Download This PDF File
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
35009 Brazilian Journal of Development Paisagem urbana e representatividade histórica das radiais de Porto Alegre: a Avenida Osvaldo Aranha Urban landscape and historical representativeness of Porto Alegre radials: Avenida Osvaldo Aranha DOI:10.34117/ bjdv6n6-152 Recebimento dos originais: 08/05/2020 Aceitação para publicação: 06/06/2020 Júlia Rodrigues de Azambuja Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul E-mail: [email protected] Juliana Fontoura Conedera Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul E-mail: [email protected] Raquel Rodrigues Lima Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul E-mail: [email protected] RESUMO O presente artigo tem como objetivo o estudo da Radial Avenida Osvaldo Aranha como paisagem urbana e cultural, com ênfase na sua representatividade histórica expressa nas edificações que definem sua identidade na cidade de Porto Alegre. Tendo origem marcada pela Rua Sarmento Leite e fim à Rua Ramiro Barcelos, corresponde a uma das principais radiais da capital do Rio Grande do Sul. O eixo é caracterizado por um conjunto de equipamentos importantes para a cidade, os quais retratam a ação de diversos fatores sociais, econômicos e naturais ao longo do desenvolvimento da metrópole, como o Hospital da Santa Casa de Misericórdia, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Parque Farroupilha, este último atuando como principal estruturador da avenida. A evolução urbana deixa marcas no curso de suas vias e a arquitetura reconta a história local. Conhecido como Caminho do Meio, o eixo surgiu como alternativa de conexão entre a capital do estado, Porto Alegre e o município de Viamão. A partir da diversidade do bairro Bom Fim, a paisagem urbana da Avenida Osvaldo Aranha se desenvolveu, os diferentes usos demonstram um panorama urbano de grande vitalidade, cenário que se constrói com a fixação de diferentes povos, o que trouxe características culturais originais, as quais resultaram em edificações de grande valor e influência para a sociedade porto-alegrense. O artigo busca esclarecer como ocorreu a urbanização e verticalização desta radial, destacando os novos modos de morar modernos presentes por meio do estudo da unidade habitacional o que transformou a vida urbana nos anos 50. Serão apresentados estudos de casos de conjuntos de edifícios de habitação coletiva modernos e sua relação com o entorno, produzidos por meio de pesquisa bibliográfica, redesenho das plantas baixas originais, maquetes, bem como fichas de catalogação das edificações selecionadas com análises descritivas. Palavras-chave: Radial Avenida Osvaldo Aranha, Cidade e Memória de Porto Alegre, Paisagem Urbana. Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 35009-35044 jun. 2020. ISSN 2525-8761 35010 Brazilian Journal of Development ABSTRACT This article aims to study the Radial Avenida Osvaldo Aranha as an urban and cultural landscape, with an emphasis on its historical representativeness expressed in the buildings that define its identity in the city of Porto Alegre. Having its origin marked by Rua Sarmento Leite and ending at Rua Ramiro Barcelos, it corresponds to one of the main radial streets in the capital of Rio Grande do Sul. The axis is characterized by a set of important equipment for the city, which portray the action of several factors social, economic and natural throughout the development of the metropolis, such as the Santa Casa de Misericórdia Hospital, the Federal University of Rio Grande do Sul and the Farroupilha Park, the latter acting as the main structure of the avenue. Urban evolution leaves its mark on the course of its roads and architecture recounts local history. Known as Caminho do Meio, the axis emerged as an alternative connection between the state capital, Porto Alegre and the municipality of Viamão. From the diversity of the Bom Fim neighborhood, the urban landscape of Avenida Osvaldo Aranha developed, the different uses demonstrate a highly vital urban panorama, a scenario that is built with the fixation of different peoples, which brought original cultural characteristics, which resulted in buildings of great value and influence for Porto Alegre society. The article seeks to clarify how the urbanization and verticalization of this radial occurred, highlighting the new modern ways of living present through the study of the housing unit, which transformed urban life in the 1950s. Case studies of collective housing buildings will be presented. and their relationship with the surroundings, produced by means of bibliographic research, redesign of the original floor plans, models, as well as cataloging sheets of the selected buildings with descriptive analyzes. Keywords: Radial Avenida Osvaldo Aranha, City and Memory of Porto Alegre, Urban Landscape. 1 INTRODUÇÃO Na cidade de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, o desenvolvimento urbano pode ser abordado em cinco fases, segundo Célia Ferraz de Souza. A primeira fase, de 1680 a 1772, refere-se à ocupação do território e formação do núcleo junto ao Porto natural; a segunda fase, de 1772 a 1820, corresponde a produção de trigo; terceira fase, de 1820 a 1890, é identificada pela intensa imigração; quarta fase, de 1890 a 1945, é caracterizada pela industrialização; e a quinta e última fase, de 1945 até os dias atuais, é definida pela metropolização da localidade. Uma nova cidade desenhava-se através de um sistema viário radiocêntrico, constituído de grandes artérias radiais e avenidas perimetrais, segundo André de Souza Silva. O município instalou-se na ponta da península, formando um traçado baseado em razões estratégicas de natureza militar. As ligações com os centros de interesse se estabeleceram pela face norte, no porto, caracterizando uma estrutura em leque, existente até os dias atuais. As cinco grandes radiais são: Avenida Borges de Medeiros, Avenida João Pessoa, Avenida Osvaldo Aranha, Avenida Independência e Avenida Voluntários da Pátria. A Avenida Osvaldo Aranha surgiu como alternativa de conexão entre a capital Porto Alegre e o município de Viamão, sendo inicialmente conhecida como Caminho do Meio. Começa na Praça Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 35009-35044 jun. 2020. ISSN 2525-8761 35011 Brazilian Journal of Development Argentina, no Centro Histórico, e estende-se até a Rua Ramiro Barcelos, no bairro Bom Fim, contornando pelo lado norte o quarteirão universitário e o Parque Farroupilha, a antiga Várzea (Franco, 1988). Em 1930, o eixo recebeu um novo nome homenageando o político rio-grandense Osvaldo Aranha. O bairro que se formou ao redor foi ponto de atração para comerciantes, especialmente os judeus, de origem polonesa e russa, motivo que apelidou o Bairro Bom Fim de bairro judeu de Porto Alegre, a partir da segunda década do século XX. Outras etnias fizeram parte da história do lugar, com os italianos, por volta de 1865 e os negros, em 1888, preenchendo a região de valor cultural. Nas proximidades da Avenida Osvaldo Aranha está o mais antigo parque da cidade: o Parque Farroupilha. Conhecido como parque da Redenção, previsto pelo Plano de Melhoramentos de Porto Alegre, foi palco da Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha, em 1935. Traz diretrizes do projeto do urbanista francês Alfred Agache, e configura 37 hectares de extensão. Atualmente no local, encontramos o Instituto de Educação General Flores da Cunha e o Auditório Araújo Vianna, projeto de Moacir Moojen Marques e Carlos Maximiliano Fayet. No entorno da Avenida estão localizados prédios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o Complexo Hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o Instituto de Educação General Flores da Cunha, a Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim, o Auditório Araújo Vianna, o Mercado do Bom Fim, a Capela do Divino Espírito Santo, o Hospital de Pronto Socorro e o Hospital de Clínicas. Essas edificações integram uma paisagem urbana moderna, com equipamentos diversos que representam variadas temporalidades: arquitetura historicista, arquitetura protorracionalista e arquitetura moderna. O artigo busca esclarecimentos sobre a urbanização e a verticalização da radial Avenida Osvaldo Aranha, com enfoque na representatividade histórica e cultural em escala de bairro do eixo, bem como analisando a célula habitacional. 2 A RADIAL E O BAIRRO Em 1833 aconteceu a primeira demarcação do Caminho do Meio, por solicitação do Hospital Santa Casa de Misericórdia para que fosse realizado um arruamento no local para a delimitação da área da Várzea, a qual era um extenso terreno alagadiço que se encontrava aos fundos do Hospital, na parte baixa da cidade. A história do Bairro Bom Fim tem início com o lançamento da pedra fundamental da Capela Nosso Senhor do Bom Fim em 1867. Devido esta obra, a Câmara Municipal modificou o nome de Várzea para Campos do Bom Fim (Franco, 1998). Dois anos após, em 1865, iniciou-se a grande Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 6, p. 35009-35044 jun. 2020. ISSN 2525-8761 35012 Brazilian Journal of Development miscigenação que iria trazer a diversidade cultural ao local com a chegada dos primeiros imigrantes do bairro, os italianos, à cidade de Porto Alegre. Os primeiros grupos destes imigrantes foram direcionados ao interior do estado para dar ocupação aos campos. Primeiramente eram vindos da Europa os moradores rurais, que estavam habituados a executar as tarefas de agricultura, e num segundo momento passaram a vir habitantes das grandes cidades que possuíam profissões específicas e adequadas ao funcionamento de uma metrópole em crescimento, como exemplo dos músicos, pintores, escultores, sapateiros, padeiros, dentre outras profissões, em sua maioria ligados à arte e ao comércio onde demonstraram grande progresso no cenário econômico (Constantino, 1990). Em 1884 o Campos do Bom Fim torna-se Campos da Redenção em função do número de escravos libertos na capital gaúcha, e o contexto histórico envolvido. Tratamos aqui como contribuintes do aspecto de miscigenação cultural do bairro, os africanos. Os movimentos abolicionistas já eram de grande influência na cidade desde 1840. No entanto, é somente entre 1888 e 1912 que ocorre de fato a fixação de um grupo negro entre os bairros Bom Fim e Rio Branco, que ficaria conhecido como Colônia Africana.