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1. INTRODUÇÃO

A bacia do rio Piracicaba abrange 55 municípios do Estado de São Paulo com população aproximada de 3.000.000 habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA ­

IBGE, 2002). Recentemente tem recebido atenção especial, pois apresenta grandes problemas no aproveitamento de suas águas (BALLESTER, 1997).

Integrante da bacia do rio Piracicaba, a bacia do rio Corumbataí é uma alternativa de abastecimento de água para vários municípios, mostrando­se importante regionalmente, não só porque ainda possui águas de boa qualidade, mas também por apresentar ecossistemas pertencentes a fragmentos situados na topografia acidentada da cuesta do arenito Botucatu, com elementos raros na paisagem do interior do Estado

(MERLI, 1997; VIANA; MENDES, 1997). Esta bacia tem sofrido crescente deterioração na qualidade e quantidade de água ofertada para o abastecimento público, além de um empobrecimento da sua diversidade biológica (BALLESTER, 1997).

Existem na literatura muitos trabalhos propondo técnicas de reabilitação de rios europeus e norte americanos, já que estes sofreram grandes alterações devido ao processo de desenvolvimento urbano. A complexidade biológica dos ambientes tropicais impede a aplicação direta de protocolos de diagnóstico ambiental para determinar o grau de alteração do ambiente, exigindo uma adaptação ou mesmo a criação de novas metodologias. A melhor opção é evitar que os ambientes naturais tropicais cheguem ao estado em que se encontram os ambientes temperados. Para isto, torna­se necessário um melhor conhecimento da área e proposição de estratégias de conservação e reabilitação nos sistemas que já se encontram degradados.

O conhecimento de uma determinada área deve levar em consideração o conceito de integridade biológica ou ecológica que pode ser definido como a capacidade do ecossistema em manter sua organização mesmo com mudanças em suas condições ambientais (WOODLEY, 1993) ou ainda como a capacidade de um ambiente suportar e manter um conjunto de seres vivos da mesma forma que um habitat natural da região (KARR, 1993). 2

A integridade biológica de um ecossistema aquático pode ser vista como um reflexo de seus componentes:

• Qualidade da água: temperatura, turbidez, oxigênio dissolvido, química orgânica e inorgânica, metais

pesados e substâncias tóxicas;

• Estrutura do habitat: tipo de substrato, profundidade da coluna d’água, velocidade da corrente,

complexidade estrutural e temporal do habitat físico;

• Regime do fluxo: volume de água, distribuição temporal do fluxo;

• Fonte de energia: tipo, quantidade e tamanho da partícula da matéria orgânica que entra no sistema,

padrão sazonal da disponibilidade de energia;

• Interações biológicas: competição, predação, doenças, parasitismo.

Qualquer atividade humana que degrade um ou mais destes componentes, interfere na qualidade do recurso aquático. Durante muito tempo os esforços para a manutenção da qualidade dos recursos hídricos ficaram restritos à manutenção da qualidade da água sem considerar a estrutura do habitat e os organismos que ali vivem que são tão importantes quanto a qualidade da água. O termo habitat define o local onde uma espécie vive, fornecendo uma variedade de condições, mas sem especificar a quantidade, disponibilidade ou utilização dos recursos que satisfazem as necessidades da espécie, ou seja, seu nicho ecológico (BEGON;

HARPER; TOWNSEND, 1996).

Os recursos de um organismo vivo correspondem à matéria prima da qual seus corpos são formados, à energia que está envolvida em suas atividades e o espaço no qual ele atua ou passa todo seu ciclo de vida ou parte dele (BEGON; HARPER; TOWNSEND, 1996).

A quantidade e variedade de habitats nos rios fornecem extensa gama de alimentos e substratos possíveis e podem ser utilizados para caracterizar as condições ambientais. O alimento surge a partir do próprio sistema aquático (autóctone) ou de sistemas externos (alóctone). No entanto, são basicamente dependentes de material externo originado a partir de sedimento aluvial, nutrientes dissolvidos, material trazido de sistemas com fluxo superficial ou produtos decompostos em zonas de inundação (WELCOMME,

1985). 3

Diagnósticos ambientais baseados em estudos de assembléias de peixes apresentam numerosas vantagens devido à disponibilidade de informações sobre o ciclo de vida de grande número de espécies e por incluírem uma variedade de hábitos alimentares (onívoros, herbívoros, insetívoros, planctófagos, carnívoros) compreendendo alimentos tanto de origem aquática como terrestre. Outra vantagem é a possibilidade de encontrar este grupo animal no topo da cadeia alimentar, diferente de outros indicadores de qualidade de água, como diatomáceas e invertebrados, o que favorece uma visão integrada do ambiente aquático (HARRIS, 1995).

Durante seu ciclo de vida, os peixes requerem diferentes habitats ou unidades funcionais que fornecem condições de microhabitat para cada estágio específico de sua vida como: período de crescimento ou residência em lagoas marginais isoladas do canal principal; período de reprodução e desova; períodos larval e juvenil (COWX; WELCOMME, 1998).

O microhabitat é o local onde o peixe é encontrado em um determinado instante de tempo e é diretamente influenciado pela complexidade estrutural do riacho, intensidade luminosa, variáveis hidráulicas, variáveis físico­químicas (WHITESIDE; McNATT, 1972), substrato e variáveis bióticas

(ZARET; RAND, 1971; FAUSCH; WHITE, 1981; SCHLOSSER; EBEL, 1989).

Para completar seu ciclo de vida muitos peixes necessitam desovar em ambientes com características muito diferentes das quais os adultos vivem, necessitando subir o rio ou encontrar um ambiente mais calmo, muitas vezes distante dos locais onde passam a maior parte de sua vida se alimentando (COWX;

WELCOMME, 1998).

Em sistemas de rios com planície de inundação a alta diversidade biológica está vinculada à presença de ambientes lênticos situados em vales aluviais que ocorrem ao longo de seus cursos. Estas áreas de inundação estão sujeitas a pulsos sazonais do nível do rio, cuja variação tem sido considerada como o principal fator determinante na dinâmica destes sistemas (JUNK; BAYLEY; SPARKS, 1989; BAYLEY,

1995; McCONNELL, 1999). As planícies de inundação se constituem em locais de desova para muitos peixes fluviais e são reconhecidamente criadouros naturais, devido a sua diversidade de habitat, fornecendo grande quantidade de alimento particulado e abrigo contra predadores (GOULDING, 1979; PAIVA, 1983; 4

McCONNELL, 1999).

Vannote, Minshall, Cummins, Sedell e Cushing (1980) desenvolveram o conceito de rio contínuo

(“the river continuum concept”), estabelecendo que os rios são gradientes físicos onde os diversos habitats estão ligados ao longo de um contínuo e a distribuição dos organismos é estabelecida de maneira a conformar­se às condições físicas do canal, que por sua vez são previsíveis a partir de sua posição na rede de drenagem. Portanto, ambiente e processos biológicos devem estar integrados de maneira previsível.

Para Matthews (1998), a variedade de habitats ocupados pelos peixes é tão grande quanto o próprio grupo taxonômico. O ambiente físico por eles selecionado depende de processos geológicos, morfológicos e hidrológicos que influenciam a vegetação marginal que forma um mosaico ao longo do canal. Este canal pode ser concebido como uma estrutura de quatro dimensões: longitudinal, lateral, vertical e temporal

(WARD, 1989; COWX; WELCOMME, 1998).

A dimensão lateral relaciona a mata de galeria com o canal do rio (COWX e WELCOMME, 1998).

Esta interação fornece diferentes habitats, não só como locais para alimentação e refúgio como também para desova. Em riachos de cabeceira, ou seja, de baixa ordem, a diversidade de habitats aquáticos depende muito dos troncos de madeira caídos, que passam a funcionar como ecótonos, modeladores da geomorfologia do canal fornecendo mais fontes de recursos para os peixes.

A dimensão vertical refere­se a interação entre o canal e sua profundidade. Esta dimensão tem muita importância para aquelas espécies que põem seus ovos em depressões rochosas, conhecidas como poções (DIDIER; KESTEMONT, 1996).

A característica mais marcante de sistemas lóticos é a existência de um eixo longitudinal, devido ao fluxo unidirecional, que impõe diferentes processos em sua organização (BELLIARD; THOMAS;

MONNIER, 1999). O nível de organização ecológica reflete a heterogeneidade ambiental, destacando a importância das dimensões temporais e espaciais (POFF; WARD, 1990), onde, boa parte dos estudos temporais trabalha com estabilidade e/ou persistência das comunidades (CONNEL; SOUZA, 1983), enquanto que estudos longitudinais enfocam o quanto as características bióticas e abióticas se alteram ao 5 longo do canal (ANGERMEIER; SCHLOSSER, 1989; OSBORNE; WILEY, 1992).

Tendo em vista a alta complexidade de um sistema natural e sua multidimensionalidade, utilizar apenas um simples atributo, como índice de diversidade ou medidas de qualidade da água, no caso de sistemas aquáticos, é limitado na avaliação de todas as formas de degradação desses ambientes.

Embora a diversidade biológica e as características naturais das assembléias de peixes estejam diretamente relacionadas com a variedade e extensão dos habitats naturais de uma bacia hidrográfica

(COWX e WELCOMME, 1998) os índices de diversidade ou eqüabilidade de espécies incorporam poucas informações biológicas ignorando a função das espécies nas assembléias. Eles não consideram a identificação da espécie e sua abundância absoluta, seus valores podem variar muito, mesmo sem a ocorrência de distúrbios, são sensíveis quanto ao nível taxonômico e, alguns índices são difíceis de serem interpretados (FAUSH; LYONS; KARR; ANGERMEIER, 1990). Neste sentido, uma avaliação mais integrada do ambiente, torna­se necessária. 6

2. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho foi apresentar uma caracterização das assembléias de peixes na bacia do rio Corumbataí e fornecer ferramentas para a avaliação de seu status ambiental. Diante disto, foram levantados argumentos que possibilitem responder as seguintes questões:

1. A análise linear de covariância (ANCOVA), utilizando a riqueza de espécies e variáveis

ambientais, é capaz de revelar a variação espaço­temporal das assembléias de peixes?

2. Alterações na relação espécie­área refletem as ações do processo de urbanização e uso da terra

sobre as assembléias de peixes?

3. Existe algum padrão de associação entre a riqueza de espécies e o estado de conservação da

mata ciliar?

4. As espécies de peixes podem ser utilizadas como indicadoras do estado de conservação do

ambiente? 7

3. MATERIAL E MÉTODOS

3.1. Área de estudo

A bacia do rio Corumbataí abrange os municípios de Rio Claro, Corumbataí, Analândia, Santa

Gertrudes, Ipeúna e Charqueada com 168.218, 3.794, 3.582, 15.906, 4.340 e 13.037 habitantes, respectivamente (IBGE, 2000).

Esta bacia faz parte da primeira zona hidrográfica do Estado de São Paulo que abrange a parte superior do rio Tietê desde suas cabeceiras até a barragem de Barra Bonita num percurso de 592 km. Esta zona é responsável pela drenagem de 32.710 km2 e compreende dez bacias hidrográficas, dentre elas, a bacia do rio Piracicaba que é composta pelas bacias dos rios Jaguari com 4.339 km2, Corumbataí com 1.710 km2 e Atibaia com 1.030 km2 (CETESB, 1984).

A bacia do rio Corumbataí situa­se na porção nordeste da Bacia Sedimentar do Paraná, na

Depressão Periférica Paulista entre as coordenadas geográficas 22º05’S a 22º30’S e os meridianos 47º30’W e 47º50’W (Figura 1). 8

Figura 1: Bacia hidrográfica do Corumbataí (VIADANA, 1992).

As informações que se seguem são referentes à geologia, geomorfologia, pedologia, clima, precipitação, balanço hídrico da bacia, ocupação e uso da terra encontradas no ATLAS ambiental da bacia do rio Corumbataí (2002).

No fundo dos vales dos rios Corumbataí e Passa Cinco ocorrem afloramentos de várias rochas sedimentares de origem no Carbonífero (grupo Itararé) e em diversas partes dos leitos desses rios e do

Cabeça e Ribeirão Claro existem muitas ocorrências de diques e soleiras de diabásio, geneticamente relacionados aos basaltos da Formação Serra Geral de origem no Cretáceo inferior (rochas magmáticas intrusivas) (Figura 2).

O cenário de formação da bacia remonta situações fluviais, litorâneas, marinhas e desérticas, ocorrência de clima frio e quente, avanços e recuos de geleiras, retração e expansão da vegetação e sugere a ligação entre o nosso continente e o africano. 9

A ocorrência de folhelhos acinzentados e intercalações de calcários dolomíticos e folhelhos pirobetuminosos sustenta a extração de calcário dolomítico, que serve de corretor da acidez de solos, nas pedreiras de Assistência, Ipeúna e Piracicaba. Esta formação (Irati) ocorreu no Permiano e seus sedimentos são a matriz de fósseis de répteis mesossaurídeos que ocorrem também em sedimentos semelhantes na

África, sugerindo que as regiões eram próximas na época em que estes animais nadavam nas águas de um corpo marinho fechado, à semelhança de um golfo.

A ocorrência de siltitos e argilitos cinza­avermelhados e arroxeados fornece matéria­prima para as indústrias do pólo cerâmico da região. Esta formação (Corumbataí) ocorreu também no Permiano e nela podem ser encontrados fósseis de conchas bivalves e dentes e escamas de peixes apontando para um ambiente marinho costeiro, pantanoso e eventualmente lacustre. O clima desta época devia ser mais quente e seco.

A região também foi palco de situações flúvio­desérticas, com migração de dunas de areia e regiões interdunas mais úmidas, que foram responsáveis pela formação Pirambóia que ocorreu no Triássico.

A origem de rochas magmáticas intrusivas estão relacionadas ao extenso fenômeno de magmatismo de fissura ocorrido no início do período Cretáceo, como uma resposta intra­placa frente aos esforços referentes à separação da América do Sul da África, fenômeno este que foi um dos maiores de seu gênero em toda a história da Terra.

A formação mais recente ocorreu no Cenozóico (Terciário e/ou Quaternário) e fornece areia, muito utilizada na construção civil e na indústria de vidro e de moldes de fundição. Esta unidade deve ter sido depositada em condições continentais fluviais em clima semi­árido. 10

Figura 2: Mapa geológico da bacia do rio Corumbataí (ATLAS..., 2002).

A bacia do rio Corumbataí pertence à Depressão Periférica Paulista do Médio Tietê com comportamento interplanáltico, suavemente ondulado. As cabeceiras do rio Corumbataí e seus afluentes:

Passa Cinco, Cabeça e Ribeirão Claro, localizam­se nas encostas da cuesta, cujo ponto mais alto está na 11

Serra do Cuscuzeiro com 1058 m e se deslocam para o sul indo alimentar o rio Piracicaba que se apresenta com 470 m de altitude (KOFFLER, 1994) (Figura 3).

Figura 3: Modelo tridimensional do relevo da bacia do rio Corumbataí (ATLAS..., 2002).

Na maior parte da bacia do rio Corumbataí ocorre solo podzólico vermelho­amarelo que, segundo

Vieira (1975) são solos bem desenvolvidos, bem drenados, ácidos e na sua maioria de fertilidade natural baixa/média. Nas cabeceiras dos rios Corumbataí e Passa Cinco ocorre areia quartzosa as quais formam solos que apresentam um perfil em evolução, com baixa atividade de argila, permeáveis, de textura leve e, geralmente, são solos profundos. Na Floresta Estadual Navarro de Andrade, antigo horto , e na cidade de Santa Gertrudez encontram­se solo do tipo latossolo roxo que é um dos solos mais importantes do ponto de vista agrícola pela fertilidade natural apresentadas, caracterizando­se principalmente por possuir coloração dominante vermelho fosco (Figura 4). 12

Figura 4: Mapa pedológico da bacia do rio Corumbataí (ATLAS..., 2002).

O clima na região da bacia do rio Corumbataí, na classificação de Köppen, é do tipo Cwa, ou seja, subtropical, seco no inverno e chuvoso no verão, com temperatura média anual variando no mês de janeiro entre 20 e 23.7ºC e em julho entre 14.9 e 17.1ºC (ATLAS..., 2002). 13

Segundo Troppmair (1975) o regime de chuvas, quanto à distribuição anual, é tropical, com duas estações definidas: período seco que se estende pelos meses de março a setembro, com menos de 20% das precipitações totais, correspondendo às médias próximas de 250 mm em 20 dias e período chuvoso que se prolonga de outubro a fevereiro, sofrendo a influência da massa tropical, com mais de 80% das precipitações anuais, que atingem a média de 1100 mm de 60 a 70 dias.

Zavatini e Cano (1993) estudaram as variações do ritmo pluvial na área da bacia e arredores durante o período de 1962 a 1991, segundo estes autores, os maiores índices de pluviosidade se encontram na porção noroeste, cujos níveis de altitude estão entre 800 e 1000m. Isso demonstra a existência de um certo

“efeito orográfico”, principalmente nos períodos de verão e primavera. Este efeito quase se extingue durante o inverno e outono tornando a porção central da bacia mais chuvosa, nesse período.

O balanço hídrico estudado por Koffler e Moretti (1991) mostrou que na região a evapotranspiração real (1100 mm) é muito próxima da potencial (1193 mm). Os déficits concentram­se no período de abril a agosto e, considerando­se apenas o balanço hídrico, estão disponíveis cerca de 9 meses de precipitação satisfatória para o desenvolvimento de grande parte das culturas agrícolas.

A história sobre a ocupação e desenvolvimento da bacia do Corumbataí tem seus primeiros registros no início do século XVIII por ser uma das rotas de exploração de ouro em Mato Grosso. A efetiva ocupação e colonização da região ocorreram no século XIX com a expansão das fazendas de criação de gado, desenvolvimento da lavoura canavieira e do café. No início do XX a cultura de café entrou em declínio e como conseqüência a região entrou em decadência econômica. Até a década de 70 pode­se dizer que a região ficou estagnada. Nesta época, na região de Rio Claro existiam algumas destilarias e fábricas de cerveja. Merece destaque a indústria mecânica representada pela Companhia Paulista de Estrada de Ferro que nas décadas de 40 e 50 chegaram a empregar cerca de 3.000 pessoas. Juntamente com esta indústria mecânica, visando suprir a produção de dormentes para a Ferrovia Paulista, implantou­se na região um núcleo pioneiro de reflorestamento com eucaliptos, o Horto Florestal da Companhia Paulista. Atualmente, a maior concentração das atividades industriais da região ocorre em relação à extração e transformação de minerais não metálicos, principalmente cerâmicas, calcários e olarias (ATLAS..., 2002). 14

Apesar da crise econômica, a partir da década de 80, acarretar diminuição no desenvolvimento econômico e populacional, a região da bacia do rio Piracicaba apresentou crescimento populacional acima da média estadual. Houve decréscimos absolutos da população rural que migrou para a bacia do Piracicaba aumentando em 92% a sua taxa de urbanização (ATLAS..., 2002).

Quanto ao uso da terra, na bacia ocorre o predomínio de áreas ocupadas por pastagem e cana­de­ açúcar. As áreas de reflorestamento e silvicultura (Eucaliptus e Pinus) superam a de vegetação natural: mata e cerrado. As duas áreas de reflorestamento de eucalipto mais extensas são a Floresta Estadual Navarro de

Andrade e o Horto de Camacuã, entre Rio Claro e lpeúna. A cultura de laranja está presente nas regiões de cabeceira do rio Corumbataí. Koffler (1993) constatou a invasão das culturas de ciclo longo, como a da cana­de­açúcar, em áreas adequadas para culturas de ciclo curto e observou a ocupação por pastagem em

áreas recomendadas para silvicultura e em grande parte das áreas onde a vegetação natural deveria ter sido mantida (Figura 5).

Zaine e Perinotto (1996) argumentam que as áreas de mata da bacia se concentram nas cuestas, nos morros testemunhos e na Fazenda São José, a nordeste da cidade de Rio Claro. Manchas de cerrado ainda ocorrem nas proximidades de Corumbataí, Analândia e Itirapina. Alguns remanescentes da mata ciliar podem ser encontrados ao longo dos rios Cabeça e Passa Cinco e no alto curso dos rios Corumbataí e

Ribeirão Claro. 15

Figura 5: Uso e ocupação do solo na bacia do rio Corumbataí em 2000 (ATLAS..., 2002).

Através de levantamento dos trabalhos realizados na região percebe­se que a caracterização abiótica

é bastante detalhada e o nível de conhecimento é acentuado. A caracterização biótica da flora torna­se incipiente devido à existência de pequenas manchas que restaram, e conseqüentemente, a fauna, que está sempre associada à vegetação local, apresenta pouco detalhamento. Alguns levantamentos merecem 16 destaque como o de Viadana (1992) que estudou os perfis ictiobiogeográficos, Leonel (1992) que apresentou estudos relacionados com anfíbios e Rozelli e Abe (1994) que apresentaram dados da fauna de mamíferos não voadores.

3.2. Locais de coleta

As coletas foram realizadas em 4 rios principais da bacia: Passa Cinco, Corumbataí, Ribeirão Claro e Cabeça, sendo amostrados trechos de cerca de 150m em três diferentes altitudes em cada riacho. Foram realizadas duas expedições em cada ponto, uma durante o período de março a junho e outra entre setembro e dezembro de 2001, totalizando 24 coletas (Figura 6).

Os pontos foram classificados hierarquicamente quanto ao seu posicionamento ao longo do canal segundo a sua ordem. 17

Figura 6: Mapa hidrográfico da bacia do rio Corumbataí com localização dos pontos de coleta. Modificado a partir do ATLAS ambiental da bacia do rio Corumbataí (2002). 18

3.2.1. Rio Passa Cinco

O rio Passa Cinco apresenta uma área de drenagem com 525 km2 e percorre cerca de 60 km desde a sua nascente, com altitude de 1000 m, até sua foz no rio Corumbataí, com altitude de 480 m (Figura 7).

O primeiro ponto de coleta 22º22’S 47º46’W apresenta um relevo característico de “cuesta” com afloramento rochoso e barrancos bem estáveis. A vegetação marginal é responsável por um sombreamento entre 51 e 75% e apresenta­se parcialmente desmatada com estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo com áreas cobertas por capim. Seu leito é pedregoso com cascalhos e pouca quantidade de areia. Este ponto apresentou uma variação grande de mesohabitats, dentre eles se destacaram poças, rio corrente e corredeiras. Devido à existência de poças, este ponto é muito freqüentado por pescadores esportivos à procura de lambaris

(Astyanax spp.).

O segundo ponto 22º25’S 47º43’W possui um relevo composto por áreas suavemente onduladas. A vegetação marginal proporciona um sobreamento de 0 a 25%, apresentando­se desmatada. A vegetação é composta por capim, cana­de­açúcar e eucalipto. O leito é constiuído por areia e cascalho. Neste ponto foi possível encontrar os três mesohabitats: poça, rio corrente e corredeira. À cerca de 100 m abaixo deste ponto observou­se pescadores à procura de lambaris.

O terceiro ponto 22º31’S 47º39’W localiza­se na região de confluência entre os rios Passa Cinco e

Corumbataí. O relevo apresenta áreas de planície totalmente cultivadas com cana­de­açúcar. A vegetação marginal contribui com um sombreamento entre 26 e 50%, apresentando­se parcialmente desmatada. Seu leito é formado por areia e cascalho. No trecho do rio Corumbataí, que antecede a confluência, foram visualizados cardumes de tilápias, o que atrai pescadores. 19

Figura 7: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no rio Passa Cinco.

3.2.2. Rio Corumbataí

O rio Corumbataí apresenta uma área de drenagem com 1710 km2 e percorre cerca de 110 km desde a sua nascente, com altitude de 1058 m, até sua foz no rio Piracicaba, com altitude de 470 m (Figura 8).

O primeiro ponto de coleta 22º10’S 47º39’W localiza­se à cerca de 3 km abaixo da cidade de

Analândia. Para chegar a este ponto existe um declive acentuado no relevo. Na margem encontram­se barrancos estáveis sem afloramento rochoso. A vegetação marginal apresenta brejo, pastagem, capoeira, bambu e eucalipto sem a vegetação natural preservada, fornecendo um sombreamento de 0 a 25%. O leito apresenta­se arenoso com exceção da área onde há uma corredeira, com fundo pedregoso.

O segundo ponto de coleta neste rio 22º17’S 47º34’W localiza­se à cerca de 3 km acima da ponte da estrada que liga Rio Claro a Ipeúna. Abaixo da ponte há um local muito visitado por pescadores. O relevo é ondulado e a margem do rio apresenta áreas de planície alagável. A vegetação marginal apresenta­se parcialmente desmatada com pastagem, eucalipto e mata galeria, fornecendo um sombreamento de 26 a

50%. O fundo é arenoso com restos de troncos, principalmente eucalipto, ao longo do seu curso. 20

O terceiro ponto 22º38’S 47º40’W está localizado cerca de 40 km acima da região de confluência dos rios Corumbataí e Piracicaba. Apresentou os mesohabitats rio corrente e corredeira. O trecho apresenta um leito pedregoso com cascalho e areia. A vegetação marginal é composta por pastagem, capoeira, agricultura e mata ciliar que se encontra desmatada. A cobertura vegetal fornece um sombreamento de 0 a

25%. Neste local verifica­se uma intensa atividade de pescadores à procura de tilápias.

Figura 8: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no rio Corumbataí.

No primeiro período de coleta (março a junho) o rio Corumbataí apresentou vazão média muito próxima do segundo período (setembro a dezembro) (Figura 9). Isto pode ser confirmado pela pequena flutuação que ocorreu na profundidade dos diferentes rios nos dois períodos.

Figura 9: Vazão mensal média do rio Corumbataí em 2001. Fonte: estação 4D­021/ (22º34’S

47º41’W). 21

3.2.3. Ribeirão Claro

O Ribeirão Claro apresenta uma área de drenagem com 291 km2 e percorre cerca de 43 km desde a sua nascente, com altitude de 720 m, até sua foz no rio Corumbataí, com altitude de 520 m (Figura 10).

O primeiro ponto 22º21’S 47º30’W localiza­se à cerca de 2 km acima da ponte que liga Rio Claro a

Araras. O relevo é levemente ondulado com visíveis áreas de planície. Neste ponto, a margem direita do rio apresenta um barranco estável com vegetação natural. A vegetação marginal é caracterizada por mata de galeria em bom estado de conservação com estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo fornecendo um sobreamento acima de 75%. O leito do rio é formado por areia e cascalho.

O segundo ponto 22º23’S 47º32’W está localizado atrás do câmpus da Bela Vista da UNESP/Rio

Claro. As características deste ponto são muito semelhantes à descrita anteriormente, ou seja, o relevo é levemente ondulado com visíveis áreas de planície. A vegetação marginal é caracterizada por mata de galeria em bom estado de conservação com estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo, fornecendo sobreamento acima de 75%. Seu leito é formado por areia e cascalho. Neste local foram encontradas várias trilhas feitas por pescadores dos bairros vizinhos.

O terceiro ponto 22º28’S 47º35’W está localizado acima da região de confluência do Ribeirão Claro com o Corumbataí, próximo ao Museu da Energia Usina­Parque do Corumbataí. Ele é completamente diferente de todos os outros, pois está localizado após o despejo de esgoto in natura da cidade de Rio Claro e logo acima do represamento do Ribeirão Claro. Seu relevo é levemente ondulado. A vegetação marginal é composta por pastagem, cipó e eucalipto fornecendo um sombreamento de 0 a 25%. O trecho apresenta um leito composto por grande quantidade de matéria orgânica proveniente do esgoto. Neste trecho encontra­se uma vegetação aquática representada por macrófitas flutuantes e gramíneas. 22

Figura 10: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no Ribeirão Claro.

3.2.4. Rio Cabeça

O rio Cabeça apresenta uma área de drenagem com 211 km2 e percorre cerca de 28 km desde a sua nascente, com altitude de 740 m, até sua foz no rio Passa Cinco, com altitude de 520 m (Figura 11).

O primeiro ponto 22º18’S 47º42’W possui um relevo composto por áreas suavemente onduladas. A vegetação marginal apresenta­se parcialmente desmatada, composta por mata de galeria, capim e eucalipto, fornecendo um sombreamento de 26 a 50%. Este ponto está localizado entre dois portos de areia evidenciando que seu leito é arenoso. Esta atividade comercial faz com que este trecho não apresente áreas de refúgio para os peixes.

O segundo ponto 22º22’S 47º39’W está situado em um vale com grande declividade. A vegetação marginal apresenta­se parcialmente desmatada composta por mata de galeria e pastagem, fornecendo um sombreamento de 26 a 50%. Neste ponto há uma corredeira com cerca de 100 m. Acima dela o rio apresenta­se com pouca velocidade permitindo a colonização por algas macroscópicas e decomposição anaeróbica da matéria orgânica do fundo do rio, verificada pela liberação de gases sulfurosos quando se movimentava o fundo. 23

O terceiro ponto 22º26’S 47º39’W está localizado à cerca de 300 m da confluência entre os rios

Cabeça e Passa Cinco. A vegetação marginal é formada por pastagem, agricultura e mata ciliar parcialmente desmatada, com estrato arbóreo, arbustivo e herbáceo, fornecendo um sombreamento de 26 a 50%. Neste ponto não foi possível encontrar o mesohabitat poça. O seu leito é pedregoso com areia e cascalho. Neste trecho há uma grande corredeira com cerca de 150 m a qual termina na junção dos dois rios formando um lago muito visitado por pescadores e com uma bonita paisagem.

Figura 11: Perfil longitudinal e localização dos pontos de coleta no rio Cabeça.

3.3. Variáveis ambientais

Foram anotadas 13 variáveis ambientais:

• Variáveis físicas: profundidade média, comprimento e largura média do canal, velocidade superficial

média e temperatura da água.

• Estrutura do habitat: porcentagem de cobertura no ambiente, estado de preservação da vegetação

marginal, tipo de substrato e tipo de mesohabitat encontrado.

• Variáveis químicas: turbidez, oxigênio dissolvido, pH e condutividade da água.

Para medir a profundidade do canal utilizou­se uma haste de madeira com graduação em 24 centímetros. O comprimento e a largura do canal foram medidos com trena de 30 m. A velocidade superficial de correnteza foi registrada através de bóias. Para a porcentagem da cobertura vegetal da mata ciliar utilizou­se uma escala arbitrária com 4 classes: 0­25%, 26­50%, 51­75% e acima de 76%. O estado de preservação seguiu a mesma estratégia da porcentagem da cobertura vegetal sendo agrupada em três classes: mata preservada, parcialmente desmatada e totalmente desmatada. O tipo de substrato foi classificado em: areia, pedras, cascalho, lodo e suas possíveis combinações. Os mesohabitats foram divididos em corredeira, poça, rio corrente e lagoa marginal. Os parâmetros físico­químicos da água como temperatura, turbidez, oxigênio dissolvido, pH e condutividade foram medidos com analisador de água eletrônico.

3.4. Coleta da ictiofauna

Foram realizadas coletas com redes de espera variando de 3 a 9 cm entre nós opostos e três pares de covos. As redes e armadilhas foram colocadas no meio da tarde (entre 15h e 18h), permanecendo até a manhã seguinte (entre 7h e 9h). A seqüência de redes em cada local foi determinada após um sorteio e foram distribuídas ao longo das margens. Os covos foram distribuídos aos pares (pequeno e médio) nos seguintes mesohabitats: corredeira, rio corrente e poça, quando ocorriam.

Após as coletas os peixes foram colocados em sacos plásticos separados por rio, trecho, aparelho utilizado, época de coleta e mesohabitat no caso dos covos. Esses sacos foram estocados em camburões contendo solução de formol 10%. No laboratório, eles foram lavados em água corrente, identificados, medidos no seu comprimento total, pesados, e posteriormente, alguns indivíduos foram preservados em solução de álcool 70% para confirmação da identificação. A identificação dos peixes foi feita de acordo com a literatura corrente em ictiologia para espécies de águas interiores com auxílio do Prof. MSc. Leandro

Muller Gomiero do Departamento de Zoologia da UNESP­Rio Claro. Posteriormente, algumas espécies foram confirmadas pelo Prof. Dr. Oswaldo Takeshi Oyakawa do MZUSP. Elas foram classificadas quanto aos seus hábitos alimentares de acordo com Gomiero (comunicação pessoal) em: herbívoro bentônico, insetívoro bentônico, insetívoro generalista, onívoro, piscívoro e detritívoro. 25

3.5. Análises dos dados

3.5.1. Ocorrência das espécies

3.5.1.1. Constância

Visando identificar qualitativamente as espécies residentes foi aplicado o método de constância de ocorrência (Dajoz, 1973).

c i c= ∗100 C onde: c = valor de constância da espécie;

ci = número de coletas com a espécie;

C = número total de coletas.

As espécies com c ≥ 50 foram consideradas constantes, com 25 ≤ c < 50, acessórias e com c < 25, ocasionais.

3.5.1.2. Tabela de contingência

Através da freqüência observada das espécies numericamente mais abundantes: Bryconamericus stramineus, Astyanax sp., Hypostomus strigaticeps, Astyanax altiparanae, Astyanax fasciatus, Serrapinnus notomelas, Astyanax scabripinis e Pimelodella gracilis; e das mais importantes quanto ao peso: Rhamdia quelen, Hoplosternum littorale, Hoplias malabaricus, Leporinus friderici, Salminus hilarii e Schizodon nasutus foi possível testar a hipótese de independência entre a ordem do rio e a época de coleta utilizando­ se a estatística χ2.

3.5.2. Estimativa da riqueza da bacia ( S )

A estimativa “jackknife” para a riqueza da bacia é dada por (KREBS, 1989): 26

n−1 S =s k  n  onde: S = estimativa “jackknife” para a riqueza;

s = número total de espécies observadas em cada amostra;

n = número total de amostras;

k = número de espécies únicas.

A variância desta estimativa é dada por:

s n−1 k2 var  S = j2 f − ∑  J   n [ j=1 n ] onde: var( S ) = variância da estimativa “jackknife”;

fJ = número de amostras contendo a espécie única j (j = 1, 2, 3, ..., s);

k = número de espécies únicas;

n = número total de amostras.

3.5.3. Curva de rarefação

Para comparar a riqueza das assembléias dos diferentes rios foi aplicado o método da rarefação

(KREBS, 1989).

3.5.4. Medidas de diversidade de peixes

As medidas de diversidade de espécies podem ser divididas em três categorias:

I. Índices de riqueza de espécies: medem o número de espécies em uma determinada amostra;

II. Índices baseados na abundância proporcional das espécies: trabalham com riqueza e eqüabilidade;

III.Modelos de espécie­abundância: descrevem a distribuição da abundância das espécies. 27

3.5.4.1. Índice de Margalef (DMg)

Esta medida simples utiliza a combinação do número de espécies amostradas e a abundância total encontrada:

DMg = (S­1)/ln N onde: S = número total de espécies encontradas;

N = número total de indivíduos.

3.5.4.2. Índice de Shannon (H’)

O índice de Shannon (H’) é baseado na teoria da informação e mede o grau de incerteza em predizer qual a espécie do indivíduo, tomado ao acaso, de uma coleção de S espécies e N indivíduos. A incerteza aumenta conforme aumenta o número de espécies e a distribuição dos indivíduos entre as espécies torna­se igual, portanto, H’ = 0 quando existe uma única espécie na amostra e H’ é máximo quando todas as espécies são representadas pelo mesmo número de indivíduos. Este índice é bastante sensitivo a alterações nas espécies raras amostradas. Apesar deste índice ser bastante utilizado é difícil de ser interpretado.

s H'= p log p ∑  i  2 i  i=1 onde: H’ = informação contida na amostra (bits/indivíduo);

S = número total de espécies;

pi = proporção da iésima espécie na amostra.

3.5.4.3. Índice de Simpson (1/D)

Este índice fornece a probabilidade de dois indivíduos, tomados ao acaso, serem da mesma espécie.

Portanto, se a probabilidade é alta (próximo a 1), a diversidade da comunidade amostrada é baixa. Ele é bastante sensitivo a alterações nas espécies mais abundantes. 28

1 D= n n −1  i  i  ∑  N  N−1

onde: D = índice de dominância de Simpson;

ni = número de indivíduos na iésima espécie;

N = número total de indivíduos na amostra;

1/D = índice de diversidade de Simpson.

3.5.4.4. Índice de eqüabilidade de Simpson (E1/D)

Esta medida relaciona o índice de diversidade de Simpson (1/D) com o número de espécies amostradas.

1/ D E  = 1/ D s

E onde: 1/ D = eqüabilidade de Simpson;

D = diversidade de Simpson;

s = número de espécies na amostra.

3.5.4.5. Índice de Berger­Parker (1/d)

Esta é uma medida simples de dominância, muito simples de ser calculado e de fácil interpretação.

d = Nmáx/N onde: d = índice de dominância de Berger­Parker;

Nmáx = número de indivíduos da espécie mais abundante;

N = número total de indivíduos;

1/d = índice de diversidade de Berger­Parker 29

3.5.4.6. Método “jackknife”

Este método foi aplicado nos índices anteriormente citados para reduzir o efeito amostral.

3.5.4.7. Modelos espécie­abundância

Além da visualização gráfica das espécies em ordem de importância (“Whittaker plot”), foi examinado o ajuste dos 4 modelos da relação espécie abundância: série geométrica, série logarítmica, modelo lognormal e modelo “broken stick”. Para avaliar o ajuste dos modelos foi utilizado o teste de 2 com nível de significância = 0.05.

3.5.5. Coeficiente de similaridade de Morisita­Horn (CH):

Antes da aplicação do coeficiente de similaridade de Morisita­Horn excluiu­se da matriz de dados as espécies raras ou pouco freqüentes para diminuir os efeitos provocados pela pouca consistência destas informações ou pela grande quantidade de zeros na matriz (BEAUMORD, 1991).

N ∗P  i i  ID= ∗100 N ∗P ∑  i i  onde: ID = índice ponderal de dominância (%);

Ni = número de indivíduos na iésima espécie;

Pi = peso da íésima espécie

Para este trabalho foi adotado um critério duplo, baseado no ID e na proporção do número de indivíduos (pi = Ni/N), onde N é o número total de indivíduos. Entraram na análise as espécies com:

(i) ID > 0.05%;

(ii) pi > 0.5%.

Após o procedimento acima, aplicou­se o índice de similaridade de Morisita­Horn: 30

2∑ X X C ij ik H= X 2 / N 2  X 2 / N 2 N N [∑ ij j  ∑ ik k ] j k onde: CH = índice de similaridade de Morisita­Horn;

Xij, Xik = número de indivíduos da espécie i na amostra j e k;

Nj = Xij = número total de indivíduos na amostra j;

Nk = número total de indivíduos na amostra k.

3.5.6. Teste de linearidade

Para determinar a relação entre ordem do rio e riqueza de espécies aplicou­se uma regressão linear, porém, se trata de uma situação especial, pois, para uma determinada ordem do rio foram encontradas diferentes riquezas. Para verificar se existe linearidade nesta regressão, foi testada a hipótese para uma regressão onde existem múltiplos valores de Y para um dado valor de X (ZAR, 1999).

3.5.7. Análise de covariância

Para testar a hipótese da existência de padrões espaciais e temporais, bem como para testar diferenças na estrutura das assembléias nos diferentes rios e ordens, foi ajustado o seguinte modelo: µ α γ β β ε Yij = + i + j + ij + ∑ ij (Xij ­ X ) + ij onde: Yij = número de espécies (variável dependente);

µ = grande média;

αi = efeito do i­ésimo nível do fator rio (i = 1, 2, 3, 4);

γj = efeito do j­ésimo nível do fator ordem do rio (j = 1, 2, 3);

βij = efeito linear das covariáveis;

Xij = covariáveis ambientais;

X = média das covariáveis ambientais;

εij = erro aleatório. 31

O fator rio possui quatro níveis: rios Passa Cinco, Corumbataí, Ribeirão Claro e Cabeça; o fator ordem do rio possui 3 níveis: 4, 5 e 6. As covariáveis utilizadas foram temperatura e logaritmo natural do número de indivíduos.

3.5.8. Análises multivariadas

3.5.8.1. Análise de variância multivariada (MANOVA)

Quando mais de uma variável é medida em um experimento, elas podem ser analisadas através de uma MANOVA. Este caso ocorreu quando as variáveis ambientais foram coletadas, pois, em um único ponto coletou­se 4 variáveis físicas: profundidade e largura do canal, velocidade superficial e temperatura da água; e 4 variáveis químicas: turbidez, oxigênio dissolvido, pH e condutividade da água.

A hipótese nula é:

H0 : µ1 = µ2 = ... = µk onde: µk (k = 1, 2, ..., K) é o centróide da késima população, ou seja: µ µ µ µ ’k = [ 1k, 2k, ..., pk], onde p é o número de variáveis dependentes.

Através de operações matriciais, que seguem os princípios de uma ANOVA, computa­se um valor de probabilidade de Wilks que será transformado num valor R de Rao que segue uma distribuição F

(NESSELROADE e CATTELL, 1988).

3.5.8.2. Análise de correspondência (DCA)

Para analisar a estrutura primária das assembléias de peixes foi aplicada a análise de correspondência “detrended” (DCA) (GAUCH, 1982). Como esta técnica reduz a multidimensionalidade da matriz analisada, os dois primeiros eixos da DCA, com os “scores” da abundância das 35 espécies nos 12 pontos de coletas, foram utilizados para visualizar os dados em duas dimensões. Todas as espécies entraram na análise e foi diminuído o peso das espécies raras (“downweight”). 32

3.5.8.3. Análise de componentes principais (PCA)

Foi aplicada a análise de componentes principais (PCA) visando diminuir a multidimensionalidade dos dados da paisagem dos pontos de coleta. Estes dados foram: ordem dos rios (4, 5 e 6); estado de preservação da mata ciliar: preservada, parcialmente desmatada e totalmente desmatada; sombreamento: 0­

25%, 26­50%, 51­75%, acima de 76%; presença ou não de eucalipto; presença ou não de cana­de­açúcar; presença ou não de pasto; presença ou não de esgoto; estabilidade do barranco ao redor: baixa ou alta.

3.5.8.4. Análise espécie­ambiente

A análise espécie­ambiente foi através de um método indireto, ou seja, aplicou­se uma análise de variância não paramétrica (teste de Kruskal­Wallis) para os eixos 1 e 2 da DCA considerando os diferentes rios como fonte de variação e foram aplicadas análises de regressão paramétrica visando verificar a relação linear entre os diferentes eixos da PCA e os eixos 1 e 2 da DCA, índices de diversidade e riqueza de espécies. Esta metodologia foi adaptada de Marsh­Matthews (2000). As análises multivariadas foram realizadas no pacote PC­ORD para “Windows”, versão 3.15. 33

4. RESULTADOS

4.1. Ictiofauna capturada

Foram coletados em toda a bacia do rio Corumbataí cerca de 56 kg de peixes com 2474 indivíduos pertencentes a 35 espécies. Destas, 22 (63%) são Characiformes e 9 (26%) são Siluriformes.

Cyprinodontiformes (2 espécies, 6%), Perciformes (1 espécie, 2.5%) e Gymnotiformes (1 espécie, 2.5%) também estão representadas. A família com o maior número de espécies é Characidae (12 espécies, 34%), seguida por Loricariidae (4 espécies, 11%) e Anastomidae (3 espécies, 8.5%).

A lista taxionômica abaixo foi elaborada com base em Buckup e Menezes (2002).

Classe ACTINOPTERYGII Ordem CHARACIFORMES Família CHARACIDAE Oligosarcus paranensis Menezes & Géry, 1983 Astyanax altiparanae Garutti & Britski, 2000 Astyanax sp. Astyanax fasciatus (Cuvier, 1819) Astyanax scabripinnis Eigenmann, 1914 Bryconamericus stramineus Eigenmann, 1908 Hyphessobrycon eques (Steindachner, 1882) Salminus hilarii Valenciennes, 1850 Serrapinnus heterodon (Eigenmann, 1915) Serrapinnus notomelas Eigenmann, 1915 Triportheus angulatus (Spix & Agassiz, 1829) Serrasalmus spilopleura Kner, 1858 Família CRENUCHIDAE Characidium aff. zebra Eigenmann, 1909 Família CURIMATIDAE Cyphocharax modestus (Fernandez­Yepes, 1948) Cyphocharax nagelii (Steindachner, 1881) Família PROCHILODONTIDAE Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) Família ANASTOMIDAE Leporinus friderici (Bloch, 1794) Leporinus octofasciatus Steindachner, 1915 Schizodon nasutus Kner, 1858 34

Família PARODONTIDAE Apareiodon piracicabae (Eigenmann, 1907) Parodon tortuosus Eigenmann & Norris, 1900 Família ERYTHRINIDAE Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)

Ordem GYMNOTIFORMES Família GYMNOTIDAE Gymnotus carapo Linnaeus, 1758

Ordem SILURIFORMES Família LORICARIIDAE Hypostomus ancistroides (Ihering, 1911) Hypostomus strigaticeps (Regan, 1908) Hypostomus regani (Ihering, 1905) Rineloricaria latirostris (Boulenger, 1900) Família CALLICHTHYIDAE Corydoras paleatus (Jenys, 1842) Hoplosternum littorale (Hancock, 1828) Família PIMELODIDAE Pimelodus maculatus Lacèpede, 1803 Família HEPTAPTERIDAE Pimelodella gracilis (Valenciennes, 1836) Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824)

Ordem CYPRINODONTIFORMES Família POECILIIDAE Phalloceros caudimaculatus (Hensel, 1868)

Poecilia vivipara Bloch & Schneider, 1801

Ordem PERCIFORMES Família CICHLIDAE Geophagus brasiliensis Kner, 1865

Com relação às espécies dominantes, destacam­se: Bryconamericus stramineus, Astyanax sp.,

Hypostomus strigaticeps, Astyanax altiparanae, Astyanax fasciatus, Serrapinnus notomelas, Astyanax scabripinnis e Pimelodella gracilis que corresponderam a 83% do número total de indivíduos coletados.

Foram registradas seis espécies raras representadas por apenas um indivíduo: Pimelodus maculatus,

Hypostomus regani, Oligosarcus paranensis, Corydoras paleatus, Poecilia vivipara e Phalloceros caudimaculatus (Tabela 1). 35

Ao se levar em consideração o peso capturado Hypostomus strigaticeps, Hoplias malabaricus,

Salminus hilarii, Rhamdia quelen, Astyanax altiparanae, Leporinus friderici, Hoplosternum littorale,

Prochilodus lineatus e Schizodon nasutus contribuem com mais de 80% das capturas.

Dezoito espécies de pequeno porte (L < 15 cm) dominaram numericamente as coletas (cerca de

75%). Corydoras paleatus, Phalloceros caudimaculatus, Oligosarcus paranensis e Poecilia vivipara, além de raras são menores que 5 cm. Espécies de médio porte (L > 30 cm) foram representadas por Leporinus friderici, Prochilodus lineatus, Salminus hilarii e Hoplias malabaricus as quais respondem por 30% do peso capturado. O maior indivíduo capturado foi uma traíra Hoplias malabaricus com 40.9 cm e o menor foi um espécime de Corydoras paleatus com 3.7 cm.

A curva espécie­abundância ("Whittaker plot") evidencia uma baixa dominância com um grande número de espécies intermediárias e algumas poucas espécies raras (Figura 12). Os modelos de distribuição de abundância de espécies que se ajustaram foram: série logarítmica (p < 0.01) e lognormal (p < 0.01). A estimativa “jackknife” para a riqueza da bacia é de 43 espécies (IC0.05; 4 = 31.3 < 43.3 < 55.2). 36

Tabela 1: Espécies capturadas, número de indivíduos (N) e contribuição (N(%)), peso (Wt), contribuição (W

(%)) e amplitude do peso (W(g)) e comprimento (L(cm)).

Espécie N N(%) Wt W(%) W(g) L(cm) Bryconamericus stramineus 484 19.60 571.75 1.038 0.14­3.37 2.7­6.8 Astyanax sp. 437 17.66 906.11 1.631 0.27­6.82 3.0­8.8 Hypostomus strigaticeps 350 14.14 18977.4 34.167 0.24­371.04 3.5­31.0 Astyanax altiparanae 291 11.76 4144.11 7.461 1.03­39.95 4.2­14.0 Astyanax fasciatus 181 7.31 1538.03 2.769 1.46­35.49 5.2­13.2 Serrapinnus notomelas 142 5.74 126.54 0.228 0.22­2.77 2.8­6.6 Astyanax scabripinnis 103 4.16 121.47 0.219 0.09­7.26 2.5­8.4 Pimelodella gracilis 76 3.07 489.32 0.881 1.27­17.66 2.4­13.2 Cyphocharax modesta 46 1.86 556.67 1.002 0.43­37.20 3.2­13.7 Serrapinnus heterodon 46 1.86 56.46 0.102 0.52­1.92 4.3­5.7 Cyphocharax nagelii 43 1.74 1008.68 1.816 12.10­42.66 9.7­14.6 Rhamdia quelen 40 1.62 3590.79 6.465 0.88­264.26 4.9­29.9 Hypostomus ancistroides 39 1.58 1367.47 2.462 10.45­81.84 9.5­19.2 Hoplosternum littorale 37 1.49 2442.14 4.397 17.94­185.28 10.3­29.5 Hoplias malabaricus 27 1.09 6123.27 11.024 18.32­926.40 11.4­40.9 Geophagus brasiliensis 20 0.81 521.05 0.938 2.02­162.4 5.2­23.8 Leporinus friderici 16 0.65 2542.06 4.577 37.6­434.75 14.6­32.7 Hyphessobrycon eques 16 0.65 7.2 0.013 0.28­0.77 2.9­3.8 Salminus hilarii 13 0.53 4264.88 7.679 63.45­650.20 18.3­37.2 Characidium aff. zebra 13 0.53 29.84 0.054 0.9­6.1 4.7­8.3 Triportheus angulatus 12 0.48 1322.74 2.381 92.94­140.54 18.8­21.8 Schizodon nasutus 9 0.36 1643.25 2.959 63.2­368.30 18.9­29.2 Leporinus octofasciatus 7 0.28 592.31 1.066 18.67­158.00 11.9­22.6 Rineloricaria latirostris 6 0.24 75.98 0.137 8.15­16.97 12.0­19.2 Prochilodus lineatus 5 0.20 1837.54 3.308 157.54­675.00 23.0­36.2 Gymnotus carapo 3 0.12 201.09 0.362 31.2­104.91 19.8­29.4 Serrasalmus spilopleura 2 0.08 185.61 0.334 92.47­93.14 14.8­15.6 Parodon tortuosus 2 0.08 47.52 0.086 20.93­26.59 12.1­12.3 Apareiodon piracicabae 2 0.08 42.89 0.077 18.62­24.27 11.3­12.6 Pimelodus maculatus 1 0.04 151.82 0.273 21.6 Hypostomus regani 1 0.04 49.59 0.089 16.2 Oligosarcus paranensis 1 0.04 0.81 0.001 4.6 Corydoras paleatus 1 0.04 0.76 0.001 3.7 Poecilia vivipara 1 0.04 0.71 0.001 4.7 Phalloceros caudimaculatus 1 0.04 0.39 0.001 4.5

Total 2474 100 55538.25 100 37

Figura 12: Distribuição das espécies em ordem de importância para a bacia do Corumbataí.

4.2. Ocorrência das espécies

O rio Passa Cinco apresentou maior riqueza, 27 espécies, sendo 6 capturadas exclusivamente neste rio: Characidium aff. zebra, classificada como constante; Corydoras paleatus, Pimelodus maculatus,

Poecilia vivipara, Serrapinus heterodon e Serrasalmus spilopleura ocasionais. No Corumbataí foram capturadas 24 espécies e 3 capturadas somente neste rio: Hyphessobrycon eques, Hypostomus regani e

Parodon tortuosus todas ocasionais. No Ribeirão Claro foram capturadas 21 espécies e no Cabeça a riqueza foi de 18 espécies com 2 ocorrendo somente neste rio; as ocasionais foram: Oligosarcus paranensis e

Phalloceros caudimaculatus. Onze espécies ocorreram em todos os rios: Astyanax altiparanae, Hoplias malabaricus e Hypostomus strigaticeps classificadas como constantes, Leporinus octofasciatus ocasional e

Astyanax fasciatus, Astyanax scabripinnis, Bryconamericus stramineus, Cyphocharax modesta, Hypostomus ancistroides, Rhamdia quelen e Serrapinnus notomelas (Tabela 2). 38

Tabela 2: Relação das espécies capturadas nos diferentes rios e sua classificação baseada na persistência das espécies nas coletas: constante (C), acessória (A) e ocasional (O).

Nome científico Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça Apareiodon piracicabae O O Astyanax altiparanae C C C C Astyanax sp. C O C Astyanax fasciatus O C C O Astyanax scabripinnis C A A O Bryconamericus stramineus C O O A Characidium aff. zebra C Corydoras paleatus O Cyphocharax modesta A A A C Cyphocharax nagelii A C O Geophagus brasiliensis C O C Gymnotus carapo O O O Hoplias malabaricus C C C C Hoplosternum littorale A C C Hyphessobrycon eques O Hypostomus ancistroides C O A A Hypostomus strigaticeps C C C C Hypostomus regani O Leporinus friderici C A O Leporinus octofasciatus O O O O Oligosarcus paranensis O Parodon tortuosus O Phalloceros caudimaculatus O Pimelodella gracilis O A A Pimelodus maculatus O Poecilia vivipara O Prochilodus lineatus O O O Rhamdia quelen C C C A Rineloricaria latirostris A O Salminus hilarii C C Schizodon nasutus O O O Serrapinnus heterodon O Serrapinnus notomelas C O O C Serrasalmus spilopleura O Triportheus angulatus O A 39

4.2.1. Bryconamericus stramineus

O piquira Bryconamericus stramineus, a espécie mais abundante nas coletas, apresentou comprimento máximo L = 6.8 cm e peso máximo W = 3.4 g. Ocorreu em todos os rios: de forma constante no Passa Cinco; acessória no Cabeça; e ocasional no Ribeirão Claro e Corumbataí (Tabela 2). Este peixe foi muito abundante na junção do Cabeça com o Passa Cinco durante a primeira coleta e no trecho intermediário do Passa Cinco na segunda coleta. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio, ambiente e período de coleta (X2 = 265.9; gl = 12; p < 0.01). O piquira foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (97%), no segundo período de coleta (78%) e com grande ocorrência em ambientes de corredeira (44%) (Tabela 3).

Tabela 3: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Bryconamericus stramineus de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Ordem Ambientes Ambientes 1 2 3 1 2 3 4 0 (1) 0 (0.47) 10 (0.73) 0 (3.49) 0 (1.7) 0 (2.66) 5 93 (45.1) 0 (22) 1 (34.37) 122 (164.62) 103 (80.39) 153 (125.57) 6 0 (0.19) 0 (0.09) 0 (0.15) 0 (0.7) 2 (0.34) 0 (0.53) Total 93 (46.29) 0 (22.56) 11 (35.25) 122 (168.81) 105 (82.43) 153 (128.76)

4.2.2. Astyanax sp.

O lambari Astyanax sp. apresentou comprimento máximo L = 8.8 cm e peso máximo W = 6.8 g.

Não ocorreu no Corumbataí. No Passa Cinco e Cabeça ocorreu de forma constante e no Ribeirão Claro foi ocasional (Tabela 2). Este lambari ocorreu nos três trechos e nos dois períodos de coleta no Passa Cinco. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio e ambiente (X2 =

95.0; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (90%) e em ambientes de rio corrente

(60%), porém, não apresentou diferenças significativas na abundância capturada nos diferentes períodos de coleta (Tabela 4). 40

Tabela 4: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Astyanax sp. de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Ordem Ambientes Ambientes 1 2 3 1 2 3 4 0 (0.1) 3 (0.49) 0 (0.87) 0 (0.1) 0 (0.51) 0 (0.91) 5 28 (13.38) 43 (65.56) 138 (115.96) 2 (13.94) 86 (68.32) 101 (120.84) 6 0 (1.32) 0 (5.93) 2 (10.49) 0 (1.26) 15 (6.18) 19 (10.93) Total 28 (14.8) 46 (71.98) 140 (127.32) 2 (15.3) 101 (75.01) 120 (132.68)

4.2.3. Hypostomus strigaticeps

O cascudo Hypostomus strigaticeps, apresentou comprimento máximo L = 31 cm e peso máximo W

= 371.0 g. Ocorreu em todos os rios de forma constante (Tabela 2). Este cascudo foi muito abundante no ponto 1 do Passa Cinco que apresenta cobertura vegetal entre 51 e 75% e no ponto 3 do Corumbataí que apresenta de 0 a 25% de cobertura vegetal. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio e cobertura vegetal (X2 = 263.3; gl = 17; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (56%) e em locais onde a cobertura vegetal estava entre 0 a 25% (71%), porém, não apresentou diferenças significativas na abundância capturada nos diferentes períodos de coleta (Tabela 5).

Tabela 5: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Hypostomus strigaticeps de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e cobertura vegetal (1: 0­25%, 2: 26­50%, 3:51­75% e 4: acima de 76%).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Cobertura Cobertura Ordem 1 2 3 4 1 2 3 4 4 17 (11.63) 0 (0.38) 0 (3.99) 2 (0.42) 8 (12.46) 0 (0.4) 0 (4.27) 7 (0.45) 5 52 (67.4) 3 (2.17) 60 (23.1) 0 (2.45) 52 (72.19) 5 (2.33) 25 (24.74) 0 (2.62) 6 35 (40.72) 0 (1.31) 0 (13.96) 0 (1.48) 84 (43.61) 0 (1.41) 0 (14.95) 0 (1.58) Total 104 (119.75) 3 (3.86) 60 (44.91) 2 (4.35) 144 (128.26) 5 (4.14) 25 (48.1) 7 (4.65) 41

4.2.4. Astyanax altiparanae

O lambari de rabo amarelo Astyanax altiparanae apresentou comprimento máximo L = 14 cm e peso máximo W = 40 g. Esta espécie ocorreu em todos os rios de forma constante (Tabela 2). O lambari de rabo amarelo foi muito abundante no ponto 1 durante a primeira coleta no Passa Cinco. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio, ambiente e período de coleta

(X2 = 163.9; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (65%), no primeiro período de coleta (57%) e com grande ocorrência em ambientes de rio corrente (63%) (Tabela 6).

Tabela 6: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Astyanax altiparanae de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Ordem Ambientes Ambientes 1 2 3 1 2 3 4 0 (2.5) 7 (13.23) 11 (27.1) 0 (1.88) 2 (9.96) 55 (20.37) 5 11 (6.27) 73 (33.17) 57 (67.81) 0 (4.72) 8 (25) 39 (51.06) 6 2 (0.93) 0 (4.94) 5 (10.1) 4 (0.7) 0 (3.72) 17 (7.61) Total 13 (9.7) 80 (51.34) 73 (105.01) 4 (22.6) 10 (38.68) 111 (117.62)

4.2.5. Astyanax fasciatus

O lambari Astyanax fasciatus apresentou comprimento máximo L = 13.2 cm e peso máximo W =

35.5 g. Ocorreu em todos os rios: de forma constante no Corumbataí e Ribeirão Claro e ocasional no Passa

Cinco e Cabeça (Tabela 2). Este lambari foi muito abundante no ponto 2 durante o segundo período de coleta no Corumbataí. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio, ambiente e período de coleta (X2 = 504.6; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (86%), no segundo período de coleta (87%) e com grande ocorrência em ambientes do tipo poça

(79%) (Tabela 7). 42

Tabela 7: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Astyanax fasciatus de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Ordem Ambientes Ambientes 1 2 3 1 2 3 4 0 (0.03) 1 (1.93) 12 (0.47) 0 (0.19) 2 (13.98) 5 (3.4) 5 1 (0.21) 5 (15.09) 0 (3.67) 0 (1.51) 136 (109.03) 14 (26.5) 6 1 (0.01) 0 (0.48) 2 (0.12) 0 (0.05) 0 (3.49) 2 (0.85) Total 2 (0.25) 6 (17.5) 14 (4.26) 0 (1.75) 138 (128.25) 21 (30.75)

4.2.6. Serrapinnus notomelas

O Serrapinnus notomelas apresentou comprimento máximo L = 6.6 cm e peso máximo W = 2.8 g.

Ocorreu em todos os rios: de forma constante no Passa Cinco e Cabeça e ocasional no Corumbataí e

Ribeirão Claro (Tabela 2). O Serrapinnus notomelas foi muito abundante no ponto 1 durante o segundo período de coleta nos rios Passa Cinco e Cabeça. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio e período de coleta (X2 = 44.8; gl = 12; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (93%), no segundo período de coleta (85%), porém, não apresentou diferenças significativas na abundância capturada nos diferentes tipos de ambiente (Tabela 8).

Tabela 8: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Serrapinnus notomelas de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Ordem Ambientes Ambientes 1 2 3 1 2 3 4 0 (0.12) 2 (0.19) 1 (0.16) 0 (0.63) 0 (1.04) 0 (0.88) 5 1 (5.04) 12 (8.35) 5 (7.06) 34 (27.5) 44 (45.56) 36 (38.49) 6 0 (0.27) 0 (0.44) 1 (0.37) 0 (1.46) 0 (2.42) 6 (2.04) Total 1 (5.43) 14 (8.98) 7 (7.59) 34 (29.59) 44 (49.02) 42 (41.41) 43

4.2.7. Astyanax scabripinnis

O lambari Astyanax scabripinnis apresentou comprimento máximo L = 8.4 cm e peso máximo W =

7.3 g. Ocorreu em todos os rios: de forma constante no Passa Cinco, acessória no Cabeça e ocasional no

Corumbataí e Ribeirão Claro (Tabela 2). Este lambari foi muito abundante no ponto 2 durante o primeiro período de coleta no Ribeirão Claro e no ponto 1 durante o segundo período no Passa Cinco. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com o ambiente (X2 = 121.2; gl = 7; p < 0.01). Foi muito abundante em ambientes de rio corrente (63%), porém, não apresentou diferenças significativas na abundância capturada nas diferentes ordens do rio e períodos de coleta (Tabela 9).

Tabela 9: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Astyanax scabripinnis de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça e 3 – rio corrente).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Ordem Ambientes Ambientes 1 2 3 1 2 3 4 5 (1.84) 0 (8.14) 39 (17.06) 1 (1.43) 0 (6.31) 3 (13.23) 5 1 (2.11) 4 (9.32) 9 (19.55) 0 (1.63) 27 (7.23) 14 (15.16) Total 6 (3.95) 4 (21.41) 48 (36.61) 1 (3.06) 27 (13.54) 17 (28.39)

4.2.8. Pimelodella gracilis

O pequeno bagre Pimelodella gracilis apresentou comprimento máximo L = 13.2 cm e peso máximo W = 17.7 g. Não ocorreu no Cabeça. No Corumbataí e Ribeirão Claro foi acessória e no Passa

Cinco ocorreu de forma ocasional (Tabela 2). Este bagre foi muito abundante no ponto 2 durante o primeiro e segundo período de coleta no rio Corumbataí. O número de indivíduos capturados está estatisticamente relacionado com a ordem do rio, ambiente e período de coleta (X2 = 36.8; gl = 4; p < 0.01). Foi muito abundante nos trechos de ordem 5 (92%), no segundo período de coleta (76%) e com grande ocorrência em ambientes do tipo poça (68%) (Tabela 10). 44

Tabela 10: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Pimelodella gracilis de acordo com a ordem dos rios, períodos de coleta e ambientes (1 – corredeira, 2 – poça).

Número de indivíduos Coleta 1 Coleta 2 Ordem Ambientes Ambientes 1 2 1 2 4 5 (0.97) 1 (0.45) 0 (3.13) 0 (1.45) 5 2 (11.34) 10 (5.24) 45 (36.55) 13 (16.87) Total 7 (12.31) 11 (5.69) 45 (39.68) 13 (18.32)

4.2.9. Rhamdia quelen

O bagre Rhamdia quelen apresentou comprimento máximo L = 29.9 cm e peso máximo W = 264.3 g. Ocorreu em todos dos rios. No Passa Cinco, Corumbataí e Ribeirão Claro ocorreu de forma constante e no Cabeça foi acessória (Tabela 2). A maior contribuição em peso ocorreu no ponto 3 do Corumbataí no segundo período com 1367.8 g proveniente de 11 indivíduos capturados. O número de indivíduos capturados em um determinado período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 3.4; gl = 2; p = 0.18), é evidente que a captura foi maior no segundo período (87.5%) (Tabela 11).

Tabela 11: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Rhamdia quelen de acordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

Número de indivíduos Ordem Coleta 1 Coleta 2 Total 4 2 (1.63) 11 (11.37) 13 5 3 (1.62) 10 (11.37) 13 6 0 (1.75) 14 (12.26) 15 Total 5 35 40 45

4.2.10. Hoplosternum littorale

O caborja Hoplosternum littorale apresentou comprimento máximo L = 29.5 cm e um peso máximo

W = 185.3 g. Não ocorreu no Passa Cinco. No Ribeirão Claro e Cabeça ocorreu de forma constante e no

Corumbataí foi espécie acessória (Tabela 2). O caborja foi mais abundante no ponto 3 do Ribeirão Claro onde foram capturados 19 indivíduos. A maior contribuição em peso ocorreu no ponto 3 no segundo período de coleta tanto no Corumbataí, com 812.4 g e 8 indivíduos quanto no Ribeirão Claro, com 726.7 g e

18 indivíduos. Estes locais apresentaram baixos valores de oxigênio dissolvido. O número de indivíduos capturados em um determinado período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 3.3; gl = 2; p = 0.19), é evidente que a captura foi maior no segundo período (81%) (Tabela 12).

Tabela 12: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Hoplosternum littorale de acordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

Número de indivíduos Ordem Coleta 1 Coleta 2 Total 4 3 (3.98) 18 (17.02) 21 5 3 (1.32) 4 (5.68) 7 6 1 (1.7) 8 (7.3) 9 Total 7 30 37

4.2.11. Hoplias malabaricus

A traíra Hoplias malabaricus, apresentou comprimento máximo L = 40.9 cm e peso máximo W =

926.4 g este foi o maior e mais pesado indivíduo de todas as coletas. Ocorreu em todos os rios de forma constante (Tabela 2). A maior contribuição em peso ocorreu no ponto 1 do Cabeça durante o segundo período de coleta com 2453.6 g com apenas 4 indivíduos. O número de indivíduos capturados em um determinado período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 0.8; gl = 2; p = 0.661), é evidente que a captura foi maior nos trechos de ordem 5 (63%) (Tabela 13). 46

Tabela 13: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Hoplias malabaricus de acordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

Número de indivíduos Ordem Coleta 1 Coleta 2 Total 4 1 (1.63) 3 (2.38) 4 5 8 (6.93) 9 (10.07) 17 6 2 (2.44) 4 (3.55) 6 Total 11 16 27

4.2.12. Leporinus friderici

A piava Leporinus friderici, apresentou um comprimento máximo L = 32.7 cm e um peso máximo

W = 434.8 g. Não ocorreu no Cabeça. A piava foi constante no Passa Cinco, ocasional no Ribeirão Claro e acessória no Corumbataí (Tabela 2). A maior contribuição em peso ocorreu no ponto 1 do Ribeirão Claro durante o primeiro período de coleta com 873.2 g e 9 indivíduos, e no ponto 2 do Passa Cinco durante os dois períodos de coleta com 936.9 g e 4 indivíduos. O número de indivíduos capturados em um determinado período de coleta é estatisticamente dependente da ordem do rio (X2 = 6.7; gl = 2; p = 0.035). Foi muito abundante nos trechos de ordem 4 (56%), no primeiro período de coleta (81%) (Tabela 14).

Tabela 14: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Leporinus friderici de acordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

Número de indivíduos Ordem Coleta 1 Coleta 2 Total 4 9 (7.31) 0 (1.69) 9 5 3 (3.25) 1 (0.75) 4 6 1 (2.44) 2 (0.56) 3 Total 13 3 16 47

4.2.13. Salminus hilarii

A tabarana Salminus hilarii, apresentou comprimento máximo L = 37.2 cm e peso máximo W =

650.2 g. Ocorreu de forma constante nos rios Corumbataí e Ribeirão Claro (Tabela 2). A maior contribuição em peso ocorreu no ponto 2 do Corumbataí com 1958 g e 4 indivíduos, e no ponto 1 do Ribeirão Claro durante o segundo período de coleta com 1067.2 g e 4 indivíduos. O número de indivíduos capturados em um determinado período de coleta é estatisticamente independente da ordem do rio (X2 = 1.04; gl = 2; p =

0.308) (Tabela 15).

Tabela 15: Número de indivíduos observados e esperados (entre parêntesis) de Salminus hilarii de acordo com a ordem dos rios e períodos de coleta.

Número de indivíduos Ordem Coleta 1 Coleta 2 Total 4 5 (4.15) 4 (4.85) 9 5 1 (1.85) 3 (2.15) 4 Total 6 7 13

4.2.14. Schizodon nasutus

O ximborê Schizodon nasutus, apresentou comprimento máximo L = 29.2 cm e peso máximo W =

368.3 g. Ocorreu de forma ocasional nos rios Passa Cinco, Corumbataí e Ribeirão Claro (Tabela 2). No rio

Cabeça o ximborê não ocorreu. Só ocorreu no segundo período de coleta e a maior contribuição em peso ocorreu no ponto 2 do Ribeirão Claro com 3 indivíduos pesando 705 g e no ponto 3 do Passa Cinco com 5 indivíduos pesando 705 g. O ximborê foi mais abundante nos trechos de ordem 6 (X2 = 2.7; gl = 2; p =

2.267) (Tabela 16). 48

Tabela 16: Número de indivíduos observados e porcentagem do total (entre parêntesis) de Schizodon nasutus de acordo com a ordem dos rios.

Número de indivíduos Ordem Coleta 2 4 3 (33.33) 5 1 (11.11) 6 5 (55.56) Total 9 (100)

4.2.15. Prochilodus lineatus

O curimbatá Prochilodus lineatus, apresentou comprimento máximo L = 36.2 cm e peso máximo W

= 675 g. O curimbatá ocorreu de forma ocasional nos rios Corumbataí, Ribeirão Claro e Cabeça (Tabela 2).

Só ocorreu no primeiro período de coleta e em rios de ordem 5 e a maior contribuição em peso ocorreu no ponto 2 do Corumbataí com 2 indivíduos pesando 843g.

4.3. Curvas de rarefação

O número de espécies encontradas depende do tamanho da amostra onde as espécies mais comuns estão provavelmente representadas nas amostras iniciais e à medida que novas coletas são realizadas as espécies raras passam a ser adicionadas à lista. As amostras devem ser tomadas até que as espécies encontradas atinjam um platô. Através das curvas de rarefação observa­se que aumentando o tamanho da amostra (N = número de indivíduos) o número de espécies aumenta e a dispersão dos valores estimados de riqueza diminui (Figura 13). 49

Figura 13: Curvas de rarefação para os diferentes rios da bacia do Corumbataí.

Para utilizar a riqueza como uma medida de diversidade fixou­se o tamanho da amostra em 2, 10,

50, 100 e 150 indivíduos (Tabela 17 e Figura 14). Pelo método da rarefação estimou­se que para um tamanho amostral de 150 indivíduos o Ribeirão Claro possui maior riqueza (19 espécies), seguido pelo rio

Corumbataí (17), Cabeça (15) e finalmente o rio Passa Cinco com 14 espécies.

Tabela 17: Número esperado de espécies (desvio padrão) por rio para amostras com N indivíduos. N Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça 2 1.80 (0.40) 1.82 (0.38) 1.86 (0.35) 1.84 (0.37) 10 5.05 (1.12) 5.45 (1.19) 6.23 (1.24) 5.67 (1.19) 50 9.92 (1.60) 11.73 (1.71) 14.06 (1.58) 11.72 (1.40) 100 12.85 (1.73) 15.37 (1.69) 17.50 (1.35) 14.14 (1.23) 150 14.78 (1.77) 17.50 (1.62) 19.25 (1.08) 15.31 (1.13) 50

Figura 14: Curva de rarefação com N = 150 indivíduos.

4.4. Medidas de diversidade

O trecho 3 durante o segundo período de coleta do rio Passa Cinco apresentou os menores valores de riqueza e número de indivíduos. O ponto 1 no segundo período de coleta do Ribeirão Claro apresentou o maior valor de diversidade expresso pelo índice de Berger­Parker. O trecho 1 no segundo período de coleta do rio Cabeça apresentou os menores valores em quase todas as medidas de diversidade (Tabela 18). 51

Tabela 18: Riqueza de espécies (S), abundância (N), índice de Margalef (DMg), índice de Berger­Parker

(1/d), índice de Simpson (1/D), índice de Shannon para abundância (H’N), índice de Shannon para peso

(H’P) e eqüabilidade de Simpson (E1/D) para os diferentes trechos (1, 2 e 3) e épocas de coleta (1: março­ junho e 2: setembro­dezembro) na bacia do rio Corumbataí.

Rio Trecho Época S N DMg 1/d 1/D H’N H’P E1/D 1 1 5 6 2.23 3.03 14.29 2.25 0.94 0.90 2 4 53 0.76 1.20 1.45 0.92 0.55 0.36

a 2 1 9 63 1.93 3.45 5.88 2.68 1.91 0.59 ç

be 2 7 53 1.51 2.13 3.70 2.22 2.16 0.50 a

C 3 1 7 130 1.23 1.39 1.87 1.49 2.46 0.27

2 13 89 2.67 4.00 7.69 3.19 2.75 0.57

1 1 6 34 1,42 2.00 3.33 1.98 1.53 0.52 2 4 16 1.08 2.00 2.78 1.53 1.11 0.63

í 2 1 9 33 2.29 3.33 6.67 2.79 1.87 0.27 a t a 2 10 247 1.63 1.64 2.33 1.67 2.57 0.40 mb

u 3 1 11 62 2.42 1.82 3.12 2.33 2.21 0.63 r o 2 12 105 2.36 2.56 5.00 2.76 2.56 0.23 C 1 1 12 385 1.85 2.38 3.70 2.19 1.63 0.31 2 13 375 2.02 2.33 4.00 2.58 2.51 0.31

o 2 1 8 106 1.50 2.38 4.00 2.34 2.03 0.49 nc i 2 12 354 1.87 1.27 1.59 1.28 1.76 0.13 C

a 3 1 4 6 1.67 3.03 7.69 1.92 1.59 0.90 s s a 2 17 122 3.33 2.86 4.76 2.84 2.59 0.27 P 1 1 9 39 2.18 4.35 4.14 2.87 2.34 0.70 2 10 32 2.60 5.26 11.11 3.16 2.30 0.83 o r a

l 2 1 7 60 1.47 1.61 2.44 1.83 1.07 0.34 C

o 2 6 13 1.95 3.23 6.67 2.35 1.32 0.76 ã r i

e 3 1 6 21 1.64 1.32 1.75 1.34 2.31 0.28

ib 2 5 70 0.94 1.43 1.82 1.13 1.55 0.36 R

Todas as medidas, após a aplicação do método “jackknife”, revelaram que o Ribeirão Claro possui uma assembléia de peixes com baixa dominância, ao passo que, o rio Passa Cinco apresentou maior dominância e conseqüentemente menor diversidade de espécies. O valor do índice de eqüabilidade diferenciou estatisticamente (p > 0.05) a diversidade de espécies de peixes encontrada no Ribeirão Claro daquela encontrada no rio Passa Cinco (Tabela 19). 52

Tabela 19: Riqueza de espécies (S), abundância (N) e índices com intervalo de confiança obtido através do método “jackknife” ( = 0.05 e n = 6) dos quatro rios: índice de riqueza de espécies de Margalef (DMg),

índice de Berger­Parker (d), índice de Simpson (D), índice de Shannon (H’), eqüabilidade de Simpson (E1/D) e índice da série logarítmica ( ).

Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça Diversidade S 27 24 21 18 N 1348 497 235 395

DMg 4.54 4.61 4.62 3.41 (3.00 a 6.08) (3.78 a 5.43) (3.56 a 5.67) (2.68 a 4.14) d 0.20 0.10 0.10 0.13 (0.01 a 0.38) (0.00 a 0.27) (0.00 a 0.22) (0.05 a 0.21) D 0.14 0.09 0.05 0.11 (0.08 a 0.20) (0.01 a 0.17) (0.00 a 0.11) (0.04 a 0.18) H' 3.17 3.52 4.22 3.46 (2.84 a 3.51) (2.80 a 4.24) (3.57 a 4.87) (2.79 a 4.13)

E1/D 0.59 0.68 0.85 0.74 (0.51 a 0.67) (0.52 a 084) (0.74 a 0.96) (0.62 a 0.86) 4.80 5.34 5.69 4.26 (4.02 a 5.57) (4.27 a 6.42) (4.23 a 7.15) (3.29 a 5.22)

Quanto à visualização gráfica das espécies em ordem de importância, pode­se dizer que a comunidade de peixes do Ribeirão Claro possui menos espécies dominantes que os outros rios e tanto o

Passa Cinco quanto o Corumbataí apresentam um número maior de espécies dominantes e raras (Figura 15). 53

Figura 15: Distribuição das espécies em ordem de importância.

A baixa dominância que ocorreu no Ribeirão Claro está refletida no ajuste do modelo “broken stick”. Os dados do rio Cabeça se ajustaram aos modelos série logarítmica, lognormal e “broken stick”. As assembléias dos rios Passa Cinco e Corumbataí mostraram um padrão lognormal (Tabela 20).

Tabela 20: Ajuste dos modelos de distribuição espécie­abundância, através do teste de X2 com P > 0.05. Modelos Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça Série logarítmica sim sim sim sim Log normal sim sim sim sim Broken stick não não sim sim Série geométrica não não sim não

As assembléias de peixes dos rios Passa Cinco e Cabeça apresentaram maior similaridade quanto a composição das espécies que àquelas encontradas nos rios Corumbataí e Ribeirão Claro (Tabela 21). O mesmo aconteceu com relação à classificação trófica, porém, a assembléia de peixes do Ribeirão Claro apresentou­se dissimilar a qualquer outro levantamento (Tabelas 22 e 23).

Tabela 21: Matriz de similaridade entre a composição de espécies dos rios da bacia do Corumbataí, utilizando­se o índice de Morisita­Horn. Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça Passa Cinco 1.0000 Corumbataí 0.0103 1.0000 Ribeirão Claro ­0.0654 0.1618 1.0000 Cabeça 0.5654 0.0240 0.06664 1.0000 54

Tabela 22: Classificação trófica das espécies, número total de indivíduos após a aplicação do índice de dominância e porcentagem de piscívoros para a bacia do rio Corumbataí. Passa Corumbata Ribeirão Cabeç Classificação trófica Cinco í Claro a Detritívoros 0 0 13 2 Herbívoros Bentônicos 203 121 14 64 Insetívoros Bentônicos 476 87 33 231 Insetívoros Generalistas 598 51 102 39 Onívoros 0 167 38 19 Piscívoros 0 14 12 10

Total 1277 426 200 355 Porcentagem de piscívoros 0,00 3,29 6,00 2,82

Tabela 23: Matriz de similaridade entre a composição por grupo trófico dos rios da bacia do Corumbataí, utilizando­se o índice de Morisita­Horn.

Passa Cinco Corumbataí Ribeirão Claro Cabeça Passa Cinco 1.0000 Corumbataí 0.0329 1.0000 Ribeirão Claro ­0.2782 ­0.0223 1.0000 Cabeça 0.5517 0.2030 ­0.0167 1.0000

4.5. Variáveis físico­químicas

O Ribeirão Claro apresentou maior dispersão nos dados de profundidade do canal, devido principalmente ao ponto 3, que é uma área de reservatório. O rio Passa Cinco caracterizou­se por apresentar o menor valor médio de profundidade e o maior de velocidade superficial. Como o Corumbataí é o rio principal da bacia e possui maior comprimento os pontos de coleta foram mais distantes entre si o que justifica a grande amplitude de variação na largura do canal (Tabela 24 e Figura 16). 55

Tabela 24: Trecho do rio, classificação hierárquica (Ordem), altitude (m) e comprimento (C) em (m) em diferentes épocas (1: março­junho e 2: setembro­dezembro). Variáveis físicas: profundidade (Prof) e largura (Larg) em (m); velocidade (Veloc) em (m/s) e temperatura (T) em (ºC). Rio Trecho Ordem Altitude C Época Prof Larg Veloc T 1 5 613 84 1 1.03 4.10 0.93 26.40 2 0.87 4.10 0.54 24.13 2 5 563 127 1 1.35 17.00 0.61 23.00 2 0.97 17.00 0.37 22.70 a ç

e 3 5 537 200 1 1.25 13.33 0.52 19.77 b a 2 1.25 13.33 0.39 26.23 C 1 4 636 88 1 1.07 9.00 0.78 24.57 2 0.80 8.90 0.57 21.20

í 2 5 574 180 1 1.53 11.90 0.78 23.83 a t a 2 1.53 13.30 0.75 22.60 mb

u 3 6 466 155 1 1.15 35.00 0.47 20.83

or 2 1.28 35.00 0.42 26.63 C 1 5 627 150 1 1.07 6.25 0.74 24.00 2 0.76 5.50 0.40 18.10

o 2 5 565 138 1 0.77 11.60 1.00 24.77 nc i 2 0.67 11.60 0.85 25.23 C

a 3 6 523 200 1 0.88 15.30 1.02 18.13 s s a 2 0.88 10.00 0.67 29.70 P 1 4 600 102 1 1.40 7.20 0.72 24.57 2 1.17 3.00 0.84 20.50 o r a

l 2 4 571 150 1 1.00 6.90 0.22 18.33 C

o 2 0.75 6.90 0.27 21.73 ã r i

e 3 4 563 160 1 2.00 15.33 0.15 19.87 b i 2 2.30 17.67 0.32 24.43 R 56

Figura 16: Amplitude (E.P.: erro padrão) e média das variáveis físicas nos diferentes rios da bacia do Corumbataí (CA: Cabeça, CO: Corumbataí, PC: Passa Cinco e RC: Ribeirão Claro).

O Ribeirão Claro apresentou maior dispersão nos valores de turbidez, baixo valor médio de oxigênio dissolvido e grande condutividade média, isto pode ser devido ao ponto 3 que apresenta características muito distintas dos outros dois pontos de coleta. O Passa Cinco apresentou o menor valor médio de turbidez evidenciando que suas águas são bastante límpidas (Tabela 25 e Figura 17). 57

Tabela 25: Trecho do rio em diferentes épocas (1: março­junho e 2: setembro­dezembro). Variáveis químicas: turbidez (Turb), oxigênio dissolvido (O2) em (mg/ml), grau de acidez (pH) e condutividade (Cond) em (S/s).

Rio Trecho Época Turb O2 pH Cond 1 1 56.87 10.30 6.06 0.029 2 90.67 7.99 7.35 0.018 2 1 126.67 11.20 6.60 0.030 2 78.00 10.86 6.43 0.040 a ç

e 3 1 90.33 9.17 6.68 0.017 b a 2 233.00 7.74 7.87 0.025 C 1 1 54.43 10.29 6.67 0.028 2 54.67 8.69 7.62 0.017

í 2 1 49.33 10.13 6.73 0.030 a t a 2 161.00 8.37 7.55 0.021 mb

u 3 1 24.00 6.95 5.82 0.080

or 2 165.67 7.66 6.53 0.011 C 1 1 15.33 7.81 7.20 0.047 2 5.33 9.17 8.16 0.035

o 2 1 28.67 10.45 6.88 0.039 nc i 2 8.33 9.85 7.23 0.060 C

a 3 1 22.00 9.41 6.89 0.028 s s a 2 28.00 7.31 8.05 0.047 P 1 1 46.73 10.17 7.29 0.058 2 35.33 8.25 7.69 0.037 o r a

l 2 1 26.00 9.31 5.89 0.023 C

o 2 54.00 7.67 7.49 0.035 ã r i

e 3 1 19.33 5.17 6.30 0.076 b i 2 445.00 6.27 7.33 0.049 R 58

Figura 17: Amplitude (E.P.: erro padrão) e média das variáveis químicas nos diferentes rios da bacia do Corumbataí (CA: Cabeça, CO: Corumbataí, PC: Passa Cinco e RC: Ribeirão Claro).

Os diferentes rios da bacia não apresentaram diferenças significativas quanto às variáveis físicas e químicas (Tabela 26).

Tabela 26: Análise de variância multivariada (MANOVA). Variável dependente: físicas (profundidade, largura, velocidade superficial e temperatura) e químicas (turbidez, oxigênio dissolvido, pH e condutividade); variável independente: rios Passa Cinco, Corumbataí, Ribeirão Claro e Cabeça.

Variável dependente n R de Rao p Físicas 24 1.927 0.056 Químicas 24 1.369 0.216 59

4.6. Análise de covariância

O número de espécies aumentou significativamente conforme a ordem do rio (n = 24; r = 0.456; r2 =

0.208; p = 0.025) (Figura 18). Esta regressão apresentou linearidade Fcalc = 0.07 < F.05;1,21 = 4.3248 (Tabela

27).

y = ­2.221 + 2.235x

Figura 18: Ordem do rio versus riqueza (S).

Tabela 27: Análise de variância para verificar a linearidade dos pontos da regressão entre número de espécies e ordem dos rios: SQ (soma de quadrados), gl (graus de liberdade), QM (quadrado médio) e teste F.

Fonte de variação SQ gl QM F Total 271.83 23 Entre grupos 57.04 2 Regressão linear 56.63 1 Desvio da linearidade 0.41 1 0.41 0.04 Dentro dos grupos 214.79 21 10.23

O número de espécies capturadas aumentou conforme a temperatura da água (n = 24; r = 0.389; r2 =

0.151; p = 0.061) (Figura 19). 60

y = ­1.717 + 0.448x

Figura 19: Temperatura da água versus riqueza (S).

A temperatura da água assumiu dois tipos de informação, um deles que é a atuação sobre o metabolismo dos peixes e um outro que mostra o efeito temporal. Como as coletas foram realizadas ao longo do tempo, conforme as doze primeiras aconteceram a temperatura diminuiu (n = 12; r = 0.815; r2 =

0.663; p = 0.001), ao passo que, ao longo das doze últimas a temperatura aumentou (n = 12; r = 0.796; r2 =

0.634; p = 0.002) (Figura 20).

y = 26.458 – 0.634x y = 10.379 + 0.709x

Figura 20: Efeito temporal da temperatura. 61

Existe uma relação linear entre o logaritmo natural do número de indivíduos e o número de espécies capturadas (n = 24; r = 0.667; r2 = 0.465; p = 0.0002) (Figura 21).

y = 0.376 + 2.022x

Figura 21: Logaritmo natural do número de indivíduos (ln N) versus riqueza (S).

Ao se plotar o logaritmo natural do número de indivíduos contra a riqueza de espécies para os diferentes rios da bacia, observou­se que o Ribeirão Claro apresentou um padrão muito distinto (Figura 22).

Figura 22: Logaritmo natural do número de indivíduos (ln N) versus riqueza (S) para os diferentes rios da bacia do Corumbataí. 62

Retirando­se as coletas do Ribeirão Claro, ficou evidente que os diferentes rios não apresentam riquezas distintas, portanto a cerca de 78% da variabilidade do número de espécies na bacia pode ser explicada em função da variação no espaço, representado pela ordem dos rios; tempo e fisiologia, representados pela temperatura; e tamanho da amostra, representado pelo logaritmo natural do número de indivíduos (Tabelas 28 e 29) (Figuras 23, 24 e 25).

Tabela 28: Análise de variância para a riqueza (S), considerando os diferentes rios, ordem, temperatura e número de indivíduos (ln N) sem o Ribeirão Claro. Variável dependente: S (n = 18; r = 0.881; r2 = 0.776).

Fonte de SQ gl QM F p variação Rio 0.950 2 0.475 0.099 0.907 Ordem 27.893 2 13.947 2.896 0.098 Temperatura 22.079 1 22.079 4.584 0.056 ln(N) 68.180 1 68.180 14.156 0.003 Erro 52.981 11 4.816

Tabela 29: Análise de variância para a riqueza (S) considerando ordem do rio, temperatura e número de indivíduos (ln N) sem o Ribeirão Claro. Variável dependente: S (n = 18; r = 0.879; r2 = 0.772).

Fonte de SQ gl QM F p variação Ordem 36.849 2 18.425 4.441 0.034 Temperatura 21.267 1 21.267 5.126 0.041 R2N 103.851 1 103.851 25.033 0.000 Erro 53.931 13 4.149 63

Figura 23: Valor médio e amplitude do número de espécies por ordem dos rios após o ajuste do modelo de covariância.

Figura 24: Resíduo estimado versus resíduo “student” para o número de espécies. 64

Figura 25: Histograma dos resíduos calculados a partir do modelo de covariância com número de espécies.

Coeficiente de assimetria (g1 = ­0.202; ns) e coeficiente de curtose (g2 = 0.455; ns).

4.7. Análises multivariadas

4.7.1. Análise de correspondência

Nas Figuras 26 e 27 estão os “scores” obtidos após a aplicação da análise de correspondência

“detrended” (DCA) utilizando a abundância das 35 espécies nos 12 pontos de coletas. Esta análise permitiu verificar que Astyanax fasciatus, Pimelodella gracilis e Hypostomus regani estão associados com ponto 2 do Corumbataí, assim como Triportheus angulatus, Parodon tortuosus e Hyphessobrycon eques estão associados com o ponto 3 do mesmo rio. O Hoplosternum littorale se mostrou associado ao ponto 3 do

Ribeirão Claro, assim como Salminus hilarii, Prochilodus lineatus e Leporinus octofasciauts estão associados com os pontos 1 e 2 do mesmo rio. A grande concentração dos pontos de coleta e das espécies indicou uma baixa heterogeneidade ambiental na bacia. 65

Figura 26: Projeção dos “scores” dos 12 pontos de coleta obtidos através da análise de correspondência “detrended” (DCA). Autovalor do eixo 1 = 0,713 e eixo 2 = 0,319.

Figura 27: Projeção dos “scores” das 35 espécies obtidos através da análise de correspondência “detrended” (DCA). Autovalor do eixo 1 = 0,713 e eixo 2 = 0,319. 66

4.7.2. Análise de componentes principais

A análise de componentes principais das variáveis ambientais da paisagem no entorno do ponto de coleta indica uma associação entre o primeiro eixo com a ordem do rio, segundo eixo com cobertura vegetal e estado de preservação da mata ciliar e terceiro eixo com a presença de pasto (Tabela 30).

Tabela 30: Análise de componentes principais das variáveis ambientais da paisagem do ponto de coleta. Os valores maiores que 0.5 estão representados em negrito.

Autovetores 1 2 3 Autovalor 2.858 2.237 1.003 % de explicação 35.722 27.962 12.541 % acumulada 35.722 63.684 76.225 Variáveis Ordem do rio 0.523 0.045 ­0.275 Cobertura vegetal ­0.238 0.544 ­0.197 Preservação da mata ciliar ­0.336 0.507 ­0.115 Presença de eucalipto ­0.277 ­0.356 ­0.052 Presença de cana­de­açúcar 0.345 0.416 0.262 Presença de pasto ­0.272 ­0.141 ­0.746 Esgoto ­0.286 ­0.294 0.388 Estabilidade do barranco ­0.453 0.194 0.305

4.7.3. Análise espécie­ambiente

A estrutura primária das assembléias de peixes dos diferentes rios da bacia, resumidas nos eixos 1 e

2 da análise de correspondência (DCA), mostraram­se estatisticamente semelhantes (Tabela 31).

Tabela 31: Análise de variância não­paramétrica (Kruskal­Wallis) para os eixos 1 e 2 da DCA considerando os diferentes rios.

Eixo X2 Graus de p liberdade DCA1 7.308 3 0.063 DCA2 5.519 3 0.137 67

Existe uma relação linear entre o eixo 2 da análise de componentes principais (PCA2), que representou a cobertura vegetal e estado de preservação da mata ciliar e o número de espécies coletadas (n =

12; r = 0.661; r2 = 0.437; p = 0.019) (Figura 28).

Figura 28: Cobertura vegetal e estado de preservação da mata ciliar (PCA2) versus número de espécies. 68

5. DISCUSSÃO

5.1. Diversidade de espécies

A América do Sul possui a ictiofauna continental mais rica e diversificada do planeta contendo aproximadamente 8000 espécies (SCHAEFER, 1998). Este número representa cerca de 24% de todas as espécies de peixes do mundo e contribui com 12,5% de toda a biodiversidade de vertebrados, tudo isto contido em somente 0,003% da água do mundo (VARI; MALABARBA, 1998).

Esta fauna é predominantemente composta por espécies da superordem Ostariophysi e as famílias

Characidae da ordem Characiformes e Loricariidae da ordem Siluriformes representam, respectivamente,

22% e 10% do número total de espécies descritas da fauna ictiológica Neotropical (SCHAEFER, 1998).

A bacia do Paraná, em seu trecho brasileiro, é composta por mais de 250 espécies, das quais cerca de 40% são Characiformes e 36% Siluriformes (AGOSTINHO; JÚLIO JR., 1999). No Estado de São Paulo, segundo Castro e Menezes (1998), o sistema do alto Paraná contém 22 famílias e aproximadamente 170 espécies de peixes descritas. Riachos e cabeceiras são habitados por espécies de pequeno porte (SL < 12 cm), respondendo por aproximadamente 50% do total de espécies. Estes padrões foram encontrados nas coletas realizadas no sistema Corumbataí, pois apresentou maior contribuição de caraciformes seguida por siluriformes e das 35 espécies capturadas 18 são de peixes pequenos (L < 15 cm), representando cerca de

75% dos indivíduos coletados (Tabela 1).

O ajuste dos dados ao modelo lognormal sugeriu a existência de uma grande assembléia, madura e com grande variabilidade. Este padrão também foi encontrado por Barrela (1997) nos rios Tietê e

Paranapanema e Smith (1999) no rio Sorocaba. Pode­se afirmar que existem muitos processos atuando de forma aleatória e independente na dinâmica das populações (MAY, 1975; VANDERMEER, 1981). Isto não quer dizer que esta assembléia de peixes segue um padrão determinístico ou aleatório no processo de colonização, e sim, confirma a necessidade de se levar em consideração uma grande quantidade de variáveis controlando a estrutura das assembléias de peixes do sistema. 69

As medidas de diversidade (Tabela 19), a estimativa do número de espécies pelo método da rarefação (Tabela 17 e Figuras 13 e 14), a visualização gráfica das espécies em ordem de importância

(Figura 15) e o ajuste aos modelos de espécie­abundância (Tabela 20) indicaram que o Ribeirão Claro possui maior diversidade de espécies que os rios Corumbataí, Passa Cinco e Cabeça.

5.2. Variação espaço­temporal

Os ecossistemas de rios são redes de conexão de águas superficiais que drenam uma determinada

área. Eles são compostos por uma estrutura hierárquica de canais fluviais, indo de pequenos riachos nas

áreas de cabeceira até grandes porções de água corrente que chegam nos oceanos (LIMBURG; SWANEY;

STRAYER, 2001; ALLAN, 1995).

Estes sistemas possuem características próprias, dentre elas podemos citar: a relação erosão/deposição e o tamanho médio das partículas que diminui rio abaixo, ao passo que o número de tipos de substratos e gradiente de profundidade aumentam conforme o rio desce em seu fluxo unidirecional e horizontal. O efeito do sombreamento sobre o controle da temperatura da água possui um valor considerável. A energia primária e nutrientes dependem sobremaneira de material alóctone que diminui no sentido cabeceira­foz (WELCOMME, 1985).

Assim como estes sistemas físicos possuem dinâmica espaço­temporal e estão intimamente relacionados com o entorno, as assembléias de peixes, que neles estão inseridas, acompanham estas mudanças ambientais.

As variáveis que controlam a estrutura das assembléias de peixes em ambientes de água doce têm ficado mais evidentes com a utilização de modelos conceitualmente simples (ANGERMEIER;

SCHLOSSER, 1989; OSBORNE; WILEY, 1992).

Estas variáveis podem ser representadas por fatores intrínsecos das assembléias como competição interespecífica (ANGERMEIER, 1982; ROSS, 1986), competição intraespecífica (BRIDCUT; GILLER,

1993) ou predação (SCHLOSSER, 1987), ou então, por fatores extrínsecos representados pelas variáveis 70 ambientais, que podem ser aquelas medidas no próprio curso d’água ou ao redor, compondo a paisagem.

O presente estudo teve um enfoque nos fatores extrínsecos e sua importância na organização da estrutura primária da assembléia, ou seja, quais as espécies encontradas e suas respectivas abundâncias, assim como em estruturas emergentes, como por exemplo, número de espécies, índices de diversidade, curvas de relação espécie­abundância.

Para Toepfer, Williams, Martinez e Fisher (1998) a assembléia de peixes em rios da região central dos EUA estão estruturadas pelo tipo de fundo, condutividade, velocidade da corrente, largura e profundidade do canal. Rodríguez e Lewis (1997), estudando lagoas de planície de inundação no rio

Orinoco, constataram que os fatores estruturadores são transparência, condutividade, profundidade e área. A profundidade, largura, velocidade da água, abrigo e influência da vegetação ciliar foram os fatores responsáveis pela estrutura das assembléias em rios da bacia do Paraná (SUZUKI; PAVANELLI; FUGI;

BINI; AGOSTINHO, 1997).

Marsh­Matthews e Matthews (2000) levaram em consideração o efeito de escala, aspecto fundamental em Ecologia, quando compararam bacias de drenagem no meio Oeste dos EUA e evidenciaram o efeito da latitude e longitude sobre a estrutura primária e o efeito da longitude sobre a riqueza de espécies.

Quando analisaram o efeito de fatores terrestre locais, ou seja, o entorno do ponto de coleta, constataram que temperatura ambiente, estabilidade dos barrancos e vegetação herbácea foram agentes reguladores da estrutura primária. No próprio canal, troncos caídos, tipo de substrato, seqüência poção­corredeira foram importantes na determinação da estrutura primária, ao passo que, a velocidade da água e a profundidade estruturaram as propriedades emergentes, no caso, a riqueza de espécies.

Uma outra abordagem da influência da paisagem foi dada por Punsey, Kennard e Arthington (2000) que modelaram o efeito da vazão, a qual está relacionada com clima, escoamento superficial e forma da bacia hidrográfica (CALASANS; LEVY; MOREAU, 2002), sobre as estruturas primárias e emergentes das assembléias de peixes de rios do nordeste da Austrália. Sugerem que a ocorrência ou não das espécies que colonizam um determinado ambiente estão relacionadas com a vazão, ao passo que, os fatores de microhabitat influenciam a estrutura primária, ou seja, a abundância destas espécies. 71

O isolamento de algumas variáveis ambientais permitiu simplificar a visualização da estrutura multidimensional responsável pela variação espaço­temporal na riqueza de espécies de peixes da bacia do

Corumbataí.

A área transversal do ponto de coleta, representada pela ordem do canal, revelou uma variação significativa e positiva na riqueza de espécies em função da posição longitudinal (Figura 18 e Tabela 27).

Este padrão foi encontrado em vários outros rios (ANGERMEIER; SCHLOSSER, 1989; OSBORNE;

WILEY, 1992) evidenciando uma das idéias principais dentro da Ecologia que é a relação espécie­área, assim como, o Conceito de Rio Contínuo (VANNOTE; MINSHALL; CUMMINS; SEDELL; CUSHING,

1980).

Desde 1980, discute­se a utilização da relação espécie­área em biologia da conservação visando determinar o tamanho ótimo de reservas naturais e para projetar o número esperado de espécies perdidas em uma determinada região que sofre uma redução em sua área (CONNOR; MCCOY, 2001). MacArthur e

Wilson (1967) propuseram a teoria da biogeografia de ilhas para explicar padrões observados de riqueza de espécies em ilhas. Eles propunham que o número de espécies em uma ilha está relacionado com a área e a distância da ilha ao continente, os quais atuam como fonte de imigração em potencial. A partir desta teoria surgiram conceitos como dinâmica das metapopulações (PULLIAM, 1988) e relação espécie­área

(ANGERMEIER; SCHLOSSER, 1989). A riqueza de espécies em sistemas aquáticos tem sido predita muito satisfatoriamente pelo volume, que representa muito bem o tamanho da mancha (“patch”) (ANGERMEIER;

SCHLOSSER, 1989; TAYLOR, 1997).

Existem algumas hipóteses para explicar esta relação: a) grandes áreas possuem maior variedade de habitats; b) mais espécies deverão persistir e não ocorrerá a extinção local em grandes áreas; c) é um fenômeno amostral onde grandes áreas geralmente suportam mais indivíduos; d) manchas de habitats com grande quantidade de recursos suportam maior número de espécies; e) efeito de borda (ANGERMEIER;

SCHLOSSER, 1989; OSBORNE; WILEY, 1992; CONNOR; MCCOY, 2001).

A temperatura da água foi uma das variáveis que teve influência sobre o número de espécies capturadas (Figura 19). Vale ressaltar que, devido à natureza dos dados ser observacional, isto não implica 72 uma situação de causa e efeito, mas sim um indício de que estas variáveis estão relacionadas estatisticamente. Outras variáveis ambientais também são responsáveis pela flutuação no número de espécies capturadas e não foi possível verificar o efeito causal desta única variável por não se tratar de um experimento, onde seria possível manter todas as outras variáveis constantes.

A temperatura atua diretamente sobre os organismos, principalmente nos ectotérmicos, como é o caso dos peixes, regulando a velocidade de seu metabolismo. Um aumento nesta velocidade significa um aumento na necessidade energética, a qual, em última instância, está refletida na quantidade de alimento necessária para fazer o organismo funcionar. Assim como ocorre uma atuação na fisiologia do indivíduo, a assembléia também é influenciada por variações na temperatura como mostrado por Magnuson, Crowder e

Medvick (1979).

A temperatura da água, além de representar a atuação sobre as propriedades emergentes da assembléia de peixes, representou a dinâmica ao longo do tempo. No primeiro período (março­junho), conforme as coletas ocorreram, a temperatura diminuiu significativamente, ao passo que, no segundo período (setembro­dezembro) ocorreu um aumento significativo da temperatura (Figura 20).

Observou­se que a variação na ordem e na temperatura explicou, isoladamente, somente 20% e 15% daquela ocorrida nas espécies capturadas (Figuras 18 e 19); isto porque ocorreu um confundimento entre estas variáveis, pois, pode ser verificado que no primeiro período de coletas ocorreu uma baixa captura de espécies no trecho de ordem 6 do rio Passa Cinco (Tabela 18) e a temperatura foi uma das menores (Tabela

24).

O logaritmo do número de indivíduos foi a melhor variável para predizer o número de espécies

(Figura 21). Isto pode ser interpretado como uma conseqüência do efeito do tamanho da amostra ou então o chamado “ruído de movimento” (“turnover noise”), onde a flutuação na riqueza de espécies esperada em um ambiente constante, pode ser devido às taxas de imigração e extinção local, devido a grande mobilidade dos peixes (Angermeier; Schlosser, 1989).

O diagrama de dispersão entre a riqueza e o logaritmo da abundância das espécies revelou que o 73

Ribeirão Claro apresenta uma característica muito distinta e trata­se de um caso especial, pois, ao aumentar o tamanho da amostra o número de espécies não se alterou (Figura 22), e, além disso, a composição em abundância e por grupo trófico das espécies deste rio mostrou­se dissimilar ou com baixa similaridade em relação aos outros (Tabelas 21 e 23).

Portanto, o melhor modelo que explica a variação no número de espécies ao longo do tempo e no espaço para a bacia do Corumbataí é aquele que contém informações da ordem, temperatura e número de indivíduos, retirando­se o Ribeirão Claro que possui um sistema muito distinto dos outros.

Numa primeira análise, não se detectou diferença significativa no número de espécies nos diferentes rios e ordens, e somente a temperatura e o número de indivíduos contribuíram significativamente (Tabela

28). Juntando­se a este resultado, os quatro rios apresentaram um padrão comum quanto ao perfil longitudinal (Figuras 7, 8, 10 e 11) e não apresentaram diferença significativa quanto às variáveis físicas e químicas (Tabela 26), nem nas medidas de diversidade (Tabela 19) nem na estrutura primária das assembléias (Tabela 31).

Estes resultados estão de acordo com Toepfer; Williams; Martinez; Fisher (1998) que afirmam existir menor gradiente na assembléia de peixes em ecorregiões que em regiões distantes, principalmente pela grande mobilidade destes seres. Esta situação dificulta avaliar a heterogeneidade espacial do ambiente em estudo. Apesar disso, as ecorregiões, ou no caso, a bacia hidrográfica possui uma série de vantagens em ser adotada como unidade de estudo de processos ecológicos ou manejo de seus recursos (PIRES;

SANTOS; DEL PRETTE, 2002; RIBEIRO, 1994).

O modelo de análise de covariância, sem o efeito dos rios, explica cerca de 77% da variabilidade do número de espécies na bacia em função da variação no espaço, representado pela ordem dos rios; tempo e fisiologia, representados pela temperatura; e número de indivíduos (Tabela 29 e Figuras 23, 24 e 25). Como dito anteriormente, os sistemas de rios possuem muitas variáveis controlando a assembléia de peixes e este modelo simplificado permitiu uma boa explicação de quais as variáveis ambientais que estruturam as assembléias da bacia do Corumbataí. 74

5.3. A assembléia de peixes do Ribeirão Claro

O fato dos dados do Ribeirão Claro não terem se ajustado ao modelo de variação espaço­temporal, apresentado anteriormente, se deve a este modelo ser extremamente simples para incorporar a complexa paisagem na qual este rio está inserido. Este modelo está de acordo com a teoria do rio contínuo e, no caso, não satisfaz as condições impostas pelo ser humano na paisagem natural. Torna­se necessário levar em consideração as relações do rio com o entorno, pois, a paisagem se apresenta como um mosaico composto por manchas (“patch”) conectadas por corredores que permitem o contato entre estes ambientes.

Fisher, Grimm, Marti, Holmes e Jones (1998) apresentaram um caminho alternativo para observar o funcionamento dos sistemas de rios e as suas relações com a paisagem. Em contraponto com a teoria do rio contínuo (RCC), estes autores enfatizam a heterogeneidade ambiental na escala espaço­temporal e consideram que o rio é a interação entre os subsistemas: superfície d’água, solo interno, solo ao redor do canal e mata ciliar, que atua como zona tampão. Quando o rio sofre impacto, os diferentes subsistemas irão atuar, porém, de forma diferenciada. Para estes autores, a resistência do sistema é inversamente proporcional à intensidade do impacto. Em pequenos impactos, a própria superfície é responsável pela absorção. Já em impactos maiores, os outros subsistemas interagem e permitem o retorno do sistema ao seu estado natural (resiliência). Este modelo coloca os subsistemas em uma estrutura hierárquica, com a superfície d’água envolvida pelo solo interior ao canal, que por sua vez estão envolvidos pelo solo ao redor do canal e, no seu último nível está a mata ciliar. Ao sofrer um impacto, os subsistemas funcionam como uma luneta retrátil, o que dá o nome ao modelo (Telescoping Ecosystem Model – TEM).

A assembléia de peixes dos pontos 1 e 2 do Ribeirão Claro encontram­se isoladas das outras.

Existem duas barragens, uma no ponto 3, relacionada com a geração de energia em tempos passados e outra a cerca de 1 km abaixo do ponto 2, onde ocorre a captação de água para a cidade. Soma­se a isto o despejo de esgotos da cidade de Rio Claro, ao longo de um trecho de cerca de 3 km, percorrendo uma distância aproximada de 10 km até desaguar no Corumbataí.

Devido às atividades humanas fragmentarem habitats naturais ocorreu a formação de metapopulações que podem ser definidas como uma coleção de populações locais em uma região com fluxo 75 gênico (CHESSON, 2001). Esta população local de organismos na natureza freqüentemente se extingue e se restabelece posteriormente após a imigração de áreas adjacentes. Fica evidente que a situação encontrada no

Ribeirão Claro se enquadra na definição acima.

Neste contexto, duas situações podem dar seqüência ao atual cenário: a) os pontos 1 e 2 do Ribeirão

Claro podem funcionar como fontes de dispersão para recolonização dos ambientes ao longo dos canais da bacia após medidas de tratamento de esgoto, principalmente da cidade de Rio Claro; b) a não observação de medidas de reabilitação dos rios da bacia, principalmente a bacia do Ribeirão Claro, podem diminuir a densidade das populações locais dentro das metapopulações colocando em risco a sobrevivência destas populações.

Esta situação evidencia como o processo de fragmentação de habitats aquáticos pode alterar a relação espécie­área (SCHLOSSER, 1995) e está de acordo com as idéias de Punsey; Kennard; Arthington

(2000), pois, as espécies já estavam distribuídas pela bacia, que é pequena e apresenta baixa heterogeneidade. Porém, fatores de microhabitat influenciaram a estrutura primária, ou seja, a abundância destas espécies (Figuras 26 e 27), que é o caso do ponto 1 do Ribeirão Claro o qual apresenta uma abundância relativa e altos valores de diversidade (Tabela 18), além de uma relação trófica muito bem estabelecida (Tabela 22).

5.4. Efeito da mata ciliar

As áreas de mata ciliar apresentam importantes funções hidrológicas, ecológicas e limnológicas para a integridade biótica e abiótica dos sistemas de rios (BARRELLA; PETRERE; SMITH; MONTAG,

2000). Segundo estes autores, nos trechos onde o volume d’água é relativamente pequeno a influência da vegetação é grande, pois, protegem estruturalmente os habitats, regulam o fluxo e a vazão de água, proporcionam abrigo e sombra, são responsáveis pela manutenção da qualidade da água através da filtragem de substâncias da área ao redor e fornecem matéria orgânica e substrato de fixação de algas e perifíton.

Para VIANA (1997) atualmente há apenas 9% da cobertura vegetal original, onde 6% correspondem a remanescentes de mata ciliar na bacia do rio Corumbataí. Estes fragmentos florestais assumem um papel 76 chave como “ilhas de biodiversidade”.

Não foi possível realizar uma análise de covariância para entender o efeito dos fatores ordem do canal e estrutura ambiental da paisagem devido ao número insuficiente de amostras que continham diferentes ordens e tipos de paisagem. Utilizando uma técnica de análise multivariada, relacionando o número de espécies com o eixo que representa o grau de cobertura e o estado de conservação da mata ciliar, foi possível quantificar a relação estatística entre estas variáveis e a riqueza (Tabela 30 e Figura 28).

Os resultados do presente trabalho estão de acordo com as idéias que relacionam mata ciliar e fauna de peixes, pois, os pontos 1 do Ribeirão Claro e do Passa Cinco são os que apresentaram melhores condições quanto à presença e estado de conservação da mata ciliar e, nestes locais, foram capturadas mais espécies.

Pelo modelo de variação espaço­temporal apresentado anteriormente, esperava­se que áreas mais altas apresentassem menor número de espécies como os pontos 1 do rio Cabeça e Corumbataí. Deve­se observar que além destes pontos estarem em regiões mais altas, encontram a mata ciliar em baixo grau de preservação.

O ponto 3 do Ribeirão Claro destacou­se, pois apesar de estar em um ponto mais baixo e possuir características lênticas, apresentou­se com a mata ciliar totalmente modificada e a situação no próprio canal

é deplorável, o que levou a baixa captura de espécies.

5.5. Espécies de peixes indicadoras

Segundo Lawton e Gaston (2001) existem três formas distintas de se utilizar o termo “espécie indicadora”: a) refletem o estado biótico ou abiótico de um determinado ambiente; b) revelam evidências de impacto ambiental; c) indicam a diversidade de outras espécies ou mesmo da comunidade toda de uma determinada área.

Independente da forma que se usa, esta prática tem uma proposta de gerenciamento ambiental, pois 77 como a riqueza e a abundância das espécies mudam conforme o ambiente pode­se utilizar as espécies como indicadoras do estado do ambiente.

A remoção da vegetação marginal ocasiona muitas mudanças nos sistemas lóticos, incluindo aumento da temperatura da água, substituição de um sistema heterótrofo para autótrofo, redução da estabilidade do sistema, perda da capacidade natural de retenção de sedimentos e nutrientes

(ANGERMEIER; KARR, 1983; ALLAN, 1995). Assim como Power (1984) os dados do presente trabalho sugerem uma associação entre grau de sombreamento, que reflete a presença ou não da vegetação marginal, e cascudos Hypostomus strigaticeps (Tabela 5).

O comportamento alimentar de cascudos é favorecido por adaptações morfológicas do trato digestivo, como boca ventral e em forma de ventosa, intestino longo, entre outras. São conhecidas por construírem ninhos escavados na margem onde os machos protegem a prole. O consumo de detrito, como fonte principal de alimento, tem sido registrado para várias espécies de loricarídeos em diversas localidades

(HAHN; FUGI; ALMEIDA; RUSSO; LOUREIRO, 1997). Estes autores estudando uma outra espécie de cascudo H. myersi no reservatório de Segredo, classificaram­na como detritívora sendo registrados vários gêneros de diatomáceas, algas filamentosas, tecamebas, larvas de insetos (Chironomidae) e Nematoda, o que confirma a idéia de que estes peixes são importantes controladores das populações de algas e que devido ao baixo sombreamento, estes pontos tornaram­se autotróficos (ANGERMEIER; KARR, 1983;

ALLAN, 1995), propiciando maior oferta de alimento a esta espécie. Os aspectos alimentar e reprodutivo explicam porque os cascudos no sistema Corumbataí ocorreram de forma constante e foram importantes tanto no número de indivíduos quanto no peso (Tabelas 1, 2 e 5) indicando o estado biótico e abiótico da bacia.

Segundo Signorini (1999), que estudou a alimentação do caborja Hoplosternum littorale nos rios

Piracicaba e Corumbataí, esta espécie apresenta cuidado com a prole, reprodução nos períodos de agosto a fevereiro, desova parcelada e hábito noturno, alimentando­se de microcrustáceos, larvas de inseto e detritos.

Esta espécie esteve muito associada com o ponto 3 do Ribeirão Claro (Figuras 26, 27), onde foram encontrados 18 indivíduos no período de setembro a dezembro, período no qual Signorini (1999) capturou exemplares desta espécie com estômago vazio e argumentou que nestes períodos o caborja cessa a atividade 78 alimentar e passa a utilizar o intestino exclusivamente para respiração aérea. Pedro Neto (1996) estudando o impacto do despejo de esgoto sobre a comunidade de peixes do Ribeirão Claro, capturou somente o H. littorale na época de estiagem em um ponto logo abaixo da emissão de esgoto. Barrella (1997) capturou indivíduos de uma outra espécie de caborja Callichthys callichthys em ambientes altamente poluídos no rio

Tietê. Para Signorini (1999) outros aspectos deveriam ser utilizados para a utilização desta espécie como indicadora de poluição, porém, os resultados encontrados no presente trabalho, assim como em Pedro Neto

(1996) e Barrella (1997), mostram a associação entre esta espécie e ambientes poluídos mostrando­se um bom indicador de locais com poluição orgânica, evidenciando impacto ambiental.

Por outro lado, o Astyanax altiparanae não seria um bom indicador ambiental, pois ocorreu em todos os pontos de coleta (Tabela 6). Esta espécie realiza pequenas migrações, e segundo o graduando em biologia Alberto L. Carmassi que está estudando aspectos reprodutivos e alimentares desta espécie

(Processo FAPESP 2001/14324­5), apresentou período reprodutivo durante a segunda etapa, nos meses de setembro a dezembro, alimentou­se principalmente de anelídeos, material autóctone, durante o primeiro período de coletas e insetos, sementes e aracnídeos, material alóctone, durante o segundo período, mostrando­se pouco seletiva quanto ao alimento e conseqüentemente, ao ambiente em que ela habita.

A tabarana Salminus hilarii é uma espécie que apresenta desova total, fecundação externa, realiza migrações e não cuida da prole, vivendo em regiões de correnteza. Esta espécie esteve associada ao ponto 1 do Ribeirão Claro (Figuras 26 e 27), portanto, encontra­se isolada do restante da bacia. É uma espécie muito próxima do dourado, mas tem menor porte e sua nadadeira caudal é avermelhada. É um piscívoro e se desloca em cardumes pelos rios. Em , no rio das Velhas, em sua porção próxima à região metropolitana de , não é mais capturado (ARAÚJO; MANTOVANI, 2003).

No rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, foi implementado o projeto Dourado, seguindo o conceito de uma espécie bandeira para envolver a população nas atividades de restauração do rio. O dourado

Salminus maxillosus tem um ciclo de vida semelhante aos salmonídeos do hemisfério norte: migra longas distâncias, desova nas cabeceiras dos rios e se alimenta e cresce nas partes baixas. Para fechar o ciclo de vida ele depende que todas as partes do rio estejam em boas condições. Dessa forma ele é um bom bioindicador para o estado do ecossistema (COMITESINOS, 2003). 79

Seguindo este exemplo, na bacia do Corumbataí a tabarana Salminus hilarii poderia funcionar como espécie bandeira, visando angariar fundos para pesquisa desta espécie, envolvendo a população local através da implementação de projetos de educação ambiental para conscientizar os estudantes do impacto humano sobre o ciclo de vida da tabarana e, conseqüentemente, sobre o ecossistema. Portanto, esta espécie indica a diversidade de outras espécies ou mesmo da comunidade toda de uma determinada área devido ao seu grau de seletividade ambiental e por ser topo de cadeia alimentar. 80

6. CONCLUSÕES

A utilização da análise de covariância se mostrou como um eficiente instrumento para detectar variações espaço­temporais de assembléias de peixes, visto que explicou cerca de 77% da variabilidade do número de espécies de peixes na bacia em função da variação no espaço, tempo, fisiologia e efeito do tamanho da amostra. Esta ferramenta simplificou um sistema complexo e permitiu uma boa explicação de como a posição ao longo do canal, temperatura e número de indivíduos estruturaram as propriedades emergentes das assembléias de peixes da bacia do Corumbataí em locais onde o processo de urbanização não é tão acentuado.

A aplicação da relação espécie­área nas assembléias de peixes refletiu com certa segurança os efeitos do processo de urbanização, tais como barragens e despejo de esgoto in natura, sobre a dinâmica dos peixes, levando a crer que as assembléias localizadas acima destas ações humanas encontram­se isoladas, formando metapopulações. Estes pontos juntamente com aqueles fortemente modificados não respondem a um dos mais conhecidos conceitos dentro da Ecologia. Neste contexto, duas situações podem dar seqüência ao atual cenário: a) os pontos 1 e 2 do Ribeirão Claro podem funcionar como fontes de dispersão para recolonização dos ambientes ao longo dos canais da bacia após medidas de tratamento de esgoto, principalmente da cidade de Rio Claro; b) a não observação de medidas de reabilitação dos rios da bacia, principalmente a bacia do Ribeirão Claro, podem diminuir a densidade das populações locais dentro das metapopulações colocando em risco a sobrevivência destas populações.

Padrões de associação entre o estado de conservação da mata ciliar e a riqueza de espécies de peixes foram verificados, pois, os pontos mais altos do Ribeirão Claro e do Passa Cinco apresentaram melhores condições quanto à presença e estado de conservação da mata ciliar e, nestes locais, foram capturadas mais espécies, apesar de possuírem menor volume de água.

Algumas espécies de peixes podem ser utilizadas como indicadores ambientais: Hypostomus strigaticeps se mostrou associada a ambientes mais abertos onde há a possibilidade de colonização por parte de algas, Hoplosternum littorale esteve associado a ambientes com baixos valores de oxigênio e Salminus hilarii foi bastante capturado nos locais em que a estrutura ambiental do ponto de coleta estava em melhores 81 condições; por outro lado o Astyanax altiparanae não foi um bom indicador, pois se mostrou uma espécie pouco seletiva quanto ao alimento e conseqüentemente, ao ambiente em que ela habita.

A importância destes resultados não se restringe apenas ao âmbito acadêmico da compreensão da variação espacial e temporal da assembléia de peixes da bacia do rio Corumbataí, mas possui seu lado prático que foi a possibilidade de detectar um comportamento distinto dos dados provenientes do Ribeirão

Claro, o rio mais impactado quanto ao despejo de esgotos em seu trecho ao longo da cidade de Rio Claro e o grau de isolamento que se encontra a sua fauna de peixes nos pontos acima do local de captação de água para a cidade, confirmando, através de análises estatísticas, as idéias apresentadas em Viadana (1992).

Partindo do princípio que a água não é um recurso inesgotável capaz de receber e absorver alterações na paisagem ao redor, quantidades ilimitadas de rejeitos provenientes da atividade humana e que esta situação é resultado de uma utilização descuidada e sem planejamento, torna­se necessária a utilização deste recurso com o estabelecimento de parâmetros de otimização considerando os aspectos técnicos, os interesses políticos, sociais e econômicos, além dos aspectos da legislação.

Para tanto se torna urgente a adoção de um modelo de planejamento e gestão dos usos das águas, tomando como exemplo o caso das bacias do rio das Velhas (Minas Gerais) e do rio dos Sinos (Rio Grande do Sul). Neste sentido, os municípios que compõem a bacia do Corumbataí e o município de Piracicaba, que capta do sistema Corumbataí 100% da água para abastecer a cidade, juntamente com a comunidade e contando com o apoio técnico da Universidade de São Paulo (USP/ESALQ/Piracicaba) e Universidade

Estadual Paulista (UNESP/Rio Claro) têm condições plenas de estabelecer um modelo de gestão dos recursos hídricos da bacia. Ainda não sabemos qual a intensidade dos impactos e tampouco o tempo que os peixes irão suportar estas alterações ambientais. 82

7. REFERÊNCIAS

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