Património Arqueológico e Arquitectónico de

Luis Fontes e Ana Roriz

Património Arqueológico e Arquitectónico de Vieira do Minho

Luis Fontes e Ana Roriz

Município de Vieira do Minho 2007 Título PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO E ARQUITECTÓNICO DE VIEIRA DO MINHO

Autores Luis Fontes e Ana Roriz

Produção Luis Fontes, Ana Roriz e Clara Rodrigues / Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

Fotofrafias Ana Roriz e Luis Fontes / Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

Mapas Luis Fontes, Ana Roriz e Clara Rodrigues / Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho

Editor Município de Vieira do Minho

ISBN: 978-989-95595-0-9

Impressão e acabamentos Oficina São José -

Exemplares 2000

Depósito legal

267228/07

Co-financiado

Proibida a reprodução , divulgação ou cópia, no todo ou em parte, sem autorização expressa dos autores. Reservados todos os direitos pela legislação em vigor (DEC-LEI 332/97 e 334/97, de 27 de Novembro). 003

Índice

Apresentação 004

1. Introdução 005

2 . Aproximação ao quadro geográfico 006

3. Breve síntese historiográfica 008

4. Do património arqueológico e arquitectónico 009

4.1. Pré-História Recente 009 4.2. Proto-História 011 4.3. Antiguidade (romano e suevo-visigótico) 013 4.4. Idade Média 015 4.5. Idade Moderna e Contemporânea 018

5. Inventário 027

6. Bibliografia 167 004

Apresentação 005

1. Introdução

O trabalho que aqui se apresenta é o se reconheceu valor arquitectónico conjunto do património, numa abordagem culminar do projecto de 'Inventário do vernacular (tradicional) e/ou de estilo. diacrónica de caracterização da sequência Património Arqueológico e Arquitectónico do Excepcionalmente, registaram-se valores longa de ocupação do território de Vieira do Município de Vieira do Minho', projecto cuja patrimoniais posteriores, isto é, já do século Minho. Segue-se a apresentação dos valores execução foi cometida à Unidade de XX, como aconteceu com alguns patrimoniais inventariados, por , Arqueologia da Universidade do Minho, sob a espigueiros, pois revelaram a permanência com listagem de todos os registos e uma responsabilidade dos signatários e ao abrigo de gostos estéticos e de um 'saber fazer' descrição mais desenvolvida de sítios e/ou de um protocolo específico celebrado entre o muito característico da arquitectura monumentos seleccionados, concluindo-se Município de Vieira do Minho e a vernácula regional. este trabalho com a indicação de toda a Universidade do Minho. O presente trabalho constitui o primeiro bibliografia consultada, na qual o leitor Ao longo de 3 anos, entre Janeiro de inventário sistemático do património poderá encontrar informação complementar. 2004 e Janeiro de 2007, percorreu-se o arqueológico e arquitectónico da totalidade território de Vieira do Minho de lés-a-lés, do município de Vieira do Minho, com um desceram-se as margens dos seus rios e total de 1491 registos, acrescentando-se ribeiras, subiram-se as encostas dos seus significativamente o conhecimento sobre as montes e percorreram-se as cumeadas das existências arqueológicas e valorizando-se suas serras, visitaram-se as igrejas e um património arquitectónico que até agora capelas de todas as freguesias, terá passado despercebido. descobriram-se sítios arqueológicos inéditos De facto, aos 14 sítios arqueológicos e registaram-se centenas de espigueiros e registados conjuntamente pelo IPA de moinhos. (Instituto Português de Arqueologia) e pelo Nestas tarefas participou, com um IPPAR (Instituto Português do Património empenho, gosto e conhecimento ímpares, Arquitectónico), juntam-se agora mais 130, Manuel Abraão Pires, o mais qualificado somando um total de 144 sítios (10 % dos prospector arqueológico com que podíamos sítios inventariados neste trabalho). contar. Aqui ficam os nossos Relativamente ao património reconhecimentos e agradecimentos arquitectónico, a diferença é ainda mais públicos. expressiva: registaram-se 1347 edifícios a Do contacto frequente com o território que se reconheceu valor patrimonial (90 % de Vieira do Minho guardam-se também dos sítios inventariados neste trabalho), a lembranças de deslumbramento pelas maior parte dos quais relacionados com paisagens vistas, de acolhimento franco e expressões vernaculares da arquitectura, incentivador por parte das populações, de isto é, arquitectura tradicional ou popular, emoções únicas que construíram amizades com particular destaque para os moinhos e sólidas, da fruição de sabores gastronómicos espigueiros (que no conjunto somam mais de excelência. de 70 % dos registos de património O projecto de inventário protocolado arquitectónico). entre o Município de Vieira do Minho e a É toda essa informação que agora se Universidade do Minho contemplou, tal disponibiliza ao público na forma impressa, como explicita o título, o património depois de já se ter assegurado a sua arqueológico e arquitectónico, entendido o divulgação na Internet, através do site do primeiro de modo mais restrito (sítios com Município de Vieira do Minho, dando ruínas, anteriores ao século XX, pois as visibilidade a um património ainda pouco balizas cronológicas da área disciplinar de conhecido. Arqueologia estendem-se, actualmente, da Nas páginas que se seguem começamos Pré-História até à Contemporaneidade, por fazer breves aproximações ao quadro abarcando todas as manifestações materiais geográfico e à historiografia do município de da actividade humana), e o segundo na sua Vieira do Minho, como introdução ao capítulo acepção mais comum de construções a que em que se ensaia uma leitura de síntese do 006

2. Aproximação ao quadro geográfico

Graças sobretudo a recentes estudos bordadura do planalto de Barroso a Este, de caracterização para efeitos de revisão do sendo limitado a Sudeste e Sudoeste pelas Plano Director Municipal, pode dizer-se que o serras de Rossas e de Anissó, relevos que município de Vieira do Minho, do ponto de marginam o vale do rio Ave. vista geográfico, já é bem conhecido. Geomorfologicamente integra-se Beneficia, complementarmente, dos plenamente no Maciço Galaico-Duriense, estudos detalhados feitos sobre a Serra da fazendo a transição com a Meseta Norte, Cabreira, entre os quais se devem destacar através do contacto com a bordadura poente os de Nicole Devi-Vareta sobre a evolução da do planalto barrosão. Desenvolve-se a uma floresta, os de Ruiz Zapata sobre os altitude variável entre os 100 metros, na paleoambientes das serras do NO peninsular margem esquerda do rio Cávado, na e os coordenados por Amadeu Soares sobre Caniçada e os 200 metros, na margem a fauna e a flora (Devy-Vareta 1993; Ruiz esquerda do rio Ave, em Guilhofrei, e os Zapata et. al. 1993; Soares 2000). 1262 no Talefe, no alto da Serra da Cabreira. Com cerca de 220 km2 de área, o Ao quadro geomorfológico marcado município de Vieira do Minho integra o pelo relevo da Serra da Cabreira, Distrito de Braga e a NUT III Ave. Com 21 profusamente recortado por vales mais ou Hipsometria e hidrografia do Município de freguesias e pouco menos de 15.000 menos encaixados, que se alargam em Vieira do Minho habitantes, distribuídos por mais de centena alvéolos pontuados de esporões e de colinas, e meia de lugares / aldeias, o seu território deve associar-se a geologia, com Hidrologicamente, o município de ocupa a quase totalidade da cabeceira do rio dominância quase absoluta de Granitóides e Vieira do Minho enquadra-se em duas bacias Ave, formada pelo maciço da Serra da raras ocorrências de Metassedimentos hidrográficas principais: bacia do rio Cávado, Cabreira, estendendo-se dos rios Cávado e (xistos) (Noronha e Ribeiro 1983; Ribeiro et. a Norte, para onde drena a vertente Rabagão, a Norte e a Nordeste, até à al. 2000). setentrional da Serra da Cabreira, directamente ou através das bacias secundárias dos rios Rabagão e Saltadouro, e a bacia do rio Ave, no restante território, servida por uma densa rede de pequenas bacias secundárias que originam o próprio rio Ave. O regime hídrico é característico de zonas de montanha, escoando rapidamente as elevadas precipitações que aqui ocorrem regularmente ao longo de todo o ano. A diversidade dos relevos, desde as amplas veigas do vale e dos alvéolos interiores até aos profundos vales encaixados e cumeadas pedregosas dos montes, conhece correspondência nas variantes climáticas, com Invernos rigorosos, frequentemente com neve e Verões quentes, nas zonas altas e desabrigadas, e estações mais amenas nos vales e encostas abrigadas. A actual ocupação humana revela uma adaptação notável às características variadas do território: nos vales e sopés dos montes conhece uma maior dispersão das Localização do Município de Vieira do Minho e identificação das freguesias edificações, que se vão rarefazendo com a 007

2. Aproximação ao quadro geográfico

Panorâmica sobre o vale de Vieira do Minho elevação das vertentes, até se concentrarem intensiva, em regime de exploração familiar, desenvolvimento municipal, tanto mais em aglomerados compactos nas vertentes ainda dominada pelos cultivos de quanto são os sectores tradicionais de baixa altas ou nas zonas planálticas. A leguminosas, forragens para o gado e milho produção que ainda dominam a estrutura humanização é hoje significativamente mais grosso ou maíz. produtiva. intensa na vertente SO da Cabreira e no vale Nas encostas superiores e nas inicial do Ave e menor na vertente virada ao cumeadas das serras, dominam os prados rio Cávado. também armados em socalcos ou os mais A paisagem dominante é a paisagem de extensos prados naturais das chãs. É o minifúndio ou de bocage, reflexo da antiga espaço da pastorícia, actualmente dominada economia de base agrícola, com campos que pela criação de gado bovino e equino. retalham o espaço dividindo-o com sebes de A população, contudo, conhece um arbustos ou alinhamentos de árvores de processo de redução e envelhecimento fruto e que sobem as encostas armando-se progressivos, constituindo a sua fixação nos em socalcos sustentados por muros de lugares de origem um dos maiores desafios mamposteria. É o espaço da policultura que actualmente se coloca ao fomento do Prados de lima na zona de Campos 008

3. Breve síntese historiográfica

Do conhecimento da história da história das principais famílias de Vieira. No ocupação humana antiga do território de que respeita à arqueologia, incorpora os Vieira do Minho, não se pode dizer o mesmo elementos referidos pelos autores que relativamente ao conhecimento anteriores e dá pela primeira vez notícia dos geográfico, com excepção dos recentes povoados medievais abandonados de S. contributos da publicação, historicamente Bento e de Arandosa. contextualizada, das Memórias Paroquiais Em 1947 Carlos Teixeira publica um de 1758 (Capela e Borralheiro 2000; Capela artigo mais desenvolvido e ilustrado sobre os 2003). povoados abandonados da Serra da Efectivamente, antes de 1998, quando Cabreira, aludindo marginalmente à foi efectuado o primeiro inventário existência de monumentos tipo megalítico arqueológico da vertente alta da Serra da dispersos pelos montes envolventes de Cabreira, nunca se efectuaram quaisquer Rossas (Teixeira 1947). estudos arqueológicos planeados e mesmo Os estudos posteriores pouco as referências avulsas a vestígios acrescentaram, destacando-se apenas a arqueológicos são escassas. notícia, dada por Carlos Alberto Ferreira de Para a área do município de Vieira do Almeida (1970), de importantes achados Minho, as primeiras referências datam do correlacionados com o castro romanizado de século XVIII e devem-se a Jerónimo Rossas e o contributo de Arlindo Ribeiro da Contador de Argote, que a propósito do Cunha (1975), sobre os castros de Rossas e traçado da via romana que ligava Braga a de Vila Seca (agora chamado correctamente Chaves, refere a existência de vestígios de de Vieira) e sobre o castelo de Penafiel de calçada e fragmentos de miliários em Soás (monte de São Mamede). Salamonde e em Ruivães (Argote 1732 e Com o inventário da vertente alta da 1734). Serra da Cabreira, realizado em 1998 e que Já em finais do século passado, em abarcou então os concelhos de Vieira do 1895, Martins Capela assinala o achado de Minho e de , mas um miliário anepígrafe na extrema restringido ao espaço acima da cota dos 600 setentrional da de Ruivães, metros de altitude, deu-se um primeiro monumento hoje desaparecido, e a passo para o conhecimento sistemático da existência da ponte do Arco (a ponte de realidade arqueológica do município, Saltadouro, actualmente submersa pelas inventariando-se então em Vieira do Minho águas da albufeira de Salamonde), que 24 arqueossítios (Fontes 1998; Fontes classifica de romana (Capela 1987, 56). 1999). Em 1906, Rocha Peixoto noticia na Na ausência de novos e mais revista Portugalia a existência de sepulturas desenvolvidos estudos, reedita-se em 2000 escavadas na rocha em S. Cristóvão, a monografia de José Alves Vieira e Ruivães (Peixoto 1967, 366-371). publicam-se, pouco depois, as já referidas Em 1925 José Alves Vieira escreve a Memórias Paroquiais. primeira, e até hoje única, monografia do concelho de Vieira do Minho, que intitulou Vieira do Minho. Notícia Historica e Descriptiva (Vieira 2000), valorizando os tópicos que, na época, constituíam os elementos considerados fundamentais da identidade de Vieira do Minho, desde descrições detalhadas dos valores naturais, em que dominava a Serra da Cabreira, até ao relato laudatório e comprometido da 009

4. Do património arqueológico e arquitectónico

O inventário que origina a presente monografia constitui o mais recente Sítios Arqueológicos por Período Cultural contributo para o conhecimento da ocupação do território do município de Vieira do Minho, confirmando, especialmente com os seus

144 sítios arqueológicos inventariados, que Idade do Bronze Romano - Suevo - Visigótico 2% essa falta de conhecimento se deve apenas à 3% Baixa Idade Média - Idade Moderna Idade do Ferro - Suevo - Visigótico 2% 1% Romano - Idade Contemporânea Outros inexistência de investigação e não à Idade Contemporânea 8% 4% Idade do Ferro / Idade Média ausência efectiva de uma longa ocupação Romano 6% 2% 3% Idade do Ferro / Romano humana, de cuja história se apresenta aqui 2% Idade Média um primeiro esboço, com base exactamente 2% Neolítico - Mesolítico Idade Média - Idade Moderna 2% no património registado. 3% Importa notar que a ausência de estudos monográficos não facilita, ou impede mesmo, o estabelecimento de cronologias e de sequências de ocupação rigorosas. Para a maior parte dos sítios arqueológicos identificados, reconheceram- se apenas alguns elementos que aceitam Neolítico - Bronze 16% Idade Moderna uma filiação crono-cultural generalista, Medieval 28% 1% como sejam determinadas práticas de Indeterminado 6% Idade Moderna - Idade Contemporânea enterramento (p.ex. os sepulcros sob tumuli 8% ou 'mamoas'), certos objectos metálicos (p.ex. moedas romanas), algumas soluções construtivas (p.ex. povoados com Gráfico de distribuição de sítios arqueológicos por período cultural muralhas), diversas produções cerâmicas (p.ex. fabricos manuais ou cerâmicas importadas), ou ainda determinadas a mudança de Era, correspondente à Idade 4.1. Pré-História Recente expressões artísticas (p.ex. as gravuras do Ferro); Antiguidade (do início da Era ao rupestres). século VIII, correspondente aos domínios Os mais antigos vestígios, Para os sítios arquitectónicos, romano e suevo-visigótico); Idade Média enquadráveis na Pré-História Recente, são praticamente todos de época moderna e (entre os séculos IX e XV, correspondentes os abrigos rupestres sob lapas rochosas, que contemporânea, beneficiou-se da preciosa ás Alta Idade Média/'Reconquista', Idade se distribuem um pouco por todo o território, fonte documental que são as Memórias Média Central e Baixa Idade Média); e Idade sempre na vertente média-alta da bordadura Paroquiais e das inúmeras datas gravadas Moderna e Contemporânea (entre os séculos da cabeceira do rio Ave. nas construções, sendo menos relevante a XVI e XIX). Registaram-se 12, mas apenas foram definição do estilo artístico a que se Com esta 'arrumação' genérica estudados 4: abrigos de Vale de Cerdeira, vinculam. pretende-se, tão-só, facultar uma leitura Pedra Bela, Pala do Lobo e de Pelisqueiras, Por estas razões, adoptamos como integradora que proporcione uma confirmando-se a sua ocupação desde cerca referente cronológico uma periodização compreensão global do processo de de 6.000 anos, vinculando-se igualmente generalista, de larga amplitude, construção da paisagem actual. Para provavelmente aos períodos culturais do que permite 'arrumar' a totalidade dos sítios investigações futuras ficarão os detalhes dos Mesolítico e/ou do Neolítico (Batista 2001). inventariados, estabelecendo-se os modelos de povoamento que presidiram à Trata-se de locais de assentamento seguintes 5 períodos: Pré-História Recente estruturação do território e sua respectiva elementares, que aproveitam a existência de (entre os VI.º e meados do I.º milénios a.C., evolução. 'abrigos' naturais sob os afloramentos de correspondentes ao Mesolítico, Neolítico, granito, estrategicamente localizados em Calcolítico e Idade do Bronze); Proto- zonas favoráveis à exploração de recursos. História (entre meados do I.º milénio a.C. e Os restantes 8 nunca foram objecto de 010

4. Do património arqueológico e arquitectónico 4.1. Pré-História Recente 011

4. Do património arqueológico e arquitectónico

estudos arqueológicos, podendo não ter ocupações que, por vezes, se prolongaram condições para que seja integrado na rede de conhecido uma ocupação tão antiga. até à Baixa Idade Média, a maior parte Castros que a Sociedade Martins Sarmento e Mais abundantes são os enterramentos destes povoados fortificados parece ter-se o Centro de Arqueologia Castreja e Estudos sob tumuli (ou tumulações com 'mamoa' - desenvolvido no decurso da Idade do Ferro, Célticos pretendem candidatar a Património por serem especialmente visíveis os conhecendo o seu apogeu entre os séculos II da Humanidade. O primeiro passo do amontoados de terra e calhaus que a.C e II d.C.. projecto já se concretizou com o envio ao recobriram outrora as câmaras sepulcrais), No actual território do município de IPPAR de uma proposta de classificação dos quais se identificaram 21, distribuídos Vieira do Minho registaram-se 6 povoados como Imóvel de Interesse Público. pelas chãs e portelas dos relevos que fortificados, todos com vestígios de Com excepção dos castros de Atafona e enformam a cabeceira do rio Ave, muralhas, ruínas de edificações nas de Outeiro do Vale, todos os restantes distinguindo-se dois conjuntos maiores, plataformas interiores e espólio cerâmico; 2 povoados foram romanizados, sendo que verdadeiras necrópoles, no Chão do Gandas sem evidências de amuralhamento; e 1 dois conheceram também ocupação durante e na Lama dos Eidos, ocupando amplas e ocorrência que poderá corresponder a uma o domínio suevo-visigótico e um continuou bem expostas chãs de meia encosta. necrópole. ocupado na Idade Média, recebendo um Trata-se de testemunhos de ocupação Embora se dispersem por quase todo o castelo na sua plataforma superior (castro / humana com uma cronologia alargada, que território do actual município de Vieira do castelo de Vieira). geralmente se situam entre os 3.º e 1.º Minho, a análise atenta da sua distribuição milénio a.C., vinculando-se aos períodos revela dois conjuntos distintos: um na culturais do Neolítico, Calcolítico e Idade do margem esquerda do rio Cávado, com os Bronze. Sendo, na sua maior parte, povoados implantados em cabeços e estruturas funerárias, admite-se que os promontórios a meio da vertente Norte da assentamentos das populações que os serra da Cabreira / Cantelães; e outro usaram se localizariam nas proximidades. vinculado à bacia inicial do rio Ave, Este conjunto de monumentos vem localizados em relevos proeminentes que preencher uma lacuna nas manchas de dominam os inúmeros vales interiores da distribuição conhecidas e, embora possa cabeceira do rio. corresponder a uma baixa densidade de Estes são os de maiores dimensões, ocupação do território, revela uma clara destacando-se entre todos o Castro de Vieira penetração do megalitismo no vale superior / Cantelães, com uma área aproximada de do rio Ave. 10 hectares e um complexo sistema Adentro deste período da Pré-História defensivo de muralhas concêntricas, com Recente, registaram-se 6 assentamentos / cerca de 3500 metros de perímetro total. povoados e dois conjuntos de gravuras Trata-se, portanto, de um povoado Panorâmica do Castro de Vieira / Cantelães rupestres, a maior parte dos primeiros fortificado que, pela sua dimensão e correlacionados espacialmente com a implantação estratégica ao centro do vale necrópole de Lamas dos Eidos e os segundos inicial do rio Ave, terá sido um lugar central com a necrópole do Chão do Gandas. do povoamento pré-romano, inscrevendo- se bem no centro do território dos Callaeci Bracari. 4.2. Proto-História O reconhecimento do valor histórico, cultural e científico do monumento, a par da No noroeste peninsular a proto-história percepção do seu elevado potencial de é geralmente associada aos “castros”, valorização, conduziram o Município de designação habitual dos inúmeros povoados Vieira do Minho a promover, em parceria fortificados que coroam os principais montes com a Universidade do Minho, um projecto e que são a expressão monumental da de estudo, de valorização e de divulgação do chamada “cultura castreja”. Castro-Castelo de Vieira, com o objectivo de Muitas vezes de fundação mais remota, garantir a sua conservação e de o tornar que pode recuar à Idade do Bronze e com acessível ao público, satisfazendo as 012

4. Do património arqueológico e arquitectónico 4.2. Proto-História 013

4. Do património arqueológico e arquitectónico

4.3. Antiguidade (romano e suevo- abertos de fundação romana. Na sua localizam em Pandoses (Parada de Bouro) e visigótico) passagem por esta região era servido por Lamedo (Rossas), respectivamente. uma estalagem, a mansio Salatia, cuja A Antiguidade aparece representada localização exacta permanece por 27 sítios e achados arqueológicos, desconhecida. praticamente todos relativos a ocupações Desde Pousadouro (Tabuaças) até Cambedo romanas e suevo-visigóticas. (Campos), o seu traçado pouco variava de Cinco dos sítios correspondem a cota, serpenteando a meia encosta povoados fortificados proto-históricos que acompanhando sensivelmente o actual apresentam vestígios materiais de época traçado da estrada nacional 103. No Outeiro romana e suevo-visigótica. Os castros de dos Púcaros, (entre Salamonde e Ruivães), Vieira / Cantelães e de Rossas parecem ter em Ruivães, e no Monte de Cambedo, em mantido importância, pois aí se recolheram Campos, conservam-se bons troços do inúmeros materiais, incluindo moedas, uma caminho antigo, podendo ser percorridos a árula e uma cabeça de Júpiter. pé. Cabeça de Júpiter(?), em bronze Identificaram-se também seis Em 2005, o traçado da via romana no povoados abertos, entre os quais se município de Vieira do Minho foi integrado no destacam, pela grande área de dispersão “Projecto das Vias Augustas”, estando dos vestígios, S. Cristóvão e Vila Monteira. devidamente sinalizado. As necrópoles correlacionadas com Do ponto de vista da sua distribuição estes povoados estão praticamente todas global, ressalta a especial concentração de por descobrir, referenciando-se apenas dois vestígios na margem esquerda do rio sítios que poderão corresponder a essa Cávado, associando-se um maior número de função. povoados com o traçado da via que ligava Refira-se ainda um achado isolado, a Braga a Astorga por Chaves. ara de Louredo, que poderá ser proveniente Sobre as cronologias dos sítios de um dos povoados próximos. romanos, os únicos elementos susceptíveis Miliário de Zebral Mas os vestígios mais numerosos de proporcionar referências cronológicas, respeitam à passagem da importante via são a via Bracara Asturica, aberta ao tempo militar romana que ligava Bracara Augusta de Augusto, alguns materiais do castro de (Braga) a Asturica Augusta (Astorga), por Rossas, designadamente uma moeda de Aquae Flaviae (Chaves), atravessando o Carisius, legado de Augusto (séc. I), uma espaço do actual município de Vieira do cabeça de Júpiter datável de finais do século Minho, que então se integrava o conventus II inícios do século III, sigillatas hispânicas bracarensis. O estudo do seu traçado e vidros tardios (século V), sugerindo mereceu especial atenção, tendo-se portanto uma ocupação continuada desde a identificado onze troços e dois miliários transição da era até ao fim do império. correlacionados com a sua passagem. Para o período suevo-visigótico Estruturada ao tempo do imperador (séculos V-VIII), confirma-se, pelo espólio Augusto (séc. I), esta ligação viária, que cerâmico, a continuidade de ocupação em atravessava a rica região mineira do vários dos povoados fortificados, os castra, Barroso, aparece registada no Itinerarium ocupação igualmente confirmada, ainda que Antonini, do século III. indirectamente, pelas fontes documentais O seu traçado no território do Município coevas, designadamente a crónica de de Vieira do Minho é bem conhecido, Idácio, bispo de Chaves, escrita cerca do ano correndo pela vertente setentrional das 469, e a Divisio Theodomiri ou 'Paroquial Serras de Cantelães e da Cabreira, virado ao Suevo', elaborada cerca do ano 572. Nesta rio Cávado, servindo diversos povoados última referem-se as 'paróquias' de 'castrejos' romanizados e outros povoados Palantucio e de Lameto, que os especialistas Troço de via antiga, entre Salamonde e Ruivães 014

4. Do património arqueológico e arquitectónico 4.3. Antiguidade (romano e suevo-visigótico) 015

4. Do património arqueológico e arquitectónico

4.4. Idade Média clara filiação estilística bracarense, bem como a utilização de silhares de granito Da Idade Média, período em que se rosado. configurou um novo modelo de povoamento, Relevo especial para os 5 povoados primeiro decorrente do processo de medievais abandonados, quatro na vertente expansão asturiano-leonês e da definição do alta da serra da Cabreira, vinculando-se Condado Portucalense e depois com a claramente a uma mais intensa exploração afirmação do Reino de , dos recursos pastoris da serra e um outro na identificaram-se relativamente poucos sítios vertente baixa, nas proximidades de arqueológicos, apenas 20, a que se poderão Ruivães. Este último é particularmente acrescentar os testemunhos arquitectónicos importante porque corresponde à antiga de traça românica da igreja de São João da sede de freguesia de São Martinho de Vilar Cova. de Vacas, mencionada nas Inquirições de Esta pouca frequência de registos não 1258, povoação que esteve na origem de significa ausência de povoamento medieval, Ruivães. Ponte de Agra explicando-se antes pelo facto de a estrutura Destaque igualmente para as 4 pontes actual de povoamento corresponder à matriz e 3 troços de via, testemunhando a gerada no decurso dos séculos medievais, importância da rede viária local e regional. documentando-se em meados do século XIII Efectivamente, as pontes foram obras que quase todas as sedes paroquiais que hoje na Idade Média mereceram especial atenção existem. Portanto, o modelo de povoamento dos senhores das terras, dos abades de medieval permanece activo, conhecendo mosteiros e da coroa, porque serviam as actualmente um processo acelerado de ligações viárias que estruturavam o transformação, ainda indefinido. território, aqui em Vieira do Minho servindo Castelos, igrejas e pontes são as mais as mais importantes ligações regionais ao comuns expressões arquitectónicas da Barroso, Rossas e Basto, avultando entre Idade Média, ocupando um lugar especial no todas a Ponte da Mizarela, notável tanto pelo imaginário popular. No conjunto de sítios e engenho revelado na sua construção como achados registados sobressaem pela implantação espectacular sobre as precisamente os castelos de São Mamede escarpas do rio Rabagão, servindo a via (Parada de Bouro) e o de Vieira (Cantelães). medieval que acompanhava o vale do rio Castelo de Vieira O primeiro foi cabeça da Terra de Penafiel de Cávado em direcção ao interior galego. Soás e o segundo, construído sobre um Refiram-se por último os 4 complexos grande povoado 'castrejo', sede da Terra de de gravuras rupestres, que Veeira, território no qual tem origem o monumentalizam a paisagem com símbolos Município de Vieira do Minho. que parecem relacionar-se com marcação Das igrejas paroquiais de Vieira do de termos, sucessivamente repetidos. Minho, todas já referenciadas pelo menos desde o século XI, nenhuma manteve a sua arquitectura original e são raros os testemunhos das edificações de estilo românico, que aqui conheceu uma expressão marginal. Distingue-se entre todas a igreja de São João da Cova, que conserva parte significativa da fábrica românica, datável do século XIII, sobressaindo as suas cachorradas esculturadas e o portal lateral sul com tímpano ornamentado com cruz vazada, de Gravuras da Laje dos Cantinhos 016

4. Do património arqueológico e arquitectónico 4.4. Idade Média

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4. Do património arqueológico e arquitectónico

Mapa de povoamento no séc. XIII 018

4. Do património arqueológico e arquitectónico

4.5. Idade Moderna e expressões de arquitectura vernácula, ainda particularmente notório a partir do século Contemporânea há poucos anos dita arquitectura tradicional XVIII, acompanhando a larga difusão e ou popular, destacando-se entre todos os ampla aceitação do cultivo do milho grosso Ao contrário do que foi habitual nos moinhos e espigueiros (que no conjunto ou maíz. levantamentos arqueológicos tradicionais, somam mais de 70 % dos registos). A matriz do povoamento do município entendeu-se considerar também como Tal como ilustra o gráfico abaixo, menos de de Vieira do Minho, na qual se distingue um vestígios arqueológicos as ruínas de 10 % dos bens arquitectónicos registados povoamento disperso nos vales baixos e um construções que, não sendo susceptíveis de correspondem a construções de povoamento concentrado na vertente ser recuperadas para a sua função original, funcionalidade religiosa, como sejam inferior das serras ou na bordadura do se configuram como testemunhos materiais capelas, igrejas e alminhas. É nos dois planalto de Barroso, tem origem no importantes para a compreensão das primeiros tipos, a que se devem juntar os povoamento medieval fixado nos séculos XII paisagens moderna e contemporânea e solares e paços rurais, que se revelam e XIII, então como hoje orientado para uma ainda aquelas construções que, conhecendo algumas soluções construtivas mais economia de base agro-silvo-pastoril. um uso episódico, se vinculam elaboradas, que aceitam a sua classificação Essa estrutura de povoamento ainda se estreitamente a vestígios arqueológicos de adentro dos mais diversos estilos reconhece na distribuição actual dos épocas anteriores. Assim, registaram-se arquitectónicos que se desenvolveram entre aglomerados populacionais, apesar das para este período um total de 69 os séculos XVII e XIX. mudanças registadas a partir do último terço arqueossítios, a maioria de época moderna. O património arquitect