Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

VULNERABILIDADE NATURAL DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM ÁREA DO TABULEIRO DO MARTINS – MACEIÓ – - BR

José Vicente Ferreira Neto Rua Mariontina Cavalcante, 16, Pajuçara - 57030-610 - Maceió - AL Telefone/Fax: (82) 231-1430; E-mail: [email protected]

Ricardo José Queiroz dos Santos Conjunto Carajás, Rua E, 42, Serraria – 57046-390 – Maceió – AL Telefone: (82) 328-2028; E-mail: [email protected]

Paulo Roberto Bezerra Wanderley Rua Rivadávia Carnaúba, 23, Farol – 57057-260 – Maceió – AL Telefone: (82) 241-9457; E-mail: [email protected]

Perillo Rostan de Mendonça Wanderley Rua Rivadávia Carnaúba, 23, Farol – 57057-260 – Maceió – AL Telefone: (82) 241-9457; E-mail: [email protected]

Abel Tenório Cavalcante Av. Álvaro Otacílio, 6889, Ap. 603, Jatiúca – 57037-270 – Maceió – AL Telefone/Fax: (82) 355-2122; E-mail: [email protected]

Tema: Uso e Proteção de Águas Subterrâneas

RESUMO: Foi estudada uma área localizada no domínio dos Tabuleiros Costeiros de Maceió, dentro da Bacia Sedimentar de Alagoas, onde as águas subterrâneas são intensivamente explotadas para consumo humano e industrial. Possui clima tropical, sub- úmido seco, com baixa amplitude térmica e precipitações anuais em torno de 1480 mm. Trata-se de uma bacia evaporimétrica, onde a recarga dos sistemas aqüíferos se dá principalmente pela infiltração do excedente de águas pluviais, estimada em 400 mm anuais. Das unidades litoestratigráficas, somente as formações Barreiras, Marituba e Poção são explotadas isoladamente ou em conjunto, quando formam um só sistema aqüífero. Dentre as atividades potencialmente poluidoras identificadas, destacam-se: sistemas de esgotamento sanitário, efluentes líquidos industriais, postos de combustíveis, e o sistema de drenagem da região, constituído de lagoas para amortecimento de cheias

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que são também utilizadas como corpos receptores de efluentes domiciliares e industriais. Apesar das atividades potencialmente poluidoras, o risco de contaminação é atenuado devido à baixa vulnerabilidade em cerca de 80% da área. É mais provável a contaminação dos sistemas aqüíferos nas áreas de vulnerabilidade moderada.

1. INTRODUÇÃO das águas de uma área localizada no bairro Sendo a água um recurso natural do Tabuleiro do Martins, em Maceió / AL, renovável e um bem que deve ser utilizado onde o elevado nível de explotação das pelo homem para sua sobrevivência e águas subterrâneas compromete sua melhoria de suas condições econômicas e qualidade e quantidade, além de sociais, torna-se evidente a necessidade de apresentar o grau de vulnerabilidade mantê-la com a qualidade e em quantidade dessas águas. suficientes ao atendimento dos seus A área estudada está situada no diversos usos. Contudo, devido ao domínio dos Tabuleiros Costeiros do incremento de sua utilização, resultante do Estado de Alagoas, na região norte da crescimento populacional e do cidade de Maceió, num interflúvio desenvolvimento industrial e agrícola, este tabuliforme pouco dissecado delimitado recurso natural pode se tornar poluído ou pelos rios Carrapatinho/Catolé, Messias ou mesmo escasso. do Meio, Riacho Doce, Jacarecica e Em Maceió, segundo a Reginaldo, totalizando cerca de 42,8 Km2, concessionária de abastecimento d’água, definida pelos paralelos 9o31’31” e 9o35’00” os recursos hídricos subterrâneos de Latitude Sul e pelos meridianos representam mais de 80% do consumo 35o44’18” e 35o47’56” de Longitude Oeste total e grande parte dos poços de captação de Greenwich, (Figura 01). se localizam na região do Tabuleiro do Martins. Maior preocupação, portanto, 2. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA deve-se ter, localmente, em preservar a ÁREA qualidade dessas águas subterrâneas visto 2.1 - Clima que, uma vez contaminadas, a sua De acordo com a classificação recuperação certamente exigirá pesados climática de THORNTHWAITE-MATHER investimentos além do longo período de (1955), Maceió possui clima sub-úmido tempo demandado. seco, com deficiência d’água moderada, Esse trabalho tem por objetivo megatérmico, com evapotranspiração mostrar a situação atual do uso do solo e potencial anual média de 1193 mm e 58 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

concentração da evapotranspiração Os ventos são de sudeste e nordeste, potencial no quadrimestre outubro-janeiro, sendo que os de nordeste são quase correspondente aos meses mais quentes sempre de verão. O vento predominante é do verão, igual a 39%. Caracteriza um de sudeste. clima tropical, com baixa amplitude térmica. A média mensal de insolação varia de A umidade relativa do ar atinge o máximo 5,7 a 6,2 h/dia na estação chuvosa, meses de 82,9% no mês de maio e a mínima de de maio a julho, atingindo o máximo médio 75,7% no mês de novembro. de 9,3 h/dia no verão (novembro a janeiro).

Figura 01 – Mapa de localização da área de estudo 59 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

A região está associada a chuvas. Caracteriza-se também por temperaturas elevadas o ano todo, com apresentar baixos índices de nebulosidade. amplitudes térmicas máximas de 6ºC. A pluviometria anual referente à Entretanto, a relativa homogeneidade Estação Maceió, série de 1913 a 1985 térmica contrasta-se com a grande (SUDENE, 1990), representada na Figura variabilidade espacial e temporal das 02, apresenta uma média de 1478,6 mm.

3000 Precipitação 2500 Média = 1478,6 mm

2000

1500

1000

PRECIPITAÇÃO (mm) 500

0 1913 1918 1923 1928 1933 1938 1943 1948 1953 1958 1963 1968 1973 1978 1983 ANO

Figura 02 - Pluviometria anual, Estação Maceió (1913 a 1985) Fonte: SUDENE

O balanço hídrico cíclico (Figura 03), Apresenta as seguintes foi obtido pelo método de características: THORNTHWAITE-MATHER (1955), • O mês de março é, potencialmente, considerando as médias mensais da o período de reposição hídrica. pluviometria (SUDENE), e as médias • O período de abril a agosto mensais de temperatura e evaporação corresponde ao período de excedentes (INMET), para o cálculo da hídricos. evapotranspiração potencial, corrigindo-se • O período de setembro a dezembro os valores obtidos para a duração real do corresponde ao período tanto de retirada mês e para o número máximo de horas de d’água do solo como também de sol, (TUCCI, 1993). deficiência hídrica.

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• O período de janeiro a fevereiro corresponde exclusivamente ao período de deficiência hídrica.

300 LEGENDA Precipitação (P) 250 Evapotranspiração Potencial (ETP) Evapotranspiração Real (ETR) 200 EXC : Excedente hídrico DEF : Deficiência RET : Retirada d´água do solo EXC 150 REP : Reposição (mm)

REP 100 DEF R E DEF 50 T

0 JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ MESES

Figura 03 – Balanço hídrico de Maceió segundo Thornthwaite-Mather

Por se tratar de uma bacia endorreica para diferentes períodos de retorno ou ou evaporimétrica, a recarga anual de água diferentes probabilidades de ocorrência da subterrânea na região pode ser estimada mesma, conforme apresentado na Tabela através do cálculo do excedente hídrico, 01, através da distribuição de probabilidade obtido pelo balanço mensal contabilizado do tipo Log-normal, que apresentou melhor para os anos com disponibilidade de dados ajuste aos totais anuais obtidos, (Figura de evaporação (Estação INMET, período: 04). 1946 a 1969). Com base nos totais anuais de excedente hídrico estimou-se a recarga

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1,0 0% 0,9 10%

0,8 20% ) 0,7 30% 0,6 40% 0,5 50% 0,4 60%

FREQÜÊNCIAS 0,3 70% Distribuição Log-Normal

0,2 80% PROBABILIDADES (% Freqüência Observada 0,1 90% 0,0 100% 0 200 400 600 800 1000 1200 EXCEDENTE HÍDRICO ANUAL (mm) Figura 04 – Distribuição de freqüências do excedente hídrico anual

Tabela 01 – Estimativa do excedente hídrico anual Período de retorno (anos) 2 5 10 20 50 100 Probabilidade (%) 50 80 90 95 98 99 Excedente hídrico (mm/ano) 505,5 349,6 288,4 245,9 205,6 182,4

2.2 - Geomorfologia endorreica, com as menores cotas (em A morfologia predominante na região torno de 65 m) formando uma depressão é a dos tabuleiros costeiros elaborados ou lagoa, localizada na área de interesse. desde o Terciário Superior a partir dos Essa configuração é de grande importância depósitos da Formação Barreiras. Essa para os aqüíferos subjacentes, fazendo da superfície é designada de “Superfície dos área preferencialmente uma zona de Tabuleiros” (MABESSONE & CASTRO, recarga, por favorecer sobremaneira a 1975). Apresenta declividade média de 3 infiltração direta a partir das precipitações. metros por quilômetro no sentido leste e A cota máxima observada na área é termina próximo à costa sob a forma de de 112 m, na parte sudoeste da mesma, falésias que bordejam a planície costeira. contrastando com a falésia que logo se Excetuando-se as áreas localizadas inicia em direção ao vale do rio Mundaú. na porção superior das bacias dos rios Reginaldo e Jacarecica, o relevo da área 2.3 – Hidrologia superficial mostra uma conformação de bacia

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A sudeste, no limite da área estudada, O restante da área estudada faz parte localiza-se a porção superior da bacia do do Tabuleiro do Martins, onde toda a água rio Reginaldo, caracterizado como um rio superficial provém das chuvas e escoa, influente. O leito do alto e médio Reginaldo geralmente, para as depressões naturais só apresenta vazões na ocorrência de existentes na área ou para as lagoas de precipitações que supram a deficiência de acumulação escavadas com a finalidade de umidade do solo ou que excedam sua atenuar as cheias, muito comuns na região, capacidade de infiltração, cessando logo de onde evapora ou infiltra no solo, após terminada a chuva. O baixo Reginaldo contribuindo para a recarga do aqüífero. se apresenta perene principalmente devido CAVALCANTE et al. (1992), ao despejo contínuo em seu leito das estudando as reservas dinâmicas de águas servidas pela população ribeirinha. aqüíferos da região, através de análise de A leste da área também está hidrógrafas, estimou para algumas localizada a porção superior da bacia pequenas bacias próximas à área de hidrográfica do rio Jacarecica, estudo, os coeficientes de esgotamento e caracterizado como efluente, volumes infiltrados ou descargas, que apresentando-se perene em quase toda correspondem a contribuição de base, sua extensão, em função da contribuição conforme Tabela 02. da água do lençol subterrâneo ao curso d’água.

Tabela 02 - Coeficientes de esgotamento e volumes infiltrados Bacias Áreas Coeficiente Infiltração Lâmina (km2) de (106m3/ano) infiltrada esgotamento (mm/ano) Remédios 42 0,006 21,0 500 Messias 70 0,006 20,0 286 Pratagy 53 0,007 17,0 321 Média: 376

Observa-se que a bacia do rio distribuição log-normal para um período de Messias, localizada no limite superior da retorno de 10 anos, portanto, com uma área, apresenta uma lâmina infiltrada de probabilidade de ocorrência de 90%, 286 mm/ano, valor correspondente ao (Tabela 01). excedente hídrico anual determinado pela 63 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

3. GEOLOGIA Segundo estudos de CAVALCANTE A Bacia Sedimentar Sergipe-Alagoas, et al. (1982), os aqüíferos, na região, onde está inserida a área de estudo, foi apresentam-se sob duas formas distintas. individualizada por FEIJÓ (1994), em Numa faixa que se inicia ao norte de função das importantes diferenças Maceió nas margens da lagoa Mundaú e se estruturais e estratigráficas, nas bacias estende para nordeste, a Formação Sergipe e Alagoas. Barreiras está sobreposta aos sedimentos A Bacia Alagoas ocupa uma faixa do Grupo Piaçabuçu representado alongada costeira de cerca de 220 km de principalmente pela Formação Marituba, extensão e 40 km de largura média, tendo ora funcionando como um só sistema como limite norte, o Alto de da aqüífero, ora como sistemas isolados, Bacia Pernambuco-Paraíba e ao sul, o Alto quando separados por camadas mais de Japoatã- da Bacia Sergipe. argilosas. E, no restante da região, a As perfurações realizadas pela Formação Barreiras passa em PETROBRÁS S.A. na região, penetraram profundidade para outras unidades mais as seguintes unidades litoestratigráficas: antigas do que a Formação Marituba, Formação Barreiras; Grupo Piaçabuçu podendo também formar um só sistema ou (Formações: Marituba, Mosqueiro e aqüíferos isolados. Calumbi); Grupo Sergipe (Formações: Os perfis dos poços da área mostram Cotinguiba e Riachuelo); Grupo a ocorrência dos sistemas Barreiras, (Formações: Maceió, Poção, Ponta Verde e Barreiras/Marituba e Barreiras/Poção, que ); Grupo Perucaba ora se apresentam livres, ora confinados. (Formações: Serraria, Bananeiras e A maioria dos poços da região Candeeiro); Grupo Igreja Nova explotam água da Formação Barreiras e, (Formações: Acararé e Batinga). somente em alguns, foram aproveitadas as seções arenosas da Formação Marituba e 4 – CARACTERÍSTICAS da Formação Poção para posicionamento HIDROGEOLÓGICAS de seções filtrantes. Atualmente, das unidades A Formação Barreiras, de idade mencionadas, são conhecidas Neocenozóica, é composta por areais regionalmente como aqüíferos: Formação quartzosas com intercalações de argilas e Barreiras; Formação Marituba do Grupo siltes de cores variegadas e com bolsões Piaçabuçu; e Formação Poção do Grupo ou mesmo camadas de seixos rolados em Coruripe. diversos níveis apresentando, 64 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

ocasionalmente, blocos de canga fanglomerado em matriz de arcósio, arcósio ferruginosa. Variações lateral e vertical de conglomerático e arcósio, via de regra, fácies ocorrem muito irregularmente, sendo biotítico. Os seixos e matacões são de constante, na maioria dos perfis, um rochas intrusivas ácidas e gnaisses, leitos horizonte basal constituído por arenito de folhelhos cinza-esverdeados ocorrem conglomerático ou mesmo conglomerado. intercalados. A partir de testes em poços que Em dois poços localizados mais a NW penetram o aqüífero Barreiras, utilizando o foram penetrados os arcósios método de JACOB (1964), foram estimados conglomeráticos da Formação Poção. os parâmetros hidráulicos: coeficiente de Para o sistema Barreiras/Marituba, transmissividade (T) e condutividade utilizando dados de poços parcialmente hidráulica (K) para este sistema aqüífero. penetrantes, os valores encontrados foram: Os resultados obtidos variaram, conforme: - Transmissividade ...... 1,99 x - Transmissividade ...... 1,6 x 10-4 a 6,62 x 10-3 m2/s 10-4 a 2,4 x 10-2 m2/s - Condutividade hidráulica: ..... 4,5 x - Condutividade hidráulica: ..... 9,4 x 10-6 a 2,4 x 10-4 m/s. 10-6 a 8,9 x 10-4 m/s. Não foram estimados os parâmetros A Formação Marituba que era, hidráulicos do sistema aqüífero segundo SCHALLER (1969), um membro Barreiras/Poção, tendo em vista a não da Formação Piaçabuçu, é disponibilidade de dados de teste de predominantemente composta por arenito aqüífero, no entanto, CAVALCANTE médio a grosso de cor cinza. Esta unidade (1978), cita valores de transmissividade foi depositada entre o Campaniano e o que variaram de 0,513 a 2,334 x 10-4 m2/s Holoceno (FEIJÓ, 1994). para a região de Santa Luzia, nas As areias grossas da Formação proximidades da área. Marituba foram parcialmente penetradas Os valores dos parâmetros hidráulicos em alguns poços da área estudada, mostrados acima indicam que o sistema apresentando, em cinco poços que aqüífero Barreiras é, localmente, de média captaram exclusivamente esta formação, a alta potencialidade, e o sistema um intervalo de transmissividade de 2,55 a Barreiras/Marituba de média 8,99 x 10–4 m2/s. potencialidade. A Formação Poção, que ocorre como A recarga processa-se, subafloramento discordante com a principalmente, através da infiltração direta Formação Barreiras, é constituída por um a partir das precipitações, seja na própria 65 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

área estudada ou na região a montante do solo apresentado na Figura 05. Em função escoamento subterrâneo. A morfologia da diversidade de ocupação, apresentada predominante de tabuleiros, com drenagem neste mapa e identificadas no campo, pouco desenvolvida a incipiente, facilita a foram analisadas as atividades recarga direta. potencialmente poluidoras: Conforme balanço hídrico • Abastecimento d'água. apresentado no item 2.1, estima-se que • Atividades agrícolas; 70% do excedente hídrico da região infiltra • Atividades industriais; diretamente no solo, recarregando o • Postos de combustíveis; aquífero. Este valor corresponde a cerca de • Resíduos sólidos; 27% da precipitação média anual, ou seja: • Sistema de drenagem; e uma taxa de infiltração média de 400 mm • Sistema de saneamento. anuais. 5.1 - Abastecimento d’água 5. USO DOS SOLOS E DAS ÁGUAS A alternativa mais econômica para o SUBTERÂNEAS abastecimento da região é água A área do Tabuleiro do Martins subterrânea, por apresentar baixos custos apresenta: de explotação e não necessitar de • topografia plana com altitude média tratamento. Atualmente, mais de 80% da de 80 metros; água consumida na Grande Maceió, para • facilidades para captação de água os diversos fins, é de origem subterrânea. subterrânea de boa potabilidade Na Tabela 03 encontra-se a através de poços tubulares com estimativa de explotação de água profundidade média de 100 metros; e subterrânea para o atendimento do • solos com boas características para consumo urbano e industrial da região. fundações. Para os poços da bateria da CASAL e os Assim, por causa destas vantagens, condominiais, foi considerado um regime houve grande expansão urbana com de 24 horas/dia e para os poços isolados, 8 implantação de conjuntos habitacionais, horas/dia. indústrias e outras atividades sócio- econômicas. Para conhecer o potencial de risco de contaminação das águas subterrâneas, foi inicialmente elaborado o mapa de uso do 66 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

Tabela 03 – Explotação de água subterrânea

POÇOS QUANTIDADE VAZÃO (m3/dia) - Baterias da CASAL 39 44.060 - Baterias condominiais 16 7.220 - Demais poços 34 3.810 Totais: 89 55.090

Alguns poços são construídos sem as poços abandonados que não foram mínimas condições técnicas tamponados com cimentação. recomendadas. É comum a ocorrência de

Figura 05 – Mapa de uso do solo 67 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

5.2 - Atividades Agrícolas apresentam efluentes líquidos, seus Nas proximidades ao norte, se produtos, tipos de efluentes, além dos desenvolve a cultura da cana-de-açúcar, diversos tratamentos e disposição final principal atividade agrícola, com intensivo destes efluentes. uso de fertilizantes e pesticidas e irrigação As outras empresas localizadas fora com solução aquosa de vinhoto. Os desse Distrito Industrial, quando têm excedentes do vinhoto são acumulados em efluentes líquidos, geralmente destinam os lagoas, para infiltração através de sulcos mesmos, sem tratamento, para sumidouros no terreno. semelhantes aos dos sistemas de Essas lagoas recebem um grande esgotamento sanitário, acima descritos. volume de vinhaça na época da safra. 5.4 - Postos de Combustíveis 5.3 - Atividades Industriais Foram localizados diversos postos de As empresas do Distrito Industrial combustíveis, conforme Tabela 04. Governador Luiz Cavalcante, são de pequeno e médio porte. No Quadro 01 estão discriminadas as indústrias que

Tabela 04 – Relação dos Postos de Combustíveis

TEMPO DE OPERAÇÃO QUANTIDADE

Menos de 10 anos 06 De 10 a 30 anos 03 Mais de 30 anos 04 TOTAL: 13

Os postos com mais de 30 anos de operação necessitam de uma detalhada vistoria para se conhecer suas condições de estanqueidade.

5.5 - Resíduos sólidos domésticos Apesar de existir um sistema de coleta dos resíduos sólidos domésticos pela Companhia Beneficiadora de Lixo - COBEL, ou por outras empresas contratadas pela Prefeitura Municipal de Maceió, é comum a acumulação local desses resíduos, formando verdadeiros lixões. 68 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

QUADRO 01 – Caracterização das Empresas do Distrito Industrial Governador Luiz Cavalcante N0 de EFLUENTES EFLUENTES LÍQUÍDOS IDENTIFICAÇÃO ATIVIDADE Empre- Sólidos Líquidos Gasosos Tratamento Disposição Moni gados Final 01 Companhia Fabricação de 440 coleta seletiva Lavagem de Combustão - Lagoa 1 T = Alagoana de refrigerantes queima do que frascos e de óleo Desarenador Distrito PH Refrigerantes sobra equipamentos B.P.F. -Lagoa Industrial DBO (Coca-Cola) (500 m3/dia) (Caldeira) anaeróbica DQ -Lagoa facultativa 02 Introsuc – Fabricação de 36 Coletados por Lavagem de Combustão Lagoas de Infiltração Indústria sucos e terceiros para frutas de óleo estabiliza- no solo Ine Tropical de concentrados ração animal (20 m3/h) B.P.F. ção Sucos S.A. de frutos e (Caldeira) funcionando compostagem como lagoas de infiltração 03 AFC Com. e Preparação de 40 Raspa Lavagem de Poeira Drenagem Lagoa 2 Rep. Ltda. adubos vendida para esteiras e devido à direta para a Distrito Ine (Adubo fertilizantes agricultores equipamentos mistura Lagoa 2 do Industrial Superfértil) das Distr. Ind., matérias- sem primas tratamento 04 Ibratin Fabricação de 37 Coletados por Lavagem de Coagulação Reutilização Nordeste tintas terceiros máquinas __ com sulfato do efluente Ine Ltda. (01 m3/h) de alumínio, não- seguido de decantado decantação 05 Kiola Fabricação de 10 Não Limpeza da Infiltração Indústria e produtos domi- especificado fábrica __ __ no solo Ine Comércio sanitários (queima) (resíduo de através de Ltda. detergente) 2 sumidouros 06 Supermix Concretagem 12 Papéis e Lavagem do 02 caixas de Crenagem Concreto outros carro __ decantação natural do Ine S.A. transportador terreno de concreto

07 IFRIL – Beneficiamento 60 Não Água usada no Não há Par Indústria de de peixes e especificados beneficiamento __ Lagoas informação Frios e crustáceos espe Pesca Ltda.

08 LIFAL – Fabricação de 179 Vidros, Laboratório produtos papelão, Esgotos __ Fossa / Infiltração Farmacêutico farmacêuticos plásticos, sanitários e sumidouros no solo de Alagoas pós, efluentes (coletados industriais Tanque de pela coleta / Prefeitura) infiltração Fonte: V & S ENGENHEIROS CONSULTORES S/C (1998)

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5.6 - Sistema de Drenagem Os sumidouros com 2 ou 3 metros de A área de estudo está sujeita a diâmetro e profundidade média de 40 grandes inundações por águas pluviais metros, são dimensionados considerando devido a sua topografia plana com uma taxa de absorção média de 50 ocorrência de depressões ou bacias litros/m2/dia. endorreicas. Para evitar estas inundações Quando, devido a problemas foram construídas duas lagoas nas áreas construtivos, esses sistemas de mais baixas, sendo uma no Distrito esgotamento sanitários extravasam, o Industrial Governador Luiz Cavalcante e excedente é desviado para lagoas outra no Conjunto Habitacional Salvador escavadas nas proximidades, sem os Lira. devidos cuidados técnicos, tais como Essas lagoas são clandestinamente impermeabilização. utilizadas como corpos receptores para O Campus A. C. Simões da efluentes domésticos e industriais. Universidade Federal de Alagoas e o No atual projeto da macrodrenagem Hospital Universitário, situados no centro dessa região, estão previstas a ampliação da área de estudo, têm sistema de das duas lagoas acima citadas e a esgotamento sanitário semelhante aos dos construção de uma nova. As águas conjuntos habitacionais. excedentes destas lagoas serão, segundo A fim de tratar principalmente os o projeto, drenadas para o rio Jacarecica. efluentes oriundos do Hospital Universitário, foi construído, 5.7 - Sistema de Saneamento posteriormente, um sistema formado por A disposição local de esgotos dos duas lagoas facultativas, cuja disposição conjuntos habitacionais é através de dos efluentes é feita por maturação, sistemas de fossas e sumidouros evaporação e infiltração. distribuídos espacialmente sem nenhum critério técnico, em relação às baterias de 6. ANÁLISE DAS POSSIBILIDADES DE poços para captação de água subterrânea. CONTAMINAÇÃO Estes sistemas de esgotamento Alguns poços para captação de água sanitário podem ser individuais, isto é: por foram construídos sem nenhum critério unidade habitacional, ou condominiais, técnico, principalmente em relação a quando atendem simultaneamente 100 a proteção sanitária, facilitando a migração 500 casas. direta de poluentes da superfície até o aquífero. A maioria dos poços desativados 70 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

existentes na área, não foram tamponados Cavalcante, construídos fora das com cimento, ficando a água subterrânea exigências técnicas e sem manutenção também exposta à contaminação direta. periódica, constituem, também, um risco Na região dos tabuleiros costeiros é de contaminação para os sistemas bastante utilizada a fertirrigação da cana- aqüíferos. de-açúcar com solução aquosa de vinhoto, A evolução de sódio e potássio da efluente do processo de produção nas água em dois poços do Distrito Industrial usinas de açúcar e álcool, muito rico em Governador Luiz Cavalcante, durante o potássio, ferro, cálcio e magnésio. período 1987/1993, comprova a CAVALCANTE et al. (1994) cita teores de degradação da água subterrânea causada 126 mg/l de K+, 12,55 mg/l de Fe++, 40 mg/l provavelmente por efluente líquidos, ++ de Ca (em mg/l de CaCO3) e 154 mg/l de (CAVALCANTE et al 1994). ++ Mg (em mg/l de CaCO3) encontrados na Dos 13 postos de distribuição de água de um poço localizado nas derivados de petróleo cadastrados na área, proximidades, ao norte da área de estudo. quatro deles já operam há mais de 30 A contaminação de água subterrânea anos, podendo já ter vazamento de em área cultivada com cana-de-açúcar combustíveis e consequentemente também foi constatada em Paripueira, a contaminar as águas subterrâneas. nordeste da área de estudo, conforme A acumulação de lixo tem causado, análises físico-químicas realizadas durante localmente, a degradação do solo com a o período de 1983 a 1996, que alteração de suas características física, apresentaram valores de pH decrescentes química e biológica, provocando a de 6,4 a 4,24 e valores crescentes de proliferação de vetores prejudiciais à saúde nitratos entre 0,20 e 8,25 mg/l, pública, podendo causar impacto nos (CAVALCANTE et al., 1996). aqüíferos que são os únicos mananciais Das indústrias cadastradas, conforme economicamente disponíveis na região. Quadro 01, as de refrigerantes, adubos, As lagoas para amortecimento de tintas e produtos farmacêuticos, devido a cheias do sistema de drenagem da região, qualidade de seus efluentes, representam são também utilizadas como corpos maior potencial de risco à contaminação receptores de efluentes industriais e das águas subterrâneas. domiciliares, sendo, assim, um potencial Alguns sistemas isolados de risco para contaminação dos sistemas tratamento e disposição final dos efluentes aqüíferos. do Distrito Industrial Governador Luiz 71 Rev. Águas Subterrâneas no 16/ Maio 2002

Os sistemas de disposição local de recomendada por FOSTER & HIRATA esgotos descritos no capítulo anterior, (1991), que leva em consideração o tipo poderão causar contaminação do aqüífero dos sistemas aqüíferos, a litologia da zona por microorganismos patogênicos e não saturada e a profundidade da água. produtos de biodegradação de excretas Assim, foram elaborados mapas humanas, como nitratos. Quando os poços indicando os diversos tipos de aqüíferos e para explotação de água subterrânea estão profundidade de água. De acordo com próximos aos sumidouros e não são esses mapas, os sistemas aquíferos são construídos conforme as normas técnicas predominantemente confinados. Somente recomendadas, o risco de contaminação é no extremo oeste e em uma faixa que se maior. estende de sudoeste para noroeste os WANDERLEY (1980), fez diversas sistemas comportam-se como livres. A recomendações para diminuir o risco de profundidade da água varia de 15 a 87 contaminação das águas subterrâneas metros. causada por esses sistemas de A litologia da zona não saturada é esgotamento, destacando-se, entre elas, extensivamente representada por um rigoroso monitoramento com análises sedimentos não consolidados. físico-químicas das águas dos poços que A partir dos mapas acima abastecem os conjuntos habitacionais. mencionados e da litologia dos diversos sistemas aqüíferos, foi composto o mapa 7. GRAU DE VULNERABILIDADE DAS de vulnerabilidade natural, apresentado na ÁGUAS SUBTERRÂNEAS Figura 06. A avaliação preliminar do grau de Conforme este mapa, mais de 80% da vulnerabilidade natural em relação ao área apresenta vulnerabilidade baixa, potencial de risco de contaminação dos enquanto no restante, a vulnerabilidade é aqüíferos foi feita utilizando a metodologia moderada.

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Figura 06 – Mapa de vulnerabilidade dos aqüíferos da área

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8. CONCLUSÕES risco, tais como: os sistemas de Apesar da existência de diversas esgotamento sanitário, as indústrias que atividades potencialmente poluidoras, geram efluentes líquidos, os postos de descritas no item 6, o risco de combustíveis e, principalmente, as lagoas contaminação dos sistemas aqüíferos é que constituem o sistema de drenagem, atenuado principalmente na parte onde a escavadas para atenuar as cheias da vulnerabilidade é baixa. No entanto, no região, mas que também são utilizadas domínio de vulnerabilidade moderada, como receptoras de efluentes industriais e poderá haver contaminação devido a de esgotos domiciliares. alguma atividade de grande potencial de

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