Revista das Faculdades Integradas Claretianas – N. 5 – janeiro/dezembro de 2012 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro - PPP Uma Nova Visão Administrativa

Ricardo Pensado Nishida Faculdades Integradas Claretianas [email protected]

Nassif Cassab Faculdades Integradas Claretianas [email protected]

Fernando Luís Silva Sentieiro Faculdades Integradas Claretianas [email protected]

Ana Luiza Fonseca Fortes Furtado Faculdades Integradas Claretianas [email protected]

Resumo O objetivo deste trabalho de pesquisa foi discutir e apresentar casos de destaques nacionais e internacionais com a implementação da Parceria Público-Privada e as vantagens que ela apresenta ao município e ao parceiro. Apresentaremos como estudo de caso a ocorrida no município de Rio Claro com a implantação de uma PPP no município para o tratamento e manutenção do sistema de esgotamento sanitário. Palavras-chave: Parceria Público-Privada, Administração, Gestão Sustentável, Eficiência.

1 Introdução O Plano Diretor de Esgoto do Município de Rio Claro (P.D.E.) foi realizado em 2000 e é um elemento dinâmico e flexível, que deverá orientar as medidas de implantação e melhoria do sistema de esgotos, tão necessário à preservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida da população rio-clarense. Todo Plano Diretor, com o passar dos anos, deve ser readaptado em função das alterações no crescimento da cidade e de outras implicações, que sejam significativas. O Plano Diretor de Esgoto faz parte da gestão pública do município. Uma das modalidades previstas de gestão pública para a realização de obras e investimentos em diversos setores é a Parceria Público-Privada (PPP), com sua Lei a regendo desde 2004. Uma dessas parcerias é a que ocorre no município de Rio Claro – São Paulo, através do tratamento de esgoto realizado desde dezembro de 2007 pela Foz do Brasil (Empresa do Grupo Odebrecht). Neste artigo analisamos o que é uma Parceria Público-Privado (PPP) através de uma caracterização do município de Rio Claro, uma abordagem da PPP como uma nova visão administrativa. Apresentamos também as vantagens de implantarmos uma PPP e casos nos quais ela foi conduzida com sucesso. Realizamos um estudo de caso da Estação de Tratamento de Esgoto do Jardim Condutta no município de Rio Claro – SP e seus benefícios.

2 Caracterização do Município de Rio Claro Segundo o IBGE, a sede do município está a 613 m de altitude (marco zero do IBGE), abrangendo uma área de 499 km2, estando localizada a 22.410 de Latitude Sul e 47.560 de Longitude Leste. O clima predominante no município é tropical, com estações alternadamente chuvosas e um bioma de Cerrado e Mata Atlântica.

45 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa Rio Claro é um município de porte médio do interior paulista, com 189 mil habitantes, e distante cerca de 170 quilômetros da capital do Estado. Entre 2000 e 2010, apresentou uma taxa geométrica de crescimento anual da População de 1,03%, enquanto que o crescimento estadual foi de 1,09% e o da Grande São Paulo foi de apenas 0,97% ao ano (SEADE, 2011). No século XVIII, em consequência da descoberta do ouro em Cuiabá, Mato Grosso, desde 1719, os paulistas já cruzavam os campos ou sertões de Araraquara, que compreendiam, além de Rio Claro, os atuais territórios dos municípios de Araraquara, São Carlos e Descalvado, para evitar as febres do roteiro do rio Anhembi (Tietê). Bandeirantes e aventureiros ali se fixaram, construindo as primeiras casas em suas propriedades, às margens do Ribeirão Claro. Tornou-se esse rincão o pouso dos viajantes dos sertões. A partir das concessões de sesmaria, começaram a chegar fazendeiros abastados, trazendo escravos, agregados, força e dinheiro (IBGE, 2010). Em 1827, o povoado foi elevado à categoria de Capela Curada, sob a proteção de São João Batista, sendo que, desde então, é comemorado o dia da cidade em 24 de junho, dia de São João. No ano de 1845, tornou-se a Vila de São João Batista de Rio Claro, quando ganhou a sua autonomia administrativa e foi constituída a primeira Câmara Municipal. Passou à cidade, em 1857, com o nome de São João do Rio Claro, mais tarde simplificado para Rio Claro (RIO CLARO, 2011). Rio Claro foi a primeira cidade do Estado e a segunda do país a receber iluminação elétrica pelo sistema de arco voltaico, no ano de 1885. As pequenas indústrias de bens de consumo e de produção, responsáveis pelo desenvolvimento das cidades ligadas à cultura cafeeira, sofreram duro golpe com a crise do café em 1929. Entre as décadas de 30 e 70, Rio Claro experimentou modesta expansão industrial. A partir de 1970, é criado o Distrito Industrial de Rio Claro, com uma série de incentivos do Poder Público (DAAE, 2000). Rio Claro insere-se na Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos nº 5 (UGRHI 5) do estado de São Paulo, que corresponde às bacias hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. A maior parte da área do município pertence à sub-bacia do rio Corumbataí, afluente da margem direita do rio Piracicaba, o qual deságua no rio Tietê. A sub-bacia do rio Corumbataí está localizada na porção noroeste da bacia do Piracicaba, apresentando área de 1.679,19 Km2, correspondente a 11% da área total da UGRHI 5. Além de Rio Claro, pertence a essa sub-bacia os municípios de Analândia, Charqueada, Cordeirópolis, Corumbataí, Ipeuna, Iracemápolis, Itirapina, Piracicaba, Santa Gertrudes e São Pedro (CUNHA et al., 2009).

3 PPP: uma nova visão Administrativa A PPP tem origem na Europa, diante dos desafios encontrados na Inglaterra na busca de formas de fomentar investimentos sem comprometer recursos públicos escassos. Nos países de herança anglo-saxônica, ela foi vista como um estágio intermediário entre a Concessão de Serviços Públicos e a Privatização. Nesses países, a PPP vem sendo uma opção ao desenvolvimento de projetos que não têm garantia de retorno e não aceitam estruturas financeiras calcadas em seu fluxo de caixa. A PPP vem sendo estimulada, com recursos, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID e pelo BIRD - Banco Mundial, que percebem nela uma forma de contornar limitações aos investimentos estatais em infraestrutura. Em contrapartida, em geral, pedem alguma forma de solidariedade do Estado envolvido, como forma de mitigar os riscos políticos inerentes à atividade. Há exemplos na América Latina de sucesso no México e no Chile, de implantação problemática no Peru e de sérios problemas na Argentina conforme explica Silveira e Borges (2003). Hoje no Brasil, a PPP foi a aposta do Governo para tornar o Brasil um polo atrativo de investimentos estrangeiros abrindo a oportunidade para ampliação da participação do setor privado na provisão de serviços, em especial no setor de infra-estrutura, potencializando ganhos de eficiência e desoneração dos contribuintes. Constituem assim instrumento fundamental para ampliar os investimentos públicos. O programa tomou-se

46 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa como referência e ponto de partida as experiências bem sucedidas de outras nações que já trabalham com o modelo PPP, como Espanha, Portugal, Irlanda, Franca, Chile, Inglaterra e África do Sul. O modelo brasileiro é um misto de todas as experiências internacionais e das particularidades do sistema econômico brasileiro. O sucesso do programa de PPP depende da adequada modelagem dos projetos, identificando com clareza os benefícios líquidos associados e sua sustentabilidade financeira em que o estado garante, independentemente de tarifas, o pagamento de receitas ao empreendedor particular diluídas no longo prazo, mas desde que sejam cumpridas certas metas previamente acordadas (FIESP, 2009). O primeiro ponto é que na grande maioria dos países onde a PPP foi adotada, os governos têm recursos para fazer investimentos. Optam pela parceria porque o setor privado é um operador de obras mais eficiente. No Brasil a situação é bastante diferente. O principal motivo para se fazer a PPP é a falta de recursos públicos. Portanto o ponto central do debate sobre a PPP é a confiabilidade dos investidores no poder público brasileiro. Se não forem criadas as condições adequadas (um ambiente regulatório claro e estável e garantias líquidas e certas de que os compromissos financeiros pelo estado serão honrados), o setor privado não se sentirá incentivado a participar dessa parceria (CLIENTE S.A., 2006). Segundo Moreira (1998), de acordo com a legislação vigente – especialmente a Constituição Federal e a Lei das Concessões de 1995 – existe um amplo espaço para a participação do setor privado nos serviços de saneamento. A princípio, essa participação pode ocorrer por diversas modalidades: concessões plenas, parciais, arrendamentos. Ainda assim, como avalia Moreira (1998), cada uma dessas modalidades apresenta vantagens e desvantagens, tanto do ponto de vista dos incentivos para a operacionalização do sistema, quanto dos eventuais efeitos que possam ocorrer sobre os níveis de atendimento e de preços dos serviços. Na realidade, cada um desses tipos de contratos de concessão, independentemente da modalidade, podem ter seu escopo perfeitamente elaborado e ainda assim, apresentar falhas que venham produzir efeitos distributivos entre os grupos de interesse envolvidos no setor, especialmente governos, firmas prestadoras de serviços e consumidores. Conforme constata Berg (2000) sobre as concessões na Argentina, o desenho de um contrato é fundamental para determinar quem ganha e quem perde com as concessões, pois, dois contratos distintos podem produzir o mesmo benefício. A Parceria Público-Privada (Public Private Partnership) é descrita como derivada de uma concepção de parceria, que permitiria, por um lado, a utilização de recursos (financeiros, humanos e técnicos) do setor privado para o Estado atingir alguns de seus objetivos básicos e por outro lado, permitiria ao setor privado realizar negócios em áreas cuja natureza é mais característica do setor público, através da garantia de recebimento de vantagens (pecuniárias ou não) pagas pelo Estado (SILVEIRA; BORGES, 2003). A Lei no 11.079 de 30 de dezembro de 2004 institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada no âmbito da administração pública. Em seu artigo 2º ensina que a parceria público- privada é um contrato administrativo de concessão, na modalidade patrocinada ou administrativa, isto é, participação patrocinada é a concessão de serviços públicos ou de obras públicas de que trata a Lei no 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, quando envolver contraprestação pecuniária do parceiro público ao parceiro privado e a concessão administrativa é o contrato de prestação de serviços de que a Administração Pública seja a usuária direta ou indireta, ainda que envolva execução de obra ou fornecimento e instalação de bens. No seu artigo 4º existem as restrições de celebração deste tipo de parceria (BRASIL, 2004). Essa Lei Federal n° 11.079 que regula a parceria financeira entre o setor público e o privado na área de infraestrutura sócio-econômica é conhecida genericamente como Parceria Pública Privada (PPP). Tais parcerias já vinham sendo praticadas, inicialmente, nos estados de Minas Gerais e de São Paulo e, em seguida, no Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Goiás, Pernambuco e Santa Catarina. São exemplos desta parceria a gestão

47 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa privada da Penitenciária Industrial Regional do Cariri, no Estado do Ceará e a manutenção da malha rodoviária do Estado de Goiás por empresas privadas, dentro do programa Terceira Via (MESQUITA e MARTINS, 2008). Segundo o Tesouro Nacional (2011), após a aprovação da Lei de PPPs, foi instaurado o Comitê Gestor das PPP (CGP), formado pelos Ministérios do Planejamento, Orçamento e Gestão, Fazenda e Casa Civil. Constitui-se ainda Fundo Garantidor de PPP – FGP com o objetivo de fornecer garantias de pagamentos de obrigações do parceiro público. O Ministério da Fazenda, por determinação legal, é responsável pela edição de pronunciamento sobre a viabilidade da concessão da garantia e da adequação da União ao limite de comprometimento de despesas com PPP (1% da RCL). A edição de normas para consolidação das contas públicas aplicáveis às PPPs também é atribuição específica da STN.

4 Vantagens da PPP As vantagens de uma parceria público-privada são várias. Em Portugal Reis et al. (2010), alegam que as PPP surgem como alternativa ao processo tradicional da contratação pública, embora tenham o mesmo objetivo, isto é, a aquisição de bens ou serviços ou a concepção, planejamento, construção, produção ou distribuição de bens. Como vantagens das PPP, face ao processo tradicional, podem ser referidas como a diminuição das necessidades de financiamento, a transferência do risco e a redução de custos. A qualidade do serviço prestado e um maior rigor e capacidade de gestão, através da transposição para o setor público o know-how tecnológico, operativo e de gestão, as economias de escala, a eficiência e flexibilização de organização e os processos de contratação próprios do setor privado são aspectos que garantem um melhor value for money na prestação dos serviços públicos no modelo de PPP. No Brasil, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP, 2009) destaca os pontos fortes desse tipo de parceria: I. Melhor relação custo-benefício a. Sinergias ao combinar desenho, construção e exploração; b. Custos adicionais decorrentes da necessidade de financiamento pelo setor privado são compensados pelas sinergias obtidas; c. Experiências anteriores confirmam este fato. II. Melhorias de infraestrutura a. Os aspectos de PPP que estimulam a inovação e eficácia só melhoram a qualidade e quantidade de infra-estrutura no país; b. São aplicáveis tanto para infraestrutura básica, como água, saneamento, telecomunicações e transporto, como para outros serviços públicos, como hospitais, escolas e presídios. III. Instalações mais eficientes e modernas a. Uma vez que o setor privado é remunerado de acordo com metas de qualidade dos serviços, os contratos de PPPs estimulam os investimentos em instalações mais eficientes e modernas para gerar eficiência e reduzir riscos; b. Os setores públicos e privados devem trabalhar juntos de modo a superar possíveis problemas, como restrições de capacidade ou atrasos Inovação e disseminação de melhores práticas; c. A competência e experiência do setor privado estimulam a inovação, resultando em custos menores, menores prazos de entrega e melhores processos operacionais, de gestão e construção das instalações; d. O desenvolvimento destas práticas se aplica a futuros projetos, de modo a facilitar a disseminação de melhores praticas de serviços públicos. IV. Manutenção dos níveis

48 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa a. Os bens e serviços se manterão a um nível pré-determinado durante a vigência do contrato; b. O setor privado somente irá receber pelo serviço uma vez que esse for entregue ao nível ideal exigido; c. Este fato contrasta com o serviço público convencional, no qual a manutenção de ativos e qualidade de serviços dependem da disposição do governo de injetar recursos continuamente. V. Flexibilidade a. As PPPs são modelos operacionais adaptáveis à maioria dos projetos de infraestrutura.

5 Estudo de casos de sucesso de PPP A seguir destacaremos casos de sucesso das Parcerias Público-Privadas realizadas em diversas áreas e em diversos países, salientando a real vantagem de se aplicar este tipo de gestão pública. Segundo Chaves e Motta (2011), foi realizada uma parceria público-privada entre a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e o Instituto Ayrton Senna (IAS) – organização sem fins lucrativos do Terceiro Setor - através do programa educacional de aceleração da aprendizagem conhecido como “Acelera Brasil”. Os autores concluem, por hipótese que o IAS, através de seu programa educacional “Acelera Brasil”, tem se constituído em um importante “intelectual orgânico do capital”, à medida que difunde, através de seus materiais didáticos e referenciais teórico-metodológicos, um conceito de cidadania que não tem por prioridade a conscientização da tensão existente entre os diferentes projetos societários, por não considerar a natureza contraditória do modo de produção e civilizatório capitalista, e da necessidade de se buscar espaços de discussão democráticos, cada vez maiores e ampliados, na elaboração das políticas públicas para a comunidade em que o projeto está implantado. Dados de Portugal em 2007, no âmbito da aprovação do Código dos Contratos Públicos (CCP) referia que as PPP tinham representado de 1994 – 2005, um investimento de cerca de 10 000 x 106 € (10 000 milhões de euros). Esse valor colocava, à data, Portugal em 1.º lugar em termos de investimento realizado em PPP, quer em valor absoluto, quer em percentagem do PIB. (REIS et al., 2010). Surgiram na Inglaterra em 1992 as Private Finance Iniciative (PFIs). De acordo com os estudos realizados, consta que em 2003 havia mais de 600 projetos sob o modelo de PFI, estando parte deles em fase de operação, abrangendo os mais diversos setores como educação, saúde, defesa, transportes, construção de presídios, entre outros. Outro relatório realizado na Inglaterra em 2001, conclui que, se por um lado, projetos envolvendo estradas e prisões levaram a economias significativas (em torno de 15%) para os cofres públicos, se comparadas à sua implementação exclusiva pelo setor público; por outro lado, outros projetos, envolvendo escolas e hospitais, alcançaram margens muito reduzidas na redução dos custos (em torno de 2 a 4%). Mas concluem que mesmo em alguns setores não ter havido significativa economia para os cofres públicos, não se pode negar que sem a implementação das PFIs muitas escolas e hospitais não teriam sido construídos, simplesmente porque não havia recursos públicos disponíveis para tais investimentos (GUERRA, 2007). Ainda Guerra (2007) cita o caso do Chile. No desenvolvimento das parcerias no Chile, priorizou-se a construção de rodovias, tendo em vista serem necessárias para o escoamento da produção destinada à exportação. A experiência chilena obteve bons resultados por ter sido capaz de preencher a carência em infraestrutura de estradas, túneis, pontes, aeroportos, ditos como imprescindíveis para acompanhar e propiciar o crescimento econômico do país na década de 90 e desde 1994, há 36 projetos de PPPs nas mais diversas áreas: 24 estão ligados a infraestrutura, 9 com aeroportos e 2 com presídios, sendo que 20 deles já estão em fase operacional. A Irlanda é um dos países que mais vem fazendo uso das PPPs, o National Development Plan (NDP) de 2000-2006 identificou a Parceria Público-Privada como um componente necessário para a realização dos

49 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa investimentos priorizados. No caso irlandês, como no de muitos outros casos europeus, a justificativa para o uso da PPP envolveu: (a) compartilhamento de risco com o setor privado; (b) redução do prazo dos empreendimentos; (c) estimulo à introdução de inovações, modernizações bem como melhorias por parte do setor privado; (d) possibilidade de realização de um maior número de projetos; (e) liberação de recursos públicos para outros projetos que sejam prioritários sem condições de retornos financeiros e sem capacidade de serem realizados por meio da PPP; e (f) asseguramento da qualidade da operação e da manutenção dos serviços concedidos por longo prazo (PASIN, BORGES, 2003). Em Portugal, Polônia e Hungria, as PPPs foram utilizadas em larga escala visando à construção de rodovias. Mas em outros países não se restringiram às estradas. Na Eslovênia, constituiu-se uma PPP para a construção de uma estação de tratamento de esgoto. Na República Tcheca, voltou-se para o setor de telecomunicações. Mas há países em que a constituição de PPPs nunca foi estimulada, por diferentes razões. Nos países escandinavos, por exemplo, considera-se que os investimentos em infraestrutura devam ser realizados somente pelo Estado, por meio de tributações e pela participação política das comunidades afetadas, que definem obras prioritárias (STONE, 1998).

6 Estudo de caso do Jardim Condutta Empresa de engenharia ambiental da Organização Odebrecht, a Foz do Brasil, criada em 2008, está estruturada para investir e operar ativos ambientais em três segmentos:

1. Água – concessões públicas de saneamento básico; 2. Indústria – terceirização de Centrais de Utilidades; e 3. Ambiental – diagnóstico e remediação de áreas contaminadas, monitoramento de águas superficiais e subterrâneas, e valorização energética dos resíduos sólidos urbanos.

A missão da Foz do Brasil é prover soluções ambientais para o desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida, aliando capacidade de gestão, investimento e tecnologia de ponta. A Foz do Brasil beneficia mais de 5 milhões de pessoas nas cidades onde presta serviços de água e esgoto (saneamento básico) por meio de concessões, parcerias público-privadas e outras associações com empresas públicas estaduais e municipais. A Foz do Brasil é parceira de alguns municípios, os quais podemos destacar em: Rio Claro, Limeira, Porto Ferreira, Santa Gertrudes, Mairinque, Mauá e São Paulo, no Estado de São Paulo (FOZ DO BRASIL, 2011).

Outras parcerias de destaque são: 1. (Saneamento Básico do Estado de São Paulo), no Aquapolo e na concessão de Mairinque (SP); 2. Copasa (Companhia de Saneamento de Minas Gerais), na Central de Utilidades da (Vallourec & Sumitomo Tubos do Brasil, em Jeceaba - MG); 3. Embasa (Empresa Baiana de Água e Esgoto), no Sistema de Disposição Oceânica do Jaguaribe; 4. Cesan (Companhia Espírito Santense de Saneamento), na Operação e Manutenção das redes e Estações de Tratamento de Esgoto da Região Metropolitana de Vitória; 5. Sanasa (Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento), na locação da ETE Capivari I.

No setor industrial, a Foz do Brasil presta serviços para grandes indústrias dos setores de metalurgia, petróleo, mineração, siderurgia, química, papel e celulose e petroquímica, tendo como principais clientes

50 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa , , Thyssen, Transpetro, Dow, Dupont, Rhodia, Battrebahia, Shell e (FOZ DO BRASIL, 2011). A implantação das obras do sistema Condutta coloca o município de Rio Claro numa posição de destaque no cenário do saneamento básico brasileiro. Para se ter idéia da importância desse trabalho é preciso entender que além da Estação de Tratamento, a obra do sistema Condutta também compreende coletores, interceptores e emissários de esgoto. Esta trouxe benefícios não apenas para o Ribeirão Claro, mas para toda a bacia hidrográfica do PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí), inclusive a captação de água de Piracicaba, que atualmente é feita no rio Corumbataí, o qual recebe as águas do Ribeirão Claro (ALVES, 2011). A composição básica da ETE Condutta está descrita na Figura 1.

Figura 1: Descrição do sistema da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do Jardim Condutta. Fonte: Alves, 2011.

Sendo a ETE Condutta executada com módulos aeróbios e anaeróbios, conseguimos destacar algumas vantagens ambientais (ALVES, 2011) e seu sistema de conversão biológica medida em Demanda Química de Oxigênio (DQO) está descrito na Figura 2. 1. Menor geração de lodo; 2. Não requer energia elétrica para aeração; 3. Geração de biogás; 4. Lodo estabilizado (digerido anerobiamente).

Figura 2: Conversão biológica nos sistemas aeróbios e anaeróbios. Fonte: adaptado de CHERNICHARO (1997).

Abaixo destacamos alguns dados da ETE do Jardim Condutta: Vazão Media: 125 L/s. Vazão Máxima: 288 L/s. Eficiência: 96 a 97% de remoção de matéria orgânica (DBO) Segundo informa a CETESB, a cidade de Rio Claro gera hoje uma carga poluidora de 9.815 Kg/dia de DBO. Esta ETE atende uma população de 65 mil pessoas e é responsável pela remoção de 39% deste total de DBO, utilizando-se de processos biológicos e equipamentos modernos de controle e operação. O monitoramento

51 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa da eficiência dessa moderna ETE é feito através de analises laboratoriais de DBO e DQO. A DBO é feita semanalmente, enquanto que a DQO é feita diariamente (ALVES, 2011). O cálculo da eficiência é feito conforme fórmula abaixo:

[(DBO entrada – DBO saída) / DBO entrada] x 100

Tendo como referencia o Decreto Estadual n° 8468/76, que determina o padrão mínimo permitido de lançamento de efluentes em corpos d’água, sabe-se que, para um rio de Classe II, como é o caso do Ribeirão Claro, a remoção terá que ser superior a 80% de DBO. De acordo com as analises apresentadas pelos laboratórios da Foz de Rio Claro, esse valor tem sido superior ao exigido, chegando a 96% de remoção, conforme Gráfico 1, o que evidencia a qualidade do tratamento. Segue abaixo o gráfico que mostra a evolução do tratamento ao longo do tempo. Iniciou-se com 69,7% devido à formação das colônias de micro-organismos no início da operação do sistema conhecido como UASB (Upflow anaerobic sludge blanket), isto é, digestor anaeróbio de fluxo ascendente, atingindo 96% e tendo a possibilidade de melhoria deste valor, pois a ETE ainda está em processo de consolidação das colônias de micro-organismo as quais realizam este tipo de tratamento, conforme Alves (2011).

52 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa

Gráfico 1: Eficiência da ETE Condutta. Fonte: Alves, 2011.

Alguns números alcançados desde a inauguração: 1. 491.123 kg de DBO deixaram de ser lançados para o Ribeirão Claro; 2. 2.466.016 m³ de esgoto tratados; 3. 880.704 kWh de energia consumida no processo de tratamento.

Hoje a ETE Condutta atende aproximadamente 65 mil habitantes, com uma proposta de atender ate o final do plano a 110 mil habitantes. Os principais bairros são: Mãe Preta, Vila Industrial, Vila Verde, Jd. Village, Arco-Íris, Jd. América, São Miguel, Conjunto Hab. Oreste Armando Giovanni, Jd. Bandeirantes, Vila São José, Vila Nova, Vila Alemã, Vila Bela Vista, Vila Indaiá, Vila Bela, Nossa Senhora da Saúde, Cidade Nova, Vila Paulista, Copacabana, Leblon, Itapuã, Kennedy, Anhanguera, Bairro do Estádio, Bairro Olímpico, Jd. Quitandinha, Jd. Trevo, São Benedito. A Parceria Público-Privada de Rio Claro, foi firmada na modalidade de Concessão Administrativa, para a Prestação do serviço público de operação e atividades de apoio acompanhado das obras de complementação, adequação e modernização do Sistema de Esgoto no Município. O histórico da PPP data-se de 04 de janeiro de 2006, dia no qual se executou a Lei Municipal autorizando a PPP; em 10 de março 2006 ocorreu à audiência publica. O Início do Contrato de PPP ocorreu após celebração do contrato de administração do Fundo de Compensação Tarifária dos Serviços de Esgoto, em 05 de dezembro de 2007. A partir de 06 de dezembro de 2007 começa, de fato, a contagem do prazo de vigência da Parceria para o Município (ALVES, 2011). A ETE Condutta é fruto de uma PPP bem elaborada e bem administrada, resultando em uma obra de grande porte na cidade de Rio Claro, a qual já proporcionou aos munícipes a despoluição total do Ribeirão Claro, rio este que percorre as margens de vários bairros de Rio Claro e também adentra a Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade – Horto Florestal. Com isso a Foz de Rio Claro, empresa que opera a ETE Condutta, cumpre um papel importante da despoluição do Rio Ribeirão Claro para Rio Claro e Piracicaba, além da Bacia PCJ, compromisso este, que est sendo cumprido com êxito (ALVES, 2011). Esse fato obteve amplo destaque na imprensa, tanto televisiva (EPTV regional), jornais da região e sites de notícias. Com o título de “Despoluição do Ribeirão Claro melhora a água em Piracicaba”, em 3 de junho de 2011, o Jornal Cidade de Rio Claro (SILVA, 2011) publicou que não é somente Rio Claro que se beneficiou da despoluição do Ribeirão Claro, mas o Município de Piracicaba também teve benefícios com a limpeza do rio. De acordo com o Semae (Serviço Municipal de Água e Esgoto) de Piracicaba, conforme o período do ano, o município capta de 70% a 90% de água do Rio Corumbataí, que tem entre seus afluentes o Ribeirão Claro. Ainda transcreveu a fala do diretor da Foz do Brasil de Rio Claro, Sr. Sandro Stroiek, ressaltando a importância

53 A Importância da Foz do Brasil para o Município de Rio Claro – PPP Uma Nova Visão Administrativa da despoluição do Rio Ribeirão Claro para Rio Claro e Piracicaba, além da Bacia PCJ, e lembrando que os municípios que compõem a bacia assumiram o compromisso de tratar o esgoto em seu território. Segundo ele, em nossa região, esse compromisso está sendo cumprido. O site da redação da TV Claret (2010), divulgou a inauguração da ETE Jardim Condutta, com o título “Foz do Brasil e prefeitura inauguram ETE do Jardim Conduta”, destacando que a Prefeitura de Rio Claro e a Foz do Brasil inauguram a Estação de Tratamento de Esgoto do Jardim Conduta e que a obra, que está em operação desde novembro de 2010, retirou o esgoto do Ribeirão Claro e está contribuindo para despoluir a Bacia do Corumbataí que é o principal manancial de abastecimento de várias cidades da região. Ainda explicam que, para a cerimônia, foram convidados representantes de vários órgãos ambientais, governos municipal, estadual e federal, parceiros que contribuíram para a realização da obra e representantes do BNDES e FGTS e citam dados da ETE Jardim Condutta, que foi construída através de uma parceria com o poder público, esta estação tem capacidade de tratamento de 161 l/s (litros por segundo), elevando de 30 para 55% o índice de esgoto tratado no município. Ainda esclarecem que a nova unidade que foi construída dentro de uma área de 48.400 metros quadrados está tratando o esgoto gerado por uma população de aproximadamente 65 mil habitantes de quase 40 bairros, entre eles o Jd. Condutta, Vila Paulista, Cidade Nova, Saúde, Vila Bela, Bela Vista, Vila Indaiá, Vila Alemã, Vila Nova, São Miguel, Jd. Bandeirantes, Vl Industrial e Pq. Mãe Preta e que a estação vai atender quase 1/3 da população com coleta e tratamento de esgoto na cidade. Todo o efluente que era despejado in natura no Ribeirão Claro foi direcionado para a ETE Conduta. A Foz do Brasil canalizou todo o esgoto sanitário, implantando 8.751 quilômetros de rede coletora, evitando assim o seu despejo no Ribeirão Claro e seus efluentes da bacia correspondente ao subsistema Condutta (TV CLARET, 2011).

7 Conclusão Os diversos benefícios apresentados enaltecem a qualidade dos serviços prestados através de uma PPP, seja no Brasil ou em qualquer outro lugar, sendo assim, podemos destacar a viabilidade da implantação de uma infraestrutura sócio-econômica em um ritmo muito mais acelerado, combinando: desenho, construção, exploração, de uma forma sustentável; e considerando a restrição fiscal da administração pública, e (retirar este E) seu consequente impacto no crescimento e desenvolvimento do país. A experiência do setor privado como gestor de grandes obras de infraestrutura o capacita a utilizar-se das mais modernas e melhores formas de gestão e operação. A experiência e competência do setor privado aliados ao Poder do Estado/Governo/Poder Concedente, viabiliza a PPP e, deste modo, tem tudo para ser o novo sucesso administrativo.

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