltaram de forma negativa e também considerou a memória destes entrevistados. Sendo assim, podendo haver perda de informações ou exagero no conteúdo externado.

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4. ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Neste capítulo, são analisados e discutidos os resultados obtidos através das entrevistas realizadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, a fim de embasar a parte empírica deste estudo. As entrevistas foram segmentadas em dois tipos de roteiro: transeuntes e empreendimentos (apêndices 2 e 3). Tal divisão se fez necessária para buscar especificidade sobre as informações relevantes à investigação, além de preconizar uma interação e colaboração eficaz com os entrevistados. Neste sentido, foram realizadas 71 entrevistas, sendo divididas: 24 questionários de transeuntes, contemplando 02 questionários na pré- testagem e 22 questionários aplicados no período dos Jogos Olímpicos; e 47 questionários de empreendimentos, englobando 02 questionários de pré-testagem e 45 aplicados. Neste sentido, a fim de analisar os dados levantados, este capítulo está estruturado em quatro seções: (1) análise e discussões das percepções dos transeuntes; (2) análise e discussões das percepções dos representantes dos empreendimentos; (3) análise comparativa entre transeuntes e empreendimentos; (4) confrontação dos resultados com a revisão da literatura e conclusões.

4.1 ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS TRANSEUNTES

4.1.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS TRANSEUNTES

A primeira amostra contempla os transeuntes, representando 22 questionários respondidos. As entrevistas foram aplicadas ao longo de todo o território da Lagoa Rodrigo de Freitas entre os dias 19 a 22 de agosto do corrente ano, portanto durante a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Em termos de categorização dos respondentes, houve uma distribuição quanto ao gênero, sendo 09 mulheres e 13 homens. Conforme a Figura 17, é possível verificar a distribuição do gênero em relação ao nível de escolaridade.

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Figura 17 – Distribuição de Nível de Escolaridade em Relação ao Gênero

A Figura 17 ilustra que mais de setenta e sete por cento dos entrevistados possuem no mínimo ensino superior, podendo ainda apresentar especialização stricto ou lato sensu. Neste sentido, foi analisado também a relação entre o entrevistado e a localidade, podendo ser: transeunte, morador ou trabalha pela região. A Figura 18 retrata esta divisão:

Figura 18 – Distribuição dos Entrevistados pela Relação que Apresentam com a Lagoa Rodrigo de Freitas

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Quase metade dos entrevistados estavam de passagem pela Lagoa Rodrigo de Freitas, seja praticando esporte, somente transitando ou desfrutando da localidade como ponto turístico/ equipamento público de lazer. Sendo assim, foi feita uma análise comparativa do nível de escolaridade do entrevistado com a localidade em que o respondente reside na cidade do Rio de Janeiro ou outro município, de acordo com o quadro o Quadro 09:

Quadro 09 – Escolaridade vs. Localidade em que o Entrevistados Residem

Escolaridade Entrevistado Bairro 1 Duque de Caxias Da 5a à 8a série do Ensino Fundamental (antigo ginásio) 2 Campo Grande

3 Ensino Médio (antigo 2o grau) 4 Jacarepaguá 5 Copacabana 6 São Gonçalo 7 Nova Iguaçu 8 Tijuca 9 10 Ensino Superior Tijuca 11 Tijuca 12 Lagoa 13 Ipanema 14 Copacabana 15 Ilha do Governador 16 Copacabana 17 Lagoa Especialização 18 Fonte da Saudade 19 Jardim Botânico 20 Humaitá 21 Humaitá Mestrado ou mais 22 Lagoa

Através do Quadro 09, é possível averiguar que os respondentes que possuem no mínimo ensino superior ou mais residem na parte nobre do Rio de Janeiro, a Zona Sul. Além disto, os bairros que contornam a Lagoa apresentam os residentes com maior nível de escolaridade. Logo, é possível observar que as pessoas que habitam estes bairros possuem mais condições de apresentar uma renda financeira elevada. Em contraposição, os indivíduos com menor nível de escolaridade residem em sua maioria na Zona Oeste, Zona

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Norte, ou Baixada Fluminense, reforçando a dicotomia econômica entre classes sociais que existe entre as Zonas Norte e Sul da cidade do Rio de Janeiro. Vale destacar, que os indivíduos residentes em Copacabana não se consideram como moradores da região da Lagoa Rodrigo de Freitas e que setenta e sete por cento dos entrevistados frequentam a lagoa há mais de 3 anos.

4.1.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS TRANSEUNTES SOBRE O MEGAEVENTO

Após a análise do perfil dos transeuntes respondentes, essa seção avalia a percepção do entrevistado em relação ao consequências do megaevento, no que se referem às práticas de gerenciamento de stakeholders e aos possíveis benefícios produzidos pela realização dos jogos olímpicos. Foi evidente que os jogos olímpicos modificaram o cotidiano da Lagoa Rodrigo de Freitas, conforme reiterado em conversa com um dos entrevistados, Sr. Daniel, morador do próprio bairro Lagoa Rodrigo de Freitas, na qual ele confirma que a localidade estava mais movimentada e com mais policiamento, no entanto, ficou apreensivo com o caos que a realização dos jogos poderia gerar como, por exemplo, o trânsito. Sendo assim, foi perguntado aos entrevistados se antes dos inícios das competições da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas, eles tiveram conhecimento sobre os possíveis impactos que ocorreriam no seu dia a dia, de acordo com a Figura 19:

Figura 19 – Conhecimento sobre os Possíveis Impactos Gerados na Lagoa Rodrigo de Freitas com a Realização dos Jogos Olímpicos

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Faz-se relevante observar que ocorreu uma distribuição igualitária de cinquenta por cento entre as resposta. Metade da amostra estava informada sobre as possíveis mudanças que ocorreriam na Lagoa em detrimento da realização das competições olímpicas, levando a crer que houve uma comunicação ineficaz dos eventuais contratempos que poderiam ser produzidos. Os respondentes que informam possuir ciência sobre os fatos, comentaram que os principais meios foram: jornal, internet, propagandas do governo e o boca a boca, ou seja, transferência de informação através do uso falado da língua portuguesa, no caso. Além disso, eles destacaram o assunto: tentativa de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, como o mais abordado pelas mídias citadas. Contudo, foi questionado aos entrevistados se eles sofreram algum impacto no seu cotidiano com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco de competições olímpicas, de acordo com o Quadro 10:

Quadro 10 – Principais Mudanças Positivas e Negativas no Cotidiano dos Entrevistados

Positivos Negativos Clima Festivo Trânsito Projeção da cidade e do país Cercamento Sensação de segurança Desvios na ciclovia Algumas áreas de lazer interditadas (parque de Movimentação Turística crianças, academia de idosos e quadras poliesportivas) Estacionamento do parque Despoluição da lagoa dos patins fechado Policiamento Impedimento de ir e vir Sensação de problemas suspensos, como a crise Despoluição da lagoa econômica e política no Brasil e no Estado do RJ Impedimento para trabalhar Fonte: autor (2016)

O Quadro 10 ilustra as palavras que foram mencionadas pelos entrevistados e apresentam aderência tanto com os impactos positivos como os negativos. Para isto, foi pensado em uma análise explicativa de conteúdo, que, segundo Flick (2013), busca promover o contexto estrito da palavra, definição etimológica de cada palavra no texto, com o contexto amplo, abordagem que extrai o sentido das palavras através de informações além do texto.

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Ainda sobre o Quadro 10, o ponto positivo mais comentado pela amostra, representando vinte e dois por dos entrevistados, foi a sensação de segurança na Lagoa Rodrigo de Freitas e o policiamento ostensivo. Contudo, a palavra “cercamento” foi o aspecto negativo que mais apareceu entre os questionários de transeuntes, representando um terço dos respondentes. Vale destacar que o cercamento também é um dos motivos da interdição de algumas zonas de lazer na Lagoa, pois provocou o isolamento destas áreas, em especial, na Fonte da Saudade, espaço conhecido como Baixo Bebê, e no Parque dos Patins. O tema “despoluição da lagoa” aparece, simultaneamente, tanto como característica positiva e negativa, podendo ser observado como: um benefício gerado para a realização dos jogos olímpicos ou falha de gestão do megaevento que não conseguiu entregar o que foi combinado. Destaca-se ainda que na amostra, a despoluição prevalece como um aspecto negativo, uma ação não realizada. Apesar do surgimento de impactos negativos que causaram mudanças ao dia a dia dos indivíduos que frequentam a Lagoa Rodrigo de Freitas e as adjacências, setenta e sete por cento dos respondentes informaram que o cotidiano continua normal ou foi modificado para melhor. Esta compreensão é possível devido algumas causas contempladas pelos respondentes: (a) os aspectos negativos existem, mas são temporários, além de necessários para a realização dos jogos; (b) os respondentes acreditavam que a organização da Olimpíada seria bem pior do que foi apresentado, sendo suportável as modificações temporárias; (c) a Copa do Mundo de 2014 já foi um ensaio para as transformações ocasionadas pelas Olímpiadas, logo, a população já dispunha de uma percepção prévia sobre as mudanças; e (d) a sensação da cidade do Rio de Janeiro estar segura, clima festivo e com turistas de todo o mundo, auxiliaram na superação dos aspectos negativos ou em uma sensação de que os problemas estavam suspensos por um período. Sendo assim, fez-se necessário avaliar qual a percepção da amostra sobre a organização dos Jogos Olímpicos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas. A Figura 20 apresenta a esta percepção:

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Figura 20 – Opinião sobre a Organização Eficaz da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas

É possível averiguar, conforme a Figura 20, que setenta e sete por cento da amostra considerou a organização do evento eficaz, apesar de existirem impactos negativos. Cabe ressaltar também que este resultado pode estar atrelado ao fato que os entrevistados esperavam um evento desorganizado, sendo assim, o mínimo de organização ocorrida pode ser julgado como um processo eficaz. Diante da satisfação dos respondentes com a organização do megaevento, foi questionado sobre o nível de felicidade que eles apresentavam no período de realização da Olimpíada, de acordo com a Figura 21: Figura 21 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco de Atividades da Olimpíada 2016

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Novamente é possível observar que setenta e sete por cento dos entrevistados estavam satisfeitos com a realização do evento. Este efeito pode ser percebido, em especial, pelo clima festivo proporcionado pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, conforme mencionou a respondente Patrícia Lacerda, moradora do bairro Humaitá: “Já estou com saudades das Olimpíadas, poderia ter todo ano”. Todavia, os entrevistados também foram questionados se a organização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco das atividades dos Jogos Rio 2016 produziram benefícios para eles, de acordo com a Figura 22.

Figura 22 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades da Rio 2016

Apesar dos respondentes acharem a organização do evento eficaz e estarem contentes com a realização do mesmo, sessenta e três por cento dos entrevistados discordam ou não conseguem perceber quais o benefícios gerados a partir da Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo utilizada como arena das competições da Olimpíada. O alto percentual de indivíduos contentes não acompanha a percepção do entrevistado em relação aos benefícios, podendo- se dizer que são quase inversamente proporcionais. Sendo assim, os critérios relacionados a uma boa execução da Olimpíada, podem não passar por uma análise de benefícios que devem ser produzidos pelo megaevento à comunidade local, segundo a percepção dos entrevistados. Neste sentido, alguns indivíduos da amostra apresentaram dificuldade em informar qual o legado que fica dos Jogos Olímpicos Rio 2016 para a Lagoa e para a cidade do Rio de Janeiro. Contudo, sessenta e

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oito por cento dos respondentes informaram que haverá um legado tangível: a infraestrutura – transporte, boulevard olímpicos e os parques olímpicos, e intangível: divulgação global da Lagoa Rodrigo de Freitas e da cidade do Rio de Janeiro. Ressalta-se sobre os sessenta e oito por cento dos respondentes que informaram que haverá legados dos jogos olímpicos, somente 03 indivíduos mencionaram que “a prática esportiva e o fomento ao esporte” ficará como legado tanto para a Lagoa como para a cidade. Através da pesquisa realizada com os transeuntes é possível verificar que os Jogos Olímpicos Rio 2016 despertaram compreensões e sentimentos distintos na comunidade local. As pessoas estavam felizes com a Olimpíada, mas não conseguiam observar benefícios produzidos pelo megaevento, conforme mencionou o Sr. Almir que trabalha pela região: é um evento para quem pode pagar e não para o povão. No entanto, o Sr. Eudes, morador do bairro Jardim Botânico, contrapõe: os jogos impulsionaram o turismo na cidade e deixou-a mais movimentada, todavia, há um preço que precisamos pagar para receber a Olimpíada.

4.2 ANÁLISE E DISCUSSÕES DAS PERCEPÇÕES DOS EMPREENDIMENTOS

4.2.1 ANÁLISE DO PERFIL DOS EMPREENDIMENTOS

A segunda amostra contempla as instituições e empreendimentos formais e informais, representando 45 questionários respondidos. As entrevistas foram aplicadas também em todo espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas entre os dias 19 de agosto a 19 de setembro de 2016, durante a realização dos Jogos Olímpicos. Cabe destacar que as entrevistas se estenderam além do período olímpico e até mesmo ultrapassando o período Paralímpico, pois muitos estabelecimentos fecharam e somente retornaram após a Paralimpíada ou com a finalização de todo o evento. Além deste contratempo, cabe informar que alguns estabelecimentos não retornaram o contato presencial, telefônico ou online estabelecido pelo pesquisador, inviabilizando a realização da entrevista. Neste sentido, em termos de categorização dos entrevistados referentes aos empreendimentos, houve uma distribuição dos entrevistados de acordo com a área em que estão localizados na Lagoa Rodrigo de Freitas. A Figura 23 ilustra esta distribuição

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Figura 23 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Localização na Lagoa Rodrigo de Freitas

Através da Figura 23, observa-se uma concentração de entrevistados no Corte do Cantagalo e, em seguida, no Parque dos Patins. Estas áreas são as que mais congregam estabelecimentos na Lagoa, logo, a ocorrência no maior número de entrevistas. Essas zonas podem ser consideradas como os principais pontos de lazer da Lagoa Rodrigo de Freitas. Vale mencionar que a iniciativa Lagoa Presente, programa do Governo do Estado com a Fecomércio RJ7 de policiamento militar ostensivo em toda a Lagoa Rodrigo de Freitas, tinha a sua base localizada no estacionamento do Parque dos Patins, no entanto, com o cercamento deste estacionamento, a base da iniciativa foi deslocada para o Corte do Cantagalo. Após a análise de localização dos empreendimentos, foi pesquisada a categoria dos estabelecimentos entrevistados, conforme a Figura 24:

7 BRUM, A.; DINIZ, P. Operação Segurança Presente. Disponível em: Acesso em: 01 out. 2016.

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Figura 24 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto por Categoria

Os Quiosques de Cocos são os mais recorrentes estabelecimentos encontrados e estão distribuídos por toda extensão da Lagoa Rodrigo de Freitas. Vale realçar que os vendedores de coco em sua grande maioria estão há mais de 15 anos atuando na localidade. Outro destaque são os restaurantes, dos 7 entrevistados, 4 estão localizados no Parque dos Patins e os outros 3 no Corte do Cantagalo, ratificando que estas zonas, além de oferecerem lazer, são consideradas áreas gastronômicas da Lagoa. Em seguida, buscou-se verificar o tempo de atuação dos negócios na Lagoa Rodrigo de Freitas em relação a formalização do próprio estabelecimento junto a prefeitura do município do Rio de Janeiro, conforme ilustrado na Figura 25:

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Figura 25 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto a Formalização e Tempo de Atuação na Lagoa Rodrigo de Freitas

De acordo com a Figura 25, mais de oitenta e cinco por cento dos empreendimentos estão há mais de cinco anos funcionando na Lagoa Rodrigo de Freitas. Vale realçar que grande parte dos oitenta e cinco por cento apresentam uma média de 22 anos de atuação na Lagoa, com destaque para: Pedalinhos Klein com 50 anos; Clube de Regatas Vasco da Gama com 66 anos; Botafogo de Remo, conhecida como Sacopã, com 76 anos; Clube de Regatas do Flamengo com mais de 80 anos; e a Colônia de Pescadores Z-13 com mais de 100 anos. Em relação a formalização dos estabelecimentos, somente 02 empreendimentos entrevistados eram informais, um carrinho de cachorro-quente e uma carrocinha de pipoca. Este baixo número de informais tem como causa o policiamento ostensivo que ocorreu durante a Olimpíada, inibindo a prática comercial de vendedores não formalizados que poderiam ter as mercadoria apreendidas. A última análise em relação ao perfil destes entrevistados compreende o porte do estabelecimento no que se refere a quantidade de funcionários que possui. Sendo assim, a Figura 26 representa o porte de cada empreendimento pesquisado:

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Figura 26 – Distribuição dos Empreendimentos Quanto ao Número de Funcionários

Pode-se depreender da Figura 26, uma grande concentração de negócios que possuem nenhum ou até 03 funcionários. Esta percepção corrobora que a grande maioria dos empreendimentos da Lagoa Rodrigo de Freitas, quiosques de coco e barraquinha de venda de alimentos, são de profissionais autônomos que adquiriram uma licença junto à Prefeitura para realizarem venda de seus produtos ou são negócios familiares com até 3 colaboradores, no quais trabalham esposa e esposo ou país e filhos. Em destaque, apresenta-se como empreendimentos de médio à grande porte com mais de 16 funcionários: os restaurantes Arab (Parque dos Patins) e Palaphita Kitch (Corte do Cantagalo); Clube de Regatas do Flamengo (Leblon) e Clube Botafogo de Remo (Curva do Calombo); Colônia de Pescadores Z-13 (Parque dos Patins); e iniciativa Lagoa Presente, representada pela PMERJ - Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (base temporária no Corte do Cantagalo).

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Através da pesquisa de perfil, é possível averiguar a heterogeneidade dos empreendimentos analisados, apresentando portes, serviços, tempo de atuação e localização distintos. Todavia, as consequências da Olimpíada também podem apresentar um caráter heterogêneo sobre os estabelecimentos.

4.2.2 ANÁLISE DA PERCEPÇÃO DOS EMPREENDIMENTOS SOBRE O MEGAEVENTO

Após a análise do perfil dos empreendimentos respondentes, evidenciando uma heterogeneidade entre estabelecimentos, essa seção avalia a percepção do responsável pelo estabelecimento em relação ao consequências dos jogos olímpicos, no que se refere as práticas de gerenciamento de stakeholders e aos possíveis benefícios produzidos pela realização do megaevento. A organização para os Jogos Olímpicos Rio 2016 promoveu várias mudanças no cotidiano da Lagoa Rodrigo de Freitas muito antes da realização das próprias competições, entre 05 de agosto a 18 de setembro. Conforme reitera o Sr. Marcelo, treinador do time de remo do Vasco da Gama, que as atividades do clube sofreram alterações desde o mês de junho de 2016, como o não funcionamento da escolinha de remo, pois não tinham permissão de utilizar o espelho d’água da Lagoa. Neste sentido, foram realizadas perguntas, abertas e fechadas, para avaliar qual a percepção dos entrevistados sobre a consequências do megaevento no cotidiano do estabelecimento, conforme a Figura 27:

Figura 27 – Percepção dos Entrevistados sobre as Consequências do Megaevento no Cotidiano do Negócio

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A Figura 27 ilustra o equilíbrio em relação às percepções positivas e negativas quanto ao megaevento. Vale salientar que dos 21 respondentes que afirmaram que os jogos olímpicos impactaram de forma positiva no cotidiano da Lagoa Rodrigo de Freitas, mais de setenta e cinco por cento estão localizados na Curva do Calombo e Corte do Cantagalo. Somente 01 respondente está localizado no Parque dos Patins. Dentre os principais aspectos mencionados como positivo pelos 21 respondentes estão: o policiamento, aumentos de pessoas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas e incremento nas vendas. Em relação as vendas, a Figura 28 retrata este cenário.

Figura 28 – Distribuição sobre o Aumento no Volume de Vendas do Empreendimento

As vendas não foram percebidas como o principal fator positivo, pois a maior parte dos estabelecimentos não obtiveram aumentos consideráveis. No entanto, segundo o gerente do Palaphita Kitch, Sr. Werneck, o movimento e as vendas aumentaram consideravelmente, sendo um dos melhores momentos desde a fundação do empreendimento, localizado no Corte do Cantagalo ao lado do estabelecimento temporário Baixo Suíça. Apesar de também ser mencionado como fator negativo por 1 respondente, o Baixo Suíça foi percebido como uma ação positiva. Também conhecida como Casa Suíça, este empreendimento atraiu milhares de pessoas, apresentando filas com tempo de espera de aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Dado o sucesso deste empreendimento, ele polarizou um aumento significativo de pessoas circulando pelo Corte do Cantagalo e usufruindo dos estabelecimentos próximos. O Sr. Roberto, garçom do estabelecimento Balkon, ratifica que

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os eventos promovidos pela Casa Suíça movimentaram o mês de agosto que costumava ser fraco, pois trouxeram turistas e gringos para esta área. Além dos destaques positivos mencionados por esses empreendimentos de maior porte, os estabelecimento de profissionais autônomos com até 3 pessoas, comentaram da satisfação em ter a Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas, conforme reitera o Sr. Ofir, único vendedor formal de milho da Lagoa: há bastante estrangeiros circulando e ainda tivemos cursos para ajudar no atendimento ao cliente. O Sr. Ofir ainda fez questão de mostrar o certificado de noções básicas de manipulação de alimentos adquirido, como retrata a Figura 29:

Figura 29 – Certificado do Curso de Noções Básicas de Manipulação de Alimentos do Sr. Ofir

Fonte: Leonardo Campos em 20 de agosto de 2016.

Em contraposição a percepção positiva, 20 entrevistados informaram que o megaevento produziu impactos negativos. Dos 20 respondentes, sessenta e cinco por cento estão localizados no Parque dos Patins, Jardim Botânico e Fonte da Saudade. Ainda sobre estes 20 respondentes, 5 estão instalados no Corte do Cantagalo, incluindo um dos estabelecimentos informais, o carrinho de cachorro-quente. De acordo com o próprio vendedor deste negócio, Sr. Arnaldo, o movimento na Lagoa está melhor, mas está mais difícil de trabalhar, uma vez que houve o aumento da fiscalização através da PMERJ. Dentre as razões dos impactos negativos promovido à Lagoa Rodrigo de Freitas, o

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principal efeito mencionado é o cercamento que ocorreu em algumas parte lagoa, desencadeando uma série de prejuízos: (a) inviabilidade de utilizar o estacionamento do Parque dos Patins; (b) reduziu a circulação de pessoas, consequentemente, diminuindo as vendas; (c) alguns estabelecimentos ficaram incapacitados de funcionar; (d) outros empreendimentos precisaram ser deslocados do seu lugar de origem para continuarem funcionando; (e) algumas áreas ficaram praticamente desertadas, sem movimentação de pessoas. Vale ressaltar que as principais áreas atingidas com o cercamento foram: Fonte da Saudade, Parque dos Patins e parte Leblon, mais especificamente, ao redor do Clube de Regatas do Flamengo. Dentre os aspectos negativos, um dos empreendimentos que teve grande impacto devido ao cercamento foi a Colônia de Pescadores Z-13. A colônia, que possui mais de 100 anos de existência, foi completamente cercada, mantendo-a isolada. Os pescadores, depois de muita negociação com o comitê organizador dos jogos, conseguiram ter acesso à colônia e a própria lagoa para pescar somente no horários das 20 horas até as 05 horas. Todavia, esta ação não foi suficiente, pois os pescadores não conseguiam estacionar os caminhões próximos à colônia, para realizar a retirada dos peixes e armazená-los no gelo. Muitos pescadores, por morar longe ou até mesmo em outros municípios, decidiram paralisar as atividades, ficando afastados da colônia e sem pescar por um período de até 03 meses. Em um primeiro momento, os pescadores informaram que o comitê organizador do Jogos Olímpicos Rio 2016 tinha apresentado um plano de contingência, no qual, os pescadores seriam reaproveitados em atividades da Rio 2016, com o intuito de possuírem uma verba extra até voltarem a pescar. Contudo, esta iniciativa não foi implementada e, consequentemente, alguns pescadores passaram por problemas financeiros. Cabe destacar, segundo os próprios pescadores, que não houve alguma contrapartida por parte do comitê organizador para mitigar este problema pontual. O restaurante Arab, localizado no Parque dos Patins, também foi um dos empreendimentos que tiveram profundos prejuízos com o cercamento. De acordo com a proprietária do restaurante Arab, Sr. Vivian, o número de cliente diminuiu drasticamente com o cercamento do parque e do estacionamento próximo, destinado às delegações de remo e aos funcionários do comitê Rio 2016, afetando, indiretamente, 35 famílias de funcionários do Arab que depende do restaurante para sobreviver. A empresária, diante desta situação, informou que ocorreram várias desistências de reservas para o período olímpico, inclusive, uma reserva para 120 pessoas da Federação Internacional de Canoagem (verificar apêndice 4).

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Além disso, ainda sobre o restaurante Arab, a proprietária corrobora que teve dificuldades de até mesmo abastecer o próprio restaurante. Através de entrevistas realizadas com 02 músicos que tocam semanalmente no Arab (as entrevistas na seção de transeuntes), eles informaram que devido a baixa de clientes, eles ficaram temporariamente sem emprego, pois, segundo os próprios músicos, a relação custo e benefício não era viável para realizar as apresentações durante este período. Outro empreendimento que sofreu impactos negativos, foi a escola de remo do Clube de Regatas do Flamengo, segundo o próprio gerente deste departamento, Sr. Edson, as instalações referentes ao remo foram deslocadas para uma tenda no Corte do Cantagalo, prejudicando as atividades de treinamento e a escola de remo. Cabe destacar, que as instalações deslocadas do Flamengo foram implementas sobre uma quadra esportiva utilizada pelos transeuntes da Lagoa Rodrigo de Freitas, logo, prejudicando também a comunidade local. A Figura 30 ilustra este procedimento:

Figura 30 – Quadra Esportiva Sendo Utilizada para as Instalações do Remo do Clube de Regatas do Flamengo no Corte do Cantagalo

Fonte: Leonardo Campos em 20 de agosto de 2016.

Em relação aos 04 entrevistados que se apresentaram como indiferentes a percepção das consequências oriundas do megaevento, eles não se posicionaram de forma sólida entre os efeitos positivos e negativos. Estes empreendimentos estão distribuídos da seguinte maneira: Parque dos Patins, Leblon e dois no Corte do Cantagalo. Para estes respondentes, o número de pessoas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas teve um aumento considerável, todavia não influenciou no número de vendas, mantendo de formal normal o atendimento.

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Estes entrevistados ressaltam que qualquer efeito positivo ou negativo seria temporário na localidade. Embora muitos empreendimentos percebam as consequências negativas provenientes da operação dos Jogos Olímpicos Rio 2016, alguns estabelecimentos consideram estes aspectos como necessários a realização das competições. Sendo assim, mesmo com os impactos que geraram prejuízos, estes estabelecimentos consideraram-se beneficiados com os jogos, conforme a Figura 31:

Figura 31 – Distribuição sobre Benefícios Gerados ao Entrevistado com a Lagoa Sendo Palco de Atividades da Olimpíada 2016

Sendo assim, a Figura 31 ilustra um pequeno contraste em relação a Figura 27. Cabe destacar que o Complexo Lagoon de entretenimento é um caso à parte nesta pesquisa. O Lagoon, um dos maiores estabelecimentos que possui cinemas, restaurantes e casa de espetáculos, foi alugado pelo comitê organizador dos jogos olímpicos para ser arena das competições de remo. Logo, devido aos objetivos da pesquisa, este estabelecimento não foi contemplado. Diante das percepções negativas ou positivas estabelecidas, foram propostas 05 questões para verificar o nível de interação da comunidade local com o comitê organizador dos Jogos Olímpicos Rio 2016, conforme ilustra a figura 32:

Figura 32 – Distribuição das Questões sobre a Relação Entre a Organização do Jogos Olímpicos e a

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Comunidade Local

Mais de quarenta por cento dos entrevistados (questão 1), informaram ter participado de pelo menos 2 reuniões a respeito da realização do megaevento na Lagoa Rodrigo de Freitas. Complementando a questão 1, as questões 02 e 03 foram realizadas e analisadas separadamente de maneira proposital. Pois buscou-se entender se houve transparência no comunicado das possíveis consequências, tanto de caráter benéfico como prejudicial, provenientes da realização dos Jogos Rio 2016 aos empreendimentos. Vale ressaltar que as questões 02 e 03 envolvem a percepção do respondente em compreender o que significaria um efeito positivo ou negativo para o seu negócio. Sendo assim, é possível que algum entrevistado tenha participado de uma reunião e não tenha entendido como um determinado impacto pode influenciar no próprio negócio, tanto para gerar bônus ou ônus. Dos 45 entrevistados, pouco mais da metade informou saber dos impactos positivos (questão 02) que aconteceriam ao estabelecimento em virtude da ocorrência da Olimpíada. Em relação aos efeitos positivos, os próprios respondentes comentaram que foram informados sobre: grande quantidade de turistas circulando na Lagoa Rodrigo de Freitas, aumento das vendas e o policiamento ostensivo. Em relação aos impactos negativos (questão 03), dos 45 entrevistados, apenas quarenta e quatro por cento informaram saber sobre os efeitos negativos provenientes da realização do megaevento. Segundo estes quarenta e quatro por cento, as consequências que

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eles tiveram conhecimento foi a respeito do cercamento e seus desdobramentos: estacionamento do Parque dos Patins inviabilizado, academia da terceira idade na parte Leblon inutilizável, parque infantil na Fonte da Saudade isolado sem acesso, impacto visual das grades ao redor da própria lagoa e obstrução visual para assistir as competições olímpicas de remo em algumas partes da Lagoa. Segundo a Sra. Vivian do empreendimento Arab, o comitê informou sobre o cercamento, mas não como seria este processo. As questões 02 e 03 revelam que há algum equívoco no processo de comunicação dos gestores do megaeventos com as partes interessadas da Lagoa Rodrigo de Freitas, pois mais de cinquenta e um por cento dos entrevistados informaram não obter conhecimento sobre os efeitos negativos ou positivos que poderiam ocorrer em virtude da realização do evento. A questão 04 ilustra que há uma falha nas práticas de gerenciamento de stakeholders do megaevento, pois quase noventa por cento dos respondentes informaram em que nenhum momento a opinião deles foi contemplada no planejamento de organização dos jogos olímpicos. Sendo assim, é possível observar que as medidas tomadas foram unilaterais, não abrangendo a comunidade local. A questão 05 corrobora um equívoco no processo de comunicação do megaevento e também de uma prática de gerenciamento de stakeholders ineficaz, não havendo um canal direto de comunicação com o comitê organizador, que poderia ser representando por um indivíduo ou por um grupo que pudessem atender aos empreendimentos. Neste sentido, foi perguntado aos entrevistados se eles acreditavam que um relacionamento foi estabelecido entre os organizadores do megaevento Rio 2016 com a comunidade local da Lagoa, conforme retratado na Figura 33. Figura 33 – Distribuição Sobre a Construção de Relação entre a Organização do Jogos e a Comunidade Local

Através da Figura 33, é possível averiguar que mais de setenta por cento dos

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respondentes não percebem a construção de um relacionamento entre as partes interessadas referentes à Lagoa Rodrigo de Freitas e o comitê organizador, ressaltando uma deficiência nas práticas de gerenciamento de stakeholders. Embora seja perceptível as evidências de falhas no gerenciamento dos stakeholders e de impactos negativos provenientes do megaevento, mais de setenta e cinco por cento dos entrevistados afirmaram estar felizes com a realização dos jogos olímpicos Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas, como ilustra a Figura 34:

Figura 34 – Distribuição sobre Sentimento de Felicidade com a Lagoa Rodrigo de Freitas Sendo Palco de Atividades da Olimpíada 2016

O clima festivo e a euforia de celebrar o evento podem influenciar na percepção dos entrevistados, sobrepondo-se as consequências negativas que ficam em segundo plano. Sendo assim, apresentando uma grata surpresa sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 para a cidade e para o mundo. No entanto, cumpre-se destacar, que esta análise representa uma percepção distinta das expectativas apresentadas, antes do início da Olimpíada, pelos meios de comunicação nacionais e estrangeiros. Sendo assim, as Figuras 35, 36, 37 e 38 (apêndices 5, 6, 7, e 8) ilustram essa antítese: expectativas pré-evento versus percepções pós-evento.

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Figura 35 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização8

Fonte: Revista Época (2016).

Figura 36 – Matéria da Revista Época sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização9

Fonte: Revista Época (2016).

8 Material completo disponibilizado em: . Acesso em: 24 ago. 2016. 9 Material completo disponibilizado em: Acesso em: 24 ago. 2016.

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Figura 37 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 antes da Realização10

Fonte: DW (2016).

Figura 38 – Matéria do Site DW sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016 após a Realização11

Fonte: DW (2016).

10 Material completo disponibilizado em: . Acesso em: 24 ago. 2016. 11 Material completo disponibilizado em: . Acesso em: 24 ago. 2016.

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Todavia, após o término dos Jogos Olímpicos, a impressão deixada pelo próprio megaevento superou as expectativas negativas, sendo retratada pela imprensa nacional e internacional, conforme as Figuras 36 e 38. Vale destacar uma análise comparativa entre as Figuras 35 e 36, Revista Época (imprensa nacional), e entre as Figuras 37 e 38, canal televisivo alemão DW - Deutsche Welle (imprensa internacional), pois trata-se de percepções distintas de um mesmo veículo de comunicação, apresentando expectativas negativas, antes da realização do evento, e sentimento de superação, pós Jogos Olímpicos. As matérias na íntegra encontram-se nos respectivos apêndices: 5, 6, 7 e 8.

4.3 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE TRANSEUNTES E EMPREENDIMENTOS

A análise das percepções dos empreendimentos é mais complexa do que a dos transeuntes, pois envolve mais variáveis. Todavia, ambas análises viabilizam informações que convergem para uma mesma compreensão. Tantos os empreendimentos como os transeuntes citaram consequências positivas e negativas que impactam concomitantemente os dois, conforme o Quadro 11:

Quadro 11 – Principais Consequências Positivas e Negativas Comuns ao Cotidiano dos Empreendimentos e dos Transeuntes

Positivos Negativos Segurança Cercamento Clima Festivo Trânsito Estacionamento do parque Divulgação da cidade dos patins fechado Algumas áreas de lazer interditadas (parque de Movimentação Turística crianças, academia de idosos e quadras poliesportivas) Infraestrutura Impedimento de ir e vir Movimento na Lagoa Fragmentação da Lagoa Despoluição da Lagoa não

realizada Fonte: autor (2016)

As consequências negativas provenientes dos jogos olímpicos são temporárias, entendendo-se que com o término dos jogos, elas deixem de existir nos meses subsequentes. O cercamento foi mencionado por ambos perfis como o principal impacto negativo

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provocado pelo Jogos Olímpicos Rio 2016, pois desencadeou uma série de outros impactos. Cabe salientar, segundo os entrevistados, a Lagoa Rodrigo de Freitas está fragmentada em zonas de maior movimento, Corte do Cantagalo e zonas com menor concentração de pessoas, Parque dos Patins. As consequências positivas, algumas são efêmeras como o clima festivo promovido pelo megaevento, no entanto, algumas são permanentes como a infraestrutura criada para realização dos jogos. O policiamento ostensivo foi e a movimentação turística na Lagoa foram os aspectos benéficos mais comentados pelos respondentes. Neste sentido, surge o entendimento sobre o legado que os Jogos Olímpicos Rio 2016 podem deixar para a comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas, impactando os estabelecimentos e indivíduos. Cabe destacar que vários entrevistados, tanto no perfil de transeuntes como de empreendimentos, questionaram a possibilidade de haver um legado a longo prazo. No entanto, vale realçar a diferença das percepções entre os respondentes Os transeuntes são mais influenciados pelo clima eufórico promovido pelo megaevento do que os transeuntes. Neste sentido, as consequências negativas podem ficar em segundo plano. Já para os empreendimentos que tiveram consequências negativas, ficando incapacitados de funcionar normalmente ou teve uma redução no número de clientes, o clima eufórico dos jogos não é capaz de reduzir o nível de insatisfação com a Olimpíada. Através das entrevistas, é possível observar uma necessidade maior dos empreendimentos em estabelecer um relacionamento com o comitê organizador do megaevento do que os transeuntes. Pois os benefícios gerados, podem vir a ser legados e impactar toda uma comunidade local. Para a construção deste relacionamento é necessário uma comunicação eficaz entre os gestores de megaprojetos e as partes interessadas através de práticas eficazes de gerenciamento de stakeholders. Neste sentido, cabe realçar os benefícios gerados pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, que podem atingir as pessoas e empreendimentos da Lagoa Rodrigo de Freitas. Algumas consequências positivas não necessariamente foram promovidas pelo comitê organizador da Rio 2016, mas por outros atores que formam as partes interessadas da Olimpíada do Rio. Sendo assim, pode-se citar, segundo os entrevistados, como legado constituído: (a) o acesso ao metrô localizado perto do Corte do Cantagalo; (b) a estrutura de raias no espelho d’água da lagoa para os praticantes de remo dos Clubes próximos, além de incentivo a variados esportes aquáticos; (d) certificação da Lagoa Rodrigo de Freitas como atração turística da Cidade do Rio de Janeiro e divulgação da localidade para o Brasil e o mundo; e

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(e) restauração da Colônia de Pescadores Z-13 por emissoras de televisão da Áustria e da Suíça (Figura 39). Figura 39 – Reforma da Colônia de Pescadores Z-13

Fonte: Leonardo Campos em 26 de setembro de 2016.

Durante as entrevistas, alguns respondentes comentaram sobre um possível legado que a Casa Suíça deixaria para a Lagoa Rodrigo de Freitas: após a Paralimpíada, a área na qual o Baixo Suíça estava instalado antigo campo de beisebol localizado no Corte do Cantagalo, seria revitalizado e entregue à prefeitura do município do Rio de Janeiro com melhoria de estrutura e do sistema de drenagem. Até o mês de novembro de 2016, o referida obra não tinha sido realizada, conforme a Figura 40. Figura 40 – Espaço do Campo de Beisebol a Ser Revitalizado

Fonte: André Sztjan em 16 de novembro de 2016.

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4.4 CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO DA LITERATURA

De acordo com os estudos realizados é possível observar uma complementariedade entre os dados levantados na revisão da literatura com os dados obtidos através da pesquisa empírica. Sendo assim, buscando respostas que sustentem os objetivos deste trabalho. Conforme evidenciado na revisão da literatura, segundo Hu et al. (2015), Mazur et al. (2015), Chang et al, (2013), Zhai et al. (2009), um megaprojeto, neste caso retratado pelo megaevento Jogos Olímpicos Rio 2016, apresentam as seguintes características: (a) orçamento superior a 500 milhões de dólares; (b) grande grau de complexidade, incerteza, ambiguidade e interfaces dinâmicas; (c) envolvimento de tecnologia e períodos longos de execução; (d) elevada atração de interesse público e político; e/ou (e) definidos mais por efeitos do que por soluções. Neste sentido, na análise realizada no território da Lagoa Rodrigo de Freitas pôde-se verificar e presenciar as seguintes características: (1) grande grau de complexidade, incertezas, ambiguidade e interfaces dinâmicas, uma vez que várias percepções distintas foram apresentadas pelos stakeholders entrevistados; (2) atração de interesse público e político, todavia, de forma deficiente, pois muitos entrevistados sentiram-se prejudicados com a realização da Olimpíada; e (3) mais efeitos do que soluções, como uma das promessas não serem realizadas: despoluição da lagoa (solução), em contraposição, houve uma divulgação da Lagoa Rodrigo de Freitas para o Brasil e o mundo (efeito). Segundo Müller (2015), os megaeventos esportivos proporcionam, de um lado, uma atratividade turística e um alcance imediato, do outro, custos de se sediar e viabilizar a Olimpíada que pode chegar a centenas de milhões, se não a bilhões de dólares. Estes entendimentos foram verificados através das entrevistas, especialmente, no caso dos transeuntes, pois muitos informavam a movimentação turística na Lagoa e na cidade como um aspecto positivo, mas questionavam sobre os altos gastos para os jogos olímpicos, que estes gastos poderiam ser destinados a outras áreas de maior relevância: como saúde e educação. De acordo com Grabher e Thiel (2015), a organização e planejamento de um megaevento, como os Jogos Olímpicos, envolvem várias organizações especializadas na execução que são encarregadas de assegurar os custos do megaprojeto, concluir as infraestruturas, negociar com várias partes interessadas e gerenciar o dia a dia do evento. Neste sentido e com base no Quadro 08, buscou-se analisar quais das práticas de gerenciamento de stakeholders foram contempladas na gestão da Olimpíada Rio 2016, no

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que se refere ao espaço geográfico da Lagoa Rodrigo de Freitas. Logo, resultando no Quadro 12. Quadro 12 – Práticas de Gestão de Stakeholders Percebidas nas Partes Interessadas da Lagoa Rodrigo de Freitas

Verificado através da Práticas de Gestão de Stakeholders Pesquisa Empírica Mapeamento do perfil social da população Não percebido local Divisão da população de acordo com o Não percebido perfil social Elaboração de ações com base no perfil e Não percebido demandas sociais Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações sociais Sim percebido integradas Comunicação com os stakeholders locais é Não percebido feita estritamente através da gestão social Ações e projetos são desenvolvidos o mais Percebido Parcialmente próximo possível ao público alvo Participação em reuniões e conselhos Sim percebido comunitários Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e lideranças Percebido Parcialmente comunitárias As obras em locais críticos, sob a perspectiva de instabilidade social e Não percebido violência, são acompanhadas pelo mediador da comunidade Canal de comunicação direta entre a Não percebido comunidade e a organização Promoção de acesso à cultura, lazer e Não percebido entretenimento Diálogo com entidades públicas Sim percebido Medidas assecuratórias Não percebido Comunicação de obra com todos os impactos causados pela implementação do Percebido Parcialmente megaprojeto de acordo com a área afetada Comitê de gestão de crise Não percebido Mobilização social antes da Não percebido operacionalização da obra Fonte: Autor e Adaptado de Freitas (2016).

O gerenciamento eficaz de stakeholders, segundo Chang et al. (2013), apresenta como estratégias-chave a comunicação dinâmica e a gestão de relacionamento para alcançar o sucesso do megaevento. Já para Zhai et al. (2009), os valores ou benefícios de um projeto de grande escala podem apresentar múltiplas dimensões, todavia, estas dimensões devem ser

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coordenadas pelas demandas distintas dos stakeholders heterogêneos que englobam o megaprojeto, neste estudo, retratado pelos Jogos Olímpicos Rio 2016. Conforme Chang et al. (2013) e Zhai et al. (2009), os benefícios dos projetos de grande porte podem ter funções explícitas: as infraestruturas e eventos que proporcionam; e implícitas: a experimentação cognitiva e emocional que produzem. Contudo, estes benefícios explícitos e implícitos provocaram percepções distintas concomitantes nas partes interessadas localizadas na Lagoa Rodrigo de Freitas. Apesar dos entrevistados apresentarem um sentimento de euforia em virtude da realização dos jogos olímpicos, alguns questionavam se haveria algum benefício para a Lagoa com o término do evento. Após analisar quais as práticas de gerenciamento de stakeholders foram utilizadas segundo a percepção das partes interessadas, foi analisado as possíveis consequências geradas por falhas na gestão de um território relevante para a realização do megaevento. Sendo assim, conforme o Quadro 07 – Requisitos Sensíveis ao Gerenciamento de Megaeventos – adaptado de Müller (2015), uma série de consequências podem comprometer o gerenciamento de um megaevento, impactando nos benefícios entregáveis. Neste sentido, foi observado quais requisitos estavam presentes na pesquisa ocorrida na Lagoa Rodrigo de Freitas:

 Superestimar as promessas de benefícios;  Perda de confiança com os cidadãos;  Riscos públicos para benefícios privados;  Necessidades do evento restringem-se as necessidades de infraestrutura  Infraestrutura inacabada;  Deslocamentos;  Participação pública limitada;  Paisagem urbana irregularmente desigual;  Ignorar os processos do gerenciamento regular;  Desperdício de recursos no evento como alavanca para o desenvolvimento urbano.

Segundo Müller (2015), há quatro dimensões que devem ser consideradas a respeito de receber um megaevento em uma dada localidade: capacidade de atrair visitantes, alcance imediato, custo e impactos transformadores. Logo, pormenorizando esta compreensão, é possível observar que a Lagoa Rodrigo de Freitas contemplou estas quatro dimensões:

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atraindo diversos turistas, promovendo um clima festivo pela região, sofrendo investimentos como a saída do metrô no Corte do Cantagalo e modificando o cotidiano, tanto de forma positiva e negativa, dos indivíduos e empreendimentos. Conforme explicitado por Clark et al. (2012), o macro é priorizado em relação ao micro em vários megaprojetos, o que pode acarretar uma análise deficiente da heterogeneidade dos territórios e de seus stakeholders, reduzindo a capacidade de gerar benefícios a comunidade local, até mesmo, impactar de maneira deletéria um possível legado. Este efeito é devidamente percebido nos Jogos Olímpicos Rio 2016, no que tange a Lagoa Rodrigo de Freitas. Sendo assim, a confrontação dos dados primários e secundários viabilizam estruturar um arcabouço de informações necessárias a responder as questões-problema aventadas neste estudo.

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5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS

O referido estudo apresenta uma contribuição sobre a análise de stakeholders locais na gestão de megaprojetos, especialmente, no que se refere a megaeventos. Neste sentido, foi estabelecido como objetivo central: analisar os efeitos provenientes do megaevento, Jogos Olímpicos Rio 2016, no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, sob o prisma de distintos stakeholders durante a realização dos referidos Jogos. Para realizar a análise do objetivo principal deste estudo, foram constituídos 06 objetivos específicos que foram respondidos no decorrer desta pesquisa. Através da revisão da literatura (capítulo 2), foram encontradas 12 práticas de gerenciamento de stakeholders utilizadas na gestão de megaprojetos. Após este levantamento, foi confrontado se estas práticas, oriundas do conhecimento científico, eram aplicadas na vertente empírica: gestão dos Jogos Olímpicos Rio 2016 com base na percepção da comunidade local da Lagoa Rodrigo de Freitas. Sendo assim, o primeiro objetivo específico (OE) a ser elucidado foi a identificação de 06 práticas de gerenciamento de stakeholders contempladas na gestão da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas:  Desenvolvimento de parcerias com entidades locais para ações sociais integradas;  Ações e projetos são desenvolvidos o mais próximo possível ao público alvo;  Participação em reuniões e conselhos comunitários;  Estabelecimento de constante diálogo entre a gestão social e lideranças comunitárias;  Diálogo com entidades públicas;  Comunicação de obra com todos os impactos causados pela implementação do megaprojeto de acordo com a área afetada. Cumpre-se destacar que a implementação de algumas práticas foram percebidas de maneira parcial, conforme indicado no Quadro 12. Através das práticas aplicadas e das práticas que não foram implantadas no gerenciamento de stakeholders no território da Lagoa Rodrigo de Freitas, é possível verificar que uma série de consequências foram desencadeadas, impactando de forma distinta cada stakeholder - transeuntes, turistas, estabelecimentos formais, informais, comunidade de pescadores, clubes esportivos e iniciativas de segurança - envolvido no megaevento.

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Cabe destacar a fragmentação territorial que ocorreu na Lagoa, produzindo dois polos dicotômicos: a região do Parque dos Patins e a região do Corte do Cantagalo. Esta divisão corroborou e promoveu a existência de percepções distintas sobre a realização do evento na localidade, especialmente, no que se refere aos estabelecimentos. A análise sobre esta fragmentação viabilizou responder o segundo OE estabelecido. De um lado, no Parque dos Patins, o cercamento da lagoa e do estacionamento impactou no baixo número de clientes nos estabelecimentos localizados acolá ou, em alguns casos, no fechamento do empreendimento durante a Olimpíada, a fim de minimizar os prejuízos. Vale realçar que muitos empreendimentos vivenciaram, durante os Jogos Rio 2016, o pior momento de funcionamento e de vendas desde a abertura do negócio na Lagoa. Por outro lado, os estabelecimentos, localizados no Corte do Cantagalo, verificaram um crescimento no número de vendas e na circulação de turistas por essa área. Alguns estabelecimentos comentaram de se tratar do melhor período de vendas na Lagoa. Além dos empreendimentos, os transeuntes também apresentaram uma percepção diferente, apesar de mencionarem impactos negativos oriundos da realização dos jogos, pode-se dizer que os transeuntes estavam suspensos em relação aos impactos negativos provenientes dos jogos, em virtude de um sentimento eufórico e festivo que se instalou pela cidade. É nítido que os Jogos Olímpicos Rio 2016 produziram distintas percepções nos heterogêneos stakeholders locais – transeuntes, turistas, estabelecimentos formais, informais, comunidade de pescadores, clubes esportivos e iniciativas de segurança - da Lagoa Rodrigo de Freitas, indo ao encontro do terceiro OE. Estas percepções distintas podem influenciar diretamente nos possíveis benefícios a serem percebidos, tais como: o metrô e a infraestrutura construída na localidade; divulgação da Lagoa Rodrigo de Freitas como equipamento público de lazer e ponto turístico; a estrutura de raias no espelho d’água da lagoa para os praticantes de remo dos Clubes próximos, além de incentivo a variados esportes aquáticos; e restauração da Colônia de Pescadores Z-13. A princípio, é possível definir estas benfeitorias como um legado viabilizado pelo megaevento à Lagoa Rodrigo de Freitas. Todavia, somente com o passar do tempo, diminuindo o clima de euforia, ficará nítido se a própria comunidade local conseguiu construir um entendimento sobre estes benefícios serem um legado proveniente dos Jogos Olímpicos. Cabe destacar, sob uma análise da mídia nacional e internacional e de presença de público nas competições, os Jogos Olímpicos Rio 2016 foram um sucesso indiscutível.

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No entanto, cabe uma análise mais sólida a respeito do clima eufórico e festivo que instalou-se na cidade, devido a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Este clima pode influenciar nas percepções dos stakeholders locais, potencializando os possíveis benefícios e minimizando os questionamentos sobre os impactos negativos dos jogos. Neste sentido, para compreender de forma mais assertiva qual o nível de influência deste fator na percepção dos stakeholders locais à respeito dos benefícios gerados pelos Jogos Olímpicos Rio 2016, sugere-se uma nova pesquisa empírica com os transeuntes e empreendimentos da Lagoa Rodrigo de Freitas a fim de verificar se o grau de satisfação em relação ao evento se mantem ou muda conforme o passar do tempo. É perceptível que os megaeventos, detentores de complexidade e magnitude, são grandes produtores de impactos na localidade na qual ocorrem. Todavia, foi possível compreender que um megaevento raramente produzirá somente benefícios ou somente prejuízos. Em sua maioria, os megaprojetos promovem, mutuamente, impactos positivos e negativos no que se referem aos stakeholders locais e as suas múltiplas e distintas percepções. Sendo assim, clarificando o quarto OE, faz-se necessário que a gestão de um megaevento seja pensada e acompanhada por práticas de gerenciamento de stakeholders, a fim de viabilizar uma execução efetiva do megaprojeto. Vale destacar que o próprio entendimento sobre projetos complexos e como gerenciá- los vem se consolidando nos últimos anos e carece de aprofundamento através de outros vieses além da gestão dos stakeholders. Sendo assim, estabelece-se aqui uma centelha para futuros estudos a respeito da temática projetos complexos. Ainda sobre as distintas perspectivas de análise sobre o tema em questão, também se faz necessário realizar pesquisas com o Comitê Organizador Rio 2016 para analisar através da percepção dos gestores do megaevento, como se desenvolveu a compreensão e aplicação das práticas de gerenciamento de projetos no que tange a gestão de stakeholders. O presente estudo consolida como aprendizado a relevância de se analisar a heterogeneidade entre stakeholders locais, pois as partes interessadas podem possuir múltiplas e distintas percepções. No entanto, para este fim, é necessário desmembrar o macro diagnóstico sobre um megaprojeto em micro núcleos, assim como ocorreu neste estudo: a fragmentação, neste caso, territorial de uma das áreas de competição dos Jogos Olímpicos Rio 2016, a Lagoa Rodrigo de Freitas, em 7 microrregiões de análise: Parque dos Patins, Leblon, Ipanema, Jardim Botânico, Corte do Cantagalo, Curva do Calombo e Fonte da Saudade.

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A fragmentação de um megaprojeto/megaevento em núcleos menores possibilita compreender intimamente a heterogeneidade entre as partes interessadas locais e analisar com solidez quais as práticas de gerenciamento de stakeholder devem ser aplicadas, contribuindo para a melhor efetividade dos resultados pretendidos.

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101

APÊNDICE 1

Diário de Bordo Data Ação Descrição Observação do Caminhei do Baixo Bebê (Fonte da Saudade) via Jardim Botânico até o Parque Campo - evidências dos Patins. Conversei informalmente com alguns estabelecimentos. O 26/jul empíricas + conversas empreendimento de brinquedos infláveis foi bem solicito e conversou comigo. informais Informaram que quando voltasse com a entrevista, fariam a mesma comigo. Fiz registros com fotos. Observação do 04/ago Campo -evidências Caminhei do Parque dos Patins via Ipanema até Baixo Bebê (Fonte da empíricas Saudade). Fiz registros com fotos. Elaboração e O questionário sofreu várias atualizações sendo debatidas com o Orientador, 07 a 19 atualizações do Prof. Fernando Araujo, e Co-Orientador, Raynne Suzano até chegarmos a questionário versão 8 e final. Pré testagem com 4 questionários (2 empreendimentos (Caipirinha & Filé e Quiosque do Índio) + 2 transeuntes) No parque dos patins até jardim botânico, sentido baixo bebê.Com a pré testagem pode se avaliar que o questionário Pré testagem do estava construído de maneira equivocada, pois o entrevistado fica na ansiedade 17/ago questionário de comentar o que está achando da Olimpíada. Neste sentido, foi mais coerente passar as perguntas abertas para uma primeira parte do questionário, permitindo que o entrevistado realizasse um verdadeiro brainstorming. Mudamos a escala (0 a 10) que estava gerando confusão. E deixamos o vocabulário menos técnico. 19/ago Pesquisa de campo Início da pesquisa de Campo. Começando pela Fonte da saudade em direção Parque dos Patins. Pessoas curtindo a Lagoa e eum clima amistoso e festivo. 20/ago Pesquisa de campo A arena das olímpiadas é dentro do Lagoon e precisa de ingresso para entrar, ou seja, sem a participação da comunidade ao redor. Bastante chuva pela manhã e horário do almoço. Parque dos Patins desertos. Dona Nilza mudou completamente o discurso de quando fiz a observação em 21/ago Pesquisa de campo 04 de agosto. Na ocasião ela achou que eu era da Prefeitura e elogiou muito a Olimpíada. Mas hoje no dia da pesquisa, ela descontruiu toda essa questão, informando ser o pior momento em 18 anos de Lagoa. 22/ago Pesquisa de campo Lagoa vazia. Vários empreendimentos fechados. Parque dos patins deserto. 24/ago Pesquisa de Campo Entrevista no Arab de Copacabana

Voltei a Lagoa para realizar mais pesquisa. Foco: Fonte da Saudade, Corte do Cantagalo e Lado do Leblon (Flamengo). Consegui entrevistar 18/set Pesquisa de Campo empreendimentos que não tinha coneguido falar antes ou que não tinham aceitado realizar a entrevista, por exemplo, o Albanir vendedor de coco. Já tinha abordado-o mas ele não aceitou. Na ocasião da entrevista, foi muito simpático e conversou bastante, talvez porque ele já não estivesse mais cercado e com isso os clientes voltaram. Quase 25 estabelecimentos entrevistados. Voltei a Lagoa para conversar com 3 estabelecimentos específicos: Clubes de Remo do Flamengo, Botafogo e Vasco. Consegui falar com oBotafogo pela manhã. No Flamengo fui na tenda que tinha no Corte do Cantagalo e me 19/set Pesquisa de Campo informaram para ir na sede. Lá informaram que não poderiam ajudar no momento, só depois do dia 23, quando voltaria ao normal a estrutura de remo. Consegui a entrevista por email. No Vasco, fui na hora do almoço e precisei voltar a tarde por volta das 16h. Entrevista riquíssima e mostra contraponto com a do Botafogo. Depois de de vários contatos, tentativas de achá-los e imprevistos, como o falecimento do presidente da colônia Pedro Marins, consegui entrar na colônia e entrevistá-los (ver audio e fotos). Valeu muito e o interessante que consegui Pesquisa de campo - 26/set conversar com eles no primeiro dia que todos realmente voltaram. A grade Colônia de Pesca ainda estava lá, cercando-os. Eles precisaram soltar a parte de baixo da grade para abrir uma greta e conseguirem passar. Mas a dificuldade continuava, mas estavam felizes de conseguir voltar e sem ser no horário de 20h as 05h da manhã.

102

APÊNDICE 2

Questionário Transeuntes

DADOS PESSOAISCÊ E SMÍLIA1. Nome (opcional): 2. E-mail (opcional): 3. Seu sexo:( ) Feminino. ( ) Masculino. 4. Ano de nascimento:

5. Informe a sua escolaridade: ( ) Da 1a à 4a série do Ensino Fundamental (antigo primário). ( ) Da 5a à 8a série do Ensino Fundamental (antigo ginásio). ( ) Ensino Médio (antigo 2o grau). ( ) Ensino Superior. ( ) Especialização. ( ) Mestrado ou mais. ( ) Não estudou.

6. Local da Lagoa onde foi respondida a pesquisa: ( ) Fonte da Saudade ( ) Curva do Calombo ( ) Corte do Cantagalo ( ) Lado de Ipanema ( ) Lado do Leblon ( ) Lado do Jardim Botânico ( ) Lado Jardim Botianico/Parque dos Patins

7. O(a) respondente é: ( ) Morador(a). ( ) Trabalha pela região. ( ) Transeunte. ( ) Turista. ( ) Outros. Qual?

8. Reside na cidade do Rio de Janeiro, qual bairro?

9. Não reside na cidade do Rio de Janeiro, qual Cidade/UF/País?

10. Quanto tempo frequenta a Lagoa Rodrigo de Freitas: ( ) visitante pontual ( ) até 06 meses. ( ) 06 meses até 01 ano. ( ) de 01 ano até 03 anos. ( ) 03 anos ou mais.

PARTE 1: Práticas aplicadas 11. Como está o seu dia a dia com a realização das Olímpiadas?

12. Você foi afetado com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas como palco de atividades da Rio 2016? De forma positiva ou negativa? No que afetou você?

13. Caso tenha sofrido algo negativo, houve alguma contrapartida para diminuir esses efeitos por parte do Comitê Organizador?

14. Qual legado a Olimpíada deixará no seu dia a dia? E para a Lagoa Rodrigo de Freitas e para a cidade do Rio de Janeiro?

15. Você teve algum conhecimento sobre coisas boas e/ou ruins que aconteceriam a Lagoa Rodrigo de Freitas devido a Olimpíada 2016? ( )Sim ( )Não

16. Sobre o que ficou sabendo?

PARTE 02: percepção de sucesso.

103

1 – Discordo Totalmente / 2 – Discordo / 3 – Não opino / 4 – Concordo / 5 – Concordo totalmente

Utilize a escala acima para responder as questões de n°16 até 18:

17. A operação da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas foi bem executada pelo Comitê? 1 2 3 4 5

18. Você é beneficiado com a Lagoa sendo palco de atividades das Olímpiadas 2016? 1 2 3 4 5

19. Você está feliz com a Lagoa sendo palco de atividades das Olímpiadas 2016? 1 2 3 4 5

20. Tem alguma informação complementar que gostaria de dizer? Observações Adicionais.

APÊNDICE 3

Questionário Empreendimentos

104

DADOS DA EMPRESA:CÊ E SUA FAMÍLIA1. Nome Empreendimento: 2. E-mail (opcional): 3. Tempo de atuação na Lagoa: ( ) menos de um ano ( ) de 1 até 3 anos ( ) de 3 até 5 anos ( ) mais de 5 anos ( )Temporário:

4. Em qual área da Lagoa está localizado o seu empreendimento? ( ) Fonte da Saudade ( ) Curva do Calombo ( ) Corte do Cantagalo ( ) Lado de Ipanema ( ) Lado do Leblon ( ) Lado do Jardim Botânico ( ) Lado Jardim Botânico/Parque dos Patins

5. Setor e Ramo de Atividade: Setor: ( ) Comércio ( ) Serviços ( ) Outros. Qual? Ramo: Qual?

6. Tipo de empreendimento: ( ) Formal ( ) Informal

7. Número de funcionários: ( ) Nenhum ( ) Até 03 ( ) De 04 a 06 ( ) De 07 a 10 ( ) De 11 a 15 ( ) De 16 até 49 ( ) De 50 até 99 funcionários ( ) Acima de 99 funcionários.

8. Nome do entrevistado:

9. Qual seu cargo na empresa: ( )Proprietário ( ) Diretor ( ) Gerente ( ) Supervisor ( )Outro: Qual?

10. Informe a sua escolaridade: ( ) Da 1a à 4a série do Ensino Fundamental (antigo primário). ( ) Da 5a à 8a série do Ensino Fundamental (antigo ginásio). ( ) Ensino Médio (antigo 2o grau). ( ) Ensino Superior. ( ) Especialização. ( ) Mestrado ou mais. ( ) Não estudou.

PARTE 1: Práticas aplicadas 11. Como está o seu dia a dia com a Lagoa sendo utilizada como palco de atividades da Olimpíada 2016?

12. O seu negócio foi afetado com a utilização da Lagoa Rodrigo de Freitas na Olimpíada 2016? De forma positiva ou negativa? No que afetou?

13. Caso seu negócio tenha sofrido alguma ação negativa, houve alguma contrapartida para diminuir esses efeitos por parte do Comitê Organizador?

14. Você fez alguma solicitação ao Comitê Organizador? Qual seria? Foi atendido?

15. Qual legado a Olimpíada deixarão no seu dia a dia? E para a Lagoa Rodrigo de Freitas e para a cidade do Rio de Janeiro?

16. Você foi informado pelo Comitê Organizador sobre as coisas BOAS que aconteceriam para o seu negócio durante os jogos? ( )Sim ( )Não

17. Você foi informado pelo Comitê Organizador sobre as coisas RUINS que aconteceriam para o seu negócio durante os jogos? ( )Sim ( )Não

18. A sua opinião foi considerada em algum momento no planejamento das ações para realização dos jogos da Rio 2016 na Lagoa Rodrigo de Freitas? ( )Sim ( )Não

19. Você participou de alguma reunião para falar sobre a Olimpíada da Rio 2016?

105

( )Sim ( )Não

20. Caso a sua resposta tenha sido “SIM” para a pergunta anterior. De quantas reuniões participou? ( ) 01 reunião ( ) de 02 a 06 reuniões ( ) de 06 a 10 reuniões ( ) mais do que 10 reuniões

21. Existe algum canal direto de comunicação com a organização dos jogos para informações sobre a Olimpíada? ( )Sim ( )Não. Se respondeu “sim”, qual?

PARTE 02: percepção de sucesso.

1 – Discordo Totalmente / 2 – Discordo / 3 – Não opino / 4 – Concordo / 5 – Concordo Totalmente

Utilize a escala acima para responder as questões de n°22 até 27:

22. A operação da Olimpíada na Lagoa Rodrigo de Freitas foi bem executada pelo Comitê? 1 2 3 4 5 23. Você é beneficiado com a Lagoa sendo palco de atividades da Olimpíada 2016? 1 2 3 4 5 24. Você está feliz com a Lagoa sendo palco de atividades da Olimpíada 2016? 1 2 3 4 5 25. O volume de vendas do seu empreendimento teve um aumento com a realização da Olimpíada? 1 2 3 4 5 26. Seus clientes ficaram satisfeitos com a realização da Olimpíada na Lagoa? 1 2 3 4 5 27. A relação estabelecida entre a população local (empreendimentos, clubes, moradores, trabalhadores e outros) da Lagoa e o Comitê Organizador da Olimpíada (Prefeitura e Rio 2016) antes e durante os jogos foi positiva? 1 2 3 4 5

28. Tem alguma informação complementar que gostaria de dizer? Observações Adicionais.

APÊNDICE 4

Troca de e-mails sobre o cancelamento de reserva da Federação Internacional de Canoagem: e-mail 1

106

Fonte: Sra. Vivian, proprietária do restaurante Arab (2016).

Troca de e-mails sobre o cancelamento de reserva da Federação Internacional de Canoagem: e-mail 2

107

Fonte: Sra. Vivian, proprietária do restaurante Arab (2016).

APÊNDICE 5

Matéria - Revista Época: Na Lagoa e no Aterro, os Excluídos da Olimpíada Aparecem

108

Autor: Rodrigo Turrer em 15/08/2016

Disponível em: http://epoca.globo.com/esporte/noticia/2016/08/na-lagoa-e-no-aterro-os-excluidos-da- olimpiada-aparecem.html

O instrutor de windsurfe Gustavo Carilo já treinou uma centena de atletas da vela. Treinador há 40 anos, seus pupilos ganharam campeonatos sul-americanos e participaram de Jogos Olímpicos. A última atleta olímpica a passar por suas mãos foi Patrícia Freitas, velejadora brasileira que está competindo na Olimpíada do Rio de Janeiro. Na tarde do domingo (14), em vez de estar nas arquibancadas montadas na Marina da Glória para as competições de vela, Gustavo estava nas areias da Praia do Flamengo, a poucos metros da enorme grade que separa o espaço reservado para as pessoas com ingresso da Rio 2016 daqueles que não têm. “Eu preferi não participar, sabe? Até porque, daqui dá para ver quase do mesmo jeito ou até melhor”, afirmou Gustavo. “Quem comprou ingresso comprou. Não custava nada abrir este espaço para atletas antigos e principalmente para os mais jovens, que nunca mais vão ter a chance de ver os esportes tão de perto. Não tem melhor momento para incentivar o esporte do que este.”

Assim como Gustavo, a atleta Ana Paula Marques também preferiu ficar nas areias da Praia do Flamengo. Ela e os familiares de um dos competidores, Ricardo Winicki, o Bimba, 6º lugar no windsurfe. Todos viram o atleta velejar das areias da Praia do Flamengo. “Ah, não tinha ingresso, ia ser difícil de entrar, muita muvuca, preferi ficar aqui sentada com o pessoal”, diz Ana Paula. A mulher de Bimba, Paula Newlands, também escolheu ficar do lado de fora da arena montada na Marina da Glória. “Achei muito complicado para entrar, a distância para quem vê da praia ou da arquibancada é quase a mesma, a fila ia ser muito grande. Foi mais pelo sossego mesmo”, diz Paula.

As razões são as mais variadas, mas uma coisa é certa: a Olimpíada do Rio não é exatamente o evento mais inclusivo do mundo. Ingressos caros, público desengajado, organização incapaz de estimular a participação de quem não comprou ingresso. São inúmeros os motivos. O resultado tem sido uma Olimpíada bonita de ver pela televisão, mas com algumas arenas vazias e parte da população alienada do evento.

No Aterro do Flamengo, onde os domingos costumam ser preenchidos por peladas encarniçadas, churrasquinhos e dezenas de pessoas com cadeiras de praia e caixas de isopor com cerveja, nada mudou. Mesmo com provas de vela acontecendo a alguns metros de distância, poucos se interessavam. Foi o caso da vendedora Maria Conceição Batista dos Santos, de 47 anos. “Eu queria participar de verdade, estar lá no vôlei e no handebol, torcendo pelo Brasil, mas é caro demais. Pobre não tem vez. Então resolvi vir aqui na praia”, afirma Maria Conceição. Ela mora no Rio de Janeiro há 25 anos. Todo fim de semana vem à Praia do Flamengo. “Eu digo que esta é a minha praia. Conheci meu marido aqui. Minha filha quase nasceu aqui. Por isso fiquei feliz quando soube que ia dar para ver alguma coisa da Olimpíada.”

O marido de Conceição, o comerciante José Vital, de 48 anos, esperava mais. “Eu não gostei que cortaram minha praia no meio com essa grade”, afirma José Vital. “Podiam ter colocado um telão aqui na praia, para pelo menos a gente saber o que estava acontecendo, já que com o preço do ingresso não dá para ver nada.” Todo fim de semana, Vital e Conceição se deslocam de Campo Grande para a Praia do Flamengo, “a mais bonita do Rio, porque é a nossa praia”, diz Vital. Quando ele soube que o Rio sediaria os Jogos, em 2009, gostou da ideia. “Achei que seria ótimo para o Rio, a cidade ia ficar maravilhosa, mas eu tenho dúvidas agora. Como vai ser depois da Olimpíada? A Força Nacional vai ficar nas ruas? Agora é legal. O Rio está em alta. Mas até quando vai durar isso?”

Essa é uma preocupação comum à maioria das pessoas, satisfeitas ou não com o resultado da Olimpíada. A falta de recursos públicos ameaça a continuidade das obras de melhorias levadas a cabo na cidade nos últimos anos. “Agora está cheio de policiamento, tudo funcionando direito, ninguém é assaltado, o transporte está ótimo, mas e depois?”, diz a aposentada Marli Soares. “Isso daí é uma fachada. Pintaram de uma cor bonita para os gringos verem, colocaram umas placas para os gringos não verem as favelas, é só enfeite.” Moradora de Santa Teresa há mais de 40 anos, ela diz que todo fim de semana vem para a Praia do Flamengo com a família. “Olha lá, eles cortaram metade da minha praia para fazer isso daí”, diz Marli, apontando para a cerca que divide a área destinada aos portadores de ingresso. “Quando o Rio foi escolhido como sede, eu protestei, porque não queria isto daqui, sabia que não ia servir para nada.”

Quem não tem ingresso mas quer participar tenta se virar como pode para tentar tirar uma casquinha da Olimpíada no Rio de Janeiro. Não que seja fácil. Mesmo com muitas modalidades olímpicas sendo disputadas

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ao ar livre, barreiras, painéis e a distância são empecilhos comuns para quem tenta improvisar para assistir aos Jogos. Na Lagoa Rodrigo de Freitas, a paisagem idílica onde atletas disputam competições de remo e canoagem é entrecortada por alambrados metálicos e cercas de aço que separam portadores e não portadores de ingressos. Do lado de fora, muitas pessoas tentavam ver os eventos em pequenas áreas à margem da Lagoa ou dependurados nas grades de ferro. “É difícil ver, não é? Dessa distância já não daria para ver nada, eles ainda colocaram uns painéis na linha de chegada, para ninguém ver mesmo”, afirma José Roberto Conceição, que tentava ver a classificatória nos 1.000 metros de canoagem pelos buracos entre a grade. “É só para acabar com a diversão. Assim não tem Olimpíada 0800”, diz ele, em referência à gíria carioca para coisas gratuitas.

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Matéria - Revista Época: Rio 2016, uma Olimpíada para ficar na memória

Autor: Cristina Grillo em 21/08/2016

Disponível em: http://epoca.globo.com/esporte/olimpiadas/noticia/2016/08/rio-2016-uma-olimpiada-para-ficar- na-memoria.html

Com sete medalhas de ouro, seis de prata e seis de bronze, o Brasil teve seu melhor desempenho em Jogos Olímpicos desde sua primeira participação, na Antuérpia, em 1920. A última medalha conquistada, com a vitória da seleção de vôlei masculino, colocou o país em 13º lugar no ranking da Rio 2016 – um resultado abaixo do pretendido pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que esperava terminar a Olimpíada em 10º lugar. O bom resultado não esconde uma realidade: grande parte do sucesso de nossos atletas dependeu mais de esforço pessoal que do apoio do Estado.

Foram dias emocionantes. O choro da judoca Rafaela Silva ao conquistar o ouro; a multidão carregando o barco das velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, com as duas comemorando lá no alto; o jogador de vôlei Lucarelli, o caçula da seleção, beijando os pés do líbero Serginho, o decano do time; o boxeador Robson Conceição caindo de joelhos ao fim da luta que lhe deu o alto do pódio são algumas das cenas que não se apagarão de nossas mentes.

Foram também dias em que cariocas e visitantes se reencontraram com uma cidade que andava meio maltratada. O Boulevard Olímpico recuperou a zona portuária; o Parque Olímpico, se bem aproveitado no futuro, poderá se tornar outro grande ponto de atração no Rio. Houve melhorias inegáveis em termos de mobilidade na cidade.

Houve excessos em alguns momentos – era desnecessário vaiar o atleta francês Renaud Lavillenie quando ele disputava com o brasileiro Thiago Braz o ouro no salto com vara. Mas, de modo geral, nossa torcida também merece ouro. Onde mais uma esgrimista japonesa que acerta um golpe é saudada entusiasticamente com gritos de “sushi, sushi”? Ou, na falta de por quem torcer, gritar freneticamente “juiz, juiz” para incentivar o único brasileiro dentro do ringue de boxe? Ou ainda, diante do time chinês atordoado com a equipe americana de basquete, gritar entusiasmadamente “vamos virar, China”, quando o time asiático perdia por quase 50 pontos?

Foram sete anos de espera pela Olimpíada. Foram 16 dias de recordes, vitórias, derrotas, alegrias. Uma temporada inesquecível, que nos dá vontade de dizer: fica, Rio 2016, não vai embora, não.

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Matéria - Site Alemão DW: Imprensa europeia destaca desânimo com a Rio 2016

Autor: Luisa FreyGrillo em 27/04/2016

Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/imprensa-europeia-destaca-desânimo-com-a-rio-2016/a-19219192

A cem dias dos Jogos Olímpicos de 2016, o megaevento esportivo no Rio de Janeiro ganhou destaque na imprensa europeia nesta quarta-feira (27/04). Um dos principais aspectos destacados foi a atual crise econômica e política enfrentada pelo Brasil, que afeta o ânimo em relação aos Jogos.

O jornal alemão Die Welt lembra o "júbilo" na América Latina quando a cidade maravilhosa foi escolhida para sediar o evento, em 2009. "Mas hoje o coração do Rio bate diferente. O êxtase transformou-se em desilusão; a euforia, em desânimo", escreve o jornalista Jens Hungermann. Ele aponta a crise econômica e política como motivo para a mudança de clima em relação aos Jogos.

"Inicialmente vistos como uma benção, os primeiros Jogos Olímpicos estão ameaçando se tornar uma maldição para a cidade-sede em estado de choque", escreve o britânico The Guardian, seguindo a mesma linha do Die Welt. Entre os problemas que abalam a expectativa dos cariocas e dos brasileiros em relação aos Jogos estão o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que dividiu o país, o maior escândalo de corrupção da história do Brasil e a mais acentuada queda do PIB em décadas, afirma o The Guardian.

O italiano Corriere della Sera, por sua vez, começa falando dos Jogos com otimismo, dizendo que, diferentemente da Copa do Mundo de 2014, desta vez o Brasil não está despreparado – com 98% da infraestrutura olímpica pronta, segundo dados oficiais.

"Os contornos dos Jogos, no entanto, seguem sendo um enigma", pondera o jornal. "Quem está acompanhando a confusão da política brasileira vai se perguntar quem será o chefe de Estado a declarar abertos os 31ºs Jogos da era moderna [...] Justamente por esse motivo, a contagem regressiva dos cem dias cai em certo desinteresse."

O Le Monde afirma que, a cem dias da cerimônia de abertura, em 5 de agosto, o atraso de algumas obras, como a Linha 4 do metrô, "fonte habitual de ansiedade do Comitê Olímpico Internacional, não é nem de longe o único desafio que o Rio terá que superar".

Zika, Guanabara e ciclovia. Várias das publicações apontam o atual surto de zika como algo que pode ter um efeito negativo sobre o megaevento esportivo. O Le Monde afirma que o vírus provocou "uma espécie de histeria global", levando turistas a cancelarem suas viagens e preocupando atletas. O The Guardian afirma que se trata da "pior crise de saúde na região de que se tem lembrança".

A maioria dos jornais também menciona a queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, que deixou dois mortos na semana passada. O Die Welt, por exemplo, classifica o desastre ocorrido a tão poucos dias dos Jogos Olímpicos como um "sinal devastador". A obra deveria ser parte do legado olímpico.

Além da queda do trecho da ciclovia, o The Guardian cita o dado revelado nesta semana de que 11 operários morreram nas obras da Rio 2016 – comparados a oito na Copa do Mundo de 2014 e nenhum nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

A Baía de Guanabara também é citada como exemplo de fracasso dos preparativos. O jornal britânico destaca que o local, que será palco de competições de vela, "fede a excrementos". O Corriere della Sera, por sua vez, aponta a despoluição do local antes dos jogos como uma das promessas que o Rio não conseguirá cumprir.

Após chamar a baía de "cloaca", o tabloide alemão Bild traz uma montagem de um cartão postal do Rio de Janeiro com as palavras Grüße aus Rio de SCHANDiero (algo como "Saudações do Rio Vexameiro", fazendo um trocadilho com a palavra Schande, que significa vexame ou vergonha).

O jornal também destaca a queda de uma parte da ciclovia e a morte de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas. "Ainda mais dramática é a qualidade da água na área das competições de vela, a linda Baía de Guanabara", afirma a reportagem, intitulada "Cem dias antes dos Jogos – e ainda há mil problemas". APÊNDICE 8

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Matéria - Site Alemão DW: Opinião: Jogos Olímpicos libertam o Rio

Autor: Astrid Prange em 21/08/2016

Disponível em: http://www.dw.com/pt-br/opinião-jogos-ol%C3%ADmpicos-libertam-o-rio/a-19487677

Welcome to hell – bem-vindos ao inferno: com essa saudação, ainda em fins de junho policiais protestavam no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. Sua inquietante mensagem era: não vamos cuidar para a segurança de vocês, pois há meses não recebemos salário.

Os espectadores dos Jogos Olímpicos não se deixaram intimidar por essas boas-vindas. Pelo contrário: centenas de milhares de turistas e atletas ousaram entrar no inferno da metrópole brasileira. Apesar do medo do terrorismo, apesar do zika, apesar da criminalidade.

E – milagre! – eles se sentem bem. Eles desfrutam da hospitalidade e cultura brasileiras, das praias e da natureza – e dos primeiros Jogos na América do Sul.

O Rio de Janeiro simboliza céu e inferno, na mesma medida. Nenhuma outra cidade do Brasil reúne em si, em tamanha proporção, contradições e contrastes tão extremos: taxas de assassinato assustadoramente altas frente a frente com uma irrefreável alegria de viver.

As temperaturas no inferno do Rio já vão baixando. Delegações e turistas deixam a cidade, só na segunda-feira (22/08) são esperados 85 mil passageiros no aeroporto. Depois dos Jogos Paralímpicos, em setembro a chama olímpica se apaga definitivamente.

Porém, mesmo que após os Jogos os problemas da cidade permaneçam os mesmos de antes, mesmo que a criminalidade, caos do trânsito, hospitais desmoronando e policiais sub-assalariados sigam marcando o quotidiano carioca, a cidade mudou: uma nova autoconfiança tomou conta de seus cidadãos.

É o justo orgulho de, sob as circunstâncias mais difíceis, ter realizado o maior evento esportivo do mundo, com mais de 10 mil atletas e 500 mil espectadores. É a satisfação de, após anos dos distúrbios causados pelas grandes obras, reconhecer um novo rosto da cidade. E é a alegria pelo reconhecimento mundial desse ato de força organizatório, esportivo e social.

Os Jogos Olímpicos libertaram o Rio. Libertaram do difundido complexo de inferioridade brasileiro de que no exterior tudo funcione melhor do que no próprio país. Libertaram do trauma de que a pobreza e a violência minam a beleza da cidade. Libertaram-no da ilusão de que os visitantes estrangeiros, sobretudo da Europa e dos Estados Unidos, se comportem sempre melhor do que os próprios conterrâneos.

Os nadadores americanos não contavam com essa nova autoconfiança. Eles fracassaram deploravelmente com sua estratégia de simular um assalto – fato alegadamente quotidiano no Rio –, para assim desviar a atenção da própria má conduta. O incidente é mais constrangedor ainda, por partir justo de atletas olímpicos um comportamento tão desleal perante seus anfitriões.

Também o Comitê Olímpico Internacional (COI) precisa repensar. Enquanto houver em seus quadros membros como Joseph Hickey, que vendem ingressos ilegalmente e a preços exorbitantes, o comitê coloca em jogo sua autoridade. Ao que parece, no inferno do Rio as coisas são mais justas do que no céu olímpico do COI, o qual se deleita na Suíça com lucros não tributados, enquanto exige que os contribuintes brasileiros compensem os déficits com seus impostos.

Assim como a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, também os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro desmascararam a dupla moral dos supostos guardiães do espírito olímpico e da lealdade esportiva: eles estão muitos anos-luz distantes dos celestiais ideais olímpicos. Obrigado, Rio, e bem-vindos ao mais maravilhoso inferno do planeta!