UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E COMUNICAÇÃO - FCSAC

AGDA DOS SANTOS OLIVEIRA PALOMA MAGDALENA SAMPEDRO

FALA MUITO

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – SP 2016 Agda dos Santos Oliveira Paloma Magdalena Sampedro

FALA MUITO

Relatório apresentado como parte das exigências da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso, do curso de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação, da Universidade do Vale do Paraíba.

Orientador: Vinícius de Melo Coquette Co-Orientador: Flávia Cardoso

São José dos Campos 2016

RESUMO

A proposta deste estudo acadêmico é mostrar por meio de uma edição especial de revista impressa, a trajetória profissional do técnico de futebol Adenor Leonardo Bachi, mais conhecido como , maior treinador da história do Sport Club Corinthians Paulista. Sendo assim, para o desenvolvimento teórico e prático deste trabalho, serão consultados dados e levantamentos sobre o mesmo. Através da revista impressa, será ilustrada a jornada deste famoso técnico, suas experiências e conquistas profissionais, narradas com a paixão que merecem os grandes ícones do esporte.

Palavras-chave: Jornalismo Esportivo, Revista Impressa, Futebol, Técnico, Tite. 5

ABSTRACT

The proposal of this academic study is to show by means of a special edition of printed journal, the professional career of footballer expert Adenor Leonardo Bacchi, known as “Tite”, greater coach in the history of the Sport Club “Corinthians Paulista”. To develop this theory and practice of this work, printed journal will be consulted as data and surveys. Through these materials, it will be illustrated the journey of this famous technical, his experiences and professional accomplishments, recounted with passion that deserve the major icons of the sport.

Keywords: Sports Journalism, Printed Journal, Football, Technical, Tite.

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SUMÁRIO

Lista de ilustrações...... 09

Introdução...... 10

1. Jornalismo Esportivo...... 12

1.1 O jornalismo esportivo nas rádios brasileiras...... 13

1.2 A participação da mulher nas redações esportivas...... 13

1.3 Revistas do Tema...... 14

2. Jornalismo Literário...... 15

2.1 Definição...... 16

2.2 Jornalismo Literário no Futebol Brasileiro...... 16

3. Jornalismo de Revista...... 19

3.1 Definição: O que é uma revista?...... 19

3.2 Segmentação...... 20

3.4 Escrever Revista...... 22

4. A revista Fala Muito...... 23

4.1 Público Alvo...... 23

4.2. Identidade Visual...... 24

4.2.1 Definição: O que é?...... 24

4.2.2 A importância da Identidade Visual para Revistas...... 25

4.2.3 Conceito de Identidade Visual de autores:...... 25

4.2.4 Desenvolvimento da Revista Fala Muito: Capa, Layout,

Paleta de Cores, Tipografia, Diagramação:...... 26

5. O nascimento de Adenor...... 29

5.1 A paixão que passou de pai para filho...... 30

5.2.1 O encontro com Felipão...... 30

5.2.2 TITE...... 31 7

5.3 Surgia a grande oportunidade...... 32

5.3.1 Breve passagem pelo Esportivo e Portuguesa...... 33

5.3.2 O casamento e um novo recomeço...... 34

5.3.3 Os primeiros campeonatos disputados...... 35

5.3.4 Sua aposentadoria precoce...... 36

5.3.5 Nem tudo são flores...... 37

6. Começam seus trabalhos como técnico...... 37

6.1 O primeiro grande desafio de sua carreira...... 38

6.2 Cléber Xavier: seu braço direito...... 40

6.3 A primeira passagem pelo Corinthians...... 41

6.4 Os trabalhos não pararam...... 44

6.5 À volta por cima: a estrela brilhou...... 46

7. Um homem de fé...... 58

8. Olê, Olê, Olê, Olê: Tite, Tite...... 61

9. O bom filho a casa torna...... 63

9.1 As primeiras eliminações em casa...... 64

9.2 A corrida pelo Hexa Campeonato Brasileiro...... 67

9.2.1 A recepção em casa...... 70

10. Agora é com a Seleção Brasileira...... 71

10.1 Tite merecia a última homenagem...... 74

Considerações Finais...... 77

Referências...... 78

Anexos

1. Objeto...... 80 2. Objetivo...... 80

2.1. Objetivo Geral...... 80 8

2.2. Objetivo Específico...... 80

3. Problema...... 82

4. Hipótese...... 83

5. Justificativa...... 84

6. Metodologia...... 86

6.1 Pesquisa Direta...... 86

6.2 Pesquisa Bibliográfica...... 86

7. Modalidade...... 87

8. Cronograma...... 88

Decupagens...... 89

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES QUADRO 1 – STAKEHOLDERS...... 24

QUADRO 2 – Classificação do SIV...... 26

QUADRO 3 – Resultado de pesquisa...... 84

FIGURA 1 - Jornal Fanfulla. Ano II/1847. Num. 21...... 12

FIGURA 2 - Tite na capa da revista Placar. Edição 1373...... 14

FIGURA 3 - Revista National Goegraphic Magazine. Número 1. Edição XXVII.

Ano 1915...... 21

FIGURA 4 - Revista Time. Volume III. Número 18. Ano 1923...... 22

FIGURA 5 - Tite no Caxias...... 33

FIGURA 6 - Tite quando jogava pela Portuguesa...... 34

FIGURA 7 - Tite em 1986, quando jogava pelo Guarani...... 36

FIGURA 8 - Tite com a taça de Campeão Gaúcho de 2001...... 39

FIGURA 9 - Tite e Cléber Xavier no CT do Corinthians...... 41

FIGURA 10 - Tite quando comandava o Corinthians em 2004...... 43

FIGURA 11 - Tite expulso, assiste jogo na arquibancada...... 51

FIGURA 12 - Tite com a taça da Libertadores de 2012...... 53

FIGURA 13 - Tite com a taça do Mundial de Clubes de 2012...... 56

FIGURA 14 - Tite no CT do Corinthians, em uma de suas orações...... 61

FIGURA 15 - Tite em sua despedida em 2013, no Pacaembu...... 62

FIGURA 16 - Tite comemorando o Hexa Campeonato...... 70

FIGURA 17- Mosaico preparado para homenagear Tite...... 71

FIGURA 18 - Tite recebe camisa com o nome de sua mãe...... 74

FIGURA 19 - Tite assiste sua homenagem no telão da Arena...... 75

FIGURA 20 - Tite em sua despedida na Arena Corinthians...... 76

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INTRODUÇÃO

O tema veio a partir de uma escolha pessoal, através da admiração e respeito pela figura pública Adenor Leonardo Bachi, mais conhecido como Tite, que obteve sua consagração após sua segunda passagem pelo Sport Club Corinthians Paulista.

Este estudo percorre a vastidão do jornalismo de revista no meio esportivo e aponta a relevância do profissional de Comunicação para colocá-la em prática. Inicialmente, a análise foi dividida em cinco capítulos. No primeiro capítulo, fala-se sobre as origens e definições do Jornalismo Esportivo no Brasil; Seu início e evolução durante a década de 1970 com programas destinados ao esporte e a participação da mulher nas redações esportivas.

No segundo capítulo, trata-se da influência do Jornalismo Literário para a construção das matérias jornalísticas esportivas. No Brasil, o maior destaque ainda na década de 1970 e assim por diante, ficou a cargo do escritor e jornalista Nelson Rodrigues. Com dinamismo sagaz e provocativo, recriava os cenários dos jogos assistidos com paixão e euforia, o que revela o surgimento e as principais características do Jornalismo Literário Brasileiro.

O terceiro capítulo, apresentado refere-se à produção da revista como material jornalístico e que por sua vez, nosso estudo de pesquisa. As ferramentas e instruções relacionadas ao estudo da revista possibilitou a formação das características necessária para a produção das matérias e conteúdo do projeto. Também neste capítulo, fala-se sobre a importância do formato magazine no âmbito da comunicação.

No quarto capítulo, o assunto abordado trata-se na teoria dos componentes visuais da revista Fala Muito. Ressaltando a importância da identidade visual, seu público alvo, quadro de stakeholders, conceitos de identidade, entre eles: tipografia, paleta de cores, layout e diagramação.

No último capítulo, reconta a trajetória de vida do objeto de estudo da revista Fala Muito. Ao iniciar a leitura deste capítulo, é possível voltar no tempo com os relatos detalhados de seu nascimento, o decorrer de sua história, até mesmo os casos mais inéditos, como a confusão de seu nome que o consagrou Tite. O encontro com marcou sua primeira oportunidade no mundo 11

futebolístico; As várias lesões sofridas em seu joelho, o que resultou em sua aposentaria precoce, dando oportunidade para iniciar seus estudos, tornando-se técnico de futebol. Por suas passagens em grandes clubes brasileiros, ressaltando sua importância no Sport Club Corinthians Paulista, onde obteve grandes conquistas o consagrando melhor técnico brasileiro e atualmente, técnico da Seleção Brasileira.

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1. Jornalismo Esportivo

Jornalismo esportivo, como é conhecido no Brasil, ou desportivo, na Europa, é a especialização da profissão jornalística relacionada aos esportes em geral. No jornalismo esportivo está incluída a cobertura de todos os eventos, sendo eles: Copas do Mundo, Campeonatos regionais ou nacionais, contratações e demissões de técnicos e jogadores. No Brasil, o esporte que domina a maioria das pautas em televisão, jornais ou revistas de jornalismo esportivo é o futebol.

“Futebol não pega, tenho certeza, estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho”. Provavelmente nenhum palpite de comentarista antes de qualquer Copa do Mundo foi tão furado quanto o do escritor Graciliano Ramos, no início do século XX. Graciliano parecia convencido de que o jogo dos ingleses não iria conquistar adeptos no Brasil. Talvez o maior engano da história do esporte brasileiro. (COELHO, 2010, p.07).

Um exemplo de um periódico do segmento esportivo brasileiro foi o jornal Fanfulla usava suas páginas para divulgação esportiva. Não se tratava de um periódico voltado para elites, não formava opinião, mas atingia um público cada vez mais numeroso: os italianos.

FIGURA 1: Jornal Fanfulla. Ano II/1847. Num. 21.

Fonte: Banco de dados. Google

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1.1 O jornalismo esportivo nas rádios brasileiras

Os anos de 1970 deu vida ao jornalismo esportivo nas rádios. As tradicionais Globo, Jovem Pan, Tupi, Record e Bandeirantes, transmitia todos os domingos o segundo jogo mais importante.

A ideia era chamar a atenção também de um segmento do mercado publicitário. Não faltavam anunciantes. A maior parte deles não vinha das grandes empresas. Eram fabricantes de pilhas, bebidas alcoólicas, cigarros. Gente interessada em atingir a camada mais baixa da população. A estratégia funcionava também no . Havia sete ou oito emissoras de rádio que competiam pela audiência. A concorrência envolvia também os principais locutores do país. (COELHO, 2015, p.28).

O rádio revelava nomes não apenas para consumo diário. Em São Paulo, o fenômeno do rádio dos anos 1970 foi Osmar Santos. Em 1977, ele trocou a Jovem Pan pela Globo em transição milionária, passou a ser o locutor mais bem pago do país e alavancou a audiência global, antes quase insistente no mercado paulista.

Vinte anos depois, o inesperado aconteceu no Mundial da África no Sul, em 2010, a equipe da Rádio Eldorado (ESPN) parceira do grupo O Estado de São Paulo, transmitiu a Copa com programação de 24 horas por dia e teve um estrondoso sucesso de audiência.

1.2 A participação da mulher nas redações esportivas

A participação da mulher nas redações provocou mais preconceitos no passado do que hoje em dia. Um caso interessante aconteceu décadas atrás, quando o veterano Oldemário Touguinhó, repórter do jornal do Brasil, telefonava para a redação durante as grandes coberturas e procurava o editor, este indicava uma mulher para recolher o material, que ás vezes precisava ser passado por telefone, Oldemário simplesmente se recusava a entregar seus relatos.

O fato, no entanto, é que as mulheres na maior parte são encaminhadas para editorias de esportes nas olimpíadas. É mais fácil demonstrar conhecimento sobre vôlei, basquete e tênis do que sobre futebol e automobilístico. Territórios onde o machismo ainda 14

impera. Mas também onde menos mulheres do que homens demonstram conhecimento”. (COELHO, 2015, p.35).

1.3 Revistas do Tema

Hoje no Brasil, não existem muitas revistas ligadas ao jornalismo esportivo. As únicas existentes e até mesmo já encerradas, são: Placar, Goool e Trivela. Essas revistas tentam quase sempre, não restringir a um tema ou a uma personalidade.

Um exemplo que perdura até os dias atuais na área do esporte é a Revista Placar.

Até junho de 2010, foram lançados 1343 exemplares da Revista Placar. Tendo como capa, jogadores e técnicos de futebol. Cerca de 19 profissionais, entre eles, nomes conhecidos como: Paulo Vinícius Coelho, João Saldanha, Juca Kfouri, já passaram pela revista.

FIGURA 2: A edição lançada em dezembro de 2012, contou com Tite na capa.

Fonte: Banco de dados. Google

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2. Jornalismo Literário

Nos séculos XVIII e XIX, escritores de prestígio tomaram conta dos jornais e descobriram a força do novo espaço público, não só comandando as redações, mas, principalmente determinando a linguagem e o conteúdo dos jornais. Um de seus principais instrumentos foi o folhetim, com um estilo discursivo que é a marca fundamental da junção entre o jornalismo e a literatura.

A partir das décadas de 1830 e 1840 a eclosão de um jornalismo popular, principalmente na França e na Grã-Bretanha, mudou o conceito incorporando-o à nova lógica capitalista.

Publicar narrativas literárias em jornais proporcionava um significativo aumento nas vendas e possibilitava uma diminuição nos preços, o que aumentava o número de leitores e consequentemente, o resultado positivo para os escritores. Isso significava a divulgação de suas histórias e de seus nomes.

Segundo Pena1 (2005) “Balzac, Vitor Hugo, Stendhal e outros escritores podem ser então, considerados como os precursores do jornalismo literário”.

O conceito do jornalismo literário2, significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte, o texto deve servir para algo maior do que simplesmente embrulhar o peixe na feira. (PENA, 2005, p.6)

O jornalismo literário traz consigo não só uma notícia, mas também uma história. A informação ganha companhia de adjetivos, personagens, enredo, histórico do assunto e contextualização que não teriam oportunidade de ganhar vida

1 Professor adjunto da Universidade Federal Fluminense, autor de oito livros na área de comunicação, entre eles “Teoria do Jornalismo” (Ed. Contexto 2005). Doutor em Literatura pela PUC- Rio.

2 Artigo do autor/professor Felipe Pena, sobre “O Jornalismo Literário como gênero e conceito” (2005). Trabalho apresentado ao NP de Jornalismo, do Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom em 2006.

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no cotidiano jornalístico. Segundo Pena (2005), jornalismo literário é como linguagem musical e de transformação impressa e informal.

2.1 Definição

Pena (2008), define o Jornalismo Literário como uma permissão de diferentes olhares da realidade, sem fazer uso dos mecanismos tradicionais e burocráticos do lead. E traz beleza ao dizer que o jornalismo literário:

Potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar os limites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lead, evitar os definidores primários e, principalmente, garantir perenidade e profundidade aos relatos. (PENA, 2008, p.13).

2.2 Jornalismo Literário no Futebol Brasileiro

Mauro Beting e Nelson Rodrigues são autores célebres do jornalismo literário no futebol. Ambos registraram acontecimentos de épocas com suas crônicas cheias de paixão ao futebol.

Mauro Beting ainda protagoniza em suas crônicas a paixão de jornalista e torcedor. Palmeirense declarado escreve textos que enaltecem não somente o seu Palmeiras, mas os outros times e o futebol.

Em 2010, numa homenagem ao centenário do Corinthians, rival visceral de seu time, Mauro Beting ganhou respeito entre os torcedores alvinegros paulistanos.

É na quarta-feira. Foi ontem. É hoje. Será sempre. O Corinthians não precisa de data para celebrar. Só precisa de Corinthians. “Pode parecer mesquinho para os outros, onanista, até. Mas isso é Corinthians para quem de fato importa – o corintiano. Basta existir. O fiel não precisa de jogo, de estádio, de adversário, de futebol, de campeonato, de gol, de vitória, de título. O corintiano só precisa do Corinthians para ser feliz. (BETING, 2010).

Nelson Rodrigues consagrou as décadas passadas com sua paixão traduzidas em crônicas. Escreveu setenta crônicas, dessas, 31 foram publicadas originalmente na revista Manchete Esportiva, de 1955 a 1959. As 39 crônicas 17

restantes saíram em O Globo, no ano de 1962 em uma coluna diária “Meu personagem da semana”, ás segundas-feiras. E também “À sombra das chuteiras imortais”, nos demais dias.

Supôs-se que a maneira com que ele escrevia sobre futebol, quase o desligando da vida real e jogando-o numa dimensão de eternidade, fosse suficiente para tornar essas pessoas fascinantes, mesmo que o leitor não tenha grande informação sobre elas. (RODRIGUES, 1993, p.7).

Nas palavras de Ruy Castro, nota-se a notoriedade das crônicas de Nelson Rodrigues ao futebol brasileiro: “Na ótica privilegiada de Nelson3, futebol sempre foi e há de ser arrebatamento. Paixão avassaladora. Chuteiras sangrando pela doce abstração de um gol”.

Acompanhe abaixo alguns trechos das crônicas de Nelson Rodrigues, encontradas na obra: “À sombra das chuteiras imortais”. Vejamos:

Pois bem. Foi em 1991, tempo de cabelos compridos e dos espartilhos, das valsas em primeira audição e do busto unilateral de Mata Hari, que nasceu o Flamengo. Em tempo retifico: - nasceu a seção terrestre do Flamengo. De fato, o clube de regatas já existia, já começava a tecer a sua camoniana tradição náutica. Em 1911, aconteceu uma briga do Fluminense. Discute daqui, dali, e é possível que tenha havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: - cindiu-se o Fluminense e a dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi fundar, no Flamengo regatas, o Flamengo de futebol. [...] Passou-se. E o Flamengo joga, hoje, com a mesma alma de 1911. Admite, é claro, as convenções disciplinares que o futebol moderno exige. Mas o comportamento interior, a gana, a garra, o élan são perfeitamente inatuais. Essa fixação no tempo explica a tremenda força rubro- negra. Note-se: - não se trata de um fenômeno apenas do jogador. Mas do torcedor também. Aliás, time e torcida completam-se numa integração definitiva. O adepto de qualquer outro clube recebe um gol, uma derrota, com uma tristeza maior ou menor, que não afeta as raízes do ser. O torcedor rubro-negro, não. Se entra um gol

3 Publicado em “À sombra das Chuteiras imortais: crônicas de futebol/Nelson Rodrigues: seleção e notas de Ruy Castro”, 1993. 18

adversário, ele se crispa, ele arqueja, ela vidra os olhos, ele agoniza, ele sangra, como um césar apunhalado. (RODRIGUES, 1993, p. 9).

Os gols começaram a entrar. Terminou o primeiro tempo com um marcador que não deixava de se apavorante: - 3 x 1, a favor dos quase juvenis rubro-negros, A multidão já não entendia nada. Fora lá com o seguinte nada. Fora lá com o seguinte objetivo expresso: - ver a surra que o Honved ia dar no Flamengo. Em vez disso, assistia ao massacre técnico e tático dos magiares. Vem o segundo tempo e nada muda a fisionomia do jogo. O escore final, 6 x 4, um banho. Nem banho o está no marcador, mas o jogo. Foi uma lavagem de bola de futebol que os meninos da Gávea infligiram aos visitantes. Resta a pergunta: - por que a partida assumiu, contra todos os cálculos, características tão insólitas? Tratei de ler os jornais de domingo. Verifiquei o seguinte: - cada cronista apresentou uma imagem própria da partida. Segundo uns, o Honved está “gordo”, segundo outros “desambientado”, ou, então, com “saudades da família”. O que ninguém se lembrou foi de atribuir o resultado ao mérito do Flamengo. Sim, o match foi o que foi, e não o que se esperava, porque demonstramos uma devastadora superioridade. [...] É fácil explicar, também, a perplexidade quase dolorosa do público. Por ocasião do Mundial da Suíça, os jornalistas patrícios mandaram de lá uma versão desfigurada da nossa peleja com a Hungria. Segundo se escreveu, os húngaros venceram, naquela época, porque eram imbatíveis. [...] O que vimos foi, de fato, o cortejo do futebol húngaro e brasileiro, ambos com suas características fidedignas. Falar em “desambientação” de um time que tem métier internacional, que deu um banho na Inglaterra, em Londres, é um pouco forte. E, além disso, se eles “desambientados”, vamos e venhamos: - O Flamengo pôs em campo quase o time de aspirantes. (RODRIGUES, 1993, p.30).

E venceu o Fluminense. Creio que não existe, na história de um clube, nada que se compare ao nosso triunfo naquele Fla-Flu. Quatro a zero. Pode-se ter uma ideia da ira e frustração dos corneteiros. Os 19

cavalos baixaram as orelhas desoladas e mais pareciam tristíssimos jumentos. Assim aconteceu há 44 anos. E agora? O profeta já anunciou: “Fluminense, campeão de 63!”. Desta coluna, eu já fiz um apelo aos tricolores, vivos ou mortos. Ninguém pode faltar ao Maracanã domingo. Incluí os fantasmas na convocação, e explico: - a morte não exime ninguém de seus deveres clubísticos. Em certos clássicos, cada adversário arrisca o passado, o presente e o futuro. Precisamos pensar nos títulos já possuídos. Ai do clube que não cultiva santas nostalgias. Com os torcedores de hoje e os fantasmas de velhíssimos triunfos: “ganharemos o mais dramático Fla-Flu de todos os tempos. (RODRIGUES, 1993, p.106).

3. Jornalismo de Revista

O jornalismo de revista é um discurso e um modo de conhecimento que: é segmentado por público e por interesse; é periódico; é durável e colecionável, tem características materiais e gráficos distintos dos demais impressos; exige uma marcante identidade visual; permite diferentes estilos de textos, recorre fortemente à sinestesia; estabelece uma relação direta com o leitor; trata de um leque amplo de temáticas e privilégios os temas de longa duração; está subordinado a interesses econômicos, institucionais e editoriais; institui uma ordem hermenêutica do mundo; estabelece o que julga ser contemporâneo e adequado; indica modos de vivenciar o presente; define parâmetros de normalidade e de desvio; contribui para formar a opinião e o gosto; trabalha com uma ontologia das emoções. (TAVARES, SCHWAAB, 2013, p.55).

3.1 Definição: O que é uma revista?

Segundo Scalzo (2004), Revista é um meio de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento. 20

As revistas impressas continuam até hoje, mesmo com 20 anos de internet, com as revistas digitais, tecnologias móbile4, as revistas impressas ainda persistem no gosto popular.

As revistas impressas fazem sucesso por todo mundo, até porque o que é impresso, historicamente parece mais verdadeiro do que aquilo que não é, ainda hoje, a palavra escrita é o meio mais eficaz para transmitir informações complexa e a revista impressa representa bem esse papel sendo um dos veículos de informação mais respeitado em passar notícia – ela transmite evidências e desdobramentos, garantindo a informação mais concreta e próxima do real. Podemos afirmar “a melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor”. (SCALZO, 2004, p.13).

As revistas contribuíram para o caminho bem evidente da sociedade, principalmente os caminhos da educação e entretenimento. As revistas marcaram a trajetória de um povo, nelas é possível representar hábitos, moda, assuntos que mobilizaram grupos de pessoas. E distinguir os perfis de cada época ou período de uma sociedade.

Ao longo da história é possível perceber que o entretenimento é uma das vocações mais evidentes de revista, desde sua origem. Com o surgimento das revistas semanais de informação no século XX, ficou mais evidente o uso do entretenimento para informar.

Como apresenta Tavares e Schwaab (2013), podemos considerar a revista como dispositivo jornalístico altamente elaborado, com capacidade de promover mediação entre diferentes dizeres. Instituir relevância a um conjunto de fatos e assuntos. [...] A revista oferta modos de conhecer a atualidade, informa e quer orientar sobre nossa temporalidade complexa.

3.2 Segmentação

As revistas começaram a fazer uso dos segmentos e a classificar seus assuntos específicos na metade do século XVIII, desde então se popularizaram por

4 Móbile – Tradução livre. Mobilidade: algo que se move. 21

todo o mundo. No início do século XIX os segmentos específicos pioneiros abordavam assuntos literários e científicos, como por exemplo: a Revista Scientific American e a National Geographic Magazine (que estão até hoje no mercado impresso de comunicação), destinados ao seu público específico.

Segundo Ali (2009), a revista National Geografic Magazine apresentou a maior razão de sucesso. A missão foi à sua maneira de divulgar o conhecimento geográfico de um jeito interessante, neutro e com fotografias.

A autora conclui que: “A missão é feita através do objetivo ou função que oferece a combinação de: informar, interpretar, entreter, defender (uma ideia ou causa, uma posição) e prestar serviços. (ALI, 2009, p.34).

FIGURA 3: Revista National Goegraphic Magazine. Número 1. Edição XXVII. Ano 1915.

Fonte: Banco de dados. Google

Outra modelo de segmentação que surgiu em 1923 foi a Revista Time, criada por dois jovens, trazia o aproveitamento da fotografia impressa com a contribuição de notícias semanais do país e do mundo. A primeira revista a apresentar informações organizadas em seções e narradas de maneira concisa e sistemática com todas as informações cuidadosamente pesquisadas e checadas.

FIGURA 4: Revista Time. Volume III. Número 18. Ano 1923. 22

Fonte: Banco de dados. Google

Podemos concluir que, segundo Tavares e Schwaab (2013), a segmentação é jornalismo de revista onde estão presentes suas características e identidade própria que cativa e fideliza o seu leitor. O jornalismo de revista contempla um leque amplo de temas e por se tratar de um discurso marcado pela segmentação, uma vez que a segmentação se dá a partir dos objetos de interesse, as revistas trabalham com feixes temáticos.

3.4 Escrever Revista

De acordo com Scalzo (2004), “escrever é cortar palavras”. Para escrever revista, assim como qualquer outro veículo de comunicação, é necessária uma boa apuração da informação.

A revista não utiliza de bases factuais para ser escrita, na verdade ela tem a exclusividade de contar com o tempo e não necessariamente escrever o instante ao contrário dos jornais impressos e televisivos.

Noblat (2002), afirma: “A investigação pode exigir maior ou menor esforço, durar muitos ou poucos dias, custar caro ou barato ao impresso, mas é impossível prescindir dela sem investigação não se faz jornalismo de boa qualidade”.

As revistas podem ser semanais, quinzenais ou mensais, isso também as diferencia dos outros meios de comunicação e dão as revistas o benefício do tempo. 23

Para escrever revista é necessário definir uma linha editorial, saber o que ela vai abordar e principalmente para quem vai falar. Antes do texto e da boa apuração é necessário saber a segmentação do leitor.

Segundo Scalzo (2004), uma revista precisa ter: capa, texto, fotos, legendas, bons repórteres e principalmente leitor. A autora apresenta os princípios básicos do jornalismo, e afirmar que: “Qualquer que seja o jornalismo que se vá fazer, esse é o dever básico – seja em televisão, rádio, internet, jornal ou revista”.

A equipe de uma revista é composta por uma equipe de redatores, designer, fotógrafos, jornalistas, editores. A redação em conjunto decide os detalhes da publicação (isso também está relacionado ao seu segmento), depois de definido o tema, são separadas as ações de cada equipe.

[...] Na materialidade de suas páginas, sob efeito do lugar discursivo que ocupam, as revistas elevam seus temas ao patamar de uma celebração editorial, oferecendo amplas reportagens, números especiais, guias de indicadores e comportamento, fatores preponderantes para sublinhar que sua entrada nos universos temáticos que escolhem tratar não é apenas pautada por referentes factuais. (TAVARES, SCHWAAB, 2013, p.58).

4. A revista Fala Muito

A revista Fala Muito, têm como objetivo homenagear o técnico Tite, que ficou consagrado por suas grandes conquistas em suas três passagens pelo Sport Club Corinthians Paulista. Amado por todos os torcedores corintianos e admirado pela torcida brasileira, Tite carrega um grande histórico pessoal e profissional.

4.1 Público Alvo

O público alvo está ligado diretamente em uma organização, aos seus consumidores e produtos. Trata-se para quem tal coisa é destinada, ou seja, aqueles que têm gratificação por alguma coisa ou algum produtor. Se não existe 24

certo interesse do seu público alvo, as organizações não têm para quem distribuir os seus produtos, e assim, não atingiria seu alvo.

O relacionamento com a mídia deve, de pronto, basear-se nesta constatação: considerando o mercado de maneira ampla, a grande imprensa é, em tese, concorrente de todas as organizações. [...] Quanto mais o consumidor investe para se informar, menos ele dispõe de recursos para adquirir outros bens ou produtos. Resumindo: a mídia é concorrente, mas está disponível para parcerias (BUENO, 2003, p.64-65).

A revista Fala Muito tem o público alvo segmentado, seu principal alvo são os torcedores corintianos, isso se justifica pela ligação que existe entre o Corinthians e o Tite. Sabendo que Tite não é uma exclusividade do Corinthians, mas sim, uma personalidade pública de êxito na área esportiva, atraindo o interesse dos públicos a seguir:

Na representação abaixo, se encontra público alvo da revista Fala Muito.

QUADRO 1 - STAKEHOLDERS

STAKEHOLDERS

- Torcida corintiana

- Admiradores do futebol como esporte

- Empresários do mercado esportivo

- Investidores e Acionistas

- Torcedores de outros times

4.2. Identidade Visual

4.2.1 Definição: O que é? 25

Conforme Michelena Munhoz (2009) a identidade visual é o conjunto de elementos formais que representam visualmente a identidade de uma instituição ou produto. Esse conjunto de elementos tem como base o logotipo, um símbolo visual e um conjunto de cores.

4.2.2 A importância da Identidade Visual para Revistas

Nas revistas a importância da identidade visual está no planejamento de toda informação disponibilizada aos leitores. Isso ressalta, os elementos selecionados como: cores e padrão tipográfico, assinatura visual, o projeto gráfico e o artigo diagramado.

Como afirma Wheeler (2008, p.14) “começa com um nome e um símbolo evolui para tornar-se uma matriz de instrumentos e de comunicação’’.

Além disso, a identidade visual possibilita e objetiva a seleção de elementos gráficos que representem adequadamente a personalidade do objeto e auxiliando na comunicação dos itens visuais da página que proporcionam melhor interatividade e qualidade na leitura.

Meurer (2004, p.32) explica que “os elementos da identidade assumem valores diferenciados no momento em que são submetidos ao exercício da interatividade. ”Podemos concluir que a identidade visual permite que a revista ganhe não só espaço impresso, mas por sua vez, com a interatividade produzida através dos mecanismos da identidade visual, vir a ser também uma interface digital.

4.2.3 Conceito de Identidade Visual de autores

Diante dos autores estudados apresentamos suas definições sobre a identidade Visual:

Segundo Levi (2007) a identidade visual é uma representação gráfica de identidade corporativa.

Munhoz (2009) define a partir de dois momentos: o primeiro momento a criação da marca e o desenvolvimento dos elementos gráficos que constituem a identidade 26

visual. O segundo momento o uso da identidade visual por meio do planejamento e produção das peças de comunicação.

Segundo Peón (2003) a identidade visual é o que singulariza visualmente um dado objeto, é o que diferencia dos demais por seus elementos visuais. A autora apresenta um esquema chamado Sistema de Identidade Visual (SIV) ela define da seguinte forma:

Podemos, assim, definir o SIV da seguinte forma: Sistema de Normatização para proporcionar unidade e identidade a todos os itens de apresentação de um dado objeto, através do seu aspecto visual. Este objeto pode ser uma empresa, um grupo ou uma instituição, bem como uma ideia, um produto ou um serviço. (PEÓN, 2003, p.15).

O esquema SIV pode ser divido em: primários, secundários e acessórios. Peón (2003) classifica-os como: símbolo, logotipo, marca. Esses três elementos quando presentes em um sistema formam o esquema de Sistema de Identidade Visual.

Veja a representação abaixo:

QUADRO 2 – SISTEMA DE IDENTIDADE VISUAL

Primário Secundário Acessório

Logotipo Símbolo Marca

4.2.4 Desenvolvimento da Revista Fala Muito: Capa, Layout, Paleta de Cores, Tipografia, Diagramação 27

A escolha da capa veio a partir da vertente das cores preto e branco com a intenção de remeter as cores do Sport Club Corinthians Paulista e como foi observada na introdução deste projeto, a Revista Fala Muito busca ser um segmento do time alvinegro. Isso também faz menção de toda a trajetória de sucesso do técnico Tite que se consagrou ao treinar o time, e que retratamos nas matérias jornalísticas da revista.

A foto ilustração usada na capa da revista, representa a face do técnico Tite em tons sombreados. Em suma, foi a melhor foto que tivemos acesso da assessoria do Sport Clu Corinthians Paulista. A construção da capa buscou remeter ás cores preto e branco do time alvinegro e a notoriedade com a expressão facial do técnico.

Para Dondis (2007), os dados visuais podem transmitir informação: mensagens específicas, os sentimentos expressivos, tanto intencionalmente, com um objeto definido, quanto obliquamente, como um subproduto da utilidade.

O que também nos permitiu ter um olhar mais gráfico e ilustrativo, consequentemente a liberdade de um diferencial buscando referências internas e vestígios dos pontos visuais transformando em informação parte de sua história como técnico.

Mas o objetivo básico do ilustrador é referencial seja no caso de uma fotografia de um detalhado desenho a traço ou de uma fotogravura em preto e branco ou em cores. Trata-se, basicamente de levar uma informação visual a um determinado público, informando que em geral significa a expansão de uma mensagem verbal. (DONDIS, 2007, p.205).

Na construção de um layout fluido, que permitisse alojar com eficácia um conteúdo extenso e rico em informação, algumas premissas foram essenciais para a definição do projeto gráfico da publicação. Tais proposições passam pela definição dos elementos básicos de layout, diagramação, tipografia e cores.

O layout parte da análise do formato proposto – uma publicação padrão magazine de 20 por 26,5 centímetros, com 20 páginas – que precisa acomodar dez matérias de conteúdo não linear que contam a história do técnico Tite por meio das suas realizações e depoimentos de pessoas que acompanham sua carreira. Essas especificações ditaram a escolha de páginas divididas em três colunas de texto que 28

proporcionassem linhas entre 40 e 60 caracteres e davam a possibilidade de espaços de fuga a quem matassem o layout estável, eliminando colunas ou parte delas para alterar a cadência de informação dentro das páginas subsequentes.

Seguindo as diretrizes básicas desse layout a diagramação foi construída sob a óptica de três diretrizes básicas da organização visual: a repetição de elementos – como tamanhos e estilos de tipografia – que facilita a compreensão das páginas; a alinhamento entre a base dos textos, fotografias e intervenções gráficas que estabelecem sequencias lógicas de leitura; e a proporcionalidade dos volumes de texto e gráfico empregado, tornando cada página uma unidade coesa e consistente dentro do todo.

Diagramar é determinar a disposição dos elementos em uma peça gráfica. Em um trabalho de diagramação o objetivo é organizar a informação existente estabelecendo uma ordem capaz de ser compreendida. Quando os elementos não determinam uma relação entre si de maneira ordenada, apresentando uma variação excessiva de linhas e volumes, percebe-se uma certa desorganização, impedindo que a peça seja compreendida. Quando tais relações são proporcionais ou coincidentes, reduzindo a quantidade de ruídos visuais, a comunicação torna-se mais clara, objetiva e ordenada. (LOPEZ, 2012).

Fechando esse ciclo de orientações para a hierarquização da informação duas famílias tipográficas foram adotadas na distribuição do conteúdo. A Abril Text é uma fonte serifada especialmente projetada para textos de magazines, diários e periódicos pela TypeTogether, dos designer tipográficos Veronika Burian e José Scaglion. Pelos seus atributos técnicos e sua vasta gama de pesos – bolds, itálicos e afins – foi designada para a composição os blocos de textos disposto em três colunas. Para os títulos e outros destaques a Muller Narrow foi escolhida como contraste por ser uma tipografia não serifada de alta legibilidade com pesos que vão do ligth ao extra bold, o que permite infinitas variações e possibilidades gráficas sustentando a dinâmica da diagramação dentro do layout. A Muller Narrow é uma amostra de distribuição gratuita da família Muller Type System, comercializada pelo bureau FontFabric. 29

Por fim, a paleta de cores adotada na publicação é composta por neutros e pastéis, variações da tonalidade dourada eleita como elemento principal da capa para ressaltar que a publicação é, antes de tudo, uma coroação e homenagem a carreira cheia de conquistas do técnico Tite dentro do Sport Club Corinthians Paulista.

5. O nascimento de Adenor

Pouco tempo após descobrir a gravidez, Dona Ivone sofreu um acidente doméstico, caiu 16 degraus abaixo de uma escada. Sem dinheiro para pegar o ônibus, seu Agenor colocou dona Ivone em uma carroça, e a levou para o hospital, onde a médica que lhe atendeu, pediu para que ela fizesse repouso total.

Durante quase toda sua gravidez, dona Ivone se manteve em repouso, obedecendo às recomendações médicas. Em uma quinta-feira, 25 de maio de 1961, as contrações começaram muito antes do previsto, com oito meses de gestação, fazendo assim, Dona Ivone dar à luz ali mesmo, no pavilhão da colônia italiana São Braz, onde morava.

O parto não foi fácil, houve algumas complicações que fizeram o bebê ficar preso dentro de dona Ivone. Segundo Matozzo (2016, p.36) ‘’orações foram feitas na capela que ficava ao lado, tamanha era a dificuldade para o guri nascer. Pelo menos três pessoas tiveram de ajudar a retirá-lo de dentro da mãe’’.

Pela complicação na hora do parto, o bebê nasceu com deformações no rosto, e por conta disso, fez seu Agenor escondê-lo das visitas e deixá-lo com um lenço amarrado no rosto para que se ajeitasse. A preocupação da família com a saúde do bebê recém-nascido era tão grande, que somente depois de olharem com muita atenção, perceberam que era um menino.

Dona Ivone queria que o filho levasse o nome do pai, seu Agenor. Mas, aconselhada por uma prima, mudou de ideia e trocou o g pelo d, ficando Adenor Leonardo Bachi. 30

Em 1965, logo após o nascimento do filho caçula, Miro, a família resolveu se mudar da colônia onde morava, e ir para uma pequena casa no bairro de Lourdes, onde Adenor e seus irmãos foram criados e educados pelos pais.

A vida da família não era fácil, seu Agenor trabalhava em um sacolão, enquanto dona Ivone, passava o dia costurando e se desdobrando para conseguir aumentar sua clientela. Era assim, com o trabalho duro que eles colocavam comida na mesa.

5.1 A paixão que passou de pai para filho

Seu Agenor sempre gostou muito de futebol, era juventudista5 de nascimento e gremista de coração. E essa ligação que ele tinha com o futebol, era da família inteira. Das brincadeiras de rua, aos campeonatos de colégio, sempre tinha um incentivo de seu Agenor para que o filho seguisse os seus passos e se tornasse um grande esportista.

Tite e Miro passavam quase todas as tardes jogando bola. No colégio em que estudavam o Estadual do Guarani, hoje Henrique Emilio Meyer, não havia quadra. O que não chegava a ser problema – pulavam o muro de uma escola particular de freiras, a Madre Imilda, que ficava a pouco mais de duzentos metros de onde moravam. (MATOZZO, 2016, p.38).

5.2.1 O encontro com Felipão

Em 1970, Luiz Felipe Scolari já tentava a vida como técnico. Dividia seu tempo, entre dar aulas de educação física e ser um jogador de futebol do time de Caxias.

Os jogos que eram disputados serviam de preparação para as competições do colégio. E foi em uma dessas peladas que Adenor, ou Ade para Dona Ivone, viu sua vida mudar, e seu apelido também. Adenor jogava como camisa 10 no time de

5 Juventista é o nome dado para os torcedores do Juventus Futebol Clube. Um ex-clube de futebol brasileiro da cidade de Santa Rosa, Rio Grande do Sul.

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Felipão, meia-esquerda, ele se destacava entre os demais jogadores. Nesse mesmo time, tinha outro rapaz, conhecido pelo apelido de Tite. De acordo com Matozzo (2016, p.38) ‘’Felipão saiu daquela partida admirado com o futebol do camisa 10. Gostou do que viu e não deixou essas lembranças se perderem’’.

Mesmo gostando de futebol, mas sem achar que essa vida daria algum fruto para seu filho, seu Agenor passou a cobrar do filho uma ajuda para pagar as contas da casa, ou que pelo menos trabalhasse e ganhasse o suficiente para se sustentar.

A irmã mais velha, Beatriz, trabalhava em uma concessionária da Volkswagem em Caxias, e para ajudar seu irmão, pediu para seus chefes darem uma oportunidade para o rapaz. Alguns dias depois, Adenor foi contratado como Office-boy da empresa, trabalho que não durou uma semana.

Essa decisão de deixar o emprego que havia acabado de conseguir, veio após um reencontro com Felipão, ali, naquela mesma concessionária.

5.2.2 TITE

Felipão não tinha se esquecido do futebol que viu e tanto admirou no camisa 10, mas por conta de uma confusão, guardou na cabeça o nome de outro rapaz, o Tite, que atendia por Altemir, e foi assim que o rapaz Adenor passou a ser Tite.

Após o reencontro, Felipão perguntou se o menino Adenor gostaria de estar fazendo um teste no time de Caxias. Seu Agenor, mesmo sendo muito apaixonado por futebol, mas também muito exigente com as obrigações de casa, não ficou satisfeito com a decisão do filho de deixar o emprego que tinha acabado de conseguir, para seguir a vida no mundo futebolístico.

Dona Ivone, mesmo contra a vontade do marido, passou a trabalhar mais do que já trabalhava, para ver o filho seguir o caminho que havia escolhido.

Dona Ivone se lembra do quanto seu marido era mão fechada. Diz ela que seu Agenor não a abria por nada. Ao ficar acordada por mais tempo para trabalhar ainda mais, quando ela senta muito sono, batia com a tesoura de costura na cabeça para afastar o cansaço e continuar a produção. (MATOZZO, 2016, p.40). 32

Em alguns dias, Adenor compareceu ao centro de treinamento do Caxias e foi apresentado para os dirigentes do clube. Com todo seu talento, foi aprovado no teste, e ainda teve a oportunidade de jogar com Felipão, aquele que o descobriu.

Ali, ele não era mais o menino Adenor, nem o Ade da Dona Inove. Agora ele era Tite, jogador de futebol.

5.3 Surgia a grande oportunidade

Assim que se profissionalizou no Caxias, em 1980, Tite foi convidado a fazer um teste no Grêmio. Essa seria a chance de sua vida, mas para isso, teria que dar um passo para trás, voltar para a base.

Tite aceitou, foi para o Grêmio, fez o teste e passou. Ficou apenas uma semana e acabou desistindo por conta da pressão que sentiu dos outros rapazes que já estavam lá.

Após a tentativa no seu time de coração, Tite voltou para o Caxias, onde jogou por mais cinco temporadas, até 1982. Nesse período, entre os treinos, conheceu sua atual esposa e companheira, Rosmari Rizzi.

Ficaram durante quase um ano apenas trocando olhares, à distância. Ele passava quase todos os dias pela Avenida Julho de Castilhos, no tradicional bairro São Pelefrino, em . Esse era o endereço da churrascaria Imperador, da qual os pais da moça já eram donos desde 1970, e continuam sendo até hoje. (MATOZZO, 2016, p.46).

FIGURA 5: Tite no Caxias. Segundo da esquerda para a direita em pé. 33

Fonte: Banco de dados: Google

5.3.1 Breve passagem pelo Esportivo e Portuguesa

Em 1983, Tite foi para o Esportivo de Bento Gonçalves, onde ficou por apenas um ano. Pouco tempo depois, em uma partida realizada entre Esportivo e Portuguesa, o futebol de Tite acabou chamando a atenção dos dirigentes do time paulista. Um ano depois, em 1984, foi vendido e passou a vestir a camisa Lusitana.

Durante sua passagem pela Lusa, Tite fez uma partida que foi considerada a mais marcante. A Portuguesa venceu o Brasil de Pelotas por um placar de 4x2. Nessa partida, Tite fez um gol e para muitos, aquele foi o gol mais bonito da rodada. O que fez até ser capa de jornal do dia seguinte.

A passagem pela Portuguesa foi rápida, apenas um semestre. Tite disputou 22 jogos e marcou seis gols.

FIGURA 6: Tite comemorando um gol marcado no Canindé, pela Portuguesa. 34

Fonte: Banco de dados: Google

5.3.2 O casamento e um novo recomeço

Logo após sua rápida passagem pela Portuguesa, ainda em 1984, Tite foi para o Guarani de Campinas, e assim que se apresentou, sofreu uma lesão no joelho e precisou marcar a cirurgia o mais rápido possível. Cirurgia que foi realizada no dia 5 de dezembro.

Seu casamento que estava marcado para o dia 22 de dezembro, foi antecipado para o dia 30 de novembro. Em seguida, Tite e Rose foram para uma pequena lua de mel em Camboriú. Na volta, os dois se mudaram de vez para Campinas.

Rose é esposa e mãe, mas também psicóloga, e auxiliar. Opina em mudança de jogador, escuta os desabafos do marido, e comemora com ele cada vitória. Dentro da casa deles não tem mais conjugação verbal na primeira pessoa do singular ‘’eu’’, é sempre ‘’nós’’. Na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, no título ou na eliminação. (MATOZZO, 2016, p.48).

Depois da cirurgia realizada após o seu casamento, Tite só voltou em campo um ano depois, em novembro de 1985. Até então, se recusava a receber o salário 35

do clube, enquanto não se recuperasse. , técnico do Guarani na época, admirou a atitude e o caráter do jogador.

5.3.3 Os primeiros campeonatos disputados

Pelo Guarani, Tite foi vice-campeão brasileiro. O campeonato durou um ano, começou em 1986 e terminou em 1987. Na final, São Paulo e Guarani. O primeiro jogo aconteceu no Morumbi, no final, um empate, 1x1. Já o jogo decisivo, aconteceu no Brinco de Ouro.

Jogo em casa, que dava ao Guarani o favoritismo. No tempo normal, empate de 1x1, o que fez o jogo ser levado para a prorrogação. Mais três gols foram marcados, dois para um lado e um para outro. Até então, o Guarani estava com as mãos na taça, quando Careca, jogador do São Paulo, marcou um gol no finalzinho do jogo e conseguiu mandar a decisão para os pênaltis.

A taça que estava nas mãos do Guarani, foi parar nas mãos do São Paulo, em um jogo considerado polêmico por muitos.

No ano seguinte, em 1988, Tite que ainda estava no Guarani, foi vice de novo. Além do segundo lugar na Copa União, o Guarani também conseguiu ficar em segundo no .

Tite disputou ainda algumas partidas pela Libertadores, a primeira de sua vida. Jogou contra o São Paulo e também os times chilenos, Cobreloa e Colo-Colo, mas o Guarani acabou sendo eliminado.

FIGURA 7: Tite em 1986, quando jogava pelo Guarani, no jogo da final entre Guarani e São Paulo, pelo campeonato brasileiro.

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Fonte: Banco de dados: Google

Tite ainda não havia se conformado com o vice-campeonato Brasileiro de 1986 que acabou em 1987, e quase teve que pendurar as chuteiras muito antes do que imaginava. Após a derrota para o São Paulo, Tite não conseguia dormir, resolveu pegar o carro e viajar, na companhia de sua esposa, Rose.

Depois de horas de viajem, já no final da tarde, quando estavam na rodovia federal BR-116, que liga Fortaleza no Ceará, a Jaguarão, no Rio Grande do Sul, Tite acabou perdendo o controle do carro, que deu duas voltas na pista e por muito pouco, não caiu em uma ribanceira.

Tite só revelou o ocorrido muito anos depois, em novembro, de 2011, ao conceder uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Na época, explicou que a viagem foi motivada pela vontade de ficar perto da família e esquecer o vice-campeonato. Para ele, motivo de sobra para acreditar ainda mais em Deus. (MATOZZO, 2016, p.65).

5.3.4 Sua aposentadoria precoce

Após deixar o clube de Campinas, Tite ainda tentou retornar aos gramados em duas oportunidades. Voltou para o Esportivo (RS) e parou de vez no Guarany de Garibaldi, também no Rio Grande do Sul. Nesses dois últimos clubes quase não jogou, tanto que Tite não 37

considera esse período parte da sua carreira de jogador profissional. (MATOZZO, 2016, p.51).

Em 1989, aos 27 anos, depois de várias lesões no joelho e de sete cirurgias, Tite não tinha mais condições de jogar futebol, então decidiu pendurar as chuteiras e se aposentar dos gramados.

5.3.5 Nem tudo são flores

Nem tudo foi fácil para Tite, à vida de jogador de futebol proporcionou a ele bons momentos, mas não o tinha deixado rico. Nos quase cinco anos que jogou pelo Guarani, teve que viver de aluguel. Quando voltou de Campinas para Caxias do Sul, não tinha condições de comprar um imóvel e contou com a ajuda do sogro que deu a Rose um apartamento na cidade.

O primeiro bem de valor que Tite conseguiu adquirir com o próprio dinheiro foi um Voyage verde-água. O carro veio graças a um consórcio que tinha e acabou sendo contemplado.

Tite também mantinha guardado em uma poupança um valor considerável bom, e com esse dinheiro, resolveu investir em uma loja de artigos esportivos em Bento Gonçalves, tendo esperanças de que dali pudesse tirar parte de seu sustento. Mas a loja durou pouco tempo e ele não sabia o que seria de seu futuro.

6. Começam seus trabalhos como técnico

Logo após sua aposentadoria precoce, Tite se formou em Educação Física na Pontifícia Universidade Católica de Campinas.

Os dez primeiros anos de Tite como técnico não foram fáceis. Ele começou dirigindo times pequenos no interior do Rio Grande do Sul. Seu primeiro trabalho como técnico foi em 1990, no Guarany de Garibaldi. Em 1992 treinou o Veranópolis e ficou no comando do time até 1995, consagrando-se campeão da segunda divisão gaúcha de 1993. Em 1996, foi para o Ypiranga de Erechim e em 1997 para o Juventude. 38

Em 1999, foi convidado para voltar ao Caxias, time que começou sua carreira como jogador profissional de futebol e o mesmo que havia sido técnico em 1991, depois de deixar o Guarany de Garibaldi. Mesmo sem ter nenhum jogador de alto nível, Tite conseguiu montar um bom time para a disputa do Campeonato Gaúcho de 2000.

A caminhada no Gauchão de 2000 foi longa. Começou com o Caxias conquistando o direito de disputar o octogonal final do torneio, que incluía o Grêmio, o Internacional e o Juventude, após ficar em segundo lugar na fase inicial, disputada apenas por clubes do interior. (MATOZZO, 2016, p.86).

O time de Tite fez uma ótima campanha, surpreendeu e conquistou o primeiro turno. A última partida foi contra o Grêmio em pleno estádio Olímpico, o jogo acabou com um placar de 2x1 para o Caxias. Por conta do regulamento, o campeonato seria decidido pelos campeões do primeiro e do segundo turno. Assim, o Caxias já estava classificado para a final do Campeonato Gaúcho.

Fora duas partidas emocionantes. Na prima, realizada no estádio Centenário, em Caxias do Sul, o Caxias venceu de forma categórica e marcou 3x0 sobre o tricolor gaúcho. Já na partida de volta, no Olímpico, Tite armou um esquema defensivo forte e seguro o 0x0. (MATOZZO, 2016, p.87).

Sob o comando de Tite, o Caxias se consagrou campeão e até hoje, esse é o único título conquistado na primeira divisão pelo time.

6.1 O primeiro grande desafio de sua carreira

Era início da temporada de 2001, e Tite recebia o convite para comandar o Grêmio. Esse era o maior desafio de sua carreira como técnico, o primeiro time grande, com uma estrutura maior de todos os times que já havia treinado antes.

Logo de cara, o Grêmio foi campeão do primeiro turno do Campeonato Gaúcho e garantiu com antecedência, a vaga para a final. Mas ao mesmo tempo, não conseguia ir bem nas primeiras fases da .

O estilo de jogo proposto por Tite começou a engrenar e o tricolor gaúcho superou de forma invicta os demais adversários na Copa do 39

Brasil: Fluminense, São Paulo e Coritiba, até chegar à final da Copa do Brasil contra o Corinthians. (MATOZZO, 2016, p.88).

Antes de enfrentar o Corinthians na final da Copa do Brasil, o Grêmio tinha a decisão do Campeonato Gaúcho contra o Juventude pela frente. Na primeira partida realizada no estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, o Grêmio mostrou sua força e venceu por 3x2. O segundo e último jogo foi realizado no dia 3 se junho, no estádio Olímpico, o Grêmio venceu por um placar de 3x1, consagrando-se campeão do Campeonato Gaúcho de 2001.

Tite havia se tornado bicampeão gaúcho, mas não estava satisfeito e queria buscar uma maior projeção nacional.

Figura 8: Tite com a taça de Campeão Gaúcho de 2001.

Fonte: Banco de dados: Google

O próximo passo de Tite e do Grêmio era a final da Copa do Brasil, contra o Corinthians que teve início no dia 10 de junho. O primeiro jogo foi no estádio Olímpico e o placar ficou em 2x0. O Corinthians voltou para São Paulo com a vantagem do empate fora de casa. A decisão foi realizada no dia 17 de junho, no estádio do Morumbi.

Fora de casa e diante de um estádio lotado a favor do time adversário, o Grêmio de Tite venceu o Corinthians de Luxemburgo por um placar de 3x1 e se consagrou campeão da Copa do Brasil. Dois títulos em duas semanas. 40

Com as duas conquistas consecutivas de Tite com o Grêmio, o técnico passou a ser reconhecido e observado com outros olhos e permaneceu no tricolor gaúcho até junho de 2003, sem conquistar novos títulos.

Após a Copa do Brasil e de se desligar do Grêmio, Tite foi para o São Caetano, onde comandou o time por dois anos, viveu uma fase de jejum. Foram sete anos sem conquistar nenhum título.

6.2 Cléber Xavier: seu braço direito

Cléber Xavier tinha um grande sonho: viver de futebol. Em 1988, entrou para a faculdade de Educação Física, ao mesmo tempo, entrou para as categorias de base do Internacional como estagiário. Ficou de 1988 até 1995 fazendo as funções na base, desde preparador físico, auxiliar técnico, técnico e coordenador.

Em seguida, foi para o Bragantino, onde ficou por apenas um ano como treinador do time juvenil. Em 1996, foi para o Grêmio ser treinador do time infantil. Ficou no Grêmio de 1996 até 2001 treinando o infantil, em seguida passou para o juvenil e depois o júnior. Foi quando começou sua parceria com Tite.

Tite havia acabado de ser contratado pelo Grêmio, quando apresentaram o técnico do profissional, ao técnico do júnior. Um dia antes de Cléber viajar para São Paulo para disputar a taça São Paulo, ele e Tite tiveram uma pequena reunião no Estádio Olímpico. Tite fez algumas perguntas em relação aos jogadores que eram da base e estavam no profissional. Em seguida, disse que quando Cléber voltasse de São Paulo, seria seu auxiliar.

Logo no primeiro ano de parceria, eles conquistaram o Campeonato Gaúcho e a Copa do Brasil, em cima do Corinthians. Além de auxiliar, Cléber também tinha outra função: espião.

Cléber costumava ir disfarçado aos treinos para espiar como o adversário estava sendo montado. E assim foi com o Corinthians. Antes da final da Copa do Brasil de 2001, Cléber apareceu no Parque São Jorge para espiar o treino do time alvinegro, mas acabou sendo pego graças a um repórter que também estava presente. Após esse episódio, arriscou mais duas vezes e depois decidiu parar. 41

Hoje, Cléber é auxiliar direto de Tite e estão juntos há 16 anos. Como auxiliar direto, sua função é junto com Tite, decidir os treinamentos, organizar a relação entre o grupo, departamento médico, fisioterapia.

Eu sou o segundo treinador, então a gente divide tudo, conversa sobre tudo, a decisão final é dele. Mas ele tem a característica dele, ele é um cara mais fechado, um cara que foca no trabalho do campo. Eu sou um cara que organiza por fora, na realidade, costumo dizer que sou o prático dele. Ele tem muitas ideias, eu coloco em prática nessas situações, em montar o campo para treino, montar os treinamentos, conduzir as relações com os departamentos, são essas partes, fora os naturais de escalação, direção de sistema, estratégia de jogo. É um segundo treinador, e estou junto com ele todo esse tempo, porque ele valoriza isso. (XAVIER, 2016).6

FIGURA 9: Tite e Cléber Xavier no CT do Corinthians.

Fonte: Banco de dados: Google

6.3 A primeira passagem pelo Corinthians

6 Entrevista realizada com Cléber Xavier no dia 03 de agosto de 2016, via WhatsApp.

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Lágrimas apareceram em 2004 quando foi convidado pela primeira vez para comandar o Corinthians, época de crise econômica no Parque São Jorge, que estava com todas as receitas bloqueadas após o fim desastroso da parceria com a americana Hicks Muse. (MATOZZO, 2016, p.77).

Corinthians e Hicks Muse (fundo de investimento norte-americano) tinham uma previsão de parceria, por um prazo mínimo de dez anos. Mas devido à crise econômica da Argentina, onde a empresa mantinha boa parte de seus investimentos, e a alta do dólar no Brasil, o acordo foi quebrado após dois anos e meio.

A empresa ajudou a montar um grande time para o segundo semestre de 1999. O resultado apareceu em 2000, com a primeira conquista do Mundial de Clubes. Mas foi no meio de 2002, que essa sociedade chegou ao fim. Em meio a brigas judiciais, o Corinthians obteve uma série de problemas financeiros, além de ficar com um time um pouco mais modesto.

Após todos esses problemas e com a crise econômica declarada, o diretor de futebol do Corinthians, Antônio Roque Citadine, resolveu fazer a proposta para Tite: 80 mil reais por mês. Em um almoço marcado em uma churrascaria no Tatuapé, assim que ouviu a oferta feita por Antônio, Tite se emocionou.

Tite chegou ao Corinthians para substituir , e com o novo comando, as mudanças começaram logo em seguida. O primeiro resultado veio partir do dia 7 de julho, em um jogo realizado contra o Coritiba, no Couto Pereira. O Corinthians foi para o intervalo perdendo de 1x0, mas voltou para o segundo tempo e virou o jogo. Esse foi o fim do jejum de vitórias no Campeonato Brasileiro que já durava dois meses.

O time que estava com sete pontos quando Oswaldo de Oliveira foi demitido, encerrou o campeonato com 74 pontos e ocupando o quinto lugar da tabela. Não conquistou a vaga para Libertadores, mas o principal tinha sido feito. A ameaça da zona de rebaixamento não assustava mais.

Tite levou todo mérito, conseguiu utilizar as peças que tinha à sua disposição, preencheu as necessidades e montou um time para disputar campeonatos. 43

Nesse meio tempo, o Corinthians conseguiu uma nova parceria, o iraniano, Kia Joorbchian, presidente da Media Sports Investments (MSI).7

O sonho de Tite de ganhar títulos no maior time em que já havia dirigido em sua carreira estava prestes a acabar. Após um pênalti perdido por Coelho e uma derrota por 1x0 diante de seu rival São Paulo, Kia não se conformou, entrou no vestiário cobrando satisfações de Paulo Angioni, gerente de futebol na época.

Kia Joorbchian exigia que o argentino Carlitos Tevez, adquirido por 20 milhões de dólares e principal estrela do time, cobrasse o pênalti. Tite bateu de frente com o iraniano e afirmou que o vestiário não era lugar para aquele tipo de discussão e que Coelho cobrou a penalidade porque era quem treinava e estava preparado. (MATOZZO, 2016, p.79).

No dia seguinte, após uma reunião entre o técnico, diretoria e o investidor, Tite selou sua saída do Corinthians. ‘’A MSI comanda o futebol do Corinthians, eu não participo. Não vou perder minha dignidade. Isso eu não vendo’’. (TITE, 2004). 8

FIGURA 10: Tite quando comandava o Corinthians em 2004.

Fonte: Banco de dados: Google

Com a demissão do Corinthians, os planos da família de Tite foram frustrados. Ele e sua esposa Rose, haviam acabado de comprar uma cobertura que

7 A Media Sports Investment (MSI) é uma empresa formada por um grupo de investidores britânicos e russos (segundo seu site oficial), com base declarada no Reino Unido.

8 Tite em declaração à imprensa em 2004, após deixar o Corinthians. 44

fica localizada no Tatuapé, com a ideia de planos de poder construir a vida em São Paulo.

Tite não quis colocar a cobertura à venda, insistindo que tinha certeza de que voltaria para São Paulo. Nesse meio tempo, passou por cinco times diferentes, colocando a cobertura para alugar e tendo cinco inquilinos diferentes.

Tite teve problema com alguns de seus inquilinos, mas não sabia quem eram eles. Só ficava sabendo quando o corretor ia atrás para informar que o aluguel não estava sendo pago. Um dos inquilinos que deu problema foi o Argentino Matias Defederico, contratado em 2009 por 10 milhões de reais. Defederico não rendeu o que era esperado e ainda se esqueceu de pagar o aluguel. Ele acabou sendo despejado, o caso foi parar na justiça, mas só foi resolvido em 2014.

6.4 Os trabalhos não pararam

Algumas semanas após ser demitido do Corinthians, Tite recebeu um convite para comandar o Atlético-MG. O técnico aceitou o convite e assinou um contrato por pouco mais de um ano, até dezembro de 2006.

O Atlético-MG vinha fazendo uma campanha ruim no Campeonato Brasileiro, e após uma derrota por 3x1 para o Goiás, Tite não suportou a pressão e colocou seu cargo à disposição à diretoria.

Foram 21 jogos à frente do time mineiro. Tite conseguiu quatro vitórias, cinco empates e onze derrotas. Com doze pontos ganhos e um aproveitamento de 28,33%.

Pouco tempo depois, dia 17 de maio de 2006, Tite foi anunciado como novo técnico do Palmeiras. Na mesma semana, o técnico já fez sua estreia pelo time alviverde. Juntamente com ele, chegaram também o preparador físico Fábio Mahseredjian, o preparador de goleiros Jorge Andrade e o auxiliar Cléber Xavier.

O Palmeiras estava na última posição do Campeonato Brasileiro, e Tite chegou com a missão de fazer o time subir na tabela. A missão não era fácil, mas ele conseguiu deixar o Palmeiras invicto por onze jogos, e diante de uma derrota por 3x2 para o Santa Cruz, com uma arbitragem considerada polêmica as coisas desandaram. 45

O técnico não gostou da forma que a arbitragem levou o jogo e reclamou. O diretor de futebol do Palmeiras na época, Salvador Hugo Palaia, irritado com o resultado, atacou contra Tite, dizendo que o técnico tinha que calar a boca e parar de reclamar.

Na volta para São Paulo, os torcedores que estavam no aeroporto à espera da delegação palmeirense tentaram agredir Tite. Ao perceber a confusão, os seguranças e policiais que estavam presentes, fizeram um isolamento e ele teve que deixar o local no carro da polícia.

Após o incidente no aeroporto, Tite pediu demissão e assim, se encerrava o ciclo do técnico no time alviverde.

No final de 2007, Tite foi contratado pelo Al Ain dos Emirados Árabes, mas não ficou lá por muito tempo. Com apenas seis meses no comando do time árabe foi demitido por não concordar com os dirigentes. Então ficou no comando do time por 25 jogos, obteve treze vitórias, perdeu seis jogos e empatou outros seis.

Dia 12 de junho de 2008, Adenor Leonardo Bacchi foi anunciado como o mais novo técnico do Internacional e já estreou com o pé direito. Logo no primeiro jogo a frente do time colorado, o técnico conseguiu sua primeira vitória. Após o apito final, ele se emocionou, foi até cada jogador, cada funcionário e abraçou um por um. A família de Tite também estava presente e o abraço neles não poderia faltar.

Quando Tite chegou foi contestado pela torcida colorada, devido ao trabalho do técnico no Grêmio, aos poucos, foi ganhando a confiança e o carinho de toda a torcida. A partir daí, conseguiu deixar o Internacional no sexto lugar no Campeonato Brasileiro de 2008 e ainda foi campeão da Copa Sul Americana de 2008, com um gol de Nilmar na prorrogação.

Foi campeão também do Campeonato Gaúcho de 2009, em cima do maior rival, Grêmio. Fez uma boa campanha na Copa do Brasil de 2009, mas perdeu para o Corinthians. Também foi vice-campeão da Recopa Sul Americana de 2009. No mesmo ano, foi campeão da Copa Suruga Bank.

No Campeonato Brasileiro de 2009, começou bem, ficando em primeiro lugar no primeiro turno. No segundo, o rendimento já não foi o mesmo. E devido aos maus resultados demonstrados em casa e fora, no dia 5 de outubro de 2009, Tite foi demitido do Internacional. 46

Pouco menos de um ano desempregado, no dia 31 de agosto de 2010, Tite foi anunciado oficialmente como novo técnico do Al-Wahda, dos Emirados Árabes. Essa era a sua segunda experiência no exterior.

6.5 À volta por cima: a estrela brilhou

Tite estava há quase dois meses à frente do time árabe, quando confirmou que tinha recebido uma ligação de Andrés Sanchez, presidente do Corinthians na época. Diante dessa ligação, veio o convite para voltar a comandar o time alvinegro. Mas o técnico tinha um contrato com o Al-Wahda, e a liberação poderia não ser tão fácil assim.

‘’Eu quero’’, lembro da frase dita em meu ouvido e de maneira tão convicta, que até hoje parece te vindo acompanhada do advérbio: Tite queria... muito. Foi por ter dito isso com todas as letras para os dirigentes do Al-Wahda que conseguiu a liberação. (MATOZZO, 2016, p.9).9

Andrés Sanchez confirmou o retorno de Tite ao Corinthians, no dia 17 de outubro de 2010, ainda no gramado do estádio Brinco de Ouro, em Campinas.

Tite era visto como segunda opção da diretoria corintiana, que no momento, preferia . Parreira que não aceitou o convite, por conta de uma promessa que fez a família: não voltaria a trabalhar até o final do ano. Segundo Matozzo (2016, p.92) “não ter sido a primeira opção do Corinthians, não importou muito para Tite. O técnico afirmou que, ao escolher o Corinthians, estava abrindo mão do Mundial de Clubes, pelo Al-Wahda, dos Emirados Árabes’’.

O técnico chegou ao aeroporto às 17h30 da tarde, foi recebido pelos repórteres e também por um torcedor que carregava com ele uma camiseta com a frase ‘’Seja bem-vindo, Tite. Futuro campeão brasileiro de 2010’’. Nessa frase, o torcedor depositava nele, toda a esperança de mais de 35 milhões de corintianos.

Faltando oito jogos para o fim do Campeonato Brasileiro, Tite tinha em mãos a missão de reerguer o Corinthians. Em sua estreia, o Corinthians venceu seu maior rival, Palmeiras, por um 1x0. Oito rodadas se passaram, fim do campeonato, foram

9 Informação retirada do livro da Camila Matozzo. Citação de Paulo Vinicius Coelho. 47

cinco vitórias, três empates e o suficiente para o Corinthians ser campeão. Esse bom resultado, deixou o time alvinegro na terceira colocação, conquistando a vaga para a Pré-Libertadores.

Fevereiro de 2011 e o Corinthians protagonizou o maior vexame de toda sua história. A Pré-Libertadores tinha começado, o primeiro jogo foi em casa, no Pacaembu e acabou em 0x0. A decisão ficou para a partida de volta, em Ibagué, na Colômbia, e logo de cara o time alvinegro perdeu por 2x0.

Apenar de o Corinthians pressionar os noventa minutos, o nervosismo e, principalmente, a falta de ritmo, pois o time tinha voltado das férias 23 dias antes da partida, predominaram o jogo. Mesmo assim, quem apostaria no fracasso do Corinthians? (MATOZZO, 2016, p.31).

Esse não foi mais um, e sim o principal fracasso do Corinthians na sua busca obsessiva pela conquista do título inédito da Libertadores. As piadas que já existiam, se multiplicaram, além de não possuir o título mais importante do torneio sul- americano, foi também o primeiro time brasileiro a ser eliminado na fase preliminar da Libertadores.

Tite tinha chegado ao Corinthians quatro meses antes, e depois do resultado inesperado e da eliminação da Pré-Libertadores, o técnico se viu por um fio. Andrés Sanchez acalmou o técnico dizendo para ele não se preocupar que ele ficaria.

Os torcedores se revoltaram e como forma de protesto picharam os muros do CT. Os alvos eram o técnico Tite, Ronaldo fenômeno, e o presidente Andrés Sanchez. No estacionamento, o vandalismo continuou. Na noite que o Corinthians perdeu para o Tolima, na sua eliminação, cerca de dez torcedores encapuzados invadiram o local e apedrejaram os carros dos jogadores, comissão técnica e dos dirigentes corintiano.

Ronaldo não aguentou a pressão sofrida pelos torcedores corintianos, e anunciou sua aposentadoria. e Roberto Carlos foram para o Anzhi Makhachkala da Rússia e Bruno César para o Benfica de Portugal. O time novamente sofreu um desmanche, mas contou com a volta de Liédson. 48

Depois do vexame da eliminação na Pré-Libertadores, a corrida pelo Campeonato Paulista de 2011 havia começado, e foi nesse período que Tite protagonizou uma cena que jamais será esquecida.

Não roga por vitórias, tampouco pede piedade dos adversários. Queria merecer ganhar na partida jogada. Luiz Felipe Scolari, quem lhe iniciou na carreia profissional de jogador, era o comandante do Palmeiras no domingo, dia 6 de fevereiro de 2011, logo depois da eliminação vexatória do Corinthians para o Tolima. Felipão deu naquela semana uma declaração polemica que acabou rompendo publicamente a relação dos dois. (MATOZZO, 2016, p.93).

O técnico palmeirense declarou que deixaria o Corinthians ganhar o clássico para evitar a possível demissão de Tite, que estava sendo pressionado pela diretoria corintiana após a eliminação na Pré-Libertadores.

No dia do jogo, os dois bateram boca dentro de campo. Após a expulsão de um jogador palmeirense, Felipão reclamou com a arbitragem e também acabou sendo expulso. Tite não deixou quieto e provocou, dizendo que Felipão estava falando muito e soltou um ''fala muito, fala muito, fala muito'' que foi gesticulado com a mão. A amizade entre os dois acabou após esse episódio.

Tite conseguiu classificar o Corinthians para a final que seria contra o Santos. O primeiro jogo foi no Pacaembu, placar que ficou em 0x0. A decisão foi para o jogo de volta na Vila Belmiro, em Santos.

O Santos tinha uma vantagem, estava jogando em casa e com o apoio de sua torcida. Isso contou muito, o placar final foi de 2x1 para o time da baixada santista, deixando o Corinthians com o vice-campeonato.

Com o vice-campeonato, iniciou o planejamento para o Campeonato Brasileiro de 2011. Logo nas dez primeiras rodadas, o Corinthians obteve nove vitórias e um empate, e se consolidou líder isolado do brasileirão. Em seguida, sofreu duas derrotas consecutivas, sendo elas para o Cruzeiro em casa e para o Avaí fora. Depois voltou a vencer, teve mais um empate, uma vitória e novamente, duas derrotas. Mesmo com essa instabilidade, encerrou o primeiro turno na liderança. 49

No início do segundo turno, o Corinthians começou vencendo o Grêmio e perdendo para o Coritiba. Depois obteve mais uma sequência de vitória de derrotas. Assim, o time de Tite caiu na posição da tabela, e o técnico passou a se sentir ameaçado.

O primeiro título de Tite no Corinthians foi o Campeonato Brasileiro de 2011. Mesmo sendo líder em 27 rodadas das 38 rodadas, o Corinthians passou por dois grandes momentos de oscilação que chegaram a ameaçar a conquista e o próprio Tite. O equilíbrio, tão valorizado pelo técnico, foi determinante para voltar às vitórias. (MATOZZO, 2016, p.92).

O Corinthians foi para o último jogo contra o Palmeiras com 70 pontos, e atrás, na vice-liderança, estava o Vasco, com 68 pontos. O time alvinegro só não seria campeão, se fosse derrotado e o Vasco vencesse. Talvez a sorte estivesse ao lado de Tite. O Corinthians acabou empatando por 0x0 e o Vasco por 1x1. Assim, o Corinthians se consagrava pentacampeão brasileiro e Tite em sua segunda passagem pelo time, ganhava seu primeiro título.

Tite que antes era criticado pelos torcedores corintianos que pediam sua saída, hoje foi reverenciado por todos.

No geral, o time alvinegro conquistou 71 pontos. Obteve 21 vitórias, oito empates e nove derrotas. Marcou 53 gols e tomou 36, sendo a melhor defesa do campeonato.

Como atual Campeão Brasileiro de 2011, o Corinthians se classificou automaticamente para a Libertadores de 2012. Essa seria a décima participação do time no campeonato, e o máximo que já havia conseguido, era chegar à semifinal, em 2000, quando foi desclassificado pelo Palmeiras na disputa de pênaltis.

As desilusões sofridas pelos torcedores e também pela diretoria, só aumentava a pressão para a conquista do título inédito.

Na primeira fase do campeonato, o Corinthians fez parte do grupo 6, que enfrentava o Cruz Azul do México, o Deportivo Táchira da Venezuela e o Nacional do Paraguai. Classificou-se na primeira colocação do grupo, com quatro vitórias, dois empates, 14 pontos e a segunda melhor campanha. Já nas oitavas de final, o 50

Corinthians pegou o Emelec do Equador. Empatou fora de casa e ganhou no Pacaembu.

Noite de 23 de maio de 2012, Corinthians contra Vasco, jogo de volta das quarta de final, e o Pacaembu vivenciou uma noite dramática e cheia de emoções. Um empate sem gols levaria a decisão para os pênaltis, o olhar angustiado dos corintianos presentes era notável, mas a torcida não parava um minuto de apoiar. Aos 17 minutos do segundo tempo, o estádio do Pacaembu ficou em silêncio.

A torcida paralisou, se calou e rezou. , lateral do Corinthians, errou o passe, Diego Souza, atacante do Vasco, não desperdiçou a oportunidade e atacou. Cássio, com a ponta do dedo, defendeu. Esses foram os sete segundos mais longos da vida dos corintianos. Ali, há quem dizia que a sorte de campeão estava com o Corinthians de Tite.

Antes mesmo desse lance com Diego Souza, a torcida corintiana ganhou um apoio de peso. Sempre quando um técnico é expulso de campo, ele vai para as tribunas do estádio para acompanhar a partida e passar as instruções para quem estiver em campo, mas naquela noite, não foi o que aconteceu. Tite, ao reclamar do arbitro, foi expulso do banco de reservas.

Ao invés de ir para as tribunas, foi para a arquibancada, no meio da torcida. Na empolgação com o jogo, o técnico gritava pelo nome de Willian e Liedson, para tentar passar as informações para os jogadores. Jogadores que mesmo com o barulho de mais de 33 mil corintianos presentes, conseguiram entender o que Tite estava querendo.

Com o final do jogo se aproximando e a decisão indo para os pênaltis, aos 42 minutos do segundo tempo, após uma cobrança de escanteio, Paulinho subiu mais alto do que o próprio zagueiro e cabeceou. Gol do Corinthians, gol de Paulinho. Gol que classificava o time alvinegro para a semifinal da Libertadores.

Tite, ao ver o gol da arquibancada, abraçou Edu Gaspar que também estava ali presente. Tite e Edu, que foram engolidos pela felicidade da torcida. Após o gol, o técnico desceu, foi para o alambrado e passou a comemorar com cada lance do Corinthians. Para alivio de todos, o juiz apitava o final do jogo. 51

Tite (2012) ‘’a torcida incentiva. No momento do erro, mais ainda. O coração do atleta sente isso. Mesmo errando, senti na arquibancada esse carinho’’. 10

FIGURA 11: Tite expulso, assiste jogo na arquibancada.

Fonte: Banco de dados: Google

O próximo passo era conseguir vencer o Santos. O primeiro jogo foi na Vila Belmiro, gol de Emerson Skeik, vitória de 1x0 para o Corinthians. Noite do dia 20 de junho de 2012, o Corinthians recebia o Santos no Pacaembu, para decidir quem ficaria com a vaga para a final da Libertadores. O Corinthians entrou em campo com uma vantagem por ter feito um gol fora de casa. Se fizessem seu papel, bastasse um empate para o time de Tite se classificar.

Além de rival, o Santos era o atual campeão da Libertadores. O time da baixada santista saiu na frente com gol de , mas no início do segundo tempo, Danilo empatou para o Corinthians. Com o empate, Danilo fez aquela noite se tornar histórica. E pela primeira vez, depois de 101 anos, o Corinthians se classificava para a final da Libertadores.

O Corinthians por ter feito a melhor campanha durante o campeonato, iria fazer o último jogo em casa. Seu próximo e último adversário era o temido e seis vezes campeão, da Argentina.

10 Tite em entrevista ao Globo Esporte, no dia 24 de maio de 2012.

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O primeiro jogo aconteceu dia 27 de junho na Bombonera, o Boca abriu o placar, mas se o Corinthians quisesse ser campeão, teria que voltar para São Paulo com um bom resultado. E assim foi. Tite fez uma alteração, colocou Romarinho, que tinha estreado apenas quatro dias antes.

Com apenas três minutos em campo, Romarinho recebeu a bola de Emerson e deu uma cavadinha por cima do goleiro. A estrela de Romarinho brilhou e entrou para a história. Foi o primeiro jogador do Corinthians a fazer um gol na final da Libertadores. O Corinthians estava apenas a uma vitória do título.

Noite de 4 de julho de 2012, a preparação para o jogo decisivo tinha começado desde cedo. Havia corintianos para todos os lados, rojões, gritos e principalmente, esperança. O peso das duas camisas era grande, mas a vontade de ser campeão era maior ainda.

O primeiro tempo acabou em 0x0, mas foi no segundo que tudo mudou. Aos 9 minutos, Alex cobrou uma falta, Jorge Henrique cabeceou, Danilo de calcanhar, lembrou Sócrates e passou para Emerson que não desperdiçou e fez o gol, para a explosão dos torcedores presentes.

Dos pés do mesmo Emerson, saiu o segundo gol corintiano. Aos 26 minutos, o experiente Caruzzo do temido Boca Juniors, errou um passe. Emerson arrancou e em apenas três toques na bola, ficou cara a cara com o goleiro e só chutou para o gol. O grito que estava preso, finalmente foi solto. O grito da libertação.

O canto dos corintianos de ''vamos, vamos Corinthians. Essa noite, teremos que ganhar'' fez efeito. O Corinthians foi e é campeão. Campeão invicto da Libertadores de 2012. O time do povo, o bando de loucos, havia conquistado a América.

Tite (2012) ‘’o segredo do Corinthians é trabalho e competência. Se fez uma campanha como a que teve é porque tem qualidade, de marcação e organização muito forte, e a equipe aliou uma coisa no final da minha palestra: amizade. É um grupo que se gosta. Quando bate a cabeça com o coração, fica muito forte’’.11

11 Tite em declaração à imprensa, após a conquista do título da Libertadores de 2012.

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Com as piadas existentes que falavam que o Corinthians só seria campeão da Libertadores no dia de São Nunca. Dia 4 de julho de 2012, ficou conhecido como a independência corintiana, o tal dia de São Nunca.

FIGURA 12: Tite com a taça da Libertadores de 2012.

Fonte: Banco de dados: Google

Tite, aquele que viu o Corinthians passar o maior vexame de sua história ao ser eliminado na Pré-Libertadores de 2011, com todo seu trabalho, hoje conseguiu se superar, se reerguer e vencer. E foi considerado o melhor técnico da Libertadores de 2012. O técnico ainda se tornou o único brasileiro que foi campeão dos dois campeonatos mais importantes da América. A Copa Sul-Americana e a Libertadores.

Os jogos restantes do Brasileirão serviram de preparação para a disputa do Mundial de Clubes da Fifa. A sexta colocação no nacional ficou de bom tamanho. Logo após o final do torneio nacional, o Corinthians embarcou para o Japão em 3 de dezembro, recebendo o apoio dos torcedores que compareceram ao Aeroporto Internacional de Guarulhos para se despedir. (MATOZZO, 2016, p.94).

Cerca de 15 mil torcedores estavam presentes no aeroporto para acompanhar o embarque do Corinthians para o Japão. A festa estava pronta, os jogadores, a delegação e até mesmo Tite, entraram na empolgação da torcida. Com seus 54

celulares em mãos, desceram do ônibus para agradecer o apoio, e filmavam a todo tempo a festa que os corintianos estavam fazendo.

Tite, assim que desembarcou no Japão, opinou sobre as chances do Corinthians no Mundial: ‘’O que queremos fazer é mostrar a cara do Corinthians, a cara do Emerson Skeik, a cara do Tite. A cara da nossa equipe. Sem ter euforia. Nós temos uma equipe forte, postulante ao título, mas que tem que estar no seu melhor individualmente, coletivamente, no aspecto tático, ao aspecto mental’’. (TITE, 2012).12

O mundial de 2012 foi disputado por oito times, sendo eles: Ulsan Hyundi da Coreia do Sul, Al Ahly do Egito, Monterrey do México, Corinthians do Brasil, Auckland City da Nova Zelândia, Chelsea da Inglaterra e Sanfrecce Hiroshima do Japão.

Por conta do regulamento do Mundial, Corinthians e Chelsea entraram nas semifinais, enquanto os outros times disputaram entre si para definir seus adversários.

A estreia do Corinthians aconteceu em uma quarta-feira, no dia 12 de dezembro, no estádio Toyota, contra o Al Ahly do Egito. O jogo que todos pensaram que seria fácil, enganou-se. O Corinthians venceu o jogo com um placar bem apertado, 1x0, gol de Guerrero, aos 29 minutos do segundo tempo.

Se dentro de campo o jogo não foi dos melhores, fora dele a torcida do Corinthians dava show. Em todas as partes do estádio havia corintianos. Os gritos tradicionais do Pacaembu tomaram conta não só das arquibancadas, mas também das ruas do Japão. Não há números precisos, principalmente porque os torcedores vinham de todas as partes do mundo. O número era inacreditável, 30 mil corintianos tinham invadido o Japão. (MATOZZO, 2016, p.95).

O Corinthians estava na final do Mundial, e seu adversário era o poderoso e milionário Chelsea, da Inglaterra. Tite indicou o que seria a partida contra o time inglês.

12 Tite em declaração à imprensa ao desembarcar no Japão em 2012.

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Equilíbrio é a melhor forma de encarar esse jogo. É fundamental. Precisamos ter muita qualidade no passe, pois são duas equipes muito compactas e que têm velocidade, além de um gramado que permite isso. Nosso time tem muita qualidade no pé e experiência para a bola não queimar. (TITE, 2012).

No final da coletiva de imprensa, a pedido de um câmera de emissora de televisão que estava presente e que estava acompanhando o Corinthians, repetiu um dos gritos mais famosos. ‘’Vai Curintia, é nóis, mano’’. (TITE, 2012).13

Corinthians e Chelsea decidiram a grande final do Mundial no estádio Internacional de Yokohama, diante de 68.275 pagantes. O primeiro tempo não foi fácil, Cássio foi obrigado a realizar grandes defesas. As coisas só foram mudar aos 23 minutos do segundo tempo, quando Guerrero aproveitou a sobra de bola e balançou a rede.

Após o gol de Guerrero, o time inglês passou a pressionar o time alvinegro. O maior susto aconteceu aos 46 minutos do segundo tempo, quando Fernando Torrez, fez um gol impedido.

Aos 49 minutos e 29 segundos, o árbitro encerrou o jogo e o Corinthians era bicampeão do Mundial. Para Tite (2012) ‘’o troféu é uma retribuição ao torcedor corintiano pelo carinho que deu à equipe, na vinda dele para cá e aqueles que estão no Brasil, e que de alguma forma não puderam estar presentes fisicamente, mas estiveram presentes de espírito, de alma, de apoio’’.14

Figura 13: Tite com a taça do Mundial de Clubes de 2012.

13 Tite em coletiva de imprensa antes da final do Mundial contra o Chelsea.

14 Tite em declaração à imprensa, após a conquista do título do Mundial de 2012.

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Fonte: Banco de dados: Google

O Corinthians estreou na Libertadores de 2013 diante do San José, empatado por 1x1. Essa partida ficou marcada por uma tragédia que aconteceu na arquibancada ainda durante o jogo. Kevin Espada de 14 anos e torcedor do San José morreu após ser atingido no rosto por um sinalizador.

Doze torcedores corintianos suspeitos de jogar um cilindro de plástico na torcida adversária foram presos com artefatos e acabaram ficando detidos na Bolívia. Sete deles conseguiram a liberdade em junho de 2013, os outros cinco, apenas no início de agosto de 2013.

Tite, abalado com o acontecimento, deu a seguinte declaração em uma coletiva de imprensa que durou apenas um minuto. ‘’Eu só tenho que pedir que me desculpem. Eu sei que isso não vai tirar a dor de vocês, não vai tirar a dor da família, mas nós estamos muito sentidos. Eu trocaria o meu título mundial pela vida desse menino’’. (TITE, 2012).15

15 Tite em coletiva de imprensa no dia 20 de fevereiro de 2013.

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Após uma partida polemica e cheia de erros cometidos pela arbitragem, o Corinthians acabou sendo eliminado pelo Boca Juniors, no dia 15 de maio de 2013. A torcida que sempre esteve presente apoiando seu time, não se abalou. Mostrou-se orgulhosa, e mesmo com a eliminação, aplaudiram os jogadores por sete minutos.

A tristeza da eliminação durou pouco, ainda no primeiro semestre de 2013, a lista de títulos de Tite só aumentou. Com a ressaca do título Mundial, o Corinthians não conseguiu empolgar na primeira fase do Campeonato Paulista, se classificando para a fase final em quinto lugar. Reencontrou o futebol nas quartas de final, quando goleou a Ponte Preta por 4x0 fora de casa, em Campinas.

Na semifinal encarou o São Paulo, ficou no 0x0 no tempo normal e se classificou nos pênaltis. Na final, pegou o Santos. No primeiro jogo no Pacaembu, o Corinthians venceu por 2x1. No jogo de volta, na Vila Belmiro, o time alvinegro conquistou o título após um empate por 1x1. Esse era o quarto título de Tite no comando do Corinthians.

A Recopa Sul-Americana foi disputada em julho de 2013 e reuniu os campões da Libertadores e da Copa Sul-Americana de 2012. Corinthians e São Paulo, o clássico mais conhecido como majestoso foi disputado em apenas duas partidas. A primeira foi no Morumbi, placar de 2x1. O segundo e último jogo, foi no Pacaembu. Placar de 2x0 para o time da casa.

Nas mãos de Tite, o Corinthians voou. A Recopa não é um título tão importante, mas para os corintianos, teve um gostinho a mais, por ter sido conquistado em cima de seu rival, São Paulo. Com o título da Recopa, Tite acumulou cinco conquistas no comando do Corinthians, além de se consagrar o técnico com mais vitória na história do clube, superando Oswaldo Brandão. Ele também se consagrou o único técnico campeão de todos os torneios oficiais do Brasil.

Tite voltou a passar por um momento de instabilidade, foram sete partidas sem vencer, que se agravou após uma goleada sofrida pela Portuguesa.

No dia 14 de novembro de 2013, Tite não teve seu contrato renovado. Assim, se encerava a segunda passagem do técnico pelo time alvinegro.

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7. Um homem de fé

Quando Dona Ivone estava grávida de Tite e sofreu o acidente doméstico caindo da escada de sua casa, com medo de perder o bebê, fez uma promessa para São Leonardo Murialdo, santo que era devota. Prometeu que se tudo desse certo e o bebê nascesse com saúde, daria o nome de Leonardo a ele.

Tite se tornou católico ainda na barriga de sua mãe. Aprendeu a ler com a Bíblia e a falar rezando o pai-nosso. Nunca abandonou a fé. Dona Ivone até queria que ele fosse padre, mas essa ideia não deu muito certo. (MATOZZO, 2016, p.65).

Aos 19 anos, Tite viu uma igreja pegar fogo perto da casa onde morava, na colônia de São Braz, no Rio Grande do Sul. Era São Leonardo Murialdo, padroeiro daquela mesma igreja. Com o incêndio, nada se salvou. Chateado com o que tinha acontecido, decidiu juntar o pouco de dinheiro que ganhava quando ainda estava tentando sua vida como jogador, para comprar uma nova imagem de São Leonardo Murialdo e colocar na nova igreja que estava sendo construída. De acordo com Matozzo, (2016, p.66) ‘’Miro acredita, porém, que seu irmão intensificou a relação com a religião a cada lesão que teve que lhe tiraram o sonho de ser jogador de futebol’’.

Em 1999, quando voltou ao comando do Caxias, Tite havia conseguido a classificação que marcava o retorno do time para a série C do campeonato Brasileiro. O que fez o técnico andar cerca de 22 quilômetros a pé, durante a madrugada, até o Santuário da Nossa Senhora do Caravaggio, em Farroupilha, no Rio Grande do Sul, para agradecer.

João Marcos Andrietta, corintiano fanático, marcava presença em quase todos os jogos do Corinthians no Pacaembu, mas teve que se afastar em 2009, quando foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica (ELA).

João virou fã de Tite pelos títulos que foram conquistados pelo técnico e assistidos por ele de casa. Não foi só o amor pelo Corinthians que fizeram essa ligação entre os dois, mas sim, a forte ligação que ambos têm pela religião.

Essas motivações foram o bastante para a grande mobilização que foi realizada em 2015, para que João finalmente conhecesse a nova casa corintiana, a Arena Corinthians. Mobilização que custou cerca de 20 mil reais. 59

O Corinthians fez sua parte e deixou um camarote no sexto andar da Arena reservado para João. Já o encontro tão esperado com Tite, aconteceu no vestiário, antes do jogo.

João deu para Tite um terço de São Vicente de Paulo, santo que os dois são devotos. A retribuição veio em seguida, quando Tite deu para João, uma pulseira com todos os seus santos de proteção, um amuleto da sorte que ele costuma dar de presente para pessoas que deseja paz.

O Corinthians venceu o Joinville por um placar de 3 a 0. No terceiro e último gol, Tite olhou para o camarote onde João estava e apontou o dedo, dedicando a ele aquela vitória. Segundo Matozzo, (2016, p.54) ‘’Tite carregou até o fim do campeonato, no bolso direito da calça, o terço vicentino recebido de João’’.

Aquela pulseira que João ganhou de Tite na vitória sobre o Joinville, já foi muito importante para alguns jogadores que foram treinados por Tite.

Referência desde a sua segunda passagem pelo Corinthians, o treinador a presenteia principalmente em casos relacionados à saúde. Elas são dadas ao gaúcho por padres e servem para proteção, cada uma de um santo ou de uma santa de quem é devoto. (MATOZZO, 2016, p.55).

Dos jogadores, o primeiro que recebeu uma pulseira de Tite, foi , em 2013, depois de um jogo contra o Bahia, quando se chocou com um jogador do time adversário e sofreu uma fratura no rosto. O meia já havia passado por uma situação igual em 2008, quando jogava pelo Flamengo.

Tite ficou comovido com o que tinha acontecido com Renato Augusto, e para ele, o que o meia precisava, era de um fortalecimento espiritual, quando lhe ofereceu uma de suas pulseiras.

Renato Augusto se recuperou, voltou a jogar e a pulseira, um dia, estourou. No dia seguinte, mais uma lesão, dessa vez, menos grave. Pediu ao técnico um amuleto novo, logo retornou aos gramados e nunca mais abriu mão do presente do professor. (MATOZZO, 2016, p.56).

Em 2012, padre Marcelo Rossi foi convidado pelo Corinthians, para a inauguração da capela no Centro de Treinamento, dias antes da semifinal da 60

Libertadores. Ele e Tite se conheceram em 2004, através de Claudio, dono de uma pizzaria que fica localizada no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo.

Quando padre Marcelo inaugurou o Santuário da Mãe de Deus, ainda em 2012, Tite e sua esposa Rose passaram a frequentar as missas realizadas nas quintas-feiras. Trinta quilômetros, cerca de uma hora e meia, era a distância percorrida entre a casa de Tite, no Tatuapé, até o Santuário. O trânsito não ajudou, o que fez o casal passar a frequentar a igreja Regina Mundi, que ficava localizada perto do prédio onde moravam.

A grande amizade entre Tite e padre Marcelo Rossi permanece. E foi o padre quem recebeu Tite, os jogadores e a delegação inteira do Corinthians, na volta do Japão, com a taça do Mundial de Clubes de 2012.

E o técnico gaúcho chegou até mesmo contribuir financeiramente com a construção do novo Santuário do padre, mas afirma que não gosta de falar sobre as ajudas que dá, nem dos problemas que enfrenta com atrasos nos clubes por onde passa. (MATOZZO, 2016, p.58).

Tite sempre que viaja para campeonatos nacionais ou internacionais, tem costume de visitar as igrejas das cidades por onde passa. Um dia antes ou no dia do jogo, vai à igreja para conhecê-la e aproveitar de um momento de oração.

Em 2012, no Mundial de Clubes, Tite e o presidente do Corinthians, Mário Gobbi queriam encontrar uma igreja em Yokohama, no Japão, onde eles, todo o elenco e comissão técnica estavam instalados. Como não tinham nenhuma indicação, os seguranças tiveram que procurar, até descobrir um lugar.

Os seguranças então encontraram um Santuário simples que ficava localizado em um prédio, em cima de uma loja, em um lugar escondido. Tite, Mário Gobbi, Ronaldo Ximenes, que na época era secretário geral do Corinthians, junto com Elie Werdo, vice-presidente, foram até esse Santuário. Lá foram recebidos por um padre que fez uma pequena oração.

Em uma sala do CT do Corinthians, Tite fez uma pequena instalação, seu próprio altar que contêm uma bíblia, imagens de santos, um terço e também velas. Segundo Matozzo, (2016, p.61) ‘’Tite não marca compromisso antes de fazer sua 61

oração diária. Na hora de ir embora, repete o ritual. Apoia um dos seus joelhos no chão e reza’’.

Jogando em casa ou fora, a rotina é a mesma. Vestido com uma camisa da cor próxima à do clube em que está, entra no ônibus, liga para a esposa, para a filha e para a mãe para pedir uma bênção. Dona Ivone dá a dica da santa ou do santo do dia para orientar a reza. (MATOZZO, 2016, p.58).

Quando chega ao estádio, Tite acende uma vela e faz sua oração sozinho. Depois, antes de o jogo começar, reúne todos em um círculo e faz uma prece em conjunto. Após o jogo, Tite repete a prece para agradecer.

FIGURA 14: Tite, no CT do Corinthians, em uma de suas orações.

Fonte: Banco de dados: Google

8. Olê, Olê, Olê, Olê: Tite, Tite

Tarde de sábado, estádio do Pacaembu, 37ª rodada do Campeonato Brasileiro de 2013, Corinthians x Internacional e mais de 33 mil corintianos presentes com um único objetivo: se despedir de Tite. O empate sem gols não fez 62

muita importância, o jogo tinha outro objetivo, foi marcado por emoção e homenagens da torcida ao técnico.

Antes da entrada em campo, Tite foi homenageado no vestiário pelos jogadores e também sua esposa, Rose. Os jogadores falaram palavras de carinho para o técnico e prometeram uma vitória de presente de despedida.

Quando pisou no gramado, não teve outra, a torcida explodiu ao ver Tite. Os gritos de Olê, Olê, Olê, Olê. Tite, Tite, tomaram conta do Pacaembu. Enquanto a torcida fazia sua homenagem ao ídolo, Roberto de Andrade, diretor do Corinthians na época, entregava uma placa de agradecimento a ele.

Mesmo durante o jogo, com a torcida gritando seu nome, Tite se manteve concentrado. Após o apito final, o técnico foi até as arquibancadas, deu uma volta olímpica fazendo uma reverência a todos que estavam ali. O jogo não foi ganho, mas a missão foi cumprida. Os corintianos conseguiram emocionar Tite, que deixou o gramado chorando.

FIGURA 15: Tite reverenciando a torcida em sua despedida, em 2013, no Pacaembu.

Fonte: Banco de dados: Google

Tite nunca negou que o carinho que a torcida corintiana tem por ele, é recíproco. No dia 22 de maio de 2012, em uma coletiva de imprensa, um repórter do Lance! perguntou ao técnico qual o canto da torcida que tinha mais significativa para 63

ele. Imediatamente, sorrindo, respondeu: ‘’Corinthians minha vida, Corinthians minha história, Corinthians meu amor. Quando bate lá em cima, arrepia tudo lá embaixo’’.16

Gabriel Nieri, corintiano fanático e também fã de Tite, disse que o técnico já é a história do Corinthians, desde a sua primeira passagem ao clube. ‘’O Tite tem aquele algo a mais que nenhum técnico tem. Tirar o melhor que o atleta pode ter, sem o desmotivar’’.17

A torcida corintiana e Tite tem uma grande ligação, um grande laço de amor e carinho. Tanto que o técnico é considerado o grande ídolo da fiel, com o nome que ficará marcado na história do time alvinegro.

9. O bom filho a casa torna

Um ano após sua saída do Corinthians e do ano sabático, Tite recebeu uma proposta do time alvinegro para voltar a comandar o clube, mas eles não foram os únicos a sondar o técnico. O Internacional também tinha um grande interesse por Tite.

Se fosse para pensar apenas no dinheiro, Tite já sabia para onde iria. A proposta feita pelo Internacional era de R$800 mil por mês, contra R$400 mil do Corinthians, muito menos que o técnico ganhava em sua passagem anterior, quando seu salário ainda pelo Corinthians era de R$700 mil.

Tite não sabia qual rumo tomar. Se aceitava a proposta do Internacional e continuava no Rio Grande do Sul perto de sua família, ou se voltava para o Corinthians, time onde conquistou tudo.

Uma pessoa pesou bastante para que Tite fizesse sua escolha. Essa pessoa era Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, eleito em fevereiro de 2015, após a saída de Mario Gobbi.

16 Tite em coletiva de imprensa no dia 22 de maio de 2012.

17 Entrevista realizada com Gabriel Nieri no dia 20 de setembro de 2016, via WhatsApp.

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Tite e Roberto de Andrade trabalharam juntos por três anos, sempre tiveram um bom relacionamento, uma boa cumplicidade e confiança um pelo outro.

Corinthians e Internacional estavam jogando para disputar quem ficaria em terceiro e quarto lugar na tabela do campeonato brasileiro, colocação que dava vaga direta para a Libertadores.

Liguei para o Roberto e falei: ‘’E ai?’’. Ele disse: ‘’Tite, eu não vejo o Corinthians sem você. E não é pelo o que tu fez no passado, é pelo que a gente projeta no futuro’’. Quando ele falou isso, perguntei: ‘’É importante?’’. Ele disse: ‘’Sim, é importante’’. Eu falei: ‘’A partir desse momento, sou técnico do Corinthians’’. (MATOZZO, 2016, p.68)18

Tite ligou para Vitorio Piffero, presidente do Internacional, agradeceu pelo convite feito, e falou que já tinha dado sua palavra em São Paulo, para o Corinthians. Algumas horas depois, o Internacional havia conseguido a terceira colocação na tabela e a vaga direta para Libertadores. Já o Corinthians, ficou com o quarto lugar e foi para fase da Pré-Libertadores, fase não muito querida pelos corintianos.

Tite assinou contrato por três anos com o Corinthians, e o capítulo da novela que todos estavam esperando, finalmente aconteceu. No dia 5 de janeiro de 2015, Tite voltou a vestir preto e branco, e assumiu o alvinegro paulista pela terceira vez.

9.1 As primeiras eliminações em casa

A primeira missão de Tite na sua volta para o Corinthians seria passar da fase da Pré-Libertadores e entrar de vez para a competição. Depois dos sorteios, o Corinthians finalmente conheceu seu primeiro adversário, o Once Caldas da Colômbia.

O Corinthians conseguiu passar sem nenhuma dificuldade, venceu em São Paulo, Arena por 4x0 e empatou na Colômbia por 1x1, classificação garantida e a maldição do Tolima havia ido embora.

18 Tite em entrevista concedida à Camila Matozzo em 2016.

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Junto com a Libertadores, havia começado também o Campeonato Paulista. A Libertadores é claro, o campeonato mais cobiçado por todos os brasileiros. Mas o paulista não fica atrás, não para o Corinthians de Tite.

O Corinthians tinha bons jogadores, um elenco considerado de peso. Classificou-se em primeiro lugar de sua chave no Campeonato Paulista, e quando chegou na semi final, foi um pouco diferente, Corinthians x Palmeiras, iriam se enfrentar. O Corinthians tinha um fator importante ao seu favor, a casa era corintiana.

O jogo começou bem disputado, não poderia ser diferente, aliás, se tratava de um dos maiores clássicos paulista. Palmeiras abriu o placar com um gol de Victor Ramos. Na bola parada, depois da cobrança de Jadson, o Corinthians conseguiu chegar ao empate com Danilo. Aos 33 minutos do primeiro tempo, Mendoza virou o jogo para o Corinthians.

Na volta do segundo tempo, Rafael Marques empatou para o Palmeiras. O tempo normal acabou com o resultado de 2x2, a decisão de quem iria para a final do Campeonato Paulista seria decidida nos pênaltis.

Nas cobranças de pênaltis, Robinho do Palmeiras chutou para fora. Mas não tinha jeito, a noite era de Fernando Prazz que defendeu as cobranças de Elias e Petros, e levou o Palmeiras para a final do Campeonato Paulista.

Três meses após voltar a comandar o time alvinegro, o Corinthians de Tite sofreu sua primeira eliminação 2015, dentro de sua casa.

O ano só tinha começado, e a Libertadores ainda estava em jogo, não por muito tempo. O jogo era decisivo, mais de 39 mil torcedores presentes na Arena para empurrar o Corinthians, no entanto, a torcida ao seu lado, não foi o suficiente para o Corinthians passar de fase. O time alvinegro até que tentou pressionar o Guarani do Paraguai, mas acabou perdendo a força quando Fábio Santos e Jadson foram expulsos.

Nos acréscimos, o Guarani conseguiu acabar com a festa corintiana. Assim, além de perder a invencibilidade de 32 jogos em casa, o Corinthians foi eliminado da tão cobiçada Libertadores. 66

Esta eliminação no Campeonato Paulista e na Libertadores, deixou uma pergunta no ar: o que eles estavam fazendo de errado? Alguns dos principais jogadores estavam com os salários e direitos de imagens atrasados. A diretoria do Corinthians alegava que o clube estava com a situação financeira complicada, mas que estavam fazendo de tudo para regularizar a situação.

Ralf, Elias, Renato Augusto, Emerson Skeik, Danilo e eram os afetados pela crise no Parque São Jorge. Preocupada, horas antes daquele jogo contra o Guarani paraguaio, a diretoria avisou aos atletas que havia conseguido dinheiro para acertar ao menos parte da dívida existente – o que não mudou o resultado na Arena Itaquera. (MATOZZO, 2016, p.38).

Os atrasos nos pagamentos foram descartados como problema que estava atingindo todo o elenco corintiano. A comissão técnica então, se dedicou para tentar identificar qual seria o real motivo. Foram reuniões atrás de reuniões, até chegarem a uma conclusão: o time que eles tinham em 2015, não era o mesmo arrebatador de 2012. A base, como Danilo, Skeik, Ralf, Cássio, continuaram, mas Tite tinha um novo grupo com características diferentes daqueles que ganharam a Libertadores e o Mundial.

O time não estava respondendo as preleções feitas por Tite antes dos jogos. O estilo de três anos atrás, com o tom de voz alto e palavras de incentivo que o técnico estava tentando manter, não tinha mais o mesmo efeito.

A comissão técnica havia conseguido resolver parte do problema, porém, outro assunto mal resolvido estava trazendo um clima de insegurança para o time e esse era um problema em que eles não poderiam resolver sozinhos.

Quando a Libertadores acabou para o Corinthians, aos poucos, o time começou a se desmanchar. Três jogadores importantes foram vendidos: Fábio Santos, que foi para o Cruz Azul do México, Skeik e Paolo Guerrero que foram para o Flamengo.

Com o adeus do trio, o futuro no Parque São Jorge ficou indefinido, o sinal de possíveis desmanche no time estavam claros. Elias e Renato Augusto foram especulados no Flamengo e se preocuparam com a situação. Tite foi procurado por um grupo de jogadores e teve que tomar uma atitude. 67

Os atletas me procuraram. Ficou uma insegurança muito grande. Eles queriam saber o que seria na sequência. Eu me lembro do Renato Augusto, do Cássio, do Ralf, do Gil. Eu não sabia como ia ser e também estava inseguro. Fui para minha casa nesse dia, cheguei chateado e conversei com a Rose, minha esposa. Ela me aconselhou que era hora de conversar com a diretoria. (MATOZZO, 2016, p.99).19

Tite ouviu os conselhos de sua esposa, e assim que chegou ao CT Joaquim Grava, no dia seguinte, foi direto para uma reunião com a diretoria do Corinthians. Além do técnico, estavam presentes: o presidente Roberto de Andrade; Alessandro, coordenador técnico; Edu Gaspar, gerente de futebol e Eduardo Ferreira, diretor adjunto de futebol.

Roberto de Andrade chamou Renato Augusto, Ralf, Elias, Cássio e Gil, e garantiu que ninguém mais sairia e que o time seria aquele até o final do ano. Garantiu também, de que os esforços para pagar os salários atrasados continuariam. A palavra foi dada, era com esse time que eles iriam brigar até o fim.

9.2 A corrida pelo Hexa Campeonato Brasileiro

Depois da saída de muitos jogadores importantes do Corinthians, a mídia sempre destacava que o time alvinegro não seria o mesmo sem Guerrero, o peruano matador, que logo que chegou, marcou os gols que deu ao Corinthians o Mundial de 2012.

O Campeonato Paulista e a Libertadores já era passado, agora o que importava, era o Campeonato Brasileiro. O brasileirão é um campeonato longo, quase seis meses de disputa. O primeiro jogo foi contra o Cruzeiro fora de casa, vitória garantida. No dia 13 de agosto, na 18ª rodada, o Corinthians assumiu a liderança, e dali, não saiu mais. Dessa vez, o grande rival não foi nenhum time de São Paulo, e sim um de Minas Gerais, o Atlético-MG.

19 Tite em entrevista concedida à Camila Matozzo em 2016.

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Corinthians e Atlético-MG fizeram uma partida que simbolicamente, estava representando a final do campeonato. Todos estavam voltados para esse jogo, para saber quem teria mais chances de ser o Campeão Brasileiro de 2015.

O Corinthians de Tite mostrou que era superior, foi até Minas, venceu por um placar de 3x0 e consolidou sua campanha vitoriosa.

Na 34ª rodada do campeonato, após vencer o Coritiba, o Corinthians já poderia ter se consagrado hexa campeão brasileiro de 2015, no entanto, teve que ficar à espera do resultado do jogo do Atlético-MG, único time que poderia estragar a festa corintiana. Festa estragada, o Corinthians de Tite ainda teria que esperar um pouco mais para soltar o grito de campeão.

Dia 19 de novembro, o Corinthians com 74 pontos, viajou para o Rio de Janeiro, para enfrentar o Vasco. Faltavam apenas três rodadas para o fim do Campeonato Brasileiro, aquela noite seria de decisão.

O clima em São Januário não poderia ser melhor. A torcida chegou em festa, sem briga na estrada. Em contrapartida, o Vasco do técnico Jorginho lutava desesperadamente contra o rebaixamento, e queria muito estragar a festa corintiana. Quase conseguiu, Júlio Cesar tabelou com Nenê, invadiu a área e fez o primeiro gol no estádio do Rio de Janeiro. Frustração completa. (MATOZZO, 2016, p.28).

No Morumbi, o Atlético-MG jogava contra o São Paulo. O Corinthians, mesmo se perdesse para o Vasco, se consagraria campeão, já que lá em São Paulo, o time do Morumbi havia vencido o Atlético-MG por 4x2. Tite não queria ser campeão assim, com uma derrota. Aos 36 minutos, Vagner Love de cabeça, marcou o gol do empate e do título. Não teve outra, explosão corintiana no Rio de Janeiro.

O título que chegou muito antes do apito final, em conexão São Januário e Morumbi. Para quem estava do campo, era festa. Para quem estava dentro e jogando, tinha a dificuldade de se manter concentrado.

Com o título alvinegro garantido, membros da comissão técnica do Vasco, juntamente com Jorginho, tentaram sensibilizar os jogadores corintianos, pedindo para que eles colocassem o pé no freio. Já que o Vasco precisava desses três pontos para não ser rebaixado. O pedido do Vasco pouco adiantou. 69

Ao apito final, Tite fez questão de abraçar e agradecer um por um. A emoção e as lágrimas haviam tomado conta de todos naquele momento. O ano não tinha sido fácil, mas o técnico estava com a alma lavada. O título do time do povo, comandado por aquele que se uniu de maneira perfeita ao bando de loucos.

Emocionado, em frente às câmeras, ele desabafou: ‘’Vocês vão ver, eu prometo para vocês. Eu entro dentro de uma caipirinha e vocês vão me ver mamado’’. (TITE, 2015).20

Foi a frase de alivio de Tite, do desabafo, após um ano cheio de altos e baixos, de certezas e dúvidas, de frustrações e conquistas, de derrotas marcantes e muitas vitórias, de apostas e confirmações. De felicidade. Uma felicidade que não cabia em São Januário nem no Maracanã que fosse. (MATOZZO, 2016, p.28).

A ansiedade enfim, acabou, o grito que estava preso na garganta foi solto. Aquele Corinthians de Tite que havia sofrido um grande desmanche no começo do ano, hoje, foi Hexa Campeão Brasileiro com três rodadas de antecedência e com a melhor campanha na era dos pontos corridos. Os jogadores se foram, mas Tite continuou e se consagrou o melhor técnico do Brasil.

FIGURA 16: Tite comemorando o Hexa Campeonato Brasileiro, junto com os jogadores e comissão técnica do Corinthians.

20 Tite em declaração à imprensa, após a conquista do Campeonato Brasileiro de 2015.

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Fonte: Banco de dados: Google

O Corinthians já era Campeão Brasileiro de 2015, mas ainda tinham mais três jogos pela frente e o último, seria contra o rival São Paulo. Despedida do brasileirão e jogo em que a taça seria entregue ao campeão.

9.2.1 A recepção em casa

O time alvinegro foi recebido na Arena com festa, foi só o São Paulo entrar em campo para o aquecimento, que os gritos de ''é campeão'' ecoou nas arquibancadas. No telão, uma provocação. O gol de Tupãzinho na final do Campeonato Brasileiro de 1990 era o primeiro título dos seis que o Corinthians já conquistou.

À tarde de domingo também foi marcada por outra homenagem a Tite, antes de a bola rolar, a torcida corintiana deixou exposta do lado leste da Arena, um mosaico 3D com a imagem do técnico. O mosaico retratava a imagem de Tite, segurando a faixa “The Favela is here! Corinthians is my life (A favela é aqui! Corinthians é minha vida)”, que ficou famosa em 2012, na conquista do mundial, no Japão. 71

Tite não escondeu sua emoção e gratidão: ''Tu ficas emocionado e não encontra palavras. A foto é minha, mas representa o grupo todo, é do Corinthians. Ela representa muita coisa''. (TITE, 2015).21

FIGURA 17: Mosaico preparado para homenagear Tite.

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A torcida nunca se cansou de homenagear Tite, o canto dos corintianos que vieram das arquibancadas e ecoava até a estação de metrô Itaquera, era de arrepiar. Nenhum jogador mereceu tanto carinho. Em um time com grandes nomes como Ralf, Gil, Jadson, Vagner Love e Renato Augusto, a estrela do Corinthians era outra, e atendia pelo nome de Adenor Leonardo Bachi ou se preferir, Tite.

O placar do jogo foi 6x1 para o time da casa, um gol para cada título brasileiro e para cada título conquistado por Tite no time alvinegro. A missão do ano estava cumprida.

10. Agora é com a Seleção Brasileira

21 Tite em declaração à imprensa, no gramado da Arena Corinthians, após ver o mosaico feito em sua homenagem.

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Em 2014, Tite viveu um dos momentos de maior ansiedade. Na madrugada do dia 14 de julho, seis dias após sofrer a maior goleada, 7x1 para a Alemanha, no Mineirão, Luiz Felipe Scolari, anunciou sua saída da Seleção Brasileira.

Foram praticamente 135 horas de ansiedade e espera para Tite, que estava ansioso para receber uma ligação do presidente da CBF. O telefone não tocou, para sua surpresa, foi anunciado como o novo técnico da Seleção Brasileira.

Dunga não se deu muito bem na Seleção Brasileira, Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, decidiu demiti-lo no dia 14 de junho de 2016. Desde então, o nome mais cotado para assumir o comando era o de Adenor Leonardo Bachi.

Depois de muitas especulações e seu nome já dado como certo, Tite viajou para o Rio de Janeiro, para uma reunião com o presidente da CBF. As horas foram passando, a noite tinha virado e Tite saiu do local sem dar nenhuma resposta. Até aquele momento, ele ainda era técnico do Corinthians, mas por pouco tempo.

Na reunião, Tite havia deixado claro que aceitaria o convite, se ele pudesse montar a sua própria comissão técnica. Cléber Xavier, Edu Gaspar e seu filho, Matheus Bachi, teriam que ir para a Seleção Brasileira junto com ele. E assim foi.

Quarta-feira, 15 de junho de 2016, Tite se reuniu no CT do Corinthians para se despedir de todo o elenco corintiano e também dos funcionários, antes do anúncio oficial ser feito pelo Roberto de Andrade, presidente do clube. Tite não era mais técnico do Corinthians, agora é o novo técnico da Seleção Brasileira.

Irritado, Roberto de Andrade foi para coletiva de imprensa, anunciar que Tite iria dirigir a Seleção Brasileira a partir daquele momento.

Tite a partir deste momento não trabalha mais conosco. Ele aceitou o convite da CBF. Hoje à tarde foi o último treino dele. No jogo de quinta ele não dirige mais o time. O Corinthians merecia mais respeito. Tite merece a seleção brasileira, pelo seu trabalho. A CBF não merece uma pessoa como Tite, pela forma sorrateira que tiraram Tite. (ANDRADE, 2016).22

22 Roberto de Andrade em coletiva de imprensa em junho de 2016.

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Roberto de Andrade se mostrou incomodado com a atitude de Marco Polo Del Nero, presidente da CBF durante o período de negociação com Tite. Segundo o presidente corintiano, em nenhum momento eles foram procurados para informar de que havia um interesse no técnico.

Roberto de Andrade afirmou também, que só ficou sabendo da proposta, quando Tite foi avisa-lo. ‘’Tite veio me comunicar, pela pessoa ética que é. Quem me informou foi Tite ontem’’. (ANDRADE, 2016).23

Já com o contrato assinado, a CBF anunciou oficialmente Tite como novo técnico da Seleção Brasileira no dia 20 de junho de 2016.

A minha atividade e o convite que me foi feito foi para ser técnico da seleção brasileira de futebol. Entendo que essa atribuição é a melhor maneira que eu tenho para contribuir com o que tenho de ideia para minha vida. Adjetivos como transparência, excelência e modernidade é a forma que eu penso e que eu trago para o futebol. Penso ser dessa forma em todas as áreas também. (TITE, 2016).24

Durante a coletiva de imprensa, Tite acabou se emocionando quando lembrou da reação de sua mãe, dona Ivone, quando ela recebeu a notícia de que ele seria técnico da Seleção Brasileira.

Peço para as pessoas terem cuidado com ela, carinho, se falar com ela vai tirar coisas que emoção vai aflorar. Eu disse a ela hoje de manhã quando acabou a reunião do Gilmar. Eu disse: ‘’mãe, teu filho é técnico da Seleção’’. Ela começou a chorar e me deu bênção. (TITE, 2016).25

FIGURA 18: Tite recebendo do presidente da CBF, a camisa com o nome de sua mãe, Ivone Bachi.

23 Roberto de Andrade em coletiva de imprensa em junho de 2016.

24 Tite em coletiva de imprensa no dia 20 de junho de 2016, em seu anuncio oficial na CBF.

25 Tite em coletiva de imprensa no dia 20 de junho de 2016, em seu anuncio oficial na CBF.

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Fonte: Banco de dados: Google

10.1 Tite merecia a última homenagem

À tarde do dia 19 de junho de 2016 não poderia ter sido mais emocionante. Depois de grandes especulações sobre a ida de Tite para a Seleção Brasileira, esperança de o técnico continuar, existia, mas a despedida acabou sendo inevitável.

Uma grande festa foi preparada para o maior ídolo da fiel. Ao lado de seu auxiliar Cléber Xavier e de Edu Gaspar, Tite foi recebido na Arena de braços abertos pelo Corinthians e também pela torcida corintiana.

Minutos antes de o jogo começar, a beira do gramado, Tite assistiu no telão, depoimentos e homenagens preparados para ele. Momentos marcantes de sua carreira e de muitas emoções que fizeram o técnico chorar durante a homenagem.

FIGURA 19: Tite emocionado ao assistir sua homenagem no telão da Arena. 75

Fonte: Banco de dados: Google

Em seguida, o técnico foi convidado para entrar em campo. Recebeu das mãos do presidente do Corinthians, Roberto de Andrade, uma placa em forma de agradecimento. Em meio aos aplausos da torcida, de todo o elenco corintiano e dos gritos de ‘’Olê, olê, olê, olé. Tite, Tite’’, Tite agradeceu.

Nós, nós juntos, presidente, torcida, Corinthians, temos seis títulos juntos. Perdemos também, mas temos seis títulos juntos. Mas eu vou levar um título, eu e a minha família, que é a gratidão e o carinho de vocês. De coração, obrigado. (TITE, 2016).26

FIGURA 20: Tite agradece o Corinthians em sua despedida na Arena Corinthians.

26 Tite no gramado da Arena Corinthians, no dia 19 de junho de 2016, em agradecimento a todos os torcedores que estavam presentes.

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Fonte: Banco de dados: Google

Não se discute a história de Tite no Corinthians, foram ao todo 378 jogos, 196 vitórias, 110 empates, 72 derrotas e seis títulos, Brasileiro 2011, Libertadores e Mundial 2012, Paulista e Recopa 2013 e Brasileiro 2015. De todos os técnicos que já passaram pelo Corinthians, nenhum conseguiu esse feito pelo clube, muito menos construiu uma relação tão forte com um time e uma torcida, como Tite.

Tite segue agora no comando da Seleção Brasileira, mas segue também na memória e nos corações de mais de 35 milhões de corintianos.

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Considerações finais

Desenvolvemos esse projeto com o objetivo de colocar em prática o aprendizado que o curso de Comunicação Social Jornalismo nos proporcionou. O trabalho foi realizado com pesquisas através de leituras de materiais dos autores da área de comunicação: Jornalismo Esportivo, Jornalismo Literário e Jornalismo de Revista, além, de outras bibliografias indispensáveis na coleta de dados para construção e realização deste trabalho.

Entendemos que a construção desse trabalho nos resulta um ganho de conhecimento e experiência profissional, que nos permiti reunir os nossos interesses e nos habilita a realizar a escolha de nosso projeto.

A revista impressa reuniu no decorrer da história um dos melhores artefatos da comunicação - uso da informação com o entretenimento-, juntos garantiram a eficiência de atrair novos leitores e segmentar públicos até os dias atuais. Muito verdade, que sua era de sucesso foi antes da televisão e da tecnologia, mas, ainda hoje não deixa de ser querida, lida e carregada para todos lugares. Com diferentes formatos, públicos, assuntos, cores e segmentos, a revista impressa é um dos grandes veículos de comunicação para a sociedade.

Concluímos que a escolha da revista impressa para a realização do projeto Fala Muito, atende diretamente o objetivo do projeto por reunir técnicas e métodos do jornalismo num formato revista e por apresentar dinamismo e entretenimento ao público sobre o assunto escolhido.

Esperamos que ao final desse projeto, possa ser produzido um material de qualidade com a colaboração de entrevistados, profissionais, fãs, que vivem e expõe a experiência pela admiração ao técnico Tite.

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Referências

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BETING, MAURO. Corinthians, 100. Disponível em: . Acesso em 10 de maio de 2016

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DUARTE, Orlando. CORINTHIANS, o time da fiel.

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MICHELENA MUBHOZ, Daniella Rosito. Manual de identidade visual: guia para construção. Rio de Janeiro: 2AB, 2009.

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NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer jornal diário. São Paulo, 2002.

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VILAS BOAS, Sergio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996. (Coleção novas buscas em comunicação; v.52). 80

ANEXOS

1. Objeto

Jornalismo Esportivo/Literário/Tite

2. Objetivo

2.1. Objetivo geral:

Produzir uma revista impressa, em edição única, em homenagem ao técnico brasileiro Adenor Leonardo Bachi, mais conhecido como Tite. Contando sua história profissional e abordando sua trajetória no futebol que o fez ser reconhecido como um dos melhores técnicos de futebol do Brasil. Respeitado por torcidas de todos os clubes do futebol brasileiro, principalmente o Sport Club Corinthians Paulista (que marcou sua carreira). Respeitado e admirado por profissionais da área de esporte nacional e internacional, a Revista Fala Muito é antes de tudo, uma representação de agradecimento e amor pelo o que o técnico Tite com seu talento e capacidade plantou nos corações de milhares de torcedores, fãs e admiradores.

2.2. Objetivos específicos:

a) Contaremos a história do técnico Tite em capítulos, transcrevendo sua trajetória profissional esportiva até hoje. Fazendo menção a sua figura pública e referência ao futebol brasileiro por suas conquistas que atraiu a admiração de torcidas de todos os clubes do país, sendo considerado o melhor técnico de futebol brasileiro e respeitado internacionalmente pelo seu trabalho.

b) Seguindo conceitos do Jornalismo de Revista e do Jornalismo Literário, vamos atribuir uma linguagem mais próxima do sentimento de fã com contribuições de entrevistas de torcedores e profissionais da área.

c) A revista será feita em uma única edição e especial. O público alvo dessa revista é principalmente a torcida corintiana, mas também, fãs e admiradores do técnico Tite em geral. 81

d) A revista contará com matérias e ilustrações representando a linha do tempo da história profissional do técnico de Tite em suas gloriosas passagem pelo Sport Club Corinthians Paulista.

e) A Revista Fala Muito é um segmento de veiculação do Sport Club Corinthians Paulista. O formato da revista será 20 x 26,5 cm, 20 páginas, impressão 4x4, papel couché fosco 115g, acabamento com grampo. Capa em papel couché fosco 300g, impressão 4x4 cores. A tiragem para essa edição única será de 30 exemplares.

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3. PROBLEMA

Em 1910, debaixo de um lampião, no bairro do Bom Retiro, era fundado o Sport Club Corinthians Paulista que ganhou milhares de torcedores ao longo de sua história, tornando-se uma das torcidas mais populosas de um clube de futebol brasileiro. São aproximadamente mais de 35 milhões de torcedores.

Um clube que já lotou muitos estádios de todo o país e também do mundo, enlouquecendo sua torcida e que carrega em sua história muitos títulos. Clube esse que marcou a vida de um dos técnicos mais admirados do Brasil.

Partindo da ideia de que Tite marcou sua carreira em sua segunda passagem pelo time alvinegro, em 2010, e que também é admirado por toda a torcida corintiana, por que não foram produzidos nem um material impresso (exceto sua autobiografia em livro) homenageando seu legado?

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4. HIPÓTESE

Observando os assuntos das revistas esportiva, especificamente as que tratavam do tema futebol, como: Placar e Lance e por serem uma das fontes mais famosas e consultadas do país. E também, observar os assuntos e conteúdos gerados pelo site e redes sociais do Sport Club Corinthians Paulista notamos a falência e a inesistência de um material impresso, com um formato magazine que abordasse alguma homenagem ou dedicação a vida e história do técnico Tite.

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5. JUSTIFICATIVA

Segundo a hipótese apresentada neste trabalho, acreditamos que poderíamos realizar o trabalho de homenagear o técnico Adenor Leonardo Bachi, pela sua conquista no Sport Club Corinthians Paulista.

A Revista Fala Muito buscou ser um segmento do Sport Club Corinthians Paulista, com o formato magazine (um produto ainda inédito no mercado impresso com esse formato e tema) trazendo conteúdo histórico, informativo, ilustrativo, e curiosidades da vida profissional do Tite. É uma revista e a representação jornalística/literal em homenagem e reconhecimento desse grande profissional no futebol brasileiro. O resultado do questionário online elaborado para saber intenção do público sobre o assunto ficou disponível por sete dias (22/05 até 28/05 de 2016) na rede social Facebook. O resultado foi positivo, mais de 90% responderam que comprariam a revista em homenagem ao Tite.

QUADRO 3 - Resultado da pesquisa

Apresentamos os conceitos gráficos da Revista Fala Muito.

Layout: o padrão magazine de 20 por 26,5 centímetros, com 20 páginas – que precisa acomodar dez matérias de conteúdo não linear que contam a história do técnico Tite por meio das suas realizações e depoimentos de pessoas que 85

acompanham sua carreira. Essas especificações ditaram a escolha de páginas divididas em três colunas de texto que proporcionassem linhas entre 40 e 60 caracteres para qualidade de leitura.

Diagramação: construída sob a óptica de três diretrizes básicas da organização visual: a repetição de elementos – como tamanhos e estilos de tipografia – que facilita a compreensão das páginas; o alinhamento entre a base dos textos, fotografias e intervenções gráficas, que promove lógica de leitura; e a proporcionalidade dos volumes de texto e gráfico empregado, tornando cada página uma unidade coesa e consistente dentro do todo.

Tipografia: A Abril Text é um fonte serifada especialmente projetada para textos de magazines, diários e periódicos pela TypeTogether, dos designer tipográficos Veronika Burian e José Scaglion.

Pelos seus atributos técnicos e sua vasta gama de pesos – bolds, itálicos e afins – foram designadas para a composição dos blocos de textos dispostos em três colunas. Para os títulos e outros destaques a Muller Narrow foi escolhida como contraste por ser uma tipografia não serifada de alta legibilidade com pesos que vão do ligth ao extra bold, o que permite infinitas variações e possibilidades gráficas sustentando a dinâmica da diagramação dentro do layout.

A Muller Narrow é uma amostra de distribuição gratuita da família Muller Type System, comercializa pelo bureau FontFabric.

Cor: a paleta de cores adotada na publicação é composta por neutros e pastéis, variações da tonalidade dourada eleita como elemento principal da capa para ressaltar que a publicação é, antes de tudo, um coração e homenagem à carreira cheia de conquistas do técnico Tite dentro do Corinthians.

Escolhemos a revista impressa por acreditar que a modalidade possa oferecer entretenimento ao leitor promovendo uma nova perspectiva e apresentar uma maneira a mais de absorver história, informação, cultura de vida influência de no futebol brasileiro.

Podemos afirmar que: “As revistas exigem de seus profissionais textos elegantes e sedutores. Considerados os valores ideológicos do veículo, não há regras muito rígidas”. (VILAS BOAS, 1996, p. 09). 86

6. METODOLOGIA

Todo trabalho exige uma pesquisa sobre o assunto proposto, e todo processo de coleta de dados, quando repetido algumas vezes, transforma-se num método.

Para o levantamento de informações neste projeto será necessária a prática das seguintes modalidades de pesquisa, como as citadas a seguir.

6.1. Pesquisa direta

Como trata-se de um projeto que envolve uma personalidade esportiva viva, sem a pretensão de ser uma biografia, nada mais coerente que ir até a fonte da informação, o próprio Tite. Dessa forma, pretende-se obter o máximo de informações sobre a vida e carreira do técnico, bem como aproximar o conteúdo do produto final desse projeto, a revista, do seu teor emocional e passional.

6.2 Pesquisa bibliográfica

Para a produção da revista serão consultados livros relacionados ao tema proposto, como a biografia do técnico Tite, livros que abordam a linguagem jornalística literária, em especial, as que contém uma forte carga passional pelo futebol, ou por um clube específico. “A "revisão bibliográfica" ou "revisão de literatura" consiste numa espécie de "varredura" do que existe sobre um assunto e o conhecimento dos autores que tratam desse assunto, a fim de que o estudioso não "reinvente a roda"!” (MACEDO, p.13, 1996).

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7. Modalidade

A revista impressa vai nos permitir expor nosso tema com mais amplitude e criatividade, sem a necessidade de seguir a fórmula de texto rápido e corrido. Queremos através deste veículo apresentar o assunto e explorar as mais diversas formas de contar uma história na prática de forma divertida, textual e visual com exemplos que ilustrem nosso tema. Na revista impressa, levaremos ao leitor o assunto com mais inovação e criatividade, sem limitações ao contar a história do personagem que nos leva ao tema proposto. Esta modalidade foi escolhida porque apresenta características que vão ao encontro dos objetivos de estudo.

As revistas fazem jornalismo daquilo que ainda está em evidência nos noticiários somando a estes pesquisas, documentação e riqueza textual. Isto possibilita a elabora/produção do texto prazeroso de ler, rompendo as amarras da padronização cotidiana. (VILAS BOAS. P. 09, 1996).

Podemos afirmar que a revista impressa possibilita levar ao conhecimento do leitor o que ele quer de forma simples e criativa. Além disso, temos a liberdade para relatar uma história sem seguir fórmulas do jornalismo diário, que prioriza a informação de forma direta e factual, seja no impresso ou televiso. Na revista impressa podemos valorizar memórias através de um texto e ilustrações que proporcionam mais atratividade ao leitor, sem deixar de informar’’. (VILAS BOAS, 1996, p.87).

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8. CRONOGRAMA

É a distribuição das atividades de pesquisa que pode ser apresentada em forma de tabela. Nela são separados os trabalhos e os meses em que elas foram cumpridas.

ATIVIDADE FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Escolha do tema e da modalidade Escolha do orientador/coo rientador Processo de pesquisa Início das atividades Desenvolvime nto do Pré- Projeto Início do 1º e 2º capítulo Entrega do Pré-Projeto + 1º e 2º capítulo Pré-Banca Início do 3º e 4ª capítulo Início do 5ª capítulo e finalização Construção e edição da revista impressa Banca Final

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Decupagens

1. Decupagem: Cléber Xavier

Você conheceu o Tite em 2001, no Grêmio. Qual foi o ponto principal para vocês chegarem a tantos anos de parceria e confiança? R: Honestidade, caráter, pessoas corretas, justas, leais, companheiros, relação com a família, cada um com a sua família e em conjunto, parceria de 16 anos. Esses foram os fatores que firmaram essa parceria de muita confiança.

Juntos, vocês ganharam títulos importantes. Seja o primeiro, a Copa do Brasil pelo Grêmio, como Libertadores e Mundial pelo Corinthians. Nesses anos de parceria, tem algum trabalho que você considera o mais marcante? R: Se não estou enganado, foram 11 conquistas. Todas têm a sua marca, todas foram importantes, todas com as suas dificuldades, as suas histórias que marcaram. Mas o mundial, por ser o maior de todos, de repente marcou mais. A Libertadores também foi importantíssima para a história do clube, acho que essas duas, por serem as maiores também. Pela forma que foi conquistada a Libertadores, invicta, 14 jogos, a gente tomando apenas quatro gols, adversários difíceis, o Santos, o momento que o Vasco estava junto com a gente para conquistar, o Boca na Bomboneira. Então foi um trabalho que a gente teve que saber equilibrar, chegar com jogadores inteiros, com jogos difíceis, com viagens difíceis, acho que foi esse o trabalho mais duro.

Como assistente do Tite, qual é a melhor parte do seu trabalho? R: Eu sou o segundo treinador, então a gente divide tudo, conversa sobre tudo, a decisão final é dele. Mas ele tem a característica dele, ele é um cara mais fechado, um cara que foca no trabalho do campo. Eu sou um cara que organiza por fora, na realidade, costumo dizer que sou o prático dele. Ele tem muitas ideias, eu coloco em prática nessas situações, em montar o campo para treino, montar os treinamentos, conduzir as relações com os departamentos, são essas partes, fora as naturais de escalação, direção de sistema, estratégia de jogo. É um segundo treinar, e estou junto com ele todo esse tempo, porque ele valoriza isso. 90

Como é trabalhar com o Tite e qual é a importância que ele trouxe para o seu desempenho e evolução profissional?

R: Trabalhar com o Tite ao mesmo tempo que é prazeroso, é duro, é difícil, porque ele é muito exigente. Um cara ligado 24 horas, que só pensa em trabalho, quer a perfeição, é detalhista, busca sempre a excelência, exige muito, e a partir disso, eu sou um cara muito competitivo, quero ganhar sempre, sou muita prático, muito dinâmico, estou sempre fazendo as situações e vivendo muito as situações intensamente. Então a gente se ajudou muito, e cresceu muito por causa disso. Nos cobrando, a si mesmo, um cobrando o outro. A importância dele para mim, não tem palavras para dizer. Porque ele que faz com que a gente corra atrás, estude, para que a gente se dedique, que a gente cresça cada vez mais na nossa função.

Como você vê essa nova liderança para a Seleção Brasileira? R: Desde quando começamos a trabalhar juntos em 2001 no Grêmio, a gente sempre usou o ambiente com qualidade, e o trabalho tem muito a ver com o ambiente, criar um bom ambiente para que o trabalho flua. E quanto à liderança, é a liderança do convencimento. Não é um mandar por mandar, não é dizer o que tem que ser feito ou. É convencer os atletas, convencer o grupo de apoio, a comissão técnica daquilo que é o melhor. Então a gente chama isso de liderança do convencimento e é isso o que estamos trazendo para a Seleção. A gente tem a nossa metodologia de treinamento que é a nossa força e junto com isso temos a gestão de pessoas que está bem calçada nesse tipo de liderança.

Por fim, defina o Tite em uma palavra:

R: Vou definir em duas palavras: Ele é um cara justo e correto.

2. Decupagem: Guilherme Torres

Você chegou ao Corinthians em 2012, e trabalhou com o Tite durante 2 anos. Nesse período, deu para conhecer o Tite pessoa e o Tite profissional? 91

R: Sim. O Tite é uma pessoa muito honesta e do bem! Tanto no trabalhando como na vida pessoal.

Como era a sua relação com o Tite e com o Corinthians? R: Com o Tite era uma relação mais profissional, porém muito boa. Com o Corinthians, a melhor possível.

Como foi trabalhar com ele, e qual a importância que ele trouxe para seu desempenho? R: O Tite me ajudou crescer muito como profissional. Sempre me dava dicas, opiniões e bons conselhos.

Qual foi o maior conselho que o Tite já te deu? R: O maior e melhor: Trabalhar duro.

O que você aprendeu com Tite dentro e fora de campo? R: Aprendi ser honesto e trabalhar duro.

Como você vê essa nova liderança para a Seleção Brasileira? R: No momento, o Tite é a melhor pessoa para exercer esse papel. Vejo como ÓTIMA a liderança dele.

Para você, o Tite é o melhor técnico de futebol do Brasil? R: Sem nenhuma dúvida. Sim.

Defina o Tite em uma palavra: R: Vencedor e honesto.

3. Decupagem: Gabriel Carneiro

Como você vê essa nova liderança para a Seleção Brasileira? 92

R: As primeiras impressões são muito positivas. Para começar, assumir o comando de uma Seleção Brasileira sem padrão de jogo há anos e com fortes oposições da torcida é um desafio sem igual. Mas o Tite se cercou de pessoas capacitadas e lançou recursos que o Dunga pouco usava: diálogo com treinadores e busca de conhecimento de outras escolas de futebol, especialmente. O fato de ser um treinador com histórico de conquistas ajuda a fazer com que sua liderança seja respeitada, e não imposta. Tite lida bem com pressões, e tem administrado bem o início de trabalho.

Em todas as passagens do Tite pelo Corinthians, ele usou o mesmo esquema tático. Acredita que ele irá manter esse esquema na Seleção? R: Mais do que definir um esquema tático, Tite sabe mudar o comportamento de seus jogadores durante os jogos. Ele foi do 4-3-2-1 para o 4-2-3-1 de 2012 até chegar ao 4-1-4-1 que marcou sua trajetória e que ele levou para a Seleção Brasileira. Além de ser um esquema ofensivo, como é o comportamento do trabalho de Tite desde 2015, é um esquema que permite adaptações graças ao posicionamento dos pontas. Como as maiores qualidades do jogo do Brasil são dos jogadores de meio e ataque, acredito na manutenção do esquema e da proposta.

No seu ponto de vista, quando foi que ele alcançou o auge do sucesso? R: O título mundial foi à consagração definitiva, mas acho a conquista da Libertadores de 2012 mais simbólica. Foi uma campanha invicta, irretocável, em que ele venceu duas equipes brasileiras de muita força e bateu um rival muito tradicional nas Américas na decisão. Ali, Tite mostrou que tinha conceitos sólidos, e que podia aliar uma proposta de jogo aos resultados. Apesar de já ser um treinador conceituado na ocasião, só na Libertadores que Tite exibiu sua verdadeira face de vencedor.

Hoje, o Tite é o melhor técnico do Brasil? R: Sim. E a maior prova desta tese é que os outros grandes treinadores brasileiros veem o Tite como um referencial: , Dorival Júnior, Roger Machado, , entre outros. Depois de alguns anos em que desbravou fronteiras ao dirigir o Real Madrid, o Tite surgiu como um oásis de trabalho conceitual no futebol brasileiro. E mais do que bons resultados e 93

até atuações exuberantes, ele conquistou resultado. Aliar as duas coisas é raríssimo e digno de elogios.

Por fim, se você pudesse defini-lo em uma palavra, qual seria? R: Trabalhador.