UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA GabrielaCorsodaSilva DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL DE BORBOLETAS EM ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO, SC: UM APORTE À CONSERVAÇÃO E AO MANEJO DE ÁREAS PROTEGIDAS DissertaçãosubmetidaaoProgramade PósGraduação em Ecologia da Uni versidade Federal de Santa Catarina paraaobtençãodoGraudeMestreem Ecologia Orientador: Prof.ª Dr.ª Malva Isabel MedinaHernández Florianópolis 2011

Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da Universidade Federal de Santa Catarina

S586d Silva, Gabriela Corso da Distribuição temporal e espacial de borboletas Nymphalidae em áreas de Mata Atlântica do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, SC [dissertação ] : um aporte à conservação e ao manejo de áreas protegidas / Gabriela Corso da Silva ; orientadora, Malva Isabel Medina Hernández. - Florianópolis, SC, 2011. 75 p.: il., grafs., tabs., mapas

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Biológicas. Programa de Pós- Graduação em Ecologia.

Inclui referências.

1. Ecologia. 2. Lepidoptero. 3. Sazonalidade. 4. Bioindicadores. I. Hernández, Malva Isabel Medina. II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós- Graduação em Ecologia. III. Título. CDU 577.4

AGRADECIMENTOS

Gostariadeagradeceratodosque,deumamaneiraoudeoutra,con tribuíramparaosucessodessetrabalhoeacreditaramemmim.Maisum sonhoqueserealizou. GostariadeagradeceraDeuseemtudoaquiloqueacredito. Àminhamãeemeupai,mesmonãoentendendodireitooqueéum mestrado,meapoiarameaceitaramasminhasvontades. Àminhairmã,quemesmolonge,sempreconversavacomigo,ouvin doasminhasreclamaçõesedandoconselhos. AoRafa,namoradoeamigo,semprepresentenashorasboaseruins, apoiando, ouvindo, ajudando. Obrigada por me ajudar a construir as armadilhas,discutirestatística,ouvirasminhasreclamações,eporper derocarnavalefinaisdesemanameajudandonocampo. Aopessoaldaturmademestradoeaosprofessores,pelasdiscussões, conversas,aprendizadoseconfraternizações. Ao pessoal do Laboratório de Ecologia Terrestre (LECO TA/UFSC),pelocompanheirismoeajudaemtodootrabalho. Aos colegas e amigos que ajudaram no trabalho de campo: Arthur Fleury,AnaLetíciaTrivia,CamilaClaudinodeOliveira,CássioBatista Marcon, Erica Naomi Saito, Marcelo Rocha, Mítia Heusi Silveira in memorian , Rafael Gomes Manoel, Renata Calixto Campos, Tatiane Beduschi,TiagoOliveira,VanessaVillanovaKuhnen,WilsonR.Saltori Gonzales,entreoutros. AoDr.AndréV.L.Freitas,daUniversidadeEstadualdeCampinas (UNICAMP),portodooapoiodadoaoprojeto,pelarevisãodadisserta çãoepelaidentificaçãodasborboletas. ADra.CarlaPenzpelarevisãodadissertaçãoepelasdicasvaliosas. AoPlazaCaldasdaImperatrizResorteSPAeaobiólogoFernando Brüggemannpeloapoiologísticoeapermissãoconcedidanautilização dastrilhasparaasáreasdecoleta. AoDr.AlexPiresdeOliveiraNuñer,porterorientadooiníciodesse trabalho. AProfessoraDra.MalvaIsabelMedinaHernández,porteraceitadoa orientaçãodestetrabalho,epelaajudanapreparação,execuçãoeelabo raçãodestadissertação. ACAPESpelabolsademestradoconcedidaduranteosegundose mestre de 2010, através do Programa de Pós Graduação em Ecologi a/UFSC.

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RESUMO DistribuiçãotemporaleespacialdeborboletasNymphalidaeemáreasde MataAtlânticadoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC:umaporte àconservaçãoeaomanejodeáreasprotegidas.Adissertaçãoécompos tadetrêscapítulosqueenfocamoestudodasborboletasfrugívorasda famíliaNymphalidaeemáreasdeMataAtlânticadoParqueEstadualda Serra do Tabuleiro, no Estado de Santa Catarina, Brasil (27°41’S a 28º12’S e 48°49’O a 48°25’O). Estas borboletas podem ser utilizadas em estudos ecológicos comparativos, seguindo protocolos de amostra gem,jáquesãofacilmentecoletadaspormeiodearmadilhascomiscas deatraçãoalimentar,proporcionandodadosquepodemvirasubsidiaro manejodeáreasprotegidas,assimcomoajudarnaconservaçãodabio diversidade.Oprimeirocapítuloapresentacaracterísticasdas20espé cies de três subfamílias coletadas durante o levantamento. As coletas foram realizadas em seis campanhas (entre nov/2009 e ago/2010) por meio de 25 armadilhas com iscas de atração (banana fermentada com caldodecana)expostasdurantedezdiaspormêserevisadasacada48h para captura dos indivíduos e reposição de isca. O segundo capítulo apresentaadistribuiçãotemporaldasborboletasemquatroamostragens ao longo de um ano de estudo e discute a abundância e a riqueza de espéciesemfunçãodasvariáveisambientaisdeprecipitaçãoetempera tura.Foramcoletados87indivíduosde11espécies,comdezindivíduos na primavera (nov/2009), 72 no verão (fev/2010), nenhum no outono (mai/2010) e somente cinco no inverno (ago/2010). As espécies mais abundantes foram Morpho epistrophus e Opoptera sulcius . O terceiro capítuloapresentaadistribuiçãoespacialdasborboletasemcincoáreas comdiferentesestágiossucessionaisdeMataAtlântica.Ascoletasfo ramrealizadasdurantetrêsmesesseguidos(defev/2010aabr/2010)por meiodecincoarmadilhasporáreaexpostasdurantedezdiaspormêse revisadascada48h;paralelamenterealizouseumestudodacomplexi dadedavegetação,ondeforammedidasemcadapontodecoletacarac terísticasdasárvores,dosarbustos,daserapilheiraedodossel.Foram coletados314indivíduosde14espécies,dasquais57%foram single- tons , sendo a espécie M. epistrophus a mais abundante. As áreas não diferiramsignificativamentequantoàsmedidasecológicasdeabundân cia,riquezaediversidade.Houveumafracarelaçãoentreasvariáveisdo ambienteeasassembléiasdeborboletasesomenteduasespéciesforam classificadascomoindicadoras: Dasyophthalma creusa deáreasconser vadase Opoptera sulcius deáreasemestágiointermediáriodeconser vação.

v PalavrasChave:,Sazonalidade,Bioindicadores

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ABSTRACT

Temporal and spatial distributionofNymphalidae inareas ofAtlanticForest at the Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, SC: acontributiontoconservationandthe managementofprotected areas. This study consists in three chapters that enclose the study of NymphalidaefrugivorousbutterfliesinAtlantic Forest areasatParque EstadualdaSerradoTabuleiro,SantaCatarina,(27°41'S,28º12’S and48°49'W,48°25'W).Thesebutterfliesmaybeusedincomparative ecologicalstudies,followingsamplingprotocols,becausetheyareeasily collectedbybaited trapswithattractive food,providingdatathat may supportthemanagementofprotectedareas,andhelpintheconservation ofbiodiversity.Thefirstchapterpresentscharacteristicsof20speciesof threesubfamiliescollectedduringthissurvey.Sampleswerecollectedin sixcampaigns(betweennov/2009andago/2010)using25baitedtraps exposed for ten days in each month and reviewed every 48 hours in order to capture the individuals and replace the bait. Second chapter presentsthetemporaldistributionofbutterfliesinfoursamplesduringa year of study, discussing the species´ abundance and richness in functionofenvironmentalvariablessuchasrainfallandtemperature.A totalof87individualsof11specieswascollected,withtenindividuals in spring (nov/2009), 72 in summer (Feb/2010), none in the fall (May/2010)andonlyfiveinthewinter(ago/2010).Themostabundant species were Morpho epistrophus and Opoptera sulcius . The third chapterpresentsthespatialdistributionofbutterfliesinfiveareaswith different successional stages of Atlantic Rainforest. Samples were collected for three consecutive months (from Feb/2010 to Apr/2010) usingfivetrapsperarea,exposedfortendayspermonthandreviewed every 48 h. A parallel study of the vegetation complexity was conducted,inwhichthecharacteristicsoftrees,shrubs,litterandcanopy weremeasuredateachsamplingpoint.Atotalof314individualsof14 specieswerecollected,fromwhich57%weresingletonsand the species M. epistrophus was the most abundant. The areas did not differ significantly concerning ecological measures of abundance and diversity. There was a weak relation between environmental variables andthebutterflies,andonlytwospecieswereclassifiedasindicators: Dasyophthalma creusa for conserved areas and Opoptera sulcius for areaswithintermediateconservation.

Keywords:Bioindicador,Lepidoptera,Seasonality

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LISTA DE FIGURAS

Capítulo1 Figura 1 –ArmadilhadotipoVanSomerenRydonmodificada,para capturadeborboletasfrugívoras ...... 8 Figura 2–EspéciesdeborboletasNymphalidaefrugívorasregistradas denovembrode2009aagostode2010emáreasdeMataAtlânticano ParqueEstadualdaSerradoTabuleiro(PEST),SantaCatarina,Brasil (apresentadasnamesmaordemdaTabela1emantendoproporçõesde tamanho).Fotos:G.Corso ...... 12 Capítulo2 Figura 1 –LocalizaçãodoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,no EstadodeSantaCatarina,Brasil.Ocírculoindicaaregiãodeamostra gemdasborboletas.(AdaptadodeSocioambientalConsultoresAssocia dosLtdaeSecretariadeEstadodoDesenvolvimentoUrbanoeMeio AmbienteSDM)...... 29 Figura 2–Curvadeacumulaçãodeespécies(MaoTau)deborboletas frugívorasdafamíliaNymphalidaeemtrêsmesesdecoletanoParque EstadualdaSerradoTabuleiro,SC...... 36 Capítulo3 Figura 1–LocalizaçãodoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,no EstadodeSantaCatarina,Brasil.Ocírculoindicaaregiãodeamostra gemdasborboletas.(AdaptadodeSocioambientalConsultoresAssocia dosLtdaeSecretariadeEstadodoDesenvolvimentoUrbanoeMeio AmbienteSDM)...... 51 Figura 2–(A)Armadilhainstaladaemcampoparacoletarborboletas frugívoras,(B)Borboletacoletadanaarmadilha,(C)Borboletaalimen tandosedaisca ...... 52 Figura 3–Imagemdesatélitedasáreasdecoletadeborboletasfrugí vorasnoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC.PP(PrimáriaPou sada),SP(SecundáriaPousada),CC(CapoeirinhaCascata),SC(Secun dáriaCascata)ePC(PrimáriaCascata...... 53

ix Figura 4–Curvadeacumulaçãodeespéciesdeborboletasfrugívoras emcincoáreasdeamostragemduranteosmesesdefevereiroaabrilde 2010noParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC ...... 57

Figura 5–EscalonamentoMultidimensional(NMDS)dasimilaridade (Sorensen)entreasborboletasfrugívorascoletadasporarmadilhaem cincoáreasdecoletanoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC. Círculosazuisrepresentamsimilaridadede80%eosverdesde60%.. 61 Figura 6–AnálisedeordenaçãoatravésdométododeEscalonamento Multidimensional(NMDS)dasimilaridade(BrayCurtis)dasborboletas frugívorasemcadaarmadilhanascincoáreasdecoletanoparqueEsta dualdaSerradoTabuleiro,SC.Círculosazuisrepresentamsimilaridade de80%eosverdesde60%...... 62 Figura 7–EscalonamentoMultidimensional(NMDS)mostrandoa similaridadedeBrayCurtisentreospontosdecoleta.Ascircunferên ciasrepresentamaabundânciadeD.creusaemcadapontodeamostra gem,círculosmaiores:2indivíduos,círculosmenores:1indivíduo .... 63 Figura 8–EscalonamentoMultidimensional(NMDS)mostrandoa similaridadedeBrayCurtisentreospontosdecoleta.Ascircunferên ciasrepresentamaabundânciadeO.sulciusemcadapontodeamostra gem:asmaiorescircunferênciasrepresentamumaabundânciadeseis indivíduos,seguidasdequatro,três,doiseasmenorescomumindiví duo ...... 64 Figura 9–AnálisedeComponentesPrincipais(PCA)dasvariáveis ambientaisnos25pontosdecoleta,noParqueEstadualdaSerrado Tabuleiro,SC...... 66 Figura 10 –AnálisedeCorrespondênciaCanônica(CCA)entreas13 variáveisambientaiseacomunidadedeborboletasnos25pontosde coleta,noParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC.Variáveis:Av DistDistânciaàárvore;AvABÁreabasaldaárvore;AvAltAltura daárvore;AvDiaDiâmetrodacopadaárvore;AbDistDistânciaao arbusto;AbABÁreabasaldoarbusto;AbAltAlturadoarbusto;Ab DiaDiâmetrodacopadoarbusto;SeraltAlturadaserapilheira;CV Coberturadeáreaverde;CSCoberturadeSerapilheira;SESoloex posto;DosCoberturadodossel ...... 67

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LISTA DE TABELAS Capítulo1 Tabela 1 –ListadasespéciesdeborboletasNymphalidaefrugívoras registradasdenovembrode2009aagostode2010emáreasdeMata AtlânticanoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro(PEST),SC,Brasil ...... 11 Capítulo2 Tabela 1 –ListadasespéciesdeborboletasfrugívorasdafamíliaNym phalidaecoletadasnoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SCesua respectivaabundâncianosmesesdenovembrode2009efevereiro, maioeagostode2010...... 33 Tabela 2 –Riquezadeespéciesobservadaeestimadadacomunidade deborboletasfrugívoras,pormêsdecoleta,noParqueEstadualdaSerra doTabuleiro,SC ...... 36 Tabela 3 –Dadosdeprecipitação(Anitápolis,SC)etemperaturas(São José,SC),nosmesesdeestudo ...... 37

Capítulo3 Tabela 1 –Listadasespéciesdeborboletasfrugívoraserespectiva abundânciaemcincoáreasdecoletaemdiferentesestadosdeconserva ção,entreosmesesdefevereiroaabrilde2010,noParqueEstadualda SerradoTabuleiro,SC...... 56 Tabela 2 –Medidasecológicasdacomunidadedeborboletasfrugívo ras,emcincoáreasdecoletaemdiversosestadosdeconservação,cole tadasentreosmesesdefevereiroeabrilde2010,noParqueEstadualda SerradoTabuleiro,SC.PC(PrimáriaCascata),PP(PrimáriaPousada), SP(SecundáriaPousada),SC(SecundáriaCascata),CC(Capoeirinha Cascata)...... 59 Tabela 3 –ResultadodaAnálisedeComponentesPrincipaisparaos componentes1e2,destacandoseasvariáveisambientaisquetiveram maiorinfluênciaemcadavetor ...... 65

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ...... 1 CAPÍTULO 1 . AS BORBOLETAS NYMPHALIDAE DA MATA ATLÂNTICA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO, SC RESUMO...... 3 ABSTRACT...... 4 INTRODUÇÃO ...... 5 MATERIAISEMÉTODOS ...... 7 RESULTADOSEDISCUSSÃO ...... 10 REFERÊNCIAS...... 18 CAPÍTULO 2. AS BORBOLETAS DA SERRA DO TABULEIRO: DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL AO LONGO DAS ESTAÇÕES DO ANO RESUMO...... 25 ABSTRACT...... 26 INTRODUÇÃO ...... 27 MATERIAISEMÉTODOS ...... 29 RESULTADOS...... 31 DISCUSSÃO...... 38 REFERÊNCIAS...... 40 CAPÍTULO 3. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE BORBOLETAS FRU- GÍVORAS DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO, SC, EM ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA EM DIFERENTES ESTÁGIOS SUCESSIONAIS RESUMO...... 45 ABSTRACT...... 46 INTRODUÇÃO ...... 48 MATERIAISEMÉTODOS ...... 50 RESULTADOS...... 55 DISCUSSÃO...... 68 REFERÊNCIAS...... 70 CONCLUSÕES GERAIS ...... 75

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APRESENTAÇÃO

Estetrabalhoéoresultadodeumapesquisarealizadacomorequisito paraaobtençãodotítulodemestreemEcologia.Otrabalhosegueas normas do Programa de PósGraduação e da Universidade Federal de SantaCatarinaparatrabalhosacadêmicos. OtrabalhodecampofoirealizadonosetornortedoParqueEstadual daSerradoTabuleiro(PEST),nomunicípiodeSantoAmarodaImpera triz,utilizandosedearmadilhasdecapturadeborboletasfrugívorasda família Nymphalidae, com isca de banana fermentada com caldo de cana. Os objetivos do estudo foram: elaborar uma lista das espécies encontradas em áreas de Mata Atlântica do PEST, a fim de subsidiar trabalhosdemonitoramentoeconservação;avaliaradistribuiçãotempo raldasborboletasfrugívorasaolongodeumanodeestudo;eanalisara comunidadedeborboletasemcincoáreasemdiferentesgrausdecon servaçãoesuarelaçãocomacomplexidadedavegetação,tentandobus car espécies indicadoras ambientais. Os resultados deste trabalho são apresentadosemtrêscapítulosnaformadeartigos,queserãosubmeti dosàpublicaçãoemrevistasindexadas. Oprimeirocapítulotrazumaintroduçãosobreasborboletasfrugívo ras da família Nymphalidae, apresentando o resultadodas 20 espécies pertencentes a três subfamílias encontradas noParqueem seis campa nhasmensais,bemcomoumadescriçãosucintasobreascaracterísticas morfológicas e de comportamento de cada espécie e suas plantas hospedeiras. Osegundocapítulotrazumestudosobreasazonalidadedasborbole tas do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro. Este capítulo mostra o resultadodecoletasrealizadasduranteumano,comumacoletaemcada estação, e tenta definir a distribuição sazonal das espécies no Parque. Podesenotarqueháumamudançanaassembléiadeborboletasaolon godoano,comdiminuiçãoacentuadanofinaldooutonoenoinverno, apesardobaixonúmerodeindivíduoscoletadosnãoterpermitidoafir mações consistentes sobre a distribuição temporal das borboletas no Parque. Oterceirocapítuloapresentaosresultadosdotrabalhosobreoestudo dadistribuiçãoespacialdasborboletasemcincoáreasemdiversosesta dos de conservação da Mata Atlântica. Foram realizadas três campa nhas,nosmesesdetemperaturaselevadas(propíciosaodesenvolvimen to dos adultos). As medidas ecológicas das assembléias de borboletas nãoapresentaramdiferençasentreasáreas.Duasespéciesforamexclu sivasdedeterminadasáreas, Dasyophthalma creusa ,indicadoradeáreas

1 conservadas e Opoptera sulcius , indicadora de áreas em estágio inter mediáriodeconservação.

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CAPÍTULO 1 AS BORBOLETAS NYMPHALIDAE DA MATA ATLÂNTICA DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO, SC

RESUMO As borboletas Nymphalidae da Mata Atlântica do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, SC. As borboletas frugívoras (Nymphalidae) são amplamente utilizadas em estudos ecológicos comparativos seguindo protocolosdeamostragem,jáquesãofacilmentecoletadaspormeiode armadilhascomiscasdeatraçãoalimentar.Oobjetivodestetrabalhofoi elaborar uma lista das borboletas frugívoras encontradas em áreas de MataAtlânticanoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC,parasub sidiarfuturostrabalhosdemonitoramentodafaunanaregiãoeauxiliar naelaboraçãodelistasdeespécieslocaiseregionais.Foramrealizadas seiscampanhasaolongodeumano,eutilizadas25armadilhasdeatra ção por isca em cada campanha, que ficaram ativas durante dez dias, sendorevisadasacadadoisdiasparareposiçãodeiscaecoletadosin divíduos capturados. Foram coletadas 20 espécies, pertencentes a três subfamílias:Biblidinae: Catonephele acontius (Linnaeus,1771);Chara xinae: Archaeoprepona demophon (Linnaeus, 1758), Archaeoprepona meander (Cramer,1775), Memphis hirta (Weymer,1907)eFountainea ryphea (Cramer,1775);Satyrinae,tribo: Caligo beltrao (Illi ger,1801), Caligo brasiliensis (C.Felder,1862), Caligo martia (Godart, [1824]), Dasyophthalma creusa (Hübner,[1821]),Dasyophthalma rusi- na (Godart,[1824]), Opoptera sulcius (Staudinger,1887)e Opsiphanes quiteria (Stoll, 1780); Satyrinae, tribo Morphini: Morpho epistrophus (Fabricius, 1796) e Morpho helenor (Cramer, 1776); Satyrinae, tribo Satyrini,subtriboEuptychiina: Euptychoides castrensis (Schaus,1902), Forsterinaria quantius (Godart,[1824]), Godartiana muscosa (Butler, 1870), Pareuptychia ocirrhoe (Fabricius, 1776), Paryphthimoides gri- mon (Godart,[1824])e Taygetis acuta Weymer,1910. Palavraschave:Lepidoptera,listadeespécies,FlorestaOmbrófilaDen sa

3 ABSTRACT NymphalidaebutterfliesofAtlanticForestofParqueEstadualdaSerra do Tabuleiro, SC. The family Nymphalidae contains the frugivorous butterflies,whichareextensivelyusedincomparativeecologicalstudies followingprotocolsforsampling,becausetheyareeasilycollectedby using baited traps with attractive food. The goal of this study was to createalistoffrugivorousbutterfliesfoundinAtlanticForestareasat ParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC,tosupportfutureworkon fauna monitoring in the region and assist local and regional species´ lists.Sixcampaignswereconductedduringayearand25attractedbait traps were used in each campaign. The traps remained active for ten days and revised every 48h for bait replacement and collection of captured individuals. We collected 20 species belonging to three subfamilies: Biblidinae: Catonephele acontius (Linnaeus, 1771); Charaxinae: Archaeoprepona demophon (Linnaeus, 1758), Archaeoprepona meander (Cramer, 1775), Memphis hirta (Weymer, 1907) and Fountainea ryphea (Cramer, 1775); Satyrinae, tribe Brassolini: Caligo beltrao (Illiger,1801), Caligo brasiliensis (C.Felder, 1862), Caligo martia (Godart,[1824]), Dasyophthalma creusa (Hübner, [1821]), Dasyophthalma rusina (Godart, [1824]), Opoptera sulcius (Staudinger, 1887) and Opsiphanes quiteria (Stoll, 1780); Satyrinae, tribe Morphini: Morpho epistrophus (Fabricius, 1796) and Morpho helenor (Cramer,1776);Satyrinae,tribeSatyrini,subtriboEuptychiina: Euptychoides castrensis (Schaus, 1902), Forsterinaria quantius (Godart, [1824]), Godartiana muscosa (Butler, 1870), Pareuptychia ocirrhoe (Fabricius, 1776), Paryphthimoides grimon (Godart, [1824]) and Taygetis acuta Weymer,1910. Keywords:Lepidoptera,rainforest,specieslist

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INTRODUÇÃO Dentro da ordem Lepidoptera, que inclui também as mariposas, as borboletascorrespondema13%deumariquezade146.000espéciesde lepidópteros no mundo, sendo conhecidas noBrasil 3.288 espécies de borboletas(Brown&Freitas1999).AsborboletasencontradasnoBrasil sãoclassificadasemseisfamílias:Hesperiidae,Lycaenidae,Nymphali dae,Papilionidae,PieridaeeRiodinidae.Asborboletaspossuemhábito predominantementediurno,antenasclavadaseocorpogeralmentepe quenoemrelaçãoaotamanhodasasas,sendoestascaracterísticasasque basicamenteasdiferenciamdasmariposas.Possuemciclodevidacom pleto(holometábolos),comovo,larva,pupaeadulto.Aduraçãodecada fase varia bastante entre as espécies e, na ausência de diapausa, cada fasepodelevardediasameses(Brown&Freitas1999,Raimundo et al. 2003). AfamíliaNymphalidaeéaquecontémomaiornúmerodeespécies, comregistrosdecercade2.850paraaregiãoNeotropical,dasquais788 espécies são encontradas no Brasil (Brown & Freitas 1999, Lamas 2008). Édividida em 12 subfamílias, com espécies bastante heterogê neasquantoàformadasasas,coloridoetipodevoo(Wahlberg et al. 2009). Todas possuem apenas dois pares de pernas funcionais, sendo que o primeiro par é atrofiado e não usado na locomoção (DeVries 1987). Quandonaformalarvalsãoherbívoras,alimentandoseprincipalmen tedapartefoliardasplantase,emrespostaaessacaracterística,apre sentamestreitarelaçãocomavegetaçãodedeterminadaárea.Issoocor re porque muitas espécies têm preferência por determinada família ou espéciedeplanta(Singer1984,DeVries1987),asquaissãochamadas deplantashospedeiras,ondeafêmeaadultacolocaosovoseaslagartas alimentamseatéomomentodeentrarnafasedepupa. As borboletas Nymphalidae podem ser divididas em duas guildas quantoàalimentaçãoduranteafaseadulta:asnectarívoras,quesãoas borboletasquesealimentamdonéctarencontradonasflores,easfrugí voras, que se alimentam de frutos fermentados, exudados de árvores, carcaça e excremento de mamíferos, e que compõe entre 4055% da famíliaNymphalidae(Pedrottiet al .2011).Porestemotivo,asborbole tasfrugívorassãoamplamenteutilizadasemestudosecológicoscompa rativosseguindoprotocolosdeamostragem,jáquesãofacilmentecole tadaspormeiodearmadilhascomiscasdeatraçãoalimentar(DeVries et al .1997,UeharaPrado et al .2005).

5 O conhecimento da fauna de borboletas frugívoras na região sul do Brasilteveseuiníciocomosantigosnaturalistas,quevindosdaEuropa, encantaramsecomaricafaunabrasileira.FritzMüller,quechegouao Brasilem1852efoiresidirnaregiãodeBlumenau,descreveuinúmeras espéciesdeinvertebrados,dentreasquaisborboletas,edesenvolveua conhecida teoria do mimetismo mülleriano, baseado nos padrões de formaecoresdealgumasespéciesdeborboletasencontradasemSanta Catarina (Barraco & Zillig 2009). Fritz Plaumann também contribuiu enormemente para o conhecimento da fauna de borboletas no sul do país,deixandoumacoleçãodemaisde17milespéciesdeinsetosdepo sitadosnoMuseuEntomológicoFritzPlaumann,municípiodeSeara,o qual passou recentemente a ser administrado pela UFSC. Atualmente, dentrodaregiãoSul,oconhecimentosobreafaunadeborboletasnoRio Grande do Sul mostra uma riqueza de 292 espécies de borboletas na MataAtlântica(FlorestaOmbrófilaDensa),pertencentesaseisfamílias, sendoamaioriadasespéciespertencentesàfamíliaNymphalidae(Ise rhard&Romanowski2004)e277espéciespertencentesaseisfamílias emFlorestaOmbrófilaMistaeCamposdeCima(Iserhard et al .2010). São registradas também 152 espécies para a região sudeste do Rio GrandedoSul,dentrodobiomaPampa(Paz et al.2008).Aindaparao referido estado, são 74 espécies de borboletas frugívoras registradas, sendo60espéciesdeFlorestaOmbrófilaDensa,easubfamíliaSatyrinae commaiorrepresentatividadedeespéciesnotrabalhodeSantos(2010)e 30espéciesregistradasparaaFlorestaOmbrófilaMista(Pedrotti et al . 2011).NoEstadodoParanáexistemaproximadamente1.200espécies deborboletas,sendo486espéciesregistradasparaaregiãodeCuritiba (Mielke1994,Mielke&Casagrande2004)e689espéciesparaaregião deGuarapuava(Dolibaina et al .2011). NoEstadodeSantaCatarina,FritzMüllereFritzPlaumannrealiza ramcoletaspeloestado,massemapublicaçãodeumalistasignificativa de espécies, restando somente o registro nas coleções (Santos et al. 2008).Brown&Freitas(2000)mencionam796espéciesparaaregião deJoinville,provenientesdedadosnãopublicados. ParaaIlhadeSantaCatarina,háoregistrode236espécies,sendo74 dafamíliaNymphalidae(Carneiro et al .2008).Outrotrabalho,realizado também na Ilha de Santa Catarina em 2008 (Corso et al . submetido), encontrou mais oito espécies que não haviam sido coletadas anterior menteporCarneiro et al .(2008). Acarênciadeconhecimentosobreasborboletasfrugívorasnasáreas deMataAtlânticaeafalta deumalistadeespéciesparaoEstadode SantaCatarinalevamaoobjetivodestetrabalho:elaborarumalistadas

66 borboletas frugívoras encontradas em uma área de Mata Atlântica no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PEST), para subsidiar futuros trabalhosdemonitoramentodafaunadelepidópterosdiurnosfrugívoros naregiãoeauxiliarnaelaboraçãodelistasdeespécieslocaiseregio nais. MATERIAIS E MÉTODOS OParqueEstadualdaSerradoTabuleiro(PEST)estálocalizadono EstadodeSantaCatarina(entreaslatitudes27°41’09”Se28º12’42”Se longitudes 48°49’20”O e 48°25’08” O). Ocupa uma área de cerca de 90.000hectares(aproximadamente1%doterritóriodoestado),sendoa maiorUnidadedeConservaçãodeProteçãoIntegralemSantaCatarina (Saliés2000).Oparquefoicriadonoanode1975atravésdoDecreton° 1.260/75 e abrange áreas de nove municípios: Florianópolis, Palhoça, SantoAmarodaImperatriz,ÁguasMornas,SãoBonifácio,SãoMarti nho,Imaruí,GaropabaePauloLopes,easilhasdeFortaleza/Araçatuba, IlhadoAndrade,IlhadosPapagaiosPequena,TrêsIrmãs,Molequesdo Sul,Siriú,Coral,dosCardosoeapontasuldailhadeSantaCatarina (Saliés2000).OPESTcompreenderegiõesdeserraedeplanícielitorâ nea,incluindoáreasderestingaemangue,ereúnecincodasseisfitofi sionomiaspresentesnoestado.Avegetaçãodaáreadeestudoéformada originalmenteporFlorestaOmbrófilaDensaSubMontana,situadaentre 30e400mdealtitude,caracterizadapelapresençadecanelapreta( O- cotea catharinensis ),peroba( Aspidosperma olivaceum )epauóleo( Co- paifera trapezifolia )(Reis et al . 2000). Oclimanaáreadeestudoéinfluenciadoporduasmassasdeescala regional:massapolar(friaeúmida)emassatropicalatlântica(quentee úmida),caracterizandooclimamesotérmicoúmido,comverãoquente, nasáreasabaixode800meverãobrandonasmontanhasacimade800 m (Pimenta 2000). Nas áreas abaixo de 800 m, as temperaturas mais elevadaslevamàformaçãodesolosmaisprofundos,comumavegeta ção mais heterogênea na estrutura e composição, aumentando assim a biodiversidade(Pimenta2000). Osmesescommaiorpluviosidadesãojaneiro,fevereiroemarço,sen doosmesesdooutonooscommenorespluviosidades,eosdeinverno, poucosuperioresaosdooutono(Pimenta2000). AamostragemdasborboletasfrugívorasdafamíliaNymphalidaefoi realizadaemseiscampanhas,nasdiferentesestaçõesdoanoenosmeses mais quentes, mais propícios para as borboletas (novembro de 2009,

7 fevereiro,março,abril,maioeagostode2010).Foramutilizadasarma dilhascilíndricasdeatraçãoporiscadotipoVanSomerenRydonmodi ficadas(Rydon1964,UeharaPradoet al .2005)(Figura1).Aiscautili zada foi banana fermentada com caldo de cana durante 48h, colocada emcopinhosplásticosde80ml,presosnabasedaarmadilhapor velcro , paraevitarquedas. Em cada campanha foram utilizadas 25 armadilhas, instaladas em gruposdecinco,distanciadas20mentresi,eaumaalturadecercade1 mdochão.ElasforamcolocadasemcincoáreasdeMataAtlânticaem diferentes estados de conservação, distantes em torno de 500 m umas dasoutras.Asarmadilhasficaramativasdurantedezdiasnocampoem cadacampanha,sendochecadasacada48horasparareposiçãodaiscae retiradadosindivíduoscapturados(Hughes et. al .1998).Emcadacam panha,oesforçoamostraltotalfoide125amostras,comumtotalgeral de750amostrasaofinaldotrabalho. Figura1.ArmadilhadotipoVanSomerenRydonmodificada,paracapturade borboletasfrugívoras. Asborboletascapturadasforamarmazenadasemenvelopesentomo lógicosemortasatravésdearmazenamentoemrecipientefechadocon tendo algodão embebido em clorofórmio. Algumas, cuja identificação era feita facilmente no campo e já presentes em número suficiente de indivíduosnacoleção,forammarcadascomcanetapermanentedeponta porosanabasedaasa,deacordocomaáreadecaptura,eposteriormen te soltas. Estes indivíduos marcados, quando recapturados não foram contabilizadosnovamente.

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OsindivíduoscoletadosforamlevadosparaoLaboratóriodeEcologia TerrestreAnimal(LECOTA/UFSC),ondeforammontadosesecosem estufa a 40°C por dois dias e posteriormente depositados na Coleção EntomológicadoCentrodeCiênciasBiológicasdaUniversidadeFede raldeSantaCatarina.Aidentificaçãofoirealizadaatravésdaliteratura disponível (DeVries 1987, Brown 1992, Canals 2003, Lamas 2004, UeharaPrado et al .2004)ecomaajudadoprofessorDr.AndréVictor LucciFreitas,daUniversidadeEstadualdeCampinas,atravésdefotos digitais. AlgumasborboletasdeduasespéciesdasubfamíliaIthominaeforam capturadas,masporseremtipicamentenectarívoraseseremcapturadas nas armadilhas ocasionalmente, não foram inseridas neste estudo (De Vries et al .1997).

9 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foramcoletadas20espéciesdeborboletasfrugívoras,pertencentesa trêssubfamíliasdafamíliaNymphalidae,nasáreasdeMataAtlânticado ParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC(Tabela1). OconhecimentodasespéciespresentesnoPEST,bemcomosuasca racterísticasecomportamentosãoimportantesafimdeestabeleceruma listadeespéciesparaoparque.Asdescriçõesdassubfamíliasedases péciescoletadasestãoapresentadasaseguir,deacordocomaliteraturae comosconhecimentosobtidosduranteodesenvolvimentodotrabalho. AFigura1segueaordemdaTabela1emrelaçãoàsespéciesesubfamí lias,sendoqueasimagensseguemaproporçãodetamanho.Aespécie E. castrensis nãofoifotografada,devidoaoseuestadodeconservação, havendoaimpossibilidadedemontagemdoindivíduo.Osdadossobre asplantashospedeirasforamretiradosdabibliografiacitada,nãosendo sobreasplantashospedeiraspresentesnoPEST.

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Tabela1.ListadasespéciesdeborboletasNymphalidaefrugívorasregistradas denovembrode2009aagostode2010emáreasdeMataAtlânticanoParque EstadualdaSerradoTabuleiro(PEST),SantaCatarina,Brasil. Subfamília Tribo Espécie Biblidinae 1 Catonephele acontius (Linnaeus,1771)

Charaxinae 2 Archaeoprepona demophon (Linnaeus,1758) 3 Archaeoprepona meander (Cramer,1775) 4 Memphis hirta (Weymer,1907) 5 Fountainea ryphea (Cramer,1775) Satyrinae Brassolini 6 Caligo beltrao (Illiger,1801) 7 Caligo brasiliensis (C.Felder,1862) 8 Caligo martia (Godart,[1824]) 9 Dasyophthalma creusa (Hübner, [1821]) 10 Dasyophthalma rusina (Godart, [1824]) 11 Opoptera sulcius (Staudinger,1887) 12 Opsiphanes quiteria (Stoll,1780)

Morphini 13 Morpho epistrophus (Fabricius,1796) 14 Morpho helenor (Cramer,1776)

Satyrini Euptychoides castrensis (Schaus,1902) 15 Forsterinaria quantius (Godart, [1824]) 16 Godartiana muscosa (Butler,1870) 17 Pareuptychia ocirrhoe (Fabricius, 1776) 18 Paryphthimoides grimon (Godart, [1824]) 19 Taygetis acuta Weymer,1910

11 1 2 3 4 5 6 7 10 8 9 11 12 14 13 15 16 17 18 19 Figura2.EspéciesdeborboletasNymphalidaefrugívorasregistradasdenovem brode2009aagostode2010emáreasdeMataAtlânticanoParqueEstadualda Serra do Tabuleiro (PEST), Santa Catarina, Brasil (apresentadas na mesma ordemdaTabela1emantendoproporçõesdetamanho).Fotos:G.Corso.

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Subfamília Biblidinae Dividemseemseistriboscomcaracterísticasmorfológicaseetológi cas bastante heterogêneas. Muitas espécies têm coloração disruptiva e outrasapresentamcoloraçãocríptica(Canals2003).

Catonephele acontius (Linnaeus,1771) Características :pertencenteàtriboBiblidini,possuidimorfismosexual bem acentuado, sendo o macho preto com padrões laranja forte e as fêmeas pretas com bandas transversais amarelas (Canals 2003). No PESTforamencontradasduranteoanointeiro,commaiorabundância nofinaldoverãoedistribuídasprincipalmenteemáreasdematamenos conservada. Plantashospedeiras :plantasdafamíliaEuphorbiaceaecomo Alchornea sp., A. iricurana , A. triplinervia , Aparisthmium cordatum , Nectandra venulosa e Lysiloma sp.(Beccaloni et al. 2008). Subfamília Charaxinae Possuemvooríspidoenormalmenteutilizamosextratosmédioseal tosdavegetaçãoparaalocomoção.Muitaspossuemcoloraçãocríptica nafaceventral,imitandofolhassecasetroncos(Canals2003).Sãobas tanteagressivas,mesmoperantepredadores(Brown1992). Archaeoprepona demophon (Linnaeus,1758) Características :bemdistribuídadoníveldomaraté1.600mdealtitude emassociaçãocomflorestasprimáriaseemestágiosecundáriodesu cessão(DeVries1987).NoPESTfoicoletadoumindivíduonoiníciodo outono,emáreadematadegradada. Plantashospedeiras : plantas das famílias Annonaceae ( Annona spp.), Lauraceae( Ocotea sp.e Persea americana var. americana ),Meliaceae (Guarea sp.), Monimiaceae ( Mollinedia brasiliensis , M. clavigera , Si- paruna sp., S. guianensis ),Moraceae( Brosimum gaudichaudi )ePoly gonaceae( Triplaris sp.)(Beccaloni et al. 2008).

Archaeoprepona meander (Cramer,1775) Características :escassaemflorestastropicais(Brown1992).NoPEST foiencontradoumindivíduonoinverno,emáreadematadegradada. Plantashospedeiras :plantasdafamíliaLauraceae( Nectandra venulosa ePersea americana )(Beccaloni et al. 2008).

13 Fountainea ryphea (Cramer,1775) Características :possuemdimorfismosexual(machosemcauda,fêmea comcaudamarginal),eumvoovigorosoealto(Canals2003).NoPEST foicoletadoumindivíduonoiníciodooutono,emáreadematadegra dada. Plantashospedeiras : plantas da família Euphorbiaceae ( Croton sp., C. compressus , C. floribunda , C. priscus , C. urucurana )(Beccaloni et al. 2008). Memphis hirta (Weymer,1907) Características :noPESTfoicoletadoumindivíduonomêsdeinverno, emáreadematadegradada. Plantashospedeiras :nãoencontradasnaliteratura. Subfamília Satyrinae, Tribo Brassolini Sãoemsuamaioriadehábitoscrepuscularesevespertinos,comum voobastantevigoroso.Possuemocelosnafaceventraldasasas. Caligo beltrao (Illiger,1801) Características :asborboletasdestegênerosãoconhecidascomoosgi gantes dosNeotrópicos, sendo que nenhuma delas possui envergadura menor que 10 cm. Voam nos horários crepusculares, tanto matutinos quantovespertinos.Aespécie C. beltrao éfacilmentecriadaemcativei ro(Brown1992),aslagartasdemoramcercade70diasatéempuparem eoadultochegaavivercercadecincomesesemcativeiro(obs.pesso al).Vivememlocaisdebaixaaltitude,nãoultrapassandoos1.600m. NoPESTforamencontradossomentedoisindivíduosnomêsdefeve reiro,emáreasembomestadodeconservação. Plantashospedeiras : plantas das famílias Cannaceae, Cyperaceae, Ma rantaceae,MusaceaeeZingiberaceaeetalvezArecaceaeeStrelitziaceae (Beccaloni et al. 2008).Espéciesde , sp.(“cae té”), zebrina (Sims), sapientum , (“líriodobrejo”)(Penz et al. 1999). Caligo brasiliensis (C.Felder,1862) Características :sãoconhecidascomoborboletacoruja.Suafasedeovo duracercade20dias,comaslagartasempupandocercadedoismeses apósaeclosãodosovos(obs.pessoal).Vivememlocaisdebaixaaltitu de,nãoultrapassandoos1.600m.NoPESTfoiencontradoumindiví duoemáreademataconservada,nomêsdeagosto.NaIlhadeSanta Catarinaéfacilmenteobservadaemáreasdematanosmesesdeverão.

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Plantashospedeiras : Heliconia sp.(“caeté”),Musa sp., , Hedychium coronarium, H. sp ., (Beccaloni et al. 2008). Caligo martia (Godart,[1824]) Características : voam durante períodos de sol intenso. Possuem uma geração por ano, emergindo em dezembro (Casagrande & Mielke 2000a).NoPESTfoicoletadoumindivíduoemmarço,emáreademata degradada. Plantashospedeiras : família Cannaceae (Canna brasiliensis ), Poaceae (Echinochloa crusgalli , E. crusgalli crusgalli , Pennisetum purpureum ) (Penz et al .1999,Beccaloni et al .2008). Dasyophthalma creusa (Hübner,[1821]) Características :fêmeasemachospossuempequenasdiferençasmorfo lógicas(Penz2009).Possuemsomenteumageraçãoporano,noverão (Casagrande&Mielke2003)etêmohábitodevoaremnoshoráriosde solintenso;rapidamenteemáreasabertasemaislentamentedentroda mata(Casagrande&Mielke2003).NaMataAtlânticasedistribuemda BahiaaoRioGrandedoSul(Casagrande&Mielke2003,Penz2009). Habita áreas de florestas conservadas, sendo considerada uma espécie indicadora (Brown 1992). No PEST foi coletada no final do verão e iníciodooutono,principalmenteemáreasdemataconservada,podendo serconsideradacomoindicadoradetal(verCapítulo3). Plantashospedeiras :famíliaPoaceae(“taquara”),Arecaceae(A strocar- yum aculeatum , Bactris sp.)(Beccaloni et al.2008). Dasyophthalma rusina (Godart,[1824]) Características :fêmeasemachosapresentampequenodimorfismosexu al (Penz 2009).Possuem voo lento, nos horários de sol intenso e têm somenteumageraçãoaoano,noverão(Casagrande&Mielke2000b). Habitantes das florestas subtropicais na costa leste e sul do Brasil, da BahiaaSantaCatarina(Casagrande&Mielke2000b,Penz2009).No PESTfoiencontradoumúnicoindivíduonoiníciodooutono,emárea deflorestaconservada. Plantashospedeiras :famíliaPoaceae(Bambusa sp.,“bambu”)eAreca ceae( Bactris tomentosa e Euterpe edulis )(Penz et al. 1999,Beccaloni et al .2008) Opoptera sulcius (Staudinger,1887) Características :possuemhábitoscrepusculares.NoPESTfoiencontrada noverãoeoutono,principalmenteemáreasdemataemestágiointer

15 mediáriodeconservação,sendosugeridacomoindicadoradetalestágio (verCapítulo3). Plantashospedeiras :famíliaArecaceae(Beccaloni et al. 2008). Opsiphanes quiteria (Stoll,1780) Características : no PEST, foi encontrado um indivíduo no outono, em áreadematadegradada. Plantashospedeiras : família Musaceae ( Musa sp.) e Arecaceae (“pal meiras”, Astrocaryum ayri , Dypsis lutescens , Euterpe edulis, Syagrus romanzoffiana, Arecastrum romanzoffiano e A. crysadolicarpus lutes- cens ) (Penz et al. 1999, Casagrande & Mielke 2005, Beccaloni et al. 2008). Subfamília Satyrinae, Tribo Morphini Muitas espécies desta subfamília possuem tamanho grande e cores brilhantes,geralmenteemtonsdeazul;porissoforambastantevisadas porcolecionadores(Brown1992,Canals2003).Seuvooéondulanteou planado, e pode ser diferente entre machos e fêmeas (DeVries et al. 2010). Por possuírem asas proporcionalmente maiores que seu corpo, possuemacapacidadedeplanarsemdificuldade(Canals2003).Apre sentamdimorfismosexualemrelaçãoàcoloraçãoetambémdecompor tamento.Desaparecemrapidamentequandoháperturbaçãoforte,derru bada,oureduçãoemtamanhodafloresta(Brown1992). Morpho epistrophus (Fabricius,1796) Características : ambos os sexos possuem voos lentos e ondulantes no subbosque, entreas árvores ounas bordas da floresta(DeVries et al . 2010) As lagartas são gregárias e bastante chamativas pela coloração avermelhada (Canals 2003). No PEST foi a espécie mais abundante, encontradanofinaldoverãoeiníciodooutono,emtodasasáreasdo Parque. Plantashospedeiras : famílias Erythroxylaceae ( Erythroxylum sp., E. pelleterianum ),Leguminosae( Cassia sp., Acacia longifolia , Inga sp.,I. affinis , I. bahiensis , I. edulis , I. semialata , I. sessilis , I. uraguensis , Dal- bergia brasiliensis , Machaerium sp., M. acutifolium ),Quiinaceae( Quii- na sp.),Rhamnaceae( Scutia buxifolia ),Sapindaceae( Cupania vernalis , Matayba sp.)(Beccaloni et al. 2008).

Morpho helenor (Cramer,1776) Características :possuemvooemziguezaguenosubbosqueeaolongo deriosebordasdefloresta(DeVries et al. 2010).NailhadeSantaCata

1616 rina,estaespécietemumaaltaabundância,sendoencontradapreferen cialmenteemambientedefloresta(obs.pessoal).NoPESTforamen contrados dois indivíduos no início do outono em ambientes de mata poucoconservada. Plantashospedeiras : família Fabaceae (gêneros Arachis , Dalbergia , Erythrina , Lonchocarpus , Machaerium , Mucuna , Platymiscium , Pithe- cellobium , Pterocarpus , Swartzia eMimosaceae(gênero Inga )(Ackery 1988,Constantino&Corredor1997). Subfamília Satyrinae, Tribo Satyrini, Subtribo Euptychiina Detamanhopequenooumédio,possuemcoloraçãocríptica,amarron zadaealgumasapresentamocelos.Temcomportamentodepermanece rem escondidas, se assemelhando ao substrato. Têm voo provocado e arrítmico(Brown1992,Canals2003).SãoprincipalmenteNeotropicais (Peña et al.2010). Euptychoides castrensis (Schaus,1902) Características : no PEST, foi encontrado um indivíduo no início do outononaáreadematadegradada. Plantashospedeiras :famíliaCyperaceae(Beccaloni et al. 2008). Forsterinaria quantius (Godart,[1824]) Características :noPESTforamencontradosdoisindivíduosnofinalda primavera,emáreasdemenorconservação. Plantashospedeiras :Poaceae(“bambus”)(Beccaloni et al. 2008).

Godartiana muscosa (Butler,1870) Características :preferemlugaressombriospertodetrilhasepousama baixaalturaounosolo(Canals2003).NoPESTfoiencontradanofinal daprimavera,emáreasdeestágiointermediáriodeconservação. Plantashospedeiras :CyperaceaeePoaceae( Setaria poiretiana )(Becca loni et al. 2008). Pareuptychia ocirrhoe (Fabricius,1776) Características : no PEST, foi encontrado um indivíduo no outono em áreaemmenorestadodeconservação. Plantashospedeiras :Poaceae( Setaria sp.)(Beccaloni et al. 2008). Paryphthimoides grimon (Godart,[1824]) Características : no PEST, foi encontrado um indivíduo no outono em áreaconservada.

17 Plantashospedeiras :Poaceae(Beccaloni et al. 2008). Taygetis acuta Weymer,1910 Características :preferemáreassombreadasepossuemvooarrítmico,a baixaaltura(Canals2003).NoPEST,foiencontradoumindivíduono inverno,emáreadeconservaçãointermediária. Plantashospedeiras :Poaceae(Beccaloni et al. 2008). EstefoioprimeiroestudodeborboletasfrugívorasrealizadonoPar queEstadualdaSerradoTabuleiro,contribuindoparaoconhecimento dasespéciesnomaiorparquedoestadodeSantaCatarina.Somamse11 espécies novas às listas já existentes, nos trabalhos de Carneiro et al . (2008) e Corso et al . (submetido). Sendo assim, este capítulo servirá comobaseparaadivulgaçãoparaacomunidadenãocientífica,coma elaboraçãodefoldersepublicação,cominformaçõessobreacomposi çãodasespéciespresentesnoparque. REFERÊNCIAS ACKERY,P.R.1988.Hostplantsandclassification:areviewof nymphalidbutterflies.BiologicalJournaloftheLinneanSociety33:95 203. BARRACO, M.A & ZILLIG, C. 2009. Parceiro de Charles Darwin. ScientificAmericanBrasil84. BECCALONI, G.W., VILORIA, A.L., HALL, S.K. & ROBINSON, G.S.2008.CatalogueofTheHostplantsoftheNeotropicalButterflies. Catálogo de las Plantas Huésped de las Mariposas Neotropicales. MonografiasTercerMilênio,vol.8,S.E.A.,Zaragoza,RIBES,CYTED, TheNaturalHistoryMuseum&InstitutoVenezolanodeInvestigaciones Científicas,536p.

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2424

CAPÍTULO 2 AS BORBOLETAS DA SERRA DO TABULEIRO: DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL AO LONGO DAS ESTAÇÕES DO ANO

RESUMO

AsborboletasdaSerradoTabuleiro:distribuiçãotemporalaolongodas estações do ano. Os insetos estão intimamente relacionados com seu habitat,dependendodevariáveisfísicascomotemperatura,precipitação eluminosidade,alémdedependeremdapresençadeplantas,seherbívo ros,edepresas,sepredadores.Suapresençatambémévariáveldurante oano,oquerefletenaestruturadacomunidadeaolongodasestações. Estetrabalhoteveporobjetivoavaliaradistribuiçãotemporal,aolongo deumano,dasborboletasfrugívorasdafamíliaNymphalidaeemáreas de Mata Atlântica do sul do Brasil. Foram realizadas quatro coletas (primavera: 11/2009, verão: 02/2010, outono: 05/2010 e inverno: 08/2010),utilizandosearmadilhasdeatraçãoporisca.Foramcoletados 87indivíduosde11espécies,comdezindivíduosemnovembro,72em fevereiro,nenhumemmaioesomentecincoemagosto.Asduasespé cies mais abundantes foram Morpho epistrophus e Opoptera sulcius coletadas somente em fevereiro. Espécies singletons somam 44% das espéciescoletadasduranteoestudo.Ariquezaeaabundânciamostra ramcorrelaçãopositivacomatemperatura,masnãocomaprecipitação. As borboletas frugívoras do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PEST),SC,Brasil,apresentamumamudançatemporalemsuadistribu ição, sendo algumas espécies encontradas somente em uma estação, como Forsterinaria quantius e Godartiana muscosa naprimaverae M. epistrophus , O. sulcius e Dasyophthalma creusa noverão,emboranão seja possível estabelecer um padrão sazonal, pois as espécies podem apresentar variações entre anos devido às alterações nos regimes de chuvaouàmigraçãodeespéciesvindasdeoutrasáreas. Palavraschave:Borboletasfrugívoras,MataAtlântica,Sazonalidade

25 ABSTRACT

ThebutterfliesoftheSerradoTabuleiro:temporaldistributionduring theseasons.Thearecloselyrelatedtotheirhabitat,dependingon physicalvariables(suchastemperature,precipitationandlight),onthe presenceofplantsiftheyareherbivores,andprey,if predators.Their presence is also variable during the year, which reflect in their community structure throughout the seasons. This study aimed to evaluate the temporal distribution over a year, of Nymphalidae frugivorousbutterfliesinAtlanticForestareasinsouthernBrazil.Four fieldtripswerecarriedoutusingbaitedtraps(spring:11/2009,summer: 02/2010, autumn: 05/2010, and winter: 08/2010). We collected 87 individuals of 11 species, with ten individuals on November, 72 on February, none on May and five on August. The two most abundant specieswere Morpho epistrophus and Opoptera sulcius, this lastonly collectedonFebruary.Singletonsrepresented44%ofcollectedspecies during this study. Richness and abundance were positively correlated withtemperature,butnotwithrainfall.FrugivorousbutterfliesinParque EstadualdaSerradoTabuleiro(PEST),SC,Brazil,presentedtemporal changesintheirdistribution,withsomespeciesregisteredonlyinone season,Forsterinaria quantius and Godartiana muscosa inspringand M. epistrophus , O. sulcius and Dasyophthalma creusa in summer. Nevertheless,itisnotpossibletoestablishaseasonalpattern,because thespeciesmaydifferamongyearsduetochangesinrainfallregimesor speciesmigrationoffromotherareas. Keywords:AtlanticForest,Frugivorousbutterflies,Seasonality

2626

INTRODUÇÃO Osinsetosestãopresentesemquasetodososambientesdoplaneta, habitandoinclusiveasuperfíciedosoceanoseocupandoasmaisvaria dasaltitudeselatitudes;eapresentamsuamaiordiversidadenosambi entestropicais(Speight et al .1999). Muitasespéciespossuemestreitarelaçãocomasplantas,comoosin setosfitófagosouherbívoros;enquantooutrossãopredadoreseparasi tas, e dependem dos primeiros para sua alimentação. Por sua vez, as plantastêmestreitarelaçãocomregimesdechuvaetemperatura,sendo os fatores abióticos como água, luz e nutrientes, os responsáveis pelo crescimentoequalidadedacomposiçãovegetal(Fonseca et al .2005). SegundoBrown(1992),obrotamentodenovasfolhaseonascimentode plântulasestárelacionadocomasprecipitaçõesqueantecedemaprima vera,nosambientestropicais. Osprocessosecológicosreguladoresdascomunidadesdeinsetossão dois:noefeitochamado bottom up, aregulação(nocasodosherbívoros) érealizadaatravésdaofertadealimentopelosprodutoresprimários;já noefeito top-down ,quemregulaacomunidadesãoospredadores,pató genoseparasitóides(Speight et al. 1999,Walker&Jones2001).Esses efeitos podem ter ação simultânea, pois o ciclo dos herbívoros, como por exemplo, lagartas de borboletas, depende da produção de novas folhas( bottom up ),etambéméreguladopelaquantidadedeparasitóides (top down ), cujo cicloestárelacionado com o aumento no número de lagartas(Wolda1978). Osprocessosdavidadosinsetoscomocrescimento,desenvolvimento eatividadessãodependentesdetemperatura,devidoaofatodelesserem ectotérmicos,ouseja,regularemsuatemperaturadeacordocomaquela doambienteemqueestão(Speight et al .1999).Exemplosdessainflu ência podem ser observados em estudos com a mariposa Spodoptera cosmioides, onde temperaturas mais altas abreviaram o período larval (Bavaresco et al. 2002),oucomodesenvolvimentodepupasde Roths- childia lebeau a baixas temperaturas, originando adultos com asas de coloração mais escura queaquelas mantidas a temperaturas mais altas (Tauber et al. 1986). Asborboletastambémpodemserafetadaspelavariaçãodetempera tura,sejanoseuciclodevidaoudesenvolvimento,podendomostrarum padrãodedistribuiçãosazonalnanatureza.Nostrópicos,ascondições físicaspodemfavoreceracontinuaçãodocrescimentoereproduçãodas borboletasdurantetodooano,jáqueatemperaturaéquaseconstante, diferente das regiões temperadas, onde existe uma grande variação da

27 mesma(Tauber et al .1986).NascomunidadesmontanasdeMataAtlân ticadoBrasil,porexemplo,asborboletasapresentamumadistribuição sazonal,compicoderiquezadosadultosnosmesesdejaneiroamarço (Brown&Freitas2000).Noinverno,osindivíduosestãoemsuamaio rianaformadeestágiosimaturosesãopoucososadultos. Ocrescimentodasplantashospedeiraséumfatorimportanteparaa regulação do ciclo de vida das borboletas. Muitas plantashospedeiras estãodisponíveisoanotodo,masalgumassãomaisabundanteseade quadasàherbivoriasomenteduranteumperíododoano(Tauber et al . 1986),tendoaslagartaspreferênciapelasfolhasmaisjovens,jáquetêm mais nutrientes aproveitáveis (Wolda 1978, Lowman 1985). Devido a isso,osadultospodemapresentarcertasazonalidade , jáqueemergiriam somenteapósalagartaterminardesealimentaremfolhasjovens.Ge ralmenteéacombinaçãoentrefatoresabióticosebióticosqueinfluencia adinâmicadascomunidadesdeborboletas.Assim,Brown(1992),pes quisandoociclodevidadasborboletasnaSerradoJapi,EstadodeSão Paulo,observouqueaslagartascomeçamasurgirquandoastemperatu rasaumentameaschuvastornamseregulares,devidoaocrescimento dasplantashospedeiras.Paralelamente,tambémcrescemaspopulações deparasitasepredadoresdasfaseslarvais,contribuindoparaumaposte riorquedaabruptadaspopulaçõesdeborboletas,juntamentecomache gadadofrioeasenescênciadasplantashospedeiras. Écomumqueascomunidadesdeborboletasapresentemcertainsta bilidadeentreumanoeoutro,devidoàsflutuaçõessazonaiseàdisponi bilidade de recursos, com anos de grande abundância de alimento e outroscompoucoalimentodisponível.Assim,estudosquevisemestu darainfluênciademudançasclimáticasemumacomunidadedevemser realizadosduranteváriosanos,paraserpossíveldiferenciarasvariações comunsesazonais,dasmudançasresultantesdeinfluênciasantrópicas (Brown 1992, Fleishman & Murphy 2009). Por exemplo, espécies de borboletas Brassolini e Morphini que têm como planta hospedeira o bambu, têm suas populações reduzidas nos anos em que este recurso diminuidrasticamente,apósafloração(Brown&Freitas2000). Este trabalho teve por objetivo avaliar a distribuição temporal das borboletas frugívoras da família Nymphalidae ao longo de um anono ParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,nomunicípiodeSantoAmaro daImperatriz,SC,partindodahipótesedequeacomunidadedeborbo letasadultaspossasofrerflutuaçõesnaabundância,riquezaecomposi çãoaolongodoano,devidoàinfluênciadascondiçõesambientais(co moprecipitaçãoetemperatura).

2828

MATERIAIS E MÉTODOS OParqueEstadualdaSerradoTabuleiro(PEST)estálocalizadono EstadodeSantaCatarina(entreaslatitudes27°41’09”Se28º12’42”Se longitudes48°49’20”Oe48°25’08”O).Ocupaumaáreadecercade 90.000hectares(aproximadamente1%doterritóriodoestado),sendoa maiorUnidadedeConservaçãodeProteçãoIntegralemSantaCatarina (Saliés2000).Oparquefoicriadonoanode1975atravésdoDecreton° 1.260/75 e abrange áreas de nove municípios: Florianópolis, Palhoça, SantoAmarodaImperatriz,ÁguasMornas,SãoBonifácio,SãoMarti nho,Imaruí,GaropabaePauloLopes,easilhasdeFortaleza/Araçatuba, IlhadoAndrade,IlhadosPapagaiosPequena,TrêsIrmãs,Molequesdo Sul,Siriú,Coral,dosCardosoeapontasuldailhadeSantaCatarina (Saliés2000).Compreenderegiõesdeserraedeplanícielitorânea,in cluindoáreasderestingaemangue. OPESTreúneamaioriadascomposiçõesbotânicaspresentesnoes tado,sendoaáreadeestudoformadaoriginalmenteporFlorestaOmbró filaDensaSubMontana,situadaentre30e400mdealtitude,caracteri zadapelapresençadecanelapreta( Ocotea catharinensis ),peroba( As- pidosperma olivaceum )epauóleo( Copaifera trapezifolia )(Reis et al. 2000).

Figura1.LocalizaçãodoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,noEstadode SantaCatarina,Brasil.Ocírculoindicaaregiãodeamostragemdasborboletas. (Adaptado de Socioambiental Consultores Associados Ltda e Secretaria de EstadodoDesenvolvimentoUrbanoeMeioAmbienteSDM).

29 Oclimanaáreadeestudoéinfluenciadoporduasmassasdeescala regional:massapolar(friaeúmida)emassatropicalatlântica(quentee úmida), caracterizando o clima mesotérmico úmido, sem períodos de seca,comverãoquente,nasáreasabaixode800meverãobrandonas montanhasacimade800m(Pimenta2000).Nasáreasabaixode800m astemperaturasmaiselevadaslevamàformaçãodesolosmaisprofun dos, com uma vegetação mais heterogênea na estrutura e composição, aumentandoassimabiodiversidade(Pimenta2000). Apluviosidadeanualvariaemtornodos1700mm,sendojaneiro,fe vereiroemarçoosmesescommaiorquantidadedechuvaseosmeses dooutonoeinvernooscommenorpluviosidade(Pimenta2000). Aamostragemfoirealizadaatravésdequatrocampanhasaolongode umano,realizadasnosmesesdenovembrode2009(primavera),feve reiro(verão),maio(outono)eagostode2010(inverno).Foramutiliza das armadilhas cilíndricas de atração por isca do tipo VanSomeren Rydonmodificada(Rydon1964,UeharaPrado et al. 2005).Aiscautili zada foi banana fermentada com caldo de cana durante 48h, colocada emcopinhosplásticosde80ml,presosnabasedaarmadilhapor velcro , paraevitarquedas. Emcadaumadasquatrocampanhasforamutilizadas25armadilhas, colocadasemgruposdecinco,aumaalturadecercade1mdosolo,em áreasdoParque.Asarmadilhasficavamativasdurantedezdiasnocam po,emcadacampanha,sendochecadasacada48horasparareposição daiscaeretiradadosindivíduoscapturados(Hughes et al .1998 ).Em cadacampanha,oesforçofoide125amostras,sendonototaldascam panhasde500amostras. Asborboletascapturadasforamarmazenadasemenvelopesentomo lógicosemortasatravésdearmazenamentoemrecipientefechadocon tendoalgodãoembebidoemclorofórmio.Asespéciesqueforamreco nhecidasnocampoequejátinhamumnúmerosuficientedeindivíduos nacoleçãoforammarcadasnabasedaasadeacordocomaáreadecap tura,comcanetaderetroprojetordepontaporosa,eposteriormentesol tas.Estesindivíduosmarcados,quandorecapturadosnãoforamcontabi lizadosnovamente. OsindivíduoscoletadosforamlevadosparaoLaboratóriodeEcolo giaTerrestreAnimal(LECOTA/UFSC),ondeforammontadosesecos emestufaa40°CpordoisdiaseposteriormentedepositadosnaColeção EntomológicadoCentrodeCiênciasBiológicasdaUniversidadeFede raldeSantaCatarina.Aidentificaçãofoirealizadaatravésdaliteratura disponível(DeVries1987,Brown1992,Canals2003,UeharaPrado et

3030 al. 2004)ecomaajudadoprofessorDr.AndréVictorLucciFreitas,da UniversidadeEstadualdeCampinas,atravésdefotosdigitais. Paracadaestaçãodoano(campanhadecoleta)foramcalculadasme didasecológicasdeabundânciaeriqueza.Realizaramsecurvasdeacu mulaçãodeespéciesatravésdométodoMaoTaupeloprogramaEstima teS(Colwell2006),noqualosindivíduosdecadaespéciesãoorganiza dosporamostrae,atravésde50randomizações,foidesenhadoumgrá fico,ondeoeixoXapresentaasamostrasenoeixoYonúmerodees péciesacumuladaporamostra,permitindoaobservaçãodasuficiência amostral.CalculouseatravésdoestimadorJackknife1,aestimativade riquezadeespéciesdaáreadeestudonosdiferentesmeses,atravésdo programaEstimateS(Colwell2006).Paratestarsehouverelaçãoentrea comunidadedeborboletaseasmedidasdetemperaturaeprecipitação, foram realizados testes de correlação de Spearman, com a riqueza e abundância,utilizandoseoprogramaStatistica(Statsoft2001).Paraa análise,foramutilizadososdadosdetemperaturaedeprecipitaçãoplu vial diários de cada coleta,obtidos junto àEpagri/Ciram (Empresa de PesquisaAgropecuáriaeExtensãoRuraldeSantaCatarina/Centrode InformaçõesdeRecursosAmbientaisedeHidrometeorologiadeSanta Catarina).Osdadosdetemperaturautilizadosforamobtidosdaestação Florianópolis(SãoJosé),maispróximadaáreadeestudo(aproximada mente25km).Paraaprecipitaçãoforamutilizadosdadosdaestaçãode Anitápolis que, apesar de mais distante (35 km), tem características ambientaismaispróximasdasáreasdeestudo . RESULTADOS Nas coletas realizadas ao longo de um ano no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro foram coletados 87 indivíduos de 11 espécies de borboletasfrugívorasNymphalidae,comdezindivíduosemnovembro, 72emfevereiro,nenhumemmaioesomentecincoemagosto(Tabela 1).

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Tabela1.ListadasespéciesdeborboletasfrugívorasdafamíliaNymphalidaecoletadasnoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro, SC,esuarespectivaabundâncianosmesesdenovembrode2009efevereiro,maioeagostode2010. Espécies Novembro Fevereiro Maio Agosto Total (primavera) (verão) (outono) (inverno) Archaeoprepona meander (Cramer,1775) 0 0 0 1 1 Caligo beltrao (Illiger,1801) 0 2 0 0 2 Caligo brasiliensis (C.Felder,1862) 0 0 0 1 1 Catonephele acontius (Linnaeus,1771) 1 4 0 1 6 Dasyophthalma creusa (Hübner,[1821]) 0 3 0 0 3 Forsterinaria quantius (Godart,[1824]) 2 0 0 0 2 Godartiana muscosa (Butler,1870) 7 0 0 0 7 Memphis hirta (Weymer,1907) 0 0 0 1 1 Morpho epistrophus (Fabricius,1796) 0 40 0 0 40 Opoptera sulcius (Staudinger,1887) 0 23 0 0 23 Taygetis acuta Weymer,1910 0 0 0 1 1 Abundância (N) 10 72 0 5 87 Riqueza (S) 3 5 0 5 11

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As duas espécies mais abundantes, M. epistrophus , com 40 indiví duos(46%dototal)e O. sulcius ,com23indivíduos(26%),foramcole tadas somente durante o mês de fevereiro, contribuindo para que esse mêsapresentasseamaiorabundância,comumtotalde72indivíduosde cincoespécies(Tabela1).Omêsdenovembroapresentoudezindiví duosdesomentetrêsespécies.Nomêsdeagostoforamcoletadoscinco indivíduosdecincoespéciesdiferentessendoquetodasasespéciesque tiveram apenas um indivíduo coletado foram encontradas nesse mês. Assim, essas espécies singletons somam 44% das espécies coletadas duranteoestudo. As curvas de acumulação de espécies realizadas pelo método Mao Tau,para os três meses em que foram registradas borboletas, indicam quenasamostragensrealizadasnosmesesdenovembroefevereiroas curvasquaseatingemaassíntota,indicandoquecoletasadicionaiscon tribuiriamcompoucasespéciesnovas.Mas,paraomêsdeagosto,ob servasequeaamostragemfoiinsuficiente,comacurvaemclaraascen são devido ao grande número de espécies singletons encontradas esse mês,fazendocomqueográficomostrasseesseresultado(Figura2).

35

6

5

4

3 Riqueza de espécies de Riqueza 2

1

0 Sobs Nov 0 20 40 60 80 100 120 Sobs Fev Sobs Ago Amostras Figura2.Curvadeacumulaçãodeespécies(MaoTau)deborboletasfrugívoras dafamíliaNymphalidaeemtrêsmesesdecoletanoParqueEstadualdaSerrado Tabuleiro,SC. Ariquezaobservada(MaoTau)mostrousesemelhanteentreosme ses de novembro e agosto, sendo que agosto também não diferiu de fevereiro(Tabela2).Ariquezaesperada,calculadaatravésdoestimador Jackknife1,mostrouseigualouumpoucosuperiordoqueaobtidanas amostragens,sendoqueparaomêsdeagosto,oestimadorapresentou umaltovalordevidoasespécies singletons (Tabela2).

Tabela2.Riquezadeespéciesobservadaeestimadadacomunidadedeborbole tasfrugívoras,pormêsdecoleta,noParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC

Novembro Fevereiro Maio Agosto Sobs 3 5 5 (Mao Tau) 0 (IC:1,74,3) (IC:5,05,0) (IC:1,48,6)

Jack 1 4,0 5,0 0 10,0

3636

Osdadosdetemperaturaeprecipitaçãodosdiasdeamostragem(Ta bela3)correlacionadoscomosdadosdeabundânciaeriquezadiáriosde borboletas frugívoras mostraram não haver correlação significativa da precipitação nem com a riqueza nem com a abundância ([r s= 0,26; p=0,26]e[r s=0,28;p=0,23]).Noentanto,emrelaçãoàtemperatura,a riquezamostrouumacorrelaçãopositivasignificativacomestavariável [r s=0,65;p<0,01],assimcomotambémhouveumaumentodaabundân cia das borboletas frugívoras nos dias com maiores temperaturas [r s=0,64;p<0,01]. Quandoosdadosforamanalisadosapartirdaprecipitaçãomensalas sim como a temperatura média mensal, não foi observada nenhuma correlação significativa nem com a abundância nem com a riqueza de espécies. Omêsdemaio,excepcionalmentenoperíododeestudo,apresentou umaaltaprecipitação(Tabela3),podendoterinfluenciadonosresulta dosdascoletasdasborboletas. Tabela3.Dadosdeprecipitação(Anitápolis,SC)etemperatura(SãoJosé, SC):temperaturamédiamensal,temperaturasmínimasemáximasdosdias deamostragemedomês(oCelsius). Variável Novembro Fevereiro Maio Agosto Precipitação(mm) 121,3 174,1 443,0 67,0 Tempmáxdomês 33,0 34,7 26,8 24,4 Tempmíndomês 16,7 16,7 12,5 7,0 Tempmédiamensal 24,8 26,8 19,7 16,6 Tempmindiadecoleta 18,7 22,5 12,5 12,5 Tempmaxdiadecoleta 33,0 33,0 24,3 30,6

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DISCUSSÃO Apresençadeinsetosemumambientedependedapresençadeali mentos, e a disponibilidade de alimentos varia sazonalmente. Para os herbívoros,estesdevemestarpresentesquandofolhasnovassãoprodu zidas(Wolda1978).EmBarlow et al. (2007),aabundânciadasborbole tasapresentoucorrelaçãopositivacomaquedadefolhas,oqueindica queasnovasfolhaspoderiamservirdealimentoparaaslagartas. As borboletas frugívoras do ParqueEstadual da Serrado Tabuleiro (PEST) apresentam uma forte mudança temporal em sua distribuição, sendoalgumasespéciesencontradassomenteemumaestação,como F. quantius e G. muscosa naprimaverae M. epistrophus , O. sulcius e D. creusa no verão. Das cinco espécies encontradas no inverno, quatro foramcoletadassomentenessaestação,emboracomumúnicoindivíduo cada. Segundo Brown (1992), na Serra do Japi, localizada na latitude 23ºSulnoEstadodeSãoPaulo,sãopoucososadultosresidentespre sentesnoinverno,sendoqueamaioriadasespéciesencontradasnessa estação é origináriade regiões mais frias (de maior altitude ou menor latitude),tendomigradopararegiõesdemaiortemperatura.Outrosestu dos,comoodeShahabuddin&Terborgh(1999),tambémdemonstraram que ocorre migração/dispersão de borboletas frugívoras em resposta a mudançasnoambiente,nasestaçõessecasechuvosas. Outraexplicaçãopoderiaseravariaçãodosrecursosalimentaresdos adultos.Asespécies A. meander e M. hirta pertencemàsubfamíliaCha raxinae,esãotidascomoespéciesdedossel(DeVries1987,DeVries& Walla2001).Porteremciclosdevidalongos(osadultosdogênero Ar- chaeoprepona podem viver mais de dois meses), talvez a escassez de recursosnodosselduranteoinvernofaçacomqueasborboletassejam maisfacilmenteatraídaspelasiscasdasarmadilhas(DeVries1987). Osresultadosmostramqueexisteclaramentemaiorabundânciaeri quezadeborboletasfrugívorasnoPESTnosmesesdeverão,fevereiro nestecaso.Duranteomêsdemaio,comtemperaturamédiade19,7°C, nãohouvecapturadenenhumindivíduo,oquepoderiaestarassociadoà altaprecipitaçãoocorridaduranteessemêsnaregião(443mmem23 diasdechuva),acimadoesperadoparaoperíodo.Isto influenciariaa comunidadedeborboletas,atravésdedecréscimopopulacionalouim pedindoqueasiscasexercessemefeitoatrativoparaasborboletas. Aespécie C. acontius parecesercomumoanointeiro,poisfoien contradaemtrêsestaçõesestudadas,commaiorabundâncianomêsde verão. Todos os indivíduos capturados foram fêmeas, e isso pode ser

3838 explicadopelofatodosindivíduosdessesexoseremmaisatraídospelas armadilhas,porsealimentarempertodosoloouestaremembuscade plantashospedeirasparaaoviposição,comoregistradoparaoutraespé ciedomesmogênero( C. orites Stichel,1898)porDeVries(1987). Aespéciemaisabundantefoi M. epistrophus ,com40indivíduoscap turadosnomêsdeverão.Estaéumaespéciebastanteabundantenaregi ãonosmesesquentesebastanterestritaaos mesmos,poispossuifase adulta de pouca duração. Brown (1992) registrou essa mesma espécie emfasedelagartanosmesesdeinvernoeprimavera,naSerradoJapi. NoPEST,foramobservadaslagartas,possivelmentede M. epistrophus , em árvore de ingá ( Inga sp.), no mês de novembro (primavera) e os adultosencontradosnosmesesdefevereiroaabril. Pelosresultadosdasanálisesdecorrelação,atemperaturanosdiasde coletainfluencianaabundânciaeriqueza,sendoqueasborboletaspre feremdiasensolaradosesemchuva,parasaíremembuscadealimentos. Asiscastambémexerceriamumamaioratraçãonosdiasmaisquentes, jáqueaevaporaçãodevoláteisseriamaior,atraindomaisfacilmenteas borboletas. Duranteoanodeestudo,osmesesmaischuvosos(commaisde20 diascomchuva)foramoutubro,dezembroejaneiro,nosquaispodeter ocorrido um crescimento das plantashospedeiras, contribuindo para a alta abundância de indivíduos adultos nos meses seguintes (Brown 1992).Aschuvassazonaisinfluenciamnocrescimentodasplantashos pedeiraseafetamaumidadeque,combinadacomoutrosfatorescomo temperatura e vento, podem mudar as condições microclimáticas do local(Speight et al. 1999). Apesardasdiferençasencontradasnaabundância,riquezaecomposi çãodasespéciesnosmesesdeestudo,nãoépossívelcomestesdados estabelecer um padrão sazonal para as borboletas frugívoras da região suldaMataAtlântica,devidoaobaixonúmerodeindivíduosedeespé ciesamostradas.Forampoucasasespéciesqueobtiveramumaabundân ciasatisfatória,comsomenteduasespécies(M. epistrophus e O. sulcius ) commaisdedezindivíduoscoletadosduranteoestudo,eumaltonúme rodeespécies singletons oucompoucosindivíduos.Asespéciescoleta dasnoinvernoforamtodas singletons ,asespéciesdaprimaveraforam somentetrês,comaabundânciamáximadeseteindivíduos,enenhuma espécie foi capturada no outono. Estudos de variação temporal com duraçãodeumanooumenosnãosãosatisfatórios,poisasespéciespo demapresentarvariaçõesentreanos,devidoàsalteraçõesnosregimes de chuva ou à migração de espécies vindas de outras áreas (DeVries

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1987, Brown & Freitas 2000, DeVries & Walla 2001, Barlow et al. 2007). Apesardissofoipossívelnotardiferençasnacomunidadeentreases taçõesdoano,oquepermitequefuturosestudossejamrealizadosafim deseentendermelhorofuncionamentodascomunidadesdeborboletas frugívorasnosuldoBrasil. REFERÊNCIAS

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CAPÍTULO 3 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE BORBOLETAS FRUGÍVORAS DO PARQUE ESTADUAL DA SERRA DO TABULEIRO, SC, EM ÁREAS DE MATA ATLÂNTICA EM DIFERENTES ESTÁGIOS SUCESSIONAIS

RESUMO

Distribuição espacial de borboletas frugívoras do Parque Estadual da SerradoTabuleiro,SC,emáreasdeMataAtlânticaemdiferentesestá giossucessionais.Algumasespéciesdeborboletassãorestritasadeter minadostiposdeambiente,poissãosensíveisamudançasnascaracte rísticasdolocal,comoluminosidade,temperaturaecomposiçãovegetal. Elaspodemserutilizadascomoorganismosindicadores,poisrefletem mudançasqueocorremnoambiente.Visandoaprofundaroconhecimen todasborboletasfrugívorasdaMataAtlânticadoEstadodeSantaCata rina,realizouseumestudonoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro, emcincoáreascomdiferentesgradientesdeconservação.Asamostra gensforamrealizadasdefevereiroaabrilde2010emcincoáreas,utili zandosearmadilhasdecapturacomisca(bananafermentadacomcaldo decana.Foramcolocadascincoarmadilhasporárea,expostasdurante 10diaspormêserevisadasacada48hparacapturadosindivíduos e reposiçãodeisca.Paraaanálisedavegetação,foiutilizadoométododo pontoquadranteadaptado,ondeemcadapontoforammedidasaaltura, oDAP/DATeodiâmetrodacopaparaasárvoresearbustos(menosde 1mdealtura)amenordistância.Mediusetambém,emquadradosde 1m 2,aalturadaserapilheiraeasporcentagensdecoberturadeserapi lheira,áreaverdeesoloexpostoeaporcentagemdecoberturadodossel. Foramcoletados314indivíduosde14espéciesdeborboletas,dasquais 57% foram de espécies singletons . Morpho epistrophus (Fabricius, 1796) foi a espécie mais abundante em todas as áreas. As áreas não diferiramsignificativamentequantoàabundância,riquezaediversidade (H’).AAnálisedeCorrespondênciaCanônicanãofoisignificativapelo teste de MonteCarlo, mas foi possível observar uma relação entre as variáveis ambientais e algumas espécies de borboletas. Pelo teste Ind Val,duasespéciesforamtidascomoindicadoras: Dasyophthalma creu- sa (Hübner,[1821])deáreasconservadase Opoptera sulcius (Staudin ger,1887)deáreasemestágiointermediáriodeconservação.Osresul tadosmostramquealgumasespéciestêmpreferênciaporcertoslocais,

45 enquanto que outras são melhor distribuídas ao longo dos gradientes, confirmandoaimportânciadoconhecimentodacomunidadeparafutu rosestudosdeconservação. Palavraschave:Nymphalidae,Conservação,Diversidadebeta,Sucessão

ABSTRACT

Spatial distribution of frugivorous butterflies in Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, SC, in areas of Atlantic Forest at different successional stages. Some butterfly species are restricted to certain habitats because they are sensitive to changes in environmental characteristics such as light, temperature and vegetation composition. Theycanbeusedasindicatororganismsbecausetheyreflectchanges that occur in the environment. In order to increase the knowledge of frugivorousbutterfliesatAtlanticForestoftheSantaCatarinaState,this studywascarriedoutatParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,infive areas representing different conservation gradients. Sampling was conductedfromFebruarytoApril2010infiveareas.Fivebaitedtraps (mashed banana with sugar cane juice) were used in each area and exposedfor10dayspermonth,beingreviewedevery48hoursinorder tocaptureindividualsandreplacethebait.Forthevegetationanalysis, weusedanadaptationofthepointquadrantmethod,whereateachpoint height,DBH/DAHandcanopydiameterfortreesandshrubs(lessthan 1 m height) at the shortestdistance were measured. The heightof the litter and the percentage of litter cover, bare area, green area and percentage canopy cover were also measured in 1m 2 quadrats. We collected314individualsfrom14butterflyspecies,57%ofwhichwere singletons species. Morpho epistrophus (Fabricius,1796)wasthemost abundantspeciesinallareas.Theareasdidnotdiffersignificantlyon abundanceanddiversity(H').TheCanonicalCorrespondenceAnalysis test was not significant by MonteCarlo test, but it was possible to observe a relationship between environmental variables and some butterfly species. Two species were considered as indicators by the IndVal test: Dasyophthalma creusa (Hübner, [1821]) for conserved areas and Opoptera sulcius (Staudinger, 1887) for areas with intermediate conservation status. The results show that some species havepreferencesforcertainlocations,whileothersarebetterdistributed along the conservation gradients, confirming the importance of communityknowledgeforfutureconservationstudies.

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Keywords:BetaDiversity,Conservation,Nymphalidae,Succession

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INTRODUÇÃO

Aconservaçãodabiodiversidadeéumtemaquetemsidobastante discutidonosúltimosanos,comapreocupaçãocrescentecomquestões relacionadas ao meio ambiente e aos cuidados com a flora e fauna. Áreasprioritáriasparaaconservação,chamadas hotspots ,têmsidoesta belecidas,sendoáreasdefinidaspelapresençadepelomenos1500plan tasendêmicasequeapresentam75%oumaisdesuaáreaoriginaldes truída(Myers1988).AMataAtlântica,quemantémapenasentre11.4% e16.0%desuaáreaoriginal,éconsideradaumdoshotspots mundiais mais importantes, apresentando 8000 espécies de plantas endêmicas (2,7%dototalmundialdeespécies)e654espéciesdevertebradosen dêmicos (2,1% do total mundial) (Ribeiro et al . 2009, Myers et al. 2000). No Brasil, a questão da mudança do Código Florestal (Lei N o 4.771/1965), prevendo redução nas Áreas de Preservação Permanente, comotoposdemorrosematasciliares,etambémnasáreasdeReserva Legal,vemsendobastantediscutidaecontestadaporambientalistas.A principal questão é a preservação de áreas importantes e críticas para conservação da biodiversidade, como a Mata Atlântica, por exemplo, quepossuiapenas35,9%deáreascomalgumtipodevegetaçãoprotegi da(Myers et al .2000,Freitas2010). Comesseintuito,pesquisadorestêmdesenvolvidoestudosutilizando sedeorganismosbioindicadores(Brown1997,McGeoch1998,Brown &Freitas2000,Barlow et al.2007a,UeharaPradoet al .2009).Paraum grupodeorganismosserconsideradobombioindicadoreledevepossuir algumascaracterísticasquefacilitariamseuacompanhamentoemestu dosdemonitoramentoemlongoprazo,comoserrelativamentecomum nanaturezaeserencontradoemdiversoslugareseestaçõesdoano,sua taxonomiadeveserbemconhecidaeeledeveserfacilmenteidentifica do (Brown 1997). Assim, a característica essencial de um indicador é responderàsmudançaseperturbaçõesdohabitatepermitirsuacompa raçãoentrediferenteslocais(Brown1997). SegundoMcGeoch(1998),osindicadoresbiológicospodemserdivi didosemtrêscategorias:1)indicadoresambientaisespéciesougrupos querespondemamudançasoudistúrbiosambientaisdeformafacilmen te quantificada e mensurada, cuja presença/ausência ou mudança no comportamentoindicacaracterísticasdohabitat;2)indicadoresecológi cosespéciesouconjuntosdeespéciessensíveisaestressesquedegra damabiodiversidadeequerepresentampelomenosumsubconjuntode outrosorganismosquerespondemdamesmamaneira;e3)indicadores

4848 de biodiversidade um taxon ou grupo funcional que reflete alguma medidadediversidadedeoutros taxa emumhabitat,sendoariquezade umindicadorusadaparaestimarariquezadeoutros taxa ,porexemplo. Osinsetostêmsidobastanteutilizadoscomoindicadoresecológicos em diversas regiões do Brasil, principalmente borboletas frugívoras, besourosescarabeíneoseformigas(Brown&Freitas2000,Freitas et al . 2006,Gardner et al .2008,UeharaPrado et al.2009).Sãováriasasa meaçasquesofremasborboletas,comoaperdadehabitat,mudançano clima,presençadeespéciesinvasoras,poluiçãoeexploraçãodasespé cies para comercialização (Bonebrack et al . 2010). Algumas dessas ameaças estão relacionadas ao fato das borboletas frugívoras estarem correlacionadascomohabitatemquevivem,poisdependemdetempe ratura,luminosidade,umidadeetambémderecursosalimentaresparaos adultosedapresençadeplantashospedeirasparaalimentaçãodosjuve nis(Gilbert1984,Brown&Freitas2000,Barlow et al .2007b,Ribeiro et al . 2008). Estudos relacionando mais de um táxon indicam que as borboletasfrugívoraspodemserumgrupoapropriadoparaserutilizado tambémcomoindicadordebiodiversidade,estandofortementerelacio nadocomadiversidadedeoutrosgruposdafauna(Barlow et al .2007a). Asflorestastropicaissãobastantedinâmicas,oferecendodiversosti posdemicroclimaparaosqueashabitam.Emáreasabertasoupróxi masdodossel,hápresençadevento,maiortemperaturaebaixaumida de,enquantoquedentrodaflorestaatemperaturadiminuieaumidade aumenta (Whitmore 1998). A luminosidade também é diferente nas diversas áreas de uma floresta, sendo baixa no subbosque, e alta em clareirasenodossel(Whitmore1998),edevidoaessascaracterísticas,a faunaeafloradesseslocaisapresentamsebastantediversas.Umaplan taquecresceemumaclareiratempreferênciaporlocaisbemilumina dosemaisquentes,diferentedeoutraquecrescenosubbosquedaflo resta.Domesmomodo,osanimaistambémtêmpreferênciaporlocais com maiorou menoriluminaçãoeasborboletas,porseremaltamente relacionadascomavegetação,tambémpossuempreferênciaporalguns tiposdehabitat,comomostramostrabalhosdeDeVries(1987),Brown & Freitas (2000), Ramos (2000), Hamer et al. (2003), Barlow et al . (2007b). As borboletas frugívoras vêm sendo bastante utilizadas em estudos queenvolvemalteraçõesedegradaçãodehabitat,poispodemapresentar diferentesrespostasaessasmudanças.Elaspodemreagircomindiferen ça, desaparecimento total ou parcial, ou ser favorecidas pela perturba ção,resultandonumaumentonariquezae/ouabundânciadasespécies, devidoàpreferênciadealgumassubfamíliasouespéciespordetermina

49 dotipodehabitat(Brown1997,Brown&Freitas2000,Ramos2000, Barlow et al. 2007b,UeharaPrado et al. 2007,Bonebrack et al. 2010). Além de facilmente amostradas, através de armadilhas de atração por iscaecombaixocusto,elaspossuemtodasasoutrascaracterísticasde boasbioindicadoraseadicionalmentesãoanimaisbastantecarismáticos, quetemaafeiçãodacomunidadenãocientífica,podendoserusadasem programas de monitoramento como espéciesbandeira (Brown 1997, Fleishman&Murphy2009). Porestesmotivos,estetrabalhoteveporobjetivoanalisaracomuni dade de borboletas frugívoras em cinco áreas de Mata Atlântica com diferentesgradientesdeconservação,everificarsuarelaçãocomacom plexidade vegetacional a fim de identificar espécies exclusivas de de terminados tipos de paisagem e que possam servir como indicadores ambientaisemtrabalhosdemonitoramentonaregião. MATERIAIS E MÉTODOS A amostragem das borboletas foi realizada em três campanhas de campo,nosmesesdefevereiro,marçoeabrilde2010,emcincoáreas localizadasnosetorNortedoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,em trilhasquetinhaminícionoHotelPlazaCaldasdaImperatriz,nomuni cípiodeSantoAmarodaImperatriz,SC(27°43’S;48°48’O)(Figura1). ParaumadescriçãomaiscompletadaáreaverCapítulo1.

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Figura1.LocalizaçãodoParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,noEstadode SantaCatarina,Brasil.Ocírculoindicaaregiãodeamostragemdasborboletas. (Adaptado de Socioambiental Consultores Associados Ltda e Secretaria de EstadodoDesenvolvimentoUrbanoeMeioAmbienteSDM). Emcadacampanhaforamalocadas25armadilhasdeatraçãoporisca do tipo Van SomerenRydon modificada nas áreas escolhidas (Rydon 1964,UeharaPradoet al .2005).Aiscadeatraçãoutilizadafoibanana fermentadacomcaldodecanadurante48h,colocadaemcopinhosplás ticosde80ml,presosnabasedaarmadilha(Figura2).Emcadaumadas áreas foram colocadas cinco armadilhas, distando 20 metros uma das outra,aumaalturadecercade1mdosolo.Asarmadilhasficaramati vasdurantedezdiasnocampo,eeramrevisadasacada48horaspara coleta dos indivíduos capturados e reposição da isca (Hugheset al. 1998).Nototal,oesforçoamostraldecadaarmadilhafoide15amos tras. Asborboletasforamcapturadas,armazenadasemenvelopeentomo lógico,ecolocadasemumrecipientefechadocontendoalgodãoembe bidoemclorofórmio.Posteriormente,foramlevadasaolaboratórioonde forammontadaseidentificadas.Asespéciesquejáhaviamsidocaptu radasereconhecidasnocampoforammarcadascomcanetapermanente de ponta porosa na base da asa, de acordo com a área, e soltas para, quandocapturadasnovamente,nãoseremcontabilizadas.

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Figura2.(A)Armadilhainstaladaemcampoparacoletarborboletasfrugívoras, (B)Borboletacoletadanaarmadilha,(C)Borboletaalimentandosedaisca As identificações foram baseadas na literatura disponível (DeVries 1987,Brown1992,Canals2003,UeharaPrado et al. 2004)econfirma das pelo professor Dr. André Victor Lucci Freitas, da Universidade EstadualdeCampinas(UNICAMP),atravésdefotosdigitais. Asáreasdeamostragemondeasarmadilhasforamalocadaslocaliza vamseemtrêstrilhasdiferenteseforamescolhidasdeacordocomseu estadodeconservação.NatrilhapróximaàPousadadaMata,conhecida como“EstradaVelha”–áreadematasecundária(SPSecundáriaPou sada)–foramalocadascincoarmadilhas.TambémpróximaàPousada, a trilha conhecida como “grotão” foi escolhida por manter ainda uma vegetaçãodemataconservada,ou“mataprimária”(PP–PrimáriaPou sada), apresentando árvores maiores, menor quantidade de arbustos e maiorquantidadedeepífitas,sendoalocadasnessaáreamaiscincoar madilhas.NatrilhaconhecidacomoCascatadoTatu,foramescolhidas mais três áreas. As áreas apresentam conhecido histórico de desmata mento,devidoaumsurtodefebreamarelaocorridonoestadonadécada de1950que,desmatandoumaáreade1kmpartirdacidadedeSanto Amaro da Imperatriz, fez com que a área de mata secundária possua uma vegetação com cerca de 60 anos em regeneração. No início da trilhaescolheuseumaáreadecapoeirinha(CC–CapoeirinhaCascata), bastantedegradada,comaltaluminosidadeemuitosarbustos,ondefo ramcolocadascincoarmadilhas.Nacontinuaçãodatrilha,emumaárea de mata secundária (SC – Secundária Cascata), foram alocadas mais

5252 cincoarmadilhas.Eaultimaáreaescolhida,nessamesmatrilha,foiuma demataprimária(PC–PrimáriaCascata),comárvoresbastantefrondo sas,muitasbroméliasepresençadecanelapreta(Ocotea catharinensis Mez.; Lauraceae), onde foram alocadas as últimas cinco armadilhas (Figura3).Acanelapretaéumaespéciedeclímax,essencialmentedo interiordaflorestaprimária,encontradaemáreasdeMataAtlânticado sulesudestedoBrasil;encontraseatualmentena listaoficialdeespé ciesdaflorabrasileiraameaçadasdeextinção,nacategoriadasespécies vulneráveis, devido à destruição do seuhabitat e à intensa exploração sofridapelaextraçãodemadeiraeóleosessenciais(EMBRAPA2011).

Figura3.Imagemdesatélitedasáreasdeamostragemdeborboletasfrugívoras noParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC.PP(PrimáriaPousada),SP(Se cundária Pousada), CC (Capoeirinha Cascata), SC (Secundária Cascata) e PC (PrimáriaCascata).

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Paraavaliaracomplexidadedavegetação,usouseométododoponto quadrante adaptado (Daubenmire 1959, Brower et al . 1998, Mitchell 2007). Esse método foi utilizado em cada um dos 25 pontos onde as armadilhasforampenduradas:abaixodecadaarmadilhacolocouseuma cruz,feitadecanoPVC,comumdoslados marcadoe,comajudade uma bússola, apontado para a direção Norte. A partir disso tinhamse quatroquadrantes(nordeste,sudeste,sudoesteenoroeste).Apartirdo centrodacruzesaindoparacadaquadrante,eramfeitasasmedidasda vegetaçãoedoambiente,afimdequeseobtivessemquatromedidasde cadavariável.Paracadaárvoreearbustomaispróximosforammedidas asdistânciasatéocentrodacruz,aaltura,odiâmetrodacopaeodiâ metrodotroncoàalturadopeito(1,3m)paraasárvores(DAP)eodiâ metroàalturadotornozelo(0,1m)paraosarbustos(DAT).Depoisde realizadasasmedidasparacadaquadrante,apartirdestasfoicalculada umamédia,paraobterumamedidadecadavariávelporponto.Foram consideradas árvores aquelas que tinham DAP acima de cinco cm à alturadopeito,earbustos,aquelascommenosde1mdealtura. Emcadaquadrante,dentrodeumquadradode1mx1mdemarcado nosolocomcanosdePVC,mediuseaalturadaserapilheirae,através deestimativavisual,asporcentagensdecoberturadeserapilheira,área verdeeáreadesoloexposto(semvegetaçãoeserapilheira),usandoas seguintesclasses:05%,625%,2650%,5175%,7695%e96100%. Utilizandoseasmesmasclasses,estimousevisualmenteaporcentagem decoberturadodosselnasquatrodireções,comoauxíliodeumquadra dodepapelãocujaáreavazadaerade10cmx10cm,colocadoauma distânciade40cmdoolhodoobservador,aumainclinaçãode20°em relação ao céu (Ramos 2000). As medidas de estimativa visual foram feitassemprepelomesmoobservador,afimdepadronizaroerro.Das medidasdosquadrados(umparacadaquadrante,totalizandoquatropor ponto),tambémfoitiradaamédia,paraqueseobtivesseumvalorpara cadapontodeamostragem. Realizaramsecurvasdeacumulaçãodeespéciesatravésdométodo MaoTaupeloprogramaEstimateS(Colwell2006),no qualosindiví duosdecadaespéciesãoorganizadosporamostra,permitindoaobser vaçãodasuficiênciaamostral.Paraanalisarosdadosdacomunidadede borboletas,foramcalculadasadiversidadeeequitabilidade.Paratanto, foramutilizados15valores,correspondentesàsborboletascoletadasem cadaarmadilhanostrêsmesesdecoleta,calculandoassimamédiades tesvalores.Paraanalisarsehouvediferençaentreasáreasemrelação aosparâmetrosmédiosdasmedidasecológicascitadas,foramrealizadas Análises de Variância (ANOVA), no programa Statistica (Statsoft

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2001).Pararealizarumaanálisedeordenaçãodospontosdeamostra gememrelaçãoàsemelhançaemriquezaeabundânciaforamcalculadas matrizes de similaridade (Sorensen, para análise qualitativa e Bray Curtis para análise quantitativa) e feitas Análises de Escalonamento MultidimensionalNãoMétrica(NMDS)noprogramaPrimer(PrimerE 2004).SeguindoBarlow et al. (2007b),foiutilizadaatransformaçãode raizquadradaparareduzirainfluênciadasespéciescomunsediferenças na abundância total. Para verificar a presença de espécies indicadoras utilizouseométodoIndVal,atravésdoprogramaPCOrd(McCune& Mefford1999). Paraanalisarosparâmetrosdavegetaçãoemcadapontodecoletafoi feitaumaAnálisedeComponentesPrincipais(PCA)pormatrizdecova riância,apósanormalizaçãodosdados,noprogramaPrimer(PrimerE 2004).Pararelacionaracomunidadedeborboletascomacomposição da vegetação utilizouse uma Análise de Correspondência Canônica (CCA)noprogramaCANOCO(terBraak&Šmilauer2006).

RESULTADOS Noperíododefevereiroaabrilde2010foramcoletados314indiví duosdeborboletasfrugívorasde14espécies,pertencentesatrêssubfa míliasdafamíliaNymphalidae:Biblidinae: Catonephele acontius (Lin naeus,1771);Charaxinae: Archaeoprepona demophon (Linnaeus,1758) e Fountainea ryphea (Cramer,1775);Satyrinae,Brassolini: Caligo bel- trao (Illiger, 1801), Caligo martia (Godart, [1824]), Dasyophthalma creusa (Hübner, [1821]), Dasyophthalma rusina (Godart, [1824]), O- poptera sulcius (Staudinger,1887)e Opsiphanes quiteria (Stoll,1780); Satyrinae,Morphini: Morpho epistrophus (Fabricius,1796)eMorpho helenor (Cramer, 1776); Satyrinae, Satyrini: Euptychoides castrensis (Schaus, 1902), Pareuptychia ocirrhoe (Fabricius, 1776) e Paryphthi- moides grimon (Godart,[1824]). Aespécie M. epistrophus foiamaisabundante,seguidadeO. sulcius . Estasrepresentam,respectivamente,78%e12%dototaldeindivíduos coletadosnostrêsmesesdeestudoeambasforamencontradasemtodas asáreasestudadas(Tabela1). Das14espéciescoletadas,oitoforam singletons ,ouseja,57%dases péciestiveramapenasumindivíduocoletadoduranteoestudo.Apenas duasespéciestiverammaisdedezindivíduoscapturados,duasespécies tiveramumaamostradenoveindivíduoseduasespéciesobtiveramdois indivíduos.

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Tabela1. Listadasespéciesdeborboletasfrugívoraserespectivaabundância emcincoáreasdecoletaemdiferentesestadosdeconservação,entreosmeses defevereiroaabrilde2010,noparqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC. Área Espécie Total PC PP SP SC CC Archaeoprepona demophon 0 0 0 0 1 1 Caligo beltrao 1 1 0 0 0 2 Caligo martia 0 0 0 0 1 1 Catonephele acontius 1 1 1 4 2 9 Dasyophthalma creusa 1 5 2 0 1 9 Dasyophthalma rusina 0 1 0 0 0 1 Euptychoides castrensis 0 0 0 0 1 1 Fountainea ryphea 0 0 0 0 1 1 Morpho epistrophus 68 43 23 54 58 246 Morpho helenor 0 0 1 0 1 2 Opoptera sulcius 5 8 1 16 8 38 Opsiphanes quiteria 0 0 0 0 1 1 Pareuptychia ocirrhoe 0 0 0 0 1 1 Paryphthimoides grimon 0 1 0 0 0 1 Total de indivíduos (N) 76 60 28 74 76 314 Riqueza (S) 5 7 5 3 11 14 Quandorealizadaacurvadeacumulaçãodeespéciesparaas75amos trascolhidasemcadaárea,observasequenãohouvediferençasignifi cativaentreariquezadascincoáreasdeestudo(Figura4).Observase também que a área da Capoeirinha (CC) ou área com menor grau de conservação,foiaqueobtevemenorsuficiênciaamostral,indicandoque umamaiorquantidadedeamostraspoderiaaumentarariquezadeespé ciesdaárea,possivelmentedevidoaoaltonúmerodeespéciescomum únicoindivíduocoletado.AcurvadaáreadeMataSecundáriadaCasca ta(SC)mostraqueacomunidadedeborboletaspodeteratingidouma suficiênciaamostral,comsomentetrêsespéciescoletadas,enquantoas outrasáreasaindadevempossuirespéciesaseremcoletadas.

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4 RiquezadeEspécies

2 SobsPC SobsPP SobsSP 0 SobsSC 0 10 20 30 40 50 60 70 80 SobsCC Amostras Figura4.Curvadeacumulaçãodeespéciesdeborboletasfrugívorasemcinco áreasdeamostragemduranteosmesesdefevereiroaabrilde2010noParque EstadualdaSerradoTabuleiro. AáreadeCapoeirinhafoiaqueobtevemaiorriqueza,com11espé cies, e as outras áreas apresentam riquezas entre três e sete espécies (Tabela 1). A área Primária da Pousada teve sete espécies e a maior abundânciafoiencontradanasáreasPrimáriadaCascataeCapoeirinha, com76indivíduos.DestacaseaáreaSecundáriadaPousada,queteve umariquezaintermediária(cincoespécies)ebaixaabundância(28indi víduos). A espécie M. epistrophus teve sua maior abundância na área PrimáriadaCascataeamenornaSecundáriadaPousada,enquantoque aespécie O. sulcius tevesuamaiorabundâncianaSecundáriadaCasca ta.Asespécies D. creusa e C. acontius ,com3%dototaldeindivíduos cada,tiveramsuas maiores abundânciasnaPrimáriadaPousadaeSe cundáriadaCascata,respectivamente. As riquezas observadas para as áreas diferiram estatisticamente so mente entre a área Secundária da Cascata (SC) e Capoeirinha (CC) e SecundáriadaCascataePrimáriadaPousada(PP)(Tabela2).Ariqueza esperada,calculadaatravésdoestimadorJackknife1,foimaiorparaa área daCapoeirinha, seguida dePrimária da Pousadae Secundária da

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Pousada,devidoaoaltonúmerodeespécies singletons ,emenorparaa áreaSecundáriadaCascata.OsíndicesdediversidadedeShannon(H´) edeEquitabilidadedePielou(J´)podemserobservadosnaTabela2.As análisesdevariânciarealizadasparacadaumadestasmedidasecológi casnãodiferiramestatisticamenteentreascincoáreas.

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Tabela2.Medidasecológicasdacomunidadedeborboletasfrugívoras,emcincoáreasdecoletaemdiversosestadosdeconserva ção,coletadasentreosmesesdefevereiroeabrilde2010,noParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC.PC(PrimáriaCascata), PP(PrimáriaPousada),SP(SecundáriaPousada),SC(SecundáriaCascata),CC(CapoeirinhaCascata). Medidas PC PP SP SC CC 5 7 5 3 11 Sobs (Mao Tau) (IC:2,37,7) (IC:3,510,5) (IC:1,88,2) (IC:3,03,0) (IC:5,416,6) Jackknife 1 8,0 11,0 9,0 3,0 18,9 Shannon (H´) 0,23 0,34 0,13 0,26 0,43 Pielou (J´) 0,28 0,42 0,15 0,29 0,44

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Para a análise da similaridade entre a comunidade das espécies de borboletas coletadas nas 25 armadilhas utilizadas nas áreas de estudo, foirealizadaumaanálisedeordenaçãoapartirdasimilaridadedeSo rensen,quelevaemcontaapenasariquezadasespécies,representada graficamenteporumEscalonamentoMultidimensional(NMDS)(Figura 5).Ostressfoibaixo,mostrandoafidelidadedosresultadosapresenta dosnográfico.Comoobservado,asarmadilhasnãoseagruparampelas áreasdeestudo,mostrandoqueasborboletasnãoseguemumpadrãode distribuição, sendo as espécies encontradas em áreas com diferentes tiposdevegetação(estadosdeconservação).Algunspontosdediferen tesáreas,ouatédamesma,agruparamsedevidoàpresençadealgumas espécies exclusivas desses locais ou à composição de espécies desses pontosseremsemelhantes.OagrupamentoobservadodospontosPP1e PC5, com 80% de similaridade, foi devido à presença da espécie C. beltrao somentenestesdoispontos,sendoexclusivademataprimária. OspontosPP4eSP2tambémtiveramumaaltasimilaridade(80%)de vido à presença em comum das espécies D. creusa e M. epistrophus , alémde D. rusina ,encontradasomentenopontoPP4.OspontosSP5e CC1aparecempróximosnográficodevidoasomenteessesdoispontos decoletateremcapturadoaespécie M. helenor .OspontosPC3,PC4, SP3eSP4estãosobrepostosdevidoaofatodequenelesforamcoleta dossomenteindivíduosde M. epistrophus .Noagrupamentode60%de similaridade,ospontosPC1,SP1,SC5,SC4eSC2encontramsesobre postos,devidoàpresençaemcomumdasespécies M. epistrophus e O. sulcius .OspontosPP5ePC2obtiveram100%desimilaridade(sobre postos),porapresentaremamesmacomposiçãodeespécies( C. aconti- us , D. creusa , M. epistrophus e O. sulcius ).

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Figura5.EscalonamentoMultidimensional(NMDS)dasimilaridade(Sorensen) entreasborboletasfrugívorascoletadasporarmadilhaemcincoáreasdecoleta noParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC.Círculosazuisrepresentamsimi laridadede80%eosverdesde60%. Paraobservaroagrupamentodospontostambémemrelaçãoàabun dânciadasespéciesdeborboletas,foirealizadaumasegundaanálisede ordenação, desta vez utilizandose a similaridade de BrayCurtis que levaemcontaaabundânciadecadaespécie,erepresentadagraficamen teporumEscalonamentoMultidimensional(NMDS)(Figura6).

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Figura6.AnálisedeordenaçãoatravésdométododeEscalonamentoMultidi mensional(NMDS)dasimilaridade(BrayCurtis)dasborboletasfrugívorasem cadaarmadilhanascincoáreasdecoletanoparqueEstadualdaSerradoTabu leiro,SC.Círculosazuisrepresentamsimilaridadede80%eosverdesde60%.

Mesmoquandolevadaemcontaaabundânciadosindivíduos,nãose observaumagrupamentodefinidodasáreas,nemdaspaisagens(primá rias e secundárias), devido possivelmente ao baixo número de indiví duoscoletadosdecadaespécie.Observasequetodasasarmadilhasda áreaCapoeirinhaestãoagrupadascom60%desimilaridade,bemcomo asarmadilhasdaáreaPrimáriadaCascataeasarmadilhasdaáreaSe cundáriadaCascata,quetambémsedividememdoisgruposcomsimi laridadede80%.Todasasarmadilhasobtiverampelomenosumindiví duode M. epistrophus .Aespécie O. sulcius contribuiuparaasimilari dade entre os pontos das áreas localizadas no maior agrupamento. As armadilhas que capturaram as espécies de D. creusa também ficaram próximasnoagrupamento,assimcomoasarmadilhascomaespécie C. acontius ,comexceçãodopontoSP5,queobteve,alémde M. epistro- phus , um indivíduo de M. helenor , só encontrado também no ponto CC1. OresultadodotestedeValorIndicadorIndividual(IndVal),quetes touaespecificidadedeumadeterminadaespécieparaumtipodehábi tat,medidaatravésdesuaporcentagemdeocorrência,mostrouqueso mente duas espécies tem significativa preferência por ambientes. A

6262 espécie D. creusa éindicadoradeáreaemmelhorestadodeconservação (44%),enquantoqueaespécie O. sulcius éindicadoradeáreadecon servaçãointermediária(42,1%).Elasforamaterceiraeaquartaespécies emnúmerodeindivíduos,respectivamente,sendoaprimeiraencontrada principalmentenaáreaPrimáriadaPousada(Figura7)e O. sulcius nas áreasSecundáriaseCapoeirinha(Figura8).

Figura7.EscalonamentoMultidimensional(NMDS)mostrandoasimilaridade de BrayCurtis entre os pontos de coleta. As circunferências representam a abundância de D. creusa em cada ponto de amostragem, círculos maiores: 2 indivíduos,círculosmenores:1indivíduo.

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Figura8.EscalonamentoMultidimensional(NMDS)mostrandoasimilaridade de BrayCurtis entre os pontos de coleta. As circunferências representam a abundânciade O. sulcius emcadapontodeamostragem:asmaiorescircunfe rências representam uma abundância de seis indivíduos, seguidas de quatro, três,doiseasmenorescomumindivíduo. ParaaanálisedavegetaçãofoirealizadaumaAnálisedeComponen tesPrincipais(PCA),paraordenarospontosdecoletadeacordocomas característicasambientaiscalculadasapartirdasvariáveismedidas(Ta bela3eFigura9).Ocomponente1(PC1)explicou31,2%davariação dosdadosefoifortementeinfluenciadopelodiâmetrodacopadasárvo resealturadasárvores,alémdaáreabasaldasárvoreseporcentagemde coberturadodossel(Tabela3).Portanto,esteeixoestariarepresentando abiomassadasárvores.Ocomponente2(PC2)explicousomente19,5% davariaçãodosdadosefoiinfluenciadopelodiâmetrodacopadosar bustos,alturaeáreabasaldosarbustos,representandoabiomassados arbustos.

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Tabela3.ResultadodaAnálisedeComponentesPrincipaisparaoscomponen tes1e2,destacandoseasvariáveisambientaisquetiverammaiorinfluênciaem cadavetor Variável PC1 PC2 Distânciaàárvore 0,287 0,211 Áreabasaldaárvore 0,351 0,018 Alturadaárvore 0,408 0,183 Diâmetrodacopadaárvore 0,449 0,164 Distânciaaoarbusto 0,022 0,064 Áreabasaldoarbusto 0,217 0,449 Alturadoarbusto 0,120 0,481 Diâmetrodacopadoarbusto 0,101 0,551 Alturadaserapilheira 0,273 0,042 Coberturadeáreaverde 0,165 0,279 Coberturadeserapilheira 0,256 0,056 Soloexposto 0,261 0,064 Coberturadodossel 0,344 0,260

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Figura 9. Análise de Componentes Principais (PCA) das variáveis ambientais nos25pontosdecoleta,noParqueEstadualdaSerradoTabuleiro,SC. Como observado no gráfico do PCA, observando apenas o compo nente1,ospontosqueobtiverammaiorbiomassaarbóreaforamosda áreaPrimáriadaCascata(triângulorosa)ePrimáriadaPousada(triân gulo verde), podendo então ser considerados pontos de floresta mais conservada.OspontosdasáreasSecundáriadaPousada(quadradoazul escuro),SecundáriadaCascata(quadradoazulclaro)emaisaCapoeiri nha(círculovermelho)obtiverammenorbiomassaarbórea,podendoser consideradospontosdeflorestaemmenorestadodeconservaçãoouem estágiosiniciaisdesucessão.Asáreasamostradasformamumgradiente emrelaçãoàbiomassaarbórea,comaltaheterogeneidadeentreasarma dilhasdentrodecadaárea. AtravésdaAnálisedeCorrespondênciaCanônica,testousearelação entreasvariáveisambientaiseacomunidadedeborboletasdoParque (Figura 10). O teste de Monte Carlo para a significância do primeiro eixo canônico obteve um valor que não foi significativo (F= 1,57; p= 0,30), indicando que as borboletas, talvez devido ao baixo número de indivíduosamostrados,nãotiveramumpadrãodedistribuiçãoinfluen ciadopelasvariáveisambientais.

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Foipossívelobservarqueaespécie M. epistrophus nãosofreuinflu ência de nenhuma variável ambiental, sendo encontrada em todas as áreas, nos diferentes graus de conservação. P. ocirrhoe e O. quiteria foramencontradasnomesmoponto,naCapoeirinha,sendoinfluencia daspelaporcentagemdesoloexposto,bastantealtanessaárea.Aespé cie P. grymon e,emalgumamedida D. creusa ,sofreramainfluênciadas variáveisrelacionadasàvegetaçãoarbórea,distânciadoarbusto,altura daserapilheiraecoberturadodossel,variáveiscomgrandesvaloresnas áreascomaltograudeconservação,ondeforamencontradasessasespé cies. F. ryphea e C. acontius tiveraminfluêncianegativadessasvariá veiseforamencontradasprincipalmenteemáreascomgraudeconser vaçãointermediáriaoubaixo(áreasSecundáriaseCapoeirinha).

Figura10.AnálisedeCorrespondênciaCanônica(CCA)entreas13variáveis ambientaiseacomunidadedeborboletasnos25pontosdecoleta,noParque EstadualdaSerradoTabuleiro,SC.Variáveis: Av Dist Distânciaàárvore; Av AB Áreabasaldaárvore; Av Alt Alturadaárvore; Av Dia Diâmetrodacopa daárvore; Ab Dist Distânciaaoarbusto; Ab AB Áreabasaldoarbusto; Ab Alt Alturadoarbusto; Ab Dia Diâmetrodacopadoarbusto; Ser alt Alturada serapilheira; CV Coberturadeáreaverde; CS CoberturadeSerapilheira; SE Soloexposto; Dos Coberturadodossel

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DISCUSSÃO

As borboletas frugívoras são consideradas em muitos estudos como indicadoresecológicos,porresponderemamudançasnoestadodohabi tat,ecomoindicadoresdebiodiversidade,porestaremrelacionadascom ariquezatotaldeespéciesdeumlugar(UeharaPrado et al .2005,Bar lowet al .2007a,UeharaPrado et al .2009). Neste trabalho, os resultados das análises de ordenação mostraram queasborboletasnoParqueEstadualdaSerradoTabuleironãoestão distribuídashomogeneamentenasdiversasáreasdeamostragemsegun dootipodehabitat,semaisoumenosconservado,existindoespécies queforamencontradasemdiversasáreas,mostrandoquenãoexisteum padrão de distribuição das espécies dentro da área estudada. Algumas espéciesforamexclusivasdeáreascomaltograudeperturbação,caso da área Capoeirinha, como indivíduos de C. martia , A. demophon , P. ocirrhoe , O. quiteria e F. ryphea;edeáreasemmelhorestadodecon servação,como D. rusina e P. grimon .Apesardeessasespéciesserem encontradas somente nessas áreas, foram espécies raras na amostra, singletons , impossibilitando o estabelecimento de um padrão na sua distribuiçãoespacial.AáreadeCapoeirinhaéumaáreacomquantidade razoáveldearbustoseárvoresdemenorporte,acolhendobemespécies deáreasmaisabertas,presentesembordasdemataeclareiras,queso madasàsespéciesdematasemmuitaexigênciaemrelaçãoaáreassom breadas, contribuem para uma maior riqueza de espécies nesse local, como encontrado nesteestudo (ver DeVries et al . 1997, Ramos 2000, UeharaPradoet al .2007). Algunsestudosmostramqueariquezadeespéciesfrugívorasémaior emambientescommaiorperturbação(Ramos2000,UeharaPrado et al . 2009),oquefoiencontradonesteestudo,enquantooutrosmostramquea riquezaémenornessesambientesemaioremambientesmaisconserva dos(DeVrieset al .1997,Barlow et al .2007b).Ofatoéqueascomuni dadesdeborboletassãomuitovariáveisentrelocaiseentreanos,esão bastante afetadas a curtoprazo por diferenças nas condições ambien tais/temporais(Fleishman&Murphy2009,Bonebracket al .2010). Borboletassaemembuscadeplantashospedeiras,recursosalimenta resparaosadultos,locaisdeacasalamentoedepernoite,alcançandoo queéreconhecidocomohabitatfuncional(Marín et al .2009).Porisso, éimportanteestabelecerrelaçõesentreacomunidadedeborboletasea estrutura da vegetação, já que ambas estão intimamente relacionadas. No estudo de Barlow e colaboradores (2007b), realizado na Floresta Amazônica, a abertura do dossel foi o maior previsor da estrutura da

6868 comunidadedeborboletas,eaáreabasalestevefortementecorrelacio nadacomamaioriadassubfamíliasdeborboletas.NoestudodeRamos (2000),tambémnaAmazônia,acomposiçãoestevefortementecorrela cionadacomodiâmetrodotroncodasárvores.Nesteestudo,algumas espécies foram mais influenciadas pelas variáveis relacionadas à bio massadeárvores,comoáreabasal,altura,diâmetrodacopa,epelaco bertura do dossel, enquanto outras pelo diâmetro da copa e altura dos arbustos.Soloexposto,queteveseusmaioresvaloresnaáreadeCapo eirinha,tambéminfluenciounadistribuiçãodealgumasespécies. Devesetercuidadoaoestabeleceralgumaespéciecomosendoindi cadora.Aespéciedeveterrelaçãocomoambiente,fornecendoinforma çõessobreseuestadoousobreoutrosgrupostaxonômicos.Asespécies de borboletas frugívoras do PEST respondem cada qual de maneira distintaàsperturbaçõesdoambiente,podendoserfavorecidaspelade gradação ou serem influenciadas negativamente por ela, mas não se encontraumpadrãodacomunidadecomoumtodo,comovistotambém emUeharaPrado et al .(2007),ondeespéciesdomesmogêneroobtive ram padrões diferentes na distribuição entre floresta e fragmentos de mata.Asespécies D. creusa e O. sulcius foramestabelecidascomopos síveisindicadoras,atravésdaanáliseIndVal.Aprimeiraseriapreditora deáreasconservadaseasegunda,deáreascomgrauintermediáriode conservação.Sendoassim,sugeresequeasespéciestidasnesseestudo como indicadoras, sejam consideradas indicadoras ambientais, do tipo exploradores,comsuapresençaindicandoprobabilidadedeperturbação oupoluição,oumesmodetectores,quemostramrespostasmensuráveis àsmudançasambientais(McGeoch1998). Sãonecessáriosmaisestudosparaentendermelhorqualarelaçãodas espéciespresentesnoPESTcomoambiente,paraentãoconfirmarseu usocomoindicadoras.Asinformaçõesadquiridassobreaestruturada comunidadeedistribuiçãodasespéciesnosdiversosambientesconfir mam a importância da manutenção das áreas protegidas e fornecem subsídiosparaaconservaçãodadiversidadenaregião.

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CONCLUSÕES GERAIS

Comestetrabalho,aumentouseoconhecimentosobreasborboletas frugívoras que habitam áreas de Mata Atlântica para o sul do Brasil, bastanteescassoparaaregião.Estefoioprimeirotrabalhocomborbole tas frugívoras realizado no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PEST),quejuntamentecomostrabalhosjárealizadoscommamíferos, aves,anfíbioseoutrosgrupos,vêmfornecerumaporteparaprojetosde conservação nesta importante área de preservação do estado de Santa Catarina. AcomposiçãodacomunidadedeborboletasfrugívorasdoPESTapre sentoulevesdiferençasduranteasquatroamostragensaolongodoano. Algumasespéciesforamregistradassomentenumperíododoano,por exemplo,Morpho epistrophus,quefoiencontradaemgrandeabundân ciasomentenosmesesdetemperaturasmaiselevadas(verãoeiníciodo outono). Estudos sobre variação temporal realizados em pouco tempo nãomostramresultadosfidedignos,edevidoaobaixonúmerodeindiví duos coletados neste estudo, não foi possível chegar a uma conclusão sobreadistribuiçãosazonaldasespéciesnoPEST. EmrelaçãoadistribuiçãoespacialdasborboletasfrugívorasnoPar que,nãofoiobservadoumpadrãodedistribuiçãodeacordocomotipo devegetaçãoeseugraudeconservação.Algumasespéciesforammais restritasadeterminadasáreas,como Dasyophthalma creusa ,encontrada em maior abundância em áreas de vegetação melhor conservada ou Catonephele acontius ,emáreasemmenorestadodeconservação.Ou tras foram exclusivas das áreas consideradas de florestas primárias, como Caligo beltrao ,massuabaixaabundâncianãopermitiuafirmara fidelidade dessa espécieaohabitat. Quando analisadasas variáveis da estruturadavegetação,asáreasapresentaramseemumgradiente,sendo estemotivo,alémdabaixaabundância,oquelevouanãoseobservar umpadrãodedistribuiçãoespacialdacomunidadeporáreae/oupaisa gem. As informações adquiridas nos trabalhos de distribuição temporal e espacial realizados, como as espécies existentes e sua distribuição ao longodoanoepelosambientes,confirmamaimportânciadamanuten çãodeáreasdeproteçãoefornecemumaporteparaoconhecimentoea conservaçãodadiversidadenaregião.

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