972-8886-02-0.Pdf
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
O Lago de todos os Recursos O Lago de todos os Recursos CEAUL Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa 2004 O LAGO DE TODOS OS RECURSOS ORGANIZAÇÃO Luísa Leal de Faria Teresa de Ataíde Malafaia REVISÃO DE TEXTO Márcia Marques Mário Semião DESIGN, PAGINAÇÃO E ARTE FINAL Inês Mateus [email protected] Imagem na capa: Gravura de George Cruikshank, "Scraps and Sketches", 1828. EDIÇÃO Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa IMPRESSÃO E ACABAMENTO Textype TIRAGEM 500 exemplares ISBN DEPÓSITO LEGAL 212 388/04 Índice INTRODUÇÃO Luísa Leal de Faria . 9 TESTEMUNHOS Relatos Pessoais Rui Gonçalves Miranda e Fernando Xavier Gonçalves . 13 Testemunho de Profunda Gratidão Helen Santos Alves . 17 Hélio Osvaldo Alves Joanne Paisana . 19 Recordando o Prof. Hélio Osvaldo Alves Lúcio Craveiro da Silva . 21 Sobre o Prof. Hélio Osvaldo Alves (1938-2003) Manuel Gama . 23 O Construtor de Estradas: Homenagem ao Professor Hélio Alves Maria Filomena Louro . 27 Evocação do Professor Hélio Maria Georgina Ribeiro Pinto de Abreu . 31 O Professor Hélio enquanto Pedagogo Olga Natália Moutinho . 33 COMUNICAÇÕES Iluminismo e Liberdade: O Debate no Feminino Adelaide Meira Serras . 41 William Blake: ‘Showing the Two Contrary States of the Human Soul’ or Creating Conditions of Possibility for Representing Humanity Ana Clara Birrento . 55 On Trans(at)l(antic)ation: “Cultural Studies” under the Hammer of Poetry Bernard McGuirk . 67 O LAGO DE TODOS OS RECURSOS George Orwell and Popular Culture in the 1930’s Jacinta Maria Matos . 91 George Cruikshank and his Bottle Joanne Paisana . 105 Como Roubar Cavalos aos Caras Pálidas: Poesia e Contra-cultura em Joy Harjo João de Mancelos . 119 Cromwell e os Stuart no Romance Histórico de José Hermenegildo Correia Jorge Miguel Bastos da Silva . 127 Standing Armies, War Powers, and Selective Service – A Reflection Joseph Mullin . 145 ‘At so Sweet a Figure’: Bárbara Englished Landeg White. 159 John Ruskin and William Morris: A Mark on Future Ages Luisa Langford Correia dos Santos . 167 Edgar Allan Poe: O Artista e o seu Duplo Maria Antónia Lima . 179 A Cidade Utópica de William Morris: Simbologia e Transcendência Maria Cândida Zamith da Silva . 189 William Hone – Parodist and Radical Maria Georgina Ribeiro Pinto de Abreu . 199 Tradução de um Poema em Tributo de Amizade Maria Helena de Paiva Correia . 227 A Roda da Fortuna na Vida de Thomas Wolsey Maria de Jesus Crespo Candeias Velez Relvas . 233 Hélio Alves, Edward Lear and George Cruikshank: uma Aliança Inusitada Marijke Boucherie . 241 Ragged London in 1861 de Hollingshead: Uma Digressão à Geografia da Pobreza Olga Moutinho . 257 A Lisboa do Imaginário de Fernando Pessoa: What the tourist should see Rogério Miguel Puga . 279 “Portugal an Avoided Land”? – An Englishwoman’s Travels in Portugal in the 1840s Vicky Hartnack . 293 Introdução uando, em Janeiro de 2003, o Professor Hélio Osvaldo Alves nos deixou, quatro grandes amigos que se foram despedir dele ao QMinho conversavam, no regresso, lembrando com todo o carinho esta figu ra única, a sua qualidade científica, o seu calor humano, o seu incom - parável sentido de humor e, à chegada a Lisboa, formularam a sugestão de, de alguma forma, lhe ser prestada homenagem na Faculdade de Letras. A sugestão que partiu dos Professores Alcinda Pinheiro de Sousa, Luísa Flora, Teresa Malafaia e Carlos Viana Ferreira foi imediatamente acolhida pelos Professores Álvaro Pina e João Flor, responsáveis máximos pelo Depar ta mento de Estudos Anglísticos da Faculdade de Letras e pelo Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa. Com o seu apoio, e com a cola bo ra ção empenhadíssima de um grupo mais alargado de colegas, o Instituto de Cultura Inglesa tomou a iniciativa de organizar um colóquio em homenagem ao Pro fes sor Hélio Alves. A direcção do Instituto de Cultura Norte-Americana desde logo se associou à iniciativa, que foi apoiada, ainda, pelo Conselho Directivo da Faculdade de Letras. Esta iniciativa obteve um caloroso acolhimento entre os colegas e discí - pulos do Professor Hélio, que compareceram em grande número, para pres tar o seu testemunho de amizade e apreço, tanto através da apre sen - tação de comu ni cações de índole científica, como através de palavras de reconheci mento e afecto. O presente volume de estudos em homenagem ao Professor Hélio Osvaldo Alves reconstitui essa ocasião de encontro e procura reflectir quer a dimensão científica do acontecimento como a sua dimensão afectiva. Assim, o livro que agora se apresenta é composto por duas partes. A primeira, com o título de ‘Testemunhos’, reúne as palavras com que amigos, colegas e discípulos recordaram a pessoa de Hélio Alves. A segunda parte, ‘Comu nicações’, inclui os textos de carácter científico apresentados e debatidos no colóquio, realizado em Novembro de 2003. 9 O LAGO DE TODOS OS RECURSOS ‘O lago de todos os recursos’ é uma expressão que o Professor Hélio tomou de empréstimo a E. P. Thompson, e adaptou, para baptizar um dos seus estudos sobre a ideia de Cultura. Escolhemos esse título para o colóquio que deu origem a este volume por ele sugerir as infinitas possibilidades de estudo e análise que se contêm na palavra Cultura, bem como a diversidade de escolhas e aproximações que os estudos de Cultura proporcionam. Entre essas aproximações, marcadas por um cunho muito pessoal, que o Professor Hélio nos deixou, recordo apenas um limerick autobiográfico, incluído no seu Pensar sem Senso, que nos cinco versos da sua estrutura imutável contém muito do sentido de humor e do sentido de cultura, como toda uma maneira de viver, do seu autor: Havia um certo autor de livrinhos Que resolveu tomar outros caminhos Pôs-se a pensar E a matutar, E viu que os caminhos iam dar aos livrinhos. Luísa Leal de Faria Lisboa, Março de 2004 10 Testemunhos Relatos Pessoais Rui Gonçalves Miranda / Fernando Xavier Gonçalves Instituto de Letras e Ciências Humanas, Universidade do Minho om os nossos relatos pessoais procurámos transmitir um pouco da experiência de todos os alunos de Licenciatura do Professor Hélio COsvaldo Alves. Antes de conhecer o Doutor Hélio pessoalmente, já muito conhecia sobre as suas aulas. Era difícil não se ouvir falar do Professor Hélio quando se entra para um curso de Inglês na Universidade do Minho. No meu caso, especialmente. A minha irmã tinha sido sua aluna uns anos antes (tive mesmo a oportunidade de estar presente numa ocasião em que ambos conversavam) e um meu amigo e colega de casa tinha feito um exame de Cultura Inglesa uns dias antes de as aulas começarem. Também os nossos colegas de Inglês-Alemão, como tinham esta disciplina no seu primeiro ano, falavam já das suas aulas, assim como os nossos colegas de curso mais velhos. Falava-se de aulas diferentes, de um sentido de humor apurado e de um rigor inquestionável. Um ano antes, comprara um livro de poemas de William Blake que, sem o saber, havia sido traduzido pelo Professor Hélio. O que fazia todo o sentido, visto que o que conhecia de William Blake, na altura, me havia sido transmitido pela minha irmã, que, por sua vez, o aprendera nas suas aulas de Cultura Inglesa. Portanto, quando entrei para a Universidade, desconhecia quase tudo, menos que teria um professor “muito fixe” no segundo ano. O consenso em torno das qualidades do Professor Hélio era, no mínimo, impressionante. Sobretudo porque vinha do público mais difícil de contentar: alunos universitários, ocupados sobretudo, como geralmente sempre estamos, em encontrar e apontar defeitos a (quase) tudo e todos que se nos deparam pela frente. Mas nem com tudo o que me havia sido dito eu me pude deixar de surpreender. 13 O LAGO DE TODOS OS RECURSOS Se por mais não fosse, sempre me lembraria daquelas aulas pelo material criteriosamente seleccionado, pela disposição cuidada e atraente com que o conhecimento era transmitido. Cada aula tinha o carácter de uma conferência, de uma palestra construída em detalhe e, ao mesmo tempo, com espontaneidade. Lembrar-me-ia, ainda, pela autonomia que nos era concedida no nosso estudo e pela maneira como o conhecimento era exposto, e nunca imposto. Não se pense, no entanto, que o ensino praticado seria neutro, ou desapaixonado. Muito pelo contrário. Havia uma transmissão de valores sociais e humanitários, sobretudo de ideias e acções que visaram sempre, de uma maneira ou outra, o progresso social das civilizações rumo à liberdade, à igualdade, à paz entre os povos e à solidariedade entre os homens. Mas havia muito mais. O que tornava as aulas diferentes poderia ser não tanto o que era ensinado (que o era também), mas sobretudo a forma como era ensinado. A matéria era transmitida como conhecimento, e as aulas eram mais que meras e contínuas preparações para um teste. Eram estradas de conhecimento, horizontes rasgados com referências a eventos, personalidades e obras de arte. Muito do que li a seguir, e muito do que continuo a ler, conheci-o por seu intermédio. E mesmo que a atenção dispensada aos alunos pelo Professor não fosse maior que o habitual (e era- o), a maneira como esclarecia uma dúvida ou elucidava uma questão deixava sempre transparecer uma educação e delicadeza raras. O Doutor Hélio acolhia sempre o aluno com um sorriso. Havia, no entanto, ainda algo mais. Era a sua presença cativante, o fascínio que transmitia. Os alunos universitários, sempre ansiosos por horas de “furo”, não se entusiasmavam quando o Professor Hélio, fosse por que motivo fosse, não podia comparecer. Os alunos sabiam que não ganhavam uma hora livre, mas que perdiam, antes, uma hora de liberdade intelectual e de educação cívica e pessoal. Os alunos, apesar de todos os seus defeitos, sabem respeitar e agradecer. Respeitam e agradecem a simpa tia do Doutor Hélio, a sua dedicação, e o seu exemplo ilustre e respeitável, dentro e fora de aula.