CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA,

REVISÃO E REDAÇÃO

SESSÃO: 031.2.51.E DATA: 09/02/00

TURNO: Matutino

TIPO SESSÃO: Sessão Solene - CD

LOCAL: Câmara dos Deputados

HORA INÍCIO: 10h26min HORA TÉRMINO: 13h02min CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

CÂMARA DOS DEPUTADOS

SESSÃO SOLENE DE 09/02/2000

IV - HOMENAGEM

Homenagem aos 20 anos de fundação do Partido dos Trabalhadores.

PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Convite ao Sr. Luiz Inácio Lula da Silva e aos Deputados José Dirceu e para composição da Mesa Diretora.

ALOIZIO MERCADANTE - Transcurso do 20º aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores.

PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Convite à Senadora Marina Silva para composição da Mesa Diretora.

RONALDO VASCONCELLOS, AÉCIO NEVES, ARTHUR VIRGÍLIO - Transcurso do 20º aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores.

PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Homenagem póstuma a integrantes do Partido dos Trabalhadores.

ZAIRE REZENDE - Transcurso do 20º aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores.

PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Convite à Senadora Heloísa Helena para composição da Mesa Diretora.

JOSÉ DIRCEU - Transcurso do 20º aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores.

PRESIDENTE () - Associação da Presidência às homenagens prestadas ao Partido dos Trabalhadores pelo transcurso do 20º aniversário de sua fundação.

CAIO RIELA, DR. HÉLIO, LUIZA ERUNDINA, , BISPO RODRIGUES, REGIS CAVALCANTE - Transcurso do 20º aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores. CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

ANGELA GUADAGNIN (Pela ordem) - Leitura de poema de autoria de Luiz Antonio Tararan em homenagem ao transcurso do 20º aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores.

PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Registro da emoção causada com a leitura do poema do poeta Pedro Tierra.

V - ENCERRAMENTO CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

I - ABERTURA DA SESSÃO

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - A lista de presença acusa o

comparecimento de ...... Srs. Deputados.

Está aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos

trabalhos.

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.

II - LEITURA DA ATA

O SR...... , servindo como 2º Secretário,

procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual, sem observações, é

aprovada.

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Passa-se à leitura do

expediente.

O SR...... procede à leitura do seguinte

III - EXPEDIENTE

402 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Finda a leitura do expediente, passa-se à

IV - HOMENAGEM

403 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Esta sessão solene, cujo

requerimento é de autoria dos nobres Deputados José Genoíno e Aloizio

Mercadante, tem a finalidade de homenagear os 20 anos de fundação do Partido

dos Trabalhadores.

Convido para compor a Mesa o ex-Deputado e Presidente de Honra do

Partido dos Trabalhadores, Luiz Inácio Lula da Silva. (Palmas.)

Convido também o Exmo. Sr. Deputado José Dirceu de Oliveira e Silva,

Presidente do Partido dos Trabalhadores, para tomar assento à mesa. (Palmas.)

Convido ainda o Deputado Aloizio Mercadante, Líder do Partido dos

Trabalhadores na Câmara dos Deputados, para tomar assento à mesa. (Palmas.)

404 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Convido os presentes para, de pé, ouvirmos o Hino Nacional.

(Execução do Hino Nacional.)

405 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Convido os presentes a assistirem a um vídeo institucional sobre o Partido dos Trabalhadores.

(Exibição de vídeo.)

406 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Registro a presença do bravo lutador em defesa da democracia, ex-Presidente do PMDB, o Sr. Paes de Andrade; a presença dos ilustres Senadores e Marina Silva; e a presença do

Conselheiro da Embaixada de Cuba, Sr. Sérgio Júlio Cervantes Padilha. (Palmas.)

407 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Concedo a palavra ao Sr.

Deputado Aloizio Mercadante, autor da proposição.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (PT-SP.) - Sr. Presidente, Deputado

Severino Cavalcanti, companheiro Lula, companheiro José Dirceu, companheiras e companheiros, hoje estamos comemorando vinte anos da história do PT, partido que ajudou decisivamente a construir a história do Brasil nessas duas últimas décadas.

Somos fruto de um projeto muito antigo da Esquerda, construído com a idéia de que seria possível, neste País, haver um partido de massas, de luta, que fosse além do imediatismo das eleições; um partido capaz de articular as lutas sociais com a luta institucional; um partido que viesse para romper essa longa trajetória que nos levou à configuração da sociedade mais desigual de toda a comunidade internacional.

Esse Partido nasceu das lutas contra a ditadura militar. Primeiro, das manifestações estudantis que começaram com os assassinatos de Alexandre Leme e Vladimir Herzog — ainda no início dos anos 70 e, depois, na segunda metade dessa década —, que permitiram tomar as ruas em grandes manifestações democráticas, lutando por liberdade de expressão, contra a tortura e pela anistia.

Conjuntamente com essa primeira grande onda de mobilizações populares, feitas pelos estudantes, vieram os trabalhadores. No dia 12 de maio de 1978, as máquinas da Scania Vabis, no ABC, pararam. Braços cruzados, máquinas paradas, e através de uma mobilização dos metalúrgicos do ABC, liderados por Lula, a classe trabalhadora começou a entrar no cenário político nacional de forma decisiva.

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Como uma mancha de óleo por todo o País, propagaram-se as greves no

ABC, e os trabalhadores, há tanto tempo oprimidos pela ditadura, pela intervenção

nos sindicatos, pela ausência do direito de greve e pela absoluta impossibilidade de

manifestação política e sindical, começaram a romper todas essas amarras e se

constituíram num novo e decisivo sujeito político na história do Brasil.

O eixo fundamental da construção do nosso Partido foram as lutas sindicais

e operárias lideradas por Lula, Olívio Dutra, Jacó Bitar, naquela época, e tantas

outras lideranças que vinham dessa grande mobilização popular.

Forja-se, ao mesmo tempo, na relação entre as igrejas e o movimento

popular, porque, no período da ditadura, as igrejas foram, especialmente para as

comunidades de base, o único espaço institucional e nacional de resistência. Era

ali onde se discutiam os problemas do povo, onde o povo se encontrava para

comungar, celebrar e organizar sua resistência. Tivemos, então, uma contribuição

também decisiva, no âmbito da pastoral popular, à construção desse projeto, que

hoje é o Partido dos Trabalhadores.

Na universidade, toda a intelectualidade perseguida pela ditadura que

resistiu na dissidência, que manteve a coerência e a integridade das suas idéias,

que nunca abandonou o que escreveu, também veio na primeira hora construir o

Partido dos Trabalhadores. Foram inúmeros intelectuais de renome com grande

contribuição teórica. E a história do Brasil mostra que aderiram desde o primeiro

momento à construção desse projeto partidário.

Tivemos, finalmente, uma pequena fração parlamentar do que eram os

autênticos do PMDB. Dessa leva, quero destacar o então Deputado Estadual

Eduardo Suplicy, que se encontra aqui presente. Era um grupo pequeno de

Parlamentares que rompeu com a lógica partidária de então, com a idéia do partido-

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ônibus, apostando que seria possível, sim, impulsionar um processo de transição e

construir um partido de sonhos, um partido que tantos haviam aguardado ao longo

dessa transição para a democracia, um partido dos trabalhadores.

O PT nasceu assim e nunca perdeu o compromisso com essas origens. A

sua presença nas lutas sociais acabou impulsionando o primeiro comício de luta

pelas diretas no Brasil, na Praça Pacaembu. Naquele momento fomos muito

criticados. Diziam que não era possível a transição, que não haveria condições de

mudança no regime militar através das eleições diretas. Mas o PT, com a sua

teimosia histórica, realizou o primeiro comício no Pacaembu e deflagrou a grande

campanha das diretas, numa frente suprapartidária de todas as forças

democráticas, de todas as entidades da sociedade civil, num dos momentos mais

memoráveis da democracia brasileira.

Da Campanha das Diretas, saímos, como as imagens mostraram, coerentes

com os princípios. Não aceitamos a solução do Colégio Eleitoral. Houve uma

ruptura naquela frente democrática, mas permanecemos fiéis aos nossos princípios

que sempre foram e serão um elemento decisivo na nossa trajetória política.

Tivemos de aprender a negociar ao longo desses vinte anos, a flexibilizar as

nossas posições, a diminuir a nossa intransigência, que muitas vezes tivemos na

história do Brasil, mas nunca abandonamos os nossos princípios fundamentais.

Naquele momento assumíamos que o direito do povo de escolher o Presidente era

absolutamente inegociável e que não haveria outra possibilidade a não ser levar

adiante a luta pela liberdade absoluta de expressão e de o povo poder, através da

eleição direta, escolher o Presidente da República.

Saímos isolados, logo a seguir, pelo Plano Cruzado — momento

extremamente difícil na história do Partido. Era, inegavelmente, um plano de grande

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Mais uma vez a nossa teimosia era insistir numa política econômica que rompesse com a lógica da dívida externa, que, naqueles anos oitenta, iria esmagar a nossa capacidade de crescimento e promover uma longa instabilidade financeira. Não acreditávamos naquela solução monetária, no congelamento dos preços, como uma solução sustentável para a política econômica.

Do isolamento de 86, quando tivemos aqui uma pequena bancada eleita, graças àquilo que é o maior patrimônio do Partido, a sua militância, crescemos muito em 1988. Saímos vitoriosos das eleições municipais desse ano, quando ninguém imaginava que o PT poderia obter tal resultado. Em 1984, governávamos poucos Municípios; basicamente Diadema e Fortaleza. Em 1988, começamos a governar Capitais importantes, como São Paulo, com a companheira Luiza

Erundina.

Marcamos ali uma mudança na administração do poder local e iniciamos, sobretudo em Porto Alegre, referência histórica, uma nova forma de governar, ou seja, com transparência, participação popular e orçamento participativo. O PT começava a inaugurar a forma petista de ser governo.

Logo a seguir, veio a campanha de 1989 — talvez tenha sido o momento de maior crescimento da nossa trajetória política. Tratou-se de campanha totalmente desacreditada pelos meios de comunicação e, no período inicial da disputa, não havia espaço para ela. Mas, com o pouco tempo disponível na Rede Povo, fizemos, com criatividade e ousadia, paródia com os grandes meios de comunicação e começamos a realizar comícios e manifestações.

Com Lula, tive a honra de percorrer este Brasil. E, ao final do primeiro e do segundo turnos, víamos todos os dias 500 mil a 1 milhão de pessoas nas ruas,

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sonhando com a possibilidade de construir um Brasil diferente. Eram trabalhadores

que a vida inteira bateram cartão, vestiram macacão, sujaram a mão de graxa, mas,

naquele momento, iam para as ruas apregoar a possibilidade de haver um país

diferente, com um trabalhador que subisse a rampa do Palácio do Planalto, vestisse

a faixa e governasse esta sociedade. Eram trabalhadores do campo, com as mãos

calejadas da enxada, com rostos cansados da vida, do trabalho, do sol, que víamos

no Nordeste, sonhando esse sonho; eram professores perdidos nas salas de aula

deste País inteiro ensinando as crianças a escrever, a ler, e que ajudavam também

a escrever a história, dizendo: "É possível mudar o Brasil; é Lula lá". E o grito e o

sonho de "Lula lá" foram contaminando a sociedade.

Fomos para o segundo turno e fizemos campanha memorável, sem abdicar

da estatura política que é marca do Partido, não aceitando o rebaixamento e as

regras que a elite tentava impor para que pudéssemos ser derrotados, frustrando o

sentimento do povo com uma das manipulações mais grosseiras dos meios de

comunicação da história recente do Brasil.

Saímos de 1989 ainda com o sonho de construir um Brasil diferente e com a

referência que Lula passou a ser, de forma decisiva, em toda a história do Brasil

que viria a seguir. De lá para cá, avançamos muito. O Partido, a cada quatro anos,

dobra sua bancada federal e tem sido a resistência à política neoliberal.

Fomos críticos desta política econômica, procurando advertir a sociedade

para o que seriam a âncora cambial, os juros elevados, a abertura comercial radical

e o projeto neoliberal, que longe de trazerem modernidade e progresso tecnológico

ao Brasil, como prometido no início da década de 90, levariam-no à estagnação.

Nessa década, crescemos menos da metade do que na década perdida dos anos

80. Esse é o resultado da política neoliberal.

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O Partido dos Trabalhadores, junto com os demais partidos da Oposição,

como PCdoB, PSB, PCB e PSTU — que estiveram conosco na campanha eleitoral

—, e outros partidos e setores desta Casa, que muitas vezes vieram para o campo

da oposição, resistiu a este modelo, a esta política.

Hoje, a história começa a nos dar razão, mais uma vez. Principalmente

quando olhamos o vento que sopra na Europa, na América Latina, na busca de

alternativas de um projeto de construção de uma sociedade mais fraterna, mais

generosa, contra a exclusão social, contra o desmonte do Estado nacional, contra a

idéia de que uma sociedade se constrói apenas pelas forças de mercado, pelo valor

de comprar e de vender. É preciso resgatar a relação entre ética, economia e

política, para construirmos um novo caminho para a sociedade brasileira. A

resistência foi fundamental para criar o espaço político dessa possibilidade

histórica.

Foi ao longo dessa trajetória de luta que o Partido dos Trabalhadores

também se construiu como a mais importante referência da ética na política. Não

estivemos envolvidos em nenhum escândalo, entre tantos que denunciamos e

enfrentamos até no plenário desta Casa, como o caso da CPI do Collor, da CPI do

Orçamento, da Pasta Rosa e de tantos outros episódios. O Partido dos

Trabalhadores foi sempre uma marca da dignidade na vida pública, da

transparência, da impessoalidade, da honestidade, que são valores essenciais à

República, para uma elite que privatizou o Estado e que construiu sua acumulação

numa relação promíscua entre os interesses privados e o setor público.

Quando olho para trás, lembro-me de que passei quase metade da minha

vida construindo este Partido, como tantos outros companheiros. Aprendi com o PT

alguns valores fundamentais, o que nos permitiu corrigir tantos erros que

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cometemos na nossa trajetória. Depois de 20 anos, podemos reconhecer que

tivemos uma trajetória política vitoriosa. Poderíamos ter sido os últimos dos PCs do

século XX, mas somos um partido socialista, democrático, contemporâneo do

século XXI, que inicia este século numa curva ascendente de crescimento, de

projeção, de avanço político e de reconhecimento de amplos setores da sociedade.

Espero que nenhuma Liderança se esqueça — os que se esqueceram

perderam essa condição — de que o primeiro valor fundamental do PT, nosso

patrimônio mais importante, é a militância. Ela fez cada uma das Lideranças que

aqui estão. Poucas Lideranças do Partido eram referências públicas — talvez

Waldir Pires ou o próprio companheiro Lula. Todos os demais se fizeram pela

militância, construída anonimamente nos diretórios, nas fábricas, nas escolas, nos

bairros, no campo, na luta pela terra, pelo salário e pelo emprego, de onde surgem

esse projeto, essa estrela e esse sonho.

O segundo valor é a democracia interna, tão atacada por nossos

adversários. Temos diferenças, disputas e correntes, mas essa é a dimensão

essencial da nossa virtude e da nossa vitória. A crítica interna, o debate das idéias,

a disputa de posições é que permitem manter a correção de rumo, a integridade de

nossas políticas e de nossas propostas e o compromisso da militância com esses

projetos.

Não se trata de partido de caciques, de cima para baixo, mas de partido que

realiza um congresso como o último, com 200 mil filiados participando, em que

foram eleitos delegados de todo o Brasil para se chegar a um encontro final com

mais de mil delegados. Democraticamente, cada um deve falar e defender sua

posição, sendo que qualquer filiado tem o mesmo direito de subir à tribuna, de

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divergir e de encaminhar contrariamente. Quem vota com total liberdade é o

Plenário.

É verdade que, muitas vezes, cristalizamos a lógica das tendências e temos feito um esforço muito grande para superar essa dinâmica e repactuar o Partido na unidade, que a bancada, a exemplo de hoje, expressa publicamente. Estamos construindo em várias frentes partidárias, com grande dimensão, a unidade do PT; a unidade do campo da Oposição, com os partidos aliados, independentemente do calendário eleitoral, com a exigência para que possamos ser uma alternativa de

Governo e de poder na sociedade.

Aprendi realmente com o depoimento de alguns companheiros a respeito do que é ser petista. Termino com uma pequena história, que já contei algumas vezes, e é sempre a lembrança mais forte para mim, quando estamos em dúvida e dificuldades, nos duros momentos de embates no Partido, com tantos adversários, num país em que, hoje, 44 milhões de brasileiros vivem com apenas 2 reais por dia.

Nossa trajetória vitoriosa exige também uma reflexão humilde, porque quando olhamos para o Brasil, vemos desigualdades, exclusão social, fome, miséria, violência, drogas, epidemias e ignorância de uma parte do povo. Isso exige humildade do Partido. Temos de ser ainda mais criativos, competentes e ousados, consolidando as alianças e construindo, verdadeiramente, uma alternativa para a sociedade.

Lembro-me de algumas passagens, e termino com uma em especial. Em um sábado, às 9h, fui fazer uma carreata na zona sul, nas eleições municipais, e havia quatro mendigos sentados no chão, totalmente bêbados. Eu estava cansado, porque ficávamos durante cinco, seis, sete horas em cima de um carro de som. Mas um mendigo bêbado e sujo apontou-me o dedo e disse, com bafo de cachaça: "Eu

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te conheço. Você é o Mercadante!" Eu disse: "Eu sou o Mercadante". Ele adiantou:

"Lembro-me de você nas CPIs do Collor e do Orçamento". Eu respondi: "Sou eu

mesmo". Ele falou: "Você já esteve na porta da minha fábrica!" Eu indaguei: "Qual

fábrica"? E ele respondeu: "Forjaria São Bernardo". Aí, ele se virou para mim e

disse: "Mercadante, estou há dois anos e seis meses desempregado e o que

sobrou de mim é isso que você está vendo. Hoje sou alcoólatra e mendigo, mas

ainda sou petista. Dê-me uma bandeira, que quero entrar nesta carreata".(Palmas.)

É esse sentimento que faz o Partido ser o que é. Na pessoa desse anônimo

mendigo, parabenizo toda a militância do Partido dos Trabalhadores pelos seus

vinte anos de existência.

Muito obrigado, companheiros. (Palmas)

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O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Registro a presença do ex-Governador . (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Severino Cavalcanti) - Convoco para presidir os

trabalhos desta sessão de homenagem a esse grande partido, que superou fases

as mais difíceis, o Deputado Jaques Wagner, figura extraordinária, que engrandece

esta Casa.

Antes, porém, quero fazer um registro. Ontem lia um pronunciamento do

Deputado Delfim Netto em que defendia a permanência do Banco do Estado de

São Paulo nas mãos dos brasileiros. Espero que o Brasil se una na defesa dessa

que é uma instituição de fundamental importância para o País. Espero que

possamos impedir que se concretize mais essa entrega do nosso patrimônio ao

capital internacional.

Vamos juntar-nos, pepebistas e petistas, para defender o Banco do Estado

de São Paulo, impedindo que caia nas mãos sabe-se lá de quem. (Palmas.) (Muito bem.)

Gostaria de aproveitar esta oportunidade para me manifestar em defesa da indústria de brinquedos nacional, que está seriamente ameaçada, embora recebendo todo o apoio do Ministro Francisco Dornelles.

Convido o Deputado Jaques Wagner para assumir a Presidência, e agradeço a oportunidade de ter aberto os trabalhos de sessão tão importante, em que se homenageia o Partido dos Trabalhadores por seus 20 anos de existência.

(Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Agradeço ao Deputado Severino

Cavalcanti. Eu estava contando os minutos para poder, no cargo de 3º Secretário, representando o PT, presidir esta sessão, que toca o coração de todos nós. O

Deputado Severino Cavalcanti fez questão de, em nome do PPB, em homenagem ao Partido dos Trabalhadores, na condição de 2º Vice-Presidente da Casa, abrir os trabalhos para que eu, depois, a eles desse continuidade.

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Para que a Mesa fique completa, já que esse partido tem uma história também de luta em favor do estabelecimento da cota em benefício das mulheres, convido para compor a Mesa a Senadora Marina

Silva. (Palmas.)

Apesar de sua fragilidade física, magrinha assim, a Senadora é uma das figuras mais contundentes na afirmação das bandeiras do PT, particularmente daquelas voltadas à questão ambiental — e estão comunicando-me que S.Exa. fez aniversário ontem. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Convido a fazer uso da palavra, em

nome do Partido da Frente Liberal, o Sr. Deputado Ronaldo Vasconcellos.

(Palmas.)

O SR. RONALDO VASCONCELLOS (PFL-MG. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, demais componentes da Mesa, companheira Marina Silva, senhoras e

senhores, a história do Partido dos Trabalhadores tem muito a ver com a minha

própria história política. Comecei no antigo e glorioso MDB, no fim da década de 70

e na de 80, quando passávamos da fase do bipartidarismo para o pluripartidarismo.

Hoje, infelizmente, temos um sistema multipartidário. Naquela época surgia o PT.

Vinte anos de associação, meu caro Presidente Lula, não são vinte horas,

não são vinte dias, não são vinte meses. É difícil para qualquer associação, seja ela comunitária, sindical ou federativa, time de futebol, ou mesmo um casamento, durar vinte anos. Mas esse partido conseguiu permanecer na sua luta vitoriosa por esses longos e profícuos anos.

Senhoras e senhores, a bancada do PT formada por autênticos do MDB inicialmente constituía-se de oito Deputados. Hoje temos sessenta Deputados, ou seja, quase multiplicamos por dez a bancada do PT na Câmara Federal. O PT tem, sim, um diferencial em relação aos outros partidos políticos. Qual é esse diferencial? É aquilo que o ilustre Deputado Aloizio Mercadante chamou de

militância, que nós chamamos de bases. O PT forma, constrói fisicamente as suas

bases. E as bases participam, efetivamente, e até afetivamente, da história do PT.

Imagino o quanto deve ser difícil, meu caro Presidente Lula, ser candidato a

Prefeito por um partido como o PT, tendo de ouvir as bases e participar de

intermináveis debates. É preciso muita paciência para ser candidato a um cargo

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executivo no Partido dos Trabalhadores. Só essa paciência já dá ao candidato

muita sapiência política. Este é o diferencial que vocês, do PT, têm em relação a

nós, dos outros partidos: a militância, que participa efetiva e afetivamente das

ações do partido.

Lembro outro diferencial importante do PT relativamente aos outros partidos:

a capacidade de mobilizar as massas. Essa é uma característica própria do PT.

Recordo-me da campanha das Diretas, de Franco Montoro, Tancredo Neves,

meu Estado de Minas Gerais — também preciso defender o meu torrão, até porque

Tancredo foi um grande político. Talvez o Lula não se lembre, mas fui escalado,

naquela época, Vereador de primeiro mandato, para dar-lhe as boas-vindas e

atendê-lo no que precisasse no comício das Diretas em Belo Horizonte. Foi uma

das poucas vezes na vida em que vi o Dr. Tancredo Neves, a quem admiro e

respeito tanto, ter uma posição tíbia — para não usar outro adjetivo. Mas lá estava

eu, Vereador de primeiro mandato, atendendo o Lula.

Muitas pessoas importantes tem o PT, mas peço vênia a este Plenário,

porque estão presentes ilustres figuras históricas desse partido, para fazer uma

referência pessoal de admiração e verdadeira convivência pacífica que tive durante

quatro anos. Por isso, peço licença a todos os importantes líderes do PT para

reverenciar a figura da Vereadora Helena Greco, que foi indiscutivelmente uma das

melhores figuras políticas que o partido já deu a Belo Horizonte, a Minas Gerais e

ao País. (Palmas.) Convivi com Helena Greco — pessoa de classe média alta, meu

caro Aloizio Mercadante! — muitos anos e aprendi muito com ela. Participava de

todos os encontros e debates, de manhã, de tarde, de noite, e não tinha

madrugada. O PT tem uma grande referência política na Vereadora Helena Greco.

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A bancada do PT com a qual convivi na Assembléia Legislativa de 1987 a

1990 tinha vários Deputados competentes.

Dou agora um testemunho público. Nós, da outra faixa, do outro leque de

partidos políticos, dizíamos sempre que o PT é bom de atiradeira, é bom de

bodoque — não sei se conhecem esta expressão —, mas não sabe ser vidraça. Em

outras palavras: o PT não sabe administrar. Mais uma vez faço justiça e novamente

peço vênia para voltar à minha Belo Horizonte e a Minas Gerais. Um dos melhores

Prefeitos que a Capital de Minas Gerais teve chama-se , do Partido

dos Trabalhadores. (Palmas.)

Queria também fazer uma confissão pública. Meus caros Lula, José Dirceu,

Presidente do partido, Jaques Wagner, grande figura desta Casa, e Senadora

Marina Silva, acho que a vida da gente tem de ser um livro aberto. No primeiro

turno das eleições de 1989 — não me vaiem, por favor —, liberal e democrata que

sou, votei em Guilherme Afif Domingos. No segundo turno, quando entrei na cabina

de votação, com a minha consciência, sozinho, cumprindo um dever e ao mesmo

tempo exercendo um direito, não tive a menor dúvida e cravei 13: Lula para

Presidente da República. (Palmas.)

Nesta Câmara, temos a liderança do ilustre Deputado Inocêncio Oliveira,

com quem converso. Queria que todos soubessem da admiração e do respeito que

o Líder do nosso Partido, Inocêncio Oliveira, tem por todos os Deputados, mas

principalmente pelas Lideranças do PT nesta Casa, como os Deputados Marcelo

Déda, José Genoíno e, agora, Aloizio Mercadante. Cito somente esses três porque

foi com quem convivi nesta Câmara. Mas queria dar esta declaração pública acerca

do respeito que Inocêncio Oliveira tem para com as Deputadas, os Deputados e as

Lideranças do PT.

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Por fim, parabenizo o PT por seus 20 anos de existência, dizendo que não sou PT, até porque não sei se o PT me aceitaria lá, mas respeito e admiro muito o partido.

Bom-dia a todos. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Convido para fazer uso da palavra, em nome do PSDB, o Deputado Aécio Neves, Líder da bancada desse partido nesta Casa. (Palmas.)

O SR. AÉCIO NEVES (PSDB-MG. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão, ilustre Deputado Jaques Wagner; caro Presidente de Honra do PT, que mais uma vez muito nos honra com sua presença nesta que já foi a sua Casa, grande brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva; meu caro Presidente Nacional do PT,

Deputado José Dirceu; meu caro Líder do PT na Câmara Federal, Deputado Aloizio

Mercadante; Senadora Marina Silva, companheiras e companheiros da bancada do

PT na Câmara Federal, companheiros Parlamentares de outros partidos que prestigiam este momento cívico de reencontro do País com a sua própria história, militantes do PT de várias partes do País, lideranças estaduais e municipais que, aqui presentes, apenas dão forma a algo extremamente claro, a meu ver, na alma e no sentimento daqueles que acompanham a vida brasileira nos últimos vinte ou trinta anos: a convicção de que o PT é, sem dúvida nenhuma, a grande novidade, a coisa nova, a audácia maior que a vida pública brasileira produziu nesses últimos anos.

Iniciei a minha militância política quando acompanhava as movimentações e articulações que ocorriam no ABC paulista em torno da formação de um partido dos trabalhadores. E que jovem, naquele momento, não se emocionou quando, em

1979, se não me engano, por meio de uma proposta do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, foi aprovada a tese que criava as condições para que a partir dali se fundasse um partido de trabalhadores no País?

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Os senhores, muito mais do que eu, sabem as dificuldades e

incompreensões que viveram. Não tocarei nesse ponto, pois certamente outros,

muito melhor do que eu, farão o histórico do que foi o PT, da importância do PT

para o País e para a democracia. Eu próprio havia preparado, com minha

Assessoria, longo discurso em que detalhes da formação e dos embates eram

citados, mas optei por falar com meu coração e com as lembranças do convívio e

dos encontros que tivemos, ao longo desses vinte anos, meu caro Lula.

Obviamente, começo a falar da campanha das Diretas. Caminhamos por este

País — eu, mero espectador privilegiado daquela cena política, acompanhava o

então Governador de Minas Gerais, de quem era secretário particular, meu avô,

Tancredo Neves —, e pude ter os primeiros contatos e conversas com jovens

lideranças entusiasmadas, idealistas, que acreditavam ser possível, sim, construir

no Brasil, em bases absolutamente sólidas, um quadro partidário que nada tinha a

ver com aquele passado recente de insegurança, incertezas e partidos políticos

criados autoritariamente.

Esta semana, li um artigo do meu companheiro José Genoíno, que discorre,

com absoluta correção, sobre a fragilidade dos partidos políticos na história

republicana brasileira.

Portanto, não tenho dúvidas em dizer que de vinte anos para cá é que foi

iniciada a construção da história partidária brasileira em regime de democracia

plena. Certamente, o País e os democratas brasileiros devem muito ao PT,

sobretudo aqueles que acreditam que a democracia só prevalece e se sustenta

quando tivermos partidos políticos com propostas claras, definidas.

Foi naquele tempo das Diretas que aumentou a minha admiração e o meu

respeito pelo PT. Não é por ser hoje o aniversário do PT, da cidadania e da própria

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democracia que vou aqui dizer que só vi acertos em sua trajetória. Certamente,

discordamos em muitos momentos. Um deles, muito claro, não há por que aqui não

falar sobre ele, foi o momento do Colégio Eleitoral, quando o PT tomou uma

posição — respeitada por todos nós, respeitada inclusive, de público, pelo então

candidato das forças democráticas — que marcou, sim, a história do PT. Isso

mostra que nas divergências se constrói também o respeito.

De lá para cá tivemos outros embates, muitas concordâncias e muitos

encontros. Outro encontro marcante — momento de afirmação cívica, em que as

questões nacionais se sobrepuseram e estiveram adiante das questões partidárias,

dos interesses eleitorais — foi certamente o afastamento do Presidente Collor. Mais

uma vez estivemos juntos, no Congresso Nacional e nas ruas, pregando a

moralização da administração pública. E talvez esta seja, meus caros Aloizio

Mercadante e Jaques Wagner, a marca que aproxima muito a história do PT da

história mais recente do meu partido, o PSDB: a clara compreensão do cuidado que

se deve ter ao administrar a máquina pública, a permanente preocupação com a

questão moral e um compromisso inalienável com o comportamento ético.

Tenho enorme respeito pela trajetória do partido de V.Exa., Deputado Aloizio

Mercadante. Cresci nesta Casa, única casa política a que pertenci ao longo da

minha militância, ao lado de lideranças importantes do PT. No momento em que

assumi a Liderança do PSDB, há três anos, encontrei na Liderança do PT o grande

Deputado José Machado. A partir daí, tive o privilégio de conviver mais de perto

com esta grande figura humana e excepcional liderança política e partidária, um

dos maiores tribunos desta Casa: o Deputado Marcelo Déda. Em seguida, foi com o

Líder José Genoíno que tive a oportunidade de conviver, de debater, de discutir, de

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divergir, mas muitas vezes de construir, ao longo desse último ano. Agora, o

destino me dá o privilégio de estar com V.Exa. no Colégio de Líderes desta Casa.

Faço esse rápido histórico para dizer que, da mesma forma que todos nós

amadurecemos, o PT também amadureceu. Se temos questões pontuais, das quais

divergimos, como, por exemplo, em relação ao modelo de Estado que queremos

para o País, temos algo muito mais forte em comum: todos lutamos pela diminuição

das desigualdades sociais, até mesmo pensando que caminhos diversos sejam os

mais apropriados, mas certamente todos temos um objetivo comum. É esse objetivo comum que nos tem proporcionado, seja no Colégio de Líderes, seja nas discussões nas Comissões Temáticas desta Casa, encontrar o momento para buscar o entendimento. Não foram poucas as vezes, minhas senhoras e meus senhores, em que nasceram de articulação do PT com o PSDB soluções importantes para questões fundamentais para o País.

Vejo ali a ilustre Deputada Zulaiê Cobra, Relatora da reforma do Judiciário.

Nasceu numa discussão e num entendimento com o Partido dos Trabalhadores a possibilidade de que, num primeiro instante, o Deputado Aloysio Nunes Ferreira assumisse aquela relatoria. Conseqüentemente, após o chamamento do Presidente da República, pude indicar para esse posto, com o apoio das Lideranças de oposição desta Casa, a Deputada Zulaiê Cobra, que entrega agora ao País, com o apoio de todos, uma transformação estrutural e, a meu ver, definitiva da Justiça brasileira.

Cito esse exemplo para mostrar que esta é a Casa do entendimento, do diálogo. E o PT, permanentemente, ao longo dos últimos anos, cada vez mais, sem abrir mão das suas convicções e do seu projeto de País, tem sabido negociar, transigir e, obviamente, a partir daí, construir.

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Portanto, meu caro Presidente Jaques Wagner, srs. membros da Mesa,

caros Parlamentares presentes, minhas senhoras e meu senhores, quando fui

informado da confirmação desta sessão, fiz questão de aqui estar, como Líder do

PSDB nesta Casa, para trazer uma singela, mas extremamente sincera,

contribuição a este momento. Digo, com muita firmeza, que o País certamente deve

e deverá muito mais ainda ao PT e, sobretudo, à coragem daqueles que lá atrás,

enfrentando, quero repetir, incompreensões em vários setores da sociedade,

passaram a entender a importância daquele movimento e souberam ser firmes e

audazes.

Portanto, nós, do PSDB, que acreditamos ser possível construir uma

democracia fundada em partidos políticos com convicções, projetos e programas,

só temos, neste instante, que aplaudir a coragem, a determinação e o profundo

sentimento cívico que certamente caminha na alma e na consciência de cada

membro do Partido dos Trabalhadores.

Sr. Presidente, o PSDB orgulha-se de, nesta Casa, estar construindo um

novo País, muitas vezes divergindo, mas aprendendo e, sobretudo, sabendo

entender que na alma de cada membro do PT há um sentimento de Pátria e de

cidadania.

Parabéns, PT, pelo que fez ao País até hoje!

Muito obrigado. (Palmas.)

429 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Registro as presenças do Deputado

Chico Floresta, representante da bancada do PT na Câmara Legislativa do Distrito

Federal; do Prof. Osmar de Oliveira Marchese, Secretário-Geral do Sindicato

Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior — ANDES; e do Sr.

Antônio Carlos Andrade, Secretário-Geral do PT do Distrito Federal.

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Com a palavra o Deputado Arthur

Virgílio, em nome da Liderança do Governo. (Palmas.)

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB-AM.) - Sr. Presidente, Deputado Jaques

Wagner, Líder Aloizio Mercadante, Senadora Marina Silva, Presidente José Dirceu,

Senador Eduardo Suplicy, Presidente Paes de Andrade, Deputadas e Deputados do Partido dos Trabalhadores, Parlamentares do Congresso Nacional, militantes do

PT e, por último, mas jamais em ordem de importância, Deputado e expressivo

Líder do País Luiz Inácio Lula da Silva, ouvi o bem arrumado, bem composto, sóbrio e correto discurso proferido pelo Deputado Aécio Neves e pus-me a imaginar qual seria exatamente a melhor maneira de participar desta homenagem.

Em primeiro lugar, tomei a decisão de estar aqui. Em segundo lugar, vim com a nítida determinação de revelar do fundo do coração, mas lá do fundo mesmo, o paradoxo que existe entre a necessidade de combater, às vezes dura e ferozmente, as posições adotadas pelo Partido dos Trabalhadores aqui e em qualquer foro de debate e, ao mesmo tempo, a inarredável admiração que tenho pelos seus membros, pelos seus Parlamentares, pela sua direção, pela sua integridade básica, pela sua capacidade de ser honrado quando erra e honrado quando acerta.

Descobri que esse paradoxo, no fundo, no fundo, Governador Cristovam Buarque, faz bem ao meu espírito, à minha alma, ao meu próprio ser.

A questão pode ser abordada de maneira simples, Líder Marcelo Deda: se há discordância ideológica (e ela tem sido aqui posta com seriedade por ambos os lados), deve ser exposta. Por que água com açúcar? Palavras duras acontecem.

Palavras duras que depois imaginamos que possam ter magoado quem as recebeu e, com certeza, magoam até aquele que as proferiu, se quem as proferiu fui eu, sem

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que nada disso empane o fato de que nós temos, comemorando hoje o seu 20º

aniversário, um grande partido, uma grande entidade da democracia brasileira, um

partido que, de oposição fulgurante, virou Governo municipal e estadual, com

passagens de êxito pela vida pública brasileira; um partido que haverá — e eu

sempre brinco com meus companheiros e amigos do PT —, um dia, de chegar à

Presidência da República. Espero apenas que não na próxima eleição, já tão

rapidamente. (Risos.) Enfim, é um partido que está fadado a chegar ao poder,

porque, sobretudo, é um partido de verdade, com militância fiel, com capilaridade,

que desperta paixão. E desperta paixão nos que o defendem e nos que o criticam,

porque mobiliza sentimentos, na antevéspera do momento em que comporá

projetos e propostas capazes de levá-lo, um dia, a dirigir os destinos deste País

com a competência com que tem administrado diversas Prefeituras e alguns

Governos de Estado.

Quando algumas pessoas me perguntam se voto em Lula para Presidente,

respondo que não, mas que já votei, em 1989, no segundo turno. E aos que

indagam se tenho medo de Lula vir a ser Presidente da República, afirmo: não. Não

tenho medo algum de Lula chegar à Presidência da República. Tenho certeza de

que, se isso ocorresse por vontade do povo brasileiro, nenhuma catástrofe

aconteceria, não haveria atraso algum, nada aconteceria que levasse o Brasil a

andar para trás. Não haveria qualquer perda para a democracia, não haveria nada

que nos impedisse de continuar na direção do crescimento econômico e da

distribuição de riqueza, até porque nosso crescimento está assentado em bases

firmes, de estabilidade econômica, de inflação baixa, de reformas que, para mim,

são essenciais para a recomposição do Estado brasileiro em moldes efetivamente

democráticos e justos.

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Mas se temos que combater, vamos, então, combater, o que não impede que queiramos e possamos também, num momento como este, homenagear um partido que faz parte, sim, do meu patrimônio afetivo.

Devo dizer a V.Exas., Srs. Deputados, aos senhores militantes e a Lula que aprendi um pouco mais com o PT ao longo deste período em que tenho exercido aqui a Liderança do Governo no Congresso Nacional.

É verdade que confirmei o que imaginava, Líder Heloísa Helena; confirmei o choque, o choque necessário, o entrechoque, o confronto das idéias, que sempre deve levar às melhores sínteses, até porque qualquer idéia, por mais brilhante que pareça, sozinha, sem o debate, sem a democracia, fica magra, não se robustece.

Uma idéia torna-se robusta somente quando aprende, ela própria, com outra idéia, num entrechoque que leve — quem sabe? — à verdade chinesa da terceira idéia, à verdade sintética.

Mas o fato é que não me surpreendi quando encontrei aqui o debate encarniçado. Surpreendi-me, sim, quando me pilhei coordenando reuniões do

Congresso Nacional absolutamente fragilizado, sem número para votar matérias de interesse do Governo e do País, a depender de uma verificação de quorum pedida pelo PT e pelas oposições, por exemplo. Pela negociação democrática, conseguimos, ao longo deste ano em que tenho sido o Líder do Governo, evitar que isso acontecesse, em qualquer circunstância. Ou seja, se eu tivesse que dar um exemplo claro da forma humilde como me refiro ao seu partido, meu caro Deputado

Lula, eu diria que seu partido me ajudou e me ajuda a desempenhar o papel Líder do Governo aqui. Tem-me ajudado quando me critica e, muitas vezes, me faz melhorar a posição anterior; tem-me ajudado quando negocia comigo, quando tem paciência e quando coloca os interesses nacionais acima de quaisquer outros

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interesses, jamais se portando de maneira sectária, pelo menos nos acertos que

temos feito. De minha parte não houve jamais o atropelamento. Da parte do PT, tem

havido sempre muita compreensão.

Tenho que abrir parênteses para, comovidamente, falar de um colega que

chegou aqui comigo, irmanado no combate ao regime militar. Chegamos juntos a

esta Casa, o Deputado José Genoíno e eu, e sempre convivemos, até o momento

em que me vi na posição de Líder do Governo e S.Exa. na posição de Líder do PT.

Tivemos vários momentos duros — a ponto, inclusive, de eu haver concluído

que temos uma amizade tão sólida que não se desestabilizá, apesar das tantas

palavras duras e até rudes que trocamos, falando um ao outro, e não um do outro

—, momentos de absoluta troca de emoções, momentos de forte relação de

adversidade que cultivamos. Com a honradez com que S.Exa. se porta, com a

convicção que me move, fui aos poucos aprendendo a lidar com José Genoíno

nesta Casa, descobrindo nele alguém capaz dessa transigência que o leva não a

abandonar seus princípios, e sim a negociar, sempre totalmente fiel à sua bancada,

e a preocupar-se, fraternal e generosamente, com o destino dos seus adversários

leais.

Nesta sessão de homenagem ao PT, não poderia deixar de prestar, eu

próprio, uma homenagem muito especial a uma figura que se tem portado com uma

tal grandeza que o faz prescindir de qualquer cargo e de qualquer título para ser

reconhecido como um grande Deputado que esta Casa reverencia, respeita e ouve

em civilizado silêncio. (Palmas.) José Genoíno é capaz de transcender os meros

limites da ação e da oposição, capaz de ser um opositor intransigente do Governo

que ele combate — Governo que defendo com intransigência, também —, porque

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age sempre tendo, aos seus olhos, à sua frente, no seu coração, na sua

racionalidade, a capacidade e o desejo de servir ao País.

Não me é custoso homenagear o Deputado José Genoíno.

Encerro, Sr. Presidente, parabenizando o PT, desejando muitas felicidades

ao Líder Aloizio Mercadante, que começa muito bem seu exercício na Liderança.

Vejo aqui José Dirceu. Vejo V.Exa., Deputado Jaques Wagner. Vejo José

Machado, e vejo essa talentosa figura de Sergipe que é o Deputado Marcelo Déda,

tribuno, como dizia o Ministro e Deputado Almino Affonso, da verdadeira e genuína

raça dos tribunos. Mas, sobretudo, ao encerrar, Sr. Presidente, ressalto uma figura

do PT que o Brasil inteiro reverencia até quando combate. Eu próprio, quando o

combato, jamais deixo de reverenciá-lo. Trata-se de alguém extraordinário pela sua

trajetória, pela sua firmeza, alguém fadado a viver ainda grandes momentos neste

País, alguém fadado a influenciar de maneira muito forte o destino do seu povo.

Às vezes sinto uma certa angústia, uma angústia compreensível, quando

penso: por que, de repente, passei a discordar dele? Por que, de repente, ele

passou a discordar de mim? São esses os preços do destino, que nos são jogados

pela própria evolução da visão de mundo de cada um.

Uma verdade deve ficar bem nítida, nesta ponderação final: trata-se de

alguém que, sendo o que é e representando o que representa, às vezes até

cometendo as injustiças que comete ou praticando as muitas justiças que seu

coração e sua inteligência o mandam praticar, não deixa de ser, para mim, uma

grande referência emocional, pessoal e política, não importa que, agora, como

adversário; trata-se de um homem que, se quero dar o exemplo de como o povo

brasileiro é capaz de crescer, de fazer coisas, de fortalecer a democracia e mudar

435 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko fundamentalmente a sua própria realidade, trocando a injustiça pela justiça, é quem me vem logo à lembrança.

É de você mesmo que estou falando, Lula, você que é um dos grandes líderes do povo brasileiro. (Palmas. O orador é cumprimentado.)

436 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Não poderia ser diferente. Vinte anos dessa construção, seguramente sempre com a emoção no coração, com muito sonho na cabeça e muita ternura na alma. O Deputado Arthur Virgílio expressou o que sabemos: mesmo os mais duros adversários têm o respeito e o carinho por essa trajetória que vimos construindo na política brasileira.

Eu não poderia deixar de aproveitar este emotivo momento produzido pelo

Deputado Arthur Virgílio para aumentar a emoção, ao tempo em que vamos homenagear alguns que participaram da nossa caminhada, que são nossos heróis, porque se foram em combate ou assassinados covardemente, e outros que se foram e deixaram saudade, na história da construção do PT.

Eu pediria, para combinar o protocolo do ato com o que gostamos de fazer, que, ao ler os nomes, saudássemos com as nossas palmas os que gostaríamos que estivessem presentes e não estão.

Primeiro, vou ler os nomes daqueles que são heróis tombados em combate:

Margarida Maria Alves (palmas); Nativo da Natividade (palmas); Padre Josimo

Tavares (palmas); Dorcelina Folador (palmas); Chico Mendes (palmas); Vianey

Ferreira Campos (palmas); Paulo Vinha (palmas).

Agora cito os que se foram normalmente — se é que se pode dizer isso —, e que deixaram também história: Henrique Filho, o Henfil (palmas); Perseu Abramo

(palmas); Florestan Fernandes (palmas); Eder Sader (palmas); Paulo Freire

(palmas); Luis Travassos (palmas); Francisco Zocoli (palmas); Mário Pedrosa

(palmas); Hélio Pellegrino (palmas); Sérgio Buarque de Holanda (palmas); Luiz

Gonzaga Júnior, o Gonzaguinha (palmas); Beth Lima (palmas) e Otaviano de

Carvalho (palmas).

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A todos, onde estiverem, desejamos o nosso carinho. Tenho certeza de que estão aqui conosco.

O SR. MARCELO DÉDA - Wilson Pinheiro. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Perdoem-me se a lista não está completa. Sugiro que, em vez de gritarem, tragam os nomes para completarmos a lista dos homenageados ausentes.

O SR. MARCELO DÉDA - Mas o PT que não grita não é PT.

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Chamo agora para fazer uso da palavra, em nome do PMDB, o Deputado Zaire Rezende.

Dizem que ele saiu da campanha em Uberlândia só para participar desta homenagem ao PT. (Palmas.)

O SR. ZAIRE REZENDE (PMDB-MG. Sem revisão do orador.) - Presidente

Jaques Wagner, companheiro Lula, companheiro Mercadante, companheiro José

Dirceu, companheira Marina Silva, membros do PT, todos aqueles que aqui estão no plenário, há dias muito especiais nesta Casa, e este é um deles. Não iremos aprovar nesta manhã matéria alguma, não há emendas nem DVSs para serem discutidos; esta deve ser considerada mais uma manhã em que esta Casa se reúne para a celebração da diferença, da liberdade e da esperança.

Quando digo isso, pretendo caracterizar solenidades desta natureza como momentos de reflexão a respeito da democracia brasileira. Qualquer democracia, ainda que incompleta, e talvez sobretudo por isso mesmo, não pode prescindir de instituições partidárias que representem os variados sonhos da sociedade brasileira.

O Partido dos Trabalhadores — hoje o mais expressivo partido do campo da esquerda brasileira — tem prestado valiosa contribuição à construção da democracia. Nesta breve trajetória, entre o seu nascimento e os dias de hoje, o partido exibe uma vitalidade política impressionante, a qual o Deputado Aloizio

Mercadante já relembrou em números.

Acompanho com atenção, com respeito e com carinho toda a vida do PT, desde o seu nascimento, a sua existência, a sua atividade, as suas lutas internas, o que, ao contrário do que pode parecer para muitos, tomo como uma impressionante

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vitalidade que permite que haja o conflito — um conflito saudável — e o

estabelecimento da possibilidade da expressão das divergências que enriquece a

todos.

Acompanho, sobretudo, com muita atenção, essa busca da construção da

revolução socialista dentro da estrutura capitalista brasileira. Acho que esse é o

maior desafio para o PT, como para aqueles que têm um pensamento progressista

e o procuram colocar em prática em nosso País.

Organizado na maioria dos Municípios brasileiros, o Partido dos

Trabalhadores não somente participa de todas as disputas eleitorais, como também

acrescenta continuamente ao cenário político brasileiro novos atores políticos,

parcelas da população até então desprovidas de representação, sendo assim um

espaço privilegiado para construção de novas lideranças. Acredito que, com

freqüência e grande intensidade, essas novas lideranças são construídas

exatamente pelos ideais do partido, mas sobretudo pela imensa democracia que

transita em seu seio.

À frente de várias administrações municipais e de alguns Estados, o partido

dos Trabalhadores tem tido a sensibilidade não somente para inovar, mas também

para voltar o olhar para experiências administrativas passadas, tocadas por outros

estratos do espectro político, como é o caso do Orçamento Participativo, processo

de definição de políticas em que os setores organizados da sociedade exercem,

dentro dos limites que a nossa própria história impõe, a democracia direta, quando

trata da alocação de recursos públicos.

Tenho para mim que, para haver democracia, alguns elementos são

fundamentais: além da liberdade, a participação. Só pode haver democracia, não

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somente dentro do partido, como dentro da sociedade, se houver realmente

participação profundamente livre.

No momento em que o PT, nas suas administrações, inverte as prioridades e

coloca as pessoas no centro das suas preocupações, desencadeia o processo,

que, diria, tem sido mais rico na sua experiência e no aporte quem tem trazido para

a construção da história política brasileira.

Nas duas Casas do Parlamento, o Partido dos Trabalhadores tem cumprido,

ao lado de outras legendas do campo de esquerda e de setores às vezes

distribuídos até em legendas governistas, importante papel aglutinador em torno

das discussões das matérias mais importantes.

Destaco ainda a negociação como uma característica de quem já aprendeu a

transigir — e o PT já aprendeu a realizá-la — e de quem percebe a sua própria

dimensão política, a sua responsabilidade para com as soluções dos problemas

nacionais e, mais que isso, de quem acalenta e renova a esperança de construção

de um País justo, um País da inclusão, ao invés da exclusão, que degrada a

condição humana.

Quero, então, ao ser indicado pela Liderança do PMDB para prestar a

homenagem ao Partido dos Trabalhadores pelos seus 20 anos de vida,

compreender esta solenidade como a afirmação de que a pluralidade, como aliás

está inscrita em nossa Carta Política, de que a diversidade ideológica,

diferentemente dos que advogam a tese contrária à existência de múltiplas

legendas, é essencial, diria mesmo imprescindível para a construção de um novo

projeto para o nosso País.

Em nome do Partido do Movimento Democrático Brasileiro, parabenizo o

Partido dos Trabalhadores pela sua data, reiterando a compreensão de que, se não

441 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

estamos neste momento a votar importantes matérias, estamos a celebrar a

diferença, estamos a comemorar a própria democracia brasileira.

Por falar em democracia, eu diria que a sua construção é lenta e difícil. O

movimento dessa construção é pendular: avança e recua. Nesses últimos dez anos,

estamos acompanhando com muita clareza esse movimento pendular. Quando

feita, a Constituição de 1988 foi batizada de Constituição cidadã, porque o que ela

trouxe em termos de definições e de benefícios individuais, coletivos e sociais

realmente a transformou numa Constituição cidadã. Mas, de lá para cá, ela tem

sofrido um processo de corrosão interna, mostrando exatamente esse lado do

pêndulo que procura retirar aquela força que a impulsionou para a frente.

Portanto, neste momento — e talvez por isso — parabenizo o PT, seus

membros e seus simpatizantes pela sua presença na história política brasileira.

Tenho certeza de que, se não existisse o PT na nossa história, hoje ela seria

completamente diferente.

Muito obrigado. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Convido a Senadora Heloísa

Helena, Líder do PT no Senado, para compor a Mesa. (Palmas.)

443 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Com muito orgulho, passo a direção dos trabalhos ao Presidente da Casa, Deputado Michel Temer. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Concedo a palavra ao Deputado José

Dirceu, Presidente Nacional do PT, para falar em nome do partido.

O SR. JOSÉ DIRCEU (PT-SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente,

Deputado Michel Temer, a quem, em nome do PT, agradeço por estar presidindo esta sessão; companheiro Luiz Inácio Lula da Silva, fundador do Partido dos

Trabalhadores; nosso Líder, Deputado Aloizio Mercadante, e nossa Líder,

Senadora Heloísa Helena; agradeço, de coração, a presença de todos, particularmente do Deputado Ronaldo Vasconcellos, que falou em nome da

Liderança do PFL; do Deputado Aécio Neves, que falou em nome da Liderança do

PSDB; e do meu companheiro conterrâneo e amigo Deputado Zaire Rezende, que falou em nome da Liderança do PMDB.

Agradeço ainda a presença do Líder do PMDB, Deputado Geddel Vieira

Lima, que esteve na sessão e nos deixou um abraço; de antemão, do Deputado

Caio Riela, que falará em nome do PTB; do Deputado Dr. Hélio, do nosso Estado de São Paulo, que falará pelo PDT; da nossa companheira e amiga Deputada Luiza

Erundina, que falará pelo PSB; do nosso companheiro de lutas, Deputado Aldo

Rebelo, que falará pelo PCdoB; do Deputado Bispo Rodrigues, que falará pelo

Bloco Parlamentar PL/PST/PSL; e do Deputado Regis Cavalcante, das Alagoas, que falará pelo PPS.

Agradeço, igualmente, as palavras do Líder do Governo, nosso companheiro e amigo, Deputado Arthur Virgílio.

Quero destacar e agradecer a presença de Paes de Andrade, homem que presidiu o PMDB e que conosco tem militado em defesa do Brasil, da democracia e do trabalho. (Palmas.)

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Agradeço também a presença do Deputado Fernando Gabeira, que já esteve

aqui conosco, nosso companheiro e amigo que representa o Partido Verde nesta

Casa.

Agradeço a presença de Cristovam Buarque, nosso companheiro militante

que governou tão bem o Distrito Federal. (Palmas.)

Quero agradecer o Deputado Odelmo Leão, Líder do PPB, que esteve nesta

sessão de homenagem e nos deixou um abraço.

Desejo ainda agradecer a presença, especial para nós, de um ex-Deputado,

fundador do PT e que hoje trabalha no Congresso Nacional. Ele nos ajudou a

organizar o PT no Congresso Nacional e em todo o Brasil. Refiro-me ao

companheiro Antônio Carlos Oliveira, que nos ajudou nos momentos mais duros da

fundação do PT. (Palmas.)

Finalmente, agradeço a um conterrâneo meu, Senador José Alencar, do

PMDB de Minas Gerais, que nos honra com sua presença. (Palmas.) E mais uma vez a todos os companheiros e companheiras militantes, nossos Parlamentares,

Prefeitos e os Parlamentares dos outros partidos.

O Deputado Aloizio Mercadante já falou dos 20 anos do PT. Quero, neste momento, que deve ser solene, além de reverenciar a memória de todos os que nos deixaram — o que já foi feito pelo Deputado Jaques Wagner quando presidia a sessão —, reafirmar os compromissos do PT.

Em primeiro lugar, reafirmo o compromisso do PT com o povo brasileiro, com os trabalhadores, no sentido histórico e cultural que essa palavra tem, no sentido simbólico para todos nós. Isso significa que o PT reafirma seu compromisso de lutar, de maneira incansável, pela soberania e pela participação popular na gestão da nossa democracia no Governo. Por isso o Orçamento Participativo e as

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emendas populares são tão caros para nós; por isso as marchas, as caravanas, as

ocupações, as greves, as lutas sociais são a razão de ser do nosso PT.

Reafirmo o compromisso inquebrantável do PT de lutar, primeiramente,

contra a miséria e a desigualdade. Somos um partido socialista. (Palmas.) Para

nós, o Brasil precisa de uma revolução na distribuição de renda.

O nosso primeiro compromisso de Governo é a distribuição de renda, é a

cidadania, é a luta contra o racismo, contra o preconceito, tanto no gênero quanto

na questão sexual. Somos pela igualdade de todos os cidadãos. Então, a

democracia, para nós, tem de ser também econômica e social; tem de chegar aos

escritórios, às fábricas e às empresas rurais, à terra.

O compromisso do PT com a reforma agrária deve ser reafirmado, e com a

luta intransigente, para que todo cidadão brasileiro tenha dois direitos

fundamentais, sem os quais não haverá democracia: o direito à educação e à

cidadania e o direito ao emprego e à renda. Essa é a luta do Partido dos

Trabalhadores. (Palmas.)

Reafirmo o compromisso do PT com a democracia — talvez o mais

importante desde sua fundação — e com a radicalização da democracia no Brasil,

com uma ampla, profunda e mais do que necessária, do ponto de vista histórico,

reforma política e institucional.

Vamos tirar o dinheiro da política antes que o poder econômico corrompa a

democracia brasileira, inviabilizando-a. É necessário que o País passe por uma reforma política que dê a proporcionalidade direta nesta Casa ou, pelo menos, que chegue próximo dela; que mude o caráter do Senado, o mandato dos Senadores e o papel da suplência; que traga o financiamento público das campanhas, o recadastramento e o voto eletrônico em todo o País; que democratize o acesso aos

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partidos, ao fundo partidário e aos meios de comunicação. Sem uma

democratização radical da gestão governamental e dos Poderes Judiciário e

Legislativo, a democracia brasileira corre risco.

Portanto, reafirmo não só a reforma política, mas nossa convicção e

determinação de, cada vez mais, dar ao nosso povo a possibilidade de participação

no Governo e o compromisso do PT com os cidadãos brasileiros, com a cidadania.

Isso significa o compromisso do PT com as alianças. O PT quer e fará cada vez

mais alianças no nosso Brasil.

Quero reafirmar a Frente Democrática e Popular; o manifesto em defesa do

Brasil; os nossos Governos de coalizão nas cidades e nos Estados do País e a

determinação de construir ampla aliança com todos os setores sociais que queiram

defender, em primeiro lugar, o Brasil, com democracia e mudança social.

Reafirmo o nosso compromisso — nós, que somos Vereadores, Deputados,

Senadores, com a instituição Parlamento e com uma gestão ética, coletiva e

participativa.

Quero reafirmar nosso compromisso com os governos que exercemos, em

primeiro lugar, com a ética, com a luta intransigente contra a corrupção; em

segundo lugar, com a participação popular, com nossos programas democráticos e

populares.

Por fim, Sr. Presidente, reafirmo o compromisso do PT com o Brasil. Hoje,

quando se discute a privatização e a desnacionalização do BANESPA — somos

contra —, quando se discute o avanço do capital externo sobre o Brasil, a perda do

controle sobre a política monetária e fiscal, a ausência de um projeto de

desenvolvimento nacional, reafirmo que o PT patrocinou, incentivou, foi um dos

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principais atores do Manifesto em Defesa do Brasil, que Lula e todas as lideranças

políticas da esquerda levarão a todo o País.

Quero reafirmar nosso compromisso com o Brasil, porque nunca este País

viveu momento tão difícil e delicado no mundo como hoje. Lembro que o Brasil

sempre cresceu nas crises internacionais, mas sempre se desenvolveu com uma

concepção de projeto de desenvolvimento nacional, quer na democracia, quer na

ditadura, quer no Estado Novo, quer no governo democrático de Getúlio Vargas,

quer no Governo Juscelino Kubitschek, quer nos anos em que Geisel governava o

Brasil, no período militar. Este País desenvolveu-se de maneira muitas vezes

contraditória e geralmente injusta, desenvolveu-se em regime democrático e em

regime de exceção, mas sempre teve um projeto de desenvolvimento nacional.

Talvez esta seja a questão mais importante, aquilo que une mais os

brasileiros neste momento, o nosso maior compromisso neste instante: a busca de

um Brasil soberano, autônomo e independente, mas também justo e democrático.

Um Brasil com igualdade e com distribuição de renda.

O PT completa 20 anos, muito pouco na história do nosso povo e nas nossas

vidas. Mas para nós, petistas, é muito, porque nossas vidas se confundem com o

PT. Acredito que o Partido dos Trabalhadores deve, neste momento, mais do que

fazer um auto-elogio, reafirmar perante a sua militância e os seus filiados o

compromisso com o próprio partido, com a democracia, com o pluralismo e com a

organização, lembrando que surgiu para trazer voz e vez àqueles que não tinham

cidadania; surgiu para dar voz aos humildes e marginalizados, àqueles que no

Brasil nunca governaram e nunca chegaram a esta Casa.

Quero reafirmar o compromisso dos Parlamentares, dirigentes e ocupantes

de cargos executivos do PT com a militância e com os milhões e milhões de

449 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko brasileiros que têm depositado votos no PT. Que o PT faça jus àqueles que nele acreditam, não só aos que votam no partido, mas àqueles que na sociedade brasileira esperam dele aquilo que todos nós esperamos: que um dia sejamos

Governo no Brasil.

Muito obrigado. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Srs. membros desta Mesa, ilustre

Líder Aloizio Mercadante, Sra. Senadora Heloísa Helena, meu companheiro de

Mesa Deputado Jaques Wagner, eminente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimento a todos e desejo cumprimentar o Plenário na pessoa do ex-Governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque, e na do Líder do Governo,

Deputado Arthur Virgílio.

Senhoras e senhores, quero dizer uma breve palavra, embora interrompendo a seqüência dos oradores, na qualidade de Presidente desta Casa. Palavra de saudação à democracia e ao sistema partidário. Não se constrói uma democracia sem partidos sólidos. E o que vou dizer — a pretexto de homenagear os 20 anos do

Partido dos Trabalhadores — muitas vezes é algo que pode ser considerado óbvio, mas que deve ser repetido: um partido há de representar sempre uma parcela da opinião pública. E o Partido dos Trabalhadores nasceu assim, representando uma parcela da opinião pública brasileira. E subsistiu assim, o que é mais extraordinário.

Um partido que ao longo do tempo alicerçou-se em convicções das quais jamais abriu mão.

Quantas e quantas vezes, presidindo a sessão, ouço aqueles companheiros do PT que vão para a tribuna e defendem arduamente as suas convicções; quantas e quantas vezes eu posso, daqui da mesa, Presidente José Dirceu, dizer comigo:

"Interessante, ele está certo". Ou: "Está errado". Mas, certo ou errado, vejo que há um convencimento, uma convicção, uma honestidade nas suas idéias extraordinárias.

Portanto, quando vejo os companheiros do PT na tribuna, eu aqui comigo digo: "Este é realmente um partido político". (Palmas.) Ou seja, uma parcela da

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opinião pública, e outras parcelas que podem desta parcela divergir constituem

outras agremiações partidárias. Mas vejo que o PT é um exemplo para a formação

dos partidos no País.

Por isso eu disse que aqui se faz uma festa da democracia e do sistema

partidário. Podemos divergir agudamente, como ocorre nas discussões neste

plenário, mas dou um testemunho, pela primeira vez — creio que jamais me

expressei desta maneira —, de que no plenário da Câmara dos Deputados há este

convencimento acendrado e acentuado dos membros do Partido dos

Trabalhadores.

Portanto, ao saudar os Líderes e a militância do PT pelos seus 20 anos de

existência, auguro que ele subsista por mais cinqüenta, sessenta, oitenta, cem

anos, como são, prezado Lula, os grandes partidos da democracia européia e de

outros países da América; são partidos que se solidificam ao longo do tempo, mas

fazendo o trabalho de uma coerência ideológica e de uma coesão, por força desta

coerência ideológica, extraordinárias.

De modo que não poderia deixar de vir aqui, antes de repassar esta

Presidência ao meu companheiro de Mesa Deputado Jaques Wagner, para saudar

os companheiros do PT, saudar a democracia, saudar o sistema partidário e

desejar-lhes o sucesso ideológico e democrático que sempre tiveram.

Meus cumprimentos a todos. (Palmas.)

452 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Concedo a palavra ao Sr. Deputado

Caio Riela, que falará em nome do PTB.

O SR. CAIO RIELA (PTB-RS. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente desta sessão solene, Deputado Jaques Wagner; Presidente do Partido dos

Trabalhadores, Deputado José Dirceu; Líder do PT no Senado, Senadora Heloísa

Helena; Deputado Aloizio Mercadante, grande líder do PT nesta Casa; Presidente de Honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva; em nome do Partido Trabalhista

Brasileiro, do nosso Líder Roberto Jefferson e da nossa bancada de 25 Deputados nesta Casa, quero não só prestar a homenagem ao Partido dos Trabalhadores, que completa amanhã seu 20º aniversário, mas também cumprimentar o autor do requerimento de realização desta sessão solene, Deputado José Genoíno.

Sras. e Srs. Deputados, Sras. e Srs. Senadores, senhoras e senhores, qual será o papel reservado à representação das minorias sociais no processo político característico do chamado Estado Democrático de Direito? Convalidar as decisões da maioria? Satisfazer a mera ansiedade de representação daqueles que não concordam com o pensamento majoritário? Ou apresentar-se ao eleitorado como alternativa viável de Poder, mostrando meios de se alcançarem os objetivos nacionais, embora trilhando caminhos diferentes?

Creio que o Partido dos Trabalhadores, cujos 20 anos de existência ora festejamos, representa esta última alternativa, senhoras e senhores.

Se fosse possível resumir, em uma só de suas características, a marca principal de sua atuação política, escolheríamos, sem dúvidas, a coerência. Mais do que a dedicação, o estoicismo, a renúncia aos egoísmos e vaidades mundanas, mais até do que o patriotismo — que sempre sobrepôs, a quaisquer outros

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interesses, os dos trabalhadores brasileiros —, destacam-se entre suas virtudes a

coerência ideológica e a unidade entre pensamento e ação.

De sua fundação, em 1980, até hoje, observa-se uma caminhada firme e

segura, marcada pela evolução que acompanhou o próprio amadurecimento

democrático brasileiro, desde o fim da ditadura. Do entusiasmo dos primeiros anos

— tão radical às vezes que chegava mesmo a pôr em risco as próprias conquistas

—, até a maturidade com que hoje se lança ao debate e à negociação nesta Casa,

todos os episódios da história do PT trazem o emblema comum da fidelidade às

próprias raízes sociais.

Quando se fala, hoje, em PT, é impossível esquecer os primeiros anos, no

Parlamento, quando uma bancada reduzidíssima conseguia operar milagres,

principalmente em face do grande apoio de que dispunha nas ruas, no povo, nos

movimentos sociais, na sociedade civil.

Embora oficialmente o partido tenha-se constituído em 10 de fevereiro de

1980, sua história começa muito antes, com efeito, nos anos de luta contra a

ditadura, na resistência das forças democráticas ao regime militar. Aos militantes de

então devemos muitas das conquistas que hoje sustentam a liberdade no cotidiano

nacional: a anistia ampla, geral e irrestrita, por exemplo, refrão repetido

incansavelmente por toda uma geração e que se tornou o primeiro passo concreto

para o retorno do País à normalidade institucional, e a Assembléia Constituinte,

bandeira levantada pelas esquerdas ainda em 1965, no auge do autoritarismo.

Os ideais de fraternidade entre os homens, a valorização do trabalho e

dignificação do trabalhador, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sras. e Srs.

Senadores, senhoras e senhores, são importantes demais para se restringirem

dentro de molduras ideológicas, sejam elas marxistas, leninistas, stalinistas,

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maoístas ou capitalistas e liberais. Não se pode, por isso, considerá-los sepultados

junto com os antigos regimes do Leste Europeu.

O PT demonstrou possuir grandeza e sabedoria para aprender com os erros

históricos da esquerda, para adaptar seus métodos de ação, embora mantendo a

essência de suas posições, em lugar de cristalizar-se no radicalismo empedernido

que, além de em nada contribuir para aperfeiçoar a democracia, ainda consegue

entravar o amadurecimento político do povo brasileiro.

Curtidos nesses anos de luta, o amor à liberdade e a aversão a todas as

formas de violência ideológica embasam o indiscutível pendor democrático que hoje

se divisa na atuação de sua bancada nesta Casa: tolerância para com as opiniões

divergentes e equilíbrio na defesa de suas posições, qualidades que, temos

certeza, só benefícios trazem à cena política nacional.

Mesmo pertencendo a corrente de pensamento antagônica — e, mais ainda,

por valorizar o confronto de idéias, sempre saudável para a sociedade —, não

poderíamos, nós, do Partido Trabalhista Brasileiro, partido cujas raízes históricas

se firmam também no solo fecundo das lutas em prol da classe trabalhadora, deixar

de homenagear a trajetória de vinte anos da maior agremiação partidária de

esquerda da América Latina.

É um caminho pontilhado de atos heróicos, marcado pelo altruísmo de

muitos brasileiros, pela honradez, pela dedicação ao próximo, um caminho traçado

com erros, acertos e enorme disposição para corrigir-se, um caminho, enfim, que

procurou aproximar-se incessantemente dos anseios de nosso povo.

Para satisfação de todos os verdadeiros democratas, Sr. Presidente, Sras. e

Srs. Senadores, Sras. e Srs. Deputados, o PT está aí, crescendo sempre,

455 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

espalhando-se com firmeza por todos os recantos do território nacional,

contrapondo-se ao regime estabelecido, criticando os erros, vigiando, alerta,

palpitante de novas idéias, sempre pronto a apontar alternativas, a colaborar para o

crescimento do País e a colocar-se como alternativa — viável e confiável — para o

exercício do Poder.

Aqui fica a homenagem do Partido Trabalhista Brasileiro aos 20 anos do

Partido dos Trabalhadores. (Palmas.)

Caro Presidente Lula, quero dizer, em meu nome, como único Deputado do

PTB do Rio Grande, lá da fronteira, que, como homem público, brasileiro, cidadão

— não só em 1989, quando V.Exa. obteve 16% dos votos do País, mas também em

1994, quando obteve 27% dos votos, e em 1998, quando obteve 33% dos votos —,

este Deputado, desde lá, quando Vereador em 1989, teve a honra de votar em

Leonel Brizola nas duas primeiras oportunidades, no primeiro turno, mas, nas

outras oportunidades, de votar em V.Exa. Quem obteve o percentual de 33% dos

votos em 1998, e vê hoje o País como está, não deve perder essa chance junto ao

povo brasileiro em 2002.

Parabéns, PT! Parabéns a todos militantes do PT e ao povo brasileiro!

(Palmas.)

456 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Antes de passar a palavra ao próximo orador inscrito, peço a toda a militância que ouçamos os oradores que vêm brindar nosso partido.

Registro a presença de Arlete Sampaio, ex-Vice-Governadora do Distrito

Federal. (Palmas.)

457 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Concedo a palavra, para falar em nome do PDT, ao Deputado Dr. Hélio.

O SR. DR. HÉLIO (PDT-SP. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente da sessão, Deputado Jaques Wagner; Srs. militantes do PT; Lula, Presidente de Honra do PT; José Dirceu, Presidente do PT; Líder Aloizio Mercadante; ex-Presidente do

PMDB, Paes de Andrade; Professor e ex-Governador Cristovam Buarque; Sr.

Conselheiro da Embaixada de Cuba; Senadoras Marina Silva e Heloísa Helena;

Deputadas e Deputados, parabenizo, em primeiro lugar, o Deputado José Genoíno, como autor desta sessão solene.

Quero confessar que hoje, pela manhã, ao ser convidado para representar o

PDT nesta homenagem aos 20 anos do PT, cometi um ato falho. Escrevi sobre a nossa história, os nossos objetivos, as nossas metas, os nossos desafios e os nossos compromissos com o País, mas sou do PDT. Confesso que me senti muito bem, emocional e afetivamente, em ter cometido esse ato falho.

Peço licença a todos os senhores para dizer que um dos culpados, ou uma das culpadas por esse ato falho foi minha filha, Maria Thereza, nessa antevéspera dos 20 anos da minha... (Falha no sistema de som.)

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - A V.Exa. será garantido o tempo regimental.

Enquanto aguardamos que o problema seja superado, aproveito para registrar a presença do Sr. Juan Luis Nilo Valledor, Primeiro-Secretário da

Embaixada do Chile, e também para saudar a presença entre nós dos membros da militância da Coordenação Nacional dos Servidores Públicos Federais, que há pouco encerraram o lançamento da campanha pelo reajuste salarial.

458 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

O SR. DR. HÉLIO - Sr. Presidente, foi uma honra muito grande ter cometido,

em primeiro lugar, um ato falho, que vem muito ao encontro das nossas convicções,

das convicções do PDT, que tem os mesmos objetivos para que este País se torne

mais justo socialmente.

Em segundo lugar, rendo minhas homenagens, pedindo licença ao Plenário,

à minha filha Tetê, Maria Thereza, que completará 20 anos. Ela me faz um pedido

para homenagear o PT. Este é um presente de aniversário que dedico a ela.

(Palmas.)

Nesses vinte anos, o PT teve muitos atributos. Um dos mais importantes é o

compromisso com as suas origens sindicais, a discussão junto aos movimentos dos

trabalhadores na conquista dos seus direitos em pleno regime de autoritarismo

militar. Daí por que este é um dos maiores e principais atributos.

Em seguida, a sua organicidade. Ele é orgânico por saber inserir em seus

propósitos questões sociais da maior relevância, entre elas a luta pelos direitos do

cidadão, a defesa das mulheres, a luta contra as discriminações.

No momento, vemos pela TV e pelos sites grupos organizados lutando a

favor da discriminação racial, contra os nordestinos e os negros. É neste momento que se faz presente este atributo do PT, que é lutar contra toda e qualquer discriminação.

Existe um terceiro atributo, uma terceira contribuição, que marcou a minha juventude e a desta nova geração. Talvez seja a maior contribuição que esse partido tem dado ao País e a nossa comunidade, ou seja, plantar a decência, a

ética, a honestidade como símbolo maior de conquista de um cidadão. Essa é uma das maiores contribuições que o PT tem dado nesses últimos vinte anos.

459 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

No Congresso Nacional, as nossas posições, do PDT, sempre foram

convergentes. Aqui estão os testemunhos dos nossos colegas Deputados. Já em

1989, marchamos juntos no segundo turno e quase conquistamos o poder com o

nosso companheiro Luiz Inácio Lula da Silva; em 1998, com a união do povo, por

meio do Movimento Muda, Brasil, com Lula e Brizola, mais uma vez juntamos as

nossas forças, ampliamos as participações com os excluídos sociais. O futuro

aponta que chegaremos lá.

Se tivéssemos que saudar todos os que contribuíram para a história do PT

nesses vinte anos, teríamos de escrever uma onomástica ou uma enciclopédia. Na

figura do seu maior Líder, o Lula, que é o Presidente de Honra do PT, cremos estar

sintetizando o atributo de todos eles. Lula simboliza para todos nós, desde os mais

humildes até os abastados, a incrível vontade de um povo em vencer, a capacidade

de luta aliada à esperança de melhores dias em nossas vidas, de forma crítica,

contundente, verdadeira, mas sem nunca perder a sua ternura.

Neste momento em que o País, o nosso povo aponta a necessidade de uma

nova orientação político-administrativa, com políticos que possam defender o

patrimônio nacional e uma agenda social que combata permanentemente o

desemprego, a violência e as forças emergentes da discriminação, a nossa parceria

é essencial.

Parabenizamos o PT por seus 20 anos. Reconhecemos a sua experiência

acumulada e colocamo-nos ao seu lado. Contudo, também lançamos aqui um

desafio a todos aqueles que atingem a maioridade: trabalhar em dobro, superar-se

na busca permanente de um País mais justo e igualitário para, por meio da

solidariedade, chegarmos à vitória, contando com todos os atributos aqui

mencionados a que o PT faz jus dentro de sua experiência de vinte anos.

460 CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 031.2.51.E Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 09/02/00 Montagem: Yoko

Parabéns, PT! Parabéns às Lideranças e, principalmente, à militância do partido. O povo precisa do PT. Vamos à luta! Vamos à vitória! (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Antes de passar a palavra ao próximo orador, gostaria de registrar a presença do companheiro Lucídio Ravanelo, da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, e também dos integrantes do 2º Curso de Capacitação em Administração Pública para Membros da Comunidade Afro-Brasileira, que estão em nosso plenário representando mais de trinta entidades do Movimento Negro do País. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Concedo a palavra, para falar em nome do PSB, à nossa companheira Deputada Luiza Erundina. (Palmas.)

A SRA. LUIZA ERUNDINA (Bloco/PSB-SP. Sem revisão da oradora.) - Sr.

Presidente, Deputado Jaques Wagner; companheiros Lula e José Dirceu, companheira Senadora Heloísa Helena, minhas companheiras, meus companheiros do Partido dos Trabalhadores, ainda bem que fiquei no final da lista dos oradores, porque tive tempo para domar a forte emoção que me domina nesta sessão de homenagem ao PT.

Falar dos 20 anos do Partido dos Trabalhadores é falar pelo menos de dezessete anos da minha vida pessoal e da minha trajetória política. Daí a emoção, o choro contido, porque não falo em meu próprio nome, mas em nome da bancada do Partido Socialista Brasileiro desta Casa, que tenho a honra de liderar, para homenagear este grande partido, que é grande não apenas pela expressão das suas lideranças maiores, mas também pelo tamanho, pela dimensão da sua militância, pela generosidade desta paixão revolucionária, que é viver o Partido dos

Trabalhadores.

Tive a honra de estar na origem desse partido com o companheiro Lula e os demais fundadores do PT e vivi intensa e apaixonadamente o partido durante dezessete anos.

Houve quem dissesse que o petismo é um estado de espírito que nos domina a todos, em todos os lugares e que nos faz presentes onde se reclama luta, compromisso com os direitos humanos, com os direitos sociais e com os direitos de cidadania. Foi isso que aprendi no PT. Por isso, o sentimento que me domina hoje

é o de gratidão. Devo ao PT a minha formação política e a minha paixão pelas

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transformações por que devem passar o mundo, o Brasil e cada lugar onde se vive

neste imenso continente que é a América Latina.

O PT me ensinou que fazer política é mais do que disputar eleições ou

exercer um mandato; que ser petista é uma opção de vida e uma opção total,

absoluta, plena; e foi isso que vivi durante dezessete anos como militante deste

partido. Posso assegurar-lhes que não abri mão dessa paixão, desse compromisso

e dessa vocação de vida plena na política pelo fato de ter mudado de casa. Tenho

dito que mudei de casa, mas não mudei de rua. É a rua do socialismo. (Palmas.)

Com os mesmos compromissos e com a mesma paixão com que nasci para a

política no Partido dos Trabalhadores. Portanto, meu sentimento é de gratidão.

Tendo a responsabilidade e o dever de fazer esta saudação em nome do

meu partido, o Partido Socialista Brasileiro, quero dizer que o PT é o maior partido

de esquerda deste País, é um partido a quem o Brasil deve a democracia. Não se

fará mudança neste País sem o Partido dos Trabalhadores.

Estaremos certamente juntos, como sempre estivemos nas lutas em torno

dos direitos das mulheres, dos negros, dos excluídos da terra, enfim, como tem sido

a trajetória e a pauta de luta do Partido dos Trabalhadores.

Queria destacar um único aspecto não lembrado nos pronunciamentos

anteriores, ou pelo menos explicitamente: o papel revolucionário do Partido dos

Trabalhadores, sob o ponto de vista cultural. O PT promoveu e promove a cultura

política neste País. Foi nesse partido que nós, mulheres do povo, tivemos acesso

aos espaços de poder. Fomos nós, as primeiras mulheres do PT, que disputamos e

alcançamos fatias importantes de poder à frente das Capitais conquistadas, pela

primeira vez, pelas mulheres neste País.

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Assim, não é pouco o que o Brasil deve ao Partido dos Trabalhadores. Não é

pouco o que nós, mulheres e trabalhadores em geral, devemos a esse partido,

como instrumento de luta na defesa e na conquista dos nossos direitos.

É em nome de tudo isso, companheiro Lula, que estou emocionada, vivendo intensamente este momento e me sentindo parte dele, porque não consegui e nem pretendo cortar as raízes que me ligam a este grande partido, o Partido dos

Trabalhadores. (Palmas prolongadas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Antes de passar a palavra ao próximo orador, registro a presença dos Deputados Estaduais Moema Gramacho,

Yulo e Paulo Jackson, do Estado da ; do Deputado Marcelo Nilo, do PSDB baiano; e da Deputada e ex-Prefeita de Salvador, pelo PSB, Lídice da Mata.

É dispensável dizer — só não poderia nominar — que saudamos entusiasticamente a presença da nossa militância anônima neste plenário, que, na verdade, garante o colorido da nossa festa. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Concedo a palavra ao Deputado

Aldo Rebelo, que falará em nome do Partido Comunista do Brasil.

O SR. ALDO REBELO (Bloco/PCdoB-SP. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, companheiro Deputado Jaques Wagner; Presidente Nacional do

Partido dos Trabalhadores, companheiro José Dirceu; estimado companheiro

Presidente de Honra do partido, Lula; minhas companheiras e meus companheiros do Partido dos Trabalhadores, vinte anos configuram uma existência, uma trajetória naturalmente transformadora e enriquecedora.

Lembro que, no dia 1º de dezembro de 1980 — se não me engano —, o PT realizava, neste plenário, sua primeira convenção nacional. Presidia a União

Nacional dos Estudantes, e, em nome da UNE, aqui compareci para fazer a saudação ao primeiro ato de constituição do partido, sua primeira convenção, e também conviver com grande número de companheiras e companheiros da minha geração universitária, que integravam naquele momento as fileiras do Partido dos

Trabalhadores.

Percorremos esses vinte anos, companheiras e companheiros. Vinte anos de unidade, de batalhas comuns, vinte anos também de divergências, de polêmicas, mas, acima de tudo, de um esforço capaz de construir o amadurecimento que hoje traduz a convivência entre o PT, o PCdoB, o PDT, o PSB e outras legendas ou agrupamentos que formam a generosa tradição de luta dos trabalhadores e do povo brasileiro.

Neste Congresso, diante deste Governo, travamos a batalha em defesa da soberania do País, enfrentamos a contra-reforma conservadora promovida pelos neoliberais de plantão, que tentaram destruir, durante esses últimos cinco anos,

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não apenas as bases físicas da existência de uma Nação independente. A pretexto

de destruir a Era Vargas, o que faz o atual Governo, na verdade, é destruir as

bases de sobrevivência da própria Nação brasileira.

Aqui, enfrentamos a ofensiva ideológica da grande imprensa, porta-voz e

porta-estandarte dos interesses da globalização neoliberal. Aqui, com os

Deputados do Partido dos Trabalhadores, com os sindicalistas e com os

movimentos sociais, defendemos a tentativa de destruição das conquistas sociais,

principalmente na área da Previdência Social. Aqui, resistimos, em defesa da

liberdade, contra as reformas políticas que, através de mecanismos que não cuidam

de reformar aquilo que precisa ser reformado, como disse o Presidente José

Dirceu, não cuidam de impedir a influência nociva, deformadora e corruptora do

poder econômico sobre o processo eleitoral. Procuram, pelo contrário, esmagar as

pequenas legendas, as legendas históricas, a propósito de oferecer ao Governo a

chamada governabilidade.

Assim vejo, minhas amigas e meus amigos, essa convivência, essa trajetória

e esses vinte anos do Partido dos Trabalhadores, que se confunde com as demais

organizações que formam a resistência do nosso País contra a destruição que

impõe o neoliberalismo, nada mais, nada menos do que a continuidade da luta

histórica do povo brasileiro.

Todos nós passamos não a descobrir, mas a valorizar o sentido da Nação e

a defesa da nacionalidade como opção e bandeira estratégica das forças de

esquerda e das correntes socialistas, porque, se o socialismo, como doutrina, tem

caráter universal, porque universal é o capitalismo, é a classe operária; mas o

barro, a base física é o Estado nacional, é a Nação brasileira. A partir dela,

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construiremos as transformações econômicas, políticas, sociais e ideológicas pelas

quais lutamos.

Companheiras e companheiros, sem a existência da Nação e sem a defesa

da nacionalidade, a própria democracia, a própria liberdade, os próprios direitos

sociais e o próprio socialismo se tornam conceitos vazios. A ofensiva neoliberal não

busca apenas destruir direitos sindicais, democráticos e sociais; busca destruir,

justamente, a base a partir da qual se pode propor e realizar as transformações

profundas pelas quais a sociedade brasileira precisa passar.

É com esse estado de espírito de otimismo e confiança, com a leitura, ao mesmo tempo, crítica, mas também otimista da nossa trajetória, que não podemos desprezar o nosso passado, ao ensejo dos 500 anos do Descobrimento ou início da construção da Nação que habitamos. Não podemos olhar para trás com o sentimento negativista de que nada valeu a pena. Se nada valeu a pena, valeu pelo menos, sim, a luta e a resistência do povo brasileiro; valeu a pena o Quilombo dos

Palmares; valeu a pena a Confederação do Equador; valeu a pena a resistência dos camponeses de Canudos; valeu a pena a luta por uma República que deitou por terra a Monarquia carcomida; valeu a pena a luta dos tenentes e sua jornada nos anos 20; valeu a pena o trabalho daqueles que fizeram, ao longo da década de

30, a possibilidade da construção e industrialização do País e os direitos sociais dos trabalhadores; valeu a pena a tentativa de construção de uma base industrial nacional nos anos 50; valeu a pena a resistência contra a ditadura; valeu a pena a campanha das Diretas; valeu a pena, também, companheiros, a campanha do impeachment.

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Valeu a pena, exatamente, porque somos o resultado dessa trajetória, das

suas vicissitudes, dos seus erros e, evidentemente, das suas insuficiências; mas

também somos resultado das suas virtudes, dos seus êxitos e das suas vitórias.

E é com essa trajetória, junto ao povo brasileiro e seus trabalhadores, que

tenho a mais absoluta confiança no Partido dos Trabalhadores, ao lado das demais

organizações, entre as quais, sem nenhuma pretensão e modestamente, incluo o

velho Partido Comunista do Brasil.

Haveremos de trilhar novos caminhos! Haveremos de derrotar a arrogância

neoliberal! Haveremos de mostrar aos que estão de plantão no poder que eles são

eventuais e que permanente em nosso País é apenas a persistência, a confiança e

a luta dos trabalhadores e do povo brasileiro!

Por essa razão, Sr. Presidente, companheiros Lula e José Dirceu, sras. e

srs. militantes, é com grande alegria que, em nome do Partido Comunista do Brasil,

transmito a todos um grande abraço e saudações sinceras pelos 20 anos do Partido

dos Trabalhadores. (Palmas.)

Muito obrigado.

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Concedo a palavra ao Deputado

Bispo Rodrigues, para falar em nome do Bloco PL/PST/PSL. (Palmas.)

O SR. BISPO RODRIGUES (Bloco/PL-RJ. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Deputado Jaques Wagner; Deputado José Dirceu, Presidente Nacional do PT; Sr. Luiz Inácio da Silva, Presidente de Honra do Partido dos Trabalhadores, para mim é uma honra estar aqui representando o PL, e não irei falar somente em nome do meu partido, mas em nome da instituição que fundei há vinte anos.

Não escrevi nenhum discurso, embora fosse fácil fazer isso, porque minha chefe de gabinete é petista de carteirinha (risos), uma pessoa muito competente, conhece toda a história do Partido dos Trabalhadores; é militante do partido e uma funcionária competente e exemplar.

Quero dizer que há uma falsa premissa no Brasil de que o PT, embora tenha vinte anos de fundação, não tem diálogo com a sociedade e não consegue romper, num diálogo construtivo, com a sociedade e, principalmente, com os formadores de opinião.

Pedi que a minha secretária não escrevesse o discurso porque ela não entenderia do que vou falar, porque o que vou falar está dentro do meu coração e da minha mente.

Pertenço a uma entidade que lutou bravamente contra o PT, com todas as forças, para que o PT não chegasse ao Governo Federal e não elegesse um

Presidente da República. Não estávamos envolvidos com política, éramos apolíticos, não entendíamos de política, como classe média, fomos formados fora da política, que foi negada ao Brasil na ditadura. Só entendíamos aquilo que a propaganda oficial dizia — "Brasil: ame-o ou deixe-o" —, como se não pudesse

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haver um diálogo, outras alternativas. Então, entendíamos que tudo que fosse

vermelho era comunista, que iam matar as criancinhas e queimar as igrejas. Por

isso, lutamos contra o PT nas eleições do ex-Presidente Collor e também na

primeira de Fernando Henrique.

Fazíamos um discurso totalmente contra o PT. Mas, conhecendo o

companheiro Lula, conhecendo o companheiro Cristovam, ex-Governador do

Distrito Federal, conhecendo os Deputados José Dirceu, Nelson Pellegrino, nosso

amigo da Bahia, Walter Pinheiro, que é o nosso irmão evangélico da Igreja Batista,

conhecendo o Deputado Gilmar Machado e outros companheiros do PT, passamos

a dialogar, a ouvir seus discursos e vimos que as nossas verdades eram mentiras,

que os nossos temores eram infundados. Não se justificava que dentro da nossa

própria instituição perseguíssemos todos aqueles que fossem petistas e

alijássemos da direção da igreja ou da instituição todos aqueles que nutriam

respeito e amor pelo PT.

Por meio do diálogo, entendemos que os senhores lutam por aquilo que

também lutamos. E, no meu primeiro mandato, estou conseguindo algo de que

muito me orgulho, isto é, que meu Partido Liberal acompanhe o PT em 90% das

votações desta Casa. (Palmas.)

Entendo que nossa instituição luta pelo mesmo que os senhores lutam, pelo

processo de retirar a tampa hermética que tem sufocado o brasileiro, negando-lhe

educação, saúde, segurança e o apoio que os órgãos oficiais deviam dar aos

pequenos e médios agricultores, empresários e a todas as pessoas que estão

alijadas do mercado de trabalho ou do amparo desde crianças.

A luta dos senhores é muito parecida com a nossa, porque também lutamos

para que o povo brasileiro tenha prosperidade. Como o Lula falou em eleição

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passada, devemos lutar para que o trabalhador brasileiro ao menos tenha um bife

aos domingos. Também lutamos por isso. Pelo diálogo com os senhores,

entendemos que, em muitos momentos, a luta dos senhores por uma sociedade

mais justa, mais fraterna, com mais justiça para o povo carente, se parece com a

nossa luta religiosa.

A luta dos senhores está fazendo 20 anos. Não acreditem na opinião

publicada — não a pública, mas a opinião publicada, à imagem e semelhança dos

donos dos jornais e da televisão — de que os senhores não conseguiram

estabelecer diálogo com a sociedade. Os senhores conseguiram, e acredito que,

nas próximas eleições, a esquerda e o Partido dos Trabalhadores vão crescer muito

mais, porque é preciso.

Esta Casa tem mostrado, quando votamos tudo o que é contra o povo

brasileiro, como a esquerda luta. Às vezes, saio tarde da noite daqui frustrado,

porque todos nós, da esquerda, da Oposição, não conseguimos derrubar uma

proposta da direita; não conseguimos derrubar as coisas mais elementares, como

não tocar no dinheiro do aposentado, como fazer um progresso mais justo (palmas),

como instituir CPI para apurar o que está acontecendo na Previdência Social, como

instituir uma CPI para o sistema bancário brasileiro e tantas outras de que este

Brasil precisa, porque até hoje não foi passado a limpo.

Desejo que Deus abençoe os senhores na sua luta, porque ela se confunde

com as nossas também.

Muito obrigado. Que Deus abençoe o Brasil. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Concedo a palavra ao último orador inscrito, Deputado Regis Cavalcante, que falará em nome do PPS.

O SR. REGIS CAVALCANTE (PPS-AL. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Deputado Jaques Wagner; demais componentes da Mesa,

Embaixadores, Srs. Coordenadores partidários, Sra. Senadora, meus senhores, minhas senhoras, a ninguém será dado o capricho de ignorar o papel que o Partido dos Trabalhadores desempenha hoje no Brasil como um dos fatores determinantes da nossa pluralidade política e como um dos instrumentos fundamentais para dar à nossa democracia o conteúdo social de que ela precisa para adquirir a solidez que os tempos atuais requerem.

Daí a relevância que emprestamos às comemorações dos 20 anos de fundação do PT. Quero dar, em meu nome e em nome do meu partido, o PPS, um abraço fraterno e os votos de congratulações a seus militantes, dirigentes e

Parlamentares, pela passagem de uma data que já representa importante marco no riquíssimo saldo de lutas, conquistas e experiências que o PT viveu nessas duas

últimas décadas.

Podemos dizer, com toda segurança, que o PT mudou a cara política do

Brasil quando surgiu no cenário da República, canalizando muitas esperanças dos que desejavam transformações profundas na estrutura desigual de nossa sociedade, depois da memorável batalha que o povo brasileiro travou contra o arbítrio da ditadura.

Expressando a força dos novos fatores constitutivos do mundo do trabalho, em aliança com parte considerável da nossa intelectualidade crítica e revolucionária, o PT, desde o momento que surgiu, deu continuidade e reforçou

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com criatividade os movimentos sociais no País, incorporando a eles novas

demandas e novos atores, numa contribuição a qual a maioria trabalhadora da

nossa população e o próprio País devem muito.

Graças a essa feliz junção da ação de lideranças sindicais, saídas dos

setores mais avançados da indústria e dos serviços, com o pensamento de

substancial parte da intelectualidade e da militância que resistiram à ditadura, pôde

o PT transforma-se em eficaz partido de massas, que não poucas contribuições deu

e vai continuar dando ao ideário da esquerda brasileira, não somente nos

Parlamentos como também à frente de não poucas experiências de governo em

várias partes do Brasil.

Como partido, o PT introduziu na cultura política brasileira um pluralismo

interno que é digno de nota, desenvolvendo uma convivência democrática entre

suas diversas tendências, que, apesar do tensionamento que causa, é inegável

modelo partidário a ser estudado e valorizado positivamente no mundo político.

Como Parlamentar e militante do PPS, quero dizer que as diferentes visões

político-ideológicas, que, em vários momentos, distanciam o meu partido do PT,

não são e não devem ser motivo para que deixemos de reconhecer a grandeza do

Partido dos Trabalhadores, a bravura dos seus integrantes e o aporte

imprescindível que dá para criar um Brasil mais humano, menos desigual, mais

soberano, mais culto e mais democrático, sobretudo na efetiva dimensão social que

deve ter qualquer democracia que se preze.

É dessa forma que homenageio os 20 anos do Partido dos Trabalhadores.

Muito obrigado.

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Gostaria de anunciar, a pedido do

Partido dos Trabalhadores do Distrito Federal, as atividades que farão parte da

comemoração dos seus 20 anos.

Amanhã, às 10h, na Câmara Legislativa, haverá sessão solene. Às 20h, também amanhã, haverá debate sobre socialismo e democracia no auditório Nereu

Ramos, da Câmara dos Deputados, com os debatedores Marco Aurélio Garcia,

Arlindo Chinaglia e Valter Pomar.

Hoje à noite, no Planeta Brasilis, há festa de confraternização, para a qual estão convidados todos os petistas.

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A SRA. ANGELA GUADAGNIN - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Tem V.Exa. a palavra.

A SRA. ANGELA GUADAGNIN (PT-SP. Pela ordem. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, quero, numa homenagem a todos os militantes do

Partido dos Trabalhadores, ler um poema feito por um deles, o Secretário-Geral do

Diretório de São José dos Campos. É um poema sobre os 20 anos do Partido dos

Trabalhadores.

Faz vinte anos

Ele nasceu menino reclamão.

Não daqueles que falam palavrão só por falar,

mas daqueles que, de tanta paixão,

resolvem enxergar:

que o operário não é só padrão

que a mulher não é só fogão

que o negro não é só negão.

Bem de manhãzinha,

ele resolveu misturar.

Juntou sindicato com movimento popular,

artista, intelectual de tudo quanto é lugar.

E todo aquele povo lindo

que, já cansado do desrespeito,

disse: "Chega, eu tenho direito.

Daqui pra frente, traço eu o meu caminho".

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Lutou contra a ditadura,

contra a exploração e a miséria.

Fez da luta o seu destino

e entendeu, já não tão menino,

que pra ter liberdade precisa mais do que reclamar,

precisa bater panela,

precisa governar!

É uma homenagem a todos os filiados e militantes do Partido dos

Trabalhadores. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Registro a presença em plenário do

Primeiro Vice-Presidente da Casa, Deputado Heráclito Fortes. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Antes de encerrar a sessão,

gostaria apenas de fazer uma homenagem particular, que tenho certeza de que

cada um de nós gostaria de fazer, a esse nosso poeta da Ação Política Petista,

poeta do povo brasileiro, companheiro Pedro Tierra. (Palmas.) Na verdade é o texto

que faz a história, contada naquele "Filhos da Paixão", que estou certo de que

emocionou a todos; alguns tiveram a coragem de deixar as lágrimas correrem;

outros, talvez por timidez, preferiram contê-las.

Só quero dizer a todos que estão aqui, ao final desta sessão, que espero

que as lágrimas roladas nos rostos, as lágrimas guardadas no coração, como as de

Luiza Erundina, na verdade sirvam para fertilizar ainda mais o que há de mais rico

no PT. Temos convicções, mas a maior delas é que não há uma verdade absoluta;

na riqueza da pluralidade petista, que reflete a riqueza da pluralidade do povo

brasileiro, é que conseguimos construir e amalgamar a coerência da nossa ação

política e das nossas convicções.

É isso que faz com que todos os nossos adversários políticos continuem a nos respeitar. Espero que por mais vinte, quarenta, sessenta, cem anos tenhamos a grandeza de compreender que essa divergência e essa pluralidade, definitivamente, é que fazem a riqueza petista.

Um abraço a todos. (Palmas.)

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V - ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Nada mais havendo a tratar, vou encerrar a presente sessão.

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O SR. PRESIDENTE (Jaques Wagner) - Está encerrada a sessão.

(Levanta-se a sessão às 13h02min.)

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