Baía De Sepetiba
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Baía de Sepetiba: fronteira do desenvolvimentismo e os limites para a construção de alternativas Baía de Sepetiba: fronteira do desenvolvimentismo e os limites para a construção de alternativas 1ª edição Rio de Janeiro, maio de 2015 PACS - Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul Rua Evaristo da Veiga, 47/702 - Centro - CEP 20031-040 - Rio de Janeiro - RJ Telefone: +55 21 2210-2124 www.pacs.org.br Coordenação Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul - PACS Ficha técnica Texto Equipe PACS Pesquisa Camila Moreno e Karina Kato Fotos Acervo PACS Revisão de Texto Gigi Silva Projeto Gráfico Gabi Caspary - Espaço Donas Marcianas Mapas e capa Gabi Caspary Apoio Fundação Rosa Luxemburgo (FRL) Esta publicação foi financiada com recursos da FRL com fundos do Ministério Federal da Cooperação Econômica e de Desenvolvimento (BMZ). ISBN 978-85-89366-31-1 Introdução: Baía de Sepetiba, fronteira do desenvolvimentismo? ______________________ 4 Um conto do capital entre duas baías ____________________________________________________ 14 Baía de Sepetiba: “síntese do Brasil”? ____________________________________________________________ 22 Como entender esse círculo infernal ? _____________________________________________________________ 26 Passivo ambiental e os planos mirabolantes para sua reversão: sustentabilidade para quem? ____________ 30 Índice O Polo Industrial de Sepetiba _____________________________________________________________ 38 Portos e terminais portuários ___________________________________________________ 56 O papel estratégico-portuário da Baía de Sepetiba _________________________________________________ 59 Porto de Itaguaí (antigo Porto de Sepetiba) _________________________________________________________ 63 O Porto de Itaguaí e o Pré-Sal ____________________________________________________________________ 69 Porto Sudeste __________________________________________________________________________________ 71 Portos, logística e mineração _____________________________________________________________________ 74 A Baía de Sepetiba e as expectativas em torno do Pré-Sal _____________________________ 78 Amazônia Azul: petróleo e defesa _________________________________________________________________ 87 Um submarino nuclear nos trópicos _______________________________________________________________ 91 Empresas e a estratégia nacional de defesa ________________________________________________________ 94 Ampliando as fronteiras: para além da Amazônia Azul _______________________________________________ 97 Considerações finais _____________________________________________________________________ 110 Bibliografia ________________________________________________________________________________ 118 Conheça os materiais do PACS __________________________________________________________ 122 A Baía de Sepetiba é alvo de interesses econômicos, estratégicos e geopolíticos que se refletem no território num complexo emaranhado de megaempreendimentos com alto potencial de impacto social e ambiental • 4 • Baía de Sepetiba: Introdução: Baía de Sepetiba, fronteira do desenvolvimentismo? Em 2015 completa-se uma década de resistência à ocupação da Baía de Sepetiba por megaempreendimen- tos que vêm transformando radicalmente a região e operando profundas reconfigurações no território. Nos últimos anos, o conflito em torno da instalação e operação de uma siderúrgica – empreendimento conjunto da empresa alemã ThyssenKrupp Steel e da Vale localizado no bairro de Santa Cruz (Zona Oeste do Rio de Janeiro) – ganhou repercussão nacional e internacional e tornou a região do entorno da Baía de Sepetiba palco de uma das lutas mais emblemáticas de enfrentamento do modelo desenvolvimentista. Desde 2005, quando 75 famílias do MST foram removidas do terreno onde a empresa seria instalada até a organização mais recente da mobilização contra a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA)1 na campanha “Pare, TKCSA!”2, moradores de Santa Cruz, pescadores da Baía de Sepetiba, além de movimentos sociais, organizações, sindicatos e pesquisadores das universidades, vêm denunciando as 1. A Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA) foi o primeiro megaempreendimento a se instalar na Baía nos anos recentes. Ela é uma usina siderúrgica com um porto integrado com capacidade de produção de 5,5 milhões de toneladas de placas de aço por ano. 2. http://paretkcsa.blogspot.com.br/. fronteira do desenvolvimentismo e os limites para a construção de alternativas • 5 • irregularidades de uma trajetória marcada pelo desrespeito sistemático à legislação ambiental. A empresa funciona desde a inauguração, em 2010, sem licença de operação3 e está envolvida em um conjunto de denúncias, incluindo ameaças a lideranças contrárias ao projeto, realização de sistemáticas irregularidades no processo de licenciamento, violação de direitos trabalhistas e desrespeito às populações locais, entre Introdução outros4. Além disso, a siderúrgica só se viabilizou graças ao financiamento público do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), acompanhado de um farto montante de benefícios fiscais (federais, estaduais e municipais), configurando uma arquitetura de apoio e financiamento estatal para a apropriação privada do lucro – ampliando e aprofundando a dimensão social e ambiental da dívida gerada por projetos deste tipo5. 3. A TKCSA possui licença prévia expedida pela FEEMA em 2006 (LP no FED011378). Em 28 de setembro de 2006, o INEA expediu a licença de instalação (LI no FE011733) com validade de 36 meses. Esta, quando vencida, foi substituída por uma nova licença de instalação (LI no IN000771), dando à empresa mais três anos para adequar o complexo industrial à legislação ambiental brasileira e conseguir, então, a licença de operação. A TKCSA começou a operar em junho de 2010 e teve 210 dias para substituir sua licença de instalação em licença de operação. Contudo, devido aos problemas apresentados em seu processo produtivo e à poluição deles decorrentes, sua licença de instalação venceu e a licença de operação não foi concedida. Atualmente a empresa funciona assegurada pela assinatura de um segundo Termo de Ajuste de Conduta (TAC). O primeiro foi assinado em 20 de março de 2012 e ampliou o prazo para a obtenção da licença de operação em mais dois anos. Para conseguir a licença, o TAC estabeleceu que a empresa teria que cumprir com 134 pontos, de modo a adequar seu processo produtivo à legislação ambiental e às condicionalidades exigidas no processo de licenciamento (Governo do Estado do Rio de Janeiro, 2012). Em 27 de março de 2014, foi realizada nova audiência pela Ceca SEA relacionada ao processo de licenciamento da TKCSA. Diante da constatação do não cumprimento dos 134 pontos, foi assinado mais um TAC que amplia o prazo da empresa para obtenção da licença de operação em mais dois anos (até março de 2016). Importante mencionar que a empresa continua operando nesse período. 4. http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=fiocruz-confirma-impactos-saude-poluicao-siderurgica. Segundo relatório de atualização dos impactos na saúde da atividade da TKCSA divulgado no final de 2014 pela FIOCRUZ, sobre a região extremamente vulnerável da bacia hidrográfica de Sepetiba, a intensa poluição gerada pela atividade siderúrgica para produção de chapas de aço bruto para exportação é ampliada para além dos eventos críticos (objeto de multa), se revelando também na contaminação do ar e da água, sendo relacionada tanto ao surgimento de novos casos de doenças como o agravamento de quadros clínicos pré-existentes. 5. Ver MESENTIER, A.; LIMA, R. TKCSA: um paraíso fiscal em Santa Cruz. Rio de Janeiro: PACS, 2013. • 6 • Baía de Sepetiba: Ao longo da última década, a empresa TKCSA tornou-se símbolo da ocupação da Zona Oeste do Rio de Janeiro e símbolo dos planos de desenvolvimento arquitetados para a Baía de Sepetiba. A empresa reflete um modelo de desenvolvimento de imposição de um destino que subordina toda a região aos fluxos globais de matéria e energia, polui e adoece a população6. Considerada a maior siderúrgica da América Latina, a TKCSA foi o primeiro grande projeto industrial implantado na região nos anos 2000. Apesar de emblemática, Introdução a TKCSA não é o único empreendimento pensado para a Baía de Sepetiba, nem constitui um caso isolado. Como ocorre em tantas outras lutas travadas diariamente em rincões espalhados pelo país afora, popu- lações atingidas enfrentam a imposição da violência legítima do Estado (e dos seus sócios), que, em nome da sanha desenvolvimentista, viola direitos, hipoteca territórios e inviabiliza outras alternativas de futuro. As alternativas são negadas em nome do ‘progresso’, da manutenção do ‘crescimento’ e da ‘modernização’. Carregado de ideologia, este discurso invisibiliza e exclui os que não cabem em sua visão de mundo e de futuro: sejam mulheres, índios, ribeirinhos, quilombolas, pescadores ou, em outros casos, ecossistemas. Nesta perspectiva, a luta contra a TKCSA se soma a tantos outros exemplos, que, em diferentes contextos e com suas particularidades, reiteram o mesmo dilema de fundo: desenvolvimento? para quem e para quê?7 Todos esses casos refletem o modelo de desenvolvimento que vem se conformando no país desde 2003, quando tem início uma política agressiva de inserção internacional do Brasil. Essa estratégia buscou forta- lecer o posicionamento do país em relação às macrotendências da economia mundial, garantindo o acesso aos mercados emergentes e fomentando a internacionalização de algumas empresas nacionais, ampliando