ATA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA

Aos 25 dias do mês de maio do ano de 2016, na quadra coberta da Prefeitura de , endereço Avenida Joaquim Lisboa, n.º 900, no Município de Jenipapo de Minas. Presentes o Promotor de Justiça Daniel Costa Lessa, realizou-se Audiência Pública para os fins do disposto no art. 27, parágrafo único, IV, da Lei n. 8.625/93, regularmente convocada por meio do Edital de Divulgação, afixado na Promotoria de Justiça desde o dia 14/04/2016 e publicado no portal eletrônico do Ministério Público de desde o dia 18/04/2016, com o objetivo e a pauta apresentados a seguir:

1. Objetivo

Audiência Pública Barragem de Setúbal e as consequências dela advindas para os moradores atingidos, tem como objetivo mapear os maiores problemas comunitários, separando-os de demandas unicamente individuais e permitir a solução do problema coletivo, seja por meio da realização de TAC ou, na impossibilidade, com a propositura de Ação Civil Pública.

2. Agenda da Audiência Pública

09:00 – 09:15 – Abertura dos trabalhos; 09:15 – 12:00 – Manifestações dos expositores residentes nas comunidades Agrovila I e II; 12:00 – 13:00 – Pronunciamento dos debatedores inscritos; 13:00 – 13:15 – Exposição da Presidência da Audiência Pública sobre os encaminhamentos propostos; 13:15 – 14:00 – Considerações finais e encerramento pelo presidente.

3. Desenvolvimento dos trabalhos

Os trabalhos foram presididos pelo Promotor de Justiça Daniel Lessa Costa. Declarada aberta a audiência pelo seu presidente, procedeu-se à composição da mesa, que se fez como relacionado abaixo :

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- Daniel Lessa Costa, Promotor de Justiça de - Prefeito de , Sr. Ronaldo Lourenço Santana - Prefeito de Jenipapo de Minas, Sr. Márlio Geraldo Costa - Vereador da Câmara de Jenipapo de Minas, Sr. Dalton - Presidente da Câmara de Chapada do Norte, José Emetério - Sr. Waldeci Floriano, representante da RURALMINAS - Sr. Gilberto Brant, representante da RURALMINAS - Sr. Júlio Gabriel H. Lara Cabezas, representante da RURALMINAS

Após a composição da mesa foi feita a apresentação do Hino Nacional pela Banda Filarmônica Nosso Sonho.

Passou-se, então, a palavra ao Prefeito de Jenipapo de Minas, para saudar os presentes. O Prefeito de Jenipapo de Minas falou sobre a inauguração da barragem; dos problemas por ela gerados; a principal reivindicação é que o Estado de Minas Gerais compareça com as conclusões das condicionantes da construção da barragem; relatou que a RURALMINAS fez um levantamento e concluiu que, com R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais), seria suficiente para concluir as obras faltantes; afirmou, ainda, que a RURALMINAS é refém do Estado de Minas Gerais; o Prefeito espera que o Estado de Minas Gerais cumpra com as obrigações assumidas.

Em seguida, pelo presidente, foi feita a apresentação inicial dos objetivos e da estrutura da audiência pública e foram reiterados os objetivos específicos do encontro, bem como suas regras de desenvolvimento. Posteriormente, ainda pelo presidente, foi apresentada a pauta dos trabalhos. Dando prosseguimento à audiência, o presidente esclareceu que foram registrados os nomes dos expositores, que em breve seriam abertas as incrições para debatedores.

No momento seguinte, foi dada a palavra aos expositores que se seguiram na seguinte ordem: 2

Expositores comuns das Comunidades Agrovila I e II

- Leonardo Severino Neiva: Falou sobre a qualidade da água e responsabilidades sobre a água potável e seu tratamento. Não é residente nas Agrovilas, mas se considera atingido da barragem. Alegou que a COPANOR não consegue fazer o tratamento da água; acredita que, no início da obra, o problema sobre o tratamento da água não foi pensado.

- Francisco Pereira Barbosa (Ex-Presidente da Associação dos Atingidos da Barragem de Setúbal): Participou dos primeiros levantamentos a respeito da barragem. Afirmou que as pendências de hoje são: falta concluir desmate, principalmente em Chapada do Norte; a água é problema em toda a comunidade; a documentação das terras também não foi concluída; até hoje não receberam a documentação; não tem cercas, só arame no chão; a madeira que foi prometida para a construção das cercas seria de qualidade e tratada, mas as cercas foram feitas de eucalipto e foram para o chão em um curto espaço de tempo; as pontes estão destruídas; as estradas que estavam no projeto faziam volta em torno da barragem, mas, ao contrário do projeto, foram feitas estradas cortando os atalhos, para que diminuísse o serviço (por culpa das empreiteiras); a balsa na Comunidade não foi colocada; existem famílias que têm muita dificuldade para ir a Jenipapo, com idosos e crianças (tem uma criança que precisa percorrer mais de 20 km para estudar, por falta da barragem); a água é um problema, porque só passa lama; têm 07 famílias que estão sofrendo com a água suja; as curvas de nível no entorno da barragem que foram prometidas não foram feitas (parte ambiental); é preciso resolver as pendências; há três pontes com problemas.

- Maria Eva S. Santos: Falou em nome da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e em nome de uma Comissão de Jenipapo de Minas, formada pela sociedade civil, que discute a questão da água no município. Acompanhou a situação do povo reassentado por 53 dias, sem relento. A comissão, de domingo até hoje, trabalhou para trazer a questão do rio que secou. O rio já acabou. A comissão vai fornecer uma documentação ao Ministério Público, narrando a situação da população. A água de má qualidade é um problema de toda a população do 3 município, não só das Agrovilas I e II. Esteve no local onde o esgoto está desaguando, que é perto das casas, e verificou o mau cheiro do local; afirmou que não há como algum ser humano suportar tudo isto.

- José Ferreira Leite: Manifestou-se a respeito da qualidade da água. Alegou que os moradores abaixo da barragem são atingidos; a água não serve para banho, para beber; várias pessoas pegaram xistose; as verduras produzidas não podem ser entregues nas escolas e nem vendidas em feira livre, por conta da contaminação; as pessoas discriminam o produto dos produtores que moram abaixo da barragem.

Expositores da Comunidade Agrovila I

- Rosa Altina Ferreira de Oliveira: Reclamou da precariedade da construção de sua casa, que apresenta muitas rachaduras. Depois da construção da barragem recebeu a casa, mas a residência não tem condições de moradia digna; após 02 anos de uso a casa já apresentou problemas; as autoridades dizem que resolverão os problemas, mas nada foi feito; a casa está toda quebrada, parede, piso, etc; quer ter uma vida digna, com a solução do seu problema; quer que os representantes da RURALMINAS se responsabilizem por qualquer problema que ocorra com ela e sua família, entregando-lhe um documento; a expositora teme que sua casa caia em algum momento. Acrescentou, ainda, que, com freqüência, os representantes vão até a sua casa, fotografam o local, mas o problema nunca é resolvido.

- Cleide Gonçalves Ramos: Sua mãe, Maria Gonçalves Ramos, faleceu de HIV, e a família nada recebeu pela casa que foi perdida em razão da barragem; os irmãos e a representante não receberam nada; quem comprou a casa foi Manoel Pedro da Nela, e a casa ficava localizada na Rua Minas Novas. A casa da sua mãe foi vendida sem que seus irmãos assinassem. A terra foi vendida e a mãe dela ficou sem lugar de dormir, morando como uma mendiga.

- Isaías Soares Ribeiro (Presidente da Associação Comunitária da Agrovila I): Falou 4 sobre a água e outras pendências. Afirmou que o problema da água continua; eram 04 bombas, ficavam 02 na água e 02 na balsa; hoje só tem 01 bomba no posto para a comunidade inteira. A rede da água nunca funcionou; quando a Agrovila foi construída a água suja começou a ser jogada no poço; a água do poço está toda poluída. A barragem não foi uma coisa ruim; se não tivesse barragem o rio teria secado; mas toda a população foi atingida, porque a água ficou toda poluída. Não tem água para horta, para plantar e colher nada; não tem água para alimentar animais. Espera que a RURALMINAS solucione o problema. Hoje ele já nem sabe quem é o funcionário responsável pela água lá. É perigoso até acontecer uma briga pela água. A questão da falta de água é um problema geral da Agrovila I; é preciso consertar o registro da água; o poço não está funcionando; a água que cai na Fazenda dos atingidos deveria cair num poço; tem um poço sem funcionar e outro funcionando. O poço está na propriedade de Djalma; o outro poço fica na Comunidade Agrovila.

- Antônio Nilson Martins Costa: Manifestou-se a respeito do desmatamento. Alegou que precisa de uma área de pasto, porque a dele foi alagada; a área foi prometida, mas não lhe foi entregue.

- Eurico Francisco de Sousa: Reclamou da quantidade de terra. Tinha uma terra e não recebeu por ela. É tio da Rosa Altina.

- José João Soares – “José Gardino”: Falou a respeito do direito de terra. Trabalhava fora na época da barragem; tinha direito a 30 há de terra, mas lhe deram 10. Reclamou da falta de água; tem época que fica 15 dias sem água; a água chega amarela; a região toda de Badaró está atingida. Agora até o esgoto de Jenipapo de Minas está caindo dentro do rio Setúbal. A barragem matou, inicialmente, a parte de cima do rio, e, agora, o esgoto está matando o resto.

- Sebastião Alves Pereira: Reclamou da falta de água. A barragem trouxe desunião para a população; tirou a população de um local bom e colocou em um lugar ruim. Hoje estão 5 pagando aluguel em Jenipapo. Na época da barragem era doente e a sogra também. Era para ter recebido a casa, mas não recebeu; o nome da esposa ficou sujo por conta da construção de sua casa; da barragem para baixo todos estão sendo atingidos; a água “nem porco pode beber”. Se não fosse o caminhão pipa não teriam água; não foi colada outra bomba; um poço só não tem como manter toda a população; o que salva é a caixa de água de 16 litros.

- Nilson Soares dos Santos: Manifestou-se a respeito das obras inacabadas. O projeto da quadra não foi concluído; além disto, o projeto não se enquadra nos padrões das quadras comuns; o maior problema é a desorganização e a falta de acompanhamento; encontram caixas de água com ratos; não as caixas principais de abastecimentos, mas as secundárias, colocadas em pontos estratégicos; algumas caixas foram retiradas, porque não tinha ninguém que cuidasse disto; não havia como uma família receber água em uma caixa que não tivesse os cuidados necessários, com ratos dentro, por isto as caixas foram retiradas; mas, sem saber dos problemas, os funcionários pediram que as caixas fossem colocadas novamente, sem resolverem a situação. A água do poço da Agrovila que recebem hoje é suja; não atende toda a população; ele acredita que a solução não é colocar as bombas, como foi pedido por alguns expositores; para ele, a primeira solução seria o tratamento da água.

- Lidinéia Oliveira Gomes: Pendências no geral e apresentação de fotos. A água que chega à sua casa, quando chega, é suja. Existem muitas pessoas sofrendo com a barragem. Os ribeirinhos estão sofrendo; tem gente bebendo lama; a água do rio cheira mal; tem gente da agrovila 2 pegando água em represa. Reclama que a RURALMINAS não se preocupou com a população; a população está sofrendo; apresentou uma garrafa com uma amostra da água que chega à Agrovila I. Informa que a ponte está quebrada; não tem como algumas pessoas transitarem, e têm idosos sofrendo com isto. A RURALMINAS não quer atender mais a população no escritório. Antes tinha a água do rio para usar, cozinhar; hoje a água não tem qualidade para usar nem para dar para animal. A falta da ponte impede a ambulância de chegar ao local; não há coleta de lixo; a escola funciona. 6

- Maria do Rosário Gomes: Está sem água; tem um poço artesiano cheio de água; o representante da RURALMINAS já prometeu ligar o poço artesiano há mais de 02 anos, mas não o fez; quer o poço ligado; ninguém está fazendo nada; ninguém vive sem água; tem 05 famílias na mesma situação.

- Roberto Lemes da Silva: Depois que a sogra faleceu as terras dela foram vendidas, mas os herdeiros não receberam nada. Não tem rede de esgoto; a água é de má qualidade.

- Lourival Soares Maria: Diz que a RURALMINAS fechou uma estrada que existia há mais de 200 anos, na Fazenda da Aldeia, que hoje é a Agrovila I; hoje a estrada é de péssima qualidade; além disto, hoje também não há controle sobre a água; uma hora agua está baixa, outra vez vai lá para cima; após fecharem a estrada, a população da comunidade é obrigada a passar dentro do rio. A transposição de peixe até hoje não foi feita.

- Antônio Pereira de Aguiar (Presidente do Sindicato de Jenipapo de Minas): Afirma que alguns perderam animais nos atoleiros ao lado da barragem; do ano passado para cá o nível da barragem está baixo demais; alguns agricultores tiveram prejuízo; os agricultores têm dificuldade de acessar as políticas públicas por falta de escritura das terras; eles não têm aposentadoria por falta de documentação, assim como outros benefícios (auxílio doença, pensão por morte, etc); quer que a RURALMINAS tome providências em relação à documentação.

- Raimundo João da Silva (Padre no Município): Conhece todo o sofrimento da Agrovila I, porque trabalhou lá. Sobre a água e o meio ambiente, aduz que o município de Francisco Badaró também é atingido pelo esgoto que cai sem tratamento; os moradores ribeirinhos, até Araçuaí, são atingidos; a COPANOR já foi convidada a ajudar, terminando a estação de tratamento de esgoto em Jenipapo e em Badaró; afirma que precisamos fazer com que a água ainda exista no Planeta. Tem muita gente que faz desmatamento e fura poço sem critério nenhum; usa veneno nas plantações sem critério; e tudo isto prejudica a água. 7

- Alisson Antônio Rodrigues: Presidente CMDRS; recebem muitas reclamações a respeito das pendências da obra da barragem Setúbal, alguns gravíssimos, como falta de água, outros também de tamanha gravidade, relativos a assoreamento, contenção de sedimentos. Nada foi feito em relação ao assoreamento e a contenção de sedimentos. Falou também sobre a falta de cercas, decorrente da má qualidade das madeiras empregadas na construção delas, que, por isto, já caíram. Questiona sobre as pontes, que com menos de 02 anos de uso já estavam caindo – de quem é a responsabilidade. A transposição de peixes não funciona; nunca funcionou; foi um investimento de R$10.000.000,00 (dez milhões de reais) e não serviu para nada. Na barragem, hoje, ninguém sabe se pode ou não consumir os peixes do local; ninguém monitora a qualidade da água. Já foi Secretário de Agricultura; afirma que o Min. Agricultura já esteve aqui para verificar a qualidade da água, mas ninguém sabe nada a respeito disto; não houve resultado. A população está sentindo os efeitos de tudo isto. O esgoto cai no rio sem tratamento; dizem que é tratado, mas não é.

Expositores da Comunidade Agrovila II

- José João Emetério (Presidente da Câmara de Chapada do Norte): Tratou sobre pendências no geral. É vizinho dos atingidos da Agrovila II, mora a 2 km da Agrovila II; como representante legítimo, a mais de 04 anos vai até a RURALMINAS, levando alguns atingidos para as cobranças do que não foi cumprido pelo governo passado e nem pelo presente. O problema da Agrovila II é muito pior do que o da Agrovila I; no ano passado, o ano letivo não chegou a 50% na agrovila II por conta da falta de água; o lixão tem mais lixo do que o de BH; parte da Ruralminas tem interesse em resolver o problema, mas o governo não disponibiliza recursos para a solução da questão. Os atingidos da agrovila II chegam a ficar 15 dias sem ter água sequer para fazer comida; já viu uma mãe ter que andar 5 km para pegar uma água que não serve nem para lavar os pés, e que seria usada para fazer comida. Os atingidos da beira do rio Setúbal tinham água todos os dias antes, e faziam horta para a sobrevivência; hoje não tem; o que prometeram não foi feito, nem as “barraginhas”; têm 03 pontes intransitáveis há mais de 03 anos; a estrada que ligava Vargem do Setúbal a Jenipapo não existe mais; além das 03 pontes, tem mais 04 dentro do Município que estão intransitáveis 8 também; as estradas estão precárias; tem estrada que existia há mais de 200 anos e hoje não funciona mais. O caminhão pipa, com motorista pago pelo Governo de Minas, está há mais de 60 dias sem rodar, porque não tem sequer pneus. A questão da água da Agrovila II tinha que estar resolvida há mais de 03 anos. A agrovila II também não tem coleta de lixo; as estradas acabaram.

- Edriana Aparecida Soares: Manifestou-se a respeito das questões não cumpridas pela Rural-Minas. Quando se fala em construção de barragens, se pensa em benefícios; mas não foi o que ocorreu. Há 01 ano não tem água na torneira; crianças estão com diarreia, xistose; nenhuma das 04 bombas funcionam; o desmatamento é outro problema (o IEF alega que lá não pode ser desmatado); todos vivem e tiram a subsistência da lavoura, mas hoje não podem nem roçar a beira da casa; como vão viver se não podem plantar sem a licença do IEF???; não tem água nem para as pessoas, quanto menos para os animais; falaram que até que libere a licença ambiental para fazer o tratamento do solo e o desmatamento receberiam cesta básica, mas isto não está acontecendo; o problema é desumano; calamidade pública; não tem água para o consumo humano; diz que antes tinham água em abundância. A população da agrovila II não tem nada; não tem desmatamento; não tem água, estrada; foi pedida ajuda para doar madeira para consertar a ponte que dá acesso ao Jenipapo, mas o responsável pelo conserto não foi sequer identificado; dão bolacha seca para as crianças porque não tem água para fazer comida; não tem água para banho, para comida; às vezes não podem sequer levar as crianças para a escola, porque elas não tomaram nem água. O caminhão pipa não resolve a situação. Precisam de água não apenas para o consumo, mas também para plantar e cuidar de animais; querem uma resposta concreta sobre o que será feito sobre a água, as estradas, pontes; não foi este o combinado com a RURALMINAS. Quer estruturação das terras, das casas; têm muitas casas que estão danificadas, porque não tinha sequer engenheiro para verificar se as casas estavam sendo bem construídas. A cesta básica prometida não está sendo entregue: em 2014 não entregaram; em 2015 elas foram entregues apenas até julho; e, em 2016, nenhuma cesta foi fornecida. Salienta que a cesta que era entregue não tinha qualidade (basicamente só macarrão).

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- Felício da Silva Santos: Falou sobre pendências referentes às estradas e à água. Não tem bebedouro de água; a estrada que foi prometida não foi construída; se a RURALMINAS tivesse negociado construir uma represa, no lugar dos bebedouros que foram prometidos, ele gostaria, porque a fazenda tem um lugar bom para a represa, e ficaria mais fácil até para a RURALMINAS.

- Edmilson Ribeiro Soares: Arguiu pendências no geral. Quer saber se o Promotor tem como ajudar e obrigar o responsável pelas pendências a cumpri-las? Afirmou que a RURALMINAS é “pau mandado” do governo; não quer mais ser iludido com falsas promessas. A questão da falta de tratamento da água já é de conhecimento geral. Tem água sobrando nos poços e a população sem água em casa. Na agrovila II já tem mais de 01 ano que a bomba parou de funcionar. Quer que o Promotor converse com o pessoal da RURALMINAS, para que seja liberado ao menos 02 caminhões para atender o pessoal da agrovila II, enquanto a questão não for resolvida. Apresenta também uma garrafa com amostra da água que está sendo entregue para a população. Precisa dar uma volta de 40 km para chegar até Jenipapo, por culpa da RURALMINAS, que não passa sequer o patrão na outra estrada, que é mais curta.

- Francisco Viana Ramalho: Pertence à Comunidade de Manguara, Francisco Badaró. Fala pela população da barragem até Araçuaí. Entrega “meranda” na escola de Francisco Badaró, e a nutricionista diz que não pode colocar alface, couve, verduras em geral, fornecidas pelos agricultores do local, por conta do problema da rede de esgoto. O rio era bonito; hoje não serve para nada. Nem a rede de esgoto foi resolvida.

- Geralda : O tesouro que tínhamos aqui era o rio; hoje não temos mais; é nascida em Jenipapo, mas foi criada na beira do rio, onde tinham toda a liberdade e água de qualidade; tomavam banho na beira do rio; e agora não podem nem ver o rio; nem areia tem no rio; criou os filhos tirando o pão da beira do rio, trabalhando lavando roupas no rio; não tem como ter verdura sadia, porque não tem água de boa qualidade; a água que tem não serve nem para beber; a água que vem da COPASA é imunda; as velas dos filtros não 10 conseguem nem filtrá-la; a água tem mau cheiro e mau gosto; na beira do rio, principalmente, as pessoas não podem plantar nada; é uma grande tristeza para a população; a população não está sobrevivendo.

- Antônio Maurício da Silva: Mora em Setúbal; não tem água; só teve promessas; antes tinha horta e produzia verduras; hoje não tem mais nada, mora na “chapada”, terra dura; a RURALMINAS não pagou o prometido.

- Ludiana da Silva Ribeiro: Reclama da falta de coleta de lixo para prevenir o aterramento da barragem, que ocorre por conta do lixo. Quer prevenir tanto as margens do lixo, como também garantir que a barragem durará mais tempo.

- Edivar Rodrigues Figueiredo: É da Fazenda São Miguel, projetada para assentar 16 famílias; foi prometido desmatar, mas não foi feita; a cerca foi entregue com material sem tratar, e já foi ao chão. Reforça a questão da falta de cesta básica.

- Adilson Soares Lages: Fala sobre a enchente do rio Setúbal; hoje mora em Jenipapo, mas tem um Sítio na Comunidade de Santa Luzia, onde tinha uma plantação muito bonita, com aproximadamente 25 bananeiras; teve uma enchente em 2013 que levou embora tudo o que tinha; refez tudo; quando foi no final de 2015 aconteceu nova enchente, e ele perdeu tudo mais uma vez; sua cerca está no chão. Para baixo da barragem, têm muitos outros atingidos.

Vargem Setúbal

- José do Divino Rodrigues Gonçalves: Está há 03 anos sem água.

- Rosemara Rodrigues Soares: Reclama da cesta básica; nunca recebeu cesta básica; já procurou seus direitos, mas não teve solução; a mãe recebia, mas depois que faleceu ela não conseguiu mais, e ela tem dois irmãos dependentes.

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Após as falas dos expositores, o Dr. Daniel Lessa Costa fez algumas explicações.

Informou que o IC começou em 2010, mas até hoje não foi possível concluí-lo. Narrou que recebeu representantes das Comunidades em seu gabinete e que a audiência pública é um passo para realizar o diagnóstico da situação dos atingidos pela construção da barragem, mas não é uma solução definitiva para o problema.

Explicou sobre a gravidade dos fatos e que a solução definitiva dos problemas apontados pelos expositores não será alcançado em um período curto, contudo, esclareceu sobre a necessidade de melhorias imediatas e assunção de responsabilidades pelo Estado de Minas Gerais e pela RURALMINAS.

Esclareceu que a RURALMINAS assumiu o compromisso de firmar TAC sobre o caso da Sra. Rosa Altina, mas o documento não foi assinado pelo seu presidente.

Informou sobre os encaminhamentos que seriam realizados ao final da audiência pública, dentre eles a necessidade de se realizar estudo de impacto social nas comunidades Agrovilas I e II.

Após os estudos, será analisada a possibilidade de firmar TAC com a RURALMINAS e o Estado de Minas Gerais, esclareceu, porém, que diante da recusa ou impossibilidade em ser confeccionado o TAC, será proposta Ação Civil Pública.

Na sequência, foi franqueada a fala aos debatedores que se manifestaram na forma que segue.

- Representantes RURALMINAS

Informam que a RURALMINAS tem acessibilidade social; diz que a autarquia passa por uma situação de dificuldade financeira; desde 2012 a RURALMINAS tenta levantar todas as pendências relativas aos problemas das Comunidades Agrovila I e II, mas não

12 conseguiu êxito em sua empreitada; assumiram que os problemas se arrastam desde 2005.

Sintetizaram algumas reclamações, tais como: com relação a questão da cesta básica, a Presidência já autorizou o processo de licenciamento; como está próximo do regime eleitoral, tem que negociar com o MP esta questão; no que tange às cercas dos lotes, o presidente da RURALMINAS fez um ofício ao Secretário de Planejamento, com a tentativa de buscar recursos com o FIDO; vão continuar tentando obter recursos para a solução da questão das cercas; foi apresentado pela COPANOR uma proposta de reestruturação do fornecimento e tratamento da água; em um primeiro momento a COPASA apresentou um orçamento de captação subterrânea; a proposta está bastante avançada; tem um projeto de lei propondo a extinção da RURALMINAS; o representante diz que foi feita uma proposta de reestruturação da RURALMINAS.

Em uma segunda fase, sobre o abastecimento humano, seria interessante a intervenção da COPASA; estão trabalhando neste sentido.

Sobre a casa da Sra. Rosa Altina foi aberta a licitação para a construção; porém, as empresas que participaram da licitação não ofereceram a documentação necessária (licitação deserta); a RURALMINAS abriu novamente a licitação, o processo já foi retomado, para a resolução do caso.

Foi dada a palavra para a Sra. Rosa Altina, que alegou que há 05 anos aguarda pela licitação; que no início a RURALMINAS estava pagando um aluguel para ela, mas depois suspenderam o pagamento; informa, novamente, que sua família corre grande risco de vida e que ela já cansou de correr atrás disto.

O representante da RURALMINAS tomou a palavra novamente, e informou que espera que dentro de 03, 04 meses a casa será construída. Alegou que já fizeram uma proposta de aluguel de uma casa na cidade, mas ela não aceitou porque quer ficar no meio rural; no meio rural a RURALMINAS não conseguiu alugar uma casa que atenda aos requisitos exigidos. O representante da RURALMINAS diz que é possível retomarem a 13 discussão sobre o aluguel de uma casa para a Sra. Rosa.

O Dr. Daniel Lessa Costa afirmou que a própria RURALMINAS tem condições de executar a obra, conforme conversa com o Júlio, engenheiro, e isto não dependeria de licitação.

Com relação à escrituração das terras, o representante da RURALMINAS diz que depende do INCRA; estão também cadastrando na Receita Federal (de Teófilo Otoni e de Diamantina); o processo de regularização dos imóveis já se iniciou. Alguns imóveis precisam passar pelo georreferenciamento (acima de 250 há); estão tentando recursos (aproximadamente R$ 800.000,00) para regularizar toda a escrituração; sem a escrituração, tem emitido cartas e contratos de licenciamento, para que os reassentados tenham acesso às políticas públicas; já procuraram o INCRA para que insiram todos os atingidos da barragem no mesmo grupo das famílias da reforma agrária, mas isto foi negado, por falta da licença de operação; mas a população pode participar de outros grupos, e por isto as cartas e contratos de assentamento são emitidos para quem procura a RURALMINAS. O custo da regularização dos imóveis não é barato; muitas áreas precisam ser retificadas; o escritório da CEMIG, em Turmalina, passou as informações sobre a estruturação da Barragem de Irapé, para que a RURALMINAS faça o mesmo.

As pontes já foram orçadas; vão fazer uma licitação para a reconstrução delas. As máquinas para recuperação das estradas foram todas recolhidas para manutenção.

Como alternativa ao desmatamento foi oferecida a cesta básica (que voltará a ser fornecida), e também outra proposta, que não vingou.

Foi feita uma planilha para atender às solicitações dos atingidos, com o cálculo de que seriam necessários R$ 8.000.000,00 (oito milhões de reais).

Foi passada a palavra para o Júlio Gabriel, engenheiro da RURALMINAS

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Justifica a falta de políticas públicas: diz que a maioria das pessoas presentes falou da turbidez da água; diz que nesta região temos uma inundação feita em cima de um solo que tem argila reativa; quando foi fechada a barragem, durante mais ou menos 01 ano ninguém viu a turbidez como está hoje, mas ela já estava assim, mas a turbidez ainda estava mascarada; diz que não é problema algum; que as garrafas de água aqui apresentadas de amostra de água, nenhuma delas tem uma turbidez incapaz de ser tratada pela COPANOR ou COPASA para consumo humano; diz que a turbidez pode ser tratada; diz que é solidário ao problema que se arrasta há tanto tempo, conhece a solução, sabe o que precisa ser feito, mas não tem o dinheiro para tanto. Não participou da execução da obra; foi chamado quando os problemas já estavam lá; encontrou um sistema de água inacabado, incapaz de funcionar por si só; na Vila de Chapada o bombeamento compreende duas bombas no rio e outras duas bombas, onde há o rebombeamento para as estações de tratamento; o que é necessário é tirar a gravidade do problema das bombas que estão no rio; o engenheiro está condenando as bombas de cima, porque já foram muito mexidas; é preciso dinheiro para resolver o problema.

Na Vila de Jenipapo temos 04 bombas a serem colocadas no rio; elas já estiveram lá, mas apresentaram problemas com os motores, e não tiveram dinheiro para a solução; as bombas colocadas pela empreiteira não eram capazes de enviar a água para onde precisava.

A RURALMINAS não tem competência para tratar água; a COPANOR diz que não tem como assumir novo sistema de tratamento de água.

Sobre os atoleiros ele diz que foi criada uma barragem para um grande benefício; uma barragem como esta traz também prejuízos para as pessoas que ficam no entorno, porque surgem áreas de risco; os problemas continuarão ocorrendo.

Deixou claro que toda a retirada de água para a população tem que ser da barragem, e não de poços.

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- Prefeito Chapada do Norte: Afirmou que a falta de água o povo não pode esperar; o povo está com sede; se continuar assim a população terá que abandonar a Agrovila II. Pede que a RURALMNAS cumpra as condicionantes, e resolva a questão da água; pede respeito aos moradores, aos reassentados.

- Prefeito Jenipapo de Minas: Afirma que toda a reclamação feita é justa. Fez agradecimentos.

- Assumiu a palavra a Sra. Maria de Paula Ribeiro, funcionária da SEDESE, que fica à disposição do SEAS; em 2012, quando o empreendimento já estava implantado, a RURALMINAS enviou a documentação ao SEAS; foram feitas visitas e constatadas pendências; oficiou ao RURALMINAS, mas não obteve nenhum retorno e informação. O Promotor de Justiça esclarece que a requisição para o SEAS está regulamentada pela Lei 12812/98, do Estado de Minas Gerais.

- Representante do Dr. Jean Freire (Deputado Estadual) – Sr. Álbano Silveira Machado – diz que foi aprovada a realização de uma audiência pública na Assembleia Legislativa, com a participação da população, para tratar também dos conflitos dos atingidos pela construção da barragem de Setúbal. A audiência deverá ocorrer com o Presidente da RURALMINAS.

Dando seqüência aos trabalhos, dentro da pauta previamente aprovada, o presidente, finalizando, agradeceu a presença de todos e encerrou a Audiência Pública, às 13 horas e 30 minutos que teve os seguintes encaminhamentos.

Encaminhamentos:

Após a oitiva dos presentes a mesa deliberou os seguintes encaminhamentos às demandas apresentadas:

1- Oficiar à defesa civil para que avaliem se há risco de desabamento da casa da Sra. Rosa Altina Ferreira de Oliveira, na Agrovila I.

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2- Oficiar à RURALMINAS para que seja aberto um canal de comunicação com os atingidos, oferecendo um telefone gratuito (0800) para que a população possa fazer suas reclamações.

3- Oficiar ao Conselho Estadual de Assistência Social de Assistência Social (CEAS), requisitando, no prazo de 30 dias, visita técnica nas Agrovilas I e II, para verificar possíveis violações dos direitos humanos dos atingidos.

4 – Requisitar ao Conselho Estadual de Assistência Social de Assistência Social (CEAS), no prazo de 15 dias, cópia do último relatório da visita técnica realizada nas Comunidades de Agrovilas I e II , confeccionados no ano de 2013;

4- Oficiar ao Diretor da SUPRAM, requisitando, em 30 dias, fiscalização sobre o cumprimento das condicionantes ambientais, em razão da construção da Barragem Setúbal.

5- Oficiar ao TCE, com cópia dos relatórios acostados no inquérito civil, após o despacho que designou esta audiência pública, bem como desta ata, para que fiscalize a execução dos contratos administrativos, firmados para a construção da Barragem Setúbal.

6- Após a resposta, fazer a conclusão do IC, para a propositura de ACP, caso seja necessário.

Jenipapo de Minas, 25 de maio de 2016.

Daniel Lessa Costa Promotor de Justiça Promotoria de Justiça de Minas Novas

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