1382

Comunicação museológica: estudos realizados a partir da experiência na Casa da Tia Neiva do Vale do Amanhecer

Nathália Pereira dos Santos Ferreira (Universidade de Brasília) Kauanna Vasconcelos de Sousa (Universidade de Brasília)

RESUMO

A pesquisa aborda estudos sobre a casa da Tia Neiva no Vale do Amanhecer, cidade localizada no Distrito Federal. A pergunta de partida foi: como o processo de comunicação museológica pode ser percebida a partir de experiências museográficas desenvolvidas na Casa da Tia Neiva do Vale do Amanhecer? O Objetivo é estudar a relação entre a exposição existente na Casa da Tia Neiva e os visitantes. A metodologia utilizada foi levantamento documental, revisão de literatura, incluindo o estudo conceitual de museu, museu-casa, expografia e comunicação museológica. Utilizou-se o estudo de caso da Casa da Tia Neiva, realizando entrevistas e a observação da exposição, além de estudos sobre a coleção. Enquanto resultado, nesse trabalho entende-se a Casa da Tia Neiva como museu-casa, por ser uma experiência museal e museológica que valora simbolicamente a figura de uma mulher, viúva, mãe de 4 filhos, caminhoneira que a partir de uma revelação religiosa a transformou em uma figura conhecida no Brasil, mesmo após de sua morte, sendo formada a coleção a partir de então.

Palavras-Chave: museu-casa; comunicação museológica; Tia Neiva; Vale do Amanhecer.

1383

ABSTRACT

The research addresses studies about the house of Aunt Neiva in the Valley of Dawn, a city located in the Federal District. The starting question was: how can the museological communication process be perceived from the museographic experiences developed at the Aunt Neiva Valley Dawn's House? The objective is to study the relationship between the existing exhibition at Casa da Tia Neiva and the visitors. The methodology used was documentary survey, literature review, including the conceptual study of museum, house museum, expography and museum communication. We used the case study of Casa da Aunt Neiva, conducting interviews and observation of the exhibition, as well as studies about the collection. As a result, in this work is understood the House of Tia Neiva as a museum- house, for being a museum and museum experience that symbolically values the figure of a woman, widow, mother of 4 children, truck driver who from a religious revelation to turned into a well-known figure in , even after his death, being formed the collection from then on.

Keywords: house-museum; museum communication; Aunt Neiva; Valley of the dawn

1. INTRODUÇÃO A presente pesquisa aborda estudos acerca das ações de comunicação museológica existentes na Casa da Tia Neiva, na cidade do Vale do Amanhecer. O interesse acerca desse estudo começou com a visita da pesquisadora e estudante de museologia à cidade e à casa da Tia Neiva, após muitas visitas foi possível perceber a relevância da personagem da Tia Neiva para a comunidade local, personagem de influência na cidade e em quem faz parte da doutrina que ali se expandiu.

1384

A pergunta de partida foi: como o processo de comunicação museológica pode ser percebido a partir de experiências museográficas desenvolvidas na Casa da Tia Neiva do Vale do Amanhecer? O objetivo geral desta pesquisa é estudar a relação estabelecida entre a exposição existente na Casa da Tia Neiva do Vale do Amanhecer e os visitantes. Os objetivos específicos são: Estudar os conceitos de museu, museologia, coleções, comunicação museológica e museu-casa; Estudar a história da Tia Neiva e da cidade do Vale do Amanhecer; Refletir sobre as comunicações museológicas existentes na casa e a importância da coleção para uma comunidade específica. A metodologia utilizada foi levantamento documental, revisão de literatura, incluindo estudo terminológico e conceitual. Utilizou-se o estudo de caso da Casa da Tia Neiva do Vale do Amanhecer, a partir da observação realizadas na exposição de longa duração, além de estudos sobre a coleção existente. Este trabalho foi desenvolvido a partir de reflexões pertinentes ao Campo da Museologia, em relação interdisciplinar com a Comunicação, sendo muitos dos conceitos apresentados a partir de uma perspectiva museológica.

2. MUSEOLOGIA, MUSEU, MUSEU-CASA E COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA A museologia é uma área do conhecimento interdisciplinar, e que inicialmente se desenvolveu a partir de estudos sobre museus, estruturando-se em interfaces com outras áreas do conhecimento.

2.1 MUSEOLOGIA Assim como as definições de museu, o entendimento quanto às delimitações do campo da Museologia não é algo definido vários são os entendimentos quanto a área da museologia. Existem entendimentos diversos quanto ao campo que coexistem. Citemos como exemplo o entendimento de

1385

676Loureiro (2005), que discute a interdisciplinaridade sendo uma das características mais fortes da museologia.

[...] a Museologia requer a incorporação de perspectivas dos diversos campos do conhecimento. Esse horizonte multidisciplinar, por um lado, não exclui tópicos e elementos comuns com os quais os agentes museais se deparam em seu cotidiano como questões ontológicas e culturais do museu, o processo de musealização, o patrimônio cultural, a memória coletiva e tantos outros. Por outro, subsidia, ainda, o delineamento de espaços, racionalidades e ações que permitem o aprimoramento da área. (LOUREIRO, 2005, p.28)

677Scheiner (2005) entende ser a museologia uma área que analisa, através dos museus, como a sociedade ‘enxerga’ o mundo, como ela se enxerga. A autora afirma que “Conhecer o Museu nas suas diversas manifestações nos ajudaria a perceber como certas sociedades constroem a sua auto- narrativa, como elas se colocam no mundo, como vêem o mundo, e como é esse mundo que elas vêem”. (SCHEINER, 2005, p.99). Outras definições são apresentadas pelo Comitê Internacional de Museologia (ICOFOM), conforme 678Cerávolo (2004) aponta ao dizer ser

676 LOUREIRO, José Mauro Matheus. O objeto de estudo da Museologia. Mast Colloquia. Vol 7. Museu: Instituição de Pesquisa. 2005. 25-36 p. Disponível em: < http://site.mast.br/hotsite_mast_colloquia/pdf/mast_colloquia_7.pdf>. Acesso em: 27 de jul. de 2019.

677 SCHEINER, Teresa. Museologia e Pesquisa: perspectivas na atualidade. Mast Colloquia. Vol 7. Museu: Instituição de Pesquisa. 2005, 85-100 p. Disponível em: < http://site.mast.br/hotsite_mast_colloquia/pdf/mast_colloquia_7.pdf>. Acesso em:27 de jul. de 2019.

678 CERÁVOLO, Suely Moraes. Delineamentos para uma teoria da Museologia. Anais do Museu Paulista. v.12 , 2004, p.32. Disponível em: . Acesso em: 27 de jul. de 2019.

1386

A Museologia como conjunto de princípios, aflorado no decorrer dos anos 1980, passou a ser sistematizada a partir da reunião de pessoas interessadas em discuti-la, situação essa facilitada ou mesmo possibilitada pela implantação do Icofom, uma iniciativa do tcheco Jan Jelinek. No entanto, isso não significa que a palavra museologia não fosse empregada antes desse período, o que muda são os significados com que passa a ser revestida. (CERÁVOLO, 2004, p.238)

A museologia pode ser percebida também como a relação

do homem e a realidade; do homem e o objeto no museu; do homem e o patrimônio musealizado; do homem com o homem, relação mediada pelo objeto. Esse universo de relações deve ser enfrentado na perspectiva transdisciplinar dada a sua complexidade. Se a museologia é disciplina com objeto de estudo, o enfrentamento desse objeto deve ocorrer com clareza e com bases teóricas fundamentadas nas ciências humanas e sociais (679CURY, 2009, p. 273).

Portanto o estudo da museologia não está restrito somente ao museu, seria o estudo de tudo que se refere à relação do homem com o que está a sua volta.

679 CURY, Marília Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2005. 162p

1387

A ação museológica deve criar situações que levam ao desenvolvimento e à reflexão da comunidade. Somente desta maneira estará contribuindo para uma educação que seja dialógica e libertadora, onde os indivíduos estejam capacitados a transformarem sua realidade. Este aspecto da museologia contemporânea é percebido no momento que o museu passa a ser considerado espaço de comunicação e trocas de saberes. (680PRIMO, 1999, p.35)

680 PRIMO, Judith. Pensar contemporaneamente a Museologia. Cadernos de Sociomuseologia. n.16, 1999, p.33. Disponível em: http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/350. Acesso em: 27 de jul. de 2019.

1388

2.2 MUSEU O Conselho Internacional de Museus - ICOM em 2007 publicou em seu estatuto a definição de museu que pode ser entendido como

[...] uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, em que são adquiridas, conservadas, pesquisadas, comunicadas e exibidas as heranças tangíveis e intangíveis da humanidade e seu ambiente, com propósitos educativos acadêmicos e de entretenimento (DESVALLES, 2010, p.64)

Desvallées (2010) afirma que o termo museu pode, também, ser “o lugar geralmente concebido para realizar a seleção, o estudo e a apresentação de testemunhos materiais e imateriais do homem e do seu meio” (681DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.64). Na publicação “Conceito chaves de museologia“, de 2013, André Desvallées e François Mairesse afirmam que

o museu constitui um meio, entre outros, pelo qual se dá uma “relação específica do Homem com a realidade”, sendo esta relação determinada pela “coleção e a conservação, consciente ou sistemática, e [...] a utilização científica, cultural e educativa de objetos inanimados, materiais, móveis (sobretudo tridimensionais) que documentam o desenvolvimento da natureza e da sociedade” (Gregorová, 1980). (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.65)

681 DESVALLÉES, André Desvallées; MAIRESSE, François (Ed.). Conceitos-chave de Museologia. São Paulo: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado da Cultura, 2013. 56 p

1389

Outro ponto relevante seria o entendimento do termo “museu” tanto como “instituição quanto estabelecimento, ou o lugar geralmente concebido para realizar a seleção, o estudo e a apresentação de testemunhos materiais e imateriais do Homem e do seu meio” (DESVALLÉES; MAIRESSE, 2013, p.64) Acompanhando esse pensamento, 682Scheiner (2001) afirma que o museu não seria necessariamente instituição.

O Museu é pensado, hoje, a partir de sua natureza fenomênica e de sua pluralidade enquanto representação. Não mais como instituição, porém configurado através de relações muito específicas entre o humano e as novas percepções de espaço, tempo, memória e valores culturais; livre, plural, passionário e contraditório, infinito em sua potência, pode aparecer sob distintas formas, representar todos os modelos culturais e todos os sistemas de pensamento – de acordo com os valores e representações das diferentes sociedades, no tempo e no espaço. (SCHEINER, 2001, p.217)

Essa linha de pensamento fica explícita na Lei n 11.904, de 14 de janeiro de 2009, que, diferentemente da definição estabelecida pelo ICOM, em 2007, não utiliza a expressão “instituição permanente”, apontando, assim com Scheiner, não mais associando a ideia de permanência ao entendimento de museu.

ICOM, Conselho Internacional de Museus. International council of museums. Austria, 2007. Disponível em: . Acesso em: 27 de jul. de 2019 682 SCHEINER, Teresa. As bases ontológicas do museu e da museologia. In: SIMPÓSIO MUSEOLOGIA, FILOSOFIA E IDENTIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE, Anais. ICOFOM LAM. Venezuela. 1999. p. 133-164.

1390

Para Poulot, o museu é um espaço que desperta reflexão na sociedade.

O museu parece estar fadado a contribuir para a emergência de um interesse comum no âmago público; ele exerce de fato, uma hegemonia em termos de coleções, assim como de reflexão coletiva a propósito do patrimônio, do ponto de vista tanto da filiação e identidade, quanto da experiência relativamente à alteridade. Em particular, a nova cultura museal nutre uma reflexão sobre a memória, seu trabalho, suas ambivalências e seus paradoxos, até mesmo sobre os recursos que ela oferece em face da abjeção histórica. (683POULOT, 2011, p.3)

A partir dessas definições, é possível observar que há diferentes definições acerca do que seria o ‘museu’, contudo é importante ressaltar que muitas dessas abordam a importância e a necessidade da relação entre o que se entende por ‘museu’ e a sociedade. A função social se faz presente em diferentes entendimentos quanto ao que venha ser museu, sendo, igualmente, pauta obrigatória em todas as ações desenvolvidas pelos espaços museais. A partir dos entendimentos apresentados sobre como o “museu” pode ser compreendido, faz- se necessário compreender o que seria o “museu-casa” termo que será aplicado a casa da Tia Neiva no Vale do Amanhecer, contudo é importante destacar que a comunidade e membros da doutrina não definem com um só termo o local, alguns se referem como memorial outros como museu.

2.3 MUSEU-CASA

683 POULOT, Dominique. Museu e Museologia. : Autêntica Editora, (coleção Ensaio geral), 2013. 159p.

1391

A publicação de Micheli Afonso e Juliane Serres (2014) aponta que o estudo mais intenso acerca da denominação começou, de fato, em 1998 com a criação do Comitê Internacional para os Museus de Casas Históricas - DEMHIST.

O DEMHIST é responsável por auxiliar na institucionalização e gestão desta categoria de museu, a qual abriga registros de uma memória social sempre representada por um (a) personagem de destaque para uma comunidade, independente da sua condição social. (684AFONSO; SERRES, 2014, p.1)

As autoras apontam que, por ser um tema recente, a maioria dos estudos ainda não se aprofundou nas especificidades dessa tipologia. Elas também apontam para a diferença existente na tipologia museal existente em (casa-museu) e no Brasil (museu-casa). Antonio Ponte (2007) aponta a diferença entre casa histórica e museu-casa, afirmando que uma casa-museu só existe se as práticas museológicas forem exercidas, e que as casas históricas são um espaço histórico de uma residência.

Em Portugal, considera-se a casa histórica como uma estrutura relacionada com alguma figura pública de relevância nacional, regional ou local, ou com algum acontecimento da história do país ou de um determinado local, sem que, contudo, tenha implícito o trabalho e a função museológica. Não tem inclusivamente de estar aberta ao público. (685PONTE, 2007, p. 23).

684 AFONSO, Micheli Martins; SERRES, Juliane Primon : Casa-museu, museu-casa ou casa histórica? Uma controversa tipologia museal. Contribuciones a las Ciencias Sociales. 2014. Disponível em: Acesso em: 27 de jul. de 2019.

685 PONTE, António M. Torres da. Casas-Museu em Portugal: Teorias e Prática. 2007. Dissertação (Mestrado em Museologia). Faculdade de Letras, Universidade do Porto

1392

Micheli Afonso e Juliane Serres (2014) apontam que “as definições de Casa-Museu ou Museu- Casa são empregadas nos países que assim as designam, independente da tipologia da nomenclatura utilizada.”. (AFONSO; SERRES, 2014, p.2). Portanto é difícil se obter um consenso quanto a nomenclatura desta tipologia de museu

a principal premissa para que uma instituição de guarda seja instituída como Casa-Museu, diz respeito à constituição histórica do ambiente ou a reconstrução da memória do mesmo, através de objetos, documentos, e ações que identifiquem o patrono (a) e a sua relação com uma vivência íntima. (AFONSO; SERRES, 2014, p.2).

Para as autoras, uma característica essencial para essa tipologia seria a prática de ações museológicas (como exposição, conservação, ações educativas, documentação, comunicação) e especialmente serem abertas ao público. Ponte (2007) estabelece que uma casa-museu

[...] deverá reflectir a vivência de determinada pessoa que, de alguma forma, se distinguiu dos seus contemporâneos, devendo este espaço preservar, o mais fielmente possível, a forma original da casa, os objectos e o ambiente em que o patrono viveu, ou no qual decorreu qualquer acontecimento de relevância, nacional ou local, e que justificou a criação desta unidade museológica (PONTE, 2007, p.25).

1393

Sendo assim, esses autores destacam que uma ‘casa-museu’ é um espaço que evoca a memória e a história de forma mais íntima que outras tipologias de museus. Influencia a memória pessoal e coletiva de um indivíduo, “a qualidade simbólica do espaço expositivo de uma Casa-Museu induz o visitante a buscar nos objetos exibidos de uso íntimo de uma determinada personalidade, referências que remetam às suas próprias lembranças.” (AFONSO; SERRES, 2014, p.3). Desse modo, uma casa-museu influencia o modo de viver da sociedade ao redor deste local, de uma forma mística (fetichista?), os visitantes de uma Casa-Museu são bombardeados por sensações que remetem a um cabedal de lembranças, talvez impossíveis de serem despertadas em outras tipologias de instituições museológicas.(AFONSO; SERRES, 2014, p.3).

Mario Chagas (2013) destaca que uma casa-museu promove algo que não foi vivenciado antes, mas que pode ser sentido e que, independentemente do tamanho da casa, seja uma pequena habitação ou um palácio, todas cumprem uma função de moradia. As casas museus (sejam elas casas das camadas populares, das classes médias ou das elites sociais e econômicas), a rigor, são casas que saíram da esfera privada e entraram na esfera pública, deixaram de abrigar pessoas, mas não deixaram necessariamente de abrigar objetos, muitos dos quais foram sensibilizados pelos antigos moradores da casa. As casas museus e os seus objetos servem para evocar nos visitantes lembranças de seus antigos habitantes, de seus hábitos, sonhos, alegrias, tristezas, lutas, derrotas e vitórias;

1394

mas servem também para evocar lembranças das casas que o visitante habitou e que hoje o habitam. (686CHAGAS, 2013, p. 3).

Micheli Afonso e Juliane Serres (2014) continuam destacando que o Comitê Internacional para os Museus de Casas Históricas – DEMHIST procurou desenvolver, desde 1998, um projeto de categorização global para as casas-museu que até hoje não está finalizado. Entre 1999 e 2002, o projeto foi organizado por Rosana Pavoni. Afirmam que “Parte da metodologia aplicada por Pavoni consistiu na produção de uma ficha, traduzida em seis idiomas, [...] com intuito de facilitar o acesso ao documento e aumentar as possibilidades de respostas das instituições investigadas.” (AFONSO; SERRES, 2014, p.8) Em 2007, durante a conferência anual do DEMHIST, algumas categorias acerca das casas- museus foram apresentadas, destacando as categorias Casas de Personalidade (PersH) e Casas de Sociedade Local (SociH)

Casas de Personalidade (PersH): Artistas, escritores, músicos, políticos, entre outros personagens que de alguma forma tiveram destaque social. 2. Casas de Colecionadores (CollH): A qual a qual abrigou a residência de um colecionador ou a residência que abriga uma coleção. 3. Casas de Beleza (BeauH): A valorização estética do local é o principal ponto para musealização. 4. Casas de Eventos Históricos (HistH): Locais representativos por sua participação em eventos históricos. 5. Casas de Sociedade Local (SociH): Musealizados por refletirem a identidade de uma sociedade. 6. Casas Ancestrais (AnceH): Casas

686 CHAGAS, MARIO. A poética das casas museus de heróis populares. In: Revista Mosaico. Edição nº4, Ano II. 2013. Disponível em: . Acesso em:27 de jul. de 2019.

1395

típicas de uma época, abertas ao público. 7. Casas de Poder Real (RpowH): Palácios abertos ao público 8. Casas Clericais (ClerH): Mosteiros, casas de abades e outros edifícios eclesiásticos com um uso residencial antigo ou atual e que estejam abertos ao público. 9. Casas Modestas (HumbH): Casas vernaculares abertas ao público. (AFONSO; SERRES, 2014, p.8)

É importante destacar que as definições para casa-museu ou casa histórica muitas vezes são feitas regionalmente. Portanto, as categorias encontradas pelo Comitê podem não condizer com a realidade de algumas regiões, como aponta Ponte (2007). Ponte acredita que essa classificação não condiz com a realidade portuguesa. Sendo assim, ele resolve ‘criar’ sua própria classificação.

2.4 COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA Para além do entendimento de Museus e do que venha ser, especificamente, os museus que foram originalmente casas de personalidades; a compreensão da relevância da comunicação em museus ou comunicação museológica para a relação museu-sociedade é aqui entendido como sendo de grande importância para os estudos do campo da Museologia. Alessandra Oliveira (2018) aponta que “a Comunicação Museológica e a Comunicação em Museus são duas expressões ou categorias de análise, ainda não consolidadas, e servem à Museologia para pensar a comunicação estabelecida em ações de exposições” (OLIVEIRA, 2018, p.10). e os termos comunicação em museus e comunicação museológica muitas vezes são diferenciados, sendo a comunicação museológica uma expressão utilizada para além do espaço institucionalizado museu por estar associada à práticas do

1396

campo da Museologia, podendo ser aplicadas às ações de comunicação culturais para além dos museus. (687OLIVEIRA, 2018, p.17).

De acordo com Castro (1995), a comunicação museológica “pressupõe a mediação do objeto museal que, ao abandonar sua funcionalidade original, converte-se em signo comunicacional e informacional” (688CASTRO, 1995, p.90). E completando com o pensamento de Greenhill (1994), uma possível comunicação museológica não se restringe somente à exposição, mas às ações existentes em todo o museu. Em relação a esse tema, Cury aponta que

A comunicação museológica é a denominação genérica que são dadas às diversas formas de extroversão do conhecimento em museus, uma vez que há um trabalho de introversão. As formas são variadas, como artigos científicos de estudos de coleções, catálogos, material didático em geral, vídeos e filmes, palestras, oficinas e material de divulgação e/ou difusão diversos. Todas essas manifestações são, no museu, comunicação no lato sensu. No stricto sensu, a principal forma de comunicação em museus é a exposição ou, ainda, a mais específica, pois é na exposição que o público tem a oportunidade de acesso à

687 OLIVEIRA, Alessandra Cavalcante. REFLEXÕES SOBRE A COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA EM MUSEU A PARTIR DA EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA DO RISCO AO RISO A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA NAS CARICATURAS DA IMPRENSA (1957- 1960). 2018. 86 f. TCC (Graduação) - Curso de Museologia, Faculdae de Ciência da Informação, Universidade de Brasília, Brasília, 2018 . 688 CASTRO, Ana Lucia Siaines de. O museu: do sagrado ao segredo: uma abordagem sobre informação museológica e comunicação. 1995. 144 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro / Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, 1995. Disponível em: < http://ridi.ibict.br/handle/123456789/726>. Acesso em: 27 de jul. de 2019.

1397

poesia das coisas. É a exposição que se potencializa a relação profunda entre o Homem e o Objeto no cenário institucionalizado (a instituição) e no cenário expositivo (a exposição propriamente). A relação profunda refere-se ao encontro entre as pessoas e a poesia, sendo que a poesia está nos objetos. (CURY, 2005, p.34)

Ela completa apontando que, na sua concepção exposição, é a parte visual que se manifesta para o público possibilitando uma experiência poética acerca do patrimônio. (CURY, 2005, p. 34-35). Portanto, supondo que exposição e comunicação museológica são possibilidades de experiências, percebe-se que cada visitante terá uma vivência diferente como afirma Cunha (2010) No momento em que passamos a considerar a comunicação não mais como um sistema fechado dentro do esquema tradicional: emissão-recepção, mas sim, como um processo dinâmico que implica realimentação, encarando o discurso como um fato em permanente construção, se apresenta a indagação sobre como podemos ultrapassar os limites estáticos de uma exposição, para que se possibilite um real processo de comunicação. (689CUNHA, 2010, p.114) A partir de tais entendimentos conceituais e adotando dos conceitos apresentados por Cunha (2010) foram realizados estudos a partir de visitas feitas à Casa da Tia Neiva no Vale do Amanhecer.

3. ESTUDO DE CASO: Casa da Tia Neiva no Vale do Amanhecer

689 CUNHA, Marcelo Bernardo. A exposição museológica como estratégia Comunicacional: o tratamento museológico da herança patrimonial. Revista Magistro. n.1, v.1. 2010. 109-120 p. Disponível em: . Acesso em: 27 de jul. de 2019.

1398

O Vale do Amanhecer e a Tia Neiva são muito importantes para a história de Brasília e para a sociedade que vive naqueles arredores. A doutrina e a cidade do Vale do Amanhecer despertaram interesse e motivou a presente pesquisa. Por isso, foram feitas várias visitas à cidade, antes mesmo do início da presente pesquisa.

3.1 CASA DA TIA NEIVA NO VALE DO AMANHECER A primeira comunidade do Vale do Amanhecer foi criada próxima à comunidade de Alexânia, em Goiás, onde nasceu a União Espiritualista Seta Branca – UESB. De lá teve uma breve passagem por Taguatinga. Em 1969, foi instalado em seu atual local, na zona rural da cidade de Planaltina no Distrito Federal. A criação dessa Doutrina se deve a personagem central dessa pesquisa: a Neiva Chaves Zelaya, mais conhecida como Tia Neiva. Ela nasceu em 30 de outubro de 1925 com o nome de Neiva Seixas Chaves, no município sergipano de Propriá. Foi criada num ambiente familiar conservador, de posses médias, onde a religião católica era predominante. Seu pai era topógrafo e, por ser a filha mais velha, acompanhava o pai pelas cidades em que ele passava, começando assim a sua inclinação ao nomadismo. Desde criança teria tido visões de episódios que muitas vezes se confirmaram. No entanto, era repreendida pelo pai. Na adolescência, mudou-se com a família para uma fazenda em Jaraguá-GO. Em 31 de outubro de 1943, com 18 anos, casou-se com Raul Zelaya Alonso, nascido no Rio de Janeiro, de descendência argentina. Desse casamento nasceram quatro filhos: Gilberto Chaves Zelaya, Carmen Lúcia Chaves Zelaya, Raul Oscar Chaves Zelaya e Vera Lúcia Chaves Zelaya. Em julho de 1949, seu marido morre. Viúva, com necessidade de cuidar dos filhos, reúne recursos financeiros e inaugura uma casa de materiais fotográficos. Devido a problemas respiratórios

1399 causados pela manipulação de produtos químicos, por recomendação médica, ela decide encerrar seu negócio. Devido a necessidades financeiras e depois de vender terras, adquiriu seu primeiro caminhão, contando com a ajuda de sua afilhada. Apesar de ser jovem, possuir pouca escolaridade, ser viúva e mãe de quatro filhos, Neiva se empenha em obter provisão para sua família. Em pouco tempo se muda para cidade de Anápolis-GO onde se dedica ao transporte e fretamento de cargas, a partir daí seus principais destinos foram as regiões sul e sudeste. Em 1953, permaneceu um período maior de tempo na cidade de Itumbiara-GO e lá teria vivenciado seu primeiro fenômeno mediúnico. Mais tarde vai para Centralina em , ao aceitar uma proposta de viagem para levar passageiros ao Nordeste tem seu caminhão roubado e demorando cerca de 30 dias a mais que o previsto para voltar para casa, tendo deixado seus filhos sozinhos durante todo esse período. Perdendo seu instrumento de trabalho ela se muda para Morrinho em Goiás e passa a trabalhar como costureira. Em 1954, muda-se para Goiânia e passa a trabalhar como motorista de coletivos urbanos, tendo a companhia de seu filho mais velho, Gilberto, como cobrador. Após a ajuda de sua filha Carmen Lúcia, pôde adquirir um novo caminhão, mesmo continuando a trabalhar como motorista de ônibus Em 1957, com a ajuda de um antigo amigo, Bernardo Sayão, um dos pioneiros da construção de Brasília e um dos diretores da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP), Neiva se une aos candangos. Em uma entrevista para o jornal Última Hora, publicada em novembro de 1985, pouco tempo antes de sua morte, Tia Neiva fala um pouco sobre sua vivência como caminhoneira e sua caminhada religiosa

1400

(Jornalista) Para quem nasceu de uma família religiosa, nordestina, com padres e freiras, o começo deste trabalho espiritual deve ter sido muito difícil. Não foi, Tia Neiva? (Tia Neiva) Foi sim. Eles não gostavam de “macumbeiros” e nem de mulheres independentes. Só pela minha ousadia de ser uma viúva que queria viver sua própria vida já haviam me expulsado de casa uma vez. (Jornalista) Quer dizer que antes de todo este trabalho espiritual, a decisão de ser caminhoneira, principalmente em se tratando de uma viúva jovem e bonita, custou muito caro para a senhora? (Tia Neiva) Custou, mas valeu a pena. Eu sabia, eu sentia que tinha proteção de Deus. Eu sempre me considerei uma boa motorista. Dirigi por várias estradas deste Brasil. Naquela época, os carros não tinham a mecânica de hoje e nem as estradas eram pavimentadas, a não ser umas poucas, nos troncos principais. Por isto, eu era respeitada pelos meus colegas. Justamente por ser considerada boa motorista e boa companheira (690GALEAZZI, 1885, p.13)

Já trabalhando na nova capital, Neiva se torna uma das médiuns mais conhecidas da região, acompanhada por seus familiares. Zelaya se instala no Núcleo Bandeirante, primeiro ‘sítio’ ocupado por operários. Lá passou por episódios relacionados a fenômenos mediúnicos, contudo por ter uma criação católico-cristã e desaprovação vinda, principalmente de seu pai, passou por momentos difíceis e percebeu que necessitava de amparo e esclarecimentos. Após procurar orientação eclesiástica e em alguns terreiros, encontrou em Wolnei, entusiasta do espiritualismo, um orientador. No Núcleo Bandeirante iniciou ajuda aos necessitados e criou um abrigo para crianças abandonadas.

690 Galeazzi, Marlene Anna. “O Amanhecer de Tia Neiva”. In: Última Hora, Brasília, p.13, 10 ago. 1985.

1401

Deixou a cidade em 1958 e começou sua missão espiritualista. Em 8 de novembro de 1959 fundou a União Espiritualista Seta Branca - UESB na cidade de Alexânia-GO. Lá atendia pessoas incluindo um orfanato com mais de 80 crianças. em 1964 vai para Taguatinga-DF e pouco tempo depois é internada com tuberculose, na cidade de Taguatinga ela se instala juntamente com seus familiares e seu grupo, lá ela inaugura um templo. Em 1969 Tia Neiva e algumas famílias se instalam numa área pertencente ao Governo do Distrito Federal à 6 km de Planaltina, Neiva criou uma entidade jurídica chamada “Lar das Crianças de Matildes” para abrigar menores abandonados e a partir daí, começou a construção da comunidade do Vale do Amanhecer. A comunidade religiosa no Vale do Amanhecer se intitula Ordem Espiritualista Cristã e seu registro em cartório é Obras sociais da Ordem Espiritualista Cristã - OSOEC. A escolha do local não foi aleatória, de acordo com Neiva ela recebeu orientações específicas sobre onde deveria se fixar. Hoje a cidade conta com água encanada, rede de águas pluviais, obras de urbanização, linhas de ônibus, posto de segurança, escolas, áreas de lazer, ONGs e milhares de pessoas, muitas que não participam ou fazem parte da Doutrina ali praticada. Isso tudo graças a quantidade pessoas que foram morar na região e a expansão econômica, algo que não era recorrente há duas décadas atrás. Em resumo, em um espaço de tempo pouco superior a 50 anos, ou seja, duas gerações, um fenômeno religioso, de caráter espiritualista, brasileiro em suas matrizes, principiado por uma mulher de modesta instrução e excessiva determinação, complexo e imbricado, instituído a partir de elementos culturais os mais diversos, hoje, merece um olhar mais bem cuidado, um olhar não apenas antropológico, etnográfico, ou histórico-cultural, mas multidisciplinar, capaz de levantar hipóteses a serem confirmadas, senão combatidas ou refutadas, que permitam ao pesquisador dar a conhecer os aspectos do sonho e da realidade

1402

interpretada, que permeiam o imaginário do universo sociorreligioso do Vale do Amanhecer.(691SIQUEIRA;REIS;LEITE, 2010,p.108)

3.2 COLEÇÃO A coleção presente na casa da Tia Neiva no Vale do Amanhecer é de tipologia material e imaterial, tem grande quantidade, contudo não há um número de peças específico já que ainda não foi feito inventário da casa ou a documentação museológica dos objetos. A casa possui um grande acervo fotográfico com cerca de 2 mil e quinhentas fotografias, possui também cartas, pinturas, indumentárias, mobiliário e objetos pessoais que são conservados do jeito que Neiva havia deixado. Nota-se que a coleção presente na casa conta uma história que se tornou fator indenitário para aquele grupo, apesar do acervo possuir um quantitativo grande a personagem central dessa história é Tia Neiva, já que tudo foi conservado como ela havia deixado e grande parte dos objetos a traz como personagem principal. As fotos além de contar a trajetória de vida de Neiva também trazem pessoas que a acompanharam durante todo esse tempo, além da memória da construção de lugares marcantes para a cidade, os templos, a pirâmide, a ‘estrela’. As indumentárias presentes no quarto pertencem a ela e destacam sua importância já que algumas delas eram exclusivas para seu uso. Os mobiliários ali presentes despertam no ‘público’ um sentimento de intimidade já que estão dispostos da mesma forma quando Neiva e seus filhos moravam na casa, portanto conectam quem visita a casa como a cidade do Vale do Amanhecer começou e como aquela família vivia. As cartas, mensagens e matérias de jornais expostas mostram como a cidade e a Doutrina ali praticada eram vistas por quem é de fora e como Tia Neiva se tornou uma pessoa conhecida no Brasil e no mundo. Esse acervo possui várias tipologias, mas num todo ele se tornou um fator indenitário para um grupo específico, ele conta a história de várias pessoas que ajudaram a erguer a cidade e também da personagem central que fez tudo isso acontecer.

691 SIQUEIRA,Deis; REIS, Marcelo; LEITE, Jairo Zelaya. Vale do Amanhecer Inventário Nacional de Referências Culturais.Brasília: Superintendência do Iphan no Distrito Federal, 2010. 280 p.

1403

3.3 MUSEOGRAFIA (COLEÇÃO, EXPOGRAFIA E DISCURSO APRESENTADO) E COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA PERCEBIDA: O MUSEU-CASA Como se pode perceber existe uma discussão muito rica acerca da definição do termo museu- casa ou casa-museu, a partir do que foi observado na casa da Tia Neiva é possível perceber que como aponta Antonio Pontes é complexo utilizar os conceitos estabelecidos pelo Comitê Internacional para os Museus de Casas Históricas - DEMHIST, portanto partindo do princípio que a casa da Tia Neiva é um local que evoca memória e que influencia na memória pessoal e coletiva da cidade do Vale do Amanhecer pode -se utilizar a definição de Afonso e Serres (2014), “a qualidade simbólica do espaço expositivo de uma Casa-Museu induz o visitante a buscar nos objetos exibidos de uso íntimo de uma determinada personalidade, referências que remetem às suas próprias lembranças.” (AFONSO; SERRES, 2014, p.3). E a definição de Mário Chagas que estabelece que as casas museus sejam espaços que saíram da esfera privada e abrigam objetos pessoais que evocam no visitante várias sensações e sentimentos sobre a personalidade que habitou aquele local. Comparando esse conceito com o estudo de caso realizado se pode perceber que pela observação feita a casa da Tia Neiva, o ‘museu-casa’ está localizado ao lado dos principais locais de realização de ritos religiosos, a parte externa do museu-casa, logo na entrada possui uma estátua de Tia Neiva, a parte de trás da casa possui um espaço amplo onde, geralmente é realizado um ‘rito’ chamado de Imunização que ocorre às segundas e quartas atendendo todo tipo de público. Partindo da definição de que comunicação museológica é uma expressão utilizada no campo de conhecimento da Museologia para pensar e compreender ações expositivas presente num local, é analisar como é feita a comunicação de um espaço museal com o público. A comunicação museológica adotada na casa é em parte temporal. Ao entrar na casa, nota-se que as fotos contam um pouco da trajetória que foi a construção da cidade do Vale do Amanhecer muitas das fotos tendo a presença de Neiva Zelaya, entretanto não há contextualização de quem ela é

1404 já que o espaço destinado ao passado dela com fotos de infância e de sua trajetória se encontra nos fundos da casa. Apesar de possuir fotos de outras pessoas importantes para a história daquele grupo indenitário, é evidente que a presença da personagem principal desse artigo é o centro de tudo. Cada cômodo dessa casa conta um pouco da história e personalidade de Neiva, principalmente seu quarto que está intacto e conta com mobiliário, indumentária e objetos pessoais. Contudo, o excesso de elementos, objetos, associada à falta de informações mais claras, restringe o entendimento do visitante que necessita conhecer previamente a história da Tia Neiva e da localidade para compreender a relevância da preservação do espaço e dos objetos ali existentes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS: No estudo desenvolvido sobre o Museu-casa da Tia Neiva, a partir de reflexões conceituais sobre como podemos compreender o museu, as tipologias de museu-casa, a relação entre a Museologia e a Comunicação em espaços de preservação de memórias; são muitas as possibilidades de estudos suscitadas. Fazendo um breve exercício de leitura do que é apresentado ao visitante da casa, o excesso de elementos pode ocasionar confusão na compreensão do visitante, quando este não está familiarizado com tal história ou com a doutrina presente no Vale do Amanhecer, já que não há textos contextualizando o público, além de nem todas as fotos possuírem legendas. Ressalta-se também o fato da grande quantidade de acervo presente na casa. Apesar disso, ao pensar na possibilidade de realizar a seleção de objetos para a criação de uma possível expografia, muito nos questionamos quanto à descaracterização do espaço, alterando a aura deixada pela personagem central: a Tia Neiva. Deste modo, hoje, percebemos que a comunicação das coleções está voltada para os membros da comunidade, por conhecerem a história local.

1405

Contudo, acredita-se que, com a exploração de técnicas museológicas, a casa da Tia Neiva possa comunicar a seu visitante informações que não estão evidentes na comunicação adotada hoje. Entretanto, entendemos que qualquer vontade de modificação deve partir dos familiares ou responsáveis pelo espaço, devendo eles definir o direcionamento de qualquer alteração. A partir do contato com essa comunidade e a história da cidade do Vale do Amanhecer e sua doutrina foi possível observar a quantidade de possibilidades de estudos na área da museologia como a documentação museológica e inventário da coleção, estudo sobre novas possibilidades de expografia para o museu-casa, estudos acerca arquitetura da cidade, o Vale do Amanhecer com ecomuseu, oportunidades que não devem ser desperdiçada visto a importância desse patrimônio para o Distrito Federal e para o Brasil.

1406

REFERÊNCIAS:

AFONSO, Micheli Martins; SERRES, Juliane Primon : Casa-museu, museu-casa ou casa histórica? Uma controversa tipologia museal. Contribuciones a las Ciencias Sociales. 2014. Disponível em: Acesso em: 27 de jul. de 2019.

CASTRO, Ana Lucia Siaines de. O museu: do sagrado ao segredo: uma abordagem sobre informação museológica e comunicação. 1995. 144 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Universidade Federal do Rio de Janeiro / Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, Rio de Janeiro, 1995. Disponível em: < http://ridi.ibict.br/handle/123456789/726>. Acesso em: 27 de jul. de 2019.

CERÁVOLO, Suely Moraes. Delineamentos para uma teoria da Museologia. Anais do Museu Paulista. v.12 , 2004, p.32. Disponível em: . Acesso em: 27 de jul. de 2019.

CHAGAS, MARIO. A poética das casas museus de heróis populares. In: Revista Mosaico. Edição nº4, Ano II. 2013. Disponível em: . Acesso em:27 de jul. de 2019.

CUNHA, Marcelo Bernardo. A exposição museológica como estratégia Comunicacional: o tratamento museológico da herança patrimonial. Revista Magistro. n.1, v.1. 2010. 109-120 p. Disponível em: . Acesso em: 27 de jul. de 2019.

CURY, Marília Xavier. Exposição: concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume, 2005. 162p

CURY, Marília Xavier. Museologia: novas tendências. In: MAST Colloquia. Museu e Museologias: Interfaces e Perspectivas. V.11.2009. p. 26-41.

DESVALLÉES, André Desvallées; MAIRESSE, François (Ed.). Conceitos-chave de Museologia. São Paulo: Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus. Pinacoteca do Estado de São Paulo. Secretaria de Estado da Cultura, 2013. 56 p ICOM, Conselho Internacional de Museus. International council of museums. Austria, 2007. Disponível em: . Acesso em: 27 de jul. de 2019.

Galeazzi, Marlene Anna. “O Amanhecer de Tia Neiva”. In: Última Hora, Brasília, p.13, 10 ago. 1985.

1407

HOOPER-GREENHILL, Eilean . The Educational Role of the Museums. Londers. Routledge, 1994.

LOUREIRO, José Mauro Matheus. O objeto de estudo da Museologia. Mast Colloquia. Vol 7. Museu: Instituição de Pesquisa. 2005, 25-36 p. Disponível em: < http://site.mast.br/hotsite_mast_colloquia/pdf/mast_colloquia_7.pdf>. Acesso em: 27 de jul. de 2019.

PRIMO, Judith. Pensar contemporaneamente a Museologia. Cadernos de Sociomuseologia. n.16, 1999, p.33. Disponível em: http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/350. Acesso em: 27 de jul. de 2019.

PONTE, António M. Torres da. Casas-Museu em Portugal: Teorias e Prática. 2007. Dissertação (Mestrado em Museologia). Faculdade de Letras, Universidade do Porto

POULOT, Dominique. Museu e Museologia. Belo Horizonte: Autêntica Editora, (coleção Ensaio geral), 2013. 159p.

OLIVEIRA, Alessandra Cavalcante. REFLEXÕES SOBRE A COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA EM MUSEU A PARTIR DA EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA DO RISCO AO RISO A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA NAS CARICATURAS DA IMPRENSA (1957-1960). 2018. 86 f. TCC (Graduação) - Curso de Museologia, Faculdae de Ciência da Informação, Universidade de Brasília, Brasília, 2018.

SCHEINER, Teresa. Museologia e Pesquisa: perspectivas na atualidade. Mast Colloquia. Vol 7. Museu: Instituição de Pesquisa. 2005, 85-100 p. Disponível em: < http://site.mast.br/hotsite_mast_colloquia/pdf/mast_colloquia_7.pdf>. Acesso em:27 de jul. de 2019.

SCHEINER, Teresa. As bases ontológicas do museu e da museologia. In: SIMPÓSIO MUSEOLOGIA, FILOSOFIA E IDENTIDADE NA AMÉRICA LATINA E CARIBE, Anais. ICOFOM LAM. Venezuela. 1999. p. 133-164.

SIQUEIRA, Deis; REIS, Marcelo; LEITE, Jairo Zelaya. Vale do Amanhecer Inventário Nacional de Referências Culturais.Brasília: Superintendência do Iphan no Distrito Federal, 2010. 280 p.