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GLA/ULSG – Documento de Trabalho nº 1 -

URBACT II CityLogo Innovative place-brand management

Consultor Externo / Lead Expert Miguel Rivas

Cidade parceira

Coordenador Local do Projeto Fernando Zeferino Ferreira

Responsável financeira Rosa Silva

Responsável pela Comunicação e coordenação do Grupo Local de Apoio Nina Figueiredo

Equipa Municipal do Projeto CityLogo Ana Gingeira, António Veiga Simão, Fernando Zeferino Ferreira, Nina Figueiredo e Patrícia Seabra

Websites www.urbact.eu http://urbact.eu/en/projects/metropolitan-governance/citylogo/homepage/

Equipa responsável pela redação e conceção do Documento de Trabalho nº 1 Ana Gingeira, Fernando Zeferino Ferreira e Regina Henriques

Fotografia da capa (sobre maquete gráfica do URBACT) e conceção gráfica Fernando Zeferino Ferreira

Data Julho 2013 (r02_14)

Documento base 1. Introdução 1 2. Referenciais Estratégicos 1 2.1. Plano Estratégico de Coimbra (2006-2009) 2 2.2. Plano de Urbanização de Coimbra (2006-2010) 6 3. A Marca Coimbra 7 3.1. Francisco M. Providência design, lda. 7 3.2. Plano Estratégico de Coimbra 8 4. Outros 12 5. Questões 12

Anexo a.1. textos temáticos, artigos de opinião, entrevistas e outros A.1 Coimbra - nº 79 da revista Marketeer ▪ Logo de Coimbra - francisco m. providência designer ▪ Política de Marca - Plano Estratégico de Coimbra ▪ Smart and Creative City - Miguel Rivas ▪ Know Cities - diagnóstico e resultados ▪ SPARDA public perception surveys ▪ Sumário das percepções dos residentes sobre a Marca Centro – Brandia Central ▪ Representação imaginária da cidade - Aníbal Frias e Paulo Peixoto ▪ Posicionamento estratégico da Cidade de Coimbra face a potenciais concorrentes - Ana Luísa Loureiro ▪ A cidade dos estudantes – Carlos Fortuna e Paulo Peixoto ▪ O que tem Coimbra para oferecer - Norberto Santos ▪ Coimbrinhas e Coimbrões - José Gomes Canotilho ▪ Coimbra, porque não uma cidade ousada? - Carlos Fortuna ▪ Quem trata da excelência de Coimbra? - João Figueira ▪ Tem de existir uma política de eventos em Coimbra - Pedro Machado ▪ A diferença que Coimbra faz - José Miguel Júdice ▪ Coimbra não soube reagir à marginalização - Boaventura Sousa Santos ▪ A Portuguese Univertsity Town, both familiar and foreign - Seth Kugel

a.2. blogs e afins A.66 Entrevista de Carlos Fiolhais sobre Coimbra; Coimbra e o Futuro; Coimbra Reinventada; Coimbra e o Futuro (entrevista) - DeRerum Natura/Sobre a Natureza das Coisas ▪ Para uma Coimbra não sentimental; Coimbra vista do ; Coimbra tem mais encantos… olhada de fora; Coimbra reflecte-se nos Conimbricenses - Feira dos 23 e Feira dos 7 ▪ Construir uma Cidade com História; A cidade dos pseudos, fábula de uma cidade (sur)real - (Re)Visto ▪ Coimbra dos amores, Coimbra dos doutores: obrigado - Os Filhos do Mondego ▪ Coimbra a eterna cidade dos estudantes ▪ Erasmus (Ana Costa)

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Documento base

1. Introdução A elaboração do presente documento de trabalho decorre da 1ª reunião do Grupo Local de Apoio (GLA) do Projeto CityLogo – Innovative place-brand management, integrado nas redes temáticas do Programa URBACT II. A 1ª reunião do GLA teve lugar em 22 de maio passado na Casa da Escrita. No debate efetuado e na reflexão sequente resultou a ideia-necessidade de elaborar um documento de trabalho que procurasse reportar o(s) referencial(ais) estratégico(s) existente(s) para [o desenvolvimento” de] Coimbra, bem como os estudos existentes sobre a marca Coimbra. O documento foi estruturado em duas partes distintas com vista a facilitar a sua leitura e utilização, bem como eventuais futuras revisões/ampliações. A 1ª parte corresponde ao exercício de procurar sintetizar e/ou sistematizar os fatos essenciais sobre os referenciais existentes (estratégia de desenvolvimento de Coimbra e marca Coimbra), com reporte complementar de outros contributos com interesse nesse mesmo âmbito, podendo assumir mera referência ao documento tratado no Anexo. A 2ª parte, configurando Anexo, engloba um conjunto de “transcrições” de documentos de natureza técnica, académica/científica, artigos de opinião, entrevistas e contributos da blogosfera (posts), que se considerou útil incluir por estarem relacionados com a matéria desta 1ª parte ou permitirem uma interação com a mesma. Procurou-se, assim, manter diferentes graus de “densidade” nas duas partes do documento.

2. Referenciais Estratégicos Em termos de “referenciais” pode dizer-se que os documentos de maior interesse são o Plano Director Municipal - 1994 (revisão em processo de “discussão pública”), o Plano Estratégico de Coimbra – 2009 e o Plano de Urbanização da Cidade de Coimbra – 2009 (este referente à área geográfica da cidade). Podem revestir interesse complementar os estudos promovidos pela CoimbraViva SRU, por abrangerem o centro urbano tradicional da cidade, parte da Alta e a “Frente Rio”, na perspetiva de que contém diagnósticos e propostas relativos a uma parte determinante da Cidade, no que se refere ao património edificado e natural, às funções urbanas e à “imagem” e fruição da Cidade.

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De todo o modo, face ao objetivo prático do documento de trabalho e à intenção de o manter “simples”, o Plano Estratégico de Coimbra (PE) é o documento que pode ser considerado como referencial existente de “desenvolvimento” de Coimbra.

2.1. Plano Estratégico de Coimbra (2006-2009) O PE foi elaborado, conjuntamente, com o Plano de Urbanização de Coimbra. Ele envolve um Diagnóstico Estratégico assente na metodologia SWOT e uma Proposta Estratégica (agregado da Visão, Missão e Objetivos Estratégicos). A elaboração do PE de Coimbra obedeceu a 4 grandes linhas de força em termos da Cidade e do Município de Coimbra, que se transcrevem:

I. Um centro urbano que transcende a condição de cidade média: posição central no eixo litoral entre as Áreas Metropolitanas de Lisboa e Porto e com capacidade estruturante da Região Centro; II. Um espaço urbano dotado de factores de excelência: o capital humano e cultural, o pólo científico e tecnológico, o núcleo de Saúde, a capacidade de relacionamento internacional, a elevada dotação de equipamentos e serviços de nível superior; III. Uma cidade que carece de dinamizar a sua base demográfica, de responder a processos de recomposição produtiva e social, de reabilitar o centro histórico e de reforçar a coesão urbana; IV. Uma cidade que carece e tem possibilidade de dar um salto qualitativo em termos de imagem, funcionalidade e vivência urbana.

A nível das principais conclusões do Diagnóstico Estratégico, assinalou-se então (i.e. em Setembro de 2009) que: - A principal dinâmica de excelência de Coimbra em termos regionais, nacionais, ibéricos e mesmo europeus, é o conjunto de capacidades detidas na Área da Saúde. - O principal obstáculo ao desenvolvimento de Coimbra é o reduzido dinamismo económico expresso no número diminuto de unidades económicas de referência localizadas na Região.

No que se refere à Visão para Coimbra, é/foi proposto:

“Coimbra 2018, a Afirmação da Centralidade”

Decomposta, a nível da Missão para Coimbra, nos seguintes “eixos”:

“Afirmação de Coimbra como : Centro de Referência na Saúde, Pólo de Excelência da Ciência, Educação e Investigação, Espaço Metropolitano Distintivo, Território de Fixação de Pessoas e Empresas .”

E, pela sua importância operativa para o objectivo do presente documento, transcreve-se a concetualização prática da Visão e dos 4 “eixos” da Missão [Documento Base do Plano Estratégico de Coimbra, pp. 18-20]:

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“Coimbra 2018, a Afirmação da Centralidade ” procura sintetizar a ambição máxima deste Plano Estratégico que é o posicionamento de Coimbra como um Centro Urbano de matriz europeia, moderno, dinâmico, com uma esfera de influência substancialmente além dos seus limites territoriais, socialmente coeso e perfeitamente enquadrado dentro do paradigma do Século XXI; num processo a ser levado a cabo no período de uma década e com 2018 como horizonte limite para a concretização desta (r)evolução. A Centralidade presente nesta Visão reveste-se de um carácter multifacetado: • Coimbra enquanto Centro da Região Centro – potenciação da posição geográfica central que Coimbra detém para uma Centralidade económica, cultural e turística deste espaço regional; • Coimbra enquanto Centro de Referência – nomeadamente a nível da Saúde, dos activos Científicos, de um tecido empresarial de forte cariz tecnológico e de produção cultural; • Coimbra enquanto Cidade com um Centro – recentragem da Cidade em torno do Mondego, a partir de uma política de intervenção urbana, reequilibrando o peso das duas Margens; Esta Visão para Coimbra decompõe-se numa Missão contendo em si quatro vectores fundamentais:  Coimbra enquanto “Centro de Referência na Saúde” – sendo a Saúde o principal factor diferenciador de Coimbra e a referência com maior potencial de destacar a região no contexto ibérico e europeu, é “obrigatória” a sua presença na Missão. O posicionamento dos Activos na Saúde da Região enquanto Centro de Referência implica o seu enquadramento num conjunto estruturado e interligado, para além de uma simples “soma das partes”. Esta estruturação e interligação deverá evoluir, não só entre as várias unidades de Saúde existentes ou a desenvolver mas também com unidades do sector privado, particularmente mediante a implementação em Coimbra de unidades produtivas ligadas à Saúde que incorporem níveis elevados de I&D. Esta componente da Missão será a base para o Projecto Estruturante deste Plano Estratégico.  Coimbra enquanto “Pólo de Excelência da Ciência, Educação e Investigação” – a Universidade de Coimbra é elemento indissociável da Cidade, representando, conjuntamente com os restantes pólos de ensino superior, um activo fundamental de Coimbra, quer em termos históricos quer em termos de potenciador do futuro da região. A importância do Pólo de Ensino Superior passa pelo potencial de regeneração e enriquecimento do tecido social de Coimbra, pela atracção de unidades económicas com uma forte componente de I&D e pela capacidade de definição do espaço urbano de forma planeada e estruturada. A captação e maximização destes efeitos implica um forte investimento no inter-relacionamento das unidades de Ensino Superior com os restantes actores da Região.  Coimbra enquanto “Espaço Metropolitano Distintivo” – Coimbra já apresenta um conjunto de indicadores característicos de metropolitanismo, dos quais o mais significativo é a intensidade de movimentos pendulares que capta, pretendendo assumir-se como Área Metropolitana alternativa a Lisboa e Porto. A identificação de Coimbra como Espaço Metropolitano pretende ir além da classificação estrita de Área Metropolitana. Esta classificação territorial é condição necessária para a criação a uma alternativa à actual bicefalia territorial no espaço português (na medida em que potencia a captação de um conjunto de apoios financeiros e a localização de um conjunto de estruturas de suporte à população, sobretudo no campo das acessibilidades e transportes, que terão um efeito de alavancagem na economia regional). No entanto não é

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condição suficiente, na medida em que perde, na sua essência, a noção de multiculturalismo e internacionalidade (essenciais para um espaço assumir-se como foco de atracção) que uma cidade média europeia contém e que Coimbra já apresenta. A atribuição de um carácter distintivo a este espaço pretende salientar a importância de se valorizar aos olhos dos cidadãos e do exterior as suas características diferenciadas e únicas. Pretende também remeter para a necessidade da existência de uma imagem forte, disseminada, quer em termos nacionais quer em termos internacionais (com o consequente reflexo de desenvolvimento do sector turístico em toda a Região).  Coimbra enquanto “Território de Fixação de Pessoas e Empresas” – a concretização desta componente da Missão representa, no limite, o sucesso do Plano Estratégico adoptado. Uma região com capacidade de atrair pessoas e empresas é uma região que levou a cabo um processo de desenvolvimento eficaz, implicando o aparecimento e solidificação de um tecido socialmente coeso e economicamente dinâmico, conseguindo-se desta forma proporcionar aos seus cidadãos uma qualidade de vida superior. Esta componente da Missão procura também assinalar a superação com sucesso de dois dos grandes obstáculos que Coimbra sente no seu desenvolvimento: a capacidade de reter uma percentagem significativa do capital humano diferenciado que o seu Pólo de Ensino Superior gera anualmente e a capacidade de redensificar, com unidades económicas, um território que nas últimas décadas assistiu ao êxodo das suas principais estruturas produtivas (esta redensificação será centrada em unidades contendo um nível elevado de I&D, num processo em estreita ligação com os Pólos de Saúde e de Ensino Superior). Finalmente, incorpora também a noção da constituição de um espaço urbano, oferecendo níveis elevados de qualidade de vida aos seus cidadãos. Nesse sentido, a intervenção urbana (onde estará integrado o Projecto Bandeira) de recentragem da Cidade em torno do Rio (e consequente reequilíbrio das duas Margens) será a face mais visível de um processo global de redefinição territorial de Coimbra, onde a adopção de políticas de sustentabilidade será o principal catalisador.

A partir da Missão proposta para Coimbra, foram identificados os seguintes Objetivos Estratégicos [Documento Base, pp. 21-24]: - Desenvolvimento integrado dos activos da Saúde, numa envolvente empresarial dinâmica. - Densificação económica da região, com empresas integrando um elevado grau de I&D. - Revitalização de Coimbra como destino turístico diferenciado. - Redefinição urbana da Cidade, potenciando os actuais vazios urbanos e privilegiando a centralidade do Rio Mondego. Estes Objetivos Estratégicos constroem um outro, i.e. «a optimização dos níveis de qualidade de vida, de bem-estar e satisfação dos cidadãos de Coimbra ». A operacionalização do Plano Estratégico é proposta através de Vetores de Intervenção e de Macro Ações, decorrentes de dinâmica top-down e bottom-up. São identificados 5 vetores: Mobilidade, Transportes e Acessibilidades; Empreendedorismo e Inovação; Saúde; Dinâmicas Urbanas, Sociais e Ambiente; e Marca, Cultura, Património e Desporto . Refira-se, também, que as Macro Ações envolvem Projetos Estruturantes e Projetos Bandeira.

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Quadro Geral do Plano Estratégico de Coimbra [Documento Base, pp. 16]:

Pelo maior interesse para o contexto do presente documento de trabalho, o Vetor Estratégico Marca, Cultura, Património e Desporto e em particular a “Política de Marca” e as Macro Ações respetivas, serão objeto de subcapítulo específico. Na Reflexão Prospetiva do Documento Base do PE, é sublinhado que «(…) o envolvimento da população com um Plano Estratégico que é a si dirigido é condição necessária em qualquer processo de planeamento territorial. Nesta óptica toma um papel primordial o Projecto Bandeira definido aqui (“Coimbra do Choupal até à Lapa”). A constituição de uma marca territorial (e arquitectonicamente consolidada) forte, criará um efeito catalisador na consciência colectiva da população relativamente a um processo evolutivo entretanto em curso. (…)». Refere-se também que a escolha do Cluster da Saúde como Projeto Estruturante surgiu como uma escolha óbvia e afirma-se a especial relevância da cooperação e inter- relacionamento entre a Câmara Municipal de Coimbra, a Universidade de Coimbra e o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra. Em nota final é referido que «(…) a percepção global relativamente a Coimbra, que decorre da leitura do Diagnóstico Estratégico e do posterior Plano Estratégico, é passível de ser concentrada numa só palavra: potencial . Coimbra apresenta hoje [em 2009] um potencial quase ilimitado para se afirmar na Europa como uma região tecnologicamente avançada, dotada de recursos únicos na Saúde e na Ciência, com um tecido social rico e solidário e com um cosmopolitismo cultural que não abdica da sua História . (…)».

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Na nota final do Documento Complementar do PE, é apresentado «(…) o retrato de uma Região com um potencial estratégico elevadíssimo, no contexto nacional e ibérico, (…). Com efeito a Coimbra de hoje [2009] é um espaço pleno de reformulação e inovação: • É a Coimbra que volta a abraçar o Mondego e a redefinir o seu urbanismo a partir do Rio; • É a Coimbra da Universidade, dos seus 700 anos de berço da Lusofonia e futuro Património Mundial da Humanidade; • É a Coimbra que recupera e valoriza o seu passado e acervo cultural, como podem constatar os visitantes de Santa-Clara-a-Velha e do Museu Machado de Castro; • É a Coimbra que aspira ao Metro Ligeiro de Superfície, à Plataforma Intermodal Coimbra / Mealhada e à conclusão da rede de acessibilidades regional; • É a Coimbra líder na Oftalmologia, na Cardiologia, na Imagiologia, na Biotecnologia Molecular e na Informática Médica; • É a Coimbra do iParque, do IPN e do Pólo III; • É a Coimbra da AIBILI, da Crioestaminal e da Critical Software. Coimbra é uma Região que progressivamente tem vindo a recuperar uma centralidade que vai para lá daquela que lhe é conferida pela Geografia. É também um espaço com características cada vez mais de Região Metropolitana, hub de movimentos pendulares, de serviços e equipamentos cujo investimento a Administração Central tem obrigatoriamente de apoiar e reforçar, sob pena de rapidamente ter um País marcado por uma bicefalia que desertifica tudo o resto. Três aspectos assumem-se como críticos para Coimbra poder alavancar todo o conjunto de activos estratégicos que detém: • Desenvolver a sua capacidade para atrair investimento privado à Região, num processo de densificação empresarial; • Definir e desenvolver uma Marca de Coimbra, que sirva simultaneamente de elemento agregador da sua população e veículo de identificação e promoção face ao exterior; • Estabelecer uma dinâmica de cooperação e comunicação entre os agentes centrais da Região, com a criação de efeitos sinérgicos e ciclos virtuosos. (…)»

2.2. Plano de Urbanização de Coimbra (2006-2010) A elaboração do PU decorreu em conjunto com o PE. Dele pode sobretudo interessar o Cenário Prospetivo de desenvolvimento e o Pré Modelo de Desenvolvimento nos aspetos e questões que sejam “estratégicos” e ou que possam ser inputs para a reflexão, para o (re-) posicionamento da Cidade de Coimbra e para a Marca Coimbra. Sobre o cenário afirma-se que o mesmo « (…) deve ser entendido como uma primeira imagem do futuro, configurada a partir da configuração coerente dos prováveis comportamentos das variáveis do sistema territorial e que partem do Quadro Síntese de Diagnóstico e do Quadro Prospectivo (…). A tentativa de definição de soluções futuras, materializadas no exercício da caracterização deve ser entendida como um enquadramento possível para uma realidade inicial, e que poderá variar consoante a modelação da acção pública futura. Como tal, o pré-modelo é

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flexível e pretende transparecer o que é desejável para o futuro da cidade de Coimbra, afastando outras possibilidades futuras menos viáveis ou adequadas ao território. (…)» O Pré Modelo de Desenvolvimento decorre de 9 objetivos estratégicos estabelecidos na revisão do Plano Director Municipal de Coimbra, de entre os quais interessa referir os seguintes: «- Afirmar Coimbra como território de elevada qualidade urbano-ambiental, centro difusor de saber e cultura e pólo de desenvolvimento cuja centralidade lhe confere características únicas como alternativa às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto; - Assumir uma clara opção de desenvolvimento empresarial, potenciador das capacidades técnicas (saberes) instaladas, tendo em vista a dinamização e modernização dos sectores económicos, a atracção de novas empresas e serviços e o desenvolvimento de uma logística regional de apoio; - Centrar as políticas urbanísticas nas questões da sustentabilidade e humanização do território, apostando na requalificação e renovação , na criação de novas centralidades, na recuperação de áreas degradas ou com usos obsoletos, na revitalização das áreas históricas e na qualificação ambiental; - Assegurar o reforço do papel de Coimbra nos grandes eixos dos sistemas de transportes e telecomunicações e a assunção de posição chave nos outros elementos estruturantes para o ordenamento e desenvolvimento do território; - Promover a existência de equipamentos e infra-estruturas de importância nacional e internacional , como reconhecimento e resposta eficaz à procura associada a Coimbra (Centro de Saber e Cultura internacionalmente reconhecido). (…) »

3. A Marca Coimbra A pesquisa efetuada, no período de 2000 a 2013, permitiu detetar dois momentos/documentos em que a temática Marca relativa à Cidade de Coimbra, foi abordada de forma mais estruturada ou aprofundada. O primeiro respeita à criação do atual Logo institucional, através de concurso por convite a gabinetes de design (2003), da autoria do atelier Francisco M. Providência design, lda., o qual englobou a conceção da imagem de marca e produtos associados. [Ver http://www.fprovidencia.com/site.html e booklet «uma nova imagem para Coimbra» então editado – Dropbox > CityLogo_Coimbra > Plano Local de Acção > Biblioteca Local > Logo Coimbra_Booklet Francisco Providência.] O segundo corresponde aos capítulos do Plano Estratégico de Coimbra relacionados diretamente com a marca e com a Marca Coimbra, incluídos nos documentos Diagnóstico Preliminar – Volume 2/2 (2006), Documento Base (2009) e Documento Complementar (2009). 3.1. Francisco M. Providência design, lda. A publicação (booklet) acima mencionada apresenta um conjunto de imagens e de textos que narram o processo de criação do logo/imagem institucional. A narrativa em causa talvez se apresente na atualidade um pouco “datada”. Ainda assim e lida no contexto específico, (perspetiva ontológica ou histórica), justifica relato:

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espírito de renovação (…) A realização deste concurso de ideias visou essencialmente contribuir para a projecção e qualificação do Município como agente contemporâneo de desenvolvimento, construindo em torno do conceito de “Coimbra - Cidade do Conhecimento”, uma linguagem coerente, inclusiva e de largo espectro de influência e acção. (…) A cidade de Coimbra deve, sem dúvida, a sua maior notoriedade à Universidade – uma universidade cuja idade ascende a 1290 (D. Dinis) é uma raridade mundial. A simbiose entre cidade e a universidade constitui no caso de Coimbra uma singularidade identitária, (não se sabe onde começa uma e caba a outra), sendo ambas muito modeladas pela tradição conjunta. Coimbra ainda é reconhecida como a cidade dos estudantes, embora existam outras universidades por todo o país. Acresce a esta condição a relevância do conhecimento que lhe vem da ancestral tradição de liberdade, com que desde a fundação de vem contribuindo repetidamente nas artes, na cultura e na acção política. Por esta razão faz sentido a associação de Coimbra ao argumento Conhecimento. As insígnias da cidade são, a par do nome, um atributo identitário importante para o exercício da sua representatividade, na construção de um espírito de pertença local. Ser de Coimbra, é partilhar de uma certa cidadania, cuja origem se justifica na cidade e na sua história. (…)

3.2. Plano Estratégico de Coimbra Como é compreensível de um ponto de vista metodológico, o Plano Estratégico engloba um “capítulo” sobre a Marca, entendida como reputação e imagem de um território, envolvendo o posicionamento, a identificação e a comunicação com públicos-alvo, incluindo nestes, designadamente, os empresários e investidores, os turistas, a população em geral e a população estudantil. A Marca Coimbra é analisada em 3 dimensões: - Marca em sentido lato, i.e. atributos da marca; - Marca em sentido estrito, i.e. o logotipo; - e gestão da Marca Coimbra. [Ver Diagnóstico Preliminar (2006) – Volume 2/2, pp. 195-205]. Em relação à Marca Coimbra em sentido lato, através de método “expedito”, é analisada a notoriedade da marca, as associações à marca, abordando-se também uma das metodologias de análise (Anholt GMI-City Brands Index), incluindo um “exercício” relativo à interação com o “turista potencial” via Internet. No que se refere à Marca no sentido estrito é abordada de forma muito sucinta a questão do(s) logotipo(s) e a gestão da Marca Coimbra, afirmando-se que [pp. 203-204]: - (…) não existe uma identidade ou elementos comuns às diversas sub-marcas de Coimbra no material de comunicação estudado. (…) A existência de um elemento comum a estes logotipos permitiria reforçar uma identidade que é comum: a identidade de Coimbra. (…) ; - não existe actualmente uma gestão integrada da consistência e desenvolvimento da marca Coimbra ou sub-marcas Coimbra, o que representa simultaneamente uma fraqueza e uma oportunidade.(…) .

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É proposto a realização de um estudo de opinião para obter a caracterização e o entendimento válido da Marca e submarcas de Coimbra, em particular para obter respostas quanto à notoriedade, associações, qualidade percebida e lealdade à Marca Coimbra, se existem submarcas, quais são, como são caracterizadas, quais são os seus públicos-alvo e como estes as percecionam/as vêem. Em termos de conclusões ao primeiro diagnóstico sobre a temática Marca e Marca Coimbra, é apresentado o seguinte Quadro resultante da análise SWOT [p. 205]:

No Documento Base do PE, editado em Setembro de 2009, como já se relatou na página 5 do presente documento de trabalho, a Marca está integrada no vetor estratégico “ Marca, Turismo, Cultura, Património e Desporto ”, afirmando-se que o referido vetor tem impate direto sobre o objetivo “Revitalização Turística” e indireto sobre os objetivos “Densificação Económica da Região” e “Redefinição Urbana da Cidade”, concluindo-se que tem um contributo determinante na concretização da vertente da Visão/Missão “Coimbra como Território de Fixação de Pessoas e Empresas”. A perspetiva de trabalho surge ilustrada através do seguinte quadro ou diagrama [p. 59]:

Defende-se a perspetiva de que: « O Vector de Intervenção Marca, Turismo, Património e Cultura apresenta uma estreita relação com o Vector Dinâmicas Urbanas, Sociais e Ambiente, na medida em que da redefinição da Cidade em termos macro resultante deste

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último dependerá de forma crucial o conjunto de intervenções locais visando a promoção do Turismo e da Cultura presente no primeiro. » Sobre a Macro Ação Política de Marca, é referido que a mesma «(…) visa dotar Coimbra com uma Marca de Cidade forte, clara e agregadora de um conjunto de capacidades e aspirações da Região. (…) », ilustrando a mesma com o seguinte Quadro caraterizador:

Pela relevância instrumental da temática “Política de Marca”, transcreve-se o texto que figura no Documento Base do PE [pp. 60-62], salientando-se que este re-adquiriu interesse prático face à circunstância de (há poucos dias) a UNESCO ter reconhecido o estatuto de Património Mundial da Humanidade à “Universidade de Coimbra – Alta –Sofia”. Assim:

A Macro Acção Política de Marca visa dotar Coimbra com uma Marca de Cidade forte, clara e agregadora de um conjunto de capacidades e aspirações da Região. Assim a Marca constituída deverá integrar as seguintes componentes / aspectos:

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• Comunicação corporativa , de Coimbra como Cidade tecnologicamente avançada, dotada de recursos diferenciados e espaço atractivo para fixação de unidades económicas; • Comunicação externa , de Coimbra como Cidade atractiva para o Turismo, capaz de oferecer um conjunto diverso de pacotes turísticos e dotada de estruturas de suporte de perfil elevado; • Comunicação interna , de Coimbra enquanto espaço privilegiado em termos de qualidade de vida, urbanisticamente inovadora, privilegiando uma política ambiental, dotada de um forte conjunto de estruturas na Saúde e na Administração e com uma dinâmica cultural significativa. Neste sentido é essencial a constituição de uma entidade que centralize e coordene as diferentes unidades que promovem hoje a região (Entidade Autónoma Promotora). A reabilitação urbana da baixa e da alta de Coimbra, concretamente no centro histórico, assumirá um papel crucial no arranque nesta nova concepção de promoção. O posicionamento da Marca Coimbra depende da estratégia definida para o turismo da região, concretamente na cidade. Torna-se essencial integrar e promover parcerias entre a empresa municipal de turismo e os diversos players do sector do turismo da região. A dinamização e apoio à “Turismo de Coimbra”, Empresa Municipal de Turismo tem um carácter estratégico, dado que esta tem por objectivo promover, de forma sustentada, actividades com vista ao aumento da procura turística de Coimbra. Tem como atribuições a gestão de instalações e equipamentos de interesse turístico, a criação de projectos de animação e equipamentos de interesse turístico, por si ou em associação com outras entidades, a adequação das estruturas e serviços à oferta e procura turística e o apoio a iniciativas privadas nesse sector. Deverá promover, ainda, a realização de convenções, congressos, nacionais e internacionais, em Coimbra. A candidatura do conjunto monumental da Universidade de Coimbra (integrando a Rua da Sofia e os seus antigos Colégios Joaninos) assume-se por seu turno como pedra angular na promoção de uma cidade que investindo hoje fortemente na liderança nas áreas de Tecnologia; Saúde e Ciência; preserva e valoriza o seu vasto legado histórico. Esta abordagem deverá ser vista não só à luz de uma intervenção urbana e patrimonial mas sobretudo sob a óptica de Coimbra enquanto centro difusor da Lusofonia. A centralidade da Universidade de Coimbra no mundo lusófono deve ser encarada não apenas ao nível do papel que historicamente desempenhou, mas também como eixo central do radar de universidades europeias e brasileira de que hoje é membro 20 . Desta forma, o reconhecimento de Coimbra como elemento de Património Mundial da Humanidade permitirá a projecção internacional não só de um património físico, mas sobretudo de um significativamente mais vasto património intangível (a Lusofonia). ______20 “Almejar a classificação da Universidade de Coimbra como Património Mundial não se limita, pois, a uma mera pretensão contemplativa, antes significa um desejo de transformação do espaço físico e valorização do património intangível e uma profunda determinação na mudança das mentalidades e atitudes. Esta transformação será exigida e sentida pelos que a vivem quotidianamente e por aqueles que, mesmo estando longe, sentem a Universidade de Coimbra como um legado comum da humanidade.” – Discurso de Fernando Seabra Santos, Reitor da Universidade de Coimbra, na cerimónia de assinatura do Protocolo de Apoio do Governo à Candidatura da Universidade de Coimbra a Património da UNESCO (Coimbra, 2008).

No Documento Complementar do Documento Base do PE, a problemática da Política de Marca é desenvolvida de modo articulado com a “visão” descrita/transcrita acima. Optou-se por não tornar esta parte do presente documento de trabalho demasiado denso, pelo que se apresenta a “facsimile” da parte respetiva no ANEXO [ver pp. A.5].

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4. Outros Como se referiu na Introdução, o Anexo inclui um conjunto alargado e diversificado de ‘documentos’, em rigor excertos de documentos, originalmente publicados em versão impressa ou em versão eletrónica, configurando documentos de natureza técnica ou académica, artigos de opinião, ou entrevistas em órgãos de comunicação social e também das redes sociais (blogs de opinião). Esta recolha, apesar de circunscrita a um espaço de tempo limitado, procurou ser o mais abrangente possível, por este motivo poderá haver omissões importantes. Ao coligi-los no Anexo pretende-se assegurar um conjunto diversificado de ‘pontos de vista’, uns mais focados do que outros na temática do Projecto CityLogo, mas que visam construir um acervo que possa ficar como ‘memória’ do trabalho do Grupo Local de Apoio e, eventualmente, pode vir a ser utilizado noutros contextos de trabalho.

5. Questões Apenas uma curta nota final para referir que existem alguns ‘fatos’ novos porventura, também, a considerar no âmbito da reflexão sobre o (re)posicionamento de Coimbra. A circunstância de existir a Comunidade Intermunicipal do Baixo Mondego, de que Coimbra faz parte e a possibilidade desta poder vir a fundir-se com a CIMPIN; a recente classificação da UC-Alta-Sofia como Património Mundial; a re-integração do Município de Coimbra na (Região de) Turismo do Centro; o fato do nosso trabalho em torno da Marca de Coimbra e do branding/posicionamento regional, nacional e internacional da Cidade se desenvolver num contexto de escassez de recursos (humanos, materiais e financeiros) e de forte competição entre cidades e entre países. É necessário ter, ainda, em consideração que o Plano Estratégico de Coimbra foi desenvolvido no triénio 2006-2009 pelo que o respetivo quadro de referência e propostas estratégicas, para o Município de Coimbra, poderão apresentar algum grau de desfocagem parcelar. Neste sentido poderá justificar-se a adoção de um processo complementar de re- interpretação ou atualização à luz da realidade atual do concelho e do País. Talvez por isso, as pessoas e as ideias e o trabalho coletivo possam vir a fazer a diferença!

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MARKETEER nº 79 – Revista de marketing, comunicação e vendas City Marketing - Dossier Cidades, 7 casos de urban mix Fevereiro de 2003

(…) Coimbra Coimbra quer deixar de ser percepcionada como uma cidade museu para ser uma cidade em movimento. O plano de obras já está definido. O turismo de Coimbra tem por objectivo transformar-se num destino excelente. «A palavra Coimbra para vender o centro de Portugal como destino turístico justifica-se devido à forte imagem que esta palavra já possui internacionalmente através de ex-libris como cidade do conhecimento, do património cultural e da beleza paisagística. O conceito de “área turística de Coimbra” vai emergir, tornando-se o centro da visão única que deve ser partilhada pelas diferentes empresas relacionadas com o turismo, governo central e autoridades locais. Devido ao aumento da comunicação e da cooperação entre os elementos, Coimbra poderá alinhar a sua estratégia de produto com um conjunto de bens competitivos, consistentes e que se reforçam mutuamente. De facto, todos os factores competitivos, como sejam os bens naturais, as principais empresas, as super/infraestruturas e os serviços de suporte, vão estar interligados», afirma fonte da câmara municipal. Neste momento, o plano estratégico do turismo da cidade está a passar por um processo de mudança. Até há pouco tempo, Coimbra era conotada como “cidade museu”, dando a ideia de uma cidade pouco dinâmica e parada no tempo. Agora o objectivo é juntar o passado histórico com a ideia de uma cidade em movimento contínuo. De acordo com os planos nacionais de desenvolvimento económico e social e de desenvolvimento regional 2000 – 2006, Coimbra optou a curto-médio prazo por apostar em produtos/áreas como congressos, reuniões, viagens de incentivos, golfe, aproveitamento do aeródromo municipal, eventos festivos e culturais, bio e eco turismo, aproveitamento do Rio Mondego para actividades lúdicas e melhoramento das infraestruturas. Assim, para o produto congressos e reuniões, Coimbra está já a proceder a obras de restauro e adaptação do Convento de S. Francisco (em Santa Clara) para um centro de congressos.

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Em relação ao produto Golfe, está projectado um campo de golfe nas imediações da cidade. No aeródromo municipal deverá ser feito numa primeira fase, o alargamento da pista e, numa segunda fase, através de um plano director, a instituição de linhas aéreas regionais (por exemplo, Vila Real – Lisboa). A nível de eventos e festas, a cidade tenciona criar dois tipos de animação: a permanente e a esporádica. «A animação torna- se indispensável como porta de entrada à cidade, porque é muito importante que o turista tenha sempre um grande leque de actividades por onde escolher, que passam por um maior número de espectáculos de fado e inovações pirotécnicas, entre outras», diz a mesma fonte. O bio e eco-turismo é outra das apostas, que passam pela recuperação de paisagens degradadas, acções de valorização e promoção dos produtos rurais e artesanais, programas de educação ambiental dirigidas às populações locais, acções integradas de recuperação e qualificação das aldeias e de re-utilização das casas abandonadas para fins turísticos, desenvolvimento ordenado de actividades (desportos radicais, pesca desportiva, caça fotográfica, percursos pedestres, etc.) ligadas à natureza, sinalização turística nas zonas verdes, entre outras. Quanto ao aproveitamento do rio estão já projectadas algumas medidas que veiculam a ideia de Mondego como imagem de marca de um produto de elevado interesse turístico-natural. À volta desta ideia, pretende-se desenvolver o turismo fluvial, em espaço rural e de serra. Estas práticas serão implantadas através do desenvolvimento de infra-estruturas básicas e complementares em regiões adjacentes ao rio. No entanto, e apesar de já ter definido o seu posicionamento e estar a re-estruturar a oferta, Coimbra ainda está a estudar quem são os seus visitantes. Para tal prevê realizar em breve um inquérito ao turista (traduzido para inglês, francês e castelhano) com o objectivo de detectar as necessidades a satisfazer e os produtos a promover. Segundo dados estatísticos de 2000, Coimbra surge na sétima posição do ranking nacional, como sendo uma das localidades que recebe mais hóspedes provenientes da União Europeia. Daí que os seus concorrentes directos sejam Lisboa, Porto, Albufeira e Funchal. [pp. 46-47 ] (…)

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FRANCISCO M. PROVIDÊNCIA designer, Lda. Uma Nova Imagem para Coimbra Câmara Municipal de Coimbra, 2003

(…) espírito de renovação (…) A realização deste concurso de ideias visou essencialmente contribuir para a projecção e qualificação do Município como agente contemporâneo de desenvolvimento, construindo em torno do conceito de “Coimbra - Cidade do Conhecimento”, uma linguagem coerente, inclusiva e de largo espectro de influência e acção. A renovação política, um novo patamar de desempenho económico e social e a alvorada da “Capital Nacional da Cultura” concorreram com a forte presença patrimonial, com o activo histórico multifacetado e com a omnipresente Universidade e vida académica, para um desejado redesenho da Coimbra contemporânea. Terminada a primeira fase de definição da forma de representação da cidade, a Câmara Municipal vai proceder a uma segunda fase de implementação da nova imagem sobre a globalidade dos suportes de comunicação – comunicação institucional, media, publicações, sinalética, fardamentos, etc. – a desenvolver até finais de 2004. A cidade de Coimbra deve, sem dúvida, a sua maior notoriedade à Universidade – uma universidade cuja idade ascende a 1290 (D. Dinis) é uma raridade mundial. A simbiose entre cidade e a universidade constitui no caso de Coimbra uma singularidade identitária, (não se sabe onde começa uma e caba a outra), sendo ambas muito modeladas pela tradição conjunta. Coimbra ainda é reconhecida como a cidade dos estudantes, embora existam outras universidades por todo o país. Acresce a esta condição a relevância do conhecimento que lhe vem da ancestral tradição de liberdade, co que desde a fundação de Portugal vem contribuindo repetidamente nas artes, na cultura e na acção política. Por esta razão faz sentido a associação de Coimbra ao argumento Conhecimento.

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As insígnias da cidade são, a par do nome, um atributo identitário importante para o exercício da sua representatividade, na construção de um espírito de pertença local. Ser de Coimbra, é partilhar de uma certa cidadania, cuja origem se justifica na cidade e na sua história. As cidades hoje, concorrem entre si na disputa dos cidadãos, permanentes ou passageiros, comportando-se de modo semelhante às marcas comerciais; prometendo um certo modelo de vida. O valor de marca, é um atributo intangível, puramente virtual, mas “capaz de mover montanhas”. O valor de marca é hoje o maior valor das organizações, é o seu valor de comunicação e de mercado, o seu capital de promessa para a superação da realidade e o seu valor de troca. As cidades, exprimem-se com singularidade e coerência, construídas por alteridade; viver ou estudar em Coimbra, é partilhar desse ambiente ficcionado de proximidade à Universidade e consequentemente ao conhecimento. Antes de Coimbra se denominar “cidade do conhecimento”, já era de facto a Cidade do Conhecimento. (…) Em Coimbra, o conhecimento é marcadamente universitário e por isso científico, mas as representações desse “conhecimento” têm variado ao longo dos tempos. (…) Coimbra fica no centro (do país), lugar de virtude aristotélica. Coimbra é reconhecida como cidade fundadora e lugar-padrão da Língua Portuguesa; em Coimbra não há pronúncias . Coimbra, é o domínio da palavra, do conhecimento através da palavra, do latim e da lei , mas também lugar da invenção de novos significados. (…) A marca Coimbra, retoma, pela fonte tipográfica escolhida e retórica renascentista, a mundividência do modelo astronómico de Copérnico como metáfora do conhecimento científico.(…)

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VASCO DA CUNHA - ESTUDOS E PROJECTOS (LISBOA), SA e DELOITTE Plano Estratégico de Coimbra Documento Complementar Câmara Municipal de Coimbra, 2009

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MIGUEL RIVAS Coimbra – Smart and creative city CityLogo Baseline Study – City Profile Urbact II Programme, 2012

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(…) [pp. 2-9]

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HENRIQUE ALBERGARIA Coimbra, cidade do conhecimento: resultados do projecto Know Cities (Fev. 2013) KNOW CITIES, Cidades do Conhecimento do Arco Atlântico União Europeia – Espace Atlantique (Programme Transnational), 2012

Coimbra, cidade do conhecimento: resultados do projecto Know Cities (…) 1. Principais recursos: um rappel (…) 1.2. Instituições do conhecimento (…) Apesar da grande oferta de Ensino Superior em Coimbra, a UC e o IPC concentram a maioria dos alunos, enquanto ao nível da investigação a UC é a principal referência. A dimensão da comunidade académica da UC – 21.000 estudantes, 1.500 professores, 90 investigadores e 70 unidades de investigação – distingue a Universidade no panorama do Ensino Superior e da investigação. Outro ativo da UC é a sua capacidade de transformar a investigação em ideias de negócio, destacando-se as spin-offs na área das TIC e da saúde. Neste aspeto, o IPN e o Biocant têm um papel crucial (e que, no futuro, se espera também do Coimbra iParque). Ao nível da estrutura interna da UC, a DITS, criada em 2003, é a divisão que assegura a transferência de tecnologia do meio científico para o exterior. Em suma: a UC dispõe das estruturas e dos recursos para uma efetiva transferência de conhecimento do mundo académico para o exterior. As limitações que subsistem prendem-se, em boa parte, com uma certa rigidez na adaptação à mudança. 1.3. Tecido económico No passado recente, algumas mudanças alteraram o rumo do desenvolvimento económico da cidade: o O encerramento ou redução da capacidade produtiva de empresas emblemáticas da indústria transformadora, que tornaram negligenciável o emprego e o volume de negócios do sector em Coimbra. o O definhamento do comércio tradicional da Baixa, acelerado pela construção de centros comerciais noutras zonas da cidade. o A reorganização da Administração pública retirou a Coimbra uma vantagem comparativa que deteve muitos anos.

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o Contudo, em simultâneo, outras mudanças ocorreram e alteraram o padrão da economia de Coimbra, nomeadamente: o A mudança assinável nas relações entre a cidade e a Universidade. o A emergência de actividades económicas intensivas em conhecimento, principalmente na área das TIC e da saúde. 2. Organizações envolvidas na política da economia do conhecimento São dois os organismos públicos envolvidos na definição das políticas da economia do conhecimento em Coimbra: a autarquia e a Universidade.

A autarquia e a UC carecem de uma linha de acção comum mais forte para atingir os objectivos definidos para Coimbra. Nos últimos anos, os diferentes sectores – poder local, Universidade e empresas – têm envidado alguns esforços no sentido de colmatar a falta de comunicação e de coordenação que se prolongaram décadas. Um modelo de triple helix parece emergir em Coimbra, à medida que os decisores e os destinatários das políticas estreitam relações e os visados vão reforçando a sua participação e o seu envolvimento processos de decisão. 2. Inquérito Know Cities: análise dos resultados 2.1. O Índice de Cidades Criativas (ICC): o que é? Desenvolvido por Charles Landry e Jonathan Hyams o ICC visa avaliar a cultura de criatividade nas cidades, nomeadamente através da recolha de perceções individuais de amostras representativas de cidadãos residentes. (…) 2.3. Inquérito a Coimbra: principais resultados (…) 2.3.1. Resultados por dimensão

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A análise por dimensões e em termos absolutos, permite constatar que Coimbra tem um desempenho muito bom (mais de 60%) em aspetos como a comunicação, a qualidade de vida e a abertura. Em contrapartida, ao nível da estrutura política e do empreendedorismo o seu desempenho está abaixo da média (menos de 50%) e deve, por isso, ser melhorado. Nas restantes dimensões de análise o posicionamento da cidade é bom, embora exista uma margem de melhoria.

(…) 2.3.2. Resultados para um conjunto selecionado de indicadores Entre as 10 dimensões de análise, selecionaram-se alguns indicadores: o Coimbra tem um desempenho excelente (+ de 70%) ao nível do “Design”, da “Educação”, das “Universidades” e do “Bem-estar”. o Tem um desempenho muito bom (+ de 60%) ao nível de ”Comunicações”, “Reputação”, “Atratividade” e “Cosmopolitismo”. o Em relação ao “trabalho em rede” e à “arte e cultura” os inquiridos consideram o desempenho da cidade bom, mas com possibilidades de melhoria (+ de 50%) Quanto aos restantes indicadores, a cidade apresenta um desempenho abaixo da média e até fraco na ótica dos inquiridos. Exemplo de áreas em que o desempenho está abaixo da média e necessita de ser melhorado (menos de 50%) estão a “Paisagem construída”, o “Grau de abertura”, “Existência de um pensamento virado para o futuro”, das instituições públicas e da liderança. Desempenho fraco, com necessidade de intervenção, têm a vertente de “Inovação” e de “Ambiente empresarial”: apesar da qualidade reconhecida à Universidade, parece continuar a não existir em Coimbra uma forte ligação universidade – empresas, passível de gerar boas oportunidades de trabalho e de negócio. O pior resultado de todos regista-se ao nível da “Burocracia” (menos de 30%)

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3. Notas finais Em múltiplos aspetos os resultados do ICC corroboram o diagnóstico que os principais agentes do município fazem da situação atual, precisando a natureza dos obstáculos que limitam o desenvolvimento do município e condicionam o seu desempenho. Sublinham, se necessário fosse, o papel fundamental que incumbe à Universidade na dinâmica que conduz a uma economia do conhecimento através, nomeadamente da sua capacidade de gerar spin-offs em áreas de ponta, como a saúde e as TIC, sendo reconhecida a excelência das empresas do setor. Os resultados reforçam ainda a ideia de que Coimbra enfrenta vários desafios em matéria de governança, designadamente: o A melhoria dos canais de comunicação entre a cidade (autarquia) e os cidadãos. o Uma melhor coordenação dos stakeholders locais para que possa efectivamente tirar-se partido das potencialidades de Coimbra. o A afirmação de Coimbra enquanto principal pólo da região Centro, ou seja, a assunção da liderança que, no contexto regional, as outras cidades lhe reconhecem.

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IERU – Instituto de Estudos Regionais e Urbanos KNOW CITIES - Cidades do Conhecimento do Arco Atlântico Breve Resumo do Diagnóstico de Coimbra, cidade do conhecimento União Europeia – Espace Atlantique (Programme Transnational), 2012

(…) 3. Políticas e projectos Políticas de localização Não existe uma política de localização estruturada definida pela autarquia. Os principais entraves à localização de empresas são a disponibilidade e os preços dos terrenos. O Coimbra iParque, financiado em parte pela autarquia e especificamente destinado a empresas intensivas em conhecimento e inovação, será a terceira infraestrutura destinada ao acolhimento de empresas. Política de Clusters Os 2 clusters existentes em Coimbra – TICE e Medtch – constituiram-se de forma relativamente espontânea. A cidade integra o Cluster regional DHMS - Dynamise Regional Actors in the Area Healthcare & Medical Solutions, através do IPN, da AIBILI e da UC. O INOV.C, que visa a criação de clusters ligados às ciências da vida, às TIC, às indústrias criativas e à energia, permitirá que Coimbra reforce a sua presença em alguns deles. Empreendedorismo e transferência de tecnologia A Associação IPN e o IPN Incubadora e o Coimbra iParque são essenciais para a promoção do Empreendedorismo nos sectores intensivos em conhecimento e tecnologia em Coimbra. A UC, através da DITS e das unidades de investigação, assim como o IPN são os principais responsáveis pela transferência de tecnologia. Marketing da cidade A imagem de Coimbra enquanto “cidade do conhecimento” parece ser mais espontânea do que resultante de acções de marketing desenhadas com esse intuito.

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A UC e a sua investigação são reconhecidas internacionalmente: elevado número de alunos estrangeiros; grande envolvimento em projectos internacionais; qualidade da investigação científica. (…)

5. Conclusões Coimbra é uma cidade média integrada numa rede de pólos urbanos que, em conjunto, catalisam o desenvolvimento da região Centro. No entanto, no que se refere à economia do conhecimento, o seu desempenho parece ser melhor do que o das restantes. A UC desempenha um papel absolutamente fundamental na economia do conhecimento. Um dos seus traços distintivos é a sua capacidade de gerar spin-offs em áreas de ponta, como a saúde e as TIC, sendo reconhecida a excelência das empresas do sector. Nos últimos tempos, tanto a autarquia como a Universidade estão empenhadas em reforçar a relação entre ambas e com o sector empresarial. Não obstante estes esforços, há ainda desafios a vencer: a relação de Coimbra com os municípios vizinhos, a sua aproximação aos centros de decisão e a comunicação com o exterior (promoção como uma verdadeira “cidade do conhecimento”). Existe em Coimbra uma economia baseada no conhecimento que claramente beneficia dos contributos da UC e são cada vez mais as empresas intensivas em conhecimento. Mas para que Coimbra capitalize o conhecimento produzido na UC e promova com sucesso as suas empresas é fundamental que fortaleça os laços de cooperação com o exterior e a sua presença nos centros de decisão.

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IPSOS SOCIAL RESEARCH INSTITUTE (India Tracy and Amy Homes) SPARDA public perceptions survey - Coimbra Ipsos MORI European Union - Council of Europe, Brussels, 2011

SPARDA public perceptions survey – Coimbra

Objectives o Obtaining a baseline measurement of perceptions towards migrants and cultural diversity in the 7 cities participating in SPARDA o Gaining information to help further inform the development of local entities’ communication strategies Summary o Findings from the current survey show Coimbra residents are more likely than residents from other 6 cities to have a low level of contact with people from a different ethnic background to themselves (13% high; 11% medium and 76% low). o Of all the local entities, Coimbra had the second highest proportion of people classified as having low contact. o People are also significantly less likely than those in Lyon and Limassol to have travelled or lived abroad. o The majority of people report that they feel their local area is a place where people from different ethnic and religious backgrounds get on well together (68%). Summary – follow-up o The results show that out of the response options provided, Coimbra respondents are most likely to associate the term ‘migrant’ with a person not born in a given country but has come to live in the country to earn a living (94%). o Comparing to other cities, Coimbra respondents seem to have a greater understanding of the term “migrant” as this also includes academic economic migrants (55%) and persons born in another country and living permanently in Portugal with Portuguese passport (41%). o Only 20% of Coimbra respondents associated the term « migrant » with a person escaping war or prosecution and seeking protection in Portugal.

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o Coimbra respondents have neutral feelings about the level of immigration in their country. They feel very positive about people of different ethnic and religious backgrounds. o Most respondents in Coimbra recognized the advantage of immigration. The highest proportion of Coimbra respondents tended to disagree with negative statements and agree with the positive statements provided. Level of migration o A general perception (81%) that the amount of migrants has increased in recent years; o The results show that people in Coimbra feel neutral about the recent trends in migration (38%), comparing to those who feel positive (18%) or negative (43%). Views towards different groups of people - In brief o Results show that the groups people feel the coldest towards are illegal migrants and Gypsies/Roma (with 62% and 56% of people giving a score below 50 for these two groups, respectively). o The majority of Coimbra respondents express warm feelings (giving a score above 50) towards black people (83%), economic migrants (84%), asylum seekers (81%) and Jewish people (69%), and, Muslim people (66%). o They are likely to be friendly towards new neighbours. The Diversity Advantage - Summary conclusions o 50% of Coimbra respondents agreed that immigration is good for the economy and 42% believe that migrants make Portugal a more interesting place to live; o 44% of respondents believe that immigration has placed too much pressure on the infrastructure of Coimbra and 68% agree that immigrants in Coimbra made it more difficult for the country nationals to get jobs; o High proportion of respondents agreed with the statement « immigration in my area makes me more accepting of people with backgrounds different to mine » and «immigration has meant I feel more knowledgeable about people with different backgrounds to mine. Further developing the SPARDA communication strategies - Summary conclusions o Majority of respondents claimed that they are likely to come easily into contact with people of different ethnic background and different religious background. o Possible locations to be targeted by communication campaigns: They reported that places where difference can be most encountered are likely to be (1) public spaces and (2) work, school or college. Concluding Remarks – Conclusions and recommendations o The survey provides a valuable tool for further analysis of city-specific factors which influence public opinion. o The results should be interpreted in terms of overall contextual analysis to support comprehensive city communication and dialogue strategy. Does the

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survey data, when compared to data in other perspectives, show potential relationship? o Investigate following issues: - Negative perceptions towards Roma/Gypsies - Perception of pressure on public infrastructure and labour market by immigrants - Build on general feelings of warmth towards most minorities - Promoting a culture of tolerance can be very effective and a good communication strategy is likely to play an important role in this direction. Conclusions- recommendations o The questions that need to be asked are : - What are relationships between different groups and communities in Coimbra like? Could they be further improved? - How can your city/municipality promote a positive portrayal and understanding of immigrants in both the press and amongst the public? - There is a continued need for open forums and cross-community initiatives in any multi-cultural city; can your city/municipality play a role in these?

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BRANDIA CENTRAL Estudo de Avaliação da Atractividade dos Destinos Turísticos de Portugal Continental para o Mercado Interno 2009

(…) Sumário das percepções dos residentes sobre a Marca Centro (…) Coimbra A região Centro , para os indivíduos de Coimbra, é bastante familiar, sendo que a opinião dos mesmos é mais ou menos concordante. Quanto aos aspectos mais atractivos destacam-se os aspectos históricos e a vida académica, principalmente da cidade de Coimbra, as paisagens, as pessoas e as praias da região, “Em Coimbra é a vida estudantil e um bocado a história que a cidade tem, a nível de cultura, historial e religioso” (F 21), “As paisagens, os rios...a senhora da ribeira onde dá para andar de barco e fazer desportos náuticos... as zonas interiores valem mais pelas pessoas” (M 28), “É uma região central e que nos dá acesso a tudo, praia, natureza, rio, albufeiras, história” (M 29). Como aspectos menos atractivos destacam-se alguma monotonia na cidade de Coimbra e o facto de ser uma região pouco divulgada e com pouca oferta, entre outros, “A baixa de Coimbra está pouco vitalizada, está muito monótona ” (M 22), “Há pouca oferta nas zonas mais rurais” (M 28), “Falta de conservação dos monumentos... falta de divulgação e aproveitamento da cidade, da história, dos monumentos” (M 54). A região é bastante familiar para todos os indivíduos entrevistados, sendo que a maioria associou à cidade de Coimbra e também a outros locais, talvez por serem mais familiares para cada indivíduo em particular. Quanto às deslocações, uma vez que a maioria reside na zona Centro nem todos associaram deslocações à região. Contudo, alguns indivíduos costumam passear na região ou até mesmo passar férias, “Passo parte das minhas férias... Para relaxar e recuperar energias” (M 28). [pp. 41-42] (…)

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ANÍBAL FRIAS e PAULO PEIXOTO Representação imaginária da cidade. Processos de racionalização e de estetização do património urbano de Coimbra Oficina do CES, nº 183 Coimbra, Novembro de 2002

(…) O reencantamento da cidade? Coimbra é actualmente, em Portugal, o exemplo mais acabado de desencantamento de uma cidade por força do desgaste da sua imagem de marca. Ao nível discursivo, quando comparada a outras cidades portuguesas, aparece frequentemente como uma urbe que esgotou a sua energia simbólica e a sua capacidade de representação imaginária, como se fosse governada por acontecimentos que não controla (Fortuna e Peixoto, 2002). Numa crónica, sugestivamente intitulada “A morte de Coimbra”, Boaventura de Sousa Santos afirma: Coimbra tem vindo a atravessar nos últimos 30 anos um processo de decadência que os mais pessimistas - entre os quais me não conto - consideram irreversível. Dotada de uma mitologia invejável - a cidade dos doutores que tem mais encanto -, não soube transformá-la em capital simbólico e peso político junto do governo central. Pelo contrário, usou-a como antolho para não se confrontar com os sinais crescentes (cada vez mais evidentes) da sua estagnação. Coimbra é, de todas as cidades do país a que mais dramaticamente mudou de escala nas últimas décadas. Durante séculos foi uma cidade demasiado grande para o seu tamanho. A cidade universitária de projecção nacional e internacional, pôde ocultar eficazmente a fragilidade do seu tecido urbano e da sua base económica. Hoje, é uma cidade demasiado pequena para as potencialidades que ainda alberga em si, uma cidade descrente, sem auto-estima, onde o desenvolvimento urbano e a melhoria da qualidade de vida são apenas factos políticos, protocolos, notícias de jornal sem qualquer tradução concreta no quotidiano das pessoas (2001: 361). O desencantamento que este excerto veicula pauta os discursos de alguns intelectuais e de sectores do meio académico, e resume uma retórica generalizada sobre a cidade que tende a adquirir a força de um estereótipo. É certo que Coimbra, quando comparada a outras cidades portuguesas, é uma das que mais tem estado sujeita a um processo de reprodução de imagem e que isso se deve à quase inexistência de novas dinâmicas urbanas relevantes e à afirmação de novos actores e símbolos capazes de projectar uma imagem moderna da cidade 11 Mas não é menos verdade que os símbolos e actores emergentes noutras cidades, que acabam por reforçar essa imagem de estagnação a

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que Coimbra parece estar sujeita, se destacam através de um processo de emulação em que a cidade do Mondego serve de referente. (…) A perda da aura de capitalidade e do capital simbólico, que Coimbra deteve durante séculos de monopólio do ensino universitário em Portugal, lançou recentemente a cidade na escalada das identidades regionais. Coimbra, como muitas outras cidades, entrou neste jogo pela porta mais fácil: a do marketing urbano. A procura de uma nova base de capitalidade - Coimbra Capital da Saúde (Peixoto, 2000) - operacionalizou-se, assim, através da organização de um evento mediático (a Expovita), da instalação de um canal televisivo especializado na área da saúde, distribuído via cabo (TV Saúde), e de uma insidiosa campanha publicitária e iconográfica. Por outro lado, o discurso do desencantamento de Coimbra resulta, em parte, de um excesso de retórica sobre a cidade que é, ele próprio, um legado do peso secular da Universidade. Uma das razões que leva a que os habitantes de Coimbra sejam mais críticos que os de outras cidades relativamente à evolução recente da urbe deve-se ao facto de o seu grau de escolaridade ser, em média, mais elevado (Fortuna e Peixoto, 2002). Acresce que o número de associações cívicas locais é, em Coimbra, bastante numeroso 12 e que a centralidade da Universidade (ao ponto de se confundir com a cidade) sempre foi, como notou Miguel Torga, um factor de reprodução de discursos desencantatórios. “Uma vez que não tem capacidade formativa, a Universidade desperta, por isso mesmo, uma presente necessidade de reacção. E é negativamente que acaba por fazer chispar a centelha criadora em todos aqueles que por ela passam e, desiludidos, a abandonam ou guerreiam” (Torga, 1950). A conjugação destes factores contribui, sem dúvida, para aumentar a capacidade auto-reflexiva da cidade. Um processo de racionalização como o que acabamos de descrever não contradiz (chegando mesmo a favorecer), no domínio das representações estudantis, uma estetização da vida académica desde há um século e, sobretudo depois da década de 1980, da própria cidade, através de uma estratégia de difusão de imagens “positivas” (Frias, 2001). Podemos então perguntar quais os efeitos do processo de estetização no caso de Coimbra? E qual o seu contributo para o reencantamento da cidade? Na resposta a estas questões é possível referenciar três tipos de efeitos: o primeiro remete para uma retórica urbana povoada de ícones e de mensagens; o segundo para uma cultura, quer “popular” (folclore), quer letrada (Praxe académica), orientada para o espectacular; finalmente, o terceiro, remete para uma invenção das diferenciações locais e de uma identidade regional “competitiva”. No seu conjunto, estes três elementos parecem concorrer, de um modo sui generis, para o reencantamento do espaço urbano. Retórica urbana (…) Em Portugal, os fluxos turísticos engrossaram significativamente nos últimos dez anos (DGT, 2001), assumindo uma relevância crescente, em anos mais recentes, o turismo cultural e patrimonial. Cidades médias portuguesas, como Évora, Braga, Coimbra e Guimarães, ou cidades mais pequenas, como Tomar, ou mesmo aldeias, como as “aldeias históricas”, conheceram transformações variadas que as converteram em destinos privilegiados desta modalidade turística. No caso de Coimbra há que assinalar

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um conjunto de transformações que, não estando exclusivamente relacionadas com o turismo, são factores que a favorecem. As modificações urbanas ocorreram ao nível económico (hotelaria, restaurantes, venda de produtos locais ou de lembranças), ao nível da reconcepção do espaço (pedonalização do centro, concepção de instrumentos de suporte e aplicação de mobiliário urbano), no domínio da informação (postos turísticos, panfletos publicitários e informativos e site internet com informação em inglês), ou no domínio da elaboração de medidas e regulamentos (protecção, restauro e vigilância de monumentos). A tudo isto deve acrescentar-se um registo de produção de imagens de natureza visual, discursiva e sonora que contribui para forjar um cenário urbano singular. Diríamos mesmo um cenário atractivo, onde os valores e os objectos de um passado “autêntico” encontram finalmente as promessas de um futuro idealizado. [pp. 9-12 ] (…) A Alta, tornada “centro histórico”, confunde-se praticamente com a totalidade do espaço académico. Ela é presentemente o suporte de uma valorização urbana e de um marketing turístico centrados em imagens e slogans que se relacionam directamente com a Universidade de Coimbra e as suas tradições académicas 16 . [p. 17 ] (…) O folclore e as tradições académicas parecem combinar-se para que o mercado turístico não sinta, numa cidade “histórica e tradicional”, a ausência dos factores de “tipicidade” de que anda à procura ou que lhe foram prometidos. Assim, é na altura em que a cidade vê os estudantes partirem para férias e as actividades académicas entrarem num período de hibernação que as “tradições populares”, dada a suspensão da Praxe académica, mais se manifestam. Às já referidas fogueiras populares, realizadas nos finais de Junho, seguem-se, em Julho, as Festas da Cidade, em Agosto, a Feira das Cebolas e, no princípio de Outubro, a Feira Distrital do Mel Protegido e da Castanha. A actuação de ranchos folclóricos e as mostras etnográficas estão entre as iniciativas mais emblemáticas e visíveis destes eventos. Esta opção é, em larga medida, feita na presunção de que os turistas que visitam a cidade são particularmente apreciadores deste tipo de iniciativa. (…) [Trata-se de] uma vontade de transformar o espaço público urbano, e nomeadamente os seus sítios históricos, numa espécie de cenografia para uma acção cultural e artística, desta forma difundida e tornada pública. [p. 18-19 ] (…) A invenção do lugar O património, o folclore e as tradições académicas de Coimbra contribuem para a ancoragem de uma identidade local. Na verdade, são aqueles elementos que ajudam a territorializar esta identidade material ou cultural. Ambos os pólos, o da identidade e o da territorialidade, acabam por se apoiar e se reforçar mutuamente. “A imagem de território(s) forjada aqui e acolá é ao mesmo tempo elaboração de uma auto-imagem e um empreendimento de comunicação: o território torna-se estilo, no duplo sentido de uma caracterização [...] e de estratégia de comunicação” (Poulot, 1992: 31). O estilo de uma cidade ou de uma região é, hoje em dia, conferido, de um modo muito nítido, pela valorização ou invenção de um património. O ritmo frenético da patrimonialização

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imponentes cenografias operísticas em que só a contraluz (à revelia da orientação dos focos de iluminação) deixa ver a urdidura caótica da trama” (Baptista e Pujadas, 2000: 302). [p. 20 ] (…) Um lugar destes, lugar culturalizado e patrimonializado, regulamentado e estetizado, supõe que lhe sejam extraídos, pelo menos normativamente, o conjunto de ruídos, de odores e de lixos que tornam pouco atraente a paisagem da Alta. Por outro lado, ocorre uma modificação na mudança de escala: a toponímia circunscrita ao “centro histórico” imbrica-se sucessivamente na zona urbana local, no território regional (o Centro), para alcançar, através de um jogo de imagens e de reivindicações, o nível nacional e mundial. [p. 21 ] (…) Os fenómenos de “invenção do lugar” revelam que as cidades são cada vez menos definidas em termos de propriedades materiais (densidade da população, transportes, fluxos, etc.), para passarem a ser descritas a partir das suas propriedades simbólicas. “O carácter urbano da cidade, aquilo que a constitui na sua urbanidade, não é redutível à sua morfologia ou à sua concentração de actividades económicas, pois depende dos discursos que sobre ela são produzidos e que, circulando em redes cada vez mais extensas, se sedimentam em representações e na própria materialidade” (Mondada, 2000: 38-39) (…) A regeneração urbana, recuperando e estetizando “tempos mortos” e “espaços mortos” da cidade (Bianchini, 1993), pôs em marcha uma verdadeira economia simbólica do património. Esta consagra materialmente a “invenção do lugar”, uma vez que, utilizando o património e a sua panóplia de artefactos como décor, aposta na criação de um espaço cénico de fruição estética e na afirmação de uma identidade caracterizada pelo “espírito de lugar” que esse património é suposto representar. Se o reencantamento das cidades tem sido levado a cabo por uma retórica urbana e por uma estilização e um tratamento plástico inusitados do espaço público, a verdade é que, em Coimbra, esta segunda dimensão desse modo de estetização tem estado, até hoje, particularmente ausente. Existem, porém, alguns exemplos da economia simbólica do património, sendo talvez o mais evidente o que se manifesta no eixo pedonal que vai do Arco de Almedina ao Largo da Sé Velha passando pela Rua de Quebra Costas. [p. 22 ] Conclusão (…) o presente (“momentânea”) é reinscrito numa continuidade cronológica que desemboca num tempo cosmológico imóvel (“eterna”). O conjunto dá forma a uma identidade espiritual (“alma colectiva”) que confere uma sacralidade (“altar votivo”) à cidade de Coimbra. Se considerarmos os elementos de reencantamento abordados neste texto (a retórica urbana; o folclore e a Praxe académica; e a invenção do lugar) verificamos que eles transportam consigo componentes de um processo de estetização marcado pela

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patrimonialização e pela objectivação da cultura. Algumas das formas de reencantamento contam-se, aliás, entre os factores de descrença que, segundo os seus críticos, mais contribuem para o marasmo e o decadentismo da cidade. Na verdade, analisar factores como as imagens da cidade, a reactivação das tradições urbanas e a construção de diferenciações locais obriga a reconhecer a diversidade de actores e de estratégias que actuam nesses terrenos. O que significa que as representações da mesma realidade, longe de serem homogéneas, chegam a ser contraditórias e até conflituosas. A segmentação social dos factores de encantamento e de desencantamento revela que as cidades são realidades socialmente apropriadas e imaginadas que ganham forma para além de qualquer retórica ou estratégia identitária dominante empreendida em seu nome. [pp. 24-25 ] (…)

Notas: 11. Uma dinâmica e uma imagem modernistas que, no entanto, enfrentamos, por exemplo, quando penetramos em Braga pela sua circular, onde somos como que aprisionados pela viragem do fluxo dos veículos e dos peões, e confrontados com a sensação de nos estarmos a mover no seio de um organismo urbano em pleno crescimento – horizontal e vertical. 12. Destacamos aqui a Associação de Amigos da Margem Esquerda; a Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra; o Fórum Praça Velha; o Grupo Al Medina – Comissão para a Defesa da Qualidade do Ambiente, Espaço Urbano e Património de Coimbra; o Grupo de Arqueologia e Arte do Centro; o Movimento Artístico de Coimbra e a Associação Cívica Pro Urbe. 16. As imagens da Universidade, quer como instituição, quer como monumento, e das tradições académicas são objectos seleccionados. A icnografia patrimonial da Universidade está representada pelos retratos dos antigos reitores, pelas estátuas alegóricas do saber ou de Minerva. Essa iconografia contrasta particularmente com os graffiti “poluente” e efémeros dos estudantes, que não podem deixar de ser vistos como referentes de valores académicos em conjunto com as suas tradições públicas e espectaculares (Frias e Peixoto, 2001).

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ANA LUÍSA SIMÕES Posicionamento estratégico da Cidade de Coimbra face a potenciais concorrentes Dissertação - Mestrado em Gestão e Desenvolvimento em Turismo Universidade de Aveiro, 2009

(…) CAPÍTULO 5 – CARACTERIZAÇÃO DA CIDADE DE COIMBRA ENQUANTO DESTINO TURÍSTICO (…) 5.5. Conclusão (…) foi realizado um breve enquadramento da cidade de Coimbra a nível geográfico, demográfico e socioeconómico. No entanto, o mais importante a observar foi a caracterização da cidade de Coimbra enquanto destino turístico. Neste sentido, foi realizada uma análise relativamente à procura e à oferta turística deste destino. A nível da oferta, Coimbra apresenta-se como uma das cidades portuguesas detentoras de maior número de monumentos nacionais, sendo apenas superada por Lisboa e Évora. A cidade de Coimbra é também caracterizada por um notório património intangível, como é o caso da Canção de Coimbra e as tradições académicas. Para além disso, a cidade de Coimbra apresenta-se como um dos concelhos com maior oferta turística a nível de museus, galerias e espectáculos ao vivo do Baixo Mondego e da Região Centro. Verificou-se que, a nível da procura, Coimbra é um dos concelhos da Região Centro com maior número de dormidas e hóspedes em estabelecimentos hoteleiros. No entanto, o mesmo não se observa em relação à estada média dos visitantes, que é bastante inferior à de outros municípios desta região, nomeadamente aos que se apresentam como destinos de “sol e praia” ou de turismo termal (ex: Mira, e São Pedro do Sul). Verificou-se que, a nível de dormidas e hóspedes em estabelecimentos hoteleiros segundo o país de residência, existe uma predominância de visitantes nacionais. Contudo, relativamente aos estrangeiros, verifica-se um maior número de visitantes espanhóis e italianos. A nível global, foi possível observar que o concelho de Coimbra tem uma elevada importância enquanto destino turístico para a NUT III em que se insere, sendo o seu pior desempenho verificado a nível da estada média. No que diz respeito à importância do concelho de Coimbra na Região Centro, verificou-se que este é um dos concelhos mais

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importantes enquanto destino turístico pois, para além de ser um dos concelhos com maior número de hóspedes e dormidas em estabelecimentos hoteleiros desta região, disponibiliza uma grande concentração de atracções culturais (ex: monumentos nacionais, museus, galerias de arte). [pp. 106-107] (…) CAPÍTULO 6 – OBJECTIVOS E METODOLOGIA (…) 6.2. Objectivos (…) Procurou-se, através do estudo empírico desenvolvido no âmbito desta dissertação, colmatar algumas das lacunas anteriormente referidas. Neste sentido, o objectivo geral desta dissertação é o seguinte: • avaliar o posicionamento da cidade de Coimbra, enquanto destino turístico, relativamente a outras cidades portuguesas que os visitantes de lazer consideram ser as principais cidades concorrentes de Coimbra. Os objectivos mais específicos do estudo empírico realizado no âmbito desta dissertação são: • identificar as principais cidades concorrentes de Coimbra enquanto destino turístico, na perspectiva dos visitantes de lazer; • identificar as principais fraquezas e potencialidades de Coimbra, enquanto destino turístico, na perspectiva dos visitantes de lazer; • comparar o desempenho da cidade de Coimbra, enquanto destino turístico, com o desempenho das cidades previamente identificadas, e que constituem os principais concorrentes de Coimbra; • verificar se o posicionamento de Coimbra face aos potenciais concorrentes é influenciado por determinadas características tais como características socioeconómicas do visitante e pela sua familiaridade com o destino; e • identificar potenciais estratégias para posicionar, de forma competitiva, a cidade de Coimbra enquanto destino turístico face aos seus potenciais concorrentes. [pp. 108-109] (…) CAPÍTULO 8 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES (…) 8.2. Conclusões (…) A segunda parte desta tese diz respeito ao estudo empírico realizado nesta investigação, que tem como principal propósito analisar o posicionamento de Coimbra face aos concorrentes e identificar potenciais estratégias para posicionar a cidade de Coimbra de forma competitiva em relação aos potenciais concorrentes.

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O capítulo 5 incidiu na caracterização da cidade de Coimbra, tendo-se verificado que esta cidade é caracterizada por uma grande oferta cultural (a nível de infra-estruturas e actividades), sendo ainda detentora de um elevado património cultural construído. Para além disso, Coimbra apresenta uma mais-valia relativamente ao seu património intangível, intimamente ligado à componente académica da cidade, pelo qual é, na maioria das vezes, reconhecida. Observou-se que a cidade de Coimbra enquanto destino turístico é uma das cidades mais representativas na NUT III em que se insere, Baixo Mondego, sendo igualmente importante para a Região Centro em alguns indicadores (ex: nº de monumentos nacionais). No entanto, este destino ainda se encontra bastante afastado da realidade nacional no que diz respeito a alguns indicadores (ex: estada média). Outro aspecto importante, foi o facto da cidade de Coimbra apresentar uma taxa de ocupação cama (TOC) acima da média nacional, registando um valor de 42%, o que pode ser justificado pelo reduzido número de unidades hoteleiras que não conseguem dar resposta à procura verificada na cidade. [p. 164] (…) Dado que não foi pré determinado qualquer destino concorrente da cidade de Coimbra, foi interessante constatar que, tanto na perspectiva dos visitantes portugueses como estrangeiros, as cidades de Lisboa e Porto apresentam-se de forma consistente como concorrentes da cidade de Coimbra enquanto destino turístico. Relativamente ao comportamento de viagem dos visitantes de Coimbra, verificou-se que este se caracteriza por um período de reduzida estada média, atingindo pouco mais que 1 noite, o que origina uma organização de viagem pouco planeada, dado que a maior parte dos visitantes ou não reserva nenhuma componente da viagem ou reserva pessoalmente. Embora o grupo de viagem seja composto, na maioria dos casos por casais, observa-se que o tamanho do grupo de viagem é maior que nas outras cidades analisadas, sendo muitas vezes composto também por outros familiares além do cônjuge. Verificou-se, ainda, que a cidade de Coimbra é a única, entre os destinos analisados, em que o número de visitantes que já a tinham visitado anteriormente ultrapassa o número dos que nunca a tinham visitado. Esta questão pode se justificada pelo facto de existir um maior número de visitantes nacionais nesta cidade e pela localização central no território nacional da cidade de Coimbra, tornando-a, muitas vezes, um destino de passagem. Também por estas razões, se justifica o facto do meio de transporte mais utilizado ser o carro próprio. Relativamente ao meio de alojamento mais utilizado, tal como nos outros destinos analisados, verifica-se uma predominância da utilização do hotel. [p. 165] (…) No que diz respeito aos aspectos mais positivos de Coimbra percepcionados pelos visitantes foram identificados elementos como a história, beleza e monumentos da cidade. No que respeita aos aspectos mais negativos de Coimbra, embora se observe que um número elevado de inquiridos não identificou qualquer aspecto negativo, os aspectos negativos mais apontados foram a falta de conservação, a sujidade e o trânsito. Relativamente aos locais mais visitados pelos inquiridos - Universidade, centro histórico, Sé Velha, Jardim Botânico e Sé Nova - é de realçar que todos estes estão

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localizados numa área geográfica da cidade bastante circunscrita, que se pode caracterizar como o grande pólo de atracção turística da cidade. Quanto à imagem de Coimbra, verificou-se que esta está também fortemente relacionada com a sua história académica e com todos os elementos ligados a esta componente. Este é um aspecto positivo pois, embora a cidade de Coimbra seja percepcionada de forma semelhante à cidade de Lisboa, consegue evidenciar esta sua característica distintiva em relação aos destinos concorrentes. No que diz respeito à avaliação do desempenho global da cidade de Coimbra, observa-se que os visitantes têm uma boa impressão global da cidade. Foram ainda identificados os atributos da cidade mais bem avaliados pelos visitantes: • locais/centros históricos; • monumentos; • eventos e festividades; • atracções arquitectónicas; • atracções naturais; • clima; • hospitalidade; • costumes/cultura; • espaços comerciais/lojas; • ambiente/atmosfera geral da cidade; e • comunicação/língua. Esta análise é importante na medida em que permite identificar os pontos mais fortes de Coimbra para posteriormente os promover junto dos visitantes. No entanto, é igualmente necessário identificar os pontos mais fracos para que se possam delinear estratégias para que estes sejam ultrapassados. Os atributos da cidade de Coimbra com pior avaliação por parte dos visitantes foram: • teatros; • exposições; • galerias de arte; • parques de estacionamento; • serviços de informação turística; • infra-estruturas e actividades desportivas; e • sinalização. Contudo, verificou-se que alguns destes atributos - “parques de estacionamento”, “sinalização” e “galerias de arte”- são os mais mal avaliados entre os visitantes de todos os destinos analisados. Coimbra detém um melhor desempenho em dimensões relacionadas com “as condições básicas e a atmosfera geral da cidade” e com o “património cultural construído”, conjuntamente com Lisboa, e em uma dimensão relacionada com a “cultura e hospitalidade”, conjuntamente com a cidade do Porto. [pp. 165-167] (…)

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Relativamente às diferenças observadas entre visitantes portugueses e estrangeiros, verificou-se que os visitantes nacionais percepcionam a cidade de Coimbra como o destino com melhor desempenho apenas a nível das condições básicas e atmosfera geral da cidade. Observou-se ainda que os visitantes portugueses não identificam diferenças significativas entre os destinos a nível do património cultural construído, podendo este aspecto relacionar-se com o facto de se considerar, a nível nacional, que todas estas cidades têm uma forte componente histórica e cultural. No entanto, o mesmo não se verifica em relação ao posicionamento de Coimbra na perspectiva dos visitantes estrangeiros. Embora estes não identifiquem diferenças significativas entre os destinos em relação aos factores relacionados com a “gastronomia e restauração” e a “cultura e hospitalidade”, possivelmente por identificarem estes factores a nível nacional e não tanto as suas particularidades a nível de cada destino, identificam diferenças entre os destinos em relação ao património cultural construído, contrariamente ao verificado nos visitantes nacionais. Entre os visitantes estrangeiros a cidade de Coimbra é a mais bem avaliada, conjuntamente com Lisboa, relativamente às condições básicas e atmosfera geral da cidade e ao património cultural construído. Será ainda interessante focar que os visitantes estrangeiros, embora a nível global tenham uma melhor percepção de todos os destinos comparativamente aos visitantes portugueses, têm uma avaliação bastante particular relativamente ao património cultural construído, pois atribuem às cidades do Porto e Lisboa uma das suas piores classificações no que diz respeito a este factor. Esta questão pode ter a sua explicação na oferta compacta do património da cidade de Coimbra, enquanto nas cidades de Lisboa e Porto se verifica uma dispersão geográfica da sua oferta patrimonial, uma vez que Coimbra se caracteriza por ter um pólo de atracção bastante circunscrito localizado no centro histórico da cidade. [pp. 167-168] (…) A nível geral, concluiu-se que embora a cidade de Coimbra seja bem avaliada pelos seus visitantes, detendo uma posição mais favorável, em diversos casos, em relação à cidade do Porto, Coimbra apresenta muitas semelhanças à cidade de Lisboa. No entanto, devido a uma maior e mais diversificada oferta de infraestruturas disponibilizada pela cidade de Lisboa e do Porto, Coimbra apresenta uma posição inferior relativamente a estas cidades no que diz respeito ao factor associado às “infra-estruturas e serviços de apoio e atracções naturais”. Contudo, é necessário realçar que a cidade de Coimbra apresenta um bom desempenho, de bastante forma consistente, relativamente aos factores associados às “condições básicas atmosfera geral da cidade” e ao “património cultural construído”. Embora a imagem de Coimbra apresente muitas semelhanças a nível da oferta em relação a Lisboa, esta é distinguida face à capital portuguesa pela sua componente académica, única a nível nacional. [p. 169] (…) 8.3. Propostas de estratégias para o posicionamento competitivo da cidade de Coimbra face às cidades concorrentes De acordo com a revisão da literatura realizada na parte 2 desta tese, para posicionar competitivamente um destino é necessário identificar os seus pontos fracos, para que

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se possam eliminar as maiores lacunas existentes, os seus pontos fortes, para se capitalizarem os benefícios e definir os atributos distintivos que poderão diferenciar o destino em relação aos seus concorrentes. Neste sentido, reconhece-se a importância da componente monumental e cultural de Coimbra, mas verificou-se que a cidade de Coimbra não detém uma boa percepção por parte dos visitantes no que diz respeito a actividades e eventos de lazer. Este é um ponto fraco que pode e deve ser ultrapassado através da diversificação da oferta a nível de actividades e eventos, podendo assim alcançar uma melhor posição junto de determinados grupos de visitantes (nomeadamente, visitantes portugueses e visitantes com menores habilitações literárias) que, de acordo com o estudo empírico não têm uma percepção tão boa do desempenho da cidade de Coimbra enquanto destino turístico. Outra vantagem da diversificação da oferta é a possibilidade de aumentar a estada média que se verificou ser um dos obstáculos mais importantes a superar na cidade de Coimbra enquanto destino turístico. Por exemplo, poderia desenvolver-se um maior número de actividades desportivas, aproveitando a presença do rio Mondego e o facto de existir nesta cidade um considerável número de infra-estruturas desportivas. De acordo com a ideia fundamentada por Ritchie e Crouch (2003) sobre o novo fenómeno coopetition , coloca- se também a possibilidade de uma parceria com o município da Lousã, que se caracteriza como um pólo de turismo de natureza e turismo rural da Região Centro devido ao seu património natural e à sua rede de aldeias – “Aldeias de Xisto”. Esta colaboração permitiria aos dois municípios uma diversificação da sua oferta, englobando o turismo rural e o turismo urbano com forte componente cultural, o que poderia originar um aumento da estada média nestes destinos. Ainda a nível de diversificação de actividades, outro tipo de turismo com probabilidade de alcançar uma boa posição no mercado é o turismo de negócios. Esta opção pode-se justificar através da localização central da cidade de Coimbra em relação aos dois grandes centros urbanos, e ainda pela perspectiva da construção de duas importantes unidades hoteleiras, dos grupos Vila Galé e Pestana que, por sua vez, vem também colmatar a lacuna referente ao reduzido número de unidades hoteleiras da cidade de Coimbra. De acordo com o que foi apurado no estudo empírico, Coimbra tem um posicionamento mais competitivo no mercado dos visitantes que têm menor familiaridade com Coimbra do que nos que têm maior familiaridade. Neste contexto, as medidas acima propostas, nomeadamente de diversificação e de inovação da oferta através da organização de eventos atractivos, poderão contribuir para que a cidade de Coimbra alcance um posicionamento mais competitivo no mercado com maior familiaridade com este destino. Tendo em consideração que os visitantes estrangeiros apresentam uma estada média superior, outra possibilidade é apostar na promoção a nível internacional, dado que esta é uma cidade bem percepcionada por este grupo de visitantes. A nível promocional seria, igualmente, interessante direccionar a cidade de Coimbra para o mercado das “famílias”, tendo em consideração que ao mesmo tempo que é um destino monumental e cultural tal como as cidades de Lisboa e Porto, a cidade de

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Coimbra, devido a ser uma cidade de menor dimensão, diferencia-se das cidades concorrentes por ser caracterizada por um ambiente mais calmo e com maior segurança. Outra questão a tentar ultrapassar refere-se à percepção dos visitantes no que diz respeito aos aspectos mais negativos da cidade como a sujidade, o trânsito e a falta de conservação. Considera-se necessário ter especial atenção no que concerne à falta de conservação dado que a oferta turística de Coimbra assenta em grande parte na sua monumentalidade, tornando-se, assim, urgente, a conservação e preservação de todo o património edificado. Esta questão ganha relevo ao observar que os monumentos da cidade de Coimbra, tal como a sua beleza e história, são apontados como pontos fortes de Coimbra enquanto destino turístico na perspectiva dos visitantes. Tendo em consideração a importância dos monumentos e da história para a competitividade de Coimbra, seria importante promover a cidade de Coimbra associada com base nestes aspectos, enfatizando que esta cidade é a terceira cidade do país com maior número de monumentos nacionais. A análise do processo de procura de informação foi importante pois permite a identificação dos meios de promoção em que se deve apostar para a divulgação da cidade de Coimbra. Neste sentido, e de acordo com os resultados apurados, uma potencial estratégia será reforçar e qualificar a promoção de Coimbra enquanto destino turístico via internet e através dos guias de viagem. No entanto, é necessário realçar que a cidade de Coimbra dificilmente alcançará uma melhor posição em relação aos seus concorrentes no que diz respeito a alguns elementos. Por exemplo, será difícil melhorar significativamente o desempenho da cidade de Coimbra no que diz respeito às infra-estruturas de modo a que esta cidade tenha um desempenho superior ao das concorrentes, dado ser uma cidade de tamanho médio mais pequena que Lisboa e Porto, e no que se refere às atracções naturais, pois estas são muito mais difíceis de alterar ou criar. Outro elemento difícil de melhorar relaciona-se com a gastronomia pois Coimbra não é uma cidade caracterizada pela diversidade e qualidade gastronómica, contrariamente à cidade do Porto que apresenta uma gastronomia diversificada e bastante típica. Contudo, acredita-se que existe um conjunto de elementos que, sendo melhorados, poderão melhorar o posicionamento de Coimbra face às cidades concorrentes. Por exemplo, identificou-se que alguns dos atributos pior avaliados diziam respeito à “sinalização” e aos “parques de estacionamento” Neste contexto, através da sensibilização dos gestores do destino para este problema, poderão encontrar-se estratégias para colmatar esta lacuna. A “sinalização” é um ponto importante para um melhor posicionamento da cidade de Coimbra pois poderá permitir identificar e valorizar outro tipo de património ainda não muito conhecido como alguns monumentos intimamente ligados à história académica de Coimbra (nomeadamente, os colégios da Graça, de São Tomás e São Jerónimo). Outra questão importante será melhorar os serviços de informação turística, através da qualificação dos recursos humanos e dos materiais informativos (ex: brochuras locais),

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dado que estes são, para muitos visitantes, um serviço importante no início da sua visita. Neste sentido, uma boa prestação dos serviços de informação turística disponibilizados na cidade poderá contribuir significativamente para melhorar o posicionamento de Coimbra. A cidade de Coimbra pode ainda melhorar o seu posicionamento relativamente às condições básicas e atmosfera geral da cidade, pois é percepcionada como um destino mais calmo e seguro que os outros destinos analisados e também no que diz respeito à cultura e hospitalidade, dado ser caracterizada por uma cultura e costumes bastante próprios, principalmente relativos ao mundo académico. Verifica-se que as cidades de Coimbra e Lisboa são percepcionadas como muito semelhantes. Neste sentido, deve-se continuar a posicionar a cidade de Coimbra como cidade monumental mas, ao mesmo tempo, diferenciá-la da cidade de Lisboa através das suas características únicas relacionadas com a componente académica e as tradições associadas a esta componente, realçando tanto os monumentos como o património intangível relacionado com este aspecto (tradições académicas e canção de Coimbra). Neste sentido, a consciencialização, tanto dos responsáveis pela gestão do destino como sobretudo dos residentes, relativamente à importância do turismo, surge como uma medida importante para maior divulgação deste património intangível e para a diferenciação de Coimbra através deste património. Finalmente, e de acordo com a revisão de diversos modelos de competitividade realizada anteriormente, será, igualmente, benéfico a monitorização deste estudo, de forma a identificar e analisar a influência que medidas posteriormente adoptadas possam vir a ter no posicionamento estratégico da cidade de Coimbra enquanto destino turístico. [pp. 161-171] (…)

Nota de edição – no ponto 8.3. efectuou-se alteração na estruturação dos parágrafos por facilidade de leitura.

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CARLOS FORTUNA e PAULO PEIXOTO A recriação e reprodução de representações no processo de transformação das paisagens urbanas de algumas cidades portuguesa in Projecto e circunstância. Culturas Urbanas em Portugal - Carlos Fortuna e Augusto Santos Silva (orgs.) Edições Afrontamento, 2002

(…) 1.5. A cidade dos estudantes Coimbra, a «Lusa Atenas», é uma das mais míticas e lendárias cidades portuguesas. À excepção de Lisboa, nenhuma outra cidade mereceu a atenção de tantos poetas e escritores portugueses ilustres. Como lembra Miguel Torga, estudante e habitante de Coimbra, foi «daí que saíram Camões, Garrett, Antero, Eça, António Nobre, Afonso Costa e outros». Por isso, Coimbra é uma cidade «cheia de sentido nacional. Não há nenhuma mais bela no país, e muito do que a nação fez de bom e de mau fê-lo aí, ou teve aí a sua génese» (1950). Fernando Namora recorda também que «Coimbra é uma cidade de grandes tradições: históricas, políticas, culturais, literárias, populares», para acrescentar que «não houve no nosso país revolução política ou movimento cultural que não encontrasse entre os estudantes de Coimbra apoio ou reflexo» (1943). Uma das grandes tradições é, por exemplo, o Fado de Coimbra , mitificador, ele próprio, da história da cidade e criador de personagens históricas que identificam e se tornaram símbolos da cidade. 10 Coimbra é também a cidade que viu nascer seis dos nossos reis e que guarda as lendas da Rainha Santa e dos Amores de Pedro e Inês. É ainda, e assim é conhecida, a «Cidade do Mondego», que «não é apenas o mais importante dos rios nascidos em Portugal. É também o mais português por ter sido sentido e cantado por quase todos os grandes poetas portugueses» (Borges, 1987). 11 Por tudo isto, e sobretudo pelo misticismo que a envolve, é difícil caracterizar a identidade da cidade a partir dos seus símbolos. Esta tarefa seria, aliás, impossível se os elementos identitários e representacionais de Coimbra não estivessem intimamente ligados todos à mesma fonte: a Universidade. Com os seus setecentos anos de existência a Universidade tem em Coimbra um peso simbolicamente arrasador nos discursos representacionais da cidade. Ao longo destes séculos a «Cidade do Mondego» foi-se expandindo mas sempre tutelada por uma Universidade que a foi moldando aos seus interesses. A presença secular da Universidade deixa uma marca indelével em todos os traços identitários da cidade, desde os monumentos às personagens históricas passando pelo ritmo da própria

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cidade, os seus modos de vida mais característicos e específicos, a sua estrutura económica 12 e os episódios marcantes da vida local. Nas monografias históricas Coimbra difunde uma imagem de cidade histórica e até monumental. Desde o seu símbolo mais popular, a Torre da Universidade, aos seus monumentos mais esplendorosos e emblemáticos, como a Biblioteca Joanina, a Sala dos Capelos ou a Capela de São Miguel, os principais ícones que representam Coimbra são edifícios universitários. Entre os monumentos que não estão directamente ligados à presença da Universidade, mas sim a outra presença simbolicamente significativa na cidade (presença da Igreja), distinguem-se o Mosteiro de Santa Cruz, onde jazem os dois primeiros reis de Portugal, a Sé Velha, o mais perfeito exemplo da arquitectura românica em Portugal onde D. Sancho I foi coroado e onde D. Pedro jurou ter-se casado em segredo com D. Inês de Castro (uma das personagens históricas mais representativas da cidade), o convento de Santa Clara a Nova, onde repousa a Rainha Santa (padroeira e principal personagem histórica da cidade), e a Sé Nova, que faz parte do primeiro colégio criado pelos jesuítas em todo o mundo. Não sendo representada pela sua singularidade monumental, a cidade de Coimbra é sobretudo vista como uma cidade histórica que rememora, através dos seus monumentos, algumas das personagens, dos acontecimentos, das lendas e dos actos heróicos do país. Nesta dimensão histórica integra-se também um outro símbolo da cidade: o Portugal dos Pequenitos, que é um dos locais mais visitados em Coimbra. Um outro símbolo da cidade são os estudantes, e ainda que muitas ou todas as cidades tenham estudantes, Coimbra é, por excelência, a «Cidade dos estudantes», ou a «Cidade dos doutores». Uma das imagens mais distintivas de Coimbra foram, durante muito tempo, as capas e batinas. As gerações de estudantes universitários que se foram sucedendo construíram, com a sua irreverência, com a sua imaginação e com a sua centenária «Associação Académica de Coimbra», muitas das velhas e das novas imagens da cidade. Da praxe académica à Queima das Fitas, da Latada aos grupos musicais académicos, Coimbra inspirou muito significativamente aquilo que é o novo clima urbano e cultural de algumas cidades médias portuguesas. O ritmo da própria cidade está condicionado ao próprio calendário académico e à presença ou ausência de estudantes. Inclusive ao nível da oferta cultural, dos Festivais de Teatro Universitário aos Encontros de Fotografia, é ainda, como se pode constatar no Capítulo 2 deste volume, no seio da Academia que emergem novas dinâmicas urbanas. Particularmente aos estudantes, Coimbra deve a imagem de cidade contestatária e reivindicativa. Em 1943, Fernando Namora sublinhava que «a tradição de luta é uma constante na história moderna da Academia de Coimbra» (Namora, 1943). Nos anos 60, com a contestação ao regime salazarista, e nos anos 90, com a contestação à «Lei do Financiamento do Ensino Superior», essa imagem continua bem viva. Esta imagem de cidade contestatária tem um outro símbolo a que a cidade deve muito da sua projecção nacional e internacional, também ele nascido no seio da Academia. A «Académica», a «Briosa», que, no mundo lusófono, do Brasil a Cabo Verde, de Moçambique a Timor, inspirou muitos clubes de futebol, que vestem de negro e a quem, na gíria, se chama estudantes. A Académica que conquistou ao Benfica a primeira

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Taça de Portugal de futebol em 1939. A Académica dos «pardalitos do Mondego» que afrontava o poder quase hegemónico de Lisboa e que, em plena crise académica de 1969, numa final da Taça de Portugal de futebol, foi à capital dar um abanão no regime. Menos visível, mas identificadora da cidade, é a imagem que Coimbra dá de uma cidade dual e dividida. Dividida entre a Alta burguesa ligada à Academia, com a Universidade a ocupar o topo da colina e as «Repúblicas» a acentuarem o poder simbólico dominante, e a Baixa popular, ligada ao comércio e aos serviços. Dividida por outro símbolo da cidade, o Mondego, o «Bazófias», entre a margem direita e a margem esquerda, tantas vezes esquecida. Dividida socialmente entre «Doutores e Futricas» com consequências evidentes na cadência da cidade e na segregação dos seus espaços. Nessa dimensão mítica que caracteriza a cidade, Coimbra não é apenas uma cidade dividida, é uma cidade que divide, que é muitas vezes representada como uma «Cidade de passagem» em que se fica por uns anos até os estudos acabarem. Por isso, para impor a sua marca de cidade que divide, «Coimbra tem mais encanto na hora da despedida». [pp. 28-31 ]

10. Lembremos aqui, a título exemplificativo, Luís Góis, António Bernardo, António Portugal, Pinho Brojo, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Rui Pato, Manuel Alegre, José Niza, Luís Cília, Fernando Machado Soares, Edmundo Bettencourt. 11. Nelson Borges refere concretamente Luís de Camões, António Nobre, Sá de Miranda, José Régio, Bernardim Ribeiro, António Ferreira, Almeida Garrett, João de Deus, Soares dos Passos, Antero de Quental, Gonçalves Crespo, Teixeira de Pascoaes, Camilo Pessanha, Afonso Lopes Vieira, Eugénio de Castro, Afonso Duarte, Campos de Figueiredo, Manuel da Silva Gaio, Fausto Guedes Teixeira, António Homem de Melo, Alberto de Oliveira, José Freire de Serpa, Miguel Torga e Manuel Alegre. 12. Num CDROM editado pela Comissão de Coordenação da Região Centro defende-se que «a quase total ausência de indústria e a marcada predominância de comércio e serviços têm a sua origem na extensão da influência que a Universidade exerce sobre a vida da cidade» (CCRC, 1998).

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NORBERTO SANTOS Cidade: Espaço Social e Espaço Vivido in Território, Ambiente e Trajectórias de Desenvolvimento, Lucília Caetano (coord.) Centro de Estudos Geográficos, FLUC, Coimbra - 2003

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[pp. 33-37 ]

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JOSÉ JOAQUIM GOMES CANOTILHO “Coimbrinhas” e Coimbrões - Conversas na Quinta das Lágrimas 24 de abril de 2008

§§ 1º “Coimbrinhas” e Coimbrões O título desta minha fala é, como facilmente se intui, deliberadamente provocador. Pelo menos, sibilino e intrigante. Por uma questão de clareza, avancemos já com a desambiguação dos termos. “Coimbrinhas” são aqueles que nasceram e vivem em Coimbra. Mesmo quando aqui não residem, vivem os problemas de Coimbra. Amam Coimbra. Numa linguagem pedida às fontes medievais, dir-se-ia que transportam desde o primeiro vagido até ao último suspiro um incondicionado amore patria , ou seja, amore Coimbra . Amam tanto a sua cidade que correm o risco de a asfixiar. Muitos deles, amam a sua cidade e a sua Universidade. Quem diz Coimbra, diz Universidade. Os doutores de Coimbra mantêm-se fiéis à Alma Mater e à sua “Académica”. Os “Coimbrões” não nasceram em Coimbra. Anos e anos a fio vividos na cidade acabam, porém, por transformar a Lusa Atenas no grande espaço da vida de um homem ou de uma mulher. Mesmo quando estão longe - e com a maior parte deles isso acontece, pois o regaço da urbe é demasiado estreito para assegurar o pão a todos os seus filhos-biológicos ou adoptivos - respondem à chamada da alma mater . Este leve bosquejo, que outra coisa não é senão uma intuição subjectiva e existencial de quem vive aqui há precisamente meio século, nada diz sobre a alma coimbrã. (…) O ponto de partida é este: há hoje uma nova questão coimbrã. Não de “bom senso” e de “bom gosto” A nossa cidade do Mondego já não tem agitação intelectual nem poderio comunicativo para radicalizar protestos e propor reformas. Mas de que questão se trata afinal? Apenas esta: Coimbra anda à procura de si própria. É uma civitas permista , confundida nos seus desígnios, que continua peregrinando nos tempos antigos. Uma verdadeira civitas peregrina . Auxiliemo-la nesta procura. O seu imenso e incomparável património imaterial obriga-nos ao tom e o dom desta fala. (…) [p. 5]

§§ 2º “Coimbra cidade-museu”, “Coimbra cidade do conhecimento” (…) Coimbra corre o risco de não ser nem uma coisa (Coimbra cidade-museu) nem outra (Coimbra cidade do conhecimento), podendo ser as duas. Por outras palavras: Coimbra pode apresentar uma sequenciação significativa de elementos aptos a erigi-la em cidade com rico património museológico e em cidade com capacidade instalada de saberes

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indispensáveis à sua elevação a cidade de conhecimento. Esquecemo-nos, porém, de que no mundo das avaliações não são “cidades-museu” aquelas que dizem que são, mas apenas aquelas que conjugam o rico património acumulado no passado com os vetores culturais do presente. Mais grave ainda é o de proclamação em “cidade do conhecimento” quando lhe faltam atores, escalas, economia, redes e interações indispensáveis à estruturação de uma sociedade de inovação e conhecimento. Coimbra procura desesperadamente um arrimo qualificador. Para trás fica a “cidade- universitária”. Cidades com universidades há muitas. (…) Não consta que se arrogue o privilégio do ambiente só porque tem um “parque verde” no Mondego e tenha liderado batalhas perdidas contra a “co-incineração”. Não é, pois, “cidade ecológica”. Desconhecemos esforços concentrados para a converter num local intensamente digitalizado de forma a candidatar-se a “cidade-digital”! Há uns anos ainda vislumbrou uma réstia de esperança como “cidade de serviços”. A opção era errada pela incontornável ligação dos serviços à função pública e apenas a esta. A opção é hoje insustentável perante a pluricização dos centros regionais e a extinção de serviços tradicionais. A opção continuará a ser errada se os “serviços” transportarem a dicotomia entre “público” e “privado” ou entre “Estado” e “sociedade civil”. Há uns anos atrás, aproveitou também a construção de um novo hospital universitário, onde existem serviços de excelência, para imediatamente se proclamar “cidade da saúde”. Uma elementar suspensão reflexiva quanto aos vetores da saúde bastará para pedir mais serenidade aos arrebatados coimbrões. Este simples inventário não pretende ser um repertório de críticas à nossa cidade e aos seus atores. Pelo contrário. As incertezas quanto à política e ao governo de Coimbra só demonstram as dificuldades de transformações fundacionais no contexto de sistemas sociais complexos. [pp.6-7] (…) Se olharmos às críticas dirigidas a Coimbra, à sua universidade e às suas gentes facilmente verificamos que, em geral, elas enfatizam aquilo que poderemos chamar, na sequência de sugestões teóricas ultimamente avançadas, “capacidades” negativas. (…) Coimbra encontra-se, na verdade, na encruzilhada. Começa por não se saber que cidade é ou pretende ser. Nunca foi uma grande cidade e, hoje, no terreno global, está cada vez mais longe da fronteira da “cidade-global”. O sentido de uma cidade passa pela chamada produção de presença sem a qual é difícil falar de cidadania cívica, económica e cultural. A produção de presença obriga a cidade a procurar a escala de uma ajustada estratégia económica e de uma adequada e atempada dinâmica política. É, precisamente, a presença que Coimbra deve reivindicar. A nosso ver, o “complexo da falta de poder” e da falta de “coimbrinhas e coimbrões” nas mais altas instâncias de poder parece apontar para uma resignada impotência e assumida invisibilidade perante o poder central do Estado. E a própria cidadania coimbrã demora a posicionar-se auto- reflexivamente em face da transformação dos contextos micropolíticos, não obstante o esforço de alguns grupos e organizações (Conselho de Cidade, organismos culturais). Produção de presença como? A esta pergunta a nossa resposta será esta: afirmar-se como cidade museu e cidade de inovação, conhecimento segundo os padrões cosmopolitas e internacionais. Vejamos como:

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1) Coimbra – Cidade Museu (…) E poucas cidades terão como Coimbra a aptidão estratégica de cidade museu. (…) Mas a ambição não deverá ficar por aí. A nosso ver, o edifício da cadeia Penitenciária seria o local adequado para um museu de cultura e da língua portuguesa. Bem perto deste edifício o Convento de Santana – “O Quartel” – ali está à espera de outro acontecimento culturalmente estruturante (Nova Biblioteca Central). É claro que este desafio precisa ainda da passagem para a outra margem através do Jardim Botânico e do Parque Verde do Mondego, da Ponte Pedro e Inês. A outra margem do Convento de Santa Clara-a-Velha, de Santa Clara-a-Nova, do Convento de São Francisco. Mas há outro imperativo categórico-cultural: o Parque de Santa Cruz é o caminho para os Colégios Universitários da rua da Sofia. É bem de ver que a cidade Museu Património da Humanidade será obra de várias gerações. Se o caminho se faz caminhando é estimulante participar colectivamente no começo da marcha. Os passos poderão ser já adiantados: 1. Radicar definitivamente a candidatura Universidade de Coimbra – Património da Humanidade num grande projecto nacional que reclama a cumplicidade pública e inequívoca dos órgãos políticos nacionais. 2. Transformar o núcleo histórico Coimbrão no mais moderno expoente de economia cultural a nível do país. 3. Abrir decididamente este projecto à sociedade civil de forma a assegurar a sua própria sustentabilidade. [pp 8-10]

2) Coimbra: cidade do Conhecimento e da inovação (…) Mais difícil é erguer Coimbra a cidade do conhecimento e de inovação. Temos publicamente insistido na indispensabilidade de a Universidade de Coimbra e outros estabelecimentos de ensino superior apostarem no modelo de universidade de investigação. (…) Mas por que é que consideramos difícil lançar Coimbra na senda da Cidade do conhecimento e da inovação? O tópico de reflexão é o seguinte: Coimbra está ausente dos pólos da competitividade . [pp. 10-11] (…) §§ 3º O que é necessário: confiança na cidade No título anunciado na imprensa sobre esta nossa conversa insinuámos que Coimbra talvez seja hoje um lugar de desencanto. Creio que o sentido destas intervenções cívicas é precisamente o inverso. Na verdade, qualquer discussão, conversa, fala, debate sobre o Estado, a República, a cidade, deve partir de um pressuposto ou, se se preferir, de uma pré-condição: evitar e combater o discurso do “desencanto”, da “des-esperança”, do “nihilismo crítico”. Os “Coimbrinhas”, os “Coimbrões”, os cidadãos devem, sim, combater a crise de confiança, tal como acontece com outras crises (“crise do Estado”, “crise da Nação”, “crise dos partidos”). Verifica-se que a “crise de Coimbra” já faz parte de relatórios, de memórias, de propostas, de programas partidários, de teses sociológicas, de “manifestos” que, em geral, acabam nos arquivos. Ora, a aproximação à crise da cidade só tem interesse se tivermos em conta que a crise se reconduz

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basicamente à fractura existente entre os esquemas políticos, administrativos e económicos tradicionais do funcionamento das suas instituições e a dinâmica social, económica e cultural da sociedade. Precisamente por isso, peço-vos que me permitam fazer algumas propostas concretas, que, de resto, já começaram a ser divulgadas pelos órgãos de informação. 1. Ultrapassar debates doutrinais exclusivamente ideológicos A “questão coimbrã” deve ter em conta o senso comum do cidadão – contribuinte – cliente – utente – consumidor que vive neste território. Este cidadão não compreenderá, hoje, um debate exclusivamente ideológico que se reconduza a discursos antagónicos: (…) Um dos problemas de Coimbra é, por um lado, a sobrevivência do discurso estatalista-corporativista no sentido mais conservador e mais estatalizante. Ele está subjacente à ideia de uma “cidade de serviços” sustentada por uma “cidade de estudantes” e de funcionários públicos. O discurso liberal, esse não tem ainda sociedade civil e empresarial suficientemente robusta para lhe fornecer o húmus frutificador. Se queremos reabilitar a publicidade crítica e a própria política e os políticos parece claro que devemos compreender o reconhecimento de legitimações plurais na discussão e definição das linhas políticas (partidos, militantes, igrejas, organizações sindicais, associações empresariais, profissões liberais, organizações não governamentais, associações culturais). [pp.13-14] 2. Resolver a crise: a cidade precisa da cidade e da Universidade (estabelecimentos de ensino superior) (…) §§ 4º Coimbra uma “cidade de excelências” (…) Coimbra não precisa de adjectivos sedutores ou enganosos. Deve impor-se, sim, como cidade em que o tradicional Cluster – ensino superior – tem de ser excelente, mas também como cidade onde começam a despontar empresas globalmente certificadas como excelentes (Critical Software). Se o desafio é o da excelência esta distribui-se, espalha-se, entranha-se nas actividades plurais da urbe. A pergunta é então esta: o que é que, como cidadão desta cidade, estamos aqui a fazer há cinquenta anos? Tentamos contribuir para uma universidade com excelência no campo da justiça e do direito. O que é que se propõe neste campo? Em primeiro lugar, devemos salientar que Coimbra já tem instituições de excelência neste específico domínio. A Biblioteca da Faculdade de Direito foi considerada há alguns anos como a quinta melhor biblioteca jurídica no Mundo. [p. 16] (…) Aqui está o bordão do combate: história, capacidade instalada, serviços, empresas. O que faz falta: empenho, compromisso cívico, profissional e empresarial. Assim, haverá cosmopolitismo na Universidade, na cidade e na região. [p. 17]

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CARLOS FORTUNA e Conceição Abreu Coimbra, porque não uma cidade ousada? Diário de Coimbra, 9 de dezembro de 2011

Coimbra, porque não uma cidade ousada?

No passado, o futuro da cidade era promissor. Não se concretizou. Hoje, Coimbra não está a ser desafiada e está em lenta descaraterização. (…) o tempo ainda não é de calamidade, mas é de emergência, e Coimbra deve redesenhar o seu futuro, precisa de ser uma cidade ousada. O especialista em Cultura Urbana recomenda esforço com alguma ousadia e acrescenta a necessidade de uma cidadania participativa, mas também espírito de partilha e de negociação entre instituições. (…) Se assim não for, ficamos limitados a ações pontuais. (…) a sobrevivência de Coimbra passa pela sua capacidade de se superar, enquanto cidade e de superar as suas fronteiras. A imagem que hoje se recolhe é a de uma cidade que não está a ser desafiada, por efeitos económicos, políticos ou culturais. Denotam-se fragilidades que não são estimulantes. Depois, a cidade não atrai população, com exceção dos estudantes (que é uma população móvel), nem gera emprego. Acrescente-se que a sua imagem cultural é, desde há muito, marcada pela presença da universidade, porque este é o grande recurso e a grande valência cultural a cidade. (…) Coimbra precisa, essencialmente, de duas coisas, pelo menos. Precisa de ser uma cidade ousada, do ponto de vista cultural, mais dinâmica e mais criativa, com mais iniciativa, mas também precisa de deixar de fazer assentar o discurso na história, no passado. Em Coimbra, o passado ganha terreno ao presente e ao futuro, o que não acontece nas cidades dinâmicas e atrativas. (…) O que aqui se passa é uma lenta derrapagem da posição de Coimbra no panorama urbano e cultural do país. Uma derrapagem, que acompanha a recessão económica local, o exemplo que Coimbra guarda são as marcas de ruína e os vestígios de abandono de um passado industrial. Esta é também, de alguma forma, a falta de ambição de todas as instituições que aqui existem, mas não se pode responsabilizar a universidade por tudo. (…) para chegarmos a este destino ou fado, há responsáveis e os primeiros são os cidadãos, não se pode desculpabilizar o cidadão, ele é culpado por vários motivos,

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porque não participa, pelo individualismo, pela perda de entusiasmo, ou seja, porque abdicou de níveis de organização mais envolventes, mas também porque elege quem elege. Depois há um outro parceiro, para o bem e para o mal, que é a câmara. Até há pouco tempo a relação de sociabilidade entre a câmara e a universidade foi marcada pelo silêncio, não havia cooperação e estavam de costas voltadas. (…) Agora começam a dialogar, mas isso não chega, é preciso concretizar. O que define Coimbra, afinal, qual a sua identidade como cidade? É a Cidade Universitária, a Cidade do Conhecimento ou a Cidade da Saúde? Ou um pouco de tudo isto? É a cidade universitária por excelência deste país. Depois porque havia mais umas iniciativas também lhe chamaram Cidade do Conhecimento, mas também porque tem recursos de saúde com indicadores muito bons, criou-se o lobby da Cidade da Saúde. O que resulta daqui? Que Coimbra parece não saber o quer. (…) para estas designações serem legítimas elas têm de ter o acordo da cidade no seu todo. A designação, a identidade de uma cidade para ser legítima e eficaz tem de ter o acordo da cidade no seu todo. A designação da cidade, a identidade de uma cidade, para ser legítima e eficaz tem de ter um consenso da cidade muitíssimo alargado e estas coisas têm de ser postas à discussão, caso contrário, há indiferença ou, no limite, contestação. Esta não é a melhor maneira da cidade se afirmar. Coimbra é o quê então? Como se carateriza? É uma cidade em derrapagem. Historicamente, foi uma cidade muito importante, foi a primeira capital do país. Contudo, as cidades não desaparecem de um dia para o outro, não morrem facilmente, mas esta é uma fase descendente da sua glória. Precisa de ser agitada. Se não fizermos nada nos próximos 20 anos, Coimbra vai consumar o seu lento deslizar a caminho do abismo. As condições são adversas.

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JOÃO FIGUEIRA Quem trata da excelência de Coimbra? Diário de Coimbra, 27 de março de 2012

“(…) Coimbra assume uma polaridade criativa que importa realçar e que não pode passar desapercebida.(…) Parece que, subitamente, descortinamos uma cidade que mal conhecemos e que, ao contrário do que tantas vezes se diz, possui um capital humano ímpar e instituições de reconhecida qualidade e prestígio internacional. Os próprios ficam, também, surpreendidos quando sabem o que outros cidadãos e entidades fizeram e conquistaram. Há nesta falta de comunicação e de conhecimento recíproco sobre o que de melhor esta cidade faz, pensa e produz um imenso vazio que importa colmatar, em benefício coletivo e na afirmação de Coimbra como centro de excelência e na melhoria da nossa autoestima. Quantas cidades europeias, numa semana, num mês ou num ano podem exibir a diversidade criativa e de investigação de sucessos e de ponta que aqui existe? É tempo de Coimbra desejar ser ambiciosa e cosmopolita, deixar de lado as pequenas questões que nada acrescentam; definir uma estratégia integrada de desenvolvimento alheia aos compromissos partidários que só nos enfraquece enquanto comunidade; gostar de manter os mais competentes e insatisfeitos, mesmo quando são eles os que mais nos interpelam e desafiam. É tempo de Coimbra olhar para o seu todo e ter uma visão estratégica de conjunto, numa perspetiva de reforço e de afirmação da sua imagem de marca, distinguindo as iniciativas que não passam de epifenómenos das que são verdadeiramente consistentes, diferenciadoras, arrojadas. E ser capaz de dar uma expressão pública coerente e consistente das múltiplas dinâmicas que aqui nascem e crescem – hoje muitas delas de forma anónima para boa parte da cidade. No fundo, é preciso pensar e tratar as múltiplas realidades como um todo, juntando ideias e aglutinando vontades, para que deixe de fazer sentido perguntar quem é que trata da divulgação da excelência de Coimbra?”

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PEDRO MACHADO Tem de existir uma política de eventos em Coimbra Diário de Coimbra, 27 de setembro de 2011

P- A Turismo do Centro preparou algumas iniciativas para comemorar o Dia Mundial do Turismo um pouco por toda a zona Centro. Porquê estas comemorações mais alargadas? R- Programamos as comemorações desta forma porque a Turismo do Centro de Portugal, assumindo um território tão vasto, entende que as comemorações não podiam ficar apenas circunscritas a uma cidade ou a uma parte da região. Queremos aumentar gradualmente a visibilidade da marca Centro e para isso temos de ter uma preocupação com o território, que é muito mais do que as marcas ou os produtos. No fundo, queremos reforçar o destino. (…) P- O novo Centro de Congressos, no Convento de São Francisco, poderá ser uma forma de puxar para Coimbra essa franja de turistas? R- O Centro de Congressos vem preencher uma das alternativas que Coimbra tem pela frente e que é o seu grande desafio. Coimbra pode muito bem ser a cidade do “meeting industry”, isto é, com a capacidade instalada que tem, quer em educação, saúde ou novas tecnologias, pode ser a cidade âncora para a organização de congressos, seminários e workshops durante o ano inteiro e tornar-se numa referência mundial. A cidade tem especialistas de nome mundial, tem empresas como a Critical Software que trabalham com o mundo inteiro, e mesmo assim ainda não fomos capazes de tirar partido disso. Em termos de acessibilidade, por exemplo, Coimbra não tem aeroporto, mas tem ferrovia e está a duas horas de Lisboa, a uma hora do Porto e a três horas de Salamanca, o que significa que tem um posicionamento estratégico privilegiado. Existem hoje condições melhores do que existiam há alguns anos atrás. (…) Coimbra pode oferecer aos visitantes um produto complementar de património, história, sol e mar, desenvolvendo o conceito do touring. (…) Mas é preciso trabalhar esta matéria neste sentido e essa é provavelmente uma das peças que julgo que não ficou resolvida com a não adesão de Coimbra à Turismo Centro de Portugal. (…) P- Em Coimbra, mais concretamente, existe a dificuldade de fazer com que turistas fiquem mais do que uma noite e meia. O que falta ainda a esta cidade para atrair mais visitantes durante mais tempo?

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R- (…) Em primeiro lugar falta uma campanha consistente de promoção da marca Coimbra, ou seja, temos tido alguns eventos que posicionaram Coimbra, como os concertos do U2, que foram espetáculos de âmbito mundial. Esse evento posicionou bem a cidade, mas não podemos ter depois 10 meses sem nenhum evento. Não precisam de ser eventos com a mesma dimensão, mas tem de existir uma política de eventos que faça com que, ao longo do ano, se canalizem para a cidade eventos com caráter e notoriedade pelo menos nacional, e se possível internacional. Isso tem de ser feito com consistência e a par dessa estratégia tem de haver um plano de branding, um plano de marketing que não fique confinado a algumas aparições em pequenas feiras regionais ou a uma feira nacional. Existe uma vontade e um reconhecimento de que Coimbra precisa de se juntar a esse plano de animação permanente, com uma campanha forte de presença física de mercado interno, mas principalmente nos mercados externos e no mercado brasileiro em particular. Em terceiro lugar é preciso que a cidade evolua no sentido de se tornar mais acolhedora para os turistas, em questões tão simples e práticas como o arranjo dos espaços verdes, a sinalética, a iluminação e o mobiliário urbano. Notamos isso quando falamos com os hoteleiros. Os turista apontam que, em alguma franjas da cidade, ou são demasiado escuras ou estão pouco preparadas para receber turistas. Entendemos que este é um esforço que a autarquia deve fazer, no sentido de criar condições para que a cidade seja mais apelativa e agradável para passeio noturnos e diurnos.

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JOSÉ MIGUEL JÚDICE A diferença que Coimbra faz Diário de Coimbra 6 de janeiro de 2012

P- (…) Como carateriza a cidade de Coimbra? R- Coimbra é uma cidade muito melhor do que pensa e talvez pior do que diz. As pessoas de Coimbra são muito negativas e críticas em relação à própria cidade e não têm razão. Depois, como é natural, reagem dando uma imagem se calhar excessiva. Coimbra tem uma história fortíssima que é muito importante, repare que nenhuma universidade recente pode ter uma biblioteca como a da Universidade de Coimbra, por exemplo. P- Coimbra não vive demais nessa história, nesse passado e esquece o futuro? Não. Durante muito tempo, Coimbra viveu dos galões, dos privilégios e deixou avançar as outras cidades. (…) o que está a acontecer em Coimbra é uma coisa magnífica. Confrontada pelos desafios, está a reagir e está a construir o futuro todos os dias. A Universidade está a responder aos novos desafios. Coimbra aprendeu com o passado recente. P- Coimbra é, essencialmente, uma cidade universitária? R- Não é só. A sombra da Torre foi uma das coisas que fez muito mal à cidade. (…) Coimbra tornou-se apenas numa cidade universitária e não há nenhuma cidade do século XXI que sobreviva assim. Depois quando fecha uma fábrica em Coimbra, dizem logo que a indústria de Coimbra acabou, continuam com aquela ideia de que Coimbra é aquele bocadinho à volta da Portagem e isso faz mal à cidade. Coimbra no sentido de território, começa na Figueira da Foz, passa por Soure, Lousã, Penacova e dá a volta pelo Bussaco, até à Mealhada e Cantanhede. Coimbra perdeu esse saber pensar grande, pensa pequenino e para dentro. A ideia de ser uma capital regional não entusiasma Coimbra. P- Mas a região também tem de aceitar e Coimbra tem de fazer boa vizinhança, não? R- (…) Coimbra tem condições ímpares, pela qualidade de vida muito superior à média do país, pelas zonas verdes, as áreas envolventes, a praia e montanha, pela densidade intelectual que aqui existe, pela centralidade do país. Coimbra deve aproveitar tudo isso. Não pode ser só uma cidade universitária (…)

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P- O que falta para valorizar o empresário de Coimbra? R- (…) falta essencialmente uma burguesia orgulhosa de si própria que olhe para o empresário como algo importante. Mas, repare, nenhum partido se dá ao luxo de convidar para presidente da Assembleia Municipal alguém que não seja professor universitário, é um problema cultural. Não temos aqui uma burguesia forte que a cidade valorize. P- Coimbra espelha o que é o resto do país ou é diferente? R- É minha convicção que, em termos de densidade intelectual, Coimbra é o centro. Coimbra tem uma qualidade potencial maior do que qualquer outra cidade do país. Outras cidades cresceram imenso e Coimbra ficou parada, não percebeu que estava a perder a batalha da modernidade. Agora está a recuperar e não tenho dúvidas que, com as potencialidades que a cidade tem, quando reagir vai ultrapassar todas as outras. Não sou pessimista quanto ao futuro, Coimbra tem todas as potencialidades para ser uma grande cidade. “ (…)

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BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS Coimbra não soube reagir à marginalização DIÁRIO AS BEIRAS, 20 de novembro de 2010

(…) P- Quais são os grandes desafios que se colocam à UC, em Portugal e no mundo, particularmente nos países de língua portuguesa? R- (…) Temos de valorizar tudo o que temos, que é muito, em termos de capacidade científica instalada; temos de acarinhar as práticas científicas e os centros de investigação que nos prestigiam no mundo; temos de superar a estúpida rivalidade entre a universidade e a cidade e fazer de Coimbra a cidade do mundo que mais investe na sua universidade e, do mesmo passo, fazer da Universidade de Coimbra a universidade do mundo que mais recursos traz para a cidade onde está sediada. Unidas, Coimbra e a Universidade podem aspirar a alguma presença mundial. Separadas, estão condenadas ambas à mediocridade provinciana. (…) P- Encontra uma relação de causa-efeito entre esse esvaziamento de participação cívica e a acentuada perda de relevo de Coimbra – cidade e comunidades académica, política, cultural, no contexto nacional? R- Tal como aconteceu com a universidade, o 25 de abril foi uma oportunidade perdida pela cidade. A cidade continuou a esperar que o governo nacional trabalhasse para ela, tal como acontecera na ditadura. Nem sequer reparou que a cumplicidade da cidade (e da universidade) com o regime de Salazar tinha criado uma certa animosidade nacional contra a cidade. Ao longo dos anos foi-se dando conta da marginalização e do desinvestimento e não soube reagir. Paralelamente, à medida que os anos passaram, a presença nos governos de políticos oriundos de Coimbra foi rareando e a influência mediática dos professores de Coimbra foi desperecendo. Na cidade tudo passou a durar décadas para ser conseguido, de espaços para congressos a metros urbanos e suburbanos. (…) P- Coimbra –cidade da cultura, do conhecimento, da inovação, diz-se- , parece ainda não ter assumido um caminho. Que caminho defende para a sua cidade no século XXI? R- Autarcas inovadores, serviços tecnicamente competentes e não corruptos, a opção estratégica por uma cidade universidade, centrada na qualidade de vida, nos espaços

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verdes e pedonais, na harmonia visual das paisagens urbanas, na revitalização do centro histórico e do comércio urbano que transporta a memória da cidade, nos transportes públicos de qualidade. Uma cidade que sabe aliar atividades de promoção científica às artísticas e musicais, à valorização da gastronomia tanto do centro como do espaço da lusofonia. Uma cidade que não figure nos manuais como um exemplo de más práticas, onde não é possível o absurdo urbano dos Jardins do Mondego. (…)”

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SETH KUGEL A Portuguese University Town, Both Familiar and Foreign Frugal Traveler, Seeing the World on a Budget The New York Times, January 3, 2012

A Portuguese University Town, Both Familiar and Foreign Visiting a college town can sure bring back memories: dorm living, late night studying, partying to excess, roaming the campus dressed like vampires. The vampire apparel may be less familiar if you didn't attend the University of Coimbra, founded in 1290 -- making it one of the world's oldest continually operating universities -- and still one of Portugal's most prestigious schools. Through the centuries the university developed a set of customs and traditions collectively known as "praxe," which among other things governs the use of the official university uniform that consists in part of a black cape, giving students a strikingly vampiric appearance. At least that was my delighted take during my three-day visit to Coimbra (pronounced ko-EEM-bra) in December. Some sang drunkenly on their way home from Christmas gatherings; two approached me to ask for a 1 euro (about $1.30) donation to help pay for floats for the Queima das Fitas, the May festival that is the city's main tourist draw. (I donated, in exchange for their posing for a picture with me.) None, happily, tried to drink my blood. Coimbra, which is in central Portugal, is an easy place to get to and a cheap place to stay. I spent 12 euros for the hour-and-a-half bus ride from Porto in the north (the trip from is only a bit longer and more expensive) and paid 30 euros a night for a room at the Flor de Coimbra Guesthouse, housed in a 200-year-old building that will please those who like rotary phones, creaky floors and friendly family ownership enough to tolerate dim lighting, lumpy mattresses and cranky bathroom fixtures. Flor de Coimbra, like most of the city's guesthouses and hotels, is in the Baixa, the downtown neighborhood down an exhausting but walkable hill from the Alta, where the campus sits. (For those not up for the walk, an connects the lower part of town with the upper for the price of city bus ride -- three trips for 2.20 euros) Both areas are graced with narrow, winding streets, though the Alta is mostly taken up by university buildings and graffiticovered student housing, whereas the Baixa is loaded with shops, restaurants and other commercial activity. Ancient churches, picturesque plazas and the nearly total lack of international chain stores can make both areas feel like the 1950s -- or the 1590s.

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The centerpiece of the campus area is the Paço das Escolas, a former Portuguese royal palace, repurposed centuries ago as university space. (Coimbra was the capital of Portugal for much of the 12th and 13th centuries.) The U-shaped building includes the university's main chapel, the law school, and traditional ceremonial rooms like the elegant Hall of Doctors, the former royal bedroom where doctoral degrees are now granted. Much of it is open to the public, but even so I felt like a bit of a spy, peering into classrooms lined with ancient wooden desks, chatting with law students smoking on arcaded balconies, climbing up stairwells whose landings gave successively more impressive views of the city below. Centuries-old azulejos (Iberian blue-and-white- glazed tiles) decorated many walls, while just-posted fliers advertising poetry slams and dance lessons covered others. Visiting some of the spaces requires a ticket (7 euros), at least in theory. But I found that out only after I had visited the Hall of Doctors -- there was no guard or ticket taker -- and was stopped trying to enter the chapel. Aghast at my earlier transgression, I immediately went back and paid for my ticket. Just kidding! I went the frugal, if ethically dicey, route of skipping the ticket. And since the chapel was holding a free Christmas concert that night, I knew I'd see it , if not the library, which is apparently stunning. The a cappella Christmas hymns sung by students that night were lovely, but the true music of Coimbra is fado, the melancholy music whose local version differs significantly from the better-known Lisbon style. In Coimbra, the singers are traditionally male; they often perform in duos or in groups and use a slightly different guitar, among other distinctions. I had been told that Queima das Fitas, the May festival, was the best time to take in local fado. But there are several spots that function as performance venues year-round. Of the ones I sampled, the best was also free: the no-cover Café Santa Cruz, in Baixa, housed since 1923 under the vaulted ceilings that used to be part of the adjacent 16th- century church and monastery. On the Thursday I went, the sparse audience was made up mostly of elderly couples sitting at rapt attention; the singers were two older gentlemen, former university students, with the caped outfits to prove it: Florentino Silva, a gentle 78-year-old, and Mário Gomes Pais, an impish-looking 56-year-old with a pointed chin, salt-and-pepper goatee and booming voice. Their voices echoed hauntingly off the cafe's high ceilings. A Brazilian couple at the table next to me, who had lived in Coimbra when the husband was doing a master's degree years before, sang along. I was surprised at first to encounter a Brazilian who had studied in Coimbra. But I soon learned that Brazilians were everywhere, as were students and residents who hailed from other former Portuguese colonies, from Angola to Macao. When I spotted two seemingly African students, I faked needing directions to an art exhibit, hoping to find out where they were from. The fascinating answer: Guinea-Bissau, the tiny West African nation that won independence from Portugal in 1974. With Portugal's economy crumbling, there was a poignancy in experiencing the vestiges of its once vast empire through these fellow visitors.

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The student population may be international, but most of the restaurants in town are pure Portuguese. On my first day, I strolled along Rua das Azeiteiras, a pedestrian-only street in the Baixa that is loaded with restaurants. I activated my frugal sixth sense, analyzing the lunch menus posted outside and the crowds within, hoping to deduce which one had the finest meal for the least money. I settled on A Cozinha, a cozy-looking place offering a 6 euro item called "secretos do porco preto com ananás," which I translated as "secrets of black pork with pineapple." Ah, what a story I could tell about such a cheap, wacky-sounding entree! Unfortunately, my frugal sixth sense (if it exists at all) failed miserably, and my Portuguese (which is normally solid) followed suit. "Secretos" turned out to be a cut of meat, and "porco preto" referred to a breed -- the Iberian black pig. Still promising ... but they were out of the dish. I was stuck with a dull fish fillet. Hoping to supplement my meal with some freebies, I dug into the chunks of hearty Portuguese bread and devoured a small wheel of cheese and some olives. What a great country, I thought: not only was the bread complimentary, but so were cheese and olives! Then the check came. I had been charged for everything: 1.25 euros for the bread, 3 for the cheese, even a euro for the two or three olives I had eaten. Final tally: a whopping 15.25 euros (about $19.75). A self-inflicted frugal failure: it turns out this is how things are done in Portugal. I would later have some lovely meals, like the chanfana (goat stewed in red wine sauce; 7.50 euros) at Democrática, a sometimes rowdy student hangout. But it was at a bakery called Pastelaria Arco-Iris that I had my best drawn-out meal on a rainy day: fresh- squeezed orange juice, bread, a Portuguese chicken soup called canja, an espresso and flavorful pastries like filhoses de abóbora (squash fritters dusted with sugar). The final check was under 8 euros. The real winner of the trip, though, was a cultural spot: the Museo Académico, a pay- what you will museum dedicated to the university itself, hidden on the second floor of an enormous academic building on Rua dos Estudos. When I walked in, a gray-haired man named António Dias leaped from his seat at the front desk. "How much time do you have?" he asked. I said I had plenty. "Good," he said. The bespectacled, multilingual Mr. Dias proceeded to give me a wonderful tour-for-one, recounting the history of the university and peppering me with questions to keep me on my toes. He pointed out pictures of how the vampire capes – er, traditional uniforms – had changed over the centuries, and showed me Coimbra fado guitars, semitorturous hazing tools used within the praxe system, and a ceramic wine vessel disguised as a book and labeled "Enciclopédia Vinícola." I might never fully understand the capes, but music, hazing and hidden drinking - these were university themes that were all too familiar.

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De Rerum Natura – A Natureza das Coisas Blog de Carlos Fiolhais [e outros]

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Entrevista de Carlos Fiolhais sobre Coimbra Quarta-feira, 30 de Maio de 2012

Transcrevo, ligeiramente encurtada, uma entrevista que dei a 24 de Março de 2011, na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a Nádia Costa, estudante de Design Gráfico que acaba de concluir o seu Mestrado com um belo livro sobre Coimbra:

P- O que é para si Coimbra? R- Coimbra é o sítio onde vivo, é uma cidade agradável para viver. Não é muito grande, não é muito pequena, tem o tamanho certo. Coimbra começa por ser, para mim e para muita gente, a Universidade. A colina principal está coroada pela Universidade. Uma inscrição em latim, por cima da porta da Biblioteca Joanina diz: “Esta Biblioteca coroa a fronte da cidad e”. Coimbra tem portanto, no seu sítio mais alto (outras cidades têm um castelo, Coimbra já teve), a Universidade, com a Joanina e a Torre como marcas distintivas. Uma pessoa vem de longe e vê o casario com a Joanina e a Torre. Coimbra não é a cidade onde nasci, pois nasci em Lisboa, na Maternidade Alfredo da Costa, uma verdadeira “fábrica de portugueses”. Mas, com sete anos, vim para Coimbra acompanhando os meus pais. Não me perguntaram, mas acho que fizeram bem. Estudei aqui na escola primária, no liceu e na universidade. Depois estive na Alemanha quase quatro anos, e depois também nos Estados Unidos, um ano. Fora isso tenho meio século de Coimbra. Coimbra é bem mais antiga, mas comigo tem meio século. É uma cidade que, de certo modo, representa o país. O país é agradável para viver, tal como a cidade, apesar dos problemas que encontramos. Encontramo-los no país e encontramo-los aqui. Coimbra é uma espécie de “Portugal em pequenino”; tem o melhor e o pior de Portugal. A Universidade é, de certo, uma das coisas muito boas da cidade. Há sítios da universidade que são de excelência até a nível, não apenas nacional mas também internacional. Mas não é preciso sair da cidade, para encontrar ilhas de pobreza. O nosso país é, infelizmente, assim, um país de grandes contrastes.

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Encontramos aqui alguns edifícios muito bem recuperados, como a Torre, que está bonita, e encontramos edifícios a cair aos bocados. Portugal é assim: capaz do melhor e do pior, os dois ao lado um do outro. Em Coimbra existem monumentos bem conservados, como por exemplo, além da Torre, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, mas também há outros mal conservados, por exemplo Santa Clara-a-Nova. A Santa aqui está ao contrário, a Velha está Nova e a Nova está Velha... Em Coimbra há o Museu da Ciência, que já ganhou um prémio europeu, mas há também, quase ao pé, o Museu Académico, que está fechado ou quase. Coimbra tem o Jardim Botânico, um sitio excelente, mas muito perto tem o Parque de Santa Cruz, ao abandono. Coimbra tem partes de médico e partes de monstro… Por falar de medicina, Coimbra é um sítio avançado na saúde, área em que oferece serviços de primeira qualidade, mas é também um sítio onde, por vezes, queremos tirar um simples radiografia e demoramos horas. Coimbra é capaz do melhor e do pior, tal como o país. P- Coimbra é então o reflexo do país? R- Sim. Aliás, já foi capital do país quando os cristãos vieram do norte para o sul. O actual Paço das Escolas, na primeira dinastia, foi a casa de vários reis. Há uma centralidade de Coimbra que é histórica, para além de geográfica. Coimbra é, de algum modo, o centro do centro. Nem é litoral, nem interior. Nem é planície, nem é montanha. Situa-se onde acaba a planície e começa a montanha. Em meia hora podemos estar na praia ou na serra. É curioso que do ponto de vista da paisagem natural haja em Portugal grande variedade e Coimbra proporcione imediatamente essa variedade. P- Pode dar exemplos dos problemas da cidade? R- Falei da centralidade da Universidade. Mas esta, por vezes, e nem sempre a culpa é dela, actualmente até pouca culpa é dela, tem-se ligado mal com a cidade. Sempre houve esta separação entre os doutores e os futricas. Uma das coisas que sempre me impressionou é que uma pessoa, mal fique licenciada, ou mesmo antes, já seja chamada de doutora. Esta estratificação social é nítida em Coimbra e conduz a uma separação até do ponto de vista futebolístico. A Académica é a equipa dos doutores, embora agora já não tanto, e o União de Coimbra é a equipa dos futricas. Coimbra só poderia melhorar se se entrosasse mais, se conseguisse esbater os contrastes sociais. Por outras palavras, temos um presidente da câmara, que toma em princípio conta da cidade, e temos um reitor, que gere uma cidade à parte. O reitor governa uma mini-cidade de muitos professores, funcionários e, sobretudo, estudantes, ao todo cerca de 23.000 pessoas numa cidade de 100.000 habitantes. Um quarto da cidade está na Universidade. A capacidade que a Universidade tem de mobilização de pessoas de fora, principalmente de jovens, devia ser uma força transformadora, criativa, da cidade, mas isso não se nota muito. As cidades actuais transformam-se não tanto por construir por fazer um prédio mais alto mas por serem capazes de mostrar ambição no domínio cultural, de exibirem a sua diferença no plano cultural. Por serem diferentes são sítios onde apetece ir. A A1 tem uma placa que diz “cidade do conhecimento”. É melhor que “cidade museu”, como estava antes, mas acho que talvez devesse dizer “cidade da ciência e da cultura”. Era por aí que Coimbra devia marcar a diferença.

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P- E não marca? R- Sim, há coisas em que marca. Temos aqui, por exemplo, um centro de neurociências e biologia celular: temos uma incubadora de empresas ligada à universidade, o Instituto Pedro Nunes, que é uma das melhores a nível mundial; temos empresas ligadas ao software, absolutamente extraordinárias como a Critical Software; temos um supercomputador, a "Milipeia", que é o maior do país; temos uma série de coisas muito boas na ciência. Naquilo que depende mais da Universidade, como a ciência, vemos um certo avanço. Na cultura, área em que deveria haver um caminhar conjunto entre a Universidade e a cidade, a ligação não se vê. A capacidade de transformação que os estudantes têm, a criatividade que neles reside, não são aproveitadas da melhor maneira. Há várias iniciativas até, mas não há uma “movida cultural” em Coimbra. E a responsabilidade é muito mais da cidade, que está encolhida, sem projecto cultural, do que da Universidade, que tem crescido nesta área. A Universidade, apesar de tudo, ainda é o sítio onde se vão fazendo coisas bastante interessantes. Na Associação Académica há grupos que promovem as mais variadas actividades culturais, um trabalho que acaba por não ter a caixa de ressonância que devia ser a cidade. Vemos grupos de teatro com pequenos públicos, que não conseguem fazer coisas que chamem pessoas de fora; há bons espectáculos que não têm, porém, a dimensão e o impacto para trazer gente de fora. Coimbra devia ser bastante mais exigente para consigo no domínio da cultura. P- Pode dar-me exemplos de problemas da cidade? R- O Estádio Municipal de Coimbra é um verdadeiro monstro. A câmara municipal está endividada até ao pescoço por ter feito uma aposta completamente errada no estádio. E os responsáveis não são punidos pela opinião pública. Parece que toda a gente acha bem que se tenha feito um estádio de 30.000 pessoas onde só vão 3000, se forem. Isso devia ter uma solução. Estamos todos a pagar uma coisa que não serve praticamente para nada. Qualquer solução seria melhor do que manter aquele OVNI, uma estrutura gigante que pousou naquele sítio da cidade e que não há meio de levantar voo e ir para o sítio extraterrestre de onde veio. É feiíssimo, desfigurou a maior praça da cidade em favor de um centro comercial. Um outro caso é a penitenciária de Coimbra. Tem mais de cem anos e as condições são absolutamente desumanas. Hoje em dia, as prisões não se fazem no meio das cidades. São necessárias, mas não no meio de uma zona verde, entre o Parque de Santa Cruz e o Jardim Botânico. Se aquela prisão desaparecesse, o que é muito fácil, tínhamos ali um parque verde excelente. Uma parte do edifício podia-se até aproveitar. Eu propus que se fizesse uma Casa do Conhecimento. Mas só vejo pequena política. Nunca se poderá mudar aquilo se não houver uma ideia e uma vontade política forte. E estes são apenas dois exemplos, o estádio e a penitenciária, de cancros da cidade. P- Coimbra tem cancros? R- Sim, eu nunca fui à penitenciária, até porque nunca fui preso, e não vou ao estádio, para não contribuir para o desatino, mas os dois estão à vista de todos. Por outro lado, a construção do Centro Comercial Fórum é inenarrável. Há uma torre que macaqueia a torre da universidade. É um sítio que podia jogar com a paisagem da margem esquerda

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de Coimbra, mas que a destruiu. Outro sítio que não está bem é a Rua da Sofia, que já foi uma rua nobre. Estão aí algumas igrejas e colégios do tempo em que D. João III trouxe a Universidade para Coimbra, mas está tudo semi-abandonado. O trânsito não faz sentido, a rua devia ser entregue aos peões. A Baixa tem um casario algo decrépito, agravado agora por terem feito um buraco para o metro passar e não se saber se o metro vai ou não passar por esse buraco. Provavelmente, com a crise, não haverá metro nenhum e, portanto, ficará o buraco. A Alta também tem prédios que estão a cair e dever-se-ia actuar. Bem sei que é mais fácil de dizer do que de fazer, mas as cidades históricas têm de cuidar do seu património. Oxalá a candidatura à UNESCO proporcione uma transformação. Já começou a haver na Universidade. Mas, lá está, a separação entre Universidade e cidade: falta o resto. A cidade praticamente não entrou na candidatura. A Sé Velha não deveria também ser parte do património mundial? P- O que se podia fazer na Baixa? R- Se for a uma praça chamada do Arnado, não encontra a dita Praça, mas sim um bloco preto com o tamanho da praça. Isso visto da Torre parece inacreditável. Nunca foi demolido, não sei porquê. Pode-se dizer: foi no tempo do PREC que deixaram construir aquilo. Pois foi, mas uma coisa que deixaram fazer agora, e não há PREC nenhum, foi as Torres do Mondego, que estragaram o postal ilustrado que era a vista de Coimbra de Santa Clara. Faz sombra sobre o pavilhão de Hannover do Siza Vieira e do Souto Moura. As obras estão embargadas, mas o Parque Verde, que foi bem recuperado, com uma ponte pedonal emblemática, está ensombrado por aquela mini-Manhattan, entalada entre uma via-férrea e um rio. O objectivo é o lucro e não a qualidade de vida. Outro cancro! A Estação Velha não tem ponta por onde se lhe pegue. Qualquer cidade tem uma estação de comboios melhor do que aquela. Passa-se por cima da linha, o estacionamento é inapropriado, as bichas de táxi são inefáveis. Isso é uma coisa que está tal e qual como no século XIX, parece um museu ferroviário. Em equipamentos públicos, Coimbra parece não saber que uma cidade tem de ter uma estação ferroviária, um tribunal, etc. P- E a Alta? R- O Estado Novo fez algo muito criticável. As obras na Alta arrasaram uma cidade medieval, para fazerem prédios mussolínicos. Enfim, está feito, está feito, mas se me tivessem perguntado teria recomendado algo um bocadinho diferente. Das reconstruções recentes, a do Museu da Ciência está muito bem feita. Temos coisas pelas quais vale a pena vir a Coimbra, e que deveríamos publicitar mais. À Biblioteca Joanina vem muita gente, mas pode vir mais. Podemos projectar o Museu da Ciência e a Biblioteca Joanina ainda mais, reforçando o circuito turístico. A cidade sempre foi uma cidade de ciência e sempre foi uma cidade do livro, de editores, autores, livrarias e bibliotecas. O Museu Nacional Machado de Castro, ao lado, está fechado há demasiado tempo. Deveria também ser mais ligado ao resto. O potencial que aqui existe é incrível. Perto do rio, Santa Clara-a-Velha e a Quinta das Lágrimas são dois dos bons sítios de Coimbra.

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P- Coimbra pode ser considerada uma cidade de lutas? R- Sim. Coimbra tem alguma tradição nesse aspecto. A juventude que habita a universidade é irreverente, lutadora. A Geração de 70 quis mudar o país sem o ter conseguido: Antero Quental, Eça de Queirós, etc. Mas mais tarde, chamaram-se “Vencidos da Vida ”. Queriam tornar Portugal mais europeu, na altura o modelo era França, iam à Estação Velha buscar caixotes de livros franceses. Depois veio a República e a Universidade levou uma reforma grande, passou a ter concorrência. Acabou a Faculdade de Teologia e criou-se a de Letras. Alguns dos políticos da 1.ª República foram professores aqui. No Estado Novo, Coimbra esteve muito ligada a figuras do regime. Salazar foi aqui professor e Coimbra ficou com essa marca. Mas houve, em 1969, uma revolta estudantil que, de facto, foi premonitória do 25 de Abril que ocorreu cinco anos depois. O 25 de Abril também passou por aqui, como é evidente. Eu lembro-me bem disso, pois era estudante na altura. Hoje em dia, os movimentos estudantis não me parecem nem grandes nem ambiciosos. Os estudantes teriam porventura mais razões para se revoltarem do que julgam. A chamada Geração à Rasca, expressando descontentamento por causa do trabalho precário e do desemprego, fez grandes manifestações em Lisboa e Porto, mas em Coimbra quase não houve nada. P- Os estudantes, hoje em dia, não estão a actuar como seria de esperar? R- Os estudantes de Coimbra têm uma coisa muito boa: estarem reunidos na Associação Académica, que representa todos os estudantes, e que é a maior do país e uma das mais antigas do mundo. Acho que, se a Associação Académica quisesse, muita coisa poderia mudar, até ao nível do funcionamento da universidade e da cidade, coisas concretas que têm a ver com a vida dos estudantes. Mas parece que muitos se preocupam mais com o fado e a festa. P- Vê Coimbra a cores ou a preto e branco? R- Há zonas a preto e branco e outras a cores. Tem sítios a preto e branco, que é preciso colorir. E tem sítios a cores onde é preciso não borrar a pintura. Há a hipótese de fazer um excelente quadro. A localização, o tamanho, os meios, por exemplo, bibliotecas, laboratórios, de serviços, etc. são magníficos. O objectivo de Coimbra poderia ser emular Cambridge, uma cidade tranquila para estudar, mas também um sítio de grande progresso. Cambridge é um sítio efervescente, com indústria de software, biotecnologia, coisas que Coimbra já começou a ter. Eu sou optimista e estou em crer que o quadro, daqui por uns tempos, vai melhorar, o país todo vai melhorar. Não me preocupa tanto o que falta fazer, preocupa-me, isso sim, não haver planos para fazer. O bloqueio da vontade é o pior dos bloqueios. Mas tem bom remédio......

Coimbra e o futuro Sábado, 23 de Abril de 2011 Quem, vindo de Lisboa e saído da auto-estrada em Condeixa, avista o casario de bilhete postal, coroado pela Torre da Universidade de Coimbra e pela Biblioteca Joanina, não pode deixar de pensar que está a chegar a uma bela cidade.

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E está. Na cidade há património bem recuperado, como a Torre da Universidade, que está exemplarmente restaurada, ou o Laboratório Chimico, que serve de sede ao Museu da Ciência. Mas há também casas a cair aos bocados, tanto na Alta como na Baixa. Quem quiser desfrutar de uma cidade antiga, tanto das coisas da Natureza como do homem, não tem que sair do círculo do horizonte que se vê da Torre (agora pode-se subir lá acima), mas quem quiser preocupar-se com os defeitos citadinos de uma cidade que hesita em entrar no futuro também não precisa de sair fora desse círculo. Coimbra é como o resto do país: capaz do melhor e do pior. O Paço das Escolas, há muito ocupado pela Universidade, foi, durante a primeira dinastia, residência real depois de ter sido alcáçova árabe. A centralidade de Coimbra é, por isso, histórica, para além, evidentemente, de ser geográfica. Coimbra não é norte, nem é sul, não é litoral, nem interior. Já lhe chamaram o centro do Centro. Os contrastes, físicos e humanos, que há em Portugal encontram-se em Coimbra e arredores. Coimbra é um burgo de média dimensão cujos residentes podem ir almoçar a casa, o que é impossível numa grande urbe como Lisboa. Mas também é uma cidade onde, por vezes, vai-se lá saber porquê, se encontram, como em Lisboa, desesperantes filas de trânsito (o visitante que chega à Lusa Atenas vê-se grego para chegar à acrópole e ainda mais para estacionar nas imediações). Portanto, tal como no país em geral, quando havia condições para tudo correr bem, não corre. Para perceber Portugal não há como vir a Coimbra. Se o país está centrado em Coimbra, Coimbra está centrada na Universidade. Contudo, há que reconhecer que a Universidade não se tem ligado bem à cidade. A Alta e a Baixa estão de costas voltadas. Sempre houve uma separação entre os doutores, por um lado, e os futricas, por outro. A nítida estratificação social conduziu até a um divórcio do ponto de vista clubístico. Há a Académica, a equipa associada historicamente à Universidade, e o União de Coimbra, a equipa do proletariado urbano. Coimbra só poderá ganhar se conseguir esbater o contraste ao nível da organização social. Tal como o país, aliás. A placa à beira da auto-estrada diz “Cidade do Conhecimento”. Para lá do circuito turístico, encontra-se o Centro de Neurociências, que cultiva a excelência científica na biologia, e o Instituto Pedro Nunes, que alberga uma incubadora de empresas considerada recentemente uma dos melhores do mundo. Também se encontra, perto da cidade, o Biocant, o parque português de biotecnologia. Constrói-se, ainda mais perto, o IParque, para onde poderá ir uma empresa de software pujante e global, a Critical Software. E funciona, a dois passos da Torre, um dos mais poderosos supercomputadores do país, a Milipeia. Na ciência, impulsionada pela Universidade, é visível um extraordinário avanço, que, embora lentamente, vai contaminando a cidade e o país. A economia regional e nacional agradece. A Torre da Universitária pode, de facto, ser vista como uma antena emissora de conhecimento... As cidades de hoje são ricas não tanto por terem uma torre antiga, mas sim porque, querendo ser melhores que as outras, conseguem chegar primeiro ao futuro. E a cultura, tal como a ciência, é prenunciadora de futuro. Mas, no centro do Centro, ela

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não vai tão bem como a ciência. A Universidade, ainda colada em muitos aspectos a tradições arcaicas, não tem conseguido, na cultura, um poder transformador tão grande como na ciência. Basta atentar, por exemplo, na dificuldade que tem havido em projectar um novo edifício para a biblioteca. É certo que há, mais ou menos ligados à Universidade, grupos activos em várias áreas culturais (no teatro, na fotografia, no cinema, nas artes plásticas, etc.), mas a cidade não lhes serve de caixa de ressonância para ecoarem no país. Há bastantes iniciativas avulsas, mas não há uma “movida”. Coimbra, na cultura, não é a lição para o país que deveria ser. Coimbra tem localização, tamanho e meios invejáveis. Pode até pensar em emular Cambridge, uma cidade universitária onde pulsam há bastante tempo as tecnologias da informação e as biotecnologias, ao mesmo tempo que florescem as indústrias criativas. Mas tem um problema ao nível do simbólico, que só a cultura pode resolver. Para isso, a sua ambição cultural tem de ser maior, muito maior. Quero acreditar que a cidade não tem uma incapacidade cultural permanente, que lhe tolhe o futuro, mas apenas um bloqueio temporário. Quando o ultrapassar, não só a cidade estará mais habitável, mas também decerto o país......

Coimbra Reinventada Quinta-feira, 17 de Março de 2011 Meu artigo de opinião saído hoje na revista " C" (na imagem a Penitenciária de Coimbra, lugar que propus para reinventar a cidade): Num fim de semana recente participei na segunda noite Pecha Kucha de Coimbra (as palavras japonesas significam " som da conversa ") no fantástico cenário do Mosteiro de Santa Clara a Velha, aberto à noite especialmente para o evento. As regras eram simples, embora difíceis de cumprir: cada orador apresentava um total de 20 slides, tendo 20 segundos para cada um. O tema geral que a organização propôs foi Reinventar a Cidade. Ora aí está uma excelente ideia: Reinventar a cidade. As cidades, em particular mais antigas como Coimbra, precisam hoje de se reinventar. Pertenço ao número, cada vez maior, daqueles que pensam que é através da cultura que Coimbra pode e deve ser reinventada. E, naquela noite, num cenário surpreendente por um lugar de ruínas medievais ter sido reinventado noutro de criação artística, Coimbra mostrou a cultura rica e variada que nela se faz: desde os designers já premiados internacionalmente como João Bicker até aos arquitectos cada vez mais reconhecidos como João Mendes

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Ribeiro passando por fotógrafos como Pedro Medeiros e cineastas como António Ferreira (a propósito de arquitectura e de fotografia, na mesma noite abriam duas novas exposições no Centro de Artes Visuais, no Pátio da Inquisição). E tudo isto se passava no final da Semana Cultural da Universidade, cujo mote era precisamente o mesmo da noite Pecha Kucha , convocando habitantes e forasteiros a imaginarem uma nova urbanidade. Coimbra é um verdadeiro paradoxo. Por um lado alberga alguns dos artistas mais “reinventivos” do país, por outro lado é ainda vista, principalmente de fora, como um sítio onde não se passa nada, um sítio mais da tradição do que da inovação. Não tem conseguido, culpa de uns e de outros, dar uma imagem contemporânea de si própria (embora mais de uns do que de outros, decerto mais da cidade, colada a uma cultura velha e relha, do que da Universidade, que vai tendo sobressaltos de cultura). A solução para o paradoxo, que está à vista para quem a queira ver, consiste em casar, de modo criativo, o antigo e o moderno: foi o que se fez com a reconstrução do Mosteiro de Santa Clara a Velha (ou do edifício que foi da Inquisição). E é também o que fez no Laboratório Chimico pombalino e o Museu de Ciência no Colégio de Jesus. Na noite Pecha Kucha apresentei a Casa da Livraria, vulgo a Biblioteca Joanina, a construção que reinventou Coimbra em 1727. Procurei nos últimos anos reinventá-la com o restauro, digitalização e publicitação dos acervos, a abertura de novos espaços com exposições de design moderno e o uso de ciências e tecnologias (sensores de monitorização ambiental, detecção dos morcegos por ultra-sons, análise microscópica de fungos). Mas, acima de tudo, propus, com a indiferença de uns e a adesão de outros, que se pensasse uma nova Casa da Livraria, uma Casa do Conhecimento que possa ser para o século XXI aquilo que a Biblioteca Joanina foi para o século XVIII. Tal como outrora a nova Casa foi erguida sobre uma prisão em quase ruína, também hoje existe uma penitenciária em processo de degradação, onde se pode erguer um novo espaço dos livros, onde se pode reinventar a cidade. No edifício salazarista da Biblioteca Geral está patente, no quadro da Semana Cultural, uma exposição sobre a Biblioteca e a Cidade, comissariada pelo arquitecto Rui Lobo, que permite ao visitante perceber como o génio arquitectónico é capaz de reinventar uma cidade que queira apostar na cultura. Coimbra quer? ......

Coimbra e o Futuro Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2011 Declarações que prestei há poucos dias à Lusa: P- Gostaria de ter a sua opinião sobre o protagonismo de Coimbra, se a cidade o está recuperar ou não, e em função essencialmente de que factores (novas tenologias, poder político, etc.) . R- Fiz um top-ten pessoal sobre a ciência e tecnologia em Coimbra (a ordem não interessa): 1- Instituto Pedro Nunes, premiada como a melhor incubadora do mundo.

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2- Empresas spin-off da universidade sediadas em Coimbra (Critical Software, ISA, etc). 3- Um dos maiores supercomputadores portugueses: o "Milipeia". 4- O Centro de Neurociências, que foi o primeiro Laboratório Associado no país. 5- O Museu da Ciência da Universidade, que já ganhou prémio europeu e tem agora a 2ª fase no Colégio de Jesus em bom andamento. 6- O BioCant, em Cantanhede, o parque de biotecnologia do país. 7- O Instituto de Medicina Legal e o Centro Internacional de Matemática, instituições nacionais com sede em Coimbra. 8- A oferta em novos meios de imagiologia médica (PET, etc.) 9- O serviço de cirurgia cardiotorácica dos HUC. 10- Os serviços de oftalmologia e relacionados (HUC, IBILI, etc.) Podia também dar exemplos fora da ciência embora com ela relacionados (as Bibliotecas da Universidade, no seu conjunto talvez a maior biblioteca do país, acrescida agora dos novos repositórios digitais, o crescimento do turismo na Joanina, agora com a abertura de novos espaços, tomados pela exposição da Royal Society, a entrada da Universidade no ITunes , o Mosteiro e o Museu de Santa Clara a Velha, recuperado das águas, o Museu Nacional Machado de Castro, renovado e em breve a abrir, etc.) Coimbra, do ponto de vista da Universidade está pujante, e a eleição do Reitor em breve será em breve um momento de reafirmação. Infelizmente do ponto de vista político tem sido um desastre: o presidente da Câmara desistiu, pelo que o município está, neste momento, sem perspectiva, e o governo nacional tem praticamente ignorado a cidade (o Metro Mondego é um bom exemplo do mal que nos é infligido por políticos irresponsáveis e mentirosos, mas poderíamos falar também do Aeroporto do Centro, em Monte Real, que não anda nem desanda...). Não temos outro futuro que não o da auto-afirmação do nosso trabalho, designadamente nas áreas em que somos os melhores. A Universidade e a cidade têm de entender mais e melhor (por exemplo, no IParque, na futura Casa do Conhecimento, etc.). Quanto ao governo, vai ter de nos respeitar. E vai ter de contar com contribuições de Coimbra para o acordar da crise. P- Posso deduzir que não atribui grande importância ao protagonismo político que a cidade perdeu (e de algum modo parece poder vir a recuperar, como indiciado pela reeleição do bastonário dos advogados, possível eleição do bastonário dos médicos, pela presidência do Tribunal Constitucional, etc? ) R- Não, não acredito que a cidade ganhe muito em ter uma ou duas pessoas de cá como bastonários de ordens profissionais ou um ou outro cargo num órgão do Estado. Não estamos necessitados de protagonismos desse tipo, que são aliás formas de provincianismo. Quero crer que já lá vai o tempo em que o poder local se exercia por influências pessoais junto de poderes centrais... Precisamos mais de um Presidente da Câmara com visão e ambição, que infelizmente não temos tido, e da continuação de um Reitor com visão e ambição. E de uma aliança bastante mais efectiva da Câmara com a Universidade. Dou-lhe um pequeno exemplo que é elucidativo: o Estado distribui a Coimbra, por depósito legal, tudo o que se publica no país tanto à Câmara como à Universidade. Mais: nenhuma cidade, além de Lisboa, recebe esse material em duplicado. Mas nenhuma dessas entidades dispõe de meios suficientes para tratar esses

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fundos e as duas têm-se revelado incapazes de trabalhar em conjunto. A culpa é do governo? É verdade que o governo em geral não tem ajudado, mas, mesmo quando o governo ajuda, é também verdade que temos sido incapazes de sair das nossas capelinhas. Coimbra tem condições de futuro próspero e deve principalmente a si própria esse futuro. O poder central não pode ser um constante bode expiatório. P- Por que razão a pujança, a cultura, a ciência, o prestígio, a história e a modernidade da Universidade não se reflectem na governação local, designadamente, na câmara? Acredita que o "impulso científico" que a cidade está a protagonizar poderá ter reflexos nos poderes locais e regionais? R- Coimbra sempre teve uma separação estúpida, alimentada por uns e por outros, entre futricas e doutores, entre os adeptos do União de Coimbra e os da Académica. Essa barreira mental, como todas as barreiras desse género, é difícil de derrubar, demora muito a ultrapassar. Uma cumplicidade muito maior entre Câmara e Universidade numa cidade universitária, numa cidade que se diz do conhecimento, é a única maneira de nos afirmarmos e de conquistarmos a admiração do país. E é pela afirmação aqui na cidade da ciência e da cultura, que na universidade são cultivadas em alto grau, que ganharemos esse futuro. Não podemos ter, por exemplo, um trânsito mal regulado e termos os maiores especialistas na ciência e técnica da regulação de trânsito. Não podemos, outro exemplo, ter filas de espera em serviços de saúde e os melhores especialistas e equipamentos de medicina. Não podemos, ainda outro exemplo, ter cidadãos que não lêem livros na cidade que possui o maior número de livros por habitante (e, já agora, de autores por habitante). Por que não tomar como modelo cidades com universidades antigas como Oxford e Cambridge, onde é agradável viver, onde a cidade e a universidade estão de mãos dadas? Nessas cidades o "impulso científico" tem, de facto, reflexos nos poderes locais e regionais, e vice-versa. (…) ......

Coimbra é uma lição Sábado, 12 de Maio de 2007 Transcrevo minha crónica do "Público" de 11 de Maio. E agradeço as muitas manifestações de concordância de gente de Coimbra e de fora dela que tenho recebido. Muita gente partilha, felizmente, a ideia de que: "É pela cultura ou pela falta dela que as cidades de hoje se salvam ou se perdem ". Incluindo a ciência na cultura, claro. Há não uma mas duas Coimbras, uma do sonho e outra da tradição. A situação é - tem sido - um pouco esquizofrénica. Há a Coimbra do Dr. Jekyll e há uma outra do Mr. Hyde. Há quem sonhe em juntar a ciência à história para saber mais sobre os restos mortais de D. Afonso Henriques usando as mais modernas técnicas de antropologia forense e há quem defenda a tradição da inviolabilidade do túmulo do rei fundador receando a reedição na Igreja de Santa Cruz da "maldição dos faraós". Há quem organize exposições com o melhor da arte fotográfica contemporânea e quem não só as deixe abandonadas no Centro de Artes Visuais sem a conveniente publicitação, como também deixe abandonada a instalação de Pedro Cabrita Reis logo à entrada desse centro. Há quem

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organize na universidade um notável Encontro Internacional de Poetas e há quem se contente todos os anos com uma feira do livro provinciana numa barraca (grande barraca!) com espectáculos folclóricos. Há quem goste das músicas da Brigada Vítor Jara e de J. P. Simões, mas há quem prefira tomar chá animado por Marco Paulo e saltar numa chinfrineira nocturna animada por Quim Barreiros, o eterno convidado da Queima das Fitas. Há quem seja capaz de recuperar o "Laboratório Chimico" pombalino e aí colocar uma espectacular exposição sobre a luz e a matéria e há quem deixe esvanecer a memória do grande homem da ciência que foi o prof. Mário Silva (o monumento em sua homenagem está entregue às urtigas!). Há quem admire o belo casario da cidade, de cima da ponte "Pedro e Inês", no Parque Verde, e há quem, daí, não se assuste ao olhar o desvario urbanístico dos Jardins do Mondego. Há quem goste de se inebriar com os encantos gastronómicos da Quinta das Lágrimas e há quem não repare que o eixo pedonal da cidade não tem um único restaurante decente. Há quem venha aos meetings do Centro Internacional de Matemática ou do Centro de Neurociências e há quem não veja a necessidade de um Centro de Congressos e da respectiva capacidade hoteleira. Há quem ajude no boom de novas empresas tecnológicas na informação e na saúde e há quem não se admire com a inexistência de um parque industrial com dimensão suficiente para abrigar as fornadas de jovens empreendedores que todos os anos saem das universidades. Há quem venha transplantar o coração ao Centro de Cirurgia Cardiotorácica dos Hospitais da Universidade, mas há também quem não se indigne com a falta de dignidade das instalações do Hospital Pediátrico. Há quem se empenhe numa candidatura ganhadora a Património Mundial da Humanidade e há quem não queira sequer competir com outras cidades históricas que cuidam dos seus centros. Digamos que uma é Coimbra A e outra é Coimbra B, a Estação Nova e a Estação Velha (a propósito, não estará a Estação Velha a precisar de reforma?). São duas cidades que, por força da partilha do mesmo espaço, têm de conviver uma com a outra, mas que são obrigadas a ignorar-se, tal é o desajuste de projectos. O problema, como alguns dos exemplos apontados dão a entender, é acima de tudo cultural. É pela cultura ou pela falta dela que as cidades de hoje se salvam ou se perdem. Uma cidade que, para o bem e para o mal, foi sempre um símbolo da cultura ou sabe escolher a cultura de que quer ser símbolo, ou não conseguirá sair do seu actual desconforto. Remeter a maior fatia de responsabilidade da sua malaise para a acção ou inacção do Governo central, este ou os anteriores, é ser incapaz de um auto-exame sério. Claro que o Governo central também tem responsabilidades em alguns dos despautérios do Centro, que são também despautérios nacionais. De resto, o país não estaria mal se o confronto entre o sonho e a tradição, com a tradição a ganhar (a antiguidade é um posto!), fosse apenas em Coimbra. A cidade dá uma boa imagem do país que somos, um país de grandes contrastes e onde coabitam ambições muito diferentes. Para se perceber Portugal não há nada como vir ao Centro. Coimbra é uma lição!

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Feira dos 23 Feira dos 7 Blog de Hugo Duarte [e outros ]

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Para uma Coimbra não sentimental Daniel Tiago Publicado em Fevereiro 16, 2009 Pequeno excerto de “A Noite em Arquitectura”, obra da autoria do Arquitecto Jorge Figueira: O problema de Coimbra é, como se sabe, o do sentimentalismo. O sentimentalismo afecta a cultura e o quotidiano coimbrãos, carregando os lugares- comuns de uma circular vitalidade, mesmo quando a poética da cidade, a haver alguma, já há muito se deslocou das margens do Mondego. O sentimentalismo exalta o sortilégio de Coimbra, criando uma retórica paralisante, anti-pragmática. Afogando os sentidos em mágoas, o sentimentalismo só produz reticências e pontos de exclamação. Transformar o sentimento – coisa interior em fachada de capa e batina, tende inevitavelmente para a caricatura. Nuno Rosmaninho introduz este tema no capítulo «Os estereótipos de Coimbra» da sua Dissertação de Doutoramento. Cita Alberto de Oliveira que escreve sobre o culto de Coimbra, em 1934: «o tema que fascinou todos os nossos poetas, desde que Portugal existe, está talvez relegado pela geração novíssima à categoria de lugar-comum, lamecha e piegas por excelência, indigno portanto de ocupar ou comover mentalidades e sensibilidades mais evoluídas que as nossas». Para apreciar Coimbra, escreve ainda Alberto de Oliveira, «não é preciso ter alma romântica, e é até preferível não a ter». São os estereótipos que se abatem sobre Coimbra, e que a cidade cultiva como património florescente, que permitem o desdém de Lisboa, e a crescente indiferença do país. O sentimentalismo, que se veste de uma episódica boémia, e se experimenta ritualista na praxe, prolonga a agonia de Coimbra. Quando outras cidades universitárias copiam estes maneirismos, é de uma espécie de franchising que se trata. Coimbra serve de matriz para o folclore que universidades mais recentes querem avidamente integrar. ………………………..

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Coimbra vista do Porto David Afonso Publicado em Fevereiro 10, 2009 1. Coimbra é um episódio da paisagem entre o Porto e Lisboa. Quando voltamos do sul, é o primeiro sinal de que estamos perto de casa; se estamos ainda a caminho do sul, é o primeiro sinal de que estamos a abandonar o norte. Não vou em modas: isto de região centro não é nada. Em Coimbra começa e acaba o norte. Se fosse centro não seria apenas uma placa “Capital do Conhecimento” na auto-estrada do norte ou uma estação de comboio com tiques de apeadeiro. 2. Não me lembro em que momento é que Coimbra se transformou em paisagem, numa gravura animada que se admira de passagem. Mas recordo-me que já houve um tempo em que as pessoas não só passavam, não só paravam, como também faziam de Coimbra um destino. Na minha infância, em Aveiro, Coimbra era a cidade da última oportunidade. Dizer “Foi para Coimbra” era o suficiente para encher de gravidade os rostos. Era o equivalente a uma quase sentença de morte: Coimbra era a última chance para vítimas de aparatosos acidentes ou de doenças letais, uma descida aos infernos. Regressar de Coimbra era como voltar do mundo dos mortos, uma verdadeira odisseia destinada a ser contada e recontada vezes sem conta. Esta foi a minha primeira Coimbra. 3. Andava ainda no liceu e já o canto da sereia me incomodava. Os colegas mais velhos que tinham ingressado na Universidade cantavam-me loas e odes aos encantos da cidade. Eram os tempos do Café Moçambique, dos M’As Foice , das tardes épicas passadas nas mesas dos cafés a discutir Marx, Monty Python e as misérias do mundo em geral. Aquilo parecia encher-me as medidas, mas acabei por optar pelo Porto. Numa tentativa de obter o melhor dos dois mundos, ainda cheguei a pedir transferência para Coimbra no meu segundo ano e por aqui passei um mês num torpor bovino. A cidade já não era a mesma, isto é, era a mesma mas em pior. Nada se fazia para além de se passar tardes a reciclar conversas e a beber cerveja. Felizmente a vetusta academia libertou- me deste fardo ao descobrir uma insanável irregularidade burocrática no meu processo de transferência. Voltei para o Porto. Foi esta a minha segunda Coimbra. 4. Terceira Coimbra, propriamente dita, não houve. Só em situações muito excepcionais é que me dava ao trabalho de aqui regressar. Os Encontros de Fotografia (de longe, o acontecimento cultural mais importante que esta cidade alguma vez teve) era um dos eventos que me obrigava a vir passar uns dias à Lusa Atenas, ocasião que servia para verificar que tudo tinha ficado como eu havia deixado. Os congressos e colóquios também me obrigavam a pernoitar em Coimbra. Mas tenho a nítida impressão de que a oferta já foi bem melhor. Desde de Coimbra Capital Nacional da Cultura que não ponho os pés por cá. Depois sobram algumas exposições no CAV para justificarem uma paragem. Hoje consigo vir a Coimbra todas as semanas sem realmente entrar na cidade: Coimbra-B, Táxi e FEUC, FEUC, Táxi e Coimbra-B (os taxistas – prestáveis como sempre – encarregam-se de ir variando os percursos). Há muito que Coimbra é apenas uma cantiga. Sempre a mesma cantiga.

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…………………………… Coimbra tem mais encantos… olhada de fora Joaquim Duarte Publicado em Fevereiro 8, 2009 Agosto de 2007, procurávamos apartamento para arrendar em Coimbra. Como de hábito, olhámos vários entre os quais um perto da Sé Velha. Apartamento antigo, um pouco escuro, com alguma mobília antiga. A minha esposa, brasileira, comenta: “deve ter sido o apartamento do Bentinho”… Bentinho é o personagem do romance de Machado de Assis, Dom Casmurro que estudara leis em Coimbra e Pádua, casa com Capitú e acha que ela o trai com o melhor amigo… bem mas não é para resumir o romance que estou aqui. Dom Casmurro é o romance mais conhecido no Brasil, Capitú e Bentinho são os personagens ficcionais mais conhecidos pela população e Coimbra faz parte dessa ficção. Ao imaginar-se Bentinho em Coimbra, deveria ter sido num apartamento parecido com aquele. Coimbra faz parte de um universo referencial simbólico do brasileiro. Claro que não falo aqui de toda a população. É muita e a maioria, porventura, nem nunca ouviu falar de Coimbra. Mas para aqueles que conhecem e, mesmo assim não são poucos, Coimbra figura como baluarte da cultura lusófona. Há todo um encanto e, diria, um certo glamour intelectual quando se fala de Coimbra no Brasil. Há uma reverência que remete àquela placa na A1: “Cidade do conhecimento”. Que o digam aqueles que já tiveram algum tipo de contacto com académicos e intelectuais brasileiros. Isso para não falar da Académica de Coimbra, único clube no mundo a ter um equipamento principal, todo preto (mas esta parte é só para os muito aficionados). Sim, Coimbra é, de alguma forma, idolatrada no Brasil. Eu, que nasci aqui perto, sou do distrito, sempre a vi como uma cidade cheia de vida na qual os estudantes formavam um mundo desejável, envolto num clima de pensamentos mais altos, mais rebeldes, mais subversivos. É um pouco essa referência que Coimbra possui entre os brasileiros. Provavelmente desiludem-se quando vêm viver para cá. A cidade perdeu-se nos labirintos do saber, prendeu-se à história e à tradição não reatualizadas. Achou que ser a Cidade do Conhecimento primeiro e a Capital da Saúde depois, ou vice-versa, não sei, lhe bastaria e, assim, sentou-se à margem do Mondego a dedilhar as cordas da guitarra enquanto as águas passavam… e continuam passando. Parece que nada se faz por aqui. É cada vez mais uma arquitetura medieval a dominar as acções dos seus cidadãos. O poder no alto, à volta da torre da Universidade e, fora das muralhas do castelo (baixa) o povo. De vez em quando, passamos para os olhar e achamos pitoresca, excêntrica e até bonita aquela vida agitada das estreitas ruas durante o dia. À noite colocamos câmaras para vigiar os infractores. Salazar teria gostado dessa ideia nos tempos dele… ………………………………………….

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Coimbra reflecte-se nos Conimbricenses Daniel Tiago Publicado em Fevereiro 2, 2009 (…) queria apenas deixar o meu contributo, partilhando convosco o meu ponto de vista sobre Coimbra, na qualidade de “coimbrinha”. É já usual ouvir frases feitas como Coimbra dorme à sombra da Universidade ou que a cidade está parada , ideias essas que são passadas pelos próprios habitantes, e que dão lugar a outras frases como os conimbricenses não são críticos e que se deixaram envolver pela pasmaceira da cidade . Não julgo que tudo isso seja verdade. O que a mim me parece é que os conimbricenses são, de facto, muito críticos e preocupados com o que se passa na sua cidade, o que também se pode verificar através dos diversos movimentos cívicos que entretanto surgiram. O que se passa é que a imagem que a cidade transmite molda a opinião de quem cá vive ou de quem a visita. Senão vejamos, imaginem-se no lugar de um turista que chega a Coimbra de comboio. O primeiro contacto que tem com a cidade é uma estação ferroviária completamente terceiro-mundista. E se chegar através de rodoviária? Sinceramente nem sei qual das duas gares deva envergonhar mais a cidade… Nestes casos dizem-nos que não nos preocupemos pois com o TGV tudo se resolverá. Será? E para quando? Daqui por quantos anos teremos obras que já deveriam estar feitas ontem? Braga e Aveiro também vão receber TGV e actualmente têm estações dignas… Infelizmente esse não é o único atraso de que a cidade padece, basta dirigir o olhar para o projecto do Campus Judicial ou do Metro Mondego em que este, quando se começou a discutir ainda nem do Metro do Porto se falava e actualmente o Porto já tem uma rede maior que a de Lisboa e nós… esperamos. Coimbra está, aliás, muito habituada a esperar. Desde 1982 que se espera por uma candidatura à Unesco, algo que poderia elevar alto o nome da cidade tendo grandes benefícios na área do Turismo. Uma candidatura que começou por ser da cidade e que agora se resume apenas à Universidade. Esperámos também pela Ponte Rainha Santa Isabel, tal como (espero estar errado) agora iremos esperar mais uns anos até vermos o IC3 concluído. Enquanto isso, surpreendentemente, Coimbra – Cidade Universitária – continua a afastar os jovens que nela estudam. Chegou-se a um ponto em que quem é de fora não permanece em Coimbra mas também quem é natural de Coimbra já não consegue por cá ficar. As razões são várias e conhecidas de todos, esta é uma cidade sem oportunidades de emprego, foi há pouco tempo considerada a cidade mais cara do país para se comprar casa e a quinta mais cara para arrendamentos. Assim não será de estranhar que cada vez mais se assista ao êxodo populacional do concelho de Coimbra.

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A cidade encontra-se assim, generalizando, dividida entre a Baixa, em declínio, a Solum e a Portela com as urbanizações de luxo e todos os outros, que diariamente empreendem em movimentos pendulares para a Lousã, Montemor ou Condeixa, municípios onde é mais barato viver… Mas nem tudo é mau, como acima referi certas ideias não correspondem inteiramente à verdade, porque esta é também a Coimbra das novas empresas de alta tecnologia, a Coimbra que foi já considerada a cidade com melhor qualidade de vida em Portugal, uma cidade cheia de identidade e história e, claro, uma cidade que continua a encher os corações dos “coimbrinhas”. (…) Perante o panorama nacional a importância simbólica de Coimbra ainda continua bem presente, mas é urgente mudar esta imagem de melancolia, mostrar perante o país que Coimbra não está a dormir, para isso são precisos mais i-parques, investir no melhor que a cidade tem: a Saúde e a Educação e, porque não, (..) , uma torre, que sirva como ícone de uma nova Coimbra, uma Coimbra moderna. Mas só isso não basta, é também necessário voltar a captar os jovens que Coimbra forma, bem sei que o orçamento não permite loucuras mas deixo um exemplo: porque não aproveitar a localização do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova em relação ao futuro Centro de Congressos de São Francisco e transformar o Mosteiro num centro de escritórios “low-cost” direccionado a jovens empreendedores, funcionando como uma incubadora de empresas? Porque não insistir perante a CP na constituição de uma verdadeira rede de comboios urbanos para a Figueira da Foz e Mealhada, bem como uma ligação decente ferroviária ao Porto da Figueira para transporte de mercadorias? É que Coimbra, tendo uma situação privilegiada na Região Centro, cada vez mais se torna num vazio no meio da região do que propriamente o centro, até mesmo no Plano Rodoviário Nacional Coimbra apenas se encontra acima de Guarda e Bragança… É necessário que Coimbra se afirme realmente como uma cidade dinâmica, moderna e o motor de toda esta região, retomando o lugar que, historicamente, é seu. ………………………………………….

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(re) Visto Blog de Norberto Pires [e outros ]

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Construir uma Cidade com História João Paulo Craveiro Publicado em Agosto 27, 2012 (…) O que se dirá de uma cidade como Coimbra? Que é muito mais que o resultado do sonho de um homem. Coimbra não nasceu ontem. Antes de o ser já era Aeminium. Isso muito antes de um jovem rebelde ter resolvido pegar na História com as suas mãos e, mal ou bem, ter separado para sempre o Condado Portucalense da Galiza virando-se para Sul para construir um País, conquistando-o aos mouros. O jovem que se fez Rei começando por lutar contra a própria Mãe, fez de Coimbra a primeira capital do seu Reino e foi nesse preciso momento que a História da nossa Cidade se começou a confundir com a História de um Portugal então nascente. Nós, os que cá estamos hoje, tenhamos ou não responsabilidades públicas, somos apenas um momento fugaz na história da nossa Cidade. Isso não diminui o nosso papel, antes pelo contrário. Torna- nos responsáveis por um legado antiquíssimo que temos que transmitir aos que haverão de vir depois de nós. Da forma como o melhorarmos ou não dependerá a qualidade de vida das futuras gerações de conimbricenses. Caímos muitas vezes na tentação de dizer que vamos definir o futuro, falamos mesmo demasiadas vezes num “homem novo”, temos a arrogância de imaginar que, com o poder, poderemos construir uma cidade nova. Nada de mais errado, convenhamos, pelos desgraçados exemplos históricos que conhecemos. Mas cair na posição contrária não é melhor. Uma veneração estática do passado tantas vezes consequência de um conhecimento aprofundado pelo estudo universitário, mas acompanhada por uma incapacidade de provocar mudança e evolução, equivale a parar no tempo, transformando a cidade num museu de pedras mortas. Isto é, construir uma cidade como Coimbra nos dias de hoje, exige, para além de um respeito pelo passado baseado num conhecimento histórico estruturado, uma compreensão do mundo actual e, fundamentalmente, uma grande vontade de acompanhar as mudanças e capacidade para “Fazer”. Coimbra nem pode ter vergonha de si mesma e do seu passado, nem pode deixar de ter capacidade de se afirmar de uma forma orgulhosa por tudo o que de bom e progressivo possui nos dias de hoje,

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impondo-se numa grande região beirã que só espera isso mesmo de nós. Aqui está a chave para a resolução de todos e cada um dos problemas sectoriais da nossa Cidade, quer na área da Cultura e do Turismo, quer na área do desenvolvimento sócio- económico, quer na gestão do território. O facto de todo o país atravessar um momento particularmente difícil, só nos pode encorajar a utilizar de forma consequente o legado do passado com os meios do presente, encontrando novas soluções para problemas velhos. Publicado originalmente no Diário de Coimbra em 27 de Agosto de 2012 ……………………………………….

A cidade dos pseudos – Fábula de uma cidade (sur)real José Luís Gonçalves Publicado de Julho 18 a Agosto 8, 2012

Parte I Num país distante, à beira-mar plantado, havia uma Cidade que, sendo uma cidade especial, com um nome e uma história, sempre se sentiu diferente das outras. A Cidade não era grande. Também não era uma cidade pequena. E desde sempre viveu nesta dilema de, sendo maior que tantas outras, nunca ter chegado a ser grande como as maiores. Dilema que durante anos e anos a consumiu por dentro. É aqui que começa a nossa estória, a da Cidade que se julga grande sem o ser. Tudo isto começou por criar na Cidade um sentimento de grande frustração… Quando se propunha a uma nova meta, rivalizando com as suas rivais Grandes, quase sempre saía derrotada, muitas vezes humilhada e esquecida, como de uma cidade de província se tratasse. Também por isso, lá fora, muitos não conheciam sequer o seu nome e muito menos a sua localização. Mas, o que mais enfurecia a Cidade era ver-se ultrapassada pelas outras, suas Vizinhas, mais pequenas, mas possuidoras de outra noção da realidade e das suas capacidades. Conscientes disso, as cidades Vizinhas, conseguiam frequentemente gerir as suas forças, potenciar oportunidades e alcançar muitas vezes resultados que, para a Cidade, grande mas autista, não passavam de uma miragem. A Cidade olhava por isso para as suas Vizinhas de soslaio, num misto de desprezo e inveja. A Cidade nunca compreendera que jamais seria o centro sem a existência de uma envolvente para centralizar. Este dilema interior da Cidade era visível em todos os aspectos do seu dia-a-dia, nas pequenas coisas e nos grandes projectos, nas ruas, nos bairros e sobretudo nos habitantes que lhe davam vida. Deambulando pela Cidade, era comum ver rebanhos de ovelhas junto do Grande Centro Comercial – majestosamente erguido, orgulhoso, sobre uma das colinas mais vistosas, “um hino à modernidade”, pensava a Cidade – indiferentes ao fumo e ao ruído dos carros, que ali passavam incessantemente. Esta convivência, embora não parecesse, estava longe de ser pacífica. O Grande Centro Comercial partilhava os mesmos vícios da Cidade. Ansioso por exibir a sua modernidade

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e de se afirmar como grande impulsionador do mercado, acabara, também ele, por secar tudo em seu redor. As pequenas lojas, as das ruas mais antigas da Cidade onde se podia encontrar de tudo, foram pouco a pouco definhando e desaparecendo. A Cidade, longe de se preocupar com o facto, olhava este acontecimento com regozijo (ainda que não fosse capaz de o confessar), acreditando que se tratava, uma vez mais, de uma marca inegável da sua modernidade e progresso. As velhas lojas, onde velhas mulheres de avental continuavam a vender as batatas e as couves da horta, eram, no entender da Cidade, uma marca do provincianismo de que queria a toda a força livrar-se. Quando as lojas desapareceram, não tardaram em seguir-se-lhe os grandes cafés, depois os restaurantes, os cinemas… Aos poucos também a Cidade deixou de ser cidade, convertendo-se num aglomerado urbano que queria ser uma cidade. Uma Pseudo- Cidade. Parte II A Cidade não tinha fábricas. Aliás, a cidade era demasiado especial para ter fábricas, isso era coisa de cidade de província, de subúrbio desinteressante. Todas as fábricas da Cidade haviam há muito desaparecido, desmembradas, restando delas pouco mais que recordações vagas e ruínas. Uma delas cedeu o seu lugar ao Grande Centro Comercial. Mas continuava a haver uma exceção – a Fábrica de Doutores. A Fábrica de Doutores era a única indústria da Cidade. A Fábrica de Doutores era o coração da Cidade. Todos os anos a Fábrica produzia centenas, milhares de Doutores, dos mais diversos tipos e calibres. Esses Doutores eram depois distribuídos um pouco por todo o país, mas muitos acabavam por, invariavelmente, ser lançados na Cidade, onde se perpetuavam durante vários anos, alguns até por várias gerações. Tal como todas as outras coisas, também os Doutores acabariam por absorver o sentimento da Cidade. Não eram melhores nem piores do que os doutores das outras cidades, os das Vizinhas e os das Grandes. Ainda assim julgavam-se os mais modernos, os mais competentes, os mais inovadores. Para o demonstrarem, enchiam o peito e as páginas dos jornais da Cidade com as suas pequenas conquistas que, sendo importantes, não mereceriam mais que uma nota de rodapé nos jornais das cidades Grandes. A Cidade ficava, ainda assim, orgulhosa dos gloriosos feitos dos seus mais ilustres habitantes que ora eram os primeiros (do país) a produzir a cabeça de um parafuso que iria para o espaço, ora eram os geniais descobridores do genoma da doença dos pezinhos. A verdade é que, acima de tudo, também eles viviam obcecados por serem melhores do que os doutores das cidades Vizinhas e não serem piores do que os das cidades Grandes, o que, está claro, lhes deixava pouco tempo para serem Doutores. Doutores a sério. Eram, também eles, Pseudo-Doutores. Parte III (…) Parte IV (…)

Nota de Edição – foram removidas as ilustrações que figuravam nos 2 posts.

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Os Filhos do Mondego Blog de Pedro Rodrigues

Coimbra dos amores, Coimbra dos doutores: obrigado

Pedro Rodrigues

Publicado em Abril 2, 2012

No início vi-te como uma prisão. Afastavas-me de tudo o que mais gostava. Eras a personificação de todos os males. Julgava-te causadora de infelicidades extremas e cólicas de saudades. Amaldiçoava o dia em que era obrigado a retornar aos teus braços e, ao chegar, contava os segundos que faltavam para partir. De certa forma, fazias-me sentir deslocado. Obrigavas-me a crescer todos os dias. Agora, a mãe não estava para me fazer o almoço, ou o jantar; o pó não desaparecia por magia e acumulava-se a uma velocidade vertiginosa; as constipações pareciam operações ao apêndice e, só o ligeiro pensamento de uma operação desse género, era sinónimo de noites e noites de insónias. Fizeste de mim homem, e se queres que te seja sincero, não sei quando é que tudo mudou entre nós. Hoje sinto-nos numa sintonia perfeita. A verdade é que cresceste em mim, e eu cresci contigo. A verdade é que és um casulo onde entramos meninos e saímos homens. Custa-me ouvir-te falada nas bocas dos outros como uma cidade de tradições obsoletas. Como um conjunto de regras disfarçadas de rituais que vêm passando de geração em geração. Para mim, tradição nunca foi sinónimo de códigos ou condutas. Sempre foi sinónimo de tudo o resto. Não me interpretes de forma errada: é com o maior orgulho que uso as tuas vestes. Mas, sinceramente, arrepia-me da mesma forma a tua imagem ao luar sobre o Mondego. Acredita quando te digo que o sol de Coimbra é diferente do sol do resto do mundo. É o único sol que me causa um sorvedouro miudinho nas veias, como se o sangue corresse ao contrário quando me sento numa esplanada a admirar as tuas árvores, a tua calçada, ou a disposição de todos os teus edifícios. Nem o musgo, que se vai multiplicando com o tempo nas tuas paredes, me deixa indiferente. Sinto tudo isso. Sinto como se todos os dias fossem o último, e a saudade - que nos obrigas a aprender - estivesse ao virar da esquina.

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Aprendi a admirar-te porque, para o bem ou para o mal, comecei a sentir-te como uma extensão de mim. E faltam-me as palavras para descrever o orgulho que é ouvir-te cantada nas tuas entranhas históricas. És cidade de homens e mulheres em corpos de meninos. Quer queiramos, quer não, fazemos parte da tua mais refinada elite. Acredito que choras um Mondego de lágrimas quando fracassamos. Da mesma forma que o teu coração de pedras ancestrais se contrai de orgulho com os nossos sucessos. Um dia hei- de poder agradecer-te por tudo. Dificilmente conseguirei ser justo. Agradecer-te por tudo será sempre uma tarefa hercúlea. Agradeço-te, sobretudo, por me teres dado uma breve introdução ao amor. Por me teres apresentado um leque tão vasto de amores de bolso e me teres ensinado a amar de corpo inteiro e tripas de fora. Se hoje consigo amar como gente crescida a ti te devo. Obrigado. Serás sempre recordada por nós como a ponte entre a nossa meninez e a idade adulta. Tenho pena de quem não teve o prazer de te conhecer. E tenho mais pena ainda de quem te conheceu, mas não soube amar-te. Assim sendo, este é o conselho que deixo a quem entra nas tuas portas: vivam como se acabasse amanhã, sintam como se fosse para sempre.

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http:// erasmusu.com /pt/erasmus- coimbra/experiencias-erasmus/coimbra-a-eterna- cidade-dos-estudantes-79059 Ana Costa s/data

Coimbra - A eterna cidade dos estudantes

Published by Ana Costa

12 5 Tags: Experiências Erasmus Coimbra, Coimbra, Portugal Architecture and landscape: 8 / 10 points Entertainment: 8 / 10 points Culture and custos: 8 / 10 points Transport: 6 / 10 points Gastronomy: 10 / 10 points Prices: 8 / 10 points Party: 10 / 10 points Weather: 6 / 10 points

Coimbra é a cidade dos estudantes por excelência e conta actualmente com perto de 30 mil alunos. A sua Universidade é a mais antiga de Portugal e uma das mais antigas da Europa. Eu não estudei em Coimbra, mas sempre que vou dá-me vontade de ficar por lá uns tempinhos de “Erasmus” :). A verdade é que é uma cidade que apaixona qualquer um…

Transportes: Para lá chegar podem ir de avião por Lisboa (Aeroporto da Portela) ou pelo Porto (Aeroporto Francisco Sá Carneiro), que ficam respectivamente a 208 e 121 km de distância. Para chegar à cidade podem ir de comboio, pois existem muitas ligações, mas saiam em “Coimbra A”, que corresponde à saída para o centro da cidade. Todavia, se preferem podem também ir de autocarro, a estação fica a 10 minutos do centro e a viagem fica mais barata. Na cidade, a empresa de autocarros é SMTUC (http://www.smtuc.pt/index.php). Segundo algumas amigas minhas que lá estudam, os horários não são muito cumpridos

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e a frota de autocarros é um pouco obsoleta. Uma viagem custa 1,50€, mas existem senhas de três viagens que custam 2€ ou de 11 que custam 6€. Todavia, para quem está a pensar andar de autocarro regularmente o melhor é fazer o passe.

Preços: Em Coimbra os preços não costumam ser muito elevados: um café custa normalmente 0,60cent; uma cerveja 1€ e uma refeição diária cerca de 5€. Quanto a alojamento, aconselho a quem visita cidades portuguesas que façam o cartão de alberguista e que fiquem nas Pousadas de Juventude (http://juventude.gov.pt/). Em Coimbra, em época alta, um quarto duplo com casa de banho fica por 30€ a noite.

Gastronomia: Em Coimbra podem-se comer pratos como o Leitão à Bairrada, uma boa Tibornada de polvo ou bacalhau com “batatas a murro” (cozinhadas com casca). Quanto aos doces tradicionais provem os maravilhosos Pastéis de Tentúgal (os meus favoritos), as Queijadas, os Pastéis de Santa Clara, as Arrufadas de Coimbra, a Barriga de Freira e o Arroz doce. Para comer uns bons petiscos aconselho que passem pela “Rua Direita” que tem muitas tascas.

Clima: O clima é ameno, sendo que as temperaturas no Verão variam entre 25 e 30ºc e no Inverno entre 3 a 10ºc. Sobretudo no Inverno chove frequentemente, por isso o melhor é evitar esta estação do ano.

O que visitar: - Sé Velha - Templo Românico do século XII. De salientar uma inscrição em árabe que consta num dos seus muros: “Escrevi isto como recordação permanente do meu sofrimento. A minha mão perecerá um dia, mas a grandeza ficará\". - Sé Nova – A sua construção levou um século e mistura o estilo Clássico com o Barroco. - Museu Nacional de Machado de Castro – Encontra-se junto à Sé Nova e possui exposições de pintura, escultura, ourivesaria, cerâmica e têxteis. - Barco “Basófias”: Um passeio de barco pelo Mondego é uma experiência que recomendo para ver a cidade sob outra perspectiva (6€). - Portugal dos Pequenitos – Foi especificamente concebido e construído como um espaço para mostrar às crianças aspectos da arquitectura e história do Império Português. O preço do bilhete normal é de 8,75€, mas tenho a certeza que valerá a pena ver esta “mini-cidade” onde se reproduzem os monumentos mais significativos do país. - Quinta das Lágrimas - Conta-se que a quinta foi cenário dos amores proibidos do príncipe D. Pedro (futuro Pedro I de Portugal) e Inês de Castro, que foi assassinada a mando do Rei. Por ser um amor impedido, diz-se que a água das fontes representa as lágrimas de Inês (Fonte dos Amores e a Fonte das Lágrimas). Esta visita é apaixonante e muito romântica, por isso leva o teu mais-que-tudo! :)

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- Universidade – A Universidade possui também sítios muito peculiares. No Paço das Escolas é possível ver a Biblioteca Joanina, a Capela de S. Miguel, a Cárcere Académica, a Sala dos Capelos e o Museu da Ciência. Para visitar estes locais o bilhete custa 9€, mas se fores Erasmus na Universidade de Coimbra não pagas! - Jardins e parques: O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra foi criado em 1772 e ocupa hoje uma área de cerca de 13,5 hectares; o Penedo da Saudade é um parque e miradouro da cidade e tem a particularidade, para além da belíssima vista, de ter poesias de alunos gravadas em mármore… é maravilhoso; o Parque Verde do Mondego é um sítio ideal para dar bons passeios e possui uma ciclovia com uma extensão de quase quatro quilómetros ao longo do rio Mondego; o Jardim da Sereia vale a pena visitar nem que seja para contemplar as diversas árvores e espécies exóticas de plantas que possui. - Ruínas de Conímbriga – Embora se situe a 16 km de Coimbra, no Museu Monográfico de Conímbriga é possível ver as ruínas de uma cidade romana. A entrada custa 4€. De acrescentar que é uma das maiores povoações romanas de que há vestígios no país.

Compras: Para quem gosta de fazer compras ao ar livre o melhor sítio é a Baixa de Coimbra. Já para os que preferem os centros comerciais existem três: o Dolce Vita, o Fórum Coimbra (subam ao último andar e contemplem a vista que tem sobre a cidade!) ou o CoimbraShopping.

Cultura e Costumes: Coimbra é muito conhecida pelas festas e tradições académicas, das quais se destacam: - Latada ou Festa das Latas – É a festa de boas vindas aos novos estudantes (caloiros). Como o próprio nome indica, os alunos desfilam pelas ruas de Coimbra com objectos que fazem barulho, nomeadamente com latas. Durante o cortejo, os caloiros vestem uma fantasia com as cores da sua faculdade e ostentam cartazes com críticas à vida escolar ou a nível nacional. No final do cortejo pelas ruas da cidade, os novos estudantes são baptizados no rio Mondego com a seguinte frase em latim: \"Ego te baptizo in nomine solemnissima praxis\" (Eu te baptizo em nome da soleníssima praxe). - Queima das fitas - Decorre no início do mês de Maio, começando sempre numa noite de quinta-feira com a “Monumental Serenata” nas escadas da Sé Velha. É a maior festa estudantil de toda a Europa e tem a duração de 9 dias, cada um dedicado às faculdades da universidade. Durante a semana há imensas actividades, concertos, festas, muito álcool à mistura… Ou seja, durante nove dias a “cidade dos estudantes” pára... e ainda por cima não há aulas nessa semana! De salientar também o cortejo académico, o qual, passados 88 anos da sua origem, ainda mantém a tradição. Desfilam cerca de 87 carros que representam cada curso e cujo destino é destruição total na outra margem do rio. Apesar de existirem mais festas do género em outras cidades universitárias, o aparecimento da Queima das Fitas tem a sua origem em Coimbra em 1899, o que a torna, a meu ver, a melhor do país. Aconselho muuuito que experimentem esta semana pois é simplesmente única!!

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Noite: Coimbra tem muita oferta em termos de espaços para sair à noite. Os melhores dias para sair são, a meu ver, as quintas-feiras (ambiente universitário), sextas e sábados. Recomendo os seguintes locais: - A Capela - Este bar está integrado, literalmente, numa capela (capela de Nossa Senhora da Vitória - Séc. XIV) e é simplesmente único! Tem música ao vivo e na parte de cima tem uma varanda com uma vista lindíssima sobre a cidade. Podes também ouvir concertos de fado de Coimbra. - O Bar Académico de Coimbra (BA) é também um bom espaço para te divertires e conheceres muitos estudantes. Para além disso, nos Jardins da Associação (ao ar livre) existe um bar e várias barraquinhas que dão apoio ao bar BA. - O bar Bigorna, é o estabelecimento onde costumam ir os Erasmus, tem mais de 70 tipos de shots por 1€. - Outros bares mais conhecidos: Tapas Bar, Shot’s Bar, Shmoo, Moelas (tasca típica ao lado da Sé Velha), Insónias (tem Karaoke), entre outros. - Em termos de discotecas podemos encontrar a Via Latina (terça e quinta-feira é a noite dos estudantes e às quartas é noite de quizomba), a Vinyl (mais chic) e a NB, que por ser recente está muito em voga.

Em geral a cidade não é muito perigosa, mas deve-se evitar andar à noite sozinho na baixa de Coimbra, na zona do mercado e na alta de Coimbra, na zona das faculdades.

Deixo-vos com uns vídeos que encontrei que acho que demonstram bem o que andam a perder em Coimbra!!! :) http://www.youtube.com/watch?v=bVUZcdSCELA&feature=related http://www.youtube.com/watch?v=lynLq_qwBfg http://www.youtube.com/watch?v=DlFv0w4qpDk&feature=PlayList&p=D227020AF774 0231&index=12

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URBACT é um Programa Europeu de troca de experiências e de aprendizagem para promover um desenvolvimento urbano sustentável . Possibilita às cidades trabalharem em conjunto para conceber soluções para os grandes desafios urbanos, reafirmando o papel chave que elas desempenham no enfrentar de desafios sociais cada vez mais complexos. Ajuda-as a desenvolver soluções pragmáticas, novas e sustentáveis, e que integram as dimensões ambiental, social e económica. Dá às cidades a possibilidade de partilharem boas práticas, o conhecimento e experiência adquiridos com os profissionais envolvidos nas políticas urbanas em toda a Europa. O URBACT envolve 181 cidades, 29 países, e 5,000 participantes activos.

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