3. Localização E Distribuição Regional Do Desenvolvimento O
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1 9 ENCONTRO DE ECONOMIA GAÚCHA Área Temática: 3. Localização e Distribuição Regional do Desenvolvimento O DESENVOLVIMENTO HUMANO EM MUNICÍPIOS EMANCIPADOS DO RIO GRANDE DO SUL (2000/2010) Marcio Nunes dos Santos Raniéri Mansur Plain Matheus Nienow Angélica Massuquetti Resumo: O objetivo do estudo foi analisar o desenvolvimento humano em municípios gaúchos emancipados, na década de 1990 e com até 2.000 habitantes (2010), em comparação aos municípios de origem. O período de análise foi 2000/2010 e a metodologia empregada foi a análise do IDHM e dos indicadores de desenvolvimento que integram cada dimensão, além do PIB, do tamanho da população e do PIB per capita. Os resultados revelaram significativa evolução nos índices/indicadores analisados, representando ganho qualitativo para as comunidades emancipadas. O IDHM geral apresentou evolução na classificação para todos os municípios emancipados. No desagregado, Longevidade se manteve como o índice de maior grau de desenvolvimento, mas com menor crescimento no período. No IDHM Educação, observou-se que 67,5% dos municípios foram enquadrados como médio desenvolvimento, respondendo pelos maiores crescimentos para o período, embora seu valor baixo represente menor contribuição ao índice. O IDHM Renda, analisado conjuntamente com o Índice de Gini, ganha destaque positivo, pois 41 municípios superaram a média do Estado representando melhora na distribuição de renda e 40 municípios apresentaram variação de renda superior para o período analisado. Por fim, há uma concentração dos municípios emancipados na RFP 9. Palavras-chave: Desenvolvimento humano. Emancipação. IDHM. Rio Grande do Sul. Acadêmico de Ciências Econômicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Endereço eletrônico: [email protected] Acadêmico de Ciências Econômicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e Bolsista em Iniciação Científica (UNIBIC UNISINOS). Endereço eletrônico: [email protected] Acadêmico de Ciências Econômicas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e Bolsista em Iniciação Científica (PROBIC FAPERGS-UNISINOS). Endereço eletrônico: [email protected] Professora no Programa de Pós-Graduação em Economia (PPGE) na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Endereço eletrônico: [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO A independência de determinada região de seu município de origem pode se basear em uma série de fatores que, juntos ou isolados, determinam não apenas a continuidade ou a fragmentação do território, mas sim toda uma nova estrutura de Estado que nasce para fazer frente aos anseios da população local. Aspectos como expansão geográfica, representação política, verbas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), estrutura administrativa e extensão dos serviços públicos participam igualmente da discussão e geram conteúdo suficiente para inúmeros estudos específicos. Este artigo aborda um aspecto determinante para o desenvolvimento socioeconômico das regiões emancipadas: a aproximação do Estado à comunidade deve proporcionar uma melhor distribuição de renda, efetiva e abrangente, por meio de serviços públicos que visem desenvolver o espaço local de forma sustentável no longo prazo. A pesquisa elaborada por Bremaeker (1993, p.5) procurou identificar com os novos prefeitos de municípios recém-emancipados quais foram os motivos que levaram à criação do mesmo e 62,9% alegaram “[...] descaso por parte da administração do município de origem”. O pleno atendimento dos anseios das populações pelo Estado é apontado como uma das principais motivações para o desmembramento das regiões e o estreitamento do relacionamento da administração pública com a sociedade é tarefa do poder público e deve ser executado de forma equânime por aqueles que assumem o pleito democraticamente. Quando determinada região julga o aparato do Estado insuficiente ou mal distribuído por meio da administração municipal, tende a buscar, via o artifício da emancipação, a reaproximação dos serviços públicos à região dita desamparada. Tal movimento, garantido pela Constituição Federal de 1988, Art. 18 §4° e pela Emenda Constitucional n° 15, permite a criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios mediante consulta prévia por meio de plebiscito, às populações dos municípios envolvidos, após Estudos de Viabilidade Municipal (BRASIL, 2018). Este estudo não discutirá o mérito da emancipação em si, embora haja insumos suficientes para discussão a favor e contra o processo, mas analisar o desenvolvimento humano, no período 2000/2010, em municípios gaúchos emancipados na década de 1990 e com até 2.000 habitantes, em 2010, em comparação aos municípios de origem. Os indicadores utilizados foram baseados nas dimensões renda, educação e longevidade, extraídas do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), e no Produto Interno Bruto (PIB), no tamanho da população e no PIB per capita. O estudo está dividido em cinco seções, iniciando 3 com esta introdução. Na segunda seção aborda-se a relação entre desenvolvimento humano e emancipação. A terceira seção é destinada a descrever os procedimentos metodológicos deste estudo. Na quarta seção apresenta-se a análise dos resultados e, por fim, a quinta seção é reservada para as considerações finais. 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO E EMANCIPAÇÃO Em 1980, havia 3.974 municípios no Brasil. Duas décadas depois já se contabilizavam 5.507 municípios, isto é, um acréscimo de 38%. Esse crescimento de municípios foi incentivado, em parte, pela distribuição de receitas, que beneficiava esses novos e pequenos municípios, e pela nova legislação, que repassava da federação para o estado a definição dos requisitos para a criação de novos municípios (LORENZETTI, 2013). No Rio Grande do Sul, em 1980, havia 232 municípios frente a 467, em 2000. Desta forma, expressou-se um aumento de 101%, ainda maior do que o observado no Brasil. De 1991 a 2000 foram criados 134 municípios no estado, dentre os quais 24 municípios tinham menos de 2.000 habitantes, em 2010 (FEE, 2018). O processo de emancipação foi acompanhado por um constante debate: para os opositores, a repartição do FPM era a principal motivação dos emancipacionistas e prejudicava os municípios já existentes, em virtude da redução de suas receitas. Já os defensores argumentavam que as divisões municipais trariam desenvolvimento local para populações até então marginalizadas (BOUERI et al., 2013). A teoria econômica contemporânea apresenta diversas perspectivas sobre a descentralização da política e a sua relação com o desenvolvimento. Afirma-se que a disponibilização de bens públicos locais de forma descentralizada é mais benéfica que de forma centralizada porque se adequa mais facilmente às necessidades dos cidadãos. Assim, determina-se que municípios menores tendem a ser mais homogêneos e dessa forma suas preferências seriam mais bem representadas do que em municípios mais populosos (OATES, 1972). No entanto, em contrapartida, maiores secessões municipais limitam o aproveitamento de economias de escala. Assim, justifica-se que um município, independentemente de seu tamanho, necessita de uma estrutura executiva e legislativa básica, isto é, demanda um número mínimo de secretários, vereadores e assessores. Portanto, apesar de os benefícios locais serem maiores, os retornos para a região de municípios podem diminuir em eficácia e 4 eficiência. Em síntese, a teoria econômica apresenta um trade-off entre os ganhos de representação em municípios menores com os ganhos de escala presentes nos municípios maiores (BOUERI et al., 2013). Ainda assim, para além dos fatores sociais e econômicos, algumas secessões derivam e são impulsionadas por fatores geográficos, de distanciamento do centro urbano, e culturais. Essas variáveis podem contribuir para o fortalecimento das divisões municipais e coincidem com diferenças nos indicadores de longevidade, de acesso à educação e de renda (BALBIM et al., 2012). 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 3.1 OBJETO DE ESTUDO Dentre os municípios gaúchos emancipados na década de 1990, identificou-se que 24 possuíam menos de 2.000 habitantes, em 2010, como observa-se na Tabela 1. Esses municípios emancipados e seus municípios de origem são o objeto deste estudo. Destes, o menos populoso foi União da Serra, com 1.500 habitantes. Tabela 1 – População e origem dos municípios emancipados na década de 1990 Município População 2010 Lei de Criação Data Município de Origem Canudos do Vale 1.827 Lei nº. 10.755 16/04/1996 Lajeado Capão Bonito do Sul 1.714 Lei nº. 10.742 16/04/1996 Lagoa Vermelha Carlos Gomes 1.632 Lei nº. 9.540 20/03/1992 Viadutos Coqueiro Baixo 1.551 Lei nº. 10.765 16/04/1996 Nova Bréscia Coronel Pilar 1.701 Lei nº. 10.744 16/04/1996 Garibaldi Engenho Velho 1.564 Lei nº. 9.606 20/03/1992 Constantina Floriano Peixoto 1.994 Lei nº. 10.636 28/12/1995 Getúlio Vargas Gentil 1.691 Lei nº. 9.577 20/03/1992 Passo Fundo Lagoa dos Três Cantos 1.583 Lei nº. 9.632 20/03/1992 Não-Me-Toque Linha Nova 1.587 Lei nº. 9.631 20/03/1992 Feliz Mato Queimado 1.791 Lei nº. 10.747 16/04/1996 Caibaté Muliterno 1.829 Lei nº. 9.543 20/03/1992 Ciríaco Nicolau Vergueiro 1.728 Lei nº. 9.544 20/03/1992 Marau Nova Boa Vista 1.971 Lei nº. 9.608 20/03/1992 Sarandi Novo Xingu 1.759 Lei nº. 10.759 16/04/1996 Constantina Ponte Preta 1.730 Lei nº. 9.537 20/03/1992 Jacutinga Porto Vera Cruz 1.874 Lei nº. 9.588 20/03/1992 Porto Lucena Quatro Irmãos 1.763 Lei nº. 10.761 16/04/1996 Erechim Santa Cecília do Sul 1.637 Lei nº. 10.763 16/04/1996 Tapejara Santa Tereza 1.690 Lei nº. 9.627 20/03/1992 Bento Gonçalves São Pedro das Missões 1.912 Lei nº. 10.753 16/04/1996 Palmeira das Missões Tupanci do Sul 1.576 Lei nº. 9.629 20/03/1992 São José do Ouro União da Serra 1.500 Lei nº. 9.598 20/03/1992 Guaporé 5 Vespasiano Correa 1.992 Lei nº. 10.663 28/12/1995 Muçum Fonte: Elaborado pelos autores a partir de FEE (2018). Dentre os municípios gaúchos emancipados, 14 (58%) se concentram na Região Funcional de Planejamento1 9 (RFP 9), três na RFP 2, três na RFP 3, dois na RFP 7 e um em cada uma das seguintes RFPs: 1 e 8 (Figura 1) Figura 1 – RFPs e COREDEs no Rio Grande do Sul Fonte: Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul (2018).