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O Projecto da Avenida dos

Anjos – Algumas considerações gerais Lurdes Ribeiro Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 65

ntrodução: A Memória descritiva e o Mapa de expropriações do plano urbanístico da Avenida dos IAnjos, constituem as peças nucleares, que exprimem de uma forma particular, quer o pen- samento urbanístico do período final da monarquia constitucional, quer o contexto económi- co-social em que o mesmo foi gerado. Assim, a partir da Memória descritiva, são colhidas pre- ciosas indicações com vista a percepcionarem-se as linhas estruturadoras que ajudaram a cimentar uma dada ideia de cidade pensada para esta zona.

Da leitura desta última, ficamos na posse dos dados mais importantes no que respeita à arqui- tectura formal do plano – os seus alcances físicos; limites urbanos; implantação e perfil do equipamento; tipologias arquitectónicas a considerar. O mesmo se poderá dizer sobre os dados relativos à estética urbana – arborização e concepção de praças e rotundas.

A partir da Memória descritiva do projecto da Avenida dos Anjos, salientamos como dados relevantes e aferidores de uma nova ideia de cidade que se pretende editar para esta área, os casos emblemáticos da construção da nova Igreja dos Anjos e jardim público adjacente; nova praça em substituição do velho Largo do Intendente; alteração da antiga Bica dos Anjos na Rua dos Anjos; tipo de arborização considerada.

Do Mapa de expropriações, podemos reter os dados indispensáveis que desta forma, projec- tam o quadro económico da época e respectivas conotações sociais em que o processo de expropriações emerge.

Deste modo, e atendendo às premissas colocadas atrás, considerou-se pertinente a transcrição integral das duas peças operatórias deste projecto.

Cingimo-nos à cópia do projecto elaborado em 17 de Fevereiro de 1892 pelo Serviço Geral de Obras Públicas da Repartição Técnica da Câmara de Lisboa, (por se ter tornado inviável até agora, a localização do projecto original após uma persistente tarefa de procura do mesmo). Antecedendo a transcrição das referidas peças, dá-se primeiramente a conhecer a metodologia do referido projecto.

1 - Estrutura Metodológica e Peças Operatórias do Projecto 1.1 - Estrutura do Plano

Iª Parte: Peças escritas: - Mapa das medições das canalizações que se torna necessário fazer em diversas ruas para desague das do pro- 65 jecto. - Orçamento das canalizações que se torna necessário fazer em diversas ruas para desague das do projecto. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 66

- Notas sobre as expropriações a efectuar. - Série de preços I) Preços simples II) Materiais e mão de obra - Vários mapas I) Mapa das expropriações para a faixa a ocupar pela Avenida II) Mapa das superfícies a ocupar temporariamente com os taludes dos aterros e das trincheiras e respectivas indemnizações III) Mapa das terraplanagens IV) Mapa da distribuição de terras V) Mapa do esgoto VI) Mapa do pavimento VII) Mapa das obras acessórias VIII) Mapa do orçamento

- Descrição e orçamento geral do projecto e diferentes mapas elucidativos I) Memória descritiva II) Mapa das importâncias a deduzir ao orçamento geral do projecto III) Mapa indicativo dos terrenos a vender aos proprietários confinantes ou em praça. IV) Medição geral do pavimento dos esgotos e das obras acessórias das diversas ruas do projecto. V) Volumes de escavação e aterro e quantidades de alvenaria e cantaria a empregar n a s diversas ruas do projecto VI) Orçamento geral do projecto

IIª Parte: Peças desenhadas: 1. Planta das ruas, dos canos de esgoto, e dos colectores de sargetas 2. Perfil longitudinal da Avenida dos Anjos 3. Planta das expropriações 4. Planta do pavimento e dos esgotos 5. Planta geral 6. Perfis transversais da Avenida dos Anjos

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1.2 - Memória Descritiva Avenida dos Anjos Memória descritiva - Considerações gerais -

-Ante-projecto – Por ofício da Exma. Câmara Municipal datado de 20 de Dezembro de 1881, foi pedi- do ao Ministério das Obras Públicas Comércio e Indústria, o Ante-projecto da Avenida dos Anjos, elabora- do pela Comissão do plano geral dos melhoramentos da Capital, pedido que foi satisfeito pelo Ministério em ofício de 28 do mesmo mês e ano, remetendo o Ante-projecto datado de 9 de Março de 1877.

Em secção de 5 de Janeiro de 1882, foi enviado à Comissão de Obras e Melhoramentos (actualmente extin- ta) sendo remetido à Repartição Técnica.

O estudo do Ante-projecto tem por base o prolongamento da Rua Nova da Palma, entre os largos do Socorro e Intendente, e refere-se só à parte compreendida entre o largo dos Anjos, e a estrada da Circumvalação no comprimento de 1:226,48.

Este estudo consta de três ruas longitudinais, separadas entre si de eixo a eixo por 80.50 m, tendo a central 25,0 m de largura, e as laterais 16.00 m, e oito ruas transversais de 16.00 m de largo que se ligam pelo lado oriental com a calçada do Forno do Tijolo e Monte da Penha de França, e pelo lado ocidental com a rua direita dos Anjos, Largo de Santa Bárbara, rua direita de e estrada de Sacavém.

O comprimento destas três ruas são: Central 1:226,48 m, oriental 1:227.00, ocidental 55,50.

Os traineis da rua Central são formados por uma rampa de 0.037678 em 777,95 m e por um patamar de 448,55 m.

As inclinações das ruas laterais não são superiores à Avenida Central, e as das ruas transversais excedem na sua maior parte a oito r dez por cento, com grandes movimentos de terras devido ao prolongamento da rua ori- ental, que do cruzamento da Calçada do Forno do Tijolo em diante torna difícil a sua ligação com a rua cen- tral, pela grande diferença de nível entre elas.

O cubo das escavações em todas as ruas é de 127:001,85 e dos aterros de 107:860,68, mantendo-se o vol- ume de Alvenaria em muro de 23:011,81 que para a construção das ruas se torna desnecessário.

O orçamento total dos trabalhos a executar, incluindo a expropriação para edificações é de 617:637$052 que 67 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 68

deduzido aos terrenos para vender ao preço médio de 2$00 fica reduzido a 361:634$000.

Este orçamento é demasiadamente baixo devido à época em que foi feito, pois comparando os preços de então com o presente vem a uma grande diferença no valor da propriedade urbana, materiais e mão de obra, ten- dendo a aumentar a primeira apesar do grande desenvolvimento de edificações que se tem feito há 12 anos a esta parte.

-Projecto definitivo - O alinhamento da Avenida é o mesmo do Ante-projecto, tendo por base o lado oriental da rua Nova da Palma, compreendido entre a rua Fernandes da Fonseca e travessa do Bemformoso, medindo a extensão de 1:811.60 m até à estrada da Circumvalação, podendo ser prolongado em 665.0 m com uma rampa uniforme de 0.02 a encontrar o trajecto da estrada de Sacavem ao dando o compri- mento total de 2:466.60 m.

- Largura da Avenida dos Anjos – No ante-projecto a largura da Avenida é de 25.00 m devido talvez ao lado económico, e foi este o tipo adoptado para o projecto definitivo que parece não ser o melhor aten- dendo ao movimento que deve ter de futuro.

- Nova praça em substituição do Largo do Intendente - A avenida deixa do lado oriental o Largo do Intendente transformando-se este, em uma praça regular medindo 2:926.0 e contornada por duas ruas de 15.0 m de largo e outra de 12.00 m ficando ao centro o chafariz.

-Ligação da rua Direita dos Anjos e a Avenida – A ligação da rua dos Anjos com a Avenida é feita por uma rampa de 0,135 em 38,82 m no perfil 16, ficando nesta parte interrompida para se ligar de novo adiante do perfil 19 com outra rampa de 0,136 em 10.00 m.

-Bairro Andrade – Novo Bairro ao ocidente da Avenida entre esta e a Calçada Forno do Tijolo – Entre perfis 17 e 23 comunica a Avenida por meio de três ruas pelo lado oriental com o Bairro Andrade. Estas ruas não entram no projecto, por fazerem parte do complemento do novo bairro.

-Ruas transversais à Avenida e rua António Pedro – No perfil 24 deriva a rua Nº 4 que tem a largura de 16.00 m e o comprimento de 72.00 m por ligar com a rua dos Anjos. O Largo de Santa Bárbara é ligado por meio da rua Nº 5 no comprimento de 111.5 m e com a largura de 18.00 m. Nesta rua a partir do eixo da Avenida 75.50 m começa a rua António Pedro que corre paralela à Avenida no com- primento de 770.00 m até à estrada da Circumvalação, sendo cortada por três ruas de 16.00 m de largo, e uma de 20.00 m para comunicar a Avenida com a rua Pascoal de Melo.

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-Viaduto sobre a rua direita de Arroios – A passagem desta rua sobre a de Arroios é feita por meio de um viaduto metálico de 10.70 m de altura com a largura de 20.00 m e a cota de 8.33 da faixa de rodagem uma à outra.

-Parte da Avenida dos Anjos que não entra neste projecto – No projecto definitivo não entra a parte compreendida entre a rua Fernandes da Fonseca e a travessa do Bemformoso na extensão de 301.00 m que tornava mais caro o orçamento atendendo ao elevado preço porque se podem obter actualmente os edifí- cios e terrenos do lado ocidental pois ainda se tem de fazer o alargamento que não dará uma despeza inferior a 180:000$000.

-Urgência da abertura da Avenida dos Anjos para substituir a parte compreendida entre o Largo do Intendente e a calçada dos Anjos – peões – Torna-se urgente substituir quan- to antes a Calçada e rua dos Anjos por uma Avenida e rua de fácil tracção para dar serventia aos populosos bairros de Estefânia, Santa Bárbara e ultimamente o de Andrade em construção, além das comunicações ao norte que tendem a aumentar o movimento tanto de peões como de veículos, o que se torna quase impossível actualmente, dando motivo a interrupções contínuas ao mais pequeno veículo (?).

Dois obstáculos se apresentam para resolver este problema sendo o primeiro o valor de expropriações a fazer no Largo do Intendente aonde se encontram prédios de um grande rendimento, uma fábrica de louças impor- tante, além dos anexos do hospital do Desterro cujas expropriações se elevam à quantia de 95:000$00.

O segundo é a expropriação total da Igreja dos Anjos.

-Serventia provisória entre o Largo do Intendente e a Avenida dos Anjos – Para as resolver atendendo à parte económica, adiantou-se para o primeiro caso deixar para mais tarde esta expro- priação partindo com a Avenida da propriedade dos herdeiros Ribeiro da Cunha perfil 10 (em terrenos já incluídos na expropriação) ligando-se com o Largo do Intendente por meio de uma serventia provisória de 14.00 m de largo com o comprimento de 124.85 e a inclinação de 0.05.

- Igreja dos Anjos sua reconstrução e jardim público – O que diz respeito à Igreja dos Anjos, achou-se o terreno gratuito e preciso para a construção de uma nova Igreja no talhão compreendido entre a Avenida central e o bairro Andrade marcado na planta com a letra – A – podendo aproveitar-se todo o mate- rial existente da antiga Igreja, e a indemnização de 20:000$00 para a nova construção. No caso da Igreja não ocupar a superfície do terreno marcado na planta este reverterá a favor do Município, para aumentar o jardim público que a contorna.

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Para o local da nova Igreja tinha sido escolhi- do em princípio o talhão que ficava ao meio do bairro Andrade comunicando com a Avenida mas reconheceu-se mais tarde que este pouco abrangeria o terreno Municipal dominado, Quinta da Romeira.

A escolha do talhão – A – reduz a expropriação a fazer a 2:502,5 m2, aprovei- tando-se do terreno municipal 1:983,75 m2, ficando deste ao oriente e ocidente a superfície de 3:379,25 m2 para edificações. Planta, não assinada, datada de 18 de Abril de 1895, mostrando o ter- reno municipal da Horta Romeira dos Arcos no Regueirão dos Anjos, onde se insere um dos talhões destinados à nova Igreja Anjos. AML- AC, Caixa nº83-DSU. -Projecto já estudado do prolonga- mento da rua da Palma compreen- dido entre o Largo da Guia e a rua Nova da Princeza (lado oriental do Mercado da Praça da Figueira) – Resolvidas as duas questões mais importantes para a execução imediata da Avenida dos Anjos, um outro obstáculo se apresenta não menos difícil, e que tem ligação com a mesma Avenida. É o troço da rua da Palma com- prendido entre o largo da Guia e a rua Nova da Princeza (lado oriental) do Mercado da Praça da Figueira. Planta não assinada, datada de 29 de Março de 1895, relativa à expro- priação de uma parcela de terreno de 1.596 m2 na Rua Palmira, num dos talhões destinados à nova Igreja Paroquial dos Anjos. AML-AC, Como é sabido para atenuar em parte as Caixa nº 83-DSU. interrupções que se davam neste troço da rua da Palma, devido ao grande movimento de veículos, foi determinado por uma postura municipal que as que seguem na direcção norte-sul, no largo da Guia, derivam em direcção da rua do Arco do Marquez do Alegrete a não ser os Carros Americanos que devem trilhar sobre os rails.

Satisfaz este expediente, o único que se poderia adaptar, nas condições em que se encontra esta parte da Cidade? Decerto que não, sem que seja aberto o prolongamento da rua da Palma a partir do largo do Socorro, 70 à rua Nova da Princeza e já projectado. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 71

Para resolver esta última dificuldade parece que seria de uma grande vantagem não prolongar por enquanto a Avenida além do Largo do Intendente que tendo o seu término numa praça, o movimento derivará para as ruas do Bemformoso, Desterro, etc., e aplicar a verba a despender com as expropriações entre o largo do Intendente e Socorro no alargamento do Largo da Guia a rua Nova da Princeza.

- Valor das expropriações da Avenida dos Anjos e ruas adjacentes – O valor total das expropriações para a construção da Avenida dos Anjos e ruas adjacentes é de 218:619$372. Para facilitar a construção terá de se abater as expropriações do Largo do Intendente, Quinta da Romeira (já paga) e ter- renos a vender aos proprietários confinantes, e em praça.

Esta redacção é demonstrada da seguinte forma:

Valor total das expropriações 218:619$372 Expropriação para a serventia provisória do Largo do Intendente à Avenida 2:000$000 220:619$372 A deduzir

Expropriação do L. do Intendente 95:000$000000 100:774$3899 Terrenos da Quinta da Romeira 5:774$389389

Total das expropriações a fazer 119:844$9833

Importância provável dos terrenos a vender 37:266$1500 Total a despender em expropriações 80:578$8333

Conclui-se, que para a construção da parte projectada, a despeza a fazer com expropriações é de 80:578$833, e esta será ainda reduzida a menos logo que os proprietários se convençam da vantagem de cederem a parte rús- tica para a abertura da Avenida e ruas, tomando o exemplo da quinta da Imagem que pela simples abertura em parte da rua António Pedro já vendeu lotes a 9000 o metro quadrado.

- Movimento de terras – O cubo total das excavações para a execução de todo o projecto é de 152:255,56 m3 incluindo 86:681,31 m3 de terras de empréstimo, e dos aterros de 138:465,99 m3.

A despeza a fazer com estes movimentos de terras é de 51:969$812. 71 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 72

- Deduzir – Deduzindo o movimento entre perfis 6 a 13, e incluindo a serventia provisória fica o volume das escavações reduzida de 143:238,86 e dos aterros em 134.647,31 e a despeza de 51:069$508.

- Canos de esgoto – O desenvolvimento dos canos de esgoto na Avenida e ruas adjacentes para todo o pro- jecto é de 3:350,40 m2.

O tipo adoptado para todas as ruas é o oval de 1,80 m x 1,20 m.

A despeza a fazer com a construção dos canos é de 42:426$689, e para seu complemento será preciso con- struir mais 425,0 m na importância de 8:085$000 S e do mesmo tipo; na rua direita dos Anjos e Largo de Santa Bárbara, entre as ruas Nº 4 e 3 na extensão de 235,0 m, e rua direita de Arroios entre as ruas 5 e 6 no comprimento de 190,0 m.

O total pois a despender com a canalização de esgoto da Avenida, ruas e seu complemento, é de 50:511$691 S.

Descontando a parte projectada entre perfis 6 a 13 o seu comprimento é de 3:506,4 m e a despeza de 47:652$634.

- Cano da rua de Arroios – Além da canalização projectada torna-se conveniente mais tarde a recon- strução de um cano de tipo oval de 1,80 X 1,20 na rua direita de Arroios entre o encontro oriental do viadu- to e a rua Nº 6 na extensão de 375,0 m; porque o existente não tem secção suficiente, e desta forma ficará a Avenida e ruas adjacentes ligadas por canos resistentes (?) e de tipo regular com o bairro de Santa Bárbara e Avenida Estefânia.

- Muros de suporte adoptou-se – Para o projecto definitivo da Avenida e mais ruas, adoptou-se a con- strução de muros de suporte só nos casos excepcionais onde os taludes naturais dos aterros e escavações não puderem ser empregados (?).

No Mapa das expropriações há duas medições, uma que indica a expropriação a fazer para a faixa da Avenida e ruas, e outra a ocupar pelos taludes.

A primeira é paga ao proprietário como a verdadeira parte a expropriar; e a segunda, a ocupada pelos taludes, é só a título de indemnização temporária, podendo o proprietário tomar conta deles quando queira construir nos alinhamentos marcados.

72 Os muros a construir para a execução total do projecto, são na Avenida entre perfis 9,10,14 a 16 e 18 e 20, e rua Nº 3 perfis 1 a 3, rua Nº 5 entre perfis 1 e 1, e rua António Pedro em perfis 0 a 2; 19 a 22 e 23 a 24. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 73

Nos primeiros são destinados à serventia do Largo do Intendente, e ligação da rua direita dos Anjos com a Avenida, e os últimos para resolver as construções existentes.

O valor total destes muros é de 3:005.78 que juntando às acessórias (?) de revestimento de cantarias, rebouco, etc. perfaz a importância de 12:515$013.

Deduzindo a parte que supomos não construída neste projecto entre perfis 6 a 13 fica a sua despeza em 11:053$659.

- Orçamento total dos trabalhos a executar na Avenida e ruas adjacentes – O orçamento total dos trabalhos a executar na Avenida e ruas Adjacentes é de 415:889$000 o que reduzindo a verba das expropriações, movimentos de terras, regularização etc., do Largo do Intendente até ao perfil 13, terreno da Quinta da Romeira, e grilhagem de ferro para as concluir fica em 298:879$621 rS, e contando com a venda do terreno para edificações que supomos de 39:266$115 e a despeza efectiva a fazer da parte a con- struir é de 259:613$471. - Avenida dos Anjos – Descrição da Avenida e ruas adjacentes.

De todas as ruas compreendidas neste projecto, a mais importante é sem dúvida a Avenida dos Anjos, que partindo do Largo do Socorro, segue até à estrada da Circumvalação.

Esta rua é formada de um só alinhamento recto de 1:811.60 m com os seguintes traineis:

Rampa de 0.00094 em 96.00 m “ “ 0.0264 “ 236.50 “ “ 0.0250 “ 690.45 “ “ 0.0260 “ 424.81 “ “ 0.00841 “ 363.84

O seu custo é de 263:848$000 incluindo 175:218$4 para expropriações o que para o cumprimento efectivo de que trata este projecto de 1:510$60 e que vale a 17.4$664,37 por metro corrente.

Deduzindo as verbas acima descritas e incluindo a serventia provisória entre o Largo do Intendente e a Avenida, o seu custo é de 107:572$470 ou de 85$470 por metro corrente.

- Nova praça em substituição do Largo do Intendente e ruas Nºs. 1 e 2 – O Largo do Intendente é transformado em uma praça medindo 2,926,0 metros quadrados ficando ao centro com um cha- fariz, em substituição do que actualmente existe, e liga pelo lado sul com a Avenida por meio da rua Nº 1 73 com a largura de 15.00 m, e o declive de 0,0291 no comprimento de 33,11 m; e pelo norte a ligação é feita Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 74

por uma escada de 8,0 m de largo, e 5,95 m de comprido, e a rua Nº 2 com o declive de 0,019 em 30,6 m de extensão com a largura de 15,00 m.

O custo total destas obras é de 4:561$00 que dá a despesa de 1$178,23 por metro quadrado.

- Rua Nº 3 – A rua Nº 3 consta em parte da rua dos Anjos comprendida entre o Largo do Intendente e a interrupção desta pela Avenida, e é formada pelo alargamento do lado ocidental ficando com a largura de 12.00 m na extensão de 100.00 m e o trainel de 0.01; inclinação actual para não alterar os níveis do lado oriental.

A ligação desta parte com a Avenida é feita por uma rampa de 0.135 em 38,82 com a largura de 8.0 m, sendo o comprimento deduzido em duas partes, uma em recta de 15,0 m, e a outra em curva de 18,2 m de raio com o desenvolvimento de 23.82.

As expropriações desta rua estão incluídas na Avenida dos Anjos por fazerem parte das parcelas para a sua construção e serventia provisória. Quando esta serventia for eliminada, pelo prolongamento da Avenida através dos prédios do Intendente, o Município ficará com uma superfície de 2:550,0 m que poderá ser ven- dida nas melhores condições por ter frente para a Avenida, Praça e rua Nº 3.

A bica existente nesta rua é recuada ao novo alinhamento, e em meia laranja como a actual.

O orçamento total dos trabalhos a executar é de 5:258$000 o que dá por metro corrente o preço de 38$774,6.

- Rua Nº 4 – A rua Nº 4 com a largura de 16.00 m parte em frente do perfil 24 da Avenida, e liga esta pelo lado ocidental com a rua direita dos Anjos próximo da Ermida do Resgate, e é formada por um alin- hamento recto de 72,0 m de comprido e uma rampa de 0,0278.

O orçamento desta rua é de 6:899$000 incluindo 1:348$928 para expropriações que para o seu cumpri- mento equivale a 95$819.40 por metro corrente.

- Rua Nº 5 – Do perfil 31 da Avenida parte a rua Nº 5 ligando-a por meio de um alinhamento recto de 111,5 com o Largo de Santa Bárbara em frente da rua Joaquim Bonifácio, e com o declive de 0,00861.

A sua largura é de 18.00 m, e para resguardar as construções recentemente construídas entre a Avenida e rua António Pedro foi projectado entre perfis 1 e 1’ do lado norte um muro de suporte para o talude de cota média de 4,16 m não aterrando a referida construção, e deixar uma passagem inferior de 5,0 de largo.

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Esta rua está orçada em 24:490$000 entrando nesta verba as expropriações no valor de 15:898$000 sendo o custo por metro corrente de 219$634.

- Rua António Pedro – Depois da Avenida dos Anjos, é a Rua António Pedro a mais importante, e tem a sua origem na rua Nº 5 a 75,50 do eixo da Avenida e paralelo a esta na extensão de 770,0 m até à estrada da Circumvalação, e é cortada pela rua Nº 6 nos perfis 3’ e 4’, Caracol da Penha perfis 14’ e 16’ Pascoal de Melo 21’ e 22’ e rua Nº 7 no perfil 27.

A largura desta rua é de 16.00 m com os traineis seguintes: Rampa de 0,01461 em 161.50 Horizontal “ 160.0 R. Nº 5 Rampa de 0,0482 “ 165.50 Horizontal 16.000 Rua do Caracol da Penha Rampa de 0,01614 “ 234.00

Entre perfis 1 e 1’ é projectado um muro de suporte do lado oriental nas mesmas condições da rua Nº 5, para reforçar as construções existentes deste lado, e dar a passagem livre de 5,0 m ao longo das edificações.

Próximo do perfil 1’ existe uma praça donde é extraída a água para as máquinas das oficinas que funcionam nas edificações acima referidas, e para a não inutilizar, é construída uma galeria em abóbada na extensão de 4,0 m para baixo do pavimento da rua, e fixada por uma porta, de modo que possa ser visitada todas as vezes que haja transtorno nos aparelhos para elevação das águas.

Esta obra vai pervista no orçamento.

Entre perfis 20 e 21 lado ocidental é forçoso construir um outro muro de suporte para resguardar umas con- struções existentes e um poço, devido à cota média de aterro neste ponto ser de 4.35 m, que com o seu talude central das terras obrigaria a uma expropriação cara.

O orçamento desta rua é de 55:702$00 incluindo a verba a despender com expropriações 16:676$085 que dá o custo por metro corrente de 71$504.50.

- Rua Nº 6 – Em frente do perfil 38 da Avenida lado ocidental parte a rua Nº 6 cortando a de António Pedro no perfil 3’ e ligando estas com a rua de Arroios na junção da Calçada do Forno do Tijolo e Regueirão dos Anjos.

A rua nº 6 é formada por um alinhamento recto de 109.50 m com a largura de 16.00 m, e com os seguintes traineis: 75 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 76

Declive de 0,0522 em 55.00 Horizontal em 16.00 R. A. Pedro

Declive de 0,040 em 38.50

O seu orçamento é de 8:782$00 estando incluído as expropriações 4:820$80 dando o preço por metro cor- rente de 93$925.

- Rua do Caracol da Penha – A rua Caracol da Penha consta da ampliação da travessa do mesmo nome, e que liga esta com a Avenida, rua António Pedro e a rua direita de Arroios no mesmo ponto em que faz junção a travessa com a rua.

Esta rua é formada por dois alinhamentos rectos, um de 167,5 m e outro de 65.00 m.

A sua largura é de 16.00 m e os seus traineis os seguintes:

Declive de 0.149 em 94.00 Horizontal em 25.00 Avenida dos Anjos Declive de 0.0773 em 55.00 Horizontal em 16.00 R. António Pedro Declive de 0.0743 em 48.00

O orçamento é de 11:120$000 estando incluído as expropriações a fazer de 690$200 dando o valor por metro corrente efectivo de 56446.70.

Nesta rua e bem assim na Avenida e rua António Pedro não entram as expropriações a fazer na quinta da Imagem, por existir um contrato feito com o Município e o proprietário em data de 18 de Outubro de 1890 em que este cede os terrenos precisos para a construção da Avenida e ruas adjacentes, obrigando-se a Câmara a reconstruir um muro e assentamento de portão em frente da quinta para a rua António Pedro, e parte de um muro da rua do Caracol da Penha, despeza que foi orçada em 480$000.

- Rua Pascoal de Melo – A rua Pascoal de Melo em parte construída entre a rua D. Estefânia e Jardim Constantino, deve ser prolongada segundo o projecto dos Melhoramentos da Capital até à Avenida dos Anjos passando sob a rua de Arroios em Viaduto.

No projecto definitivo trata-se só da parte que liga a Avenida com a rua António Pedro ao encontro oriental 76 do viaduto até à rua de Arroios. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 77

Como apêndice a esta rua é apresentado o projecto do viaduto e seu orçamento em separado.

A rua Pascoal de Melo tem a sua origem em frente do perfil 56’ lado ocidental da Avenida, e corta a rua António Pedro no perfil 22, e segue até à rua de Arroios com a cota de aterro sobre esta de 8,33 onde prin- cipia o viaduto.

A largura desta rua é do mesmo tipo da parte já construída, isto é de 20.00 m, e formada por um alin- hamento recto de 151,0 m com os seguintes traineis:

Rampa de 0,00727 em 55.00 Horizontal “ 16.00 R. A. Pedro Rampa 0,00420 “ 80.00

O orçamento desta rua é de 21:588$000 incluindo as expropriações de 5:058$900 sendo o preço por metro corrente de 157$003.

- Rua Nº 7 – A rua Nº 7 última transversal de que faz parte este projecto, parte em frente do perfil 59’ da Avenida, e corta a rua António Pedro no perfil 27 ligando-as com a estrada de Sacavem.

É formada por um alinhamento recto de 105,50 m com a largura de 16.00 m.

Os seus traineis são os seguintes:

Rampa de 0,0307 em 55.00 Horizontal “ 16.00 R. A. Pedro Rampa 0,0527 “ 34.50

O seu orçamento é de 5:506$000 incluindo as expropriações no valor de 908$00 o que dá o custo por metro corrente de 62$078.

- Serventias provisórias – A Avenida dos Anjos e ruas adjacentes corta temporariamente algumas ser- ventias que bastante as prejudica enquanto não forem mais tarde regularizados os talhões formados por esta construção e as antigas ruas; e são estas as seguintes:

77 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 78

||Avenida entre pp. 22 e 23 Serventia em rampa

Regueirão dos Anjos ||Rua Nº 4 perfil “ em escada

||Rua Nº 5 “ “ “ “

||Avenida entre pp. 33 e 34 Serventia em rampa L. do Forno do Tijolo ||Rua Nº 6 entre pp. 2 a 3 “ “ “

R. do Forno do Tijolo ||Avenida entre pp. 40 e 41 S. em rampa

A verba destinada a estas serventias será tirada das despezas previstas (?) no orçamento geral.

- Arborização – A arborização a fazer tem relação simplesmente com a Avenida e nova Praça, porque as outras ruas são inferiores à largura de 20.00 m.

O número de árvores destinadas à Avenida é de 436, e para a nova Praça em substituição do Largo do Intendente de 48, perfazendo o total de 484 árvores.

- Vedações – As propriedades tanto urbanas como rústicas, cortadas pela Avenida e ruas (adjacentes) são vedadas ao longo do limite de seus alinhamentos por tapumes de madeira em tosco sendo estes colocados nos aterros na aresta superior, e nas escavações na inferior.

O comprimento total de vedações a fazer é de 4:764 metros correntes.

- Desenvolvimento, superfície ocupada pela Avenida dos Anjos e ruas adjacentes – O desenvolvimento da Avenida dos Anjos e mais ruas, partindo do perfil 6 tal como foi projectado é de 3.218,27 m, e a superfície ocupada pelo pavimento e passeios, de 65:51716 m2.

Reduzindo a parte entre perfis 6 a 13 que tem por base o presente orçamento o seu desenvolvimento é de 2:949.7 m e a sua superfície de 58:792,16 m2.

78 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 79

Designação Total da despesa Preço por: Metro corrente Metro quadrado de rua de rua

Avenida dos Anjos 263:848$00 174$664,37 6$98 Nova Praça 4:561$00 1$178 Rua Nº 3 5:258$000 38$774,60 7$097 Rua Nº 4 6:899$000 95$819,40 5$988 Rua Nº 524:490$000 219$634 12$202 Rua António Pedro5 5:702$000 71$504 4$472 Rua Nº 6 8:782$000 93$925 5$870 Rua Caracol da Penha 11:120$000 56$446 3$500 Rua Pascoal de Melo 21:588$000 157$003 7$850 Rua Nº 7 5:556$000 62$078 3$879

- Custo médio por metro corrente e quadrado da Avenida e ruas adjacentes – Pela descrição geral dos trabalhos a executar na construção da Avenida dos Anjos e ruas adjacentes, sabe-se qual a importância não só no todo como na especialidade, resta achar a média do custo por unidade de metro cor- rente e quadrado nos três casos seguintes:

1º Dado o caso de ser (a) construção tal como foi projectado

2º Eliminando a despeza a fazer com as expropriações do Largo do Intendente e construção entre perfis 6 a 13, e entrando com a serventia provisória entre o mesmo largo e a Avenida, que serve de base para este orçamento.

3º Nas mesmas condições do Antecedente e entrando com a verba de venda de terrenos aos proprietários confinantes e em praça, que se supõe ser de 39:266$15

No primeiro termo: m = 126$715.2 m2 = 6$224.2

No segundo m = 98$598.8 m2 = 4$946.2 79

No terceiro m = 85$285 m2 = 4$278.3 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 80

Finalmente as peças escritas, que fazem parte do presente projecto, elucidam não só por meio de Mapas espe- ciais todas as medições de trabalho a executar, como o seu custo por artigos e capítulos, além de uma descrição do modo por que foi avaliada cada parcela a expropriar e bases de indemnização; que servirá sempre para consultar quando se trata de qualquer expropriação a fazer na Avenida dos Anjos e ruas adjacentes.

Lisboa, 30 de Setembro de 1891

J. A. Monteiro

1. 3 -MMapa das Expropriações para a Faixa a Ocupar pela Avenida.

Notas sobre as expropriações a efectuar Parcela nº 1 – D. Maria dos Remédios Vilela Botelho. Rua Nova da Palma 199 a 215 e Calçada do Desterro nº 2 a 6. Prédio composto de lojas, 1º e 2º andar para as duas ruas, tendo nas traseiras armazens de abóbada com barracas sobre estas. A entrada para estas é pelo portão que tem o Nº 219 e pertence ao pré- dio imediato para o qual dá também serventia.

A expropriação é feita na totalidade pela quantia de 26.000$00 reis, fazendo a Câmara a demolição reser- vando para si todos os materiais provenientes da mesma demolição bem como as sobras de terreno que não forem ocupadas pela Avenida.

Este prédio rende 1.604$000 reis, e por este rendimento a sua avaliação deveria ser superior se não se tivesse tido em vista a construção do prédio que é muito ligeira e pouco cuidada.

Parcela nº 2 – D. Maria da Conceição Seabra. Rua Nova da Palma nº 217 a 225. Prédio composto de lojas, 1º e 2º andar, dando entrada pelo portão nº 219 para umas barracas e armazens do prédio anterior. Entrada que é comum a dependências deste prédio.

O valor da expropriação é de 14.200$000 reis, sendo o prédio expropriado na totalidade, ficando a Câmara com o terreno que não for ocupado pela Avenida e bem assim com todos os materiais provenientes da demolição que será feita pela Câmara.

80 Parcela nº 3 – D. Maria dos Remédios Vilela Botelho. Rua Nova da Palma nº 227 a 235. Prédio com- posto de lojas, 1º e 2º andar. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 81

O valor da expropriação é de 13.000$000 reis, sendo o prédio expropriado na totalidade, fazendo a Câmara a demolição e ficando com todos os materiais provenientes desta.

Parcela nº 4 – D. Maria dos Remédios Vilela Botelho. Largo do Intendente nº 1, pátio e barracões, e Largo do Intendente nºs. 2 a 4 B, casa abarracada.

O valor da expropriação é de 8.000$000 reis, sendo os prédios expropriados na totalidade, fazendo a Câmara a demolição e ficando com todos os materiais provenientes desta.

Deu-se este valor em atenção não só ao rendimento como à área e ao local.

Parcela nº 5 – João Garcia. Largo do Intendente nº 5. Prédio composto de loja e 1º andar e nº 12 a 15 A, prédio composto de loja e 1º andar. Nestes prédios acha-se além de casa de residência, estabelecida uma fábrica de louça.

O valor da expropriação da parte urbana é de 12.800$000 sendo a expropriação na totalidade das edifi- cações. A Câmara faz a demolição das propriedades e reserva para si todos os materiais de construção prove- nientes desta.

Pela expropriação da fábrica propriamente dita, isto é, pela deslocação da indústria dará a Câmara ao pro- prietário da fábrica a importância de 6.000$000 reis, podendo este retirar todas as máquinas, ferramentas e utensílos da fábrica.

Parcela nº 6 – Hospital do Desterro. Edifício composto de pavimento térreo e 1º andar, com uma área a expropriar de 975,87 m2. Terreno lavradio a expropriar 175,0 m2. No 1º andar acham-se estabelecidas enfer- marias e no pavimento baia (e) diversas dependências do hospital.

O valor da expropriação é de 15.000$000 reis, sendo 14.930$000 reis pelas edificações, e 70$000 reis pelo terreno lavradio, ficando para a Câmara os materiais provenientes da demolição que ela fará. Esta obriga-se ainda a fazer uma vedação ligeira de madeira no terreno lavradio, enquanto o Hospital não edificar naquele ponto. Esta vedação é colocada na aresta superior dos aterros da Avenida ou na base dos taludes das trincheiras.

Como indemnização pela parte do terreno a ocupar provisoriamente com a base dos taludes dos aterros, enquanto o proprietário não construir, paga a Câmara por uma só vez a quantia de 35$000 reis. 81 A Câmara não se obriga a mais do que o exposto ficando a cargo do Hospital todas as despezas provenientes Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 82

do corte como são, vedação da frente para a Avenida, telhados, etc..

Parcela nº 7 – Herdeiros de José Ribeiro da Cunha. Rua Direita dos Anjos nº 7 a 13. Prédio compos- to de loja, 1º andar, pátio e jardim e terreno lavradio, tem dentro barraca e prédio abarracado com loja e andar.

Planta não assinada, não datada, indicando a parte a expropriar do prédio nº 7 a 13 da Rua dos Anjos, pertencente aos herdeiros de José Ribeiro da Cunha, expropriação decisiva para aconclusão da avenida dos Anjos. AML-AC, Caixa nº 21-SGO.

O valor da expropriação é de 14.200$000 reis sendo 12$000 reis pela parte urbana e 2.200$000 pela parte rústica. A Câmara faz a demolição das propriedades e guarda para si todos os materiais provenientes desta. Obriga-se ainda a fazer uma vedação ao terreno com ripas de madeira, género ligeiro.

Como indemnização pelo terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras, e enquanto o proprietário não constrói paga a Câmara por uma só vez, a quantia de 239$000 reis.

Parcela nº 8 – Maria Inocência da Conceição e Silva. Rua Direita dos Anjos nº 1 a 5. Prédio compos- 82 to de lojas 1º e 2º andar e águas furtadas, pátio e jardim. Tem também uma barraca com entrada pelo nº 5 A que é comum no prédio contíguo. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 83

O valor da expropriação dos dois prédios é de 10.000$000 reis. A Câmara faz a demolição e reserva para si todos os materiais provenientes da demolição.

Parcela nº 9 – Conde de Tomar. Rua Direita dos Anjos nº 35 a 45. Prédio queimado tendo apenas as paredes e 2 lojas abobadadas com pequenos estabelecimentos.

A expropriação da parte cortada pela Avenida é do valor de 1.000$000 reis, fazendo a Câmara a demolição das paredes, e dando ao proprietário os materiais provenientes desta demolição. Ao proprietário fica a obri- gação de fazer a vedação da parte, digo, da frente para a Avenida.

Parcela nº 10 – Igreja paroquial dos Anjos. Rua Direita dos Anjos.

A expropriação é total, dando a Câmara a quantia de 20.000$000 reis e o terreno junto à Avenida, que na planta se acha indicado a vermelho, tendo uma área de 990 metros quadrados, com a condição da Corporação a quem pertencer o edifício, de demolir a igreja actual, aproveitando todos os materiais que julgar aproveitáveis desta demolição. Se o terreno que a Câmara destinar para a nova paróquia não for todo aproveitado as sobras reverterão à posse da Câmara.

Parcela nº 11 – José Maria Urseira. Rua Direita dos Anjos nº 54. Prédio composto de lojas, 1º, 2º 3º e 4º andar. Este prédio precisa de obras.

Parecendo baixo o valor dado pela matriz avaliou-se a expropriação em 4.100$000. A expropriação é feita na totalidade do prédio, fazendo a Câmara a demolição e aproveitando todos os materiais provenientes desta.

Parcela nº 12 – Francisco Palma. Rua Direita dos Anjos 56. Prédio composto de lojas, 1º e 2º andar e águas furtadas.

É expropriado na totalidade pela quantia de 1.700$000 reis, fazendo a Câmara a demolição e reservando para si todos os materiais provenientes desta denolição.

A entrada para o 1º e 2º andar é pela escada do prédio imediato, cuja porta tem o nº 58.

83 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 84

Parcela nº 13 – Maria Joaquina Saturnio. Rua Direita dos Anjos 58 a 60. Prédio composto de lojas 1º e 2º andar, sendo a escada destes andares comum aos do prédio nº 56.

É expropriado na totalidade por 2.300$000 reis fazendo a Câmara a demolição e reservando para si todos os materiais provenientes da demolição.

Parcela nº 14 – Hilário Pereira. Rua Direita dos Anjos nº 44 a 48 D. Prédio composto de lojas, 1º andar e pátio.

Como este prédio tem de ser cortado em parte pela Avenida dos Anjos e em parte pela Rua nº 4 do Bairro Andrade por isso pareceu conveniente tratar-se aqui da expropriação de dois pedaços.

O valor desta expropriação é de 7.000$000 reis, incluindo-se nesta verba não só a expropriação da parte a cortar como a indemnização por diferença de nível da parte restante.

Além desta verba a Câmara dá também ao proprietário o terreno que fica formando o cunhal da Avenida para a Rua nº 4 do bairro Andrade, com a área aproximada de 33.0 m2.

A parte correspondente ao terreno a ocupar pela Avenida é de 1.500$000 reis; e a parte correspondente ao terreno a ocupar pela Rua nº 4 do bairro Andrade é de 5.500$000.

Parcela nº 15 – Manuel G. Pereira de Andrade, nº 48 E a 48 F. Rua Direita dos Anjos. Prédio com- posto de loja e 1º andar.

Este prédio é cortado parcialmente pela Avenida. A Câmara dá ao proprietário a importância de 1.300$00 pela expropriação do terreno a ocupar e como indemnização dos prejuízos causados pelo corte no prédio. Faz o corte e cede ao proprietário os materiais provenientes das demolições. (a) Pátio – Rua Direita dos Anjos nº 48 F. A parte deste pátio cortada pela Avenida é expro- priada pela Câmara pela quantia de 10$000 reis. (b) Barracão de madeira em mau estado. A parte deste barracão cortada pela Avenida, é expro- priada pela Câmara por 155$000 reis, fazendo esta a demolição, ficando porém os materiais para o propri- etário. Na importância mencionada inclui-se a exproppriação do terreno e indemnização dos prejuízos causa- dos pelo corte. (c) Terreno lavradio contíguo ao pátio e barracão. A expropriação da parte do terreno necessário para a Avenida importa em 161$400 reis; sendo a 300 (reis) o metro quadrado. 84 (d) Rua direita dos Anjos 36 a 38. Prédio composto de lojas 1º, 2º, 3º, 4º andar e pátio. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 85

Este prédio se se atendesse apenas à abertura da Avenida, teria somente a sofrer uma depreciação por alter- ação de nivelamento, tendo por isso de inutilizar-se as lojas, porém como também tem de ser cortado parcial- mente pela rua nº4 do bairro Andrade, pareceu conveniente incluir-se aqui as duas expropriações.

A Câmara faz o corte da propriedade, dando ao proprietário os materiais provenientes desta demolição e a quantia de 4:750$000 reis pelo terreno que lhe ocupa e por todos os prejuízos que lhe causa, devendo o pro- prietário vedar a sua frente.

(e) Rua Direita dos Anjos nº 40 a 42. Prédio composto de lojas, 1º, 2º e 3º andar.

Este prédio é expropriado na totalidade pela quantia de 4.000$000 reis. Além disto a Câmara faz a demolição mas fica com os materiais provenientes desta demolição.

(f) Terreno lavradio destinado pelo proprietário para construções.

Este terreno pela sua posição foi escolhido para edificação da nova paróquia dos Anjos sendo o excedente apli- cado a jardim.

Em vista do fim a que o seu proprietário o aplica, avaliou-se em 1$000 reis o metro quadrado, ou seja 1.909$500 reis pela parcela (f).

Além do que fica exposto a Câmara obriga-se ainda a fazer na frente do terreno para a Avenida ou ruas, uma vedação ligeira de madeira, ou na aresta superior dos aterros ou na base dos taludes das trincheiras, con- forme as ruas forem em aterro ou em escavação.

O valor total destas expropriações é de 12.285$900 reis sendo a parte a levar à conta do orçamento do bair- ro Andrade de 5.150$000 reis.

A parte dos terrenos, entre o Regueirão e a Avenida dos Anjos, que sobram da abertura da Avenida, reser- va-os a Câmara para si.

Parcela nº 16 – Junta de Paróquia da freguesia dos Anjos. Antigo Cemitério.

Este terreno é expropriado na totalidade pela quantia de 424$050, ficando a Câmara com o que sobrar do preciso para a abertura da Avenida.

85 Parcela nº 17 – Câmara Municipal de Lisboa. Depósito de materiais na antiga quinta da Romeira. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 86

Parcela nº 16 - Junta de Paróquia da Freguesia dos Anjos. Antigo Cemitério. Planta datada de 25 de Maio de 1897, assinada por António Maria Avellar, relativa à expropriação da parcela nº16 - antigo cemitério da Junta da Paróquia de Freguesia dos Anjos. AML-AC, Caixa nº 83-DSU. Medindo esta propriedade a área aproximada de 9.373,00 m2 na sua totalidade, e tendo custado à Câmara a importância de 9.870$000 reis, o preço por metro quadrado foi de 1$053 reis.

Sendo a área a ocupar nesta propriedade pela Avenida de 3.500,0 m2, e a área destinada ao local da nova paróquia dos Anjos e o jardim de 1.983,75 a importância a lançar no orçamento da Avenida será de 5.774$38 reis, soma daquelas duas quantidades pelo preço de 1$053 reis.

Ao orçamento da rua nº 3 do bairro Andrade se lançará a importância de 240$084 reis, e ao orçamento da rua ligando a Avenida com a rua nº 1 do bairro Andrade, pelas terras de Manuel de Castro Guimarães, se lançará a importância de 296$946 reis, respectivos à mesma propriedade.

Restam pois, desta propriedade, dois grandes talhões de terreno, sendo um a Ocidente da Avenida com a área de 2.604,07 m2 de terreno, e outro a Oriente com a área de 775,25 m2 os quais vendidos para edificações, mesmo pelo diminuto preço de 2$000 reis o metro quadrado produzirão a importância de 6.758$500 reis.

86 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 87

Parcela nº 17 A – Manuel de Castro Guimarães. Terreno lavradio destinado pelo proprietário para ser vendido para edificações particulares.

Este terreno situado entre as ruas nº 1 e nº 3 do bairro Andrade e rua ligando a Avenida dos Anjos com a rua nº 1 do dito bairro Andrade, pelas terras de Manuel de Castro Guimarães, é expropriado a 1$000 reis o metro quadrado, na importância de 611$000 reis. Destina-se à edificação da nova paróquia dos Anjos e a jardim.

Parcela nº 18 – Francisco António Jorge Belo, Regueirão dos Anjos nº 10.

(a) Terreno de horta.

São expropriados 936,000 m2 de terreno por 468$000 reis, a 500 reis o metro quadrado.

b) Casa abarracada, tendo loja e 1º andar.

Esta expropriação é parcial. A Câmara dá ao proprietário pelo terreno a ocupar com a Avenida e pelos pre- juízos causados pelo corte na propriedade, a quantia de 1.800$000 reis, e materiais provenientes das demolições que a Câmara fará da parte a cortar da propriedade, devendo o proprietário fazer a vedação da parte cortada para a Avenida.

(c) Barracão.

Como a licença para a edificação deste barracão foi dada condicionalmente (Veja-se a informação de 28 de Janeiro de 1888), há apenas a expropriar o terreno que se avaliou em 300 reis o metro quadrado, na importância de 12$000 reis. A Câmara reserva para si o terreno que sobra das obras da Avenida à direita, e que se acha incluído nestas expropriações.

Para a rua nº 4 são também expropriados 840,0 m2 na importância de 420$000 reis, a 500 reis o metro quadrado.

A Câmara obriga-se também a fazer uma vedação provisória e ligeira de madeira nas frentes dos terrenos, onde não haja edificação e na aresta superior dos aterros ou na base dos taludes das trincheiras, conforme as ruas passem em aterro ou em escavação.

As expropriações acima importam em 2.700$000 reis. 87

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente com os taludes das trincheiras ou dos aterros, Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 88

enquanto o proprietário não constrói, dá à Câmara por uma só vez, para a parte a ocupar com a Avenida 150$170 reis, e para a parte a ocupar com a rua nº 4, 128$928 reis.

Parcela nº 19 – Francisco Lourenço da Silva Almeida

(a) Terreno lavradio. Expropriam-se 963,40 m2 por 279$020 reis a 300 reis o metro quadrado.

(b) Prédio abarracado com lojas e 1º andar.

A expropriação é total sendo o seu custode 200$000 reis por se achar em mau estado de conservação o pré- dio.

A Câmara faz a demolição ficando com os materiais.

(c) Terreno de horta. Expropriam-se 4.061,0 m2 de terreno por 1.624$400 reis, a 400 reis o metro quadrado.

(d) Terra.

Expropriam-se para a Rua nº 5, 1.350,0 m2 de terreno por 270$000 reis a 200 reis, e para a Rua António Pedro, 1.399,5 m2 por 279$900 reis, também a 200 reis o metro quadrado.

(e) Regueirão dos Anjos nº 49. Casa abarracada com loja e 1º andar.

A expropriação é total e destinada à Rua António Pedro. Por se achar em mau estado de conservação o pré- dio, avaliou-se a sua expropriação apenas em 200$000, fazendo a Câmara a sua demolição, mas ficando com os materiais provenientes da demolição. Todo o terreno entre o Regueirão e a Rua António Pedro que entra nesta expropriação, reserva-o a Câmara para si.

A Câmara em vista da diferença de nível em que se acha o pavimento térreo da fábrica, pelo alinhamento e cotas de nível que a Repartição Técnica em tempo forneceu ao proprietário, faz na Rua António Pedro e na Rua nº 5, muros de suporte aos aterros das ditas ruas, e sobre eles um parapeito de alvenaria com 1,4 m de alto por 0,5 m de grosso.

88 No extremo oriental do muro da rua nº 5 faz também uma serventia em rampa com 0,15 m de declive e na extensão de 27 metros, tendo 4 ditos de largo, as bermas calçadas e a faixa central macadamisada. Esta ser- ventia é praticada toda em aterro. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 89

Para dar acesso ao poço da propriedade, sobre o qual passa a Rua António Pedro, a Câmara faz uma con- duta com abertura no muro de suporte, tendo de altura máxima 1,60 m e a largura de 0,8 m ficando por- tanto sob o leito da nova rua. Na parte não murada, a Câmara faz a vedação do terreno confinante com as ruas por meio de uma vedação provisória e ligeira de madeira na aresta superior dos aterros.

A expropriação total importa em 2.863$320.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente com os taludes dos aterros ou das trincheiras, enquanto o proprietário não edifica, paga a Câmara por uma só vez, para o terreno a ocupar com a Avenida 151$200 reis e para o terreno a ocupar com a rua nº 5, 88$000 reis.

Parcela nº 20 – Dr. José António Barbosa de Araujo Simões. Terreno de horta.

É expropriada a área de 3.018,70 metros quadrados de terreno por 1.207$000 reis a 400 reis o metro quadrado de terreno por 1.207$000 reis a 400 reis o metro quadrado.

A Câmara obriga-se também a fazer a vedação dos terrenos como aos proprietários anteriores, enquanto o proprietário não edificar.

Para a rua nº6 são expropriados 598,0 m2 de terreno de horta pela quantia de 239$200, pelo mesmo preço de 400 reis o metro quadrado.

A expropriação total destes talhões importa em 1.446$700 reis.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras, enquan- to o proprietário não constrói dá a Câmara por uma só vez, para os aterros a ocupar com a Avenida 118$850 reis, e para os terrenos a ocupar com a rua nº 6, 18$600 reis.

Parcela nº 21 – Conde dos Arcos. Lavradio de inferior qualidade. São expropriados 3.300,0 m2 de terreno pela quantia de 990$000 reis, para abertura da Avenida dos Anjos.

(a) Palácio em mau estado, constando de lojas, 1º andar com grandes salas, e sotão tendo à frente do palácio um grande telheiro também em mau estado. 89

Rua Direita dos Anjos 48 a 50 e Beco do Forno do Tijolo 30. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 90

É nesta parte do palácio, que é cortada pela Rua António Pedro, onde se acham estabelecidos os depósitos, celeiros e casa de embotijar da fábrica de cerveja Leão.

A importância da expropriação é de 6.000$000 reis, fazendo a Câmara a demolição da parte cortada, mas ficando com os materiais provenientes desta.

Para esta Rua António Pedro ainda se cortam à parcela 21, 862,0 m2 de terreno lavradio, cuja expropri- ação é no valor de 258$600 reis, a 300 reis o metro quadrado.

(b) Horta. São expropriados 1.979,58 m2 por 243$750 a 500 reis o metro quadrado. Na parte onde não houverem edificações a Câmara obriga-se a fazer uma vedação ligeira e provisória de madeira na aresta superior dos aterros ou na base dos taludes das trincheiras, conforme a rua for em aterro ou em escavação.

A importância total da expropriação é de 7.492$350 reis.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras enquan- to o proprietário não constrói, dá a Câmara por uma só vez a quantia de 199$150 reis para o terreno a ocu- par com a Avenida, e 77$920 para os terrenos a ocupar com a Rua António Pedro.

Parcela nº 22 – António José Jorge. Olival.

São expropriados para a Avenida 493,0 m2 por 295$700 reis a 600 reis o metro quadrado, e para a R. Caracol da Penha 737,0 m2 por 442$200 reis a 600 reis o metro quadrado.

Para a Rua António Pedro são expropriados 297,00 m2 de olival por 178$200 reis a 600 reis o metro quadrado.

(a) Terreno de horta.

São expropriados 152,0 m2 de terreno de horta para a Rua António Pedro na importância de 76$000 reis o metro quadrado.

A importância total das expropriações é de 550$000 reis.

90 A Câmara obriga-se a fazer uma vedação provisória e ligeira, de madeira, enquanto o proprietário não con- strói na aresta superior dos aterros ou na base inferior dos taludes das trincheiras, conforme as ruas forem em aterro ou em escavação. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 91

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente com os taludes dos aterros ou das trincheiras, enquanto o proprietário não edifica paga a Câmara por uma só vez para os terrenos a ocupar com a Avenida, a quantia de 9$900 reis; com os terrenos a ocupar com a rua António Pedro a quantia de 37$300 reis, e com os terrenos a ocupar pela Rua Caracol da Penha a quantia de 42$200 reis.

O terreno que sobra da rua Caracol da Penha e da Avenida dos Anjos, situado a oriente desta e à esquerda daquela, tendo entrado na expropriação, reserva-o a Câmara para si Parcela nº 23 – João da Silva Marques. Travessa do Caracol da Penha.

Vinha.

Para a Avenida são necessários 1.006,24 m2 de terreno de vinha, e para a Rua Caracol da Penha 97,0 m2.

(a) Jardim.

Para a Rua António Pedro são necessários 552,0 m2 de terreno de jardim e para a Rua Caracol da Penha 930,0 m.

Todos estes terrenos foram cedidos à Câmara por escritura de 1º de Outubro de 1890.

A Câmara obriga-se também aqui a fazer uma vedação pelo género e nas condições das parcelas anteriores.

Parcela nº 24 – Luis Augusto Mancelos. Terras - Lavradio.

São expropriados 2.958,87 m2 de terreno lavradio por 887$660 reis, a 300 reis o metro quadrado para a Avenida, e 40,5 m por 12$150 reis, também a 300 reis o metro quadrado para a Rua António Pedro.

(a) Horta.

São expropriados 606,5 m2 de terreno de horta por 303$250 reis, a 500 reis para a Rua António Pedro, e 848,00 por 424$000 reis para a Rua António Pedro, e 848,00 m2 por 424$000 reis, a 500 reis para a Avenida.

(b) Quintal (e) Prédio composto de rés do chão e 1º andar e (d) Pátio.

91 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 92

É expropriada não só a parte necessária para a Rua António Pedro e Pascoal de Melo, com o resto do ter- reno à direita desta última rua.

O valor desta expropriação é de 4.000$000 reis.

A Câmara faz a demolição do prédio reservando para si os materiais provenientes da demolição e uma vedação provisória e ligeira de madeira, nos termos e pela forma que se obriga para as parcelas anteriores. O valor total das expropriações é de 5.627$000 reis.

Como indemnização pelo terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras, enquanto o proprietário não edificar dá à Câmara por uma só vez, para os terrenos a ocupar pela Avenida, a quantia de 74$670, para os terrenos a ocupar com a Rua António Pedro a quantia de 143$600 reis, e para os terrenos a ocupar com a Rua Pascoal de Melo a quantia de 159$400 reis.

Parcela nº 25 – António Carlos Dias. Terreno lavradio.

Expropriam-se 2.362,5 m2 de terreno lavradio por 708$750 reis, a 300 reis para a Avenida; 1.969,0 m2 a 300 reis para a Rua António Pedro, por 590,700 reis e 1.479,0 m2 por 443$700 reis, também a 300 reis para a Rua Pascoal de Melo.

(a) Casa abarracada.

Expropriam-se 15,75 m2 de barraca de frontal por 78$750 reis, a 5$000 reis o metro quadrado, também para a Rua António Pedro.

A Câmara faz a demolição, revertendo os materiais para o proprietário; e bem assim um muro de suporte ao aterro da rua, na extensão de 20,0 m, para resguardo das edificações; e as vedações de madeira necessárias para o terreno ficar resguardado como nas parcelas anteriores.

Todos os reparos necessários na barraca provenientes do corte serão feitos por conta e pelo proprietário.

A importância total das expropriações é de 1.821$900 reis.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras enquan- to o proprietário não edifica, dá à Câmara por uma só vez, para os terrenos a ocupar pela Rua António Pedro, a quantia de 26$040, reis para os terrenos a ocupar pela Rua Pascoal de Melo, a quantia de 92 140$000 reis. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 93

Parcela nº 26 – D. Irina A. Fonseca Amorim.

(a) Terreno lavradio.

Expropriam-se 1.437,50 m2 de terreno lavradio por 431$250 reis a 300 reis o metro quadrado.

(b) Terreno de horta.

Expropriam-se 2.625,0 m2 de terreno de horta para a Avenida por 1.312$500 reis o metro quadrado; para a Rua António Pedro, 1.984,75 m2 por 992$375 reis, pelo mesmo preço, e para a rua nº 7, 1.432,0 m2 e bem assim um poço na importância total de 900$000 reis.

A Câmara obriga-se também a fazer uma vedação provisória e ligeira, de madeira, pela forma e condições que se tem obrigado para com os proprietários das parcelas anteriores.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente com os taludes dos aterros ou das trincheiras, enquanto o proprietário não edifica, paga a Câmara por uma só vez, para os terrenos a ocupar com a Avenida, a quantia de 140$800 reis; para os terrenos a ocupar com a Rua António Pedro a quantia de 148$200 reis e para os terrenos a ocupar com a Rua nº 7 a quantia de 148$200 reis.

Parcela nº 27 – Francisco Leite de Oliveira -Terreno de horta.

Expropriam-se 75,0 m2 de terreno de horta por 37$500 reis, a 500 reis, para a Avenida.

A Câmara obriga-se a fazer uma vedação de madeira provisória e ligeira como nas parcelas anteriores.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras, enquan- to o proprietário não constrói, dá a Câmara por uma só vez, a quantia de 6$400 reis.

Parcela nº 28 – Viscondessa de Paiva Manso

(a) Horta e jardim.

São expropriados 1.216,0 m2 de terreno de horta e jardim por 486$000 reis, para a Rua António Pedro.

93 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 94

(b) Casa abarracada, (c) Pátio, (d) Prédio composto de rés do chão, 1º e 2º andar tendo o nº 48 para o Regueirão dos Anjos e o nº 29 a 37 para o Caminho do Forno do Tijolo. Este prédio é expropriado na totalidade, porém como também é cortado pela Rua nº 6, a importância da sua expropriação é subdividida pelos orçamentos destas duas ruas, isto é, pelo da Rua António Pedro e pelo da Rua nº 6, sendo a importância relativa ao da Rua António Pedro de 3.100$000 reis e a relativa à Rua nº 6, de 4.500$000 reis.

A Câmara faz a demolição reservando para si os materiais provenientes da dita demolição.

Obriga-se também a fazer uma vedação pela forma e condições já acima mencionado para outros proprietários.

O terreno compreendido pela Rua António Pedro e pelo Regueirão reserva-o a Câmara para si (A expro- priação deste está incluída na verba de 3.100$000 reis).

Na importância de 4.500$000 reis, inclui-se não só a expropriação das construções como também a dos seus anexos, pátio, poço, com novo tanque, etc..

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou trincheiras, enquanto o proprietário não constrói dá à Câmara por uma só vez, para os terrenos a ocupar com a Rua António Pedro, 146$750 reis e para os terrenos a ocupar com a Rua nº 6 63$000 reis.

Parcela nº 29 – Henrique José Chaves. Quintal. Expropriam-se 304,0 m de terreno por 152$000 reis, a 500 reis o metro quadrado, para a Rua António Pedro.

A Câmara obriga-se a fazer uma vedação pelo género e nas condições a que se refere nas parcelas acima descritas.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras enquan- to o proprietário não edifica, dá a Câmara, por uma só vez, a quantia de 30$240.

Parcela nº 30 – Augusto Cesar Manaças. Terreno lavradio. Expropriam-se 670,0 m2 de terreno para a Rua António Pedro, por 201$000 reis, a 300 reis o metro quadrado. 94 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 95

A porção de terreno compreendido entre o lado direito da rua e a extrema da propriedade que se acha incluí- do na expropriação, reserva-o a Câmara para si. A Câmara obriga-se a fazer uma vedação pela forma e condições a que se obrigou para com os proprietários das parcelas anteriormente descritas.

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras, enquan- to o proprietário não edifica, dá à Câmara por uma só vez a quantia de 37$400 reis.

Parcela nº 31 – D. Maria Emilia Assumção Esteves. Rua Direita de Arroios nº 106. Casa abarraca- da, pátio, quintal, telheiros, poço com tanque. Expropriam-se para a Rua António Pedro 7,0 m2 de barraca de frontal por 35$000, 660,0 m2 de quin- tal por 330$000 reis, e 56,0 m2 de telheiro na importância de 168$000 reis, o que dá o valor total da expro- priação de 533$000 reis.

A Câmara faz a demolição da barraca dando os materiais provenientes da demolição à proprietária. Obriga- se ainda a construir um muro de suporte aos aterros em toda a extensão da propriedade, do lado esquerdo da rua. E sobre este muro um parapeito de alvenaria com 1,4 m de alto e 0,50 de grosso.

O terreno compreendido pela rua e a extrema ocidental da propriedade, que entrou na expropriação, reserva- o a Câmara para si.

Parcela nº 32 – Manuel António T. Barbosa. Regueirão dos Anjos nº 21 e Rua direita dos Anjos nº 210 a 212. Prédio composto de lojas, 1º e 2º andar. Em consequência do nível em que vem a passar a Rua nº 4, as lojas e sobre-lojas que este prédio tem para o Regueirão, ficam inutilizadas e por isso dá a Câmara ao proprietário a indemnização de 800$000 reis pelo prejuízo que sofre e pelas obras que tem a fazer para o aterro poder encostar à casa.

Parcela nº 33 – Eduardo A. N. da Maia. Rua Direita dos Anjos nº 240 a 244. Prédio composto de loja, 1º e 2º andar para esta rua, e de loja, 1º, 2º e 3º andar para o Regueirão dos Anjos.

Pela parte a cortar para a Rua nº 5 a Câmara dá como indemnização do terreno a ocupar e das obras que o proprietário tem a fazer para levantar a frente e fazer as ligações, a quantia de 800$000 reis. A demolição é feita pela Câmara, sendo os materiais provenientes desta para o proprietário. 95 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 96

Parcela nº 34 – António Dias Sousa Carvalhal. Largo de Santa Bárbara nº 59 a 60 e Regueirão dos Anjos nº 56 a 58. Prédio composto de loja, 1º e 2º andar para o Largo de Santa Bárbara e bem assim para o Regueirão.

Este prédio é expropriado na totalidade por 4.300$000 reis, para a abertura da Rua nº 5, fazendo a Câmara a demolição do prédio e ficando com todos os materiais provenientes desta demolição.

Parcela nº 35 – Marie Berteiul. Largo de Santa Bárbara nº 53 e Regueirão dos Anjos nº 54 a 55. Prédio composto de rés do chão, 1º e 2º andar e águas furtadas para o Largo de Santa Bárbara e de lojas, 1º, 2º e 3º andar e águas furtadas para o Regueirão.

É expropriado na totalidade pela quantia de 9.140$000 reis, para a abertura da Rua nº 5.

A Câmara faz a demolição do prédio reservando para si os materiais de construção provenientes da dita demolição e bem assim as sobras de terreno necessário para a Rua.

Parcela nº 36 – D. José Clemente dos Santos. Largo de Santa Bárbara nº 49 a 52. Prédio composto de lojas, 1º, 2º andar e águas furtadas, em mau estado.

Este prédio é cortado em parte pela Rua nº 5.

A Câmara dá pelo terreno a ocupar e como indemnização dos prejuízos causados e para o proprietário vedar a sua propriedade e faça as reparações precisas, a quantia de 1.300$000 reis. Faz também a demolição dando ao proprietário os materiais provenientes desta demolição. Parcela nº 37 – José Gregório da Rosa Araujo. Travessa do Caracol da Penha.

Barraca e terreno de horta. São expropriados 12,0 m2 de barraca por 60$000 reis e 5,0 m2 de terreno de horta por 2$500 reis a 500 reis o metro quadrado, para a Rua Caracol da Penha.

A Câmara faz a demolição da barraca reservando para si os materiais provenientes desta demolição. 96 Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 97

Obriga-se também a fazer uma vedação provisória e ligeira de madeira, pela forma e nas condições em que se obrigou para os proprietários das parcelas anteriores. Esta expropriação é para a Rua Caracol da Penha como já se disse.

Parcela nº 38 – João Evangelista Ferreira. Travessa do Caracol da Penha. Terreno à frente do seu pré- dio recentemente construído.

São expropriados 358,0 m2 de terreno para a abertura da Rua Caracol da Penha, pela quantia de 107$400 reis (vidé informação nº 758 de 5-5-91).

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros ou das trincheiras, enquan- to o proprietário não constrói, dá à Câmara por uma só vez a quantia de 15$200 reis.

Parcela nº 39 – António Lopes. Travessa Caracol da Penha. Terreno situado à frente da sua nova edi- ficação.

São expropriados para alargamento da Rua Caracol da Penha 35,0 m2 de terreno pela quantia de 10$500 reis a 300 reis o metro quadrado (Vidé informação nº 758 de 5-5-91).

Como indemnização do terreno a ocupar provisoriamente com os taludes dos aterros ou das trincheiras, enquanto o proprietário não constrói paga a Câmara por uma só vez a quantia de 9$000 reis.

Parcela nº 40 – Henrique da Fonseca. Travessa do Caracol da Penha. Para os taludes das trincheiras da Rua Caracol da Penha são necessários 6,0 m2 de terreno que se ocuparão provisoriamente. O valor da indemnização é de 1$200 reis por uma só vez.

CÂMARA MUNICPAL DE LISBOA

Direcção geral de obras públicas

3ª Repartição, 17 de Fevereiro de 1892

O Chefe 97 (sem assinatura) Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 98

2 - As Raízes e a Economia do Projecto

Tal como se pode inferir a partir das considerações gerais expressas na Memória descritiva do projecto da Avenida dos Anjos e ruas adjacentes, as mesmas começam por dar conta da apre- sentação do Ante-projecto. Refere-se neste preâmbulo, que o mesmo, tendo sido elaborado pela Comissão do plano geral dos melhoramentos da Capital, remonta a 9 de Março de 1877.

Na nota introdutória da Memória descritiva, elucida-se sobre as origens do estudo do ante- projecto. Efectivamente, o mesmo teve por base o prolongamento da Rua Nova da Palma, entre os largos do Socorro e Intendente, desenvolvendo-se entre o Largo dos Anjos e a Estrada da Circumvalação, na extensão de 1.226, 48 Km

A alusão ao ante-projecto, elaborado à época pela aludida Comissão do plano geral dos melhoramentos da capital, (extinta entretanto quando da elaboração do projecto definitivo, tal como refere a sua Memória descritiva ), pode também ser colhida na Sessão camarária de 5 de Janeiro de 1882.

Nas décadas de setenta e oitenta, podemos relacionar o âmbito e natureza dos trabalhos da Comissão do plano geral dos melhoramentos com projectos urbanísticos de vária índole. Assim, tanto é citado o Plano Geral dos melhoramentos da capital a propósito de acções sec- toriais de melhoramentos1 em diversas zonas carenciadas da Cidade, como é ainda este instru- mento urbanístico responsável pela arquitectura de projectos grandiosos – Decreto-lei de 2 de Setembro de 1901 - que constitui o suporte jurídico do Plano apresentado à Câmara em 1904, resultado de um Plano elaborado em 1903 por Ressano Garcia para o desenvolvimen- to e expansão ao norte de Lisboa.

Se recuarmos à origem dos conceitos, a ideia de um Plano geral dos melhoramentos da capital, aparece já formulada teoricamente, na redacção do Decreto de 31 de Dezembro de 1864, que define um novo conceito de espaço público e organização territorial, atendendo a: “condições de higiene, decoração, cómodo alojamento e livre trânsito do público”2. Apesar de se conferir liberdade à iniciativa privada, fica reservado ao Estado, através das Câmaras Municipais, o direito de intervenção no plano de edificação e melhoramentos da Cidade.

Da dimensão utópica do Plano Geral de Melhoramentos (1901-1904), arrojado tanto na con- cepção, como economicamente inviável, atendendo às possibilidades financeiras do Município à época, não se poderá obviamente estabelecer um paralelismo linear entre a con-

98 1 No ano de 1879, o Plano Geral dos melhoramentos da Capital é convocado para uma intervenção urgente no Bairro de - Sessão camarária do referido ano, p. 480. 2 Medidas e obrigações estatais no que respeita a um Plano de edificações e reedificações em Lisboa - Dec. Lei de 31 de Dezembro de 1864 (Título III, Secção I, artº 34º) in Colecção da Legislação Portuguesa, Lisboa, Imprensa Nacional, 1865, p. 1041. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 99

cepção e dimensão territorial do referido Plano, com as limitações urbanísticas subjacentes à filosofia do Plano da Avenida dos Anjos e ruas adjacentes. Todavia, há aspectos confron- táveis, apesar da clara dicotomia entre os dois projectos.

Desta forma, das doze plantas que compõem a Memória descritiva elaborada por Ressano Garcia em 1903, e da delineada arquitectura de avenidas e radiais que se haveriam de construir, ligando a zona norte da Cidade (Campo Grande) com as povoações limítrofes, anexadas pela lei de 1885 – ; Luz; ; – justamente na 12ª planta, já se prevê uma articulação entre uma destas zonas limítrofes – a Portela – que deveria comunicar com a Avenida D. Amélia, devendo por isso esta última ser prolongada até esta povoação.

Este ambicioso plano de 1903, de uma planificada articulação viária, entre as diferentes freguesias limítrofes da Cidade, não é devido à sua exigente extensão territorial, naturalmente comparável ao projecto definitivo da Avenida dos Anjos, (que se confina aos limites reais e fiscais da cidade à época) tanto no que toca a uma filosofia de acção no espaço urbano, como no que respeita a uma considerável dilatação dos limites urbanos.

Como se pode depreender a partir da leitura da sua Memória descritiva, o alcance do projec- to de 1892, da Avenida dos Anjos, chega somente à Estrada da Circunvalação, admitindo-se condicionalmente o prolongamento da Avenida até “encontrar a Estrada de Sacavem ao Areeiro dando o comprimento total de 2.466,60 m.”3.

Esta já vislumbrada concepção desenvolvimentista de alargamento do espaço urbano expres- sa nos planos urbanísticos de finais do século dezanove para a Cidade de Lisboa, constitui um dos eixos do ideário fontista que entroncam sobretudo, num vasto programa de fomento e progresso material, ao qual se ligam tópicos higienistas e de embelezamento da Cidade, aspec- tos recorrentes no imaginário urbanístico tardo oitocentista e que continuarão a emergir nas propostas e projectos urbanísticos das décadas seguintes do novo século. Na década de vinte, algumas destas propostas viriam a ser retomadas4.

De facto, medidas implementadoras de novas funcionalidades só serão levadas a cabo como se sabe, nos anos trinta e quarenta sob a égide de Duarte Pacheco na presidência da Câmara de Lisboa, e concretamente através do famoso Plano de Urbanização da autoria de E. de Groer (1938-1940).

3 Esta hipótese de prolongamento da Avenida dos Anjos encontra-se expressa na Memória descritiva no tópico designado: Projecto definitivo. 99 4 Para a Lisboa oriental, esta questão mostra-se bastante pertinente. Em 1922, o escoamento das saídas da cidade coloca-se ao Município com alguma premência. Nesse mesmo ano é elaborado um ante-projecto de melhoramentos de saídas da cidade, nos prolongamentos da Avenida do Parque e Avenida Almirante Reis para a Portela e Sacavém – Vidé a este propósito: AMAC – 3ª Repartição – DSU – Caixa 1 – Planta 14396. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 100

O projecto das , constituíu o contraponto contemporâneo do Plano da Avenida dos Anjos. Para um melhor entendimento deste último, impõe-se necessariamente a confrontação dos dois projectos.

Ambos, foram forjados na mesma ordem económica e ideologia burguesa do capitalismo liberal da década de oitenta, mas distinguindo-se o primeiro, pela matriz “reguladora” que conseguiu articular a racionalidade da malha urbana com a realidade da herança histórica e empírica do tecido urbano da Capital.

Designado o primeiro também, por Projecto de Expropriações por Zonas, encontra-se sustentado pela Carta de Lei de 9 de Agosto de 1888, aprovada pelo Gabinete progressista de José Luciano de Castro. Contudo, os dois projectos contemporâneos, definem distintos vectores, tanto no que respeita à filosofia das expropriações, como no que toca aos próprios limites terrotoriais. De maneira distinta, se articula a componente residencial, pensada diferente- mente num e noutro Plano.

Possuem em comum, o facto de ambos os projectos, terem sido elaborados sob a orientação de Ressano Garcia ao serviço da Repartição Técnica da Câmara de Lisboa (1874-1911).

Notórias diferenças são patentes num e outro projecto. Enquanto que o Plano das Avenidas Novas, para além da importância da expansão urbana e desenvolvimento do esquema de viação para a zona norte da Cidade, se explica em grande parte pela vertente da criação de uma área residencial sociologicamente diferenciada (à escala nacional, este Plano, é mesmo o que melhor traduz o conceito oitocentista de “zoning” ).

No Plano da Avenida dos Anjos e ruas adjacentes, a ênfase do referido projecto, vai para a vertente da criação de novos arruamentos no tecido urbano. Trata-se sobretudo, da urgência de criar uma nova via axial – a Avenida dos Anjos - que pretende desta forma aproximar a Baixa do Largo de Arroios, ou como se diz no espírito e letra da Memória descritiva deste projec- to: “torna-se urgente substituir quanto antes a Calçada e rua dos Anjos por uma Avenida e rua de fácil tracção para dar serventia aos populosos bairros de Estefânia, Santa Bárbara e ultimamente o de Andrade …”5.

Concretamente, as expropriações previstas no projecto da Avenida dos Anjos e ruas adja- centes, referem-se basicamente à faixa de terreno a ocupar pela Avenida e ruas adjacentes, bem como, com os taludes dos aterros e trincheiras.

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5 Memória descritiva do Projecto da Avenida dos Anjos e Ruas Adjacentes (duplicado) datado de 17 de Fevereiro de 1892. Vidé: AMAC – 3ª Repartição – PA – Caixa 5 (Plantas 246-251). Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 101

No caso das Avenidas Novas, o projecto dispunha em 1889 de legislação aprovada para o efeito – Lei de expropriações por zonas, permitindo esse corpo legal específico, expropriar, para além do terreno necessário para o leito das Ruas, também faixas laterais até cinquenta metros, que sendo posteriormente vendidas, deveriam custear todas as obras e deixar ainda uma mais- valia para o Município.

Esta situação de privilégio legal não aconteceu no projecto da Avenida dos Anjos. De facto, neste último processo, por não se dispor de um corpo normativo específico, as expropriações nem sempre amigáveis, conduziram em alguns casos a soluções que terminaram em arrasta- dos contenciosos.

Como exemplo ilustrativo dessas situações conflituais, cita-se o caso entre outros, de uma notificação camarária para procedimento judicial em 1897, que ocorre na sequência do exagerado preço solicitado pelos proprietários de terrenos no Regueirão dos Anjos. Não transigindo a Câmara com estas pressões e considerando o Município a urgência da abertura da Avenida dos Anjos, decide encaminhar estes casos para decisão judicial6.

A ausência de legislação específica para se dar início a um processo coerente e sequenciado de expropriações, reflectiu-se no empirismo e improvisação na solução de algumas dúvidas relativas à fixação definitiva dos alinhamentos das propriedades.

A metodologia utilizada, é baseada em acordos pontuais entre as partes, diferindo o tipo de acordo de caso para caso. Como exemplo desses acertos pontuais entre proprietários e o município, refere-se entre outras, a Sessão de 11 de Março de 1909, em que o pedido de um dos moradores da zona para se nivelarem as ruas que haveriam de passar pela sua pro- priedade, passa por uma concordância na cedência gratuita de todos os terrenos a expropri- ar e simultânea aquisição gratuita de terrenos municipais.

Um dos casos paradigmáticos que podem ser citados como pré-existências de forte carga histórica, retardadoras da conclusão das obras da Avenida Dona Amélia, (porque acusaram a carência de um corpo legal que pudesse acelerar as questões ligadas à sua expropriação), foi justamente, o caso da desanexação das dependências do Hospital do Desterro, que em 1909, ainda aguardava por parte do governo apoio jurídico e material no sentido de se poder apres- sar a conclusão da Avenida Dona Amélia nesse sítio7 .

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6 Sessão de 22 de Abril de 1897. 7 Sessão de 14 de Outubro de 1909. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 102

Desanexação das dependências do Hospital do Desterro. Planta datada de 30 de Junho de 1896, relativa à desanex- ação de parte das dependências do Hospital do Desterro - AML-AC, Caixa nº 83-DSU.

A economia deste projecto, define-se grosso modo pelo tipo de vicissitudes descritas atrás, assumindo essa ausência de regras jurídicas, por vezes, a forma de veementes protestos pela voz da própria vereação à época. Em sessão camarária de 14 de Outubro de 1909, o vereador Afonso de Lemos, irá traduzir o descontentamento dos moradores e lojistas da Avenida Dona Amélia, manifestando-se nomeadamente, contra a falta de higiene, iluminação e policiamen- to, sublinhando que não existe uma lei especial de expropriações para os prédios degradados da Avenida. Em 19118, ainda se discute a conclusão da agora já designada Avenida Almirante Reis e sua ligação com a Rua dos Anjos.

A leitura atenta do Mapa das expropriações, permite-nos intuir as principais directrizes que esboçam a arquitectura da economia deste projecto e a metodologia utilizada na generalidade de todo este processo. São descritas as parcelas e os valores das quantias a indemnizar. Faz-se referência ao destino dos materiais demolidos e aos terrenos a ocupar provisoriamente pelos taludes dos aterros.

Raras vezes, se especifica a superfície reservada para edificações. Uma das excepções à regra, surge na Memória descritiva deste projecto, designando-se a superfície de 3.379,25 m2 para habitação nos limites do talhão escolhido para a nova Igreja dos Anjos. 102

8 Sessão camarária de 8 de Junho de 1911. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 103

Nesta Relação, as maiores omissões respeitam à ausência sobre uma precisa indicação quer quanto ao destino dos terrenos camarários, quer dos particulares.

Como seria de esperar neste projecto essencialmente viário, as indicações mais objectivas, referem-se às superfícies e respectivas indemnizações, quer das propriedades cortadas pela Avenida, quer para as sete ruas transversais.

As informações suplementares que melhor poderão explicar a globalidade deste processo de expropriações, e assim caracterizar a identidade urbanística e sociológica deste eixo e zona da Cidade terão que ser investigadas caso a caso nos inúmeros e arrastados processos individu- ais de cada proprietário.

Assim, com vista a apurar a ansiada identidade deste eixo e zona da Cidade, ter-se-á que entrar em linha de conta com a realidade histórica dos anos seguintes, que comporta obviamente, desvios e sucessivas alterações ao primitivo plano, transcendendo naturalmente o formato e metodolgia iniciais.

A concepção deste importante projecto viário, prevê a construção de sete ruas transversais, em articulação com a regularização e ampliação de antigas travessas e calçadas. Muitas destas antigas serventias, serão articuladas na sua ligação com a Avenida dos Anjos através de ser- ventias provisórias como nos casos do Regueirão dos Anjos e no Largo e Rua Forno do Tijolo, que verão asseguradas as suas ligações com a Avenida através de rampas.

Contextualizando as primitivas raízes do projecto, verificamos que as mesmas mergulham num quadro de ainda relativa estabilidade política e económica, definido pelas décadas de setenta e oitenta, em que se descortinam tímidos arranques industriais; intensificação capi- talista dada por um modelo de crescimento económico que assentou num aumento rápido de alguns sectores exportadores primários9 .

A matriz do ante-projecto, situa-se historicamente no segundo período do grande ciclo da Regeneração (1870-1888) o que equivale a uma fase positiva em termos de crescimento económico do período liberal, ciclo familiarmente classificado pela historiografia contem- porânea, como o nome português do capitalismo, tal como Oliveira Martins o ilustrou à época10. A Regeneração, constituíu como se sabe a época das grandes obras públicas.

A data do projecto definitivo elaborado pela 3ª Repartição Técnica, 1892, situa-se já em plena crise do capitalismo liberal, na última fase do rotativismo. 103

9 Vidé a este propósito: Manuel Villaverde Cabral, na Alvorada do Século XX , Lisboa, Editorial A Regra do Jogo, 1979, p. 27. 10Idem,p.24. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 104

Assim, os anos de 1877 e 1892 – definem dois pólos cronológicos, que balizam a consoli- dação deste Plano, e em que se alicerçam as suas linhas programáticas. À fase de fomento e progresso material e febre de obras públicas que se tinha apoderado particularmente de Lisboa, sucedem-se crises agrícolas, greves operárias, como consequência da crise despoleta- da pelo Ultimato de 1890. Este último, vai desencadear uma série de reacções de carácter nacionalista e autoritário expressas sobretudo por alguns sectores monárquicos e também por algumas facções republicanistas.

Apesar da manifesta e crescente fractura do regime político e institucional, é neste mesmo contexto de alargada crise que se podem apreender algumas medidas de apoio à indústria. Não obstante, é nesta mesma conjuntura que se encomendam algumas obras rodoviárias, entre as quais se cita a importância da Estrada da Circunvalação em 1852.

O crescimento urbano, de que a industrialização se ia acompanhando, particularmente em Lisboa, abria um campo bastante largo às actividades da construção civil e ramos afins11.

Por último, gostaríamos de salientar, que é justamente no ano de 1892, no auge da crise finan- ceira, com declaração de bancarrota, em que o país assiste a sucessivas falências de empresas, ao aumento do desemprego, e à contenção rígida das despesas públicas, que emerge este sig- nificativo plano de desenvolvimento da Cidade oriental. Talvez, também devido a essa situ- ação de crise, o projecto da Avenida dos Anjos, acuse as suas próprias limitações estruturais e formais. Essa conjuntura adversa, manifestou-se particularmente na economia deste pro- jecto, tendo-se recorrido pontualmente, a expropriações por utilidade pública, como no caso emblemático das expropriações que envolveram os terrenos adjacentes à nova Igreja dos Anjos e para abertura da Rua nº 4(Decreto de 13 de Setembro de 1897).

Planta da parcela a expropriar a Francisco António Jorge Bello, no Planta da parcela a expropriar a Francisco Lourenço da Silva Regueirão dos Anjos, com vista à construção da nova Igreja dos Almeida, no Regueirão dos Anjos, para a construção da nova Anjos de acordo com o Decreto de 13 de Setembro de 1897. Igreja dos Anjos e Avenida Com o mesmo nome e para abertu- AML-AC, Caixa nº18-SGO. ra das Ruas Nº4 e Nº5, de acordo com o Decreto de 13 de Setembro de 1857. AML-AC, Caixa nº18-SGO.

11 Manuel Villaverde Cabral, op. cit., p. 152, cita o exemplo do Decreto de 30 de Setembro de 1892, que passa a beneficiar as cimenteiras de um monopólio de dez anos, tendo sido ao abrigo desse mesmo diploma que se desenvolveram os cimentos Tejo e por conseguinte a construção civil. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 105

onclusão: Linhas estruturadoras de um dado conceito de cidade tardo-oitocentista, e que Ctêm conferido à Rua da Palma e Avenida Almirante Reis actuais, uma identidade urbana e sociológica próprias, perpassam pelos parâmetros mentais que se encontram subjacentes na concepção e redacção da Memória Descritiva e Mapa das expropriações do projecto da Avenida dos Anjos.

O manifesto ecletismo patrimonial que observamos ao longo desta Avenida-Boulevard, mais não é que o resultado de uma acção de resistência da paisagem urbana, à sedimentação e necessária fragmentação que o tempo histórico exerce inexoravelmente, na sua passagem sobre os objectos e símbolos de um dado período.

Desta forma, os mais importantes marcos, ícones e símbolos deste velho caminho, e que constituem ainda a essência deste lócus, encontram-se simultaneamente perto, mas também já distantes, do primitivo plano e ideia de cidade, pensados em finais de oitocentos para definir a burguesa e romântica Avenida oriental, por se cruzarem e alinharem agora, com outros marcos, produto de outras contemporaneidades.

Deve-se também sublinhar, que o perfil do equipamento patrimonial de características assis- tenciais, que marca substancialmente a especificidade da imagem desta Avenida, resulta sobre- tudo, de uma filosofia de cedência gratuita de terrenos municipais (com presença notória nesta área da Cidade) a instituições beneméritas tais como, a Cozinha Económica e o Asilo de Santo António.

Como tónica conclusiva, gostaríamos de enfatizar, por um lado, que a localização neste eixo viário de algum significativo património de cariz caritativo, se explica numa linha de continuidade que surge como herança histórica de fixação e con- centração nesta área da Cidade, de um importante pólo hospitalar (Hospital do Desterro; Hospital de S. José e S. Lázaro; Hospital da Estefânia; Hospital de Arroios – antigo Sanatório de Tuberculosos no tempo da Rainha Dona Amélia).

Planta assinada por Ressano Garcia, datada de 8 de Julho de 1895, com a localização dos terrenos municipais cedidos ao Asilo de Santo António e Cozinha Económica. AML-AC Caixa nº 16-SGO. Cadernos5-1“parte.qxd 24-02-2011 10:23 Page 106

Outro segmento conclusivo a considerar, refere-se à génese a partir da qual é construída a ideia de modernidade para este sítio. Das pistas apontadas pela Memória descritiva e posteri- or investigação, afigura-se-nos credível que esta ideia de modernidade, assenta sobretudo na recuperação de velhos símbolos deste antigo trajecto, que foram deslocalizados para pontos nevrálgicos da nova Avenida, com vista a uma nobiltação patrimonial da mesma.

Figuram neste caso, os exemplos emblemáticos da deslocalização da velha Igreja dos Anjos do sítio do Regueirão dos Anjos para o seu novo alinhamento paralelo e fronteiro à nova artéria, nobilitando assim o contemporâneo e adjacente Bairro Andrade. O mesmo é válido para o velho chafariz do Intendente que sai do Largo do Intendente para embelezar e marcar o términus da Rua da Palma e assinalar o início da Avenida Almirante Reis.

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