Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I VOLUME

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 A REVOLUÇÃO TENENTISTA EM SÃO PAULO E SEU DESDOBRAMENTO NO OESTE DO PARANÁ – CATANDUVAS

Sonia Aparecida Belin Angélico¹ Paulo José Koling²

Resumo

O presente trabalho relata a experiência de produção e aplicação do material didático para o ensino de História com o tema História e Memória: a revolução Tenentista em São Paulo e seu desdobramento no Oeste do Paraná – Catanduvas , para o Ensino Médio. A experiência foi vivenciada com a produção e posteriormente na implementação do projeto pedagógico no Colégio Estadual Dr. João Ferreira Neves – Ensino Fundamental e Ensino Médio com alunos da segunda serie C e teve como objetivo recuperar o contexto histórico do Município de Catanduvas durante a revolução Tenentista de 1924. Através da produção de uma unidade didática, que propõe instrumentos metodológicos, relacionando textos bibliográficos, entrevistas, documentos oficiais e visitas a lugares históricos, buscou-se instigar o interesse nos alunos em conhecerem a história de seu Município.

Palavras chaves: Revolução; Pragmatismo; Valorização; História; Documentos.

Abstract

The present work tells to the experience of production and application of the didactic material for the education of History with the subject History and Memory: the Tenentista revolution in São Paulo and its unfolding in the West of the Paraná - Catanduvas, for Average Ensino. The experience was lived deeply with the production and later in the implementation of the pedagogical project in the State College Dr. João Blacksmith Snows - Basic Education and Average Education with pupils of second series C and had as objective to recoup the historical context of the city of Catanduvas during 1924 the Tenentista revolution. Through the production of a didactic unit, that considers metodológicos instruments, relating bibliographical texts, official interviews, documents and visits the historical places, searched to instigate the interest in the pupils in knowing the history of its city.

Words keys: Revolution; Pragmatismo; Valuation; History; documents.

¹ Professora da Rede Estadual de Educação, Colégio Estadual Dr. João Ferreira Neves – Ensino Fundamental e Médio – Catanduvas Paraná. ² Professor Orientador Dr. Paulo José Koling da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campos de Marechal Cândido Rondon. PDE. 1 Introdução

O presente artigo tem como objeto de estudo a recuperação de parte da história do Oeste paranaense e da história local do Município de Catanduvas, sua temática envolve a História e Memória de e sobre a revolução Tenentista de São Paulo e seu Desdobramento no Oeste do Paraná no Município de Catanduvas. Nesse sentido Hobsbawm afirma:

A destruição do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo. Sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo o ofício é lembrar o que os outros esquecem tornan-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. (HOBSBAWM,1995, p.13).

A articulação da história individual do aluno com a história coletiva de grupos e de sociedade faz compreender que os homens estão condicionados pela história vivida, mas também capazes de fazerem suas histórias. Assim todos são sujeitos da própria história. É importante ressaltar e entender que a história é feita por todos. Assim um dos objetivos desse estudo consiste em fazer o aluno ver-se como partícipe do processo histórico, dialogando com o passado e o presente. Pois como nos cita Carvalho:

Nada que é humano será agora alheio ao historiador. Daí a multiplicação de estudos sobre cultura, os sentimentos, as idéias, as mentalidades, o imaginário, o cotidiano e também sobre instituições e fenômenos sociais antes considerados sem importância, senão irrelevantes, como o casamento, a família, organizações políticas, e profissionais, igrejas, etnias, a doença, a velhice, a infância, a educação, as festas e rituais, os movimentos populares.(CARVALHO, 1998, p. 454).

A intenção do presente artigo é fazer com que o aluno compreenda a história regional, local, não de forma isolada, mas que esta faz parte de uma memória. Mesmo não percebida no seu cotidiano a história local esta articulada sistematizada com a história nacional. Essa forma de aprender a história faz a diferença e torna o conhecimento mais próximo dos interesses e da vida do aluno. Nesse contexto, ressalta-se a importância da recuperação de memórias locais, através da oralidade e de entrevistas com moradores pioneiros que vivenciaram parte dos desdobramentos do movimento tenentista em Catanduvas ou ainda através de uma interpretação histórica feita por especialistas que lançam um olhar “de fora para dentro”. Os testemunhos históricos vivenciam a memória de cada lugar, preservando a importância e o significado para os habitantes locais. Através deste trabalho pretende-se mostrar a essencialidade de pesquisas e a aplicação de uma produção didática que reconheça a importância para o conhecimento da história local, entendendo o que ela significa e a partir dela incentivar o aluno para o interesse pela história da comunidade na qual está inserido, favorecendo um comprometimento com sua região. Também não podemos esquecer que o aluno faz parte de uma comunidade que tem uma história construída e em construção. Para atingir esses objetivos de conhecer e valorizar a história do Município a implementação do projeto na produção didática pedagógica, a unidade didática, foi realizada com alunos da 2ª Série C do Ensino Médio e propõe ações de valorização, e recuperação da memória local, promovendo, através de diferentes atividades, a recuperação da identidade da comunidade na qual os alunos estão inseridos. Para a historiadora Circe Bittencourt:

Um dos objetivos centrais do ensino de história na atualidade relaciona-se a sua construção na constituição de identidades. A identidade nacional nessa perspectiva é uma das identidades a ser constituída pela história escolar, mas por outro lado, enfrenta o desafio de ser entendida em suas relações com o local e o mundial. (BITTENCOURT,1998 p.25).

Para que o indivíduo se sinta participante e integrante da história em seu Município e de sua própria história, conhecer antes de tudo, é importante, para também valorizar. Ter um sentimento de pertencimento, de existência do local onde mora, uma identidade própria como referência. Como este projeto abrange alunos do ensino Médio do Colégio Estadual Dr. João Ferreira Neves aos quais foi proposto o objetivo de repensar a história local, houve necessidade de uma retomada de valores culturais e históricos não somente em sala de aula, mas envolvendo a comunidade local, realizando visitas a lugares históricos como: os caminhos percorridos pelos revolucionários rebeldes, os locais das trincheiras, as áreas de combate, os cemitérios, os lugares onde moradores locais ficaram foragidos das forças rebeldes tenentistas e legalistas. Também foi visitado à Câmara de Vereadores e a Prefeitura Municipal para termos conhecimento do projeto ora mencionado da construção do Memorial da Revolução de 1924. Procurou-se dessa forma levar esses adolescentes e jovens a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização da história local. Utilizamos a metodologia da história oral e a realização de entrevistas com moradores pioneiros e familiares que vivenciaram o período da revolução paulista de 1924 e seu desdobramento no Município de Catanduvas, para termos novas referências desse processo, através do relato de pessoas que estiveram envolvidas nesse caso. Pois como cita Le Goff:

Nesta perspectiva, ao analisar a memória é necessário ter clareza de que se trata da construção psíquica e intelectual, uma representação seletiva do passado que envolve além do indivíduo elementos do contexto no qual está inserido como família, amigos, grupo social e político. Desta forma, a memória individual é sempre compartilhada por uma coletividade, constituindo elementos importantes na análise e interpretação do passado. (LE GOFF ano 1996, p.419).

A recuperação da memória na escrita da história têm um papel importante e significativo mostrando que a memória não é um repositório passivo, mas ativo e atuante é o vínculo, que permite as identidades a despeito do fluxo do tempo. A incorporação das fontes orais na presente pesquisa possibilita vantagens tais como a de despertar o interesse do aluno e a possibilidade real de conhecimento, que ele pode produzir, pois, tem acesso, a fontes diretas, com testemunhos vivos colocando o aluno diante de fatos próximos de sua realidade, possibilitando uma valorização da história. Esta postura, com certeza, promove a consciência de pertencimento e de inserção social, para os alunos. É necessário, porém afirmar que com isso não cai no relativismo histórico, mas procura-se traçar um elo entre a história cientificamente elaborada e a história daqueles que não fizeram parte do registro histórico oficial que são sujeitos atuantes e não meros expectadores. Segundo BURKE:

A história tradicional oferece uma visão de cima no sentido de que têm sempre se concentrando no feito de grandes homens, estadistas generais ou ocasionalmente eclesiásticos. Ao resto da humanidade foi destinado o papel secundário no drama da história. (BURKE,1992, p. 12).

Em relação á desmistificação do dogmatismo oficial histórico e mediante os desafios enfrentados no ensino da história, voltado aos heróis, ao registro documentado oficialmente como verdade única e absoluta, o presente artigo visa auxiliar o professor na superação do uso de uma única corrente historiográfica como verdade histórica, propondo a adoção de uma proposta metodológica pluralista como prática educacional, pois o professor, mediador na construção do conhecimento, também é sabedor de que seus alunos aprendem de modos diferenciados , assim deve buscar diversas abordagens sobre a história para então alcançar seus objetivos. O ensaio também promove estudo das Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná que sugere:

A produção científica as manifestações artísticas e o legado filosófico da humanidade, como dimensões para diversas disciplinas do currículo possibilitam um trabalho pedagógico que aponte na direção da totalidade do conhecimento e sua relação com o cotidiano. (DCEs, 2008 p. 13).

Com isso entende-se a escola como um espaço possível de confronto e diálogo entre conhecimentos sistematizados e os conhecimentos dos cotidianos em que o professor exerce um papel pedagógico fundamental para a formação de cidadãos localmente situados, socialmente engajados e culturalmente identificados, capazes de aprender as diferentes faces da realidade local, de relacioná-las com os fenômenos globais, de criarem alternativas e de promover uma mudança social. Também as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná enfatiza a importância de se estudar as histórias locais e regionais:

“A proposta metodológica deve partir das histórias locais e do Brasil para a Geral , possibilitando a abordagem da história regional, o que atende a Lei: 13.381/01, a qual torna obrigatória, no Ensino Fundamental e médio da Rede Pública Estadual, o trabalho com os conteúdos de História do Paraná” (DCEs de história 2008)

. Retirar o aluno de uma proposta de história voltada somente a grande história a história universal, partindo então da história local/regional,porém não construindo uma visão fragmentada dos acontecimentos mas fazendo uma analogia entre o local e o nacional permitindo assim uma visão mais crítica do processo histórico, de Catanduvas. Foto 01- Vista parcial, aérea, da cidade de Catanduvas; Fonte Prefeitura Municipal

2. Caracterização do Município de Catanduvas

Tornou-se necessário fazer um estudo bibliográfico caracterizando o Município de Catanduvas, assim lançou-se mão, então, da ferramenta essencial de trabalho do professor: O Conhecimento. Neste caso mais especificamente o conhecimento histórico. Foi realizado um estudo bibliográfico no que se refere ao Município de catanduvas, foi também feito uso das entrevistas dos testemunhos da história, levando em consideração o conhecimento prévio dos alunos, suas interpretações e reflexões. Catanduvas esta localizada no centro do Estado do Paraná seu nome origina-se do tupi “kaa ta-duba”...local de mato ralo,”ka á tãg tiba”... Local de mato ralo, pouco crescido,mato rasteiro. No limiar do século XX, a região do atual Município já era habitada pelas famílias de Theóphilo Lacerda, Krammer e Pureza. Em 1907 chega a família de Rodrigues da Cunha, surge então o primeiro núcleo de povoação. A localidade inicialmente denominou-se Barro Preto, prevalecendo posteriormente Catanduvas. Pela Lei Estadual número 1.383, de 14 de março de 1914, foi criado o distrito, e em seguida instalou-se uma estação telegráfica, um posto intermediário de comunicação pela posição estratégica da região,pois em 1889 o Governo da República havia instalado uma linha telegráfica de a Foz do Iguaçu.Site:(HTTP//citybrazil.UOL.com.br.pr Catanduvas/história da cidade)

Foto 02-Localização do Município de Catanduvas no Mapa do Estado do Paraná; Fonte wikipedia.org/wiki/Catanduvas-Paraná

No ano de 1898, era criado o Distrito Policial de , abrangendo Guaraniaçu, Catanduvas, , Servindo de ponto intermediário de ligação entre Guarapuava e Foz do Iguaçu. Em 14 de novembro de 1951, foi criado por lei estadual o Município de Guaraniaçu, até então distrito judiciário de laranjeiras do Sul, e instalada em 14 de dezembro de 1952, elegendo- se o primeiro prefeito e vereadores. Catanduvas passou a ser distrito do Município de Guaraniaçu. Pela Lei 4245 de 1960, foi elevado a categoria de Município, desmembrando-se de Guaraniaçu, tendo como prefeito nomeado o Sr. Antônio Vargas. O Município foi instalado somente em 08 de dezembro de 1961, tendo como primeiro prefeito eleito, o Sr. Augusto Gomes de Oliveira Junior, que administrou o Município até o ano de 1964. Hoje o Município tem como polos no interior, o Distrito de Ibiracema e a comunidade e a comunidade de Santa cruz. Na cidade destacam-se os bairros:Menino Deus, Jardim Catanduvas, e bairro Alto Alegre. O Município de Catanduvas esta situado na região Oeste do Paraná, no terceiro planalto de Guarapuava. A região Oeste teve sua ocupação em ritmo acelerado a partir da década de 1960. Dois importantes fluxos migratórios configuraram a estrutura de sua economia agrária: um vindo de Santa Catarina e outro do Rio Grande do Sul, constituído, principalmente por descendentes de europeus, e outro vindo das áreas cafeeiras do Norte do Paraná. Em menor número vieram apara a região poloneses, ucranianos e outros migrantes. O Município de Catanduvas apresenta uma área total de 587,40 km e apresenta os seguintes dados. Limites:Norte: e , Sul: Três Barras do Paraná e Quedas do Iguaçu, Leste Ibema e Guaraniaçu, Oeste:Cascavel. Catanduvas destaca-se por ter sido local de um dos desfechos da revolução Tenentista de 1924, iniciada em São Paulo, onde ficaram vestígios como:armas e munições, cemitérios , trincheiras. MONOGRAFIA: A Revolução Tenentista de 1924 e seu desdobramento no Oeste do Paraná. UNIOESTE 1998-Sonia Aparecida Belin Angélico.

3. História e Memória:Catanduvas uma História para ser contada.

Foto 03-Estação telegráfica, depois da ocupação dos Tenentes Rebeldes em 1924; Fonte Prefeitura Municipal Foto 04-Picada da Linha Telegráfica em direção a Catanduvas; Fonte Prefeitura Municipal

Este trabalho apresenta um estudo sobre a Revolução Tenentista iniciada em São Paulo em 1924 e seu desdobramento no Oeste do Paraná, enfatizando o desfecho no Município de Catanduvas. A escrita da história local no presente trabalho reporta-se á recuperação da importância da história local, da micro-história, dando dignidade epistemológica ao cotidiano e portanto deve representar uma nova atitude frente ao conhecimento, na medida em que o individual não se traduz mais em obstáculos, mas sim em vias de acesso. Dessa forma e possível afirmar, conforme Levi que:

O princípio unificador de toda a pesquisa da micro-história é a crença em que a observação microscópica revelará fatores previamente não observados numa abordagem tradicional a micro-histórica, serve para registrar uma série de conhecimentos ou fatos significativos que de outra forma, seriam imperceptíveis e que no entanto, podem ser interpelados por sua inserção num contexto mais amplo, ou seja, na trama do discurso social. (LEVI, 1992, p. 12).

A História não é feita somente por heróis e personalidades que se destacam em determinado tempo e lugar. Ela é construída também por muitos outros atores anônimos que merecem ter seus feitos analisados e registrados.

4. Contexto histórico

A região Oeste do Paraná foi ocupada pelos brasileiros sob intervenção do Estado em data relativamente recente, se comparada a outras regiões do país.A povoação do Oeste paranaense originou-se e foi registrada a partir do século passado que pequenos grupos passaram a fixar-se em torno dos caminhos percorridos pelos militares e dos acampamentos de ervais. Dessa maneira formaram-se muitos povoados hoje consolidados no caminho entre Catanduvas e Foz do Iguaçu. A influência platina era sentida em toda a região do Oeste paranaense, na década de 1920 e mais precisamente no período do desfecho da revolução Tenentista de 1924.As empresas argentinas chamadas “obrages” tomavam conta da região.

Os que trabalhavam na construção e conservação da estrada de rodagem eram paraguaios. Esta influência acentuava-se a partir da localidade de Catanduvas. Entro em casa de negócio para tomar informação. O caixeiro responde-me em espanhol (WACHOWICZ, 2002, p.129).

Ainda como nos relata a história oficial as terras do Oeste paranaense estavam sob o domínio das empresas Anglo-Argentinas denominadas Obrages. A revolução paulista para o Oeste paranaense, prestou um importante serviço, o de mostrar as autoridades brasileiras o total abandono desta região e sucessivamente providências a serem tomadas por parte das próprias autoridades para retomada dessas terras, pois parecia que a região Oeste não fazia mais parte da nação brasileira. A língua falada era o espanhol, a moeda era o peso argentino, não se conhecia por aqui o mil réis, e as leis respeitadas eram as leis do Estado Argentino.

De Salto a Cascavel nada existia a não ser galhos nas estradas. Esta última localidade possuía na ocasião apenas cinco casas, ao longo do caminho. Deste ponto começavam os domínios das OBRAGES. A primeira bem próxima a Cascavel, era empresa Barthe. Todas as informações fornecidas no depósito central, sede da mesma, fora dadas em espanhol. Sem falar da moeda circulante que era o peso argentino. Desconhecia-se praticamente o mil reis.Todo o comércio da região estava ligado a estabelecimentos argentinos sediados em Posadas e Corrientes, que possuíam seus próprios vapores para abastecer o Oeste via Rio Paraná. (WACHOWICZ, 2002, p.69).

Catanduvas era um povoado com reduzido número de famílias que viviam da lavoura e da pecuária.

5. Revolução Tenentista de 1924 Os revolucionários de 1924 eram em sua maioria tenentes e capitões do setor intermediário das Forças Armadas. O conflito propriamente dito aconteceu entre os dias 05 e 28 de julho e é considerado o mais violento já ocorrido na cidade de São Paulo.

O segundo 05 de julho de 1924, teve dimensão muito maior do que o primeiro, ficava marcado pelo sacríficio heroico dos dezoito do Forte de Copacabana.Tratava-se agora, do controle sobre segunda cidade do país , na época com seu maior parque industrial ; onde portanto estava concentrada massa operária de dimensão significativa. (Sodré, Apud Werneck. 1985, p. 27.)

Essa data foi escolhida para fazer referência a outro movimento Tenentista:a Revolta de Copacabana, conflito armado entre o governo federal, representado pela figura do presidente da república e parte das forças armadas, no dia 05 de julho de 1922. A cidade de São Paulo foi escolhida como marco inicial pelos militares para começar uma revolução que deveria tomar o Brasi.l O plano dos revolucionários rebeldes era controlar a cidade bloquear ferrrovias, telefones e telégrafos, impedindo o governo federal de reagir. Pois como cita MEIRELLES:

Deflagrada a Guerra soldados revolucionários liderados por Isidoro Dias Lopes invadem São Paulo na fria madrugada de 05 de julho de 1924.O centro da cidade de São Paulo transformou-se num verdadeiro campo de guerra era enorme o ruido de fuzilaria , foram construídas trincheiras pelos soldados revolucionários para se proteger do inimigo fardos de feno, cerca de arame farpado.Após intensos combates os revolucionários deixam São paulo o seu plano inicial havia fracassado.Mas recuaram em boa ordem, com homens ,víveres e munições montaria e principalmente muito prestígio , o que facilitaria adesões .Seguindo para o oeste paulista em direção a fronteira o comando revolucionário considerou a possibilidade de continuação da luta, estabelecendo um território rebelde no sul do mato Grosso, e a partir dali fazer uma guerrra de posições contra o governo federal (.MEIRELLES, 1997 p. 174).

Após a saída forçada de São Paulo os tenentes revoltosos, refazem seus planos o que ficou para trás foi um rastro de destruição entre civis rebeldes e legalistas. As lutas sociais não podem ser compreendidas em sua complexidade se forem apresentadas como lutas do bem contra o mal.É necessário recuperar o interesse em jogo as ambiguidades e contradições dos agentes envolvidos, estabelecendo um diálogo entre presente e passado, operando, assim várias temporalidade simultâneamente, preservando a historicidade de cada momento histórico.

6. Desfecho Final da Revolução

Acuados para o Oeste do Paraná e cada vez mais sem armas e munições víveres condições físicas e de saúde para continuar combatendo sentem-se aos poucos suas forças se esvairem e buscam um lugar onde possam combater as forças legalistas de forma mais segura.Assim foram 04 meses sitiados no Município de Catanduvas e esperando ajuda das tropas gaúchas lideradas por Prestes. Como cita Anita Leocadia Prestes:

Nos últimos dias de março de 1924 os rebeldes paulistas que resistiram na frente de Catanduvas capitularam, após um sítio de 04 meses.Os soldados aprisionados pelo general Rondom foram mandados para Clevelândia um verdadeiro campo de concentração criado na Amazônia pelo governo Bernardes.A situação ficou crítica.As tropas legalistas avançaram em direção a Foz do Iguaçu , local em que o general Rondom passava a obrigar os rebeldes a rendição fina” ( PRESTES. 1996, p. 60).

Catanduvas foi ocupada pelas forças legalistas no dia 30 de março de 1925.O pequeno vilarejo torna-se noticia nacional e aparece nos principais meios de comunicação do país, como o local onde o governo federal rendeu as forças tenentistas rebeldes.

7. Os Testemunhos Orais da História

Através dos testemunhos orais foi possível enxergar vivências, partilhar emoções alegrias tristezas medos e esperanças .Oferecendo assim para o trabalho com meus alunos detalhes esquecidos lembranças trazidas do conflito entre tenentes rebeldes e legalistas que contribuiram para perceber igualmente que apesar do tempo ainda persistem e possuem grande importância histórica. Em entrevista ao pioneiro Juca Rodrigues em 25/05/98: ele relata o seguinte:

O que mais me deixa triste quando lembro da revolta de 24 é meu pai e minha família, perdemos quase tudo o que tinhamos levado uma vida inteira para conseguirCasa, terra casa de comércio criação de vacas galinhas porcos e além do mais tivemos que buscar abrigo em lugar seguro abandonando nossa casa e tudo o que a agente tinha.Enquanto isso nossa casa de comércio nossa moradia era invadida pelos soldados rebeldes.Eles chegavam e levavam quase tudo:as criações pedaços de fazenda.O governo prometeu nos indenizar mas isso não aconteceu, até hoje eu tenho as notas aqu”.(Juca Rodriguês-Pioneiro de Catanduvas)

A negligência por parte do governo federal na pessoa de Artur Bernardes em relação aos civis é percebida quando um dos testemunhos orais relatam o descaso com que as autoridades trataram aqueles que foram atingidos economicamente pela revolução, havia promessas para que fossem ressarcidos , mas ficou somente na promessa, perderam casa de morada, casa de comércio e tudo o que tinham e ainda tiveram que permanecer “escondidos”, enquanto acontecia os combates mais violentos abandonando tudo o que possuiam, assim precisaram reconstruir suas vidas sem a ajuda do governo federal. As entrevistas orais dos testemunhos históricos que vivenciaram esse período permitiram o reconhecimento do papel dos indivíduos comuns nos processos históricos, sua contribuição na recuperação da história local . Como cita Le Goff:

A propriedade de conservar certas informações remete em primeiro lugar a um conjunto de informações psíquicas, graças as quais o homem pode atualizar imersas ou informações passadas ou que ele representa como passadas.” (LE GOFF, 1996 p. 419).

Recorrer aos testemunhos históricos, valorizando a história oral deixada por nossos antepassados é como recuperar a história que nos torna mais próximos do processo histórico real comprovado e sistematizado, porém, levando o aluno a sentir-se como sujeito da história, protagonista dela. Assim nos relata o Sr. Eurídes Caetano:

As lembranças que tenho não são as melhores, são tristes .Eles os revolucionários eram donos de tudo para nós matarmos um novilho para nosso consumo era necessário pedir autorização ao comandante Estilac Leal.Seu Eurídes lembra que seu trabalho era levar melancias e outros alimentos até as trincheiras .Seu pai matava a criação que tinha e fornecia a carne.Recorda ainda que seus pai buscava boi em Guarapuava e trazia até Catanduvas.As viagens duravam dias e eram feitas num misto de monmtaria e a pé. (Entrevista a Revista Resgate; A História passada a limpo).

Seu Eurídes Caetano na época da revolução tinha apenas 12 anos de idade, sua família trabalhava com lavoura e pecuária.Seus pais chegaram na região por volta do ano de 1923, pouco antes que as primeiras forças tenentistas se alojassem local. Ainda conforme relato de D. Terezinha Rodrigues de Lima pioneira do Município:

Os revolucionários provocaram muita destruição nas casas das famílias”. Terezinha lembra-se muito bem do episódio e diz ter sofrido muito na época pois tudo, mas tudo mesmo era controlado pelos soldados tenentistas rebeldes.

O Sr. Visimundo Kovaleski era proprietário de terras no Município, próximo a localidade do Roncador a 18 km da cidade onde fica também o cemitério da revolução como ficou assim chamado pelos moradores locais e restam ainda hoje cruzes de metal e de madeira com o nome dos soldados mortos.

Como relata Visimundo Kovaleski: Quando preparamos a terra para o plantio ainda hoje encontramos restos de munições usadas na batalha de Catanduvas.

O cemitério do roncador a 18 km da cidade no interior , que fica na propriedade da família Kovaleski existem cruzes de metal, ja danificadas pelo tempo e outras de madeira.Todos os túmulos pertencem a Força Pública (hoje Polícia Militar)e da sétima Região de Infantaria de São paulo.

8. Desenvolvimento Metodológico

Investigar a história local, no caso específico do Município de Catanduvas-Pr, foi uma maneira de valorizar o lugar e as pessoas que nela vivem, dando suporte de pesquisa aos alunos e a comunidade proporcionando assim conhecer um pouco da história do seu Município. Foi realizada exposição oral, onde a turma pode assistir ao documentário “Bendita Revolução” retratando o período da revolução tenentista de 1924 e sua ligação com a história nacional aproveitando o conhecimento prévio dos alunos. Após indicação de bibliografias diferenciadas sobre o tema foi dividida a sala em grupos com monitoramento do professor foram realizados estudos, leituras interpretações com produção de textos por grupo e exposição oral. Após as apresentações dos diferentes grupos foi realizado um seminário,onde foi utilizado a tv - pendrive como suporte didático para a visualização de slides e fotografias que retratavam os lugares de combate, as trincheiras, os cemitérios, os caminhos percorridos pelos revolucionários,resquícios de materiais bélicos que ainda são encontrados em regiões onde centralizaram-se os combates. Foram ouvidos também durante o seminário alunos que residem no interior , em especial na localidade onde foi travado os mais violentos combates como no Cajati e no Roncador, relatando histórias de família onde contam que regularmente ao preparar a terra para o cultivo ou afazeres diários encontraram resquícios de fuzis, metralhadoras, balas de canhão,enfim uma enormidade de materiais bélicos frutos da revolução de 1924. Assim relata o aluno Jhonatha da segunda série C: ”Minha família, Meu pai, meus irmãos e eu quando vamos preparar a terra para o cultivo quase sempre encontramos pedaços do que parece ser o resto de artilharia munições até pedaços de armas da época.”

A aluna Juliana da segunda série C relata: “É vários colegas meus que moram na linha Roncador e no Cajati contam que quando suas famílias realizavam o preparo da terra para o plantio sempre encontravam resquícios de balas de canhão, de metralhadoras não se sabia bem ao certo o que era.

O aluno Jhon Relata: Meus pais dizem ter ouvido história de arrepiar, como assombração das pessoas que morreram durante a revolução principalmente na linha do Roncador, alguns moradores dizem que durante a noite ouvem barulhos estranhos e veem vultos estranhos. Eu não acredito, mas também não duvido.

As alunas Manoela e Marcela: Moram na fazenda Floresta contam que seu pai que trabalha para um fazendeiro da localidade diz que na propriedade que é grande, bem lá no alto tem um lugar de mata fechada onde os soldados tenentistas refugiaram-se e é um lugar mal assombrado ninguém nem chega perto. . A partir dos relatos dos alunos foi trabalhado memórias locais com os seguintes questionamentos: Qual a memória da revolução tenentista de 1924 para os pioneiros que vivenciaram o acontecimento? Qual foi a reação das autoridades da época? Como essas famílias ficaram após a rendição dos tenentes rebeldes? A utilização do documentário “Bendita Revolução” mesmo norteado pela história oficial forneceu subsídios de pesquisa e foi relacionado com a exposição oral. Também foi feito uma analogia dos relatos dos alunos a respeito da revolução tenentista de 1924. Foi retomado o estudo bibliográfico em grupos ressaltando o movimento Tenentista em São Paulo e o desfecho final no Município de Catanduvas, foram distribuídos textos com imagens e através da conversação com a turma da troca de informações foi levantado o seguinte questionamento: Qual a relação da Revolução Tenentista de São Paulo no ano de 1924, com a história local dol Município de Catanduvas? Como a população que aqui vivia percebeu esse movimento? O cotidiano do pequeno povoado modificou-se, por quê? Qual o impacto desse movimento para a região Oeste? Qual a relação com a história em âmbito nacional, regional e local ? Após análise e estudo dos materiais coletados, foi produzido um mural retratando parte da história do Município aos alunos e a comunidade escolar.(Ver foto 05)

Foto 05-Mural produzido pelos alunos da 2ª série, retratando parte do contexto histórico da Revolução de 1924; Fonte: Pesquisadora

Foi organizado também visitas a lugares históricos do Município: Trincheiras, que resistiram ao tempo localizadas no interior do Município, cemitério na linha Roncador, local onde esta sendo construído o Memorial da Revolução de 1924-(Ver fotos 06 e 07) Foto 06-Cemitério Linha Roncador; Fonte: Adelar Antonio Paganini

Foto 07-Trincheiras Rebeldes linha Roncador; Fonte Prefeitura Municipal

Assim a percepção pelo aluno da história local não apenas deve ser compreendida como um apêndice da história, mas como uma história em si, com suas particularidades, sem que se perca de vista sua inserção na grande história. Em outro momento foi realizada visita a Biblioteca Pública a Câmara de Vereadores, a Prefeitura Municipal e as futuras instalações do Memorial da Revolução de 1924 (em construção) onde ira abrigar materiais bélicos referentes a revolução de 1924.(Ver foto 08) Foto 08-Maquete do Memorial da Revolução; Fonte Prefeitura Municipal

A visita a lugares considerados históricos do Município, estimulou os alunos a refletir e a descobrir que o saber oficial ou do livro didático não é a única fonte de conhecimento, pois através da pesquisa, da visita a lugares históricos o aluno pode fazer uso de outras fontes, ou meios diferentes disponíveis na construção do conhecimento. Tornando nosso aluno agente ativo e modificador da realidade interagindo com sua comunidade, sem produzir estereótipos da história universal. Foi confeccionado camisetas com as seguintes frases: “Catanduvas uma história para ser contada”, Projeto História e Memória. A direção do Colégio autorizou os alunos a usar a camiseta como parte do uniforme, despertando assim o interesse nos demais alunos em conhecer a história do Município.(Ver foto 09)

Foto 09- Camiseta, Projeto História e Memória – Catanduvas uma história para ser contada; Fonte: Pesquisadora BIBLIOGRAFIA: BITTENCOURT, Circe (org). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: contex- contexto,1998. BURKE, Peter-A Escrita da História (org); tradução de Magda Lopes-São Paulo: Editora UNESP 1992-(Biblioteca Básica). DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA/PARANÁ - História- 2008 SEED. LE-GOFF, Jaques. História e Memória. Edição Campinas; UNICAMP. 1996. LEVI,Giovani, sobre a micro História. In Burke, Peter. A Escrita da História. São Paulo, SP. Unesp,1992. HOBSBAWM.Eric. A Era das Revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2005. MEIRELLES ,Domingos. A Noite das Grandes Fogueiras:Uma História da Coluna Prestes, 4ª edição, Rio de Janeiro: Record, 1996 MONOGRAFIA: A Revolução tenentista de 1924 e Seu desdobramento no Oeste do Paraná. UNIOESTE 1998-Sonia Aparecida Belin Angélico. REVISTA: O resgate A História Passada a limpo-Catanduvas. A Revolução Esquecida/Projeto Experimental do Curso de Jornalismo da Unipar- 2008.Acadêmicos: Adelar Paganini,Joel Perez, Kassiane de Moura, Luciana Orso, e Luiz Roberto Almeida. PRESTES, Anita Leocadia. Uma Epopéia Brasileira: A Coluna Prestes. São Paulo: Moderna 1997.(Coleção polêmica) REVISTA DA SEMANA ANO: XXVI Número 22 23 de maio de 1925/Imprensa Rio de Janeiro. REVISTA O RESGATE: A História Passada a Limpo Catanduvas-A Revolução Esquecida. Projeto Experimental do Curso de Jornalismo da Unipar-2008 SANTOS, Filho, Davino Francisco dos, 1932-A Coluna Miguel Costa e Não a Coluna Prestes primeira edição-São Paulo:Edicon,1992. SODRÉ, Nelsom Werneck, O Tenentismo, 16 edição Ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985. Site: http//citybrazil.uol.com.br.pr Catanduvas/história da cidade. Site Oficial-conexão Política. (WWW.franklinmartins.com.br) WACHOWICZ, Ruy Chistovam, 1939-Obrageros Mensus e Colonos: História do Oeste Paranaense-: Editora Vicentina, 2002.