Telejornalismo No Brasil
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Telejornalismo no Brasil Jaciara Novaes Mello Faculdade Santa Amélia SECAL Índice dades do público-alvo. Em tempos de glob- alização, como destaca Ramonet (1999, p. 1. Os Telejornais Brasileiros através dos 26) a televisão assume o poder, não apenas Tempos3 como a primeira mídia de lazer e de diver- 2. Referências Bibliográficas 10 são, mas também, agora, a primeira mídia da informação. Considerando que a televisão é que dita a norma e obriga os outros meios, Os anos da década de 1950 surgem como em particular a imprensa escrita, a segui-la, uma virada na história da comunicação com Ramonet registra que: a chegada da televisão no Brasil. Nesse con- texto, a história do jornalismo brasileiro se Se a televisão assim se impôs, foi não só confunde com a da TV que começou suas porque ela apresenta um espetáculo, mas transmissões em 18 de setembro de 1950. também porque ela se tornou um meio de Naquela época, o dinamismo do jornalista informação mais rápido do que os outros, Assis Chateaubriand dá um novo símbolo tecnologicamente apta, desde o fim dos para o país com a inauguração da PRF-3/TV anos 80, pelo sinal de satélites, a transmi- Tupi, Canal 3 de São Paulo, canal que trans- tir imagens instantaneamente, à veloci- mitia para pouco mais de 100 televisores na dade da luz Tomando a dianteira na hi- cidade de São Paulo. erarquia da mídia, a televisão impõe aos No dia seguinte ao da inauguração, 19 outros meios de informação suas próprias de setembro de 1950, a TV Tupi trans- perversões, em primeiro lugar com seu mite o primeiro telejornal do Brasil “Ima- fascínio pela imagem. E com esta idéia gens do Dia” que mostrava imagens bru- básica: só o visível merece informação; o tas (sem edição) dos acontecimentos daquele que não é visível e não tem imagem não dia. Com comando de Maurício Loureiro é televisável, portanto não existe midiati- Gama, o telejornal durava o tempo que fosse camente. (1999, p. 26-27) necessário pra a transmissão de todos os fatos e imagens. Para estar sempre na frente e a acompan- Daquela data até hoje, o telejornalismo foi har de perto os acontecimentos de impacto conquistando o público brasileiro e se ad- nas sociedades, os telejornais mudaram e equando às novas tecnologias e às necessi- exigiram das emissoras o investimento em 2 Jaciara Novaes Mello equipamentos de última geração e a con- séptico, onde os mitos da imparcialidade e tratação de profissionais qualificados. Na ve- da objetividade são defendidos como ver- locidade das mudanças na história e na tec- dades inabaláveis até hoje. Registrando que nologia, os profissionais do telejornalismo o Brasil é um país onde há sérios problemas precisam caminhar rápido para não perder de de desigualdades sociais, Piccinin (2008) vista as novas tendências dos meios de co- assinala que o consumo e a referenciação aos municação de massa. Hoje, para cobrir os mídia se torna ainda mais evidente, princi- acontecimentos locais, estaduais, nacionais palmente a televisão. e internacionais, os telejornais vão à beira Por isso, observa Piccinin, a TV é o cen- de seus limites e, a partir de formados par- tro de excelência – “está na sala e no lugar ticulares, que seguem as exigências de cada mais privilegiado da estante”. No registro emissora, tentam levar o mais rápido e com da sedução da televisão, o texto de Piccinin a qualidade exigida o acontecimento para o aponta que o Brasil conta com 53 milhões seu público-alvo. de aparelhos de televisão, segundo dados de No início de sua história, a linguagem do 1999, o que representa uma média de um telejornal era mais próxima à do rádio. As aparelho para cada três pessoas. Nessa força, frases eram longas e traziam muitos detalhes há um variado painel de atrações que pas- sobre os assuntos enfocados. Na transmissão sam por programas de auditório, filmes, te- da notícia, o locutor passava os acontecimen- lenovelas e o telejornal. Para Piccinin, o tele- tos como eles ocorriam e dava ao conteúdo jornal tem um grande poder de penetração e todos os detalhes e adjetivos possíveis. Por referenciação para os seus usuários. Ela diz esse quadro, o programa de maior sucesso da que “é especialmente através dessa institu- década de 1950 o “ Repórter Esso” se trans- ição telejornal, que se apresenta como porta- formou num grande sucesso na TV. O ícone voz dos acontecimentos no país e no mundo, do rádio foi transmitido pela primeira vez na que muitos brasileiros pensam tomar conta TV, em 1º de abril de 1952, apresentando 33 dos principais fatos e notícias que se suce- minutos de duração. Com a frase “Aqui fala dem no dia”. o seu Repórter Esso – testemunha ocular da Nesse envolvimento com o telejornal, o história”, o gaúcho Gontijo Teodoro coman- brasileiro e, grande parte dos telespectadores dava o programa. Ao longo de 18 anos, essa do mundo, traz em sua apreciação o jornal- chamada colocava os brasileiros na frente da ismo “tomado pela cartilha americana, que TV. trabalha sempre em defesa da objetividade e Tratando das origens históricas do telejor- da imparcialidade” (PICCININ, 2008). Isso nalismo, Piccinin (2008) aponta que nessa porque a televisão brasileira e de muitos out- trajetória há dois caminhos distintos entre a ros países do globo tem produção jornalís- Europa e os Estados Unidos. Ela explica tica inspirada na televisão americana. Para que esses caminhos nasceram de modelos exemplificar, Piccinin (2008) fala do “Jor- de televisão diferentes, observando que en- nal Nacional” que é um marco no contexto quanto a Europa praticava o jornalismo en- brasileiro. Citando Mattos, 2000, p. 126, a gajado, partidário, analítico, os americanos autora comenta que: criavam a escola do jornalismo “clean”, as- www.bocc.ubi.pt Telejornalismo no Brasil 3 Desde seu advento, na década de 50, a ais da área do jornalismo abandonassem televisão brasileira tem sofrido a influên- a carreira para sobreviver à censura e às cia americana, tanto na estrutura comer- punições. cial como na produção importada dos Es- Com a decadência da Ditadura Militar, tados Unidos não apenas programas, mas a partir de 1983, a TV foi ganhando cada idéias, temas, roteiros e técnicas admin- vez mais espaço e se consolidando como istrativas. o veículo de comunicação com forte apelo junto ao público. O estilo do telejornal se Qual é o traço característico do Jornal Na- aproximava cada vez mais do modelo amer- cional? A resposta segue a história do tele- icano. Era uma bancada de apresentadores jornal que surgiu como um programa de in- que iam “chamando” as reportagens simul- tegração nacional, transmitindo o seu sinal taneamente. A maioria dos primeiros apre- do telejornal, pela primeira vez, de norte ao sentadores de telejornais veio do rádio para sul do país. Como no decorrer da ditadura se consagrar junto ao público telespecta- militar (1964-1985), houve grandes investi- dor. A chegada do videotape (equipamento mentos tecnológicos na área, a exemplo do que gravava imagens que seriam transmi- pioneiro sistema de transmissão de satélite tidas posteriormente em fitas VHS) permi- e microondas da Embratel (Piccinin, 2008), tiu que as emissoras colocassem dinamismo o Jornal Nacional teve impulso com o pa- em seus telejornais que chegavam ao público trocínio do governo militar. Assinalando com linhas mais interessantes e completas. que o modelo do telejornalismo brasileiro Na medida em que os avanços tecnológi- se traduz na produção do jornalismo “clean” cos eram introduzidos nas emissoras, os americano, Piccinin aponta que, a exemplo telejornais ganhavam mais atrativos para do Jornal Nacional, todos os outros elejor- conquistar a audiência e a fidelidade dos nais da Rede Globo têm o comprometimento telespectadores. A chegada da internet, com a cartilha americana. por exemplo, na década de 1990, permitiu Portanto, na época da Ditadura Militar, que os programas telejornalísticos disponibi- nos anos 1960, pouco tempo depois de ter lizassem, ao poucos, o conteúdo diário dos nascido o telejornalismo do Brasil, havia a telejornais em suas páginas na rede. Essa necessidade do cuidado no uso das palavras, ação contribuiu para o aumento do fluxo de uma vez que as questões políticas poderiam informações entre o público. influenciar positiva ou negativamente para os telejornais e suas emissoras. Quando alguém se atrevia a ultrapassar a linha da ditadura, 1. Os Telejornais Brasileiros apresentando notícias “inconvenientes”, es- através dos Tempos tava sujeito ao risco de perder o direito de Na trajetória do jornalismo brasileiro, transmissão de telejornais. Eram tempos torna-se necessário citar o “Telenotícias difíceis, quando os repórteres eram punidos Panair”, que surgiu em janeiro de 1952, na duramente sempre que ultrapassavam o lim- emissora Tupi de São Paulo. Produzido pela ite do “poder” e incomodavam os militares. equipe de jornalismo da emissora, o jornal ia A repressão fez com que muitos profission- www.bocc.ubi.pt 4 Jaciara Novaes Mello ao ar todos os dias, às 21 horas. Mas, como orais e passaram a ter mais ilustrações. Esta registrado em momento anterior, o “Repórter possibilidade aumentou o ‘poder de sedução’ Esso”, que foi considerado o marco do tele- dos noticiários sobre o telespectador. jornal na história da televisão brasileira, en- As emissoras brasileiras intensificaram a traria no ar mais tarde, primeiramente, com presença dos telejornais em sua grade de pro- transmissão da Tupi do Rio de Janeiro, ap- gramação somente na década de 1960. Na resentado por Gontijo Teodoro e depois, em época, mais avanços tecnológicos entravam 1953, passa a ser transmitido pela Tupi de nas emissoras e o país inaugurava a sua nova São Paulo. capital, Brasília. No âmbito dessa mudança, Por 18 anos, ‘O Repórter Esso’ foi refer- entra o “Jornal de Vanguarda” pela TV Ex- ência para os telejornais implantados em out- celsior.