ESPECIAL

ANOS JORNAL METROPOLITANO DA CAPITAL ANGOLANA

25 de Janeiro de 2020 • Ano 2 • Edição Especial • • Preço: 100Kz

SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO 25 DE JANEIRO DE 1576/25 DE JANEIRO DE 2020 Os 444 anos da cidade que nunca foi fundada

Luanda não tem data de fundação, diz-se que os pescadores do Soyo navegaram com terra á vista em pequenas canoas, até encontrarem a "Ilha" e porque aí decidiram ficar ninguém sabe. Só se sabe, parece, que não foram para a zona continental, talvez por receio do desconhecido. p.3-5

REBITA ENTREVISTA LIBERTAÇÃO NACIONAL DANÇA E MÚSICA DESAFIOS CAPITAL LIDEROU MARCAM CITADINOS RESISTÊNCIA CONTRA continua a ser a menina FESTIVIDADES bonita de , porém, A OCUPAÇÃO COLONIAL A rebita, dança e música, é o grande sufocada. Vive problemas de Luanda foi desde o início do século XVIII o berço dos chamariz cultural das festividades do saneamento, de água e de luz. movimentos nacionalistas em Angola, que tiveram o seu 444º aniversário da cidade de Luanda, Faltam de infra-estruturas. Mas há ponto mais alto em finais de 1959 e 1961, com o surgimento a ser celebrado hoje. p.28-29 bons projectos em andamento. p.16-17 do “Processo dos 50” e o 4 de Fevereiro de 1961. p.14-15 2 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS OPINIÃO

NOTA DO DIA Luandando Postal da Cidade Escreva-nos por e-mail para: [email protected]

DR

Sub-Editor CRISTINA DA SILVA Directora Executiva

MAU SERVIÇO O ENSINO PÚBLICO PÚBLICO E A ESCASSEZ DE VAGAS

á dois dias de completar- “Estudar é um dever revolucionário”. A frase que nos mos o 444º aniversário da idos anos 80 e 90 vinha grafada nos livros escolares, Hcidade de Luanda, que ho- parece ter perdido a importância que era atribuída na je se assinalada, e quatro para co- vida de milhares de crianças, adolescentes e jovens meçar a gozar a minha licença dis- durante as referidas décadas. ciplinar, decidi ir a Direcção Pro- A pouco dias do início do ano lectivo 2020 no ensino vincial de Saúde de Luanda para geral, é desolador verificar pais e encarregados de tratar do meu Cartão Internacio- educação aflitos pois os filhos, por escassez de vagas, nal de Vacinas. Na verdade, o car- arriscam-se a ficar privados de estudar. tão foi emitido em 2017, com uma A Lei n.º 17/16 de 07 de Outubro, Lei de Bases do vigência de 10 anos. Infelizmen- Sistema de Educação e Ensino, estipula a gratuidade do te, neste cartão há um algarismo ensino primário no país. Aqui, particularizamos o ensino ilegível que faz crer que o mesmo primário, por ser merecedor de cuidados redobrados, Perigo pemanente facto que deixa os moradores a viver foi tratado em 2007 e não em 2017. atendendo que, até então, Luanda tem GRUA DO PRENDA com preocupação e medo. Por este facto, todas as vezes que aproximadamente 700 mil crianças fora do sistema Embora esteja a perigar a vida de Segundo consta, quando chove e faz pretendo deslocar-me ao exterior, público de ensino, de acordo com dados divulgados cerca de 800 pessoas e mais de 40 vento forte, a mesma abana, dando a sou obrigada a prestar esclareci- pelas autoridades da província. O número é preocupante casas, a grua de 100 metros de com- sensação de que poderá cair, dei- mentos aos agentes do Serviço de e revela o grande desafio que o sector da Educação têm primento, na conhecida zona do Lote xando todos em alerta e “aterroriza- Migração e Estrangeiros. pela frente. 22, no bairro Prenda, continua de dos”. Inúmeras promessas e pedidos Na Direcção Provincial de Saú- O ano passado, dos estabelecimentos de ensino pedra e cal. No local há mais de 40 de ajuda foram feitos visando a sua re- de de Luanda fui informada de previstos para inaugurar, Luanda registou a inauguração anos, devido ao tempo, teme-se que tirada, mas até agora «nem água vem, que a pessoa que assinou o do- de nove , nomeadamente no Zango, Sequele e Ngola possa desabar a qualquer momento, nem água vai». cumento já não trabalha naque- Kiluanje, distritos dos municípios de Viana, e la instituição e que a sua cali- Luanda, respectivamente, resultando numa oferta de 14 grafia era aquela, no caso o nú- mil vagas. Deste número, inclui-se escolas primárias, um Carta do leitor mero um. Insatisfeita, pedi que complexo da 7.ª à 12.ª classe, um Instituto Politécnico e fosse emitido um outro Cartão um outro Técnico Médio de Saúde. No início do mês, DR Internacional de Vacinas para po- aquando da inauguração da escola primária 4104, no der viajar sem qualquer proble- bairro Mayé-Mayé, Distrito Urbano do Sequele, ma. O funcionário, de forma ar- município de Cacuaco, o governador Ségio Luther rogante, exigiu o cartão em mi- Rescova referiu que, “estamos a trabalhar para o bem nha posse e rasurou o documento, da comunidade que é fim único do Estado proporcionar alegando que poderia viajar sem bem-estar à população”. Porém, a escassez de vagas constrangimentos. persiste e o quadro de incertezas mantém-se para Perante tal situação, exigi que muitos pais e alunos. esse emitisse um novo cartão, pois Na mesma senda, tal como já se tornou hábito, muitos não poderia apresentar um cartão têm ainda de lidar com o preço elevado dos livros rasurado. O funcionário exigiu o escolares, embora a lei define que estes e outros pagamento de 2.500 kwanzas, pa- materiais de ensino devem ser distribuídos ra a remissão do documento, o que gratuitamente aos alunos da iniciação à 6ª classe no para mim não era justo, uma vez ensino primário público. Quem tira maior proveito disso que tal serviço já havia sido ante- são as zungueiras, que fazem desta época a de maior riormente pago e, ser da respon- “factura” nas vendas do material escolar. sabilidade da instituição passar Como se sabe, a capital do país, por registar um Dinamismo Iluminação na Sapú de forma legível às informações, exponencial crescimento populacional precisa de um na governação Sou moradora do bairro Sapú, há de modos a não levantar qualquer vasto conjunto de infra-estruturas sociais com destaque A cidade de Luanda completa hoje mais de 10 anos. Tive a portunidade suspeitas ou equívocos. para as escolas. Por outro lado, esta tarefa não pode 444 anos, desde a sua fundação. De de passar por muitos bairro de É com este tipo de petulância e estar disassociada de planificação para evitar que os lá para cá, a capital do país ganhou Luanda, até conseguir erguer a arrogância que o pacato cidadão alunos percorram grandes distâncias para assistir às uma densidade populacional minha residência. Infelizmente, é obrigado a lidar, sendo as nor- aulas. Se assim não for, muito dificilmente o processo de estrondosa, que, infelizmente, não continuo preocupada com a falta mas da administração pública ig- ensino somará êxitos, considerando que “estudar é um foi acompanhada com infra- de iluminação pública nas ruas que norada, tornando a vida do cida- dever revolucionário” e a sua materialização, estruturas. Apesar de inúmeros ligam ao meu bairro. Não dão mais difícil. inevitavelmente, contribuirá para o desenvolvimento e esforços, notamos com muita conseguimos circular até altas bem-estar da comunidade. tristeza alguns descaso na horas da noite, devido a administração pública. Falta quase insegurança. Quero pedir a pronta tudo em Luanda. A reabilitação das intervenção da administração local ruas secundárias e terciárias está nas próximas acções, de modos a longe de ser uma realidade. As garantir melhor segurança pública.

Directora Executiva: Cristina da Silva constantes mudanças de Engrácia Filipe - Sapú Editores: Rosalina Mateta e Domingos dos Santos governadores parece não ser a Sub-Editores: António Pimenta , Adalberto Ceita e José Bule solução para Luanda. Muitas das Brigadas do ambiente Secretária de Redacção: Maria da Gama obras iniciadas há mais de quatro Vivo no bairro Vila Kiaxi, distrito da Jornalistas: Arcângela Rodrigues, Fula Martins, Helma Reis, João Pedro, Mazarino da Cunha, Manuela Presidente do Conselho de Mateus e Nilza Massango Administração: Víctor Silva anos, em muitos bairros, continuam Cidade Universitária. Escrevo para Fotógrafos: Francisco Bernardo, Rogério Tuti, Contreiras Pipa, Domingos Cadência, João Gomes, Administradores Executivos: por se concluir, apesar de este espaço para chamar do M. Machangongo e Kindala Manuel Caetano Pedro da Conceição Júnior, Departamento de Paginação José Alberto Domingos, Rui André Marques possuírem prazos de conclusão. fornecimento da água potável. Irineu Caldeira (Chefe), Adilson Santos (Chefe-adjunto), Adilson Félix, Waldemar Jorge & Jorge de Sousa Upalavela, Luena Cassonde Ross Guinapo Para este novo ano, desejo que Somos obrigados a consumir água Ilustração: Armando Pululo & Edna Mussalo Administradores não Executivos: Filomeno Jorge Manaças todos os luandenses se juntem ao das cisternas e bidões, com Morada: Rua Rainha Jinga 12/26 . Caixa Postal: 13 12 Mateus Francisco dos Santos Júnior esforços do governo, exigindo proveniência duvidosa. É urgente Telefone: 222 02 01 74/222 33 33 44 Fax: 222 33 60 73 Mail: [email protected] maior dinamismo nas tarefas a si Governo de Luanda resolver este Publicidade: (+244) 926 40 69 29/923 40 27 00 EMAIL: [email protected] adjudicada. problema. Manuela Pinto - Luanda Conceição Paula - Vila Kiaxi Sábado, 25 de Janeiro de 2020 3 ESPECIAL ANOS LUANDA

CINEMA COLONIAL IGREJAS COR DEFINIA OS LUGARES TRÁFICO DE ESCRAVOS O Cinema estava estratificado. Havia Ao longo dos séculos foram construídas bancos de cimento corridos sem costas, igrejas, como as do Carmo e da Nazaré, separados por um muro, para os onde eram abençoadas as vendas de "indígenas", mestiços e assimilados com BI. pessoas e seu embarque em condições Bancos de madeira corridos com costas e deploráveis em navios a que chamaram cadeiras individuais para os "pequenos «negreiros» mas eram na verdade a prisão e brancos" do bairro. o túmulo de muitos filhos de África

AS ORIGENS DA CAPITAL ANGOLANA Rui Ramos [email protected]

egundo se sabe, chamavam ao local “Nzanga”(ilha?) mas Smuito mais tarde, aquela sa- vana verde e florestal que limitava Luanda, a cidade a norte Luanda com Kakwaco, cha- mou-se “” e estarei errado se este termo significar “ilha” ou pe- daço de terra cercado de água? O que foram os primeiros ges- que nunca tos e as primeiras palavras só se con- segue imaginar, duas línguas estra- nhas, talvez os portugueses tenham perguntado, sem se fazerem perce- ber, "como se chama isto?". A res- foi fundada posta talvez tenha sido "wanda" (re- de de pesca), uma palavra idêntica em kimbundu e kikongo. Luanda, Loanda, Luwanda, tal como a fundação, também a Os navegadores locais vinham do Norte, passaram pelas águas de designação da capital angolana não é consensual. Um coisa parece Nzadi, Soyo, Nzetu, Nzenza, ean qu- certa, quando os navegadores lusitanos chegaram à "Ilha", na do chegaram à grande entrada olha- verdade uma pequena península, já lá moravam pessoas com a sua ram o pequeno planalto, não ima- ginando sequer que ali se ergueria cultura local ligada ao mar, ao qual chamavam "Kalunga", que a capital de um país e que mais tar- acreditavam ser o deus da morte. de apareceriam, como que vindos do além, seres atarracados, barri- gudos, de tez clara e longas barbas. Luanda não tem data de fun- dação, diz-se que os pescadores do Soyo navegaram com terra á vista em pequenas canoas, até encon- trarem a "Ilha" e porque aí decidi- ram ficar ninguém sabe. Só se sabe, parece, que não foram para a zona continental, talvez por receio do desconhecido.

TERRA CERCADA DE LAGOAS Na verdade, o território da que é a capital do país era circundado por extensas lagoas e pântanos e havia dois rios distantes, como que mais duas fronteiras, a norte e a sul, uma zona inóspita povoada de mosqui- tos e animais selvagens. Não era fácil para os lusitanos chegarem aqui naqueles barcos à ve- la, vindos de dezenas de milhares de quilómetros, demorando muito mais de um mês cada viagem, mas o que os fez persistir deve ter tido muito forte. Desembarcados pela primeira vez em 1576, os portugueses timi- damente exploraram a capinzal con- tinental e se aperceberam de que a configuração das inúmeras lagoas e pântanos servia às mil maravilhas como obstáculos para a fuga de es- cravos, um tráfico que começava a desenvolver-se e que abrangeu qua- se 6 milhões de vítimas durante os séculos seguintes. A nova urbe, habitada por co- merciantes e religiosos portugueses, foi desde logo vocacionada para o negócio de lucro fácil, o mais cruel dos negócios, a venda de pessoas. Ao longo dos séculos foram cons- truídas igrejas, como as do Carmo e da Nazaré, onde eram abençoadas 4 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS LUANDA

CIDADE DO ASFALTO PONTE DA ILHA RESTRIÇÕES NA MOBILIDADE PESCADORES DO SOYO A "pureza racial" da cidade do asfalto foi sempre Luanda não tem data de fundação, diz-se que motivo de preocupação do "poder branco". os pescadores do Soyo navegaram com terra Indígenas a andar na cidade do asfalto só com á vista em pequenas canoas, até motivos muito claros. A fronteira estava ali, ao encontrarem a "Ilha" e porque aí decidiram fundo do Marçal, mas o colonialismo tolerava ficar ninguém sabe. Só se sabe, parece, que que houvesse população negra no recém- não foram para a zona continental, talvez por construído Bairro Indígena. receio do desconhecido.

DR as vendas de pessoas e seu embar- Dona Adelaide, muito severa. A Um ano depois a escola fechou que em condições deploráveis em maior parte dos meus colegas era e transferiram-me para a Escola 7, navios a que chamaram «negreiros» branca, apesar de a escola estar ali a "escola da Câmara", na Baixa, e mas eram na verdade a prisão e o ao lado do Marçal. Muitas vezes su- eu ia e vinha a pé, todos os dias, túmulo de muitos filhos de África. bia para o comboio a lenha que vi- hoje, 70 anos depois, olho para es- Luanda europeizada organizou- nha do Km5, parece que havia ali se "palácio" que continua erguido se em embarcadouros de pessoas es- um aeródromo, o comboio desace- e a dar aulas, e recordo sempre os cravizadas, as Portas do Mar onde lerava e eu subia, mas algumas ve- meus sete anos. Lembro-me bem hoje é a alfândega, a Praia do Bispo, zes aparecia o cobrador branco que, de que na rua que vinha lá de cima, o Morro da Cruz. cruel, me mandava saltar do com- de longe, até à Mutamba, havia Sem dúvida que fugir da situa- boio em andamento porque não pa- uma casa de banho pública, do la- ção de escravidão era muito difícil gara bilhete. do direito de quem desce, perto em Luanda, sobretudo por causa dos obstáculos naturais e dos ani- mais selvagens. Para cima da "ci- dade baixa", que subia para a coli- O CINEMA COLONIAL na a que se chamou depois"a Ci- dade Alta", havia capim e mais OS FILMESestavam catalogados co- edifício do Mercado do Kinaxixi, de- nada e aí as pessoas escravizadas mo "filmes para maiores de 6 anos pois do enorme monumento, o tentavam a sua sorte, fugindo do indígenas", "filmes para maiores de 12 mais majestoso de Luanda, a "Ma- cativeiro, os "jingombo", o seu es- anos e proibidos a indígenas". Isto ria da Fonte" ser dinamitado e no conderijo com o tempo passou a é, para o "poder branco", os "indí- seu lugar colocado um tanque chamar-se «", talvez o genas", mesmo que tivessem cem de guerra soviético. O mercado "ta" venha de "uta" do verbo "Ku- anos, eram considerados "crianças" substituiu o mercado municipal ta", pôr, colocar, uma hipótese ape- e tratados por "rapazes". Não havia das Portas do Mar, ao lado do ho- nas, "onde se escondiam os aterro- "meninos" negros, os "meninos" je BPC, ali onde numa fase his- rizados fugitivos, perseguidos sem eram as crianças brancas. O Ci- tórica eram embarcadas as pes- tréguas, e os que morriam ou eram nema Colonial estava estratificado, soas escravizadas e depois foi, mortos, eram arrastados mais pa- não em função do poder de com- até meados do séc. XX, porto ra cima, para o cemitério, para as pra do bilhete, mas da cor da pe- pesqueiro. cruzes, as "makulusu", o plural de le. Havia a Geral, perto do ecrã, ban- O mercado do Kinaxixi, na sua "dikulusu", porque em kimbundu cos de cimento corridos sem cos- imponência, foi construído em al- não havia nem há essa palavra, a tas, reservados a "indígenas", depois ternativa ao "mercado indígena" sua simbologia foi trazida pelos na- um muro de cimento separava es- de São Paulo para responder ao de onde hoje fica a Embaixada ta vinha célere, "ku mbata", na casa, vegadores europeus, "a salvação te grupo de outro, os mestiços e crescente número de pequenos portuguesa, e eu que já ia saben- ficou, na nomenclatura colonial, "cu- pela cruz", mesmo que tivesse de assimilados com BI, que se senta- colonos que se instalaram na do ler, soletrava "europeus", "in- bata", "mu iseke" corrompeu para ser pela escravização, porque, ale- vam na Superior, bancos de ma- zona e desalojaram a popula- dígenas", desde menino que via "musseque". Curiosamente, foi cons- gavam os missionários, "os pretos deira corridos com costas, e mais ção "indígena" para os lados do a exclusão provocada pela dife- truída recentemente uma “urbani- são gentios e não têm alma". atrás cadeiras individuais para os Bairro Operário, Marçal e Rangel. rença da tonalidade da pele. zação” ou “centralidade”, perto de "pequenos brancos" do bairro. In- "Kinaxixi" significa em portu- O meu pai teve de procurar um Kakwaco, com o nome de “Sekele”, OS CONTRATADOS compreensivelmente esse edifí- guês lagoa, pântano ou charco segundo emprego, de noite, para areal ou deserto. Muito antes de mim, já o meu pai cio, na forma de um enorme pa- grande, e ali havia mesmo uma sustentar a família. E eis o meu pai Havia brancos nos musseques? vivia em Luanda, filho de um por- ralelipípedo, foi implodido depois enorme lagoa, em cujo subsolo como porteiro no Cinema Colonial, Havia. Mas sem misturas. O pa- tuguês pobre aqui radicado desde da proclamação da Independência havia (e há) uma nascente de no bairro São Paulo, hoje integrado pel desses brancos era o de con- a década de 1910. Ele recordava sem- Nacional, para fins desconhecidos água. Uma enorme mafumeira no , calcorreando o areal, trolo e de negócio. Pequenas lojas pre, na sua meninice, que descia do e nunca cumpridos, só ficando de compunha a paisagem lacustre a pé, receoso de ataques á facada de de colonos recém-chegados da bairro Marçal, ao meio dia sob sol pé a bilheteira, onde o meu avô e que os portugueses secaram, na cabo-verdianos escondidos nos gran- "metrópole" vendiam vinho tinto abrasador, e juntava-se aos "contra- o meu pai trabalharam há 70 anos. minha juventude e lá criaram uma des canos de cimento que iam levar adulterado e "bolos" feitos com bi- tados bailundos" na Marginal, ha- Implodido foi também o enorme feira popular. água à cidade de asfalto. Desde ce- carbonato de sódio para renderem via ali umas pequenas indústrias de do, então comecei a frequentar o ci- mais. E como essas lojas eram o sabão e de pesca, então ele sentava- nema e pude aperceber-me de co- único local com água, o "indíge- se no chão com os "contratados" e | EDIÇÕES NOVEMBRO mo funcionava o "pequeno poder na", se queria tomar banho de chu- comia pirão com eles. Pirão era co- branco" em Angola. veiro, tinha de pagar ao branco.A mo se chamava ao funji de milho no ambição desses "pequenos bran- centro do país. E "contratados" eram AS RUSGAS cos" era saírem dos musseques e homens "agarrados" no planalto cen- Um mundo enorme de exclusão, eis terem uma casa na cidade de as- tral, pelos sobas, para aluguer aos a Luanda histórica que eu conheci, falto, mas isso muitas vezes não portugueses, que os transportavam com o "poder branco" intocável e a era possível porque o povoamen- em pé, em desequilíbrio permanente população "indígena" etiquetada de to europeu era intenso e a con- e muito apertados nas carroçarias "pretos falsos", os de Luanda e Ma- corrência desenfreada na explo- de camionetas, forçadamente, se- lanje, e "pretos fiéis", os do Huam- ração dos "indígenas". parando-os das famílias, a caminho bo e também de Cabinda. Esta di- Angola transformou-se na- de Luanda, Uíge e São Tomé, na ver- cotomia marcava a ideologia do co- queles tempos em “colónia de po- dade, um trabalho semi-escravo. lonialismo e sobretudo do "pequeno voamento de população branca”, Nasceram-me em Luanda, no colonialismo", o de todos os dias, a “metrópole" ambicionava equi- Hospital Maria Pia, há quase 75 anos, em que o sujeito era o branco e o ob- librar as populações e era geral en- penso que ainda não estava cons- jecto era o negro, tudo era feito em tão, a existência de “brancos po- truída a Maternidade Indígena Viei- função do "mundo branco". bres ou remediados”, mas sem ra Machado, na Sagrada Família. Re- O negro tinha de se confinar ao nunca beliscar o “poder branco” cordo-me dos meus 5-6 anos numa seu local de habitação, os "bairros" e, mesmo assim, mandava na ver- casa de adobe, éramos pobres e não chamados "musseques", ou "iseke" dade o “poder do branco de pri- havia extravagâncias, a primeira es- (areal, areia), os colonos gostavam meira”, isto é, nas admissões e pro- cola que frequentei foi a Escola 15 e de acrescentar as partículas "mu" e moções prevalecia a naturalidade a minha primeira professora foi a "ku", perguntavam algo e a respos- na “metrópole”, o “branco de se- Sábado, 25 de Janeiro de 2020 5 ESPECIAL ANOS LUANDA

DIVERSÃO SHOPPING FORTALEZA FARRAS DE QUINTAL DESCENDENTES LUSITANOS Os jovens de agora pensam que descobriram Os descendentes desses antigos lusitanos, as “farras de quintal”, não é verdade, naqueles mesmo encostado à Fortaleza de S. Miguel, tempos, há 50-60 anos, em todos os quintais que defendia Luanda dos holandeses, das “cubatas” dos bairros havia farras, não só construíram um enorme e luxuoso centro no Bairro Operário, também no Marçal e no comercial, o Fortaleza Shopping, para Rangel, ao som do merengue e dos primeiros lembrarem, ao espantado luandense, que acordes da nova música urbana angolana. eles continuam por cá, sempre presentes.

gunda”, natural de Angola, era Acima do Kinaxixi havia uma rusga regular, também discriminado pelos “be- A BAIXA DE KASANJE sugos”, os brancos de pele mui- os jovens negros desciam do Marçal para a to branca ou vermelha (o peixe be- baixa e eram apanhados ali. Então, na cidade E O CONGO sugo é vermelho) que eram goza- dos por nós, “brancos de segunda”, "dos outros" havia esses autênticos migrantes, ESCAPEI DA PARALISIA in- recia impensável aconteceu, cen- que não fazíamos com eles ami- em situação legal os que trabalhavam nas casas fantil da segunda metade dos tenas de milhares de pessoas a zade porque nos sentíamos su- anos 1940, numa época em que receberem, no aeroporto de Luan- periores a eles. dos brancos com cartão de trabalho assinado. não havia leite e a comida escas- da, as delegações dos movi- Os jovens de agora pensam seava, mas não escapei dos pos- mentos de libertação. que descobriram as “farras de teriores grandes acontecimen- Ninguém pensasse em re- quintal”, não é verdade, naqueles se fizesse, o "poder branco" nun- podia andar na cidade de asfalto tos, como o Janeiro de 1961 na Bai- conciliações entre duas comuni- tempos, há 50-60 anos, em todos ca era abalado. Havia alunos ne- sem "cartão de trabalho" assina- xa de Kasanje, de que não se sa- dades que viviam nos antípodas os quintais das “cubatas” dos bair- gros nas escolas, mas não havia do todos os dias pelos patrões bia quase nada, os brancos só mur- da boa convivência. Mas o im- ros havia farras, não só no Bairro professores negros, não chega- brancos. Se o fizesse, podia ser muravam em surdina, achavam previsível eu vi acontecer, nos mus- Operário, também no Marçal e no vam lá, os brancos não deixavam, apanhado na rusga, pelos cipaios, que a "metrópole" os tinha aban- seques a etnicidade também foi Rangel, ao som do merengue e porque o lugar dos negros era ser- dirigidos pelo chefe do posto donado e dado demasiados po- "libertada" e um dos primeiros con- dos primeiros acordes da nova vir os brancos em lugares subal- "Poeira". Acima do Kinaxixi ha- deres aos "pretos". Depois o 4 de frontos, após o massacre feito por música urbana angolana, todos ternos e sempre ajudantes e ser- via uma rusga regular, os jovens Fevereiro que vivi por dentro na- colonos no , foi mesmo eram admitidos, a “integração” ventes e não concorrer nos estu- negros desciam do Marçal para a queles dias de extrema violência aí, no seio dessa população sub- ali ia funcionando, jovens “pe- dos e nas licenciaturas, com baixa e eram apanhados ali. En- em que vi brancos matar negros jugada. Fui á estação do Bungo quenos brancos”, os chamados alguas excepções, como jovens tão, na cidade "dos outros" havia só porque pareciam "estudantes" ver e falar com milhares de pes- "bons brancos", misturando-se líderes dos movimentos de li- esses autênticos migrantes, em si- e "calcinhas", que parecia ser a pri- soas que dormiam ao relento à com a população negra jovem, e bertação, muitos com estudos se- tuação legal os que trabalhavam meira condição para serem con- espera do comboio para as suas bebia-se muito, e também se be- cundários e mesmo superiores nas casas dos brancos com cartão siderados "terroristas" e mortos. Lo- terras de origem, Kwanza Norte, bia muito nos batuques que pro- feitos na “metrópole” mas, como de trabalho assinado, e os que não go logo a 15 de Março que des- Malanje, muito antes mesmo da liferavam nos bairros suburba- referi, eram a excepção à regra. o podiam provar e eram chama- norteou os brancos, eles gritavam grande fuga para Portugal. nos, o som dos tambores eram au- A "pureza racial" da cidade do dos "vadios" pelos brancos. raivosos, "a gente trata-os tão bem 1975 foi ano de todas as guer- dível em toda a Luanda, pessoas asfalto foi sempre motivo de preo- Quantas vezes, me recordo, de e os cães mordem-nos as pernas...". ras numa Luanda que come- dançando e bebendo pela noite cupação do "poder branco". In- rapazes negros me pedirem, eu Nas casas dos brancos, as se- çava a nada ter a ver com a ur- dentro, à volta de fogueiras, mas dígenas a andar na cidade do as- também rapaz, para os acompa- nhoras procuravam as roupas be colonial. Guerras étnicas, isso acabou depois, nos anos 1960, falto só com motivos muito cla- nhar para não serem apanhados pretas dos “criados”, também si- guerras "raciais", guerras entre quando o colonialismo impòs o ros, naqueles tempos. A fronteira na rusga, a essência do “poder co- nónimo de terrorismo, e pater- movimentos de libertação, por recolher obrigatório severo para estava ali, ao fundo do Marçal, lonial” evidenciando-se, o negro nalmente conversavam sobre eles, todo o lado a exclusão e a in- a população negra e o som dos mas o colonialismo tolerava que devia ser “tutelado” pelo branco. “o meu criado é bailundo, é fiel”. tolerância. Tive de voltar a viver tambores deixou de se ouvir, lo- houvesse população negra no re- Os "vadios" eram subidos nos O "poder branco" e a sua "paz" tudo isso à beira da Indepen- go após o Sambizanga ter sido in- cém-construído Bairro Indígena, jipes e atirados para a Prisão In- foram apenas beliscados mas dência Nacional, à qual entre- cendiado. mesmo ao lado da lagoa e da pri- dígena, ali onde hoje chamam não postos em causa. A ideolo- guei a maior parte dos anos da Eu dormi, acordei e vivi du- são política. Claro, os negros mo- "Zé Pirão"e de que já ninguém gia colonial logo tratou de remeter minha juventude. rante muitas décadas com essa ex- ravam onde os brancos manda- tem memória. Aguardavam, esse "terrorismo" para "causas E esse 11 de Novembro surgiu pressão "indígena" tatuada na mi- vam morar e ponto final. Vivi is- amontoados, que os patrões bran- externas", era o Congo, culpados quente, com todos os caixotes já nha mente. Dois mundos de cos- so, dia a dia, na minha meninice cos os fossem libertar ou, aban- eram os belgas que "estavam a embarcados para Lisboa, com tas um para o outro. Fizesse o que e juventude. Um rapaz negro não donados, seguiam para o traba- dar a independência aos pretos carros abandonados nas ruas, lho forçado que construiu as es- e vinham agitar os "pacíficos pre- uma cidade estupefacta, como se | EDIÇÕES NOVEMBRO tradas e as obras públicas do tos" de Angola". Patrice Lumum- fosse transplantada para outro pla- colonialismo. ba era o inimigo do "poder bran- neta, a cidade onde os brancos Ironicamente, a guerra, a co" de Luanda e nessa hora mui- mandavam de repente ficou de- partir de 1961, desenvolveu o tos foram os cães a quem foi da- serta, ninguém queria apropriar- país, ou melhor, a parte “bran- do o nome de "Lumumba" e ati- se do asfalto, parecia uma trans- ca”, um mercado de algumas çados sempre contra pessoas gressão, e então a Baixa de Luan- centenas de milhares de pes- com a pele mais escura. da fantasmagorizou-se, sem alma, soasm mais rico e forte do que Ironicamente, as forças ar- terra de ninguém, autêntico Ano hoje nós, 30 milhões, somos. madas coloniais, que deviam en- Zero de uma nova era, como se A partir da década de 1960, frentar “uma população negra na- a anterior fosse num repente com a chegada de milhares e mi- cionalista”, começam a “africani- apagada e só restassem ruínas. lhares de “pès descalços” e euro- zar-se”. Cada vez mais jovens ne- Como se de repente nos entre- peus pobres, Angola começa a au- gros e mestiços eram incorpo- gassem uma folha de papel em to-sustentar-se, mas a clivagem en- rados e algums chegavam a al- branco para nós escrevermos o tre ricos e pobres permaneceu feres e furriéis. que quiséssemos. enorme, os bairros suburbanos es- A reviravolta deu-se em 1974. Assim chegava ao fim o "so- tavam estagnados, sem água e sem O golpe de 25 de Abril chegou ao nho" dos navegadores portu- luz, os brancos diziam à boca-cheia conhecimento dos perplexos co- gueses, centenas de anos antes. “os pretos estão bem como vivem lonos, que não acreditavam que Mas, como que querendo ironi- não precisam de mais, basta terem fosse possível entregar o poder zar sobre a História, os descen- mandioca e milho e ficam felizes”. "aos pretos". Ninguém sabia ao cer- dentes desses antigos lusitanos, Mas também havia encomen- to o que ia acontecer. O movi- mesmo encostado à Fortaleza de das, muitos brancos iam à prisão mento de libertação, em Luanda, S. Miguel, que defendia Luanda escolher serviçais ("criados") e le- envolvera, activamente, uma mi- dos holandeses, construíram um vavam uma escolha para os polícias, noria da população negra, a maio- enorme e luxuoso centro co- queriam em geral rapazes "bailun- ria nada podia fazer senão viver mercial, o Fortaleza Shopping, pa- dos" por serem, alegavam, "sub- espartilhada pelas apertadas mu- ra lembrarem, ao espantado missos" e "fiéis", porque, argumen- ralhas do poder colonial. O 25 de luandense, que eles continuam tavam, os de Luanda e de Malanje Abril libertou as vidas e o que pa- por cá, sempre presentes. eram "falsos". 6 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS LUANDA

SÉCULO XX DENSIDADE POPULACIONAL DESENVOLVIMENTO FUTURO INCERTO URBANO De 450.000 habitantes em 1974, Luanda conhece Só no início do séc. XX se pode começar a hoje, em cálculos empíricos, mas muito próximos da olhar para Luanda como cidade com um verdade, cerca de 10.000.000 de habitantes. Como certo rumo no desenvolvimento urbano, é de calcular, a variação é extraordinariamente desiderato que viria mais tarde a conquistar, violenta para uma cidade. Como resultado, Luanda apesar de ter sido escolhida como capital da não pode comportar tanta sobrecarga demográfica colónia por volta do ano de 1576 no séc. XVI. e o seu destino futuro caiu na total incerteza.

UMA CIDADE SUFOCADA

António Venâncio [email protected]

e traçarmos uma linha divi- Um olhar sobre Luanda sória para separar o fim da Smonarquia em Portugal - a antiga colónia portuguesa – e a pre- sença dos portugueses em Angola, A capital de Angola, Luanda, já foi uma grande cidade com dignidade mundial. veremos que passaram-se mais de Chegou mesmo a ganhar prémios e a admiração de turistas provenientes de várias 350 anos até que Portugal passou latitudes, que a visitavam com boa frequência, sobretudo os portugueses, que se a merecer algum estatuto de po- tência colonizadora, com alguma vislumbravam com o paisagismo da cidade e o lindo oceano Atlântico com sua Baía capacidade de realização de acções engalanada de coqueiros. e criação de vilas ou cidades dig- nas deste nome. Assim, só no início do séc. XX se pode começar a olhar para Luan- da como cidade com um certo ru- mo no desenvolvimento urbano, desiderato que viria mais tarde a conquistar, apesar de ter sido es- colhida como capital da colónia por volta do ano de 1576 no séc. XVI. A capital de Angola, Luanda, já foi uma grande cidade com digni- dade mundial. Chegou mesmo a ganhar prémios e a admiração de turistas provenientes de várias la- titudes, que a visitavam com boa frequência, sobretudo os portu- gueses, que se vislumbravam com o paisagismo da cidade e o lindo oceano Atlântico com sua Baía en- galanada de coqueiros. Mal pisassem os pés em terra fir- me, a partir mesmo do porto de Luan- da, para onde navios carregados de passageiros atracavam periodica- mente, faziam retratos para recorda- ção ou, a partir do aeroporto, então mílias africanas, que constituiam já ÁGUA E ENERGIA A energia eléctrica, nos anos 70, Vários cinemas espalhados por chamado “Aeroporto de Luanda Cra- uma certa elite intelectual na épo- Enquanto Luanda crescia do ponto era insuficiente para atender a de- todos os bairros acolhiam os habi- veiro Lopes”, chegavam ao centro da ca, seguindo-se depois o bairro Mar- de vista urbanístico, era possível des- manda e nos musseques usavam- tantes. Bares, restaurantes e espla- cidade maravilhados com o moder- çal, Rangel e por aí em diante. tacar os esforços por dotá-la de um se bastantes lamparinas, candeei- nadas eram vistas muitas vezes nismo até então existente. Destes bairros, o Rangel foi o que sistema de distribuição de água po- ros na maioria das casas, dada a abarrotadas de gentes. Com algu- Em 1974, Luanda não albergava maior número de moradores re- tável a partir de centros de distri- morosidade com que o processo de ma discriminação racial, o clima só mais de 450.000 habitantes. As suas gistou. Liderou o crescimento po- buição. A água era trazida em esta- alargamento do sistema de forne- melhorou a partir dos meados dos infraestruturas técnicas davam res- pulacional anual durante muitos do bruto de Kifangondo para o Mar- cimento de energia se processava. anos 60 e início dos anos 70. Os alu- posta às necessidades dos seus ha- anos e transformou-se num local ri- çal e aí se processava o seu A iluminação pública, entretan- nos eram vistos em escolas e os hos- bitantes, com algum déficit, mas co de histórias e memórias, aliás, o tratamento e distribuição para a ci- to, era sempre garantida para per- pitais serviam razoavelmente as de modo a satisfazer minimamen- local onde os maiores aconteci- dade ou, a partir do Cazenga, para mitir uma maior vigilância policial, populações necessitadas. A vida te. As obras, visando acudir o cres- mentos de peso político tiveram lu- zonas periféricas mais a sul do rio. dada a insegurança sentida pelas nos musseques era própria de gen- cimento populacional; a edificação gar, tal como por exemplo a con- A partir do Kikuxi, o sistema aten- autoridades portuguesas que te- te humilde e várias famílias tinham de bairros modernos e prédios; as centração dos antigos combatentes dia as necessidades de Viana e cer- miam por acções clandestinas mais sempre o abastecimento em ali- acções de reordenamento e realo- do 4 de Fevereiro, os quais parti- canias. A distribuição de água no eficazes na luta pela libertação na- mentos garantido a partir de lavras jamento habitacional, cobriam to- ram das imediações dos armazéns Rangel era feita de forma mais ru- cional. As várias lojas de comer- existentes nas zonas periféricas do da a extensão da cidade desde os da Dona Amália, naquele bairro, pa- dimentar por meio de chafarizes ou, ciantes eram iluminadas preferen- , no actual Sanatório e Via- musseques até ao centro da cidade. ra o ataque às cadeias portuguesas em alguns casos, a partir de ligações cialmente com candeeiros do tipo na, na época matas com alguns ani- Depois que foi construída a actual e esquadras da Polícia de Seguran- privilegiadas atribuídas aos comer- “Petromax”, abastecidos com pe- mais do mato de pequeno porte. avenida Lenine, antes chamada ave- ça Pública, no ano de 1961. ciantes estabelecidos nos musseques. tróleo iluminante, insuflados por nida Brito Godins, a cidade ficou cla- uma pequena bomba de alimenta- CRESCIMENTO POPULACIONAL ramente dividida entre o que os luan- ção de ar, o que dava ao espaço uma Com o eclodir da guerra civil, de- denses hoje dizem a “Baixa de Luan- O Rangel foi o que maior número de moradores luz branca que era agradável aos pois do golpe de Estado em Por- da” e os bairros mais pobres da olhos de quem dela usufruisse. tugal, em Abril de 1974, verificou- cidade designados por musseques. registou. Liderou o crescimento populacional se um movimento de fluxos abrup- Não foi tão rigorosa essa des- anual durante muitos anos e transformou-se DIVERSÃO tos de cidadãos para a cidade trinça, já que alguns dos bairros po- O ambiente recreativo nos vários capital, um fenómeno que não mais bres (musseques) ainda se encon- num local rico de histórias e memórias, aliás, o bairros de Luanda era efusivo e mui- veio a estancar-se, e de certa forma, travam na parte Baixa da Cidade local onde os maiores acontecimentos de peso to acalorado. Vário salões de farra até aos dias de hoje. De 450.000 ha- até que surgiu o bairro Operário, político tiveram lugar. recebiam gentes de todas as partes bitantes em 1974, Luanda conhece que deu um outro ar à cidade e mar- e os conjuntos musicais animavam hoje, em cálculos empíricos, mas cou a primeira concentração de fa- as festas de quintal ou de salão. muito próximos da verdade, cerca Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 7 ANOS LUANDA

DESORDEM URBANA PROPOSTA DEMOLIÇÕES DE ZONAS UMA NOVA CAPITAL HISTÓRICAS DA CIDADE Sem a criação de condições que possam devolver à cidade de Luanda a sua Foi tamanha a desordem urbana que muitos dos dignidade de capital do país, a cidade não melhores espaços, os potencialmente mais ricos e terá qualquer hipótese de sobreviver como até históricos, sofreram transformações de tal, o que conduziria para a realização de carácter irreversível, as quais retiram qualquer estudos no sentido de uma implantação de possibilidade de uma restauração da capital. uma futura nova capital em parte do país.

de 10.000.000 de habitantes. Como é contrário. Em boa verdade, foi ta- de calcular, a variação é extraordi- manha a desordem urbana que mui- nariamente violenta para uma cida- tos dos melhores espaços, os po- PLANO DE RECUPERAÇÃO de. Acresce o facto de a cidade ter pa- tencialmente mais ricos e até his- rado as acções urbanísticas que de- tóricos, sofreram transformações veriam continuar, devido a guerra, e de carácter irreversível, as quais re- A TENTATIVA DE CORRIGIR por muitos anos. Como resultado, tiram qualquer possibilidade de erros cometidos e disciplinar o Luanda não pode comportar tanta uma restauração da capital, sem uso dos solos levou a aprovação sobrecarga demográfica e o seu des- que para tal sejam alocadas verbas de um Plano Director para a cida- tino futuro caiu na total incerteza. Po- tremendamente colossais, dificil- de (depois de fracassados outros de dizer-se que estamos perante uma mente disponíveis no país. anteriormente elaborados) que falência técnica da cidade capital. Registou-se também acções de para a sua matrialização, até 2030 A cidade de Luanda perdeu a ca- demolição de peças históricas im- como inicialmente previsto, abar- pacidade de vencer o desafio de ofe- portantes por entidades públicas e caria uma verba rondando os recer ao país a dignidade de uma particulares, actos de imperdoável 20.000.000.000,00 de dólares. cidade capital. Nem um optimismo negligência muito censurados pe- Existem várias ideias e distintas moderado me permitirá afirmar o la sociedade. apreciações feitas por especialistas e profissionais ligados ao urbanis- mo e a construção. Todavia, con- sidero que um eventual plano de ORGANIZAÇÃO URBANA salvação da cidade de Luanda pas- saria pela implementação de um ambicioso programa de recupera- A ORGANIZAÇÃO do centro da veitados para ligações mais distan- ção de curto, médio e longo pra- cidade, com um melhor aprovei- tes, intermunicipais ou interprovin- zos, o qual deveria colocar como tamento dos já exíguos espaços ciais, libertando os espaços para as linha mestra 3 objectivos gerais: disponíveis, acarretaria numa to- manobras de veículos de maior di- - Adopção de medidas de maior mada de medidas bastante radi- mensão e mais económicos. controlo e contenção dos actuais cais. Uma delas, seria a inevitável Haverá também a necessidade de fluxos migratórios que continuam susbtituição dos carros de praça uma reorganização das zonas co- a congestionar Luanda, oriundos de aluguer e passageiros, vulgo merciais para que os habitantes de províncias do interior; candongueiros, os quais toma- possam abastecer-se de alimentos - Implementação de modelos de ram toda a cidade, circulando dia- a partir de pontos limpos e assea- gestão urbana, descentralizados e riamente em milhares de unidades, dos. O peixe, a carne, outros produtos desconcetrados, em paralelo com devendo os mesmos serem subs- alimentares perecíveis, não encon- a reformulação e reestruturação fí- tituídos por transportes colectivos tram espaços apropriados e sufi- sica de todo o sistema básico de públicos. Os autocarros seriam cientes, devidamente organizados saneamento da cidade nas suas 5 AUTO ESTRADAS Construção pode garantir mais conforto no trânsito introduzidos paulatinamente em para a sua comercialização. vertentes e de modo integrado; substituição dos designados “ta- A limpeza da cidade e a recolha - Ligações rodoviárias - com- país, redinamizando as carreiras de rantir um maior conforto e redu- xis de candongueiro”. de resíduos sólidos, ainda são pro- plementadas com o modal ferro- transportes de passageiros, a ca- zir drasticamente os actuais níveis A elevada taxa demográfica de cessadas a partir de métodos ab- viário - de grande velocidade de mionagem e, com a maior segu- de sinistralidade. Para tal, só me- Luanda implica uma nova política solutamente arcáicos e anti-higiéni- projecto, capazes de gerar fluxos rança conseguida, estimular as diante o recurso a construção de de transportes públicos para Luan- cos. O consumo de água potável não migratórios pendulares a partir da deslocações automobilísticas de tu- autoestradas de modo paulatino, da que vise apoiar os habitantes nasestá assegurado na proporção de- cidade capital para o interior do rismo. Para atal, é necessário ga- mas decisivo. suas deslocações mais conforta- vida, havendo ainda muito consu- velmente para as suas zonas ha- mo de água imprópria para consu- bitacionais; para o serviço, para as mo humano. A escassez de habi- novas urbanizações; para o centro tações tem sido um verdadeiro ser garantidas e os pon- da cidade e periferias. quebra-cabeças para os luandenses. SANEAMENTO tos de distribuição Por sua vez, a natureza comercial A mobilidade rodoviária é muito con- deverão estar ope- e de passageiros dos actuais veículosdicionada, com constantes engar- BÁSICO racionais. que substituiram os autocarros pú- rafamentos, muito frequentes em ho- A zona in- blicos, poderão ser melhor apro- ra de ponta nas principais avenidas. A INEXISTÊNCIA de saneamen- dustrial para to básico na maior parte do espa- a transfor- ço territorial da cidade tem con- mação e a duzido a situações de saúde mui- manufactu- to preocupantes, dada a precarie- ra, onde se dade do meio e a falta de condições possa gerar de habitabilidade mínimas em vá- e m p re g o s rias zonas da cidade. Condomínios em quantida- de luxo foram ocupados sem cer- de, deverão ser tificados de habitabiliade emitidos incentivadas e pelas autoridades e seus ocupan- apoiadas. vol- tes sofrem várias vicissitudes, so- O lazer e a re- ver à bretudo em tempos de chuva. creacção, bem como os c i d a d e As zonas verdes, os pulmões da recintos e lugares de cultu- de Luanda a cidade, deverão ser reanimadas e ra deverão ser restabelecidos e vol- sua dignidade de ca- cuidadas, pois muita área verde foi tar funcionar em pleno. Todos os pital do país, a cidade não terá abatida para dar lugar ao “betão”, o equipamentos sociais indispensá- qualquer hipótese de sobreviver co- que reduziu a produção de oxigé- veis para a dignidade funcional de mo tal, o que conduziria para a rea- nio, um bem indispensável à saúde. uma cidade como Luanda deverão lização de estudos no sentido de As áreas agrícolas para o abas- ser garantidos. No fundo, sem a cria- uma implantação de uma futura no- MOBILIDADE É necessário nova política de transportes públicos tecimento dos habitantes deverão ção de condições que possam de- va capital em parte do país. 8 PUBLICIDADE Sábado, 25 de Janeiro de 2020

(700.017) Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 9 ANOS LUANDA

SALAS NETO OSVALDO GONÇALVES MERCADOS ALÉM DA FEITIÇARIA INFORMAIS DOS PINCHOS Kianda jamais se submeteria a um jogo do Os primeiros carros para cidadãos comuns estilo “espelho meu, espelho...”, pois os seus seriam adquiridos com base nesse poderes vão além da feitiçaria. Mas as esquema. Acabariam por surgir os mudanças estão aí. Embora ligeiras, ou de candongueiros, multiplicar-se-iam os alguma forma até subtis, essas mudanças são mercados informais dos pinchos e notadas na generalidade, como referências na bugingangas. literatura e na música.

CRÓNICAS DA KIANDA Ecos do Areal

KIANDA EXISTE SEREIA NÃO LADROAGEM PARA EXPORTAÇÃO

A representação da Kianda em forma de sereia é atribuída aos Se calhar, agora não mais com o mesmo entusiasmo «convite» das massas para a renúncia. Chegar a um missionários católicos que, sobretudo no tempo da “sagrada de antes, em razão da cegueira de que passei a sofrer, país num ambiente de quase guerra civil como esse Inquisição”, combateram detodas as formas e com todas as armas mas sempre gostei bué de viajar, sobretudo para o dava uma cangufa daquelas. Mas, jornalista que é quaisquer que fossem as formas de credo dos angolanos. estrangeiro, claro. A primeira vez que pus o meu rabo jornalista, mesmo estando acagaçado, tem de parecer Fossem representativas, através de objectos de culto, fossem num avião, foi para ir direitinho à Roma, a caminho de que não. São os tais ossos do ofício. Tinha de seguir. E espirituais, todas as formas de credo eram tratadas como Belgrado, na então emanharada federação jugoslava foi o que fiz. feitiçaria;adivinhos e feiticeiros eram atirados para fogueira sem de Josef Broz Tito, que seria à época o país socialista À chegada ao hotel onde normalmente me distinção, confundindo de propósito o bem com o mal, de forma, não mais ocidentalizado, embora continuasse a haver acomodava, em Copacabana, um plantão de polícia apenas a despi-los de todo o valor positivo, mas a endemoniá-los. algum racionamento de certos produtos. Só assim se montado à porta confirmava que a situação no Rio de O modo de os angolanos encararem qualquer evento que de alguma explica, por exemplo, que tenha conseguido fazer um Janeiro, tal como em outras cidades, continuava forma ultrapassasse os normais conhecimentos da ciência, incluindo o bom negócio da candonga com farrapas que havia periclitante. E os protestos estavam longe de acabar, tratamento de doenças, quer fosse com respeito e admiração quer comprado na Itália, algo a que seria obrigado por má uma vez que as principais centrais sindicais do país fosse com apreensão, era desprezado pelos colonialistas, e os seus planificação. programavam uma paralisação geral. praticantes tratados com desconfiança e/ou animosidade. Estava-se em 1983, tinha eu 23 anos e muita inspiração. As contestações giravam à volta de exigencias básicas É Pepetela que, em “A Gloriosa Família – O Tempo dos Flamengos” nos De resto, só alguém com igual espírito aventureiro no domínio da saúde, educação, transportes, salários, descreve a forma como o prelado católico lidava com os rituais escolheria um país do bloco comunista para viajar a assistência social e corrupção, diante do que o povo africanos e seus objectos de culto, todos amontoados e expostos ao turismo, quando a quase considerava como um fogo da suposta purificação. totalidade dos angolanos que despesismo despropositado Além disso, desenvolveu-se uma política forte de aculturação, de conseguiam sair ficava-se com a organização de menosprezo pelas raízes, a começar pelas línguas maternas. As línguas por Lisboa e pelo Rio de duas importantes são mais do que simples transmissores de mensagens entre Janeiro. Na altura, o regime competições mundiais, emissores e receptores; seja qual for o código usado, a palavra pode comunista de José uma a seguir a outra, ser municiada e tornar-se numa importante arma de combate. Vários Eduardo dos Santos tinha quando faltava muita episódios da luta de libertação nacional são exímios exemplos de concedido uma coisa para atender as como os angolanos armaram a palavra. No extenso livro “Papéis da surpreendente e necessidades mais Prisão...”, José Luandino Vieira refere que os nacionalistas falavam em extraordinária abertura aos elementares do povoléu. “chuva” após cada noite de distribuição de panfletos em Luanda. seus cidadãos, permitindo- «A Alemanha gastou 13 É curioso verificar que a redução da ideia da Kianda à condição de lhes que viajassem para biliões de dólares, a África simples elemento mitológico é de tal forma efectiva que nessa base qualquer país do mundo do Sul investiu 17, mas o que todos, sobretudo aqueles que, tomados por algum desequilíbrio inteiro, à excepção da Brasil já vai em 28, mental ou emocional, inventam, ainda hoje, contactos de elevado grau, então racista África do Sul. quando muito há ainda experiências de abdução, raptos de que teriam sido vítimas, passaram E mais: com direito á por fazer. Quer uma a “vê-la” travestida de sereia. compra a preço oficial de explicação para isso? É que A falsa representação tomou conta de toda a capacidade de recriação 620 dólares por pessoa. lá não há tanta ladroagem mental do mito, arte incluída, e com esta última a mentira ganhou forma, Só que isso parece ter sido uma maldição. Como preto, como aqui. Nós temos ladrões até para exportar», diz- ganhou até... beleza. A Kianda jamais se submeteria a um jogo do estilo assim que vê assucar, quer logo tomar chá, acho que me o sabidão de um taxista a quem contratara para “espelho meu, espelho...”, pois os seus poderes vão além da feitiçaria. foi a partir daí que começou a bandidagem: muitos umas voltas pela cidade a trabalho, num dia desses. Mas as mudanças estão aí. Embora ligeiras, ou de alguma forma até tratavam os documentos para toda a família, recebiam «É incompreensível que o governo tenha tanto subtis, essas mudanças são notadas na generalidade, como o cumbu correspondente, mas só o chefe seguia dinheiro para aplicar na organização de competições referências na literatura e na música. Mas é com satisfação que vemos viagem, intrujando-se deste modo o bom do Estado. desportivas que só acabam por trazer prejuízos e não essas reclamações, embora escassas, de figuras proeminentes que, se Os primeiros carros para cidadãos comuns seriam o tenha para satisfazer as nossas necessidades não as fazem directamente ou na boca do narrador, dão-lhe forma nos adquiridos com base nesse esquema. Acabariam por básicas», sublinhou o bom do homem, antes de diálogos dos personagens e em falas contundentes. surgir os candongueiros, multiplicar-se-iam os considerar que o Brasil, tendo beneficiado da “- Não - disse mais velho Kalumbo com súbita irritação. Isso é coisa dos mercados informais dos pinchos e bugingangas, as generosidade de Deus em termos de extensão, brancos, a sereia é deles. Kianda não é metade mulher metade peixe, kinguilas entrariam em cena e tudo começaria a ficar população e recursos naturais (e sem terramotos nem nunca ninguém lhe viu assim. Os colonos nos tiraram a alma, alterando lentamente de patas para o ar. Ainda consegui bisar no furacões ou tsunamis), podia muito bem dar ao seu tudo, até a nossa maneira de pensar Kianda. O resultado está aí nesse país mesmo sistema, indo para Lisboa em 1985. povo uma vida de primeiro mundo, algo que, para ele, virado de pernas para o ar.” O parágrafo é uma passagem de “O Desejo de Desde então, foi só somar e seguir. Conheci mais de 15 só não acontece devido à corrupção e à escandalosa Kianda” (1995, pág. 98) de Pepetela. capitais africanas, umas dez europeias e apenas uma roubalheira dos dinheiros públicos. Pepetela é uma referência obrigatória da literatura angolana. Prémios asiática. Na América só conheço o Rio de Janeiro, Depois de umas curvas e contracurvas, atira de Nacional e Camões de Literatura, o escritor faz-se notar por uma postura embora já tenha ido ao Brasil quase 20 vezes. Esta rompante esta pérola para mim: «Ó cara, já ouvi que no comedida. Arriscamo-nos mesmo a reproduzir as palavras de um leitor história do «Luandaleeks» trouxe-me grandes teu país também não se brinca em serviço quanto a ouvidas num ambiente descontraído, em Luanda: “Pepetela não fala à toa!” recordações duma delas, ocorrida numa altura em que isto. É verdade?». E eu, algo embaraçado, na resposta: Na verdade, Pepetela não fala, escreve. E se escreve, supõe-se que seja a nação do samba, ainda com a Dilma, vivia um «Sei lá. Quem te disse? Olha que é preciso ter provas, ó lido. Mas, quem lê? O hábito de ler em Angola é extremamente baixo e momento de intensa agitação política, marcado por patrício!». Escusado dizer que nos pusemos a rir, até uma das causas apontadas é o preço dos livros, demasiado alto para a um generalizado e gigantesco movimento de protesto que nos separamos uns cinco minutos mais tarde. maioria, em que se incluem aqueles que lobrigam a Kianda como um contra a corrupção e a delapidação do erário pelas Claro que, se fosse hoje, com o kipupo de provas simples ser mitológico.A Kianda existe, a sereia não. elites governantes e dos arredores, havendo apresentadas no «Luandaleeks», teria dado ao homem Nota: este texto foi publicado há tempos no Jornal de Angola, na notadamente algumas similitudes entre as realidades uma resposta mais responsável. Agora já só faltam as rubrica “Crónicas da Lambula”. Infelizmente, em conversas posteriores, dos dois países nesses particulares. Daí a indução. incriminações documentais para os casos dalguns constantámos que, devido a falhas nossas ou por preconceito alheio, Muitas das grandes cidades estavam em polvorosa. outros grandes tubarões, já que a moça não será as ideias que procuramos transmitir foram de todo deturpadas. Assim, Havia confrontos entre os contestatários e os apoiantes seguramente o único suposto «metralha» que o país por sugestão dos editores deste suplemento, retomamo-lo hoje aqui. da presidente, que resistia a todo o custo ao veemente produziu ao tempo do velho Naná. 24 PUBLICIDADE Sábado, 25 de Janeiro de 2020

(700.002a) Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 11 ANOS LUANDA

BARTOLOMEU CARVALHO ROSA JANUÁRIO PRODUTOS CHEGAVAM REVITALIZAÇÃO A SER EXPORTADOS “Sugiro a revitalização urgente do parque “Essas fábricas empregavam pessoas industrial do Cazenga. Tínhamos tudo cá e oriundas de várias partes do país e os dificilmente as pessoas deslocavam-se a outros produtos eram exportados para países pontos de Luanda para fazer compras. O Estado como Botswana, Zimbabwe, Zâmbia, deve trabalhar para que as fábricas que estão Moçambique e Zaíre, actual República paralisadas voltem a ocupar o seu lugar no Democrática do Congo”. contexto industrial do país”.

UNIDADES FABRIS Fula Martins [email protected] Parque industrial do Cazenga declínio do parque indus- trial implantado no Cazen- Oga iniciou poucos anos de- votado ao abandono pois da conquista da Indepen- dência Nacional. A falta de matéria-prima, mão-de-obra qua- Em tempos idos foi considerado o segundo maior parque industrial lificada, manutenção dos equi- do país. Com mais de 70 unidades fabris em funcionamento, das pamentos e gestão, aliada a mu- dança da economia centralizada quais a Condel, Curbol, Vilar, IFA e a Mabor General, o Cazenga para a de mercado, no início da era motivo de orgulho para os luandenses. década de 90, converteu o muni- cípio em uma espécie de cemité- rio industrial. Segundo apurou o Luanda, Jor- nal Metropolitano, a maioria das antigas fábricas foram transfor- madas em armazéns de venda a grosso e a retalho. Outras, funcio- naram até finais da década de 90 e início do ano 2000. É o caso da Condel, então vocacionada no fa- brico de condutores eléctricos. Bartolomeu Carvalho, 64 anos, recordou que o Cazenga dispunha de uma gama diversificada de fá- bricas que empregavam milhares de pessoas. Visivelmente triste, re- feriu que o município chegou a ser considerado o segundo maior par- que industrial do país, competindo com as províncias de Benguela e Huambo. “Essas fábricas empre- gavam pessoas oriundas de várias partes do país e os produtos eram exportados para países como Bots- wana, Zimbabwe, Zâmbia, Mo- çambique e Zaíre, actual Repúbli- ca Democrática do Congo”, disse. Antigo funcionário fabril, Bar- tolomeu B. Carvalho lamentou o estado de abandono em que se encontra o parque industrial do Cazenga e reafirmou que o seu desaparecimento deixou muita gente no desemprego e famílias sem rumo. “As fábricas eram as que mais empregavam, mas a partir de mea- dos dos anos 80 começamos a tes- temunhar a desgraça das mesmas”, disse, acrescentando que algumas mos tudo cá e dificilmente as pes- ram ao processo de alienação das encerraram as portas, outras foram soas deslocavam-se a outros pon- empresas do Estado a favor dos transformadas em superfícies co- tos de Luanda para fazer compras”, privados. merciais e armazéns de venda de recordou Segundo apurou o Luanda, Jor- GRUPO RESTRITO alimento e vestuário. Condoída com a inversão do nal Metropolitano, foram trans- Bartolomeu Carvalho conside- quadro, Rosa Januário sugeriu que formados em armazéns de venda DE FÁBRICAS rou que restam apenas saudades a revitalização urgente do parque de produtos alimentares, parque dos bons tempos, tendo admitido industrial deve constituir um dos de estacionamento e oficina auto. APESAR DAS VÁRIAS mu- bos eléctricos e equipamentos que gostaria de ver as fábricas a principais desafios do Executivo. No interior dessas empresas, ain- danças económicas operadas de telecomunicação. funcionar para garantir emprego Acrescentou que este desafio de- da são visíveis as marcas de um no país, e a recente crise fi- Na mesma senda está a So- à juventude, ao invés desta se de- ve congregar um plano integrado. passado de glória, que augura por nanceira, um grupo restrito ciedade Industrial Grosseria de An- dicar ao comércio informal. Ape- “O Estado deve trabalhar para que um futuro de mudança. de fábricas resiste. Funcionam gola (SIGA). Em funcionamento sar de existir algumas poucas que as fábricas que estão paralisadas A Sometal e a Indústria Fosfo- regularmente. São os casos há mais de seis décadas, mesmo dão o ar da sua graça, Rosa Ja- voltem a ocupar o seu lugar no con- reira de Angola (IFA), por exem- da cervejeira Cuca e as fábri- nos períodos mais difíceis do nuário, 72 anos, moradora na 5ª texto industrial do país, tal como plo, mudaram de face. Uma ce- cas Condel e Vilar. sector industrial nunca conheceu Avenida, não se conforma com a foi no passado”, conclui. deu lugar a uma conhecida su- Construída em 1956, a Con- nenhuma paralisação. Números situação. Contou que a produção perfície comercial, enquanto a del, que se localizada na 5ª Ave- obtidos por este jornal indicam era diversificada, desde calçados, PROCESSO DE ALIENAÇÃO outra um armazém de uma em- nida, é a única empresa em An- que tem uma produção que ron- cerveja, frangos, ovos, carne, ves- À época intituladas Unidade Eco- presa igualmente popular. A No- gola que se dedica ao fabrico dam 400 mil toneladas e em- tuário, refrigerantes, pneus, cabos nómica Estatal, a Decorang, Cur- va Cervejeira “Nocal”, também de diversificada gama de ca- prega 120 trabalhadores. eléctricos, tintas, plásticos, colchões bol, Robert Hudson e Uniplásti- não resistiu a crise. Está paralisa- e carteiras, entre outros. “Tínha- co, são algumas que não resisti- da há mais de cinco meses. 12 PUBLICIDADE Sábado, 25 de Janeiro de 2020

(700.054) Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 13 ANOS LUANDA

SANDRA ANTÓNIO HELDA RIBEIRO “CIDADE CONTINUA SUJA” “INTERAGIR COM “No seu primeiro ano de governação AS COMUNIDADES” considero que o desempenho não foi dos “O desempenho é razoável. O governador tem saído melhores. Prometeu que iria recuperar as algumas vezes em trabalho de campo, embora o quadro vias secundárias e combater o lixo, o que não não se tenha alterado. Um número significativo de se verificou de todo. A cidade continua suja, estradas secundárias e terciárias continuam na mesma, com grandes amontoados de lixo e muitas sem falar das construções em zonas de risco. Gostaria vias completamente esburacadas”. que interagisse mais com as comunidades”.

GOVERNADOR DE LUANDA

JOÃO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ayane Vanusa Gestão de Sérgio “Falta quase tudo” Nos bairros Mundial, Monte “Belo e Malueca, falta quase tudo Rescova e muitas casas correm o risco de serem engolidas pelas ravinas. A escassez de escolas públicas, divide luandenses hospitais e esquadras policiais, fazem parte dos problemas que afligem os moradores. São situações que deveriam merecer atenção do governador”.

Baptista Kiteculo Victor Hugo “Descentralização “Mais escolas e hospitais” administrativa” Em função da crise financeira, É prematuro fazer uma “considero razoável o “avaliação do seu desempenho. desempenho do governador. Por Porém, o governador deve outro lado, gostaria que houvesse, priorizar a construção de mais de facto, descentralização hospitais, escolas, reabilitação das administrativa e financeira, para vias secundárias, abastecimento que os administradores água potável, fornecimento de municipais e distritais pudessem energia eléctrica e o combate a tomar decisões sem o mando do delinquência. Vivo no bairro governador da província. Creio Mundial e nunca vimos o que desta forma o trabalho será governador no bairro em jornada mais eficiente e funcional”. de campo”.

Gonçalves Puto Gilasia dos Santos “Soluções concretas” “Pouco ou nada diferente”

Acredito que o desempenho O desempenho não é dos “tem altos e baixos, mas “melhores. Pouco ou nada de gostaria que ele trabalhasse mais diferente foi feito, não vejo em projectos concretos. Não se mudanças profundas e muitos pode remediar e sim dar solução bairros continuam em péssimas definitiva, se não vamos condições. O governador deve em relação ao seu desempenho. tes e governados. continuar a ouvir o mesmo andar mais para melhor Fula Martins Entre o desencanto e o voto de No essencial, os entrevistados discurso que a cidade de Luanda conhecer a realidade da província [email protected] confiança, consideram pouco con- do Luanda, Jornal Metropolita- não está preparada para receber com vista a melhorar o que está seguido o seu desempenho. no, sugerem que o governador Sér- enxurradas. É fundamental bem e corrigir as coisas que omeado em Janeiro do ano Os depoimentos críticos apon- gio Luther Rescova envolva mais trabalhar na macro-drenagem”. estão mal”. passado para o cargo de go- tam que Luanda continua a viver as suas acções na busca de solu- Nvernador de Luanda, pelo os mesmos problemas, desde a fal- ções que visam resolver os pro- Presidente da República João Lou- ta de escolas, hospitais, abasteci- blemas que afligem os luanden- renço, aquando da tomada de pos- mento deficiente de água potável, ses. Acrescentam que não se po- se, em cerimónia realizada na se- débil saneamento básico, vias de de remediar e sim dar solução de do Governo da Província, na acesso degradadas, transportes definitiva, sob o risco de se revi- presença do ministro da Admi- públicos ineficaz, trânsito caótico, ver as dificuldades. nistração do Território e Reforma crianças de rua, ravinas e crimi- Em resumo, entendem que o do Estado, Adão de Almeida, Sér- nalidade acentuada. Apesar dis- governador deve andar mais pe- gio Luther Rescova apontou en- so, Sérgio Luther Rescova conta los municípios e distritos para tre as prioridades a limpeza e re- com o voto de um segmento de ci- melhor conhecer a realidade da cuperação das vias secundárias. dadãos que acredita na mudança província, de modo a melhorar o Entretanto, decorrido um ano, da imagem de Luanda, desde que que está bem e corrigir as coisas os cidadãos mostram-se divididos haja envolvimento de governan- que estão mal. 14 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS LUANDA

FILIPE VIDAL REIVINDICAÇÃO “REFILÕES DE CATETE” RESISTÊNCIA A OCUPAÇÃO Os movimentos nacionalistas, tiveram início nos Em Luanda, haviam grupos que estruturavam e primórdios do século XVIII. Mas foi nos anos 40 davam corpo aos movimentos nacionalistas que e 50, em Luanda, que começaram a interagiam tanto no interior das zonas urbanas como empreender acções de reivindicação para nas zonas rurais. Um destes grupos, que se independência e o aumento da contestação ao notabilizou entre 1910/ 1918, foram os “refilões de regime colonial, em Angola, com o surgimento Catete” ou os calcinhas de Icolo e Bengo. de vários movimentos de libertação.

MOVIMENTO NACIONALISTA

Luanda liderou a resistência contra a ocupação colonial

Antes do “Processo dos 50” e o 4 de Fevereiro, os “refilões” ou “calcinhas” de Catete eram os exemplos mais vivos da resistência contra a ocupação colonial entre os anos de 1910/18.

Apesar de outros aconteci- te do imaginário de alguns angola- António Pimenta mentos que se registaram antes, Apesar das contradições que circulam à sua nos, desde o século XVIII. Porém, foi [email protected] estes dois actos foram os que a nos anos 40 e 50, em Luanda, que co- história registou como a reafir- volta, os sucessos de 4 de Fevereiro foram meçaram a empreender-se acções de mação da consciência do povo atribuídos ao MPLA, que o assumiu como a reivindicação para independência e uanda foi, desde o início do angolano para a necessidade de o aumento da contestação ao regime século XVIII, o berço de gran- desencadear uma luta organiza- data do início da luta armada contra o colonial em Angola, com o surgi- Lde parte dos movimentos na- da pela independência de Ango- colonialismo português. Aos acontecimentos mento de vários movimentos de li- cionalistas em Angola, que tiveram la, o que, na prática, produziu bertação. o seu ponto mais alto em finais de um abalo estrutural que iria re- de Fevereiro, ter-se-iam seguido uma nova Uma importante historiadora 1959 e 1961, com o surgimento do flectir-se na própria essência da etapa do combate político-militar. da nossa praça, considerou o “Pro- “Processo dos 50” e o 4 de Feve- sociedade colonial. cesso dos 50” como um acto de reiro de 1961. A ideia de independência fazia par- grande importância na luta de li- Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 15 ANOS LUANDA

CIRINEU BASTOS PROVÍNCIA ULTRAMARINA TRÊS PRIMEIROMINISTROS DESPORTO E CULTURA Norton de Matos, antigo governador da Província Lopo do Nascimento, França Van-Dúnem e Fernando ultramarina de Angola, utilizando a teoria de Willie da Piedade Dias dos Santos, três antigos primeiro- Linch, “enfraquecer a mente e fortalecer o corpo”, ministros, saíram do Bairro Indígena, afirmou Cireneu juntou-se ao grupo dos iletrados, retirando espaço Bastos com uma boa dose de orgulho a exaltar a aos que, na altura, tinham algum conhecimento. Mas importância da zona onde cresceu, no que diz respeito foi no desporto, na cultura e nos grémios que os a sua participação nos movimentos nacionalistas. movimentos nacionalistas encontravam espaços.

MOVIMENTOS POLÍTICOS EM LUANDA

CONFORME DISSEMOS, os movimentos políticos em Luan- da, não se restringiram apenas ao “Processo dos 50” e o 4 de Fe- vereiro. Uma série de outros acon- tecimentos políticos e culturais fo- ram registados de 1910 até a al- tura da nossa independência. A antiga capital da província do ultramar, de acordo com Filipe Vi- dal, era o centro das decisões, lo- cal onde estavam albergados os grandes cérebros que o país tinha a altura e que, na opinião de Fili- pe Vidal, estruturavam e davam substância os movimentos na- cionalistas que interagiam tanto no interior das zonas urbanas co- mo nas zonas rurais. LIDERANÇA Figuras emblemáticas do nacionalismo angolano Um destes grupos, que se no- tabilizou entre 1910/ 1918, estamos mar mais tarde, numa verdadei- utilizavam para resistir a ocupa- a citar o nosso entrevistado, fo- ra escola de políticos nacionalis- ção colonial. Faziam parte do ram os “refilões de Catete” ou os tas angolanos. mesmo grupo Vunvun, El Belo, calcinhas de Icolo e Bengo. Eram No campo da música, Carlitos irmão mais velho do Santocas, Zé assim tratados os cidadãos an- Vieira Dias foi a grande referên- Miranda, Morgado Amaral e mui- golanos que residiam nesta zo- cia, sem esquecer de mencionar, tos outros. na de Luanda, já com alguma ins- os Ngola Ritmos, Fogo Negro e Embora muito jovem, naquela trução escolar. muitos outros grupos que utili- altura, Cireneu Bastos era co- Em 1910, eles já sabiam ler e es- zaram a música como uma for- nhecido pela sua rebeldia contra crever. Destacavam-se entre os ma de resistência contra o co- as autoridades coloniais, os mé- bertação nacional, pois “o envol- demais pelo aprumo na forma de lonialismo. todos de reivindicação que utili- vimento de pessoas pertencentes vestir e na resiliência quando se tra- Na entrevista que tivemos com zava, deixando perplexa muito a vários estratos sociais também Dois anos depois do tava de exigir das autoridades co- Cireneu Bastos, esse renomado ar- boa gente., “Trajar um facto bran- pesou muito a favor da conscien- “Processo dos 50” loniais melhores condições de vi- tista da nossa praça falou-nos de co, de marca Pierre Cardin, com cialização dos angolanos para a surgiram os da para os africanos; o fim dos tra- alguns grupos que nos anos 60, gravata e aparecer em plena Bai- necessidade de lutarem pela in- balhos forçados e o respeito pelas em Luanda, davam cartas. Os ir- xa de Luanda,, descalço era al- dependência”. acontecimentos de 4 suas tradições, hábitos e costumes. mãos Assis, a Garda e o seu con- gumas das táticas que eu utili- O “Processo dos 50” é o nome de Fevereiro de 1961, Filipe Vidal explica que esses ne- junto e ainda o conjunto Melodia zava”, explica. com que ficou conhecida a prisão gros apenas começaram a per- dos irmãos Mário e a Alba Clinton, Segundo Cireneu Bastos, o re- e o julgamento de um grupo de acção de revolta der o seu protagonismo com a o Chico Luanda e os seus manos, gime colonial defendia uma teo- nacionalistas negros, mestiços e protagonizada por chegada a Luanda do Governa- foram as grandes referências que ria que quanto mais distraísse o brancos, africanos e europeus que, dor da Província de Luanda, Nor- nos tempos idos animavam as fes- preto, menos ele pensaria em po- insatisfeitos com a situação que se grupos de angolanos ton de Matos, que utilizando a teo- tas em Luanda. lítica. Foi assim que começaram vivia na época, decidiram em- que, armados com ria de Willie Linch, “enfraquecer Lembrou do Bairro Indígena, o a surgir em Luanda muitos cen- preender um conjunto de acções a mente e fortalecer o corpo”, jun- lugar que o viu crescer, do tem- tros recreativos. clandestinas que conduzissem à catanas, assaltaram tou-se ao grupo dos iletrados, re- po em que a Avenida do Brasil “Mas, contrariamente ao que independência de Angola. Ficou algumas cadeias. tirando espaços aos que, na altura, era tão-somente a rua “Sabendo eles pensavam, o tiro saiu-lhes pe- conhecido como o primeiro jul- tinham algum conhecimento. Andar” e os filhos que o seu bair- la colatra. Foi nestes centros on- gamento por questões políticas na Para contrariar essas políticas, ro gerou para a causa da nossa de, para além da cultura, os an- Angola colonial. revela o nosso entrevistado, sur- independência. golanos faziam política”, afirmou A lista publicada continha 56 in- de repressão a que se seguiu. giram, em Luanda, os grémios afri- “Três primeiro-ministros, no- Cireneu Bastos. tegrantes deste processo e consta- Apesar das contradições que cir- canos, no caso concreto a Liga meadamente, Lopo do Nasci- O Botafogo, localizado atrás do va uma mulher, Maria Julieta Gan- culam a sua volta, os sucessos de 4 Africana e o Anangola, uma es- mento, França Van-Dúnem e Fer- Maxinde, no Marçal, o Grupo Tea- dra, acusada de apoiar as reivindi- de Fevereiro foram atribuídos ao pécie de grupos associativos que nando da Piedade Dias dos San- tral Ngongo, que fazia as apre- cações dos patriotas. MPLA, que o assumiu como a data eram aproveitados para, de forma tos, saíram do Bairro Indígena”, afir- sentações na antiga Liga Nacio- Dois anos depois do “Processo do início da luta armada contra o co- disfarçada, debater questões re- mou Cireneu Bastos com uma nal Africana, o Giro- Giro, no Mar- dos 50” surgiram os acontecimen- lonialismo português. Aos aconte- lacionadas com o nacionalismo boa dose de orgulho nos olhos çal, o Club dos Ambrizetes, no Bair- tos de 4 de Fevereiro de 1961, acção cimentos de Fevereiro, ter-se-iam se- africanismo. a exaltar a importância da zona ro Operário, Salão dos Anjos, no de revolta protagonizada por gru- guido uma nova etapa do combate “É no desporto e na cultura e onde cresceu, no que diz respei- Sambizanga, eram os locais mais pos de angolanos que, armados político-militar protagonizado pelo nos grémios, que os movimentos to a sua participação nos movi- concorridos em Luanda e onde com catanas, assaltaram algumas MPLA, centrada nas matas de An- nacionalistas tentavam encon- mentos nacionalistas em Luanda. grande parte dos políticos ac- cadeias e outros objectivos milita- gola e nas selvas de Cabinda. trar os espaços para escapar ao Para Cireneu Bastos, uma boa tuais frequentavam para conser- res e civis em Luanda, causando al- Segundo informações prestadas controlo da polícia de repressão casta de políticos saíram ou têm tar ideias na clandestinidade. gumas dezenas de mortos e feridos ao Luanda, Jornal Metropolitano, colonial”, afirmou Filipe Vidal. as suas raízes no bairro Indígena. De acordo com as suas de- entre os assaltantes e membros das pelo historiador e antropólogo Fi- O historiador citou o exemplo O primeiro grupo onde esteve clarações, muitos dos grupos forças militares e policiais. lipe Vidal, o 4 de Fevereiro foi pro- de Demóstenes de Almeida que, como cantor, explica, foi o Raio que existiam na altura começa- Teve várias réplicas, segundo re- tagonizado por Cónego Manuel das associado a outros nacionalistas, Negro ou Nzambi wa xikelela ram a desaparecer a medida latos da história, sendo os mais gra- Neves e Rosário Neto, um nacio- fundou o Atlético de Luanda que, (Deus ficou Preto), que, a seu ver que os seus integrantes iam sen- ves ocorridas ainda durante o mês nalista angolano, segundo o histo- segundo ele, viria a se transfor- ilustra alguns dos artifícios que do detidos pela PIDE. de Fevereiro, resultantes da onda riador, com vínculos à FNLA. 16 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS LUANdA

METRÓPOLE ORÇAMENTO ELEVADO NÚMERO DE 8,6 MIL MILHÕES DE VISITANTES KWANZAS PARA DESPESAS A cidade de Luanda, durante o dia, O Orçamento já foi aprovado chega a acolher mais de cinco em 2019 e a Comissão Administrativa milhões de pessoas que saem de da Cidade de Luanda recebeu outros distritos. Os equipamentos cerca de 8,6 mil milhões de Kwanzas. facilmente se degradam. Mas, um terço deste valor será para pagamento de salários.

COMISSÃO ADMINISTRATIVA DA CIDADE DE LUANDA

que devo fazer, relativa a exiguida- Rosalina Mateta de de espaços. Estamos a fazer a re- [email protected] forma dos espaços no município de Luanda, a requalificação e reabili- A cidade de Luanda, apesar de Cidade tações de escolas, incluindo a cons- ganhar novas infra-estruturas, trução de três escolas. Estão igual- até arranha-céus, continua a mente em curso a requalificação da debater-se com velhos regista fase III da Zona Verde e a reabili- problemas. tação do centro de saúde 4 de Fe- Luanda é uma Cidade Metropoli- vereiro, na Marginal. Estas são as tana, onde habitam cerca de dois mi- acções prioritárias, para as quais já lhões de habitantes. Mas, durante o ganhos e há verbas. Temos certeza de que dia chegam a estar aqui mais de vão iniciar e terminar. Já há verba cinco milhões de pessoas que saem alocada para as obras do PIP que de outros distritos. Vêm trabalhar estão relacionadas com projectos ou resolver qualquer situação ou dificuldades sociais, nomeadamente, a reabili- até mesmo passear. Temos uma po- tação de escolas, construção de um pulação muito intensa que muitas A Presidente da Comissão centro de formação e o centro de saú- vezes exerce esta pressão sobre a de Sagrada Esperança e ouras ac- cidade. Os equipamentos, as vezes, Administrativa da Cidade ções de combate a pobreza que vi- são reabilitados, mas, tendo em de Luanda (CACL), sam melhor as condições de vidas conta o fluxo de pessoas, facilmen- da população. Também prestamos te se degradam. Maria António Nelumba, apoio a cerca de 1500 ex -militares manifestou-se preocupada que vão ser enquadrados em vá- O que fazer para melhorar rios projectos. saneamento básico? com as cerca de seis mil A nível de limpeza, há os engraxa- crianças que estão fora Quanto é que a CACL prevê dores, venda ambulante, meninos gastar este ano? que colocam pedras ou botijas para do sistema de ensino. O Orçamento já foi aprovado em 2019 reservar lugares no estacionamento, Entre alguns ganhos, e fomos contemplados com uma enfim…Relativamente a periferia, verba de cerca de 8,6 mil mi- temos ainda o problema de sanea- a cidade vive imensos lhões de Kwanzas. Mas, um mento básico por se resolver. Tendo problemas e não há 6.000 terço deste valor é para pa- em conta que algumas zonas dos dis- muitas soluções à vista. gar salários. Para investi- tritos que ainda são musseques e não CRIANÇAS mentos, temos cerca de estão reabilitadas, temos que paula- um bilhão de Kwanzas tinamente ir melhorando. Ainda te- FORA DO para todos os projectos mos zonas no distrito da , que enumeramos. Não vai como por exemplo, o Catambor, bair- ENSINO ser fácil. Estamos limitados ro da Madeira e Catinton, que preci- iluminação pública. A nível dos bair- bito do comércio formal para que pos- a fazer tam- pelos orçamentos. sam de alguma requalificação. Mes- ros, amiúde, as administrações vão samos ter a cidade funcional, como bém um pro- mo que não chegarem lá os arranha- fazendo alguma coisa para que as em qualquer outra parte do mundo. jecto para a reabilita- A complexidade de Luanda céus, teremos as ruas reabilitadas, as pessoas possam ter alguma segu- Sabemos que há dificuldades econó- ção da Cacimba dos propicia a existência de valas de drenagem em condições e rança. Quanto ao abastecimento de micas, que as mulheres precisam de Reis que fica ali na poderes paralelos. Estes tratados os resíduos sólidos. Outras água, é feito sempre com algumas alimentar as suas famílias, muitas são Samba e que ninguém reflectem-se nas actividades dificuldades resultam das deficien- dificuldades na zona periférica, so- mães e pais, mas, também têm que dá importância. diárias da CACL? tes infra-estruturas de drenagem de bretudo nos distritos do Ngola Ki- entender que tem de haver discipli- Bom, temos que saber gerir. Nós, águas. Agora que estamos em época luaje, onde houve uma intervenção na. Outras actividades e serviços são No âmbito do PIIM como é que aqui temos muita pressão, porque chuvosa, há zonas que ainda são in- no âmbito das 700- mil ligações do- desenvolvidos aqui. Luanda é a ca- as verbas chegam aos distritos e estamos próximo do Governo da transitáveis. Temos que ter moto- miciliares, Programa Água para To- pital, é o centro político/administra- qual é o critério de distribuição e Província de Luanda. Mas, não vou bombas para sugar as águas, porque dos-. As ligações estão feitas, mas tivo, temos grande parte das empre- aplicação das mesmas? dizer interferência. Temos é que fa- também há residências que foram não tem havido a capacidade sufi- sas do Estado e não só aqui sediadas. O PIIM é um programa que tem vá- zer um exercício, cada um dentro feitas em lugares inadequados. Há ciente para bombear água para es- Neste momento, também temos in- rios projectos. Na Comissão Admi- das suas responsabilidades, e saber lugares onde há autênticas bacias de tas zonas. corporado como actividade da ad- nistrativa da Cidade de Luanda te- respeitar as hierarquias. águas, como é o caso da Samba, na ministração a pesca artesanal, no âm- mos 14 projectos a nível do PIIM. Es- rua Heróis do Mar, a bacia do INO- Há venda ambulante bito do que foi feito para a transfe- tes estão distribuídos por vários No âmbito do princípio da RADE, o Sambizanga, na Frescura e desenfreada, provavelmente rência de competências a algumas distritos urbanos. Alguns já existiam, subordinação, quais são os no Bucavu, e Rangel. Mas, tendo em incrementada pelo êxodo administrações. estavam no PIP, e saíram para inte- limites de actuação da CACL, conta um trabalho que está a ser fei- populacional. O que fazer? grar o PIIM. Dos antigos, temos pro- quanto ao território? to no sentido de reperfilar as vias de Temos o problema dos mercados de Como movomentar a cidade, à jectos que vão ser pagos no âmbito drenagem, minimamente o trabalho Luanda. Temos os oficiais, mas ain- noite, do ponto de vista cultural? do apoio ao desenvolvimento, rela- Neste momento, regemo-nos por tem sido feito. Para isto também con- da temos muita venda ambulante e A nível cultural, estamos a trabalhar cionados com aquisição de carteiras um diploma, em que a Cidade Ad- tamos com o apoio das comissões de em locais impróprios. As vezes, a no sentido de devolver alguma vi- escolares, apetrechamento do posto ministrativa tem uma presidente, moradores. população não entende bem. Quer da cultural à cidade. Estamos a tra- policial da Boavista e acções de lim- três vice-presidentes (áreas econó- vender em todo o lado, o que não balhar com algumas pessoas da Uni- peza e saneamento. Estas acções são mica, social e de infra-estruturas). Como solucionar as recorrentes deve ser. As vezes, há algum exces- versidade Lusíadas e com a Admi- feitas em vários distritos. Temos a Depois temos várias direcções que faltas de água e de luz? so da fiscalização, mas eles estão a nistração da Ingombota para dar construção de campos polidespor- se encarregam de outras tarefas. Temos algum problema de ilumi- fazer o trabalho deles... Os merca- mais vida à esta zona velha da ci- tivos que vão ser erguidos na Maian- Luanda tem sete distritos urbanos nação, sobretudo nas zonas mais pe- dos foram construídos e as pessoas dade. Temos sido pressionados pa- ga, Neves Bendinha, Ngola Kiluaje que se subordinam à Comissão Ad- riféricas na cidade. Há um progra- não querem vender no seu interior, ra restaurar o Largo do Pelourinho e no bairro Operário. Foram os lo- ministrativa. Estamos em fase de ma, com apoio do governo da pro- preferem ficar na rua. O nosso objec- que é um de grande relevância do cais onde encontramos espaços pa- transição, agora que foi aprovado víncia, no sentido de melhorar a tivo é trazer alguma disciplina, no âm- ponto de vista histórico…Estamos ra os fazer. Há aqui uma ressalva um outro diploma, o decreto 202 /19, Sábado, 25 de Janeiro de 2019 ESPECIAL 17 ANOS LUANDA

FALTA DE ÁRVORES PREOCUPAÇÃO CRIADOS PROJECTOS CRIANÇAS FORA DO PARA MUDANÇA SISTEMA DE ENSINO A Administração da Ingombota “Não é bom ter seis mil crianças começou a fazer uma grande sem estudar. Não temos escolas campanha de limpeza e espaços para construir outras. e poda de árvores e vai iniciar O que temos estado a fazer é aproveitar o reflorestamento as escolas que ainda têm quintais grandes da Floresta da Ilha de Luanda. e colocar ali umas salas de aulas.

que vai dar independência e pari- árvores e vai iniciar o reflorestamen- no largo da , em frente do Em definitivo que solução se Há algum projecto para dade com o governo da província. to, por ser uma zona que ficou bastante Chamavo, fizemos uma pequena in- arranjou para a retirada da grua conservação e preservação dos A presidente da Comissão Admi- afectada porque houve ocupação de tervenção no Largo da Indepen- do Prenda? antigos edifícios da Baixa de nistrativa da Cidade de Luanda vai grande extensão de terra. Também es- dência, e no Largo 21 de Janeiro, em Por causa da situação de risco Luanda? responder directamente ao chefe do tamos a trabalhar com a Embaixada frente a faculdade de Arquitectura. O dos moradores, a grua preocupa- Projecto não existe. Temos feito o le- poder Executivo. Já trabalhamos nes- de França que vai dar um financiamento problema principal é o da água pa- nos bastante. É facto que a grua vantamento das infra-estruturas, ob- te pacote e remetemos as nossas pro- para este fim. No âmbito do PIP há um ra a rega destas plantas. Agora esta- está ali há mais de 40 anos. Está servar o seu estado de conservação, postas ao Governo da Província de estudo para requalificação da Flores- mos a redefinir o tipo de plantas que sob alçada do Ministério da Cons- porque isto é um projecto de gran- Luanda que, por sua vez, vai re- ta da Ilha. Em relação ao eixo-viário, é não precisam de muita água. trução. Nós, como Comissão Ad- de envergadura que exige um fi- meter ao Ministério da Administra- preciso mais limpeza e as áreas que ministrativa da Cidade de Luanda nanciamento bastante elevado. Nes- ção do Território ( MAT). Isso surge foram devastadas merecem ser reflo- Existe um número muito não temos a solução. Mas, o que te momento temos outras preocu- no âmbito da nova orgânica que o restadas. Na Zona Verde há um pro- grande de crianças fora do é certo é que a solução tarda a che- pações, sobretudo com o sanea- MAT está a desenvolver para ade- jecto que já iniciou há bastante tem- sistema de ensino em Luanda. O gar. Com as chuvas que ultima- mento básico para evitar várias doen- quar as administrações de melhor po. Foi finalizada a parte de restaura- que fazer? mente têm caído, o nosso receio ças. Temos, por exemplo, bairros co- organização com objectivo de me- ção. Estamos a negociar o contrato de É uma tarefa árdua. Não é bom ter é maior. Se aquilo verga ou cai é mo Rangel, onde as pessoas quase lhor resolver os problemas locais. Fo- gestão daquilo que tinha sido feito num seis mil crianças sem estudar. Não te- uma tragédia… não podem circular e que vivem ram criados vários tipos de municí- determinado sentido e que achamos mos escolas e não temos espaços pa- praticamente em cima da água. Em pios A, B,C e D. Aqui em Luanda, não estar correcto. Por isso, estamos ra construir outras. O que temos es- Diante da conjuntura que relação a esta questão, é evidente que alguns municípios são do tipo A, a fazer uma redefinição da ocupação tado a fazer é aproveitar as escolas que traçou, Sambizanga e Rangel temos conhecimento que, a nível de penso que um é do tipo B, C e um daquele espaço. Gostaríamos que, no ainda têm quintais grandes e colo- vão continuar a ser musseques? algumas universidades, sobretudo do tipo D, na Quiçama. Estamos à âmbito das festividades da cidade, car ali umas salas de aulas. É o que Vão continuar musseques. Mas os da Lusíadas, que está aqui mesmo espera que, a qualquer momento, o aquilo pudesse estar aberto e fun- vamos fazer na Samba, na escola 17 musseques podem ser revitalizados. no centro da cidade, têm sido feitos nosso estatuto seja aprovado. A in- cional. Mas, há um ligeiro atraso na de Setembro. No PIP saiu a constru- Há projectos que estão em curso, alguns trabalhos. Mas do nosso lado, formação que tenho é que, a nível conclusão deste contrato. No âmbi- ção de uma escola no Marçal. Mas ali, no âmbito do governo provincial, fazer um projecto em si destas infra- dos 164 municípios do país, 155 es- to do PIIM, também está contem- onde é que temos espaço para cons- não tanto para o Sambizanga, bair- estruturas e requalificá-las, ainda não. tão aprovados e faltam somente os plada a reactivação da fase III. As truir? Em alguns casos vamos ter ro, mas abrangem o S.Paulo. Para de Luanda. obras iniciaram em 2018, mas, no ano que negociar com as famílias. No Ngo- o o Rangel, ainda estive lá ontem, A meio de tantas dificuldades, passado, não tivemos verbas. la Kiluanje estamos a negociar com uma senhora empresária, de origem em 2020 que cartão postal a CACL Os moradores do bairro do um senhor que vai nos ceder um es- etíope, apresentou uma solução terá para mostrar aos citadinos e Sambizanga que estão nos O que é que já foi feito? paço. Os municípes sentem a ne- que pode ser implementada, en- aos turistas? edifícios da Marconi foram para Na zona Verde já foi feito a fase I que cessidade de ter ali uma escola. Ou- quanto não chega a grande obra. Ela Podemos ter aquilo que está na car- lá no âmbito da requalificação? contempla a entrada principal, tem tra alternativa será implementarmos já fez o mesmo projecto no Morro teira de investimentos públicos. O res- Sim. Porque algumas viviam ali na um repuxo de água com luzes de led. o ensino nocturno. Vamos encontrar Bento, em que fizeram reperfila- to é a comparticipação que pedimos, estrada, cujas casas foram partidas, Aquilo, à noite, vai ficar muito boni- locais onde este ensino possa fun- mento das ruas e aplicaram betão mais interacção com os cidadãos lo- por estarem na via principal. Mas, o to. Tem três restaurantes e a zona do cionar. Mas, sabemos que há a ques- nas ruas. A zona, pelo menos, em cais, mais parceria com aqueles em- projecto devia continuar para que o jardim. Casas de banho que vão ser- tão da segurança que também pode termos de higiene e sanidade me- presários locais que nos podem aju- realojamento pudesse ser comple- vir não só os restaurantes, mas tam- interferir na nossa pretensão. Uma lhorou bastante e quando chove não dar a mudar o aspecto da cidade. Os tado. As dificuldades são financei- bém o público. Esta é a primeira fa- ideia que, as vezes, tem me ocorrido, fica alagada. A maior parte do Ran- projectos estruturantes estão a nível ras e o mesmo se põe em relação a se que já está terminada. Ainda nes- é fazermos como se fazia antiga- gel não tem redes técnicas elabo- do Governo Provincial que são os ar- requalificação do bairro Operário. ta fase, no quintal vai ser feito um em- mente. Havia professores que da- radas, então pode-se fazer o reper- ruamentos. Por exemplo, no Neves preendimento para exposições de ar- vam aulas em casa, depois subme- filamento das valas, manter as ruas Bendinha será feita a melhoria de al- Como fica a titularidade dos tes. A fase que está em curso tem um tiam os alunos a exames. Também po- e as casas limpas e pintadas… Pen- gumas ruas. No centro da cidade, va- apartamentos do edifício ateliêr, do tipo ATL, para as crianças, de ser uma alternativa, porque de fac- samos que a população do Rangel mos ver alguns aspectos ligados Anangola, sabendo que os duas quadras de jogos e o resto é ar- to é muito triste vermos um jovem é activa e precisamos deste pe- aos edifícios antigos. Na Ilha de Luan- antigos moradores do bairro borização… Temos um programa de de 14/15 anos que nunca foi à escola. quenos projectos, com soluções lo- da, a Administração está a fazer um Operário que foram para lá ainda reflorestamento na cidade de Luan- Podia-se voltar a este sistema do en- cais, para ajudar a mudar a imagem trabalho de melhoria das rotundas não receberam os títulos de da, na rua Ngola Kiluaje, Marginal, sino particular nesta vertente, com pes- do bairro e dar-lhe mais dignidade. e da iluminação pública. Enfim, um propriedade? Samba e nova Marginal. Estamos a soas idóneas, enquanto esperamos Para isto contamos com a colabo- conjunto de pequenas acções que O prédio tem um dono que é o Es- fazer a reabilitação de alguns jardins por melhores soluções. ração de todos. nos vão ajudar a melhorar a cidade. tado e está sobre alçada da Comis- são Administrativa da Cidade de Luanda. Os moradores têm um tí- tulo de ocupação. O que devemos fazer é dar continuidade ao traba- CONSTRUÇÕES NOS TERRENOS DESABITADOS DO BAIRRO lho que já tinha sido iniciado para a legalização do próprio edifício que OPERÁRIO VÃO SER DEMOLIDAS precisa ser inscrito na matriz predial. Depois começa a desanexação para A administração do distrito do quiser implementar os projec- rem de lá, as casas têm de ser de- receberam não querem sair… cada morador. As pessoas podem fi- urbano do Sambizanga tos ter de indemnizar pessoas. molidas para evitar ocupações car descansadas, porque o prédio é formou uma comissão para Quando o Estado demoliu para re- por outras pessoas. É este o exer- O espaço para a construção do Estado. Não há problema algum. tratar do conflito ligados ao qualificação teve de indemnizar. cício que está a ser feito. do campo polidesportivo é Eles vão ter os títulos para poderem processo de requalificação e Portanto, quem estiver a ocupar muito pequeno. Existem registar os apartamentos na conser- também declarou que está a os terrenos desabitados, seja a que Mas, as cedências para os outros espaços no bairro vatória como propriedade deles. ceder os terrenos desabitados título for, tem de saber que vamos terrenos desabitados são a Operário? no bairro Operário. demolir…Agora há aquelas habi- título precário. No âmbito da requalificação, estava Luanda precisa de arborização. O As pessoas que ainda estão a tações que os moradores também Mesmo a título precário, vamos previsto a construção de um cam- que está reservado à Floresta da Ilha ocupar as casas, vão vê-las de- já foram para o edifício Anangola demolir. Se o objectivo era de- po multi-uso. Depois podemos fa- de Luanda, zona verde do Alvalade molidas, porque foram lhes dada e outras zonas e que não saíram. sactivar para dar continuidade a zer outro, o bairro é muito gran- e jardins do eixo-viário? oportunidades para ir morar nas Por isso, é que estão a ser feitas requalificação à zona porquê de, queríamos fazer ali onde tinha Vamos começar pela Floresta da Ilha novas habitações que receberam. estas reuniões, no sentido de os que outros hão-de ir lá morar? um estaleiro. Por outro lado temos de Luanda. A Administração da In- Não podemos novos espaços, intimar e dizer-lhes que tem de dei- Nem a título precário podem fi- de criar uma estratégia para atrair gombota começou a fazer uma gran- sob o risco de que quando Esta- xar as habitações. Quando eles saí- car. Se mesmo naqueles que já o investimento privado. de campanha de limpeza e poda de 18 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS LUANDA

FLORESTA DA ILHA BESSANGANAS PROVAS DE CORTAMATO INDUMENTÁRIA ATINGE A floresta da Ilha do Cabo foi até à 14 METROS DE TECIDO década de 1980 palco de provas de Somadas todas as sete peças, a indumentária corta-mato organizadas pelas das bessanganas chega a atingir 14 metros de organizações juvenil e infantil filiadas tecido, em geral panos estampados e coloridos. ao MPLA e por associações estudantis. A mesma compreende o mulele ua jiponda, Essas actividades deixaram de ser mulele ua xaxi, mulele ua tandu e, por fim, um realizadas. pano conhecido como bofeta.

ZONAS COSTEIRAS À beira-mar plantados

Luanda comemora a 25 de Janeiro o 444º aniversário da sua fundação. A cidade nasceu junto ao mar. Nos últimos anos, tem crescido muito, tanto para Sul e Sudeste, quanto para Leste e Nordeste.

CONSTRUÇÃO DESREGRADA na boca do Mar todos os espaços, Osvaldo Goçalves Em todas essas zonas, assiste-se a por menores que sejam, estão ocu- [email protected] uma exploração desregrada dos es- Há tempos, contava-se a estória de um pados por construções,a maioria paços. O ritmo de construção ac- das quais precárias e, tal como acon- tual entra em contradição com ou- indivíduo que estacionava um carro de luxo à tece noutros musseques da pro- mercado Roque Santeiro, tras atitudes tomadas antes pelas porta, enquanto os 4ilhos dormiam numa víncia, já se contam estórias de fu- por muitos considerado um autoridades. Quando se vê edifí- esteira estendida no chão. Na Ilha, um casal nerais em que os caixões têm de Odos maiores de África a céu cios altos serem construídos jun- passar pelas casas dos vizinhos an- aberto quando o seu endereço to ao mar, em terrenos ainda sob vivia numa casa construída com capas de zinco, tes de chegarem à estrada. eram as barrocas da Boavista, an- a alçada da Capitania do Porto de com chão de areia, mas tinha ar-condicionado e Enquanto as populações genuí- tiga Lixeira e Campo da Revolu- Luanda, em zonas sem as infra- nas se veêm obrigadas a dispersar, ção, ou Rua Lueji A-Nkonde, se estruras técnicas necessárias ao um televisor plasma de 60 polegadas. as suas casas e terrenos são ocu- quiserem, mudou de lugar para fornecimento de água e electrici- pados por indivíduos detentores o Panguila. É no Atlântico, do Pan- dade e sem redes de esgoto, com de recursos, mas com visíveis mau guila às Palmeirinhas, metendo reflexos directos sobre o ambien- gosto e desrespeito pelo meio. pelo meio o Cacuaco, Boavista, te, a única coisa que nos resta per- guns historiadores, aportaram pri- edifícios altos, quando, há 30/40 Há tempos, contava-se a estó- Marginal, Ilha do Cabo, Praia do guntar é como e quem autoriza meiro, em 1576, Paulo Dias de No- anos não eram permitidas constru- ria de um indivíduo que estacio- Bispo, Vorim, Samba, Ramiros e que tal seja feito. vais e os 40 portugueses que o acom- ções com mais de dois andares. nava um carro de luxo à porta, en- Mussulo, que Luanda assenta as Nos cerca de sete quilómetros de panhavam, entre marinheiros, sol- Nas zonas de maior densidade quanto os filhos dormiam numa suas raízes. extensão da Ilha, onde, segundo al- dados e clérigos, nascem hoje populacional dessa língua de terra esteira estendida no chão. Na Ilha, Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 19 ANOS LUANDA

OCUPAÇÕES ILEGAIS BAIRRO DOS PESCADORES DESRESPEITO PELO MEIO E TUDO O MAR LEVOU Enquanto as populações genuínas se veêm No Cacuaco, no antigo Bairro dos Pescadores, obrigadas a dispersar, as suas casas e várias casas foram destruídas pelo Mar e, tal como terrenos são ocupados por indivíduos na Ilha, as quitetas, búzios, lapas, mexilhões e até detentores de recursos, com mau gosto e ostras desapareceram. Da praia, já nada se pesca, desrespeito pelo meio. Será que as novas por mais longos que se façam os lançamentos. Os construções obedecem às normas de habitantes dos bairros situados na orla marítima engenharia? continuam a enfrentar graves problemas.

FALTA DE INFRAESTRUTURAS FALTAM ESCOLAS E HOSPI Mundo e continentais, degrada-se TAIS, além de cinemas, teatros, dis- a olhos vistos. Tornou-se um ar- cotecas, recintos desportivos, etc. A mazém onde se guardam caixas tér- floresta da Ilha do Cabo foi até à dé- micas, bacias, algumas redes de pes- cada de 1980 palco de provas de cor- ca e linhas. Também ficam lá arti- ta-mato organizadas pelas organi- gos para pequenos negócios, gra- zações juvenil e infantil filiadas ao des vazias de cerveja e gasosa. MPLA e por associações estudantis. No Cacuaco, no antigo Bairro dos Essas actividades deixaram de ser Pescadores, várias casas foram des- realizadas e o movimento despor- truídas pelo Mar e, tal como na Ilha, tivo está limitado aos poucos clubes as quitetas, búzios, lapas, mexilhões com modalidades de desportos e até ostras desapareceram. Da praia, náuticos ou a torneios de futebol or- já nada se pesca, por mais longos que ganizados na praia por carolas. se façam os lançamentos. As árvores antigas, como co- Os habitantes dos bairros situados queiros, casuarinas e até algumas na orla marítima continuam a en- palmeiras de enfeite e tamarineiros, frentar graves problemas de trans- foram substituídas por novas es- portes.Com a concentração de em- pécies, sem que para tal fosse fei- pregos na zona Baixa e nos bairros to qualquer estudo. de luxo, quem não estiver ligado, de O edifício da antiga Escola de Ve- alguma forma, à pesca e ao Mar é la na Ilha, onde treinaram figuras im- obrigado a percorrer longas distân- ANARQUIA Erguidas na zona costeira muitas construções desobedecem as normas de engenharia portantes desse desporto, incluin- cias para se deslocar de casa para o do participantes em campeontos do trabalho e vice-versa. um casal vivia numa casa cons- Embora caricatas, essas situa- dade e cuidados com os incêndios. truída com capas de zinco, com ções levam-nos a questionar se as Mantém-se o respeito pela vizi- chão de areia, mas tinha ar-con- novas construções obedecem às nhança? Para onde vão os dejec- dicionado e um televisor de plas- normas de engenharia, nomea- tos e as águas pluviais? Que meios MOSAICO CULTURAL ma de 60 polegadas. damente, no tocante à acessibili- existem para recolha do lixo?

BESSANGANAS rituais pagãos. Tanto faz se as re- Zanga (Ilha). Antigamente, as ca- zas são para pedir saúde e felici- noas usadas pelos pescadores dade ou se, ao contrário, buscam do Cacuaco, Boavista e da Ilha vi- AS MULHERES DESSAS ZO o mal pra outrem. nham da Barra do Bengo e os da NAS, devido, sobretudo, à forma A festa da Kianda, que termina Samba, Corimba, Palmeirinas e de se vestirem, à culinária e ao mo- com a cerimónia de entrega de Mussulo, eram provenientes da do de falar, são, de forma geral, cha- oferendas à deusa do Mar, a pe- Barra do Kwanza. madas bessanganas, embora na dir Mar calmo e peixe em abun- O povo diz que as gentes des- maior parte das vezes nada te- dância, começa no Mussulo. ses bairros à beira-mar plantados nham a ver com essas “senhoras O nome Sambizanga, arrisca-se têm a mesma origem, o que mais COM O ÊXODO DA POPULAÇÃO, “bandeiros” (puxadores das redes de de respeito e boas famílias”. dizer, vem da junção de Samba e se nota nas festas de Carnaval. Luanda vem-se tornando um mo- tracção para terra, vulgo banda-ban- A indumentária das bessanganas saico de línguas, nacionais e estran- da) ou “escamadores” de peixe. que, somadas todas as sete peças, geiras, e respectivos sotaques. Talvez Sem dúvida que, para os agen- chega a atingir 14 metros de teci- atraídos pelo Mar, os deslocados pre- tes da polícia, tal como para os ci- do, em geral panos estampados e ferem as zonas costeiras para viver. dadãos, em geral, é difícil distinguir coloridos, compreende o mulele ua Esse facto reflecte-se nas con- quando alguém aparece com uma jiponda (peça interior), mulele ua versas do dia-a-dia, nos costumes faca, se se trata de uma arma xaxi (pano trespassado cobrindo a e até na tiponimia, com nomes branca, usada para cometer cri- parte superior), mulele ua tandu (te- adoptados por meio da aculturação mes, ou se é apenas um instu- cidos trespassados na parte infe- devida às televovelas e seriados es- mento de trabalho. Desses rapa- rior) e, por fim, um pano conheci- trangeiros, sobretudo brasileiros a zes, conhece-se a habilidade no do como bofeta. O traje ficacom- conviverem com designações pro- manuseio de todo o tipo de objecto pleto com um pano enrolado na venientes de outras línguas nacio- cortante ou perfurante.Também cabeça em forma de lenço. nais que não o kimbundu, predo- são muito referidas as brigas cons- As populações costeiras culti- minante na região. tantes entre esses jovens, o con- vam credos tradicionais africanos ao Esses bairros são muito fre- sumo de álcool e o uso de drogas. mesmo tempo que praticam outras quentados por crianças de rua, jo- Outro aspecto a ter em conta é religiões, nomeadamente as oci- vens e adultos deslocados de ou- a falta de documentos e outros dentais. As divindades que moram tras províncias. Antes, era a guerra meios de identificação. Após co- no imaginário dessa gente, como que os trazia para Luanda. Hoje, ou- meterem crimes, é difícil localizá-los. Kalunga ou a Kianda, dividem o mes- tras razões estão por detrás do Os nomes usados são, em geral, al- mo espaço com as figuras da Bíblia. êxodo. As crianças de rua, que já fo- cunhas, muitas vezes adotadasde As igrejas aproveitam-se da si- ram mais e depois menos, são ago- desportistas, actores ou cantores fa- tuação e nas suas festas, da Ilha ra, na maioria, adolescentes e jovens mosos. Além de facas, são usados ou do Cacuaco, associam as pro- sem emprego fixo. Prestam servi- cacos de garrafa, fáceis de achar em cissões aos santos padroeiros aos TRAJE As Bessanganas, em regra, usam os tecidos de qualidade ços como carregadores (roboteiros), qualquer esquina de Luanda. 20 PUBLICIDADE Sábado, 25 de Janeiro de 2020

(600.013a) Sábado, 25 de Janeiro de 2020 PUBLICIDADE 21

(700.084) 22 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS LUANDA

“ELIAS DYA KIMUEZO” “ZICO” VIDA DEDICADA TALENTO NATO À MUSICA O talento de Zico não passou despercebido. A Em 2011, Elias Dya Kimuezo foi sua primeira internacionalização foi com a homenageado na sétima edição do selecção de sub-20, que disputou o torneio de projecto “Palco das Recordações”. Foi Toulon, França, sob orientação do falecido o primeiro artista a receber a carteira Carlos Alinho. Disputou o apuramento para o profissional da UNAC. CAN da categoria, que se realizaria em 1995.

HOMENAGEM

Arcângela Rodrigues [email protected] Figuras emblemáticas de Luanda

Ao longo dos anos, várias figuras de Luanda têm se destacado em vários domínios, como na música, no desporto, na solidariedade, na religião, entre outros. O Luanda, Jornal Metropolitano, presta uma homenagem a estas figuras que marcaram e marcam a vida de milhares de luandenses.

JOÃO MATEUS JOAQUIM O “MANÉ GARRINHA” ANGOLANO

João Mateus Joaquim notabilizou- se como jogador nos clubes Ma- rítimo da Ilha, Quartel dos Dra- gões, Textang, Libolo, Bembe Fu- tebol, ARA da Gabela (Agrário Recreativo do Amboim) e Pro- gresso do Sambizanga. Devido às suas pernas arqueadas e forma peculiar de jogar, os miúdos do bairro atribuíram-lhe a alcunha que o tornou famoso: “Man Gar- ra”. Jogou ao lado de Joaquim Di- nis “Brinca na Areia”, Chico Ne- grita, Jair, Lourenço, Bento Fir- mino, Dias, Sebastião, Guimarães, Matreira, Barros, Augusto, Santi- nho, Tito, Barros, Eduardo, Man Beto e outros. “Man Garra” ocu- pou todas as posições dentro do campo: foi guarda-redes, defesa, médio, ponta de lança, capitão de equipa e treinador. Nasceu a 30 de Junho de 1947, no Sambizanga. Em meados de 1952, foi morar ao Marçal e de- DEOLINDA BEBIANA DE ALMEIDA pois ao Rangel. A mãe foi traba- COMBATE À POBREZA COMO MODO DE VIDA lhadora doméstica. Ainda pe- queno, trabalhou para pagar os Deolinda Bebiana de Almeida é apoiar as famílias mais carencia- falta de equipamen- seus estudos, na escola São Do- coordenadora do programa “For- das, realojando-as no Zango 4, mu- tos. O projecto foi er- mingos, no distrito do Rangel. No ça de Vontade”, criado em 2002, nicípio de Viana, onde começaram guido numa área de período da manhã frequentava as com o objectivo de combater a po- uma nova vida, com base em boas 33 hectares. Deo- aulas e à tarde engraxava sapatos breza. O projecto apoia cerca de regras de convivência, mudança linda Bebiana de na zona dos Combatentes e no 500 famílias, retiradas da lixeira do de comportamento cívico e moral Almeida gostaria Quartel dos Dragões. Trabalhou Golf 2, município do Kilamba Kia- a nível da comunidade. O pro- de ver o projecto a ser como mecânico numa oficina que xi. Antiga representante do Pro- jecto “Força de Vontade” conta implementado em ou- pertenceu ao exército Português, grama das Nações Unidas para o com uma escola do ensino pri- tras províncias do país, no R20. Actualmente é quadro re- Desenvolvimento (PNUD) no Ma- mário e secundário, um centro de mas para o efeito diz ser ne- formado do Ministério das Fi- li, Botswana, Madagáscar e Repú- saúde e maternidade, financiados cessário o apoio de órgãos go- nanças e uma das figuras do pro- blica Centro-Africana, Deolinda pelo Fundo de Apoio Social (FAS). vernamentais, instituições pú- grama radiofónico “A voz dos ko- Bebiana de Almeida resolveu A maternidade não funciona por blicas e privadas. tas”, da Rádio Luanda. Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 23 ANOS LUANDA

“MAMÃ TINA” “MAN GARRA” DOM DA FAMOSO PELA ALCUNHA PALAVRA E DA FÉ João Mateus Joaquim notabilizou-se como Mulher trabalhadora e temente a Deus. jogador nos clubes Marítimo da Ilha, Quartel Ernestina da Silva Diogo Matias dos Dragões, Progresso do Sambizanga, entre “Mama Tina”, como é carinhosamente outros. Devido às suas pernas arqueadas e conhecida pelos crentes, é apóstola da forma peculiar de jogar, os miúdos do bairro Igreja Ministério de Fé e Libertação. atribuíram-lhe a alcunha que o tornou famoso.

ELIAS DYA KIMUEZO A HISTÓRIA POR TRÁS DA “ENTRONIZAÇÃO” FERNANDO DOMINGOS FRANCISCO “ZICO” "O REI DA MÚSICA ANGOLANA" “TALENTO DESCOBERTO AOS SETE ANOS" NOTABILIZADO NO PETRO DE LUANDA, equipa ficado entre os cinco primeiros. no grupo “Ginásio”, como compo- com passagem pelo Progresso do Sambi- Em 1993, contra a vontade dos adeptos sitor. Em 1956, apareceu como in- zanga e pelos Palancas Negras, Fernando Do- e simpatizantes do Progresso, Zico foi térpete e tocador de bate-bate, inte- mingos Francisco, ou simplesmente “Zico”, transferido para o Petro de Luanda. Até grado o conjunto “Kizomba”, do marcou o golo que deu a primeira Taça Co- aquela altura, não tinha a noção do valor Sambizanga. Nesta época fundou safa a Angola. Ao serviço da Selecção Nacio- que tinha para os adeptos do clube. Hou- o agrupamento musical “Dikun- nal marcou mais de duas dezenas de golos ve pessoas que foram para a casa a supli- dus”. Passou pelos grupos “Ma- Com o Petro de Luanda ganhou cinco car para não sair do clube. kezu”, “Dikino” e “Dimbangola”. vezes o campeonato nacional, igual nú- A direção teve muita dificuldade em ge- Em 1969, esteve em Portugal com mero de taças de Angola e quatro super- rir a saída de Zico do Progresso. No clube o grupo Rebita, tendo participado taças. Benguelense de gema, é contem- do Catetão, onde jogou por dez anos, foi num concurso em Santarém, em que porâneo de Minhas, Cacharamba, Nelo recebido pelo falecido treinador Goiko Zeck. obteve o segundo lugar. Na se- Bumba, Stopirra, Felito, Guedes, Renato, Naquela época, jogavam no Petro de Luan- quência dos êxitos alcançados, Elias Amaral, Marito e Akwá. da Chico Dinis, Nejó, Bodunha, Amaral liga-se à editora Valentim de Car- Em 1980, quando tinha sete anos, dava Aleixo, Oliveira, Felito, Paulo Silva, Mba- valho, com a qual grava três LPs, nas vistas, pois era dono de uma técnica in- la, Zacarias, Jonas, Aurélio, Flávio, Chinho, com destaque para “Etiqueta Ango- comum para alguém da sua idade. O seu Gilberto, Dias Caires, Betinho e Marito, ten- la”, em que participam Rui Mingas, talento chamou atenção do “kota Vavá”, um do logo na sua primeira época ganho tudo Teta Lando e Barceló de Carvalho organizador de jogos do bairro, que o ape- o que estava em disputa: Girabola, Taça de Em 1960, a cantora brasileira Ân- “Bonga”, e cinco singles. lidou de Zico, por ter semelhanças Angola e a Supertaça de 1993. gela Maria foi convidada a cantar No início dos anos 70, gravou um com craque brasileiro Zico. Em 1994, Zico regressa ao em Luanda, pelo Centro de Infor- LP com a editora Rebita e um outro Com o surgimento dos Progresso do Sambizanga, mação e Turismo de Angola (CITA). no Brasil. Em 1974, criou um dos “Caçulinhas da Bola”, no ano seguinte retor- Como uma das exigências para ac- maiores grupos musicais da época: organizado pela Rádio nar ao Petro de Luan- tuar na capital angolana, a cantora o Kissanguela. Entre outros prémios Nacional de Angola, da, onde ficou até pediu que cantasse ao lado do rei da consta o primeiro lugar no concur- foi elevando a sua 2004. Nos dez anos música angolana. Luís Montês, en- so de música africana, realizado em qualidade como fu- que jogou pelos tri- tão responsável do CITA, convida Lisboa (Portugal), em 1982, o prémio tebolista. Como “ca- colores, Zico teve o Elias Dya Kimuezo, para partilhar o “Os 11 mais da cidade da canção” e çulinha”, jogou pela privilégio de actuar palco com a cantora brasileira. o troféu Quim Jorge, em 1995. Congeral (fábrica de numa final da Taça Depois dessa actuação, o músico Com uma vida inteiramente de- sabão). Como com- CAF contra o Espé- foi considerado o rei da música an- dicada à música, Elias Dya Kimue- pensação, recebia 20 rance de Tunis. golana. Em 1995, a União Nacional zo já representou o país em vários barras de são. Na primeira partida, dos Artistas e Compositores (UNAC) eventos musicais realizados em Por- Depois jogou pelo em Luanda, ganharam reconheceu-lhe este título. tugal, Brasil, Cabo-Verde, Índia, Na- ENAMA, ao lado de Pas- por uma bola a zero e Elias José Francisco nasceu a 2 de míbia, São Tomé e Príncipe e ex- sarela, Totas, entre outros, em Tunes perderam por Janeiro de 1936, numa pequena ca- União Soviética. É autor de várias treinados pelo mister Magui, e duas bolas a zero. Zico par- sa junto ao mercado do Xamavo, ho- obras discográficas como “Sucessos no Siga, treinado pelo velho Elias. ticipou no jogo em que os tri- je do São Paulo, em Luanda. Come- do Passado”, “O Semba Passa Embora fosse muito habilidoso, colores humilharam o Al çou a sua carreira artística em 1950, Aqui”, e “Ngui Sote”. Zico gostava de jogar a defesa Alhy do Egipto, em pleno es- central. No Siga, o treinador co- tádio do Cairo, por 2-4. Na pri- locou-o a jogar a ponta de lança e foi bem- meira mão, os egípcios, venceram por 2- sucedido, tendo sido melhor marcador do 1, em Luanda. ERNESTINA DA SILVA DIOGO MATIAS campeonato provincial, em 1986. O talento de Zico não passou desperce- “MAMA TINA” No mesmo ano, tentou a sorte no Pro- bido. A sua primeira internacionalização gresso do Sambizanga, onde acabou por foi com a selecção de sub-20, que dispu- VOCAÇÃO RELIGIOSA ficar. Em 1988/89, ascendeu à categoria de tou o torneio de Toulon, França, sob orien- juniores no mesmo clube, orientado pela tação do falecido Carlos Alinho. Disputou Afirma ser uma mulher trabalhadora e dupla de ex-jogadores do Progresso Praia o apuramento para o CAN da categoria, temente a Deus. Ernestina da Silva Diogo e Meco, já falecidos. que se realizaria em 1995. Faziam parte da- Matias “Mama Tina”, como é carinhosa- Nessa altura, disputou o campeonato pro- quela seleção Akwá, Hélder Vicente, Pe- mente conhecida pelos crentes, é apósto- vincial, que era dominado pela Nocal, com dro, Bani, Marito, Cacharamba, Bongochi, la da Igreja Ministério de Fé e Libertação. jogadores como Paulão, Bebé, Dioguito, Quinzinho, Yamba Asha, entre outros. Foi através de uma das suas filhas que des- Abel e Docas. Em 1995/96, fez parte da pré-selecção cobriu a vocação. Numa viagem a Londres, O Petro de Luanda, com jogadores como nacional convocada para a operação CAN para visitar a filha que lá estudava, teve Nelo Bumba, Valentim, , e o 1º de de 1996, realizado na Africa do Sul, que contacto com uma Igreja de reavivamen- Agosto, eram clubes que seguiam a Nocal, viria a ser a primeira participação de An- to. Os anos de 1996, 1997, 1998 e 1999 fo- em termos de potencial. gola num evento do género. Fez ainda a ram de preparação, busca, oração, inter- Aos 17 anos, Zico ascende à categoria de maior parte de jogos de apuramento, mas cessão e formação de carácter. Diz que du- sénior, onde encontrou jogadores como Al- ficou fora dos 23 eleitos. rante este percurso aconteceram milagres tino, Mitó, Ferreira Pinto, Janguelito, Din- Zico também deu o seu contributo na extraordinários. Segundo “Mama Tina”, dinho, Lando e Augusto, treinados por Car- conquista da primeira Taça Cosafa, mar- Deus sempre lhe concedeu o dom da pa- litos Romão. Zico ajudou o Progresso a re- cando o golo da vitória na final contra a lavra e da fé. Em 1999, foi consagrada pe- gressar à I Divisão, com Napoleão Brandão Namíbia. Na altura, o treinador dos Pa- lo apóstolo Tambu Lukoli, depois de vê-la e Luís Cão no comando técnico, tendo a lancas Negras era Djalma Cavalcante. pregar. Começou assim o trabalho como serva de Deus, até tornar-se apóstola. 24 PUBLICIDADE Sábado, 25 de Janeiro de 2020

(700.001) Sábado, 25 de Janeiro de 2020 PUBLICIDADE 25

(900.002)

(700.052g) 26 LAZER Sábado, 25 de Janeiro de 2020

Cartoon Armando Pululo Cinema

TESTE Zap /Cinemas

Semana: 24 a 30 de Janeiro

•Título: Que mal fiz eu a Deus agora (Sala VIP) •Género: Comédia/Drama •Sessões: 12h45/15h20 17h50/20h30 ?Desafio Curiosidades 1 - Leonardo da Vinci, considerado um dos maiores gênios da história da humanidade. Nascido na Itália foi uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento. Como pintor qual a sua obra mais notável?

1- Madonas 2- Mona Lisa 3- A anunciação 4- Pietà

•Título: Tudo pela Justiça 2 - Ernesto Guevara de la Serna, (Sala 2) •Género: Drama conhecido como “Che” Guevara foi •Sessões:12h40/15h30/ um revolucionário guerrilheiro, polí- 18h20h21h20/00h10b tico, jornalista, escritor e médico. De que nacionalidade foi “Che”? •Título: As aventuras do Dr. Dolittle VP 1- Argentino (Sala 3) •Género: Aventura 2- Mexicana •Sessões:10h50a/13h10 3- Cubana 15h50/18h10 4- Peruana Etimologia da cidade de Luanda •Título: Cidade sob Ameaça (Sala 3) 3 - Valhala é um lugar mitológico, •Género: Acção majestoso e enorme salão com uanda é a capital e a de rios ou de regiões alaga- do vocábulo, de Lu-ndandu •Sessões:20h40/23h00b 504 portas, situado em Asgard, maior cidade de Ango- das (exemplos: Luena, Luca- passou-se a Lu-andu. O vo- dominado pelo deus Odin como Lla. Localizada na costa la, Lobito) e, neste caso, refe- cábulo, no processo de apor- lar para os mortos. De que mitolo- do Oceano Atlântico, é, tam- re-se à restinga rodeada pelo tuguesamento, passou a ser •Título: Bad Boys para gia se trata? bém, o principal porto e cen- mar. Ndandu significa valor feminino, uma vez que se re- Sempre (Sala 4) 1- Celta tro económico do país. ou objecto de comércio e alu- feria a uma ilha, e resultou •Género: Acção/comédia Foi fundada a 25 de Janeiro de à exploração dos peque- em Luanda. •Sessões:13h00/15h40/18h30 2- Grega 21h10/23h50b de 1576 pelo fidalgo e ex- nos búzios colhidos na ilha Outra versão para a origem 3- Nórdica plorador português Paulo de Luanda e que constituíam do nome refere que o mes- 4- Hebraica Dias de Novais, com o no- a moeda corrente no antigo mo deriva de “Axiluandas” •Título: 1917 me de "São Paulo da Assun- Reino do Congo e reino do (homens do mar), nome da- (IMAX) •Género: Acção, drama ção de Loanda". Ndongo em grande parte da do pelos portugueses aos •Sessões: 13h10/16h20/ A Ilha de Luanda foi o local costa ocidental africana, co- habitantes da ilha, porque 18h50/21h30/00h00b onde os primeiros colonos nhecidos por zimbo ou njim- quando aí chegaram e lhes 4 - Orion na mitologia foi um gi- portugueses se radicaram. O bo. perguntaram o que esta- gante caçador, colocado entre as estrelas. Que mitologia… topónimo Luanda provém do Como os povos ambundu vam a fazer, estes respon- •Título: Armados em étimo lu-ndandu. O prefixo moldavam a pronúncia da to- deram “uwanda”, um vo- Espiões 2d VP (Sala 6) lu, primitivamente uma das ponímia das várias regiões ao cábulo que em quimbundo •Género: Animação formas do plural nas línguas seu modo de falar, eliminan- designava trabalhar com re- •Sessões:11h00a/16h10c A- Celta bantu, é comum nos nomes do alguns sons quando estes des de pesca. B - Hebraica de zonas do litoral, de bacias não alteravam o significado C - Védica •Título: Dark Waters: Verdade Envenenada D - Grega (Sala 6) Palavras Cruzadas Horizontais •Género: Drama 1- Federação Angolana de Andebol. 6- Sufoca. •Sessões:13h20/16h00d 11- Adquirir. 12- Relativo à navegação e a navios. 18h40/21h10/00h20b 13- Forças Armadas Angolanas. 14- Governador RESPOSTAS árabe. 16- Terceira nota musical. 17- Atmosfera.

18- Pequena argola com que se enfeitam os •Título: Cidade sob Ameaça

32- MIA. 33- ALT. 35- DL. 37- EX. 37- DL. 35- ALT. 33- MIA. 32- dedos. 19- Sigla de Save Our Souls. 20- Intensi- (Sala 7)

26- CAN. 28- PIOR. 29- PIAR. 30- CARA. 30- PIAR. 29- PIOR. 28- CAN. 26- dade. 21- Edifício para habitação. 22- Avivar (o •Género: Acção 22- ATRASO. 23- TEIMAR. 24- BELIZE. BELIZE. 24- TEIMAR. 23- ATRASO. 22- •Sessões:15h30e/15h50e

fogo). 24- Mofo. 25- Maquinismo para tecer. 18h00

19- SALA. 20- GEAR. 21- CORA. CORA. 21- GEAR. 20- SALA. 19- 26- Substância de que são feitos os favos das

10- ALISAR. 15- MEU. 18- ARAR. ARAR. 18- MEU. 15- ALISAR. 10- abelhas. 27- Assumir expressão alegre.

NAR. 6- ANIL. 7- BAR. 8- AV. 9- FAMOSO. 9- AV. 8- BAR. 7- ANIL. 6- NAR. 28- Anteparo para resguardar os olhos da clari-

1-FOFA. 2- ABAR. 3- ATA. 4- NE. 5- DRE- 5- NE. 4- ATA. 3- ABAR. 2- 1-FOFA. dade. 29- Computador Pessoal. 31- Antes do •Título: Bayala

Verticais meio-dia. 32- Elemento de formação de palavras (Sala 7)

39- EXTRA. 39- que exprime a ideia de pequenez. 33- Camareira. •Género: Animação/aventura

34- SADIO. 36- ZELAR. 38- ORLAR. ORLAR. 38- ZELAR. 36- SADIO. 34- 34- Que goza de boa saúde. 36- Administrar dili- •Sessões:11h10a

29- PC. 31- AM. 32- MINI. 33- AIA. AIA. 33- MINI. 32- AM. 31- PC. 29- gentemente. 38- Debruar. 39- Aquilo que é acres-

25- TEAR. 26- CERA. 27- RIR. 28- PALA. 28- RIR. 27- CERA. 26- TEAR. 25- centado ao que é habitual.

21- CASA. 22- ATEAR. 24- BOLOR. BOLOR. 24- ATEAR. 22- CASA. 21- •Título: 21 Pontes

Verticais 17- AR. 18- ANEL. 19- SOS. 20- GRAU. GRAU. 20- SOS. 19- ANEL. 18- AR. 17- (Sala 7)

1- Que cede à pressão, macia (feminino). •Género: Acção/ Crime

12- NAVAL. 13- FAA. 14- EMIR. 16- MI. MI. 16- EMIR. 14- FAA. 13- NAVAL. 12- 2- Prover de aba. 3- Aperta com nó. 4- Símbolo •Sessões: 20h50/23h10b

1- FAAND. 6- ABAFA. 11- OBTER. OBTER. 11- ABAFA. 6- FAAND. 1- de nordeste. 5- Escoar. 6- Matéria corante azul

Horizontais de origem vegetal. 7- Botequim. 8- Avenida Palavras Cruzadas Palavras (abreviatura). 9- Célebre. 10- Aplanar. 15- Que me pertence. 18- Lavrar. 19- Qualquer comparti-

mento. 20- Formar-se geada. 21- Enrubesce.

D - mitologia grega grega mitologia - D

4 - 4 22- Demora. 23- Insistir em. 24- Um dos quatro a(Sáb e Dom)

3- Mitólogia Nórdica Mitólogia 3-

3 - 3 municípios da província de Cabinda. 26- Cam- b ( Sexta, sáb e vésp de feriado) 2 - 1 - Argentino - 1 - 2 peonato Africano das Nações. 28- Contrário de

c( Só sáb e dom) 1 - 2 - Mona Lisa. Mona - 2 - 1 «melhor». 29- Dar pios. 30- Rosto. 32- Dá mios.

d( Excepto sáb e dom) Desafio: 33- Abreviatura de altitude. 35- Decilitro (abre- viatura). 37- Prefixo (separação). e( Excepto dom) Sábado, 25 de Janeiro de 2020 PUBLICIDADE 27

(700.091) 28 Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL ANOS LUANDA

LOY JABURÚ CONVITES SÃO SEIS DÉCADAS DE REBITA BEMVINDOS Bartolomeu Napoleão “Jaburú” é um nome Os convites são bem-vindos, numa que impõe autoridade dentro da rebita dos altura em que precisamos mesmo de Novatos da Ilha. Não só é considerado aparecer em várias actividades como a “biblioteca viva” do grupo, como públicas. Porque muitas pessoas também é o seu letrista e vocalista de acham que a rebita, já não existe. Os maior sucesso. Ao todo, Jaburú acumula jovens dizem que é dança dos velhos. mais de sessenta anos de rebita.

REBITA O último rastilho de dança e música de Luanda

A rebita, dança e música, é o grande chamariz cultural das festividades do 444º aniversário da cidade de Luanda, a ser celebrado hoje. É no Carnaval onde a rebita vive uma grande “resistên- cia”, enquanto resultado claro das várias manifesta- ções culturais, que Luanda oferece, oriundas do cancioneiro popular que tanto enriqueceu os géneros modernos.

nem mesmo a elevação a Patrimó- Matadi Makota nio Imaterial Nacional lhes tirou [email protected] da mira do “esquecimento” a que estão votados, apesar de ser bem defendida a importância deste gru- ob a égide da Comissão Ad- po no pacote cultural de Luanda. ministrativa de Luanda “Estamos no activo cerca de cin- S(CAL), o Rebita Novatos da quenta elementos dos Novatos da Ilha apresentou várias performan- Ilha, quando o número era acima ces em diferentes locais. Ontem, dia dos cem. Temos muitos temas po- 24, o grupo esteve no programa Ja- pulares, como “Kussukula”, “Nga- nela Aberta, emitido a partir da manda” e outros. Marginal de Luanda. Antes, na Neste momento, estamos a en- quinta-feira, 23, a CAL convidou o saiar no estúdio do João Alexandre grupo a fazer uma grande perfor- para a gravação do tema da home- mance dos seus vários números nagem pelo grupo carnavalesco musicais e de dança no Centro Cul- União Giza do Rangel, com o qual tural Brasil-Angola. faremos o desfile”, garantiu. O grupo carnavalesco União Gi- Bartolomeu Napoleão “Jaburú” é za do Rangel programa render- um nome que impõe autoridade den- lhes uma homenagem na próxima tro da rebita dos Novatos da Ilha. Não edição do Entrudo. “Estes convi- só é considerado como a “biblioteca tes são bem-vindos, numa altura viva” do grupo, como também é o em que precisamos mesmo destas seu letrista e vocalista de maior su- actividades públicas. Porque mui- cesso. Autor do sucesso “Ngaman- tas pessoas acham que, a rebita, já da”, tema que irão entoar na home- não existe. Os jovens dizem que nagem no Carnaval, conta que a es- é dança dos velhos. creveu por força da história de uma Mas apesar da fraca adesão, va- rejeição amorosa de uma senhora, a mos continuar a receber os jovens Madalena, que não quis atender ao com vontade de dançar e tocar a pedido de amor do seu apaixonado. rebita”, afirma Joaquim Manuel Ao todo, Jaburú acumula mais de Pascoal “Loy”, secretário-geral do sessenta anos de rebita. Faz parte grupo Rebita Novatos da Ilha. In- dos cinco históricos fundadores do felizmente, lamenta o responsável, grupo, quatro dos quais já falecidos. Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 29 ANOS LUANDA

HORÁCIO DA MESQUITA REBITA SINAL DA CULTURA CANCIONEIRO “Neste momento, apenas POPULAR DE LUANDA a rebita preserva essa gema. As pessoas não se identificam com a rebita. Há É o último sinal de como se fazia a uma certa rejeição, principalmente da juventude, cultura dentro do território de Luanda, que deveria saber que se a rebita desaparece, mantendo-se com a mesma acaba-se o cancioneiro popular de Luanda. Se no característica. No carnaval faz-se uma carnaval fosse obrigatório executar os temas fusão da rebita. típicos desta região, mantinha-se.

“Temos lutado para não deixarmos morrer a rebita. Aqui em Luanda havia quatro grupos, o Angola, Santa Bárbara, onde ponti2icava o Mestre Geraldo, Rebita Agostinho Neto e o Rebita Novatos da Ilha, a única que sobrevive até aos dias de hoje”

“Temos lutado para não deixar- do a lembrar ao detalhe os nomes, mos morrer a rebita. Aqui em Luan- conta que muitas delas já falece- da havia quatro grupos, o Muxi- ram, visto que essa rebita dos No- ma Angola, Santa Bárbara, onde vatos da Ilha não é mais do que a pontificava o Mestre Geraldo, Re- continuação do conhecido grupo bita Agostinho Neto e o Rebita No- fundado pelos seus pais, que era vatos da Ilha, a única que sobre- chamado União Tristeza. vive até aos dias de hoje. Fazemos Jaburú recorda a primeira e úni- o repto para os jovens puderem ca saída internacional, que acon- aparecer e aprender a rebita, não teceu em 1988, quando a Cultura é dança dos velhos, mas sim uma era chefiada pelo então secretário linda dança de salão”, exorta. de estado da Cultura, Boaventura Aquando da fundação do grupo Cardoso, e André Mingas era o di- Rebita Novatos da Ilha, Bartolo- rector nacional. meu Napoleão “Jaburú” contava “Fomos para Espanha. Nós éra- apenas com 16 anos, e presenciou mos o único grupo do continente o acto realizado na Ilha de Luan- africano. Tivemos uma grande re- da, no dia 31 de Outubro de 1954. cepção. Mas até ao momento ain- Entre locais e figuras singulares, da não tivemos uma homenagem conta que dançaram em vários lo- à altura. Estes títulos são apenas tí- cais de Luanda. Porém, convida- tulos”, observa.

“SE A REBITA MORRE, MORRE O CANCIONEIRO POPULAR”

FORAM CONTEMPLADOS, em 2015, tirando, causando um problema de sobre- zes apenas duas vezes por ano. “As pessoas popular. Ela, a massemba, é o cancioneiro com o Prémio Nacional de Cultura e Artes, vivência desta dança e música. não se identificam com a rebita, porque sen- popular. Se no carnaval fosse obrigatório exe- e foi elevada a categoria de Património Ima- O grupo padece de faltas de apoio finan- timos que há uma rejeição e o conse- cutar os temas típicos desta região, manti- terial Nacional, em 2019. Contudo, é no Car- ceiro das instituições de direito, apesar de quente afastamento destas características. nha-se. Mas o carnaval deixou de o fazer”, naval onde a rebita vive uma grande “re- terem uma sede que alugam para festas, mas Mas as pessoas deveriam saber que se a lamenta Horácio da Mesquita. sistência”, enquanto resultado claro das vá- os contratos são muito esporádicos, às ve- rebita desaparece, acaba-se o cancioneiro Quanto ao semba, Horácio elucida que, rias manifestações culturais, que Luanda ofe- apesar de ter cá em Luanda vários locais rece, oriundas do cancioneiro popular, que chaves, que são incontornáveis dentro da tanto enriqueceu os géneros modernos. sua história, o semba, cuja designação re- Para Horácio da Mesquita, presidente exe- sulta da corruptela de massemba, não po- cutivo dos Novatos da Ilha, infelizmente pou- de ser considerado exclusivamente de Luan- co se denota da qualidade e génio criativo da, por ser um género desenvolvido e en- de representações como a kazukuta, a ca- riquecido por indivíduos oriundos de vários betula ou o semba, porque o carnaval foi “to- pontos de Angola. Por exemplo, aponta, a mado” pela força da concorrência dos gru- seguir a Luanda, Benguela e Namibe têm pos, depreciando o lugar do cancioneiro po- grandes executantes de semba. pular, como já antes acontecia, evitando des- “Luanda ganha relevo, por exemplo, por to- ta forma o saber e fruição popular, que se dos os grupos girarem na órbita dos Kiezos evidencia dentro das manifestações culturais. e Jovens do Prenda, agremiações formadas “Neste momento, apenas a rebita preser- em Luanda. A capital do país tem toda An- va essa gema. É o último sinal de como se gola integrada, e tem essa característica de fazia a cultura dentro do território de Luan- ser um ponto de encontro de todos, sem pos- da, mantendo-se com a mesma característi- sível definição de uma só”, observa Horácio ca. No carnaval não se dança rebita, faz-se uma da Mesquita, antes de lembrar que há nomes fusão da rebita com a cedência do carnaval, que se fizeram em Luanda, e que ganharam conforme fazia o Mestre Geraldo. Ele combi- a ovação nacional, como são os casos de Ma- nava o passo da rebita no binário do carna- lé Malamba (José Oliveira de Fontes Perei- val. Hoje já ninguém faz isso, até porque o car- ra), Fontinhas (Euclides de Fontes Pereira), Mes- naval já é todo gravado. E, tem alguns estilos tre Firmino, Minguito, e outros tantos. que vão perdendo a força, como é o caso da “Gosto de lembrar sempre o que Fontinhas kazukuta”, destaca Horácio da Mesquita. falava sobre Minguito, quando defendia A preocupação do presidente executivo que na opinião dele o Minguito era um gé- dos Novatos da Ilha recai pelo facto de no nio. Era um grande músico que tocava grupo haver muita gente idosa e com pro- acordeão de forma invulgar, e artistica- blemas de saúde, que aos poucos vai se re- CONSTATAÇÃO Horácio Dá Mesquita considera que a rebita ainda preserva a gema mente estava noutro patamar”, contou. 30 PUBLICIDADE Sábado, 25 de Janeiro de 2020

(700.123) Sábado, 25 de Janeiro de 2020 ESPECIAL 31 ANOS LUANDA

CLUBE DESPORTIVO NORBERTO DE CASTRO CIDADE DO KILAMBA CENTRO DE ESTÁGIO DOMÍNIO DOS SUB14 No âmbito da expansão do projecto, a direcção Criado em finais de 2015, por iniciativa de da Fundação Norberto de Castro tem uma nova um grupo de moradores, o Clube aposta, que se traduz na transformação de um Desportivo Cidade do Kilamba tem dos seus campos em centro de estágio. A evidenciado uma evolução invulgar. No inauguração estava prevista para o passado dia espaço de quatro anos, conquistou, em 18, mas razões administrativas levaram a que o duas ocasiões, o campeonato nacional. acto fosse adiado.

FUNDAÇÃO NORBERTO DE CASTRO BASQUETEBOL KILAMBA REFORÇA HEGEMONIA NO ESCALÃO SUB14 COM A REVALIDAÇÃOdo título de campeão nacional de basquetebol no escalão sub-14, competição disputa- da na cidade do Lubango, província da Huíla, o Clube Desportivo Cidade do Ki- lamba reforçou a sua hege- monia na classe masculina. Para a conquista do tí- tulo, o clube do município de Belas derrotou na final o 1º de Agosto por 50-36, em par- tida realizada no pavilhão multiusos da Nossa Senho- ra do Monte. Em declarações à im- prensa, o treinador do Clu- be Desportivo Cidade do Ki- lamba, Vladimir Miranda, destacou a regularidade do conjunto durante os jogos. “Fomos a equipa mais re- gular na prova. Fizemos o ple- no. O triunfo é merecido. Ter- minamos sem derrota. Ao longo da época, competimos nos torneios de Abertura, da Fundação Sol, da Marca Sports e fechamos com o campeonato nacional”, disse. Vladimir Miranda felicitou os atletas e colaboradores, em especial a Administração Projecto virado da Cidade do Kilamba, que muito apoiou para o suces- so da equipa para o desenvolvimento A competição, que de- correu de 7 a 15 de Janeiro, juntou 10 equipas em re- presentação das províncias do futebol de Luanda, Namibe, Ben- guela e Huíla. Criado em finais de 2015, por iniciativa de um grupo Augusto Panzo Devido a aposta séria do seu men- Sporting Clube de Portugal, do lantropia. A prioridade recai para de moradores, o Clube Des- [email protected] tor, o que parecia uma coisa simples qual resultou o surgimento da Aca- a oferta de material desportivo e portivo Cidade do Kilamba acabou por transformar-se em um demia de Futebol do clube leoni- visa minorar as dificuldades que tem evidenciado uma evo- grande viveiro de atletas, cujo maior no em Angola. muitos clubes enfrentam. lução invulgar. No espaço de antigo Complexo Desporti- fruto produzido até hoje é o atleta “A acção filantrópica que tenho quatro anos, inscreveu, em vo e Escolar Norberto de Geraldo, a militar actualmente na CENTRO DE ESTÁGIO vindo a levar a cabo nos últimos duas ocasiões, o seu nome OCastro (CDENC), hoje trans- equipa do Al Ahly do Egipto. No âmbito da expansão do projec- tempos, que é a distribuição de ma- no quadro de troféus do formado em fundação com o mes- Norberto de Castro, apesar de to, a direcção da Fundação Nor- terial desportivo aos clubes e às as- provincial de Luanda e do mo nome, está entre as primeiras ter enfrentado inúmeras dificul- berto de Castro tem uma nova apos- sociações provinciais de futebol, campeonato nacional, na escolas de formação de jogadores dades, desde o custo da água pa- ta, que se traduz na transformação visa acudir aqueles clubes e asso- categoria sub-14. de futebol erguidas na capital do ra regar a relva, energia alternati- de um dos seus campos em centro ciações que têm vontade de tra- Com três categorias, no- país, no período posterior ao Acor- va, dinheiro para pagar o salário de estágio, tal como assegurou o balhar, mas não dispõem de con- meadamente mini-basque- do de Paz, em 2002. às equipas técnicas e demais fun- seu proprietário ao Luanda, Jornal dições”, disse Norberto de Castro. te, sub-14 e sub-16, o clube Localizado no bairro Kapalanga, cionários, entre outras, que quase Metropolitano. A inauguração es- Ainda no âmbito da expansão movimenta mais de 160 município de Viana, o projecto fun- precipitou o seu encerramento, pas- tava prevista para o passado dia 18, das actividades, a Fundação Nor- crianças e adolescentes, em dado em 2005 tem como mentor so a passo, ganhou espaço e con- mas razões administrativas leva- berto de Castro decidiu criar nú- ambos os sexos, maiorita- Norberto de Castro, antigo fute- fiança dos parceiros. Neste con- ram a que o acto fosse adiado. cleos em várias províncias, cujo des- riamente residentes na Ci- bolista da equipa do Progresso As- texto, desde 2018 que vigora um Além do centro de estágio, a fun- taque vai para o Huambo, onde dis- dade do Kilamba. sociação do Sambizanga. protocolo de intercâmbio com o dação está igualmente virada à fi- põe de uma equipa de futebol. Sábado, 25 de Janeiro de 2020 Edição Especial • Ano 2

Este tipo de trabalho (venda de latas MODA de alumínio) revela as fragilidades das “LUANDA famílias angolanas. As famílias estão FASHIONABLE 2020” desestruturadas e o Estado deve assumir O Hotel Florença, localizado no Distrito Urbano de , acolhe sexta-feira, 31, o as suas responsabilidades “Luanda Fashionable 2020”. O evento com início previsto para as 19h30, reúne ilustres NADILSON PAÍM figuras ligadas à comunidade da moda na Jurista capital do país. Os vencedores tem participação garantida no Moda Luanda.

Tinta de caju MEMÓRIAS

Havia velhas que fumavam POEMA PARA QUEM E velhos com ar de sábio VIVEU EM LUANDA Enquanto novas músicas Nasci branco de segunda Se insinuavam na rádio “TERRA DE PROMESSAS” Calcinhas ou kaluanda "E a cidade é linda A LUANDA DO MEU TEMPO Nasci com os pés no mar É de bem-querer Luanda é, desde há décadas, não ... em São Paulo de Loanda A minha cidade é linda Luanda, a cidade capital de Angola, completa hoje somente agora, sublinhe-se em 444 anos de existência. Luanda província é também Hei-de amá-la até morrer" abono da verdade, “terra de agora município e “engoliu” os então municípios do promessas vãs”, anúncios de Brinquei de pé descalço Rangel, Sambizanga, Samba, Maianga, Ingombota, e intenções ocas de verdades postas Em poças de águas castanhas Quem não estudou no tem uma Comissão Administrativa. É nesta Luanda, a descoberto pelo dia-a-dia sem Tive lagartas da caça Salvador? no município do Rangel, agora distrito, onde nasci. Ela haver quem ponha cobro à situação. hoje não é a mesma, e nem tem como ser. Cresceu Não escapei às matacanhas Quem não se lembra do O sublinhado no primeiro parágrafo, Videira? de forma ordenada em algumas zonas, sobretudo a feito em obediência ao rigor que a sul, e desordenada em outras, tudo por causa do verdade exige, pode, por arrasto, Comi manga sape-sape E das garinas de bata branca êxodo populacional. E, por isso, ela mudou! Apesar de servir, igualmente, de barreira ao Fruta-pinha tamarindo Nossas colegas de carteira? estar muito descaracterizada, Luanda continua surgimento de falsas indignações acolhedora. É a capital de todos os angolanos! Ela Mamão a gente roubava dos que, norteados pelo Depois havia o Kinaxixe cresceu rápido que quase não havia mais espaço egocentrismo, à mínima crítica- um No quintal do velho Zindo para ninguém. E precisou do reforço da Quiçama e dos pilares da democracia - sentem-se Futebol era nos Coqueiros de Icolo e Bengo, que antes pertenciam ao Bengo. É alvo de conspirações, choramingam, Pirolito que pega nos dentes Havia praias, um mar quente por isso que ela hoje tem fronteiras com o Cuanza sacodem responsabilidades que Sul, por via da Quiçama, e com o Cuanza Norte, pelo Baleizão, paracuca Savanas imensas, imbondeiros assumiram de livre vontade, disparam Icolo e Bengo. Sou do tempo em que Luanda tinha culpas para todos os lados, E carrinhos de rolamentos “contróis”. Tinha controlo no Golf (agora transformado engendram justificações, ao invés de Numa corrida maluca E havia todos os loucos em esquadra policial), no Benfica (aonde está o actual arregaçarem mangas para evitar que Do progresso e da guerra retorno para quem vai ao Kilamba), no Grafanil bar, os problemas da província continuem, transformada em esquadra, assim como em Tinha o Gelo, tinha a Biker A Joana Maluca, o Gasparito como epidemia, a alastrar-se. A desgraça daquela terra Cacuaco, nas imediações da Cimangola. Sou também As últimas chuvas em Luanda Miramar e Colonial da Luanda dos autocarros articulados que nos fizeram-me lembrar, outra vez, a de O Ferrovia, o Marítimo transportavam, com a chancela da ETP (Empresa de Abril de 1963, apesar de não terem Chás dançantes no Tropical Nasci branco de segunda Transportes Públicos) e depois herdados pela TCUL. tido a dimensão e força raivosa da Calcinha ou kaluanda São esses autocarros que nos transportavam do daqueles idos anos, que, juraram, de Rangel para o Baleizão (33), com partida na Condel, Nasci com os pés no mar “sangue de Cristo” e tudo, os mais O N'Gola era só ritmo no Cazenga. Havia também o 15, cuja partida era no velhos de então, nunca tinha havido O Liceu uma lenda Em São Paulo de Loanda. Avó Kumbi, e término no Largo Saidy Mingas, junto nenhuma como ela, de chegar com Kimuezo e Teta Lando ao BNA. Havia também o 28 que nos levava da de repente, sem aviso, nem nada. Eles, Nicolau Santos estação de comboios do Bungo até ao Farol da Ilha que sabiam ver nos ventos, nuvens e E os Ases do Prenda de Luanda, o 27 que também partia do mesmo local, estrelas se a chuva, mesmo amarrada, rasgava a Samba toda até chegar ao Benfica. Houve ia chegar, como e de que lado. tempo em que este autocarro passava bem em Luanda, naqueles idos anos de frente do , aonde funcionava o 1963, não era a confusão Palácio Presidencial. O término era ali em frente da FISCALIZAÇÃO arquitectónica de hoje, respirava, a Bricomil. O 32, Baleizão – Cemitério do Catorze, e brisa do mar que, aos fins de tarde, INADEC SUSPENDE “GOUSHICOMÉRCIO” outros machimbombos nos transportavam nas a atravessava de uma ponta a outra, nossas idas e vindas pelos bairros de Luanda. refrescava-a por ter corredores por O INSTITUTO NACIONAL de Defesa Saudades do comboio do Kikolo, que partia da onde passar, sem obstáculos a do Consumidor (INADEC) suspendeu estação dos Musseques, bem pertinho do meu barrar-lhe caminhos. Nestas viagens temporariamente, terça-feira, 21, o estabe- “Kubico”, no Rangel, até ao Kikolo – na Moagem de dela, acariciava folhas das árvores, lecimento de comércio e prestação de trigo. Ainda na última semana passei pelo Hoji ya que as havia por todo o lado, a serviços “Gou Shi-Comércio (SU), Henda e já não há sinais da linha férrea. Que pena! ladearem artérias, fazerem túneis Lda”, do exercício de toda actividade. Sou também do tempo do campo do São Paulo, ali naturais, às quais se juntavam as Localizado no município de Belas, entre as Cs e os prédios dos Congolenses. Assisti dos quintais e terrenos baldios. nas imediações da “Via Expressa”, de muitas e boas partidas de futebol aos sábados a Luanda, naqueles idos anos, era acordo com uma nota do INADEC en- tarde, com o campo sempre bem alinhado pelo já limpa, os que a habitavam viada ao Luanda, Jornal Metropoli- falecido velho Augusto. Um trabalhador do futebol! cuidavam dela e havia recolha de tano, o referido estabelecimento foi Assisti também boas partidas de futebol nos CTTs, na lixo. Além disso, a zona asfaltada suspenso por venda de fármacos que a venda de produtos rotulados divisa entre o Rangel, Sambizanga. Do Baleizão ficam dispunha de sarjetas a funcionar. com rotulagem em língua estrangeira, em língua estrangeira no país, é uma as saudades dos gelados saborosos, que nem Apesar de tudo, quando a chuva num total de 906 unidades, falta de prática proibida nos termos do artigo sempre havia dinheiro para os comprar. Grandes chegou sem aviso, desventrou ruas asseio e higiene, falta de livro de re- 37º da Lei nº1 /07 de 14 de Maio. tempos que não voltam mais! É desta Luanda do e becos, inundou casas de pobres e clamações e o seu respectivo selo. “Este tipo de prática não permite Kinaxixi, da Mutamba, do Rangel da Dona Amália, Rua abastados, não poupou o comércio, O chefe dos Serviços Provincial de ao consumidor tomar conhecimento do Povo, Precol, do Sambizanga, do Cine Ngola, do São soterrou carros, estoirou cabos Luanda da instituição, Gabriel Joa- sobre a qualidade, composição, data João (Neves Bendinha), São Domingos e Nacional que eléctricos. Se ela vier agora com a quim António, afirmou que a acção limite do consumo e sobretudo as tenho saudades, muitas saudades. força da de 1963, não sei o que enquadra-se no estudo, análise, e su- condições especiais de conservação Teta Lágrimas um dia cantou “Luanda já foste linda, mas pode suceder. O que sei é que vai pervisão do mercado. Esclareceu do mesmo produto”, disse. tenho esperança ainda”. Eu também tenho esperança, promessas vãs. minha Luanda. Feliz aniversário. IN FACEBOOK