Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos A preservação do patrimônio histórico-cultural de Ouro Verde do Oeste como referencial de identidade e construção de cidadania

Autora: Lourdes Aparecida Negrini1 Orientador: Alexandre Blankl Batista2

Resumo

O presente artigo tem como objetivo apresentar os resultados obtidos do Projeto de pesquisa A preservação do patrimônio Histórico cultural de Ouro Verde do Oeste, como referencial de identidade e construção de cidadania, desenvolvido através do Programa de Desenvolvimento Educacional do Paraná (PDE) em parceria com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. O trabalho realizado justifica-se pela necessidade em estimular a memória coletiva local como referencial de identidade e cidadania. Partindo de uma prática familiar para repensar os conceitos de identidade, história, memória, documento e preservação como objetos coletivos, buscou-se com pesquisas bibliográfica e exploratória com educandos do 6º ano do Colégio Estadual de Ouro Verde do Oeste (PR), auxiliar a comunidade escolar na interpretação e conhecimento de seus bens culturais, potencialmente caracterizados como Patrimônio Histórico, ainda que não tombados. Tal reconhecimento de identidade e prática foi realizado numa perspectiva problematizada do conhecimento e construção histórica, a partir da análise de diferentes fontes como documentos, objetivando facilitar a compreensão da História como ciência humana, em que se escreve e preserva mediante recortes e interesses.

Palavras chaves: Identidade, História, Memória, Educação Patrimonial.

Introdução

Este artigo apresenta uma reflexão crítica feita a partir do trabalho desenvolvido com os educandos do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Ouro Verde, situado no Município de Ouro Verde do Oeste (PR), tendo como título A Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural de Ouro Verde do Oeste como referencial de identidade e construção de cidadania. O objetivo pedagógico foi introduzir os estudos acerca da Educação Patrimonial a partir da localidade, mesmo que esta não dispusesse de patrimônios edificados ou tombados. Procurei adotar uma metodologia que valorizasse a participação ativa do educando na construção

1 Professora de História da Rede Estadual de Ensino – SEED- Pr. Lotada no Colégio Estadual Ouro Verde – Ouro Verde do Oeste – Pr. Graduada em Filosofia e História pela UNIOESTE – Universidade do Oeste do Paraná – Campus de Toledo – Pr. 2 Doutor em História pela UFRGS, Professor do Colegiado do Curso de História da UNIOESTE – Universidade do Oeste do Paraná. Orientador do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional de seu conhecimento, partindo da identificação, análise, interpretação, comparação de objetos e a utilização de fontes orais e escritas como instrumentos de compreensão da História enquanto produto das ações humanas no tempo e no espaço. Nesse sentido, todos seriam sujeitos potenciais e capazes de constituírem- se enquanto cidadãos.

O tema foi inspirado na experiência pessoal, percebendo o papel que as memórias familiares têm na construção individual e coletiva. Convivi com meus avós. Desse modo, cresci ouvindo histórias e vendo seu carinho pelos pertences da infância e juventude: livros, canetas, estojos, etc. Meu pai também manteve o mesmo hábito, ainda que fosse analfabeto. Vinculada à memória familiar, também aprendi a guardar objetos memoráveis de minha história.

Por outro lado, percebe-se a pouca valorização pela história, memória individual, familiares e locais, por parte dos educandos, além da naturalização do social e pouca participação cidadã no que se refere aos cuidados com o patrimônio público escolar. Optou-se por pensar o ensino da história a partir da localidade, questionando o caráter “oficial”, na medida em que a história é comumente abordada a partir do “pioneirismo”. Para tanto, valorizou-se os sujeitos comuns vinculados aos educandos através da oralidade, além da introdução, na forma de recortes de jornais e relatório de impacto ambiental, de um possível patrimônio arqueológico local (problemática que evidenciaria a ocupação humana „pré-histórica‟ na localidade, abordando a localidade de maneira mais distante no tempo).

No município onde habito e atuo profissionalmente não há monumentos históricos ou lugares de memória institucionalizados. Nem mesmo a história e a memória oficiais estão devidamente resguardadas para futuros estudos e pesquisas, embora estejam presentes, por meio do senso comum, no discurso de várias pessoas que integram o município.

Assim, a problematização da história da localidade se deu a partir dos materiais que se encontravam disponíveis, utilizando-os como documentos, sendo fundamental a instrumentalização da história oral e do patrimônio cultural como fontes primárias de conhecimento, ainda que não tombado.

História e Memória O ensino de História oferece o entendimento de que todos somos sujeitos históricos, mostra que existem diferentes concepções de um mesmo acontecimento, em virtude dos métodos, fontes, e interesses do pesquisador. Portanto, enquanto disciplina, contribui para a formação cidadã, pois as ações humanas estão abertas como possibilidade de transformação da realidade. Carr enfatiza que:

A história exige a seleção e ordenação de fatos sobre o passado à luz de algum princípio ou norma de objetividade aceito pelo historiador, que necessariamente inclui elementos de interpretação. Sem isso, o passado se dissolve em uma confusão de inumeráveis incidentes isolados e insignificantes […] (CARR, 1982, p.XII).

Levando tal reflexão em conta, tentou-se compreender a prática social do educando em relação aos bens pessoais, públicos e históricos culturais. Foi possível propor uma reflexão sobre a importância de se preservar os bens coletivos para visualizar possibilidades de conscientização e prática cidadã por meio de atitudes de respeito e cuidados com o patrimônio escolar e público de modo geral. Ao compreendermos a relação conflituosa entre memória e história, abrimos espaços para uma análise das diferentes versões históricas locais. O conjunto de memórias, como instrumento da histórica, consistiu num referencial desse trabalho, a partir da concepção de patrimônio histórico local. Os diferentes relatos auxiliam na compreensão de que os fatos são ou não lembrados pelos mais variados grupos sociais de maneira diversa. Segundo Le Goff, a supervalorização da memória é atribuída aos gregos. Conforme ele:

Os gregos da época arcaica fizeram da memória uma deusa, Mnemosine. É a mãe das nove musas, que ela procriou no decurso de nove noites passadas com Zeus. Lembra aos homens a recordação dos heróis e de seus altos feitos, preside a poesia lírica (LE GOFF, 2003, p.433).

Assim, de acordo com a mitologia grega, a história é uma das filhas da memória, ou seja, preservar a memória é condição para a existência da história. Entretanto, não podem ser compreendidas como sinônimos. Em outras palavras, é por meio da memória coletiva preservada, seja em museus, arquivos, objetos sonoros, ou ainda nos diferentes documentos, que se tem a possibilidade de uma narrativa histórica que auxilie na compreensão do homem enquanto sujeito social, no tempo e no espaço. Segundo Nora, “[...] a necessidade da memória é uma necessidade da história” (1993, p.14). Assim, a memória serve à história como suporte em relação ao passado (que não existe mais) e ao presente, já que a partir dela podemos caracterizar a nós mesmos e as ideias que valorizamos. Le Goff enfatiza a memória como:

[...] elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia (LE GOFF, 2003, p. 469).

Assim, considerando esses preceitos que envolvem a memória coletiva, a história oral e o uso de diferentes documentos, foi possível identificar aspectos da história local a partir dos relatos de pessoas próximas aos alunos, contribuindo para a reflexão do exercício da cidadania enquanto prática social. Do mesmo modo, ressalta-se a importância da história oral, enfatizada também por Paul Thompson (1992). Sob este viés, foram exploradas as tentativas para a constituição e análise da documentação oral, partindo do pressuposto de que história oral é mais do que uma simples entrevista, além do cuidado com a construção das perguntas claras e objetivas, observando também o comportamento e as reações dos entrevistados (THOMPSON, 1992). Assim, o conteúdo das entrevistas foi problematizado, contrapondo-o com outras referências documentais, levando-se em consideração a relação entre história e memória, bem como o uso qualitativo e analítico das fontes.

Memória e documentos

Hoje, é possível perceber o uso de diversos vestígios humanos como fontes históricas. “Os materiais da memória são múltiplos e possuem visões e ângulos diversificados, necessitando intervenção consciente e cuidadosa por parte do historiador” (LE GOFF, 2003, p. 526). Deve-se tomar o substrato do documento com o cuidado de não torná-lo algo dado, cristalizado. É preciso questionar os documentos, pois nem sempre são verdadeiros e, às vezes, as perguntas podem ser mais interessantes do que forçar possíveis respostas. Quanto à problemática concernente à memória, Pierre Nora ainda acrescenta que Memória e História estão impossibilitadas de serem entendidas como sinônimos: “[...] Memória é a vida, […], aberta à dialética da lembrança e do esquecimento [...]. A história é uma reconstrução sempre problemática e incompleta de um passado que não existe mais” (NORA, 1993, p. 9). Por isso, a história se produz na crítica, na problematização, na reflexão, construção e desconstrução da memória, considerando que enquanto propriedade psíquica e intelectual do passado faz uma representação seletiva dele. Inclusive o esquecimento também se torna objeto da história. Nessa perspectiva, pensei o trabalho baseando-me no diálogo com as fontes, em que os sujeitos tiveram voz ativa. Essas vozes, como no caso dos depoimentos orais, são um importante repositório da memória. Vale ressaltar que as entrevistas aconteceram numa dinâmica de espontaneidade, em que as pessoas participaram ou testemunharam acontecimentos e visões de mundo, contribuindo diretamente com a construção da pesquisa elaborada (ALBERTI, 2005, p. 19).

Patrimônio histórico cultural e cidadania

O termo patrimônio se refere a um bem importante para uma pessoa ou para um grupo de pessoas, uma riqueza que recebemos de herança, uma maneira de nos identificarmos como um grupo e sociedade que vivemos através de um sentimento comum. Conforme Horta:

[...] a memória - individual, familiar ou coletiva – está na base ou na essência daquilo que se convencionou chamar de „patrimônio cultural‟. A definição mais abrangente do termo „patrimônio‟ indica bens e valores materiais e imateriais, transmitidos por herança de geração a geração na trajetória de uma comunidade (HORTA, 2000, p. 29).

Os documentos e as lembranças da nossa história formam o patrimônio histórico e artístico nacional. Entretanto, no Brasil, por muito tempo priorizaram como prática preservacionista a atenção aos monumentos e edifícios relacionados aos setores dominantes da sociedade. Procurava-se, assim, passar uma memória única, que facilmente camuflava os conflitos e contradições sociais. Porém, a compreensão de Patrimônio vai além dos bens edificados. Pelo avanço das ciências sociais, dos movimentos organizados e da atual Constituição Brasileira, ampliou-se a concepção de patrimônio com a terminologia “patrimônio cultural”. A Constituição Brasileira de 1988, em seu Art. 216 afirma que:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomado individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória de diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver: III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas: IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais: V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (CONSTITUIÇÃO, 1988, p.86).

Com essa descrição abre-se a noção de patrimônio cultural a todas as manifestações culturais materiais ou imateriais, pois considera a diversidade e ultrapassa os modelos técnicos anteriores que priorizavam a preservação de bens relacionados com um pequeno grupo social, os detentores do poder. Parafraseando Oriá (2005), ao referirmos patrimônio cultural estaremos adotando uma concepção que não se limita ao patrimônio edificado, mas aos bens culturais de uma sociedade, os documentos, arquivos bibliográficos e visuais, depoimentos orais, artefatos, enfim, ao conjunto de bens que atestam a história de uma dada sociedade, referente à memória construída acerca de Patrimônio Cultural. A preservação do patrimônio é reconhecida como uma questão de cidadania, pois, enquanto seres culturais, nós temos direito ao passado, tanto como referencial individual quanto coletivo. O exercício da cidadania está intimamente vinculado à memória como elemento essencial para sua construção cultural, ou seja, ao direito de acesso aos bens materiais e imateriais que representam a nossa história. A definição de cidadania adotada nesse artigo deve ser compreendida como um conceito histórico, que muda com o tempo e os lugares, fruto das disputas individuais e coletivas pelos direitos civis, políticos e sociais. Nessa concepção destacam-se os direitos sociais, pois eles asseguram os princípios de uma sociedade democrática. A cidadania social parte do pressuposto de considerar todos como produtores de cultura e, portanto, com direito de consumir e preservar essa cultura através da memória histórica. Segundo Oriá, “[...] sem a memória não se pode situar na sua própria cidade, pois se perde o elo afetivo [...] impossibilitando ao morador de se reconhecer enquanto cidadão de direito e deveres e sujeito da história” (2005, p.139). Consideramos que preservar o patrimônio histórico se refere ao reconhecimento do direito à memória, como exercício da cidadania e, por isso, temos também o dever de contribuir para a sua preservação. Ao valorizar o aluno como sujeito ativo no processo de aprendizagem, pretendeu-se desenvolver uma concepção de cidadania que não se restrinja à mera teorização, mas sim à problematização do conhecimento, visando facilitar a compreensão da história como ciência humana que se escreve e preserva, mediante recortes e interesses de determinados grupos, não sendo uma verdade pronta e acabada. Conforme Manzini:

A categoria cidadania […] depende da ação dos sujeitos e dos grupos básicos em conflito, e também das condições globais da sociedade. No decorrer da história, tivemos em nossos modelos de desenvolvimento posturas que enfatizaram ora os sujeitos, ora as estruturas e seus próprios mecanismos, como agentes da história. A categoria cidadania permite avançar no pressuposto dialético marxista: os homens fazem história, segundo determinadas circunstâncias estruturais – o que significa não pender nem para os sujeitos, nem para as estruturas. Nisso reside a possibilidade de fazer a ligação entre os desejos e as necessidades dos homens, enquanto indivíduos (subjetividades) e enquanto sujeitos grupais no bairro, nas fábricas, sindicatos, partidos, até chegar no âmbito global da sociedade (MANZINI, 2007, p. 63).

Sem a compreensão de que fazemos parte da história, dentro das estruturas que existem independentes de nossa vontade, a cidadania é compreendida apenas como um conceito político relacionado a direitos e deveres. Mas, se em atitudes simples do cotidiano for possível mostrar a cidadania como ação e reação aos direitos e deveres, estaremos contribuindo para a cidadania enquanto atitude. Ao coletar relatos e arquivos pessoais da comunidade local, priorizou-se a memória dos diferentes grupos que compõem a sociedade de modo a inseri-los como sujeitos históricos. Entretanto, considerando a falta de esclarecimento popular sobre a importância de preservar nosso patrimônio, como direito coletivo, considerou-se imprescindível a inserção de museus, documentos, fontes orais, arquivos bibliográficos e orais, enfim, diferentes resquícios do passado que, por sua relevância social e coletiva, mereçam ser preservados, na prática cotidiana e consciente. Analisar a cultura de uma sociedade é perceber as particularidades que permeiam as crenças, artes, moral, leis, costumes, hábitos e aptidões de cada grupo social. É considerar as práticas e representações características de cada povo, observando suas peculiaridades e atitudes. Assim as representações sociais fazem parte do contexto de uma sociedade. São os fenômenos humanos que são norteados e explicados por meio de uma visão coletiva e a partir de uma perspectiva coletiva, valorizando o indivíduo como um ser social e ao mesmo tempo coletivo.

A prática com os alunos: memória, patrimônio e cidadania.

A Unidade Didática foi elaborada e prevista para ser aplicada no primeiro semestre do ano de 2015. Porém, devido à deflagração da greve dos professores e funcionários do Estado do Paraná, no início do ano letivo paralisaram as atividades escolares e também o processo de execução da Produção Didático-Pedagógica. No retorno às atividades escolares foi reorganizado o processo para dar seguimento ao calendário letivo. No entanto, um novo processo de greve foi iniciado. Quando as escolas retomaram suas atividades, as IES ainda permaneceram afastadas das atividades do PDE. Assim, a realização das atividades didáticas foi paralisada e, por essa razão, o planejamento foi prejudicado. O projeto de intervenção pedagógica foi bem recebido pela comunidade escolar durante a exposição na reunião pedagógica de fevereiro do corrente ano. Isso é sintomático, de certa forma, uma vez que se reconhece a necessidade coletiva de repensarmos estratégias que valorizem a instituição escolar, o ensino, o patrimônio escolar e a memória local como bens coletivos importantes para a cidadania. O público alvo, 6º ano do período vespertino, também recebeu com entusiasmo as propostas do projeto, principalmente com relação às atividades práticas, estudo da história e cultura local, entrevistas e visitas propostas na produção didática. A realização desta atividade se deu em etapas. Na primeira unidade priorizaram-se atividades diagnósticas, conceitos inerentes aos temas de estudo e à prática oral, valorizando o educando e seus familiares como sujeitos históricos e a localidade como prática cultural. Do mesmo modo, realizou-se o levantamento diagnóstico da concepção de si, da família e de sua História, além da reflexão de temas como patrimônio, cultura e cidadania. Esses conceitos foram trabalhados a partir da exposição dialogada e interacional. Vale mencionar que ao fazer a abordagem da temática referente à introdução aos estudos históricos, optei por levar duas fontes históricas pessoais, (que despertaram a curiosidade dos educandos). Os objetos eram uma caneta que pertenceu ao meu avô e um caderninho de produção de texto de minha autoria na 5ª Série. Observei que o caderno despertou uma atenção diferenciada entre os mesmos, podendo apresentar duas possibilidades para este interesse: a) a produção de texto por mim realizada, quando tinha a mesma faixa etária; b) uma forma de conhecer melhor a professora que hoje sou a partir da minha história de vida, e também pela organização deste caderno. Passei esse material para que eles manuseassem, e todos folhearam com curiosidade. Nesse momento, pude conhecer um pouco mais sobre os alunos. Alguns conseguiram identificar, por meio das datas do caderno, que seus pais foram meus colegas de escola. Com essa atividade, acredito ter conseguido evidenciar, na prática, que não temos a intenção de fazer história, nem de produzir fontes históricas, mas que fazemos parte dela pelo simples fato de viver e interagir socialmente. Além disso, evidenciamos que guardarmos memórias sobre nós mesmos através de objetos que podem ser utilizados para novos estudos, ou ainda para que as crianças e jovens consigam conhecer melhor suas origens familiares. Com a utilização do “caderno de recordação” como levantamento diagnóstico, foi possível conhecer minimamente os alunos. A atividade tornou-se demorada, já que necessitaram levar o trabalho para responder em casa, mas com responsabilidade todos preencheram, demonstrando interesse e participação ativa. Em atividade referente à entrevista com pessoas idosas, foi colocada na prática a dinâmica entre história e memória. Pude perceber textos muito bem produzidos e entrevistas que revelaram o parentesco dos alunos com os chamados “pioneiros” da cidade, facilitando, assim, o diálogo com eles, e consequentemente, intermediando o convite aos avós dos alunos para participarem da entrevista oral na sala de aula sobre a história do município. Na primeira avaliação observei um bom desempenho de grande parte dos estudantes. Apenas três de uma sala de trinta alunos apresentaram dificuldades pontuais mais graves na avaliação. Os demais foram muito bem, demonstrando boa apropriação em torno da problemática entre história e memória, do trabalho com as fontes, da percepção da cultura e do reconhecimento dos sujeitos históricos. Uma resposta à pergunta “quem eram os sujeitos históricos?” chamou-me atenção. Uma aluna disse que “todos somos sujeitos históricos, mas que alguns são mais lembrados”, demonstrando que compreende a dinâmica social da produção e preservação da memória e história. Na etapa seguinte, reuni os conteúdos e as práticas selecionadas. Buscamos a compreensão da localidade de forma contextualizada com a história regional, nacional e internacional, procurando tecer uma visão crítica da história por intermédio de textos, documentos, mapas e atividades. Na análise dos trechos de livros acerca da região e da localidade utilizados como fontes históricas, uma parte dos educandos demonstrou bom discernimento na leitura e interpretação das fontes. Outra parte, entretanto, apresentou dificuldades em formular respostas que necessitassem de reflexões pessoais, mesmo após os mesmos terem sido estimulados a registrarem suas ideias. Na sequência, utilizou-se a história oral como ferramenta para o ensino de história local. Enfatizou-se a perspectiva da representação que os indivíduos fazem de si e dos acontecimentos. Buscou-se ainda conceituar e expor a trajetória das leis patrimoniais no Brasil como forma de compreensão do contexto dessa educação na atualidade. Num primeiro momento, foram identificadas e convidadas pessoas da comunidade para serem entrevistadas pelos alunos na sala, contando com a participação ativa desses, na formulação e condução dos questionamentos, demonstrando uma interação de valorização dos diferentes sujeitos que fizeram e fazem parte da história. Em um segundo momento, realizamos a leitura e interpretação dos textos digitados. Percebi certa limitação nesta atividade, pois se tornou muito teórica para a faixa etária dos educandos. Uma das atividades realizadas favoreceu para que ocorresse o relacionamento na prática dos conceitos estudados, como “patrimônio arqueológico” e “lugares de memória”. Essa concretização foi possível a partir do momento em que um dos entrevistados trouxe um “pilão pré-colonização”, objeto este que se encontra na residência do morador. Nessa atividade pode-se perceber a consciência da necessidade em preservar não apenas a história a partir do momento de colonização do município, como também a história anterior à chegada dos “pioneiros”. Ampliou-se, assim, a temporalidade da história local como referência para as gerações futuras. Um dos entrevistados sugeriu solicitar junto à prefeitura municipal um lugar para guardar tais objetos que, segundo ele, muitas famílias possuiriam em suas casas. Mas o mesmo chamou a atenção para certa preocupação no âmbito coletivo, referente à história da pré-colonização no local, ou seja, de que muitas pessoas esconderiam os objetos “pré-colonização” com “medo” de que as terras fossem reivindicadas pelos povos indígenas. Diante disso, buscou-se problematizar a localidade para além do “pioneirismo”, considerando os achados arqueológicos como parte do patrimônio local. Para tanto, foram utilizadas páginas virtuais, documentos e vídeos, procurando facilitar a compreensão das relações entre história e memória, e as problemáticas inerentes à escrita histórica. Na atividade em que foram priorizados os lugares de memória, institucionalizados ou não, como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo, o resultado foi muito bom, todos se empenharam na visita ao Museu Willy Barth3, tendo atenção e interesse pelo relato do professor sobre as peças da exposição, demonstrado até um conhecimento crítico perante a memória preservada no museu, já que o mesmo relata a história do ponto de vista da empresa colonizadora e do pioneirismo. No ato de organizar os grupos para pesquisa, registro e apresentação de um patrimônio local, público, natural ou da cultura local, com determinados cuidados, pode-se perceber no público alvo um maior interesse pelo patrimônio natural. Nessa direção, evidenciou-se certa preferência em realizar o trabalho de entrevista com a proprietária de um local muito visitado pela comunidade local, e até mesmo internacional por meio das parcerias com a Itaipu Binacional. Por outro lado, a problemática do projeto, utilizada como parâmetro para instigar a percepção da história para além do chamado “pioneirismo”, ficou limitada. Em primeiro lugar, pela falta de material sobre o patrimônio arqueológico. Em segundo, pela ausência de recursos na escola que possibilitassem a visualização e análise coletiva das páginas virtuais que contemplassem as imagens do patrimônio arqueológico antes da inundação do local, como prova material existente ainda do patrimônio arqueológico. Nesse caso, constatou-se que a temática “patrimônio arqueológico” chama mais atenção a partir da materialidade da preservação.

3 O museu público de Toledo foi criado pela Lei Municipal nº 834 de 23 de agosto de 1976, sancionada pelo Prefeito Wilson Carlos Kuhn. No mês seguinte, pela Lei Nº 844 de 29 de setembro, passou a ser denominado Museu Histórico Willy Barth, em homenagem ao pioneiro, colonizador, prefeito de Toledo e, na época, maior liderança no Oeste do Paraná, falecido repentinamente em 2 de abril de 1962. Disponível em: . Acesso em 7 de novembro de 2015. Percebeu-se assim, que no caso em estudo, os educandos reconhecem e valorizam a história e memória locais, conseguem identificar a localidade a partir de seu patrimônio e não ignoram a importância de sua preservação.

Conhecendo o Grupo de Trabalho em Rede (O GTR)

O GTR é uma capacitação direcionada para professores do quadro próprio do magistério e para prestadores de serviço, disponibilizado pela Secretaria Estadual de Educação através da Coordenação Regional de Tecnologia na Educação. Deve ser elaborado pelo professor PDE, contemplando a temática desenvolvida no decorrer de sua formação. Inicialmente, inscreveram-se no curso vinte professores, mas apenas dez iniciaram as atividades, chegando ao final com apenas nove cursistas. Uma explicação plausível para este índice de evasão pode estar relacionada, principalmente, ao período em que ocorreram as atividades (setembro a dezembro), limitando muito o tempo dos cursistas para a realização das atividades. No decorrer do curso foram realizadas diferentes atividades, contemplando a fundamentação teórica da temática e análise do Projeto de Intervenção Pedagógica e da Produção Didático-Pedagógica por meio de leituras, fóruns, diários e autoavalições. Destaca-se que as interações promovidas no curso foram significantes. Mesmo virtualmente, essas atividades possibilitaram a troca de experiências entre profissionais da rede que vivenciam realidades distintas, bem como favoreceram um maior contato entre os profissionais da área. Frente a esta realidade, não há como deixar de mencionar que a realização desta atividade passou por alguns obstáculos como o processo de greve em meio ao magistério público estadual e as desistências no interior do PDE. No entanto, merecem serem ressaltados os aspectos positivos, pois foi a minha primeira oportunidade de acompanhar um grupo de trabalho em rede e, ao mesmo tempo, compartilhar as experiências da preparação, estudo e aplicação dos trabalhos, tendo como participantes pessoas muito comprometidas. Em muitos casos são amigos e companheiros de atuação profissional, os quais possibilitaram uma ampliação deste debate.

Considerações finais

Este trabalho teve como objetivo apresentar brevemente alguns resultados obtidos no PDE com o projeto A preservação do patrimônio Histórico cultural de Ouro Verde do Oeste como referencial de identidade e cidadania. Essa pesquisa, vinculada às práticas adotadas, em nosso entendimento, foi uma excelente oportunidade para investigar e fundamentar cientificamente as inquietações metodológicas acerca da preservação do patrimônio e da sua relação com a prática cidadã. Entre os vários aspectos positivos resultantes deste processo de pesquisa sobre a educação patrimonial, a qual, de acordo com Horta (1999), é uma atividade que precisa ser constante e sistemática, pode-se elencar a ampliação do conhecimento de conceitos inerentes e fundamentais para a compreensão crítica da História. Um exemplo está relacionado às diferenças entre História, memória e documento, evocados por Le Goff (2003) e Pierre Nora (1993), que foram amplamente contemplados por intermédio das entrevistas orais e suas respectivas análises, além dos objetos pessoais como fruto da sociedade que os fabricaram, e enquanto escolhas por preservá-los. Assim, foi possível verificar, na prática, que fazemos parte da história, mesmo sem uma intenção clara e definida. Além de que, ao guardamos objetos pessoais, acabamos produzindo fontes históricas sobre nós e a sociedade, sendo isso uma escolha deliberada “do que guardar”. A prática da História Oral como metodologia de pesquisa possibilitou a desmistificação da história local dita oficial, valorizando sujeitos que também vivenciaram os acontecimentos locais, mas cujas memórias não estão contempladas no “livro do município”4, ou sujeitos que mesmo não sendo considerados “pioneiros” auxiliaram na preservação da História Local, conservando os objetos da cultura material local através de “museu pessoal”5. A importância desta metodologia encontra-se também na ampliação dos saberes de fatos de um passado recente a partir da visão do indivíduo que vivenciou o acontecimento. Além disso, mais uma

4 Refere-se ao único registro sobre a história local. Foi publicado em 2003 a partir de entrevistas com os “pioneiros”, levantamento de fotografias e documentos sobre a localidade. Durante as atividades com os educandos foram utilizados trechos como fontes históricas.

5 Um dos participantes da entrevista, o senhor José Negrini, é um dos colecionadores de objetos antigos no município. Em seu acervo encontram-se vários objetos pertenceram aos “pioneiros” da cidade, adquiridos por doação. vez, enaltece a participação dos educandos neste processo de seleção dos entrevistados e na formulação de novos questionamentos no decorrer das entrevistas. Nesse sentido, ao selecionarem pessoas próximas a eles, ficou mais claro que todos somos construtores da história. Com relação à problematização da arqueologia como uma compreensão da ocupação pretérita da localidade, identificaram-se momentos de apropriação efetiva do conhecimento, e outros de pouco interesse por parte dos educandos. No primeiro caso, faço referência ao interesse despertado nos educandos pelo “pilão de pedra” que foi levado por um dos entrevistados sobre a história local. No segundo caso, tratou-se do pouco interesse despertado pela visitação à biblioteca municipal, onde estavam expostos os banners com as imagens das pinturas rupestres junto às pedras encontradas na região da Usina PCH São Francisco6. As fotos foram feitas antes da inundação do local. Um educando pronunciou-se durante a visita com certo descaso pela limitação do registro como forma de preservação. Sua fala reforçou a importância de uma preservação material do patrimônio como forma efetiva da produção do conhecimento e de reconhecimento pelas pessoas. A problematização com os recortes foi positiva, pois alguns educandos demonstraram excelente leitura crítica das fontes utilizadas. Houve também boa compreensão da relação entre História e Arqueologia. Segundo a educanda:

A História depende dos estudos arqueológicos ou achados arqueológicos para saber de nosso passado, e a arqueologia também depende da história para saber do que se trata um achado, por exemplo: ossos, um depende da influência do outro, então são interligados. (OLIVEIRA, 2015).

Por outro ângulo, parte dos educandos demonstrou muita dificuldade em interpretar e relatar suas ideias sobre os documentos. Evidenciaram-se, assim, dois aspectos importantes: a necessidade de aplicar diferentes metodologias para um ensino de História pautado na reflexão criativa e no desenvolvimento da autonomia intelectual do educando; e os limites inerentes à prática de leitura, compreensão essa que evidencia problemas estruturais no âmbito educacional.

6 A Pequena Central Hidrelétrica de São Francisco, gerida pela Gênesis Energética está localizada no rio São Francisco Verdadeiro, nos municípios de Toledo e Ouro Verde D‟Oeste, no Estado do Paraná. Iniciou sua operação comercial em novembro de 2010. Disponível em: Acesso em 8 agosto de 2014. Com relação aos vídeos abordados, com a pretensão de repensar os “mitos fundadores” e diferentes versões da história no embate entre oralidade e escrita, os resultados foram interessantes. O filme Narradores de Javé despertou bastante interesse e atenção por parte dos alunos, mas no momento de realizar o entendimento ficou evidente a limitação na interpretação, seja pela ruptura, já que a atividade estendeu-se à semana seguinte, ou pela faixa etária dos alunos. Entretanto, todos lembravam a versão cômica da fundação da cidade, evidenciando uma visão comum dos acontecimentos. Já com relação ao vídeo Simpsons: Lisa a iconoclasta, o enredo foi mais acessível e adequado à faixa etária, gerando uma compreensão expressiva por parte dos educandos. A participação dos educandos no trabalho de entrevista sobre aspectos da cultura material e imaterial local, do patrimônio público e natural, foi unânime e demonstrou ampla valorização pela localidade com participação ativa na produção do próprio conhecimento. Com essa atividade pode-se concluir que os educandos envolvidos conhecem e valorizam a história e a cultura local, reconhecem o lugar como ocupado em outros tempos e entendem a história como ciência dos seres humanos no tempo. Portanto, foi viável construir um entendimento em conjunto com os alunos, de que é possível inserir a educação patrimonial em cidades e escolas que não possuem patrimônio edificado ou tombado.

Fontes OLIVEIRA, Camila Hartkopf de. Entrevista concedida a professora Lourdes Aparecida Negrini, Colégio Estadual de Ouro Verde. Ouro Verde do Oeste 30 de jul.2015.

Referências

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