Macedo De Cavaleiros Na Idade Média: a Região, As Famílias E Os Homens (Séc

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Macedo De Cavaleiros Na Idade Média: a Região, As Famílias E Os Homens (Séc Macedo de Cavaleiros na Idade Média: a região, as famílias e os homens (Séc. XIII a 1325) AGRADECIMENTOS O culminar do presente trabalho só foi possível pelo ânimo e ensinamentos incutidos, desde a Licenciatura, pelos Professores Doutores do Departamento de História, aos quais desejo expressar um agradecimento em geral. Um agradecimento especial para a Professora Doutora Maria Cristina Almeida e Cunha Alegre, pela orientação, conhecimentos, correções, sugestões e informações que me transmitiu, sem os quais não teria alcançado este objetivo – muito obrigado. Ao Doutor Miguel Nogueira, da Oficina do Mapa do Departamento de Geografia, pela elaboração da excelente cartografia de referência, que muito valoriza este trabalho. A minha esposa e filhos pela paciência, incentivo e compreensão, sem os quais não teria alcançado este objetivo, inicialmente menos ambicioso. Aos meus colegas e amigos de todas as idades, dos quais destaco, por razões especiais, o Ireneu Martins. 1 Macedo de Cavaleiros na Idade Média: a região, as famílias e os homens (Séc. XIII a 1325) Um Reino Maravilhoso (Trás-os-Montes) Um mundo! Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contradição. MIGUEL TORGA (Portugal, 1950)1 1 TORGA, Miguel – Portugal, 5.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 1986, pp. 27-30. 2 Macedo de Cavaleiros na Idade Média: a região, as famílias e os homens (Séc. XIII a 1325) Resumo: Com o presente trabalho é nossa intenção conhecer o passado medieval do atual Concelho de Macedo de Cavaleiros, relativamente aos concelhos medievais que aí foram criados como entrave ao prolífero senhorialismo terratenente existente. O período cronológico escolhido recaiu nos reinados de D. Afonso III e D. Dinis, por considerarmos que é o período em que a organização político-administrativa começa a tomar forma e prelúdio do Estado Moderno. As inquirições afonsinas de 1258, as Memórias do abade de Baçal e a documentação foraleira permitiram esboçar o mapa da propriedade, os seus possuidores, a forma de aquisição e da sua ampliação. As fontes trabalhadas permitiram-nos concluir que às doações iniciais foi sendo acrescentada propriedade reguenga usurpada, por vezes com recurso à violência. No período alto-medieval, o território do Nordeste Transmontano, face à fraca demografia devida a condições naturais adversas, foi alvo da atenção dos primeiros monarcas portugueses no que respeita ao seu povoamento. As medidas tomadas foram incentivos fiscais e judiciais, alguns deles de âmbito nacional e transfronteiriço, como isenção de portagens e taxas alfandegárias. O complexo problema do seu povoamento foi levado a cabo pelo poder régio, através de povoadores del rei, de entidades nacionais e leonesas de caráter laico e religioso. Daqueles são vários os leoneses a quem foram feitas doações de parcelas significativas em Terras de Miranda, em troca de povoamento mas também de segurança a Bragança em caso de ataques dos reis leoneses, o que nem sempre foi cumprido. Dos grandes senhores da região sobressaem os Braganções e a Arquidiocese de Braga. Esta como senhorio religioso com tutela numa extensa área que se prolongava para lá de Zamora (terras de Aliste), era um senhorio que ombreava com o rei e a referida família dos Braganções. Do arco religioso destacam-se também os mosteiros de Castro de Avelãs e o leonês de Moreruela/Moreirola, que se portaram mais como senhores e administradores de doações régias. A ação foraleira e a criação de concelhos rurais teve como leit motiv contrariar o progressivo enfraquecimento da autoridade régia e diminuir o senhorialismo terratenente. 3 Macedo de Cavaleiros na Idade Média: a região, as famílias e os homens (Séc. XIII a 1325) A região em estudo dependia defensivamente da rede de castelos próximos da fronteira, reforçada com a presença dos freires/cavaleiros das Ordens do Templo e Hospital. Daí que não possua, atualmente, senão vestígios ou topónimos de fortificações menos importantes. Palavras-chave: Nordeste de Portugal, Trás-os-Montes, Macedo de Cavaleiros, Idade Média, Inquirições de 1258, povoamento medieval e poder senhorial. Abstract: With this work we intend to know the medieval past of the current municipality of Macedo de Cavaleiros, specifically the medieval municipalities that therein were created as an obstacle to the existing increasing manorial power. The chosen chronological period includes the reigns of D. Afonso III and D. Dinis, because we believe it is the period in which the political and administrative organization begins to take shape, which preluded the Modern State. The Alfonsine Inquesitiones (1258), the Memorias of Abbot Baçal, and charter documentation allowed to create a map of the property, its owners and the form of property acquisition and expansion. This allowed us to conclude that kingly property was usurped, sometimes through violence, and added to the initial endowment. On the high medieval period the northeastern territory attracted the attention of the first Portuguese monarchs towards its settlement, given the weak demographics due to adverse natural conditions. The measures taken were fiscal and judicial incentives, some of which of national and cross-border scope, such as toll and customs exemptions. The complex problem of its settlement was carried out by regal power, by king’s settlers and national entities and entities from Leon of either laic or religious nature. Significant land donations in Miranda were made to people and entities from Leon, in exchange for settlement but also for security to the region of Bragança in the chance of attack by the kings of Leon. However, such assistence was not always provided. From the great lords of the region, the Braganções and the Archdiocese of Braga stand out. The latter was a religious landlord of a large area that extended beyond Zamora (land of Aliste), which compared only with the properties of king and the family of Braganções. 4 Macedo de Cavaleiros na Idade Média: a região, as famílias e os homens (Séc. XIII a 1325) From the religious sphere, the monasteries the Castro of Avelãs (Portugal) and Moreruela/Moreirola (Leon) stand out, which behaved more like landlords of the kingly donations. The leit motiv of the charter documentation action and the creation of rural counties was to counteract the progressive weakening of the king’s authority and to curb the manorial power. The studied region dependend defensively on a network of castles near the border, enhanced with the presence of the friars/Knights of the Orders of the Temple and Hospital. Therefore, today there can only be found traces or toponyms of minor fortifications. Key-words: Northeast of Portugal, Trás-os-Montes, Macedo de Cavaleiros, Middle-Ages, Inquests of 1258, medieval settlement and manorial power. 5 Macedo de Cavaleiros na Idade Média: a região, as famílias e os homens (Séc. XIII a 1325) Abreviaturas: AD – Arquivo Distrital AHCM – c. – cerca de fg. – Freguesia GEPB – Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. PMH – Inq. – Portugaliae Monumenta Histórica - Inquisitiones p. – página pp. – páginas vd. – veja-se vg. – verbi gratia, por exemplo vol. – volume ss. – seguintes 6 Macedo de Cavaleiros na Idade Média: a região, as famílias e os homens (Séc. XIII a 1325) INTRODUÇÃO 1. Apresentação No âmbito do Mestrado em História Medieval, frequentado na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e satisfazendo um velho interesse em aprofundar o conhecimento sobre a génese do Concelho de Macedo de Cavaleiros, propusemo-nos a apresentar um estudo sobre o panorama medieval do concelho de hoje. Insere-se, assim, o presente trabalho no âmbito da História Regional e Local. Lançamo-nos neste projeto com incentivo por parte de docentes da Faculdade e de amigos, cientes das dificuldades que poderíamos encontrar, dado o tempo histórico recuado, mas animados pelo resultado final que, sem dúvida, seria compensador. A necessidade de contextualizar as informações que fomos recolhendo levou-nos ao espaço alargado ao Distrito de Bragança, numa cronologia igualmente ampla que incluísse a batalha de Aljubarrota devido ao fato da personalidade macedense – Martim Gonçalves de Macedo2[1350?-142=?] – ter aí tido um desempenho heroico, ao salvar D. João I do golpe que o nobre castelhano Álvaro Gonçalves Sandoval se preparava para lhe desferir. Com esta atitude salvou o rei e o reino, este a braços com uma grave crise sucessória e a passos de perder a independência. Bem merece ser recordado para sair do esquecimento a que está votado, mas a referência fica por aqui por razões que a seguir aduzimos. Pretendíamos iniciar o estudo no reinado de D. Afonso III, pelas medidas tomadas com as inquirições de 1258, incontornáveis pela luz que lançam num ambiente rural quase impenetrável e dada a aridez da bibliografia disponível. Mas após os primeiros passos na procura de fontes, concluímos que a amplitude de tal tarefa só podia resultar numa análise superficial. Assim optamos por restringir o âmbito cronológico inicialmente pensado aos séculos XIII e XIV, mais concretamente aos reinados de D. Afonso III e D. Dinis, porque o período antes preconizado revelou-se um objetivo demasiado ambicioso. 2 ALVES (Abade de Baçal), Francisco Manuel – Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança. Coord. geral da edição Gaspar Martins Pereira, [2ª edição], Câmara Municipal de Bragança/Instituto Português dos Museus, 2000, Tomo, VI, pp. 249 e 250. Daqui em diante citarei Memórias, 2000, Tomo nº, seguido do(s) da(s) página(s). Vd., também, BARBOSA, Pedro Gomes e MENDES, Carlos Santos – De Macedo a Macedo dos Cavaleiros: (Via Aljubarrota) – A figura de Martim Gonçalves de Macedo. Edição da Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, 2006, p. 15, transcreve a menção do acontecido constante da obra “Monarquia Lusitana” (1727), tomo VII, p. 763, de Frei Manuel dos Santos; A sepultura de Martim Gonçalves de Macedo, no mosteiro da Batalha, junto de D. João I, «é uma honra que não é dada a ninguém».
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