águasrevista subterrâneas

Ano 3 - nº 13 - Dezembro/Janeiro 2010 - www.abas.org

Infraestrutura Túneis contribuem para a revitalização de centros urbanos e preservação de áreas verdes

TENHO UM POÇO. E AGORA? Manutenção preventiva aumenta produtividade mantendo a qualidade da água

O mercado do setor água A entrada de grandes players da economia nacional no mercado de águas, diversificação de investimento ou visão de futuro? dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 1 Envie seu trabalho técnico até 04/04/2010

2 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 editorial

Negócios, cuidados e conhecimento O cenário da água como bem mercadológico tem ventivos, dentre eles, a criteriosa e frequente análise das atraído investimentos do setor privado por vários moti- águas, necessária em decorrência do acelerado proces- vos – do uso ao reuso passando pelo saneamento até so de urbanização. Por falar em urbanização crescente, o lazer. Os números falam por si. Estimativas apontam a construção de túneis tem possibilitado ganhos ambien- que só a água mineral no mundo tenha participação tais e sociais para os centros urbanos, contribuindo para de 7% do mercado, com cifras anuais entre US$ 20 a preservação de áreas verdes e praças na superfície, bilhões e US$ 30 bilhões. Países com grandes reservas como o leitor poderá acompanhar em reportagem sobre de água investem em contratos de fornecimento, como o tema, nesta primeira edição do ano. E, para começar o Canadá, que celebrou um acordo de concessão de bem 2010, a ABAS promove o curso de contaminantes 25 anos com a China. No Brasil, entre 2007 e 2010, o orgânicos em parceria com a Universidade de Waterloo. Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) terá Além disso, assinou uma Carta de Intenções, em conjun- destinado R$ 22,2 bilhões para investimentos em sane- to com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo amento. Já a descontaminação de águas subterrâneas (CETESB), a Universidade Estadual Paulista (UNESP), a tem estimativas iniciais de capital em torno de R$ 15 Universidade de São Paulo (USP), as universidades de bilhões. O que se sabe ao certo é que negócios com Waterloo e de Guelph, do Canadá, estabelecendo um água visando lucro exigem grande responsabilidade programa de cooperação para promover o avanço da socioambiental de empresários e governantes, por ser educação técnica e do aprendizado sobre contamina- um bem natural essencial à sobrevivência. Um panora- ção de solo e água subterrânea no Brasil. São ações ma sobre este mercado está na matéria de capa desta que trarão avanços do conhecimento numa área cada edição, que também traz importantes informações sobre vez mais importante para o nosso país. Boa leitura e até os cuidados com a manutenção dos poços. Necessários a próxima! para o abastecimento, seja público ou privado, a vida Everton Luiz da Costa Souza útil dos poços está diretamente ligada aos cuidados pre- Presidente

ÍNDICE 16 O mercado do setor água Mercado de extração, reuso 4 Agenda e descontaminação de águas movimenta economia, mas exige 5 Pergunte ao hidrogeólogo sustentabilidade 6 Abas Informa

Meio Ambiente: 7 Núcleos regionais 13 Infraestrutura, túneis 8 Hidronotícias

Produção de Água: Conexão internacional 22 tenho um poço. e agora? 26 30 Remediação dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 3 Agenda eXPEDIENTE

DIRETORIA EVENTOS PROMOVIDOS PELA ABAS Presidente: Everton Luiz da Costa Souza 1º Vice-Presidente: Dorothy Carmen Pinatti Casarini 2º Presidente: Luiz Rogério Bastos Leal Secretária Geral: Suzana Maria Gico Lima Montenegro XVI CONGRESSO BRASILEIRO Secretário Executivo: Everton de Oliveira DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS Tesoureiro: Claudio Pereira Oliveira CONSELHO DELIBERATIVO XVII ENCONTRO NACIONAL DE Chang Hung Kiang, Celia Regina Taques Barros, Maria Luiza Silva Ramos, PERFURADORES DE POÇOS Amin Katbeh, Francis Priscilla Vargas Hager, Anderson Marques Martins, Carlos Augusto de Azevedo CONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTES FENÁGUA – FEIRA NACIONAL DA ÁGUA Aldo da Cunha Rebouças, Antonio Tarcisio de Las Casas, Arnaldo Correa Ribeiro, Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco da Rosa Filho, Euclydes Cavallari (in memorian) Data: 31 de agosto a 03 de setembro de 2010 Everton de Oliveira, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simanke de Souza, Local: Centro de Convenções Governador Pedro Neiva de Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, Waldir Duarte Costa CONSELHO FISCAL Santana - São Luís - MA Titulares: Mario Kondo, Renato Blat Migliorini, Eduardo Chemas Hindi Informações: (11) 3871-3626 Suplentes: Jurandir Boz Filho, Adriano Razera Filho, Fernando Pons da Silva NÚCLEOS ABAS – DIRETORES E-mail: [email protected] Amazonas: Carlos Augusto de Azevedo - [email protected] - (92) 2123-0848 Bahia: Iara Brandão de Oliveira- [email protected] - (71) 3283-9795 Site: www.abas.org/xvicongresso Ceará: Mário Fracalossi Junior - [email protected] - (85) 3101- 4526 Centro-Oeste: Antonio Brandt Vecchiato - [email protected] - (65) 3615-8764 Minas Gerais: Décio Antonio Chaves Beato - [email protected] / [email protected] - (31) 3309-8000 Pará: Manfredo Ximenes Ponte - [email protected] - (91) 3277-0245 CURSO DE CONTAMINANTES ORGÂNICOS Paraná: Jurandir Boz Filho - [email protected] - (41) 3213-4744 Pernambuco: Alarico Antonio F. Mont´Alverne - [email protected] (81) 3442-1072 Data: 15 de janeiro a 02 de abril de 2010 Rio de Janeiro: Humberto José Tavares Rabelo de Albuquerque - [email protected] - (21) 2295-8248 Santa Catarina: Heloisa Helena Leal Gonçalves - [email protected] - (47) 3341-7821/2103-5000 Promovido pela ABAS em parceria com Sul: Mario Wrege – [email protected] - (51) 3259-7642 a Universidade de Waterloo CONSELHO EDITORIAL Informações: www.abas.org Everton de Oliveira e Rodrigo Cordeiro

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL II SIMPÓSIO DE MINERAÇÃO E RECURSOS Marlene Simarelli (Mtb 13.593) DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIAL HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS ArtCom Assessoria de Comunicação - Campinas – SP Data: 30 de Maio a 02 de Junho de 2010 (19) 3237-2099 - [email protected] REDAÇÃO Local: Belo Horizonte (MG) Daniela Mattiaso e Isabella Monteiro

Promoção: Núcleo ABAS Minas Gerais COLABORADORES Carlos Eduardo Q. Giampá, Everton de Oliveira, Juliana Freitas, Marcelo Sousa e Informações: (31) 3309-8000 Marco Aurélio Z. Pede

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4 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 pergunte ao hidrogeólogo

Caso seu poço encontre-se no Estado de São Abrimos um poço Paulo, no processo de outorga do mesmo é feito um “ levantamento da posição do poço em relação às fon- tes de contaminação cadastradas pela CETESB. Em artesiano, mas a água outros estados esse procedimento ainda não é realiza- do. Entretanto, existem diversas fontes de contamina- ção que não foram ainda descobertas e notificadas às apresenta gosto de agências ambientais, sendo possível uma descoberta ocasional como a sua. combustível. Como A origem provavelmente deve estar associada a locais que fazem uso ou armazenamento de com- bustíveis nas redondezas de seu poço, como bases localizar a origem? de combustível, postos de gasolina, oficinas mecâni- cas, tubovias, transportadoras etc. Usualmente adota- Há como remediar a se um raio de 500m para essa investigação, mas em alguns casos pode vir de distâncias maiores, embora não seja comum. O melhor caminho é encaminhar situação ou já perdi o uma notificação ao órgão ambiental de seu estado, que deve proceder as investigações necessárias para determinar qual a possível fonte. poço?” A remediação é possível e recomendável, mas Combustíveis apresentam em sua composição muito demorada (da ordem de uma dezena ou mais compostos orgânicos aromáticos, que deixam um de anos). Nesse caso, durante a remediação, deve-se odor e sabor característicos mesmo em baixas con- necessariamente optar-se pelo uso de fonte alternativa centrações, o que é um ótimo indicador, limitando o para o seu abastecimento. consumo de água contaminada. Gustavo Alves da Silva Geólogo e diretor da Hidroplan

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 5 ABAS INFORMA

CURSO INTERNACIONAL DE CONTAMINANTES ORGÂNICOS NO BRASIL A Associação Brasileira de Águas Subterrâneas gos, engenheiros, geólogos, químicos, biólogos, ges- (ABAS) acaba de trazer para o País, em parceria com tores de projeto, consultores, agentes reguladores e a Universidade de Waterloo, do Canadá, o renomado profissionais de meio ambiente em geral, estão aptos curso de contaminantes orgânicos da universidade para participar do curso. - um dos principais oferecidos para seus alunos de Atualmente, a Universidade de Waterloo é um dos pós-graduação, que apresenta uma base teórica sóli- principais centros de excelência do mundo em estu- da e do estado da arte nesta área do conhecimento. dos de águas subterrâneas. Os tópicos incluídos no Tendo iniciado em 15 de janeiro, o curso prossegue curso são: até 2 de abril 2010. Trinta e seis horas de palestras, • Processos fundamentais que regem o destino de além de pelo menos 12 horas de tutorial/debate serão contaminantes orgânicos no solo e sistemas aquí- fornecidas durante a realização do curso, que tem feros. Ênfase na separação entre as fases (dissolu- doze semanas de duração. Sendo que, pelo menos, ção, sorção e volatilização), com aplicações. uma palestra e um tutorial serão realizados em São • O comportamento dos LNAPLs e DNAPLs no Paulo. O curso é ideal para todos os profissionais subsolo. da área, considerando a quantidade de experiência • Transformações químicas, incluindo a hidrólise, adquirida para as horas investidas. “Embora seja um cinética e das reações redox. curso de alta especialização, também pode ser facil- • Os processos biológicos e biotransformações. mente seguido por profissionais de diferentes níveis Evidências de campo de biotransformação. de conhecimento, como comprovado por diversos • Efeitos dos solventes no destino dos contaminan- alunos que já passaram pela instituição”, observa tes, com foco em etanol. Everton de Oliveira, Secretário Executivo da ABAS e • Bioaugmentation, aeração e oxidação química Diretor da Hidroplan. O objetivo é promover o inter- in-situ como as técnicas de reparação. câmbio de conhecimentos e técnicas modernas de • Aplicações de isótopos em estudos de campo de caracterização de remediação de águas subterrâneas contaminantes orgânicos. contaminadas por compostos orgânicos. Profissionais • Modelagem da migração de contaminantes orgâ- que lidam com as águas subterrâneas, hidrogeólo- nicos, destino e remediação. CARTA DE INTENÇÕES PROMOVERÁ AVANÇO EDUCACIONAL E TÉCNICO

Uma Carta de Intenções acaba de ser assinada avaliação e remediação de locais contaminados, pela Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, em paralelo com outras medidas de cunho seme- em conjunto com a Companhia Ambiental do lhante, dentro de prazos severos, principalmente, Estado de São Paulo (Cetesb), a Universidade no Estado de São Paulo. Estadual Paulista (Unesp), a Universidade de São A colaboração entre as instituições cobrirá Paulo (USP), as universidades de Waterloo e de áreas relacionadas a hidrogeologia, qualidade de Guelph, do Canadá. O objetivo é estabelecer um solo e água subterrânea, avaliação e remediação programa de cooperação entre as instituições de locais contaminados, gestão e regulação, que envolvidas, como forma de promover o avanço da poderá ser expandida sob acordo mútuo entre educação técnica e do aprendizado sobre con- elas. É intenção ainda das mesmas, durante a vali- taminação de solo e água subterrânea no Brasil. dade da Carta de Intenções, produzir um plano de A demanda por conhecimento técnico, progra- trabalho mais extensivo e detalhado, que deverá mas de treinamento, intercâmbio de tecnologia e ser objeto de um Termo de Cooperação. A Carta desenvolvimento de projetos conjuntos de pesqui- de Intenções será válida por dois anos e deverá sa está aquecida e aumentará nos próximos anos ser estendida automaticamente, por um segun- no País. As novas leis implementadas para coibir do período, caso haja progresso no Termo de a poluição de solo e águas subterrâneas exigem Cooperação entre as partes.

6 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 núCLEO REGIONAIS

ABAS PERNAMBUCO FAZ PROPOSTA PARA GESTÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS Após seis meses de trabalho e quatro Encontros de 50% da região compreendida entre os municípios de Técnico-Sociais, o Núcleo Pernambuco da ABAS e a Olinda e Goiana, continua em regime de sobre-explota- Associação Profissional dos Geólogos de Pernambuco ção. As fábricas de bebidas e de águas envasadas, atra- (AGP), juntamente com outros órgãos, finalizaram a ídas pela sua boa qualidade, correm, em conseqüência elaboração do documento: “A Gestão dos Recursos disto, o risco de sofrer restrições de uso. No documento Hídricos Subterrâneos em Pernambuco - Diagnóstico redigido pelas entidades de classe, além das justificati- e Proposições”, resultado do levantamento de dados vas que as motivaram na iniciativa, foram apresentados sobre o estado da arte da administração do setor. o Diagnóstico e Proposições para implementação de O Aquífero Beberibe, manancial mais importante do ações urgentes para gestão das águas subterrâneas no Estado, que responde por cerca de 10% do abasteci- Estado. O texto completo para leitura pode ser acessado mento da Região Metropolitana do Recife (RMR) e cerca em: http://www.abas.org/arquivos/gestaorhpe.pdf GEÓLOGA DA ABAS CEARÁ COORDENA PROJETO NO ESTADO A geóloga Zulene Almada, integrante do Conselho ao mesmo tempo, privilegiar o envolvimento da popula- Deliberativo do Núcleo ABAS Ceará, foi a coordena- ção, dos usuários e dos Comitês de Bacias Hidrográficas dora técnica responsável pelo levantamento pioneiro (CBH) no planejamento, monitoramento e implementa- realizado para o projeto “Plano de Gestão Participativa ção de ações para o manejo sustentável. Para explicar dos Aquíferos da Bacia Potiguar Estado do Ceará”, em todo o trabalho realizado para implementação do projeto, parceria com a Companhia de Gestão dos Recursos a geóloga fez um artigo que está disponível na internet. Hídricos (COGERH), apresentado em novembro de 2009. Para acessá-lo basta ir até o site: http://portal.cogerh.com. Implementado nas regiões sul e leste do Estado, o pro- br/eixos-de-atuacao/estudos-e-projetos/aguas-subterra- jeto busca atender as especificidades dos aqüíferos e, neas/projetos/plano-de-monitoramento-apodi-bird ABAS CEARÁ REPRESENTA SETOR EM EVENTOS A Associação Brasileira de Águas Subterrâneas lação com profissionais da área, por conta do evento (ABAS) foi homenageada com a placa de Mérito GeoCeará 2009. No dia 26 de novembro de 2009, Mário Institucional, por meio do Núcleo ABAS Ceará, duran- Fracalossi Júnior, presidente da ABAS-CE, também te o jantar de confraternização da Associação dos foi convidado para participar da abertura do Curso de Profissionais de Geologia do Ceará (APGECE). A asso- Fluidos de Perfuração, realizado na Superintendência de ciação cearense está comemorando 30 anos de funda- Obras Hidráulicas (SOHIDRA), representando a associa- ção. O evento foi realizado dia 25 de novembro de 2009. ção. Cerca de 50 profissionais do setor de hidrogeologia A homenagem feita à ABAS, durante a ocasião, foi em estiveram presentes no local. O curso foi realizado em função de sua atuação no setor de geologia e a articu- parceria com a empresa System Mud.

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 7 hidronotícias

Carlos Eduardo Quaglia Giampá Diretor da DH Perfuração de Poços

Mato Grosso terá monitoramento das águas subterrâneas a partir de 2010 A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, de articulação e integração interinstitucional, envol- empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e vendo a companhia de pesquisa do Ministério, os Energia e com as atribuições de serviço geológico, órgãos e gestores de recursos hídricos e as compa- está colocando em prática o planejamento de moni- nhias de abastecimento de água. toramento das águas subterrâneas do Brasil. Até o Para a construção da rede, foram realizados final de 2010 a companhia pretende implantar e ope- seminários e encontros técnicos, com os principais rar uma rede de 400 poços distribuídos nos principais órgãos que atuam na gestão dos recursos hídricos, aquíferos brasileiros. Olhar Direto apurou que em bem como especialistas na área. Esses eventos per- Mato Grosso e Goiás serão perfurados pelo menos mitiram a definição dos fundamentos que orienta- seis poços. Estão em fase final de licitação os poços ram a elaboração da proposta técnica do projeto. O de monitoramento em Sinop, Rondonópolis, Lucas modelo a ser adotado é o de gestão por resultados. do Rio Verde e Sapezal, em Mato Grosso, além de Para tanto, foram realizadas, nos meses de outubro Montes Claros de Goiás e Rio Verde, em Goiás. e novembro, reuniões gerenciais nas superinten- A implantação da rede de monitoramento faz dências regionais da CPRM de Goiás (regiões Norte parte da comemoração dos 40 anos de existência e Centro-Oeste); Recife (região Nordeste) e Belo do Serviço Geológico do Brasil. O projeto é deno- Horizonte (regiões Sul, Sudeste e Centro). As reuni- minado Rede Básica Nacional Integrada de Águas ões foram para avaliar e orientar a atuação do ponto Subterrâneas (Rimas). Inserido no Programa de de vista estratégico, tático e operacional, visando o Aceleração do Crescimento (PAC) do governo fede- cumprimento das metas estabelecidas. ral, o Rimas tem, na sua concepção, mecanismos Fonte: www.olhardireto.com.br ANA assina acordo para promover água, saúde, educação e cultura A Agência Nacional de Águas (ANA) assinou em 22 lização e apoio às atividades de informação e valoriza- de dezembro de 2009, um acordo de cooperação do ção do simbolismo da água; organização de eventos qual participam várias instituições e organismos não relacionados a água e educação; água e saúde; ela- governamentais com o objetivo de unir esforços para boração de publicações sobre estudos que envolvam incentivar o desenvolvimento de novas abordagens e água, além da colaboração para a implantação de um conhecimentos para a conservação da água, promo- centro de estudo no Distrito Federal de ação transdis- ção da saúde e de processos educacionais e culturais. ciplinar da água. As linhas básicas do acordo de cooperação, cujas Além da ANA, assinam o acordo de coopera- ações ainda serão detalhadas, são a organização, rea- ção o Ararazul – Organização para a Paz Mundial,

8 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 HIDRONOTÍCIAS

a Companhia de Saneamento Ambiental do Brasil. O acordo de cooperação técnica foi assi- Distrito Federal (CAESB), o Instituto Calliandra de nado pelo diretor-presidente substituto da ANA, Educação Integral e Ambiental, o Instituto Oca do Dalvino Troccoli Franca, pela diretora-executiva da Sol, o Instituto de Saúde Integral, a Secretaria de Ararazul, Cristina Mendes Curto, e representantes Estado de Saúde do Distrito Federal, a Universidade das demais instituições e entidades. de Brasília, a Fundação Mata Atlântica e o WWF – Fonte: www.ana.gov.br

Resolução do Conama determina o controle e gerenciamento da contaminação do solo Por Suelene Gusmão Um conjunto de normas estabelecidas pelo vação concluiu um ciclo estruturante dentro do Conama, Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) pas- se juntando à definições que tratam da qualidade do ar e sa a valer, a partir de agora, para o gerenciamento de da água, desde a década de 80. áreas contaminadas no País onde vivem mais de dois A Resolução aprovada determina que o gerencia- milhões de brasileiros, atualmente expostos a contami- mento de áreas contaminadas terá como princípios bási- nantes químicos. Além de determinar o controle dessas cos a geração e disponibilização de informações; a arti- áreas, a Resolução do Conama vai uniformizar os pro- culação, cooperação e integração interinstitucional entre cedimentos a serem adotados pelos órgãos ambientais os órgãos da União,dos estados, do Distrito Federal e dos em todos estados e municípios, para verificação da qua- municípios, os proprietários, os usuários e demais bene- lidade do solo, níveis de contaminação e medidas de ficiados ou afetados; a gradualidade na fixação de metas gestão adequadas. ambientais, como subsídio à definição de ações a serem Os principais poluentes que prejudicam o solo e cumpridas; a racionalidade e otimização de ações e cus- expõem as pessoas a doenças são os agrotóxicos tos; a responsabilização do causador pelo dano e suas (20%), derivados do petróleo (16%), resíduos industriais consequências e a comunicação do risco. (12%) e metais (12%). Além de sua presença nos solos, Para o gerenciamento das áreas serão procedimen- os agentes tóxicos, patogênicos, reativos, corrosivos ou tos e ações deverão estar voltados ao atendimento da inflamáveis podem ser encontrados em águas subterrâ- eliminação do perigo ou à redução do risco à saúde neas ou em instalações, equipamentos e construções humana; da eliminação ou minimização dos riscos ao abandonadas, em desuso ou não controladas. meio ambiente; para evitar danos aos demais bens a De acordo com levantamento realizado pelo Ministério proteger; evitar danos ao bem estar público durante a da Saúde de 2004 a 2008, das 2.527 áreas contaminadas execução de ações para a reabilitação; e possibilitar o existentes no Brasil, três estados concentram o maior uso declarado ou futuro da área, observando o planeja- número de pessoas potencialmente expostas. São eles mento de uso e ocupação do solo. São Paulo, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. O órgão ambiental responsável pelo gerenciamento Segundo dados do Ministério da Saúde, a situa- da área deverá instituir procedimentos e ações de inves- ção dos contaminados representa um desafio para o tigação e de gestão seguindo etapas determinadas de Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente com Identificação, Diagnóstico e Intervenção. relação à definição de como cuidar da saúde integral Na primeira etapa, quando forem identificadas áre- das pessoas expostas a contaminantes. E também de as contaminadas, deve ser realizada uma investigação como o setor de saúde deve se articular de forma inter- confirmatória, com custos para o responsável, seguindo setorial, especialmente com os órgãos ambientais e de normas técnicas e procedimentos vigentes. O diagnós- infraestrutura e até de Justiça, como forma de melhor tico tem por objetivo subsidiar a etapa de intervenção, atender a essa população. A Organização Mundial de caso a investigação confirmatória tenha identificado Saúde (OMS) confirma que 24% a carga global de doen- substâncias químicas em concentrações acima do valor ças e 23% dos óbitos prematuros estão relacionados a de investigação. A intervenção prevê a execução de problemas ambientais. ações de controle para a eliminação do perigo ou sua A Resolução aprovada pelo Conama ficou três anos redução a níveis toleráveis, bem como o monitoramento em tramitação dentro do Conselho e outros quatro em da eficácia das ações executadas, considerando o uso análise no MMA. De acordo com ministra interina do atual ou futuro da área. Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, sua apro- Fonte: MMA / Portal Ecodebate dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 9 hidronotícias

Bolsa terá índice de emissões das empresas Por Alana Gandra O mercado de capitais terá, a partir de 2010, seja, quando eu vou analisar o novo índice, ele é um novo índice, denominado inicialmente de muito similar ao original. Mas, em termos de emis- Índice Carbono Eficiente, que irá medir as emis- são por receita, tem uma redução significativa”. sões de gases de efeito estufa das companhias Com o novo índice, o BNDES e a BM&F Bovespa abertas. O novo instrumento foi anunciado nes- estão querendo incentivar as empresas negocia- ta terça (15/12/2009) pelo Banco Nacional de das em Bolsa de Valores a reduzir os seus níveis Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de emissão de gases causadores do efeito estu- a BM&FBovespa na 15ª Conferência das Partes da fa. Quando uma empresa perder participação em Convenção do Clima das Nações Unidas (COP-15) razão de ser muito emissora dentro do setor, com- em Copenhague, na Dinamarca. parada aos seus pares, ela vai ter incentivo a adotar O gerente da Área de Meio Ambiente do BNDES, políticas que reduzam as emissões, para que ela Otávio Lobão, revelou que a base do índice é o IBrX ganhe participação no índice”. 50, que indica as 50 ações mais negociadas na O gerente da Área de Meio Ambiente do BNDES BM&F Bovespa. “A partir das empresas participan- admitiu que o índice poderá servir também para tes do IBrX 50, nós vamos reponderá-las com base atrair investimentos para as empresas brasileiras na emissão de carbono dessas empresas, reduzin- menos poluidoras. “Empresa transparente tem ris- do a participação das mais emissoras poluidoras e co menor. Teoricamente, isso tem um apelo muito aumentando a participação das outras, para com- grande em termos de atratividade para investimen- pensar”, disse. tos. E hoje, efetivamente, os investidores olham Lobão acrescentou que se trata, na prática, de para emissões e sustentabilidade da empresa”, uma mudança pequena, para que o novo índice não disse Otávio Lobão. perca aderência com relação ao índice original. “Ou Fonte: Agência Brasil

Atlas de água subterrânea tem versão impressa

Desde novembro, a Embrapa Tabuleiros Cruz e Julio Roberto Araújo de Amorim. Costeiros (Aracaju - SE) disponibiliza a versão De acordo com os editores técnicos, as infor- impressa do “Atlas de qualidade de água subterrâ- mações contidas no Atlas devem contribuir para nea para fins de irrigação, no Estado de Sergipe”. o processo de gestão dos recursos hídricos do A publicação, lançada em 2008 em formato digi- estado, constituindo-se em uma ferramenta de tal, é resultado do projeto “Regionalização de apoio à decisão para órgãos governamentais, de fatores de qualidade de água subterrânea para crédito agrícola e instituições de pesquisa sobre uso na irrigação no Estado de Sergipe”, desen- o uso das águas subterrâneas na irrigação de cul- volvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa turas, considerando os riscos ambientais associa- Agropecuária - Embrapa - em parceria com dos à qualidade físico-química da água extraída diversas instituições de Sergipe. A impressão do dos aquíferos da região. Atlas, assim como a confecção de outros mate- A publicação é composta por mapas temáti- riais de divulgação, foi viabilizada com recursos cos com a distribuição espacial de 14 variáveis do Programa de Fortalecimento e Crescimento da de qualidade da água, como pH, condutividade Embrapa (PAC Embrapa). elétrica e ferro; quatro variáveis quantitativas, O Atlas é resultado da parceria com a Secretaria como vazão e nível dinâmico; e 12 mapas de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado de risco de uso da água para irrigação, ela- de Sergipe (SEMARH) e com a Companhia de borados segundo os critérios estabelecidos Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação pela Organização das Nações Unidas para a de Sergipe (COHIDRO). Os editores técnicos são Agricultura e Alimentação (FAO). os pesquisadores da Embrapa Tabuleiros Costeiros Ronaldo Souza Resende, Marcus Aurélio Soares Fonte: Embrapa Tabuleiros Costeiros

10 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 HIDRONOTÍCIAS

20 anos após a Eco-92, Brasil sediará a Rio+20

O Brasil será a sede da Conferência das Nações ção da economia verde para o desenvolvimento Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em sustentável e a eliminação da pobreza. 2012. Já batizada de Rio+20, em referência a Outro tema na pauta da conferência será o Eco-92, realizada no Rio de Janeiro há 18 anos, o debate sobre a estrutura de governança inter- evento será provavelmente realizado novamente nacional na área do desenvolvimento susten- na capital carioca (ainda não foi confirmado). tável. O modelo de consenso foi colocado em A conferência foi aprovada em dezembro de xeque na 15ª Conferência das Partes das Nações 2009 pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Unidas sobre o Clima (COP-15), em Copenhague O encontro havia sido proposto em 2007 pelo pre- (Dinamarca), cúpula encerrada sem acordo por sidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia é avaliar e divergências entre os países ricos e em desenvol- renovar os compromissos com o desenvolvimento vimento sobre as ações necessárias para enfren- sustentável assumidos pelos líderes mundiais na tar o aquecimento global. Eco-92. A Rio+20 tembém discutirá a contribui- Fonte: Agência Brasil

RECORDAR É VIVER

Estação Ciências Lançamento Maquete Aquifero Guarani São Paulo – 2005

1° Sistema de abastecimento por poço através de contrato BOT em São Carlos (SP) - Bairro Cidade Araçy – 1993 – Contep/DH

dEZEMBRODEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 11 meio ambiente INFRAESTRUTURA, Túneis Banco de imagens da web

A CONSTRUÇÃO DE TÚNEIS POSSIBILITA GANHOS AMBIENTAIS E SOCIAIS, CONTRIBUI PARA A REVITALIZAÇÃO DOS CENTROS URBANOS, DIMINUINDO O TRÁFEGO DE VEÍCULOS E A POLUIÇÃO POSSIBILITANDO A PRESERVAÇÃO DE ÁREAS VERDES E PRAÇAS NA SUPERFÍCIE Por Isabella Monteiro

A população urbana cresceu muito nos últimos 50 sentam enormes prejuízos sociais e econômicos, que anos, aumentando cerca de 80% na maioria dos paí- vão desde gastos com combustíveis e poluição gerados ses, o que gerou uma grande pressão nas cidades em pelos engarrafamentos, à falta de produtividade dos tra- termos de infraestrutura de mobilidade (transporte) e balhadores devido ao estresse, ocasionando impactos armazenamento (incluem-se os estacionamentos). De no sistema de saúde”, afirma Assis. Para Hugo Cássio acordo com André Assis, Presidente do Comitê de Rocha, Vice-presidente do Comitê Brasileiro de Túneis Educação e Treinamento da Associação Internacional (CBT), a construção de túneis pode ser muito benéfi- de Túneis e do Espaço Subterrâneo (ITA) e professor ca para a sociedade, da Universidade de Brasília, “num primeiro momento, pois apesar de seu alto as vias de transporte e os estacionamentos concor- custo de implantação, reram com os espaços que garantiam qualidade de a longo prazo gera ele- Arquivo pessoal vida aos meios urbanos, levando-os a sua sensível vada economia opera- depreciação. Mais recentemente, constatou-se que cional, de manutenção os países, onde os meios de transporte urbano uti- e espacial”. Aliás, “a lizados foram os sistemas de massa predominante- própria manutenção da mente subterrâneos, apresentaram indicadores de via subterrânea é muita qualidade de vida mais elevados”. Foi a partir daí que, mais barata do que as segundo ele, se estabeleceu um movimento chama- vias de superfície, dada do de Era Ambiental do Uso do Espaço Subterrâneo a exposição atmosfé- nas últimas décadas, caracterizado pela revitalização rica e ciclos de tempe-

dos centros urbanos e preservação dos espaços de ratura e unidade mais Hugo Cássio Rocha, Vice- superfície para os usos mais nobres da população, agressivos destas”, presidente do Comitê Brasileiro por meio da construção de túneis. complementa Assis. de Túneis (CBT) “Além de moradia e locais de trabalho agradáveis, abre-se espaço na superfície para praças, parques e valorização de sítios históricos, pedestres, transporte Riscos de Contaminação leve e saudável como bicicletas; levando todo o tráfego pesado e de massa para o subterrâneo, caracterizando Marcada no passado por índices negativos de o equilíbrio ambiental”, argumenta. Os túneis, além de acidentes de construção e por problemas ambientais agregarem valor ambiental, também resultam em um ligados à interferências no lençol freático ou à utili- balanço social positivo. ”Cidades congestionadas apre- zação de produtos agressivos ao meio ambiente, a

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com a escavação pode-se isolar ou remediar. O solo é mais fácil de isolar; já a água deve ser isolada com uma parede impermeável ou deve receber tratamen- Arquivo pessoal to. “A retirada de solo contaminado é muito onerosa: um metro cúbico de material contaminado disposto, pode custar muito mais do que um metro cúbico de concreto”, revela. A responsabilidade sobre o passivo ambiental encontrado e a contaminação das águas subterrâneas durante as obras “depende do tipo de contrato e das responsabilidades atribuídas, mas, de maneira geral, o empreendedor assume o ônus dos passivos pré-existentes. Já, problemas de execução devem ser atribuídos à empresa responsável contra- tada”, esclarece Rocha.

Tarcísio Barreto Celestino, Presidente do Comitê Brasileiro de Túneis (CBT) Processos e legislação indústria tuneleira se mobilizou no sentido de minimi- zar danos ambientais quanto a seus métodos constru- Com relação às legislações ambientais e conces- tivos e tecnológicos, conforme André Assis. Segundo sões de licenças no território paulista, o principal órgão Tarcísio Barreto Celestino, Presidente do Comitê regulador é a Companhia Ambiental do Estado de São Brasileiro de Túneis (CBT), “hoje, antes de realizar- Paulo (CETESB), referência nacional. Na cidade de São mos a escavação, precisamos saber se o túnel passa- Paulo é a Secretaria Municipal do Verde. Os principais rá por rocha ou solo e também por área contaminada. processos envolvidos na construção de um túnel são o Por meio de sondagens geotécnicas é possível saber Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto ao qual a qualidade do material, algo determinante para Meio Ambiente (EIA/RIMA), audiência pública, Licença o projeto no que se refere às espessuras das estru- Prévia (LP), Licença de Implantação (LI) e a Licença turas de suporte e aos métodos construtivos; e tudo de Operação (LO), que precisa ser renovada periodi- isso passa por uma investigação”. camente. Para Tarcísio Celestino, Assis explica que para a esca- a legislação ambiental do Brasil é vação de solos contaminados, há “É preciso uma uma das mais rigorosas do mun- um tipo de tuneladora (máquinas do. São importantes e necessárias, que escavam túneis), que mantém mudança de mas há muitos “nós”, conforme o material escavado em circuito concepção e também aponta Hugo Rocha, já fechado, sem contato com operá- que a exigência de execução de rios ou atmosfera, adequadamente mentalidade todas as etapas de investigação disposto em área designada para sobre as obras antes da licença de implantação este fim. Alguns tipos de tunelado- “é absolutamente inviável, pois o ras e técnicas construtivas foram subterrâneas, que são empreendedor só tem acesso total desenvolvidas especialmente para ambientamente mais e legal às áreas, após a licença de escavar túneis, com o mínimo de implantação para poder executar interferência sobre o nível de água amigáveis.” todas as etapas de investigação; do lençol freático. Ele ainda acres- a LI apenas é dada, teoricamente, centa que os produtos químicos após a execução de todas as eta- utilizados como aditivos de concreto ou como base pas. Além disso, nas obras lineares, que atravessam de injeções de maciços foram tecnologicamente tes- dezenas ou centenas de áreas potencial ou comprova- tados para evitar danos à saúde, contaminar o solo damente contaminadas, todo o ônus da investigação circundante ou a água do lençol freático. e, muitas vezes, o da remediação, ficam para o empre- Segundo Hugo Rocha, quando se encontra solo endedor”. Ele também argumenta que o cadastro de ou água contaminado na região da escavação, o áreas contaminadas é deficiente, não é unificado e que contaminante deve ser retirado e disposto adequada- o órgão ambiental também repassa essa responsabili- mente. Entretanto, quando não há interferência física dade ao empreendedor. dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 13 meio ambiente

Para Tarcísio Celestino, há ainda outra mudança De acordo com Hugo Rocha, o Comitê Brasileiro de necessária. “Com relação às obras civis, a legisla- Túneis tem como principal atribuição do ponto de vista ção em vigor é clara no que se refere às licenças ambiental, “mostrar que a solução subterrânea pode ser ambientais, mas não há nenhum licenciamento ou uma excelente opção para reduzir os problemas ambien- órgão oficial que verifique se a obra atende aos tais, como tem sido utilizada no mundo todo, indicando requesitos necessários de segurança. Algo que julgo métodos executivos pouco agressivos ao meio ambien- uma incongruência”, argumenta. Ele aponta o exem- te”. No entanto, Tarcísio Celestino aponta que é preciso plo da Noruega, onde há uma norma que determi- uma mudança de concepção e mentalidade sobre as na que os responsáveis por toda obra subterrânea obras subterrâneas. “A interação entre obras civis e o enviem informações relativas à produtividade, tempo meio ambiente faz parte de nossas preocupações. Mas, de construção, rendimento de equipamentos, etc., no Brasil, ao inver- para o órgão responsável por compilar um banco so do que acontece de dados com o histórico de experiências na área. em outros países, “Desta forma, estimar o tempo e o custo da obra, é os ambientalistas Arquivo pessoal mais fácil e rápido. Mas, infelizmente, aqui no Brasil muitas vezes bom- não temos isso”. bardeiam a cons- trução de túneis, Desenvolvimento Sustentável o que dá margem para especulação Os princípios de sustentabilidade passam por garantir da mídia e impac- os quesitos de qualidade de vida da sociedade, otimizan- ta na opinião dos do a utilização de recursos ambientais, tendo em mente tomadores de as necessidades das populações futuras. “Os túneis e as decisão. É preciso estruturas subterrâneas de infraestrutura de transporte mudar esse con- são inevitáveis e promissoras soluções para os proble- ceito, afinal o túnel, mas urbanos, mas não são soluções únicas e isoladas, ambientalmente, André Assis, da Associação precisam estar integradas num planejamento urbano glo- é uma obra muito Internacional de Túneis e do Espaço bal”, salienta André Assis. mais amigável”. Subterrâneo e professor da Universidade de Brasília Divulgação CBT

14 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 15 O Mercado do setor água

Lucrativo, mas desafiador, exige grande responsabilidade e altos investimentos. Abre-se um novo mercado com enorme potencial, o mercado ÁGUA Por Daniela Mattiaso 16 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 CAPA

Essencial à vida e estratégica para geração de sócios e a eventual abertura de capital no médio/lon- riqueza nas nações, a água já é considerada um go prazo, à medida que a demanda de investimen- bem mercadológico, sendo negociada como produ- tos solicite reforçar a estrutura de capital da Foz do to pelas grandes corporações e incluída em transa- Brasil”, explica o presidente, Fernando Santos-Reis. ções internacionais, seja no seu fornecimento ou na A empresa presta serviços de resíduos urbanos e exportação da chamada “água virtual”, incluída na saneamento (água e esgoto) em concessões muni- produção de bens e alimentos. cipais e em parcerias com companhias estaduais de O cenário tem despertado cada vez mais inves- saneamento. No setor industrial, por meio de suas timentos do setor privado. Principalmente, pelas controladas Lumina e Cetrel-Lumina, também presta necessidades de redução de serviços de remediação de áre- custos com água e efluentes em as contaminadas para empresas indústrias e empresas; falta de Setor movimenta dos setores de petróleo, minera- acesso a fontes alternativas de ção, siderurgia e petroquímica. abastecimento; regiões com má grandes quantias Tem como principais clientes: distribuição de recursos hídricos; no mercado. Só a , , Transpetro, contaminações em águas super- Dow, Dupont, Quattor, Rhodia, ficiais e subterrâneas; desperdí- produção de água ThyssenKrupp, BattreBahia, Shell cios; e a necessidade crescente mineral no mundo, e VSB. Com uma carteira de con- de consumo do recurso, em paí- tratos cujo prazo médio é de 24 ses em desenvolvimento. por exemplo, anos, a expectativa da empresa é O setor envolve e movimenta corresponde a cerca obter um faturamento de R$ 750 altas quantias de dinheiro. Estima- milhões em 2010. Os negócios no se que a produção de água de 7% da economia segmento de saneamento repre- mineral no mundo, por exemplo, sentam cerca de 60% do fatura- corresponda a 7% do mercado, mento da empresa. O restante movimentando somas entre US$ 20 bilhões e US$ vem dos contratos com o setor privado. 30 bilhões por ano. Países com grandes reservas Atualmente, a Foz do Brasil desenvolve com a de água já possuem, inclusive, contratos de forne- Companhia de Saneamento Básico do Estado de cimento – o Canadá fez um acordo de concessão São Paulo () o projeto Aquapolo, que forne- de 25 anos para a China. No Brasil, só entre 2007 cerá 650 litros por segundo de água de reuso para e 2010, o Programa de Aceleração do Crescimento o Pólo de Capuava, em São Paulo (SP), além de (PAC) do Ministério das Cidades (MC) totalizará um associações com a Companhia Estadual de Águas e investimento de R$ 22,2 bilhões em Saneamento. E o Esgotos (CEDAE), no Rio de Janeiro, e a Companhia custo do passivo ambiental do País, para realização de Saneamento (COPASA), em Minas Gerais.. de trabalhos de descontaminação de águas subter- Outra gigante do setor, que está fazendo grandes râneas, está estimado inicialmente em R$ 15 bilhões. investimentos no País, é a empresa norte-americana AECOM, que está entre as 500 maiores empresas Mercado em expansão

Tal panorama tem levado grandes grupos empre-

sariais a entrarem neste mercado no Brasil, adquirin- Artcom A.C. do empresas que trabalham com o produto “água“ ou, no caso das demais companhias, consolidando e ampliando sua fatia no mercado nacional. Uma delas é a Organização Odebrecht, que para firmar sua atuação no segmento “água”, lan- çou a Foz do Brasil, antiga Odebrecht Engenharia Ambiental. A intenção da empresa é criar uma nova marca com dimensão nacional e investir R$ 3,6 bilhões nos próximos cinco anos para se firmar entre as maiores companhias do setor. “Nossa estratégia Nilson Guiguer, vice-presidente para America Latina, na de crescimento passa pela possibilidade de atrair Schlumberger Water Services dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 17 CAPA

dos Estados Unidos, segundo a revista Fortune. grandes dificuldades no setor é a falta de mão-de-obra Fornecedora global de serviços de engenharia e con- qualificada. “Isto ocorre devido ao pouco número de sultoria técnica, já atua no mercado nacional prestan- instituições que oferecem cursos voltados para essa do assessoria técnica para licenciamento ambiental. área. Outro problema é que, na maioria das vezes, o A AECOM está presente em 100 países e fechou o critério de seleção das empresas na hora da contra- ano de 2009 com uma receita de US$ 6,1 bilhões. Em tação de um serviço é o menor custo, não se impor- declaração feita, em outubro de 2009, pelo principal tando ou incentivando a aplicação de tecnologias mais executivo da empresa em visita ao Brasil, Frederick eficientes com melhores resultados a longo prazo”, Werner, o País foi eleito como base para seu cresci- explica ele. mento na América Latina. Isto porque está visando oportunidades que surgirão na área de infraestrutura, Aposta das nacionais em função da escolha do Rio de Janeiro como sede A empresa brasileira General Water, que está há dos Jogos Olímpicos de 2016 e Copa do Mundo, em 10 anos neste mercado, também está otimista. Ela 2014, além de outros negócios decorrentes do PAC, prevê um crescimento de 10% a 15% para o próximo de investimentos nas áreas de transporte e energia. O ano, segundo o Vice-presidente da empresa, Sérgio gerente técnico da empresa no Brasil, Oscar Heleno Francisco Pontremolez. Para isso, a companhia Hardt, comenta que o fornecimento de água e servi- investe em uma proposta diferenciada de comercia- ços para os grandes consumidores do setor privado, lização de seus produtos: não cobra os custos de constituído principalmente pelas indústrias, tem enor- implantação do projeto. “A General Water faz todos me potencial de crescimento. “Considerando que os investimentos, tanto nos processos de captação e existe uma clara tendência de escassez dos recursos tratamento da água, quanto para implantação de uma hídricos e as indústrias, por sua vez, não têm direito planta para tratamento de esgoto doméstico e reuso prioritário de uso, o desenvolvimento de projetos de de água. O que é pago pelo cliente é valor do metro reuso de efluentes industriais ou simbioses, com ou cúbico de água fornecido, num contrato a longo pra- entre outras indústrias, será uma forte tendência neste zo. Os projetos não têm custo e não se corre riscos mercado, senão a única. As concessões privadas de técnicos também; o cliente terá apenas um custo saneamento no Brasil ainda permanecem uma incóg- pelo consumo da água. Se nós furarmos poços ou nita, apesar de grandes players do mercado aportan- não conseguirmos achar água ou tratá-la adequada- do volumes expressivos de capital. Ademais, a atual mente, o cliente não tem nenhum ônus. Todo o finan- conjuntura política e econômica brasileira indica que ciamento da operação é feito pela empresa”, explica o envolvimento privado na prestação dos serviços de ele. Hoje, a General Water possui 70 contratos em água e esgotos tende a continuar crescendo”, com- funcionamento na Grande São Paulo. “No segmen- plementa ele. to de shopping centers, nós temos como clientes, o Mais uma multinacional forte no mercado de águas Iguatemi, Tamboré, Continental e ABC. No segmento é a Schlumberger. A empresa está projetando um cres- industrial, Saint Gobain, Liotecnica e Santa Marina. cimento de 40% nas atividades, principalmente devido Há também vários prédios comerciais, como o World ao aumento da importância da água, como um todo, mas, sobretudo, na indústria de óleo e gás. A divisão da Schlumberger Water Services foi criada há cinco anos, formada, inicialmente, por meio de aquisições de empresas como a Waterloo Hydrogeologic. A mul- tinacional tem seu foco voltado para estudos de ava- liação de recursos hídricos, de impactos ambientais, projetos de abastecimento, projeto e operação de sis- temas de rebaixamento de lençol freático e reuso de águas. “Nosso diferencial é trazer várias tecnologias da indústria do petróleo para o segmento de águas sub- terrâneas. Nossos principais setores de atuação são

na área de mineração, indústria de óleo e gás, e os Arquivo pessoal demais tipos de indústria”, afirma Nilson Guiguer, Vice- presidente para a America Latina, da Schlumberger Sérgio F. Pontremolez, geólogo e vice-presidente da Water Services. Guiguer comenta ainda que uma das General Water

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Trade Center, Morumbi Office Power, Condomínio American Bussiness Park e clubes como Pinheiros,

Paineiras, Ipê, Cidade do Bradesco e do Unibanco”, Arquivo pessoal relata ele. Outra organização brasileira que apostou no mer- cado de águas foi a ESTRE Ambiental S.A. A compa- nhia possui em seu escopo diversas empresas, todas especializadas nos mais diversos tipos de soluções ambientais. Entre elas, está a Água & Solo Consultoria Ambiental Ltda, empresa de soluções em diagnósti- co ambiental, remediação de áreas contaminadas, tratamento de águas e efluentes e monitoramento de emissões atmosféricas. Flávio Augusto Ferlini Salles, sócio da Água & Solo, conta que “a crise financei- Flávio Augusto Ferlini Salles, sócio da Água & Solo ra de 2009 trouxe uma ligeira retração de trabalhos na empresa, mas não de solicitações de propostas, de recuperação de demanda para 2010 é grande. cujas negociações foram retomadas rapidamente. “As previsões de crescimento do País são excelen- Sobre uma porcentagem de crescimento do mercado tes, lastreadas pelo crescimento dos setores de infra- ambiental em 2010, Salles considera difícil precisar. estrutura, saneamento, construção civil e industrial, “Como a atividade ambiental ainda é vista por muitas todos devem demandar muitos trabalhos para a área empresas como gasto e não como investimento, prin- ambiental. Além do mais, meio ambiente é um tema cipalmente em períodos de recessão, as verbas desti- corrente nas agendas atuais. Espera-se, portanto, um nadas a trabalhos ambientais são comumente retidas amadurecimento do mercado exigindo mais trabalhos ou redirecionadas”. Mas, segundo ele, a expectativa em maiores níveis de qualidade.”

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Cobrança pública recurso, existem movimentos no sentido de mudar a dominialidade sobre as águas subterrâneas, que O Governo Federal e os Estados também são hoje é dos Estados, para a União, por meio de uma grandes players do mercado de águas no País, Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Na legis- conjuntamente com o setor privado, já que o paga- lação atual, a arrecadação do pagamento pelo uso mento é fixado pelo poder público, por compa- das águas subterrâneas permanece com os Estados, nhias de saneamento e indústrias, e representan- sem nenhum repasse para a União. A PEC nº 43, tes da sociedade civil. se aprovada, transferirá a titularidade deste recurso A cobrança pelo uso das águas no Brasil, sejam para a União e o gasto do consumidor será maior elas superficiais ou subterrâneas, já tem receita pelo direito à água potável, já que hoje, no País, considerável. Segundo dados da Agência Nacional paga-se apenas pelo serviço de fornecimento e não de Águas (ANA), a União arrecada R$ 27 milhões pela água em si. A PEC é de 2000 e ficou esqueci- ao ano apenas com a utilização de duas bacias: da no Congresso Nacional durante os últimos anos. a do Paraíba do Sul, nos Estados de São Paulo, Em junho de 2009, foi redistribuída na Comissão de Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro; e a dos Constituição e Justiça do Senado. O relatório final rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, nos Estados deverá ser apresentado no início de 2010. O retorno de São Paulo e Minas Gerais. No segundo semes- à pauta do Congresso da PEC 43 é um retroces- tre de 2010, começará também o pagamento pelo so para o Sistema Nacional de Gerenciamento de uso das águas da bacia do Rio São Francisco, que Recursos Hídricos (SINGREH), segundo Everton incrementará a receita com R$ 20 milhões anuais. Luiz da Costa Souza, Presidente da Associação No caso do uso das águas subterrâneas, ape- Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS). “A PEC nas os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro 43 ataca a um dos fundamentos da Lei Federal nº fazem a cobrança, justamente nas regiões adja- 9433/97, que determina que a gestão dos recursos centes às das bacias do rio Paraíba do Sul e dos hídricos deve ser descentralizada. Diversos Estados rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, onde a União brasileiros já desenvolvem ações de gestão de também recebe pela utilização das águas superfi- recursos hídricos subterrâneos eficazes, algumas ciais, sendo que o processo de produção do metro das quais inclusive têm sido apoiadas pela Agência cúbico dos aquíferos, com a qualidade necessária, Nacional de Águas (ANA). A ideia contida na PEC é de 10% a 15% maior que o dos rios. 43 não reconhece o papel do Conselho Nacional de Recursos Hídricos e dos Conselhos Estaduais de A PEC 43 Recursos Hídricos, os quais poderão futuramente negociar conflitos que possam se estabelecer em Devido ao valor estratégico da água para o aquíferos compartilhados por mais de um Estado, desenvolvimento de diversas atividades produtivas e sem necessidade de alteração na dominialidade”, às altas receitas geradas pela comercialização deste ressalta o presidente da ABAS.

LUCRO X SUSTENTABILIDADE

“O Brasil dispõe de um grande potencial relativo exploram mais do que a natureza pode repor. “Os aos recursos hídricos superficiais e subterrâneos. Tal negócios, que envolvem a água como produto mer- potencial deve ser encarado como um grande dife- cadológico com objetivo de obter lucro, exigem rencial favorável a nós para o incremento sustentá- grande responsabilidade socioambiental de seus vel das atividades econômicas que utilizam a água empresários, visando a sustentabilidade. Acredito como insumo, com reflexos positivos na melhoria que o empresário moderno, comprometido com das condições de vida dos brasileiros”, afirma Ever- uma nova realidade de mercado, traduzirá iniciativas ton Souza, presidente da Associação Brasileira de de sustentabilidade em diferencial para atingir clien- Águas Subterrâneas (ABAS). Porém, vale ressaltar, tes e consumidores. Para ele, já é certo que “somen- que neste cenário é preciso evitar o desperdício e te o investimento em novas tecnologias para gestão a utilização intensiva predatória nas atividades pro- e uso racional do recurso pode garantir o futuro das dutivas que, em algumas situações, sem controle, águas no mundo e a sobrevivência da humanidade”.

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CONSUMO DE ÁGUA NOS PROCESSOS PRODUTIVOS

Na tabela, abaixo, é possível verificar os gastos com água nos processos de produção de alguns bens e alimentos e a importância estratégica do recurso para as atividades industriais e agrícolas (produto/consumo em litros): Wikimedia Commons • 1 boi exige 100 mil litros desde seu nascimento • 1 xícara de café requer 140 litros desde a semeadura • 1 kg de arroz consome 500 litros a partir do plantio • 1 tonelada de grãos necessita em média 1 mil tonelada de água • 1 carro utiliza 56 mil litros na fabricação • 1 computador gasta 1.500 litros para ser produzido • 1 kg de alumínio consome 100 mil litros em seu processo • 1 kg de açúcar utiliza 100 litros para ser produzido • 1 litro de cerveja necessita de 4 litros a 7 litros • 1 kg de papel consome 250 litros em sua fabricação • 1 litro de petróleo gasta 18 litros • 1 kg de vidro plano utiliza 0,6 litros • Lavagem de 1 kg de roupas em lavanderias con- some de 20 litros a 50 litros • Processamento de um boi em matadouro/frigorífi- Fonte: Cartilha “Uso racional da água no comércio”, da Federação do co necessita de 2.500 litros Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio)

dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 21 PRODUÇÃO DE ÁGUA

TENHO UM POÇO. Poço de Perfuração DH divulgação E AGORA?

Conheça quais procedimentos de manutenção preventiva e análise da qualidade da água você deve saber, para que seu poço trabalhe sempre com capacidade máxima e riscos menores de contaminação Por Isabella Monteiro

A atividade de perfuração de poços é realizada já estabelecidas, que garantam o funcionamen- no Brasil há mais de 100 anos. Atualmente esti- to adequado e a qualidade da água do poço. Ela ma-se que existam de 700 mil a 800 mil poços em cita as técnicas construtivas, tais como: laje de operação, número que, segundo Carlos Eduardo proteção; selo sanitário e tampão; utilização de Quaglia Giampá, Diretor da DH Perfuração de revestimento e material de pré-filtro de qualidade, Poços, é difícil de ser mensurado “já que depen- que impedem a entrada de contaminantes; vazão de de ações governamentais, varia de acordo com de explotação e equipamentos de bombeamento os períodos de seca, além da existência de muitos bem dimensionados e conhecimento da qualida- poços clandestinos, secos ou abandonados por de química da água, entre outras medidas. “Poços falta de energia e instalação”. Giampá estima ain- mal construídos ou abandonados podem se tornar da que sejam perfurados, por ano, no país, entre caminho preferencial para que os contaminantes 40 mil e 60 mil poços, enquanto que nos Estados alcancem a água subterrânea. O mesmo pode Unidos, por exemplo, são cerca de 900 mil. Como ocorrer em poços localizados em áreas degrada- o poço pode servir de vetor para a introdução de das, que a partir do bombeamento e extração pos- vários contaminantes – seja ele artesiano (poço sibilitam o caminhamento de plumas de contami- profundo cuja pressão natural da água é capaz nantes ampliando a área atingida”, salienta. de levá-la até a superfície) ou poço tubular (com Eugenio Pereira, Vice-presidente da ABAS captação realizada por meio da instalação de apa- Núcleo Santa relhos – situação da maioria dos poços profundos Catarina, expli- existentes), cuidados essenciais devem ser toma- ca que o cone de dos para permitir que ele opere com bom nível de rebaixamento, ori- vazão e de qualidade da água, além de prolongar ginado pelo bom- sua vida útil e diminuir os riscos de contaminação. beio, cria uma

“Infelizmente, poucas pessoas tomam as medidas convergência das Arquivo pessoal preventivas necessárias, atitude crucial para saber linhas de fluxo como ele está operando”, pondera. ao redor do poço De acordo com Rosângela Pacini Modesto, capaz de atrair len- Gerente do setor de Águas Subterrâneas e Solo tamente as plumas da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo de contaminação

(CETESB), no momento da perfuração e durante para seu interior. Eugênio Pereira, Vice-presidente da a explotação é preciso adotar normas técnicas “Se por um lado a ABAS Núcleo Santa Catarina

22 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 PRODUÇÃO DE ÁGUA

produção de poços antigos pode ser comprometi- podendo comprometer algumas estruturas do poço da após a contaminação, a construção de um con- - é necessário que sejam usados materiais mais junto destes para bombeamento dentro da área resistentes à sua agressividade bem como filtro ino- contaminada, torna-se um método de remediação xidável”. possível, que objetiva tratar a água e depois reinje- Segundo Pereira “a manutenção preventiva tá-la”, argumenta. e análise da qualidade da água são fundamen- Desta forma, os métodos de manutenção pre- tais para a vida útil do poço, pois, como possibi- ventiva, que identificam os níveis hidrodinâmicos, litam a detecção dos problemas ainda no início, a vazão do poço, o funcionamento da bomba sub- as intervenções podem ocorrer de maneiras mais mersa e a qualidade da água, devem ser adota- brandas, porém eficientes na correção. Se o poço dos para viabilizar “a conservação das obras de já está totalmente incrustado ou infestado por fer- captação, redução dos custos de operação, acom- ro-bactérias, por exemplo, os procedimentos de panhamento das variações da qualidade da água, manutenção tornam-se mais difíceis e onerosos”. visando à conservação dos mananciais”, ressalta Para Reinaldo Passerini, Diretor da Divisão de Elzira Déa Barbour, geóloga do setor de Águas Águas Subterrâneas do Departamento de Águas Subterrâneas e de Solo da CETESB. e Energia Elétrica (DAEE) de Araraquara (SP), o monitoramento periódico da qualidade da água Manutenção do poço e e do estado físico do poço e seus equipamentos análise da água são necessários “visto que possibilitam a ado- ção de medidas eficientes e rápidas, caso ocor- Imprescindíveis, ram mudanças nos elementos presentes na água, Arquivo pessoal “tais procedimen- nas condições de operação do poço (estado dos tos consistem em filtros, bombas, tubulação, hidrômetro, etc.) ou manter a integrida- ainda na variação dos níveis da água que podem de construtiva dos indicar superexplotação ou esgotamento do aquí- poços, por meio do fero”. Ele afirma que as águas subterrâneas devem diagnóstico de pro- ser analisadas periodicamente, acompanhando blemas decorrentes os parâmetros organolépticos, físico-químicos e de ordem mecânica bacteriológicos, além da medição regular do Nível (deterioração da Estático (NE), Nível Dinâmico (ND) e Vazão (Q), de estrutura do poço, forma que suas curvas em relação ao tempo pos- Luciano Leo Junior, Geólogo e diretor defeitos de equipa- sam apontar qualquer variação significativa. “As da Jundsondas Poços Artesianos mentos), hidráulica aferições destes dados junto com registros dos (obstrução das seções filtrantes) e de qualidade parâmetros elétricos da bomba submersa revela- da água (alteração das condições físico-químicas rão o momento de intervenção no poço e a perio- da água por superexplotação ou incremento da dicidade das manutenções”, esclarece. recarga dos aquíferos)”, explica Elzira. Luciano Leo Reinaldo Passerini comenta que a potabilidade Junior, geólogo e Diretor da Jundsondas Poços da água é defini- Artesianos, lembra ainda que “evitar a superexplo- da pela Portaria tação é crucial para manter a capacidade de pro- 518 de 25/03/2004, dução do poço”. Conforme aponta Carlos Giampá, do Ministério da Arquivo pessoal o ideal é que a explotação seja de 18 horas a 20 Saúde, tabelas I, horas por dia e haja monitoramento constante da III e V, que analisa parte hidráulica. Sobre a vida útil do poço, Giampá quatro parâmetros esclarece que, “para ser viável economicamente, o bacteriológicos, poço deve durar pelo menos 20 anos, no entanto, 26 químicos inor- com as tecnologias e a realização dos procedimen- gânicos e 39 orgâ- tos de manutenção preventiva, o poço pode ter sua nicos. “A análise vida útil prolongada por muitos outros anos”. Ele deve ser anual ou ainda recomenda a observação da característica sempre que soli- da água. “Se a água é agressiva - água com pro- citada pelo órgão Reinaldo Passerini, Diretor do DAEE priedades de dissolver alguns minerais por contato, gestor. A legislação de Araraquara (SP) dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 23 PRODUÇÃO DE ÁGUA ArtCom A. C.

estadual estabelece ainda a NTA-60 (Norma Técnica Alimentar) Decreto Estadual 12486 de 20/10/68, que classifica a água em duas categorias: para abasteci- mento público e para abastecimento particular, sen- do esta água de fonte ou água de poço”, completa. Fique atento

Algumas características da água podem ser observadas de imediato, tais como gosto, cor, tur- bidez e cheiro. Outras características passam des- percebidas e seus efeitos na saúde só podem ser sentidos a longo prazo, após ingestão contínua, como a presença de organismos microscópicos e elementos químicos nocivos, detectados apenas após análises específicas e detalhadas. Passerini explica que “a análise executada, logo após a per- furação, identifica, antes do poço entrar em opera- ção regular, a existência de vetores contaminantes, como compostos de Nitrogênio, Flúor (cujo excesso causa fluorose e osteoporose), Cromo Hexavalente (altamente carcinogênico), derivados de petróleo e outros, assim como de microorganismos patogêni- cos ou não”. Já a presença dos principais metais, de características como sólidos totais dissolvidos, alcalinidade, sais como carbonatos, sulfatos e clo- retos, além do controle do grupo coliforme, indicará se a água é confiável para consumo humano, afirma Pereira. Também darão informações sobre carac- terísticas incrustantes ou corrosivas. “Usamos as informações para dar direcionamento adequado às intervenções nos poços através das manutenções. Mas, os valores podem mudar ao longo do tempo, por isso, é fundamental monitorá-los, pois uma água potável hoje, pode apresentar problemas no futuro. Portanto, o monitoramento periódico dará a dica da do nível dos aquíferos”. Por isso, segundo o geólogo tendência que está se formando”, explica ele. Leo Junior, as empresas perfuradoras de poços tam- bém precisam adotar “novas medidas construtivas Desafios da urbanização que mitigam riscos de contato com contaminações superficiais, como uso de equipamentos adaptados Instalação indevida de aterros sanitários, depósi- e versáteis para locais de difícil acesso e treinamento tos de lixo, lagoas de decantação industriais, aumento da equipe técnica para realização das obras com téc- do consumo e demanda por água, maior impermea- nicas atuais de perfuração”. bilidade do solo e redução da recarga dos aquíferos Eugenio Pereira aponta outros desafios decorrentes são conseqüências do intenso e crescente processo da urbanização. Os poços sem isolamento sanitário, de urbanização. Rosângela Modesto explica que “nas por exemplo, podem servir de acesso para vários con- áreas urbanas, estudos mostram a contaminação taminantes em aqüíferos mais profundos. “A entrada de das águas subterrâneas por nitrato, decorrente de equipamentos, quanto sua mobilidade, é muito dificul- sistemas de tratamento in situ comuns no passado tada nas cidades, isto sem falar de áreas urbanas que e por substâncias decorrentes de atividades indus- sofrem solapamento por exploração indevida de aquífe- triais, além da superexplotação, com rebaixamento ros cársticos e até regiões onde os terrenos estão sendo

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rebaixados pela exploração indevida de aquíferos confi- trolar a poluição das águas subterrâneas, o que nados, como é o caso da Cidade do México”, esclarece. é executado por meio da Rede de Monitoramento Para Elzira Déa Barbour, um dos principais desa- de Qualidade das Águas Subterrâneas, e, pontual- fios é a “integração do monitoramento da qualidade mente, em ações de prevenção e controle e na fis- e da quantidade, de forma a gerar informações que calização de fontes de poluição. O DAEE, autarquia ampliem o conhecimento hidrogeológico, o estabe- vinculada à Secretaria Estadual de Saneamento e lecimento de perímetros de proteção dos poços e Energia é o órgão gestor de Recursos Hídricos no a melhoria na articulação dos órgãos gestores com Estado paulista e responsável pela concessão das o objetivo de melhor instrumentalizar a gestão dos outorgas e fiscalização de recursos hídricos e da recursos hídricos”. Por isso, além do monitoramento cobrança da água. Já à Secretaria de Saúde, com- de qualidade realizado em poços tubulares, a CETESB pete a fiscalização das águas subterrâneas desti- e o DAEE estão implementando, em conjunto, uma nadas ao consumo humano e o atendimento do rede de monitoramento integrado quali-quantitativo padrão de potabilidade. das águas subterrâneas, atendendo as diretrizes da Política de Recursos Hídricos. “O monitoramento foi Os prazos das licenças são: iniciado no segundo semestre de 2009 em 20 poços • Para a Licença de Execução de Poço Tubular dedicados, número que deverá, a médio prazo, ser Profundo – três anos (prazo determinado na emis- ampliado para 200”, aponta ela. são da Licença de Perfuração), com, 30 dias após a perfuração para solicitar o direito de uso; Legislação •Para a Outorga de Direito de Uso do Recurso Hídrico Subterrâneo – cinco anos para o Em São Paulo, o Decreto nº 32.955/1991 atribui usuário privado e 10 anos para usos de utilidade à CETESB a responsabilidade de prevenir e con- pública.

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Mensalmente Cuidando Adotar os mesmos procedimentos feitos semanalmen- te, acrescentando os seguintes itens: • Observar se a amperagem ou vazão apresentam osci- do poço lações durante as medições. • Coleta e análise de água nos moldes da Legislação A manutenção dos poços e a utilização de produtos Vigente em seu Estado (ex.: Tabela 09 da MS 518). certificados são fundamentais para que o poço mantenha suas características de produção e qualidade de água pre- Trimestralmente servadas ao longo de toda sua utilização, explica o geólo- As medidas a serem adotadas trimestralmente seguem go José Paulo G. M. Netto, Diretor da Maxiagua Soluções as adotadas semanal e mensalmente, acrescentando : em Água. Netto relata que, segundo a literatura, a manu- • Medição do Nível Estático (NE) tenção preventiva é pelo menos 16 vezes mais econômica que a corretiva. “A corretiva, acaba sendo necessária sem Importante: para as medições de Nível Dinâmico é programação e implica em custos adicionais de compra importante que o poço esteja em regime normal de ope- de água de outras fontes, contratação emergencial dos ração, ou seja, pelo menos seis horas ligado, e, em caso serviços de manutenção e pode ocasionar quebras na de qualquer anomalia, deverá ser verificado o tempo de produção do cliente”, observa. A falta de manutenção e operação do poço no momento da medição do nível. Se variações na vazão de produção relacionadas com incrus- for preciso, a medição deve ser repetida, mantendo-se o tações implicam ainda em aumento do custo de energia mesmo padrão das medidas anteriores. O mesmo ocorre por metro cúbico de água explorada em um poço. para o Nível Estático que deverá respeitar um tempo míni- Segundo Netto, as empresas privadas e as compa- mo de quatro horas de paralisação para que seja medido nhias estaduais e municipais de Saneamento conhecem com precisão. bem a importância de um poço e o custo de sua parali- sação. Por isso, as mesmas têm adotado um controle Anualmente rigoroso na operação dos poços, além de implantar pro- • Medição do Nível Estático (NE) gramas de manutenção preventiva. Como benefícios têm • Medição de Nível Dinâmico (ND) demonstrado uma forte recuperação dos investimentos, • Medição de Vazão permitindo aumento da produção de água e redução do • Anotação da produção de água do período (tomada consumo de energia elétrica. “Há ainda a utilização de pelo hidrômetro) sistemas remotos de monitoramento, que informam a real • Anotação da Amperagem de trabalho do motor condição da exploração de um poço de forma instantânea • Anotação da Voltagem de trabalho e podem transmitir estes dados por rádio, celular ou linha • Se o quadro possuir horímetro, anotar o acumulado fixa de telefonia”, diz ele. do período Para prevenir e diagnosticar com precisão os proble- • Observar qualquer alteração na qualidade da água: mas que podem ocorrer em um poço, acompanhe o guia odor, sabor, e cor rápido com medidas simples, que contribuem no diagnós- • Observar se a amperagem ou vazão apresenta osci- tico de um problema ou nas medidas corretivas em uma lações durante as medições manutenção: • Coleta e análise de água nos padrões da MS 518 (tabelas 01, 03, 05 + pH – microcistinas). Semanalmente • Medição de Nível Dinâmico (ND) A cada 18 meses • Medição de vazão • Manutenção e desincrustação química do poço • Anotação da produção de água do período (tomada • Verificação do estado da tubulação de adução pelo hidrômetro) • Aferição do hidrômetro • Anotação da amperagem de trabalho do motor • Revisão do conjunto bombeador • Anotação da voltagem de trabalho • Teste de resistência elétrica do cabo da bomba • Se o quadro possuir horímetro, anotar o acumulado do período Atenção: poços com alterações na qualidade de água • Observar qualquer alteração na qualidade da água: podem requerer manutenções a cada 12 meses para pre- odor, sabor e cor servar sua operação ideal e de menor custo.

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Quais são suas recomendações para hidrogeólogos brasileiros? Por Juliana Freitas e Marcelo Sousa, do Canadá

Nos três anos de existência de nossa coluna, tive- água é muito importante para todos os países. Algo mos a oportunidade de conversar com muitos pes- que considero importante - e estamos descobrindo quisadores de destaque. Ao final de cada entrevista, agora nos Estados Unidos - diz respeito ao encerra- sempre perguntamos quais seriam as recomendações mento e abandono de poços, principalmente em áre- para um profissional de águas subterrâneas no Brasil. as contaminadas com derramamentos de petróleo. Se As respostas foram muito interessantes e condensam poços são abandonados de forma inadequada, eles a sabedoria de muitos anos de trabalho. podem permitir o fluxo de contaminantes de um aquí- No espírito de planejamento de mais um novo ano fero para outro. Outra coisa que é muito clara para de nossas vidas, trazemos uma coletânea com uma todos é que a melhor atitude é prevenir que a contami- seleção de respostas de diferentes entrevistados. O nação ocorra no futuro, porque a remediação é muito resultado é uma mistura de considerações sobre o cara e nós, como sociedade, não podemos arcar com futuro da hidrogeologia, planejamento de carreira e isso. Então, as regulamentações com o objetivo de importância da nossa área. Esperamos que as respos- prevenir a contaminação industrial na água subter- tas tragam inspiração para os seus planos para 2010! rânea têm tido grande sucesso nos Estados Unidos, pois a maior parte dos problemas que estamos enfren- Jim Barker (Universidade de Waterloo – tando agora foram causados no passado. Canadá) - Na medida em que a área de hidrogeologia de contaminantes se desenvolve no Brasil, ela deve Tony Endres (Universidade de Waterloo - servir às necessidades do país. Para isso, deve focar Canadá) - Diria que a primeira coisa é: sua for- em compostos e situações comuns ou importantes ao mação nunca será suficiente. Hidrogeologia é como país. O comportamento de contaminantes em solos qualquer outro campo em Ciências da Terra, pre- residuais deve ser de especial interesse. Muito se cisa de uma boa base nas ciências fundamentais. sabe sobre hidrogeologia de contaminantes interna- Você deve ser capaz de lidar com física, química e cionalmente. Muitos compostos de interesse brasilei- biologia. É importante ter uma formação prática e ro, provavelmente, são bem entendidos por hidroge- sempre estar aberto a ideia de voltar a estudar. Veja ólogos em algum outro lugar do mundo. Há sempre as escolas de pós-graduação, tente obter o máximo a necessidade de se manter atualizado sobre o que de treinamento possível em qualquer etapa de sua está acontecendo para depois adaptar isso às neces- carreira. Outra medida importante é: se exponha sidades brasileiras. Por exemplo, já se sabe muito ao máximo aos diferentes cenários possíveis. Você sobre contaminação e remediação por solventes clo- pode se especializar, mas deve tentar ver diferen- rados em aquíferos arenosos simples. Os problemas tes aplicações, cenários geológicos e problemas são desafiadores, mas os brasileiros podem ter esse de contaminação. Outra atitude é procurar tornar conhecimento rapidamente. A grande necessidade o seu campo conhecido ao público, buscando o é adaptá-lo às situações brasileiras, como em solos máximo de exposição possível em uma comunida- residuais, ou de acordo com as exigências das agên- de. Além disso, devemos nos esforçar para trazer cias reguladoras nacionais. Meu último comentário é mais talentos para a área. É raro alguém que vem direcionado tanto à prática de pesquisa e profissional. do Ensino Médio querer fazer hidrogeologia, porque O Brasil deve tentar ser uma liderança mundial em ouviu falar sobre o assunto. Em geral, em algum pelo menos algumas áreas de hidrogeologia de con- momento do segundo ano do curso universitário os taminantes. O gerenciamento das questões ambien- estudantes se perguntam: “Onde eu posso arrumar tais em torno da produção e do uso do etanol pode um emprego no final do curso? Que tal hidrogeo- ser uma dessas áreas. logia? Nunca tinha pensado nisso, mas pode ser interessante...” Então, como hidrogeólogos, deve- Barbara Bekins (USGS - Estados Unidos) - mos convencer as pessoas que: a) é interessante; Primeiro, parabéns por serem hidrogeólogos, pois b) é importante; c) é uma area em crescimento, ao dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 27 Conexão internacional

contrário do que dizem esses artigos que saem de duro, integridade e generosidade compensam vez em quando dizendo que “geologia é uma área antes do que tarde. morta”. Está morta até que alguém encontre alguma coisa e todos os paradigmas sejam destroçados e Larry McKay (Universidade do Tennessee - jogados fora. E tudo começa de novo... Estados Unidos) - Minha recomendação principal, que estou dizendo em todas as palestras ao longo John Wilson (USEPA - Estados Unidos) - desse ano, é enfatizar o aspecto multidisciplinar Minha sugestão para os hidrogeólogos no Brasil é de problemas ambientais, especialmente relacio- que comecem a fazer a conexão entre os custos de nados à água subterrânea. Acho que é essencial remediação da água subterrânea e o valor econô- trazer diferentes perspectivas para lidar com pro- mico do aquífero que está sendo restaurado. blemas envolvendo águas subterrâneas. Cerca de metade dos meus alunos de pós-graduação Walter Illman (Universidade de Waterloo - não são formados em geologia. Tive bons geólo- Canadá) - Considero muito importante a educação gos como estudantes, mas também tive químicos, e especialmente a educação continuada, mesmo engenheiros químicos, microbiólogos, ecólogos após a obtenção de um título (graduação, mes- etc. Todos trazendo um diferente conjunto de habi- trado ou doutorado). Mesmo sendo um professor lidades. Em muitos casos, quando terminam suas universitário em Waterloo, continuo aprendendo pesquisas, eles podem fazer coisas muito além do diariamente sobre os novos desenvolvimentos na que eu consigo. Eu nunca serei tão bom em micro- área de hidrogeologia. Recomendo aos hidrogeó- biologia como alguns dos meus alunos. logos brasileiros que assinem as principais publi- cações científicas e acompanhem as novidades John Molson (Universidade de Laval - da área. Boas publicações podem ser encontra- Canadá) - Apesar de não ter muita familiaridade das na internet ou compradas e devem ser estu- com as principais questões hidrogeológicas no dadas meticulosamente. Os que são aventureiros Brasil, arriscaria dizer que provavelmente são simi- devem considerar a possibilidade de estudar no lares às que temos aqui no Canadá, onde a pro- Exterior, como no Canadá, nos Estados Unidos ou teção de águas subterrâneas é o foco principal. na Europa, onde a hidrogeologia de contaminan- Como é sempre muito mais barato proteger um tes está mais madura, mais desenvolvida e onde a aquífero do que remediar um contaminado, reco- prática é mais antiga. mendaria a um jovem hidrogeólogo ser proativo e atuar no convencimento de órgãos ambientais, de Pedro Alvarez (Universidade Rice - Estados indústrias e do público sobre a importância de se Unidos) - Existem algumas características que proteger esses recursos. A prática profissional e o a maior parte dos profissionais de sucesso na conhecimento podem ser utilizados, por exemplo, nossa área exibem, independente da nacionali- para o desenvolvimento de métodos cientificamen- dade. Isso inclui ler muito, com voracidade e cri- te fundamentados e de estratégias para a proteção ticamente (como Pasteur disse: “no campo da e conservação de águas subterrâneas. Para aspi- observação, a oportunidade aparece somente rantes a modeladores: faça questão de compre- para as mentes preparadas”). Esse compromisso ender as limitações e hipóteses do seu modelo e de aprendizado por toda a vida é particularmente apresente essas informações ao seu público-alvo. importante no nosso campo, pois tecnologias de Foque no modelo conceitual das áreas a serem remediação estão se desenvolvendo rapidamen- estudadas e inclua todos – e somente – os proces- te. Além disso, biorremediação é dificilmente uma sos mais relevantes. Mantenha uma perspectiva linha reta rumo à meta desejada e o sucesso da geral do problema, o resto são apenas detalhes. sua implementação pode envolver diferentes pon- Como Albert Einsten disse: “Tudo deve ser feito o tos de decisões, que exigem flexibilidade e versa- mais simples possível, mas nem um pouco mais tilidade. Então, exercitar o pensamento indepen- simples que isso”. dente, principalmente habilidades para definição do problema e solução do problema é um ponto Jeff McDonnell (Universidade do Oregon crítico. Isso é coerente com a citação de Einstein, - Estados Unidos) - Recomendo aos meus alu- que imaginação é mais importante que conhe- nos a buscarem tópicos de pesquisa que sejam cimento. Mais importante, lembrar que trabalho admiráveis, financiáveis e estejam ao alcance. Um

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grande primeiro passo é achar algo que você seja recursos naturais mais essenciais. Águas subter- apaixonado e depois conhecer os principais arti- râneas não apenas são mananciais públicos para gos nessa área. Familiaridade com a literatura, muitas comunidades, mas também sustentam a passada e presente, ajuda muito a desenvolver maior parte de ecossistemas naturais. Esse recurso novas questões e saber para onde a área deveria pode ser degradado pelo uso excessivo ou por con- se direcionar. Existe muito que nós não sabemos taminação. A sua responsabilidade será proteger e entendemos. Por último, minha sugestão para esse recurso, fornecendo uma sólida base científica um hidrólogo/hidrogeólogo brasileiro começando para o seu uso sustentável. Sustentabilidade signi- a carreira é: tente desenvolver uma pesquisa com fica que a geração atual possa utilizar na medida uma “marca”, onde pesquisas são desenvolvidas que esse uso não impeça o uso dos mesmos recur- e respondem uma “questão central da pesquisa”. sos por futuras gerações. Esse deve ser o princípio Isso vai trazer ao grupo visibilidade na literatura orientador da sua carreira. e na pesquisa internacional. Existem muitas áre- as interessantes em hidrologia e hidrogeologia no Brasil a serem exploradas – especialmente no contexto de mudanças de uso de solo e mudan- ças climáticas – onde os resultados coletados no país podem influenciar muito o conhecimento e o desenvolvimento de modelos em outros lugares.”.

Emil Frind (Universidade de Waterloo - Canadá) - Trabalhar com águas subterrâneas é mais do que achar água debaixo da terra. Tente Marcelo Sousa e Juliana Freitas são pós-graduandos da se imaginar como guardião ou guardiã de um dos Universidade de Waterloo, do Canadá

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Flutuação do Nível de Água em AquÍferos Rasos

Geólogo Marco Aurélio Z. Pede [email protected]

A remediação dos aquíferos contaminados requer No último trimestre de 2008 se observou em vários o conhecimento das características hidrogeológicas sites contaminados presentes no interior do Estado de da área contaminada, da extensão, tipo e distribuição São Paulo, inúmeros poços de monitoramento secos ou da pluma de contaminação e dos aspectos técnicos com coluna de água insuficiente para coleta de amostras. locais para implantação dos equipamentos. Na região Sudeste, a instalação de poços de Em uma área contaminada, os fenômenos de monitoramento no período de março a maio deve ser variação do nível de água em aquíferos rasos afetam realizada com critério, pois é quando grande parte diretamente os processos que governam o fluxo de dos aquíferos rasos apresenta o ápice da recarga. água subterrânea, bem como os processos de tra- A sabedoria popular mostra este conhecimento peamento e destrapeamento de Compostos de Fase na prática. Os construtores de cacimbas, ou pocei- Líquida Leve Não Aquosa (LNAPL) e, consequente- ros, sabem há muito tempo que o melhor período de mente, os trabalhos de remediação. escavação e instalação das cacimbas é de outubro O nível de água em aquiferos rasos oscila em res- a novembro, quando o aquifero se encontra em seu posta aos inúmeros fenômenos, tais como aqueles de menor nível, permitindo a escavação de porções do natureza antrópica (irrigação, bombeamento, fuga de aquífero que a partir do final do mês de dezembro água e esgoto do sistema de público abastecimento e começam a ficar saturadas. coleta) e flutuações sazonais naturais relacionadas à recarga direta através da precipitação de chuvas. No Brasil, são poucos os trabalhos existentes de acompanhamento de forma contínua e de longo pra- zo da flutuação do nível de água em aquíferos rasos. Entre os trabalhos destaca-se o de Carnier Neto Divulgação Jundsondas (2006), que monitorou um poço instalado na Forma- ção Rio Claro, no município de Rio Claro (SP), no perí- odo de setembro de 2001 a março de 2006 (Figura 01). O poço de monitoramento apresentava nível de água inicial de 7,70m. Carnier Neto (2006) observou diferentes ciclos sazonais de recarga e descarga do aquífero resultante das variações pluviométricas anuais. O valor máximo É preciso selecionar criteriosamente o melhor período de de coluna aumentou, a cada ciclo, em 2002, 2003 e escavação e instalação das cacimbas 2004, voltando a cair em 2005 (Figura 01). A variação de 3,5 metros, no período de setem- Referência: bro de 2001 (mínima) a março de 2004 (máxima), CARNIER NETO D. Análise das séries temporais de mostra que, ao longo dos anos, é possível ter monitoramento de nível d’água em poços no aquífero Rio poços de monitoramento secos, mesmo se tiverem Claro. 2006. 61f. Dissertação (Mestrado em Geociências e sido instalados com colunas de água superiores a Meio Ambiente) – Instituto de Geociências e Ciências Exa- dois metros. tas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

30 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 31 32 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS dEZEMBRO DE 2009/JANEIRO de 2010