Mário Peres Ulibarri (Depoimento, 2011)
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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL (CPDOC) Proibida a publicação no todo ou em parte; permitida a citação. A citação deve ser textual, com indicação de fonte conforme abaixo. ULIBARRI, Mário Peres. Mário Peres Ulibarri (depoimento, 2011). Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 2012. 47p. MÁRIO PERES ULIBARRI (depoimento, 2011) Rio de Janeiro 2012 Transcrição Nome do Entrevistado: Mário Peres Ulibarri (Marinho) Local da entrevista: Museu do Futebol, São Paulo Data da entrevista: 25 de novembro, 2011 Nome do projeto: Futebol, Memória e Patrimônio: Projeto de constituição de um acervo de entrevistas em História Oral. Entrevistadores: Clarissa Batalha (Museu do Futebol/SP) e Fernando Herculiani (Museu do Futebol/SP) Câmera: Theo Ortega Transcrição: Roberta Zanatta Data da transcrição: 15 de Janeiro de 2012 Conferência de Fidelidade: Maíra Poleto Mielli ** O texto abaixo reproduz na íntegra a entrevista concedida por Mário Peres Ulibarri em 25/11/2011. As partes destacadas em vermelho correspondem aos trechos excluídos da edição disponibilizada no portal CPDOC. A consulta à gravação integral da entrevista pode ser feita na sala de consulta do CPDOC. Fernando Herculiani – Bom Marinho, primeiro a gente agradece imensamente você ter aceito o convite, ter vindo até o Museu, aceitar fazer o depoimento para a gente, aqui para o nosso projeto. A gente está muito feliz. Mário Peres – Agradeço, para mim é um prazer estar ao lado de vocês e vamos lá. F.H. – Marinho, a gente pede de início para que você fale o nome inteiro... M.P. – A idade também? F.H. – A sua data de nascimento, seu local de nascimento? M.P. – Vamos lá. Nasci no interior de São Paulo, em Sorocaba, 19/03/1947, portanto estou com 64 anos. Tive o privilégio na minha cidade de praticar futebol me divertindo e tudo, e o São Bento de Sorocaba que era o nosso representante fez uma peneira lá, apareci para treinar e acabei dando certo. Aí vim para a Portuguesa de Desportos, onde praticamente dei o salto na minha trajetória. 2 Transcrição F.H. – Mas conta para a gente um pouquinho da sua família, quem eram seus pais, o que eles faziam, se tinha irmãos, os avós. M.P. – Veja só, naquela época, é um dado interessante, porque naquela época ser jogador de futebol, mesmo o Brasil sendo campeão e tudo, a imagem que você passava, vindo do morro, você era um coitado que se apegou ao futebol. Você está me entendendo? Então, lembro que jogando na Portuguesa de Desportos, ia em uns bailinhos lá em Sorocaba, as meninas perguntavam: “O que é que você faz?”, eu falava: “Sou estudante.”, porque se falasse: “Jogador de Futebol.”... Quer dizer, não é como hoje, que é um sinônimo... Naquela época era um cara que vinha do morro. Meu pai era médico, então me obrigou a fazer universidade, tanto é que talvez da minha época fui um dos primeiros que fez universidade e me formei em economia, já jogando na Portuguesa de Desportos, e logicamente me apegando ao futebol. E graças a Deus, tive uma carreira, em termos, privilegiada porque joguei em clubes grandes, joguei no Santos, depois, na época do Pelé, joguei na Copa do Mundo de 1974, depois fui para o Barcelona da Espanha. Tive um problema lá que vocês não fazem idéia, porque me naturalizei espanhol, e o que é que acontece? Obrigaram eu a servir o exército porque já que me naturalizei espanhol e não tinha feito o exército na Espanha, tinha feito no Brasil e não servia, então tive que depois do segundo ano fugir via França, porque tinham tirado o meu passaporte. Então, o meu documento de passaporte brasileiro foi... Via Nice, França e fui vendido para o Internacional de Porto Alegre, no qual fiquei campeão brasileiro, depois vim para o Palmeiras e encerrei a carreira no América do Rio de Janeiro, mais ou menos, com 31, 32 anos. Já que naquela época o jogador passava de 30 anos já encerrava a carreira, porque não resistia. E naquela época também, o cara que jogasse futebol, jogava porque tinha talento, porque o clube não dava o alicerce alimentar que hoje se dá, e também não tinha balança e era um treino por dia, não é como hoje, de manhã e de tarde, quer dizer, foi o progresso que foi acompanhando. Então, naquela época, você tinha que ter muito talento para jogar, não é só preparação física, que hoje os privilegiados, bem dotados fisicamente também conseguem jogar, entendeu? Mas sou muito feliz, sou muito grato, e por ter sido jogador no Palmeiras, e o técnico Telê Santana, foi o Telê Santana que me levou para a atividade de treinador, ele me levou para a Arábia Saudita como seu auxiliar. Então aí dei outro salto também. 3 Transcrição F.H. – Marinho, mas a gente quer que você lembre as suas primeiras lembranças do futebol, lá em Sorocaba ainda. Como é que você jogava lá quando era menino, você jogava bola, torcia para alguém? M.P. – Era corintiano até os 16 anos, e era a época que o Corinthians não ganhava de ninguém, essa que era a verdade, porque naquela época era o Santos e o Palmeiras, quer dizer, era a Academia e o Santos, e no Rio de Janeiro o Botafogo. Então o São Paulo, fazendo o Morumbi, e Corinthians não ganhavam título nenhum. Então, quer dizer, eu praticamente como corintiano nunca consegui ver um título naquela época, e, vamos dizer, eu gostava de praticar esportes porque achava que isso daí era bom para a gente, para o físico, tudo. E eu lembro, olha como é que são as coisas da vida, o São Bento subiu para a primeira divisão e a primeira divisão do campeonato paulista obrigou que para revelar jogador que tivesse preliminar. Então, o jogo principal começava as quatro, a preliminar de cada time que ia jogar que era dos jovens, que começava uma, uma e meia. Então o São Bento lançou no jornal: “Vai ter preliminar, precisamos de jogadores jovens que compareçam para fazer a peneira.”, na verdade, apareceram vinte e os vinte ficaram. [Risos] Então foi uma sorte tremenda dar esse espaço, e outro detalhe, veja só como é que são as coisas da vida, terceiro ou quarto jogo da preliminar, começou a se destacar colocaram no time de cima. Não é que o São Bento, disputando o campeonato do interior, teve um pênalti a favor do São Bento e os batedores de pênalti do São Bento, que era o Raimundinho, que faleceu, e o Bazaninho, não quiseram bater, simularam lesão e tudo. [Risos] Aí começaram a gritar o meu nome e falei: “Deixa que eu vou.”, sem medo nenhum e meu pai que era médico gritava: “É louco, não vai, não vai.”. Eu olhava e falava: “Mas porque que o meu pai não quer que eu vá bater?”. Aí fui lá, por sorte a bola entrou um pouquinho só. [Risos] Acabou o jogo, vieram as pessoas explicar que se você perde você está acabado. Eu não imaginava isso, quer dizer, então foi uma coisa que me marcou, que me ajudou bastante e me tornei nos clubes que passei até batedor de pênalti, que na verdade, se você tiver medo de bater pênalti meu irmão é melhor você não entrar em campo. O que é que isso? Você tem que arriscar, essa que é a verdade, faz parte você perder também. Então eu graças a Deus tinha muita personalidade e a maioria dos clubes, eles me colocavam de capitão também, como fui capitão da Copa de 1974. Se eu contar para vocês, naquela época ninguém queria ser capitão. Sabe por quê? O 4 Transcrição capitão, ele tirava a sorte para dar a saída ou não e precisava saber um pouquinho falar um inglês, porque você ia jogar fora, compreendeu, espanhol, e como eu falava um pouquinho tudo os clubes que ia colocavam eu de capitão. E na própria seleção, na verdade, como jogava com o número três, não, já é hábito, o Brasil já ganhou mundiais, tudo, fica você como capitão. Não é como hoje que ser capitão é um privilégio, é uma coisa assim que chama a atenção, naquela época não, tanto é que o Pelé nunca foi capitão de lugar nenhum. [Risos] Olha como é que as coisas vão mudando com o tempo, então era uma maneira de ser que as pessoas colocavam você porque sabia, às vezes, contornar situações e tudo, era um pouco mais, desculpe a expressão, um pouco mais lúcido, um pouco mais privilegiado. F.H. – E desde jovem em Sorocaba você já tinha essa personalidade aí, não é, foi bater o pênalti e tudo. M.P. – Não, mas aí, isso que me criou um problema. Acabou o jogo e meu pai: “Você é louco, e se perde o pênalti e vocês não são campeões do interior?”, eu falei: “Pai, eu não sei.”, quer dizer, não passava na minha cabeça o risco de perder. F.H. – Quantos anos você tinha? M.P. – Tinha naquela época os meus 16, 17 anos. Aí fui para a Portuguesa em 1967, aí fui para a Portuguesa já com 19, 20 anos. F.H. – Você começa no São Bento quando eles fazem essa convocação pelo jornal. Antes disso você jogava em algum outro lugar? M.P. – Não, brincava, vamos dizer, nos clubes que tinha futebol de salão. F.H. – Você lembra algum desses clubes que você jogou? M.P. – Chamava-se Scarpa1 o nome do local onde a gente brincava e também tinham aqueles campos de terra, que passava o rio no meio e tudo, você brincava 1 Clube Atlético Scarpa.