janela PARA O futuro Estudo Desafios da Gestão Estadual 2016 mostra o que melhorou e o que retrocedeu nas 27 unidades federativas brasileiras – e deixa claro que ainda há uma série de obstáculos a superar

COMPETITIVIDADE O emaranhado tributário ENTREVISTA Moreira Franco fala da batalha que emperra a cadeia produtiva brasileira para recolocar o Brasil na rota dos investidores Goiás antecipa

saída da recessão. Goiás está se destacando como um dos Estados mais competitivos do País, tanto O Governo de Goiás fez o maior ajuste fi scal do País, nos aspectos econômicos tornou o Estado um dos mais competitivos do Brasil quanto nos sociais. e já é campeão nacional na geração de empregos.

Infraestrutura HUGOL Primeiro Estado a fazer Comércio exterior avança. Infraestrutura em primeiro lugar. MAIOR HOSPITAL DE URGÊNCIAS R$ DA REGIÃO CENTRO-NORTE DO PAÍS. um grande ajuste fi scal. Relação comercial com 169 países e quase 900 tipos 6 Máquina enxuta Investimentos de R$ 6 bilhões na construção, reconstrução, duplicação 21,7 BILHÕES MIL KM NOVO de mercadorias e insumos. e iluminação de rodovias, implantação de viadutos e de pontes, e em obras AUTÓDROMO nas áreas de infraestrutura de turismo, eventos, saúde, educação e segurança. INVESTIDOS DE RODOVIAS INTERNACIONAL DE GOIÂNIA. 2011-2014 CONSERVADAS CORTE PARA SECRETARIAS CENTRO DE 10 1998* 2015* EXCELÊNCIA Todas essas medidas 2.500 KM DE RODOVIAS CONSTRUÍDAS DO ESPORTE, EXTINÇÃO DE CARGOS EXPORTAÇÕES $ 381,6 milhões $ 5,8 bilhões 460 KM DE RODOVIAS DUPLICADAS UM DOS CENTROS MULTIESPORTIVOS 5.000 garantiram uma economia 5.500 KM DE RODOVIAS RECONSTRUÍDAS MAIS MODERNOS DO BRASIL. de R$ 3,5 bilhões. IMPORTAÇÕES $ 311,8 milhões $ 3,3 bilhões REDUÇÃO DE 90% NO CUSTEIO SALDO $ 69,7 milhões $ 2,5 bilhões ECONOMIA DE R$3,5 BILHÕES CRESCIMENTO DE 3.600% PROGRAMA DE INOVAÇÃO *em dólares. Maior plataformaE TECNOLOGIA de DOfomento ESTADO DE à GOIÁSinovação em curso no Brasil, com investimentos previstos de até R$ 1,3 bilhão. Agenda para o desenvolvimento. Até 2018, serão instalados 30 grandes Itegos com uma rede acessória de mais de 80 unidades descentralizadas de menor porte. Os Institutos Tecnológicos do Estado O programa estabelece uma agenda estratégica para a atuação do Governo a curto e longo PIB dispara. Um Estado conectado com o mundo. de Goiás (Itegos) formarão a base da qualifi cação e do uso de novas tecnologias no prazo, pautada em mais de 120 indicadores de gestão reconhecidos internacionalmente. Estado, com salas de aula, laboratórios, auditórios e incubadoras de empresas. Com índices acima da média nacional, o Produto Só em 2015, foram assinados Goiás pelo mundo - 2015 / 2016 É a certeza de que todos os esforços governamentais estão dirigidos à melhoria da Interno Bruto (PIB) do Estado cresceu 8,2 X. 23 protocolos de intenção com Atualmente, 16 Itegos estão em funcionamento e outros 9 estão em construção. qualidade de vida, ampliação da competitividade econômica e efi ciência da gestão pública. empresas nacionais e estrangeiras, Evolução do PIB Brasil x Goiás Ritmo de crescimento chinês totalizando R$ 1,7 bilhão em 2004 x 2015 investimentos e geração de 20 mil Hugol Hugol 151bi empregos diretos e indiretos. GOIÁS 4,8% Nova unidade industrial da Heineken 888% em Itumbiara, sul do Estado: BRASIL 3,4% projeção de R$ 650 milhões 17bi em investimentos. Missões comerciais

• Alemanha • Colômbia • Nova Zelândia • Rússia Grupo Gerresheimer, gigante do • Austrália • Dubai • Peru • Tailândia 1998 2015 setor de embalagens farmacêuticas: • Bielorússia • Estados Unidos • Polônia Fonte: IBGE Fonte: Estimativa IMB protocolo de intenções para investir • Bélgica • Holanda • Portugal R$ 50 milhões no Polo Farmoquímico de Anápolis.

Destaque na geração Ministério do Trabalho e Emprego ESTADO QUE MAIS Centro de Excelência do Esporte de empregos no País. GEROU EMPREGOS FORMAIS NO PRIMEIRO CARTEIRA DE TRABALHO E Autódromo Internacional de Goiânia SEMESTRE DE 2016 PREVIDÊNCIA SOCIAL EM TODO O PAÍS. Liderança no Brasil Central. MAIS DE Goiás lidera o Consórcio Brasil Central, formado pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, 16.614 Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia, além do Distrito Federal, com o objetivo NOVAS VAGAS. de construir uma agenda de superação da crise econômica.

Fonte: Caged O bloco é responsável por quase 20 bilhões de dólares em superávit, líder na criação 2 brasil novembro de 2016 de empregos e destaque na industrialização, turismo, serviços e produtividade. Goiás antecipa saída da recessão. Goiás está se destacando como um dos Estados mais competitivos do País, tanto O Governo de Goiás fez o maior ajuste fi scal do País, nos aspectos econômicos tornou o Estado um dos mais competitivos do Brasil quanto nos sociais. e já é campeão nacional na geração de empregos.

Infraestrutura HUGOL Primeiro Estado a fazer Comércio exterior avança. Infraestrutura em primeiro lugar. MAIOR HOSPITAL DE URGÊNCIAS R$ DA REGIÃO CENTRO-NORTE DO PAÍS. um grande ajuste fi scal. Relação comercial com 169 países e quase 900 tipos 6 Máquina enxuta Investimentos de R$ 6 bilhões na construção, reconstrução, duplicação 21,7 BILHÕES MIL KM NOVO de mercadorias e insumos. e iluminação de rodovias, implantação de viadutos e de pontes, e em obras AUTÓDROMO nas áreas de infraestrutura de turismo, eventos, saúde, educação e segurança. INVESTIDOS DE RODOVIAS INTERNACIONAL DE GOIÂNIA. 2011-2014 CONSERVADAS CORTE PARA SECRETARIAS CENTRO DE 10 1998* 2015* EXCELÊNCIA Todas essas medidas 2.500 KM DE RODOVIAS CONSTRUÍDAS DO ESPORTE, EXTINÇÃO DE CARGOS EXPORTAÇÕES $ 381,6 milhões $ 5,8 bilhões 460 KM DE RODOVIAS DUPLICADAS UM DOS CENTROS MULTIESPORTIVOS 5.000 garantiram uma economia 5.500 KM DE RODOVIAS RECONSTRUÍDAS MAIS MODERNOS DO BRASIL. de R$ 3,5 bilhões. IMPORTAÇÕES $ 311,8 milhões $ 3,3 bilhões REDUÇÃO DE 90% NO CUSTEIO SALDO $ 69,7 milhões $ 2,5 bilhões ECONOMIA DE R$3,5 BILHÕES CRESCIMENTO DE 3.600% PROGRAMA DE INOVAÇÃO *em dólares. Maior plataformaE TECNOLOGIA de DOfomento ESTADO DE à GOIÁSinovação em curso no Brasil, com investimentos previstos de até R$ 1,3 bilhão. Agenda para o desenvolvimento. Até 2018, serão instalados 30 grandes Itegos com uma rede acessória de mais de 80 unidades descentralizadas de menor porte. Os Institutos Tecnológicos do Estado O programa estabelece uma agenda estratégica para a atuação do Governo a curto e longo PIB dispara. Um Estado conectado com o mundo. de Goiás (Itegos) formarão a base da qualifi cação e do uso de novas tecnologias no prazo, pautada em mais de 120 indicadores de gestão reconhecidos internacionalmente. Estado, com salas de aula, laboratórios, auditórios e incubadoras de empresas. Com índices acima da média nacional, o Produto Só em 2015, foram assinados Goiás pelo mundo - 2015 / 2016 É a certeza de que todos os esforços governamentais estão dirigidos à melhoria da Interno Bruto (PIB) do Estado cresceu 8,2 X. 23 protocolos de intenção com Atualmente, 16 Itegos estão em funcionamento e outros 9 estão em construção. qualidade de vida, ampliação da competitividade econômica e efi ciência da gestão pública. empresas nacionais e estrangeiras, Evolução do PIB Brasil x Goiás Ritmo de crescimento chinês totalizando R$ 1,7 bilhão em 2004 x 2015 investimentos e geração de 20 mil Hugol Hugol 151bi empregos diretos e indiretos. GOIÁS 4,8% Nova unidade industrial da Heineken 888% em Itumbiara, sul do Estado: BRASIL 3,4% projeção de R$ 650 milhões 17bi em investimentos. Missões comerciais

• Alemanha • Colômbia • Nova Zelândia • Rússia Grupo Gerresheimer, gigante do • Austrália • Dubai • Peru • Tailândia 1998 2015 setor de embalagens farmacêuticas: • Bielorússia • Estados Unidos • Polônia Fonte: IBGE Fonte: Estimativa IMB protocolo de intenções para investir • Bélgica • Holanda • Portugal R$ 50 milhões no Polo Farmoquímico de Anápolis.

Destaque na geração Ministério do Trabalho e Emprego ESTADO QUE MAIS Centro de Excelência do Esporte de empregos no País. GEROU EMPREGOS FORMAIS NO PRIMEIRO CARTEIRA DE TRABALHO E Autódromo Internacional de Goiânia SEMESTRE DE 2016 PREVIDÊNCIA SOCIAL EM TODO O PAÍS. Liderança no Brasil Central. MAIS DE Goiás lidera o Consórcio Brasil Central, formado pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, 16.614 Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rondônia, além do Distrito Federal, com o objetivo NOVAS VAGAS. de construir uma agenda de superação da crise econômica.

Fonte: Caged O bloco é responsável por quase 20 bilhões de dólares em superávit, líder na criação de empregos e destaque na industrialização, turismo, serviços e produtividade. 3 8ENTREVISTA Moreira Franco fala sobre os caminhos para recuperar a credibilidade 16 BENCHMARK BRASIL O modelo de governança e a busca pela efetividade das políticas públicas

24 BENCHMARK MUNDO Charter schools levam educação de ponta ao ensino público norte-americano

4 brasil novembro de 2016 sumário

44 58 DEBATE COMPETITIVIDADE Legislação que permite O emaranhado de a organizações sociais alíquotas e normas (OS) assumirem a tributárias que emperra a administração de cadeia produtiva brasileira serviços públicos ainda carece de aperfeiçoamento em estados e municípios 28CAPA 64 Estudo Desafios da BÚSSOLA Gestão Estadual 2016 analisou 28 indicadores em nove áreas para apresentar 50 um mapa das rotas de OPINIÃO desenvolvimento percorridas Augusto Nardes pelos estados brasileiros defende a criação de um entre 2004 e 2014 centro de governo

66PERFIL 51 Cledorvino Belini, um OPINIÃO dos protagonistas na Tatiana Ribeiro comenta história do setor o lançamento da automotivo brasileiro plataforma Mais Gestão 52 CONGRESSO 42 Promovido pelo MBC, o 14º RESENHA Congresso Brasil Competitivo Economistas sugerem que países reuniu lideranças das esferas de renda média acelerem a pública e privada para debater industrialização para se a construção de um novo país aproximarem dos países ricos

5 expediente

Lideranças Empresariais e da Movimento + Sociedade Civil Revista Brasil Brasil Competitivo Andrea Martini (Souza Cruz) A revista Brasil+ é uma publicação Missão Antoninho Trevisan (Trevisan Escola de semestral do Movimento Brasil Promover a competitividade Negócios) Competitivo distribuída a associados e sustentável do Brasil elevando Carlos Alberto Sicupira (Varbra) parceiros em todo o território nacional. a qualidade de vida da Cledorvino Belini (FCA) população brasileira Daniel Feffer (Suzano) Coordenação geral Elton Borgonovo Tatiana de Assis Ribeiro Visão (Motorola Solutions) Coordenação editorial Contribuir para que o Brasil Gilberto Peralta seja uma das 30 nações mais Adriane Klamt da Cunha (General Electric) competitivas do mundo até 2030 Késsya Letícia de Morais Marques Jairo Martins (Fundação Nacional da Qualidade) Projeto editorial e execução: Presidente Executivo José Eduardo Sabo Paes República – Agência de Conteúdo Claudio Leite Gastal (Sociedade Civil) Edição: Robson Pandolfi José de Freitas Mascarenhas (Odebrecht) Projeto gráfico e diagramação: Superintendentes Karla Dufech Romeu Luiz Ferreira Neto Paula Bellizia (Microsoft) Revisão ortográfica: Fátima Campos Tatiana de Assis Ribeiro Paulo Cunha (Sociedade Civil) Paulo Tonet Camargo Gráfica: Coronário (Sociedade Civil) Contato para leitores: Colaboradores [email protected] Pedro Passos (Natura) Adriane Klamt da Cunha (61) 3329-2101 Ana Lídia de Alencar Ribeiro Reginaldo Arcuri (FarmaBrasil) SCN Quadra 01, Bloco C, nº 85, Sala Elizabete dos Santos Torres Silvio Magalhães Barros II 1708 - Edifício Brasília Trade Center, CEP Giuliani Silva Barbosa Freitas (Sociedade Civil) 70711-902, Brasília/DF Kamila de Oliveira Rocha Walter Lídio Nunes (CMPC Celulose Riograndense) Késsya Letícia de Morais Marques Contato comercial: Tâmara Alves de Lima Mansur [email protected] Vítor Pompeu Fiuza Lima Conselho Fiscal Amador Alonso Rodriguez Tiragem: 3.000 exemplares (Serasa Experian), presidente do Conselho Superior do MBC Conselho Fiscal Jorge Gerdau Johannpeter (Gerdau), João Thiago Poço (Microsoft) presidente do Conselho Superior Osório Adriano Neto Wilson Ferreira, vice-presidente (Brasal Holding) do Conselho Superior Wilson Paulucci Rodrigues Elcio Anibal de Lucca, (Instituto Brasileiro da Qualidade A opinião dos articulistas e o conteúdo das presidente fundador Nuclear – IBQN) entrevistas concedidas à Brasil+ não Carlos Augusto Salles, refletem, necessariamente, os conselheiro nato Diretoria Voluntária posicionamentos do Movimento Brasil Afonso Lamounier Competitivo(MBC). A reprodução de informações e imagens contidas nesta Governo Elcior Santana Fernando Bomfiglio publicação está sujeita a prévia autorização Casa Civil da Presidência da República das fontes, mediante consulta formal. Francisco Graziano Ministério da Ciência, Tecnologia, Irani Carlos Varella Inovações e Comunicações Marco Polo de Mello Lopes Acesse para outras informações: Ministério da Indústria, Comércio Pedro Bittar www.mbc.org.br Exterior e Serviços Renato Gasparetto Ministério da Fazenda Na redes Ministério do Planejamento, Patrocinadores Institucionais facebook.com/mbcompetitivo Desenvolvimento e Gestão GERDAU twitter.com/mbcompetitivo

6 brasil novembro de 2016 editorial compromisso com o Brasil

O ano de 2016 será lembrado pela crise sição dos setores empresarial e público sua política e econômica vivenciada pelo país capacidade de mobilização, promovendo o revelando o esgotamento de determinados debate de temas fundamentais para a evolu- modelos e a necessidade urgente de mu- ção do Estado brasileiro, como o ajuste fiscal, danças na lógica do Estado. Em meio a esse a reforma da Previdência, a Lei de Responsa- cenário, o Movimento Brasil Competitivo bilidade Fiscal, a política de exportação e os (MBC) completa 15 anos de atuação, e os marcos legais. Nosso mais recente desafio é valores defendidos pela nossa organização a digitalização da economia. Um novo tema talvez jamais tenham sido tão relevantes que estamos trabalhando em conjunto com quanto agora. O MBC oferece suporte à evo- o setor empresarial e governo federal. A so- lução do país, transformando-se num vetor ciedade quer o governo na palma da mão, de inovação, de aprimoramento da gover- com a oferta de serviços digi- nança e da gestão nos âmbitos público e tais, com eficiência e transpa- O MBC oferece suporte à privado sempre com foco no seu objetivo rência. O manifesto Brasil Di- primordial, elevar a competitividade brasi- gital prevê ações necessárias evolução do país, leira. A base para esse trabalho remonta aos para que o país avance nessa transformando-se num anos da década de 1990, com a criação do área (leia mais na página 64). vetor de inovação, de Programa Brasileiro de Qualidade e Produ- A presente edição da Bra- tividade (PBQP). Inaugurava-se, então, um sil+ traz como reportagem aprimoramento da esforço nacional de fomento à excelência de capa o estudo Desafios da governança e da gestão nos empresarial no país. Gestão Estadual (DGE) 2016, âmbitos público e privado O ponto de partida do MBC foi o proje- elaborado pela Macroplan, to de capacitação de micro e pequenas em- com o apoio do MBC. O levantamento ofe- presas (MPEs). A partir dos anos 2000, o MBC rece subsídios para a compreensão dos pon- começa a desenvolver projetos de apoio à tos fortes e fracos de áreas como educação, inovação no setor público para a melhoria saúde, segurança e infraestrutura nas 27 uni- da qualidade da governança e da gestão, nos dades da federação, baseado em indicadores três níveis da federação, por meio do Pro- colhidos entre 2004 e 2014. grama Modernizando a Gestão Pública Na seção Entrevista, o secretário do (PMGP). Em 2015, nossa proposta atingiu Programa de Parcerias de Investimentos um novo patamar, com o lançamento do (PPI), Moreira Franco, aborda os planos do Pacto pela Reforma do Estado. Para termos governo para estimular o in- um futuro promissor, precisamos realizar vestimento privado no país. A revista que mudanças imediatas. você tem em mãos ratifica a missão de- A grande questão é: “Qual o Estado que sempenhada pelo MBC durante toda a sua queremos?” Um debate que já iniciamos e história. A postura transparente e o com- que precisamos avançar com a participação promisso com a melhoria da competitivi- de todos em busca de uma transformação dade consolidaram a entidade como um ampla que resulte no crescimento econômico espaço de reflexão e diálogo sobre o país. e sustentável. Assim, o MBC coloca à dispo- Boa leitura.

Claudio Gastal Presidente executivo do Movimento Brasil Competitivo (MBC)

7 Em busca da confiança perdida

À frente do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal, Moreira Franco lidera uma cruzada que pretende reposicionar o Brasil na lista dos destinos seguros e rentáveis para os investidores. Os primeiros ajustes nas regras do jogo já começaram a ser feitos – mas os impactos só virão com a retomada da credibilidade

Por Robson Pandolfi

8 brasil novembro de 2016 entrevista Fotos: Divulgação Fotos:

9 primeiro problema do sários daqui e de fora. "Vamos evitar trias do Estado de São Paulo (Fiesp). Brasil é a economia; o ambiente de insegurança, dúvida e No início deste ano, o MBC apre- o segundo maior é a inquietação que caracterizou o nosso sentou ao secretário uma projeção economia, e o tercei- passado", garante. A tarefa, entretan- de investimentos necessários para “ ro é a economia." A to, deve ser árdua. diminuir os gargalos da logística bra- definição dada pelo Os obstáculos para tornar o país sileira. O documento aponta quais secretário do Progra- atrativo não são pequenos – e incluem são os corredores com maior impac- ma de Parcerias de a histórica burocracia governamental, to estratégico para o país. Para miti- Investimentos (PPI), Wellington Mo- a constante pressão inflacionária e a gá-los, sugere aportes na ordem de reira Franco, não deixa dúvidas sobre rigidez da legislação. Não bastasse is- R$ 660 bilhões – distribuídos entre oqual assunto tem dominado seus pen- so, a imagem do Brasil foi esfacelada portos, hidrovias, ferrovias e rodovias. samentos nos últimos meses. Fiel alia- no mercado internacional, devido à "É uma contribuição excepcional", do do presidente Michel Temer, Mo- "rocambolesca" crise política dos úl- avalia Moreira Franco. "O governo reira Franco está à frente do novo ór- timos anos. "Os investidores precisam deve abrir espaço a todos aqueles que gão desde a sua homologação, em saber que esse é um governo sério, tenham capacidade de pensar, estu- maio. A pasta foi criada para dar flui- que a nação tem dirigentes sérios", dar e pesquisar. Precisamos desse dez a parcerias público-privadas, di- comenta. Uma das ações pensadas conjunto de informações." minuindo a intervenção do Estado nos pelo PPI para mudar esse quadro de processos de concessão. A partir do descrédito é o Projeto Crescer. Quais são suas perspectivas para apoio do MBC, o programa será capaz Lançado em setembro, o progra- a economia brasileira? de definir os investimentos a serem ma institui dez novas diretrizes ao mo- É uma análise de confiança. O alocados na carteira estratégica do delo nacional de concessões – entre presidente Michel Temer tem a cons- governo. A parceria incluiu a análise elas, a retomada do protagonismo das ciência de que o primeiro problema do ciclo de vida dos projetos de infra- agências reguladoras no acompanha- do Brasil é a economia; o segundo estrutura e dos modais logísticos uti- mento técnico das operações. A pro- maior é a economia, e o terceiro é a lizados no país. Também buscou apri- posta é imprimir maior transparência economia. Ou seja, há foco. Tendo morar a legislação vigente e alinhar e segurança nas relações público-pri- foco, o presidente conseguiu montar as expectativas entre o setor privado vadas, o que deve contribuir para a uma equipe econômica com grande e o setor público. Ou seja: o PPI é uma retomada do crescimento e a geração alinhamento conceitual sobre o te- peça fundamental na estratégia do de emprego e renda. Outro motivo ma, liderada pelo ministro Henrique novo governo para atrair receitas e de desconfiança dos investidores é a Meirelles [da Fazenda]. Havia décadas remover o Brasil do atoleiro econô- defasagem de infraestrutura. Segundo que o país não tinha algo assim. Evi- mico. "Estamos nos esforçando para dados do Banco Mundial, a logística ta a perda de tempo com debates tirar o Brasil do Serasa", compara ele. brasileira gera perdas anuais de R$ 121 estéreis e divergências ideológicas. A E esse pode ser um dos maiores de- bilhões. Esse é um componente cen- equipe sabe que o país deve resolver safios já enfrentados pelo sociólogo tral do conhecido Custo Brasil, que faz a questão fiscal. O Brasil precisa sair piauiense em seus mais de 40 anos as mercadorias produzidas em terri- do vermelho. Estamos com R$ 170 de vida pública. tório nacional custarem até 30% a bilhões de déficit para este ano. Em Nascido em 1944 em Teresina, no mais do que no exterior, conforme 2017, a projeção é de R$ 134 bilhões. Piauí, Moreira Franco já foi prefeito de estimativas da Federação das Indús- Receita e despesa precisam ser equi- Niterói (RJ), deputado federal, gover- nador do e assessor dos presidentes José Sarney, Fernando Henrique Cardoso e Lula. Ele ainda ocupou o cargo de ministro-chefe de em duas secretarias distintas – Aviação Civil e Assuntos Nós queremos contratos de concessão em Estratégicos. Agora, ele ganha a mis- que a qualidade do serviço seja medida e são de colocar o Brasil na rota dos in- vestidores outra vez, reconstruindo a especificada com muita clareza e precisão. confiança perdida junto aos empre-

10 brasil novembro de 2016 entrevista

O Brasil precisa sair do vermelho. Estamos com R$170 bilhões de déficit para este ano. Em 2017, a projeção é de

R$134bilhões.

libradas num prazo que nos dê segu- rança para diminuirmos as taxas de juros e, consequentemente, a inflação.

Como o senhor avalia o ritmo dos investimentos do país? Ainda não dá para fazermos uma avaliação. Nos últimos 12 anos, so- fremos um processo de esvaziamen- to da máquina pública federal. Os ministérios perderam força política, e as agências perderam força téc- nica. O processo decisório ficou ex- tremamente centralizado na Casa Civil, num primeiro momento, e depois na própria presidência, com a gestão da presidente Dilma. Isso fez com que houvesse uma quebra de confiança. Num clima de con- fusão e de falta de clareza regula- tória, em que não há regras para garantir a previsibilidade, os inves- timentos recuam. Agora, nós esta- mos fazendo um esforço enorme para reconstruir esse ambiente, re- tomando a previsibilidade, a clare- No governo Dilma, Moreira Franco ocupou o za dos papéis de cada ator e a se- cargo de ministro-chefe em gurança jurídica necessária para duas pastas: Aviação Civil e investimentos de longo prazo. Assuntos Estratégicos O PPI foi criado justamente para tentar destravar as concessões e

11 impulsionar a arrecadação e os governo. A modelagem de financia- vem ser os endereços para quem investimentos privados. O que é mento foi utilizada à exasperação quiser buscar alternativas de inves- possível esperar da iniciativa? para diminuir custos, permitindo timentos. Uma das regras dessa no- O presidente Temer entende a que a cobrança da tarifa e os índices va modelagem é o fim do emprés- necessidade de estimularmos os de retorno ficassem dentro do que timo-ponte. O empréstimo trans- investimentos em infraestrutura, era desejado pelo governo federal. correrá ao longo do próprio tempo pois são aqueles que mais geram Isso fez com que o BNDES sofresse de investimento. Com isso, as áreas emprego. Por isso, ele segregou os muitas dificuldades. Em função do de desestatização e concessão po- procedimentos que se concentra- crédito subsidiado, o Tesouro pre- derão apresentar uma rentabilidade vam em programas como o PIL [Pro- cisou suprir R$ 500 bilhões para atraente aos investidores. grama de Investimento em Logís- cobrir subsídios. tica] e o PAC [Programa de Acele- A logística brasileira gera perdas ração do Crescimento], que pega- Falando em BNDES, a Medida anuais de R$ 121 bilhões. É possível vam desde a pinguela executada Provisória que criou o PPI autoriza amenizar essas perdas sem deixar por prefeituras até grandes hidre- a instituição a participar do fundo de lado projetos de longo prazo? létricas, impossibilitando uma ava- de apoio à estruturação de Não há milagre. Os dados do Ban- liação mais confiável das obras. Is- projetos. Quais serão as áreas co Mundial são verdadeiros. Mais do so gerava muita insegurança, porque prioritárias para os investimentos? que isso, as opções anteriores de os atores, em função do processo Elas serão definidas pelo gover- concessão não tinham muita vincu- decisório, ficavam paralisados e re- no federal. O poder concedente é o lação com o processo produtivo. Te- ceosos em tomar decisões. E as de- governo federal, e esse poder esta- mos ferrovias que foram decididas cisões eram tomadas fora do tem- rá expresso pelo ministro da área. Já muito mais em função do desejo po hábil, de maneira precipitada, as agências terão um papel prepon- político do que para servir à mobi- gerando mais instabilidade. derante na regulação e no acompa- lidade de bens. Existem rodovias que nhamento dos contratos de conces- vão do nada a lugar nenhum. Agora, O que está sendo feito para evitar são. De fato, no Brasil, nós não temos esse critério mudou. Todas as novas esses problemas? contratos de concessão, e sim con- propostas têm uma lógica econômi- Nós estamos criando novas re- tratos de obras. Daqui para frente, ca, sobretudo no sistema portuário gras de financiamento para estimu- nós queremos contratos de conces- e ferroviário. O Brasil é um país mui- lar o investimento e, consequente- são, em que a qualidade do serviço to grande, e as ferrovias servem mui- mente, o crescimento. Essas regras seja medida e especificada com mui- to mais à mobilidade de bens do que novas chegam para combater de- ta clareza e precisão, evitando qual- de pessoas. Cada vez mais, o trans- formações ideológicas. Quiseram quer tipo de insegurança dos con- porte aéreo será o meio utilizado substituir a aritmética, que é indis- cessionários ou do poder conceden- pela maioria da população brasilei- pensável no cálculo de retorno e de te. O BNDES, o Banco do Brasil, que ra. Então, teremos de enfrentar esse tarifa, pelo desejo de quem even- coordenará o sindicato dos bancos problema no tempo que a economia tualmente estava no exercício do privados, e a Caixa Econômica de- brasileira nos permitir enfrentar. Nós estamos tomando as medidas de restabelecimento da confiança, pa- ra evitar o ambiente de insegurança, dúvida e inquietação que caracteri- zou o nosso passado.

Programas anteriores pegavam desde a É possível projetar algum impacto pinguela executada por prefeituras até grandes econômico já nos próximos meses? hidrelétricas, impossibilitando uma avaliação O professor Mário Henrique [Má- rio Henrique Simonsen, ministro da mais confiável das obras. Fazenda do governo Geisel e minis- tro do Planejamento na gestão do presidente João Figueiredo] dizia que,

12 brasil novembro de 2016 entrevista

Secretário-executivo do Programa Crescer, Moreira Franco tem a missão de supervisionar as parcerias com a iniciativa privada

em economia, 80% da solução está A frota de carros cresceu 67% em era coisa do Regime Militar, mas era na confiança e 20% na teoria econô- dez anos, e o número de ônibus e um centro de crescimento. Estamos mica. A intenção do governo Temer caminhões, 49%. Como o senhor procurando restabelecer isso, através é restabelecer essa confiança, através avalia a logística brasileira? da reformulação de órgãos que gerem de uma política econômica clara. Es- Péssima. É um dos grandes pro- conhecimento e pesquisa na área de tamos nos esforçando para tirar o blemas atuais. Perdemos a possibili- logística, alicerçando a elaboração de Brasil do vermelho, do Serasa. Não dade de manter um nível de organi- bons projetos. há motivo para seguirmos no mesmo zação da nossa máquina pública. O diapasão que viemos até agora, usan- Geipot [Grupo Executivo de Integração Para contribuir com os debates do do a pirotecnia e o marketing para da Política de Transportes, criado em PPI, o MBC apresentou um estudo vender um país que não existia. A 1965] nos gerou muitas informações sobre a logística brasileira, que expectativa é de que já se comece sobre projetos logísticos no passado, elenca os maiores corredores a ter uma retomada de investimen- mas foi dilapidado. Poderíamos ter logísticos do país e analisa os tos no conjunto da economia bra- elaborado projetos de qualidade, com maiores gargalos do setor. Como sileira, em função do restabeleci- maiores resultados. Infelizmente, ór- o senhor enxerga a iniciativa? mento da confiança no caminho que gãos como esse foram prejudicados É uma contribuição excepcional. o governo está percorrendo. por questões ideológicas. Acharam que O governo não sabe tudo. Jamais

13 entrevista saberá. Precisamos ouvir todos Nascido em Teresina, Moreira Franco já aqueles que tenham alguma con- tribuição a dar. Já temos uma par- foi prefeito de Niterói, deputado federal, ceria com o MBC na EPL [Empresa de Planejamento e Logística, ante- governador do Rio de Janeiro e assessor riormente ligada à pasta de Trans- dos presidentes José Sarney, Fernando portes] para construirmos um con- junto de projetos visando à melho- Henrique Cardoso e Lula ria da questão logística e um apri- moramento das nossas ações no decidirá as proposições que forem en- dade, as licitações serão feitas den- prazo mais curto possível. caminhadas pelos ministros das áreas, tro de cronogramas previamente com os pareceres técnicos das agências fixados, com prazos adequados pa- Qual a importância das organiza- correspondentes. Nós, da Secretaria ra a análise econômica e financeira ções que buscam aprimorar a ges- Executiva, faremos a supervisão e bus- dos projetos. As agências não acom- tão pública e sugerir soluções pa- caremos os melhores caminhos para panharão os contratos de obra, co- ra os problemas que afetam a com- a resolução de problemas. Ao lado do mo tem ocorrido na maioria dos petitividade do país? Tribunal de Contas e dos órgãos de casos, mas sim os contratos de con- Fundamental. Reforço a neces- controle, enfrentaremos o desafio de cessão, com parâmetros e metas sidade de abrirmos espaço a todos apresentar os resultados do trabalho bem postas. O concedente e o con- aqueles que tenham capacidade de do governo de maneira transparente cessionário têm de saber fazer com pensar, estudar e pesquisar. Preci- e correta. Queremos criar um ambien- qualidade aquilo que deve ser feito. samos desse conjunto de informa- te de concorrência capaz de estimular ções. Além disso, se não soubermos os investimentos no país, sobretudo O tema privatização ainda gera conviver com o contraditório na os aportes de longo prazo. Os inves- debates calorosos no círculo po- construção de melhores soluções, tidores precisam saber que esse é um lítico brasileiro. Como convencer estaremos sempre percorrendo ata- governo sério, que o país tem dirigen- as várias camadas da sociedade da lhos, e não estradas. tes sérios. Os contratos voltarão a ser necessidade de mudanças? respeitados, como no passado. Privatização e concessão são coi- Como secretário-executivo do Pro- sas diferentes. Na privatização, que grama Crescer, o senhor tem a mis- Como evitar que as parcerias do PPI se dá mais no setor elétrico, o bem são de supervisionar todas as ope- travem ou sejam engavetadas como passa para a propriedade do privado. rações em que o Estado fará parce- outras tantas políticas públicas? Na concessão, não. Aquele bem per- rias com a iniciativa privada. Como Nós não temos outro caminho. manece de posse do setor público, esse trabalho será desenvolvido? O programa tem foco, meta e métri- e o concessionário é obrigado a exe- Será uma força-tarefa. O Conse- ca. Somos uma força-tarefa com pou- cutar determinados serviços. Esses lho, liderado pelo presidente Temer, cos servidores, mas todos extrema- serviços são quantificados e expres- mente competentes. Já estamos tra- sos num contrato, que é acompa- O caminho para o Brasil sair ACEssE cni.org.br, CONhEçA balhando em colaboração e parceria, nhado e executado pelas agências da crise é gerar mais produtividade. A AgENdA pArA O BrAsIl num perfeito entrosamento com os reguladoras. Não é difícil entender É por isso que a Confederação sAIr dA CrIsE E tOdAs ministérios e as agências reguladoras. isso. O grande problema é que o Bra- Nacional da Indústria defende As INICIAtIvAs dA INdústrIA. sil está no vermelho. O presidente a eficiência do Estado, o ajuste Que papel os ministérios terão Temer recebeu o país com um bura- no PPI? co de R$ 170 bilhões. Qualquer fa- tributário, a modernização das Temos ferrovias que foram O papel de poder concedente. mília que vai para o Serasa precisa relações de trabalho, os investimentos Com o apoio técnico das agências, fazer adaptações em seus ativos e em infraestrutura, novos acordos decididas muito mais em eles prepararão todos os procedi- gastos. É exatamente isso que o go- de comércio exterior, a segurança função do desejo político do mentos e definirão as bases políticas verno está sendo obrigado a viver jurídica e a inovação. Essas iniciativas que propriamente para servir à para que as concessões sejam feitas. nesses dias. Os milhões de brasileiros são essenciais para tornar a indústria As agências, com sua experiência e desempregados passam pelo mesmo mais forte e produtiva, gerar mais mobilidade de bens. expertise, conduzirão o processo no drama. O governo brasileiro está tão empregos, movimentar a economia campo técnico. Para dar previsibili- no vermelho quanto eles. e fazer o Brasil inteiro ganhar.

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Pg Simples Geral_v5 2.indd 1 9/9/16 4:34 PM O caminho para o Brasil sair ACEssE cni.org.br, CONhEçA da crise é gerar mais produtividade. A AgENdA pArA O BrAsIl É por isso que a Confederação sAIr dA CrIsE E tOdAs Nacional da Indústria defende As INICIAtIvAs dA INdústrIA. a eficiência do Estado, o ajuste tributário, a modernização das relações de trabalho, os investimentos em infraestrutura, novos acordos de comércio exterior, a segurança jurídica e a inovação. Essas iniciativas são essenciais para tornar a indústria mais forte e produtiva, gerar mais empregos, movimentar a economia e fazer o Brasil inteiro ganhar.

Pg Simples Geral_v5 2.indd 1 9/9/16 4:34 PM Compromisso com o resultado Inspirados em metodologias consagradas e s ventos que come- implementados com auxílio do MBC, çam a soprar desde o Planalto Central os modelos de governança do Rio Grande do parecem querer Sul e do Mato Grosso do Sul demonstram impulsionar a ges- avanços na gestão do setor público brasileiro. O tão pública brasi- diferencial das práticas adotadas pelos dois leira para uma mu- estados está no engajamento das diversas dança de rumos. Se esferas da estrutura administrativa em torno de confirmado esse movimento, as no- vas rotas precisam levar a esfera es- objetivos comuns – com indicadores e metas otatal a uma transformação pautada assegurados por contrato e acompanhados de por valores como eficiência, respon- perto pela equipe governamental sabilidade fiscal e produtividade. O país, aliás, já possui até exemplos Por Robson Pandolfi e Emanuel Neves disso sendo colocados em prática.

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Assessorados pelo Movimento busca racionalizar a gestão pública, por a morosidade e a ineficiência que pau- Brasil Competitivo (MBC), alguns es- meio da definição clara de metas e tam a esfera pública – provocando tados estão implementando mode- responsabilidades – e do consequente interferências diretas na produtivida- benchmark los de governança que elegem o re- comprometimento dos atores envol- de e na qualidade dos serviços pres- sultado prático das políticas públicas vidos na execução desses objetivos. tados ao contribuinte. "Um dos maio- como objetivo principal. As metodo- Outro propósito é promover a trans- res problemas está nos recursos em- logias são preconizadas pelo PMGP parência e a integração entre as se- pregados para um resultado que não Governança – um braço do Programa cretarias. "Isso faz com que se crie era esperado pela população. Isso re- Modernizando a Gestão Pública, cria- uma interação entre os órgãos em sulta em baixa eficiência", diz o gover- do pelo MBC há 11 anos – e usam torno dos projetos, o que diminui o nador. "O custo é alto, e o serviço não modelos internacionalmente consa- desperdício, os retrabalhos e a ne- atende à expectativa do cidadão." grados para catalisar uma melhoria cessidade de recursos alocados por Por fim, o sistema também via- global dos processos administrativos. secretarias diferentes", avalia o go- biliza parâmetros para a aplicação No cerne desse conceito, é pos- vernador do Mato Grosso do Sul, da meritocracia no âmbito estatal sível encontrar práticas difundidas Reinaldo Azambuja. – um tema ainda espinhoso e cheio pelo Project Management Institu- A atuação conjunta dos diferentes de barreiras. "É um processo inten- te (PMI) e rotinas do Ciclo PDCA órgãos também propicia a transversa- so de capacitação, tendo a metodo- de acompanhamento de projetos, lidade necessária para agilizar o anda- logia como norte, mas não como além de diversas outras ferramen- mento de projetos abrangentes. Não camisa de força. Ela deve ser adap- tas – como o Balanced Scorecard raro, a dificuldade de interação entre tada à cultura de cada local", afirma (BSC), um método estratégico de as pastas atrasa processos vitais. O re- Rogério Caiuby, diretor de estratégia avaliação de desempenho emba- sultado dessa falta de alinhamento é e projetos do Hospital Sírio-Libanês sado em indicadores. O sistema, e ex-sócio da Synmetics, uma das chamado genericamente de Mo- consultorias que colaboram com o delo de Governança, já foi implan- MBC na aplicação do conceito. Em- tado em estados como Pernam- bora maleável, o modelo possui al- buco, Ceará, Goiás e Distrito Fe- gumas diretrizes insubstituíveis. A deral. Desde 2015, o Rio Grande principal delas talvez seja o compro- do Sul e o Mato Grosso do Sul tam- misso com a realidade do estado. bém se alinharam a esse conceito. No mesmo tom Adaptabilidade A cada dois meses, o governa- como princípio dor do Rio Grande do Sul, José Ivo Em linhas gerais, o modelo está Sartori, reúne secretários, adjuntos alicerçado em três pilares: estratégia e assessores na Sala de Governança governamental, capacitação da equi- da Secretaria-Geral de Governo pe e aprimoramento das lideranças (SGG). Nesses encontros, o staff e da comunicação institucional. Um acompanha a apresentação de dados dos diferenciais dessa estrutura é o de desempenho dos quatro eixos que foco no aporte de conhecimento. norteiam o mapa estratégico dese- "Não executamos uma modelagem nhado pela gestão gaúcha: Social, pronta e vamos embora", explica a Queremos pensar Econômico, Infraestrutura e Meio especialista em gestão Adriane Ri- e avaliar todos os Ambiente e Governança e Gestão. cieri, que representa o MBC na im- projetos para garantir É quando Sartori ouve ponderações plementação do modelo junto ao sobre programas, cobra datas de governo do Mato Grosso do Sul. a viabilidade técnica e execução e bate o martelo em en- "Trazemos o conteúdo e a experiên- econômica das ações. caminhamentos necessários para a cia adquiridos nos trabalhos com Carlos Búrigo, continuidade ou melhoria das ações. outros governos e os transferimos secretário-geral de Governo As reuniões de eixo configuram para que os gestores possam adap- do Rio Grande do Sul um dos pontos altos da metodolo- tá-los às condições de cada estado." gia de gestão. Realizado de forma Ainda em construção, o método Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini presencial pelos governadores, o

17 acompanhamento representa o fim Ex-prefeito de São José dos Au- e o recomeço de um ciclo que se sentes, no noroeste gaúcho, Búrigo origina dentro das secretarias, quan- foi secretário da Fazenda nas duas do o planejamento anual é traçado. gestões de Sartori à frente de Caxias Cada pasta tem liberdade para ele- do Sul – e tornou-se o braço direito ger os programas e ações prioritários do governador. Hoje, ele tem a mis- no ano. Esse escopo deve estar ali- são de manter uma sintonia fina en- nhado ao Plano de Governo defini- tre a SGG, a Fazenda estadual e as do pela gestão e precisa restringir 23 secretarias – além de outros 40 as demandas de recursos à capaci- órgãos vinculados. "Antes mesmo de dade do orçamento – seja com apor- tomar posse, o governador nos pediu tes oriundos do próprio caixa ou de para implementarmos uma maneira financiamentos concedidos pela de acompanhar os projetos e quali- União e por outras fontes. ficar o servidor público, para que en- Nesse ponto, vale um destaque tregássemos serviços de melhor qua- para a importância do alinhamen- lidade e dentro do que foi planejado", to. O governo gaúcho, por exemplo, relata o secretário. passou a vetar a captação de de- Isso foi colocado em prática, por terminadas verbas a fundo perdido exemplo, nas forças-tarefas realizadas oferecidas pela União – caso os re- em parceria pela Secretaria do Meio passes não sejam destinados a pro- Ambiente (Sema) e pela Fundação gramas prioritários. "Muitas vezes, Estadual de Proteção Ambiental (Fe- o projeto não tem relevância e aca- pam), com o intuito de diminuir os ba criando uma estrutura de custo trâmites para liberação das licenças fixo para algo que não é vital à po- ambientais no estado. O prazo de pulação", explica Carlos Búrigo, obtenção do documento caiu de 909 secretário-geral de Governo do Rio dias para 213 dias entre 2015 e 2016. Grande do Sul. "Sempre acreditei em um trabalho com metodologia e gestão no setor Foco na missão público para solucionar os entraves A chave para a eficiência do mo- e permitir a entrega de serviços de delo está na responsabilidade assu- melhor qualidade à população", ex- mida por todos os envolvidos nos Os três pilares de plica Sartori. O desafio, segundo o projetos. O engajamento é materia- construção da governador, foi estabelecer essa cul- lizado pela assinatura de contratos nova governança tura nas secretarias – o que exigiu a – chamados de Acordos de Resultados. implementação de um processo de Para estabelecer e monitorar esses Estratégia: Desenvolvimento da gestão sistemático e intensivo com acordos, o governo delimita uma es- estratégia governamental, com implemen- participação ampla de todos os ór- trutura de acompanhamento multi- 1 tação do planejamento e da modelagem de gãos sob o guarda-chuva do estado. nível. No Mato Grosso do Sul, a hie- gestão, visando à modernização e à efetivi- Cumprido esse primeiro passo, rarquia operacional começa no Es- dade administrativa. vieram as metas: as secretarias e a co- critório Central de Projetos (ECP) – ordenação de governo estipularam ligado à Secretaria de Governo e Processos: Foco na capacidade de execução indicadores plausíveis para guiar o de- Gestão Estratégica. "É um exercício dos governos, através do aporte de senvolvimento das ações. O ideal é permanente de implementação do 2 conhecimento e da capacitação das equipes, que esses parâmetros sejam desafia- modelo, de definição dos contratos buscando otimizar os serviços para o cidadão. dores, mas não inalcançáveis, reforça de gestão e acompanhamento das Búrigo. Em geral, as metas têm prazos entregas", destaca Eduardo Riedel, Institucional: Formação contínua dos de um ano, com desdobramentos pe- secretário de Governo e Gestão Es- líderes e aprimoramento do processo de riódicos – semanais, mensais ou se- tratégica do Mato Grosso do Sul. 3 comunicação, garantindo um processo de mestrais, dependendo da pauta. "Te- Já a gestão gaúcha concentrou tomada de decisão bem constituído. Essa é mos uma ferramenta online que per- a coordenação desse processo na uma das chaves para que a estratégia, os mite que o secretário acompanhe de SGG. Até 2014, a SGG acompanha- processos e os conhecimentos aportados casa como está o andamento de de- va apenas as obras de infraestrutu- melhorem os resultados do governo. terminado projeto", diz o secretário. ra. Desde o início da atual gestão,

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Foto: Karine Viana/Palácio Piratini cursos. "Percebemos que, de modo geral, existe uma falta de planeja- mento. Não se olha para todas as

etapas", destaca Búrigo. "Grande benchmark parte das não execuções está re- lacionada à incapacidade da gestão em efetuar a entrega, devido a fa- lhas técnicas e operacionais, e não à escassez de receita", acrescenta Adriane Ricieri, do MBC. A integração entre os atores im- plicados na gestão dos projetos tam- bém segue um padrão escalonado. O calendário de avaliações começa dentro das próprias secretarias. De- pois, os assessores da SGG elaboram relatórios e definem as pautas que serão tratadas na reunião com o se- cretário-geral de Governo. A última etapa é a Reunião de Eixo, na qual são apresentados os resultados do ciclo A cada dois meses, no Rio Grande do Sul, ao governador. No Rio Grande do Sul, governador, vice, secretários e adjuntos se reúnem para discutir o andamento dos projetos o Executivo se reúne bimestralmente com cada eixo. "Em 2015, foram rea- lizadas mais de 600 reuniões de ges- tão com as secretarias e suas vincu- no entanto, o trabalho foi ampliado blema", compara Búrigo. "É um tra- para todas as pastas. "Queremos balho ainda em estágio inicial. Logo, pensar e avaliar todos os projetos o importante não é só atingir as me- para garantir a viabilidade técnica tas, mas conseguir enxergar os pro- e econômica das ações", afirma Bú- blemas antecipadamente." rigo. Abaixo do secretário, a SGG A assinatura dos acordos de re- possui um time de assessores, cada sultados enlaça os diferentes membros qual responsável por acompanhar dessa estrutura transversal de gestão. determinadas secretarias. Ou seja, da SGG até o gerente de pro- Também há papéis definidos jeto, todos estão imbuídos da mesma dentro das secretarias e vinculadas. missão em distintos estágios. Em 2015, Cada projeto ou indicador tem um as secretarias gaúchas assinaram 63 coordenador que supervisiona o an- acordos – gerando 321 indicadores de damento e reporta qualquer impre- desempenho e 60 projetos prioritários. visto. Isso é particularmente impor- Os números de 2016 são semelhantes: Fazemos um tante quando uma secretaria recebe 63 acordos, 362 indicadores e 57 pro- exercício um processo vindo de outra pasta. jetos prioritários. Por não ser prioridade, o projeto po- Na análise dos resultados de permanente de de ficar em segundo plano. A con- 2015, um indicador salta aos olhos implementação sequência é o atraso iminente. Ao – e coloca em xeque a ideia de que do modelo. acompanhar os trâmites ao longo a falta de verba está no cerne dos de todas as instâncias, o gerente de problemas do Estado. Quando co- Eduardo Riedel, secretário de meta evita que o projeto estacione. locadas em análise as principais Governo e Gestão Estratégica do Mato Grosso do Sul "É como um raio-x. Fazemos o exa- razões para o não cumprimento me para ver onde está quebrado. das metas, em apenas 6% dos ca- Foto: Divulgação Depois, atuamos em cima do pro- sos o diagnóstico foi a falta de re-

19 ladas, formando guma resistência", avalia Sartori. uma rede de mais Em 2015, o governo gaúcho assinou 63 Para assegurar que a nova polí- de 500 pessoas acordos de resultado – gerando 321 tica de trabalho seja compreendida envolvidas no e assimilada, o estado precisa contar processo", diz Sar- indicadores de desempenho e 60 com as suas lideranças. "O modelo tori. "A participa- projetos prioritários. Os números de só funciona se houver conscientiza- ção tem sido bas- ção e interesse genuíno do alto es- tante efetiva e, 2016 são semelhantes: 63 acordos, 362 calão, seja o governador ou alguém em 2016, já apre- indicadores e 57 projetos prioritários ligado a ele", orienta Caiuby. O con- senta resultados vencimento deve perpassar todos os expressivos." níveis, em cascata, engajando desde A periodicidade das reuniões com metas, é possível monitorar, acom- secretários, coordenadores e cargos o Executivo é quadrimestral no Ma- panhar, corrigir e avançar, sabendo comissionados até chegar ao servi- to Grosso do Sul – com encontros o que é prioridade para cada uma das dor – a engrenagem principal da má- mensais de acompanhamento dos áreas", diz Azambuja. "Também aju- quina pública. "Se não houver uma projetos. A concretização desse mo- da muito a ganhar consistência nos liderança patrocinando esse ou qual- delo, para o governador Reinaldo serviços e nas entregas para a popu- quer outro projeto, nada vai acon- Azambuja, põe em prática o plane- lação, que, no final das contas, se tra- tecer", avisa Renata Vilhena, especia- jamento como base do modelo de duz em eficiência." lista do MBC e ex-secretária de Pla- governança do estado. "Quando vo- O monitoramento contínuo é nejamento e Gestão de Minas Gerais. cê consegue ter clareza na mensagem importante não apenas pela efeti- Os líderes, em geral, não estão passada, nas entregas principais, nas vação do planejamento por parte predeterminados. Em tese, o anda- da alta cúpula do governo, mas tam- mento do processo fará com que eles bém para detectar e antecipar a se desenvolvam. "Liderança se forma resolução de possíveis problemas na atitude, no gesto, no exemplo. Não e gargalos nos projetos. "Isso é fun- se pode entregar a função a um con- damental como garantia da trans- sultor", aconselha Riedel. Para o go- versalidade. Mantém todos na mes- vernador do Mato Grosso do Sul, o ma página", pontua Riedel. A adesão cenário atual já não comporta uma a um modelo pragmático e direcio- dinâmica em que "um manda e outro nado à eficiência impacta o apare- lho administrativo do estado de maneira irrestrita, fomentando uma mudança de cultura. E os líderes exercem um papel decisivo na dis- seminação desse novo conceito.

Linha de frente Os efeitos benéficos do ambien- te de concorrência, absorvidos pelo Acredito em setor corporativo, não atingem a metodologia e esfera estatal do mesmo modo. A gestão no setor exigência por resultados é um exem- plo disso. Historicamente, o para- público para permitir digma do serviço público não cos- a entrega de serviços tuma incluir a cobrança entre os seus de melhor qualidade componentes básicos. A alteração da lógica de poder, proposta pelos à população. modelos de governança gaúcho e José Ivo Sartori, governador sul-mato-grossense, incentiva o fo- do Rio Grande do Sul co no resultado em todos os níveis. Embora vital, o remédio pode gerar Foto: Luiz Chaves/Palácio Piratini rejeições. "Toda mudança gera al-

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obedece". "As pessoas que querem servidor não trabalha só por dinheiro. avançar precisam conquistar a con- Ele quer ver o seu serviço melhorar a fiança de quem está ao seu redor, vida das pessoas lá fora", relata Búrigo. compartilhar um entendimento sobre Ou seja, esse sistema esboça uma pos- benchmark determinado assunto", diz Azambuja. sibilidade de realização profissional "O papel do líder está muito atrelado dentro do segmento público. à confiança e ao exemplo para con- A questão financeira, referida seguir trabalhar junto para transfor- por Búrigo, também está diretamen- mar os cenários." te ligada ao reconhecimento pelo Além desse fator, a comunicação bom desempenho. Mas a merito- e a capacitação podem facilitar a cracia, tão contestada no setor es- tarefa. O Mato Grosso do Sul criou tatal, pode encontrar caminhos que um programa de cursos para apri- prescindam da remuneração vari- morar o quadro de servidores. "Ini- ável – ainda vetada por lei. "Isso ciamos, já na largada da gestão, um pode ocorrer num evento formal trabalho muito forte na nossa Es- de compartilhamento de resultados, cola de Governo para gerar o su- com a menção específica ao traba- porte necessário ao modelo de go- Há cada vez menos lho eficaz realizado por indivíduos vernança", acrescenta o secretário. ou equipes", sugere Caiuby. O im- Já o governo gaúcho criou um vídeo espaço para gestões portante, ressalta o consultor, é man- para explicar o funcionamento do amadoras e intuitivas ter o caráter positivo dos feedbacks modelo aos servidores. no setor público. públicos. "A gestão deve possibilitar Porém, a forma mais clara de en- que os desempenhos diferenciados gajar está na própria eficiência do tra- Reinaldo Azambuja, governador sejam copiados. O aspecto de puni- balho e na clareza das metas. Os re- do Mato Grosso do Sul ção pode desconstruir o modelo", sultados positivos evidenciam a utili- orienta ele, referindo-se ao impacto dade e a competência dos servidores Foto: Divulgação negativo de uma possível reprimen- enquanto prestadores de serviços à da em público. sociedade. "Num momento financei- No Mato Grosso do Sul, o go- ro difícil para o estado, vemos que o verno deu um passo além e já es- tuda incluir os índices de desempe- Foto: Divulgação nho como critério para a promoção de cargos por mérito. Com a ajuda do MBC, o estado criou, inclusive, um Programa de Gestão por Com- petência. Lançado pela Secretaria de Administração e Desburocrati- zação (SAD), o projeto piloto foi implementado no Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) e envolveu 200 profissio- nais em 2015. Foram mapeadas as competências de servidores e ges- tores, através de questionários. "Es- ses dados embasarão a avaliação de desempenho e a criação das tri- lhas de desenvolvimento dos ser- vidores", explica Renata Vilhena, que está colaborando para a estru- Caravana da Saúde levou carretas turação do programa. Em breve, a com equipamentos médicos a 11 microrregiões do Mato Grosso do Sul iniciativa deve ser ampliada para todo o quadro de funcionários sul- -mato-grossenses.

21 O desafio passo a passo do das urnas Modelo de Governança Estabelecer o modelo de efici- o ritmo de entrega que estamos ência na rotina do servidor está en- dando à sociedade", alerta Eduardo tre as principais medidas para fazer Riedel. Uma forma de mitigar esse 1. Definição das prioridades ge- com que o conceito se consolide na efeito é conceder um caráter de lei rais da gestão, embasadas no tra- estrutura pública e resista por um à metodologia de trabalho. "Assim, balho da equipe de transição e nas período superior a quatro anos. Nes- os governos teriam liberdade para opiniões colhidas junto à população se sentido, a atual preocupação dos optar por suas prioridades de polí- durante a campanha. gestores é transformar a metodo- ticas públicas, mas não poderiam logia numa política permanente de mudar a maneira de trabalhar a ca- Desenho do Mapa Estratégico do estado – e não numa prática pon- da nova gestão", diz Carlos Búrigo. 2. Estado, dividido em grandes áreas ou tual de governo. "A perenidade do De fato, o momento do país exi- eixos norteadores. São quatro no Rio processo de governança é o nosso ge o assentamento de novos e fir- Grande do Sul: Social, Econômico, principal objetivo para os próximos mes pilares na governança pública. Infraestrutura e Meio Ambiente e Go- dois anos", afirma Sartori. Ainda as- O conceito seguido por estados vernança e Gestão. Já o Mato Grosso sim, nada impede que as incertezas como Rio Grande do Sul e Mato do Sul, além da delimitação de seis dos rumos eleitorais descaracterizem Grosso do Sul pode estar apontan- eixos – como Desenvolvimento Sus- o cenário criado até aqui. do um caminho para isso. "Há cada tentável e Participação Social –, tam- As constantes trocas de coman- vez menos espaço para gestões bém elaborou um Plano Plurianual do inauguram períodos mais ou amadoras e intuitivas no setor pú- (PPA) para a gestão. menos extensos de readaptação da blico", afirma o governador Reinal- estrutura do estado – o que contri- do Azambuja. "Acho que a socieda- bui para que a máquina engasgue de vai demandar cada vez mais es- Criação de uma estrutura mul- e perca eficiência. "O modelo an- sa tendência de exigir uma gestão 3. tinível de governança e monitoria tigo faliu. Não há como continuar pública eficiente." de projetos. A administração gaúcha elegeu a Secretaria-Geral de Gover- no (SGG) como topo dessa estrutu- Foto: Bolivar Porto ra. O Mato Grosso do Sul concentrou as ações no Escritório Central de Projetos (ECP) – ligado à Secretaria de Governo e Gestão Estratégica.

4. A Rede de Gestão inclui pro- fissionais responsáveis por acom- panhar o trabalho das secretarias. No Rio Grande do Sul, isso é feito pelos assessores da SGG. Cada um deles é responsável por monitorar algumas pastas.

5. As secretarias, por sua vez, ga- nham liberdade para definir seus projetos e ações prioritárias. Essas iniciativas são discutidas com as ins- tâncias superiores da Rede de Gestão, garantindo a sintonia com o Plano Projeto Obra Inacabada Zero priorizou a conclusão de mais de Governo, a viabilidade técnica e de 200 obras pendentes, como a do Aquário do Pantanal a demanda correta de recursos. Aqui também são definidas as metas e indicadores para os projetos.

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passo a passo do A função do Modelo de Governança especialista benchmark Aportar conhecimento teórico e prático 6. Dentro das secretarias, cada para a gestão pública indicador ou meta possui um pro- fissional responsável. Ele zelará pe- lo alcance dos objetivos e acompa- Formar equipes e oferecer treinamentos – como nhará o trajeto dos processos ne- capacitações a servidores e coaching de lideranças cessários nas diferentes secretarias, assegurando a transversalidade do método. Instruir a aplicação inicial das metodologias

7. Assim que uma meta ou pro- jeto é definido e tem o seu coorde- Identificar a necessidade de contratação de nador próprio, é assinado um Acor- consultorias para demandas específicas do de Resultados. Todos os envolvi- dos, desde o topo da Rede de Gestão, passando por assessores, secretários e coordenadores de projeto, assinam um contrato e se comprometem a atingir o objetivo estipulado. A eficácia do modelo na prática

RS: O prazo de liberação de Licenças Ambientais caiu de 909 dias 8. O acompanhamento dos pro- para 213 dias no primeiro ano da atual gestão, sem redução de requi- jetos é feito em reuniões realizadas sitos. A meta estipulada era de 180 dias. Em 2014, a Secretaria do nas secretarias, com a presença dos Meio Ambiente possuía 12,7 mil projetos aguardando despacho. Atu- assessores. Também ocorrem en- almente, o número está em 7,3 mil petições. contros periódicos de alinhamento com a cúpula da Rede de Gestão, RS: Com a operação "Limpa Mesa", a Secretaria de Obras reduziu de quando os projetos são preparados 100 para 15 o número de projetos distribuídos para cada engenheiro para a Reunião de Eixo. do órgão, facilitando a definição de prioridades e a agilidade das ações.

RS: Apenas 6% dos projetos e indicadores não foram atingidos por 9. Realizada bimestralmente em falta de recursos – um reflexo do correto alinhamento das ações às Porto Alegre e a cada quatro meses diretrizes orçamentárias do estado. em Campo Grande, a Reunião de Ei- xo conta com a participação do go- RS: Em 2015, o Portal da Transparência do Estado estava em último vernador e do vice-governador. Aqui, lugar no ranking nacional elaborado pelo Ministério Público Federal as secretarias ligadas a cada eixo apre- (MPF). O prazo dado pelo MPF para aprimoramento da ferramenta sentam os resultados e o andamen- foi de 120 dias. Na segunda avaliação, o Mato Grosso do Sul pulou to dos projetos do último ciclo. Cabe para a 11ª colocação da lista. Esse projeto contou com a sinergia en- ao Executivo não apenas cobrar o bom tre diversas secretarias. desenvolvimento dos objetivos tra- çados, mas também colaborar com MS: Com o projeto "Obra Inacabada Zero", o governo deu prioridade determinações que possam dar ce- à conclusão de mais de 200 obras pendentes da gestão anterior. leridade ou efetividade aos projetos. MS: A Caravana da Saúde, outro projeto transversal do governo, levou carretas com equipamentos médicos a 11 microrregiões do 10. Os indicadores e projetos são estado. Em pouco mais de um ano e meio, 30 mil cirurgias já fo- definidos por um ano, com desdo- ram realizadas através da ação. Pelo ritmo médio do Sistema Úni- bramentos periódicos (semanais, co de Saúde (SUS), esse volume de procedimentos só seria atin- mensais ou semestrais). gido em 30 anos.

23 iStock Photo

escolas "sem desculpa"

Modelo implantado nos Estados Unidos mostra que é possível melhorar a qualidade do ensino público sem que isso signifique gastos exorbitantes. Basta focar na gestão

por leonardo pujol

Fotos: National Alliance for Public Charter Shools

Aprendizado: alunos de escolas charter leem, em média, 29 dias a mais no ano em comparação com os demais estudantes da rede pública

24 brasil novembro de 2016 mundo

benchmark KIPP é uma orga- nização privada Voucher educação responsável por 80 mil estudan- Outro modelo de parceria público-privada na educação é o do voucher. Pelo sistema, é o governo que financia o tes da rede públi- aluno de baixa renda, dando a ele o mesmo direito que ca de ensino dos tem a classe média – de escolher onde estudar. O ProUni Estados Unidos. segue essa lógica: em vez de gastar em universidades A maioria desse públicas, o governo concede o dinheiro para financiar contingente mora em bairros pobres bolsas de estudo em faculdades privadas. de suas cidades – áreas vulneráveis Aonde a população, majoritariamente negra e latina, vive praticamente abai- xo da linha da pobreza. Engana-se, vez de servidores públicos, são con- a extrair o máximo do potencial dos no entanto, quem imagina ver, na tratados como funcionários de uma alunos. "Você entra numa escola char- região, um amontoado de colégios empresa – o que permite remunerar ter e depois numa escola pública tra- deteriorados, com professores impa- melhor os professores com desem- dicional e logo percebe a diferença", cientes e alunos despreparados: qual- penho mais alto e desligar os que comenta Tonia Casarin, que foi vo- quer uma das 200 unidades da KIPP não atingem os resultados esperados. luntária da KIPP, em 2014, durante o se equipara a algumas das melhores Por fim, a admissão dos alunos é fei- mestrado em Educação pela Univer- escolas norte-americanas. Por exem- ta por meio de sorteio ou por crité- sidade de Columbia. "Existe uma cul- plo: no país, a evasão no ensino mé- rios geográficos e de desempenho. tura de performance muito forte", dio supera os 30%. Na KIPP, o índice acrescenta ela, que hoje é professo- não passa dos 6%. A chave do suces- Ingresso disputado ra no Instituto Singularidades. so está num modelo educacional que Os bons resultados fazem com Era exatamente uma cultura de há mais de 20 anos ganha força nos que a concorrência por vagas seja performance que Ray Budde, fale- Estados Unidos: as charter schools grande. A permanência na lista de cido em 2005, idealizou ao criar o – ou escolas comunitárias. espera costuma ser longa. Estima-se modelo, na década de 1970. Então As charter schools funcionam de que haja pelo menos 1 milhão de es- professor na faculdade de Educação forma semelhante às organizações tudantes aguardando uma oportu- da Universidade de Massachusetts, sociais (OS) no Brasil (leia mais sobre nidade, conforme a National Allian- ele cunhou o termo “charter” ao de- as OS na reportagem da página 44), ce for Public Charter Schools, enti- senvolver sugestões de aperfeiçoa- num sistema que permite contratos dade que representa o setor. Além mento para o sistema de ensino pú- tanto com organizações sem fins lu- do desempenho acima da média das blico norte-americano. O objetivo crativos quanto com empresas que escolas públicas, essas instituições era criar um novo tipo de escola, em visam ao lucro. Como, nos EUA, o sis- possuem instalações bem-conserva- que os professores tivessem mais tema educacional é federativo, as re- das, além de laboratórios e equipa- autonomia sobre o currículo. Os do- gras de governança podem mudar de mentos para experimentações. centes poderiam, assim, obter me- acordo com o estado ou município. Os educadores são estimulados lhor desempenho dos alunos. Em geral, o modelo tem três pi- Após anos de lares fundamentais. Primeiro: toda reflexão, Budde escola charter é pública e depende finalmente oficia- do governo para obter recursos. A Os bons resultados fazem com lizou o conceito. diferença está na administração, fei- que a concorrência por vagas Em 1988, lançou ta em cooperação com uma entida- um livro que ilus- de do setor privado. Segundo: o mo- seja grande: pelo menos trava os aspectos delo concede bem mais autonomia 1 milhão de estudantes desse novo siste- do que as escolas tradicionais. Sig- ma. A obra ficou nifica que gestores e professores, em aguardam uma oportunidade famosa e se pro-

25 Pesquisas atestam o sucesso entendeu que é possível expulsão de alunos é altíssimo em criar um ambiente de co- comparação com as escolas tradi- do modelo: 78% dos pais nhecimento, mesmo em cionais. Em Chicago, o índice alcan- regiões de baixa renda e ça incríveis 54% – contra 0,8% do apoiam a criação de uma escola de déficit de aprendizado", restante das instituições de ensino. charter na sua comunidade. diz Wanessa Ferreira, con- A falta de controle contábil e fi- sultora de Educação da nanceiro por parte do governo também Entre os pais de baixa renda, a Bain & Company. é questionada. As instituições recebem aprovação chega a 88% repasses e têm autonomia para ma- Dicotomia nuseá-los do jeito que bem entende- educacional rem, abrindo espaço para a corrupção, pagou entre os pesquisadores da área As charter schools são cheias de nú- segundo os críticos. A disciplina rigo- de educação, incentivando debates. meros positivos – e incontestáveis. rosa é outro motivo de reclamação. Foi nessas conversas que se decidiu Segundo a Universidade Stanford, que Em algumas escolas, os alunos são tipificar uma legislação específica realizou em 2013 um estudo do mo- obrigados a usar uniforme, ficar com para as charter schools. A lei entrou delo, estudantes negros de escolas a coluna ereta e as mãos cruzadas. em vigor em 1991. A primeira esco- charter leem, em média, 29 dias a mais la foi inaugurada no ano seguinte, por ano em comparação com alunos GESTÃO NOTA 10 no estado de Minnesota. de escolas públicas tradicionais. No Dentre as organizações que fa- De lá para cá, o modelo cresceu. caso do estudo da matemática, o nú- zem a gerência de escolas públicas Das 90 mil escolas públicas em ope- mero adicional de dias chega a 36. O nos Estados Unidos, existe um gru- ração nos Estados Unidos, 6.300 modelo atrai a atenção de pais. Um po seleto conhecido como "no ex- estão enquadradas nesse modelo. levantamento recente mostra que 78% cuses". Tratam-se de redes que se Juntas, elas atendem 3 milhões de dos pais de alunos de escolas públicas baseiam na noção de que não pode alunos. Alguns estados demonstram gostariam de ter uma charter aberta haver "desculpas" para um eventu- especial entusiasmo com o modelo. em seu bairro. O apoio é ainda maior al baixo desempenho – não só na A Califórnia é recordista, com 1.130 Nos Estados entre a população de baixa renda: 88% gestão dos recursos financeiros, mas escolas charter – seguida por Texas, Unidos, são a favor de uma escola dessas na em questões pedagógicas e sociais. Arizona e Flórida, com 689, 625 e 6.300 comunidade. "Esses resultados deixam Escolas "sem desculpa" priorizam 605 escolas cada, respectivamente. escolas estão claro aos líderes da nossa nação que as populações em situação de risco Por outro lado, há locais que não enquadradas eles precisam tornar o acesso à esco- social. Elas também são altamente esboçam o mesmo desejo. Oito es- no modelo la charter uma prioridade", diz Nina produtivas: as aulas são em período tados ainda não regulamentaram a charter. Rees, presidente da National Alliance. integral, e qualquer momento vago, Juntas, elas atuação das charter schools. Outros atendem Acontece que, no universo char- em que a criança ou adolescente apro- dois, Mississippi e Washington, até ter, nem toda escola é igual. Há ins- veitaria para fazer bagunça, vira uma criaram leis de aplicação do sistema, tituições que não conseguem alcan- oportunidade para aprender – seja mas não preveem inaugurações. çar bons índices de aproveitamento. lendo ou recebendo um novo exer- Embora modesta, a participação O ônus é atribuído à expansão. Em cício. "De fato são escolas focadas 3milhões de das escolas charter na educação pú- alunos algumas áreas, a diferença de de- que, para ter sucesso, exigem muito blica norte-americana (atualmente sempenho caiu de 70% para 43%. dos alunos", diz Tonia Casarin, pro- em 7,5%) tem aumentado cerca de Tanto é que, entre 2000 a 2012, 27% fessora do Instituto Singularidades. 7% ao ano – estima-se que até 2020 das instituições administradas den- Uma dessas redes é a Success sejam 10 mil escolas. A administração tro do modelo fecharam, segundo Academy, que administra 41 escolas de Barack Obama, um dos defenso- o Centro Nacional para Estatísticas em bairros pobres de Nova York, co- res da eficiência propagada pelo mo- da Educação dos Estados Unidos mo Bronx e Queens. Lá, os profes- delo, é uma das responsáveis pelo (NCES, na sigla em inglês). sores trabalham até 11 horas por dia crescimento. Só nos últimos dez anos, Há diversos grupos que pedem e são constantemente supervisio- o Programa Federal de Escolas Char- o fim do sistema por essa e outras nados – a direção costuma enfatizar ter gastou aproximadamente US$ 3,7 razões. Uma delas é o uso de práti- que os problemas de aprendizagem bilhões na criação de instituições em cas excludentes para a manutenção das turmas retratam diretamente o todo o país. "O governo (dos EUA) de bons resultados. O número de trabalho dos professores. Os estu-

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Todos na linha: disciplina é um aspecto fundamental no regulamento das charter

dantes – cerca de 14 mil, no total tendo na porta dizendo: 'Queremos Experiência – também não escapam: na porta um lugar na sua escola'", comenta da sala de aula ou nos corredores, Mike Feinberg, cofundador da KIPP. pernambucana há cartazes que exibem a classifica- "Pensar nesses pais faz com que, pa- Entre os anos de 2001 e 2011, Pernambuco ção deles de acordo com as notas ra mim, seja difícil dormir à noite. É administrou 20 escolas públicas através de uma das provas. Exposição que alimenta por isso que KIPP tem que crescer e gestão inspirada na das escolas charter. O período as dúvidas sobre as charter schools. abrir mais escolas." serviu de teste. Ao final do contrato, o estado Os números, no entanto, são di- Resultados como os obtidos pela replicou as práticas mais eficazes em sua rede. fíceis de rejeitar. Na última prova de KIPP e pela Success Academy reforçam inglês aplicada pelo governo do es- que a grande lição das charter é a ga- tado de Nova York, só 29% dos es- rantia de uma gestão eficiente. É o Em 2001, Hoje, a tudantes da rede pública foram apro- que acredita Wanessa Ferreira, con- a taxa de desistência é de desistência vados. Na Success Academy, a taxa sultora de Educação da Bain & Com- no ensino 3,5% foi de 64%. Em matemática, os re- pany. Segundo ela, o Brasil tem, atu- O resultado médio era de Nas escolas sultados foram ainda melhores: 35% almente, "muito educador de boa foi a criação integrais e de aprovação entre os alunos da rede vontade, mas que utiliza mal o recur- 24,5% de 328 semi-integrais, pública e 94% na Success. so que tem", gerando desperdício. "Fi- escolas a evasão é de A KIPP também se enquadra nes- ca claro que a gestão privada diminui integrais e se modelo. A rede se orgulha de 94% a burocracia e dá eficiência. Uma char- semi- dos alunos terminarem o ensino mé- ter recebe o mesmo recurso que uma -integrais. 1,3% dio e 81% avançarem e ingressarem escola tradicional, mas consegue fazer numa faculdade. "Os pais estão ba- muito mais", elogia.

27 indicadores para o

Elaborado pela consultoria Macroplan, o estudo Desafios da Gestão Estadual 2016 apresenta um mapa das rotas de desenvolvimento percorridas pelos 26 estados brasileiros e pelo Distrito Federal entre 2004 e 2014. Ao identificar uma mescla de largas passadas em determinadas áreas e retrocessos evidentes em outras, o estudo revela um Brasil que melhorou em linhas gerais, mas que ainda tem pela frente uma série de obstáculos a superar. E, como mostram as experiências exitosas de alguns estados, o caminho para enfrentar esses desafios é só um: o da eficiência administrativa

Por Emanuel Neves e Ricardo Lacerda

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uando assumiu o gover- Daqui em no de Pernambuco, em diante, entre- Entre 2004 e 2015, a 2007, Eduardo Campos tanto, os gover- arrecadação dos estados tinha uma meta bastan- nadores preci- te clara: impactar os sarão lidar com brasileiros subiu 41% acima serviços públicos por uma nova or- da inflação. As despesas, indicadores meio de uma revolução dem. Até por- na gestão. À época, o que a era da entretanto, avançaram estado apresentava in- multiplicação ainda mais: 50% Qdicadores sociais preocupantes. O de receitas aca- Ensino Médio, por exemplo, amar- bou – e a traje- gava a 21ª colocação nacional no tória de crescimento de gastos ex- exemplos bem-sucedidos nos quatro para o Índice de Desenvolvimento da Edu- trapolou o seu teto. “Não há mais cantos do país. cação Básica (Ideb). Já a evasão es- como ampliar impostos”, avisa Gus- O exame das condições das 27 colar era a segunda mais alta do tavo Morelli, diretor associado da unidades federativas (UFs) levou em país (22%). A segurança, por sua consultoria Macroplan. Assim, a efi- consideração uma série de indicado- vez, também preocupava. Com 49,2 ciência gerencial surge como o úni- res colhidos no período de dez anos homicídios a cada 100 mil habitan- co remédio para os estados retoma- – entre 2004 e 2014. Esse recorte tes, Pernambuco aparecia na última rem a senda de desenvolvimento nos amplo perpassa, no mínimo, três ges- posição desse quesito entre os 27 próximos anos. E a aplicação desse tões de cada estado. “Queremos de- estados. Mudar o quadro, portanto, curativo exigirá que os gestores pú- monstrar que os índices não perten- era uma tarefa urgente. blicos saibam definir as suas priori- cem a um governo, mas a todas as O desafio enfrentado por Cam- dades com exatidão. Pensando em instâncias do estado”, esclarece Clau- pos há quase dez anos se coloca, auxiliá-los nessa empreitada, a con- dio Gastal, presidente executivo do agora, diante de praticamente todos sultoria Macroplan, com apoio do MBC. O espectro da pesquisa abran- os governadores – embora os con- Movimento Brasil Competitivo ge nove grandes áreas – Educação, tornos sejam um pouco diferentes. (MBC), desenvolveu o estudo Desa- Segurança, Saúde, Infraestrutura, Ao longo de 2016, o Palácio do Pla- fios da Gestão Estadual (DGE) 2016. Desenvolvimento Econômico, Desen- nalto assistiu a uma verdadeira ro- O levantamento é um trabalho volvimento Social, Juventude, Con- maria de estados quase falidos. De de fôlego, que busca oferecer um dições de Vida e Institucional. Para pires na mão, os chefes dos Execu- raio-x detalhado da situação de ca- compor os parâmetros de cada eixo, tivos regionais rogavam a liberação da estado, dissecando seus pontos o estudo detalhou, ao todo, 28 indi- de verbas para conseguirem honrar fortes e suas deficiências. A partir cadores – como analfabetismo, PIB com os pesados compromissos men- dos dados apresentados no docu- per capita, saneamento e taxa de de- sais. Vale ressaltar que essa situação mento, os administradores poderão semprego, entre outros (veja todos de penúria foi gestada durante um identificar quais são os verdadeiros no gráfico da página 40). O desem- período de relativa fartura. Entre desafios – e onde residem, de fato, penho agregado nas diferentes áreas 2004 e 2015, a arrecadação dos es- os principais gargalos e áreas caren- consolida o Índice dos Desafios de tados subiu 41% acima da inflação. tes de atenção. A ideia, de modo Gestão Estadual (IDGE), um demons- As despesas, no entanto, avançaram geral, é inspirar a elaboração de es- trativo global da situação do estado. ainda mais: 50%. Como consequên- tratégias de governança profícuas Nesse ranking, aliás, ninguém cresceu cia, as contas deixaram de fechar. em âmbito estadual, ressaltando mais do que Pernambuco.

29 Índice dos Desafios da Gestão Estadual (IDGE) ao estado a 12ª posição da lista – uma evidente ascensão. A escalada de 12 2014 2004 degraus foi a maior entre as 27 UFs. Como funciona “A estratégia de estruturar processos As notas variam de 0 (totalmente negativo) a 1 posição UF índice UF índice e focar em planejamento, iniciada em (totalmente positivo). 2007, levou a esse resultado”, aponta 1o SP 0,844 SP 0,683 Quanto mais baixa a nota do Fred Amancio, atual secretário de Edu- estado, mais escuro é o tom 2o SC 0,827 SC 0,673 de vermelho, enquanto o cação de Pernambuco. Presente des- verde-escuro representa os 3o DF 0,798 RS 0,650 de o início da reestruturação do esta- melhores resultados. Confira, o do, Amancio foi secretário de Saúde, ao lado, o ranking completo 4 RS 0,773 DF 0,620 de Coordenação Geral e de Desenvol- dos estados – assim como a 5o PR 0,769 MG 0,593 evolução de cada um entre vimento Econômico durante os dois 2004 e 2014 6o RJ 0,750 PR 0,591 mandatos de Eduardo Campos – e 7o MG 0,749 RJ 0,582 também passou pela Secretaria de 8o ES 0,734 ES 0,555 Planejamento e Gestão na adminis- legenda tração atual, de Paulo Câmara. 9o MS 0,674 GO 0,504 ≥ 0,769 Para alterar o panorama de Per- o ≥ 0,642 e ≤ 0,768 10 GO 0,642 MS 0,471 nambuco, Campos optou por uma o ≥ 0,541 e ≤ 0,641 11 MT 0,611 MT 0,432 estratégia holística de gestão e con- gregou todos os setores da socie- ≥ 0,514 e ≤ 0,540 12o PE 0,592 RN 0,422 dade em prol da evolução do esta- ≤ 0,513 o 13 RN 0,565 RO 0,413 do. As práticas do segmento cor- 14o RO 0,561 SE 0,412 porativo foram a sua principal fon- 15o CE 0,551 AC 0,401 te de inspiração no processo de remodelação administrativa. Nes- 16o PB 0,547 BA 0,397 se sentido, o governador buscou o o 17 BA 0,541 AM 0,376 apoio do MBC e adotou metodo- 18o AM 0,540 CE 0,374 logias de gestão consagradas – como o PDCA. “Ele trouxe um conjunto 19o TO 0,532 PA 0,372 de ferramentas largamente utilizadas 20o AP 0,522 RR 0,358 no setor privado, mas ainda enca- 21o SE 0,517 TO 0,357 radas com preconceito na esfera pública”, lembra o deputado federal 22o RR 0,514 PB 0,353 Danilo Cabral, que foi secretário de o 23 AC 0,511 AP 0,343 Educação e das Cidades na gestão 24o PA 0,486 PE 0,339 Campos e secretário de Planejamen- 25o PI 0,480 PI 0,307 to e Gestão com Câmara. Além disso, Campos zelou por um 26o AL 0,430 MA 0,294 controle rigoroso das contas públicas, 27o MA 0,426 AL 0,258 dando foco total à eficiência da ges- tão. “O equilíbrio fiscal foi escolhido O modelo como meio para viabilizar um tripé pernambucano formado por educação, saúde e se- Entre os nove estados De acordo com o estudo, o IDGE gurança”, afirma Gastal. Cada um de Pernambuco era de 0,339 em 2004 desses eixos ganhou programas ca- do Nordeste, – sendo 1,0 o critério máximo. Ou se- talisadores – conhecidos como Pac- apenas Pernambuco ja, pode-se dizer que o estado era um tos pela Segurança, pela Educação e 3,39. Esse desempenho o colocava na pela Saúde. Esses pacotes congrega- melhorou seus 24ª colocação do ranking nacional, à vam uma série de políticas direcio- indicadores de violência. frente apenas de Piauí, Maranhão e nadas à melhoria de cada área. Alagoas. Em 2014, porém, o índice O acompanhamento dos pro- Os demais involuíram sintético subiu para 0,592, garantindo gramas era feito pelo próprio gover-

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A cartilha Cola bem feita Prova de eficiência: de Pernambuco Com um compilado de boas prá- ticas já existentes em outros locais, Entre 2004 e 2014, Goiás alcançou uma rápida ascensão Ampliando Goiás teve o menor horizontes no setor educacional Os alunos da rede A Educação também é um ponto crescimento real de pública podem realizar forte em Goiás. No estado, o trabalho investimento por intercâmbios custeados de aprimoramento do setor ganhou pelo estado. Criado em impulso a partir de 2011, com a im- aluno do Ensino 2011, o programa “Ganhe o plementação do Pacto pela Educação Médio – alta de 9,4% Mundo” já levou cerca de 5 – uma estratégia preconizada pelo go- mil estudantes para cursos vernador Marconi Perillo em parceria em instituições com o MBC. Entre 2011 e 2013, o En- do exterior. sino Médio goiano pulou do 16º para o 1º posto do Ideb – ficando em 6º na Incentivo aferição de 2015. O Ideb de 2015, por no bolso Os estudantes que Censo anual sua vez, destacou o Ensino Fundamen- mantêm assiduidade e Desde 2008, Pernambuco tal II do estado como 3º do ranking alcançam boas notas na aplica um censo anual na geral. A premissa básica para essas Prova Goiás – aplicada rede pública, seguindo a evoluções foi o benchmarking. "Não pelo Sistema de Avalia- metodologia do Ideb. Os reinventamos a roda. Captamos boas ção Educacional do Es- indicadores abrangem práticas existentes tanto no Brasil quan- tado de Goiás (Saego) – evasão, frequência e to no exterior e passamos a trabalhá- têm direito ao Poupança ambiente escolar, entre -las de forma conjunta", explica o de- Aluno. A bolsa só pode outros processos. Esses putado federal Thiago Peixoto, ex-se- ser sacada após o térmi- dados são concentrados cretário de Educação e de Gestão e no do Ensino Médio. no Sistema de Planejamento de Goiás. Informações da Educação A estratégia incluiu, por exemplo, de Pernambuco (Siepe). a valorização dos tutores pedagógicos e o estímulo às escolas públicas em Expansão integral tempo integral. Outra medida impor- Rumo certo Ampliar a rede de escolas tante foi o plano de bonificação para Goiás subiu da 15ª para a 8ª públicas integrais foi uma os professores. Aqui, a proposta era colocação no ranking de Jovens das prioridades de levá-los de volta para dentro das salas. "Nem Nem Nem" – que não estu- Pernambuco. Entre 2007 e “Dos 29 mil docentes, 14 mil estavam dam, não trabalham e tampouco 2016, o número de em desvio de função e não davam au- procuram emprego. “A geração de instituições nesse modelo la”, lembra Peixoto. Para receber o empregos e as políticas de melho- pulou de 13 para 335 – bônus, os professores precisavam se- ramento da aprendizagem e de concentrando 48% do guir critérios como assiduidade e apre- combate à evasão escolar contri- total de alunos. sentação de um planejamento de au- buíram para o resultado”, aponta la à Secretaria. “Reduzimos para 4 o deputado Thiago Peixoto. Resistência mil o número de professores fora das superada salas”, compara o deputado, refe- A força do Desde 2009, Pernambuco rindo-se ao quadro ocupado hoje por Centro-Oeste utiliza a meritocracia no cargos de diretoria e coordenação. Goiás também é destaque em setor de Educação, com Alguns pilares do modelo goiano, Desenvolvimento Social. O estado bonificações por assim como do pernambucano, ser- pulou do 7º para o 3º lugar nesse desempenho para viram de inspiração em âmbito fe- eixo, ficando atrás apenas de Santa professores e escolas. deral. É o caso do currículo único, Catarina e do Paraná. Já os vizinhos “Conseguimos vencer a proposto pelo Ministério da Educa- Mato Grosso e Mato Grosso do Sul barreira cultural do ção para o Ensino Básico em 2015. – ambos do Centro-Oeste – apare- corporativismo”, ressalta cem na 4ª e 5ª colocações da lista, Fred Amancio. respectivamente.

33 pilares. O primeiro deles é o Sistema riocas, com o intuito de desarticular de Metas e Acompanhamento de Re- o controle exercido pelo crime orga- sultados (SIM), regime de gratificações nizado sobre essas áreas. "Antes da Passos desenvolvido pela Secretaria de Se- UPP, ninguém sabia o que acontecia para trás gurança do Rio de Janeiro (Seseg) em nos morros. Era um mundo à parte", Alicerçada nas Unidades de Polícia Pacificadoras parceria com o MBC em 2009. Por destaca Beltrame. A atuação das UPPs (UPPs), a estratégia de segurança do Rio de Janeiro meio do SIM, a Seseg mede índices de resultou numa diminuição drástica coloca o estado como destaque nacional dessa ca- criminalidade e os transforma em pon- dos crimes nessas regiões. Um exem- tegoria – um quesito em que 19 das 27 UFs regre- tos, revertendo bonificações para as plo é o morro Dona Marta, sede do diram vertiginosamente. corporações com melhor desempenho. primeiro destacamento do projeto, Outro elemento da estratégia ca- que passou quatro anos sem registrar rioca é a Divisão de Homicídios (DH), homicídios. Atualmente, a Seseg man- que congrega delegacias dedicadas tém 38 UPPs distribuídas pela região Se o IDGE dos estados melhorou exclusivamente a esses casos. "As pri- metropolitana do Rio. como um todo, a abordagem espe- meiras 48 horas são fundamentais No entanto, apenas o trabalho cífica da Segurança demonstra um para encontrar a resposta ou, ao me- das UPPs já não é suficiente para mi- movimento inverso. Das 27 UFs ana- nos, traçar uma linha concreta de re- norar um problema que afeta o país lisadas, 19 apresentaram retrocesso solução dessas ocorrências", diz o ex- de maneira irrestrita. Nesse ponto, a no indicador sintético da área – com- -secretário José Mariano Beltrame, transversalidade das políticas de go- posto pela Taxa de Homicídios e pe- titular da Seseg entre 2006 e outubro verno deve ser observada. "A polícia la Taxa de Óbitos decorrentes de aci- de 2016. O trabalho contribuiu para é só uma parte do todo. Em geral, a dentes de trânsito. O decréscimo mais a redução de 50% na taxa de homi- violência deriva da ausência de ele- acentuado coube ao Piauí – com que- cídios entre os anos 2002 e 2012. mentos de cidadania. Solucionar o da de 15 posições. Já os saltos positi- Durante a década em que esteve problema passa pela valorização do vos ficaram com São Paulo – da 12ª à frente da Seseg, Beltrame coordenou ordenamento do estado", aconselha para a 1ª posição – e, especialmente, a montagem das UPPs – o projeto de Beltrame. Para ele, a evolução efeti- Rio de Janeiro – de 20º para 7º. maior repercussão no pacote de po- va de políticas de segurança depende A ascensão carioca foi possibili- líticas de segurança do estado. A ideia diretamente de maiores níveis de in- tada pela implementação de uma central da iniciativa é instalar núcleos vestimento em itens como saúde, política de segurança calcada em três da polícia comunitária nas favelas ca- educação e saneamento básico.

Foto: Bruno Itan

As UPPs foram o projeto de maior repercussão no pacote de políticas de segurança do Rio de Janeiro

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Vigor recobrado Na via inversa da Segurança, a Saúde dos esta- dos avançou nos últimos anos, com aumento da expectativa de vida e queda nas taxas de mortali- dade infantil. Nesse último indicador, o Ceará se destacou ao implementar um programa completo de acompanhamento às gestantes.

De modo geral, a saúde dos bra- Piora no Piauí sileiros evoluiu na última década. Conforme a análise do DGE, todos IDGE Segurança: 0,831 em 2004 para 0,399 em 2014 os estados apresentaram alta nos O gestor público parâmetros dessa categoria. "Foi um deve possuir um AL: ineficácia mortal movimento geral do país, com me- plano que demonstre Alagoas dobrou seus investimentos em se- lhora homogênea em todas as regiões", gurança entre 2004 e 2014, mas a taxa de afirma Morelli, da Macroplan. A com- claramente aonde homicídios também dobrou no período. posição do indicador agrupa o de- Com 63 mortes a cada 100 mil habitantes, sempenho das UFs em dois critérios: ele precisa chegar, o estado caiu da 22ª para a última posição mesmo com pouco nesse indicador. Expectativa de Vida e Mortalidade Infantil. No primeiro deles, o desta- dinheiro. Reação negativa que ficou novamente com Pernam- Pernambuco obteve a 3ª maior queda na buco – onde a estimativa de vida José Mariano Beltrame, taxa de homicídios do país – e pulou da pulou de 67,6 anos em 2004 para secretário de Segurança última para a 17ª posição no ranking da 73,1 em 2014. Já o Ceará melhorou do RJ entre 2006 e 2016 categoria. Entre 2013 e 2014, porém, esse muito no segundo quesito. índice reiniciou uma curva ascendente. Foto: Jane de Araújo A mortalidade infantil entre os Queda brusca cearenses diminuiu 45,5% – de 22,4 A Bahia também pagou caro pela inefici- para 12,3 mortes a cada 100 mil nas- RJ: o arsenal da paz ência. Na década analisada pelo DGE, o cidos. Essa evolução é fruto de uma investimento do estado em segurança foi visão administrativa que priorizou a semelhante ao de Pernambuco. Porém, a saúde na última década. "Entende- Programa SIM: taxa de homicídios em território baiano bonificações à subiu 133,1% no período – derrubando o mos a saúde não só como necessi- corporação com base estado do 5º para o 18º lugar no ranking. dade básica, mas como uma forma na melhoria dos de impulsionar o crescimento do índices de estado", explica Henrique Javi, se- criminalidade. Maiores altas na cretário de Saúde do Ceará. taxa de homicídios Com o projeto Ceará Saudável, (2004-2014) foi possível dar continuidade a polí- Divisão de ticas públicas iniciadas ainda na dé- Homicídios: Maranhão Ceará cada de 1980 – como a expansão da delegacias dedicadas 210% 166% equipe de Agentes Comunitários de exclusivamente Saúde nas cidades do interior. "Com- a esses casos. batemos a desnutrição com essa ini- ciativa, mas ainda havia a incidência Rio Grande de doenças agudas no primeiro ano UPPs: presença da do Norte polícia em zonas de vida", observa Javi. Para isso, o Ce- conflagradas, 308% ará redobrou a atenção com a fase impedindo a ocupação pré-natal, buscando uma identifica- de poder por parte Bahia ção precoce de problemas com a ges- dos criminosos. 133% tante e com o bebê.

35 Foto: Divulgação descentralizada A estratégia do Ceará reforçou o fo- Hospital Regional Norte, co nas cidades do interior através dos em Sobral, a 240 km de Agentes Comunitários de Saúde e da Fortaleza: Ceará aprimorou a criação de escolas profissionalizantes saúde com interiorização do acompanhamento médico de saúde nessas áreas. "O Ceará é o úni- co estado que não municipalizou os agentes. Cerca de 52% deles são servi- dores estaduais", destaca o secretário.

O receituário cearense

Atenção redobrada ao período pré-natal

Ampliação da rede de atendimento secundária – 22 policlínicas regionais

Vinculação das gestantes a hospitais públicos para acompanhamento de parto e pós-parto

Valorização dos Agentes Além da fase primária, o esta- Comunitários de Saúde do ampliou as áreas de atendimen- to secundárias e terciárias ao im- plantar 22 policlínicas e vincular Resultado o acompanhamento das gestantes Diminuição de a hospitais regionais. "É preciso 45,3% na realizar uma ação conjugada com Mortalidade Infantil o pré-natal, ofertando exames e em 10 anos local seguro para o parto. O resul- (maior redução entre tado positivo vem dessa combina- todas as UFs) ção de fatores", indica o secretário. A partir das melhorias obtidas nes- Melhora no indicador de se setor, o Ceará também se con- Mortalidade Infantil: solida como um case de boa apli- Entendemos a saúde não o o de 23 (2004) para 8 (2014) cação de receitas. Entre 2006 e só como necessidade 2015, as verbas totais aplicadas na básica, mas como uma saúde quase quintuplicaram – pas- IDGE da Saúde em 2004: forma de impulsionar o o sando de R$ 287 milhões para R$ (0,242) 1,4 bilhão. "Em geral, os recursos crescimento do estado. 18 parecem sempre insuficientes, mas IDGE da Saúde em 2014: entendemos a necessidade de tra- Henrique Javi, secretário o balhar mecanismos e fazer mais de Saúde do Ceará 11 (0,715) com menos", conclui Javi. Foto: Divulgação

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O superEstado Expectativa de Atrás apenas de São Paulo no ranking geral, vida média no Santa Catarina chama a atenção pela efi- Brasil – em anos ciência administrativa e se consolida como referencial brasileiro em diversos setores.

A importância de São Paulo no 2004 2014 cenário econômico e social do Brasil é referendada pelo DGE. Responsável por 32% da riqueza do país, segundo o IBGE, o estado lidera sete dos 28 indicadores e aparece entre os quatro primeiros em outros 13 itens apurados. 71,6 75,1 Mas essa supremacia paulista é acom- panhada de perto pelo desempenho Melhor desempenho exponencial de Santa Catarina. Os ca- (2014) tarinenses encabeçam dez quesitos e apresentam uma performance quali- ficada em praticamente todas as áre- Temos uma obsessão 78,4 (SC) as. Isso tudo sem dispor da mesma pelo equilíbrio há dez visibilidade e pujança de recursos. anos. Perseguimos Pior desempenho Os bons resultados de Santa Ca- (2014): tarina são frutos de uma governança essa excelência em eficaz, que elegeu o equilíbrio fiscal todos os setores e com como mola mestra de suas decisões vários instrumentos. 70 (MA) – muito antes de o assunto se tornar a pauta central da administração pú- Antônio Gavazzoni, blica. "Temos uma obsessão pelo equi- Maior subida secretário da Fazenda líbrio há dez anos. Perseguimos essa de Santa Catarina Pernambuco excelência em todos os setores e com 67,6 para vários instrumentos", afirma Antônio 73,1 Gavazzoni, secretário da Fazenda de Foto: Divulgação Santa Catarina. A área chefiada por Chile Gavazzoni, por exemplo, está habitu- melhor ada a lidar com parâmetros de meri- indicador tocracia desde 2008. "Mudamos a da América Maior descida legislação para funcionar nesse sen- tária – uma das mais baixas do país. do Sul*: Goiás tido e priorizamos o monitoramento O posicionamento redunda em 81,2 73,8 para em vez da aplicação de multas." vantagens na disputa com os vizinhos 72 Além disso, o estado é modelo em Rio Grande do Sul e Paraná. "Os cus- *Segundo o Banco Mundial ferramentas de gestão fiscal e finan- tos com impostos, energia elétrica e ceira, com destaque para a metodo- combustível são cerca de 20% me- logia de elaboração orçamentária. nores do que nos outros dois estados", Vendendo Saúde "Nosso sistema, desenvolvido há uma garante Gavazzoni. Essa segurança Líder no IDGE de Saúde em década, amarra todas as etapas desse jurídica e fiscal, somada à qualidade 2004, Santa Catarina manteve a processo e hoje está no estado da ar- de vida e à estabilidade, coloca Santa ponta em 2014 e ainda alcançou a te", ressalta Gavazzoni. A competiti- Catarina na rota dos grandes investi- nota máxima nesse critério – 1,0. vidade é outro item a favor de Santa mentos privados. "Temos um ambien- Rio Grande do Sul (0,931), Espírito Catarina. Nesse ponto, o governo atua te muito favorável aos negócios, ge- Santo (0,921) e Distrito Federal como verdadeiro indutor da economia, rando emprego e renda para a popu- (0,919) aparecem na sequência. zelando pelo controle da carga tribu- lação", orgulha-se o secretário.

37 Mirando alto Santa De acordo com a ONU, Santa Catarina possui o segundo melhor catarina: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil – atrás apenas dez vezes do Distrito Federal. "Queremos chegar ao IDH da Noruega através líder de políticas realistas de educação, segurança, saúde", afirma Antônio Gavazzoni, secretário da Fazenda de Santa Catarina.

1 Ideb EF II (2015)

2 Expectativa IDH NORUEGA de Vida (2014) 0,944 (líder mundial) 3 Mortalidade Infantil (2014)

IDH DF IDH SC 4 Taxa de Homicídios 0,874 0,840 (2014) Fonte: ONU

5 Taxa de Fôlego para mais Desemprego Santa Catarina é um dos poucos estados com capacidade de endivida- (2014) mento. "Temos 41,5% de comprometimento da receita. O limite fica em 200%", informa Gavazzoni. Já o vizinho Rio Grande do Sul 6 Informalidade lidera a lista dos endividados, com 217% de comprometimento (2014) sobre a receita.

7 Pobreza No topo, mas caindo Santa Catarina também possui a menor Taxa de Homicídios do país (2014) (12,7 a cada 100 mil habitantes). Porém, esse índice subiu 24% entre 2004 e 2014. 8 Desigualdade de Renda benchmark geral (2014) Santa Catarina também é líder em três das nove grandes áreas que compõem o DGE: Saúde, Desenvolvimento Econômico e Desenvolvi- 9 Jovens mento Social. Já São Paulo está à frente de quatro eixos: Educação, Se- gurança, Infraestrutura e Condições de Vida. Distrito Federal (Juventude) "Nem Nem Nem" e Amapá (Institucional) completam o quadro. (2014)

batalha necessária 10 Gravidez A reforma da Previdência pública, tema premente no país, é assunto en- Precoce cerrado em Santa Catarina. O estado realizou as alterações necessárias (2014) nessa pasta em três etapas – ocorridas em 2009, 2012 e 2015. "Foi dra- mático, mas conseguimos sucesso dialogando com a sociedade e evi- tando radicalismos", diz Gavazzoni.

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A saída encontrada pelos es- so, o Pacto pela Reforma do Esta- Hora da tados para continuarem operando do, criado pelo MBC em 2015 em mudança foi apelar para empréstimos junto parceria com 19 governadores, à União. "Esse subterfúgio já está revela-se um esforço fundamental Pesado e endividado, o setor público brasilei- esgotado", constata Claudio Gas- na busca pela modernização do ro não pode mais protelar as reformas adminis- tal, do MBC. Sem capacidade de serviço público e do aumento da trativas. O caminho para essa missão tem a efi- contrair mais dívidas, muitos go- competitividade do país. "A ava- cácia como norte – e já foi trilhado por alguns dos vernadores dão sinais de estarem liação de resultados deve ser feita estados que despontam no DGE. perdendo a luta contra o tamanho por terceiros, esclarecendo a rela- da folha de pagamento – lidando ção de custo-benefício das inicia- com caixas à beira da insolvência. tivas dos gestores", afirma Gastal. "Para piorar o quadro, o país pro- O desequilíbrio das contas pú- telou mudanças necessárias du- blicas tem suas raízes em conjun- rante o período de bonança, como turas iniciadas há quase três dé- a reforma da Previdência. Agora, cadas. "O crescimento de gastos não há mais como fugir. Esse ce- começa logo após a Constituição nário precisará ser encarado", de 1988", explica Gustavo Morelli, acrescenta ele. Na conjuntura in- da Macroplan. O aumento da ar- ternacional, ventos mais brandos A avaliação de recadação tributária e o boom das anunciam um ciclo de crescimen- commodities, ocorridos nas déca- to econômico menos dinâmico. Ou resultados deve das de 1990 e 2000, respectiva- seja, o Brasil terá de se reinventar ser feita por mente, impulsionaram uma esca- sem expandir o orçamento, optan- terceiros, lada de despesas que atingiu seu do pela eficiência – afinal, nem tu- ápice nos últimos anos. Na divisão do é dinheiro na gestão pública. esclarecendo a desse bolo, a maior fatia coube ao As experiências bem-sucedidas relação de funcionalismo e ao custeio da má- apresentadas pelo estudo Desafios custo-benefício quina. Isso alargou as medidas da da Gestao Estadual (DGE) podem estrutura pública, especialmente guiar a construção desse novo pa- das iniciativas no âmbito regional. radigma na governança estatal. dos gestores. "Ao analisarmos os índices, vemos Claudio Gastal, presidente que as políticas elaboradas com executivo do Movimento correção, utilizando metas claras, Brasil Competitivo (MBC) dão resultado", diz Claudio Gastal, do MBC. Essa eficiência passa pe- O PIB brasileiro la triagem dos programas gover- namentais, visando ao direciona- cresceu 47% mento dos esforços aos projetos Essa medida colaboraria para a entre 2003 e prioritários. "O gestor público de- modernização dos estados. "Uma ve possuir um plano que demons- forma de fazer isso é com inova- 2014. Nesse tre claramente aonde ele precisa ção, seja no âmbito organizacional mesmo período, chegar, mesmo com pouco dinhei- ou tecnológico", acredita Morelli. ro", indica José Beltrame, ex-se- A digitalização dos serviços públi- a arrecadação cretário de Segurança do Rio. cos – pauta frequente nos debates subiu nada Nesse sentido, o acompanha- do Pacto – também ganha rele- mento da evolução administrati- vância nessa tarefa de erigir um menos que 84% va cresce em importância. Por is- estado mais eficiente.

39 O QUE HÁ DE MELHOR NO BRASIL

Saúde Educação SC: 1,0 SP: 0,926 RS: 0,931 DF: 0,920 ES: 0,921 SC: 0,869

INDICADORES INDICADORES Expectativa de Vida: Escolaridade Média: SC (78,4 anos) DF (10,1 anos de estudo) Média BR: 75,1 anos Média BR: 7,8 anos Mortalidade Infantil: Analfabetismo de Jovens e Adultos: SC (10,1 a cada 100 mil DF (2,7%) habitantes) Média BR: 8,3% Média BR: 12,9 IDEB Ensino Fundamental I: SP (6,4) Média BR: 5,5 Segurança IDEB Ensino Fundamental II: SP: 0,866 SC (5,1) AM: 0,761 Média BR: 4,5 RS: 0,745 IDEB Ensino Médio: SP (4,2) INDICADORES Média BR: 3,7 Taxa de Homicídios: SC (12,7 a cada 100 mil habitantes) Juventude Média BR: 29,1 DF: 0,895 Taxa de Óbitos no Trânsito: SC: 0,847 AM (13,1 a cada 100 mil PR: 0,742 habitantes) Média BR: 22,1 INDICADORES Jovens "Nem Nem Nem"*: SC (8,8%) Condições Média BR: 13,9% Gravidez Precoce**: de Vida SC (8,0%) SP: 0,911 Média BR: 13,2% RJ: 0,883 Jovens com Ensino Superior: DF (27,1%) MG: 0,862 Média BR: 14,8% ≥ 0,769 INDICADORES ≥ 0,642 e ≤ 0,768 Déficit Habitacional: * Percentual de jovens de 15 a 29 RS (5,7%) anos que não trabalham, não ≥ 0,541 e ≤ 0,641 Média BR: 9% estudam e não procuram trabalho Saneamento adequado: ≥ 0,514 e ≤ 0,540 SP (92,1%) ** Percentual de mães Média BR: 62,8% entre mulheres de 15 a 19 anos ≤ 0,513

40 brasil novembro de 2016 Institucional Desenvolvimento AP: 0,625 Econômico DF: 0,608 O estudo SP: 0,892 ES: 0,591 detalhou, PR: 0,823 ao todo, INDICADORES RS: 0,804 Índice de Transparência: INDICADORES 28 indicadores ES (8,96) Média BR: 5,66 PIB per capita: em nove eixos DF (R$ 62.860) Taxa de Congestionamento de Justiça: Média BR: R$ 26.446 AP (44,9%) Taxa de Desemprego: Média BR: 80,2% SC (3%) Média BR: 6,9% Informalidade: SC (19,6%) O recorte Média BR: 31,4% temporal perpassa, pelo Infraestrutura menos, três SP: 0,958 gestões de RJ: 0,848 cada estado DF: 0,840 INDICADORES Rodovias Pavimentadas: SP (93,5%) Média BR: 61% Desenvolvimento Qualidade das Rodovias: SP (83,6%) Social Média BR: 42,9% SC: 0,926 Pessoas que utilizaram internet PR: 0,842 nos últimos 3 meses: DF (76%) GO: 0,825 Média BR: 54,4% INDICADORES Domicílios com pelo menos um Porcentagem de pobres: telefone fixo ou celular: SC (4,3%) DF (98,9%) Média BR: 15,8% Média BR: 93,5% Desigualdade Social*: Energia Elétrica (Número de SC (0,416) interrupções por ano): Média BR: 0,515 SP (4,4) Média BR: não consta Renda Domiciliar per capita: DF (R$ 2.061) Energia Elétrica (Horas de Média BR: R$ 1.033 interrupção por ano): SP (8) *Medida pelo Coeficiente de Gini Média BR: não consta

41 iStock Photo economia além do consumo

Trio de economistas conomistas orto- perávits primários – também se re- vê na modernização doxos e liberais velou incapaz de lidar com o cresci- costumam concor- mento da despesa primária e de man- da indústria e do dar com a razão da ter a taxa de câmbio num nível está- comércio atual crise brasilei- vel e competitivo no médio prazo. internacional o ra: nos últimos Ou seja, os problemas fiscais não são caminho para o Brasil anos, a despesa pú- meros efeitos do baixo crescimento. deixar de ser um país blica cresceu num Para os novos desenvolvimen- de renda média ritmo muito acima tistas, há também uma escassez de da expansão do PIB. O Leviatã não eficiência no plano macroeconômi- Por Leonardo Pujol Esoube lidar com o orçamento. Assim, co. A solução? O governo – qualquer a arrecadação não foi suficiente e o que seja ele, aliás – deve apostar num país foi à bancarrota. conjunto de medidas macroeconô- Há, porém, uma corrente na eco- micas que tenham como objetivo nomia que vai além desse pensamen- maior o crescimento do PIB. A tese to. Os chamados “neodesenvolvimen- está no livro Macroeconomia desen- tistas” não contestam o diagnóstico, volvimentista: teoria e política eco- mas lembram que o tripé macroeco- nômica do novo desenvolvimentismo, nômico introduzido por Fernando lançado neste ano no Brasil pela Henrique Cardoso e mantido por Lu- editora Elsevier. la em seu primeiro mandato – que A obra é assinada pelos líderes combinava um câmbio flutuante, do movimento no Brasil: Luiz Carlos metas de inflação e expressivos su- Bresser-Pereira, ex-ministro da Fa-

42 brasil novembro de 2016 economia resenha

portfólio competitivo para o pró- ximo passo: internacionalizar os pro- dutos manufaturados. A estratégia, além do segundo eles, é capaz de induzir o aumento da acumulação de capital das empresas e o progresso tecno- lógico na economia como um todo. Aplicar o modelo exigirá uma consumo política cambial ativa. O preço da moeda brasileira não poderia ser de- finido pelo mercado, por exemplo. Quem tem de decidir é o governo, contribuindo para a manutenção da taxa de câmbio real num patamar competitivo em médio e longo pra- zos. Os autores garantem que as in- dústrias poderão competir não só internamente, mas também no ex- FICHA TÉCNICA terior, atraindo dólares ao país. Isso tudo, claro, com uma política cam- Título: Macroeconomia bial diretamente associada a uma desenvolvimentista: política fiscal responsável, que eli- teoria e política econômica mine o déficit do país e não enxugue do novo desenvolvimentismo os investimentos públicos, como Autores: Luiz Carlos Bresser-Pereira, zenda, Nelson Marconi, professor ocorria no “tripé macroeconômico”. José Luís Oreiro e Nelson Marconi da Fundação Getulio Vargas, e José São 17 capítulos de discussão Editora: Elsevier Luís Oreiro, docente da UFRJ. "É uma para o tema. Nos três primeiros, os Ano: 2016 maneira nova de pensar o crescimen- autores relacionaram os preços ma- Páginas: 250 to econômico e a estabilidade ma- croeconômicos, sobretudo a taxa de Preço médio: R$ 60 croeconômica que afirma o papel câmbio, com o crescimento dos pa- decisivo do mercado na coordenação íses. Nesse sentido, eles interpretam de economias modernas", diz um o processo de sofisticação produti- trecho introdutório do livro. va como algo decorrente da taxa de investimento – esta, por sua vez, Os autores condenam a adoção de Uma nova lógica para oriunda da existência de uma de- práticas como crescimento com pou- velhos gargalos manda. Só que a taxa de investimen- pança ou endividamento externo, Em 250 páginas, o trio sugere que to também depende da taxa de câm- âncora cambial contra a inflação e países de renda média acelerem sua bio. “Um acesso geralmente negado, manutenção da taxa de juros em um industrialização para se aproximarem porque a tendência à sobreaprecia- nível elevado, em torno do qual se dos países ricos. Esse processo de so- ção de longo prazo da taxa de câm- realiza a política monetária. Em su- fisticação direciona a produção para bio, só interrompida por crises, tor- ma, os novos desenvolvimentistas os setores que geram bens de maior na as boas empresas do país não sugerem uma reorientação macro- valor agregado – não só com foco na competitivas, sem expectativas de econômica para que os países de indústria, mas em todo o setor de lucro satisfatórias”, dizem eles. renda média cheguem ao patamar serviços modernos que está inter- As causas dessa tendência, bem das nações ricas – espelhados no ligado com ela, como o agronegó- como as políticas necessárias, são progresso de países asiáticos como cio e o petróleo. Isso garantiria um dissecadas nos capítulos seguintes. Japão, Coreia do Sul e Taiwan.

43 Quando a saúde está na gestão O número de organizações sociais (OS) que assumem a administração de serviços públicos está crescendo. Embora o sistema possa trazer mais eficiência ao Estado e saúde à população, a legislação da área ainda carece de aperfeiçoamento – um procedimento delicado, que precisa ser profundamente debatido por governos e prefeituras

por leonardo pujol

precariedade do tão e realizou uma concorrência pú- Hospital de Urgên- blica convocando interessados em cias de Goiânia administrar o hospital. (Hugo) chegara ao Cinco anos depois, a conjun- limite em 2011. tura é outra. O Hugo, segundo Havia superlota- maior pronto-socorro de Goiás, ção, sucateamento está reformado e reequipado. Dis- de equipamentos, põe de espaço amplo para atendi- escassez de remédios, estrutura físi- mentos, máquinas modernas, es- ca insuficiente, sobrecarga de traba- toque regularmente atualizado, alho. Muitas vezes, os pacientes eram profissionais motivados – conquis- atendidos em leitos improvisados no tas acumuladas desde que o Insti- chão. Cirurgias acabavam interrom- tuto Gerir, uma organização social pidas por falhas na rede elétrica. A (OS) sem fins lucrativos, venceu a situação era tão grave que o Conse- concorrência pública e assumiu sua lho Regional de Medicina (CRM) che- administração, em maio de 2012. gou a pedir a interdição da instituição, Tudo melhorou, da assistência inaugurada em 1991. Angustiado com à gestão. O índice de infecções a situação, o governador Marconi Pe- contraídas na Unidade de Terapia rillo deu um ultimato: reconheceu Intensiva (UTI) caiu de 72% para que, no curto prazo, não conseguiria 9%. Os gastos mensais com órte- reverter o quadro, abriu mão da ges- ses, próteses e materiais especiais,

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antes na ordem de R$ 1 milhão, políticos. "Queremos implantar OS bre a vulnerabilidade do modelo, caíram para R$ 350 mil. Isso tudo na Saúde e temos enfrentado uma apesar dos vários exemplos posi- com aumento no número de leitos resistência enorme por todos os la- tivos. O que fomenta ainda mais – eles saltaram de 253 para 407, dos", afirmou Rodrigo Rollemberg, um debate que se arrasta por anos. Quando a um incremento de 73%. "Demos governador do Distrito Federal, du- um caráter profissional ao Hugo", rante um dos painéis do Congresso Batalha afirma David Correia, superinten- Brasil Competitivo (leia mais na re- legal dente de planejamento do Gerir. portagem da página 52). Para compreender a discussão, "Quebramos um paradigma no que Entre os questionamentos estão é preciso voltar no tempo em que a diz respeito ao serviço público." contratos utilizados como instru- Desde que "publicização do Estado" começou saúde está O sucesso dessa parceria fez o mentos de terceirização ilícita e ir- passou a ser a ser defendida – em 1995, pelo en- administrado arranjo se espalhar por Goiás. Atual- regularidades com o dinheiro pú- por uma OS, tão presidente Fernando Henrique mente, nada menos que 17 hospitais blico. Motivo para a desconfiança o Hugo, em Cardoso. A norma implica a trans- estão sob a gestão de organizações existe. Ao menos é o que sinaliza o Goiânia, ferência da gestão de serviços pú- reduziu os sociais de saúde, as chamadas OSS. Ministério Público Federal (MPF), gastos com blicos para instituições não estatais Mas a implementação desse mode- que neste ano desencadeou a apu- órteses, ou não governamentais, mas sem na gestão próteses e lo no Sistema Único de Saúde (SUS) ração de uma série de denúncias fins lucrativos. A ideia principal era materiais está longe de ser uma unanimidade. envolvendo dez organizações so- especiais em descentralizar as atividades do Es- Desde que foi criada, em 1998, ciais de saúde. Conforme a inves- R$ tado em razão do crescimento da a lei de nº 9.637 – que permite ao tigação, os indícios são de super- sociedade e da precariedade do sis- Poder Público utilizar pessoas jurí- faturamento, desvio de recursos, mil650 tema público. Órgãos públicos de dicas de direito privado sem fins contratos irregulares, emissão de seis áreas específicas – saúde, edu- lucrativos para auxiliá-lo na pres- notas frias e atrasos salariais – cri- cação, cultura, preservação do meio tação de assistência – foi severa- mes que teriam lesado os cofres ambiente, desenvolvimento tecno- mente contestada, principalmente públicos em R$ 452 milhões. As lógico e pesquisa científica – ficaram por entidades sindicais e partidos denúncias lançaram suspeitas so- legalmente autorizados a celebrar

Fotos: Divulgação

HUGO REFERÊNCIA EM SAÚDE Um estudo patrocinado pelo Banco Mun- dial comprovou que os índices de mortali- dade dos hospitais sob gerenciamento das OS caem pela metade em comparação com as instituições da administração direta. No Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), a taxa de infeccionados caiu de 72% para 9% entre os internados na UTI.

45 Julyane Galvao Julyane

Corte cirúrgico: no Hugo, os gastos mensais com órteses e próteses, antes na ordem de R$ 1 milhão, caíram para R$ 350 mil

contratos de gestão com organiza- dimento aos usuários do SUS fica- A deliberação esclareceu os pon- ções sociais a partir de 1998. ram equiparáveis aos particulares. tos ditos "nebulosos". Fixou que o Herdeiras das antigas entidades Com a permissão federal, São Pau- tipo de contratação proposto entre filantrópicas, essas organizações têm lo foi o pioneiro a regulamentar a organizações sociais não representa garantias – como isenção de impos- lei em nível estadual, ainda no final delegação de serviços de competên- tos e a dispensa de seguir a lei de da década de 1990. No entanto, à cia do poder público para o setor pri- licitações – e compromissos. Entre medida que os contratos se alas- vado, mas parceria. O STF também eles, metas de desempenho e de traram, foi impetrada uma ação de afirmou que qualquer OS contratada prestação de contas, quantitativas inconstitucionalidade da lei. Os au- precisa seguir regras de fiscalização e qualitativas mensuráveis, para que tores entendiam que as parcerias para o controle de qualidade e da a entidade receba as verbas de cus- terceirizavam atividades-fim do Es- aplicação das verbas públicas. Na teio a serem aplicadas. tado – como se as estatais fossem ocasião do deferimento, o tribunal O acompanhamento é feito pe- vendidas para a iniciativa privada. informou a existência de aproxima- las secretarias, com base na apresen- O objetivo do processo era claro: damente 300 organizações sociais tação mensal de indicadores de pro- fazer com que as organizações so- no país, presentes em pelo menos 14 dução, analisados por comissões de ciais deixassem de existir. A discus- estados e em mais de 70 municípios. controle e fiscalização. "É preciso ter são não teve conclusão e o proces- "A discussão na área federal foi um critério extremamente eficiente so acabou no Supremo. dirimida", entende José Eduardo Sa- e seletivo para o chamamento das Após anos de debate, a novela organizações sociais, que efetivamen- sinalizou um desfecho. Em 2011, os te tenham expertise e eficiência na ministros negaram o pedido. A de- Desde que o Gerir assumiu gestão de áreas do Estado", explica cisão de mérito, porém, só ocorreu o Hugo, o índice de infecções Marconi Perillo, governador de Goiás. em abril de 2015, quando o minis- A área da Saúde foi a que mais tro Luiz Fux alegou que "o Estado contraídas na UTI caiu de 72% abriu concorrência, aproximando não consegue exercer suas ativida- para 9%, enquanto os leitos da as unidades públicas do conceito des se não tiver coparticipação". O privado – muitos centros de aten- voto foi seguido pela maioria. unidade subiram de 44 para 58

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as instituições geridas por organi- zações sociais de saúde no estado viveram uma significativa melhora. "Nossos hospitais passaram por uma transformação radical", exalta o go- Demos um caráter profissional vernador Perillo. ao Hugo. Quebramos um A fama tem atiçado a curiosi- paradigma no que diz respeito dade de outros estados. Tanto que o Hugo já recebeu visitas de médi- ao serviço público. cos, secretários de Saúde e até go- David Correia vernadores, como Camilo Santana, Superintendente do Instituto Gerir do Ceará, e Pedro Taques, do Mato Grosso. Todos interessados em im- plementar o modelo na sua própria região. "Nosso case está inspirando Para aumentar sua capacidade de o resto do país", orgulha-se David internações, a instituição utilizou uma Correia, que administra o Hugo. estratégia de crescimento virtual de Tanto inspirou que o Instituto leitos. "Aumentamos a produtividade, Gerir fechou outros seis contratos diminuindo em duas horas o tempo desde então – um em Goiás, dois médio que os pacientes ocupavam o na Paraíba, dois no Maranhão e um leito", explica Antonio Bastos, diretor no Mato Grosso do Sul. O mais re- do M’Boi Mirim. Funciona assim: cente é o Hospital Carlos Macieira, quando o médico prescreve a alta de que fica em São Luís, capital ma- um paciente, ainda há uma série de ranhense. A unidade integra o SUS bo Paes, procurador de Justiça do etapas até que o leito fique disponí- e é uma das referências de alta Distrito Federal. "Agora, os governos vel para outra pessoa. Os procedi- complexidade no estado. Em seis efetivamente têm segurança jurídi- mentos incluem recomendação mé- meses, o Gerir aumentou a média ca para firmar esses contratos." dica, higienização e preparação da mensal de cirurgias (381 para 505), Cabe aos estados e municípios cama do hospital. Se o tempo de ca- exames (4,2 mil para 7,8 mil) e ses- definir qual é a melhor forma de atu- da uma dessas etapas for reduzido, sões de hemodiálise (1,3 mil para ação. Segundo Paes, que também é há um ganho de horas e, consequen- 1,7 mil). Nesse mesmo período, os autor do livro Fundações e entidades temente, um aumento virtual de repasses mensais, hoje em R$ 8,7 de interesse social, a tendência é que leitos. No M’Boi Mirim, o ganho de milhões, caíram 27%. aumentem as parcerias. 480 horas por dia – considerando as No fim de 2015, o sucesso das 240 vagas do hospital – gerou 29 no- organizações sociais de saúde tam- MODELO DE SUCESSO vos leitos virtuais no acumulado de bém inspirou o governo goiano a Segundo a Organização Nacio- um mês. Dessa forma, o número de aproveitar o ensejo para expandir No M’Boi nal de Acreditação (ONA), dos Mirim, pacientes internados aumenta sem os contratos às escolas públicas. Se 2.987 hospitais públicos que aten- o ganho de que haja a necessidade da compra de "deu muito certo na saúde", disse dem aos usuários do SUS no Brasil, novos leitos. "É como se construísse Marconi Perillo, tinha tudo para dar apenas dez se destacam por ofe- 480 mais uma ala sem que fosse colocado certo na educação. A seleção entre horas por dia recer um elevado padrão de aten- nenhum recurso", acrescenta Bastos. as concorrentes ocorreu em outu- gerou dimento. Desses, nove são geridos Além do M’Boi Mirim, outros bro passado. A entidade vencedora por organizações sociais. É o caso 29 cinco hospitais públicos creditados foi a GTR, Grupo Transparência e do Hospital M'Boi Mirim, mantido novos leitos pela ONA ficam em São Paulo – on- Resgate Social. A OS receberá cer- pela Sociedade Beneficente Israe- virtuais de mais da metade de oferta de ca de R$ 1 milhão por mês para ge- lita Brasileira Albert Einstein. A no acumulado serviços pelo Sistema Único de Saú- renciar 23 escolas da rede estadu- de um mês. instituição, localizada na periferia de (SUS) está baseada no modelo. al localizadas na região de Anápolis, paulistana, é um exemplo dos po- Goiás adotou o método em 2011 a 55 quilômetros de Goiânia, por tenciais benefícios que uma OS – durante a crise com o Hospital de onde o governo decidiu começar a pode trazer ao serviço público. Urgências de Goiânia. Desde então, gestão compartilhada. O contrato

47 é de três anos. As divergências começam na Será o primeiro A lei federal das organizações contratação dos funcionários. A San- projeto desse ti- sociais foi severamente contestada ta Catarina se defende de um pedi- po no país – ape- do, movido pelo Ministério Público sar de a educação nas últimas duas décadas. A Federal no Tribunal Superior do Tra- estar entre as validação dos contratos, pelo STF, balho, para que os 7 mil funcionários áreas autorizadas sejam contratados diretamente pe- pela lei federal só ocorreu em abril de 2015 los governos para os quais prestam desde 1998. os serviços de saúde – hoje, os con- Em Nova York, um modelo de DESAFIOS tratos são firmados via Consolidação gestão semelhante ao projeto de REGIONAIS das Leis do Trabalho (CLT). O dese- Goiás já foi testado – e aprovado. Os debates sobre a atuação das jo do MPF é que o contingente seja Por lá, a reforma fechou as 150 organizações sociais no Brasil ainda contratado por concurso público. piores escolas para substituí-las devem se estender. Isso porque ca- Caso vença, o Ministério Público in- por 600 novas unidades, a maio- da estado e município precisa de viabilizará a operação da OS, colo- ria de menor porte e administra- uma regulamentação própria. "A cando em risco 12 milhões de aten- das dentro do modelo charter – por legislação precisa ser aperfeiçoada dimentos anuais. organizações privadas (leia mais em vários aspectos. Hoje, existem Outro desafio tem relação com na página 24). Em seguida, os di- diferenças muito grandes entre os o orçamento. No Distrito Federal, retores ganharam mais poder e estados onde atuamos", comenta a discussão girava em torno das autonomia. Por fim, houve um es- César Paim, diretor corporativo da despesas com os profissionais, e não forço para levar inovação para Associação Congregação de Santa com a contratação. O governo pe- dentro das escolas, com programas Catarina, organização social com dia no Tribunal de Contas da União que mudaram o jeito de ensinar. Co- contratos em hospitais de São Pau- (TCU) que os gastos não entrassem mo resultado das charter schools, lo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. nos limites impostos pela Lei de houve aumento de 50% no nú- mero de estudantes que terminam o ensino médio. Cinco distritos da cidade – Bronx, Queens, Staten Island, Brooklyn e Manhattan – Número de também saíram das últimas po- atendimentos sições no teste estadual. Embora os setores de saúde e Ano Total UTIs Enfermarias educação detenham experiência longa e concreta com esse tipo de 2011 235 44 191 administração, os demais setores Administração Pública também contam com um histórico 2015 407 58 349 positivo. Na Cultura, por exemplo, Administração do Gerir (OSS) o destaque é o Theatro Municipal de São Paulo. A instituição se tor- Ano Média Média Média nou um modelo de gestão desde mensal de mensal de mensal de que sua administração passou pa- atendimentos internações cirurgias ra o regime de uma organização 2012 4.996 2.739 771 social – flexibilizando contratações 2013 5.757 2.698 996 e contornando o excesso de buro- cracias que costumam travar a lo- 2014 6.186 2.588 1.104 gística da instituição. Fonte: Instituto Gerir. Setembro/2016

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Responsabilidade Fiscal (LRF), que Lei Federal, como Preservação do o universo dAS OS se encontra acima do limite de Meio Ambiente e Cultura. 46,5%. Por unanimidade, o TCU José Eduardo Sabo Paes alerta entendeu a parceria como tercei- que o fato de Alagoas e outros es- À disposição rização. Segundo o órgão, a des- tados sancionarem seus próprios Desde 1998, seis áreas pesa não está atrelada aos limites regimentos não garantirá uma apli- estão aptas à gestão via de gasto com pessoal estabelecidos cação imediata. "Essas decisões organizações sociais: pela LRF – uma vitória comemo- ainda carecem de parâmetros efe- Saúde, Educação, rada pelo governador Rodrigo Rol- tivos, principalmente na forma de Cultura, Preservação do lemberg. "A decisão é importante identificação das unidades, os cri- Meio Ambiente, porque vai permitir ao governo térios de chamamento e os pontos Desenvolvimento Tecnológico ampliar a assistência à população de fiscalização", explica. Em busca e Pesquisa Científica de Brasília de forma gratuita, por dessa evolução, as vinte maiores meio das OS", afirmou Rollemberg. OS do país criaram o Instituto Bra- Entrave "Teríamos dificuldade de fazer isso sileiro de Organizações Sociais de burocrático no modelo tradicional." Saúde (Ibross), com sede em Bra- Apesar da autorização federal, Em Alagoas, o governador Re- sília. O Instituto tem o objetivo de estados e municípios nan Filho regulamentou em se- representar o segmento, propor precisam regularizar as tembro a lei que dispõe sobre o melhorias na Legislação e criar um próprias leis se quiserem Programa Estadual de Organiza- selo de qualidade para o grupo, por implementar o sistema de ções Sociais. Por lá, o programa meio de um programa de certifi- administração por OS busca estimular a absorção de ati- cação. "Vamos passar a ver cada vidades e serviços não só ligados vez mais seminários e eventos so- Melhora nos à Educação e à Saúde, mas também bre OS. O tema é atualíssimo", indicadores aos demais tópicos previstos na completa Paes. Até 2014, os hospitais administrados por OS em Goiás contabilizavam um aumento no número de Localizado na periferia de São Paulo, o consultas em ambulatório Hospital M'Boi Mirim é um exemplo dos benefícios que as OS podem trazer à popução (101%), cirurgias (48%) e internação (80%)

Ranking de excelência Dos 2.987 hospitais públicos que atendem aos usuários do SUS, apenas dez oferecem um elevado padrão de atendimento. Nove são administrados por OS

Mapa do Brasil Existem aproximadamente 300 organizações sociais no país, atendendo a todas as seis áreas autorizadas (com destaque para a Saúde) em ao menos 14 estados e 70 municípios

Fonte: Secretaria da Saúde do Estado de Goiás, Organização Nacional da Acreditação, Supremo Tribunal Federal 49 Crise ou oportunidade para o futuro? Se fortalecido no Brasil, o centro de dos agentes econômicos, e a ca- tadas pelos agentes públicos. Essa governo poderia evitar equívocos pacidade de voltar a crescer de for- instituição conceituada em países monumentais que nos trouxeram e ma sustentada. como Canadá, Reino Unido, Chile A preocupação imediata não po- e Estados Unidos, como centro de trazem prejuízos de bilhões de reais de, no entanto, representar um ris- governo, teria a função de: formar co de serem relegados a segundo uma visão nacional inclusiva e es- plano outros grandes desafios bra- tratégica; definir objetivos priori- sileiros, tais como: educação, saúde, tários; garantir consistência entre segurança pública e infraestrutura. políticas públicas; e monitorar o A crise de agora pode ser um progresso das ações planejadas. marco para construirmos um novo Tudo isso, sem entrar no detalhe futuro! Esse pensamento martelou das questões para não correr o ris- minha cabeça recentemente, quan- co de se configurar em elemento do visitei o Museu do Amanhã, no centralizador de poder. Rio de Janeiro, e fiquei impressio- Se fortalecido no Brasil, o centro nado com a forma arrojada de sua de governo poderia evitar equívocos arquitetura, e, mais ainda, com as monumentais que nos trouxeram e questões lá expostas, sobre temas trazem prejuízos de bilhões de reais que afetarão as gerações futuras. e grande frustração para a popula- Augusto Nardes De forma semelhante ao que prega ção, em tantos projetos idealizados Ministro do Tribunal de o Museu: “o amanhã pode ser al- e não construídos, além de tantos Contas da União (TCU) terado se agirmos hoje”, penso que outros projetos e políticas públicas, Foto: Divulgação para vencermos os desafios é pre- mal formuladas ou executadas em ciso, com certa urgência, inovar! total desarticulação. São as inovações que sustentam o O TCU, atento à sua missão ins- Neste ano de 2016, o Brasil ex- progresso perene das nações. titucional de aprimorar a Adminis- perimenta uma conjugação de crise Firme nessa crença, tenho bus- tração Pública em benefício da so- política e econômica. Assistimos, cado debater e estimular a utiliza- ciedade, elaborou o "Referencial apreensivos, a uma queda do PIB, de ção de melhores práticas de gover- para avaliação de governança do 3,8% em 2015 e previsão de queda nança em todo o país. Desde 2013 centro de governo" e disponibilizou similar em 2016; desemprego que e 2014, quando presidi o TCU, essas o material a todos os governantes ultrapassa a marca de 11 milhões de inovações vêm sendo estudadas em sua página na internet. Esse re- trabalhadores; déficit fiscal desde com a Organização para Coopera- ferencial identifica e consolida boas 2014; e relação Dívida Bruta/PIB que ção e Desenvolvimento Econômico práticas nacionais e internacionais pode chegar a 80% em 2017. (OCDE) e outras instituições de relacionadas ao centro de governo. Nesse cenário desfavorável, é controle dos países mais desenvol- Inovar é oportunidade do mo- legítimo, raciocinando sob o as- vidos do planeta. mento! Assim como dizia a inteli- pecto econômico, que o país se No momento, venho defenden- gência de Albert Einstein, "não po- debruce sobre o urgente desafio do, junto ao novo governo, a im- demos pretender que as coisas mu- de racionalizar os gastos públicos plantação de uma instituição for- dem, se sempre fazemos o mesmo. para resgatar a estabilidade fiscal talecida, capaz de olhar a totali- É na crise que nascem as invenções, e impedir uma explosão do nosso dade da ação governamental e os descobrimentos e as grandes es- endividamento, recuperando, as- assegurar coerência e coesão às tratégias. É na crise que aflora o me- sim, a confiança da população e diversas políticas públicas execu- lhor de cada um".

5050brasilbrasil novembronovembro de de 2016 2016 opinião

Crise ou oportunidade Mais inovação, para o futuro? mais colaboração A atuação do MBC na transformação Banco Interamericano de Desenvol- sistematizado, por meio de acompa- do setor público tem sido fundamental vimento e a Fundação Brava, é um nhamento direto nas escolas e nas para aprofundar o conhecimento e banco de dados das melhores práticas salas de aula, além da execução de em gestão pública no país. O ineditis- diversas estratégias de intervenção. acesso a tecnologias de gestão mo está na construção de uma me- O percentual de alunos no nível todologia para transferência de expe- recomendado de proficiência em lei- riências de sucesso. Entendemos que tura e escrita saltou de 48,6% em 2006 o maior desafio para os governos ocor- para 88,9% em 2011. O IDEB dos anos re na etapa de implantação. Para isso, iniciais, que em 2007 era 4,9, chegou foi desenvolvido um framework apli- a 6,2 em 2013. Esse resultado garantiu cado a casos reais e temáticos que a replicação da iniciativa para 99% dos apresenta a execução detalhada de municípios mineiros, em um forte tra- melhores práticas no setor público balho de articulação da Secretaria de com ferramentas de apoio para as eta- Educação do Estado. Para entender o pas; e a tecnologia suporta todo esse processo e impacto do projeto em ní- processo. Por meio da plataforma, vel municipal, olhamos de perto para também apoiamos os gestores públi- Janaúba, pequena cidade no norte do cos na execução e acompanhamento estado. Além dos resultados já obtidos, do processo de implantação com um é clara a mudança cultural que está Tatiana Ribeiro Superintendente do sistema de gerenciamento de projetos transformando a educação no muni- Movimento Brasil Competitivo integrado ao site. cípio. O foco no conteúdo pedagógico Investir no compartilhamento de e no aprendizado do aluno é o diferen- Foto: Divulgação conhecimento na gestão pública é o cial que vem estimulando a adesão a caminho para fomentarmos a trans- essa metodologia. formação. Neste primeiro ciclo, prio- Nosso sonho não para por aí. Nos últimos anos, o número de rizamos duas áreas temáticas: o equi- Queremos contribuir para que todos experiências inovadoras e bem-suce- líbrio fiscal, com a implantação da os municípios brasileiros tenham aces- didas para a melhoria da gestão públi- nota fiscal eletrônica de serviços; e a so ao melhor do que vem sendo fei- ca cresceu significativamente. Estados educação, com a melhoria da alfabe- to no setor público. E, para chegarmos e municípios têm buscado ferramentas tização. Um exemplo concreto que foi lá, contamos com você, leitor. É com para a eficiência na gestão como res- disseminado para mais de 800 muni- o seu apoio que garantiremos uma posta à demanda por maior qualidade cípios comprovou que nosso objetivo plataforma cada vez mais completa, dos serviços prestados ao cidadão. era tangível. O caso do Programa de interativa e inovadora. Precisamos A atuação do Movimento Brasil Intervenção Pedagógica (PIP) do go- conhecer as melhores práticas im- Competitivo (MBC) na transformação verno de Minas Gerais fez com que o plantadas na administração pública do setor público tem sido um pilar estado alcançasse o primeiro lugar do para que, ano a ano, novas metodo- fundamental para aprofundar o co- IDEB dos anos iniciais em 2013, a par- logias aplicadas sejam criadas, com nhecimento e acesso a tecnologias de tir de um novo modelo de gestão pe- base nos benchmarks brasileiros. gestão. Porém, para chegar a um gran- dagógica. Com o lema “Toda criança Acesse www.maisgestao.org.br, com- de número de municípios brasileiros, lendo e escrevendo até os 8 anos de partilhe experiências de sucesso, di- precisávamos usar a tecnologia como idade”, o PIP mudou o cenário da edu- vulgue para a sua rede. ferramenta-chave. A plataforma Mais cação mineira com sua implantação Faça parte dessa transformação. Gestão nasce com essa missão. O pro- em escolas estaduais e municipais. O Um Brasil melhor só se constrói com jeto, desenvolvido em parceria com o processo envolveu monitoramento o apoio de todos nós.

51 Fotos: Tiago Fotos: Mendes Por um novo Brasil

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Promovido pelo MBC, 14ª edição do declarou. Segundo ele, para que te- o 14º Congresso Brasil Congresso Brasil mas assim avancem, os estados Competitivo reuniu Competitivo, pro- prescindem de decisões que depen- movido pelo Mo- dem da Câmara dos Deputados. governadores, vimento Brasil "Essa caminhada nos fez entender parlamentares, Competitivo que precisávamos incluir outros gestores públicos, (MBC), foi palco atores no processo", acrescentou de mais um avan- Gastal, ao explicar por que o deba- especialistas e ço rumo às necessárias mudanças do te se estendeu ao Legislativo e, tam- lideranças da iniciativa Estado brasileiro. O presidente da bém, ao Executivo. privada para debater República em exercício, Rodrigo Maia, Participaram da abertura do anunciou a criação de uma Comissão evento os governadores de São Pau- três assuntos Especial destinada a analisar, estudar lo, Geraldo Alckmin, e do Rio Gran- fundamentais para a e formular propostas relacionadas à de do Sul, José Ivo Sartori. Já os che- construção de um novo reforma do Estado. "Não é só um te- fes do Executivo do Espírito Santo, ma que interessa às corporações, mas Paulo Hartung, e do Distrito Federal, país: a digitalização do a toda sociedade", declarou. Durante Rodrigo Rollemberg, marcaram pre- governo e da economia, o encontro, realizado no dia 21 de sença entre os debatedores do ter- a agenda de reformas setembro, em São Paulo, Maia de- ceiro painel, "Desafios da Gestão fendeu uma agenda focada em temas Estadual". "A preocupação de todos do Legislativo federal e emergenciais, fazendo referência às nós é transformar o Estado brasilei- a importância de pautas que tramitam no Congresso ro, envolvendo União, estados e mu- indicadores na Nacional. "Não podemos fazer tudo nicípios. Temos o desejo de não ape- de uma vez, e sim passo a passo." nas melhorar a gestão, mas de ofe- elaboração de políticas A ideia, segundo ele, é discutir recer serviços públicos melhores", públicas para enfrentar no âmbito legislativo federal uma disse o governador gaúcho. os desafios dos série de propostas consolidadas pe- Ao comentar o tema do primei- lo Pacto pela Reforma do Estado – ro painel, "Brasil Digital: como avan- estados brasileiros iniciativa lançada em setembro de çar na digitalização da economia?", 2015 pelo MBC e que conta hoje com Alckmin salientou a importância da Por Ricardo Lacerda a adesão de 19 governos estaduais. tecnologia para melhorar a oferta O presidente da Câmara dos Depu- de serviços à população. Ele lem- tados participou do segundo painel brou, por exemplo, que o Brasil dis- do dia, intitulado "A retomada do põe de boas referências no tema, crescimento: agenda legislativa e citando o sucesso do Poupatempo reforma do Estado". em São Paulo. A ferramenta, que A decisão anunciada por Maia também é colocada em prática na foi saudada pelo presidente execu- Bahia, funciona como uma central tivo do MBC, Claudio Gastal. "Ter eletrônica de serviços ao cidadão. uma Comissão vai significar a pos- "É o serviço mais bem avaliado do sibilidade efetiva de mudanças ne- estado", disse Alckmin. cessárias, identificadas durante as O governador paulista relatou discussões do Pacto, como a refor- também a experiência paulista com ma da Previdência e o processo de a emissão de cédulas de identidade contratação de servidores públicos", digitalizadas, produzidas a partir da

53 coleta biométrica de dados – com itens de segurança que dificultam fraudes. Segundo ele, o novo pro- cesso não apenas acelera a emissão do documento como permite a criação de um banco de dados que ajuda as polícias no esclarecimen- to de crimes. "Há pouco tempo, houve o sequestro da sogra do Ber- nie Ecclestone, o chefão da Fór- mula 1. Os bandidos fugiram com o carro da vítima e, depois que o abandonaram, a polícia fez a perí- cia técnica. Com um pedacinho de digital, acessamos todas as infor- mações sobre o criminoso, um ex- -presidiário que em 24 horas já estava preso", relatou Alckmin. Em sua 14ª edição, o Congres- so Brasil Competitivo discutiu ca- minhos para que o país retorne aos trilhos do crescimento sustentável. Confira, a seguir, um resumo dos três painéis.

brasil digital: Como avançar Presidente da República em exercício, Rodrigo Maia na digitalização anunciou a criação de uma Comissão Especial para da economia? estudar propostas destinadas à reforma do Estado

PARTICIPANTES: Natália Marcassa, subchefe de Articulação e a partir do banco de dados de elei- Monitoramento da Casa Civil da Digitalizar Presidência da República é preciso tores da Justiça Eleitoral. A inten- Imprescindível para aumentar ção é vincular o projeto ao gabi- Francisco Gaetani, presidente a competitividade na esfera públi- nete da Presidência da República, da Escola Nacional de Administração Pública ca, a digitalização está entre as tomando como inspiração mode- prioridades do presidente Michel los adotados em países como Es- Cristina Palmaka, presidente da SAP Brasil Temer. A ideia do governo é colo- tados Unidos e Índia. car em prática um amplo programa A iniciativa pretende dar maior Elton Borgonovo, de digitalização dos serviços pú- fluidez aos serviços, alinhando-os presidente da Motorola Solutions blicos a partir da reforma admi- a práticas de vanguarda. Além da MEDIAÇÃO: nistrativa que está sendo condu- agilidade, a tecnologia pode ajudar Claudio Gastal, presidente zida pela Casa Civil. Batizada de a mitigar gastos burocráticos. "O executivo do MBC "governo virtual", a ideia é conso- serviço público online chega a cus- lidar um cadastro único de cidadãos tar 2,73% do valor do presencial. beneficiários de serviços públicos Além de mais fácil, o digital é mais

54 brasil novembro de 2016 congresso dos serviços públicos apresentada a Temer em julho deste ano por Jor- ge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho Superior do MBC, e Claudio Gastal, presidente execu- tivo do MBC. Na ocasião, também esteve presente o ministro-chefe da Casa Civil, . Um exemplo do que já vem fun- cionando de maneira exitosa no uso da tecnologia remete a Minas Gerais. No estado, as soluções implemen- Em Minas Gerais, tadas pela SAP identificaram a pos- as soluções sibilidade de um enxugamento de implementadas possibilitam um cerca de R$ 50 milhões nos custos enxugamento de da folha de pagamento. "Juntas, as iniciativas privada e pública podem transformar o país nos próximos R$ anos", garantiu Cristina Palmaka, 50 milhões presidente da SAP Brasil. Na visão na folha de da executiva, o Brasil deve enxergar pagamento a tecnologia como algo muito além do e-Gov. Para isso, é preciso traba- lhar fortemente no incentivo de pes- quisa e desenvolvimento, além de colocar em prática conceitos inova- dores, como internet das coisas (IoT, na sigla, em inglês) e big data. Por fim, Elton Borgonovo, pre- sidente da Motorola, salientou que o Brasil é considerado pela multina- cional um mercado altamente es- tratégico, em que, apesar da crise, os investimentos não cessaram. Ain- da assim, ele salientou a importân- cia de que haja infraestrutura dis- ponível e suficiente para a obtenção barato", informou Natália Marcas- rar esse quesito. "Só existem duas de melhores resultados: "Não se sa, subchefe de Monitoramento da forças capazes de se contrapor à pode trazer esses serviços se não Casa Civil, citando dados da Orga- burocracia: aliar empresários e houver qualidade para fazê-los". nização para a Cooperação e De- classe política. senvolvimento Econômico (OCDE). Precisamos muito Segundo ela, o Brasil já conta dessa expertise", com referências na área. Entre elas, disse ele. A ideia do governo é colocar em a arrecadação de tributos e o pro- As novas orien- prática um amplo programa de cesso eleitoral, em que a urna ele- tações tecnológi- trônica é considerada benchmark cas do governo es- digitalização dos serviços públicos a mundial. Já Francisco Gaetani, pre- tão em linha com partir da reforma administrativa que sidente da Escola Nacional de Ad- o Projeto Brasil ministração Pública (Enap), pregou 100% Digital, su- está sendo conduzida pela Casa Civil a sinergia entre o Estado e as em- gestão de progra- presas de tecnologia para aprimo- ma de digitalização

55 A retomada do crescimento: agenda legislativa e reforma do estado

PARTICIPANTES: Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados e, na ocasião, presidente da República em exercício Aod Cunha, economista Fernando Schüler, cientista político e professor no Insper MEDIAÇÃO: Thiago Peixoto, O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deputado federal salientou a importância da tecnologia para melhorar a oferta de serviços à população

A caminho das reformas cracia e produtividade no setor pú- lativa, como a PEC do Teto e a re- Mudança. A palavra de ordem blico. Por isso, sugerimos a criação forma da Previdência, serão decisivas do atual momento brasileiro deu o de uma Lei de Responsabilidade Ge- para os próximos anos. A crise atin- tom do painel que tratou da agenda rencial no Setor Público Brasileiro." ge nossos governos em todas as es- legislativa nacional. Fundamentais A proposta do Insper, assinada feras", afirmou. Além de falar das para uma nova dinâmica do país, por Schüler e outros dois professores reformas vinculadas à agenda de essas alterações tocam em temas – Sandro Cabral e Sérgio Lazzarini –, urgência do Congresso, o parlamen- delicados, como o funcionalismo objetiva retomar a discussão de um tar destacou que é fundamental pen- público e a Previdência. O primeiro projeto de lei que tramita no Con- Para o Insper, sar no futuro do Estado de modo passo do processo, porém, é revisar a gresso desde 1998. "Ao contrário do problemas da paralelo às votações de curto prazo. mentalidade da sociedade em relação senso comum, boa parte dos pro- gestão pública Um exemplo disso é o fato de decorrem às funções do Estado. "Vendeu-se a blemas de nossa gestão pública não da ausência que caberá ao Congresso mobilizar ideia de que o Estado pode tudo, mas decorre da impossibilidade de se co- de um marco os atores sociais e elucidar o verda- ele não pode", defendeu o economis- brar e demitir funcionários com de- legal que dê deiro caráter das reformas junto à segurança para ta Aod Cunha, ex-secretário da Fa- sempenho aquém do esperado e medidas que população. "Não se trata da retirada zenda do Rio Grande do Sul. desejado, mas sim da ausência de aumentem a de direitos, mas da garantia a direi- O cientista político Fernando um marco legal que dê segurança eficiência da tos mínimos", explicou Aod Cunha. entrega de Schüler, professor no Insper, apro- para medidas que aumentem a efi- serviços Mediador do debate, o deputado fundou a ideia chamando a atenção ciência da entrega de serviços pú- públicos federal Thiago Peixoto pediu uma para o peso excessivo da máquina blicos", afirma o documento. postura mais assertiva das esferas pública. "É uma espécie de operação Em sua explanação, Rodrigo Maia legislativas quanto ao tema. "Hoje, bariátrica. A obesidade do Estado foi taxativo ao defender a aprovação Câmara e Senado se prendem mais precisa de um corte", comparou. O da PEC 241, a Proposta de Emenda naquilo que os separa do que naqui- enxugamento, diz ele, deve ser acom- Constitucional que congela gastos lo que pode uni-los", declarou o par- panhado pela implementação de públicos com a finalidade de con- lamentar, que já foi secretário de mecanismos de eficiência. "Precisa- tornar as dificuldades da economia. Planejamento, Educação e Desen- mos introduzir critérios de merito- "Algumas votações na agenda legis- volvimento de Goiás.

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Desafios da Gestão Estadual

PARTICIPANTES: Paulo Hartung, governador do Espírito Santo Rodrigo Rollemberg, governador do Distrito Federal Martin Raiser, diretor do Banco Mundial para o Brasil MEDIAÇÃO: Claudio Porto, diretor-presidente e fundador da Macroplan

A verdade dos Hartung, a solução passa diretamen- indicadores te pela revisão dos atuais moldes Dados do estudo "Desafios dos das aposentadorias concedidas aos Estados", elaborado pela consultoria servidores do setor público. "Nin- Macroplan em parceria com o MBC, guém pode continuar se aposentan- estampam os elementos que cons- do com 49 anos e recebendo ven- tituem os principais desafios dos es- cimento integral", destacou. "Refor- tados brasileiros. E os obstáculos a mar a Previdência é, acima de tudo, serem superados pelos gestores não pensar no futuro." são poucos. Na visão do governador Nesse sentido, a importância do do Espírito Santo, Paulo Hartung, as estudo encabeçado pela Macroplan dificuldades vão muito além da atu- – que avaliou dez anos de desempe- al crise econômica. "Não há crise nho dos estados em uma série de conjuntural. O Brasil sofre de um indicadores – foi ressaltada pelo di- problema estrutural", apontou. No- retor do Banco Mundial para o Brasil, vamente, o tamanho do Estado tem Martin Raiser. "As decisões políticas implicações diretas na complexida- deveriam ser baseadas em fatos, co- de do quadro. "Os governos perdem mo estes apresentados pela pesqui- 90% do tempo pensando em como sa", aconselhou, complementando aumentar a receita para pagar a fo- que as evidências trazidas pelo tra- lha", afirmou Rodrigo Rollemberg, balho serão fundamentais para con- governador do Distrito Federal. vencer a sociedade a entrar no de- A situação de Rollemberg ilustra bate sobre as reformas. a encruzilhada na qual a imensa maioria dos governadores se encon- Leia mais sobre o estudo "Desa- tra. "Gastamos 77% do nosso orça- fios dos Estados" na reportagem da mento com pessoal", revelou. Para página 28.

57 Simplificar Mais do que rever o tamanho das alíquotas, o Brasil precisa encontrar uma maneira de simplificar o emaranhado de normas e mudanças que rege o sistema tributário nas três esferas de governo – e que impõe ainda mais custos a quem deseja empreender no país Por Andreas Müller e Marcelo Barbosa para sobreviver

58 brasil novembro de 2016 competitividade

Organização para a deria inspirar um amplo debate so- tributárias: é cerca de 2,6 mil horas Cooperação e De- bre a necessidade de se reduzir o de trabalho a cada ano, como cons- senvolvimento Eco- peso dos tributos que recaem sobre tata o Banco Mundial na edição mais nômico (OCDE) di- os contribuintes brasileiros. Ou, ao recente do relatório Doing Business vulgou, em março menos, motivar uma reflexão sobre in . É como se cada empresário deste ano, um es- como ampliar e melhorar os serviços perdesse 108 dias por ano apenas tudo com uma con- que o Estado oferece em troca de tentando entender, adaptar-se e cum- clusão desalenta- tanta "generosidade compulsória". prir o emaranhado de regras. Nesse dora: o Brasil é o país com a maior A verdade é que os números da quesito, não resta sequer o consolo carga tributária da América Latina. OCDE contam apenas uma parte da comparação com países menos ANa média, aponta a organização, do problema. Na prática, os custos desenvolvidos: segundo o Banco Mun- cada brasileiro – dos mais simples que o setor público impõe à popu- dial, o Brasil tem o pior desempenho cidadãos às maiores empresas do lação são bem maiores do que aque- de todos no quesito "tempo gasto país – deixa nos cofres públicos o les expressos nas guias de recolhi- com tributos" – em uma lista com equivalente a 33,4% de todas as ri- mento que cada brasileiro tem o nada menos que 189 países. quezas que produz no decorrer de dever de pagar. São custos difíceis "Dificilmente você encontrará um ano. Por si só, o percentual po- de mensurar – muitas vezes, sequer um país com um sistema tributário aparecem na contabilidade das em- tão confuso quanto o Brasil", diz o presas –, mas afetam a competiti- economista Bernard Appy, diretor vidade de todo e qualquer empre- do Centro de Cidadania Fiscal – or- endimento aberto no país. Basica- ganização que propõe soluções pa- mente, esses custos são os gastos ra simplificar a forma como os bra- necessários para compreender e sileiros pagam seus impostos. Ele atender ao emaranhado de normas acredita que vai demorar até o Bra- tributárias e burocráticas dos go- sil obter algum avanço na busca da vernos federal, estadual e municipal. "cidadania fiscal". Em 2008, quan- Normas que, quando sobrepostas, do ocupava o cargo de secretário formam uma espécie de imposto executivo e de política econômica "oculto". Contabilmente invisível, do Ministério da Fazenda, ele che- mas impossível de ser ignorado nos gou a apresentar uma proposta de debates sobre o futuro da Reforma reforma que naufragou no Congres- Tributária no Brasil. so Nacional. "Os estados ainda não O tamanho desse imposto ocul- estavam maduros para as mudan- to não é pequeno. Começa pelo tem- ças e, naquele momento, o proje- po que as empresas brasileiras levam to não era uma prioridade de go- apenas para cumprir suas obrigações verno", avalia .

Cada brasileiro deixa nos cofres públicos o equivalente a 33,4% de todas as riquezas que produz no decorrer de um ano

59 O CONTRAPONTO DA RECEITA os compromissos, as empresas têm A Receita Federal contesta o resultado apontado para o Brasil de manter estruturas e equipes de- no relatório Doing Business do Banco Mundial. Baseada em um dicadas à tarefa de destrinchar a levantamento paralelo, a Receita apurou que o tempo gasto com legislação e as prováveis interpre- o pagamento de impostos no país é de apenas 600 horas por ano tações que o Fisco dará a elas. Um – bem menos do que as 2,6 mil horas calculadas pela instituição estudo da consultoria Deloitte mos- internacional. A diferença, no entanto, não chega a ser digna de tra que, além da carga tributária em alento. Considerando-se somente o resultado obtido pela Receita, si, as empresas brasileiras com fa- o Brasil ainda ocuparia o 178° lugar no ranking dos países em que turamento de até R$ 100 milhões mais se perde tempo pagando impostos, à frente apenas da Repú- têm de gastar até 3,53% de sua blica do Congo, Senegal, Camarões, Equador, Chade, Mauritânia, receita com a manutenção de uma Venezuela, Vietnã, Líbia, Nigéria e Bolívia. área de compliance tributário.

A cada dia, dutos Industrializados (IPI), os Pro- 31 novas regras gramas de Integração Social e de Em parte, a complexidade tribu- Formação do Patrimônio do Servidor tária do Brasil nasce no próprio sis- Público (PIS/Pasep) e a Contribuição tema legislativo, que não hesita em para Financiamento da Seguridade criar novas leis e emendas sobre o Social (Cofins). Nos estados, há o tema. Desde a promulgação da Cons- ICMS – com 27 legislações distintas. tituição de 1988, foram editadas na- Nos municípios, o tributo é o ISS. À da menos que 352 mil normas sobre exceção do IPI, todos os demais im- impostos da União, estados e muni- postos são cumulativos. Ou seja, são cípios brasileiros, segundo um estu- cobrados em todas as etapas da ca- do publicado em outubro de 2015 deia de produção e incidem uns so- pelo Instituto Brasileiro de Planeja- bre os outros, gerando o famoso mento Tributário (IBPT). É o equiva- efeito cascata. O montante de tri- lente a 31 mudanças fiscais por dia butos, claro, é transferido ao último – o que resulta não só em dificuldades, elo da cadeia – o consumidor final, mas também em insegurança jurídi- que sofre para estimar quanto de ca. O IBPT calcula que, na média, ca- impostos está pagando. De quebra, da empresa brasileira siga 3,6 mil essas taxas prejudicam a competi- normas diferentes. O custo para tividade de todas as empresas que obedecê-las chegaria a um total de compõem essa cadeia produtiva. R$ 50 bilhões, aí incluídas desde a Com um dos sistemas tributá- contratação de consultorias e profis- rios mais labirínticos do mundo, o Dificilmente você sionais para interpretar as normas até Brasil inteiro sofre para ganhar es- encontrará um país a aquisição de material e equipamen- paço nos fluxos de comércio inter- tos necessários para se manter em nacional, que são vitais para gerar com um sistema dia com as regras do Fisco. empregos e renda no plano domés- tributário tão Só que os novos regramentos se tico. Envoltas em uma infinidade confuso quanto baseiam em um sistema tributário de regulamentos, normas, com- já anacrônico. Basta ver o exemplo promissos e exceções às regras, as o Brasil. do setor de bens e serviços: as em- empresas brasileiras são obrigadas Bernard Appy, presas que atuam nesse mercado a dedicar energia e recursos a ta- diretor do Centro atendem a nada menos que quatro refas que nem sempre melhoram de Cidadania Fiscal compromissos diferentes. Na esfe- sua capacidade de competir. Por ra federal, há o Imposto sobre Pro- exemplo: para cumprir com todos Foto: Divulgação

60 brasil novembro de 2016 Qual o custo do compliance competitividade tributário para as empresas O peso da carga Faturamento médio da empresa Custo com compliance tributário tributária no Brasil Até R$ 100 milhões 3,53% Os custos ocasionados pelas dis- De R$ 100 milhões a R$ 1 bilhão 0,48% torções no sistema tributário bra- sileiro se somam à já pesada carga Acima de R$ 1 bilhão 0,2% de impostos que incide sobre alguns setores-chave da economia. Veja Fonte: Deloitte alguns exemplos.

A legislação fragmentada é ou- Regras maleáveis tro problema: ela gera discordân- As mudanças na interpretação Setor...... % de tributos sobre faturamento cia de interpretações entre empre- de legislações também resultam em sas e o Fisco, o que resulta em um insegurança a quem as produz. Não Energia elétrica...... 38,65% número mais elevado de disputas é raro o Fisco identificar um novo judiciais. "Isso resulta em mais cus- aspecto de determinada norma e Comunicações...... 36,97% tos e em insegurança jurídica – o comprometer a competitividade e Indústrias...... 35,47% que, certamente, reduz a taxa de a sustentabilidade de um investi- investimentos", pondera Appy. mento já em andamento. Exemplo Combustíveis...... 32,74% Além disso, há distorções alo- disso é a construção civil. Desde Transportes...... 29,56% cativas. Além do número excessi- 2009, as construtoras que atuam no vo de normas, há também uma Programa Minha Casa Minha Vida Comércio...... 23,23% grande quantidade de exceções e podiam optar por um Regime Espe- Demais serviços...... 23,83% regras especiais criadas para be- cial de Tributação (RET). A norma neficiar setores específicos. Esses reduzia de 4% para 1% a soma do Instituições financeiras...... 17,58% incentivos, muitas vezes, premiam Imposto de Renda Pessoa Jurídica, Administração de bens...... 14,94% setores ineficientes ou atraem in- Contribuição Social sobre o Lucro vestimentos para projetos de cur- Líquido, PIS e Cofins sobre imóveis Agropecuária e extrativista...... 14,29% ta duração – que perdem força e avaliados em até R$ 100 mil. Em Micro e pequenas empresas...... 9,78% até deixam de existir tão logo o dezembro de 2014, no entanto, a incentivo é suspenso. Coordenação-Geral de Tributação Fonte: Instituto Brasileiro de Planejamento As distorções geográficas, um (Cosit) da Receita Federal publicou e Tributação (IBPT) dos efeitos colaterais da guerra um parecer com um novo entendi- fiscal – quando estados visam a mento: caso um empreendimento atrair setores distantes de sua vo- tivesse uma única unidade acima de cação econômica –, são outro em- R$ 100 mil, não seria possível optar pecilho. Um exemplo está na mo- pelo RET para suas demais unidades. agem de trigo. Embora Paraná e Ou seja: muitas construtoras her- Rio Grande do Sul sejam os prin- daram um passivo referente ao que cipais produtores do cereal, a mo- já haviam produzido. agem se concentra em São Paulo "O setor segue uma regra, que por causa dos benefícios. Em con- sempre foi assim. Então um burocra- trapartida, os gaúchos se utilizam ta tem uma interpretação diferente de incentivos para atrair monta- e surge um fiscal cobrando o passivo doras de veículos. "Com estas dis- de todo o anterior, que já foi comer- torções, nem sempre a produção cializado. Não há segurança jurídica", ocorre no lugar onde é mais efi- reclama José Carlos Martins, presi- ciente, o que gera uma quebra de dente da Câmara Brasileira da Indús- produtividade", explica. tria da Construção (CBIC).

61 Retardatário quando conseguir A lei federal das organizações nas reformas concatenar a refor- O primeiro passo para atenuar a ma tributária com sociais foi severamente contestada complexidade do sistema tributário outras reformas es- brasileiro está em escolher um ou truturais – tais co- nas últimas duas décadas. A mais modelos de desenvolvimento. mo a da previdência validação dos contratos, pelo STF, Diversos países estão avançando na e a do sistema po- busca de soluções para os entraves lítico. "Tem que sen- só ocorreu em abril de 2015 tributários ao crescimento. Em 2015, tar à mesa e pensar a Comissão Econômica para a Amé- no coletivo e não no individual", tados, impulsione o crescimento do rica Latina e o Caribe (Cepal) divulgou garante ele. Há espaço para o con- país em até 2% ao ano. um relatório destacando iniciativas senso. Bernard Appy, do Centro de A transformação não foi simples. bem-sucedidas de reforma na região. Cidadania Fiscal, destaca que as Ao todo, a Índia passou mais de dez O Chile, por exemplo, criou dois sis- empresas já se convenceram de que Na Índia, anos em discussões até chegar ao temas de tributação para as empre- os regimes especiais e os incentivos pelo menos ambiente propício para a aprovação sas e estabeleceu uma nova tributa- temporários tornam o sistema ain- da reforma tributária. Agora, a pro- tributos ção sobre lucros de capital em bens da mais complexo – com prejuízos 12 posta precisa receber o sinal verde serão imóveis para setores de alta renda. que não compensam os ganhos substituídos dos legislativos de metade dos es- Honduras elevou a alíquota geral do temporários. "Já os estados perce- pelo Imposto tados – e muitos deverão pleitear IVA, instituiu um imposto mínimo beram que a guerra fiscal perdeu sobre Bens compensações por perdas durante e Serviços. sobre a renda e passou a taxar divi- eficácia e virou uma prática fratri- A expectativa a transição ao novo sistema. Tam- dendos. Além delas, outras iniciativas cida”, aponta. é de que a bém é preciso regulamentar a alí- semelhantes, segundo a Cepal, vi- Uma experiência que vem sendo tarifa única quota do GST. Mesmo assim, o go- impulsione o nham evoluindo na Colômbia, Equa- observada pelos especialistas é a crescimento do verno indiano trata a aprovação no dor, Peru e Venezuela. da Índia. Com uma economia ampla país em até Parlamento como uma conquista Enquanto isso, o Brasil ainda não e diversificada, além de um sistema histórica. "Estamos nos livrando do decidiu para onde seguir. "Nossa tributário historicamente complexo, terrorismo dos impostos", afirmou diferença em relação a países como o país asiático acaba de aprovar em % o primeiro-ministro, Narendra Modi. 2 ao ano o Chile e a Índia é a falta de vonta- seu Parlamento uma importante de política. Aqui, nenhum governo proposta de reforma. Pelo menos 12 A alternativa vai tomar a iniciativa de mudar, até tributos serão substituídos pelo Im- do IVA porque falta pressão popular", ana- posto sobre Bens e Serviços (GST, Outro caminho apontado pelos lisa João Olenike, presidente do IBPT. na sigla em inglês). A expectativa do analistas é a adoção de um Imposto Já Martins, do CBIC, acredita que o governo indiano é de que a tarifa sobre Valor Agregado (ou IVA). Utili- país só encontrará um caminho única, a ser implantada em 29 es- zado em mais de 150 países, esse tri-

A Olimpíada regulatória...

As diferentes esferas com poder para criar ou extinguir taxas no Brasil > A Constituição Federal > O Código Fiscal Brasileiro IPI PIS/Pasep > As leis complementares Imposto sobre Produtos Programa de Integração Social > As leis ordinárias Industrializados: e Programa de Formação do > As resoluções do Senado mais tradicional imposto Patrimônio do Servidor > As leis estaduais e municipais federal, incide sobre qualquer Público: incidem sobre a folha Na esfera FEDERAL esfera Na tipo de produto manufaturado de pagamento. Os recursos O resultado no país – de calçados a arrecadados formam um é uma computadores. O valor da fundo destinado a financiar maratona alíquota depende do setor em mecanismos de proteção ao fiscal questão. Recentemente, tem trabalhador. O PIS se destina sido usado em programas de aos trabalhadores do setor Os principais impostos incentivo e isenção para privado, enquanto o Pasep no caminho de quem setores considerados exerce a mesma função entre tem o desafio de produzir. estratégicos pelo governo. os servidores públicos.

62 brasil novembro de 2016 buto geralmente vem na forma de uma transformações profundas em uma tarifa única, com pouca margem para única proposta: "É inviável. Não há isenções e excepcionalidades. Tem bom condições políticas para isso, pois desempenho arrecadatório e, além são várias dimensões e sempre ha- competitividade disso, evita o efeito cascata – já que verá resistência. Temos que fatiar o incide apenas sobre o valor efetiva- elefante para evoluir", afirma ele. mente agregado ao produto ou ser- Mesmo assim, Castelo Branco viço em cada etapa da produção. vê possibilidade de implementação “A adoção do padrão IVA teria do IVA em duas dimensões. Uma na como efeito positivo a melhoria esfera federal, substituindo o PIS/ do perfil dos investimentos no pa- Cofins. Outra ocorreria na esfera es- ís. Seria um impacto de longo pra- tadual, reduzindo as distorções en- zo. É possível projetar um incre- tre as diversas legislações de ICMS mento de 1% na taxa de cresci- e sua cumulatividade com o PIS/Co- mento do país em um período de fins, o IPI e o ISS. “Mesmo que se dez anos”, afirma Appy. Segundo mantenham diferenças entre os es- Nossa diferença em o economista, o ideal seria realizar tados, é importante que o ICMS te- uma transição gradual nesse pro- nha uma base semelhante, que sim- relação a países cesso, tirando de cena lentamente plifique o tributo”, avalia. como o Chile e a o sistema atual e ampliando a apli- Como toda discussão sobre re- Índia é a falta de cação do IVA até uma completa forma tributária, o IVA não obtém reestruturação do sistema tribu- consenso. Alguns setores são mais vontade política. tário brasileiro. “É uma alternativa cautelosos – é o caso da construção Aqui, nenhum para que se possa investir em uma civil, que teme perdas com o IVA em governo vai tomar a reformulação mais profunda que virtude da restituição dos créditos teria o mesmo custo político que tributários ao longo das etapas de iniciativa de mudar, medidas pontuais.” produção. Unanimidade, mesmo, até porque falta somente uma: já passou da hora de pressão popular. "Fatiar o país resolver os problemas tribu- o elefante" tários. "O ponto de partida é juntar João Olenike, Gerente executivo de política essa às demais reformas que o país presidente do Instituto econômica da Confederação Nacio- precisa e firmar um pacto. Temos Brasileiro de Planejamento e nal das Indústrias (CNI), Flávio Cas- que sentar à mesa e pensar no co- Tributação (IBPT) telo Branco avalia que dificilmente letivo, não mais no individual", des- o país conseguiria implementar taca Martins, da CBIC. Foto: Divulgação

IOF ICMS ISS Imposto sobre Imposto sobre Circulação Imposto sobre Operações Financeiras: de Mercadorias e Serviços: Serviços: é cobrado incide sobre todas as incide sobre a pelas prefeituras. O operações financeiras movimentação simples imposto incide sobre a realizadas no país, das de mercadorias e outros prestação de qualquer Na esfera estadual esfera Na municipal esfera Na compras com cartão de serviços. O problema é tipo de serviço, não crédito até as transferências que as alíquotas e formas importa qual o setor entre instituições bancárias. de cobrança variam de atividade da Por meio da arrecadação muito de um estado para empresa. As alíquotas desse imposto, o governo outro. Essa variação gera também variam de tem como saber como está dificuldades para as acordo com o a demanda e a oferta de empresas que querem município em que o crédito no Brasil. atuar em todo o país. serviço é prestado.

63 bússola

Alavancar o desenvolvimento digitalmente empoderada e uma Digital exigirá um diálogo perma- público e privado no Brasil por meio economia do conhecimento. A agen- nente entre Congresso Nacional, da digitalização da economia: esse da digital da Alemanha que tem autoridades locais, sociedade civil, é o propósito do Brasil Digital, pro- papel fundamental na condução da indústria e academia. Esse novo ce- grama em desenvolvimento pelo transformação digital do país tam- nário pede um novo arcabouço re- Movimento Brasil Competitivo bém é um exemplo relevante. O gulatório e normativo, atualmente (MBC) em parceria com o setor chamado "Argentina Emprende" é construído a partir de relações ana- empresarial e o governo federal. outra iniciativa expressiva. Criado lógicas. Também deverão ser repen- O modelo tem como objetivo levar na gestão do presidente Mauricio sados temas como compras públi- à prestação de serviços públicos Macri, ele permite que os empre- cas, governança e segurança da in- de melhor qualidade ao cidadão e endedores abram uma empresa pe- formação, além das relações de impulsionar a produtividade no la internet em até 24 horas – in- trabalho dos setores público e pri- setor privado. cluindo a inscrição no Afip (corres- vado. Para se adaptar à conjuntura Entre as referências está o Di- pondente ao CNPJ brasileiro) e a econômica do século 21, o Brasil gital India que tem como visão trans- abertura de conta bancária. precisará entender que o presente formar o país em uma sociedade Avançar em direção ao Brasil e o futuro são digitais.

Governança do programa Programa Brasil Digital tem o propósito de criar um país onde todos tenham ao ambiente regulatório e normatizações alcance o poder da transformação digital

digitalização no digitalização no setor público setor privado

força de trabalho digital

inovação e empreendedorismo digital

infraestrutura digital

64 brasil novembro de 2016

Fotos: arquivo pessoal arquivo Fotos:

Com 42 anos de experiência na Fiat, Belini consolidou a carreira como um dos mais conceituados executivos do setor

66 brasil novembro de 2016 perfil Marinheiro de longas viagens

Ele já foi protagonista na stamos no início rica Latina. Com 42 anos de experi- resolução de crises da década de ência na montadora italiana, Belini históricas do setor 1960, dentro de consolidou a carreira como um dos uma empresa de mais conceituados executivos da in- automotivo brasileiro. Hoje, engenharia e dústria automobilística latino-ame- Cledorvino Belini tem o projetos, em São ricana. Foi, inclusive, presidente da desafio de presidir a divisão Paulo. Nas pare- Associação Nacional dos Fabricantes de Desenvolvimento da Fiat des, há diagra- de Veículos Automotores (Anfavea), Chrysler para a América mas pendurados. entre 2010 e 2013. Latina em meio a um E um garoto, com seus 13 anos, gru- Nascido em 1949, Belini cresceu Eda os olhos nos gráficos, absorvendo nas proximidades do Parque Antár- cenário de retração no todas as informações ali expostas. tica, nome do antigo estádio do consumo de veículos – além Quando não entende algo, logo per- Palmeiras. Da mãe, Benita Cárceres de se destacar na gunta. Se há algum técnico por per- Belini, que era professora no ensino disseminação do Pacto pela to, aproveita para pedir uma ou outra fundamental, herdou o gosto pelos Reforma do Estado, do MBC explicação. E assim, com diligência e estudos. Do pai, o militar Belarmi- discrição, acumula precocemente no Belini, que combateu na Segun- conhecimento sobre organização cor- da Guerra Mundial, absorveu o amor Por José Francisco Botelho porativa e gestão de processos. pelo trabalho bem-feito. "De meu Na época, a função era de office pai recebi valores essenciais à forma boy. Mas a inquietude e o interesse como conduzi minha vida profis- metódico davam sinais de uma men- sional e pessoal. Ele me ensinou te que já antecipava amplas e longas valores como ética, responsabilida- navegações. O futuro desbravador de oceanos se chamava Cledorvino Para Belini, é urgente que Belini. Décadas depois do início de seu apren- se utilize o conhecimento e dizado, o garoto chegou longe. Agora, aos 67 a experiência acumulados anos, preside a área de pela gestão empresarial na Desenvolvimento da Fiat Chrysler Automo- administração pública biles (FCA) para a Amé-

67 Precisamos de um novo Plano Real. Mas, desta vez, não ligado à moeda. O essencial é um plano econômico amplo, uma espécie de New Deal brasileiro.

de, respeito e, sobretudo, determi- nação e prazer em trabalhar. Apren- di que o trabalho nos desenvolve, impulsiona e realiza", relembra. A infância na Zona Oeste pau- lista ainda deixou outra marca: a paixão pelo Palmeiras. Quando po- de, vai assistir aos jogos do time no Arena Allianz Parque, em São Paulo. Sob o comando de Belini, a Apesar da ligação afetiva com a ter- produção diária da fábrica da Fiat em Minas Gerais passou de ra natal, Belini hoje vive em Belo 500 para 3 mil carros Horizonte – foi em Minas Gerais, por sinal, que ele começou a escrever um capítulo crucial na história da Fiat no Brasil. Com dois filhos e qua- tro netos, Belini tem dois hobbies carreira que viria a partir daí", conta. deparar com o primeiro grande de- favoritos: colecionar carros antigos Aos 16 anos, aquele jovem pre- safio de sua carreira. "Todo dia é um e levar as crianças da família para coce e meticuloso já conquistara um desafio, naturalmente. Mas alguns passear. E, quando lhe perguntam posto na área de recursos humanos. são mais marcantes que outros", se mudaria algo em sua trajetória Passou por outros setores, sempre lembra. Na época, ele era diretor de pessoal e profissional, não hesita em lidando com gestão de pessoas. En- compras da Fiat Automóveis, em responder: "Faria tudo de novo. Igual". quanto isso, os estudos prosseguiam: Minas Gerais. A localização, pionei- cursou Administração de Empresas ra para a época – a maior parte das Decifrando pela Universidade Mackenzie e, mais indústrias ainda se localizava no cin- tormentas tarde, faria mestrado em Finanças turão paulista –, logo começou a Belini guarda recordações precio- na Universidade de São Paulo (USP). pesar. Dos 600 fornecedores da mon- sas de seu primeiro emprego. Na épo- Quando estava quase terminando tadora, 80% estavam em São Pau- ca, era comum começar a trabalhar a faculdade, veio o primeiro grande lo. Só na logística dos componentes, muito cedo; mas, mesmo nos tempos salto no mundo corporativo: ele par- perdiam-se em torno de US$ 200 em que corria pelas ruas de São Pau- ticiparia, em 1973, de um processo por automóvel. E qualquer problema lo realizando tarefas de mensageiro, seletivo na Fiat. "Naquela época, a com a entrega de peças e compo- o filho da professora jamais negligen- indústria automobilística no Brasil nentes atrasava a produção. ciou a escola. "Meu primeiro trabalho despertava um grande interesse en- Movido pela mesma curiosida- me ajudou a consolidar os valores que tre os jovens: era considerada uma de e pela racionalidade que o ca- recebi em casa e me fez amadurecer indústria de elite e apresentava enor- racterizou desde menino, Belini re- mais cedo. Foquei nos estudos e no me vigor", relembra. solveu investigar como esses gar- trabalho como forma de desenvolvi- Entre as décadas de 1970 e 1980, galos eram enfrentados em outras mento pessoal e como alicerce da Belini foi galgando postos – até se partes do mundo: pegou um avião

68 brasil novembro de 2016 perfil

iStock Photo Contra a crise, experiência

Outra célebre façanha começou a se desenhar em 1994, quando Belini assumiu a Diretoria Co- mercial da Fiat Automóveis no Brasil. O Plano Real trouxera estabilidade à moeda e a economia desabrochava. Mas essas águas generosas tam- bém tinham seus efeitos ocultos. "Por conta do Plano Real, a demanda aumentou rapidamente em todos os setores. Isso levou a um descompas- so. Em 1995, começaram a faltar carros", diz Be- lini. A situação gerava imensas filas de consumi- dores, enquanto o mercado passava a aplicar o ágio – ou sobrepreço. Foi nesse contexto que Belini e sua equipe lan- çaram o sistema conhecido como Mille OnLine – que, apesar do nome, surgiu ainda antes da po- pularização da internet. A expressão online, na época, referia-se à linha telefônica. "O consumi- dor telefonava para a fábrica, através da conces- sionária, escolhia seu carro e a fábrica marcava um dia para entregar. Se o prazo não fosse res- peitado, pagávamos uma multa." A organização de pedidos aumentou a confiança na marca e al- cançou a venda de 200 mil carros pelo sistema. Inovações assim elevaram Belini a uma posi- ção de protagonista na resolução de duas crises e foi para o Japão. Durante 40 dias, históricas do setor automotivo no Brasil. Em tem- estudou a organização da cadeia de pos recentes, contudo, os mares voltaram a ficar produção japonesa. Visitou desde turbulentos – e as tempestades que assolam o grandes montadoras até pequenas mercado são, no mínimo, tão graves quanto a oficinas, e esmiuçou os processos A implantação ressaca de 20 anos atrás. "Vivemos uma crise eco- logísticos conhecidos como "just in do sistema nômica sem precedentes, que reduziu o mercado time" e "kanban". Retornou ao Bra- aumentou a confiança na de forma drástica. A indústria chegou a vender 3 sil com uma ideia bem clara: esta- marca e milhões de veículos por ano, mas agora o núme- va na hora de "mineirizar" o forne- alcançou a ro caiu quase pela metade", constata. Segundo cimento de peças da Fiat. venda de ele, o Brasil tem atualmente uma capacidade ins- "Organizamos um mutirão e talada de 4,5 milhões de veículos e vende não atraímos grande parte dos fornece- 2oo mais do que 2 milhões de unidades. dores para Minas Gerais, levando-os mil carros Especialista em encontrar caminhos sutis em a instalar um parque ao redor da fá- momentos conturbados, Belini acredita que o brica da Fiat", relata. Além disso, o primeiro passo para solucionar uma tempestade número de fornecedores foi reduzido financeira é o diagnóstico bem-feito – o que va- de 600 para 180. Com isso, os im- le tanto para empresas quanto países. "É preci- previstos diminuíram, a cadeia ficou so identificar o que está amarrando o desempe- mais dinâmica e a Fiat deu uma gui- nho e, através disso, fazer um ranking de prio- nada histórica de produção. Se, antes, ridades. Nem sempre se pode resolver tudo; mas, a fábrica produzia 500 carros por dia, se elegemos as prioridades, podemos realizar o número cresceu até alcançar 3 mil ações de alto impacto." – marca atingida em 2010.

69 perfil

New Deal brasileiro Repensar o país de modo a al- Para Belini, a experiência cançar o desenvolvimento sustentá- acumulada vel é exatamente o que propõe o pela gestão Pacto pela Reforma do Estado, ini- empresarial precisa ser ciativa capitaneada pelo Movimento aplicada na Brasil Competitivo (MBC) que conta modernização com apoio de 19 governos estaduais do Estado e um grupo de especialistas e em- presários de destaque na conjuntura nacional. Entre eles, Belini. Para ele, está mais do que na hora de reestru- turar as bases da economia. Segundo o executivo, é urgente que se utilize o conhecimento e a ex- periência acumulados pela gestão empresarial na modernização da ges- tão pública. "A concorrência de mer- cado que a iniciativa privada sofre é fundamental para fazer com que evo- luamos a cada dia, inovando, sendo eficientes e competitivos", comenta. "Isso pode oferecer ao Estado um co- nhecimento, um know-how que po- de ajudar em muito." Mas – retomando a questão das UM POUCO prioridades – qual seria o diagnóstico DE BELINI para o momento que o Brasil atra- vessa? "O principal problema é a dí- Os valores e ideais que elevaram Cledorvino vida, que está aumentando muito", Belini a ocupar posições de destaque na sugere. "Temos duas contas exorbi- indústria automobilística brasileira tantes: juros e Previdência. É neces- sário atacar esses dois problemas Da mãe, uma professora do ensino fundamental, para voltarmos ao equilíbrio." Belini herdou o apreço pelos estudos. Já os valores Nesse sentido, ele elogia medi- transmitidos pelo pai, um militar que lutou na das recentes, como a aprovação da Segunda Guerra, estão relacionados à ética e ao PEC 241, defendida como essencial apreço pelo trabalho bem-feito. para que o mercado recupere a con- fiança e volte a crescer. Veterano de O executivo está à frente do Minas pela Paz, uma tempos árduos, Cledorvino Belini Organização da Sociedade Civil de Interesse acredita que o Brasil necessita de Público (Oscip) que tem como objetivo contribuir uma ação de impacto semelhante com o governo no combate à violência e à que ocorreu nos anos 90. "Preci- promover a inclusão social por meio da educação. samos de vontade política para um novo Plano Real. Mas, desta vez, não Entre março de 2010 e abril de 2013, Belini ligado à moeda", diagnostica. "O es- presidiu a Associação Nacional dos Fabricantes de sencial é um plano econômico am- Veículos Automotores (Anfavea). Em paralelo, ele plo, uma espécie de New Deal bra- manteve o cargo de presidente da Fiat Chrysler sileiro. Algo que nos tire do impasse Automobiles para a América Latina. em que nos encontramos."

70 brasil novembro de 2016 Mais uma vez, a Gerdau se transforma. Afinal, essa é a nossa tradição.

Para uma empresa de 115 anos, inovar é um processo fundamental. Atender às demandas de um mercado mais dinâmico e colaborar com o avanço do mundo dependem dessa atitude. É por isso que transformamos nossa forma de produzir aço. Com aplicativos e sistemas inteligentes, otimizamos processos industriais. E nossas usinas e a interface online com clientes estão cada vez mais eficientes. A Gerdau já é uma indústria 4.0.

E não vamos parar por aqui. www.gerdau.com #açodigital

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