Revista Aeronáutica ISSN 0486-6274 Número 302 2019 PRESIDENTE Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez Expediente 1º Vice-Presidente Jan. a Mar. 2019 Cel Av Paulo Roberto Miranda Machado 2º Vice-Presidente Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira

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COMISSÃO INTERCLUBES MILITARES SEDE CENTRAL Assessores Clube de Aeronáutica Maj Brig Ar Venancio Grossi Diretor Cultural Cel Av Araken Hipolito da Costa Cel Av Araken Hipolito da Costa Cel Av Ajauri Barros de Melo Contato pelo tel.: (21) 2220-3691 Diretor Social, Tecnologia da Informação e Hotel Cel Av Ajauri Barros de Melo REVISTA DO CLUBE DE AERONÁUTICA Diretor Administrativo e Chefe Secretaria Geral Tel.: (21) 2220-3691 Cel Av Théo Salgado Falcão Diretor e Editor Diretor Beneficente Cel Av Araken Hipolito da Costa Cap Adm Ivan Alves Moreira Conselho Editorial Diretor Jurídico Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez Dr. Francisco Rodrigues da Fonseca Cel Av Renato Paiva Lamounier Assessores Cel Av Manuel Cambeses Júnior Financeiro e Patrimonial - Cel Int Genibaldo Bezerra de Cel Av Araken Hipolito da Costa Oliveira Assessor Secretaria Geral- Cap Adm Ivan Alves Moreira Produção Editorial e Design Gráfico Rosana Guter Nogueira SEDE BARRA Produção Gráfica Diretor Desportivo Luiz Ludgerio Pereira da Silva Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira Revisão Diretor Aerodesportivo,Técnico e Operações Ten Cel QFO Dirce Silva Brízida Cel Av Romeu Camargo Brasileiro Administrativo Assessores Gabriela da Hora Rangel Social - Brig Ar Carlos José Rodrigues de Alencastro Ricardo Luiz Georgiadis Germano Administrativo e de Pessoal - Cel Av Luiz dos Reis Domingues Financeiro - Cel Int Carlos Eduardo Costa Mattos As opiniões emitidas em entrevistas e em matérias Infraestrutura - Ten Cel Av Alfredo José Crivelli Neto assinadas estarão sujeitas a cortes, no todo ou em parte, a critério do Conselho Editorial. As matérias são de inteira responsabilidade de seus autores, não representando, SEDE LACUSTRE necessariamente, a opinião da revista. As matérias não Assessor - Cap Esp Met José Renato do Nascimento serão devolvidas, mesmo que não publicadas. Maturacá (AM). Baixe um leitor de QR code Soldado do 5º em seu celular, fotografe Pelotão Especial o código ao lado e você de Fronteira ladeado poderá ler, fazer download por dois brasileiros de ascendência ou compartilhar esta indígena Ianomami revista pela internet.

Sumário

4 MENSAGEM DO PRESIDENTE 25 A PREVIDÊNCIA MILITAR Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez UMA RESENHA Renato Paiva Lamounier Cel Av

5 PALAVRAS DO NOVO COMANDANTE DA AERONÁUTICA Ten Brig Ar Carlos Moretti Bermudez 28 PENSAR EM PORTUGUÊS Ricardo Vélez Rodríguez Ministro da Educação 7 UM HOMEM COMPLETO Carlos Alberto G. Miranda Cel Av 34 RELATO HISTÓRICO DOS ACONTECIMENTOS NOTÍCIAS DO CAER AGOSTO 1961 - MARÇO 1962 8 Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho A Redação

10 A REINTERPRETAÇÃO HISTÓRICA 38 RELATO HISTÓRICO DA GEOPOLÍTICA DOS ACONTECIMENTOS Manuel Cambeses Júnior MARÇO 1962 - ABRIL 1964 Cel Av Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho

12 VIAGEM DE ESTUDOS DO IX CURSO DO 44 SE POUSAR UM PENSAMENTO BRASILEIRO NORTH-AMERICAN T-6 AMAZÔNIA OCIDENTAL JÁ NÃO ERA FÁCIL, Araken Hipolito da Costa IMAGINE (QUASE) SEM Cel Av - Editor da Revista Aeronáutica COMANDOS DE VOO... Vicente Cavaliere Cel Av 22 PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR DO PODER AEROESPACIAL NA AMAZÔNIA GUERRA AÉREA 48 O VOO DO 2º GTE Luiz Fernando Póvoas da Silva PARA BRASÍLIA Cel Av Maj Brig Ar Carlos Sergio S. Cesar PALAVRAS DO NOVO COMANDANTE DA AERONÁUTICA MENSAGEM TENENTE BRIGADEIRO DO AR ANTONIO DO PRESIDENTE CARLOS MORETTI BERMUDEZ niciamos o 61º ano de vida da nossa conceituada Revista Aeronáutica, em sua 302ª edição, num clima de otimismo entre os brasileiros de bem, com os novos o assumir o honroso cargo de Co- Irumos que o país vem tomando. Certo é que uma pequena parte da população mandante da Aeronáutica, quero, continua remando contra essa melhoria, na já conhecida estratégia do “quanto pior, Acomo minhas primeiras palavras, manifestar que me sinto privilegiado em re- melhor”. Mas, a despeito desses, este Brasil, adormecido e maltratado, há de continuar ceber a maior missão da minha carreira das despontando, novamente, como uma Nação pujante e coesa, mercê do trabalho, da mãos do Tenente-Brigadeiro do Ar Nivaldo coragem moral e da honestidade de propósitos da maioria dos brasileiros – e isto tem Luiz Rossato, Oficial General que, com es- que dar certo, pois, errado, já vinha dando! pírito empreendedor e vivaz, dedicou meio Nesta edição, os autores nos brindam com excelentes artigos, aeronáuticos século de vida aos assuntos da Aeronáutica. ou não, dentre eles uma extensa cobertura da viagem realizada por comitiva de Nesse instante, quando ocorrem as integrantes do IX Curso do Pensamento Brasileiro, do CAER, pela Amazônia Oci- naturais mudanças no âmbito da Adminis- dental, passando por Manaus, São Gabriel da Cachoeira e Maturacá. O nosso Brig tração Pública, e novos rumos são estabele- cidos, cabe-me agradecer-lhe pela distinção Ar Baginski, brilhante ex-Comandante da Academia da Força Aérea, também nos com que fui brindado ao ser designado para presenteia com dois históricos artigos, que relatam importantes momentos vividos o cargo de Comandante-Geral do Pessoal, nos idos de agosto de 1961 a abril de 1964, testemunha ocular que foi, em Unidades no qual pude compartilhar, juntamente da FAB no sul do país. com o Alto Comando da Aeronáutica, de Com a devida autorização do nosso Comandante, Ten Brig Ar Bermudez, a nossa um ambiente de amizade e camaradagem, Revista passará a ser distribuída nas bolsas das poltronas das aeronaves do Grupo deliberando sobre complexas situações de Transporte Especial (GTE) e do 1º/2º GT – Esquadrão Condor, para o deleite dos afetas aos destinos da nossa Instituição. nossos passageiros. Prezado Tenente-Brigadeiro Rossato, No momento em que inicia uma nova Esperamos poder continuar contando com a prestimosa colaboração dos auto- fase em sua vida, permita-me transmitir-lhe, res, na confecção das matérias para a nossa Revista Aeronáutica, que está voltando a e também à estimada esposa Rosa, o reco- ser trimestral, e não mais quadrimestral, ressaltando que estamos com uma tiragem nhecimento dos que fazem a Força Aérea de 5.000 exemplares, distribuídos para os sócios em todo o Brasil, para o Congresso Brasileira, formulando-lhes votos de saúde Nacional, o STM, o STF, bem como para autoridades e Organizações da FAB. e de muitas felicidades junto a sua família. Uma boa leitura a todos. Crendo que os vencedores da batalha da vida são os homens perseverantes que, Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez sem se julgarem gênios, se convenceram Presidente do Clube de Aeronáutica de que só pela constância e pelo esforço

poderiam chegar ao fim almejado, posso GABAERFonte: Força Agência Aérea Edição: j 4 CLUBE DE AERONÁUTICA SEDE CENTRAL PALAVRAS DO NOVO COMANDANTE DA AERONÁUTICA O mundo passa por transformações. tecnologias embarcados em nossas aero- Assim como na evolução natural, também naves KC-390 e F-39 Gripen, plataformas vale para as instituições o pensamento de estas que darão especial realce à prioridade que não são os mais fortes que sobrevivem, conferida à Amazônia e ao Atlântico Sul, e sim, os que se adaptam mais rapidamente regiões que ostentam potencialidades e às mudanças. atraem cobiças que conflitam com os inte- Ainda nesse contexto, a palavra Gover- resses maiores do povo brasileiro. nança ganhou destaque na Administração, e Assim, prosseguiremos conscientes de a FAB, por sua vez, continuará aperfeiçoan- que o leque de responsabilidades das For- do seus processos operacionais, logísticos ças Armadas vai além das lides puramente e administrativos, empregando sofisticados castrenses, e impõe o engajamento nos sistemas de TI, corrigindo rumos e resul- grandes projetos desta Nação. tados, de forma que nossas organizações Nesse sentido, estaremos sempre militares continuem mais focadas em suas prontos para interagirmos, de forma atividades-fim. sinérgica, com todos os segmentos ver- Outro objetivo a ser perseguido será o dadeiramente comprometidos com o de garantir o aporte de investimentos nos desenvolvimento do país, sendo um dos afirmar que Vossa Excelência cumpriu com projetos estratégicos que suportam a nossa vetores da pronta-resposta aos clamores da êxito e muito sucesso a sua missão. efetiva atuação num cenário tridimensional sociedade, pois nossa missão é defender a Que Deus o proteja na nova fase da vida fabuloso que a Força Aérea protege, a cha- Pátria, garantir os poderes constituídos e, que hoje tem início! mada Dimensão 22. por demanda destes, assegurar a garantia Da minha parte, após mais de quatro Temos certeza de que somente com da lei e da ordem. décadas de serviços prestados no cumpri- a incorporação de novas tecnologias, Como parte dessa visão, continuare- mento das múltiplas tarefas comuns aos novas plataformas e a capacitação do nosso mos a modernizar nosso sistema integrado que se dedicam ao serviço da Pátria, vejo- efetivo é que seremos capazes de controlar, de controle do espaço aéreo, garantindo a -me rejuvenescido diante da missão de dar defender e integrar esta fabulosa área de defesa dos nossos céus e a qualidade da continuidade ao primoroso legado deixado 22 milhões de quilômetros quadrados. prestação de serviços no principal modal por oficiais visionários que me antecederam Isso nos impulsiona e nos dá certeza de transporte e meio de desenvolvimento do nessa posição, muitos dos quais aqui se de que estamos no caminho certo. país, cujos padrões são internacionalmente encontram e abrilhantam esta cerimônia Minha prioridade será a de aumentar reconhecidos. com suas presenças. a qualidade dos nossos cursos, a fim de De forma especial, é imperioso que em- Sinto-me desafiado, todavia, muito à garantir a formação de profissionais que preguemos a melhor de nossas energias em vontade, justamente por ver, na minha ala, saibam aliar inteligência multifacetada, apoio ao homem, a nossa gente, o bem mais homens e mulheres, que, atuando nos mais comunicação construtiva, trabalhar em precioso que temos. Para que cada vez mais diversos setores, voando e fazendo voar, equipe e, principalmente, realizar várias tenham, além de moradias condizentes, um constituem um terreno fértil;que portam tarefas simultaneamente. real suporte de saúde, trabalhem em insta- todas as qualidades habilitadoras para o Cada vez mais precisaremos de pesso- lações adequadas e, principalmente, sejam exercício das demandas operacionais e ad- as que transformem habilidade e esforço em reconhecidos pela dedicação aos rigores da ministrativas inerentes ao cenário dinâmico desempenho e eficácia, que estejam aptos a profissão militar, uma carreira de Estado que que vivenciamos na FAB e no Brasil. operarem equipamentos de finas e sensíveis detém características únicas e especiais.

5 j A esperança, a alegria e as expectativas dimento da importância da comunicação. Estado da Defesa, General-de-Exército prenunciam sinais claros de novos tempos, O trato operacional indicará o norte Fernando Azevedo e Silva, valores distintos e mentalidade diferente – para que intensifiquemos o preparo de Ao mesmo momento em que agradeço uma outra visão de mundo. nossa Força, com vistas ao seu pronto a confiança na investidura do cargo maior da Nós somos daqueles que acreditam e emprego. Aeronáutica brasileira, coloco-me à disposi- apostam no futuro deste país. Quanto maior for o zelo com a higidez ção de Vossa Excelência, em cujos ombros Por isso, continuaremos a investir e a intelectualidade de nosso efetivo, maior pesa agora a salutar responsabilidade de na capacitação dos centros de pesquisa, será o retorno para a sociedade que por ele definir as diretrizes para o emprego comum dos campos de provas, das bases de é protegida. de nossas Forças Armadas. lançamento de veículos destinados ao Haveremos de continuar incentivando Sabemos que o Brasil tem pressa. aeroespaço, delineando, desse modo, a perfeita relação com a mídia, que tanto Possuímos um excelente instrumento a intensa participação do Comando da contribuiu para a construção da reputação para quem viverá o afã de concretizar ob- Aeronáutica no Programa Nacional de de nossa Força nestes 78 anos de exis- jetivos com urgência e precisão. Atividades Espaciais. tência, criando conteúdos relevantes, pois Temos fé no trabalho de Vossa Exce- O Instituto de Tecnologia da Aero- relevante é nossa missão, assim como é lência, gerando assim a esperança que se náutica, o ITA, orgulho da FAB e do Brasil, determinante o papel da imprensa nesta transformará em perseverança e, esta, em continuará formando profissionais de nossa conexão com a sociedade. bom êxito. altíssima qualificação, para impulsionar o Meus comandados, Excelentíssimo Senhor Presidente da desenvolvimento de atividades conjuntas, Resta que nos disponhamos, cada República, Jair Messias Bolsonaro, dentro e fora do Brasil, no sentido de am- um no âmbito de sua responsabilidade, a O documento que define a conduta pliar a capacitação científico-tecnológica da tratar de defender os objetivos maiores da do Governo Federal, nesta sua fase inicial, Aeronáutica no campo aeroespacial. Aeronáutica, pois são eles parcela de sig- deixa claro que dificuldades irão surgir, seja A implementação do Projeto Estra- nificado mais do que palpável no interesse pelo receio às mudanças, seja pela escas- tégico de Sistemas Espaciais trará uma do desenvolvimento nacional. sez de recursos, ou mesmo provenientes da significativa mudança nos conceitos das Rogo para que todos persigam os itens reação corporativa, ou do inconformismo operações das Forças Armadas. Simulta- colimados sem timidez e sem descuido, com um governo verdadeiramente diferente. neamente, permitirá seu uso em aplicações mantendo suas mentes voltadas para a Entretanto o próprio documento evi- para a sociedade brasileira nas áreas de missão constitucional da defesa do solo dencia que nada disso será suficiente para comunicações, meteorologia, navegação e que os seus pés pisam. impedir o avanço de nosso país. monitoramento do espaço. Companheiros do meu Alto-Comando, Notórias já se tornaram as prioridades Continuaremos a fomentar e priorizar Trabalharemos, por vezes, diante de di- que o Governo Federal dará ao desenvolvi- nossa indústria de defesa, gerando em- lemas, teóricos e práticos, enfrentando no- mento social, procurando estender a toda pregos e fortalecendo a soberania do país. vos desafios que haverão de se apresentar. a população do país os bens do progresso. O A-29 Super Tucano e o KC-390 Mas tenho certeza de que o colegiado maior Para tanto, a Nação continuará preci- são exemplos para o mundo da eficiência da Aeronáutica brasileira saberá alcançar o sando que levemos o que falta àqueles que, e do sucesso de parceria da FAB com a consenso entre a certeza e a verdade. de outra forma que não o avião, dificilmente EMBRAER. Excelentíssimos Senhores, Almirante poderiam ser apoiados, quer no atendi- Da mesma forma, o F-39 Gripen, que de Esquadra Ilques Barbosa Júnior e General mento às necessidades básicas, quer na será a espinha dorsal da Defesa Aérea do de Exército Edson Leal Pujol, iminência de infortúnios ou calamidades. Brasil, representará o maior salto tecnoló- Vossas Excelências, a partir da próxima Por diversas vezes, tivemos a grata gico dos últimos 40 anos. semana, assumirão seus comandos, po- oportunidade de constatar a confiança A FAB tem se preparado intensamente dendo contar com a certeza de que a Força que Vossa Excelência deposita no elevado para receber esses vetores e operá-los no Aérea continuará empenhada, corajosa- propósito que nos anima. limite de suas potencialidades. As parce- mente, no tríplice propósito de nossas res- Assim, voando nas aeronaves da sua rias com EMBRAER e SAAB consolidarão ponsabilidades, e que une nossas Forças: Força Aérea, ao olhar para baixo, contem- nosso parque industrial de defesa, criarão uma, colimada para a segurança nacional; plará a imensidão desta terra que tanto inúmeros postos de trabalho, e dilatarão outra, voltada para o desenvolvimento; e a amamos, e haverá de ratificar o seu orgulho as fronteiras do conhecimento científico. terceira, para o bem-estar social. de buscar fazê-la tão grande quanto à sua Essa é a nossa Força. Temos orgulho do que Entendemos que a superposição de vastidão. fomos; temos orgulho do que somos; mas nossos empreendimentos e a interoperabi- Ao olhar para cima, haverá de reafirmar, inquieta-nos o que poderemos ser. lidade de nossas Forças, sob a regência do junto àquele que paira acima de todos, o Pautei minha carreira em uma tríade de Ministro da Defesa, ao atender às neces- seu fiel propósito de que o Brasil continuará distintas atividades: sidades do primeiro objetivo (a segurança sempre acima de tudo. – o viés operativo, com longa perma- nacional), estarão, ao mesmo tempo, forta- Muito obrigado! nência na Aviação de Caça; lecendo as do segundo (o desenvolvimento) – a gestão do tão determinante recurso e, em prosseguimento, realizando o terceiro TENENTE BRIGADEIRO DO AR humano; e (o bem-estar social). ANTONIO CARLOS MORETTI BERMUDEZ – a vivência, com o decorrente enten- Excelentíssimo Senhor Ministro de Comandante da Aeronáutica j 6 26 de setembro de 1942 Nasce uma pequena luz com o nome de Manuel Cambeses Júnior UM HOMEM COMPLETO 13 de fevereiro de 2019 Apaga-se a grande luz de um homem completo baixar a taça depois que a levantasse e não po- dia babar, infrações desclassificatórias. Muitos le nasceu e se criou no ambiente dos subúr- tentavam, mas afinal ficava invariavelmente com Ebios cariocas, onde pôde se deliciar com as dois fortes contendores, cujas alcunhas eram atrativas brincadeiras de rua, sempre renovadas Galo Forte e Urso Branco da Taquara. Este último em épocas determinadas: o envolvente jogo nunca perdeu e, diga-se, ganhava humilhando os de bola de gude, o furioso racha das peladas adversários ao beber imediatamente e de uma só com pés descalços, a batalha aérea das pipas, vez, após a vitória, mais uma cerveja entornada o lançamento do pião. E tinha a conversa da pelo gargalo. E quem era o imbatível Urso Branco esquina, com os contadores de piadas, das da Taquara? Sim, ele, Cambeses, o intelectual, estórias fantásticas (muitas mentiras, as sobre o mesmo dos sérios artigos, opúsculos e con- fantasmas eram as preferidas), o disse-me-disse ferências no Brasil e no exterior. da vizinhança. Enfim, muita coisa para enriquecer Pois é, tinha esse lado intelectual que nos uma infância gostosa de viver. Àquela época as surpreendia. Como era isso? Quais as áreas ruas do subúrbio ensinavam algumas linhas do de atuação? História, estratégia, geopolítica, mal, mas as do bem prevaleciam, inspirando os relações internacionais. Em que veículos de jovens a serem grandes, fortes e admirados, via divulgação publicava seus trabalhos? Entre honestidade, firmeza de caráter e honradez. Que- jornais e revistas, mais de vinte. Em quantas rer ser um herói era muito comum. Esse padrão instituições atuou como conferencista? Mais ético era resultado da influência da postura das de vinte, também. Além disso, participou como próprias famílias, aí incluída a família do menino comentarista em várias emissoras de rádio e e depois adolescente Cambeses, que ingressou televisão. Só tem penetração em um universo na Força Aérea pelas portas de suas escolas assim tão amplo quem se impõe pela contínua de formação, já moralmente bem formado e comprovação de alta competência. Ele o fez. ostentando sua atraente aura de simpatia, boa Construiu uma família sobre a qual estendeu de fazer amigos, alguns que ali já se tornariam Obsoletas. Anos depois, a situação mudou para um manto de proteção. Deu-lhes a confortável inseparáveis ou separáveis somente pela inevi- melhor e foi apresentado a aeronaves modernas certeza de que nele encontrariam sólido amparo tabilidade do fim da vida. de emprego tático com as quais estabeleceu material e espiritual. Se, por um lado foi exigente, Aí, formado, tenente aviador, surge o entusiástico convívio por muitos anos, tendo se por outro foi compreensivo. Se alguma vez foi Cambeses instrutor de voo, aquele que levava tornado um dos pilotos mais voados no C-130 ríspido, em outras foi terno, emotivo, gentil. As muitos cadetes a rezar, pedindo aos santos que Hércules na FAB. variantes do caráter humano sempre se expres- o fizessem seu instrutor. Porque, com ele, só Ao mesmo tempo em que impunha aus- saram nele com o vigor do sangue espanhol de não aprendia quem não tivesse nascido com a teridade ao comportamento profissional e ao origem, como ele mesmo reconhecia. Como mínima predisposição genética para ser piloto. desempenho intelectual, quando era a hora, resultado, emergiu um líder familiar invejável Primeiro a decolar, último a pousar, sempre abria a guarda para brincar, saborear a vida. Nas e uma família que lhe deu incansável suporte figurando entre os primeiros do pau-de-sebo, rodas de contadores de piadas, as suas fluíam em seus últimos e sofridos dois anos de vida. dando cansativos brifins e debrifins, usando todo com graça, energia. Os ouvintes explodiam em Colheu o que plantou, recebendo da esposa o tempo disponível para garantir a seu cadete o gargalhadas, querendo mais. Se por acaso entrava Sônia e dos filhos André e Danielle muito mais preparo teórico completo. Quando na instrução num botequim pé sujo logo puxava ou atraía uma que retribuição. Deram-lhe o indispensável apoio prática de voo, muitas vezes cometia pequenos conversa. Integrava-se fácil, como se fosse um para enfrentar com dignidade o padecimento deslizes voando mais tempo do que o previsto velho conhecido daqueles frequentadores modes- causado pela doença que acabou por levá-lo. Foi para aquele cadete que apresentava dificuldades tos. Essas passagens nunca eram desperdiçadas. o equilíbrio da família moldada por ele que lhe no aprendizado. (Se tem alguém que foi aluno Entravam em seu arquivo de aventuras pitorescas permitiu prosseguir como o Cambeses altivo de dele e está me lendo agora, diga aí se estou men- para serem relatadas, posteriormente, a grupos sempre até seus últimos dias. tindo!). O Comandante da Academia da época era que se encantavam com sua prosa saborosa, Lá se foi o homem pleno que fez muito, bravo, às vezes exagerado, duro nas punições momento em que aproveitava para expor sua fez bem feito e com entusiasmo tudo o que que aplicava aos casos mínimos de indisciplina, convivência com personalidades ricas em crenças escolheu fazer ou que lhe foi atribuído. Cresceu especialmente as de voo. Mas, com o Cambeses, e costumes e com uma bagagem de sofrimentos sempre, amealhou amigos, admiradores, trouxe se não era doce, era mais dócil. Não deixava de e alegrias muito diferentes das do contexto usual. satisfação por onde passou, encantou pessoas ser um tratamento merecido e compatível com o Havia um Cambeses para cada ambiente. simples, influenciou muitas outras positivamen- valor daquele jovem profissional que exagerava Era presença requisitada e certa nas reuniões te, representou muito bem e engrandeceu a Força na dedicação à instrução, algo essencial para dos Filhos da Pauta na Base Aérea dos Afonsos, Aérea. No tempo de vida que lhe foi conferido servir como referência aos demais instrutores onde ficava inteiramente à vontade no meio do fez-se um homem completo. O que mais pode- no ambiente de formação militar. samba, churrasco e cerveja. Na praia do Leme ria fazer? Não saiu devendo nada. Deixou suas Além do voo de instrução ele também voava sempre à tarde dos dias 31 de dezembro do ano, marcas entre nós, uma referência boa, alegre, outras aeronaves, a maioria aeronaves antigas entre grande número de amigos próximos, era respeitável, querida. O que mais poderia ser? Vai de emprego na Segunda Guerra Mundial, que feita uma festa de congraçamento que se tornou em paz e permanece em paz para sempre, que a teimavam em permanecer na ativa. Brincava que tradicional, conhecida como A Farofa. Muita cer- sua memória vamos guardar para citá-lo como iria mandar confeccionar (não sei se o fez) cartão veja, mutirão de quitutes variados, durava muitas exemplo. O que mais poderia querer? Obrigado, de apresentação para distribuir entre as moças horas. Seu momento de clímax era o campeonato amigo, por ter sido o que foi para nós n que pretendia impressionar modestamente. Tal de chope a metro. O atleta tinha que sorver a cartão ostentaria seu nome, telefone e, abaixo, cerveja contida naquela imensa taça de um metro Carlos Alberto G. Miranda a especialidade operacional: Piloto de Aeronaves de comprimento. Não podia interromper, nem Cel Av

7 j NOTÍCIANOTÍCIA HOMENAGEM AO EX-MINISTRO DA AERONÁUTICA DIPLOMAÇÃO DO IX CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO TEN BRIG AR MAURO GANDRA Curso do Pensamento Brasileiro IX foi O concluído na manhã do dia 30 de no- aleceu, no dia 24 de dezembro de vembro de 2018, com a realização de um F2018, o Ten Brig Ar Mauro José belo evento. Miranda Gandra, em sua residência Iniciado em agosto de 2018, o Curso no Rio de Janeiro. teve seu ápice com a realização da viagem de Nascido na mesma cidade, em estudos à Amazônia Ocidental, com a finali- 16 de abril de 1933, o Ten Brig Gandra dade de conhecer melhor as nossas origens, foi Ministro da Aeronáutica no perío- colocando em prática todos os estudos e do de 1º de janeiro a 20 de novembro avaliações da conjuntura nacional. de 1995, durante o governo do Pre- A solenidade foi aberta com o hastea- sidente Fernando Henrique Cardoso. mento da Bandeira Nacional, ao som do Hino Iniciou sua carreira na Aeronáutica da Bandeira. Em seguida, os integrantes do em 1949, na Escola de Aeronáutica. Curso e convidados se dirigiram à sala de Dentre as organizações onde serviu, convenções para a entrega dos diplomas destacamos as seguintes: 1° Grupo aos 47 participantes. Nesse momento foram de Aviação Embarcada, Gabinete feitas as considerações finais, apresentando Militar da Presidência da República o relatório sucinto da viagem de estudos e Grupo de Transporte Especial. ocorrida na semana anterior. Como Oficial-General esteve à frente A Mesa Diretora foi composta pelo atual da Escola de Comando e Estado- Instituto Histórico-Cultural da Ae- Presidente do Clube de Aeronáutica, Maj Brig Maior da Aeronáutica, da Diretoria ronáutica (INCAER), do Conselho Ar Perez, e pelos ex-Presidentes do Clube, Maj de Material Aeronáutico e Bélico, da de Administração da Companhia Brig Ar Vinicius e Ten Brig Ar Baptista, este Secretaria de Economia e Finanças Eletromecânica GE (GE/Celma), do ex-Comandante da Aeronáutica. Havia várias da Aeronáutica e, também, do então Conselho de Turismo da Confede- autoridades presentes, dentre elas podemos Departamento de Aviação Civil. ração Nacional do Comércio, bem destacar o Ten Brig Ar Seixas, o Embaixador Como Ministro da Aeronáutica, o como diretor-presidente do Instituto Jerônimo Moscardo e o Conselheiro do Ten Brig Gandra foi responsável pelo do Ar da Universidade Estácio de Sá, INCAER, Brig Ar Bohrer. ingresso das primeiras mulheres na além de vice-presidente do Conselho Após a entrega dos diplomas, o Cel Av Academia da Força Aérea, no Quadro Empresarial de Assuntos Estratégi- Araken, coordenador do Curso, proferiu de Oficiais Intendentes (1995); incen- cos da Associação Comercial do Rio algumas palavras sobre o que é o Pensamento tivou importantes projetos, como a de Janeiro. Brasileiro e como foi introduzido no CAER; modernização dos caças F-5 e o Publicou as seguintes obras: agradecendo em particular aos presidentes desenvolvimento da aeronave Super Transformando crise em oportuni- do Clube por aprovar e manter ao longo de Tucano; e foi um dos responsáveis dade: diagnóstico e bases para um nove anos o Curso do Pensamento Brasileiro. pela implantação do Sistema de Vi- plano de desenvolvimento da avia- O Ten Brig Ar Baptista pediu então para que o gilância da Amazônia (SIVAM). ção brasileira (com segurança), em Brig Ar Bohrer encerrasse a solenidade com Em 1998, já reformado da Força coautoria com João Paulo dos Reis algumas palavras. Emocionando a todos, o Aérea Brasileira, foi eleito Dire- Veloso; e Logística e transporte no discurso de encerramento foi espetacular, tor-presidente do Sindicato Nacional processo da globalização. pela importância do Brig Bohrer, que viveu o das Empresas Aeroviárias (SNEA) Foi casado com Iara Maria de início da Força Aérea Brasileira e que continua para um mandato de três anos, Miranda Cezimbra Gandra, com até hoje engajado e atualizado nos assuntos encerrado em 2000. Tornou-se quem teve um casal de filhos, além da Aeronáutica brasileira. membro do Conselho Superior do de netos e bisnetos. j 8 NOTÍCIANOTÍCIA do CAER DIPLOMAÇÃO DO IX CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO

Autoridades perfiladas para o hasteamento da bandeira. Da esquerda para a direita, Cel Av Miranda, Maj Brig Ar Perez, Maj Brig Ar Vinicius, Ten Brig Ar Baptista, Embaixador Jerônimo Moscardo, Brig Ar Bohrer e Cel Av Póvoas

Autoridades são agraciadas com o distintivo do Pensamento Brasileiro. Da esq. p/a dir. Maj Brig Ar Vinicius, Embaixador Jerônimo Moscardo, Brig Ar Bohrer, Ten Brig Ar Baptista e o atual Presidente do Clube de Aeronáutica, Maj Brig Ar Marco Antonio Carballo Perez

O mascote da turma, Henrique Taulois Trompowsky Silveira Soares, filho de Camilla Trompowsky e bisneto do falecido Cel Av Ivan Trompowsky (também participou do Curso do Pensamento Brasileiro), recebe das mãos do Ten Brig Ar Baptista seu diploma especial de participação.

Sala de Convenções – Cerimônia de diplomação

9 j j 10 A REINTERPRETAÇÃO HISTÓRICA DA GEOPOLÍTICA

Manuel Cambeses Júnior na Alemanha no alvorecer do século XX consolidada no Tratado de Defesa do Atlân- Cel Av e atingiu grande difusão durante a prima- tico Norte (Otan) e foi sobejamente testada Membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, membro da Academia zia do regime nazista. O general alemão com a crise dos mísseis, ocorrida em 1962. de História-Militar Terrestre do Brasil, pesquisador Karl Haushofer (1869-1946) modernizou Fica bastante claro que, sem os parâmetros associado do Centro de Estudos e Pesquisas de História Militar do Exército e conselheiro do Instituto a Geografia Política utilizando-a como ordenadores da Geopolítica, o mundo teria Histórico-Cultural da Aeronáutica. instrumento que justificasse a expansão sido arrasado por uma hecatombe nuclear. s grandes transformações que ocor- da Alemanha durante o Terceiro Reich e Após a queda do Muro de Berlim, reram no mundo nas três últimas desenvolvendo as teorias do espaço vital do em 9 de novembro de 1989, que pôs Adécadas, dentre as quais tem um geógrafo e etnólogo alemão Friedrich Ratzel fim à Guerra Fria, a Geopolítica passou grande peso a expansão universal do es- (1844-1904) – que se notabilizou por ter a retomar, paulatinamente, o interesse paço cibernético, carrearam, como conse- criado o termo Lebensraum – apoiadas pelo perdido e voltou a crescer ao amparo das quência natural, notáveis transformações professor sueco Rudolf Kjellen. Países como tensões internacionais surgidas com o na geografia humana do planeta. Mudanças a Rússia, a China e o Japão também deram desmembramento da União Soviética. É que se traduzem em uma reinterpretação grande importância a esta ciência durante nesse cenário que emergem os Estados histórica da Geopolítica e no questiona- os anos trinta e quarenta do século passado, Unidos como a superpotência única, sem mento de muitos de seus pressupostos, como meio para atingir o poder global. contrapesos imediatos. Esta situação os os quais eram conceituados de forma A utilização propagandística da Geo- incentiva a iniciar o desenvolvimento de determinística pelo discurso clássico das política acarretou, após a derrota alemã na uma política de poder tendente ao controle ciências políticas. Segunda Guerra Mundial, seu descrédito e do mundo, e que tenta legitimar sobre as Denominamos de Geopolítica a ciência esquecimento, sobretudo no âmbito aca- bases de ser o vencedor da Guerra Fria e de que pretende interpretar os fenômenos que dêmico. Não obstante, alguns segmentos, sua superior qualidade econômica, cultural permeiam a política nacional ou interna- principalmente militares e diplomatas, e militar. Dissipa-se assim o tradicional cional no estudo sistemático dos fatores seguiram interessados por este ramo da conflito Leste-Oeste e começam a ser mais geográficos, econômicos, raciais, culturais Geografia, no qual se podiam ler os acordos notórias as diferenças no que concerne a e religiosos. Desde a criação do termo pelo explicitados na Conferência de Yalta, onde níveis culturais e de desenvolvimento do renomado cientista político sueco Rudolf ditaram as premissas ordenadoras do mundo eixo Norte-Sul. Kjellen (1864-1922), em 1916, em seu pós-guerra e que, certamente, moldaram os O Estado-Nação continua sendo o ele- famoso livro em que consagra o Estado paradigmas mantenedores da Guerra Fria. mento básico do sistema internacional que como organismo vivente, a Geopolítica Entretanto as condições que emoldu- aglutina a identidade nacional, a coesão desenvolveu seu conceito básico segundo ravam o conflito Leste-Oeste e os ideais de um povo e mantém a sua soberania. o qual os Estados possuem muito das democráticos do mundo ocidental fizeram Entretanto já não constitui o único ator características dos organismos viventes. modificar substancialmente seus funda- relevante, e a soberania muitas vezes deve Ao mesmo tempo, se anuncia a ideia mentos e objetivos. Daí, originaram-se subordinar-se à conveniência de acatar as de que um Estado teria de crescer, expan- novas teorias emanadas por potências regras impostas pela globalização. No ce- dir-se ou morrer dentro das fronteiras vivas. como Inglaterra, França e Estados Unidos, nário atual surgem novos e atuantes atores. Devido a isso é que tais fronteiras têm que se orientaram basicamente em exercer Entre estes podemos enumerar os blocos uma natureza dinâmica e são susceptíveis o controle em determinados espaços ter- econômicos regionais, as reagrupações a mudanças. A Geopolítica é uma ciência restres e marítimos considerados chaves, de Estados objetivando a defesa mútua, que por meio da Geografia Política, da o que se materializa por meio de uma as grandes empresas multinacionais e Geografia Descritiva e da História, estuda gravitação estratégica e econômica, sem as organizações não governamentais. A a causalidade espacial dos acontecimentos necessidade de perpetrar uma anexação Geopolítica segue, portanto, vigente, com políticos e seus futuros efeitos. territorial do tipo formal. novos atores e cenários, porém em franco A Geopolítica teve grande aceitação A expressão prática desta visão está desenvolvimento n

11 j VIAGEM DE ESTUDOS DO IX CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO

Araken Hipolito da Costa Cel Av Editor da Revista Aeronáutica AMAZÔNIA OCIDENTAL O Clube de Aeronáutica marcou presença na Amazônia Ocidental com a participação dos integrantes do IX Curso do Pensamento Brasileiro. No período de 19 a 23 de novembro de 2018 foi cumprido o planejamento para conhecer o trabalho das Forças Armadas na Região Amazônica e, também, das instituições culturais e científicas.

Maj Brig Perez, Presidente do As etapas foram do Aeroporto Clube de Aeronáutica, planejou Santos-Dumont a Confins e, após Oe solicitou apoio do Comando abastecimento, prosseguimos com da Aeronáutica para proporcionar destino a Cachimbo e, ao final da aos 31 participantes da comitiva do tarde, pousamos em Ponta Pelada CAER observar a Amazônia. A comi- (Manaus). As boas-vindas do co- tiva foi composta pelos participantes mandante da Ala 8, Brig Ar Mauricio do IX Curso do Pensamento Brasileiro, Carvalho Sampaio, e de seus auxi- coordenado pelo Cel Av Araken Hipolito liares foram extremamente gentis da Costa, Diretor do Departamento e, no transcurso de nossa estadia, Cultural do CAER. foram de inestimável ajuda com apoio O Curso do Pensamento Brasileiro preciso e fundamental para que nos tem como objetivo dedicar estudos ao sentíssemos em casa. Pernoitamos Pensamento Brasileiro, que nos permita no agradável e remodelado Hotel tomar consciência do que de fato é Tropical, sendo as despesas com ser brasileiro, além de nos estimular a hospedagem pagas individualmente preservar a cultura e os valores morais pelos participantes da viagem. e nacionais, partes singulares de nossa brasilidade, daquilo que nos constitui como Nação. O início da missão foi marcado pela ansiedade em poder atingir pontos do nosso Brasil que somente são possíveis pelas asas da Força Aérea, principal- mente para a maioria dos participantes civis. No primeiro dia, 19 de novembro, segunda-feira, deixamos a sede central do CAER e nos dirigimos a pé para a estação de passageiros do DECEA (antigo III COMAR), de onde decolamos às 10 horas, sob o comando do Cap Av Marangon, na aeronave C-99 do Esquadrão Condor, do 1º/2º GT sediado no Galeão. j 12 VIAGEM DE ESTUDOS DO IX CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO AMAZÔNIA OCIDENTAL

CINDACTA IV – Manaus

o segundo dia de viagem, 20 de no- e telecomunicações aeronáuticas. O Nvembro, terça-feira, a nossa primeira CINDACTA IV atua em uma área de 5,2 visita foi ao Quarto Centro Integrado de milhões de quilômetros quadrados, cerca Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo, de 60% do território nacional, abrangendo mais conhecido como o CINDACTA da os estados do Amazonas, Pará, Roraima, Amazônia. Seu comandante é o Cel Av Rondônia, Amapá, Acre, Mato Grosso, Nilo Sérgio Machado de Azevedo, que Tocantins e parte do Maranhão. brindou a comitiva com uma apresen- Terminada a palestra, o Cel Av Miran- tação detalhada sobre a organização da, 1º Vice-Presidente do CAER, fez os subordinada ao DECEA e responsável agradecimentos do Grupo do Pensamento pelo controle e gerenciamento do espaço Brasileiro, após os participantes percor- aéreo do Norte do país. reram as instalações e, em especial, as Mais de trezentos mil movimentos salas de operações. O grupo do Pensa- aéreos recebem anualmente o apoio mento Brasileiro apreendeu a relevância dos serviços dessa Unidade, tais como: do CINDACTA IV, pois este representa um gerenciamento de tráfego aéreo, defesa marco de fundamental importância para a aérea, meteorologia, aeronáutica, busca integração soberana do espaço da Região e salvamento, informações aeronáuticas Amazônica.

13 j ALA 8 – Manaus

m seguida nos dirigimos à Ala 8, de helicópteros H-60L (Sikorsky UH-60L Eantiga Base Aérea de Manaus, onde Black Hawk). Esquadrão de Transporte o Comandante, Brig Ar Sampaio, nos Aéreo (7º ETA), Esquadrão Cobra, com saudou com um briefing sobre essa vital aeronaves C-95 e C-95B (Embraer BEM-110 organização, responsável por todo o estado Bandeirante), C-98 (Cessna 208 Caravan) e do Amazonas, embora realize também C-97 Brasília (Embraer EMB-120 Brasília);

missões em toda a Amazônia Ocidental e – 1º Esquadrão do 4º Grupo de Avia- Entrega do símbolo do Pensamento Brasileiro nas demais unidades da Federação, quando ção (1º/4º GAv), Esquadrão Pacau, que e Revista Aeronáutica do CAER, pelo 2º Vice-Presidente, Brig Ar Paulo, acionada. Discorreu sobre suas Unidades marca para a Base Aérea de Manaus o ao Cmt da Ala 8, Brig Ar Sampaio subordinadas: início de uma nova empreitada, pois soma – 1º Esquadrão do 9º Grupo de esforços com as demais Unidades Aéreas Aviação (1º/9º GAv), Esquadrão Arara, sediadas, no sentido de cumprir com mais o último esquadrão da FAB a utilizar os eficácia a missão de manter a soberania do C-115 (De Havilland DHC-5 Buffalo), tendo espaço aéreo nacional, com vistas à defesa já recebido as primeiras aeronaves CASA/ do Brasil, em consonância com a Estratégia EADS C295, fabricadas na Espanha, aqui Nacional de Defesa; denominados C-105 Amazonas. Até 15 de – Hospital de Aeronáutica de Ma- outubro de 2007 havia chegado um total de naus, Batalhão de Infantaria da Aeronáu- oito aeronaves. O esquadrão é reconhecido tica Especial de Manaus (BINFAE-MN), pelo valioso trabalho desenvolvido nas Esquadrão de Material Bélico (EMB) e asas do C-115 Búfalo, desativado em 2008 Destacamento de Suprimento e Manu- e substituído pelo C-105 Amazonas, no tenção de Manaus (DSM-MN). cumprimento de missões de transporte e Após a apresentação percorremos de evacuação aeromédica junto às comu- uma exposição estática das aeronaves e nidades mais longínquas da Amazônia, aos seus equipamentos, pertencentes à Ala 8, Pelotões de Fronteira do Exército Brasileiro no Hangar de Ponta Pelada. Prosseguimos (PEF), à Fundação Nacional de Saúde, à para o Rancho, onde almoçamos um gos- Polícia Federal e aos demais órgãos go- toso peixe tucunaré. Foi nesse momento vernamentais; que o Brig Ar Paulo, 2º Vice-Presidente – 7º Esquadrão do 8º Grupo de Avia- do CAER, agradeceu ao Brig Ar Sampaio a Cmt da Ala 8, Brig Ar Sampaio, ladeado pelo Diretor Social, Cel Av Ajauri, ção (7º/8º GAv), Esquadrão Harpia, dotado simpática acolhida pela Ala 8. e pelo Diretor Cultural, Cel Av Araken j 14 TEATRO INPA – Manaus AMAZONAS a parte da tarde nos dirigimos a um símbolo da cidade de NManaus, o Teatro Amazonas, cuja construção iniciou-se em 1882, na época áurea da borracha, em que os barões viveram uma época de ostentação e sonhavam em construir uma cidade europeia em plena Floresta Amazônica. Depois de observarmos a sua imponente fachada rosa, adentramos no Teatro e contem- Cel Av Miranda, 1º Vice-Presidente do CAER entrega o opúsculo do plamos sua cúpula composta de 36 mil peças de escamas em Pensamento Brasileiro à bióloga Rita Mesquita, junto aos membros da cerâmica esmaltada e telha vitrificada, representando a bandeira comitiva: da esq. p/a a dir. Antônio Paulo, Cel Av Cutrim e Alcides Carneiro brasileira. Domenico de Angelis, Giovani Capranesi e Crispim do o final da tarde, chegamos ao INPA (Instituto Nacional de Amaral, grandes nomes de artistas trazidos da Europa, foram Pesquisas da Amazônia). Criado em 1952 e implantado em responsáveis pelas belas pinturas do salão nobre e da sala de A 1954, vem ao longo dos anos realizando estudos científicos do espetáculos. Tem capacidade para 701 pessoas na plateia e nos meio físico e das condições de vida da Região Amazônica para três andares de camarote. A restauração foi realizada em 1990, assim promover o bem-estar humano e o desenvolvimento socio- e contou com a participação de um dos membros da comitiva, o econômico regional. Atualmente o INPA é referência mundial em Sr. Fernando Bicudo, Presidente do Theatro Municipal do Rio de Biologia Tropical. Os primeiros anos do INPA foram caracterizados Janeiro, que narrou as modificações introduzidas naquele período. por pesquisas, levantamentos e inventários sobre fauna e flora. Atualmente o Teatro sedia o Festival Amazonas de Ópera, evento Hoje o desafio é expandir de forma sustentável o uso dos recursos anual que movimenta o cenário musical da cidade. naturais da Amazônia. Para cumprir essa meta, o Instituto dispõe das seguintes coordenações: Capacitação, Administração, Ações Estratégicas, Extensão e, ainda, quatro Coordenações de Pesquisa focadas em: Dinâmica Ambiental; Sociedade, Ambiente e Saúde; Tecnologia e Inovação; e Biodiversidade. Nossa visita se iniciou pelo Bosque da Ciência, inaugurado em 1º de abril de 1995, con- cretizando o sonho da instituição de abrir as portas à comunidade. O Bosque da Ciência tem aproximadamente 13 (treze) hectares e está situado na Zona Central-Leste da cidade de Manaus. Criado para fomentar e promover programas de difusão científica e educação ambiental do INPA, o Bosque preserva simultaneamente a biodiversidade do local. Após uma rápida apresentação sobre parte da flora e fauna locais, a bióloga Rita Mesquita nos encaminhou para uma sala (Casa da Ciência) no próprio Bosque, onde fez uma apresentação mais formal sobre o INPA. Agora já familiarizada com o grupo, detalhou o tortuoso caminho atualmente vivenciado pela instituição. Esta se encon- tra na eminência de perder parte significativa de seu corpo de técnicos (aposentadoria), sem que possam transferir o conhe- cimento construído a duras penas. Como em grande parte das instituições públicas, as privações do INPA não se restringem ao corpo técnico. A infraestrutura básica para funcionamento do Bosque encontra-se também comprometida pela redução de repasses federais. Como todo órgão público, o INPA sofreu ao longo das décadas com as restrições orçamentárias, o que vem comprometendo seus projetos estratégicos. Por outro lado, a dedicação ao trabalho permite ainda que o Instituto se mantenha como referência quando o objeto de estudo é a Região Amazônica. A palestrante nos apresentou um cenário que vem se

15 j COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA – Manaus a manhã do terceiro dia de viagem, N21 de novembro, quarta-feira, após o café bem variado e típico da cozinha amazonense, no Hotel Tropical, nos dirigimos à sede do Comando Militar da Amazônia, onde tivemos a oportunidade ímpar de assistir a apresentação do Gen Bda Edson Skora Rosty, Chefe do Esta- do-Maior do CMA, sem interferência do politicamente correto. alterando ao longo do tempo. Fenômenos público e citado pela bióloga são as Plantas O Comando Militar da Amazônia como estiagem ou chuvas torrenciais ti- Alimentícias Não Convencionais (PANC’s), (CMA) foi criado no ano de 1956 e esta- nham até pouco tempo atrás seu momento que como seria esperado, têm seu paraíso belecido em Belém do Pará. No ano de de ocorrência previamente conhecidos. na extensa, desconhecida e diversificada 1969, a sede foi transferida para Manaus, Hoje, no entanto, esses episódios ocorrem Floresta Amazônica. no Amazonas. A partir de 2013, após a de forma cada vez mais acirrada, ou seja, Em relação à distribuição das terras criação do Comando Militar do Norte, tanto as enchentes quanto as secas são pretas na Amazônia, em conversa com a com sede em Belém, os dois Grandes mais frequentes e catastróficas. bióloga Rita, o pesquisador do Pensamento Comandos Operacionais foram separa- Essas mudanças climáticas podem Brasileiro Alcides Carneiro levantou a ques- dos: um ficou responsável pela Amazônia estar associadas à questão dos rios tão referente a esse fenômeno, citando o Oriental; e o outro, pela área da Amazônia voadores que, segundo a bióloga, têm livro 1499 – O Brasil antes de Cabral, de Ocidental. sentido a perda significativa do que seria o Reinaldo Lopes, que entre outras afirma- A área sob a responsabilidade do manancial do Pará, onde o desmatamento ções supõe que a população indígena da CMA estende-se pela extensa faixa de já comprometeu a maior parte do território. região seria compatível com a atual, e as fronteira que totaliza 9.762 quilômetros, O comportamento desse caudaloso rio de terras pretas seriam a principal evidência sendo limítrofe com cinco países do vapor aéreo vai encher os reservatórios de do fato, pois estas são sabidamente de continente sul-americano, extensão três água das regiões ao sul da Amazônia, que origem humana, no que foi corroborado vezes maior que a fronteira dos EUA com por sua vez gerarão a principal fonte da pela pesquisadora. o México. Possui 26 mil quilômetros de matriz energética brasileira e que, poste- Concluindo, acreditamos que para o vias navegáveis, e o regime das águas riormente, irrigarão com o precioso líquido nosso grupo de Estudos do Pensamento determina a vida do ribeirinho. Há uma os lares da imensa maioria da população. Brasileiro essa viagem pode ser entendida diversidade enorme na área, a saber: A dificuldade para obtenção de uma como um divisor de águas, em que passa- o pólo industrial de Manaus e cidades patente foi outro fato pontuado pela remos necessariamente a olhar de frente vizinhas, com mais de 550 indústrias, palestrante, já que a burocracia brasileira a Região Norte (todos os palestrantes suporta uma população que é a metade impede a efetiva utilização pela sociedade observaram a necessidade dessa mudança de toda a população do estado, tendo de resultados obtidos por meio da pes- de postura da população). Já foi citada por consequência um imenso vazio de- quisa. Outro produto pouco conhecido do anteriormente a premente preservação das mográfico nas demais áreas; há também florestas, a fim de manter caudalosos nos- os lavrados de Roraima; a área da Cabeça sos rios voadores. Outro fator de segurança do Cachorro; o Alto Solimões; e o estado nacional e tão monumental como tudo que de Rondônia. ocorre na Amazônia é o Aquífero Alter do A importância da Amazônia pode ser Chão, este genuinamente nacional, e com sintetizada em três aspectos principais, reserva superior ao internacional e mais dentre outros: maior banco genético do popular Aquífero Guarani, mesmo estando planeta; maior província mineralógica distribuído por um território pelo menos da Terra; e 1/5 da água doce do planeta. três vezes menor. No gráfico ao lado são Assim, podemos afirmar que a Amazônia apresentadas informações e referências tem vários desafios. O primeiro deles é sobre o Aquífero Alter do Chão. j 16 COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA – Manaus das? Qual será a opinião da sociedade cações. Tudo isso funciona no regime de local, dos brasileiros de uma maneira geral 24x7x365, ou seja, uma prontidão sideral. e da comunidade internacional? Os militares atuam, pois, com o lema Outro desafio diz respeito à Questão Braço Forte, Mão Amiga desenvolvendo Ambiental, em que buscamos respostas operações permanentes e episódicas e para as seguintes perguntas: Como pre- apoiando, de maneira quase irrestrita e servar? Como explorar? Como desenvol- total, a população local, em especial nos ver? A área possui 660 mil quilômetros Pelotões de Fronteira sob o trinômio Vida quadrados de Unidades de Conservação, – Combate – Trabalho que envolve a pro- com diferentes graus de regulamentação teção que se deseja para aquela área espe- mais ou menos permissivos sobre o que cífica. As Forças Armadas têm ido muito é ou não é permitido fazer. Cinquenta por além de seus deveres, desempenhando o Gen Bda Rosty, Chefe do Estado-Maior do CMA cento desta área encontra-se na faixa de papel da Polícia Federal (na repressão a a Questão Indígena. Esta possui alguns fronteira. Por outro lado, as dificuldades crimes e no acolhimento de refugiados); pontos polêmicos a considerar. Integrar logísticas para os deslocamentos na área realizando ações cometidas ao Ministério ou segregar o índio? A extensão das suas impõem maiores servidões se quisermos da Saúde; e promovendo a integração das terras e a demarcação em áreas contínuas o desenvolvimento sustentável. tribos com os representantes do Estado, ou em ilhas? E como explorar as riquezas E, como último desafio, a área é tendo desenvolvido atividades que provam no âmbito das terras indígenas? Qual a deficiente na produção e distribuição aos índios a leal amizade, a tal ponto que política que o governo brasileiro vai definir de energia elétrica, aí incluída a capital eles ensinam as novas gerações a serem para cada uma das questões apresenta- Manaus, dependente da transmissão de gratas pela atuação dos militares, que Tucuruí ou da energia fornecida desde a eles percebem ter ido para ficar e para Venezuela. defendê-los. Acrescente-se a isso, o fato de a área Devemos citar o lema que guia, há já sofrer com a problemática que atinge muitos anos, os homens de farda que todo o país: as facções criminosas, que servem na área: Árdua é a missão de lá se instalaram, são um ingrediente a desenvolver e defender a Amazônia. mais na criminalidade das cidades, além Muito mais difícil, porém, foi a de da imensa dificuldade dos típicos crimes nossos antepassados de conquistá-la e praticados na faixa de fronteira. mantê-la. De autoria do General Rodrigo Pode-se, pois, concluir, que a Ama- Otávio, Comandante eterno do CMA, essa zônia Ocidental tem uma precariedade frase baliza a atual missão síntese deste gigantesca no que diz respeito à infraes- Grande Comando: preparar e empregar, trutura, colaborando para que haja um prevenir e reprimir, desenvolver e apoiar. imenso vazio do poder, estando a presen- Para tal, tem como visão de futuro estar ça do Estado limitada ao trabalho hercúleo efetivamente presente e elevar a opera- das Forças Armadas desdobradas nesse cionalidade em toda a área de atuação até imenso território. Isso exige uma neces- 2022. É por isso que homens e mulheres sidade de permanente prontidão das Uni- seguem firmes nos seguintes princípios dades subordinadas ao Comando Militar: e valores: comprometimento, camarada- desde os Pelotões de Fronteira na imensa gem, simplicidade e segurança. linha de fronteira, até aos órgãos de apoio Ao deixarmos o CMA, nos dirigimos estabelecidos mais à retaguarda; desde para a Ala 8, onde almoçamos, embarcan- as sedes dos Comandos de Brigada, até do em seguida na aeronave C-105 Ama- Manaus, onde se localizam as instalações zonas, do 1º/9º GAv, Esquadrão Arara, mais significativas para o apoio logístico, com destino a São Gabriel da Cachoeira, Comandante Militar da Amazônia, Gen Ex César Augusto Nardi de Souza incluindo aí os meios aéreos e as embar- distante uma hora e vinte minutos de voo.

17 j SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA epois do pouso, seguimos em direção à senta um inestimável valor geopolítico, o que Dsede da 2ª Brigada de Infantaria e Selva, a transformou, historicamente, desde quando com sua importante missão de defender a descoberta e conhecida até aos dias atuais, região denominada Cabeça de Cachorro. em um importante e cada vez mais crescente Lembramos que a Região Amazônica foi uma alvo da cobiça internacional. conquista portuguesa feita durante o período E como bem declarou o grande escritor de união das Coroas Ibéricas, por ordem do , a imensidão da Amazônia próprio Rei da Espanha, Felipe IV, preocupado é tão majestosa que de súbito a inteligência com as infiltrações inglesas, francesas e humana não lhe suporta o peso (...). bordinada ao Comando Militar da Amazônia, holandesas no Vale do Rio Amazonas. Tais fatores, aliados à transnacionalidade possui seu Quartel-General em São Gabriel Em 1763, os portugueses construíram e à supranacionalidade das questões relativas da Cachoeira (SGC), uma cidade do estado o Forte São Gabriel. Em 1784, o engenheiro à preservação do Meio Ambiente e à proteção do Amazonas privilegiada por belíssimas militar Manuel da Gama Lobo d´Almeida é de povos indígenas, aspectos esses com- paisagens naturais, situada às margens do nomeado para assumir o Comando Militar plementados pela crescente militarização da Rio Negro. Cabe mencionar que SGC é o do Alto Rio Negro, composto pelos fortes de ecologia, notadamente por parte de potências município com a maior população de cida- São Gabriel e São José de Marabitanas, atual militares e econômicas, colocam a região em dãos brasileiros de ascendência indígena, Cucuí, distrito de São Gabriel da Cachoeira, expressiva e permanente evidência no âmbito o que obrigatoriamente torna a 2ª Bda Inf Sl além de um quartel na Vila Mariuá, atual Bar- da conjuntura mundial, mantendo a temática uma das mais legítimas herdeiras das tropas celos. Sua missão era orientar o povoamento, amazônica constantemente presente em im- que galhardamente expulsaram os invasores promover a defesa e desenvolver a região. portantes foros internacionais de discussão. estrangeiros em Guararapes, quando nasceu A comitiva foi recebida pelo Comandante Por tudo isso, cabe ressaltar que a ma- a nacionalidade brasileira e o próprio Exército da 2ª Bda Inf SL, Gen Bda Omar Zendim, ao nutenção da ordem e a proteção da Amazônia Brasileiro. É importante assinalar então que há som da banda de música, com dobrados e dos cidadãos brasileiros de ascendência relação e ligação simbólica entre os indígenas em homenagem à Força Aérea. Os soldados indígena que nela habitam são misteres indis- daquela época e o grande número de soldados incorporados são indígenas da região e são pensáveis e intangíveis, posto que tais ações de ascendência indígena que hoje integram, conhecedores da selva, de todos os seus pe- são importantes medidas que fortalecem, em quase sua totalidade, os efetivos da Briga- rigos e de suas limitações. Seis deles, sendo sobremaneira, a soberania do Brasil nessa da Rio Negro. Trata-se de militares altamente uma mulher, prestaram honra à comitiva com estratégica parte do território nacional. aguerridos, profundos conhecedores dos gritos de guerra relativos às seis diferentes Cabe referenciar por oportuno o des- rios e da selva, disciplinados e cumpridores etnias de cidadãos brasileiros de ascendência tacado amazonólogo Samuel Benchimol, da missão e que constituem atualmente uma indígena. A recepção foi um momento ines- quando disse que a Amazônia tem um valor excepcional força de combate, da mesma quecível naquele final de tarde em São Gabriel incomensurável, mas jamais terá um preço, forma que em tempos de outrora. da Cachoeira, deixando a todos da comitiva seja ele qual for, seja preço de moeda, seja A área de responsabilidade da 2ª Bda emocionados e com sentimento de brasilidade preço de acordo, seja preço de tratado. Ela é Inf Sl abriga cerca de 91.333 habitantes, à flor da pele. inegociável, porque está intimamente ligada inserindo-se nesse contingente as vinte e Nos momentos seguintes nos dirigimos ao futuro e ao presente deste país. três distintas etnias que enquadram os ci- ao auditório da Brigada, onde o Gen Omar Nesse sentido, a manutenção da ordem dadãos brasileiros de ascendência indígena, proferiu uma palestra abordando o trabalho, e a proteção de grande parte desta imensa englobando os municípios de São Gabriel da sedimentado pelo amor à Pátria, desenvolvido Floresta e de toda a riqueza tangível ou não Cachoeira e Barcelos (respectivamente o 3º pelo Exército na região. Em síntese, ele disse nela contida, incluindo os milhares de habi- e o 2º maiores do Brasil em extensão), Santa que a Amazônia é a maior floresta tropical do tantes autóctones ou não, está confiada à 2ª Isabel do Rio Negro, perfazendo o total de mundo, e nela encontra-se também a maior Brigada de Infantaria de Selva (2ª Bda Inf Sl), 294.507 quilômetros quadrados, superfície biodiversidade do planeta. A parte brasileira, denominada Brigada Rio Negro, em home- maior do que o estado de São Paulo, ou que Patrimônio do Brasil, cobre mais da metade nagem ao principal rio de mesmo nome que, a soma dos territórios dos estados brasileiros do território nacional e abriga incomensurá- com seus afluentes, banha sua vasta área de de Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Espí- veis riquezas naturais e minerais, juntamente responsabilidade, localizada no extremo noro- rito Santo, Rio de Janeiro, Alagoas e Sergipe. com as diversidades étnica e cultural repre- este do país, na estratégica região conhecida A complexa fisiografia da região, carac- sentadas pelos diversos grupos de cidadãos como Cabeça do Cachorro. terizada por selva densa, elevadas serras, brasileiros de ascendência indígena. Além A 2ª Bda Inf Sl, grande Unidade Opera- inexistência de estradas e rios bastante disso, cabe aduzir que a região em tela repre- cional do Exército Brasileiro, diretamente su- pedregosos, encachoeirados e sujeitos a con- j 18 sideráveis secas, causa impacto considerável voltadas para o desenvolvimento sócio- obter um conhecimento mais aprofundado na logística e nas operações, exigindo planeja- -econômico de sua imensa área de atuação, sobre a Amazônia. mento meticuloso e ações bastante peculiares realizando diversos e importantes apoios em No início da noite, rapidamente nos para o cabal cumprimento da missão pela 2ª prol das comunidades de brasileiros de as- dirigimos aos nossos alojamentos para o Bda Inf Sl. Estando permanentemente des- cendência indígena. No ano de 2017, as ações pernoite. Devemos destacar o esmero com dobrada ao longo dos 1.700 quilômetros de cívico-sociais, em parceria com a Secretaria que os quartos foram preparados. O jantar foi fronteira com a Colômbia e a Venezuela, a 2ª Especial de Saúde Indígena/Distrito Sanitário uma agradável surpresa, pela hospitalidade, Bda Inf Sl controla as principais penetrantes Especial Indígena do Alto Rio Negro, estiveram calorosa recepção, apetitosa gastronomia e fluviais e terrestres, sendo esta missão levada presentes nas calhas dos principais rios da música ambiente. a cabo pela presença diuturna e permanente região, realizando quase 2.000 atendimentos Na manhã do dia 22 de novembro, e por operações reais ininterruptas, inibindo médicos, 1.500 atendimentos odontológicos, quinta-feira, nos encaminhamos ao refeitório e ou reprimindo ilícitos transfronteiriços e beneficiando cerca de 10.000 pessoas de 23 da Brigada de São Gabriel da Cachoeira para ambientais em sua área de responsabilidade. etnias indígenas. o saboroso café da manhã. Desse ponto Cabe à Brigada Rio Negro o cumprimento das Prosseguindo no trabalho de antepas- avistamos um belíssimo panorama da cidade seguintes missões: contribuir para a defesa da sados e antecessores, com incomensurável embaixo margeada pelo Rio Negro; a sensa- Pátria como Força de Vigilância Estratégica; e estóico esforço de cada um de seus inte- ção era semelhante à de uma cidade praiana, atuar na Garantia da Lei e da Ordem (GLO), de grantes, a 2ª Bda Inf Sl vem cumprindo os ob- pela imensidão do rio e pela grande faixa de forma preventiva e operativa, particularmente jetivos estabelecidos pelo Exército Brasileiro, areia em seu entorno. na faixa de fronteira; e cooperar com o desen- o invicto Exército de Caxias, nesta estratégica No caminho do refeitório para o campo volvimento sustentável econômico e social região, patrimônio inalienável do Brasil, man- de pouso tivemos outra surpresa, quando o em sua área de responsabilidade. tendo sempre como foco o seguinte lema, de Gen Omar nos encaminhou para a sala onde a A vigilância avançada é realizada, em autoria do General de Exército Rodrigo Octávio banda de música nos esperava para executar a uma primeira linha, pelos sete pelotões de Jordão Ramos: Árdua é a missão de desen- famosa Peça 1812, de Tchaikovsky, deixando fronteira e, em profundidade, com o CFRN/5º volver e defender a Amazônia. Muito mais a todos inebriados pela riqueza melódica da BIS e 3º BIS, tudo para efetivamente se fazer difícil, porém, foi a de nossos antepassados obra desse grande músico e, sobretudo, presente e atuante no sentido de manter de conquistá-la e mantê-la. Selva! pela técnica expressiva dos integrantes da expressiva capacidade dissuasória. Além da Durante a apresentação os integrantes banda, mormente por estarem em local tão missão constitucional de Defesa da Pátria, a da comitiva tiveram a oportunidade de dirimir distante de nossos centros culturais. Foram 2ª Bda Inf Sl também tem suas prioridades suas inúmeras dúvidas, o que permitiu a todos aplaudidos de pé!

19 j MATURACÁ

rosseguimos para o campo de pouso, ao Pelotão, caminhou de mãos dadas com o gena da etnia Yanomami, perfilados, entoaram Pembarcamos e decolamos para Maturacá, Chefe indígena Yanomami, pois ambos se o Hino Nacional Brasileiro. Todos os membros com duração de voo prevista de trinta minutos conheciam há mais de quinze anos. Esta ima- da comitiva perceberam a grandiosidade do a bordo do C-105. A visão do alto é sempre gem simboliza o amor, o respeito, a amizade, ato, pois representou o amor à Pátria e a dis- estonteante, graças à imagem do Pico da a confiança entre o Exército Brasileiro e os posição de prontamente defendê-la. São exem- Neblina, do lagos e das verdes florestas. Após brasileiros indígenas. Este momento marcará plos de coragem, determinação e altruísmo. o pouso em Maturacá, caminhamos cerca de de modo indelével os corações dos membros Depois de voltarmos à calma, pudemos um quilometro na própria pista até ao Pelotão da comitiva. visitar as instalações do Pelotão. Acompa- de Fronteira. Este Pelotão surgiu em 1989, Os Estudos do Pensamento Brasileiro nhados por brasileiros indígenas, provamos como Destacamento, com a finalidade de mostram como a ideia do Marquês de Pombal diversos doces e salgados produzidos interna- preparar a base para a futura instalação do 5º deixou marcas, pois a decisão portuguesa mente, e nos refrescamos com água de coco Pelotão Especial de Fronteira. Em 1994, dando de conviver em paz com todos que quises- e sucos das frutas locais. prosseguimento à ocupação militar denomina- sem viver nestas terras foi a base de nossa Com muitas fotos e fortes impressões, da Projeto Calha Norte, foi inaugurado no sopé miscigenação, e perdurou com os povos que caminhamos para o retorno a aeronave. Decola- do Parque Nacional do Pico da Neblina, em migraram para o Brasil. mos para São Gabriel da Cachoeira na aeronave Maturacá, o 5º Pelotão Especial de Fronteira. Fortes emoções foram sentidas na visita C-105 Amazonas. O voo teve a duração de Durante a caminhada na pista, tivemos a ao Pelotão de Fronteira de Maturacá. Um mo- trinta minutos, ao final dos quais pousamos no oportunidade de presenciar algo inédito para mento especial foi quando a tropa composta Destacamento da Aeronáutica de SCC. nós da cidade: o Gen Omar, que nos conduziu por soldados brasileiros de ascendência indí- Este Destacamento é utilizado como base aérea operacional e de desdobramento, tendo por objetivo apoiar as Unidades aéreas deslocadas para o município, além de fornecer apoio logístico, normalmente com o Plano de Apoio à Amazônia, em conjunto com o Exército Brasileiro, na logística de suprimen- tos aos sete pelotões especiais de fronteira: Yauaretê, Querari, São Joaquim, Cucuí, Maturacá, Pari-Cachoeira e Tunuí-Cachoeira. Após nossa refeição no Destacamento, regressamos a Manaus, completando o nos- so ciclo de palestras e visitas, nesta missão repleta de conhecimentos e aventuras. j 20 CONSIDERAÇÕES Grupo de Estudo do Pensamento amor, os quais estão na base da ação prática mundo atual, em que os avanços científicos O Brasileiro, refletindo sobre a viagem do nosso povo e no desejo de construir de e tecnológicos são fatores primordiais não de estudos à Amazônia, fez as seguintes uma Nação mais justa. Tais valores repudiam, somente para a Defesa Nacional, como, tam- considerações: em sua essência, todas as formas de mate- bém, para a melhoria da qualidade de vida da – As Forças Armadas são a base do rialismo e totalitarismo, típicos das ideologias sociedade, fica evidente a necessidade de o desenvolvimento, da integração e da defesa nazistas, fascistas e comunistas. Governo investir em política na área cientifica, da Amazônia. O uso do potencial humano – Visitando o belíssimo Teatro Amazo- a fim de atender sua dimensão estratégica. para este trabalho são os brasileiros natos nas constatamos a importância da Ópera e Concluindo, nota-se que, no Brasil, a da região e os ascendentes indígenas de da Música como manifestação do espírito falta de uma Filosofia Política tem gerado, diversas etnias, possibilitando a formação e, junto à cultura popular, traduzem a sen- ao longo da História, contradições internas e e manutenção da identidade nacional, mor- sibilidade da alma nacional. Observamos externas, o que faz com que a prática política mente para inserir os valores éticos, morais, na cultura popular da região, fortemente deixe as improvisações empíricas ao sabor culturais do que constitui a nossa brasilidade. inspirada no folclore, bases essencialmente emotivo dos governantes. Assim, mesmo com a população rarefeita lusitanas, embora o indígena e o negro, Na atualidade brasileira, pensar uma da Amazônia, conseguem manter os pontos evidentemente, tenham influenciado essa Filosofia Política para esta permanência, sensíveis das nossas fronteiras e uma circu- formação, contribuindo com seus rituais, que contemple a paz, o desenvolvimento, lação necessária à vida econômica e social. seus cantos, suas músicas e suas danças. a justiça, a prosperidade para o maior – Um fator importante encontrado nesta Atualmente é intensamente mestiçado. O número de cidadãos, modelo exemplar de região é a fé em Deus, por intermédio das perfil da Amazônia de hoje é dotado de múl- convivência com as outras nações amigas, religiões cristãs que valorizam a união da tiplas facetas culturais e do sentimento de é tarefa para os pensadores que trabalham família e da sociedade. A filosofia social no liberdade e de vida comunitária dos ritmos e para tal finalidade. Devem ser observados Brasil norteia-se pela busca do bem comum danças indígenas. os conceitos básicos, que são: a liberdade, dos cidadãos, alicerçada pela orientação – Após a visita ao INPA, constatamos a igualdade, a propriedade e a segurança da filosofia tomista. Os valores nacionais que os estudos científicos do meio físico e dos indivíduos como pessoas, sem perder o fundamentam-se na ética cristã e nos valores das condições de vida da Região Amazônica objetivo final, que é a própria liberdade como absolutos do cristianismo como verdade, continuam a sofrer restrições e, em decor- limitação do poder político e o estímulo do justiça, bondade, honestidade, abnegação e rência, comprometendo seus projetos. No poder econômico. Símbolo de amizade. Gen Bda Omar Zendim, Comandante de Infantaria de Selva junto aos brasileiros de ascendência Ianomami

21 j PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR GUERRA AÉREA O objetivo deste artigo, que faz parte do DO PODER AEROESPACIAL NA CURSO DO PENSAMENTO BRASILEIRO, visa relembrar os conceitos apresentados no Seminário Guerra Aérea, utilizando o método exploratório hipotético dedutivo, em que foram levantadas as questões sobre o problema, as quais envolvem o estabelecimento do pensamento estratégico militar do poder aeroespacial na Amazônia, AMAZÔNIA privilegiando a guerra aérea. Este trabalho não se esgota em si mesmo, inclusive por não ser abrangente, sendo uma forma de contribuição sobre a Guerra Aérea. Imagina-se Sun Tzu como o grande influenciador dos estrategistas militares do Ocidente, inclusive de Clausewitz. Entretanto Sun Tzu somente passou a ser conhecido no Ocidente após as guerras napoleônicas. Vegetius, general romano, foi quem influenciou o pensamento estratégico militar do Ocidente, enfatizando a estratégia de dissuasão.

“Portanto, quem deseja a paz, prepara a guerra; quem aspira a vitória, adestra seus soldados diligentemente; quem deseja determinar o resultado dos eventos, luta se valendo da arte e não da sorte. Ninguém provoca, ninguém se atreve o ofender, quem percebe como sendo superior em combate.” Vegetius, século IV

1. WORLD WAR I E WORLD WAR II No início do século XIX, com a chegada e o emprego da arma aérea, o avião veio modificar todos os cenários de guerra; as guerras nunca mais seriam as mesmas. Des- de o conflito da Turquia e, principalmente na World War I e na World War II, a arma aérea teve seu emprego baseado nos teóricos do poder aéreo: Douhet, Trenchard e Mitchell. Douhet, na sua segunda obra (1927), defendeu a criação de uma força aérea independente. A primeira força aérea inde- pendente a ser criada foi a Royal Air Force. A Defesa Nacional somente poderia ser asse- gurada por uma Força Aérea dimensionada e com capacidade de, em caso de guerra, conquistar e manter o domínio do ar. (Gen. Giullio Douhet, 1927) A World War II foi rica em ensinamentos no emprego das teorias dos estrategistas militares (Vegetius, Maquiavel, Clausewitz e Jomini) e dos teóricos do poder aéreo (Douhet, Trenchard, Mitchell e Seversky). A Batalha da Inglaterra foi um dos episódios marcantes sobre o emprego do poder aéreo na World War II, pela visão da política e estratégia. A revolução nuclear – Hiroshima e Naga- zaki (a dissuasão falhou) – ago. 1945. A arma absoluta acabou com a guerra total – ruptura. j 22 Luiz Fernando Póvoas da Silva Cel Av Líder de Esqd Caça (PifPaf Espadas – Jaguar 33 – Ex-Pampa 01) - Oficial Sistema DA (CINDACTA I) - Chefe do COA (GDA /1a ALADA) – Chefe do COA (1oGAVCA /BASC) - Diretor Ops (CISCEA) – SubCmte Opl (CINDACTA II) – Cmte 1o /14o GAV (BACO) – Chefe FAe (NuCOMDABRA) – CHEM (COMAT) – Professor Doutor em Ciências Aeroespaciais (PPGCA – UNIFA) GUERRA AÉREA [email protected] 2. COLD WAR 1/GUERRA FRIA 1 (1945) aumento de forte COERÇÃO. Essas estraté- Irã e Coreia do Norte (ameaça nuclear); Ao término da World War II, os Estados gias, na maioria dos casos, não obtiveram o Conflitos armados de alta intensidade Unidos e a União Soviética emergiram como resultado desejado, por falta de um sistema – Síria, Rússia /ISIS; potências nucleares num novo confronto, a cha- de inteligência competente. Conflitos armados de baixa intensidade mada Guerra Fria/Cold War 1 – mundo bipolar. Pape (2006) ainda argumenta que o – Afeganistão, África; Após a World War II, as relações in- poder aéreo, o terrestre e o naval devem ser Venezuela - Bolivarianismo/Socialismo ternacionais entre os Estados perderam a integrados e utilizados em conjunto como – América do Sul (Foro de São Paulo – FSP). característica específica de poder (Estado martelo e bigorna. Westfaliano), passando a ser relações Organismo vivo/paralisia estratégica 5. GUERRA IRREGULAR 4GW /5GW institucionais, com arbítrio de organismos - Fuller, pensador inglês, postulava três – TECNOLOGIA E EFETIVIDADE internacionais (UE, ONU, OEA) – descons- esferas da guerra: física, mental e moral. DE RESULTADOS/TERRORISMO trução da noção de soberania. (Nação/ Essas esferas tratam, respectivamente, da (FUNDAMENTALISMO) Estado – PODER) destruição da força física do inimigo (poder A quarta geração de guerra – 4GW A lógica da arma nuclear é sempre de combate); da desorganização de seus se utiliza de todas as mudanças, de uma dissuasória. Para que exista uma estratégia processos mentais (poder de pensamento); sociedade mecanizada rumo a uma so- de dissuasão nuclear, a mesma somente é e da desintegração de sua vontade moral de ciedade de informação eletrônica para válida se os dois lados tiverem capacidade resistir (poder de resistência). Acrescenta maximizar o poder das insurgências. Esta de retaliação – MAD. que as forças que operam nessas esferas - continua a evoluir juntamente com nossa zem isso de maneira sinérgica, não isolada: sociedade como um todo, fazendo a 4GW 3. PÓS COLD WAR 1 a força mental, a força moral, a força física se tornar cada vez mais perigosa e difícil de Campanha contra o VLS e a assinatura não ganham a guerra isoladamente, mas o ser controlada pelas nações ocidentais. A do Tratado de não Proliferação de Armas que ganha a guerra é a combinação dessas 5GW será resultado de uma continua troca Nucleares (TNP) seria para evitar que o três forças, agindo como uma força única. de lealdades políticas e sociais por causas. Brasil se tornasse uma potência nuclear – Esta ordem tríplice revela-se útil para se Será marcada pelas entidades cada vez Brasil NAÇÃO. compreender a essência de que a destruição menores e pela explosão da biotecnologia. 1989 – Queda do Muro de Berlim, os ou o enfraquecimento de uma delas é a (Hammes, T.X. 2007) Estados Unidos se tornam potência militar causa da paralisia estratégica. GUERRA CIBERNÉTICA 4GW – o hegemônica mundial. Ambiente Cibernético (Network) é tratado NATO/OTAN (allied forces – coalisão) 4. EVOLUÇÃO GEOPOLÍTICA SÉCULO XXI como um novo teatro de guerra, juntamente 1990/1991 – Guerra do Golfo/Iraque – – INTELIGÊNCIA – AMEAÇAS com mar, ar, terra e espaço. Integração de Desert Storm 2015 – A China, segunda economia comunicações e inteligência operacional 1992/2000 – Ioguslávia /Kosovo (es- mundial, com a Ásia/Pacífico vivendo mo- baseada em veículos espaciais, aéreos e tratégia de coerção) mentos de paz e prosperidade, estabelece terrestres. Seleção de alvos diretamente 2011 – EUA/Líbia (Kadafi) um programa de crescimento militar para ligados às lideranças e à estrutura de Co- Estratégias a partir de operações in- aspirar a uma posição hegemônica no mar mando e Controle C2. dependentes do emprego do poder aéreo, do sul da China – controle marítimo (Maha- GUERRA HÍBRIDA - Combinação de utilizando sistemas de armas e bombas nismo) numa faixa até 2.000 quilômetros, múltiplos instrumentos de guerra conven- inteligentes de alta precisão eliminariam a gerando corrida armamentista na região cional e não convencional como: forças liderança inimiga de forma cirúrgica e pelo Ásia/Pacífico; militares regulares, forças irregulares, forças especiais, ataques cibernéticos, PODER AEROESPACIAL – CAPACIDADE DE DISSUASÃO diplomacia, econômica (guerra assi- VON CLAUSEWITZ – a análise trinitária e a gramática da dissuasão métrica), informações e propaganda de Dissuasão IRREGULAR guerra, ataques a suportes locais de Dissuasão NUCLEAR estratégica Paixão, Ódio – POVO Punitiva interesse etc. Razão – POLÍTICA CONFLITOS ARMADOS NA ERA DA DISSUASÃO INFORMAÇÃO - Muitos estadistas e sol- dados se portam como o personagem Dissuasão CONVENCIONAL de Cervantes, em uma época de grandes Por negação, coercitiva ou punitiva Capacidade Opl MILITAR transformações, lutando contra monstros que eram simples moinhos de vento, negan- Guerra Aérea – pensamento estratégico militar PAepc do-se a admitir que talvez exista “algo novo

23 j no front”. Os conflitos atuais têm se carac- 8. PENSAMENTO ESTRATÉGICO MILITAR O Arco Amazônico - Amazônia Brasileira terizado por uma significativa dissonância BRASILEIRO DO PAEPC - AMAZÔNIA 5.200.000 quilômetros quadrados - Cenários entre as expectativas da opinião pública, a A PND/END (LBDN) - estabelece para o Cenário da Conjuntura Atual (pontos intenção no nível político e a percepção dos Brasil a estratégia de Dissuasão, estratégia fortes x vulnerabilidades do PAepc/Arco líderes militares. Nada deve levar a confundir baseada em capacidades – EBC. Amazônico) – meios aéreos e de comando vitória militar com êxito político (conflito ar- Segundo o Ten Brig Murillo Santos, teórico e controle C2 mado nas comunidades cariocas – tráfego do PAepc – toda a estratégia de dissuasão é Proposta de modificação de paradig- de drogas e armas). coercitiva, exige capacidade de ataque, coer- ma, considerando adquirir capacidade de ção, seja de pronta-resposta ou não, senão dissuasão crível, coercitiva; para tanto, o 6. COLD WAR 2/GUERRA FRIA 2 passa a ser estratégia de resistência - defensiva. PAepc, tendo em vista seus pontos fortes e A2/AD – Anti-Access/Area Denied – Pensamento estratégico é muito mais vulnerabilidades, deveria adequar sua estru- Negação de Acesso e Área uma filosofia, uma atitude e uma cultura, tura organizacional/operacional de comando Os novos atores da Guerra Fria do sé- processo evolutivo que trata política – poder e controle C2, inteligência operacional e seus culo XXI – Cold War 2, A2/AD – antiacesso – estratégia – bem comum - geopolítica. meios aéreos (DA, ATQ, SEAD, C-SAR, REVO e negação de área são os EUA/RÚSSIA/ (Bergo, 2008) etc.), na Região Amazônica. CHINA/NATO. As áreas de interesse cor- É um processo importante, em que a Cenário Nacional (oportunidades x respondem: Ásia/Pacífico Ocidental, Mar instituição precisa atingir maturidade estra- ameaças) Sul e Leste da China, Mar Negro, Síria, tégica para avaliar seu comportamento em Cobiça Internacional; Biodiversidade, Kaliningrado (entre Polônia e Lituânia), Mar ambientes competitivos (FGV). Trabalhar Riquezas Naturais e Minerais, Bacia fluvial – Báltico, Mar Ártico. Os meios são sistemas seus pontos fortes e suas vulnerabilidades, Ameaças de Intervenção, Destruição Flores- móveis antimíssil de pequeno e médio enxergar as oportunidades e neutralizar/ tas Tropicais, Proteção das Minorias Étnicas. alcance, mísseis superfície – ar (SAM), eliminar as ameaças. Extensão Territorial, Limitações e Ausên- cruisemissilesanti-ship (ASCM), radares Informação é a maior riqueza estraté- cia do Estado, Ilícitos transnacionais. OTH (over de horizon radar) móveis que gica existente e as informações conectadas Cenário Internacional (qualificação detectam mísseis na fase de lançamento constituem as oportunidades – a cultura e da ameaça) Causas e consequências. e voo, submarinos e fragatas, meios de a inteligência do grupo são essenciais no Globalização sem fronteiras, a nova ordem guerra eletrônica – ISR e AEW, drones e processo estratégico. (Bergo, 2008) internacional, a banalização do conceito de satélites de reconhecimento, aeronaves de Pensamento estratégico é um conceito soberania. Os novos atores, os movimentos caça, caça-bombardeiro e bombardeiros abstrato de construção da realidade, fruto da sociais – minorias étnicas, intervenções estratégicos nucleares etc. Utiliza-se de análise dos cenários e, assim, transfere vida humanitárias. Os ilícitos transnacionais medidas assimétricas. Vantagens de ope- aos objetivos geoestratégicos, validados ou (contrabando de drogas/armas, terrorismo, rar nas proximidades do território. Eficiên- não pelos planejamentos estratégicos na sua pedras preciosas e lavagem de dinheiro, cia determinada pela doutrina de emprego análise de viabilidade (APA). dentre outros). Relações Internacionais – A e velocidade na tomada de decisão (Ciclo Análise do Cenário da Conjuntura Atual instabilidade político-ideológica e estra- AODA, Boyd). – situação presente – pontos fortes x vulne- tégica dos países vizinhos, na Amazônia rabilidades do PAepc Ocidental – socialismo bolivariano/cubano. 7. PENSAMENTO ESTRATÉGICO O processo decisório do pensamento NORTE-AMERICANO PARA A AMÉRICA estratégico segue alguns passos (método 9. CONCLUSÃO DO SUL/NICHOLAS SPYKMAN - HENRY SWOT): focando os objetivos nacionais de Pensamento estratégico nacional – KISSINGER defesa – construir e analisar o cenário da Reflexão Kissinger seguiu religiosamente o conjuntura atual, levantando no ambiente No caso brasileiro, as questões da espírito de Spykman. Segundo Kissinger: interno os pontos fortes (strengths) do PAepc defesa, segurança e soberania exigem o A América do Sul segue sendo essencial e as suas vulnerabilidades ou fraquezas engajamento da sociedade a partir de um para os interesses americanos e deve ser (weaknesses), deduzindo daí a amplitude do pensamento estratégico nacional consistente mantida sob a hegemonia dos EUA (Kissin- poder nacional, referente ao PAepc. e coerente, para que sejam entendidos os ger “apud” Fiori). Análise do Cenário de Visão Prospectiva jogos de poder, ganhos e perdas no plano Área Mediterrânea – compreendida pelo –situação futura – oportunidades x ameaças internacional. O discurso estratégico, quando México, pela América Central e pelo Caribe, E, então, construir e analisar um cenário existe, não raramente se reveste de mera pela América do Sul na região da Colômbia e futuro, identificando no ambiente interno e retórica, sem força de execução. No plano Venezuela – zona em que a supremacia dos externo as oportunidades (opportunities) e da defesa interna e da segurança internacio- EUA não pode ser questionada; ameaças (threats) existentes ou potenciais nal, o Estado brasileiro diminui o seu poder Cone Sul – América do Sul, região para neutralizá-las ou eliminá-las. de interlocução e de presença no cenário do ABC (Argentina/Brasil/Chile) – uma Estas análises de cenários possibilitam regional e mundial. ameaça à hegemonia norte-americana definir o pensamento estratégico militar do Falta vontade política e, assim, falta tam- nesta região deverá ser respondida através PAepc e seus objetivos geoestratégicos, bém projeto de força – Dissuasão é demons- de ações de guerra. numa região definida. (Bergo, 2008) tração de Poder. (Figueiredo, Eurico, 2006) n j 24 A PREVIDÊNCIA MILITAR Uma resenha

Renato Paiva Lamounier Cel Av [email protected]

Estudo 01/2007 da Secretaria de Economia e Finanças da Aeronáutica (SEFA), de autoria do Cel Int Benedito Bortoletto (encaminhado ao Comandante da Aeronáutica pelo Ofício nº 1.062/SUCONT, de 20 de novembro de 2007)

Preâmbulo e sexta à noite) feitas por um almirante precioso conteúdo da sua exposição. A á alguns anos, não sei quantos, da Reserva sobre o tema Pensão Mili- maneira competente com que mostrou assisti no Clube Naval, no Centro tar. Lamentavelmente não me recordo todos os seus aspectos, especialmente Hdo Rio de Janeiro, a uma série do nome de tão insigne oficial, mas o fato de que a mesma era superavitária de três apresentações (segunda, quarta dele guardo lembrança pelo preciso e (como ainda o é), se lhe fossem apli-

25 j cadas as regras atuariais e os devidos nar que, apesar da complexa e extensa como um benefício, uma vantagem ou princípios da boa e correta administra- natureza do tema, o seu Autor o fez com mesmo uma compensação, pois não é ção financeira, mormente quando se muita competência, objetividade e con- uma dádiva do Estado. Na verdade, a trata de bens de terceiros confiados à cisão, não deixando de considerar todos dádiva que existe e quem a faz são os gestão de outrem. Em se tratando de, os seus aspectos relevantes. Ao argu- Militares ao Estado, pois demonstrado e apesar de ser o seu gestor um Agente mentar de forma inquestionável, com está, à exaustão, de que, considerando Público, esta administração não tem base nas Ciências Contábil-Financeira a vida média do brasileiro, a Pensionista, sido eficiente e, tampouco, transpa- e Atuarial, à luz da Razão e da Justiça, se sobrevive ao instituidor da Pensão, rente, pois, para o Fundo em pauta a afasta o véu da ignorância de muitos e o é por um período muito inferior ao União com nada contribui (ao contrário da deliberada má intenção de alguns, os suficiente para usufruir do montante do que generosamente faz para outras quais se aventuram irresponsavelmente por este a ela legado. Simples assim, entidades) e os únicos e verdadeiros em meandros por eles desconhecidos e pura aritmética e, nela, os números não instituidores da Pensão Militar não de vital importância na estrutura de um mentem jamais! participam da sua administração. Por país devidamente organizado. Ademais, Voltando ao tema da Igualdade, oportuno, registre-se que, também, forneceu aos Comandantes Militares, é necessário invocar a Constituição nos Fundos de Saúde das três Forças, especialmente ao Presidente da Re- Federal de 1988 (CF 88) em alguns os contribuintes não são informados de pública, como Comandante Supremo dos seus mandamentos: o seu Art. 1º, quanto é arrecadado, quanto é gasto e das Forças Armadas, os elementos Parágrafo único estatui: Todo o Poder como é gasto, além de não participarem necessários para a tomada de decisão emana do povo, que o exerce por meio das decisões quanto ao que somente adequada. Decisão esta calcada nos (...). Daí o acertadíssimo entendimento a eles pertence, uma vez que também Formuladores de Políticas e nos Forma- de que as Forças Armadas se subordi- para estes Fundos o Tesouro Nacional dores de Opinião, cuja voz de seus re- nam ao Presidente da República como com nada contribui. presentados ressoa nos parlamentares seu Comandante Supremo e como Coroando este cenário, pairam sobre do Congresso Nacional. Diferente disto representante da soberana vontade da ele os fantasmas da Orçamentação e do é leviandade e desprezo ao preceito da maioria da população. Inexiste, pois, a Contingenciamento, os quais, quando Isonomia, cuja definição é a Igualdade chamada sociedade civil e, tão somente feitos sobre bens alheios, constituem de todos perante a Lei como princípio a sociedade brasileira composta por uma apropriação indébita, configurada constitucional. Entretanto, o que se todos os seus variados segmentos e como crime para os empresários que não entende por igualdade? Segundo os nela, como todos os demais, os Milita- recolhem aos devidos destinos os valo- ensinamentos jurídicos do grande Ruy, res conforme definido pela CF 88 (Tít. res descontados de seus funcionários. a Igualdade é o tratamento desigual para V, Cap. II) e o Estatuto dos Militares Finalizando este breve preâmbulo, os desiguais na medida em que eles se (Lei nº 6.880/80). Sociedade civil é faz-se necessário registrar a brilhante desigualam. Também do consagrado tão-somente um termo jurídico para comparação feita pelo citado almirante Águia de Haia foi a tese vitoriosa naquele definição de uma agremiação que se naquelas palestras no Clube Naval, Tribunal internacional sobre A Força do organiza de acordo com um preceito com os vultosos valores legados pelo Direito e, não, o Direito da Força. Vê-se legal a ela aplicável, e esta expressão cientista sueco Alfred Bernhardt Nobel no primoroso e completo estudo do Cel. geralmente encabeça o Regulamento ao Prêmio que leva o seu nome, cujo Int. Benedito Bortoletto que, justamente destas agremiações, sociedades etc. Fundo é administrado há mais de 100 o segmento da sociedade brasileira, Não cabe ela, pois, na formação do Es- anos, com tal eficiência e lisura que supostamente detentor da Força e que tado Democrático de Direito, de acordo lhe foi conferida a perenidade até hoje nunca dela prevaleceu em seu proveito, com as primeiras letras da nossa Carta desfrutada pela Ciência e pelo Bem Co- confia e recorre à Justiça e ao Direito, Magna. Passemos ao Art. 5º da CF 88, mum. Se fossem aplicados os mesmos como nos ensinam Rudolfvon Jhering 1 e em que reza: Todos são iguais perante a princípios e a mesma prática à nossa Antônio Vieira 2, para o reconhecimento Lei, sem distinção de qualquer natureza mais do que bicentenária Pensão Militar de um direito conquistado mediante o (...). Não obstante, o Art. 37, inciso XVI (originada em 1795 a partir do lendário pagamento durante toda uma vida, em estabelece que nenhum servidor público Montepio Militar), não haveria agora média por cerca de 65 anos e muito poderá acumular dois cargos, exceto: estes questionamentos infundados. além do tempo de serviço ativo, diferen- dois cargos de professor, ou um cargo Abordando então o Estudo da SEFA, temente de todos os demais cidadãos. de professor com outro de natureza objeto desta Resenha, cumpre mencio- Este direito não pode ser confundido técnica ou científica e, ainda, aos profis- j 26 sionais da Saúde é permitido o acúmulo Eis aí a grande questão! de dois cargos da mesma natureza. Eis O referido Estudo nº 01/2007 contém aí uma situação em que o Constituinte 21 páginas, com 15 planihas, donde a entendeu que o princípio da Igualdade necessidade desta Resenha para, em do Art. 5º não é absoluto e deve ser benefício da brevidade e do espaço regido por peculiaridades que assim disponível, levá-lo ao conhecimento de o exigirem. Este mesmo raciocínio se quem interessar possa e, sobretudo, dos aplica aos Militares pela atipicidade aludidos Tomadores de Decisão, Formula- da sua atividade, em que muitos dos dores de Políticas, Formadores de Opinião NOTAS direitos gozados por todos os demais e, acima de tudo, ao cidadão brasileiro 1 O Direito não é pura Teoria, mas uma cidadãos lhes são negados por uma lúcido e esclarecido, como contribuinte e Força Viva. Também a Justiça mantém natural e óbvia exigência da profissão. beneficiário do serviço que lhes prestaram numa das mãos a Balança em que pesa Profissão esta com a qual se identificam as suas Forças Armadas num passado já o Direito, enquanto na outra sustenta os Militares e livremente abraçam, acei- tri-centenário, o fazem na atualidade e, a Espada com que o defende. A Espada tando consciente e espontaneamente se for esta a vontade soberana do povo, sem a Balança é a força bruta, a Balança as restrições impostas. por reconhece- continuarão a fazê-lo no futuro promissor sem a Espada é a impotência do Direito. rem a total incompatibilidade entre os que ajudarão a construir. Não pode uma estar sem a outra, e só há propósitos inconciliáveis entre ambos, Por último, mas não menos impor- Ordem Jurídica Perfeita quando a energia ou seja, plenos e igualitários direitos, tante, o Secretário da SEFA apresentou com a qual a Justiça usa a Balança benefícios e regalias sem as obrigações o Estudo para servir de comparação com é igual à habilidade com que maneja a inerentes e indispensáveis à profissão. os Fundos de Previdência e Aposentado- Espada. (. A Luta pelo Por isto, por uma questão de lógica e ria Complementar, como os instituídos Direito. Viena, primavera de 1872) coerência com os fundamentos do Ideal pelo Banco do Brasil e PETROBRAS, como base da carreira, nada reivindi- assim como pelas numerosas Empresas 2 Senhor! Não Vos hei de pedir pedindo, cam além do reconhecimento e a devida Estatais, Autarquias e alguns órgãos da senão protestando e argumentando, compensação, jamais privilégios, como Administração Direta. Entretanto o faz pois esta é a licença e a liberdade que ora vigente na Previdência dos Militares. sem mencionar a generosa contribuição tem quem não pede favor, senão justiça. Mas, também, não podem abrir mão do do Tesouro Nacional para esses Fundos. Se a causa fora só nossa, pedira favor indispensável como justificativa para a Este é o argumento final para derrubar, e misericórdia, mas como a causa é dedicação sem limites ao citado Ideal. entre outras distorções, a nefasta in- mais Vossa do que nossa e como venho Faz-se necessário entender que a natu- tenção de jogar a população contra as a requerer por Vossa honra e glória e reza da profissão militar fundamenta-se, Forças Armadas, como parte do plano pelo crédito do Vosso nome, razão é como em outras atividades humanas, na permanente de esfacelamento da Nação que peça razão, justo é que peça justiça! Vocação e na Motivação. para, ao demolir o sólido pilar por elas (Padre Antônio Vieira. Sermões – A Apóstrofe Atrevida. Salvador, Bahia, Caberá, então, à sociedade brasilei- representado, reinar sobre o caos e século XVIII, por ocasião da invasão ra decidir que tipo de Forças Armadas estabelecer o poder que buscam desde holandesa) deseja e que precisa o país dentro da 27 de novembro de 1935. própria Nação, diante do mundo e em COM A PALAVRA, POIS, O POVO REFERÊNCIAS face da História. Esta decisão não cabe BRASILEIRO! n O Resgate Justo de uma Dívida aos Militares, para quem, sem hipocri- Nobre/Os Descaminhos da Isonomia/ sia e como seres humanos que são, OBSERVAÇÃO Reivindicar é Preciso I/Reivindicar o dinheiro não é importante. Ele é, na O Estudo em epígrafe está a aguardar, é Preciso II/Sindicalismo Militar/ verdade, muito importante; mas não é paciente e esperançosamente, há Co-Gestão Sim e Urgente/Fundação a mais importante das coisas. O mais mais de onze anos, a apreciação por Previdenciária Militar – Uma importante é acreditar no que se faz. Aos quem de direito, para ser acatado ou Necessidade. (Renato Paiva Lamounier. Militares de hoje e, possivelmente aos refutado, desde que com argumentação Revista Aeronáutica (202), jan./fev. de amanhã, cabe, tão-somente, avaliar condizente. Para conhecimento geral 1995; (205), jul./ago. 1995; (214), jan./ se vale a pena oferecer tanto e receber e maior divulgação encontra-se fev. 1997; (215), mar./abr. 1997; (233), tão pouco, se compensa os sacrifícios e, disponível, na íntegra, no site do Clube maio/jun. 2002; (238), mar./abr. 2003; e dentre estes, o do bem supremo da vida. www.caer.org.br. (242), nov./dez. 2003, respectivamente.

27 j Ricardo Vélez Rodríguez Ministro da Educação Professor emérito do Curso do Pensamento Brasileiro do Clube de Aeronáutica. [email protected] PENSARPENSAR EMEM PORTUGUÊSPORTUGUÊS j 28 A aventura do pensamento filosófico percorreu, na modernidade, o caminho das Filosofias Nacionais. Antes do advento dos tempos modernos, pensava-se em Grego ou em Latim. Com o surgimento dos Estados Nacionais e a substituição do Latim pelas línguas vernáculas, a Filosofia Ocidental passou a ser pensada nestas novas variantes da comunicação humana. Os pensadores deram renda solta às vivências locais, regionais e nacionais que se consolidaram na língua respectiva. O Pensamento Ocidental tingiu-se, definitivamente, com as cores da problemática humana vivenciada pelas Nações modernas. É meu propósito, neste artigo, discorrer sobre o tema, chamando a atenção, na parte final, para algumas características inéditas da aventura do pensar em Português, mais concretamente do Português falado no Brasil. Dividirei a minha exposição em três partes: 1. As Filosofias Nacionais e o Estudo da Filosofia; 2. Filosofias Nacionais e Pensamento Moderno; e 3. Características da Aventura do Pensar em Português no Brasil.

1. AS FILOSOFIAS NACIONAIS a essas circunstâncias, apregoando um assim a contribuição de Reale: Ao antigo E O ESTUDO DA FILOSOFIA tipo prático e revolucionário de libertação. espírito polêmico, que alimenta como O problema das Filosofias Nacionais Tal parece ser, por exemplo, a proposta de valor primordial a conquista da vitória é tema importante na evolução do pen- Enrique Dussel, ao formular a sua filosofia no combate, sobrepôs-se o empenho de samento contemporâneo. Não foi fácil da libertação ou analéctica da liberdade. aprofundamento dos temas e problemas chegar ao estágio atual de análise desa- (Cf. Vélez Rodrígues, 1987) suscitados. A par disto, o professor Miguel paixonada dessa questão. No contexto Entre esses dois extremos, situa-se o Reale, presidente do Instituto, elaborou latino-americano, poderíamos encontrar esforço desenvolvido pacientemente, ao um método para o exame do pensamento duas posições conflitantes: a dos que longo dos últimos decênios, por crescente brasileiro, de comprovada eficácia. Con- simplesmente negaram a possibilidade número de pensadores, no sentido de estu- siste: primeiro, em identificar o problema da existência das Filosofias Nacionais, dar a forma sob a qual a tradição filosófica (ou os problemas) que tinha pela frente o a partir do pressuposto de que o pensar ocidental é retomada e recriada no contexto pensador, prescindindo da busca de filia- filosófico ocidental já teria sido formulado das diferentes culturas da América Latina. ções a correntes; segundo, em abandonar pelos pensadores europeus, cabendo-nos Seria difícil fazer, neste momento, uma o confronto de interpretações e, portanto, simplesmente a missão de reproduzir os enumeração completa dos autores mais o cotejo das ideias do pensador estudado seus ensinamentos. Tal é, por exemplo, a representativos. Remeterei simplesmente com outras possíveis, para eleger entre forma em que era entendido o estudo da a estudos que têm sido feitos a respeito, uma ou outra; e, terceiro, em ocupar-se Filosofia nas Universidades Católicas no como a publicação, patrocinada pela Or- preferentemente da identificação de elos mundo hispano-americano, até meados ganização dos Estados Americanos, em e derivações que permitam apreender do século passado. A Ratio Studiorum 1972, da obra intitulada Los fundadores de as linhas de continuidade real de nossa jesuítica, vigente até então, praticamente la filosofia en la América Latina (Pacheco meditação. Com semelhante espírito, al- excluía a possibilidade de uma abordagem [org.]), ou a coletânea de ensaios publicada guns estudiosos conseguiram preencher direta da Filosofia em termos de problemas pela Sociedad Venezolana de Filosofia, em lacunas, promover a reedição de textos e culturais nacionais. 1980, sob o título de La filosofia en América estabelecer novas hipóteses de trabalho. De outro lado, encontramos a posição (Mayz [org.]). (Paim, 1979b: 11) dos que valorizam excessivamente as Restringindo a análise ao campo Em segundo lugar, merece destaque a possibilidades da meditação nacional, che- brasileiro, poderia salientar as três con- contribuição ensejada pela obra de Antônio gando ao extremo de colocá-la como algo tribuições que acho mais importantes, a Paim. Alicerçado na metodologia traçada totalmente original, desligado, portanto, da fim de esclarecer o objetivo e os métodos por Miguel Reale, Paim desenvolveu ampla tradição filosófica ocidental. Pretender-se- para a elaboração de uma história nacional pesquisa tentando identificar os mais im- -ia, nas versões mais radicais, identificar, das ideias. O lugar de destaque cabe, sem portantes problemas com que se defrontou nas culturas pré-colombianas, longínquos dúvida, a Miguel Reale (1910-2006), cujo o pensamento brasileiro. Em relação à vestígios para uma meditação autóctone; trabalho à frente do Instituto Brasileiro de importância que, na época hodierna, no ou, também, assinalar o elo entre as con- Filosofia desde 1949, ensejou o cultivo do seio da cultura brasileira, ganhou o estudo dições peculiaríssimas do nosso subde- pensamento nacional, livre de uma atitude das filosofias nacionais, Paim frisa: Com o senvolvimento e um discurso filosófico que polêmica e aberto às mais diversas ten- processo de consolidação das nações e o emergisse como original resposta dialética dências. Antônio Paim (1927) sintetizou abandono do Latim como língua oficial no

29 j mundo do saber ocorre, simultaneamente, Referindo-se ao primeiro item, assim É sabido que, ao logo da Idade Média, a emergência das filosofias nacionais, o explica Soveral: A determinação de o Latim que se falava nas Universidades estruturadas em torno de determinada filosofemas, ou seja, de problemas que, não correspondia à versão clássica de temática que as singulariza. A par do que equacionados a partir das interrogações Horácio, Tito Lívio, Virgílio e Cícero. tem lugar na Inglaterra, Alemanha, França mais amplas e radicais que se abrem ao Assim como a Língua Grega conheceu ou Itália, formam-se igualmente as filo- espírito do homem, exigem soluções inte- duas versões, o elegante Dialeto Ático sofias portuguesa e brasileira. Estas, em ligíveis e exaustivamente fundamentadas. em que escreveram os grandes poetas seus momentos mais destacados, acabam (Soveral, 1979: 63). e a versão tardia conhecida como Koiné sempre privilegiando o tema da moral e O ponto de partida da metodologia ou Língua Comum (em que foi vertido o deixando marcas profundas em outras apresentada pelo pensador português Novo Testamento e em que foi escrita a esferas do pensamento, como a medita- coincide, em essência, com a metodologia obra de Aristóteles), o Latim conheceu ção acerca da política, da pedagogia, do assinalada por Reale para o estudo do duas variantes: a Clássica e a denominada direito etc. Deste modo, a discussão dos pensamento brasileiro. Trata-se de não de Latim Vulgar. Este último constituiu o fundamentos da moralidade, na Filosofia prejulgar acerca da filosofia de determinado veículo de comunicação nas Universidades Moderna e Contemporânea, e a formação autor, mas de ouvi-lo, tratando de entender Medievais, e nele foram escritas as princi- das filosofias nacionais constituem núcleo a problemática a que pretende responder. pais obras da Filosofia Escolástica. Assim, não exclusivo, mas de importância capital Pedro Abelardo, Alberto Magno, Tomás de em nossa cultura. (Paim, 1983a: 1). 2. FILOSOFIAS NACIONAIS Aquino, Boaventura, Duns Scot, Guilherme Na obra já citada, O estudo do pensa- E PENSAMENTO MODERNO de Ockham etc. utilizaram essa forma da mento filosófico brasileiro, Paim sintetiza Existe uma Filosofia Brasileira? A Língua Latina. os principais resultados alcançados no esta pergunta pode-se dar dois tipos de O Latim Vulgar (Cf. Erradonea, 1954: relativo ao estudo dos principais problemas respostas positivas: a primeira, arrolando 956. v.II) é uma variante da clássica Língua sobre os que se debruçou a meditação os autores que, desde o período colonial, se Latina, inspirada no seu sistema vocálico, filosófica no Brasil. têm ocupado em discutir a problemática do mas diferente desta, porque a expressão Em terceiro lugar, é importante lembrar existir do homem e do mundo, numa pers- cuidadosamente polida dos grandes poetas a contribuição do pensador português pectiva filosófica. A segunda, inquirindo e prosistas não era entendida pela massa, Eduardo Abranches de Soveral (1927- acerca da forma assumida pela meditação que falava uma língua menos cuidada. Não 2003) ao estudo do tema das filosofias filosófica no início da Idade Moderna, após devemos, no entanto, buscar a origem do nacionais e suas implicações metodoló- a dissolução da unidade linguística, reli- Latim Vulgar no chamado Baixo Latim dos gicas. Alicerçado em aprofundada análise giosa e filosófica, que campeou na Europa notários merovíngios. Assinalar uma data fenomenológica, Soveral traçou as linhas ao longo da Idade Média. Esta resposta para fixar a Antiguidade do Latim Vulgar mestras do que, no seu entendimento, mostraria que o pensamento moderno é empresa muito difícil. De uma maneira seria fundamental na metodologia filosófica emergiu tingido de Filosofias Nacionais. geral, pode-se assinalar como período em para o estudo das filosofias nacionais (Cf. Aplicando o princípio escolástico de que que aconteceu a sua difusão, o século II do Soveral, 1979: 63-73). Soveral considera ab esse ad posse valet illatio teríamos que, Império. Contribuíram para isso a criação sete itens essenciais para tal estudo: a) se as Filosofias Nacionais são um fato, a de colônias com veteranos das legiões, a determinação dos filosofemas; b) o questão da Filosofia Brasileira se insere naquelas regiões dominadas por Roma e, estudo das formações históricas desses nesse contexto. de outro lado, a pregação do Cristianismo. problemas; c) a análise do desenvolvimento A questão da possibilidade da Filosofia Esta nova religião, tendo buscado os seus lógico historicamente dado à vigência Brasileira tem sido debatida de forma sis- prosélitos entre pessoas de humilde con- dessas soluções nos vários contextos temática pela Corrente Culturalista, nota- dição principalmente, obrigou os primeiros sociais; d) a consideração do desenvol- damente, como foi frisado no item anterior, escritores cristãos a se comunicarem no vimento histórico dado à vigência dessas por Miguel Reale e Antônio Paim. Ilustrarei, dialeto popular e a introduzirem, assim, soluções nos vários contextos sociais; e) a seguir, dois aspectos que acompanham uma fala cheia de vulgarismos, ao lado do a apreensão das novidades implicadas na o surgimento das filosofias nacionais: Latim literário da decadência do Império. formulação de novos filosofemas e/ou a 1. A crise da unidade cultural, decorrente A relação das duas línguas, a clássica reformulação de filosofemas já existentes; da paulatina substituição do Latim pelas e a vulgar, se revela no sistema vocálico, f) a explicação das articulações lógicas que línguas vernáculas; e 2. As novas questões que conservou a acentuação na penúltima determinaram os novos filosofemas ou a emergentes no pensamento moderno. ou antepenúltima vocal, mesmo depois de sua reformulação; e g) a determinação da 1. A crise da unidade cultural decor- perdida a quantidade, na mesma vocal. Na vigência dos novos filosofemas e/ou as rente da paulatina substituição do Latim morfologia, foi simplificada a declinação suas modificações. pelas línguas vernáculas dos substantivos e adjetivos, da mesma j 30 forma que a conjugação dos verbos. Na riência e, sem rejeitar as verdades da fé, unidade cultural da Europa é a progressiva sintaxe, a livre colocação dos termos da consideram-nas, em geral, heterogêneas e preferência dos pensadores pela língua proposição cedeu lugar a um sistema inacessíveis à razão. (Bréhier, 1978: 183-4) nacional. Ao passo que um filósofo da construtivo, que não permitia a separação A crítica ensejada pelos Nominalistas, projeção de Leibniz (1646-1716) escreve as arbitrária dos vocábulos. (Cf. Erradonea, notadamente por Guilherme de Ockham suas primeiras dissertações em Latim (De 1954: 956-8. v. II) Ao elegante período (1280-1349) ao peripatetismo, especial- principio individui, 1663; Dissertatio de arte ciceroniano: Quousque tandem abutere, mente à doutrina dos universais, marca combinatoria, 1666; Hypothesis de physica Catilina, patientia nostra?, sucede o co- o início da crise da escolástica. Alguns nova, 1671; Theoria motus abstracti, 1671), tidiano: Respondeo dicendum quod das Nominalistas como Nicolau Oresme (que reserva para a língua vulgar os seus mais Summas medievais. estudava Teologia em Paris em 1348, e importantes tratados (Discours de Méta- O Latim Vulgar permaneceria, ao longo faleceu em 1382, como bispo de Lisieux) physique, 1686; Système nouveau de la da Idade Média, vinculado às necessidades começaram a escrever os seus tratados em nature, 1695; Considérations sur la nature pedagógicas da Igreja. A estabilidade do língua vulgar. Oresme escreveu o Comentá- d’un esprit universel, 1697; Nouveaux es- saber estava garantida pela prelação que rio aos livros do céu e do mundo em que, sais sur l´entendement humain, 1701-1704; tinha a Teologia sobre outras formas de co- além de criticar a física que se ensinava na Essais de Théodicée sur la bonté de Dieu, nhecimento. O papel do Latim Vulgar como Idade Média, formulava conceitos como o la liberté de l´homme et l´origine du mal, veículo para o acesso ao conhecimento da de coordenadas (que posteriormente foi 1710; Monadologie, 1714; e Principes de tradição eclesial e da liturgia, vinculava-se desenvolvido por Descartes) e descobriu la nature et de la grâce fondés en raison, a essa alta finalidade teológica e religiosa. a fórmula exata do espaço percorrido por 1719). O trivium e o quadrivium medievais, longe um corpo que cai em movimento uniforme- Fenômeno semelhante encontramos de serem um tirocínio na cultura clássica mente acelerado. Galileu posteriormente num contemporâneo de Leibniz, Sir em si, estavam destinados, basicamente, trabalhou sobre esta fórmula. (Cf. Koiré, Isaac Newton (1642-1727). Sabe-se da a manter viva a tradição da Igreja. (Cf. 1966: 60-94) Vê-se, neste caso, de que for- importância que o grande físico dava às Bréhier, 1978: 38) ma, ao passo que a problemática filosófica questões teológicas. Este autor escreveu O caráter instrumental que desem- muda (conferindo autonomia à observação em Inglês justamente a parte da sua obra penharam o Latim e, em geral, a cultura científica), evolui também a forma de se relativa a esse item, sobressaindo o livro clássica, ao longo da Idade Média, abriu comunicar essa problemática: passa-se Observations on the prophecies of Daniel as portas para a paulatina substituição da do Latim à língua vernácula. and the Apocalypse of St. John (publicado Língua do Lácio pelas vernáculas, quando Esfacela-se a unidade cultural da em 1733). A parte científica da sua obra entrou em crise a síntese da escolástica Europa medieval, representada na unidade foi escrita em Inglês (Optick, 1704) e em medieval. Elemento fundamental dessa de temática e de perspectiva das grandes Latim (Philosophiae naturalis principia crise foi, sem dúvida, o espírito do Nomi- sínteses da Escolástica. Ao lado do surgi- mathematica, 1687). nalismo que, de forma análoga aos antigos mento das línguas nacionais como formas 2. As novas questões emergentes no céticos, se insurgiu contra a hegemonia de comunicação no mundo da cultura, pensamento moderno dos grandes sistemas metafísicos e aderiu aparecem problemáticas bem típicas das À perda da unidade cultural da Eu- à dúvida perante essa realidade. Assim diferentes nacionalidades. Poderíamos ropa, ensejada pela ascensão das línguas caracterizou Bréhier essa reação: Temos mencionar alguns aspectos desse novo vernáculas e o recuo do Latim corre- pela frente, nos séculos XIV e XV, ao lado perfil cultural: o primado da experiência no spondeu, também, outro fenômeno: os de espirituais e místicos, homens práticos mundo anglo-saxão; a questão religiosa da pensadores passaram a se questionar, nos e lógicos, de espírito frio e sóbrio, que interpretação das Escrituras na Alemanha diversos países, acerca de problemáticas perderam o entusiasmo religioso animador de Lutero; a virtù, entendida como dimen- até então desconhecidas, desvinculadas das gerações das grandes cruzadas, e são puramente humana e a visão do Estado da questão teológica que encampou o adquiriram, na complicada diplomacia que como obra de arte, na Itália de Maquiavel; discurso ao longo da Idade Média. O novo exige nessa época o menor assunto, esse o agravamento da polêmica acerca das re- espírito do tempo pode muito bem ser ex- espírito claro e positivo que caracteriza lações entre fé e razão (em decorrência do emplificado na descrição que Leonardo da sua doutrina. O nominalismo dessa época legado dos averroistas latinos e dos ques- Vinci (nascido em 1452) faz da sabedoria: é algo muito diferente de uma solução tionamentos dos Nominalistas), na Univer- ela não se encontra no antigo saber esco- particular do problema dos universais: é sidade de Paris; e o sentido de missão que lástico, mas nos conhecimentos obtidos da um espírito novo que desconfia das reali- empolga os nascentes impérios espanhol e experiência. A respeito disso, frisa o artista dades metafísicas que os peripatéticos e os português, consolidados numa luta secular e pensador renascentista: Mesmo que eu platônicos acreditavam haver descoberto, contra o invasor muçulmano etc. não soubesse (...) invocar o testemunho que se atém, tanto quanto possível, expe- Um fenômeno que mostra a perda da dos autores, citarei algo muito maior e mais

31 j digno, invocando o testemunho da experi- uso da violência. Maquiavel formulou uma pela modernidade da situação histórica da ência, mestra dos mestres mesmos. Estes nova moral de cunho político, que olhava Espanha, ou seja, pela exigência com que andam envaidecidos e pomposos, vestidos para o resultado da ação e não tanto para se defrontava de conciliar uma racionalida- e enfeitados, não com as suas próprias as intenções do agente. É o que de para um Estado moderno com as afirma- fadigas, mas com as alheias, e não querem (1864-1920) denominou posteriormente ções de uma ordem mundial ecumênica, ou conceder as mesmas a mim mesmo. E de ética de responsabilidade, que se de adaptar os requerimentos da vida cristã se menosprezam a mim, inventor, quanto diferencia da ética de convicção. (Cf. à tarefa de incorporar povos não cristãos mais não poderiam ser censurados eles, Weber, 1986) Para o homem da Renascen- à civilização europeia. (Morse, 1982: 47) que não são inventores, mas pregoeiros ça Italiana, como frisou Jacob Burckhardt O caso de Portugal era, no sentir do e recitadores das obras alheias? (Apud: (Cf. Burckhardt, 1877: 7-17), o Estado citado autor, semelhante ao da Espanha, Mondolfo, 1967: 21-22) é uma obra de arte que responde a um embora o papel cartorial do Estado fosse Sem dúvida alguma que a Reforma projeto individual do príncipe. Este deve, mais marcante. A respeito, frisa Morse: Protestante significou um passo de antes de tudo, ser virtuoso, no sentido (...) A maior homogeneidade do país, a sua importância capital no surgimento das greco-romano do termo, ou seja, capaz consolidação mais antiga, a monarquia novas questões que empolgariam, do- de governar e de garantir segurança e mais centralizada, as aventuras “civili- ravante, a meditação filosófica. O movi- tranquilidade para a Polis. zadoras” menos ambiciosas do país em mento empreendido por Martinho Lutero Essa mudança fundamental realizada ultramar, tudo se combinava para limitar os (1483-1546) na Alemanha, além de ter na Itália renascentista, ao desvincular a horizontes efetivos da atividade intelectual. representado a primeira grande tentativa de moral política da religião, foi continuada (Morse, 1982: 47) valorização da língua alemã, ensejou, com posteriormente na Inglaterra. A partir do Os dois aspectos analisados revelam a tradução do texto sagrado para a língua século XVI vamos encontrar, nas Ilhas que, no início da Idade Moderna, ficou vernácula e a instituição do livre exame, o Britânicas, a preocupação com a funda- aberta a porta para uma forma diferente de primeiro passo de independência do indiví- mentação de uma moral independente- fazer filosofia, a partir das peculiaridades duo em relação à tradição controlada pela mente da religião e que fosse formulada assumidas pela meditação dos autores Igreja. O primeiro direito individual a ser pela sociedade, através de um consenso. sobre novas questões emergentes, no seio conquistado no mundo moderno foi este: As figuras mais importantes desse em- das várias nações. A quebra da unidade lin- o de se relacionar pessoalmente com Deus penho foram Anthony Ashley Cooper, guística e a adoção das línguas vernáculas e o de interpretar, no silêncio da própria conde de Shaftesbury (1671-1713), John favoreceram o processo diferenciador, na consciência, as Sagradas Escrituras. É a Locke (1632-1704), David Hume (1711- discussão dos problemas. A pesquisa ini- primeira grande conquista do individua- 1776) e Adam Smith (1723-1790). Outros ciada pelos culturalistas, no Brasil, em re- lismo, que será continuada, nos séculos representantes dessa tendência foram lação ao pensamento nacional, alargou-se vindouros, por outras conquistas, até se Francis Hutcheson (1664-1746), Joseph ao pensamento português, tarefa de que se chegar à formulação dos direitos inaliená- Butler (1692-1752) e Bernard de Mandeville desincumbiu, ao longo dos últimos trinta veis dos indivíduos à vida, à liberdade e às (1670-1733). A discussão da moral social anos, a geração de pesquisadores forma- posses, de que se desincumbiria a filosofia acompanhou, na Inglaterra do século XVII, dos na Universidade Gama Filho, no início inglesa dos séculos XVII e XVIII com Locke, as questões da representação e da tolerân- da década de 80 do século passado, por Shaftesbury, Hume etc. cia, amplamente formuladas por Locke nas Antônio Paim e Eduardo Abranches de So- Outra questão emergente é a dicoto- suas Cartas sobre a tolerância (Cf. Locke, veral, ao ensejo do Programa de Pós-gra- mia moral-religião e a formulação da moral 1996) e o Segundo tratado sobre o governo duação em Pensamento Luso-brasileiro. social de cunho consensual na Inglaterra. civil (1690). (Cf. Locke, 1998). Leonardo Prota, na Universidade Estadual Quanto ao primeiro aspecto da questão, a Outra questão emergente foi colocada de Londrina e nos Encontros Nacionais de dicotomia entre moral e religião, um passo pelo projeto ibérico de alargar as fronteiras Professores e Pesquisadores da Filosofia fundamental é dado na Itália, ao longo dos culturais sobre os outros Continentes, no Brasileira (por ele organizados no período séculos XV e XVI. Maquiavel (1467-1517) contexto do magno esforço colonizador compreendido entre 1989 e 2001), fez será o grande formulador dessa mudança. ensejado pela Espanha e por Portugal ao amplo balanço do caminho tomado pelas Contrapondo-se à tentativa ensejada por longo dos séculos XVI e XVII. Consoante principais filosofias nacionais, destacando Savonarola (1452-1498), no sentido de or- Richard Morse, (...) A guinada espanhola as semelhanças e as diferenças em face ganizar a República de Florença em bases em direção ao tomismo no século XVI – ou da meditação brasileira. (Cf. Prota, 1989- teocráticas, Maquiavel considerava que seja, em direção a uma visão do mundo do 2003. 7 v.) uma nova ordem de valores devia presidir século XIII, que unicamente tinha conquis- 3. Características da Aventura do a construção do Estado. Este possui, entre tado adesões esparsas nos três séculos Pensar em Português no Brasil as suas características fundamentais, o intermediários – explica-se precisamente Quando falamos à luz do Logos, j 32 damos vazão às nossas crenças fun- ser referido todo o arcabouço do saber, a conde de Araguaia, que deitou os alicerces damentais. Ora, quais seriam, no caso ser administrado por um líder, no contexto doutrinários para a obra civilizacional e a da meditação filosófica brasileira, essas da concepção do despotismo ilustrado. construção das Instituições do governo crenças que deram ensejo às nossas ideias Velha reencarnação do Iluminismo abso- representativo, consolidadas no Segun- mestras? Considero que, no caso, entra- lutista ensejado na França por Luís XIV do Reinado. A crença fundamental que ram na torrente da nossa reflexão duas que, em Portugal, encontrou o seu ponto alimenta o arcabouço doutrinário desta séries de convicções alicerçadas sobre alto no reinado de Dom José I e do seu tendência foi a de que somente na defesa crenças profundas: primeiro, retomando a primeiro-ministro, o marquês de Pombal, intransigente da liberdade e da consciência herança portuguesa da filosofia da sauda- Sebastião José de Carvalho e Mello, na individual seria possível construir, de forma de, uma linha de pensamento com raízes segunda metade do século XVIII. A mani- duradoura, as instituições que garantissem neoplatônicas e barrocas, que terminou festação contemporânea de tal tendência a dignidade humana. Afinou-se, assim, desaguando na denominada Escola de na meditação brasileira se dá na corrente esta tendência com as modernas versões São Paulo. Constitui o núcleo doutrinário do cientificismo marxista que, misturada do liberalismo clássico de Locke, Kant, dessa tendência, a crença radical de que a formas agressivas de leninismo, como o Jefferson, Tocqueville etc., constituindo há um arquétipo preexistente ao qual tudo pensamento gramsciano, encontrou canais versão política alternativa ao democratismo deve ser referido para ter validade e, pa- de realização política na era lulopetista (Cf. rousseauniano. ralelamente, de que houve uma queda da Paim, 2002), que se assenhoreou do poder A partir da crítica de atual feição da realidade, que constituiria, a partir de 2002. Na seara doutrinária, tal e Sílvio Romero (os mais destacados assim, cópia imperfeita da plenitude ôntica corrente encontrou adequado canal de representantes da denominada Escola de um passado primordial que cumpre manifestação na teologia da libertação do Recife) ao cientificismo de inspiração reviver, mediante um processo catártico de (Cf. Vélez Rodríguez, 1987), um de cujos pombalina e positivista, estruturou-se a índole pitagórico-platônica. Constitui esta arautos, no terreno filosófico, foi o padre Corrente Culturalista que enriqueceu a variante uma retomada do neoplatonismo. Henrique Cláudio de Lima Vaz (Cf. Paim, convicção do ecletismo espiritualista em Essa linha de pensamento se formou ho- 1979a). A manifestação mais abrangente prol da liberdade e da consciência indivi- diernamente, no caso brasileiro, ao redor dessa tendência do cientificismo no século dual com o desenvolvimento doutrinário de do pensamento de Vicente Ferreira da Silva XX foi, na realidade brasileira, a vertente Kant (1723-1804) e do neokantismo. Esta (1916-1963) (Cf. Silva, 1964), que elaborou conhecida como segunda geração cas- escola de ideias, cujos máximos repre- uma filosofia com tintes órficos e numino- tilhista (Cf. Vélez Rodríguez, 2010), que sentantes na atualidade são Miguel Reale sos de intuição do mistério do Ser, dando encontrou em Getúlio Vargas (1883-1954) e Antônio Paim é, sem dúvida, a que maior continuidade, na nossa meditação, à rica o seu mais importante demiurgo, o qual envergadura tem mostrado no que tange à tradição ensejada pela metafísica da sau- se alicerçou no positivismo gaúcho e no sua vitalidade e à função crítica, tanto dos dade, tão densa na meditação portuguesa saint-simonismo, bem como na doutrina dogmatismos quanto do autoritarismo que, moderna e contemporânea, que aflora do autoritarismo instrumental formulada no ciclo republicano, forjou-se nos vários hoje na tendência denominada de filosofia por Oliveira Vianna (1883-1951), da qual se momentos em que se tentou reeditar a portuguesa, fartamente estudada por An- louvou, outrossim, o regime militar (1964- ditadura científica (Cf. Paim, 2006)n tônio Braz Teixeira e, mais recentemente, 1985) para a sua ação reformista (Cf. Vélez por uma geração de jovens pensadores, Rodrigues, 1997). ENSAIO - 5 Produzido por Ricardo Vélez Rodríguez aglutinados ao redor da revista Nova Águia, Uma terceira linha de pensamento para os estudos do Pensamento editada no Porto sob os cuidados da jovem consolidou-se a partir da nossa experiên- Brasileiro no Clube de Aeronáutica. pensadora Celeste Natário. cia como Nação, que tentava construir o Leia no site www.caer.org.br A segunda linha de pensamento Estado como instrumento de integração passou a girar ao redor de outra herança dos clãs esparsos na vastidão continental portuguesa: a do Iluminismo consolida- das fronteiras, que foram estrategicamente do na obra pombalina e na sua reforma alargadas sobre o Império espanhol, à luz educacional, que afetou profundamente do Tratado de Tordesilhas, mantendo a as nossas instituições de ensino e a me- unidade nacional e a identidade linguística. ditação filosófica, tendo-as condicionado Essa experiência foi forjada pelos estadis- ao que se denominou de paradigma do tas do Império e pela elite denominada por empirismo mitigado e da postura cienti- Oliveira Vianna de Homens de Mil. A partir ficista. Consolidou-se tal tendência à luz de tal instância cultural foi formulado o da crença de que haveria uma ciência ecletismo espiritualista do século XIX por primordial de índole prática, à qual deveria Domingos Gonçalves de Magalhães, vis-

33 j RELATO HISTÓRICO DOS ACONTECIMENTOS AGOSTO 1961-MARÇO 1962 Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho [email protected]

niciei minha carreira como oficial aviador Curso de Tática Aérea, o qual iria realizar BASE AÉREA DE na Base Aérea de Fortaleza, em 1957, somente sete anos mais tarde, em 1968. CANOAS (BACO) Ino 1°/4° GAv, onde realizei o Curso de Para manter as qualificações de Voo Formação de Pilotos de Caça voando as por Instrumentos, concorria às Escalas de O presente documento aeronaves F-47 e T-6. Ao final do ano fui Voo de T6-G e de C-45 Beechcraft, da Base elaborado pelo então transferido para o 1º/14° GAv, sediado Aérea e do Quartel-General. Ten Av Luiz Carlos na Base Aérea de Canoas, para voar as Em 24 de agosto de 1961, fui acionado Baginski Filho é aeronaves Gloster Meteor TF-7 e F8, as às 3h para realizar a missão de transporte do primeiras aeronaves a jato da Força Aérea. Subcomandante da BACO, Ten Cel Evaristo, um relato dos O período em que servi no Esquadrão para Cachoeiro do Itapemirim, em virtude acontecimentos ocorridos foi extremamente gratificante, pois con- do falecimento de seu pai. O outro piloto em agosto de 1961, segui galgar as qualificações de Líder de escalado foi o Ten Sidiney O. Azambuja decorrentes da renúncia Elemento, de Esquadrilha e de Esquadrão. e a aeronave foi o C-45 2827 (D-18S). do presidente do Brasil Esta última qualificação foi em uma Missão Ao retornar para a BACO, após 11h20 de Dr. Jânio Quadros. Os Operacional em Cumbica, sendo checado voo, verificamos que já estava montada pelo Comandante do Esquadrão. Tive, a área para receber no dia seguinte, 25 de fatos aqui narrados também, a oportunidade de participar de agosto de 1961 (sexta-feira), o Presidente foram vivenciados pelo quatro Manobras da Força Aérea/EAOAR, da República, Dr. Jânio Quadros. autor do texto. que me deram muitos conhecimentos do Em 25 de agosto de 1961, pela manhã, j 34 ainda me recuperando da jornada do dia No dia 27 de agosto de 1961, domingo, tionando as instruções do Maj Cassiano, anterior, fui informado em minha residên- a Rede da Legalidade estava em grande ati- com a intenção de desmoralizá-lo perante cia, de que a Base estava entrando em vidade, particularmente com as palavras do a tropa, tornando a situação mais tensa estado de Prontidão e que eu deveria me Governador Brizola se despedindo do Povo dessa forma. Com a atitude do Cap Daudt apresentar imediatamente. Apresentei-me Gaúcho, porque estava sendo chamado e de um sargento que se dizia parente do no 1º/14º GAv, equipado com macacão de a comparecer ao Comando do Terceiro Governador, e pelo fato de que ambos voo e com a arma de defesa pessoal (Colt Exército e que provavelmente não sairia não pertenciam ao efetivo da Base, ficou 45), conforme previsto nas Normas para vivo de lá! Puro ato demagógico, apelo evidente a interferência política no quartel. tal situação. Os pilotos permaneciam na aos sentimentos, porque o Governador do Por volta das 19h, chega ao Esquadrão Sala dos Pilotos sem saber o que estava estado não é subordinado ao Comandante o Comandante da Base, Cel Av Honório ocorrendo. As informações oriundas dos do Terceiro Exército e, também, porque Pinto Magalhães, que reúne os oficiais do noticiários, transmitidas pelas rádios, desde o dia anterior já era do conhecimento 1º/14º na Sala dos Pilotos, para informar eram muito vagas e contraditórias sobre público a posição do General Machado Lo- que ele tinha sido mal assessorado pelo Maj a renúncia do Presidente! De acordo com pes, favorável à posse do Vice-Presidente. Av Carlos Barcelos Guimarães, responsável as Normas Operacionais, na situação de Ainda, nesse domingo, assistimos a deco- pela segurança da Unidade. O Maj Av Gui- Prontidão, as aeronaves deveriam ser lagem do C-47 2077 para o Rio de Janeiro marães havia assegurado que a situação municiadas e estacionadas no pátio com transportando o Comandante da 5ª Zona estava sob controle, quando na realidade a proa para o sul, por medidas de segu- Aérea, Maj Brig João Arelano dos Passos, os suboficiais e sargentos já tinham se rança. Dedicados à operacionalidade do e seu staff. Em consequência, o QG ficou apoderado de todo o armamento da Base. Esquadrão, sem nos envolvermos com acéfalo, tendo então assumido o Comando Em face desta situação e não tendo mais atividades políticas, desconhecíamos o o Ten Cel Av Alfeu de Alcântara Monteiro, nada a fazer, disse-nos que iria ao Coman- que estava ocorrendo no Quartel-General oficial mais antigo que permaneceu no QG. dante do Terceiro Exército se apresentar da 5ª Zona Aérea, e mesmo no interior Os boatos continuavam circulando preso. Situação ridiculamente confortável! da Base. Notícias sobre o impedimento com maior intensidade! O mais polêmico Seguindo a atitude do Comandante, a gran- da posse do Vice-Presidente e a criação falava que um radioamador teria intercep- de maioria dos oficiais da Base abandonou da Rede da Legalidade comandada pelo tado uma mensagem que determinava que a Unidade! Destacamos a permanência na Governador Leonel Brizola, apelando para os aviões do Esquadrão bombardeassem Organização dos seguintes oficiais: Maj Av os sentimentos do Povo Gaúcho, tomaram o Palácio Piratini! Uma mensagem desta Mário de Oliveira I, Maj Av Jaime da Silveira conta dos radinhos. O Comandante do natureza somente é transmitida por meio Peixoto, Cap Av Danton Pinheiro Machado, Terceiro Exército, Gen Machado Lopes, de criptografia e nunca via fonia. Além do Ten Av Gunther Hans Stolzmann e Ten Av logo se pronunciou favorável à posse do mais, a maioria dos pilotos do Esquadrão José Alfredo Sobreira de Sampaio. Vice-Presidente, definindo a posição do era de gaúchos e tinham seus familiares Ainda atônitos pelas palavras do Co- Terceiro Exército. residindo em Porto Alegre! Outro boato que mandante da Base, e sem imaginar o que No dia 26 de agosto, à noite, surgiu fizeram circular, com o objetivo de provocar nos esperava na área externa do Esqua- no Esquadrão, a informação de que uma a insubordinação dos subalternos, dizia drão, eu, juntamente com o Ten Reinisch Unidade do Exército estaria tomando que se os aviões decolassem, a Vila Resi- e o Ten Sergio Santos Pinto, fomos até ao posição, com blindados, na cabeceira dencial dos suboficiais e sargentos seria pátio de estacionamento das aeronaves da pista 30 para impedir a decolagem bombardeada pelas Unidades do Exército! para verificar se as Normas de Segurança das aeronaves do Esquadrão, caso fosse Neste ambiente de incertezas e boatos, as estavam sendo cumpridas. Neste momen- necessário. Resolvemos, por iniciativa tensões iam aumentando. to, o Ten Reinisch observou a presença, própria, pagar para ver! Peguei o Jeep do No dia 28 de agosto (segunda-feira), não prevista, de um soldado armado Esquadrão e, juntamente com o Ten Egon pela manhã, o Comandante do Esquadrão junto aos aviões. Interrogado sobre a sua Reinisch, nos deslocamos até à Torre de recebeu ordem do Ministro para deslocar presença naquele local, e se a sua arma Controle, e prosseguimos caminhando até as aeronaves para a Base Aérea de Cumbi- estava municiada, o soldado respondeu à cabeceira da pista 30. Não vimos nada de ca. Reuniu então os subalternos no interior que havia recebido ordem de um sargento anormal, somente o ruído dos caminhões do Hangar para transmitir as ordens para da IG e que seu fuzil não estava municiado. de carga transitando pela estrada Porto o deslocamento. Nessa ocasião, surge o O Reinisch então tomou a arma do soldado, Alegre/Taquara. Assim foi desfeito mais um Cap Alfredo Ribeiro Daudt, do efetivo do verificando que a mesma estava municiada, dos inúmeros boatos que circulam nestes QG-5, conhecido por suas atividades e contrariando ordens expressas. Durante momentos de crise política. ligações com o Governador Brizola, ques- este diálogo o 3S IG Crispim Antônio

35 j Inácio, portando uma submetralhadora comandados por um sargento Músico, com tratamos de inspecionar nossas aeronaves, INA, aproximou-se de nós e com atitude os fuzis apontados para nós. Por sorte não que tinham sido sabotadas. Todas as 11 agressiva começou a questionar o Ten ocorreu qualquer disparo acidental, o que aeronaves que estavam no pátio tiveram Reinisch. Próximo ao hangar do Esquadrão poderia ter gerado um morticínio. seus pneus esvaziados, carenagens sol- estava o Ten Sobreira (José Alfredo), do 2º Voltamos para o Hangar e determina- tas, traqueia de oxigênio sob a cadeira de ECA, que percebendo o desentendimento, mos que todas as portas fossem fechadas. ejeção desconectada. Além disso, todas as juntou-se a nós. O Sobreira estava com Cerca de dezoito cabos que eram de nossa cablagens do sistema de armamento foram uma submetralhadora INA e nós estávamos confiança ficaram nos acompanhando e, cortadas. Pelo risco que tais atos envol- com a Pistola Colt 45. Neste cenário, no- posteriormente, recuperaram nossos avi- viam, temos a certeza de que foram plane- turno, com os holofotes iluminando o pátio ões, que tinham sido sabotados. No QG do jados e não fruto de emoção momentânea. de estacionamento, ouvimos os suboficiais Terceiro Exército, o Maj Ex Léo Etchegoyen Em consequência, os militares envolvidos e sargentos que estavam homiziados no tomou conhecimento da revolta dos subal- nos atos de sabotagem deveriam ter sido bosque de eucaliptos, ao lado do hangar, ternos da Base Aérea de Canoas. Decidiu, enquadrados por crime, conforme prevê o gritarem para que soltássemos o soldado então, se deslocar para a Base Aérea com Código Penal Militar. A atitude destemida e o sargento, caso contrário, mandariam dois Carros de Combate, tendo o cuidado e corajosa do Maj Etchegoyen permitiu que bala. Em ato contínuo ouvimos o engatilhar de não entrar no perímetro da Unidade, a fosse restabelecida a ordem e a disciplina de uma centena de fuzis! Ruído que não dá fim de evitar melindres, como o ocorrido na Base Aérea. para esquecer! O Ten Sobreira reagiu de em 1954, na Base Aérea de Santa Cruz. Da Ao clarear do dia 29 de agosto, o Maj imediato encostando o cano de sua INA entrada da Base até ao Prédio do Comando o Cassiano nos reuniu para informar que no peito do Sargento Crispim, dizendo: – Maj Etchegoyen deslocou-se a pé, acompa- por ordem do Ministro nos deslocaríamos Pode mandar bala, que eles vão conosco! A nhado apenas por seu Ordenança. O oficial para a Base Aérea de Cumbica. Alertou- resposta foi que eles morreriam pela causa! mais antigo presente na Base era o Maj Av -nos, também, que deveríamos redobrar Ao perceber o tumulto, e o ruído das Mário de Oliveira I, Comandante do 2º ECA. os cuidados para o deslocamento, porque armas sendo engatilhadas, o Maj Av Jaime Após tomar conhecimento da real situação não contávamos com informações meteo- da Silveira Peixoto, ex-Comandante do Es- pelo Comandante do ECA, o Maj Etchegoyen rológicas, nem com os auxílios rádio para a quadrão, que se encontrava junto à porta do dirigiu-se ao alojamento onde os subofi- navegação nem com o controle de tráfego hangar, partiu em direção ao bosque onde ciais e sargentos estavam concentrados. aéreo. Por volta das 10h decolamos com estavam ocultos os militares revoltosos, Ordenou, então, com voz alta e clara, que destino a Cumbica, onde pousamos após sendo seguido pelo Maj Cassiano Pereira, o suboficial mais antigo se apresentasse. 1h25 de voo. Estacionamos nossos aviões Comandante do 1º/14º, pelo Cap Danton Com a apresentação deste determinou que no antigo pátio do CAN, nosso conhecido Pinheiro Machado, da Base, e por nós, ele reunisse todos os militares, juntamente pela participação em quatro Manobras que estávamos sendo ameaçados. O Maj com o armamento tomado da Base, no prazo da EAOAR. Alojamo-nos no velho prédio Peixoto, ao passar entre os militares revol- de 30 minutos, caso contrário, entraria na de madeira dos Serviços Gerais da Base. tosos, abriu a camisa da farda, disse alguns Unidade com seus carros de combate. De Depois do que havíamos passado na noite palavrões e pediu para atirarem se fossem imediato a ordem do Maj Etchegoyen foi anterior, e pelo conhecimento de fatos homens! Ao sairmos no final do bosque cumprida. A tropa foi mantida em forma até históricos, decidimos montar pilhas de nos deparamos, ainda, com um pelotão de à nossa decolagem para Cumbica. tijolos na cabeceira de nossas camas recrutas, com apenas sete dias de quartel, Com a situação sob controle na Base, (para proteção). A guarda deste prédio e j 36 dos nossos aviões era feita por nós, fato gentos da Aeronáutica promovessem mais palavra, assumiu o comando da BACO. Em este que não agradou o Comandante da uma revolta! Novamente o Exército teve de pouco tempo restabeleceu a organização Base que estava nos hospedando. Os intervir com a Unidade de Paraquedistas e a disciplina militar na Unidade. O Cel demais oficiais do Esquadrão, os dezoito para sufocar os revoltosos. Pereira Pinto permaneceu no Comando até cabos de nossa confiança e o material de Após este longo período de indefi- 1965. Como Oficial Ajudante do Esquadrão, apoio foram transportados em um C-47 nições, decidiram pelo nosso retorno a responsável pelo controle do pessoal e pela colocado à disposição da Unidade. No dia Canoas. Tratamos, então, de como seria a disciplina militar, foi muito difícil tratar os 30 de agosto, o Ten Petersen juntou-se a convivência com os subalternos, pois não problemas surgidos com total isenção de nós com o décimo segundo Gloster, que seria fácil o dia a dia com pessoas que ânimo! No período de 18 de dezembro de se encontrava em revisão no Esquadrão. nos tinham apontado armas e sabotado 1961 a 23 de janeiro de 1962, respondi Passados alguns dias, na data de 5 de as aeronaves que voávamos, colocando pelo Comando do Esquadrão, devido ao setembro (terça-feira), com muitas apreen- em risco nossas vidas. Em face dessas período de Férias. Para minha surpresa, sões e incertezas o Comandante do Esqua- preocupações e cientes dos problemas recebo uma mensagem informando que drão nos informou que nos deslocaríamos de convivência que teríamos de enfrentar, eu estava sendo transferido para Forta- para a Base Aérea de Santa Cruz. Tomadas o Cap Av Jorge Frederico Bins nos trans- leza. Fiquei muito decepcionado com tal todas as providências para o deslocamento, mitiu a orientação do Maj Av Cassiano fato, pois dois meses antes eu havia me com o Esquadrão pronto para iniciar o táxi, (Comandante) que nos dava a opção de comprometido a permanecer na Unidade surge no pátio de estacionamento um Jeep transferência da Unidade ou de retorno à mesmo sabendo da desagradável tarefa com o Cel Av Roberto Faria Lima, Coman- sede do Esquadrão. Apenas dois oficiais que teria de enfrentar com a convivência dante da Base Aérea de São Paulo (BASP), pediram para serem movimentados. Vol- com os suboficiais e sargentos que me fazendo sinal para cortarmos as turbinas. O tamos para a sede da Unidade (BACO) no haviam apontado armas e sabotado o avião motivo desta ordem foi mais um daqueles dia 26 de outubro de 1961 (quinta-feira), em que eu voava! Aguardava o retorno boatos de que o Exército nos abateria caso praticamente dois meses após os tristes dos oficiais de férias para iniciar o meu decolássemos. No dia 6 de setembro 1961 acontecimentos da noite de 28 de agosto desligamento. Tal transferência, da forma (quarta-feira), finalmente nos deslocamos de 1961. Este período ficou muito marca- como ocorreu, eu atribuí à minha atitude para a Base Aérea de Santa Cruz, onde do em nossas vidas, pois nos sentíamos estritamente militar e que, certamente, não ficamos sediados até o dia 26 de outubro abandonados, cheios de incertezas, sem agradava aos subalternos que não tinham (quinta-feira). Neste período as Autoridades definição das Autoridades e sem notícias sofrido qualquer punição em consequência da Aeronáutica ficaram decidindo qual a so- dos familiares, que ficaram no Sul. Somen- dos atos de insubordinação e sabotagem. lução que seria dada para o Esquadrão, pois te saíamos da Base, quando algum colega No dia 20 de janeiro de 1962, partici- todos os suboficiais e sargentos tinham se nos emprestava um traje civil, pois saímos pava da cerimônia militar pelo aniversário envolvido em atos de insubordinação e de de Porto Alegre apenas com o macacão de Criação do Ministério da Aeronáutica, sabotagem, ações caracterizadas como de voo. No dia imediato ao nosso retorno, no QG-5, quando o então Maj Av Silas crimes pelo Código Penal Militar. Lamen- o Maj Cassiano passou o comando do Rodrigues me convidou para trabalhar com tavelmente, as Autoridades da Aeronáutica Esquadrão para o Maj Alberto Bins Neto. ele, na 2ª Seção do EM do QG-5, Seção de esqueceram de aplicar a lei. Esta omissão Em setembro de 1961, o Cel Av João Informações. De pronto aceitei o convite e, certamente serviu de estímulo para que Paulo Pereira Pinto, oficial brilhante, sério, no dia 2 de março de 1962, fazia a minha em 1963, em Brasília, os suboficiais e sar- discreto, educado e militar na acepção da apresentação no QG-5 n

37 j Brig Ar Luiz Carlos Baginski Filho [email protected] O presente documento elaborado pelo então Ten Av Luiz Carlos Baginski Filho é um relato dos acontecimentos ocorridos no período de março 1962 a abril de 1964. Os fatos aqui narrados foram vivenciados pelo autor do texto. Além disso, para que houvesse uma composição dos acontecimentos, foi inserido um trecho do relato do Maj Av Lutke redigido pelo próprio. j 38 RELATO HISTÓRICO DOS ACONTECIMENTOS MARÇO 1962 - ABRIL 1964 ligado ao Governador Brizola, liderava o Sergio Santos Pinto, Osvaldo França Jr. e QUARTEL-GENERAL grupo dos a favor. Guimarães. DA 5ª ZONA AÉREA Os oficiais da confiança do Cel Colla- Durante o comando do Maj Brig res no QG-5, eram: Ten Cel Av Carlos Du- Cantalice, a convivência no QG-5 era boa, o dia 2 de março de 1962 me arte Neto, Ten Cel Av Pantoja, Maj Av Silas porque ele não permitia o desenvolvimen- apresentei no Quartel-General e Rodrigues, Maj Av José Rabiço Jr., Maj Méd to de assuntos políticos no quartel. Em Nlogo assumi diversas funções, por Carlos Maia de Assis, Maj Av Eng Cláudio março de 1963, assume o comando da ser um dos poucos tenentes aviadores Moreira Sá, Maj Av Odony de Almeida Ra- 5ª Zona Aérea, o Brig Ar Othelo da Rocha da Unidade. Fui designado para assumir mos, Maj Av Carlos Lutke Filho, Ten Av Luiz Ferraz, pessoa ligada ao Brig Francisco o cargo de Adjunto da Seção de informa- Carlos Baginski Filho, Ten Av Guilherme Teixeira e as atividades pró Jango/Brizola ções, Chefe do Posto CAN, Chefe da Seção Sarmento Sperry, Ten Adm Octaviano, e tornaram-se mais intensas. de Aviões, Chefe da 3ª Seção do EM-5 e mais alguns oficiais da 3ª ELO, comanda- No 1º/14º assume o comando o Maj ainda outras funções relacionadas à área dos pelo Cap Av Carlos Treptow. Da parte Av Mello, filho do Ten Brig Corrêa de Mello, de Informações (PLD e SZAER) ligadas do Ten Cel Alfeu destacavam-se: Ten Cel Chefe do Estado-Maior da Aeronáutica. diretamente ao EMAER. Av João Baptista Monteiro Santos Filho, Mellinho, como era conhecido, em sua Inicialmente, a adaptação ao traba- Maj Av Oscar da Silva, Cap Alfredo Ribeiro primeira reunião com os oficiais do Esqua- lho burocrático foi difícil, pois estava Daudt e o pombo correio do Brig Francisco drão, transmitiu suas orientações e alertou acostumado a voar quase todos os dias Teixeira, Ten Esp Av Adão Silveira. Sempre que quem trouxesse política para dentro e agora, estava encerrado numa sala que as atividades políticas em Brasília da Unidade seria punido com 30 dias de lendo pilhas de documentos sigilosos, ficavam mais acirradas, percebia-se uma cadeia, além de ser transferido imedia- fazendo Termos de Incineração para intensa movimentação deste grupo. tamente. Acabaram-se as doutrinações depois destruí-los. Após um mês, reco- Continuando no trabalho de limpeza políticas no Esquadrão! mecei a voar bastante graças às minhas dos arquivos da Seção de Informações Em maio de 1963, fui chamado pelo qualificações operacionais: instrutor de determinado pelo Maj Silas, recebi três Cel Collares para me informar que eu seria C-45 e posse de Cartão de Voo por Ins- cofres imensos, duas máquinas de crip- designado Ajudante de Ordens do Coman- trumentos, credencial não muito comum tografar manuais e uma elétrica para me dante. Ponderei que eu não era o oficial naquela época. distrair! Desta forma, me especializei em indicado para tal função, por ser contrário O Maj Brig Adamastor Beltrão Canta- trocar o segredo dos cofres e, também, na politicamente ao grupo do Comandante. lice comandava a 5ª Zona Aérea. Era uma manutenção das máquinas de criptografia. Ele me disse então que eu fora indicado pessoa de trato agradável, o que facilitou Seis meses após sair do Esquadrão, justamente por este motivo, e que minha em muito o trabalho na Unidade, em um voltei lá para fazer um voo da saudade. Ao missão seria dificultar o acesso de certos período muito conturbado politicamente. chegar na Sala de estar dos Pilotos, vi uma oficiais ao Comandante. Tal designação O Chefe do Estado-Maior era o Cel Av grande quantidade de recortes de jornais, deu-se também pela minha qualificação Leonardo Teixeira Collares, outra pessoa todos de caráter político! Esse fato me operacional. admirável e tranquilo, que me transmitiu deixou surpreso e muito apreensivo, em No segundo semestre de 1963, co- muitos ensinamentos e do qual me apro- virtude do que ocorrera meses antes, no meçaram as transferências. Meu chefe, ximei muito pelos momentos difíceis que Esquadrão, com os mesmos oficiais, e por Ten Cel Silas, e o Maj José Magalhães vivemos nos anos 1962-1964. não ser permitida atividade política no in- Rabiço Jr. são transferidos para São José Após os acontecimentos políticos de terior do quartel. Essa observação pessoal dos Campos. Assim, foram sendo removi- agosto de 1961, ficou marcante a divisão estava reforçando informes que havíamos dos os obstáculos ao grupo Jango/Brizola. entre os militares da FAB: um grupo era recebido do Terceiro Exército sobre o Antes de passar a chefia da 2ª Seção, o contra Jango/Brizola e, o outro, a favor. No envolvimento de oficiais do Esquadrão em Ten Cel Silas me passou a guarda de 12 QG-5, o Cel Collares liderava o grupo con- atividades políticas ligadas ao Governador metralhadoras Thompson e 12 granadas tra, e o Ten Cel Alfeu Alcântara Monteiro, Brizola. Destacavam-se nestas atividades destinadas ao nosso uso pessoal. Todo politicamente muito ativo e intimamente os tenentes aviadores Reino Pecala Rae, este armamento ficaria guardado em um

39 j dos grandes cofres, cujo segredo de aber- GAv, o Comandante, Maj Av Mello, determi- dentes João Goulart e Leonel Brizola, que tura ficaria sob a minha responsabilidade e nou que o Esquadrão operasse em esforço nada mais poderia ser feito, uma vez que as de conhecimento, também, do Cel Collares. máximo, por dois dias, não permitindo que principais Divisões sediadas no interior do O Ten Cel Oscar da Silva, pessoa ligada seu pessoal ficasse ocioso e se envol- estado teriam definido suas posições pró ao Ten Cel Alfeu, assumiu o A-2 (Seção de vesse em assuntos políticos. Havia uma contrarrevolução, declarando-se solidárias Informações). A convivência com o meu preocupação muito grande com a Base ao Comandante da 3ª DI, de Santa Maria, novo chefe ficou muito difícil, a ponto de Aérea de Canoas pelo que tinha ocorrido Gen Mário Pope Figueiredo. Após essa ele me levar ao Comandante e pedir a minha em 1961. Entretanto o excelente trabalho reunião, o Gen Ladário, desejando retornar saída da Seção. Foi quando o Comandante disciplinador realizado pelo Cel Pereira ao Rio, solicitou transporte aéreo para o dia explicou a ele que eu havia sido designado Pinto produziu os resultados esperados. seguinte. Foram escalados para realizar para aquelas funções (PLD e SZAER) pelo Dias antes de eclodir a contrarrevolução a missão os majores Odony de Almeida Estado-Maior da Aeronáutica, e que ele não ele foi procurado por um grupo de subo- Ramos e Carlos Lutke Filho, no C-47 2077. tinha autoridade para me afastar da Seção. ficiais, que lhe asseguraram a absoluta tranquilidade no meio dos subalternos, e Nota 1 - O movimento revolucio- Fato hilário - Nos primeiros dias que se houvesse alguma anormalidade eles nário iniciado na madrugada do dia 31 de março de 1964 fui chamado pelo Cel próprios o informariam. de março foi considerado encerrado e Collares que me informou que teríamos se- Comandava o Terceiro Exército o Gen vitorioso em todos os estados, na noite rão: – Avise em casa! A minha missão seria Benjamim R. Galhardo. Entretanto no dia de 1º de abril, com a saída de Brasília do tentar impedir a vinda, para Porto Alegre, 2 de abril chega a Porto Alegre, designado Chefe do Governo para destino ignorado, de uma aeronave Paris C-41 que estava pelo Ministro do Exército, o Gen Ladário dando ensejo ao Presidente do Congresso pousada em Curitiba, e que transportava Pereira Telles, com o objetivo de montar Nacional de declarar vago o cargo de Pre- emissários do Brig Francisco Teixeira. Sa- um dispositivo de resistência e proteção ao sidente da República. O mesmo não ocorria bendo da pequena autonomia da aeronave e já então ex-Presidente. De imediato, o Gen no Rio Grande do Sul pela presença do da pouca experiência dos pilotos em aerona- Ladário convocou para uma reunião todos ex-Presidente em Porto Alegre, pelo apoio ves a reação, sugeri ao Cel Collares que eu os oficiais generais comandantes de Bagé, do Comandante do Terceiro Exército, e emitiria boletins meteorológicos falsos com Uruguaiana, Santa Maria e Santiago. Para pelo poder de arregimentação de massas forte aproximação de nevoeiro! O plano foi tal, solicitou à 5ª Zona o transporte aéreo de Leonel Brizola, tentando fazer ressurgir aprovado e, nos horários previstos para os dos comandantes, com a ressalva de que a Cadeia da Legalidade e, mais uma vez, boletins, saía um pior do que o outro! Às deveriam ser transportados, individualmen- transformar o Rio Grande do Sul na última 21h30, a etapa Curitiba/Porto Alegre, com a te, ou seja, um em cada avião! Esta ressalva trincheira da resistência à deposição do vinda dos emissários, foi cancelada. Contei serviu para reforçar a informação que o Presidente. Em consequência, as ações do com a ajuda do 1S RT-TE Queiroz, que foi Cel Collares havia recebido pouco antes, movimento revolucionário se prolongaram colocado de serviço por nós. Constante- de que se algum general discordasse do por mais dois dias no estado. mente recebíamos na Estação Rádio a visita Gen Ladário, ficaria preso em Porto Alegre. do Ten Cel Alfeu para saber informações O Cel Collares determinou que eu acionasse Nota 2 - Deve também ficar regis- sobre o voo. Lembro que, naquela época, as as missões, com o cuidado de escalar pilo- trado que o Ten Cel Alfeu já estava desli- comunicações eram muito precárias, e os tos da nossa confiança e que eles, ao che- gado do QG-5 por ter recebido Ordem de boletins meteorológicos eram transmitidos gar nos respectivos destinos, informassem Matrícula no Curso Superior de Comando, por telegrafia por intermédio da Estação aos generais sobre as intenções do novo com início previsto para o dia 6 de abril de Rádio do QG. Comandante do Terceiro Exército. Apenas 1964, conforme Boletim Interno nº 46 da um general atendeu à convocação para a ECEMAR, de 10 de abril de 1964. O refe- O Cel Collares mantinha um relacio- reunião. Foram empregadas três aeronaves rido militar estava em trânsito para o Rio namento muito bom com os oficiais do C-45 e um C-64 Nordween. de Janeiro, por meios próprios. Ao chegar Terceiro Exército e, desta forma, estava Em reunião na residência oficial do em Curitiba, tomando conhecimento do sempre bem informado sobre os aconte- Comandante do Terceiro Exército, o Gen agravamento da situação política no país, cimentos na cidade de Porto Alegre. Com o Ladário, após um rápido Exame da Situa- decidiu retornar a Porto Alegre, apresen- agravamento da situação política nacional ção, pelo não atendimento à convocação tando-se como adido ao QG-5! no dia 31 de março de 1964 (terça-feira), dos generais comandantes das grandes A seguir, será apresentado um trecho todas as Unidades da 5ª Zona Aérea en- Unidades do interior do Rio Grande do Sul, do relato do Maj Av Lutke, redigido pelo traram em estado de prontidão. No 1º/14º teria declarado aos presentes, ex-presi- próprio, com o intuito de dar continuidade j 40 ao registro dos acontecimentos no QG-5 para que aguardássemos no Clube de Maj Brig Lavenère-Wanderley disse: “Bri- em abril de 1964: Aeronáutica uma eventual convocação. gadeiro está na hora de mudarmos a rota, No dia 3 de Abr, após cumprirem a Por volta das 13h quando almoçávamos no vou dar instruções ao piloto”. Foi à cabine e missão de transporte do Gen Ladário para restaurante do Clube, chegou junto a nossa ao retornar transmitiu ao Brigadeiro as ins- o Rio, os pilotos se hospedaram no hotel mesa o Cel Roberto Hippolyto da Costa truções que havia dado, isto é, que daquele de trânsito do Clube da Aer. À noite, quando trazendo consigo sua inseparável bolsa de ponto a rota deveria ser alterada para Porto já estávamos recolhidos, o Maj Ramos foi paraquedas que era seu “pequeno arsenal”, Alegre e que as mensagens de controle de chamado ao telefone, tendo recebido ins- determinando que nos preparássemos tráfego e também, para a sua Companhia truções do Cel Av Délio Jardim de Mattos imediatamente para retornar a Porto Alegre. deveriam ser reportadas como se para para que comparecêssemos às 9 h do dia “Sim senhor”, respondi-lhe, “vou avisar Belém fôssemos (na época o Controle de seguinte (sábado, 04/04/64) na sala de aos sargentos para prepararem o avião”. Tráfego ainda não contava com os Dacta reunião do Estado-Maior da Aeronáutica, “Nada disso”, retrucou o Cel; vamos com 1, 2 e 3). O voo prosseguia sem qualquer no prédio do Ministério. Conforme deter- outros meios. O 2077 é muito conhecido anormalidade, auxiliado por um “céu de minado, na hora estabelecida chegamos da rota. Estamos seguindo com o Maj Brig Brigadeiro” da decolagem ao destino. ao Estado-Maior, já encontrando alguns Nelson Freire Lavenère-Wanderley que está Brigadeiros e Coronéis que logo solicita- aqui nos aguardando. Reunidos todos na Nota 3 - Neste dia, 4 de abril de ram que fizéssemos um relatório verbal da portaria do Clube, apresentamo-nos ao Maj 1964 (sábado), o Superior de Dia ao QG-5 real situação das Unidades da Aeronáutica Brig partindo em seguida para o Aeroporto era o Maj Av Jaime da Silveira Peixoto e eu, sediadas em Canoas (QG-5, Base Aérea, do Galeão (Galeão Antigo). Lá chegando, Ten Baginski, seu Adjunto. Dia muito mo- 1º/14º GAv e Hospital de Canoas), posição o Cel Hippolyto solicitou a presença do vimentado, com vários pedidos de busca dos respectivos Comandantes, o estado funcionário do DAC responsável pelo ae- oriundos do Terceiro Exército, acionamento da tropa face ao desfecho já vitorioso do roporto, pedindo que lhe informasse qual de voos de helicóptero para atender tais movimento, etc. relato este feito pelo Maj o primeiro avião e a respectiva empresa, a pedidos, informes sobre possíveis levantes Ramos. Ao que parece, havia a intenção decolar para uma viagem programada. Le- por parte dos subalternos, dentre outros. de substituir o Cmt da 5ª Zona Aérea, mas vantada a informação, dirigiu-se ao balcão Em face da preocupante situação com havia um certo constrangimento em fazê- da Cruzeiro do Sul, cujos funcionários es- as atividades do grupo liderado pelo Ten -lo uma vez que o Brig Othelo era sogro do tavam despachando um voo de rotina para Cel Alfeu, informei ao Cel Collares que as Cmt do 1º/14º GAv, Maj Av Aroldo Corrêa de Salvador no equipamento Caravelle, onde metralhadoras Thompson estavam muni- Mello, filho do então Chefe do Estado-Maior apresentou ao gerente local da empresa um ciadas e prontas para serem distribuídas da Aeronáutica e Ministro em exercício da documento de “Requisição de Aeronave” para os oficiais indicados por ele. pasta, Ten Brig Francisco de Assis Corrêa para cumprimento de “Missão Militar”. Foi de Mello, que não estava presente à Reu- então solicitada a presença do Comandante Nas proximidades do Aeroporto Salga- nião. Entre várias sugestões apresentadas da aeronave o qual foi informado sobre a do Filho, conforme instruções recebidas, o pelos Oficiais-Generais, o Brig Afonso Cel- requisição do equipamento inclusive de sua primeiro e único contato rádio do Coman- so Parreiras Horta dizendo-se muito amigo tripulação. O piloto prontamente aquiesceu dante do Caravelle com a torre de controle do Brig Othelo prontificou-se a ir ao Sul e perguntando: Para onde vamos, Cel? “Para foi estabelecido já na Zona de Tráfego, dei- convencer o colega a se afastar do cargo, Belém”, respondeu-lhe o Cel Hippolyto. xando o Operador atônito e confuso, pois sem trauma, dando tempo para que fosse Neste caso devemos reabastecer o avião não havia notícia de qualquer tráfego aéreo indicado seu substituto definitivo. Pedindo a pleno, completou o Comandante. “Pois com destino à capital gaúcha naquela hora. a palavra, fiz ver aos presentes que, em tome as providências necessárias e nos avi- Por sua vez, o sargento da torre cumprindo minha opinião, face a presença no QG-5 se quando poderemos embarcar finalizou o instruções recebidas, comunicou-se ime- do TCel Alfeu que exercia certa influência Cel. O Maj Ramos e eu ficamos sem enten- diatamente com o chefe do EM do QG-5, sobre o Cmt da Zona, caso viesse a ser der este destino, mas como estávamos ali informando-o do que estava ocorrendo. definida a substituição do Brig Othelo, esta apenas “cumprindo ordens”, calamo-nos. Estacionado o avião em frente à estação deveria ser feita imediatamente, de forma Em seguida fomos conduzidos ao pátio de passageiros o Cel Hippolyto desceu só, determinada e positiva, sem rodeios e, de manobras, embarcamos e partimos para certificar-se de que havia segurança se possível, por um Oficial-General com com mais tripulantes a bordo do que pas- para o desembarque do Brigadeiro. O fator ascendência hierárquica bem definida, isto sageiros. O voo transcorria normalmente “surpresa” fora alcançado, pois estava é, por um Maj Brig. A seguir, o Maj Ramos quando, ao passarmos na vertical de Belo tudo normal. Deixamos então o avião e e eu fomos dispensados com instruções Horizonte o Cel Hippolyto dirigindo-se ao enquanto nos dirigíamos para o saguão do

41 j aeroporto, surgiu um helicóptero circulan- Passava das 20:30, com a presença de último ato de sua vida. Diante deste ato de do sobre o aeródromo, deixando o grupo ambos os Brigadeiros e a maioria dos insubordinação, o Maj Brig Wanderley de- um pouco apreensivo; no entanto, logo que Oficiais Superiores da Guarnição, dei início terminou que o Maj Phyrro chamasse o Cel foi identificado como sendo da própria área à leitura do Boletim Interno da Unidade o Collares. Mandei chamá-lo porque estou, do QG-5, tudo voltou à calma. Tratava-se qual na III Parte transcrevia o documento neste momento, prendendo o Ten Cel Alfeu do Maj Av Jaime da Silveira Peixoto, A3 do assinado pelo Ministro Interino, Ten Brig por ato de insubordinação. Incontinente, o QG-5, naquele dia também Superior de Corrêa de Mello que exonerava de suas Ten Cel sacou seu revólver e, apontando Dia e do Ten Hélio Bernd da 3ª ELO que, funções o Brig Othelo e designava para para o Comandante, declarava que não por determinação do Cel Collares se des- Comandante da 5ª Zona Aérea o Maj Brig aceitava a prisão! De nada adiantavam as locaram para o aeroporto para tomarem Lavenère-Wanderley. Finda a leitura, com palavras do Maj Brig e do Cel Collares para conhecimento de quem estaria chegando os dois Brigadeiros perfilados, um em demovê-lo dessa atitude insana. Cada vez naquele voo sem prévio aviso. O Maj Brig frente ao outro, houve a clássica passagem mais exaltado dizia: – Ou o Senhor relaxa Lavenère-Wanderley após manter contato de Comando. Encerrada a curta cerimônia, a prisão ou lhe atiro! Na sala do Ajudante com o Cel Collares dando-lhe ciência de ambos se cumprimentaram. de Ordens, ao lado, e com a porta ligeira- sua missão, pediu-me que o colocasse em mente aberta, ouvíamos em altos brados contato com o Brig Othelo. Dirigimo-nos Neste ponto, volto a seguir com o meu as palavras do Ten Cel Alfeu. Nessa hora ao balcão do CAN de onde liguei para a relato, por estar envolvido e participado o Cel Pereira Pinto ingressa na sala do residência oficial do Cmt da Zona Aérea, diretamente dos acontecimentos ocorridos Comandante, deixando a porta aberta, e se tendo sido atendido pelo taifeiro de serviço. na noite de 4 de abril de 1964. depara com um quadro assustador: o Maj Identifiquei-me informando-o ainda que Encerrada a curta cerimônia, o Maj Brig Wanderley à frente de sua mesa sob a desejava um contato pessoal e direto com Brig Wanderley acompanhou o Brig Othelo mira de uma arma, e o Cel Collares próximo o Brig Othelo. Enquanto esperava para ser até ao automóvel que o levaria a sua resi- à porta da sala de Reuniões. Todos estavam atendido, percebi um intenso vozerio e gar- dência. O Collares e eu acompanhamos os desarmados. O Cel Pereira Pinto tenta, galhadas que, naquele momento ali estaria oficiais generais até à entrada do prédio ainda, dialogar com o Ten Cel Alfeu que acontecendo uma reunião muito festiva; do QG. Quando estávamos retornando lhe responde: – Não se meta nisto Pinto! reunião esta, posteriormente confirmada, para o Gabinete do Comando, o Maj Brig As coisas estavam neste elevado grau de destinada a festejar pelos liderados do Ten Wanderley parou no meio do primeiro lance tensão quando o Cel Hippolyto, que fazia Cel Alfeu a falsa notícia de que o Brig Othe- de escadas e dirigindo-se ao Cel Collares um lanche no andar térreo, é informado por lo seria confirmado no cargo. Ao atender disse: – Preciso falar com o Ten Cel Alfeu, um oficial do que estava ocorrendo na Sala o telefone, o Brig foi muito cordial comigo mande-o ao meu Gabinete. Eu segui para do Comandante. O Cel Hippolyto entra na e após cumprimentá-lo informei-o de que a sala do Ajudante de Ordens, que ficava sala pela Sala do Ajudante de Ordens, se o Maj Brig Lavenère-Wanderley que estava ao lado da sala do Comandante, onde en- depara com uma cena assustadora e recua ao meu lado no Aeroporto Salgado Filho, contrei o Comandante da Base, Cel Pereira rapidamente para sacar a sua pistola. No desejava falar-lhe. Após passar o telefone Pinto; o Comandante do 1º/14º, Maj Mello; momento em que o Ten Cel Alfeu perce- ouvi o seguinte monólogo: “Othelo, é e o Ten Sperry. Somente estes oficiais e eu beu a presença do Cel Hippolyto, fez dois Wanderley. Trago instruções para assumir (Ten Baginski) é que assistiram ao início do disparos contra o Maj Brig: um atingiu a o Comando da 5ª Zona Aérea. Quando atentado ao Maj Brig Wanderley. região orbicular e, o outro, o ombro. Ato poderá transmiti-lo?” Após a resposta o Logo após o Ten Cel Alfeu apresentar- contínuo o Cel Hippolyto reagiu disparando Maj Brig Lavenère-Wanderley prosseguiu: -se ao Maj Brig Wanderley, este lhe deu sua arma contra o Ten Cel Alfeu. Foram dis- “Então às 20h30 no prédio do Comando, instruções para que seguisse destino para parados cerca de dez a doze tiros! Quando obrigado.” Olhei para o relógio e eram exa- a sua nova Unidade, a ECEMAR para fazer cessaram os disparos, entrei na Sala do tamente 18h40 do dia 04/04/64. A seguir, o Curso Superior de Comando. Neste mo- Comando. A cena era dantesca: a sala total- nos dirigimos ao QG-5 em Canoas onde eu, mento, ingressou na Sala do Comandante, mente enfumaçada; o Maj Brig Wanderley como responsável pelo setor administra- via Salão Nobre, o Maj IG Phyrro, que de- em frente à sua mesa, levantando-se com tivo da Unidade, dei início às providências sejava apresentar-se ao novo Comandante. o rosto todo ensanguentado; e o Ten Cel para a solenidade de transmissão do cargo, Enquanto ouvia a apresentação do Maj, o Alfeu caído no tapete, junto ao armário, convocando os oficiais do próprio QG-5 Ten Cel Alfeu interrompeu a apresentação tentava, ainda, pegar sua arma que estava e da Base Aérea e também a preparação deste oficial e, dirigindo-se ao Maj Brig, caída sobre o tapete! do Boletim Interno que iria transcrever o disse: – Mande dizer ao Estado-Maior que Em face do ato insano que acabava documento oficial da troca de Comando. se alguém me prender estará praticando o de presenciar, lembrando pelo que havia j 42 passado durante a revolta dos suboficiais na duração, e logo fomos dispensados da perceberam que eu estava exausto, depois e sargentos, na BACO, em 1961, e dos missão de carcereiros. que dormi durante um depoimento! informes sobre a possibilidade de outra O Ten Cel Alfeu sofreu ferimentos No dia seguinte, 6 de abril de 1964, revolta por parte dos subalternos, tratei gravíssimos na região abdominal, sendo retornei a Porto Alegre pelo voo do Electra imediatamente de pegar a minha metra- encaminhado para um hospital de Porto da Varig. Tratamos de colocar a casa em lhadora Thompson, que estava na sala ao Alegre que dispunha de mais recursos ordem, recolher as Thompson que haví- lado (Seção de Informações), levando outra médicos. Cerca de uma hora após os amos distribuído na noite anterior, entre para o Cel Hippolyto que, inicialmente, acontecimentos, recebemos a notícia do outras atividades. ficou um pouco surpreso, porque estava falecimento do Ten Cel Alfeu. Conversei en- No dia 11 de abril, eu e minha espo- me conhecendo naquele instante. tão com o Cel Collares sobre a necessidade sa fomos convidados pelo Cel Collares O socorro médico chegou rápido devido de informarmos aos subalternos o que para almoçar em sua residência com o à proximidade do HACO. Após uma primeira realmente tinha ocorrido, isto para evitar Maj Brig Wanderley, já recuperado, e avaliação, os médicos verificaram que os que os boatos tomassem conta do Quartel. com sua esposa, a Sra. Sophia Helena, ferimentos do Maj Brig, por um milagre, Como as horas estavam passando e o Cel recém-chegada do Rio. não eram muito graves. Quando os médicos Collares estava muito assoberbado com No dia 17 de abril de 1964, fui escala- tentaram colocá-lo em uma maca, para levá- todos os acontecimentos, lembrei-lhe uma do para uma viagem ao Rio transportando -lo ao Hospital, ele não aceitou e disse que vez mais da minha preocupação. Determi- o Maj Brig Wanderley, no C-47 2077. iria caminhando! O Cel Hippolyto, já com a nou-me, então, que reunisse os subalter- Tripulação Maj Lutke e Ten Baginski. sua Thompson, e eu fomos dando proteção nos e fizesse um relato dos fatos ocorridos, Ficamos hospedados no hotel do Clube ao Maj Brig, no deslocamento do QG até o pois eu tinha presenciado todos os acon- de Aeronáutica. À noite, o Maj Lutke re- Hospital. Ficamos bastante preocupados tecimentos. Aproximadamente às 23h30, cebeu uma ligação telefônica do Maj Brig neste deslocamento, porque o nevoeiro era me dirigi ao alojamento dos suboficiais e Wanderley para que comparecêssemos muito intenso, até para caminhar! sargentos para fazer uma comunicação a sua residência, no Flamengo, a fim de oficial do que havia ocorrido. O alojamento recebermos novas instruções. Lá chegan- Nota 4 - Por muito pouco não se era dotado de camas beliche, com pouco do, o Maj Brig Wanderley nos informou repetia a tragédia que havia ocorrido com o espaço e com um mínimo de iluminação; que havia recebido do Presidente Castelo pai do Maj Brig Wanderley, Gen Bda Alberto ambiente tétrico! Com muitas preocupa- Branco o convite para assumir o Ministério Lavenère-Wanderley, morto com um tiro ções, falando de forma segura e franca, da Aeronáutica, e que deveria seguir para no peito, disparado pelo Tenente getulista transmiti a eles o que realmente tinha Brasília no dia seguinte. Nesta ocasião, Juracy Montenegro Magalhães, que, com ocorrido. Minhas palavras foram muito determinou que retornássemos a Porto Juarez Távora e Agildo Barata, assaltavam bem aceitas, sem questionamentos, e ao Alegre, e nos convidou para trabalharmos o 22º Batalhão de Caçadores, sediado na final recebi agradecimentos pela atenção a com ele no Gabinete do Ministro. capital da Paraíba. eles dispensada. Designado Ajudante de Ordens do Pela manhã do dia 5 de abril de 1964 Ministro da Aeronáutica, em 29 de abril de Retornando do Hospital para o QG-5, (domingo), depois de uma noite estres- 1964, me apresentei logo em Brasília, ten- ainda perplexos com o que havia ocorrido, sante, mais uma surpresa! O Cel Collares do em vista a situação tumultuada do país. eu e o Ten Flávio da Rocha Fraga recebe- me chama determinando que eu deveria Foi um período muito difícil para minha mos ordem do Cel Hippolyto para prender comparecer ao EMAER, no Rio, para fazer família, pois minha esposa estava grávida e fazer uma revista minuciosa nos milita- um relato dos acontecimentos ocorridos de oito meses e eu tendo de permanecer res do grupo Jango/Brizola mais envolvi- no QG-5. Isto depois de ter passado a em Brasília ou no Rio de Janeiro. Somente dos politicamente. A 3ª Seção do EM-5 noite em claro e sob tensão! Peguei o voo no final de junho é que consegui levar minha nos foi indicada para servir como cárcere. do Electra da Varig e fui para o Rio. Lá che- família para Brasília. Após pouco tempo o Cel Hippolyto nos gando, me dirigi ao prédio do Ministério e Permaneci na função de Ajudante de traz o primeiro e único prisioneiro: o Ten ao sexto andar, onde funcionava o EMAER. Ordens do Ministro da Aeronáutica, Ten Brig Cel Av Oscar da Silva, meu chefe do A-2, Subindo as escadarias, encontrei o Cel do Ar Nelson Freire Lavenère-Wanderley nos mostrando como deveria ser feita a Délio Jardim de Mattos que de imediato até dezembro de 1964, quando o Ministro revista pessoal. O fato foi bastante cons- me pediu um relato verbal dos aconteci- pediu exoneração do cargo, por discordar trangedor para nós, que não estávamos mentos. Lembro que vários outros oficiais da decisão do Presidente Castelo Branco preparados psicologicamente para tal do EMAER pediram para que relatasse os com relação ao emprego da Aviação ação. Felizmente esta missão teve peque- acontecimentos novamente. Creio que Embarcada n

43 j SE POUSAR UM NORTH-AMERICAN T-6 JÁ NÃO ERA FÁCIL, IMAGINE (QUASE) SEM COMANDOS DE VOO...

Vicente Cavaliere Cel Av [email protected]

assaram-se cinquenta anos, mas lembro-me do fato como se o es- Ptivesse vivenciando agora. Eu era um Cadete Aviador da FAB, com apenas vinte e um anos de idade e com pouca experiência de voo, mas pilotando solo um T-61 na final para pouso na pista do Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro (RJ). Lembro-me que a manete de acelera- North-American T-6 ção do motor já estava toda reduzida, os flapes baixados no máximo e o manche do líder e do ala. Essas missões, assim transferência de local de instrução também totalmente colado atrás. Porém, sem como as próximas, compostas por quatro aconteceu porque, outrora, em 1959, já conseguir levantar um milímetro sequer aviões – esquadrilha, reunião de dois havia ocorrido a colisão de um avião de do nariz do avião, no intuito de diminuir elementos – seriam as últimas do Curso treinamento de Cadetes com uma aeronave a velocidade de 130 milhas/hora para a de Formação de Oficiais Aviadores. Elas Viscount da VASP, fazendo 41 vítimas entre ideal na final, que era de 100 milhas/hora, tinham como objetivo, além de ensinar tripulantes, passageiros e pessoas no solo. e de, principalmente, modificar a atitude a voar em formatura, selecionar aqueles Após a conclusão do curso na Escola de agressiva – em relação à arfagem2 – em Cadetes que tinham condições de serem in- Aeronáutica, os Cadetes eram declarados que o avião se encontrava. dicados, após a conclusão do curso, para a “Aspirantes a Oficiais Aviadores”. A seguir, Com certeza, iria entrar voando pelo Aviação de Caça. Nessa época, os Cadetes os Aspirantes selecionados para a Caça chão a dentro... Seria morte certa! Aviadores recebiam instrução acadêmica eram movimentados para Fortaleza (CE), a Mas como cheguei a tal ponto e como de nível superior e de voo na antiga Escola fim de realizarem o Curso de Piloto de Caça. me saí dessa? de Aeronáutica, no Campo dos Afonsos, Os demais seguiam para Natal (RN), para No dia 14 de janeiro de 1969, estava Rio de Janeiro. Após 1970, a formação realizarem o Curso de Bimotor de Transpor- executando mais uma missão de forma- passou a ser efetuada na Academia da te. A Aviação de Caça era cobiçada pelos tura composta por dois aviões voando Força Aérea – AFA, em Pirassununga Cadetes Aviadores, mas apenas poucos lado a lado – elemento, unidade básica de (SP), em virtude do congestionamento do eram selecionados. combate aéreo –, constituída pelos aviões tráfego aéreo sobre o Rio de Janeiro. Essa Nessas formaturas, eram realizadas j 44 T-6 após o acidente

algumas manobras mais simples similares detes, realizando uma série de touneaux àquelas utilizadas em voos de caça. Para barril3 e, após, de loopings4. Em todos os tanto, os Cadetes deveriam, além de voar touneaux e no primeiro looping, permaneci com qualidade nas formaturas, demonstrar firme e corretamente na ala. No entanto, no que tinham determinação e coragem para segundo looping, deixei meu avião atrasar permanecer na ala – em outras palavras, e fiquei um pouco recuado na posição na garra e sangue para brigar pela posição ala, ou seja, fora da posição correta. Por correta do avião na formatura. Assim, causa da pressão psicológica, pensei: qualquer erro ou vacilo significava ser des- Vou ser desligado da Caça! Não posso ligado da possível indicação para a Caça. E atrasar mais!... E faltava apenas um mês a crença nessa assertiva exercia uma forte e meio para a cerimônia de Declaração de pressão psicológica. Aspirantes... Assim, no início do próximo O avião do líder do elemento era looping, procurei me antecipar e acelerei pilotado pelo meu instrutor de voo, um indevidamente o motor do avião um pouco Tenente Aviador. Eu voava solo em sua ala, mais que o necessário para acompanhar o pilotando o T-6 1501. No decorrer do voo, líder. Esse foi o meu erro... como eu havia demonstrado capacidade Durante a subida do looping, por minha de permanecer na ala durante a execução inexperiência em acrobacias na ala, deixei de manobras mais difíceis – considerando meu avião ir adiantando por baixo da asa as condições e a experiência de pilotagem do líder, perdendo então as referências de um simples Cadete Aviador – o instrutor visuais com o outro avião, necessárias julgou que poderia ir além das manobras para o voo de ala, e o ultrapassei bem no duas aeronaves. Ambos – eu e o instrutor previstas para a missão e para um Cadete topo da manobra, com ambos os aviões – poderíamos ter falecido nessa ocasião. inexperiente em voo (menos de 100 horas), na posição de dorso. Perdi de vista o avião Os danos causados, como apurei mais conforme o próprio instrutor narrou após do líder e, simultaneamente, ouvi o barulho tarde, foram apenas a perda do profundor o incidente. Então, ele decidiu partir para típico e inconfundível de hélice destruindo direito e de parte do leme de direção de a execução de acrobacias na ala, embora o alumínio da cauda de meu avião... minha aeronave. No avião do líder, apenas estas não estivessem previstas para Ca- Felizmente, não ocorreu o choque das algumas mossas na hélice.

45 j A próxima visão era a de um avião o líder já havia acionado o esquema artilharia antiaérea. Estava sem bússola mergulhando na vertical em direção ao de emergência pelo rádio. Mas, conside- e perdido, voando cada vez mais para autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Ja- rando a situação adversa em que eu esta- dentro do território inimigo (Alemanha). neiro. A minha decisão imediata foi saltar va – voando em direção ao chão – decidi Seu piloto lutava com o que lhe restava de paraquedas. Para mim, não haveria o que a única saída possível seria arremeter dos comandos para conseguir manter o menor problema e nenhum receio, uma para tentar novamente a aproximação para avião voando nivelado. O piloto de caça vez que, na época, mesmo sendo apenas pouso, talvez em melhores condições. Se, alemão – Franz Steigler – designado para Cadete, eu realizava saltos de paraque- em situação normal, já era difícil efetuar abater a B-17G, descreveu a situação das no Clube de Oficiais Paraquedistas um pouso com o T-65, quanto mais agora, da seguinte forma: “Nunca vi um avião do Exército – COP. Seria apenas mais em situação adversa. Empurrei a manete naquele estado. A seção traseira, leme e um salto. A nacele já estava aberta, pois para a frente, a fim de acelerar o motor e profundores muito avariados, artilheiros voávamos com esta totalmente aberta arremeter... feridos, a proa do quadrimotor danificada para facilitar a saída do avião em caso Nessas horas, segundos representam e furos por toda a fuselagem”. Este piloto de necessidade, pois este não possuía anos e tudo passa pela nossa cabeça. alemão, num gesto de nobreza, em vez de cadeira de ejeção. Assim é que, de imediato, em função da dar o golpe de misericórdia, escoltou o Entretanto, senti que ainda havia reação do avião com a aceleração do mo- avião avariado e indicou um rumo seguro algum comando da aeronave. Puxei o tor, lembrei-me de uma história real que de volta para a Inglaterra. manche e consegui voar nivelado. Con- havia lido na revista Seleções do Reader’s A outra ocorreu em 1986, quando um cluí que poderia preservar a aeronave Digest quando eu ainda era criança, em C-47 foi atingido por um míssil terra-ar da destruição. Olhei para trás, pelo lado torno de dez anos de idade. Uma aero- SA-7 ao sobrevoar Ondagwa (Namíbia). A esquerdo da nacele, para verificar as nave de passageiros, quadrimotor, havia C-47 condições estruturais do avião, e vi o colidido em voo com outra aeronave de profundor inteiro, sem nenhum dano. Se pequeno porte. Esta última teve perda to- tivesse olhado pelo lado direito, seria bem tal, com falecimento do piloto. A aeronave diferente. Teria visto que não havia mais maior perdeu os profundores e o leme de nada de profundor nesse lado..., e aí o direção, mas o piloto conseguiu efetuar susto seria bem maior... Mas eu não olhei um pouso de emergência, controlando a para trás por esse lado... Entretanto, eu atitude do avião – em relação à arfagem estava consciente de que a sequência do – apenas com a variação da potência dos voo seria com restrições, pois algo havia quatro motores. acontecido, algo havia sido destruído lá Hoje, pesquisando sobre o assunto, atrás... Só não conseguia ver direito o descobri mais duas situações similares. que era... A primeira ocorreu no final da Segun- explosão arrancou a maior parte da cauda, A seguir, fiquei uns 10 minutos pro- da Guerra Mundial. Um B-17G dos Estados deixando-a em frangalhos. O piloto dimi- curando pelo avião do líder em todas as Unidos foi seriamente danificado, atingido nuiu a velocidade para 100 nós, ordenou direções, no nível de voo, acima e abaixo pelas balas dos caças inimigos e pela aos passageiros para se moverem pela de mim, mas não consegui achá-lo. Não consegui ver também se, pelo contrário, o líder já estava me seguindo. Decidi retornar para pouso no Campo dos Afon- sos. Tentei falar pelo rádio com a torre de controle dos Afonsos para solicitar “emergência”, mas não consegui, pois a antena do rádio havia sido cortada pela hélice do líder. Na final para pouso, encontrei-me na situação narrada no início deste relato. Vi que, para minha felicidade, os carros de bombeiros estavam posicionados na lateral, ao longo da pista. Concluí que B-17 e Caça alemão j 46 cabine para regular o centro de gravidade especialistas em aerodinâmica. Tive êxito e usou apenas os motores e os flapes para em minha empreitada, tudo passando em controlar a arfagem e, assim, efetuar o segundos, e fiz um pouso de pista, ou seja, pouso em segurança. tocando-a apenas com as rodas dianteiras Uma terceira história poderia ser con- e mantendo a bequilha no ar. Porém, já no tada aqui, mas, infelizmente, seu desfecho chão, ao perder velocidade, o que restou NOTAS 1 Avião monomotor a pistão, de fabricação foi trágico. Por ironia do destino, o Tenente de comando no profundor foi perdendo norte-americana (North American Aviation, Inc.), Aviador Marcos Alexandre Cavaliere, meu a eficácia, e o nariz do avião foi ficando com capacidade para dois tripulantes (instrutor sobrinho, pilotava uma aeronave Bandei- mais pesado que a cauda, culminando e aluno) e destinado à aprendizagem de voo mais avançada, utilizado pela FAB na instrução 6 rante cargueiro e efetuava lançamento de na pilonagem . Este ainda deslizou uma aérea para Cadetes desde após a Segunda paraquedistas militares no Rio de Janeiro, boa distância pela pista nesta posição Guerra Mundial até ao final do ano de 1969. em maio de 1998. Um destes militares, ao esdrúxula, até à parada total. 2 Arfagem é a posição relativa da aeronave saltar do avião, colidiu com o profundor, Porém, os sustos ainda não tinham em torno do eixo transversal, eixo imaginário arrancando-o totalmente. Neste caso, os acabado... que vai da ponta da asa direita à ponta da asa esquerda. Definido também como o movimento pilotos não conseguiram controlar a ae- Após a parada do avião, ao olhar em torno do eixo transversal de uma aeronave, ronave, ocorrendo o falecimento dos três para a frente, a primeira pessoa com relacionado ao efeito de subir (cabrar – puxar, tripulantes (dois pilotos e um mecânico que me deparei foi o Comandante da por meio do manche, o nariz do avião para cima da linha do horizonte) e descer (picar – empurrar de voo), além do paraquedista. Os demais Escola de Aeronáutica, Brigadeiro do o nariz do avião para baixo da linha paraquedistas se salvaram, pois conse- Ar Geraldo Labarthe Lebre, famoso por do horizonte). guiram sair do avião, mesmo estando sua severidade. Era conhecido também 3 O touneaux barril é um tipo de acrobacia este em condições adversas, totalmente por ser um líder atuante, sempre pre- aérea que consiste em combinar um roll (giro descontrolado. sente na instrução aérea dos Cadetes, completo de 360º em torno do eixo de tração) com uma trajetória helicoidal (Observação: não Voltando à minha história... zelando pela sua qualidade, inclusive em confundir helicoidal com espiral), ou seja, Surpreendentemente, após acelerar voos noturnos e em voos nos finais de o touneaux é como uma rosca, enquanto o roll o motor, o nariz de meu avião mudou semana. Nesse momento, não poderia simples é apenas um giro de 360º executado na mesma linha de voo. É chamado de touneaux de atitude e elevou-se. Percebi que, em ser diferente. Ele estava lá, presente, de barril, pois é como se o avião descrevesse assim procedendo e tendo por base a pé bem à frente do avião, para ver o que uma trajetória circular em torno de um barril imaginário, iniciando a trajetória em uma base história que recordei, conseguiria atingir tinha acontecido com um de seus Cade- do barril e concluindo-a na base oposta. a pista em uma atitude favorável, menos tes. Ele havia pegado carona em um dos agressiva, para efetuar o pouso. Mantive carros contra-incêndio. 4 O looping é um tipo de acrobacia aérea que consiste em descrever uma trajetória o manche puxado para trás, colado ao Na hora, ao vê-lo, pensei: estou preso perfeitamente circular na vertical. O avião vem corpo, e acelerava o motor a fim de ou fora da Caça, ou pior ainda, desligado em voo nivelado, com plena potência, e começa a subir descrevendo um arco perfeito corrigir a arfagem, para que ficasse da Escola de Aeronáutica. Aí sim, tremi até ficar completamente de dorso. Neste ponto, com o nariz mais elevado. Antes que de medo. o piloto coloca o motor em marcha lenta, a velocidade aumentasse, eu reduzia a Desci do avião com a ajuda dos solda- completando a circunferência de modo que a semicircunferência de descida tenha o mesmo aceleração para que o avião continuasse dos bombeiros e me dirigi ao Comandante. raio da semicircunferência de subida. O ponto de a descer em direção à pista. E assim Porém, este tinha um senso de justiça entrada e o de saída do looping devem coincidir. sucessivamente. incomum e, após ouvir de mim o ocorri- 5 O T-6 tinha a característica de ser Cabe lembrar que, considerando a do, chegou à conclusão de que aquelas instável no pouso, requerendo muito cuidado redução de velocidade e a pouca atuação acrobacias na ala não estavam previstas nos comandos, sob pena de efetuar um “cavalo-de-pau”, situação em que a aeronave do que restava dos profundores, o avião na instrução aérea para Cadetes, e muito muda bruscamente de direção e gira no solo poderia ter entrado em parafuso a baixa menos estava previsto um inexperiente sem controle até parar por si só. altura, sem chances de recuperação. Mas, Cadete pousar (quase) sem comandos de 6 Pilonagem é o ato de encostar o eixo na época, eu tinha pouca noção sobre voo. E, no entanto, eu tinha conseguido da hélice e o motor do avião no chão, ou seja, esse aspecto. controlar o avião e efetuar o pouso. E “embicar” o nariz do avião (que tem bequilha Não sei dizer se as reações aerodinâ- ele reconheceu a minha proeza – não fui traseira) contra o solo. Normalmente, isto ocorre pelo uso excessivo dos freios após um micas ocorridas em meu avião foram as preso, nem desligado!... E fui indicado pouso com muita velocidade. A figura de uma mesmas que ocorreram na aeronave de para a Caça... pilonagem é o avião apoiado no solo em três pontos (as duas rodas dianteiras e o nariz passageiros mencionada anteriormente. No dia seguinte, já estava voando do avião), ficando a cauda com a bequilha Deixo a explicação do fenômeno para os novamente... n apontada para o alto.

47 j O VOO DO 2º GTE PARA BRASÍLIA Maj Brig Ar Carlos Sergio S. Cesar Assessor de Relações Internacionais GOL/VRG [email protected]

História da Força Aérea Brasileira, em Brasília, tem início ainda duran- A te a gestação da cidade, quando, em 27 de novembro de 1957, foi criado o Destacamento de Base Aérea de Brasília para dar apoio ao deslocamento de pessoal e material necessários à sua construção. Três meses após a inauguração da então nova capital, o Destacamento deu lugar à GUARNAER BR (Guarnição de Aeronáutica de Brasília), que passou a abrigar o Comando e o 1º Esquadrão do GTE (Grupo de Transporte Especial), Uni- dade Aérea encarregada do transporte do presidente da República, do Ministro da Aeronáutica, seus pares, outras autorida- porque a mudança dos ministérios e de Oficial de Operações. No dia seguinte, 25 des governamentais e visitantes ilustres, outros órgãos do governo para Brasília de agosto, o Presidente Janio Quadros quando solicitado. se fazia lentamente, e o atendimento às renunciaria... mas esta já é outra estória. A origem do GTE remete à Seção de autoridades assistidas se dava lá e cá, Em 17 de dezembro de 1964, passei Aviões do Comando, criada em 4 de junho com intenso movimento na ligação entre a pertencer ao efetivo do GTE, sendo de 1941, para receber as aeronaves advin- a antiga e a nova capital. designado para o 2º Esquadrão, no Rio das da Aviação do Exército, que tinham Com a aquisição e chegada de seis de Janeiro, o que me faz não somente por missão o transporte do presidente. aeronaves Avro-748, denominadas C-91 testemunha como participante do episódio Sua localização era a Ponta do Calabouço, na FAB, que ocorreu ao longo de 1963 – o tema deste artigo. atual Aeroporto Santos-Dumont, e seu primeiro C-91 2500 chegou às vésperas do Sem medo de estar atrasando a nar- primeiro comandante foi o Cap Av Nero Natal de 1962 – estas passaram à dotação rativa principal, não posso deixar de assi- Moura. do 1º Esquadrão do GTE, junto com os dois nalar um episódio anterior, por inusitado e Em 31 de março de 1954, a Seção de VC-90, enquanto os C-47 se concentraram contrastante com o deslocamento em tela. Comando foi transformada em Esquadrão no 2º Esquadrão. Até 1965, as instalações da Base Aérea de de Transporte Especial, passando a contar Julguei oportuno fazer este preâmbulo Brasília (BABR), como as do GTE, eram com aeronaves C-47 e C-45 para logo sobre o tema central de nossa estória com no lado norte da pista, nas mesmas edi- depois receber os dois Viscount (VC-90), este histórico, a fim de que houvesse a ficações da antiga GUARNAER; a maioria que marcariam a época do presidente compreensão pelos companheiros mais improvisada, em alvenaria e madeira, ainda Juscelino Kubitschek, e serviriam a mais novos, que não conhecem o desdobramen- da época da construção da cidade. O Plano quatro de seus sucessores, sendo substi- to de nossa Força naquela década. Diretor, no entanto, previa a alocação da tuídos pelos BAC-111, em 1968. A minha ligação com Brasília, quase nova Base no lado sul da pista, em posição Há que assinalar aqui que, em que tão antiga quanto a cidade, tem lugar em frontal à antiga. pese o Comando e o 1º Esquadrão do GTE 24 de agosto de 1961, quando, 1º Ten Av, A primeira edificação a ficar pronta terem ido para Brasília nos idos de 1960, recém-promovido, me apresento à então foi o hangar destinado ao GTE, estrutura o 2º Esquadrão permaneceu no Rio, até GUARNAER, sendo minha função a de moderna e gigantesca em relação às então j 48 ver ao efetivo do 2º GTE, o qual passaria a abrigar. Havia que fazer ainda a interface com a Prefeitura de Aeronáutica de Brasília (PABR), com o objetivo de estabelecer uma forma de acolher as inscrições e o provimento de residências para o efetivo que viria, uma vez que Brasília, na sua primeira década de existência, não possuía oferta de residências para todo o efetivo do Governo Federal que a demandava, enquanto eventual moradia para aluguel, igualmente escassa, estava fora da faixa salarial dos militares. Na época, uma por- taria ministerial disciplinava que a liberação pela OM de origem, da Guia de Transferên- cia para militar destinado a Organização com sede em Brasília, só poderia ocorrer após a liberação de um próprio nacional existentes, enquanto os prédios destinados esta estória, valendo-me apenas de minha a ele destinado pela PABR. Com o apoio à instalação da Base mal começavam a ser memória, já octogenária, para dar lugar das OM envolvidas (BABR, GTE e PABR) edificados. O então Comandante da Base, a esta narrativa que, consequentemente, e com um ou outro socorro do GABAER Cel Av Roberto Hipólito da Costa, ao tempo pode conter alguma impropriedade de (Gabinete do Ministro) aquele Grupo Pre- bem conhecido por sua determinação e nomenclatura, mas é fiel aos fatos. cursor pôde encerrar sua missão, e liberar voluntariedade, decidiu ocupar parte do O nominado Grupo Precursor, pela o deslocamento do Grosso da Tropa dentro hangar com seu efetivo, na verdade, trans- NPA (Norma Padrão de Ação) que regulava do prazo previsto. ferindo a BABR para lá, e o fez de forma, no a matéria, era comandado pelo Maj Av Daqueles distantes tempos vividos em mínimo, atípica. Utilizando a mão de obra Gandra (Mauro José Miranda Gandra) e Brasília para a adequação da nova sede, do efetivo, fez as adaptações provisórias integrado pelo Cap Av Cesar (Carlos Sergio guardo a recordação do dia a dia compar- necessárias: transportou os móveis e de Sant’Anna Cesar), pelo Cap Av Castilho tilhado com o Gandra e o Castilho, na pe- utensílios nas viaturas da própria Base; e, (Oziris Castilho) e por um subalterno (subo- quena sala a nós destinada no hangar, e no como grand finale, solicitou a interdição ficial ou sargento) de cada área de atividade quarto do alojamento que compartíamos, da pista por alguns minutos, cruzando-a do Esquadrão. O Grupo deslocou-se para no mínimo de segunda a sexta, quando não com o efetivo em formatura, com a banda a BABR 120 dias antes da data prevista por quinze dias, emendando um fim de se- à testa e, como último pelotão, o prédio para o início das operações na nova Base, mana, naquela estranha rotina, diversa da da cadeia, que era um pré-fabricado de e dedicou-se à preparação da infraestrutura que exercíamos no Rio de Janeiro, hangar madeira, transportado pelos próprios pre- para recebimento do efetivo, designado por do III COMAR, Aeroporto Santos-Dumont, sos. Estava criada uma nova norma para Grosso da Tropa. cidade que também abrigava nossas Deslocamento de Unidades. Este período foi dedicado a efetivar, famílias. Minha memória se compraz, ao Já nossa estória propõe-se a nar- na infraestrutura do hangar destinado às relembrar o entusiasmo e a dedicação que rar o processo de deslocamento do 2º instalações do 2º GTE, as adequações ne- entregávamos, todos, àquela missão, não Esquadrão do GTE, do Rio de Janeiro cessárias ao funcionamento dos diversos somente pelo ineditismo, mas pelo espírito para Brasília, sem interrupção de suas setores, como oficinas de manutenção, que animava os integrantes daquela nossa atividades, dentro do preconizado pela armazéns de suprimento, áreas adminis- então pequena Força Aérea, em que podiam NPA (Norma Padrão de Ação) de Desloca- trativas, salas operacionais etc. Isso tudo faltar recursos e conhecimentos atualiza- mento de Unidades Táticas, a qual aquela foi feito em estreita coordenação com o dos, em comparação com Forças Aéreas geração conhecia do Curso Tático da EAO Comando do Grupo e com o 1º Esquadrão, de países desenvolvidos, mas sobravam (Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais). que lá já se encontravam. Além disso, garra e paixão, que acredito persistam Seria oportuno lembrar que não efetivei foram realizados os ajustes das atividades também no efetivo de nossos dias. qualquer busca documental para resgatar administrativas que caberiam à BABR pro- Há agora que exercitar os restantes

49 j neurônios de então, para descrever o des- porto Santos-Dumont, antes mesmo do aerovia, a aeronave líder, sob o comando locamento aéreo e terrestre na rota SBRJ/ horário previsto para nossa decolagem. do Ten Cel Rabiço, Comandante do GTE, SBBR, que ocorreu naquele longínquo julho Cumpridos o briefing e os pré-voos, encontrou condições visuais e, via rádio, de 1967. O deslocamento do Grosso da restava-nos a coordenação com o Serviço comandou a reunião do Grupo, iniciando Tropa compreendia um grupamento terres- Meteorológico e o de Controle Aéreo para uma orbita sob aquele RF. Reunidas as tre, composto pelas viaturas orgânicas do conhecer as condições do aeródromo, de três esquadrilhas, aproou Brasília, onde, Esquadrão, e um grupamento aéreo, com maneira a permitir a decolagem do nosso em chegando, efetivou uma passagem todas as aeronaves disponíveis, que deve- Grupo e, do mesmo modo, manter a BABR baixa sobre a Base e completou o pouso riam convergir para a BABR transportando e o Comando do GTE informados sobre do Grupo, em torno das 14:00P e, taxiando material e pessoal, e que ali adentrariam os ajustes na solenidade de recepção. No lentamente, proporcionou a reunião do ao mesmo tempo. Assim, o planejamento briefing foram revistos e enfatizados os Grupamento Terrestre. Aeronaves esta- da missão, a cargo do setor de operações, procedimentos de decolagem, o intervalo cionadas, tripulações formadas sobre as viveu o interessante desafio de coordenar em rota, a posterior reunião em caso de asas, Grupamento Terrestre anexado em quadros horários de diferentes modais. condições visuais, o pouso e as comunica- idêntica postura, o Ten Cel Rabiço apre- O Grupamento Terrestre deslocou-se ções para deslocamento em voo de grupo senta o 2º GTE ao Comandante da Base, em três dias pelas rodovias que interligam por instrumentos (IFR), por não serem Cel Av Hipólito, a cujo comando admi- o Rio de Janeiro a Belo Horizonte e Brasília, habituais em nossas atividades aéreas. nistrativo passaríamos a nos subordinar, tendo pernoitado no Parque de Lagoa Santa Após a abertura do campo para ope- declinando: – Missão cumprida n (PALS); e, em Paracatu, em coordenação ração IFR, e exaustivas tratativas com o via rádio, cruzou os portões da BABR, ao Controle de Tráfego, logramos dar início à Nota 1: Na reta final do pouso do Grupo, tempo que o Grupamento Aéreo pousava decolagem do Grupo em torno das 10:00P. o C-47 2011 (número 2, da segunda suas aeronaves. Já o Grupamento Aéreo, Hoje creio ser impossível encontrar registro esquadrilha) pipocou o motor direito. constituído por um Esquadrão de duas es- da hora exata, com o procedimento pre- Pé bobo, motor bobo, identifica..., quadrilhas de três C-47 e uma esquadrilha visto para formaturas se deslocando em quando se ouve aquela exclamação: de três C-45, era previsto decolar de SBRJ condições de voo por instrumentos, isto – “M....., não desliguei o aquecimento do carburador!” Motor normal, pouso às 08:00P, de 31 de julho de 1967 para, é, com intervalo de três minutos entre as normal... susto anormal. Tripulação? após o percurso estimado em três horas decolagens de suas aeronaves; posiciona- Cap Cesar/Cap Hermano; e quarenta minutos, pousar em SBBR e, mento lateral alternado em relação ao eixo em taxiando, incorporar-se, junto com seu da aerovia; altitudes defasadas e contiguas Nota 2: Às 16:00P, um C-47 do 2º GTE Grupamento Terrestre, à tropa da BABR, (300m), por esquadrilha; contato rádio de decolou para SBRJ, a fim de cumprir OM formada em homenagem aos seus novos cada aeronave com órgãos de controle; e (Ordem de Missão) exarada pelo GABAER, que teria início naquela localidade, integrantes. As condições meteorológicas interformatura, por frequência militar. comprovando que a Unidade Tática daquela chuvosa manhã de segunda-feira, Ao aproximar-se de Paracatu, local havia se deslocado, sem interromper o contudo, levaram ao fechamento do Aero- provido de um radiofarol balizador da cumprimento de sua missão.

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