COLÓQUIO VIRTUAL PESQUISAS EM LITERATURA ITALIANA TRADUZIDA

PROGRAMA E CADERNO DE RESUMOS

Realização

UFBA (ILUFBA) / UFSC (NECLIT) / USP (GEPLIT)

2020 Colóquio Virtual Pesquisas em Literatura Italiana Traduzida Programa e Caderno de Resumos

COLÓQUIO VIRTUAL

PESQUISAS EM LITERATURA ITALIANA TRADUZIDA

PROGRAMA E

CADERNO DE RESUMOS

14 A 30 DE OUTUBRO DE 2020

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Colóquio Virtual Pesquisas em Literatura Italiana Traduzida Programa e Caderno de Resumos

PROGRAMA

ABERTURA Quarta-feira, 14 de outubro, 17h Erica Salatini (UFBA) Patricia Peterle (UFSC/USP/CNPq) Lucia Wataghin (USP)

Encontro 1 Al femminile: Escritas em verso Quarta-feira, 14 de outubro, 17h30m Agnes Ghisi (UFSC) Traduzindo Alda Merini: desafios e atenções

Luiza Kaviski Faccio (UFSC) O plurilinguismo em Amelia Rosselli

Lucia Wataghin (USP) Literatura “de emergência”: experiências de manicômio em L´altra verità. Diario di una diversa de Alda Merini.

Patricia Peterle (UFSC/USP/CNPq) “Sarebbe riduttivo dire amore”: a magmática poesia de Maria Grazia Calandrone

Silvia Cattoni (Universidad Nacional de Cordoba - UNC) Voci femminili della “scuola di Milano”: la poesia di Antonia Pozzi e Daria Menicanti

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Encontro 2 Memória, violência e resistência: experiências literárias dos séculos XX e XXI Sexta-feira, 16 de outubro, 17h Aislan Camargo Maciera (USP) : memória e resistência antifascista

Gesualdo Maffia (UFBA) Traduzir a violência: a tradução de no Brasil e de Ferréz na Itália

Leonardo Rossi Bianconi (UFSC) “Offesa morale alla donna”: o caso da personagem Nerina em Rosso nella notte bianca

Lucas de Sousa Serafim (UFSC) Considerações sobre o ritmo: a importância dos questionamentos

Marika Avezzù de Souza Rodrigues (UFSC) Leonardo Sciascia: investigando sobre suas obras publicadas no Brasil

Encontro 3 Al femminile: Contemporaneidades no Brasil Quarta-feira, 21 de outubro 17h Francesca Cricelli (USP) Pertencimento e identidade na obra de Igiaba Scego

Alessandra P. Caramori e Bruno Ferreira (UFBA) Um estudo dos marcadores culturais “nero” e “negro” na tradução de Adua, de Igiaba Scego, para o português brasileiro

Susi Leolinda Rosas Queiroz (UFBA) A análise textual em tradução proposta por Christiane Nord aplicada ao romance Giochi di Mano

Marlene Rodrigues Brandolt (UFSC) A maternidade na escrita feminina italiana traduzida no Brasil

Tatiara Pinto (UFSC) As outras: sobrevivência e rito da/na poesia contemporânea

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Encontro 4 Diálogos: literatura e tradução Sexta-feira, 23 de outubro, 17h Andrea Santurbano (titular); Mariele Lúcia Tortelli (coautora); Victor Rafael Gonçalves Bento (coautor) (UFSC) Michele Mari: das malhas do texto à tradução

Daniel Fonnesu (UFBA) Entre versões e redemoinhos: traduzindo Ardor e Ardências de Inaê Sodré

Fabiana Vasconcellos Assini (UFSC) Da coleção I gettoni para o mercado brasileiro: a tradução de escritores “gettonianos”

Francisco Degani (UFSC) Ugo Foscolo visto por Ippolito Nievo

Leila Cursi de Barros (USP) Uma reflexão sobre a tradução do Purgatório, de Dante Alighieri

Tatiana Fantinatti (UFBA) Camilleri traduzido na tela

Encontro 5 Escritas femininas entre história e atualidade Sexta-feira, 30 de outubro, 17h

Adriana Marcolini (USP) Traduzir Maria Messina no Brasil: desafios e descobertas

Dayana Loverro (USP) A escrita feminina em movimento: Clarice Lispector em italiano

Erica Salatini (UFBA) “Cem anos de literatura rosa”: romances italianos de autoria feminina traduzidos no Brasil

Laura C. Fiore Ferreira (USP) Le seduzioni: tradução de poesias e cartas de Amalia Guglielminetti

Leila Marangon (USP) A representação do universo feminino na narrativa de Natalia Ginzburg, a escritora que um dia desejou “escrever como um homem”.

Sara Debenedetti (USP) Melania Mazzucco, il romanzo tra storia e attualità

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RESUMOS

Adriana Marcolini (USP) - Traduzir Maria Messina no Brasil: desafios e descobertas A comunicação abordará os desafios de tradução de Piccoli Gorghi, da escritora siciliana Maria Messina (1887-1944), e a importância de revelar a autora para o público brasileiro. A obra de Maria Messina é inédita no Brasil.

Agnes Ghisi (UFSC) - Traduzindo Alda Merini: desafios e atenções O campo semântico da escrita de Alda Merini nos apresenta um repertório ligado ao corpo e à experiência da mulher no mundo. Temas como gravidez e maternidade, e a recorrência da palavra “ventre” delineiam um universo feminino com o qual podemos ou não nos identificar, mas ao qual, de toda forma, precisamos dedicar certa atenção crítica. A tradução de sua escrita, seja poética ou narrativa, requer, então, certa dedicação e concentração a essa esfera do feminino. Para além disso, o uso poético da palavra e das estruturas gramaticais podem se mostrar um desafio, como é o caso do poema que se inicia com o verso “Io mi sono una donna che dispera”, cuja tradução fadigosa e atenciosa requer alguns comentários, que abordaremos em diálogo com outras traduções da autora nesta comunicação.

Aislan Camargo Maciera (USP) - Primo Levi: memória e resistência antifascista Químico, partigiano, ex-deportado, sobrevivente, testemunha, escritor, etólogo, historiador e antropólogo: são todos elementos da identidade de Primo Levi, um dos grandes e fundamentais escritores do século XX. A complexidade - própria de sua identidade e de seus escritos - nos leva ao universo de sua obra que foi, nas primeiras décadas do século XXI, cada vez mais explorado, mas que ainda conta com muitas coisas a serem descobertas. O propósito da comunicação será o de expor uma face de Levi ainda pouco difundida entre os leitores brasileiros, e que está intimamente ligada ao seu papel de testemunha e escritor: a figura do intelectual engajado. Entre os anos 60 e 80, ele foi autor de mais de uma centena de artigos jornalísticos. Além disso, era presença frequente em entrevistas radiofônicas, televisivas ou publicadas pela imprensa escrita. A partir dessas entrevistas, colóquios e conversas, pretende- se abordar as reflexões de Levi, intelectual laico e humanista, acerca da própria literatura e das questões contemporâneas. Sua visão a respeito da liberdade, da democracia e da condição humana no mundo moderno é ponto de partida para se estabelecer um diálogo com contextos nos quais todas as liberdades parecem estar ameaçadas, e onde torna-se cada vez mais necessária uma atitude de enfrentamento.

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Alessandra P. Caramori e Bruno Ferreira (UFBA) - Um estudo dos marcadores culturais “nero” e “negro” na tradução de Adua, de Igiaba Scego, para o português brasileiro No presente estudo analisou-se, em perspectiva descritiva, como se realizou a tradução dos marcados culturais presentes na obra Adua, da autora ítalo-somali Igiaba Scego, através da tradução para língua portuguesa falada no Brasil realizada por Francesca Cricelli. Dessa maneira, buscou-se depreender as escolhas utilizadas para a tradução das lexias “nero” e “negro”, da língua italiana, para “negro” e “preto”, em português brasileiro, compreendendo, para tal, os contrastes históricos e sociais entre a cultura fonte e a cultura meta. Desse modo, para realização desse estudo, utilizou-se como aporte teórico a reformulação a respeito dos marcadores culturais realizada por AUBERT (1981, 1995, 2006) a partir do trabalho sobre domínios culturais de NIDA (1945); além de fazer uso de BARBOSA (1992), OLIVEIRA e ISQUERDO (2001) para as discussões conceituais da lexicografia e lexicologia.

Andrea Santurbano (titular); Mariele Lúcia Tortelli (coautora); Victor Rafael Gonçalves Bento (coautor) (UFSC) - Michele Mari: das malhas do texto à tradução Escritor, filólogo, tradutor e professor da Universidade de Milão, Michele Mari é um dos principais protagonistas da literatura italiana das últimas décadas, desde seu primeiro livro publicado, Di bestia in bestia (1989), que recebeu uma acolhida entusiástica, entre outros, de . Por sua infância ter sido marcada por experiências de vida e leituras (Mari é filho do famoso designer Enzo e da ilustradora Iela Mari), esse período aparece como um elemento central em sua escrita, perpassando por obras como Tu, sanguinosa infanzia (1997), Verderame (2007) e Leggenda privata (2017). Tais textos se caracterizam pela mescla de gêneros narrativos e elementos autobiográficos combinados com o pastiche linguístico. Traduzir Mari, nesse sentido, requer uma compreensão da complexidade linguística e intertextual que define suas obras. Nessa comunicação, pretendemos refletir sobre tais aspectos tradutórios e conceituais, levando em consideração sua única obra traduzida para o português- brasileiro, Oito escritores (2019), e as diversas problemáticas que envolveriam outras possíveis traduções.

Daniel Fonnesu (UFBA) - Entre versões e redemoinhos: traduzindo Ardor e Ardências, de Inaê Sodré Este trabalho de pesquisa discute nossa implementação de uma tradução para o italiano do livro de poemas eróticos Ardor e Ardências, obra da poetisa, dramaturga e atriz baiana Inaê Sodré (2018). Serão apresentados alguns dos desafios encontrados e algumas das estratégias utilizadas no processo de tradução. Para tanto, o referencial utilizado na presente pesquisa

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Colóquio Virtual Pesquisas em Literatura Italiana Traduzida Programa e Caderno de Resumos abrange os paradigmas teóricos de tradução baseados na equivalência direcional e no propósito descritos por Anthony Pym (2017), o conceito de tradutor trickster em Lewis Hyde (2010) e Katrina Daly Thompson (2005), e os procedimentos técnicos de tradução sistematizados por Heloísa Gonçalves Barbosa (2004).

Dayana Loverro (USP) - A escrita feminina em movimento: Clarice Lispector em italiano A literatura escrita por mulheres, sobretudo entre o final do século XIX e durante o século XX, demonstra que os cenários retratados e as abordagens temáticas aos poucos se desconectavam do contexto privado, doméstico – antes, intrinsecamente associado às mulheres – e o “feminino” passa a ganhar novos contornos e dimensões: enquanto a voz da mulher se perfaz na esfera pública e atuante no mundo, seus ecos alcançam também outros territórios através das traduções desses escritos. Para compreender melhor essa jornada, propõe-se lançar um olhar ao que se configura como “escrita feminina” (na abordagem desenvolvida por Virginia Woolf), da qual diversas autoras do período se apropriaram, colaborando também para a difusão dos ideais feministas. Clarice Lispector, escrevendo originalmente em língua portuguesa, foi absorvida pelo mercado editorial de diversos países através das traduções de suas obras para outros idiomas e, marcadamente, pelo movimento feminista no exterior. A partir de excertos de textos clariceanos traduzidos para o italiano, nessa comunicação serão abordados elementos que, em sua obra, dão vida ao conceito de “escrita feminina”, e relacionam a autora, sob o viés literário, ao movimento feminista na Itália.

Erica Aparecida Salatini Maffia (UFBA) - “Cem anos de literatura rosa”: romances italianos de autoria feminina traduzidos no Brasil Esta comunicação pretende apresentar algumas autoras italianas de romances publicados entre 1850 e 1950, tais como Neera, Carolina Invernizio, , Mura, Liala, algumas delas ainda desconhecidas do público brasileiro. A comunicação está relacionada ao projeto de pesquisa “Cem anos de literatura rosa”, que busca discutir a representatividade desta literatura, sua exclusão ou inclusão no cânone e no sistema literário italianos. Também faz parte de nossos objetivos a discussão sobre o gênero romanesco, uma vez que este é determinante na classificação destas obras como literatura “menor” e sua consequente exclusão do cânone.

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Fabiana Vasconcellos Assini (UFSC) - Da coleção I gettoni para o mercado brasileiro: a tradução de escritores “gettonianos” A coleção I gettoni, dirigida por Elio Vittorini – que já havia sido responsável pela revista “Il Politecnico” – é a expressão mais reconhecida dentre aquelas experimentais e voltadas para a descoberta de novos escritores. Seu catálogo – com 58 títulos publicados entre 1951 e 1958 – é composto majoritariamente por escritores italianos, até então desconhecidos do público. Dentre os 41 escritores “gettonianos”, sete foram traduzidos no Brasil: Carlo Cassola, , Giovanni Arpino, Beppe Fenoglio, Anna Maria Ortese, Giuseppe Bonaviri e Leonardo Sciascia. A proposta desta comunicação é refletir sobre as traduções desses escritores, a partir de algumas perguntas norteadoras: será que suas obras “gettonianas” estão traduzidas? Por qual obra – e qual editora – eles se apresentam aqui? É possível pensar que a experiência de participar da coleção I gettoni foi significativa para suas carreiras literárias, abrindo espaço para outras narrativas e consequentemente atraindo a atenção do mercado editorial brasileiro? Em um primeiro momento, foi constatado que Calvino e Sciascia são os dois escritores com maior número de obras traduzidas (mais de 10 cada um). Curiosamente, os dois também são duas figuras muito presentes no mercado editorial italiano. E os demais?

Francesca Cricelli (USP) - Pertencimento e identidade na obra de Igiaba Scego A partir do trabalho de artesania de tradução dos romances de Igiaba Scego publicados no Brasil (Adua e Minha casa é onde estou) e outros ainda inéditos (Oltre Babilonia e La linea del colore) será tratada a abordagem dos temas de pertencimento e identidade narrados pela escritora.

Francisco Degani (UFSC) - Ugo Foscolo visto por Ippolito Nievo Nos capítulos XI, XII e XIII, das Confissões d’um italiano, talvez a principal obra de Ippolito Nievo, escrita em 1859, em que o autor refaz as memórias de um homem de 80 anos entremeadas com os fatos históricos que levaram à unificação da Itália, há algumas passagens em que o escritor Ugo Foscolo, aos dezenove anos, participa das reuniões dos rebeldes venezianos contra os avanços do então general Napoleão Bonaparte sobre a decadente República de Veneza. O intuito dessa comunicação é verificar e comentar, já com base na tradução, como Nievo retrata o então jovem Foscolo, às vésperas da marcha de Napoleão sobre Veneza e a dissolução da Sereníssima.

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Gesualdo Maffia (UFBA) - Traduzir a violência: a tradução de Roberto Saviano no Brasil e de Ferréz na Itália Esta comunicação pretende apresentar algumas escolhas de tradução no romance de Roberto Saviano, La paranza dei bambini, publicado no Brasil com o título Os meninos de Nápoles, e no romance de Ferréz Manual prático do ódio, publicado na Itália como Manuale pratico di odio. O uso de jargões e palavrões representam um desafio para os tradutores, preocupados com a apresentação para os leitores do país de chegada de universos socioculturais que apesar de aparentar similaridades, podem ser bastante diferentes.

Laura C. Fiore Ferreira (USP) - Le seduzioni: tradução de poesias e cartas de Amalia Guglielminetti Em 1907 Amalia Guglielminetti e Guido Gozzano se conheciam apenas de vista, dos salões literários que ambos frequentavam em Turim. Nessa época ela já havia publicado dois livros de poesias e era uma figura com um certo destaque no mundo intelectual da cidade. Gozzano, por sua vez, havia publicado apenas seu primeiro livro de poemas e buscava um reconhecimento maior. Guglielminetti tomou a iniciativa de lhe enviar seu segundo livro, Le vergini folli, recém-publicado, juntamente com uma carta. A partir daí os dois poetas passaram a se corresponder, e isso resultou em um relacionamento amoroso. Foi durante o período compreendido entre 1907 e 1909 que Guglielminetti escreveu os poemas que culminaram no livro Le seduzioni, publicado em 1909. O objetivo deste trabalho é selecionar e traduzir poesias de Guglielminetti desse volume e relacioná-las com a correspondência entre os dois poetas, para assim trazer um pouco de luz ao trabalho de uma poeta que, apesar de ter sido festejada como a nova Gaspara Stampa, caiu no ostracismo e é hoje conhecida apenas como a amiga de Gozzano.

Leila Cursi de Barros (USP) - Uma reflexão sobre a tradução do Purgatório, de Dante Alighieri Inspirado e instigado por Machado de Assis ao ler sua tradução do canto XXIV do Inferno, Xavier Pinheiro fez, em 1874, a primeira tradução da Divina Commedia em nossa língua. Desde então, muitas outras traduções, mais ou menos reconhecidas, foram feitas em português. Para nossa apresentação, gostaria de focar nas diferenças rítmicas que aparecem nos cantos XXIV e XXV do Purgatório dantesco em três versões da Commedia: a de Xavier, primeira feita no Brasil, a de Ítalo Eugênio Mauro, versão bilíngue e muito popular e, claro, a de Cristiano Martins, vista por muitos como a melhor. Versões diferentes, feitas por tradutores diferentes, cada qual em uma época, lidando de formas diferentes com o ritmo e, o mais importante, cada um sentindo a obra de Dante de uma forma particular e única - o que fica

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Colóquio Virtual Pesquisas em Literatura Italiana Traduzida Programa e Caderno de Resumos evidente em cada escolha lexical feita para manter o ritmo. Sendo assim, meu objetivo nessa primeira apresentação é de mostrar e analisar como essas diferenças aparecem em cada tradução com o intuito de abrir um debate acerca da escolha de cada tradutor e como isso é visto na obra dantesca.

Leila Marangon (USP) - A representação do universo feminino na narrativa de Natalia Ginzburg, a escritora que um dia desejou “escrever como um homem” Pouco tempo depois de ganhar o importante prêmio Strega de 1963 com o romance Lessico Famigliare, Natalia Ginzburg comentou em uma entrevista que se tornaria célebre as razões pelas quais gostaria de escrever “como um homem” e porque não apreciava muito as escritoras, salvo exceções que nomeia. Em que pese eventual estranhamento que tal declaração possa ter causado na época, principalmente se considerado que nos anos sessenta os movimentos feministas ganhavam força no mundo ocidental, veremos que a narrativa ficcional de Natalia Ginzburg trata invariável e fundamentalmente das inquietações femininas; por meio de tramas que gravitam em torno do ambiente familiar, tema recorrente na obra da autora, é possível conhecer um pouco da condição da mulher na família e na sociedade italiana a partir dos anos trinta, conforme procuraremos demonstrar pela apresentação de algumas de suas personagens femininas.

Leonardo Rossi Bianconi (UFSC) - “Offesa morale alla donna”: o caso da personagem Nerina em Rosso nella notte bianca Em Rosso nella notte bianca (2016), romance do escritor italiano Stefano Valenti, a irmã do protagonista, Nerina, é torturada e violentada pelos Reppublichini (soldados da República de Saló). Finda a guerra, o caso de Nerina é considerado “ofensa moral à mulher, não é crime contra a pessoa. Assim dizia o juiz [...]. Mas nenhuma mulher teve um processo honesto porque a violência não era considerada grave, assim me disse o advogado, diz Nerina”. No verão de 1945, Nerina, devastada pelos acontecimentos, se suicida. O corpo sem vida, em movimento pendular, é encontrado pelo irmão Ulisse. Na narrativa em terceira pessoa que acompanha a confusão mental do protagonista, Nerina se transforma em vozes com quem Ulisse dialoga, num claro sinal de transtorno psicótico. As vozes continuam até o momento em que, quase 50 anos depois, Ulisse vinga a irmã. Representante da persistência do trauma histórico, o romance de Valenti marca no corpo feminino a violência da guerra. Esta comunicação pretende discutir a questão do julgamento dos crimes no pós-guerra e seu peso na sorte dessas personagens.

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Lucas de Sousa Serafim (UFSC) - Considerações sobre o ritmo: a importância dos questionamentos Esta comunicação pretende refletir sobre o ritmo. O ritmo demanda movimento, está presente nos textos, causando estranhamento ou mantendo a tensão de uma obra. Henri Meschonnic destaca a importância do ritmo na tradução. Partindo de seu trabalho, pretende-se observar como o ritmo pode funcionar no interior da própria língua. Para tanto, serão destacados alguns trechos de Rumori o voci (1987), do autor italiano Giorgio Manganelli (1922-1990), e de Lavoura Arcaica (1975), de Raduan Nassar. Em ambas as obras literárias o questionamento dita o ritmo, sustentando e tensionando a narrativa, por vezes deflagrando crises, por vezes apontando para novas possibilidades. O questionamento pode manter o ritmo em busca do sentido.

Lucia Wataghin (USP) - Literatura “de emergência”: experiências de manicômio em L’altra verità. Diario di una diversa, de Alda Merini L’altra verità. Diario di una diversa (1986) é um relato autobiográfico, ou melhor, autoficcional, da experiência de cerca de quatorze anos de internações de Alda Merini em instituições psiquiátricas, que ela compartilha com relatos de experiências análogas de escritoras e poetas muitos aspectos característicos. Destaco aqui apenas dois: a ideia de escrita como cuidado de si e a resistência aos processos de despersonalização e aniquilação impostos às pacientes pela doença, pelos tratamentos médicos e as instituições, no âmbito da especificidade da condição feminina na relação com as diversas autoridades: das instituições psiquiátricas, das leis, das famílias, do sistema social, da tradição.

Luiza Kaviski Faccio (UFSC) - O plurilinguismo em Amelia Rosselli Amelia Rosselli (Paris, 1930 - Roma, 1996), poeta italiana, conhecida por sua relação com a música e a poesia, tem em seus versos temas que perpassam pela cotidianidade, pelo pós- guerra, bem como por temáticas que abordam o espaço da enfermidade, entre outros. Publicou poemas em inglês, italiano e francês, motivo que vem já de sua biografia. Nascendo em Paris e permanecendo na França aproximadamente até os seus 7 anos, Rosselli é filha de pai italiano, Carlo Rosselli, e de mãe inglesa, Marion Catherine Cave, tendo também vivido por algum tempo entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Dentre suas obras publicadas em outro idioma que não o italiano está Sleep, organizada por Emmanuela Tandella, que reúne alguns poemas escritos por Rosselli em inglês durante os anos 1953 e 1966. Esta comunicação tem então como objetivo sublinhar, apontar e refletir acerca do dinamismo e plurilinguismo existente dentro da poesia da autora, pensando principalmente na relação entre a língua italiana e língua inglesa, uma vez que a autora possui obras escritas e publicadas em ambas as línguas.

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Marika Avezzù de Souza Rodrigues (UFSC) - Leonardo Sciascia: investigando sobre suas obras publicadas no Brasil Leonardo Sciascia (1921-1989) foi jornalista, ensaísta, político e um dos escritores italianos mais importantes da segunda metade do século XX. Sua escrita afiada e direta transformou seus pensamentos em gritos de denúncia a respeito das corrupções que rodeavam a Itália e, especialmente, sua terra natal, a Sicília. Desta maneira, esta apresentação tem o propósito de analisar quais obras foram publicadas e traduzidas no Brasil. Além disso, procurar-se-á ver em quais anos houve uma maior publicação das obras sciascianas e qual foi sua recepção, a partir de resenhas publicadas na época: jornais como O Estado de São Paulo, Folha de São Paulo, ou trabalhos acadêmicos, permitirão fazer um mapeamento crítico a respeito dessas obras publicadas ao longo das últimas décadas do século XX. Outro objetivo é também analisar as formas como Leonardo Sciascia foi desenhado no sistema literário brasileiro: autor político, escritor da literatura policial e/ou ensaísta.

Marlene Rodrigues Brandolt (UFSC) - A maternidade na escrita feminina italiana traduzida no Brasil A presente reflexão consiste em uma ideia para pensar os livros das escritoras italianas disponíveis pelos serviços de circulação editorial brasileira: A filha perdida, de Elena Ferrante (Editora Intrínseca, 2016) e A devolvida (Faro Editorial, 2019), de Donatella Di Pietrantonio, associados a elementos paratextuais, sobretudo a capa, a qual produz informações e pode “indicar, por si só” (GENETTE, 2009, p. 28) pontos de vista femininos acerca das contradições da maternidade na contemporaneidade. São ficções que reproduzem desdobramentos entrelaçados por ausência materna, pelas restrições históricas feitas à mulher e por imprevistos e possibilidades de escolhas de personagens-mães que alteram o curso da subjetividade filial no tempo das literaturas em análise. Assim, os romances “convidam o leitor a refletir sobre o sentido de uma vida” (BENJAMIN, 1987, p. 213) de protagonistas femininas divididas que espelham os conflitos da adoção, do abandono, do complicado retorno e das fugas em busca da compreensão de suas próprias histórias.

Patricia Peterle (UFSC/USP/CNPq) - “Sarebbe riduttivo dire amore”: a magmática poesia de Maria Grazia Calandrone Maria Grazia Calandrone (1964), jornalista e artista visual, é uma das poetas mais importantes de sua geração. O objetivo desse trabalho é pensar dois elementos fundamentais em sua escritura: o elemento amoroso e a relação com a língua. Em alguns poemas de Serie fossile (Crocetti, 2015), um cancioneiro amoroso, Calandrone traz o tempo, a vivência do tempo para o primeiro plano. Nessa operação, a experiência amorosa (e seu relato) é fundamental, uma

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Colóquio Virtual Pesquisas em Literatura Italiana Traduzida Programa e Caderno de Resumos vez que dela fazem parte a presença do outro, a comunhão com o outro, a relação necessária e vital com a natureza e os animais. Os versos, numa língua magmática, tratam do inefável, de corpos humanos e não, sensações e percepções que fazem parte de uma pré-linguagem, que expõe a ancestralidade presente desde o título do livro (fóssil). Se por um lado todos os poemas trazem, como num diário, uma data, o que está em jogo aqui é, sobretudo, a transmutação, o arcaico, as coisas perdidas e o devir.

Sara Debenedetti (USP) - Melania Mazzucco, il romanzo tra storia e attualità Melania Mazzucco (Roma 1966), “autrice di ampi romanzi animati dalla ricerca della vita segreta di personaggi che attraversano mondi vasti, affollati di presenze, di vicende, di incontri e di sorprese” (Giulio Ferroni), è una delle più apprezzate narratrici italiane contemporanee, che verrà brevemente presentata, seguendo i due percorsi nei quali – attraverso i suoi personaggi – ci conduce: straordinarie ricostruzioni di ambienti storici da una parte, dall’altra storie di una difficile attualità.

Silvia Cattoni (Universidad Nacional de Cordoba - UNC) - Voci femminili della “scuola di Milano”: la poesia di Antonia Pozzi e Daria Menicanti Il presente studio ha come obiettivo presentare gli aspetti più salienti della poesia di Antonia Pozzi e Daria Mendicanti, le voci femminili della “scuola di Milano”, che assieme ad Antonio Sereni definiscono la linea poetica del gruppo. Nel contesto del magistero di Antonio Banfi, questo cenacolo di intellettuali lombardi ha resistito agli oscuri anni del regime fascista con una decisa adesione al razionalismo critico e un’apertura verso il panorama intellettuale europeo. In quanto poeti che danno voce a una particolare prospettiva di interiorità e che riconoscono la lirica come possibilità di autoconoscenza, Pozzi e Menicanti riescono a trasformare l’esperienza vissuta in materia poetica. In essa, esplorano determinati campi dell’affettività che modulano una particolare prospettiva nei confronti dell’intimità. Così, e con una forte consapevolezza delle forme, il pathos dell’impossibilità traccia ne La vita sognata (Pozzi, 1933) un asse di senso mentre che nel Canzionere per Giulio (Menicanti, 1964) la malinconia per l’amore perduto offre lo spunto per la creazione di versi contraddistinti da un’ironia decisa e un’espressione onesta.

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Susi Leolinda Rosas Queiroz (UFBA) - A análise textual em tradução proposta por Christiane Nord aplicada ao romance Giochi di Mano Ao propor a tradução do romance Giochi di mano, elegi o modelo funcionalista de Christiane Nord como suporte teórico. O modelo de Nord, ancorado na Skopostheorie de Hans Vermeer, orienta-se na intencionalidade, de modo que será o propósito comunicativo a determinar as escolhas do tradutor. Sob esta perspectiva, a estudiosa propõe um mapeamento do texto, envolvendo fatores intratextuais e extratextuais relacionados à sua produção, que possibilita a organização de estratégias para dar coerência ao projeto tradutório. A partir disso, o presente trabalho visa apresentar a aplicação da análise textual na tradução, proposta por Nord, em Giochi di mano, romance de Manuela Lunati, publicado em 2013, cujo tema é a violência doméstica.

Tatiana Fantinatti (UFBA) - Camilleri traduzido na tela Andrea Camilleri não gostava que suas obras sobre Montalbano fossem etiquetadas como literatura policial ou gialla. Considero que seus livros envergam diversos traços identitários, e por esse motivo estudo suas obras através de temáticas. Na minha pesquisa tento perceber a linguagem cinematográfica usada por Alberto Sironi para transpor tais traços identitários característicos da literatura camilleriana em seus telefilmes.

Tatiara Pinto (UFSC) - As outras: sobrevivência e rito da/na poesia contemporânea Falar em poesia contemporânea no sentido teórico nesta comunicação será partir da signatura da crise e da perda da esperança ligada à ideia de que uma pedagogia utópica da resistência acomodaria o estético com o político, em direção à concepção do poema como uma entidade autônoma, ligado ao próprio tempo por uma confluência de anacronismos, de devires passados e futuros, de instabilidade e incertezas, de ausências e vozes, de sombras e espectros. No sentido poético a proposta de leitura dará espaço para a autoria feminina enquanto: profusão de tendências plurais, perspectiva do outro e voz inaudita das tradições poéticas, por isso urgente. Buscar-se-á tanto na poesia de quanto na poesia de Conceição Evaristo a sobrevivência da/na palavra, aproximando a Itália do Brasil, e como ambas se envolvem linguisticamente nas ritualísticas de seus respectivos povos, inventariando modos de ser, compondo um “comunitarismo linguístico-cultural”.

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COLÓQUIO VIRTUAL PESQUISAS EM LITERATURA ITALIANA TRADUZIDA

REALIZAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - UFBA Instituto de Letras - ILUFBA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC Centro de Comunicação e Expressão NECLIT – Núcleo de Estudos Contemporâneos em Literatura Italiana

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP Departamento de Letras Modernas GEPLIT – Grupo de Estudos em Literatura Italiana e Tradução

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