DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

(Editada desde 1851)

v. 134 n. 10/12 out./dez. 2014

FUNDADOR COLABORADOR BENEMÉRITO

Sabino Elói Pessoa Luiz Edmundo Brígido Bittencourt Tenente da Marinha – Conselheiro do Império Vice-Almirante

R. Marít. Bras. Rio de Janeiro v. 134 n. 10/12 p. 1-320 out. / dez. 2014 A Revista Marítima Brasileira, a partir do 2o trimestre de 2009, passou a adotar o Acordo Ortográfico de 1990, com base no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras – Decretos nos 6.583, 6.584 e 6.585, de 29 de setembro de 2008.

Revista Marítima Brasileira / Serviço de Documentação Geral da Marinha. –– v. 1, n. 1, 1851 — Rio de Janeiro: Ministério da Marinha, 1851 — v.: il. — Trimestral.

Editada pela Biblioteca da Marinha até 1943. Irregular: 1851-80. –– ISSN 0034-9860.

1. MARINHA — Periódico (Brasil). I. Brasil. Serviço de Documentação Geral da Marinha.

CDD — 359.00981 –– 359.005 COMANDO DA MARINHA Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto

SECRETARIA-GERAL DA MARINHA Almirante de Esquadra Airton Teixeira Pinho Filho

DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA Vice-Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt

REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA Corpo Editorial Capitão de Mar e Guerra (Refo) Milton Sergio Silva Corrêa (Diretor) Capitão de Mar e Guerra (RM1) Carlos Marcello Ramos e Silva Jornalista Deolinda Oliveira Monteiro Jornalista Manuel Carlos Corgo Ferreira

Assessoria Técnica Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) Nelson Luiz Avidos Silva Terceiro-Sargento-PD Isabelle de Medeiros Vidal

Diagramação Desenhista Industrial Felipe dos Santos Motta Artífice de Artes Gráficas Celso França Antunes

Assinatura/Distribuição Terceiro-Sargento-RM1-ES Mário Fernando Alves Pereira Marinheiro-RM2 Pedro Paulo Moreira Cerqueira

Departamento de Publicações e Divulgação Primeiro-Tenente (RM2-T) Luiz Cesário da Silveira do Nascimento

Apoio Administrativo e Expedição Suboficial-CN Maurício Oliveira de Rezende Suboficial-MT João Humberto de Oliveira

Impressão / Tiragem Meneghetti’s Gráfica e Editora Ltda. / 8.300 A REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA é uma publicação oficial daMARINHA DO BRASIL desde 1851, sendo editada trimestralmente pela DIRETORIA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E DOCUMEN- TAÇÃO DA MARINHA. A opinião emitida em artigo é de exclusiva responsabilidade de seu autor, não refletindo o pensamento oficial daMARINHA . As matérias publicadas podem ser reproduzidas. Solicitamos, entretanto, a citação da fonte.

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8 EDITORIAL

11 nossa CAPA 11 GERENCIAMENTO COSTEIRO Mucio Piragibe Ribeiro de Bakker – Contra-Almirante (Refo) A Zona Costeira – o litoral – fatores de degradação do ambiente. A lei do geren- ciamento. Necessidade de criação de instituição para desenvolver pesquisas e gerenciar metas do interesse da Nação

  

19 Hidrografia! Hidrografia! “Restará sempre muito o que fazer...” Antonio Reginaldo Pontes Lima Junior – Vice-Almirante Breve histórico da atividade hidrográfica. Vital de Oliveira – Nogueira da Gama – Barão de Tefé. Realizações do Serviço Hidrográfico

25 O DIA EM QUE O URUTU AFUNDOU... Gil Cordeiro Dias Ferreira – Capitão de Mar e Guerra (Refo-FN) Blindados para os fuzileiros. Uma estranha estrutura organizacional. O Urutu afundou! – 20/7/1973. Limitações como veículo anfíbio

39 GESTÃO DO CONHECIMENTO: Diagnóstico em uma Organização Militar da Marinha Hércules Guimarães Honorato – Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN) O conhecimento e sua gestão. Programa Netuno e iniciativas na Marinha. Diag- nóstico em OM – resultados e análise

51 O DESENVOLVIMENTO ÉTICO DOS MILITARES: Uma responsabilidade de todos os envolvidos no processo de formação Paulo Roberto Ribeiro da Silva – Capitão de Mar e Guerra (RM1-FN) Legado que recebemos da antiguidade aos dias atuais. Busca de um caminho. Academias militares e a retidão das ações – hábito de fazer bem

61 Breves Reflexões sobre a Historiografia Naval Brasileira dos Oitocentos – O pioneirismo de Theotonio Meirelles da Silva Edina Laura Costa Nogueira da Gama – Capitão de Mar e Guerra (RM1-T) A história e o século XIX. Produção historiográfica – Theotonio Meirelles da Silva. História Naval Brasileira – apontamentos

71 DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE Marina Cezar – Professora-Doutora Pluralidade de informações. O texto literário – valor da leitura – atitudes. O poe- ma: riqueza, importância, força, perenidade 77 O MERGULHADOR DE COMBATE EM AMBIENTE CONFINADO Rodney Alfredo Pinto Lisboa – Professor Operações de retomada e resgate dos mergulhadores de combate. Capacidades física e psicológica para suportar exigências das tarefas

91 JULGANDO PIRATAS: Competências, obstáculos e soluções Gabriela Albuguerque Inviabilidade do uso de Tribunais Internacionais. Obstáculos ao julgamento de piratas. Necessidade que os Estados promulguem leis apropriadas

107 Corrida submarina: a ascenSão tecnológica dos submarinos da Kriegsmarine de 1919 a 1945 Cássio Remus de Paula Ascensão da Kriegsmarine. A crise de 1929 no crescimento bélico naval da Ale- manha. Submarino tipo II superado e o tipo VII fabricado em massa. Submarinos elétricos. Avanço na tecnologia

119 O CONTRATO DE AUTONOMIA DE GESTÃO: O plano de gestão estratégica em uma OMPS Carlos Eduardo de Freitas Savioli – Capitão de Corveta (EN) Breve histórico sobre OMPS – Natureza jurídica, seus efeitos. Contribuições e ampliação da autonomia gerencial. Restrições. Sugestões para autonomia de gestão

139 CURSO A DISTÂNCIA PARA PROMOÇÃO A SUBOFICIAL FUZILEIRO NAVAL Ana Paula Nascimento Gonçalves – Capitão de Corveta (T) Avaliação do curso para formação do ensino a distância. Busca pela melhoria e aperfeiçoamento didático-pedagógico do curso. Exigências para as escolas militares

146 Ensino a Distância na Marinha do Brasil: Perspectivas atuais Renata da Rocha Pereira – Capitão-Tenente (T) Amanda Barcellos Taranto Silva – Primeiro-Tenente (RM2-T) Pensando o ensino. Conceito – planejamento. O departamento de ensino a distância e tecnologia educacional. Projeto piloto

159 Barreiras da Comunicação: Causas e consequências no ambiente de trabalho Arilson de Oliveira Silva – Capitão-Tenente (AFN) Comunicação e suas barreiras: filtragem, percepção, sobrecarga de informação, defesa, linguagem, medo da comunicação

168 GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR João Carlos Castro Dias – Primeiro-Tenente (EN) Lidiedson Costa Bezerra – Segundo-Sargento (ML) Pedro Howat dos Santos – Técnico de Planejamento A docagem – riscos e sua análise – respostas – plano de gestão dos riscos

178 PROCESSO DECISÓRIO NO ESTADO-MAIOR Esley Rodrigues de Jesus – Primeiro-Tenente (FN) Entre a Primeira e a Segunda Guerra. Antecedentes do Estado-Maior. Clausewitz, Schlieffen, Stanffenberg, Canaris e Guderian. Decisões sem conhecer a realidade do combate. Erros de Hitler. A decisão militar 190 A PIRATARIA MARÍTIMA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO Rafael Reis Cavalcanti – Aspirante Ricardo Dziedzic de Araújo Lima – Aspirante Definição e sua imprecisão. Ótica da IMO. Na Somália e no Golfo de Aden. A Operação Atalanta e a Eunavfor. Golfo de Guiné: perigo iminente

197 CARTA DOS LEITORES

200 NECRoLÓGIO

204 A MARINHA DE OUTRORA Encontrado submarino que jogou o Brasil na Primeira Guerra Visita do Presidente Juscelino a Portugal

209 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

216 Doações à dphdm

220 ACONTECEU HÁ CEM ANOS Seleção de matérias publicadas na RMB há um século. O que acontecia em nossa Marinha, no País e em outras partes do mundo

227 REVISTA DE REVISTAS Sinopses de matérias selecionadas em mais de meia centena de publicações rece- bidas do Brasil e do exterior

232 NOTICIÁRIO MARÍTIMO Coletânea de notícias mais significativas da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, e assuntos de interesse da comunidade marítima EDITORIAL

A Revista Marítima Brasileira honra o compromisso assumido em 1o de março de 1851 pelo seu fundador, Sabino Eloi Pessoa, quando este formulou o “Programma”: “3o – Receberá artigos que versem sobre Marinha... 5o – ... procurará difundir, por meio de artigos apropriados, tudo quanto possa contribuir para o melhoramento e progresso da nossa Marinha de Guerra e Mercante, quer no sentido científico, quer no sentido prático; e igualmente programar ideias tendentes a dar impulso à administração da Marinha e a suas delegações, segundo o melhor ponto de vista a que seja possível atingir...” Ao longo desta singradura, a RMB foi aperfeiçoando o “Pro- gramma” e passou a se atribuir a “Missão” de divulgar teses, ideias e conceitos que contribuíssem também para o aprimoramento da cons- ciência marítima dos brasileiros, já que temos limites geográficos tão extensos – marítimos e terrestres – e uma rede potamográfica pouco aproveitada. Empenhou-se em trazer teoria e técnica aplicadas para solver questões que retardam o desenvolvimento social e material da Nação. Recebeu e publicou matérias de toda ordem, para que brasileiros que nos lessem pudessem ter informações e desenvolvessem discussões sobre os assuntos. Recebeu e publicou temas históricos como, por exemplo, o de Santos Dumont, um dos brasileiros mais conhecidos no cenário mun- dial. Na última revista foi mostrada boa parte de sua criatividade e de seu gênio e também o prognóstico futuro do seu invento. Divulgou ensinamentos a respeito da ética e do trabalho, es- clarecendo o que nos cabe realizar na Marinha e no País, respeitando conceitos e fundamentos filosóficos. Mostrou como a conquista da honra ocorre na formação militar, analisando a lógica do mercado vis-à-vis com nossa ambiência naval. Divulgou o esforço aplicado “Em busca de grandeza”, série publicada nos últimos anos, quando se abordaram a nacionalização de navios e sistemas e equipamentos de tecnologias avançadas, gerando conhecimento superior em engenharia. Recentemente, foi lançado livro com o referido título. Estamos presentes em bibliotecas públicas e privadas pelo País, assegurando o cumprimento da Missão que nos compete, conquanto, reconhecemos, não atingindo a sociedade de forma ampla. Atendemos plenamente à “índole da revista e, confiando no futuro, protestamos indiferença sobre política e prometemos não nos envolver em seus tão sedutores quanto perigosos enleios”. Estamos satisfeitos com a apresentação do tema que se titulou na capa – O Gerenciamento Costeiro –, porque é necessário e desafiante à inteligência e à criatividade do brasileiro. A SEGUNDA MAIS ANTIGA DO MUNDO

A Revista Marítima Brasileira completou 163 anos em 1o de março de 2014. Fundada em 1851 pelo Primeiro Tenente Sabino Elói Pessoa, foi a segunda revista mais antiga do mundo a tratar de assuntos marítimos e navais. Conforme os registros obtidos, a Rússia foi o primeiro país a lançar uma revista marítima, a Morskoii Sbornik, (1848). Depois vieram: Brasil – Revista Marítima Brasileira (1851), França – Revue Maritime (1866), Itália – Rivista Marittima (1868), Portugal – Anais do Clube Militar Naval (1870), Estados Unidos – U.S Naval Institute Proceedings (1873) República Argentina – Boletín Del Centro Naval (1882). NOSSA CAPA

GERENCIAMENTO COSTEIRO

O pulmão do mundo está mais no azul dos mares do que no verde das florestas

MUCIO PIRAGIBE RIBEIRO DE BAKKER* Contra-Almirante (Refo)

SUMÁRIO

Introdução A Zona Costeira O Gerenciamento Costeiro O litoral brasileiro Fatores de degradação do ambiente costeiro A Lei do Gerenciamento Costeiro Palavras finais

* O autor é conferencista, escritor e colaborador frequente da RMB. Comandou o Navio-Hidrográfico Argus e o Navio-Oceanográfico Almirante Saldanha, foi diretor da Escola de Guerra Naval, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar e diretor de Hidrografia e Navegação da Marinha. GERENCIAMENTO COSTEIRO

INTRODUÇÃO A ZONA COSTEIRA

e cada três homens no mundo, dois A importância das regiões costeiras Dvivem atualmente nas regiões cos- vem merecendo considerável atenção teiras, perto do mar, no litoral dos estados de organizações internacionais, como a ribeirinhos ou em ilhas. Essa situação, que Organização das Nações Unidas (ONU), resulta não só do crescimento demográfico cujos programas científicos têm enfatizado e dos deslocamentos populacionais, mas a necessidade de cooperação internacional também do desenvolvimento econômico, para melhor conhecer a natureza e o funcio- afeta regiões de equilíbrio delicado, que são namento dos ecossistemas dessas regiões. frequentemente zonas de civilização antiga, Além disso, no que tange às Ciências do cuja prosperidade se baseava sobretudo Mar, o novo regime dos oceanos, decorren- na navegação e no comércio marítimo, te da Convenção das Nações Unidas sobre o bem como na produtividade relativamente Direito do Mar, Jamaica 1982, recomenda elevada. várias providências relativas à cooperação A Zona Costeira é o resultado dos científica internacional e relaciona uma efeitos complementares do meio terrestre série de medidas necessárias para se evi- e do meio marinho. tar a poluição do meio Trata-se de sistema marinho. complexo, caracteri- O Plano Nacional de A Zona Costeira zado por propriedades se constitui, portan- químicas particulares Gerenciamento Costeiro to, em um ecossistema das águas e por um é tão fundamental para a especial, de múltiplas conjunto de ecossis- Amazônia Azul como o é características, e de temas e entidades ge- grande importância omorfológicas muito para a Amazônia Verde o para o futuro da hu- evolutivos, tais como Código Florestal Brasileiro manidade, pois é nele praias, estuários, la- que se origina toda a goas, mangues e re- cadeia nutricionista do cifes coralinos – todos eles constituindo meio marinho. Os baixios costeiros e ou- sistemas vulneráveis e particularmente tras águas pouco profundas, sobretudo os expostos às consequências do desenvolvi- estuários e os mangues, fornecem grandes mento descontrolado e predatório. Assim, quantidades de substâncias nutritivas, das em todas as partes do mundo, tenta-se quais dependem cerca de dois terços dos alertar a opinião pública para os danos peixes que se pescam em todo o mundo. que estão sofrendo esses sistemas, subme- Por conseguinte, os ecossistemas costeiros tidos à depredação e à poluição. Convém se caracterizam por forte produtividade acrescentar que a influência do mar sobre orgânica e, consequentemente, são zonas os meios terrestres vai muito além da pró- adequadas a grandes projetos de maricultu- pria área litorânea, abrangendo uma faixa ra e a importantes atividades pesqueiras. Os terrestre para o interior de cerca de dois elementos nutritivos levados pelas chuvas quilômetros de largura também sujeita a e cursos d’água para esses ecossistemas, e fortes pressões econômicas e sociais que para as zonas costeiras pouco profundas, resultam em uso do solo inadequado e estimulam forte produção orgânica que depredante. favorece naturalmente o desenvolvimento

12 RMB4oT/2012 GERENCIAMENTO COSTEIRO

de várias espécies marinhas. Isto explica de dezembro de 2004. A própria lei já pre- a razão por que mais de 65% da pesca em via mecanismos de atualização do PNGC todo o mundo provêm das águas costeiras. e, com a experiência então acumulada na execução do Plano inicial, foi procedida O GERENCIAMENTO COSTEIRO uma revisão, culminando com a elaboração do PNGC II, no qual se procurou estabe- As características das regiões litorâ- lecer novas bases para a continuidade de neas, como regiões de grande densidade ações, de modo a consolidar os progressos populacional, de concentração industrial e obtidos e possibilitar o seu aprimoramento, de significativa importância na produção “mantendo a flexibilidade necessária para de pescado, e também por suas belezas o atendimento da ampla diversidade de naturais, condicionam situações que se apre- conflitos de interesses sentam ao longo da de toda ordem: urba- A deterioração ou destruição extensa Zona Costeira nismo, indústria, pes- brasileira”, conforme ca, portos, terminais dos baixios costeiros e acentua o PNGC II. marítimos, turismo etc. manguezais, o corte dos Este Plano, por conse- Equacionar e adminis- guinte, deverá proteger trar tais conflitos, com mangues para servir de todo o bioma da Zona o propósito de racio- lenha, a poluição nos Costeira da Amazônia nalizar o uso da costa estuários e regiões lagunares Azul, preservando suas e das águas costeiras características espe- e de proteger os ecos- podem vir a comprometer ciais como berçário de sistemas existentes; irremediavelmente a vida espécies marinhas e permitir a explotação mantendo suas riquezas dos recursos naturais marinha existente biológicas. Poderíamos sem prejuízo do meio na zona costeira até afirmar, sem exa- ambiente, melhorando gero, que este Plano é a qualidade de vida dos tão fundamental para a habitantes dessas regiões; e, o que é mais Amazônia Azul como o é para a Amazônia importante, preservar a produção primária Verde o Código Florestal Brasileiro de 25 de matérias orgânicas do meio litorâneo, de maio de 2012. mantendo, em sua plenitude, a cadeia trófica da área costeira, são, entre outros, os objeti- O LITORAL BRASILEIRO vos principais do Gerenciamento Costeiro.1 No Brasil, o Plano Nacional de Geren- O litoral brasileiro tem aspectos de ciamento Costeiro (PNGC) foi instituído grande relevância que constituem um pela Lei no 7.661 de 16 de maio de 1988, verdadeiro desafio para a aplicação do regulamentada pelo Decreto no 5.300 de 7 Gerenciamento Costeiro: 1 No caso específico do Brasil, o problema do Gerenciamento Costeiro começou a ser debatido nos meios cien- tíficos ligados à área dos recursos do mar, por ocasião da implementação do Programa Sistemas Costeiros, constante do I Plano Setorial para os Recursos do Mar, elaborado pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm) e aprovado pelo Presidente da República em 1981, como um desdobramento natural daquele Programa. Do resultado final dos debates e das discussões sobre o tema, a Cirm começou a preparar um anteprojeto, que deve ter servido de base para o desenvolvimento do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, posteriormente enviado ao Congresso Nacional e instituído por lei.

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– é uma área de grande extensão (apro- necessita urgentemente aumentar a oferta ximadamente 8 mil km); de alimentos para a sua população, sobre- – é onde se concentra a maior parte da tudo para aquela parcela de baixa renda e população brasileira, sendo, por isso, área subalimentada. de grande valorização e especulação imo- Entre as agressões ao litoral brasileiro biliária e de significativo interesse turístico; que a Lei do Gerenciamento Costeiro deve – é onde se verifica a quase totalidade impedir, podemos citar, principalmente, da ligação do Brasil com o exterior e, as áreas promissoras sob o ponto de vista portanto, se constitui em área de extrema de potencial biológico que possam ser sensibilidade, tanto do ponto de vista das destruídas ou alteradas pela especulação comunicações e relações econômicas in- imobiliária, por aterros de toda ordem ternacionais quanto do ponto de vista da ou pela expansão urbana descontrolada. segurança externa; Também a deterioração ou destruição dos – é onde estão localizadas as maiores baixios costeiros e manguezais, o corte dos jazidas de petróleo do País; e mangues para servir de lenha, a poluição – é onde estão situados os chamados nos estuários e regiões lagunares podem “terrenos de marinha”, vir, por outro lado, a que a legislação bra- comprometer irreme- sileira consagra como A expeculação imobiliária diavelmente a vida pertencentes à União marinha existente na e, como tais, devem tem sido responsável, zona costeira brasileira, constituir usufruto da na faixa litorânea, pela no momento em que a comunidade nacional. degradação ambiental mais maricultura e a pesca A exuberância do passam a representar, litoral brasileiro, en- insidiosa e galopante de que inclusive, a última es- trecortado por baías, se tem notícia no País perança mundial para embocaduras, regiões atenuar a carência pro- lagunares, restingas, teica e a fome que ame- lagoas e outros sistemas costeiros, torna-o açam a população humana, em face de sua extremamente propício ao desenvolvi- expansão incontrolável e da expectativa mento de inúmeros projetos de explotação de mudanças climáticas de consequências dos recursos do mar. A explotação desses desastrosas. recursos não necessitaria, provavelmente, Alguns ecossistemas do litoral brasi- de insumos onerosos, como ocorre com a leiro, de grande significado para a vida pecuária, que requer extensas áreas de pas- marinha, já merecem cuidados especiais, tagens, alimentação balanceada, controle pois atingiram um estágio de comprometi- veterinário, abrigos etc., que encarecem mento considerado crítico. São exemplos os substancialmente o produto final, na sua seguintes: Golfão Marajoara; Ilha de São distribuição ao consumidor. Os recursos Luís, Baía de São Marcos e Baía de São vivos do mar são criados e alimentados pela José; Recife e arredores, inclusive Suape natureza. Os cuidados a serem observados (situado junto a importantíssimos recifes são relativamente poucos, e não muito de ecossistemas estuarinos); Baía de Todos dispendiosos. Daí a importância dessas os Santos; Baía de Guanabara (com recu- atividades para o Brasil, um país que luta peração e despoluição programadas para com carência de recursos públicos e que permitir a realização de esportes náuticos

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durante as Olimpíadas de 2016, com sede anticonstitucional de praias, promontórios, na cidade do Rio de Janeiro); Baixada falésias, ilhas e pequenas enseadas. Santista; Criciúma e região carbonífera; e Muitos loteamentos à beira-mar, rodean- Lagoa dos Patos. do lagoas, destruindo dunas e vegetação de restinga, aterrando manguezais, constituem FATORES DE DEGRADAÇÃO DO um processo de urbanização selvagem que, AMBIENTE COSTEIRO na quase totalidade, poluem rios ou igara- pés, estuários e lagoas, lançando, muitas Entre os fatores de degradação do vezes, seus despejos in natura no mar.2 ambiente costeiro, podemos destacar os Hoje, sabe-se que o homem não precisa seguintes: poluir todo o oceano para eliminar a vida – produtos químicos, petroquímicos, no mar. Basta que ele destrua as zonas cloroquímicos, carboníferos e metais pesa- costeiras, uma vez que 60% de todas as dos (mercúrio, cádmio, cobre etc.); espécies marinhas dependem, em alguma – destilação do ál- fase de sua existência, cool, com consequente muito frequentemente, produção de efluentes O homem não precisa para desova ou desen- de vinhaça; volvimento larvar, das – aterros de várias poluir todo o oceano para regiões estuarinas mais espécies, tanto para eliminar a vida no mar. ricas em alimento. E atender a projetos imo- Basta que destrua as zonas são precisamente essas biliários quanto para a regiões que são altera- implantação de novos costeiras das aleatoriamente com polos industriais; obras e aterros ou en- – agrotóxicos, bio- tão poluídas com toda cidas e fertilizantes; sorte de dejetos. Assim, vai-se reduzindo – despejo de lixo e óleo, em consequên- gradativamente as populações marinhas, cia do grande trânsito de navios; e sacrificando nos estuários, que são os seus – especulação imobiliária. berçários, uma grande parcela dos indivídu- Quanto à especulação imobiliária, con- os que irão constituir os futuros cardumes. vém ressaltar as várias formas de agressão que tal atividade vem exercendo sobre o A LEI DO GERENCIAMENTO ambiente costeiro. Ela tem sido respon- COSTEIRO sável, na faixa litorânea, pela degradação ambiental mais insidiosa e galopante de No Brasil, a aplicação da Lei do Geren- que se tem notícia no País, quando pre- ciamento Costeiro representa a providência tende estabelecer ao longo da costa uma básica e indispensável para permitir a série de loteamentos litorâneos (Rio/São utilização racional do litoral, preservando Paulo; Maceió/Recife/João Pessoa; Natal/ os ecossistemas existentes, possibilitando, Fortaleza) acrescidos de clubes e marinas, inclusive, o desenvolvimento de projetos configurando, por vezes, uma privatização de maricultura, por meio da cessão de

2 O emissário de Ipanema, na Cidade do Rio de Janeiro, que recebe em sua rede o esgoto de 15 bairros, da Glória a São Conrado, precisa urgentemente ser reformulado, uma vez que a grande quantidade de lixo que despeja no oceano vem prejudicando a biodiversidade do Monumento Nacional das Ilhas Cagarras.

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áreas marítimas costeiras ou estuarinas. A (ZEE) brasileira, cuja área atinge mais de criação de espécies marinhas em cativeiro, 3 milhões de km2, conforme recomendação tanto para consumo direto quanto para da Convenção das Nações Unidas sobre repovoamento de espécies submetidas à o Direito do Mar, irá requerer um amplo sobrepesca, seria, como já dissemos, um e detalhado levantamento das espécies processo relativamente pouco oneroso marinhas existentes na ZEE e uma sensí- para aumentar significativamente a oferta vel ampliação da capacidade nacional de de alimentos e de empregos e incentivar o explotação desses recursos, tarefas também desenvolvimento de indústrias de várias de notáveis complexidade e amplitude, para fontes, para beneficiamento e explotação as quais o Brasil deverá se preparar com a desses recursos marinhos. necessária urgência. O litoral brasileiro possui uma das mais Essas tarefas, acrescidas da necessidade importantes unidades ecológicas do Atlân- de explotação dos recursos biológicos, tico Sul. Trata-se do complexo lagunar minerais e energéticos de toda a Amazônia estuarino de Iguape e Azul, irão exigir, natu- Cananeia, classificado ralmente, a criação de pela União Internacio- A Fundação Oceano se uma instituição nacio- nal para a Conserva- nal e central dedicada ção da Natureza como impõe como medida de ao estudo do mar, em a terceira região de maior alcance estratégico sua acepção mais am- importância no mun- pla, e de suas intera- do em termos de pro- para que o Brasil possa ções com os sistemas dutividade primária. enfrentar os maiores costeiros, atmosférico Este complexo, que desafios do século: a e antártico. Tal insti- se prolonga até Para- tuição serviria como naguá, formando um explosão demográfica, o elemento de ponta no ecossistema de cerca aquecimento global e a desenvolvimento das de 200 quilômetros de pesquisas oceanográfi- extensão, possui todas distribuição de água cas e ser-lhe-ia confiada as características ide- a consecução das gran- ais para a reprodução des metas das pesquisas de uma variada gama de espécies marinhas, marinhas – biológicas, minerais e energé- constituindo-se em um dos principais ber- ticas – ditadas pelos interesses nacionais, çários do Atlântico Sul. quer por meio da atuação direta em campos de maior amplitude e elevada complexi- PALAVRAS FINAIS dade, quer coordenando pesquisas mais restritas, atribuídas a outras instituições A aplicação do PNGC II e a fiscalização menores, formando um todo harmônico do seu cumprimento, em face da extensão e em função das possibilidades de cada ins- tipicidade da Zona Costeira brasileira e de tituição e perfeitamente articulada com os suas áreas de influência na faixa terrestre superiores interesses marítimos do País. das matas ciliar e atlântica, constituem Também, em coordenação com os outros tarefas de extrema magnitude. Além órgãos responsáveis na gestão da Política disso, a otimização do uso dos recursos Nacional do Meio Ambiente, atuaria na biológicos da Zona Econômica Exclusiva aplicação e na fiscalização do PNGC II. Tal

16 RMB4oT/2012 GERENCIAMENTO COSTEIRO instituição nacional seria a Fundação Ocea- enfrentar os maiores desafios do século: no3, que se impõe como a medida de maior a explosão demográfica, o aquecimento alcance estratégico para que o Brasil possa global e a distribuição de água.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Gerenciamento costeiro; Política nacional; Recursos do mar;

BIBLIOGRAFIA

BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. “O oceano à nossa espera”. Revista Brasileira de Tecnologia, vol. 19, no 6, jun./1988. BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. “O mar e seus recursos”. Revista Marítima Brasileira, vol. 132, no 01/03, jan./mar. 2012. BAKKER, Mucio Piragibe Ribeiro de. “A Amazônia Azul: o mar e seus recursos e a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar”. Revista Marítima Brasileira, vol. 134, no 04/06, abr./jun. 2014. PLANO NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO – PNGC II. Comissão Nacional do Meio Ambiente, 2004.

3 Consultar o artigo “O mar e seus recursos”. Revista Marítima Brasileira, vol. 132, no 01/03, jan./mar. 2012.

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Hidrografia! Hidrografia! “Restará sempre muito o que fazer...”*

“Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra [...] mandou lançar o prumo, acharam 25 braças (55 metros).” Pero Vaz de Caminha

Antonio Reginaldo Pontes Lima Junior** Vice-Almirante

trecho da Carta de Pero Vaz de Ca- conjuntos de cartas de marear, que se cons- O minha em epígrafe registra a primeira tituíram nas primeiras cartas e roteiros da atividade hidrográfica em águas brasileiras, costa brasileira. Passados dois séculos, o em seu elemento essencial, o conhecimento cronômetro marítimo revolucionou a arte da profundidade. A par- de navegar, permitin- tir daquele momento, do determinar, com até os dias atuais, a Os portulanos, conjuntos exatidão, a longitude. atividade hidrográfi- de cartas de marear, se Novas cartas tiveram, ca no Brasil percorreu então, que ser cons- uma saga de ousadia constituíram nas primeiras truídas, com a partici- e perseverança, cujos cartas e roteiros da costa pação de engenheiros, fatos, feitos e pessoas matemáticos e cartó- que os protagonizaram brasileira grafos enviados pela são dignos de serem Coroa Portuguesa. relembrados. No século XIX, iniciaram-se, efetivamen- Iniciou-se, como já citado, na era do te, no Brasil, os levantamentos hidrográficos prumo de mão, quando portugueses, espa- e a produção de cartas náuticas, um trabalho nhóis, franceses e holandeses navegaram praticamente todo feito por hidrógrafos fran- nossos mares fazendo uso dos portulanos, ceses, com destaque para o Capitão de Fragata

* O texto deste artigo foi elaborado a partir da Ordem do Dia da Diretoria de Hidrografia e Navegação D( HN), alusiva ao Dia do Hidrógrafo, cuja cerimônia, este ano, foi realizada, em caráter excepcional, na Ilha Fiscal, celebrando seu centenário como Sede Histórica da Hidrografia Brasileira. ** Diretor de Hidrografia e Navegação. Hidrografia! Hidrografia! “Restará sempre muito o que fazer...”

Amédée Ernest Barthélemy Mouchez. Foi um Silvado, na passagem de Curupaiti. Pelos período em que as cartas da costa brasileira seus destacados feitos e elevado espírito eram produzidas por hidrógrafos franceses e hidrográfico, Vital de Oliveira é reconhe- distribuídas pelo Almi- cido como o Patrono da rantado Britânico. Hidrografia Brasileira, A essa época, pou- e no dia de seu nasci- cos oficiais brasilei- mento, 28 de setembro, ros, e ainda assim por celebramos o Dia do iniciativa e vontade Hidrógrafo. próprias, tinham algum À época de Vital de conhecimento de hi- Oliveira, outro brasilei- drografia.U m deles foi ro se destacou, o Almi- Manoel Antônio Vital rante Antonio Luiz von de Oliveira, que logrou Hoonholtz, o Barão realizar levantamentos de Teffé, autor de um com a mesma quali- compêndio pioneiro, dade dos hidrógrafos no País, sobre hidro- franceses. Um desses grafia e idealizador do trabalhos foi hidrogra- primeiro órgão, criado far e reconhecer o Atol em 1876, para tratar das Rocas, que oferecia de forma permanente a perigo à navegação. Vital de Oliveira hidrografia no Brasil, a Patrono da Hidrografia Brasileira Vital de Oliveira o fez Repartição Hidrográfi- obtendo posições pre- ca, embrião da Direto- cisas levantadas astronomicamente, a 120 ria de Hidrografia e Navegação (DHN), da milhas da costa, a bordo de um veleiro de qual foi seu primeiro diretor. madeira, o Iate Paraibano, de apenas 23 Ao entrar no século XX, tínhamos uma metros. Repartição Hidrográfica, mas ainda não Quando o governo formávamos hidrógra- brasileiro já reconhe- fos, nem havia navios cia sua capacidade e Vital de Oliveira hidrográficos e mui- sua competência como hidrografou e reconheceu to menos instalações hidrógrafo, a ponto o Atol das Rocas obtendo para produzir as cartas de lhe confiar o Le- náuticas. Foi quando, vantamento Geral das posições precisas levantadas há exatamente cem Costas do Império, astronomicamente, a 120 anos, em 1914, um fato Vital de Oliveira foi marcaria a história da chamado para partici- milhas da costa, a bordo de Hidrografia Brasileira, par da Campanha do um veleiro de madeira de fazendo-a seguir novos Paraguai. Lamenta- apenas 23 metros e promissores rumos: a velmente nela veio a instalação da Superin- falecer, precocemente, tendência de Navega- aos 37 anos de idade, no posto de capitão ção na Ilha Fiscal, que recentemente havia de fragata, atingido pela artilharia inimiga, sido transferida para a Marinha, pelo Mi- quando exercia o comando do Encouraçado nistério da Fazenda. Nesta ilha, dispondo

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de oficinas apropriadas, aS uperintendência ser considerada uma das mais respeitáveis de Navegação passou a melhor exercer suas do mundo, tendo como lema “Restará sem- atribuições de estocar, distribuir e fazer pre muito o que fazer...” e como símbolo a manutenção dos cronômetros, agulhas, um bode verde, em atitude rampante, vol- cartas e equipamentos tado para o leste, para o náuticos para os nos- mar brasileiro. sos navios de guerra. Foi na Ilha Fiscal que o Em 1983, a DHN já Também foi na Comandante Nogueira não mais cabia na Ilha Ilha Fiscal que o então da Gama intensificou Fiscal. Mudou-se então Comandante Manuel para o Complexo Naval José de Nogueira da seu trabalho em prol da da Ponta da Armação, Gama intensificou seu institucionalização do em Niterói, quando era admirável trabalho em Ministro da Marinha o prol da institucionali- Serviço Hidrográfico. nosso ilustre Almirante zação do Serviço Hi- Em 1932, criou o Curso de Esquadra Hidrógra- drográfico Brasileiro. de Aperfeiçoamento em fo Maximiano Eduardo Em 1931, ele tomou a da Silva Fonseca. iniciativa de reunir um Hidrografia para Oficiais e, Hoje, a DHN conta grupo de seis tenentes em 1933, o primeiro navio com mais de dois mil artilheiros, da escola militares e servidores dos “arquiduques”, ofi- hidrográfico seria entregue civis; quatro organiza- ciais que operaram as à Diretoria de Navegação, o ções, o Grupamento de primeiras diretoras de Rio Branco Navios Hidroceanográ- tiro da nossa Marinha, ficos (GNHo), Centro para formar um núcleo de Sinalização Náutica de treinamento e produção hidrográfica, Almirante Moraes Rego (CAMR), Centro que deu origem à Comissão Hidrográfica. de Hidrografia da Marinha (CHM) e Base Ato contínuo, em 1932, criou o Curso de de Hidrografia da Marinha em Niterói Aperfeiçoamento em Hidrografia para (BHMN), e oito navios subordinados, sendo Oficiais e, em 1933, o ainda a Diretoria Téc- primeiro navio hidro- nica responsável pelos gráfico seria entregue Sete décadas se seguiram Serviços de Sinalização à Diretoria de Nave- e o castelinho verde, Náutica, navios hidroce- gação, o Rio Branco, anográficos e balizado- sendo seu primeiro co- pode-se dizer, inspirou a res distritais, cabendo mandante um oficial já Hidrografia Brasileira a destacar que, em breve, hidrógrafo, o Capitão serão incorporados mais de Corveta Antonio seguir o exitoso rumo que a dois novos navios: o Alves Câmara. Nesse fez ser considerada uma das NHoFlu Rio Branco, em navio se prepararam as mais respeitáveis do mundo fase final de construção primeiras gerações de no Brasil, e o moderno hidrógrafos brasileiros. e muito bem equipado Sete décadas se seguiram e o castelinho NPqHo Vital de Oliveira, em construção verde, pode-se dizer, inspirou a Hidrografia na China, cujo lançamento ao mar ocorreu brasileira a seguir o exitoso rumo que a fez justamente em 28 de setembro último, um

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dia tão significativo para a Hidrografia no Conselho Executivo daquela Comissão, Brasileira! nos seus vários grupos de trabalho, na co- Ressaltam-se, a seguir, algumas das ordenação de programas de observações realizações do Serviço Hidrográfico Bra- sustentadas e serviços oceânicos e no es- sileiro, no último ano: tabelecimento do Sistema de Intercâmbio – A participação efetiva da DHN nos de Dados e Informações Oceanográficas diversos comitês, subcomitês e grupos da COI (Iode); de trabalho da Organização Hidrográfica – Realização, em março, em Arraial Internacional (OHI), com destaque para do Cabo, da X Reunião da Oceatlan, que ter sediado, em março, a reunião do Grupo reúne Serviços Hidrográficos e Instituições de Trabalho Worldwilde Electronic Na- de Pesquisa e Oceanografia de Argentina, vigational Chart Database (WENDWG), Brasil e Uruguai; que tem como propósito garantir, em todo – No âmbito do Programa de Desen- o mundo, um alto ní- volvimento de Sub- vel de atualização das marinos, a DHN vem Cartas Eletrônicas de atuando na área marí- Navegação (ENC); tima nas proximidades – Contribuição no do Estaleiro e Base esforço da OHI para Naval, em Itaguaí, e criação de capacidade, está ampliando ainda por meio da disponibili- mais essa participação zação de vagas para um com o Termo Técnico oficial peruano e dois de cooperação entre a civis haitianos no Curso DHN e a Cogesn, para de Aperfeiçoamento realizar levantamentos em Hidrografia para hidrográficos sistemá- Oficiais (CAHO) e três ticos naquela região, namibianos no Curso com atividades de son- de Especialização em dagem batimétrica, to- Hidrografia para Praças pografia de terreno, (C-Esp-HN); acompanhamento da Barão de Teffé – Presidência do 1o Diretor da Repartição maré, estabelecimento Comitê de Planeja- Hidrographica – 1876 de rede geodésica em mento da Comissão apoio à sondagem e Hidrográfica do AtlânticoS udoeste (CHAt- coleta de amostras de fundo. Em contra- SO), cuja última reunião foi organizada partida, a Cogesn alocará recursos para pela DHN em Arraial do Cabo, em março; aquisição de um ecobatímetro multifeixe – Reformulação do Plano de Coleta portátil e uma lancha de sondagem, cujos de Dados Hidrográficos para a Antártica, projeto e construção já foram iniciados na buscando intensificar a atividade hidro- Base Naval de Val de Cães; e gráfica naquela região, em atendimento a – Preparação dos três Relatórios de compromissos com a OHI; Submissão Parcial Revisada, referentes às – Participação efetiva nos temas afetos à Regiões Sul, Equatorial e Leste, para serem Comissão Oceanográfica Intergovernamen- apresentados à Comissão de Limites da tal (COI), da Unesco, fazendo-se presente Plataforma Continental da ONU. Composto

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por dados de suporte técnico e científico gôndola projetada sob os seus cascos. e de uma plataforma GIS de visualização Tendo encerrado os testes de aceitação no associada, o Relatório da Região Sul já foi mar nesta semana, o Amorim do Valle está concluído e será entregue à Subcomissão prestes a suspender para o seu primeiro para o Leplac, da Cirm, no final de outubro. levantamento hidrográfico multifeixe, que Os dados das outras duas regiões já foram será em Itajaí-SC. coletados e processados e estão em fase de Foi iniciado o processo de remotoriza- interpretação pelo GT Leplac, coordenado ção do NHoF Almirante Graça Aranha, pela DHN. que receberá novos sistemas de geração de Faz-se mister, ainda, destacar os nossos energia e de propulsão, o que incrementará meios navais, subordinados ao Grupamento sua capacidade de atender a demandas de Navios Hidroceanográficos (GNHO). científicas e de apoio àS inalização Náutica Neste momento, o NHo Cruzeiro do Sul da nossa Amazônia Azul. encontra-se singrando as águas meridionais O NPo Almirante Maximiano e o NApOc da Amazônia Azul, realizando comissão Ary Rongel concluíram a Operantar XXXII hidroceanográfica em proveito de diversos em abril deste ano e, após mais um período projetos de pesquisa de manutenção e prepa- indicados pelo Mi- ração, partiram para a nistério da Ciência, O CAMR, além de operar próxima Operantar em Tecnologia e Inova- e manter os 234 sinais sob outubro. ção, em uma comissão O Centro de Sina- de cinco meses que sua direta responsabilidade, lização Náutica Al- se estende da foz do realizou o controle do mirante Moraes Rego Amazonas até o litoral Índice de Eficácia de todos (CAMR) deu início à do Rio Grande do Sul. Modernização da Rede O NOc Antares rea- os sinais náuticos do Brasil, de Estações DGPS dos lizou a comissão Prata o que totaliza 3.549 sinais, nossos radiofaróis, de 2014, visitando o porto forma a garantir ao na- de Buenos Aires, du- entre os quais 217 faróis e vegante a possibilidade rante as comemorações 524 faroletes de efetuar correções alusivas ao aniversário diferenciais nos seus de criação do Serviço sistemas de posiciona- Hidrográfico Argentino e, recentemente, mento satelitais GPS ou similares; elaborou encerrou mais uma comissão Pirata, con- 28 pareceres técnicos sobre estabelecimen- tribuindo para esse importante programa to, alteração e cancelamento de auxílios à internacional de monitoramento de dados navegação e, além de operar e manter os ambientais no Atlântico Tropical, efetuando 234 sinais sob sua direta responsabilidade, a manutenção das oito boias oceanográficas realizou o controle do Índice de Eficácia de sob a responsabilidade do Brasil. todos os sinais náuticos do Brasil, o que to- No intuito de acompanhar o rápido taliza 3.549 sinais, entre os quais 217 faróis crescimento da tecnologia aplicada à área e 524 faroletes; e em maio, representou o da hidrografia e incrementar a produção e a Brasil na 18a Conferência da Iala, a Auto- atualização cartográficas, os NHoTaurus e ridade Internacional de Faróis e Auxílios à Amorim do Valle instalaram recentemente Navegação, sendo reeleito, pela quinta vez modernos ecobatímetros multifeixes, em consecutiva, para integrar o seu Conselho.

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No Centro de Hidrografia da Marinha Emgepron, parceira da Base nessa empreitada, (CHM), com relação à Segurança da Nave- iniciará a aquisição de três plotters mais mo- gação, destaca-se que foram publicados 291 dernos, o que agregará ainda maior precisão, Avisos aos Navegantes, emitidos 5.073 Avi- rapidez e qualidade na impressão. Além disso, sos Rádio, analisados 490 Levantamentos entrou em produção uma avançada impressora Hidrográficos, construídas 11 novas edições offset de grande porte, a Heidelberg XL 106, de cartas náuticas em papel e 24 de cartas que permite uma velocidade de produção de eletrônicas, realizadas 52 atualizações em 250 cartas náuticas por minuto. cartas náuticas em papel e 302 em cartas ele- Foi consolidada a comercialização de trônicas, além de 154 novas edições de cartas cartas e publicações náuticas em papel pela náuticas Raster. Registra-se, ainda, o início internet, em parceria com a Emgepron. Além da elaboração, sob coordenação daquele disso, a Base de Hidrografia iniciou com a Centro, do III Plano Cartográfico Náutico Emgepron um projeto de implantação, no Brasileiro que irá ordenar a realização de Brasil, de um centro de validação e distri- levantamentos hidrográficos e construção buição de cartas náuticas eletrônicas, que e atualização de cartas náutica em papel e deverá ser o primeiro da América Latina. eletrônicas, nos próximos cinco anos, para Com relação à navegação com cartas as hidrovias e a costa brasileira. náuticas eletrônicas, a DHN, junto com a No âmbito do Serviço Meteorológico Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha Marinho, foram emitidos 6.073 Boletins (Dsam) e o Instituto de Pesquisas da Marinha de Previsão Meteorológica Especial e (IPqM), estabeleceu requisitos técnicos de 1.148 Avisos de Mau Tempo. Visando o desenvolvimento, bem como de adestramento aumento de resolução e da qualidade das e formação de pessoal, para que o Centro de previsões ambientais, o CHM substituiu Integração de Sensores e Navegação Ele- definitivamente o modelo atmosférico ope- trônica (Cisne) possa ser empregado, com racional HRM pelo Cosmo e incrementou segurança, para realizar a navegação com em 16% a capacidade computacional dos as cartas náuticas eletrônicas, atendendo as seus servidores de cálculos. normas nacionais e internacionais. Destaca-se, ainda, o apoio meteorológico Finalmente, há que se fazer a menção ao do CHM ao evento teste de vela Aquece Rio, rigoroso e metódico trabalho do Arquivo em agosto, na Baía de Guanabara, com a Técnico da DHN, cujo acervo de folhas presença de mais de 30 países, somando 368 de bordo e relatórios de levantamentos atletas das 10 classes de vela olímpica, pro- hidrográficos, relativo ao período de 1901 a vendo previsões das condições do tempo para 1975, recebeu o reconhecimento do Comitê a organização do evento e para as equipes. Nacional do Brasil do Programa Memória A Base de Hidrografia da Marinha em do Mundo da Unesco, pelo seu valor excep- Niterói (BHMN) passou a imprimir cartas cional e de interesse nacional, que deve ser náuticas na modalidade “sob demanda”, em protegido para benefício da humanidade. três plotters, proporcionando maior confiabili- dade e economia. Esse sistema já responde por Hidrografia! Hidrografia! quase metade das vendas de cartas náuticas e a “Restará sempre muito o que fazer...”

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Hidrografia; Ilha Fiscal;

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Gil Cordeiro Dias Ferreira Capitão de Mar e Guerra (Refo-FN)

SUMÁRIO

Introdução Prolegômenos Blindados para os fuzileiros Uma estranha estrutura organizacional Dia D (-) 1: quinta-feira, 19/07/1973, pré hora H Dia D (-) 1, hora H O Urutu afundou! Dia D – sexta-feira, 20 de julho de 1973 Finis coronat opus

INTRODUÇÃO eficiência, eficácia e efetividade, voltaram a ser requisitados em outros momentos, esde 24 de novembro de 2010, quando sempre sob os aplausos dos moradores Dda ocupação, por integrantes de dife- das áreas que vieram a ser palco dessas rentes órgãos de segurança, do Complexo operações. Por tudo isso, pareceu-me opor- do Alemão, no Rio de Janeiro, ganharam tuno resgatar um pouco da história dessas notoriedade os blindados do Corpo de Fu- viaturas especialíssimas, da qual participei zileiros Navais (CFN), empregados naquele bem em seu início, relatando um de seus evento em apoio às forças policiais. Por episódios mais curiosos. O DIA EM QUE O URUTU AFUNDOU...

Primeira página de “O Globo” de 25/11/2010 – dia seguinte à ocupação do Complexo do Alemão

PROLEGÔMENOS mento, munições, equipagens individuais e coletivas, veículos, aeronaves... No início da década de 70 do século Naquela época, além da hoje pujante passado, florescia a indústria brasileira Embraer, eram também dignas de grande de material de defesa (ou “de emprego destaque a Avibras, com seu sistema de militar”, como também era conhecida). foguetes Astros, e a Engesa – Engenheiros Multiplicavam-se as fábricas de arma- Especializados S.A. Esta se notabilizara,

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inicialmente, pela militarização de cami- nhões já produzidos no parque automobi- lístico nacional, nos quais introduzira inte- ressantes inovações tecnológicas, como as caixas de transmissão PI e O e a suspensão Boomerang – revolucionárias para aquele tempo. Essa nova safra de veículos vinha, desde o final dos anos 60, substituindo pro- gressivamente os norte-americanos REO, recebidos principalmente após o conflito da Coreia, por meio do MAP – Mutual Assistance Program, que haviam chegado à obsolescência. Fig. 1 – O CTRA EE-11 Urutu A Engesa era ainda uma empresa peque- na, situada no bairro de Santo Amaro, na capital paulista, mas logo se mudaria para uma grande área industrial em São José dos Campos. Já produzia, para o Exército Brasileiro (EB) e para exportação, o blin- dado EE-11 Urutu (fig. 1), uma Viatura Blindada de Transporte de Pessoal (VBTP), com capacidade para dez combatentes equipados mais três tripulantes, e estava desenvolvendo o Carro de Combate Leve EE-9 Cascavel (fig. 2), para três tripulantes, dotado de um canhão de 90 mm. Fig. 2 – Protótipo do EE-9 Cascavel

BLINDADOS PARA OS riores, ainda que vencendo lâminas d’água FUZILEIROS bastante elevadas (o carro tem cerca de 2 metros de altura), mas tocando o fundo, Por volta de 1972, a Marinha do Brasil sem flutuar. (MB) decidiu aquinhoar o CFN com o mais Em 1972, em função do desenvolvi- recente lançamento da Engesa – o Urutu mento que a motomecanização assumia versão marítima, conhecido na empresa progressivamente no âmbito do CFN, este como Carro de Transporte e Reconheci- decidiu dobrar a quantidade de oficiais que mento Anfíbio (CTRA), que diferia da anualmente realizavam o antigo, afamado versão terrestre, fornecida ao Exército, e excelente Curso de Manutenção Auto da porque podia deslocar-se no mar, flutuan- Escola de Material Bélico (EsMB) do EB, do, propelido por hélices e governado por e ali matriculou quatro primeiros-tenentes lemes, enquanto seu “irmão verde-oliva” (FN): Benevides, Costa Lima, Gil e Ha- podia apenas fazer o chamado fording, ou roldo1. Findo o curso, em dezembro, cada seja, cruzar limitados cursos d’água inte- qual seguiu seu destino. E coube a Costa

1 Álvaro Benevides Martins Ribas, Jorge Alberto Costa Lima, Haroldo Antônio Rodrigues (já falecido, ao mo- mento em que escrevo), Guardas-Marinha de1966; e Gil Cordeiro Dias Ferreira, Guarda-Marinha de 1967.

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Lima chefiar o Grupo de Recebimento dos esses protocolos, perante o Vice-Almirante Urutus-mar (os primeiros blindados anfíbios (FN) Roberval Pizarro Marques3, que, em meu brasileiros) em São Paulo, junto à fábrica, regresso, surpreendeu-me com a seguinte de- acompanhado por praças FN-MO2 (Motores terminação: “Você vai comandar os Urutus!” e Máquinas) originárias do antigo Batalhão E lá fui eu para a Ilha do Governador, tendo de Transporte Motorizado (BtlTrpMtz), com apenas uma vaga ideia do que eram Urutus. experiência na direção dos antigos Camanf (Caminhões Anfíbios), remanescentes da Segunda Guerra Mundial, que o CFN utili- zou durante algum tempo. Quanto a mim, fui designado para o antigo Batalhão de Manutenção e Abastecimento (BtlMntAbst), em Parada de Lucas (cidade do Rio de Janeiro), onde foi instalado mais tarde o Centro de Reparos e Suprimentos Especiais (CRepSupEsp), hoje Centro Tecnológico do CFN. Todavia, não fiquei muito tempo ali. Ao início de 1973, abriu-se vaga para novo Curso de Manutenção Auto, agora no USMC (United States Marines Corps), para oficiais Fig. 3 – Esboço feito pelo autor, há 40 anos, do que dispusessem do curso do EB. Candidatei- “brasão” dos Urutus. Blindados se associam, secularmente, à Cavalaria. Pertencendo à MB, os me à vaga, disputei-a com outros colegas em Urutus evocaram desde logo a figura do cavalo- provas de Inglês, logrei ser aprovado, e, entre marinho, ou hipocampo. O tridente, arma de março e junho daquele ano, aprimorei meus Poseidon/Netuno, simbolizava sua capacidade de conhecimentos no Motor Transport Officers deslocamento no mar; o fuzil evocava a Infantaria que lhe cabia transportar, com proteção blindada Orientation Course/Motor Transport School Company/Marines Corps Service Support UMA ESTRANHA ESTRUTURA Schools/Marines Corps Base/Camp Lejeu- ORGANIZACIONAL ne/North Carolina/20542/USA (ou melhor, UFA!). Em julho de 1973, trazidos para o Rio Pela prática vigente então, oficiais que de Janeiro, os cinco Urutus adquiridos pela fossem cursar no estrangeiro deveriam se MB ainda pertenciam à Engesa, que, com apresentar ao comandante-geral do CFN, na uma grande equipe técnica, acompanhava o partida e na chegada. Naturalmente, cumpri já Capitão-Tenente (FN) Costa Lima e seus

2 2o SG Adones, 3o SG Edvaldino, 3o SG Vito, CB Deone e SD-MO (Soldados de Primeira Classe, graduação ainda existente á época) Monçores, Arantes, Bispo, Marques, Anjos, Filho e Souza. Eram, pois, um oficial e onze praças, que ficaram conhecidos como “Os 12 Condenados”, em alusão a famoso filme de guerra da época. A estes se reuniriam, já no Rio, os mergulhadores SG Jaerth e CB Zeir, além de três praças de outras especialidades: SD-IF Rosalvo, SD-ES Costa e SD-FN Ribeiro, totalizando 1 oficial e 16 praças (fig. 4). 3 Até 1980, o Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais (CG-CFN) era exercido por um vice-almirante (FN), que acumulava o comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) e dispunha de um Estado-Maior (EM-CFN), comum a essas duas organizações. Em 1980, o CFN passou a ser comandado por um almirante de esquadra (FN). O CG-CFN foi transformado em Órgão de Direção Setorial (ODS) de Apoio, com três Departamentos (Recursos Humanos, Material e Estudos e Pesquisa). A FFE preservou o EM e passou à subordinação do Comando de Operações Navais (ComOpNav). O primeiro almirante de esquadra (FN) foi Domingos de Mattos Cortez.

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subordinados nos últimos preparativos para deveriam se adestrar; se ficassem em Caxias, a incorporação oficial àquela Força, progra- teriam de realizar a toda hora longos e custosos mada para o dia 20 de julho de 1973, numa deslocamentos terrestres para aquele local. grande cerimônia no então Centro de Ins- Em consequência, o enquadramento trução de Adestramento do CFN (CIAdest), organizacional dos Urutus passou a ser: 3o hoje Centro de Instrução Almirante Sylvio Pelotão de Viaturas Anfíbias, da Companhia de Camargo (Ciasc), na Ilha do Governador, de Viaturas Anfíbias, do Batalhão de Trans- com a presença do ministro da Marinha, porte Motorizado, do Comando de Reforço Almirante de Esquadra Adalberto Nunes; o da FFE, destacado no Batalhão de Comando presidente da Engesa, José Luiz Whitaker, e, da Divisão Anfíbia da FFE (UFA de novo!). naturalmente, uma imensa quantidade de au- toridades militares das três Forças e civis de diferentes instituições públicas e privadas. Ao se idealizar o enquadramento dos car- ros na estrutura do CFN, decidiu-se organizá- los como um Pelotão de Viaturas Anfíbias – o 3o, porque dois outros eram constituídos pelos Camanf – do BtlTrpMtz4, à época situado no km 1 da Rodovia Rio-Petrópolis, em Caxias/RJ, junto à antiga Imprensa Naval, onde hoje se encontram o Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE), a Base de Fuzileiros Navais do Rio Meriti (BFNRM), o Batalhão Logístico (BtlLog) e o Batalhão Fig. 4 – “Os doze condenados” de Engenharia (BtlEng). Entretanto, as instalações do BtlTrpMtz à época não dispunham de boas condições para alojar e manutenir veículos tão sofisticados e complexos. Por essa razão, decidiu-se destacá- los para a Ilha do Governador, vinculados ao Batalhão de Comando da Divisão Anfíbia (BtlCmdoDivAnf), ocupando uma garagem (fig. 5) muito boa na área do o2 Batalhão de Infantaria (“Humaitá”) e, principalmente, situando-se junto ao mar e à tropa com que Fig. 5 – A garagem dos Urutus, no Batalhão Humaitá

4 O Batalhão de Transporte Motorizado (BtlTrpMtz) foi o sucessor da Companhia de Transporte Motorizado (Cia- TrpMtz), que “nasceu” nas instalações do CFN em Caxias/RJ. Em meados dos anos 60, já como Batalhão, essa OM foi transferida para a Ilha do Governador, junto à Linha de Tiro, onde hoje se encontra a Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador. Mais adiante, retornou a Caxias, onde recebeu os blindados M-113 (os Urutus nunca foram para lá). Nos anos 80, nova mudança, então para a Ilha das Flores, onde recebeu os Clanf – Carros de Lagarta Anfíbios norte-americanos (LVTP-7 – Landing Vehicle Tracked Personnel) e desde então se denomina Batalhão de Viaturas Anfíbias (BtlVtrAnf). Nos anos 2000, o CFN foi aquinhoado com outras viaturas de alto desempenho – o transporte blindado Piranha IIIC e o Carro de Combate SK 105 A2S, que, com os antigos M-113, integram hoje o Batalhão de Blindados (BtlBld), sucessor da pioneira Companhia de Carros de Combate (CiaCC) dos anos 80-90, que dispusera dos CCL EE9 – Cascavel, espécie de “primos” dos Urutus.

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Dia D (-) 1: quinta-feira, 19/07/1973, pação do comandante da DivAnf, Contra- pré-hora H Almirante (FN) Paulo Gonçalves Paiva. Para dar segurança ao exercício, fazia-se A Praia Grande, nos fundos do aquarte- presente uma equipe da CiaReconAnf, lamento do BtlCmdoDivAnf, parecia uma liderada pelo Primeiro-Tenente (FN) César praça de guerra – os cinco Urutus, viaturas da Silveira Couto. de apoio e, principalmente, a chamada Meu amigo CT (FN) Costa Lima se “fina-flor da graxa”: oficiais, todos muito despedia dos Urutus. No dia seguinte, eu mais antigos do que eu, também cursados os assumiria oficialmente, como primeiro em Manutenção Auto no EB (inclusive com comandante de uma fração de Blindados o curso anterior, três meses mais extenso), Anfíbios no Brasil, primazia que sempre com larga experiência nesse assunto e fiz questão de compartilhar com aquele servindo em Organizações Militares (OM) colega. Ele estava a caminho da fronteira ligadas à motomecanização. Vale relembrar – fora designado imediato do Grupamento esses amigos veteranos, alguns já falecidos de Fuzileiros Navais de Ladário (MS). (perdoem-me eventuais omissões, já lá se E por uma dessas coincidências da vida, vão 41 anos): CF (FN) Oscar Montez de dois anos e meio depois, ao final de 1975, Almeida, CC (FN) Iberê Francavilla Cos- eu viria a substituí-lo de novo, exatamente carelli, CC (FN) Emmanuel Luiz Machado, nesse cargo. CT (FN) José Luiz Ramos de Azevedo... Além destes, dois outros colegas em situ- Dia D (-) 1, hora H ação muito especial: o CC (FN) Reynaldo Carceroni e o CC (FN) Antônio Paulo Cerca das 10 horas, um dos Urutus foi de Moura Castro, ambos paraquedistas e preparado para entrar na água, dirigido por mergulhadores autônomos, egressos da um mecânico da Engesa (fig. 6). Os oficiais prestigiada Companhia de Reconhecimento citados e algumas praças embarcaram no Anfíbio (CiaReconAnf); os dois haviam veículo, que, por segurança, navegaria com cursado o Instituto Militar de Engenharia as seis escotilhas do teto abertas, de sorte (IME): Carceroni se graduara em Enge- nharia Automobilística e era o “ligação” da 4a Seção (Logística) do EM-CFN com a Engesa; Moura Castro era engenheiro mecânico, requerera transferência para a Reserva e trabalhava na própria Engesa. Eram, pois, conhecedores profundos do projeto Urutu. Naturalmente, havia também muitas praças “MO” antigas, que haviam ingres- sado no CFN na segunda metade da década dos 40, ainda formadas pela Escola de Sar- gentos das Armas (ESA) do EB, em Três Corações (MG) e igualmente especializa- Fig. 6 – Os Urutus entrando na água, na Praia das em Manutenção Auto na mesma EsMB. Grande. A foto foi tirada muito tempo depois do “Dia D (-) 1”, mas é bastante ilustrativa do Seriam realizados ali os testes finais de posicionamento dos ocupantes do veículo quando as entrada na água dos Urutus, com a partici- escotilhas se encontravam abertas

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que seus ocupantes pudessem abandoná-lo pilotado pelo Aparecido, um experiente imediatamente, se necessário. Costa Lima mecânico da empresa. e eu nos encontrávamos a bordo. Nesse ínterim, o comandante do A grande expectativa de todos, entre- BtlCmdoDivAnf, Capitão de Fragata (FN) tanto, se frustrou: mal entrou no mar, o Francisco Luiz da Gama Rosa, preocupado carro simplesmente atolou, presumivel- com uma série de acertos ainda pendentes mente porque a equipe da Engesa deixara para a grande cerimônia do dia seguinte, de realizar o procedimento básico para evi- chamou a mim e a outros dois ou três ofi- tar isso, que consistia em baixar a pressão ciais a ele subordinados, que assistiam ao dos seis pneus, de 70 para 55 libras. Mas teste, para uma reunião em seu gabinete. E era compreensível a falha. Os mecânicos, lá fomos, perdendo a segunda tentativa de todos civis, a maioria natural do interior navegar com o Urutu. de São Paulo, retraídos, pouco afeitos a E foi durante essa reunião que o orde- assuntos marítimos5 e muito menos àquela nança do CF Gama Rosa adentrou o gabine- azáfama típica de “tensão pré-cerimônia te, esbaforido, sem pedir licença, e bradou: militar” e “presença de oficial-general”, – Comandante! O Urutu afundou e o encontravam-se literalmente “ataranta- Almirante Paiva estava dentro! dos”, surpresos com tantos experts em Naturalmente, “cristalizamos” todos manutenção auto demonstrando seus com aquela notícia. Uma fração de segundo conhecimentos – o que também era per- depois, corremos para o local do exercício, feitamente compreensível. preocupadíssimos, mas... mal saíramos do Mas o show não podia parar, e a solução prédio do Batalhão, deparamo-nos com o veio rápida: um cabo de aço foi preso por almirante e outros oficiais, completamente uma das extremidades à traseira do Urutu molhados, mas, graças a Deus, sem um atolado e, pela outra, a um dos carros que arranhão. E relaxamos, antes de sabermos se encontrava em terra. Neste, acionaram-se que o problema havia sido mais grave e simultaneamente a tração nas seis rodas, a poderia ter tido consequências funestas não redução e o bloqueio de diferenciais, e deu- fosse a pronta intervenção dos mergulha- se marcha à ré. Manobra bem-sucedida, o dores comandados pelo Primeiro-Tenente carro que atuou como “socorro” puxou sem (FN) Silveira Couto. Explico a seguir o dificuldade as 11 toneladas de seu “irmão”, que ocorreu. preso nas “areias movediças” da Ilha do Governador. E todos desembarcaram, sãos O URUTU AFUNDOU! e salvos! Naturalmente, os responsáveis pelo Para que o Urutu entrasse na água, eram teste – civis e militares – ficaram preo- imprescindíveis alguns procedimentos cupadíssimos com os reflexos que aquele que, até aquele momento, eram realizados infausto acontecimento poderia trazer sobre pelo pessoal da empresa de memória e de seus empregos e carreiras e correram a maneira ainda não sistematizada. A partir prontificar novo veículo para a entrada na daquele dia, entretanto, depois de cuida- água – desta vez foi o 234402-“Jararaca”6, dosamente listados e ordenados, passaram

5 Os testes em São Paulo haviam sido conduzidos na Represa Billings. 6 Os veículos eram numerados sequencialmente e apelidados por nomes de cobras: 234400 (“Cascavel”), 234401 (“Coral”), 234402 (“Jararaca”), 234403 (“Jiboia”) e 234404 (“Urutu”).

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a constituir um check-list7 obrigatório (fig. etc.) e não a blindados anfíbios de 11 tone- 7): verificar se os oito bujões de fundo es- ladas. Um exemplo típico era, justamente, o tavam colocados (eram necessários para se ar comprimido: os Urutus haviam recebido esgotar posteriormente a água que entrasse um sistema comercial de freio a ar, cujo no “porão” da viatura); baixar a pressão dos reservatório não estava dimensionado seis pneus, como já mencionado; fechar o para acionar tantos dispositivos comple- “cogumelo” – a pesada tampa metálica do xos como os citados, e muito menos para cofre do motor, movimentada para cima e reencher os pneus, após a saída da água. para baixo por um êmbolo; fechar algumas Jamais teremos absoluta certeza quanto aberturas laterais do casco, que dispunham ao que ocorreu: fosse porque o motorista de portinholas; disparar o “pranchão” que- Aparecido, menos que neófito nos melin- bra-ondas; levantar os snorkels – tubos de dres e picuinhas da vida militar, pressio- admissão de ar para o motor; pressurizar os nado pela afobação geral dos presentes, cubos de rodas; fechar escotilhas e levantar não houvesse seguido à risca a sequência o periscópio tríplice do motorista; e talvez de procedimentos para entrada na água, ou outros itens de que não me recordo agora. fosse porque o volume de ar comprimido no reservatório não houvesse sido suficiente para acionar todos os dispositivos, e al- gumas aberturas do casco não houvessem sido fechadas, o fato foi que o “Jararaca” afundou a poucos metros da beira da praia, com a água começando a cobrir seu teto. Os oficiais que se encontravam no comparti- mento da tropa, com as escotilhas abertas, pularam na água e, com pouquíssimas braçadas, atingiram ponto onde “dava pé”. Já o Aparecido... Observe, prezado leitor, as figuras 8 a 11. A primeira delas mostra o banco do Fig. 7 – Alguns dos dispositivos acionados para motorista com o encosto levantado. Abaixo entrada na água deste, à esquerda, percebe-se um pequeno Esses dispositivos eram acionados por botão branco, que, quando acionado, descia ar comprimido, exceto, obviamente, os o assento, para que o motorista pudesse bujões, escotilhas e o periscópio. Mas os levantar a escotilha de periscópios, visível Urutus eram protótipos, e a maior parte na figura 9. Se estes não estivessem sendo de seus componentes – salvo a inovadora usados, o motorista elevaria o assento e transmissão já citada – não havia sido de- seu rosto ficaria na altura do para-brisas senvolvida especificamente para eles, mas rebatível, visível na figura 10. Havia ainda sim obtida na já avançada indústria brasilei- um trinco, no formato de ferrolho vertical, ra de autopeças. Embora todo esse material à esquerda, abaixo e atrás do encosto, que o fosse de muito boa qualidade, destinava-se destravava, para que ele fosse rebatido para a veículos comerciais (caminhões, ônibus trás, permitindo que o motorista saísse de

7 O afundamento do “Jararaca” nos levou, de imediato, a criar o “check-list para entrada n’água” e o Plano de Abandono, que passaram a ser exaustivamente treinados.

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Fig. 8 – Banco do motorista com o encosto Fig. 9 – Banco do motorista com o encosto arriado levantado

Fig. 10 – Urutu visto de frente. Observe-se a Fig. 11 – A cartolina na cor laranja, abaixo do nome cobertura e o para-brisas rebatível da cabine do da viatura, era plastificada e ostentava o esquema de motorista abandono da mesma seu alojamento, praticamente “rastejando de riscópios. Seu assento estava elevado e o costas”. Era muito difícil o motorista liberar rosto na altura do para-brisas. A tampa de seu encosto sozinho, pois, ao tentar fazê-lo, fibra da cabine, por sorte, não estava colo- inevitavelmente suas costas o empurravam cada. Quando o carro afundou, a água, que para trás, travando-o mais. Para resolver começava a roçar o teto, invadiu a cabine. isso, prescrevemos, no Plano de Abandono Até então, ninguém a bordo fazia ideia da (fig. 11), que o tripulante que estivesse dificuldade que o motorista teria para arriar sentado atrás do motorista, junto ao rádio, o assento, rebater o encosto de seu banco seria o responsável por esse destravamento. para trás e “rastejar de costas” para fora Na figura 10, podem-se observar o para- da cabine – procedimentos nunca antes brisas rebatível e a cobertura da cabine do testados ou treinados. Também seria muito motorista, feita de fibra e presa àquele por difícil, num momento de pânico, sair por quatro clipes metálicos, de sorte que podia cima da cabine, mesmo sem a “tampa” de ser descartada com certa facilidade. fibra, porque sua abertura não era tão lar- No momento do acidente, o motorista ga – e esse era outro movimento também Aparecido não estava utilizando os pe- ainda não testado.

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Mas dizem que Deus é brasileiro e, ao treinamento da tripulação em mergulho que consta, fuzileiro... e, provavelmente por autônomo, inicialmente com “aqualungs” isso e outros fatores bem mais humanos, e, a seguir, com os coletes de escape de o Primeiro-Tenente Silveira Couto e seus submarinos Brassière PA-70, que passa- mergulhadores “voaram” para o local, em ram a fazer parte indissociável de nossa sua Embarcação de Desembarque Pneu- equipagem. Eles aparecem na figura 12, mática (EDPN) e resgataram o Aparecido que ilustra eloquentemente a dificuldade de – ileso, mas assustadíssimo – pela abertura se abandonar a viatura, em caso de afun- da cabine, ou seja, por cima, pois não con- damento, o que, graças a Deus (brasileiro seguiriam entrar na viatura pelas portas e fuzileiro, mais uma vez), nunca ocorreu. laterais e traseira, que estavam fechadas por dentro, nem pelas escotilhas do teto, Dia D – sexta-feira, 20 de julho de 1973 que, embora abertas, eram estreitas e não dariam passagem aos “aqualungs”. Uma das mais conhecidas expressões E o Urutu 234402 – “Jararaca” foi rebo- do jargão naval é “entre mortos e feridos, cado, colocado numa carreta e encaminha- escaparam todos”. E foi isso mesmo que do à Engesa para uma intensa manutenção, ocorreu, pelo que a cerimônia de incorpo- só voltando ao nosso convívio muitos ração dos Urutus e ativação do 3o Pelotão meses depois. de Viaturas Anfíbias foi realizada com toda Naturalmente, esse quase trágico epi- “pompa e circunstância” que o momento sódio teve inúmeros desdobramentos, dos pedia, sem deslizes, sem atropelos. Dela quais o principal foi a crença, espalhada por guardei a foto abaixo (fig. 13). Embora a todo o CFN, de que “o Urutu afunda...” – e legenda mencione cinco carros, natural- o pobre “Jararaca” ficou conhecido, durante mente só havia quatro. algum tempo, como “maligno”... Ah, para recuperar a confiabilidade nas viaturas FINIS CORONAT OPUS foram anos de muita luta. Outras consequências foram a siste- Não foi longa a vida operacional dos matização do check-list e do Plano de Urutus no CFN, talvez porque, por suas Abandono, paralelamente a um exaustivo limitações como veículo anfíbio, ele não atendesse aos requisitos de um adequado movimento navio para terra, fase crucial de

Fig. 12 – Interior do Urutu transportando tropa equipada. Observem-se as escotilhas do teto, muito Fig. 13 – Cerimônia de incorporação dos Urutus à estreitas MB

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uma operação anfíbia – em terra, excelente; primeiros splash (desova), de bordo dos mas, no mar, apresentava reduzidíssima saudosos NDCC Garcia d’Ávila e Duque velocidade e governo sofrível, por utilizar de Caxias. pequenos hélices e lemes, ao invés de tur- E não mais usando os velhos transcep- binas d’água, e ter pouca hidrodinâmica tores das viaturas, mas as ondas eletromag- (“cara chata”). néticas do coração, repito sua chamada: De qualquer forma, suas sucessivas “Ninho, aqui Cobra, câmbio”.* tripulações, desde 1973, testaram-no exaus- tivamente, em terra e no mar, e enviaram “Aqui Urutu, presente!” (Viatura à Engesa muitas sugestões para o seu 234404 – Urutu – Comando do Pelotão) aprimoramento. Todavia, o advento dos LVTP-7 norte-americanos, sobre lagartas, dispondo de water-jets e testados inúmeras vezes em combate real, eclipsou totalmente o projeto Urutu-mar. Em 1986, quando os Urutus adquiridos em 1973 já tinham tido sua baixa do CFN, a Engesa nos convidou para testar uma nova versão, que estava sendo exportada. Por minha experiência anterior, fui convidado a participar dos testes. O carro foi embar- cado no Navio de Desembarque de Carros de Combate (NDCC) Duque de Caxias, que se deslocou até a Ilha da Marambaia, Fig. 14 – Viatura 234404 onde realizamos vários exercícios. Foi uma grande satisfação para mim verificar que as “Aqui Cascavel, presente!” (Viatura sugestões apresentadas uma década antes 234400 – Cascavel – Comando da 1a Seção) haviam sido introduzidas na viatura, que, de fato, apresentava agora um desempenho bem superior, com novos componentes muito bons (motor, direção hidráulica, freios etc.) Mas a MB não a adquiriu, o que veio a se revelar uma decisão correta, pois pouco depois a empresa abriu falência. Resta-me homenagear meus “12 con- denados” (a rigor, 16), que comandei por pouco mais de dois anos – julho de 1973 a agosto de 1975. Juntos repartimos a honra, o orgulho e o privilégio de termos sido os primeiros militares, no Brasil, a operar uma subunidade especializada de blindados anfíbios e a realizar – desafiando os prog- nósticos pessimistas de muitos – os dois Fig. 15 – Viatura 234400

* N.R.: Ninho – coletivo do Pelotão; “Cobra” – comandante do Pelotão.

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“Aqui Jararaca, presente” (Viatura “Aqui Jiboia, presente!” (Viatura 234402 – Jararaca – 1a Seção) 234403 – Jiboia – 2a Seção)

Fig. 16 – Viatura 234402 Fig. 18 – Viatura 234403

“Aqui Coral, presente!” (Viatura 234401 “Aqui Sucuri, presente!” (Grupo de – Coral – Comando da 2a Seção) Mergulhadores)

Fig. 17 – Viatura 234401 Fig. 19 – Os “doze condenados” mais uma vez

“Aqui Cobra, ciente. Bravo Zulu8”

8 “Bravo Zulu” – saudação em código fonético- “parabéns”, “cumprimentos”.

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A EVOLUÇÃO DOS BLINDADOS NO CORPO DE FUZILEIROS NAVAIS

Fig. 20 – CTRA EE-11 URUTU Fig. 23 – LVTP-7 A1 – CLANF

Fig. 21 – M113A1 Fig 24 – CC SK 105 A2S

Fig. 22 – CCL EE-9 CASCAVEL Fig. 25 – MOWAG CIII PIRANHA

RMB4oT/2014 37 O DIA EM QUE O URUTU AFUNDOU...

O FUTURO

Da direita para a traseira: (1) alça para reboque; (2) quebra-ondas para navegação anfíbia (sob essa peça, há uma tampa do compartimento das baterias elétricas e o bocal do tanque de combustível dianteiro; (3) lanterna, faróis alto e baixo e luz de posição; (4) respiro do motor; (5) escotilha de acesso ao motor; (6) escotilha de acesso à caixa de potência; (7) machado e pá; (8) corta-fio; (9) alça de acesso à parte superior do blindado; (10) retrovisor externo; (11) para-brisa com limpador e esguicho; (12) escotilha do motorista; (13) radiador; (14) escotilha para verificar nível de fluído de arrefecimento do motor; (15) snorkel; (16) sirene; (17) farol alto, lanterna e câmera dianteira; (18) escapamento; (19) escotilha do comandante; (20) periscópios do comandante; (21) tampa do filtro QBN; (22) suporte automatizado para metralhadora; (23) escotilha da tropa; (24) alça para içamento; (25) câmera traseira; (26) pontos de fixação de blindagem extra; (27) hélice; (28) grade de proteção das mangueiras hidráulicas (do sistema de pressurização da transmissão para navegação anfíbia); (29) calota protetora do sistema de controle de pressão dos pneus e (20 pneus run fiat.

Fig 26 – O Guarani – Projeto do Exército Brasileiro em parceria com a Iveco – Revista Quatro Rodas, novembro de 2014

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Fuzileiros Navais; Embarcação; Operação anfíbia;

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“Se antes a terra e depois o capital eram fatores decisivos da produção, hoje o fator decisivo é, cada vez mais, o homem em si, ou seja, seu conhecimento.” (Papa João Paulo II**)

HÉrcules Guimarães Honorato*** Capitão de Mar e Guerra (RM1-EN)

SUMÁRIO

Introdução Referencial teórico O conhecimento e sua gestão Gestão do Conhecimento A GC na Marinha do Brasil O Programa Netuno Iniciativas de gestão do conhecimento na MB Diagnóstico da GC em uma OM da Marinha Caracterização da OM pesquisada Apresentação dos resultados e análise dos dados Considerações finais Apêndice

* Artigo 1o colocado no Concurso Artigos Técnicos e Acadêmicos e de Redação das Organizações Militares da Área de Ensino da Marinha do Brasil e do Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha (2014), na Categoria Oficiais e Civis Assemelhados. ** Encíclica Centesimus Annus, de 1991 (apud STEWART, 1998, p. 11). *** Mestre em Educação pela Universidade Estácio de Sá (Unesa). Instrutor de Metodologia da Pesquisa da Escola Naval. GESTÃO DO CONHECIMENTO: Diagnóstico em uma Organização Militar da Marinha

INTRODUÇÃO trabalho ainda estão guardados apenas nas mentes das pessoas” (BRITO; OLIVEIRA; mundo globalizado trouxe uma revo- CASTRO, 2012, p. 1.341). O lução dos meios de tecnologia e comu- Diante do exposto, apresentamos o nicações, gerando desafios nas mais diver- problema da pesquisa: Por que ainda hoje é sas organizações. Drucker (1999, p. 166), importante implementar as práticas de Ges- corroborado pela encíclica do Papa João tão do Conhecimento (GC) em uma OM da Paulo II, citada na epígrafe da 1a página, Marinha? Para responder à questão, este concluiu que a sociedade contemporânea estudo, de cunho qualitativo e bibliográfico está num período de transição no qual os exploratório, tem por objetivo principal meios de produção foram substituídos pelo identificar o atual estágio de implantação conhecimento, sendo o valor criado pela do processo de GC em uma OM da Marinha “‘produtividade’ e pela ‘inovação’, que são do Brasil (MB), por intermédio de um diag- aplicações do conhecimento ao trabalho, e nóstico via questionário on-line enviado que [...] a pessoa instruída irá representar para toda a sua tripulação e analogia com a sociedade na sociedade pós-capitalista, o referencial teórico explorado. na qual o conhecimento tornou-se recurso principal”. REFERENCIAL TEÓRICO A capacidade para identificar, gerenciar, criar, distribuir e até descartar conhecimen- Este estudo foi iniciado como uma pes- to com eficiência é fundamental para que quisa exploratória documental, em dois am- uma empresa se coloque em posição de bientes tecnológicos diferentes, utilizando- vantagem competitiva em relação aos con- se como palavras-chave da procura básica correntes. SANTOS (2010, p. 7) argumenta “Gestão de Conhecimento” e “Organização que os indivíduos “detêm conhecimentos e Militar”. O primeiro foi direcionado para habilidades que não estão disponíveis em a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e manuais, exigindo-se formas de comunicar Dissertações do Ministério da Ciência e e registrar essas informações para transmitir Tecnologia1. A pesquisa resultou em 814 aos demais participantes da organização”. achados, mas apenas quatro dissertações De modo análogo, a condução de uma de mestrado ligadas às palavras-chave Organização Militar (OM) é um processo estipuladas. que consiste na “coordenação das ativida- O segundo ambiente pesquisado foi a des e tarefas dos militares e servidores civis intranet da Marinha, mais especificamente da organização e na alocação dos recursos a biblioteca da Escola de Guerra Naval2 organizacionais para alcançar os objetivos (EGN), que tem um depositório de tra- estabelecidos de uma forma eficaz e efi- balhos de conclusão dos cursos de Altos ciente” (BRASIL, 2013, p. 1-1). Assim, Estudos de Política e Estratégias Marítimas com os recorrentes desembarques e as apo- (C-PEM), do Curso de Estado-Maior para sentadorias de pessoal, existe uma grande Oficiais Superiores (Cemos) e o Curso perda de “know-how e capital intelectual, Superior (CSUP). Este banco de dados aca- já que muitas informações, conhecimen- dêmico tem trabalhos desde 2007, com um tos importantes e detalhes e processos de total de 790 registros. Foram encontradas

1 Disponível em: . Acesso em: 14 ago. 2014. 2 Disponível em: . Acesso em: 20 ago. 2014.

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cinco monografias, das quais três foram Conhecimentos tácito e explícito utilizadas na construção do referencial te- órico – as de Santos (2010), Freitas (2008) Em uma sociedade baseada no conhe- e Marchesini (2007). cimento, Drucker (1993 apud NONAKA; Alguns grupos conceituais são impor- TAKEUCHI, 1997, p. 6), relata que “o tantes em qualidade e busca do referencial ‘trabalhador do conhecimento’ é o maior teórico iniciando-se com o conceito de ativo”. Alvarenga Neto (2008, p. 19), conhecimento e a sua gestão, em que concordando com o autor, afirma que “o Nonaka e Takeuchi (1997) são os mais conhecimento representa a soma das expe- citados, além de Alvarenga Neto (2008). riências de uma pessoa e/ou organização e Para se entender capital intelectual, a fon- só existe na mente humana”, sendo o ser te escolhida foi Stewart (1998). Quando humano o principal e imprescindível agente se procura trabalhar na conceituação de para o sucesso da implementação da GC em “organizações que aprendem”, Garvin uma organização, e que o futuro pertence às (2002) é reconhecido por sua importância. pessoas que detêm conhecimento. No trabalho de diagnóstico, foi utilizado Nonaka e Takeuchi (1997, p. 63) o trabalho de Assmann, Frozza e Kipper conceituam conhecimento como “uma (2012), que investigaram a capacidade de função de uma atitude, perspectiva ou se criar novo conhecimento e compartilhá- intenção específica [...] está relacionado lo em uma instituição de Ensino Superior. à ação. É sempre ‘com algum fim’ [...] É específico ao contexto e relacional”. O Conhecimento e sua Gestão Esses autores, baseados em Michael Polanyi (1966), dividiram-no em dois, o Dado, informação e conhecimento tácito ou informal e o explícito ou codi- ficado, que, por sinal, não são entidades Para iniciar a temática do Conhecimento totalmente separadas e distintas, mas sim e sua Gestão, vamos apresentar, via quadro mutuamente complementares. abaixo, a distinção existente entre dados, O conhecimento tácito é pessoal e informação e conhecimento, que são os muito difícil de formalizar ou mesmo pa- marcos teóricos conceituais iniciais e rametrizar, não é visível a olho nu e requer primordiais balizadores das formulações, que o seu detentor queira transmiti-lo e proposições e discussões atinentes às or- compartilhá-lo com outros. É caracterizado ganizações do conhecimento e à gestão da também por estar profundamente enraizado informação e do conhecimento. nas ações e experiências de um indivíduo,

Dados Informação Conhecimento Simples observações sobre o estado Dados dotados de relevância e Informação valiosa da mente huma- do mundo propósito na. Inclui reflexão, síntese, contexto – facilmente estruturados – requer unidade de análise – de difícil estruturação – facilmente obtidos por máquinas – exige consenso em relação ao – de difícil captura em máquinas – frequentemente quantificados significado – frequentemente tácito – facilmente transferíveis – exige necessariamente a mediação – de difícil transferência humana Características diferenciais entre dados, informação e conhecimento Fonte: Davenport (1998 apud ALVARENGA NETO, 2008, p. 18)

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bem como em suas emoções e seus valores A transferência do conhecimento e ideais. O conhecimento explícito refere-se àquele que é objetivo, que pode ser trans- O conhecimento tácito é inerente ao mitido em linguagem formal e sistemática, ser humano e só ele pode fazer sua trans- que está documentado, armazenado em ferência para os demais integrantes da determinado repositório, manual, banco de organização, ficando disponível para a dados, fixado e codificado, que pode utilizar aprendizagem individual e organizacional. também palavras escritas e gráficos. Stewart (1998) assevera que, ao longo da A criação do conhecimento dentro da história, sempre existiu o conhecimento, organização é uma interação contínua e dinâ- mas o grande desafio é administrá-lo. mica entre os dois conhecimentos, como uma Encontrá-lo e estimulá-lo, armazená-lo, forma espiral, que “começa no nível individu- vendê-lo e compartilhá-lo por transferência al e vai subindo, ampliando comunidades de tornaram-se as tarefas econômicas mais interação que cruzam fronteiras entre seções, importantes dos indivíduos, das empresas departamentos, divisões e organizações” e dos países. (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 82). Na verdade, esse capital, produto da inteligência humana, baseia-se em pessoas Gestão do Conhecimento dispostas a compartilhar, e compartilhar é sempre voluntário. A GC é um “fenô- “Sem uma cultura de meno complexo e mul- A criação do conhecimento trabalho em equipe e re- tifacetado; seu concei- dentro da organização é muneração e recompen- to, polêmico e contro- sas que o sustentem, um verso, e sua expressão, uma interação contínua jardim de conhecimen- embora largamente e dinâmica entre os tos será tão triste quanto utilizada, apresenta um playground cons- ênfases, enfoques e in- conhecimentos tácito e truído ao lado de um terfaces diferenciadas, explícito prédio onde só moram merecedoras de análi- idosos” (STEWART, ses mais meticulosas, 1998, p. 113). profundas e articuladas” (ALVARENGA Nessa era do conhecimento, uma organi- NETO, 2008, p. 2). As conclusões sugerem zação que aprende, segundo Garvin (2002, que não se gerencia conhecimento, apenas p. 12), “é uma organização hábil na criação, se promove ou se estimula este por meio aquisição, interpretação, transferência e da criação de contextos ou ambientes or- retenção de conhecimento, e também na ganizacionais favoráveis. modificação deliberada de seu comporta- Na prática, procura-se identificar e ma- mento para refletir novos conhecimentos pear os ativos intelectuais ligados à orga- e insights”. Reconhece-se que o conheci- nização, gerando-se novos conhecimentos, mento puramente local e interno é valioso, tornando-se acessíveis as informações mas ele não caracteriza uma organização corporativas importantes, fazendo-se o que aprende, devendo ser compartilhado compartilhamento e a aprendizagem das e não se limitando ao domínio de poucos melhores práticas, além de se verificarem privilegiados. potenciais gargalos e problemas no fluxo Em um momento podemos esbarrar na normal do conhecimento. cultura organizacional como óbice impor-

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tante para gerirmos com qualidade o nosso Iniciativas de gestão do conhecimento conhecimento e sermos uma organização na MB que aprende. Costa e Gouvinhas (2004, p. 4.814) argumentam que, dependendo do Na relação que se procurou entre MB e tipo de cultura organizacional, o processo GC, Marchesini (2007, p. 19) argumenta de transformação em uma organização que que a Marinha vem adotando diversas processa a GC “pode ser longo e tortuoso iniciativas ligadas à GC, como a adoção [...] a mudança cultural se torna essencial do ambiente de trabalho em Notes, que para a implementação da GC”. visou à mudança da gestão administrativa burocrática para a da informação, “por meio A GC NA MARINHA DO BRASIL do desenvolvimento de um sistema capaz de introduzir um novo modelo de gestão na A MB é uma instituição permanente e Administração Pública: a Gestão Eletrônica regular, tendo como alicerce estruturante de Documentos (GED)”. Outra iniciativa os princípios da hierarquia e da disciplina. citada pelo autor foi a implantação do en- Pertence à administração pública direta, tem sino a distância para os cursos de carreiras que obedecer aos princípios de legalidade, e cursos expeditos, propiciando economia impessoalidade, moralidade, publicidade e de meios e de recursos. Em sua conclusão, eficiência para o atingimento dos anseios esse autor iluminou-nos sobre a perda da da sociedade (BRASIL, 1988, grifo nosso). memória atuante nas OM prestadoras de A eficiência deve fazer parte das ações que serviços, principalmente em função da serão desenvolvidas no ambiente da MB, idade avançada de servidores civis, que nas diversas OM que a constituem, indepen- desenvolvem importantes atividades de dentemente de suas instituições não serem manutenção e de tecnologia. baseadas na competitividade e no lucro, mas Santos (2010) assevera que é importante na melhoria do desempenho, “com ações valorizar o capital humano pelo líder, que voltadas para a otimização dos processos, deverá saber diagnosticar o ambiente, o gerenciamento de projetos e permanente conhecer seus homens, bem como identi- estímulo e motivação de todos os integrantes ficar com clareza a missão a ser cumprida da Força” (MARCHESINI, 2007, p. 18). e os objetivos a serem atingidos. Ponto realçado pela autora e por outros autores O Programa Netuno é que a qualidade do ambiente de trabalho é fator importante para o desenvolvimento A GC no ambiente da Administração da competência do militar, pois acarreta o Naval é desenvolvida pelo Programa Netu- desenvolvimento de conhecimentos, habi- no. Este visa à institucionalização de boas lidades e atitudes. práticas de gestão, permitindo que as OM Freitas (2008, p. 25, grifo nosso) desta- busquem a melhoria contínua dos processos cou que procedimentos e processos desta inerentes às suas atividades. Entre os crité- teoria deveriam existir nas organizações do rios de autoavaliação do Programa Netuno, Sistema de Ensino Naval (SEN). A autora existe o da Gestão do Conhecimento e concluiu que o processo de GC foi iniciado Informações Comparativas, que conta com de forma reduzida nas páginas (homepages) uma lista específica pautada no Programa das cinco OM estudadas, e “os fundamentos Nacional da Qualidade (PNQ), mas que não teóricos apresentados, entretanto, reforçam faz parte do estudo em questão. a necessidade das iniciativas já tomadas e

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sugerem a ampliação do estudo tema, os processos de GC; falta de boa vontade em face de sua importância para a MB”. das pessoas em compartilhar seus conheci- Essa autora expõe, ainda, que há necessi- mentos e competências; hierarquia e cultura dade de desenvolvimento de uma estrutura engessada; grande quantidade de militares de GC que tenha esta função nas organi- temporários (RM2 e recrutas); falta de tempo zações pesquisadas. Foram identificados, para realizar as atividades de instrução em entretanto, procedimentos e processos da detrimento das demais atividades; e difi- GC nos portais pesquisados, como: divul- culdades inerentes à carreira militar, como gação de textos considerados motivadores, eventos, cerimônias e atividades extra-MB divulgação de aulas e apostilas, divulgação (ROCHA NETO; SALINAS, 2011). de currículos e projetos específicos, entre Em relação aos aspectos positivos, te- outros (FREITAS, 2010). mos: predominância de aprendizagem em Rocha Neto e Salinas (2011), que inves- serviço e divulgação de material recebido tigaram sobre a ambiência para inserção por e-mail e também das atividades de de processos sistemáticos de GC no Co- adestramento; existência de expertise e mando do 7o Distrito Naval, salientaram disponibilidade de instrutores para o desen- que pouco se tem produzido sobre o tema volvimento de competências técnicas e es- nas organizações públicas hierarquizadas senciais; apoio do comando; disposição dos e essencialmente de gestão verticalizada oficiais para compartilhar conhecimentos; como as Forças Armadas. Estes autores utilização da informática; e a necessidade argumentam que, a princípio, a GC resulta e a possibilidade de desenvolvimento e na acomodação e perda do senso de urgên- inserção de processos sistemáticos de GC. cia, em termos de capacitação e criação de conhecimento. Soma-se também “o fato de DIAGNÓSTICO DA GC EM UMA os conhecimentos estarem intimamente as- OM DA MARINHA sociados aos cargos específicos, ao invés de incluir competências genéricas com maior Caracterização da OM pesquisada potencial de aplicação” (ROCHA NETO; SALINAS, 2011, não paginado). A OM conta com uma tripulação total de A tendência dos servidores públicos é dez oficiais e 13 praças, sendo considerada “desenvolver suas atividades cotidianas de pequeno porte dentro da Administração sem tentar experimentar novas soluções, Naval. Destes oficiais, apenas quatro são com a preocupação de não errar para não militares de carreira, sendo os outros seis perder funções de confiança [...] o melhor temporários (RM2). Destes, quatro ficam é nada fazer além do esperado para não se destacados para realizar um projeto em par- expor” (ROCHA NETO; SALINAS, 2010, ceria com uma grande universidade públi- não paginado). Estas afirmações vão de ca, tendo, assim, pouca relação direta com encontro ao que Santos (2010) avalia so- o trabalho diário dos outros tripulantes e bre a importância do líder estratégico, que contribuindo pouco para a GC internamente coloca em movimento os valores do seu a OM. Sua Tabela de Lotação prevê quatro pessoal, que será motivado a compartilhar oficiais e 15 praças, com uma revisão em e transmitir seus conhecimentos. andamento para incluir novas tarefas que As seguintes limitações foram levanta- pela OM estão sendo realizadas, tais como das: a rigidez da hierarquia como impedi- toda a parte financeira e administrativa, que mento; as atividades de rotina que dificultam antes era apoiada pelo comando superior.

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Apresentação dos resultados e análise Como ponto positivo, a pergunta nú- dos dados mero 1 atingiu a maior concordância, com 89% – existe o diálogo com os colegas de O instrumento de coleta de dados cons- trabalho em primeiro lugar para a solução tou de um questionário com 14 perguntas de situações complexas. Fato também fechadas e uma aberta e foi baseado no realçado na questão 12, com 79%, em que trabalho realizado por Assmann, Frozza e o diálogo é a principal ferramenta para o Kipper (2012), que fizeram um diagnóstico desenvolvimento do trabalho no dia a dia. de GC na área de tecnologia da informação Tal situação reafirma a teoria de que o de uma universidade. Estes autores elabo- conhecimento está na mente das pessoas, raram um questionário com perguntas que e que tem que ser voluntário o seu compar- tinham como escopo verificar o grau de tilhamento. Isto ratifica que, via diálogo, as evolução que se encontrava a organização melhores práticas e o conhecimento tácito pesquisada, relacionando o objetivo de são melhores transmitidos. determinada questão com o referencial As questões seguintes, que tiveram um teórico discutido. percentual por volta de 70%, comprovam O questionário foi elaborado na plata- o pertencimento e a motivação dos tripu- forma Qualtrics Survey Software, dispo- lantes com a visão e missão estratégica nibilizada para toda a tripulação por uma da OM, em resposta à questão 14, assim semana. Da lotação de 23 sujeitos, retor- como consideram o seu trabalho impor- naram com o questionário respondido 19, tante, sentindo-se parte do todo (questão número considerado muito bom para este 8), atualizando-se constantemente em estudo, com 83% de retorno positivo. Esta busca de melhoria contínua (questão 7), e plataforma foi escolhida em virtude ser de não se importando em ajudar a resolver os fácil montagem das perguntas, pela garantia problemas de outra área (questão 2). Situ- da confiabilidade da fonte e pela facilidade ação bem iluminada pelos respondentes e de exportação dos dados coletados para do- considerada importante na implantação de cumentos do Word e planilhas eletrônicas. processos de GC é que os erros cometidos Nas perguntas fechadas, utilizou-se a escala são transformados em lições aprendidas com três opções – concordo, concordo par- e experiências para projetos e atividades cialmente e não concordo. O questionário futuras de outros colegas do setor, do que completo consta do Apêndice. tratou a questão 11. Os resultados foram agrupados de Em relação aos pontos fracos constata- acordo com o número percentual de cada dos no instrumento de coleta, a questão 10 alternativa, procurando, em primeiro lugar, teve 74% de discordância. Esta procurou analisar os pontos fortes da OM através das avaliar a GC na OM, em que foi perguntado respostas “concordo”, em seguida foram se existem informações disponíveis sobre verificados os pontos a melhorar quando a atividades, novos conceitos ou qualquer concentração de “concordo parcialmente” outra informação sobre o setor como um ou “não concordo” somados atingissem todo, mesmo que essas informações não 50% das respostas. Por último, estão sejam solicitadas, se elas estão disponíveis expostas as sugestões da tripulação em e se têm acesso a elas de forma rápida. resposta à questão aberta, em relação ao Infere-se que a resposta negativa tenha a ver que está faltando na OM e que ajudaria a com informações reservadas e documentos compartilhar conhecimento. sigilosos que são inerentes à profissão. Ou-

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tra possibilidade seria a falta de uma GC alinhada ao planejamento estratégico da estruturada na organização, o que poderia OM, com divulgação ampla do que é pos- levar à falta de informações mais registra- sível ser informado de objetivos e ações a das, reduzindo assim a maneira informal serem alcançados para toda a tripulação. do conhecimento. A última questão, que foi aberta, solici- As questões seguintes obtiveram um tou aos tripulantes que sugerissem algo que percentual médio em torno de 60%, o que é estivesse faltando na OM e que poderia aju- preocupante e que deve ser melhor avaliado dar no compartilhamento do conhecimento. pelo setor responsável pela implantação Foram propostas 16 sugestões. Entre essas, da GC na OM, principalmente no aspecto as mais importantes para este estudo são: do ambiente de trabalho e da motivação – Caixa de sugestões; banco de dados do tripulante, como exposto na questão 9, de problemas/soluções; incentivo a todos que procurou avaliar elaborarem manuais a motivação para pes- explicativos; falta um quisar novas tecnolo- A tendência dos servidores padrão. gias, estudar e criar – Aceitar a opinião novos conhecimentos, públicos em desenvolver quando damos, pois mesmo em horário de atividades sem experimentar as das praças às vezes trabalho. Tal negativa são ouvidas, mas não é coadunada na res- soluções inovadoras existe. aceitas. posta da questão 13, A MB sempre buscou, – Organograma de- em que os responden- no campo da gestão e da talhando as tarefas bási- tes afirmaram que não cas e os prazos de todos têm autonomia para a qualidade, o aprimoramento os setores. busca de soluções de de seus recursos humanos, – Maior investimen- problemas relaciona- to em cursos para capa- dos ao seu ambiente de financeiros e materiais, para citação do pessoal. trabalho. Interessante otimização administrativa – Uma arquitetura constatação é que eles de suas organizações de arquivos na rede de produzem mais e me- dados organizada, com lhor quando trabalham facilidade de acesso aos sozinhos, o que foi perguntado na questão arquivos afetos aos processos em andamento. 3, o que não é ideal no desenvolvimento da – Separação de documentos de diversas GC na organização. áreas e assuntos, e que estes sejam orga- A questão 6, que atingiu 58%, contradiz nizados em pastas e divulgados na rede em certa medida o que foi respondido na interna da OM. questão 14, que obteve uma concordância – Procedimentos que expliquem todos de 74% dos respondentes. A contradição os processos. está em que existe uma divulgação e eles – Maior interação nas reuniões geren- conhecem a missão e visão da OM, porém ciais dos praças, já que só participa um não existe no setor uma definição clara de praça por reunião. objetivos e metas a serem atingidos, mas – Mais adestramentos, já que muitos não mesmo assim eles acreditam e têm cons- são cumpridos. ciência de que a organização sabe o que – Padronização de procedimentos ad- se espera deles. O ideal é que a GC esteja ministrativos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS que estruture e disponibilize melhor as informações da organização para todos os A tendência dos servidores públicos em seus integrantes, pois foi verificado, como desenvolver suas atividades cotidianas sem ponto positivo, que existe um ambiente tentar experimentar soluções inovadoras de trabalho favorável, além da motivação existe. Porém a MB sempre buscou, no do seu pessoal, externalizada pelo desejo campo da gestão e da qualidade, o contí- reconhecido em transmitir o que sabe. Ser nuo aprimoramento no emprego de seus uma organização voltada para a promoção recursos humanos, financeiros e materiais, do conhecimento organizacional é muito visando alcançar a otimização administra- importante, independentemente da estru- tiva de suas organizações. tura militar verticalizada. As sugestões da Podemos afirmar, de posse do refe- tripulação serão enviadas à direção da OM rencial teórico estudado, que benefícios para as providências julgadas necessárias. organizacionais poderão advir das práticas É necessário que a OM seja uma organi- voltadas para a transferência e o compar- zação que aprende, que tenha um ambiente tilhamento do conhecimento, em especial favorável e uma liderança ativa, que pro- o tácito. O que foi verificado como grande cure trabalhar na transferência dos conhe- óbice, a constante movimentação dos mi- cimentos internos e nas melhores práticas litares da ativa, tenderá, com os processos externas, que alinhe o seu planejamento e e métodos da GC, a uma diminuição da suas metas estratégicas com o melhor do perda desse conhecimento individual, seu capital intelectual, e que esteja prepa- transformando-o em organizacional. rada para mudanças de rumos frequentes A OM analisada está em processo inicial em um contexto de variáveis previstas e de implantação da GC, o que foi verificado imprevistas, independentemente da cultura nas respostas de sua tripulação. Sugere-se organizacional existente, mas com o fulcro que ela deve divulgar as boas práticas e de melhor atender aos anseios da sociedade.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Organização militar; Controle de qualidade;

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APÊNDICE

Questionário de Diagnóstico de GC aplicado a uma Organização da Marinha do Brasil

1) Em situações complexas e quando tenho dúvidas, procuro dialogar com os meus colegas em primeiro lugar para solucioná-las. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

2) Não me importo em ajudar a resolver os problemas de outra área. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

3) Produzo mais e melhor quando trabalho em equipe do que individualmente. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

4) Critico a minha forma de trabalhar, sempre buscando melhorias. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

5) Ajusto­me facilmente às mudanças, ao ambiente e às circunstâncias. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

6) No setor existe uma definição clara de objetivos e metas. Tenho consciência do que esperam de mim. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

7) Atualizome­ constantemente em busca de melhoria contínua. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

8) Considero meu trabalho importante, sintome­ como parte do todo. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

9) Sou motivado para pesquisar novas tecnologias, estudar e criar novos conhecimentos, mesmo em horário de trabalho. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

10) Tenho disponíveis informações sobre atividades, novos conceitos ou qualquer outra informação sobre o setor como um todo. Mesmo que estas informações não sejam solicitadas, estão disponíveis e tenho acesso a elas de forma rápida. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

11) Os erros cometidos são transformados em lições aprendidas e experiências para projetos e atividades futuras de outros colegas do setor. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

12) Procuro ter o diálogo como principal ferramenta para o meu trabalho. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

13) Tenho autonomia para a busca de soluções de problemas relacionados ao meu trabalho. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

14) Conheço a Missão e Visão de minha OM. Concordo Concordo parcialmente Não concordo

15) Sugira algo que esteja faltando na OM e que ajudaria a compartilhar o conhecimento.

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REFERÊNCIAS

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O DESENVOLVIMENTO ÉTICO DOS MILITARES: Uma responsabilidade de todos os envolvidos no processo de formação*

“Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia.” José Saramago

PAULO ROBERTO RIBEIRO DA SILVA** Capitão de Mar e Guerra (RM1-FN)

SUMÁRIO

Introdução O legado que recebemos A busca de um caminho Considerações finais

INTRODUÇÃO moral e ética? Como um pacato chefe de família, bom pai e marido, preocupado com ética nos parece um assunto distante, a violência que permeia a sociedade e dia A coisa de filósofo e de intelectuais após dia vem invadindo sua casa e conta- teóricos. Assunto árido e complexo, extre- minando seus entes queridos, de repente, mamente subjetivo. Toda essa percepção ao vestir uma farda e se tornar agente da começa a mudar quando a nossa zona de violência delegada pelo Estado, é capaz de conforto se vê invadida por excessos, vio- se envolver com tudo aquilo que condena lência e irracionalidades. e deseja apartar de seu lar? Como preparar pessoas para operarem Existe algum esquema pedagógico que em ambientes contraditórios de forma poderia nos apontar um caminho para “blin- que procedam uniformemente de maneira dar” pessoas a conviver nesse maniqueísmo

* Artigo publicado na Revista de Villegagnon de 2013. **Doutor em Ciências Navais pela Escola de Guerra Naval. Instrutor de Liderança da Escola Naval. O DESENVOLVIMENTO ÉTICO DOS MILITARES: Uma responsabilidade de todos os envolvidos no processo de formação

rotineiro e perverso sem permitir que sejam na tríade Sócrates, Platão e Aristóteles, arrastadas para uma síndrome incapacitante impactaram de forma tão marcante o e possivelmente permanente? Caso exista, pensamento filosófico que, até o advento em que momento poderíamos atuar de da modernidade, elas se impuseram quase maneira a alcançar resultados efetivos? E como uma verdade absoluta imune a qual- como deveríamos fazer? quer contestação. Após o advento da ética grega, especifi- O LEGADO QUE RECEBEMOS camente na sua visão aristotélica, segundo a qual havia o predomínio do hábito como Todas essas dúvidas que hoje nos as- formador e consolidador das virtudes, solam sempre inquietaram o ser humano valorizando o homem, educador ético e desde os primórdios da humanidade. Vários responsável pela “matéria-prima” consti- caminhos e atalhos já foram apontados para tuinte da “polis”, surge um novo entendi- solucioná-las, entretanto, os resultados práti- mento da ética com Santo Agostinho de cos ainda não foram claramente percebidos. Hipona, nem tanto desprezando a herança Há milhares de anos, inúmeros filósofos, helênica, porém apoiando-se nela (Platão) e pensadores e algumas pessoas especiais reavaliando-a, subordinando o homem aos envolveram-se com essas questões e propu- desígnios divinos e, assim, estabelecendo seram modos de pensar e agir que criassem um novo quadro de referências daquilo que condições para o florescimento de compor- seria certo ou errado, bom ou mau e ético tamentos virtuosos e, consequentemente, de ou não ético. relacionamentos saudáveis e felizes. Ainda no período das trevas (Idade Algumas dessas escolas de pensamento, Média), e quase um milênio após Agosti- principalmente aquelas que se apoiaram nho, desponta São Tomás de Aquino, que

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aprofunda ainda mais a visão espiritual A BUSCA DE UM CAMINHO agostiniana, estabelecendo a ética tomista, resgatando a ética aristotélica e buscando A par da existência de várias formas de no sagrado as justificativas das ações hu- entender a ética e tentar torná-la de fácil manas, notadamente do movimento das e prática aplicação na avaliação do com- cruzadas, que intentavam reconquistar a portamento consciente do ser humano, a terra santa dos “infiéis” muçulmanos que verdade é que existe uma grande diferença a profanavam. entre conhecer a ética e tornar-se ético. Somente com a chegada da Idade Moder- O conhecimento somente aciona a nossa na é que podemos testemunhar o advento de cognição, o que não é suficiente para uma uma “rebeldia” contra a ética grega, quando internalização dos valores e princípios, Kant privilegiou a razão como referencial pois, se estacionarmos neste patamar, absoluto, afirmando que a ética tendia à estaremos apenas nos intelectualizando. É universalidade e, portanto, era detentora de inconteste que o academicismo não torna imperativos categóricos válidos em qual- o ser humano imune à regressão aos seus quer época, lugar ou circunstância. Esta mais baixos instintos, como testemunha- forma de pensamento desfocava o mérito mos nas barbaridades cometidas em todas do exemplo e dos bons as guerras, notadamen- hábitos como condi- te nas dos séculos XX ção essencial para o Existe uma grande e XXI. Julgo oportuno desenvolvimento do citarmos um trecho de caráter, assim como diferença entre conhecer a um discurso proferi- secularizava o referen- ética e tornar-se ético do por um diretor de cial ético, valorizando uma escola secundária a razão e aproximando nos Estados Unidos da o homem real do ideal. América (EUA), por ocasião da abertura A ética moderna surgiu desvirtuando do ano letivo: o conteúdo profundamente humanista “Eu sou um sobrevivente de um campo da ética kantiana, tornando-se, em seus de concentração. Os meus olhos viram diversos matizes, uma ética baseada cada coisas de que nenhum homem deveria vez mais numa compreensão racionalista, ter testemunhado: câmaras de gás cons- objetivista, instrumental e utilitarista do ser truídas por engenheiros qualificados, humano e de seu comportamento. crianças envenenadas por médicos Diante da crise da modernidade, des- de profissão, crianças de tenra idade pontou a ética pós-moderna, buscando mortas por enfermeiras diplomadas, uma compreensão “revolucionária” do ser crianças e mulheres queimadas e as- humano e de seu comportamento. Dentre sassinadas por indivíduos com estudos elas destacamos a ética da restauração e a secundários ou universitários. Eis por- do nihilismo, que se fundam numa compre- que eu desconfio da educação. O que ensão crítica da “modernidade”; e a ética espero de vós: que ajudeis os vossos do neoaristotelismo, do personalismo, dos alunos a tornarem-se verdadeiros seres direitos humanos e do marxismo huma- humanos. Os vossos esforços não deve- nista, que mantêm firme o ponto de vista rão jamais levar a produzir monstros da modernidade, todavia desdobrando as diplomados, psicopatas instruídos ou potencialidades atrofiadas da razão. Eichmans educados. A leitura, a escrita,

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a aritmética não têm qualquer impor- com tua fria insensibilidade e falta de tância se não servirem para tornar as sentimento.” (grifos nossos) nossas crianças mais humanas.” (Texto encontrado após a Segunda Como interagir e envolver uma pessoa? Guerra Mundial, em um campo de Somente fazendo-a vivenciar a situação. concentração nazista) Mas qual é a melhor maneira de uma pes- soa vivenciar uma situação? Tornado-a Para se tornar ético, então, é mandatória empática, ou seja, fazendo-a se colocar no uma mudança de atitude; entretanto, para lugar dos outros, a fim de tentar perceber, que isto ocorra, se faz necessário percorrer compreender e, finalmente, “ser” o ou- três estágios: cognitivo, emotivo e volitivo. tro. Como somos capazes de fazer uma Para alcançarmos o estágio cognitivo, é pessoa se colocar no lugar dos outros? somente preciso aprender, como vimos Infelizmente, não somos! Podemos, sim, anteriormente, porém isto não é suficiente criar as condições, o “clima” para que isto para que a pessoa passe a vivenciar com- possa acontecer; entretanto, é fundamental, portamentos morais. como precondição, que Caso desejemos a própria pessoa tenha chegar ao estágio O educador não é um autoconhecimento, con- emotivo – que é um provedor de conhecimentos, trole de suas emoções e grande passo no ca- mas alguém capaz de automotivação. Todas minho da mudança de estas três dimensões atitude –, temos que despertar o espírito do compõem a área intra- interagir e nos envol- “aluno”, para que ele pessoal da Inteligência ver com as pessoas, e Emocional. Hermann ninguém se envolve consiga por si próprio Hesse dizia: sem sentimentos. Não “iluminar” sua inteligência “Nada lhe posso dar podemos nos esque- e sua consciência que já não exista em cer de que as pessoas você mesmo. Não posso não passam de um abrir-lhe outro mundo punhado de sentimentos envolto em carne de imagens, além daquele que há em por todos os lados. Adam Smith (2002) sua própria alma. Nada lhe posso dar afirmava que, não existindo sentimentos, a não ser a oportunidade, o impulso, a seria impossível interagir e se comunicar: chave. Eu o ajudarei a tornar visível o “Mas se não tens nenhuma solidarie- seu próprio mundo, e isso é tudo.” dade para com o meu infortúnio, ou nenhuma que seja proporcional à dor Rousseau (1979 : 313) já afirmava no que me assola; ou se não sentes nenhu- século XVIII: ma indignação pelas ofensas que sofri, “Sentimos antes de conhecermos [...]. ou nada que seja proporcional com o Os atos da consciência não são julga- ressentimento que me arrebata, já não mentos e sim sentimentos. Embora todas poderemos conversar sobre esses te- as nossas ideias nos venham de fora, mas. Tornamo-nos insuportáveis um ao os sentimentos que as apreciam estão outro. Não posso tolerar tua companhia, dentro de nós e é unicamente por eles nem tu a minha. Ficarás confuso ante que conhecemos a conveniência ou a minha violência e paixão, e eu, irado inconveniência que existe entre nós e as

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coisas que devemos respeitar ou evitar.” imunidade à virulência decorrente do con- (grifo nosso) tágio com a violência e suas consequências malévolas sobre os valores éticos e morais Estando de posse das dimensões da área dos indivíduos? Segundo Aristóteles, a razão intrapessoal, temos condições de sermos das falhas das metodologias argumentativas empáticos, isto é: estaremos em condições e baseadas na discussão de dilemas morais é de nos envolvermos, nos emocionarmos, e só que elas não são precedidas e acompanhadas dependeremos da nossa própria vontade (vo- de hábitos moralmente adequados. litivo) para que possamos mudar de atitude. Não seria leviano nos envolvermos Assim, para que possamos formar verda- neste empreendimento – tornar as pessoas deiras pessoas (indivíduos, racionais e livres) éticas – sem ter uma clara convicção da éticas e sensíveis aos Direitos Humanos e possibilidade concreta de sucesso? Não também cônscias dos deveres humanos, é será uma aventura/uma quimera crermos fundamental que elas tenham alto nível de no sucesso daquilo que a humanidade Inteligência Emocional persegue há milênios e, consequentemente com resultados medío- elevada maturidade, As academias militares cres e até mesmo ques- e nós cremos que isto tionáveis? Caso seja poderá ser alcançado já não recebem seus exequível, não existe desde que haja envolvi- aspirantes/cadetes com um momento propício mento de todos os que e mais apropriado para participam no processo o caráter “formatado” “moldarmos” o caráter de formação dessas pelo ambiente externo e das pessoas? Caso te- pessoas. O educador muitas das vezes repleto de nhamos perdido essa não é um provedor de oportunidade, ainda conhecimentos, mas distorções já calcificadas? haverá condições efeti- alguém capaz de des- Por que os militares se vas de “manusearmos” pertar o espírito do e “retocarmos” aquele “aluno”, para que ele preocupam em demasia caráter deficiente? consiga por si próprio com a retidão de suas As academias mi- “iluminar” sua inteli- ações? litares já não recebem gência e sua consci- seus aspirantes/cadetes ência. Com relação ao com o caráter “formata- educador, Aristóteles dizia: do” pelo ambiente externo (família, esco- “É necessário adquirir a capacidade de las, comunidades etc.) e muitas das vezes conduzir-se, de se autodominar, como repleto de distorções já calcificadas? O que pré-requisito para conduzir os demais; estamos fazendo? O que então deveríamos pois livre é o homem que não se deixa fazer para aperfeiçoar nossos resultados? escravizar pelos apetites e segue os prin- Por que os militares se preocupam em cípios que, por intermédio da educação, demasia com a retidão de suas ações? Será afloram de seu interior.” que nos julgamos melhores, ou somos simplesmente diferentes pelas exigências Será que fomentar um debate aberto, da nossa missão? franco e sincero sobre temas polêmicos O ingresso nas instituições militares cotidianos não estabeleceria uma relativa normalmente se dá a partir de 16 anos,

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caso o acesso se dê pelo Colégio Naval, convenientes ao viverem de aparência, pela Escola Preparatória de Cadetes do iludindo-nos. Ar (Epcar). E pela “saudosa” (a meu ver) Nas escolas militares, praticamos a ética Escola Preparatória de Cadetes do Exército aristotélica, que afirma que a virtude moral (EsPCEx), de três anos. Neste momento, a é um estado habitual que retifica a inten- formação do caráter ainda não está pronta, ção, é um hábito de fazer as coisas retas. com suas características perfeitamente Segundo o estagirita, a educação ética ajuda consolidadas, conforme asseveram Piaget e o crescimento porque é mais uma questão Kohlberg? Como então deveremos proceder de desenvolvimento de hábitos corretos para tentar ajustar e até mesmo reprogramar do agir do que do ensino de questões in- esse caráter imberbe, para que apresente um telectuais, é mais uma questão de prática comportamento ético e moral conveniente? do que de ensino e é mais um problema de Será que não deveríamos nos comprome- sentimentos do que de raciocínio, embora ter ainda mais com a sociedade, visando o domínio da razão esteja sempre presente estimular o aperfeiço- como processo de do- amento dos cidadãos mesticação das paixões. de uma forma geral, Nas escolas militares, A primeira-ministra haja vista que esta é a praticamos a ética britânica Margareth “matéria-prima” dispo- Thatcher já dizia: nível para todos? Seria aristotélica, que afirma “...os pensamentos le- o ideal! No entanto, que a virtude moral é um vam às palavras, estas isto é uma meta muito às ações, que por sua ousada, pois está fora estado habitual que retifica vez criam hábitos, que do alcance do decisor a intenção, é um hábito de consolidam o caráter (Forças Armadas). Os fazer as coisas retas e traçam o nosso desti- questionamentos es- no.” (grifos nossos) tão postos! O primeiro passo, talvez, deva ser repensar como esta- A liderança militar possui a ética em mos fazendo o “dever de casa”. sua gênese. “Liderança é o caráter em Eu creio que o sucesso é possível, pois ação”, afirma James Hunter; logo, a Ética crer é querer crer, e tudo é possível àquele pressupõe uma boa formação de caráter, que crê. Não será uma tarefa fácil, nós entretanto, a modelagem do caráter se dá sabemos. Inúmeras personalidades nos de maneira decisiva na infância, quando antecederam, dedicaram suas vidas nessa alcança sua maior eficiência; estende-se missão de tornar as pessoas melhores, pela adolescência/juventude, quando se contribuíram para um mundo melhor, mais cristaliza; e sofre apenas pequenos ajustes justo e solidário, e os resultados ainda não na fase adulta. Para Aristóteles, os argu- são percebidos nitidamente; pelo contrário, mentos éticos só são eficazes nas pessoas a cada dia tudo parece degradar-se. Com que nascem com um bom caráter. Embora uma agravante: nesta sociedade contempo- o brilhante filósofo destacasse o papel ex- rânea em que vivemos, descobriu-se que é tremamente importante da natureza para o possível se utilizar da ética para parecer e desenvolvimento do caráter, a verdade é não ser o que deveríamos de fato ser. que o hábito não pode ser negligenciado. Hoje não só as pessoas, mas muitas das O hábito constitui uma autêntica segunda instituições procuram ser politicamente natureza que, uma vez fixada, é quase

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impossível alterar: “Somos o que repeti- haverá – para contribuirmos para o aperfei- damente fazemos. A excelência, portanto, çoamento do caráter das pessoas, indepen- não é um feito, mas um hábito”. dentemente da idade. Só depende de nós! Piaget e Kohlberg afirmaram que o Aristóteles, ao ser questionado sobre quem desenvolvimento moral se dá por estágios deveria ser responsável pela educação ética, e evolui até os 20-22 anos, quando alcança e se seria um empreendimento dos pais para o estágio de operações formais. A partir com os filhos, ou do Estado para com os desse período, praticamente ocorre uma cidadãos, respondeu que era um empreen- estabilidade durante toda a vida adulta. Se- dimento de todos, embora, nesta matéria, gundo outros estudiosos, a cognição adulta tivesse defendido que o Estado tenha mais “conhece” outro tipo de operações para poder, por meio das leis que aprova, de além das operações formais: as operações impor o respeito pelo bem. pós-formais. Nesse momento se desenvolve Sendo assim, a melhor maneira de edu- o pensamento dialético, a partir do qual car o caráter de uma pessoa é subordiná-la ocorre a exploração das contradições e desde cedo a preferir as virtudes e a recusar discrepâncias entre o geral e o particular e tudo aquilo que é vil. Para aquele renomado que é visto como uma filósofo, o ensino da oportunidade para o coragem, bem como desenvolvimento pes- A melhor maneira de educar de outras virtudes mo- soal. Mezirow estatui o caráter de uma pessoa é rais, exige a prática que nessa oportunida- continuada de atos de de acontece a aprendi- subordiná-la desde cedo coragem, de tal forma zagem transformativa: a preferir as virtudes e a que essa virtude seja “...não se trata de recusar tudo aquilo que é vil incorporada nos nossos novos conheci- hábitos. A educação mentos que são ética é ajudar a cultivar “adicionados” aos já existentes, mas nas pessoas traços que os ajudem a florescer sim de transformação de esquemas como adultos capazes de viverem bem e de de sentido, construindo assim uma nova realizarem vidas felizes. Em suma é mais perspectiva que permitirá uma outra uma questão de prática do que de ensino: visão da realidade.”(grifos nossos) “...nos tornamos justos executando atos justos e acabamos, com o tempo, encon- Portanto, torna-se necessário rever trando satisfação praticando boas ações. alguns pressupostos aceitos de forma não É por meio de um exercício constante crítica de que a vida adulta corresponde a de condutas apropriadas (virtude) que o uma fase de estabilidade, tendo sido todo logos (razão/palavra) se exprime corre- o desenvolvimento do indivíduo efetuado tamente. E é na prática desse exercício durante a infância e adolescência. Logo, – vida ética – que os homens podem podemos concluir que o processo de matu- construir instituições e costumes que ração (evolução moral) não é um processo permitam a boa vida compartilhada.” estático, mas sim dinâmico, de constante (Aristóteles) construção, autoatualização: um processo contínuo de se tornar plenamente funcional. É inegável que os responsáveis pela Existe uma esperança, temos uma formação dos jovens têm a obrigação de oportunidade – ainda há tempo e sempre apresentar comportamentos éticos de modo

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a estabelecer um hábito nos educandos comportamentos apropriados e igualmen- pelo exemplo. Nada é tão destrutivo como te esperados. Não se resume, portanto, a a ausência de modelos, ou pior, como a intelectualismos e elucubrações inócuas e existência de modelos deformados que estéreis. Saramago diz: “Tentei não fazer “gritam” palavras contraditórias nos ouvi- nada na vida que envergonhasse a criança dos dos nossos adolescentes/jovens: que fui”. “...mesmo as pessoas que não pos- Alinhando-se a Saramago, vemos Albert suem integridade e sinceridade ficam Einstein afirmando: impressionadas e não podem deixar de “Viva de tal maneira que, quando teus sentir respeito por essas qualidades, pois filhos pensarem em justiça, carinho e elas despertam neles a imagem daquilo integridade, pensem em ti.” que elas poderiam ter sido ou poderiam talvez vir a ser. O caráter é a base de É importante afirmar que o saber é capaz toda a realização humana.” (Melanie não só de fazer conhecer, mas de corrigir Klein) (grifo nosso) o ser, tem a força de uma medicina uni- versal, como dizia Aristóteles. Em síntese, Outro aspecto inalienável na busca desse não há ponto de saturação em educação. preparo ético e moral Todo esse poder curati- são as práticas de re- vo e balsâmico do saber forço e desestímulo de Viva de tal maneira deve ser usado para o comportamentos, que bem e para o engran- deveriam ser a norma que, quando teus filhos decimento das pessoas, em um ambiente de pensarem em justiça, daí a essencialidade de formação. Estas prá- carinho e integridade, mestres exemplares de ticas devem sempre modo a poder moldar remeter aos princípios pensem em ti convenientemente o e valores das próprias Albert Einstein “barro ainda mole”, que instituições, com o são os nossos jovens: propósito de consoli- “...o que muitos não dá-los. Nada é tão nocivo quanto a falta de sabem é que confiança e coerência são referências claras e objetivas. As críticas sé- irmãs gêmeas. É impossível construir con- rias às instituições devem se pautar por um fiança quando o ensino não é validado pelas quadro de princípios e valores pelos quais ações”. (Josué Gonçalves) (grifos nossos) possam ser avaliados, e ao referenciá-los Evidentemente, não temos a pretensão acabam por permitir sua internalização em de alcançar o ideal, a perfeição humana, a todas as pessoas envolvidas no processo. As educação total (aretê), pois ela é sempre características e a essência da profissão mi- uma fórmula de eterna procura, tal como litar devem ser enfatizadas com veemência, a justiça e a democracia, objetos de desejo a fim de estabelecer nitidamente as tarefas jamais alcançáveis como resultado absolu- e os limites envolvidos em suas execuções: tamente conclusivo ou terminativo. “...o princípio do aprendizado seria a Atualmente, é muito frequente criticar o imitação”. (Aristóteles) (grifo nosso) passado como sendo ultrapassado e não ten- A ética tende à universalidade, porém do nada a nos ensinar. Muitos afirmam que não está, nem poderia estar, divorciada o hoje é tudo, restando ao ontem a pecha de orientações práticas que conduzam a de ser um repositório de erros e equívocos.

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Isto não é verdade! As novas gerações têm ca das virtudes, no interior da problemática por hábito condenar suas antecessoras. Nós contemporânea, para retomá-la à luz de somos testemunhos desse modo de agir. uma tradição de pesquisa racional, histórica Nosso comportamento não era similar com e atrelada a um viés cultural. relação aos nossos pais e professores? O tempo passou, amadurecemos e mudamos CONSIDERAÇÕES FINAIS de opinião. Isto é um processo cíclico. Quanto mais o tempo passa, mais nos A ética é delicada e exige, por isso, parecemos com nossos pais, a quem criti- o trato de mentes delicadas também. A cávamos. Antigos modos de pensar devem ética não nos aponta caminhos. É uma ser reavaliados. Soluções tradicionais, que noção vaga em si mesma e, justamente normalmente exigem esforço e abnegação, por ser vaga, oferece-se como instru- foram precocemente abandonadas e subs- mento precioso para pensar algumas tituídas por modismos facilmente vendá- das mais importantes questões humanas veis e indolores, que (Quais são as melhores dominam as mentes escolhas entre todas as contemporâneas con- A ética não nos aponta opções disponíveis?). taminadas pelo hedo- caminhos. É uma noção O fundamental é que nismo, consumismo, o debate ético ocor- materialismo, imedia- vaga em si mesma e, ra sobre um pano de tismo e relativismo. justamente por ser fundo que já pressupõe Alinhando-se com a ideia de “respeito essa forma de pensa- vaga, oferece-se como ao outro”, de liberda- mento e com a revalo- instrumento precioso para de e de racionalidade rização de um passado pensar algumas das mais responsável para que “iluminado” e útil, as decisões adotadas encontramos, entre importantes questões sejam humanizadas e outros, Alasdair Ma- humanas contribuam para o en- cintyre, um filósofo grandecimento do con- neoaristotélico e neo- vívio em sociedade. tomista, que faz uma releitura desses ícones O essencial não é aprender ética e da filosofia e contextualiza suas éticas à conhecê-la em todos os seus gêneros e sociedade contemporânea, sem, contudo, se vertentes, mas assimilá-la e vivenciá-la em preocupar em ser retrógrado ou saudosista. nosso viver, tornando-nos mais perceptí- O eminente filósofo nos atesta que os dese- veis e sensíveis ao nosso semelhante e ao jos e as emoções devem ser educados pelos contexto em que vivemos. preceitos morais e pelo cultivo de hábitos Quando nos sensibilizamos e ficamos de ação prescritos pelo estudo da ética. Ele expostos ao social, ao coletivo, somos asso- afirma, ainda, que atualmente nossa cons- lados por uma avalanche de perplexidades ciência moral é arbitrária e confusa, e isso que passam a nos incomodar, tirando-nos é uma demonstração de nossa decadência. de nossa zona de conforto. Essas dúvidas, Como consequência, surgem o pluralismo antes inexistentes, agora “gritam” por res- e o individualismo, nos quais há um uso postas que normalmente não temos, mas emotivista da linguagem e dos conceitos que devem ser buscadas para que possamos morais. Macintyre escolhe a ética aristotéli- ter paz e realização pessoal.

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Aristóteles já nos falava há milênios, entretanto, isto já está desmistificado, e hoje e Macintyre volta a nos falar atualmente, sabemos que o ser humano se desenvolve sobre a importância e relevância dos bons a vida toda, até mesmo na idade adulta, hábitos, em suma, dos bons exemplos, para nos dando, ainda e sempre, esperança em a formação do caráter das pessoas. Isto aperfeiçoá-lo e transformá-lo para melhor. parecia estar esquecido e renasce oportuna- É inconteste que as pessoas precisam de mente para resgatar valores e princípios que modelos como referência de comportamen- haviam sido prematuramente esquecidos tos saudáveis e moralmente corretos. Este por conta de modismos contemporâneos. processo de interação entre tutor e aprendiz Muitos afirmavam que a maturidade e opera basicamente por imitação, o que desta- o desenvolvimento moral evoluíam até a ca a importância na seleção desses modelos juventude, estabilizando posteriormente; como verdadeiros construtores de caráter.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Ética; Comportamento; Exemplo; Princípios;

BIBLIOGRAFIA

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EDINA LAURA COSTA NOGUEIRA DA GAMA** Capitão de Mar e Guerra (RM1-T)

SUMÁRIO

A história e o século XIX O tema A obra Considerações finais

A História e o Século XIX tória do Brasil sendo produzida por ou em instituições que remontavam a um período recorte temporal escolhido para este distinto do mundo europeu então em ebu- O texto encerra a afirmação da História lição, e que deslocara a ocupação com a como ciência. Neste mister, como dito por historiografia para o campo universitário. Manoel Luiz Salgado Guimarães em seu Assim, “... a historiografia brasileira do livro Historiografia e Nação no Brasil século XIX não se submetia aos critérios de (1838-1857), temos à época, notadamente uma esfera pública científica, mas às regras a partir de meados dos Oitocentos, a his- de uma academia em que preponderam, de

* Texto apresentado no Congresso Regional da Associação Nacional de Professores Universitários de História (ANPUH), em julho de 2014. ** Ex-diretora do Serviço de Documentação da Marinha (SDM) e ex-vice-diretora da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM). Formada em História pela Universidade Santa Úrsula (USU) e pós-graduada em História Militar pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Breves Reflexões sobre a Historiografia Naval Brasileira dos Oitocentos – O pioneirismo de Theotonio Meirelles da Silva

forma quase decisiva, o relacionamento e o produção do autor em questão, será feito contato pessoal”. E neste sentido, diz ainda uso de uma história naval central que con- Manoel Salgado, “... o Instituto Histórico siste “na narração de tópicos abordados e Geográfico Brasileiro desempenhou com ênfase nos aspectos políticos, diplo- papel relevante, tendo em vista sua função máticos e operacionais militares... tendo legitimadora do desenvolvimento histórico fortes ligações para com a história militar contemporâneo” (GUIMARÃES, 2011, clássica, enquadrando-a como um segmen- p. 258). to da história marítima. Entretanto, dada Mas em que medida essas observações a própria dimensão do tema, esta história dizem respeito às “Breves reflexões sobre naval pode também ser inserida como um a historiografia naval brasileira e o pionei- subdomínio da história militar, subdivisão rismo de Theotonio Meirelles da Silva”? formal da história política” (ALMEIDA, A resposta está no fato de que duas de 2012, p. 57). suas publicações, Apontamentos para a História da Marinha de Guerra Brasilei- O Tema ra (primeiro volume – 1881) e História A produção historio- Naval Brasileira para A produção historiográfica gráfica naval no Brasil uso das escolas a car- naval no Brasil se se inicia na década de go do Ministério dos inicia na década de 1870, sendo realizada, Negócios da Marinha predominantemente, (1884), tiveram exame 1870, sendo realizada, por oficiais de Marinha crítico realizado pelo predominantemente, por ligados de alguma for- então vice-presidente ma à instituição. A esse do Instituto Histórico e oficiais de Marinha respeito existem alguns Geográfico Brasileiro poucos trabalhos a for- (IHGB), O. H. de Aquino e Castro, por necer um panorama, abrangente ou não, da solicitação do ministro da Marinha. Deste historiografia naval brasileira. Dídio Costa1, modo, estaria a obra de Theotonio Meirelles ainda em 1938, estabeleceu Theotonio Mei- da Silva inserida no contexto da produção relles da Silva como aquele que escreveu de uma história afeta aos parâmetros do a “primeira História Naval do nosso país” IHGB? (BRASIL, 1938, p. 13), fato repetido por Por ora, a pretensão desta pesquisa é a João do Prado Maia2 em artigo da Revista de referenciar como pioneira a produção Marítima Brasileira, em 1957. Mais recen- da história naval brasileira realizada por temente, os trabalhos de Paloma Siqueira Theotonio Meirelles da Silva, iniciada na Fonseca3 e Francisco Eduardo Alves de segunda metade do século XIX. Almeida,4 este mais abrangente, dividem Assim, no que tange a uma tipologia a produção historiográfica naval brasileira específica para a história naval empregada em gerações de autores, colocando como no texto, tendo como interface a própria precursores do gênero Theotonio Meireles

1 Dídio Iratim Affonso da Costa, nascido em 1881, dedicou-se em especial às biografias de personagens ilustres da história naval brasileira. 2 Produziu obras de grande relevância para a história naval brasileira entre os anos de 1936 e 1965. 3 Mestre em História pela Universidade de Brasília. 4 Doutor em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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da Silva (1820-1887), Manoel Pereira Pinto sua obra mais contundente, tratou de listar Bravo (1849-1885) e José Egídio Garcez os fatos navais desde 1822 e até 1891, com Palha (1849-1895). A segunda geração, breves verbetes a respeito, sem mais con- diz ainda a autora Paloma Siqueira Fonse- siderações. Há ainda outros pesquisadores ca, “herdou dos historiadores do botão de à época, considerados memoralistas, na âncora o empreendimento do conhecimento medida em que seus textos tratam de rela- do passado do Brasil”, movendo-se também tos, alguns como personagens atuantes, e pela “pulsão de arquivo” de que estavam carentes de mais informações documentais. imbuídos. Já Theotonio Meirelles da Silva teve No que interessa à produção deste texto, toda a sua produção historiográfica pautada e mediante seleção realizada sobre a referi- na história da Marinha do Brasil, sele- da primeira geração de cionando, escolhendo, historiadores navais coordenando e cons- brasileiros, corrobo- Theotonio Meirelles da truindo sua obra ba- rada ainda pelo artigo seada em documentos já citado de Francisco Silva se apresenta, como por ele considerados Alves de Almeida, pioneiro na produção autênticos e muitas ve- Theotonio Meirelles de uma história naval zes originais. Também da Silva se apresenta, se preocupou com o numa reflexão mais brasileira propriamente estabelecimento da afeta ao próprio tema dita, se preocupou com “verdade” e, embora do trabalho, como pio- esporadicamente, anali- neiro na produção de o estabelecimento da sou fatos e documentos, uma história naval “verdade” e, analisou fatos e retificando-os. E, como brasileira propriamen- documentos, retificando-os veremos a seguir, tratou te dita. Afinal, Pinto de uma história nar- Bravo escreveu uma rativa que louvasse a história naval pautada, majoritariamente, importância do poder naval na trajetória do em tópicos afetos à história internacional, Brasil de então, cobrindo todo um período dedicando pouco espaço aos feitos da Ar- de 1822 a 1870. mada Imperial, tendo usado nesta constru- ção apenas a referência bibliográfica de Pe- A Obra reira da Silva e Ladislau Santos Titara (vide análise da obra por José Honório Rodrigues Nos assentamentos de Theotonio Mei- quando da segunda edição de sua obra), relles da Silva consta ter nascido em Minas até porque sua produção pressupunha um Gerais, no ano de 18205, sendo aspirante a curso de História Naval, depois aplicado guarda-marinha em 1839, guarda-marinha em alunos da Escola Naval. Garcez Palha, em 1841, galgando os postos de segundo- por sua vez, com as Efemérides Navais, -tenente (1843) e primeiro-tenente (1852).

5 N.A.: A Revista de História, da Biblioteca Nacional, em artigo datado de jan/2011, acerca de conquistas amorosas atribuídas a D. Pedro II, coloca um oficial de Marinha de nome Teotônio Meireles da Silva como seu filho com Gertrudes Meireles de Vasconcelos nascido em 1822, na província de Minas Gerais (www.revistadehistória. com.br/seção/capa/deitou-na-cama-e-fez-a-fama). Entretanto, conforme pesquisa realizada no Arquivo da Marinha, o autor das obras em lide, embora nascido em Minas Gerais, era filho de “Domingos Meirelles da Silva e da Joana” (In assentamentos do autor).

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Foi julgado incapaz para o serviço no mar de ações terrestres/navais, muitas vezes em 1847 e reformado em 1855. Serviu em combinadas, quando era o caso, notas ex- diversos navios da Armada, terminando plicativas acerca de fatos ou personagens, sua carreira na ativa no Corpo de Imperiais algumas vezes pertinentes aos próprios Marinheiros. Nada há a respeito da razão documentos descritos, e o estabelecimento de sua reforma, tampouco funções que crítico às fontes e sua hierarquia. E, como porventura tenha exercido na Marinha até a curiosidade em relação à grafia, em todos gestão do Ministro da Marinha José Rodri- os seus textos os nomes de navios citados gues de Lima Duarte, quando foi colocado estão em itálico, como até hoje é normati- adido à Repartição do Ajudante General zado pela Diretoria do Patrimônio Histórico da Armada, para “organizar apontamentos e Documentação da Marinha6 na produção e escrever a história da nossa Marinha de de suas publicações culturais. Guerra ...”. A primeira produção conhecida de Nesses próprios assentamentos há uma Theotonio Meirelles da Silva data de listagem de seus trabalhos, exceto pelos 1876, tendo como título A Marinha de Fragmentos históricos e mitológicos, Guerra Brasileira em Paissandu e duran- “mandado reimprimir, etc. ... Rio de Janei- te a Campanha do Paraguai – Resumos ro, 1864, 43 páginas”, que não foi encon- Históricos – e “oferecidos à mocidade trado na Biblioteca da Marinha. Como há estudiosa”. Tem em sua primeira página, referências a uma reimpressão, este livro num total de 287 de que é composta, uma talvez conste dos artigos publicados pela referência aos leitores. No que foi possível Revista Marítima Brasileira ou mesmo nos ler ou deduzir (as primeiras palavras, em Subsídios da História Marítima do Brasil; todas as linhas, estão encobertas por fita- ou ainda na Revista do Instituto Histórico -crepe), o autor, usando sempre a segunda e Geográfico Brasileiro, e até na Biblioteca pessoa do plural, dizia mais uma vez apa- Nacional. Há de se pesquisar. recer na imprensa a serviço da mocidade Antes de tratar especificamente de presente e vindoura..., levando a crer que cada um de seus livros, cabe comentar talvez haja uma produção anterior. E que algumas características comuns a todos, escrevia o que oficialmente se disse a quais sejam: respeito absoluto às fontes respeito da guerra naqueles lugares, sem descritas (não especifica sua localização), invenção ou criação, tampouco descrição visão crítica, busca da “verdade” e da do que não presenciou, sem a comprovada transmissão dos conhecimentos, reconsti- documentação. Não possuía um sumário, tuição dos acontecimentos num contexto tendo o livro os subtítulos “Campanha história-batalha, nominação de material e do Uruguai”, “Paissandu e Campanha pessoal empregado quando dos embates e do Paraguai”, “Riachuelo”, “Mercedes”, movimentações militares, inclusive mortos “Cuevas”, “Itapiru”, “Curuzu”, “Curupai- e feridos, logística, relato concomitante ti” (estes cinco últimos agrupados em um

6 Criada em 2008, é oriunda da fusão das atividades do Serviço de Documentação da Marinha (SDM) e da Di- retoria do Patrimônio Histórico e Cultural da Marinha, sendo a instituição responsável pela orientação e normatização junto às demais organizações da Marinha nas áreas técnicas pertinentes a história, museologia, arquivologia, biblioteconomia, arqueologia subaquática e publicações histórico-culturais. E ainda tem sob sua tutela adminstrativa o Arquivo da Marinha, o Museu Naval, o Espaço Cultural da Marinha, a Ilha Fiscal, a Biblioteca da Marinha, o Navio-Museu Bauru, o Rebocador-Museu Laurindo Pitta, a Nau dos Descobri- mentos, o Submarino-Museu Riachuelo e o Helicóptero-Museu Sea King.

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só capítulo) e “Última Parte”, sem mais por fim, como já o fizera anteriormente, ex- referências aos recortes factuais da Guerra pressou seus elogios aos diversos serviços do Paraguai. No desenvolvimento do seu prestados pelo Corpo de Saúde, com seus texto, pareceu fazer, em determinados hospitais e enfermarias. momentos, exposição crítica de alguns Em seu segundo livro (1877, 245 pá- fatos, tendo como exemplos: elogios no ginas), Theotonio Meirelles da Silva se detalhamento das operações combinadas, ateve às ações empreendidas pelo Exér- rendição de Leandro Gomes e seus líderes cito Brasileiro na Campanha do Paraguai, e as razões das guerras empreendidas no colocando-o como dotado de resumos Prata aos paraguaios. No apoio às críticas históricos. Dirigindo-se aos leitores em sua sobre a índole paraguaia e os seus governos, primeira página, repete os dizeres de 1876, citou em seu texto autores como Michaud, acrescentando que, com este livro, “pode-se Santiago Argos e Bossard, comparando este conhecer a história verdadeira da campanha à Ordem do Dia do Visconde de Inhaúma, do Paraguai, perpetuar o conhecimento dos em 20/2/1867, em frente a Curuzu. Na feitos militares brasileiros e fazer com que exposição que fez sobre a Batalha Naval as gerações vindouras tenham sempre em de Riachuelo, indagou de quem teria par- sua memória os serviços e glórias de seus tido a voz com a ordem “proa em cima do antepassados ..., entendendo que é um bom inimigo e a toda força”. Sobre Osório, era serviço que prestamos ao País, à história o bravo dos bravos, apesar da sua impa- pátria e à mocidade estudiosa”. Desta vez, ciência e ansiedade. Quanto à Tomada de embora ainda não possua um sumário, o Curupaiti, muitos documentos descritos livro foi dividido em partes. Descreveu, acerca das discordâncias entre os líderes da inicialmente, todos os fatos ocorridos quan- guerra a respeito, notadamente Visconde de do da invasão de Mato Grosso, com análise Tamandaré e Bartolomeu Mitre. Ao tratar da situação militar-naval da região e das da Passagem de Humaitá, a comparou aos ações navais em apoio às tropas terrestres, feitos brilhantes dos vitoriosos da guerra parecendo culpar o governo pelo ocorrido americana. Apesar de não titular o período ao não fortalecer militarmente a área, como da “Guerra das Chatas”, a relatou também solicitado pelas autoridades militares. Em em detalhes, inclusive com considerações seguida, com a invasão de Corrientes, o estratégicas e táticas a respeito, tratando, autor traçou considerações a respeito da ainda, da guerrilha naval empreendida situação política externa da guerra que pelos paraguaios. Quando da Passagem se iniciava, comentando os interesses e a de Angostura e da Dezembrada, enfatizou estratégia de Solano López na região do as ações terrestres, não sem sempre men- Prata, que se viu alterada por ele, López, cionar minuciosamente as ações navais no ao ver que o “Brasil não arrepiava carreira reconhecimento da área de operações e no e prosseguia na sua proposta de honra”. transporte de tropas, bem como dos emba- Mesclando relatos das ações terrestres e tes que vez por vez travavam os navios no navais, com ênfase naquelas, resumiu o Alto Paraná. Ao final do livro, descreveu feito da Batalha de Riachuelo, atendo-se a perseguição da força naval brasileira aos em detalhes na invasão da província do Rio navios paraguaios, com o bloqueio do Rio Grande do Sul pelos paraguaios (Terceira Manduvirá, que cessou em 9 de março Parte) e fazendo uso, majoritariamente em de 1870, juntamente com os cruzeiros e todo o livro, de documentação afeta às demais bloqueios pelo Rio Paraguai. E, ações terrestres da guerra. Na quarta parte,

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iniciada com impressões sobre as vitórias fazendo parte do projeto de organizar e aliadas obtidas até então, os objetos de escrever a história da Marinha do Brasil, relato foram a Marcha dos Exércitos Alia- com os Apontamentos para a História da dos, a Passagem do Paraná e a Chegada ao Marinha de Guerra Brazileira, do qual fora Passo da Pátria, sempre coadjuvadas pelas imbuído Theotonio Meirelles da Silva, por forças navais. A essas operações, seguiram- nomeação do ministro da Marinha (Aviso -se Estero-Bellaco e Tuiuti (Quinta Parte), de 29/5/1881). com análise do resultado e das dificuldades Em que pese a existência das mesmas oferecidas pelo terreno desconhecido aos características comuns à sua produção aliados. E ainda fez uso de documentação historiográfica anterior, esses livros, primária traduzida do alemão nas batalhas diferentemente dos anteriores, possuem de 10 e 18 de julho de 1866, por não terem aspectos pertinentes apenas aos ditos vo- sido encontradas fontes oficiais argentinas lumes, quais sejam a datação (1808-1828), e orientais a respeito. Na última parte do índices descritivos e, fundamentalmente, o livro, tratou das operações ocorridas nas detalhamento da metodologia a ser empre- Tomadas de Curuzu gada na construção dos e Curupaiti, tendo em Apontamentos. No tópi- seu bojo partes oficiais Theotonio Meirelles da co dirigido aos leitores, diversas dos chefes Silva referiu-se à história e ainda no primeiro militares envolvidos volume (1881), Theo- (General Bartolomeu como a mestra da vida, a tonio Meirelles da Sil- Mitre, Barão de Porto testemunha dos séculos, a va referiu-se à história Alegre, Visconde de como a mestra da vida, Tamandaré e Gene- fiel depositária do passado, a testemunha dos sécu- ral Polidoro), notada- guia seguro do futuro los, a fiel depositária do mente no que tange passado, guia seguro do a Curupaiti, além das futuro, de interesse de fontes primárias comuns à obra de Theo- todas as classes da sociedade e cujo valor tonio Meirelles da Silva, já referidas. E que crescia quando do estudo da história do descreviam os conflitos de interesse dos País, de seu príncipio, sua origem e seus aliados na guerra e, ainda, as divergências progressos. Os brasileiros encontrariam estratégicas e táticas a respeito. Numa nos livros os “necessários apontamentos delas, por exemplo, o General Polidoro cri- para que, com verdade, se escrevesse ticava o Visconde do Tamandaré pela ideia uma das páginas que mais ilustra e glória fixa deste em ter um exército às suas ordens traz à história do país”. Os apontamentos, para operar em conjunto com a Esquadra, “nós os tiramos dos escritos e documentos como que independente do exército aliado. autênticos”. À última página do livro há referência a A diferenciar esses livros, havia, entre um “fim do primeiro volume”, parecendo outras especificidades: indicar que haveria uma continuação das a) Primeiro Volume – 273 páginas, anos operações militares terrestres na Guerra de 1808 a 1822 – Transcrição de todos do Paraguai. os documentos de criação da Marinha do As obras que se seguiram, em número Brasil, do Arquivo Militar, do Conselho do de três volumes, foram publicadas suces- Almirantado e do Conselho Supremo Mili- sivamente nos anos de 1881, 1882 e 1883, tar, remontando às origens portuguesas, às

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ações da esquadra lusa no Brasil dos anos invejosos: É uma missão muito difícil... Com 1808/1822 e que propiciaram a estruturação este grande número de apontamentos pode- da Marinha do Brasil, à praticagem nos se já escrever um bom volume de história... portos, tipos, cortes e replantio da madeira Escrever história e ser um historiador oficial para a construção de navios, presas de são duas coisas muito sérias... A primeira guerra. Conclui o escritor que aquele que parte precisa ter muito talento e ilustração, se encarregasse da história do Exército a segunda... além do ... ser muito indepen- Brasileiro não poderia prescindir de des- dente, ter posição social elevada, e essa ser crever os feitos militares nos anos de 1808 bem definida... repetimos hoje... ninguém na a 1822, o que não se deu com nenhum dos Marinha está mais habilitado para escrever a navios de guerra do Brasil, razão pela qual história e ser um historiador oficial do que o este livro compreendia apenas da criação Conselheiro Sabino Eloi Pessoa*”. ou organização da Marinha e de outros que Infelizmente, o projeto foi interrompi- lhe dizem respeito. do por falta de verbas para as necessárias b) Segundo Volume – 405 páginas, despesas, fato relatado pelo próprio autor, anos de 1822 a 1825 – Com composição quando, em 1884, deu-se, ainda como do pessoal das repartições de Marinha, resultante do estudo promovido, a publi- detalhamento da organização do Corpo da cação da História Naval Brazileira para Armada (criação do Livro Mestre, nomi- uso das escolas a cargo do Ministério dos nação dos oficiais que aderiram à causa da Negócios da Marinha (375 páginas, 1822- Independência, contratação de estrangeiros, 1870). Nesta obra, constavam o exame reforma, descrição de alguns fatos perti- crítico realizado pelo Instituto Histórico e nentes – voluntariado de Joaquim Marques Geográfico Brasileiro e, ainda, comentários Lisboa, por exemplo – e outros), aquisição a um outro que teria sido realizado quando de navios, com considerações a respeito da da produção da obra de 1881. subscrição popular (transcrição de docu- Neste livro, além da compilação da mentos e doadores) e, ainda, todo o relato produção historiográfica já realizada, ora das lutas de independência e as rebeliões de resumindo o relato dos fatos ou suprimindo Pernambuco, Ceará e Maranhão, aplicando a descrição de fontes primárias, ou ainda in- juízo de valor em algumas ocorrências. cluindo algum outro documento, ou mesmo c) Terceiro Volume – 268 páginas, anos fatos novos, caso das operações navais no de 1825 a 1828 – Pertinente à Guerra Cis- período regencial, há um prólogo acerca de platina. Na abertura do livro, dirigida aos acontecimentos marítimos e navais desde leitores, o autor refere-se ao trabalho até os tempos primitivos até o advento a vapor. então realizado, em que teve de “procurar No entendimento do autor, essa história era entre milhares de papéis, esparsos e esque- imprescindível à compreensão da história cidos há mais de meio século, aqueles que naval brasileira. possam servir para a história da Marinha; ler, estudar e coordenar os documentos Considerações Finais escolhidos; copiar, traduzir e decifrar uma grande parte de tais documentos; mandar Como resultado das primeiras pesqui- compor e rever as provas e, finalmente, sas realizadas, a produção historiográfica “ter de aturar as impertinentes críticas dos de Theotonio Meirelles da Silva é um

* N.R.: Fundador da Revista Marítima Brasileira.

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instrumento comprobatório dessas breves as origens de suas fontes documentais, es- reflexões. Ao mesmo tempo, a leitura desta tabelecer as redes sociais havidas entre os documentação revela o quanto ainda há historiadores navais do período, identificar a ser investigado. São lacunas a serem o uso sistemático ou não de seus escritos preenchidas quanto às redes sociais esta- e fontes por aqueles estudiosos que se se- belecidas por Theotonio Meirelles à época, guiram e, mais ainda, analisar a produção incluindo suas relações com Sabino Eloi historiográfica naval dos Oitocentos no Pessoa e José Egidio Garcez Palha e com propósito de tentar caracterizá-la como o próprio Instituto uma estratégia política Histórico e Geográ- fomentada pelos che- fico Brasileiro. E por Há um longo caminho fes navais à época nos onde esteve nos 26 estabelecimentos de en- anos vividos na refor- a ser percorrido nas sino da organização. E, ma até sua nomeação pesquisas acerca da obra assim, promover uma como organizador dos de Theotonio Meirelles da mentalidade marítima Apontamentos para a e o papel preponderante História Naval Brasi- Silva. E, assim, promover do poder naval no País leira? Provavelmente, uma mentalidade marítima que se afirmava. cumpria algum ex- Entretanto, pelo ex- pediente numa área e o papel preponderante do posto, não há dúvidas de arquivos. Senão, poder naval no País que se de que os historiadores como reuniu tanta do- afirmava navais brasileiros, ao cumentação oficial? longo do tempo, “po- E, hoje, essa docu- dem até ser melhores mentação faz parte da coleção do IHGB? do que os anteriores do ponto de vista Na historiografia naval brasileira, que au- teórico-metodológico, na abrangência e tores fizeram uso sistemático de sua obra? profundidade de sua análise, mas não os Enfim, há um longo caminho a ser substituem nem os tornam descartáveis…” percorrido nas pesquisas acerca da obra (REIS, 2007, p. 12). E tampouco foram de Theotonio Meirelles da Silva, que com eles ultrapassados, desde que lidos em sua esse texto ora se iniciam. É preciso buscar época. E, dentro dela, são insuperáveis. É

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; História da Marinha do Brasil; História naval;

68 RMB4oT/2014 Breves Reflexões sobre a Historiografia Naval Brasileira dos Oitocentos – O pioneirismo de Theotonio Meirelles da Silva o caso de Theotonio Meirelles da Silva. Bibliografia Sumária

ALMEIDA, Francisco Alves de. “A Historiografia Naval Brasileira (1880-2012): uma visão panorâ- mica”. Revista Brasileira de História Militar, Rio de Janeiro, ano 3, no 8, p. 30-64, ago. 2012. BARROS, José D’Assunção. O campo da História: especialidades e abordagens. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. BRASIL. Ministério da Marinha. Serviço de Documentação Geral. Subsídios para a história marítima do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1938-1972. v. 1. FONSECA, Paloma Siqueira. “Arquivos da Marinha e historiadores”. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22., 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio Nacional de História: História, acontecimento e narrativa. João Pessoa: ANPUH, 2003. GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. Historiografia e Nação no Brasil (1838/1857). Rio de Janeiro EdUERJ, 2011. ÍNDICE remissivo. Revista Marítima Brasileira, Rio de Janeiro, 2001. REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. v. 1. 9. ed. ampl. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007. SILVA, Theotonio Meirelles da. Produção historiográfica. 1876-1884.

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DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE*

Corre sem vela e sem leme O tempo desordenado, Dum grande vento levado: É que tem mais chão nos meus olhos O que perigo não teme, do que cansaço nas minhas pernas, É de pouco experimentado. mais esperança nos meus passos As rédeas trazem na mão do que tristeza nos meus ombros, Os que rédeas não tiveram; mais estrada no meu coração Vendo quanto mal fizeram, do que medo na minha cabeça. A cobiça e ambição (Cora Coralina) Disfarçados se acolheram. (Luís de Camões)

MARINA CEZAR** Professora-Doutora

ace aos vertiginosos avanços dos re- devaneiam. Na sociedade do espetáculo, é Fcursos tecnológicos, a discussão sobre a imagem que conta. o papel do livro, e consequentemente da leitura, vem cada vez mais tomando novos rumos na sociedade. Muitos preconizam a morte iminente do livro e da leitura como os conhecemos. Ler para quê, argumentam alguns, se temos toda uma gama de disposi- tivos os quais, de um modo geral, facilitam, agilizando, a vida contemporânea, e a um simples toque posso ter, a qualquer momen- to, acesso a uma pluralidade de informações sequer imaginadas pelos nossos antepassa- dos? O texto literário, então, é pura perda de tempo, declaram outros, trata-se apenas de um passatempo, é atividade para quem não tem muito que fazer, ou para os que

* Artigo publicado na Revista de Villegagnon de 2013. ** Doutora em Estudos de Linguagem pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professora de português da Escola Naval. DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE

No entanto, o valor da leitura, especial- A maior riqueza do homem é a sua mente a literária, apesar dos moderníssimos incompletude. tablets, smartphones, e-books etc., não Nesse ponto sou abastado. pode ser descartado, já que é por meio dela Palavras que me aceitam como sou – eu que procuramos esclarecer os mistérios não aceito. do mundo, saciar a nossa curiosidade e Não aguento ser apenas um sujeito que ampliamos nosso contato com os objetos abre portas, que puxa válvulas, que olha mais sofisticados da cultura escrita, ainda o relógio, que compra pão às seis horas que esta seja tida muitas vezes, inapropria- da tarde, que vai lá fora, que aponta damente, como uma cultura de elite. lápis, que vê a uva etc. etc. Conforme adverte Paulino, em seu texto Perdoai. sobre algumas especificidades da leitura Mas eu preciso ser Outros. literária, Eu penso renovar o homem usando é preciso assumirmos que habilidades borboletas. (2002b:79) exigidas na leitura literária são ha- bilidades cognitivas, além de serem Ele fala não apenas de si, do mundo das habilidades de comunicação, no sentido coisas que não suporta, das suas necessi- de habilidades interacionais e também dades existenciais, da sua atitude diante afetivas. (2005:59) da vida, do ato de criar, revelando, dessa maneira, suas experiências, seus anseios, A leitura literária, portanto, é uma suas crenças, suas inquietações, deixando competência social relevante, relacionada entrever seu coração de poeta, ele é porta- ao desenvolvimento crítico e criativo do voz de todos nós, seres deste planeta. ser humano. Assim, quando Manoel de A proposição geral: “a maior riqueza”, Barros1, na sua poética, afirma o maior luxo, o maior potencial produtivo, do ser humano reside na sua “incompletude”, na sua humanidade, no fato de lhe faltar acabamento, precisão. Alguma coisa está sempre se construin- do, transmutando-se em um permanente vir a ser na sua insatisfação. Como a perfeição é um dos ideais humanos (quantos de nós não se acham perfeitos?), essa afirmação propicia um

1 N.R.: O escritor cuiabano Manoel de Barros morreu em 13 de novembro último, aos 97 anos. Recebeu vários prêmios literários, entre eles dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros. Sua obra mais conhecida é o “Livro sobre Nada”, de 1996. Mesmo sendo considerado um dos maiores autores brasileiros, sua reclusão por tantas décadas em terras do Pantanal (este um tema frequente de seus escritos) e a timidez acabaram dificultando a divulgação de sua obra.

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certo estranhamento, causa impacto em se reificar, ou seja, a se tornar somente quem lê o poema, espicaça a curiosidade uma coisa, o poeta não suporta se limitar, do leitor, despertando o seu interesse, ao “apenas” à execução das ações rotineiras, desafiá-lo a rever certezas sedimentadas. repetitivas, executadas de maneira auto- Sob essa premissa, Barros se considera mática, feitas sem pensar, concretizadas um homem rico, “abastado”, pleno, na sua nas experiências do cotidiano, como: sair, falta de completude, consciente de que, “abre portas”; satisfazer necessidades fisio- paradoxalmente, na imperfeição, reside lógicas, “puxa válvulas”; preocupar-se com a perfeição, pois “a mais perfeita lâmina o tempo, “olha o relógio”; alimentar-se, de uma espada, vista ao microscópio, será “compra pão”; sair, “vai lá fora”; escrever somente uma série de reentrâncias” (Tsé, o trivial, “aponta lápis”; ler o rotineiro, 1987:43-44). “vê a uva”; entre muitas outras atividades Declara não aceitar as palavras que mecanizadas que costumamos fazer. o “aceitam” simplesmente, sem luta, as O poeta-personagem interrompe esse palavras incorporadas ao repertório das revelar-se, quebrando o ritmo do poema, pessoas, de forma au- ao fazer uma interven- tomática, acomodadas ção explícita: “Perdo- nos lugares-comuns, É necessário que o leitor ai”. Pede desculpas ao nos clichês, acostu- leitor, talvez por sua madas nos sintagmas quebre preconceitos, impaciência, por não cristalizados da lin- expanda o seu horizonte tolerar atividades ma- guagem, sem brilho, quinais, talvez pela in- as que tiveram a den- de leitura de maneira confidência feita, talvez sidade semântica esva- consciente, estabelecendo por sua personalidade ziada, fazendo lembrar um diálogo crítico que múltipla, mantendo, a poesia O lutador, de respeitosamente, um Carlos Drummond de lhe permita compreender certo afastamento ce- Andrade: melhor o estar no mundo rimonioso, por isso o Palavra, palavra / emprego do pronome (Digo exasperado), “vós”. / se me desafias, / aceito o combate. / Nos versos finais, o elemento que Quisera possuir-te / neste descampado, articula opositivamente o diálogo com / sem roteiro de unha / nessa pele clara. o leitor, “Mas”, expõe sua precisão, os / Preferes o amor / de uma posse impura propósitos do seu ofício, do seu viver, / e que venha o gozo / da maior tortura. o seu grito em favor da alteridade. Es- (1979:147-148) tabelecendo uma intertextualidade com Mário de Andrade (“Eu sou trezentos, sou Seu gosto é pela palavra reinventada, trezentos-e-cincoenta”), e Fernando Pessoa recuperada, reelaborada liricamente, e seus heterônimos (um “eu” facetado em reveladora de outras realidades íntimas, vários outros “eus”), confessa, superando essenciais, invisíveis, secretas, primor- o egocentrismo, que precisa assumir outras diais, porque “é preciso transver o mundo” identidades – “preciso ser Outros”. Um ser (2002a: 75). que contém todos está contido em todos. Recusando-se a perder a sua essência Similar ao movimento contínuo do fluxo humana – em constante construção – a e refluxo das marés, ao se multiplicar em

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infinitas personas, ele se revivificará em aceitam como eu sou – eu não / aceito.”; muitos outros indivíduos. no emprego da aliteração dos fonemas /p/ Inconformado, incompatível com o e /v/, marcando a cadência repetitiva, sem mundo atual da massificação, querendo afetividade das atividades diárias: “que humanizar este mundo, cuida, “Penso”, aponta lápis”, “que vê a uva”. em modificar, transformar, metamorfosear, O embate também se explicita no em- “renovar” o ser humano (e a ele próprio), prego do paralelismo que reforça o ritmo “usando borboletas”, tirando-as da reali- do poema e remete ao que é sempre igual, dade impessoal, levando o homem a alçar rotineiro; na repetição de palavras, como voos, a alcançar um a do pronome “que”, outro universo, o da enfatizando a reiteração sensibilidade, o da A aparente simplicidade insípida dos atos ordi- expressividade, o da nários do dia a dia das criação, o da poesia. da poesia, como se vê, é ações: “que abre / por- No poema, há enganosa. No seu processo tas, que puxa válvulas, uma tensão entre construtivo, o poeta se que olha o relógio, que dois universos: o da compra / pão às seis ho- “incompletude” – da vale de procedimentos ras da tarde, que vai lá imprevisibilidade, da específicos, altamente fora, / que aponta lápis, criação, da constante que vê a uva etc. etc.” mudança, da insatis- complexos. Nisso reside sua A utilização das as- fação reformadora, riqueza, sua importância, sociações de imagem da sensibilidade; e o sua força e sua perenidade amplia também a ima- da completude – da ginação do leitor, as previsibilidade, do co- palavras se encadeiam, tidiano massificado, da estratificação, da assumem sentidos variados e múltiplos e acomodação, da satisfação esterilizadora, formam o tecido de sustentação poética, da materialidade. ora ressaltando o jogo abstrato/concreto, Essa tensão se concretiza no emprego ao contrastar as atividades externas coti- do ritmo, com versos que se completam no dianas, “abre portas”, “puxa válvulas”, verso seguinte, ressaltando a não acomoda- “olha o relógio”, “compra pão”, “vai lá ção do sujeito poético: “Palavras que me fora”, “aponta lápis”, “vê a uva” etc. e

UNIVERSO DA INCOMPLETUDE UNIVERSO DA COMPLETUDE “A maior riqueza do homem é sua incom- “Palavras que me aceitam como sou eu não/ pletude.” (v. 1) aceito.” (v. 3; 4) “Nesse ponto sou abastado.” (v. 2) “Não aguento ser apenas um sujeito que abre” (v. 5) “Mas eu preciso ser Outros.” (v. 10) “portas, que puxa válvulas, que olha o reló- gio, que compra ” (v. 6) “Eu penso renovar o homem usando bor- “pão às seis horas da tarde, que vai lá boletas.” (v. 11) fora,” (v. 7) “que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.” (v. 8)

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as necessidades internas: “Mas eu preciso leitura de maneira consciente, estabele- ser Outros”, ora explicitando o elemento cendo um diálogo crítico que lhe permita fundador da sua poesia: “Eu penso renovar compreender melhor o estar no mundo. o homem usando borboletas”. A experiência com o texto literário nos A aparente simplicidade da poesia, remete a um universo que compartilha como se vê, é enganosa. No seu processo novos modos de compreender a existência, construtivo, o poeta se vale de procedi- a relação com os outros seres e a partilhar mentos específicos, altamente complexos. o mundo em que vivemos, apesar da forte Assim, é necessário que, para a apreensão mercantilização da cultura nos dias atuais. do sentido geral desse texto, o leitor quebre Nisso reside sua riqueza, sua importância, preconceitos, expanda o seu horizonte de sua força e sua perenidade.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Literatura; Cultura;

BIBLIOGRAFIA

BARROS, Manoel de. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Record, 2002a. ______. Retrato do artista quando coisa. Rio de Janeiro: Record, 2002b. DRUMMOND. Carlos Drummond de Andrade. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguillar, 1979. OSAKABE, Haquira. Poesia e indiferença. In: PAIVA, Aparecida et al. Leituras literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. PAULINO, Maria da Graça Rodrigues. Algumas especificidades da língua literária. In: PAIVA, Aparecida et al. Leituras literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. TSÉ, Lao. O livro do caminho perfeito: Tao Te Ching. São Paulo: Pensamento, 1987.

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O MERGULHADOR DE COMBATE EM AMBIENTE CONFINADO*

Rodney Alfredo Pinto Lisboa** Professor

SUMÁRIO

Operações de retomada e resgate dos mergulhadores de combate da Marinha do Brasil Capacidade física de suportar as exigências das tarefas CQB Condição psicológica de enfrentar situações de confronto armado aproximado Considerações finais

OPERAÇÕES DE RETOMADA E Diante do novo cenário mundial, no qual RESGATE DOS MERGULHADORES tais ameaças, eminentemente assimétricas, DE COMBATE DA MARINHA DO podem estar vinculadas ou não a um Esta- BRASIL do, agindo belicosamente com o intuito de questionar e se opor à autoridade nacional, a Marinha do Brasil, o Grupamento de o Grumec constitui uma importante parcela NMergulhadores de Combate (Grumec) do Poder Naval brasileiro no combate a apresenta-se como um componente da co- elementos hostis visando à proteção das munidade de Operações Especiais (OpEsp) embarcações, instalações portuárias e pla- habilitado a enfrentar eventuais ameaças taformas de petróleo localizadas em águas em ambiente marítimo ou ribeirinho. jurisdicionais brasileiras1.

* Título original: Capacidades física e psicológica como mediadores dos procedimentos de confronto em ambiente confinado executados pelos mergulhadores de combate da Marinha do Brasil. ** Docente da Fundação de Ensino e Pesquisa de Itajubá (Fepi), discente do Programa de Pós-Graduação em Estu- dos Marítimos (PPGEM) da Escola de Guerra Naval (EGN), sócio correspondente do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB). 1. ARENTZ, Carlos Eduardo Horta. “Combate à pirataria marítima e ao terrorismo: um novo campo de atuação para as operações especiais navais?” Revista do Clube Naval, ano 119, no 357, jan/fev/mar, 2011, pp. 34-35. O MERGULHADOR DE COMBATE EM AMBIENTE CONFINADO

Especializado em operações antisseques- forçando as tropas amigas a travar combate tro em ambiente marítimo, o Grupo Especial aproximado contra forças adversas.6 Ope- de Retomada e Resgate/Mergulhadores de rações dessa ordem exploram os limites Combate (GERR/MEC) tem a responsabili- do conhecimento técnico operacional e dade de prover a segurança de embarcações, das capacidades física e mental daqueles terminais e plataformas petrolíferas locali- que se encontram diretamente envolvidos zadas em águas jurisdicionais brasileiras, em uma ação cujo risco é potencialmente atuando também como um importante com- elevado, particularmente porque envolve, ponente dos Grupos de Visita e Inspeção/ além da proteção dos membros do destaca- Guarnição de Presa (GVI/GP) em operações mento de assalto, a segurança de eventuais de fiscalização e controle de áreas marítimas, reféns mantidos em cativeiro para serem levadas a cabo contra navios suspeitos que utilizados como “moeda de troca” em uma podem representar uma ameaça.2 eventual negociação. No desempenho de suas funções, o Nas operações de retomada e resgate, GERR/MEC é constituído por 35 homens as dependências internas do espaço (móvel distribuídos em sete diferentes Unidades- ou imóvel) apreendido por forças adversas Tarefas (UTs) – UT de Mergulho, UT de apresentam inúmeras dificuldades, que, Assalto, UT de Apoio de Fogo (atiradores além de ampliar a tensão em virtude do de elite), UT de Botes; UT de Navegação, combate iminente, limitam as opções de UT de Negociação e UT de Comando – cada deslocamento e visão por consequência de uma delas assumindo uma função específica.3 dimensões reduzidas, forçando o enfrenta- A modalidade de guerra não convencio- mento das forças antagonistas em espaços nal, levada a cabo por Forças de Operações bastante restritos, potencializando ainda Especiais (FOpEsp), às quais o GERR/MEC mais uma atmosfera repleta de tensão e pertence, exige de cada um de seus membros imprevisibilidade.7 um conjunto de habilidades heterogêneas Ciente de que em situações de con- que dependem, necessária e fundamental- fronto armado o despreparo pode ser mente, do condicionamento das capacidades causa de comprometimento operacional e física e psicológica para o desempenho fatalidade, este estudo propõe analisar os eficiente de suas respectivas funções nos aspectos relacionados aos procedimentos níveis em que elas são requeridas.4 adotados pela UT de Assalto do GERR/ Consideradas como das mais desgastan- MEC durante as manobras de incursão e tes modalidades de confronto armado, as varredura de áreas internas em instalações operações militares realizadas em recinto marítimas ou embarcações invadidas e/ou fechado reduzem a “Zona Vermelha5”, controladas por elementos adversos. Para

2. ARENTZ, Carlos Eduardo Horta. “Mergulhadores de Combate comemoram 40 anos de atividade no Brasil”. Revista do Clube Naval, ano 118, no 354, abr/mai/jun, 2010, pp. 48-49. 3. KIEL, David. “Grumec: guardians of the blue Amazon”. Special Operations Report. Congers, New York, NY, v. 10, 2007, p. 35-36. 4. DENÉCÉ, Éric. A História Secreta das Forças Especiais. São Paulo: Larousse, 2009, p. 235. 5. Espaço que separa as forças opositoras. Normalmente limitado quando a batalha ocorre em áreas contendo edificações, o espaço entre as forças antagonistas se expande quando a luta é travada em campo aberto. 6. SCALES, Robert H. “Guerra Urbana: visão de um soldado”. Military Review: Fort Leavenworth, KS, mai/jun, 2005, p. 13-23. 7. GRISWOLD, Terry; GIANGRECO, D. M. Delta: america’s elite counterterrorist force. Osceola, WI: MBI Publishing Company, 1992, p. 53-59.

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áreas urbanas. Também é necessário atentar para as anteparas de metal que constituem parte da estrutura por meio da qual as em- barcações e instalações são construídas. Em operações de confronto armado travadas em ambientes dessa ordem, o metal favorece o ricochete dos disparos, potencializando os riscos para os operadores da equipe de assalto e para eventuais reféns. Por fim, em se tratando de operações levadas a cabo em águas oceânicas, os procedimentos operacionais adotados, invariavelmente, encontram-se sujeitos às condições instá- veis do mar. UT de Assalto executa movimento tático (Trem) durante Compreendendo que o corpo humano é procedimento de varredura em plataforma de petróleo submetido a uma série de adaptações fun- cionais quando encontra-se em atividade tanto, buscamos identificar e compreender física praticada em um ambiente de extrema as ações de Combate em Ambiente Con- tensão psicológica, esta investigação foca finado, modalidade de confronto armado sua abordagem na consciência corporal conhecida internacionalmente pelo acrôni- (componente da tarefa físico-motora) mo CQB (Close Quarter Battle), a fim de que permite a execução dos atos motores avaliar a influência das capacidades físicas especializados requeridos em situações de e psicológicas na performance de execução confronto armado aproximado. Também é das ações de confronto armado aproximado nosso foco de interesse analisar o estresse no decorrer de um engajamento que busca provocado pela atmosfera de ansiedade e restituir a segurança do local e de eventuais medo (componente da tarefa psicológica), reféns, eliminando a ameaça. característica de uma operação de retomada Embora a doutrina de emprego das e resgate, relacionando-o com a performan- técnicas CQB utilizadas pelo GERR/MEC ce de execução dos métodos CQB. seja basicamente a mesma adotada pela Para tanto, a metodologia adotada maioria das FOpEsp ao redor do mundo, para este estudo foi baseada em pesquisa algumas particularidades devem ser leva- bibliográfica para a construção de um das em conta quando da execução desses artigo de revisão de literatura que atenda procedimentos. O primeiro fator a ser aos objetivos propostos. Para viabilizar considerado é a necessidade de inserir a tal investigação, foram realizadas leituras UT de Assalto na área-alvo (normalmente sistemáticas de modo a contribuir para a mediante plataformas de infiltração aéreas definição das categorias necessárias para ou marítimas), uma vez que as operações identificação, compreensão, discussão e são geralmente realizadas em ambiente ma- aprofundamento dos fatores de relevância rítimo. Outro fator de relevância enfoca as e influência que relacionam os condiciona- dependências internas de navios, terminais mentos físico e psicológico ao desempenho e plataformas petrolíferas, uma vez que o eficiente das diferentes técnicas CQB em espaço para manobra mostra-se muito mais situações de retomada e resgate levadas a restrito em relação àquele observado em cabo em ambiente marítimo.

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CAPACIDADE FÍSICA DE do atender ao interesse da instituição, ao SUPORTAR AS EXIGÊNCIAS DAS cumprimento da sua missão e à qualidade TAREFAS CQB de vida do militar10. Ponderando sobre a relevância do treina- Para o desempenho eficiente de suas mento físico para ações de confronto arma- funções, é impreterível que cada um dos do, considera-se que o combate aproximado elementos que constituem a UT de Assalto exige intenso adestramento em função da tenha controle e precisão na condução das contingência do emprego de força. Para os técnicas CQB. Essas técnicas abordam o militares que enfrentam elementos adversos conjunto de procedimentos específicos a em espaços restritos, o valor do condicio- serem adotados pelo Trem8 quando a for- namento físico é percebido em eventos mação, ao se deslocar pelas dependências que requerem o envolvimento de todas as de recintos fechados, promove a segurança valências físicas (equilíbrio, coordenação, mútua de seus membros em uma varredura força, velocidade, resistência e flexibilida- interna.9 de) em situações de progressão nas quais Nas operações que requerem o emprego os integrantes do Trem têm que se deslocar de métodos CQB, o confronto armado em por áreas internas realizando movimenta- espaço físico limitado produz situações ção tática11, saltos, agachamentos, subidas distintas que exigem variados níveis de e/ou descidas, transportando equipamento esforço físico, os quais podem influenciar e armamento que atribuem peso adicional direta ou indiretamente no resultado da considerável ao usuário. ação, uma vez que o preço do fracasso, Pela perspectiva da atividade física, o nessas circunstâncias, quase sempre é a termo “condicionamento físico” constitui o morte. ato ou efeito de capacitar o corpo desenvol- Neste ponto, fazemos uma digressão vendo as valências físicas com o objetivo para destacar a importância da preparação de melhorar a performance de execução física no âmbito da atividade militar, uma dos movimentos.12 Partindo dessa premissa, vez que o condicionamento do corpo vai esclarecemos que, ao buscar condicionar-se muito além da aptidão para empreender fisicamente, o indivíduo passa por um pro- operações tradicionais de patrulha e inter- cesso de “treinamento” que promove uma venção. Nesse contexto, independente da adaptação metabólica funcional, ampliando função ou graduação, o treinamento físico suas capacidades energéticas para adequar enfoca a operacionalidade da tropa, visan- o organismo ao esforço físico requerido.13

8. Procedimento tático adotado pelos membros da UT de Assalto no qual todos se deslocam pelo ambiente em questão agrupados em formação espessa (um atrás do outro), empregando o mesmo ritmo, com o objetivo de oferecer segurança mútua. 9. DAVIES, Barry. The Complete Encyclopedia of The SAS. London: Virgin Books, 2001, p. 75. 10. LISBOA, Rodney Alfredo Pinto; CASTILHO, Carlos Alberto Campos. “A influência da ginástica básica na alteração da resistência de força em recrutas do 14o Grupo de Artilharia de Campanha”. Revista ENAF Science, Poços de Caldas, MG, v. 1, no 2, 2006, p. 36-37. 11. Durante o procedimento de varredura, caminhar acelerado é mais aconselhável do que correr, uma vez que o segundo ato é mais visível e barulhento que o primeiro. Para não comprometer a trajetória do tiro, consi- derando que os disparos podem ser realizados durante o deslocamento, os militares que compõem o Trem devem caminhar mantendo o quadril um pouco abaixado, realizando passos curtos, movimentando a parte inferior das pernas (abaixo da linha dos joelhos). 12. BARBANTI, Valdir José. Dicionário de Educação Física e Esporte. 2a ed. Barueri, SP: Manole, 2003, p. 122. 13. Idem, p. 592.

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Apesar das demandas metabólicas não operação de varredura, é essencial que serem contempladas neste estudo, é impe- os operadores da UT de Assalto tenham rioso esclarecer que a prática de atividade controle total de todos os movimentos física depende de uma grande diversidade (consciência corporal e motora) que de variáveis relacionadas ao metabolismo14 norteiam a execução das respectivas téc- que influenciam na busca por um indi- nicas. Cabe destacar que uma percepção cador eficiente na tarefa de estabelecer a motora incompatível com as exigências integração dos sistemas cardiovascular, da tarefa pode trazer sérias consequências respiratório e muscular, considerando o para o desfecho da operação, uma vez que gasto energético requerido na atividade é essa percepção – adquirida mediante em questão15. repetição sistemática dos movimentos Cientes de que a adaptação metabóli- que alicerçam as técnicas – que permite ca é um importante um padrão de resposta componente do condi- efetivo diante das situ- cionamento físico as- A natureza complexa das ações de perigo. sociado à performan- operações de retomada Apesar de específi- ce de execução das co, o conjunto de ações técnicas CQB, uma e resgate exige níveis de motoras utilizadas em vez que é desse ajuste consciência corporal e eventos onde ocorre o orgânico que depen- domínio das capacidades confronto aproximado de a capacidade dos (técnicas CQB) se de- operadores da UT de motoras que vão muito senvolve exatamente da Assalto de suportar o além da habilidade do mesma forma que qual- esforço físico, o ajuste quer outro ato motor, metabólico somente militar convencional surgindo a partir das trará resultados efeti- três categorias básicas vos para a performance dos procedimentos de movimento: mobilidade, estabilidade e CQB quando devidamente associado ao manipulação (figura 1). componente motor. Diante do exposto, tomando por refe- A natureza extremamente complexa rência a teoria proposta por Karl Newel das operações de retomada e resgate (1986), sugerindo que todos os movimentos exige elevados níveis de consciência cor- surgem da interação entre o indivíduo, a poral e domínio das capacidades motoras tarefa e o ambiente (figura 2), destacamos (equilíbrio, coordenação, lateralidade, que a performance de execução de uma ritmo, tempo de reação, orientação espa- ação motora depende, fundamentalmente, cial, percepção temporal) que vão muito da capacidade do indivíduo de executar de- além da habilidade do militar convencio- terminada tarefa e da complexidade desta, nal. Desse modo, considerando a doutrina bem como das condições do ambiente para de emprego dos métodos CQB, em uma a sua realização.16

14. Componentes fisiológicos e bioquímicos que trabalham em conjunto para fornecer energia para o corpo a fim de realizar tarefas físicas com requisitos variados em relação ao esforço. 15. AMORIM, Paulo Roberto S. “Fisiologia do exercício: considerações sobre o controle do treinamento aeróbio”. Revista Mineira de Educação Física, Viçosa, MG, v. 10, no 1, 2002, p. 59. 16. SHUMWAY-COOK, Anne; WOOLLACOTT, Marjorie H. Controle Motor: teoria e aplicações práticas. 2a ed. Barueri, SP: Manole, 2003, p. 2-3.

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total dos segmentos corporais requeridos para a execução da tarefa, mesmo quando o executante encontra-se em condições psi- Mobilidade Estabilidade cofísicas difíceis. Dessa forma, com o ato motor sendo realizado mediante percepção cinestésica, que assume a função de fonte de informação sensorial primária, substi- Movimento tuindo a visão e a audição, o executante é capaz de voltar sua atenção para outros fatores do ambiente que podem interferir na sequência de execução do movimento.18 Sobre a execução habilidosa de uma ação motora, cabe explanar que a maturi- Manipulação dade e a experiência apresentam-se como diferencial, uma vez que o militar mais experiente tem mais estabilidade em situ- Figura 1: Três categorias básicas de movimento ações de crise, sabe avaliar criticamente Fonte: Adaptado de SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, 2003, p. 4 as diferentes situações que se apresentam, desempenhando suas funções com mais A habilidade (perícia) de cumprir com eficiência à medida que possui o domínio os requisitos de uma determinada tarefa da técnica (movimento especializado), e está diretamente relacionada com a grande sabe como, onde e quando empregá-la.19 quantidade de conhecimento detalhado e organizado que uma pessoa possui em relação à área em que atua, tornando-a capaz de empregar esse conhecimento Condições para a solução qualitativa dos problemas Complexidade do da relacionados à área em questão. A prática Ambiente Resultado Tarefa sistemática torna-se um fator fundamental do na aquisição da habilidade relacionada ao Movimento desempenho, de modo com que indivíduos mais experientes em um campo de atuação têm maior aptidão que os principiantes para executar tarefas especializadas. Assim, Capacidade do o conjunto de informações armazenadas Indivíduo pelos peritos em virtude da especificidade e do tempo de prática permite-lhes operar 17 Figura 2: Interações entre o indivíduo, a tarefa e o com maior grau de automaticidade. Sobre ambiente em relação à performance de execução do a execução automática do gesto motor, sa- movimento lientamos que, nesta categoria de movimen- Fonte: Adaptado de GALLAHUE & OZMUN, to, a ação motora é realizada com controle 2005, p. 226

17. GARDNER, Howard; KORNHABER, Mindy L.; WAKE, Warren K. Inteligência: múltiplas perspectivas. Porto Alegre: Artmed, 1998, pp. 279-281. 18. WEINECK, Jürgen. Biologia do Esporte. 7a ed. Barueri, SP: Manole, 2005, pp. 69-70. 19. SCALES, op cit., p. 18.

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Tomando por referência o que nos foi dependem da concentração, da capacidade apresentado, salientamos que, para um mo- de decisão e do tempo de reação do usuário vimento ser executado de forma habilidosa em resposta a um estímulo extrínseco (oriun- (automatização), ele, necessariamente, deve do do ambiente) que lhe permite identificar ser incorporado ao acervo de memória motora com antecedência eventuais reféns dos ele- do executante, sendo consolidado na forma de mentos adversos que representam a ameaça. um circuito neuronal estável nas estruturas do A capacidade de agir com base em um Sistema Nervoso Central (SNC) e transferido acervo motor diversificado, que incorpora para a memória de longa duração (armaze- um amplo repertório de técnicas CQB, namento mnemônico permanente).20 Assim, constitui um subsídio particularmente efi- considerando que, em uma operação de ciente para suportar a sobrecarga sensorial confronto aproximado, os operadores devem gerada no ambiente caótico surgido em uma contar com um repertório de movimentos que situação de confronto aproximado.23 lhes permita analisar e solucionar a situação É essencial compreender que o condi- em questão com simplicidade, praticidade, cionamento físico constitui elemento fun- criatividade e adaptabilidade, a percepção damental para a obtenção de um resultado sensorial das diferentes possibilidades de satisfatório em relação à performance da movimento para cada situação específica é atividade analisada, mas ela não deve ser o crucial para o resultado da tarefa realizada.21 único componente da tarefa biopsicológica Portanto, é imperioso destacar que o a ser levado em consideração. controle dos movimentos utilizados nas diferentes técnicas CQB ocorre a partir de CONDIÇÃO PSICOLÓGICA uma séria de fatores relacionados com a vi- DE ENFRENTAR SITUAÇÕES vência prática (feedback cinestésico), entre DE CONFRONTO ARMADO os quais são dignos de nota: a experiência APROXIMADO adquirida em função do adestramento que simula situações compatíveis com a tarefa Situações de confronto aproximado são a ser executada em um engajamento real, a consideradas ocorrências de alto risco, pois reprodução sistemática e metódica dos mo- a organização estrutural das instalações (cô- vimentos característicos de cada técnica e a modos, corredores e escadas, entre outros) correta operação de armas e equipamentos apresenta áreas internas com espaço físico quando da execução desses movimentos. restrito e vias de circulação estreitas, que, Particularmente no que concerne ao além de dificultar o deslocamento da UT de emprego de armas de fogo22, é fundamental Assalto, limitam a visão e reduzem a área que os operadores pratiquem a sequência de de enfrentamento, expondo os operadores movimentos até automatizá-los (incorporar de modo a colocá-los na linha de fogo ao acervo de memória de longa duração), inimiga. Para os operadores, a presença uma vez que a performance no manuseio do de possíveis reféns nas áreas de confronto armamento e os disparos, por consequência, é outro complicador, uma vez que seu

20. Idem, pp. 67-69. 21. SHUMWAY-COOK; WOOLLACOTT, op cit., 2003, pp. 3-4. 22. Normalmente, em operações de varredura são empregados um armamento primário (fuzil de assalto ou sub- metralhadora) e um armamento de cobertura (pistola). 23. WASDIN, Howard E.; TEMPLIN, Stephen. Seal Team Six: a incrível história de um atirador de elite e da unidade de operações especiais que matou Osama Bin Laden. São Paulo: Seoman, 2012, pp. 17-18.

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autocontrole e sua capacidade de decisão Nervoso Autônomo (SNA), que funciona – definindo o momento de executar o(s) como um sistema de emergência, mobili- disparo(s) – são testados, sob pena de com- zando os recursos necessários para emitir prometer seu raciocínio crítico, levando-o a uma resposta adequada à situação em ques- cometer equívocos que podem ser fatais.24 tão. Discorrendo sobre a porção simpática Em operações que requeiram o emprego do SNA, destacamos que, durante a prática de técnicas CQB, o desempenho da tarefa de atividade física ou experimentando física é diretamente influenciado pela con- fortes emoções, uma série de impulsos dição psicológica, à medida que o SNC faz transmitidos ao longo das fibras nervosas com que o indivíduo sinta-se vulnerável simpáticas controlam diversos órgãos in- e fora de controle, principalmente pelas ternos, preparando-os para as denominadas sensações de ativação, ansiedade e estresse. respostas metabólicas com base na hipótese O conceito de ativação é apresentado como de “luta e fuga” proposta por Walter B. uma combinação de atividades fisiológicas Cannon em 1932.27 e psicológicas relacionadas à motivação em um determinado momento, podendo variar da letargia (baixa ativação) à excitação (alta ativação). Associada à ativação, a ansiedade constitui um estado emocional que pode ser cognitivo (grau de ativação cognitiva) ou somático (grau de ativação física), gerado por diversas situações que podem ou não depender do indivíduo. Por sua vez, o estresse é definido como um desequilíbrio substancial entre a demanda (física e/ou psicológica) e a capacidade de resposta, gerada a partir da falha em satisfazer adequadamente às exigências da tarefa que está sendo solicitada25. Outro fator que pode interferir na performance de execução das técnicas supramencionadas é o medo, contextualizado como um estado emocional desencadeado em situação de perigo iminente que potencializa os níveis de atenção e concentração do indivíduo.26 Diante do exposto, fenômenos como a Figura 3: Relação hormonal entre o hipotálamo, a hipófise e ativação, a ansiedade, o estresse e o medo glândulas suprarrenais considerando às respostas de luta e fuga. estimulam a porção simpática do Sistema

24. HANEY, Eric L. Força Delta: por dentro da tropa antiterrorista americana. São Paulo: Landscape, 2003, p. 92. 25. WEINBERG, Robert S; GOULD, Daniel. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. 2a ed. Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 98-99. 26. MACHADO, Afonso Antônio. Psicologia do Esporte: da Educação Física escolar ao esporte de alto rendi- mento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006, p. 74. 27. POWERS, Scott K.; HOWLEY, Edward T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 6. ed. Barueri, SP: Manole, 2009, p. 89.

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A sequência de eventos que leva às sobre o sistema imunológico29. Convém respostas de luta e fuga começa por uma esclarecer que os hormônios suprarrenais informação relacionada a situações de pe- permanecem sendo secretados durante todo rigo que é captada pelo SNC a partir de es- o período de tensão, garantindo o estado de tímulos emitidos pelo ambiente. Na região alerta do corpo até o término da crise ou do córtex cerebral, a informação passa por mediante estabelecimento de exaustão pela três estágios de processamento (identifica- elevada descarga de impulsos simpáticos.30 ção, avaliação e tomada de decisão), cujo A torrente de eventos metabólicos resultado influenciará nos comportamentos ocasionada pela estimulação da porção subsequentes, que envolvem a interação simpática da SNA durante uma situação entre o hipotálamo, a hipófise e as glândulas de estresse de longa duração, denominada suprarrenais (figura 3). por Hans Selye (1936) como Síndrome No decorrer do processo de interação de Adaptação Geral (SAG), impõe certos entre o hipotálamo, a hipófise e as glândulas padrões de respostas fisiológicas, que, em- suprarrenais, após receber informações que bora possam variar de pessoa para pessoa, indiquem sinal de perigo, o córtex cerebral apresentam similaridades.31 comunica-se com o hipotálamo,28 incitan- Diante das situações causadoras dos do-o a liberar CRH (hormônio liberador de fenômenos relacionados à SAG (tabela), a corticotrofina), que atua sobre a hipófise carga de impulsos simpáticos para os efe- para mediar as respostas ao estresse pela tores viscerais aumenta consideravelmente, estimulação do SNA. Devidamente estimu- promovendo uma avalanche de alterações lada pelo CRH, a hipófise libera outros dois fisiológicas, entre as quais salientamos: o hormônios (adrenocorticotrofina [ACTH] e aumento da frequência cardíaca e da pres- betaendorfina), ambos fundamentais para são sanguínea para suprir as necessidades as respostas de luta e fuga. A betaendorfina do cérebro (favorecer a concentração exerce um papel de entorpecimento das per- e o raciocínio) e dos diferentes grupos cepções de dor, enquanto que a ACTH ativa musculares (permitindo pronta resposta os hormônios suprarrenais de resposta ao motora); o ciclo respiratório aumenta, a estresse: hormônios cotecolamínicos (adre- fim de transportar maior quantidade de nalina e noradrenalina), sintetizados na oxigênio para as células (gerando energia região da medula suprarrenal (parte interna para auxiliar na situação de emergência); as da glândula), e o hormônio glicocorticoide reservas de açúcar (glicose e ácidos graxos) (cortisol), secretado na região do córtex armazenadas no fígado são liberadas na suprarrenal (parte externa da glândula). corrente sanguínea para fornecer quanti- Atuando em conjunto com o ACTH, tanto dade adicional de energia aos músculos; a adrenalina quanto a noradrenalina e o as glândulas sudoríparas e suprarrenais cortisol aguçam o pensamento, prolongam aumentam sua capacidade de secretar; as a memória relacionada ao evento estres- glândulas salivares e digestórias reduzem sante e desempenham efeito supressivo sua capacidade de secretar, comprome-

28. Porção profundamente enraizada no centro do cérebro, que, juntamente com outros circuitos, trabalha de forma integrada de modo a constituir o sistema límbico. 29. Complexa rede de sistemas integrados responsável por proteger o corpo de invasores externos, como organismos biológicos e agentes químicos, entre outros. 30. DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. 3a ed. São Paulo: Makron Books, 2004, pp. 390-393. 31. Idem, pp. 392-393.

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Tabela: Ordem de manifestação de respostas relacionadas à SAG (Elaborado pelo autor) Fase Classificação Ocorrência Fase 1 Reação de Alarme – Estabelecimento do estado de tensão – Estimulação da porção simpática do SNA – Sensação de ansiedade – Corpo em estado de alerta – Dilatação da pupila – Aumenta a concentração de açúcar no sangue – Organismo gera potencial máximo de energia para enfrentar a tensão Fase 2 Resistência – Permanência do fator estressor original – Manutenção do estado de alerta do corpo – Mudança do estado de humor – Comprometimento do sistema imunológico – Enfraquecimento do organismo – Susceptibilidade a outros estressores Fase 3 Exaustão – Permanência do fator estressor original – Possibilidade de surgimento de novos estressores – Manutenção do estado de alerta do corpo – Esgotamento por sobrecarga fisiológica – Sensação de exaustão – Atividades físicas diminuem pelo esgotamento do suprimento ener- gético da porção simpática do SNA – Porção parassimpática do SNA assume o fornecimento de energia – Comprometimento de reações compatíveis com o estado de tensão – Organismo pode desenvolver problemas físicos e psicológicos que podem levar à morte em casos extremos

tendo o peristaltismo (trato digestório) e total e da movimentação controlada, lenta e prejudicando a digestão.32 gradativa, o que parece ser meia hora não Nas manobras de varredura empreendi- passa de alguns poucos minutos33. Cabe das pela UT de Assalto, os fenômenos fisio- salientar que esse efeito ocorre em virtude lógicos descritos constituem uma evidência da descarga de adrenalina secretada pelas proveniente da expectativa do confronto glândulas adrenais (suprarrenais) que inun- armado. Em ações desse tipo, o tempo se da o corpo mediante estímulo da porção confunde com o espaço, e todos os sentidos simpática do SNA, limitando sensações de se alteram em função de um efeito chamado cansaço ou dor – potencialmente compro- “visão de túnel”. Estando sob a influência metedoras da performance – por ocasião do desse efeito, tudo o que se vê e ouve está estado de alerta a que o corpo encontra-se relacionado com o foco da atenção. Para os submetido.34 membros da UT de Assalto, a percepção A grande concentração de catecolaminas acerca do combate ocorre em um tempo (adrenalina e noradrenalina) na corrente com duração muito lenta se comparado ao sanguínea, secretadas sob a condição de tempo real. Assim, por ocasião da visão de luta e fuga, aumenta o estado de ativação túnel, ocorrida em virtude da concentração do indivíduo, contribuindo significati-

32. TORTORA, Gerald J.; GRABOWSKI, Sandra Reynolds. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 9a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008, p. 537-538. 33. SOARES, Luiz Eduardo; BATISTA, André; PIMENTEL, Rodrigo. Elite da Tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006, p. 43. 34. OWEN, Mark; MAURER, Kevin. Não há dia fácil. São Paulo: Paralela, 2012, p. 117.

86 RMB4oT/2014 O MERGULHADOR DE COMBATE EM AMBIENTE CONFINADO

Alta Performance

Baixa Alta Ativação Biopsicológica

Figura 4: Hipótese do “U-invertido” considerando o binômio ativação e performance Fonte: Adaptado de WEINBERG & GOULD, 2001, p. 105

vamente para a performance da tarefa.35 Considerando que as técnicas CQB Contudo, quando o volume hormonal é envolvem a manipulação e o disparo de secretado em estado extremo de estresse, armas de fogo, a eficiência no emprego do a grande quantidade de hormônio produ- armamento depende fundamentalmente da zido pode comprometer a performance condição humana, uma vez que a arma é na medida em que altera a percepção da empunhada e disparada por um indivíduo realidade e prejudica o resultado da tarefa em condições psicologicamente compro- física. Para ilustrar esse fato, a psicologia metedoras, que interferem diretamente nas da atividade física apresenta-nos a teoria respostas emitidas pelo corpo37. Diante do do “U-invertido” (figura 4) para explicar exposto, é possível ponderar que, em ope- a relação entre os estados de ativação e rações de confronto armado aproximado, performance. Segundo essa hipótese, en- exigem dos operadores elevados níveis quanto o indivíduo permanece em estado de de coordenação motora e estabilidade baixa ativação, seus níveis de desempenho emocional, é necessário que cada um dos permanecem abaixo do padrão desejado de membros da UT de Assalto controle seus performance. Entretanto, seu desempenho níveis de ativação para não comprometer tende a aumentar exponencialmente ao seu desempenho e o desfecho da missão aumento da ativação. Por outro lado, au- por consequência. mentos adicionais na ativação fazem sua Os penosos requisitos físicos e psi- performance declinar.36 cológicos envolvidos em uma situação

35. Idem, p. 437. 36. WEINBERG; GOULD, op cit., p. 105. 37. HANEY, op cit., p. 89.

RMB4oT/2014 87 O MERGULHADOR DE COMBATE EM AMBIENTE CONFINADO

de confronto armado permeado por uma processar as informações em um ambiente atmosfera de incerteza e letalidade podem altamente estressante, agindo racionalmen- ocasionar um fenômeno denominado “es- te de modo a empregar o grau de violência tresse de combate”. Apesar das sensações requerido em cada missão, elevando-o variarem de indivíduo para indivíduo, os ou abaixando-o como o dimmer40 de um sintomas desse fenômeno tendem a apre- interruptor de luz elétrica41, os militares sentar certa padronização, manifestando-se de infantaria das tropas regulares, por não por meio de agressividade, ansiedade, apa- encontrarem-se devidamente preparados tia, catatonia, depressão e lapsos de memó- para o combate real, têm a percepção global ria. Com o intuito de minimizar os efeitos do ambiente prejudicada em consequência psicológicos causados pelo confronto ar- da sobrecarga sensorial da porção simpática mado, o autocontrole do SNA. Incapazes de adquirido mediante o se adaptar com a velo- treinamento sistemá- No confronto armado, o cidade necessária diante tico surge como fator da situação de impre- determinante quando resultado é determinado visibilidade, uma vez da necessidade de ra- não apenas pela que o treinamento não ciocinar criticamente os preparou para tanto, diante de uma situação habilidade no uso de os soldados conven- hostil.38 armas e equipamentos, cionais, independente Um sentimento mas principalmente da condição mutável comum manifestado da batalha, focam toda em militares que par- pelas condições física e sua atenção nas ações a ticipam de confronto psicológica dos envolvidos. que se encontram con- armado é a autode- dicionados a realizar preciação por atirar Entretanto, a condição por ocasião do adestra- em outra pessoa. Em psicológica é determinante mento, o que os tornam virtude dos rigorosos para uma performance incapazes de captar e requisitos exigidos reconhecer qualquer nos processos de sele- satisfatória estímulo (visual ou au- ção e treinamento das ditivo) adicional.42 FOpEsp, esse senti- Um fato que não mento parece ser menos comum entre seus deve ser ignorado considera que os sin- integrantes, uma vez que a rotina de treina- tomas do estresse de combate podem mento os prepara para suportar os elevados manifestar-se mesmo nos militares mais níveis de estresse encontrados em situações bem preparados, quando eles encontram-se de combate.39 Assim, enquanto os efetivos expostos por muito tempo às situações que das tropas especiais são treinados para envolvam o confronto armado. A solução

38. McNAB, Chris. Learning Mental Endurance with the US Marines. Broomal, PA: Mason Crest Publishers, 2003, p. 21-25. 39. WASDIN; TEMPLIN, op cit., p. 207. 40. Dispositivo utilizado para variar a potência de uma corrente elétrica (tensão circulante), controlando a inten- sidade da luz emitida pela lâmpada. 41. WASDIN; TEMPLIN, op cit., p. 205. 42. Idem, p. 331.

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adotada para esse problema é a de limitar No desempenho de um procedimento o tempo de serviço dos membros operacio- de varredura interna característico das nais (em geral de três a quatro anos) que se operações de retomada e resgate, o condi- encontram direta e constantemente envol- cionamento físico requer o envolvimento vidos em ações que envolvem o confronto de recursos fisiológicos e motores que armado aproximado43. contribuem para a performance das técni- A experiência acumulada em diferentes cas operacionais adotadas em cada situação situações de enfrentamento revelam que os específica. Entretanto, principalmente nas efeitos cumulativos do despreparo levam ao condições estressantes das operações que debilitamento e à acentuada deterioração requerem o uso de métodos CQB, por do desempenho44. Portanto, levando-se melhor que seja a capacidade física dos em conta que as operações de retomada e membros da UT de Assalto, é a condição resgate levadas a cabo pelo GERR/MEC psicológica que surge como fator determi- são cumpridas mediante responsabilidade nante para uma performance satisfatória, compartilhada entre os integrantes da UT pois ela interfere significativamente na de Assalto, a deficiência individual não se capacidade física de responder pronta e limita apenas à performance de um único adequadamente às rígidas exigências de militar, podendo se estender para toda situações envolvendo confronto armado. formação, ao ponto de acarretar falência Portanto, o sucesso de uma operação operacional.45 realizada em recinto confinado com possi- bilidades de confronto armado aproximado CONSIDERAÇÕES FINAIS está diametralmente relacionado à capaci- dade dos integrantes da UT de Assalto de A natureza, absolutamente particular das suportarem o estresse físico e psicológico condições onde o GERR é requerido para gerado no ambiente onde ocorre o enfren- colocar ordem em situações de hostilidade, tamento. Essa capacidade interfere não constitui uma tarefa para indivíduos alta- apenas na faculdade de elaborar um racio- mente preparados e especializados. cínio crítico, gerando uma resposta motora Em situações de confronto armado, o adequada para as mais variadas situações, resultado do conflito é determinado não como também na habilidade de manipu- apenas pela habilidade no uso de armas e lar com destreza o conjunto de armas e equipamentos, mas principalmente pelas equipamentos em favor da consecução condições física e psicológica daqueles que dos objetivos operacionais previamente se veem envolvidos no confronto. estabelecidos.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Mergulho;

43. McNAB, op cit., p. 21-25. 44. CLAUSEWITZ Carl Von. Da Guerra. São Paulo: Martins Fontes, 1996, p. 83-86. 45. CURTIS, Mike. CQB: close quarter battle. London: Transworld Publishers, 1998.

RMB4oT/2014 89 O MERGULHADOR DE COMBATE EM AMBIENTE CONFINADO

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90 RMB4oT/2014 JULGANDO PIRATAS: Competências, obstáculos e soluções

GABRIELA ALBUQUERQUE*

SUMÁRIO

Introdução A inviabilidade do uso dos Tribunais Internacionais Obstáculos ao julgamento de acusados de pirataria em cortes nacionais Soluções pensadas para o julgamento de piratas somalis Conclusão INTRODUÇÃO ser devidamente julgados e sancionados por sua conduta delituosa. combate à pirataria é necessário à Em um de seus artigos, o estudioso Mar- O segurança do comércio mundial e à tin N. Murphy afirma com propriedade que salvaguarda da vida daqueles que traba- “historians recognize that piracy is a land lham no mar. Entretanto, qualquer ação será based crime which is manifested at sea”1.2 insuficiente se os infratores não puderem Tendo sua origem em terra, as soluções

* Advogada formada pela Universidade Federal Fluminense e pós-graduada em Direito Constitucional pela Uni- versidade Cândido Mendes. Pesquisadora em Direito Marítimo (2013-2014) na Fundação Getúlio Vargas. Participou, como observadora, em reuniões da Organização Marítima Internacional (IMO) pela delegação brasileira em 2012 e 2013. 1 “Historiadores reconhecem que a pirataria é um crime terrestre que se manifesta no mar.” (Livre tradução da autora) 2 MURPHY, Martin N. Somali Piracy: not just a naval problem. Washington: Center for Strate- gic and Budgetary Assessments, 2009. Disponível em . Acesso em 16/03/2014. JULGANDO PIRATAS: Competências, obstáculos e soluções

para a pirataria também devem ser adotadas nais como dotados de competência para em terra, e não apenas no mar. processar e julgar os acusados de pirataria. Desse modo, um dos meios de combate Submeter esse tipo de criminoso à juris- à pirataria marítima diz respeito ao julga- dição daqueles tribunais seria, contudo, um mento dos suspeitos, evitando, assim, a grande equívoco, pelo menos nos moldes impunidade destes. Contudo, muitos são atuais de seus estatutos. Por isso, mister os obstáculos que permeiam o tema, o que examinar brevemente as competências da frequentemente resulta na prática do “catch Corte Internacional de Justiça (CIJ), do and release”. Tribunal Penal Internacional (TPI) e do Destarte, este artigo objetiva fornecer Tribunal Internacional para o Direito do um quadro geral sobre as dificuldades e Mar (TIDM). soluções pensadas por estudiosos e pela Por oportuno, cumpre grifar que, con- comunidade internacional no que tange ao forme o Artigo 105 da CNUDM,4 os piratas julgamento de suspei- podem ser processados tos de pirataria, abor- pelo tribunal compe- dando de forma mais Um dos meios de combate tente do Estado que específica as questões apreende o navio pirata. envolvendo os piratas à pirataria é evitar a No entanto, por motivos somalis em razão da impunidade que serão estudados à situação de fragilidade frente, esses Estados, do Estado somali. por vezes, não têm in- teresse em proceder ao julgamento dos A inviabilidade do uso dos criminosos, ao passo em que a CNUDM Tribunais Internacionais não define nenhuma obrigação, fornecendo apenas uma possibilidade que pode ou não Considerando a definição para pirataria ser efetivada pelas nações. do Artigo 101 da Convenção das Nações Sendo assim, uma das alternativas para Unidas para o Direito do Mar (CNUDM)3, evitar a impunidade seria encaminhar os segundo o qual um dos requisitos é que o piratas para alguma das instâncias interna- crime seja cometido em alto-mar, ou seja, cionais existentes. em águas internacionais, é possível indicar A CIJ, órgão judiciário da Organização prima facie algum dos tribunais internacio- das Nações Unidas (ONU), possui dois ti-

3 “A pirataria consiste em qualquer um dos seguintes atos: (a) quaisquer atos ilegais de violência, detenção ou qualquer ato de depredação cometidos, para fins privados, pela tripulação ou pelos passageiros de um navio privado ou de uma aeronave privada, e dirigidos: (I) no alto-mar, contra outro navio ou aeronave, ou contra pessoas ou bens a bordo de uma embarcação ou aeronave; (II) contra um navio, aeronave, pessoas ou bens em lugar não submetido à jurisdição de qualquer Estado; (b) qualquer ato de participação voluntária na utilização de um navio ou de uma aeronave com o conhecimento dos fatos tornando-se um navio ou aeronave pirata. (c) qualquer ato de incitar ou ajudar intencionalmente um ato descrito no subparágrafo (a) ou parágrafo (b) deste artigo”. (Livre tradução da autora) 4 “No alto-mar, ou em qualquer outro lugar fora da jurisdição de qualquer Estado, todo Estado pode apresar um navio ou aeronave pirata, ou um navio ou aeronave tomados por piratas e sob o controle de piratas, e prender as pessoas e apreender os bens a bordo. Os tribunais do Estado que efetuou o apresamento podem decidir sobre as sanções a aplicar e podem também determinar a ação a ser tomada em relação aos navios, aeronaves ou propriedades, sem prejuízo dos direitos de terceiros de boa-fé”. (Livre tradução da autora)

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pos de competência: atua tanto para dirimir tra qualquer população civil e crimes de disputas legais entre Estados (competência guerra.9 O TPI atua sempre como ultima contenciosa) quanto para emitir pareceres ratio, isto é, apenas quando todas as cortes consultivos sobre questões jurídicas enca- nacionais tenham se mostrado incapazes, minhadas por órgãos e agências especiali- omissas ou incompetentes para processar zados da ONU (competência consultiva).5 os crimes supracitados.10 Destarte, como o crime de pirataria é Importa elucidar que, apesar de nos cometido por uma pessoa física, não seria crimes contra a humanidade se inserirem possível submeter a matéria à apreciação da atos como homicídio e tortura, por exem- CIJ, posto que o Artigo 34, §1o de seu Esta- plo, os mesmos devem ser cometidos no tuto define que a competência contenciosa contexto de um ataque direcionado contra se reserva a controvérsias entre Estados, uma população civil. Como a pirataria é não cabendo julgar questões onde sejam um crime direcionado contra um pequeno partes pessoas físicas ou jurídicas.6 grupo de pessoas que compõe a tripulação Ao seu turno, o Tribunal Penal Interna- de um navio, não há como o TPI julgá-lo. cional (TPI) foi estabelecido em 1998 por Sobre a questão, Milena Sterio disserta meio do Estatuto de Roma, com o escopo que, quando o Estatuto de Roma foi elabo- de combater a impunidade de criminosos rado, o crime de pirataria não representava que agiam contra os direitos humanos e uma ameaça global em potencial, pois não causavam intensa preocupação e ameaça havia um número significativo de ataques. a nível global.7 Por isso não houve interesse em inseri-lo no Desse modo, o TPI julga pessoas que Estatuto, já que não era considerado um cri- tenham cometido crimes graves que sen- me suficientemente gravoso para ser julgado sibilizaram a comunidade internacional perante o TPI.11 Ainda hoje se questiona se listados nos artigos 6o, 7o e 8o do Estatuto a pirataria teria uma gravidade semelhante de Roma8, quais sejam: genocídio, crimes à de um crime de genocídio, por exemplo, contra a humanidade direcionados con- para ser incorporada ao Estatuto do TPI.12

5 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Editora Revista dos Tri- bunais, 2011, p. 1064-1065.; INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE. How the Court works. Disponível em < http://www.icj-cij.org/court/index.php?p1=1&p2=6>. Acesso em 25/04/2014. 6 LEE, Andrew. Hybrid Tribunals to Combat Regional Maritime Piracy: guiding the rule through the rocks and shoals. One Earth Future Foundation Working Paper, julho/2010, p. 15. Disponível em < http://oneearthfuture. org/research/publications/hybrid-tribunals-combat-regional-maritime-piracy-guiding-rule-law-through>. Acesso em 23/04/2014.; MAZZUOLI, Valério de Oliveira, 2011, op. cit., p. 1065. 7 KRASKA, James. Contemporary Maritime Piracy: international law, strategy and diplomacy at sea. Califórnia: Editora ACC-CLIO, LLC, 2011, p. 176. 8 O Estatuto de Roma foi promulgado no Brasil pelo Decreto no 4.388 de 25 de setembro de 2002. Ver: BRASIL. Decreto n. 4.388, de 25 de setembro de 2002. Promulga o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 26 de setembro de 2002, p. 3. 9 INTERNATIONAL CRIMINAL COURT. ICC at a glance. Disponível em < http://www.icc-cpi.int/en_menus/ icc/about%20the%20court/icc%20at%20a%20glance/Pages/icc%20at%20a%20glance.aspx>. Acesso em 30/04/2014. 10 LEE, Andrew, op. cit., p. 15. KRASKA, James, op. cit., p. 951-955. 11 STERIO, Milena. The Somali Piracy Problem: a global puzzle necessitating a global solution. American Uni- versity Law Review, v. 59, 5a edição, jul/2010, p. 1488-1489. Disponível em < http://www.aulawreview.org/ index.php?option=com_content&view=category&id=22:volume-59-issue-5&Itemid=66&layout=default>. Acesso em 19/01/2014. P. 1488-1489. 12 KRASKA, James, op. cit., p. 176.

RMB4oT/2014 93 JULGANDO PIRATAS: Competências, obstáculos e soluções

Por fim, poderia ser cogitada a com- realizam a apreensão e os que promovem o petência do TIDM, criado no bojo da julgamento poderiam requisitar um parecer CNUDM e regulado em seu Anexo VI. O do tribunal quanto a questões concernentes TIDM possui jurisdição em relação a dis- ao direito internacional ou aos direitos putas sobre a interpretação ou aplicação da humanos.16 CNUDM e também sobre qualquer matéria Diante desse quadro, a comunidade prevista em outros tratados quando estes lhe internacional e os estudiosos têm refletido confiram tal faculdade, conforme Artigo 21 sobre a possibilidade de tornar esses tri- do seu Estatuto.13 bunais competentes para julgar casos de Resta evidente que o TIDM não possui pirataria, tecendo algumas considerações competência criminal e, portanto, nos quanto à viabilidade de sua utilização moldes do seu Esta- e à alteração de seus tuto, não seria uma Estatutos. instância adequada O então presidente do Contudo, sabe- para julgar acusados TIDM, José Luís Jesus, -se que o processo de de pirataria.14 Des- emenda a estatutos não se modo, apesar da afirmou que o órgão não é imediato, demandan- conexão com a ma- possui competência para do longo tempo de de- téria e com a própria julgar piratas ou qualquer bates na busca por um CNUDM, o TIDM consenso. Ademais, não é utilizado como outra pessoa, pois não submeter um assunto foro internacional para se trata de um tribunal tão específico e com processar piratas. um número de deman- Corroborando com criminal da elevado pode pre- esse entendimento, judicar o andamento em 2009 o então presidente do TIDM, das atividades precípuas dos tribunais José Luís Jesus, afirmou que o órgão não e, por vezes, requerer a capacitação de possui competência para julgar piratas ou seus membros para o trato de um tema qualquer outra pessoa, pois não se trata de especializado. um tribunal criminal.15 Diante disso, necessário analisar a Por isso, algumas sugestões para o uso problemática relativa ao julgamento de do TIDM giram em torno de sua capacidade piratas em tribunais dos próprios Estados, consultiva, o que não demandaria reforma identificando os motivos pelos quais poucas em seu Estatuto. Assim, os Estados que nações utilizam suas cortes.

13 ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, Geraldo Eulálio do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 782.; INTERNATIONAL TRIBUNAL FOR THE LAW OF THE SEA. The Tribunal. Disponível em < https://www.itlos.org/index.php?id=15&L=0>. Acesso em 27/02/2014. 14 KRASKA, James, op. cit., p. 176.; KELLEY Ryan P. UNCLOS, but no Cigar: Overcoming obstacles to the prosecution of maritime Piracy. Minnesota Law Review, vol. 95, no 6, 2011, p. 2.289. Disponível em < http:// papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1913256>. Acesso em 28/03/2014. 15 DIÁRIO DE NOTÍCIAS. “Tribunal da ONU não tem competência para julgar piratas”. 24/04/2009. Acesso em 17/04/2014. 16 Para mais detalhes, ver: PEMBERTON, Beck. The International Tribunal for the Law of the Sea as a High Court of Piracy. One Earth Future Working Paper, 2010. Disponível em < https://oneearthfuture.org/research/ publications/international-tribunal-law-sea-high-court-piracy>. Acesso em 09/03/2014.

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Obstáculos ao julgamento A atividade desenvolvida por essas de acusados de pirataria em operações e pelos navios de guerra de for- cortes nacionais ma isolada permite coibir e punir atos de pirataria quando os Estados costeiros não A apreensão de um navio pirata e o adotam as medidas necessárias em terra envio dos criminosos para julgamento em para impedi-los. Não obstante, o custo um tribunal competente não são tarefas das operações navais é elevado, e, como simples. Douglas Guilfoyle ilustra essa si- visto, o efetivo utilizado não é suficiente tuação mencionando que os piratas somalis para realizar um patrulhamento adequado atuam tanto no Golfo de Áden quanto no da região.22 Oceano Índico, região que é patrulhada por Ademais, por vezes a apreensão de uma cerca de 25 navios militares, o que equivale embarcação pirata não é finalizada, pois, a controlar uma área correspondente ao diante da ausência de provas suficientes, dobro do tamanho da Europa com apenas as forças navais concluem que o caso não 25 veículos policiais.17 seria levado a julgamento.23 Saliente-se que A presença de navios de guerra na região navios pesqueiros e piratas na Somália são do Golfo de Áden é viabilizada principal- muito semelhantes: pescadores têm o há- mente por operações navais como a Operação bito de andar armados, enquanto os crimi- Atlanta (EU Navfor Somália)18 e a Operação nosos costumam despejar no mar todos os Escudo do Oceano19 e pela Força-Tarefa equipamentos (escadas, armas, combustível Combinada 151 (CTF-151), empreendida pe- etc.) que poderiam servir como provas em las Forças Marítimas Combinadas (FMC)20.21 um processo.24

17 GUILFOYLE, Douglas. Prosecuting Somali Pirates: a critical evaluation of the options. Journal of International Criminal Justice, Vol. 10, 2012b, p. 769. Disponível em < http://jicj.oxfordjournals.org/content/10/04/767. abstract>. Acesso em 28/10/2013. 18 A Operação Atlanta, conduzida desde 2008, foi formada para dar maior suporte à Resolução 1.816 do Conselho de Segurança e foi a primeira operação naval dirigida e organizada pela União Europeia. Outras informações, ver: EUROPEN UNION NAVAL FORCE. About us. Disponível em < http://eunavfor.eu/mission>. Acesso em 23/04/2014. 19 A Operação Escudo do Oceano, em vigor desde 2008 e coordenada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), tem como missão combater, desarticular e prevenir ataques piratas. Em 2013 foi responsável pela apreensão de 59 suspeitos de pirataria. O conselho da Otan prolongou a operação até o final de 2014, podendo ser renovada por um novo período. Mais detalhes, ver : NORTH ATLANTIC TREATY ORGA- NIZATION. Counter piracy operations. Disponível em < http://www.nato.int/cps/en/natolive/topics_48815. htm>. Acesso em 23/04/2014. 20 As Forças Marítimas Combinadas são uma cooperação naval multinacional entre 30 países de várias regiões que se destina a promover a segurança e estabilidade em águas internacionais, atuando por meio de várias forças-tarefa. A CTF-151 está na região desde 2009. Mais detalhes, ver: COMBINED MARITIME TASK FORCES. CTF-151: Counter-piracy. Disponível em < http://combinedmaritimeforces.com/ctf-151-counter- piracy/>. Acesso em 23/04/2014. 21 DANIELS, Christopher L. Somaly Piracy and Terrorism in the Horn of Africa. Maryland: Scarecrow Press, Inc., 2013, p. 79-82. SALVATIERRA, Miguel. El Próspero Negocio de la Piratería en África. Madri: Los Libros de la Catarata, 2010, p. 77-79. 22 ELLEMAN, Bruce; FORBES, Andrew; ROSENBERG, David. Piracy and Maritime Crime: Historical and Modern Case Studies. Newport: NWC Press, Newport Paper 35,2010, p. 229. Disponível em . Acesso em 25/02/2014. 23 NTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION. Piracy – Note by Secretariat. Legal Comitee, março/2013, p. 3. LEG 100/6/1. Acesso em 16/04/2014. 24 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 769.; KRASKA, James, op. cit., p. 54.

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Com o fito de otimizar e padronizar o cidadãos estão entre as vítimas ou o navio trabalho das forças navais na reunião de atacado arvora o seu pavilhão.29 provas, evitando a liberação de suspeitos No período entre 2006 e 2012, a Es- pela ausência ou fragilidade destas, Jack panha julgou apenas dois piratas da costa Lang25 sugere a formulação de um modelo somali, a França 15 e a Alemanha dez, internacional para relatório de casos de enquanto a Somália e o Quênia levaram a pirataria e roubo armado, uma espécie de juízo, no mesmo período, 384 e 143 piratas, “boletim de ocorrência” uniforme.26 respectivamente.30 Nas situações em que a apreensão é Entre os motivos pelos quais os efetivada, o Estado da bandeira do navio Estados não têm interesse em proces- de guerra possui três opções quanto aos sar os piratas estão o elevado custo31, piratas: processá-los em um de seus tribu- dificuldades logísticas e a morosidade nais; encaminhá-los para serem julgados da investigação e do próprio processo. por outro Estado que aceite processá-los; Ainda há o temor de que piratas con- ou, uma vez desarmados, liberá-los com denados ou inocentados requeiram o alimento e combustível suficientes para direito de asilo ou de refúgio aos países retornar à costa (“catch and release”).27 onde foram julgados.32 Entre agosto e dezembro de 2010, a Ope- A título ilustrativo, registre-se que, ração Atlanta capturou 51 piratas que em 2008, o Ministério de Assuntos foram imediatamente soltos após serem Exteriores do Reino Unido apontou o desarmados.28 risco de levar suspeitos somalis de pira- Em que pese o princípio da jurisdição taria para julgamento em solo britânico, universal, os Estados não têm se utilizado visto que aqueles poderiam requerer o dessa prerrogativa, atuando apenas quando direito de asilo sob a alegação de que, possuem algum interesse em processar os retornando à Somália, seriam julgados piratas, em casos, por exemplo, em que seus de acordo com a lei islâmica, podendo

25 Assessor especial do Secretário Geral da ONU, Ban Ki-moon, para assuntos legais relacionados à pirataria somali. 26 SECURITY COUNCIL. Report of the Special Adviser to the Secretary- General on Legal Issues Related to Piracy off the Coast of Somalia. Janeiro/2011. S/2011/30, p. 23-24. Disponível em < http://oceansbeyondpiracy.org/ sites/default/files/somalia_s_2011_30_the_jack_lang_report.pdf>. Acesso em 13/03/2014. 27 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 768. 28 SECURITY COUNCIL. S/2011/30, op. cit., p. 21. 29 ISANGA, Joseph M. Countering Persistent Contemporary Sea Piracy: Expanding Jurisdictional Regimes. Wa- shington: American University Law Review, vol. 59, 2010, p.1271. Disponível em . Acesso em 11/02/2014. 30 SECURITY COUNCIL. Report of the Secretary-General on specialize anti-piracy courts in Somalia and other States in the region. Janeiro/2012, p. 5. S/2012/50. Disponível em < http://www.un.org/ga/search/view_doc. asp?symbol=S/2012/50>. Acesso em 02/05/2014. 31 Em relação aos custos, cumpre grifar que em um caso hipotético em que o crime tenha sido cometido no Golfo de Áden por piratas somalis e venha a ser julgado por um tribunal francês, por exemplo, haveria a necessi- dade de transportar os acusados, as provas e eventuais testemunhas até a França, tarefas que demandariam o auxílio de uma equipe de segurança. Sendo assim, o Estado que se disponha a realizar o julgamento de piratas reconhece que deverá assumir os encargos monetários dessas atividades. 32 THE WASHINGTON POST. “A case for trying pirates before a UN tribunal”. 08/12/2010. Disponível em . Acesso em 27/04/2014.; ISANGA, Joseph M., op. cit., p. 1275.; KRASKA, James, op. cit., p. 169.; SALVATIERRA, Miguel, op. cit., p. 100. STERIO, Milena, op. cit., p. 1486.

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ser condenados à perda de um membro dos deveriam superar a sua falta de vontade ou mesmo à decapitação.33 política e fazer com que mais suspeitos Em virtude disso, os Estados têm optado fossem julgados em cortes nacionais.36 por celebrar acordos de transferência com A inadequação das normas internas países da região, como o Quênia, a Somália também é um fator para que os Estados (Puntlândia e Somalilândia), as Seychelles não julguem os piratas. Caso um Estado e a República do Maurício. Em troca, encaminhe um criminoso aos seus tri- os Estados regionais bunais, os operadores recebem suporte téc- do Direito devem ter nico e logístico dos Os operadores do Direito os meios necessários países com os quais para processá-lo. É celebraram o acordo, devem ter os meios preciso que o Estado da ONU e de organi- necessários para processar seja guarnecido de leis zações como o Grupo apropriadas. de Contato sobre a piratas. É preciso que o Ocorre que muitos Pirataria na Costa da Estado seja guarnecido de países não incorpora- Somália.34 leis apropriadas ram a jurisdição univer- Importa destacar sal relativa à pirataria que nem todos os paí- em seu ordenamento ses possuem acordos de transferência com interno, o que os impede de julgar os casos nações regionais, o que os leva a tentar em que não tenham conexão alguma com negociar cada caso isoladamente. Porém as o crime.37 leis de alguns Estados impedem a restrição Além disso, o Estado deve tipificar o cri- à liberdade de suspeitos que não sejam me de pirataria em sua legislação criminal, levados a juízo em até 24 ou 48 horas após o que, segundo a IMO, seria uma precondi- sua apreensão, o que muitas vezes resulta ção para o preenchimento do dever de coo- na liberação dos suspeitos.35 peração na repressão à pirataria, previsto no O baixo índice de processos em tribunais Artigo 100 da CNUDM.38 Nas palavras de dos Estados que apreendem piratas suscita Jack Lang, “failure to criminalize piracy in críticas. Milena Sterio afirma que os Esta- domestic law is the first obstacle to effective

33 GÓMEZ, Fernando Ibáñez. Obstáculos legales a la represión de la piratería marítima: el caso de Somalia. Revista CIDOB d’afers Internacionals, no 99, setembro/2012, p. 173. Disponível em . Acesso em 06/04/2014. 34 UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME. Counter Piracy Progamme - july 2012. p.3. Dis- ponível em < http://www.unodc.org/documents/easternafrica/piracy/UNODC_Brochure_Issue_9_Final_we- bversion.pdf>. Acesso em 18/04/2014.; UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME. New prision marks a significant improvement in bringing justice in the Horn of Africa. 04/04/2014. Disponível em < http://www.unodc.org/unodc/en/frontpage/2014/April/new-prison-marks-a-significant-improvement- in-bringing-justice-to-the-horn-of-africa.htmlf>. Acesso em 26/04/2014. 35 SECURITY COUNCIL. S/2011/30, op. cit., p. 23. 36 STERIO, Milena, op. cit., p. 1486. 37 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 777. 38 International Maritime Organization (IMO). Piracy: elements of national legislation pursuant to the United Nations Convention on the Law of the Sea, 1982. Legal Committee, fevereiro/2011. LEG 98/8/1, p. 2. Disponível em Acesso em 16/04/2014.; KRASKA, James, op. cit., p. 128.

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prosecution”39.40 Por isso, o Conselho de dores, tenham receio de sofrer alguma Segurança da ONU requer frequentemente represália ou simplesmente não queiram se que os Estados procedam à criminalização deslocar para locais distantes para depor, da pirataria em suas leis internas.41 Jack Lang sugere que sejam realizados Todavia, mesmo nos países onde a tipi- depoimentos por meio de vídeo-conferên- ficação existe, a definição do crime pode cias.45 Alguns países já permitem que as variar consideravelmente de um para outro, testemunhas sejam ouvidas por vídeo, e dificultando o exercício da jurisdição em outros estão desenvolvendo sua infraestru- alguns casos. tura para em breve poder conduzir a oitiva Nos Estados Unidos e na Malásia, por a distância.46 exemplo, o crime deve ser cometido em Um fator limitante aos julgamentos alto-mar para ser considerado como pi- em tribunais regionais é a capacidade dos rataria; já nas Filipinas, o ato de pirataria sistemas carcerários. Guilfoyle aduz que é deve ser realizado em águas filipinas para mais difícil encontrar nações dispostas a re- assim ser qualificado.42 As sanções também ceber piratas condenados para cumprir suas podem variar de Estado para Estado, pois penas do que encontrar nações dispostas a nos EUA e no Reino Unido, por exemplo, a processá-los.47 pena é de prisão perpétua, enquanto na Es- Os presídios das nações africanas panha a pena é de prisão de dez a 15 anos.43 encontram-se lotados e, por vezes, não Outro problema no julgamento dos condizem com os padrões internacionais acusados de pirataria diz respeito à oi- exigíveis. Na Somália, é notória a falta tiva de testemunhas, pois a maioria dos de instalações médicas elementares, países julgadores tem como base de seu água, saneamento, atividades físicas e sistema jurídico a “common law”, sendo de ressocialização.48 A insalubridade é necessário que as testemunhas deponham preocupante no que diz respeito aos di- pessoalmente.44 reitos humanos, sendo necessário auxílio Considerando que essas pessoas podem internacional para desenvolver os sistemas não obter autorização de seus emprega- penitenciários regionais.49

39 “O fracasso em criminalizar a pirataria a nível interno é o primeiro obstáculo para uma repressão eficaz.” (livre tradução da autora). 40 SECUTIRU COUNCIL. S/2011/30, op. cit., p. 21. 41 Ver: SECURITY COUNCIL. Resolution 2125(2013). Novembro/2013, p. 8. S/RES/2125(2013). Disponível em < http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/2125(2013)>. Acesso em 29/04/2014.; SECURITY COUNCIL. Resolution 2067(2012). Setembro/2012, p. 3. S/RES/2067(2012). Disponível em < http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/2067(2012)>. Acesso em 29/04/2014.; SECURITY COUNCIL. Resolution 1950(2010). Novembro/2010, p. 5. S/RES/1950(2010). Disponível em < http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/1950(2010))>. Acesso em 29/04/2014. 42 STERIO, Milena, op. cit., p. 1465. 43 GOMEZ, Fernando Ibañez, op. cit., p. 166-167. 44 SECURITY COUNCIL. S/2011/30, op. cit., p. 25. 45 Idem. 46 SECURITY COUNCIL. S/2012/50, op. cit., p. 8-19. 47 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p 777. 48 Mais informações, ver: SECURITY COUNCIL. Report of the Secretary-General on specialized anti-piracy courts in Somalia and other States in the region. Janeiro/2012. S/2012/50. Disponível em < http://www. un.org/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/2012/50>. Acesso em 19/04/2013. 49 SECURITY COUNCIL. S/2011/30, op. cit., p. 26.

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Em que pesem as dificuldades, é extre- da Resolução 1918 de abril de 2010, mamente importante conduzir os suspeitos requisitou ao secretário-geral da ONU a de pirataria para julgamento, em razão de elaboração de um relatório com opções sua função dissuasiva em relação àqueles para o julgamento de piratas que atuam que pensam em ingressar em gangues na costa somali.52 piratas. Em acréscimo, se os acusados de Desse modo, o atual secretário-geral, pirataria não forem processados, outros Ban Ki-moon, indicou em seu relatório criminosos transfronteiriços, como con- sete opções que poderiam ser utilizadas: trabandistas de armas e narcotraficantes, (i) desenvolver a capacidade dos Estados podem pensar que crimes que sejam difíceis regionais para julgar piratas; (ii) criar um de se levar a juízo quedam impunes perante tribunal somali em um Estado da região; a comunidade internacional.50 (iii) criar um tribunal especial em um Es- Por isso é fundamental encontrar meios tado da região sem o suporte da ONU; (iv) eficazes que permitam o julgamento dos criar um tribunal especial em um Estado da suspeitos de pirataria. Nesse diapasão, o região com o suporte da ONU; (v) criar um Conselho de Segurança já expressou que tribunal regional por meio de um acordo é necessário levar a juízo não apenas os regional; (vi) estabelecer um tribunal in- suspeitos capturados pelas forças navais, ternacional híbrido; (vii) criar um tribunal mas todos aqueles que financiam, facili- internacional para a pirataria por meio do tam e organizam o crime, frisando que a Conselho de Segurança.53 impunidade enfraquece as iniciativas de O relatório não faz um juízo de va- combate à pirataria.51 loração, limitando-se a indicar opções e analisar as vantagens e desvantagens Soluções pensadas para de cada uma, sem apontar alguma como o julgamento de piratas a mais adequada.54 Assim, importa su- somalis marizar as observações feitas por Ban Ki-moon quanto às três opções mais Em virtude das dificuldades dos Esta- discutidas e aceitas pela comunidade dos em efetuar o julgamento de piratas internacional por sua maior viabilidade, e a fim de coibir a impunidade, o Con- tecendo considerações suplementares selho de Segurança da ONU, por meio quando necessário.

50 STERIO, Milena, op. cit., p.1463. 51 SECURITY COUNCIL. Resolution 2125(2013), op. cit., p. 2-3. 52 SECURITY COUNCIL. Resolution 1918(2010). Abril/2010. S/RES/1918(2010). Disponível em < http://www. un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/1918(2010)>. Acesso em 18/03/2014. 53 SECURITY COUNCIL. Report of the Secretary-General on possible options to further the aim of prosecuting and imprisoning persons responsible for acts of piracy and armed robbery at sea off the coast of Somalia, including, in particular, options for reating special domestic chambers possibly with international compo- nents, a regional tribunal or an international tribunal and corresponding imprisonment arrangements, taking into account the work of the Contact Group on Piracy off the Coast of Somalia, the existing practice in establishing international and mixed tribunals, and the time and resources necessary to achieve and sustain substantive results. Julho/2010. S/2010/394. Disponível em < http://daccess-dds-ny.un.org/doc/UNDOC/ GEN/N10/425/07/PDF/N1042507.pdf?OpenElement>. Acesso em 18/03/2014. ROACH, J. Ashley. Countering Piracy off Somalia: International Law and International Institutions. The American Journal of International Law, vol. 104, no 3, julho/2010, p. 415. Disponível em < http://secureweb.brandeis. edu/ethics/pdfs/internationaljustice/Piracy.pdf>. Acesso em 18/02/2014. 54 KRASKA, James, op. cit., p. 172.

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Um tribunal somali situado no território a capacidade de seu judiciário conduzir de outro Estado da região os processos. Portanto, acredita-se que estabelecer um tribunal somali em outro Esta alternativa é vista com bons Estado não seria uma opção possível no olhos por países como Portugal, Rússia, momento.60 França e Gabão, bem como por Jack Necessário atentar também para a situ- Lang.55 Contudo, a maior parte dos pa- ação dos suspeitos que forem inocentados, íses, entre eles China, Estados Unidos, circunstância que poderia preocupar o Japão e Reino Unido, não apoia esse Estado hospedeiro caso os mesmos não tipo de tribunal, pelos motivos a seguir retornassem para sua pátria.61 Ainda, a expostos.56 distância entre o Estado hospedeiro e a Na hipótese em comento, um tribunal Somália pode impedir que o tribunal atue somali seria implementado no território como meio coercitivo.62 de um outro Estado regional, onde exer- Todavia, Jack Lang aponta que essa ceria sua jurisdição. O Estado hospedeiro opção merece ser analisada detalhada- forneceria um ambiente seguro e estável mente, aduzindo que uma solução judi- para a condução de processos pelo tribunal cial para a pirataria deve ser parte de um somali.57 objetivo maior: resolver a crise somali Esta opção teria como modelo o Tribu- e reforçar o Estado de Direito no país. nal de Lockerbie, corte escocesa sediada na Logo, as medidas a serem adotadas devem Noruega para julgar um ataque terrorista ao focar a própria Somália, razão pela qual voo PanAm Fligh 103, único tribunal do Lang propõe um plano emergencial com tipo já implantado. A experiência escocesa medidas econômicas, jurisdicionais e de demonstrou, porém, que essa é uma opção policiamento que girem em torno da “so- cara, demorada e complexa.58 malização” das soluções.63 Um dos aspectos positivos seria o for- A nível econômico, Lang sugere ações talecimento do sistema judiciário somali, para o desenvolvimento da economia local, o qual julgaria todos os casos envolvendo fazendo com que a pirataria não seja uma seus nacionais. Não obstante, Ban Ki- atividade atrativa para jovens somalis. O moon afirma que o Grupo de Contato assessor aduz que investimentos na ati- sobre a Pirataria na Costa da Somália vidade pesqueira, exportação de pescado, (GCPCS)59 já questionou a adequação portuária e de telecomunicações poderiam das leis somalis que seriam aplicadas e trazer bons resultados.64

55 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 786.; UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2012/30, op. cit., p. 28. 56 KRASKA, James, op. cit, p. 173. 57 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 27. KRASKA, James, op. cit., p. 173. 58 GEISS, Robin; PETRIG, Anna, op. cit., p. 172. 59 A criação do Grupo de Contato sobre a Pirataria na Costa da Somália (GCPCS) foi encorajada pela Resolução 1.851 do Conselho de Segurança da ONU. O grupo consiste em um fórum internacional formado por várias nações para auxiliar a desenvolver e coordenar soluções para a pirataria somali. 60 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 28. 61 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 787. 62 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 789. 63 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2012/30, op. cit., p. 28. 64 Ibidem, 29-31.

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Em matéria de policiamento, o relatório Câmara especial dentro da jurisdição indica medidas para auxiliar na repressão de Estados regionais com ou sem a à pirataria, apontando a necessidade de participação da ONU desenvolver: (i) uma guarda costeira que também realize atividades de monitora- As presentes alternativas diferem ape- mento em terra65 e combata os instiga- nas em relação a haver ou não o auxílio da dores; (ii) a capacidade investigativa dos ONU. Ambas dizem respeito ao estabele- policiais.66 cimento de uma corte ou câmara especial Quanto aos meios legais, as sugestões para processar casos de pirataria, a qual versam sobre o desenvolvimento de leis atuaria dentro da estrutura de tribunais de relacionadas ao combate à pirataria, cria- Estados da região.71 ção de oportunidade de emprego para ex- Aparentemente essa seria a melhor solu- presidiários e construção e monitoramento ção para o Conselho de Segurança, pois este de unidades penitenciárias.67 tem reiterado sua posição em considerar o Nesse passo, Lang afirma que seria estabelecimento de cortes especializadas recomendável a criação de tribunais espe- na Somália e em outros Estados, seja cializados na Somalilândia e na Puntlândia com ou sem a participação da ONU. Esse e um tribunal somali em um outro Estado da posicionamento pode ser observado em região. Este poderia utilizar a infraestrutura Resoluções como a S/RES/2015 (2011)72, do Tribunal Internacional para Ruanda, a S/RES/2077 (2012)73 e a S/RES/2125 localizado na Tanzânia, minimizando seus (2013)74. custos operacionais.68 Considerada como uma das opções mais Cumpre grifar que os Estados da rentáveis, a câmara especial atuaria de região, exceto a Tanzânia, não se mos- acordo com leis criminais e procedimen- tram receptivos a essa alternativa.69 As tais já utilizadas pelo Estado em que fosse autoridades somalis também não são implantada75, não obstante, até a corrente favoráveis ao modelo, preferindo receber data, nenhum país regional possui uma auxílio para construir novos tribunais no câmara ou vara especializada para julgar próprio país.70 casos de pirataria.

65 Através do auxílio do ENUDC e da OMI, a Somália está trabalhando no desenvolvimento de uma lei para regular a atividade de sua guarda costeira. Mais informações, ver: INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZA- TION.Piracy. Kampala Process. Legal training plan and workshop on a lae for coastguard/maritime police. Legal Committee. LEG 101/INF.2. Disponível em < http://docs.imo.org/Category.aspx?cid=45>. Acesso em 01/05/2014. 66 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2012/30, op. cit., p. 31-33. 67 Ibidem, p. 34-38. 68 Ibidem, p. 39. 69 DAILY NATION. Kenya’s neighbours reluctant to host courts to try Somali pirates. 9/07/2011. Disponível em . Acesso em 03/05/2014. 70 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2012/50, op. cit.,. 13. 71 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 29. 72 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL.Resolution 2015 (2011). 24/10/11.S/RES/2015. Disponível em < http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/2015(2011)>. Acesso em 02/05/2014. 73 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL.Resolution 2077 (2012). 21/11/12.S/RES/2077. Disponível em < http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/2077(2012)>. Acesso em 02/05/2014. 74 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL.Resolution 2125 (2013), op. cit. 75 Idem.

RMB4oT/2014 101 JULGANDO PIRATAS: Competências, obstáculos e soluções

Quanto à participação da ONU, esta cessos, o que impediria a atuação de juízes garantiria maior capacitação dos profis- e promotores selecionados pela ONU.79 sionais regionais e dificultaria o desvio A escolha dessa opção, no entanto, dos recursos enviados. Porém a utilização deve ser feita com cautela, pois a câmara de um corpo de juízes selecionados pela pode captar para si boa parte dos recursos ONU poderia não ser funcional nos países de um Estado onde a justiça criminal já é onde os julgamentos são realizados mono- fragilizada, fazendo com que os processos craticamente.76 da câmara sejam mais céleres, eficientes e Os questionamentos quanto a essa opção justos que os de outras instâncias criminais se referem a sua plausibilidade. Por um do mesmo país.80 lado, podem não haver processos suficien- Sendo assim, uma alternativa seria tes para julgamento, tornando a câmara um investir na capacitação técnica e na in- investimento desnecessário; por outro, se fraestrutura somali. Em abril do corrente houver grande demanda, a câmara pode não ano, por exemplo, o Escritório das Nações conseguir apreciar adequadamente todos os Unidas sobre Drogas e Crimes (ENUDC)81 processos a ela submetidos.77 inaugurou uma nova unidade carcerária na Nesse passo, a Somália é apontada Puntlândia. Uma das vantagens é que Es- como um dos Estados mais indicados para tados vizinhos podem aliviar suas próprias implementação dessa câmara. Isso porque instituições de detentos somalis, os quais os tribunais somalis (por meio das regiões passam a cumprir suas penas próximos a mais estáveis da Puntlândia e Somalilân- familiares, em seu país de origem.82 dia) recebem casos de pirataria com mais Há também, ainda, uma preocupação es- frequência que outros Estados, sem auferir, pecífica quanto à Puntlândia, pois a pirataria porém, o mesmo volume de doações em nessa região se beneficia do amparo e da prote- virtude da desconfiança quanto ao seu ção de instituições estatais que, por vezes, são sistema judiciário.78 facilmente sujeitas à corrupção e coniventes Destarte, se essa alternativa fosse im- com os crimes. Por isso, não é possível atestar plementada na Somália, o país poderia de- até que ponto o governo local se engajaria para senvolver seu sistema judiciário e garantir a abrigar uma vara especializada.83 plena utilização da câmara especial. Grife- No geral, a viabilidade desta opção deve se que a Somália não aceita a participação ser analisada por cada país, ponderando se a de estrangeiros na condução de seus pro- quantidade de casos de pirataria recebidos

76 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 30.; GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 793. 77 Douglas, 2012b, op. cit., p. 793.; KRASKA, James, op. cit., p. 174. 78 KRASKA, James, op. cit., p. 174; UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 30. 79 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 793. 80 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 793. 81 O ENUDC é uma agência especializada da ONU criada em 1997 atuante no combate às drogas ilícitas e ao crime internacional. Desde 2009 possui um programa voltado ao combate à pirataria, onde auxilia Estados da região na detenção e julgamento de acusados de pirataria. Mais detalhes ver: UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME. Disponível em < http://www.unodc.org/unodc/index.html?ref=menutop>. Acesso em 17/04/2014. 82 UNITED NATIONS OFFICE FOR DRUGS AND CRIME. New prision marks a significant improvement in bringing justice in the Horn of Africa, op. cit. 83 GEISS, Robin; PETRIG, Anna. Piracy and Armed Robery at Sea: the legal framework for counter-piracy operations in Somalia and the Gulf of Aden. Nova York: Oxford University Press, 2011, p. 173.

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e a necessidade de especialização nos jul- peitos para julgamento e, ao mesmo tempo, gamento justificam a criação de uma sessão manter o suporte financeiro dispensado aos criminal especializada.84 mesmos. Nesse passo, é importante haver Sobre o tema, o ENUDC já apontou que uma cooperação entre os Estados regionais seria pouco provável que o Quênia adotasse e outros países na celebração de acordos de essa alternativa. Isto porque, a priori, não transferência.89 seria vantajoso dedicar um espaço físico O suporte a tribunais nacionais pode e funcionários exclusivamente para esses auxiliar o judiciário dos países. O Quênia, casos, com o risco de, em algum período, por exemplo, inaugurou em 2010 uma inexistir uma demanda suficiente para a nova sala de julgamento de alta segurança, corte.85 A solução diante de um alto número construída pelo ENUDC por meio de con- de processos sobre pirataria seria recrutar tribuições de países como França, Austrália mais juízes, evitando prejuízos ao anda- e Alemanha.90 mento dos demais processos.86 O governo O secretário-geral da ONU destaca que da República do Maurício também não é as maiores vantagens dessa opção são que receptivo em relação a esse modelo.87 a mesma já está em funcionamento e tem se demonstrado eficiente, inclusive quanto Aprimoramento da assistência fornecida à duração dos processos – concluídos em para desenvolver a capacidade dos cerca de 12 a 18 meses a partir da prisão Estados regionais para processar e dos suspeitos. Ademais, os custos com a encarcerar suspeitos piratas assistência aos tribunais e presídios são ra- zoáveis em relação aos valores que seriam A presente opção é praticada atualmente despendidos nas demais opções listadas.91 na região com certo sucesso. Os piratas Destaque-se que, por serem tribunais capturados pelas forças navais costumam nacionais que aplicam leis criminais e ser encaminhados para Estados com os processuais vigentes, não é necessário de- quais haja algum acordo ou que desejam senvolver regramentos inéditos, o que por processar os suspeitos, destacando-se a si só demandaria longo período de tempo atuação do Quênia, das Seychelles, da para ser acordado e redigido.92 Somália (através da Puntlândia) e, mais O julgamento em tribunais nacionais recentemente, da República do Maurício.88 também permite uma solução, ou ao me- Para que essa alternativa funcione nos uma contribuição, para o combate à apropriadamente, é necessário encorajar pirataria a nível regional, atestando que os os Estados da região a receberem os sus- próprios mecanismos judiciais regionais

84 Idem. 85 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2012/50, op. cit., p. 20. 86 Ibidem, p. 20-21. 87 Ibidem, p. 25. 88 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 25.; BBC. UK and Mauritius sing deal to tackle pirates. 08/06/2012. Disponível em < http://www.bbc.com/news/uk-18372881>. Acesso em 28/04/2014. 89 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 25. 90 UN NEWS CENTRE. UN opens new courtroom to try pirate suspects in Kenyan port. 25/06/2010. Disponível em . Acesso em 04/05/2014. 91 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL S/2010/394, op. cit., p. 25. 92 GUILFOYLE, Douglas, 2012b, op. cit., p. 792.

RMB4oT/2014 103 JULGANDO PIRATAS: Competências, obstáculos e soluções

são capazes de fornecer uma resposta para o High Seas are brought to Kenya for trial. problema, aplicando leis mais condizentes They are strangers in the country, do not com o direito e os costumes locais.93 understand the legal system, may not Ainda, por estarem mais próximos know what their rights are and do not aos locais onde gangues piratas atuam, as understand the language.”96.97 decisões de cortes nacionais regionais po- dem ter um efeito dissuasivo maior do que Ao final, o juiz ainda afirma que o go- aquelas proferidas por tribunais localizados verno do país e parceiros internacionais em outros continentes.94 deveriam unir esforços para construir um Convém notar que o incentivo a tribu- mecanismo para fornecer assistência judici- nais nacionais poderia auxiliar as forças ária gratuita aos acusados de pirataria, pois navais a encontrar mais facilmente algum o Quênia apenas concede esse tipo de auxí- Estado apto a proceder ao julgamento de lio para suspeitos em casos de homicídio. suspeitos e permitiria maior eficiência dos Sem isso, os réus acusados de pirataria não órgãos nacionais em manter a ordem e ga- podem ter um processo plenamente justo.98 rantir a eficácia de suas leis, fortalecendo Nesse passo, o ENUDC, em atividade o Estado de Direito.95 conjunta com organizações não governa- A alternativa ora em comento não é, mentais quenianas de assistência jurídica, contudo, perfeita. Para ilustrar algumas fornece aos suspeitos de pirataria a devida dificuldades envolvendo o julgamento representação legal por meio de advogados de piratas somalis em cortes alienígenas, de defesa.99 mister transcrever excerto de uma decisão Em acréscimo, a presente opção se da Alta Corte do Quênia, proferida por M. revela altamente dependente da continui- Odero: dade da cooperação entre os Estados, de “[...] the ‘piracy trials’ have presented modo que a qualquer momento um Estado a unique challenge to the Kenyan legal pode não mais desejar receber suspeitos system. We cannot ignore the fact that de pirataria. Assim, os países que efetuam these are suspects who having been a apreensão dos criminosos podem ficar arrested by foreign naval forces on the pressionados a enviar mais auxílio logístico

93 STERIO, Milena, op. cit., p. 1.487. 94 Idem. 95 KRASKA, James, op. cit., p. 173. 96 “[...] os ‘processos de pirataria’ apresentaram um desafio único para o sistema legal queniano. Nós não podemos ignorar o fato de que estes são suspeitos que, tendo sido presos por forças navais estrangeiras em alto-mar, são trazidos para o Quênia para o julgamento. Eles são estranhos no país, não entendem o sistema legal, podem não saber quais são os seus direitos e não entendem o idioma”. (Livre tradução da autora) 97 QUÊNIA. High Court of Kenya at Mombasa. Criminal Miscellaneous Application no 105 of 2010. Republic vs. Hassan Jama Haleys and others.15/06/2010. Disponível em < http://www.unicri.it/topics/piracy/database/ Kenya_2010_Crim_No_105%20(2010)%20Ruling%20on%20legal%20representation.pdf>. Acesso em 30/04/2014. 98 QUÊNIA. High Court of Kenya at Mombasa. Criminal Miscellaneous Application no 105 of 2010, op. cit..; DUTTON, Yvonne. Bringing Pirates to Justice: a case for including piracy withing the jurisdiction of the International Criminal Court. One Earth Future Foundation Discution Paper, fevereiro/2010, p. 24. Disponível em < http://oneearthfuture.org/research/publications/bringing-pirates-justice-case-including-piracy-within- jurisdiction>. Acesso em 17/04/2014. 99 SECURITY COUNCIL. S/2012/50, op. cit., p. 20.; EUROPEN UNION NAVAL FORCE. EU & Kenya co- operate to prosecute pirates. Disponível em < http://eunavfor.eu/eu-kenya-co-operate-to-prosecute-pirates/>. Acesso em 30/04/2014.

104 RMB4oT/2014 JULGANDO PIRATAS: Competências, obstáculos e soluções

e financeiro para os Estados que realizam situação isoladamente.104 Isso fez com que os julgamentos.100 alguns casos fossem levados para julga- O fato de que boa parte de recursos da mento em tribunais europeus, como ocorreu justiça criminal de países regionais tenha que em 2012 com a Espanha, onde piratas que ser direcionada para processar piratas somalis atacaram um navio de guerra espanhol é preocupante para o judiciário dos mesmos. foram condenados a 13 anos de prisão.105 Os tribunais do Quênia, por exemplo, estão Também é importante atentar para o teor sobrecarregados de processos de pirataria, o dos acordos celebrados. A República do Mau- que levou o país a requisitar um maior volume rício, por exemplo, no tratado celebrado com de auxílio externo para continuar realizando o a União Europeia, aceita processar apenas julgamento de suspeitos suspeitos oriundos da somalis.101 Zona Econômica Exclu- Além disso, muitos A questão da pirataria siva (ZEE) do próprio países não possuem país, Comoros, Seychel- acordos de transferên- marítima torna-se les e Ilha Reunião.106 cia com Estados da re- ainda mais complexa no Ocorre que essas regiões gião e acabam simples- não são tão afetadas por mente desarmando os tocante ao julgamento ataques piratas, e como piratas e soltando-os de dos criminosos. Apesar Maurício é distante dos volta ao mar.102 Logo, é da faculdade de exercer focos de ataque, o trans- necessário incentivar porte dos suspeitos pe- os Estados a celebra- a jurisdição universal, las forças navais é mais rem acordos e fazer poucos Estados que fazem demorado, o que acaba com que mais nações retirando os recursos de da região se disponham a apreensão processam os patrulha das principais a processar acusados suspeitos em seus tribunais áreas afetadas.107 de pirataria, evitando a impunidade.103 Conclusão Recentemente, o Quênia cancelou os acordos de transferência com a Operação Diante da análise realizada, observa-se Atlanta, os Estados Unidos, o Canadá, a que a questão da pirataria marítima torna-se China e a Dinamarca, aceitando receber ainda mais complexa no tocante ao julga- suspeitos apreendidos por suas forças mento dos criminosos. Apesar da faculdade navais somente a partir da análise de cada de exercer a jurisdição universal, poucos

100 LEE, Andrew, op. cit., p. 13.; KRASKA, James, op. cit., p. 173. 101 LEE, Andrew, op cit., p. 14.; DANIELS, Christopher L., op. cit., p. 82. KELLEY, Ryan, op. cit., p. 2.301. 102 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2010/394, op. cit., p. 25. 103 STERIO, Milena, op. cit., p. 1.487. 104 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2012/50, op. cit., p. 22.; EUROPEAN UNION EXRTERNAL ACTION. Judicial international cooperation to end impunity. Disponível em < http://eeas.europa.eu/piracy/ judicial_cooperation_en.htm>. Acesso em 02/05/2014. 105 EL PAÍS. El Supremo duplica las penas para los secuestradores del buque militar “Patiño”. 14/04/2014. Dis- ponível em < http://politica.elpais.com/politica/2014/04/14/actualidad/1397475904_616772.html>. Acesso em 29/04/2014. 106 UNITED NATIONS SECURITY COUNCIL. S/2012/50, op. cit., p. 26. 107 Idem.

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Estados que fazem a apreensão processam Apesar dos esforços de estudiosos e da os suspeitos em seus tribunais. comunidade internacional para apontar A situação é mais delicada quando possíveis soluções, ao que parece a me- envolve piratas somalis, pois, em razão da lhor alternativa ainda é prosseguir com incapacidade do Estado Somali de garantir o fornecimento de auxílio aos países da a ordem interna de modo eficaz, os suspei- região, colaborando para o fortalecimento tos somalis são levados a julgamento em do seu Estado de Direito e aumentando a outros países da região, sobrecarregando sua capacidade de gerenciar os próprios o judiciário destes. problemas.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Pirataria;

106 RMB4oT/2014 Corrida submarina: a ascenSão tecnológica dos submarinos da Kriegsmarine* de 1919 a 1945

CÁSSIO REMUS DE PAULA** Historiador

SUMÁRIO

A ascensão da Kriegsmarine A Crise de 1929 influencia no crescimento bélico naval da Alemanha Tipo II superado: fabricação em massa do Tipo VII Submarinos elétricos Considerações finais

A ascensão da Kriegsmarine novamente. Porquanto os alemães estives- sem longe de suas fronteiras, a Inglaterra uando a Alemanha assinou o Tratado e a França apenas lançariam ameaças ao Qde Versalhes,1 em 1919, a Entente país que lentamente restituía suas leis e não pôde imaginar que o país ascenderia burlava as imposições do tratado, anexando

* Marinha de guerra alemã. ** Bacharel e mestrando em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). 1 Imposição criada pela Liga das Nações no pós-Primeira Guerra Mundial para punir a Alemanha pelos atos de guerra. Consistiu na remodelagem do país germânico: o desmantelamento do império, o transformando em uma república; 10% do território e população foram anexados a países vizinhos; as Forças Armadas foram restritas a 100 mil homens da Infantaria, proibindo-se a Força Aérea, Marinha, blindados, artilharia e uso de gás letal; não obstante, a Alemanha teve de pagar 33 bilhões de dólares para os países vencedores da guerra, o que levou o país a um ápice na inflação: 1 dólar chegou a valer 4,2 bilhões de marcos (JURADO, 2009, p. 31-37). Corrida submarina: a ascenção tecnológica dos submarinos da Kriegsmarine de 1919 a 1945

territórios perdidos após o fim da Primeira No entanto, em 1925 já era colocada em Guerra Mundial – se é que existiram guer- operação a primeira unidade construída: o ras mundiais díspares, já que o período Cruzador Leve Emden, sob supervisão do entre 1918 e 1939 possa parecer um longo Almirante Adolf Zenker, responsável pela intervalo entre os conflitos (HOBSBAWM, reorganização secreta da Marinha de guerra 2005, p. 29-60). (CARDONA, 2009, p. 10). Lentamente, Durante a República de Weimar2, este formava-se uma reserva da Kriegsmarine, intervalo ficou evidente, pois os alemães e até onde podiam reaproveitavam os obso- não estavam acostumados com a ideia de letos navios utilizados na guerra anterior. A serem submissos. As restrições impostas fabricação dessas máquinas não foi tão fácil pelo Tratado de Versalhes, ao invés de de ocultar, por sua vez. Em um primeiro omitir a imaginação dos militares da na- momento, a Alemanha tentou entrar em ção derrotada, na verdade os provocou. A acordo com o Japão para que as máquinas Reichswehr (Defesa do Império), limitada navais fossem construídas no Oriente. As a apenas 100 mil soldados, deu a chance reuniões funcionavam em uma empresa para a Alemanha de criar um grupo seleto de fachada na Holanda, que servia para de militares; o tanque de guerra, proibido os contatos de intermédio entre os dois para o país, se tornava notavelmente essen- países. A inglesa, por sua cial para o êxito de confrontos futuros; os vez, não tardou em desconfiar do esquema mísseis, que nunca haviam sido utilizados germano-nipônico por meio de espiões, como armas, não eram mencionados nos levando o plano do Vice-Almirante Zenker documentos do tratado, dando brecha ao abortamento. Como alternativa, em um à fabricação dos mesmos na Alemanha plano secreto que excluía o próprio Zenker, (JURADO, 2009, p. 31-37). A Marinha o Comandante Walter Lohmann e o Almi- fora extinta, sendo que toda fabricação rante Canaris3 fundaram o Navis GmbH em naval precisava passar por uma análise e 1923, uma empresa dedicada aos clubes ser aprovada pelos inspetores da Comissão de veleiros alemães que também servia de Naval Aliada de Controle. Em um primeiro fachada (BASSETT, 2005, p. 73-74). momento, os alemães até pareceram preten- Para a construção de submarinos, por der cumprir a ordem imposta: “Aos poucos, sua vez, era necessário o uso de uma se- a disciplina foi sendo restaurada e o talento gunda empresa. Foi nesse momento que natural dos alemães para a organização se Wilhelm Canaris entrou em contato com fazendo sentir para o restabelecimento da a Marinha espanhola. Encontrou-se com ordem e dos regulamentos” (BASSETT, o rico industrial espanhol Horacio Eche- 2005, p. 69). varrieta. Poucas semanas depois, uma

2 Primeiro governo após a Primeira Guerra Mundial na Alemanha, criado a partir da assinatura do Tratado de Versalhes até o surgimento do III Reich, em 1933. Nesta república, o objetivo era retomar o modelo demo- crático do país, de forma semelhante ao gabinete dos governos inglês e francês e às eleições presidenciais dos Estados Unidos (BUTLER, 2008, p. 11). 3 Almirante da Kriegsmarine e chefe da rede de espionagem Abwehr, Wilhelm Canaris foi o maior rival da Gestapo dentro da própria rede militar alemã. Insafisfeito com a guerra, tornou-se anti-hitlerista e manteve estreitas relações com Winston Churchill, primeiro-ministro inglês, a fim de salvar a Alemanha do desastre. Apoiou o atentado a Hitler em 20 de junho de 1944, orquestrado pelo Coronel Claus von Stauffenberg na chamada Operação Valkyria, mas foi descoberto e enforcado após as ordens do Führer, em 1945 (MOORHOUSE, 2009, p. 93-130).

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delegação naval espanhola chegava a Ber- Panzerschiff – ou “encouraçado de bolso”, lim, e admitiram que o contato ideal para no termo popular –, batizado de Deutschland. a negociação da construção de submarinos Cinco anos depois, lançaram gêmeos do entre Alemanha e Espanha deveria mesmo encouraçado: o Admiral Scheer e o Admiral ser com Canaris, já que este conhecia os Graf Spee4 (VÁZQUEZ, 2009, p. 31). costumes e a língua latina. Feito o acordo, O “encouraçado de bolso” possuía o Echevarrieta iniciaria a construção dos mesmo armamento de um encouraçado U-Boats em 1936 (BASSETT, 2005, p. legítimo, apesar de menor – deslocando 75-77). Posteriormente, o industrial seria aproximadamente 10 mil toneladas. Es- também responsável pelo investimento tava equipado com canhões de calibre 28 bélico da Força Aérea alemã na Espanha, cm, tinha blindagem de 150 mm na torre em acordo com a Lufthansa (MUELLER, de comando – esta, no centro do convés, 2007, p. 70). com radiotelêmetro acoplado –; 80 mm no cintado e 45 mm na horizontal máxima. Os A Crise de 1929 influencia no projéteis dos canhões atingiam até 35 mil crescimento bélico naval metros em diversos ângulos; o casco era da Alemanha soldado eletricamente para economizar o peso nos rebites, moldado para se aprovei- Ainda em 1929, a Alemanha surpreendeu tar o máximo de leveza e resistência; por as potências do mundo ao lançar o primeiro fim, era movido a diesel com 55 mil cavalos

O encouraçado de bolso Admiral Graf Spee. In: Coleção 70o aniversário da II Guerra Mundial. São Paulo: Abril Coleções, v.7, 2009, p.11.

4 Em 1939, o Admiral Graf Spee foi identificado e danificado pela Marinha britânica na costa da Argentina e fugiu até aportar em Montevidéu, Uruguai. Derrotado, o responsável pelo navio alemão, Capitão Langsdorff, ordenou o sacrifício do mesmo. Os navios envolvidos contra o Panzerschiff foram o Cruzador Pesado HMS Exeter – este severamente danificado – e os cruzadores leves HMS Ajax e HMS Achilles (LÜDECKE, 2011, p. 282).

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de potência, chegando a um máximo de de navegação e residências (GARRATY, 26 nós (COSTILLA, 2009, p. 124-125; 1973, p. 109-110). Além disso, LÜDEKE, 2011, p. 282). (...) em 1935, ele [Hitler] reintroduziu Posteriormente, a tecnologia bélica o alistamento militar obrigatório na da Kriegsmarine refinou ainda mais suas Alemanha, proibido pelo artigo 173 de máquinas de guerra. Foram lançados os Versalhes. No ano seguinte, ordenou a cruzadores Scharnhost e Gneisenau, ver- remilitarização do Rhineland, proibida sões mais pesadas projetadas a partir da pelo artigo 43. Hitler conseguia o que classe Deutschland; em 1936, foi a vez nenhum chanceler anterior havia con- do trabalho em torno dos encouraçados seguido. Gradualmente e, mais impor- Bismarck e Tirpitz; em 1937, os alemães tante, de maneira pacífica, ele removia já tinham posse de cruzadores pesados da as cláusulas mais onerosas de Versalhes classe Hipper, destróieres e cruzadores (MOORHOUSE, 2009, p. 99-100). leves (VÁZQUEZ, 2009, p. 31-32). A Liga das Nações5 estava impossibi- Enquanto isso, a Liga das Nações obser- litada de intervir. Os países envolvidos vava, com muita apreensão, a ascensão do na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), nazismo. Restabelecendo-se aos poucos a ainda fragilizados, tiveram de arcar com a economia alemã, podia-se investir na mo- crise econômica de 1929. Com a Alemanha dernização da Wehrmacht6 e, prontamente, não foi diferente – e essa foi a oportunidade na Marinha de guerra. de Hitler reerguer o país economicamente, quando se autointitulou Führer em 1933. Tipo II superado: fabricação A economia alemã superou a crise rapida- em massa do Tipo VII mente e investiu no setor militar (JURADO, 2009, p. 39-42). A realidade da Kriegsmarine começou a No início de 1933, a Alemanha tinha mudar a partir de 1935, mesmo que muito por volta de 6 milhões de desempregados lentamente. Em 18 de junho daquele ano, formais (MAZZUCCHELLI, 2008). Para a Alemanha e a Grã-Bretanha assinaram reverter a crise, Hitler aderiu à intervenção um convênio naval, o qual proibia que a do Estado na economia pública, auxiliada Kriegsmarine possuísse mais que 35% da por grandes empresários e industriais como tonelagem total que a Royal Navy pos- Thyssen, Bosch, Krupp e Siemens. Ao suía. Com os submergíveis, o limite era mesmo tempo, Hitler rompeu com todas ligeiramente maior, chegando aos 45% as indenizações devidas pelo Tratado de (ROMAÑA, 2010, p. 353-354). Embora Versalhes (ALEOTTI, 1975, p. 53) e, inferiorizasse o poderio naval alemão diante em quatro anos, o III Reich desenvolveu dos britânicos, a fabricação do tipo VII, foi políticas que afirmava destinadas contra uma das primeiras providências tomadas por o desemprego e a favorecer a indústria Hitler para superar o Tratado de Versalhes. privada por meio de subsídios e desconto Em 1939, a Marinha alemã tinha posse de em impostos, estimulando, ainda, o gasto apenas 63 submarinos, sendo que apenas 46 em pequenos investimentos e incentivando destes tinham condições de se envolver em a construção de estradas, ferrovias, projetos combate (ROMAÑA, 2010, p. 354).

5 Liga criada por diversos países em 1919 com o objetivo de garantir a segurança mundial. Foi substituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1946 (CARDONA, 2009, p. 23). 6 Forças Armadas.

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Karl Dönitz7, nomeado comandante apresentavam-se em condições de operar no em chefe dos U-Boats, já havia desen- Atlântico, já que não se podia arriscar toda volvido duas técnicas para o usufruto das a frota em um só ponto estratégico. Além operações submarinas: a Rudeltaktik e a disso, eram antigos – a maioria precisava Tonnageschlacht8. ficar exposta na superfície por muito tempo. A primeira tática consistia em agrupar E, devido a essas diversas dificuldades, os submarinos para atacarem em bandos, Dönitz insistiu na construção de novas como lobos. Já a segunda orientava unidades, afirmando que 300 submarinos os submarinos a concentrarem-se no seriam o suficiente para afundar 700 mil afundamento da frota mercante do toneladas mensais de navios mercantes, adversário. O objetivo era fazer com assim desmoralizando e empobrecendo a que a tonelagem dos navios afundados Grã-Bretanha (CARDONA, 2009, p. 26). superasse a do total dos novos navios Um dos U-Boats disponíveis para as ope- construídos para substituir as lacunas da rações de 1939 era diminuto modelo Tipo frota (TORRES, 2009, p. 34-35). II. Armado com três tubos lança-torpedos na proa e um canhão de 20 mm (VÁZQUEZ, Em conjunto, as técnicas poderiam supe- 2009, p. 32-33), ele foi inicialmente proje- rar a desvantagem numérica de submarinos tado para ser um submarino de treinamento do Reich. Mas o problema não era apenas e, após o lançamento do U-1 deste modelo, em quantidade, mas também em qualidade: apenas outros três foram construídos em em agosto de 1939, apenas 22 submarinos 1935. Em 1936, a Kriesgmarine dispunha

Submarino do Tipo VII. In: Coleção 70o aniversário da II Guerra Mundial. São Paulo: Abril Coleções, v.7, 2009, p. 99.

7 Comandante em chefe dos submarinos do Reich e almirante-mor a partir de 1943. Designado führer após a morte de Hitler, imediatamente assinou a rendição da Alemanha em 1945. Condenado a dez anos de prisão no julgamento de Nuremberg por crimes contra a paz e crimes de guerra, Dönitz foi libertado em 1956 e morreu em 1980 (GELLATELY; GOLDENSOHN, 2005, p. 37). 8 Respectivamente, “tática da matilha” e “batalha de tonelagem”.

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de 12 submarinos (RIBEIRO, 2009, p. 38; a ação muito arriscada (COSTILLA, VÁZQUEZ, 2009, p. 93-94). 2009, p. 101). Um novo projeto foi apresentado, por sua vez, superando os obsoletos Tipo II: o Pouco tempo depois, lançavam ao mar o Tipo VII. Projetado em diversos modelos, Tipo VII C, que foi, por sua vez, um grande do A ao F, o Tipo VII foi produzido até o avanço em relação aos modelos anteriores. final da guerra, em 1945. Relativamente ba- Não obstante, foi o mais produzido: 663 rato e rápido de se construir, o novo U-Boat unidades. Em uma variante do modelo C, suportava, em seus primeiros modelos (VII os canhões de 88 mm eram substituídos por A), 44 homens. De casco simples, podia armas antiaéreas de 20 mm e 37 mm, com submergir até por volta de 200 metros; em instalações simples, gêmeas ou até mesmo superfície, deslocava 750 toneladas em até quádruplas; agora, possuía sonar e um 17 nós e, em imersão, 850 toneladas em 8 casco aumentado em cerca de 60 cm. Mas nós. O armamento consistia em cinco tubos a mudança mais notável do modelo foi, a lança-torpedos de 53,3 centímetros – quatro partir de 1943, a acoplagem de um sistema na proa e um na popa. A arma de superfície retrátil de tubo de respirar – ou seja, agora o era um canhão de 88 mm e uma arma an- submarino não precisava ficar exposto à su- tiaérea de 20 mm. A grande desvantagem perfície para recarregar suas baterias. Além do submarino, por sua vez, era seu espaço disso, podia se mover enquanto carregava, interior muito apertado, que propiciava ao se acionar seu motor a diesel (LÜDEKE, horas de estresse para a tripulação (LÜ- 2011, p. 278; VÁZQUEZ, 2009, p. 97). DEKE, 2011, p. 278; UBOAT.NET, 2014; Uma alternativa às frotas alemãs era o Tipo VÁZQUEZ, 2009, p. 94). Foi, por sua vez, IX, que, de acordo com o site Uboat.Net, era o modelo de submarino mais numeroso da designado a missões mais distantes da costa, história: foram fabricadas 709 unidades do por suportar maiores profundidades e ser de Tipo VII (VÁZQUEZ, 2009, p. 94). grande porte. Foram enviados às costas de No Reino Unido, a Royal Navy ficou América do Norte, América do Sul e Índia. O desmoralizada quando um de seus mais U-Boat Tipo IX B foi projetado para ser mais bem protegidos ancoradouros – Scapa pesado e se deslocar por distâncias maiores, su- Flow, nas Ilhas Orkney – foi vitimado perando seu antecessor. Chegava a 18.2 nós na pelo ataque de um Tipo VII, modelo B: o superfície e 7.7 submerso, com armazenagem U-47. Na madrugada de 14 de novembro para 22 torpedos ou seis torpedos e 32 minas. de 1939, o submarino, comandado por Foram construídas 22 unidade do Tipo IX B Gunther Prien, invadiu a base e pôs a pique e, devido à escassez de unidades e ao maior o Encouraçado HMS Royal Oak, de cerca poder de fogo e proteção, eram dispensados de 31 mil toneladas e uma tripulação de 920 da tática de “matilha de lobos” adotada por homens. Não obstante, o U-Boat retornou Dönitz (LÜDEKE, 2011, p. 278; VÁZQUEZ, ileso para sua base (COSTILLA, 2009, p. 2009, p.98;). 101; RIBEIRO, 2009, p. 36-39). A façanha E com tantos U-Boats dispostos pelo tornou Gunther Prien um herói, pois Oceano Atlântico, a Royal Navy veio a se o U-47 conseguiu penetrar na base naval sentir ainda mais desmoralizada – o oceano britânica (...), [em uma] missão em que foi o principal cenário de atividades subma- outros submarinos haviam sucumbido rinas e, ainda em 1939, haviam colocado a durante a Primeira Guerra. As fortes pique “114 naves Aliadas em troca da perda correntes presentes na região tornavam definitiva de nove submergíveis próprios”

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(ROMAÑA, 2010, p. 356). No ano seguin- O Estado-Maior havia deixado claro te, os U-Boats afundaram 471 naves de que os requerimentos do Tipo XXIA (os seus inimigos, e 432 em 1941. Em 1942, o modelos B e C nunca chegaram a ser termi- número de navios dos Aliados naufragados nados), impensáveis no começo da guerra, pelos submarinos alemães passou dos 1.100 deveriam alcançar 18 nós em imersão e – mas não sem uma desvantagem para Karl autonomia de 90 minutos. Não obstante, Dönitz. O comandante em chefe teve, neste a potência dos motores elétricos deveria ínterim, a perda de 87 unidades subaquáticas ter um rendimento triplo em relação aos e mais ou menos 4 mil tripulantes, decorren- U-Boats fabricados até então. O modelo, te do investimento dos Aliados em armas baseado no Tipo XVIII, garantia uma imer- antissubmarino – como os navios-escolta9 e são de 135 metros em meros 20 segundos modelos específicos de aviões10. Só em maio (ROMAÑA, 2010, p. 362-363). Porém, de 1943, a Kriegsmarine perdeu 30% dos embora fosse um protótipo brilhante, o submarinos de operações (Id, 2010, p. 357). tempo de que a Kriegsmarine dispunha era Isso implicava uma alteração nos planos de escasso. Dönitz teria de encarar as derrotas Hitler – ao invés de investir em quantidade, submarinas, dado que o submarino elétrico era necessário investir em qualidade. não poderia ser lançado em serviço até me- ados de 1944 (Id, 2010, p. 362). Neste ano e Submarinos elétricos no seguinte, dos 200 submarinos previstos para serem comissionados, apenas 113 o Em 1944, um colossal bunker às margens foram (LÜDEKE, 2011, p. 279), dentre 133 do Rio Weser, em Bremen, era construído construídos (WILLIAMSON, 2005, p. 61). por nada menos que 12 mil empregados. Recebeu o apelido elektroboat devido a Dentre estes, estima-se 2.500 eram prisio- seu mecanismo quase totalmente elétrico. neiros de guerra ou detentos de campos de Agora, poderia se movimentar silenciosa- concentração. Do total, cerca de 4 mil em- mente em imersão, ainda sem dispensar pregados morreram durante o trabalho; e o novos modelos poderosíssimos de motor bunker, chamado Valentin, era abandonado a diesel para momentos mais oportunos. aos 90% de sua construção total no dia 7 Isso significava que a nova máquina da de abril de 1945 (WILLIAMSON, 2005, p. Kriegsmarine poderia se movimentar sob 124). Em seu interior, uma carga preciosa: a água por mais de 75 horas sem precisar diversas unidades do U-Boat Tipo XXI11. emergir12. Outra grande novidade é que

9 Pequenos navios providos de armas antissubmarinas, incluindo sonares, radares, morteiros hedgehogs e cargas de profundidade. Modelos mais notáveis: fragata da classe River e corveta da classe Flower (ambas utilizadas pelo Reino Unido e pelos EUA) (COSTILLA, 2009, p. 108-109; LÜDEKE, 2011, p. 294). 10 Como o Hudson, o Short Sunderland e o B-24 Liberator, todos dispostos de bombas e cargas de profundidade (COSTILLA, 2009, p. 108-109). Nem mesmo os U-Boats que dispensavam a emersão eram poupados, já que os aviões com sistema de detecção podiam mirar no inimigo sem absolutamente nenhuma visibilidade (ROMAÑA, 2010, p. 360). 11 Muitos consideram, inclusive dentre as referências bibliográficas deste artigo, como José Miguel Romaña e Gordon Williamson, que o Tipo XXI tenha sido o primeiro submarino de verdade a ser fabricado, decorrente do fato que seus antecessores não tinham capacidade para permanecerem submersos por um longo período de tempo, sendo classificados não como submarinos, mas como “submergíveis”. 12 Assim como o Tipo XXI, o Tipo XXIII também era elétrico, mas de pequeno porte e destinado a missões na costa. Sua capacidade de armas era de apenas dois torpedos, que podiam ser lançados também na vertical. Foi produzido em pequeno número (Uboat.Net).

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foi o primeiro tipo de submarino a se 240 graus, metade a bombordo e metade a movimentar mais rapidamente enquanto boreste (ROMAÑA, 2010, p. 365). imerso do que enquanto emerso (WILLIA- MSON, 2005, p. 59). Assim, ele poderia O Tipo XXI foi verdadeiramente co- por a pique um comboio inteiro sem que locado à prova no final de abril de 1945, houvesse tempo de o inimigo reagir. quase no término da guerra. O U-2511 foi Embora o sistema elétrico aplicado nos construído em Hamburgo e partiu para o submarinos fosse utilizado desde a década Atlântico sob comando de Adalbert Sch- de 30, não era um investimento vantajoso, nee (Uboat.Net). Próximo da costa oeste pois os modelos de sua época eram mais da Grã-Bretanha, o U-Boat detectou uma eficientes emersos do que submersos (JE- esquadrilha britânica de caça-submarinos, DRZEJEWSKI, 2014). que, por sua vez, também percebeu a Seu sistema de defesa, ainda, era cons- presença do submarino. Este rapidamente tituído por quatro canhões antiaéreos de 20 imergiu para 40 metros, sem condições milímetros em duas montagens duplas, com de vantagem sobre os inimigos – e, para uma cadência teórica de tiro máxima de 480 surpresa da tripulação, as hélices das disparos – mas, na prática, não passavam de naves britânicas já não eram detectadas 220 –, e uma reserva de 16 mil cartuchos pelos microfones. Passados quatro dias, no total. Esses canhões, situados nas partes sob 80 metros de profundidade, porém, dianteira e traseira da vela, podiam girar o U-2511 detectava uma nova ameaça:

O intacto U-Boat Type XXI U-2540, atualmente utilizado como museu naval em Bremenhaven, Alemanha. Disponível em:

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um cruzador pesado Norfolk escoltado pelos americanos (provavelmente para não por três destróieres (ROMAÑA, 2010, p. admitirem que o poderio bélico alemão era 371). Em troca de palavras entre o tenente tão avançado, quando os rumores sobre a de engenharia Suhren e outros tripulantes, arma começaram a circular); poderosos avi- Schnee desabafou: ões a jato, como o Messerschitt Me-262 ou – Este é meu 18o cruzador. [...] Nunca o Gotha Go-229 – e até mesmo modernas havia tido um cruzador diante de meus tu- armas de infantaria, como a Sturmgewehr bos. E quando o consigo... é precisamente 44, ou o míssil, como o Peenemünde A4, agora. também conhecido como V-2. De todas – “Agora”? O que quer dizer com isso? essas invenções, uma coisa era certa: os – Como poderíamos imaginar então vencedores fariam bom proveito, tanto por que chegaríamos a nos aproximar tanto de parte da União Soviética como dos Estados um cruzador sem que este nos descobrisse Unidos. Afinal, tanta tecnologia para ser nem seus barcos de escolta nos atacassem? aproveitada na Guerra Fria deveria partir (BEKKER, apud ROMAÑA, 2010, p. 37). de algum lugar. E, não menos importante para a tecno- Mas Schnee não ordenou o ataque. logia bélica, havia o U-Boat. Sua história Havia dois dias que recebera uma mensa- foi importante no decorrer da Segunda gem ordenando o cessar-fogo: o Marechal Guerra Mundial, por desafiar a tecnologia Montgomery havia, com Karl Dönitz, marítima dos Aliados. Mas, como todo assinado um armistício. Quando Schnee progresso voltado à tecnologia militar, se encontrou com os oficiais ingleses, houve um grande sacrifício. Conforme naquele mesmo navio que estava sob sua lembra Juan Vázquez, mira, declarou que aquela mesma unidade cerca de 3 mil navios, com mais de já havia estado sob sua mira direta. No 14 milhões de toneladas brutas, foram diário de operações, estava a prova, que enviados ao fundo do mar por subma- tirou exclamações dos oficiais (ROMAÑA, rinos alemães. Mas o preço foi muito 2010, p. 371-373). alto. Dos 1.131 U-Boats que chegaram a ser concluídos e a entrar em serviço, Considerações finais 863 realizaram missões de combate. Desses, 754 foram afundados, ou seja, Karl Dönitz, como Führer após o suicí- 87% de baixas. Dos 39 mil tripulantes dio de seu antecessor, assinou a capitulação de submarinos que participaram de total em 7 de maio de 1945; à meia noite missões, 28.730 morreram em com- do dia seguinte, era acordado o fim das bate, quase três quartos (VÁZQUEZ, hostilidades. A Alemanha estava oficial- 2009, p. 137). mente rendida às potências aliadas (FEST, 2005, p. 174). Não é uma lição nova o fato de que toda Dentre tantos protótipos e máquinas re- guerra traz avanço na tecnologia, já que volucionárias construídas pelos alemães no nada mais é que uma corrida pela vitória. decorrer da guerra, muitas foram destruídas Mesmo diante de todas as limitações im- e a maioria foi roubada por tropas inimigas. postas pelo vencedores da Primeira Guerra Desses modelos, não apenas o setor marí- Mundial, a Alemanha conseguiu burlar os timo foi inovado. Havia naves discoidais, documentos para ressuscitar seu poderio erroneamente apontadas como OVNIs naval, ousadamente construindo subma-

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rinos em segredo até o momento em que chill, em seu livro sobre a Segunda Guerra fosse oportuno para amedrontar seus anti- Mundial: “a única coisa que realmente me gos inimigos. Conforme declarou o próprio amedrontou durante a guerra foram os U- primeiro-ministro britânico, Winston Chur- Boats” (CHURCHILL, 2013).

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Submarinos; Marinha da Alemanha; Segunda Guerra Mundial;

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O CONTRATO DE AUTONOMIA DE GESTÃO: O plano de gestão estratégica em uma OMPS*

Carlos Eduardo de Freitas Savioli** Capitão de Corveta (EN)

SUMÁRIO

Introdução Histórico A natureza jurídica das OMPS e seus efeitos Contribuições constitucionais e legislativas à ampliação da Autonomia Gerencial das OMPS Restrições jurídicas à Autonomia de Gestão das OMPS Restrições Trabalhistas à Autonomia Gerencial das OMPS Restrições constitucionais-tributárias à autonomia financeiro-orçamentária das OMPS Restrições administrativas à ampliação da Autonomia Gerencial das OMPS Sugestões para aumentar a Autonomia de Gestão das OMPS Transformação da OMPS em uma Agência Executiva Inclusão em lei das metas previstas no Contrato de Autonomia de Gestão Inclusão de proteções legais contra contingenciamentos orçamentários Conclusão

* N.R.: Monografia apresentada à Escola de Guerra Naval como parte do Curso Superior. ** N.R.: Gerente de Sistemas de Combate da Diretoria-Geral do Material da Marinha. É bacharel em Direito e em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Engenharia Elétrica e engenheiro eletrônico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. O CONTRATO DE AUTONOMIA DE GESTÃO: O plano de gestão estratégica em uma OMPS

INTRODUÇÃO no 200/67 e ao princípio constitucional da legalidade (idem, 1988). Além disso, s Organizações Militares Prestadoras há o equívoco de o constituinte brasileiro Ade Serviço (OMPS) surgiram no or- ter escolhido o instituto do contrato como denamento jurídico brasileiro no contexto instrumento de ampliação dessa autonomia. da reforma do aparelho do estado imple- Essas restrições, de ordem constitucional, mentada nos anos 1990, que tinha como trabalhista, financeira, tributária e adminis- um dos seus propósitos globais a limitação trativa, atingem significativamente as auto- da atuação estatal, por meio da transferên- nomias gerencial, orçamentária e financeira cia, sempre que possível, de serviços não das OMPS, conforme será demonstrado. exclusivos do Estado à iniciativa privada O propósito principal deste trabalho é, (BRASIL, 1995, p. 45). Esta transferência portanto, mostrar como a autonomia das poder-se-ia ocorrer mediante privatização OMPS pode ser interpretada à luz do direito de estatais ou implantação de contratos de brasileiro e como o seu próprio processo gestão nos órgãos que não pudessem ser histórico de formação terminou criando privatizados (ibid., p. 47). grandes restrições administrativas para Dessa forma, por meio da Lei no os seus dirigentes. A partir desse quadro, 9.724/98, o Poder Executivo foi autori- surge como um propósito secundário deste zado a qualificar como OMPS órgãos da trabalho a sugestão de alterações no ordena- Administração Pública para os quais pode- mento jurídico brasileiro capazes de afastar riam ser concedidas autonomias gerencial, algumas dessas restrições. orçamentária e financeira (idem, 1998b), a Este trabalho divide-se em mais seis partir de um contrato firmado entre a OMPS títulos. Nos títulos 2, 3 e 4 são apresentados, e o Poder Executivo federal (idem, 1988). respectivamente, o histórico das OMPS, a Dentre as possibilidades de autonomia sua natureza jurídica no direito brasileiro concedidas às OMPS, estariam a de gerar e as contribuições legislativas, ocorridas suas próprias receitas, a de aplicá-las em nos anos 1990, que tinham como propósito sua atividade-fim, a de contratar pessoal conceder-lhes maior autonomia administra- pelo regime jurídico da Consolidação das tiva. Nos títulos 5 e 6 serão apresentadas, Leis do Trabalho (CLT) e a de possuir um respectivamente, as restrições legais que limite de dispensa de licitação equivalente existem para as OMPS justamente devido à ao dobro das outras OM das Forças Arma- sua própria natureza jurídica e as sugestões das (idem, 1998b). de alterações legislativas que poderiam Ao analisar as verdadeiras possibili- afastar algumas dessas restrições. Por fim, dades jurídicas de autonomia das OMPS, no título 7, é apresentada a conclusão. será visto que essa autonomia ainda sofre severas restrições jurídicas à sua plenitude, HISTÓRICO apesar de ter havido uma relativa amplia- ção devido a alterações constitucionais e Um dos motivos que levaram à criação legislativas empreendidas nos anos 1990. da sistemática OMPS na Marinha do Bra- Todas essas restrições derivam, direta ou sil (MB), em 1994, foi a necessidade de a indiretamente, do fato de a OMPS ter en- instituição conhecer o custo de posse da quadrada sua natureza jurídica como órgão sua própria estrutura industrial, utilizada da Administração Pública Direta e, portan- na prestação de serviços de manutenção to, subordinada ao regime do Decreto-Lei de seus meios (BRASIL, 2008, p. 1-1). A

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solução encontrada pela MB foi a de dotar fixação de metas de desempenho para o determinadas Organizações Militares (OM) órgão ou entidade, cabendo à lei dispor com um complexo sistema de contabilidade sobre: de custos e controles internos, gerador de I – o prazo de duração do contrato; informações financeiras que hoje permitem II – os controles e critérios de avaliação à Alta Administração Naval visualizar tanto de desempenho, direitos, obrigações e seus reais custos quanto avaliar as “neces- responsabilidade dos dirigentes; sidades estratégicas de suas existências” III – a remuneração do pessoal. (BRA- (ibid., p. 1-2). SIL, 1998c, não paginado) A ideia de conceder maior autonomia de gestão para entes da Administração Pública Além disso, a então nova redação dada Direta, entretanto, nasceu do conjunto de pela EC 19/98 ao caput do artigo 39 da reformas do aparelho do Estado idealizado CRFB/88 revogava tacitamente a obrigação no governo Fernando Henrique Cardoso de União, Estados e Municípios manterem (FHC) e apresentada no documento Plano o Regime Jurídico Único (RJU) (BRASIL, Diretor da Reforma do Aparelho do Estado 1990) para seus servidores, instituindo, (idem, 1995), que expunha a intenção do assim, um novo regime de “contrato de Poder Executivo de tornar mais moderna emprego público” (idem, 2007, p. 807), em a administração pública e facilitar o seu que a contratação de pessoal poder-se-ia ajuste fiscal (SILVA, 2000, p. 18). Entre dar pelo regime da CLT, um importante as medidas propostas nesse plano estava o passo à consecução da autonomia gerencial “aperfeiçoamento do sistema jurídico-le- das OMPS. gal” (BRASIL, 1995, p. 49), com emendas Cerca de seis meses depois, em conso- à Constituição da República Federativa do nância com o novo substrato constitucional, Brasil (CRFB/88), “de maneira a remover foi promulgada, em 1o de dezembro de os constrangimentos existentes que impe- 1998, a Lei no 9.724, que dispunha sobre dem a adoção de uma administração ágil e a autonomia de gestão das OMPS, insti- com maior grau de autonomia” (ibid., p. tuindo o contrato de gestão, a contratação 49, grifo nosso). pelo regime da CLT, a substituição gradual Dessa forma, o fundamento constitucio- de servidores por empregados públicos, a nal que permitiu o surgimento das OMPS dispensa de licitação por um limite maior no ordenamento jurídico consubstanciou-se e a geração autônoma de receitas comple- na Emenda Constitucional (EC) no 19/98, mentares próprias por meio da prestação de 5 de junho de 1998, que, ao incluir o §8o de serviços a entes governamentais e ex- no artigo 37, possibilitou ao Poder Público tragovernamentais, além de ter autorizado a concessão de maior autonomia aos seus a contratação de até 10 mil empregados órgãos da administração direta e indireta, públicos (idem, 1998b). Por sua vez, pelo in verbis: Decreto no 3.011/99, de 30 de março de 1999, o Poder Executivo Federal qualificou §8o A autonomia gerencial, orçamentá- 13 OM da MB como OMPS passíveis de ria e financeira dos órgãos e entidades sujeição a esse novo regime (idem, 1999c). da administração direta e indireta poderá Entretanto, em 5 de janeiro de 2000, os ser ampliada mediante contrato a ser partidos dos Trabalhadores (PT), Demo- firmado entre seus administradores e o crático Trabalhista (PDT), Comunista do poder público, que tenha por objeto a Brasil (PC do B) e Socialista Brasileiro

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(PSB) ajuizaram a Ação Direta de In- mento. Trata-se de um método subjetivo de constitucionalidade (Adin) no 2.135-4/DF classificação que, segundo Câmara, preten- (idem, 2007, p. 807) no Supremo Tribunal de fixar a categoria jurídica a que o instituto Federal (STF), para que fosse declarada a pertence, o gênero do qual aquele instituto inconstitucionalidade da quebra do RJU é espécie (CÂMARA, 2004, p. 142). Ao e os efeitos da então EC 19/98 fossem determinar-se o gênero de um instituto de suspensos até o julgamento final da ação direito, é possível saber quais são as regras (TRABALHADORES et al, 2000, p. 48). do ordenamento jurídico vigente aplicável Em 2 de agosto de 2007, o STF suspendeu a ele, para, a partir de uma interpretação os efeitos dessa EC e a Adin está pendente sistemática (DINIZ, 2009, p. 440), dar a de julgamento. Desde então, as OMPS essas regras o seu verdadeiro sentido e estão impossibilitadas de contratar pessoal estabelecer os efeitos das suas relações pela CLT (BRASIL, 2007, p. 940). jurídicas decorrentes. De forma simples, esta é a importância de se perquirir sobre A NATUREZA JURÍDICA DAS a natureza jurídica do instituto da OMPS: OMPS E SEUS EFEITOS saber o que lhe é permitido fazer, o que é proibido e sob quais circunstâncias. A subordinação do Estado brasileiro A correta determinação da natureza ao princípio constitucional da legalidade jurídica da OMPS é um processo analíti- (idem, 1988) torna imprescindível o debate co que, neste caso, perpassa pelo exame acerca da natureza jurídica de uma OMPS, da CRFB/88, do Código Civil de 2002 uma vez que ela é um órgão pertencente (CC/02), do Decreto-Lei (DL) 200/67, à Administração Pública, o que será de- da Lei de Consórcios Públicos (Lei no monstrado. De forma sucinta, o princípio 11.107/2005) e da Lei Complementar (LC) da legalidade está expresso no Artigo 5o, II no 97/1999. da CRFB/881, obrigando o cidadão a fazer o Pela CRFB/88, a União é dividida nos que estiver expresso em lei e desobrigando- poderes Executivo, Legislativo e Judiciário2 o de fazer o que nela não estiver. Como (BRASIL, 1988), sendo que a Presidência da é do Estado brasileiro a prerrogativa de República e seus ministérios, de acordo com promulgar as leis, a consequência imediata o DL 200/67, fazem parte da Administração da aplicação desse princípio é a imposição Federal do Poder Executivo3 (idem, 1967). ao Estado da restrição de só poder fazer Ainda, a União, pelo CC/02, é definida como o que estiver expresso em lei, nada mais. uma “pessoa jurídica de direito público in- Portanto, as omissões da lei significam, ao terno”4 (idem, 2002, não paginado). mesmo tempo, permissões ao cidadão e Já as Forças Armadas, pela CRFB/88, proibições ao Estado. são “instituições nacionais permanentes e A determinação da natureza jurídica de regulares”, organizadas “sob a autoridade um instituto do direito é uma das atividades suprema do Presidente da República”5 mais importantes desse campo do conheci- (idem, 1988, não paginado). A LC 97/1999

1 CRFB/88, art. 5, II – “Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.” (BRASIL, 1988, não paginado) 2 CRFB/88, Art. 2o. 3 DL 200/67, arts. 1o, 2o e 4o. 4 CC/02, Art. 41. 5 CRFB/88, Art. 142.

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subordina-as ao ministro de Estado da Quanto ao tipo de Administração Fede- Defesa e dá-lhes o direito de dispor de ral, doravante Administração Pública, a que “estruturas próprias”6 (idem, 1999a, não as OMPS pertencem, Direta ou Indireta, é paginado). necessário que seja feita uma análise com- O DL 200/67 e a Lei de Consórcios parativa com todas as entidades pertencen- Públicos, por sua vez, apresentam as carac- tes à Administração Pública, tendo como terísticas e espécies jurídicas a que pertence referência a aplicação pura do princípio qualquer órgão da Administração Federal, da legalidade, para que se verifique qual o que já é o suficiente para que se busque forma das espécies existentes uma OMPS o enquadramento da natureza jurídica das pode assumir. OMPS em uma dessas espécies. Ressalte-se Ao comparar-se a OMPS com as espé- que, pelo princípio da legalidade, as espé- cies de empresa pública e de sociedade de cies jurídicas relacionadas na legislação economia mista da Administração Pública apresentada são as únicas que existem, Indireta, conclui-se que a OMPS não pode uma vez que um órgão do Estado não po- assumir a forma de nenhuma delas, pois derá pertencer a uma espécie jurídica não ambas são definidas como pessoas jurídi- prevista em lei. cas de direito privado para exploração de Pelo DL 200/67, a Administração Públi- atividade econômica e são criadas por lei9 ca Federal divide-se em Direta e Indireta, (idem, 1967). A lei 9.724/98 não autoriza sendo a Indireta composta por entidades a criação das OMPS como nenhuma des- de personalidade jurídica própria, cujas sas duas espécies, pois não as menciona. espécies são autarquias, empresas públicas, O enquadramento da OMPS como uma sociedades de economia mista e funda- fundação pública também não é possível, ções públicas7 (BRASIL, 1967). A Lei de pois o DL 200/67 exclui as entidades de Consórcios Públicos acrescentou também direito público da execução das atividades a espécie do Consórcio Público a esse rol8 de uma fundação10 (BRASIL, 1967), e a Lei (idem, 2005). 9.724/98 deixa expresso que as OMPS são Diante do exposto, não há dúvida de que, entidades de direito público, pois conser- ao subordinar-se, em última instância, ao vam os atributos de militares, pertencem à Comando da Marinha, sendo este, por sua Marinha e devem ser dirigidas por oficiais11 vez, subordinado ao Ministério da Defesa (idem, 1998b). e à Presidência da República, as OMPS A OMPS também não pode possuir pertencem à Administração Pública Federal natureza jurídica de autarquia, pois aquela, da União, ou seja, são órgãos de uma pessoa ao contrário desta, não goza de autonomia jurídica de direito público interno. patrimonial, apenas gerencial, orçamentária

6 LC 97/99, Art. 3o. 7 DL 200/67, Art. 4o. 8 Lei 11.107/2005, Art. 6o, Io. 9 DL 200/67, Art. 5o, II e III. 10 DL 200/67, Art. 5o – “Para os fins desta Lei, considera-se: [...] IV – Fundação Pública – a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou entidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio gerido pelos respectivos órgãos de direção e funcionamento custeado por recursos da União e de outras fontes. (BRASIL, 1967, não paginado, grifo nosso) 11 Lei 9.724/98, Arts. 1o e 2o.

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e financeira12. Finalmente, a OMPS tam- Como consequência dessa natureza ju- bém não pode ser um consórcio público, rídica estabelecida, as OMPS não possuem pois este exige a associação entre entes personalidade jurídica própria15 e sujeitam- diferentes da federação com a única fina- se ao regime jurídico da Administração lidade de atender a objetivos de interesse Pública (DI PIETRO, 2011, p. 61), em comum que a União tenha com estados especial aos princípios constitucionais e/ou municípios13 (idem, 2005). No caso da prescritos na CRFB/88, Art. 37: legalidade, OMPS, o único potencial interesse comum impessoalidade, moralidade, publicidade e da União com outros entes seria a presta- eficiência (BRASIL, 1988). ção de serviços a órgãos governamentais dos estados ou municípios, mas a Lei no CONTRIBUIÇÕES 9.724/98 estabelece que esses serviços só CONSTITUCIONAIS E podem possuir caráter complementar, e LEGISLATIVAS À AMPLIAÇÃO não principal14 (idem, DA AUTONOMIA 1998b). GERENCIAL DAS Por exclusão a to- As OMPS não possuem OMPS das as espécies de ór- personalidade jurídica gãos definidos como O fato de não pos- pertencentes à Ad- própria e sujeitam-se suir personalidade jurí- ministração Pública ao regime jurídico da dica dificulta sobrema- Indireta, com cujas Administração Pública, neira o estabelecimento características legais dos efeitos jurídicos as OMPS não encon- especial aos princípios advindos de um vínculo traram uma compa- constitucionais: legalidade, de natureza contratu- tibilidade perfeita, e al da Administração em consonância com impessoalidade, Pública Direta com as o princípio da lega- moralidade, publicidade e OMPS, conforme será lidade, para o qual eficiência (BRASIL, 1988) demonstrado. Mesmo não pode existir um assim, as alterações órgão da Adminis- constitucionais trazi- tração Pública sem compatibilidade com das pela EC 19/9816 e a promulgação da nenhuma espécie jurídica estabelecida Lei 9.724/98 foram capazes de, sob uma na lei, a natureza jurídica da OMPS so- perspectiva jurídica teórica, ampliar a au- mente pode ser determinada, de forma tonomia gerencial de uma OM qualificada residual, como órgão da Administração como OMPS. Entretanto, essa ampliação de Pública Direta, a única categoria legal autonomia só pode ser constatada quando restante. comparada com o nível de autonomia ge-

12 DL 200/67, Art. 5o, I, comparado com a Lei 9.724/98, art. 2o. 13 Lei 11.107/2005, Art. 1o. 14 Lei 9.724/98, Art. 1o, III. 15 Pela aplicação do princípio da legalidade, a omissão do DL 200/67 a respeito da personalidade jurídica dos órgãos da Administração Pública Direta indica que estes não possuem personalidade jurídica. Se a tivessem, isto estaria expresso, como fez o legislador ao deixar expresso, por exemplo, no art. 4o, II, que as entidades da Administração Pública Indireta são “dotadas de personalidade jurídica própria” (BRASIL, 1967, não paginado). 16 Com a introdução do Art. 37, §8o à CRFB/88.

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rencial que uma OM das Forças Armadas estabelecimento de um contrato entre a ordinariamente possui. OMPS e o Poder Público. O Poder Público Antes de estudar esses efeitos jurídicos, tem que ser aqui entendido como o Poder torna-se necessária uma análise para se Executivo Federal, já que, pelo Decreto determinar agora a natureza jurídica do 3.011/99, este Poder não somente exerce Contrato de Autonomia de Gestão, que é o direito de qualificar as OMPS da MB justamente o instrumento criado pelo cons- como também estipula a condição de que tituinte para a ampliação dessa autonomia. essa qualificação só se torna juridicamen- É notória a relação do direito com a te eficaz com a celebração daquilo que hermenêutica, sendo esta definida como denominou como Contrato de Autonomia a “teoria científica da arte de interpretar” de Gestão17 (BRASIL, 1999c, não pagina- (MAXIMILIANO, 2008, p. 1). A hermenêu- do). Deduz-se, então, que as partes desse tica jurídica possui uma técnica, orienta-se hipotético contrato são a OMPS e o Poder por regras reconhecidas e busca, ao fim e Executivo Federal. ao cabo, “determinar o sentido e o alcance Ocorre que, ao pertencerem ambos à das expressões em direito” (ibid., p. 1). Uma Administração Pública Direta Federal, as das regras de hermenêutica jurídica mais partes desse contrato são a mesma pessoa, conhecidas é a de que “não se presumem, na o que viola um dos requisitos jurídicos lei, palavras inúteis” (ibid., p. 204), ou seja, da existência de um contrato, que é a sua todas as palavras em textos legais, contra- bilateralidade. Portanto, por uma impos- tuais ou jurisprudenciais são dotadas de um sibilidade jurídica, o Contrato de Auto- valor jurídico específico, ainda que pareçam nomia de Gestão é uma figura contratual inúteis ou supérfluas. Ao intérprete, cabe o inexistente, sendo também inexistentes os trabalho de encontrar esses valores jurídicos. efeitos jurídicos contratuais que pretendia Isto posto, determinados vocábulos já produzir. Não se está aqui negando o fato possuem acepções jurídicas amplamente de que existe uma relação jurídica entre aceitas e, quando mencionados no texto, a OMPS e a Administração Pública, mas suscitam nos intérpretes, não raro, um torna-se, então, necessário analisar qual é complexo sistema de significados e rela- a natureza dessa relação e determinar os ções jurídicas aplicáveis. Em direito, dois seus reais efeitos jurídicos, já que estes não sinônimos podem ter significados jurídicos podem ser os de um contrato. completamente diferentes. Porém, antes de analisar qual a verda- Este é o caso do vocábulo contrato. deira natureza da relação jurídica existente Na sintética definição de Caio Mário da entre o Poder Público e a OMPS, é possível Silva Pereira, um dos mais importantes e deduzir que o simples afastamento da natu- respeitados doutrinadores do direito civil reza contratual já produziu imediatamente o brasileiro da segunda metade do século seu primeiro efeito jurídico, benéfico para XX, um contrato é um “negócio jurídico as OMPS. Como visto, é a Lei 9.724/98 bilateral”, um “acordo de vontades com que autoriza o Poder Executivo a qualificar a finalidade de produzir efeitos jurídicos” uma OM da MB como OMPS. Uma vez (PEREIRA, 2005, p. 7). qualificadas, as OMPS passam a dispor No caso em análise, a CRFB/88 e a Lei das prerrogativas ali relacionadas. O Po- 9.724/98 autorizaram a possibilidade do der Executivo, por sua vez, no Decreto

17 Decreto 3.011/99, art. 1o, §1o.

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3.011/99, determinou que 13 OM da MB força da própria lei” (DI PIETRO, 2011, só poderiam dispor efetivamente da sua p. 341). condição de OMPS após a celebração do Há, entretanto, quem, após uma longa Contrato de Autonomia de Gestão18 (ibid., análise interpretativa sobre como o instituto não paginado). Portanto, o efeito de dispor do contrato entre órgãos da Administração das prerrogativas de OMPS pelas 13 OM Pública, conclua, com indignação, que ele estaria suspenso até que o contrato fosse simplesmente inexiste, posto que fruto de celebrado com cada uma delas. Ora, como péssima técnica jurídica, conforme se ex- esta condição suspensiva é juridicamente pressa Celso Antônio Bandeira de Mello: impossível19, nula é a suspensão pretendi- Assim, tal dispositivo constitucional – da20 e as prerrogativas de OMPS passaram no que concerne ao contrato entre órgãos a valer para aquelas 13 OM desde o dia de – haverá de ser considerado como publicação do Decreto. Logo, as 13 OM não escrito e tido como um momento qualificadas como OMPS nunca precisaram de supina infelicidade em nossa história esperar pela celebração de um Contrato de jurídica, pela vergonha que atrai em Autonomia de Gestão para, por exemplo, nossa cultura, pois não há acrobacia ter o seu limite de despesa automaticamente exegética que permita salvá-lo e lhe aumentado para 20% nos casos de dispensa atribuir um sentido compatível com o de licitação (BRASIL, 1993). que está na própria essência do Direito Quanto ao desejo do constituinte de e das relações jurídicas. (MELLO, p. ampliar a autonomia da OMPS com o Poder 227, grifos nossos) Público, por meio de uma relação jurídica que, como visto, não é contratual, torna-se Com o devido respeito à posição doutri- necessário, extraordinariamente, encontrar nária e ao vaticínio de um dos mais famosos um sentido jurídico diverso do convencio- doutrinadores do direito administrativo nado para o termo contrato. brasileiro, citada acima, acredita-se que Ao analisar essa espécie de contrato, Di há, sim, uma acrobacia exegética capaz de Pietro entende que, ao não se poder admitir salvar o Contrato de Autonomia de Gestão, que a mesma pessoa jurídica, a União, “te- conforme será demonstrado a seguir. nha interesses contrapostos defendidos por A natureza da relação jurídica denomi- órgãos diversos”, os contratos de gestão nada Contrato de Autonomia de Gestão, “correspondem, quando muito, a termos entre a OMPS e o Poder Executivo Federal, de compromisso assumidos por dirigentes só pode ser deduzida analiticamente se se de órgãos, para lograrem maior autonomia partir do vínculo de subordinação existente e se obrigarem a cumprir metas”. Conti- entre o Presidente da República (chefe do nuando, ela reduz o contrato de gestão a Poder Executivo), uma das partes do con- somente um “incentivo”, porque as metas trato, e o dirigente da OMPS, a outra parte. fixadas já correspondem àquelas a que os Sendo o dirigente de OMPS, por força dirigentes estão “obrigados a cumprir por de lei, um oficial da Marinha21, está ele

18 Decreto 3.011/99, art. 1o. 19 Como visto, não é possível uma pessoa jurídica celebrar contrato consigo mesma. 20 CC/02, art. 123 – “Invalidam os negócios jurídicos que lhe são subordinados: I – as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas.” (BRASIL, 2002, não paginado) 21 Lei 9.724/98, Arts. 1o e 2o.

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submetido aos princípios constitucionais deve buscar a verdadeira natureza jurídica da hierarquia e da disciplina que regem a desse contrato. relação entre as Forças Armadas e o Presi- O efeito jurídico de um contrato é dente da República22 (BRASIL, 1988). Por “criação de direitos e obrigações” entre as sua vez, a disciplina é definida legalmente suas partes (PEREIRA, 2005, p. 7). Por no Estatuto dos Militares como “a rigorosa sua vez, uma obrigação, ainda no sintético observância e o acatamento integral das ensinamento de Caio Mário, é uma “nor- leis, regulamentos, normas e disposições ma de submissão” (idem, 2004, p. 4). Das que fundamentam o organismo militar e várias classificações existentes sobre as coordenam seu funcionamento” (idem, obrigações na doutrina do direito civil, é 1980, não paginado), a qual deve ser da diferenciação conceitual entre as obriga- mantida “em todas as circunstâncias da ções de meio e as obrigações de resultado vida entre militares da ativa” (ibid., não que será encontrada a essência do Contrato paginado). Portanto, em tese, uma ordem de Autonomia de Gestão. recebida por um militar de sua cadeia de As obrigações de resultado são aquelas comando deverá ser cumprida, sob pena que se consideram atingidas “quando de se cometer uma o devedor cumpre o contravenção disci- resultado final” (ibid., plinar, sem prejuízo O Contrato de Autonomia p. 48), e as obrigações de outras sanções por de Gestão tem a natureza de meio são aquelas eventuais danos cau- em que a sua “inexe- sados. Assim, o vín- jurídica de um ato cução caracteriza-se culo de subordinação administrativo para o pelo desvio de certa hierárquica entre uma cumprimento de obrigações conduta ou omissão de OM e a Administra- certas precauções, sem ção Pública Federal de meio. Não tem eficácia se cogitar do resultado é diferente daquele jurídica de um contrato final” (ibid., p. 48). existente entre os ór- Dessa forma, em uma gãos da Administra- delas, o devedor se ção Pública Direta dirigidos por civis obriga a atingir o resultado e, na outra, por ser mais rigoroso e, portanto, menos o devedor se obriga a esforçar-se para autônomo. atingir o resultado, não importando se o Entretanto, apesar do rigor do Estatuto conseguiu de fato. dos Militares, o legislador desejou dar Neste momento, torna-se ainda perti- mais autonomia a determinadas OM a que nente a introdução de mais um conceito qualificou como OMPS e criou para isso jurídico da disciplina de Direito Admi- um instrumento a que deu o nome de Con- nistrativo, a de “ato administrativo”. trato de Autonomia de Gestão. A natureza Diferentemente dos atos normativos e desse contrato tem de ser diferente da de dos atos judiciais, o ato administrativo uma ordem recebida, senão haveria uma é aquele que expressa a declaração de redundância indesejada no ordenamento vontade do Estado, produzindo efeitos jurídico, com dois institutos iguais. Portan- concretos imediatos (DI PIETRO, 2011, to, sob esta diretriz hermenêutica é que se p. 196). Maria Sylvia Zanella di Pietro

22 CRFB/88, art. 142.

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define-o como “a declaração do Estado ou jurídica de um contrato, porque não o é. de quem o represente, que produz efeitos Suas partes não estão sujeitas à legislação jurídicos imediatos, com observância da aplicável aos contratos, quer privados quer lei, sob o regime jurídico de direito público administrativos, o que já tem o condão de e sujeita ao controle pelo Poder Judiciário” afastar de plano, por exemplo, em caso de (ibid., p. 198). qualquer inadimplemento do dirigente da Conceituada a diferença entre obriga- OMPS, sua sujeição aos institutos jurídicos ções de meio e de resultado e introduzido contratuais da responsabilidade civil, da o conceito de ato administrativo, pode-se exceção de contrato não cumprido, da reso- deduzir que, por força dos princípios cons- lução por onerosidade excessiva (BRASIL, titucionais da hierarquia e da disciplina, as 2002) e outros mais. A lista é extensa. ordens que qualquer militar recebe de sua No plano militar, o mais importante cadeia de comando possuem a natureza efeito jurídico é o de que o dirigente de jurídica de uma obrigação de resultado, OMPS não poderá incidir em contravenção uma vez que têm de ser rigorosamente ob- disciplinar no eventual caso de meta não servadas. Por outro lado, as obrigações as- atingida, exceto se for comprovada falta sumidas pelo dirigente de diligência na busca de uma OMPS em um do resultado. A única contrato de autonomia No plano militar, o mais sanção aplicável pela de gestão teriam a na- importante efeito jurídico Administração Pública tureza de obrigações Federal, neste caso, de meio, posto que, é o de que o dirigente seria a desqualificação ao serem necessaria- de OMPS não poderá da OMPS, com a cor- mente diferentes das incidir em contravenção respondente perda das ordens, só poderiam prerrogativas previstas obrigá-lo a se esforçar disciplinar no eventual caso na Lei 9.724/98. para alcançar o resul- de meta não atingida tado. Portanto, o Con- RESTRIÇÕES trato de Autonomia JURÍDICAS À de Gestão tem a natureza jurídica de um AUTONOMIA DE GESTÃO DAS ato administrativo para o cumprimento de OMPS obrigações de meio. Se não for assim, não seria necessário que o legislador trouxesse Apesar dos avanços legislativos, é da à existência do ordenamento jurídico um inafastável natureza jurídica de órgão da instituto inútil, o Contrato de Autonomia Administração Pública Direta e da con- de Gestão, se os seus efeitos pudessem ser sequente subordinação ao princípio da inclusive alcançados de outro modo mais legalidade que nascem as maiores restri- simples, isto é, a partir das próprias ordens ções jurídicas às autonomias concedidas transmitidas pela cadeia de comando. legalmente às OMPS, quando suas relações De tudo o que foi aqui exposto, decor- jurídicas são analisadas de forma sistemá- rem mais alguns efeitos jurídicos impor- tica à luz do ordenamento jurídico vigente. tantes, além daquele já citado no início As restrições às autonomias gerencial, orça- desta análise. mentária e financeira podem ser divididas Um dos efeitos é o de que o Contrato em trabalhistas, constitucionais, tributárias de Autonomia de Gestão não tem eficácia e administrativas.

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Restrições trabalhistas à autonomia pessoal não será absoluta, uma vez que gerencial das OMPS estará sempre condicionada à existência de uma autorização. A suspensão, desde 2007, dos efeitos Se, por outro lado, vier a Adin a ser jul- de contratação de pessoal pelo regime gada procedente e inadmitida a quebra do da CLT pelo STF constitui-se em uma RJU, todos os dispositivos da Lei 9.724/98 grande restrição à autonomia gerencial das referentes à possibilidade de contratação de OMPS no que diz respeito à flexibilidade mão de obra pelo regime da CLT tornar- de contratação e demissão de pessoal. se-ão inconstitucionais e não poderão mais Constitucionalmente e sob a égide da Lei ser aplicados, afetando irreversivelmente 8.112/90, RJU dos servidores civis federais, a autonomia gerencial das OMPS nesse não é possível à Administração Pública aspecto. Direta contratar pessoal civil sem concur- so público (BRASIL, 1988) nem demitir Restrições constitucionais-tributárias à sem o devido Processo Administrativo autonomia financeiro-orçamentária das Disciplinar (PAD) (idem, 1990), em razão OMPS da estabilidade (idem, 1988). Quanto aos servidores militares, estes também não A Lei 9.724/98 concedeu autonomia podem ser excluídos do serviço ativo sem financeira às OMPS ao autorizar-lhes a os respectivos Conselhos de Justificativa geração de receitas a partir de duas formas: ou de Disciplina, o que só pode ocorrer pela prestação de serviços a órgãos da MB25 em casos de indignidade para o posto ou a ou, complementarmente, pela prestação bem da disciplina (idem, 1980). Portanto, de serviços a outros órgãos governamen- enquanto a Adin não for julgada, a OMPS tais e extragovernamentais, nacionais ou não possui autonomia alguma para contra- estrangeiros26, com a aplicação de ambas tar mão de obra. as receitas no custeio de suas atividades27 Caso a Adin venha a ser julgada im- (BRASIL, 1998b). Por sua vez, partindo- procedente e seja então admitida a quebra se do conceito de autonomia orçamentária do RJU do serviço público federal, a proposto por Kiyoshi Harada, segundo o contratação de empregados públicos pelas qual um órgão orçamentariamente autô- OMPS dependerá, ainda, da autorização nomo é aquele que se constitui “em uma conjunta do comandante da Marinha23 e unidade orçamentária” e que pode “utilizar- do Ministério da Administração Federal se das verbas com que foi contemplado” e Reforma do Estado24 (idem 1998b), este (HARADA, 2014, não paginado), é possí- extinto pelo Decreto no 2.923/99 e sucedido vel deduzir que, juridicamente, a autonomia em suas atribuições pelo atual Ministério orçamentário-financeira de uma OMPS é do Planejamento Orçamento e Gestão o direito que seu dirigente possui de apre- (idem, 1999b). Ainda que haja uma decisão sentar uma proposta orçamentária, de sua judicial favorável do STF, a autonomia do unidade orçamentária, à Lei Orçamentária dirigente da OMPS para contratação de Anual (LOA), contemplando nela todas as

23 Sucessor das atribuições do ministro de Estado da Marinha. 24 Lei 9.724, Art. 7o. 25 Lei 9.724/98, art. 1o, II. 26 Lei 9.724/98, art. 1o, III. 27 Lei 9.724/98, art. 1o, IV.

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receitas estimadas que poderá auferir com que desses órgãos estão excluídas quais- a prestação de seus serviços, de acordo quer pessoas jurídicas de direito privado, com suas disponibilidades de mão de obra por força do disposto no parágrafo 2o do ou de capital, somado ao direito de utilizar Artigo 173 da CRFB/8829. Partindo-se financeiramente a dotação orçamentária de uma interpretação teleológica desse consignada em suas próprias atividades, dispositivo constitucional (MAXIMILIA- ao executar o orçamento. NO, 2008, p. 124-125), deduz-se que a Outro aspecto legal que contribui para concessão de isenções fiscais àqueles que maior autonomia financeiro-orçamentária exploram diretamente uma atividade eco- da OMPS é a faculdade de se poder em- nômica viola o direito constitucional da pregar integralmente as receitas comple- livre concorrência30 ao torná-la desleal e mentares dos serviços prestados a outros injusta em relação ao particular que explora entes como movimentação e empenho28 a mesma atividade econômica, pois este não (BRASIL, 1998b). A partir dessa autori- poderá deixar de considerar, em seu preço zação legal, poderia o dirigente da OMPS final, o peso dos tributos que é obrigado determinar, a priori, em sua proposta de a pagar. Por isso, o constituinte negou a LOA, o percentual de mão de obra ou isenção fiscal às empresas públicas e às capital de sua OMPS que empregará em sociedades de economia mista, entes que serviços extra MB, e que servirá como podem explorar atividade econômica em investimento no próprio patrimônio ou na nome do Estado31 (BRASIL, 1967). Ora, formação de seu pessoal. se, constitucionalmente, todos os entes da Para que essa autonomia financeiro-or- Administração Pública Direta gozam de çamentária seja efetiva, torna-se imprescin- isenção fiscal32, então isto significa que eles dível, então, que o orçamento destinado às devem abster-se de explorar toda atividade OMPS não seja objeto de contingenciamen- econômica na qual haja qualquer espécie tos, sob pena de haver serviços prestados de concorrência com pessoas físicas ou sem a devida contraprestação financeira. jurídicas de direito privado. Isso inclui as A possibilidade de geração autônoma de empresas públicas e sociedades de econo- receitas, autorizada pela lei, sofre também mia mista, visto que são pessoas jurídicas algumas restrições quando interpretada sob de direito privado criadas para a exploração uma perspectiva constitucional-tributária. de atividades econômicas33. Seja qual for o sentido atribuído pelo legis- Vislumbram-se, porém, três exceções lador aos órgãos extragovernamentais a que a essa regra. A primeira dá-se no caso de a OMPS pode prestar serviços, entende-se haver monopólio estatal para o exercício

28 Lei 9.724/98, art. 4o. 29 CRFB/88, art. 173, §2o – “As empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar de privilégios fiscais não extensivos ao setor privado.” (BRASIL, 1988, não paginado) 30 CRFB/88, art. 170, IV. 31 DL 200/67, Art. 5o, II e III. 32 CRFB/88, art. 150 – “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] VI – Instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros.” (BRASIL., 1988, não paginado, grifos nossos) 33 DL 200/67, Art. 5o, II e III.

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de determinada atividade econômica, o órgãos extragovernamentais, se pessoas que, pela CRFB/88, ocorre nas hipóteses físicas ou jurídicas de direito privado e de previstas em seu artigo 17734, caso em que nacionalidade brasileira, a OMPS só poderá não há concorrência de direito. Neste caso, prestar serviços nos casos de inexistência poderia a OMPS prestar serviços aos entes de concorrência de direito ou de fato. Se da Administração Pública Indireta que ex- os órgãos extragovernamentais forem es- ploram esse monopólio. A segunda hipótese trangeiros e privados, o serviço somente dá-se no caso de atividades econômicas não poderá ser prestado fora do território nacio- exploradas por particulares em virtude de nal, desde que não viole a correspondente qualquer outro motivo, caso em que não legislação estrangeira. haveria concorrência de fato. A terceira e última hipótese, embora apenas teórica, Restrições administrativas à ampliação dá-se no caso de prestação de serviços a da Autonomia Gerencial das OMPS qualquer particular estrangeiro, desde que ocorra fora do território nacional, local onde O fato de ao dirigente da OMPS apli- o Estado brasileiro não exerce jurisdição e, carem-se os princípios constitucionais da portanto, não é obrigado a garantir o direito hierarquia e da disciplina, uma vez que ele da livre concorrência. Naturalmente, esta permanece como representante de um órgão terceira exceção ainda está condicionada militar subordinado à Administração Públi- ao respeito pela legislação do país onde o ca Direta Federal, será motivo de restrições serviço da OMPS seria prestado. administrativas quando as ordens recebidas Portanto, da interpretação jurídica sis- de sua cadeia de comando, de algum modo, temática sobre a possibilidade de geração conflitarem com as ações que precisam ser de receitas complementares, deduz-se que a levadas a cabo para o alcance das metas autorização para a prestação de serviços da estabelecidas no Contrato de Autonomia OMPS está restrita, na esfera governamen- de Gestão. tal dos três entes da Federação35, somente Tome-se como um exemplo hipotético a órgãos da Administração Pública Direta, a ordem transmitida a uma OMPS para a fundações públicas, autarquias e consórcios prestação de um determinado serviço na públicos, todos estes, pelo princípio da MB, logo após a ocorrência de um contin- legalidade, impedidos de explorar ativida- genciamento no orçamento da União, o que des econômicas. Na esfera governamental impedirá aquela OMPS de obter a sua res- estrangeira, não há restrições. Quanto aos pectiva receita e dificultará o cumprimento

34 CRFB/88, art. 177 – “Constituem monopólio da União: I – a pesquisa e lavra das jazidas de petróleo e gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos; II – a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro; III – a importação e exportação dos produtos e derivados básicos resultantes das atividades previstas nos incisos anteriores; IV – o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados básicos de petróleo produ- zidos no país, bem assim o transporte, por meio de conduto, de petróleo bruto, seus derivados e gás natural de qualquer origem; V – a pesquisa, a lavra, o enriquecimento, o reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios e minerais nucleares e seus derivados, com exceção dos radioisótopos, cuja produção, comercialização e utilização poderão ser autorizadas sob regime de permissão, conforme as alíneas b e c do inciso XXIII do caput do art. 21 desta Constituição Federal.” (BRASIL, 1988, não paginado) 35 União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

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de suas metas financeiras estabelecidas no e disciplina podem contranger-lhe a perse- contrato de gestão. No caso da ocorrência guição das metas dispostas no Contrato de desse tipo de conflito, não cabe ao dirigente Autonomia de Gestão, em casos de conflito da OMPS decidir entre o cumprimento da com as ordens recebidas de sua cadeia de ordem recebida ou o atendimento à cláusula comando. do contrato, uma vez que o descumpri- Para alterar esse quadro e considerando mento desta, como visto, não o sujeita à a inafastável aplicação do princípio da responsabilidade jurídica, mas o daquela legalidade às OMPS, serão apresentadas fá-lo-á incidir em contravenção disciplinar. sugestões de mudanças legislativas que po- deriam trazer maior autonomia às OMPS, SUGESTÕES PARA AUMENTAR levando-se em conta os efeitos jurídicos e A AUTONOMIA DE GESTÃO DAS práticos dessas mudanças. OMPS Transformação da OMPS em uma Até o momento, foi apresentado que a Agência Executiva autonomia de uma OMPS aumentou timi- damente com as alterações legislativas em- Caso a OMPS fosse transformada em preendidas na década uma autarquia executi- de 1990, embora ainda va, haveria a aquisição seja mais ampla do que O único efeito prático de uma personalidade a de uma OM comum. visível para as OMPS é a jurídica e maior auto- O único efeito prático nomia, pois, segundo o visível para as OMPS prerrogativa de dispensa ensinamento de Celso é a prerrogativa de dis- de licitação pelo dobro do Antônio Bandeira de pensa de licitação pelo limite concedido aos outros Mello, as autarquias dobro do limite conce- “não são subordinadas dido aos outros órgãos órgãos da Administração a órgão algum do Esta- da Administração Pú- Pública Direta do, mas apenas contro- blica Direta. De resto, ladas” (MELLO, 2007, ao dirigente de uma p. 157). OMPS não é dada autonomia para contratar e A transformação de uma OMPS em demitir pessoal; as pessoas para quem podem uma autarquia executiva somente poderia ser prestados seus serviços, visando à geração ser feita em duas fases. A primeira, com da receita complementar, são reduzidas, o que a transformação da OMPS em uma autar- interfere nos seus investimentos; a sujeição a quia por meio de lei36; a segunda, com a eventuais contingenciamentos orçamentários transformação da autarquia em autarquia da União pode afetar o recebimento de seus executiva por ato do Presidente da Repú- recursos financeiros ou causar-lhe prejuízo; blica, seguindo o disposto no artigo 51 da e a subordinação aos princípios da hierarquia Lei 9.649/9837 (BRASIL, 1998a).

36 DL 200/67, art. 5o, I. 37 Lei 9.649/98, art. 51 – “O Poder Executivo poderá qualificar como Agência Executiva a autarquia ou fundação que tenha cumprido os seguintes requisitos: I – ter um plano estratégico de reestruturação e de desenvolvimento institucional em andamento. II – ter celebrado Contrato de Gestão com o respectivo Ministério supervisor.” (BRASIL, 1998a, não paginado)

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Como essa nova organização teria a natu- o Contrato de Autonomia de Gestão teria o reza jurídica de autarquia, passaria a pertencer condão de transformar, automaticamente, à Administração Pública Indireta. O primeiro as obrigações de meio em obrigações de efeito jurídico advindo disso é o de que essa resultado, as quais, inclusive, poderiam ter autarquia teria de deixar de ser uma OM e não precedência em relação às ordens recebidas mais poderia ser dirigida por um oficial, pois pela cadeia de comando, caso a lei estabele- não se poderia admitir que o seu dirigente, cesse ao dirigente de OMPS sanções mais sendo militar federal, não fosse subordinado a rigorosas do que as contravenções discipli- órgão algum do seu Comando de Força. Pela nares pelo seu descumprimento. mesma razão, essa nova autarquia não poderia Neste caso, a OMPS continuaria a ser uma lotar militares em seus quadros. OM, pertenceria à Administração Pública Uma vez dotada de maior autonomia, Direta e sofreria menos alterações administra- a lei criadora dessa suposta autarquia tivas em relação àquelas advindas da sugestão determinaria os objetivos gerenciais e anterior, mas o Contrato de Autonomia de administrativos a serem alcançados, o que Gestão deixaria de existir, pois seus direitos substituiria o instituto do contrato de gestão e obrigações agora emanariam de lei. e imporia obrigações de resultado a seus futuros dirigentes. Inclusão de proteções legais contra Naturalmente, esta sugestão seria a que contingenciamentos orçamentários atribuiria a maior autonomia possível aos novos órgãos sucessores das atividades Se, de acordo com a sugestão do item das OMPS, mas é evidente que uma des- anterior, as metas de autonomia de gestão centralização dessa natureza, se levada a tornarem-se legais, será necessário que a cabo, trará consequências de várias ordens OMPS disponha também de certas proteções para a MB, as quais precisariam ser deta- legais aos contingenciamentos orçamentá- lhadamente sopesadas em suas relações rios aos quais estará sujeita, e que poderão custo-benefício para a instituição. impedi-la de atingir as metas previstas. Como visto, a autonomia financeiro- Inclusão em lei das metas previstas no orçamentária de uma OMPS é a capaci- Contrato de Autonomia de Gestão dade de seu dirigente fazer a sua proposta orçamentária de acordo com as suas esti- Conforme demonstrado até aqui, o Con- mativas de mão de obra e capital para a trato de Autonomia de Gestão não possui na- prestação de serviços. Assim, por exemplo, tureza contratual e, sendo ato administrativo se uma OMPS industrial dispõe de 100 mil para o cumprimento de obrigações de meio, homens-hora (HH) para o próximo exercí- as metas ali estabelecidas têm menos força cio financeiro, então seu dirigente poderá cogente para os dirigentes das OMPS do que estimar em seu orçamento a dotação finan- ordens emanadas de sua cadeia de coman- ceira correspondente àqueles 100 mil HH. do, o que diminui a autonomia das OMPS. Caso, no decorrer do exercício financeiro Entretanto, devido à sempre inafastável apli- seguinte, haja um contingenciamento orça- cação do princípio da legalidade às OMPS, mentário de 20% para aquela OMPS, então a inclusão em texto legal das metas e dos seu dirigente terá de violar a obrigação legal conteúdos das cláusulas de que é composto de custeio de suas próprias despesas38, já

38 Lei 9.724/98, art. 1o, IV.

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que sua dotação orçamentária só será sufi- A partir de um método analítico de ciente agora para custear 80% das despesas interpretação da autonomia das OMPS no referentes à posse dos 100 mil HH. contexto do ordenamento jurídico brasilei- Uma vez que a OMPS não pode demitir ro, constatou-se que, embora estas sejam pessoal para compensar o prejuízo que mais autônomas do que uma OM comum sofreria nesse hipotético caso, sugere-se das Forças Armadas, as OMPS possuem que seja incluída na lei das OMPS um reduzida autonomia de gestão, justamente dispositivo que garanta ao seu dirigente o por permanecerem como órgãos da Admi- direito de dispor do excesso de mão de obra nistração Pública Direta sem personalidade que não poderá ser custeado, seja mediante jurídica e sujeitos à hierarquia e à discipli- o instituto do afastamento39 de seus servi- na. O único efeito jurídico benéfico visível dores civis (BRASIL, 1990) ou mediante o é a prerrogativa de dispensa de licitação destaque dos militares (idem, 2010, p. 3-7). pelo dobro dos limites atribuídos a outros Da mesma forma, agora em sentido órgãos da Administração Pública Direta, inverso, qualquer incremento não espe- o que é muito pouco. Um dos fatores que rado da receita orçamentária da OMPS limitaram a ampliação dessa autonomia também garantiria o direito de seu diri- foi, sem dúvida, a escolha equivocada do gente de, mediante os mesmos institutos, constituinte em valer-se do instituto do con- requisitar mão de obra para atender à trato para aumentar a autonomia de um ente nova demanda. pertencente à Administração Pública Direta Esses mecanismos legais constituir-se- em lugar da lei, pois aquele instituto, neste iam em proteções à disposição do dirigente caso, reduz-se a apenas um ato administra- de OMPS que lhe garantiriam maior au- tivo para o cumprimento de obrigações de tonomia de gestão e, caso não atendidos, meio e possui força cogente bem menor. excusariam-no das sanções que também Além disso, até mesmo fatores externos lhe seriam impostas pela lei. contribuem para essa redução, como é o caso da pendência de uma Adin ainda não CONCLUSÃO julgada, que decidirá se as OMPS poderão ou não contratar pessoal pelo regime da Embora a MB tenha alcançado a partir CLT. Diante dessa situação, foram estabe- dos anos 1990, com a implantação da sis- lecidas, com maior exatidão, as fronteiras temática OMPS, um excelente resultado no legais até onde o dirigente de OMPS pode que tange ao conhecimento de seus próprios ir para melhor administrar sua OM dentro custos de posse de determinadas OM, o do atual contexto de restrições existentes. passo seguinte, a almejada autonomia de Em contraposição às restrições constitu- gestão, parece que não ocorreu da forma cionais e legais que constrangem a autono- projetada pelo governo FHC, quando este mia das OMPS, propuseram-se sugestões implementou seu programa de reforma do de alterações legislativas, que, como visto, aparelho do Estado. são as mais eficazes para conduzir as OMPS

39 Lei 8.112/90, art. 93 – “O servidor poderá ser cedido para ter exercício em outro órgão ou entidade dos poderes da União, dos Estados, ou do Distrito Federal e dos Municípios, nas seguintes hipóteses: [...] II – em casos previstos em leis específicas. [...] § 4o Mediante autorização expressa do Presidente da República, o servidor do Poder Executivo poderá ter exercício em outro órgão da Administração federal direta que não tenha quadro próprio de pessoal, para fim determinado e certo.” (BRASIL, 1990, não paginado, grifos nossos).

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à autonomia desde o início pretendida. Isto posto, surge como um resultado Naturalmente, a opção por esta ou aquela secundário deste trabalho a abertura dos alteração legislativa aqui proposta impli- debates jurídicos acerca das possibilidades cará ganhos e perdas, de ordens políticas e atuais de autonomia das OMPS e das pos- econômicas, que devem ser exaustivamente sibilidades de reforma da legislação para debatidas antes de levadas a cabo. ampliar essa autonomia em favor da MB.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Contrato; Gerência; Organização;

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CURSO A DISTÂNCIA PARA PROMOÇÃO A SUBOFICIAL FUZILEIRO NAVAL*

Ana Paula Nascimento Gonçalves** Capitão de Corveta (T)

SUMÁRIO

Introdução Desenvolvimento Conclusão

INTRODUÇÃO organizacionais, o contínuo progresso e a qualidade plena no cumprimento da missão mundo contemporâneo exige, cada institucional. O vez mais, que as instituições priva- Os novos modelos de gestão adotados das e públicas reflitam sobre gestão, seja a partir da década de 1990 consolidaram a devido à competitividade, no caso das Gestão do Conhecimento (GC) como uma primeiras, ou da qualidade do produto, no parte da estratégia das organizações. Uma caso das instituições públicas. forte orientação para o cliente e um estilo O gerenciamento e a administração de- mais participativo de gestão foram dois vem ser preocupação de uma sociedade que aspectos comuns nestes modelos (SANTOS busca eficiência e eficácia nos processos et al., 2001).

* Matéria recebida da Diretoria de Ensino da Marinha – Coordenação do Concurso de Artigos Técnicos e Acadêmi- cos e de Redação. Segundo colocado na Categoria: Oficiais e Civis Assemelhados. Título original do artigo: A iniciativa de implementar o Curso Especial de Habilitação para Promoção a Suboficial Fuzileiro Naval a Distância, empregando o e-learning, como resultado da Gestão do Ensino baseada na Avaliação dos Cursos. ** Pedagoga. Serve no Centro de Instrução Almirante Slvio de Camargo (Ciasc). CURSO A DISTÂNCIA PARA PROMOÇÃO A SUBOFICIAL FUZILEIRO NAVAL

Este estudo observará como a avaliação que emprega o ensino a distância; contudo, dos cursos tem proporcionado informações contava-se apenas com materiais didáticos importantes que subsidiam a formação da escritos, entregues por meio de envelopes, estratégia da Organização Militar (OM), os quais seguem pelo serviço postal distrital apresentando a implementação da meto- da Marinha. Cada aluno recebe também dologia do Ensino a Distância (EAD) com um questionário que é remetido ao Ciasc, o e-learning como um fator apontado nas o qual proporciona dados a respeito do ren- análises avaliativas. dimento do curso, no que tange à qualidade O Centro de Instrução Almirante Syl- dos materiais didáticos e da aprendizagem vio de Camargo (Ciasc) tem empregado a ocorrida. avaliação institucional como um dos norte- A partir da análise desses questionários, adores de seu Plano Estratégico, principal- bem como de contínuas observações a res- mente no que tange às questões didático- peito das dificuldades decorrentes da meto- pedagógicas. Muitas ações foram tomadas dologia até então empregada, foi verificado a partir de cada avaliação anual, buscando que o ensino vem consistindo basicamente corrigir rumos e avançar na qualidade do na transmissão de conceitos, que em geral ensino. Exemplo disso foi a verificação de não são ampliados, discutidos, pois não há que o corpo docente tinha dificuldades para mecanismo para interação entre alunos e a realização do Curso Expedito de Técnica instrutores que permita a troca de informa- de Ensino (C-EXP-TE), dado o quantitativo ções sobre os conteúdos. reduzido de vagas disponibilizadas pelos A busca pela melhoria e pelo aperfeiçoa- centros de instrução que os conduziam, por mento didático-pedagógico do curso exigia, atenderem à demanda de toda a Marinha. cada vez mais, mudanças na metodologia. Após contatos entre os comandos dessas O processo de gestão do ensino foi sendo OM e a Diretoria de Ensino da Marinha alimentado pelo corpo pedagógico e pelos (DEnsM), o Ciasc pôde, em 2009, passar docentes da Escola de Habilitação, que a ministrar o referido curso, conforme salientaram o permanente gasto existente Portaria no 186/DEnsM. Outra ação que com a reprodução de manuais, apostilas e focou a melhoria na formação docente foi provas, mencionando também que a condu- a criação do Estágio de Qualificação Téc- ção do curso, feita em até dois anos, fazia nica Especial de Preparação de Instrutores com que algumas turmas se acumulassem, do Ciasc (E-QTEsp-PrepInstCiasc), que é dificultando o gerenciamento do curso. um estágio que visa capacitar os instruto- Paulatinamente, surgia o anseio por migrar res quanto às especificidades do ensino na para uma metodologia de ensino a distância OM e a criação do Estágio de Qualificação com o uso do e-learning, que é um modelo Técnica Especial de Preparação de Instru- de ensino não presencial que conta com o tores em Tática de Subunidades e Frações suporte da tecnologia, em que o processo (E-QTEsp-PrepInsSubFrações), em que de ensino/aprendizagem assenta-se no am- os instrutores são requalificados para as biente on-line, aproveitando as capacidades atividades operativas no terreno, o que é da internet para comunicação e distribuição primordial para a atividade militar. de conteúdos. Assim haveria a possibili- O Curso Especial de Habilitação a dade de maior participação dos alunos por Suboficial (C-Esp-HabSO) é um curso de meio de fóruns e chats, permitindo maior carreira, porém não é realizado de forma apropriação do conteúdo curricular. Outro presencial, e sim por meio de metodologia fator motivador seria a economia futura, em

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termos de material e pessoal. É importante de atender às necessidades educacionais observar que a economia não se daria no e à educação continuada, como afirma início, já que os gastos com a organização BELLONI (2003, p. 3): do EAD são relevantes, tendo em vista os (...) nas sociedades radicalmente mo- equipamentos de informática necessários. dernas, as mudanças sociais ocorrem Iniciou-se a implementação do curso, em ritmo acelerado, sendo especialmen- com a organização de uma equipe multi- te visíveis no espantoso avanço das tec- disciplinar, a aquisição dos meios de infor- nologias da informação e comunicação mática, a criação do Ambiente Virtual de (TIC) e provocando, senão mudanças Aprendizagem (AVA), a seleção de tutores, profundas, pelo menos desequilíbrios autores e outros. Ressalta-se que a dispo- estruturais no campo da educação. nibilização, principalmente de pessoal, é Nesta fase da modernização tardia, a um fator que oferece intensificação do pro- certa dificuldade, po- cesso de globalização rém o Comando do A educação a distância vem gera mudanças em to- Pessoal de Fuzilei- mostrando-se cada vez mais dos os níveis e esferas ros Navais ( CPesFN) da sociedade (e não tem apoiado esta OM importante no contexto da apenas nos mercados), neste sentido. sociedade contemporânea, criando novos estilos Em 8 de outubro como forma de atender às de vida, e de consumo, de 2013, o currículo e novas maneiras de ver do C-Esp-HabSO-FN/ necessidades educacionais e o mundo e de aprender. EAD foi aprovado à educação continuada (Giddens 1991) pela DEnsM, a qual verificou também o Belloni As escolas militares ambiente virtual de    estão diante de uma aprendizagem desen- As escolas militares estão realidade que exige a volvido para o mesmo. contínua capacitação A partir daí, o Ciasc diante de uma realidade dos indivíduos, sen- pôde iniciar a primei- que exige a contínua do hoje buscada uma ra experiência com formação que enseje o EAD empregando capacitação dos indivíduos competências múlti- o e-learning, em um plas, valorizando-se curso de carreira. Para isso foi organizada o trabalho em equipe, a capacidade de a Turma Experimental do C-Esp-HabSO- cooperação e a possibilidade de adaptação -FN/EAD, que teve início em 12 de maio às experiências novas. Assim, o ensino de 2014, com conclusão em 5 de agosto busca estar inserido no contexto social, do mesmo ano, com a participação de 23 interdisciplinar, não se limitando à aqui- alunos. sição de conhecimentos prontos, mas en- fatizando o saber científico e a capacidade DESENVOLVIMENTO de emprego deste conhecimento. Esse era o anseio dos profissionais do Ciasc para a A educação a distância vem mostrando- implementação do e-learning no curso, ou se cada vez mais importante no contexto seja, permitir a interação, a cooperação, a da sociedade contemporânea, como forma participação ativa, a ampliação da capaci-

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dade de pesquisa, com uma formação atual, mais relevantes. Contudo os textos não mediada pela tecnologia e que consolidasse deixariam de existir no EAD, estariam os conhecimentos necessários à formação disponibilizados em outra formatação, de um militar que segue à graduação de seja na própria plataforma de interação, ou suboficial. Cabe ressaltar que foi necessário disponíveis para, a qualquer momento, os desenvolver todo um trabalho de planeja- alunos os lerem na tela ou os imprimirem. mento do curso, pois não bastava a simples Na análise feita ao final da turma expe- transferência de conteúdos dos cursos rimental, foram verificados vários aspectos: presenciais para as mídias. O planejamento algumas OM não puderam disponibilizar das atividades é diferenciado ao estruturar de imediato computadores com recursos o EAD, devendo contar com uma equipe tecnológicos adequados para que os alu- multidisciplinar que, cooperativamente, nos pudessem acessar o AVA e houve organiza materiais didáticos, mídias, ava- constrangimento de alguns discentes em liações, utilizando designs instrucionais se afastar de suas tarefas habituais, por apropriados e as ferramentas que a Web receio de serem incompreendidos. Em vista proporciona de forma a minimizar a dis- disso, foi lançado um Boletim de Ordens e tância entre professor e aluno. Notícias (Bono) ratificando a necessidade Foi criado, no Ciasc, o Núcleo de Ensino de militares-alunos terem disponibilizadas a Distância (NuEAD), com a função de durante o horário de expediente duas horas apoiar qualquer curso a ser desenvolvido para o estudo e participação no AVA, con- na modalidade EAD. O C-Esp-HabSO-FN/ forme previsto no Manual para Elaboração EAD conduzido on-line está subordinado de Cursos a Distância – DEnsM 5001. Foi à Escola de Habilitação e integrado à es- também recomendado que caso houvesse trutura processual do Ciasc, valendo-se, impossibilidade de alguma OM suprir além do NuEAD, de departamentos como o equipamento necessário, esta deveria o de Orientação e Avaliação e o de Admi- buscar o apoio de uma OM próxima para nistração Escolar. o discente. Uma grande preocupação da equipe Muitos alunos consultavam o Núcleo de multidisciplinar envolvia a inexperiência Ensino a Distância relatando dificuldades dos alunos com os cursos conduzidos para utilizar as ferramentas de navegação on-line. Sabe-se que os jovens têm muita no ambiente virtual e para utilizar o am- facilidade com o uso das tecnologias, já biente moodle (plataforma disponibilizada que desde cedo têm contato com a mídia, aos alunos), sendo, paulatinamente, ins- por meio de jogos, aplicativos em celulares, truídos de forma a conseguir lidar com dentre outros, porém tratava-se de militares a tecnologia. A semana de ambientação mais antigos, dos quais muitos não teriam mostrou-se extremamente necessária neste tido experiência alguma com a tecnologia, aspecto, e por isso será sugerida, em futura dificultando a utilização do AVA. revisão curricular, a ampliação para duas Estimava-se que a resistência em não semanas de ambientação. usar materiais didáticos impressos seria Os preceitos didáticos e pedagógicos grande, dado a já consolidada forma de que permeiam um curso a distância não aprender que a maioria dos militares mais são iguais aos do ensino presencial. Houve, antigos teve na escola, com a leitura de assim, a necessidade de uma pedagogia textos impressos, muitas vezes sublinhan- diferenciada, outra sintaxe pedagógica, que do-os, assinalando aspectos considerados não significava apenas transportar textos

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para o formato digital, e sim criar um pro- numa inclinação que lhe facilite a leitura. jeto pedagógico adequado à metodologia. Para superar este desconforto, é importante O Ensino a Distância que conhecemos que a diagramação do material didático hoje está baseado na interação, seja ela crie um ambiente textual agradável, leve e síncrona ou assíncrona, como forma de motivador para a leitura. construção do conhecimento. Averbug O Desenho Instrucional ocorre em (2003) aponta dois erros que são comuns vários níveis, buscando permitir e facilitar no processo de planejamento de programas o entendimento do assunto pelo aluno, para cursos a distância: “tentar escolher esclarecendo, ampliando, exemplificando, apenas uma única tecnologia para todas contextualizando o conteúdo. São usadas as situações e necessidades de cursos” e caixas com ilustrações e exemplificações, “selecionar tecnologias antes de identi- ou com uma proposta de texto comple- ficar as necessidades e os requerimentos mentar, de site ou referência, ou ainda uma educacionais”. fórmula a ser empregada, uma reflexão etc. Os textos para o EAD devem possuir Essas caixas são recursos que tornam a uma estrutura própria que satisfaça às ne- leitura mais agradável e interativa, possibi- cessidades do discente, que, apoiado em litando ao leitor interagir junto ao material e uma plataforma digital, procura alcançar construir de diferentes formas o seu saber. o aprendizado de forma autônoma. Estes Esse aspecto também é muito importante recursos deverão garantir a compreensão, no que tange a atender os diferentes níveis a motivação, para isso sendo usada lingua- cognitivos ou de participação dos alunos. gem simples, clara e até mesmo com tom de Assim, aqueles que estão bastante inte- proximidade, como se fosse o professor, ali, ressados poderão avançar em conteúdos, falando com o aluno, de forma a ampará-lo pesquisas e sugestões expressas nestas e motivá-lo. caixas. Cabe apenas ressaltar que o cuida- Na tela do computador, os textos estão do com a forma não desfaz a importância dispostos verticalmente, condicionando de primar pelo conteúdo; assim, é preciso o corpo e o olhar do leitor a uma posição manter a integração, a sequência lógica, vertical, além de todos os sentidos estarem entre outros aspectos pedagógicos. Segue envolvidos de forma geral com essa estru- abaixo uma caixa de diálogo presente na tura. Assim, a leitura não é confortável, disciplina Organização Naval e Sistemas não tem ângulo, cansando o leitor, que, na de Administração de Pessoal do Corpo de maior parte das vezes, prefere imprimir e Fuzileiros Navais (CFN), disponibilizada ler à vontade o material, às vezes deitado ou no C-Esp-HabSO/FN-EAD.

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A educação sempre se valeu de meios foi criado o mascote do CFN, selecionado que viabilizassem a relação entre o pro- pela equipe multidisciplinar do C-Esp- fessor e o aluno, de forma a facilitar a HabSO-FN/EAD. transmissão de conteúdos formais, como os recursos instrucionais e os materiais didáti- cos. No que tange ao EAD, essa mediação é essencial, dado a distância entre o professor e o aluno; assim, o material didático e até mesmo as páginas disponibilizadas no am- biente virtual irão substanciar o processo de comunicação, que viabilizará o ensino, e, desta forma, o EAD é bastante dependente do suporte técnico para a comunicação. Buscando garantir a qualidade da Edu- Mascote do CFN cação a Distância, o Ministério da Educa- ção e Cultura (MEC) criou os Referenciais Sabe-se que a palavra pode servir para de Qualidade para a Educação Superior envolver, acalentar, desafiar, questionar, a Distância, em que mas também pode delineia os requisi- desmotivar, cansar ou tos necessários para A palavra pode servir dificultar a aprendiza- a criação de cursos para envolver, acalentar, gem. É preciso usá-la superiores na moda- de forma a tornar a lidade EAD, que vão desafiar, questionar, mas aula mais envolvente, desde a apresentação também pode desmotivar, próxima e desafiadora, no projeto político- já que a motivação e a -pedagógico da con- cansar ou dificultar a atenção precisam ser cepção da educação, aprendizagem trabalhadas no EAD. o currículo, as formas de comunicação, os Conclusão conteúdos, os processos de avaliação, a equipe multidisciplinar, o material didático, A experiência inicial do C-Esp- até toda a estrutura de apoio aos discentes. HabSO-FN/EAD mostrou que os alunos Em relação à Marinha do Brasil, estes as- participaram ativamente – foram cerca pectos são normatizados pela Diretoria de de 55 mil acessos entre os 23 alunos e Ensino da Marinha. tutores. A capacitação dos tutores foi Na elaboração do AVA do C-Esp- realizada na DEnsM por meio do Curso HabSO-FN/EAD, houve grande atenção Especial de Capacitação em Ensino a ao disponibilizar os conteúdos, de forma Distância (C-ESP-Cead), além da par- a não se tornarem cansativos ou de difícil ticipação dos mesmos em seminários entendimento. A linguagem dialógica foi sobre o assunto. Desta forma, encerro empregada, e o falar claro e amigável o presente trabalho citando HOLM- foi constante. Além disso, as aulas foram BERGT,1990: disponibilizadas também com gravações Visões pós-fordistas do futuro acre- que acompanham os slides. As caixas de ditam que os avanços das TICs poderão diálogo foram largamente empregadas, e revolucionar a pedagogia no século

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XXI, da mesma forma que a inovação aos poucos às máquinas informáticas de Gutemberg revolucionou a educa- (HOLMBERGT,1990). ção a partir do século XV. O que não significa que estas tecnologias substi- Estamos dando mais um passo na busca tuirão o discurso escrito na educação, pela qualidade do ensino, implementando mas que seu uso intensivo e integrado novas metodologias e valorizando as já certamente provocará mudanças nos conhecidas. Assim o Ciasc continua a per- modos de ensinar e aprender e na própria correr caminhos para a plena capacitação forma do discurso escrito, que se adapta do fuzileiro naval. Ad sumus.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Curso; Ensino à distância; Formação de fuzileiro naval;

REFERÊNCIAS

– BORDINI, Maria da Glória & AGUIAR, Vera Teixeira. Literatura: a formação do leitor: alterna- tivas metodológicas. Ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. – BETHLEM AGRICOLA. Estratégia Empresarial. 6a Rev. Ed. Atlas. – LÉVI, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática (trad. Carlos Irineu da Costa). Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993. 208 p. – MORAN, J. M.; MASETTO, M. F.; BEHRENS, M. A. Novas tecnologias e mediação pedagógica. São Paulo: Papirus, 1998. – Diretoria de Ensino da Marinha – Manual para Elaboração de Cursos a Distância. DEnsM 5001.

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Renata da Rocha Pereira* Capitão-Tenente (T) Amanda Barcellos Taranto Silva** Primeiro-Tenente (RM2-T)

SUMÁRIO

Pensando o ensino a distância hoje Conceito de gestão Planejamento de ensino a distância O departamento de ensino a distância e tecnologia educacional Acesso à educação Possibilidade de constante atualização de conhecimentos Flexibilidade para a formação Participação no Fórum Permanente de Educação da MB e no Portal de Liderança (comunidades virtuais) Projeto piloto de reforço escolar para marinheiros Conteúdo programático Atividades escolares Instrumentos de avaliação Atribuições do docente Atribuições dos marinheiros do GNHo Conclusão

* Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pós-graduada em Educação a Distância pelo Senac-RJ e aluna do curso de Especialização de Design Instrucional pelo Senac-SP. Atuou como coordenadora pedagógica e tutora nos Cursos Especiais de Metodologia Didática e de Capacitação em Ensino a Distância (EAD) oferecidos pela Diretoria de Ensino da Marinha (DEnsM). Foi encarregada da Divisão de Metodologia e Análise Pedagógica em EAD e da Divisão de Pesquisa e Desenvolvimento em EAD, no Departamento de Ensino a Distância e Tecnologia Educacional da DEnsM. Atualmente serve no Comando da Força de Submarinos. ** Graduada em Letras e mestre em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Serviu no Departamento de Ensino a Distância e Tecnologia Educacional da DEnsM, como ajudante da Divisão de Metodologia e Análise Pedagógica em EAD. Ensino a Distância na Marinha do Brasil: Perspectivas atuais

o início do século XXI, a busca por educacionais um entendimento das mu- Numa nova metodologia que propi- danças e transformações sociais, políticas ciasse a otimização de recursos humanos e culturais da sociedade em que vivem e financeiros, além de superar distâncias e de como tais mudanças os instigam a geográficas, sem prejuízo da qualidade (re) significar a relação de construção do de ensino, foi consolidada com a criação conhecimento, demandando novas práxis do Núcleo de Ensino a Distância (Nead) diante dos desafios que se impõem ao na Diretoria de Ensino da Marinha, hoje tempo presente. Departamento de Ensino a Distância e A informação, além de matéria- Tecnologia Educacional (Dead), com -prima, é hoje considerada infraestrutura atribuição de coordenar e controlar desde o momento em que é elaborada, ar- a implantação do Ensino a Distância mazenada até ser difundida digitalmente (EAD) da Marinha, efetuar pesquisas por uma rede de tecnologias estruturadas em Educação, Práticas Pedagógicas e pelo encontro e pelas possibilidades de Sistemas Informati- uso das tecnologias zados de Apoio ao da informática com EAD, bem como ca- O crescimento da educação as das telecomuni- pacitar as equipes de a distância está assumindo cações. É por esse desenvolvimento de motivo que Castells cursos das diversas novas dimensões devido (1999) chama a so- Organizações Milita- ao potencial tecnológico, ciedade contemporâ- res (OM). comunicacional e nea de “sociedade em Ao se falar em rede”. Citando Santos EAD, é preciso ter em pedagógico que as (2005), cabe ressaltar mente a importância tecnologias digitais são que da gestão de projetos nessa área de ensino, capazes de propiciar Rede é um conjunto de que se constitui pela “nós” e feixes de rela- administração dos recursos materiais e ções sociotécnicas, onde seres humanos tecnológicos em coordenação com a cer- hibridizam-se com as tecnologias. No teza da coautoria de seus membros, que caso da rede mundial de computado- juntos formam a inteligência coletiva da res, internet, esta dinâmica interativa organização que aprende. Gerir pessoas é também chamada de ciberespaço. O autoras e que compartilhem informações ciberespaço é a articulação produtiva e conhecimentos colaborativamente é um da infraestrutura própria da internet dos maiores desafios que se colocam para com os indivíduos e sujeitos culturais as práticas de gestão e de educação nos que se comunicam e se desenvolvem a dias de hoje. partir desta nova configuração espaço/ temporal. Neste processo, saberes, PENSANDO O ENSINO A conhecimentos e informação são pro- DISTÂNCIA HOJE duzidos, armazenados, reconfigurados e compartilhados em rede por todo o A complexidade da sociedade moderna mundo. Esse processo produtivo que exige dos profissionais que atuam na área emerge no ciberespaço, impactando e da educação e dos gestores de processos interagindo com as cidades, é hoje deno-

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minado de cibercultura. A cibercultura ferência e aplicabilidade de princípios é a cultura das redes.1 teóricos e práticos ao gerenciamento dos processos de planejamento, organização, No contexto acima descrito, o ensino controle/liderança, com eficiência e eficá- a distância vem se constituindo como cia”.2 Segundo esta autora, todo o processo dispositivo significativo para formação e de gestão é extremamente importante, uma educação na sociedade. O crescimento da vez que possibilita o acúmulo de conheci- educação a distância está assumindo novas mento, o que favorece a percepção sobre dimensões devido ao potencial tecnológico, a situação atual. Além disso, o gerencia- comunicacional e pedagógico que as tec- mento permite visualizar os indicadores, nologias digitais são capazes de propiciar. elementos necessários para a escolha das Logo, para que a educação a distância seja melhores estratégias para, assim, alcançar reconhecida como estratégia de formação as metas previstas. de pessoas, é preciso investir em gestão. Estudando o conceito de gestão, é pre- A partir de então, as perguntas que devem ciso entender o que é estratégia. Segundo ser feitas são as seguintes: Como gerir Bartsch, “é um conjunto de regras de deci- um projeto de ensino a distância? e Como são para orientar o comportamento de uma coordenar e avaliar uma equipe que atue organização”.3 Já Edgar Morin afirma que, com o ensino a distância no espaço de uma para gerir bem uma equipe de ensino a dis- organização que aprende? tância no mundo de hoje, “a estratégia é a capacidade de juntar o máximo de certezas CONCEITO DE GESTÃO para enfrentar a incerteza”.4 Sendo assim, é importante entender que, para o alcance A sociedade atual vive uma infinidade das metas e dos objetivos pela organização, de mudanças que exigem uma postura a gestão precisa englobar todo o processo diferente por parte das organizações, as de ação decisória e estratégica em todas as quais precisam se adaptar de acordo com suas fases (planejamento, implementação, as necessidades de uma geração que se coordenação, acompanhamento e avalia- articula sob novos conceitos, como glo- ção), isto é: deve ser sempre orientada balização e transformações econômicas. pelo planejamento estratégico, entendido Conceitos esses que demandam aper- como o documento cujas ações norteiam feiçoamento e atualização continuados todo o processo de atuação organizacional. das pessoas que dela fazem parte. Nesse Moore e Kearsley (1996, p. 172) destacam contexto, as organizações também sofrem o planejamento estratégico como uma das mudanças, como, por exemplo, redução tarefas críticas que os gestores devem rea- dos níveis de decisão, flexibilidade, tra- lizar. Esse planejamento envolve uma série balho em equipe e em rede e valorização de procedimentos, como: formular a visão do talento das pessoas. e a missão, as metas e os objetivos para a Bartsch define a gestão como “a abor- organização; equilibrar o que se pretende dagem sistêmica que se constitui na trans- obter com os recursos disponíveis e esco-

1 SANTOS, Edméa (s/d: 03). 2 BARTSCH, Alessandra Sliwowska (s/d: 03). 3 BARTSCH, Alessandra Sliwowska (s/d: 04). 4 Edgar Morin é citado por Edméa Santos no vídeo Gestão da EAD, disponível no Youtube.

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lher entre as opções para que os principais Os componentes essenciais que devem ser objetivos sejam alcançados com qualidade; contemplados quando se elabora um planeja- identificar as mudanças nas demandas dos mento em ensino a distância são: contexto e alunos ou demandas sociais; identificar as perfil dos aprendentes, competências, objetos tecnologias emergentes e projetar recursos de aprendizagem, equipe, atividades, conte- futuros e necessidades financeiras. údos e tecnologia e avaliação. A análise do Gerir projetos de ensino a distância não contexto tem papel fundamental no diagnós- é uma tarefa simples. Essa gestão implica tico e considera a análise de questões sociais, desafios para o gestor de processos educa- institucionais, de implementação e perfil do cionais que ultrapassam a capacidade de grupo como etapas cujas informações cole- administrar burocraticamente um projeto, tadas permitirão que se elabore a proposta de quais sejam: a capacidade de trabalhar com solução que será a base para a especificação uma equipe multidis- do projeto educacional. ciplinar que alcance Moore e Kearsley (1996, resultados interdisci- Gerir projetos de ensino p. 9) atribuem algumas plinares, o de articular recomendações para o saberes acadêmicos e a distância não é uma diagnóstico em relação tecnológicos com os tarefa simples. Implica a esta questão quando conhecimentos do co- desafios que ultrapassam a identificam três aspectos tidiano cultural do pú- principais a serem con- blico-alvo do projeto, capacidade de administrar siderados: identificar as potencializar recursos burocraticamente um necessidades de apren- e processos formativos dizagem dos alunos para e saber se comunicar projeto. O planejamento em então decidir quais con- articulando diversas ensino a distância torna-se teúdos trabalhar; definir linguagens e tecnolo- fundamental as questões de acordo gias. Dessa forma, é com a missão educa- importante destacar cional da organização; e que o planejamento em ensino a distância reconhecer como os elementos influenciam torna-se uma atividade fundamental. o projeto, o conhecimento da organização, do corpo docente e dos próprios estudantes. PLANEJAMENTO DE ENSINO A A partir do conhecimento do público-alvo, DISTÂNCIA torna-se primordial conhecer quais compe- tências o projeto deseja mobilizar. Entende-se Planejar é organizar e acompanhar a que um ser competente é aquele que consegue materialidade da ação e avaliar os processos resolver problemas dentro do contexto da sua e os produtos oriundos desse processo. O própria ação. planejamento envolve desde a construção O trabalho com projetos de ensino a dis- do documento, que é o projeto propria- tância envolve a criação e a seleção de objetos mente dito, até a sua execução e avaliação. de aprendizagem, que são extratos reutilizá- Essa etapa ganha relevância em processos veis de conteúdos, geralmente digitalizados, que envolvem uma equipe trabalhando de que potencializam o conteúdo base de um forma integrada para estruturar projetos curso, agregando valor ao projeto e, conse- que atendam às expectativas dos diversos quentemente, à aprendizagem do aprendente. atores envolvidos. Nessa fase, é preciso contar com profissionais

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que selecionem ou elaborem estes objetos em Em termos bem amplos, as atividades podem linguagens e mídias diversas (sons, audiovi- ser síncronas, em que os aprendentes se co- sual, textos, animações, imagens estáticas e nectam em tempo real, como nos bate-papos, dinâmicas, vídeos, filmes), quase sempre a videoconferência, encontros em mundos partir da recomendação do desenho didático. virtuais e jogos multiusuários; e assíncronas, Sendo o projeto um processo elaborado em que as interações acontecem sem data e por um grupo de pessoas a fim de se alcançar hora definidas, como os fóruns de discussão, um objetivo predeterminado, durante o seu exercícios, questões e projetos. Nesses dois desenvolvimento e até a sua conclusão, este contextos, a escolha do conteúdo deve ser grupo de pessoas deve trabalhar como uma significativa e deve possibilitar o domínio, a equipe, em harmonia, para que assim o resul- aplicação das informações e a viabilidade de tado possa ser alcançado. Não há um projeto sua atualização, ampliação, aprofundamento que seja feito sem pessoas. Ao contrário, ele e enriquecimento. As temáticas não devem envolve várias pessoas, com diferentes quali- ser apresentadas de forma linear. Sendo as- ficações, para o desenvolvimento de atividades sim, os conteúdos devem ser provocadores de diversificadas e que se complementam. Ao se novas situações de aprendizagem, de acordo trabalhar em equipe, consegue-se unir diversas com o contexto no qual o aluno está inserido, competências, e o projeto só tem a ganhar com além de utilizar todo o potencial tecnológico isso. Um projeto em EAD envolve diversos disponível, a fim de tornar a apresentação perfis profissionais multi/interdisciplinares, de tais conteúdos mais interessante. Outra como pedagogos, desenhistas instrucionais ou dimensão importante no projeto refere-se à didáticos, gerentes de projeto, coordenadores, forma de comunicação que, no ensino a dis- tutores e autores, cujas características funda- tância, materializa-se por meio de um texto, mentais para os profissionais de produção, de uma aula por videoconferência, de um independentemente de sua atuação no setor, vídeo temático ou pela interação do profes- são: espírito criativo e inovador, capacidade sor com o aluno ou dos alunos entre si. Se a de comunicação, iniciativa, interesse por novas comunicação é imprescindível na educação técnicas e tecnologias, ousadia e espírito de como um todo, ela também o é, de modo equipe. Assim, para criar objetos de aprendi- peculiar, nessa modalidade de ensino. Nesta, zagem e trabalhar com projetos de ensino a a comunicação é mediatizada e exige que o distância, é necessário contar com o trabalho de tratamento dos conteúdos e os recursos sejam uma equipe interdisciplinar, que é aquela em adequados ao público, para que seja efetiva. que as pessoas se comunicam desde o início Em relação às tecnologias, pode-se uti- do projeto até a sua avaliação. De posse dos lizar os materiais impressos, as tecnologias objetos de aprendizagem, as atividades são audiovisuais (a exemplo do vídeo e da TV), elaboradas para que as competências sejam as tecnologias da comunicação e informação, mobilizadas na prática. as tecnologias digitais, a internet, os ambientes As atividades no ensino a distância não virtuais de aprendizagem, o CD multimídia; podem se basear apenas na lógica da dialógica enfim, a escolha da tecnologia tem que ser e da argumentação; é preciso pensar em ativi- muito interessante, eficiente e baseada no tipo dades de autoaprendizagem que possibilitem de conteúdo que se quer comunicar e da situa- a aquisição de conhecimento pela interação ção de aprendizagem que se deseja promover. com materiais didáticos e outras baseadas na Quanto à avaliação, esta não pode ser aprendizagem colaborativa, que favorecem considerada um elemento estanque e pontual, a interação por meio de atividades coletivas. mas um elemento processual, pois começa-se

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a avaliar desde o momento do diagnóstico, sários à operação dos meios navais e ao da seleção dos conteúdos, das atividades, cumprimento da missão constitucional da das tecnologias e do mapeamento de com- Força. Assim, o SEN é estruturado de forma petências. Desse modo, à medida que se ampla, realizando desde a captação de pes- aplica o projeto é preciso utilizar a avaliação soal no meio civil até seu aprimoramento processual, ou seja, não basta oferecer um profissional enquanto militares da Marinha. programa educativo e no final avaliar apenas As instituições que compõem o SEN estão a aprendizagem dos aprendentes. Avaliar é, empenhadas em implementar, a longo prazo, portanto, acompanhar a aprendizagem de metodologias no desenvolvimento de compe- todos os sujeitos envolvidos e tomar decisão tências para tornar este processo de qualifica- sobre esse diagnóstico. Avaliação em ensino a ção profissional mais eficiente e eficaz e a um distância envolve desde avaliação dos sujeitos custo menor. Em 1998 teve início a busca por que estão aprendendo até as ações dos tutores metodologias capazes de atender à demanda e a qualidade dos produtos resultantes desse de militares inscritos em cursos presenciais, processo. É não só avaliação da aprendiza- que tinham suas matrículas canceladas pela gem, mas do próprio projeto como um todo, impossibilidade de custeio de passagens aére- isto é, elaborando indicadores e instrumentos as e hospedagem no local de sua realização. A para avaliar, com en- Marinha iniciou, então, volvimento de todas as estudos para a implanta- partes no proceso. A MB depende de sua ção de cursos a distância própria capacidade de utilizando a internet. O Com 11 anos de DEPARTAMENTO formação e qualificação existência, o Dead con- DE ENSINO A profissional. Justifica-se, tinua a construção do DISTÂNCIA E seu caminho. Muitos TECNOLOGIA portanto, a relevância trabalhos estão sen- EDUCACIONAL atribuída ao Sistema de do desenvolvidos no Ensino Naval (SEN) mundo virtual, mas ex- A Marinha do Bra- periências de sucesso sil (MB) tem necessi- surgem com outros re- dade de formar, qualificar e atualizar sua cursos de ensino, como jogos, simuladores, mão de obra, especialmente pela carência realidade aumentada, entre outros, com a de profissionais formados no mercado de associação de momentos presenciais e a trabalho, no intuito de melhor atender às distância. É importante conhecer experi- especificidades das atividades desenvol- ências de todas as gerações de EAD, pois vidas no âmbito naval. Por isso, além de cada uma delas contribui para as soluções buscar no mercado alguns profissionais que, às vezes, são apenas velhas ideias com pré-qualificados, depende de sua própria roupagens novas. O potencial do EAD é capacidade de formação e qualificação pro- muito vasto, conforme descrito a seguir: fissional. Justifica-se, portanto, a relevância atribuída ao Sistema de Ensino Naval Acesso à educação (SEN), constituído por escolas, colégios, centros de instrução e de adestramento Desde 2002, a modalidade a distância capazes de formar, qualificar, especializar surge na MB como uma nova metodolo- e aperfeiçoar os recursos humanos neces- gia que propicia a otimização de recursos

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humanos e financeiros, além de superar mente, militares e civis por meio do Curso distâncias geográficas, sem perda da qua- Especial de Metodologia Didática, para lidade de ensino, permitindo que militares/ planejar, conduzir e avaliar as atividades civis tivessem acesso à educação, a insti- de ensino, de acordo com as concepções tuições de ensino e a docentes dispostos a adotadas pela MB para o Ensino Naval, ensinar independente de tempo e local. O e também por meio do Curso Especial de EAD respeita a diversidade de público de Capacitação em Ensino a Distância para diferentes contextos de origem, de níveis gerenciamento de cursos, tutoria em EAD e estilos de aprendizagem, por meio do e produção de material didático para ela- modelo empregado no projeto pedagógico, boração e condução dos cursos a distância. auxiliando em qualificação e formação docente do pessoal da MB. Flexibilidade para a formação

Possibilidade de constante atualização A educação a distância oferece uma de conhecimentos grande plasticidade no que tange às variá- veis de tempo, espaço, ritmo de aprendiza- O EAD tem grande potencial para o gem e meios de comunicação. O relevante é desenvolvimento de programas de qualifi- estudar não importando o lugar, o tempo e o cação e atualização de ritmo de aprendizagem profissionais. Sendo No EAD o relevante é de cada indivíduo. A assim, a MB reconhece tecnologia possibilitou que ele tem atendido estudar não importando o acesso à informação satisfatoriamente à de- o lugar, o tempo e o ritmo em qualquer horário, manda de redução de em qualquer lugar. Ma- custos e de formação de aprendizagem de cada teriais impressos, tele- continuada de uma indivíduo fones celulares, MP3, vasta e dispersa clien- tablets e outros recur- tela com garantia de sos do futuro permitem qualidade na aprendizagem e que, neste estudar em locais e horas mais improváveis. contexto, o papel do Dead é de extrema O EAD tem grande potencial para atender importância, considerando que ainda há ao aluno, pois possibilita que instituições muito a ser explorado nesta modalidade e docentes conjuguem simultaneamente de ensino na MB, diante da velocidade produção e capacitação, desde que saibam no desenvolvimento das tecnologias das explorar os recursos de flexibilidade que comunicações e na produção de bens e esta modalidade de ensino oferece. serviços. A partir de dados computados até junho de 2013, o Dead atendeu a 5.162 Participação no Fórum Permanente alunos das mais diversas OM do SEN, que de Educação da MB e no Portal de participaram de cursos, treinamentos e Liderança (comunidades virtuais) estágios, utilizando Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) Moodle, incluindo A educação a distância, no contexto da também os do ensino profissional maríti- organização que aprende e que valoriza a mo (Centro de Instrução Almirante Graça formação continuada, surge como uma mo- Aranha – Ciaga) e da Procuradoria Especial dalidade educacional que não pode deixar da Marinha (PEM). O Dead capacita, anual- de contemplar a constituição de um coletivo

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que promove a aprendizagem abandonando Matemática (90 h), Física (90 h) e Eletri- o caráter individualizado de seus primór- cidade (45 h). Em função das dificuldades dios. As relações colaborativas, em que o escolares apresentadas pelos MN durante esforço de uns agrega valor ao esforço de este curso, já são planejadas nas Escolas outros, são extremamente importantes, pois de Aprendizes-Marinheiros (EAM) aulas levam ao compartilhamento e à recuperação de reforço escolar nestas disciplinas. Tais de valores como o pertencimento e a solida- dificuldades devem-se à deficiência do riedade. Ao reunir, portanto, pessoas com ensino público, de onde se originam a objetivos comuns em um espaço virtual, a maioria dos candidatos que ingressam em educação a distância permite que docentes cada uma das quatro escolas de aprendizes. estimulem a formação de um espírito cole- Acrescenta-se, ainda, por ocasião da chega- tivo para a construção do conhecimento em da dos marinheiros aos Centros de Instru- que o olhar de cada um melhora o de todos. ção para realizar o C-Espc, uma deficiência escolar mais acentuada nas matérias exatas PROJETO PILOTO DE REFORÇO ministradas nas EAM, provavelmente ESCOLAR PARA MARINHEIROS devido ao distanciamento entre o C-FMN e o C-Espc, sendo necessário um reforço Com o intuito de atender a um dos ob- para as especialidades que exigirão maior jetivos expressos na Política de Ensino da conhecimento do conteúdo dessas matérias. Marinha/2009, que é “conduzir o ensino Em decorrência dos fatos acima expos- por meio de uma abordagem sistêmica tos, os cursos a distância colocam-se como que permita um processo de formação alternativa capaz de estimular a capacidade continuada desde o ingresso na MB até os de crescimento profissional dos militares últimos cursos de carreira”, a Diretoria de e de diminuir as lacunas em sua formação Ensino da Marinha (DEnsM) implementou, escolar, antes da matrícula no C-Espc. em 2013, um Projeto Piloto de Reforço Assim sendo, o reforço escolar oferecido Escolar para os Marinheiros egressos do pelo projeto utiliza material didático nas Curso de Formação de Marinheiros para a áreas de Matemática, Física e Português Ativa (C-FMN). Por meio da utilização do com a finalidade de propiciar o nivelamento EAD, na modalidade por correspondência, desses conhecimentos antes da matrícula e com provas presenciais no polo de con- dos marinheiros nos referidos cursos de trole ou nos navios em viagem, está sendo carreira. Sendo assim, foi possível dividir estudada a viabilidade de ampliação do os marinheiros de acordo com cada ramo referido projeto. de atuação com a seguinte estratégia de O projeto piloto visa incrementar a for- nivelamento: mação propedêutica dos marinheiros (MN) – atividades de Matemática e Física embarcados, de modo que esses militares comuns a todos os marinheiros indicados tenham um melhor desempenho escolar por para o ramo vocacional de Eletrônica (EL)/ ocasião da realização dos Cursos de Espe- Eletricidade (ET) e atividades de Português cialização (C-Espc) e Aperfeiçoamento e Matemática para os marinheiros indica- (C-Ap) de Praças do Corpo de Praças da dos para o ramo vocacional Apoio; Armada. – a carga horária total de estudos será De acordo com a grade curricular do a mesma para cada disciplina, sendo uma ensino básico do C-FMN, são ministradas hora de estudo por dia no ambiente de as disciplinas de Português (120 horas), trabalho; e

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– conclusão de cada bloco em até quatro Conteúdo programático meses com, no mínimo, duas avaliações por disciplina. Foi realizado um levantamento prelimi- O projeto piloto é dividido, portanto, nar em relação ao conteúdo programático em dois grupos: o Grupo 1, com atividades e à indicação de referências bibliográficas de reforço escolar para 58 marinheiros com os representantes de cada disciplina embarcados no Grupamento de Navios das seguintes OM: Diretoria de Hidrografia Hidroceanográficos (GNHo); e o Grupo 2, e Navegação (DHN), Centro de Instrução chamado de grupo de controle, composto Almirante Alexandrino (CIAA), Centro por 67 marinheiros da Esquadra, os quais de Adestramento Almirante Marques de não realizarão as atividades de reforço es- Leão (CAAML), Centro de Instrução e colar, apenas as provas programadas para Adestramento Almirante Áttila Monteiro cada disciplina. Aché (Ciama) e Centro de Instrução e Cabe ressaltar que a utilização deste Adestramento Aeronaval Almirante José segundo grupo será imprescindível para Maria do Amaral Oliveira (CIAAN). Após realizar, ao final do projeto, a comparação comparação entre os materiais didáticos com o grupo de marinheiros do GNHo sugeridos e a análise de um especialista quanto ao desempenho nas avaliações das em cada disciplina, optou-se por utilizar o disciplinas ministradas, para estes últimos, material do Telecurso 2000, pois contém no reforço escolar. Além disso, para que o conteúdos correspondentes aos que os resultado desta comparação seja fidedigno, marinheiros estudaram no C-FMN, apre- tornou-se necessário que os marinheiros sentando uma sequência de aulas, cada uma da Esquadra, escolhidos para compor o delas correspondendo a uma teleaula, estan- grupo de controle, pertencessem ao mes- do os livros em linguagem simples e com mo ramo de atuação e tivessem o mesmo a preocupação de transmitir os assuntos grau de aproveitamento escolar (média importantes da forma mais clara possível. final) nas EAM do que os marinheiros do O material consiste de: livro do aluno, Grupo 1. que traz o conteúdo de cada uma das tele- Atendendo a diretrizes estabelecidas, aulas, com mais explicações e mais ativida- cada marinheiro do GNHo estuda duas des, e, para facilitar o estudo, contém, além das três disciplinas disponíveis no projeto, de textos, ilustrações, fotos, ícones e outros conforme o ramo vocacional para o qual recursos gráficos; livro de atividades, que foi designado após a aplicação de testes fortalece a autonomia de aprendizagem e psicológicos pelo Serviço de Seleção do possibilita o enriquecimento da escolari- Pessoal da Marinha (SSPM). A distribuição zação por meio de outras atividades, expe- das disciplinas de Matemática, Português e rimentações e pesquisas, além de permitir Física pelos ramos vocacionais encontra-se a autoavaliação; e as teleaulas em Disco discriminada no quadro abaixo: Digital de Vídeo (DVD), que apresentam

DISCIPLINAS A SEREM RAMOS GNHo POR RAMO ESTUDADAS ELETRÔNICA/ELETRICIDADE MATEMÁTICA/FÍSICA 23 MECÂNICA MATEMÁTICA/FÍSICA 16 APOIO MATEMÁTICA/PORTUGUÊS 19 Distribuição das disciplinas por ramos vocacionais

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informações e conceitos referentes aos – realização de exercícios complementa- conteúdos de cada disciplina e expressam res, que serão elaborados por docentes das a dinâmica da produção científica, histó- habilitações correspondentes às disciplinas rica e cultural da sociedade por meio de oferecidas aos marinheiros que possuem linguagens de televisão, como dramatur- apenas o Ensino Fundamental ou apresen- gia, entrevista, documentário e animação, tem mais dificuldades de aprendizagem; cujo formato estabelece relações entre – correção dos exercícios pelos docen- os conceitos, aproxima-os do cotidiano e tes que, conforme os erros apresentados provoca questionamentos sobre o conteúdo pelos marinheiros, proporão atividades de apresentado. reforço para superação das dificuldades individuais; Atividades escolares – realização de provas escritas peri- ódicas para avaliação global dos grupos As atividades acadêmicas para incre- participantes. As diretrizes para a avaliação, mento da formação propedêutica dos ma- a quantidade e os tipos de questões que irão rinheiros do GNHo são conduzidas por três compor as provas serão estabelecidos pelos oficiais RM2 da área Técnico-Magistério, docentes de cada área; e licenciados em Matemática, Português – possibilidades de interação entre os (Letras) e Física, lotados no próprio Gru- marinheiros do GNHo e os instrutores, para pamento. Para o desenvolvimento das tirar dúvidas na execução das atividades. atividades do projeto, recomendou-se que a DHN disponibilize uma sala que funcione Instrumentos de avaliação como polo para que os docentes realizem o planejamento, preparem exercícios de Em relação à elaboração dos instru- reforço e provas, corrijam exercícios e mentos de avaliação, esta é realizada pelo instrumentos de avaliação e atendam aos docente de cada área de estudo, podendo alunos com dúvidas. ser utilizadas, na construção desses instru- As atividades que irão compor o projeto mentos, questões objetivas e discursivas, piloto são: conforme a estrutura de conhecimento das – avaliação acadêmica individual de disciplinas. cada marinheiro do GNHo, considerando a) Para a disciplina de Português, deverá os dados coletados sobre a escolaridade e ser prevista a realização de redação. resultados no concurso público, no C-FMN b) A prova será presencial para a maior e no Epeam (Exame Padronizado para as parte dos marinheiros, à exceção dos que Escolas de Aprendizes Marinheiros); estiverem embarcados em navios em – avaliação diagnóstica por disciplina regime de viagem, cuja prova deverá ser aplicada aos marinheiros do GNHo e ao realizada no navio, preferencialmente na Grupo 2, por meio de prova escrita objetiva; mesma data e no horário dos demais. – condução concomitante das disciplinas c) A correção das provas será realizada ao longo do período disponibilizado; pelo docente de cada área. – estudo de dois livros-textos, resolução dos exercícios contidos no livro de ativida- Atribuições do docente des e apresentação dos vídeos do Telecurso 2000, com as teleaulas referentes a cada Como requisito para a docência, será disciplina; obrigatório que o tutor tenha licenciatura na

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área de ensino em que irá atuar. No curso a informações com o objetivo de avaliar a con- distância, o docente torna-se um facilitador dução do projeto piloto na visão dos alunos. que conduzirá os alunos a explorar não só o material do projeto, mas também outros Atribuições dos marinheiros do GNHo materiais a eles relacionados, propondo atividades que estimulem o pensamento Estudar a distância exige dedicação e au- crítico, respondendo aos questionamentos todisciplina. Embora o aluno possa planejar de forma a estimular os estudos. seu horário de estudo, torna-se necessário que Cabe ao docente, entre outras coisas, as estabeleça uma rotina. Para tal, o marinheiro seguintes tarefas: do GNHo precisa organizar-se de modo que – analisar as informações escolares dedique, durante o horário de trabalho, pelo coletadas dos marinheiros do GNHo para menos uma hora diária para o estudo, visando diagnosticar com clareza o perfil de ingres- concluir as atividades estabelecidas. so no projeto; O aluno precisa sair de uma situação de – orientar os alunos; receptor passivo para construir seu conheci- – acompanhar o desenvolvimento do mento, adotando um comportamento proa- processo de aprendizagem, realizando os tivo, por meio de uma postura participativa, esclarecimentos necessários e incentivando reflexiva e interativa. Assim, observando, a participação nas atividades propostas; analisando, levantando hipóteses, aplicando – conduzir o processo de avaliação, entre estratégias, o aluno irá elaborar um novo outras atividades relacionadas ao processo de encadeamento de ideias, o que o levará a es- ensino e aprendizagem. Deverá também pre- quemas de pensamento próprios, em um pro- parar as provas, definir temas para a redação, cesso constante de construção/reconstrução corrigir os instrumentos de avaliação aplica- do seu conhecimento, devendo desenvolver dos, acompanhar os resultados das provas/ maior capacidade em comparar, contrastar, redação, identificando os erros dos alunos verificar e concluir (DEnsM-5001- cap. 6). para propor atividades de reforço compatíveis Abaixo estão listadas algumas caracte- às dificuldades apresentadas; rísticas desejáveis do aluno nessa modali- – elaborar o calendário de aplicação dade de ensino: das provas e divulgar as orientações para – constância, perseverança e responsa- a aplicação das mesmas, tanto no polo de bilidade; coordenação quanto em viagem, para todos – motivação para aprender; os marinheiros participantes do projeto; – proatividade x autonomia; – apresentar metas que possam ser su- – comprometimento; peradas com o próprio esforço do aluno e – iniciativa; e com ajuda, se necessário; – autodisciplina. – colocar-se disponível para ajudar os No momento da implementação do projeto alunos a superar obstáculos; piloto, foram transmitidas todas as orientações – apresentar atividades que possibilitem necessárias às OM e aos seus superiores para o estabelecer relações entre os conteúdos, desenvolvimento de uma mentalidade favorá- permitindo que o aluno atribua significados, vel à execução desse projeto. Foram realizadas facilitando a construção do conhecimento; e palestras, em datas programadas, para a sensi- – acompanhar o processo de realização do bilização dos imediatos e sargenteantes gerais projeto, aplicando questionário pedagógico das OM dos marinheiros, dos docentes e dos junto aos marinheiros do GNHo, para coletar próprios marinheiros envolvidos.

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Este projeto propiciará à Administração cratização da informação, colaborando Naval indicadores que permitam avaliar a significativamente para o desenvolvimento infraestrutura recomendada, as dificuldades social e tecnológico. e os ajustes necessários para a aplicação de O crescimento da Educação a Distân- um projeto desta dimensão em larga escala cia nos últimos anos reflete o contexto da nas OM da MB. sociedade informacional e a mudança nas políticas públicas para essa modalidade, Conclusão mudanças que possibilitaram sua expansão em instituições de todo tipo de ensino. Des- O artigo reflete sobre a importância da de 2002 a Marinha do Brasil reconheceu a gestão nos projetos educacionais voltados importância dessa modalidade de ensino para o EAD, o surgimento do Ensino a Dis- no contexto da formação e da capacitação tância na Diretoria de Ensino da Marinha, do seu pessoal no âmbito naval. Assim, a progressão das atividades desenvolvidas percebeu a necessidade de organizar um em EAD utilizando o ambiente virtu- Sistema de Ensino a Distância voltado al de aprendizagem para o estudo e para a Moodle, bem como o pesquisa, dando início atual Projeto Piloto de O projeto propiciará à ao processo de gestão Reforço Escolar desti- Administração Naval de EAD desenvolvido nado aos marinheiros atualmente pelo De- da MB, por meio do indicadores que permitam partamento de Ensino ensino por correspon- avaliar a infraestrutura a Distância e Tecno- dência. Os conceitos recomendada, as logia Educacional da apresentados estão Diretoria de Ensino da inseridos dentro da dificuldades e os ajustes Marinha. visão de equipe do necessários para sua As reflexões deste Dead, que busca ser artigo apontam para a reconhecido na MB aplicação necessidade de se ter como departamento de bons gestores de Ensi- excelência na gestão no a Distância. Estes de projetos educacionais que utilizam o gestores precisam estar comprometidos ensino a distância, conduzidos pelas OM com a formação continuada de seu pessoal, executoras do SEN e representados por mas para isso precisam atuar no sentido de indicadores demonstrativos de qualidade reconhecer a aprendizagem como um recur- em educação. so estratégico. Em síntese, o trabalho com O Ensino a Distância surge como um projetos educacionais em EAD contribui modelo capaz de superar os desafios pre- para que cada profissional da equipe de EAD sentes na educação e a sua importância possa se reconhecer no processo e selecionar vai muito além da preparação de futuros a direção mais efetiva para cumprir o seu profissionais. Sendo assim, o EAD se compromisso na formação de cada indivíduo tornou um dos mais importantes recursos interessado em aprender, independente da para difusão do conhecimento e da demo- distância física em que se encontre.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Ensino a distância;

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Referências Bibliográficas

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158 RMB4oT/2014 Barreiras da Comunicação: Causas e consequências no ambiente de trabalho*

Arilson de Oliveira Silva** Capitão-Tenente (AFN)

SUMÁRIO

Introdução Desenvolvimento Comunicação Barreiras da Comunicação Filtragem Percepção seletiva Sobrecarga de informação Defesa Linguagem Medo da comunicação Rádio Peão Conclusão

Introdução é preciso considerar essa evolução e seus aspectos, como a comunicação corporal, comunicação evoluiu com o passar dos a oral, a escrita e a digital. Pensadores e Aanos, assim como a tecnologia (Pimen- pesquisadores das disciplinas de ciências hu- ta, p. 17). Para o estudo da comunicação, manas, como Filosofia, Sociologia, Psicolo-

* Matéria recebida da Diretoria de Ensino da Marinha – Coordenação do Concurso de Artigos Tecnicos e Acadê- micos e de Redação. Primeiro colocado na Categoria: Alunos dos Cursos de Aperfeiçoamento de Oficiais, Alunos dos Cursos de Formação e Especialização de Oficiais e Alunos do Curso de Graduação de Oficiais. ** Serve no Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (Ciasc). Barreiras da Comunicação: Causas e consequências no ambiente de trabalho

gia e Linguística, têm dado contribuições em Este artigo abordará, ainda, os ruídos na hipóteses e análises para o que se denomina comunicação e exemplificará como a filtra- “Teoria da Comunicação”, um apanhado gem, a percepção seletiva, a sobrecarga de geral de ideias que pensam a comunicação informação, a defesa, a linguagem, o medo entre indivíduos como fenômeno social. de comunicação, a rádio peão podem inter- Dos processos de comunicação surgem as ferir na eficácia do processo comunicativo. barreiras que impedem que esta seja efetuada de maneira eficaz, isto é, de forma que o re- Desenvolvimento ceptor compreenda exatamente o que foi dito pelo transmissor, seja de maneira verbal ou Comunicação escrita. Dá-se, então, a necessidade da cla- reza no conteúdo transmitido pelo emissor. Segundo o Dicionário Aurélio, comuni- Quando isso não ocorre, é preciso avaliar cação é o ato ou efeito de comunicar (-se), qual foi a barreira que impediu o sucesso podendo, ainda, ser definida como o pro- desse processo comunicativo. cesso de emissão, transmissão e recepção A comunicação é fundamental à ação de mensagens por meios e métodos e/ou individual e ao esforço conjunto. É o sistemas convencionados. Ampliando tais sistema nervoso da liderança, trabalho definições, diz-se que é a mensagem recebi- em equipe, cooperação e controle. Ela da por esses meios e, ainda, a capacidade de determina a qualidade dos relacio- trocar ou discutir ideias, de dialogar, com namentos, os níveis de satisfação e a vistas ao bom entendimento entre pessoas. medida de nosso sucesso ou fracasso. Comunicação é, ainda, um campo de Sua ruptura é uma das principais causas conhecimento acadêmico que estuda os de discórdia ou conflito, mas, sendo ela processos de comunicação humana, envol- comunicação, é o veículo fundamental vendo a troca de informações e utilizando para resolver dificuldades (Keeling, os sistemas simbólicos como suporte para 2002, p. 229). este fim. Nesse processo estão envolvidas diversas maneiras de se comunicar: duas O presente trabalho abordará a estrutura pessoas tendo uma conversa face a face, do processo comunicativo e citará os prin- ou por meio de gestos com as mãos, men- cipais ruídos, ou barreiras, que interferem sagens enviadas utilizando a internet, a na eficácia da comunicação, suas causas e fala, a escrita que permitem interagir com consequências para o ambiente de trabalho, as outras pessoas e efetuar algum tipo de permitindo que o leitor tenha conhecimen- troca informacional. No processo de co- tos sobre os fatores que podem contribuir municação em que está envolvido algum para a manutenção de um ambiente de tipo de aparato técnico que intermedeia os trabalho propício ao relacionamento inter- locutores, diz-se que há uma comunicação pessoal, tão necessário ao bom convívio no mediada. O estudo da Comunicação é am- ambiente organizacional. O artigo também plo, e sua aplicação é ainda maior. Pode-se permitirá que o leitor conheça as comunica- afirmar que a comunicação confunde-se ções verbais e não verbais, compreendendo com nossa própria vida, pois estamos a todo que, além da fala e da escrita, os gestos, a tempo nos comunicando, seja por meio da postura e as expressões faciais também são fala, da escrita, de gestos, de um sorriso e elementos que compõem a mensagem no até mesmo por meio do manuseio de do- processo comunicativo. cumentos, jornais e revistas. Em cada um

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desses atos que realizamos, notamos a pre- fosse transmitido de uma pessoa para sença dos seguintes elementos: o emissor, outra de tal forma que a figura mental o receptor, a mensagem, o código, o canal percebida pelo receptor fosse idêntica à de propagação, o meio de comunicação, do emissor (ROBBINS, 2007, p. 184). a resposta (feedback) e o ambiente onde o processo comunicativo se realiza. Com Entretanto, tal perfeição dificilmente é relação ao ambiente, o processo comunica- obtida na prática. Desta forma, a comuni- cional sofre interferência do ruído, e a in- cação passa a ter ruídos ou barreiras em terpretação e a compreensão da mensagem seu ciclo, fazendo com que a mensagem estão subordinadas ao repertório. não seja decodificada pelo receptor da forma exata como fora codificada pelo Barreiras da Comunicação emissor, gerando um feedback negativo no processo comunicativo. Nesse sentido, Conforme exposto acima, o processo o termo ruído, ou barreira, é definido por comunicativo é composto por emissor, Pimenta (2009, p. 27) como “(...) qualquer receptor, mensagem, ambiente, canal e interferência ou barreira que dificulte a código. Acrescentando a isso, podemos comunicação”. mencionar o feedback ou retroação, que Este subcapítulo abordará as principais é o retorno dado ao emissor sobre sua barreiras comunicativas que fazem com que mensagem. É por meio do feedback que se o receptor não compreenda a mensagem do pode concluir se a comunicação foi feita emissor conforme fora codificada, apresen- com sucesso ou não. Robbins instrui que tando suas consequências. “o feedback faz a verificação do sucesso na transmissão de uma mensagem como Filtragem originalmente pretendia. Ele determina se a compreensão foi ou não obtida”. (ROB- Robbins define filtragem como “manipu- BINS, 2007, p. 180). lação da informação pelo emissor, para que Pimenta, de maneira igual, define que o ela seja vista de maneira mais favorável pelo feedback (retroalimentação, retroação) receptor”. (ROBBINS, 2007, p. 186). Tal pode ser definido como: reação ao ato manipulação ocorre quando se julga neces- de comunicação. Ele possibilita que sário não transmitir todos os detalhes de um emissor saiba se a mensagem foi apro- determinado assunto a outra pessoa, selecio- vada, desaprovada, compreendida ou nando apenas os pontos principais do tópico. não (PIMENTA, 2009, p. 27). Consequentemente, a mensagem chega ao interceptor final com lacunas ou adulterações. Para que uma comunicação não sofra Por exemplo: determinado chefe de de- nenhuma alteração no entendimento ou na partamento precisa apresentar um relatório sua interpretação, o receptor da informação na próxima reunião de coordenação com deve decodificar a mensagem exatamente o comandante; entretanto, não conseguiu como ela fora codificada, caso isso seja reunir os dados suficientes para prestar possível. um assessoramento completo. Tais infor- Robbins deixa isso bem claro em sua mações deveriam ter sido prestadas por citação abaixo: um outro departamento, que não o fez em A comunicação perfeita, caso possível, tempo hábil. Mesmo assim, tal chefe de seria como se um pensamento, ou ideia, departamento apresenta o relatório, sem

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mencionar que o mesmo se encontra incom- candidatas, quer elas pensem dessa forma pleto e, muito menos, detalhar os dados que ou não (ROBBINS, 2007, p. 187). faltam, apenas com a intenção de cumprir o prazo predeterminado. Esse ato é chamado, Além dos processos seletivos, podemos no jargão popular, de “embrulha e manda”, pontuar a percepção seletiva em outro exem- ou, no jargão naval, conforme de Souza plo na publicação de Robbins, ao falar dos Maior (2003), “passar a bola”. problemas deste ruído na empresa Power Lift: Com o exemplo citado acima, depreen- A percepção seletiva atrapalhou C. de-se que o superior, a partir do relatório Richard Cowan, fundador e presidente apresentado, terá a sua tomada de decisão da Power Lift, uma distribuidora de dificultada, correndo o risco de descon- empilhadeiras. Depois de um ano no siderar dados importantes que não estão mercado, Cowan comprou uma empresa disponíveis. concorrente, em que a maioria dos fun- De acordo com o raciocínio do autor cionários estava na casa havia pelo menos (2007, p. 186), este tipo de ruído é comum 15 anos. Percebendo o novo proprietário em organizações com extensos níveis como jovem e inexperiente, 40 dos 200 hierárquicos, onde é comum falar ao funcionários pediram demissão, o que superior imediato apenas o que ele quer gerou rumores de que a Power Lift es- ouvir, revelando-se que aqui se encontra a tava com problemas financeiros. Cowan manipulação da informação, condensando colocou a culpa da situação na falha de e sintetizando a mensagem para que os comunicação, admitindo que deveria ter superiores não sejam sobrecarregados com se encontrado com os novos funcionários dados julgados supérfluos. para garantir-lhes a importância de seu papel na Power Lift, bem como a boa Percepção seletiva situação financeira da empresa. Agora, Cowan colocou a comunicação como A interpretação transforma e adapta prioridade máxima, conversando pes- o significado da mensagem recebida, soalmente com cada um de seus funcio- fixando-a às atitudes e aos valores do nários para conhecer suas preocupações destinatário até mudar por vezes, radi- (ROBBINS, 2007, p. 187). calmente, o sentido da própria mensa- gem (WOLF, 1999). A percepção seletiva pode ser percebida no ambiente do Corpo de Fuzileiros Navais, Quando os interesses e as expectativas no fato de que muitos jovens, quando do seu do interlocutor que está decodificando a ingresso nas fileiras da instituição, esperam mensagem passam a moldá-la conforme uma vivência exclusivamente operativa, sem suas próprias conveniências, pode-se iden- considerar as demais atividades inerentes à tificar ali a percepção seletiva. profissão, tais como as administrativas e as Stephen P. Robbins (2007) exemplifica de segurança. Isso se deve à interpretação que a percepção seletiva é aplicada com incorreta da mensagem divulgada por meio regularidade em processos seletivos. da propaganda do concurso para ingresso na O entrevistador que acredita que as mu- Marinha. A gama de atividades que o jovem lheres sempre colocam a família antes do militar encontrará no militarismo, além das trabalho, ao selecionar novos funcioná- operativas, muitas vezes gera uma insatis- rios, vai ver essa tendência em todas as fação e, até mesmo, decepção. Conclui-se,

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portanto, que na percepção seletiva a interpre- mento e menos ignorante ficará em relação tação não é realizada baseando-se nos fatos a determinado assunto. Em sua pesquisa, ou na realidade, mas sim fundamentando-se Miller discorre em suas explicações que o nos próprios valores para diagnosticar uma cérebro humano, na maioria, tem dificul- situação ou para decodificar uma mensagem. dade em trabalhar com mais de sete itens Com isso, cria-se uma barreira na comunica- de informação (MILLER, 1956, 81-97). ção, uma vez que a mensagem codificada pelo Robbins, por sua vez, aponta que, emissor passa por uma manipulação durante quando as informações com que temos de a decodificação desta por parte do receptor, trabalhar excedem nossa capacidade de pro- fazendo com que o assunto não seja tratado cessamento, o resultado é a sobrecarga, que da forma como o emissor o elaborara. é tratada por Miller como ignorância, pois faz com que a pessoa perca o discernimento Sobrecarga de informação sobre o assunto. Essa ignorância ou falta de discernimento pode ser justificada pela As pesquisas indicam, por exemplo, impossibilidade de processar e assimilar que a maioria de nós tem dificuldade dados, já que, conforme Robbins, a maioria de trabalhar com mais de sete itens de dos pessoas, hoje em dia, reclama de sobre- informação. Quando as informações carga de informação devido às demandas com que temos de de atender a e-mails, trabalhar excedem telefones, fax, reuniões nossa capacidade Cria-se uma barreira na e leituras profissionais. de processamento, comunicação, uma vez que O resultado da so- o resultado é a so- brecarga de informa- brecarga de infor- a mensagem codificada ção, isto é, a posse de mação (ROBBINS, pelo emissor passa por mais informações do 2007, p. 187). que as pessoas conse- uma manipulação durante guem processar, or- A pesquisa supra- a decodificação desta por ganizar e utilizar, traz citada se refere à feita parte do receptor resultados negativos à por George A. Mil- comunicação da em- ler, em que, em 1956, presa, uma vez que Ro- foram pesquisados os limites da nossa bbins nos afirma que: capacidade para processar informações. A A tendência é selecionar, ignorar ou eficácia da comunicação é percebida e não esquecer informações. Ou podem se em- somente a transmitida, ou seja, o resultado penhar em um esforço de processamento da comunicação ocorrerá se todos os en- para reduzir a sobrecarga. De qualquer volvidos conseguirem transmitir e receber maneira, os resultados são perda de in- a informação ou o conhecimento da forma formações e comunicação menos eficaz como fora concebido. (ROBBINS, 2007, p. 187). Miller orienta que quanto maior for a quantidade de informações que uma pessoa Defesa recebe, maior será o processamento e mais ignorante ela ficará em relação àquele tema. Segundo Robbins (2007), esta barreira Por outro lado, quanto menos informações se manifestará quando o indivíduo receptor esta pessoa receber, menor será o processa- da mensagem sentir-se ameaçado perante

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a informação transmitida pelo emissor. Brasil pode não ser compreensível para Como consequência, nessas ocasiões, é os profissionais de saúde ou metalúrgicos, comum a ocorrência de ataques verbais, mesmo que estes segmentos falem o mesmo comentários sarcásticos, julgamentos exa- idioma. Quando os militares são enviados gerados e questionamentos sobre os moti- para missões em outros países, passam a vos dos outros. Em outras palavras, numa incluir no seu vocabulário os jargões de situação de ameaça, é comum o receptor acordo com o país de origem, o que dificulta criar uma situação em que o entendimento ainda mais a comunicação eficaz. mútuo seja reduzido, intensificando a bar- reira para a comunicação eficaz. Gíria

Linguagem Como forma de repúdio e reação ao condicionamento de uma norma lin- “O significado das palavras não está guística, grupos de pessoas se isolam e nelas; está em nós.” (S. I. Hayakawa apud falam entre si uma linguagem especial, ROBBINS, 2007, p. 187). Dessa maneira, porém não técnica – diferenciando assim Robbins introduz seu pensamento de que do jargão –, opondo-se ao uso comum da as palavras têm significados diferentes para linguagem (PRETI, 1984, p. 2). cada pessoa. De acordo com o autor, existem variá- Preti exemplifica como esta forma de veis que são interpretadas de formas dis- comunicação pode criar uma barreira à tintas entre os indivíduos. Como exemplo, comunicação eficaz, uma vez que ela é podem-se mencionar as variáveis mais emitida para ser compreendida por um óbvias que podem influenciar na comuni- grupo restrito de pessoas: cação entre emissor e receptor: a idade, o A criação dessa linguagem especial pode nível cultural e educacional, a profissão e não apenas atender ao desejo de origina- o local onde vivem. Duas importantes vari- lidade, mas também servir a finalidades áveis que interferem na comunicação para diversas, como, por exemplo, ao desejo de que ela seja eficaz são o jargão e a gíria, e se fazer entender apenas por indivíduos do ambas serão tratadas a seguir. grupo, sem ser entendido pelos demais da comunidade, de onde advém o seu caráter Jargão hermético (PRETI, 1984, p. 2).

Em agrupamentos de profissionais de Ainda seguindo o pensamento de Dino uma determinada área, cria-se uma lin- Preti, a gíria diferencia grupos de pesso- guagem técnica e específica para aquela as – a mensagem sofre dificuldades para atividade, para aquele departamento. Rob- ser decodificada por indivíduos distantes bins (2007) define jargão como sendo uma daquela comunidade. terminologia especializada ou linguagem Caracterizada como um vocabulário técnica que membros de um grupo utilizam especial, a gíria surge como um signo para ajudar a comunicação entre si. Esses de grupo, a princípio secreto, domínio termos específicos podem não ser comuns exclusivo de uma comunidade social a todos os setores da sociedade. restrita (seja a gíria dos marginais ou Por exemplo, a linguagem empregada da polícia, dos estudantes, ou de grupos pelos Fuzileiros Navais da Marinha do ou profissões). E quanto maior for o

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sentimento de união que liga os mem- de gestão”, com o significado da comu- bros de pequeno grupo, tanto mais a nicação oral produzida pelos gestores, de linguagem gíria servirá como elemento forma planejada ou não. Como antônimo, identificador, diferenciando o falante na teríamos a “boca de peão”, cujo significa- sociedade e servindo como meio ideal do é a comunicação que se manifesta por de comunicação (PRETI, 1984, p. 3). meio de rumores (NASSAR, 2006, p. 20).

Medo da comunicação De acordo com Terciotti e Macarenco, a rádio peão pode ser descrita conforme se Pesquisas revelam que 5% a 20% da segue: Podemos definir a rádio peão, por- população sofrem de medo da comunica- tanto, como o tipo de comunicação informal ção. Este medo, conforme Robbins (2007, que se contrapõe à comunicação formal, p. 188), afeta toda uma categoria de técni- originada em meio aos funcionários e que, cas de comunicação, fazendo com que as na maioria das vezes, é comandado por pessoas sintam tensão ou ansiedade, sem eles próprios, com o objetivo de preencher motivo aparente, em relação à comunicação as lacunas deixadas por uma comunicação oral ou escrita. oficial lenta, ineficaz, que não é demo- Quanto à comunicação oral, Robbins crática nem transparente (TERCIOTTI e (2007) exemplifica que uma pessoa que so- MACARENCO 2009, p. 70). fre deste medo encontra grande dificuldade Maria Alzira Pimenta define, ainda: em conversas telefônicas, além de tensão “Rádio peão é uma rede de comunicação ou ansiedade quando da necessidade dessa complexa, informal e muito eficiente, conversa. Como consequência, e ainda de pela qual circulam as mais variadas infor- acordo com o raciocínio de Robbins, este mações, notícias e rumores de interesses indivíduo evitará falar em público ou fazer dos funcionários, não importando sua uma ligação e preferirá transmitir suas men- hierarquia, sua formação profissional ou sagens por meio eletrônico, memorandos seu status” (PIMENTA, 2009, p. 99). e comunicados escritos, deixando de levar em consideração a agilidade e rapidez que Diante disto, conclui-se que fica sob o telefonema proporciona. responsabilidade dos emissores da comuni- O autor também ressalta o fato de que cação elaborar mensagens que não permitam pessoas que sintam este bloqueio tendem que haja possibilidade de interpretações con- a procurar ramos de atividade que exijam traditórias ou ambíguas, que possam gerar pouca interação, ao invés daquelas em que rumores. Isto é, sempre que uma mensagem a comunicação verbal é requisito predomi- for enviada por um emissor, é importante nante, como a docência, deixando de levar que a linguagem utilizada, seja ela dada por em consideração que em qualquer atividade textos, imagens, fala, vídeos, ou qualquer haverá a necessidade de interação. que seja o meio, não tenha lacunas para que surjam outras interpretações. Rádio Peão Conclusão Pela importância e pelo impacto do que é produzido pela oralidade nos ambientes Diante do que foi apresentado, depreen- das empresas, poderíamos adicionar no de-se que praticar as habilidades de comu- mundo organizacional a expressão “boca nicação e aprender a superar as barreiras da

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comunicação são coisas verdadeiramente É um erro pensar que o segredo de úteis para os indivíduos. uma boa comunicação está no excesso Atitudes defensivas, e por vezes agressi- de informação transmitida. O fato de vas, fazem com que muitas pessoas percam não se limitar à informação essencial e facilmente a razão quando são confrontadas fazer o interlocutor perder muito tempo com uma crítica ou um reparo menos favo- com pormenores irrelevantes faz com rável, deixando-se levar pelo lado emocio- que a paciência se esgote rapidamente nal e reagindo de imediato com hostilidade. e a atenção ao que está dizendo se per- É importante manter ca, com prejuízo para uma postura equilibra- informações que po- da, ouvir o que a outra É um erro pensar que deriam ser realmente pessoa tem a dizer e o segredo de uma boa importantes. Assim, defender a sua opinião deve-se evitar que com argumentos plau- comunicação está no suas exposições orais síveis, pois só assim a excesso de informação se transformem em comunicação se pode transmitida momentos aborreci- fazer de forma eficaz. dos para a audiência, Acrescente-se que, indo direto ao ponto nos dias atuais, as dificuldades de comunica- que se quer abordar. ção associadas a mensagens eletrônicas tanto Enfim, pode-se dizer que uma comuni- podem acontecer quando um grande volume cação fluida e eficaz é um requisito indis- de informações é partilhado, como quando pensável em qualquer ambiente de trabalho. as mensagens são muito sintéticas e acabam Saber transmitir uma mensagem, garantin- por não transmitir um conteúdo compreen- do que esta vai ser corretamente percebida sível, suscitando cuidados extras para evitar por quem a recebe, é, sem dúvida alguma, este tipo de falhas na comunicação. um ponto-chave nas relações profissionais.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Comunicação;

166 RMB4oT/2014 Barreiras da Comunicação: Causas e consequências no ambiente de trabalho

Referências

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RMB4oT/2014 167 GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR

“Mais arriscado que mudar é continuar fazendo a mesma coisa” PETER DRUKER (1909-2005)

JOÃO CARLOS CASTRO DIAS* Primeiro-Tenente (EN) LIDIEDSON COSTA BEZERRA** Segundo-Sargento (ML) PEDRO HOWAT DOS SANTOS*** Técnico de Planejamento

SUMÁRIO

Introdução Docagem Identificação dos riscos Análise dos riscos Resposta aos riscos Plano de gestão de riscos Conclusão INTRODUÇÃO positivos ou negativos nos objetivos do projeto. Nos últimos anos, as instituições egundo o Project Management Institu- e os profissionais envolvidos em Geren- Ste (PMI), evento de risco é todo e qual- ciamento de Projetos têm atribuído cada quer evento que, caso ocorra, terá efeitos vez mais importância à análise dos eventos

* Engenheiro Mecânico – Universidade Federal da Bahia (2010). Mestrando em Eng. Mecânica – Universidade Federal Fluminense (2011) e Curso de Formação de Oficiais – CFO (2011). É Encarregado do Núcleo de Auditoria de Projetos do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ). ** Pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela Universidade Candido Mendes (Ucam) (2012), Bacharel em Informática (Sistemas de Informação) pela Universidade Estácio de Sá (Unasa) (2008). É Planejador no Escritório de Gerenciamento de Projetos AMRJ. *** Formação Técnica em Mecânica pela Escola Técnica do AMRJ (2013). Graduando em Engenharia Mecânica pela Universidade Estácio de Sá. É Técnico de Planejamento no Escritório de Gerenciamento de Projetos do AMRJ. GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR

de risco aos quais os seus projetos estão esse trabalho, foi elaborado um plano de sujeitos com o intuito de poder melhorar Gerenciamento de Riscos para o período o desempenho dos mesmos. Embora os de docagem deste meio, em que foram estudos nesta área, no Brasil e no restante identificados e analisados os riscos sendo do mundo tenham crescido significati- depois elaborado um plano de resposta a vamente nos últimos anos, na indústria eles que será mostrado adiante. de reparo e construção naval brasileira as técnicas e práticas de gerenciamento DOCAGEM de risco ainda se encontram em fase em- brionária. Segundo Santos e Gonçalves A docagem de um meio é definida pelo (2006), 95% dos trabalhadores envolvidos dicionário do mar como “ato ou efeito de nas docagens não estão familiarizados com docar, de colocar a embarcação no dique os conceitos de gerenciamento de proje- seco”, sendo esta uma das fases mais im- tos, fazendo com que haja um gap muito portantes do ciclo de reparo e inspeção de grande em termos de resultados entre os um navio. Durante o período de docagem estaleiros brasileiros e os Benchmarks de uma embarcação, são realizados diver- estrangeiros, como é o caso do estaleiro sos serviços, dos quais se destacam: da Samsung, localizado na Ilha de Goeje – inspeção visual e ultrassônica nas (Coreia do Sul), construindo 65 navios obras vivas e linha-d’água; por ano, e o de Cosco, Shangai (China), – inspeção e medição de folga das que repara e converte buchas das madres do cerca de 600 navios leme; pelo mesmo período, O custo da construção – desmontagem e tendo um custo que, inspeção das caixas em alguns casos, che- naval, na Coreia do Sul e na de mar, revisão das ga a ser cerca de 20% China, chega a ser cerca de válvulas de fundo e de dos valores cobrados 20% dos valores cobrados costado; pelos estaleiros bra- – inspeção e medi- sileiros (Cosco Shi- pelos estaleiros brasileiros ção de folgas nas bu- pyard Group, 2011). chas dos pés de galinha Por se tratar de uma da linha de eixo e, con- atividade relativamente complexa e com sequentemente, uma possível retirada dos altos custos envolvidos, os períodos de eixos propulsores; docagem de navios militares estão sujeitos – inspeção, tratamento e pintura de a muitos eventos de risco, fazendo com tanques de fundo; que haja a necessidade cada vez maior de – inspeção e reparo dos hélices de passo utilização de boas práticas de gerenciamen- controlado (HPC); to, mais especificamente Gerenciamento – inspeção, tratamento e pintura de de Riscos, na condução destes projetos. amarras; Seguindo este raciocínio, o Arsenal de – inspeção e substituição do sistema de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ) tem proteção catódica; buscado implantar essas boas práticas, – substituição de chapas das obras vivas aplicando-as em um projeto piloto, durante e linha-d’água; a docagem de um navio entre julho e setem- – tratamento e pintura das obras vivas; e bro de 2014 em um de seus diques. Durante – revisão e reparo do domo do sonar.

RMB4oT/2014 169 GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR

Desta forma, percebe-se a importância foram selecionados aqueles com conheci- que deve ser dada ao período de docagem mento e vivência na área, experiência no de um navio, principalmente na forma como julgamento e tomada de decisões e com este projeto será conduzido, pois, caso isto grande reputação no que diz respeito ao não seja feito da melhor forma possível, o assunto em questão. Foram selecionados bom funcionamento do meio e a sua integri- sete especialistas. O gráfico 1 mostra o dade poderão estar comprometidos. perfil dos especialistas no âmbito do tempo de experiência no assunto e do número de IDENTIFICAÇÃO DOS RISCOS vezes que já participaram de uma docagem. Como resultado da pesquisa, foram Durante a fase de planejamento da do- identificados 31 riscos, que foram dispos- cagem do meio em estudo, para identificar tos em uma Estrutura Analítica de Riscos os riscos envolvidos, foi utilizada a técnica (EAR), como pode ser visto na figura da de aquisição de conhecimento por meio página seguinte, onde foram agrupados de questionários, que é uma das formas pelas seguintes categorias: mais eficientes de se reunir informações – Riscos de Segurança Meio Ambiente a respeito de determinado assunto e a e Saúde (SMS); experiência adquirida em projetos passa- – Riscos Técnicos; dos (LIOU, 1992). Como critério para a – Riscos Organizacionais; escolha de especialistas para reponderem – Riscos Externos; os questionários de identificação dos riscos, – Riscos Gerenciais.

GRÁFICO 1 – Perfil dos especialistas entrevistados (elaborado pelos autores) d o c a g e n s

Anos de experiência

170 RMB4oT/2014 GERENCIAMENTOEstrutura DE RISCOS Analística DURANTE DOCAGENS de Riscos EM UM(EAR) ESTALEIRO MILITAR do Período de Docagem e Reparo (PDR)

Risco de Risco Risco de SMS Risco Técnico Risco Externo Gerenciamento Organizacional de Projeto

Acidentes de Indefinição do Morosidade na Falha na Falhas na Trabalho escopo do indicação dos Fiscalização dos elaboração do durante o PDR projeto mesmo recursos para serviços planejamento após o início início do projeto Acidentes do mesmo Contrato Orçamentação ambientais Atraso na indisponível na Atraso na baseada em durante o PDR execução dos data requerida elaboração da serviços por informações relação de conta das inconsistentes Danos à sobressalentes condições Processo de estrutura do climáticas compras não Morosidade na atender ao navio durante Necessidade de liberação das prazo requerido o reparo reparo após as Terceirizada ordens de inspeções não conseguir serviço a serem Falhas de trabalhadas Danos à cumprir comunicação estrutura do Estimativa contrato no projeto AMRJ durante errada de Falta de mão de o PDR reparos Não conseguir obra qualificada estruturais celebrar um contrato Estimativa Materiais não serem entregues errada de Concorrência no prazo pintura de solicitado mão de obra Falta de Falta de sobressalentes Constantes matéria-prima mudanças no Estimativa Falta de escopo errada de materiais no serviços em mercado Demora na tanques liberação dos Empresa processos de Material mal contratada não compra especificado estar disponível

Estrutura Analítica de Riscos (elaborada pelos autores)

RMB4oT/2014 171 GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR

ANÁLISE DOS RISCOS da frequência de ocorrência do evento de risco durante o projeto conforme mostrado Por ainda não possuir uma maturidade na tabela 1, em que a avaliação para esses elevada em gerenciamento de projetos, foi percentuais dependerá da interpretação do utilizada uma abordagem qualitativa pelo especialista escolhido para avaliá-los. Já AMRJ para analisar os riscos envolvidos o impacto será também avaliado de forma em um projeto de docagem de navio militar. qualitativa, no entanto será adotada uma Para isso, fez-se uso do cálculo da seve- escala que varia de 1 a 5, que representa ridade dos eventos de riscos envolvidos, a intensidade do impacto caso o evento de conforme é mostrado a seguir. risco ocorra sobre o projeto. Sendo assim, foram adaptados os parâ- Severidade = probabilidade X impacto metros sugeridos por Filho (2011), atribuin- do-se pontuações às categorias de impacto e Em que a probabilidade é definida de faixas de probabilidades, conforme mostra- forma qualitativa em uma escala que varia do nas tabelas 1 e 2, a fim de se encontrar a de 0 a 100%, representando a probabilidade severidade para cada evento de risco.

TABELA 1 – Probabilidade de Ocorrência do Evento e Interpretação Faixa de Probabilidade Interpretação 10% Muito improvável de acontecer 30% Mais improvável de acontecer que não acontecer 50% Mesma probabilidade de acontecer ou não 70% Mais provável de acontecer que não acontecer 90% Muito provável de acontecer

TABELA 2 – Avaliação do Impacto do Evento Pontuação Interpretação 1 Muito Baixo 2 Baixo 3 Médio 4 Alto 5 Muito Alto

Baseado na utilização das tabelas acima, avaliação da severidade dos riscos envol- foi gerada a seguinte matriz de risco para vidos no projeto de docagem:

Matriz de Risco (elaborado pelos autores) Probabilidade/Impacto 5 4 3 2 1 0,9 4,5 3,6 2,7 1,8 0,9 0,7 3,5 2,8 2,1 1,4 0,7 0,5 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,3 1,5 1,2 0,9 0,6 0,3 0,1 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1

172 RMB4oT/2014 GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR

Observando-se a Matriz de Risco acima, dos demais em função da elevada severidade, foi notado que, dos 31 riscos identificados, 15 acima de 2,11, indicando claramente um foram classificados como magnitude alta em ponto de corte para a classificação, como virtude da sua severidade, 14 como média e pode ser observado na tabela 3. Vale ressaltar dois como magnitude baixa. Observa-se que, que a severidade resultante considerada foi a dentre os riscos que foram classificados como média aritmética das severidades atribuídas magnitude alta, um grupo de cinco destaca-se pelos sete especialistas.

TABELA 3 – Eventos de Risco e suas Severidades (elaborado pelos autores)

Item Evento de Risco Severidade 23 Processo de compras não atender aos prazos requeridos 2,67 26 Concorrência de mão de obra (MOD) 2,6 7 Necessidade de reparos após as inspeções 2,57 17 Materiais não serem entregues no prazo solicitado 2,41 13 Morosidade na indicação dos recursos para execução do projeto 2,13 5 Indefinição no escopo do PDR, após o início de mesmo 2,11 31 Morosidade na liberação das ordens de serviço 2,07 1 Acidentes de trabalho durante o PDR 2,06 15 Terceirizada não conseguir cumprir contrato 1,86 27 Constantes mudanças no escopo 1,73 14 Atraso na execução dos serviços por conta de condições climáticas 1,71 10 Falta de sobressalentes 1,7 22 Contratos indisponíveis nas datas requeridas 1,7 6 Atraso na elaboração da lista de sobressalentes 1,67 2 Acidentes ambientais durante o PDR 1,64 18 Falta de matéria-prima 1,39 16 Falta de mão de obra qualificada 1,24 8 Estimativa errada de reparos estruturais 1,16 19 Falta de materiais no mercado 1,14 29 Falhas na elaboração do planejamento 1,06 28 Demora na liberação dos processos de compra 1,03 30 Orçamento baseado em informações inconsistentes 1,01 25 Não conseguir celebrar um contrato 0,97 20 Empresa contratada não estar disponível 0,89 11 Estimativa errada de serviços em tanques 0,89 24 Falhas na comunicação do projeto 0,8 3 Danos à estrutura do navio durante o reparo 0,79 21 Falha na fiscalização dos serviços 0,63 12 Material mal especificado 0,61 9 Estimativa errada de pintura 0,3 4 Danos à estrutura do AMRJ durante o reparo 0,29

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Considerando-se agora os cinco prin- o projeto. Para isso foi utilizada novamente cipais eventos de risco, pode-se atuar de a técnica de questionário para elaboração da uma forma mais detalhada e precisa sobre a tabela de priorização dentre os eventos ana- influência da ocorrência dos mesmos durante lisados, chegando-se à seguinte conclusão:

TABELA 4 – Priorização do Risco por Avaliador (elaborado pelos autores)

Morosidade na Processo de Materiais não Necessidade de indicação dos compras não Avaliadores\ serem entregues Concorrência reparos após as recursos para atender aos risco no prazo de MOD inspeções execução do prazos solicitado projeto requeridos Avaliador 1 3 5 4 1 2 Avaliador 2 3 3 2 5 1 Avaliador 3 3 4 5 2 1 Avaliador 4 1 4 2 4 2 Avaliador 5 1 5 4 1 1 Avaliador 6 2 5 2 1 2 Avaliador 7 2 5 1 2 1

Para avaliar o alinhamento entre os amplamente reconhecido como o me- entrevistados, foi utilizado o Coefi- lhor para avaliação de alinhamento de ciente de Kendall, que, segundo Okoli concordância. Tal coeficiente pode ser e Pawlowski (2004), é o coeficiente obtido da seguinte forma:

Onde :

Rj = soma dos postos de cada item avaliado; N = riscos avaliados; K = número de especialistas; W = coeficiente de Kendall, que varia entre 0 e 1.

Após a utilização da relação acima, foi tas, de acordo com os padrões estabelecidos encontrado W = 0,82, mostrando que há pela International Maritime Organization uma boa concordância entre os especialis- (IMO), como pode ser visto na tabela 5.

TABELA 5 – Relação entre os Níveis de Concordância e os Números de Kendall

Fonte: International Maritime Organization (2006)

O bom nível de concordância entre os en- valida o resultado do trabalho, mostrando trevistados pelo número de Kendall apenas que os dados coletados nos questionários

174 RMB4oT/2014 GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR

são de boa qualidade e estão condizentes questionários respondidos, os eventos de com a realidade da instituição. Baseado nos risco foram priorizados da seguinte forma:

TABELA 6 – Priorização Final dos Eventos de Risco Principais (elaborado pelos autores)

Item Evento de Risco Priorização 23 Processo de compras não atender aos prazos requeridos 1 26 Concorrência de MOD 2 7 Necessidade de reparos após as inspeções 3 13 Morosidade na indicação dos recursos para execução 4 do projeto 10 Materiais não entregues no prazo solicitado 5

RESPOSTA AOS RISCOS Fazendo-se uso das abordagens citadas, buscou-se adequar qual das formas de Segundo FILHO (2011), a resposta resposta melhor se enquadraria aos riscos a cada risco pode ter quatro abordagens priorizados e, principalmente, a realidade distintas, que são: atual do AMRJ, com o intuito de se optar – Avoidance (Evitar) – Trata-se da elimi- por uma resposta eficaz, de menor custo nação do risco devido à sua criticidade. de implantação e o menos conservadora Esta abordagem traz custos elevados possível, a fim de se garantir a fluidez dos para o projeto, além do excesso na sua processos. utilização propiciar uma posição con- servadora, evitando-se, por exemplo, PLANO DE GESTÃO DE RISCOS a inclusão de novas tecnologias ou fornecedores no projeto. A elaboração e, principalmente, a ma- – Transference (Transferir) – Transfe- nutenção do plano de gestão de riscos com- rir o ônus do risco para terceiros. Não põem a última etapa do gerenciamento de elimina o risco, apenas há cobertura riscos dentro de um projeto. É nesta etapa financeira para o risco, caso ele se torne que serão definidos a abordagem, as ações realidade. necessárias, as principais características – Mitigation (Mitigação) – Ações para do risco identificadas nas outras etapas e reduzir a severidade do risco, ou seja, os responsáveis por atuarem no respectivo reduzir a probabilidade ou o impacto. risco. Para o projeto em questão, foi elabo- – Acceptance (Aceitar) – Este caso, em rado o Plano de Gestão de Risco mostrado geral, são os riscos de baixa severidade. na tabela 7. Há duas modalidades de acceptance: contigency (ativa) e passive (passiva). CONCLUSÃO A ativa é quando há um plano de con- tingência que é disparado caso o risco Por meio do trabalho realizado, foi se torne realidade. A passiva é quando possível identificar e analisar 31 eventos a ação é totalmente reativa, sem prévio de risco durante a docagem de um na- plano sobre o risco. vio militar, deixando esses eventos em

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TABELA 7 – Plano de Gestão de Riscos (elaborado pelos autores) Título Tipo Proba- Impacto Aborda- Ação Res- bilidade gem ponsá- vel Processo Organizacional 70% Muito Mitigar Elaborar um Plano de Gerenciamento A de compra alto de Aquisições com, no mínimo, 30 dias não atender de antecedência do início da docagem, ao prazo priorizando os serviços com maior proba- requerido bilidade de indicação de recursos

Concor- Organizacional 70% Alto Mitigar No mínimo 60 dias antes da docagem, B rência de baseado no planejamento dos projetos MOD existentes no Primavera¹, avaliar a necessidade ou não de contratação de serviços de terceiros, caso a MOD própria não seja suficiente para suprir as reais necessidades Necessida- Técnico 70% Alto Mitigar Baseado no histórico de outros projetos, C de de re- delinear, por meio de estimativas, os paros após reparos decorrentes de inspeções inspeções Morosi- Externo 50% Alto Eliminar Realizar gestões junto ao cliente, a fim D dade na de priorizar a indicação de recursos para indicação os serviços mais críticos do período de do recurso docagem para exe- cução do projeto Materiais Externo 50% Médio Mitigar Definir, com no mínimo 60 dias de an- E não serem tecedência, a necessidade de obtenção entregues dos sobressalentes mais críticos para a no prazo docagem, utilizando o histórico de doca- solicitado gens passadas

evidência para os envolvidos no projeto forte concordância de alinhamento de e fazendo com que muitos tivessem o opiniões entre os entrevistados, mostran- primeiro contato com as boas práticas do que há uma grande probabilidade de de gerenciamento. Outros pontos que acerto na priorização dos riscos a serem merecem destaque são a elaboração, tratados, ratificando, assim, a qualidade pela primeira vez, de uma Estrutura das informações obtidas durante a exe- Analítica de Riscos por parte do AMRJ cução do trabalho. Vale ressaltar que e a priorização dos mesmos, baseada em a implantação destas boas práticas tem sua severidade, facilitando, desta forma, representado uma mudança de paradig- a atuação diante dos riscos identificados. ma profunda na forma de se gerenciar Por meio da utilização do Coeficiente projetos no Arsenal de Marinha do Rio de Kendall, W=0,82, foi observada uma de Janeiro, o que contribui cada vez mais

1 Software de Gerenciamento de Projetos utilizado pelo AMRJ.

176 RMB4oT/2014 GERENCIAMENTO DE RISCOS DURANTE DOCAGENS EM UM ESTALEIRO MILITAR no intuito de melhorar os serviços pres- principalmente nos requisitos de prazo, tados pela instituição e garante assim a custo e qualidade e fazendo cumprir o seu satisfação dos seus clientes, atendendo-os lema de “Tradição em fazer bem feito”.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Análise de risco; Docagem;

REFERÊNCIAS

COSCO GROUP. 2011. Disponível em: . Acesso em: 15 set. 2014. FILHO, A T. Gerenciamento de Projetos em 7 passos. Uma abordagem prática. São Paulo: Editora M. BOOKS, 2011. INTERNATIONAL MARITIME ORGANIZATION. ISM Code and Guidelines on implementation of the ISM code 2010. LIOU, Y I. Collaborative knowledge acquisition. Expert Systems with Aplications, New York, v. 5, no 1, p. 1-13, 1992a. PMI. Project Management Institute Inc. United States of America, 2013. Disponível em www.pmi. org. Acesso em: 13 set. 2014. SANTOS, L M.; GONÇALVES, N A. “Gestão do Programa de Docagens da Transpetro/Fronape comparada às melhores práticas de gerenciamento de projetos em termos de escopo e tempo”. Trabalho de conclusão de curso (MBA em gestão de projetos) – Fundação Instituto de Admi- nistração, São Paulo, 2006.

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ESLEY RODRIGUES DE JESUS* Primeiro-Tenente (FN)

SUMÁRIO

Introdução Antecedentes A decisão de não decidir Processo de decisão militar Conclusão INTRODUÇÃO para esta grande revolução doutrinária do exército alemão, diminuído a cem mil década de 1930 representou uma homens e com muitos de seus oficiais mais A grande mudança na forma de lutar na experientes mortos como fruto da Primeira guerra, até então movida pela beleza das Guerra Mundial. marchas por quilômetros de terreno inimi- Em parte consequência da maior faci- go, cavalaria e canhões de longo alcance. A lidade e capacidade de produção em larga ascensão da mobilidade do combate como escala de veículos (não somente os utili- principal peça de manobra mudou bastante zados diretamente para as batalhas, mas este modus operandi. Desenvolvimentos também aqueles necessários para o esforço tecnológicos foram mais que necessários logístico e de apoio de serviço ao combate),

* Serve atualmente no Batalhão Logístico de Fuzileiros Navais. MBA em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas (2014). Mestrado em Administração de Empresas com ênfase em Finanças pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2014). PROCESSO DECISÓRIO NO ESTADO-MAIOR

da nova utilização dos aviões nos diversos Inglaterra (União Soviética também, graças teatros de operação (além da observação, à incrível capacidade produtiva), não havia os novos modelos da Luftwaffe passaram na Alemanha (à exceção de pouquíssimos a ser responsáveis por bombardeios e caça) oficiais superiores e, em menor número e do esforço de poucos entusiastas com as ainda, generais) homens dispostos a arriscar novas armas cuja configuração apresenta- suas carreiras em prol do desenvolvimento va mais poder de fogo e mobilidade, Die de doutrinas para Corpos e Exércitos de Panzertruppe foi responsável pelas grandes carros de combate. expansões do Império Alemão durante a A infantaria como arma principal, man- Segunda Guerra Mundial. Desde o Ans- tendo as demais como apoio, ainda era a chluss da Áustria até a Operação Barbaros- visão dominante. Poucos eram os oficiais sa (invasão nazista à União Soviética), os que se dedicavam ao estudo de utilizar tro- Panzer demonstraram a entrada de forma pas blindadas no papel do esforço principal, revolucionária da ciência e da tecnologia como J. F. C. Fuller e Lidell Hart (suas na doutrina militar. Tanto no âmbito tático experiência com os blindados os fez superar quanto estratégico, a Blitzkrieg superou a Terra de Ninguém no conflito anterior), expectativas e revolucionou doutrinas, tal cujos ensinamentos foram minuciosamente qual o fizeram nos tempos antigos a cata- estudados pelo Major Heinz Guderian. pulta e a couraça dos navios. Este, apesar de não muito influente pela É difícil acharmos condições que pos- patente, logo se mostrou um competente sibilitassem à Alemanha atingir tal nível chefe terrestre, cujas ideias tiveram guarida de prontidão às vésperas da guerra. Em em alguns poucos generais. Felizmente (ou, primeiro lugar, o Tratado de Versalhes im- devido ao desenrolar trágico dos eventos, pedia a Alemanha de possuir um Exército infelizmente), Hitler gostou da ideia de um tão vasto como o apresentado pelo Reich. ataque rápido sobre o oeste, permitindo Segundo este tratado, a Alemanha poderia uma rápida mudança para o leste, no caso ter um Exército de, no máximo, 100 mil de uma guerra em duas frentes (Plano homens, seguindo-se 15 mil da Marinha; Schlieffen). A política externa alemã, em segundo lugar, as regiões industriais e neste caso, conseguiu refrear o avanço ricas em minério alemãs foram cedidas para russo por meio do Pacto de Não Agressão a França após a Primeira Guerra Mundial; Nazi-Soviético (também conhecido como não havia know-how para a construção do Ribbentropp-Molotov). Desta forma, os Panzer; e, diferentemente da França e da assuntos com a França foram resolvidos em tempo de, em 1941, haver uma declaração for- mal de guerra entre as duas potências. A soberba viria a trair os generais que, déca- das antes, desdenhavam da capacidade dos blindados. Sem se importar com neces- sidades logísticas básicas, como roupas para frio, equi- pamentos de manutenção, Panzer IV Ausf J combustível ou recomple-

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tamentos de pessoal e material, além do seria interessante que, antes, analisássemos isolamento do Estado-Maior das Forças como foi formada esta instituição e qual foi Armadas (Oberkommando Wehrmacht o seu papel principal no desenvolvimento – OKW) e do Exército (Oberkommando do Estado alemão. das Heer – OKH) nas salas de gráficos, a O Estado-Maior alemão foi formado Blitzkrieg começou a perder sua vitalidade. durante a invasão de Napoleão, em 1805, Este colapso no processo de decisão das período histórico conhecido como a Era mais altas patentes, como é de se esperar Napoleônica. Napoleão enfrentou a Prússia em qualquer organização bem estruturada, em dois grandes combates, até que este rei- a corrupção dos demais níveis hierárquicos, no acabou como satélite do império russo. foi causado, entre outros fatores, pela cul- As batalhas de Jena e Preussische-Eylau tura organizacional das Forças Armadas acabaram por desmantelar o poder político (em especial do Exército alemão, este que o reino da Prússia possuía na valsa das derivado do pensamento beligerante do nações. Com parte do território cedido à reino da Prússia) e pelo distanciamento Rússia e à França, a Prússia passou cerca de progressivo entre decisores e executores. dez anos no ostracismo, quando, durante as Veremos adiante que, já durante a invasão batalhas de liberação, conseguiu expulsar da União Soviética, Hitler deixou de visitar os invasores. Entre os diversos generais a frente de batalha, repetindo os mesmos envolvidos nessas batalhas, destacam-se problemas da Primeira Guerra Mundial, Scharnhorst e Clausewitz. Este último, em que os generais, de Londres, ordenavam quando diretor da Escola Militar da Prússia suas tropas a investidas suicidas pela Terra em Berlim, escreveu o livro Vom Krieg de Ninguém. Mais tarde, quando a guerra (Da Guerra, ou Sobre a Guerra), em que já estava perdida, estas ordens eram dadas explicitava quais os principais atributos de para exércitos e equipamentos que não um soldado quando em combate. Acima de mais existiam. tudo, este tomo foi de crucial importância Temos por missão, portanto, realizar um estudo de caso da campanha militar do Ter- ceiro Império Alemão de 1939 a 1943, a fim de que, após sua leitura, compreendamos quais os fatores responsáveis pelo fracasso das investidas à União Soviética e do futuro declínio das Forças Armadas alemãs. Em nosso estudo, pudemos encontrar fatores direcionadores tanto da queda da disciplina no campo de batalha quanto da erosão da autoridade dos generais dentro do processo decisório do OKW, tendo consequências diretas no desenrolar da Blitz e na campa- nha da Rússia.

ANTECEDENTES

Para que tenhamos condições de discur- sar sobre a cultura do Estado-Maior alemão, General Carl von Clausewitz

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na formação do Estado-Maior. Muito do vezes respeitado completamente. Cabe des- que foi utilizado pelos Generais Keitel e tacarmos a incrível influência de Moltke, o Jodl durante a Segunda Guerra foi escrito velho, quando assumiu o papel de chefe do nessa época. Estado-Maior durante as guerras de 1866 (contra a Áustria) e 1871 (contra a França). Apesar da grande capacidade estraté- gica criada durante o desenvolvimento do Estado-Maior alemão, o que chama a atenção são a disciplina e o estado de prontidão constante das Forças Arma- das, em especial após a derrota em Jena. Criou-se uma forma de identificação das Forças Armadas com o futuro da pátria prussiana (a despeito de serem os generais indiferentes aos políticos, no sentido de não se envolverem com a política, sendo a única exceção a tentativa de golpe per- petrada pelo General Stauffenberg em 20 de julho de 1943). Desta data em diante, talvez pelo grande colapso causado pelas invasões francesas, políticos, militares e civis passaram a se alinhar com o bem-estar do Estado. Foi este mesmo sentimento que GeneralAlfred von Schlieffen manteve Hindenburg na Alemanha após a

Schlieffen, outro general influente e que viria a assumir a posição de chefe do Estado-Maior alemão, percebeu que, apesar de não ser um estado tão beligerante quanto França, Portugal, Espanha e Itália, a Alema- nha, por estar no centro da Europa, estaria destinada a participar de todos os embates que possivelmente viessem a ocorrer. A fim de evitar guerras em duas frentes, deveriam os políticos garantir que um dos lados permanecesse em paz, ou em uma con- dição tal que permitisse resolverem-se os problemas em um lado, partindo todo o es- forço para o outro. Para tanto, a Alemanha deveria derrotar seu maior inimigo a oeste (França), por meio de uma rápida incursão pelos territórios mais fracos de Bélgica e Holanda. Este plano (batizado com o nome Schlieffen) foi utilizado em ambos os conflitos mundiais, mas em nenhuma das General Claus Schenk Graf von Stauffenberg

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derrota (diferentemente de Wilhelm II), ou que impediu uma tomada de poder pelos militares, mesmo após a derrota de Stalin- grado e do cerco a Köenigsberg em 1943. Em geral, os generais alemães herdaram de seus antepassados patriotismo, disciplina e lealdade para com as autoridades represen- tantes do povo. O OKW tinha exatamente esses preceitos em mente. Pacientemente, observaram a ordem de parar diante da reti- rada das tropas britânicas em Dunquerque, a ordem de avançar sobre a União Soviética e a ordem de não recuar, obedecendo-as, mesmo sabendo de sua pouca chance de vitória ou, até mesmo, da impossibilidade lógica de algum sucesso. Segundo o Almirante Canaris, boa parte dos soldados alemães não concordava com a doutrina nacional-socialista de superio- Almirante Wilhelm Canaris ridade racial, tampouco de uma expansão militares para com a nação. Muito pelo territorial que garantisse o espaço vital contrário, ao revitalizar o Império Alemão alemão. Durante a guerra da Rússia, mesmo de 1871, os militares passaram a ter em sabendo dos grandes problemas concer- seu conjunto de valores, uma vez mais, nentes ao avanço sobre a “terra arrasada”, o reflexo dos grandes chefes militares do cogitava-se formar grupos de colonos da reino da Prússia. Schutzstaffel (SS) a A Alemanha conse- fim de povoar os no- guiu dominar, em me- vos territórios. Muitos Os generais alemães nos de dois anos, uma generais acreditavam herdaram de seus área que se estendia que, após a anexação do sudoeste da França da Polônia e o pacto antepassados patriotismo, ao leste da Pomerâ- Molotov-Ribbentrop disciplina e lealdade nia Oriental, incluindo de não agressão, seria Áustria e Tchecoslo- alcançada uma paz para com as autoridades váquia. Mesmo em duradoura e o povo representantes do povo quatro anos de guerra, alemão estaria unido Hindenburg e Wilhelm sob uma única ban- II não conseguiram deira (o Terceiro Império). Mesmo com este feito. Esta mudança radical nos su- essas esperanças, e contra sua vontade, o cessos das missões deveu-se, sobretudo, Exército e a Marinha (forças históricas, ao às novas doutrinas de combate e ao mais contrário da recém-construída Luftwaffe novo equipamento de guerra: o tanque. De de Göring) mantiveram sua lealdade ao todos os entusiastas, certamente o mais Führer. A ascensão de Hitler, ou o início da conhecido e competente em sua utilização guerra, desta forma, não teve nenhum papel foi Guderian. Devido às suas energia e na mudança de entendimento do papel dos determinação, o novo modo de guerrear

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de dezembro de 1940, a Diretiva 21, dando a seus generais ordens para a disposição de ataque à União Soviética, que apenas viria a ser realizada em 22 de junho de 1941. Como o avanço alemão foi tamanho nos dois primeiros anos da guerra, era impensável que houvesse uma derrota. Os generais alemães imaginavam, ratificados pela megalomania de Hitler, que domina- riam facilmente a Rússia se conseguissem neutralizar rapidamente sua Força Aérea e seus blindados, até então os únicos que demonstravam algum real perigo aos Pan- zer. A manobra seria um sucesso. Todavia, problemas logísticos logo se tornaram gritantes. Com a aproximação do inverno russo, as tropas não possuíam roupas de frio, e as lagartas e rodas dos veículos “patinavam” pelos campos congelados. Nesse momento, o Componente de Apoio de Serviço ao Combate precisava estar General Heinz Guderian pronto, a fim de contribuir para a cons- passou a ser o do movimento, com poder trução ou melhoramento de estradas e de fogo e velocidade, pondo um fim às abrigos, abastecimento de sobressalentes guerras de trincheiras. Nesse novo modelo, e combustível e lubrificantes e, acima de a logística deveria ser mais rápida, e a inte- tudo, proporcionar maior conforto à tropa. gração das armas de serviço exigia maior O esforço de guerra alemão, em con- rapidez de transmissão traste com o britânico, de dados e mais inte- era bastante dependente gração entre as forças A falta de visitas à frente de dos produtos alemães, (em especial entre o batalha e decisões tomadas haja vista a falta de co- ar e a terra). Sendo lônias e territórios fora assim, suprimentos nos quadros de manobras do teatro de operações como combustível, tiravam os generais da da Europa. O objetivo peças de reposição, realidade do combate logo passou de alcançar lubrificantes, comida, Kiev para o domínio roupas e munição para dos campos de petróleo a artilharia eram cruciais, devendo ser pre- do Cáucaso. O cerco a Leningrado (que vistos de acordo com a força do inimigo e estacionou tropas necessárias ao avanço a projeção de avanço diário. Como a Blitz sobre Moscou por mais de dois anos), as exigia maior velocidade de avanço, os sol- sucessivas derrotas (em particular em Mos- dados também precisavam ir mais leves, cou e Stalingrado) e, mais tarde, o cerco do o que exigia um esforço ainda maior dos Exército Norte (próximo ao Golfo de Riga) Componentes de Apoio de Serviço ao Com- transformaram o que seria uma fácil vitória bate. Mesmo assim, Hitler assinou, em 18 em uma derrota histórica. Certamente que,

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para isso, também se aliaram os bombar- A Decisão DE Não decidir deios às fábricas de armamento do Reich e às indústrias nevrálgicas ao esforço de O que teria levado, portanto, todo o guerra, o pânico que se espalhou pela so- Estado-Maior Alemão a não agir diante de ciedade alemã e, já próximo à hecatombe tantas ordens ilógicas? do regime, a descoberta dos campos de Apesar da força representada pelos concentração e de extermínio. militares, torna-se princípio básico de uma Alguns fatores ajudam a compreender democracia que os militares estejam subor- o porquê de terem os oficias generais dado dinados e sejam controlados por autorida- ordens absurdas, como fuzilar soldados que des civis. Rose (1994) diz que um controle retraíssem, corte marcial para generais de democrático significa a subordinação das campo que ordenassem retiradas estratégias Forças Armadas a autoridades políticas ou a não compreensão das condições subu- eleitas democraticamente e responsáveis manas da guerra, mesmo que muitos dos por tomar decisões concernentes à defesa que comandavam tivessem presenciado as do país. Chuter (2000) define controle agruras das trincheiras. Em primeiro lugar, a civil como a obediência com que os mi- falta de visitas à frente litares devem servir de batalha e decisões aos civis, ao governo. tomadas nos quadros Manter-se sem agir foi, Percebemos, desta for- de manobras tiravam contudo, um erro pelo ma, que é uma questão os generais da reali- de boa governança. Os dade do combate. Em qual muitos pagaram. As militares devem estar suas salas suntuosas, ideias erradas do Führer a serviço do Estado e, esqueciam-se de que foram responsáveis pela por consequência, às mesmo Wilhelm I e autoridades civis que Bismark estavam com morte de milhões – seus foram eleitas para o seus exércitos quan- subordinados acreditavam governar. Este estado do estes se punham a de desenvolvimento marchar. A visão do em sua competência militar democrático pode ser Estado-Maior alemão inexistente facilmente observado passou a ser diversa no mundo hodierno. daquela por eles produ- Certamente que a zida durante a invasão da Bélgica/Holanda/ rápida vitória alemã sobre a França durante França. Cabe destacar que a fé em uma raça a Blitzkrieg teve um peso grande na mente superior foi responsável por muito do sofri- de Hitler para que sua decisão fosse a favor mento enfrentado pela tropa, em especial do ataque. As informações disponíveis em na campanha da Rússia. Considerando-se sua mente, em especial as da memória mais acima na escala evolutiva, e tendo por recente, davam-lhe a certeza da vitória, e inimigos os inferiores bolcheviques (os de uma vitória rápida, graças a certas con- quais eram guiados pelos ideais judaicos de dições serem semelhantes àquelas enfren- Marx e Engels), os alemães não tiveram o tadas na campanha da França. Além disso, mesmo esmero na preparação do Exército, a visão estereotipada de Hitler de que os tampouco no planejamento da integração russos seriam uma raça inferior aos arianos estratégica, mister entre as Forças Armadas e sua consideração de que o bolchevismo e, dentro destas, das armas específicas. seria uma doutrina de povos primitivos

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deram ao Führer uma fé absoluta na vitória. homem que salvara a Alemanha da crise e Mesmo sendo alertado por seus generais das injustiças de Versalhes era o Supremo de que os meios necessitavam de maior Comandante. Manter-se sem agir foi, con- tempo de manutenção e de que os russos tudo, um erro pelo qual muitos pagaram. possuíam um Exército bem maior que o As ideias erradas do Führer foram respon- alemão (em especial quanto ao número sáveis pela morte de milhões de soldados e de tanques), sua insensibilidade quanto civis inocentes. Apesar de menos sangrento aos dados foi responsável por um grande que o modelo adotado durante o primeiro despreparo para uma guerra longa (isto se conflito mundial, a Blitz foi, acima de refletiu, por exemplo, na falta de roupas de tudo, responsável por tornar a guerra mais frio para os soldados). Todas essas facetas próxima dos civis. Desde a invasão da da decisão de ataque culminaram em um Bélgica até a Barbarossa, passando pelo excesso de confiança em fatos irrelevantes bombardeio de Londres, nem mesmo as para a determinação do vencedor. Guerras Napoleônicas haviam invadido A personalidade de Hitler e de seus de forma tão brutal as cidades e capitais subordinados diretos também influenciou do Velho Mundo. no início do conflito com os russos. Já des- A política de apaziguamento também crevemos como a cultura organizacional do ajudou na formação do mito do Führer. Estado-Maior alemão Como os eventos passa- havia sido criada por ram a ocorrer de forma meio da lealdade e de A despeito da megalomania planejada (invasão da discrição. Fazer muito e do egocentrismo de Hitler, Renânia, da Áustria e falar pouco era o e dos Sudetos foram lema. Esta caracte- seus próprios generais feitas sem muita opo- rística colidiu com os passaram a se julgar sição internacional), gritos e as certezas ab- todos imaginavam que solutas de Hitler, cuja invencíveis seria bastante difícil experiência militar de uma guerra total, ou soldado na Primeira Grande Guerra não o mesmo que as visões de Hitler estivessem capacitava a tomar decisões estratégicas equivocadas. Com base nessas confirma- para emprego do Exército. Mesmo assim, a ções, as interpretações passaram a ficar fé no líder e a disciplina prussianas fizeram- ancoradas na impossibilidade de derrota, -se presentes. na infalibilidade das decisões do chefe de O egocentrismo de Hitler e, mais tarde, Estado. Da mesma forma, a assinatura do de seus aduladores, transformaram-no em pacto de não agressão foi visto como um um super-homem, capaz das melhores fator conjuntivo, ou seja, era uma emprei- escolhas, a despeito dos conselhos dos tada sagrada, abençoada pela providência. generais mais capacitados e experientes. Todo o universo convergia para o sucesso Mesmo após Stalingrado, o fim do cerco a da missão. Esta interpretação voltou a ser Leningrado e o posterior avanço soviético, corroborada pelas vitórias rápidas da Blitz, os generais alemães continuaram a creditar seja na Polônia, seja no oeste. A despeito à imagem de Hitler uma capacidade não da megalomania e do egocentrismo de observada. Essa percepção formou o viés Hitler, seus próprios generais passaram decisório que apenas reforçou a visão de a se julgar invencíveis. Este excesso de sucesso, fruto da vitória sobre a França. O confiança foi de primordial importância

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para que consigamos compreender desde mais rápidos e que pudessem surpreen- a retirada anfíbia de Dunquerque até as der seus inimigos no campo de batalha, derrotas em Stalingrado e Königsberg. A Napoleão permitia que seus comandantes falta de materiais que suprissem a indústria tomassem as próprias decisões, desde bélica, ou mesmo a frente de batalha, foi que alinhadas com o cumprimento da consequência de julgarem-se os generais missão maior. acima de seus inimigos. Mesmo após Esta tática (batizada por Clausewitz de Guderian ter assumido a chefia do Estado- Auftragstaktik, ou Comando de Missão) -Maior alemão, seus subordinados diretos foi largamente utilizada pelos generais acreditavam que as decisões deveriam ser alemães durante os anos seguintes. Parte tomadas por Hitler, visto que haveria sido de sua facilidade de manobrar seus exér- seu gênio superior o real responsável pelas citos durante as guerras de 1866 contra a vitórias passadas. Áustria e de 1870-1871 contra a França Em toda esta história, observamos baseou-se neste princípio, que foi ensina- claramente um fundo de conscientização do nas escolas militares aos oficiais que, limitada e inversão de preferências. Ao quando generais, cobrariam esta atitude fazerem suas análises sobre as atitudes de de seus comandantes. Certamente que o Hitler, seus generais não viam um homem ambiente da guerra exige que os planos desequilibrado, mas sim um governante de- sejam flexíveis, e é exatamente esta flexi- cidido e apaixonado pelo ideal da expansão. bilidade que deve permear as decisões dos Da mesma forma, os generais de Stalin não comandantes. Sendo assim, faz-se mister o viam como um ditador sanguinário que que os generais estejam nos campos de havia jogado por terra os ideais de 1917. batalha, ou que pelo menos os visitem Ao invés disso, tinham medo e respeito. periodicamente, a fim de que possam ter Hitler não possuía o treinamento de um um retrato fidedigno da situação. Apesar general, o que por si só deveria impedi-lo de político e bem-sucedido neste campo de tomar as decisões que tomou. Mesmo profissional, acima de tudo Napoleão foi assim, seus subordinados acreditavam em um grande militar e um general incompa- sua competência militar inexistente, em rável, que, por diversas vezes, usava do parte graças aos sucessos de anexação sem exemplo para comandar (episódios como batalhas da Renânia. “A peste no Egito”, “A ponte de Arcole” e as diversas batalhas em que ele esteve ProCessO de DECISÃO militAr presente comprovam isso). As experiên- cias de Rommel e Guderian na Primeira As decisões militares, quando em pe- Guerra Mundial também estão repletas do ríodo de guerra, devem ser tomadas pelos conceito de Comando de Missão. próprios comandantes, tendo em mente Vemos, claramente, a incursão dos o cumprimento da missão da forma mais ideais franceses da Revolução de 1789 humana, econômica e limpa possível. permeando as decisões militares, antes for- Estes ensinamentos foram catalisados malizadas por planos engessados gerados por Carl von Clausewitz em Vom Krieg. sem a participação dos homens da frente Essa visão de comandos fragmentados foi de batalha. Como já foi mencionado, tanto primeiramente utilizada por Napoleão, Bismark quanto Wilhelm I acompanha- durante as guerras que levam seu nome. vam seus exércitos. Da mesma forma, Para conseguir que seus exércitos fossem ao analisarmos as decisões dos generais

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ingleses e alemães durante a guerra de privava os generais de assumirem posições 1914-1918, observamos que, quando os corretas estrategicamente, preferindo aque- políticos passaram a dominar as decisões las que pudessem gerar louros pessoais. militares (ou quando as decisões militares passaram a ser mais políticas), a descen- CONCLUSÃO tralização das decisões foi diminuindo. Hitler e Stalin são o maior exemplo disso. A Segunda Guerra Mundial foi res- Ordens absurdas, como não recuar jamais ponsável por incutir na doutrina militar a (motivadas pelo fuzilamento sumário guerra de movimento. Com a necessidade e imediato), armar civis sem nenhum de melhorar o processo decisório dos diver- treinamento militar e repassar recursos sos comandantes de unidades, subunidades imprescindíveis à indústria bélica para e frações, foram investidos esforços na a indústria do extermínio racial, foram direção de haver melhor troca de dados, algumas das quais remarcam o período. facilidade de compreensão das ordens e O caso do nacional-socialismo foi maior liberdade de ação, garantindo que, bastante interessante, visto que os polí- tal qual na Franco-Prussiana, o Exército ticos mais graduados possuíam poderes alemão conduzisse suas operações de ma- militares. Hitler, Himmler (chefe da SS), neira econômica, sem centralizar as ordens, Göring (comandante refletindo em ações as da Luftwaffe) e Strei- percepções dos coman- cher (líder dos Gaulei- Atualmente, os militares dantes nos diversos ter, representantes pro- pensam em tomar suas teatros de operação. vinciais que passariam, O fim do processo nos últimos anos da decisões com base no ciclo decisório no Oberkom- guerra, a formar exér- OODA (Observe, Orient, mando foi um exemplo citos civis) são alguns Decide, Act) na história militar do exemplos. Mesmo problema de manter assim nenhum deles decisões do campo de passou por escolas militares (à exceção de batalha na mão de políticos. Estes, como Göring, que não possuía expertise suficien- mantêm o poder supremo de declarar guer- te para ser um comandante de Força com ta- ra, não devem ou não deveriam manter o manhos poderes, tampouco oficial general) controle das decisões nos diversos teatros nem mesmo teve experiências na vida de de operação. Em geral, ao ocorrerem estas comandos de unidades (Streicher publicava inversões de papéis, além do insucesso jornais políticos e Himmler começou sua estratégico, o país enfrenta um problema carreira militar na SA – Sturmabteilung, diplomático. a tropa política dos nazistas, apesar de ter A Auftragstaktik* foi, indubitavelmente, tido um treinamento para assumir o posto uma das maiores revoluções na doutrina de oficial na Primeira Guerra Mundial, cujo militar. Utilizada de forma consciente, término repentino o impediu). O excesso de pode transformar um exército de soldados centralização impediu que os comandantes em um exército de líderes, cujas decisões tomassem iniciativas que poderiam salvar estarão diretamente ligadas e alinhadas ao vidas e batalhas, e a politização do exército cumprimento da missão. Este ensinamento,

* N.A.: Comando de Missão.

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responsável por diversas vitórias na história, ticas da Blitzkrieg diante das idiossincrasias deve ser o lema. Atualmente, os militares do teatro da Rússia (que exigiam maiores pensam em tomar suas decisões com base no esforços logísticos devido às maiores dis- ciclo OODA (Observe, Orient, Decide, Act). tâncias entre as cidades, estradas em piores Isso permite que todos os níveis hierárquicos condições, o clima e a temperatura e, acima (desde os soldados até os generais) possam de tudo, a influência destes fatores sobre o ter a rapidez de decisão necessária a garantir moral do combatente); declaração da guerra o sucesso em condições de combate. O ciclo irrestrita de submarinos; não observância OODA nada mais é do que a propagação da dos alertas de generais experientes sobre liberdade de ação nos exércitos, do Coman- a falta de obstáculos diante de uma possí- do de Missão como uma forma institucional vel e provável invasão aliada às praias da de garantir a melhor análise das opções Normandia; e a não instalação de artilharia disponíveis por parte dos subordinados. O antiaérea nas áreas próximas às fábricas e empowerment militar. indústrias ligadas ao esforço de guerra. O Outros sintomas da patologia decisória Oberkommando, liderado por Hitler e não do Oberkommando podem ser observados, mais Keitel (este cegamente seguia todas como: o fato de as derrotas não terem li- as ordens do chefe de Estado), acreditava gado um alarme sobre a incompetência do que as ordens deveriam ser cumpridas, não Führer em administrar as Forças Armadas; obstante a cultura prussiana da liberdade a impossibilidade de vitória após a entrada de ação do comandante de unidades e dos EUA na guerra; a obsolescência das tá- subunidades.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Decisão; Doutrina; Planejamento militar; Estratégia; História da guerra; História da Alemanha;

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Referências

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RMB4oT/2014 189 A PIRATARIA MARÍTIMA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO*

RAFAEL REIS CAVALCANTI Aspirante RICARDO DZIEDZIC DE ARAÚJO LIMA Aspirante

SUMÁRIO

Introdução Pirataria de Jure – A definição e sua imprecisão A ótica da IMO (International Maritime Organization) A pirataria na Somália e no Golfo de Aden A Operação Atalanta e a Eunavfor O Golfo da Guiné: o perigo iminente Conclusão

INTRODUÇÃO A pirataria passou por mudanças substanciais durante os séculos, desde urante décadas, a sociedade teve a seus objetivos em si e seus métodos, não Dimagem do pirata moldada sobre recebendo a devida atenção das autorida- estereótipos hollywoodianos baseados em des internacionais durante muito tempo. personagens pitorescos criados durante Todavia, nos últimos anos, a atividade o período das Grandes Navegações e da se tornou uma prática constante em áreas colonização europeia, em galeões e naus econômicas estratégicas, gerando gran- repletos de baús de tesouro e rum. No de repercussão e criando transtornos e entanto, a pirataria moderna em pouco se preocupações junto aos países afetados e assemelha a tal imagem. órgãos internacionais.

* Publicado na Revista de Villegagnon de 2013. A PIRATARIA MARÍTIMA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

O reaparecimento do crime ante o novo Concluímos então que, por tal definição, milênio trouxe à tona a discussão deste e a um ato ilícito cometido em águas interiores, seguinte pergunta: “Como o mundo contem- mar territorial ou Zona Econômica Exclu- porâneo pode compreender e combater uma siva (ZEE) não seria considerado pirataria. atividade que permaneceu no ostracismo Logo, a captura e a punição dos piratas, durante tantos anos?” Para respondermos por qualquer país, somente são possíveis a tal questionamento, devemos primeiro em águas internacionais. Isso causa um buscar a definição de pirataria e suas causas, conflito com relação à autonomia no com- abordando os principais focos do crime no bate à pirataria, já que os criminosos têm século XXI, para que assim consigamos a possibilidade de buscar refúgio no mar compreender a importância de combatê-la. territorial de Estados que não têm condi- ções de promover o patrulhamento. Desta PIRATARIA DE JURE – A forma, gera-se uma imprecisão, dificultando DEFINIÇÃO E SUA IMPRECISÃO as ações de antipirataria. Outra importante conclusão é a diferença conceitual entre pi- Para compreendermos melhor a pirataria rataria e terrorismo marítimo, no que tange à e suas implicações no mundo contemporâ- “finalidade”: enquanto aquela tem propósito neo, devemos inicialmente tentar defini-la. particular (tomar a posse de cargas e navios Em dezembro de 1982, foi promulgada a para si), este visa somente desestabilizar a assinatura da Convenção das Nações Unidas normalidade, colocando em cheque a segu- sobre o Direito do Mar (CNUDM), que só rança das atividades na área de ação. começou a vigorar em novembro de 1994 e foi internalizada pelo Brasil em junho de A ÓTICA DA IMO 1995. Dentre os assuntos abordados pela (INTERNATIONAL MARITIME Convenção, há a definição de pirataria e sua ORGANIZATION) prática, além de prever a cooperação de todos os países para a repressão à pirataria. No tex- Com o intuito de reduzir as arbitrarieda- to, em sete artigos, a pirataria é definida como des, as imprecisões e os possíveis desgastes ato ilícito de violência ou de detenção ou de diplomáticos, a IMO considera os atos de depredação cometido, com fins particulares roubo armado (“qualquer ato ilegal come- (o que define omodus operandi de cada pirata tido com violência ou detenção ou qualquer em sua respectiva área de atuação), contra um ato de depredação ou ameaça”), mesmo em navio que esteja em alto-mar ou fora da área águas jurisdicionais, como atos de pirataria. de jurisdição de um Estado. A participação Sendo assim, a IMO reduz a problemática em voluntária e consciente, ou a incitação ou a torno da definição da ação dos piratas, já que ajuda intencional para a execução desse ato, muitos ataques que não seriam classificados também é considerada como pirataria. A como crimes de pirataria, devido ao local de CNUDM também prevê o direito de apresa- ocorrência, podem ser considerados como tal. mento de um navio pirata ou navio que tenha sido capturado por estes por qualquer nação, A PIRATARIA NA SOMÁLIA E NO cabendo a esta decidir as penalidades impos- GOLFO DE ADEN tas aos piratas e as medidas a serem tomadas para com o material apreendido. O país que Desde o século XV, quando o comércio realiza o apresamento deve fazê-lo por meios entre o Oriente e a Europa passou a ser militares ou que estejam a serviço do Estado. realizado contornando a África, o fluxo

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de cargas e navios pela costa deste con- A partir do ano de 2005, o grande foco tinente tornou o Oceano Índico uma das da pirataria passou a ser o Golfo de Aden, mais importantes vias para as atividades uma das mais importantes passagens marí- das companhias de navegação europeias. timas do mundo, que liga o Índico ao Mar Na segunda metade do século XIX, o Ca- Vermelho. A partir da costa da Somália, nal de Suez criou um novo caminho que os piratas partem para realizar os ataques possibilitou o encurtamento da viagem contra os navios mercantes que demandam entre a Europa e a Ásia. No século XX, a região. As ações realizadas por grupos com a descoberta de grandes reservas de embarcados, em pequenas lanchas de alta petróleo e gás na Península Arábica e com velocidade, tomam os navios de assalto, o aumento da demanda desses recursos na fazendo reféns suas tripulações e exigindo Europa e na América, criou-se uma movi- cifras milionárias como resgate. Os reflexos mentada rota comercial marítima utilizando dos ataques causaram grandes prejuízos: o Oceano Índico como inquietação dos gran- passagem obrigató- des armadores, inflação ria para o escoamento A Oceans Beyond Piracy de preços de produtos desses recursos para transportados e ser- o Ocidente, passando (OBP) publicou um viços de segurança e pelo Canal de Suez relatório sobre os gastos transporte, precauções ou contornando a em relação à salva- África, pelo Cabo da com o combate à pirataria, guarda das tripulações, Boa Esperança. Após resultando no montante instabilidade política a Segunda Guerra de US$ 7 bilhões no ano de regional e gastos em de- Mundial, o continente fesa. A Oceans Beyond africano passou por 2011, sendo 2% o gasto com Piracy (OBP) publicou um longo processo o pagamento de resgates um relatório sobre os de descolonização em gastos com o combate relação às potências aos piratas à pirataria, resultando europeias. Muitos dos no montante de US$ 7 movimentos de inde- bilhões no ano de 2011, pendência dos países africanos resultaram sendo o gasto com o pagamento de resgates em disputas internas, golpes de estado e aos piratas 2% de tal quantia. guerras civis. Como consequência, os Esta- O episódio decisivo que fez levar a dos recém-independentes eram impotentes presença militar à região foi o sequestro do e instáveis, e as condições sociais tornavam MV Faina, que transportava armamentos e favorável o surgimento de grupos rebeldes veículos de combate vindos da Rússia. A paramilitares. Entre esses países está a partir deste caso, em acordo com o governo Somália, localizada no Chifre da África. transitório da Somália, países europeus, O país se tornou independente nos anos 60 China, Estados Unidos e Rússia passaram e, nas décadas seguintes, passou por crises a deslocar navios de guerra para a região econômicas e sociais que possibilitaram de modo a garantir a segurança de navios o surgimento de insurgentes. No início mercantes e inibir a ação dos piratas. Desde dos anos 90, sofreu intervenção norte- 2008, a Organização do Tratado do Atlânti- -americana e, desde então, não possui um co Norte (Otan) e a União Europeia mantêm governo estável. duas operações permanentes de patrulha

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Superpetroleiro Sirius Star

no Golfo de Aden, além da presença russa permitiu a entrada no mar territorial somali e chinesa na região. Desde então diversas para perseguição de piratas, com a autori- operações navais conjuntas têm sido reali- zação do Governo Transitório Federal da zadas ao largo da costa da Somália. Somália. A Resolução no 1.816 criou uma Em novembro de 2008, os piratas situação nova ao permitir a captura de pi- somalis capturaram o superpetroleiro ratas dentro do mar territorial somali pelo Sirius Star enquanto navegava ao largo período de seis meses, e, posteriormente, da costa do Quênia. a Resolução no 1.846 O navio viajava da estendeu o prazo por Arábia Saudita para os A chance de sucesso dos mais 12 meses. As duas Estados Unidos com 2 atos de pirataria tem resoluções destacam milhões de barris de diminuído, graças à a excepcionalidade da petróleo (cerca de um situação e que as Na- quarto na produção presença militar nas áreas ções Unidas prezam diária de petróleo da críticas, de 44% em 2008 pela preservação da Arábia Saudita na épo- soberania, ressalvando ca). Após negociações, para 26% em 2009, 25% que tal medida não cria em janeiro de 2009 o em 2010 e 16% em 2011 costume internacional. Sirius Star foi libera- Em janeiro de do pelos piratas sob o 2009, no Djibuti, hou- pagamento de resgate, cerca de 3 milhões ve uma reunião para buscar soluções, de dólares. Este navio, com 25 tripulantes e liderada pela IMO. Neste encontro foi 330 metros, foi o maior navio sequestrado estabelecido o Código de Conduta para a pelos piratas da Somália. Repressão da Pirataria e Roubo Armado Em 2008, o Conselho de Segurança da em Navios no Oceano Índico Ocidental e Organização das Nações Unidas (ONU) no Golfo de Aden1. O Código reconhece

1 N.A.: Code of Conduct concerning the Repression of Piracy and Armed Robbery against Ships in the Western Indian Ocean and the Gulf of Aden.

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o problema e declara sua intenção de O GOLFO DA GUINÉ: O PERIGO compartilhar informações por meio de IMINENTE um sistema de pontos focais e centros de informação, além de interditar navios O Atlântico Sul é uma das mais im- suspeitos de pirataria. portantes passagens marítimas do mundo, A Otan mantém na costa leste da África sendo a principal ligação entre os oceanos a Operação Ocean Shield, que conta com Atlântico e o Pacífico, visto que navios de navios dos países europeus da aliança, grande porte não conseguem operar no Ca- navios norte-americanos e canadenses, nal do Panamá, e é também uma alternativa combatendo ameaças e realizando ações ao Canal de Suez para chegar ao Índico. preventivas de patrulha e inspeção de em- Sua localização, de fato, se estende além barcações suspeitas. A chance de sucesso da linha do equador até as proximidades dos atos de pirataria tem diminuído, graças do paralelo 15°N, no lado africano, e até à presença militar nas áreas críticas, de 44% o Brasil, na parte americana, separado em 2008 para 26% em 2009, 25% em 2010 do Pacífico pelo Estreito de Magalhães e e 16% em 2011. do Índico pelo Cabo da Boa Esperança, se estendendo até a costa da Antártica. A A OPERAÇÃO ATALANTA E A porção sul do Atlântico possui grande valor EUNAVFOR estratégico para o comércio internacional, o que se reflete em um grande fluxo de No ano de 2008, em um esforço con- navios mercantes na região. Além do status junto dos países da União Europeia, foi de grande rota comercial, o Atlântico Sul criada a Operação Atalanta, executada é também rodeado por grandes reservas pela Força Naval da União Europeia naturais, de gás natural e petróleo, tanto na (Eunavfor) na região do Chifre da África. costa africana como na costa americana, de O Comando da Força é alternado entre os tal forma que o Atlântico Sul é um grande países do bloco europeu e, nos últimos fornecedor de commodities energéticas, seis anos, tem garantido a segurança dos principalmente para os Estados Unidos da navios do Programa Alimentar Mundial América (EUA) e a Europa. das Nações Unidas (World Food Pro- No lado ocidental, tem-se a presença do gram), combatendo, simultaneamente, Brasil, do Uruguai, da Argentina e de territó- a pirataria no Mar Vermelho, Golfo de rios britânicos. O Brasil é o maior país da re- Aden, no Golfo de Omã e em toda a Bacia gião, sendo uma potência regional devido às da Somália, incluindo a parte norte do suas capacidades econômicas, estabilidade Canal de Moçambique. Segundo dados da política e presença marítima. Além da defesa Eunavfor, o número de navios mercantes da Amazônia Azul, o Brasil é responsável capturados pelos piratas caiu de 47 em por uma área de salvamento uma vez e meia 2010 para quatro em 2012, demonstran- maior que seu território, o que o faz presente do, assim, um resultado expressivo da em grande parte da região. Do lado oriental, missão. no entanto, observa-se a presença de países No momento, a situação no Índico novos, que tiveram suas independências re- Ocidental encontra-se estável; no entanto, alizadas na segunda metade do século XX e é indispensável a manutenção da presença que não possuem uma atuação marítima ex- de forças militares para que a segurança pressiva, pois passaram anos concentrando da navegação naquela região seja mantida. esforços para a manutenção da soberania de

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Navio de Guerra da Eunafor escoltando Navio Mercante no Golfo de Aden

suas áreas continentais. Em contraponto ao parte da população nigeriana são alguns dos grande abandono sofrido pelas forças navais principais fatores que contribuem de forma dos países africanos ocidentais nas últimas significativa para a criação e a atuação de cinco décadas, as atividades comerciais grupos rebeldes nigerianos que praticam esse marítimas, como a exploração de petróleo tipo de atividade na região. As consequências e a navegação de longo curso, aumentaram disso na economia nigeriana refletem na substancialmente na costa oeste da África. diminuição dos investimentos no país e na A principal causa deste aumento se deve à redução da atividade pesqueira, que interfere descoberta de jazidas direta e indiretamente na minerais e ao aumento vida de mais de 300 mil da prospecção de pe- O combate à pirataria deve trabalhadores. tróleo e gás natural no Posicionada no meio Golfo da Guiné, que ser uma preocupação da do Golfo, a Nigéria se estende da Costa do comunidade internacional, tem desempenhado o Marfim até o Gabão, devendo ser visto como papel principal para região em que está manter a segurança da contida a Nigéria e que prioridade, pois esse região, realiza exercí- é próxima a Angola: tipo de atividade ilícita cios conjuntos com na- dois países membros ções amigas e organiza da Organização dos compromete a soberania operações integradas Países Exportadores de e a autonomia dos povos e com o Exército, a Força Petróleo (Opep). estados Aérea e a Marinha. Ain- Na ausência de uma da assim, sofre com os força naval operativa e constantes ataques em presente, o número de casos de pirataria ma- suas águas jurisdicionais, mesmo porque rítima se multiplicou rapidamente na região, os piratas também utilizam outros países na última década. A Nigéria, segunda maior da região como base para suas ações, tais potência econômica da África subsaariana e como Benim e Togo. A facilidade para a maior produtor de petróleo do continente, é atuação pirata na região, além da falta de o país mais afetado pelos piratas. Apesar da patrulhamento naval, deve-se também à riqueza proporcionada pelo petróleo, a falta falta de políticas regionais definidas para de consolidação política do Estado nigeriano, a solução conjunta desta problemática, os frequentes casos de corrupção governa- apesar dos esforços de blocos sub-regionais mental e a situação socioeconômica da maior para fazê-las.

RMB4oT/2014 195 A PIRATARIA MARÍTIMA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

O Brasil vem, durante os últimos anos, CONCLUSÃO estreitando suas relações com os países do outro lado do Atlântico, na área diplomática e O ressurgimento da pirataria no sécu- militar. Exercícios conjuntos entre a Marinha lo XXI chama a atenção do mundo para do Brasil e as Marinhas dos países africanos um grave problema que põe em cheque têm se tornado uma prática recorrente. Re- a segurança da navegação mundial e, centemente, enquanto navegavam pela costa consequentemente, atinge a integridade da África, três navios de patrulha oceânica da do comércio internacional. Desta forma, classe Amazonas, da Marinha do Brasil, rea- o seu combate deve ser uma preocupação lizaram manobras de adestramento visando a da comunidade internacional, devendo ser ações antipirataria com navios africanos. Além visto como prioridade, pois esse tipo de disso, o intercâmbio de pessoal entre o Brasil atividade ilícita compromete a soberania e as nações da África Central e Ocidental tam- e a autonomia dos povos e Estados. Para bém demonstra a preocupação e a disposição tal, torna-se necessária a presença de das autoridades brasileiras em cooperar com agentes da lei, que, no âmbito das áreas a manutenção da segurança na parte meridio- marítimas, são representados por forças nal do Atlântico, visto que a insegurança nas navais legítimas, para dissuadir quaisquer águas do Sul seria uma ameaça à integridade ameaças à liberdade e à livre iniciativa das da Amazônia Azul e de seus recursos. atividades no mar.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Pirataria;

REFERÊNCIA

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196 RMB4oT/2014 CARTAS DOS LEITORES

Esta seção destina-se a divulgar ideias e pensamentos e incentivar de- bates, abrindo espaço ao leitor para comentários, adendos esclarecedores e observações sobre artigos publicados. As cartas deverão ser enviadas à Revista Marítima Brasileira, que, a seu critério, poderá publicá-las parcial ou integralmente. Contamos com sua colaboração para realizar nosso propó- sito, que é o de dinamizar a RMB, tornando-a um eficiente veículo em be- nefício de uma Marinha mais forte e atuante. Sua participação é importante.

A RMB recebeu o seguinte texto da Sociedade dos Amigos da Marinha no Rio de Janeiro (Soamar-Rio), relatando a visita de soamarinos à Diretoria de Hidrografia de Nave- gação (DNH), parte do programa de visitas de estudo da entidade a diversas organizações da Marinha.

“Um programa de visitas de estudo onde foram prestadas as honras regula- tem levado soamarinos do Rio a diversas mentares ao comandante do Distrito, com organizações da Marinha. Desta vez fomos os sinais de apito sobrepondo-se ao ruído conhecer o que existe por trás das três letras brando ao longe, e o vento da baía fazendo DHN, o que, para a maioria de nós, ainda se tremular a Bandeira do Brasil e as flâmulas reveste de alguma incerteza quanto às mis- indicativas no mastro principal. Em seguida sões, que, entretanto, sabemos relevantes. a comitiva recebeu as boas-vindas do Vice- Embarcamos no Cais da Bandeira, hon- Almirante Antônio Reginaldo Pontes Lima rados com a companhia do Vice-Almirante Junior, acompanhado pela oficialidade. Paulo Cezar de Quadros Kuster, comandante No auditório, o vice-diretor, Capitão de do 1o Distrito Naval. A lancha Bode Verde Mar e Guerra Giucemar, discorreu sobre faz a travessia em uma fração do tempo que a missão daquela Organização Militar seria necessário por via terrestre. Logo de- multidisciplinar e multitarefa, que presta sembarcamos no cais do Complexo Naval da um sem-número de serviços, herdeira do Ponta da Armação, Niterói, Rio de Janeiro, legado de ilustres hidrógrafos. CARTAS DOS LEITORES

O Complexo Naval da Ponta da Arma- VTS, BATHY, HPD –, apoiando com ção abriga, além da Diretoria de Hidrografia precisão e alta tecnologia o Poder Naval, e Navegação, o Grupamento de Navios Hi- guardião da Amazônia Azul com suas car- droceanográficos, o Centro de Sinalização tas agora eletrônicas, publicações náuticas Náutica Almirante Moraes Rego (CAMR), e informações marítimas. o Centro de Hidrografia da Marinha (CHM) No quadro dos antigos comandantes, des- e a Base de Hidrografia da Marinha em tacam-se eminentes nomes de chefes navais, Niterói (BHMN). como o Almirante Maximiano (CAHO-74), A Hidrografia está presente na História diretor de 1979-1984, hidrógrafos que se tor- do Brasil já desde que pela primeira vez as naram ministros e comandantes da Marinha, caravelas de Cabral lançaram o prumo em ministros do Supremo Tribunal Militar, che- nossas costas, apurando a profundidade em fes do Estado-Maior da Armada, que durante braças na Baía de Todos os Santos, como quase um século e meio vêm conduzindo a descrito no magnífico Espaço da Memória casa, desde as primeiras instalações, na Rua Histórica, no térreo da Casa d’Armas da de Bragança, atual Conselheiro Saraiva, pas- Ponta da Armação, que data de 1644. sando pela Dom Manuel, Ilha Fiscal e pela atual sede, desde 1983. Em seguida à palestra, visitamos o H-40 – Navio Oceanográfico Antares, onde o Comandante, Ca- pitão de Fragata Marcus Vinicius Almeida Silvei- ra, apresentou o navio, construído na Noruega em 1984, mas que parece recém-saído do estaleiro. Visitamos o camarim de navegação e os dois la- boratórios da popa, tendo uma visão geral do navio.

Imensa foi a contribuição da Casa para a Marinha e para o Bra- sil, desde os idos da Repartição dos Pharois, Repartição Hidrographica, Repartição Central de Meteoro- logia, tempos heroicos do Barão de Teffé e do Capitão de Fragata Vital de Oliveira, cartas náuticas desenhadas a nanquim e nada mais, uma época incrível, sem a profusão da atual parafernália tecnológica do GPS ao ecobatímetro multifeixe, das siglas misteriosas – DGPS,

198 RMB4oT/2014 CARTAS DOS LEITORES

De lá fomos conhecer a Divisão de Vai terminando a breve, mas agradável Cartografia, onde são produzidas as cartas, e proveitosa, convivência. O tempo passou e a moderníssima e gigantesca impressora mais depressa do que gostaríamos. O almoço Heidelberg, de altíssima velocidade e ca- realizou-se na mesma praça-d’armas que um pacidade. De última geração, opera a partir dia existiu a bordo do Saldanha da Gama, de placas metálicas gravadas, uma técnica removida tábua por tábua da embarcação, nascida com os antigos mimeógrafos. Mais hoje estando anexa ao Espaço de Memória. que impressora, é um verdadeiro supercom- A visita foi compacta, mas intensiva, putador que imprime. pois tivemos a oportunidade de conhecer as inúmeras e multidisciplinares fainas desenvolvidas a bordo da DHN, três letras que antes se revestiam de certo mistério para nós, mas que agora transmitem rele- vante significado. Partimos. Ao afastar-se a embarcação do cais, levamos como última lembrança o Pavilhão Nacional tremulando no mastro, e a inscrição ‘Tudo pela Pátria’. Viva a DHN! Viva a Marinha! Viva o Brasil!”

Praça D’Armas do NE Saldanha transferida para o Professor Israel Blajberg o Espaço de Memória 2 Diretor Social da Soamar-Rio

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A RMB expressa o pesar às famílias pelo falecimento dos seguintes colaboradores e assinantes: VA Ibsen de Gusmão Câmara  19/12/1923 † 31/07/2014 CMG Francisco Caracas de Magalhães Bastos  01/06/1935 † 04/08/2014 CMG (FN) Roberto Miranda  31/01/1936 † 19/08/2014 CMG Fernando Malburg da Silveira  08/01/1938 † 29/07/2014 CMG (MD) Luís Gonzaga e Silva  02/02/1947 † 20/08/2014 CF Jorge Chater Youssef Arous  29/08/1955 † 27/08/2014

Nascido no Rio de Janeiro, filho de José Azevedo Câmara e de Cacilda de Gusmão Câmara. Promoções: a segundo-tenente, em 24/8/1945; a primeiro-tenente em 5/9/1946; a capitão-tenente em 11/9/1951; a capitão de corveta em 31/3/1955; a capitão de fragata em 23/1/1961; a capitão de mar e guerra em 16/9/1966; a contra-almirante em 30/5/1972 e a vice-almirante em 31/3/1976. Foi transferido para a reserva em 1/6/1981. Em sua carreira, exerceu o Comando da Flotilha do Amazonas e o Comando Naval de Brasília. Comissões: Encouraçado São Paulo, Navio-Escola Duque de Caxias, Direto- ria de Hidrografia e Navegação, Navio- Hidrográfico Jurema, Diretoria de Ensino IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA da Marinha, Escola Naval, Comissão Fiscal Vice-Almirante de Construção de Navios no Japão, Navio NECROLÓGIO

Transporte de Tropa Custódio de Mello, e as seguintes condecorações: Medalha Grupo de Manutenção do Navio-Escola Naval do Mérito de Guerra – Serviço Duque de Caxias, Comissão Naval Bra- de Guerra 2 Estrelas, Medalha da Força sileira em Washington, Escola de Guerra Naval do Nordeste – Bronze, Ordem do Naval, Gabinete do Ministro da Marinha, Mérito Naval – Grande-Oficial, Ordem do Comando do 1o Distrito Naval, Escola Mérito Militar – Grande-Oficial, Medalha Superior de Guerra, Estado-Maior da Ar- Militar e Passador de Platina – 4o Decênio, mada e Estado-Maior das Forças Armadas. Medalha Mérito Tamandaré, Medalha do Dirigiu a Escola de Guerra Naval. Pacificador, Medalha Mérito Santos Du- Em reconhecimento aos seus serviços, mont, CL-GE-Chile – Grande Estrela ao recebeu inúmeras referências elogiosas Mérito Militar.

O ALMIRANTE IBSEN – AMBIENTALISTA1

O ambientalista Ibsen de Gusmão Câ- No livro Água mole em pedra dura: dez mara presidiu a Fundação Brasileira para histórias da luta pelo meio ambiente, de a Conservação da Natureza, participou do 2006, Marcos Sá Corrêa conta a história do Conselho Nacional do Meio Ambiente almirante, que atuou também por Abrolhos, (Conama) e foi conselheiro de inúmeras em 1983, e por Fernando de Noronha. Em organizações socioambientais. Ele também dezembro de 2013, ele recebeu do Ministério é considerado um dos fundadores do con- do Meio Ambiente uma homenagem espe- servacionismo no Brasil. Muito respeitado, cial por sua dedicação às causas ambientais. liderou a campanha contra a caça de baleias O ambientalista André Ilha lamentou a no Brasil e também foi um grande defen- morte do almirante: “Ele era um dos dinossau- sor das Unidades de Conservação, com ros da conservação da natureza no país, junto papel de destaque na criação de parques e com outros nomes como Alceo Magnanini, reservas na Amazônia. A participação do Adelmar Coimbra Filho, Vanderbilt Duarte Almirante Ibsen foi fundamental também de Barros e Maria Tereza Jorge Pádua, uma na criação de Unidades de Conservação geração que foi muito justamente celebrada marinhas, como a Reserva Biológica Atol no livro Saudades do Matão por seu trabalho das Rocas, em 1979, o primeiro Parque em prol da biodiversidade e dos ecossistemas Nacional Marinho do País. brasileiros. A melhor forma de reconhecermos Seu interesse na luta contra o desma- a sua importância é levar adiante as suas ban- tamento começou na juventude, quando deiras com o máximo empenho”. comandou uma flotilha de navios no Rio A jornalista e ambientalista Paula Sal- Amazonas como militar da Marinha. Du- danha também acredita que o legado do rante suas patrulhas pela região, ele per- almirante não deve ser esquecido. “É triste cebeu o avançado nível de desmatamento a perda do Almirante Ibsen, grande bata- nas áreas por onde navegou. Desde então, lhador das causas ambientais em nosso país passou a manter contato com organizações durante décadas. Seu exemplo de ambien- conservacionistas. talista ficará, com certeza, para todos nós”.

1 Texto publicado no jornal O Globo de 31/7/2014, pelos jornalistas Paulo Roberto Araújo e Waleska Borges.

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de corveta em 13/12/1970; a capitão de fragata em 30/4/1977 e a capitão de mar e guerra em 30/4/1984. Comissões: Escola Naval, Navio Trans- porte de Tropa Custódio de Mello, Centro de Instrução Almirante Wandenkolk, Contratorpedeiro Pará, Contra- torpedeiro Ajuricaba, Contratorpedeiro Pernambuco, Contratorpedeiro Piauí, Comissão Naval Brasileira em Washington, Centro de Adestramento Almirante Marques de Leão, Navio-Aeródromo Ligeiro Minas Gerais, Comando da Força de Contratorpedeiros, Comissão Naval Brasileira na Europa, Diretoria de Ensino da Marinha, Diretoria de Informática da Marinha, Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha, Escola FERNANDO MALBURG de Guerra Naval, Comando do Primeiro DA SILVEIRA Distrito Naval. Capitão de Mar e Guerra Medalhas e Condecorações: Medalha Militar e Passador Prata – 2o decênio; Me- Nascido no Rio Grande do Norte, filho dalha Mérito Tamandaré; Medalha Mérito de Hildebrando Osorio da Silveira e de Marinheiro – 3 âncoras; Ordem do Mérito Maria Malburg da Silveira. Naval – cavaleiro; Medalha Revista Marí- Promoções: segundo-tenente, em tima Brasileira. 2/12/1960; a primeiro-tenente em 2/12/1961; Transferido para a Reserva Remunerada a capitão-tenente em 13/12/1964; a capitão em 13/3/1985.

FERNANDO MALBURG DA SILVEIRA O Comandante Malburg teve carreira de CIC, Guerra Antissubmarino (Guerra destacada nas áreas de eletrônica e informá- A/S), Controle Aéreo e Instrutoria em esta- tica e como autor de matérias importantes belecimentos da US Navy, ao término dos em publicações da Marinha. Em 1964, quais voltou ao CAAML. Em 1971 realizou embarcou no CT Pernambuco e foi oficial o curso extra-carreira de Projeto e Análise de Eletrônica do 1o Esquadrão de Contra- de Sistemas, e em 1973 serviu no Comando torpedeiros. Em 1966 foi para o Grupo de da Força de Contratorpedeiros, até julho de Recebimento do CT Piauí nos EUA, navio 1974, quando foi compor o grupo de ins- em que serviu até 1969, quando foi desig- trutoria das tripulações das fragatas classe nado encarregado da Escola de Centro de Niterói. Realizou em 1975/1976, no Reino Informações de Combate (CIC) do Centro Unido, os cursos de Sistemas de Comando de Adestramento Almirante Marques de e Controle e de Direção de Tiro das fraga- Leão (CAAML). Em 1970 realizou cursos tas, cuja instrutoria exerceu na Diretoria de

202 RMB4oT/2014 NECROLÓGIO

Ensino da Marinha, ao regressar. Optando (1985 a 1994), e trabalhou na IES Enge- para o Curso de Qualificação para Funções nharia de Sistemas (1995). Em setembro de Técnicas (C-QFT), foi designado em 1977 1995, foi nomeado para o cargo de diretor para o Instituto de Processamento de Dados de Produção da Casa da Moeda do Brasil, e Informática da Marinha. Obteve em 1979, até 2000, quando foi nomeado presidente na Pontifícia Universidade Católica do Rio e membro do Conselho de Administração, de Janeiro, o grau de mestre em Informá- ambos exercidos até maio de 2003. A par- tica, apresentando tese sobre Controle de tir de então, vinha trabalhando na DSND Processos por Sistemas Digitais. Em 1979 Consub S/A, empresa que teve a seu cargo foi para a Diretoria de Armamento e Comu- a modernização dos sistemas digitais das nicações (DACM, hoje DSAM), na qual, até fragatas classe Niterói; a integração do 1984, participou do projeto dos sistemas das sistema de combate da Corveta Barroso e corvetas classe Inhaúma e da seleção dos a modernização do sistema de comando e sistemas dos submarinos classe Tupi. Na controle do Navio-Aeródromo São Paulo. Escola de Guerra Naval, em 1984, concluiu Na Revista Marítima Brasileira foi com distinção o curso de Política e Estratégia colaborador assíduo, como se constata na Marítimas. Em abril de 1985, foi transferido, relação a seguir. Recebeu o Prêmio Revista a pedido, para a reserva remunerada. Marítima Brasileira pelo artigo “Gestão Na vida civil, exerceu cargos gerenciais do Mar Patrimonial Jurisdicional”, publi- e de diretoria na empresa SFB Sistemas S/A cado no 1o trimestre de 2005.

REVISTA TÍTULO 4o Trimestre de 2011 O mar da China Meridional: palco de um futuro conflito naval? 2o Trimestre de 2010 A estratégia nacional de defesa (END), a defesa e gerenciamento da Amazônia Azul 2o Trimestre de 2009 A estratégia nacional de defesa e a indústria nacional de defesa 1o Trimestre de 2009 Gestão do mar patrimonial jurisdicional (republicação pelo Prêmio RMB) 1o Trimestre de 2008 A disputa pela liderança da Ásia no pós-Guerra Fria (II) 4o Trimestre de 2007 A disputa pela liderança da Ásia no pós-Guerra Fria (I) 3o Trimestre de 2006 Novo conflito no Oriente Médio 2o Trimestre de 2006 A questão iraniana 3o Trimestre de 2005 Confrontos na Federação Russa – o conflito caucasiano 2o Trimestre de 2005 O “choque das civilizações”: qual seu significado real? 1o Trimestre de 2005 Gestão do mar patrimonial jurisdicional 4o Trimestre de 1995 A eletro-óptica na Guerra Naval 4o Trimestre de 1994 Sistemas navais de combate: obtenção e integração 3o Trimestre de 1992 As mutações no contexto mundial e a necessidade de Forças Armadas 2o Trimestre de 1991 Defesa antiaérea de navios capitais 3o Trimestre de 1985 Navios de superfície – eficiência x custo 1o Trimestre de 1984 A tecnologia eletrônica permite nova dimensão ao poder combatente 4o Trimestre de 1983 Defesa aeroespacial de forças navais 2o Trimestre de 1982 Sistema navais de combate: conceituação e tendências

RMB4oT/2014 203 A MARINHA DE OUTRORA

AS LIÇÕES DE ONTEM PARA A MARINHA DE HOJE E DE AMANHÃ

– Encontrado submarino que jogou o Brasil na Primeira Guerra – Visita do Presidente Juscelino a Portugal A MARINHA DE OUTRORA

ENCONTRADO SUBMARINO QUE JOGOU O BRASIL NA PRIMEIRA GUERRA

Um mistério de quase um século pode informação foi divulgada pelo jornal fran- estar próximo de ser solucionado. Mer- cês Ouest-France de 25 de julho de 2014. gulhadores acreditam ter encontrado o Em 18 de outubro de 1917, após torpe- submarino alemão U-93, responsável pelo dear o vapor brasileiro, o comandante do afundamento do navio brasileiro Macau, no U-93, Helmuth Gerlach, exigiu que o Co- episódio que resultou na entrada do Brasil mandante Saturnino Furtado de Mendonça na Primeira Guerra Mundial, em 1917. A e o taifeiro Arlindo Dias dos Santos subis-

Submarino foi encontrado na costa da França (Foto: republicação do jornal Ouest-France)

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sem a bordo do submersível. Desde então, Embora o U-84 e o U-93 tivessem ca- os dois brasileiros nunca mais foram vistos. racterísticas similares, Yves Duffeil, espe- O submarino foi encontrado a uma milha cialista em submarinos de guerra e membro náutica de Penmarch, na costa francesa, a da expedição, foi taxativo ao garantir que uma profundidade de 85 metros. A des- o U-boot encontrado seria o de Gerlach. coberta foi feita pela Expedição Scyllias. Segundo os mergulhadores, que perma- Curiosos sobre os comentários de pesca- neceram nas imediações do submersível dores locais, que diziam sempre enroscar por apenas 13 minutos, o quiosque (parte suas linhas em algum objeto no fundo do alta, onde ficavam os vigias na navegação mar em determinado ponto da costa, os submersa) está em boas condições. Além mergulhadores decidiram investigar. disso, a escotilha que dá acesso ao interior Em uma hora de mergulho, encontraram da embarcação está aberta. um submersível de aproximadamente 70 – Será que os homens escaparam quando metros de comprimento, com canhões na o submarino afundou ou ela (escotilha) proa (aparentemente 105 milímetros) e abriu-se mais tarde? – questionou-se Jean- na popa (88 milímetros), características Louis Maurette, líder da expedição. idênticas às do U-93. Além disso, outras Em 29 de dezembro de 1917, dois meses duas razões levaram os mergulhadores a após o torpedeamento do Macau, o U-93 acreditar que descobriram o submarino partiu em sua última missão. Um mês de Gerlach. Na Primeira Guerra Mundial depois, em janeiro de 1918, o submarino (1914/1918), apenas dois submarinos ale- simplesmente desapareceu, com todos os mães – os chamados U-boots – operavam 39 tripulantes, em um episódio cuja causa na região, o U-93 e o U-84. Já na Segunda até hoje não foi esclarecida. A principal Guerra Mundial (1939/1945), nenhum hipótese levantada pelo comando da submersível desapareceu na região. Marinha alemã era de que a embarcação

Submersível alemão desapareceu no oceano em janeiro de 1918

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tenha colidido com uma mina nas águas Mas não havia testemunhas que apontassem do Canal da Mancha, em 15 de janeiro de qualquer direção. Apenas boatos. 1918. Agora, a possível descoberta do U-93 Em 16 de janeiro de 1918, o Ministério em águas francesas pode dar uma nova – e Imperial da Marinha alemã informou ao definitiva – versão para o fato. governo brasileiro que, de acordo com a O Chanceler Nilo Peçanha dedicou-se documentação do U-93, Saturnino e Arlin- pessoalmente a buscar explicações junto do teriam subido a bordo do submarino e, aos alemães a respeito do sumiço dos tri- mais tarde, sido deixados em seu próprio pulantes brasileiros. De outubro de 1917 a bote salva-vidas – os demais tripulantes janeiro de 1918, dezenas de telegramas cru- do Macau já haviam se afastado do local zaram o Atlântico, envolvendo o Itamaraty em duas baleeiras. A versão alemã abriu e a embaixada brasileira em Berna, além margem à hipótese de que os brasileiros de órgãos e representações diplomáticos pudessem ter sido recolhidos por algum na Alemanha e na Bélgica. navio, que posteriormente tivesse sido Entre os sobreviventes do naufrágio, afundado na zona de guerra. circulava o boato de que Saturnino teria ma- Durante quatro mandatos presidenciais, tado Gerlach com um tiro de pistola, sendo o governo brasileiro pressionou a Alemanha fuzilado em seguida pelos marujos alemães, – sem sucesso – para que fornecesse infor- assim como o companheiro brasileiro. No mações mais concretas sobre o caso. Mas Brasil, falava-se da conhecida valentia do Saturnino e Arlindo nunca foram encontra- comandante. Para muitos, ele não teria dos, e tampouco sabe-se se e como morreram. aceitado a agressão ao seu navio e reagido, o que poderia ter determinado o seu destino. Marcelo Monteiro*

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO: ; Submarino; Primeira Guerra Mundial;

VISITA DO PRESIDENTE JUSCELINO A PORTUGAL

O Presidente Juscelino Kubitschek de Cruzador Barroso para serem conduzidos Oliveira viajou a Portugal, em agosto de ao Terreiro do Paço, no Rio Tejo, onde 1960, para participar das comemorações foram recepcionados pelas autoridades do Quinto Centenário da morte do Infante maiores do país. Dom Henrique. O cerimonial constou de tropas forma- O Presidente e sua comitiva viajaram das no Paço e, quando Juscelino desem- de avião e, ao largo de Sesimbra, pequena barcou, pétalas de flores com as cores das cidade ao sul de Lisboa, embarcaram no bandeiras de Portugal e do Brasil foram

* Jornalista, é autor dos livros U-93 – A entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial (2014) e U-507 – O subma- rino que afundou o Brasil na Segunda Guerra Mundial (2012), este último ganhador do Prêmio Jabuti 2013.

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lançadas do alto dos prédios que circunda- O Comandante Paulo Cezar de Souza vam o Terreiro do Paço. Nogueira apreciou a matéria alusiva ao Portugal considerou o nosso Presidente evento publicada na Revista Marítima como figura central das comemorações, e Brasileira do 3o trimestre de 2014, p. 217- a população tratou com carinho e atenção 320, e fez doação da publicação relativa à especial os brasileiros que lá estavam. visita oficial à República de Portugal do Navios de Marinhas de aproximada- Presidente Juscelino. mente 20 países se fizeram representar no Na página 219 da RMB consta a foto- evento, sendo de destacar o desfile naval grafia do desfile da tripulação do Cruzador para os presidentes que estavam no Pro- Barroso na Avenida da Liberdade, em Lis- montório de Sagres, berço da escola que boa, na qual estava presente Paulo Cezar, induziu a tantos descobrimentos no mundo. da Turma Dedo.

208 RMB4oT/2014 O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

As histórias aqui contadas reproduzem, com respeitoso humor, o que se conta nas conversas alegres das praças-d’armas e dos conveses. Guardadas certas liberdades, todas elas, na sua essência, são verídicas e por isso caracterizam várias fases da vida na Marinha. São válidas, também, histórias vividas em outras Marinhas. Contamos com sua colaboração. Se desejar, apenas apresente o caso por carta, ou por e-mail ([email protected]).

O “Meca” Safo*

e minhas boas lembranças como extremamente eficiente no que fazia, devi- Dpraticante no velho Todos os Santos do à prática adquirida ao longo de muitos do Lloyd Brasileiro (LB), recordo-me em anos de trabalho. particular de uma figura inesquecível da- Não poupava seu tempo e sua paciência quela tripulação: Seu Edvaldo, o mecânico, em responder às nossas perguntas e curio- a quem logo aprendemos a chamar também sidades técnicas. Era de pouca instrução, de “meca”, como manda a boa tradição de quase um analfabeto, por isso de pouca bordo. conversa fiada. Se o assunto não fosse de Pernambucano, beirando talvez os 60 trabalho, fugia logo do papo, dizendo-nos: anos de idade, Seu Edvaldo era um homem “Isso é para vocês, meninos novos, ‘letra- gordo, dono de um imenso coração e de dos’, que sabem até falar inglês”. Antigo no uma simplicidade ímpar. Faltavam-lhe al- navio, conhecia todas as doenças e macetes guns dentes da frente, e sua figura lembrava daquela praça de máquinas pré-histórica. muito o Sargento Tainha, personagem das Penso que Seu Edvaldo já fazia parte do revistas em quadrinhos do Recruta Zero. inventário da Máquina. Tratamos logo de “colar” com ele, pois Aprendemos muito com Seu Edvaldo, percebemos que ali estava um profissional que, com sua simplicidade, teve o mérito

* Matéria publicada na Revista Eletrônica do Centro dos Capitães da Marinha Mercante, de 15/09/2014, no 120. O LADO PITORESCO DA VIDA NAVAL

de ter sido nosso grande instrutor das coisas Golfo da Biscaia no frio mês de fevereiro, práticas durante o estágio. finalmente chegamos ao Mar Báltico e ao Até hoje recordo de sua figura gorda no nosso porto de destino – Wismar! Mas macacão quase rasgando de tão apertado, atracação que é bom, nada. enfiado o quanto podia no cárter de um Porto congestionado, ficamos fundeados MCA nos ensinando a “rasquetear” o metal nas proximidades da cidade, aguardando patente de uma telha de mancal após passar por 18 dias pela nossa vez para entrar no o “Azul da Prússia”. porto. Navio que segue após cerca de um mês Sob inverno rigoroso, não se via nem de nosso embarque e feitos os portos de sinal de terra em torno dos 360º para onde escala no Nordeste do Brasil, deixamos o olhávamos, tão espessa era a cerração. porto de Itaqui, no Maranhão, rumo ao Mar O convés branco de neve tornou-se es- Báltico com destino corregadio e perigoso, ao porto de Wismar, causando, inclusive, um na antiga Alemanha Vencido o Atlântico numa grave acidente com um Oriental. taifeiro, que, dentro da A travessia se fez travessia de cerca de sua rotina diária, escor- longa e demorada no 21 dias, e devidamente regou com as bandejas velho navio do Lloyd mareados com a passagem do jantar que trazia da que se arrastava, cru- superestrutura de ré, zando o Atlântico a do navio pelo tormentoso onde ficava a cozinha, uma velocidade média Golfo da Biscaia no frio para servir o salão de de 11 nós. refeição dos oficiais Não havia, naque- mês de fevereiro de Náutica, que ficava les tempos, muitas    na superestrutura de opções de lazer a Porto congestionado, vante. Esta é uma triste bordo, a não ser nas recordação. noites quentes: bater ficamos fundeados nas Naquela época do papo na popa, tocar proximidades da cidade, ano, o “pau comia” no violão e observar os Báltico. mais antigos naquela aguardando por 18 dias Lembro-me de, pelo profusão de modelos pela nossa vez para entrar menos em duas ocasi- e marcas de rádio, ten- no porto ões durante o fundeio, o tando cada um, quase comandante Hoffmann que numa disputa, sin- ter suspendido o ferro tonizar estações brasileiras para ouvir as para ficar navegando à capa, por um ou dois notícias. Era a internet da época. dias, enfrentando o mar revolto. Com o passar dos dias, nós – os novatos Enquanto aguardávamos pelo dia da de profissão – fomos sentindo pela primeira atracação, nós – os praticantes – só faláva- vez as sutis diferenças do mar e do céu com mos em poder pela primeira vez pisar em as mudanças do fuso horário, à medida que solo europeu! Mas o imediato, o chefe e íamos nos distanciando da pátria amada. os demais oficiais mais antigos eram todos Vencido o Atlântico numa travessia de unânimes em suas opiniões desanimadoras: cerca de 21 dias, e devidamente mareados “Ir para terra em Wismar? Nem pensar! com a passagem do navio pelo tormentoso Para fazer o quê? Esse lugar não tem nada

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para se ver! Só frio e desgraça, que é o que cista “Tião”, o cabo foguista “Borboleta”, o se tem em país comunista”. Finalmente marinheiro “Profeta” e outros da guarnição fomos chamados para atracar. cujos apelidos já não lembro mais. A manobra foi concluída no final de uma Nenhum oficial quis sair de bordo na- tarde fria e cinzenta. quela fria noite. Três minutos de caminhada No cais branco coberto de neve, obser- pelo cais já foi o bastante para o navio vei com curiosidade uma senhora de idade desaparecer atrás de nós sob o intenso fog. bastante avançada se aproximando do navio Perdidos, sem quase nenhuma visibi- conduzindo um carrinho de mão com um lidade, caminhando por entre vagões de hidrômetro e várias conexões. Era o nosso trem, contêineres e montes de pallets, abastecimento de água potável. conseguimos finalmente achar o portão de Ajudei-a nas conexões das mangueiras saída. Sob os olhares hostis dos militares e em toda a faina junto ao carvoeiro- da guarda do portão, apresentamos um a paioleiro. um as nossas CIR e os Passes da Imigração. Ela era proibida de subir a bordo. Alguns do nosso grupo, sobretudo os Tive que descer para anotar a leitura mais velhos, foram questionados pelos inicial do hidrômetro, mas não sem antes militares sobre as diferenças de fisionomia me munir da Caderneta de Inscrição e Re- na foto que constava na CIR e o aspecto gistro (CIR) e do meu Passe da Imigração atual. Criava-se, assim, uma atmosfera de para apresentar ao soldado que, em pesado suspense, o guarda chamava outro mais uniforme estilo russo, guarnecia a base da graduado para verificar o problema e, de- escada de portaló no cais para controlar pois de rosnarem alguma coisa, finalmente quem entrava e saía do navio. o pobre vapozeiro era liberado a sair pelo Refleti muito sobre aquilo tudo e outras portão. cenas mais que pude assistir depois. Fiquei Enfim, todos liberados, seguimos cami- imaginando como seria dura a vida daquele nhando em meio ao fog em direção ao cen- povo. tro da cidade, que os mais antigos diziam Logo depois do jantar, a despeito de não ser tão longe. Percebi que em quase todas as opiniões pessimistas, nós, os todo o trajeto, desde a saída do portão, es- “desbravadores praticantes”, trajando os távamos acompanhando uma linha de trem. pesados casacões de frio emprestados do Depois de algum tempo, chegamos ao navio, nos unimos a um grupo da guarni- que parecia ser o centro da cidade. Cons- ção e, munidos de nossa CIR e do Passe truções antigas, um certo ar de abandono, da Imigração, finalmente baixamos terra! pouquíssimas lojas, bares e restaurantes, Ainda ouvimos no corredor as recomen- mas tudo fechado. dações finais do imediato: “Cuidado com Parecia uma cidade fantasma. Em plena a hora para voltar! O limite é meia-noite. 7 horas da noite, já não se via praticamente Se chegarem no portão depois disso, vocês mais ninguém na rua. Vez por outra víamos perdem o ‘passe’ e o navio ainda é multado. a distância um vulto de homem ou de mulher O comandante certamente vai descontar a caminhando em seus pesados trajes de in- multa do abono de vocês”. A “intrépida verno. Mas estes, quando notavam a aproxi- trupe” era formada por gente como o con- mação do nosso “Exército de Brancaleone”, tramestre “João Cara Grossa”, o “meca” logo tratavam de mudar de direção, como Edvaldo, o ajudante de cozinha “Veludo”, que preocupados com um possível ataque, os “cavucas” “Piauí” e “Carimbó”, o eletri- e sumiam no meio da neblina.

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Não demorou muito esse nosso primeiro “arribados” compraram o terrível cigarro city tour europeu. Mãos, nariz e orelhas do- fedorento da terra, pois cigarros america- endo próximos ao ponto de congelamento, nos, nem pensar. Outros beberam cerveja o mestre “João Cara Grossa”, cabra viajado ou algumas doses de Vodka Juice (vodka e conhecedor daquelas bandas, logo senten- com suco de laranja). ciou: “Vamos logo para o Interclube, que Trocamos algumas palavras com as é lugar certo para vapozeiro!” Realmente, “senhoritas espiãs” e com alguns vapo- mais algumas voltas para acertar o rumo zeiros dos outros países. Cerca das 23h20, e, após mais uma caminhada beirando a lembrando das recomendações do imediato, mesma linha de trem, chegamos ao nosso resolvemos juntar nosso grupo e iniciar o destino. regresso para bordo. Na recepção do clube, uma velha senho- Lá fora, o frio e a pesada neblina es- ra na chapelaria recebeu nossos casacos tavam ainda mais intensos. Iniciou-se a com luvas e toucas de frio guardados nos marcha de volta ao porto com grande difi- bolsos. Logo sentimos a agradável sensação culdade, pois a visibilidade era péssima e térmica de se estar num ambiente aquecido não se enxergava nada além de três metros. por calefação. Nossa melhor referência era a linha No velho sobrado onde funcionava o de trem. Após cerca de cinco minutos de Interclube, realmente não havia muito o caminhada, demos pela falta do “meca”. que se fazer. No bar, pequenos grupos de Paramos de andar. “Seu Edvaldo! Meca!”, vapozeiros filipinos, gregos, alemães e gritávamos na fria noite, sem ouvir qual- ingleses fumavam, bebiam e conversavam quer resposta. efusivamente ao som da vitrola de moedas Resolvemos não nos dispersar e ficamos que tocava os hits da trilha sonora do filme ali parados, aguardando que o meca apare- “Saturday Night Fever”, grande sucesso da cesse ou respondesse aos nossos chamados. época. Algumas “senhoritas” cinquentonas Mas nada. circulavam por entre as mesas, numa atua- Então, depois de uma interminável ção quase teatral, só para dar uma atmos- espera, com os preciosos minutos se esgo- fera feminina ao ambiente. Vez por outra tando, o mestre “João Cara Grossa” olhou uns gringos mais afoitos tiravam-nas para para o relógio e mais uma vez exerceu sua dançar. Logo “Tião” – o eletricista – nos liderança sobre o grupo: “Vamos embora. deu o bizu: “Aqui ninguém pega ninguém. Melhor um só se estrepar!” Assim foi que São todas do ‘partido’ e elas estão aqui a o “Exército de Brancaleone” prosseguiu trabalho só para nos espionar”. pelas ruas de Wismar desfalcado de um de No mais, umas mesas de bilhar, uma seus mais valentes guerreiros. lojinha de souvenir onde se fazia o câmbio Fiquei com pena do nosso bom “meca”. dos dólares e compravam-se cartões pos- Iria perder seu “passe”, ficaria impedido de tais, chocolates e cigarros. Num canto, uma baixar terra pelo restante da estadia, levaria cabine telefônica com os dizeres: “Long uma chamada do comandante e ainda teria Distance Calls”. Este era o Interclube de que arcar com o valor da multa debitada Wismar, nosso único refúgio e porto seguro de seu abono. naquela fria noite. Melhor do que ficar a Perdido em pensamentos, batendo o bordo (pensamos nós). queixo de frio, com as mãos no bolso, segui E, assim, a noite passou e nem per- caminhando pela linha de trem em passos cebemos. Os que fumavam e estavam apressados, bem próximo ao grupo para não

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me perder. Quando dei por mim, vi que já Na pequena guarita de madeira no pé estávamos finalmente chegando ao portão da escada de portaló, tremendo de frio, um principal do porto. Poucos minutos falta- último guarda nos aguardava para conferir vam para cruzar a meia-noite! Tratamos de cada CIR antes de permitir que subíssemos. entrar depressa, pois os abutres já estavam Finalmente todos a bordo, eis que uma à nossa espreita, olhando para o relógio. grande surpresa se materializa em meio à Alguns dos nossos foram escolhidos neblina bem diante dos nossos olhos, em aleatoriamente para um “pente fino” pelos pleno convés: O “meca!” “Não é possível! guardas do portão. Encaminhados a uma Onde foi que você se meteu? E como conse- sala reservada, foram obrigados a esvaziar guiu chegar antes de nós?”, perguntávamos. os bolsos, mostrar pertences, cigarros, Com sua ingênua e peculiar simplicidade, dinheiro e, se tivessem valores na moeda Seu Edvaldo nos deu a seguinte explicação: local, deveriam comprovar que a operação “Assim que saí do clube fui andando pela foi lícita, mostrando os papéis do câmbio calçada e me perdi de vocês. Continuei an- oficial feito em banco ou na lojinha do In- dando e aí passou um carro da ‘puliça’. Fiz terclube. Sem problemas, todos se safaram. sinal pra eles ‘parar’, mostrei minha CIR e O relógio bateu meia-noite. falei: ‘Come back ship, come back ship’! En- Dentro das instalações do porto, não ha- tão eles me mandaram entrar no carro e me via mais a necessidade de correr, já estáva- trouxeram até aqui no navio, foi rapidinho”. mos todos safos, à exceção do nosso pobre Rindo baixinho, me afastei do grupo e “meca”, que àquelas alturas já deveria estar me lembrei daquela frase que Seu Edvaldo congelado e devidamente complicado. vez por outra nos dizia: “Isso é para vocês, Com muita dificuldade em meio à ne- meninos novos, ‘letrados’, que sabem até blina, conseguimos, com alívio, visualizar falar inglês!” a lendária chaminé de “boca preta” com a sigla “LB”. Rogério Beltrame Home sweet home! Talvez ainda desse Oficial Superior de Máquinas tempo até de pegar o “biguá”. Chefe de Máquinas

Fumar faz bem pra saúde?* Num sábado à noite, no final de 1985, o hoje prático em São Francisco do Sul, uma graneleiro Frotaleste, da Frota Oceânica renhida partida de buraco estava sendo dis- Brasileira, navegava em lastro próximo à putada. Defrontavam-se as duplas: eu (chefe costa da Flórida. Procedíamos de Searsport, de Máquinas) e o primeiro oficial de máqui- no Maine, onde descarregamos sal grosso a nas Roberto Vitorino, o “Jacaré”, contra o granel, e nosso destino era Houston, no Te- Imediato Wober e o Comandante Querubim. xas, onde carregaríamos trigo. Esse navio Entre os quatro, eu e o Jacaré éramos fora construído na Ishikawajima, no Rio, e fumantes. Com as vigias abertas, um vento deslocava 18.000Tpb. Faziam parte dessa frio entrava, criando uma temperatura agra- série: Frotanorte, Frotasul e Frotaoeste. dável, arejando o camarote do comandante No camarote do comandante, o Capitão e deixando-o livre da fumaça e do cheiro de Longo Curso Querubim Durand Pinheiro, dos cigarros dos suicidas.

* Matéria publicada na Revista Eletrônica do Centro dos Capitães da Marinha Mercante, de 15/09/2014, no 120.

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Terminando as duas primeiras partidas Querubim manobrou guinando a bom- empatadas, o comandante fez um intervalo bordo, passando pela popa do submarino, e nos ofereceu um bom tinto. Com a partida cuja silhueta sinistra mal podia ser vista decisiva prestes a começar, não pude resis- naquela noite escura. Depois de tudo safo, tir e acendi um Rothman’s para me acalmar o comandante retornou para o seu camarote e “oxigenar meus pulmões” – eu não queria e, num desabafo, relatou o acontecido. perder para aqueles “patos”. Jacaré, que ouviu tudo apreensivo, Não sei por que motivo, embora houvesse enfureceu-se: “Qualira irresponsável!” um cinzeiro na mesa, com o cigarro quase O inofensivo jacarezinho parecia estar queimando meus dedos, resolvi jogar a voltando às suas origens pré-históricas, guimba no mar. Da vigia, enquanto Wober transformando-se num monstro jurássico. dava as cartas, acompanhei a trajetória da Suas enormes mandíbulas se abriram em brasa até ela cair na água. Antes de regressar sucessivas avalanches de ofensas contra o à mesa, respirei fundo a brisa marinha. Foi piloto maranhense, segundo ele um crimi- quando, num relance, percebi uns clarões noso que tinha colocado em risco o navio intermitentes pela nossa proa. Pegando e os tripulantes. Foi preciso contê-lo para minhas cartas, comentei com Querubim o que ele não subisse ao passadiço e fizesse que tinha visto. Foi a nossa sorte. Quando o um estrago. comandante viu os clarões, correu imediata- Querubim, tomando conta da situação, mente para o passadiço, seguido por Wober. para descontrair e acalmar os ânimos, abriu Enquanto o primeiro piloto de serviço foi mais um tinto. O réptil amansou e voltou flagrado lendo tranquilamente uma revista a se parecer com o símbolo da camisa La- no camarim de cartas, Querubim chamou coste. Mas a partida decisiva foi adiada. pelo VHF o emissor dos clarões, que, na Não havia mais clima para continuar o jogo. verdade, era uma transmissão de Código Até hoje fico imaginando a zebra que da- Morse enviada por meio de um day-light. ria se o navio tivesse atropelado o cabo de Tratava-se de um rebocador da Marinha dos reboque. E se o submarino afundasse? Seria Estados Unidos nos advertindo desespera- ele nuclear? Estaria tripulado? Por quantas damente que estávamos em rumo de colisão vítimas fatais seríamos responsabilizados? com seu cabo de reboque. O rebocador se Não tenho respostas para essas perguntas. encontrava pela amura de boreste a cerca de Arrepio-me só de pensar. duas milhas, enquanto por bombordo, mais ou menos na mesma distância, uma tênue luz Evandro Felisberto Carvalho poderia ser avistada: era a de um submarino Oficial Superior de Máquinas que estava sendo rebocado. Chefe de Máquinas

Um Tenente “patriótico”

Ano: 1973. Eu era capitão de corveta, seis meses em que efetuamos reparos na Base imediato do Contratorpedeiro (CT) Sergipe. Naval de San Diego e o CT Sergipe participou O Fragelli era o imediato do CT Alagoas. de um proveitoso shake-down, iniciamos nos- Tínhamos ido receber os nossos navios nos sa viagem rumo ao Brasil. O último porto de Estados Unidos da América, como compo- escala no estrangeiro foi Port of Spain, onde nentes de suas primeiras tripulações. Após o embaixador do Brasil era Paranhos do Rio

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Branco (descendente do Barão do Rio Bran- mos, havia um 3o secretário cujo nome era co), que nos recebeu com muita fidalguia, Patriota. Um de nossos segundos-tenentes, como soe acontecer com nossos diplomatas. ao chegar a ele, ouviu seu cumprimento, ao Assim é que, como parte de um progra- mesmo tempo em que lhe estendia a mão: ma de homenagens, nos convidou para um “Muito prazer, Patriota!”. Nosso jovem almoço na Embaixada. No dia marcado, tenente não perdeu tempo e respondeu “de os oficiais dos dois navios atenderam ao primeira”: “Eu também. Viva o Brasil!”. honroso convite. Lá chegando, vimos que o embaixador e seus diplomatas estavam Egberto Baptista Sperling em linha para nos receber. Entre os mes- Capitão de Mar e Guerra (Refo)

Nossas tragédias são outras

Ano: 1987. Eu era capitão de mar e guerra Almirante Tamandaré balançava como se e estava exercendo o cargo de adido naval na estivéssemos a bordo de um navio no mar. Venezuela. Eu ainda não sabia, mas essa seria No mesmo momento, o Coronel Amaral, minha última comissão na Marinha do Brasil adido do Exército, passou correndo pela (MB). Como alguns costumam dizer “enterro porta gritando: “Terremoto!” Larguei tudo de luxo”. Foram dois anos muito ativos (1986 e desci correndo, em companhia de muitas a 1988) e nos quais aprendi muito, principal- pessoas da Embaixada, as escadas dos oito mente no trato com nossos diplomatas, pes- andares que nos separavam da rua, onde soas de elevada cultura e refinada educação. cheguei quase sem fôlego. Tive o privilégio de servir na Embaixada Ao mesmo tempo, no apartamento em do Brasil em Caracas, subordinado a dois que morávamos, minha esposa e minha fi- diplomatas de primeira linha: o Embaixador lha, pelos mesmos motivos, precipitaram-se Paulo Paranaguá e o Ministro-Conselheiro escadas abaixo, assustadas com o tremor. Osmar Choffi, dos quais guardo excelentes Ao chegarem ao térreo, a zeladora do pré- recordações, pois, além de inteligentes e dio lhes disse que, por razões de segurança educados, prestigiavam a MB por todas as em terremotos, os portais de todas as portas formas a seus alcances. são de metal, para resistirem aos terremo- Quando fui para Caracas, tinham-me tos, e que as pessoas, em vez de descerem dito que a cidade situava-se em região as escadas (que são sujeitas a ruir), devem sísmica. Entretanto, para mim, tratava-se permanecer sob os portais. apenas de referência geográfica. Até que, Como elas, os brasileiros da Embaixada em um determinado dia, estava trabalhando também desceram as escadas. Decidida- em meu escritório, na Chancelaria, quando mente, brasileiro não entende de terremoto. de súbito as letras começaram a embaralhar Nossas tragédias aqui não são originárias no documento que eu estava lendo. Imedia- da natureza. São outras. tamente, tirei os olhos do papel e olhei para a parede em frente. Qual não foi minha sur- Egberto Baptista Sperling presa ao ver que o quadro com a efígie do Capitão de Mar e Guerra (Refo)

RMB4oT/2014 215 DOAÇÕES À DPHDM SETEMBRO A DEZEMBRO DE 2014

DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECA DA MARINHA

DOADORES

Almirante de Esquadra Wilson Barbosa Guerra Vice-Almirante Marcos Nunes de Miranda Contra-Almirante Marcos Sampaio Olsen Capitão de Mar e Guerra Sérgio Soares Ferreira Capitão de Fragata Paulo Cesar de Souza Nogueira Suboficial Marcelo Guimarães Cruz Sra. Karina Barbosa Cancella Sra. Julia Diniz Affonso da Costa Sra. Rozenilda Castro International Maritime Organization (IMO) Armada del Ecuador Marinha de Portugal Associação Almirante Prado Maia Centro de Comunicação Social da Marinha Centro de Hidrografia da Marinha Assessoria de Relações Públicas do Corpo de Intendentes da Marinha Diretoria de Coordenação do Orçamento da Marinha Diretoria de Portos e Costas (DPC) Assessoria de Comunicação Social do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais Instituto de Pesquisas da Marinha (IEAPM) Biblioteca do Exército Editores (Bibliex) Fundação Cultural do Exército Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército Instituto Histórico Cultural da Aeronáutica (Incaer) Instituto de História y Cultura Naval-Armada Española Biblioteca Nacional Museu do Folclore de São José dos Campos Fundação Parque Zoológico de São Paulo Azougue Editorial Fundação Casa de Rui Barbosa

LIVROS E PERIÓDICOS RECEBIDOS

EQUADOR Revista del Instituto de História Marítima do Ecuador CALM Carlos Monteverde Gra- nados – v. 29, no 54, jul/2014 (periódico – 2014) La Armada em el Conflicto de Paquisha – livro/2014 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

ESPANHA Revista de História Naval – v. 32, no 126 (periódico/2014) Revista de História Naval – v. 32, no 126, suplemento no 20, (3o trim./2014 – periódico)

ESTADOS UNIDOS Activities – jul./2014 (periódico)

INGLATERRA 2011 Esp Code International Code on the Enhnced Programme of Inspections During Surveys of Bulk Carries and Oil Tanquers – 2011 (livro/2013) Revised IMO Compendium – On Facilitation and Electronics Business – livro/2014 The London Protocol – Whatt it is and How to Implement it (livro/2014) IMSBC Code – International Maritime Solid Bulk Cargoes Code – livro/2013 Hong Kong Convention – Hong Kong International Conventions for the Safe and Envi- ronmentally sound recucling of Ships, 2009 – livro/2013 2010 HNS Conventions – International Convention on Liability and Compensation for Damage in connection with the carriage of Hazardous and Noxious Substances by Sea – livro/2013 International Code for the Construction and Equipment of Ships Carrying Dangerous Chemical in Bulk (IBC Code) – 2007 Edition – Supplement May 2014 – livro/2014 2012 Guidelines for the Development of Action Lists and Action Level for Fish Waste – livro/2013 International Convention for Safe Containers, 1972 CSC – livro/2014 Code on Noise Levels on Board Ships – livro/2014 ISM Code – International Safety Management code – Whith guidelines for its impemen- tation – livro 2014

PORTUGAL Revista da Armada – v. 44, no 488, ago. – periódico/2014 Revista da Armada – v. 44, no 487, jul. – periódico/2014 Revista da Armada – v. 44, no 489, set./out. – periódico/2014 Revista da Armada – v. 44, no 490, nov. – periódico/2014

BRASIL Caderno de História da Ciência – Instituto Butantan – v. 8, no 2, jul./dez. 2012 (periódico) O Canto do Cisne – Realidade ou Ficção – livro/2010 – Biblioteca volante O Museu Aeroespacial no Campo dos Afonsos – livro/2012 CNT – Transporte Atual – v. 20, no 227, ago./2014 (periódico) Noticiário INCAER – v. 16, no 75, jan./abr. 2014 (periódico) Revista da Escola de Guerra Naval – v. 19, no 2, dez./2013 (periódico) A Ressurgência – no 5 (periódico/2011) A Ressurgência – no 6 (periódico/2012) A Ressurgência – no 7 (periódico/2013) Anais Hidrográficos – Tomo 66 (periódico/2009) Revista da Aviação Naval – v. 27, no 56, jan./jun 97 (periódico)

RMB4oT/2014 217 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

Revista do Clube Naval – v. 122, no 369, jan./fev./mar. 2014 (periódico) Revista de Villegagnon – v. 8, no 2013 (periódico) O Periscópio – v. 45, no 61 periódico 2007 O Anfíbio – v. 29, periódico 2010 Notanf – 3o trimestre 2013, jul./ago./set. (periódico) Tenente-Brigadeiro do Ar Moreira Lima – O Ministro Conciliador – livro/ 2014 Escola Brasileira de Aviação – A Primeira Experiência da Aviação no Brasil – 1914 – livro/2014 Noticiário Incaer – v. 16, no 71, mai./jun.; v. 16, no 77, jul./ago. (periódicos/2014) Revista da Cultura – v. 13, no 23, jun., (periódico/2014) Surveyor Summer – 2014 (periódico/2014) Marujos de Primeira Viagem – Os Aprendizes-Marinheiros da Bahia (1910-1945) – livro/2012 O Saber e o Fazer no Museu do Folclore II Folha Militar – v. 4, no 46, jun./2014; v. 4, no 47, jul./2014 (periódicos) Flap Internacional – v. 51, no 503, (periódico/2014) CNT Transporte Atual – v. 20, no 228, set./2014; v. 20, no 229, out./2014, (periódicos) Associação Almirante Prado Maia Notícias – Aprama – v. 14, no 74, set./out. 2014, (periódico) Fundação Parque Zoológico de São Paulo – relatório anual/2013 (periódico) Ciência no Zoo – dez./2013 (periódico) Dicionário Ilustrado de Marinharia – livro/1943 Patrimônio Brasil O Governo da Ilha de Santa Catarina e sua Terra Firme – Território, Administração e Sociedade (1738-1807) – livro/2013 Tecnologia – v. 31, no 138, (periódico) Esparsos – v. 3 livro/1975 Coletânea de Livros Russos Revista Russa – no 9 (periódico/2014) Todo lo Necessario es Sencillo – livro/2011 Portugal-Brasil: a Era dos Descobrimentos Atlânticos – livro/1990 Informativo da Diretoria de Hidrografia e Navegação – v. 3, no 7, set./2014 (periódi- co/2014) História da Intendência da Marinha: do Ingresso da 1a turma de Intendentes na Escola Naval aos dias atuais – livro/2014 Informativo Marítimo – Diretoria de Portos e Costas – v. 22, no 2, mai./ago. periódi- co/2014 Biodeterioro del Patrimonio Histórico Documental Alternativas para su Erradicacion y Control – livro/2013 Revista Militar de Ciência e Tecnologia – v. 31, 2o trimeste de 2014, (periódico/2014) Revista de Educação Física – v. 913, no 53, set./2014, (periódico/2014) Recomendações para a Educação Física Escolar – livro/2014 A Escola de Aprendizes-Marinheiros de Parnaíba – livro/2013 Carioquice – v. 7, no 31, out./nov./dez. 2011 (periódico/2011); v. 11, no 41, abr./mai./jun. 2014 (periódico/2011); v. 11, no 42, jul./ago./set. 2014 (periódico/2014)

218 RMB4oT/2014 DOAÇÕES E PERIÓDICOS RECEBIDoS

A Defesa Nacional – v. 101, no 824 – 2o quadrimestre/2014, (periódico/2014) Revista do Exército Brasileiro – no 150, 2o quadrimestre/2014 (periódico/2014) 80 Anos do Tribunal Marítimo 1934-2014 – livro/2014 Bracolper Naval 2014 – 40 anos (periódico/2014) Visita Oficial à República de Portugal de sua Excelência Doutor Juscelino Kubitchek de Oliveira a Bordo do Cruzador Barroso Ideias em Destaque – no 43, jan./abr. (periódico/2014) Revista do APL de Defesa do Grande ABC – v. 1, no 2, (periódico/2014) A Defesa Nacional – v. 101, no 824, 2o quadrimestre/2014 (periódico)

RMB4oT/2014 219 ACONTECEU HÁ 100 ANOS

Esta seção tem o propósito de trazer aos leitores lembranças e notícias do que sucedia em nossa Marinha, no País e noutras partes do mundo há um século. Serão sempre fatos devidamente reportados pela Revista Marítima Brasileira. Com vistas à preservação da originalidade dos artigos, observaremos a grafia então utilizada.

A ENGENHARIA NAVAL NO BRAZIL E EM OUTRAS MARINHAS (RMB, out./1914, p. 563-586)

Nomeado para fazer parte da commissão por ordem do snr. Ministro da Marinha foi incumbida de revêr o Regulamento do Corpo publicado pela Imprensa Naval. de Engenheiros Navaes, decretado em 27 de Esse trabalho permittirá estudar a ori- fevereiro de 1808, reunimos diversos docu- gem e desenvolvimento do Corpo de En- mentos relativos a este corpo e aos corpos de genheiros Navaes até o momento actual algumas marinhas estrangeiras. Dividindo e fazer a comparação com o que existe na esses documentos em duas partes, uma refe- Inglaterra, França, Allemanha, Italia, Aus- rente á nossa marinha e outra ás marinhas tria, Estados Unidos e Russia. Damos aqui estrangeiras, e observando a disposição a sua synthese. chronologica, formámos um opusculo, que (...)

O NAVIO MERCANTE ARMADO (RMB, out./1914, p. 677-695) Capitão-Tenente Guilherme Rieken

A guerra naval exige, como a guerra ter- meios poderosos existentes em uma forte restre, para ser conduzida com successo, o marinha mercante á disposição do bellige- emprego de todas as forças nacionaes. Os rante devem ser empregados para augmen- ACONTECEU HÁ CEM ANOS tar a energia militar. Um vasto campo de migos por estes transportados, baseado no acção têm os navios mercantes, abstracção direito das presas maritimas e si este trafe- feita do seu emprego como esclarecedores go maritimo é feito por nações neutras, elle e no serviço de segu- procura alcançar este rança, da chamada Quanto mais dependente for a fim pelo bloqueio das guerra do commer- costas inimigas e assim cio. Esta tem por vida economica de uma nação, da impedir todo commer- fim, pela coacção que exportação e da importação, tanto cio maritimo. Quanto soffre o commercio maiores serão as probabilidades de mais dependente for a maritimo do adversa- vida economica de uma rio, eliminar as suas successo de um dos belligerantes nação, da exportação e fontes de economia e da importação, tanto a sua resistencia economica. O adversario maiores serão as probabilidades de successo procura alcançar este fim pela captura dos de um dos belligerantes. navios mercantes inimigos e dos bens ini- (...)

A SITUAÇÃO DOS NOSSOS ARSENAES (RMB, nov./1914, p. 763-798) Thiers Fleming

Este estudo sobre os nossos arsenaes de A situação a que chegaram os tres arse- marinha tem por fim relembrar methodica- naes de marinha, que o Brazil possúe, recla- mente o que se tem feito ou pensado fazer a ma attenção. A descripção do que é o actual respeito e mais uma vez mostrar o que resta Arsenal do Rio de Janeiro confirmaria a a fazer, e que é tudo. nossa asserção. Os dois outros arsenaes de Para supprir a falta de auctoridade em marinha do Pará e do Ladario não podem assumpto de tanta relevancia, embora não nem mesmo preencher os modestos fins a que apreciemos enxertar os nossos trabalhos com se destinam: reparar o material das flotilhas citações, somos obrigados a recorrer a ellas. do Amazonas e de Matto-Grosso.

REVISTA DE REVISTAS

OUTUBRO – 1914 no que, segundo o The Observer, marcará um grande progresso sobre seus predecessores re- SUPER-SUBMARINOS INGLEZES lativamente ao tamanho do casco; é possivel – É da The Naval and Military Record a que tambem no methodo de propulsão. seguinte informação: Elle deslocará cerca de 2.000 toneladas e “Está-se construindo em Barrow-in-Fur- provavelmente empregará as turbinas a va- ness para o almirantado um super-submari- por, durante a emersão.

RMB4oT/2014 221 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

Em uma palavra, esse navio se approxi- dos grandes couraçados, apesar do enorme e mará mais do cruzador-submarino do que estrepitoso poder que ostentam nas suas cus- alguns por emquanto construidos. tosas e valentes corpulencias de rijo ferro. E, além disso, elle é provavelmente o pre- Ninguem mais poderá falar com seguran- cursor de um typo de submarino certamente ça sobre a guerra naval de amanhã, achan- mais poderoso do que elle mesmo.” do-se o couraçado sob a ameaça do submari- Essa noticia da The Naval and Military no, pois, emquanto se vir na superficie dos Record é, por si só, bastante symptomatica mares o periscopio desse navio, navalhando da grande importancia do submarino. o dorso fervilhante das vagas, um grave si- Effectivamente lencio deve responder basta vêr as numerosas a todas as arguições publicações feitas em O mundo militar começa a tacticas, pois diante de torno desse elemento entrever outros horizontes um poder triumphal- de ataque para se ficar em cujos contornos ondulantes mente invisivel, desse desde logo convencido surge vultosamente o valor tremendo eculeo das que depois de um largo esquadras, a argucia periodo de hesitação, militar do submarino mais astuciosa, os mais por parte dos grande penetrantes olhares, circulos navaes com respeito a essa machina as mais possantes machinas de destruição, de guerra, ella entrou numa phase de franca abatem-se e perscrutam tão sómente. evolução, diante das provas as mais satisfa- torias obtidas em diversas manobras de com- NOVEMBRO – 1914 bates simulados. E ha pouco tem- O TORPEDEIRO po o telegrapho nos O hydroplano, como se AEREO – Da Revis- transmittiu a noticia pode empregar hoje em dia, ta General de Mari- dos desastres dos tres não tem grande importancia na de agosto ultimo, cruzadores-couraça- militar no campo tactico de extrahio-se a seguinte dos inglezes atacados noticia: no mar do Norte por uma batalha naval O hydroplano, como submarinos alllemães. se pode empregar hoje É um acontecimento sobremaneira signi- em dia, não tem grande importancia militar ficativo para o mundo militar que começa a no campo tactico de uma batalha naval. A entrever na tactica naval outros horizontes sua principal missão de guerra limita-se á em cujos contornos ondulantes surge vulto- vigilancia e á exploração. samente o valor militar do submarino. Segundo a L’Italia Aero-Maritima, o Agora, já não se poderá mais olhal-o engenheiro Raimund da casa Ansaldo ideou como uma arma duvidosa, hesitante e in- e tirou patente de um apparelho especial, certa, e com o crescer das suas dimensões e por meio do qual pode-se lançar um torpe- consequentemente do seu raio de acção, po- do como se faria de um navio de guerra. A der offensivo e marcha, talvez se dê a queda applicação pratica dessa idéa realisou-se me-

222 RMB4oT/2014 ACONTECEU HÁ CEM ANOS diante um apparelho que se fixa no hydro- “Tem sido bastante reconhecido pelos estra- plano e permitte a este transportar e dispa- tegistas navaes e pelos que se interessam pela rar em marcha o seu torpedo. guerra no mar nas condições modernas, que a (...) potencia em pronunciada inferioridade de poder de couraçados recolherá os seus principaes na- DEZEMBRO – 2014 vios ao interior dos portos e bases fortificadas, acceitando o bloqueio pelo inimigo, e procurará A COMPROVAÇÃO DO VALOR MI- reduzir a superioridade de força por meio das mi- LITAR DO SUBMARINO – É da Scienti- nas, dos e ataques de submarino. fic American de 3 de outubro ultimo: (...)”

NOTICIARIO MARITIMO

OUTUBRO – 1914 ilha de Fernando de Noronha e archipelago de Abrolhos, dirigio ao Congresso Nacional a MARINHA NACIONAL seguinte mensagem, que esperamos terá com a possivel brevidade a solução pratica que im- HOMENAGEM AS VICTIMAS DO põe tão importante assumpto: DEVER – No dia 22 de novembro a nação (...) brazileira saldou uma divida de gratidão; perpetuando em um monumento as homena- MARINHAS ESTRANGEIRAS gens devidas ao bravo commandante Baptis- ta das Neves e aos seus dignos companheiros INGLATERRA que com elle tombaram victimas do dever nes- sa tragica noite de novembro de 1910. CRUZADOR “GLASGOW” – O cruza- Esse monumento erigido na praça fron- dor Glasgow que por mais de uma vez tem teira ao edificio da Escola Naval foi inau- passado em nosso porto, de novo aqui che- gurado com toda a solemnidade, perante as gou no dia 16 de novembro, procedente do mais altas auctoridades na nação e em uma Pacifico onde, como se sabe, conjunctamente numerosa assistencia, que, commovidos, re- com os cruzadores-couraçados Monmouth e cordavam através daquella homenagem essa Good Hope e o cruzador auxiliar Otranto, pagina triste da nossa historia. empenhou se em um combate naval nas cos- (...) tas da Republica do Chile. O Monmouth e o Good Hope foram a REIVINDICAÇÃO NECESSARIA pique na peleja e o Glasgow conseguiu esca- – O sr. marechal Hermes da Fonseca, atten- par-se com algumas avarias, que necessitam dendo ás justas ponderações feitas pelo sr. al- ser reparadas urgentemente. mirante ministro da Marinha relativamente á O commandante do Glasgow pedio ao necessidade inadiavel da reversão á União da nosso governo permissão para reparar em nos-

RMB4oT/2014 223 ACONTECEU HÁ CEM ANOS so porto as avarias mais urgentes e indispen- Noronha partio do Rio de Janeiro, no dia 24 saveis á segurança da navegabilidade do na- de novembro com destino á ilha da Trindade, vio e isto foi-lhe permittido de accordo com as onde se demorou em trabalhos hydrographi- regras de neutralidade baixadas com o decreto cos e topographycos, preparatorios das obras de 4 de agosto ultimo e que já publicámos. que se projecta executar nessa ilha, entregue Logo que sejam terminados os concertos o hoje á jurisdição do Ministerio da Marinha, Glasglow deixará o nosso porto para continuar a para que alli se possa estabelecer um contin- sua arriscada e trabalhosa tarefa de policiamento gente militar e um posto telegraphico. dos mares na parte occidental da America. (...)

AEROPLANOS E O CONTRA ALMI- DIRIGIVEIS – Reu- RANTE SIR CHRIS- nindo as poucas noti- TOPHER CRADOCK cias que chegam do the- – Embora a profundida- atro da guerra européa, de das aguas do Oceano podemos formar uma Pacifico, nas costas chile- idéa ainda que ligeira, nas, o cubra, não se apa- sobre o valor da “quarta gará, por certo, de nossa arma” como se denomi- grata memoria, o nome na a aerostação. do brilhante official da As referidas noticias, marinha ingleza que foi que até a presente data o Contra-Almirante Sir não se pode garantir Christopher Cradock, de que sejam, em absoluto, justa nomeada entre seus a expressão da verdade, pares pelo enthusiasmo todavia conduzem a com que seu talento allia- conclusões que não de- do a uma verdadeira alma vem ser despresadas. Contra Almirante Sir Christopher Cradock. de marinheiro, trabalhára Salvou 298 tripulantes do naufrágio do Cruzador A revista ingleza Almirante Barroso, no Mar Vermelho, em 1893 pelo engrandecimento e The Engineer que demos perfeição da marinha de á vista, referindo-se a este assumpto, assim guerra de sua nação. se manifesta: Exemplo vivo da doutrina que com en- (...) tranhado amor e dedicação expendia, quiz a fatalidade que em vez de triumphar, suc- DEZEMBRO – 1914 cumbisse a peso esmagador no combate que com tanta honra e dignidade sustentou. MARINHA NACIONAL A maior prova deu-a elle, acompanhan- do ás profundezas do abysmo o seu glorioso EXCURSÃO Á ILHA DA TRINDA- pavilhão. DE – O transporte Carlos Gomes, sob o A Marinha Militar Brasileira, devedo- commando do capitão de fragata Isaias de ra ao illustre official de inestimavel serviço

224 RMB4oT/2014 ACONTECEU HÁ CEM ANOS pelo salvamento de 298 tripulantes do cru- Perigosas e arriscadas quer para o ata- zador Almirante Barroso naufragado no dia cante como para o atacado, exigem muita 21 de maio de 1893, na praia dos Ras Zeite, coragem, ousadia e iniciativa, além de um no mar Vermelho, reverente curva-se lasti- perfeito trenamento. mando perda tão sensivel e lembrar-se-á do A sua acção tem sido interessante nos se- edificante exemplo que soube legar. guintes casos: (...) MARINHAS ESTRANGEIRAS As occorrencias havidas com os submarinos em 90 dias de campanha – Os submarinos des- OS ACONTECIMENTOS NAVAES truiram cruzadores, destroyers e 1 paquete. A situação naval após 85 dias de cam- Um submarino foi destruido por projectis panha – A situação é a mesma, isto é, os al- no interior de um porto allemão. lemães procurando forçar a esquadra russa Um submarino foi destruido pelo ariete ao combate, emquanto os inglezes forçam a do Badger. esquadra allemã ao combate. Um submarino foi destruido por uma Os navios russos e allemães conservam-se mina submarina. nos portos bem defendidos por enormes cam- Um submarino atacou, sem successo, um pos de minas submarinas. outro submarino. Na Inglaterra, os couraçados acham-se Um submarino capturou um paquete. guardados tambem por minas, e os cruza- Um submarino capturou um hydroplano. dores ligeiros, cruzadores couraçados e des- Um submarino “enrascou-se” em uma troyers fazem o serviço de patrulha do Mar rêde de pescaria ficando avariado. do Norte, de Heligolandia e da embocadura Um submarino “enrascou-se” na amarra- de Scheldt, Canal, etc. ção de uma mina submarina. Os submarinos allemães e inglezes per- O torpedo nos tres primeiros mezes de correm o Mar do Norte em busca de “alvos campanha – O successo do torpedo na ac- parados”. tual campanha tem sido limitado aos sub- No Baltico, os submarinos fazem o mes- marinos, pois com uma unica excepção, esta mo serviço. mesma posta em duvida, todos os torpedos No Adriatico, a esquadra combinada pro- que attingiram o alvo foram lançados pelos cura forçar a austriaca a combater e os subma- submarinos allemães e inglezes. rinos austriacos começaram a fazer “sortidas”. Esta excepção refere-se a um torpedo Evidentemente, os allemães manejam os lançado pelo destroyer inglez Laertes, no submarinos com muito mais audacia que os combate de Heligolandia, e que, segundo o outros belligerantes. relatorio do commodoro Tyrwhitt, parece ter (...) attingido o cruzador allemão Mainz, com- O emprego das novas armas – As novas pletando desse modo a sua destruição. armas estão sendo empregadas por todos os Neste combate, todos os cruzadores ligei- belligerantes, cabendo, por emquanto, ao ros e destroyers allemães descarregaram seus allemão a gloria de manejal-as do melhor torpedos. modo. (...)

RMB4oT/2014 225 ACONTECEU HÁ CEM ANOS

O tiro contra aeroplanos – São muitos já só a necessidade de um projectil especial, os casos em que aeroplanos têm sido “derru- capaz de damnificar a estructura dos aero- bados” por balas de carabina e por balins de planos, como tambem a de canhões dotados schrapneis, mormente no inicio da campa- da mais alta V.I., satisfazendo ás condições nha, em que os aviadores facilitavam muito. apresentadas pelos aeroplanos ultimamente: O numero, porém, de insuccessos é mui- grande velocidade e vôo em grandes alturas. to maior, e cada vez mais accentua-se não (...)

226 RMB4oT/2014 REVISTA DE REVISTAS

Esta seção tem por propósito levar ao conhecimento dos leitores matérias que tratam de assuntos de interesse marítimo, contidas em publicações recebidas pela Revista Marítima Brasileira e pela Biblioteca da Marinha. As publicações, do Brasil e do exterior, são incorporadas ao acervo da Biblioteca, situada na Rua Mayrink Veiga, 28 – Centro – RJ, para eventuais consultas.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ÁREAS CANAL Dois canais: Canal do Panamá e Canal da Nicarágua (228) ARTES MILITARES ESTRATÉGIA Rússia: Por que não podemos ao menos ter bom relacionamento? (229) GUERRA Primeiro centenário do início da Primeira Guerra Mundial. Perspectiva naval do conflito (230) REVISTA DE REVISTAS

Dois canais: Canal do Panamá e Canal da Nicarágua Almirante (Portugal) António Balcão Reis* (Revista de Marinha, Portugal, setembro-outubro/2014, no 981)

Futuro Canal da Nicarágua

Neste artigo, o autor apresenta infor- Segundo o autor, o diferencial em re- mações sobre o novo Canal da Nicarágua lação ao Canal do Panamá reside no fato e faz comparações entre este e o Canal do de que o novo canal prevê cinco frentes de Panamá, do qual apresenta as principais desenvolvimento: o canal transoceânico características, as obras de ampliação e um propriamente dito; dois portos de águas histórico de sua construção. Ressalta, den- profundas; dois aeroportos; diversos com- tre os dados apresentados, a expectativa de plexos turísticos em suas margens; e uma elevação da capacidade do Canal do Panamá zona franca com centro financeiro. dos atuais 14 mil para 18 mil navios/ano. O Canal da Nicarágua terá 286 km de A construção do Canal da Nicarágua, extensão, largura variável de 230 a 520 ligando o Pacífico ao Atlântico, é fruto de m e 27,6 m de profundidade. Permitirá acordo entre o governo daquele país e o em- a passagem de navios porta-contêineres presário chinês Wang Jin, com previsão de de 25 mil TEU’s, graneleiros de 400 mil concessão por 50 anos, prorrogável por igual t. e petroleiros de 320 mil, com previ- período. É ressaltado por Wang Jin que se são de tráfego anual de 5.100 navios. O trata de um empreendimento privado, afas- percurso do futuro canal levará cerca tado de propósitos e interferências políticas. de 30 horas.

* Almirante Construtor Naval da Marinha de Portugal. É membro da Seção de Transportes da Sociedade de Geografia de Lisboa.

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Rússia: Por que não podemos ao menos ter bom relacionamento? Almirante (Reserva - EUA) James G. Stavridis* (Proceedings, EUA, outubro 2014, p. 64-68)

Este artigo foi extraído do livro lidos e estudados por ele e aspectos his- de memórias do autor – O Almirante tóricos e da psique daquele povo. Busca Incidental: Um Marinheiro assume o identificar e analisar os graves problemas Comando da Otan –, recém-publicado com os quais o governo russo se defronta, pelo Naval Institute Press. Neste extrato, tais como: a diminuição da população, o Stavridis aborda as nuances e dificulda- abuso de álcool e drogas (30 mil jovens des de relacionamento com a Rússia ao são perdidos anualmente para esses longo de seus qua- vícios), a ameaça tro anos como co- terrorista de grupos mandante Supremo islâmicos no Cáu- Aliado da OTAN. caso, a corrupção, a O almirante, se- explosão demográfi- gundo o artigo, as- ca da China em suas sumiu o cargo com fronteiras, o sistema expectativa de poder de governo falido e a contribuir para um obrigação de manter reinício de relaciona- seu arsenal de 15 mento entre Moscou mil armas nucleares e o Oeste. Em várias em segurança. Em frentes isso foi pos- acréscimo, a econo- sível, tais como no mia é praticamente combate à pirataria, dependente da ex- ao terrorismo, ao trá- ploração de gás e fico de drogas e tam- petróleo. bém no Afeganistão. Para Stavridis, Entretanto, outros esses problemas temas esfriaram sig- contribuíram para nificativamente essa criar ressentimen- relação. Dentre os O autor (direita) encontra o Almirante CNO ucraniano to em relação ao principais, Stavridis Oeste, de quem a destaca a Líbia, a Síria, os sistemas de Rússia depende para sobreviver. Mas, mísseis (tidos como ameaça pelos russos), argumenta o autor, “o mundo precisa de a discordância sobre a ocupação da Geórgia uma Rússia estável” e, além disso, “o e o caso Snowden. futuro do país está no Oeste”. Por isso, O autor ressalta sua admiração pela deve-se buscar e desenvolver zonas de cultura russa citando importantes autores cooperação, pois, do contrário, a Rússia

* Serviu à Marinha dos EUA como almirante quatro estrelas por período de sete anos, dos quais quatro como o primeiro oficial de Marinha a ser designado comandante Supremo Aliado da Otan. Atualmente, trabalha na Universidade Tufts como diretor da Fletcher School de Direito e Diplomacia.

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assumirá sempre posições contrárias aos interesses do Oeste. O almirante demonstra preocupação especial com a militarização do Ártico, onde, em sua opinião, deve ser criada uma zona de cooperação e não uma de confrontação, como ocorria durante a Guerra Fria. Ao final deste artigo, Stavridis analisa a recente invasão da Crimeia pela Rússia e compara Putin a Hitler, alertando que um eventual prosseguimento de invasão do resto da Ucrânia ou a qualquer nação da Otan impossibilitará qualquer aproxi- mação com o Oeste. Busca, ainda, indicar caminhos para que se encontre um modus vivendi com a Rússia, que, segundo ele, é grande e perigosa demais para ser ignorada ou isolada.

Primeiro Centenário do Início da Primeira Guerra Mundial. Perspectiva naval do conflito Vários autores (Revista General de Marina, Espanha, agosto-setembro/2014, Tomo 267)

Tradicionalmente, o número corres- Contudo, como prefaciado pelo Capitão pondente a agosto-setembro da Revista de Mar e Guerra Antonio Manuel Pérez General de Marina aborda um único tema. Férnández, analistas especializados coin- Como em 28 de julho passado ocorreu o cidem na opinião de que a luta continental primeiro centenário do início da primeira não decidiu o resultado da contenda, já que, conflagração mundial, aquela que, por sua por ocasião da assinatura do armistício, e magnitude, foi denominada a Grande Guer- apesar das graves perdas sofridas, o exér- ra, a revista, nesta edição, se dedica a tratar cito alemão poderia seguir resistindo quase de aspectos significativos daquele conflito indefinidamente. sob sua perspectiva naval. Citando afirmativa de Liddell Hart, Segundo o prefácio – Carta Del Direc- Pérez Férnández concorda que, para o tor –, a guerra englobou todas as grandes historiador do futuro, a data a ser escolhida potências econômicas e militares da época, para o fim daquela guerra deveria ser a de provocou significativas e permanentes mu- 2 de agosto de 1914, portanto antes até de danças políticas e acarretou perdas humanas o conflito se iniciar propriamente. Essa foi sem precedentes, da ordem de 10 milhões de a data em que Winston Churchill enviou à mortos e de 21 milhões de feridos, sem se Armada britânica a ordem de mobilização considerar os desaparecidos nas frentes de geral impondo o bloqueio que, ao tomar combate, a imensa maioria em terra. proporções cada vez maiores e passada a

230 RMB4oT/2014 REVISTA DE REVISTAS

“névoa da guerra”, se verificou com clareza ter sido o agente decisivo da luta. A revista apresenta 12 artigos de autoria de historiadores, acadêmicos, profissionais do mar e pesquisadores navais, todos com enfoque naval. São analisados antecedentes históricos, causas, fatores estratégicos dos contendores e algumas ações navais nos oceanos Mediterrâneo, Atlântico e Pacífico. Trata, ainda, com detalhes, da participação de unidades navais que protagonizaram algumas das mais destacadas ações no conflito, dos cruzadores auxiliares e dos submarinos, que se consagraram como armas formidáveis. Posteriormente, são analisadas as violações do Direito na Guerra Marítima e o destino fi- nal de unidades navais dos países perdedores. Na parte final da revista, três artigos abor- dam também a participação espanhola naquela guerra, apesar de sua declaração de neutralidade.

RMB4oT/2014 231 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esta seção destina-se a registrar e divulgar eventos importantes da Marinha do Brasil e de outras Marinhas, incluída a Mercante, dar aos leitores informações sobre a atualidade e permitir a pesqui- sadores visualizarem peculiaridades da Marinha. Colaborações serão bem-vindas, se possível ilustradas com fotografias.

SUMÁRIO (Matérias relacionadas conforme classificação para o Índice Remissivo)

ADMINISTRAÇÃO ATIVAÇÃO Ativação de adidância na Indonésia (237) Ativação de adidância no Líbano (237) MB ativa o Serviço de Sinalização Náutica do Noroeste (238) certificado de qualidade Espaço Cultural da Marinha recebe Certificado de Excelência (241) COMEMORAÇÃO 80 anos do Syndarma (242) 90o aniversário da DEN (242) Aniversário do Armistício da Primeira Guerra Mundial (245) Dia da Bandeira (246) Dia da Criação da Força Naval do Nordeste (247) Dia do Marinheiro (249) Dia do Servidor Público (253) Dia Marítimo Mundial 2014 (253) CONTRATO FAB firma aquisição de Gripen NG que possibilitará versão naval (255) NOTICIÁRIO MARÍTIMO

DESATIVAÇÃO Desativação do Depósito de Subsistência da Marinha no Rio de Janeiro (256) INAUGURAÇÃO Inaugurados novos PNR em Barra Bonita (257) LANÇAMENTO AO MAR Lançamento do NHoFlu Rio Branco (258) MOSTRA DE DESARMAMENTO Mostra de Desarmamento da Corveta Frontin (259) POSSE Assunção de cargos por almirantes (260) Transmissão do Cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada (261) Transmissão dos Cargos de Comandante de Operações Navais e Diretor-Geral de Navegação (268) PRÊMIO Atlântico: a História de um Oceano recebeu Prêmio Jabuti (272) Atleta da Marinha indicada ao Prêmio Brasil Olímpico 2014 (273) DPC recebe Prêmio Qualidade Brasil 2014 (274) Militar da MB recebe prêmio internacional (274) Prêmio Revista Marítima Brasileira (275) PROMOÇÃO Promoção de almirantes (275) VISITAÇÃO Marinha do Brasil na Euronaval 2014 (276) Soamar-Rio visita IEAPM (277)

APOIO CONSTRUÇÃO NAVAL Itaguaí Construções Navais recebe seção de qualificação essencial para o Prosub (277) MB revela projeto de NPaOc na Euronaval 2014 (278) Load In do Submarino Tamoio (279)

ÁREAS ANTÁRTICA Operação Antártica XXXIII (280) ilha da marambaia MB sela acordo com moradores da Ilha da Marambaia (281)

ARTES MILITARES JOGO DE GUERRA 5a edição do Jogo de Guerra para Forças Amigas (282)

ATIVIDADES MARINHEIRAS BUSCA E SALVAMENTO AgAracati resgata náufragos (282) Capitania Fluvial de Santarém resgata náufragos no Rio Amazonas (283)

RMB4oT/2014 233 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

CPCE localiza pescadores desaparecidos (283) Fragata Constituição participa de SAR no Mediterrâneo (284) MB encontra corpo de desaparecido no Rio Paraguai (284) NHo Cruzeiro do Sul resgata pesqueiro Akira VII (285) NPaOc Apa socorre embarcação (286) PESQUISA NPaOc Apa apoia pesquisa científica na Ilha da Trindade (286) REGATA Escola Naval vence Regata Santos-Rio (287) SALVAMENTO 6o DN realiza evacuação aeromédica de criança (288) 6o DN resgata grávida em Barra do São Lourenço (288) 6o DN realiza 14a Evacuação Aeromédica (289) 9o DN realiza Evam durante Operação Amazônia 2014 (289) Marinha apoia combate a incêndio em pesqueiro (290) MB resgata vítima de picada de cobra (290) SINALIZAÇÃO NÁUTICA AvHoFlu Caravelas sinaliza naufrágio de navio boliviano e localiza balsa desaparecida (291)

CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) SIMULAÇÃO Helibras inicia construção de Centro de Treinamento e Simuladores no RJ (291)

CONGRESSOS CONGRESSO III Congresso Nacional de Segurança e Saúde noTrabalho Portuário e Aquaviário (292) Sobena 2014 (293) ENCONTRO 11o Encontro de Tecnologia em Acústica Submarina (294) REUNIÃO XVI Reunião Anual da Rede de Bibliotecas Integradas da Marinha (295) Debates sobre história militar no Museu Naval (296) Workshop “Disseminando o Direito Marítimo” e lançamento do livro 80 anos do Tribunal Marítimo 1934-2014 (297) SALÃO São Paulo Boat Show 2014 (298) SEMINÁRIO VIII Seminário Brasileiro Sobre Água de Lastro (299) Seminário de Operações de Manutenção da Paz e Ações Humanitárias (300) SIMPÓSIO Informar 2014 (301) Simpósio “A Grande Guerra (1914-1918): uma (re)visão desde o Brasil” (302) Simpósio do Patrimônio Histórico e Cultural Militar (302)

234 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

EDUCAÇÃO ENSINO PROFISSIONAL MARÍTIMO AgAracati forma pescadores profissionais (304) ESCOLA DE GUERRA NAVAL Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos da EGN (305) ESPORTE Atletas da alto rendimento são incorporados à MB (306) Resultados esportivos (306) FORMAÇÃO MB e Universidade de Lisboa firmam acordo de cooperação (307)

FORÇAS ARMADAS aeronave VF-1 realiza exercício de lançamento de bombas em Natal (308) ATIVIDADE SUBSIDIÁRIA Capitania Fluvial de Tabatinga apoia Enem no Alto Solimões (308) SUBMARINO NUCLEAR Amazul e FDTE assinam parceria para o Programa do Submarino Nuclear (309)

INFORMÁTICA INTERNET Base de dados “Military & Government Collection” (310) SOFTWARE Sistema de Gerenciamento de Legislação da MB (311) Sistema de Informações Gerenciais de Logística e Mobilização de Defesa (311)

PESSOAL VENCIMENTOS Etapa 2 do Projeto de Modernização do Sispag (311)

PODER MARÍTIMO APRESAMENTO NPa Bocaina apreende barcos pesqueiros (312) NPa Pirajá apresa embarcação pesqueira irregular (313) PLATAFORMA CONTINENTAL NHo Garnier Sampaio apoia Remplac (313) PORTO Novo porto-seco em Suape (314) Portonave bate recorde sul-americano de produtividade (314) Wilson Sons Rebocadores passa a operar no Porto do Açu (315) SEGURANÇA DA NAVEGAÇÃO CAMR instala seu primeiro AIS de Auxílio à Navegação (315)

PSICOSSOCIAL ASSISTÊNCIA SOCIAL MB realiza Aciso em São Roque do Paraguaçu (316)

RMB4oT/2014 235 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

NAsH Tenente Maximiano realiza Aciso no Rio Paraguai (316) LANÇAMENTO DE LIVRO A História da caça de baleias no Brasil (317) Lançamento do livro A Busca de Grandeza (317) Lançamento do livro Brasil - Lutas contra invasões, ameaças e pressões externas (318) Lançamento do livro Os Gigantes da Estratégia Naval (319)

SAÚDE ASSISTÊNCIA MÉDICA HNMD realiza primeira cirurgia robótica (319)

valores patronos Patronos Instituídos na Marinha do Brasil (320)

236 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO ATIVAÇÃO DE ADIDÂNCIA NA INDONÉSIA Foi ativada, em 4 de novembro último, a gração sinérgica, que resultará em maior Adidância Naval na Indonésia. Assumiu o ampliação das ações necessárias para elevar cargo de adido o Capitão de Mar e Guerra o bilateralismo entre os nossos países no Marco Antonio Ismael Trovão de Oliveira. setor de defesa e nos assuntos navais. Da Ordem de Ser- Assim, a mudança da viço alusiva ao evento, sede da Adidância Na- expedida pelo subchefe val para Jacarta atende de Estratégia do Es- a uma grande aspiração tado-Maior da Arma- do Brasil, consolidando, da, Contra-Almirante desta forma, a harmoni- Flávio Augusto Viana zação de nossa política Rocha, destacamos o externa junto à Indonésia seguinte trecho: e incrementando ainda “Observa-se um mais o relacionamento crescente relacionamen- entre as duas Marinhas. to entre a Marinha do Por ocasião da trans- Brasil, o Ministério da missão do cargo de Adi- Defesa e o Ministério do Naval na Indonésia, das Relações Exteriores, formulo os agradecimen- com um trabalho cada tos deste Estado-Maior vez mais coeso entre ao Capitão de Mar e militares e diplomatas, Guerra Sergio Henrique em uma gestão pró-ativa Magliari da Costa Mou- e conjunta, seja em fóruns multilaterais, ra, extensivos à digníssima família. bilaterais ou nas representações brasileiras. Ao Capitão de Mar e Guerra Marco Como consequência, a Marinha do Antonio Ismael Trovão de Oliveira, desejo Brasil, seguindo essa linha de pensamento, pleno êxito no cargo que ora assume, for- intensifica o seu relacionamento internacio- mulando os votos de felicidades, extensivos nal, por meio de uma linguagem inerente aos familiares.” aos homens do mar, buscando uma inte- (Fonte: Bono no 762, de 31/10/2014)

ATIVAÇÃO DE ADIDÂNCIA NO LÍBANO Foi ativada, em 4 de novembro último, a “Na atual conjuntura geopolítica, o Bra- Adidância de Defesa, Naval, do Exército e sil, na condição de país detentor de ascen- da Aeronáutica no Líbano. Assumiu o cargo são equilibrada no cenário internacional, o Capitão de Mar e Guerra Cláudio Grilli, vem adotando uma postura que busca de em caráter de revezamento. forma integrada, junto aos demais países, o A seguir, transcrevemos a Ordem de seu desenvolvimento e a ampliação de suas Serviço alusiva ao evento, expedida pelo parcerias, considerando os interesses e as subchefe de Estratégia do Estado-Maior da peculiaridades da comunidade internacio- Armada, Contra-Almirante Flávio Augusto nal, em prol de uma saudável cooperação Viana Rocha: entre os Estados.

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As relações líbano-brasileiras remontam em uma gestão pró-ativa e conjunta, seja ao último quarto do século XIX, quando os em fóruns multilaterais, bilaterais ou nas imigrantes libaneses aportaram no Brasil à representações brasileiras. procura de um novo mundo, encontrando Como consequência, a Marinha do um povo amigo e cordial. Brasil, seguindo essa linha de pensamento, A existência do povo libanês na sociedade intensifica o seu relacionamento interna- brasileira deu às relações cional, por meio de uma entre o Líbano e o Brasil linguagem inerente aos uma dimensão distinta, na homens do mar, visando a medida em que constitui uma integração sinérgica, garantia de permanên- que resultará em maior cia e de desenvolvimento ampliação das ações ne- desse vínculo, pois não cessárias para elevar o bi- se restringe aos campos lateralismo entre os nossos comercial e econômico, países nos assuntos navais. abrangendo também laços Cabe ressaltar a visita do históricos e culturais. Este comandante da Marinha do profícuo relacionamento Líbano ao Brasil, no decor- evoca os princípios do rer deste ano, como um im- multilateralismo, da não portante marco no contexto intervenção e da solução mais amplo das relações pacífica de controvérsias, entre as duas Marinhas, o que torna essa aproxima- na medida em que muitos ção evidente e fortalecida. assuntos foram tratados e É com esse espírito de diversas possibilidades de cooperação que se reveste a participação cooperação vislumbradas. brasileira na Força Interina das Nações Assim, a ativação da Adidância de Defesa, Unidas no Líbano (Unifil), primeira e única Naval, do Exército e da Aeronáutica no Líba- Missão de Paz da Organização das Nações no atende a uma grande aspiração do Brasil, Unidas a contar com uma Força-Tarefa consolidando, desta forma, a harmonização Marítima (FTM), atualmente comandada de nossa política externa, no que tange ao pela Marinha do Brasil. setor de defesa, junto a este valoroso país. Nesse sentido, observa-se um crescente Ao Capitão de Mar e Guerra Cláudio relacionamento entre a Marinha do Brasil, Grilli desejo pleno êxito no cargo que ora o Ministério da Defesa e o Ministério das assume, formulando os votos de felicida- Relações Exteriores, com um trabalho cada des, extensivos aos familiares.” vez mais coeso entre militares e diplomatas, (Fonte: Bono no 762, de 31/10/2014)

MB ATIVA O SERVIÇO DE SINALIZAÇÃO NÁUTICA DO NOROESTE

Foi ativado, em 22 de outubro último, o ção, presidida pelo chefe do Estado-Maior Serviço de Sinalização Náutica do Noroeste da Armada, Almirante de Esquadra Carlos (SSN-9). A cerimônia de Mostra de Ativa- Augusto de Sousa, aconteceu no Complexo

238 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO da Estação Naval do Rio Negro, em Ma- campanhas hidrográficas, nos remete ao naus (AM). Na ocasião, foi empossado o século XIX, quando, entre os anos de 1862 primeiro encarregado do SSN-9, o Capitão e 1864, o Capitão-Tenente João Soares de Fragata Marcelo Oro de Carvalho. Pinto, sob a direção do Capitão de Fragata Estiveram presentes à cerimônia o co- José da Costa Azevedo, futuro Barão de mandante de Operações Navais, Almirante Ladário, foi enviado ao extremo oeste do de Esquadra Wilson Barbosa Guerra; o pre- País para demarcar os limites do Império feito municipal de Manaus, Arthur Virgílio com a República do Peru. Esse trabalho, Neto; e o comandante intitulado ‘Primeiros do 9o Distrito Naval Traços da Carta Parti- (Manaus), Vice-Almi- cular do Rio Amazonas rante Domingos Savio no Curso Brasileiro’, Almeida Nogueira. é constituído de 15 fo- O SSN-9 foi criado lhas, abrangendo todo para acelerar a produção o Amazonas, do Javari, cartográfica na região na fronteira com o Peru, da Amazônia Ocidental até o Oceano Atlântico. (estados do Amazonas, Com a crescente Acre, Rondônia e Rorai- conscientização quan- ma). Para executar suas to à importância po- atividades, o Serviço lítica e econômica da já conta com os Avi- Amazônia, a Diretoria sos Hidroceanográficos de Hidrografia e Nave- Fluviais (AvHoFlu), Rio gação decidiu iniciar, Solimões e Rio Negro. em 1967, o levanta- Além disso, encontra-se mento sistemático da em fase de construção o Bacia Hidrográfica do Navio Hidroceanográfi- Amazonas. Para tal, foi co Fluvial Rio Branco, designado o Navio Hi- que, além de contribuir para cobrir os vazios drográfico (NHi) Sirius, que realizou o cartográficos da região amazônica, ainda terá levantamento hidrográfico no Rio Negro, como tarefa a coleta de dados ambientais. nas proximidades da então Zona Franca Transcrevemos abaixo a Ordem do Dia de Manaus. Posteriormente, seguiu para alusiva ao evento, expedida pelo Almirante a área o NHi Argus, que deu prossegui- Carlos Augusto: mento àquela Comissão, sondando o Rio “Em cumprimento à Portaria no 347/ Amazonas desde Manaus até a sua foz no MB, de 2 de julho de 2013, do Coman- Oceano Atlântico. dante da Marinha, que criou o Serviço de A partir de 1970, com a criação da Sinalização Náutica do Noroeste (SSN-9), Comissão de Levantamento da Amazônia realiza-se hoje a cerimônia de Mostra de (Colam) e a transferência do NHi Argus Ativação desta OM, com o propósito de para Belém, a Marinha do Brasil passou agilizar os serviços hidrográficos nos rios a possuir na região capacidade para a rea- da Amazônia Ocidental. lização de levantamentos hidrográficos, O conhecimento preciso das rotas incrementando o conhecimento de suas de navegação da Amazônia, obtido por vias navegáveis. O levantamento do baixo

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Amazonas, que compreende o trecho entre de ‘bacalhau’ para correção de cartas o encontro das águas do Rio Negro com náuticas; e manutenção da sinalização o Rio Solimões, em Manaus, e o mar, foi náutica, sob a responsabilidade da Ma- concluído naquele mesmo ano. rinha na região da Amazônia Ocidental. Com o crescimento substancial do Contribuirá também para a orientação e a volume do tráfego comercial nos rios da coordenação do planejamento, do controle Amazônia e para garantir um aumento e da execução das atividades da sinalização na capacidade de atualização cartográfica náutica sob responsabilidade de entidades na região, a Marinha, em parceria com o extra-Marinha, propondo modificações nos Centro Gestor e Operacional do Sistema sinais náuticos, sempre que for necessário, de Proteção da Amazônia (Censipam), por em função de alterações de batimetria ou meio do Projeto Cartografia da Amazônia, das características do tráfego fluvial, assim adquiriu dois novos navios para realização como de quaisquer outras que exijam aper- de levantamentos hidrográficos, e um ter- feiçoamentos dos mesmos. ceiro está sendo construído especificamente Para o cumprimento dessas tarefas, esta para cumprir a tarefa de cobrir os vazios nova Organização Militar contará com mo- cartográficos da região. dernas instalações, equipamentos e recur- Esses navios, hidroceanográficos flu- sos humanos especializados, em apoio ao viais, dotados de equipamentos e mão de Comando do 9o Distrito Naval na condução obra qualificada, têm a missão de executar de sua missão, constituindo-se em elemento os Levantamentos Hidroceanográficos eficiente para a obtenção de conhecimento (LH), por meio de sondagens feitas dos rios hidrográfico do cenário amazônico. da Bacia Amazônica, buscando a atualiza- Nesta data tão significativa, em que é ção incessante da cartografia náutica das ativado o Serviço de Sinalização Náutica principais hidrovias na região. É, pois, de do Noroeste (SSN-9), temos a convicção fundamental importância o conhecimento de que as tarefas a ele atribuídas serão ár- preciso e atualizado do canal de navegação duas e de elevada monta, porém revestidas dos rios amazônicos, para garantir a segu- rança da navegação pelos seus 22 mil km de vias navegáveis. Para apoiar os meios incorporados e acelerar a produção cartográfica, fez-se então necessária a criação do Serviço de Sinalização Náutica do Noroeste (SSN-9), que exercerá as se- guintes tarefas técni- cas: reprocessamento dos dados coletados pelos navios; edição Descerramento da placa de inauguração

240 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO pelo privilégio em dar continuidade eficaz região, mantendo em segurança a navega- à cartografia náutica na região, conquista- ção em suas águas. O trabalho a aguarda, da paulatinamente e com galhardia pelos pois não se pode olvidar de que ‘sempre nossos antecessores. E, fruto dos bons restará muito o que fazer’. resultados, contribuir para projetar ainda Serviço de Sinalização Náutica do No- mais o nome da Marinha do Brasil nos roeste, sob a proteção de Nossa Senhora de mais longínquos cursos d’água da nossa Nazaré, padroeira da Amazônia, inicie sua Amazônia Verde. auspiciosa jornada em prol da segurança Por fim, não é demais lembrar que a dos bravos navegantes da Amazônia Oci- tripulação que ora adentra as suas depen- dental! Antevejo para o porvir louros de dências é fiadora do legado de abnegados vitória. Sejam felizes.” hidrógrafos, que, com coragem, criativida- (Fontes: Bono no 726, de 17/10/2014; de e determinação, em suas competências Bono Especial no 738, de 22/10/2014; e lograram desbravar esta exuberante e rica www.mar.mil.br)

ESPAÇO CULTURAL DA MARINHA RECEBE CERTIFICADO DE EXCELÊNCIA

O Espaço Cultural da Marinha (ECM) A concessão do Certificado ao ECM recebeu do site de viagens TripAdvisor o resultou da opinião de turistas que Certificado de Exce- visitaram o local, lência 2014. O selo portanto não de- é dado a atrações tu- pendeu de comissão rísticas que tiveram julgadora, o que tor- ótimo desempenho na a outorga ainda em 2013 e atingiram mais significativa. alto índice de co- O TripAdvisor se mentários positivos refere ao Espaço de turistas, princi- Cultural da Marinha palmente quanto à como parte de um qualidade do serviço. conjunto de atra- Segundo sua ções que inclui os página na internet, o navios-museus, o TripAdvisor opera em helicóptero-museu, 40 países, incluindo a o carro de combate China. Ano passado, Cascavel, a Escuna o site foi visitado por Nogueira da Gama aproximadamente (que faz os passeios 260 milhões de à Ilha Fiscal) e o pessoas por mês e Rebocador Laurin- teve 150 milhões Certificado TripAdvisor do Pitta (embar- de avaliações e cação da Primeira opiniões, cobrindo mais de 4 milhões de Guerra Mundial que realiza passeios acomodações, restaurantes e atrações. na Baía de Guanabara).

RMB4oT/2014 241 NOTICIÁRIO MARÍTIMO 80 ANOS DO SYNDARMA Foi realizada, em 30 de outubro último, a Confraternização dos 80 Anos do Sindi- cato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma). O evento aconteceu na Sede do Iate Clube do Rio de Janeiro, no bairro carioca da Urca. O Syndarma nasceu em 5 de outubro de 1934, com o nome de Sindicato dos Armadores Nacionais, tendo se originado da Conferência de Cabotagem, numa época em que a navegação de longo curso brasilei- ra, em caráter regular, era exercida somente pela empresa estatal Lloyd Brasileiro. A partir de 1942, adotou o nome atual, conservando, porém, o logotipo, o símbolo e a sigla Syndarma por tradição. O sindi- cato representa as empresas de navegação marítima em âmbito nacional. Por mais de seis décadas, movido pelas transformações que incidiram na atividade marítima comercial brasileira, o de representação oficial da navegação o Syndarma teve seu papel incrementado, marítima comercial do Brasil. ultrapassando largamente o de caráter me- (Fontes: Bono no 765, de 29/10/2014, e ramente classista (patronal) para assumir www.syndarma.org.br)

90o ANIVERSÁRIO DA DEN A Diretoria de Engenharia Naval (DEN) bases estabelecidas por meio de Decreto comemorou, em 17 de setembro último, Presidencial de 5 de dezembro de 1923, seu 90o aniversário. Na ocasião, o diretor, constando entre as 13 repartições militares Vice-Almirante (EN) Francisco Roberto subordinadas diretamente ao Ministro da Portella Deiana, expediu a seguinte Ordem Marinha como órgãos de administração e do Dia: consulta. Sua gênese, todavia, remonta a “Criada pelo Decreto Presidencial no tempos ainda mais distantes: a nova Dire- 16.601, de 17 de setembro de 1924, a Dire- toria incorporou as atribuições e extinguiu a toria de Engenharia Naval comemora hoje Inspectoria de Engenharia Naval, que havia o seu nonagésimo aniversário. sido criada em 11 de junho de 1907, como Sua criação foi decorrência da reor- parte da reorganização da então Inspectoria ganização administrativa introduzida no Geral de Engenharia Naval, alterando sua ano anterior pelo governo do Presidente denominação. Essa última, por sua vez Arthur Bernardes no então Ministério da criada em 29 de outubro de 1902, apesar Marinha, cujas alterações tiveram suas de constituir uma ‘repartição dependente’

242 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO do Quartel-General da Marinha, que era o Alta Administração Naval, motivo de muito ‘órgão das deliberações do Ministro, no orgulho a todos os seus tripulantes. tocante à direção, não só da força naval, No último ano, merece destaque a par- mas ainda de todo o pessoal que constituía ticipação nos seguintes empreendimentos: essa força’, passou a ter autonomia nos – apoio técnico na obtenção, por oportuni- assuntos profissionais e técnicos associados dade, do Navio-Transporte Fluvial Almirante à Engenharia Naval. Leverger e do Aviso Hidroceanográfico Flu- Ao longo desses 90 anos, a DEN passou vial Caravelas para a área do 6o DN; por algumas reestrutu- – apoio técnico e ge- rações administrativas, rencial na construção de forma a adequar sua de 123 lanchas sociais missão aos interesses para transporte de téc- e necessidades da Alta nicos para atendimento Administração Naval. e prestação de serviços De acordo com seu socioassistenciais, rela- Regulamento atual, tivos aos programas e aprovado em 18 de ju- ações do Sistema Único lho de 2013, a DEN tem da Assistência Social o propósito de realizar (Suas), em municípios atividades normativas, das regiões Norte e Cen- técnicas e de supervisão tro-Oeste, instituídos de Engenharia Naval pelo Ministério do De- relacionadas com sua senvolvimento Social e área de atribuição, que Combate à Fome; compreende: Estrutu- – conclusão do pro- ra Naval, Sistemas de cesso de obtenção, para Propulsão, Sistemas de o Projeto Cartografia da Governo, Sistemas Au- Amazônia, dos quatro xiliares, Sistemas de Avisos Hidroceanográ- Geração de Energia, ficos Fluviais (AvHoFlu) Controle de Avarias, Salvatagem, Equipa- da classe Rio Tocantins, contratados junto mentos e Equipagens de Convés, Tintas, à Indústria Naval do Ceará (Inace); Combustíveis e Lubrificantes dos meios – entrega ao Setor Operativo da última navais da MB. Além disso, ainda é res- de um total de cinco novas Embarcações ponsável pela condução dos processos de de Desembarque de Viaturas e Material obtenção de novos meios flutuantes para a (EDVM), construídas pelo Arsenal de MB, que inclui o assessoramento técnico Marinha do Rio de Janeiro; nessas áreas de engenharia, também por – construção do Navio Hidroceanográ- ocasião da aquisição de meios navais por fico Fluvial (NHoFlu)R io Branco, contra- oportunidade. tado à Inace, com base em projeto de con- Muitas foram as realizações da DEN cepção elaborado pelo Centro de Projetos nesses 90 anos de profícuo trabalho e de- de Navios (CPN) e requisitos estabelecidos dicação, que culminaram com a concessão, no Projeto Cartografia da Amazônia, que no corrente ano, da Ordem do Mérito Naval tem previsão de incorporação à Armada a seu estandarte, como reconhecimento da em dezembro de 2014;

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– obtenção de cinco Chatas para Trans- (Pronanf), e no Programa de Obtenção de porte de Óleo Combustível (CTOC), sendo Navios Aeródromos (Pronae), por meio quatro unidades já entregues ao Setor do de análises técnico-gerenciais das diversas Abastecimento, em decorrência de contrato propostas já apresentadas à MB; assinado com a empresa B3Boat; – participação no Programa de Obtenção – apoio técnico e gerencial na cons- de Navios de Contramedidas de Minagem, trução de quatro Lanchas-Patrulha de Rio com a finalidade de apresentar propostas (LPR) contratadas junto à Cotecmar, fruto para recuperar a capacidade de guerra de de parceria estabelecida pelos ministérios minas na MB, por intermédio da obtenção, da Defesa do Brasil e da Colômbia para por construção e/ou aquisição por oportu- emprego na região amazônica, sendo nidade, de novos meios; duas destinadas ao Exército Brasileiro e – continuação das atividades técni- duas à Marinha do Brasil, entregues em co-normativas relativas à atualização do dezembro de 2013 e fevereiro de 2014, projeto da Corveta Barroso, em desenvol- respectivamente; vimento no CPN, com a participação da – obtenção de uma Lancha de Emprego Diretoria de Sistema de Armas da Marinha, Geral Média (LEG-M), em construção no Diretoria de Comunicações e Tecnologia Estaleiro B3Boat, com previsão de entrega da Informação da Marinha e Diretoria de em novembro de 2014, destinada ao Cen- Aeronáutica da Marinha, visando à cons- tro de Instrução Almirante Wandenkolk trução, em estaleiro nacional, de quatro (CIAW); novas unidades; – obtenção de três Embarcações para – apoio ao Setor Operativo na análise e Transporte de Pessoal Médias (ETP-M), solução de problemas técnicos por meio de também em construção no Estaleiro B3Boat, inspeção e emissão de estudos e pareceres com previsão de entrega no primeiro se- técnicos nas áreas de sua jurisdição técnica; mestre de 2015, sendo duas destinadas ao – apoio técnico e gerencial nas ati- CIAW e uma ao Centro de Adestramento vidades do Projeto de Manutenção e da Ilha da Marambaia (Cadim); Modernização do Navio-Aeródromo São – continuação da construção, no Esta- Paulo, notadamente em atividades norma- leiro Ilha S.A. (Eisa), do segundo lote de tivas, na Marinha do Brasil, elaboração de cinco navios-patrulha de 500 toneladas Modificações Técnicas e na obtenção de (NPa500); equipamentos afetos à jurisdição da DEN. – apoio técnico e gerencial na obtenção Nesta data tão importante, expresso do Navio de Pesquisa Hidroceanográfico meus sinceros agradecimentos ao diretor- Vital de Oliveira, cuja construção foi ini- geral do Material da Marinha pelo irrestrito ciada no estaleiro Guangzhou Hangtong apoio e pela honra que nos proporciona ao Shipbuilding and Shipping Co. Ltd., em presidir esta cerimônia. Agradeço, também, Xinhui, República Popular da China, por às OM do Setor do Material e de outros meio de contrato assinado pela Comissão setores da MB, pelo apoio e pelo trabalho Naval Brasileira na Europa com a empresa profícuo de parceria, imprescindível para o ASK Subsea AS, da Noruega, com previsão atingimento das metas que são atribuídas a de entrega em maio de 2015; esta Diretoria. – participação no Programa de Obten- Por fim, ao celebrarmos o transcurso ção de Meios de Superfície (Prosuper), no deste 90o aniversário, dirijo-me a minha Programa de Obtenção de Meios Anfíbios tripulação, militares e servidores civis,

244 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO parabenizando-os pelas conquistas alcan- sendo escrita com a marca do elevado çadas, pelo profissionalismo e pela dedi- senso de comprometimento institucional de cação ao trabalho, em clara demonstração cada membro desta tripulação em prol do de grande empenho na busca de melhores crescimento de nossa Diretoria e de nossa resultados e no cumprimento de nossa Marinha, com o consequente crescimento missão, a despeito dos desafios que se nos de nosso imenso Brasil. apresentam. Concito-os a continuar traba- Diretoria de Engenharia Naval, parabéns lhando para elevar ainda mais o conceito pelos seus profícuos 90 anos! da DEN, tendo como referência os bons Viva a Marinha!” exemplos e o valioso legado deixado por (Fonte: Bono Especial no 647, de nossos antecessores. Nossa história está 17/7/2014)

ANIVERSÁRIO DO ARMISTÍCIO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Foi comemorado, em 11 de novembro úl- cialmente o comércio marítimo. O Brasil, timo, o aniversário de 96 anos do Armistício que, a princípio, assumiu uma posição de da Primeira Guerra Mundial. Para celebrar neutralidade, viu-se forçado a entrar no a data, o comandante de Operações Navais, combate em função da campanha submari- Almirante de Esquadra Wilson Barbosa na irrestrita do Império Alemão, resultando Guerra, expediu a seguinte Ordem do Dia: no afundamento de três navios mercantes “Há 96 anos era firmado em Rethondes, brasileiros: o Tijuca, o Lapa e o Macau. na França, o armistício que encerraria a Assim, em 26 de outubro de 1917, o Primeira Guerra Mundial, um conflito que, governo brasileiro reconheceu e proclamou em pouco mais de quatro anos, dizimou o estado de guerra contra o Império Alemão aproximadamente 10 milhões de vidas. e assumiu com as potências aliadas, dentre Conhecida como a Grande Guerra, marcou outros compromissos, o de enviar uma profundamente o início do século XX, dei- Força Naval à costa noroeste da África. xando reflexões para posterioridade. A missão era patrulhar a área marítima Sua origem remete-se aos antagonismos compreendida pelo triângulo Dakar-São crescentes entre as potências da época e Vicente-Gibraltar, com o propósito de neu- eclodiu com o assassinato, em 1914, do tralizar a ação dos submarinos inimigos que Arquiduque Francisco Ferdinando de Habs- ameaçavam o tráfego marítimo na região. burgo, herdeiro do Império Austro-Hún- Para cumprir as tarefas atribuídas à Ma- garo, na cidade de Sarajevo. Os principais rinha, o então ministro, Almirante Alexan- atores daquela tragédia sem precedentes drino Faria de Alencar, determinou a orga- compunham a Tríplice Aliança (Alemanha, nização de uma força-tarefa que permitisse Áustria-Hungria e Itália) e a Tríplice Enten- a participação efetiva da nossa esquadra te (França, Grã-Bretanha e Rússia), além de no conflito. O Aviso Ministerial no 501, países da Ásia e das Américas, dentre estes de 30 de janeiro de 1918, criou a Divisão os Estados Unidos e o Brasil. Naval em Operações de Guerra, a DNOG, Inicialmente, acreditava-se tratar de composta pelos cruzadores Rio Grande do uma guerra europeia, porém a abrangência Sul e Bahia; pelos contratorpedeiros Piauí, do conflito atingiria o nosso país, espe- Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Ca-

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tarina; pelo Navio-Tênder Belmonte e pelo convalescença guarneciam seus postos e Rebocador Laurindo Pitta. O Comando da viabilizavam a operação dos navios. Divisão coube ao Contra-Almirante Pedro Com o armistício de 11 de novembro de Max Fernando de Frontin, oficial de grande 1918 foi encerrada a participação brasileira prestígio e vasta experiência profissional. no teatro de operações europeu, onde dez A permanência em um teatro de ope- oficiais e 146 praças cumpriram seus deve- rações distante do País, a complexidade res com o sacrifício da própria vida. logística para superar as carências de so- Hoje, ao comemorarmos o 96o aniver- bressalentes e o abastecimento de combus- sário do Armistício da Grande Guerra, tível foram alguns dos desafios enfrentados. reverenciamos, com orgulho e gratidão, a Porém não impediram que a nossa Força memória do insigne Almirante Pedro Max Naval cumprisse com eficiência sua missão, Fernando de Frontin e de todos os que, em tornando-se, até os dias atuais, exemplo de mares distantes, escreveram uma impor- abnegação, dedicação e superação das mais tante página na história da nossa Marinha. variadas limitações. O legado deixado por aqueles mari- Além das dificuldades já conhecidas, nheiros nos serve de inspiração e exemplo a DNOG ainda enfrentou outro destrutivo e, como no passado, a Nação pode contar oponente que se alastrava naquele teatro de com uma Marinha sempre pronta a atuar operações: a gripe espanhola, que assolava em defesa dos nossos interesses. Dacar. Mais uma vez, destacou-se a capaci- Viva a Marinha!” dade de superação de nossos militares que, (Fonte: Bono Especial no 794, de mesmo atingidos pela epidemia, ainda em 11/11//2014)

DIA DA BANDEIRA

Foi comemorado, em 19 de novembro E é em caráter cerimonioso que, unidos último, o Dia da Bandeira. Em celebração à e perfilados, marinheiros, fuzileiros navais data, o chefe do Estado-Maior da Armada, e servidores civis da Marinha do Brasil Almirante de Esquadra Carlos Augusto de prestam reverências ao Símbolo Augusto Sousa, expediu a seguinte Ordem do Dia: da Paz. “Pavilhão Nacional! Símbolo maior da O cerimonial à Bandeira, realizado Pátria que estampa em suas vivas cores a diariamente nas organizações da Marinha, nossa grandiosidade. O seu tremular, nos cultiva o respeito às tradições. Vivifica um mais diversos rincões, exprime vibrações passado glorioso de vitórias e de conquis- de corações de todos os brasileiros, que pri- tas. Reflete o lema ‘Ordem e Progresso’ e mam por desenvolver esforços constantes tudo o que possa ele representar, no contex- no sentido do progresso do nosso querido to do positivismo de Auguste Comte, que país. Um Brasil soberano, pujante, prós- pregava ‘o amor por princípio e ordem por pero, fonte de incomensuráveis riquezas é base; o progresso por fim’. representado pelo simbolismo da Bandeira Contemplemos as constelações nela Nacional. É a nossa própria nacionalidade, inseridas, que retratam com rigor o céu que devemos honrar e, nesta comemoração da cidade do Rio de Janeiro no dia 15 de especial do Dia da Bandeira, mais ainda, novembro de 1889, data da Proclamação da cabe refletir sobre tudo que ela encerra. República. O belo céu de anil, a encimar

246 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO o gigante pela própria natureza, alerta-nos Motivo de renovado júbilo é poder reve- para bem cuidar os valores da nossa terra, renciar diariamente o Pavilhão Nacional, na que nos são caros. entrada e saída de bordo, pela manhã e ao A Marinha orgulhosamente ostenta, final do dia, e manter sempre vivo o nosso em suas Organizações Militares de terra, a juramento, ante o Pendão da Esperança, Bandeira do Brasil. E, nos seus navios, de- de bem servir ao Brasil sob quaisquer tém o privilégio ímpar de poder conduzi-la circunstâncias, cumprindo a nobre missão aos mais distantes oceanos, mares e rios, que nos é confiada. exibindo-a altaneira nos topes dos mastros, Salve o Dia da Bandeira!” enlevando o solo pátrio mundo afora. (Fonte: Bono no 810, de 19/11/2014)

DIA DA CRIAÇÃO DA FORÇA NAVAL DO NORDESTE

Foi comemorado, em 5 de outubro período em que um único submarino último, o Dia da Criação da Força Naval alemão afundou cinco navios mercantes do Nordeste. O comandante de Operações e um iate, todos de bandeira brasileira, Navais, Almirante de Esquadra Wilson resultando na morte de 607 pessoas. Tais Barbosa Guerra, expediu a seguinte Ordem perdas levaram o nosso Governo a assinar do Dia alusiva à data: a declaração de “estado de guerra”, em “Durante a Segunda Guerra Mundial, 31 de agosto daquele ano. a Alemanha buscava negar o uso das vias No início do conflito, nossa capacida- marítimas, a fim de impedir o suprimento de de combate era modesta, comparando- de materiais indispensáveis ao esforço se às grandes esquadras que operavam no de guerra aliado a partir do continente Atlântico Norte e no Pacífico. Os meios americano. O Oceano Atlântico assumia remanescentes da Esquadra de 1910 não uma grande importância estratégica. eram equipados com sonares e arma- Nesse contexto, alinhava-se um quadro mento apropriados para combater um que implicaria a participação do Brasil inimigo oculto sob a superfície do mar. naquele conflito, tendo em vista a maior No entanto, não houve impedimento para proximidade da costa do Nordeste brasi- que nossos navios e tripulações, de for- leiro com a África. As cidades de Natal e ma heroica, engajassem em uma guerra Recife eram pontos vitais na proteção das antissubmarino desde o início de nossa linhas de comunicação com a Europa e os participação, assumindo os riscos de um Estados Unidos. combate desigual. Nos primeiros anos da guerra, o Brasil Com o apoio político-militar dos Esta- manteve-se neutro. Entretanto, a partir dos Unidos da América, concretizado pela de fevereiro de 1942, diversos navios aprovação, no Congresso americano, da mercantes brasileiros começaram a ser Lei de Empréstimos e Arrendamento, pu- torpedeados, em represália à adesão do demos dar início à reestruturação da nossa Brasil aos compromissos da Carta do Força. Esse cenário possibilitou o recebi- Atlântico, quando reforçamos nosso mento de meios navais e armamentos mais apoio aos Aliados. A ofensiva do Eixo adequados à guerra antissubmarino, bem contra a navegação mercante brasileira como o conhecimento de novas doutrinas teve seu ponto culminante em agosto, de emprego operativo e o indispensável

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treinamento do pessoal, habilitando-os a no mar. Sua principal tarefa foi garantir operarem navios modernos que possuíam a proteção dos comboios que trafegavam equipamentos de detecção, até então pou- entre Trinidad, no Caribe, e nosso litoral. co conhecidos. Foram 574 comboios, formados por 3.164 Em decisão conjunta na Comissão mercantes. Coube, ainda, a escolta do Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos, comboio especial da Força Expedicionária ficou estabelecida a criação do Comando Brasileira (FEB) até Gibraltar. da Força do Atlântico Sul, sob o coman- O combate à guerra submarina do Eixo do do Almirante Jonas H. Ingram. Como foi intenso e exigiu sacrifícios dos que consequência, após um rápido e intenso dele participaram. Foram 66 ataques de processo de reorganização, em 5 de ou- navios brasileiros a submarinos, regis- tubro de 1942, pelo Aviso no 1.661, foi trados pelos próprios alemães. Vitórias criada a Força Naval do Nordeste (FNNE), diárias e silenciosas mantiveram abertas as sob o Comando do en- vias de comunicação tão Capitão de Mar e marítima no Atlântico Guerra Alfredo Carlos As perdas brasileiras Sul, porém custaram Soares Dutra, poste- somaram 30 navios a vida de centenas de riormente promovido pessoas. As perdas a contra-almirante. mercantes e três navios brasileiras somaram Veterano da Primei- de guerra. A Marinha do 30 navios mercantes e ra Guerra Mundial, três navios de guerra. como integrante da Brasil perdeu 486 homens, Dois destes últimos, Divisão Naval em verdadeiros marinheiros o Cruzador Bahia e Operações de Guerra que escreveram páginas de a Corveta Camaquã, (DNOG), o Almirante compunham a FNNE. Soares Dutra transmi- abnegação e heroísmo no Nas operações navais tia a seus superiores cumprimento do dever na Segunda Guerra e subordinados con- Mundial, a Marinha fiança e serenidade as do Brasil perdeu 486 quais, aliadas a sua liderança e seu pro- homens, verdadeiros marinheiros que fissionalismo, o credenciaram a condução escreveram páginas de abnegação e he- daquela Força. roísmo no cumprimento do dever. A Força Naval do Nordeste foi, inicial- No início de novembro de 1945, cumpri- mente, constituída pelos cruzadores Bahia da a sua missão, o Almirante Soares Dutra e Rio Grande do Sul, navios-mineiros retornou ao Rio de Janeiro com a sua Força Carioca, Caravelas, Camaquã e Cabede- Naval. A árdua e intensa vida operativa da lo – posteriormente reclassificados como FNNE contribuiu para o aprimoramento corvetas – e caça-submarinos Guaporé e das táticas empregadas na nossa Marinha Gurupi. Mais tarde, foram incorporados o e para a livre navegação nas linhas de co- Tênder Belmonte, os novos caça-subma- municação do Atlântico. rinos, os contratorpedeiros de escolta da Ao comemorarmos hoje os 72 anos de classe M e os submarinos classe T. Esses criação da Força Naval do Nordeste, reve- meios passaram a constituir a Força-Tarefa renciamos os heróis brasileiros que se fize- 46 da Força do Atlântico Sul, responsável ram ao mar com dedicação e perseverança, por realizar o maior esforço operacional sobrepujando intempéries naturais e o de-

248 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO safio de conduzir complexos meios navais homens e as mulheres que hoje guarnecem contra um inimigo ainda pouco conhecido, a nossa Marinha, de modo a que ela esteja contribuindo para a garantia de um Brasil sempre pronta a cumprir sua missão. livre e soberano. Que o valoroso exemplo Viva a Marinha!” e a distinta bravura desses Marinheiros (Fonte: Bono Especial no 694, de se perpetuem e, como um farol, guiem os 6/10/2014)

DIA DO MARINHEIRO

Foi comemorado, em 13 de dezembro de Desenvolvimento de Submarinos, as último, o Dia do Marinheiro. A presidenta obras do Estaleiro e da Base Naval, em da República, Dilma Rousseff, e o coman- Itaguaí, prosseguem em ritmo intenso. dante da Marinha, Almirante de Esquadra Ontem, tive o prazer de inaugurar o pré- Julio Soares de Moura Neto, assim se dio principal do estaleiro de construção, pronunciaram sobre a data: projetado para as atividades de união das seções e de acabamento dos submarinos MENSAGEM DA PRESIDENTA DA convencionais e de propulsão nuclear. REPÚBLICA A Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas encontra-se em plena operação. “Celebramos hoje, 13 de dezembro, o Esses empreendimentos trazem, além de Dia do Marinheiro, em reverência ao nas- empregos, muitos outros benefícios à re- cimento do Patrono da Marinha, Almirante gião de Itaguaí, que está se tornando um Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de dos polos da indústria de defesa brasileira, Tamandaré, consagrado Herói da Pátria e ponto difusor dos impactos positivos que a exemplo de coragem e amor ao País. inovação tecnológica militar promove em Construir uma Marinha cada vez mais diversas áreas da economia. forte, moderna, bem equipada e preparada Na Antártica, está em curso a recons- para cumprir sua missão constitucional trução da Estação Antártica Comandante é a melhor forma de honrar o legado de Ferraz, elemento fundamental do Pro- Tamandaré. Por isso, ao saudar os homens grama Antártico Brasileiro, o que nos e as mulheres da Marinha do Brasil pelo permitirá recuperar as condições para transcurso desta data, registro, com grande a continuidade de nossas pesquisas no satisfação, os avanços que realizamos nos continente gelado. O sucesso do Proantar, últimos quatro anos, em direção a um poder sob a condução da Marinha, demonstra o naval cada vez mais robusto. inabalável comprometimento do Brasil O desenvolvimento científico-tecno- com o progresso científico. lógico da Marinha, que muito contribui Ao participar da Missão das Nações para a capacidade de inovação do Brasil, Unidas para Estabilização no Haiti e da é um compromisso permanente do nosso Força-Tarefa Marítima da Força Interina Governo. O Programa Nuclear da Marinha das Nações Unidas no Líbano, sob o é estratégico para nosso País, e estamos comando de um almirante brasileiro, a avançando na construção do protótipo que Marinha contribui de forma expressiva será a base da propulsão do nosso sub- para a inserção internacional do nosso marino nuclear. No âmbito do Programa País. O mesmo pode ser dito da coope-

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ração que temos prestado a parceiros de Para nosso Governo, uma Força Naval mo- nosso entorno estratégico, na América do derna, equilibrada, balanceada e que contribui Sul e na África Ocidental. para o desenvolvimento do País é um objetivo Fazemos questão de destacar as mis- estratégico. Para concretizá-lo, necessitaremos, sões realizadas pela Marinha em nossas cada vez mais, do trabalho exemplar dos águas interiores. Citamos, em particular, militares e dos servidores civis da Marinha, as ações cívico-sociais e as de assistên- homens e mulheres, da ativa e da reserva. cia médico-hospitalar prestadas pelos Ao cumprimentá-los por esta data, ‘Navios da Esperança’ às populações reiteramos a convicção sobre o papel de ribeirinhas das regiões da Amazônia e destaque que a Marinha desempenha na do Pantanal. Mencionamos, ainda, as construção de um Brasil mais justo, sobe- Patrulhas Navais, que garantem a salva- rano e democrático. guarda da vida humana, a prevenção da Como Comandante Suprema das Forças poluição e a defesa dos interesses e das Armadas, auguramos à Marinha do Brasil riquezas nacionais em todas as nossas votos de sucesso no cumprimento de sua águas jurisdicionais. missão constitucional.”

ORDEM DO DIA DO COMANDANTE Para rememorarmos a sua longa traje- DA MARINHA tória, devemos retroagir a 1822, quando, com apenas 15 anos, ele alistou-se como “Ao analisarmos sua vida exemplar, voluntário da Armada, tendo tido o seu na qual dedicou quase 67 anos ao Serviço batismo de fogo a bordo da Fragata Niterói, Ativo, com plena devoção à Marinha e ao participar da expulsão das tropas fiéis às ao Brasil, conseguimos perceber a gran- Cortes de Lisboa, o que foi fundamental deza histórica da biografia do Almirante para a consolidação da nova Nação. Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Logo após, foi matriculado na Acade- Tamandaré, Patrono da Força e Herói da mia Imperial; porém, antes de concluir o Pátria, a quem reverenciamos em 13 de curso, seguiu para combater na revolta dezembro, data de seu natalício, ocasião conhecida como Confederação do Equa- em que, junto à sociedade, celebramos o dor. Seu desempenho foi tão notório que o Dia do Marinheiro. imperador o promoveu ao posto de segun-

250 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO do-tenente. Entre 1825 e 1828, participou Passados 207 anos do nascimento do da Guerra Cisplatina, quando comandou a nosso Patrono, é gratificante relembrar Escuna Constança. o passado e identificar as raízes do Durante a Regência, embarcado em patriotismo e da dedicação ao serviço, unidades da Esquadra, tomou parte na pa- que permitiram formar uma instituição cificação de diversas insurreições, como a forte e respeitada, cabendo-nos, neste Setembrada, em 1831; a Abrilada, em 1832; momento, refletir sobre as responsa- e a Balaiada, entre 1838 e 1841; além do bilidades do presente e os desafios do restabelecimento da ordem na Província do futuro, com vista a constituir um Poder Pará, em 1835, cooperando para promover Naval capacitado a garantir a soberania a concórdia e a paz e evitando a desagre- e os interesses do Brasil. gação territorial que ameaçava se instalar. Vale ressaltar que a ‘Amazônia Azul’ No Segundo Reinado, já como almiran- e os rios, nosso ambiente operacional, têm te, atuou na Guerra da Tríplice Aliança, significativa relevância, pois neles desen- comandando meios navais na Tomada de volvem-se atividades indispensáveis ao Paissandu e garantindo a vital linha logís- progresso econômico e social do País, tais tica de sustentação para os nossos navios, como o controle das linhas de navegação, que operavam a longa distância de suas responsáveis pelo transporte de carga e bases de origem. de passageiros; a exploração de petróleo Durante o período em que viveu, o País e gás; a pesca; as pesquisas científicas; o deixou de ser colônia, passando a Reino combate à poluição ambiental; e o fomento Unido, depois a Império e, mais tarde, a às indústrias naval e de defesa, em face da República, sendo uma época de instabi- demanda por meios e sistemas. lidade política e de disputas que tinham Nesse contexto, em que nos cabe como fator comum a vertente separatista, contribuir para a proteção das riquezas, detentora de potencial para fracionar seguimos avançando, compromissados o nosso extenso território. Contudo, a com o crescimento nacional, por meio atuação na vida pública, de maneira firme do gerenciamento de projetos estratégi- e permanente, por parte dos estadistas, cos e de atribuições funcionais, subli- homens de visão e líderes de então, dentre nhando algumas realizações alcançadas os quais Tamandaré figurava, permitiu em 2014: que fosse edificada a Nação da qual nos – Foram cumpridas importantes etapas orgulhamos hoje. do Programa de Desenvolvimento de Sub- Além de concorrer para a coesão marinos (Prosub), com destaque para a nacional, sua longevidade foi importan- inauguração, pela Presidenta da República, tíssima na formação da Marinha, pois, em 12 de dezembro, do Prédio Principal do com sua ascendência moral, forjada em Estaleiro de Construção, em Itaguaí, RJ. combate, seu carisma, sua simplicidade e – Prosseguem a construção de cinco seu respeito aos princípios da hierarquia navios-patrulha de 500 toneladas e a fase e da disciplina, legou os fundamentos que de projeto da corveta classe Tamandaré, deram suporte ao alicerce institucional da e continuam as tratativas para a apro- Força, à sua cultura organizacional e ao vação dos Programas de Obtenção de seu prestígio junto à sociedade, herança Meios de Superfície (Prosuper), de Na- valiosíssima que, atualmente, desfrutamos vios-Aeródromos (Pronae) e de Navios e procuramos aperfeiçoar. Anfíbios (Pronanf).

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– Está em andamento a consulta pública a rincões de nossa terra e que contribuem para empresas, para que submetam propostas de a manutenção da paz em inúmeras regiões soluções tecnológicas que atendam às fun- do mundo! Orgulhem-se desta nossa data! cionalidades do Sistema de Gerenciamento Ao cultuarmos a lembrança de uma das da Amazônia Azul (SisGAAz), com prazo mais distintas personalidades da história para receber as respostas no início de 2015. brasileira, o nosso Patrono, com seu pas- – Foi lançado ao mar, no último dia 28 sado de lutas em prol dos mais elevados de setembro, o Navio de Pesquisa Hidro- interesses pátrios, devemos nos inspirar no ceanográfico Vital de Oliveira. Quando seu exemplo e estar prontos para superar pronto, em maio de 2015, possuirá labora- desafios, vibrar a cada demonstração de tórios e equipamentos de última geração; competência da Marinha e do Brasil, re- – Está em fase final a contratação da novar permanentemente o entusiasmo pela empresa que será responsável pela recons- carreira e envidar os maiores esforços para trução da Estação Antártica Comandante o aprimoramento profissional. Ferraz, o que permitirá, já durante o verão Às senhoras e aos senhores que estão de 2014/2015, o início das obras, previstas recebendo a Medalha Mérito Tamandaré, para estar concluídas até março de 2016. em justa homenagem nas cerimônias que – Em apoio à política externa, é oportu- ocorrem em todos os Distritos Navais e no no ressaltar que a Força-Tarefa Marítima, exterior, transmito os meus agradecimen- componente da Força Interina das Nações tos pelos relevantes apoio e colaboração Unidas no Líbano (Unifil), permanece sob prestados. Exorto-os a que continuem a o comando de um almirante brasileiro, cooperar para o fortalecimento de uma tendo uma fragata da Marinha do Brasil imprescindível mentalidade marítima junto como capitânia. à sociedade, enfatizando a relevância da Homens e mulheres que fazem parte da ‘Amazônia Azul’ e das hidrovias e a impor- nossa instituição! tância de a Nação dispor de um Poder Naval Valorosos militares e servidores civis compatível com as demandas nacionais e que trabalham abnegadamente, ajudando a internacionais. levar a presença do Estado aos mais diversos Parabéns a todos!”

252 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO DIA DO SERVIDOR PÚBLICO Foi comemorado, em 28 de outubro Esses valorosos colaboradores, homens último, o Dia do Servidor Público. Na e mulheres presentes em 172 Organizações Marinha, a cerimônia comemorativa prin- Militares, no País e no exterior, e que cipal aconteceu em Brasília, no dia 4 de atuam nas atividades de manutenção e novembro, presidida pelo comandante da aprestamento dos meios, zelam pela saúde Marinha, Almirante de Esquadra Julio da família naval e cooperam nos setores de Soares de Moura Neto, com a entrega dos ensino, pesquisa e gestão administrativa, prêmios Medalha-Prêmio de Ouro, Mestre entre outros, estão sendo meritoriamente Antônio da Silva e Mérito Funcional (este distinguidos por meio da realização de da área do Comando do 7o Distrito Naval cerimônias no âmbito de todos os Distritos – Brasília, DF). Navais e pela concessão das condecorações Transcrevemos a seguir a mensagem Medalha-Prêmio de Ouro, Mestre Antonio do comandante da Marinha alusiva à data: da Silva e Mérito Funcional. “A promulgação do Decreto no 1.713, de Concito nossos funcionários civis, bravos 28 de outubro de 1939, definindo os direitos ‘marinheiros sem farda’, a que, com base no e os deveres dos funcionários prestadores Código de Ética Profissional dos Servidores de serviços ao Governo, deu origem à cria- Públicos, no qual são enfatizados valores ção do Dia do Servidor Público, buscando como a dignidade, o decoro, o zelo, a eficácia homenagear aqueles que se dedicam à e os princípios morais, reforcem suas ener- condução de trabalhos em proveito das or- gias no abnegado trabalho de construir uma ganizações pertencentes às diversas esferas Força moderna, equilibrada e balanceada. do Poder Executivo Federal. Como comandante da Marinha, trans- A Marinha do Brasil muito se envaidece mito as felicitações aos nossos servidores de contar, em seu efetivo, com esse impres- civis, reafirmando o orgulho de todos nós cindível capital humano, que atua de forma em poder homenagear essa significativa coesa com o pessoal militar, sendo esta parcela do nosso pessoal. a oportunidade de manifestar aos nossos Bravo Zulu!” servidores civis o apreço e a consideração (Fonte: Bono Especial no 753, de da instituição. 27/10/2014)

DIA MARÍTIMO MUNDIAL 2014 Foi comemorado, em 25 de setembro úl- Logo percebeu também que as travessias timo, o Dia Marítimo Mundial. Na ocasião, envolviam riscos para seus tripulantes, para o diretor de Portos e Costas, Vice-Almiran- suas cargas e para as próprias embarcações. te Cláudio Portugal de Viveiros, expediu a A avaliação dos acidentes, os relatos dos seguinte Ordem do Dia: sobreviventes e a experiência dos ‘velhos “A aventura marítima remonta a tempos capitães’ foram contribuindo para o contí- imemoriais. Muito cedo o homem percebeu nuo aperfeiçoamento das embarcações, no as vantagens de usar o meio marítimo para avanço tecnológico dos equipamentos e na ampliar suas possibilidades de comércio qualificação do pessoal de bordo. com povos situados a longas distâncias dos O caráter internacional do transporte centros produtores. marítimo exigia, entretanto, uma padroni-

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zação para que um navio pudesse operar e A Autoridade Marítima Brasileira, receber apoio em qualquer porto do mundo. exercida pelo Comandante da Marinha, Paralelamente, na medida em que as em- está estruturada em um conjunto de Orga- barcações ampliaram as quantidades e os nizações Militares voltadas não apenas para tipos de cargas, os armadores recorreram ao fazer cumprir os regramentos, mas também seguro marítimo para mitigar perdas irrepa- debater com a comunidade marítima as ráveis. Como consequência, os seguradores propostas de alterações ou mesmo de ela- passaram a utilizar inspetores para avaliar boração de novas normas e procedimentos, as condições das embarcações. Para reali- antes de virem a ser promulgadas na IMO. zar tal atividade, surgiram as sociedades É muito importante ressaltar que, por classificadoras. vezes, para um país aceitar uma convenção No entanto, a necessidade de unifor- é indispensável que possa, efetivamente, mização de regras para a construção das cumprir os requisitos por ela estabelecidos. embarcações e da dotação de equipamentos Assim, demanda providências para receber permanecia. A existência de um organis- plena aceitação, permitindo que entre em mo que cuidasse da segurança marítima vigor. passava a ser uma aspiração latente da Apesar de o mundo estar vivendo impac- comunidade marítima internacional. tos na situação econômica, que refletem em Somente após a Segunda Guerra Mun- variações de cifras nas trocas comerciais, é dial, no âmbito da Organização das Nações com satisfação que vemos a Marinha Mer- Unidas, é que, em 1948, foi criada a Orga- cante brasileira crescer. Nossa navegação nização Consultiva Marítima Intergoverna- de cabotagem vem ampliando, cada vez mental (IMCO), designação posteriormente mais, sua participação na matriz nacional de alterada para Organização Marítima Inter- transporte, tanto marítimo quanto fluvial. nacional (IMO). A atividade de apoio marítimo demonstra A partir de então, significativo trabalho um incremento significativo e acelerado em técnico vem sendo realizado, resultando em consequência das pesquisas e da intensa convenções, códigos e resoluções visando exploração de óleo e gás a grandes profun- ao aprimoramento dos padrões de seguran- didades, na região do pré-sal. ça dos navios, dos passageiros e das cargas. A esse rápido avanço corresponde uma Se hoje temos, no intenso tráfego marí- crescente atividade de construção naval, timo nacional e internacional, a utilização com a criação de novos estaleiros e a pro- de navios de vários tipos, de grandes di- dução contínua de navios e embarcações mensões, especializados no transporte de de apoio marítimo. Tal realidade gerou a variados produtos e, mesmo aqueles me- necessidade de se ampliar a formação de nores, capazes de realizar inúmeras tarefas mão de obra necessária para guarnecer com segurança, muito devemos aos enten- significativa quantidade de embarcações dimentos e às deliberações dos 170 países que, em pouco tempo, vêm sendo lançadas que constituem a Organização Marítima ao mar. Internacional e a centenas de especialistas Enquanto uma embarcação pode ser cons- envolvidos nos múltiplos comitês e gru- truída em menos de um ano, a preparação de pos de trabalho, aplicados na produção de um oficial se faz ao longo de cerca de quatro convenções, protocolos e códigos que, em anos. Para atender à demanda de tais recursos seu conjunto, transformaram o comércio humanos, bem como aos novos requisitos marítimo numa atividade eficiente e segura. estabelecidos pelas Emendas de Manila

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(2010) à Convenção STCW-78, a Marinha preocupação com a segurança do tráfego promoveu uma verdadeira reengenharia no aquaviário e com a preservação do meio processo de capacitação, o que permitiu, nos ambiente é constante, visando ao fiel aten- últimos cinco anos, ampliar a formação dos dimento dos compromissos assumidos por oficiais da Marinha Mercante de 412, em nosso país. 2008, para 1.059 que, em 2013, concluíram Na oportunidade em que nos congrega- a etapa acadêmica. No entanto, ainda temos mos para celebrar o Dia Marítimo Mundial, hoje 491 alunos dependendo apenas do perío- é oportuno enaltecer todos aqueles que do de treinamento prático (Prest). O mesmo guarnecem os navios, os que constroem, desafio tem sido superado para disponibilizar os que movimentam as cargas a bordo e subalternos qualificados, igualmente funda- nos portos, os que administram, os que mentais para melhor compor as tripulações. abastecem, os que fiscalizam, bem como Para que os novos profissionais estejam em todos os demais que contribuem para o condições de exercer plenamente as funções desenvolvimento nacional nesse setor a bordo, torna-se essencial a colaboração estratégico. voluntária dos armadores na oferta de um É tempo também de reverenciarmos maior número de vagas para o indispensável Irineu Evangelista de Souza, Visconde estágio embarcado. de Mauá, a quem devemos o despertar da Em outro aspecto, para garantir que construção naval brasileira, da navegação nossos navios cumpram com os requisitos de cabotagem e do transporte multimodal. das convenções nas quais o Brasil é signa- Que esta homenagem sirva como uma tário, bem como verificar as condições dos demonstração de fé no crescimento de navios de outras bandeiras que frequentam nossa Marinha Mercante e de respeito a nossos portos, a Autoridade Marítima coor- todos os que, por décadas, contribuíram dena a ação de engenheiros e técnicos que ou estão contribuindo, por meio das lides realizam vistorias e inspeções. A título de marítimas e fluviais, para o progresso do exemplo, no ano passado foram realizadas Brasil, singrando pela Amazônia Azul e 2.291 inspeções e 2.597 perícias por inte- materializando o nosso lema: ‘Mares e Rios grantes dessa competente equipe. Seguros e Limpos’.” Desta forma, no âmbito das diversas (Fonte: Bono Especial no 666, de atribuições da Autoridade Marítima, a 25/9/2014)

FAB FIRMA AQUISIÇÃO DE GRIPEN NG QUE POSSIBILITARÁ VERSÃO NAVAL

A Força Aérea Brasileira (FAB) as- logístico e a transferência de tecnologia sinou, em 24 de outubro último, com para indústrias brasileiras. a empresa sueca Saab, contrato para A Embraer vai assumir papel de li- aquisição de 36 aviões de caça Gripen derança na fabricação local dos aviões, NG. A primeira aeronave deverá ser en- com a participação de outras empresas tregue em 2019, e a última, em 2024. O brasileiras, proporcionando um salto de investimento de aproximadamente R$ 13 qualidade para a indústria nacional em bilhões envolve o treinamento de pilotos geral. Este contrato representa o primeiro e mecânicos brasileiros na Suécia, apoio passo de um processo que permitirá à Ma-

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rinha do Brasil dispor de um avião para emprego naval como versão da aeronave em uso pela FAB e de produção nacional, trazendo, com isso, todos os benefícios decorrentes. Esse acordo de cooperação, que per- mitirá a transferência de tecnologia às indústrias brasileiras, é tão relevante que o próprio presidente da Saab, Hakan Buskhe, afirmou: “Iremos transferir tecnologia e a capacidade de projetar e construir caças.” (Fonte: www.mar.mil.br) Maquete do Sea Gripen na proa do Navio-Aeródromo São Paulo

DESATIVAÇÃO DO DEPÓSITO DE SUBSISTÊNCIA DA MARINHA NO RIO DE JANEIRO

Foi realizada, em 30 de setembro último, periciar, estocar, controlar e fornecer os itens a Mostra de Desativação do Depósito de de Símbolo de Jurisdição ‘M’, a fim de con- Subsistência da Marinha no Rio de Janeiro tribuir para a prontidão operativa dos meios (DepSubMRJ), em cerimônia presidida navais, aeronavais, fuzileiros navais e demais pelo Secretário-Geral da Marinha, Almi- Organizações Militares no que se refere ao rante de Esquadra Airton Teixeira Pinho abastecimento de gêneros alimentícios. Filho. Com a extinção do órgão, suas ati- É válido lembrar que por muitos anos vidades foram absorvidas pelo Depósito de a água utilizada nas rações de náufragos, Suprimentos de Intendência da Marinha no que constituía a provisão de salvamento, Rio de Janeiro (DepSIMRJ). foi fabricada e envasada no laboratório Transcrevemos abaixo a Ordem do Dia do DepSubMRJ, assim como o ‘Café do Almirante Airton alusiva ao evento: Marinha’, produzido por este Órgão de “Em cumprimento ao disposto na Por- Distribuição por vários anos. taria no 429, de 1o de setembro de 2014, Recentemente, com o intuito de incre- do comandante da Marinha, realiza-se, na mentar a eficiência e visando ao preparo presente data, a Mostra de Desativação do para enfrentar os desafios logísticos vis- Depósito de Subsistência da Marinha no lumbrados com a incorporação de novos Rio de Janeiro. meios da MB, principalmente os decorren- Criado pelo Decreto no 38.412, de 26 de tes do Programa de Desenvolvimento de dezembro de 1955, tendo como denomina- Submarinos (Prosub), foram identificadas ção original a de Depósito de Subsistência transformações necessárias no Sistema de do Rio de Janeiro, denominação esta alte- Abastecimento, de modo a sempre buscar rada em 1978 para a atual, teve sua orga- prestar o melhor serviço à Marinha. nização e suas atividades aprovadas pela Assim sendo, no bojo das transforma- Portaria no 21, de 11 de março de 1994, do ções julgadas pertinentes pela Alta Admi- chefe do Estado-Maior da Armada. nistração Naval, se fez mister a unificação Atribuída a missão, coube a este Órgão de das atividades do DepSubMRJ com as do Distribuição executar as tarefas de receber, Depósito de Material Comum da Marinha

256 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO no Rio de Janeiro (DepMCMRJ), resul- DepSubMRJ: diretores, oficiais, praças e tando, assim, na criação do Depósito de servidores civis. Para esses briosos mari- Suprimentos de Intendência da Marinha nheiros, ficam as inesquecíveis lembranças no Rio de Janeiro (DepSIMRJ). Essa dos momentos felizes vividos a bordo, a mudança propiciará não só a otimização satisfação do dever cumprido e o orgulho de recursos humanos e financeiros, como de ter pertencido a essa distinta OM. também concretizará mais um passo na Portanto, recebam com altivez o ‘Bravo incessante busca do aprimoramento do Zulu’, como uma justa homenagem aos Serviço de Abastecimento da Marinha relevantes serviços prestados à Marinha (SAbM), representando um salto qualita- do Brasil. tivo em sua estratégia de armazenagem, DepSubMRJ, missão cumprida! além de contribuir para a contínua elevação Para sempre, ‘Competência como meio, de seu nível de prontidão. No momento de qualidade como fim’.” sua desativação, ressalto o legado glorioso (Fontes: Bono no 669, de 26/9/2014 e deixado por todos aqueles que serviram no Bono Especial no 679, de 30/9/2014)

INAUGURADOS NOVOS PNR EM BARRA BONITA

O comandante de Operações Navais, O projeto foi elaborado pela Diretoria de Almirante de Esquadra Wilson Barbosa Obras Civis da Marinha, tendo a construção Guerra, inaugurou, em 17 de novembro começado em dezembro de 2012, utilizando último, o Edifício Comandante Mariano de recursos orçamentários da Marinha, sob a Azevedo, composto por 24 novos Próprios fiscalização da Capitania Fluvial do Tietê Nacionais Residenciais (PNR), na cidade -Paraná e seguindo as orientações do Co- de Barra Bonita (SP). As novas unidades mando do 8o Distrito Naval (São Paulo-SP). são destinadas a subo- ficiais e sargentos da Capitania Fluvial do Tietê-Paraná. O empreendimento é composto por um bloco de 24 aparta- mentos, um salão de festas e uma área de lazer na cobertu- ra, além de garagem privativa. Cada apar- tamento possui três quartos e dependên- cias completas, com aproximadamente 108 m², totalizando mais de 4 mil m² de área Descerramento da placa de inauguração do construída. Edifício Comandante Mariano de Azevedo

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Estiveram presentes à cerimônia de inau- Pereira de Lima Filho; o diretor de Obras guração também o diretor-geral do Pessoal Civis da Marinha, Vice-Almirante Luís da Marinha, Almirante de Esquadra Elis Antônio Rodrigues Hecht; o capitão dos Treidler Öberg; o comandante do 8o Distrito Portos do Tietê-Paraná, Capitão de Fragata Naval, Vice-Almirante Liseo Zampronio; Marcio Costa Lima; e o prefeito de Barra o chefe do Estado-Maior do Comando de Bonita, Guilherme Belarmino. Operações Navais, Vice-Almirante Wilson (Fonte: www.mar.mil.br)

LANÇAMENTO DO NHoFlu RIO BRANCO Foi lançado ao mar em 20 de outubro úl- realizado em parceria com o Exército Bra- timo, no Estaleiro Inace (Indústria Naval do sileiro, a Força Aérea Brasileira e o Serviço Ceará), em Fortaleza (CE), o Navio Hidro- Geológico do Brasil, sob coordenação do ceanográfico Fluvial (NHoFlu)R io Branco. Centro Gestor e Operacional do Sistema de O Rio Branco teve seu projeto de concepção Proteção da Amazônia, órgão subordinado elaborado pelo Centro de Projetos de Na- ao Ministério da Defesa. vios, tendo sido posteriormente detalhado Ao navio serão atribuídas tarefas de le- pelo estaleiro Inace, contratado após ter sido vantamentos hidroceanográficos, coleta de selecionado em processo licitatório. dados ambientais, atualização contínua de A construção foi iniciada em 6 de dezem- cartas e publicações náuticas das principais bro de 2012, com a supervisão da Diretoria hidrovias da região amazônica, além de po- de Engenharia Naval e seu batimento de der atuar de forma extraordinária em apoio quilha foi realizado em 23 de abril de 2013. a órgãos governamentais na Defesa Civil, A obtenção do novo meio está inserida em ações de socorro e ações cívico-sociais. no Projeto de Cartografia da Amazônia, (Fonte: www.mar.mil.br)

NHoFlu Rio Branco

258 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO MOSTRA DE DESARMAMENTO DA CORVETA FRONTIN

Foi realizada em 29 de setembro último, Foi submetida à Mostra de Armamento, na Base Naval do Rio de Janeiro, a Mostra concretizando o ato de incorporação ao de Desarmamento da Corveta Frontin. Serviço Ativo da Marinha em 11 de março A cerimônia foi presidida pelo chefe do de 1994. A Frontin foi a quarta e última cor- Estado-Maior da Armada, Almirante de veta da classe Inhaúma a ser prontificada, Esquadra Carlos Augusto de Sousa. A ratificando, naquele momento histórico, a seguir, transcrevemos a Ordem do Dia capacidade da indústria brasileira de cons- alusiva ao evento, expedida pelo Almirante truir navios de guerra dotados das mais Carlos Augusto: modernas tecnologias vigentes. “A história da Corveta Frontin tem iní- Por mais de vinte anos, o “Carrasco dos cio em 1977, ano da publicação do Aviso Mares” participou de comissões Aderex, Ministerial no 331, por meio do qual o Tropicalex, Temperex, Aspirantex, Dragão ministro da Marinha determinou o desen- e, em especial, as Expo-98, Exporder-98, e volvimento de um projeto para construção, Exercise Tapon-98, com excelente desem- no País, de navios-patrulha oceânicos, a fim penho, perfazendo 888 dias de mar e cerca de substituir os antigos contratorpedeiros, de 178 mil milhas náuticas navegadas. Fez em serviço à época. Sua concepção básica tremular o pavilhão nacional nos portos de de emprego foi a escolta antissubmarino a Tenerife, Cádiz, Montevidéu, Las Palmas, comboios e forças navais, em complemento Lisboa e Buenos Aires, além de diversos às fragatas classe Niterói, tanto ao longo portos nacionais. Um longo percurso. Uma do litoral quanto em travessias oceânicas. vida operativa muito feliz, que, para o seu

Corveta Frontin

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desfecho, o cerimonial da Marinha do Brasil também, e em maior peso, do trabalho e de estabelece que se concretize em ato solene. esforços de abnegadas tripulações, que ao E no rito desta cerimônia, não há como longo de cerca de duas décadas prestaram não correlacionar a despedida de um altivo suas contribuições para a defesa da Pátria e marinheiro sendo transferido para a reserva para provisão da paz. com esta que ora realizamos, de mostra de Corveta Frontin, à sua singradura na desarmamento e consequente desincorpo- Marinha do Brasil damos acalorados vivas. ração de um bravo navio. Em todos nós Ao seu destaque entre pares proferimos os afloram sentimentos. Em todos quantos ti- nossos louvores. E ao cumprimento exitoso veram o privilégio de nele servir, agradáveis de sua missão, “abrimos o toque” e outor- memórias são reacesas, intensas, cristalinas. gamo-lhe merecido e distinto Bravo Zulu.” Todo um repositório de belos feitos vivifi- (Fonte: Bono Especial no 676, de cam. Uma história sublinhada em meritórias 29/9/2014) páginas nos anais ope- rativos da nossa Mari- nha. Páginas a serem contadas e recontadas, exemplos fidedignos e dignificantes aos jovens integrantes da nossa Esquadra, do presente e do porvir. O navio é por ex- celência um ser vivo, pulsante. Tem alma. E esses compartimentos, conveses e anteparas são testemunhas dessa forte vitalidade, fruto

ASSUNÇÃO DE CARGOS POR ALMIRANTES – Contra-Almirante Alexandre Araújo – Contra-Almirante Marcos Sampaio Mota, coordenador de Manutenção de Olsen, chefe do Estado-Maior do Comando Meios da Diretoria-Geral do Material da de Operações Navais, em 3/12; Marinha, em 25/11; – Vice-Almirante Wilson Pereira de – Almirante de Esquadra Wilson Bar- Lima Filho, comandante do 8o Distrito bosa Guerra, chefe do Estado-Maior da Naval, em 5/12; Armada, em 26/11; – Almirante de Esquadra Ilques Barbosa – Almirante de Esquadra Elis Trei- Junior, diretor-geral do Pessoal da Marinha, dler Öberg, comandante de Operações em 8/12; Navais e diretor-geral de Navegação, – Vice-Almirante Liseo Zampronio, co- em 2/12; mandante em chefe da Esquadra, em 9/12.

260 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO TRANSMISSÃO DO CARGO DE CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA

Foi realizada, em 26 de novembro Ao comandante da Marinha, Almirante último, a Cerimônia de Transmissão de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, do Cargo de Chefe do Estado-Maior da expresso o meu profundo reconhecimento Armada (Cema). Em substituição ao Al- e meus sinceros agradecimentos pela fi- mirante de Esquadra Carlos Augusto de dalguia no trato, pelas demonstrações de Sousa, assumiu o Almirante de Esquadra estima e, principalmente, pela confiança em Wilson Barbosa Guerra. A cerimônia foi mim depositada para condução do Órgão presidida pelo comandante da Marinha, de Direção-Geral da Marinha. Almirante Almirante de Esquadra Julio Soares de Moura Neto, nosso comandante, o irrestrito Moura Neto. apoio dispensado por Vossa Excelência AGRADECIMENTOS E DESPE- foi fundamental para o cumprimento das DIDAS DO ALMIRANTE CARLOS minhas tarefas. AUGUSTO Aos comandantes do Exército e da Aero- náutica, General de Exército Enzo Martins “Inicio as minhas palavras com um Peri e Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Sai- agradecimento a todos que, ao longo do to, pela cordialidade e pela palavra amiga meu caminhar na Marinha do Brasil, me demonstradas nas mais diversas ocasiões. ajudaram a alcançar a posição que ora Ao chefe do Estado-Maior Conjunto das ocupo. Por terem sido tantos, e em tantas Forças Armadas, General de Exército José ocasiões, é-me impossível nominá-los Carlos de Nardi; ao secretário-geral do Mi- todos. Estaria incorrendo em falha, pois nistério da Defesa, Doutor Ari Matos; e aos certamente haveria de cometer esquecimen- chefes dos Estados-Maiores das Forças co- tos. O fato é que todos, alguns dos quais irmãs – Exército Brasileiro e Força Aérea aqui presentes, me apoiaram e fizeram-me Brasileira –, General de Exército Adhemar avançar, ao longo de 46 anos, de aspirante da Costa Machado Filho e Tenente-Briga- a almirante de esquadra. Penhoradamente, deiro do Ar Ricardo Machado Vieira, muito registro um muito obrigado. agradeço o trabalho conjunto, a amizade Entretanto, não poderia deixar de des- e a objetividade no desenvolvimento das tacar alguns agradecimentos especiais, nossas lides. Juntos, sinergicamente, creio visto estar deixando o exercício do meu que estamos alcançando patamares mais último cargo na Marinha, pois orienta- elevados da desejada interoperabilidade. ções, salutar convívio, demonstrações de Aos membros do Almirantado, agradeço apreço e amizade, ensinamentos e apoios o apoio, o trabalho conjunto e crítico em despretenciosos e francos foram a tônica do prol da correção nas tomadas de decisão relacionamento para com a minha pessoa sobre assuntos pertinentes à Alta Admi- nesse último estágio. nistração da Marinha e o companheirismo, Primeiramente, ao ministro de Estado que em muito tornaram mais fácil o cum- da Defesa, Embaixador Celso Amorim, primento das minhas obrigações. pela consideração com que sempre me Aos membros do meu Gabinete, aos distinguiu. Mais uma vez, Senhor Minis- senhores almirantes, oficiais, praças e tro, apraz-me dirigir a Vossa Excelência servidores civis do Estado-Maior da Ar- palavras de gratidão. mada e das organizações subordinadas –

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Escola de Guerra Naval e Representação valia, para a perfeita condução do Órgão de Permanente do Brasil junto à Organização Direção-Geral da Marinha e eficiente as- Marítima Internacional –, registro a minha sessoria ao comandante da Marinha. E que gratidão pela exação no cumprimento de as boas águas, os bons ventos e os mares suas tarefas e pelo correto atendimento às calmos sejam a tônica a balizar o porvir. minhas vontades e idiossincrasias, pauta- Senhoras e senhores, é chegada a hora das sempre pelo espírito de alcançamento da minha despedida. Embora programada, do bem-feito. desta feita constitui-se em momento único Especialmente ao Vice-Almirante para o qual tento buscar forças interiores Glauco Castilho Dall’Antonia, formulo o para não ser dominado por fortes emoções. meu reconhecimento pelo trabalho bem Para mim, deveras uma especial despedida, executado como vice-chefe do EMA, singular, completamente diferente de outras mercê de suas reconhecidas competência tantas pretéritas, também cada uma delas e lhaneza no trato, que muito facilitaram em seu tempo portadoras de intrínsecas o nosso ofício. essencialidades. Esta é a nossa vida. Idas Ao estimado amigo Almirante de Esqua- e vindas a serviço da Pátria. Por ser derra- dra Wilson Barbosa Guerra e à sua esposa deira no seio da nossa instituição, de súbito Regina, a par das boas-vindas ao Estado- transborda evidente e sentida saudade. Maior da Armada, apresento os augúrios de Momento, pois, de evocação, que inexo- constantes venturas no destacado cargo que ravelmente traz-me à lembrança vibrantes ora assume. Que ele seja pautado de ale- e ricas passagens de vivência marinheira. grias e conquistas. Almirante Guerra, que E um turbilhonamento cisma em se fazer o roteiro lhe seja pródigo de alternativas de presente, impelindo em minha mente, no

Cerimônia de Transmissão do Cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada

262 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO meu corpo e em minh’alma um repertó- com redobrado carinho. A minha história rio de belos registros de tempos felizes, que para sempre zelosamente acautelarei no tempos admiráveis, tempos inolvidáveis. lais de bombordo, no meu coração. Tempos próprios, que tiveram início no E ela tem seguido também em vivo com- exato instante em que cruzei os umbrais da passo com a história recente da Marinha. fortaleza de Nossa Senhora da Conceição Sigo compartilhando esse caminhar. Estive de Villegagnon, no início do ano de 1969. A a postos por décadas, em serviço, exercen- nossa querida bicentenária Escola Naval a do os mais diversos cargos e funções nas esperar-nos, portões abertos, corpo docente áreas operativa, do ensino, do material, do e tripulação prontos para dar cumprimento pessoal. Frequentei os bancos escolares, à nobre missão de formar os jovens oficiais. cumprindo os regulares cursos de carreira E o que é o tempo, se não ausência e nos vários estágios da escala hierárqui- presença; concreto e simbólico; passado, ca, essenciais ao crescimento visando à presente e futuro. Deixa suas marcas. E ascenção profissional. Servi no exterior. minhas marcas foram e estão sendo, desde Novos vieses da profissão das armas me aquele longínquo principiar, moldadas foram eloquentemente providos ao exercer com o mais puro espírito de abnegação e honroso cargo de chefia fora da Força, no profunda afeição à profissão que por livre Estado-Maior Conjunto das Forças Arma- arbítrio escolhi. das do Ministério da Defesa. E ao fim e ao Uma trajetória de vida marinheira para cabo dessa singradura, tive o privilégio de cujo roteiro procurei pautar por absoluta, exercer o cargo mais importante de minha plena e resoluta disponibilidade para bem carreira: o de chefe do Estado-Maior da cumprir os meus afazeres. Mãos firmes Armada. Fazer parte da galeria de honra- nas malaguetas do timão, seguindo rumos dos marinheiros, insignes chefes, próceres seguros, aproado ao norte verdadeiro, aju- dignos de panteão, cujos feitos como Cema dado por tantos. Um desiderato profissional engrandeceram a Marinha, representa su- envolto no branco e no azul, nossas belas bida honra. Ter tido a oportunidade ímpar cores, uma mescla a distinguir os que vivem de assessorar diretamente o comandante da no ambiente marinho e, em concomitância, a Marinha nas mais diversas questões cons- igualar os profissionais do mar mundo afora. tituiu um particular privilégio, outorgado a Vivi os meus tempos intentando o bem- poucos. E poder vasculhar as minhas pági- feito, atentamente inserido nos tempos da nas, esquadrinhar o meu trilhar e constatar Marinha. Tempos benfazejos. Vivi as lides que nelas existem os meus modestos con- marinheiras, a Marinha em realidade, de tributos, os meus diminutos feitos inseridos modo intenso, sem medida, totalmente nesse processo de crescimento, para mim é impregnado pelo Sol, pela brisa e pelo sal, motivo de orgulho e de satisfação pessoal. que de modo especial nos tinge a tez, nos É causa determinante para se poder apre- caracteriza e nos qualifica. ciar o tremular da minha flâmula de fim de E assim conformei a minha história comissão, encimando o término de minha profissional-naval, que em larga medida longa jornada, e poder bradar a viva voz, imbrica-se com a minha história de vida. alto e bom som: cumpri com o meu dever e Uma história composta de uma miríade de respeitei o meu sagrado juramento em toda tons, matizes sem fim, cada qual represen- sua propositura. E poder emocionar-se com tativo de instigantes passagens. A minha o seu panejar significa trazer a lume um travessia: única, longa, especial, que guardo repositório de memoráveis experiências,

RMB4oT/2014 263 NOTICIÁRIO MARÍTIMO que só aos que vivem no mar são dadas a Augusto chegou esse momento. É hora exata conhecer e sentir em plenitude. Lembranças de fazer um convite à Guida, à Mariana e ao vívidas de um velho marinheiro que parte. Mariano, partícipes incontestes, mão estendi- E o célere seguimento da Marinha, da a apoiar-me sob quaisquer circunstâncias, cortando as águas com galhardia, com com o aplauso, com o carinho e com a palavra determinação e a toda força, nessa quadra amiga, absolutamente necessários às conquis- temporal em que fui partícipe dos seus qua- tas e vitórias, assim como soerguimentos nas dros regulares, foi e tem sido de constante horas de dificuldades, a solicitarmos, juntos, processo evolutivo, saudado e reconhecido permissão para descer a escada de portaló e por toda sociedade. Avanços administrati- seguirmos novas destinações. Antes, porém, vos, científicos, tecnológicos, de inovação, cumpre-nos, em obediência ao cerimonial, culturais e de capacitação intelectiva. prazerosamente reverenciar o Pavilhão Na- Conquistas importan- cional. Repetição de su- tes, de imenso valor e blime atitude que, galhar- que seguem em fran- damente, desde sempre co progresso. Vivas à executei nos conveses, Marinha. Permitam-me nos pátios, nas entradas acrescentar um distinto e saídas de bordo, nos Bravo Zulu a todos que cerimoniais, nas forma- conduzem essa grande turas e em tantas outras embarcação, com mi- ocasiões. nhas reverências e os Senhoras e senhores, meus aplausos. este foi o decurso do Todos fazemos par- meu distinto tempo, o te desse grandioso bar- nosso tempo, a minha co. Uma grande famí- longa jornada, que ora lia naval em constante se conclui na minha navegar, perscrutando querida Marinha do novos espaços. Por ve- Brasil.” zes singrando mares não tão calmos, ventos AGRADECIMENTO não totalmente à feição. E BOAS-VINDAS DO Porém, no horizonte, COMANDANTE DA no exato e belo espaço Almirante de Esquadra Wilson Barbosa Guerra – MARINHA Chefe do Estado-Maior da Armada em que o céu parece confundir-se com o mar, o bom marinheiro, “Após um período de pouco mais de argucioso, por puro sentimento, consegue dez meses, repleto de intensas e profí- antever bons ventos e mares tranquilos. cuas atividades, o Almirante de Esquadra Consegue vislumbrar a placidez do porto Carlos Augusto de Sousa transmite hoje a seguro. Antecipa o aconchego da família, chefia do Estado-Maior da Armada. ansiosa por tê-lo em seus braços. E, ao fim, Esta cerimônia, entretanto, reveste- baixa a terra com a agradável sensação de se de um significado muito especial por missão cumprida. representar não somente a passagem do Para o Aspirante, Guarda-Marinha, timão de tão prestigiado cargo, mas tam- Tenente, Comandante, Almirante Carlos bém o encerramento da brilhante carreira

264 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO desse marinheiro que, por quase 46 anos, lealdade, seriedade, objetividade, tranquilida- dedicou-se, de maneira exclusiva e despre- de, perspicácia e inteligência, garantiram-lhe, tensiosa, à nossa instituição. mais uma vez, a irretocável condução de com- Ao comandante da Marinha cabe a ta- plexas e multifacetadas tarefas, cabendo su- refa de apresentar os agradecimentos e as blinhar, entre outras, as seguintes realizações: despedidas, ocasião sempre marcada por – o início da primeira turma, para civis fortes emoções e incontáveis recordações e militares, do Programa de Pós-Graduação sobre tudo o que foi vivido, na qual são de Estudos Marítimos, em nível de Mestra- evidenciadas as boas passagens experi- do Profissional; mentadas, a camaradagem construída e as – a revisão, no que diz respeito à Força, missões cumpridas. do Plano de Articulação e Equipamento O sentimento de tristeza, por seu afasta- da Defesa (Paed), tornando a nossa versão mento de nosso convívio diário, é amenizado aderente às perspectivas orçamentárias para quando sabemos que caminhos promissores os próximos anos; lhe foram reservados. Isto porque, coroando – a atualização da Sistemática de Plane- os expressivos trabalhos realizados e ates- jamento de Alto Nível (Span) e do Plano tando a confiança, a admiração e o reconhe- Estratégico da Marinha (PEM); cimento amealhados entre seus superiores, – o contínuo desenvolvimento da coope- pares e subordinados, temos a oportunidade ração com a África, merecendo considera- de presenciar a preparação do Almirante ção especial a Assessoria Técnica à União Carlos Augusto para, em breve, integrar a Africana, para a elaboração da Estratégia egrégia corte do Superior Tribunal Militar. Marítima Integrada daquele continente, e Declarado guarda-marinha em 1972, a execução de inúmeros exercícios opera- após o período de formação na Escola tivos multinacionais, como Atlasur, com Naval, iniciou a vida como oficial a bordo a África do Sul, a Argentina e o Uruguai; do Contratorpedeiro Piauí, tendo atuação Felino, com os países da Comunidade destacada nas suas inúmeras comissões, dos Países de Língua Portuguesa (CPLP); cabendo realçar os comandos do Navio- Ibsamar, com a África do Sul e a Índia; e Patrulha Costeiro Poti, do Rebocador de Obangame Express, no Golfo da Guiné; Alto-Mar Tritão e da Fragata Greenhalgh. – o início do funcionamento das Adidân- Em 31 de março de 2003, teve a satis- cias Militares em Cabo Verde, Colômbia, fação de poder compartilhar, com todos Equador, Etiópia, Indonésia e Líbano; do do seu convívio, a promoção a contra-al- Núcleo da Missão Naval em Cabo Verde; e mirante. Envergando as platinas douradas, do Grupo de Apoio Técnico em São Tomé exerceu, com competência e equilíbrio, e Príncipe; os cargos de coordenador do Programa de – a defesa dos interesses do País, no Reaparelhamento da Marinha, comandante âmbito da Comissão Coordenadora dos do 6o Distrito Naval, comandante da 2a Assuntos da Organização Marítima Inter- Divisão de Esquadra, diretor do Pessoal nacional (CCA-IMO), quanto ao transporte Militar, comandante do 1o Distrito Naval, de minério de manganês; chefe de Assuntos Estratégicos do Estado- – as proposições para a obtenção de um Maior Conjunto das Forças Armadas, no equilíbrio na distribuição dos recursos fi- Ministério da Defesa, e o que ora transmite. nanceiros, entre os projetos de investimento À frente do Órgão de Direção-Geral, seus voltados para o futuro e os de manutenção reconhecidos atributos, dentre os quais destaco operativa, com vistas ao presente;

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– a ampliação da participação da insti- garantirão a continuidade das atividades tuição em programas do Governo Federal, desenvolvidas pelo EMA e contribuirão como Inova Aerodefesa, Mais Médicos, Se- para o pleno êxito no cumprimento da gundo Tempo – Forças no Esporte, Projeto missão que ora lhe é confiada.” Soldado-Cidadão e Ciência sem Fronteiras; – os processos de negociação, junto PALAVRAS INICIAIS DO ALMI- ao Ministério da Defesa e à Força Aérea RANTE GUERRA Brasileira, para o compartilhamento das Bases Aéreas de Manaus, Florianópolis e “Ao assumir o honroso cargo de che- Belém, e com o Exército Brasileiro, para a fe do Estado-Maior da Armada, tenho a cessão de terreno em São Luís, Maranhão; consciência das responsabilidades ineren- – a incorporação do Navio-Transporte tes às tarefas de assessorar diretamente Fluvial Almirante Leverger e do Aviso o comandante da Marinha e de exercer a Hidroceanográfico FluvialC aravelas, no 6o direção-geral da nossa Força. Distrito Naval, e a ativação do Serviço de Essas atribuições definem, no mais alto Sinalização Náutica do Noroeste (SSN-9), nível da administração naval, o planeja- no 9o Distrito Naval; e mento futuro e a condução da Marinha do – a orientação das ações relativas aos presente, cumprindo um planejamento es- grandes eventos Copa do Mundo Fifa 2014 tratégico que envolve o conhecimento dos e Olimpíadas e Paralimpíadas 2016, no que principais temas político-sociais e o exato compete à Força. posicionamento do Brasil no concerto das Almirante Carlos Augusto! No momen- nações, além das nossas aspirações de jus- to em que o seu pavilhão é arriado pela tiça e paz social, sem perder os conceitos de última vez, gostaria que levasse a certeza soberania e segurança da nação brasileira. do dever bem cumprido e da satisfação de O mundo em que vivemos, notabilizado termos convivido com o estimado amigo pelas constantes e rápidas transformações, nessa meritória singradura. Estou certo de além de uma evolução tecnológica sem que a sua liderança e a sua maneira gentil precedentes, exige soluções sustentáveis, de relacionar-se com todos os setores da decisões rápidas e conhecimento cada vez Força e extra-MB levaram a resultados mais especializado. concretos na implantação das orientações Na condução da Marinha do presente, da Alta Administração Naval, trazendo-me a recuperação da capacidade operativa da muita tranquilidade. Força é um desafio que envolve adequado Apresento-lhe os mais sinceros votos de gerenciamento dos recursos de material, continuado sucesso em sua nova jornada, pessoal e financeiro, de forma a reduzir no Superior Tribunal Militar, e de muitas um passivo que ainda nos impõe um baixo felicidades e realizações, extensivos à sua índice de disponibilidade de meios navais esposa, Senhora Guida, e família. e aeronavais. Bons ventos e que Deus o acompanhe! Quanto à Marinha do futuro, os inves- Seja muito feliz! timentos em grandes programas, como Ao Almirante de Esquadra Wilson o Nuclear da Marinha (PNM), o de De- Barbosa Guerra, apresento as boas-vindas, senvolvimento de Submarinos (Prosub), desejando-lhe muito sucesso e alegrias, na o de Obtenção de Meios de Superfície convicção de que suas reconhecidas quali- (Prosuper) e o Sistema de Gerenciamento dades, aliadas à sua bagagem profissional, da Amazônia Azul (SisGaaz), entre outros,

266 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO em consonância com a Política e a Estra- Aos chefes dos Estados-Maiores do tégia Nacional de Defesa, nos mostram Exército e da Aeronáutica, respectiva- os rumos a seguir, consubstanciados nos mente, General de Exército Adhemar Planos de Articulação e Equipamento de da Costa Machado Filho e Tenente-Bri- Defesa (Paed). gadeiro do Ar Ricardo Machado Vieira, Muitos são os desafios. Para vencê-los, empenho a minha disposição em buscar o tenho a certeza de poder contar com o tra- entendimento e o envolvimento sinérgico balho sério e dedicado de todos os meus na busca pela indispensável interopera- subordinados do Estado-Maior da Arma- bilidade, respeitando as diferenças que da, além, é claro, com a compreensão e o norteiam a própria existência de nossas apoio dos senhores almirantes, membros Forças Singulares. do Almirantado. Estendo meus agradecimentos aos mi- Excelentíssimo Senhor Almirante de nistros do Superior Tribunal Militar e aos Esquadra Julio Soares de Moura Neto, secretários do Ministério da Defesa. Às comandante da Marinha, empenho uma demais autoridades civis e militares pre- vez mais a minha lealdade, agradecendo a sentes ou representadas, aos companheiros confiança em mim depositada ao me em- da Turma John Taylor, aos soamarinos e possar no cargo de chefe do Estado-Maior amigos, por terem se deslocado até Brasília da Armada. e me honrarem com suas presenças. Extremamente honrado, agradeço ao Volto-me agora à minha família – mãe, Excelentíssimo Senhor Embaixador Celso irmãos, cunhados, genros e sobrinhos aqui Amorim, ministro de Estado da Defesa, presentes. Obrigado pelo carinho e apoio que, com sua presença, empresta um brilho constantes. especial a esta cerimônia. Às minhas filhas Flávia, Karla e Caro- Estendo também estes agradecimentos line e ao mais novo integrante do clã, meu aos Excelentíssimos Senhores General neto Joaquim, a presença de vocês me de Exército José Elito Carvalho Siqueira, comove e enche de orgulho. ministro-chefe do Gabinete de Segurança À minha esposa Regina, não canso de Institucional da Presidência da República; declarar o meu amor e reafirmar que você General de Exército Enzo Martins Peri, co- é a luz que me guia. mandante do Exército; Tenente-Brigadeiro Por fim, ao Almirante de Esquadra Car- do Ar Juniti Saito, comandante da Aero- los Augusto de Sousa, agradeço ao prezado náutica; General de Exército José Carlos amigo pela fidalguia com que me recebeu de Nardi, chefe do Estado-Maior Conjunto e pela forma séria e completa com que me das Forças Armadas; e Doutor Ari Matos transmitiu o cargo. Desejo, em meu nome Cardoso, secretário-geral do Ministério da e de toda a tripulação do Estado-Maior da Defesa. Suas presenças reforçam a união Armada, felicidades na função de ministro entre as nossas Forças. do Superior Tribunal Militar que irá assu- Destaco a presença do Excelentíssimo mir em breve. Estendo estes votos à esposa Senhor Almirante de Esquadra (Refo) Guida e família. Alfredo Karam, ex-ministro da Marinha Ao encerrar minhas palavras, rogo ao e insigne chefe naval, em nome de quem Senhor dos Navegantes que volte o seu cumprimento e agradeço a presença de olhar compassivo sobre estes teus filhos antigos chefes, que, com seus exemplos, que tripulam o Estado-Maior da Armada. são o farol a guiar este marinheiro. Viva a Marinha!”

RMB4oT/2014 267 NOTICIÁRIO MARÍTIMO TRANSMISSÃO DOS CARGOS DE COMANDANTE DE OPERAÇÕES NAVAIS E DIRETOR-GERAL DE NAVEGAÇÃO

Foi realizada, em 2 de dezembro Gomes da Luz Filho, comandante da último, a cerimônia de transmissão de Força de Fuzileiros da Esquadra; com cargos de comandante de Operações o Vice-Almirante Cláudio Portugal de Navais e diretor-geral de Navegação, Viveiros, diretor de Portos e Costas; com presidida pelo comandante da Marinha, o Vice-Almirante Antonio Reginaldo Almirante de Esquadra Julio Soares Pontes Lima Junior, diretor de Hidro- de Moura Neto. Assumiu o Almirante grafia e Navegação; com os Vice-Almi- de Esquadra Elis Treidler Öberg, em rantes Paulo Cesar de Quadros Küster, substituição ao Almirante de Esquadra Edlander Santos, Liseo Zampronio, Wilson Barbosa Guerra. Luiz Henrique Caroli, Domingos Savio Almeida Nogueira, Paulo Mauricio AGRADECIMENTOS E DESPEDIDAS Farias Alves, Leonardo Puntel, Afrânio DO ALMIRANTE GUERRA de Paiva Moreira Junior e o Contra-Al- mirante Edervaldo Teixeira de Abreu “No momento em que passo o Co- Filho, comandantes dos nossos Distritos mando de Operações Navais e a Dire- Navais; e com os Capitães de Mar e toria-Geral de Navegação, volto meus Guerra Marco Lucio Malschitzky, co- pensamentos às valorosas tripulações mandante do Controle Naval do Tráfego que guarnecem nossos meios navais, Marítimo, e Ken Williams Schonfelder, aeronavais e de fuzileiros navais para diretor do Centro de Guerra Eletrônica reafirmar meu respeito, meu reconheci- da Marinha. Aos senhores e aos seus mento e minha gratidão pela dedicação subordinados, os meus agradecimentos à nossa Força e ao Brasil. Somos uma e o meu Bravo Zulu. só família. A fluidez do meu comando, Ao meu chefe do Estado-Maior, Vice- nesses últimos sete meses, só foi possí- Almirante Wilson Pereira de Lima Filho, vel pela lealdade e pelo companheiris- e aos meus subchefes, agradeço pela leal- mo dos senhores. Comandar cerca de 57 dade e pelo convívio fraterno, decisivos mil homens e mulheres, espalhados em para o bom andamento das atividades do 284 Organizações Militares de norte a Setor Operativo. sul do País, foi a realização profissional Ao meu Gabinete, na pessoa do seu plena deste marinheiro que ostentou, chefe, o Capitão de Mar e Guerra Carlos com o mesmo orgulho, o macacão André Coronha Macedo, meu reconheci- operativo e o camuflado dos nossos mento pela dedicação e amizade. fuzileiros navais. Aos Generais de Exército Francisco Compartilho as vitórias conquistadas Carlos Modesto, comandante Militar do com os meus competentes comandantes Leste, e Eduardo Dias da Costa Villas diretamente subordinados; com o Almi- Bôas, comandante de Operações Ter- rante de Esquadra Ilques Barbosa Junior, restres, e ao Tenente-Brigadeiro do Ar comandante em chefe da Esquadra; com Nivaldo Luiz Rossato, comandante-geral o Vice-Almirante (FN) Washington de Operações Aéreas, agradeço o trato

268 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO gentil e o perfeito relacionamento entre sentes ou representadas, aos companheiros nossas Forças. da Turma John Taylor e demais amigos que Não posso deixar de registrar o apoio me honram com suas presenças. irrestrito dos demais Órgãos de Direção À minha família, em particular à minha Setorial. No Almirantado, sob a coorde- esposa Regina, o apoio e a presença cons- nação do Almirante de Esquadra Carlos tantes ao meu lado são provas de carinho Augusto de Sousa, nosso chefe do Es- e amor e foram fundamentais em mais esta tado-Maior da Armada nesse período, jornada. tivemos a oportunidade de conduzir de Finalmente, faço uma oração em ação forma profissional e amiga os assuntos de graças ao Bom Jesus dos Navegantes, nos diversos Conselhos que orientam que, em sua infinita misericórdia, protegeu as atividades da Força nas áreas Ad- e guiou este teu filho. ministrativa e Financeira, de Pessoal Muito obrigado e viva a Marinha!” e de Ciência e Tecnologia. Não tenho dúvida de que toda a estrutura trabalha AGRADECIMENTO E BOAS-VIN- em prol de um Poder Naval equilibrado DAS DO ALMIRANTE MOURA NETO e na dimensão que a sociedade necessita, para a defesa dos interesses do Brasil em “Tendo assumido o cargo de chefe do nosso entorno estratégico, na Amazônia Estado-Maior da Armada, o Almirante de Azul e nas águas interiores, bem como Esquadra Wilson Barbosa Guerra despe- na busca constante do melhor para a de-se do Comando de Operacões Navais nossa Marinha. e da Diretoria-Geral de Navegacão, após Destaco, uma vez mais, a presença um período caracterizado pelo dedicado e do Excelentíssimo Senhor Almirante de proficiente trabalho desenvolvido durante Esquadra Mauro Cesar Rodrigues Pereira, pouco mais de sete meses como titular ex-ministro da Marinha; do Almirante de desses dois importantes Órgãos de Direcão Esquadra Arnaldo Leite Pereira, ex-mi- Setorial (ODS). nistro chefe do Estado-Maior das Forças Valendo-se de suas reconhecidas qua- Armadas, e do Almirante de Esquadra lidades, dentre as quais destaco lealdade, Roberto de Guimarães Carvalho, ex-co- competência, inteligência, objetividade, mandante da Marinha, em nome dos quais perspicácia e liderança, o Almirante Guerra cumprimento e agradeço a presença de soube dar andamento, de forma apurada, a antigos chefes. todas as tarefas que lhe foram confiadas, Ao Almirante de Esquadra Julio Soares referentes aos setores Operativo e da DGN. de Moura Neto, meu comandante, agradeço A superação dos desafios inerentes aos a cordialidade no trato, as orientações segu- dois ODS, cujas dimensão e complexidade ras, a amizade e a dedicação aos assuntos são indiscutíveis, apenas corrobora o seu do Setor Operativo. apurado senso de responsabilidade e a sua Ao Embaixador Celso Amorim, minis- capacidade para gerenciar não só preparo e tro de Estado da Defesa, agradeço a forma a aplicação do Poder Naval como, também, cortês com que sempre me distinguiu. as imprescindíveis atividades ligadas à Estendo os meus agradecimentos aos DPC e à DHN. ministros do Superior Tribunal Militar e Dessa forma, por uma questão de justiça, aos secretários do Ministério da Defesa. Às apraz-me apontar algumas das suas princi- demais autoridades civis e militares, pre- pais realizações:

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– a formalização de convênios com – a implantação do núcleo do Esquadrão as prefeituras de Bertioga, Guarujá, Ilha de Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant) Solteira, Pirapora, Praia Grande, Santos, no âmbito da Força Aeronaval; e São Paulo e São Vicente, com a finalidade – o lançamento, em outubro, de foguetes de incrementar a fiscalização do tráfego Astros, durante a Operação Formosa. aquaviário nas áreas adjacentes às praias; Prezado Almirante Guerra! No mo- – a execução da Operação Verão mento em que o caro amigo encerra o seu 2013/2014 em todo o território nacional, ciclo à frente do Comando de Operações na qual houve um aumento de embarcações Navais e DGN, registro o meu reco- abordadas e inspecionadas; nhecimento pelo esforço empreendido – a ativação do Serviço de Sinalização e pelos resultados alcançados, cabendo Náutica do Noroeste (SSN-9) em Manaus, salientar que o seu assessoramento dentro do contexto do Projeto Cartografia preciso e oportuno e a sua condução da Amazônia; correta dos assuntos setoriais em muito – o início do desenvolvimento de um facilitaram o meu processo de tomada de Sistema de Cartas Eletrônicas classe A, que decisão. Reafirmo minha satisfação em será padrão para a navegação dos navios da continuar a contar com sua indispensável Marinha, a partir de uma versão já existente colaboração, desejando-lhe as maiores do Cisne; felicidades, extensivas à Sra. Regina e – as providências para que a Força venha digníssima família e muito sucesso no a sediar e operar um Centro Regional de timão do Órgão de Direção Geral. Coordenação de Cartas Náuticas Eletrôni- Bons ventos e que Deus o acompanhe! cas na América Latina, contribuindo para Ao Almirante de Esquadra Elis Trei- a liderança regional brasileira nesse tópico; dler Öberg, apresento as boas-vindas – o incremento de procedimentos relati- no seu regresso aos setores Operativo vos à inteligência de imagem, aprimorando e da DGN, formulando votos de muitas a capacitação do pessoal e o processamen- alegrias e realizações nos cargos que ora to das informações obtidas por sensores assume, plenamente confiante que seus distintos; sólidos conhecimentos, aliados aos seus – a organização das ações da Marinha do reconhecidos atributos, permitirão uma Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, exitosa singradura.” que contou com a participação de aproxi- madamente 13 mil militares e significativa PALAVRAS INICIAIS DO ALMI- quantidade de meios navais, aeronavais e RANTE ÖBERG de fuzileiros navais; – o apoio aos órgãos de segurança públi- “É com honra, orgulho e emoção que ca do Estado do Rio de Janeiro na Operação assumo o Comando de Operações Navais São Francisco, no Complexo da Maré, e a Diretoria-Geral de Navegação. Esses com o emprego pioneiro de Grupamentos sentimentos decorrem da imensa respon- Operativos de Fuzileiros Navais dos 2o, 4o, sabilidade que recai sobre aqueles que são 5o e 6o Distritos Navais, além da Força de investidos nestes cargos. Fuzileiros da Esquadra; Ao olhar o tope do mastro e mirar a – o incentivo aos exercícios de Guerra minha bandeira-insígnia pela primeira Cibernética, com destaque para a Operação vez içada, vislumbro muito além. Vejo Baluarte 2014; os nossos fuzileiros no Haiti e na Maré;

270 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO a nossa fragata no Líbano; o nosso na- confiança ao me indicar para a chefia do vio-escola, com o futuro da Marinha, Setor Operativo e Marítimo da Marinha. navegando em uma viagem de instrução; Esteja certo, Sr. Almirante, que sempre e os nossos navios polares na Antártica. buscarei o máximo de dedicação para Vejo os meios navais e aeronavais da Es- bem cumprir a missão. quadra preparando-se para iniciar as suas Agradeço às autoridades dos poderes próximas operações, os navios-patrulha Legislativo, Executivo e Judiciário que me mantendo diuturnamente a soberania em honraram com suas presenças. Aos compa- nossas águas jurisdicionais e atendendo, nheiros militares, em especial do Exército e junto com o restante da força, os inúmeros da Força Aérea, o meu agradecimento pela casos de Busca e Salvamento que ocor- presença e pela certeza da parceria quando rem diariamente. Vejo os nossos navios operarmos de forma conjunta. brancos da DHN efetuando os levanta- Aos colegas da Turma Esperança, o meu mentos hidrográficos e pesquisas que vão muito obrigado, e acreditem que sempre se transformar em cartas náuticas mais estaremos unidos. precisas, facilitando a vida dos homens Deixo o meu registro de saudade à do mar. Enfim, ao mirar meu pavilhão, me memória de meus pais, que me ensinaram sinto seguro, porque os ensinamentos que honestidade, retidão de caráter e justiça. obtive de antigos chefes navais ao longo Estejam onde estiverem, sei que estão dos meus 45 anos de serviço à MB me pro- orgulhosos. porcionaram os fundamentos necessários Faço meu agradecimento especial aos para desempenhar estes complexos cargos. meus familiares e amigos aqui presentes. Então, é justo que sejam dirigidos a eles, Finalmente à Dona Lídia, que estará alguns aqui presentes, o meu primeiro junto comigo em mais essa travessia, o meu agradecimento pelos ensinamentos de amor. Aos meus filhos Claudio, André e honra, profissionalismo e coragem moral Arthur e ao meu neto Alexandre, que em que me proporcionaram. breve estará conosco, o carinho de um pai É com orgulho, eivado de emoção, que que sempre os verá como meninos. me dirijo agora aos mais de 54 mil homens Ao Almirante de Esquadra Wilson e mulheres que compõem o Setor Operativo Barbosa Guerra, amigo desde os dias de de nossa Marinha. Saibam que é uma honra Colégio Naval, agradeço a forma minu- e um privilégio poder comandá-los. Te- ciosa, a gentileza e a fidalguia com que nham a certeza que, enquanto este pavilhão me recebeu e transmitiu o cargo. Almi- há pouco içado estiver tremulando, eu esta- rante Guerra e Dona Regina, recebam rei preocupado com cada um dos senhores e os mais calorosos votos de felicidades senhoras, estejam onde estiverem e saibam meus e de Lídia nas suas atividades em também que, com honestidade, lealdade Brasília, na Chefia do Estado-Maior da e coragem moral, conseguiremos, juntos, Armada, porque o sucesso, mercê de sua seguir em frente, honrando uma vez mais competência, já demonstrada ao longo de o legado de nossos antecessores. sua carreira, é certo! É hora de emoção e gratidão. Por fim, elevo meu pensamento a Deus Agradeço ao comandante da Marinha, para que me inspire na condução das ope- Almirante de Esquadra Julio Soares de rações de nossa Marinha. Moura Neto, que acaba de me empos- Máquinas adiante toda força! sar no cargo, pela prova inequívoca de Viva a Marinha!”

RMB4oT/2014 271 NOTICIÁRIO MARÍTIMO ATLÂNTICO: A HISTÓRIA DE UM OCEANO RECEBEu PRÊMIO JABUTI

O livro Atlântico: a História de um Oceano Atlântico nos tempos pretéritos e Oceano recebeu, em outubro último, a atuais, conforme suas visões: premiação de 2o lugar na Categoria Ciên- – “O Brasil em face do Atlântico: os cias Humanas do Prêmio Jabuti 2014. A novos desafios”, pelos organizadores; obra, publicada pela Editora Civilização – “Paisagens, territórios e regiões: as Brasileira, reúne textos que abordam as- bases de uma história dos grandes espaços”, pectos históricos, políticos e militares do Flávia de Sá Pedreira; Oceano Atlântico, sob organização do Ca- – “Para além das colunas de Hércules: o pitão de Mar e Guer- Atlântico na Antigui- ra (RM1) Francisco dade”, José Maria Go- Eduardo Alves de mes de Souza Neto; Almeida, professor – “O Oceano da Escola de Guerra Atlântico: o outro li- Naval (EGN), e dos mes de Roma”, Norma historiadores Karl Musco Mendes; Schurster Verissi- – “O renascimento mo de Sousa Leão do Atlântico: os gran- e Francisco Carlos des impérios maríti- Teixeira da Silva. mos”, CMG (RM1) O livro é uma Luiz Carlos de Carva- compilação de estu- lho Roth; dos que, da Antigui- – “Mare clausum e dade Clássica até o mare liberum: episó- século XXI, abordam dios luso-neerlande- de forma pormeno- ses no Atlântico Sul”, rizada aspectos his- Rômulo Nascimento; tóricos, políticos e – “Naus e tecnolo- militares do Oceano gias náuticas no Atlân- Atlântico. Composto tico nos séculos XVI de 16 capítulos, num -XVIII”, António Ma- total de 546 páginas, nuel da Silva Ribeiro; trata-se do primeiro livro escrito por autores – “O Atlântico e o comércio negreiro”, luso-brasileiros sobre o Oceano Atlântico e Suely Creusa Cordeiro de Almeida; torna-se leitura primordial para quem quer – “O Atlântico na época do vapor: o entender a importância desse oceano na impacto da Revolução Industrial”, Gian história da humanidade. Carlo de Melo Silva; A obra contou com a participação de – “Um oceano de revoluções. História e onze professores universitários e cinco historiografia do Atlântico e de suas revolu- oficiais de Marinha. Cada um desses ções nos séculos XVII e XVIII”, Francisco pesquisadores, especialistas em seus res- Carlos Teixeira da Silva; pectivos campos de estudo, apresentou – “O Atlântico: ciência e tecnologia uma abordagem relativa à importância do naval nos séculos XIX e XX”, Vice-Al-

272 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO mirante (Refo-EN) Armando de Senna Ferreira Furtado. Compêndio de Ciência de Bittencourt; Religião, de Frank Usarski e João Décio – “A Grande Guerra e o Atlântico”, Passos, foi premiado pelo 3o lugar. Nesta CMG (RM1) Francisco Eduardo Alves de sua 56a edição, o Prêmio Jabuti contou Almeida; com 2.240 inscrições, restando apenas dez – “O sistema de alianças coletivas e o finalistas por categoria. Atlântico – 1919-1939”, Karl Schurster; Criado em 1958 pela Câmara Brasileira – “O Atlântico, a defesa hemisférica do Livro, este é o mais tradicional prêmio e a Segunda Guerra Mundial”, Ricardo da área no Brasil, criado com o propósito de Pereira Cabral; valorizar a leitura e a criação literária, além – “Organização do Tratado do Atlântico de reconhecer talentos que colaboram para Norte”, Sidnei José Munhoz; promover a cultura em nosso país. Seu maior – “Imagens e histórias nas perspectivas diferencial em relação a outros prêmios de li- transatlânticas sobre o século XX”, Renato teratura é a sua abrangência, pois não valoriza Petrocchi; apenas os escritores, mas destaca a qualidade – “A defesa hemisférica em crise: uma do trabalho de todas as áreas envolvidas em geopolítica do Atlântico”, Contra-Almi- criação e produção de um livro. Atualmente, rante (Refo) Reginaldo Gomes Garcia dos o prêmio engloba 27 categorias, como tradu- Reis; e ção, ilustração, capa e projeto gráfico, além – “O petróleo offshore no Atlântico de categorias tradicionais, como romance, Sul”, Jaqueline Lima Ximenes Melo. biografia, ciências humanas, educação e O 1o lugar na referida categoria ficou ciências da saúde, entre outras. com O mapa que inventou o Brasil, de Júnia (Fonte: http://premiojabuti.com.br)

ATLETA DA MARINHA INDICADA AO PRÊMIO BRASIL OLÍMPICO 2014

A judoca Mayra Aguiar da Silva, terceiro-sargento RM2-EP da Marinha do Brasil, está entre os seis atletas mais votados para rebecer o Prêmio Brasil Olímpico 2014. O anúncio foi feito pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) em 19 de novembro último. Completando a lista dos in- dicados estão: no feminino, Ana Marcela Cunha (maratona aquá- tica) e Martine Grael e Kahena Kunze (vela); no masculino, Arthur Zanetti (ginástica artísti- ca), Marcus Vinicius D’Almeida (tiro com arco) e Tiago Splitter (basquete). A SG Mayra Aguiar está entre as seis atletas mais votadas para o prêmio

RMB4oT/2014 273 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

A Sargento Mayra Aguiar também O COB também elegeu os melhores concorre na nova categoria “Atleta da atletas de 2014 em cada uma das 43 mo- Torcida” do Prêmio Brasil Olímpico. dalidades olímpicas. A lista conta com Nessa modalidade, o COB selecionou nomes de ponta do esporte brasileiro, como atletas ou duplas que marcaram o espor- o jogador de futebol Neymar. te brasileiro em 2014, seja pela perfor- O Prêmio Brasil Olímpico 2014, consi- mance, pelo exemplo de superação, por derado o Oscar do esporte brasileiro, está conquista inédita ou por suas atitudes em sua 16a edição. A escolha dos melhores e condutas. A definição do vencedor em cada modalidade e a definição dos dois dessa categoria será feita pelo público, atletas que receberão o troféu “Melhor Atleta que pode votar por meio do Facebook do Ano” foram realizadas por um júri com- e do Twitter, utilizando hashtags que posto por jornalistas, dirigentes, ex-atletas e devem conter #EuVotoPBO e o nome personalidades do esporte nacional. do atleta. (Fonte: www.mar.mil.br)

DPC RECEBE PRÊMIO QUALIDADE BRASIL 2014

Foi realizada em 17 de novembro últi- tado um alto índice de satisfação em todos mo, no Clube Sírio Libanês de São Paulo, a os quesitos exigidos pelo Total Quality cerimônia de entrega do Prêmio Qualidade Control Service (TQCS), da Associação Brasil (PQB) 2014. A Diretoria de Portos Prêmio da Qualidade Brasil. e Costas (DPC) recebeu o Certificado de Considerado o Oscar da Qualidade, Excelência da Qualidade por ter apresen- o prêmio é conferido a organizações, empresários e personalidades que estão atentos aos novos desafios da sociedade, tendo como reconhecimento ao excelente nível de produtos e serviços prestados aos seus clientes. A entrega desse prêmio à DPC expressa o reconhecimento dos esforços da Superin- tendência do Ensino Profissional Marítimo, que contribui na tarefa de buscar e aprimo- rar as boas práticas de gestão, voltadas à elaboração do Programa do Ensino Profis- sional Marítimo (Prepom) como produto final oferecido às comunidades aquaviária e portuária. (Fonte: Bono no 843, de 28/11/2014)

MILITAR DA MB RECEBE PRÊMIO INTERNACIONAL O Capitão de Corveta Ricardo Sam- oferecido ao aluno que desenvolve e paio Bastos foi agraciado com o prê- apresenta pesquisa e dissertação de re- mio Outstanding Thesis Recognition, levante valor acadêmico. A premiação

274 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO foi em decorrência da exce- lência acadêmica alcançada durante o curso de mestrado em Pesquisa Operacional (área de pesquisa em simuladores), no Naval Postgraduate School, da Marinha dos Estados Unidos da América. O militar desenvolveu, como pesquisa e dissertação, o si- mulador de periscópio em pla- taforma web, que contribuirá tanto para o aperfeiçoamento da formação dos futuros oficiais submarinistas quanto para o incremento dessa importante capacidade no Centro de Aná- lises de Sistemas Navais. CC Sampaio é agraciado com o prêmio (Fonte: www.mar.mil.br) Outstanding Thesis Recognition

PRÊMIO REVISTA MARÍTIMA BRASILEIRA

O Prêmio Revista Marítima Brasileira relativo ao triênio 2011-2013 foi concedido ao Ca- pitão de Corveta (FN) Alexandre Arthur Cavalcanti Simioni, autor do artigo “Terrorismo ma- rítimo”, publicado na edição do 1o trimestre de 2012 da revista. A medalha correspon- dente foi concedida pela portaria no 328 do Estado- Maior da Armada, de 24 de novembro de 2014.

PROMOÇÃO DE ALMIRANTES

Foram promovidos por Decreto Pre- Ilques Barbosa Junior; e ao posto de Vi- sidencial, contando antiguidade a partir ce-Almirante, o Contra-Almirante Victor de 25 de novembro de 2014, os seguintes Cardoso Gomes. oficiais do Corpo da Armada: ao posto de (Fonte: Bono Especial no 826, de Almirante de Esquadra, o Vice-Almirante 25/11/2014)

RMB4oT/2014 275 NOTICIÁRIO MARÍTIMO MARINHA DO BRASIL NA EURONAVAL 2014

O comandante da Marinha, Almirante de Carlos Frederico Carneiro Primo. No Esquadra Julio Soares de Moura Neto, visitou stand da Emgepron, a comitiva observou em 28 de outubro último a Euronaval 2014 o Corced (Controle Remoto de Conteira, (24a Exposição e Conferência Internacional Elevação e Disparo), uma estação de de Defesa Naval e Marítima), realizada de 27 arma para o emprego de pedestal remo- a 31 de outubro em Paris, França. Ele per- tamente controlado para metralhadoras correu os stands brasileiros, destacando-se as calibre 12,5mm (.50) e 7,62mm, proje- visitas aos da Empresa Gerencial de Projetos tado pela Emgepron em parceria com a Navais (Emgepron), Omnisys e Associação Ares Sistemas Navais. Brasileira das Indústrias de Materiais de De- Na sequência, o comandante da Marinha fesa e Segurança (Abimde), e depois os da viu as maquetes da Corveta 03 (Barroso Lockheed-Martin, MBDA e Thales. Modificada) e do Navio-Patrulha Oceânico Acompanharam o Almirante Moura Brasileiro (NPaOc-BR), desenvolvido pelo Neto na visita o diretor-geral de Material Centro de Projetos Navais (CPN), com base da Marinha, Almirante de Esquadra Luiz no casco da CV 03, para realizar tarefas de Guilherme de Sá Gusmão; o diretor de fiscalização na Amazônia Azul (incluindo Sistema de Armas da Marinha, Vice-Al- a proteção das plataformas localizadas na mirante Alipio Jorge Rodrigues da Silva; área marítima do pré-sal), combater ativi- o diretor do Departamento de Ciência e dades ilegais no mar, fornecer segurança Tecnologia Industrial do Ministério da para o tráfego marítimo e apoiar as opera- Defesa, Vice-Almirante Wagner Lopes ções de SAR (Busca e Resgate). de Moraes Zamith; e o diretor de Aero- (Fonte: www.defesaaereaenaval. náutica da Marinha, Contra-Almirante com.br)

Almirantes Moura Neto e Gusmão sendo recebidos pelo vice-presidente de vendas para a América Latina da MBDA, Patrick La Revelièr

276 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO SOAMAR-RIO VISITA IEAPM

Integrantes da So- ciedade Amigos da Marinha do Estado do Rio de Janeiro (Soamar-Rio) visita- ram, em 28 de outubro último, o Instituto de Estudos do Mar Al- mirante Paulo Moreira (IEAPM), em Arraial do Cabo (RJ). O even- to fez parte de um programa de visitas de estudo que tem levado Soamarinos-Rio no IEAPM soamarinos do Rio a diversos navios e organizações da Marinha. esteve associado aos trabalhos realizados No IEAPM, os visitantes foram recebi- em Arraial do Cabo. dos pelo diretor do órgão, Contra-Almiran- Ao percorrerem as instalações do te Oscar Moreira da Silva Filho, e por um IEAPM, os soamarinos tiveram uma visão grupo de oficiais. No auditório, o Almirante panorâmica da variedade de técnicas desen- Oscar discorreu sobre a missão do centro volvidas no local: da acústica submarina à de pesquisa, nascido dos esforços do Al- oceanografia química e geoquímica e da bio- mirante Paulo Moreira, cujo nome sempre tecnologia marinha ao sensoriamento remoto.

ITAGUAÍ CONSTRUÇÕES NAVAIS RECEBE SEÇÃO DE QUALIFICAÇÃO ESSENCIAL PARA O PROSUB

Uma seção de qualifica- ção construída pela Nucle- brás Equipamentos Pesados (Nuclep) foi entregue, em 3 de setembro último, ao estaleiro Itaguaí Construções Navais (ICN), no Estado do Rio de Janeiro. O ICN, no escopo do Programa de De- senvolvimento de Submari- nos (Prosub), é o responsável pela construção dos novos submarinos convencionais e do submarino com propulsão nuclear brasileiros. Seção de qualificação chegando à ICN

RMB4oT/2014 277 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Esse tipo de seção tem o propósito de Metálicas da ICN, onde será realizada permitir a qualificação do pessoal envol- a qualificação do processo de instalação vido na construção do casco resistente das peças de penetração no casco re- dos submarinos. Ele foi fabricado com a sistente, utilizadas para a instalação de utilização de materiais, requisitos técnicos, válvulas e sensores, finalizando o ciclo métodos construtivos e dimensões idênticos de homologação das empresas Nuclep aos que serão empregados na construção e ICN para a realização das atividades das seções dos novos submarinos. construtivas atinentes ao casco resistente Na ocasião, a seção foi transferida para dos submarinos. a Unidade de Fabricação de Estruturas (Fonte: www.mar.mil.br)

MB REVELA PROJETO DE NPaOc NA EURONAVAL 2014 A Empresa Gerencial de Projetos Navais O NPaOc Brasil desloca cerca de 2 mil (Emgepron) revelou, na feira Euronaval toneladas e pode embarcar uma tripulação 2014, o projeto do primeiro navio-patrulha de 125 homens. O casco tem comprimento oceânico (NPaOc). A Euronaval aconte- de 103,4m; 11,4m de largura e calado de ceu em outubro último, em Paris, França. 3,95m. Com velocidade máxima de 25 O projeto está sendo desenvolvido pelo nós e alcance de 4 mil milhas a 12 nós, o Centro de Projetos de Navios da Marinha navio é projetado para uma autonomia de do Brasil. 30 dias no mar. O navio, que recebeu a designação de A propulsão combinada diesel e diesel Navio-Patrulha Oceânico Brasil, foi proje- (Codad) inclui dois motores diesel asso- tado para realizar missões de vigilância na ciados a propulsores de passo variável por zona econômica exclusiva (ZEE), incluindo meio de uma única caixa de transmissão. a proteção da infraestrutura das plataformas Refletindo o design stealth do projeto, a de petróleo; combater atividades ilegais no chaminé do navio foi posicionada no centro mar; prover segurança ao tráfego marítimo e da superestrutura, logo atrás do mastro. O apoiar missões de busca e salvamento (SAR). projeto também traz dois estabilizadores laterais a ré, abaixo da linha-dágua. O navio tem a ca- pacidade de embarcar lanchas RHIB (rigid hull inflatable boats) e uma plataforma de pouso e um hangar para acomodar um helicóptero leve ou de médio porte. Os sistemas e sensores incluem uma alça eletro-óptica giroes- Visão artística do NPaOc tabilizada para ob-

278 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO servação e capacidade de direção de tiro; a licença para construção de mais navios sistemas de comunicações, guerra eletrôni- da classe a serem construídos no Brasil. ca e comando e controle; canhões de água Como parte do Programa de Obtenção de e radares de busca aérea e de superfície. Meios de Superfície (Prosuper), a Diretoria O armamento inclui uma torreta com de Gestão de Programas Estratégicos da canhão de médio calibre e dois canhões de Marinha (DGePEM) pretende comprar e 20mm nos bordos. A embarcação pode ser construir localmente cinco NPaOc de 1.800 equipada com canhões de 40, 57 ou 76mm toneladas. Propostas que atendem aos requi- como armamento principal. sitos foram submetidas por BAE Systems, A Emgepron informou que os estudos Daewoo Shipbuilding & Marine, Damen de definição das armas e dos sistemas está Schelde Naval Shipbuilding, DCNS, Fin- em curso, mas enfatiza que o projeto po- cantieri, Navantia, e ThyssenKrupp Marine derá permitir a integração de um leque de Systems. Embora o Brasil tenha a licença equipamentos. para construir mais navios da classe Amazo- O Brasil opera atualmente três NPaOc da nas, isso não significa necessariamente que classe Amazonas, comprados por meio de este projeto atende aos requisitos das futuras contrato com a BAE Systems, em dezembro embarcações. Além disso, entende-se que de 2011. O Amazonas, o Apa e o Araguari mais sete serão necessários. (P122) foram comissionados em junho e (Fonte: IHS Jane’s Navy International, novembro de 2012 e em junho de 2013, com tradução e adaptação do site Poder respectivamente. O acordo inclui também Naval – www.naval.com.br)

LOAD IN 1 DO SUBMARINO TAMOIO O Arsenal de Ma- rinha do Rio de Janei- ro (AMRJ) realizou, em 27 de outubro úl- timo, o Load In do Submarino Tamoio. A manobra consiste no transporte do navio para o interior da Ofi- cina de Construção Naval, o que permite significativa redução no Período de Manu- tenção Geral (PMG) e consequente antecipação na entrega do balsa em seu fundo, a docagem do subma- meio naval ao Setor Operativo. rino sobre berços e picadeiros posicionados O Load In incluiu a docagem de uma no convés da balsa e a flutuação do con- balsa diretamente no piso do Dique Almi- junto balsa-submarino. Em seguida, com rante Régis, o alagamento do dique com a o submarino completamente fora d’água,

1 Ver artigo completo sobre o assunto na RMB do 3o trim./2005.

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docado sobre a balsa, o conjunto foi rebocado e atracado defronte à Oficina de Construção Naval. A partir dessa posição, com o au- xílio de duas carretas, com suspensão hidráulica independente em cada eixo, o peso do submarino foi transferido para essas carretas, que o transportaram para o interior da oficina. Merece destaque o fato de que, no hemisfério sul, esse tipo de manobra com submarinos é realizado apenas pelo AMRJ. Durante o PMG, o casco do sub- marino será seccionado e o navio terá os motores, sensores e sistemas reparados. (Fonte: Bono no 762, de 31/10/2014) Load In do Submarino Tamoio

OPERAÇÃO ANTÁRTICA XXXIII As aeronaves Águia 65 e 69 deco- O Destacamento Aéreo Embarcado laram, em 11 de outubro último, do permanecerá no continente gelado pelos Esquadrão HU-1 para embarque no próximos seis meses, retornando aos mares Navio Polar Almirante Maximiano, a brasileiros em abril de 2015. Nesse período, fim de participar da Operantar XXXIII. a condução da Operação Antártica será cer- Na ocasião, foi organizada, no hangar cada de novos desafios, incluindo o apoio do Esquadrão, despedida para a tripula- às pesquisas e a reconstrução da Estação ção das aeronaves, com a presença das Antártica Comandante Ferraz. famílias dos tripulantes. (Fonte: www.mar.mil.br)

Militares e familiares durante despedida no hangar do Esquadrão HU-1

280 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO MB SELA ACORDO COM MORADORES DA ILHA DA MARAMBAIA

A Marinha do Brasil (MB), repre- contempla três aspectos importantes: a sentada pelo Comando-Geral do Corpo garantia de moradia e reconhecimento de Fuzileiros Navais, realizou, em 27 da comunidade aos moradores do local, a de novembro último, a cerimônia de preservação da biodiversidade e a Defesa assinatura do Termo de Ajustamento Nacional. A titulação não afetará a Área de de Conduta (TAC) para a Ilha da Ma- Preservação Ambiental. De forma inédita, rambaia. O evento, que aconteceu no a negociação foi mediada por todas as Comando do 1o Distrito Naval, no Rio de partes envolvidas, que, ao longo de todo Janeiro (RJ), concretiza o resultado de o período de entendimentos, primaram por um processo de negociação entre o Co- garantir uma convivência harmônica entre mando da Marinha, o Ministério Público a comunidade e a Marinha. Federal, a Advocacia-Geral da União, O comandante-geral do Corpo de Fu- o Instituto Nacional de Colonização e zileiros Navais, Almirante de Esquadra Reforma Agrária (Incra) e a Associação (FN) Fernando Antonio de Siqueira Ri- da Comunidade dos Remanescentes de beiro, frisou a importância da assinatura Quilombo da Ilha da Marambaia. do TAC: “A concretização deste acordo Com o documento, fica definido que permitiu conciliar três importantes as- a comunidade receberá o título coletivo pectos, todos tutelados pela Constituição dos 53 hectares ocupados por 101 fa- Federal: o direito e as condições de habi- mílias. O acordo estabelece também um tabilidade dos atuais moradores da Ilha prazo máximo de 270 dias para concluir da Marambaia, a preservação ambiental processo de reconhecimento e titulação e a Defesa Nacional”. da comunidade de moradores da Ilha e (Fonte: www.mar.mil.br)

AE Fernando Antonio durante a assinatura do termo

RMB4oT/2014 281 NOTICIÁRIO MARÍTIMO 5a EDIÇÃO DO JOGO DE GUERRA PARA FORÇAS AMIGAS

Foi realizada na Escola de Guerra Naval O Jogo, realizado nas dependências do (EGN), na cidade do Rio de Janeiro, de 13 Centro de Jogos de Guerra, contou com a a 24 de outubro último, a 5a edição do Jogo participação de oficiais-alunos de nações de Guerra para Forças Amigas (Famigas amigas que estão no Curso de Estado-Maior 2014). O evento tem o propósito de fomen- para Oficiais Superiores (C-Emos) daquela tar o intercâmbio acadêmico e profissional Escola e no Curso de Comando e Estado- por meio do conhecimento e da integração Maior (CCEM) da Escola de Comando e entre os oficiais-alunos, além de promover Estado-Maior da Aeronáutica (Ecemar). a cooperação internacional. Durante os dias do encontro, foram analisados casos de in- teresse comum no nível operacional, por meio da aplicação de técni- cas de jogo seminário, abordando as temáticas de pirataria e segurança marítima, seleção e aplicação de regras de engajamento, e consi- derações geopolíticas sobre o Atlântico Sul e seu entorno estratégico. (Fonte: www.mar. Instrutores e oficiais-alunos de diversos países participantes do evento mil.br)

AgARACATI RESGATA NÁUFRAGOS A Agência da Capitania dos Portos do Ceará em Aracati (AgAracati) resgatou, em 24 de agosto último, quatro náufragos da embarcação Carta Branca. Naquele mesmo dia, a Agência havia recebido a informação do desaparecimento da embarcação, com quatro tripulantes a bordo, a aproximadamente 24,5 milhas náuticas da praia do Pontal do Maceió, no município do Fortim (CE). A AgAracati acionou o Salvamar Nor- deste e iniciou as buscas com sua embar- cação ECSR-M e com outras de apoio da comunidade pesqueira. Ao chegar à posição informada, foram embarcados os náufragos Militares da Marinha em resgate aos náufragos

282 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

que já haviam sido resgatados pelos barcos Após quatro horas e 30 minutos de pesqueiros Green e Isaías. Um dos náufra- operação de resgate, a equipe da AgAra- gos informou que o seu barco havia saído cati fundeou na Praia da Barra, no Fortim, para pescar no dia 19 de agosto e que, no e conduziu os pescadores resgatados ao dia 22, por volta das 20 horas, uma grande Hospital Municipal da cidade. onda a emborcou. (Fonte: www.mar.mil.br)

CAPITANIA FLUVIAL DE SANTARÉM RESGATA NÁUFRAGOS NO RIO AMAZONAS A Capitania Fluvial de Santarém (CFS) resgatou, em 6 de setembro último, três náufragos no Rio Ama- zonas (nas proximidades da comuni- dade de Santana do Tapará, no Pará), após o emborcamento da embarca- ção. Naquela mesma semana, a CFS já havia realizado um outro resgate de náufragos. Nesta última ocasião, os três ocupan- tes, entre eles um portador de necessida- des especiais, foram encontrados presos em vegetações e vestiam coletes salva- Resgate dos náufragos vidas. As vítimas foram transportadas para Santarém (PA) e atendidas por orientar os aquaviários e passageiros quanto uma equipe do Serviço de Atendimento à obrigatoriedade do uso efetivo do colete Móvel de Urgência (Samu). salva-vidas. Foi instaurado Inquérito sobre A CFS tem intensificado suas ações Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN), para de Inspeção Naval, principalmente apurar a causa determinante do naufrágio. em pequenas embarcações, visando (Fonte: www.mar.mil.br)

CPCE LOCALIZA PESCADORES DESAPARECIDOS A Capitania dos Portos do Ceará (CPCE) localizou, em 15 de setembro úl- timo, dois tripulantes da jangada Anjo do Mar que estavam desaparecidos. A CPCE recebeu a informação do desaparecimento neste mesmo dia, dando conta de que a embarcação estaria em atividade de pesca a cerca de 18 milhas náuticas (aproxima- damente 33 km) da Praia de Canabrava, do Município de Trairi. A Capitania iniciou, então, os pro- cedimentos de Busca e Salvamento da Militares da MB inspecionam a jangada dos Marinha do Brasil, passando a informa- pescadores

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ção ao Salvamar Nordeste, às colônias de chegar à área, a equipe da CPCE encon- pescadores da área e às demais embarca- trou os desaparecidos, os quais relataram ções que estavam navegando nas proxi- que a jangada havia sido emborcada por midades. Uma equipe de Inspeção Naval ventos fortes. foi deslocada para o local informado. Ao (Fonte: www.mar.mil.br)

FRAGATA CONSTITUIÇÃO PARTICIPA DE SAR NO MEDITERRÂNEO

A Fragata Constituição participou, em 22 utilizando todos os recursos de vigilância no- de outubro último, de um evento SAR (Sear- turna disponíveis, além de empregar, durante ch and Rescue), na busca de uma aeronave de a madrugada e parte da manhã, sua aeronave treinamento que caiu no mar quando deman- Lynx e duas embarcações orgânicas. dava Beirute, no Líbano, a partir de Limassol Durante o SAR, a fragata brasileira teve (Chipre). O navio foi designado Comandante sob sua coordenação uma corveta alemã, da Cena de Ação pelo comandante da Força- uma fragata turca e um navio-patrulha Tarefa Marítima da Força Interina das Nações grego, em estreita ligação com o JRCC Unidas no Líbano, Contra-Almirante Walter (Joint Rescue Coordenation Center), com Eduardo Bombarda. sede em Limassol, que empregou, ainda, A Constituição partiu turbinas e de- três aeronaves de asa fixa. mandou o ponto inicial de buscas a 26 nós, Tais ações resultaram no recolhimento, tanto noturno quanto diurno, de significati- va quantidade de des- troços da aeronave, que foram entregues às autoridades locais no Chipre, a fim de contribuir para a in- vestigação do aciden- te aeronáutico. (Fonte: www.mar. Fragata Constituição mil.br)

MB ENCONTRA CORPO DE DESAPARECIDO NO RIO PARAGUAI O Navio-Patrulha (NPa) Penedo, subor- Martins Navarros, de 52 anos, que se en- dinado ao Comando da Flotilha de Mato contrava desaparecido desde o dia anterior, Grosso, encontrou em 29 de outubro últi- após ter pulado nas águas do Rio Paraguai mo, com o auxílio de dois mergulhadores depois de um ataque por abelhas. O corpo e duas embarcações da Capitania Fluvial estava boiando, preso a camalotes, a 20 do Pantanal (CFPN), o corpo de Marcos metros do local de onde havia acontecido

284 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO o acidente, no km 1.845 do Rio Paraguai, (SAMU), enquanto o pai da Adriana em Corumbá (MS). permanecia desaparecido. No dia 28, a Marinha do Brasil (MB) Além do NPa Penedo e das embarca- havia recebido o comunicado de que ções da CFPN, o Comando do 6o Distrito três pessoas estavam Naval (Ladário-MS) pescando na referida empregou, para realizar localidade quando a varredura na margem pularam na água do rio, uma aeronave após o ataque. Duas do 4o Esquadrão de He- delas, Alex Sandro licópteros de Emprego Palmero e Adriana Geral, que sobrevoou o Campos Navarros, local do acidente. foram socorridas O corpo foi levado pela embarcação por lancha da Capitania Nova Laurinha. até o Porto Geral de Uma embarcação da Corumbá. Para evitar Capitania Fluvial do Embarcação da Capitania Fluvial do Pantanal afogamentos em casos Pantanal auxiliou empregada na busca de queda no rio, a MB nas buscas e condu- alerta pescadores e ziu as vítimas à ambulância do Serviço turistas para o uso do colete salva-vidas. de Atendimento Móvel de Urgência (Fonte: www.mar.mil.br)

NHo CRUZEIRO DO SUL RESGATA PESQUEIRO AKIRA VII

O Navio Hidroceanográfico (NHo) navio oceanográfico deu continuidade à Cruzeiro do Sul resgatou, em 26 de outubro Comissão MCTI IX/Oceano, iniciada em último, o Barco Pesqueiro Akira VII, que se 23 de junho. encontrava à deriva aproximadamente a 80 (Fonte: www.mar.mil.br) milhas da costa do Estado do Rio Grande do Sul. De acordo com o relato dos seus sete tripulantes, a embarcação apresentava uma avaria na propulsão havia dez dias, o que impedia o seu deslocamento. Após o chamado de socorro do Akira VII, o Cruzeiro do Sul foi autorizado a ini- ciar a operação de Socorro e Salvamento da embarcação. O navio da Marinha do Brasil rebocou, então, o pesqueiro até as proximi- dades de Tramandaí (RS), onde fundeou em segurança e contou com o apoio da Agência da Capitania dos Portos da região. Após ter contribuído para a salva- guarda da vida humana no mar na área Aproximação para o embarque da equipe do de responsabilidade do Salvamar Sul, o navio no Akira VII

RMB4oT/2014 285 NOTICIÁRIO MARÍTIMO NPaOc APA SOCORRE EMBARCAÇÃO

Após participar do XIII Simpósio da recreio Cannibal I, que se encontrava à Segurança do Navegador Amador, em deriva com cinco tripulantes, a cerca de 20 de outubro último, o Navio-Patrulha 20 milhas de Ilhabela (SP). A ação foi Oceânico (NPaOc) Apa foi acionado coordenada pela Delegacia da Capitania para socorrer a embarcação de esporte e dos Portos de São Sebastião. O Apa prestou as- sistência aos tripulan- tes e rebocou a embar- cação em segurança até a sua respectiva marina, localizada em Ilhabela. A ação con- tou com o apoio do Navio-Tanque Nara, da Transpetro, que recebeu inicialmen- te o aviso de avaria da embarcação, via rádio, e permaneceu nas proximidades até a chegada do NPaOc. (Fonte: www.mar. Cannibal I sendo rebocada pelo Apa mil.br)

NPaOc APA APOIA PESQUISA CIENTÍFICA NA ILHA DA TRINDADE

O Navio-Patrulha Oceânico (NPaOc) Científicas da Ilha da Trindade (Protrin- Apa realizou, de 13 a 25 de agosto último, dade), que engloba diversas universidades a Comissão Poit-IV/2014, a fim de apoiar parceiras para o levantamento de dados pesquisa científica na Ilha da Trindade. sobre a flora e a fauna marinhas, bem como Planejada pelo Comando do 1o Distrito a coleta de dados oceanográficos da cadeia Naval (Rio de Janeiro-RJ), essa comissão Vitória-Trindade. também teve a finalidade de trocar parte da Participaram da expedição 19 pesqui- tripulação do Posto Oceanográfico da Ilha sadores, das universidades Federal Flumi- da Trindade (Poit) e realizar abastecimento nense, do Estado do Rio de Janeiro, Fede- de material. ral de Minas Gerais, do Estado do Paraná, A pesquisa científica na Ilha da Trindade Federal do Rio Grande do Sul, Federal de é coordenada pela Secretaria da Comissão Santa Catarina, Federal do Rio Grande, Interministerial para Recursos do Mar (Se- Federal do Pará e Estadual Paulista Júlio cirm), por meio do Programa de Pesquisas de Mesquita Filho e, ainda, do Projeto

286 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Tamar (Tartarugas Marinhas), acompa- nhados de um oficial da Secirm. O NPaOc Apa, es- tando em águas juris- dicionais do Espírito Santo, também reali- zou Patrulha Naval e Ação de Presença na região marítima do Arquipélago Trindade e Martim Vaz. O Poit é um des- Participantes da Comissão tacamento subordi- nado ao Comando do 1o Distrito Naval, brasileiro, bem como o direito ao Brasil mantido pela Marinha do Brasil desde de explorar os recursos existentes na 1957. Sua ocupação garante a soberania Amazônia Azul”.­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ nacional sobre aquela fração de território (Fonte: www.mar.mil.br)

Escola Naval VENCE REGATA SANTOS-RIO O Veleiro Oceânico Marlim, da Escola oficial ex-tripulante do barco e oito Naval (EN), conquistou o 1o lugar geral e o aspirantes da EN, tendo contado, ainda, 1o lugar na Categoria ORC B, na 64a Regata com a participação do atleta de alto Santos-Rio, cuja largada ocorreu em 24 de rendimento da Equipe de Vela da MB, outubro último. o Terceiro-Sargento – RM2-EP Rafael Com um percurso aproximado de 200 Hooper Pariz. milhas náuticas, entre a Baía de Santos (SP) (Fonte: www.mar.mil.br) e a Ilha da Laje (RJ), a Regata contou com a participação de 28 embarca- ções. Representando a EN, estiveram, além do Marlim, os veleiros Dourado e Bijupirá. A conquista, inédita para a Marinha do Brasil (MB), tornou-se ainda mais significativa pelo fato de os aspirantes terem superado veleja- dores de renome, como os medalhis- tas olímpicos Torben Grael e Eduardo Penido, que competiram com barcos mais modernos e bem preparados para regatas. A tripulação do Veleiro Oceâ- nico Marlim foi formada por um Veleiro Oceânico Marlim durante a Regata

RMB4oT/2014 287 NOTICIÁRIO MARÍTIMO 6o DN REALIZA EVACUAÇÃO AEROMÉDICA DE CRIANÇA

Uma aeronave da Marinha do Brasil (MB) O comandante do 6o Distrito Na- resgatou, em 22 de setembro último, um meni- val (Ladário-MS), Contra-Almirante no de 11 anos que estava em crise de convulsão Edervaldo Teixeira de Abreu Filho, continuada na Fazenda demonstrou grande Ilha Verde, localizada satisfação com o a 63 km de Corumbá apoio prestado pela (MS), na região do Pa- Marinha: “Nada é raguai Mirim. mais importante Durante a eva- que a vida. Poder cuação aeromédica ajudar nesses mo- (Evam), a criança foi mentos não tem acompanhada por um preço”, ressaltou. médico da MB, que O HU-4 possui prestou os primeiros atualmente três aero- socorros. Ao chegar ao Menino resgatado por aeronave da MB naves UH-12 Esquilo, o heliponto do 4 Esqua- recebe cuidados que são de suma im- drão de Helicópteros portância para região de Emprego Geral (HU-4), uma ambulân- pantaneira, em função da facilidade de se cia do Serviço de Atendimento Móvel de deslocarem rapidamente para locais afas- Urgência (Samu) já aguardava o paciente tados e de difícil acesso. para levá-lo ao hospital da cidade. (Fonte: www.mar.mil.br)

6o DN RESGATA GRÁVIDA EM BARRA DO SÃO LOURENÇO

O Comando do 6o Distrito Naval (Ladá- da cidade. A Evacuação Aeromédica durou rio-MS) encaminhou, em 24 de setembro aproximadamente duas horas. último, uma aeronave à região da Barra do (Fonte: www.mar.mil.br) São Lourenço (MS), no Colégio Porto Es- perança, localizado a 120 km de Corumbá, para resgatar uma gestante de 25 anos. A mulher estava perdendo líquido amniótico (líquido que protege o embrião), com riscos iminentes à gestação. Durante o voo, a paciente foi acom- panhada por um médico da Marinha que prestou os primeiros socorros. Ao chegar ao heliponto do 4o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral, ela foi encaminhada por uma ambulância do Serviço de Atendimen- to Móvel de Urgência (Samu) ao hospital Mulher resgatada por helicóptero da MB

288 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO 6o DN REALIZA 14a EVACUAÇÃO AEROMÉDICA

O Comando do 6o Distrito Naval (La- para resgatar Karoline Aparecida Victorio dário-MS) realizou, em 6 de novembro Garcia Ferreira, de 31 anos, que apresen- último, a sua 14a Evacuação Aeromédica tava quadro de crise convulsiva. (Evam) em 2014. Na ocasião, foi encami- Durante o voo de resgate, a paciente foi nhada uma aeronave à Fazenda Jatobazi- acompanhada por um médico da Marinha nho, localizada a 48 km de Corumbá (MS), do Brasil que prestou os primeiros socorros. Ao chegar ao heliponto do 4o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-4), Karoline foi encaminhada por ambulân- cia do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para um hospital da cidade. O resgate durou aproximadamente 30 minutos. Atualmente, o HU-4 possui três aeronaves UH-12, que são importantes para a região pantaneira, pois se deslocam com facilidade Mulher é resgatada por helicóptero da a regiões afastadas e de difícil acesso. Marinha do Brasil (Fonte: www.mar.mil.br)

9o DN REALIZA EVAM DURANTE OPERAÇÃO AMAZÔNIA 2014

Um helicóptero modelo Esquilo, do 3o mãe e por um médico da Marinha, que Esquadrão de Helicópteros de Emprego prestou os primeiros socorros. A criança Geral (EsqdHU-3), subordinado ao Co- foi encaminhada para o Hospital Municipal mando do 9o Distrito Naval (Manaus-AM), de Tefé para receber atendimento médico. realizou, em 13 de outubro último, a Eva- (Fonte: www.mar.mil.br) cuação Aeromédica (Evam) de uma criança que se en- contrava com dificuldades respiratórias devido a uma pneumonia, no município amazonense de Maraã. A aeronave estava embarcada no Navio de Assistência Hospitalar Carlos Chagas, empregado na Operação Amazônia 2014, que teve início no dia 12 de outubro. Durante a Evam, a crian- ça foi acompanhada pela Criança resgatada durante a Operação Amazônia 2014

RMB4oT/2014 289 NOTICIÁRIO MARÍTIMO MARINHA APOIA COMBATE A INCÊNDIO EM PESQUEIRO

O Comando do 3o Distrito Naval (Natal- setembro no porto de Natal. O incêndio RN) prestou apoio logístico ao Corpo de começou por volta das 23 horas, quando Bombeiros Militar do Rio Grande do Norte, os tripulantes ainda estavam trabalhando em 26 de setembro último, por ocasião da no processo de desembarque da carga do operação de combate a incêndio do barco de navio – 90 toneladas de atum e meca. pesca Miomar, que se encontrava atracado Equipes da Capitania dos Portos do Rio no cais do porto de Natal. Grande do Norte (CPRN), do Grupamento O barco de pesca havia passado 80 dias de Fuzileiros Navais de Natal, da Base Na- no mar com uma tripulação de 14 pessoas, val de Natal e do Centro de Intendência da tendo atracado na manhã do dia 26 de Marinha em Natal prestaram apoio técnico e de material, com o uso de caminhões cisterna e líquido gerador de espuma, além de pessoal para sua operação. A Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte abriu inqué- rito, com prazo de 90 dias, para apurar as circunstâncias do incêndio. (Fonte: www.mar. Lancha da CPRN faz a contenção durante a operação de combate ao incêndio mil.br)

MB RESGATA VÍTIMA DE PICADA DE COBRA

O Comando do 6o Distrito Naval (Ladá- rio-MS) encaminhou, em 13 de novembro último, uma aeronave do 4o Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-4) à Fazenda Santa Mônica, localizada a 200 km de Corumbá (MS), para resgatar Mario Lino Velasquez Rodrigues, de 28 anos, vítima de picada de cobra. Durante todo o voo, a vítima foi acom- panhada por um médico da Marinha do Bra- sil (MB), que prestou os primeiros socorros. Assim que a aeronave pousou, o resgatado Resgate realizado por aeronave do HU-4

290 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

foi levado por ambulância do Serviço de Somente neste ano, a MB realizou 15 Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Evams na área do 6o Distrito Naval, den- a hospital da cidade. A Evacuação Aero- tre as quais resgatando quatro vítimas de médica (Evam) durou aproximadamente picada de cobra. duas horas. (Fonte: www.mar.mil.br)

AvHoFlu CARAVELAS SINALIZA NAUFRÁGIO DE NAVIO BOLIVIANO E LOCALIZA BALSA DESAPARECIDA

O Aviso Hidroceanográfico Fluvial (AvHoFlu) Caravelas sinalizou com um farolete provisório, em 28 de setembro último, o naufrágio do Rebocador TNR 12, da Armada boliviana, que estava encalhado e emborcado no km 1.347 do Rio Paraguai, nas proximidades da Ilha dos Bugres. Com o uso de Side Scan Sonar, instalado na Lancha de Sondagem Joaninha, foi localizada, ainda, a balsa que estava sendo rebocada pelo TNR 12 e que se encontrava Instalação do farolete sobre o casco do desaparecida. Rebocador TNR 12 A balsa estava a aproximadamente 100 metros a montante da posição de encalhe do conseguinte, para a salvaguarda da vida rebocador e a 18 metros de profundidade, humana e preservação ambiental nas águas não oferecendo risco à navegação. de jurisdição do Comando do 6o Distrito Dessa forma, o Caravelas contribuiu Naval (Ladário-MS). para a segurança da navegação e, por (Fonte: www.mar.mil.br)

HELIBRAS INICIA CONSTRUÇÃO DE CENTRO DE TREINAMENTO E SIMULADORES NO RJ

Como parte do contrato do projeto H-XBR, firmado com o Ministério da Defesa para fornecimento dos helicópteros EC725 às Forças Armadas com treinamen- to e suporte, a Helibras iniciou a constru- ção, no Rio de Janeiro, de seu novo Centro de Treinamento e Simuladores (CTS). Localizada no Bairro Recreio dos Ban- deirantes, a obra tem previsão de conclusão Maquete virtual do Centro de Treinamento e para o primeiro semestre de 2015. Após a Simuladores finalização da estrutura física e eletrome-

RMB4oT/2014 291 NOTICIÁRIO MARÍTIMO cânica do prédio, a Helibras vai instalar de todo o território nacional, desenvolvida um Full Flight Simulator (FFS) capaz de especialmente para os operadores brasilei- realizar treinamento tanto para o modelo ros. A tecnologia tornará os treinamentos militar EC725 quanto para sua versão civil, o mais próximo possível de cada realidade o EC225. O FFS estará disponível a partir operacional, seja para os pilotos do seg- do quarto trimestre de 2015. mento Oil&Gas – com o EC225 –, ou para O CTS contará com o que há de mais os pilotos militares que operam o EC725. moderno em termos de simuladores de A Helibras, única fabricante brasileira voo para helicópteros. O FFS permitirá ao de helicópteros, já entregou desde a sua piloto realizar a sua qualificação de tipo, fundação, em 1978, mais de 750 helicópte- treinamentos recorrentes, treinamentos de ros no País, sendo 70% do modelo Esquilo, situações de emergência, entre outros. O si- fabricado em Itajubá (MG). mulador virá com uma base de dados visual (Fonte: www.helibras.com.br/)

III CONGRESSO NACIONAL DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO PORTUÁRIO E AQUAVIÁRIO

A Diretoria de Portos e Costas (DPC) aposentadoria especial, entre outros temas participou, entre os dias 13 e 16 de outubro úl- de interesse dos trabalhadores. O público timo, do III Congresso Nacional de Segurança participou intensamente dos debates, tirou e Saúde no Trabalho Portuário e Aquaviário, dúvidas e compartilhou suas ideias e anseios. realizado na Universidade do Vale do Itajaí O Capitão de Mar e Guerra Mauro (Univali), em Itajaí, Guimarães Carvalho Santa Catarina. Leme Filho, da Supe- O evento foi coor- rintendência do Ensino denado pela Fundação Profissional Marítimo Jorge Duprat Figuei- da DPC, discorreu so- redo de Segurança e bre a “Responsabi- Medicina do Traba- lidade na Gestão de lho e contou com o Saúde e Segurança no apoio institucional da Trabalho Aquaviário”. DPC. O Congresso Também estiveram promoveu a divulga- presentes ao encontro ção de conhecimentos representantes do Mi- e experiências sobre nistério do Trabalho e segurança e saúde no Emprego, da Organi- trabalho portuário e zação Internacional do aquaviário, além do Trabalho, da Univer- debate de ações que visam melhorar o de- sidade do Vale do Itajaí, da Transpetro, da senvolvimento de trabalho nesses setores. Comissão Permanente Nacional Aquaviária, Em todos os dias houve palestras, debates da Secretaria de Desenvolvimento Regional e apresentações de trabalhos sobre vigilância de Itajaí e de diversas federações e sindicatos em saúde, trabalho da mulher, riscos ambien- de trabalhadores do setor. tais, ergonomia, prática do trabalho em altura, (Fonte: www.mar.mil.br)

292 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO SOBENA 2014

Foi realizado de 10 a 12 de novembro Norueguesa de Ciência e Tecnologia), último, no Centro de Convenções Bolsa do por suas fundamentais contribuições para Rio, o 25o Congresso Nacional de Transpor- a engenharia naval e oceânica em nível te Aquaviário, Construção Naval e Offshore internacional. (Sobena 2014). O evento, promovido a O Sobena 2014 teve os seguintes pa- cada dois anos pela Sociedade Brasileira trocinadores: Transpetro, Sistema Firjan, de Engenharia Naval (Sobena), teve como Grupo Wilson Sons, ABS Classificadora, tema, nesta 25a edição, “Tecnologia para a Estaleiro Vard Niterói, Estaleiro Amazônia, exploração das novas fronteiras marítimas Wartsila do Brasil, Forship Engenharia, e para o desenvolvimento sustentável da Estaleiro Enseada, Lloy’s Register e Gru- indústria naval”. po CBO. Apoiaram o evento: Sindicato O Congresso é o principal e mais tra- Nacional da Indústria da Construção e dicional evento da indústria marítima bra- Reparação Naval e Offshore (Sinaval); sileira. No Sobena 2014, foram realizadas Diretoria de Portos e Costas; Instituto 18 sessões técnicas, com a apresentação de Alberto Luz Coimbra de Pós-Graduação 74 trabalhos. Nos painéis e nas conferên- e Pesquisa de Engenharia da Universidade cias, foram apresentados temas estratégi- Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ); cos para o desenvolvimento da indústria Universidade de São Paulo; Fundação de marítima nacional, tais como: transporte Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Ja- e logística; indústria naval brasileira e neiro; Sindicato Nacional das Empresas de conteúdo local; eficiência energética e Navegação Marítima (Syndarma); revistas redução dos impactos ao meio ambiente; TN Petróleo, Portos e Navios e Intermarket; situação do sistema portuário brasileiro; e portal Fator (internet). e desenvolvimento da engenharia naval militar no Brasil. Em paralelo ao evento, foi realizado o Fórum Estudantil, voltado para os alunos dos cursos de engenharia e tecnologia afins à engenharia naval e oceânica e à área de exploração e produção de petróleo e gás em alto-mar. O propósito foi aproximar os alunos da indústria, e para tal foram apre- sentadas várias tecnologias requeridas nas áreas de projeto, construção e operação e indicadas as diversas atividades de trabalho oferecidas na área. Como reconhecimento e estímulo aos novos talentos, o Sobena 2014 premiou os melhores trabalhos de jovens engenheiros e estudantes. Foi conferido, ainda, o Prêmio Sobena International Award aos professores Hi- saaki Maeda (da Universidade de Tóquio) e Odd Magnus Faltinsen (da Universidade

RMB4oT/2014 293 NOTICIÁRIO MARÍTIMO 11o ENCONTRO DE TECNOLOGIA EM ACÚSTICA SUBMARINA

A Secretaria de Ciência, Tecnologia Nuclear, UFRJ, Universidade Federal e Inovação da Marinha (SecCTM), por Fluminense, Universidade Federal Rural meio do Instituto de Pesquisas da Marinha do Rio de Janeiro, Universidade Federal de (IPqM), promoveu, entre os dias 3 e 5 de Santa Catarina, Universidade de São Paulo, novembro último, o 11o Encontro de Tecno- Centro Federal de Educação Tecnológica logia em Acústica Submarina (XI Etas). O Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), Uni- evento, realizado na Universidade Federal versidade Federal da Bahia, Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), propiciou o in- Federal de Santa Maria, Instituto de Pesqui- tercâmbio entre integrantes da comunidade sas Tecnológicas, Institut d’Electronique de científica, da Marinha do Brasil (MB) e de Microelectronique et de Nanotechnologie empresas na área de Acústica Submarina e (França), Universidade de Algarve (Por- seus segmentos, dando ênfase aos aspectos tugal), Universidad de Las Islas Baleares de especial interesse à MB. (Espanha) e as empresas Thales e Wave Organizado pela MB em parceria Tech. Essa variedade de participantes fo- com o Instituto Alberto Luiz Coimbra de mentou as discussões técnicas de qualidade Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia e o intercâmbio de informações. (Coppe/UFRJ), o encontro alcançou o O XI Etas integrou o calendário de maior número de artigos submetidos em atividades 2014 da SecCTM e faz parte sua história, gerando a realização de uma de um projeto que busca o aprimoramento concorrida sessão de pôster, até então tecnológico, oriundo da aplicação do co- inexistente. Foram abordados os seguin- nhecimento científico em áreas estratégicas tes temas: Engenharia de Equipamentos da MB, entre elas a de Acústica Submari- Acústicos Submarinos, Geoacústica, na. Nesse contexto, a SecCTM criou uma Oceanografia Acústica, Posicionamento Gerência de Acústica Submarina e tem Acústico, Propagação Acústica Subma- estimulado a interação entre pesquisado- rina, Processamento de Sinais Acústicos res de diferentes instituições nacionais e Submarinos e Sistemas Sonar. estrangeiras nessa área de conhecimento. Nessa edição, a tradicional reunião (Fonte: www.mar.mil.br) científica foi marcada pela participação de represen- tantes de organizações do meio acadêmico e do setor produtivo, que pesquisam ou atuam em atividades de Acústica Submarina, tais como: IPqM, Instituto de Estudos dos Mar Almirante Paulo Moreira, Escola de Guerra Naval, Coordena- doria-Geral do Programa de Desenvolvimento de Submarino com Propulsão Foto oficial do XI Etas

294 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO XVI REUNIÃO ANUAL DA REDE de Bibliotecas Integradas da Marinha

Foi realizada em 23 de outubro último, no auditório do Museu Naval (Rio de Janeiro -RJ), a XVI Reunião Anual da Rede de Bi- bliotecas Integradas da Marinha (Rede BIM). O encontro, aberto pelo diretor do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), Vice-Almirante (Re- o f -EN) Armando de Ângela Bettencourt apresentando a Hemeroteca Digital Senna Bittencourt, teve o propósito de promover a troca de experiências entre os Biblioteca Nacional, ministrada pela profissionais das 46 bibliotecas das OM coordenadora da Biblioteca Nacional Di- (Organizações Militares) que compõem a gital, Ângela Bettencourt. Também foram Rede BIM, a fim de disseminar os conhe- apresentadas as práticas das bibliotecas cimentos imprescindíveis à manutenção e do Tribunal Marítimo, do Instituto de ao desenvolvimento da Rede. Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira Um dos destaques do evento foi a e da Escola de Guerra Naval. Além disso, palestra sobre a Hemeroteca Digital da houve explanação sobre o site da Revista

CC (T) Leniza, coordenadora da Reunião Assinatura do Acordo de Cooperação Técnica

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Marítima Brasileira (RMB). Encerrando va, foram digitalizadas mais de 150 mil a reunião, foi realizado workshop com as páginas pela FBN, sem custos para a MB, novas funcionalidades da Rede. representando uma economia de cerca de Na ocasião, foi assinado, ainda, termo 600 mil reais. Como contrapartida, a FBN de Acordo de Cooperação Técnica da continuará disponibilizando a coleção da DPHDM com a Fundação Biblioteca Na- RMB em sua Hemeroteca Digital. O conteú- cional (FBN), que beneficiou a Marinha do do digital e impresso da RMB será mantido Brasil (MB) com a digitalização da coleção pelas duas instituições, promovendo mais da RMB, desde sua primeira edição, em acessos às informações e visibilidade para 1851, até o ano de 2012. Com a iniciati- o acervo raro e precioso da MB.

DEBATES SOBRE HISTÓRIA MILITAR NO MUSEU NAVAL

O Museu Naval, na cidade do Rio de Silva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi sede, nos dias 24 e 30 de se- Janeiro (UFRJ) e estudioso em História Mi- tembro último, do VI Ciclo de Estudos e litar, atraíram pesquisadores e universitários Pesquisas em História Militar e do II En- à sede da Diretoria do Patrimônio Histórico e contro de Historiadores Militares, realizados Documentação da Marinha (DPHDM). simultaneamente. Sob o tema “Diálogos e No dia 24, o evento foi aberto com a aproximações: os estudos sobre a guerra, os conferência “Reflexões e perguntas sobre militares e as instituições militares no Brasil”, a Guerra do Paraguai”, pelo Professor os historiadores Francisco Doratioto, da Uni- Doutor Francisco Doratioto. À tarde, foram versidade de Brasília e especialista na Guerra realizadas as seguintes mesas redondas: do Paraguai, e Francisco Carlos Teixeira da “Instituições militares de produção de conhecimento histórico: espaços de pes- quisa e produção em História Militar”, com o Capitão de Corveta Carlos André Lopes da Silva (DPHDM e Laboratório de Estudos sobre os Militares na Políti- ca-Lemp) e o Capitão Alcemar Ferreira Junior (Arquivo Histórico do Exército); e “Guerras, estudos estratégicos e re- lações internacionais”, com Eurico de Lima Figueiredo (Universidade Federal Fluminense-UFF) e o Capitão de Mar e Guerra Francisco Eduardo Alves de Almeida (Escola de Guerra Naval). No dia 30, as mesas redondas ver- saram sobre os temas “A guerra nos estudos da Antiguidade e do Medievo”, por Paulo André Leira Parente (Uni- versidade Federal do Estado do Rio de Janeiro-Unirio) e Manuel Rolph Cabe- ceiras (UFF); e “Militares e instituições

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militares: abordagens da histórica política e los Teixeira (UFRJ e Instituto Universitário social”, por Adriana Barreto de Souza (Uni- de Pesquisas do Rio de Janeiro). versidade Federal Rural do Rio de Janeiro), A organização do evento ficou a cargo da Celso Castro (Fundação Getúlio Vargas) e DPHDM (Capitão de Fragata Pierre Paulo de Wagner Bueno (DPHDM e Lemp). “Guerra, Cunha Castro) e do Instituto de Geografia e militares e instituições militares: diálogos e História Militar do Brasil-IGHBM (Professor aproximações” foi o tema da Conferência de Renato Jorge Paranhos Restier Junior). O Encerramento, proferida por Francisco Car- apoio foi da Capemisa e da Poupex.

WORKSHOP “DISSEMINANDO O DIREITO MARÍTIMO” E LANÇAMENTO DO LIVRO 80 ANOS DO TRIBUNAL MARÍTIMO 1934-2014

Foi realizada, em 15 de outubro último, da Marinha, Almirante de Esquadra Julio a IV Edição do workshop “Disseminando Soares de Moura Neto. o Direito Marítimo”. Na ocasião, foi tam- Além de debates, foram proferidas as bém lançado o livro 80 anos do Tribunal seguintes palestras: “A estrutura organiza- Marítimo 1934-2014, encerrando as come- cional da Autoridade Marítima”, pelo Juiz morações do octogésimo Sergio Bezerra de Matos, aniversário do órgão. O do TM; “A importância evento, uma realização do do novo Código de Pro- Tribunal Marítimo (TM), cesso Civil para o Tribunal aconteceu no Plenário do Marítimo”, pela Advogada Tribunal, na cidade do Rio Mônica Júdice; “O Tribu- de Janeiro, e contou com nal Marítimo como órgão a presença de renoma- auxiliar do Poder Judiciá- dos especialistas da área rio e a importância de suas do Direito Marítimo. O decisões”, pelo Advoga- workshop foi aberto pelo do Osvaldo Sammarco; presidente do TM, Vice “Relação entre Processo -Almirante (RM1) Marcos no Tribunal Marítimo e Nunes de Miranda, e con- Reparação Civil”, pelo tou com a presença de re- Professor Luiz Roberto presentantes dos principais Leven Siano, presidente do escritórios de advocacia Instituto Ibero-Americano do Brasil, de renomados de Direito Marítimo; “O especialistas, acadêmicos prédio do Tribunal Marí- e profissionais que atuam timo no contexto histórico direta e indiretamente na da Praça XV de Novem- área do Direito Marítimo, além de auto- bro”, pelo Historiador Milton Teixeira; ridades navais, como o Vice-Almirante e “A responsabilidade do transportador Cláudio Portugal Viveiros, diretor de Por- marítimo nas convenções internacionais e tos e Costas, representando o comandante no ordenamento jurídico brasileiro”, pelo

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Advogado Arthur Carbone, presidente da Procuradoria Especial da Marinha (PEM), Associação Brasileira de Direito Marítimo. Vice-Almirante (Refo) Rui da Fonseca Elia. Em sua 4a edição, o evento já é consi- O evento teve os seguintes patrocina- derado uma referência na área do Direito dores: Amaggi, Transpetro, Wilson Sons, Marítimo do País. Na ocasião, os primeiros Aliança, Companhia de Navegação Norsul, exemplares da obra comemorativa dos Emgepron, Fundação de Estudos do Mar 80 anos do Tribunal foram entregues ao e Login. Vice-Almirante (Refo) Luiz Augusto Cor- (Fontes: Bono no 713, de 13/10/2014, e reia, ex-presidente do TM, e ao diretor da www.mar.mil.br/tm)

SÃO PAULO BOAT SHOW 2014 O Transamérica Expo Center, na cidade empresa, o Sea Bright, possui projeto ori- de São Paulo, transformou-se, entre 25 e ginal de 1930, todo construído em madeira, 30 de setembro último, em uma “marina com 38 pés e motorização única a diesel, seca” ao abrigar a 17a edição do São Paulo valorizando a tendência de fuel efficiency. Boat Show, maior salão náutico indoor da Já a Garmin Brasil, líder global em América Latina. Mais de cem expositores navegação por satélite, apresentou seus nacionais e internacionais mostraram últimos lançamentos tecnológicos para mais de 200 barcos de diversos tamanhos facilitar a vida dos esportistas marítimos. e preços, além de equipamentos, motores Durante o evento, a marca debutou com as e acessórios. linhas de sondas echo e a nova série echodv, Pelo espaço de 40 mil m2, circularam a tecnologia Downvü, além das linhas de cerca de 40 mil pessoas, entre executivos, GPS e GPS Portátil, o tablet Monterra e a empresários, profissionais liberais e espor- câmera de ação Virb. tistas. Para exibir seus produtos e realizar No setor de estaleiros, o Azimut Yachts negócios, os expositores dividiram-se nos lançou um modelo fabricado exclusiva- seguintes setores: shopping náutico; lojas, mente no País, a Azimut 42, e anunciou o motores, acessórios e moto aquática; esta- início da produção no Brasil da premiada leiro nacional; e estaleiros e importadores. Azimut 80, embarcação de 80 pés, a partir Também destacou-se mais uma vez o Espa- de 2015. Em relação à temporada anterior, ço dos Desejos. A área de 3 mil m2, que já se houve um acréscimo de mais de 70% nas tornou um ponto de encontro dos amantes vendas de embarcações novas e semino- da sofisticação, contou com a presença de vas – o que corresponde a mais de 50 iates marcas que representam luxo e glamour. vendidos durante o ano e um aumento na Entre as novidades, estava a Vintage produção de mais de 80% no que se refere Boats, especializada em marcenaria naval, à dimensão dos iates. e voltada para o restauro e execução de O São Paulo Boat Show 2014 teve o projetos especiais de embarcações de es- patrocínio da revista Náutica e da Petrobras tética vintage. A marca pretende atender BR e apoio da Associação Brasileira dos ao mercado brasileiro dentro da proposta Construtores de Barcos e seus Implementos de recuperar não só a estética das embar- (Acobar). cações, mas também a navegabilidade e (Fontes: www.boatshow.com.br e Intel- a segurança. O primeiro lançamento da ligenzia Comunicação)

298 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO VIII SEMINÁRIO BRASILEIRO SOBRE ÁGUA DE LASTRO

O Instituto de Es- tudos do Mar Almi- rante Paulo Moreira realizou de 10 a 12 de novembro último, no Hotel de Trânsito A Ressurgência, em Arraial do Cabo (RJ), o VIII Seminário Bra- sileiro Sobre Água de Lastro (Sbal). O propósito do evento foi discutir e divulgar a implementação de O Seminário reuniu 190 participantes de 27 países, além do Brasil, e mais de 84 instituições públicas, privadas e de ensino procedimentos para o controle da introdu- ção de espécies invasoras, via água de las- as várias partes internacionais envolvidas ou tro, e os sistemas de tratamento aprovados com interesses no projeto. pela Organização Marítima Internacional O uso da água de lastro é fundamental (IMO) – órgão da Organização das Nações para a segurança do transporte aquaviário Unidas (ONU). e faz parte de seu procedimento operacio- Participaram do seminário pesquisado- nal, servindo para controlar o calado e a res nacionais e internacionais representan- estabilidade do navio, de forma a manter tes do Programa GloBallast Partnership as tensões estruturais do casco dentro de da IMO; de empresas de sistemas de limites seguros. A água de lastro é então tratamento de água de lastro e de insti- utilizada pelos navios para compensar a tuições marítimas, portuárias, ambientais perda de peso decorrente do desembarque e sanitárias do Brasil, além de represen- de cargas. tantes da Autoridade Marítima Brasileira Juntamente com a água de lastro, são e das autoridades marítimas de países das capturados pequenos organismos que po- Américas, da Europa, da Ásia e da África. dem acabar sendo transportados e introdu- Simultaneamente, foi realizada a reu- zidos em outro porto na rota de navegação. nião da Rede de Estudos Avançados de As principais consequências negativas da Limnoperna Fortunei (Realf), grupo de introdução de espécies exóticas e nocivas pesquisadores brasileiros envolvidos nos incluem: o desequilíbrio ecológico das estudos de controle e manejo do molusco áreas invadidas, com a possível perda de invasor conhecido como mexilhão dourado. biodiversidade; prejuízos em atividades O VIII Sbal e o Programa GloBallast econômicas utilizadoras de recursos Partnership reuniram 190 participantes de 27 naturais e consequente desestabilização países, além do Brasil, e mais de 84 institui- social de comunidades tradicionais; e a ções públicas e privadas, além de instituições disseminação de enfermidades em popu- de ensino. A ideia do encontro foi a promoção lações costeiras, causadas pela introdução de um fórum de consulta e comunicação entre de organismos patogênicos.

RMB4oT/2014 299 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Já existem regis- tros de bioinvasão por meio da água de lastro espalhados pelo mundo inteiro. No Brasil, um exemplo é justamente o me- xilhão dourado, es- pécie nativa de rios e arroios chineses e do sudeste asiático que entrou em águas sul -americanas por meio da água de lastro. Po- de-se citar também a introdução, supos- tamente ocasionada por incrustação em Diretor do IEAPM, Contra-Almirante Oscar Moreira da Silva Filho, plataformas de petró- e demais autoridades participantes leo, de duas espécies exóticas de corais, a Tubastraea coccínea e a Tubastraea tagusen- (Fontes: Bono no 713, de 13/10/2014, sis, conhecidas popularmente por coral-sol. www.mar.mil.br e www.ieapm.mar.mil.br)

SEMINÁRIO de OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO DA PAZ E AÇÕES HUMANITÁRIAS

A Marinha do Brasil, por meio do Co- Na abertura do evento, o comandante mando do Desenvolvimento Doutrinário do da Marinha exaltou a importância da Corpo de Fuzileiros Navais (CDDCFN), iniciativa da Unasul: “Tenho certeza de realizou de 17 a 19 de novembro último, que a presença dos senhores e senhoras na cidade do Rio de Janeiro, o Seminário permitirá um valoroso intercâmbio das de Operações de Manutenção da Paz e experiências acumuladas por nossos países Ações Humanitárias: Lições Aprendidas em operações de paz e humanitárias, contri- e Perspectivas. O evento foi aberto pelo buindo para um seminário com excepcional comandante da Marinha, Almirante de relevância e qualidade, compatível com Esquadra Julio Soares de Moura Neto. as aspirações da União de Nações Sul- A finalidade do seminário foi compar- Americanas”. tilhar informações e experiências de cada A Unasul é uma organização intergover- país-membro da União de Nações Sul-A- namental composta pelos 12 países da Amé- mericanas (Unasul) sobre os referidos te- rica do Sul, que, por meio do seu Conselho mas, a fim de contribuir para o preparo das de Defesa, participou do seminário enviando Forças para essas missões e para o fomento dois representantes de cada nação. O Brasil, de medidas de confiança mútua. na qualidade de anfitrião, foi representado por

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dois representantes de cada Força e dois do e militares atuantes no segmento em tela, Ministério da Defesa, além de observadores debates, demonstrações de ações realizadas da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em operações de paz e mostruário de meios convidados pelo CDDCFN. A programa- utilizados em tais atividades. ção do seminário incluiu palestras de civis (Fonte: www.mar.mil.br)

Comandante da Marinha e demais autoridades participantes do seminário INFORMAR 2014 Foi realizado de 14 a 16 de outubro Centro de Instrução Almirante Alexandrino, último, na Escola de Guerra Naval (Rio de do Centro de Tecnologia da Informação da Janeiro-RJ), o VIII Simpósio de Tecnologia Marinha e da própria DCTIM. da Informação e Comunicações da Marinha (Fonte: www.mar.mil.br) – Informar 2014. O evento foi promovido pelo Estado-Maior da Armada, sob a su- pervisão da Diretoria-Geral do Material da Marinha, organizado pela Diretoria de Comunicações e Tecnologia da Informa- ção da Marinha (DCTIM) e teve como tema principal “Integração e Sinergia – todos no mesmo barco melhorando os resultados da Tecnologia da Informação na Marinha do Brasil”. Participaram do Informar 2014 pa- lestrantes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, do Ministério da Defesa, do Exército Brasileiro, da Força Aérea Brasileira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Comando de Operações Navais, do Diretor-Geral do Material da Marinha, Almirante de Esquadra Luiz Centro de Análise de Sistemas Navais, do Guilherme Sá de Gusmão, durante a abertura do Informar 2014

RMB4oT/2014 301 NOTICIÁRIO MARÍTIMO SIMPÓSIO “A GRANDE GUERRA (1914-1918): UMA (RE)VISÃO DESDE O BRASIL”

As diferentes perspectivas acerca da novembro último, no Museu Naval (Rio Primeira Guerra Mundial, que comple- de Janeiro-RJ), organizado por Diretoria tou cem anos de sua deflagração, foram do Patrimônio Histórico e Documentação abordadas no simpósio “A Grande Guerra da Marinha (DPHDM), Escola de Guerra (1914-1918): uma (re)visão desde o Bra- Naval, Universidade Federal do Rio de sil”. O evento foi realizado em 5 e 6 de Janeiro, Universidade Cândido Mendes e pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. No primeiro dia, foram realizadas duas mesas-redondas: “A Grande Guerra e as novas tecnologias”, tendo como exposito- res o Vice-Almirante (Refo-EN) Armando de Senna Bittencourt (diretor da DPHDM) e o Capitão de Mar e Guerra José Augusto de Moura; e “O Brasil e a América Latina na Grande Guerra”, com a participação do Capitão de Mar e Guerra (RM1) Francisco Eduardo Alves de Almeida e dos professo- res doutores Fernando Luiz Vale Castro e Fernando Rodrigues. No dia de encerramento, houve mais duas mesas-redondas: “Revisões e reinterpretações da Grande Guerra”, com as explanações dos professores doutores Francisco Carlos Teixeira e Guilherme Moerbeck; e “O legado persistente da Grande Guerra: Europa e Oriente Médio”, com exposição pelo Professor Márcio Scalércio e pelo Pro- fessor Doutor Flávio Limoncic.

SIMPÓSIO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E CULTURAL MILITAR

Foi realizado de 24 a 28 de novembro úl- de Guerra Naval, no Rio de Janeiro (RJ). timo, pela Diretoria do Patrimônio Históri- Paralelamente, foram realizados o IV co e Documentação da Marinha (DPHDM), Encontro de Gestão de Arquivos Militares o I Simpósio do Patrimônio Histórico e Brasileiros e o III Encontro de Profissionais Cultural Militar do Ministério da Defesa. de Bibliotecas Militares Brasileiras, que ti- O evento aconteceu no auditório da Escola veram como tema central “Acesso e uso da

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informação – parceria governo-sociedade”. li, da Universidade Estadual de Campinas; Organizados em caráter de revezamento “Acesso à informação: premissas e requisi- pelas Forças Armadas, os encontros desta tos”, pela Capitão de Mar e Guerra (RM1) edição ficaram a cargo da Marinha do Maria Rosângela da Cunha, da Empresa de Brasil (MB). Gestão de Documentos ISSX; “Biblioteca Nos eventos, foram apresentadas pales- Nacional Digital”, por Angela Monteiro tras de representantes das Forças Armadas, Bettencourt, da FBN; “A importância da de várias universidades, do Ministério da informação para as organizações”, por Defesa (MD), da Fundação Biblioteca Miraildes Alves Regino, do MD; e “Gestão Nacional (FBN), da Empresa de Gestão e acesso à informação – o patrimônio docu- de Documentos, do Conselho Regional de mental brasileiro às margens do Rio Lethe”, Biblioteconomia da 7a Região, da Procu- por Ricardo M. Pimenta. radoria Geral do Estado do Rio de Janeiro, “Direito à informação: política de uso e do Arquivo Nacional, do Comando da acesso” foi o assunto da segunda temática, Aeronáutica, da Empresa Extra Libris e de abordado nas seguintes palestras: “Parceria outras instituições. para o Governo Aberto: compromisso do O Simpósio foi aberto pelo secretário- Arquivo da Marinha com a sociedade brasi- geral do Ministério da Defesa, Ari Matos leira”, pela Capitão de Fragata (T) Cláudia Cardoso, que compôs a mesa juntamente Drumond do Nascimento, da DPHDM; com o diretor do Patrimônio Histórico e “Perspectivas e cenários político-jurídicos Documentação da Marinha, Vice-Almi- para os arquivos federais”, pelo Professor rante (EN) Armando de Senna Bittencourt, Doutor José Maria Jardim, da Universi- e com os representantes do Comando do dade Federal do Estado do Rio de Janeiro Exército, do Comando da Aeronáutica, do (Unirio); “O livro como patrimônio histó- Arquivo Nacional e da Fundação Biblioteca rico-cultural e a biblioteca como espaço Nacional. As palestras foram divididas em de memória, acesso e uso da informação”, quatro temáticas (uma a cada dia). pelo Professor Doutor Marcos Miranda, do Na primeira temática, “Gestão da Infor- Conselho Regional de Biblioteconomia da mação Governamental”, foram proferidas 7a Região; “Bibliotecas de Memória – uma as seguintes palestras: “Um panorama sobre abordagem sobre o caso PGE-RJ”, por a preservação de coleções da Biblioteca Thiago Cirne, da Procuradoria Geral do Nacional”, por Jayme Spinelli, da FBN; Estado do Rio de Janeiro; “Projeto Acervo “Preservação de documentos digitais”, pelo Santo Dumont – a importância do tratamen- Professor Doutor Humberto Celeste Innarel- to documental para a garantia do acesso”,

RMB4oT/2014 303 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

pela Segundo-Tenente (Aqv) Barbara para compartilhar”, por Ana Maria Pavani, Cristina Barbosa Pinto da Silva; e “Rumo da Pontifícia Universidade Católica do Rio a uma cultura de acesso à informação: a de Janeiro; e “Que me dizem da verdade? Lei no 12.527/2011”, por Marília Andrade Sociedade e Mediação”, pelo Professor Fidalgo, do MD. Laffayete Alvarez Junior, da Unirio. No terceiro dia do encontro, o foco foi A temática do último dia do evento foi a temática “Compartilhamento e dissemi- “Tecnologia como ferramenta de acesso nação da informação”, com as palestras: à informação”, com a apresentação das “O papel dos arquivos na implementação seguintes palestras: “Os repositórios arqui- da Lei de Acesso à Informação”, por Jaime vísticos digitais confiáveis como política Antunes, do Arquivo Nacional; “Implanta- para o acesso à informação”, por Daniel ção do Sistema Eletrônico de Informação Flôres, da Universidade Federal de Santa no Ministério da Defesa”, por Nilsa Paulo Maria; “As dimensões da ciência aberta”, Azevedo, do MD; “Acesso aberto e o por Fabiano Caruso, da empresa ExtraLi- papel das instituições e ensino superior e bris; e “O Brasil Global e a Sociedade em de pesquisa”, pela Professora Doutora Si- Rede”, por Gil Giardelli. mone Weitzel, da Unirio; “Indicadores de O Simpósio foi encerrado com a leitura produção intelectual em Defesa”, pela Te- das moções e a entrega de certificados. nente-Coronel (RM1) Jaqueline Barradas, (Fontes: Bono no 790, de 10/11/2014 e do Comando da Aeronáutica; “Preservar www.defesa.gov.br)

AgARACATI FORMA PESCADORES PROFISSIONAIS

A Agência da Capitania dos Portos em Martins da Costa, e contou com a presença Aracati – AgAracati – (CE) formou, em 9 de autoridades civis da localidade. de setembro e em 23 de outubro últimos, Após a entrega dos certificados e das duas turmas do Curso de Formação de Carteiras de Inscrição e Registro aos novos Aquaviários-Pescador Profissional Nível pescadores, estes agradeceram pela oportuni- 1 (CFAQ-III C/M N1). dade do curso proporcionado pela Marinha do Em setembro, formaram-se 60 alunos da Brasil, que contribui não só para a capacitação comunidade da Praia do Canto Verde, do profissional do brasileiro, mas para reforçar os município cearense de Beberibe. Já em outubro, concluíram o curso 150 alunos de Icapuí, também no Ceará. Nesta última ocasião, a cerimônia e entrega dos certifica- dos foi presidida pelo agente da Capitania dos Portos em Araca- ti, Capitão-Tenente (AA) Marcos Roberto Novos pescadores profissionais

304 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO

Turma com os certificados de conclusão do curso

laços de amizade e respeito profissional entre litação 1, para o exercício da capacidade a Força e a comunidade marítima. exclusiva na função de pescador, a ser O curso tem o propósito de habilitar o desempenhada em embarcação de pesca aluno para as competências exigidas para de qualquer tipo e porte, empregada em inscrição de aquaviário na categoria de qualquer tipo de navegação. pescador profissional, no nível de Habi- (Fonte: www.mar.mil.br)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS MARÍTIMOS DA EGN

A Escola de Guerra Naval (EGN), por a ampliação do conhecimento acadêmico meio de seu Centro de Estudos Político-Es- marítimo em áreas de interesse do poder tratégicos (Cepe), abriu processo seletivo marítimo e da defesa nacional. O curso é para ingresso no Programa de Pós-Gra- homologado pela Coordenação de Aperfei- duação em Estudos Marítimos (PPGEM), çoamento de Pessoal de Nível Superior do Stricto Sensu – Mestrado Profissional, Ministério da Educação (Capes), tem carga com início em 2015 (Turma 2015). Pode- horária de 360 horas presenciais e duração rão se inscrever candidatos que possuam prevista de dois anos letivos. graduação completa, em qualquer curso Mais informações sobre o edital, vagas, reconhecido pelo Ministério da Educação. processo seletivo e corpo docente poderão O curso tem como proposta preparar ser visualizadas na página http://www. quadros civis e militares, com ênfase no ppgem.egn.mar.mil.br. Informações adi- campo marítimo, a fim de contribuir para o cionais poderão ser obtidas pelos telefones aperfeiçoamento da capacitação de pessoal 8121-9177 (Retelma) ou 2546-9177. especializado e fomentar pesquisas para (Fonte: www.mar.mil.br)

RMB4oT/2014 305 NOTICIÁRIO MARÍTIMO ATLETAS DE ALTO RENDIMENTO SÃO INCORPORADOS À MB

Foram incorporados à Marinha do Bra- lim), que visa à preparação de equipes sil (MB), em 14 de novembro último, 51 militares brasileiras para compor a dele- atletas de alto rendimento pertencentes à gação dos 6os Jogos Mundiais Militares, Reserva de 2a Classe em 2015, na Coreia da Marinha (RM2). do Sul, e também A cerimônia de con- contribuir para o de- clusão do Estágio de senvolvimento do Habilitação para Pra- desporto nacional no ças e Estágio de Apli- atual ciclo olímpico, cação para Praças foi com a participação realizada no Centro dos atletas nos Jogos de Educação Física Olímpicos Rio 2016. Almirante Adalberto Dentre os mili- Nunes (Cefan), no Rio tares incorporados, de Janeiro (RJ), com Cerimônia de incorporação estão alguns nomes os atletas militares que se destacam no fazendo o Juramento à Bandeira Nacional. cenário do esporte nacional, como a atle- A cerimônia encerrou um ciclo de ati- ta Terceiro-Sargento RM2-EP Kahena vidades intensas, com duração de 45 dias, Kunze, que faz parceria com Martine destinado à adaptação dos novos atletas Grael na vela, e a Terceiro-Sargento à vida militar e à formação militar naval. RM2-EP Fabiana Beltrame, destaque no A incorporação desses atletas integra remo olímpico. o Programa Olímpico da Marinha (Pro- (Fonte: www.mar.mil.br)

RESULTADOS ESPORTIVOS

22o CAMPEONATO MUNDIAL MILI- (Categoria 67 kg), 3o SG Fernanda Mattos TAR DO CISM DE TAEKWONDO (Categoria 49 kg), 3o SG Douglas Marcelino Atletas da Marinha do Brasil (MB) con- (Categoria 87 kg) e 3o SG Felipe Kenji (Ca- quistaram oito das 12 medalhas obtidas pela tegoria 63 kg); Bronze – 3o SG Talisca Reis Seleção Brasileira Militar de Taekwondo (Categoria 53 kg), 3o SG Rafaela Araújo na competição, realizada de 14 a 21 de (Categoria 57 kg). O 3o SG Luiz Ricardo, agosto em Teerã, no Irã. Na colocação da Categoria Principal (Faixa Preta), con- geral, o Brasil conquistou o 3o lugar. O quistou a inédita Medalha de Bronze no Terceiro-Sargento (RM2-EP) Henrique “Ponsae” (equivalente ao “Kata” do karatê). Precioso de Moura foi eleito o melhor atleta masculino do Mundial Militar. CAMPEONATO MUNDIAL SÊNIOR Os resultados foram os seguintes: Ouro DE LUTA OLÍMPICA – 3o SG Henrique Precioso de Moura (Ca- Realizado de 6 a 14 de setembro em tegoria 74 kg); Prata – 3o SG Debora Nunes Tashkent, no Uzbequistão. A 3o SG (RM-

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2-EP) Aline da Silva Ferreira conquistou destacaram nas competições de vela ao o 2o lugar na Categoria 75 kg. Esta foi a longo do ano. primeira medalha conquistada pelo País em campeonato mundial nesta modalidade. XII REGATA DE REMO EM ESCA- LER DO CFN CAMPEONATO MUNDIAL DE O Batalhão de Engenharia de Fuzilei- VELA ros Navais (BtlEngFuzNav) venceu a XII A 3o SG (RM2-EP) Martine Soffiatti Regata de Remo em Escaler do Corpo de Grael conquistou a Medalha de Ouro na Fuzileiros Navais (CFN), realizada em 9 Classe 49erFX. A competição aconteceu de novembro, na Lagoa Rodrigo de Freitas de 8 a 21 de setembro em Santander, na (foto abaixo). A 1a colocação foi obtida Espanha. Com esse resultado, a 3o SG Mar- pelo segundo ano consecutivo, na modali- tine Grael, que fez dupla com a atleta civil dade Remo de Combate. Kahena Kunze, garantiu a única medalha do Brasil no campeonato.

PRÊMIO INTERNATIONAL SAI- LING FEDERATION (ISAF) ROLEX WORLD SAILOR OF THE YEAR 2014 A 3o SG Martine Grael e a Grumete Kahena Kunze foram premiadas como velejadoras do ano em cerimônia realiza- da em Palma de Mallorca, Espanha, em 4 de novembro, por terem conquistado o Campeonato Mundial de Vela da Classe 49erFX. O prêmio, criado em 1994, é o reconhecimento da Isaf aos atletas que se

MB E UNIVERSIDADE DE LISBOA FIRMAM ACORDO DE COOPERAÇÃO

A Escola de Guerra Naval (EGN) e o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políti- cas (ISCSP), da Universidade de Lisboa, celebraram, em 2 de outubro último, em Lisboa, Portugal, Acordo de Cooperação Acadêmica e Intercâmbio Técnico. O documento prevê o intercâm- bio acadêmico e técnico na área de Estudos Marítimos, compreendendo investigação Participantes da celebração do Acordo de Cooperação

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científica, formação e docência; cooperação Guerra (RM1) Francisco Eduardo Alves de técnica; intercâmbio de pessoal docente e Almeida, representante da EGN. Estiveram estudantes de graduação e pós-graduação e presentes ao ato docentes da Universidade realização de pesquisas e projetos conjuntos. de Lisboa, dentre os quais o Vice-Almi- Assinaram o convênio o Professor rante Antonio Manuel da Silva Ribeiro, da Doutor Manuel Augusto Meirinho Martins, Armada portuguesa, professor do ISCSP. presidente do ISCSP, e o Capitão de Mar e (Fonte: www.mar.mil.br)

VF-1 REALIZA EXERCÍCIO DE LANÇAMENTO DE BOMBAS EM NATAL O Esquadrão VF-1 lançou, em 24 e 25 a prontidão das três aeronaves e o empenho de novembro último, 120 bombas de exer- do Destacamento Aéreo Terrestre em muni- cício, durante treina- ciamento e prontifica- mento de emprego ção dos meios aéreos. ar-solo – quando o Dando continuidade objetivo é atingir al- à missão, no dia 27 vos em terra. O lan- do mesmo mês, pela çamento foi feito a primeira vez desde sua partir da Base Aérea criação, o VF-1 lançou, de Natal (RN). a partir das aerona- Durante as mano- ves N-1004 e N-1021, bras, que contribuí- duas bombas aéreas, ram para a qualifica- com 230 kg de carga ção e o adestramento Aeronave do VF-1 explosiva, aumentando de dez aviadores na- consideravelmente sua vais, foram realizados 21 lançamentos de capacidade de combate e demonstrando o voo no Estande de Tiro de Maxaranguape, preparo da Força Aeronaval. em curto espaço de tempo, demonstrando (Fonte: www.mar.mil.br)

CAPITANIA FLUVIAL DE TABATINGA APOIA ENEM NO ALTO SOLIMÕES

A Capitania Fluvial de Tabatinga (CFT), subordinada ao Comando do 9o Distrito Na- val (Manaus-AM), apoiou, nos dias 7 e 10 de novembro último, a entrega de malotes das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no município amazonense de Benjamin Constant, a 1.120 quilômetros da capital. O transporte foi realizado na Lancha de Apoio ao Ensino e Patrulha Regional Rio Embarque das provas do Enem em Tabatinga

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Tonantins. Além de possibilitar a entrega os portos dos municípios de Tabatinga e dos malotes, a participação da CFT garantiu Benjamin Constant. a segurança do material no trecho entre (Fonte: www.mar.mil.br)

AMAZUL E FDTE ASSINAM PARCERIA PARA O PROGRAMA DO SUBMARINO NUCLEAR

A Amazônia Azul Tecnologias de nucleares, instalações marítimas, suporte Defesa S.A. (Amazul) e a Fundação e instalações do SN-BR (submarino de para o Desenvolvimento Tecnológico da propulsão nuclear), instalação de proteção Engenharia (FDTE) assinaram, em 5 de física e gestão de emergência, entre outras. setembro último, acordo de parceria para A missão primordial da Amazul, estatal a realização de pesquisa, desenvolvimento constituída em agosto de 2013, é viabilizar e implantação do Projeto Conceitual do o desenvolvimento do submarino de pro- Complexo Radiológico do Estaleiro e Base pulsão nuclear, tecnologia imprescindível Naval (EBN) da Mari- para que o País exer- nha do Brasil, que está ça a soberania plena sendo projetado pelo sobre as Águas Juris- Centro Tecnológico da dicionais Brasileiras. Marinha em São Paulo Para executar seus (CTMSP). projetos e oferecer Nesse complexo, serviços tecnológicos, que a Marinha cons- a Amazul retém, atrai trói em parceria com e capacita recursos a empresa Odebre- humanos de alto nível cht, em Itaguaí, no e busca se associar Rio de Janeiro, serão Assinatura do acordo de parceria com organizações pú- realizadas as etapas blicas e privadas de de construção, montagem, integração, alto nível tecnológico. lançamento, operação e manutenção dos A FDTE é uma organização de notó- novos submarinos. O complexo integra o ria especialização na área de pesquisa e Programa de Desenvolvimento de Subma- desenvolvimento, com mais de 40 anos rinos (Prosub), que está sendo conduzido de experiência nas mais diversas áreas da pela Coordenadoria-Geral do Programa engenharia. Foi criada por um grupo de de Desenvolvimento de Submarino com professores da Escola Politécnica da Uni- Propulsão Nuclear, com apoio do CTMSP versidade de São Paulo (Poli/USP), com o e da Amazul. propósito de promover o desenvolvimento O Complexo Radiológico engloba áreas tecnológico do Brasil. A instituição é reco- em que serão aplicadas normas nacionais e nhecida pela importante contribuição que internacionais de segurança nuclear, daí a tem dado ao País nas questões ligadas ao necessidade de um rigoroso projeto concei- desenvolvimento. Grandes feitos contribuí- tual, anterior às fases seguintes do projeto ram para esse reconhecimento. Nasceu do e de construção do complexo. Essas áreas Laboratório de Sistemas Digitais o histó- compreendem a manutenção de reatores rico “Patinho Feio”, como foi chamado o

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primeiro computador brasileiro, construído os resultados do projeto, surgiram profis- em 1972. Com o patrocínio da Marinha, sionais capacitados, diversas ramificações foi desenvolvido o G10, que se tornou o na difusão do conhecimento e empresas segundo computador genuinamente bra- nacionais para atuarem no setor. sileiro, também criado pela FDTE. Entre (Fonte: www.mar.mil.br)

BASE DE DADOS “MILITARY & GOVERNMENT COLLECTION”

Com a finalidade de promover a difusão contribuintes para a escalada de conflitos e continuada do conhecimento, encontra-se crises. Ao final do Boletim, é apresentada, disponível na página da Escola de Guerra ainda, uma seção com links para artigos Naval (EGN) na intranet a base de dados sugeridos para leitura. “Military & Government Collection”, or- De periodicidade mensal, o Boletim Geo- ganizada pela EBSCO Information System, corrente é elaborado pelo Grupo de Pesquisa uma das maiores empresas privadas dos em Geopolítica Corrente, do Laboratório Estados Unidos da América (EUA). de Simulações e Cenários, subordinado Essa base de dados ao Centro de Estudos Po- reúne mais de 400 títulos litico-Estratégicos daquela de periódicos especia- Escola. O grupo surgiu com lizados e acadêmicos o propósito de discutir o com recursos impor- sistema internacional por tantes para localizar, meio da lente teórica da com rapidez e precisão, Geopolítica, dividindo o pla- resultados de pesquisas neta, para efeito de análise, nas áreas de Defesa, em dez regiões geográficas: Governo e Forças Ar- América do Sul; América madas. Sua cobertura do Norte e Central; África internacional apresenta Subsaariana; Oriente Médio aos pesquisadores uma e Norte da África; Europa; visão ampla de assuntos Rússia e ex-URSS; Sul da relacionados aos altos Ásia; Leste Asiático; Su- estudos militares. deste Asiático e Oceania; e A ferramenta pode ser acessada na Ártico e Antártica. página da EGN/Biblioteca, no link: O Boletim pode ser acessado pela pá- http://www.egn.mb/biblioteca.php, clican- gina da EGN na intranet, no link “Boletim do no ícone “EBSCO Host”. Geocorrente”. Ali também é possível o inte- Outra novidade na EGN foi o início ressado se cadastrar para receber as edições da publicação, em setembro último, do futuras do Boletim via e-mail e encaminhar Boletim Geocorrente, trabalho que contém comentários, críticas e/ou sugestões para análises sucintas de fatos relevantes ocor- aperfeiçoamento desse produto. Após fase ridos no cenário internacional sob a ótica de testes, o Boletim estará disponível tam- da Geopolítica, procurando-se identificar bém na página da EGN na internet. os elementos agravantes, motivadores e (Fonte: Bono no 795, de 12/11/2014)

310 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO SISTEMA DE GERENCIAMENTO DE LEGISLAÇÃO DA MB

Foi desenvolvido pela Diretoria de seus documentos administrativos institu- Administração da Marinha (DAdM) o cionais atualizados. Sistema de Gerenciamento de Legislação Os procedimentos para consulta, ca- da Marinha (LegisMar). O sistema possui dastramento e manutenção do sistema acesso livre e tem como propósitos facili- estão estabelecidos no Boletim Técnico tar consulta às legislações e documentos DAdMBotec 10-002/2012, disponível no administrativos de interesse de todos os site da DAdM na intranet, no caminho setores da Marinha do Brasil (MB) e man- “principal\publicações\boletinstécnicos”. ter um arquivo histórico das informações Informações adicionais podem ser obti- nele inseridas. das na Divisão de Cadastro e Legislação Para que o LegisMar opere de forma ple- (DAdM-11), pelo telefone/Retelma: (21) na, é necessário que todas as Organização 2104-6234/8110-6234. Militares (OM) da Força mantenham nele (Fonte: Bono no 795, de 12/11/2014)

SISTEMA DE INFORMAÇÕES GERENCIAIS DE LOGÍSTICA E MOBILIZAÇÃO DE DEFESA

O Centro de Análises de Sistemas Na- O sistema entregue tem como propó- vais (Casnav) entregou, de 17 a 21 de no- sito ser a ferramenta computacional do vembro último, o Sistema de Informações Sistema de Logística e Mobilização de Gerenciais de Logística e Mobilização de Defesa e do Sistema Nacional de Mobi- Defesa (SIGLMD) à Chefia de Logística lização. Ele será aplicado no Centro de do Estado-Maior Conjunto das Forças Coordenação de Logística e Mobiliza- Armadas do Ministério da Defesa. ção do Ministério da Defesa, integrado às Forças Armadas e a outros órgãos e instituições de interesse, em âmbito nacional, a fim de prover informações confiáveis, adequadas e em tempo real para a tomada de decisão estratégica, interoperando com os sistemas de infor- mações de apoio às funções logísticas das Forças Armadas. (Fonte: www.mar.mil.br)

ETAPA 2 DO PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DO SISPAG

O diretor de Finanças da Marinha, Con- zação do Sispag 2 (Sistema de Pagamento tra-Almirante (IM) Samy Moustapha, assi- do Pessoal da Marinha). Esta etapa visa à nou, em 30 de outubro último, contrato para modernização dos demais módulos do Sis- o início da Etapa 2 do Projeto de Moderni- pag, dentre os quais destacam-se o Sistema

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de Pagamento no Exterior, o Sistema de entre o Sistema de Inativos e Pensionistas Repasses de Benefícios, os módulos Dirf da Marinha (Sipem), gerido pelo SIPM, e (Declaração do Imposto sobre a Renda o Sispag 2, que passou a reunir as informa- Retido na Fonte), Pasep/Rais (Programa ções necessárias à atribuição automática de de Formação do Patrimônio do Servidor/ rubricas de remuneração, sem esquecer das Relação Anual de Informações Sociais), inúmeras e específicas situações de direito com conclusão prevista para o ano de 2016, e regras de cálculo encontradas na base ocasião em que será de dados do Sipem, finalizada a moderni- tais como: anistiados zação do Sistema de políticos, pensionistas Pagamento de Pessoal de ex-combatentes da Marinha. e decisões judiciais, No mês de outubro, entre outras. também foi iniciada a Conforme o cro- implantação gradual nograma de implan- do Sispag 2, contem- tação do Sispag 2, plando o pagamento novas funcionalidades de inativos e pensio- do sistema serão gra- nistas. A entrada em dualmente disponibi- produção do sistema lizadas nos próximos contou com a partici- Autoridades durante a assinatura do contrato meses, em benefício pação do Serviço de dos usuários. Está Inativos e Pensionistas da Marinha (SIPM), prevista também, para início de 2015, além de Organizações Centralizadoras e a entrada em produção, no Sispag 2, Organizações de Apoio e Contato, distri- do pagamento dos militares ativos, con- buídas por todo o território nacional. cluindo, conforme planejamento da Etapa Foi possível constatar o correto funcio- 1 do Projeto de Modernização do Sispag 2, namento das evoluções tecnológicas do o processamento integral da folha de paga- projeto, destacando-se a transmissão auto- mento da Marinha do Brasil. matizada de dados cadastrais e financeiros (Fonte: www.mar.mil.br)

NPa BOCAINA APREENDE BARCOS PESQUEIROS O Navio-Patrulha (NPa) Bocaina, su- A ação ocorreu durante a ação de Pa- bordinado ao Comando do Grupamento trulha e Inspeção Naval, em coordenação de Patrulha Naval do Norte, apreendeu, com agentes do Instituto Brasileiro do Meio em 28 de outubro último, os barcos pes- Ambiente e dos Recursos Naturais Reno- queiros RP Pesca e Serrano II. As embar- váveis (Ibama), na área marítima adjacente cações colocavam em risco a segurança ao litoral do Estado do Pará. da navegação e descumpriam a Lei de As embarcações não possuíam as Segurança do Tráfego Aquaviário (Lesta) documentações regulamentares e nem e a do Defeso da Piramutaba e Camarão tripulantes habilitados. Os apetrechos Rosa que vigora nas águas jurisdicionais de pesca e cargas (cerca de 1,0 tonela- brasileiras. da de pescado) dos pesqueiros foram

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apreendidos pelos agentes do Ibama, por estarem com as licenças para a atividade vencidas. O NPa Bocaina escol- tou os dois barcos até à Patromoria da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental, em Belém (PA), para conclusão do processo de apreensão e as medidas decorrentes. (Fonte: www.mar.mil.br) NPa Bocaina rebocando as embarcações

NPa PIRAJÁ APRESA EMBARCAÇÃO PESQUEIRA IRREGULAR

O Navio-Patrulha (NPa) Pirajá, subor- último, Operação de Patrulha Naval e dinado ao Comando da Flotilha de Mato Inspeção Naval no trecho compreendido Grosso, realizou, de 23 a 25 de outubro entre os quilômetros 1.515 e 1.647 do Rio Paraguai, área de jurisdição do 6o Distrito Naval (Ladário-MS). Nos dias de operação, o navio realizou 23 inspeções navais, entre embarcações miúdas e de grande porte, e efetuou o apresamento de uma embarcação pesqueira cujo condutor estava sem habilitação. A embarcação apresada foi conduzida até o Porto Geral de Corumbá e entregue à Navio-Patrulha Pirajá realiza apresamento de Capitania Fluvial do Pantanal. embarcação irregular (Fonte: www.mar.mil.br)

NHo GARNIER SAMPAIO APOIA REMPLAC

O Navio Hidroceanográfico (NHo)Gar - Durante a comissão, foram rea- nier Sampaio, subordinado ao Comando do lizados levantamentos de dados em 4o Distrito Naval (Belém-PA), realizou de conjunto com pesquisadores do Grupo 30 de julho a 10 de setembro a Comissão de Estudos Marinhos e Costeiros da Oceanográfica I, em apoio ao Programa de Universidade Federal do Pará (UFPA). Avaliação da Potencialidade Mineral da As informações serão utilizadas como Plataforma Continental Jurídica Brasileira material de análise para o Laboratório (Remplac). Os trabalhos foram desenvolvi- de Geologia e Recursos Minerais Mari- dos na área marítima compreendida entre as nhos daquela Universidade, em confor- cidades de Viseu (PA) e Carutapera (MA). midade com as diretrizes do Remplac.

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O Remplac tem o propósito de avaliação dos seus recursos minerais, contribuir para o conhecimento do abordando as questões ambientais, de substrato marinho da plataforma con- manejo e de gestão. tinental jurídica brasileira, por meio da (Fonte: www.mar.mil.br)

NOVO PORTO-SECO EM SUAPE Após realizar adequações solicitadas As obras do complexo, concluídas no úl- pela Receita Federal para instalar o novo timo mês de julho, tiveram início em janeiro porto-seco em Suape, Pernambuco, a de 2012. O Centro Logístico iniciou suas Wilson Sons Logística obteve, em 11 de operações no começo de 2013. Agora, com setembro último, aprovação do órgão fe- o aval da Receita Federal, o terminal alfan- deral para iniciar as operações da Estação degado (Eadi) passa a operar de imediato. Aduaneira de Interior (Eadi) Suape. Com O novo porto-seco tem capacidade de um investimento total de R$ 11 milhões, o movimentar 29 mil TEUs ao ano e conta empreendimento compõe, junto com o Cen- com 12 mil posições de pallet em seu tro Logístico (CL) Suape, um complexo que armazém e 1.255 TEUs em posições para integrará operações de comércio exterior contêiner e toda a infraestrutura necessária e logística doméstica em uma das regiões para operações relacionadas a importação e que mais crescem no Brasil. O modelo já exportação. O terminal está preparado para foi empregado com sucesso no Estado de receber carga de diversos segmentos, em São Paulo, onde a companhia opera a Eadi especial químicos, farmacêuticos, bebidas, Santo André e o Centro Logístico São cosméticos e cargas de projeto. Paulo, em Itapevi. (Fonte: Textual Comunicação)

PORTONAVE BATE RECORDE SUL-AMERICANO DE PRODUTIVIDADE

A Portonave, terminal portuário loca- A produtividade, medida em mph, é um lizado no município de Navegantes (SC), dos principais indicadores de eficiência bateu o recorde sul-americano de produti- operacional em terminais portuários. Nesta vidade ao atingir a marca de 270,4 movi- ação, cada embarque e desembarque de mentos por hora (mph) na movimentação contêiner é contado como um movimento, de contêineres no navio MSC Agrigento. assim como a colocação e a retirada das A operação do navio ocorreu na madru- tampas dos porões dos navios. gada de 18 de outubro último, e foram A Portonave, terminal portuário privado usados seis guindastes do tipo portêiner da Triunfo Participações e Investimentos, na atividade. responde por 44% de toda carga conteinerizada Ao todo, foram realizados 2.064 operada pelos portos de Santa Catarina – os movimentos em 7h38min de trabalho, 56% restantes são divididos entre outros quatro com média de 45 movimentos por terminais. Entre janeiro e setembro de 2014, a guindaste. O feito aconteceu na semana Portonave movimentou 524.629 TEUs1. que o Terminal completou sete anos (Fonte: Assessoria de Comunicação da de operação. Triunfo Participações e Investimentos)

314 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO WILSON SONS REBOCADORES PASSA A OPERAR NO PORTO DO AÇU

A Wilson Sons Rebocadores realizou, participaram da atracação. Na desatracação, em outubro último, as manobras de atra- também estiveram envolvidas na manobra cação e desatracação do primeiro navio cinco embarcações. a embarcar minério de ferro no Porto Recentemente, a Wilson Sons Reboca- do Açu, no Rio de Janeiro. A operação dores iniciou outras três operações, todas ocorreu no Terminal de Minério (T1). no Estado do Pará. Em agosto último, a A empresa já atua nos principais portos companhia passou a atender o Porto de por onde o minério é escoado, como Belém, nos terminais de Miramar e Sotave, Ponta da Madeira (MA), Tubarão (ES) além de Vila do Conde, em Barcarena, e e Itaguaí (RJ). Trombetas, em Oriximiná. O primeiro atendimento no Porto do Açu O Grupo Wilson Sons é um dos maiores foi feito ao navio M/V Keylight, do tipo operadores integrados de logística portuária Panamax, com transporte de minério para e marítima e soluções de cadeia de supri- a China. Por se tratar de uma fase experi- mento no mercado brasileiro. As principais mental, toda a operação foi acompanhada atividades do grupo são divididas em dois por três práticos e supervisionada pela sistemas – Portuário/Logístico e Marítimo. Autoridade Marítima. Cinco rebocadores (Fonte: Textual Comunicação)

CAMR INSTALA SEU PRIMEIRO AIS DE AUXÍLIO À NAVEGAÇÃO

O Centro de Sinalização Náutica Al- ça, primariamente avisos meteorológicos mirante Moraes Rego (CAMR), buscando da área do Rio de Janeiro. incorporar novas tecnologias que auxiliem o navegante, iniciou, em 21 de agosto últi- mo, uma prova de conceito com a ativação de um AIS AtoN (Sistema de Identificação Automática de Auxílio à Navegação) no radiofarol da Ilha Rasa (RJ). O AIS (Automatic Identification Sys- tem) permite a difusão automática de características e localização de alvos próximos (até 40 milhas náuticas, cerca de 74 km). No caso do AIS AtoN (Aid to Navigation), os dados difundidos são do sinal náutico, proporcionando ao nave- gante mais uma informação de referência. Além disso, serão realizadas experiências de transmissão de mensagens de seguran- AIS AtoN em carta raster

1 N.R.: Unidade de medida equivalente a um contêiner de 20 pés.

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Essa iniciativa faz parte de um planeja- operações de Busca e Salvamento, difusão mento que visa dotar o CAMR de uma rede de mensagens de segurança, entre outras. AIS de capacidade ampliada, utilizando O posicionamento de equipamentos será funções diversas como: monitoramento feito em locais estratégicos e de alcance do tráfego marítimo, identificação dos si- aumentado, como os faróis da costa do nais náuticos, captação e difusão de dados Rio de Janeiro. de sensores meteorológicos, auxílio em (Fonte: www.mar.mil.br)

MB REALIZA ACISO EM SÃO ROQUE DO PARAGUAÇU O Comando do 2o Distrito Naval odontológicos. Além disso, foram entre- (Salvador-BA) realizou, de 14 a 18 de no- gues 27 próteses dentárias. vembro último, Ação Na ocasião, também Cívico-Social (Aciso) foram prestados servi- em São Roque do Pa- ços diversos, como raguaçu, localizada corte de cabelo, inscri- a 169 km da capital ção de embarcações, baiana, às margens curso de formação de da Baía de Todos os aquaviários, exposi- Santos. A ação foi ção de equipamentos executada em par- náuticos e de Fuzileiros ceria com a Enseada Navais e orientações Indústria Naval. sobre como ingressar Durante a Aciso, Criança da comunidade sendo na Marinha. a Marinha do Brasil atendida por militar da MB A Aciso contou (MB) prestou diver- com a colaboração do sos serviços de saúde à população. Foram Tribunal de Justiça da Bahia, da Secretaria realizadas 744 consultas médicas; 389 de Segurança Pública do Estado da Bahia atendimentos nas áreas de fisioterapia, e da Prefeitura Municipal de Maragojipe. farmácia e nutrição e 1.620 procedimentos (Fonte: www.mar.mil.br)

NAsH TENENTE MAXIMIANO REALIZA ACISO NO RIO PARAGUAI O Navio de Assistência Hospitalar da distribuição de medicamentos, toalhas, (NAsH) Tenente Maximiano suspendeu, em mantas e brinquedos. Os pacientes tam- 9 de outubro último, com uma equipe for- bém receberam orientações sobre higiene mada por cinco enfermeiros, dois médicos e bucal e prevenção de doenças sexualmen- dois dentistas, além de militares de diversas te transmissíveis. Foram beneficiadas organizações militares subordinadas ao Co- as comunidades de Porto Tamarineiro, mando do 6o Distrito Naval (Ladário-MS), Fazenda Jatobazinho, Paraguai Mirim, para realizar Assistência Cívico-Social Barra de São Lourenço, Fazenda Amo- (Aciso) no tramo norte do Rio Paraguai. lar, Porto Chané e Porto Santa Catarina, Durante o período da Comissão, foram além de áreas próximas ao Porto Geral realizados 201 atendimentos médicos e de Corumbá e da Codrasa. 158 atendimentos odontológicos, além (Fonte: www.mar.mil.br)

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A HISTÓRIA DA CAÇA DE BALEIAS NO BRASIL Foi lançado recentemente, pela Disal Editora, o livro A história da caça de ba- leias no Brasil, dos historiadores William Edmundson e Ian Hart. A obra é a primeira a descrever de forma abrangente a história da caça de baleias no Brasil, começando com a atividade baleeira tradicional sob o monopólio da Coroa Portuguesa – o “peixe real” – até a introdução de navios modernos equipados com canhões-arpão no século XX. Entre outros assuntos, são abordados a primeira caça de baleias por pescadores de Biscaia no Brasil colonial, as contribuições de baleeiros noruegueses, o polêmico es- tabelecimento de estações baleeiras admi- nistradas por japoneses no Rio de Janeiro e na Paraíba e os movimentos a favor da conservação, que conduziram à proibição da caça de baleias após 1985. (Fonte: Ecco Press Assessoria de Im- prensa)

LANÇAMENTO DO LIVRO A BUSCA DE GRANDEZA

Foi lançado em 4 de novembro último, no Departamento Esportivo do Clube Na- val – Piraquê (Rio de Janeiro-RJ), o livro A Busca de Grandeza – Marinha, Tecnologia, Desenvolvimento e Defesa, de autoria do Vice-Almirante (EN) Elcio de Sá Freitas. A obra reúne artigos do autor publicados desde 2006 na Revista Marítima Brasileira (RMB) e tem o propósito de servir como subsídio para estudos que visem ao desen- volvimento continuado de uma tecnologia de engenharia naval militar no Brasil. “Em seus artigos, o Almirante Elcio analisa a construção naval militar brasileira em uma de suas fases de apogeu, no último terço do século XX, comenta publicações estrangeiras que mostram erros e acertos de

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seus programas de obtenção de submarinos pesquisa na Universidade de São Paulo, e transmite suas opiniões baseadas em missões técnicas no exterior e projetos experiências e conhecimentos de quem já de engenharia na Diretoria de Engenharia realizou. Sem dúvida, elas são úteis como Naval, onde culminou sua carreira como subsídios para construção de um futuro, diretor e oficial mais antigo do Corpo de com grandeza”, avalia o diretor do Patrimô- Engenheiros. Nos últimos oito anos, tem se nio Histórico e Documentação da Marinha, dedicado ao estudo e à análise de questões Vice-Almirante (EN) Armando de Senna de tecnologia, desenvolvimento e defesa, Bittencourt, na apresentação à obra. como colaborador assíduo da Revista Ma- O Almirante Elcio é engenheiro naval rítima Brasileira. com os títulos de Master of Sciente in A Busca de Grandeza tem 479 páginas Civil Enginnering e de Naval Engineer e foi editado pela Editora Serviço de Do- no Massachusetts Institute of Technology cumentação da Marinha, da Diretoria do (MIT), nos Estados Unidos da América. Patrimônio Histórico e Documentação da Além de serviços em navios, sua carreira Marinha (DPHDM). Ele pode ser adqui- abrangeu engenharia de campo no Arsenal rido na própria DPHDM ou na Loja do de Marinha do Rio de Janeiro, ensino e Museu Naval.

LANÇAMENTO DO LIVRO BRASIL – LUTAS CONTRA INVASÕES, AMEAÇAS E PRESSÕES EXTERNAS Foi lançado em 25 de novembro último, ameaças e pressões militares externas em no Centro de Estudos e Pesquisas de His- defesa dos objetivos permanentes do Brasil, tória Militar do Exército, na cidade do Rio como sua soberania, integridade, indepen- de Janeiro, o livro Brasil – Lutas contra dência, democracia e liberdade. invasões, ameaças e pressões externas. A A edição é especialmente dirigida às obra, de autoria dos coronéis Cláudio Moreira escolas militares das Forças Armadas, às Bento (organizador) e Luiz Ernani Caminha faculdades de História e de Relações In- Giorgis, foi patrocinada pela Federação de ternacionais brasileiras e aos estudiosos e Academias de História Militar Terrestre do apreciadores do assunto. Brasil (FAHIMTB), pelo Instituto Histórico e (Fonte: Assessoria Cultural da FAHIMTB) Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS) e pela Fundação Habitacional do Exército/ Consórcio Nacional Poupex (FHE-Poupex). Vários acadêmicos integrantes e cola- boradores da FAHIMTB participaram da elaboração do livro: General de Divisão Ar- naldo Serafim (abas), Professor de História Adilson Cezar (prefácio), Engenheiro Israel Blajberg (posfácio), Coronel Carlos Roberto Peres (comentário) e Capitão de Mar e Guer- ra Carlos Norberto Stumpf Bento (capas). As ilustrações da obra, que tem 590 páginas, reverenciam, em especial, todos os líderes das lutas vitoriosas contra invasões,

318 RMB4oT/2014 NOTICIÁRIO MARÍTIMO LANÇAMENTO DO LIVRO os GIGANTES DA ESTRATÉGIA NAVAL

Foi lançado em 6 de novembro último, (RM1) Francisco Eduardo Alves de Almei- no Museu Naval, Rio de Janeiro (RJ), o da, pela Editora Prismas. A obra faz parte livro Os Gigantes da Estratégia Naval – da Coleção História Militar e Estratégia e é Alfred Thayer Mahan e Herbert William fruto da dissertação de mestrado do autor em Richmond, do Capitão de Mar e Guerra História das Ideias e de sua tese de doutorado em História Comparada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 306 páginas, Alves de Almeida discor- re sobre as vidas e os pensamentos de Mahan e Richmond, historiadores navais e “persona- gens fundamentais para se compreender de que maneira o poder marítimo permitiu que os Estados Unidos da América e o Império britânico se firmassem no concerto mundial”. O autor foi diretor do Serviço de Do- cumentação da Marinha (2005-2007) e, atualmente, é professor de Estratégia e His- tória Naval, vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Marítimos (mestrado profissional) e membro do Cen- tro de Estudos de Política e Estratégia da Escola de Guerra Naval.

HNMD REALIZA PRIMEIRA CIRURGIA ROBÓTICA

O Hospital Naval Marcílio Dias alinhada com o que há de melhor nos mais (HNMD) realizou, em 21 de agosto último, modernos hospitais do mundo. sua primeira cirurgia robótica, pela Clínica (Fonte: www.mar.mil.br) de Urologia, utilizando o Sistema Da Vinci. O Da Vinci é um sistema de tratamento cirúrgico em que o cirurgião realiza proce- dimentos minimamente invasivos por meio de um console em que os braços robóticos fazem as manobras com grande precisão, o que, por serem estes mais maleáveis do que a mão humana, permite o acesso às regiões em que há restrições sem o equipamento. A incorporação da sistemática da cirur- gia robótica, inicialmente com a Clínica de Urologia, já pode oferecer um novo padrão de tratamento do câncer de próstata, Sistema de tratamento cirúrgico Da Vinci

RMB4oT/2014 319 NOTICIÁRIO MARÍTIMO Patronos Instituídos na Marinha do Brasil

Semana da Marinha – Em cumprimento Patrono do Quadro de Capelães da à alínea c do item 3 das normas aprovadas Marinha Capitão de Corveta (CN) Rodo- pela Portaria no 131, de 29MAI2009 do mark Fernandes de Souza – Dom Carlos EMA, a Diretoria do Patrimônio Histórico O.S.B., Portaria No 0653, de 27 de julho e Documentação da Marinha, divulga du- de 1988. rante a “Semana da Marinha”, os nomes dos Patrono das Mulheres Militares da Ma- Patronos Instituídos na Marinha do Brasil: rinha: Almirante de Esquadra Maximiano 1) Patrono da Marinha do Brasil: Eduardo da Silva Fonseca. Portaria do Almirante Joaquim Marques de Lis- Estado-Maior da Armada No 0284, de 06 boa (Marquês de Tamandaré), Aviso do de julho de 1999. Ministro da Marinha No 3.322, de 04 de Patrono do Corpo de Intendentes da Ma- setembro de 1925. rinha: Vice-Almirante (IM)Gastão Motta, 2) Demais patronos: Portaria do Estado-Maior da Armada No Patrono das Bandas de Música e Marcial 43, de 13 de março de 2003. da Marinha: Maestro Antônio Francisco Patrono do Corpo de Engenheiros Na- Braga, Decreto No 62.683, de 10 de maio vais: Contra-Almirante (EN) João Cândido de 1968. Brazil, Portaria do Estado-Maior da Arma- Patrono do Corpo de Saúde da Marinha: da No 134, de 08 de julho de 2003. Cirurgião-Mor Joaquim Cândido Soares Patrono das Comunicações Navais: Vi- de Meirelles, Decreto No 63.684, de 25 de ce-Almirante Tácito Reis de Moraes Rego, novembro de 1968. Portaria do Estado-Maior da Armada No Patrono da Hidrografia da Marinha: 178, de 1o de setembro de 2008. Capitão-de-Fragata Manoel Antônio Vital Patrono do Corpo de Fuzileiros Navais: de Oliveira, Decreto No 77.070, de 21 de Almirante (FN) Sylvio de Camargo, Porta- janeiro de 1976. ria do Estado-Maior da Armada No 38, de Patrono do Servidor Civil da Marinha: 26 de fevereiro de 2009. Mestre Antônio da Silva, Portaria do Mi- Patrono da Ciência, Tecnologia e nistro da Marinha No 131, de 18 de janeiro Inovação (CT&I) na Marinha do Brasil: de 1980. Vice-Almirante Álvaro Alberto da Mota e Patrono dos Artilheiros da Marinha: Ca- Silva, Portaria do Estado-Maior da Armada pitão-de-Mar-e-Guerra Henrique Antônio no 28, de 31 de janeiro de 2011. Baptista, Portaria do Ministro da Marinha Patrono da Inteligência da Marinha do No 1.139, de 31 de dezembro de 1985. Brasil: Vice-Almirante Humberto Giudi- Patrono dos Quadros de Oficiais Auxi- ce Fittipaldi, Portaria do Estado-Maior liares da Marinha: Vice Almirante João do da Armada No 179, de 18 de setembro Prado Maia, Portaria do Ministro da Mari- de 2013. nha No 1.037, de 19 de novembro de 1986. Patrono da Aviação Naval: Vice-Al- Patrono dos Maquinistas da Marinha: mirante Protógenes Pereira Guimarães, Vice Almirante Ary Parreiras, Portaria do Portaria do Estado-Maior da Armada No Ministro da Marinha No 1.037, de 19 de 341, de 11 de dezembro de 2014. novembro de 1986. (Fonte: Bono no 882 de 12/12/14)

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