JORNAL DA UBE O ESCRITOR dá exemplo de simplicidade durante homenagem Escritora paulista encantou platéia de I Prêmio de Literatura Lygia Fagundes T elles mais de 1.000 pessoas na Sala São Paulo O concurso será realizado de dois em dois anos e dele podem participar professores e educadores do Ensino Fundamental e Médio da rede estadual de ensino. As obras Tatiana Pinheiro saltou a obrigação que o Estado de São devem ser inéditas e concorrerão nos gêneros poesia, conto e ensaio. Paulo tem de homenagear a mais impor- O prazo para inscrições e entrega dos trabalhos vai de 17 de novembro a 12 de tante e representativa escritora paulista. dezembro, podendo ser feitas pessoalmente ou pelo correio, no Centro de Referência “Lygia já dizia que é melhor construir es- em Educação Mário Covas, avenida Rio Branco, 1.260, Campos Elíseos – São Paulo /SP O protocolo ficou de lado enquanto Lygia colas do que prisões”, enfatizou. CEP: 01206-001. Valerão apenas carimbos de postagem até a data-limite de Fagundes Telles confessava-se emocionada Alunos da rede estadual também partici- cadastramento. Cada professor concorre com apenas um trabalho. A ficha de inscrição e ‘travada’ diante de homenagem tão gran- param da festa: entregaram presentes e e o regulamento já estão no site do Centro de Referência (www.crmariocovas.sp.gov.br). diosa promovida pela Secretaria de Estado apresentaram número de dança e poesia. O da Educação na Sala São Paulo. Com sim- estudante Diego Gervaes, da Escola Esta- Critérios por categoria plicidade e espontaneidade, a escritora dual Professor Milton Cruzeiro, declamou agradeceu os elogios dos amigos e autori- com emoção e segurança “Procura da Poe- Poesia: tema livre, tamanho máximo de 64 versos. dades presentes, além de brincar com a sia”, de Carlos Drummond de Andrade. A Conto: tema livre, a narrativa ficcional deve concentrar a ação num único ponto de própria genialidade de escritora de longa Escola Estadual Zuleika de Barros marcou interesse, tamanho máximo de 14 mil caracteres (ou 10 laudas, cada lauda com 20 data: “Se eu não sou boa na verdade, vou presença com a participação de duas alu- linhas de 70 toques). ficar boa depois dessa homenagem”. nas e uma ex-aluna na apresentação do tre- Ensaio: estudo sobre a obra (ou um livro) de Lygia Fagundes Telles, de forma menos aprofundada que uma tese ou dissertação. Tamanho máximo é de 28 mil caracteres (ou A noite da segunda-feira, 29 de setem- cho final do balé “As Meninas”, inspirado na obra homônima de Lygia Fagundes Telles, 20 laudas, cada lauda com 20 linhas de 70 toques). bro, reservou outras surpresas. Depois da Os originais devem ser digitados em fonte Verdana, tamanho 11, com espaço 1,5 que completa 30 anos em 2003. abertura feita pela Sinfonia Cultura, orques- entre linhas. As páginas e o cabeçalho devem ser numeradas, contendo gênero da obra, tra da TV e Rádio Cultura, e da execução do O filme inspirado na mesma obra, rodado título e pseudônimo do autor. Hino Nacional, surgiu no telão um vídeo com em 1995 e dirigido por Emiliano Ribeiro, O professor(a) deve, ainda, en- os amigos Paulo Bonfim, Inácio de Loyola fez parte da homenagem em forma de triller. viar em envelope grande três Brandão, Mário Chamie, Carlos Augusto Calil, O filme “As Meninas” teve como uma de cópias do trabalho, feitas em Rodolfo Konder, entre outros, contando um suas produtoras associadas a própria Lygia. papel sulfite A4, com impres- pouco da história de vida da escritora, de A escritora afirmou não ser original ao são em um só lado da folha. Em seu trabalho e seu jeito de ser. dizer que as três coisas mais importantes um envelope menor vai um disquete, devidamente Mas a Miguel Reale, jurista e membro da na vida são a verdade, a bondade e a bele- za. Lembrou-se de um tio “loucão” que di- etiquetado e identificado com Academia Paulista de Letras, e a Nélida o gênero da obra, o título e o zia: “Ser original é andar com um pé para a Piñon, da Academia Brasileira de Letras, pseudônimo do autor, e conten- coube subir ao palco e falar pessoalmente frente e outro para trás”. Sabendo a origi- do o trabalho em Word, na mes- à escritora. nalidade algo impossível, Lygia completa: ma formatação indicada acima “Há alguns juristas que não são juristas. “Eu aprendi que não vou atrás dessa origi- para a versão impressa. Qualquer Preferem ser ficcionistas e contistas, a nalidade falsa, dos modismos. Vou sim bus- descuido pode acarretar desclas- exemplo de e Haroldo de Cam- car nossas raízes, nossa música, dança, te- sificação. pos.” Foi assim que o professor Reale, lem- atro e cinema”. Os cinco primeiros classifica- brou da formação jurídica de Lygia, nos Na ocasião, foi lançado o I Prêmio de dos em cada categoria levarão tempos da Faculdade de Direito do Largo Literatura Lygia Fagundes Telles – Con- prêmio em dinheiro: 1.º lugar - R$ 5.000,00; do 2.º ao 5.º lu- São Francisco, e enalteceu sua vocação para curso Professor Escritor como forma de reconhecimento amplo e perene da gar - R$ 2.500,00. Todos terão lidar poeticamente com as palavras. seus trabalhos publicados em Nélida Piñon falou da sensibilidade lite- representatividade da obra e genialidade uma coletânea editada pela Se- rária de Lygia: “Ela é capaz de captar a da autora. É também uma oportunidade cretaria, ganharão 20 exempla- complexidade da natureza humana e de res- para que os educadores da rede estadual res do livro e um diploma gatar nossas misérias com grande elegân- de ensino escrevam e mostrem seu talen- honorífico. cia moral”, afirmou a amiga de mais de 30 to. E, ao escrever, se inspirem na sabe- Os resultados serão divulga- anos e primeira presidente de uma Acade- doria de Lygia: “Não tenho o poder de dos em abril de 2004, e no final mia de Letras no Brasil e no mundo. curar as chagas, mas tenho, isso sim, o do mesmo mês os vencedores O secretário da Educação do Estado de poder de denunciá-las. Esse é o poder do serão premiados em cerimô- nia.& São Paulo, professor Gabriel Chalita, res- escritor”.& Escritores comentam o Encontro de Dois Cór regos “Impressão marcante, dentre as demais Academia Alagoana de Letras e cuja obra a essa situação será minha busca. bém roteirista de Brasília. Ela observou com resultantes dos depoimentos de poetas e poética, sobretudo Invenção de Orfeu, ad- Tudo o que vi e ouvi no encontro de Dois muita propriedade e sapiência a situação prosadores no recente 2° Encontro Estadu- quiriu reconhecimento internacional, e o Córregos reforçou essa tese. Palestrantes, de retorno às imagens, aos hieroglifos como al de Escritores, em Dois Córregos, destaco italiano Cesare Pavese. Desse autor, o cine- cada um com seus idiomas, acabaram por uma forma de compreensão das necessida- a provocada na platéia pela conferência do asta citou especificamente o livro O Ofício transmitir as mesmas intenções, ideais. O des de busca de caminhos, uma vez que a cineasta Carlos Reichembach, que dirigiu de Viver, lastimando que trabalho dessa desejo de todos é buscar um caminho, uma velocidade de raciocínio, principalmente dos filme com título homônimo ao daquela ci- magnitude, um documento humano dos forma de levar a poesia para todos os can- jovens em função das alternativas de co- dade do interior paulista. Na conferência maiores do século passado, não seja am- tos, criando acessos, mostrando rumos. Já municação (hoje os jovens são interativos, em que elegeu como tema a análise do fil- plamente conhecido. há estudos dentro da UBE sobre um mutirão lêem um livro do meio pro fim, do fim pro me Alma Corsária, também de sua direção, O Diário de Pavese, escrito no período de para levar a poesia ao interior. Pretendo começo sem problemas) passa a ser uma ele estabeleceu a relação entre a arte do 1935 a 1950, e só encontrado depois do me aproximar e assim poder contribuir. imposição; exigência do mundo contempo- cinema e a arte literária. suicídio do autor, ocorrido em 1952, veio Quanto ao evento, posso garantir que râneo. Isso vem de encontro ao que faço, Contudo, mais do que acentuar essa re- a ser publicado no Brasil apenas em 1988, deveu-se em grande parte à simpatia, ca- que é o exercício da linguagem poética que lação, o cineasta refletiu sobre a vida - a pela Bertrand Brasil, numa tradução de pacidade e avidez do Cláudio Wilier que num chamamos de poetrix. sua vida na dimensão da literatura. E la- Homero Freitas de Andrade. Reichenbach cargo político ainda consegue manter a luz Entusiasmei-me com a exposição de mentou a superficialidade com que uma mexeu com a platéia, em Dois Córregos, ao de um poeta envolvente; unidos a uma pro- Raimundo Gadelha sobre a linha editorial escola pública de comunicação, responsá- citar Jorge de Lima e Pavese como exem- gramação dinâmica e intensa. Um dos pon- da Editora Escrituras, pela criatividade, le- vel pela formação de jovens profissionais plos da boa literatura – uma arte sem a tos altos e que vieram justamente ao en- veza e principalmente a simpatia e a con- ω nas áreas do jornalismo e matérias afins, qual vida não teria horizontes.”& contro de princípios e reflexões foi a pa- cisão. . 7 trata os temas do gênero, não adotando Nildo Carlos Oliveira lestra O Estímulo à Leitura – O Autor como Um dos maiores presentes, foi a sutileza mecanismos eficientes de incentivo à lei- Leitor, onde os cinco palestrantes em bus- com que Carlos Reichenbach colocou sua tura entre os alunos. Daí sua crítica àque- “Um dos motivos que me levaram ao en- ca dos caminhos, acabaram por se própria vida na palma das mãos de cada par- les que não se empenham em conhecer a contro foi me aproximar da entidade, das posicionar (cada um de uma forma) e con- ticipante, dando respostas à perseguição dos literatura de autores comumente difundi- pessoas que a freqüentam, e o desejo de vergir numa mesma resposta sem se aper- paradoxos alinhavados em suas obras, - dos e, muito menos, a daqueles deixados à ajudar e ser ajudado em meus objetivos - ceberem disso; o que me levou à orgásmica zendo com que o entendessem e admiras- margem dos meios de divulgação. terários, que se resumem em criar e divul- posição que estou no caminho certo. sem muito mais. Eu mesmo não amaria Lorca Reichenbach confessou que dois autores gar a poesia, pois os deuses já Todos andaram pelo mesma trilha com se não conhecesse sua vida, a dedicação pela influenciaram fortemente a sua trajetória confidenciaram que o único alimento ver- idiomas diferentes, mas darei destaque ao arte, o auxilio aos novos escritores, o 105 - Outubro/2003 Pág o &

N intelectual: Jorge de Lima, que em 1919 dadeiro para a alma é a poesia na forma de mais elucidativo, a palestra envolvente de voluntariado e sua forma de vida.” fundou, com um grupo de intelectuais, a todas as artes, e qualquer caminho que leve Maria Maia, antropóloga, socióloga e tam- Beto Quelhas ω

O ESCRITOR LEITURA COMO HÁBITO JORNAL DA UBE Para um Brasil de 170 milhões de pessoas, 2008 livrarias e muitas cidades sem nenhuma. O preço de um livro é o mesmo de um cd, quem vende mais? O governo sabe ler? E a escola? Jéferson Assumção, Dalila Teles Veras e Silas Correia Leite retomam o tema da leitura (ou a falta de) para manter aceso o debate. Vale conferir. Oficina de leitura Leitura: o mais humano dos hábitos. () Jéferson Assumção uma livraria sequer. A Câmara Rio- tência de leitores em um país é: A escola esse conteúdo, ele pareceria não ter. Aí Grandense do Livro e o Clube dos Editores deve saber formar leitores. Como se sabe, está um primeiro contrapé em que se pode divulgaram há três meses que 75% das não bastassem as políticas econômicas pegar a escola, essa não-leitora. Se ela Segundo a Unesco, são necessários três cidades gaúchas não têm pontos de ven- excludentes, a história da educação no Bra- tivesse o hábito da leitura de literatura, fatores para que existam leitores em um da de livros. A situação é ainda pior em sil é também uma história de exclusão, de saberia que é na sua aparente inutilidade país. 1. O livro deve estar em um lugar estados do Norte e Centro-Oeste. Roraima, fortalecimento de uma elite que se bene- que a leitura é de fato útil, pois é nessa privilegiado no imaginário nacional. 2. É Tocantins e Amapá têm, cada um, apenas ficia do que de melhor há em termos de “inutilidade” que ela discursa contra um preciso que existam famílias de leitores. 3. duas livrarias em seus vastos territórios. ensino e de uma crescente mercantilização mundo prosaico e utilitarista. A escola deve saber formar leitores. Nem é Na Região Norte do Brasil, há apenas uma do saber. Segundo David Plank (em Políti- Atrapalhada, a escola coloca ao jovem preciso dizer muita coisa sobre o lugar do livraria para cada 215,3 mil habitantes. ca Educacional no Brasil: Caminhos para ou à criança não-leitora uma série de en- livro no imaginário do brasileiro. Quem o Sul e Sudeste estão um pouco melhores. Salvação Pública. Editora Artmed, 2001, tulhos, seja de forma concreta, através do ocupa é a onipresente (e agora até onis- Na Sudeste, a média é de uma livraria para Porto Alegre), desde o seu início, ainda livro paradidático (em que se “usa” uma ciente) televisão. Quanto à quase cada 64,2 mil pessoas, enquanto que, na no século 19, as políticas educacionais bra- história para passar algum conteúdo), da inexistência de famílias de leitores, isso Sul, a média é de uma livraria para cada sileiras, excetuando breves períodos, ain- utilização da literatura para “enriquecer o parece ser decorrência do fator número 1 56,7 mil habitantes. da no começo do século 20, não tiveram vocabulário” ou, o pior de tudo, da mais somado à própria história da educação no Certamente, a altíssima concentração de como fim o desenvolvimento de uma so- utilitária das relações: prepará-la para o Brasil. renda brasileira – uma das maiores do mun- ciedade menos desigual. Pelo contrário, sa- vestibular. Claro que, chata, pesada, a lei- Quem sabe um suposto afastamento dos do – impede as camadas mais pobres da lientaram as diferenças, promoveram a tura será uma aventura de poucos (e do- valores europeus, ao mesmo tempo que uma sociedade de terem acesso aos bens cul- nítida separação entre uma educação de lorosos) dias. E a vida “lá fora” – a que aproximação à cultura estadunidense, prag- turais, a livros, teatro, música e informa- elite e outra para os pobres. Com a entra- Platão diria que de fora não tem nada, mática, televisiva, de massa seja uma ex- ção que não venham diretamente da cul- da no século americano, o 20, essas polí- que é só o interior escuro da caverna – plicação para o fato de nossas famílias le- tura de massa, seguindo a fórmula da in- ticas educacionais, como se sabe, eram a está cheia de divertimentos garantidos com rem tão pouco? E olha que não em compa- dústria cultural: ou seja entretenimento mera tradução de determinações que os muito menos investimento. Se quer, de ração com os nossos colonizadores euro- barato, de baixa qualidade, para quase Estados Unidos colocaram em prática em fato, formar leitores, e não, no máximo, peus, mas até com famílias de países de todos. Tanto o fator número 1 (O livro deve todo o mundo pobre. Decorre daí a vestibulandos, a escola tem que, em pri- realidades bem próximas à nossa. Argenti- estar em um lugar privilegiado dentro do pragmatização do ensino, o tecnicismo, meiro lugar, saber o gosto que a leitura na, Uruguai e Chile, por exemplo, conso- imaginário nacional), quanto o número 2 direcionamento da educação para a for- tem. Até agora ela só mostra que não se mem, proporcionalmente, mais livros e jor- (É preciso haver famílias de leitores) pare- mação de mão-de-obra para o tipo de de- relaciona com os livros de forma diferente nais que os brasileiros. Uma comparação cem não ser assim tão fáceis de serem re- senvolvimento que o Império (Estados do que a sociedade pragmática e utilitá- com esses países pode ser útil para encon- solvidos, ainda mais quando se vive em Unidos e países ricos) necessitava. ria. E se ela quer ser um diferencial, se trar pistas sobre as origens da falta de lei- uma sociedade conservadora e O objetivo era formar peças para a má- acredita que seu trabalho tem alguma tura no Brasil, mais do que analogias com concentradora, que faz questão de man- quina capitalista ao invés de seres huma- especificidade na comparação com o mun- outras realidades ainda mais distantes tan- ter as coisas tais como estão. nos críticos. E quem é que pagou o pato? to geográfica quanto culturalmente da nos- O leitor, é claro. É ele o alvo do acordo sa. Tudo bem, esses três países têm um Mec-Usaid, da reforma do ensino de 1964 A leitura feita na escola é chata histórico bem diferente do Brasil em ter- O governo federal não e da Lei de Diretrizes e Bases de 1967. De porque é profissional, porque mos de colonização e educação. Em 1915, lá para cá, nunca mais teríamos leitores, continua sendo usada para de cada três argentinos, um tinha nascido sabe ler afinal aquelas reformas ainda não foram na Europa. Em Buenos Aires, um em cada de todo revertidas, nem mesmo pelos go- passar ideologias, conteúdos. dois. Diferentemente de quase todas as fa- vernos “democráticos”. A escola continua mílias no Brasil, esses imigrantes recebe- Para tentar melhorar as coisas, são cria- sem literatura estrangeira, sociologia e fi- ram terras ao chegar na América. Uma mai- dos, de tempos em tempos, programas de losofia no ensino médio, o que significa: do fora dela, tem que ser rebelde, revolu- or base patrimonial fez com que, logo em incentivo à leitura. Implementados pelo continua sem leitores. Fernando Henrique cionária também na sua visão da leitura. seguida, essas populações já estivessem exi- governo federal, eles, como se pode ver Cardoso vetou a volta das disciplinas hu- Não pode olhar para os livros da mesma gindo do Estado educação pública, o que em diversos dados, têm se mostrado um manas nos currículos. Flagrante contradi- forma que o mundo prosaico, lá fora. não aconteceu no Brasil. Desde os jesuí- flagrante desastre. São ineficazes na re- ção de um governo que afirma estar em- Um primeiro passo é desvincular a lei- tas, até agora, a história da educação no versão dos números desfavoráveis, embo- penhado em fazer do Brasil “um país de tura da educação, retirar o peso que o Brasil pode ser dividida entre educação para ra o Ministério da Cultura, a despeito de leitores”. a elite (de qualidade e cara) e educação todas as evidências, venha afirmando o ensino colocou e que transformou essa para os pobres (de baixa qualidade e não contrário. O problema é claro: essa tenta- aventura da leitura num passeio de ôni- para todos). tiva do governo federal, de reversão nos A escola não sabe ler bus forçado, dirigido não pelo leitor, mas Os resultados desse processo são enfá- baixos índices de leitura, fica impossibili- pelo professor-motorista. Os leitores não ticos: há um abismo entre o Brasil e nos- tada por suas próprias práticas nos planos lêem só para aprender. Em primeiro lugar, sos vizinhos tão parecidos em termos de político e econômico. Afinal, é um tanto Resulta de toda essa história uma esco- lêem para se comover, para rir, chorar, vi- (ou falta de) desenvolvimento econômi- difícil formar “um país de leitores” com la que é uma verdadeira “máquina de des- brar, sentir. É daí que vem o gosto, que co. Embora pobres como nós, nos anos 90, campanhas esporádicas, se ao mesmo tem- truir leitores”. E é aqui que está um outro nunca mais se abandona. Aprender algo, por exemplo, segundo o estudo do Depar- po se implementa uma política econômi- grande problema, talvez o maior, a ser en- ou não, é coisa secundária. tamento Intersindical de Economia e Es- ca que mantém sistematicamente eleva- frentado. Com o atual estágio de É preciso que a leitura leiga entre na tatísticas Sociais e econômicas (Dieese), das taxas de desemprego (do início da mercantilização e anestesia em que a so- escola, esse lugar sagrado demais. Precur- A Situação do Trabalho no Brasil (2002), década de 90 ao seu final, passamos de ciedade brasileira se encontra, parece ser sores do Renascimento, os goliardos (fi- o Chile baixou sua taxa de analfabetismo 10% de desempregados para mais de 20%) impossível colocar o livro em “um lugar lhos de Golias) eram grupos de estudan- de 5% para 4%, a Argentina, de 4% para de destaque no imaginário nacional”, as- tes que iam do interior dos países euro- 3%, e o Uruguai, de 3% para 2%. O Brasil, sim como não se pode fazer com que as peus para estudar nas universidades que no mesmo período, diminuiu seu número Desde o século 19, as políticas famílias se tornem famílias de leitores. Só ficavam nas capitais. Em sua época, sécu- de analfabetos de 19% para 15%! Claro educacionais brasileiras nos resta intervir na escola, espaço que lo 14 e 15, as universidades eram clérigas que esses índices e outros comparativos está mais perto dos verdadeiros interes- e esses leigos interioranos muitas vezes podem ajudar a explicar os vergonhosos salientaram as diferenças, sados em fazer do Brasil “um país de lei- tinham dificuldade em se adaptar à vida números brasileiros em se tratando de lei- promoveram a nítida separação tores”. São eles os educadores, escritores, religiosa. Para serem cultos, era preciso tura. Num recente levantamento, a Asso- leitores desinteressados, humanistas em ter fé. E isso não é para qualquer um. Por ciação Nacional de Livrarias afirma que entre uma educação de elite e geral que sabem: a escola atual é uma isso mesmo, alguns desses estudantes cada brasileiro lê, em média, dois livros outra para os pobres. máquina de destruir leitores porque “a abandonavam a faculdade no meio do ca- anualmente. Uruguaios, chilenos e argen- escola não sabe ler”. Por isso, quando vai minho para não perder a laicidade. Sem tinos lêem mais de quatro livros per capita/ formar leitores, toma caminhos tão tortu- profissão, muitos iam parar nas ruas, onde ano, conforme afirmou no ano passado o e baixíssimo poder econômico às cama- osos que acabam resultando mais no afas- viraram poetas boêmios – um deles era o ex-presidente da Câmara Rio-grandense do das mais pobres da população. tamento dos alunos dos livros do que no famoso poeta francês François Villon. Foi Livro, Paulo Flávio Ledur. Em países de- Outras contradições que claramente di- contrário. nas ruas das grandes cidades que ficou senvolvidos da Europa, no Canadá e nos ficultam esse objetivo é o direcionamento E quais são esses caminhos, ou melhor, borbulhando um tipo de relação com a Estados Unidos, a média é de 15 a 25 li- da política educacional para a privatização quais as engrenagens da máquina de des- leitura que não era clériga nem leiga, mas vros por ano. (que diminui o acesso de camadas mais truir leitores? Vamos a elas. A primeira é a uma mistura, um meio-termo. O Brasil Segundo o Anuário Editorial Brasileiro, pobres ao ensino) e a falta de mecanis- promoção de um recorte utilitarista e prag- nunca teve goliardos. A única leitura que ω do Grupo Editorial Cone Sul, o Brasil in- mos públicos que desmercantilizem a cul- mático, um tipo de leitura feita na sala de se faz aqui é a clériga, a escolada, a utili- . 8 teiro, onde vivem cerca de 170 milhões tura (ao contrário, tem havido uma con- aula que, decididamente, é um empecilho tária feita entre as quatro paredes escuras de pessoas, tem apenas 2008 livrarias, o centração de poder da indústria cultural). violento à formação de leitores. Esse re- da máquina. O resultado todos nós, infe- que dá, em média, um estabelecimento Esses são alguns de muitos outros elemen- corte dá um peso à leitura que ela, quan- lizmente, conhecemos. Sem atacar esse para cada 84,4 mil brasileiros! Uma única tos que, sem dúvida, têm relação direta do feita fora da escola, não tem. A leitura problema, um entre tantos outros, nós cidade européia, Paris, tem duas mil livra- com o preço do livro, o número de livrari- feita na escola é chata porque é profissio- nunca vamos conseguir fazer do Brasil um rias. A Argentina, antes da crise, tinha mais as, a incapacidade de as bibliotecas pú- nal, porque continua sendo usada para país de leitores.& de 950 livrarias (para uma população de blicas se equiparem, os professores de tra- passar ideologias, conteúdos etc. Não se 37 milhões de habitantes). Em dois anos, balharem melhor e os escritores de terem lê na escola com o fim único e exclusivo uma melhor “competitividade” em um de formar leitores, e sim para passar por- JÉFERSON ASSUMÇÃO é escritor, autor a crise fez fechar 250 desses estabeleci- 105 - Outubro/2003 Pág mercado marcado pelo fordismo cultural. tuguês, história, geografia. Assim, dá-se de diversos livros, entre eles Máquina de o mentos. No Brasil, muitas cidades, inclu- N sive no Rio Grande do Sul, não possuem O terceiro fator necessário para a exis- uma “utilidade” a esse hábito que, sem Destruir Leitores (Sulina). ω

JORNAL DA UBE LEITURA COMO HÁBITO O ESCRITOR Imprensa e cultura Silas Correa Leite mórias, um e outro site ocasionalmente afim mão decadente, e, fica-nos a impressão de que eles antes agradeciam formalmente e citado de passagem, croniquetas semanais que eles revezam esses nomes achados nos diziam que já tinham muitos trabalhos – e fim, babau, acabou o antigo grande con- baús da história, mais um repetitivo Wally então por que não selecionam os recebidos Já foi o tempo em que você comprava teúdo do jornalão dos Mesquitas. Que pena. Salomão daqui e um ocasional achado ca- aos montes e suspeitamente só publicam um jornalão dominical e recebia além das A Folha voltou com o caderno da Ilustra- seiro dali, sem qualidade inteira, completa, os ruins, de qualidade duvidosa e dos ami- informações gerais, nacionais e internacio- da para os domingos mas não mudou mui- de alguma panelinha pertinente, já que não guinhos de sempre? – Pois agora eles nem nais, dos quadrinhos, do horóscopo, das to, não evoluiu nada, aqui e ali circuns- estão mesmo muito preocupados em seleci- agradecem mais. Não interessa e pronto. palavras cruzadas e jogos de xadrez, das tancialmente valora algum localizado seg- onar gente boa e inédita em prosa e verso, Você pesquisa, capricha, formata, junta colunas sociais e de fofocas, também al- mento ocasional de cultura, mas muito raro fora das panelas adjacentes, para darem es- currículo, envia e nada. Quem mandou que- guns belos poemas, variados contos, rese- a literatura universal e, claro, contos e po- paço e promoveram a cultura propriamente rer se escritor, crítico, quem mandou estu- nhas de livros de nível, quando não gracio- emas inéditos jamais, apesar de nossos dita em tempos pós-pós-modernos... dar e pesquisar pra isso? sos folhetins em capítulos e tinha enorme “barrados no baile” craques na new litera- Pior são os artigos que traduzem de ou- Para a chamada Grande Imprensa a ques- prazer de repassar o jornal pros familiares tura, inclusive os chamados neomalditos, tros jornais, enchendo lingüiça com pági- tão cultural não é importante e ponto fi- todos, cada um do lar se identificando com que anseiam por espaço para mostrarem sua nas e páginas a exaustão de um mesmo nal. Isso exigiria um ótimo debate. Quem um segmento informativo do veículo im- criação e resistência, dando codinome aos assunto chato por ocasião de uma data sabe o resgate cultural de nossa grande presso, o que tornava a própria chegada bois, parafraseando Millôr. Esses estão fora mundial, de um aniversário batido pela imprensa passe por uma conclamação ge- do jornal uma festa, uma expectativa. Bons do contexto midiático e que se arranjem mídia internacional, mas tudo estrangeiro ral, acadêmica, jornalística, baseada mes- tempos aqueles. Eu mesmo conheci isso. de outro jeito. e rococó, chatos, cansativos, quando as mo em apoio oficial e das chamadas tercei- Em casa era uma espécie de “castigo” ler Andei sapeando via internet os cadernos opiniões tupiniquins são literalmente café ras vias? Acredito e aposto nisso. União um texto indicado, comentar sobre ele, culturais dos jornalões do Grande Rio, de pequeno no espaço. Enfim, o Caderno Mais, Brasileira de Escritores e Associação Brasi- quando não resumir direitinho, e isso fo- Belo Horizonte e plagas acima, depois de nosso último panteão de cultura, nosso leira de Imprensa, mãos à obra! mentou cultura no clã, valorou a leitura Curitiba e todas as grandes metrópoles su- último baluarte, está em decadência, Curto e grosso, azar nosso. Temos que, como um vício até, um costume até então listas e descobri que não muda muito a estranhamente decaindo cada vez mais em ou esquecermos o conhecimento cultural disseminado entre os herdeiros por consci- carestia lítero-cultural. Poemas, contos? conteúdo e essência, e tá como a própria propriamente dito a partir dos veículos de ência adquirida. Sorte nossa. Nem pensar. Estão lá os consagrados figu- Revista da Folha: só coisa reles que não comunicação em geral; um jornalismo cul- Já foi o tempo que o jornal era preocu- rões com suas crônicas de épocas que nem soma nada culturalmente, com honrosas tural que deveria ser valorado sob todos os pado com a cultura como um todo, em que sempre tão criativas, gostosas ou espeta- exceções aqui e ali numa edição bem bola- aspectos até como formador de opinião e recitais, saraus, colunas de arte literária culares, alguns amigos da casa escrevendo da por exceção ou acidente de pauta, tal- embasamento politico-educacional, ou, eram valorados, disseminando a cultura e o óbvio ululante sobre enfoques narrativos vez. Como eu disse inicialmente, foi-se o deixar de comprar os jornalões principal- propagando o valor da língua mátria, só triviais, às vezes, claro, tomando espaço tempo em que os jornalões eram motivos mente aos domingos, e comprar, isto sim, pra citar Caetano Veloso. Agora os bicudos de criatividades novas que dariam fermen- de reunião de família, de debates em alto uma revista literária de qualidade e, aí sim, tempos neoliberais da globalização sem to hábil para importantes cabeças nível, de leitura prazerosa, de acirrados di- ler com prazer, chamar a família pro acer- seca são outros. Azar nosso e da cultura álogos em escritórios, clubes e escolas, de vo, clamar pra leitura saudável no meio, brasileirinha que agoniza e morre. troca de idéias monumentais e que permi- reger pesquisas de todos os tipos, cobrar Por incrível que pareça, lamentavelmen- tiam espaço ao rebento criativo novo, vei- opiniões, trocar figurinhas, valorar em seio te o próprio Jornal da Tarde que tinha o Estão lá os consagrados figurões culando muita poesia e ficção sarada, além do clã a cultura em geral, pois, do jeito espetacular Caderno de Sábado totalmente com suas crônicas de épocas que de grandes ensaios e generosa crítica artís- que está, se deixarmos que os jornalões e voltado para a cultura muito mais caseira, tico-cultural. Afinal, não é, quem é que lê os veículos de comunicação televisivos e com crítica literária nacional de primeira, nem sempre tão criativas, poesia? Poesia não vende, logo, não dá radiofônicos do jeito que estão, estamos de Erorci Santana a José Nêumanne Pinto, gostosas ou espetaculares, alguns lucro. Que se danem os pobres poetas e perdidos, com tantos programas de fofocas de Nelson Oliveira a Wilson Martins, e, sem suas sensibilidades viciadas em escapes vir- e de esoterismos tantãs no rádio, com tan- mais nem menos, de um dia pra outro sem amigos da casa escrevendo o tuais na internet menos seletiva e boçal, tos programas sobre violência policial e de avisos e explicações plausíveis acabaram óbvio ululante sobre enfoques claro, e mais divulgadora pra gosto geral. estereótipos de minorias na tevê, para não com o caderno tão ansiosamente esperado narrativos triviais. Então melhor encher os jornalões de cader- dizer os infanto-juvenis que, qualquer pai sem qualquer bom senso, valoraram então nos sobre barcos, turismo, casas, carros, de bom senso seleciona e vigia os filhotes ainda mais o Jornal do Carro, criaram no- esportes, comportamento, sociedade deca- em crescimento, porque a barra tá pesada vos Cadernos de Imóveis, veículos e, bá, a pensantes da cultura contemporânea que dente, economia, política, etc. deixando o nessa área. Novos tempos? Estamos cada base cultural somada ao veículo informati- sobrevive com dificuldade nessa marginália caboclo leitor brasileiro literalmente a ver vez pior em cultura na imprensa, e alguém vo foi pra cucuia, infelizmente. literária por atacado desses bravos brasis navios com a falta de disseminação cultu- tem que colocar o dedo na ferida, pois, afi- O insosso Caderno 2 do Estadão tem aqui gerais. ral que poderia mudar corações e mentes, nal, não é mesmo o bom Leitor que ber- e ali algum espaço cultural muito raso, e, Sobrou o que? Deixei por último de pro- politizar, criar núcleos seletivos que propi- ra?& normalmente vem com publicação pósito. O Caderno Mais dos Frias, da Folha, ciariam a curto e médio prazo mudanças SILAS CORRÊA LEITE é poeta, pseudocultural traduzida de grandes jornais que você lê com certo temor adquirido por sociais abrangentes no Brazyl S/A de tan- educador e jornalista. Pós-graduado em norte-americanos, quando não de algum ranço de rotina costumeira, porque, claro, tos contrastes. Mas, quem é que quer isso Educação, Literatura na Comunicação e país da Europa, mas tudo muito água-com- estão lá sempre por rodízios sazonais os a partir da cultura?. Jornalismo para Lideranças açúcar, raro é um texto que realmente aju- mesmos de sempre, dos poetas da casa que E nem se habilite, o cidadão pensador Comunitárias na ECA/USP, publicou o da, raro é um assunto temático que im- são todos de uma mesma editora pequena aí, em mandar um belo texto cultural pra livro virtual O Rinocerante de Clarice pressione realmente pela qualidade, fican- do Rio de Janeiro – que para disfarçar tem coluna Tendências ou Debates da Folha, ou no site carioca www.hotbook.com.br/ do o leitor interessado em cultura mais vários nomes de fantasia – Augusto de Cam- poema inédito e de qualidade pro Caderno int01scl.htm abrangente, com os caraminguás de tópi- pos, Décio Pignátari, e, aqui e ali uma tra- Mais dominical, quando não um release E-mail: [email protected]. Site cos mirrados sobre teatro, MPB, balé, me- dução de um arcaico literato russo ou ale- sobre evento cultural pra Folha Ilustrada, pessoal: www.itarare.com.br/silas.htm Ler ou não ler? Eis a questão... “ A leitura obrigatória é uma coisa tão absurda quanto se falar em felicidade obrigatória”. Jorge Luiz Borges Dalila Teles Veras que importa é saber as questões que vão Todos aqueles que já descobriram o pra- da humanidade, encantados em suas pági- cair no vestibular) é outro pequeno assas- zer da leitura, o gosto de elaborar, ele mes- nas, esperando apenas as mãos que os fo- O brasileiro não lê porque o livro é caro? sinato que deveria ser severamente puni- mo, o “seu” personagem, a “sua” paisa- lheiem, para que, num passe de mágica, se Errado. O brasileiro não lê porque não o do. gem, voltar a página e emocionar-se de desencantem e cumpram o fato estético de acostumaram a ler. O preço do cd é A indústria da educação brasileira ensina novo com aquelas cenas que mais os toca- que falou Borges: o livro aberto e a vida eqüivalente ao do livro e, no entanto, ven- apenas para o aluno passar no vestibular. ram, jamais abrirão mão dessa “descober- recriada. dem-se cds aos milhões enquanto que uma A formação humanística, a compreensão do ta”. É um vírus que, uma vez contraído, não Ninguém é o mesmo depois de ler um edição de sucesso de uma obra literária, mundo através de sua história não está em tem mais cura. É um não acabar mais de bom livro, ninguém sai ileso dessa emprei- não ultrapassa, em média, três mil exem- questão. A questão é “passar ou passar”, descobrir; uma leitura vai sempre remeten- tada. A literatura modifica, transforma, plares. Não podemos esquecer também das ou seja, competir e ganhar a corrida para a do a outra e a vida torna-se tão curta para porque faz refletir e sonhar. A televisão, bibliotecas onde um livro não custa nada, glória do canudo universitário. tanto livro a ser lido. ao contrário, foi feita para não dar tempo basta retirá-lo, além dos “sebos”, livrarias A leitura deveria ser passada para a cri- Só mesmo o portador desse vírus sabe de pensar; não informa porque é veloz e de livros usados, onde se pode adquirir ra- ança e os adolescentes como uma busca, avaliar a diferença entre a “viagem” da lei- fragmentada e não propicia um visão de ridades por preço de banana. uma ação lúdica e prazerosa, que pode per- tura e a cena dada pronta, como a daquela compreensão de mundo, como um todo e Na verdade, a grande maioria dos brasi- feitamente substituir com igual grau de via TV. Assistir TV é cômodo e chega a ser nem a compreensão da história, como pro- leiros não lê porque na escola não o ensi- prazer uma ida ao cinema, um dia na praia hipnótico. Não há participação de quem cesso e acúmulo de valores agregados. Após naram a ler, no sentido mais profundo da ou um churrasco no sítio, sem qualquer está do lado de cá, o espectador é passivo, a décima notícia do Jornal Nacional, o es-

ω palavra, ou seja, apreender o que está es- remorso. recebe o prato feito, não tem possibilida- pectador não consegue mais lembrar da

. 9 crito, refletir, questionar, “viajar” com um de de criar, de imaginar, de “viajar”. A cena primeira, nem da maioria, devido à incrível texto. que ele está vendo é só aquele cena, a rapidez da linguagem televisiva, feita pro- Obrigar o aluno a ler um livro de litera- A indústria da educação mesma cena que outros milhões de positadamente para alienar. tura com a obrigatoriedade de responder a brasileira, ensina apenas para o telespectadores também estão vendo. Ao Quem ainda duvidar, tente ainda hoje: um questionário elaborado pelas editoras, passo que, no ato de ler a mesma página troque uma hora da televisão pela leitura para o qual o professor possui as respos- aluno passar no vestibular. A de um livro, um mesmo poema que tantos de algumas páginas da melhor literatura. O tas, também elaboradas previamente, é formação humanística, a outros já leram, entra em jogo o nosso poder resultado será, garanto, altamente decretar uma sentença definitiva: – Você compreensão do mundo através de imaginar, de recriar, próprio do ser hu- compensador.& nunca será um leitor. Fazer o aluno decorar mano e que os meios de comunicação de DALILA TELES VERAS é poeta, escolas literárias e todas as suas caracte- de sua história, não está em massa encarregaram-se de destruir. cronista literária, livreira e editora, 105 - Outubro/2003 Pág o autora de A Palavraparte e A Vida N rísticas sem nunca ler uma obra sequer de questão . Quem possui livros jamais está só. Fa- um dos autores que dela fizeram parte (o zem-lhe companhia os melhores espíritos Crônica. E-mail: [email protected] ω