Meio Ambiente 13
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View metadata, citation and similar papers at core.ac.uk brought to you by CORE provided by Biblioteca Digital de Periódicos da UFPR (Universidade Federal do Paraná) GIRARDI, G.; COMETTI, R. de S. Dinâmica do uso e ocupação do solo... Dinâmica do uso e ocupação do solo no litoral sul do estado do Espírito Santo, Brasil Land use and occupation dynamics of south littoral of Espírito Santo state, Brazil Gisele GIRARDI* Renata de Souza COMETTI** RESUMO Este artigo analisa alguns aspectos do uso de terra e da ocupação do litoral sul do estado do Espírito Santo, Brasil, região composta por onze municípios, cinco dos quais incluídos na região metropolitana da Grande Vitória. Justifica, inicialmente, o recorte territorial adotado e apresenta uma análise histó- rica desta ocupação, que é articulada ao movimento geral da organização do espaço no estado do Espírito Santo. Discute, com base em análises de tabelas, a dinâmica demográfica e urbana, os aspec- tos infra-estruturais e indicadores socioeconômicos. Finalmente, aponta algumas tendências e cenários futuros, com ênfase na recente exploração de petróleo no mar territorial sul-espiritossantense, força econômica que promove uma nova organização do espaço. Este trabalho resultou de pesquisa desen- volvida pela equipe Espírito Santo do Subgrupo Temático Uso e Ocupação do Grupo Temático Mode- lagem e Monitoramento da Erosão e Ocupação Costeira Instituto do Milênio (Milênio-Recos-MMOC), e pretende fornecer alguns elementos à compreensão das relações entre os elementos naturais e huma- nos que configuraram as zonas costeiras brasileiras. Palavras-chave: uso e ocupação do solo; organização do espaço costeiro; litoral sul do Espírito Santo. ABSTRACT This paper analyse some aspects of land use and occupation of the south littoral of Espírito Santo’s state, Brazil, region composed by eleven municipalities, five of them included in Grande Vitória’s metropolitan region. Justifies, initially, the territorial contour adopted and to present an historical approach of this occupation, that is articulated to the general movement of the space organization in Espírito Santo’s state. Discusses, based in analyses of tables, the demographic and urban dynamics, infra-structurals aspects and social and economics indicators. Finally, points out some future tendencies * Professora Doutora no Departamento de Geografia do Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo e membro do Sub-Grupo Temático Uso e Ocupação do Solo do Instituto do Milênio – Recursos Costeiros – Grupo Temático Modelagem e monitoramento da erosão e ocupação costeira (Milênio- Recos-MMOC). ** Aluna do Curso de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo e Bolsista de Iniciação Científica (CNPq) no Milênio-Recos-MMOC no período 2003/2004. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 13, p. 51-73, jan./jun. 2006. Editora UFPR 51 GIRARDI, G.; COMETTI, R. de S. Dinâmica do uso e ocupação do solo... and sceneries, with emphasis on recent off-shore oil exploration, economic force that promotes a new space organization. This paper is an result of the research developped by Espírito Santo’s team of thematic sub-group “Land Use and Occupation”, of thematic group “Modeling and Monitoring of the Coastal Erosion and Occupation” of the “Instituto do Milênio” (Milênio-Recos-MMOC), and intend to provide some elements to comprehension of relations between natural and human elements that confi- gure the brazilians coastal zones. Key-words: land use and occupation; space organization coastal; south littoral of Espírito Santo state. Introdução do por fazendas, principalmente jesuítas, em trechos do li- toral. No período subseqüente, já no ciclo mineiro, o territó- rio do Espírito Santo funcionou como “barreira natural” às A dinâmica do uso e ocupação do solo do litoral sul Minas Gerais e essa condição se manteve até o século XIX. do Espírito Santo inscreve-se no movimento geral da orga- O que tirou o Espírito Santo da situação de estagna- nização do espaço capixaba, ora como locus do desenvol- ção econômica foi o ciclo do café, ou, conforme Borgo et vimento econômico, particularmente urbano e industrial, al. (1996), o “efeito-difusão” do café, que no final do sécu- ora como área pressionada para atender demandas secun- lo XIX atingiu primordialmente o sul do estado como ex- dárias dessas atividades. Partiremos, portanto, de uma vi- pansão das áreas cafeicultoras do Rio de Janeiro e Minas são macro da dinâmica da ocupação do território capixaba para situar o litoral sul. Gerais. Inicialmente cabe apontar que denominaremos lito- Já na área serrana central, nesse período houve um ral sul do Espírito Santo o conjunto de municípios abrangi- grande fluxo de imigrantes, em sua maioria alemães e itali- dos pela faixa terrestre da zona costeira (em conformidade anos, que intensificaram o plantio do café. A reprodução com o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro) entre dessa população migrante foi o elemento primordial para Vitória e Presidente Kennedy (Figura 1). Essa divisão regio- expansão da área cafeicultora para as terras situadas ao norte nal difere da divisão mesorregional do IBGE, pois abarca do rio Doce, que mantinha, até então, sua situação natural parcialmente os municípios da faixa terrestre da zona cos- praticamente inalterada. teira da Região da Grande Vitória e a totalidade dos muni- O deslocamento da frente pioneira para o norte do rio cípios da faixa terrestre da zona costeira das Regiões Cen- Doce caracterizou-se, segundo Becker (1973), por três fa- tral e Sul. Por outro lado, essa divisão aproxima-se dos se- ses distintas. Entre 1928 e 1950 houve o rápido crescimen- tores 4 e 5 propostos por Martin et al. (1989), com base na to da atividade, motivado pela construção da ponte sobre o análise do grau de desenvolvimento dos depósitos rio Doce em Colatina, pela alta do preço do café no merca- quaternários costeiros. As divisões citadas podem ser ob- do internacional após a crise de 1929 e pela crescente de- servadas na Figura 2. manda por madeira para a expansão urbana e industrial do Sudeste. Entre 1950 e 1960, já com o esgotamento da madei- ra e com o preço do café em baixa no mercado internacional, Visão geral da organização do território do Espí- o crescimento é lento. A partir de 1960 houve, por parte do rito Santo governo estadual, uma intensa política de erradicação dos cafezais, que, somada à descapitalização dos proprietários A despeito de ter áreas cuja ocupação data de 1535, é rurais, resultou numa forte concentração fundiária no norte somente no século XX que o território do Espírito Santo se do estado com a implantação da atividade pecuária (de baixa integra. A faixa hoje representada pelo estado do Espírito produtividade), seguida da implantação de monoculturas Santo caracterizava-se, na época do descobrimento, em ter- de cana-de-açúcar e eucalipto, principalmente, para forne- mos naturais, pelo ecossistema de Mata Atlântica, e era cimento de matéria-prima aos processos industriais que se habitada por nações indígenas. Segundo o naturalista instalam a partir dos anos 1970. Auguste de Saint-Hilaire (1883), essa situação, hostil ao Nas regiões Vitória e Sul, no início do século XIX, colonizador português, desmotivou a ocupação das terras houve intensificação das plantações de café, e na região de interiores do Espírito Santo, e o estado foi somente ocupa- Vitória (área que hoje engloba os municípios de Vitória, 52 Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 13, p. 51-73, jan./jun. 2006. Editora UFPR GIRARDI, G.; COMETTI, R. de S. Dinâmica do uso e ocupação do solo... FIGURA 1 - LITORAL SUL DO ESPÍRITO SANTO – BRASIL Serra, Cariacica, Viana, Vila Velha, Santa Leopoldina, açúcar. Todo o plantio de café dessas regiões iniciou-se com Marechal Floriano e Domingos Martins) o café substituiu utilização de mão-de-obra escrava. Posteriormente, houve a as antigas lavouras de subsistência. Já na região Sul, nos introdução de imigrantes, principalmente italianos e alemães. vales dos rios Itapemirim e Itabapoana, o café foi a cultura Como a introdução do café nessas áreas coincidiu com o pioneira, com exceção da área próxima à foz do Itaperimirim, final do período escravista e considerando-se, ainda, que o que foi primeiramente ocupada por fazendas de cana-de- valor do escravo nesse momento era alto e que as fazendas Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 13, p. 51-73, jan./jun. 2006. Editora UFPR 53 GIRARDI, G.;COMETTI,R.deS.Dinâmicadousoeocupaçãosolo... 54 FIGURA 2 - DIVISÃO MESORREGIONAL, MUNICÍPIOS E SETORES COSTEIROS – ESPÍRITO SANTO Setores Costeiros LEGENDA: (segundo Martin, et al. 1989) MUCURICI BAHIA MONTANHA PONTO Mesorregiões BELO ECOPORANGA PEDRO (segundo o IBGE) CANÁRIO PINHEIROS SETOR 1 ÁGUA Divisa do estado do Espírito Santo com o Noroeste DOCE CONCEIÇÃO DO BOA DA BARRA NORTE ESPERANÇA estado da Bahia até Conceição da Barra Planícies costeiras estreitas, associadas às desembocaduras Litoral Norte VILA PAVÃO dos rios Itaúnas e São Mateus, ao sopé das falésias BARRA da Formação Barreiras. DE SÃO FRANCISCO NOVA VENÉCIA Central SÃO MATEUS JAGUARÉ MANTENÓPOLIS SÃO GABRIEL ÁGUIA DA PALHA BRANCA VILA Sul ALTO VALÉRIO RIO NOVO SOORETAMA PANCAS SÃO DOMINGOS DO NORTE SETOR 2 Conceição da Barra à Barra do Riacho GOVERNADOR RIO BANANAL LINDENBERG Planície costeira deltaica do rio Doce. Trecho do litoral capixaba onde os depósitos quaternários atingem o seu máximo Municípios Costeiros desenvolvimento, cerca de 38 km transversalmente entre as Desenvolvimento e Meio Ambiente, n.13, p.51-73,jan./jun. 2006.EditoraUFPR Desenvolvimento eMeio falésias mortas da Formação Barreiras, no interior, MARILÂNDIA (conforme o PNGC) COLATINA LINHARES e a linha de costa. BAIXO GUANDU SÃO JOÃO ROQUE NEIVA S DO ARACRUZ I ITAGUAÇU CANAÃ A LARANJA IBIRAÇU SANTA TERESA 0 25 km R DA TERRA ETOR E S 3 Barra do Riacho à Ponta de G FUNDÃO S ITARANA Tubarão, Baía do Espírito Santo A AFONSO Fraco desenvolvimento de depósitos quaternários ao sopé das IN CLÁUDIO SANTA M MARIA SERRA falésias da Formação Barreiras, podendo-se encontrar setores DE JETIBÁ SANTA LEOPOLDINA onde as falésias da Formação Barreiras estão em contato direto BREJETUBA com a praia.