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F62 Versão Oficial – Araci Côrtes E S T Ú D I O F - programa número 62

Á U D I O T E X T O

Música-tema entra e fica em BG;

Locutor - A Rádio Nacional apresenta ESTUDIO F, Momentos Musicais da Funarte

Apresentação de Paulo César Soares

Paulo César : - Alô, amigos! No programa de hoje, uma artista à frente de seu tempo que causou furor nos espetáculos de revista da Praça Tiradentes, nos quais foi, sem dúvida, a mais importante entre todas as estrelas. Seja interpretando um sacudido ou um dengoso samba-canção, essa carioca balançava as estruturas, o que lhe valeu da crítica o apelido de “figurinha petulante”. Mas, na realidade, para a música brasileira, ela foi e continua sendo a mais linda flor.

Entra trecho de “Linda Flor” já na parte cantada, fica pouquíssimo tempo e cai em BG. (LP Araci Funarte – Faixa 2/Lado A).

Paulo César: - O teatro musicado volta à cena no Estúdio F – Série Intérpretes! E, no palco, revivemos toda graça de Araci Cortes.

Sobe o som, fica pouquíssimo tempo e corta.

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Paulo César: - Carioca nascida em 31 de março de 1904, no bairro do Catumbi, Araci Côrtes definiu muito cedo que seu negócio era mesmo a música. Vizinha de na infância e filha do chorão Carlos Espíndola, a artista, antes mesmo de brilhar nos palcos da Praça Tiradentes, já apreciava cantar e dançar. O ingresso na carreira artística foi apressado pela morte de seu pai. Como precisava ganhar dinheiro e queria conseguir isso com o que realmente gostava de fazer, Araci começou a cantar no circo Democrata, que ficava na Praça da Bandeira. Apesar de uma estréia nervosa, a artista recebeu ali, no picadeiro, fortes palmas que seriam uma constante em sua carreira. Naquela época, já estava em seu repertório a composição “Quem Quiser Ver”, de Eduardo Solto.

Entra “Quem Quiser Ver” (LP Araci Cortes – Funarte – Faixa 7/Lado A) e rola inteira.

Paulo César: - Sucesso no circo e com o aval de Pixinguinha, Araci rumou para o teatro de revista em busca da consagração nacional. Nesta época, ainda atendia pelo nome de batismo que era Zilda de Carvalho Espíndola. Mas o crítico teatral Mário Magalhães rebatizou a morena de Araci Côrtes, nome considerado mais artístico, pois reunia pompa e simplicidade. Assim, devidamente renomeada, Araci pisou forte o palco do Teatro Recreio em 1921 na revista “Nós Pelas Costas” de J. Praxedes e Sá Pereira. A nova artista foi muito bem recebida pela crítica e, da estréia ao estrelato, foi um pulo. Mas o primeiro grande sucesso em disco veio em 1928. Trata-se de “Jura”, samba amaxixado de Sinhô, ao qual a intérprete deu um toque especial.

Entra “Jura” (LP Araci Cortes – Funarte – Faixa 1/Lado B) e rola inteira.

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Paulo César: - O samba “Jura” foi lançado por Araci Cortes na revista Microlândia. No volume um de seu livro “Figuras e Coisas da Música Popular Brasileira”, Jota Efegê conta que o lançamento da composição no Teatro Fênix foi um sucesso retumbante com a platéia exigindo a repetição do número diversas vezes. Mas ser consagrada pelo público era algo comum para Araci. Naquela altura, uma estrela já acostumada a levar o público ao delírio com , cujas letras maliciosas ela interpretava com chistes e requebros. Um bom exemplo do gênero é o samba “Tu Qué Tomá Meu Home”, composição de e Olegário Mariano, que a cantora lançou em 1929 na revista “Vamos Deixar de Intimidade”.

Entra “Tu Qué Tomá Meu Home” e rola inteira. (LP Araci Cortes – Funarte – Faixa 3/Lado A) e rola inteira.

Paulo César: - O repertório de Araci Cortes ia dos sambas sacudidos à canção romântica. E, com igual talento, ela era capaz de dar vida a composições de naturezas completamente opostas criadas por um mesmo compositor. De Ary Barroso, por exemplo, gravou sambas na qual é nítida a influência de Sinhô, mas também gravou a canção “Quem me compreende”, a qual deu uma interpretação suave. A esta música, Araci imprimiu o modo de interpretar das chamadas cantoras de salão, muito em voga em 1931, ano de lançamento da composição feita em parceria com Bernadino Vivas. Vamos conferir.

Entra “Quem me compreende” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 4/Lado A).

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Paulo César: - Também de Ary Barroso, Araci Cortes lançou a composição “No Morro”, parceria do autor de “Aquarela do Brasil” com Luís Iglesias. Essa música fazia parte da revista “Diz Isso Cantando” e era apresentada em dueto: no palco com João Martins e, no disco, com o pianista Augusto Vasseur – em sua única gravação como cantor. O que pouca gente sabe é que o batuque “No Morro” foi reescrito oito anos depois e, sob o título de “Boneca de Piche”, foi gravado por Carmem Miranda e Almirante. Mas, na seqüência, vamos ouvir a gravação original com Araci Cortes e Augusto Vasseur.

Entra “No Morro” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 6/Lado B).

Paulo César: - No próximo bloco, Araci Cortes conquista platéias internacionais e lança compositores de primeira.

Locutor: - Estamos apresentando Estúdio F, Momentos Musicais da Funarte.

I N T E R V A L O

• Insert Chamada Funarte

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BLOCO 2 Locutor: - Continuamos com Estúdio F Entra “Tu Qué Tomá Meu Home”, rapidamente cai em BG e permanece brevemente durante a fala de Paulo César.

Paulo César: - De acordo com o pesquisador Jairo Severiano, Araci Cortes possuía uma voz aguda, pouco extensa, mas muito musical. Além disso, ela soube tirar partido de sua sensualidade, tornando-se pioneira de um estilo que atravessou gerações e até hoje pode ser reconhecido no trabalho de diversas artistas. Araci foi também precursora ao ser a primeira estrela de revista a excursionar pelo exterior. Apresentou-se em Lisboa, Paris e Buenos Aires e encantou personalidades internacionais como Josephine Baker. O mundo se curvava à interpretação entusiasmada de Araci para sambas buliçosos como “Teu Desprezo”, autoria de Artur Costa, que vamos ouvir na seqüência.

Entra “Teu Desprezo” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 5/Lado a).

Paulo César: - Apesar de dominar os sambas de ritmo vivo, o cartão de visitas do repertório de Araci Cortes era a canção “Linda Flor”, também conhecida como “Iaiá” ou “Ai, Ioiô”. Esta composição tem grande importância para a MPB, pois foi o primeiro samba-canção a obter a consagração popular. Mas, antes de se transformar em um sucesso, a melodia de Henrique Vogeler para “Linda Flor” teve outras duas versões: a primeira, feita por Cândido Costa, foi lançada por Dulce Almeida na comédia “A Verdade ao Meio-dia” e gravada por Vicente Celestino. A segunda versão, que teve letra de Freire Júnior e recebeu o título de “Meiga Flor”, foi gravada por Francisco Alves. Já a versão definitiva, escrita por Luís Peixoto, foi composta em pleno palco do Teatro Recreio, durante um ensaio da revista Miss Brasil, porque Araci recusou a letra de Cândido Costa. Nascia assim um clássico do nosso cancioneiro que já teve interpretações de Ângela Maria, Isaurinha Garcia, Dalva de Oliveira e Elizeth Cardoso, mas que foi realmente imortalizado por Araci Cortes.

Entra “Linda Flor” (LP Araci Funarte – Faixa 2/Lado A ) e rola inteira.

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Paulo César: - Segundo o pesquisador Roberto Ruiz, autor do livro “Araci Cortes: Linda Flor”, publicado pela Funarte em 1984; com o êxito de “Jura” e “Linda Flor”, a estrela popular, a atriz cujo nome tinha destaque nos cartazes do teatro de revista passou a ser uma cantora assediada pelos compositores, certos de que nela encontrariam uma intérprete capaz de valorizar suas obras. Além de Ary Barroso, grandes criadores da nossa MPB, como Lamartine Babo e , tiveram músicas lançadas por Araci nas revistas populares que a artista apresentou no Brasil e também em Portugal. Entre essas revistas de enorme sucesso, estava “Laranja da China” que tinha a música “A Polícia já foi lá em casa” como um dos destaques do espetáculo. A melodia é de Júlio Cristóbal – maestro espanhol que soube captar o espírito dos sambas da época. Já a letra, de Olegário Mariano, explora o tema da mulher de malandro, muito em voga na ocasião.

Entra “A Polícia Já Foi Lá Em Casa” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 3/Lado B).

Paulo César: - Um grande nome de nossa MPB também lançado por Araci Cortes foi o do baiano Assis Valente, que praticamente abandonou sua carreira de protético, quando Araci lhe abriu as portas do sucesso como compositor ao gravar seu samba “Tem Francesa no Morro”. A gravação que ouviremos na seqüência faz parte de um disco produzido pela Funarte em 1984 em comemoração aos 80 anos da cantora. Antes de cantar o samba de Assis Valente, Araci diz alguns versos dedicados a ela por Jota Maia. Em seguida, entra a gravação original de “Tem Francesa no Morro” de 1932 mixada com a gravação feita, em 1967, para o disco do show “Rosa de Ouro”. A montagem desta faixa foi idealizada e executada pelo produtor Hermínio Bello de Carvalho. Vamos conferir.

Entra “Tem Francesa No Morro” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 7/Lado B)

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Paulo César: - No próximo bloco, Araci Cortes encontra o amor e vira uma rosa de ouro.

Locutor: - Estamos apresentando Estúdio F, Momentos Musicais da Funarte.

I N T E R V A L O

• Insert Chamada Funarte

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BLOCO 3

Locutor: - Continuamos com Estúdio F

Entra “Tem Francesa No Morro” (PARTE CANTADA), rapidamente cai em BG e permanece brevemente durante a fala de Paulo César.

Paulo César: - As revistas da Praça Tiradentes eram repletas de críticas à politicagem dominante e faziam oposição às manobras do Palácio do Catete em prol do então candidato Júlio Prestes. O presidente Washington Luís, embora não perseguisse os artistas que o satirizavam em cena, sabia o que se passava por meio de seus homens de confiança que assistiam às apresentações. Um deles era Renato Meira Lima, secretário particular do presidente da República com quem Araci Cortes se envolveu. Renato foi o grande companheiro da vida da artista. Amigo, confidente e empresário, foi ele quem a estimulou a se desligar do Teatro Recreio e a fundar sua própria companhia. O casal ficou junto até a morte de Renato. Para relembrar essa história de amor, nada melhor do que um samba-canção que pertence ao repertório romântico de Araci. Com muito dengo, ela interpreta “Um Sorriso”, de Benedito Lacerda.

Entra “Um Sorriso” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 4/Lado B)

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Paulo César: - Na década de 50, Araci Cortes se afastou do meio artístico. Mas voltou à cena, em 1965, pelas mãos de Hermínio Bello de Carvalho em um dos concertos do Movimento Menestrel, que reunia artistas eruditos como Turíbio Santos e Oscar Cáceres a artistas populares como e Elton Medeiros. Araci dividiu o palco com Jacob do Bandolim. Entre os sucessos que a intérprete reviveu, estava “Baianinha”, samba composto por De Chocolat em parceria com Oscar Mota. Gravado em 1929, “Baianinha” era um dos sambas favoritos de Araci.

Entra “Baianinha” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 6/Lado A)

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Paulo César: - Outro momento marcante do espetáculo “O Menestrel” foi a interpretação que Jacob do Bandolim e Araci Cortes deram para “Carinhoso”. O clássico de Pixinguinha e João de Barro há muito tempo já integrava o repertório da cantora, inclusive “Carinhoso” teve a presença de Araci na história de sua criação. O pesquisador Roberto Ruiz conta que Pixinguinha compôs apenas a melodia. Araci ouviu e pediu ao amigo a partitura original que ela passou a conservar como se fosse uma verdadeira relíquia. Araci colocou letra na música e incluiu o número em uma de suas revistas no Teatro Recreio com sucesso. Então, uma gravadora enviou um mensageiro ao teatro justamente para pedir a letra que Araci interpretava, a fim de que Orlando Silva a gravasse. Não sabia a gravadora e muito menos o mensageiro que a tal letra era de autoria de Araci. Insatisfeita com a desinformação e indignada por ter sido preterida, a cantora rasgou o que havia feito. Depois disso, veio a conhecida versão de Braguinha, que foi gravada com enorme êxito por Orlando Silva.

Na seqüência, vamos ouvir o depoimento de Araci Cortes descrevendo sua volta aos palcos após 19 anos de ausência e também a gravação de “Carinhoso” realizada em fevereiro de 1965 no Teatro Jovem.

Entra “Depoimento de Araci Cortes/ Carinhoso” e rola inteira. (LP Araci Funarte – Faixa 1/Lado A)

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Paulo César: - Com o sucesso do Movimento Menestrel, Araci Cortes, ao lado de , passou a ser uma das estrelas do show “Rosa de Ouro” de 1965, produzido por Hermínio Bello de Carvalho. A ex-vedete da Praça Tiradentes apresentava-se na primeira parte ao lado do grupo musical “Cinco Crioulos”, formado por Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, Anescar do Salgueiro, Paulinho da Viola e . O espetáculo originou um disco antológico, que reúne, entre outras jóias da nossa MPB, a bela interpretação de Araci para a marcha- rancho “Os Rouxinóis” de Lamartine Babo.

Entra “Os Rouxinóis” e, pouco antes do final, cai em BG (CD de capinha branca Clementina de Jesus: “CD Aracy Cortes, Clementina de Jesus e Conjunto Rosa de Ouro – Rosa de Ouro – 1965”, faixa 4).

Paulo César: - Depois do sucesso do show Rosa de Ouro, Araci Cortes recolheu-se outra vez, apresentando-se apenas esporadicamente. Em 1981, foi incluída na programação da Sala Funarte Sidney Miller do . O espetáculo integrou a série “Noturno” e teve a participação do cômico Carvalhinho. Quatro anos depois, Araci Cortes faleceu aos 80 anos de idade, deixando na MPB a marca de seu pioneirismo.

Sobe som “Os Rouxinóis” e rola até o fim.

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Entra música-tema do Estúdio F e fica em BG;

O programa de hoje foi roteirizado pelo jornalista Cláudio Felicio. O Estúdio F é apresentado toda semana pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro e na Rádio Nacional de Brasília, emissoras Radiobras. Os programas da série também são uma das atrações do Canal Funarte. Acessem a nossa rádio virtual. O endereço é www.funarte.gov.br/canalfunarte . Cultura ao alcance de um clique! Você também pode ouvir o programa pelo site da Radiobras: www.radiobras.gov.br

Quem quiser pode escrever para nós, o endereço é: Praça Mauá número 7 - 21 andar Rio de janeiro - CEP/ 20081-240 Se quiser mandar um e-mail, anota aí: [email protected]

Paulo César: - Valeu Pessoal! Até a próxima!!! ENCERRAMENTO / FICHA TÉCNICA