UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, NÍVEL DE MESTRADO

MARINEZ DA SILVA MAZZOCHIN

INDÚSTRIA MADEIREIRA MUNDIAL E BRASILEIRA: O CASO PARANAENSE

FRANCISCO BELTRÃO 2010

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE CAMPUS DE FRANCISCO BELTRÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, NÍVEL DE MESTRADO

MARINEZ DA SILVA MAZZOCHIN

INDÚSTRIA MADEIREIRA MUNDIAL E BRASILEIRA: O CASO PARANAENSE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, Nível de Mestrado, para a obtenção do Título de Mestre em Geografia. Área de Concentração: Produção do Espaço e Meio Ambiente Linha de Pesquisa: Desenvolvimento Econômico e Dinâmicas Territoriais. Orientador: Prof. Dr. Fernando dos Santos Sampaio.

FRANCISCO BELTRÃO 2010

Mazzochin, Marinez da Silva M447 Indústria madeireira mundial e brasileira: o caso Paranaense. / Marinez da Silva Mazzochin. -- Francisco Beltrão, 2010. 202 f.

Orientador: Prof. Dr. Fernando dos Santos Sampaio. Dissertação(Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Francisco Beltrão.

1. Geografia Econômica. 2. Industria Madereira – Paraná. 3. Acumulação de Capital. 4. Silvicultura - Tecnologias. 5. Setor Florestal – Dinâmica Espacial. I. Sampaio, Fernando dos Santos. II. Título.

CDD – 338.47674 Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Unioeste (Sandra Regina Mendonça CRB – 9/1090)

Dedico este trabalho ao meu pai Paulo, que com todo esforço e dedicação, criou a mim e aos meus irmãos nos educando com amor e carinho. Com muita humildade e sabedoria meu pai me ensinou que a busca ao conhecimento é imprescindível na luta de classes. V

AGRADECIMENTOS

Devo o agradecimento a muitas pessoas. Descreverei aqui as principais que tornaram possível a realização deste trabalho. Inicialmente agradeço ao Professor Marcos Henrique Broietti, in memorian. Sua perseverança enquanto professor e sabedoria enquanto ser humano são exemplos a serem seguidos. Ao professor Fernando dos Santos Sampaio, pela orientação e paciência no decorrer desta pesquisa. Por ter me acompanhado em todos os trabalhos de campo o que possibilitou a riqueza de conhecimento e pelos valiosos ensinamentos no decorrer desta pesquisa. Aos professores Julio Cesar Paisani, Marga Eliz Pontelli e Roseli de Fàtima Rech Pilonetto pela compreensão, incentivo e, principalmente, paciência no decorrer da pesquisa, principalmente na etapa final. Sem o apoio dessas três pessoas o desenvolvimento desta pesquisa ficaria comprometido. A eles, meus sinceros agradecimentos. À professora Suely Aparecida Martins, pela amizade e incentivo. À Vilma dos Santos pela amizade e incentivo. À minha grande amiga Silvia, carinhosamente “Silvinha”. Amiga e parceira de pesquisa. Ao Fernando Rodrigo Farias e à Loiva Marli Flack, colegas de estudos e grandes amigos. Aos professores Marlon Clóvis Medeiros, José Luiz Zanella, Gilmar Fiorese e Janaina Damasco Umbelino, Ricardo Carvalho Leme e aos bolsistas Marcelo Buttner e Willian Padilha, pela convivência riquíssima no âmbito dos Grupos de Pesquisa Dinâmica Econômica e Formação Sócio-Espacial e Sociedade, Trabalho e Educação. À Andréia Zuchelli Cucci, Secretária do Programa de Mestrado. Além de grande colega, sua competência e prontidão merecem destaque. Aos professores Fernando dos Santos Sampaio, Fabrício Pedroso Bauab, José Luiz Zanella, Carlos José Espíndola e Tania Maria Fresca pelo aprendizado e pelas valiosas discussões realizadas no decorrer das disciplinas. Aos professores Fabrício Pedroso Bauab e Carlos José Espíndola pelas contribuições feitas na banca de qualificação. VI

Aos funcionários e diretores das empresas Camilotti e Mazza Compensados (ambas em Francisco Beltrão), Guararapes (Palmas) e Berneck (Araucária) pelas informações e pela prontidão em nos receber para os trabalhos de campo. Aos pesquisadores da Embrapa Florestas (Colombo) pelas informações e disponibilidade em nos receber. À FIEP (Francisco Beltrão) e à ABIMCI () pelo fornecimento de material que nos auxiliaram na elaboração da pesquisa. Ao meu esposo Marcos e minha filha Liz Maria, pelo incentivo e apoio durante a realização desta pesquisa, sobretudo nos momentos em que estive ausente. À Gládis, ao Ede e à Ana, família que adotei para ser minha, pelo apoio, principalmente com os cuidados e carinho despendido à minha filha quando estive ausente. Ao meu pai Paulo, minha mãe Edite, meus irmãos Márcio e Franciele e minha cunhada Denize, por me auxiliarem em alguns momentos mais difíceis.

VII

Resumo

INDÚSTRIA MADEIREIRA MUNDIAL E BRASILEIRA: O CASO PARANAENSE O presente trabalho busca compreender a relação do processo de acumulação de capital no setor de transformação de madeira e sua relação com a produção do espaço geográfico. A análise de tal processo leva em consideração as contradições inerentes ao seu processo de desenvolvimento. Buscamos compreender essas contradições apontando os principais fatores que propiciaram o desenvolvimento de uma moderna silvicultura, baseada nas pesquisas científicas, sobretudo em relação à matéria-prima, atendendo as necessidades industriais. Pretendeu-se no decorrer do trabalho demonstrar a relação entre as diversas escalas geográficas como ponto central na análise do setor de base florestal, bem como as características da formação sócio- espacial para a consolidação da indústria madeireira no Estado do Paraná.

Palavras chaves: acumulação de capital; madeira; tecnologia; silvicultura; geografia econômica.

Abstract

WOOD WORLD AND BRAZILIAN INDUSTRY: THE CASE OF PARANA This study seeks to understand the relationship of the process of capital accumulation in the wood processing industry and its relationship with the production of geographical space. The analysis of such a process takes into account the contradictions inherent in their development process. We seek to understand these contradictions by pointing the main factors that led to the development of modern forestry, based on scientific research, especially in relation to raw material, meeting the industrial needs. It was intended in this work demonstrate the relationship between the various geographical scales as the focal point in the analysis of forest-based sector as well as the characteristics of socio-spatial training for the consolidation of the timber industry in the state of Parana.

Key words: capital accumulation; wood; technology; forestry; economic geography.

VIII

LISTA DE FIGURAS Figura 01. Indústria madeireira na China...... 39 Figura 02. Cadeia agroindustrial do setor de base florestal...... 53 Figura 03. Melhoramento genético do eucalipto apresentado pela Suzano Papel e Celulose...... 100 Figura 04. Sistema de certificação FSC na Indústria de Compensados Guararapes, localizada no município de Palmas/PR ...... 103 Figura 05. Linha de Torno 4 ft – 12 blocos/minutos...... 108 Figura 06. Relatório de conferência de lâminas e máquinas...... 109 Figura 07. Vista externa da Indústria Berneck...... 111 Figura 08. Sala de operação e controle da linha de produção do MDF e do MDP...... 112 Figura 09. Linha de produção do MDF e do MDP...... 113 Figura 10. Linha de produção automática de lâminas para a produção de compensado...... 114 Figura 11. Processo de montagem do compensado...... 114 Figura 12. Cadeia produtiva do segmento de produtos de madeira sólida...... 122 Figura 13. Esquema de produção de lâminas tornadas de madeira...... 133 Figura 14. Esquema de produção de lâminas faqueadas de madeira...... 134 Figura 15. Localização das fábricas de painéis de madeira reconstituída...... 136

LISTA DE QUADROS Quadro 01. Indicadores econômicos e sociais – Indústrias Básicas...... 62 Quadro 02. Síntese das principais políticas públicas direcionadas ao setor de base florestal... 66 Quadro 03. Síntese dos projetos desenvolvidos pela Embrapa Florestas...... 97 Quadro 04. Síntese dos produtos que compõe a cadeia produtiva da madeira sólida ...... 126 Quadro 05. Síntese das últimas fusões e aquisições do segmento de painéis reconstituídos.... 147 Quadro 06. Participação dos diferentes setores do gênero madeira no Paraná – 1975/1979..... 161 Quadro 07. Participação dos diferentes setores do gênero papel e papelão no Paraná – 1975/1979...... 163 Quadro 08. Participação do valor da produção das grandes empresas do Paraná no valoror agregado de vários grupos – 1975...... 163

IX

LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01. Países lídesres na produção de madeira para combustível, em 2005 (%da produção global...... 28 Gráfico 02. Países líderes na produção mundial de madeira em toras, em 2005 (% da produção global)...... 28 Gráfico 03. Países líderes na produção mundial de madeira serrada, em 2005 (% da produção global...... 28 Gráfico 04. Países líderes na produção mundial de painéis de madeira, em 2005 (% da produção global)...... 28 Gráfico 05. Países líderes na produção mundial de celulose, em 2005 (% da produção global)...... 28 Gráfico 06. Países líderes na produção mundial de papel e papelão, em 2005 (% da produção global)...... 28 Gráfico 07. Relação de produção e exportação dos principais países produtores de compensado em 2008...... 32 Gráfico 08. Evolução na produção de MDF, principais países produtores...... 33 Gráfico 09. Quantidade produzida na silvicultura e na extração vegetal – Brasil...... 69 Gráfico 10. Exportações brasileiras de madeira (principais países de destino) jan/dez de 2009, em US$ FOB...... 127 Gráfico 11. Valor das exportações de madeira segundo gênero da indústria (madeira), período anual, em US$ milhões FOB...... 128 Gráfico 12. Produção de portas de madeira no Brasil, período de 1997 a 2007 (1.000 unidades)...... 130 Gráfico 13. Produção de molduras de madeira no Brasil, período de 1997 a 2007 (1.000 m³). 131 Gráfico 14. Países produtores de MDF em 2007...... 139 Gráfico 15. Evolução da produção de MDF no Brasil...... 140 Gráfico 16. Exportações de produtos de madeira compensada – Brasil...... 145 Gráfico 17. Evolução do número de estabelecimentos industrias da madeira e mobiliário...... 159 Gráfico 18. Quantidade produzida na silvicultura e na extração vegetal no Paraná Estado do Paraná (toneladas)...... 167 Gráfico 19. Exportações de Madeira Compensada – Paraná...... 170 X

Gráfico 20. Número de trabalhadores dos principais municípios que atuam no segmento da madeira – 2008...... 177 Gráfico 21. Número de trabalhadores nos principais Estados Brasileiros – 2008...... 178

LISTA DE MAPAS Mapa 01 – Áreas e distribuição de florestas plantadas com pinus no Brasil (2007)...... 74 Mapa 02 – Áreas e distribuição de florestas plantadas com eucalipto no Brasil (20007...... 74 Mapa 03 – Distribuição das indústrias de papel e papelão (2005)...... 77 Mapa 04 – Distribuição das indústrias de desdobramento da madeira (2005)...... 79 Mapa 05 – Cursos de Engenharia Florestal por períodos de instalação...... 91 Mapa 06 – Exportações brasileiras de chapas de compensado (2007)...... 143 Mapa 07 – Área com floresta artificial do Estado do Paraná (em ha/1996)...... 164 Mapa 08 – Área com floresta artificial do Estado do Paraná (em ha/2006)...... 165 Mapa 09 – Área com floresta artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Centro-Oriental Paranaense...... 172 Mapa 10 – Área com floresta artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Sudeste Paranaense...... 172 Mapa 11 – Área com floresta artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Centro-Sul Paranaense...... 173 Mapa 12 – Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Metropolitana de Curitiba...... 173 Mapa 13 – Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Oeste Paranaense...... 174 Mapa 14 – Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Norte Pioneiro Paranaense...... 174 Mapa 15 – Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Sudoeste Paranaense...... 175 Mapa 12 – Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Norte Central Paranaense...... 176

XI

LISTA DE TABELAS Tabela 01. Principais países com produção florestal (florestas nativas e plantadas), em milhões de hectares, no ano de 2005...... 26 Tabela 02. Principais países produtores e exportadores de painel de compensado em 2008.... 31 Tabela 03. Principais indústrias investidoras externas e internas na China ligadas ao setor de base florestal...... 40 Tabela 04. Distribuição das florestas nativas de produção nos principais Estados Brasileiros (2005)...... 68 Tabela 05. Distribuição das Áreas de florestas plantadas por espécies (2007)...... 70 Tabela 06. Principais áreas e distribuição de florestas plantadas com pinus no Brasil (2007)...... 71 Tabela 07. Principais áreas e distribuição de florestas plantadas com eucalipto no Brasil (2007)...... 72 Tabela 08. Principais indústrias de papel e celulose – demonstração de resultado e balanço patrimonial (dezembro de 2007)...... 78 Tabela 09. Principais indústrias de desdobramentos de madeira ou artefatos de madeira – demonstração de resultado e balanço patrimonial (dezembro de 2007)...... 80 Tabela 10. Quantidade produzida na silvicultura de carvão vegetal (toneladas)...... 81 Tabela 11. Instituições de Graduação em Engenharia Florestal...... 89 Tabela 12. Instituições de Graduação e Pós-Graduação em Engenharia Florestal...... 90 Tabela 13. Entidades privadas com pesquisas na área florestal...... 92 Tabela 14. Principais fabricantes de painéis de madeira reconstituída no Brasil (2007). Aglomerado/MDP, MDF, chapa de fibra...... 136 Tabela 15. Distribuição das florestas artificiais por microrregião do Estado do Paraná (2006)...... 168 Tabela 16. Número de estabelecimentos de cada setor da área florestal- Brasil e Paraná (2001)...... 171

XII

LISTA DE SIGLAS

ABIMCI – Associação Brasileira da Indústria da Madeira Processada Mecanicamente ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABRAF – Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRACELPA – Associação Brasileira de Celulose e Papel BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul CAGED - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CAIs – Complexos Agroindustriais CNPF - Centro Nacional de Pesquisa de Florestas DNPEA – Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação FINAME - Agência Especial de Finaniamento Industrial IAP – Instituto Ambiental do Paraná IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IICA – Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial IBDF - Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia MDF – Medium Density Fiberboard NEP – Nova Política Econômica OSB - Oriented Strand Board PCC – Partido Comunista Chinês PIFFR - Programa de Incentivos Fiscais ao Florestamento e Reflorestamento PND – Plano Nacional de Desenvolvimento PNPF - Programa Nacional de Pesquisa Florestal XIII

PROAGRO - Programa de Garantia da Atividade Agropecuária PROPFLORA - Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar RAIS - Relação Anual das Informações Sociais REPEMIR - Programa de Reflorestamento em Pequenos e Médios Imóveis Rurais SAG – Sistema Agroindustrial Florestal SCP - Sociedades em Conta de Participação SNCR– Sistema Nacional de Crédito Rural SBS - Sociedade Brasileira de Silvicultura STC - Subcomissão Técnica de Certificação Florestal USAID – United States Agency for Internatinal Development

XIV

SUMÁRIO

Agradecimentos ...... v Resumo ...... vii Abstract ...... vii Lista de Figuras ...... viii Lista de Quadros ...... viii Lista de Gráficos ...... ix Lista de Mapas ...... x Lista de Tabelas ...... xi Lista de Siglas ...... xii

INTRODUÇÃO ...... 16

CAPÍTULO I – O SETOR DE BASE FLORESTAL: ASPECTOS GERAIS ...... 22 1.1 Panorama mundial do setor de base florestal ...... 24 1.2 O setor de base florestal na China: aspectos gerais e a relação com o Brasil ...... 34 1.3 TIMOs ...... 41 1.4 Síntese e considerações finais do capítulo ...... 45

CAPÍTULO II – ASPECTOS GEOECONÔMICOS DO SETOR DE BASE FLORESTAL NO BRASIL ...... 49 2.1 Gênese e desenvolvimento da cadeia agroindustrial do setor de base florestal no Brasil . 51 2.2 Papel do Estado e a consolidação do setor de base florestal no Brasil ...... 58 2.3 A cobertura florestal brasileira e a indústria ...... 67 2.4 Síntese e considerações finais do capítulo ...... 81

CAPÍTULO III – DINÂMICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO SETOR DE BASE FLORESTAL ...... 83 3.1 A pesquisa científica ligada ao setor florestal ...... 87 3.2 O papel da Embrapa na pesquisa florestal ...... 93 3.2.1 A Embrapa Florestas ...... 95 3.3 Inovação tecnológica da matéria-prima para o setor florestal ...... 99 3.4 Desenvolvimento tecnológico no processamento mecânico da madeira ...... 105 3.5 Síntese e considerações finais do capítulo ...... 115 XV

CAPÍTULO IV – SEGMENTAÇÃO DO SETOR DE BASE FLORESTAL: A CADEIA PRODUTIVA DO SEGMENTO DE MADEIRA SÓLIDA ...... 118 4.1 Cadeia produtiva do segmento de madeira sólida ...... 122 4.2 Madeira serrada ...... 128 4.3 Produtos de maior valor agregado (PMVA) ...... 129 4.4 Lâminas ...... 132 4.5 Painéis de madeira...... 135 4.5.1 Aglomerado ...... 137 4.5.2 MDF ...... 138 4.5.3 Chapa de fibra ...... 140 4.5.4 OSB ...... 141 4.5.5 Compensado ...... 142 4.5.6 EGP ...... 146 4.6 Dinâmica econômica do setor de painéis: o papel das fusões e aquisições ...... 146 4.7 Síntese e considerações finais do capítulo ...... 148

CAPÍTULO V – DINÂMICA ESPACIAL DO SETOR DE PROCESSAMENTO DE MADEIRA: O CASO DO ESTADO DO PARANÁ ...... 151 5.1 Formação sócio-espacial paranaense e o desenvolvimento da indústria madeireira ...... 154 5.2 Concentração industrial e florestal no segmento de madeira sólida: espacialização da produção e da matéria-prima ...... 161 5.3 Síntese e considerações finais do capítulo ...... 178

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 180

REFERÊNCIAS ...... 186

ANEXOS

INTRODUÇÃO

17

A produção do espaço geográfico deve ser entendida no contexto da relação dialética entre o avanço das forças produtivas e das relações de produção. Nesse sentido, as pesquisas geográficas que estudam a dinâmica industrial dos diversos segmentos sociais são extremamente importantes para a Geografia, pois possibilitam o conhecimento das transformações sofridas no espaço a partir das novas relações de produção e o avanço das forças produtivas. A partir das contradições encontradas nas indústrias para aumentar a acumulação de capital, podemos compreender o funcionamento do modo de produção capitalista e as diferenças entre as classes sociais que constituem a sociedade. Os avanços técnicos nos setores produtivos marcam intensamente a dinâmica espacial da acumulação de capitais. Nesse sentido, entendemos que o estudo dos avanços técnicos no processamento da madeira é uma base fundamental para o entendimento deste setor. O setor de base florestal, quando do processo de industrialização, pode ser analisado através de dois processos importantes: a primeira transformação industrial (onde se encontram as indústrias de papel e celulose, processamento mecânico da madeira e uso energético) e onde ocorre a segunda transformação industrial ou consumo final (onde se encontram as indústrias moveleiras, consumo industrial e doméstico tanto para o mercado interno como para o mercado externo, e outros). É na primeira transformação que se encontram os processos tecnológicos mais intensos e que servem de matéria-prima para a segunda transformação industrial e para a construção civil. A região Sul do Brasil, em especial o Estado do Paraná, possui em sua gênese as atividades econômicas ligadas ao extrativismo com a exploração do pinheiro (Araucária angustifólia). Após a exploração exaustiva das matas de , este Estado desenvolveu uma intensa silvicultura, ligada à plantação de pinus e eucalipto. Aliada ao extrativismo vegetal e posteriormente à silvicultura, o Paraná concentrou muitas indústrias ligadas à exploração das matas. Conforme dados do RAIS/CAGED (2008), o Brasil possui 87.929 estabelecimentos cuja atividade é o desdobramento de madeira. O Paraná é o segundo Estado em número de estabelecimentos, concentrando 15.167, ou seja, 17,25% deste total, ficando atrás do Pará, que possui 19,65% do total dos estabelecimentos no Brasil. Sendo assim, este Estado possui significativa relevância para os estudos da dinâmica industrial do processamento da madeira. 18

Após a década de 1970, com a escassez da matéria-prima bem como as políticas econômicas nacionais, e o crescente protecionismo ambiental, as indústrias madeireiras enfrentaram período de auge e declínio. Elas necessitaram modernizar-se e buscar novas fontes de matéria-prima. Algumas, no entanto, não se mantiveram no mercado, faliram ou migraram suas atividades para regiões próximas às fontes de matérias-primas, sejam elas florestas nativas ou plantadas. Nosso problema de pesquisa consiste em entender o processo de acumulação de capital no setor madeireiro e a sua relação com a formação sócio-espacial, em especial no caso Paranaense que nos servirá como base empírica do estudo.De forma geral isso significa entender as estratégias espaciais que estas indústrias buscam para se manterem no mercado frente às adversidades econômicas e, principalmente, em relação à escassez de matéria-prima. Inicialmente objetivávamos utilizar apenas a região Sudoeste do Paraná como base empírica para o estudo do setor madeireiro, no entendimento que nesse recorte geográfico haveria todos os elementos necessários para a compreensão do desenvolvimento tecnológico e espacial do setor. Porém, ao realizar o levantamento dos dados preliminares para a pesquisa, percebemos que o Sudoeste do Paraná caracteriza-se pela formação de grupos industriais fortemente ligados à agroindústria e a diversos segmentos indústrias, como indústrias têxteis, de plásticos, alumínio e indústrias moveleiras, de cunho bastante acentuado nesta região, entre outras. Ao espacializarmos os dados, verificamos que a região Sudoeste possui 2,5% do total de florestas artificiais do Estado (conforme dados do Censo Agropecuário do IBGE de 2006), e a 3,9% do total de indústrias que atuam no segmento (conforme dados da FIEP de 2007). Esses dados nos mostram que, embora tenham algumas indústrias importantes, como a Camilotti e a Mazza em Francisco Beltrão, o Sudoeste não possui grande relevância industrial do segmento. Além do que estas indústrias atuam em níveis tecnológicos inferiores, o que não nos permitiria conhecer com intensidade o setor, e entender as relações de produção a partir destas indústrias. Os dados nos apresentaram uma grande concentração de florestas e indústrias nas regiões Centro-Sul, Centro-Oriental, Sudeste e Região Metropolitana de Curitiba, o que tornou necessário a ampliação de nossa escala de análise geográfica. No processo inicial de levantamento dos dados, realizamos trabalho de campo em três indústrias: Camilotti e Mazza, ambas em no município de Francisco Beltrão/Sudoeste do Paraná, e na Guararapes no município de Palmas/Centro Sul. Essas visitas nos permitiram 19

visualizar na prática concentração de capital e a inovação tecnológica que opera em nível das empresas. Neste segmento, temos uma série de empresas que operam com tecnologia obsoleta e capital escasso. Porém algumas, como a Guararapes, são empresas altamente modernas, intensa em capital e tecnologia e com grandes concentrações de áreas de florestas plantadas. São essas indústrias que nos permitiram visualizar e entender como ocorre o avanço das forças produtivas e das relações de produção no segmento de base vegetal. Os trabalhos de campo iniciais foram fundamentais para o desdobramento de nossa pesquisa. Percebeu-se que é o padrão tecnológico adotado pelas empresas que representam o ponto fundamental de sua inserção no mercado e também a existência de uma divisão clara entre as produtoras de compensado (em grande parte voltadas para o mercado externo) e as de outras chapas (MDF, MDP) voltadas ao mercado interno. Tornou-se necessário, assim, a ampliação do nosso foco de pesquisa, ficando mais claro ainda a necessidade do entendimento do padrão tecnológico. Para o entendimento deste padrão tecnológico efetuamos mais alguns trabalhos de campo, na Embrapa-Florestas em Colombo-PR e na indústria Berneck em Araucária. Ao visitar o principal centro brasileiro de produção de conhecimento e pesquisa do setor florestal conseguimos visualizar de forma melhor a relação entre o desenvolvimento científico- tecnológico, o papel do Estado como fomentador de políticas científicas e o processo de acumulação de capital no setor. Na visita a maior empresa paranaense e a de maior intensidade em capital, podemos visualizar o uso desta tecnologia, reforçando ainda mais a importância do papel do desenvolvimento tecnológico para a dinâmica do setor. Os campos nos remeteram a buscar na bibliografia e nos dados estatísticos mais elementos para o entendimento desta dinâmica, assim a leitura dos “Clássicos da Inovação”, em sua maioria os neoschumpeterianos (como Freeman e Rosemberg) e geógrafos marxistas (como Mamigonian e Santos) nos possibilitaram um entendimento mais profundo das relações tecnologia/produção do espaço e tecnologia/acumulação de capital. Diante da constatação que o mercado externo representava papel fundamental para o desenvolvimento recente do setor madeireiro (em especial o de compensados) tornou-se necessário um estudo mais detalhado da dinâmica internacional do setor. A análise da dinâmica sócio-espacial das indústrias madeireiras do Estado do Paraná tornou-se o nosso objetivo principal, para tanto foi necessário uma ampliação da escala de análise (global-nacional-local), mas mantendo como base empírica as principais empresas 20

paranaenses, nas quais pudemos verificar o papel da modernização tecnológica na manutenção destas indústrias no mercado. Os novos objetivos específicos que foram buscados consistem na identificação da concentração industrial/silvicultura no Brasil e no Paraná, e o que justifica tais concentrações, bem como a dinâmica sócio-espacial das principais indústrias do Paraná (fluxos de produção/matéria-prima, mercados, crises) alicerçadas pelas inovações tecnológicas. Para alcançarmos os objetivos de nossa pesquisa, tornou-se fundamental um método de pesquisa. “A investigação tem de apoderar-se da matéria, em seus pormenores, de analisar suas diferentes formas de desenvolvimento e de perquirir a conexão íntima que há entre elas” (Marx, 1999, p. 28). Entendemos o método como um caminho a ser seguido, dessa forma, o método dialético alicerçado no pensamento marxista, está no contexto de nossa pesquisa. O entendimento do processo capitalista como um processo histórico e contraditório é de suma importância na análise de um processo particular do desenvolvimento de uma determinada região, e que o método marxista possui a chave importante para essa interpretação. Nesse sentido, o levantamento bibliográfico de autores marxistas, por meio de suas análises sobre as características do desenvolvimento do capitalismo, nos fornece a base que buscamos para interpretar a realidade que estudamos, dando a base teórica nossa pesquisa. Sendo assim, as leituras de Inácio Rangel, Álvaro Vieira Pinto, entre outros, nos permitiram fazer a relação entre o desenvolvimento econômico do Brasil, bem como da modernização da agricultura e relacionarmos com o desenvolvimento do setor de base florestal. As leituras de Nathan Rosenberg e Christopher Freeman foram riquíssimas para entendermos como ocorre a inovação técnica nos meio de produção e como as empresas procuram se inovar nos ciclos de depressão econômica. Além destas leituras, o levantamento de dados junto aos órgãos oficiais do setor foram de extrema importância, como os anuários estatísticos e relatórios da ABRAF, BNDES, ABIMCI, Ministério do Meio Ambiente, entre outros, pois algumas informações somente podemos encontrar nesta bibliografia específica. Apesar dos dados do IBGE, Censo Agropecuário 2006, apresentarem alguns problemas como a inconsistência de valores em relação ao total de produção, área e demais dados gerais, optamos por usá-los mesmo assim, pois ainda é o levantamento de dados mais completos ao qual temos acesso no Brasil. Além do mais, como nossa intenção é a comparação espacial dos dados, sentimos que os demais erros não prejudicariam as conclusões que serão apresentadas. 21

O presente trabalho está dividido em cinco capítulos nos quais buscamos apresentar informações e análises que nos permitam chegar às nossas conclusões. Assim apesar de tratarem de temas específicos do setor, tendo cada capítulo tem “vida própria”, é na sua interrelação que consiste o ponto central de nossas considerações finais. No primeiro capítulo apresentamos o panorama geral do setor de base florestal e como se encontra espacializada a produção em nível mundial. Alguns países com características econômicas e/ou edafo-climáticas específicas se desenvolveram enquanto potenciais florestais sejam na gestão de florestas ou na produção industrial florestal. No segundo capítulo fizemos um recorte. Abordamos o desenvolvimento da cadeia agroindustrial do setor de base florestal no Brasil, cujo mesmo esteve relacionado ao processo de modernização da agricultura. Levantamos alguns pontos que consideramos importantes no processo de modernização que incentivaram, através da introdução da indústria química e de tratores, o desenvolvimento produtivo das florestas. No terceiro capítulo estudamos o papel do desenvolvimento tecnológico e conseqüente inovação técnica no sistema de produção madeireiro, onde o desenvolvimento tecnológico via pesquisas científicas, culminaram num amplo processo de inovação da matéria-prima e inovação em maquinário. A consolidação de um sistema de P&D, com várias universidades e institutos, com a Embrapa, possuíram um papel importante para o desenvolvimento do setor. O quarto capítulo apresenta um recorte dentro do setor de base florestal e consiste numa descrição e análise da dinâmica do setor de madeira sólida. É neste capítulo que apresentamos alguns dados gerais de produção dos segmentos que constituem a cadeia produtiva da madeira sólida. A dinâmica do setor no Estado do Paraná é o tema que tratamos no quinto capítulo, no qual procuramos apresentar a formação sócio-espacial deste Estado e a consolidação das indústrias madeireiras. Por fim, em nossas considerações finais buscamos apresentar a interrelação entre todos os capítulos e demonstrar como a pesquisa nos permitiu chegar aos nossos objetivos.

CAPÍTULO I

O SETOR DE BASE FLORESTAL: ASPECTOS GERAIS

No processo de explicar a sua Marília quem era ele, o que fazia, Gonzaga, - o Dirceu – deixou-nos, de passagem, uma descrição sintética e antológica do que era a agricultura do seu tempo: Não verás derrubar os virgens matos, Queimar as capoeiras inda novas, Servir de adubo à terra a fértil cinza, Lançar os grãos nas covas. Tratava-se, evidentemente, de um processo lícito e meritório, no qual a agricultura, a produção de bens agrícolas, combinava-se com outra atividade não menos meritória, isto é, o desbravamento ou amansamento da floresta. Essa era, afinal, um inimigo a combater, porque era na selva que viviam os miasmas, as cobras, as onças e, acima de tudo, o bugre. Queimar era, em última instância, o meio de preparar o habitat para o homem – no sentido restrito de homem civilizado que, naturalmente, excluía o índio. Ignácio Rangel, A queimada e a ecologia. 23

Neste capítulo abordaremos o panorama geral do setor de base florestal e como se encontra espacializada a produção em nível mundial. Alguns países (como Estados Unidos, Rússia, Japão, China, Brasil, entre outros), com características econômicas e/ou edafo- climáticas específicas se desenvolveram enquanto potenciais florestais na gestão de florestas ou na produção industrial florestal. Não buscamos compreender o processo de produção florestal de cada país em particular, dada a dimensão e amplitude dessa questão, mas apresentar os países destaque na produção dos principais ativos florestais tais como: madeira para combustível, madeira em tora, madeira serrada, painéis de madeira, celulose, papel e papelão. As florestas plantadas aparecem como componente estratégico para países como China, Rússia e Estados Unidos, pois ambos são detentores de extensas áreas, o que caracteriza o uso da madeira como fonte de suprimento de energia e matéria-prima para a construção civil. Nos Estados Unidos, a utilização de madeira na indústria de construção civil é o principal determinante interno. (BRASIL, 2007). Importante destacar que grandes reservas florestais não significam, necessariamente, o desenvolvimento de atividade produtiva correspondente. Algumas áreas florestais são de difícil acesso, como no Canadá, Finlândia ou Rússia, ou então, são florestas protegidas pelo Estado, como é o caso dos Estados Unidos e Japão. Observa-se também que a Europa maior região desmatada do planeta, conseqüência da densa ocupação urbana e agrícola, mas é, juntamente com os Estados Unidos, o principal mercado de consumo para produtos florestais. A China tem sido destaque no setor específico de base florestal, principalmente na produção, exportação e importação de painéis. O processo de desenvolvimento da China está marcado por um evidente e espetacular desempenho econômico desde o fim da década de 1970. Este desenvolvimento tem estado associado a significativas mudanças estruturais e melhorias no padrão de vida da população, assim como por uma inserção internacional ativa e soberana (GONÇALVES, 2002). Um destaque importante dentro do setor florestal são as TIMOs (Timberland Investment Management Organizations) ou Organizações de Gerenciamento de Investimento em Área Florestal, relativamente novas no Brasil, mas geridas há bastante tempo em países como os Estados Unidos e Canadá. Grandes investimentos, pautados no capital financeiro, tem sido aplicados na aquisição e gerenciamento de fundos florestais.

24

1.1 PANORAMA MUNDIAL DO SETOR DE BASE FLORESTAL

Marx (2008) afirmou na obra O Capital, que a produção florestal distinguia-se da maioria das demais produções por nela operar de maneira dependente força da natureza e por não precisar, em sua renovação natural, das forças do homem e do capital. Mesmo quando as florestas são regeneradas artificialmente é mínimo o emprego de força humana e de capital, comparado com a ação das forças naturais. Por conseguinte, Marx se referia aos extensos bosques naturais que cobriam o planeta em pleno século XVIII, na gênese da Revolução Industrial, onde a madeira era a fonte primeira de energia, necessária para alimentar as imensas caldeiras das máquinas que emergiam no seio daquele dado contexto histórico. O capitalismo abriu a fase da livre concorrência, com a necessidade de encurtar tempo e distância no processo de circulação do capital. Ou seja, era necessário que o capital adquirido através da extração da mais-valia fosse reinvestido cada vez mais e mais rapidamente abrindo o processo de acumulação e centralização do capital, já no início do século XIX. Nesse sentido, o processo de produção de florestas era algo tão moroso e dependia de períodos tão longos que ultrapassava os planos de uma economia privada, às vezes mesmo o tempo de uma vida humana. O capital empregado na aquisição do solo (na produção em comum desaparece esse capital e o problema se reduz a saber que extensão de terra a comunidade pode desviar da lavoura e das pastagens para a produção florestal) só depois de muito tempo proporciona frutos compensadores , retornando em parte e só efetuando uma rotação completa em prazos que em certas espécies de madeira vão até 150 anos. Demais, a produção duradoura de madeira exige que a floresta tenha uma reserva que represente 10 a 40 vezes seu rendimento anual. Quem possua bosques extensos, mas não possua outros recursos, não pode organizar exploração florestal regular. (MARX, 2008, p.276-277).

Marx sinalizava a impossibilidade de se produzir valor imediato se explorando economicamente as florestas e sinalizava a necessidade de se desenvolver um processo de gestão de florestas de forma a potencializar a exploração econômica das mesmas. A transferência de valor materializada na floresta enquanto ativo econômico se consolidaria ao longo do tempo, não teríamos aí um capital circulante, mas sim um capital fixo, onde o valor da mercadoria (a floresta) será diluído ao longo desse tempo, pois a produção duradoura de madeira exige que a floresta tenha uma reserva que represente 10 a 40 vezes o rendimento anual. 25

Ao observarmos todo o dinamismo da Revolução industrial que culminou num intenso processo de industrialização, urbanização, e conseqüentemente, a revolução agrícola, veremos todo um processo de desenvolvimento produtivo da indústria florestal, que se consolidou inclusive enquanto uma complexa cadeia produtiva. As primeiras serrarias, inicialmente arcaicas em seus processos produtivos, tinham na serra fita a principal tecnologia inovadora, e na extração na madeira nativa a principal fonte de matéria-prima. Os plantios florestais que se iniciaram nos países desenvolvidos, sobretudo Austrália e Estados Unidos, e, posteriormente, se expandiram a outros países, chegando ao Brasil no início do século XX, trouxeram novos componentes para o setor. Considerando suas características naturais, a madeira nativa não permite alterações e sua composição físico-química, possui dureza natural, e seu custo social é muito elevado, dado o tempo necessário para sua maturação, por vezes inviabilizando a inovação em processo e em produto. A floresta artificial ou plantada possui características flexíveis, permitindo alterações em sua estrutura, inclusive modificações genéticas que permitem seu maior aproveitamento em menor tempo, aumentando assim a produtividade. Nesse sentido, as áreas com florestas plantadas têm crescido consideravelmente. Países como China, Estados Unidos, Rússia e Japão são destaques na produção de florestas plantadas. As florestas nativas, em sua grande maioria, são protegidas pelo Estado, que limita ou proíbe a extração1. Aproximadamente 93% da cobertura florestal mundial estão constituídas por floresta nativa e 07% por floresta plantada. Em 2005, as florestas plantadas forneceram dois terços da madeira para fins industriais em todo o mundo (FAO, 2009)2. Segundo a FAO (2009) em 2005 existiam no mundo cerca de 3,9 bilhões de ha de florestas. Os principais países com destaque na produção de florestas são: Rússia (809 milhões de ha), Brasil (478 milhões de ha), Estados Unidos (303 milhões), Canadá (244 milhões de ha) e China (197 milhões de ha), conforme tabela 01.

1 A extração ilegal de madeira nativa é algo que gera muita polêmica na sociedade, pois envolve questões de cunho ambiental e interesse de grupos econômicos. No Brasil, o debate é bastante intenso em relação a extração de madeira ilegal da Amazônia. 2 O relatório da FAO que traz informações sobre a situação das florestas do mundo é de 2009. No entanto, observando os quadros anexo ao relatório, verificamos que os dados dos valores se referem ao relatório de 2006 com base no ano de 2005. Na pesquisa, não encontramos dados ou bibliografia com informações mais recentes sobre a produção florestal mundial. Sendo assim, utilizamos os dados florestais da FAO para entender a dinâmica mundial do setor e deixamos claro que, em se tratando da produção florestal brasileira, os dados apresentados nos próximos capítulos são mais recentes, pois há ampla bibliografia que trata da produção nacional (BRACELPA, ABIMCI e IGBE), o que caracteriza uma diferença em ha dos dados apresentados pela FAO. 26

Tabela 01. Principais países com produção florestal (florestas nativas e plantadas), em milhões de hectares, no ano de 2005. Países Florestas Nativas Florestas Plantadas Total % dos países* Rússia 791.825 16.963 808.788 20,74% Brasil 472.314 5.384 477.698 12,25% Estados Unidos 286.028 17.061 303.089 7,77% Canadá 238.059 6.511 244.570 6,27% China 165.921 31.369 197.290 5,06% Índia 64.475 6.226 70.701 1,81% Japão 14.546 10.321 24.867 0,64% Finlândia 22.500 ------22.500 0,58% Chile 13.460 2.017 15.477 0,40% Nova Zelândia 6.457 2.661 9.118 0,23% Outros ------1.725.902 44,25% Total mundial ------3.900.000 100,00% Fonte: BRASIL, 2007. Organizado pela autora * Em relação à produção total mundial.

O Japão, apesar da área reduzida de seu território, possui um extenso programa de reflorestamento, com cerca de 10 milhões de ha de florestas plantadas, praticamente, 41% do total de florestas que cobre seu território é composto por florestas plantadas.

A área de florestas é da ordem de 4 bilhões de hectares, ou seja, 30,3% do total da área ocupável do mundo. A área de florestas per capita é de 0,62 hectares. Rússia, Brasil, Canadá, Estados Unidos e China detêm mais da metade das florestas do mundo. Considerando apenas os 10 países que possuem as maiores florestas, juntos eles possuem cerca de 50% da cobertura florestal global. No outro extremo, 64 países têm menos de 10% do total da área de florestas, e a maior parte deles está no norte da áfrica, oeste da Ásia em pequenas ilhas. Outros 45 países têm mais de 50% de sua área total cobertas por florestas. (FAO apud Brasil 2007).

Os maiores consumidores de produtos florestais no mundo, em 2005, conforme a FAO (2009) são os seguintes:  Toras de madeira: Estados Unidos (25%); Canadá (12%); China (8%); Brasil (6%) e Rússia (5%).  Madeira Serrada: Estados Unidos (30%); Japão (6%); Canadá (5%); Brasil (5%) e China (5%). 27

 Painéis de Madeira: Estados Unidos (26%); China (21%); Alemanha (5%); Japão (5%) e Coréia do Sul (3%).  Celulose: Estados Unidos (29%); China (13%); Canadá (8%); Japão (7%) e Finlândia (5%).  Papel e papelão: Estados Unidos (27%); China (13%); Japão (10%); Alemanha (6%) e Reino unidos (4%). Os dados acima nos apresentam uma elevada concentração do consumo de produtos madeireiros por países de economias desenvolvidas. Isso ocorre, em grande parte, devido o sistema de construção destes países, principalmente em relação às habitações familiares, e pelo uso intensivo de compensado e placas nas construções de uso comercial e industrial. Importante destacar o crescimento do consumo nos países asiáticos, principalmente na China, o que tem levado à ampliação no processo de industrialização e à agregação de valor na região, até mesmo possibilitando a entrada desses países como fornecedores em mercados tradicionalmente ocupados por países escandinavos e da Europa Ocidental (BRASIL, 2007). Destaca-se que a oferta de produtos madeireiros depende da disponibilidade de recursos florestais abundantes e de políticas públicas que asseguram o desenvolvimento do setor florestal como um todo. Alguns países em desenvolvimento tem aproveitado as disponibilidades existentes no mercado internacional para se firmarem como fabricantes de produtos de madeira. Como é o caso da Malásia, Indonésia, Nova Zelândia, Chile e Brasil. A sequencia de gráficos 01 ao 06 nos apresenta uma visão geral dos maiores fabricantes mundiais de produtos florestais bem como a porcentagem de participação dos mesmos perante a produção total global. A madeira é principal fonte de matéria-prima prima para o aquecimento e geração de energia em vários países do mundo. Poucos países desenvolveram alternativas para o uso de florestas energéticas, como é o caso do Brasil, que utiliza o eucalipto como suprimento na produção vegetal para a indústria siderúrgica. Na maioria dos países, ainda ocorre a exploração extensiva de florestas nativas para a produção de lenha e carvão. Países como a Índia, a China e a Etiópia tem se destacado neste segmento, conforme apresentado no gráfico nº 01. 28

Gráfico 01. Países líderes na produção Gráfico 02. Países líderes na produção mundial de madeira para combustível, em mundial de madeira em toras, em 2005 (% 2005 (% da produção global). da produção global). Fonte: FAO, 2005 Fonte: FAO, 2005 Organizado pela autora Organizado pela autora

Gráfico 03. Países líderes na produção Gráfico 04. Países líderes na produção mundial de madeira serrada, em 2005 (% da mundial de painéis de madeira, em 2005 (% produção global). da produção global). Fonte: FAO, 2005 Fonte: FAO, 2005 Organizado pela autora Organizado pela autora

Gráfico 05. Países líderes na produção Gráfico 06. Países líderes na produção mundial de celulose, em 2005 (% da mundial de papel e papelão, em 2005 (% da produção global). produção global). Fonte: FAO, 2005 Fonte: FAO, 2005 Organizado pela autora Organizado pela autora 29

Conforme Brasil (2007), o comércio internacional de madeira para combustível é pouco expressivo, devido ao baixo valor agregado na produção bem como a finalidade do mesmo. Países com tradição florestal, em regiões de clima muito frio, tais como os países escandinavos (Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Ilhas Feroé e Islândia) são os principais importadores. Entre países exportadores, destacam-se fornecedores mais próximos, como os países bálticos (Lituânia, Letônia e Estônia), a Europa Central e a França. A produção de madeira em tora está ligada à indústria da construção civil e do mobiliário. Os principais países consumidores são os Estados Unidos, Europa Ocidental e, recentemente a China e o Leste Asiático, em razão de seu crescimento, vem aumentando a demanda por madeira em tora. Os principais produtores mundiais são os Estados Unidos, Canadá, Rússia, Brasil e China, conforme apresentado no gráfico nº 02. No caso dos Estados Unidos e Canadá, estes se configuram enquanto detentores de grandes reservas florestais de coníferas e uma indústria de construção que utiliza intensamente a madeira. Esses países, com elevada produção e organização empresarial, são importantes exportadores para os países da Europa e Ásia. De acordo com Brasil (2007), a Rússia destaca-se neste segmento, pois a abundante reserva florestal desse país, e a proximidade com os mercados consumidores, vem posicionado este país como grande exportador, principalmente para os países escandinavos. Conforme Valtanen (2008), a produção de madeira serrada na Rússia excede 23 milhões de m³ anuais, cerca de 90% é de florestas de coníferas. Embora a produção tenha aumentado na última década, considera-se como apenas a metade da produção da época da União Soviética. As exportações excedem 70% da produção interna. No entanto, as estatísticas não cobrem extensivamente a produção de serrarias de pequeno e médio porte, que produzem para o consumo local. Em 2006, o governo da Federação Russa concordou com um plano de desenvolvimento estratégico para o setor florestal russo até o ano de 2020. Uma das principais metas do plano inclui a redução da participação de produtos importados nos mercados domésticos, substituindo essas importações por produção doméstica. Para aumentar a produção e investimentos domésticos, o governo russo realizou algumas ações legislativas, incluindo o novo código florestal, bem como alguns regulamentos: um em fevereiro de 2007, que trata do calendário do aumento das taxas de exportação para roliços e outro em junho de 2007, referente a projetos de investimentos preferenciais para o uso de recursos florestais. (VALTANEN, 2008).

Outros países também tem procurado expandir a participação no mercado de madeira em tora, como é o caso da Malásia, Nova Zelândia. Outros países como a China e Indonésia, 30

na Ásia, e Austrália e Papua Nova Guiné, na Oceania. Na América do Sul, o Uruguai e Chile possuem exportações expressivas. No caso brasileiro, as exportações são oriundas, principalmente, de madeira tropical. Nesse caso, a tendência é de queda ou estagnação, em decorrência ao combate ao desmatamento da Amazônia. (BRASIL, 2007) Assim como no segmento de madeira em tora, a produção e o comércio internacional de madeira serrada estão intrinsecamente ligados à demanda da construção civil. O principal mercado mundial para a madeira serrada são os Estados Unidos, maior produtor mundial, conforme apresentado no gráfico nº 03. Além de ser o maior produtor mundial, os Estados Unidos se configura enquanto maior importador mundial, consumindo cerca de 30% de toda a madeira serrada no mundo. Seu principal fornecedor é o Canadá, líder mundial nas exportações desse segmento. A Europa Ocidental é o segundo pólo de produção e consumo de madeira serrada. Os países escandinavos são tradicionais fabricantes desse tipo de produto e abastece mercados importantes da Europa. Destaca-se também a Alemanha e Áustria. (BRASIL, 2007). Os painéis de madeira são uma categoria que agrega diversos produtos, dentre os quais estão lâminas de madeira, compensados, painéis de fibras ou de partículas (MDF/OSB/HDF)3. Esses últimos são fabricados em processos industriais que exigem investimentos em máquinas especializadas, instalações industriais intensiva em tecnologia, com padrão de qualidade e controle do processo produtivo, além disso, as indústrias que participam desse segmento são intensivas em capital. Nas atividades menos complexas desses segmentos (chapas de madeira e compensado), é possível encontrar operações industriais de menor escala, semelhante à de uma serraria tradicional. Entretanto, nos elos mais sofisticados (painéis), as instalações industriais se aproximam das plantas de fabricação de celulose, nas quais a economia de mercado tem um papel determinante no processo produtivo (BRASIL, 2007). A China e os Estados Unidos são os grandes produtores mundiais de painéis, seguidos pelo Canadá, Alemanha e Indonésia, conforme apresentado no gráfico nº 04. Além de maiores produtores, a China e os Estados Unidos se configuram como maiores consumidores mundiais. Os Estados Unidos absorvem 26% da produção mundial de painéis, principalmente os painéis de compensado estrutural, utilizado em larga escala na construção civil americana4.

3 A especificação dos painéis será trabalhada no capítulo IV – Cadeia produtiva do segmento de madeira sólida. 4 O destino das exportações de compensado brasileiro são, em grande maioria, os Estados Unidos. À esse exemplo citamos a Indústria de Compensados Guararapes, localizada no município de Palmas/PR. A indústria é 31

Outro destaque no consumo de painéis é a China, que superou nas importações os principais mercados europeus (Alemanha e Reino Unido) e asiáticos (Japão), sendo responsável por 21% do consumo mundial aparente. Os Estados Unidos produziram, em 2008, 10.375.740 m³ de compensado. Desse total, 80% se destinou ao consumo interno, assim como a China, que consumiu cerca de 95% da produção interna de compensado, conforme dados apresentados na tabela 02.

Tabela 02. Principais países produtores e exportadores de painel de compensado em 2008. Produção (m³) Exportação (m³) % de Exportação China 36.220.000 7.497.901 20,7% Estados Unidos 10.375.740 506.105 4,9% Malásia 5.601.000 5.517.580 98,5% Indonésia 3.353.000 2.569.200 76,6% Brasil 2.669.000 2.087.000 78,2% Japão 2.586.000 10.000 0,4% Rússia 2.583.000 1.326.000 51,3% Canadá 2.225.000 835.000 37,5% Índia 2.154.000 23.101 1,1% Finlândia 1.265.000 1.083.032 85,6% Chile 1.024.000 723.000 70,6% Fonte: FAOSTAT | © FAO Dirección de Estadística 2010. Organizado pela autora

Na proporção produção/exportação, destaca-se a Malásia, com 98% da produção interna voltada para a exportação. Seguida da Finlândia com 85%. O Brasil é o terceiro país exportador de compensado, com 78% da produção, conforme dados apresentados no gráfico 07.

líder em exportação de compensado para os Estados Unidos, e chegou a representar em 2005, 45% das exportações de compensados para a Costa Leste daquele país, conforme dados coletado em trabalho de campo realizado na empresa em junho de 2009. 32

Gráfico 07. Relação de produção e exportação dos principais países produtores de compensado em 2008 (em m³). Fonte: FAOSTAT | © FAO Dirección de Estadística 2010 Organizado pela autora

Destaca-se que os produtos desse segmento, em muitos casos, não são produtos acabados, e sim matéria-prima ou produtos intermediários que serão utilizados na construção civil e no mobiliário. Isso explica, por exemplo, o crescimento do comércio entre países asiáticos, uma vez que a China tem sido uma importante compradora desses produtos para, depois de transformá-los, exportá-los para países desenvolvidos. (BRASIL, 2007). O grande destaque dentro do setor de painéis foi o desenvolvimento do MDF nos anos 1990. Por suas características de poder ser torneado, este tipo de painel tornou-se uma matéria-prima muito desejada pela indústria moveleira, em razão da sua versatilidade e do melhor acabamento que propicia aos móveis e utensílios de madeira em geral. A evolução da produção mundial de MDF pode ser analisada no gráfico 08.

33

Gráfico 08. Evolução na produção de MDF, principais países produtores (em m³). Fonte: FAOSTAT | © FAO Dirección de Estadística 2010 Organizado pela autora

Além dos países apresentados no gráfico 08, outros países possuem uma produção considerável, em torno de 1 a 2 milhões de m³ produzidos em 2008, como é o caso da Turquia, Polônia, Coréia do Sul, Malásia, Canadá, Rússia e França. A produção mundial de MDF passou de 7 milhões de m³ em 1995 para 57 milhões de m³ em 2008, um crescimento de 814,25% em nível mundial, conforme dados da base estatística da FAO. O país destaque pra a produção e consumo de MDF no mundo é a China. Em 2000 a China produziu cerca de 2 milhões de m³ de MDF. A produção alcançou 27 milhões de m³ em 2008. Um crescimento de 1.230%. O gráfico 08 nos mostra que a China despontou na produção de MDF a partir de 2000. Isso pode ser entendido devido a política econômica adotada pelos chineses a partir de 1970, bem como o desenvolvimento econômico recente na China, o que veremos com mais ênfase no item 1.2. Outro segmento do setor de base florestal de destaque é o setor de celulose e papel. A produção mundial desse segmento ocorre em escala cada vez maior e muito intensiva em capital. Uma planta nova de celulose produz cerca de 1,5 milhão de toneladas e custa cerca de US$ 1,5 bilhão. Sendo assim, a participação desse mercado é restrita a apenas grandes grupos 34

empresariais. A produção de papel não é tão concentrada, nem espacialmente, nem em termos empresariais, mas a tendência internacional é de conglomeração em grandes grupos também. (BRASIL, 2007). Os principais países fabricantes de celulose ainda são os países desenvolvidos, conforme gráfico 05. Os Estados Unidos é o principal produtor mundial, agrega 28% do total da produção. Em seguida, destaca-se o Canadá com 14%, a China com 10%, a Suécia e Finlândia com 6%. Entre os países em desenvolvimento, o principal destaque é o Brasil, que ocupa a 4ª colocação como maior exportador e, em breve, deverá se tornar um dos cinco maiores produtores e superar a Suécia nas vendas externas. (BRASIL, 2007). Em relação à produção de papel e papelão, incluindo a produção de papel para jornais, o maior produtor mundial é os Estados Unidos, com 25 % da produção. Em seguida vem a China com 12%, o Japão com 9% e o Canadá e a Alemanha com 6%. Os cinco maiores fabricantes são responsáveis por 58% da produção mundial. Destaca-se o papel importante da China também nesse segmento. O país ocupa a segunda posição entre os maiores fabricantes. A China destaca-se como grande produtora de celulose a partir de outras fibras, como é o caso do bambu. Em razão do forte crescimento da produção industrial chinesa e da internacionalização de sua economia, os volumes de papéis para impressão e embalagem deverão crescer nos próximos anos acima da média mundial, com impactos positivos para os países exportadores. (BRASIL, 2007).

1.2 O SETOR DE BASE FLORESTAL NA CHINA: ASPECTOS GERAIS E A RELAÇÃO COM O BRASIL

A China tem se destacado no setor florestal enquanto grande produtor de florestas plantadas, com 31.369 milhões de hectares. Além disso, o país desenvolveu um potencial ligado à produção dos principais ativos florestais mundiais, competindo com países líderes, como é o caso dos Estados Unidos, a Rússia, o Canadá. No segmento de painéis, por exemplo, a China é a maior produtora mundial, maior importadora e exportadora também. Conforme Medeiros (1999), o desenvolvimento econômico recente da China é um dos fatos históricos mais importantes do final do século XX e começo do século XXI. A ascensão do liberalismo econômico e o colapso da ex-URSS e das economias socialistas do Leste europeu marcam as discussões sobre o desenvolvimento recente na China. Desde a formação da China moderna em 1949, o ciclo econômico chinês apresenta crescimento dos investimentos em capital fixo das empresas estatais e as restrições 35

conseqüentes de choques externos, desequilíbrios setoriais, principalmente em relação aos alimentos, e as restrições de balanço de pagamentos. (MEDEIROS, 2006). Entre 1980 e 1990, o crescimento chinês atingiu a taxa de 9,5% a.a., superior ä observada nos países do Leste asiático. Entre 1985 e 1995, esta taxa foi ainda maior, cerca de 10,2% a.a. Estes números conferem a China uma condição única de economia mundial.

A economia da China é a maior eficiência dinâmica do mundo. Eficiência dinâmica é a capacidade elevada de sustentar elevadas taxas de crescimento no longo prazo. Esse conceito combina, assim, a importante questão estática (de curto prazo) relativa à alocação de recursos com o dinamismo de longo prazo – rápida acumulação (altas taxas de investimento), crescimento do emprego, aumento contínuo de produtividade e absorção do progresso técnico (GONÇALVES, 2002, p. 142).

Conforme Gonçalves (1999) a via chinesa de desenvolvimento5 procurou obter uma combinação de diferentes níveis em que se estrutura o processo decisório na economia. De um lado, aumentou o planejamento da economia através de empresas estatais voltadas à maior integração do mercado interno e maior divisão nacional do trabalho. De outro lado reforçou- se a autonomia das empresas de vilas e municípios e dos camponeses na produção e comercialização a preços de mercado. De um lado predominou o controle sobre o câmbio e o monopólio estatal sobre as importações, no outro, a liberdade de investimento e de comércio nas zonas econômicas e especiais. A articulação do governo central com os governos provinciais tem sido no sentido de promover a concorrência e, desse modo, regular o funcionamento do mecanismo de mercado num sistema econômico ajustado na propriedade social da riqueza. Medeiros (1999) destaca que o setor industrial chinês liderou a taxa de crescimento do PIB e do emprego entre os anos 1980 e 1990. O principal movimento ocorrido na China na década de 1980 foi a expansão do setor primário. Entre 1983 e 1988 a indústria leve e voltada

5 Os documentos do PCCh referem-se a uma economia socialista de mercado. Entretanto, à luz das discussões marxistas sobre as vias de desenvolvimento, poder-se-ia denominar a via chinesa como uma forma de capitalismo de Estado. A tese de Lênin sobre o capitalismo de estado aparece desenvolvida em suas reflexões sobre o regime estabelecido com a NEP. Por capitalismo de estado, Lênin entendia um tipo de capitalismo regulado e controlado pelo estado socialista. [...] De certo modo as características chinesas, a despeito de peculiaridades próprias, apresentam alguns traços semelhantes. Com efeito, o capitalismo chinês desenvolveu-se a partir da regulação não mercantil de dois fatores produtivos: a terra e o trabalho. Com as reformas de 1978, não se desenvolveu um mercado de terras. A terra pertence ao Estado, a renda diferencial é administrada pelo governo e apropriada pelo produtor. Ainda que em expansão, a mercantilização da força de trabalho encontra-se institucionalmente limitada. Não existe um mercado de trabalho, a população não pode deslocar-se livremente, as empresas são estimuladas a contratar no próprio local de trabalho, o custo de reprodução da força de trabalho – preço dos alimentos e oferta de serviços públicos de educação e saúde – é controlada pelo Estado. (MEDEIROS, 1999, p. 109). Sobre esse assunto ver: ARRIGHI (2001 e 2008) e JABBOUR (2009). 36

ä produção de bens de consumo liderou o crescimento econômico e, partir de então, a produção de bens de capital obteve taxas mais elevadas. As exportações foram o componente da demanda efetiva que expressou maior dinamismo nos últimos quinze anos. A relação entre exportação e importação sobre o PIB chinês passou de 10%, em 1978, para 17%, em 1984 e 44%, em 1995. Essa relação evidencia dois aspectos: o crescente peso das exportações das empresas processadoras de importações das Zonas Econômicas Espaciais (ZEE) e a taxa de cambio interna. Nesse sentido, a máquina de crescimento chinesa permaneceu fortemente assentada nos investimentos públicos, na exportação das empresas estatais e na expansão do consumo. (MEDEIROS, 1999, 2006). No modelo chinês, o mercado se constitui num fator importante na alocação dos recursos. No entanto, o mercado é um instrumento auxiliar no processo de planejamento e do plano econômico sob o controle do governo central.

O papel crescente do mercado não se faz no contexto amplo e generalizado de privatização. Pelo contrário, o modelo chinês baseia-se na propriedade estatal e coletiva, sendo que a propriedade privada desempenha um papel complementar. Houve queda significativa da importância relativa da propriedade estatal no total da produção industrial entre 1978 e 1992. Entretanto, nesse mesmo período houve um aumento também expressivo da propriedade coletiva. A importância relativa da propriedade privada (micro, pequenas, médias e grandes empresas, joint ventures, e empresas estrangeiras) na produção industrial aumentou de 5%, em 1980, para 13,9 em 1992, sendo que metade desse aumento de participação privada ocorreu por meio de micro e pequenas empresas. A perda de quase trinta pontos de percentagem na participação das empresas estatais foi absorvida, cuja parcela da produção industrial cresceu 23,5% em 1980 para 38% em 1992. (GONÇALVES, 2002, p. 144-145).

Este fenômeno do desenvolvimento econômico chinês torna-se ainda mais acentuado, quando se considera que um quarto da população mundial vive na China (1,3 bilhão de pessoas), o que representa um mercado interno com elevado potencial para o consumo e mão-de-obra abundante. Além disso, a China possui recursos naturais favoráveis e uma considerável capacidade tecnológica interna. Medeiros (1999) destaca que a parte mais visível das reformas e das mudanças estruturais chinesas foi a explosão dos investimentos estrangeiros diretos. Essa estratégia ativa de inserção internacional tem aumentado a capacidade da China de atrair investimento externo direto e de realizar a absorção de tecnologia com base em relações de benefício-custo para o país. 37

A explosão dos investimentos estrangeiros ocorreu a partir dos anos de 1990. Até então, o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) ou Investimento Externo Direto (IED), permaneceu abaixo de 1% do PIB. A expansão mais vigorosa ocorreu a partir de 1991, onde o governo empreendeu uma ousada estratégia industrial de fortalecimento de grandes empresas estatais voltadas ao enfrentamento das grandes empresas multinacionais nos mercados chineses e mundiais. Em sua política de manter as grandes empresas públicas e deixar escapar as menores, a estratégia era diversificar simultaneamente as exportações através de política tecnológica e de investimentos e a modernização da agricultura de forma a integrar populações e territórios do interior. Diversos centros de tecnologias foram desenvolvidos. Foram estabelecidas dezenas de zonas de desenvolvimento econômico e tecnológico (como as em Daliam, Tiajin, Fuzhou, Beijing, Shangai) especialmente concebidas para formarem pólos de crescimento voltados para a economia como um todo. Estas zonas passarama receber massivos investimentos em infra-estrutura e muitas criaram parques industriais em alta tecnologia. (MEDEIROS, 2006, p. 388).

Um destaque é o incentivo por parte do governo chinês para a formação de joint ventures entre as empresas estatais e empresas estrangeiras. Os principais investidores estrangeiros na China são chineses residentes em Hong-Kong, Taiwan e Macau. Investidores do Japão, Estados Unidos União Européia responderam por 20% do estoque total de IED na China em 1993. Conforme Gonçalves (2002) as join ventures são a forma preferencial de captação de IED, transferência de tecnologia e absorção do capital gerencial, mercadológica e organizacional na China. Em 1994, as filiais de empresas transnacionais (de propriedade integral da matriz) responderam por 11% das exportações totais da China, enquanto as join ventures responderam por 24%. Entre os principais fatores que tem determinado a entrada de investimento externo direto na China, destaca-se o tamanho e o potencial do mercado interno, o baixo custo da mão-de-obra,a disponibilidade de infra-estruturas, além das facilidades das zonas econômicas especiais de processamento para exportação em setores como brinquedos, vestuário, têxteis, sapatos, material para viagem e produtos elétricos e eletrônicos. Medeiros (2006) ressalta que uma parcela significa dos investimentos públicos na China concentram-se na construção civil. Industrialização e urbanização aceleradas (a taxa de urbanização cresceu nos últimos 20 anos 38% a.a.) exerceram uma demanda extraordinária sobre residências e equipamentos urbanos.

A demanda por residências e bens de consumo vem impulsionando o mercado chinês em duas direções. Em primeiro lugar pela expansão 38

horizontal do mercado de consumo devido à incorporação de maior número de famílias urbanas com maior poder aquisitivo. Em segundo lugar, devido à expansão vertical do mercado decorrente da maior concentração da renda e da introdução de novos padrões de consumo. (MEDEIROS, 2006, p.388).

Essa nova dinâmica urbana, que impulsionou dentre outros fatores, a construção civil, intensificou o setor econômico da madeira no que tange a indústria voltada para a produção de painéis e do mobiliário chinês. Conforme Cao (2008) a crescente indústria madeireira da China compreende centenas de milhares de serrarias, fabricantes de móveis e pisos, empresas de painéis e outros fabricantes de produtos secundários de madeira de vários tamanhos. O consumo total de madeira serrada e de painéis de madeira do país (incluindo as exportações) quase triplicou entre 2001 e 2007.

Com a recente crise financeira dos Estados Unidos e seu impacto no mercado global de produtos de madeira, espera-se que este volume caia levemente [...]. Entretanto, sob a perspectiva de médio e longo prazo, espera- se que a indústria madeireira da China recupere seu ímpeto de crescimento em 2011 e, portanto, seu apetite por matéria-prima de madeira, apoiada por um forte mercado doméstico. O fornecimento de matéria-prima de madeira é e continuará sendo a preocupação principal da indústria a longo prazo, embora o governo chinês tenha prometido se tornar auto-suficiente nos próximos 5 a 10 anos através do plantio e do manejo de plantações florestais. (CAO, 2008).

Os plantios florestais fazem parte dos projetos essenciais na China, juntamente com a transmissão de gás natural de oeste-leste e transmissão de água sul-norte. A construção da indústria básica e de infra-estrutura6 foi reforçada de forma significativa dando um suporte crescente ao desenvolvimento econômico e social do país. As estruturas produtivas da China bem como as infra-estruturas cresceram de forma significativa após as reformas ocorridas em 1979. A indústria florestal na China vai desde a produção de florestas, extração florestal, produção de madeira serrada, lâminas e toras de madeiras, até a produção de painéis compensado, aglomerado e MDF, além de indústrias de celulose, papel e papelão. As serrarias e indústrias de lâminas, em sua maioria, atuam com baixa composição orgânica do capital, intensiva em mão-de-obra, conforme figura 01. Indústrias de painéis, celulose, papel e papelão, possuem um nível tecnológico mais avançado, com alta produtividade. (CAO, 2008).

6 Sobre infra-estrutura e crescimento chinês ver em JABBOUR (2006). 39

Figura 01. Indústria madeireira na China. Fonte: CAO, 2008.

Muitas indústrias do setor de base florestal se instalaram na China após o ano 2000 em busca dessas vantagens oferecidas pelo governo chinês. Além disso, o fator mão-de-obra barata e abundante e a política de governo direcionada à plantação florestal, conforme destacado por Cao (2008), são alguns mecanismos que tem levado à instalação de indústrias, principalmente na forma de join ventures.

40

Tabela 03. Principais indústrias investidoras externas e internas na China ligadas ao setor de base florestal. Companhia Ano de Investidores País de Origem Valor investido instalação na ou % do China investimento 2006-2007 Carlyle Group Estados Unidos U$ 30 milhões A&W Wood 2007 Pantheon Estados Unidos U$ 2.5 milhões Industry Venture, Co., Ltd. ( Anxin 2007 Strong Media Estados Unidos U$ 8.57 milhões Flooring) 2005 Legend China (25%) (25%) Holdings Kebao & Boloni Kitchen & 2007 Morgan Stanley Estados Unidos U$ 18 milhões Bathroom (10%) Furniture Shanghai New 2007 Legend China U$ 20 milhões Sihe Holdings

Yinbin Wood Armstrong Industry Co., Ltd 2007 Estados Unidos $17.6 milhões Fonte: CAO, 2008. Organizado pela autora

O Brasil tem se identificado enquanto parceiro da China para o fortalecimento do mercado em ambos os países. O fato mais evidente foi o Plano de Ação Conjunta entre o Governo brasileiro e o Governo chinês, 2010-20147. Dentre a parceria firmada destaca-se:

As autoridades relevantes das duas Partes encorajarão ativamente a cooperação econômica e comercial e apoiarão o investimento nos dois sentidos, por parte de entidades e empresas relevantes, em particular nas áreas de: infra-estrutura, energia, mineração, agricultura, bio-energia, indústria e setor de alta tecnologia. As duas Partes intensificarão a cooperação com vistas a facilitar o comércio e o investimento. As duas Partes concordam em avançar na conclusão de acordos de cooperação entre seus órgãos de promoção comercial e de investimentos; dar mais exposição aos produtos de ambas as Partes ajudando as empresas da outra Parte a: organizarem ou co-organizarem, em seus territórios, feiras, exposições e eventos de promoção de parcerias empresariais, e delas participarem, em áreas como matérias-primas, produtos alimentícios e alta tecnologia; e diversificar os produtos de exportação, particularmente em setores intensivos em inovação, tais como serviços, indústrias criativas, indústria aeroespacial,

7 O Governo do Brasil e o Governo da China reafirmaram o objetivo comum de adotar um plano de ação conjunta para o período 2010-2014, como consta no Comunicado Conjunto entre Brasil e China para o Fortalecimento da Parceria Estratégica Brasil-China, assinado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva da pelo Presidente Hu Jintao, por ocasião da visita de Estado do Presidente Lula à China, em maio de 2009. (FORUM PARA A COOPERAÇÃO ECONOMICA E COMERCIAL ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA (MACAU), 2010). 41

biotecnologia, nanotecnologia, tecnologias e engenharias industriais. (FORUM PARA A COOPERAÇÃO ECONOMICA E COMERCIAL ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA (MACAU), 2010).

Essa parceria tem instigado as indústrias florestais brasileiras, sobretudo de papel e celulose, a aumentarem suas capacidades de produção com vistas a atender o mercado chinês. Conforme a ABRAF (2010), grande parte das exportações brasileiras de produtos manufaturados é destinada a países da América Latina e aos Estados Unidos, que foram consideravelmente afetados pela crise mundial e, consequentemente, reduziram suas importações. A China, apesar da crise, manteve sua participação expressiva nas importações do Brasil. As empresas exportadoras brasileiras mudaram sua estratégia ao longo de 2009 para evitar maiores perdas decorrentes da crise, direcionando parte das vendas externas para países Asiáticos. Algumas indústrias brasileiras de papel e celulose tem visto no crescimento chinês, assim como o crescimento de alguns países asiáticos, como é o caso da Coréia do Sul e do Japão, a possibilidade de expansão e nova configuração da produção. Em 2008, a Aracruz Papel e Celulose sinalizou uma projeção de um enorme crescimento da capacidade de produção de celulose dos últimos tempos. Os volumes de investimentos da indústria de papel e celulose são estimados em US$ 7,9 bilhões entre 2008 e 2012, acima dos US$ 6,5 bilhões aplicados no período de 2003-2007. Do total previsto para os próximos cinco anos, mais de US$ 7,3 bilhões são destinados apenas à ampliação da produção da celulose de que a China tanto precisa. Outro exemplo de aplicação na potencialidade de consumo da China é a Votorantim Celulose e Papel (VCP), que ampliou seus complexos industriais para atender a dinâmica de mercado chinesa. (VIEIRA, 2008a).

1.3 TIMOS

Um constituinte importante para se analisar dentro do setor de base florestal são as chamadas TIMOs. As TIMOs (Timberland Investment Management Organizations) ou Organizações de Gerenciamento de Investimento em Área Florestal, representam interesses de investidores institucionais, como fundos de pensão e gestores de grandes fortunas e são 42

responsáveis por aproximadamente 80% da produção florestal nos Estados Unidos. No Brasil, já respondem por 20%. (AGROCIM, 2010). A atuação das TIMOs é antiga nos Estados Unidos e Europa, mas relativamente nova no Brasil. As primeiras aquisições feitas aqui ocorreram no Paraná e em Santa Catarina nos últimos 10 anos. O modelo de operação é simples. A TIMO firma um contrato de gestão com o investidor e, nele, é fixada a forma da gestão e sua remuneração. É criada uma empresa no país onde está a floresta, que passa a administrá-la, normalmente terceirizando os serviços. (LIMA e FONTES, 2009). De acordo com Charles (2008), as TIMOs iniciaram em 1985 com vários pequenos fundos de U$ 10 a 25 milhões cada. Países como Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Chile, Argentina, Uruguai, Brasil, Rússia e China são considerados como potenciais de investimentos das TIMOs. Esses fundos de investimentos florestais estão pautados no amadurecimento do capitalismo financeiro a partir da fusão do capital bancário com o capital industrial e da formação dos grandes monopólios que hoje controlam o mercado mundial. É o excedente da produção, a sobretaxa da mais-valia, que já não podem mais ser investidos diretamente na produção. Conforme Mamigonian (2005), na fase concorrencial do capitalismo (séc. XIX), a expansão das empresas, então de pequenas dimensões, dependia da redução dos custos e levava ao aumento da escala produtiva (concentração), até o ponto em que a acumulação geral de capital ultrapassava a expansão dos mercados, resultando daí crises dos negócios. O caráter monopolista do capitalismo passou a dificultar a aplicação de novas invenções. Por conseqüência, empresas gigantescas passaram a canalizar seus lucros em direção a outros países (multinacionalização) e outros ramos industriais (conglomeração). De acordo com Dantas (2009), o surgimento dos fundos de pensão, a multiplicação de ativos financeiros de natureza essencialmente especulativa, a criação de fundos soberanos dos Estados e a utilização de poupança em fundos privados de investimento financeiro, obedecem a necessidade do capital em superar os limites que se recolocam sempre à sua reprodução indefinidamente ampliada. Com a crise no centro do sistema capitalista, esses fundos de investimentos foram atraídos por inúmeras vantagens dos países da periferia do sistema, como é o caso do Brasil e outros países da América Latina. O investimento florestal é mundialmente conhecido pelo caráter de longo prazo, baixo risco e retorno atrativo. 43

O Brasil tem sido o potencial em investimentos desses fundos florestais. Além da alta produtividade das florestas, a extensão territorial e a dinâmica industrial interna do setor tem sido crescentes, pois com a crise nos principais países exportadores de produtos florestais brasileiros, a exemplo dos Estados Unidos, o desenvolvimento do mercado interno tem sido latente. Conforme a Consufor (2009) a maioria dos investimentos realizados é oriunda de fundos americanos e canadenses. Também fundos europeus tem se destacado nesse ramo. Além dos fundos estrangeiros, destaca-se a atuação de fundos nacionais, no caso brasileiro, com interesse em investir no ativo florestal. Somente no Paraná, mais de 50 mil hectares estão em análise por fundos de investimento. No Brasil, estima-se que as terras em negociação somem aproximadamente 200 mil hectares de área plantada, distribuídas em oito Estados, e há projetos em andamento para novos plantios, em parceria com indústrias do setor florestal ou não. (LIMA e FONTES, 2009). Os fundos de pensão vêem as florestas como investimento atrativo, de baixo risco e retorno seguro no longo prazo. Em 2010 a Funcef8 e Petros9 injetaram R$ 550 milhões no Florestal Fundo de Investimentos em Participações (FIP), que pertence à Florestal Investimentos Florestais. A companhia tem como sócios a J&F Participações, que controla a JBS Friboi. A meta da Florestal é ter 215 mil hectares de florestas de eucalipto em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

A indústria brasileira de celulose e papel e setores que utilizam madeira como matéria-prima veem com otimismo o ganho de musculatura de um importante aliado: fundos de investimento com foco no negócio florestal. Nos próximos anos, a atuação das chamadas “timos”, do inglês Timberland Investment Management Organizations, deve crescer no Brasil, na esteira da expansão de demanda por madeira e da reconhecida competitividade do país na área florestal. Conforme projeção dessa indústria, que ainda dá os primeiros passos no país, pelo menos R$ 4 bilhões em aportes deverão vir pelas mãos de investidores institucionais nos próximos cinco anos. Recentemente, os grupos Suzano , Klabin e Irani firmaram operações com fundos dessa natureza. (LIMA e FONTES, 2009).

Conforme informações do Valor Online (2009a), desde o início da década, cerca de US$ 1 bilhão foram investidos por fundos em compras de florestas no Brasil. Essas florestas

8 Fundação dos Economiários Federais (FUNCEF) é um fundo de pensão do Brasil, pertencente aos funcionários da Caixa Econômica Federal. 9 Petros é um fundo de previdência dos funcionários da Petrobras e de outras empresas do setor petroquímico. 44

passaram a ser administradas pelas TIMOs e as indústrias de madeira, que eram donas das propriedades, agora compram a matéria-prima que precisam. O caso mais recente negócio envolvendo uma TIMO ocorreu em dezembro de 2009, quando a Suzano Papel e Celulose acertou a venda, por R$ 311 milhões, de cerca de 50 mil hectares de terras em Minas Gerais. Inclui 13 mil hectares de eucalipto que passaram para as mãos de dois fundos estrangeiros. A companhia vendeu ativos não operacionais, que não serviriam de base para futuras expansões nem para suprir suas fábricas atuais. Outra transação foi feita em setembro de 2009, quando a Celulose Irani informou que vendeu 3,2 mil hectares de terras com florestas de pinus em Caçador (SC), por R$ 27,5 milhões. Quem gerencia essa floresta agora é a GFP, o maior e mais antigo fundo em atuação no Brasil. Numa variação desse tipo de parceria entre indústria e investidores, a Klabin, maior fabricante brasileira de papéis para embalagens, iniciou neste semestre o plantio de florestas junto com um fundo europeu. O contrato prevê aporte inicial de US$ 20 milhões do parceiro e US$ 5 milhões dela, que também entrou com a tecnologia florestal. (LIMA e FONTES, 2009). Entre as timos de maior atuação no Brasil estão a GFP (Global Forest Partners) com sede no Líbano, HTRG (Hancock Timber Resource Group) com sede nos Estados Unidos, RMS (Resource Management Services) com sede nos Estados Unidos, RMK Timberland Group (com sede nos Estados Unidos) e Brookfield Asset Management (com sede no Canadá), além de outras que estão buscando ativos. O Global Forest Partners (GFP), com sede nas Ilhas Cayman, pagou R$ 51 milhões à Vale do Rio Doce por cerca de 30 mil hectares de fazendas na Bahia, dos quais 22 mil hectares com plantio de eucaliptos. O GFP, que havia adquirido florestas da antiga Pisa e da Battistella no Sul do país no início da década, foi uma das Timos mais agressivas a investir em ativos no Brasil. Ela administra mais de 75 mil hectares de florestas no país e vende madeira a terceiros. (VIEIRA, 2008b). Outros exemplos de TIMOs no Brasil: Hancock –Trombini : Pinus Paraná; GFP – Batistela: Pinus Paraná; HMC –Eucalyptus MS e RS; RMK –Eucalyptus MG e RS; Corus – Eucalyptus MS; Four Winds –Eucalyptus e Teca MT; Brookfield –Pinus PR/SC e Eucalyptus MG. Esse aumento expressivo nos investimentos trouxe grandes gestores que têm realizado negócios no Brasil, como por exemplo, a HTRG – Hancock Timber Resources Group. Considerado o maior Timo do mundo, com US$ 8,5 bilhões de ativos sob gestão, 45

chegou no Brasil em 2005 e é proprietária de 20 mil hectares de florestas de pinus no Paraná. Com cerca de US$ 1 bilhão sob gestão, o RMK Timberland Group também tem negócios nos Estados de MG e RS. (VALOR ONLINE, 2009a). A aquisição de terras brasileiras por estrangeiros é algo que tem gerado ampla polêmica e discussão. As expectativas em relação aos biocombustíveis e a escassez de recursos naturais em outros países fomentaram a corrida de investidores estrangeiros na aquisição de terras para a produção direcionada ao agronegócio, no caso da soja e cana-de- açucar, ou para a indústria, no caso das florestas. Conforme CartaCapital (2010), o interesse dos investidores estrangeiros pelo agronegócio brasileiro é baseado no grande potencial produtivo do Brasil. Além de terras na região Centro-Sul e Centro-Oeste, aquisição e produção estrangeira em terras brasileiras se expandiram para áreas isoladas como Maranhão, Piauí e Tocantins e o oeste baiano. Alguns investimentos em capital fundiário ocorreram em terras de baixo custo (áreas de pastagens degradadas ou que foram desmatadas por produtores que não tiveram capital suficiente para produzir nelas) com o objetivo de valorizá-las e vendê-las por um preço muito mais alto. De acordo com Zanatta (2010), recentemente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva propôs uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) proibindo a compra de terras brasileiras por estrangeiros. Estatísticas inéditas do cadastro rural mostram que, até 2008, havia 4,04 milhões de hectares de terras registradas por estrangeiros.

1.4 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

O desenvolvimento histórico do capitalismo está ancorado na possibilidade da obtenção de lucros, ou seja, gerar mais valor, além daquele extraído no processo da obtenção da mais-valia e reinvetir esse lucro, gerando o processo de acumulação e centralização de capital. Nesse sentido, para se consolidar enquanto setor produtivo, as atividades desenvolvidas no âmbito do capitalismo, pressupõem, em sua essência, a possibilidade de lucro, ou seja, não é viável para o capitalismo um setor completamente improdutivo, seja economicamente, ou mesmo ideologicamente. E nesse processo de produção, sob a égide do capitalismo, desenvolve-se a técnica e a combinação do processo social de produção, destituindo as fontes originais de toda a riqueza: a terra e o trabalhador. É nesse contexto geral 46

da produção capitalista que caracterizamos o desenvolvimento do setor produtivo de base florestal. A silvicultura, se entendida somente enquanto extração e manejo florestal, não era uma atividade rentável ao capitalista, dado a especificidade da produção. As florestas levavam muito tempo, por vezes tempo maior que a vida do próprio homem, para gerar algum lucro. A formação do valor não era imediata, quando comparada, por exemplo, ao algodão na confecção de tecidos. Sendo assim, o processo de gestão de florestas era algo inviável para o capitalista, ansioso pela acumulação. No entanto, o desenvolvimento técnico e suas potencialidades voltadas ao capital, servem como ferramenta no processo produtivo, intensificando a produção. A maquinaria pode ser entendida como um marco nesse processo no capitalismo. Sendo assim, o progresso técnico veio a impulsionar o desenvolvimento do setor de base florestal, dinamizando e intensificando a produção. Alguns países, com condições edafoclimáticas e/ou econômicas específicas, desenvolveram e consolidaram o setor de base florestal, destacando-se enquanto grandes produtores de produtos florestais. Países de clima frio, China, Rússia e Estados Unidos tiveram no desenvolvimento de florestas plantadas um componente essencial para a obtenção de fonte de energia ou mesmo destinado à construção civil. No caso dos Estados Unidos e da China, além de obtenção de energia, a madeira enquanto componente estrutural nas construções aparece como um forte atrativo. Os Estados Unidos, principalmente, se destacam enquanto o maior importador mundial de painéis, seguido pela China. O setor florestal, em nível mundial, é bastante diversificado e complexo. Destacando-se a produção de madeira para combustível, madeira em tora, madeira serrada, painéis de madeira, celulose, papel e papelão. Em relação ao segmento de madeira para combustível, madeira em tora e madeira serrada, podemos afirmar que a composição orgânica do capital é relativamente baixa, pois a aplicação de mão-de-obra excede ao uso de equipamentos e maquinaria. No segmento de painéis de madeira, o grande destaque são os painéis de fibra reconstituída, principalmente o MDF. Na produção deste, bem como na produção de celulose, papel e papelão, a composição orgânica do capital é relativamente alta, pois requer uma maior aplicabilidade da maquinaria e diminuição de mão-de-obra. Uma planta de celulose ou mesmo de painel de MDF é altamente intensiva em capital. Na produção do compensado, o processo de laminação é tido como a primeira etapa. Nesta, a tecnologia tem se intensificado com o surgimento de novas máquinas que substituem 47

a força braçal do trabalhador. No entanto, para a montagem do compensado, conforme apresentado na figura 01, é praticamente manual. Atualmente, a China tem sido o país, em nível mundial, que tem se destacado enquanto produtora, importadora e exportadora de produtos florestais, principalmente em relação aos painéis de madeira, ultrapassando inclusive os Estados Unidos, até então líderes nesse segmento. Entender o processo de desenvolvimento desse setor em nível mundial, sobretudo na China é algo bastante instigante. Neste momento, trouxemos apenas alguns fatores que nos permitam visualizar geográfica e economicamente, a produção mundial com destaque para a produção chinesa. Podemos afirmar que o crescente e recente desenvolvimento econômico chinês, assim como de alguns países asiáticos, abriu novas fontes de matérias-primas e de mercados consumidores, que permitiram a intensificação e a diversificação da produção, bem como a inserção internacional ativa da China no mercado econômico mundial. Os Estados Unidos se configuravam até meados de 2005, quando os sinais de que uma crise econômica estava por vir, como o principal importador de painéis em nível mundial. Inclusive o Brasil tinha nos Estados Unidos o principal mercado consumidor para os painéis de compensado, sobretudo compensado estrutural voltado para a construção civil. Com o advento da crise e os problemas cambiais existentes, a pauta das exportações mundiais de painéis foi redirecionada. A China, com características únicas (tamanho e o potencial do mercado interno, o baixo custo da mão-de-obra,a disponibilidade de infra- estruturas, além das facilidades das zonas econômicas especiais de processamento para exportação) configurou-se enquanto um dos principais países na produção florestal. O setor florestal, além de se constituir enquanto um ramo produtivo do sistema capitalista, em suas múltiplas esferas, tem sido também alvo de vultosos investimentos oriundos de grande fortunas, na produção de florestas, com os investimentos florestais. Com a grande oscilação do mercado financeiro, sobretudo no gerenciamento de quantias imensas de capitais, e, considerando que o modo de produção capitalista pressupõe a acumulação, seja esta através da esfera produtiva, ou através do capital fictício, o investimento em floresta é algo que, apesar de novo no Brasil, oferece inúmeras vantagens tais como: caráter de longo prazo, baixo risco e retorno atrativo. Sendo assim, entendemos que o setor florestal, em nível mundial, possui um grande dinamismo produtivo impulsionado, sobretudo, através das inovações voltadas para a produção de florestas plantadas e também em produtos que visam a substituição da madeira in 48

natura no processo de agregação de valor, principalmente voltados para a construção civil e mobiliário. O próximo capítulo abordará a gênese e desenvolvimento do setor florestal no Brasil, e como este país desenvolveu uma densa e complexa cadeia agroindustrial do setor florestal, impulsionado pelo processo de modernização da agricultura.

CAPÍTULO II

ASPECTOS GEOECONÔMICOS DO SETOR DE BASE FLORESTAL NO BRASIL

A distribuição geográfica do capital e a organização espacial que dela resulta passam sempre por uma dialética entre as diversas frações do capital. Mas a dialética essencial se situa entre as formas complexas e as formas elementares de uso do capital ou, dito de outra forma, entre atividades com alto coeficiente de capital e atividades com alto coeficiente de mão-de-obra. Quando se diz que a tendência do capital é investir sobre todo o território, é preciso acrescentar que se trata sobretudo do grande capital – os capitais novos – e isto direta ou indiretamente, seja através da produção, da distribuição ou do consumo. (p. 150)

Milton Santos,. Economia Espacial.

50

Neste capítulo abordaremos o desenvolvimento da cadeia agroindustrial do setor de base florestal no Brasil, cujo mesmo esteve relacionado ao processo de modernização da agricultura. Levantamos alguns pontos que consideramos importantes no processo de modernização que incentivaram, através da introdução da indústria química e de tratores, o desenvolvimento produtivo das florestas. Conforme Graziano da Silva (1988) a modernização da agricultura consiste num processo genérico de crescente integração da mesma no sistema capitalista industrial, por meio de mudanças tecnológicas e de rupturas das relações de produção arcaicas e do domínio do capital comercial, processo que perpassa várias décadas e se acentua após a década de 1960. A partir desta década houve uma quebra nos mecanismos de integração da agricultura no padrão de acumulação industrial, que exigiu uma reorganização da agricultura a partir da intervenção do Estado e dos novos grupos chamados a orientar a produção agrícola e a renovação das estruturas de dominação. O processo de modernização da agricultura pode ser entendido a partir de três momentos decisivos: a constituição dos Complexos Agroindustriais (CAIs), a industrialização da agricultura e a integração de capitais intersetoriais sob o comando do capital financeiro. A partir disso, a dinâmica da agricultura passou a ser determinada pelo padrão de acumulação industrial, centrado no desenvolvimento dos complexos agroindustriais, cuja ação do Estado orientou-se para a modernização da agricultura, visando integrá-la ao novo sistema produtivo liderado pela indústria de insumos e gerando condições necessárias à expansão do setor. Cumprida as etapas da industrialização urbana brasileira, o processo de acumulação se intensificou na agricultura, com a introdução das máquinas, atribuindo a esta uma nova característica de extensão da própria indústria urbana, fortalecendo um novo setor da economia, intensivo em capital. Conforme Marx (2009) somente a destruição da indústria doméstica rural pode proporcionar ao mercado interno de um país a extensão e a solidez exigidas pelo modo capitalista de produção. Só a indústria moderna, com as máquinas, proporciona a base sólida da agricultura capitalista, expropria radicalmente a imensa maioria dos habitantes do campo e consuma a dissociação entre agricultura e indústria doméstica rural [...]. Por isso, só ela consegue se apoderar do mercado interno para o capital industrial. (p.862).

51

Sobre esse aspecto, Lênin (1985) afirmou na análise sobre o desenvolvimento do capitalismo na Rússia, que os resultados obtidos com o emprego de máquinas na agricultura evidenciam as características do progresso capitalista, com todas as contradições que lhe são inerentes, pois graças às máquinas a produtividade do trabalho agrícola atinge um nível extremamente elevado.

É evidente que a separação entre as indústrias transformativas e as extrativas, a separação entre manufatura e agricultura, transforma a própria agricultura em uma indústria, ou seja, num ramo econômico que produz mercadorias. O processo de especialização que separa diferentes tipos de transformação dos produtos, conduzindo à criação de um número sempre crescente de ramos industriais, manifesta-se também na agricultura: dá origem ao aparecimento de regiões agrícolas especializadas [...], provocando trocas tanto entre os produtos agrícolas e os industriais quanto entre os diversos produtos agrícolas (LENIN, 1985, p.14).

O desenvolvimento de tais processos, juntamente com o papel do Estado pós década de 1960, sobretudo em relação aos incentivos fiscais ao reflorestamento (Lei nº 5.106/1966) e aos programas setoriais do II PND, intensificaram a produtividade do segmento florestal no país, proporcionando o desenvolvimento e a consolidação das indústrias de papel e celulose e outros ativos florestais. A relação entre a distribuição florestal brasileira e a distribuição geográfica das indústrias merece atenção, pois estas tendem a localizar-se frequentemente em áreas próximas às fontes de matéria-prima, o que caracteriza uma concentração espacial das principais industrias produtoras de papel e celulose, processamento de madeira e siderurgias.

2.1 GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DA CADEIA AGROINDUSTRIAL DO SETOR DE BASE FLORESTAL NO BRASIL

A cadeia produtiva da madeira teve sua origem no Brasil Império, em meados do século XVI, data que marca o início de efetivo processo de colonização brasileira por parte dos portugueses. A indústria extrativa da madeira, a mais antiga atividade econômica desenvolvida no país, desenvolveu-se empiricamente ao longo de fases de grande progresso alternadas com épocas de depressão. O território brasileiro possuía imensas florestas nativas (pau-brasil, jacarandá, cedro, maçaranduba, imbuia, entre outras) o que proporcionou um terreno fértil para o desenvolvimento de atividades de exploração da madeira. Esta era extraída de forma intensa e predatória, sem proteção nenhuma e sem interesse em reflorestamento.

52

Conforme Bacha (2008), o setor de base florestal brasileiro que está representado na Figura 01, divide-se em 04 segmentos:  Segmento I - Indústrias à montante: nelas agregam-se as indústrias de equipamentos e insumos, bem como empresas de prestação de serviços para a extração florestal e para a silvicultura;  Segmento II - Produtos florestais in natura: neste segmento encontra-se a produção florestal, oriunda da extração vegetal10 (florestas nativas) e da silvicultura11 (florestas plantadas), que podem ser classificados em produtos madeireiros e não-madeireiros;  Segmento III – 1ª transformação industrial: aqui se encontram as indústrias de papel e celulose, processamento mecânico da madeira, siderurgia e uso energético;  Segmento IV – 2ª transformação industrial ou consumo final: neste segmento se encontram as indústrias moveleiras, construção civil, gráfica, embalagens, consumo industrial e doméstico tanto para o mercado interno como para o mercado externo, e outros.

10 Extrativismo Vegetal: exploração dos recursos vegetais nativos através da coleta ou apanha de produtos, que permite a produção sustentada ao longo do tempo, ou de modo primitivo e itinerante, possibilitando, geralmente, apenas uma única produção. Os produtos do extrativismo vegetal, segundo suas formas de aproveitamento, são classificados em grupos: borrachas; gomas não-elásticas; ceras; fibras; produtos tanantes; produtos oleaginosos; produtos alimentícios; produtos aromáticos, medicinais, tóxicos e corantes e madeiras (IBGE, 2004). 11 Silvicultura: é a atividade que se ocupa do estabelecimento, desenvolvimento e da reprodução de florestas, visando múltiplas aplicações, tais como: a produção de madeira, o carvoejamento, a produção de resinas, a proteção ambiental, etc. A produção da silvicultura é a que provém do cultivo de florestas - plantio, tratos silviculturais e colheita de espécies exóticas como o eucalipto, o pinus americano, a acácia-negra, e a teca, entre outras, bem assim, do plantio de espécies nativas ou autóctones (pinheiro brasileiro ou araucária, mogno, etc). (IBGE, 2004).

53

Figura 02. Cadeia agroindustrial do setor de base florestal Fonte: BNDES Setorial, 2009. Organizado pela autora

54

Estes segmentos, que compõem o setor de base florestal, se encontram entrelaçados entre si, sendo um a base ou a matéria-prima in natura ou processada para outro. Além disso, esses segmentos estão diretamente ligados ao sistema público e privado de pesquisa e às instituições públicas regulatórias.

Um exemplo da seqüência de atividades que compõe o SAG-Florestal é a empresa Caterpillar do Brasil, que produz tratores utilizados na extração de toras de florestas nativas. Elas são transformadas em pranchas nas serrarias e então usadas na indústria moveleira. A fabricação desses tratores da Caterpillar se insere no segmento I, a produção de toras no segmento II, a madeira serrada no segmento III e a de móveis no segmento IV. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) supervisiona as atividades feitas pelos extratores e indústria de transformação da madeira. O IBAMA é uma instituição pública regulatória. (BACHA, 2008, p.07).

O desenvolvimento da cadeia agroindustrial12 do setor de base florestal esteve intrinsecamente ligado ao processo de industrialização brasileira bem como ao processo de modernização da agricultura. A partir da década de 1930, o Brasil vai transformando-se de um país agrário- exportador para urbano-industrial. Com a crise dos anos 1930, na fase b do 3º ciclo de Kondratieff13, adotou-se uma política de substituição de importações, que vai ser a base central de seu processo de industrialização. No governo de Getúlio Vargas, a burguesia industrial nascente torna-se sócia dos latifundiários14, firmando assim o pacto de poder da 3ª dualidade15, criando melhores

12 A noção de cadeia produtiva faz referência à idéia de que um produto, bem ou serviço é colocado à disposição de seu usuário final por uma sucessão de operações efetuadas por unidades, possuindo atividades diversas. Cada cadeia constitui, portanto, uma seqüência de atividades que se completam, ligadas entre si por operações de compra ou de venda. Esta seqüência é decomposta em segmentos desde a extração da matéria-prima e a fabricação de bens e equipamentos a montante, até a distribuição e os serviços ligados ao produto à jusante. (FONTES, 2005). 13 Nicolai Kondratieff (1892-1938), economista marxista russo, estudou com profundidade os ciclos econômicos, e evidenciou que a economia mundial passa por períodos de, aproximadamente, cinquenta anos, sendo vinte e cinco de ascensão (fase A) e vinte e cinco de depressão (fase B), também chamados de ciclos de longa duração. Para Kondratieff, os Ciclos Longos no sistema capitalista resultam de sólidos investimentos ou de sua depreciação em infraestrutura, como: ferrovias, portos, canais, indústrias, saneamento básico, eletrificação, construção civil, etc. Nestes ciclos a fase de expansão é caracterizada por superinvestimentos em bens de capital e, na fase de depressão, por um processo de depreciação. (SANDRONI, 1999). 14 Vale ressaltar que os latifundiários são hegemônicos neste pacto de poder. 15 Para Rangel, as dualidades tem uma relação estável com os ciclos de Kondratiev. Originam-se em alguma passagem da fase A para a fase B de um ciclo e dão lugar a uma outra dualidade, no mesmo ponto do seguinte Kontratiev. Além disso, todas as dualidades contemplam significativas modificações político-institucionais (Abertura dos Portos – Independência; Abolição – República; Revolução de 1930 – Estado Novo), que são a marca indiscutível de um novo pacto de poder. Percebe-se que o sócio maior da coalizão de classes dominantes chega dividido ao final da dualidade em que foi hegemônico. Já o sócio menor chega em condições de exercer a hegemonia da dualidade subseqüente. (RANGEL, 2005).

55

condições para o processo de industrialização como apresentado por Rangel (1981). No entanto, devido à característica deste pacto de poder, a industrialização ocorre sem se alterar a estrutura agrária do país. Nos anos 1960, um intenso debate surge buscando compreender as conseqüências de não se ter mudado esta estrutura agrária. Os anos 1960 e 1970 serão o palco do que ficou conhecido como o processo de Modernização da Agricultura, base sob a qual teceremos algumas considerações16. Kautski apud Guimarães (1982) afirma que a partir do processo de modernização da agricultura, a grande indústria capitalista passou a dominar a agricultura e esta passou a corresponder suas ordens e a adaptar-se às suas exigências. A direção da evolução industrial serviu de regra à evolução agrícola. Nesse sentido, uma parte dos produtos agrícolas não é mais consumida de forma natural, mas adquirida e processada pela indústria. Uma parte das necessidades de consumo da agricultura não é mais obtida pelas explorações agrícolas, mas sim suprida pela indústria. O termo modernização possui um significado amplo, ora se referindo à passagem de uma agricultura natural para uma que utiliza insumos fabricados industrialmente, ora se referindo às transformações capitalistas na base técnica da produção. Utilizaremos o termo modernização da agricultura, se referindo ao processo de transformação na base técnica da produção agrícola no pós-guerra, a partir das importações de tratores e fertilizantes com o intuito de aumentar a produtividade, conforme apresentado por Graziano da Silva (1998). À esse processo de modernização e inovação, Graziano da Silva (1998) denominou de industrialização da agricultura, que engloba dois processos:

Um de destruição da economia natural, pela retirada progressiva dos vários componentes que asseguravam a harmonia da produção assentada na relação homem-natureza (e suas contradições); e outro, de uma nova síntese, de recomposição de uma outra harmonia – também permeada por novas contradições – baseada no conhecimento e no controle cada vez maior da natureza e na possibilidade da reprodução artificial das condições naturais da produção agrícola. (GRAZIANO DA SILVA, 1998, P. 03).

16 Não buscamos aqui levantar os pontos do debate clássico dos anos 1960, por mais que o consideremos importante, pois há ampla bibliografia que expõe de forma mais focada suas características, como por exemplo, Gonçalves (1997), Linhares e Silva (1981), Marighella (1980), Prado Jr (1987), Rangel (1981) e Vieira (1992). Nosso intuito é resgatar alguns aspectos importantes no processo de modernização da agricultura e o crescente avanço industrial. Estes aspectos, aliados ao dinamismo tecnológico existente e as condições sócio-espaciais específicas, dinamizaram o setor de base florestal, sobretudo em relação à fonte de matéria-prima.

56

Nesse sentido, o processo de modernização está atrelado à industrialização da agricultura, representando a subordinação da natureza ao capital e a libertação do processo de produção das condições naturais dadas, passando a fabricá-las sempre que se fizerem necessárias. Como exemplo, citamos o ocorrido no setor de base florestal, pois ao se extinguir as madeiras nativas para as serrarias, passou-se a investir em um segundo processo, o da reprodução artificial das espécies, e mais, a modificá-las geneticamente para o melhor aproveitamento das mesmas pela indústria. A constituição dos CAIs17 e a industrialização da agricultura passam a ser os novos determinantes da dinâmica da agricultura. De um lado há a procura de matérias-primas pelas agroindústrias; de outro a busca de mercados pelas indústrias de máquinas e insumos. A nova dinâmica se baseia no novo padrão agrícola, onde a estrutura produtiva e as articulações e integração com a economia global se transformam. Nesse sentido, podemos afirmar que a modernização da agricultura no Brasil contribuiu diretamente na evolução da silvicultura. Nas décadas de 60 e 70, eram utilizados métodos convencionais de preparo intensivo do solo em área total (aração, gradagem) e a limpeza do terreno era feita com a queima dos resíduos. Com a chegada das primeiras fábricas de tratores ao Brasil e com os incentivos fiscais aos plantios florestais fornecidos pelo governo, teve início a mecanização da silvicultura, baseando-se na adaptação de máquinas agrícolas. O chamado setor industrial a montante ou Departamento I da agricultura, conforme afirmado por Graziano da Silva (1998) compõem-se das indústrias de tratores, implementos, fertilizantes, defensivos e são partes da indústria mecânica e da indústria química, inclusive de grandes corporações internacionais, o que faz com que a inserção desse departamento dificilmente se dê num nível de um CAI específico. Conforme Rangel (2005) o processo de industrialização da agricultura ocasionou o surgimento de um novo setor de bens de capital o novo Departamento I com a produção dos insumos agrícolas modernos, a indústria química e pela produção de tratores.

17 A constituição dos CAIs pode ser localizada na década de 1970, a partir da integração técnica intersetorial entre indústrias que produzem para a agricultura, a agricultura propriamente dita e a as agroindústrias processadoras, integração que só se torna possível a partir da internalização da produção de máquinas e insumos para a agricultura. Sua consolidação se dá pelo capital financeiro, basicamente através do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) e das políticas de agroindustrialização específicas instituídas a partir dos chamados fundos de financiamentos. O ponto fundamental que qualifica a existência de um complexo é o elevado grau das relações intersetoriais dos ramos ou dos setores que o compõe. (GRAZIANO DA SILVA, 1988, P. 31).

57

O autor destaca que o primeiro Departamento I18 surgido no Brasil, herdado da fase B do segundo Kondratiev e da Primeira Guerra Mundial, contava de oficinas mecânicas independentes ou anexas a estabelecimentos industriais. As indústrias leves (Departamento II) criadas tinham todos esses anexos pré-industriais formalmente destinados a prestação de serviços de manutenção. Pode-se afirmar que esse primeiro Departamento I foi intensivo em mão-de-obra, com baixa composição orgânica do capital, devidos suas características artesanais. Atentamos para este aspecto para entender o impacto do surgimento do novo Departamento I sobre a oferta e a demanda de mão-de-obra na economia de mercado do país. Ao contrário do primeiro Departamento I, o novo Departamento é intensivo em capital, com uma alta composição orgânica do capital. Conforme Rangel (2005), com o aumento de maquinário voltado à agricultura, a produtividade do trabalho agrícola se eleva, a mesma oferta bruta pode ser assegurada por um número menor de trabalhadores agrícolas e, mais ainda, por um número menor de horas trabalhadas na agricultura. A esse aspecto, Marx (2010) afirma que a indústria moderna atua na agricultura de forma bastante intensa, pois ela é responsável pela destruição da velha sociedade, o camponês, substituindo-o pelo trabalhador assalariado. Com a preponderância cada vez maior da população urbana, a produção capitalista concentra de um lado a força motriz histórica da sociedade (o trabalhador) e de outro lado, perturba a relação material entre o homem e a terra, pois os custos relativos da produção agrícola foram reduzidos com a introdução da nova maquinaria, aumentando o rendimento do solo. Sendo assim, as áreas de especialização do Departamento I estão voltadas às estratégias industriais mais amplas das grandes corporações do que às exigências técnicas dos agricultores. Exatamente por isso, o Departamento I da agricultura tem maior flexibilidade, tornando a indústria produtora menos dependentes das conjunturas cíclicas de um produto agrícola particular. Conforme Belik (1992) com a integração agricultura moderna e indústria passa-se a contar com produtos uniformes do ponto de vista industrial e com um fluxo regular de matéria-prima. Capitais industriais, muitos deles transnacionais, como parte de sua estratégia

18 O fato de a industrialização haver começado pelo departamento II, com a indústria leve à frente e a indústria têxtil ocupando a posição chave, no seio dessa indústria leve, não quer dizer que o Brasil não dispusesse de um Departamento I próprio, mas, simplesmente, que este, sobrevivência do passado esforço de substituição de importações, tinha caráter pré-industrial ou artesanal. (RANGEL, 2005).

58

de crescimento e aproveitando-se das políticas estabelecidas pelo Governo Federal, buscam integração com a agricultura e até mesmo coma produção de bens de capital e insumos para a agricultura. O fator determinante para esta nova articulação agricultura/indústria que se inaugura nos anos 60 está na presença do Estado, através da mediação e administração das políticas públicas. A partir daí, a articulação indústria- agricultura não poderia mais ser explicada por qualquer outro mecanismo que não ao direcionamento imposto e estimado pelo Estado à mercê das pressões exercidas por grupos de interesses setoriais, com maior influência no aparelho de Estado. (BELIK, 1992, p.37)

O desenvolvimento e evolução do setor de base florestal, conforme já afirmamos, esteve intrinsecamente ligado ao processo de modernização da agricultura, sobretudo em relação a utilização da matéria-prima, indispensável ao seu desenvolvimento, bem como o dinamismo industrial tecnológico, que impulsionou tais processos. O papel do Estado foi indispensável para este fator.

2.2 PAPEL DO ESTADO E A CONSOLIDAÇÃO SETOR DE BASE FLORESTAL

A atividade econômica ligada ao setor florestal teve sua origem no Brasil Império com a extração da madeira nativa, principalmente o pau-brasil. Nesta fase inicial, as matas eram vistas apenas como fonte de receita e eram gerenciadas pela Fazenda, com o objetivo exclusivo de colher os lucros obtidos com a atividade madeireira. O papel do Estado na regulamentação do setor, além de toda a gama de subsídios fiscais, que vão desde a matéria-prima até a indústria, foi indispensável para que houvesse a consolidação e o dinamismo econômico do mesmo. Conforme Brasil (2002) durante todo o Império e grande parte da Primeira República não havia nenhuma repartição do governo com a finalidade de administrar as atividades florestais no Brasil. Em 1860, foi criada a Secretaria de Agricultura, Comércio e Obras Públicas, mas não existia um órgão de proteção das florestas. A preocupação com a proteção das florestas emerge no século XX, quando se encontrava esgotadas uma parte considerável das florestas nativas, vistas como um entrave à expansão das fronteiras agrícolas. Mesmo depois de já esgotadas as reservas de pau-brasil, a atividade extrativista desenfreada prevaleceu no Brasil sobre outras espécies nativas, sobretudo a exploração do pinho nacional (Araucária angustifólia).

59

Em 1921 foi criado o Serviço Florestal do Brasil, e mais tarde surgiram outras instituições como: Departamento de Recursos Naturais Renováveis, Instituto Nacional do Pinho, Instituto Nacional do Mate, Instituto Brasileiro do Desenvolvimento Florestal (IBDF) responsável pela promulgação do Código Florestal em 196519, estando em vigência até os dias atuais, e, por último, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), criado pela Lei nº 7735, de 22 de fevereiro de 1989, atual responsável pela política florestal brasileira (BRASIL, 2002). No ano de 2007ocorreu a divisão do IBAMA, com a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), através da lei 11.516, de 28 de agosto de 2007. A principal atribuição do ICMBio é administrar as Unidades de Conservação (UCs) federais, até então de atribuição do IBAMA. Ao IBAMA, restaram as atribuições de polícia ambiental, autorização do uso de recursos naturais e os polêmicos licenciamentos de empreendimentos com impactos no ambiente. Já o Instituto Chico Mendes, além das 292 unidades federais de conservação em todo o Brasil, lidará com programas de pesquisa da biodiversidade. (SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 2007 Conforme Bacha (2008), nas décadas de 1960 e 1980, o Governo Federal realizou três programas de incentivos ao reflorestamento. No período de 1965 a 1988 foi realizado o Programa de Incentivos Fiscais ao Florestamento e Reflorestamento (PIFFR). Na segunda metade da década de 1970 foi implantada uma política de incentivo ao reflorestamento em pequenos e médios imóveis rurais (o REPEMIR); e, no período de 1985 a 1988 foi implementado um programa de reflorestamento com algarobeira no Nordeste semi-árido (o Projeto Algaroba). Esses três programas implicaram em doação de recursos monetários ou matérias aos produtores rurais para que estes realizassem o financiamento. O PIFFR foi composto de leis e decretos que instituíram e regulamentaram os incentivos fiscais concedidos a essa atividade,

19 O Código Florestal de 1965 substituiu o Código de 1934. Este novo Código (Lei nº 4.771/1965) foi a primeira tentativa de sistematizar a exploração florestal concedendo incentivos às empresas organizadas que tivessem maior dependência em relação às fontes de suprimento de origem vegetal. Já em 1965 havia uma preocupação da comunidade científica florestal com o ritmo da devastação e a falta de reposição para as florestas plantadas. (BELIK, 1992). O reflorestamento passou a ser viso como uma forma de desenvolvimento sustentável para as indústrias bem como a forma de conter o desmatamento intenso. Recentemente, encontra-se tramitando no Congresso Nacional, a proposta de alteração do Código Florestal, o que tem gerado muita polêmica. As principais alterações são: 1º - as pequenas propriedades deverão preservar o que restou da mata nativa e estão dispensadas de replantar o que foi destruído; 2º - a exigência de reserva legal dar-se-à às médias e grandes propriedades, nas seguintes proporções: 80% na Amazônia, 35% no Cerrado e 20% no Campo; 3º – suspensão de 05 anos das autorizações para novos desmatamentos; 4º - anistia das multas para quem desmatou até julho de 2008 e prazo de 20 anos para a recuperação das áreas.

60

como a Lei nº 5.106, de 02 de setembro de 1966, que dispôs sobre incentivos fiscais concedidos a empreendimentos florestais. Entre seus artigos, a lei deixava claro que o valor empregado em florestamento (espécies exóticas não nativas, como pinus e eucalipto) e reflorestamento (espécies nativas), poderiam se abatidos ou descontados nas declarações do imposto de renda. Para serem beneficiados pela presente Lei, os empreendimentos deveriam ter um projeto previamente aprovado pelo Ministério da Agricultura, compreendendo um programa de plantio anual de 10.000 (dez mil) árvores por ano. Conforme Belik (1992), com base nessa legislação teve início nesse período um grande número de empresas reflorestadoras. A corrida para os incentivos fiscais no reflorestamento se intensifica com o Decreto-Lei nº 1134/1970, permitindo que a atividade de reflorestamento fosse dirigida por Sociedades em Conta de Participação – SCP20. O Decreto nº 68.565/1971 definiu que as Sociedades Não-Acionárias de Pluriparticipação a que se referia o Decreto-Lei anterior ficariam equiparadas às Sociedades em Conta de Participação – SCP. Estas facilidades concedidas pela lei faziam com que se associassem empresas e pessoas físicas em torno de projetos de reflorestamentos liderados por reflorestadoras independentes ou vinculadas às indústrias consumidoras de madeira. Conforme Belik (1992) com a introdução do Decreto Lei 1.376/74 criou-se nova sistemática para a concessão de incentivos fiscais com a criação do FISET (Fundos de Investimentos Setoriais) voltado para os setores de turismo, pesca e reflorestamento. Ao tentar abarcar em apenas um Decreto regras básicas para atuação de tal gama de atividades, este decreto expressa artigos dúbios que não poderiam se encaixar nas atividades de reflorestamento.

Um exemplo desta inadequação é o Art. 18, onde se previa a conversão de Certificados de Aplicação dos Contribuintes Pessoa Jurídica. Esses certificados deveriam ser convertidos em títulos pertencentes aos fundos (de acordo coma a cotação estabelecida em leilão). Para as sociedades que porventura detivessem pelo menos 51% do capital votante de um determinado projeto, os certificados seriam trocados diretamente por incentivos fiscais providenciados pelas agências de desenvolvimento regional. (BELIK, 1992, p.108).

20 De acordo com Belik (1992), a SCP impõe-se o ocultamento dos seus sócios, fazendo com que a sociedade seja dirigida pelo sócio comanditado que a representa nas relações contratuais. No Brasil estas sociedades estão previstas no nosso Código Comercial, ressalvando-se que a participação se dá entre pessoas.

61

De acordo com Bacha apud Brasil (2007), o programa de incentivos fiscais não teve controle adequado proporcionando má utilização dos recursos, perda do valor patrimonial dos recursos aplicados e concentração de riqueza. Para as pequenas empresas o programa tornou- se inviável economicamente devido à falta de mercado consumidor ou elevados custos de transportes. No entanto, para as grandes, o programa representou uma excelente oportunidade.

Elas puderam assegurar parte significativa da matéria-prima florestal de que necessitavam sem comprometer-se com vultosas aplicações de recursos em compras de terras e implantação de reflorestamentos. De fato, em 1986, entre as 100 maiores empresas de reflorestamentos do Brasil, cerca de 40 pertenciam a grupos industriais diretamente vinculados à atividade florestal, tais como celulose e papel (20 empresas), siderurgia (12), exploração de madeira (07) e energia (01). Embora as restantes fossem empresas independentes do setor, nos anos seguintes – com o fim dos incentivos e a maturação dos investimentos – muitas delas foram adquiridas por grandes consumidores de matéria-prima florestal (BRASIL, 2007, p.35).

No período de 1967 a 1986, foram reflorestados no Brasil cerca de seis milhões de hectares com base em projetos incentivados. Como indicado, esse processo permitiu a formação de uma base florestal capaz de garantir o fornecimento de matéria-prima de qualidade e a custo reduzido, viabilizando a expansão da indústria brasileira, entre outros, de celulose e papel e de produtos siderúrgicos com base em carvão vegetal. Belik (1992) destaca que, a partir da Lei nº 5.106/1966, houve uma corrida desenfreada do meio empresarial para o setor de reflorestamento. Novos grupos foram constituídos para explorar a atividade florestal e muitos projetos foram elaborados sem qualquer planejamento. Nesta época surgem também as primeiras empresas reflorestadoras independentes. No período de 1970 a 1974 ocorreu uma explosão de projetos de reflorestamento com a constituição de inúmeras Sociedades de Conta de Participação – SCP. Até 1967 havia 20 empresas reflorestadoras, a partir desse período esse número se elevou para 500. Ressaltamos a importância destes incentivos, sobretudo atrelado aos setores intensivos em capital, como é o caso das indústrias de papel e celulose. Este setor específico experimentou um grande ciclo de crescimento das exportações na década de 1970 ancorados nas políticas indústrias da época, sobretudo às do II PND.21

21 A ampliação do mercado para produtos manufaturados resultou tanto da expansão da demanda no mercado interno quanto da expansão e diversificação das exportações. A expansão da demanda por produtos manufaturados no mercado interno teve três fontes principais de dinamismo: a política macroeconômica

62

O II PND, lançado em 1974 pelo então Presidente Ernesto Geisel previa uma série de investimentos nas indústrias ditas como os principais Grupos de Insumos Básicos a saber: Produtos Siderúrgicos e suas matérias-primas; metais não-ferrosos e suas matérias-primas; produtos petroquímicos e suas matérias-primas, fertilizantes e suas matérias-primas, defensivos agrícolas e suas matérias-primas; papel e celulose; matérias-primas para a indústria farmacêutica; cimento, enxofre, outros minerais e não-metálicos. Em relação a estas indústrias básicas, lançaram-se as metas esperadas para o ano de 1979. No setor específico de papel e celulose, as metas setoriais esperadas com o II PND podem ser vistas no quadro 01.

Setor Produção em 1974 Previsto para 1979 Aumento no período (capacidade instalada (capacidade instalada (%) em mil toneladas/dia) em mil toneladas/dia) Celulose 1.547 2.860 85 Papel 2.267 2.900 28 Quadro 01. Indicadores econômicos e sociais – Indústrias Básicas Fonte: Brasil, 1975. Organizado pela autora

As políticas industrializantes da década de 1970 não apenas interferiram diretamente no setor específico de papel e celulose, mas promoveram, através dos grandes investimentos no setor de bens de produção bem como na implementação dos fertilizantes de defensivos agrícolas, um crescimento da capacidade produtiva de fornecedores de equipamentos e matéria-prima para o setor como um todo.

Através do II Plano Nacional de Desenvolvimento o Estado articulou uma nova fase de investimentos públicos e privados nas indústrias de insumos básicos (siderurgia e metalurgia para os não-ferrosos, química e petroquímica, fertilizantes cimento, celulose e papel) e bens de capital (material de transporte e máquinas e equipamentos mecânicos, elétricos e de comunicações). O objetivo foi contemplar a estrutura industrial brasileira e criar capacidade de exportação de alguns insumos básicos. (SUZIGAN, 1988, p. 9).

Com o fim da política de investimentos fiscais ao reflorestamento, as grandes empresas adotaram outras estratégias de financiamento, com recursos do BNDES, bancos de

expansionista, a explosão das construções residenciais e a recuperação dos níveis de consumo. (SUZIGAN, 1988).

63

desenvolvimento estaduais e recursos internacionais. Também buscaram reformar florestas já existentes, além de incentivar os programas de reflorestamento em pequenos estabelecimentos rurais (BRASIL, 2007). Os setores mais organizados da indústria da madeira – setor de celulose e papel, siderurgia e painéis de madeira – se verticalizaram para garantir o suprimento de matéria- prima, dessa forma, foram pouco afetados pela falta de política florestal. A indústria passou a operar, a partir do início dos anos 1970, diretamente a produção florestal, assumindo a dinâmica deste setor e vinculando-o ao consumo industrial. Em 1974, com o lançamento simultâneo do programa de Siderurgia e Carvão Vegetal e do Programa Nacional de Papel e Celulose no bojo do II PND, o Governo passou a estabelecer metas ambiciosas para o setor de papel e celulose. Com base nesses dois programas setoriais, se projetou a área necessária de reflorestamento, para 1976-80, em cerca de 2,9 milhões de hectares, sendo 1,2 milhão voltados para o setor de papel e celulose; 1,2 milhão para o uso carvão vegetal e 0,5 milhão para o processamento de madeira para outras atividades. (BELIK, 1992) O Programa de Reflorestamento em Pequenos e Médios Imóveis Rurais (REPEMIR) atuou de formas diferente nos Estados Brasileiros, baseando-se na concessão de crédito subsidiado em São Paulo e na doação de mudas, insumos e assistência técnica em Minas Gerais e no Paraná. Realizado na segunda metade dos anos de 1970 e na primeira metade de 1980, o REPEMIR teve um impacto pequeno na área reflorestada, pois foram plantados cerca de 80 mil ha em comparação ao PIFFR, e os gastos do Governo Federal com o REPEMIR foram 10 a 16 vezes maiores do que os gastos com cada hectare reflorestado através do PIFFR (BACHA, 2008). O projeto Algaroba foi realizado na região semi-árida do Nordeste no período de 1985 a 1988, e acabou sendo um projeto de doação de mudas, insumos e de concessão de assistência técnica aos produtos rurais, caracterizando um reflorestamento muito pequeno (18,8 mil ha). A conjuntura econômica posterior à década de 1970, mais precisamente no começo da década de 1980, marca uma nova característica do Estado brasileiro. A partir da década de 1980, conforme destaca Brasil (2007), as empresas procuram consolidar sua posição econômico-financeira e administrativa por meio de profundas alterações em sua estrutura organizacional e gerencial: profissionalização das gerências, redução de endividamento,

64

desenvolvimento de estruturas próprias de distribuição, abertura de capital e aumento das exportações. A década de 1980 foi caracterizada pela ruptura do processo de crescimento da economia brasileira. Conforme Lacerda (1999) ocorreu uma reformulação da política salarial, redução da poupança interna e o aprofundamento da dívida externa. Num primeiro momento, entre 1981 e 1983, a diminuição no ritmo de crescimento foi atribuída à crise da dívida. Num segundo momento, entre 1984 a 1986, a balança comercial foi equilibrada e o país voltou a crescer, baseado no aumento do consumo. Nos anos de 1987 a 1989 houveram ajustes moderados na economia. O início da década de 1990 foi caracterizado pelo começo do aprofundamento da liberalização econômica. Esta fase iniciada no Governo Collor na década de 1990, mas com suas raízes na década de 1980, e com continuidade até o Governo Fernando Henrique marca o avanço do Neoliberalismo no país, com sérias repercussões no setor secundário da economia. O modelo neoliberal adotado determinou a privatização de quase todas as empresas estatais, tanto no setor produtivo, como as siderúrgicas e a Companhia de Carvão, quanto no setor da infra-estrutura e serviços, como o caso do sistema Telebrás. Além disso, os últimos anos marcaram a abertura do mercado brasileiro, com expressivas reduções na alíquota de Importação. Por outro lado, houve brutal aumento do desemprego, devido à falência de empresas e as inovações tecnológicas adotadas, com a utilização de máquinas e equipamentos industriais de última geração, necessários para aumentar a competitividade e resistir à concorrência internacional. No período de 1989 a 2001, o governo federal não realizou nenhum programa de incentivo ao reflorestamento. A partir de 2002, foram instituídos dois programas de crédito rural para estimular o reflorestamento, que são o PROPFLORA e o PRONAF-Florestal. Além deles, há linhas de créditos especiais para projetos ambientais e florestais com recursos dos fundos constitucionais do Norte (FNO), do Nordeste (FNE) e do Centro-Oeste (FCO) que são respectivamente, o FNO-Floresta, o FNE-Verde e o FCO-Pronatureza. (BACHA, 2008). O PROPFLORA, implantado em 2003, permite ao agricultor o empréstimo de até R$ 150 mil de recursos com prazo de pagamento de 12 anos, sendo 08 anos de carência. Essa linha de crédito é apropriada para o plantio de pinus e eucalipto e os recursos provêm do BNDES, podendo financiar a totalidade do investimento realizado, quando da implantação da floresta, e até 35% do custo de manutenção no segundo, terceiro e quarto ano. Este programa

65

beneficia empresas de qualquer porte, associações e cooperativas de produtores rurais e pessoas físicas, com efetiva atuação no segmento agropecuário. Já o PRONAF-Florestal, instituído em 2002, destina-se a financiar investimentos em projetos de silvicultura e sistemas agroflorestais, incluindo os custos relativos à manutenção do empreendimento. O prazo para reembolso é de 12 anos para pagamento do crédito, com 08 anos de carência. O FNO-Floresta, o FCO-Pronatureza e o FNE-Verde são linhas de créditos para financiar projetos de manejo florestal sustentável, reflorestamento com fins energéticos e madeireiros, sistemas agroflorestais, recuperação de áreas degradadas, projetos ambientais, entre outros fins associados a essas atividades. Conforme o BRDE (2003) a limitação do prazo de financiamento é preocupante para alguns setores, sobretudo o compensado e o moveleiro, em grande escala localizados na região Sul. A madeira destinada ao setor requer ser cortada com 12 anos no caso do eucalipto e com 15 anos no caso de pinus, enquanto que o prazo de financiamento está limitado a 12 anos. Além destes incentivos em relação à matéria-prima para o setor florestal, ressaltamos os financiamentos voltados para a indústria de base florestal. O principal programa do Governo Federal são as linhas de créditos da FINAME. A FINAME é um órgão subsidiário ao BNDES, criado em setembro de 1964 que oferece financiamentos, sem limite de valor, para aquisição de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, e leasing (aluguel/arrendamento) de equipamentos nacionais através de instituições financeiras credenciadas. A síntese das políticas públicas direcionadas ao setor de base florestal, apresentadas neste item, encontra-se no quadro 02.

Ano/Período Programa/Lei Principais características 1964 FINAME Órgão subsidiário ao BNDES. Oferece financiamentos, sem limite de valor, para aquisição de máquinas e equipamentos novos, de fabricação nacional, e leasing (aluguel/arrendamento) de equipamentos nacionais através de instituições financeiras credenciadas. 1965-1988 Programa de Incentivos Composto de leis e decretos que instituíram e Fiscais ao Florestamento e regulamentaram os incentivos fiscais como: Lei nº Reflorestamento (PIFFR) 5106/66; Decreto-Lei 1134/70; Decreto 68565/71; Decreto-Lei 1376/74 – FISET. 1970 Política de Incentivo ao Atuação de formas diferentes nos principais Estados reflorestamento em pequenos brasileiros relacionados co o setor florestal como:

66

e médios imóveis rurais - São Paulo: concessão de crédito subsidiado; (REPEMIR) - Minas Gerais e Paraná: doação de mudas, insumos e assistência técnica. 1974 II PND Investimentos voltados para s indústrias de grupos de insumos básicos, como papel e celulose. 1985-1988 Programa de Reflorestamento Doação de mudas, insumos e de concessão de com algarobeira no Nordeste assistência técnica aos produtores rurais semi-árido (Projeto Algaroba) 2002 PRONAF-Florestal Financiamento destinado a investimentos em projetos de silvicultura e sistemas agroflorestais, incluindo os custos relativos à manutenção do empreendimento. 2003 PROPFLORA Essa linha de crédito provém do BNDES e destina- se à plantação de pinus e eucalipto beneficiando empresas de qualquer porte, associações e cooperativas de produtores rurais e pessoas físicas, com efetiva atuação no segmento agropecuário. 2003 FNO-Floresta, FCO- Linhas de créditos para financiar projetos de manejo Pronatureza e FNE-Verde florestal sustentável, reflorestamento com fins energéticos e madeireiros, sistemas agroflorestais, recuperação de áreas degradadas, projetos ambientais. Quadro 02. Síntese das principais políticas públicas direcionadas ao setor de base florestal Fonte: Brasil (2002), Bacha (2008), Belik (1992), Brasil (2007). Organizado pela autora

Em relação às políticas estaduais de incentivo ao reflorestamento, alguns Estados possuem programas específicos para esse fim, como é o caso dos governos dos Estados de Minas Gerais e do Paraná que doam mudas e insumos aos fazendeiros e prestam assistência técnica para o plantio. Além deste, existem os incentivos estaduais e municipais para as indústrias, que vão desde a isenção de alguns impostos por determinado período até a concessão de infraestrutura (terrenos, barracões industriais) visando o desenvolvimento social municipal ou estadual. Alguns Estados são mais resistentes quanto às políticas de incentivos fiscais voltadas para este setor, sobretudo na área industrial, obrigando algumas indústrias de grande porte a instalarem suas filiais em áreas de outros Estados ou municípios. Um exemplo deste fato é a instalação de algumas indústrias no Estado de Santa Catarina, cujas matrizes encontram-se no Estado do Paraná. A indústria de Compensado Guararapes e a indústria de Compensado Sudati, ambas localizadas no município de Palmas/PR, instalaram em 2009 uma planta industrial no município de Caçador/SC para a produção de MDF. A indústria de painéis MDF e MDP Berneck, localizada no município de Araucária/PR, também está em fase de implantação de uma nova planta industrial no município de Curitibanos/SC. Para ambas, além da oferta de matéria-prima (Santa Catarina é

67

o 2º Estado em área de floresta plantada de pinus do Brasil) o incentivo fiscal do governo deste Estado foi fundamental. As fábricas receberam incentivos fiscais, por meio do Programa de Desenvolvimento da Empresa Catarinense (Prodec) e do Pró-Emprego. O Prodec alonga o prazo para a empresa recolher parte do ICMS a ser gerado por um novo projeto, até que atinja o montante do investimento necessário para a instalação do empreendimento. O Pró-Emprego, por sua vez, concede tratamento tributário diferenciado do ICMS em toda a cadeia produtiva: desde a importação de máquinas, equipamentos, matéria-prima e mercadorias, até a redução da alíquota na venda posterior. Algumas madeireiras paranaenses incluídas no Prodec, por exemplo, não vão pagar ICMS nas compras realizadas dentro do estado, e os investimentos em unidades fabris e importações serão isentos. Além disso, o ICMS sobre as vendas só será pago quatro ou cinco anos depois, com desconto de até 40%. (SANTA CATARINA, 2000).

2.3 A COBERTURA FLORESTAL BRASILEIRA E A INDÚSTRIA

No Brasil, existem duas fontes de madeira: as florestas nativas e as florestas plantadas. Conforme dados da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (IBGE), a quantidade da produção primária florestal brasileira, no ano base de 2007, somou 318 milhões de toneladas. Desse total, 80% foram provenientes da silvicultura (254 milhões de toneladas) e 20% provenientes do extrativismo vegetal (64 milhões de toneladas). Em relação à madeira nativa, a maior concentração está na região Norte do país. De acordo com o BNDES (2009), as florestas nativas constituem uma fonte de matéria-prima para certas indústrias à base de madeira. A elevada concentração de empresas de fabricação de produtos de madeira na Amazônia é um indicativo de que ainda se utiliza muita madeira nativa para fins industriais no Brasil. Grande parte da madeira extraída da Amazônia não é legalizada, embora seja impossível, sem a fiscalização adequada dos órgãos ambientais, determinar exatamente o volume demandado desse tipo de madeira. De acordo com a ABIMCI (2008), o Brasil possui cerca de 550 milhões de hectares de floresta nativa. Destes, 60% são florestas tropicais, 34% cerrados, 4% matas de caatinga e 2% de mata atlântica. O Brasil é o segundo país do mundo em área com florestas nativa, perdendo apenas para a Rússia que possui 791.825 milhões de hectares.

68

Os principais Estados Brasileiros que possuem áreas de florestas nativas são: Amazonas (32,6%), Pará (29,3%) e Mato Grosso (12,1%), conforme dados apresentados na tabela 04.

Tabela 04. Distribuição das florestas nativas de produção nos principais Estados Brasileiros (2005). Estado Área (milhões ha) Participação (%) Amazonas 68,9 32,6 Pará 61,9 29,3 Mato Grosso 25,6 12,1 Rondônia 9,9 4,7 Outros* 45,2 21,3 Total 211,5 100,0 *Outros: Acre, Maranhão, Amapá, Roraima e Tocantins. Fonte: ABIMCI, 2008. Organizado pela autora

As florestas nativas brasileiras podem ser divididas, ainda, em três biomas principais: as florestas tropicais, na Amazônia e em remanescentes da Mata Atlântica; as florestas de cerrado, no Planalto Central; e as florestas semi-temperadas, na Região Sul. Conforme Brasil (2007) a retirada da cobertura vegetal original, formada na maior parte por florestas tropicais, é um traço distintivo do processo de ocupação e desenvolvimento da economia brasileira. Até os anos 1950, o território nacional era quase totalmente coberto por florestas nativas. O desenvolvimento urbano e industrial intensificou a utilização dos recursos florestais naturais e o desmatamento avançou rapidamente, em especial, nas Regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. Aproximadamente 60% das florestas nativas do Brasil encontram-se na Amazônia. Apesar da existência de várias unidades de conservação de proteção integral da vegetação nativa, e que 60% das florestas nativas brasileiras encontram-se em poder do Estado, uma parte dessas está acessível para a produção florestal. Em março de 2006 foi aprovada a Lei da Floresta Pública. Esta lei permite a exploração de florestas nativas pertencentes ao Estado por empresas privadas, mantendo a posse pública sobre essa área. A escassez da vegetação nativa, sobretudo nas regiões sul e sudeste do Brasil, aliada às necessidades das indústrias, ás políticas públicas e o crescente protecionismo ambiental,

69

impulsionaram o desenvolvimento da silvicultura brasileira, que pode ser observado no Gráfico 09.

300.000.000

250.000.000

200.000.000

Silvicultura 150.000.000

Extração Vegetal toneladas 100.000.000

50.000.000

0 1990 1995 2000 2003 2007

Gráfico 09. Quantidade produzida na silvicultura e na extração vegetal - Brasil Fonte: IBGE - Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura Organizado pela autora.

Conforme Bacha (2008) a evolução da utilização da madeira oriunda de florestas plantadas em detrimento da madeira oriunda das florestas nativas deve-se a três fenômenos interligados: 1º - à redução das matas nativas mais próximas aos grandes centros consumidores e ao maior rigor na fiscalização da exploração das mesmas; 2º - ao incremento do reflorestamento no Brasil; e 3º - ao maior interesse de alguns setores pelo uso de madeira de reflorestamento devido às crescentes pressões ambientais. Soma-se a esses fatores a velocidade de crescimento, a taxa de incremento médio anual22, qualidade da madeira, possibilidade de melhoramento genético, custo para a produção e manutenção. De acordo com a ABRAF (2008), as florestas plantadas no Brasil atingiram, em 2007, aproximadamente 5.560.230 ha, representando um aumento de 186.786 ha em relação a 2006. No período de 2005 a 2007, constatou um incremento na área plantada de 318.428 ha,

22 A produtividade dos plantios pode ser medida através do incremento médio anual (IMA) de madeira por hectare. Considerando o metro cúbico de madeira desuniforme e empilhada, chamado de metro estéreo, pode-se avaliar quando cresce o volume de madeira por cada hectare reflorestado com eucalipto e pinus no Brasil. Esta medida de produtividade é o número de estéreos por hectare e por ano (st/ha/ano). A produtividade média da eucaliptocultura em 1968 era de 17,5 st/ha/ano e passou em 2000 para 48 st/há/ano. No caso da pinocultuta, essas produtividades foram, respectivamente, de 20 e 36 st/ha/ano. O Brasil apresenta uma das maiores produtividades mundiais no crescimento das florestas, trazendo uma grande vantagem comparativa para as indústrias, principalmente de pape e celulose. No Brasil, uma árvore para produzir celulose é possível colher em 07 anos, enquanto que na Suécia e na Finlândia esse tempo é, no mínimo, de 35 anos (BACHA, 2008).

70

com decréscimo de 1,4% em pinus e acréscimo de 10,1% no eucalipto, conforme informações apresentadas na tabela 05.

Tabela 05. Distribuição das Áreas de florestas plantadas por espécies (2007) Espécie Área em 2007 (mil ha) Participação (%) Eucalipto 3.752 62,7 Pinus 1.808 30,2 Acácia 190 3,2 Seringueira 86 1,4 Paricá 79 1,3 Teca 48 0,8 Araucária 17 0,3 Populus 3 0,1 Outras* 2 0,0 Total 5.985 100,0 *Áreas com florestas tais como: ipê-roxo, fava-arara, jatobá, mogno, acapu, entre outros Fonte: ABIMCI, 2008. Organizado pela autora. As principais espécies introduzidas para florestamento foram pinus e eucalipto. O eucalipto foi introduzido no Brasil no início da década de 1900, originário da Austrália e Nova Zelândia. As principais espécies cultivadas no Brasil são E. grandis, E. saligna e E. urophylla. O pinus por sua vez, vem sendo plantado no Brasil há mais de um século. Inicialmente as espécies do gênero Pinus sp. foram utilizadas para fins ornamentais, posteriormente foram introduzidas as espécies do gênero P. elliottii e P taeda visando fins de produção para silvicultura. Essas espécies, oriundas do sul dos Estados Unidos e do México adaptaram-se bem às condições do clima e do solo de diferentes regiões do Brasil. No entanto, o crescimento da plantação de outras espécies merece destaque, em especial a acácia e o paricá, com características apropriadas para a produção de compensado, e a teca, originária do Sudeste Asiático, com características próprias para a produção de madeira sólida para uso naval. (BNDES, 2009). As florestas com grupo de espécie de acácia (Acacia mangium e Acacia mearnsii) plantadas no Brasil são encontradas especialmente, no Rio Grande do Sul e em Roraima. Outra espécie que tem sido plantada é a seringueira (Hevea brasiliensis). A madeira, extraída quando o ciclo produtivo de resina das árvores se completa, é uma importante alternativa de

71

complementação de renda ao produtor e se destina principalmente às indústrias do setor energético e moveleira. (ABRAF, 2010). De acordo com Brasil (2007), os reflorestamentos, até 1985, concentravam-se nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, que detinham cerca de 90% da área total plantada. Mais recentemente, com o processo de desconcentração industrial, novas regiões aumentaram sua participação nesse processo, tais como Bahia, Pará e Amapá. Conforme a ABIMCI (2008), a maior concentração de áreas com florestas plantadas de pinus encontra-se na região sul do país, a qual possui 1.432 mil ha além de 419 mil ha de área plantada com florestas de eucalipto. Em contrapartida, a região Sudeste concentra 57% das florestas plantadas com eucaliptos do Brasil, o que representa 2.138 mil ha. As regiões Norte, Centro-Oeste23 e Nordeste possuem grande concentração de eucalipto, totalizando em 1.194 mil ha, conforme dados apresentados nas tabelas 06 e 07.

Tabela 06. Principais áreas e distribuição de florestas plantadas com pinus no Brasil (2007) Espécie Área em 2007 (ha) Participação (%) Paraná 701.578 39 Santa Catarina 548.037 30 Rio Grande do Sul 182.378 10 Minas Gerais 144.248 8 São Paulo 143.148 8 Outros 18.029 5 Total 1.808.336 100,0 Fonte: ABRAF, 2008. Organizado pela autora.

23 Na região Centro-Oeste, alguns pecuaristas diversificaram e usam parte de fazendas de criação de gado para o plantio de eucalipto, que abastece fábricas de produtores tradicionais como a Fibria. A perspectiva de expansão da indústria de celulose estimulou o interesse pela cultura de eucalipto no país. Além do lançamento de fundos de investimento focados no setor florestal, é crescente a entrada de agricultores e pecuaristas na cadeia de produção da matéria-prima, seja na modalidade de fomento (que envolve incentivos da indústria), seja pela introdução da espécie em meio a outras culturas, a chamada agrossilvicultura. Cultivo de melancia, soja, milho, arroz, produção de mel e criação de gado são algumas das atividades que já compartilham espaço com florestas em solo brasileiro. A proporção ainda é pequena (em relação à monocultura de eucalipto), mas a tendência é de crescimento, uma vez que representa uma fonte adicional de receita. A própria indústria de celulose, que hoje se concentra no plantio de florestas com vistas à obtenção de madeira poderá em algum momento usar parte de suas terras para uma segunda cultura que represente nova fonte de receitas. (VALOR ONLINE, 2010).

72

De acordo com a ABRAF (2008) 95,3% da produção de madeira em tora de pinus concentra-se nas regiões Sul e Sudeste. Esta concentração deve-se ao nível de desenvolvimento da indústria madeireira nestas regiões, envolvendo principalmente a fabricação de madeira serrada, compensado e painéis reconstituídos.

Tabela 07. Principais áreas e distribuição de florestas plantadas com eucalipto no Brasil (2007) Espécie Área em 2007 (ha) Participação (%) Minas Gerais 1.105.961 28 São Paulo 813.372 22 Bahia 550.127 15 Espírito Santo 208.819 6 Outros 46.186 29 Total 3.751.867 100,0 Fonte: ABRAF, 2008. Organizado pela autora.

Em relação à produção de madeira em tora de eucalipto, aproximadamente 86% da produção nacional da espécie se concentra nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul. Estas florestas plantadas estão associadas às indústrias de papel e celulose, siderúrgicas a carvão vegetal e de painéis de madeira reconstituída instaladas nestas regiões. A espacialização da distribuição das florestas plantadas de pinus e eucalipto24 no Brasil está representada nos mapas 01 e 02. A proximidade entre as florestas e as indústrias são fatores de grande importância, dada a importância do peso e do volume no custo do frete da madeira (matéria-prima) até as indústrias que a utilizam. Nesse sentido, as florestas plantadas para a indústria de celulose e papel tendem a localizar-se próximas de suas fábricas, assim como as indústrias de madeira sólida (serrarias, moveleiras, carvoarias, painéis, etc.).

A madeira é um produto denso e volumoso. Uma tora de eucalipto pode ter até 3m de atura (ainda que a árvore em si alcance alturas bem superiores) por 0,7 cm de diâmetro, perfazendo volume de 1,15m³. Ademais, a densidade do eucalipto, de 0,5 g/cm³, também faz do transporte do produto um custo

24 Em média, a árvore de pinus leva de 12 a 16 anos para poder ser industrializada. Já o eucalipto leva um tempo menor, de 08 a 10 anos. O eucalipto é a principal matéria-prima das indústrias de papel e celulose, utilizado para a fabricação de fibra curta, pois possui uma quantidade superior de resina em sua constituição. Já o pinus é utilizado como insumo para a produção de celulose de fibra longa, paineis de madeira e na indústria moveleira, entre outros. Importante frisar que este é o período médio para a utilização da madeira pela indústria de transformação. Dependendo da finalidade da madeira o tempo pode ser menor, como é o caso da utilização para lenha e carvão e celulose.

73

bastante relevante na análise de rentabilidade, podendo até inviabilizar certos projetos. De modo geral, demandantes de madeira evitam buscar sua matéria-prima além do raio de 50 km de suas atividades. (BNDES, 2009, p.119).

Além da relação econômica e espacial entre a indústria e a cobertura florestal, é importante destacar as condições climáticas favoráveis para a germinação das espécies. O clima da região Sul, por exemplo, foi mais propício para o desenvolvimento de coníferas. Atualmente, através de modificações genéticas, o pinus pode adaptar-se em outras regiões com clima diferente, como é o caso do Amapá. O eucalipto foi uma espécie que adaptou-se bem as condições climáticas do Brasil, tanto na região Sudeste (área de maior concentração), como em outras regiões.

N N

LEGENDA LEGENDA Área com Floresta Plantada de pinus (ha) Área com Floresta Plantada de Eucalipto (ha) De 5.000 a 100.000 De 5.000 a 100.000 De 101.000 a 500.000 Escala De 101.000 a 500.000 0 200 400 600 km Escala Acima de 501.000 Acima de 500.00 0 200 400 600 km Fonte: ABRAF, 2008 Organização: Marinez da Silva Mazzochin Fonte: ABRAF, 2008 Organização: Marinez da Silva Mazzochin

Mapa 01 - Áreas e distribuição de florestas plantadas com pinus no Brasil (2007) Mapa 02 -Principais áreas e distribuição de florestas plantadas com eucalipto no Brasil (2007) 75

A área anualmente reflorestada com espécies madeireiras foi crescente no período de 1967 a 1979, sendo plantadas 402 mil ha de florestas. Posteriormente, no período de 1980 a 1986 houve uma diminuição da área plantada. Nesse período houve redução do volume de incentivos fiscais, sendo concedidos para a plantação de espécies não madeireiras (as frutíferas, por exemplo). (BACHA, 2008). No período de 1987 a 1993 (período sem incentivos) foram reflorestadas 204 mil ha, média próxima ao período de 1983 a 1986, quando ainda havia subsídios. No período de 1993 a 1997 o volume anual reflorestado foi menor (média de 164,4 mil ha), o que comprometeu o abastecimento de madeira na primeira década do século XXI. Este menor ritmo de reflorestamento ocorreu simultaneamente ao período de maior crescimento de atividades consumidoras de madeira. Os reflorestamentos voltaram a crescer a partir de 1998. Esta retomada foi conduzida pelas indústrias de papel e celulose e pelas siderúrgicas. Visando o auto-abastecimento, tendo em vista a expansão da produção de celulose e de aço25. Conforme Brasil (2007), o Brasil convive com dois modelos de organização dentro do setor de base florestal. De um lado encontram-se as indústrias de papel, celulose, lâmina de madeira, chapa de fibra e madeira aglomerada. Neste setor concentram-se poucas empresas de grande porte, integradas verticalmente da floresta até produtos acabados que monopolizam completamente a produção e o comércio. Do outro lado, principalmente na produção de madeira serrada, compensado e móveis, as empresas são de pequeno e médio porte, com menor capacidade empresarial, além de apresentar uma forte pulverização e fragmentação de mercado. A matéria-prima para as indústrias de papel e celulose provêm exclusivamente de floresta plantada, ao passo que as indústrias de processamento da madeira utilizam em maior parte a madeira oriunda de floresta plantada, mas, em pequena escala, também madeira nativa.

25 De acordo com Belik (1992) a preocupação das indústrias processadoras, com relação às fontes de matéria- prima, pode ser atribuída a três origens distintas: a) o custo de produção da matéria-prima; b) as características do processo produtivo e, c) o padrão de concorrência no setor. O custo de produção tende a ser elevado, pois a unidade processadora necessita de grandes extensões de terras próximas aos centros consumidores, ou dos portos. Como resultado das características do processo produtivo, a indústria necessita que estas fontes de matéria-prima alimentem nas máquinas sem descontinuidade. Em relação ao padrão de concorrência, tem-se escalas de produção cada vez mais elevadas. A conjugação desses elementos dá uma garantia de suprimento cativo, deslocando atuais e futuros concorrentes por absoluta falta de fonte de matéria-prima.

76

A política de reflorestamento foi crescentemente subordinada aos interesses da grande indústria consumidora. O processo foi marcado tanto pela exigência de áreas de reflorestamento cada vez maiores, de experiência acumulada no setor florestal e de destinação da matéria-prima, quanto pelo aumento do poder de monopólio dessas empresas em relação aos produtores independentes (BRASIL, 2007). Bacha (2008) destaca que as indústrias de papel e celulose detém 28,1% das áreas reflorestadas, seguidas pelas empresas siderúrgicas (19,1%) e empresas de painéis de madeira (5%). Estas detêm 52% das florestas plantadas, ou seja, já estão vinculadas verticalmente com seus consumidores. Pode-se afirmar que estas indústrias formam verdadeiros oligopólios (nacionais e internacionais) dentro do setor de base florestal. Os pequenos consumidores, por sua vez, podem comprar a madeira plantada deles, ou disputar com estes a madeira existente no mercado.

Esse quadro tende a piorar, pois quem está plantando são, justamente, as empresas que já detêm fatia expressiva do mercado. Portanto, a escassez de madeira afeta mais significativamente empresas sem base florestal própria, tais como pequenas serrarias e olarias, fábrica de móveis e outros pequenos consumidores (por exemplo, pizzarias, padarias e pequenas manufaturas de madeira). (BACHA, 2008, p.13).

Para entendermos melhor a relação da indústria com a cobertura florestal brasileira espacializaremos a localização das mesmas. A distribuição das indústrias de papel e celulose no Brasil pode ser verificada no mapa 03. A região Sudeste concentra 67% das indústrias de papel e papelão, seguidas da região Sul 25%, a região Nordeste 6%, a região Centro-Oeste 1,5%, e a região norte com 0,5%. Conforme afirmado anteriormente 57% da área florestada com eucalipto no Brasil encontra-se na região Sudeste. Conforme BNDES (2009), em 2007 a indústria de celulose e papel foi responsável pelo consumo de 38,12% das toras de eucalipto e de 14,45% das de pinus. As principais indústrias de papel e celulose estão relacionadas na tabela 08, conforme informações obtidas no Balanço Anual da Gazeta Mercantil de 2008.

Região / Estado Nº de Indústrias Sudeste São Paulo 357 Rio de Janeiro 45 Minas Gerais 41 Espírito Santo 08 Total 451 Sul Paraná 67 Santa Catarina 57 Rio Grande do Sul 46 Total 170 Nordeste Pernambuco 18 Bahia 11

Paraíba 06

Pará 03

Ceará 03

Maranhão 01

Rio Grande do Norte 01

Total 43 Centro-Oeste Distrito Federal 05 N Goiás 04 Mato Grosso do Sul 01 Total 10 LEGENDA Norte Número de Indústrias Amazonas 02 Equivale a 1 indústria Total 02 Equivale a 10 indústrias Escala 0 200 400 600 km Equivale a 100 indústrias Total - Brasil 676

Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Anual Organização: Marinez da Silva Mazzochin Mapa 03 - Distribuição das indústrias de papel e papelão (2005) 78

Tabela 08. Principais indústrias de papel e celulose – demonstração de resultado e balanço patrimonial (dezembro de 2007) Demonstração do resultado Balanço patrimonial Receita Líquida Ativo Total Patrimônio Líquido Empresa / Sede R$ mil Evol. Real % R$ mil Suzano Papel e Celulose - BA 3.255.655 24,7 11.141.509 4.413.435 Klabin - SP 2.666.312 5,5 7.988.276 2.741.299 Aracruz Celulose – ES 2.466.952 11,2 10.571.488 5.103.243 VCP* – SP 2.245.194 -9,3 8.789.360 5.638.254 Cenibra – MG 1.237.689 21,5 2.417.775 1.044.431 Ripasa – SP 1.073.448 -19,5 1.781.123 1.048.432 Fonte: Balanço Anual da Gazeta Mercantil 2008. Todos os balanços são de dezembro de 2007. *Votorantin Celulose e Papel Organizado pela autora.

Na tabela acima apresentamos as principais indústrias de papel e celulose, cuja demonstração de resultados excedeu o montante de R$ 1 bilhão. Podemos observar que todas localizam-se na região Sudeste. Conforme dados da BRACELPA (2009), a produção brasileira de celulose, no ano de 2008, foi de 12 milhões de toneladas. Juntas, a Suzano, a Klabin, a Aracruz, a VCP e a Cenibra foram responsáveis por 71% deste total, o que caracteriza uma forte concentração na produção deste ativo florestal. Em 2004, a Suzano e a VCP adquiriram a Ripasa, que continuou a operar como uma unidade produtiva independente, porém com os lucros divididos entre as duas compradoras. No ano de 2009 ocorreu a fusão da Aracruz com a VCP, originando a FIBRIA, a maior empresa mundial de celulose de fibra curta. A fusão, na prática, destrava a Aracruz, que, por causa da crise, sofreu pesados prejuízos com derivativos cambiais. (VALOR ONLINE 2009b). Em relação às indústrias de desdobramento da madeira26 ou artefatos de madeira, a região Sul concentra 60% do número de estabelecimentos, seguida da região Sudeste com 18%, a região Norte com 12%, a região Centro-Oeste 6% e a região Nordeste com 4%. A região Sul é responsável por 79% da área florestada de pinus do Brasil. As indústrias que atuam no segmento de desdobramento de madeira ou artefatos de madeira estão distribuídas conforme mapa 04.

26 A descrição mais detalhada sobre a cadeia produtiva da madeira sólida que inclui os desdobramentos da madeira serão trabalhados no capítulo IV.

Região / Estado Nº de Indústrias Sul Paraná 219 Santa Catarina 165 Rio Grande do Sul 52 Total 436 Sudeste São Paulo 87 Minas Gerais 20 Rio de Janeiro 12 Espírito Santo 11 Total 130 Norte Pará 63 Rondônia 12

Acre 06

Amazonas 05

Total 86 Centro-Oeste Mato Grosso 39 Mato Grosso do Sul 05 Goiás 01 Total 45 Nordeste N Maranhão 22 Bahia 08 Pernambuco 02 LEGENDA Alagoas 01 Número de Indústrias Equivale a 1 indústria Ceará 01

Equivale a 10 indústrias Escala Total 34 0 200 400 600 km Equivale a 100 indústrias Total - Brasil 731 Fonte: IBGE - Pesquisa Industrial Anual Organização: Marinez da Silva Mazzochin Mapa 04 - Distribuição das indústrias de desdobramento da madeira (2005) 80

As principais indústrias de desdobramento da madeira ou artefatos de madeira estão relacionadas na tabela 09, onde se percebe uma grande concentração destas indústrias na região Sul do Brasil. O Estado do Paraná possui relevância na produção deste segmento florestal, juntamente com São Paulo e Rio Grande do Sul, conforme veremos no capítulo IV.

Tabela 09. Principais indústrias de desdobramentos de madeira ou artefatos de madeira – demonstração de resultado e balanço patrimonial (dezembro de 2007) Demonstração do resultado Balanço patrimonial Receita Líquida Ativo Total Patrimônio Líquido Empresa / Sede R$ mil Evol. Real % R$ mil Eucatex - SP 482.651 7,4 955.243 478.472 Placas do Paraná – PR 404.285 1,8 614.140 275.018 Tafisa – PR 394.198 13,5 376.305 122.957 Satipel – SP 389.595 27,9 906.042 482.900 Berneck – PR 280.639 16,5 1.084.458 724.278 Sudati – PR 205.750 ------264.717 163.800 Bettanin – RS 127.427 ------278.654 149.583 Pincéis Tigre – PR 119.259 5,6 107.734 74.178 Pincéis Atlas – RS 100.831 ------131.499 91.846 Fonte: Balanço Anual da Gazeta Mercantil 2008. Todos os balanços são de dezembro de 2007. Organizado pela autora.

De acordo com BNDES (2009), a indústria de serrados consumiu, em 2007, 51,84% de toras de pinus e 2,88% de toras de pinus. Em relação à fabricação de painéis de madeira, foram consumidos, no mesmo ano, 12,38% do total de toras de pinus e somente 1,64 das toras de eucalipto. Destaca-se também a utilização da madeira plantada de eucalipto pelas indústrias siderúrgicas, como fonte de energia na produção do ferro-gusa. Estas indústrias não utilizam o pinus como matéria-prima27. Vale ressaltar que parte do carvão vegetal utilizado na fabricação do ferro-gusa advém de florestas nativas. A produção em 2007 de carvão vegetal da silvicutura pode ser observada na Tabela 10.

27 Devido suas características físico-químicas, o eucalipto possui consistência térmica superior ao pinus. Este queima muito rápido e produz muita labareda.

81

Tabela 10. Quantidade produzida na silvicultura de carvão vegetal (toneladas) Estado (ton) Porcentagem da Produção (%) Minas Gerais 2.886.417 75,838 Maranhão 378.826 9,953 Bahia 161.394 4,240 Espírito Santo 106.100 2,788 São Paulo 75.531 1,985 Mato Grosso do Sul 68.176 1,791 Paraná 51.713 1,359 Rio Grande do Sul 42.527 1,117 Goiás 16.849 0,443 Santa Catarina 8.538 0,224 Rio de Janeiro 7.989 0,210 Ceará 1.908 0,050 Rio Grande do Norte 56 0,001 Sergipe 20 0,001 Total - Brasil 3.806.044 100 Fonte: IBGE – Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura Organizado pela autora.

A produção de carvão vegetal está concentrada no Estado de Minas Gerais, o que também justifica a concentração de plantação de eucalipto nessa região. Em 2005 o Brasil possuía 63 guseiros operando com carvão vegetal e distribuídos em 05 pólos: Quadrilátero Ferrífero, Marabá, Açailândia, Vitória e Corumbá (BNDES, 2009).

2.4 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Conforme Lênin (1985) o progressivo desenvolvimento da divisão social do trabalho constitui o elemento fundamental no processo de formação de um mercado interno para o capitalismo. Nesse sentido, o autor afirmou quando analisou o desenvolvimento do capitalismo na Rússia, que a divisão social do trabalho se constituiu a base da economia mercantil, em que a indústria de transformação se separou da indústria extrativa e cada uma delas se subdividiu

82

em pequenas categorias e subcategorias, que fabricavam produtos particulares na forma de mercadorias, trocando-os com todos os outros produtos. No Brasil, o processo de industrialização da agricultura se intensificou a partir da década de 1960, caracterizada pela fase B do 4º Kondratieff, com a firmação de novo pacto de poder entre a nova burguesia rural (sócio menor) e a burguesia industrial (sócio maior). A consolidação desse novo pacto de poder ocasionou a centralização de capitais industriais, bancários e agrários, formando verdadeiros conglomerados industriais, dentre eles grandes reflorestadoras ligadas à indústria (Aracruz Celulose S.A., Florestas Rio Doce S.A., Klabin Florestal). O setor florestal se consolidou nesse processo, através das políticas públicas via incentivos fiscais ao reflorestamento, o que fortaleceu grandes grupos empresariais que constituíram sua própria base florestal, além das grandes reflorestadoras, a exemplo das indústrias de papel e celulose. O incentivo setorial do II PND, principalmente para a indústria de papel e celulose foi decisivo para a consolidação do setor, principalmente no que tange a formação de uma base de matéria-prima, bem como a consolidação de um novo Departamento I, intensivo em capital, operando na produção de tratores e outros maquinários voltados para a agricultura, e, consequentemente, intensificando os processos silviculturais. O setor apresenta uma forte concentração no segmento de papel e celulose. No processo de aquisição e fusão, pode-se afirmar que mais de 50% da produção nacional de papel e celulose encontra-se centralizado entre a Suzano Papel e Celulose, a Aracruz Celulose e a Votorantin Celulose e Papel. No segmento de desdobramento da madeira, mesmo havendo uma concentração no segmento de painéis reconstituídos, é, em geral, mais pulverizado. Nesse sentido, afirmamos que é a indústria que intensificou o desenvolvimento do setor de base florestal, em dois momentos distintos. Em um primeiro momento a indústria se instalou próxima às áreas de matas nativas, matéria-prima de suas atividades. Em um segundo, com a escassez da matéria-prima, ocorreu a necessidade de plantar as espécies em conformidade com a localização industrial e com a logística de transporte da matéria-prima até a indústria. Abordaremos no próximo capítulo o desenvolvimento científico e tecnológico do setor de base florestal, com aspectos relevantes no que tange à base de formação de pesquisadores que, em parceria com órgãos públicos e privados, desenvolvem os processos de melhoramento genético. A Embrapa Florestas possui relevância nesse processo.

CAPÍTULO III

DINÂMICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA DO SETOR DE BASE FLORESTAL

Não há estrada real para a ciência, e só tem a possibilidade de chegar a seus cimos luminosos aqueles que enfrentam a canseira para galgá-los por veredas abruptas.

Karl Marx – Prefacio da Edição Francesa de O Capital. 84

Um dos aspectos centrais nas pesquisas em Geografia Econômica é o entendimento das condições históricas do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. O avanço das forças produtivas traz transformações significativas na forma com que a sociedade se organiza para produção de sua vida material, modificando não apenas seus aspectos quantitativos, mas também com alterações qualitativas na forma de organização da produção, ou seja, criando novas condições para a organização social, em que novas relações de produção se estabelecem. A produção do espaço geográfico deve ser entendida no contexto da relação dialética entre o avanço das forças produtivas e das relações de produção. O desenvolvimento tecnológico é um componente essencial para esse processo, o qual é inerente ao ser humano e ao seu processo histórico. A técnica, produto da tecnologia, é um componente que circunda as relações sociais estabelecidas e se constitui numa ferramenta de superação. A ciência aparece enquanto uma extensão do capital no processo de acumulação. Mamigonian (2005) enfatiza que, com a incorporação da mecanização pela indústria moderna, a ciência assumiu a feição de força produtiva, separada do trabalho e posta a serviço do capital. A indústria pôs em prática sistematicamente o princípio de se analisar o processo produtivo em suas fases constituintes e de se resolver os problemas assim propostos pela aplicação da mecânica, da química e das demais ciências naturais, dando origem à nova ciência da tecnologia. Podemos dizer que a tecnologia é filha do dinamismo industrial e da fertilidade da ciência. À medida que a indústria foi descobrindo que a ciência podia ser cada vez mais uma força produtiva, foi submetendo a produção de conhecimentos científicos à mesma divisão de trabalho a que estava sujeita a produção de qualquer outra mercadoria. (MAMIGONIAN, 2005, p.79).

Os vários segmentos industriais existentes na época da Revolução Industrial, e todos os que foram surgindo sob a égide do modo de produção capitalista, tiveram nas pesquisas científicas, o desenvolvimento tecnológico que culminou em processos de inovação técnica, impulsionando o desenvolvimento dos mesmos. A tecnologia se constitui enquanto processo histórico que culmina com o desenvolvimento da técnica, através da relação trabalho-ciência-capital. Nesse sentido a tecnologia se constitui enquanto a epistemologia da técnica, (PINTO, 2005). A técnica, entendida pelo autor, se define enquanto ato de penetração na realidade, ou seja, resultado do processo histórico.

85

Se a técnica configura um dado da realidade objetiva, um produto da percepção humana que retorna ao mundo em forma de ação, materializado em instrumentos e máquinas, e entregue à transmissão cultural, compreende-se tenha obrigatoriamente de haver a ciência que o abrange e explora, dando em resultado um conjunto de formulações teóricas, recheadas de complexo e rico conteúdo epistemológico. Tal ciência deve ser chamada tecnologia, conforme o uso generalizado na composição das denominações científicas. (PINTO, 2005, p.221).

Conforme Marx (2010) a tecnologia revela o modo de agir do homem em relação à natureza, o processo de produção por meio do qual ele mantém sua vida, e, dessa forma, descobre o mecanismo de formação das relações sociais e intelectuais. A invenção e inovação devem ser entendidas enquanto processos sociais e não individuais, pois os indivíduos à frente dos processos de inovação estavam inseridos em um contexto histórico-social que lhes permitiram tais descobertas. Nesse sentido, vale a afirmação marxista de que o concreto só é concreto porque é síntese de múltiplas determinações. As transformações tecnológicas que chamaram a atenção de Marx foram as que ocorreram na Grã-Bretanha em meados do século XVIII, onde iniciou-se a transição de um sistema produtivo manufatureiro para a grande indústria, com a aplicação sistemática do conhecimento científico na esfera produtiva28. A manufatura representou um avanço significativo na esfera produtiva, pois desenvolveu um alto grau de especialização dos trabalhadores, onde o processo produtivo foi dividido em uma série de etapas e cada operário executava uma fase da produção. Contudo, a manufatura carregava consigo uma característica tipicamente artesanal e medieval, que era a dependência das habilidades e capacidades humanas. Sendo assim, seria impossível aplicar o conhecimento científico ao sistema produtivo, pois este era, apesar dos avanços obtidos com a especialização na produção, dominado por força e vontade humana.

28 A revolução cientifica do século XVII pode ser interpretada como uma substituição da imagem de natureza e de ciência da Antiguidade e da Idade Média. A partir do século XVIII a ciência passou a ter importância tecnológica, política e ideológica. As concepções cartesianas-newtonianas condicionaram a natureza a fins econômicos, a produção na fábrica, a ser utilizada como supridora das necessidades humanas. Conforme Henry (1998), a ciência, mesmo ligada à produção industrial, carrega uma concepção epistemológica exterior ligada a Bacon e Newton. Bacon separava a natureza exterior do mundo social, mas afirmava que os objetos naturais e artificiais possuíam o mesmo tipo de forma e essência diferindo somente em suas causas imediatas. Para Bacon todo fenômeno tem uma essência que existe por baixo de uma aparência, e isso pode ser entendido como uma natureza universal. O desenvolvimento e aperfeiçoamento da ciência, principalmente através da matematização e da experimentação, e posteriormente pautada na filosofia de Bacon, com a utilização das técnicas, deram condições para iniciar as explorações econômicas e posteriormente avançar até a Revolução Industrial.

86

A partir do desenvolvimento da maquinaria, as potencialidades humanas foram reduzidas à potencialidade da máquina. A ciência passou a ter papel determinante no processo produtivo, não só enquanto mecanismo de criação das ferramentas de produção, mas também enquanto veículo de aperfeiçoamento técnico e capacidade de resolver os problemas apresentados, com a aplicação da mecânica, da química, e de todo conhecimento das ciências naturais.

A indústria moderna rasgou o véu que ocultava aos homens seu próprio processo social de produção, o que transformou em tantos enigmas, não apenas para os leigos, mas também para os iniciados, os vários ramos, espontaneamente divididos, da produção. O princípio seguido por ela de resolver cada processo em seus movimentos constituintes, sem qualquer consideração por sua possível execução pela mão do homem, criou a nova ciência moderna da tecnologia. As variadas, aparentemente desconexas, e petrificadas formas dos processos industriais passaram a ser dissolvidas em muitas aplicações sistemáticas e conscientes da ciência natural para a obtenção de determinados efeitos úteis. A tecnologia também descobriu as poucas e principais formas fundamentais de movimento, as quais, a despeito da diversidade dos instrumentos usados, são necessariamente assumidas por toda ação produtiva do corpo humano, exatamente como a ciência da mecânica enxerga no mais complexo maquinário nada além da repetição continuada das potências mecânicas simples. (MARX, 2010, p.551).

A ciência foi a última, e depois do trabalho a mais importante propriedade social a converter-se num auxiliar do capital. Inicialmente ela nada custou ao capitalista, pois a priori, ocorreu a utilização das forças naturais (água, vento, sol, vegetação) através do conhecimento acumulado das ciências físicas. Posteriormente, passou-se, para além da utilização, mas também da apropriação e modificação desse conhecimento, onde o capitalista organizou sistematicamente a ciência, custeando a educação científica, a pesquisa, os laboratórios, entre outros, (BRAVERMAN, 1981). O desenvolvimento produtivo de um determinado setor econômico deve ser entendido através da dialética entre o as relações sociais e o constante avanço tecnológico que potencializa e dinamiza determinados segmentos. No setor florestal e nos seus segmentos, a exemplo o processamento da madeira, o desenvolvimento tecnológico, via pesquisas científicas, culminaram num amplo processo de inovação da matéria-prima e inovação em maquinário. Em relação às inovações da matéria-prima, a consolidação de um sistema de P&D, com várias universidades e institutos, com a Embrapa, possuem um papel importante para o desenvolvimento do setor. 87

A modernização da agricultura brasileira possuiu um papel de destaque nesse processo, pois a dinamização da agricultura não dependia exclusivamente de crédito abundante para os agricultores, mas também de inovações agrícolas pautado em um sistema agropecuário de âmbito federal que pudesse desenvolver ciências e tecnologias autônomas, capazes de aumentar a produção e a produtividade de vários produtos, inclusive do setor florestal, nas mais diversas regiões brasileiras. As premissas do desenvolvimento e implantação deste sistema de pesquisa agrícola federal foram fortemente ancoradas tanto no Programa Estratégicos de Desenvolvimento, no Plano de Metas e Bases para a Ação do Governo quanto no I e II PND. Nesses documentos, a pesquisa agrícola começa a ser discutida não apenas como mais um instrumento de suporte do processo de modernização da agricultura, mas como um instrumento de suporte ao projeto nacional desenvolvimentista, (CAMPOS, 2010). O surgimento da Embrapa esteve ancorado neste projeto. Além da pesquisa científica voltada para a inovação da matéria-prima, o desenvolvimento técnico voltado para o processamento da madeira foi relevante. A introdução da automatização nas linhas de produção fabril trouxe componentes importantes para este segmento, no que tange ao aumento da produtividade e, consequentemente, elevação da composição técnica do setor.

3.1 A PESQUISA CIENTÍFICA LIGADA AO SETOR FLORESTAL

A modernização da agricultura consolidou o setor de base florestal, como vimos no capítulo anterior e, atrelado ao processo industrial, ocasionou a necessidade da pesquisa científica voltada ao setor e com isso estimulou o surgimento de instituições ligadas a este ramo bem como a necessidade de capacitação profissional e formação de cientistas na área florestal29. A crise do petróleo da década de 1970 incentivou as pesquisas sobre a energia da biomassa florestal e a produção de carvão vegetal, que reduziram gradativamente na década de 1980, onde ocorreu um aumento das pesquisas na área de celulose e papel, (BRASIL, 2002).

29 Conforme Braverman (1981), a ciência não se desenvolveu anterior ao processo industrial, mas em decorrência deste. Sendo assim, ela não tomou a dianteira da indústria, mas ficou para trás das artes industriais e surgiu delas. Em vez de formular novos enfoques das condições naturais a tornar possíveis novas técnicas, a ciência formulou suas generalizações lado a lado com o desenvolvimento tecnológico ou em conseqüência dele. 88

Além da ênfase ao fortalecimento da indústria de celulose e papel, ao uso do carvão vegetal na siderurgia e ao processamento mecânico da madeira, o Brasil vem se desenvolvendo em outros setores como é o caso da indústria do processamento mecânico do látex da seringueira e dos óleos essenciais de eucalipto. Destaca-se também a produção de goma resina de pinus, que colocou o país em posição de destaque no cenário mundial e que ainda apresenta um grande potencial de crescimento (BRASIL, 2002). Em termos da capacidade instalada de ensino e pesquisa voltada para o setor de base florestal, o Brasil conta com 24 escolas de graduação em Engenharia Florestal, que já formaram 7.716 profissionais e oferecem anualmente 1.199 novas vagas. Nove dessas escolas apresentam programas de pós-graduação que já formaram 1.654 Mestres e 286 Doutores. No tocante à geração de pesquisa florestal, o diretório de Grupos de Pesquisas do CNPq revela a existência de 547 grupos de pesquisa em todo o Brasil. Um levantamento da produção científica divulgada por 14 revistas nacionais especializadas revela um total de 2.239 trabalhos científicos, dos quais 1.313 foram divulgados no período de 1990 a 2002 (BRASIL, 2002). A tabela 11 apresenta uma relação de Instituições de Ensino Superior em cursos de Engenharia Florestal no Brasil. As Instituições mais antigas (UFV, UFPR, UFRRJ, UFSA, USP e FCAP) formaram juntas 73% do número de profissionais formados até 2002.

89

Tabela 11. Instituições de Graduação em Engenharia Florestal Sigla Instituição Inicio Vagas Formados UFPR Universidade Federal do Paraná 1963 66 1.508 UFV Universidade Federal de Viçosa 1960 60 1.346 UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 1963 80 798 FCAP Faculdade de Ciências Agrárias do Pará 1972 75 770 UFSM Universidade Federal de Santa Maria 1971 44 675 UFMT Universidade Federal do Mato Grosso 1975 70 672 USP Universidade de São Paulo 1971 40 540 UNB Universidade de Brasília 1975 80 385 UFRPE Universidade Federal Rural de Pernambuco 1976 50 320 UFLA Universidade Federal de Lavras 1980 50 270 UFPB Universidade Federal da Paraíba 1980 25 145 UNESP Universidade Estadual Paulista 1998 40 115 UTAM Instituto de Tecnologia da Amazônia 1985 60 62 UnC Universidade de Contestado 1993 50 56 FURB Universidade Regional de Blumenau 1985 80 45 FAEF Faculdade de Agronomia e Engenharia Floresta de 1989 74 9 Garça FAFEID Faculdades Federais Integradas de Diamantina 2002 50 0 UFAC Universidade Federal do Acre 2000 40 0 UFES Universidade Federal do Espírito Santo 1999 25 0 UFS Universidade Federal de Sergipe 2001 40 0 UNEMAT Universidade de Estado do Mato Grosso 2001 40 0 UNICENTRO Universidade Estadual do Centro Oeste 1998 30 0 FAIT Faculdade de Ciências Sociais e Agrárias de 2002 ------Itapeva UA Universidade do Amazonas ------30 ------TOTAIS 24 ------1199 7716 Fonte: BRASIL (2002, p. 20). Organizado pela autora.

Conforme Brasil (2002), o número de Engenheiros graduados por região, mostra uma grande concentração oriunda das regiões Sul e Sudeste. Os números são os seguintes: 3.078 (40%) na região Sudeste; 2.284 (30%) na região Sul; 1.057 (14%) na região Centro-Oeste; 832 (11%) na região Norte e 465 (6%) na Região Nordeste. Assim como os profissionais com formação stricto sensu também se concentram nas regiões Sul e Sudeste. É nestas regiões que se encontram a grande maioria das atividades relacionadas ao setor de base florestal, conforme nos mostra o mapa 05. A principal fonte geradora de pesquisa30 e desenvolvimento em ciência e tecnologia está nas Universidades com cursos de pós-graduação stricto sensu estruturados, ambos apresentados na tabela 12. Destaca-se, nesse aspecto, o papel importante do INPA, que

30 A técnica relaciona-se com a ciência em ato de pesquisa do mesmo modo que o instrumento com o fim a que serve. Torna-se instrumento porque representa uma espécie particular e única de ação humana, a apreensão da realidade pela abstração reflexiva. A ciência, ao avançar, vai deixando pelo caminho as técnicas a que dá origem, as quais, por sua vez adquirem vida própria, constituem um plano definido do conhecimento. (PINTO, 2005, p. 314).

90

mesmo não oferecendo curso de graduação voltado para a área florestal, possui um dos cursos mais antigos de pós-graduação stricto sensu na área.

Tabela 12. Instituições de Graduação e Pós-Graduação em Engenharia Florestal Mestrado Doutorado Sigla Instituição Inicio Form. Inicio Form. UFV Universidade Federal de Viçosa 1975 375 1989 69 INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia 1975 370 1975 90 UFPR Universidade Federal do Paraná 1972 340 1982 127 USP Universidade de São Paulo 1976 289 2001 0 UFLA Universidade Federal de Lavras 1993 88 2000 0 UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro 1993 65 ------0 UFSM Universidade Federal de Santa Maria 1990 61 1998 0 FCAP Faculdade de Ciências Agrárias do Pará 1993 45 2001 0 UNB Universidade de Brasília 1997 21 ------0 TOTAIS 1654 286 Fonte: BRASIL (2002, p. 20). Organizado pela autora.

65º 35º

SURINAME VENEZUELA GUIANA GUIANA FRANCESA

COLÔMBIA RR AP 0º 0º

FCAP

AM INPA UTAM PA MA CE UA RN

PI PB UFRPB PE UFPE AC AL UFAC RO TO SE BA PERU MT

UFMT BRASÍLIA UNEMAT BOLÍVIA GO UNB MG FAFEID UFLA ES MS UFV UFES SP FAEF RJ UFRRJ LEGENDA UNESP USP FAIT PARAGUAI PR UFPR Graduação Unicentro OCEANO Anos 1960 UnC ATLÂNTICO SCFurb Anos 1970 ARGENTINA UFSM 30º Anos 1980 RS 30º Anos 1990 N Anos 2000 URUGUAI O L Pós-graduação Anos 1960 l S Anos 1970 0 282 564 846 Km Anos 1980 Anos 1990 Escala aproximada Anos 2000 FONTE: BRASIL (2002). Org. Marinez S. Mazzochin Des. Edson Luiz Flores/Fernando Sampaio

65º 35º

MAPA 05. CURSOS DE ENGENHARIA FLORESTAL POR PERÍODO DE INSTALAÇÃO 92

Apesar da maior parte da produção científica florestal no Brasil ser gerada por pesquisadores ligados às Universidades ou por institutos de pesquisas especializados, é notável a produção em algumas empresas de base florestal, principalmente às ligadas no setor de papel e celulose, conforme apresentados na tabela 13.

Tabela 13. Entidades privadas com pesquisas na área florestal Sigla Instituição ARACRUZ Aracruz Celulose S. A. BAHIASUL Bahia Sul Celulose S. A. CENIBRA Celulose Nipo Brasileira S. A. CVRD Cia. Vale do Rio Doce DURATEX Duratex S. A. EUCATEX Eucatex S. A. Ind. E Com. GEOSAT Geosat Geoprocessamento S/C Ltda. IP Intenational Papel do Brasil Ltda. KLABIN Klabin Fabricadora de Papel S. A. PETROBRAS Petrobrás – Petróleo Brasileiro S. A. PISA Pisa Florestal S. A. RIGESA Rigesa Celulose Papel e Embalagens Ltda. RIPASA Ripasa S. A.Celulose e Papel SUZANO Cia. Suzano de Papel e Celulose VCP Votorantim Celulose e Papel S. A. VERACEL Veracel Celulose S. A. Fonte: BRASIL (2002, p. 19) Organizado pela autora.

Observa-se que a maioria das entidades privadas com pesquisa na área florestal é formada pelas grandes produtoras de papel e celulose. O processo produtivo de celulose e papel, conforme Martini (2003) demanda alta tecnologia, não somente na inovação em processo e produto, mas principalmente na produção da matéria-prima na área florestal, pois é nesta etapa que serão definidas as espécies a serem plantadas com o objetivo de obter produto de acordo com os critérios de rendimento de celulose, crescimento vegetal e rendimento por área plantada. Destaca-se também na pesquisa para o setor a Embrapa, principalmente a Embrapa Florestas cujas pesquisas estão voltadas para o manejo florestal e melhoramento genético, via estações experimentais, de espécies direcionadas aos reflorestamentos, principalmente o pinus e eucalipto. As pesquisas da Embrapa realizam-se em forma de parceria com outros institutos de pesquisas, universidades e indústrias privadas.

93

3.2 O PAPEL DA EMBRAPA NA PESQUISA FLORESTAL

O desenvolvimento da Embrapa enquanto instituição de pesquisa esteve relacionada ao processo de industrialização brasileira e modernização da agricultura, que aliou os interesses econômicos crescentes, relacionados com a demanda agrícola e industrial existente, via criação de institutos de pesquisa, com a finalidade de gerar inovações para produtos alimentícios e de exportação, além de atender as necessidades de geração de energia, imprescindível à modernização e crescimento industrial.

Para criar institutos capazes de gerar tecnologias e ciência agrícola de ponta o país precisava internalizar alguns tipos de indústrias, pois, enquanto permanecia agrário e exportador, era quase impossível o sucesso dos institutos de pesquisas agronômicas que pudessem responder aos anseios de adaptação de cultivos ou aumento de produtividade entre outros. A esse pacote estava atrelado o uso de insumos (fertilizantes, defensivos, máquinas agrícolas e equipamentos) sem contar com as tecnologias que esses institutos necessitavam para realizar pesquisas básicas, ou seja, para o campo se modernizar havia a necessidade primeiro da indústria brasileira fornecer alguns insumos. O advento dos CAIs pós década de 1960 corrobora essa tese. (CAMPOS, 2010, p. 120).

Campos (2010) enfatiza que após a II Guerra Mundial até meados da década de 1960 as políticas econômicas se direcionaram para o aumento da área cultivada em vez de estimular o incremento da produtividade. Este período foi marcado pela política de substituição de importações, mantendo-se as políticas de expansão da fronteira agrícola. Em meados da década de 1960 percebeu-se que houve um pequeno estoque de conhecimento para algumas culturas e facilidade de transferência dos resultados da pesquisa dos países avançados para o Brasil. Porém, para que o Brasil desenvolvesse um moderno sistema agrícola, necessitava desenvolver um sólido aparelho institucional de pesquisa que abrangesse todas as regiões e condições edafoclimáticas. É a partir dessa concepção que começou a mobilização para a criação Embrapa31.

31 Conforme Campos (2010), a criação da Embrapa está pautada em três períodos de evolução: 1º - Período Precursor (1800 - 1908); 2º - Período de Implantação (1909 – 1937) e o Período de Consolidação (1937 – 1973). No primeiro período, denominado como Período Precursor (1800 – 1908) foram criadas escolas de agronomia e o Instituto Agronômico – IAC que propiciaram a base para o desenvolvimento de pesquisa agrícola a nível federal. O Período de Implantação (1909 – 1937) foi caracterizado pela criação das primeiras instituições a nível federal, com o objetivo de realizar pesquisa agrícola. A idéias de uma única instituição federal capaz de produzir pesquisa para todo território nacional nasceu nesse período. No período de consolidação (1938 – 1973), segue um curso de ação que em 1972 vai culminar com uma única e grande instituição de pesquisa de âmbito nacional, em condições de executar e coordenar as atividades de pesquisa agropecuárias, adaptado às condições do Brasil. Este período foi caracterizado pela consolidação do processo de modernização da agricultura. 94

Importante ressaltar que as pesquisas agropecuárias no Brasil não se iniciaram pura e exclusivamente com a Embrapa, como se nada houvesse a priori. Destaca-se a importância dos Institutos Estaduais de Pesquisa anteriores à criação da Embrapa, como é o caso do Instituto Agronômico. Tais Institutos foram os pioneiros na pesquisa de diversos produtos agroalimentares tanto para a exportação como para o mercado interno (café, cacau, cana-de-açucar, trigo, sorgo, fumo, feijão, milho, mandioca, arroz, lúpulo, algodão, plantas frutíferas, criação de bovinos e suínos), (CAMPOS, 2010). Destaca-se que esta nova empresa de pesquisa teve um papel extremamente importante dentro da política de ciência e tecnologia, incumbida de gerar inovações para servir de suporte às metas de racionalização da agricultura do Nordeste, Norte e Centro-Oeste e aumentar a produtividade do Sudeste e Sul. Além disso, visou atender os interesses de aumento da exportação previstas nos programas de governo. Quando a Embrapa foi criada32, mais de 1.000 pesquisadores foram enviados ao exterior, em especial para os Estados Unidos, para realizar cursos de Pós-Graduação. Esta medida fez parte do plano estratégico descrito no I PND no sentido de buscar em outros países know-how para o ainda embrionário projeto nacional de pesquisa agropecuária. Também no II PND ficou explícito a idéia de enviar ao exterior pesquisadores brasileiros para captar conhecimento ainda não produzido nas universidades brasileiras. (CAMPOS, 2010). Esta ação estatal resume o que já era de consenso no mundo industrializado desde a 1ª Revolução Industrial, quando a difusão da ciência e tecnologia foi um instrumento de apoio ao crescimento econômico e conseqüentemente ao processo de acumulação do capital.

A princípio o país atrasado, carente de recursos de base, realiza, com o empréstimos tecnológicos obtidos de fora, sob a espécie de conhecimentos e de maquinismos, os primeiros passos no caminho da industrialização. Para isso mobiliza a mão-de-obra intelectual disponível no momento. Mas logo aparecerão de todo lado as limitações da situação real. O primeiro obstáculo no qual o país esbarra encontra-se na estrutura educacional, especialmente universitária, que não foi originariamente organizada com o propósito de servir ao emprenho de emancipação nacional, mas, em virtude da pressão social, tem de procurar precipitadamente, mesmo de modo insincero, converter-se a ele. (PINTO, 2005, p.314).

32 Em 1973 foi expedido o Decreto Lei nº 72.020, aprovando a criação da Embrapa. A instalação solene deste órgão ocorreu no dia 26 de abril de 1973. A empresa herdou do DNPEA (Departamento Nacional de Pesquisa e Experimentação) uma estrutura composta de 92 bases físicas: 9 sedes dos institutos regionais, 70 estações experimentais, 11 imóveis e 2 centros nacionais. A partir de então a Embrapa começou sua fase operativa e passou a administrar todo sistema de pesquisa agropecuária no âmbito federal. 95

A consolidação da Embrapa como centro de pesquisa de referência nacional na questão agropecuária este fortemente relacionada ao que, Mamigonian (1999) denominou de segunda etapa33 de produção tecnológica no Brasil, quando ocorreu a implantação anexa às fábricas ou externas à elas de laboratórios dotados de equipamentos de pesquisa, pessoal treinado, bibliotecas especializadas, congressos científicos nacionais e internacionais. Ressalta-se que nesta etapa (década de 1970) ocorreu a implantação de um novo Departamento I da economia brasileira, intensivo em capital, e o surgimento de instituições de pesquisa (Senai, Universidades ou centros de pesquisa específica, no caso aqui a Embrapa) aparece nesse primeiro momento com a finalidade de copiar e adaptar a tecnologia nova produzida no centro do sistema. A Embrapa atualmente é a coordenadora do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, formado por todas suas unidades, pelas Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária, por universidades e institutos de pesquisa de âmbito estadual ou federal, bem como por outras organizações, públicas e privadas, direta ou indiretamente ligadas à pesquisa agropecuária. A instituição é composta por unidades administrativas ou centrais, localizadas em Brasília/DF, e pelas unidades descentralizadas, distribuídas em diversas regiões do Brasil. As unidades descentralizadas estão classificadas em: unidades de serviço, unidades de pesquisa de produtos, unidades de pesquisa e temas básicos e unidades de pesquisa ecorregionais, ambas apresentadas no anexo 01. Analisar e entender cada uma dessas unidades é de interesse para o conhecimento das pesquisas científicas que culminam nas inovações tecnológicas nos diversos segmentos do setor agroalimentar do país. No entanto, nos deteremos a analisar a unidade da Embrapa Florestas que está intimamente ligada ao desenvolvimento das pesquisas agroflorestais e siviculturais no país.

3.2.1 A Embrapa Florestas A pesquisa florestal na Embrapa teve início, oficialmente, com o estabelecimento do Programa Nacional de Pesquisa Florestal (PNF), resultante de convênio firmado com o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal. Neste convênio, delegava-se à Embrapa a

33 A incorporação de tecnologia por parte da indústria brasileira se fez inicialmente pela importação e uso das máquinas (tecnologia em estado bruto), mas o próprio estrangulamento cambial exigia a existência e funcionamento no interior das fábricas de oficinas mecânicas de conserto, sem as quais a industrialização brasileira teria sido bloqueada. Mesmo tendo significado um certo congelamento de tecnologia anterior, estas oficinas foram escolas de assimilação dos avanços tecnológicos ocorridos no centro do sistema e foram os embriões da segunda etapa de produção tecnológica no Brasil (MAMIGONIAN, 1999, p.161-162). 96

coordenação, execução e apoio da pesquisa florestal brasileira, no âmbito do Ministério da Agricultura. (EMBRAPA, 2010a). Até meados de 1984, a coordenação do Programa Cooperativo de Pesquisa Agropecuária da Embrapa localizava-se na sede da Empresa, em Brasília-DF, quando foi transferida para a Unidade Regional de Pesquisa Florestal Centro-Sul, em Colombo/PR. Em dezembro daquele mesmo ano, a Unidade foi transformada em Centro Nacional de Pesquisa de Florestas (CNPF), que passou a coordenar, além de executar, toda a pesquisa florestal, no âmbito do Ministério da Agricultura e Abastecimento. O PNPF, desenvolvido pela Embrapa Florestas, contou com a participação de empresas privadas, universidades e instituições de pesquisa, além de órgãos de desenvolvimento regional e agências de financiamento. Durante a vigência do PNPF (1977 – 1992), a Embrapa contribuiu significativamente para o desenvolvimento de linhas de pesquisa relacionadas com o melhoramento e conservação genética, silvicultura, manejo e agrossilvicultura. No início da década de 1990 iniciou-se uma crescente preocupação ambiental, que considerava o importante papel que as florestas plantadas e naturais desempenham no equilíbrio ecológico e na manutenção da biodiversidade. As pesquisas produziram, também, resultados expressivos nas áreas de manejo de florestas tropicais densas e controle biológico de pragas e doenças. Além da Embrapa Florestas, há pesquisa florestal bastante expressiva em todas as unidades agroflorestais da Amazônia, na Embrapa Semi-Árido, Embrapa Cerrados, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Embrapa Agrobiologia. Recentemente, novas unidades da Embrapa, principalmente os centros ecorregionais, incluíram a pesquisa florestal ou agroflorestal em sua programação, uma vez que não há como se trabalhar com desenvolvimento rural sem considerar a floresta como componente importante para o ambiente e para o desenvolvimento econômico dessas regiões. O Centro de Pesquisa Nacional de Floresta, localizado no município de Colombo/Paraná desenvolve pesquisas relacionadas seguintes aos temas: Recursos Genéticos e Desenvolvimento de Cultivares; Controle e Promoção de Agentes Biológicos; Ecologia de Plantações Florestais; Manejo Florestal; Sistemas Agroflorestais; Ecologia de Sistemas Naturais; Economia Florestal; Legislação e Agregação de Valor à Madeira que fazem parte de macroprogramas e que compõem a carteira de projetos dos Núcleos de Apoio a Gestão de Pesquisa. (EMBRAPA, 2010b). 97

Os projetos desenvolvidos pela Embrapa Florestas atualmente estão relacionados no quadro 03. Projeto Principais características

Adequação ambiental de Difusão da arborização de pastagens e das estratégias de sistemas de produção no Paraná reabilitação de áreas de matas ciliares e de reserva legal nas propriedades rurais.

Projeto florestas energéticas Promover a transferência de tecnologia de produção de sementes e clones adequados a cada condição edafoclimática (de solo e de clima) para uma futura formação de base florestal. A adaptação e a divulgação de novas tecnologias com maior eficiência e rendimento devem gerar derivados energéticos de alto valor agregado, promovendo também o desenvolvimento sustentável. O Projeto Florestas Energéticas é um macro projeto nacional e agrega 130 pesquisadores e 70 instituições, distribuídos em 17 Centros de Pesquisa da Embrapa; 15 Universidades; 11 empresas florestais; quatro cooperativas; 14 instituições de pesquisa; sete indústrias e duas associações de produtores.

Pupunheira para Palmito no Sul O projeto visa o aproveitamento de áreas abandonadas pela do Brasil agricultura no Domínio da Mata Atlântica com o objetivo de desenvolver um sistema de produção que dê suporte à atividade de produção de palmito cultivado, de nos estados do Paraná e Santa Catarina.

Manejo Florestal e Silvicultura Aborda tratamentos silviculturais e planejamento da exploração de Precisão em florestas naturais tropicais no norte do estado do Mato Grosso e regiões dos estados de Rondônia e Acre.

Sistema Silvipastoril para o combinação intencional de árvores, pastagem e gado numa Brasil Pecuário mesma área ao mesmo tempo e manejados de forma integrada, com o objetivo de incrementar a produtividade por unidade de área. Sistema Nacional de Parcelas Monitoramento permanente das florestas naturais e plantadas, Permanentes – SisPP localizadas nos diferentes biomas brasileiros, visando a obtenção de informações sobre crescimento e evolução da floresta, bem como sua reação a perturbações diretas ou indiretas incluindo-se efeitos de regimes de manejo e mudanças climáticas e, no caso de plantações florestais, a resposta a tratamentos culturais e silviculturais.

Laboratório de Sementes Gerar conhecimentos científicos e tecnológicos para a conservação, utilização e produção de sementes florestais produtores rurais e empresas do setor florestal brasileiro.

Quadro 03. Síntese dos projetos desenvolvidos pela Embrapa Florestas. Fonte: EMBRAPA, 2010b. Organizado pela autora.

As pesquisas da Embrapa surgem para atender uma demanda macroeconômica existente, bem como demandas locais. São as necessidades econômicas do mercado aliadas às 98

necessidades de avanço das forças produtivas capitalistas, ou seja, as demandas por produtividade relacionadas ao avanço da ciência. A pesquisa científica é o caminho para atender à essas necessidades. As pesquisas desse instituto relacionadas ao setor florestal, realizadas pela Embrapa Florestas, são realizadas em parcerias com as indústrias privadas, universidades e institutos de pesquisas. As indústrias de papel e celulose são as que mais investem em pesquisas florestais, a exemplo da Klabin Papel e Celulose e da indústria Rigesa34. As pesquisas com pinus e eucalipto estão ligadas ao melhoramento genético das mudas para atender as indústrias de papel e celulose, indústrias de painéis e também para fins energético. O processo de melhoramento genético consiste em cultivar mudas, obtidas através da introdução transgênica, da hibridação de espécies ou mesmo através da polinização controlada em laboratório. Esses processos realizados em pomares experimentais permitem a modificação genética das espécies, gerando árvores com características específicas para fins industriais ou energéticos, diminuindo o tempo necessário para o corte e permitindo a otimização da madeira pelas indústrias. Destaca-se que as mudas utilizadas nas pesquisas provêm de países líderes em pesquisas florestais. No caso do pinnus, o material genético inicialmente veio dos Estados Unidos, eram as espécies P. elliotti e P. taeda, cujas plantações se restringiam a região Sul e Sudeste devido ao clima. Posteriormente, a partir dos anos 1960 foram introduzidas outras espécies oriundas da Austrália, como P. caribaea, P.oocarpa, P. tecunumanii, P. maximinoi e P. patula possibilitando a expansão da cultura de Pinnus em todo o Brasil, usando-se a espécie adequada para cada região ecológica.

34 Informações coletadas com pesquisadores da Embrapa Florestas em trabalho de campo realizado em março de 2010. 99

3.3 INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DA MATÉRIA-PRIMA PARA O SETOR FLORESTAL

A matéria-prima para o setor de base florestal, em sua grande maioria oriunda de florestas plantadas, passou por uma grande evolução no processo de plantio. O fomento dado pelo setor público e privado à pesquisa, bem como o programa de incentivos fiscais ao reflorestamento, ocasionou o desenvolvimento de uma silvicultura intensiva em plantações florestais de rápido crescimento, utilizando-se da genética molecular e genômica que passaram a predominar nas pesquisas da genética florestal, a partir de 1941. Os primeiros Pomares Clonais de Sementes (PCS) de eucalipto e pinus foram estabelecidos no final da década de 1960. Esses pomares tinham como objetivo atender a demanda quantitativa e qualitativa do programa de incentivos fiscais. Foram plantados no período de 1966 a 1986 o correspondente a 800 milhões de mudas. No início da década de 1970 foram instalados os primeiros testes de progênies (conjunto de genes ascendentes ou descendentes de uma espécie) e reiniciadas a reintrodução de germoplasma (elemento dos recursos genéticos que maneja a variabilidade genética entre e dentro da espécie), com base genética apropriada oriunda de espécies selecionadas. As atividades relacionadas com a produção de sementes melhoradas de eucalipto e pinus foram intensificadas nas décadas de 1970 e 1980, com o desenvolvimento de clonagem. Foram priorizadas as matrizes, e a partir delas foram modificadas geneticamente as mudas. Além disso, o sistema de poda também foi aperfeiçoado, sobretudo em relação ao pinus, favorecendo a formação de tronco com diâmetro maior para ser utilizado pela indústria de transformação. Conforme apresentado anteriormente, o Brasil possui um suporte quantitativo e qualitativo para o desenvolvimento de pesquisa e desenvolvimento voltados para o setor de base florestal, dada as vantagens comparativas, aliadas as condições edafo-climáticas, e competitivas, aliadas ao desenvolvimento tecnológico. A inovação no plantio consiste, atualmente, na utilização dos clones de eucalipto e experimentos com pinus taeda em colônias do sul do Brasil. Mais de 1500 clones encontram- se em testes visando o melhoramento genético das mudas de eucalipto e pinus, atuando na redução de substâncias que interferem na qualidade da madeira, (BRUN, 2008). A Figura 03 nos exemplifica a evolução tecnológica no melhoramento genético do eucalipto ocorrido na indústria Suzano Papel e Celulose35.

35 Com vistas a se tornar cada vez mais competitiva no segmento florestal, o que é fundamental para garantir rentabilidade crescente no negócio de celulose, a Suzano Papel e Celulose apresentou uma oferta de US$ 82 100

Figura 03. Melhoramento genético do eucalipto apresentado pela Suzano Papel e Celulose

Fonte: Andrade, 2008.

As indústrias de papel e celulose e as maiores indústrias de processamento da madeira são detentoras de grande parte das áreas de florestas plantadas, e são as maiores beneficiadas dentro do setor de base florestal com as políticas de financiamento e investimentos do BNDES36. Essas indústrias também estão à frente das inovações tecnológicas do setor estando ligadas diretamente com pesquisas e publicações nas principais revistas científicas englobando o setor florestal. Além disso, essas indústrias foram pioneiras em relação às modificações genéticas do eucalipto e estão à frente dos projetos e pesquisas desenvolvidas nesta área como é o caso do projeto GENOLYPTUS: Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalyptus.

milhões pela companhia britânica de melhoramento genético e biotecnologia FuturaGene. A FuturaGene, que trabalha com pesquisa e desenvolvimento genético de plantas para as indústrias de produtos florestais, biocombustíveis e agricultura, atua em Israel, China, Estados Unidos e tem sede no Reino Unido. A Suzano é a segunda maior produtora mundial de celulose branqueada de eucalipto e, assim como a Fibria, é reconhecida mundialmente pelo baixo custo de produção de matéria-prima de alta qualidade. (FONTES, 2010). 36 Ver a publicação BNDES - 50 anos: Histórias Setoriais. Rio de Janeiro, 2002. 101

O „Genolyptus‟, iniciado em 2002, se baseia em uma parceria entre o governo federal através do Ministério da Ciência e Tecnologia (FINEP- Fundo Setorial Verde Amarelo), o setor acadêmico representado por sete Universidades e de pesquisa com diversas unidades da Embrapa, além do setor privado, atualmente, com 14 empresas florestais, 13 brasileiras e uma portuguesa. As empresas florestais envolvidas são indústrias de papel e celulose e uma delas siderúrgica. O projeto prevê incrementos de produtividade e principalmente qualidade das florestas via melhoramento genético, para o crescimento sustentado e manutenção da vantagem competitiva dos países plantadores para a produção de celulose branqueada, energia e produtos sólidos de madeira. (GENOLYPTUS, 2010) A tecnologia de modificação genética da muda permite elevada produtividade. As indústrias operam com plantios próprios e terceirizados. No entanto as indústrias doam as mudas a produtores existentes com objetivo de disseminar a expansão da atividade. Isso permite à indústria uma maior disseminação e espacialização da matéria-prima e menor custos quando o plantio ocorre terceirizado. Por outro lado, o fomento florestal consiste em uma opção para pequenos e médios produtores rurais, que podem praticar a silvicultura de forma extensiva ou consorciada com outros plantios, sobretudo nas áreas onde as condições de relevo não são tão favoráveis para o desenvolvimento de outras plantações. Conforme o BNDES (2002) as inovações e investimentos no plantio de florestas durante as décadas de 1970 e 1980 tiveram como resultado:  Controle de pragas e doenças;  Definição e diversificação de material genético e avanço nas práticas de clonagem  elevação da produtividade – entre 1970 e 1997, a produtividade passou de 15 st/ha para 60 st/ha37;  Redução dos custos de implantação em mais de 50% entre 1970 e 1997;  Adoção de práticas silviculturais ambientalmente corretas;  Incorporação da variável impacto social nos projetos, contribuindo para o desenvolvimento regional;  Disseminação da importância do bom manejo florestal;  Criação de diversas pequenas e médias empresas especializadas em atividades de silvicultura e de exploração de madeira;

37 O conceito de stéreo (st) se refere a um metro cúbico de madeira roliça. O metro cúbico se refere à madeira serrada. A taxa de conversão é: 1m³ = 1,54 st. A sigla ha se refere ao conceito de hectare. 102

 Acúmulo de áreas de preservação de florestas nativas (preservação permanente e reserva legal) da ordem de 1,6 milhões de hectares;  Banco genético bastante completo das espécies de eucalipto pinus existentes no mundo, contando, inclusive, com material já extinto em suas áreas de origem. As indústrias de papel e celulose bem como de madeira processada se utilizam toda uma gama de pesquisas voltada para o desenvolvimento da excelência da madeira, sobretudo as indústrias exportadoras, pois o mercado consumidor externo apenas compra o produto quando este for certificado38. Em 1993 foi criado o selo FSC (Forest Stewardship Council)39 através da associação de ambientalistas, indústrias processadoras de madeira, produtores florestais, populações indígenas e grupos comunitários de 25 países. O objetivo deste selo é auditar as práticas de exploração florestal, com base em princípios ecológicos, econômicos e sociais. O FSC credencia auditores independentes em todos os países do mundo para que estes executem o processo de certificação. No Brasil a certificação do selo FSC fica a cargo do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal – FSC Brasil, (FSC, 2010). Muitos países consumidores de madeira passaram a exigir o selo FSC, sobretudo naqueles em que grupos ambientalistas são mais fortes como Alemanha, Holanda e Reino Unido. No Brasil, a pressão pela certificação teve grande impacto, principalmente em se tratando ao uso da madeira nativa tropical, fortemente relacionada ao desmatamento da Amazônia, tema mundialmente discutido, aliado às características de exploração em florestas pertencentes às áreas indígenas. Além disso, os produtos oriundos das florestas plantadas também sofrem acusações, principalmente de ameaçar os ecossistemas e a biodiversidade.

A certificação envolve custos financeiros, pois as operações florestais precisam se adequar a algumas normas da certificação do FSC. Esses custos estão muito relacionados à forma de gestão do empreendimento. Uma operação regular, que segue os procedimentos legais, utiliza técnicas de manejo adequadas, dentre outros ações que caracterizam um bom gerenciamento, estará bem próxima de receber um certificado de origem, como é o selo do FSC. Por outro lado, quanto mais distante a operação estiver em relação a esses aspectos, maiores serão os custos para se adequar à uma certificação. Assim, no FSC existem dois tipos de custos previstos: os custos diretamente relacionados com o processo de avaliação, licenciamento e monitoramento do uso do selo (custos diretos); e os custos relacionados às ações necessárias para atender as normas da certificação (custos indiretos). (FSC, 2010).

38 A certificação florestal é uma exigência crescente no mercado consumidor mundial, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Essa exigência está atrelada ao protecionismo ambiental e ao desenvolvimento das florestas ditas ecologicamente corretas. (informações obtidas em trabalho de campo realizado nas Indústrias Guararapes e Berneck, em junho de 2009 e novembro de 2009, respectivamente). 39 Conselho de Manejo Florestal. 103

O processo para adquirir o selo FSC pode ser resumido nas seguintes etapas: contato inicial (onde a operação florestal entra em contato com a certificadora); avaliação (análise geral do manejo, da documentação e da avaliação de campo. O seu objetivo é preparar a operação para receber a certificação); adequação (após a avaliação, a operação florestal deve adequar as não conformidades quando for o caso); certificação da operação (a operação florestal recebe a certificação); monitoramento anual (Após a certificação é realizado pelo menos um monitoramento da operação ao ano). As indústrias que utilizam o selo FSC devem demonstrar placas de certificação em todas as etapas no processo de produção, conforme demonstra a figura 04.

Figura 04. Sistema de certificação FSC na Indústria de Compensados Guararapes, localizada no município de Palmas/PR.

Fonte: Trabalho de campo realizado na indústria em junho de 2009.

Conforme o BNDES (2002) o custo do processo de certificação é um entrave à expansão da área certificada no Brasil. Muitos produtores alegam que a hegemonia do FSC distorce o sistema de certificação, uma vez que é a única instituição a estabelecer regras sobre o que é o bom manejo florestal. 104

Diante desse contexto, muitos países criaram seus próprios sistemas de certificação e buscaram o reconhecimento internacional, como é o caso da Finlândia, Noruega, Suécia, Indonésia e Malásia. Em 2002, o Brasil criou uma estrutura de certificação própria, o CERFLOR (Programa Brasileiro de Certificação Florestal). Esse programa foi uma iniciativa das entidades ligadas à produção, comercialização e consumo de produtos florestais, além de universidades, instituições de pesquisa e órgãos governamentais. O programa está baseado em normas do INMETRO, da ABNT e da SCT Certificação Florestal. Várias empresas brasileiras buscaram a certificação ISO 14001 para suas florestas, a qual garante o cumprimento de normas técnicas de produção e exploração. A ISO 14001 é uma norma internacionalmente aceita que define os requisitos para estabelecer e operar um Sistema de Gestão Ambiental. Além da certificação florestal que condiciona a inserção e manutenção das indústrias no mercado nacional e internacional, também a qualidade de seus produtos é atestada via certificação. No setor da madeira processada, citamos o Programa Nacional de Qualidade da Madeira (PNQM), criado em 1999 pela ABIMCI que tem o propósito de promover a melhoria da qualidade da madeira, disponibilizando produtos com especificações e parâmetros controlados. A inserção no PNQM é o passaporte para os produtores adquirirem a Certificação CE40. Essas certificações são as que consideramos as mais importantes e mais utilizadas pelas indústrias brasileiras. Cabe ressaltar que existem ainda inúmeras certificações, principalmente no mercado internacional, que cabe às empresas exportadoras verificarem quais são as exigências dos países importadores em termos de certificação.

3.4 DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NO PROCESSAMENTO MECÂNICO DA MADEIRA

Os avanços técnicos nos setores produtivos marcam intensamente a dinâmica espacial da acumulação de capitais. Nesse sentido, entendemos que o estudo dos avanços

40 A marca "CE" é uma marca de conformidade do Mercado Comum Europeu. Declara que o fabricante atende às exigências da norma EN do(s) produto(s) em questão, com respeito à Diretiva da Comunidade Européia aplicável a essa norma. A certificação “CE” tem sido exigida na União Européia para diversos produtos, como: equipamentos de telecomunicação; eletroeletrônicos; brinquedos; aparelhos médicos; produtos farmacêuticos; produtos de construção, entre outros. Atualmente, a certificação “CE” é exigida para obter acesso aos 28 países que integram o Espaço Econômico Europeu (EEE): os 25 Estados-Membros da União Européia (UE) e três dos Estados-Membros da Associação Européia de Livre Comércio (EFTA). Em maio de 2004, a UE expandiu-se para o leste da Europa, passando a integrar 10 novos Estados Membros. (ABIMCI, 2010). 105

técnicos no processamento da madeira é uma base fundamental para o entendimento deste setor. A análise deve pautar-se nas forças produtivas e nas relações de produção. Além do desenvolvimento tecnológico da matéria-prima, o desenvolvimento tecnológico do processamento da madeira se constituiu ao longo do tempo a ferramenta necessária de domínio do homem sobre a natureza, caracterizada pelas florestas naturais, e a necessidade de evolução de exploração das mesmas. A contradição entre a técnica e a negação da técnica, conforme destacado por Pinto (2005), é o motor do desenvolvimento técnico, pois o processo avança porque o homem nega a técnica existente, no ato em que dela se utiliza para, em qualquer setor da pesquisa, chegar a uma nova técnica, mais perfeita, que suprime a anterior, e será por sua vez superada, seguindo a lei dialética da contínua negação da negação. Tal evolução pode ser observada desde os primórdios, quando o homem utilizava as árvores, galhos e folhas como insumos básicos de sua sobrevivência, além da fabricação de ferramentas de madeira para a coleta, caça e pesca. A necessidade de se aprimorar as embarcações em períodos de grandes conquistas territoriais impulsionou o desenvolvimento de serras de corte, ainda que manuais e de baixa tecnologia. A invenção da serras fita contribuiu consideravelmente para o avanço tecnológico, mas é na Revolução Industrial que ocorreu o grande impulso, com a adaptação dos engenhos a vapor nas grandes máquinas de serraria, por volta de 1830. (MARTINI, 2003). A Revolução Industrial, que se iniciou na indústria têxtil, expandiu-se para outros ramos industriais como na indústria da madeira. Inicialmente as serras eram acionadas por motores à explosão, evoluindo para motores elétricos. A evolução continuou na produção de máquinas com alto coeficiente de produtividade e posteriormente, máquinas cada vez mais automatizadas41. Atualmente, as indústrias modernas se constituem de equipamentos de alta produtividade e precisão, com constante aprimoramento técnico, permitindo um máximo em rendimento e qualidade, com o mínimo de falhas e desperdício, otimizando o uso da madeira, possibilitando uma melhor eficiência na conservação de energia e reciclagem de materiais.

41 Este estágio constituiu a possibilidade produtiva plena da indústria moderna, onde as técnicas das máquinas foram aplicadas na construção das próprias máquinas. Esta é a etapa final do processo de autonomização, onde a indústria moderna completa sua libertação e superação em relação às restrições da velha tecnologia (ROSENBERG, 2006). Nesse sentido, não só o processo produtivo tornou-se independente da força e vontade humana, mas também toda a constituição da indústria moderna. O capitalismo atingiu assim o estágio de maturidade tecnológica, onde os meios técnicos utilizados o distingue dos modos de produção anteriores, superando as capacidades produtivas do homem. 106

O investimento em capital constante (máquinas, edifícios, entre outros) merece consideração. Máquinas cada vez mais sofisticadas que diminuem a utilização de mão-de- obra e aceleram a produção com o mínimo de desperdício e o máximo de aproveitamento de matéria-prima. É importante atentar-se ao fato de que, conforme o investimento em capital constante torna-se maior que o investimento em capital variável, eleva-se a composição orgânica do capital das indústrias. Marx (1985) afirma que os problemas causados pela maquinaria à classe trabalhadora não correspondem a própria máquina, mas a aplicação desta pelo modo de produção capitalista. Conforme Freeman (1984), as depressões provocam mudanças significativas no ambiente social e político, o que, por sua vez, podem gerar condições mais favoráveis ao processo de recuperação e ao processo de disseminação a partir de inovações básicas mais antigas que podem ter sido introduzidas em vários momentos do passado, mas que são capazes de florescer apenas quando o ambiente social necessário favorece sua adoção. Um dos impulsos para o processo de inovação está atrelado ao elevado custo da tora, e aos investimentos que as indústrias necessitam realizar para obter a matéria-prima, pois em um primeiro momento, com abundância de vegetação existente, a madeira era de baixo custo, o que desestimulava as inovações. A escassez, aliada a outros fatores, forçou as indústrias a restringirem ao máximo o desperdício da madeira, tanto no processo (produtividade) como no produto (qualidade). Com o aumento da preocupação ambiental mundial, as indústrias também são forçadas a inovarem para atenderem às exigências do mercado nacional e internacional e para conseguirem as certificações que os importadores exigem. Alguns segmentos da indústria madeireira nacional, como, por exemplo, a indústria de compensado, tem se preocupado em buscar o aprimoramento de seus produtos, principalmente pela competição com novos tipos de painéis surgidos recentemente no mercado, (ABIMCI, 2005). A partir da década de 1970, as indústrias procuraram inovar-se em produto, diversificando e pulverizando a produção. Podemos afirmar que os painéis reconstituídos foram grandes inovações que vieram a substituir a madeira maciça e mesmo os painéis aglomerados, tidos como de baixa qualidade, na utilização, em grande parte, da indústria moveleira e também na construção civil. Por vezes o painel de aglomerado começou a perder mercado e as indústrias tiveram que inovar e melhorar a qualidade. A competição fez com que as indústrias inovassem o 107

processo de produção, passando da prensagem cíclica para prensagem contínua. Isso agregou qualidade e as indústrias criaram uma nova denominação: painel de aglomerado/MDP. No Brasil, este painel ganha destaque a partir da década de 1990. As indústrias buscam também diversificar a produção, principalmente em períodos de crise onde os mercados estão mais restritos. Isso faz com que elas não deixem de produzir o principal, mas produzam também àquilo que o mercado está demandando naquele momento42. Assim, passam abrir o leque de oferta de produtos. A inovação em processo se dá por meio da aplicação e desenvolvimento de linha de produção43 moderna, auferindo ao produto final qualidade e diminuindo os custos com a produção. Na produção do compensado, por exemplo, a inovação se dá a partir da obtenção das toras. As novas técnicas empregadas estão relacionadas com as estações de scanner. As toras são cozidas e após passarem pelo scanner são produzidas imagens 3D que determinam automaticamente o comprimento, diâmetro e volume da tora. No processo de laminação, a inovação está centrada no torno telescópio que faz o descascamento automático da tora, permitindo a laminação contínua. Como exemplo destacamos a Linha de Torno 4 ft – 12 blocos/minuto, utilizada pela Indústria de Compensados Guararapes Ltda, conforme apresentado abaixo. Esta máquina intensifica todo processo de transformação da tora em lâmina, fornecendo dados precisos ao processo de produção, o que permite maior economia e rendimento no processo produtivo.

42 Um exemplo que podemos citar a esse respeito é a nova planta para produção de MDF da Indústria de Compensados Guararapes, localizada no município de Palmas/PR. A indústria é líder em exportação de compensado para os Estados Unidos, e chegou a representar em 2005, 45% das exportações de compensados para a Costa Leste daquele país. Com a crise imobiliária americana, as exportações caíram drasticamente. A indústria teve que ampliar seu mercado de exportação e concorrer com países emergentes na produção de compensado, como é o caso da China. Para atenuar os efeitos da crise, a indústria, com incentivos fiscais concedidos pelo governo de Santa Catarina, abriu nova planta para produção de MDF em Caçador/SC, para atender o mercado moveleiro nacional que está em crescimento. 43 O desenvolvimento de linha de produção ou linha de montagem estão diretamente relacionados às formas de organização do trabalho com vistas ao aumento da produtividade conseqüente exploração do trabalhador via extração acentuada de mais valia-relativa e absoluta. A gerência científica, instituída por Taylor, apropriada por Ford (fordimo) e, posteriormente por Ohno (toyotismo), bem como a flexibilização do trabalhador e a capacidade de operar vários equipamentos ao mesmo tempo demonstram tal processo. 108

Figura 05. Linha de Torno 4 ft – 12 blocos/minutos Fonte: FEZER, 2008.

Os tornos de laminação são extremamente modernos, e o processo de classificação da lâmina, que era feito manualmente, passou a ser informatizado e através do scanner é verificada a qualidade e classificação da lâmina. A intervenção manual é necessária apenas quando ocorre algum problema. Os resíduos de lâminas, ou mesmos as que são defeituosas, são eliminados automaticamente do processo. Esses resíduos são utilizados como energia para alimentar as caldeiras, ou são destinados às indústrias de painel reconstituído, como é o caso do MDF. A linha de montagem44 ou linha de produção, onde a produção está fragmentada, aparece como uma verdadeira máquina de acumular mais-valia, ensejada pela maior produtividade, isto é, o esforço para encontrar modos de incorporar até mesmo quantidades menores de tempo de trabalho vivo em quantidades cada vez maiores de produto. (BRAVERMAN, 1981). A utilização de linhas de montagens automáticas na produção de laminas para a indústria de compensados permite o controle de cada lâmina produzida, conferindo qualidade ao produto final, conforme apresentado na Figura 06.

44 Há duas maneiras de aumentar a produtividade. Uma é aumentar as quantidades produzidas, a outra é a de reduzir o pessoal de produção. A primeira maneira é, evidentemente, a mais popular. Ela é também a mais fácil. A outra, com efeito, implica repensar, em todos os seus detalhes, a organização do trabalho. (OHNO apud CORIAT, 1994). 109

Figura 06. Relatório de conferência de lâminas e máquinas. Fonte: FEZER, 2008.

Conforme a ABIMCI (2004), existem muitas vantagens no caso da adoção de linhas de montagens automáticas de compensados, como por exemplo, redução no consumo de cola, eliminação de defeitos na chapa, redução do número de trabalhadores, redução de acidentes, etc. Modificações no sistema de cola têm sido adotadas pelas avançadas indústrias de compensado. Algumas indústrias estão empregando medidores on-line de aplicação de cola, o que permite automatizar o monitoramento e o controle do processo. Comparando uma indústria produtora de compensado que utiliza trabalho intensivo e equipamentos com baixo nível de automatização, com uma indústria com maior composição orgânica do capital que em seu processo produtivo as operações são realizadas com número de trabalhadores reduzido e alto grau de automação, verifica-se que no primeiro caso a produtividade média é de 70 m³/homem-ano de compensado, já a indústria automatizada pode produzir 230m³/homem-ano, trabalhando com a mesma matéria-prima (pinus). (ABIMCI, 2004). MARX (1985) sinalizou com bastante ênfase esse fato quando da introdução da maquinaria pela indústria moderna. Conforme o autor, a maquinaria é o meio mais poderoso de elevar a produtividade do trabalho, pois através dela é possível encurtar a jornada de trabalho necessária à sobrevivência do trabalhador e prolongar a jornada de trabalho que ele 110

dá de graça ao capitalista, ou seja, intensificação da mais-valia relativa em detrimento da mais-valia absoluta45. Esse processo é explícito quando se analisa a introdução das linhas de montagem automática nas indústrias, exemplificadas pela figura 05, caracterizando as inovações em processo, ou mesmo quando se introduz os painéis reconstituídos caracterizando inovação em produto. As várias serrarias e fabricantes de lâmina e compensado existentes se constituem enquanto pequenas empresas operando com escasso capital de giro e equipamentos antigos, ocasionando a baixa produtividade. Essas indústrias são intensivas em mão-de-obra, com baixa composição orgânica do capital. O processo de laminação e mesmo a montagem do compensado ocorre de forma manual, com auxílio de máquinas e equipamentos cujos processos são arcaicos46. No entanto, algumas indústrias que atuam neste segmento tem se modernizado em processo e produto, e sendo referências na produção nacional e internacional, tanto em relação ao processo produtivo quanto alternativa de mercado. As indústrias de painéis reconstituídos são elos mais sofisticados dentro do processamento da madeira. As instalações industriais se aproximam das plantas de fabricação de celulose, nas quais a economia de mercado tem um papel determinante no processo produtivo, o que caracteriza um alto investimento em capital. São indústrias intensivas em capital, conforme exemplifica a figura 07.

45 Não pretendemos aqui analisar as condições de trabalho nas indústrias de processamento mecânico da madeira, pois não possuímos elementos que nos permitam realizar tal análise. No entanto, pretendemos demonstrar, em linhas gerais, com base nos trabalhos de campo realizados em algumas indústrias do setor, que a inovação no processamento da madeira trouxe alguns elementos importantes para entender a organização do trabalho. 46 Em trabalho de campo realizado nas indústrias Camilotti Ltda. e Mazza Compensados percebemos essas questões quanto a linha de produção no chão de fábrica, ambas intensiva em trabalho. Estas indústrias, apesar de não possuírem máquinas modernas, possuem extensas áreas de florestas plantadas na região Sudoeste do Paraná. Ambas tem na produção de portas o segmento de maior valor agregado o que enfatiza a necessidade da gestão de florestas para o desenvolvimento das indústrias. A extração da mais-valia se corporifica no trabalho vivo dentro da fábrica. 111

Figura 07. Vista externa da Indústria Berneck Fonte: Trabalho de campo realizado na indústria em novembro de 2009.

Essas indústrias possuem uma alta composição orgânica do capital e uma alta composição técnica, operando com um número reduzido de trabalhadores47, porém altamente qualificados (técnicos de máquinas, engenheiros). A alta composição orgânica do capital demonstra a quantidade de trabalho morto empregado no processo de produção. Isso intensifica a extração da mais-valia, nesse caso a relativa. A gerência científica48 aparece aqui enquanto um componente importante no processo de organização do trabalho e a relação com o processo de inovação. Um número reduzido de técnicos especializados operam a linha de produção, totalmente informatizada, conforme exemplificada na figura 08.

47 Informações obtidas na industria Berneck revelam o grau de autonomização da produção, pois todo o processo, desde a chegada da madeira in natura até o carregamento do painéis embalados para a distribuição ocorre sem interferência manual do trabalhador. 48 O trabalho como base da sobrevivência humana despertou o interesse de Taylor, que se dedicou a estudar tal processo e a aperfeiçoá-lo para o aumento da produtividade. Conforme Pinto (2007) a evolução das técnicas de produção construídas em sua maior parte pelos trabalhadores possibilitaram o avanço da mecanização da atividade produtiva. A gerência científica teve grande importância na organização do trabalho nas relações capitalistas, dada a importância à sistemática aplicação da ciência à produção.

112

Figura 08. Sala de operação e controle da linha de produção do MDF e do MDP. Fonte: Trabalho de campo realizado na indústria Berneck em novembro de 2009.

Os poucos trabalhadores que aparecem no chão da fábrica executam funções secundárias ao processo de produção, como serviços de limpeza e manutenção das máquinas e do ambiente, conforme figura 09.

Figura 09. Linha de produção do MDF e do MDP. Fonte: Trabalho de campo realizado na indústria Berneck em novembro de 2009. 113

Informações obtidas na indústria revelam que o maior número de trabalhadores ligadas à ela concentra-se no processo de extração, ou seja, é no campo onde ocorre a gestão florestal da indústria que se concentra de forma bastante intensa o trabalho vivo.

O próprio êxito da gerência em aumentar a produtividade em algumas indústrias leva ao deslocamento do trabalho em outros setores onde ele acumula em grandes quantidades devido a que os processos empregados ainda não foram objeto – e em alguns casos não podem ser objeto no mesmo grau – da tendência da mecanização da indústria moderna. O resultado, portanto, não é a eliminação do trabalho, mas seu deslocamento a outras ocupações e atividades. (BRAVERMAN, 1981, p.151).

De acordo com Braverman (1981) na indústria coexistem todas as formas de trabalho: o ofício, o trabalho manual ou mecanizado, a máquina automática ou o processo continuado. Um exemplo desse fato encontramos na indústria de Compensado Guararapes. O torno laminador é completamente informatizado e dispensa a utilização de trabalhadores no processo de produção.cabendo aos operadores das máquinas todo o trabalho. Apenas quando ocorre algum problema, a intervenção manual é necessária, conforme exemplificada na figura 10.

Figura 10. Linha de produção automática de lâminas para a produção de compensado. Fonte: Trabalho de campo realizado na indústria de Compensados Guararapes em julho de 2009.

Os resíduos de lâminas, ou mesmo as que são defeituosas, são eliminados automaticamente do processo. Esses resíduos são utilizados como energia para alimentar as caldeiras, ou são destinados às indústrias de painéis reconstituídos, como é o caso do MDF. 114

Após a produção das lâminas, estas vão para outro setor da indústria, a montagem do compensado. Apesar das coladeiras automáticas e das prensas contínuas que intensificam a produção, a montagem do compensado demanda um número grande de trabalhadores. É neste segmento que se concentra o maior número de operários, conforme mostra a figura 11.

Figura 11. Processo de montagem do compensado

Fonte: Trabalho de campo realizado na indústria de Compensados Guararapes em julho de 2009. Os países que se destacam no fornecimento de tecnologia voltada para o setor madeireiro são a Itália, Estados Unidos, Finlândia e Alemanha. Conforme MARTINI (2003), a indústria brasileira de beneficiamento da madeira é amplamente servida por empresas especializadas em maquinários e tecnologia de processos produtivos, tanto na área de extração como na área produtiva, destacando-se a região Sul do país, fato de ser uma das principais regiões produtoras de madeira. Dos três Estados, o Paraná é o que tem maior representatividade na importação de tecnologia. O Paraná e Santa Catarina se destacam na produção de máquinas modernas para a indústria madeireira. Em Santa Catarina a referência é a Fezer SA Indústrias Mecânicas, localizada no município de Caçador. No Paraná, é a Omeco, localizada em Curitiba. A Finlândia tem se destacado, tanto devido a utilização de tecnologia de ponta focada na otimização do rendimento, quanto no fornecimento de máquinas e equipamentos modernas para as indústrias do mundo todo49. A capacidade de produção da indústria

49 Como exemplo a linha de torno Raute, utilizada pela indústria Guararapes. 115

brasileira de compensado é de aproximadamente 20% da capacidade instalada na Finlândia, por exemplo (MARTINI, 2003). Essas tecnologias votadas para o setor madeireiro são amplamente apresentadas nas feiras e eventos. As feiras importantes relacionadas ao setor madeireiro acontecem principalmente no Sul do país, tais como: Feira Internacional de Máquinas, Matérias-primas e Acessórios para a Indústria Moveleira - FIMMA, que ocorre todo ano em Bento Gonçalves - RS, e da Feira Internacional de Máquinas, Equipamentos e Produtos para Extração e Industrialização da Madeira e do Móvel - FEMADE, anualmente em Pinhais – PR.

3.5 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Na indústria moderna, conforme afirmou Marx (2010), a ciência tornou-se uma força produtiva independente do trabalho e posta a serviço do capital. O homem do saber (o cientista ou pesquisador) e o trabalhador produtivo se separam. A ciência por sua vez, não fica de posse do trabalhador para aumentar suas forças produtivas em seu benefício, mas coloca-se contra ele. O conhecimento torna-se um instrumento que pode separar-se do trabalho e opor- se a ela. A consolidação do setor florestal, pautado no processo de modernização da agricultura e fortalecimento industrial, impulsionou pesquisas relacionadas ao segmento florestal e consequentemente, a formação de uma base de pesquisadores de várias instituições públicas e privadas. É notável a participação das indústrias no desenvolvimento das P&Ds florestais, tanto em relação às pesquisas nos próprios laboratórios das indústrias como na parceria realizada com instituições públicas de pesquisas. As indústrias que investem nas pesquisas são as de papel e celulose (ex: Aracruz Celulose S.A., Bahia Sul Celulose S. A., Celulose Nipo Brasileira S. A., entre outras) e de painéis (Duratex S. A., Eucatex S.A. Ind. E Com.). O papel da Embrapa, enquanto instituição que agrega pesquisas dos vários setores da agropecuária, inclusive o florestal, é relevante. As pesquisas da Embrapa Florestas voltada ao melhoramento científico e genético das sementes e mudas de pinus e eucalipto está relacionada a um processo amplo de desenvolvimento de tecnologia direcionada ao setor florestal como um todo, sobretudo ancorada na relação trabalho-ciência-capital. A parceria coma as empresas privadas de incentivo às pesquisas demonstram claramente a conotação da ciência enquanto braço produtivo do capital, com todas as contradições que lhe são inerentes. 116

As pesquisas científicas da Embrapa e outras instituições de pesquisa basicamente se pautam na alteração genética das mudas, a exemplo do projeto Genolyptus, proporcionando assim florestas com alto índice de produtividade. A indústria, em grande parte de papel e celulose, como no caso a Suzano, investe quantias enormes no desenvolvimento de pesquisas. O desenvolvimento científico das pesquisas em florestas está atrelado ao processo de certificação florestal, que pode ser analisado através de dois vieses. O primeiro entende-se enquanto uma forma de conter o desmatamento e a degradação ambiental das florestas. Assim, países Europeus como Alemanha, Holanda e Reino Unido, onde grupos ligados às questões ambientais são mais fortes, passaram a exigir a certificação como uma forma de adquirirem um produto ecologicamente correto e assim contribuírem para as práticas de exploração florestal, com base em princípios ecológicos, econômicos e sociais. Outro viés pode ser entendido enquanto um processo de concentração e fortalecimento do setor. As grandes empresas (principalmente de papel e celulose e painéis) atuam desde a gestão das florestas até o produto final, pois estas possuem atuação direta desde o gerenciamento das florestas até o produto final. Como o custo para aderirem às certificações é alto, as pequenas empresas não conseguem se inserir no amplo processo de expansão e acumulação do capital. As grandes conquistam fatias consideráveis no mercado mundial, principalmente europeu e americano. O amplo processo de inovação da indústria merece destaque. A extração e o processamento da madeira, que teve na serra de corte movida a motor o primeiro processo de aumento da produtividade, se constituem atualmente com linhas de produção automatizadas. A inovação no maquinário e a relação com a organização do trabalho são fatores fundamentais. O setor de processamento da madeira atua de diferentes formas diante dessa relação. De um lado, plantas industriais intensivas em tecnologias e, consequentemente, com alta composição orgânica do capital, operam com número reduzido de trabalhadores. A formação da mercadoria ou produto final, tem no capital fixo materializado no trabalho morto sua base para extração da mais-valia relativa. Já as indústrias que operam com capital de giro escasso, são intensivas em trabalho, cujo capital circulante lhes agrega valor na extração da mais-valia, que se dará principalmente na forma absoluta. O setor de processamento de madeira se consolidou nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Estados como o Paraná e São Paulo possuem concentração das indústrias de painéis reconstituídos, com destaque também para o Rio Grande do Sul e, recentemente, Santa Catarina. 117

No próximo capítulo apresentaremos a descrição dessa cadeia produtiva dentro do setor de base florestal, que tem na produção de painéis reconstituídos seu principal segmento para agregação de valor.

CAPÍTULO IV

SEGMENTAÇÃO DO SETOR DE BASE FLORESTAL: A CADEIA PRODUTIVA DO SEGMENTO DE MADEIRA SÓLIDA

A geografia responde, como outros conhecimentos, à necessidade de descrição e explicação do mundo: da natureza que nos envolve e cujas leis de funcionamento nos interessam, bem como da sociedade, cujas leis, mais complexas e mutáveis, igualmente fazem parte do interesse dos homens.

Armen Mamigonian – Gênese e Objeto da Geografia

119

Conforme Bacha (2008), diversas atividades do setor de base florestal não podem ainda ser mensuradas na economia brasileira. Nesse sentido, excluindo a elaboração de produtos não-madeireiros dentro do setor de base florestal50, obtemos a cadeia agroindustrial da madeira, ou cadeia produtiva madeireira. A cadeia produtiva da madeira, por sua vez, pode ser analisada através de dois grandes segmentos: polpa e papel e produtos de madeira sólida. Este último engloba produtos do tipo serrados, laminados, chapas de madeira e produtos de maior valor agregado (molduras, portas, janelas, pisos, móveis e outros). Perez e Resende (2005) destacam uma especificidade do setor florestal brasileiro comparando a de outros países. Em países como Finlândia, Estados Unidos e Canadá, as empresas atuam, simultaneamente, nos segmentos de polpa e papel e de produtos de madeira sólida. A sinergia entre os dois segmentos contribui para aumentar a competitividade no mercado internacional. No Brasil, as empresas, em geral, têm se concentrado num único segmento, ou seja, a grande maioria das empresas do segmento de polpa e papel não atua no segmento de madeira sólida. Trata-se de segmento ainda muito pulverizado, em que existe um grande número de empresas de pequeno porte distribuídas nas mais diversas regiões do País. Elas operam a partir de madeira de plantações (principalmente no Sul e Sudeste) e com madeiras nativas (especialmente nos estados da região amazônica). A região Sul do Brasil tem se destacado na produção de madeira sólida. Em um primeiro momento foram as características naturais as responsáveis pelo dinamismo do setor, dada a abundância de coníferas, principalmente a Araucária Angustifólia. Esse fato impulsionou o surgimento das primeiras indústrias, ligadas ao ramo de extração da madeira, que por sua vez impulsionaram a efetiva ocupação econômica de várias regiões e cidades. Com a escassez da vegetação nativa, as indústrias procuraram fontes alternativas de matéria-prima. Considerando as políticas públicas de incentivo ao reflorestamento, conforme vimos no capítulo II, o investimento se deu, em grande escala, em florestas de pinus e eucalipto. Atualmente, as serrarias e fabricantes de compensados são, em sua maioria, pequenas empresas, operando com escasso capital de giro e equipamentos antigos e de baixa produtividade. No entanto, algumas indústrias que atuam neste segmento têm passado por um

50 São exemplos de produtos não-madeireiros dentro do setor de base florestal as resinas, folhas, borracha, gomas, ceras, fibras tanantes, corantes, entre outros.

120

processo de inovação em processo e produto, sendo referência na produção nacional e internacional, tanto em relação ao processo produtivo, quanto em alternativas de mercado. O principal exemplo encontra-se nas fábricas de chapas duras, MDF/OSB e aglomerados que são modernas ou em fase de inovação, bem capitalizadas e com amplo acesso à tecnologia de processo e de produto. É sobre o segmento de produtos de madeira sólida que teceremos nossas considerações por ser este o lócus do maior dinamismo econômico e tecnológico em processos e produtos.

Um aspecto importante de se ressaltar sobre este segmento é o processo concentração e centralização do capital industrial, impulsionadas pela crise imobiliária norte americana ou sub-prime51, que afetou a economia mundial em meados de 2007, e forçou uma readequação das empresas de madeira, que como alternativas para a crise passaram a investir em produtos voltados ao mercado interno brasileiro. As empresas que não conseguiram se adequar conseguindo novos mercados ou se adequando as novas exigências dos mercados tradicionais (a exemplo do custo do processo de certificação que vimos no capítulo anterior), acabam por fecharem suas portas ou são “engolidas” pelas empresas maiores. Esse processo está pautado naquilo que Marx (2009) chamou de centralização do capital. Nesse processo, segundo o autor, os capitais grandes esmagam os pequenos.

Os capitais pequenos lançam-se nos ramos de produção de que a indústria se apossou apenas de maneira esporádica ou incompleta. A concorrência acirra- se então na razão direta do número e na inversa da magnitude dos capitais que se rivalizam. E acaba sempre com a derrota de muitos capitalistas pequenos cujos capitais se transferem para as mãos do vencedor. (MARX, 2009, p.729).

A centralização, complementa Marx (2009), completa a tarefa de acumulação, capacitando o capitalista industrial a ampliar a escala de suas operações, independente se isso

51 Em 2007/2008 teve início a maior crise do capitalismo no pós-guerra. Como a grande crise de 1929, que se estendeu ao longo dos anos 30 e só pôde se resolver na Segunda Guerra Mundial, ela nasceu no epicentro do imperialismo, os EUA, determinando o fim do período de expansão que se seguiu à restauração capitalista na Rússia, no Leste Europeu e na China, em que as derrotas históricas sofridas pela classe trabalhadora e o fim do primeiro século da revolução social abriram caminho para a ofensiva global do capital pela supressão de todas as barreiras à sua reprodução ampliada. Como todas as grandes crises do capitalismo, a que agora se inicia é a expressão concreta do fato de que não há produção e extração de mais-valia suficiente para alimentar a imensa massa de capitais sobreexcedentes que diariamente circula nos mercados financeiros de todo o planeta. Depois de um período de expansão no processo de reprodução ampliada do capital, a superprodução, a sobre- acumulação e o sobre-investimento de capitais estendeu-se, como em todas as crises de superprodução, muito além das condições concretas de sua valorização indefinidamente ampliada pela extração de mais-valia adicional a partir da mais-valia já acumulada. (DANTAS, 2009). Não nos pautamos aqui a discutir a essência da crise, dada a dimensão deste assunto. Propomos-nos apresentar neste item, alguns aspectos importantes do segmento de madeira sólida que foram intensificados com os efeitos da presente crise.

121

ocorre de forma compulsória ou mediante a fusão de capitais já formados ou em formação, obtida por meio de processo de constituição de sociedades anônimas. Dessa forma,

O aumento do tamanho dos estabelecimentos individuais constitui, por toda parte, o ponto de partida para uma organização mais vasta do trabalho cooperativo que utilizam, para mais amplo desenvolvimento de suas forças materiais, isto é, para a transformação progressiva de processos de produção isolados e rotineiros em processos de produção socialmente combinados e cientificamente organizados. (MARX, 2009, p. 731).

São nesses momentos de crise e no bojo do processo de concentração e centralização de capitais que as empresas passam a atuar de forma mais intensa nos processos de inovação. Inseridas em um contexto de economia nacional e internacional, as indústrias estão a mercê de suas oscilações e as depressões ou ascensões econômicas vão moldando o padrão tecnológico das mesmas52.

Os períodos de depressão induzem às inovações básicas. Isso ocorre porque durante as depressões profundas, certas firmas não possuem alternativa a não ser experimentar algo completamente novo: elas não podem mais trilhar o mesmo velho caminho e, portanto, passam a assumir idéias que pareciam previamente impossíveis, ou não valiosas para serem perseguidas. Por essa razão, as inovações básicas ou radicais aglomeram-se em décadas de depressão profunda. (...) Nos períodos de auge, as inovações básicas ou radicais estão saturadas. As pessoas estão ocupadas demais desenvolvendo as tecnologias e indústrias existentes, e conseqüentemente as inovações deslocam-se no sentido daquilo denominado de diferenciação de produtos e pseudo-inovações. (FREEMAN, 1984, p.08).

O Paraná tem sido referência nas exportações de produtos de madeira sólida, sobretudo dos painéis de madeira. Algumas indústrias localizadas no Estado tem sido referência nacional e internacional na produção e na inovação tecnológica. A seguir apresentamos as características dos principais produtos da cadeia produtiva da madeira sólida.

52 De acordo com Schumpeter o crescimento econômico está ligado ao processo de inovação tecnológica. Ele sugeriu que o primeiro ciclo longo de desenvolvimento econômico se baseou na difusão da máquina a vapor e nas inovações têxteis por volta do final do século XVIII; o segundo ciclo longo se originou em grande parte das ferrovias e das mudanças a elas na engenharia mecânica e nas indústrias do ferro e do aço; o terceiro seria decorrência da energia elétrica, do motor de combustão interna e da indústria química. Para Schumpeter, a capacidade e a iniciativa dos empresários, apoiados nas descobertas de cientistas e inventores, criam oportunidades totalmente novas para investimentos, crescimento e emprego. Os lucros que se originam dessas invenções constituem, pois, um impulso decisivo para novas ondas de crescimento, agindo como sinal para uma série de imitadores. (FREEMAN, 1984).

122

4.1 CADEIA PRODUTIVA DO SEGMENTO DE MADEIRA SÓLIDA

A cadeia produtiva do segmento de produtos de madeira sólida, que se encontra dentro do setor de base florestal, está representada na figura 12.

SETOR DE BASE FLORESTAL

Produtos madeira sólida

PAINÉIS DE OUTROS MADEIRA RECONSTITUÍDOS

AGLOMERADO MDF CHAPA DE OSB COMPENSADO EGP FIBRA os

MADEIRA SERRADA PMVA LÂMINAS

Figura 12. Cadeia produtiva do segmento de produtos de madeira sólida Fonte: ABIMCI, 2007. Organizado pela autora.

Conforme a ABIMCI (2005), a cadeia produtiva da madeira é caracterizada como o conjunto de atividades que asseguram a produção, a extração e a transformação da madeira até o estágio onde esta última, por associação de seus derivados às outras matérias, perde a característica de constituinte essencial do produto. Esta também é definida como sendo o conjunto de atividades econômicas que gravitam em torno da gestão, da exploração da floresta, da comercialização e da transformação da madeira.

123

De acordo com Martini (2003), a indústria de extração e beneficiamento de madeira é responsável pela produção de uma diversificada linha de produtos, que são utilizados nas mais diversas finalidades. Os derivados da madeira em tora, depois de beneficiadas, são utilizados para a obtenção de produtos de maior valor agregado, recebendo tratamento específico em cada etapa do processo. Na primeira etapa, a tora passa pelo processo de descascamento, obtendo uma tora lisa, sem a camada mais grossa (a casca), que será aproveitada como fonte de energia para alimentar as caldeiras. A tora lisa passará para outra etapa do processo, conforme o produto a que se destina. Inicialmente, se produz os pranchões, tábuas ou outros produtos, de acordo com a finalidade. O setor de maior crescimento dentro do mercado de produtos de madeira, tanto em demanda quanto em produção, variedade, qualidade e tecnologia é o setor de painéis de madeira. As demandas do comércio nacional (produção e consumo) e internacional (exportações) giram em torno do compensado, madeira serrada e os produtos de maior valor agregado (PMVA). O quadro 04 apresenta uma síntese com a decomposição da cadeia de produtos de madeira sólida. O detalhamento de cada produto será feito no decorrer do texto.

124

Produto Descrição Destino Imagem Madeira serrada Produzida a partir da madeira cepilhada. Construção civil Decompõem-se em: dormentes, madeira aplainada, semi-elaborada, vigas

Produto de maior Produzido pelo reprocessamento da Construção civil valor agregado madeira serrada, com vistas à agregação de valor ao produto primário. Nesse grupo encontram-se: portas, molduras, pisos de madeira.

Lâminas Obtidas pelo processo de descascamento da Móveis e construção civil madeira. Podem ser torneadas, faqueadas ou serradas para uso em compensados, decoração, etc.

125

Aglomerado Painéis de partículas prensadas, homogêneas Móveis e construção civil ou de três camadas.

MDF Painéis de fibra de média densidade, Móveis e construção civil utilizando madeira com maior grau de desagregação.

Chapa de Fibra Chapa de espessura fina, que resulta da Móveis e construção civil prensagem a quente de fibras de madeira por meio de um processo úmido, que reativa os aglutinadores naturais da própria madeira.

126

OSB Painéis de fibra de alta densidade, Móveis e construção civil utilizando madeira com maior grau de desagregação.

Compensado São painéis formados por numerosas Móveis e construção civil lâminas de madeira, geralmente em número ímpar (número par tende a empenar a chapa), coladas uma em cima da outra, em várias camadas.

EGP Caracterizado como um conjunto de peças Móveis e construção civil de madeira colada lateralmente formando um painel

Quadro 04. Síntese dos produtos que compõe a cadeia produtiva da madeira sólida. Fonte: Martini (2003), BNDES (2008), ABIMCI (2007). Organizado pela autora.

127

Os Estados Unidos são o destino mais importante para a madeira brasileira, seguidos da França, Bélgica, Reino Unido, Japão e China, conforme demonstra o gráfico 10. Apesar de a crise imobiliária americana ter afetado as exportações de madeira, e a crescente participação da China no mercado consumidor externo, os Estados Unidos continuam a liderar a pauta das exportações brasileiras de madeira.

Gráfico 10. Exportações brasileiras de madeira (principais países de destino) jan/dez de 2009, em US$ FOB.

Fonte: SECEX. Organizado pela autora

O estado brasileiro que mais se destacou na exportação de madeira, foi o Paraná, seguido de Santa Catarina, Pará, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rondônia e Mato Grosso do Sul, que juntos, foram responsáveis por 96,38% do valor da madeira exportada pelo Brasil, conforme demonstrado no gráfico 11.

128

1.400,0

1.200,0

1.000,0 Paraná 800,0 Santa Catarina Pará 600,0 São Paulo Rio G. do Sul 400,0 Centro-Oeste 200,0

0,0

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 1985 Gráfico 11. Valor das exportações de madeira segundo gênero da indústria (madeira), período anual, em US$ milhões FOB

Fonte: FUNCEX a partir de dados da SECEX/Mdic, Paraná:Gêneros: Madeira. Organizado pela autora.

No caso do sul do Brasil, as cadeias produtivas se relacionam através de laços locais de produção. As condições climáticas, históricas e geográficas foram responsáveis pela aglomeração de indústrias nesta região. A importância que adquire o Estado do Paraná neste setor é ponto fundamental de nossa análise e trataremos com maior detalhamento no capítulo V.

4.2 MADEIRA SERRADA

Conforme a ABIMCI (2007), madeira serrada é uma denominação genérica de vários produtos resultantes do desdobro da tora, destacando-se: pranchas, blocos, tábuas, dormentes, madeira aplainada, beneficiada, semi-elaboradas, perfis, vigas, entre outros. A madeira serrada é a base para a produção dos produtos de maior valor agregado (PMVA). A madeira serrada divide-se em: madeira serrada de coníferas, propriamente de pinus, e a produção concentra-se predominantemente na região Sul, e madeira serrada de não- coníferas ou tropical, onde a produção é oriunda de matas nativas das regiões Norte e Centro- Oeste.

129

Em 2007 o Brasil produziu 9,5 milhões de m³ de madeira serrada de coníferas e 14,8 milhões de m³ de madeira serrada tropical. Verifica-se que a utilização de madeira nativa neste segmento é superior ao uso da madeira de pinus. (FAO, 2007). A produção destina-se em grande parte ao mercado nacional, representando aproximadamente86% da produção nacional. Isso se deve ao fato das empresas brasileiras do setor madeireiro terem se especializado no reprocessamento da madeira, transformando a madeira serrada em produtos de maior valor agregado. Os principais competidores do Brasil no mercado mundial de madeira serrada de pinus são Canadá, Rússia e Suécia. Em relação à madeira serrada tropical destacam-se os Estados Unidos, Alemanha, Malásia e Indonésia. (ABIMCI, 2007).

4.3 PRODUTOS DE MAIOR VALOR AGREGADO (PMVA)

De acordo com a ABIMCI (2007), o PMVA é obtido pelo reprocessamento da madeira serrada, com vistas à agregação de valor ao produto primário. É uma tendência que a maioria das empresas brasileiras vem buscando nos últimos anos. A base para a produção dos PMVAs é a madeira plantada de pinus e eucalipto e também madeira nativa. Nesse grupo encontram-se: portas, molduras, pisos de madeira, outros componentes estruturais53. No Brasil, dentre os principais produtos deste setor, estão às portas de madeira, cuja produção apresentou considerável evolução durante o período de 1996 a 2006, com crescimento de 164% nos dez anos, conforme mostra o gráfico 12. Os fabricantes de portas podem ser classificados como pequenos e médios empresários, localizados principalmente na região Sul do Brasil (Paraná e Santa Catarina).

53 A ABIMCI classifica o painel EGP também como produto de maior valor agregado. Por se tratar de painel, aderimos a classificação do BNDES, que o enquadra na categoria de painéis.

130

10.000 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 12. Produção de portas de madeira no Brasil, período de 1997 a 2007 (1.000 unidades)

Fonte: ABIMCI (2007). Organizado pela autora

A indústria brasileira de portas de madeira tem passado por um intenso processo de modernização, reflexo da utilização de novas tecnologias e novas matérias-primas. Isso permitiu que a indústria brasileira de portas aumentasse sua capacidade de produção e sua competitividade no mercado internacional (ABIMCI, 2007). A inovação técnica pode estar relacionada à mudança no processo produtivo, com reorganização nos setores de produção, ou com a utilização de novas máquinas que favorecem um aumento na produção, redução de custos e acréscimo na qualidade do produto final. Além destes, a adoção novas matérias-primas, como o MDF e o OSB, têm dinamizado a produção. Grande parte da produção de molduras no Brasil destina-se ao mercado externo. Elas apresentaram uma constante evolução no volume produzido no Brasil, chegando a um crescimento de mais de 700% no período de 1997 a 2007, conforme Gráfico 13.

131

1.000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 13. Produção de molduras de madeira no Brasil, período de 1997 a 2007 (1.000 m³)

Fonte: ABIMCI (2007). Organizado pela autora

Atualmente, a cidade de Braço do Norte (SC) é considerada a Capital Sul Americana da Moldura. A cidade exporta produtos para mais de 20 países. A indústria moldureira emprega diretamente mais de cinco mil pessoas na região. Os pisos de madeira mais conhecidos e utilizados são os pisos de madeira maciça e os engenheirados (compostos em camadas). Os pisos de madeira maciça são feitos com madeiras nobres, enquanto que os engenheirados são constituídos de diferentes materiais, como os painéis (compensados, MDF, HDF, aglomerado), revestidos com lâminas de madeira ou papel melamínicos. (BRASIL, 2007). Os pisos de madeira (laminados e sólidos) tiveram um crescimento na produção na ordem de 13,6% ao ano. O consumo deste produto, por sua vez, apresentou crescimento superior, chegando a 16,6% ao ano (ABIMCI, 2007). Os principais competidores do Brasil no mercado mundial de PMVA são União Européia, China e Canadá. O crescimento acentuado da produção de portas e molduras de madeira, apresentado pelos gráficos 12 e 13 respectivamente, além de abastecerem o mercado externo, se deve ao fato do crescimento do setor de construção civil no Brasil, principalmente após o ano de 2007 quando da institucionalização do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC54, criado

54 O Programa de Aceleração do Crescimento – PAC - 2007/2010 foi instituído através do Decreto 6.025, de 22/01/2007 e se constituiu por um conjunto de medidas que expressa o programa de governo para o segundo

132

pelo Governo Federal. Tais medidas desenvolvimentistas presentes no segundo mandato do governo Lula da Silva combinam ao mesmo tempo as estratégias do PAC com o aumento dos recursos disponibilizados para o financiamento habitacional55. Além do PAC, o Programa Minha Casa, Minha Vida e a desoneração do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), têm impulsionado as vendas de materiais de construção. O segmento acumula crescimento de 9,5% na comparação com os cinco primeiros meses de 2009. (WESTPHALEN, 2010).

4.4 LÂMINAS

As lâminas de madeira são obtidas por um processo de fabricação que se inicia com o cozimento das toras de madeira e seu posterior corte em lâminas. Existem dois métodos para a produção de lâminas: o torneamento e o faqueamento. No primeiro, a tora já descascada e cozida é colocada em torno rotativo. As lâminas assim obtidas são destinadas à produção de compensados. As lâminas torneadas representam 95% da produção nacional. A figura 13 apresenta o esquema de lâminas tornadas de madeira.

mandato do Presidente Lula. O programa estabeleceu um conjunto de regras, compromissos de ação e diretrizes de governo, que objetivam um crescimento econômico de 5% ao ano no período 2007/10. O PAC inaugurou uma nova fase na política econômica do Governo Lula, retomando a temática do crescimento na agenda do país, que permaneceu praticamente ausente nas últimas décadas. O Programa está dividido em três eixos de infra- estrutura: logística (rodoviária, ferroviária, portuária, hidroviária e aeroportuária); energética (geração e transmissão de energia elétrica, petróleo, gás natural e energias renováveis) e, social e urbana (Luz para Todos, saneamento, habitação, metrôs, recursos hídricos). No total estão previstos investimentos da ordem de R$ 503,9 bilhões até 2010. O Programa Habitacional Popular – Minha Casa Minha Vida - Entidades – PMCMV-E tem como objetivo atender as necessidades de habitação da população de baixa renda nas áreas urbanas, garantindo o acesso à moradia digna com padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e habitabilidade. O Programa funciona por meio da concessão de financiamentos a beneficiários organizados de forma associativa por uma Entidade Organizadora – EO (Associações, Cooperativas, Sindicatos e outros ), com recursos provenientes do Orçamento Geral da União – OGU, aportados ao Fundo de Desenvolvimento Social – FDS. O Programa pode ter contrapartida complementar de estados, do Distrito Federal e dos municípios, por intermédio do aporte de recursos financeiros, bens e/ou serviços economicamente mensuráveis, necessários à composição do investimento a ser realizado. (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2010). 55 - Apesar de ser um tema importante para o entendimento da inserção do setor madeireiro e sua dinâmica no mercado interno, uma análise mais rigorosa dos efeitos do PAC e dos financiamentos imobiliários fogem ao escopo deste trabalho.

133

Figura 13. Esquema de produção de lâminas torneadas de madeira. Fonte: ABIMCI, 2004.

A lâmina faqueada é obtida a partir de uma tora inteira, da metade ou de um quarto da tora, presa pelas laterais, para que uma faca do mesmo comprimento seja aplicada sob pressão, produzindo fatias únicas. Normalmente, essas lâminas são originadas de madeiras decorativas de boa qualidade, com maior valor comercial, prestando-se para revestimento de divisórias, com fins decorativos. As lâminas faqueadas representam 05% da produção nacional. A figura 14 apresenta o esquema de lâminas faqueadas de madeira.

134

Figura 14. Esquema de produção de lâminas faqueadas de madeira. Fonte: ABIMCI, 2004.

As lâminas são a base para a fabricação dos painéis. Estes surgiram da necessidade de amenizar as variações dimensionais da madeira maciça, diminuir seu peso e custo e manter as propriedades isolantes, térmicas e acústicas. Adicionalmente, suprem uma necessidade reconhecida no uso da madeira serrada e ampliam a sua superfície útil, através da expansão de uma de suas dimensões (a largura), para, assim, aperfeiçoar a sua aplicação. O desenvolvimento tecnológico verificado no setor dos painéis à base de madeira tem ocasionado o aparecimento de novos produtos no mercado internacional e nacional, que vêm preencher os requisitos de uma demanda cada vez mais especializada e exigente. (REMADE, 2009). As lâminas para a fabricação do painel de compensado são utilizadas inteiras, intercaladas internamente, onde as de melhores qualidades comporão a capa desse produto. Já para a produção de painéis reconstituídos, utilizam-se resíduos de lâminas ou cavacos, que serão adicionados à mistura química e originarão o produto final.

135

4.5 PAINÉIS DE MADEIRA

Os painéis são estruturas fabricadas com madeiras laminadas ou em diferentes estágios de desagregação, que são aglutinadas pela ação de pressão e temperatura, com uso de resinas em alguns casos. Esse tipo de produto substitui a madeira maciça em diferentes usos, como na fabricação de móveis e pisos. Eles surgiram como uma necessidade gerada pela escassez e pelo encarecimento da madeira maciça. Conforme o BNDES (2008) há dois tipos de painéis: os que são feitos de madeira reconstituída e os confeccionados com base na madeira processada mecanicamente. Os painéis de madeira reconstituída são fabricados com base no processamento químico da madeira, que passa por diferentes processos de desagregação (aglomerado, MDF, Chapa de fibra e OSB). Os painéis de madeira processados mecanicamente são formados por camadas de lâminas ou sarrafos de madeira maciça (compensado e EGP). A introdução e evolução da utilização dos painéis de madeira no Brasil modificaram a estrutura de mercado. Esse fato está relacionado à escassez da oferta de madeira, principalmente as madeiras nativas e consideradas de lei56. Além disso, fatores ligados à conjuntura econômica, em que juros mais baixos e o conseqüente aquecimento da demanda interna têm reflexo direto nas vendas da indústria moveleira e no setor de construção civil. (BNDES, 2008). A estrutura produtiva da indústria de painéis de madeira reconstituída é bastante concentrada. Essas indústrias operam com máquinas e equipamentos modernos e a matéria- prima utilizada é o pinus e eucalipto. A maioria delas produz, em média, dois tipos desses painéis. A Tabela 14 apresenta os principais fabricantes de painéis de madeira reconstituída no Brasil.

56 A expressão madeira de lei tem origem em uma lei do período imperial e, apesar de muito conhecida, não tem definição técnica. Conforme o dicionário Aurélio: madeira dura ou rija, própria para construções e trabalhos expostos às intempéries, segunda qualidade, seja qual for a cor do seu lenho. (IBAMA, 2009).

136

Tabela 14. Principais fabricantes de painéis de madeira reconstituída no Brasil (2007). Aglomerado/MDP, MDF, chapa de fibra.

Empresas Local Capacidade (em mil m³/ano) % de mercado Duratex SP 1.510 26 Satipel MG,RG 1.000 17 Tafisa PR 640 11 Berneck PR, SC 640 11 Placas do Paraná PR 630 11 Eucatex SP 610 11 Fibraplac RS 450 08 Masisa* PR 250 04 Bonet SC 60 01 Sudati** SC - - Guararapes** SC - - Fonte: BNDES (2008). Organizado pela autora. * A Masisa ainda tem capacidade de produção de 350 mil m³ de OSB. *** Empresas mais recentes. Iniciaram a produção em 2008/2009, ambas com capacidade de produção de 180 mil m³/ano.

A localização das fábricas de painéis de madeira reconstituída está apresentada na figura 15.

Figura 15. Localização das fábricas de painéis de madeira reconstituída. Fonte: BNDES (2008).

Essas indústrias concentram-se na região Sul e Sudeste do Brasil, com destaque para os Estados de São Paulo e Paraná. As novas unidades da Indústria Berneck, Indústria de

137

Compensados Sudatti e Indústria de Compensado Guararapes, ambas implantadas em 2009 e localizadas no Estado de Santa Catarina não foram elencadas na figura. As indústrias de painéis de madeira processada mecanicamente tem como característica a baixa concentração, tendo uma estrutura bastante pulverizada. O segmento de compensados é constituído por grande número de empresas, aproximadamente mais de 200 fábricas. O segmento se divide em dois grandes grupos: um deles é formado por empresas com origem ou instalações na região norte, especializadas na fabricação de compensado de madeira tropical de florestas nativas; o outro é localizado principalmente na região Sul e utiliza madeira de florestas plantadas, principalmente o pinus. Para entendermos melhor a dinâmica dos painéis de madeira, analisaremos a seguir a estrutura de cada um dos segmentos.

4.5.1 Aglomerado

O aglomerado é uma chapa fabricada com partículas de madeira aglutinadas por meio de resina com ação de calor e pressão. A matéria-prima para a fabricação do aglomerado provém de resíduos da indústria da madeira, da exploração florestal ou de madeiras não industrializáveis. No Brasil, a madeira de florestas plantadas, sobretudo pinus e eucalipto, é a principal fonte de matéria-prima. O Aglomerado começou a ser fabricado no Brasil na segunda metade da década de 1960 pela indústria Placas do Paraná, em Curitiba. Posteriormente, surgiu a indústria Satipel em 1970, localizada em Taquari (RS). Em 1984 a Duratex adquiriu as fábricas nacionais Madeplan e Alpan. Até aqui, a tecnologia aplicada eram as prensas cíclicas, utilizadas na fabricação desse painel. Conforme o BNDES (2008), a partir da década de 1990 as empresas brasileiras produtoras do aglomerado, investiram em modernização tecnológica, passando do processo de prensagem cíclica para prensagem contínua, o que conferiu ao produto melhores características de resistência, e implementaram a modificação para MDP (medium desnsity particleboard), ou painel de partículas de média densidade, numa tentativa de dissociar o novo produto do aglomerado tradicional que era tido como de baixa qualidade e durabilidade. As fábricas antigas foram se modernizando, e ao mesmo tempo novas empresas entraram no setor, como a Eucatex em 1996 e a Tafisa, em 1998. A madeira

138

aglomerada/MDP é utilizada principalmente na fabricação de móveis retilíneos (tampos de mesas, laterais de armários e estantes e divisórias) e, de forma secundária na construção civil.

Com esses investimentos maciços em modernização, atualmente 80% da capacidade instalada de produção é oriunda de unidades que funcionam com prensas contínuas. Essas unidades obtêm custos menores de produção, uma vez que puderam reduzir o consumo de matéria-prima, diminuir as perdas no processo de lixamento, reduzir o número de empregados e consumir menos energia. Além disso, a modernização, a ampliação de capacidade e o aumento do número de fabricantes permitiram às fábricas aumentar sua flexibilidade operacional, fabricando chapas de diferentes dimensões, além de estimular a competição entre os fabricantes, viabilizando redução de preços. (BNDES, 2008, p.140).

Dos diferentes tipos de painéis existentes, os de madeira aglomerada são os mais consumidos no mundo. A produção mundial de aglomerado alcançou 99,7 milhões de m³, em 2005, destacando-se como maior produtor os Estados Unidos, responsável por 21 % deste volume. O Brasil ficou em nono lugar, com 2% do volume fabricado no mundo. A Europa é a principal região exportadora, enquanto a Ásia é a principal importadora. A comercialização se dá entre regiões próximas, dado que o preço do aglomerado não suporta valores de fretes para grandes distâncias. No Brasil, sete fabricantes são responsáveis pela produção e somam uma capacidade total de 3,1 milhões de m³/ano. São elas: Satipel, Berneck, Duratex, Placas do Paraná/Arauco, Tafisa e Bonet. Estão localizadas nas regiões Sul e Sudeste, principais centros de consumo e onde se situam os pólos moveleiros de maior expressão. (BNDES, 2008).

4.5.2 MDF

O MDF (medium density fiberboard) ou painel de fibra de média densidade é uma chapa fabricada num processo similar ao do aglomerado/MDP, mas utilizando madeira com maior grau de desagregação, ou seja, reduzida a fibras, que são aglutinadas por meio de resinas, com ação do calor e pressão. A matéria-prima utilizada é a mesma empregada na fabricação do aglomerado/MDP. Na mesma categoria do MDF encontra-se o HDF (high density fiberboard) ou chapa de fibra de alta densidade e SDF (super density fiberboard) ou chapa de fibra de super densidade, apresentam maior densidade e menor espessura. Por serem mais densos que o MDF, o HDF e o SDF possuem aplicação específica na fabricação de pisos em substituição à chapa de fibra.

139

O MDF é utilizado na fabricação de móveis, e por permitir usinagem, presta-se a usos que o agomerado/MDP não permite, principalmente na confecção de portas usinadas, pés torneados de mesas, caixas de som, fundos de gaveta e de armários. Também é utilizado na construção civil, como piso fino, rodapé, almofadas de portas, divisórias, batentes e peças torneadas em geral. O MDF e seus correlatos de pequena espessura e alta densidade (HDF e SDF) têm preços mais altos e maior versatilidade do que o aglomerado/MDP e a chapa de fibra. Fabricado pela primeira vez pelos Estados Unidos, na década de 1960, o MDF começou a ser fabricado no Brasil pela Duratex (SP), em 1997. Em seguida, começaram a operar as unidades da Tafisa (PR) no final de 1998, da Masisa (PR) em 2001 e Placas do Paraná (PR) em 2001. Conforme dados da FAO, a produção mundial de MDF atingiu 55 milhões de m³ em 2007. Destaca-se a China como maior produtor mundial, seguida pela Alemanha, Estados Unidos, Turquia e depois o Brasil, conforme apresentados no Gráfico 14. A Europa e América Latina são regiões exportadoras, enquanto a Ásia, Estados Unidos e o Canadá caracterizam-se como importadoras.

34% Outros

3% 45% Brasil 4% China

Turquia 6% EUA 8% Alemanha

Gráfico 14. Países produtores de MDF em 2007

Fonte: FAOSTAT | © FAO Dirección de Estadística 2009 Organizado pela autora.

O MDF possui características que se aproximam da madeira maciça, como consistência, boa estabilidade dimensional e grande capacidade de usinagem. Isso propiciou boa aceitação no mercado e impulsionou seu consumo. Houve também um incentivo por parte

140

das empresas produtoras, que forneceram serviços de apoio aos marceneiros pela adoção do MDF. Isso intensificou consideravelmente a produção de MDF no Brasil, conforme apresentado no Gráfico 15.

2.000.000 1.800.000 1.600.000 1.400.000 1.200.000 1.000.000 800.000 600.000 400.000 200.000 0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 15. Evolução da produção de MDF no Brasil (em m³). Fonte: FAOSTAT | © FAO Dirección de Estadística 2009 Organizado pela autora.

Essa evolução pode ser entendida também se considerarmos os programas de governo de aceleração do crescimento, conforme citamos no segmento de PMVA (item 4.3). Além disso, o segmento, que atende internamente às indústrias moveleiras, dinamizou a produção para atender o segmento moveleiro, em expansão no mercado interno, e beneficiado com as políticas de incentivo ao consumo (redução de IPI) do governo federal, o que veremos no item 4.6. O consumo principal do MDF produzido no Brasil é o mercado interno, sobretudo a indústria moveleira que absorvem 54% da produção e é atendida diretamente pelas indústrias de MDF. Há também os revendedores, que absorvem 31% e a indústria da construção civil, com 8%. As exportações são utilizadas como meio de equilíbrio entre os excessos de demanda e oferta. (BNDES, 2008).

4.5.3 Chapa de fibra

Também conhecida como chapa dura (hardboard), a chapa de fibra é uma chapa de espessura fina, que resulta da prensagem a uma temperatura elevada de fibras de madeira por

141

meio de um processo úmido, que reativa os aglutinadores naturais da própria madeira (sem adição de resinas) e confere ao produto alta densidade. No Brasil, utiliza-se como matéria- prima a madeira de eucalipto de florestas plantadas. (BNDES, 2008). Os processos para obtenção do aglomerado/MDP, MDF e OSB são chamados de via seca porque não utilizam água, enquanto o usado para a fabricação da chapa dura é via úmida, um processo mais antigo e poluente. Entre os painéis de madeira reconstituída, as chapas de fibras são as menos consumidas mundialmente e sua utilização se dá, principalmente para fundos de gavetas e fundos de armários A fabricação das chapas de fibra no Brasil começou em 1954 com as fábricas da Duratex e Eucatex em São Paulo. O consumo e a produção de chapas de fibras cresceram até 2000 e, a partir daí, começaram a declinar. Isso se deve à crescente utilização do MDF/HDF/SDF, considerados ecologicamente correto em relação à chapa de fibra. Os únicos fabricantes nacionais são a Duratex e Eucatex que dividem a capacidade instalada de produção. Não há previsão de investimentos em novas capacidades neste segmento. (BNDES, 2008).

4.5.4 OSB

O OSB (oriented strand board) ou painel de tiras orientadas é formado por tiras ou lascas de madeira orientadas perpendicularmente em diversas camadas, unidas por resinas e sob a ação de alta pressão e temperatura. Sua utilização se dá na fabricação de móveis, mas principalmente em painéis decorativos, em embalagens e na construção civil, onde concorre com os compensados na utilização em formas para concreto e tapumes. O OSB foi desenvolvido nos Estados Unidos, e tem se caracterizado como um produto essencialmente norte-americano. O único fabricante brasileiro de OSB é a Masisa, localizada no município de (PR), que começou a produzir em 2002. Até então o produto era importado em pequenas quantidades. Sendo assim, em virtude de seu processo de fabricação recém introduzido, o mercado de OSB no país ainda está em vias de desenvolvimento.

142

4.5.5 Compensado

Os compensados são painéis formados por numerosas lâminas de madeira, geralmente em número ímpar (número par tende a empenar a chapa), coladas uma em cima da outra, em várias camadas, com resinas fenólicas ou uréia/formaldeído. Apresentam elevada resistência mecânica e dividem-se em multilaminado57, sarrafeado ou blockboard58 e compensado de madeira maciça ou three-ply59 (BNDES, 2008). Os painéis de compensados estão em segundo lugar entre os mais consumidos no mundo. A produção do compensado em 2005 foi de 69 milhões de m³, e concentrou-se na Ásia que foi responsável por 57% do total. Em seguida vieram os Estados Unidos e o Canadá com 25%, a Europa com 10% e a América Latina com 7% (BNDES, 2008). Os compensados são utilizados na fabricação de móveis (fundos de gaveta, armários, roupeiros, tampos de mesa, laterais de móveis e braços de sofá), na construção civil (tanto na parte estrutural quanto na parte decorativa), e também como embalagens. Na construção civil, o compensado é utilizado por sua qualidade superior, quando comparado com outros produtos mais baratos para sua substituição como no caso do OSB. (ABIMCI, 2007). A fabricação de compensado no Brasil tem cerca de 80 anos. No início, utilizou-se como matéria-prima a madeira de araucária de florestas nativas do sul do Brasil, principalmente no Paraná. A produção de compensado no Brasil divide-se em compensado de pinus (coníferas), proveniente das florestas plantadas nas regiões Sul e Sudeste, e compensado tropical, proveniente de florestas de matas nativas das regiões Norte e Centro-Oeste. O preço do compensado tropical é 60% superior ao valor do compensado de pinus. Com a evolução das florestas plantadas de pinus no sul do Brasil ocorreu um fortalecimento das indústrias de compensado instaladas nesta região. O mapa 06 demonstra os países de destino do compensado produzido no Brasil.

57 Lâminas de madeira sobrepostas em números ímpar de camadas coladas transversalmente. 58 Tem miolo composto de sarrafos e as capas com lâminas de madeira. Conta com camadas de transição impostas de lâminas coladas perpendicularmente aos sarrafos e às capas. 59 Constituído de três camadas cruzadas de sarrafos colados lateralmente.

90ºN OCEANO GLACIAL OCEANO GLACIAL ÁRTICO ÁRTICO

60ºN Mar do Mar Norte CANADÁ Báltico EUROPA Mar ALEMANHA Grandes de Lagos ITÁLIA Bering ESPANHA Mar Mar ÁSIA ESTADOS UNIDOS Negro Mar Cáspio DA AMÉRICA Mar do Japão 30ºN Mediterrâneo TRÓPICO DE CÂNCER CORÉIA DO SUL OCEANO Mar Mar das Mar Arábico Antilhas Vermelho Mar da AMÉRICA ÁFRICA China PACÍFICO EQUADOR OCEANO 0º

PACÍFICO BRASIL

TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO OCEANO OCEANIA 30ºS OCEANO ATLÂNTICO ÍNDICO

N 60ºS

O L ò LEGENDA

S ANTÁRTIDA 3 180ºW 150ºW 120ºW 80.000 m 90ºW 60ºW 30ºW 0º 30ºE 90ºS 60ºE 90ºE 120ºE 150ºE 180ºE 60.000 m3 0 1540 3080 4620 Km FONTE: FAO. Adaptado pela autora a partir de Flores, 2009. 50.000 m3 30.000 m3 Mapa 06. Exportações Brasileiras de Chapas de Compensado - 2007 144

Conforme o BNDES (2008) estima-se a existência de mais de 200 indústrias de compensado em operação. Em conjunto, estas indústrias detêm a capacidade de produção de mais de 4 milhões de m³ anuais. Esta produção evolui de 1 milhão de m³, em 1995, para 3,7 milhões de m³, em 2005. Um crescimento médio anual de 8,6%. As exportações possuem papel significativo para o consumo de compensados. Cerca de 70% da produção está voltada para atender o mercado externo. Os painéis de compensados são os mais exportados e representaram, em 2005, 88% das vendas de painéis para o exterior. Um salto qualitativo e quantitativo para este segmento é a adesão ao Programa Nacional de Qualidade da Madeira (PNQM). Essa certificação permitiu os produtores nacionais de compensado o acesso à certificação CE para painéis de madeira, que é exigido pela Comunidade Européia. O destino das exportações brasileiras de compensado de pinus foi em 2005 o seguinte: 57% para os Estados Unidos, 13% Reino Unido, 07% Bélgica, 06% Alemanha, 17% outros. Já o compensado tropical apresentou o seguinte destino em 2005: 43% Estados Unidos, 17% Reino unidos, 06% Bélgica, 05% Itália e 29% outros. Conforme o BNDES (2008), a partir de 2005, o mercado de compensado vem sofrendo perdas tanto no mercado interno como no mercado externo. No caso do mercado externo, o mercado norte americano sempre teve uma presença marcante. Com o boom imobiliário dos EUA houve forte aumento da participação desse país no total de exportações e, no momento da crise, uma forte retração de suas importações. Para o restante do mundo foi comum no período 1996-2010 uma oscilação das exportações, conforme mostra o gráfico 16.

145

900,0

800,0

700,0 600,0 500,0 400,0 300,0

200,0 Em milhões de US$ milhões Em US$ FOB de 100,0 - 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total 247, 264, 95,6 345, 373, 176, 438, 590, 439, 785, 650, 315, 632, 343, 210, EUA 64,2 57,7 25,0 64,6 66,8 67,3 125, 236, 377, 383, 241, 138, 76,2 24,2 10,1

Gráfico 16. Exportações de produtos de madeira compensada - Brasil Fonte: SECEX Organizado pela autora.

No mercado interno essa retração deve-se a forte competição do compensado com os painéis de madeira reconstituída, como o MDF e o OSB nos setores de móveis e de construção civil. No mercado externo esse fato deve-se a três principais fatores: valorização do Real frente ao Dólar Americano e ao Euro; crise e desaceleração do setor de construção civil americano, e aumento de imposto de importação do compensado brasileiro em 2006. A crise imobiliária americana provocou uma redução do consumo dos produtos florestais, considerando que os Estados Unidos são os maiores importadores de compensado desde 2000. Além desses fatores, a crescente participação da China como fornecedor de compensado, principalmente para os Estados Unidos, foi vista como uma grande ameaça para os fabricantes brasileiros. A indústria madeireira chinesa, principalmente de compensado, possui algumas vantagens competitivas e comparativas em relação aos produtores brasileiros. Além das condições territoriais, os produtos chineses são de baixos custos, propiciados pelos baixos custos da mão-de-obra e incentivos governamentais oferecidos às empresas naquele país.

146

4.5.6 EGP

O EGP (Edge Glued Panel) é caracterizado como um conjunto de peças de madeira colada lateralmente formando um painel. A maior parte da produção nacional é feita de pinus, embora possam ser fabricados com madeira de folhosas tropicais ou com madeira de eucalipto. O EGP é utilizado principalmente na fabricação de partes e peças de móveis em madeira. Sua utilização é a mesma do compensado. Na literatura pesquisada, não encontramos informações mais precisas acerca deste segmento.

4.6 DINÂMICA ECONÔMICA DO SETOR DE PAINÉIS: O PAPEL DAS FUSÕES E AQUISIÇÕES

A crise econômica, que teve início no terceiro trimestre de 2008, impulsionou o desenvolvimento do mercado interno brasileiro, sobretudo nos segmentos de produtos de madeira sólida, em especial para os painéis reconstituídos. Com a intenção de atenuar os efeitos da crise, o Governo Federal promoveu um amplo programa temporário de desoneração tributária, favorecendo vários setores econômicos, e ampliou o crédito para o setor habitacional, impulsionando o crescimento da construção civil, que já vinha em ritmo acelerado por conta das políticas de aceleração do crescimento (PAC). O que justifica a elevação acentuada na fabricação de alguns produtos voltados para o setor (gráficos 12, 13 e 15), embora os dados apresentados se limitem ao ano de 2007. O efeito da crise no setor florestal ocorreu em empresas de diferentes segmentos florestais. A indústria de papel e celulose passou por um processo de fusão e aquisição, conforme demonstramos no capítulo II. Além destas, as indústrias do segmento do processamento da madeira também passaram por esse processo, principalmente às de painéis reconstituídos. As fabricantes de produtos de madeira atuam em diversas frentes. No caso das que fazem placas de MDF e OSB, recentemente houve um período de aquisições e fusões. Em 2008, americana Louisiana-Pacific adquiriu 75% da fábrica de painéis estruturais OSB da chilena Masisa, em Ponta Grossa (PR). Os outros 25% das ações continuarão sob o controle da Masisa. (VALORONLINE, 2010b).

147

Em junho de 2009, a Duratex, do grupo Itaúsa, e a fabricante de painéis de madeira Satipel anunciaram a união de suas operações. Informações do ValorOnline (2010b) afirmam que, com a união da Duratex com a Satipel, surge a maior indústria de painéis de madeira industrializada do hemisfério sul e uma das maiores do mundo. A última foi no fim de agosto de 2009, com a compra da Tafisa Brasil, do grupo português Sonae, pela Placas do Paraná, do grupo chileno Arauco. A unidade fica em Pien (PR) e tem capacidade instalada de 640 mil m3/ano. A portuguesa Sonae Indústria, maior fabricante do mundo de compensado em capacidade instalada, passou a deter, em 2009, indiretamente a totalidade do capital social das empresas Tafibrás e Tafisa Brasil, das quais já tinha o controle. A síntese das últimas fusões e aquisições do segmento de painéis está representada no quadro 05.

Grupo Nacionalidade Empresa / ano da % Capital Local aquisição Louisiana- americana Masisa (2008) 75% - da fábrica PR Pacific de OSB Masisa chilena Masisa (2008) 25% - da fábrica PR de OSB Duratex (Itaúsa) brasileira Satipel (2009) 100% MG, RG, SP Arauco chilena Tafisa (2009) 100% PR Sonae portuguesa Tafibrás e Tafisa 100% (capital PR Brasil (2009) social) Quadro 05. Síntese das últimas fusões e aquisições do segmento de painéis reconstituídos Fonte: ValorOnline (2010). Organizado pela autora

São nesses momentos de crise que as indústrias criam estratégias para se manterem no mercado. O processo de fusão e aquisição originou os grandes conglomerados que atuam no setor, a estratégia então foi se concentrar na produção de painéis com vistas a ao mercado interno. A intenção de dobrar a capacidade instalada da indústria brasileira de painéis de madeira está praticamente assegurada com os recentes anúncios de investimentos em novas unidades de produção. Os fabricantes nacionais e os estrangeiros presentes no país estão acelerando seus projetos com vistas à população de baixa renda, que passou a consumir mais móveis60 e é o novo alvo das construtoras.

60 O aumento do consumo de móveis foi impulsionado pelo estabelecimento da alíquota única de 5% na cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para todos os produtos do setor moveleiro a partir de

148

As exportações brasileiras de produtos de madeira sólida foram diminuindo desde 2007, ou seja, antes do início da crise financeira mundial, que tornou a situação mais complicada. O mercado interno passou, então, a ser visto como uma saída para as empresas O exemplo mais contundente da percepção positiva do mercado foi verificado ainda este ano quando a Duratex informou aos acionistas que irá investir R$ 1 bilhão ao longo dos próximos sete anos na implementação de uma nova linha de produção de MDP, com capacidade para 1 milhão de metros cúbicos anuais, acompanhada de uma fábrica de resinas e linha de revestimento de baixa pressão. Do total, cerca de 60% dos recursos serão destinados à aquisição e manejo de florestas. O conglomerado Battistella decidiu redirecionar os negócios do ramo de madeira e deixará de atuar com madeira serrada, segmento que tinha como principais clientes as indústrias moveleiras. O grupo focará no fornecimento de madeira com maior valor agregado, voltada ao setor automobilístico e à construção civil. A decisão envolveu a demissão de 700 trabalhadores das suas fábricas em Rio Negrinho e em Lages, ambas em Santa Catarina. (VALORONLINE, 2010b).

4.7 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

A cadeia produtiva da madeira é constituída de vários elos entrelaçados entre si, ou seja, a partir da tora, produto in natura, obtém-se os outros produtos (madeira serrada, produtos de maior valor agregado e lâminas). Estes, por sua vez, principalmente as lâminas serão matéria-prima para a produção do compensado, e os resíduos, após agregação a produtos químicos, serão matéria-prima para os painéis reconstituídos, que por sua vez serão destinados à construção civil e à indústria moveleira. Sendo assim, algumas indústrias produzem matéria-prima destinada à outras indústrias (lâminas para a produção do compensado, por exemplo). Outras possuem elo em todos os segmentos produtivos, desde a laminação ou descascamento, quando for o caso, até a embalagem do produto final.

abril de 2010. Alguns produtos dessa indústria, como móveis estofados, recebiam uma alíquota de 10% antes da isenção do imposto ao setor. Cabe lembrar que o governo anunciou essa desoneração como forma de minimizar os efeitos da crise global sobre os produtores de móveis, que dependem muito das exportações. Assim como se dará com os móveis, a alíquota de IPI sobre painéis de madeira (inclusive de madeira maciça), aglomerados de madeira e placas laminadas também será de 5%, abaixo dos 10% aplicados antes da desoneração.(VALORONLINE, 2010b).

149

O setor de painéis constitui-se no principal segmento que de potencial de capital fixo, em detrimento do capital variável, principalmente o segmento de painéis de madeira reconstituída. A disponibilidade de madeira constitui um diferencial de competitividade, uma vez que estas empresas possuem suas próprias florestas. Com a crise no mercado imobiliário, que ocasionou a queda nas exportações de compensado, este segmento se intensificou e se consolidou no mercado interno brasileiro passando por um forte processo de fusão e aquisição, o que tornou a concentração ainda mais evidente. A queda nas exportações de compensado, tido como principal produto direcionado ao mercado externo, sobretudo para os Estados Unidos, destinado à construção civil, e a crescente competitividade chinesa no mercado, o segmento de painéis reconstituídos (MDF, HDF, OSB) se consolidou enquanto alternativa para o mercado interno. É nesse contexto de crise que as indústrias buscaram investir, no que Freeman (1984), denominou de diferenciação de produtos. No tocante à esse processo, este segmento vivenciou uma fase de fusão e aquisição, ou de junção de capitais, como o que ocorreu com a união da Duratex e da Satipel, o tornou um segmento altamente concentrado. Indústrias com capital de origem americano, chileno e português possuem fatias significativas no mercado brasileiro e concorrem com indústrias de capital nacional, com indústrias já consolidadas no mercado (Berneck, Eucatex, Fibraplac, Bonet) e com as novas plantas que surgiram no auge de aquecimento do mercado interno (Sudati e Guararapes). A indústria moveleira e a construção civil são o destino dos painéis, além é claro das exportações, principalmente de MDF para a China. A redução de IPI para vários segmentos, inclusive o moveleiro, e o incentivo ao processo de crescimento da economia, via o Programa de Aceleração da Economia, além dos programas habitacionais, como o Minha Casa, Minha Vida, a partir de 2007, são pontos chaves para entender a o processo de crescimento do setor. A respeito das demissões quando do processo de concentração ou redirecionamento dos negócios, Marx (2009) afirmava que, aumentando e acelerando os efeitos da acumulação, a centralização amplia e acelera ao mesmo tempo as transformações na composição técnica do capital, as quais aumentam a parte constante à custa do capital variável, reduzindo assim, o número de trabalhadores.

150

No próximo capítulo, abordaremos a dinâmica espacial do setor florestal no estado do Paraná, com ênfase na espacialização das indústrias do segmento de madeira sólida. A formação sócio-espacial deste estado é um fator importante para entendermos a relação entre as indústrias florestais, principalmente painéis com as áreas de latifúndio destinadas ao reflorestamento.

CAPÍTULO V

DINÂMICA ESPACIAL DO SETOR DE PROCESSAMENTO DE MADEIRA: O CASO DO ESTADO DO PARANÁ

A investigação é comparável aos longos meses de gestação, enquanto que a solução do problema compara-se ao dia do nascimento. Investigar sobre um problema é resolvê-lo

Mao Tse Tung. Contra o culto do Livro

152

O estudo do espaço geográfico implica nas análises do espaço humano enquanto fato histórico. Nesse sentido, somente a história da sociedade mundial aliada à sociedade local pode servir como fundamento da compreensão da realidade espacial permitindo sua transformação a serviço do homem ou de uma dada classe social (SANTOS 1978). Conforme Santos (2005) a categoria de formação econômica e social (FES) é a mais adequada para auxiliar a formação de uma teoria válida do espaço. A base para a explicação desta categoria é a produção, ou seja, é o trabalho humano que transforma, segundo as leis historicamente determinadas, determinado espaço geográfico. Qualquer estudo rigoroso de formação social deve cuidar de localizações e espacializações, como se pode ver, por exemplo, em Lênin (Desenvolvimento do capitalismo na Rússia), Trotsky (Peculiaridades do desenvolvimento da Rússia), Gramsci (Questão meridional), Rangel (História da dualidade brasileira), (MAMIGONIAN, 1996). A formação econômica e social de determinado espaço geográfico, ou mesmo da sociedade mundial, determina os componentes históricos e espaciais que circundam o modo de produção (produção propriamente dita, circulação, distribuição e consumo).

As diferenças entre lugares são o resultado do arranjo espacial dos modos de produção particulares. O valor de cada local depende de níveis qualitativos e quantitativos dos modos de produção e da maneira como eles se combinam. Assim, a organização local da sociedade e do espaço reproduz a ordem internacional. Os modos de produção tornam-se concretos sobre uma base territorial historicamente determinada. Deste ponto de vista, as formas espaciais seriam uma linguagem dos modos de produção. Daí, na sua determinação geográfica, serem eles seletivos, reforçando dessa maneira a especificidade dos lugares (SANTOS, 2005, p. 28).

Marx e Engels (2001) afirmaram, no Manifesto do Partido Comunista, que toda a história da sociedade está pautada na luta de classes. No seio de determinado modo de produção, baseado nas relações das forças produtivas e das relações de produção, está a formação social específica daquele modo. Assim foi no modo primitivo, no escravismo, no feudalismo e, no atual, capitalismo. As categorias que desvelam o capitalismo, como o processo de produção, que engloba a produção, circulação, distribuição e consumo e, consequentemente a acumulação geram, num contexto geral deste modo de produção, uma unidade de análise. Essas relações de produção estabelecidas sob o capitalismo vão gerar, em cada parcela do espaço, formação econômica e social específica, ou seja, um processo de desenvolvimento desigual e combinado, que, embora apareça com características diferentes

153

em cada lugar, está combinado no modo de produção como um todo. A esse aspecto, Santos (2005) destaca que, muito mais que uma expressão econômica da história, as FES são uma organização histórica que abarca a totalidade da vida social. O espaço reproduz a totalidade social na medida em que essas transformações são determinadas por necessidades sociais, econômicas e políticas.

Assim, o espaço reproduz-se ele mesmo no interior da totalidade, quando evolui em função do modo de produção e de seus momentos sucessivos. Mas o espaço influencia também a evolução de outras estruturas e, por isso, torna-se um componente fundamental da totalidade e de seus movimentos. (SANTOS, 2005, p. 33).

Sendo assim, ele propõe englobar o espaço ao conceito de FES criando assim a noção de Formação Sócio-espacial que tornou-se uma categoria de análise de extrema importância para os estudos geográficos, permitindo ao pesquisador o entendimento das leis gerais e das leis específicas que se corporificam através da contradição entre forças produtivas e relações de produção no espaço geográfico61. O estudo da formação sócio-espacial do Estado do Paraná nos permite entender a dinâmica de desenvolvimento e consolidação do segmento de madeira sólida neste Estado. Permite-nos também analisar a espacialização das florestas plantadas, considerando que este estado foi o principal detentor de áreas de floresta nativa (Araucária Angustifolia) e, atualmente é o principal estado produtor de pinus, conforme vimos no capítulo II. A existência de madeira nativa abundante no Estado impulsionou, via extração e industrialização, a efetiva ocupação econômica de algumas regiões, como a Sudoeste e Centro Sul do Estado. A utilização da FES, enquanto categoria de análise é imprescindível para entender tais processos.

61 Um exemplo desse fato é quando analisamos a formação da economia brasileira. Os estudos de Rangel (A História da Dualidade Brasileira, 2005) permitem visualizar a formação econômica e social do Brasil que ocorreu de forma dual em relação ao mercado interno e externo, sob a forma de dualidadeds de modos de produção e de Pactos de Poder. Mamigonian (2005) em seus estudos geográficos analisa a FES do Brasil e de algumas regiões (Mato Grosso, São Paulo, Santa Catarina) enquanto uma relação de centro e periferia.

154

5.1 FORMAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL PARANAENSE E O DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA MADEIREIRA

A formação sócio-espacial do Paraná se deu historicamente em períodos diferentes, com ciclos econômicos distintos e não relacionados entre si (PADIS, 2006). O chamado Paraná velho se originou como fruto da expansão e ocupação de terras em decorrência das atividades extrativas (ouro) e pecuária insipiente. O norte do Paraná se desenvolveu a expensas da economia paulista, estando a ela vinculada. A região sudoeste62 foi ocupada em conseqüência de problemas que atingiram o Rio Grande do Sul, mantendo com este Estado seus vínculos. A ocupação do Paraná Velho (PADIS, 2006) ou Paraná Tradicional (WACHOVICZ, 2002), teve início em meados do século XVII com a descoberta de ouro de aluvião nos rios que desaguavam na baía de Paranaguá. Formou-se aí uma pequena economia primário- exportadora, que originou um conjunto de pequenas atividades agrícolas e artesanais de subsistência, isolada e à margem da economia colonial. Desse processo, restaram alguns núcleos populacionais esparsos, tanto no litoral como no planalto de Curitiba. Ao longo do século XVIII essa economia expandiu-se lentamente através da ocupação de novas terras, conseqüência do caminho de tropas Sorocaba-Viamão, tanto no Planalto Curitibano, quanto nos Campos Gerais do Segundo Planalto e estendendo-se nos Campos de , no terceiro planalto.

Com isso consolidou-se uma economia baseada na pecuária bovina extensiva, de baixa produtividade, com a propriedade concentrada nas mãos dos que haviam recebido por doação real ou ocupado e legitimado no processo de incorporação de novos territórios. Estes, que chamaremos de proprietários de terra dos Campos Gerais (região onde se concentrava a maior parte das propriedades onde se gerava a maior parte da riqueza), começavam a conformar uma classe dominante de caráter patriarcal e patrimonialista, do mesmo tipo que já desde então se encontrava nas demais regiões onde predominava a atividade criatória, tanto no Brasil quanto em toda a América do Sul. (MAGALHÃES FILHO, 2006, p. 117).

62 Quando Padis realizou seus estudos década de 1970 a Região Sudoeste por ele definida na verdade constitui-se hoje, segundo classificação do IBGE a Região Oeste, Sudoeste e Centro Sul do Paraná. Padis destaca que os municípios de Guarapuava, Palmas, União da Vitória, entre outros que constituem os chamados Campos de Guarapuava e Palmas, de ocupação muito antiga, ligados ao primeiro processo de ocupação do Paraná (Paraná Velho ou Tradicional) identificam suas atividades econômicas com o eixo Curitiba-Ponta Grossa. No entanto, a relativa homogeneidade da estrutura econômica e ocupacional da população permitiu ao autor analisar enquanto um processo de ocupação geral no âmbito destas regiões. Vale ressaltar que a efetiva ocupação econômica da atual região sudoeste se iniciou pela atual região centro sul do Estado, principalmente pelos municípios de Palmas e Clevelândia.

155

De acordo com Wachovicz (2002) o criatório e o tropeirismo promoveram a integração econômica da região que futuramente seria o Paraná. Esta região tinha suas bases em Paranaguá (litoral), Curitiba (1º Planalto) e Campos Gerais, que promoveu na primeira parte do século XIX a ocupação dos Campos de Guarapuava e Palmas. A criação da Província do Paraná, em 1853 só foi possível graças à economia do criatório nas regiões de Campos Gerais, Guarapuava e Palmas. O ciclo econômico da erva- mate foi outra base econômica para o surgimento da Província, pois impulsionou o desenvolvimento de uma economia primário-exportadora e a consolidação das atividades dedicadas ao seu suporte, como manutenção dos engenhos, embalagem e transporte da erva. Gerando assim, outras indústrias, como: metalurgia, madeireira e gráfica. A atividade econômica da erva-mate fortaleceu grandes comerciantes importadores e exportadores, gerando uma classe de comerciantes e exportadores de erva-mate, do litoral e de Curitiba que passa a disputar o poder com os proprietários de terra e comerciantes de animais, dos Campos Gerais63. A expansão do Paraná Tradicional se deu no século XX para além dos Campos de Guarapuava e Palmas. As atividades da pecuária extensiva expandiram para os municípios de , Pitanga, Ortigueira, , , entre outros, abrindo um verdadeiro leque em direção ao interior. Mesmo após a emancipação política do Estado, onde o centro econômico e administrativo passou a ser Curitiba e, economicamente, essa elite latifundiária entrou em decadência, a força política advinha dessa oligarquia campeira, conforme denominou Wachovicz (2002). Para se manter no poder, a elite campeira foi obrigada a aceitar alianças com famílias importantes de outras regiões do Estado64. Os dirigentes políticos do estado no período de (1889-1964) evidenciaram o afirmado: Vicente Machado (Curitiba), Francisco Xavier da Silva (Castro), Affonso Camargo (Guarapuava), Caetano Munhoz da Rocha (Antonina), (Ponta Grossa), Moisés Lupion (), Bento Munhoz da Rocha Neto (Paranaguá) e Ney Braga (Lapa).

63 Wachovicz (2002) enfatiza que o poder político o Paraná, foi por muito tempo emanado dessa classe de latifundiários. Foram os luso-paranaenses proprietários de terras que, desde emancipação política do Paraná, passaram a controlar politicamente a região. No século XIX, o domínio político da província emanava desses grandes fazendeiros dos Campos Gerais. 64 Vale destacar que em meados da década de 1930 firma-se no Brasil a 3ª Dualidade, onde o pacto de poder se dá entre os latifundiários pecuaristas (sócio maior) e a burguesia industrial nascente (sócio menor).

156

A ocupação do norte do Paraná, também chamado Norte Velho ou Norte pioneiro65, data da década de 1840, com a passagem de mineiros, proprietários de latifúndios decadentes, que encontraram no tropeirismo uma atividade rentável, indo ao Rio Grande do Sul buscar gado bovino e muar para revender no mercado paulista ou mineiro. No retorno, a passagem pelo norte despertou o interesse desses tropeiros em conhecer as terras despovoadas. Muitos venderam suas terras em Minas Gerais e vieram povoar a região entre Itararé e o rio das Cinzas, (WACHOVICZ, 2002). Após os mineiros, vieram também os paulistas, os próprios paranaenses, japoneses, italianos, sírio-libaneses, etc. As primeiras atividades econômicas desta região se resumiu na agricultura de subsistência e exploração da floresta sub-tropical. O café tornou-se economicamente viável nos últimos anos do século XIX e início do século XX, pois até então era impossível o escoamento da produção para os centros consumidores e exportadores.

A ocupação do norte foi fruto, em grande parte da frente produtora do café que, depois de ocupar o Norte propriamente dito (Jacarezinho, Cornélio Procópio, , , Maringá, , , Paranavaí, etc.), atravessou o rio Piquiri e penetrou na região oeste. Nesta região foi responsável inclusive pela formação de inúmeros municípios da margem esquerda deste rio, isto é, já no oeste paranaense: Terra Roxa, Assis Chateaubriand, Nova Aurora, Jesuítas, , etc. (WACHOVICZ, 2002, p. 283). . Essa ocupação se intensificou com a vinda de mais de um milhão de migrantes para a região norte, preocupando politicamente a hegemonia política da elite do Paraná Velho ou sulistas como eram chamados pelos nortistas (WACHOVICZ, 2002). No entanto, para o contentamento da classe hegemônica sulista, os ocupantes da região norte não demonstraram nenhum interesse político advindo do peso demográfico que o norte passou a representar no conjunto do estado. O interesse político estava voltado para os seus estados de origem, São Paulo e Minas Gerais, e a relação econômica se dava com a capital paulista e com o Porto de Santos, por onde escoava a produção do café, e não com Curitiba e o Porto de Paranaguá. A outra área de ocupação distinta foi o que Wachovicz (2002) denominou de frente sulista, que ocupou maior parte do sudoeste, oeste e centro-sul do Paraná. Numericamente, a frente sulista foi de menor intensidade do que a nortista.

65 O aprofundamento da efetiva ocupação econômica do Norte do Paraná pode ser visto em Padis (2006).

157

De acordo com Padis (1981), o processo de colonização intensiva do sudoeste do Paraná iniciou após 1918, com a vinda de imigrantes gaúchos que vendiam suas terras no Rio Grande do Sul – alienando a pequena propriedade ao latifúndio e, em conseqüência sendo expulsos de suas próprias terras. Sendo assim, migraram para a região sudoeste do Paraná e oeste de Santa Catarina, onde compravam terras de valor duas a três vezes mais baixos que em seu estado de origem. Estes imigrantes formaram uma espécie de colônias fechadas, mantendo o fator produção e cultural em conformidade com suas origens.

Foi assim que, fundamentado num sistema de hábitos alimentares bastante simples, cujos componentes básicos eram o amido e a carne suína, as famílias cuidaram inicialmente de desenvolver as lavouras de trigo, milho, feijão, mandioca e arroz e, mais tarde, soja. (...) Como a economia era bastante fechada e autônoma, não apareciam visivelmente as preocupações com os níveis de produtividade e de tecnologia, embora a mão-de-obra fosse dotada de alguma qualificação, devido às suas origens. (PADIS, 1981, p.170).

O complexo econômico do sudoeste do Paraná se desenvolveu as expensas de duas vias econômicas: extração da madeira e pecuária, aproximadamente, até a década de 1950. A exploração da madeira ocorria de forma predatória e itinerante, sem nenhuma intenção de reflorestamento. Isso ocorria devido aos proprietários, responsáveis pela extração da madeira, estarem ligados a outros centros urbanos promissores para a época (PADIS, 2006). Esses três processos de ocupação do Estado do Paraná, onde Wachovicz (2002) denominou de três grandes áreas histórico-culturais determinaram a formação sócio-espacial do Estado do Paraná. A ocupação do Paraná Tradicional via litoral de Paranaguá, e posteriormente Curitiba e região metropolitana, proporcionou o centro industrializado de maior envergadura do Estado. Nesse conglomerado urbano, instalaram-se grandes montadoras de automóveis e ônibus, além de grandes indústrias de painéis reconstituídos. (ESPÌNDOLA e BASTOS, 2008). De acordo com Espíndola e Bastos (2008), a região Norte-Noroeste do Estado, desenvolvida em decorrência da expansão da cafeicultura paulista, sobretudo pós década de 1920, caracteriza-se como uma região agrícola muito importante, onde a indústria surgiu como complemento à atividade primária, ou seja, beneficiamento de produtos primários abundantes na região como café e óleos vegetais.

158

A ocupação da região Sudoeste, desenvolvida em decorrência da colonização de catarinenses e gaúchos descendentes de italianos e alemães desencadeou formações distintas, o que proporcionou, aliada a exploração florestal, o surgimento de inúmeras indústrias relacionadas à madeira. A atual região sudoeste se caracteriza pelo minifúndio familiar, pelas agroindústrias e cooperativas, e destes três elementos, forma-se o sustentáculo econômico da região. Inúmeras serrarias se instalaram em vários municípios, oriundas do Rio Grande do Sul, em busca das imensas matas de pinhais ainda existentes66. As serrarias trouxeram consigo outras indústrias correlatas como é o caso das laminadoras e as indústrias de compensado. Para a laminação as toras tinham que ser perfeitas, sem nós e bem sadias, por isso se aproveitavam duas, no máximo três de cada árvore. No comércio, as lâminas recebiam classificação como sendo de primeira ou capa e aproveitamento. A capa usada para as fases do compensado, não podia apresentar defeito algum e estar dentro dos padrões de tamanho ditados pelos compradores. O aproveitamento, usado no miolo do compensado, não impunha limites de qualidade e tamanho (VOLTOLINI, 2000). A região centro sul, a princípio definida como integrante da região sudoeste (PADIS, 2006), caracteriza-se por extensas áreas de latifúndio. A pecuária, desenvolvida de forma extensiva, determinou o aparecimento deste tipo de propriedade. Dessa forma, na área que compreende os municípios de Palmas, Guarapuava, , Pinhão, Pitanga, Cândido Abreu, Reserva, Clevelândia, , foi marcado pelas atividades madeireiras e pecuária com estrutura agrária pautada na grande propriedade. Espíndola e Bastos (2008) destacam que essas áreas de latifúndios (além dos municípios acima se destaca também a região de Ponta Grossa, Irati, entre outras) impulsionaram o desenvolvimento de indústrias ligadas à madeira, como indústria de papel e celulose (Klabim) em Telêmaco Borba e Lutcher (Guarapuava), além de indústrias de fósforos (Irati) e esquadrias (Ponta Grossa). O gráfico 17 mostra a evolução do número de estabelecimentos industriais da madeira e do mobiliário no estado do Paraná.

66 Voltolini (2000) destaca que, a extração do pinho, em um primeiro momento, não foi para fins industriais, e sim para abrir caminho para as pastagens e criação de animais. Em um segundo momento, começou-se a extraí- lo com fins industriais. Sendo assim, não necessariamente foram as indústrias madeireiras responsáveis pela devastação do pinheiro, mas as queimadas e derrubadas desenfreadas, utilizadas para abrir espaço para as plantações e criação de gado.

159

1934 2.000 1.800 1.600 1.400

1.200 734 1.000 588 800 600 400 200 0 1939 1949 1959

Gráfico 17. Evolução do número de estabelecimentos indústrias da madeira e mobiliário. Fonte: IPARDES, 1973. Organizado pela autora

É notável que no período mostrado no gráfico (1939-1959) foi o grande auge de exploração do pinho67 paranaense, sobretudo na segunda metade da década de 1950, época em que se esgotaram os pinheirais gaúchos68. O ciclo econômico de pinho declinou no início dos anos de 1950, a principal causa foi a exploração insustentável das florestas, que causou o esgotamento das florestas de araucária. Estas, geralmente, eram removidas visando o uso do solo para a agricultura e pecuária. A política de incentivos fiscais, datada da década de 1960, trouxe uma nova característica para as indústrias de madeira sólida do Paraná. Para manterem-se no mercado, elas necessitaram suprir-se de matéria-prima, basicamente oriunda de florestas plantadas (OLIVEIRA, 2001). Salvo algumas exceções, a indústria madeireira possuiu ao longo do tempo característica itinerante, se instalando em áreas com matéria-prima abundante. Após a escassez desta, migravam em busca de novas áreas, não se fixando e nem investindo naquele local de origem. Era imediatista e o único investimento em torno do negócio era estabelecer

67 A partir da década de 1930 a indústria do mate entra em crise, e começa-se a exploração extensiva das florestas, que, junto com o café, passou a ser o carro-chefe da economia paranaense. 68 Destaca-se que a maior parte da exploração do pinheiro no Sudoeste foi influenciada pela vasta depredação ocorrida em anos anteriores na vegetação Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. A empresa Lumber ligada ao Grand Trust Farquhar norte-americano, que se instalou em Três Barras – SC, constitui-se no maior complexo industrial madeireiro da América do Sul. A madeira serrada em grande quantidade por esta empresa tinha como destino os Estados Unidos, através do Porto de São Francisco do Sul – SC (VOLTOLINI, 2000).

160

as condições necessárias à produção de madeira para a venda. Conforme Voltolini (2000) esse tipo de empresário foi classificado como “cigano da madeira”. Vale ressaltar que, a energia elétrica no Sudoeste do Paraná foi introduzida em meados da década de sessenta. Antes disso, a energia utilizada para movimentar qualquer complexo industrial, e mesmo para a iluminação, era produzida por máquinas a vapor. A energia hidráulica era fundamental, não só para o funcionamento da serraria, mas também para as casas ao redor da mesma, que abrigava os operários e suas famílias69. Algumas indústrias, no entanto, ao se instalarem, trouxeram todo um arcabouço necessário à sua fixação, que vai desde mão-de-obra, estrutura familiar dos madeireiros e de seu operário. Alguns fixaram residência e, mesmo com o declínio da madeira, continuaram na região, utilizando de novas fontes de matéria-prima. Em períodos de auge da exploração, não se concebia a idéia de reflorestar, mesmo porque levaria em média 40 anos para a nova floresta passar a dar lucro. Sendo assim, quando a matéria-prima começava a faltar, mudavam-se com toda a estrutura da indústria para outro lugar. Podemos afirmar que, as indústrias com essa característica itinerante foram desaparecendo à medida que se exauria as matas e reservas nativas. O incentivo ao reflorestamento a partir de 1964, conforme apresentado no capítulo II, possibilitou o grande impulso ao reflorestamento no Paraná, principalmente nas áreas de latifúndio que atualmente concentram as maiores reservas de matas plantadas, conforme será apresentado no próximo ítem. O incentivo do II PND direcionado, dentre outros setores, ao setor de papel e papelão, fortaleceu o desenvolvimento florestal no Paraná. Dos financiamentos realizados às atividades indústriais, até 1967, uma quinta parte foi destinada à indústria de extração e elaboração de produtos de origem florestal, ou seja, a produção de aglomerados de madeira, de pasta mecânica e de papel (PADIS, 2006).

69 É visível, em Palmas, por exemplo, resquícios de vilas operarias instaladas ao redor das madeireiras. Em Francisco Beltrão, quando da instalação da Indústria Camilotti (1954), os operários, que vieram junto com a indústria do Rio Grande do Sul, construíam suas casas aos arredores da indústrias.

161

5.2 CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL E FLORESTAL NO SEGMENTO DE MADEIRA SÓLIDA: ESPACIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO E DA MATÉRIA-PRIMA.

De acordo com o IPARDES (2006), a partir a década de 197070, o Paraná vivenciou uma explosão no crescimento industrial, deixando de ser essencialmente agrícola. Apesar de permanecer a especialização no processamento de produtos agrícolas, houve uma tendência à diversificação dos gêneros industriais. Ganharam importância novos setores como material elétrico e de comunicações, química, material de transporte e fumo. Os gêneros tradicionais (química, produtos alimentares, minerais não-metálicos e madeira), já no início da década de 1980, continuaram a ser os gêneros mais importantes da indústria. No entanto, o processo de industrialização denso que o estado vivenciou na década anterior, impulsionou mudanças na composição desses próprios gêneros. No caso específico da madeira, as serrarias começam a perder importância, na medida em que essa aumenta nos segmentos de aglomerados e chapas, conforme demonstrado no quadro 06.

Participação no Mercado (%) Grupo 1975 1979 Serrarias 50,7 43,3 Resserrados 18,3 15,9 Aglomerados 8,0 9,1 Chapas 13,6 15,6 Quadro 06. Participação dos diferentes setores do gênero madeira no Paraná – 1975/1979.

Fonte: IPARDES (2006) Organizado pela autora.

Assim como no ramo madeira, no ramo de papel e papelão avançam os segmentos que requerem maior grau na elaboração de matéria-prima. Nesse sentido, diminui a participação do papel e aumentam tanto a participação do papelão e cartolina, bem como as embalagens. Também, reduz-se a participação relativa da pasta mecânica e avança a da celulose, conforme exemplifica o quadro 07.

70 O Brasil vivenciava, neste período o auge do processo de modernização da agricultura, iniciado na década de 1960. A intensificação da industrialização do Paraná está ancorada nas políticas do PND, tanto no que tange ao investimento nos ditos grupos de insumos básicos (dentre eles Papel e Celulose) como também o incentivo ao desenvolvimento de regiões ditas periféricas, no caso o Estado do Paraná como um todo.

162

Participação no Mercado (%) Grupo 1975 1979 Papel 78,8 73,1 Pasta mecânica 3,7 2,4 Fabricação de celulose 0,9 4,0 Fabricação de papelão cartolina e cartão 6,4 11,00 Fabricação de embalagens e papel pra 1,0 3,1 embalagens Quadro 07. Participação dos diferentes setores do gênero papel e papelão no Paraná – 1975/1979. Fonte: IPARDES (2006) Organizado pela autora.

Esse processo de intensificação industrial que o Paraná passou após a década de 1970 não se referiu apenas à introdução de novos ramos industriais na economia e ao ingresso de outros segmentos que demandassem maior tecnologia no processo de produção nos ramos já existentes, como ocorreu com o aumento da partipação dos aglomerados e chapas em detrimento à madeira serrada. Outro fator que merece destaque foi o surgimento, a partir de 1970, de uma estrutura industrial oligopolística, ou seja, um pequeno número de empresas passa a ser responsável por grande parte do valor agregado de cada gênero ou grupo industrial. As pequenas e médias empresas não deixaram de existir, pelo contrário, em alguns ramos até se elevaram numericamente. No entanto, as empresas individuais passaram a ter uma reduzida participação no valor total agregado de cada gênero industrial. Esse processo, entendido enquanto centralização e concentração industrial, conforme vimos no capítulo IV, além da concentração de capitais, determinam também as condições econômica, financeiras e técnicas71 das grandes empresas em concorrer no mercado nacional e internacional. No caso do segmento da madeira esse processo está representado no quadro 08.

71 O surgimento da EMBRAPA Florestas, conforme apresentado no Capítulo III, com sua sede no Estado do Paraná, tem um viés importante quando se trata da consolidação das grandes empresas, pois para o avanço tecnológico era necessária uma base consolidada de pesquisa científica voltada para a matéria-prima.

163

Grupo industrial Número total de Número de Participação empresas grandes das grandes empresas empresas sobre o valor agregado pelo grupo (%) Desdobramento de madeiras 1.413 31 40,85 Prod. De madeira compensada, 69 01* 27,44 aglomerada e prensada Papel e celulose 17 01** 61,10 Quadro 08. Participação do valor da produção das grandes empresas do Paraná no valor agregado de vários grupos - 1975

*Indústria Berneck (Araucária/PR) ** Klabin Papel e Celulose (Telêmaco Borba/PR) Fonte: IPARDES (2006) Organizado pela autora.

A entrada de capitais estrangeiros e com origem em outros estados é algo marcante que se acelera grandemente nos anos 1970, sobretudo na produção de óleo de soja. Em relação à produção de alimentos e na madeira, a presença de capital paranaense é mais forte. De acordo com IPARDES (2006) por serem segmentos tradicionais no estado e existirem ao anterior surto de crescimento industrial dos anos de 1970, provavelmente houve possibilidade de capitais de origem paranaense passar de pequenos ou médios a grandes72. A concentração espacial das indústrias está atrelada à concentração da produção industrial em número reduzido de empresas. Com o surgimento das grandes empresas, a produção não somente se concentra em poucas plantas industriais como também tendeu a se estabelecer em poucas cidades. No caso específico da madeira, apesar das inúmeras serrarias espalhadas por todo o estado73, a concentração das grandes empresas se deu especificamente no município de Curitiba e Ponta Grossa. É no eixo econômico-industrial destas duas cidades, sobretudo nas mesorregiões, que se concentram as maiores áreas de florestas plantadas do estado, conforme apresentado pelos mapas 07 e 08.

72 Conforme apresentado no Capítulo IV, destaca-se que recentemente o segmento de painéis (compensados, aglomerados e reconstituídos) onde o Paraná é o principal Estado exportador, passou por um processo de concentração. Mesmo operando no Estado grandes empresas de capital paranaense (Berneck e Guararapes, por exemplo), em decorrência da atual crise do sistema capitalista, passaram a operar no estado empresas de capitais americano, chileno e português. Sem contar nas TIMOs, que tem no Estado do Paraná um grande potencial de investimento em ativos florestais. 73 Padis (2006) afirmou que, além da característica itinerante das pequenas indústrias madeireiras, o que dificultava a mensuração dos dados, a existência das indústrias que operavam de forma clandestina elevava a grande desconcentração de pequenas indústrias por todo o estado.

Jardim Olinda Diamante Itaguajé do Norte Santo Antonio Santa Lupionópolis Porecatu Itaúna do Caiuá Inajá Inês Alvorada SÃO P do Sul Santo do Sul AUL Centenário O São Pedro Nova São João Inácio do Paraná Londrina do Sul Porto do Caiuá Colorado Florestópolis Rico Nossa Senhora Primeiro das Graças de Maio L Loanda Guairaçá Sertaneja Paranavaí Cruzeiro Guaraci Bela Vista U Querência Santa Cruz Lobato Itambaracá Cambará do Sul Prado do Paraíso Leópolis do Norte do Santa Alto Santa Fé Ferreira Andirá Monte Castelo Planaltina Sertanópolis Mariana Paraná Jaguapitã Rancho do Paraná Flórida Munhoz Alegre Barra do Jacaré O S Santa Nova Atalaia de Mello Cambé Bandeirantes Jacarezinho Isabel Santa Amaporã Aliança do Ivaí Ângulo Cornélio Mônica do Ivaí Pitangueiras Uraí Ribeirão Nova Presidente Ibiporã Procópio Santa Mirador Paraíso Esperança Castelo Claro O D Rolândia Amélia Tapira do Norte Branco Astorga Santo Antonio S Nova América Ivaté São Carlos Floraí Abatiá da Platina S São do Ivaí Mandaguaçu Sabáudia da Colina Douradina Cidade Manoel O Maringá Assaí Nova Fátima Icaraíma Nova Gaúcha do Paraná São Jorge Ribeirão R do Ivaí São Sebastião do Pinhal Joaquim Olímpia Japurá Sarandi Londrina da Amoreira Távora Carlópolis Indianópolis Paiçandu Jundiaí Doutor Santa Cecília Santo Antonio Rondon São Tomé do Sul Vila Alta Camargo do Pavão do Paraíso Quatiguá O G Maria Apucarana Jussara Jandaia Nova Santa Conselheiro S T Helena Salto do Umuarama Floresta do Sul Bárbara Mairinck A Siqueira Itararé Ã Tapejara Califórnia Cianorte Terra Boa Campos O P M Esperança Itambé Bom São Jerônimo Nova Sucesso da Serra Santana do São Jorge Engenheiro Novo Itararé Xambrê Marilândia Ibaiti do Patrocínio Cruzeiro Beltrão Itacolomi do Oeste Quinta São Pedro do Sul Kaloré Wenceslau A Tuneiras do Sol do Ivaí Mauá da Figueira Braz U Altônia do Oeste Fênix São José Cafezal Borrazópolis Serra Pinhalão L do Sul da São João Boa Vista O Araruna Faxinal Moreira do Ivaí Curiúva Alto Sales Barbosa Curiúva Iporã Piquiri Campo Ferraz Arapoti Francisco Mourão Lidianópolis Alves Corumbataí I Janiópolis do Sul Jardim Ortigueira Brasilândia Godoy Grandes A do Sul Goioerê Moreira Alegre Boa Rios Telêmaco Borba U esperança Guaíra Rancho Sengés Palotina Formosa Ivaiporã Rosário do Ivaí G Terra Roxa 4º Alegre do Oeste Centenário D'Oeste Rio Branco Jaguariaíva A Mamborê Arapuã Ariranha Jesuítas Luiziana do Ivaí R Nova Juranda do Ivaí Maripá Iracema Nova Imbaú A Santa Mercedes Assis do Oeste Tebas Manoel Ribas Rosa Chateaubriand Nova Ubiratã Piraí do Sul Aurora Marechal Quatro Roncador Cândido Reserva Pontes O P Rondon Campina Pato Tupãssi Nova Bragado da Lagoa Pitanga Toledo Cantu Cândido de Abreu Cafelândia Iguatu Corbélia P. D Ouro Verde Boa Ventura Castro Adrianópolis São José Altamira do Paraná de E das Palmeiras do Oeste Palmital São Roque Cêrro Azul R Carambeí Santa Maria Laranjal São Pedro do Iguaçu do Oeste Santa Campo Diamante Tunas do Paraná Helena Bonito Ivaí D'Oeste Santa Ipiranga Vera Cruz Tereza Guaraniaçu Turvo do Oeste do Oeste Cascavel Marquinho Guaraqueçaba Campina Rio Branco Bocaiúva Missal Ramilândia Itaperuçu do Simão Prudentópolis Ponta Grossa do Sul do Sul Nova Itaipulândia Céu Azul Laranjeiras Campo Catanduvas Campina Magro Grande Cantagalo Colombo Espigão Teixeira Almirante do Sul Antonina Alto Soares Matelândia Tamandaré Quatro São Miguel Santa do Iguaçu Laranjeiras Guarapuava do Iguaçu Lúcia Três Barras do Sul Campo Largo Barras Pinhais Santa Boa Vista do Paraná Palmeira Terezinha Capitão Quedas Irati da Aparecida Candói Curitiba de Itaipu Leônidas do Iguaçu Porto Foz Serranópolis Rio Bonito Fernandes Marques Nova Pinheiro Amazonas do do Iguaçu Cruzeiro do Iguaçu Porto Paranaguá Prata Araucária Iguaçu do Iguaçu Barreiro São José do Iguaçu São Jorge São João Capanema Boa Esperança dos Pinhais D'Oeste Inácio Martins Rebouças do Triunfo Fazenda Pontal do do Iguaçu Sulina Saudade Foz do Rio Grande Paraná Dois do Iguaçu Jordão Rio Azul Planalto Santa ARGE Salto do Vizinhos RE P. NT Izabel Pinhão Lapa Guaratuba I N do Oeste Lontra São João Bela Enéas Reserva do Iguaçu A Pérola Mallet Vista Marques D'Oeste Nova Verê da Caroba Esperança São Mateus do Sul Ampére Antonio Olinto Campo do Sudoeste Itapejara D'Oeste Mangueirinha do Tenente Pinhal de Agudos Santo Antônio São Bento Francisco Bom do Sul Beltrão Sucesso do Sudoeste Manfrinópolis União da Vitória Piên do Sul Rio Negro Salgado Honório Coronel Domingos Bituruna Bom Jesus Pato Filho Serpa Soares do Sul Branco Porto Flor da Renascença Vitória Barracão Serra do Sul Vitorino Mariópolis Clevelândia

General LEGENDA Palmas Carneiro Área com Floresta Artificial (ha) S A N TA C ATA R I N A N Escala aproximada De 5.000 a 10.000 W E 0 12 24 De 10.001 a 20.000 S

Acima de 20.001 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (1996) Organização: Marinez da Silva Mazzochin Mapa 07 - Área com Floresta Artificial do Estado do Paraná (em ha /1996) Diamante Itaguajé do Norte Santo Paranapoema Antonio Santa Lupionópolis Porecatu Marilena Itaúna Terra Rica do Caiuá Inajá Inês Alvorada SÃO P do Sul Santo do Sul AUL Centenário O São Pedro Nova São João Inácio do Paraná Londrina Cafeara do Sul Porto do Caiuá Colorado Florestópolis Rico Paranacity Nossa Senhora Primeiro das Graças de Maio L Loanda Guairaçá Miraselva Sertaneja Paranavaí Cruzeiro Guaraci Bela Vista U Querência Santa Cruz Lobato Itambaracá Cambará do Sul Prado do Paraíso Leópolis do Norte do Santa Alto Santa Fé Ferreira Andirá Monte Castelo Planaltina Uniflor Sertanópolis Mariana Paraná Jaguapitã Rancho do Paraná Flórida Munhoz Alegre Barra do Jacaré O S Santa Nova Atalaia de Mello Cambé Bandeirantes Jacarezinho Isabel Santa Amaporã Aliança do Ivaí Ângulo Cornélio Mônica do Ivaí Pitangueiras Uraí Ribeirão Tamboara Nova Presidente Ibiporã Procópio Iguaraçu Jataizinho Santa Mirador Paraíso Esperança Castelo Claro O D Rolândia Amélia Tapira do Norte Branco Astorga Santo Antonio S Nova América Ivaté Guaporema São Carlos Floraí Abatiá da Platina S São do Ivaí Mandaguaçu Sabáudia da Colina Douradina Cidade Manoel O Maringá Assaí Nova Fátima Icaraíma Nova Gaúcha do Paraná São Jorge Ribeirão R do Ivaí Ourizona Arapongas São Sebastião do Pinhal Joaquim Olímpia Japurá Guapirama Sarandi Mandaguari Londrina da Amoreira Távora Carlópolis Indianópolis Paiçandu Jundiaí Doutor Santa Cecília Santo Antonio Rondon São Tomé do Sul Vila Alta Camargo do Pavão do Paraíso Quatiguá O G Maria Marialva Apucarana Jussara Ivatuba Jandaia Nova Santa Congonhinhas Conselheiro S T Umuarama Helena Mairinck Salto do Floresta do Sul Bárbara Siqueira A Cambira Califórnia Itararé Ã Tapejara Cianorte Terra Boa Campos M Esperança Itambé Bom São Jerônimo Jaboti O P Nova Sucesso da Serra Santana do São Jorge Engenheiro Marumbi Novo Itararé Xambrê Marilândia Ibaiti Tomazina do Patrocínio Cruzeiro Beltrão Itacolomi Japira do Oeste Quinta São Pedro do Sul Tamarana Kaloré Rio Bom Wenceslau A Pérola Tuneiras do Sol do Ivaí Mauá da Sapopema Figueira Braz U Altônia do Oeste Fênix São José Cafezal Perobal Borrazópolis Serra Pinhalão L do Sul Peabiru da São João Boa Vista O Araruna Faxinal Moreira do Ivaí Cruzmaltina Curiúva Alto Sales Barbosa Curiúva Iporã Piquiri Mariluz Campo Ferraz Lunardelli Arapoti Francisco Mourão Lidianópolis Ventania Alves Corumbataí I Farol Janiópolis do Sul Jardim Ortigueira Brasilândia Godoy Grandes A do Sul Goioerê Moreira Alegre Boa Rios Telêmaco Borba U esperança Guaíra Rancho Sengés Palotina Formosa Ivaiporã Rosário do Ivaí G Terra Roxa 4º Alegre do Oeste Iretama Centenário D'Oeste Rio Branco Jaguariaíva A Mamborê Arapuã Ariranha Jesuítas Luiziana do Ivaí R Nova Juranda do Ivaí Maripá Iracema Nova Imbaú A Santa Mercedes Assis do Oeste Tebas Manoel Ribas Rosa Chateaubriand Nova Ubiratã Piraí do Sul Aurora Marechal Quatro Roncador Cândido Reserva Pontes O P Rondon Campina Tibagi Pato Tupãssi Nova Doutor Ulysses Bragado Anahy da Lagoa Pitanga Toledo Cantu Cândido de Abreu Cafelândia Iguatu Mato Rico Entre Rios do Oeste Corbélia P. D Ouro Verde Boa Ventura Castro Adrianópolis São José Altamira do Paraná de E das Palmeiras do Oeste Braganey Palmital São Roque Cêrro Azul R Carambeí Santa Maria Laranjal São Pedro do Iguaçu do Oeste Santa Campo Diamante Tunas do Paraná Helena Bonito Diamante do Sul Ivaí D'Oeste Santa Ipiranga Vera Cruz Tereza Guaraniaçu Turvo do Oeste do Oeste Cascavel Marquinho Guaraqueçaba Campina Rio Branco Bocaiúva Missal Ramilândia Goioxim Itaperuçu do Simão Prudentópolis Ponta Grossa do Sul do Sul Ibema Nova Guamiranga Itaipulândia Céu Azul Laranjeiras Campo Catanduvas Campina Magro Lindoeste Grande Medianeira Cantagalo Colombo Espigão Imbituva Teixeira Almirante do Sul Antonina Alto Soares Matelândia Tamandaré Quatro São Miguel Santa do Iguaçu Laranjeiras Guarapuava do Iguaçu Lúcia Três Barras do Sul Campo Largo Barras Virmond Pinhais Santa Boa Vista do Paraná Palmeira Terezinha Capitão Quedas Irati Piraquara da Aparecida Candói Curitiba de Itaipu Leônidas do Iguaçu Porto Morretes Foz Serranópolis Rio Bonito Fernandes Marques Nova Pinheiro Amazonas Balsa Nova do do Iguaçu Cruzeiro do Iguaçu Porto Paranaguá Prata Araucária Iguaçu do Iguaçu Barreiro São José do Iguaçu São Jorge São João Capanema Boa Esperança dos Pinhais D'Oeste Inácio Martins Rebouças do Triunfo Fazenda Pontal do Realeza do Iguaçu Sulina Saudade Foz do Rio Grande Paraná Dois do Iguaçu Jordão Rio Azul Planalto Santa Contenda ARGE Salto do Vizinhos Matinhos RE P. NT Izabel Pinhão Lapa Guaratuba I N do Oeste Lontra São João Bela Enéas Reserva do Iguaçu A Pérola Chopinzinho Mallet Mandirituba Vista Marques Quitandinha D'Oeste Nova Verê da Caroba Cruz Machado Esperança São Mateus do Sul Tijucas do Sul Ampére Antonio Olinto Campo do Sudoeste Itapejara Coronel Vivida Pranchita D'Oeste Mangueirinha do Tenente Pinhal de Agudos Paulo Frontin Santo Antônio São Bento Francisco Bom do Sul Beltrão Sucesso do Sudoeste Manfrinópolis União da Vitória Piên do Sul Rio Negro Salgado Honório Coronel Domingos Bituruna Bom Jesus Pato Filho Serpa Soares Paula Freitas do Sul Branco Porto Flor da Renascença Vitória Barracão Serra do Sul Vitorino Marmeleiro Mariópolis Clevelândia

General LEGENDA Palmas Carneiro Área com Floresta Artificial (ha) S A N TA C ATA R I N A N Escala aproximada De 5.000 a 10.000 W E 0 12 24 De 10.001 a 20.000 S

Acima de 20.001 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (1996) Organização: Marinez da Silva Mazzochin Mapa 08 - Área com Floresta Artificial do Estado do Paraná (em ha /2006) 166

Nos mapas apresentados74 percebemos um processo de concentração florestal. Em 1996, os municípios cujas áreas florestais eram acima de 5.000 ha representavam 74,9% do total. Esse percentual subiu para 83,83%, em 2006. O principal município, Telêmaco Borba75, em 1996 detinha 11,6% da área reflorestada do Estado. Em 2006, esse valor subiu para 22,86%. É notável a atuação do grupo Klabin76 não só neste município, mas também em todos os municípios que contemplam a região. As indústrias que atuam no segmento madeireiro no Paraná vão desde as mais tradicionais, produtoras de serrados e compensados, até complexos industriais produtores de papel e celulose, e painéis reconstituídos77. Conforme a ABIMCI (2005), a maioria das áreas de florestamento é de espécie do gênero Pinus (principalmente Pinus elliottii e Pinus taeda), ou com espécies do gênero Eucalipto (principalmente Eucalyptus saligna e Eucalyptus grandis), O rápido crescimento, boa qualidade da madeira a adaptabilidade ao clima e solos do estado do Paraná foram os principais fatores que levaram à implantação destes. No Paraná, assim como no Brasil, o desenvolvimento da silvicultura esteve intrinsecamente ligado ao desenvolvimento industrial e a necessidade de suprir a matéria- prima demandada pela indústria. A comparação da quantidade produzida na silvicultura com a quantidade produzida no extrativismo vegetal pode ser observado no gráfico 18.

74 Optamos por utilizar os municípios cujas áreas com florestas plantadas excedem 5.000 ha, pois estes representam 83,83% das áreas reflorestadas do Estado. 75 O município de Telêmaco Borba concentra a principal unidade produtiva do Grupo Klabin (Indústria Klabin de Papel e celulose), fundada em 1934 com capital nacional, situando-se nos anos 1990 como a maior organização do setor na América Latina. Telêmaco Borba situa-se distante 250km de Curitiba e 150km de Ponta Grossa. A indústria encontra-se integrada verticalmente do reflorestamento à produção de papel, conta com 200.000 hectares de terras situadas num raio de 100km da fábrica, empregando 2.500 trabalhadores na indústria e 4.000 trabalhadores no setor florestal. O surgimento desse município (baseado no latifúndio) esteve intrinsecamente relacionado à indústria Klabin. O município de Telêmaco Borba possui uma área de 1.718km², da qual a Klabin é proprietária de 86%. A instalação das vilas residências para atender toda a demanda da indústria estabeleceu uma relação de cidade-empresa. (PIQUET, 1988). 76 Campos (2010) chama atenção que a Embrapa Florestas está localizada há menos de 200km da primeira fábrica integrada do Grupo Klabin, em Telêmaco Borba 77 O Paraná é o único Estado brasileiro produtor do painel OSB.

167

35.000.000

30.000.000

25.000.000

20.000.000 Silvicultura 15.000.000 Extração Vegetal

10.000.000

5.000.000

0 1990 1995 2000 2003 2007

Gráfico 18. Quantidade produzida na silvicultura e na extração vegetal no Paraná Estado do Paraná (toneladas)

Fonte: IBGE - Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura Organizado pela autora

Conforme o gráfico apresentado, percebemos a importância da silvicultura em detrimento da extração vegetal para o Estado do Paraná. A silvicultura apresentou um crescimento entre os anos de 1990 a 1995 e um declínio entre os anos de 1995 e 2000. A partir de 2003, a produção se manteve em crescimento. Já a extração vegetal, possui pouca expressão, pois além das quantidades produzidas serem relativamente inferiores em relação a silvicultura, esta apresenta uma queda relativa desde o ano 2000. Conforme os dados da ABRAF (2008) o Paraná é o terceiro Estado com maior área de florestas plantadas de Pinus e Eucalipto no Brasil. As plantações de pinus equivalem a 39% do total plantado no Brasil e de eucalipto equivalem a 03% do total nacional. A tabela 15 demonstra a área de florestas artificiais existentes em cada uma das microrregiões do Estado do Paraná78. Tais regiões englobam vários municípios em cada uma delas.

78 Nota-se uma diferença de 257.808 ha dos dados da ABRAF em relação aos dados do IBGE. Os dados da ABRAF mostram uma área de 824.648 ha em 2007. Já os dados do IBGE mostram uma área de 1.082.456 no censo agropecuário de 2006. Mesmo tendo conhecimento dos possíveis problemas apresentado no censo, conforme apresentado na introdução deste trabalho, optamos trabalhar neste capítulo com os dados do IBGE, pois nos permite espacializá-los e analizá-los a nivel do Estado, tendo em vista que os dados da ABRAF (2008) apresentam o total por unidade da Federação, o que nos permitiu espacializar os dados a nível de Brasil, conforme apresentado no capítulo II. Além disso, os dados do IBGE seguem a classificação por micro e mesorregião, que nos permite verificar a concentração e centralização o estado.

168

Tabela 15. Distribuição das florestas artificiais por microrregião do Estado do Paraná (2006) Microrregião Geográfica Área (ha) Participação (%) Telêmaco Borba 359.073 33,17% Guarapuava 125.183 11,56% União da Vitória 123.181 11,38% Jaguariaíva 78.547 7,26% Rio Negro 41.737 3,86% Palmas 41.006 3,79% Prudentópolis 40.761 3,77% São Mateus do Sul 39.237 3,62% Curitiba 33.100 3,06% Cerro Azul 30.070 2,78% Ponta Grossa 25.625 2,37% Lapa 16.655 1,54% Irati 15.171 1,40% Cascavel 12.542 1,16% Paranavaí 12.460 1,15% Ivaiporã 11.968 1,11% Ibaiti 11.546 1,07% Francisco Beltrão 11.514 1,06% Umuarama 6.861 0,63% Pitanga 5.802 0,54% Paranaguá 5.003 0,46% Toledo 4.926 0,46% Wenceslau Braz 3.854 0,36% Campo Mourão 3.794 0,35% Jacarezinho 3.300 0,30% Foz do Iguaçu 3.085 0,29% Londrina 2.694 0,25% Apucarana 2.636 0,24% Assaí 2.458 0,23% Astorga 1.884 0,17% Cianorte 1.654 0,15% Pato Branco 1.301 0,12% Capanema 1.121 0,10% Faxinal 1.039 0,10% Goioerê 785 0,07% Cornélio Procópio 489 0,05% Floraí 236 0,02% Maringá 92 0,01% Porecatu 67 0,01% 1.082.456 100,0 Total Fonte: IBGE - Censo Agropecuário Organizado pela autora

169

Observamos na tabela 15 que 56,11% das áreas de florestas plantadas do Paraná encontram-se distribuídas entre as microrregiões de Telêmaco Borba, Guarapuava e União da Vitória. Essas microrregiões representam áreas de latifúndios, conseqüência do processo de formação espacial, no caso de Guarapuava e União da Vitória. Essa mesma questão se afirma para a microrregião de Telêmaco Borba, onde o papel de instalação da Klabim em 1934 determinou a formação espacial pautada nas áreas de latifúndios. As microrregiões de Telêmaco Borba e Guarapuava, pertencentes à mesorregião Centro-Oriental Paranaense, e União da Vitória pertence à mesorregião Sudeste Paranaense. Essas duas mesoregiões, somada a mesorregião Centro-Sul Paranaense e Metropolitana de Curitiba, detêm 91%79 das áreas plantadas com florestas artificiais do Estado do Paraná. A concentração florestal nas regiões Centro-Oriental, Sudeste, Centro Sul está relacionada ao processo de formação espacial dessas regiões, conforme afirmamos anteriormente, baseada nas extensas áreas de latifúndio voltadas para a pecuária extensiva. Essas regiões concentravam extensas áreas de matas de pinhais o que desencadeou a ocupação pelas indústrias madeireiras. Um dos possíveis motivos explicativos para tal concentração nas áreas de latifúndio é o fato de se ter terras mais baratas e de menor aproveitamento para outras atividades agrícolas. Essa concentração florestal desenvolveu uma série de indústrias correlatas. Os segmentos considerados como pertencentes à indústria madeireira instalada no Estado do Paraná são: celulose (incluindo a celulose de fibra curta, celulose de fibra longa e a pasta de alto rendimento); carvão; painéis reconstituídos (aglomerado, MDF e OSB); compensados e madeira serrada. Conforme a ABIMCI (2005), o Estado do Paraná apresenta a maior concentração tanto de indústrias de aglomerados quanto de indústrias de MDF e OSB. Também grande parte das indústrias de compensados brasileiros concentra-se no Paraná. Apesar da indústria de madeira serrada ser muito dispersa e numerosa no território brasileiro, este segmento encontra uma de suas maiores concentrações nos pólos localizados neste estado. O gráfico 19 apresenta a evolução na exportação de compensado pelo estado do Paraná.

79 No censo agropecuário de 1996 essas mesmas mesorregiões concentravam 82,10% das áreas de florestas plantadas do Estado.

170

1.000.000.000

900.000.000

800.000.000

700.000.000

600.000.000

500.000.000

400.000.000

300.000.000

200.000.000

100.000.000

0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 US$ F.O.B. 129.02 121.07 114.18 161.62 280.64 423.84 394.46 324.08 297.21 347.96 184.86 Kg Líquido 280.78 314.13 350.22 470.62 674.17 874.33 858.73 702.14 514.79 545.55 372.14 Gráfico 19. Exportações de Madeira Compensada - Paraná Fonte: SECEX Organizado pela autora.

O Paraná é o principal exportador do compensado de coníferas do Brasil. O principal destino é os Estados Unidos. É notável o ápice das exportações em meados de 2004, quando esse país estava em franca expansão da construção civil. A pós esse período, a queda acentuada está relacionada a crise imobiliária americana, atrelada à grande crise do capital, chamada sub-prime, conforme verificamos no capítulo IV. Conforme o IAP apud ABIMCI (2005), no Brasil, cerca de 4% do PIB tem origem em atividades que utilizam a madeira. No Estado do Paraná, esse índice alcança 20% do PIB. A comparação do número de estabelecimento ligado ao setor florestal do Paraná com o Brasil é apresentado na Tabela 13.

171

Tabela 16. Número de estabelecimentos de cada setor da área florestal- Brasil e Paraná (2001) SETOR BRASIL PARANÁ PARTICIPAÇÃO (%) Silvicultura, Exploração Florestal e Serviços 3.878 553 14,3% Relacionados a estas Atividades

Fabricação de Produtos de Madeira 15.841 2.494 15,7% Fabricação de Pastas, Papel e Produtos de Papel 3.049 315 10,3% TOTAL 22.768 3.362 14,8% Fonte: ABIMCI, 2005 Organizado pela autora

Percebe-se que quase 15% do total de estabelecimentos relacionados com a área florestal estão instalados no estado do Paraná. Deste total, quase 35% são de pequeno porte, com até 04 empregados e 23% dos grandes estabelecimentos florestais instalados no Brasil têm como sede o Estado do Paraná (ABIMCI, 2005). O conjunto de mapas que apresentaremos a seguir mostra a distribuição por mesorregião e por município das áreas de matas plantadas, bem como a localização industrial das indústrias de transformação de madeira. Os dados das áreas de florestas artificiais apresentados tem como fonte o Censo Agropecuário - IBGE de 2006. Ao espacializar as informações optamos por utilizar as áreas acima de 5.000 ha, pois as áreas com números inferiores não nos permite verificar a concentração. Os números das indústrias madeireiras foram extraídos do Cadastro da FIEP de 2007. As indústrias de processamento mecânico abrangem as indústrias de madeira laminada e de chapas de madeira compensada, prensada ou aglomerada, incluindo as fábricas de painéis reconstituídos (MDF, OSB). Já as indústrias de desdobramento abrangem as indústrias de madeira serrada, PMVA e outras correlatas. Optamos por utilizar as indústrias acima de 50 funcionários, pois como este segmento é bastante pulverizado, uma série de indústrias que operam com capital reduzido e poucos funcionários não nos é importante neste momento.

Noroeste Paranaense Norte Central Paranaense Norte Pioneiro Paranaense

Noroeste Paranaense Norte Central Paranaense Norte Pioneiro Paranaense

Centro Ocidental Paranaense

Centro Oriental Paranaense

Centro Ocidental Oeste Paranaense Ivaí Paranaense Centro Oriental Paranaense Metropolitana de Curitiba Centro-Sul Paranaense Ipiranga Oeste Paranaense

Sudeste Paranaense Sudoeste Paranaense Metropolitana de Curitiba Centro-Sul Paranaense

Prudentópolis Sudeste Paranaense Sudoeste Paranaense Guamiranga

Arapoti Imbituva Teixeira Ortigueira Ventania Soares

Telêmaco Borba Sengés Jaguariaíva Irati

Imbaú Piraí do Sul São João Rebouças do Triunfo Reserva Rio Azul

Tibagi Mallet Cruz Machado São Mateus do Sul Antonio Olinto Castro Paulo Frontin Carambeí União da Vitória Bituruna Paula Freitas Porto Vitória

Ponta Gross

General Carneiro

LEGENDA Palmeira Área com Floresta Artificial (ha) LEGENDA Área com Floresta Artificial (ha) De 5.000 a 10.000 De 5.000 a 10.000 De 10.001 a 20.000 De 10.001 a 20.000 N N Acima de 20.001 Escala aproximada Escala aproximada W E 0 12 24 W Acima de 20.001 E 0 12 24 Industrias madeireiras S S Indústrias de processsamento mecânico Industrias madeireiras Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (1996) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Indústrias de desdobramento Organização: Marinez da Silva Mazzochin Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2006) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Indústrias de processsamento mecânico Organização: Marinez da Silva Mazzochin Indústrias de desdobramento Mapa 09. Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Centro-Oriental Paranaense Mapa 10. Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Sudeste Paranaense Noroeste Paranaense Norte Central Paranaense Norte Pioneiro Paranaense Noroeste Paranaense Norte Central Paranaense Pitanga Norte Pioneiro Paranaense

Mato Rico Centro Ocidental Paranaense Centro Ocidental Centro Oriental Paranaense Paranaense Centro Oriental Paranaense Oeste Paranaense

Boa Ventura Oeste Paranaense de Metropolitana de Curitiba Centro-Sul Paranaense Metropolitana de Curitiba Palmital São Roque Centro-Sul Paranaense Sudeste Paranaense Sudoeste Paranaense Santa Maria Doutor Ulysses Sudeste Paranaense Laranjal Sudoeste Paranaense do Oeste

Turvo Adrianópolis Marquinho Campina Goioxim do Simão Cêrro Azul Tunas do Paraná

Espigão Cantagalo Alto Guaraqueçaba do Iguaçu Laranjeiras Guarapuava Rio Branco Bocaiúva do Sul Itaperuçu Virmond do Sul do Sul Quedas do Iguaçu Candói Campo Campina Rio Bonito Magro Grande do Iguaçu Porto Antonina Barreiro Almirante do Sul TamandaréColombo Inácio Martins Campo Largo Pinhais Curitiba Pinhão Porto Piraquara Morretes Reserva do Iguaçu Balsa Nova Amazonas São José Paranaguá Araucária dos Pinhais Fazenda Mangueirinha Rio Grande Contenda Lapa Guaratuba Honório Coronel Domingos Mandirituba Serpa Soares Quitandinha Tijucas do Sul Agudos Clevelândia do Sul Piên Rio Negro Palmas LEGENDA LEGENDA Área com Floresta Artificial (ha) Área com Floresta Artificial (ha) De 5.000 a 10.000 De 5.000 a 10.000 De 10.001 a 20.000 De 10.001 a 20.000 Acima de 20.001 N Escala aproximada Acima de 20.001 N 0 12 24 Escala aproximada W E W E Industrias madeireiras 0 12 24 S Industrias madeireiras Indústrias de processsamento mecânico S Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2006) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Indústrias de processsamento mecânico Indústrias de desdobramento Organização: Marinez da Silva Mazzochin Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2006) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Indústrias de desdobramento Organização: Marinez da Silva Mazzochin Mapa 11. Área com Floresta Artificial (em ha /2006 e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Centro-Sul Paranaense Mapa 12. Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústias madeireiras (2007) - Mesorregião Metropolitana de Curitiba Noroeste Paranaense Norte Central Paranaense Norte Pioneiro Paranaense

Centro Ocidental Noroeste Paranaense Norte Central Paranaense Paranaense Norte Pioneiro Paranaense Centro Oriental Paranaense Guaíra Oeste Paranaense Centro Ocidental Formosa Paranaense Metropolitana de Curitiba Palotina Centro-Sul Paranaense Terra Roxa do Oeste Centro Oriental Paranaense Oeste Paranaense Sudeste Paranaense Sudoeste Paranaense

Metropolitana de Curitiba Jesuítas Centro-Sul Paranaense Itambaracá Cambará Sudeste Paranaense Leópolis Nova Sudoeste Paranaense Maripá Iracema Santa Santa Andirá Mercedes Assis do Oeste Mariana Rosa Chateaubriand Nova Rancho Aurora Alegre Marechal Quatro Bandeirantes Cândido Jacarezinho Pontes Rondon Cornélio Pato Tupãssi Uraí Bragado Anahy Procópio Santa Toledo Jataizinho Cafelândia Iguatu Amélia Entre Rios Santo Antonio do Oeste Corbélia Nova América Abatiá da Platina São José Ouro Verde da Colina do Oeste Braganey das Palmeiras Assaí Nova Fátima Ribeirão São Sebastião Joaquim São Pedro do Iguaçu do Pinhal Santa Campo da Amoreira Guapirama Diamante Távora Carlópolis Helena Bonito Diamante do Sul Jundiaí D'Oeste Santa Santa Cecília Santo Antonio Vera Cruz do Sul Tereza Guaraniaçu do Pavão do Paraíso do Oeste do Oeste Cascavel Quatiguá Nova Santa Congonhinhas Conselheiro Ramilândia Salto do Ibema Bárbara Mairinck Siqueira Itararé Itaipulândia Céu Azul Campos Catanduvas São Jerônimo Lindoeste Medianeira da Serra Santana do Itararé Ibati Tomazina Matelândia Japira São Miguel Santa do Iguaçu Lúcia Três Barras Sapopema Wenceslau Santa do Paraná Braz Boa Vista Figueira Terezinha Capitão da Aparecida São José de Itaipu Leônidas Pinhalão Foz Serranópolis da do Iguaçu Marques do Curiúva Boa Vista Iguaçu

LEGENDA LEGENDA Área com Floresta Artificial (ha) Área com Floresta Artificial (ha)

De 5.000 a 10.000 De 5.000 a 10.000

De 10.001 a 20.000 De 10.001 a 20.000

Acima de 20.001 N Acima de 20.001 N Escala aproximada Escala aproximada

W E 0 12 24 W E 0 12 24 Industrias madeireiras Industrias madeireiras S S Indústrias de processsamento mecânico Indústrias de processsamento mecânico Indústrias de desdobramento Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2006) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Indústrias de desdobramento Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2006) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Organização: Marinez da Silva Mazzochin Organização: Marinez da Silva Mazzochin Mapa 13. Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Oeste Paranaense Mapa 14. Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Norte Pioneiro Paranaense Itaguajé

Noroeste Paranaense Norte Central Paranaense Noroeste Paranaense Norte Pioneiro Paranaense Norte Central Paranaense Paranapoema Norte Pioneiro Paranaense Santa Lupionópolis Porecatu Inês Alvorada Centro Ocidental Paranaense Centro Ocidental Santo do Sul Paranaense Centro Oriental Paranaense Centenário Inácio Centro Oriental Paranaense Oeste Paranaense do Sul Colorado Cafeara Oeste Paranaense Metropolitana de Curitiba Florestópolis Metropolitana de Curitiba Centro-Sul Paranaense Primeiro Nossa Senhora Centro-Sul Paranaense de Maio Sudeste Paranaense das Graças Sudoeste Paranaense Sudeste Paranaense Miraselva Sudoeste Paranaense Cruzeiro Guaraci Bela Vista Lobato do Sul Prado do Paraíso Santa Fé Ferreira Uniflor Sertanópolis Cruzeiro Jaguapitã Flórida Munhoz Boa do Iguaçú Nova Prata do Atalaia de Mello Iguaçu Ângulo Boa Esperança Nova Pitangueiras Cambé Capanema São Jorje Presidente Iguaraçu Ibiporã do Iguaçú Esperança Castelo Rolândia Branco Astorga Saudades Realeza São Carlos Sabáudia do do Ivaí Mandaguaçu Planalto Dois Visinhos Salto do Iguaçu São Jorge Santa Maringá Lontra do Ivaí Ourizona Arapongas Isabel do ] Mandaguari Londrina Oeste São João Paiçandu Sarandi Marialva Pérole do Bela Vista Doutor Chopinzinho Camargo Oeste da Caroba Nova Vere Esperança Ivatuba Jandaia Apucarana Ampére do Enéas Floresta do Sul Cambira Califórnia Sudoeste Marques Coronel Vivida Itambé Bom Pranchita Itapejara Sucesso Pinhal de do Marumbi Novo Marilândia Oeste Itacolomi São Bento São Pedro do Sul Tamarana Bom Kaloré Rio Bom Santo Antônio ManfrinópolisFrancisco Beltrão Sucesso do Ivaí do Dudoeste Mauá da do Sul Borrazópolis Salgado Serra Filho São João Barracao do Ivaí Faxinal Barbosa Cruzmaltina Renascença Flor da Serra Ferraz Lunardelli do Sul Marmeleiro Pato Branco Lidianópolis Vitorino Godoy Grandes Moreira Rios Mariópolis Ivaiporã Rosário do Ivaí Rio Branco Arapuã Ariranha do Ivaí do Ivaí Manoel Ribas

Cândido de Abreu

LEGENDA LEGENDA Área com Floresta Artificial (ha) Área com Floresta Artificial (ha)

De 5.000 a 10.000 De 5.000 a 10.000

N Escala aproximada De 10.001 a 20.000 De 10.001 a 20.000 W E 0 12 24

N Acima de 20.001 S Acima de 20.001 Escala aproximada

W E 0 12 24 Industrias madeireiras Industrias madeireiras S Indústrias de processsamento mecânico Indústrias de processsamento mecânico Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2006) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Fonte: IBGE - Censo Agropecuário (2006) / Cadastro das Indústrias da FIEP (2007) Indústrias de desdobramento Organização: Marinez da Silva Mazzochin Indústrias de desdobramento Organização: Marinez da Silva Mazzochin

Mapa 15. Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Sudoeste Paranaense Mapa 16 - Área com Floresta Artificial (em ha /2006) e distribuição das indústrias madeireiras (2007) - Mesorregião Norte Central Paranaense 176

Do total de áreas com florestas artificiais do Estado do Paraná (713.126 ha conforme dados do IBGE) 37 municípios concentram 79,4 %. A maior concentração está na região Centro-Oriental com 39,1%, seguida região Centro-Sul com 19,5%, a região metropolitana de Curitiba com 12% e a região Sudeste com 11%. As demais regiões: Oeste, Norte Central, Norte Pioneiro, Sudoeste, Noroeste e Centro Ocidental, compreendem a 17,9% do total de florestas artificiais do Estado. As condições climáticas e a concentração industrial fizeram com que este segmento da silvicultura fosse extremamente concentrado no Estado. Ademais os municípios mais expressivos constituem em áreas de grandes latifúndios que permitem tal concentração. A localização industrial também é importante, porém não determinante, pois as maiores indústrias possuem extensas áreas de florestas plantadas pulverizadas em todo Estado do Paraná e em outros Estados também80. As indústrias operam com áreas próprias e com áreas terceirizadas de florestas. A dinâmica do mercado influencia na maior utilização de uma em detrimento da outra. Porém, como o transporte da madeira in natura para a indústria é algo oneroso, levando em conta o transporte necessário, geralmente as áreas de florestas não estão tão distantes das indústrias. A política de incentivos fiscais municipais e estaduais soma bastante quando da instalação de novas unidades industriais. Em geral as indústrias buscam concentrarem-se próximas às áreas reflorestadas, se não no mesmo município, mas dentro de uma mesma região geográfica. As maiores concentrações de indústrias estão nas regiões Sudeste e Metropolitana de Curitiba. A região Sudeste possui 29% do total das indústrias e a região Metropolitana de Curitiba 22%. A região Centro Oriental possui 19% e a região Centro Sul 18%. As demais regiões geográficas com atividades no segmento florestal possuem 12% das indústrias. Cabe ressaltar que as indústrias de papel e celulose possuem significativa relevância, embora não tenham sido arroladas. Os municípios de Telêmaco Borba e Guarapuava, que concentram 24,98% do total de florestas plantadas, além do município de Curitiba possuem localizadas indústrias de papel e celulose. As regiões de menor destaque no setor florestal são Oeste e Norte Pioneiro, Sudoeste e Norte Central. A região Oeste e Norte Central possuem destaque nos municípios de

80 Citamos como exemplos as Indústrias Camilotti e Mazza, localizadas no município de Francisco Beltrão, e a Guararapes, localizada no Município de Palmas. Ambas possuem extensas áreas na região Centro-Sul, Região Metropolitana de Curitiba, Região Sudeste. Assim como nos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.

177

Cascavel e São João do Ivaí, respectivamente. Ambos os municípios, as áreas de florestas artificiais são de 5.000 a 10.000 ha. O Sudoeste do Paraná e Norte Pioneiro possuem atividades industriais ligadas ao setor, e, embora possuam áreas de florestas plantadas, conforme dados da tabela 15, as mesmas são menores que 5.000 ha. As indústrias de painéis reconstituídos são intensivos em capital e tecnologias operando com mão-de-obra inferior em número às demais. Por vezes indústrias intensivas em capital operam com quantidades superiores ou inferiores, dependendo das tecnologias aplicadas em segmentos da linha de produção. Em relação à mão-de-obra empregada no segmento, no Paraná esse valor corresponde a 32.118 trabalhadores. Os municípios que apresentam maior concentração são: Telêmaco Borba, Guarapuava, Ponta Grossa, Curitiba, Imbituva, Jaguariaíva, União da Vitória, Palmas, Sengés, Quedas do Iguaçu e Bituruna, conforme apresenta o gráfico 20.

2.500

2.000

1.500

1.000 No. trabalhadores 500

0

Gráfico 20. Número de trabalhadores dos principais municípios que atuam no segmento da madeira – 2008.

Fonte: RAIS/CAGED Organizado pela autora

Conforme os dados apresentados, esses 11 municípios concentram 50,56% do total de trabalhadores nas indústrias madeireiras do Estado. É notável, que o Paraná é o estado que mais concentra trabalhadores no setor, de acordo com o gráfico 21.

178

35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0

Gráfico 21. Número de trabalhadores nos principais Estados Brasileiros – 2008.

Fonte: RAIS/CAGED Organizado pela autora

Conforme dados do RAIS/CAGED (2008), o Brasil possui 133.018 trabalhadores que atuam no segmento da madeira. O Paraná contribui com 24% deste total, que somado aos Estados do Pará e Santa Catarina, concentram 57% do total dos trabalhadores.

5.3 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES FINAIS DO CAPÍTULO

Neste capítulo, enfocamos a indústria madeireira do estado do Paraná, levantando alguns pontos importantes ligados à dinâmica do setor. Este estado concentra grande parte das empresas de painéis reconstituídos (MDF, OSB) e compensado de pinus (maior produtor e exportador nacional). As serrarias e processadoras primárias dos produtos da madeira tiveram grande importância na balança comercial do Estado, juntamente como o café, o mate e a soja. No entanto, o processo de desenvolvimento industrial, intenso na década de 1970, e o grande avanço tecnológico, tanto no processamento, quanto na própria constituição da matéria-prima, trouxeram novos componentes para esse segmento. As pequenas e até algumas médias empresas, que operavam com madeira nativa e não constituíram uma base sólida de fonte de matéria-prima, tiveram na aplicação da tecnologia obsoleta e na queda da taxa de lucro, o seu naufrágio. No dizer de Voltolini (2000)

179

o “cigano da madeira”, cuja intenção foi única e exclusivamente a devastação das florestas visando o lucro intenso e imediato. No entanto, a formação sócio-espacial paranaense possui elementos que condicionaram a instalação de grandes empresas, investidoras em capital fixo gigantesco no estado, como pudemos observar na concentração que o Paraná vivenciou no segmento de painéis reconstituídos. As extensas áreas de latifúndio nas regiões Centro Sul, Sudeste e Centro Oriental, conseqüência de um processo de ocupação visando, em um primeiro momento a devastação dos pinheirais e o fomento da pecuária extensiva pela elite campeira, conforme definido por Wachovicz (2002), possibilitaram a concentração de extensas áreas de florestas plantadas de pinus, as maiores do Brasil. A região metropolitana de Curitiba concentra as maiores indústrias ligada ao processamento mecânico da madeira. A proximidade ao Porto de Paranaguá e às fontes de matéria-prima são um componente importante para o desenvolvimento dessas indústrias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

181

A produção florestal, enquanto atividade econômica, conforme afirmado por Marx (2008) distinguia-se da maioria das demais produções por operar de maneira dependente da força da natureza e por não precisar, em sua renovação natural, das forças do homem e do capital. Para se tornar rentável ao sistema capitalista, a produção florestal necessitou, com o auxílio da ciência enquanto força produtiva do capital, transformar as florestas em um setor propício à acumulação de capital, desenvolvendo assim, um processo de gestão de florestas direcionado à grande indústria. Mundialmente, o setor florestal se consolidou em países cujas reservas naturais eram abundantes (Brasil, por exemplo) ou cujas condições climáticas instigavam a produção de energia, como é o caso da Russia e Finlândia. Além disso, há também o caso em que a construção civil proporcionou elevado crescimento no setor florestal, como no exemplo dos Estados Unidos que além de grande produtor tornou-se também um grande comprador de produtos florestais. A consolidação da China, enquanto potência dinamizou o setor florestal, principalmente na produção, exportação e importação de painéis. O processo de desenvolvimento da China está marcado por um evidente e espetacular desempenho econômico desde o fim da década de 1970. Este desenvolvimento tem estado associado a significativas mudanças estruturais e melhorias no padrão de vida da população, assim como por uma inserção internacional ativa e soberana. Essas informações nos permitiram entender a inserção do Brasil no segmento florestal. As grandes reservas de matas nativas potencializaram o surgimento de vários segmentos dentro do setor de base florestal, os mais expressivos são as indústrias de papel e celulose e painéis, além da grande reserva vegetal para suprir a matéria-prima utilizada pelas siderurgias. No entanto, a existência de florestas nativas justificou o surgimento destas indústrias, mas a consolidação das mesmas, bem como o processo de concentração e acumulação estão relacionadas a dois momentos histórico-econômicos distinto: o processo de modernização da agricultura, a partir da década de1960, e as políticas do II PND, na década de 1970. Foi através da introdução de implementos agrícolas (máquinas, tratores, entre outros) que houve uma intensificação da colheita florestal e, além disso, a consolidação da indústria química, através dos fertilizantes e defensivos, proporcionou o processo de plantio de forma mais intensa e produtiva. 182

São os resultados obtidos com o emprego de máquinas na agricultura que evidenciam as características do progresso capitalista, com todas as contradições que lhe são inerentes, pois graças às máquinas a produtividade do trabalho agrícola atinge um nível extremamente elevado, conforme já havia sido apontado por Lênin. A consolidação do pacto de poder nos anos 1970, conforme apontado por Rangel (2000) criou condições institucionais para que a centralização de capitais industriais, bancários e agrários, formassem verdadeiros conglomerados industriais, dentre eles grandes reflorestadoras ligadas à indústria (Aracruz Celulose S.A., Florestas Rio Doce S.A., Klabin Florestal). A política de incentivos fiscais relacionada ao incentivo setorial do II PND, principalmente para a indústria de papel e celulose, foi decisivo para a consolidação do setor, principalmente no que tange à formação de uma base de matéria-prima, bem como a consolidação de um novo Departamento I, intensivo em capital, operando na produção de tratores e outros maquinários voltados para a agricultura, e, consequentemente, intensificando os processos silviculturais. O setor de painéis inicia nesse momento sua importância dentro do setor florestal, em substituição à madeira nativa. Nesse segmento, o Paraná foi o Estado que obteve maior destaque dadas as características de sua formação sócio-espacial. A política de incentivos fiscais acentuou a formação de uma base de florestas plantadas no Brasil, bem como favoreceu a regionalização industrial do setor florestal. A região sul, com as maiores reservas de pinus, concentra as indústrias de transformação da madeira. A região sudeste, com as maiores reservas de eucalipto, concentra a produção de celulose bem como a produção de carvão vegetal para abastecimento da siderurgia. Essa relação intrínseca entre floresta e indústria fortaleceu e possibilitou a centralização de capitais no setor, a exemplo do gigantesco capital da indústria de papel e celulose, na qual apenas três empresas, Suzano Papel e Celulose, Aracruz Celulose e Votorantin Celulose e Papel, são responsáveis por mais de 50% da produção nacional . No segmento de desdobramento da madeira, mesmo havendo uma centralização de capitais no segmento de painéis reconstituídos, o setor é, em geral, mais pulverizado. Neste setor o Paraná novamente se destaca. A atividade florestal tomou novos rumos, em que muitos casos grandes empresas reflorestadoras alcançam áreas de latifúndios atreladas às indústrias ou independente delas, fornecendo apenas a matéria-prima. O surgimento das grandes reflorestadoras criou um setor específico de aplicação do capital, possibilitando uma acumulação ligada ao fornecimento de matérias-primas para a indústria madeireira. 183

É notável que a entrada no país das TIMOs tem sido cada vez maior. Embora sendo recente esse episódio o seu número cada vez maior, sobretudo na região sul do Brasil, indica que a concentração florestal tende a se acentuar nos próximos anos. O processo de consolidação das indústrias florestais, num âmbito geral do setor, ou da madeira, quando do processamento, não seria possível sem o desenvolvimento tecnológico. O papel das inovações aparece aqui enquanto uma ferramenta imprescindível à própria manutenção do setor. O componente tecnológico é um elemento essencial na consolidação do setor. O papel da ciência, enquanto braço produtivo do capital proporcionou um terreno fértil para as pesquisas científicas de melhoramento genético das mudas. A apropriação desse conhecimento proporcionou o surgimento de grandes empresas (em especial as gigantes de papel e celulose, mas também as empresas de painéis de madeira), nas quais os capitalistas organizaram a ciência, custearam a educação científica, laboratórios entre outros, como forma de se apropriar ainda mais do conhecimento científico. Como apontado por Schumpeter (1961), a característica do desenvolvimento tecnológico passa a não estar somente no empresário inovador, mas também nos laboratórios da grande empresa e do Estado. A grande concentração industrial vivenciada pelo setor florestal está ancorada no tripé ciência-tecnologia-capital. Pois somente grandes empresas possuem capital para investir em pesquisa científica mesmo em níveis internacionais, como a aquisição da FuturaGene pela Suzano Papel e Celulose, ou mesmo para adquirir selos que atestam a origem e qualidade da matéria-prima, como é o caso do selo FSC, atualmente o mais conceituado mundialmente. É fundamental não esquecermos o papel desempenhado pelo Estado como fomentador da produção científico-tecnológica. O exemplo mais contundente desse aspecto aparece nos cursos de graduação e pós-graduação na área florestal, bem como o surgimento de institutos de pesquisa, no caso a Embrapa Florestas pós década de 1970. Além da pesquisa científica voltada para a inovação da matéria-prima, o desenvolvimento técnico voltado para o processamento da madeira foi relevante. A introdução da automatização nas linhas de produção fabril trouxe componentes importantes para este segmento, no que tange ao aumento da produtividade e, consequentemente, elevação da composição técnica do setor. A linha de montagem ou linha de produção, onde a produção está fragmentada, aparece como uma verdadeira máquina de acumular mais-valia, ensejadas pela maior 184

produtividade, isto é, o esforço para encontrar modos de incorporar até mesmo quantidades menores de tempo de trabalho em quantidades cada vez maiores de produto. A crise do capital, em meados de 2007, trouxe novos componentes para o setor no Brasil. De um lado estímulo para a produção de celulose, onde as grandes indústrias aumentaram a escala de produção, de outro certo arrefecimento nas exportações de painéis, principalmente compensado, para o principal comprador brasileiro, os Estados Unidos, considerado o epicentro da grande crise. Assim, o segmento de madeira sólida, que faz parte da cadeia florestal mereceu uma análise mais aprofundada. O setor se encontra em dois momentos distintos. O primeiro de redução das exportações de compensado (cuja produção nacional direciona-se em grande parte para o mercado externo) e outro de intensificação da produção de painéis reconstituídos e outras chapas (MDF, MDP) voltadas ao mercado interno. As políticas do governo federal de estimular o consumo interno, aliado à redução de IPI e políticas de incentivo à construção civil (Minha Casa, Minha Vida; PAC), aumentaram o consumo de painéis para a indústria moveleira e da construção. Com isso, a tendência desse segmento para se fortalecer é voltar-se ao mercado interno. Esse processo tem levado a uma centralização mais acentuada no segmento de painéis. A produção nacional praticamente se concentra nas mãos de 11 empresas (02 destas com plantas industriais recém instaladas). Além disso, a fusão e aquisição vivenciada pelo setor levou o processo de centralização a tornar-se mais acirrado ainda. A união da Duratex- Itaúsa formou uma das maiores produtoras de painéis da América Latina. Essas indústrias, concentradas nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, proporcionaram a existência de extensas áreas de florestas. O Estado do Paraná se constitui com as maiores áreas de florestas plantas de pinus do Brasil. A formação sócio-espacial desse estado é fator decisivo para esse aspecto. Nosso trabalho mostrou que a compreensão da dinâmica do setor madeireiro passa pelo entendimento em suas várias escalas. Não é possível entendê-lo sem entendermos a dinâmica global da economia capitalista, mas esta não é suficiente para explicar todas as nuances da organização do setor. Torna-se necessário entendermos as outras escalas, a nacional centrada na organização política brasileira, em especial à formação dos pactos de poder e a forma com que as frações de classe dominante tomam o Estado para suas políticas. Assim é fundamental entender o papel desempenhado pelos incentivos estatais voltados mais diretamente a esse setor. A escala local, que no nosso caso se refere mais especificamente ao Estado do Paraná, 185

tendo como base central a idéia do papel da formação sócio-espacial no desenvolvimento setorial. Um estudo de geografia econômica deve buscar o entendimento do processo de acumulação de capital e como esse processo se manifesta no espaço tendo com ele uma relação dialética na qual ao mesmo tempo em que produz o espaço geográfico é também condicionado por ele.

186

REFERÊNCIAS

ABIMCI. Certificação. Disponível em: < http://www.abimci.com.br/certificacao>. Acesso em 15 jul. 2010.

ABIMCI. Estudo Setorial 2007. Curitiba: ABIMCI, 2007

ABIMCI. Estudo Setorial 2008. Curitiba: ABIMCI, 2008.

ABIMCI. Fluxograma de produção de lâminas de madeira. Artigo técnico n. 19, maio 2004. Disponível em: < www.abimci.com.br/index.php?option=com_docman>. Acesso em 25 jul. 2010.

ABIMCI. O setor de processamento mecânico da madeira no Estado do Paraná. Disponível em: Acesso em: 22 de jul. de 2005.

ABRAF. Anuário Estatístico da ABRAF 2008 – ano base 2007. Brasília: ABRAF, 2008. Disponível em < http://www.abraflor.org.br/estatisticas/ABRAF08-BR.pdf>. Acesso em 13 jun. 2009.

ABRAF. Anuário Estatístico da ABRAF 2010 - ano base 2009. Brasília: ABRAF, 2010. Disponível em . Acesso em 02 jun. 2010.

AGROCIM. Florestas. Disponível em: . Acesso em 14 de junho de 2010.

ALMEIDA, R. R. Potencial da madeira de clones do híbrido eucalyptus grandis x eucalyptus urophylla. 2002. 72p. Dissertação (Mestrado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP-SP), Piracicaba, 2002.

ANDRADE, A. Otimização de investimentos em florestas plantadas – experiência Suzano. In: IV Congresso Internacional de Produtos de Madeira Sólida de Florestas Plantadas, 2008, Curitiba. Anais...Curitiba: ABIMCI. 1 CD-ROM.

ARRIGHI, G., SILVER, B. J. Caos e governabilidade no moderno sistema mundial. Rio de Janeiro: UFRJ, Contraponto, 2001.

ARRIGHI, G. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008.

BACHA. C. J. C.. Análise da evolução do reflorestamento no Brasil. Rev. de Economia Agrícola, São Paulo, v. 55, n. 2, p. 5-24, jul./dez. 2008.

BASTOS, L. A. A industrialização do Paraná: uma nova abordagem. 2002. 161p. Dissertação (Mestrado em História Econômica) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP-SP), São Paulo, 2002. 187

BELIK, W. Agroindústria processadora e política econômica. 1992. 229p. Tese (Doutorado em Economia) – Instituto de Economia da Universidade de Campinas (UNICAMP), Campinas, 1992.

BERNECK. Notícias. Disponível em: . Acesso em 15 jul. 2010.

BNDES SETORIAL. Florestas independentes no Brasil. Rio de Janeiro, n. 29, p. 77-130, mar. 2009.

BNDES SETORIAL. O setor florestal no Brasil e a importância do reflorestamento. Rio de Janeiro, n. 16, p. 3-30, set. 2002.

BNDES SETORIAL.Painéis de madeira no Brasil: panorama e perspectiva. Rio de Janeiro, n.27, p. 121-156, mar. 2008.

BNDES. 50 anos: Histórias Setoriais. Rio de Janeiro, 2002.

BRACELPA. Relatório Estatístico 2007/2008. Disponível em: . Acesso em 20 abr. 2009.

BRACELPA. Relatório Estatístico 2008/2009. Disponível em: . Acesso em 15 jul. 2010.

BRASIL, Lei nº 5.106, DE 2 DE SETEMBRO DE 1966.

BRASIL. Lei nº 6.151, de 04 de dezembro de 1974. II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento. São Paulo: Sugestões Literárias, 1975.

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Cadeia produtiva de madeira. Brasília, 2007. Disponível em . Acesso em 04 mar. 2009.

BRASIL. Ministério da Ciência e Tecnologia. Ciência e tecnologia no setor florestal brasileiro: diagnósticos, prioridades e modelo de financiamento. Piracicaba, 2002. Disponível em . Acesso em 23 jan. 2009.

BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no séc. XX. Rio de Janeiro: LTC, 1987.

BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no século XX. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

BRDE. Florestamento na Região Sul do Brasil – uma análise econômica. Porto Alegre: BRDE, 2003.

BRUN, F. Biotecnologia aplicada à florestas plantadas e ganhos potenciais de produtividade. In: IV Congresso Internacional de Produtos de Madeira Sólida de Florestas Plantadas, 2008, Curitiba. Anais...Curitiba: ABIMCI. 1 CD-ROM. 188

CAMILOTTI – CAMIDOOR. A empresa. Disponível em: . Acesso em: 23 jul. 2010.

CAMPOS, M. C. A Embrapa/Soja em Londrina – PR a pesquisa agrícola de um pais moderno. 2010. 221p. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 2010.

CAO, J. A indústria madeireira na China: tendências e perspectivas. In: IV Congresso Internacional de Produtos de Madeira Sólida de Florestas Plantadas, 2008, Curitiba. Anais...Curitiba: ABIMCI. 1 CD-ROM.

CELULOSEONLINE. Notícias. Disponível em . Acesso em 23 jul 2010.

CHARLES, D. Impactos Globais das TIMOs e fundos de investimento na expansão de florestas plantadas na América Latina. In: IV Congresso Internacional de Produtos de Madeira Sólida de Florestas Plantadas, 2008, Curitiba. Anais...Curitiba: ABIMCI. 1 CD-ROM.

CONSUFOR. Investimentos de fundos estratégicos no setor florestal brasileiro. Curitiba, 2009. Disponível em < http://www.consufor.com/publicacoes_estudos.php>. Acesso em 16 jun. 2010.

CORIAT, B. Pensar pelo Avesso: o modelo japonês de trabalho e organização. Rio de Janeiro: Revan: UFRJ. 1994.

DANTAS, D. A grande crise do capital, Cadernos de Ética e Filosofia Política, São Paulo, v. 14, n. 1, 2009. Disponível em < www.fflch.usp.br/df/cefp/Cefp14/dantas.pdf>. Acesso em 05 maio 2010.

DELGADO, G. C. Expansão e modernização do setor agropecuário no pós-guerra: um estudo da reflexão agrária. Revistas Estudos Avançados, São Paulo, v. 15, n. 43, 2001. Disponível em . Acesso em 24 abr. 2009.

EMBRAPA. Histórico. Disponível em: . Acesso em 14 abr. 2010a.

EMBRAPA. Pesquisas. Disponível em: . Acesso em: 15 abr. de 2010b.

EMBRAPA. Unidades de pesquisa e serviços. Disponível em: . Acesso em: 19 jul. 2010c.

ESPÍNDOLA, C. J., BASTOS, J. M. Indústria e comércio na região Sul: algumas considerações. Inédito, 2008.

FAO. Situación de los bosques del mundo 2009. Roma, 2009. Disponível em . Acesso em 23 abr. 2010.

FEZER, F. Tecnologia para melhorar a competitividade da industria de compensado. In: IV Congresso Internacional de Produtos de Madeira Sólida de Florestas Plantadas, 2008, Curitiba. Anais...Curitiba: ABIMCI. 1 CD-ROM. 189

FIEP. Cadastro das indústrias, fornecedores e serviços. 2007. 1 CD-ROM.

FLORES E. L. Industrialização e desenvolvimento do Sudoeste do Paraná. 2009. 226p. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Francisco Beltrão, 2009. Disponível em: . Acesso em 10 abr. 2010.

FONTES, A.A. A cadeia produtiva da madeira para energia. 2005. 148p. Tese (Doutorado em Ciência Florestal) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2005. Disponível em: . Acesso em 25 jun. 2010.

FONTES, S. Suzano vai ás compras para ganhar competitividade. Valor Online, 14 maio 2010. Celulose e papel. Disponível em: < http://www.valoronline.com.br/?impresso/empresas/95/6266676/suzano-vai-as-compras-para- ganhar-competitividade>. Acesso em 13 jul. 2010.

FORUM PARA A COORPERAÇÃO ECONÔMICA E COMERCIAL ENTRE A CHINA E OS PAÍSES DE LINGUA PORTUGUESA (MACAU). Notícias recentes. Disponível em: . Acesso em 17 jun. 2010.

FREEMAN, C. Inovação e ciclos longos de desenvolvimento econômico. Disponível em: . Acesso em 20 jan. 2009.

FSC. Histórico da Certificação FSC. Disponivel em: . Acesso em 13 abr. 2010.

FUNCEX. Base de dados. Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2008.

GAZETA MERCANTIL. Balanço anual 2008, out. 2008.

GENOLYPTUS. GENOLYPTUS: Rede Brasileira de Pesquisa do Genoma de Eucalyptus. Disponível em: Acesso em 15 de maio de 2010.

GONÇALVES, J. S. A questão agrária nos clássicos: as idéias, seu tempo e seu lugar. Informações Econômicas. v. 23, n. 8. São Paulo: IEA-SP, 1997.

GONÇALVES, R. Vagão descarrilhado: o Brasil e o futuro da economia global. Rio de Janeiro: Record, 2002.

GRAZIANO DA SILVA, J. A nova dinâmica da agricultura brasileira. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 1998.

GUARARAPES. Empresa. Disponível em: < http://www.guararapes.com.br/>. Acesso em 12 abr. 2010. 190

GUIMARÃES, A. P. G. O Complexo agroindustrial como etapa e via de desenvolvimento das agricultura, Revista de Economia Política, São Paulo, v. 2, n. 3, 1982. Disponível em . Acesso em 24 abr. 2009.

HENRY, John. A Revolução Científica e as origens da ciência moderna. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.

IBAMA. Dúvidas. Disponível em: . Acesso em 10 fev. 2009.

IBGE. Produção da extração vegetal e da silvicutura. Rio de Janeiro, v. 19, 2004. Disponível em . Acesso em 20 abr. 2009.

IBGE. Séries Estatísticas & Séries Históricas: Conceitos e Definições – pesquisas econômicas. Disponível em . Acesso em 20 abr. 2009.

IPARDES. Paraná: economia e sociedade. 2. ed. Curitiba: IPARDES, 2006.

JABBOUR, E. A historicidade e o sucesso do socialismo de mercado chinês. Revista Espaço Acadêmico. v. 9, n. 101, 2009.

JABBOUR, E. China: infraestruturas e crescimento econômico. São Paulo: Anita Garibaldi, 2006.

LACERDA, A. C. O impacto da globalização na economia brasileira. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1999.

LÊNIN, V. I. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

LIMA, M., FONTES, S. Fundos florestais estimam investir R$ 4 bi no Brasil. Valor Online, 23 dez. 2009. Madeira. Disponível em: . Acesso em 16 jun. 2010.

LINHARES, M. Y. e SILVA, F. C. T. História da agricultura brasileira: combates e controvérsias. São Paulo: Brasiliense, 1981.

MACEDO, A. R. P.; ROQUE, C. A. L. Painéis de madeira. Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2008.

MAGALHÃES FILHO, F. B. B. Da construção ao desmanche: análise do projeto de desenvolvimento paranaense. Curitiba: IPARDES, 2006.

MAMIGONIAN, A Geografia e a formação social como teoria e como método. In: Souza, M. A. A. de (org). O mundo do cidadão – um cidadão do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. 191

MAMIGONIAN, A. Padrões tecnológicos mundiais: o caso brasileiro. Geosul. Florianópolis, v. 14, n. 28, p. 158-164, dez. 1999.

MAMIGONIAN, A. Tecnologia e desenvolvimento desigual no centro do sistema capitalista. in Estudos de Geografia Econômica e de Pensamento Geográfico. Livre Docência: FFLCH-USP, 2005. p. 78-87.

MARIGHELLA, C. et al. A Questão Agrária no Brasil. 2. ed. São Paulo: Brasil Debates, 1980.

MARTINI S. T. A competitividade da micro e pequena empresa madeireira na região do Vale do Iguaçu: suas potencialidades e fragilidades. 2003. 175p. Dissertação (Mestrado em Economia) – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, 2003. Disponível em: . Acesso em 10 set. 2008.

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 12. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. Livro 2. v. 1.

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 17. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. Livro 1. v. 1 e 2.

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 2. ed. – São Paulo: Nova Cultural, 1985.

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 23. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. Livro 1. v. 2.

MARX, K. O Capital: crítica da economia política. 23. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010. Livro 1. v. 1.

MARX, K., ENGELS, F. Manifesto do Partido Comunista. Porto Alegre: L&PM, 2001.

MASISA. Nossa empresa. Disponível em: . Acesso em 14 jun. 2010.

MEDEIROS, C. A. A China como duplo pólo na Economia mundial e a recentralização da Economia asiático, Revista de Economia Política, São Paulo, v. 26, n. 3, 2006. Disponível em . Acesso em 10 de jun. 2010.

MEDEIROS, C. A. Economia e política do desenvolvimento recente na China, Revista de Economia Política, São Paulo, v. 19, n. 3, 1999. Disponível em: < http://www.rep.org.br/pesquisar3.asp?id=776>. Acesso em 10 de jun. 2010.

MINISTÉRIO DAS CIDADES. Minha casa, minha vida. Disponível em . Acesso em: 25 jul. 2010.

MONTEBELLO, A. E. S. Análise da evolução da indústria brasileira de celulose no período de 1980 a 2005. 2006. 115p. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP-SP), Piracicaba, 2006. 192

MORAES, M. A. F. D. (Elab.) Estudo da competitividade de cadeias integradas no Brasil: impactos das zonas de livre comércio. São Paulo: UNICAMP, 2002. 216 p. Disponível em: . Acesso em 15 abr. 2009.

MÜLLER, G. Agricultura e industrialização do campo no Brasil, Revista de Economia Política, São Paulo, v. 2, n. 6, 1982. Disponível em: < http://www.rep.org.br/pdf/06-2.pdf>. Acesso em 03 jul. 2010.

OLIVEIRA, D. Urbanização e industtrialização no Paraná. Curitiba, SEED, 2001

PADIS, P. C. Formação de uma economia periférica: o caso do Paraná. São Paulo: Hucitec, 1981.

PADIS, P. C. Formação de uma economia periférica: o caso do Paraná. 2. ed. Curitiba: IPARDES, 2006.

PEREZ, L. H.; RESENDE, J. V. Evolução das exportações brasileiras de madeira, 1996 a 2003. Disponível em: . Acesso em: 08 set. 2008.

PINTO. A.V. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. V. 1 e 2.

PINTO. G. A. A organização do trabalho no século 20: Taylorismo, Fordismo e Toyotismo. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

PIQUET, R. Cidade-empresa: presença na paisagem urbana brasileira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

PRADO JR., C. A Revolução Brasileira. 7. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

RANGEL, I. A História da Dualidade Brasileira. Revista de Economia Política. v. 1, n. 4, out-dez 1981.

RANGEL, I. Introdução ao desenvolvimento econômico brasileiro. 2. ed. São Paulo: Bienal, 1990.

RANGEL, I. Obras Reunidas. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005. v. 1 e 2.

RANGEL, I. Questão agrária, industrialização e crise urbana no Brasil. Porto Alegre: UFRGS, 2000.

REMADE. Artigos técnicos. Disponível em: . Acesso em 14 jul. 2010.

REVISTA CartaCapital. Ano XV, n. 599, 2010.

ROSENBERG, N. Por dentro da Caixa-Preta: tecnologia e economia. Campinas: Unicamp, 2006.

SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. São Paulo: Best Seller, 1999.

SANTOS, M. Por uma geografia nova. São Paulo: HUCITEC, 1978. 193

SANTOS, M. Da totalidade ao lugar.São Paulo: Edusp, 2005.

SCHUMPETER, J. A. Capitalismo, Socialismo e Democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961.

SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA. Ibama amarra Instituto Chico Mendes. Jornal da Ciência Online, São Paulo, 10 dez. 2007. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2010.

SUDATI. Institucional. Disponível em: . Acesso em 15 jul. 2010.

SUZIGAN, W. Estado e industrialização no Brasil, Revista de Economia Política, São Paulo, v. 8, n. 4, 1988. Disponível em: < http://www.rep.org.br/pdf/32-1.pdf>. Acesso em 03 jul. 2010.

VALOR ONLINE. Caderno Empresas. 2010b Disponível em: . Acesso em 05 jul. 2010.

VALOR ONLINE. Eucalipto divide terras com gado. 24 maio 2010a. Disponível em: < http://www.valoronline.com.br/?impresso/empresas/95/6282239/eucalipto-divide-terras-com- gado>. Acesso em 05 jul. 2010.

VALOR ONLINE. Procura pelo país cresceu nesta década. 23 dez. 2009a. Disponível em: . Acesso em 14 jun. 2010.

VALOR ONLINE. Relações comerciais puxam sinergia de R$ 4,5 bi entre VCP e Aracruz. 20 jan 2009b. Disponível em: . Acesso em 15 jul. 2010.

VALTANEN, H. Redução do suprimento de madeira da Rússia e impactos no mercado internacional. In: IV Congresso Internacional de Produtos de Madeira Sólida de Florestas Plantadas, 2008, Curitiba. Anais...Curitiba: ABIMCI. 1 CD-ROM.

VIEIRA, A. Fundo compra florestas da Vale na Bahia. Valor Online, 23 jan. 2008b. Caderno A. Disponível em . Acesso em 16 abr. 2010

VIEIRA, A. Investimento pesado vai atender chineses. Valor Online, 05 maio 2008a. Relatórios. Disponível em: . Acesso em 19 abr. 2010.

VIEIRA, M. G. de D. Formação social brasileira e Geografia: reflexões sobre um debate interrompido. Florianópolis: UFSC, 1992.

VOLTOLINI, S. Retorno 3: ciclo da madeira em Pato Branco. Pato Branco: IMPREPEL, 2000. 194

WACHOVICKZ, R. História do Paraná. 10. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2002.

WESTPHALEN, A. L. Vendas de material de construção crescem 12% em maio. Valor Online, 14 jun. 2010. Construção. Disponível em: . Acesso em 25 jul. 2010.

ZANATTA, M. Lula quer conter venda de terras a estrangeiros. Valor Online, 22 jun.2010. Agronegócios. Disponível em: . Acesso em 03 jul. 2010.

ANEXOS

Anexo 01. Síntese das unidades descentralizadas da Embrapa

UNIDADES DE SERVIÇO

Unidade / Sede Principais atribuições

Embrapa Café - Brasília/DF Coordenar a execução do programa de pesquisa em café e viabilizar soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento do agronegócio do café brasileiro.

Embrapa Informação Tecnológica - Brasília/DF Propor, coordenar e executar, em benefício da sociedade, soluções para a gestão e a difusão de informações geradas pela Embrapa.

Embrapa Transferência de Tecnologia - Formular, propor, coordenar e executar a política, as estratégias e as ações gerenciais relativas à Brasília/DF transferência de tecnologia (produtos e serviços) que possam ser viabilizados pela Embrapa e destinadas ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro.

UNIDADES DE PESQUISA DE PRODUTOS

Unidade / Sede Principais atribuições

Embrapa Algodão - Campina Grande/PB Desenvolver cultivares de algodão resistentes a doenças e adaptadas às condições do cerrado brasileiro; desenvolver cultivares de algodão adaptadas ao cultivo na região semi-árida; desenvolver cultivares de amendoim, gergelim e mamona adaptadas ao cultivo no Nordeste.

Embrapa Arroz e Feijão - Santo Antônio de Propor soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento das cadeias produtivas do arroz e do feijão. Goiás/GO

Embrapa Caprinos e Ovinos - Sobral/CE Elaborar soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento da caprinocultura e da ovinocultura.

Embrapa Florestas - Colombo/PR Viabilizar soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento florestal brasileiro.

Embrapa Gado de Corte - Campo Grande/MS Desenvolver soluções tecnológicas para a cadeia produtiva da pecuária de corte.

Embrapa Gado de Leite - Juiz de Fora/MG Propor soluções para o desenvolvimento do agronegócio do leite, com ênfase no segmento da produção, por meio de geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias.

Embrapa Hortaliças - Brasília/DF Contribuir para o crescimento do agronegócio de hortaliças com a geração de tecnologias, produtos e processos, assim como com transferência de tecnologia para o agricultor.

Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical - Viabilizar soluções de pesquisa, e inovação para o desenvolvimento da agricultura, com foco em mandioca e Cruz das Almas/BA fruteiras tropicais,

Embrapa Milho e Sorgo - Sete Lagoas/MG Desenvolver soluções de pesquisa e inovação com foco e milho e sorgo, com a finalidade de contribuir para a agricultura brasileira.

Embrapa Pecuária Sudeste - São Carlos/SP Atua nos mais diversos segmentos da produção de leite e de carne, como melhoramento genético de bovinos e de forrageiras, utilização de técnicas de biologia molecular no melhoramento animal e na sanidade animal, produção leiteira em pequenas propriedades familiares, nutrição animal, redução de impactos ambientais relacionados à atividade pecuária, alternativas para alimentação de bovinos na época de seca, sementes de forrageiras, irrigação de pastagens, manejo animal, manejo de forrageiras, sanidade animal e qualidade da carne.

Embrapa Pecuária Sul - Bagé/RS Viabilizar soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento do agronegócio dos Campos Sul- Brasileiros, com foco em bovinos e ovinos.

Embrapa Soja - Londrina/PR Desenvolver pesquisas e inovações para o desenvolvimento das cadeias produtivas da soja e do girassol.

Embrapa Pesca, Aquicultura e Sistemas Viabilizar, por meio de pesquisa e inovação, soluções para o desenvolvimento de cadeias produtivas da Agrícolas - Palmas/TO pesca, aquicultura e sistemas agrícolas.

Embrapa Suínos e Aves - Concórdia/SC Desenvolver pesquisa e inovação para o desenvolvimento da suinocultura e avicultura

Embrapa Trigo - Passo Fundo/RS Proporcionar soluções de pesquisa e inovação que visam o desenvolvimento da cadeia produtiva do trigo e outros cereais de inverno.

Embrapa Uva e Vinho - Bento Gonçalves/RS Viabilizar soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento da vitivinicultura e da fruticultura de clima temperado.

UNIDADES DE PESQUISA DE TEMAS BÁSICO

Unidade / Sede Principais atribuições

Embrapa Agrobiologia - Itaguaí/RJ Gerar conhecimentos e viabilizar tecnologias e inovação apoiados nos processos agrobiológicos, voltados para a agricultura.

Embrapa Agroenergia - Brasília/DF Viabilizar soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento do negócio da agroenergia no Brasil, por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias.

Embrapa Agroindústria de Alimentos - Coordenar as ações de pesquisa e desenvolvimento de produtos e serviços demandados pela agroindústria de Guaratiba/RJ alimentos com vistas à melhoria da qualidade e redução dos custos nas diferentes cadeias produtivas que compõem a agroindústria de alimentos.

Embrapa Agroindústria Tropical - Fortaleza/CE Viabilizar, por meio de pesquisa e inovação, soluções para o desenvolvimento de cadeias produtivas da agroindústria tropical.

Embrapa Estudos Estratégicos e Capacitação - Promover e coordenar a realização de estudos em temas estratégicos que contribuam para o aprimoramento Brasília/DF institucional e programático bem como a capacitação em agricultura tropical.

Embrapa Informática Agropecuária - Desenvolvimento de projetos em tecnologia de informação aplicada ao agronegócio e atuação nas áreas de Campinas/SP engenharia de sistemas de software, computação científica, tecnologia de comunicação, bioinformática e agroclimatologia, priorizando o uso de padrões abertos e o desenvolvimento de sistemas para a web.

Embrapa Instrumentação Agropecuária - Viabilizar soluções de pesquisa e inovação no desenvolvimento em instrumentação agropecuária São Carlos/SP

Embrapa Meio Ambiente - Jaguariúna/SP Desenvolver pesquisas e inovações para o desenvolvimento da agricultura com vistas a melhoras a qualidade ambiental.

Embrapa Monitoramento por Satélite - Promover pesquisas e inovações geoespaciais para a agricultura. Campinas/SP.

Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia - Coordenar ações de pesquisa e desenvolvimento de recursos genéticos e o sistema de curadoria de Brasília/DF germoplasma.

Embrapa Solos - Rio de Janeiro/RJ Elaborar soluções de pesquisa e inovação em solos e sua interação com o ambiente, para o desenvolvimento da agricultura tropical.

UNIDADES DE PESQUISA ECORREGIONAIS

Unidade / Sede Principais atribuições

Embrapa Acre - Rio Branco/AC Viabilizar inovações para o desenvolvimento da agricultura e uso de recursos florestais na sociedade amazônica, com ênfase no Estado do Acre.

Embrapa Agropecuária Oeste - Dourados/MS Propor soluções para o desenvolvimento l do espaço rural, com foco no agronegócio, por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias para a região Oeste do Brasil.

Embrapa Amapá - Macapá/AP Desenvolvimento de soluções para o espaço rural do Estado do Amapá e região do Estuário Amazônico, com foco no uso dos ecossistemas, por meio da geração, adaptação e transferência de conhecimentos e tecnologias.

Embrapa Amazônia Ocidental - Manaus/AM Atende a demandas dos mercados local e regional dentro do programa de agricultura familiar, principalmente com mandioca, cultivo de grãos e olericultura; do mercado nacional realizando pesquisas com fruteiras tropicais, dendê, seringueira, espécies florestais, guaraná e piscicultura; e do internacional,

com a produção de sementes de dendê.

Viabilizar soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento a agropecuária, agroindústria e floresta e Embrapa Amazônia Oriental - Belém/PA contribuir para a conservação do capital natural da Amazônia Oriental.

Embrapa Cerrados - Brasília/DF Desenvolve e coordena pesquisa em recursos naturais, sistemas de produção, socioeconomia, bem como identifica o potencial de aproveitamento e estratégias de uso para gerar, validar e transferir tecnologia que viabilizaram a exploração agrícola do Cerrado.

Embrapa Clima Temperado - Pelotas/RS Viabilizar soluções de pesquisa, e inovação para o desenvolvimento o da agricultura na região de clima temperado.

Embrapa Mato Grosso - Sinop/MT Atua nas soluções tecnológicas integradas para os sistemas agropecuários. Embrapa Meio-Norte - Teresina/PI Viabilizar soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento da agricultura da região Meio- Norte do Brasil. Embrapa Pantanal - Corumbá/MS Promover soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento do Pantanal, com foco na agricultura e no uso dos recursos naturais

Embrapa Rondônia - Porto Velho/RO Atua na elaboração de soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento da agricultura na Amazônia, com ênfase em Rondônia.

Embrapa Roraima - Boa Vista/RR Viabilizar soluções de Pesquisa e inovação para o desenvolvimento da agricultura na Amazônia Setentrional com ênfase no estado de Roraima.

Embrapa Semiárido -Petrolina/PE Busca de soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento da agricultura, com ênfase nas pesquisas no Semiárido.

Embrapa Tabuleiros Costeiros -Aracaju/SE A área de atuação da Embrapa Tabuleiros Costeiros atinge os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará e foi definida, tomando-se por base, as Grandes Unidades de Paisagem Tabuleiros Costeiros e Baixada Litorânea do “Zoneamento Agroecológico do Nordeste” realizado pela Embrapa. A principal atribuição e viabilizar soluções de pesquisa e inovação para o desenvolvimento da agricultura nos tabuleiros costeiros em benefício da sociedade brasileira.

Fonte: EMBRAPA, 2010c. Organizado pela autora.