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NOVAS FORMAS DE EXPANSÃO URBANA: Um estudo sobre os loteamentos na cidade de Esperantinópolis/MA.

LIGIÉRIA ALVES DOS SANTOS Universidad Del Salvador – Usal [email protected]

EDIVALDO MOTA DOS SANTOS [email protected]

FRANCISCO JORGE SANTOS SOUZA [email protected]

1 INTRODUÇÃO

Sabe-se que o espaço urbano está em constantes transformações, estas ocorrem em razão da própria dinâmica da cidade, acompanhando, dessa maneira, a evolução humana e consequentemente o desenvolvimento da vida no centro urbano. Vale ressaltar que, nos últimos anos, o crescimento urbano, que fora fortemente intensificado pela industrialização, proporcionou às cidades uma nova configuração de organização espacial, gerando com isso, diferentes formas de habitat. Deve-se levar em consideração que esse crescimento se encontra ligado diretamente aos modelos de produção vigentes, gerando dessa maneira novos formatos de habitação nas pequenas, médias e grandes cidades. No decorrer desse trabalho discute-se como esses novos espaços de moradia têm proporcionado uma nova cultura na forma de morar dos cidadãos, levando-se em consideração aspectos relevantes da vida urbana, como: condições de moradia, qualidade de vida, saneamento ambiental, dentre outros. Debate-se ainda as questões socioambientais relativas à abertura de loteamentos, com estudos voltados para os possíveis impactos que surgem com essa nova forma de expansão urbana. Dentre os principais resultados obtidos, verificou-se que em Esperantinópolis o fenômeno da expansão urbana se deu com intensidade a partir de meados da década de

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1990; descobriu-se que esse fator foi impulsionado especialmente pelo êxodo rural. Ressalta-se ainda que as novas configurações urbanas, a partir da abertura de loteamentos, trouxeram alguns problemas nos âmbitos ambiental e social para a cidade em estudo. Finalmente viu-se que nos últimos 10 anos houve um expressivo crescimento populacional da cidade, o que a tornou um município relativamente urbanizado.

2 OBJETIVOS

O presente trabalho tem por objetivo estudar o surgimento de loteamentos na cidade de Esperantinópolis/MA, tendo em vista ser um momento de expansão urbana do município mediante essa nova maneira de ocupação, a fim de entender a dinâmica que as cidades vêm apresentando no que se refere a essas novas formas de moradia. Objetiva-se, ainda, identificar os loteamentos existentes na cidade de Esperantinópolis, que surgiram nos últimos 10 anos, tendo em vista ser um momento de expansão urbana do município mediante as novas formas de ocupação.

3 METODOLOGIA

O caminho metodológico desta pesquisa foi definido levando em consideração, inicialmente, os objetivos propostos, buscando criar uma ligação entre eles e o pleno desenvolvimento desse trabalho, que iniciou-se com o desejo de trabalhar com a área ligada à urbanização das cidades, tendo em vista as dinâmicas que se sucedem nos perímetros urbanos, especialmente nas áreas mais distantes dos centros. A partir de então, deu-se início à escolha do tema, para então chegar à área de estudo escolhida: o município de Esperantinópolis, pelo fato de se observar o surgimento de inúmeros loteamentos nos últimos 10 anos. Desde então, se buscou intensamente fazer uma ponte entre os pressupostos teóricos e a realidade apresentada no município em estudo. Assim, o caminho metodológico seguido organizou-se em duas etapas principais: levantamento

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bibliográfico, no campo da expansão urbana; e pesquisa de campo, com a utilização de imagens fotográficas e criação de banco de dados sobre as áreas pesquisadas, bem como entrevistas com os proprietários dos loteamentos em estudo.

4 O MUNICÍPIO DE ESPERANTINÓPOLIS

4.1 Localização

Esperantinópolis é uma cidade do Estado do Maranhão, localizada na Macrorregião Centro Maranhense, pertencendo à Microrregião Médio Mearim, com população, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, de 18.452 habitantes. (BRASIL, 2010). O município encontra-se numa distância de 350 km ao Sul de São Luis, capital do Estado do Maranhão. Tem uma área de 452,439 km2, sendo sua densidade demográfica de 38,37 hab/km2, registrada pelo censo de 2010. A cidade apresenta os seguintes limites: ao Norte, o Município de Poção de Pedras; ao Sul, o Município de São Roberto, ao Leste, o Município de Joselândia; e a Oeste, o Município de .

4.2 Características geográficas

Dentre as principais características geográficas, falar-se-á sobre o ecossistema, clima, relevo e hidrografia do município campo desta pesquisa. No tocante aos ecossistemas, Esperantinópolis pertence ao Bioma Cerrado (BRASIL, 2010), porém situado em uma zona de transição denominada Zona dos Cocais Maranhenses, apresentando as seguintes características climáticas: clima quente e úmido, possuindo duas estações anuais bem definidas: a chuvosa, de dezembro a maio; e a seca, de junho a

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novembro. A temperatura média deste município é de 30ºC, com um índice pluviométrico chegando a alcançar 1.400mm/ano. O relevo da cidade em estudo é composto de e vales, a cidade está cravada entre vários morros, o que a faz apresentar uma beleza exuberante vista da serra que dá o acesso principal ao município. Em se tratando da hidrografia, faz-se presente no município o Rio Mearim, bem como ainda vários igarapés que cortam a cidade e povoados, alguns deles, servindo de fonte de sustento para a vida da população e animais que residem nessas áreas. Em síntese, as principais características geográficas são: o Rio Mearim, que limita a fronteira Leste por mais de 40 km; e a presença florestal da palmeira de babaçu, que é encontrada de um extremo a outro do município, e que serve como fonte de renda para as quebradeiras de coco babaçu, que o utilizam como matéria prima para a produção alimentícia e artesanal.

4.3 Economia

A economia de todo o município baseia-se principalmente em atividades de trabalho do setor primário na zona rural, pois a maioria da população do campo sobrevive do plantio e colheita de alguns produtos, bem como da criação de animais, obtendo destaque a questão agropecuária. Já na zona urbana, prevalece o setor terciário, onde o comércio é bem expressivo, especialmente no centro da cidade, pois houve grande desenvolvimento comercial nos últimos quinze anos, o que proporcionou ao município um reconhecimento social em nível regional, marcado principalmente, pelo fenômeno da urbanização, haja vista que a cidade tem apresentado uma rápida expansão urbana nos últimos tempos, especialmente com o surgimento de loteamentos.

4.4 Aspectos históricos

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De acordo com dados colhidos junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, relativos aos aspectos históricos do município, conta-se que,

No início do século XX, quando a indústria de tecelagem iniciava seu ciclo no Maranhão e surgia como grande centro de comercialização algodoeira, fundou-se aí, a firma Manoel José Salomão, que visando expandir a área de influência, abriu uma filial no lugar Angelim, vinte léguas abaixo, na margem direita do rio Mearim. Partindo de Angelim, o caçador Cândido Mendes da Silva encontrou uma lagoa, duas léguas depois do rio, tendo ali fundado um povoado, numa data imprecisa de 1940. O fundador deu o nome de Centro do Boi ao lugar. (BRASIL, 2010).

Nesse sentido, segundo o historiador esperantinopense Corrêa (2003, p. 06):

O lavrador Cândido Mendes da Silva, residente no povoado Angelim, na margem direita do rio Mearim, resolveu entrar na mata da margem esquerda em busca de caça, mas também na esperança de achar um lugar que lhe oferecesse água potável, onde pudesse habitar, livre das febres palustres que eram frequentes nas margens ribeirinhas. E encontrou o lugar com uma lagoa formada das águas pluviais da última temporada das chuvas. Era o mês de agosto de 1910.

Cândido Mendes da Silva marcou sua descoberta, abrindo uma vereda da lagoa ao rio, trazendo a história do boi selvagem que ele viu beber na hora do descobrimento, boi que ele mirou para o tiro, mas que fugiu, deixando só o rastro das patas nas margens úmidas da aguada. (CORRÊA, 2003, p. 06).

Com a descoberta de água, tem início um novo momento histórico para o surgimento da então cidade de Esperantinópolis, haja visto que a partir desse momento surgiu o primeiro povoamento do local, sendo o mesmo realizado às margens da Lagoa que ficou conhecida popularmente como Lagoa do Boi, título que também deu o primeiro nome ao pequeno povoado que começou nesse local, sendo chamada então, a pequena comunidade, de Centro do Boi. Após a chegada de Candido Mendes muitos outros cidadãos oriundos de Barra do Corda, Itapecuru e Pastos Bons vieram fixar moradia no povoado recém criado, tornando-se perceptível o desenvolvimento do povoado, e, “em 1920, Frei Josué de Monza abençoa a terra como Boa Esperança do Mearim” (CORRÊA, 2003, p. 07). A partir de então, o povoado Boa Esperança do Mearim começa a receber migrantes de

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várias partes do Maranhão, impulsionando dessa forma, o processo de urbanização da cidade que foi criada posteriormente. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (BRASIL, 2010), com as presenças constantes de autoridades de Barra do Corda em Boa Esperança do Mearim, os políticos locais animaram-se a tentar a emancipação do lugar, tendo à frente, o Sr. João Ângelo Batista, que muito lutou pelo evento. Segundo Corrêa (2003, p. 09):

O então deputado Jefferson Rodrigues Moreira apresentou o projeto na Assembleia Legislativa, sendo aprovado e sancionado pelo Governador Eugênio Barros como a lei nº 1.139, de 27 de abril de 1954, que criou a cidade de Esperantinópolis, nome dado pelo deputado autor.

A partir de então, a recém-emancipada cidade de Esperantinópolis, obteve seu desenvolvimento aos poucos, sendo o fator inicial de desenvolvimento a cultura de lavouras, com o cultivo, principalmente do algodão e da cana de açúcar, e ao passo que a cidade foi crescendo, foram diversificando-se as atividades realizadas na mesma. Tal diversificação de atividades trouxe também grandes desigualdades sociais, que podem ser observadas ainda na atualidade. Atualmente a cidade também é conhecida pelo título de Terra da Esperança, pelo fato de que muitas pessoas depositaram sua esperança de dias melhores nas terras onde fixaram moradias anteriormente. 5 LOTEAMENTOS NA CIDADE DE ESPERANTINÓPOLIS

O processo de urbanização brasileiro, desde o seu início há cerca de 50 anos até os dias atuais, vem sendo marcado por uma acentuada segregação social que se reflete espacialmente no contraste entre as áreas reguladas, dotadas de infraestrutura e, por vezes, subutilizadas, em que residem as classes de renda média e alta, e as áreas públicas e privadas na periferia da maioria das cidades brasileiras, são ocupadas por inúmeros assentamentos subnormais, habitados pela população de baixa renda, o que a impossibilita de participar do mercado imobiliário formal (CARMO, 2009, p. 23). Nesse sentido, a cidade de Esperantinópolis tem alcançado um rápido crescimento pela

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expansão de loteamentos urbanos espalhados por todo o limite urbano do município. Vale ressaltar que, no dizer de Vianna (1966, p.55):

[...] O urbanismo é condição moderníssima da nossa evolução social. Toda a nossa história é a história de um povo agrícola, é a história de uma sociedade de lavradores e pastores. É no campo que se forma a nossa raça e se elaboram as forças íntimas de nossa civilização.

Nesse sentido, fora realizada uma pesquisa pelo perímetro urbano municipal, onde foi possível detectar a abertura de 08 (oito) novos loteamentos na cidade de Esperantinópolis, todos no centro urbano, um número relativamente alto para a dimensão da área urbana deste município. Dentre os loteamentos detectados, fora realizada uma pesquisa minuciosa em cada um deles, sendo comprovado que, dentre os 08 (oito), somente 02 (dois) estão totalmente regulares, o Loteamento Santa Maria, localizado no Bairro Santa Maria e o Loteamento José Brasil, localizado nas proximidades do Conjunto Habitacional Jovitão, com construções adequadas e infraestrutura sendo inserida para suprir as necessidades da sociedade que vier a se estabelecer nos mesmos. Além de uma boa infraestrutura, os mesmos estão dotados de espaços para áreas de lazer, bem como construções de escolas e igrejas. Vale ressaltar que no Loteamento Santa Maria se encontra em fase de conclusão a construção de um Centro de Referencia da Assistência Social – CRAS – para beneficiar a população carente que reside nas proximidades do Bairro Santa Maria. Os demais loteamentos que estão em fase de abertura (06 no total), até o presente momento não oferecem as condições mínimas de moradia, fator que levou á paralização de obras nos mesmos, até que a situação de ambos esteja regularizada. Porém, foi possível perceber que, mesmo não oferecendo as condições mínimas de moradia adequadas para a população, uma parcela alta da sociedade de classe baixa, já se encontra com suas residências em fase de conclusão da obra. Com a realização de entrevistas com essas pessoas, a maioria foi convicta ao afirmar que estão construindo nesses locais pelo fato de ser o loteamento mais acessível para eles, no fator financeiro, haja vista que os regulares possuem um preço acima do valor que podem pagar na compra dos terrenos.

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Partindo desse pressuposto, é perceptível que a própria cidade se torna criadora de pobreza, pelo fato de permitir que as pessoas venham a residir em locais sem as mínimas condições de moradia e sobrevivência. Para Santos (2009, p. 10):

A cidade em si como relação social e como materialidade, torna-se criadora de pobreza, tanto pelo modelo socioeconômico, de que é o suporte, como por sua estrutura física, que faz dos habitantes das periferias pessoas ainda mais pobres. A pobreza não é apenas o fato do modelo socioeconômico vigente, mas, também do modelo espacial.

Aqui, vale mencionar que a maioria dos cidadãos que passam a residir nesses loteamentos irregulares são advindos da zona rural, haja vista que tem ocorrido uma grande migração do campo para as cidades, o que tem, em muitos momentos, favorecido a sobrevivência dos mesmos em condições precárias, pois muitos dos que praticam o êxodo rural, vem para os centros urbanos em busca de melhores condições de vida, o que na maioria das vezes não é encontrado, pois o primeiro problema que estes encontram é o local de moradia, que a princípio parece ser o melhor local para se morar, porém, com o passar dos dias se vai percebendo que faltam condições mínimas para a moradia. Santos (2009, p. 11), vem ao encontro dessa ideia, ao mencionar que:

Ao longo do século, mas sobretudo, nos períodos mais recentes, o processo brasileiro de urbanização revela uma crescente associação com o da pobreza, cujo lócus passa a ser, cada vez mais, a cidade, sobretudo a grande cidade. O campo brasileiro moderno repele os pobres, e os trabalhadores da agricultura capitalizada vivem cada vez mais nos espaços urbanos.

Partindo dessa ideia, lembra-se que o município de Esperantinópolis não está fora dessa realidade brasileira, apesar de ser um município pequeno em relação a tantos outros municípios brasileiros, este apresenta uma rápida expansão urbana, o que favorece a abertura de novos loteamentos no perímetro urbano, alguns seguindo todos os tramites legais para favorecer boas condições de moradia ás pessoas, outros, porém, aproveitando- se da pobreza para abrir um loteamento irregular e deixar a sociedade á mercê de uma moradia sem infraestrutura mínima para a sobrevivência.

6 CONCLUSÃO

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Ao trabalharmos sobre a expansão urbana na cidade de Esperantinópolis, foi possível observar mais de perto os loteamentos urbanos como novas formas de crescimento no perímetro urbano. A partir das leituras e levantamentos realizados ao longo do desenvolvimento da pesquisa, foi possível observar que no processo de expansão urbana da cidade de Esperantinópolis, o modo de vida no meio urbano, exerceu e continua exercendo um forte atrativo ás pessoas do campo, provocando assim a abertura de loteamentos periféricos, devido à facilidade de acesso a estes, haja vista que os preços se tornam mais acessíveis aos pobres. Foi possível compreender ainda mais, que o espaço urbano está em constantes mudanças, porém, vale ressaltar que estas mudanças favorecem cada vez mais a sociedade de classes média e alta, pois possibilita que elas optem pelas melhores localizações, deixando as zonas periféricas para os loteamentos irregulares, gerando dessa forma, diversos conflitos sócio espaciais na cidade. Por fim conclui-se que, a maioria dos loteamentos da zona urbana da cidade de Esperantinópolis estão sendo construídos de forma irregular, pois não há uma infraestrutura adequada que possa oferecer uma boa qualidade de vida para a população que futuramente virá a residir nessas áreas. O que se percebe é que grande parte dos proprietários apenas têm a intenção de abrir um loteamento, porém sem a menor preocupação com as condições de moradia das pessoas que ali virão a residir, provocando assim, um grande desequilíbrio sócio espacial no perímetro urbano municipal.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População censo 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/MA2010.pdf. Acesso em: 28 jan. 2016, às 19h22min.

CORRÊA, Raimundo Carneiro. Notas Históricas de Esperantinópolis. 3 ed. – MA: Gráfica e Editora Dimensão, 2003.

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VIANNA, Francisco José. Evolução do povo brasileiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966.

SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. 5 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2009.

Estágio da Pesquisa: Concluída