Revelando a História do Bonsucesso e Região Nossa Cidade, Nossos Bairros! REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO – NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! DO BONSUCESSO E REGIÃO – NOSSA HISTÓRIA A REVELANDO NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Revelando a História do Bonsucesso e Região Núcleo central de Bonsucesso Velho, aproximadamente 1940. Fonte: AHCG. Núcleo central de Bonsucesso Velho, aproximadamente

Nossa Cidade, Nossos Bairros!

Antônio Ferreira de Oliveira Celso Luiz Pinho Daniel Carlos de Campos Elton Soares de Oliveira José Abílio Ferreira Luciana da Silva Irmã Lucila Martina Martendal Padre Renato Bernardes Duarte

1 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Copyright © 2010 by Noovha América Editora

Editor Responsável Nelson de Aquino Azevedo

Projeto Gráfi co, Capa e Diagramação Braz Cardoso Junior

Autores Antônio Ferreira de Oliveira Celso Luiz Pinho Daniel Carlos de Campos Elton Soares de Oliveira José Abílio Ferreira Luciana da Silva Irmã Lucila Martina Martendal Padre Renato Bernardes Duarte

Revisão Caroline Franco

Mapas Daniel Carlos de Campos

Fotos Agradecimentos especiais a Stefani Martini e Márcia Pinto pela cessão de uso de imagens, bem como a todas as pessoas e entidades que colaboraram com textos, depoimentos e fotos para que essa publicação fosse concluída.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) ______

Revelando a História do Bonsucesso e Região : nossa cidade, nossos bairros! / [fotos Stefani Martini]. – São Paulo : Noovha América, 2010 – (Série saberes locais)

Vários autores. Vários colaboradores. Bibliografi a ISBN 978-85-7673-231-0

1. Bairros – Guarulhos (SP) – Descrição 2. Bairros – Guarulhos (SP) – História 3. Guarulhos (SP) – História I. Vários autores II. Série

______10-07004 CDD-981.612

Índices para catálogo sistemático:

1. Bairros : Guarulhos : São Paulo : Estado : História 981.612

Todos os direitos desta edição reservados à

Noovha América Editora Distribuidora de Livros Ltda. Rua Lincoln Albuquerque, 319 - Perdizes São Paulo/SP - CEP 05004-010 Telefax: (0xx11) 3675-5488 Site: www.noovhaamerica.com.br e-mail: [email protected]

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Preocupada com a importância do registro his- tórico dos bairros de Guarulhos, sem perder de vista o contexto nacional, regional e a história da cidade, a Secretaria de Educação de Guarulhos, em parceria com a Diretoria Norte de Ensino e a Paróquia de Nos- sa Senhora do Bonsucesso, além de grupos, pessoas e organizações da sociedade civil, por ocasião das comemorações dos 60 anos de criação da Paróquia do Bonsucesso e dos 450 anos de fundação de Gua- rulhos, tomou para si a responsabilidade de organizar publicações nos gêneros escritos e audiovisuais so- bre as localidades onde os munícipes habitam, sendo a região do Bonsucesso a primeira experiência. Refl etindo sobre a importância do registro da his- tória local, são bastante signifi cativas as palavras de Ca- pistrano de Abreu: ...Isolado, qualquer fato parece in- signifi cante por mais importante que seja na realidade; mas, ligado a seus congêneres, oposto a seus contrá- rios, preso a seus antecedentes, toma grave importân- cia fi losófi ca, fi lia-se a um todo, compõe um sistema, é regido por princípios e leis que se patenteiam ao estudo consciencioso de um espírito investigador. A iniciativa da Secretaria de Educação de Gua- rulhos não é consoante apenas com as palavras do pesquisador Capistrano de Abreu, mas também uma ação pedagógica prevista na proposta curricular “Sa- beres Necessários”, elaborada pelos educadores da Rede Municipal de Ensino no transcorrer de 2009. É deles a seguinte frase: Os saberes escolares, fun- damentais para o processo de humanização, são de- rivados dos saberes de referência das Ciências, das Artes e da Filosofi a, e do tratamento pedagógico que terão na escola. Para isto, o trabalho com projetos, temas geradores, estudo do meio, experimentação, problematização, são alternativas signifi cativas. (Proposta Curricular – Quadro de Saberes Necessá- rios, p. 19). Esta publicação não será única, pois ao todo registraremos a história de mais sete regiões de Gua- rulhos: Jardim São João, Pimentas, Centro, Vila Gal- vão, Cabuçu, Taboão e Cumbica.

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Agradecimentos

Não conseguiríamos o resultado em nossa pesquisa histórica realizada sobre a região do Bon- sucesso, não fosse pela participação de todos citados a seguir, a quem agradecemos: à diretora do Departamento de Orientações Educacionais e Pedagógicas, Sandra Soria e equipe; em especial aos senhores Maria Aparecida Contin, Nery Nice Osmondes Travassos, Maciel Nascimento, Maria de Fátima Ximenez, Maria Iraldina Pires, Maria Arlete Bastos Pereira, Alessandra Apa- recida de Souza, Eduardo Calabria Martins, Mauro Rodrigues, Alecsandra Nóbrega, Francisca Inácia de Alencar Carvalho Barros; diretor do Departamento de Manutenção de Próprios da Educação, Luiz Fernando Sapun e equipe, em especial, ao arquiteto José Severino Sobrinho; Jandira Aparecida da Silva, coordenadora pedagógica da Escola Manoel Resende da Silva; Kátia Cacilda Lima, coordenadora do Orçamento Participativo; Adalberto Patero Mathias Pin- to, da Coordenadoria de Assuntos Aeroportuários; Luiz Gonzaga Rael, geógrafo e cientista político da Prefeitura de Guarulhos; Vanterli Gomes Fialho, da Casa Brasil Ponte Alta; Roseli Silva Teixeira, da Secretaria de Obras; Ana Maria Melo, diretora do Curso de Comunicação Social da Universidade Guarulhos; Antônio Manoel dos Santos Oliveira e William de Queiroz, do Laboratório de Geoprocessamento da Universidade Guarulhos; arquitetas Adriana Fuga e Laura Maria da Silva Matos.

Imagem acima – Lagoa situada em frente ao Cemitério do Bonsucesso (Natal de 1981). Antiga cava de areia que pertenceu a Felipe Romano. Imagem abaixo – Foto da mesma localidade atualmente.

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Colaboradores

Elio de Assis, da Diretoria Estadual de Ensino Norte; Edith Alves de Souza e Guilherme Gonçalves, diretores do Centro de Convivência Educacional do Colégio Paulo Freire; Sandra Lúcia dos Santos Abreu, do Núcleo de Relações Comunitárias; historiador Benedito Antônio Prezia; padre Antônio Carlos Frizzo; biólogo David de Almeida Braga. Diretores(as) das escolas municipais: Andrea Paixão, Robson Rodrigues, Rita de Cássia Xavier, Célia Regina de Araújo, Lhoco Okamura Goto, José Edson da Silva, Kátia Matias da Silva, Manoel Rodrigues Português, Adriana Sanches Valença, Luciana Giandeli Malecka, Cristina Hernandez Calciolari, Heloisa Helena Santos Jacobini, Lucinda de Oliveira Janoni, Gislene Zadres Limão e Cecília Marta. Diretores(as) das escolas estaduais: Francisco Vanderlei da Silva, Valdenilton dos Santos Ferreira, Adriana Maura Sanavio Santos, Glauria Dias de Carvalho, Nivaldete de Souza Ra- malho, Maria Eunice dos Santos Pereira, Levindo David dos Santos, Creivacim Silva, Mirtes Abreu Silva, Marli Lina de Freitas, Adson Mota Bastos, Edna Molitor Ferreira de Lima, Edna Antunes Dória Stelmo, Leila Rodrigues da Silva, Rosilene Ávila, Elaine dos Reis Nunes, Fran- cisca Rosana Pinto, Kátia Mayumi Taseti, Elio Fortunato, Rosângela de Cássia Fernandes e Maria Ângela Abude e demais gestores e funcionários da rede municipal e estadual. Paulina Cardinali Adler, presidente da Instituição Allan Kardec – Alice Pereira e Mozard Siqueira, seu coordenador pedagógico; Gláucia Garcia de Carvalho, Cristina Maria dos Santos e Maria Zélia de Brito Souza, do Arquivo Histórico Municipal; Maria Cláudia Vieira Fernan- des; Conceição de Maria do Ó’Medeiros; Levindo David dos Santos; freira irmã Marilene Dias da Rocha, da Congregação das Irmãs Paroquiais de São Francisco; Márcia Pinto, fotógrafa.

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6 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

SUMÁRIO

1 - Nossa Cidade, Nossos Bairros 11

2 - Localização Geográfi ca 15

3 - Paisagens Naturais 21

4 - Origens 33

5 - Formação Socioeconômica 41

6 - Lutas Populares 63

7 - História dos Bairros e suas Escolas 67

8 - Diversidade Étnica, Cultural e Religiosa 99

9 - Circuitos Turísticos 103

10 - Desafi os 109

11 - Símbolos Ofi ciais 113

Referências Bibliográfi cas 120 Cavaleiros rumo à Festa de Nossa Senhora do Bonsucesso. Ao fundo, construção dos apartamentos Parque Cecap- Cumbica. Antiga Estrada Geral, atual Monteiro Lobato.

7 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! Cerimônia de abertura do seminário Saberes do Bonsucesso (12/4/2010).

8 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Com cerca de 1,3 milhão de habitantes, Guarulhos está completando 450 anos de fundação em 2010. Em comum com algumas importantes cidades brasileiras, como , Fortaleza, Sertãozinho, Petrópolis e Belo Horizonte, Guarulhos tem algo de muito especial: o bairro do Bonsu- cesso, o mais antigo de nossa cidade. Quando nos perguntamos por onde deveríamos começar nosso trabalho envolvendo o Projeto Saberes Locais levamos em consideração exatamente a história e a tradição deste bairro, com seu comportamento empresarial e festas culturais e religiosas que envolvem todo seu povo, além de boa parte da cidade. Nossa cidade conta com centenas de bairros e cada um tem suas particularidades. A Vila Gal- vão é diferente do Cabuçu, do Jardim Presidente Dutra, que é diferente do Inocoop, do Cecap e do Centro, que por sua vez difere do Bonsucesso. Foi pensando nisso que surgiu o Projeto Saberes Locais, que de Bonsucesso já caminha para o Jardim São João. Enquanto trabalhamos no projeto, em muitos momentos temos a sensação que estamos revelando as fotos de um fi lme que fi cou perdido durante muitos anos. Nosso objetivo com este trabalho é organizar o maior volume possível de informações sobre o bairro, porém, não apenas para documentar e sim para ser usado em favor da própria comunidade a partir dos ensinamentos proporcionados às nossas crianças. A rede municipal tem 126 escolas, um Centro de Educação Unifi cado – o CEU Guarulhos Pimentas, 110 mil alunos e cerca de 5 mil educadores. Até 2012 serão construídas mais 40 novas escolas, sendo 10 CEUs, o que aumentará substancialmente o número de alunos e professores. O volume de informações que circula diariamente numa rede com as proporções da nossa é quase imensurável, porém, estamos convencidos de que as escolas da Prefeitura precisam se apropriar do conhecimento da comunidade instalada no seu entorno, até porque a unidade escolar é parte da comunidade local. A linha do Projeto Saberes Locais tem sua origem no Quadro de Saberes Necessários (QSN), a nova proposta curricular da rede municipal que, entre muitas outras abordagens, preocupa-se com o que os alunos da rede municipal, da Creche ao Ensino Fundamental, devem aprender. O grupo de trabalho responsável pelo levantamento de dados deste projeto é formado por pro- fessores das redes municipal, estadual e particular, representantes da igreja, moradores e lideranças locais, ou seja, gente que conhece a fundo a história do bairro em que moram. Para reunir as informa- ções, diversas reuniões e seminários foram realizados com todos os atores envolvidos no processo. Com os dados, a Secretaria de Educação, além deste livro, também vai elaborar um vídeo. Este material será disponibilizado para as escolas da Prefeitura, para as escolas estaduais e particulares e bibliotecas públicas da cidade. Com o Projeto Saberes Locais oferecemos mais uma contribuição para a melhoria da qualidade social da educação em nosso município, a partir da formação de alunos críticos, cidadãos autônomos que representam a possibilidade real de dias melhores num futuro próximo.

Prof. Moacir de Souza Secretário de Educação

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1 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS

Dia 8 de dezembro de 2010, Guarulhos festejará, ofi cialmente, 450 anos de fundação. A colonização portuguesa no território começou em 1560, portanto, 60 anos após o desembarque da frota de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, Bahia. Em 1560, sem documentação histórica que comprove a data, o padre fundador, os indígenas aldeados e os memorialistas guarulhenses levantam a possibilidade que Guarulhos tenha sido fundada na segunda metade do século XVI com o nome de Aldeia de Nossa Senhora da Conceição dos Guaru- lhos. Aldeia, capela e cemitério indígena situados nas proximidades do atual Centro Expandido (Vila Moreira), quadra localizada entre as ruas Silvestre Vasconcelos Calmon, José Esperança da Concei- ção, Barão de Mauá e Avenida Guarulhos. A aldeia teria permanecido no referido lo- cal certo período, em seguida foi transferida para a colina do centro, localidade onde se encontra atualmente a Igreja Matriz, na Praça Tereza Cris- tina. Com base nas conclusões dos memorialistas, em 1983, a Câmara de Vereadores votou a lei no 2.789/83 ofi cializando o nome do padre Manuel de Paiva como fundador de Guarulhos, revendo o nome do padre João Álvares citado no Hino a Guarulhos, tido até então, como o padre fundador da cidade. Rodovia Presidente Dutra nas proximidades do Bonsucesso, em 1960 e 2010. do Bonsucesso, nas proximidades Presidente Dutra Rodovia

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Garimpo de ouro do Jardim Hanna – Bacia Sedimentar de São Paulo (Agregados de cascalho). Provável local de mineração de Geraldo Correia Sardinha. Para o pesquisador de história indígena, outro bandeirante paulista, desta vez Geraldo Cor- Benedito Antônio Prezia, baseado na documenta- reia Sardinha, recebe uma carta de sesmaria nas ção jesuítica (Serafi m Leite, Hist. Comp. Jesus, v. margens do Rio Maquirobu (atual Rio Baquirivu 6, p. 503-504) e nas Atas da Câmara de São Paulo Guaçu), também para exploração mineral. (ACSP, V), Guarulhos foi fundada com o nome Em 1666, o sertanista Francisco Cubas de Nossa Senhora da Conceição dos Maromomi, Preto, um dos primeiros donos da Fazenda do por volta de 1607, sendo que este nome indíge- Bonsucesso, participa de expedição, provavel- na foi mudado para Nossa Senhora da Conceição mente à Serra da Mantiqueira (Jaguamimbaba), dos Guarulhos, entre 1630 e 1640. trazendo para sua propriedade um grupo de ín- Após a expulsão dos jesuítas da cidade de dios aprisionados. Em 1670, fundou uma capela São Paulo, em 1640, esses indígenas abandona- de fazenda que conserva como de Bonsucesso ram em massa a missão, indo para a região de até os dias de hoje. Atibaia, fi cando apenas alguns poucos morando O topônimo “Bom Sucesso” encontra-se em em volta da Capela da Conceição [atual Igreja muitas porções do Território Nacional e em Por- Matiz], que era um local de romaria. tugal. Na Guarulhos colonial, duas estradas com Benedito Prezia nomes de santas tiveram grande importância na época, Estradas de Nossa Senhora da Conceição PRIMEIRAS NOTÍCIAS SOBRE O e de Nossa Senhora do Bom Sucesso, ambas con- BOM SUCESSO VELHO fl uíam para a região das lavras de ouro. A relação Os primeiros registros acerca do Bom Su- histórica entre a cidade de Guarulhos e a região do cesso Velho retrocedem ao período do ciclo do Bonsucesso é o que veremos nessa publicação. ouro em Guarulhos. Em um mapa da Capitania de São Vicente (1553–1597), pode-se observar Para saber mais o território situado entre São Miguel Paulista e a 1. Guarulhos Tem História. Vários Autores. Estante do Escritor, Biblioteca Monteiro Lobato, 2008. Serra do Jaguamimbaba, atual Serra do Itaberaba. 2. Os Indígenas do Planalto Paulista. No contexto da busca ao ouro, Afonso Sardinha, o Benedito A. Prezia. Humanitas, 2000. 3. Guarulhos - Cidade Símbolo. 1560 – 1960. Adolfo de Velho, e o seu fi lho homônimo foram os primeiros Vasconcelos Noronha. Estante do Escritor – a descobrir ouro na cidade, em 1597. Em 1612, Biblioteca Monteiro Lobato, 1960. 12 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO MAPA DO MUNICÍPIO DE GUARULHOS – 1938 (Modifi cado pelo Instituto Geográfi co e Geológico do Estado de São Paulo)

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14 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

2 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A região do Bonsucesso abrange os bairros de Jardim Presidente Dutra, Parque São Luiz, Jardim Maria Dirce, Parque Residencial Cumbica (Inocoop), Jardim Fátima, Jardim Álamo, Vila Nova Bonsuces- so, Vila Bonsucesso, Jardim Triunfo, assentamento Anita Garibaldi, Jardim Santa Paula, Jardim Hanna, Ponte Alta I e II, Jardim Campestre, Vila Carmela I e II, Sítios do Recreio Rober, Parque Residencial Bam- bi, Mato das Cobras, Água Azul, Jardim Orquidiama, Morro Grande e Tomé Gonçalves. Está localizada na porção leste – nordeste do município de Guarulhos, cidade inserida a nordeste da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) que agrega 39 municípios, sendo uma das maiores conurbações do mundo. As principais referências geográfi cas que estabelecem os limites de Bonsucesso são: a Rodovia Presidente Du- tra; o Ribeirão das Lavras; a Estrada Ary Jorge Zeitu- me e a divisa com o município de Arujá. Em 2008, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Guarulhos (SDU), mediante o Decreto Municipal no 25.303, estabeleceu 11 Unidades de Planejamento Regional (UPR) no município, com o objetivo de descentralização da gestão do espaço público. Os critérios adotados para estabelecer esta divisão foram o sistema viário, relevo e uso do solo. A partir dessa divisão, a Comissão Saberes Bonsucesso, tendo como objetivo o resgate da his-

Vista panorâmica da região do Bonsucesso. tória local, tanto humana como geológica, adotou um novo critério e estabeleceu uma nova divisão. 15 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

De acordo com os crité- rios da SDU, a região do Jaguari passa a ser uma UPR, que não atende aos objetivos do Projeto Saberes Locais, uma vez que a referida região é caracterizada por áreas ambientalmente prote- gidas e com uma insipiente ocu- pação urbana (somente o Jardim Orquidiama) tendo, desta forma, uma rica história do ponto de vista das atividades econômicas extrativistas no fi nal do século XIX e começo do XX, porém com pouco a se dizer sobre sua ocupação humana.

Desta forma, a Comis- são Saberes Bonsucesso passa a considerar a porção leste do Jaguari a Bonsucesso e a por- ção oeste a São João. Assim, é possível estabelecer uma rela- ção sistêmica entre as ativida- des humanas e o meio ambiente “natural”, ou seja, as relações da população local com a rica vegetação e a biodiversidade animal existente na região.

16 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

GUARULHOS

ROSA DOS VENTOS

17 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! BAIRRO E JARDIM Bairro é defi nido como cada uma das partes em que se costuma dividir uma Cidade ou Vila. O Sesmaria termo Bairro é uma herança da época da coloni- A ocupação das terras brasileiras pe- zação portuguesa. Os bairros mais antigos de São los capitães descobridores, em nome da Paulo e Guarulhos, por exemplo, são originários Coroa, trouxe o modelo português de pro- das antigas cartas de sesmarias. priedade para o Brasil. Os registros de ter- Jardins são considerados por alguns pes- ras surgiram no País logo após o estabele- quisadores como uma segunda fase da fundação cimento das Capitanias Hereditárias, cujos documentos mais antigos datam de 1534, das cidades infl uenciadas pelo desenvolvimento com as doações de sesmarias. industrial. Os bairros “jardins” foram implanta- Uma sesmaria media aproximadamen- dos obedecendo a um estilo anglo-saxão e em te 6.500 metros quadrados. Muitas dessas São Paulo tinham como público-alvo a burgue- terras estavam sob a jurisdição eclesiástica sia industrial. (Historia dos bairros de São Paulo da Ordem de Cristo e lhes eram tributárias, – Livro Aclimação). Acreditamos que a palavra sujeitas ao pagamento do dízimo para a pro- “Jardim” foi empregada em alusão ao Jardim do pagação da fé. Cada uma das partes da área dividida levava o nome de sesmo. O vocá- Éden, defi nido como paraíso terrestre, local da bulo sesmaria derivou-se do termo sesma, primitiva habitação do homem. A palavra “jar- e signifi cava 1/6 do valor estipulado para o dim” provém do hebreu “gan”, que signifi ca pro- terreno. (Revista Histórica do Arquivo do Es- teger, defender, e “éden” que signifi ca prazer. tado – Edição no 2 de 6 de junho de 2005).

BAIRROS, VILAS E JARDINS Água Azul Hanna Parque São Luiz Álamo Maria Dirce Ponte Alta Anita Garibaldi (em processo Mato das Cobras Presidente Dutra de regularização) Morro Grande Recreio Rober Bonsucesso Nova Bonsucesso Sadokim Campestre Orquidiama Santa Paula Carmela I Parque Residencial Bambi Tomé Gonçalves Carmela II Parque Residencial Cumbica Triunfo Fátima (Inocoop)

Entrada do Sítio das Rosas, de onde originou-se a Vila Carmela.

18 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

DADOS GERAIS

Área de Guarulhos: 320 quilômetros qua- 15 a 20 salários mínimos: 370 habitantes. drados aproximadamente. 20 salários mínimos: 191 habitantes. Área de Bonsucesso: 71,2 quilômetros qua- Nível de instrução: drados aproximadamente. Responsáveis por domicílios, segundo os População de Guarulhos: 1.236.192 habi- anos de estudo. tantes (IBGE-2007). Sem instrução ou menos que 1 ano: População estimada de Bonsucesso: 2.608 habitantes. 135.414 habitantes (IBGE e SEADE, 2002; Com anos de estudo não determinado: citado por S.D.U. 1/5/2002, 2009). 40 habitantes. Renda: 1 a 4 anos de estudo: 10.428 habitantes. Número total de responsáveis pela renda por 5 a 8 anos de estudo: 9.641 habitantes. domicílio: 28.784 habitantes. 9 a 11 anos de estudo: 5.139 habitantes. Número de responsáveis pela renda por 12 a 16 anos de estudo: 869 habitantes. domicílio com renda: 24.774 habitantes. 17 ou mais anos: 59 habitantes. Número de responsáveis pela renda por Principais atividades econômicas: domicílio sem renda: 4.010 habitantes. industrial e agricultura Até 3 salários mínimos: 11.876 habitantes. Estabelecimentos de Saúde: 11 unidades 3 a 5 salários mínimos: 6.348 habitantes. Estabelecimentos de Educação: 5 a 10 salários mínimos: 5.152 habitantes. Municipais – 21 10 a 15 salários mínimos: 837 habitantes. Estaduais - 16 Redesenhando Bonsucesso

Existe, entre os simpatizantes da história do Bonsucesso, conversas informais para implantação de um polo cultu- ral situado na Vila do Bonsucesso Velho. As propostas convergem para um trabalho que integra o resgate histórico, preservação do patrimônio, cultura, religiosidade popular e meio ambiente. A Vila de Nossa Senhora do Bonsucesso Velho funcionaria como centro catalisador da região. Entre os militantes da região que discutem a proposta encon- tram-se a Associação Ururaí Arte e Cultura, representantes do Movimento Guarulhos Tem História, Comissão Saberes Locais e representantes da Paróquia do Bonsucesso, contando também com a participação pessoas da Secretaria de Cultura e da arquiteta Marli Araújo. (Imagem: Proposta – redesenho. Trabalho de Graduação Interdisciplinar/87).

19 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! Foto: William de Queiroz Foto: William

20 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

3 PAISAGENS NATURAIS

Ao longo da história humana, o homem drenou pântanos, cortou árvores, desviou rios, construiu moradas, aldeias, vilarejos, bairros e ci- dades inteiras, modifi cando profundamente a pai- sagem, da maneira que julgou necessária para seu desenvolvimento. O relacionamento do homem com a natureza, conforme apontou Karl Marx, é uma relação fundamental, não para que ele perma- neça nela, mas ao contrário, pois ele luta contra ela. É uma relação dialética. No decorrer desta luta, o homem arranca da natureza aquilo que necessita para manter sua própria vida e para superar uma vida simplesmente natural. No presente trabalho chamaremos de paisa- gem natural aquela que começou a evoluir há bi- lhões de anos, muito, muito antes da chegada dos Maromomi, povo indígena descendente do chama- do homem primitivo que migrou de outras regiões do planeta para o litoral do sudeste brasileiro e, posteriormente, para a região de Guarulhos. As peculiaridades da paisagem natural de cada região – os eventos geológicos ocorridos há bilhões de anos, a formação do relevo e dos tipos de solo, a cobertura vegetal e os recursos hídricos – determinam a presença da fauna e a maneira como o homem promoveu a ocupação do terri- tório. É esta paisagem, portanto, que orientou as

Morro Nhanguaçú, um dos mais antigos pontos de mineração ouro e ardósia, conhecido como Mirante do Água Azul ou “Morrão”. ações humanas neste território.

21 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Garimpo de ouro do Ribeirão das Lavras, em Guarulhos. Rochas que se dobraram decorrentes da compressão e de altas temperaturas das atividades vulcânicas há bilhões de anos. BONSUCESSO HÁ BILHÕES DE ANOS Desde a formação do planeta Terra, há 4,6 depositadas sobre as rochas cristalinas (embasa- bilhões de anos, continentes inteiros surgiram mento cristalino), que podem ser encontradas e foram destruídos várias vezes. A América e a a até 250 metros de profundidade. Numa parte África, por exemplo, eram unidos e só se sepa- dessa área baixa (bacia sedimentar), formaram- raram há cerca de 65 milhões de anos, graças ao -se os rios, córregos e ribeirões que hoje conhe- constante movimento das chamadas placas tectô- cemos como Rio Tietê, Paraíba do Sul, Araçau, nicas que se deslocam de 1,3 a 18,3 centímetros Lavras e Baquirivu Guaçu. Na porção norte da por ano. Parece pouco, mas numa escala de tem- região, que inclui Mato das Cobras, Água Azul, po de bilhões de anos esse processo possibilitou Jardim Orquidiama e Morro Grande, predomi- o surgimento dos continentes e dos oceanos tal nam rochas mais duras e antigas, conhecidas como os conhecemos hoje. como rochas cristalinas. Da separação entre a América e a África Esses acontecimentos fazem parte da evolu- formou-se o Oceano Atlântico e no atual lito- ção do planeta e são estudados por uma ciência co- ral brasileiro os terrenos se elevaram ao longo nhecida por Geologia. Recebem, por consequên- de uma extensa faixa entre os atuais Estados do cia, o nome de eventos geológicos. A ocorrência Paraná, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em de terremotos e a presença de muitos vulcões são seguida, o topo dessas elevações sofreu o afun- os eventos geológicos mais antigos da região de damento de blocos de rochas, num processo cha- Guarulhos. Desses eventos resultaram, há pouco mado de “rifte”. mais de 1,5 bilhão de anos, derrames de lavas que Durante milhões de anos as erosões* foram foram sendo depositadas no fundo de um oceano desgastando as montanhas e depositando mate- então existente na região. riais nessa parte afundada, chamada de Bacia Se- dimentar de São Paulo, situada entre as Serras do ______Mar, da Mantiqueira e da Cantareira. * Em condições naturais, a erosão consiste na degradação, remoção e transporte de partícu- A porção ao sul do território de Bonsuces- las de solo ou fragmentos de rochas pela ação, so, onde fi cam os bairros Ponte Alta, Parque Re- combinada ou não, da gravidade com a água, sidencial Bambi e a Estrada do Itaberaba, é ca- o vento, o gelo, organismos vivos e posterior racterizada pela presença de rochas sedimentares sedimentação.

22 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO RELEVO Os eventos geológicos resultam na formação sendo composta por morros altos e morros bai- do relevo que, de um modo geral, é constituído por xos. A parte sul é composta por relevos mais cordilheiras, serras, montanhas, planaltos e planí- baixos e de pouca declividade conhecidos por cies. A Geomorfologia é a ciência que estuda essas morrotes, colinas e planícies, praticamente coin- formas, observando a associação da amplitude to- cidentes com as rochas sedimentares. pográfi ca (diferença de altitude entre os pontos mais Fato curioso é que a leste dos sítios do Recreio altos e os mais baixos) e a declividade das encostas Rober, nas nascentes do Rio Jaguari, ocorrem as me- (maior ou menor inclinação) de um terreno. nores altitudes de Guarulhos, com 660 metros acima A porção norte da região do Bonsucesso do nível do mar. Por outro lado, as áreas mais altas de apresenta grandes altitudes e altas declividades, Bonsucesso encontram-se no Morro Grande.

23 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Vista do relevo da região de Bonsucesso.

24 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO TIPOS DE SOLOS

Os três tipos de solos presentes na região do Bonsucesso são: Latossolo vermelho-escuro (distrófi co, de pouca fertilidade natural) e proe- minente textura argilosa, sendo encontrado em re- levo ondulado, suave ou não; o Argissolo verme- lho-amarelo (também distrófi co), que apresenta argila de atividade baixa, pode ser encontrado em relevo moderado ou fortemente ondulado ou em relevo fortemente ondulado e montanhoso; Gleis- solos que, no geral, corresponde a solo orgânico superfi cial com textura argilosa. São encontrados nos fundos de vales e nas várzeas, sob condições de encharcamento. O solo é, ao lado dos recursos hídricos, o elemento natural mais determinante da maneira como uma região é ocupada e transformada pelo homem. É um recurso fi nito, também formado pelos eventos geológicos, que pode levar milha- res de anos para tornar-se produtivo. Terra vermelha (Latossolo) no Jardim Triunfo, tradicionalmente utilizada na Festa da Carpição. Os solos, estudados por uma ci- ência conhecida como Pedologia, são corpos dinâmicos naturais, cujas ca- racterísticas decorrem das infl uências combinadas de clima (chuva e tempe- ratura, principalmente) e de atividades bióticas e físicas. Sua formação tem início com o intemperismo, conjunto de fenômenos físicos e químicos que degradam as rochas, formando uma cobertura ainda não consolidada. Esse material pode permanecer no mesmo lugar (solos residuais) ou ser transpor- tado pela água ou pelo vento, sofrendo infl uência das chuvas e de mudanças de temperatura, recebendo materiais orgânicos, como vegetais e animais em decomposição, tendo, enfi m, mo- difi cadas as suas características físicas e químicas, para, depois de um tempo relativamente longo, constituir-se do ponto de vista pedológico no verda- deiro solo.

25 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! BACIAS HIDROGRÁFICAS E RECURSOS HÍDRICOS A região do Bonsucesso possui uma rica raçau ou ao Ribeirão do Lavras, afl uentes da mar- rede de lagos, rios, córregos e ribeirões, associada gem direita do Rio Baquirivu Guaçu que, por sua a uma densa vegetação, a uma grande diversidade vez, segue para o Rio Tietê. de animais e inserida nas bacias hidrográfi cas do Bacia Hidrográfi ca do Paraíba do Sul: é Alto Tietê e do Rio Paraíba do Sul. a porção norte do Bonsucesso, onde as águas de Bacia Hidrográfi ca do Alto Tietê: a por- chuva escoam para o Rio Jaguari. Este é afl uen- ção do território ao sul do Água Azul e dos sítios te do Paraíba do Sul, que segue para o Estado de Recreio Rober. As águas de chuva que caem do Rio de Janeiro. Trata-se de uma área de mata neste local seguem em direção ao Ribeirão Gua- densa, com uma grande quantidade de cursos

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Rio Baquirivu Guaçu, trecho Guarulhos. d’água. O único bairro neste território é o Jar- HISTÓRIA AMBIENTAL E dim Orquidiama. DA BIODIVERSIDADE Rio Baquirivu Guaçu: inserido na Bacia Hidrográfi ca do Alto Tietê, tem suas nascentes no O tipo de vegetação do Bonsucesso é de Município de Arujá. Quando chega em Guarulhos Mata Atlântica, uma fl oresta tropical úmida e atravessa, no sentido leste-oeste, uma ampla planí- densa, exposta aos ventos que sopram do oceano, cie ocupada pelos bairros do Jardim Álamo, Jardim que se constitui num dos mais ricos ecossistemas Nossa Senhora Aparecida, Jardim Fátima, Inocoop do mundo. Essa fl oresta, encontrada ao norte da e Jardim Presidente Dutra. O Rio Baquirivu Gua- região, integra os últimos remanescentes da Re- çu segue paralelo à Avenida Jamil João Zarif até serva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade o Bairro do Taboão, onde muda o seu curso para de São Paulo (RBCV), outorgada em 1994 pela o sul, passando sob as rodovias Presidente Dutra e Unesco como Patrimônio Mundial da Humanida- Ayrton Senna até chegar ao Rio Tietê. de. Esta densa vegetação promove a amenização Além das águas superfi ciais (lagos, rios, cór- do clima, controla a poluição atmosférica e pos- regos e ribeirões), a região do Bonsucesso conta com sui uma marcante beleza natural, além de abrigar a oferta de um manancial subterrâneo conhecido centenas de espécies animais e vegetais. como aquífero, formado pelas águas que se acumu- Historicamente, Bonsucesso é a região onde lam no subsolo. Os espaços vazios existentes entre foram desenvolvidas as principais atividades eco- as rochas, conhecidos como gráben, são resultado nômicas verifi cadas em Guarulhos. Os diferentes de movimentos geológicos favorecidos pelo tipo de ciclos de desenvolvimento (a mineração de ouro, a solo, que promove o acúmulo de água de ótima qua- agricultura, a extração de areia e a produção de ti- lidade. A infi ltração no solo é favorecida também jolos, a produção em pequenas chácaras e granjas, pela cobertura vegetal que, por meio de suas raízes, a extração de lenha, a implantação das primeiras abre caminho para a água alcançar o subsolo. Além indústrias e o processo de urbanização) trouxeram disso, as folhagens da cobertura vegetal retardam a consequências ambientais negativas para a região. chegada da água ao solo, liberando-a lentamente e Exemplo disso é o desaparecimento das propiciando melhores condições para a infi ltração. araucárias produtoras do pinhão, um dos itens A densa mata existente na porção norte do de alimentação que atraíram os indígenas Maro- Bonsucesso favorece muito a recarga de água no momi para a região de Guarulhos. A exploração subsolo, onde se podem encontrar dois tipos de dos recursos fl orestais de forma irracional pelo água subterrânea: o Sistema Aquífero Cristalino homem branco em seu processo “civilizatório” (água acumulada entre as rochas mais duras) e extinguiu não só as araucárias, mas quase todas o Sistema Aquífero Sedimentar (água acumulada as matas de Guarulhos. entre areias e cascalhos). Esta reserva de água é As parcelas de fl orestas que restaram ou as utilizada para o consumo da população em pouca que foram se regenerando ao longo das décadas escala, mas muito utilizada nas atividades comer- continuam até hoje sob forte pressão de devasta- ciais e industriais da região, por meio da perfura- ção. Estabeleceu-se uma paisagem com um gran- ção de poços profundos. de número de fragmentos fl orestais de diferentes

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idades, estágios de regeneração e tamanhos, além râneas, diminuição da poeira, proteção do solo de vários padrões de distância entre eles. Parte (evitando erosões e escorregamentos), atenuação desses fragmentos começa nos sítios de Recreio do vento e suporte da fauna. Rober, segue a porção nordeste do Água Azul e Função estética: os benefícios relacionados alcança os bairros do Jaguari e Tomé Gonçalves. aos sentimentos que as áreas verdes propiciam. Recobrem toda a Serra de Itaberaba, estenden- Função de lazer: envolvem todo tipo de do-se ainda para outras regiões do município, no utilização relacionado ao descanso, passeio, en- sentido Grande – Cabuçu. tretenimento e recreação. Na área urbana, por sua vez, na porção sul O Mapa de Cobertura Vegetal do Bonsuces- do Bonsucesso, há porções menores de vegeta- so evidencia o chamado “efeito de borda”, que faz ção, mas de grande importância ambiental. As com que o perímetro da área desmatada, provo- áreas verdes em sítio urbano, segundo o geógrafo cado pela expansão urbana, vá progressivamente João Carlos Nucci e o agrônomo Felisberto Ca- tirando da vegetação ainda existente a sua integri- valheiro, exercem resumidamente três funções. dade. No entanto, há fragmentos remanescentes Função ecológica: entre outras, a ameni- distribuídos em diferentes porções da área urbana zação do superaquecimento de áreas pavimen- do Bonsucesso, em que se destacam a capoeira, tadas e concretadas (efeitos da “ilha do calor”), que é o estágio inicial e intermediário da regene- proteção dos recursos hídricos, tanto qualitativos ração natural, e a vegetação de várzea, ainda pre- como quantitativos, incluindo as águas subter- sente nas planícies do Rio Baquirivu Guaçu.

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Remanescente de Mata Atlântica, região nordeste do Bonsucesso. FLORA A Secretaria de Meio Ambiente do Estado searia sylvestris), o guatambu-de-leite (Chry- de São Paulo planeja criar um Sistema de Áreas sophyllum marginatum), a peloteira (Solanum Protegidas do Contínuo da Cantareira, que abran- pseudoquina), a embaúba-branca (Cecropia ho- ge as serras de Itapetinga e Itaberaba. Por isso re- loleuca) e a copaíba (Copaifera langsdorfi i). alizou estudos que identifi caram entre as espécies Outras espécies arbóreas que podem ser fa- arbóreas mais comuns e representativas presentes cilmente encontradas nos remanescentes fl ores- na Serra de Itaberaba, ao norte do Bonsucesso, tais da região são o ingá-ferradura (Inga sessilis), o capixinguí (Croton fl oribundus), a canela-toiça o manacá-da-serra (Tibouchina mutabilis), o pau- (Endlicheria paniculata), a capororoca (Rapanea -jacaré (Piptadenia gonoacantha), o guapuruvu umbellata), a maria-mole (Guapira opposita), (Schizolobium parahyba), o tapiá (Alchornea tri- a caxeta (Psychotria vellosiana), a embaúba- plinervia), o jerivá (Syagrus romanzoffi ana) e o -vermelha (Cecropia glaziovi), a aroeira-mansa açoita-cavalo (Luehea divaricata), entre outras. (Schinus terebinthifoli), o jacarandá-bico-de-pato Algumas espécies, como o cedro-rosa (Ce- (Machaerium nyctitans), a fruta-de-faraó (Allo- drela fi ssilis) e o jacarandá-paulista (Machaerium phylus edulis), a carne-de-vaca (Clethra scabra), villosu), estão ameaçados de extinção, já que as a peroba-vermelha (Aspidosperma olivaceum), o fl orestas onde são encontradas vêm sofrendo se- tamanqueiro (Alchornea glandulosa), o angico- vera diminuição e perda de qualidade de habitat. rajado (Leucochloron incuriale), o pau-de-gaiola Entre as espécies ameaçadas de extinção há ainda (Aegiphila sellowiana), a canjarana (Cabralea a canela-cheirosa (Ocotea odorífera), a canela- canjerana), o pessegueiro-do-mato (Prunus myr- -burra (Ocotea nectandrifolia) e o palmito juçara tifolia), o café-do-mato (Amaioua intermedia), o (Euterpe edulis), todas com histórico de explora- canassu (Bathysa australis), a guaçatonga (Ca- ção predatória intensiva.

29 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! FAUNA Estudos da Secretaria de Meio Ambiente de Guarulhos, desenvolvidos dentro do progra- ma Guarulhos tem Biodiversidade, revelam que a região nordeste do município, onde se inclui a porção norte do Bonsucesso, está entre as áreas de maior prioridade municipal para a conserva- ção ambiental. Pesquisas de campo realizadas na Serra de Itaberaba já identifi caram mais de 260 espécies de animais, entre aves, mamíferos, rép- teis, anfíbios e borboletas, número que cresce a cada ano, à medida que os estudos avançam. Relatos de moradores e trabalhadores do Jaguari e de Tomé Gonçalves, confi rmados em pesquisas de campo, dão conta da existência de ta- maduá-mirim (Tamanduá tetradactyla) e de cateto (Pecari tajacu) na região. O conhecimento popular sobre as espécies da fauna local oferece uma rique- za de detalhes que muitas vezes não é encontrada nos livros. Por exemplo, moradores mais antigos mencionam espécies como o macuco (Tinamus Suçuarana (Puma concolor). solitarius), que já não são mais vistas na região,

Jaguatirica (Leopardus pardalis). Sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita).

30 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ou espécies como a asa-branca (Patagioenas pi- cazuro), que só agora estão mais evidentes. Esses apontamentos podem ser um refl exo das mudan- ças ambientais da região nas últimas décadas. Na lista de espécies da fauna silvestre com ocorrência no Município de Guarulhos, publicada em 2009, foram divulgados pela primeira vez os animais ameaçados de extinção, registrando 31 espécies. Entre elas estão o sagui-da-serra-escu- ro (Callithrix aurita) – encontrado apenas numa pequena parte do Brasil, entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, incluindo o município de Guarulhos –, o sauá (Callicebus nigrifrons) – primata não encontrado em nenhum outro ecos- Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris). sistema que não a Mata Atlântica, presente entre a Bahia e o Estado de São Paulo –, a jaguatirica (Leopardus pardalis) – o maior dos pequenos felí- deos brasileiros –, e a suçuarana (Puma concolor), o segundo maior felídeo das Américas, menor ape- nas que a onça-pintada, e predador de animais de médio porte, como veados e capivaras.

Textos: História Ambiental e da Biodiversidade, Fauna e Flora – Autoria de David de Almeida Braga (biólogo).

Para saber mais

1. Atlas Escolar Histórico e Geográfi co de Guarulhos. César Cunha Ferreira, Daniel Carlos de Campos e Elton Soares de Oliveira. São Paulo: Noovha América, 2010. 2. Caracterização do Meio Físico do Bairro Água Azul. Mariza Viana Mesquita. Guaruhos: Universidade Guarulhos, 1998. 3. Os Domínios de Natureza no Brasil. Aziz Ab’Saber. Ateliê Editorial, 2003. Garça (Egretta thula).

Sauá (Callicebus nigrifrons).

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4 ORIGENS: DO BOM SUCESSO VELHO À VILA NOVA BONSUCESSO

Por muito tempo “Bom Sucesso” foi es- crito separadamente. É provável que a forma atual da escrita seja coincidente com a reconfi guração da fazenda que se transformou em loteamento ur- bano a partir da segunda metade do século XX, quando surge a “ Nova Bonsucesso”. Não são necessárias muitas explicações para se perceber o signifi cado da palavra “Bom Sucesso” nos dias de hoje, mas qual teria sido a origem e o sig- nifi cado do termo nos primórdios da colonização? Recorremos a dois pesquisadores guarulhen- ses, especialistas da história de Bonsucesso, e am- bas as explicações retratam o imaginário do bran- co colonizador da época em questão. De acordo com Washington Ribeiro de Macedo: O título de Nossa Senhora do Bonsucesso, enquadra-se na- queles atribuídos à piedade popular ou à mística dos religiosos conventuais, como “Nossa Senhora Da Boa Morte”, “Nossa Senhora das Graças”, “Nossa Senhora do Bom Parto”, “Nossa Senhora da Boa Viagem”, “Nossa Senhora Aparecida” (no Brasil), invocações essas usadas pelos fi éis para atendimento de necessidades imediatas. Para Maurício Pinheiro: Nossa Senhora do Bonsucesso também era invocada como protetora dos bens terrenos, devido ao êxito de uma das primeiras “bandeiras”, que foi responsável por descobrir as Prédio da sub-delegacia de polícia de Bonsucesso, que ocupava o local onde encontra-se a o local onde encontra-se que ocupava Prédio da sub-delegacia de polícia Bonsucesso, Data e autoria da foto desconhecida. Casa Paroquial.

33 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

ricas jazidas de ouro no sopé de Itacolomi, atual ci- dade de Ouro Preto. [Descoberta]... a qual tornou a santa muito popular, como nos conta Megale: seu culto tomou grande incremento, espalhando-se pelo Vale do Paraíba e na região das Minas Gerais. Essa mistura de religiosidade e artimanhas para posse de terras, controle de índios e riquezas nos leva a com- preender o fato de a capela ter tido, em sua história, alguns benfeitores que mantiveram e conservaram de tempos em tempos, como é o caso da família Cubas e, posteriormente, da família Bueno, entre outras. Como visto, a formação do “Bom Sucesso Velho” foi fortemente infl uenciada pela extração de ouro nas margens do Rio Baquirivu Guaçu e no conhecido garimpo do Campo dos Ouros, Morro Nhanguaçu e Ribeirão Tomé Gonçalves, além disso, por ser acesso para as principais la- vras de ouro da antiga aldeia e de Nos- sa Senhora da Conceição dos Guarulhos e de Mi- nas Gerais, no início do século XVIII. Três aspectos foram fundamentais para a formação da antiga vila rural da fazenda: a exis- tência do Rio Baquirivu Guaçu, a Estrada Geral e a localização da primitiva capela de fazenda no sopé da Serra do Itaberaba (antiga Jaguamimbaba). Na origem da Fazenda do Bonsucesso apa- recem os sobrenomes das famílias Bueno e Cubas. Os documentos mais antigos localizado por nós são as citações da carta de sesmaria dos Buenos, de 1611, o testamento e o inventário de Francisco Cubas Preto, respectivamente de 1672 e 1673. O sobrenome “Cubas”, na pesquisa sobre a extração de ouro, também aparece várias vezes. Ini- cialmente, em 1560, quando Braz Cubas descobre ouro na sua vasta sesmaria, que compreende as atu- ais cidades de Mogi das Cruzes e Biritiba Mirim. Em 1599, d. Francisco ordena que Pedro Cubas assista com carne, pescado, azeite, farinha e todo necessário ao capitão Diogo Lopes de Castro, os ofi ciais e sol- dados de sua companhia. No mesmo ano, d. Francis- co de Souza se dirige a Braz Cubas chamando-o de provedor da fazenda sediada na Vila de Santos. Como se vê, alguns membros da família Cubas, além de manterem trabalhos de explora- ção de ouro, participavam da administração de d. Cascalho “lavado” de mineração de ouro – Jardim Hanna. Francisco de Souza. 34 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Dom Francisco exerceu respectivamente os começaram a chegar muitas famílias para morar cargos de 7o Governador Geral do Brasil e da Re- no bairro, atraídas pela boa terra e pela possibi- partição do Sul, além de superintendente das minas lidade de trabalhar com lavouras e granjas. Mas, de ouro do Brasil. A Repartição do Sul abarcava as o bairro, até então, não tinha nenhuma infraes- capitanias de São Vicente, Espírito Santo e Rio de trutura para abrigar tanta gente. Foi a partir de Janeiro, atuais Estados de Minas Gerais, Rio de Ja- 1951 que começaram aparecer as vilas, como o neiro, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Espírito San- Jardim Presidente Dutra, por exemplo. Não havia to, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. fronteira e Bonsucesso se confundia com São Mi- Após o ciclo do ouro e das atividades típicas guel Paulista. Os primeiros pontos de iluminação de uma grande fazenda, Bonsucesso passou por pública e telefone chegaram ao bairro em 1958. uma reconfi guração, o que antes era rural se trans- Televisão e rádio, muitos nem sabiam da existên- formou em urbano, época em que surge a expres- cia”. (Trechos de entrevista publicada pelo Jornal são “Nova Bonsucesso”. Sobre essa fase recente Folha Metropolitana, em 8/12/2006). comenta o imigrante japonês Morio Sakamoto: O Jardim Presidente Dutra foi inaugurado Cheguei a Bonsucesso em 1929. No início dos e os lotes postos à venda em 1958. Dos lotea- anos 1930, dava para contar nos dedos da mão o mentos existentes no antigo território da fazen- número de famílias que morava na região. Eram da, a Vila Nova Bonsucesso, que é de 1955, foi seis ou sete no máximo que viviam da lavoura. o primeiro loteamento da região. De acordo com Nessa época, o bairro era só mato e tinha apenas mapa do município, até 1938, “Bonsucesso” era a Estrada Velha (atual Avenida Papa João Paulo escrito separadamente. Sobre a data, bem como o I). A construção da Dutra foi a melhor coisa que motivo da mudança da escrita, não constam nos podia acontecer para o bairro. A partir de 1935, documentos por nós consultados.

TRECHOS DO TESTAMENTO E INVENTÁRIO DE FRANCISCO CUBAS PRETO

A localização mais próxima ao Bonsucesso seria a cabeceira de Jaguari. Testamento de 1672 e inventário de 1673, de Francisco Cubas Preto (Arquivo do Estado – Vol. 18).

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Para saber mais

1. A Igreja e a Festa de Nossa Senhora do Bonsucesso: Antigo Jardim Maringá, bairro que era vizinho ao Jardim Patrimônios Históricos e Culturais de Guarulhos. Wa- Presidente Dutra e que foi totalmente suprimido pela shington Ribeiro de Macedo. Trabalho de conclusão de construção do Aeroporto. Foto de 1979, cedida por um curso – Faculdades de Guarulhos, 2005. morador do Jardim Presidente Dutra. 2. Santuário de Nossa Senhora de Bonsucesso: Uma Lon- ga Tradição Profana. Mauricio Pinheiro. Dissertação de Mestrado – UNESP, 2004. 3. Redesenhando Bonsucesso. Marli de Almeida Araújo. Universidade de Guarulhos, 1987.

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JAGUAMIMBABA E MANTIQUEIRA: ORIGENS E SIGNIFICADOS

Capitania de São Vicente e adjacências no século XVI (1553-1597).

O lado paulista da Serra da Mantiqueira do Jaguary (Bragança Paulista), Nelson Sil- era conhecido, nos primórdios do Brasil, como veira Martins e Domingos Laurito (Bragança Jaguamimbaba, cuja tradução em dicionários 1763 a 1942) falam de aldeias enfeitadas da língua Guarani registra “jaguá”, que signi- de penas, por volta de 1765, na Serra do fi ca cachorro e “mimbá”, animal domesticado. Lopo: Em 1791 Lino José de Morais obtém Já na língua Tupi, “Jaguapeba” se- meia légua por uma, no Bairro de Jacareí ria cachorro pequeno e “Jaguará” traduz-se e Cachoeira, no sertão do Morro do Lopo. tanto por onça como cachorro, sendo que Quanto à Serra da Mantiqueira (do Tupi “a “mimbaba” equivale a animal de criação ou água verte ou goteja”). O nome Jaguamimba- doméstico. Assim, a tradução mais próxima ba é citado na fundação de Guarulhos (1560), seria de cachorro domesticado ou de criação, observando que as minas foram descobertas carecendo, no entanto, de novos estudos em 1590 por Afonso Sardinha. “...Em 1560, para relacioná-lo com a tradução para onça. o Governador Geral Mem de Sá, tendo ex- Com certeza nestas regiões existiram em pulsado os franceses da Baía de Guanabara, abundância tanto os cachorros-do-mato como deteve-se na Capitania de São Vicente (...), as onças. Estando isso claro em nossa região os sertanistas percorrem trezentas léguas em dois nomes, “Jaguary” (antiga Bragan- de sertão em busca de ouro e prata. Partin- ça Paulista), como Rio das Onças, e o nome do de São Paulo e passando por Mogi das “Lopo”, que vem do Latim lupus e signifi ca lobo, Cruzes, desceram o Rio Paraíba, guiados pe- possivelmente alusivo à quantidade destes ani- los índios até a paragem de Cachoeira, onde mais (lobos-guará e outros) na região. encontraram o caminho que atravessava do O nome “Lopo” também pode advir litoral para a serra acima e tomando por esse do sobrenome de antigas famílias que ha- caminho subiram a Serra de Jaguamimbaba bitavam a região pois, em 1771, surge um (Mantiqueira). Não sei precisar quando estes personagem nas cercanias com o nome de nomes se fundiram, ou melhor, quando toda a Lopo dos Santos Serra. No entanto, há mui- montanha passou a chamar-se Mantiqueira”. to tempo já havia referência ao nome desta (Titulo original: Jaguamimbaba, Man- serra, pois em 1601 a expedição de Francis- tiqueira e Lopo - por Valter Cassalho. Texto co de Souza passou pela região conhecida cedido a Fernando Emanuel Mamede em como Morro do Lopo. Na antiga Conceição 2/6/2005).

37 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! A FESTA DA CARPIÇÃO DO BONSUCESSO A devoção de Nossa Senhora do Bonsu- cesso surge num contexto de exploração mineral. Convém lembrar que o início da ocupação da re- gião do Bonsucesso está ligado à descoberta de ouro no Ribeirão Maquirobu ou Maquirivu, atual Rio Baquirivu Guaçu, feita por Geraldo Correia Sardinha, em 1612. Deste período conservam-se alguns topônimos regionais que indicavam este garimpo, como Lavras do Geraldo ou Lavras Ve- lhas do Geraldo. Em 1666, estas terras passaram a fazer parte da propriedade de Francisco Cubas Preto, neto de Manoel Preto. Este paulista casou-se com Martha de Miranda e, em 1670, construiu uma capela em honra à Nossa Senhora do Bonsuces- so, certamente em agradecimento a alguma des- coberta de mina ou pedindo proteção para que se descobrissem minas de ouro. Esta invocação aparecerá em outras regiões do Brasil, como em Minas Gerais, num contexto também mineiro. Em 1730, foi criada a Vila de Nossa Senhora da Graça do Bom Sucesso das Mi- nas Novas de Araçuaí, que se desmembrou da Vila do Fanado de Minas Novas. Há nome semelhante num distrito do Município de Patos e em duas ser- ras, certamente ligados à exploração do ouro. No Estado de São Paulo, além de Guarulhos, este nome está presente num distrito do Município de Itapeva e aparece em capelas de vários municí- pios do Vale do Paraíba, como Jacareí, Pindamo- nhangaba e São José dos Campos, sendo que neste último a igreja dedicada à Nossa Senhora do Bon- sucesso é popularmente conhecida como Capela de Nossa Senhora da Carpição, com festa no dia 15 de agosto. A existência desta tradição no Vale do Paraíba é bastante emblemática, pois foi uma região de pessoas ligadas à exploração do ouro. Quanto ao Bonsucesso de Guarulhos, a partir de 1741 há referências sobre esta festa co- memorada em 15 de agosto, Dia de Assunção de Maria, assim como ao Dia da Carpição. O que foi a carpição e que signifi cado teria, chegando a substituir a invocação principal?

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Este ato está ligado à tradição de se carpir o mato em torno da cape- la, num sistema de mutirão, que é de origem indígena, tendo em vista a So- lenidade Mariana. Aquela santa, tão poderosa e capaz de descobrir ouro, deveria ser igualmente poderosa em alcançar alguma outra graça, como a cura de doenças ou prevenção de al- gum mal. Ao se limpar o terreno em volta da capela, removia-se a terra, le- vando-a para casa, como se faz com outros sacramentais católicos, como a água benta, o óleo e até mesmo o pão bento. É o que acontece também com o ramo bento, originalmente usado para aclamar Jesus por sua entrada triunfal em Jerusalém, no Domingo de Ramos, sendo levado para casa para se colocar atrás da porta principal, visando a pro- teção contra diversos males e contra os raios e trovões. Na década de 1960, o pesquisador Alceu Maynard Araújo relata: esta tradi- ção, ocorrida em São José dos Campos, usada também para os animais, quando via-se o cão arrastado pelo dono, fazen- Assim como na Capela de São Miguel Paulista, o altar da igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso revela-se como documento arquitetônico que do três percursos com a terra das ancas registra com fi delidade a arquitetura religiosa em São Paulo. Fonte: Pro- posta para restauro da Igreja Nossa Senhora do Bonsucesso – para que não tenha nambiuvu; é o ca- Helena Saia (Fev/2007). valo a carregar um picuá no lombo ou na cernelha [espinhela] para não ter ou curar-se sendo responsável pelo plantio dos alimentos, já de pisaduras [equimose]; é o terneiro, como repre- que no seu ventre a criança é gerada. Esta neces- sentante do rebanho, puxado por uma peia, indo e sidade de sinal concreto em nosso culto religioso vindo com um saquinho de terra para que o resto remonta à antiguidade, basta ver o simbolismo do gado não apanhe bicheiras. do fogo, da água, do sangue em quase todas as A terra, desde a mais remota antiguidade, religiões. Mas a terra, como elemento de cura re- está associada à vida, à procriação e à regene- ligiosa, tal como um amuleto, é inédita no Brasil ração. Para alguns povos da América, como os e certamente em outras partes da América. incas, a terra é mãe, Pacha Mama, e a ela se fa- Seguramente herdamos de nossos ances- ziam oferendas pedindo boa colheita. Para ou- trais indígenas e africanos a necessidade de se tros, como os astecas, a terra é ambivalente: mãe ter símbolos materiais eloquentes e efi cazes para que alimenta, oferecendo-nos vegetais e caça e, acompanhar nossa vida. Mas a maior efi cácia do ao mesmo tempo, ventre voraz que devora os hu- efeito terapêutico da terra da carpição está na fé manos, que nela são enterrados. das pessoas que vão ali buscar um auxílio para Na tradição dos indígenas das terras baixas suas necessidades do corpo e da alma. do Brasil é a mulher que se relaciona com a terra, Texto de Benedito Prezia 39 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

40 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

5 FORMAÇÃO SOCIOECONÔMICA

A economia guarulhense atual represen- ta 1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e o parque industrial localizado em Bonsucesso é responsável por parte desse resultado, participando do seleto grupo das 10 cidades brasileiras respon- sáveis por 25% desse produto. O tamanho de sua economia se explica, principalmente, pela quanti- dade de unidades produtivas industriais presentes em seu território. Já são mais de 2.890 indústrias e 54 unidades em meio rural, com 6.662 prestadores de serviço e 11.835 estabelecimentos comerciais. O parque industrial localizado em Bonsucesso integra esse processo. Mas como foi que ele começou? Bem antes dos 500 anos de dominação, ex- propriação dos territórios indígenas e exploração

nida. Foto: AHCG. nida. Foto: da sua força de trabalho, prevaleciam as atividades fi dos indígenas coletores Maromomi. Com o adven- to da chegada dos brancos colonizadores, instau- rou-se a escravidão para a extração de ouro e para o transporte de carga. Trabalho agrícola em Bonsucesso, data inde agrícola em Bonsucesso, Trabalho

41 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Antiga olaria do Bairro Água Azul, em 2010. Durante a transição do trabalho escravo principais acontecimentos econômicos verifi - para o trabalho “livre”, caracterizado pelo fi m cados no município. A partir do segundo mo- do tráfi co de negros africanos e pela chegada dos mento da industrialização, a região passou a ser imigrantes estrangeiros, Guarulhos reencontrou o fortemente infl uenciada pelo setor fabril e pela seu espaço na economia paulista, com a produção consequente expansão urbana que modifi cou a em larga escala de tijolos, telhas, areia, verduras, paisagem natural. lenha e frutas. A industrialização ganhou forte impulso no início do século XX, após as duas Para saber mais grandes guerras mundiais. 1. Guarulhos: Espaço de Muitos Povos – Prefeitura de Com exceção do primeiro momento da Guarulhos. Vários Autores. Editora Noovha América. industrialização da cidade, quando foram edi- 2. Identidade urbana e globalização. A formação dos múltiplos territórios em Guarulhos / SP. Carlos José Fer- fi cadas as primeiras indústrias ao longo da Es- reira dos Santos – Simpro Guarulhos. Editora Annablume. trada de Ferro Tramway da Cantareira (1911 3. Revirando a História de Guarulhos. Elói Pietá. Caja, 1992. a 1946), a região do Bonsucesso foi palco dos

Criança transportando mandioca colhida 42 no antigo Bairro dos Fontes (atual bairro Jardim Álamo). NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Indígenas coletores (Família Puri) aparentando os Maromomi. OS INDÍGENAS COLETORES E A POLÊMICA SOBRE UMA ALDEIA NO BONSUCESSO VELHO

Uma das várias polêmicas da história de Atibaia, fi cando apenas alguns poucos morando Guarulhos reside na questão da localização dos em volta da capela, que era um local de romaria. primeiros indígenas aldeados pelos jesuítas. Para O memorialista João Ranali admite que os memorialistas João Ranali, Adolfo de Vas- Nossa Senhora da Conceição fosse a padroeira concelos Noronha e Gasparino José Romão, que dos Guarulhos e dos Maromomi. Para ele, a aldeia escreveram sobre a história local, os indígenas dos Maromomi se localizava entre São Miguel e aldeados em 1560 foram os Guarulhos. a antiga região do Bonsucesso; e a dos Guarulho, Diferentemente dos memorialistas, possui fi cava na região central do município. Ranali, outra tese o pesquisador de história indígena Be- com base nessa constatação, escreveu: Manuel nedito Antônio Prezia. Para ele, os indígenas são Viegas, desde o Colégio de São Paulo, onde era os Maromomi, aldeados pelo jesuíta Manoel Vie- mestre de meninos, assegurava a catequese da gas no fi nal do século XVII. Para Prezia, baseado aldeia dos Moromomi que fundara, e onde ia de na documentação jesuítica (Serafi m Leite, His- visita, mas aspirava a residência estável. A resi- tória da Companhia de Jesus, v. 6, p. 503-504) dência abriu-se entre 1607 e 1610.(Serafi m Lei- e nas atas da Câmara de São Paulo (ACSP, v,), te). E esta residência, aberta em 1607, quarenta Guarulhos foi fundada com o nome de Nossa Se- e sete anos após o surgimento da Conceição dos nhora da Conceição dos Maromomi por volta de Guarulhos, só podia referir-se a outra Concei- 1607, sendo que este nome indígena foi mudado ção indiática, entre a de São Miguel e a nossa, para Guarulhos na década de 1630, passando a al- lá pelas bandas de Bom Sucesso ou Pimentas. deia a ser chamada de Nossa Senhora da Concei- (Ranali, Repaginando a História, páginas 31 e ção dos Guarulhos, situada onde hoje se encontra 32). Uma coisa é certa: a aldeia que existiu no a catedral. Bairro dos Pimentas, em território guarulhense, Com a expulsão dos jesuítas da cidade de também se chamava São Miguel, já pela proximi- São Paulo, em 1640, esses indígenas abandona- dade, já pela dependência para com os padres do ram em massa a missão, indo para a região de aldeamento homônimo.

43 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Segundo Benedito Prezia: não há nenhuma Outra informação preciosa que merece documentação que confi rme a existência de al- destaque é sobre a existência da sesmaria real deia no Bairro dos Pimentas. É uma leitura fan- de Ururaí (atual São Miguel Paulista), criada tasiosa da documentação dizer que havia duas em 1580. Levando em consideração o tamanho aldeias com o nome de São Miguel. Sobre os pon- médio das sesmarias, 6.500 metros quadrados, tos de vista acima mencionados, concordamos medida que vigorou em Portugal e foi transplan- com Benedito Antônio Prezia. tada para as terras colonizadas pelos portugueses Acreditamos que seja necessário aprofun- além-mar, conclui-se que parte do atual Bairro dar os estudos sobre a data de formação da aldeia dos Pimentas fi cava na sesmaria dos indígenas na Vila Moreira, que pode ser anterior a 1607, de São Miguel Paulista. inclusive podendo ser em 1560. Sobre a presença dos indígenas Guarulhos, é importante levar em consideração a escraviza- ção de indígenas na mineração de ouro em São Paulo, em fi ns do século XVI, bem como, sobre a distribuição de força de trabalho de cativos trazi- dos do Espírito Santo para trabalhar nas minas de ouro de São Paulo: Serra do Jaguamimbaba (Gua- rulhos), Pico do Jaraguá, Paranaguá, Parnaíba e Sorocaba. Para tanto, recorremos aos pesquisadores, Adolfo de Vasconcelos Noronha e Pedro Taques de Almeida Paes Leme. Segundo Noronha: (...) d. Francisco de Souza, governador geral do Bra- sil, entusiasmado com as descobertas de Afonso Sardinha, determinou ao capitão Arias, em de- zembro de 1598, que conduzisse duzentos índios para São Paulo (Guarulhos - Cidade Símbolo. 1880-1980 – página 43). Sobre o mesmo fato escreveu Pedro Ta- ques: Da Bahia saiu o senhor Francisco de Sou- za para a Capitania do Espírito Santo, de onde enviou duzentos índios para o lavor das Minas de São Paulo... (Notícias das Minas de São Paulo – página 34). Na informação dada por Noronha, faltou di- zer que os indígenas eram do Espírito Santo. De acordo com nossa pesquisa, os indígenas Guaru- lhos habitavam o vasto território do Vale do Rio Paraíba do Sul, entre, os municípios de Campos dos Goitacazes, São Fidelix e parte do Espírito Santo. Em 1598, Guarulhos pode ter recebido in- dígenas para trabalhar nas lavras de ouro trazidos dessa região. Sobre a polêmica acerca dos indígenas Gua- Reconstrução e crânio de Luzia. rulhos ou Goarulho, constatamos que os mesmos Lagoa Santa – Minas Gerais. são originais do litoral norte do Rio de Janeiro. 44 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Em visita ao Município de Campos dos Goitaca- Tupi-Guarani, totalizando cerca de 1.500 habitan- zes, verifi camos que lá existiu o Distrito de Santo tes indígenas, alguns deles organizados em torno Antônio dos Guarulhos, criado pela decisão epis- da organização não-governamental Arte Nativa, copal de 3 de janeiro de 1759. Em 1890, o Distri- criada em 2006. to foi elevado à condição de Freguesia, receben- Sobre os indígenas Maromomi e a relação do o nome de Santo Antônio dos Guarulhos. Na com os primeiros habitantes do território brasi- cidade de Campos dos Goitacazes existe também leiro, com base nas pesquisas de Benedito Prezia o Distrito dos Guarus, como observa um pesqui- e do arqueólogo Walter Neves, concluímos que sador de história local: A origem do nome Guarus os Maromomi foram expulsos do litoral norte advém dos índios Guarulhos, tribo que habitava paulista pelos povos Tupi. Esses indígenas Tupi a região no século XVII. A mudança de nome de migraram para a costa leste, por volta do século Guarulhos para Guarus ocorreu há alguns anos, XIV, num movimento de expansão que lhes era por decisão dos poderes municipais, para pode- próprio. Os Moromomi, depois da expulsão, pas- rem diferenciar da denominação da cidade de saram a viver num território entre a Serra do Mar Guarulhos, no Estado de São Paulo. (Herbson e a Serra da Mantiqueira. Freitas, pesquisador da história de Campos). Ao contrário dos Tupi, que eram grandes Ranali, refl etindo sobre o etnônimo Gua- ceramistas, os Maromomi eram de tradição co- rulhos esclarece: E por que o nome Guarulhos? letora, não dominavam a técnica da cerâmica. O professor João Mendes Júnior diz: “(...) terem Falavam uma língua da família Puri, que era do sido eles trazidos” para estas paragens, procuran- tronco linguístico Macro-Jê. do esclarecer-lhes o nome, assim: Gu-arú-bo, que Estudos recentes chamam atenção para o signifi ca trazidos, composto de gu (recíproco), aru fato de que os Maromomi, por serem de tradição (trazer) e bo (breve) para formar o supino. coletora, podem ser descendentes de povoadores Guarulhos, indicativo do modo de estar. E do território brasileiro que viveram em Minas alicerça a sua assertiva no fato de não haver, em Gerais, o chamado “homem da Lagoa Santa”, Tupi-Guarani, a letra L e muito menos o dígrafo etnia de origem africana que chegou ao Brasil há lh (...) Sobre a defi nição, cabe destacar que o pro- mais de 12 mil anos atrás. Dessa primeira cor- fessor João Mendes Júnior não era linguista. Com rente migratória, o fóssil mais antigo encontra- o advento da colonização portuguesa no território do é o de uma mulher, batizada com o nome de e a disseminação da Língua Geral Paulista, mis- Luzia, para lembrar um outro fóssil importante tura de Tupi, Guarani e Português, e que foi fa- encontrado na África e que recebeu o nome de lada pelos bandeirantes, verifi ca-se também uma Lucy. Estes “primeiros brasileiros” espalharam- expansão da língua e cultura Tupi em regiões do se pelo território nacional, em um processo de sertão antes dominadas por indígenas de língua migração que levou, inclusive, a ocupar deter- Jê. Como esta língua foi falada até o fi nal do sé- minadas regiões do litoral paulista, como Ca- culo XVIII em toda a região paulistana, ainda raguatatuba, que era conhecida no século XVII hoje podem ser encontrados vocábulos Tupis em com o nome de Enseada dos Maromomi. território guarulhense, como Itaberaba, Cabuçu, Guaraçu, Capuava, Pirucaia e Baquirivu Guaçu, entre outros. Para saber mais O processo de migração campo-cidade, 1. Repaginando a História. João Ranali. SOGE – Faculdades Integradas de Guarulhos, 2002. derivado da industrialização do Brasil, trouxe, 2. Conversão dos Cativos. Benedito A. Prezia. Nhanduti nestas últimas décadas, para o município mais Editora, 2009. 3. Guarulhos: 1880 – 1980. Adolfo de Vasconcelos Noro- de uma dezena de etnias indígenas, sobretudo nha e Gasparino José Romão. Prefeitura de Guarulhos e originários do Nordeste, como os Pankararu, os Academia Guarulhense de Letras,1980. Pankararé, os Xukuru, os Wassu-Cocal, além de 45 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

46 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO A MINERAÇÃO DE OURO EM BONSUCESSO As histórias, os mitos e as lendas estão nha e seu fi lho do mesmo nome, foram os que presentes nos espaços físicos e humanos da atu- tiveram a glória de descobrir ouro de lavagem alidade. Já se disse que por trás de uma lenda nas serras de Jaguamimbaba e de Jaraguá, em existe alguma verdade. Se pensarmos nos nomes São Paulo, na de Voturuna, em Parnaíba e na das localidades da cidade de Guarulhos pode- Biracoiaba, no Sertão do Rio Sorocaba, ouro, mos fi car curiosos pelas coincidências com a prata e ferro, pelos anos de 1597. (Arquivo sua história. Partindo de antigos caminhos e dos da Câmara de São Paulo. Quadro de Ref. ttº. cursos fl uviais utilizados no período colonial, 1.600, página 36 v.). pode-se encontrar algumas pistas sobre sua ori- Além do etnônimo Bonsucesso são bas- gem e formação. tante expressivas outras palavras da época da O Rio Tietê, seus afl uentes e tributários, mineração de ouro. Em Vila Carmela existe a como é o Rio Baquirivu Guaçu, guardam lem- Rua Serra do Ouro; na Água Azul a Estrada branças que ajudam a entender algumas pecu- Morro Grande; o Morro Nhanguaçu; os Ribei- liaridades do passado colonial dessa e de outras rões Tomé Gonçalves, Guaracau, Pedregulho, cidades paulistas. Jaguari, Tuiá e das Lavras, o Campo dos Ouros, Os rios, percorrendo longos caminhos até além do garimpo de ouro do Jardim Hanna, por desaguar no mar, ou em outros rios, sulcam o exemplo, localizado entre o Rio Baquirivu Gua- relevo, as entranhas dos solos e das rochas, çu e o Ribeirão das Lavras. atravessam galerias subterrâneas, arrastando O segundo parágrafo dos escritos de El- os mais diversos minerais. Dentre estes, os mi- mano relata a importância dos caminhos e dos nerais metálicos [ouro] que, por serem mais pe- cursos fl uviais para a mineração de metais pesa- sados do que a água e a areia, são carregados dos [ouro]. Nesse sentido, a história da região do mais lentamente pelas águas, deixando boa parte Bonsucesso é das mais ricas em exemplos. O Rio desses minerais no fundo dos rios, formando de- Baquirivu Guaçu, afl uente do Tietê, recebe todas pósitos de sedimentos que, no primeiro século da as águas das nascentes da Serra do Itaberaba. Os história colonial, eram ricos em ouro de aluvião. cursos d’água mais conhecidos são: os ribeirões (José Elmano de Medeiros Pinheiro, Guarulhos das Lavras, Tanque Grande e Tomé Gonçalves. Tem História, página 74.) O ouro de lavagem depositado nas vazan- São muito esclarecedoras as palavras do tes dos rios Baquirivu Guaçu, Baquirivu Mirim geógrafo José Elmano, membro do Movimento e Tietê, no trecho entre Guarulhos e São Paulo, Guarulhos Tem História. Em que pese o fato de é originário da região aurífera de Guarulhos. As que muitas lendas sejam apenas lendas, no caso informações mais antigas sobre a mineração de da mineração de ouro em Guarulhos e na região ouro de lavagem em São Paulo datam de 1526, do Bonsucesso a realidade confi rma a lenda, a quando da incursão de Aleixo Garcia. Em 1531, começar pela toponímia do território. ocorreu a segunda expedição ofi cial comandada Nossa Senhora do Bonsucesso, por exem- por Pero Lopes. plo, foi a santa protetora dos mineradores de A partir de 1552, cartas do bispo d. Pero ouro na Serra do Itacolomi, em Minas Gerais, Fernandes Sardinha e dos padres Manoel da Nó- atividade iniciada há mais de 100 anos após a brega e José de Anchieta citam achados em Ja- descoberta de ouro em Guarulhos e na região raguá, Pirapora do Bom Jesus, Sorocaba e Gua- do Bonsucesso. Conforme Pedro Taques de rulhos. Aureliano Leite também relata que Braz Almeida Paes Leme, a descoberta de ouro em Cubas encontrou ouro na margem esquerda do Guarulhos aconteceu em 1597. Afonso Sardi- Rio Tietê, em 1560.

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Jornal “A Gazeta” de 15 de abril de 1958. Reportagem sobre as lavras de ouro de Guarulhos. CAMINHOS O primeiro caminho dos colonizadores saber que foram os primeiros e, até princípios do rumo à América do Sul foi o mar. O segundo fo- século XIX, os únicos da zona norte, pelos quais ram os rios, vias de acesso mais seguras em bus- se ia para Juqueri [Mairiporã], Atibaia, Nazaré, ca das jazidas de ouro. Guarulhos possui em seu Bragança, Cuiabá (Mato Grosso), Minas Gerais, território três rios: o Tietê, o Baquirivu Guaçu e o Goiás, Vale do Paraíba, Rio de Janeiro. Cabuçu de Cima. Duas das maiores riquezas his- “A Estrada Geral (de Guarulhos a Bonsu- tóricas da região do Bonsucesso são: o Rio Ba- cesso) também foi aberta por volta de 1600, pois quirivu Guaçu e as antigas estradas que interliga- servia às minas de ouro. A princípio, houve três vam a região aos atuais Estados de Minas Gerais, grandes ramos, tributários da Estrada Geral: o ca- Rio de Janeiro e as cidades paulistas. minho das Lavras Velhas do Geraldo, que partia O ouro das minas de Guarulhos e São Paulo de Bonsucesso; o das Catas Velhas, que ligava era transportado para Santos ou pelo Vale do Pa- a Estrada Geral em meio ao trajeto Guarulhos- raíba. Nas margens das estradas existiam as para- Bonsucesso; e deste último, à esquerda, nascia o das dos tropeiros. Arujá, Bonsucesso, Capelinha, terceiro ramo, que ia para o Tanque Grande, na Sete Pontes [Parque Cecap] e Córrego dos Cava- Serra do Bananal”. los eram algumas das paradas da Estrada Geral. Atualizando as citações de Noronha, ve- Desde a antiguidade, as cidades, as vilas e mos que o trecho da Estrada Geral de Guarulhos a os bairros se formaram às margens das estradas Bonsucesso corresponde à Rua Dom Pedro II e às e dos locais de fácil abastecimento de água. A vila rural do Bonsucesso se benefi ciou dos dois Para saber mais

fatores para se constituir em uma das localidades 1. Genealogia Geográfi ca e História no Espaço Paulista: O mais antigas da história de Guarulhos. O Rio Ba- Bairro de Itaquera – As Minas de São Paulo. José Elmano de Medeiros Pinheiro Trabalho de Graduação – USP. 2000. quirivu Guaçu e a Estrada Geral foram essenciais 2. Estradas Reais – Introdução ao Estudo dos Caminhos para a formação e consolidação rural e urbana. do Ouro e dos diamantes no Brasil. Márcio Santos. Editora Estrada Real. Segundo Noronha: (...) para se aquilatar o 3. Tropas e Tropeiros na Formação do Brasil. valor histórico dos caminhos guarulhenses, basta José Alípio Goulart. Temas Brasileiros.

48 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Avenidas Monteiro Lobato e Papa João Paulo I. O da a defi nição de um morador de Planaltina. caminho das Lavras Velhas do Geraldo é a Estrada (...) Estrada Geral era aquela que ninguém do Morro Grande. O caminho das Catas Velhas, se perdia, já que o seu trajeto sempre chegava a em Cumbica, que atravessava a Base Aérea e o um povoado ou vila. (A Estrada Geral na Histó- Aeroporto, saindo no Jardim São João, correspon- ria, de Erasmo de Castro). de à Estrada Guarulhos-Nazaré. O ramal à esquer- Assim, nos primórdios da mineração de ouro, da, no Jardim São João, tem o nome de Rua Juarez a história de Guarulhos e da região do Bonsuces- Távora (via de ligação da Estrada do Saboó). so andam juntas. Devido à importância que teve a Os acessos para Minas Gerais, Mato Gros- mineração de ouro em Guarulhos, e especialmente so e Goiás se davam pela Estrada do Saboó e pela em Bonsucesso, encontra-se em discussão em Gua- Estrada Velha de Nazaré Paulista, por cima da rulhos e em São Paulo a implantação do Geopar- Serra da Mantiqueira, ramais que se encontravam que do Ciclo do Ouro de Guarulhos, bem como o no Portão, conforme mapa da mineração ao lado. tombamento do Sítio Arqueológico do Garimpo de O acesso para o Rio de Janeiro e demais ci- Ouro do Ribeirão das Lavras, pelo Condephaat. dades do Vale do Rio Paraíba era a Estrada Geral, Na economia fi duciária, a riqueza de um passando pelos atuais municípios de Arujá e Santa país se media pela quantidade de ouro que pos- Izabel, entre outros. Para o litoral paulista, passa- suía. Em 1447, na cidade de Gênova, na Itália, de- va-se por Itaquaquecetuba e Mogi das Cruzes. Em cidiu-se que todos os pagamentos fossem efetua- Itaquaquecetuba ainda existe um trecho da Estrada dos em ouro. Teria sido esse o principal elemento Velha do Bonsucesso. Achamos bastante apropria- propulsor da mineração no Período Colonial.

AVENIDA PAPA JOÃO PAULO I E MONTEIRO LOBATO – TRECHOS DA ANTIGA ESTRADA GERAL, LIGANDO AS LAVRAS DE OURO. Paulo, era a mais antiga via de acesso ao sertão das Minas Gerais, à época do Brasil Colônia, através da qual haviam passado as inúmeras bandeiras até os afl uentes superio- res do Rio São Francisco. O Caminho de São Paulo foi objeto de muitos relatos, entre eles o Itinerário de Glim- mer e o Roteiro do Padre Faria, que o deno- mina como Estrada Real do Sertão. Originado numa antiga trilha indígena, percorrida pelos índios Guaianases, era primitivamente co- nhecida como Trilha dos Guaianases. Com a abertura do Caminho Novo, por O trajeto iniciava-se na altura da atual Magé e Petrópolis, na Capitania do Rio de Janei- Jundiaí, passava por São Paulo de Piratinin- ro, a ligação entre Guaratinguetá e o Caminho ga e alcançava as margens do Rio Paraíba Velho, para Minas Gerais, fi cou obsoleta. Entre- do Sul, onde, em função do garimpo, se cons- tanto, em Santa Anna e em Conceição (Guaru- tituíram diversos arraiais - Mogi das Cruzes lhos), ainda era praticado um caminho por São (que posteriormente declinaria em favor de Pedro, Sapucaí e a Serra de Mogi-Açu, percurso Guarulhos, gerando uma variante do per- mais curto para os paulistas atingirem as Minas curso), Jacareí, Taubaté, Pindamonhangaba Gerais e as trilhas para Goiás e Mato Grosso. e Guaratinguetá, que até ao século XVIII se O chamado Caminho Geral do Sertão, constituiu o maior entroncamento viário da re- Caminho dos Paulistas ou Caminho de São gião Centro-Sul da Colônia.

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Quadro que retrata a casa de Felício Marcondes Munhoz. FAZENDA DO BONSUCESSO: NOTÍCIAS SOBRE OS NOVOS E ANTIGOS PROPRIETÁRIOS De fazenda a pequenos lotes urbanos, ter- Francisco Cubas Preto e os Bueno – Em ritório tantas vezes modifi cado por diferentes 1710, consta que os indígenas escravizados, bem personagens. Quais fatores foram determinantes como a capela de Nossa Senhora do Bonsucesso, para tamanha mudança e quais as implicações so- encontravam-se sob o poder de Amador Bueno ciais, culturais e ambientais desse processo? Em da Veiga, controle obtido após a morte de Brígida que ano teria começado a formação da fazenda? Sobrinha, a última fi lha de Francisco Cubas Pre- Como vimos no tópico sobre a mineração, to. Sobre a presença da família Cubas na história a história da região do Bonsucesso foi muito in- da fazenda e também sobre a criação das chama- fl uenciada pelo ciclo do ouro em São Paulo e em das “aldeias reais”, relata John Monteiro: Minas Gerais. Aos caçadores de ouro não im- Por volta de 1660, a Câmara de São Paulo portava tanto o tamanho da propriedade, mas a passou a permitir a ocupação das terras da Ses- quantidade e o controle das riquezas minerais, maria de Ururaí, que havia sido dada pela Coroa muitas vezes contidas em uma pequena gleba portuguesa como propriedade à aldeia indígena chamada garimpo. de São Miguel, desde 1580. A partir daí, passou Com o passar do tempo, o conceito de rique- a ser ocupada por colonos de origem portugue- za no Brasil foi mudando. Rico passou a ser aquele sa e por bandeirantes... O fazendeiro Francisco que tinha grandes extensões de terras rurais. Por Cubas, proprietário de muitas terras e índios meio da distribuição das cartas de sesmaria, de nesta região, mandou construir a primeira Cape- 1534 a 1822, teve início a formação dos latifúndios la de Nossa Senhora do Bonsucesso por volta de no Brasil. A Fazenda Bonsucesso foi um deles. 1670.... (Negros da Terra, página 141). Entre os ex-proprietários da Fazenda do Em 1612, Geraldo Correia Sardinha recebeu Bonsucesso encontramos os nomes de Francis- uma carta de sesmaria para explorar ouro nas pro- co Cubas Preto, Amador Bueno da Veiga, João ximidades do Ribeirão Baquirivu Guaçu. Sobre Álvares de Siqueira Bueno, Antônio Xavier esse assunto, quem nos orienta é Sílvio Bontem- D’Ávila, Felício Marcondes Munhoz e Estevam pi: Aquelas terras eram muito procuradas e para Dias Tavares. a sua direção voltaram-se muitos colonos, atraí- 50 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO dos em 1612 pelo prosperar de Geraldo Correia João Álvares de Siqueira Bueno – Em Sardinha, então empenhado na exploração das seu testamento, datado de 1904, consta que era minas de ouro descobertas nas proximidades do herdeiro de extensa propriedade que ia além de Ribeirão Maquirobu, atual Baquirivu. Bonsucesso e chegava ao Parque Cecap (antigo Bontempi informa também que um cer- Sete Pontes), englobando a Base Aérea de Cum- to Bartolomeu Bueno tornou-se confrontante de bica, o Aeroporto, a Cidade Satélite Industrial de Correia Sardinha também em São Miguel, com Cumbica e as fazendas Bananal (atual casa da título transladado em 15 de março de 1611. É Candinha) e Tanque Grande. dessa mesma data o traslado da carta de sesmaria João Álvares nasceu em Guarulhos no dia 12 de Amador Bueno, concedida pelo Capitão Gas- de julho de 1834. Foi eleito deputado provincial par Coqueiro em fevereiro de 1611.... por São Paulo em 1880. Há relatos de que traba- Em consulta ao testamento de Francisco lhou nos bastidores para a elevação da Freguesia Cubas Preto, datado de 1672, como também ao de Nossa Senhora da Conceição de Guarulhos à seu inventário (1673), não encontramos o nome condição de Vila, ocorrida nesse mesmo ano. de Brígida Sobrinha, citada como fi lha de Cubas Atuou como fabriqueiro (mantenedor) da Igreja do na disputa da Fazenda do Bonsucesso contra Bonsucesso, tal como seu pai, Bonifácio de Siquei- Amador Bueno da Veiga, em 1710. Quanto aos ra Bueno (1806-1880). Faleceu em 1912. Bueno mencionados por Bontempi, são eles: Bartolomeu Bueno da Ribeira e Amador Bueno Antonio Xavier D’Ávila – Um informativo da Ribeira. O primeiro foi casado com Maria Pi- sobre a história da Paróquia do Bonsucesso dá conta res, tataraneta do cacique Piquerobi, o maioral de que, em 1800, a atual Igreja de mesmo nome, de Ururaí; o segundo chegou a ser aclamado rei bem como a Capela de São Benedito dos Homens de São Paulo, em 1641. Pretos, foram construídas a mando de Antônio Xa-

Casa de D. Neiza (à direita da Igreja), antigo espaço da casa de Felício Marcondes Munhoz.

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Rua Direita [São Paulo]. (Infor- mativo Sincomércio, nº. 16 – junho de 2007. Entrevista concedida por Neiza Marcondes Munhoz e seu fi lho Fábio Marcondes Menino). Com a Proclamação da Re- pública, em 1889, e a dissolução das Câmaras de Vereadores em todo o País, uma junta de quatro intendentes (equivalente na épo- ca para o cargo de prefeito) foi nomeada pelo governo provisó- rio para administrar a então Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos. Felício Marcon- Rodão manual de ralar mandioca da antiga fazenda onde des Munhoz era um desses in- situa-se o atual Jardim Álamo. tendentes. Restabelecido o fun- vier D’Ávila. Após consulta a livros e trabalhos cionamento das Câmaras, foi eleito vereador em acadêmicos, encontramos apenas duas menções oito ocasiões e escolhido pelos próprios colegas ao seu nome: uma menciona que foi Juiz de Paz de vereadores para ser presidente da Casa, cargo que Guarulhos, a outra, que era fazendeiro na região. exerceu entre 1892 e 1919. Na época do meu bisavô, conta Fábio, a Felício Marcondes Munhoz e Estevam Fazenda do Bonsucesso tinha 100 alqueires. Dias Tavares – Sobre Felício Marcondes Mu- Estevam Dias Tavares era professor da Vila do nhoz, ouvimos o relato de sua neta, d. Neiza, Bonsucesso Velho e dono de uma pequena chá- moradora há mais de 80 anos na Praça de Nossa cara, que fi cava do lado da Capela de São Be- Senhora do Bonsucesso: nedito. Até hoje existem os alicerces da casa de O meu avô tinha plantações de uvas, fazia taipa dos Tavares onde eu brincava. vinhos, fazia plantações de mandioca para fazer Tudo leva a crer que a fazenda loteada pela farinha de mandioca. Aqui, era grande a fábrica Família Marcondes Munhoz era muito maior. A de farinha, era toda de madeira. Lembro quan- partir das décadas de 1940 e 1950, foi dividida do eu trabalhei lá... Meu avô tinha também um em pequenos sítios, chácaras e lotes urbanos. alambique para produzir pinga. Quanto aos impactos sócioambientais causados A vila foi construída junto com a Igreja de pela transformação das terras indígenas em fa- São Miguel. O meu pai dizia que a festa aqui era zenda e posteriormente em bairros, basta lembrar do tempo do meu avô e durava o mês todo. Tinha das consequências da escravidão indígena e dos também no mês de abril a Festa de São Benedi- negros africanos, o aquecimento local e global, as to... os festeiros daqui eram famílias ricas... enchentes e as raízes da violência urbana. Era muito bonito e bom aqui pra viver. Não tinha ladrão, a casa fi cava aberta, janela aberta, todo mundo até meia-noite, vizinhos, pai, mãe, con- Para saber mais versavam na rua, as crianças brincavam, brinca- 1. O bairro de São Miguel Paulista. Silvio Bontempi. 2. Testamento e Inventário de Braz Cubas Preto. deiras de anel, pular corda... Tudo com as crianças Arquivo do Estado Vol. XVIII. com 10, 11 anos... Só depois vendeu uma parte do 3. Negros da Terra. Índios e Bandeirantes nas terreno, em tantas vezes, a perder de vista, que a Origens de São Paulo. John Manuel Monteiro. 1994. gente tinha de ir buscar a prestação de bonde, lá na 52 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

O guardião da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso A Igreja de Nossa Se- Cândida Rodrigues Barbosa nhora do Bonsucesso tem (1902-1970), mais conhecida uma característica especial: como dona Candinha, perso- é a única igreja em Guaru- nagem muito conhecida na lhos que ainda abriga restos região do Jardim São João e mortais humanos, prática co- que será melhor estudada em mum no Período Colonial e outro volume desta coleção. Imperial e abolida em 1820. Bonifácio de Siqueira Trata-se dos despojos de Bueno faleceu em 4 de feve- Bonifácio de Siqueira Bueno reiro de 1880, sendo sepulta- (1806-1880), rico fazendei- do junto ao altar-mor da igre- ro, professor primário, “fa- ja. Posteriormente, em 1903, briqueiro”, mantenedor da seu fi lho, João Álvares, por igreja e antigo morador da Bonifácio de Siqueira Bueno. ocasião de reforma da igre- Fazenda Bananal. Sua ge- ja, mandou erigir uma capela nealogia é ligada à história de São Paulo e (Capela de São Bonifácio) ao lado do altar- vale a pena ser conhecida. mor, onde até hoje repousam os despojos de Nascido em 19 de julho de 1806, Boni- seu pai. Embora a capela esteja inativa há um fácio era fi lho do guarda-mor Antônio Bueno projeto para reativá-la. da Silveira, nascido em 1766, e de dona Anna Joaquina de Castro (1768-1836), e sobrinho– Fonte: LEME, Luiz Gonzaga da Silva, Ge- neto de Amador Bueno da Veiga (1650-1719), nealogia Paulistana, Editora Duprat, 1905. que por sua vez, foi bisneto de Amador Bue- no da Ribeira (1584-1649), o homem que em 1641 foi aclamado “rei de São Paulo”. É interessante salientar que seu hep- ta–avô (7o), Bartolomeu Bueno da Ribeira, conhecido como O Sevilhano, foi casado com Maria Pires, fi lha da índia paulista Mecia-Assu, depois batizada pelo padre José de Anchieta (1533-1597) como Mécia Fernandes. Mecia-Assu era bisneta do cacique Pi- queroby, chefe dos índios Ururays que habita- vam a margem esquerda do Rio Tietê, na re- gião entre os bairros de São Miguel e Penha. Mecia-Assu também era prima em terceiro grau da índia Bartira, fi lha do cacique Tibiriçá (irmão de Piqueroby) e mulher de João Rama- lho (1493-1580), o fundador de Santo André. Também merece destaque a genea- logia descendente de Bonifácio de Siqueira Bueno. Foi ele pai do doutor João Álvares de Siqueira Bueno (1834-1912), deputado provincial de São Paulo e um dos principais responsáveis pela elevação de Guarulhos à categoria de Cidade, em 1880. Bonifácio também foi avô de Olegário de Almeida Barbosa (1878-1932), marido de João Álvares de Siqueira Bueno.

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Bonsucesso Velho. Casa de tijolo e taipa de mão situada na Praça de Nossa Senhora do Bonsucesso. Foto: AHCG - Data indefi nida. ITALIANOS E ALEMÃES NA HISTÓRIA DO BONSUCESSO Certamente a geração de hoje nunca ouviu No transcorrer dos quatro primeiros sécu- falar da olaria de Felipe Romano, local de fabri- los da história de São Paulo, as construções eram cação de tijolos que fi cava em frente ao Cemitério feitas, basicamente, de taipa de pilão. A taipa foi do Bonsucesso. Ou da olaria do Zé Italiano, que adotada em São Paulo por quase 400 anos pe- existiu em frente à entrada da Vila Carmela. Ou los colonizadores portugueses, por ser um modo mesmo da olaria de Valadar Dehin. É a presença construtivo muito barato e duradouro. A constru- dos descendentes italianos e alemães na história ção em taipa demanda: terra, água, capim, madei- do Bonsucesso. ra e pedra, essencialmente. Quando se olha de frente do Cemitério do Das três técnicas construtivas mais usadas Bonsucesso, avista-se uma lagoa e a ocupação nos últimos séculos no Brasil, Bonsucesso pode Anita Garibaldi. O que teria sido aquele lago no ser incluído como estudo de caso. Em seu con- passado e qual a sua serventia? O que esses fato- junto arquitetônico percebe-se, construções em res, a cava de areia que virou lago e as olarias têm taipa de pilão, tijolos cozidos e materiais à base a ver com a história de modo geral, e especial- de argamassa de concreto armado. mente, com a região do Bonsucesso? Das muitas edifi cações de taipa de pilão, que Uma das muitas formas de se revelar a his- existiram na região do Bonsucesso, ainda se en- tória de uma localidade é a leitura que pode ser contram a Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso feita, partindo da observação dos materiais e do e a parede da frente da Igreja de São Benedito dos uso das técnicas construtivas, adotadas nas edifi - Homens Pretos. Igrejas dos brancos colonizadores cações de casas, igrejas, Câmaras de Vereadores, e dos negros escravizados, que em comum tinham cemitérios e fábricas, por exemplo. Nesse senti- apenas a taipa de pilão e as coberturas com telhas. do, Bonsucesso constitui uma raridade na história No casario da vila é possível observar residên- do Brasil. cias de tijolos cozidos, certamente os mais antigos 54 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO do território guarulhense. O período industrial modi- fi cou a confi guração social da região, bem como, os materiais construtivos, aspectos que trabalharemos no período industrial e na migração nacional. A primeira notícia a respeito da instalação de uma olaria em São Paulo data de 1575, produzia- -se basicamente telhas. A produção de tijolos cozi- dos em larga escala teve início por volta de 1870, a partir da chegada dos imigrantes italianos no inte- rior paulista, nas fazendas de café. Em Guarulhos, o primeiro exemplar de tijolo consta de 1884. Na época, os barões enfrentavam proble- mas com a destruição do terreiro de secagem do café. Os terreiros se estragavam constantemente com as chuvas. Veio dos imigrantes italianos a solução do uso do tijolo cozido como piso de re- vestimento. Do uso nos terreiros às construções de paredes não levou muito tempo. Quanto à importância do tijolo cozido em São Paulo, veja as palavras da pesquisadora Clara Correia D’Alembert: A expansão ferroviária na década de 1860 e a imigração estrangeira trazem, principalmen- te, alemães e italianos que colaboraram muito para a difusão do uso da alvenaria de tijolos no Estado de São Paulo. As fazendas de café do in- terior paulista foram pioneiras na utilização do tijolo em suas instalações, principalmente nos terreiros de secagem de café na primeira meta- de do século XIX. Os cafeicultores importaram para as cidades a novidade tecnológica do tijolo, que tão bem solucionaram problemas técnicos e construtivos nas suas fazendas. Água, argila, areia, madeira e pedra, condi- ções naturais existentes nas várzeas dos rios Tiete, Cabuçu de Cima e no Baquirivu Guaçu em Gua- rulhos e na Região do Bonsucesso, bem como a proximidade com São Paulo e o Vale do Paraíba, possibilitou a diversifi cação das atividades eco- nômicas no Bonsucesso, tendo como produtos, a extração de areia e a produção de tijolos cozidos. O uso do tijolo cozido no município e nas demais cidades do entorno, largamente utilizados em construções de casas, galpões industriais, vi- las operárias, igrejas, prédios públicos, pontes e Pipa de amassar barro, movida a tração animal. etc., fez surgir muitas olarias em Guarulhos. Olaria do Valadar, em 2010. 55 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Na região do Bonsucesso, através de rela- As olarias diversifi caram as atividades eco- tos orais e imagens fotográfi cas, percebe-se que nômicas em Guarulhos e também a composição foram muito signifi cativas as atividades oleiras e social da região do Bonsucesso que, em processos a extração de areia. Os fornos de olarias melhor anteriores, contava com as presenças indígenas, preservados de Guarulhos se encontram na região dos brancos colonizadores, dos negros trazidos da do Bonsucesso, na margem esquerda do Ribeirão África e, a partir de então, com os imigrantes euro- das Lavras na Ponte Alta, Bairro Água Azul e na peus, como visto italianos e alemães. Estrada Albino Martelo. O lagoão existente em frente ao Cemitério do Bonsucesso era uma cava Para saber mais de areia, propriedade do oleiro Felipe Romano. 1. O tijolo nas Construções Paulistanas do Século XIX. No Jardim Presidente Dutra existiu um dos maio- Clara Correa D´alambert. 1993. 2. Os Antônios. A História da Imigração no Estado de São Paulo. res portos de areia de Guarulhos. Levi Araújo. 2006. (Capítulos sobre os Imigrantes Italia- Analisando a constituição dos solos da região, nos e Alemães). 3. Fragmentos da Memória de uma Cidade – Guarulhos. observa-se que é farto em argilossolo e latossolo, João Machado e Antonio Cerveira Moura, 2005. tipo de recurso natural rico em argila e areia.

Lagoa do Bonsucesso, antiga cava de extração de areia e argila para produção de tijolos e telhas em olaria.

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Primeiras famílias japonesas cultivando hortaliças no Bonsucesso. Foto: AHCG (data indefi nida). OS JAPONESES NA HISTÓRIA DO BONSUCESSO Ao entrar no Cemitério do Bonsucesso po- trabalhar em fazendas no interior de São Paulo. dem ser observadas muitas lápides com nomes Em 1923, Naoê Sonoda, vindo de Andradina, japoneses. Ushi Higa, Fakeshi Motonaga e sobre- chegou a Guarulhos e se estabeleceu no Bairro do nomes como: Izumi, Fushimi, Matsushita, Naka- Macedo, onde comprou uma gleba de terra. O se- ta, Sugahora, Mori, Moshizuki, Koguti, Legouri, gundo fl uxo de imigração japonesa do interior de Jyuzan, Yogi, Nakamura, Maeda, entre outros. São Paulo para Guarulhos aconteceu em 1927. Em O mais velho sepultado é o senhor Ushi 1932, já com mais de 50 familias radicadas em Gua- Higa, que nasceu em 5 de abril de 1891 e faleceu rulhos, é fundada a Nipponjinkai Associação Cultu- em 22 de junho de 1981. Por que os japoneses ral Japonesa, com objetivo de ensinar a língua aos vieram para Guarulhos e depois para o Bonsuces- fi lhos de japoneses e reunir os jovens para diversão. so? Quais suas principais contribuições na eco- Pouco tempo depois, Tatsukiti, pai do fo- nomia, no esporte, na gastronomia, nas questões tógrafo Massami Kishi, funda outra Associação religiosas e culturais dos bairros da região? Cultural Japonesa, justifi cando ter sido discrimi- Em 2008, a comunidade nipônica radicada nado na Associação Nipponjinkai. Em 1934, cer- no Brasil comemorou 100 anos da chegada dos ca de dez famílias produtoras de tomate, mora- primeiros imigrantes ao Porto de Santos. Foram doras do Jardim Santa Francisca, imediações da muitos eventos comemorativos aos pioneiros da atual Praça IV Centenário, criaram uma coopera- imigração asiática que desembarcaram do navio tiva de pequenos agricultores. Kasato Maru na baixada santista. Entre essas pri- No contexto da economia brasileira, no meiras famílias se encontrava um jovem chamado início da década de 1930, a região metropoli- Naoê Sonoda, que na época viajou na condição de tana paulista começa ganhar força no mercado fi lho adotivo, por isso seu nome não consta da lis- de consumo urbano. A proximidade do Cintu- ta dos passageiros de 1908. Do Porto de Santos, rão Verde com a Capital e demais cidades, bem Naoê e as demais famílias, inicialmente, foram como o pequeno avanço nas técnicas agrícolas

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Cerimônia em frente à Casa Paroquial, na Praça Nossa Senhora do Bonsucesso. Presença do padre Carlos “Espanhol”, prefeito Waldomiro Pompêo e Môrio Sakamoto. empregadas nas plantações nas várzeas dos rios Sakamoto comprou um sítio de três alqueires na Baquirivu Guaçu, Cabuçu de Cima e Tietê, ele- região de Bonsucesso, na margem da Estrada de varam a produção que passa a abastecer o mer- São Miguel. Construiu uma casa e uma venda, cado com hortifrutigranjeiros. Tomate, batata, onde oferecia querosene para lampião, ferra- uva, alface, ovos, carne, passam a fazer parte das mentas e comida. Vendia para todos os caboclos refeições dos moradores das novas centralidades da região. Com os lucros obtidos na venda, foi urbanas. Principalmente, imigrantes asiáticos e comprando terras vizinhas e acumulou respeitá- muitos portugueses, benefi ciaram-se desse mer- veis 65 alqueires. (Kishi, página 172). cado paulistano em expansão. Sobre a presença, certamen- te, da primeira família japonesa em Bonsucesso, relata Massami Kishi: Sakamoto chegou ao Brasil em 1926... Sakamoto comprou... uma charrete em que levava seus fi lhos Tadayoshi, Katsumi, Mo- riô e os do vizinho para a escola. (Kishi, página 172). Naquela época, a falta de tecnologia obrigava o agricultor a plantar a batata num determi- nado espaço apenas uma vez, se quisesse uma colheita saudável. Os agricultores procuravam, então, terras que nunca haviam recebido uma plantação de ba-

tata. Na procura por terra nova, Esportistas que disputaram as Olimpíadas Colegiais Guarulhenses, em 1975.

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De acordo com Moriô Sakamoto, em sua Ao observarmos imagens fotográfi cas das entrevista ao Jornal Folha Metropolitana, citada olimpíadas ginasiais guarulhenses é perceptível no capítulo sobre as Origens do Bonsucesso, a fa- a presença da juventude nipônica de Bonsucesso mília Sakamoto chegou a Bonsucesso em 1929. no vôlei, xadrez e tênis de mesa. No início da década de 1930, Guarulhos tam- Sabemos que a história dos japoneses em bém passa a ser conhecida pela produção de batatas. Bonsucesso é muito mais rica em detalhes do Antes da chegada dos primeiros imigrantes asiáti- que foi retratado aqui. Nessas breves palavras cos à cidade o mercado era abastecido com batatas queremos despertar as gerações do presente e importadas da Argentina. Famílias como Morita, do futuro para a necessidade de ampliar o tema Norimatsu, Miyahara, Tokunaga, Fugita, Iemoto, pautado por nós. Kida, Nakagima e Sakamoto foram as pioneiras na produção de batata, tomates e hortaliças nas proxi- Para saber mais midades da várzea do Rio Baquirivu Guaçu. 1. Os Antônios. A História da Imigração no Estado de São A presença dos japoneses em Bonsucesso Paulo. Levi Araújo. 2006. pode ser observada em nomes de escolas, templos 2. Guarulhos Século XX - Imagens e História. Massami Kishi. 2007. religiosos, pontos comerciais, nomes de ruas, de 3. Corações Sujos. Fernando Morais. Cia. das Letras, 2009. bairros e no esporte, por exemplo.

Populares na cerimônia em frente à Casa Paroquial.

59 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! OS NORDESTINOS E OS REFLEXOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO NA HISTÓRIA DO BONSUCESSO Quando se passa pelas ruas da região do indústrias. Em 1940, havia apenas 61 estabeleci- Bonsucesso se depara com muitos traços do nor- mentos, empregando 535 pessoas. Em 1970, os deste brasileiro. Forró, xote, baião, por exemplo, é estabelecimentos industriais e comerciais eram muito comum se escutar os diferentes ritmos mu- 720, com 39.659 pessoas ocupadas no setor. sicais que extrapolam as residências e os bares. Não só isso. Nomes de ruas como: Vitória da Conquista, Anagé, Caculé, além da existência de inúmeras casas do norte que vendem produtos tipicamente do sertão nordestino como farinha, carne seca, fumo, feijão de corda, polvilho entre outras coisas. Por que tantas pessoas saíram do nordeste e vieram para cidades e bairros periféri- cos da Região Metropolitana de São Paulo? Para iniciar essa refl exão sobre a presença Fonte: Guarulhos, Nossa Cidade. Nossa Diocese. Centro de Animação Social nordestina em Bonsucesso, achamos apropriado Caritas Diocesana, Guarulhos, 1986. transcrever um subsídio elaborado pelo padre Raimundo Forget, pároco da Paróquia de Bon- Crescimento rápido da população – Além sucesso. Com isso, queremos prestar uma ho- do surgimento de muitas indústrias, a população menagem aos 60 anos de criação da Paróquia do cresceu entre 1970 e 1980 a um ritmo de 7,4 % ao Bonsucesso e ao autor da pesquisa. A Paróquia ano. Nos anos 1980 e 1986, com a crise econômi- do Bonsucesso foi criada em 1950, período de ca, é de supor que esse ritmo diminuiu um pouco. grande fl uxo migratório de nordestinos para São Paulo e Guarulhos, relata padre Raimundo: População Migrante – É claro que se a po- Se quisesse resumir a realidade de Guaru- pulação cresceu tão rapidamente não foi simples- lhos em poucas palavras, dir-se-ia o seguinte: é mente porque muitas crianças nasceram aqui no um município industrial com crescimento muito município, mas porque muita gente veio de ou- rápido, sem planejamento adequado, composto tras partes do Brasil. Com efeito, se a população por uma população migratória, cidade periféri- cresceu 9% a cada ano de 1940 até 1950, mais ca, onde existe uma igreja nova. de 10% a cada ano entre 1960 e 1970 e, depois Basta passar pela Rodovia Presidente Du- 7,4% até 1980, isto signifi ca que a grande maio- tra para constatar que se trata de um corredor in- ria veio de fora, expulsa muitas vezes do campo dustrial: da Ponte Grande à Aracília, somando os e atraídas pela grande cidade e as indústrias. Por dois lados da Dutra, conta-se na beira da estrada isso, em 1980, dos 532.724 habitantes de Guaru- mais de 80 indústrias. Porém, as fábricas não fo- lhos, 379.652 tinham nascido fora do município, ram construídas apenas às margens da Dutra. isto é, 71,3% das pessoas eram migrantes. Elas se espalharam por quase todos os bair- ros do município de Guarulhos. População operária e pobre – A grande Calcula-se que existem em Guarulhos mais parte da população, por ser formada de migran- de 924 indústrias entre pequenas, médias e gran- tes expulsos do campo, são pessoas pobres ou de des. As principais são do setor metalúrgico, mas poucas posses em geral. Dá para verifi car que a existem outros setores como o de produtos far- população, na grande maioria, consegue apenas macêuticos, borracha, químicos, dentre outros. É sobreviver e ter um pedacinho de terra com mui- bom lembrar como se deu o surgimento de tantas to custo. São bem poucos os bairros luxuosos de

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Guarulhos e são relativamente pequenos: Vila A partir dos anos 1940, São Paulo foi pal- Rosália, Vila Galvão, Parque Renato Maia. co de uma extraordinária expansão urbana e in- dustrial comparável a poucas cidades em âmbito Problemas habitacionais graves – De mundial. O início do grande fl uxo de migrantes acordo com dados da Prefeitura, Guarulhos teria nordestinos a Guarulhos começou com a constru- uma população de 85 mil pessoas morando em ção da Base Aérea de Cumbica, no começo da favelas. Mas, há um outro problema: os lotea- década de 1940, data correspondente às infor- mentos irregulares ou clandestinos, pois neles mações de Moriô Sakamoto e de Paulo Fontes. moram muitas famílias que por diversos moti- Outro dado a se considerar é o início da venda vos não conseguem o título de propriedade. A de lotes da Fazenda do Bonsucesso pela Empresa cidade cresceu de uma maneira desordenada, Mateu Bei, em princípios da década de 1950. com loteamentos espalhados, longe uns dos ou- Cabem maiores estudos sobre a presença dos tros, com muitos espaços vazios. imigrantes do Oriente Médio, bem como dos cha- Nos trechos do Subsídio Guarulhos Nossa mados bolivianos na região. Sobre os imigrantes Cidade, Nossa Diocese, publicado em 8 de de- do Oriente Médio, encontram-se em Bonsucesso os zembro de 1986, quanto à migração de nordesti- nomes de Ari Jorge Zeitune, patrono de uma escola nos para São Paulo, achamos bastante apropriada estadual, e Naim Jorge Zeitune, nome da estrada que a citação de Paulo Fontes: O impacto sobre São separa a região do Bonsucesso do Jardim São João. Paulo dos migrantes nordestinos, que chegaram A presença dos migrantes nacionais na re- à cidade no meio do século XX, foi tão grande gião do Bonsucesso pode ser notada em diversos quanto os efeitos produzidos pelos imigrantes aspectos do cotidiano da população. que vieram da Europa, do Oriente Médio e da Ásia, em décadas anteriores. Para saber mais Nos dois casos, os que dominavam a cidade 1. Guarulhos, Nossa Cidade. Nossa Diocese. 1986 incentivaram a vinda desses trabalhadores e suas 2. Um Nordeste em São Paulo. Paulo Fontes. FGV Editora. 2008 famílias, cuja mão de obra barata facilitou consi- 3. A (Re)produção do Espaço na Área Aeroportuária: o exemplo do Bairro Jardim Presidente Dutra. José deravelmente o notável crescimento econômico Rogério Correia. USP, 1994. de São Paulo.

Periferia da região, loteamento popular e moradias em favela.

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62 Matéria do Jornal “O Repórter de Guarulhos”, de agosto de 1979. NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

6 LUTAS POPULARES

A resistência das populações indíge- nas, negras e dos operários brasileiros e estran- geiros aconteceu, pelo menos, em dois níveis: na preservação de suas culturas como fatores es- senciais de resistência e nas lutas diretas contra o sistema. A primeira resistência veio dos indígenas, que não aceitaram docilmente a tentativa de alde- amento feita pelos colonizadores. Diante da insis- tência em aldeá-los e escravizá-los, em 1640, os indígenas Maromomi reagiram de forma violen- ta, ateando fogo em duas fazendas e expulsando seus proprietários. Com o advento da escravidão da população negra, podemos constatar, no mapa da mineração do município, a existência do Ribeirão dos Qui- lombos, no Pico Itaberaba. É provável que no lo- cal tenha existido um quilombo. A presença da Igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, no Centro antigo, e de São Benedito dos Homens Pretos, na vilinha do Bonsucesso Antigo, revelam uma expressiva organização dos afro-brasileiros em Guarulhos. Vista parcial do antigo Jardim Maringá, bairro que foi totalmente suprimido pela construção do Aeroporto.

63 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

A implantação da indústria na cidade trou- viu-se forçado a dar ouvidos a uma população que xe consigo a formação da classe operária e a ex- já se organizava na luta por moradia, transporte, pansão urbana de forma desordenada. No perí- asfalto, escolas, água encanada, esgoto e atendi- odo, surgem as primeiras lutas de bairros e em mento à saúde, entre outros serviços urbanos. locais de trabalho. Contrariando o mito de um A LUTA CONTRA A CONSTRUÇÃO operariado dócil, os trabalhadores rapidamente DO AEROPORTO amadureceram como classe e se organizaram em comissões de bairro, associações, partidos políti- Em 1979, com o início dos processos de de- cos, sindicatos e outras formas. sapropriação para a construção do Aeroporto In- A partir da década de 1970, aparecem no- ternacional, parte do território habitado, como o vas estratégias de organização entre os trabalha- Jardim Maringá, desapareceu, assim como alguns dores, com movimentos sociais voltados para a dos bairros vizinhos foram parcialmente suprimi- defesa dos direitos das mulheres, negros, homos- dos. Cerca de 8 mil pessoas foram obrigadas a sexuais, crianças e adolescentes, idosos, meio deixar suas moradias. ambiente, saúde, educação etc, todos com grande Por conta disso, eclodiu na região um movi- representatividade em Guarulhos. Especialmente mento social de resistência contra a implantação do na região do Bonsucesso, a luta contra a implan- Aeroporto, com destaque para a atuação de indiví- tação do Aeroporto e pelo abastecimento de água duos como o imigrante japonês Kan Kise (vereador tiveram grande destaque, conforme veremos. da municipalidade na legislatura de 1977/1982), além do senhor Brandão, ambientalistas de São MUITAS LUTAS NOS BAIRROS Paulo, entre outros. O movimento foi derrotado. Cinco bairros podem ser considerados os núcleos básicos das lutas sociais na região Breve histórico da construção do Bonsucesso: Jardim Presidente Dutra, Jar- do Aeroporto dim Triunfo, Vila Carmela, Ponte Alta e Jardim Em 1940, a área pertencente à em- Álamo. Formados a partir do fi nal da década de presa Marillis Ltda. e à família Guinle foi 1950, esses territórios foram ocupados ao longo doada para a implantação da Base Aé- do período em que a população urbana brasileira rea de São Paulo (BASP), inaugurada em saltava de 45%, em 1960, para 75%, em 1980. 1945. Sua fi nalidade era proteger o maior Durante esses 30 anos, o campo praticamente se centro industrial do Brasil durante a Se- esvaziou, enquanto as cidades explodiram. gunda Guerra Mundial. Observando-se a forma geográfi ca da re- Em 1968, o Ministério da Aeronáu- gião, vemos que esses núcleos se concentram tica contratou estudos destinados a resol- ver o grave problema de congestionamen- próximos ao Trevo do Bonsucesso, que é cortado to aéreo no eixo Rio-São Paulo, visto que pela Via Dutra, no limite com a região dos Pi- os aeroportos do Galeão (Rio de Janeiro) mentas, que por sua vez dá acesso a São Miguel e Congonhas (São Paulo) já se encontra- Paulista, já em território paulistano. Outro dado a vam saturados. A solução encontrada foi se ressaltar nesse sentido é que as características a construção de um novo aeroporto, tendo mais urbanas do território diminuem na medida como opções as áreas de Campinas, Cotia em que a sua ocupação se distancia da Via Du- e Caucaia do Alto, além de Guarulhos. Finalmente, em 1977, o Ministério da tra, sendo substituída por áreas de vegetação mais Aeronáutica defi niu o local para a instala- densa e preservada. ção do aeroporto, inaugurado no dia 20 de Surpreendido pela explosão demográfi ca janeiro de 1985, sob a administração da que se verifi cou no período, o Poder Público guaru- Empresa Brasileira de Infraestrutura Aero- lhense, marcado por uma tradição de atendimento portuária (Infraero). prioritário aos interesses particulares de uma elite,

64 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ÁGUA ENCANADA: UMA GRANDE VITÓRIA DOS LUTADORES NOS BAIRROS Assembleia de Deus e as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ligadas à Igreja Católica, e também organizações como o Grupo Fenix Ecologia, além de representantes de alguns partidos políticos. Em julho de 1984, uma comissão, acompa- nhada de uma manifestação, em frente à Prefeitura, entregou ao prefeito as 8.283 assinaturas que, colhi- das entre abril e junho, representavam as reivindica- ções de mais de 44 mil moradores de toda a região. No dia 4 de novembro, após várias assembleias e visitas frustradas à Prefeitura, cerca de mil manifes- Assembleia em frente à Igreja do Bonsucesso. tantes paralisaram a Via Dutra por três horas, com a Aproveitando a visibilidade da Campanha cobertura dos principais jornais impressos, rádios e da Fraternidade, organizada anualmente pela emissoras de televisão de São Paulo. Igreja Católica, e cujo tema daquele ano era Para Em dezembro veio a resposta do Serviço Au- que todos tenham vida, uma assembleia do mo- tônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Guarulhos: vimento escolheu como sua principal bandeira a poços artesianos seriam perfurados na região e, até luta por água encanada, uma das mais importan- março do ano seguinte, a água encanada chegaria a tes promessas feitas pelo então prefeito Oswaldo alguns bairros. Mas, a região do Jardim Triunfo tem de Carlos, durante a campanha eleitoral de 1982. uma peculiaridade de ordem geológica: uma enorme A mobilização dos moradores da região che- rocha existente no subsolo impede que as perfurações gou ao auge em 1984, momento em que a eles se alcancem os lençóis freáticos. Durante algum tempo juntaram instituições de caráter religioso como a os moradores foram atendidos por caminhões-pipa.

Matéria da Folha de São Paulo, de 5 de novembro de 1984.

65 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

66 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

7 HISTÓRIA DOS BAIRROS E SUAS ESCOLAS

O local onde habita e estuda nossa gente é retratado pelos modernos meios de comunica- ção social como inseguro e feio. As imagens tidas como belas mostram o círculo de convivência dos chamados incluídos no alto mercado de consumo. Os moradores dos bairros são “bombardea- dos” cotidianamente com notíciais sobre as periferias que só mostram o lado negativo: crimes, enchentes, assassinatos, assaltos, brigas, estupro, etc, raramente divulgando alguns aspectos vistos como positivos. Os programas campeões de audiência nada contribuem para o desenvolvimento de uma política de preserva- ção do patrimônio cultural e ambiental dos locais de moradia dos trabalhadores. A carência de informações sobre a história dos bairros e das escolas é tão grande que muitos participantes do seminário, evento que originou esta publicação, disseram que se fosse publicado apenas um breve relato histórico sobre os bairros e as esco- las já seria um grande avanço para o início de uma política de educação patrimonial no espaço escolar. A soma do trabalho de todos permitiu ir além da expectativa daqueles que se contentavam ape- nas com um resumo da história dos bairros e das escolas. Só se respeita aquilo que se conhece! Maquete do loteamento Jardim Presidente Dutra, implantado em 1958. Maquete do loteamento Jardim Presidente Dutra,

67 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLAS DA REGIÃO

68 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

VILA DO BONSUCESSO VELHO Vila ou “Vilinha” do Bonsucesso Velho é do Bonsucesso e da Capela de São Benedito dos a expressão recolhida entre os moradores mais Pretos, em 1800, o perímetro da vila fi cou maior. antigos da região. A referida “vilinha”, des- A construção da escola e da Sala dos Milagres, de tempos imemoriais, é uma centralidade que no meio da vila reduziu o espaço de atividades compreende atividades religiosas, comerciais e dos romeiros. culturais, além de importante acesso viário para Segundo depoimentos: aqui era dormi- a zona leste de São Paulo, Minas Gerais e Rio tório, era passagem dos tropeiros... tinha uma de Janeiro. O espaço conhecido como “Vilinha bela casa de pau-a-pique, tinha o barracão dos do Bonsucesso Velho”, no seu início, abrigava pobres que a Prefeitura tirou, ali d. Pedro per- um ramal da Estrada Geral, certamente a capela noitava. Meu pai dizia que ele trazia jarros de da fazenda, o pouso dos tropeiros, posteriormen- prata e depois ia para São Paulo, não era nem te, o Dia da Carpição e a realização da Festa de no Centro de Guarulhos que passava, era aqui... Nossa Senhora do Bonsucesso, eventos de cunho Informativo Sincomércio, nº 16 – junho de 2007. religioso e cultural realizados desde 1741. Com Entrevista com Neiza e Fábio – familiares de Fe- a construção da atual Igreja de Nossa Senhora lício Marcondes Munhoz. ESCOLA ESTADUAL “ESTEVAM DIAS TAVARES” Avenida Doutor Arthur Marcondes de Si- queira, no 121. Vila do Bonsucesso Velho. Fone: 2436-1446. Decreto de Fundação no 2.969, de 29 de agosto de 1981. É a escola mais antiga da região. O prédio atual foi construído em 1953. Em 1981, passou a deno- minar-se Estevam Dias Tavares.

Estevam Dias Tavares foi professor, verea- dor da Câmara de Guarulhos e morador do Bonsu- cesso Velho. Veio do Rio de Janeiro para lecionar em Bonsucesso. Seu nome aparece pela primeira vez na Ata da 14o legislatura (1920/1922), depois na 15o, 16o e 17o legislaturas (última participação na legislatura de 1929/1931). Estevam Dias Tavares e seus familiares mo- ravam em um casarão de taipa de pilão, do lado da Capela de São Benedito dos Homens Pretos.

69 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

VILA NOVA BONSUCESSO O loteamento de Bonsucesso tem sua ori- da, a partir do Bairro de São Miguel, de energia gem no ano de 1955, quando os irmãos Armando e elétrica para a região. Fábio Bei, juntamente com seu primo, Guilherme O senhor Carlos Bei, sobrinho-neto de Ar- Cimere resolveram lotear o antigo “Sítio do For- mando Bei, não soube precisar qual o tamanho migueiro Vermelho”, (assim chamado pelo fato da área total do Sítio do Formigueiro Vermelho, de lá existir aqueles enormes formigueiros que mas sabe que as escrituras (ainda hoje) vêm com mais parecem antigos fornos de barro), proprieda- esse detalhe “...lote número tal da rua tal, parte do de essa herdada por força do falecimento de seus antigo Sítio do Formigueiro Vermelho, em Bon- pais, que adquiriram a área ainda em 1945. sucesso, Comarca de Guarulhos”. De início, a região era inóspita e desabita- Na relação de escolas da região, não consta da, formada integralmente por grandes sítios e a história da Escola da Prefeitura de Guarulhos chácaras, tendo os irmãos Bei providenciado as “Tia Carmela”, pois esta se encontra desativada primeiras obras de infraestrutura, inclusive a vin- para reforma. ESCOLA ESTADUAL “PROF. ARTHUR MARRET” Rua Itutinga, s/no, Vila Nova Bonsucesso. respeito, dedicação e arte, me ofereciam lindos e Fone: 2436-1769. Decreto de Fundação criativos desenhos de “cryon”, feitos num piscar no 23.102, de 3 de fevereiro de 1954. de olhos, além de todas as lições programadas. ....Não parecia profi ssão ou trabalho, mas É a escola estadual mais antiga da região do uma aventura deliciosa, marcada com os mais Bonsucesso. Inicialmente, funcionava na Praça de variados momentos. E quantas sacolas de verdu- Nossa Senhora do Bonsucesso Velho. Em 1976, foi ras ganhávamos das mães dos alunos! Aquelas transferida para a Vila Nova Bonsucesso. Foram adoráveis crianças! Os habitantes se dedicavam feitas várias tentativas e não conseguimos informa- à agricultura, cultivando belas hortas, e também ções históricas sobre o patrono Arthur Marret. à olaria.... Lá fi quei durante o ano de 1966. Memórias de uma professora – No auge Profa Layde Terra dos meus 19 anos, preparo o que hoje chamo de mochila: marmita, água, sapato velho, agasalho, guarda-chuva e principalmente esperança no cora- ção vibrante. Meu destino? Grupo Escolar “Prof. Arthur Marret” – Bonsucesso – Guarulhos, a 25 quilômetros de São Paulo. Era uma viagem de “Pássaro Marron”, viagem curta, com descida na Via Dutra, com acolhida dos garotos e garotas. Então pude começar minha jornada frente a 32 queridas crianças, “nisseis”, que com muito 70 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “ZUMBI DOS PALMARES” Rua Bom Jesus da Lapa, s/no, Vila Nova Bon- sucesso. Fone: 2438-2792. Decreto de Funda- ção no 23.776, de 5 de maio de 2006.

Zumbi (1655-1695) nasceu em Palmares, Alagoas. Foi o último dos líderes do famoso Qui- lombo dos Palmares, localizado entre os atuais Estados de Alagoas e Pernambuco. Um quilombo era uma comunidade autos- sustentável, um reino formado por escravos ne- gros que escapavam das fazendas, prisões e sen- zalas brasileiras. Zumbi faleceu em 20 de novembro de 1695 em uma emboscada. Zumbi é hoje, para deter- minados segmentos da população brasileira, um símbolo de resistência. Em 1995, a data de sua morte foi adotada como o Dia da Consciência Negra. É também um dos nomes mais importan- tes da capoeira. A partir de 2010, o dia 20 de no- vembro será considerado um feriado nacional.

ESCOLA ESTADUAL “PROF. HÉLIO POLESEL” Rua Cordeiros, no 1.465, Vila Nova Bonsuces- so. Fone: 2436-2008. Decreto de Fundação no 18.371, de 12 de janeiro de 1982.

Hélio Polesel (1946–1987) nasceu na cidade de Quatá e faleceu em São Paulo. Casou-se com Ramires Gonçalves Folha Polesel, e dessa união nasceu a fi lha Heloísa Gonçalves Polesel. Formou- -se em Pedagogia, Administração Escolar e Orien- tação Escolar pela Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Guarulhos (FIG), além de ter cursado Supervisão Escolar de 1o e 2o Graus na Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras Nove de Julho. Após ter lecionado como substituto em várias escolas do interior paulista, começou a ministrar aulas, em 1971, na Escola Masculina do Bairro da Capelinha, em Guarulhos, como professor primá- rio efetivo. Assumiu o cargo de diretor da Escola Estadual de 1o Grau Professor Genoefa D’Aquino Pacitti, em Guarulhos, e, posteriormente, o de su- pervisor de ensino na antiga DRECAP I.

71 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

JARDIM PRESIDENTE DUTRA Em 1958, foi inaugurado o loteamento Jardim o objetivo era a implantação de um loteamento Presidente Dutra. Conforme publicação no Jornal de alto padrão, evidenciado no catálogo de ven- Gazeta Panorâmica, de 2001, no dia 10 de julho da que trazia o seguinte slogan; “Jardim Pre- de 1956, as famílias alemãs Mehler, Neumann, sidente Dutra: ontem loteamento, hoje bairro, Ratzersdorf, Leipziger e Herzberg registraram no amanhã cidade!” Cartório de Registro de Imóveis de Guarulhos, a O Jardim Presidente Dutra é uma divisão cessão dos sítios Olho D’Água, Oliveira, Aterrado administrativa do Município de Guarulhos, reco- Comprido e Scatamachia à S/A Indústrias Reuni- nhecido como Distrito pela Lei Estadual nº 3.198, das F. Matarazzo. Foi neles que a empresa abriu de 23 de dezembro de 1981. loteamento que deu origem ao bairro. O Jardim Presidente Dutra, de acordo com A origem do nome Jardim Presidente Dutra José Rogério Correia, estudioso da história do vem da homenagem prestada ao ex-presidente da bairro, mais recentemente foi muito infl uencia- República Eurico Gaspar Dutra. Foi Dutra o res- do pelo processo de expansão urbana ocorrido ponsável pela inauguração do trecho de 21 quilô- no Município de Guarulhos e pela construção metros da Via Dutra, em Guarulhos, no dia 15 de do Aeroporto. julho de 1951, e do Loteamento Jardim Presiden- O ritmo de crescimento urbano e a exis- te Dutra, em 1958. tência de galpões industriais se deram no fi nal Conforme foto do catálogo de divulga- da década de 1960, época em que começou o ção do empreendimento pode-se observar que desmembramento das chácaras em lotes de 250 quilômetros quadrados, para fi ns de moradias e de maior tamanho para atividades produtivas, co- merciais e de prestação de serviços. Na década de 1990, a Prefeitura autorizou o desmembramento dos lotes residenciais de 250 para 125 quilôme- tros quadrados. Em 1977, com o início do processo de de- sapropriação para a construção do Aeroporto In- ternacional, parte do território habitado, como o Jardim Maringá, desapareceu, assim como alguns dos bairros vizinhos foram parcialmente suprimi- dos. Cerca de oito mil pessoas foram obrigadas a deixar as suas moradias. Mesmo diante das restri- ções impostas pelo zoneamento foram construí- dos vários equipamentos públicos, entre eles as Foto do catálogo de divulgação do escolas públicas, municipais e estaduais. empreendimento (15/6/1958).

72 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “MARIAZINHA REZENDE FUSARI” Rua Itaparantim, no 1.321, Jardim Presidente Dutra. Fone: 2431-9158. Decreto de Funda- ção no 23.542, de 9 de dezembro de 2005.

Maria Felisminda de Rezende e Fusari nas- ceu no dia 10 de novembro de 1940 e faleceu em 21 de abril de 1999. Mineira de Belo Horizon- te, viveu desde a infância em São Paulo. Sem- pre quis ser professora, conforme declarou no memorial que fez para efetivar-se na Faculdade de Educação da USP. Percorreu todos os níveis do Magistério, chegando à docência e orientação nos cursos de pós-graduação da FEUSP. Mariazinha Rezende Fusari, como era mais conhecida, colocou sua sabedoria nos livros e nos artigos que escreveu, divulgando sua visão sobre educação e arte. Parte do seu trabalho também foi dedicada ao Ensino Infantil.

ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “PERSEU ABRAMO” Rua Bela Vista do Paraíso, s/no, Jardim Presi- dente Dutra. Fone: 2432-2614. Decreto de Fundação no 22.449, de 9 de janeiro de 2004.

Perseu Abramo era sociólogo e jornalista. Nasceu em São Paulo (SP), em 17 de julho de 1929. Morreu em 6 de março de 1996, aos 66 anos. Em 1959, formou-se no curso de Ciências Sociais da então Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, como bacharel e licenciado em Sociologia. Em 1968, obteve o grau de mestre em Ciências Humanas, na Universidade Federal da Bahia. No plano político-partidário, Perseu Abra- mo também teve intensa participação. Ainda como secundarista, participou das campanhas de anistia e da luta contra a Ditadura Vargas, em 1945/1946. A partir de 1981, passou a ocupar postos no Di- retório e na Executiva Nacional do PT. Uma fundação do partido, em São Paulo, também leva seu nome.

73 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLA ESTADUAL “PROFª. ZILDA ROMEIRO PINTO MOREIRA DA SILVA” Rua Macarani, no 1.750, Jardim Presidente Dutra. Fone: 2431-1901. Decreto de Funda- ção no 7.517, de 4 de fevereiro de 1976.

Zilda Romeiro Pinto Moreira da Silva (1887 – 1950) nasceu na cidade de Campos do Jordão, fundada por seu avô paterno, mas viveu em várias cidades do interior do Estado de São Paulo. Formada pela Escola Normal de Campinas, aos 22 anos, em 1911, já era nomeada professora substituta da Escola de Jacareí. No ano seguin- te, transferiu-se para o Grupo Escolar de Mogi Mirim, onde permaneceu até 1918, quando, a seu pedido, foi exonerada. Depois que retomou sua carreira no Ma- gistério (1925), lecionou nas cidades de Espírito Santo do Pinhal, Franca, Tabatinga, Bariri, Pe- dreira, Bragança Paulista e, por fi m, São Paulo, onde faleceu.

ESCOLA ESTADUAL “PADRE BRUNO RICCO” Avenida Rio Real no 379, Jardim Presidente Dutra. Fone: 2431-1955. Decreto de Fundação no 42.703, de 29 de novembro de 1963.

A escola Bruno Ricco começou a funcionar em 1964 com quatro salas de aula. O local onde funcionava foi desapropriado para a implantação do Aeroporto, sendo transferida para o Jardim Presidente Dutra. Em 1981 foi ampliada para nove salas de aula. O sacerdote Bruno Ricco nasceu em São Paulo, em 15 de maio de 1915. Fez seus estudos humanísticos e eclesiásticos em Lavrinhas, SP, ordenando-se sacerdote em 8 de dezembro de 1943. Em 1953, foi nomeado vigário do Santu- ário do Coração de Jesus, onde permaneceu até 1957, quando foi elevado à direção do Colégio Salesiano, em Piracicaba. Em 1960, assumiu a direção do Instituto Dom Bosco e a Paróquia de Nossa Senhora Auxiliadora. Faleceu em São Paulo em 23 de outubro de 1961.

74 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ESCOLA ESTADUAL “PROFª. CACILDA CAÇAPAVA DE OLIVEIRA” Rua Amélia Rodrigues, s/no, Jardim Presiden- te Dutra. Fone: 2432-4848. Lei no 3.717, de 30 de janeiro de 1967, e Decreto de Fundação no 2.957, de 4 de agosto de 1985.

Cacilda Caçapava de Oliveira nasceu em Tietê, SP, em 2 de janeiro de 1889. Cursou a “Escola Modelo Complementar” de Itapetininga, formando-se em 1905. Iniciou a carreira no Ma- gistério em 1907. Lecionou em várias escolas do interior, sendo nomeada em 1912, para a 2a Es- cola Mista de Guarulhos, que funcionava na Rua Direita (atual D. Pedro II) mais ou menos no local onde hoje se localiza as Casas Pernanbucanas. A professora Cacilda Caçapava de Olivei- ra viveu durante 69 anos na cidade de Guarulhos (1912 a 1981). Morou no casarão da Rua 7 de Setembro, esquina com a Felício Marcondes. Foi casada com José Maurício de Oliveira, cirurgião dentista, vereador, presidente da Câmara, dele- gado de polícia e prefeito municipal, durante 15 anos. O casal teve 6 fi lhos, entre eles, Dr. Heitor Maurício de Oliveira, casado com a professora Zilda Graça M. de Oliveira. CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO ESCOLAS PARTICULARES “JARDIM PRESIDENTE DUTRA” E CONVENIADAS Além das escolas públicas, existem na região vários estabelecimentos particulares e conveniados.

CEU Jardim Presidente Dutra, em construção (2010). Colégio Garatuja – Jardim Presidente Dutra.

75 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

JARDIM FÁTIMA O loteamento da área hoje chamada de Jar- misto destinado a moradias e indústrias. Os equi- dim Fátima, provavelmente porque era local de pamentos e serviços hoje existentes no bairro, passagem para a Igreja de Nossa Senhora de Fáti- como a regularização dos terrenos, a luz elétrica ma, situada no Jardim Aracília, começou por vol- nas residências (1979) e nas ruas (1992), o trans- ta de 1963. Na época habitavam o local cerca de porte coletivo e a escola municipal, inaugurada seis famílias, entre elas a de Antônio Rodrigues em 1994 e ampliada em 2004, quando recebeu de Ávila, antigo proprietário da área e descenden- o nome de E.P.G. Mônica Aparecida Moredo, te de Antônio Xavier D’Ávila, construtor da Igre- são resultado da luta dos próprios moradores, ja de Nossa Senhora do Bonsucesso, em 1800. que no entanto ainda enfrentam problemas com O Jardim Fátima era antes uma chácara o forte cheiro emitido por uma fábrica de tintas de produção de fl ores, frutas e hortaliças, que presente no bairro, que causa náuseas e dores depois foi transformada num loteamento de uso de cabeça. ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “MÔNICA APARECIDA MOREDO” Rua Mônica Aparecida Moredo, no 173, Jardim Fátima. Fone: 2438-6676. Decreto de Fundação no 18.618, de 2 de julho de 1994.

Mônica Aparecida Moredo (1964–1974) nasceu em São Paulo. Filha de Branca Moredo e Alberto do Nascimento Moredo, empresário de Guarulhos e proprietário da Bonsucesso Mármo- res e Granitos. Mônica faleceu aos 10 anos de idade, ví- tima de uma doença na medula, causando uma séria anemia. A Escola da Prefeitura de Guarulhos “Mô- nica Aparecida Moredo” foi inaugurada em 24 de setembro de 1995, data em que a patronesse com- pletaria 30 anos de vida.

76 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

JARDIM MARIA DIRCE O Jardim Maria Dirce se compõe do Jardim hoje é a Escola Osvaldo Sampaio Alves. Não tinha Maria Dirce I e Jardim Maria Dirce II. O Maria água encanada e não tinha iluminação pública. Dirce é separado pela Rodovia Presidente Dutra. Sobre o nome “Maria Dirce”, conta que era Para quem se desloca no sentido São Paulo-Rio casada com um dos fi lhos do loteador Nelo Mor- de Janeiro, o Maria Dirce I, fi ca do lado esquerdo da ganti. O nome do loteamento foi dado em home- Dutra, o Maria Dirce II do lado direito da Rodovia. nagem à nora. Em 1975, Maria Dirce matou o Na década de 1960, a Imobiliária Ingaí, esposo, fato divulgado na imprensa. (Entrevista com sede na Avenida São João, em São Paulo, de Dirce dos Santos, merendeira aposentada da por intermédio do corretor Nelo Morganti, come- Escola Estadual Vicente Melro). çou a vender os primeiros lotes. Segundo relatou Uma das auxiliares de limpeza da Escola da Dirce dos Santos: Meu marido comprou, em 1969 Prefeitura de Guarulhos Professor Wilson Pereira e em 1973. Quando cheguei do Rio de Janeiro da Silva contou que Maria Dirce era dona do sí- com meus três fi lhos passamos muitas difi culda- tio que deu origem ao loteamento e que era uma des. Aqui só tinham algumas casas e nenhuma mulher muito boa. Dizem que ela doou muitos escola para as crianças, era quase tudo mato. terrenos para os pobres dos dois lados da Via Du- Naquela época não tinha passarela na Du- tra no Maria Dirce. Sobre a origem do nome, não tra, era muito difícil para as crianças atravessarem encontramos nenhum documento que comprove a rodovia para frequentar uma salinha de aula, que nenhuma das duas versões. ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “WILSON PEREIRA DA SILVA” Rua Itajuibe, no 531 / Rua Treze de Julho no 421, Jardim Maria Dirce. Fone: 2431-2841. Decreto de Fundação no 12.615, de 22 de janeiro de 1987.

Wilson Pereira da Silva (1921-1995) nas- ceu na Paraíba e era professor de Português e Francês. Chegou ao Jardim Presidente Dutra em 1959, fundando a Escola Particular Presidente Dutra, reconhecida como de utilidade pública. Irmão efetivo da Fraternidade Rosa Cru- ciana São Paulo, fundou, poucos anos depois, a Escola Dominical Presidente Dutra, que durante muitos anos foi o principal fórum dos aconteci- mentos políticos, religiosos e cívicos da região.

77 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLA ESTADUAL “VICENTE MELRO” Rua Belmonte, no 50, Jardim Maria Dirce I. Fone: 2431-2200. Decreto de Fundação no 9.491, de 11 de fevereiro de 1977.

Vicente Melro (1920–1978) nasceu em São Paulo, era presidente do Centro Espírita Nosso Lar – Casas André Luiz. Vicente Melro, desde pequeno, ajudava a sua família, sem prejudicar os estudos que fazia no Grupo Escolar “São Vicente de Paulo”, próxi- mo de sua residência, no Bairro da Ponte Peque- na, em São Paulo. Foi um exemplo de dedicação ao trabalho e de renúncia aos bens materiais. Viveu para au- xiliar aqueles que, mais do que ele, necessitavam de assistência, de compreensão e, acima de tudo, amor. As difi culdades fi nanceiras da família o impediram de ter um diploma, mas não de ser um cidadão que deu tudo de si para que a agrura dos menores portadores de necessidades especiais fosse menos sofrida. ESCOLA ESTADUAL “JARDIM ESCOLA ESTADUAL “JARDIM MARIA DIRCE II” MARIA DIRCE III” Rua Belmonte, no 88, Jardim Maria Dirce I. Rua Treze de Julho, no 421, Jardim Maria Fone: 2433-5015. Decreto de Fundação Dirce I. Fone: 2433-1438. Decreto de Funda- no 46.573, de 1o de março de 2002. ção no 46.273, de 13 de novembro de 2001.

Escolas desmembradas a partir da Escola Vicente Melro, para atender a crescente demanda de vagas nas escolas da região.

78 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

JARDIM PONTE ALTA O Jardim Ponte Alta é composto por Ponte compra das terras pela família Matarazzo, que, em Alta I, II, III e IV. Relata a população que a ori- 1970 as vendeu para a empresa Esquadra, respon- gem do nome “ Ponte Alta” advém de uma ponte sável pela implantação do loteamento. que existia sobre o Córrego Guaraçau. Em épocas No começo era tudo mais difícil, conta Ge- de chuvas fortes se levantava a ponte, daí surgiu raldo Romildo Zannotti. Escola e armazém, por o nome Ponte Alta. O Ponte Alta localiza-se en- exemplo, somente em Bonsucesso, São Miguel ou tre os bairros das Lavras e a Vila do Bonsucesso Cumbica. Luz elétrica e água encanada só chega- Velho. A principal via de ligação entre essas lo- ram por volta de 1987, antes disso era comum o uso calidades se dava, antigamente, pela Estrada do de lampiões e beber água de poço. A história do Itaberaba, atual Mato das Cobras. loteamento Ponte Alta é marcada por famílias que No Período Colonial, o Ponte Alta pertencia compraram seus lotes e por trabalhadores assalaria- à Fazenda Bonsucesso. No século XX, o avanço dos que ocuparam os terrenos. Em 2001, aconteceu da urbanização da cidade, rumo às regiões nor- a última grande ocupação no Ponte Alta, criando o deste e leste, fez com que a fazenda fosse sendo acampamento Anita Garibaldi com mais de mil fa- dividida em grandes glebas. Foi nessa época que mílias. Fonte: Documentário, Suor e Sonhos. os Zannotti compraram uma chácara sufi ciente A conquista de equipamentos públicos com para garantir a sobrevivência da família com ativi- escolas, água, luz, posto de saúde e transporte só dades agrícolas. Segundo Geraldo Romildo Zan- chegou após muita luta dos moradores. Além do notti, cujos pais eram imigrantes italianos (Luiz Ponte Alta, as crianças, os jovens e os adultos do Zannotti, de Veneza e Maria Bertollatti, de Pá- Jardim Santa Paula e Anita Garibaldi são atendi- dua), eles chegaram ao “Bairro Jardim” em 1943. das em um centro educacional e em sete escolas A expansão urbana começou se consolidar com a púbicas, estaduais e municipais.

Estrutura do antigo projeto do Centro Administrativo e Fórum de Guarulhos, atual Centro Municipal de Educação “Paschoal Lemme”.

79 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! CENTRO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO “PASCHOAL LEMME” to municipal no 27.686, de 7 de maio de 2010, passaram a denominar-se Escola da Prefeitura de Guarulhos, seguido do nome do patrono. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (1996), os municípios ganharam autonomia para organizar suas redes de ensino e obrigatoriamente gastar 25% do or- çamento da cidade em educação. Antes de 1996 a Prefeitura tinha poucas escolas e o Estado a maior quantidade. Paschoal Lemme nasceu no Rio de Janei- ro, em 1904, e faleceu em 1997. Engenheiro de formação e educador, atuou na rede pública de educação como professor e administrador. Ideali- zador de mudanças no sistema de ensino, no fi nal da década de 1920, participou ativamente da re- forma da instrução pública. Pioneiro na educação para adultos. Em 1934, foi um dos autores do Manifes- to dos Inspetores de Ensino do Estado do Rio de Estrada Mato das Cobras, s/no, Jardim Ponte Janeiro, clamando por mudanças estruturais e Alta. Fone: 2431-2200. ideológicas no ensino público. Em 1936, quando dirigia a Superintendência da Educação de Adul- O prédio que abriga as atividades de edu- tos, foi preso e acusado de ministrar curso com cação, cultura, lazer, saúde e orientações do orientação marxista aos operários. Durante o Re- atual Centro Paschoal Lemme era abandonado. gime Militar instaurado em 1964, foi perseguido As acomodações tinham sido construídas para por seu ideário marxista. abrigar o Fórum do Poder Judiciário de Guaru- lhos. A obra foi iniciada em 1988, mas parali- ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARU- sada por denúncia de favorecimento ao prefeito LHOS “EDSON NUNES MALECKA” da época, que possuía grande extensão de terras Estrada Mato das Cobras s/ no, Jardim Ponte nas proximidades. Através do orçamento parti- Alta. Fone: 2438-1404. Decreto de Fundação cipativo, os moradores passaram a reivindicar a no 26.323, de 23, de abril de 2009. utilização do equipamento com atividades vol- tadas para suprir as necessidades dos moradores Edson Nunes Malecka (1972–2008) era da região. professor de Língua Portuguesa e Inglês. Nos úl- O Centro de Educação foi implantado dia timos anos de sua vida trabalhou como professor 20 de março de 2005, com o nome de Centro Mu- efetivo da Rede Estadual de Ensino, atuando em nicipal de Educação “Educriança”. Em março de vários bairros da periferia da cidade de Guaru- 2007, mediante o Decreto no 24.225, houve alte- lhos. Sempre morou no Jardim Paraventi e Santa ração do nome para Centro Municipal Paschoal Clara. Elegeu, como sua grande missão de vida, Lemme, onde também funciona a Escola da Pre- a evangelização de jovens. Era membro da Igreja feitura de Guarulhos “Edson Nunes Malecka”. Metodista de Guarulhos. Relato feito pela esposa Todas as escolas municipais, mediante o decre- Luciana Malecka.

80 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ESCOLA ESTADUAL “ANTÔNIO ROSAS DA SILVA GALVÃO” Rua Zeferino Alves de Oliveira, s/no, Jardim Ponte Alta. Fone: 2436-2046. Decreto de Fundação no 33.244, de 9 de maio de 1991.

É a escola mais antiga do Jardim Ponte Alta. Construída em madeira, em 1991, era co- nhecida popularmente por “Barracão”. Das qua- tro escolas estaduais foi a última a ser construída em alvenaria. A escola foi reinaugurada com o nome de Antônio Rosas da Silva Galvão, homenagem em vida ao ex-diretor Professor Antônio Rosas da Silva Galvão, que nasceu em Recife, PE, em 18 de junho de 1941, onde estudou até o curso uni- versitário pela Universidade Católica, formando- se em História Natural. No Estado de São Paulo concluiu Pedagogia na Faculdade de Filosofi a, Ciências e Letras de Guarulhos. Lecionou, coor- denou e dirigiu escolas particulares e estaduais.

ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “CASTRO ALVES” Rua Izabel Camarero Losano, no 141, Jardim Ponte Alta. Fone: 2436-1667. Decreto de Fundação no 22.080, de 14 de abril de 2003.

Antônio Frederico de Castro Alves nasceu na Fazenda Cabaceiras, Vila de Nossa Senhora da Conceição de Curralinho, Bahia, em 14 de março de 1847, e faleceu no dia 6 de julho de 1871, em Salvador. Seus versos mais conhecidos são marcados pelo combate à escravidão, motivo pelo qual é conhecido como “Poeta dos Escravos”. No dia 10 de novembro de 1863, teria recitado as pri- meiras poesias em uma festa no Ginásio, em sa- rau, estilo festa de arte, música, poesia e decla- mação de versos. Teve fase de intensa produção literária e a do seu apostolado por duas grandes causas: uma, humanitária, e outra política, respectiva- mente, a abolição da escravatura e a implanta- ção da República.

81 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLA ESTADUAL “PROF. MÁRIO BOMBASSEI FILHO” Rua Zeferino Alves de Oliveira, no 300. Jar- dim Ponte Alta. Fone: 2436-1614. Decreto de Fundação no 46.498, de 16 de janeiro de 2002.

Por vários anos, Mário Bombassei Filho dividiu seu tempo entre o exercício do cargo de gerente do Banco Holandês do Brasil e o ensino de artes na então Escola Estadual Parque Alvo- rada (hoje E.E. Maria Aparecida Rodrigues), em Guarulhos. Em 1984, decidiu abandonar a car- reira bancária para se dedicar exclusivamente ao Magistério. Naquela escola a comunidade se reuniu para criar a Biblioteca Cora Coralina, entre ou- tras realizações comunitárias que revelaram o seu poder de mobilização. Ao se transferir para esta escola do Jardim Ponte Alta, a professora Agmália Lopes Ferreira (dona Lia), colaboradora de Bombassei no Jardim Alvorada, sugeriu seu nome como patrono.

ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “AMÉLIA DUARTE DA SILVA” Rua Maria Quitéria de Jesus Medeiros, no 585, Jardim Ponte Alta. Fone: 2436-0521. Decreto de Fundação no 4.187, de 25 de novembro de 1992.

Amélia Duarte da Silva (1916–1992) é origi- naria do Ceará. Nasceu na Fazenda Riachão, Distri- to de Buriti. No dia 4 de fevereiro de 1947, em uma viagem que durou 23 dias, chegou em Onda Verde, depois tranferiu residência para Nhandeara e Santa Fé do Sul, três localidades no interior de São Pau- lo. Mudou-se para Guarulhos em 7 de setembro de 1955, fi xando residência no Bairro de Gopouva, aos 37 anos, permanecendo até o fi m de sua vida. Era uma mulher muito preocupada com a es- piritualidade e com a formação religiosa. Em 1948, em Nhandeara, converteu-se à Igreja Presbiteriana e, em Santa Fé do Sul, frequentava a Igreja Presbi- teriana Conservadora. Em 1955, por não existir em Guarulhos a Igreja Presbiteriana, cedeu a casa para realização dos primeiros cultos, fundando a igreja localizada na Avenida Torres Tibagi, no 34.

82 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “VINICIUS DE MORAES” Rua Edmar Bressan, no 149, Jardim Ponte Alta. Fone: 2438-5840. Decreto de Fundação no 24.305, de 23 de março de 2007.

Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, nascido no Rio de Janeiro, em 19 de outubro de 1913, faleceu em 9 de julho de 1980, deixando uma extensa obra na literatura, música, teatro e cinema, com parcerias na música brasileira que incluem nomes como Tom Jobim, Toquinho, João Gilberto, Chico Buarque, Carlos Lyra e Baden Powell. No fi nal de 1968, o AI-5, imposto pelo Re- gime Militar, o destituiu do cargo de diplomata, alegando que a boemia de Vinicius atrapalhava suas funções. Em 1970, torna-se próximo do músico Toquinho, outra parceria que rende belos frutos à MPB (Música Popular Brasileira).

ESCOLA ESTADUAL “PONTE ALTA III”

Rua Doutor Mário Romeu de Lucca, no 93, Jardim Ponte Alta. Fone: 2438-6319. Decreto de Fundação no 46.573, de 1o de março de 2002. Alunos do antigo “Barracão”.

83 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

BAIRRO ÁGUA AZUL O nome “Bairro Água Azul” tem sua ori- seja, dividiram em chácaras de tamanho mínimo gem em 1970, ano em que a loteadora Lutfalla de 900 metros quadrados. O Bairro Água Azul está começou a implantação do loteamento e fez uma inserido na zona de proteção e desenvolvimen- parede de contenção das águas dos córregos que to ambiental e sustentável, protegido pela Lei no formou o grande lago no centro do bairro. O nome 6.253 de 2007. As chácaras no bairro eram vendi- “Água Azul” foi dado em função do refl exo da luz das pelo corretor Feliciano. (Informações obtidas do Sol sobre a água que se mistura com o verde junto ao morador Antônio Carlos Batista Bento). das plantas que envolvem o lago de aproximada- A principal via de acesso para o Bairro Água mente 52.000 metros quadrados. Contam os mo- Azul ainda é pela antiga Estrada do Morro Gran- radores que em certas épocas a água fi ca azul. de, topônimo em alusão ao Pico do Itaberaba. O atual Bairro Água Azul, antigamente per- Está em andamento a implantação do Parque tencia à fazenda do senhor Vasco. Depois, ele ven- Aquático onde está previsto um lago natural, Centro deu para um japonês de nome Kawaka e foi que de Educação Ambiental, playground, jatos d’água, junto à Lutfalla que implantou o loteamento, ou bicicletário, pistas de caminhada e piscina infantil. ESCOLA ESTADUAL “JOSÉ LEME LOPES” Rua Acapulco, s/no, Bairro Água Azul. Fone: 2436-2005. Decreto de Fundação no 31.184, de 6 de fevereiro de 1990.

José Leme Lopes (1904 – 1990) era médico psiquiatra, professor e autor de diversos livros. Foi presidente da Associação Brasileira de Psi- quiatria e da Academia Nacional de Medicina. Nasceu no Bairro de e foi um re- nomado professor de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que obteve reconhecimento nacional e internacional. Em 1954, publicou a sua mais im- portante tese, “As dimensões do diagnóstico psi- quiátrico e contribuição para sua sistematização”. A mesma teve reconhecimento internacional ao ter sua capa original reproduzida no Compêndio de Kaplan & Sadock, o livro de referência mais importante na área da psiquiatria.

84 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

JARDIM TRIUNFO O loteamento do Jardim Triunfo, sinônimo O acesso mais próximo a algum centro urbano de Bonsucesso, ligado, como tudo indica, à tradi- era o Bairro de São Miguel Paulista, no extremo ção simbólica do Centro Histórico da região teve leste da cidade de São Paulo. início em 1975. Os vereadores na época ainda eram muito Os telefones mais próximos eram o da Paró- atrelados aos poderosos. Foi então que o povo deci- quia do Bonsucesso e o do Posto Policial da Ave- diu se organizar para reivindicar transporte, água, nida Armando Bei, limite entre os dois bairros. esgoto, luz, telefone e posto de saúde, que também As únicas escolas da época eram a Estevam Dias não existiam na região, conta o senhor Paulo Ma- Tavares, na Praça Nossa Senhora do Bonsucesso, galhães Sales, morador do bairro desde 1977 e pre- e a Artur Marret, na Vila Carmela. Não havia es- sidente da Sociedade Amigos do Jardim Triunfo e trada ou transporte para o Centro de Guarulhos. Bonsucesso no começo da década de 1980.

Prof. Estevam Dias Tavares (sentado, o segundo da direita para a esquerda), um dos pioneiros da educação em Bonsucesso. De acordo com informações, residia no Jardim Triunfo.

85 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “CLEMENTINA DE JESUS” Rua Santa Cruz do Descalvado, no 346, Jardim Triunfo. Fone: 2436-4355. Decreto de Fundação no 23.543, de 9 de dezembro de 2005.

Clementina de Jesus da Silva (1901-1987) foi uma cantora carioca de samba. Neta de escra- vos, empregada doméstica por mais de 20 anos, foi revelada para o mercado fonográfi co em 1963, quando passou a fazer sucesso. Além de samba, gravou outros gêneros ainda mais conectados com as raízes afro-brasileiras, como corimás, jongos e cantos de trabalho. A ternura da negra velha sorridente cati- vou a todos com quem se envolveu e que tinham a compulsão de chamá-la de “Mãe”. O respeito ao peso ancestral de sua voz e a uma África que estava diluída em nossa cultura é evocado na voz e nos cânticos que aprendeu com sua mãe, fi lha de escravos. Clementina surgiu como o elo per- dido entre a moderna cultura negra brasileira e a África Mãe. ESCOLA ESTADUAL “PROF. ARY JORGE ZEITUNE” Rua São Pedro, no 20, Jardim Triunfo. Fone: 2436-1578. Decreto de Fundação no 2.174, de 23 de novembro de 1979.

Ary Jorge Zeitune, libanês, nasceu em 1906, estudou no Colégio Carmelitano em Kabayat, Líba- no, onde formou-se e lecionou Francês no mesmo colégio. Chegou em Guarulhos em 1923 e fi xou-se na casa de seu tio Antônio Jorge Zeitune. Passados alguns meses, abriu, por conta própria, um arma- zém de secos e molhados, em Itaquaquecetuba. Em 1937, se estabeleceu no Bairro do Bonsucesso, abrindo outro armazém de secos e molhados. O comércio expandiu e Ary passou a comer- cializar, também, lenha, areia, tijolos, etc, sempre em Bonsucesso. Foi nomeado por d. Paulo Rolin Loureiro, tesoureiro da Paróquia do Bonsucesso, por 4 anos. Com a renda desses anos, foi feita a Casa Paroquial, onde mora o atual padre. Em 1962, mudou-se para o centro de Guarulhos, onde abriu a Casa da Borracha.

86 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

JARDIM ÁLAMO A palavra “Álamo” é empregada em duas Fontes. O terreno loteado foi comprado da famí- situações: uma, como sendo uma árvore; a outra, lia dos meus pais. Eles trabalhavam produzindo em uma batalha travada no México pelo controle farinha de mandioca. de um Forte, em 1896. Nossa conclusão sobre a Dona Ana Adélia Marcondes da Silva re- origem do nome “Jardim Álamo” vai ao encontro lata: Quando cheguei aqui, em 1973, para ir a da primeira defi nição. Arujá e ao Centro de Guarulhos, o caminho era Com base na entrevista do morador Adal- a Estrada Velha do Bonsucesso (Estrada Geral, to Alves de Almeida concluímos que a origem atual João Paulo I). Aqui tinha muitas chácaras e do nome “Jardim Álamo” é proveniente de um muitos japoneses. tipo de árvore de grande porte que existia lugar, antigamente. A espécie álamo-preto é defi nida como uma árvore ornamental, de grande porte, da família das salicáceas (Populus nigra), de casca lisa e acinzentada, folhas alternas, com pecíolos vermelhos e madeira útil para marcenaria. (Di- cionário Aurélio). O Jardim Álamo teve três momentos mar- cantes em sua história. No período em que a localidade pertencia a Arujá se chamava “Bair- ro dos Fontes”. Através do Decreto Estadual no 9.775, de 30 de novembro de 1938, deixou de pertencer a Arujá e passou para Guarulhos. Em seguida, a localidade ganhou o nome de Bairro Sadokin. O loteamento Jardim Álamo começou em 1978. No início foi embargado. Já em janeiro de 1979, a Esquadra retomou a venda dos lotes que pertenciam a Luiz Bocaloto e Delfi no Fac- cini (propriedade comprada em 1952 da família Caraça Oliveira). O morador mais antigo do Bairro dos Fon- tes, conforme entrevista, foi o senhor Emílio Ca- raça de Oliveira, pai de Benedito de Oliveira e avô paterno de Carmem e Eunice, que relataram:

Meu pai [Benedito] nasceu em 1912 e meu avô Jardim Álamo, década de 1970. Propriedade da provavelmente em 1882, ambos no Bairro dos família de Emílio Caraça.

87 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “TERESINHA MIAN ALVES” Rua José de Souza Abrantes, s/no, Jardim Álamo. Fone: 2436-2332. Decreto de Funda- ção no 25.004, de 13 de dezembro de 2007.

Teresinha Mian Alves (1954-2006) era professora. Iniciou as atividades no Magistério no começo da década de 1980 na rede pública, como professora eventual. Foram longos anos dedicados ao Magisté- rio. Sua primeira experiência foi no período de 1983 a 1985, época em que lecionou na Escola Estadual Zilda Romeiro e na Escola da Prefei- tura de Guarulhos “Machado de Assis”, no Par- que Cecap. Passou pelas escolas Cyro Barreiro, Jardim Lenise e Anna Lamberga Zeglio. Entre 2002 e 2003, assumiu, como diretora designada, a Escola Estadual Bairro dos Pimentas V e como coordenadora do Projeto Mova na Prefeitura. A professora Terezinha acreditava na participação da comunidade decidindo os destinos da escola.

ESCOLA ESTADUAL “DONA CHYO YAMAMOTO” Rua São Pedro, no 20 / Avenida Yamamoto, s/no, Jardim Álamo. Fone: 2436-1578. Decreto de Fundação no 2.174, de 23 de novembro de 1979.

A Escola Estadual Dona Chyo Yamamoto teve seu funcionamento inicial, em 1959, em uma pequena sala anexa à Fábrica de Lâmpadas Sa- dokin. A professora d. Chyo Yamamoto, esposa do dono da fábrica, o senhor Katsuto Yamamoto, lecionava gratuitamente para as crianças do bair- ro. Segue relato de Eunice: Eu estudei com dona Chyo e depois trabalhei na Sadokin. Era uma pessoa muito preocupada com o futuro das crianças, demonstrava carinho e afe- to com todos os seus alunos. Em função do seu trabalho como uma das primeiras professoras do bairro Sadokin, foi homenageada como patro- nesse da escola estadual.

88 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

VILA CARMELA O local onde hoje se situa a Vila Carmela imensa área foi loteada pela Imobiliária Gabriel era uma fazenda que, posteriormente, passou a se Gonçalves Loteamentos e Construções. Relaciona- chamar Sítio das Rosas. Em 22 de novembro de mos aqui os nomes dos moradores pioneiros, que 1970, foi comprada de Ulysses Pereira de Mello muito contribuíram para o desenvolvimento deste uma grande área com 391.551 metros quadrados, bairro: Sérgio Garrido, dr. Ademil Gois, Arnô Tes- da gleba A; 362.652 metros quadrados da gleba ta, Oscar Scherer, Clara Olsfki, Severino Manuel de I; 13.998 metros quadrados gleba II; e 15.000 Freitas, Manoel Reis da Silva, José Fernandes, Isra- metros quadrados da gleba III, pelo senhor Pas- el, Durval, Lacerda, dentre muitos outros. choal Thomeu. (Fonte: Atlas do Bairro. Trabalho realizado Os primeiros lotes começaram a ser vendi- pelos alunos da EMEI Jocymara de Falchi Jor- dos em 1980. Em homenagem à genitora do então ge, 1999 e depoimento de Antônio Marcussso, da proprietário deu-se o nome de Vila Carmela. Essa Loja de Material de Construção Rosa e Filhos).

Praça da Amizade, na Vila Carmela. Final da década de 1980.

89 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “JOCYMARA DE FALCHI JORGE” Rua Flor da Serra, no 314, Vila Carmela. Fone: 2436-4362. Decreto de Fundação no 18.981, de 4 de abril de 1995.

Nascida em 10 de maio de 1978, no Bairro da Penha, Jocymara era fi lha única de Mara de Falchi Jorge e de Antônio Jorge, neta de Maria Aparecida Falchi e Giovanni Falchi. Era uma me- nina muito alegre, estudiosa, que cativava a to- dos. Tivera uma infância sadia e muito divertida no sítio da família, no Bairro Água Azul. Em 1994, estava frequentando o Ensino Médio na Escola Nossa Senhora de Auxiliado- ra, no Bairro do Brás, onde era muito querida pelos professores e colegas. Seu avô, senhor Giovanni Falchi, fora sócio e amigo do ex-pre- feito Paschoal Thomeu. Jocymara faleceu no dia 31 de março de 1994, de mal súbito, e deixou a todos desconsola- dos, conforme conta a família.

ESCOLA ESTADUAL “PROFa ZILDA GRAÇA MARTINS DE OLIVEIRA” Rua Manoel Reis da Silva, no 493, Vila Car- mela. Fone: 2436-5294. Decreto de fundação no 43.074, de 2 de janeiro de 1999.

Nasceu em São Paulo e casou-se com Hei- tor Maurício de Oliveira, advogado e professor, com quem teve dois fi lhos: Heitor Maurício de Oliveira Filho e José Arthur Maurício de Olivei- ra e, mais dois fi lhos adotivos, Maria Cristina de Freitas e Luiz Antônio de Freitas. Formada no Magistério pela Escola Mo- delo Caetano de Campos, em São Paulo, a Profa Zilda Graça Martins de Oliveira era nora de José Maurício de Oliveira, prefeito de Guarulhos de 1919 a 1930 e de 1940 a 1945. Lecionou nas cidades de Santa Adélia e Ta- tuí, SP, antes de ser transferida, em 1945, para a Escola Estadual Capistrano de Abreu, em Gua- rulhos, onde se aposentou em 1976. Em 2001, o Projeto de Lei no 503 instituiu seu nome como pa- tronesse da Escola Estadual Jardim Carmela II.

90 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “CELSO FURTADO” Rua Manoel Reis da Silva, s/no, Vila Carmela. Fone: 2436-6683. Decreto de Fundação no 21.214, de 25 de março de 2001.

Celso Monteiro Furtado (1920 – 2004) nasceu em Pombal, PB. Economista, foi um dos mais destacados intelectuais do País ao longo do século XX. Suas ideias sobre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento divergiram das doutrinas econômicas dominantes em sua época e estimula- ram a adoção de políticas intervencionistas sobre o funcionamento da economia. Em 1946, ingressou no curso de doutoramen- to em Economia da Universidade de Paris-Sorbonne, concluído em 1948 com uma tese sobre a economia brasileira no Período Colonial. Retornou ao Brasil, tra- balhou no Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e na Fundação Getúlio Vargas. Foi eleito em 7 de agosto de 1997 como oitavo ocupante da cadeira 11, da Acadêmia Brasileira de Letras. ESCOLA ESTADUAL “RAFAEL THOMEU” Rua Flor da Serra, s/no, Vila Carmela. Fone: 2436-2066. Decreto de Fundação no 5.888, de 29 de janeiro de 1987.

Rafael Thomeu era fi lho do ex-prefeito Paschoal Thomeu e d. Marina Thomeu. Faleceu em um trágico acidente automobilístico na Via Dutra. Em 29 de janeiro de 1987, a Escola Estadual de 1o Grau (Agrupada) da Vila Carmela passou a denominar-se Rafael Thomeu.

91 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

RESIDENCIAL PARQUE CUMBICA (INOCOOP) Diz Odete Geralda Tavares, enfermeira Instituto de Orientação às Cooperativas aposentada da Prefeitura de São Paulo e uma Habitacionais (Inocoop) é uma sigla que desig- das primeiras moradoras do Residencial Parque na um sistema de cooperativas, muitas vezes Cumbica, popularmente chamado de Inocoop: utilizada como denominação de bairros. Exis- As primeiras casas entregues foram as da Rua tem bairros com o nome Inocoop em São Pau- 7, no dia 7 de março de 1982. Em 1984, com a lo, Vitória, Guarulhos e Vitória da Conquista, falência da construtora, foi noticiado no Jornal na Bahia. O Inocoop-SP, confi gurado desde sua Nacional que as casas estavam abandonadas e criação como uma empresa privada prestadora no dia seguinte, houve uma grande invasão. Uma de serviços, sem fi ns lucrativos, foi credenciado comissão do bairro, juntamente com Carlos Der- pelo BNH para orientar as cooperativas desde a man e Elói Pietá, abriu negociação com a Caixa sua constituição. Foi fundado no dia 20 de de- Econômica Federal e nós passamos a pagar as zembro de 1966 por um grupo de empresários prestações no valor de 52,00 reais, na sede da ligados à Associação de Dirigentes Cristãos Caixa, na Praça Getúlio Vargas. (ADCE-SP). ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “BÁRBARA ANDRADE TENÓRIO DE LIMA” Quadra 4 – Rua Ó, no 67, Residencial Parque Cumbica. Fone: 2431-2520. Decreto de Fun- dação no 22.083, de 15 de abril de 2003.

O local onde foi construída a escola era destinado para uma praça pública. Os moradores do bairro, através do Orçamento Participativo de 2002, conseguiram a aprovação da construção. É considerado como data de fundação o dia 28 de agosto de 2002. Em 2004, a Escola Municipal do Inocoop passou a se chamar “Bárbara Tenório de Lima. Bárbara faleceu quando tinha cerca de 5 anos de idade, em um acidente de automóvel. Não residia no bairro, mas era conhecida do pre- feito Elói Pietá. Este, em nome dessa amizade, homenageou Waldemar Tenório, pai de Bárbara, colocando o nome de Bárbara na escola.

92 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ESCOLA ESTADUAL “PREFEITO ANTÔNIO PRÁTICI” Rua Carlos Drummond de Andrade, no 350, Residencial Parque Cumbica. Fone: 2431- 2244. Decreto de Fundação no 21.921, de 31 de janeiro de 1984.

Antônio Prátici foi vereador e prefeito em Guarulhos nas décadas de 1950 e 1960, prefeito na gestão 1952/1953. Prátici nasceu dia 24 de de- zembro de 1914, na cidade de São Paulo. Era fi lho de Aniello Prátici e Antonieta Gennaro, imigran- tes de origem italiana. Casou-se com d. Catharina Iervolino no dia 25 de janeiro de 1938. Do casa- mento teve um fi lho, Roberto Antônio Prátici. Antônio Prátici faleceu dia 6 de abril de 1985. Político e admirador da arte cinematográ- fi ca, em 1948 foi suplente de vereador e logo em seguida assumiu a vereança. Após sua gestão como prefeito, foi reeleito vereador no período de 1952/55, tendo exercido a presidência da Câmara de 1956 a 1959 e 1960 a 1963. Antônio Prátici foi o último prefeito nomeado de Guarulhos. ESCOLA ESTADUAL “INOCOOP II” Rua Elias Dabarian, no 477, Residencial Parque Cumbica. Fone: 2433-3152. Decreto de Fundação no 46.273, de 13 de novembro de 2001.

93 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

JARDIM SANTA PAULA No dia 8 de dezembro de 1984, o casal Ma- mais tarde reestruturada como Escola Estadual rinha de Jesus dos Santos e José Francisco dos Antônio Rosas da Silva Galvão, foi ampliado. Santos instalou-se num terreno acidentado, co- Atualmente, as crianças do Jardim Santa Paula berto por densa vegetação, separado do Jardim são atendidas pela Escola Estadual Ponte Alta V, Ponte Alta pela Avenida Mato das Cobras, lotea- bem mais próxima, situada do outro lado da Ave- do e comercializado pela Imobiliária Continental. nida Mato das Cobras. Iniciava-se, assim, o Jardim Santa Paula. Santa Paula (347 – 404) nasceu na Itália Ficamos um ano e oito meses sem energia e é uma santa cristã homenageada pela Igreja elétrica, lembra José Francisco, o popular Baixi- Católica no dia 26 de janeiro. É a padroeira das nho do Bar, dono do estabelecimento que lhe va- viúvas. Pertencia à nobreza italiana, tendo sido leu o apelido. Naquela época, afi rma d. Marinha, casada com o senador Toxócio, teve cinco fi - eu levava a minha fi lha Viviane, de quatro anos lhos, entre eles Santa Eustóquia e Santa Blesila. de idade, a pé, todos os dias, até o Estevam Dias No ano de 379 d.C., aos 32 anos, fi cou viúva, Tavares, em Bonsucesso. dedicando sua fortuna e o resto de sua vida ao O número de salas da antiga Escola Esta- desenvolvimento espiritual e ao cuidado com dual Ponte Alta I, conhecida como “Barracão” e os pobres. ESCOLA ESTADUAL “PONTE ALTA V” Estrada Mato das Cobras, no 1.346, Jardim Ponte Alta. Fone: 2438-7557. Decreto de Fundação no 46.498, de 16 de janeiro de 2002.

94 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

PARQUE RESIDENCIAL BAMBI O Parque Residencial Bambi, antes de dáctilos, da família dos cervídeos, desprovidos ser um local de moradia popular, era chamado de chifres e em geral muito tímidos e velozes. de Sítio Bambi e pertencia ao senhor Tuji. Pen- (Dicionário Aurélio). sando em lotear o sítio, criou uma imobiliária, Bambi também é título de uma animação mas o negócio não prosperou. Em 1995, após infantil, de 1942. A história acontece numa fl o- falecimento do senhor Tuji, sua fi lha Masi Tuji, resta onde os animais fi cam agitados com a notí- associou-se à Imobiliária Continental e, fi nal- cia do nascimento de um fi lhote de cervo, Bambi, mente conseguiu implantar o loteamento Parque que foi chamado de “Príncipe da Floresta”. Este Residencial Bambi. cresce e descobre o amor, Falina. Após sua mãe Contam os moradores que o nome “Bam- ser morta por caçadores, Bambi aprende a viver bi” tem sua origem no fato de que na região exis- sozinho com a ajuda de seu pai. tiam muitos animais dessa espécie, atualmente A principal via de acesso ao Sítio Bambi em menor quantidade, em função da caça. Bam- ainda se dá pela antiga Estrada do Morro Grande, bi é um animal mamífero, da ordem dos artio- topônimo em alusão ao Pico do Itaberaba.

Casarão do Sítio Bambi.

95 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! ESCOLA DA PREFEITURA DE GUARULHOS “MANOEL REZENDE DA SILVA” Rua Benedito Thieso, s/no, Parque Residen- cial Bambi. Fone: 2436-2298. Decreto de Fundação no 20.238, de 29 de abril de 1998.

Manoel Rezende da Silva (1934-1997) era economista. Na Prefeitura de Guarulhos foi fun- cionário concursado e Secretário de Finanças. Nasceu no município de Avencas, no interior de São Paulo. Aos 18 anos era lavrador e semianal- fabeto. Mudou-se para Campinas, onde trabalha- va e custeava seus estudos. Passou como primei- ro colocado no vestibular da PUC de Campinas, no curso de Economia, em 1936. Em 1997, após coordenar a campanha vi- toriosa do então candidato a prefeito Néfi Tales, foi convidado a assumir o cargo de Secretário de Serviços Públicos e, em março do mesmo ano, Secretário de Finanças. Em 13 de junho de 1997, foi morto na porta de sua residência, em circuns- tâncias até hoje não esclarecidas.

ESCOLA ESTADUAL “RESIDENCIAL BAMBI” Rua Gabriela Gurgel de Freitas, s/no, Parque Residencial Bambi. Fone: 2438-7639. Decreto de Fundação no 46.573, de 1o de março de 2001.

96 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Escolas Reunidas Allan Kardec – Alice Pereira, no Jardim Presidente Dutra. O termo “escolas reunidas” tem sua origem na junção dos estabelecimentos de ensino que eram separados por sexo masculino e feminino. Entre os patronos das escolas da região, por exemplo, o Prof. Hélio Polesel, nomeado para lecionar em uma escola masculina, no Bairro Ca- pelinha, em Guarulhos. Atualmente, a Escola Allan Kardec – Alice Pereira é conveniada à Secretaria Municipal de Educação e, em 2010, completará 52 anos de atividade. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Em relação à história da educação no Brasil, Muitas mudanças ocorreram até que se chegasse é importante observar que a primeira grande alte- à Pedagogia dos dias de hoje. É a partir de 1930, ração travou-se com a chegada dos portugueses. início da Era Vargas, que surgem as reformas Cabe ressaltar que a educação que se praticava educacionais mais modernas. A primeira Lei de entre as populações indígenas não tinha as mar- Diretrizes e Bases é promulgada em 1946 (Lei nº cas repressivas do modelo educacional europeu. 4.024/61), que instiga o desencadeamento de vá- No Período Colonial, a educação no País rios debates acerca do tema. A história da educa- inicia-se quando começam as primeiras relações ção no Brasil, como um processo sistematizado entre Estado e educação, por meio dos jesuítas de transmissão de conhecimentos, é indissociá- que aqui chegaram em 1549. Em 1640, houve vel da história da Companhia de Jesus. As nego- a expulsão dos jesuítas (reformas pombalinas), ciações de d. João III, “o piedoso”, junto a esta passando a ser instituído o ensino laico e públi- ordem missionária católica pode ser considerado co, com conteúdos baseados nas Cartas Régias. um marco.

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8 DIVERSIDADE ÉTNICA, CULTURAL E RELIGIOSA

A diversidade étnica, cultural e religiosa que enreda o tecido social da região do Bonsuces- so, urdido com fi os de diferentes cores e textu- ras, revestem o conjunto de textos e imagens que constituem este livro, revelando as contribuições fundamentais para a compreensão do processo de ocupação humana do território guarulhense. A multiplicidade étnica, cultural e religiosa da região do Bonsucesso é um microuniverso do que ocorre não só em Guarulhos, mas também no Estado de São Paulo e em todo o Brasil. Aqui, as três formas iniciais de organizar a vida social e de conceber e expressar a realidade entraram em contato: a dos indígenas, primeiros habitantes do território; a dos portugueses colonizadores; e a dos africanos escra- vizados. Se for verdade que herdamos de nossos ancestrais indígenas e africanos a necessidade de se ter símbolos materiais eloquentes e efi cazes para acompanhar nossa vida, que é o papel da terra na tradicional Festa de Nossa Senhora do Bonsuces- so, também é verdade que os portugueses fi xaram entre nós o “hábito” da organização social em tor- no de uma igreja – lembremos que desde o início do Período Colonial (1532), até a promulgação da primeira Constituição Republicana (1891), a Igreja Católica fazia parte do Poder Público, não havendo

Festa de Nossa Senhora do Bonsucesso. de Nossa Senhora Festa separação entre as estruturas civil e eclesiástica. 99 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Modernamente, o Cristianismo passou a se expressar também por meio das igrejas oriundas do Protestantismo, como a Presbiteriana, a Ba- tista, a Metodista, a Luterana, a Pentecostal, a Messiânica, as igrejas Brasil para Cristo, Congre- gação Cristã no Brasil e Perfecty Liberty, além de segmentos religiosos orientais como o Budis- mo e Seicho-No-Ie. O universo religioso de ma- triz africana, do qual fazem parte a Umbanda e o Candomblé, também permanece. Doutrinas como o Espiritismo ganharam espaço, transformando o Brasil no país com o maior número de espíritas do mundo. Capela de São Benedito dos Homens Pretos – Bonsucesso.

Evento realizado no C.M.E. Paschoal Lemme, julho de 2010. Congregação Cristã no Brasil – Jardim Fátima. A partir do século XX, os imigrantes eu- ropeus e asiáticos, os árabes e os libaneses, os paulistas do interior, os mineiros, os cariocas e os nordestinos, entre outros grupos populacionais, acrescentaram com a sua presença novos elemen- tos à já variada gama de ritmos, cheiros, cores e sabores da cultura nacional. MARCAS DA IMIGRAÇÃO As marcas da diversidade, presentes na construção de Guarulhos, podem ser notadas em cada detalhe da cidade, conforme a aborda- gem sobre as olarias de Felipe Romano ou do Zé Italiano, o predomínio de nomes japoneses nas lápides do Cemitério do Bonsucesso, o pionei- rismo de outros povos imigrantes no processo de urbanização de certos bairros e a lembrança

de remotas localidades nordestinas nomeando Instituto Allan Kardec “Alice Pereira” – Jardim as ruas. Presidente Dutra.

100 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO PRAÇA OROBÓ No centro geográfi co do Jardim Presidente Du- tra fi ca a Praça Orobó, palavra indígena que nomeia uma fruta muito utilizada em certos rituais do Can- domblé, mas que também é o nome de um município pernambucano localizado a 112 quilômetros da Ca- Foto: Projeto Bonsucesso em Foco (FunCultura). pital, Recife. Há também a Serra Orobó, no interior do Estado da Bahia, palco de lutas entre indígenas e bandeirantes à procura de ouro no século XVIII. Enriquecido por essa carga simbólica, o cen- tro comunitário da Praça Orobó foi transformado, em 2002, num complexo de cultura e lazer com Igreja Japonesa Tenrikyo – Vila Carmela. campo de futebol, quadra poliesportiva, pista para caminhada e uma biblioteca para uso da comuni- dade, tornando-se referência para a implantação de outros espaços do gênero na cidade de Guarulhos.

Casa das Irmãs Franciscanas – Bonsucesso.

Praça Orobó – Jardim Presidente Dutra. BLOCO CARNAVALESCO DA VILA CARMELA Em 1987, as reuniões semanais de um time de futebol society, acompanhadas por instrumen- tos de percussão, cuja saudação era O treme-tre- me é raça / O treme-treme é fogo / Se vacilar é treme-treme de novo, deram origem ao Bloco de Carnaval Treme-treme, fundado por Alfrânio Moura, Valmir e Celso Vermelhinho, todos mo- radores de Vila Carmela. Em 1992, o Treme-treme realizou o seu primeiro desfi le, com cerca de 30 componentes, pelas ruas do bairro. No carnaval de 2010 apre-

Paróquia Santa Cruz e Nossa Senhora Aparecida – sentou o samba-enredo 450 anos de Guarulhos, Jardim Presidente Dutra. composição de Jaú, Jajá e Celso Vermelhinho.

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9 CIRCUITOS TURÍSTICOS PATRIMÔNIOS HISTÓRICOS E AMBIENTAIS

Apresentar um circuito turístico não é a mesma coisa que falar de roteiro turístico. É mais que isso. É algo referenciado na história, na cultu- ra e na história natural. Jamais poderíamos contar a história da mine- ração em Bonsucesso se em sua formação geoló- gica não houvesse ouro. A história do Bonsucesso poderia ser muito diferente se em seu território não existisse o Rio Baquirivu Guaçu, por exemplo. A construção de circuitos turísticos exige o diálogo entre diferentes áreas do conhecimento para explicar os tipos de patrimônios materiais e imateriais existentes na região. A realidade é mui- to mais complexa para ser compreendida, apenas, a partir da história social.

103 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! CIRCUITO 1 – SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DO BONSUCESSO Quando chegamos à Praça de Nossa Senho- ra do Bonsucesso, temos a sensação de estarmos em um lugarejo, numa pequena cidade do interior do Brasil. Nas partes mais altas da praça estão localizadas duas igrejas, muito próximas. A dos brancos foi chamada de Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso. A dos negros recebeu o nome de São Benedito. Entre os dois templos religiosos fi ca a Sala dos Milagres. A pequena praça é cortada por um ramal da antiga Estrada Geral, aberta em 1600 para ligar as lavras de ouro do Bonsucesso às da Capitania de São Vicente. A poucos metros da Praça do Bonsu- cesso Velho fi ca o Cemitério, um dos mais antigos de Guarulhos. A praça é cercada por um casario que, apesar de muito modifi cado, guarda traços da época da vila rural da antiga Fazenda do Bonsucesso. Na praça chegou a existir uma Subdelegacia de Polícia. A Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso e a de São Benedito são tombadas como patrimônios históricos da cidade pelo Decreto no 21.143, de 2000. SALA DOS MILAGRES A Sala dos Milagres, localizada nas depen- dências da Paróquia do Bonsucesso, pode ser vis- ta como um dos principais símbolos da diversida- de cultural e religiosa que a região abriga. Nela encontram-se objetos de todo tipo: fotografi as, quadros, cartas de agradecimento, saquinhos com terra da ‘carpição’ e objetos ligados às graças alcançadas (como peças de cera no formato do órgão ou membro do corpo curado), lá deixados como pagamento de ‘promessas’ feitas à Santa em troca do atendimento aos pedidos diversos, incluindo a cura de enfermidades de animais. A presença de tais objetos, entre eles uma imagem de Iemanjá (própria das religiões de ma- triz africana) e outra do padre Cícero (originária da realidade popular nordestina), mostra que as crenças locais não são apenas aquelas que se en- quadram propriamente na tradição católica, fun- dada pelos portugueses no Brasil.

Celebração do Dia da Carpição (2/7/2010).

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Morro Nhanguaçu. Ao fundo, a Serra do Itaberaba, com 1.438 metros de altitude. CIRCUITO 2 – PAISAGENS NATURAIS Partindo da Vila do Bonsucesso Velho pela Estrada do Morro Grande, chega-se a uma porção da maior área verde em meio urbano do mundo. Trata-se da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo (RBCV), tombada como patrimônio da humanidade pela Unesco, em 1993, e pela Pre- feitura, mediante o Decreto no 21.143, de 2000. Localizada nas porções norte, nordeste e leste da região do Bonsucesso, a biodiversidade encanta pela quantidade de nascentes de água, pela variedade de vegetação da Mata Atlântica, pela grande quanti- dade de espécies animais e por suas montanhas. Tra- ta-se de uma região intermediária, onde localizam-se os pontos de maior e menor altitude de Guarulhos. No circuito, pode ser observado o Florestal Municipal Burle Marx, o Lago do Bairro Azul, a Ca- choeira do Parque Orquidiama, o Pesqueiro Ponte Preta e o Mirante do Bairro Água Azul. Centro de Educação Ambiental – Parque Burle Marx.

Bairro Água Azul. Futuras instalações do Parque Aquático.

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Morro Nhanguaçu, popularmente conhecido como Mirante do Água Azul ou “Morrão”.

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Aglomerado de cascalho – Antigo garimpo de ouro do Bairro Jardim Hanna.

CIRCUITO 3 – VÁRZEA DO RIO BAQUIRIVU GUAÇU Do processo de colonização portuguesa, Da exploração do ouro, passando pela pro- ocorrida em Bonsucesso, à industrialização, é dução dos engenhos, chácaras, olarias, portos de possível observar em diversas partes do território areia, aos modernos galpões industriais, a memó- as marcas dos distintos períodos de exploração ria econômica pode ser observada, principalmen- dos recursos naturais da região. te, na várzea do Rio Baquirivu Guaçu.

Forno de olaria de “queima” de tijolos.

Famílias agricultoras às margens do Baquirivu. Modernas instalações industriais do Jardim Fátima.

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108 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

10 DESAFIOS

As experiências narradas nas páginas deste livro ensinam que o lugar em que hoje vive- mos é apenas um instante da imensa e incessante transformação geológica do planeta. Ensinam tam- bém que o homem, como parte desse movimento, interfere no mundo natural, sendo ao mesmo tempo transformado a cada ação. Trata-se, além disso, de uma ação coletiva, que ganha dimensões épicas no jogo de luz e sombras da história. Indígenas, portugueses, africanos, imigrantes estrangeiros e brasileiros, todos construíram o Bra- sil, o Estado de São Paulo, a cidade de Guarulhos e a região do Bonsucesso. E, ao longo do tempo, no constante embate entre as forças sociais, alguns de- safi os foram transformados em conquistas, veremos a seguir. Manifestação dos moradores da região por água, em frente ao SAAE (Serviço Autônomo de Água e Esgoto), em 1987.

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Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Bonsucesso. SANEAMENTO AMBIENTAL regos. Para alcançar o desafi o da convivência das águas entre as pessoas, a Prefeitura de Guarulhos Saneamento ambiental engloba o esgotamen- elaborou seu Plano Diretor de Drenagem, disponí- to sanitário, resíduos sólidos (coleta, reciclagem e vel em www.guarulhos.sp.gov.br destinação fi nal do lixo), drenagem das águas de chuva e abastecimento de água (este item não será abordado pois o sistema já está universalizado). Esgotamento Sanitário: O Plano Diretor do Sistema de Esgotamento Sanitário (PDSE), elaborado entre 2003 e 2004, prevê a constru- ção de cinco Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) no Município, a saber: São João, Várzea do Palácio, Cabuçu, Fortaleza e Bonsucesso. Está prevista também a implantação de coletores-tron- Enchente no Rio Baquirivu Guaçu. Acervo PMG. co para a condução do esgoto até as ETEs. REGULARIZAÇÃO DE LOTEAMENTOS Resíduos sólidos: São varridos e coletados perto de 100% do lixo em Guarulhos e encami- Durante as nossas pesquisas junto aos mo- nhado ao Aterro Sanitário Quitaúna, no Cabuçu. radores dos diversos bairros da região do Bon- O desafi o para a região do Bonsucesso e toda sucesso, observamos uma constante preocupação Guarulhos é a reciclagem deste lixo. com a regularização dos terrenos e com a neces- Enchentes: Quando chove intensamente, as sidade de obras de melhoria. Centenas de famí- águas nos rios e córregos extravasam para as áreas lias que compraram ou ocuparam lotes não con- marginais ou várzeas, num fenômeno natural co- seguem obter as escrituras ou os títulos de posse nhecido como enchente ou inundação. As enchentes das casas. Onde estão as raízes desse problema? são agravadas pela ocupação urbana, principalmen- Na má fé do loteador que, conhecedor do que o te com a consequente impermeabilização excessiva obriga a Lei no 6.766/79 (parcelamento e uso do do solo, por meio de superfícies cimentadas, ruas solo), não cumpre com as suas obrigações legais? asfaltadas e telhados das edifi cações, fazendo com Na omissão dos órgãos ofi ciais no processo de que as águas de chuva escoem mais rapidamente fi scalização? Na falta de organização efi ciente da para as chamadas várzeas, terrenos baixos e planos. população para exigir os seus direitos? Estes são os espaços que a natureza reservou para Todas as alternativas estão corretas. Sem a as águas, os pontos baixos, aumentando o volume vigilância das autoridades e sem a pressão orga- de água acima da capacidade natural dos rios e cór- nizada dos principais interessados, os responsá-

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Avião decolando no Jardim Presidente Dutra. Acervo PMG. veis por tais loteamentos fi cam mais à vontade IDENTIDADE para ludibriar a população. Além disso, o poder Em relação a esse tema, o grande desafi o do público fi ca impedido legalmente de implantar município é assumir uma identidade própria, já infraestrutura em áreas particulares não regulari- que o conjunto de seus moradores acostumou-se zadas perante a justiça. à ideia de que Guarulhos não passa de um mi- Ainda existe a problemática de grandes ter- crouniverso de São Paulo. renos desocupados, especulando e não cumprindo Entretanto, o reconhecimento do pioneiris- o que a Constituição brasileira prevê: o uso social mo da extração de ouro no território e da Serra da propriedade, enquando milhares carecem de da Cantareira como um patrimônio ambiental da terrenos para construir suas casas. cidade, a valorização da tradição histórica da Fes- A INCÔMODA PRESENÇA ta do Bonsucesso e o reaproveitamento do espa- DO AEROPORTO ço da antiga Fábrica Adamastor, a construção do Os bairros mais impactados pela presença Viaduto Cidade de Guarulhos e os esforços de re- do Aeroporto Internacional são o Jardim Presi- paração pela demolição da Igreja do Rosário dos dente Dutra, Inocoop, Jardim Triunfo e Jardim Homens Pretos, são iniciativas de recuperação da Fátima, principalmente. São aproximadamente diversidade identitária guarulhense. 250 pousos ou decolagens que diariamente in- ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO DO comodam os moradores com a poluição sonora ENSINO BÁSICO (IDEB) provocada pelo tráfego de aeronaves. De modo geral, os efeitos do ruído aero- Há um consenso na sociedade brasileira de náutico são manifestados de forma direta na co- que o Sistema Brasileiro de Ensino está universa- munidade, como os desconfortos e modifi cações lizado. O grande desafi o é a elevação do aprovei- no comportamento das pessoas, tais como difi - tamento escolar. culdade para dormir, irritação, falta de capacida- Para tanto, foi criado pelo Governo Federal, de de concentração, além de interferências nos o Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico aparelhos eletrônicos e rachaduras nos imóveis, (Ideb), destinado a subsidiar o aperfeiçoamento nos casos mais graves. Há consenso sobre os da- das políticas educacionais. Por meio de avalia- nos na capacidade auditiva das pessoas, uma vez ções dos alunos e com escala de 0 a 10, é possível que tal impacto é provocado pela incidência de se ter uma ideia da qualidade do ensino. ondas sonoras no aparelho auditivo e, por esta ra- Na região do Bonsucesso, de modo geral, zão, não está relacionado a percepções subjetivas a média do índice elevou-se nas redes municipal e sim a danos físicos diretos. e estadual. 111 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

112 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

11 SÍMBOLOS OFICIAIS

Todos os entes da República Federativa do Brasil têm os seus respectivos símbolos ofi ciais: a Bandeira, o Brasão de Armas e o Hino, no caso dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e também o Selo Nacional, no caso da União. O Selo Nacional reproduz a esfera existente no cen- tro da Bandeira do Brasil e é de uso obrigatório em qualquer ato do Governo e em diplomas e certifi - cados escolares. Já o Brasão de Armas da União deve estar presente em todos os edifícios-sede dos Três Po- deres (Executivo, Legislativo e Judiciário), bem como nos quartéis militares e policiais de todo o País. Os papéis ofi ciais federais também devem ser timbrados com o Brasão de Armas Nacional. . Óleo sobre tela, 1999. Este quadro tem mais de 400 reproduções espalhadas por todo o Igualdade Brasil. O pintor baiano Haroldo Santos, autor da obra, é morador do Bairro Água Azul. Brasil. O pintor baiano Haroldo Santos, autor da obra,

113 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! OS SÍMBOLOS DE GUARULHOS O Brasão de Armas foi o primeiro símbolo modifi cações, fato que revela as transformações ofi cial instituído no município, em 1932. A Ban- históricas pelas quais vem passando a cidade. deira e o Hino vieram 39 anos depois (1971), em- BRASÃO ORIGINAL bora o Hino a Guarulhos tenha surgido em 1960, por meio de um concurso realizado como parte Acima do escudo por- das comemorações do IV Centenário de fundação tuguês está a coroa privativa da cidade. das municipalidades. A lua crescente simboliza Nossa BANDEIRA Senhora da Conceição e a cruz representa a pre- sença da instituição católica no município. As três cabeças homenageiam os indígenas, os bandei- rantes e os colonizadores portugueses. As aves ao lado do escudo são anhumas, que outrora empres- taram seu nome ao Rio Tietê (Rio das Anhumas). Abaixo do escudo, há ramos de cana-de-açúcar e de trigo, que Taunay considerou serem as duas mais antigas culturas do município. Na fi ta, a fra- se latina “vere pavlislarvm sangvis mevs” – meu sangue é verdadeiramente paulistano. Instituída pela Lei no 1.679, de 7 de dezem- Em 1971, Jean Pierre Herman de Morais bro de 1971, e calcada no trabalho do heraldista Barros, nomeado interventor (junho de 1970/ja- Arcinoé Antônio Peixoto Faria, a Bandeira Mu- neiro de 1973) para substituir o então prefeito nicipal simboliza o espírito cristão de Guarulhos Alfredo Antônio Nader (janeiro/junho de 1970), (esquartejamento em cruz), a administração mu- cassado pelo Regime Militar, mandou modifi car, nicipal (Brasão) e a sede do governo (losango). de maneira equivocada, o Brasão. As faixas determinam o Poder Municipal a expan- dir-se por todos os quadrantes do território e os SEGUNDO BRASÃO quartéis representam as suas propriedades rurais. O azul simboliza a justiça, a nobreza e a perseverança. O selo, a lealdade, a recreação e a formosura. O branco representa paz, trabalho, amizade, prosperidade e pureza. O amor, a dedi- cação, a audácia, o desprendimento, o valor, a in- trepidez, a coragem e a valentia são simbolizados pelo vermelho. BRASÃO DE ARMAS Foi instituído no dia 1o de fevereiro de 1932, em ato do major reformado da Polícia Militar A representação bandeirante foi suprimida e Ariovaldo Panadés, prefeito (abril de 1931/agosto as fi guras indígenas fi caram mais parecidas com os de 1932) nomeado pela Ditadura Vargas. Elabo- astecas do que com os povos indígenas brasileiros. rado pelo engenheiro Affonso Taunay, o Brasão No início dos anos 1990, o prefeito Paschoal passou a ser obrigatório em todas as repartições e Thomeu (1989/1992) nomeou uma comissão que, impressos da municipalidade a partir de setembro após cuidadoso e exaustivo trabalho, restaurou e daquele ano. Esse símbolo municipal já sofreu três melhorou os valores simbólicos do brasão original, 114 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO trabalho este aprovado pela Câmara Municipal por HINO meio da Lei no 3.761, de 24 de abril de 1991. A letra do Hino a Guarulhos foi escrita BRASÃO RESTAURADO pela professora Nicolina Bispo, com música de Valorizou a simbologia original. Vicente Aricó Júnior e orquestração de Wences- lau Nasari Campos. HINO A GUARULHOS Sob o céu desta Pátria querida mais cem anos de luta e labor cingem hoje o teu nome Guarulhos, que se ergueu por seu próprio valor. Chaminés, como lanças erguidas, nos apontam o caminho a seguir trabalhando, vencendo empecilhos, desfraldando o pendão do porvir. BRASÃO ATUAL Tuas praças são livros abertos, onde lemos futuro e glória. Crispiniano e Bueno fulguram como vultos eternos na História. Que teu nome em mais um centenário e na língua Tupi proclamado, seja um hino de paz, de esperança, por teu povo feliz entoado. Pequenina nasceste, João Álvares, jesuíta, benzeu-te com fé. Tu és hoje cidade progresso, uma terra que vence de pé. Instituído pela Lei no 6.357, de 25 de março Eia, pois, guarulhenses, avante, de 2008, sintoniza-se com as conquistas demo- com bravura na luta febril, cráticas dos últimos anos. Nele foram introduzi- Por São Paulo e por tudo o que é nosso, das as fi guras de uma mulher e de um negro. e, acima de tudo o Brasil!

Paço Municipal, em 1976 – Antiga Sede da Fazenda Bom Clima.

115 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! GALERIA DE PREFEITOS INDICADOS E ELEITOS POR VOTO DIRETO

Capitão Gabriel Felício Antônio Alves Zeferino Pires José Maurício de João Eduardo José Antônio 1915 a 1916 de Freitas Oliveira Sobrinho da Silva 1908 a 1915 1917 a 1919 1919 a 1930 1930 1940 a 1945

Delezino de Almeida Dr. Alberto Cardoso Major Ariovaldo Dr. Alfredo Ferreira Carlos Panadés Franco de Melo Panadés Paulino Filho 1933 1930 a 1931 1931 1931 a 1933 1932

Guilhermino Rodrigues Gentil Bicudo José Saraceni Major José Moreira Dr. Heitor Maurício de Lima 1936, 1938 e 1945 1936 Matos de Oliveira 1933 a 1938 1938 a 1940 1945 a 1947

Vasco Elídio Egidio Dulce Insuelo João Mendonça Dr. Olivier Ramos Fioravante Iervolino Brancaleoni Macedo Falcão Nogueira 1948 a 1952 1945 1947 1947 1947 a 1948 1957 a 1961 116 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO

Antônio Prátici Rinaldo Poli Dr. Mário Antonelli Francisco Antunes Waldomiro Pompêo 1952 a 1953 1953 a 1957 1961 a 1966 Filho 1966 a 1970 1962 1973 a 1977

Alfredo Antônio Jean Pierre Hermann Prof. Néfi Tales Dr. Rafael Rodrigues Dr. Oswaldo Nader de Morais Barros 1977 a 1982 Filho de Carlos 1970 1970 a 1973 1997 a 1998 1982 a 1983 1983 a 1988

Paschoal Thomeu Vicentino Papotto Jovino Cândido Elói Pietá Sebastião Almeida 1988 a 1992 1993 a 1996 da Silva 2001 a 2004 2009 a 2012 1998 a 2000 2005 a 2008

Obs.: Não constam nesta galeria as fotos do intendentes (cargo correspondente ao de prefeito) – Capitão Joaquim Francisco de Paula Rebello; Antônio José Siqueira Bueno; Junta de Intendentes (Vicente Ferreira de Siqueira Bueno, Felício Marcondes Munhoz, Antônio Dias Tavares e Luiz Dini); Jesuíno José de Souza; Lúcio Francisco Pereira Paiva; Lúcio Francis- co Pereira; João Francisco da Silva Portilho; Dr. Leonardo Valardi; Capitão João Teófi lo de Assis Ferreira. Ata de instalação da Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos (Município):

“Aos vinte e quatro dias do mês de janeiro de 1881, nesta Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, comarca da imperial cidade de São Paulo, na casa destinada para sessões da Câmara Municipal da mesma, ao meio- dia, comparecerão os Srs. Presidente e Vereadores da Câmara Municipal da Capital, D. João Mendes de Almeida Junior, Américo Brasiliense, Almada Melho, Antônio Francisco Aguiar Castro, Augusto de Souza Queiróz, TTE Cel. Antônio José Fernandes Braga, para a instalação da Câmara Municipal da Vila de Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, e dar juramento e posse aos vereadores eleitos (...)” 117 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

Tropeiro na Vilinha do Bonsucesso Velha. Autoria e data desconhecidas. RETROSPECTIVA HISTÓRICA ...Memórias nos ajudam a fazer sentido no mundo em que vivemos... embutido em relações com- plexas de classe, gênero e poder, que determinam o que pode ser relembrado (ou esquecido), por quem e para que fi m. Marilena Chauí

• 1,5 Bilhões de Anos – Geologia em • 1553 – Primeira Vila fora do litoral: Guarulhos: A Terra tem aproximadamente 4,5 Implantação da Vila de Santo André da Borda bilhões de anos. Os eventos geológicos mais do Campo. antigos em Guarulhos retrocedem há um bilhão • 1554 – Fundação do Colégio São Pau- e quinhentos milhões de anos, época em que o lo: Com a transferência da Vila de Santo André território era coberto por um oceano. Existia vul- da Borda do Campo para o povoado de São cões e terremotos. Paulo dos Campos de Piratininga. Já, em 1560, • 65 milhões de Anos – Formação do é criada a Vila de São Paulo. Relevo: Por ocasião da separação dos conti- • 1560 – Guarulhos Aldeia: Data ofi cial da nentes, Guarulhos adquiriu as principais carac- fundação de uma aldeia indígena em Guarulhos. terísticas do seu relevo atual. • 1580 – Aldeia de Ururaí: Carta de ses- • 12 mil anos – Primeiros Brasileiros: Che- maria criando a aldeia real de São Miguel Paulis- gam à “América”, por meio do Estreito de Bering, ta, pelas dimensões, o atual Bairro dos Pimentas os primeiros habitantes do território brasileiro. estava incluso. • 1400 – Primeiros Habitantes de Guaru- • 1597 – Ouro em Guarulhos: O bandei- lhos: Expulsos do litoral norte paulista, os indíge- rante paulista Afonso Sardinha e seu fi lho homô- nas Maromomi passam a frequentar mais intensa- nimo descobrem ouro em Guarulhos (Serra do mente a região em busca de alimentos. Jaguamimbaba, atual Itaberaba). • 1444 – Ouro como Moeda: Em Gênova, • 1600 – Estrada Ligando as Lavras de na Itália, decide-se que todos os pagamentos Ouro: Abertura da Estrada Geral, também co- seriam efetuados em ouro. nhecida como Estrada Velha de Bonsucesso. • 1500 – Essa Terra Tinha Dono: Chega- • 1612 – Carta de Sesmaria no Baqui- da de Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro, fato rivu Guaçu: Geraldo Correia Sardinha ganha que levará à colonização portuguesa e expro- carta para explorar ouro no Maquirobu (Rio Ba- priação das terras indígenas. quirivu Guaçu). • 1532 – Primeira Vila do Brasil: Fundação • 1640 – Nossa Senhora da Conceição: das Capitanias e criação da Vila de São Vicente. Guarulhos deixa de se chamar “Nossa Senho-

118 NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS! - REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO ra da Conceição dos Maromomi” e passa a ser • 1889 – Brasil República: Dia 15 de no- denominada “Nossa Senhora da Conceição dos vembro ocorre a Proclamação da República. Por Guarulhos ou dos Goarulho”. Expulsão dos pa- conta desse fato, quatro intendentes foram no- dres Jesuítas do Brasil. meados para a Câmara de Vereadores: Felício • 1660 – Invasão das Aldeias Reais: A Marcondes Munhoz, Vicente Ferreira de Siquei- partir dessa data, bandeirantes passam a ocu- ra Bueno e Luiz Dini. par as terras das aldeias reais. • 1908 – Imigração Japonesa: Começam a • 1666 – Escravidão Indígena: O bandei- chegar a São Paulo os imigrantes japoneses. En- rante Francisco Cubas Preto (um dos primeiros tre 1923 e 1927, Guarulhos passa a receber muitos proprietários de terras em Bonsucesso) participa japoneses provenientes do interior de São Paulo. de expedição à Serra da Mantiqueira em busca • 1910 – Imigrantes do Oriente Médio: O de força de trabalho indígena. libanês Antônio Jorge se estabelece como co- • 1670 – Capela de Fazenda: Francisco merciante de tecidos na atual Rua Dom Pedro II, Cubas Preto manda erguer na fazenda uma cape- loja Dois Irmãos. la, que até hoje conserva o nome de Bonsucesso. • 1940 – Migrantes Nacionais: Guarulhos • 1675 – Distrito: Guarulhos foi decretado passa a receber muitos migrantes nacionais, es- como uma divisão territorial e administrativa li- pecialmente do Nordeste, de Minas Gerais e de gada a São Paulo. cidades do interior de São Paulo e do Paraná. • 1685 – Guarulhos Freguesia e Paró- População: 13.439 habitantes. quia: Guarulhos é elevada à condição de Fre- • 1942 – Segunda Guerra e os japoneses: guesia. Concomitante, foi criada a Paróquia de Assim como em todo o Brasil, os japoneses que resi- Nossa Senhora da Conceição dos Guarulhos, diam em Guarulhos sofreram perseguições e reagi- atual Igreja Matriz, na Praça Tereza Cristina. ram boicotando a produção de uniformes militares. • 1741 – Dia da Carpição: De acordo com • 1945 – Base Aérea: Inaugurada a Base a documentação da Igreja Católica, ocorreu pela Aérea de São Paulo, em Cumbica. primeira vez o Dia da Carpição, bem como a fes- • 1950 – Paróquia: Criação da Paróquia ta de Nossa Senhora do Bonsucesso. de Nossa Senhora do Bonsucesso. • 1750 – Igreja dos Homens Pretos: De • 1951 – Rodovia Presidente Dutra: É acordo com certidão da Diocese de Guarulhos, inaugurado no dia 15 de julho o trecho de 21 qui- a Igreja da Irmandade de Nossa Senhora do Ro- lômetros da Via Dutra, em Guarulhos. Popula- sário dos Homens Pretos foi benta na segunda ção: 35.523 habitantes metade do século XVIII. • 1955 – Nova Bonsucesso: Inauguração • 1800 – Igreja do Bonsucesso e Capela do loteamento Vila Nova Bonsucesso. de São Benedito: São edifi cadas a atual Igreja de • 1964 – Regime Militar: Instaurado o Re- Nossa Senhora do Bonsucesso e a Capela de São gime Militar que duraria 21 anos. Benedito, a mando de Antônio Xavier D’Ávila. • 1968 – AI-5: O Ato Institucional nº 5 suspen- • 1870 – Imigração Estrangeira: O Esta- de os direitos individuais de todos os brasileiros. do de São Paulo passa a receber grande fl uxo • 1980 – Auge da Imigração. Lutas Popula- de imigrantes europeus. Em 1883, há registro da res e Sindicais: A crise econômica e o crescimento presença de imigrantes italianos em Guarulhos. repentino das cidades levam os trabalhadores a lutar • 1880 – Guarulhos Município: Median- por aumento de salário e melhores condições de vida. te a Lei n.º 34 Guarulhos é elevado à condição Neste contexto, há o enfraquecimento do Regime Mi- de Vila (município), desmembrando-se de São litar e o clamor cresce para a redemocratização do Paulo. Ato que permitiu a criação dos Três Po- País. No dia 8 de dezembro, Guarulhos comemora deres: Legislativo, Executivo e Judiciário. 100 anos da criação do Município (1880-1980). Po- • 1884 – Produção de Tijolos: Inicia-se pulação. 532.724 habitantes (migrantes 71,3%). a produção de tijolos cozidos em Guarulhos, • 1981 – Diocese de Guarulhos: Em 5 de exemplar existente no Museu da Cidade. abril, é criada a Diocese de Guarulhos. Seu pri- • 1885 – Nomeação de Professora: Dia meiro bispo d. João Bergese. 5 de agosto o intendente capitão Joaquim Fran- • 1985 – Aeroporto de Cumbica: Dia 20 de cisco de Paula Rebelo nomeia uma professora janeiro acontece a inauguração do Aeroporto Inter- para lecionar na vila. nacional de São Paulo – Guarulhos (Cumbica). 119 REVELANDO A HISTÓRIA DO BONSUCESSO E REGIÃO - NOSSA CIDADE, NOSSOS BAIRROS!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Alceu Maynard. Cultura Popular Brasileira. São Paulo: Melhoramentos; Brasília: Inl-Mec, 1973. CHEVALIERA, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos. 8ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1994. FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas do Brasil. São Paulo: Comissão IV Centenário, 1954. LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Notícias das Minas de São Paulo e dos Sertões da Mesma Capitania. Belo Horizonte, Editora Itatiaia. MACEDO, Washington Ribeiro de. A Igreja e a Festa de Nossa Senhora do Bonsucesso: Pa- trimônios Históricos e Culturais de Guarulhos. Trabalho de conclusão de curso – Faculdades de Guarulhos, 2005. MARQUES, Manoel E. Azevedo. Apontamentos Históricos, Geográfi cos, Biográfi cos, Estatís- ticos e Noticiosos da Província de São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980, 2 v. (Col. Reconquista do Brasil, nova série, v. 3-4). MATOS, Raimundo José da Cunha. Coreografi a Histórica da Província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 2 v. (Publicações do Arquivo Público Mineiro, v. 1 e 2). PIETÁ, Elói. Revirando a História de Guarulhos. Cajá. PINHEIRO, José Elmano de Medeiros. Genealogia Geográfi ca e Histórica no Espaço Paulis- ta. O bairro de Itaquera – As Minas de São Paulo. Universidade de São Paulo. Trabalho de Gradu- ação Individual: TGI-II, 2000. PINHEIRO, Maurício. Santuário de Nossa Senhora do Bonsucesso: Uma Longa Tradição Pro- fana. Dissertação de Mestrado – Unesp, 2004. PREZIA, Benedito. Conversão dos Cativos. Humanitas. PREZIA, Benedito. Os indígenas do planalto nas crônicas quinhentistas e seiscentistas. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP, 2000. RANALI, João. Repaginando a História. Guarulhos: Soge – Faculdades Integradas de Guaru- lhos, 2002. ROMÃO, José Gasparino; NORONHA, Adolfo de Vasconcelos. Guarulhos 1880-1980. Gua- rulhos: PMG/Academia Guarulhense de Letras, 1980. SANTOS, Carlos José Ferreira dos. Identidade urbana e globalização. A formação dos múlti- plos territórios em Guarulhos/SP – Simpro. Guarulhos. Editora Annablume, 2006. VÁRIOS. Conto, canto e encanto com a minha história... Guarulhos – Espaço de muitos povos. 2a Ed. São Paulo: Noovha América Editora, 2009.

Consulte também as obras sugeridas ao longo desta publicação, mencionadas nos boxes “Para Saber Mais”.

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