COPA DE 50: UMA PEDAGOGIA ANTI-RACISMO

Antonio Jorge Soares - PPGEF/Universidade Gama Filho/UGF - Grupo de Cultura e Esporte - CNPq

Introdução O esporte é um dos meios de construção de identidades de grupos ou da nação e campo de invenção de tradições. Poder-se-ia argumentar que o conceito de invenção de tradições para as ciências sociais pode até certo ponto ser encarado transparente e óbvio na medida em que toda a cultura é construída. Entretanto, a eficácia simbólica das tradições mantidas ou construídas, pelo estado moderno ou por outras instituições, se dá quando são sentidas como uma quinta-essência do povo, da cultura, do grupo específico ou da nacionalidade. A essencialização da cultura está presente nas elaborações jornalísticas e populares e, às vezes, se reflete no seio das ciências sociais. As identidades são construídas a partir do estoque de histórias, quase-histórias, memórias, símbolos, que dão sentido de pertencimento e coesão. Um exemplo emblemático na construção da relação entre identidade nacional e futebol no Brasil foi à derrota brasileira na final da Copa do Mundo de 1950 para equipe uruguaia. As representações sobre esse evento são de cicatrizes, de frustração coletiva na alma brasileira que se reflete nos jornais do passado e de hoje, nos livros e artigos acadêmicos sobre evento e nas conversas cotidianas.1 Pode-se dizer que na memória dos brasileiros este evento tornou-se uma narrativa mítica que significa uma espécie de ´dano` sofrido na alma do futebol brasileiro na sua posterior trajetória de vitórias e sucesso.2 As pessoas que vivenciaram o clima desta Copa do Mundo e aquelas que apenas ouviram falar ou leram sobre a chamada ‘fatídica derrota de 50’, descrevem imagens e sentimentos com pouca variação. Os atores falam de comoção nacional, de desgraça, de lágrimas nos olhos, de tristeza geral, de multidão em silêncio e de outras imagens e sentimentos que representam a ‘morte da coletividade’ (Guedes, 1977; Vogel, 1982). De fato, a Copa de 1950 foi, pelos depoimentos de pessoas comuns e pela imprensa especializada, um momento em que o sentimento coletivo de morte foi gerado apesar da conquista do vice-campeonato mundial, pois, todos esperavam o título de campeão do mundo. É significativo lembrar que a conquista do vice-campeonato em 1950 teria sido o melhor resultado do futebol brasileiro, uma vez que o Brasil havia obtido a 3ª colocação na Copa de 1938 e os jogadores representantes desta seleção foram recepcionados como heróis nacionais (Negreiros, 1998). Além disso, temos que considerar que perder a final para o Uruguai em 1950 significava perder para uma potência do futebol na época, isto é, essa seleção tinha em seu cartel o título de campeã do Mundo e bicampeã Olímpica. Uma análise racional da trajetória do futebol brasileiro na Copa de 1950 deveria causar orgulho, contudo, no contexto específico os acontecimentos foram sentidos como desgraça e infortúnio. As imagens de ‘morte da coletividade’ na Copa de 50 tornam-se mais significativas na medida em que são imanentes à narrativa das vitórias do futebol brasileiro. Observe-se que Vogel (1982) fez tal constatação quando buscava analisar as representações sociais sobre a Copa do Mundo 1970 e seus entrevistados ao falarem da vitória faziam alusão à derrota de 1950; muito embora mais de vinte anos havia passado na época da enquête. Essa pista levou o pesquisador a concluir que não se poderia analisar a Copa de 1970 pelo viés antropológico sem considerar as representações sociais sobre a de 1950. Em síntese, no âmbito do discurso dos atores sociais a derrota de 1950 aparece em oposição estrutural à vitória de 1970. Vogel (1982) apontou que eventos desta natureza podem espelhar comportamentos rituais nas

1 Observe-se que alguns livros foram escritos sobre o assunto, por exemplo, Perdigão, Paulo (1986). Anatomia de uma derrota. São Paulo. L & M editores. 2 Parto da definição de mito utilizada por Watt (1997): “uma história tradicional largamente conhecida no âmbito da cultura, que é creditada como uma crença histórica ou quase histórica, e que encarna ou simboliza alguns valores básicos de uma sociedade” (p. 16). sociedades urbanas. No caso da derrota de 50, o ethos brasileiro apareceu nas seguintes categorias sociais: morte e vida; honra e vergonha; communitas e hierarquia. Sendo assim, as categorias sociais de honra e vergonha aparecem integradas ao processo de afirmação de identidade individual ou coletiva. Se por um lado, a memória de ‘morte coletiva’ apresenta alguma continuidade entre as narrativas populares, jornalísticas e acadêmicas sobre esta Copa de 1950  guardadas as diferenças de graus de profundidade e de rigor das elaborações , por outro lado, há descontinuidades ou diferenças entre as narrativas quando a idéia de racismo é agregada à de ‘morte coletiva’ no discurso jornalístico e acadêmico. A idéia de racismo vinculada à derrota de 50 aparece como reflexo desse ethos que elegeu como os principais culpados do fracasso três jogadores identificados como afro-brasileiros: Barbosa, e Juvenal; o primeiro goleiro e os demais defensores. Diante da fratura ou quebra do communitas o racismo latente culturalmente vem à tona no cenário das narrativas como explicação da derrota e ao mesmo tempo como expressão da baixa auto-estima de um povo miscigenado e condenado à condição de inferioridade e atraso diante das grandes nações. A explicação da derrota e a denúncia do racismo tiveram em Mário Filho — jornalista de renome no Brasil, intelectual e ativista do desenvolvimento do futebol e do esporte em geral — seu mais expressivo arauto. As páginas do Jornal dos Sports, após a derrota de 50, marcam quase psicanaliticamente o tom da frustração vivido por Mário Filho naquela derrota. Dezessete anos depois, ao reeditar e atualizar O negro no futebol brasileiro (NFB), ele apresenta a cicatriz da derrota de 50 e em oposição as subseqüentes vitórias de 58 e 62. Neste livro ele definiu a culpa que teriam imputado a Barbosa, Juvenal e Bigode como ‘recrudescimento do racismo’, i.e., como um racismo mais intenso e mais forte. Como já demonstramos em algures, o ‘recrudescimento do racismo’ descrito por Mário Filho acaba por continuar a narrativa heróica da construção do futebol brasileiro presente no NFB, onde os afro-brasileiros encarnam a saga do mito herói.3 O jornalista Mario Filho contrapôs ao racismo mais genérico que rejeitava a raça afro-brasileira enaltecendo as superqualidades do mesmo grupo étnico no espaço social do futebol, acabando por gerar, sem ter consciência, um racismo às avessas ao estilo dos positivistas que tratavam o tema da raça (Soares, 1999).4 A derrota de 50, em função da bela campanha realizada pelo Brasil, parece ter sido sentida como forte dose de emoção. Do sentimento que pairava, ‘somos os melhores do mundo’, oscilou-se para o de ‘somos os piores do mundo’, este estilo emocional conformado no seio acaba por conformar uma identidade tensa (Vogel, 1982). Contudo, não podemos tomar a oscilação emocional do comportamento de onipotência para o de impotência como marca da singularidade de nossa identidade. Esse tipo de pêndulo sentimental parece mais universalizado nos sentimentos comunitários. Sacher e Palomino (1988) dizem que a palavra crise, no contexto do futebol da Argentina, está presente desde do seu início e esta se tornou um eixo central na história do esporte daquele país. Tanto num país como no outro, o futebol também faz gerar o sentimento de serem os melhores e os piores do mundo. Se o Brasil viveu o desastre do Maracanã em 1950, a Argentina viveu “El desastre de Suecia” em 1958 fazendo fenecer o mito de “los mejores del mundo”, quando perderam por 6 a 1 para a ex-Checoslováquia. Os dados introduzidos sobre outros contextos tornam-

3 Falar da edições, que toma o negro que apresenta o negro como uma estratégia de continuação e ampliação do seu livro em 1947, na nova versão de 1964. Ou seja: o livro desdobrou-se em várias edições acompanhando derrotas e vitórias da representação nacional brasileira de futebol. Quanto à derrota de 1950, este autor de grande influência na opinião pública, propôs que o sentimento nacional de inferioridade racial - por ele identificado pela forte presença africana na constituição da ‘raça brasileira’ - teria vindo à tona diante do drama do fracasso. Entretanto, lembremos que para realizar o acréscimo dos dois novos capítulos, na reedição de seu livro, foram suprimidas partes do texto original (1ª edição), em que o jogador negro de futebol era construído como herói e possuidor de qualidades físicas inigualáveis (Soares, 1999). 4 Os positivistas brasileiros afirmavam que os afro-brasileiros teriam dons para as artes, isto, não deixa de ser um tipo de racismo. se importantes ferramentas de comparação para que se possamos relativizar as interpretações que enfatizam apenas as singularidades. Os objetivos deste artigo são: a) apontar para a dificuldade de reconstrução das relações e das narrativas em torno da derrota de 50 tendo o racismo como sub-produto da decepção coletiva na final do Maracanã. Cabe ressaltar, que tal interpretação foi originalmente apresentada por Mário Filho e permanece presente, ainda que seja como detalhe secundário, no seio das narrativas construídas a partir das ciências sociais; b) levantar como tema de futuros trabalhos, para pensarmos a singularidade do racismo brasileiro, a seguinte questão: até que ponto a insistência nas quase-histórias de racismo no espaço do futebol ou nas lutas contra o racismo em ´clubes pioneiros` pode ser indício da conformação de uma pedagogia anti-racista construída na cultura e no espaço da produção acadêmica específica?

O debate do racismo na periferia das narrativas acadêmicas Quando falamos de racismo no futebol nos textos sociológicos ou nas conversas de botequim, histórias e traços da memória coletiva são acionados: a denúncia do pó-de-arroz no Fluminense como maquiagem para esconder a negritude de Carlos Alberto nos anos 10 do séc. XX; a façanha do Vasco em formar uma equipe de negros e mestiços nos anos 20; e o recrudescimento do racismo na derrota de 50, além de outras histórias de oposição estrutural entre clubes populares e de elite, os primeiros geralmente adjetivados de anti-racistas e os segundos elitistas, racistas e segregadores.5 A derrota de 50 quando aludida sob a perspectiva de denúncia do racismo, na imprensa ou nos trabalhos acadêmicos, estão quase sempre ancoradas nas ambíguas interpretações de Mário Filho no clássico NFB. Há que ressaltar que nesta seção mapearemos textos basilares da sociologia do futebol no Brasil que tomam o debate racial na Copa de 50 como um dos temas no debate da construção da identidade nacional via futebol. Em outras palavras, podemos dizer que através deste tema que aparece quase como periférico nos autores mencionados a seguir, que identificamos lacunas a serem repensadas no campo da história e da sociologia do futebol. Guedes (1977) tratou o tema da Copa de 50 utilizando as categorias de drama, de ‘communitas’ e de ‘morte social’, as mesmas utilizadas, posteriormente, por Vogel (1982) no estudo supracitado. Guedes (1977) demonstra, a partir dos jornais editados durante a competição, como o espírito de unidade, de coesão social, de igualdade e de ‘communitas’ aflorava nas narrativas jornalísticas no decorrer das vitórias brasileiras no certame, e, como os sentimentos de fragmentação, de divisão e de ‘morte social’ vieram à tona na derrota no jogo final de ‘16 de julho’. As imagens de ‘morte’, de fragmentação, de divisões internas e de culpa associaram-se a de hierarquia racial (Guedes, 1977, pp. 59-60). Nesta direção, afirma que a ‘ideologia evolucionista, fácil recurso de hierarquia e discriminação racial, cumpre o seu papel explicador na derrota de 1950’ (Guedes, 1977, p. 60). Assim, Guedes acaba por associar a idéia de ‘morte coletiva’ a de racismo. Observe-se que analisando o material jornalístico consultado pela autora não encontramos ‘marcas discursivas’, explícitas ou implícitas, que se possa classificar como racismo ou como afirmação de inferioridade da etnia afro- brasileira. Para fornecer uma interpretação sobre os sentimentos racistas ou a idéia de inferioridade racial que afloraram em torno dos eventos, Guedes também recorre à interpretação de Mário Filho. Observemos que Guedes afirma que a simbolização de morte sempre traz consigo culpados, criminosos e seus respectivos ‘enterros simbólicos’; mas, diz que “não foi possível verificar esse aspecto em 50, mas ele aparece claramente mais tarde” (Guedes, 1977, p. 61-62). Os sentimentos racistas identificados por Guedes e por todos que se nutriram desse detalhe presente em seu texto está ancorado na interpretação construída por Mário Filho 17 anos depois ao evento no NFB. Cabe ressaltar, que o pioneiro trabalho de Guedes no campo dos estudos acadêmicos sobre o futebol não se limitou a essa questão, entretanto, tomamos esse detalhe para enfatizar a proliferação da interpretação

5 Por exemplo, Internacional e Grêmio, Atlético e Cruzeiro etc. de Mário Filho nas análises sociológicas e antropológicas. Em 1982, DaMatta não se furtou de comentar os sentimentos racistas aflorados pela derrota em 1950. Apoiado em Guedes, diz que este estudo revela que vários jornalistas associaram a força do destino da derrota aos fatores raciais (DaMatta, 1982, p. 32). Na mesma esteira Vogel (1982) afirma o problema da ‘deficiência da raça’ que reacendeu com a derrota na Copa de 1950. Observe-se a base da interpretação do racismo em 1950 parece encontrar apenas um pilar, isto é, a ambígua interpretação de Mário Filho. Diante da raridade dos indícios para a denunciarmos os sentimentos racistas nos servimos desta fonte. Em contraposição, o contemporâneo artigo “Cicatrizes do Futebol” (Rigo & Silva, 1998) não apresenta a relação entre ‘morte coletiva e racismo’. Estes autores descrevem os dramas e as racionalizações de pessoas que estiveram presentes na ‘fatídica derrota’. Os depoimentos6 apresentam também imagens de ‘morte coletiva’, de desespero após a derrota para o Uruguai, mas não apresentam imagens que possamos classificar como racistas. Contudo, sabemos que o tema do racismo em nossa sociedade ainda é em nossos dias motivo de desconforto e tabu. Barbosa aparece como culpado por ter cometido um erro imperdoável de posicionamento para um goleiro (Rigo & Silva, 1998, p. 135); o técnico da equipe brasileira, Flávio Costa, aparece como outro culpado7: primeiro, por ter orientado jogadores ‘valentes e viris’, como Bigode, por exemplo, a não revidar qualquer tipo de agressão (Ibidem, p. 132), segundo, por não ter sido estratégico no sentido de montar um esquema tático que se valesse da vantagem do empate que tinha o Brasil naquela final (Ibidem, 132-134). Vale destacar, que os autores se limitaram à análise e descrição da memória sobre o evento. Em resumo, a narrativa acadêmica sobre a Copa de 1950 ao ancorar-se na interpretação de ‘recrudescimento do racismo’ construída por Mário Filho, acaba por reforçar e atualizar a mitologia em torno dos eventos da Copa de 1950, que não são poucos como sabemos.s8 Há que se enfatizar que encontrar no futebol estratégias explícitas, sutis ou envergonhadas de segregação e de sentimentos racistas, que permeiam historicamente a sociedade brasileira, não tem sido uma tarefa fecunda para denúncia ou análise do nosso racismo. O futebol, os esportes, o samba e a arte mais popular selecionam seus talentos com base na competência que se afirma concretamente nas habilidades corporais ou no produto realizado pelo artista. Assim, apesar dos sentimentos racistas que certamente estão próximos a qualquer atividade social em uma sociedade como a nossa, há pouco escravocrata, podemos inferir que em atividades dessa natureza, onde a competência corporal ou artística é o principal capital nos respectivos campos, o racismo tende a ser abafado e, talvez, recalcado nas narrativas. Entretanto, não podemos partir da simples pressuposição que existe racismo em nossa sociedade para apontá-lo e denunciarmos em qualquer contexto específico de relação interétnica. Por outro lado devemos questionar que a insistência em identificarmos casos de racismo ou lutas em personagens ou clubes, sejam heróis ou vilões, apesar dos fracos indícios, poderia estar revelando uma espécie de pedagogia anti-racista gestada no seio das narrativas acadêmicas. Poderíamos pensar até que ponto tal pedagogia anti-racista esteve de certa forma presente em nosso universo cultural em tensão com elaborações racistas. Passemos as narrativas sobre a derrota de 50 tendo como foco os jornais, as elaborações de Mário Filho em sincronia com o evento em questão e suas interpretações

6 O estudo dos autores se baseou apenas em três depoimentos de atores que viveram os eventos da Copa de 50. 7 Observe que Flávio Costa aparece como culpado na memória dos entrevistados. Sabemos que os técnicos no Brasil são o principal alvo de críticas nas derrotas. Não é a toa que se fala que o Brasil tem o mesmo número de técnicos que o número de habitantes quando a seleção é formada. Observe que Flávio é um contra-exemplo que a culpa teria caído apenas sobre afro-descentes. Por outro lado, sabemos que não podemos pinçar tal dado como prova para demonstrar o não-racismo. Estamos diante de um terreno movediço para realizarmos afirmações categóricas. 8 Guedes (1977) também fornece um excelente indício quando afirma não ter encontrado nada nas narrativas jornalística sobre o tapa no rosto que Bigode havia levado de Obdúlio Varela. publicadas no NFB em 1964.

A narrativa em sincronia com o evento Realizamos um levantamento das crônicas jornalísticas nos dias que antecederam e nos quatro anos posteriores a derrota naquele 16 de julho, observando atentamente as crônicas de Mário Filho e de outros colunistas no sentido de marcas discursivas de racismo ou de sua denúncia que poderiam estar presentes nos textos que se sucederam à derrota. Eventos esportivos desta natureza são momentos competitivos que se transformam em espaço de afirmação nacional. A Copa de 1950 tinha, dessa forma, um caráter todo especial para o brasileiro e para a imprensa e o rádio da época. A seleção brasileira desde a Copa da França, em 1938, já dava sinais da potência de seu futebol. Os brasileiros avaliaram o desempenho da equipe nacional na França como excelente e só não teria logrado vitória por problemas de arbitragem segundo as análises da época (Negreiros, 1998). Gilberto Freyre, figura pública e expressiva já naquela época, escreveu um artigo jornalístico intitulado ‘Football Mulato’ (1938), em que apesar dos problemas da arbitragem enfatizava o sucesso da representação brasileira pela forte presença dos jogadores afro-brasileiros. Talvez esse artigo possa ser considerado uma espécie de marco fundador das interpretações e narrativas que apontam a singularidade do futebol brasileiro formada pela miscigenação e pela cultura híbrida que aqui se havia formado. A construção do Estádio do Maracanã foi o grande símbolo da época. O maior estádio de futebol do mundo foi erguido num tempo recorde, e aí estava demonstrada a capacidade técnica e empresarial do país. Mário Filho empenhou-se de corpo e alma nas tarefas relacionadas a esta construção. Colocou sua máquina jornalística a serviço da formação de uma opinião favorável à realização da obra; buscou alianças entre políticos adversários em nome da grandiosidade da obra; acompanhou a construção do estádio como se fosse ‘dono’ ou ‘engenheiro-chefe’; levantou recursos, vendendo pessoalmente cadeiras cativas no estádio (Soares e Mourão, 1999). O empenho de Mário Filho na realização da Copa do Mundo no Brasil, como proprietário de um jornal esportivo, poderia ser pensado apenas como interesse financeiro e comercial, mas sua dedicação ao evento e a construção do Maracanã parecem indicar que seu empenho ia além dos óbvios interesses comerciais. O argumento que estamos marcando é que a Copa de 1950 foi um cenário para auto-afirmação nacional e Mário Filho foi um dos protagonistas do ufanismo nacionalista que se construiu neste cenário. O clima de afirmação nacional aumentava na medida em que a seleção brasileira fazia sucesso na competição. Os brasileiros foram à loucura quando venceram a Espanha por goleada, o famoso jogo das ‘Touradas de Madri’. A manchete do jornal de Mário Filho era a seguinte: “Maior vitória do scratch brasileiro no maior espetáculo do football mundial” (Jornal dos Sports, 14-jul-1950, p. 1). Mário Filho escreve uma página inteira sobre os detalhes da vitória. No sábado que antecedeu a grande final da Copa, a manchete dizia “Tudo preparado para a vitória” (Jornal dos Sports, 15-jul-1950, p. 1). As vitórias inquestionáveis, principalmente contra os países europeus, talvez transferissem para o brasileiro a seguinte representação: ‘se podemos ser bons no esporte poderemos ser em outros setores’. O clima favorecia que o brasileiro sentisse orgulho de si mesmo. A seleção dava provas de ser a franca favorita à conquista do título e o Maracanã era a marca da capacidade nacional. A legitimidade do futebol brasileiro, nos dias que antecederam a final da Copa, para ser total necessitava do aval estrangeiro. Mário Filho apresentava no Jornal dos Sports a opinião dos especialistas estrangeiros, por exemplo, “Como a crônica italiana vê as vitórias brasileiras” (Jornal dos Sports, 15-jul-1950, p. 3) A mimesis da guerra, ou melhor, a busca da afirmação do Brasil frente aos países europeus estava estampada no Jornal dos Sports. Uma matéria dava o tom ufanista da vitória brasileira “foi o maior golpe no prestígio do football espanhol” (Ibidem). Todo o clima auxiliava a formar o sentimento de ‘communitas’, de unidade nacional. A Rádio Continental, do , convocava a população para grande final: “Hoje - última etapa contra o Uruguai - ordem do dia: 1- cantar o hino nacional ao hastear a bandeira. 2-aplaudir-torcer-incentivar nossa seleção em todas as jogadas durante todo o tempo. Viva o Brasil campeão do mundo! Ouça os comandos da continental”. (Jornal dos Sports, 16-jul-1950, p. 2)

Mas, como sabemos, o inesperado aconteceu: o Brasil perdeu para o Uruguai. Apenas a vitória poderia corresponder à expectativa criada. Segundo Guedes (1977, p. 57), a derrota do Brasil trouxe o sentimento de morte social, e voltou-se imediatamente ao cotidiano  por exemplo, em O Globo, “na primeira página (...), apenas um editorial e um cabeçalho, sem texto nem fotos, em letras médias, no alto da página, não perfazendo 10% da área disponível”  e a unidade foi quebrada, fazendo surgir hierarquias, divisões internas e buscando-se os culpados. Como a morte do futebol brasileiro não poderia ser aceita, pois isto equivaleria à morte social do grupo, as racionalizações da derrota espalharam-se por inúmeros artigos e reportagens. Mário Filho viveu emocionalmente aquele evento e após a derrota colocou-se a serviço de racionalizar a frustração. O Jornal dos Sports, em sua primeira publicação após a derrota, em manchete dizia: “Assim é o esporte-declara Flávio: não há nenhuma desculpa a formular, os uruguaios jogaram bem e mereceram a vitória” (Jornal dos Sports, 18-jul-1950, p.1). Apesar da declaração de bom senso do técnico da equipe brasileira buscava-se alguma explicação ou consolo para frustração. Buscando apoio para a desgraça, o jornal de Mário Filho, dá destaque para Willy Weisl, descrito como uma reconhecida autoridade européia da crônica esportiva, que teria dito o seguinte: Uruguai, campeão mundial, de fato; mas o Brasil, melhor team do mundo (Ibidem). No mesmo dia, outra matéria dizia que a crônica italiana considerou a seleção brasileira a mais brilhante do campeonato, e ainda apreciava a conduta esportiva dos brasileiros. A coluna de Mário Filho nesta edição poderia ser considerada a síntese de uma reação, de tentativa de renascimento diante da ‘morte’: A SORTE DO NOSSO FOOTBALL ESTÁ AGORA EM TUAS MÃOS! Não brasileiro! Não nos entreguemos. Nem um golpe, o mais duro que seja, não pode destruir o football brasileiro. Não somos desfibrados, (o que é que há?) Tivemos um Fried, um Fausto, um Domingos. Temos em Minas um celeiro de cracks. Temos no Rio Grande do Sul [...] Pernambuco fará surgir outros, como Ademir. Do Brasil todo surgirão cracks que serão dignos daqueles que nos deram, na raça e na fibra, a vitória de 1919. Apertemos um abraço amigo e fraterno os nossos cracks. Agora, mais do que nunca, devemos estar unidos em torno deles. Eles precisam de teu apoio, da tua coragem, da tua fibra. Para o football brasileiro, portador de tantas glórias, não decaia. Para não pararmos. Para darmos mais um passo -- um passo além da vice-liderança. Para a liderança, afinal. E o football brasileiro dará esse passo se contar contigo torcedor! E pode contar, não pode? (Jornal dos Sports, 18-jul-1950, p. 7) (grifos nossos)

A idéia que ‘não somos desfibrados’ pode ser lida como afirmação que a derrota não significou falta de coragem, de amor pela causa ou disposição para a luta. É importante ressaltar que Mário Filho, imediatamente após a Copa de 1950, não qualificou como racismo à suposta acusação ou sentimento que reinava no ar de ‘falta de fibra’ ou de ‘raça’. Observe que ele ressalta as qualidades de jogadores identificados em nossa sociedade como afro-descendente, mas também ressalta as qualidades de Ademir que não descrito como afro-descente. A palavra raça no contexto é sinônima a idéia de ‘fibra’, de coragem, de disposição e amor para luta, uma espécie de representação de Maquiavel sobre os exércitos patrióticos em relação aos mercenários. Cobra-se assim daqueles que vestem as cores da nação uma disposição sobre-humana pelo amor a pátria.

O jogo ‘racial’ no NFB O ‘recrudescimento do racismo na Copa de 50’, denunciado por Mário Filho na segunda edição do NFB, funcionou como uma estratégia de continuação e ampliação da narrativa mítica. O NFB apresenta uma estrutura descritiva semelhante ao conto maravilhoso, no sentido de Propp (1984). Assim, para acrescentar dois novos capítulos à segunda edição, Mário Filho colocou o herói negro em nova situação de dano ou perda seguindo a mesma estrutura da edição anterior (Soares, 2000). Entretanto, lembremos que para realizar o acréscimo foram suprimidas partes do texto original, onde o herói afro-brasileiro, em 1947, já teria vencido todas as barreiras raciais e sociais no futebol e a miscigenação era a marca da vitória da conciliação racial no futebol (Soares, 2000).9 A estrutura do conto nos novos capítulos é a seguinte: o herói afro-brasileiro sofre o dano; passa por desafios e provações; supera as provações, com o recebimento do objeto mágico, afirma-se e reintegra-se à comunidade. A estrutura narrativa toma os afro-brasileiros acusados em 1950 (Barbosa, Bigode e Juvenal) até chegar à consagração dos jogadores Pelé e Garrincha, ambos também identificados como afro-brasileiros. O estilo mágico e alegre do futebol brasileiro teria varrido as barreiras raciais e sociais com essas vitórias, e Pelé seria o principal ícone da afirmação do Brasil e da miscigenação, segundo Mário Filho. Pelé e Garrincha completam a saga dos heróis de barba e cabelo carapinhos, ao estilo de Gilberto Freyre, que na primeira edição havia se iniciado com Friedenreich (filho de alemão com uma mulher afro-brasileira) na década de 20, passando por e da Silva na década de 40. A utilização do NFB, como o ‘arquivo do futebol’ em função da carência de fontes, faz com que a narrativa de Mário Filho seja resignificada e atualizada na direção politicamente correto. A narrativa de NFB é fecunda para nos fornecer interpretações enviesadas pelo estilo e características da obra. Por exemplo, Leite Lopes (1994), em seu artigo que articula a construção da identidade do futebol brasileiro em paralelo a construção de narrativa jornalística inventada por Mário Filho, ao mencionar o núcleo narrativo da Copa de 50 pelas lentes do NFB, produz a seguinte interpretação: “Na primeira edição de O Negro no Futebol Brasileiro, se seu quarto capítulo ‘Ascensão Social do Negro’ dá a impressão de um final feliz a leitores apressados, ele já anuncia ali a possível persistência do racismo e da auto desvalorização de um povo em sua maioria mestiço

9 Observe o texto em negrito do NFB (1947) que não aprece nas edições posteriores. “A torcida do Flamengo andou afastada dos campos uns tempos, só voltou quando o team, sem Domingos, estava para levantar o tri-campeonato. Sem Domingos e sem Leônidas. Leônidas no São Paulo, Domingos no Corinthians, um pensando num restaurante quando deixasse de jogar foot -ball, o outro mandando construir casas em Bangu. Nenhum jogador tinha subido tão alto quanto esses dois negros do foot-ball brasileiro. Já se sabia, porém até onde podia chegar um artista da pelota, para usar um termo que ainda sai nos jornais. Branco, mulato ou preto. Porque em foot-ball não havia o mais leve vislumbre de racismo. Todos os clubes com seus mulatos e os seus pretos. (81) Um preto marca um goal, lá vêm os brancos abraçá-lo, beijá-lo. O goal é de um branco, os mulatos, os pretos, abraçam, beijam o branco.” (grifo meu) As omissões das notas de rodapé são fundamentais, observe-se: “81- Dos quatro mil cento e quarenta jogadores que passaram pelo Departamento de Assistência Social da Federação Metropolitana de Foot-ball, durante a temporada de 45, 60 % eram brancos, 21% mulatos, 2,5 % caboclos e 16,5 % pretos. (relatório de 1945 do Departamento de Assistência Social da Federação Metropolitana de Foot-ball). Todos os sessenta e três clubes filiados com brancos, mulatos e pretos em todos os seus teans, desde o primeiro até o de juvenis.” (grifo meu) “82- E quem está na geral, na arquibancada, pertence à mesma multidão. A paixão do povo tinha que ser como o povo, de todas as cores, de todas as condições sociais. O preto igual ao branco, o pobre igual ao rico. O rico paga mais. Compra uma cadeira numerada, não precisa ama nhecer no estádio, vai mais tarde, fica na sombra, não apanha sol na cabeça, mas não pode torcer mais do que o pobre, nem ser mais feliz na vitória, nem mais desgraçado na derrota .” (grifo meu)

e negro. Há uma antecipação do que ficará mais claro em seguida: o drama da Copa do Mundo de 1950, a renovação das tendências racistas no futebol brasileiro durante os anos 50. Na segunda edição do livro, em 1964, ele pode assinalar a confirmação histórica de suas teses de inversão de 1958 (Copa do Mundo ganha na Suécia por um time que derruba os estereótipos racistas anteriores) e a persistência e a consagração dos grandes jogadores negros estilistas como Didi, Pelé, Garrincha e muitos outros...” (Leite Lopes, 1994, p. 79)

Observe-se que Mário Filho na primeira edição (1947) anunciava a vitória da democracia racial nas páginas finais do quarto capítulo. Na segunda edição (1964) o autor para incluir o recrudescimento do racismo na Copa de 50 e as vitórias de 1958 e 1962 retira parte do texto e dados do seu louvor à democracia racial no futebol.10 Para complicar e tranqüilizar seus futuros leitores, Mário Filho afirma na segunda edição que manteve intacto os quatro primeiros capítulos da 1ª Edição, sem que nada fosse acrescentado ou retirado. Assim, aquilo que Leite Lopes conceituou de ‘teses de inversão’, apenas atesta a presença da estrutura do conto na narrativa do NFB. A inversão do quadro de dano, ou ‘racismo’, deve ser visto como uma etapa a ser vencida pelo herói afro-brasileiro na estrutura narrativa de Mário Filho. De fato, este é um dos exemplos das confusões e desvios que sua narrativa nos induz. Em outros artigos argumentei que o racismo na derrota de 50 não se sustenta apenas pelo tipo de acusação denunciada por Mário Filho. Especificamente, a culpabilização de um goleiro e dois defensores, identificados como afro-brasileira, não se constitui por si só em prova factual e nem indícios não-factuais do racismo brasileiro. Por exemplo, podemos ver em sua obra que a tensão e as contradições entre amadorismo e popularização do futebol colocam no mesmo plano racismo e segregação com base na distinção social (Soares, 1999).Na narrativa de Mário Filho os sentimentos racistas em torno da tensão amadorismo-profissionalismo não pode ser visto como o motor ou força determinante da(s) trama(s) em questão (Soares, 1999, 2000). Observe que a narrativa do NFB fornece a chave para que seus leitores expliquem o movimento da ‘história do futebol brasileiro’ fortemente pela linguagem do conflito e da resistência dos afro-brasileiros no espaço do futebol.11 Todavia, a narrativa soa como mítica ou contrafática, na medida em que, poder-se-ia questionar porque o movimento afro-brasileiro no Brasil sofreu ao longo de nossa história tantas dificuldades de agregação de forças e teria escolhido o espaço do futebol como o local de resistência ‘corporal e silenciosa’. A figura do recrudescimento do racismo não é encontrada nos próprios artigos escritos por Mário Filho e nem nos jornais de 1950. Mário Filho produziu um épico sobre a etnia afro-brasileira no futebol brasileiro no NFB, afinado com o espírito do sentimento nacional dos anos 30 e 40, onde o racismo era o inimigo interno a ser derrotado por aqueles que acreditavam, tácita ou sentimentalmente, que a raça não era impedimento para que a nação se afirmasse. A miscigenação transformara-se em motivo de orgulho, já que antes era motivo de vergonha e explicação para o atraso do país (Skidmore, 1994). A leitura de Mário Filho e os casos anedóticos de racismo pinçados de sua obra para fundamentar uma história de luta e resistência parecem indicar mais a formulação de uma pedagogia anti-racista do que desvelar o racismo neste campo de relações. Neste caso, as ciências sociais transformam-se em pedagogia. Este ponto parece ser crucial, talvez devêssemos pensar que a reiteração obsessiva das quase-histórias de racismo no futebol brasileiro funcione mais como pedagogia do que como denúncia do racismo. Em outros termos, poderíamos pensar que as quase- histórias de racismo apenas reforçam o ideal da miscigenação que devemos pensar ser o Brasil. Talvez o racismo funcione como ´inimigo` que deve estar sempre presente para que não se afete a unidade e a positividade da miscigenação (Hobsbawm, 1990). Se recorrermos à própria narrativa do NFB, veremos que a idéia do recrudescimento do racismo perde a força ou secundariza-se no escopo da obra. Mário Filho depois de afirmar que três afro-

10 Conferir a nota anterior. 11 Murad, 1994; Gordon Jr; 1996 são exemplos deste modelo linguagem sobre a história do futebol. brasileiros foram escolhidos como bodes expiatórios, diz que a equipe tinha outros afro-brasileiros que não foram acusados pela derrota. Pouco se apela, provavelmente em função da sedutora interpretação de Mário Filho, para explicações construídas a partir das próprias representações do futebol. Coincidentemente a culpa caiu apenas sobre o goleiro e os defensores participantes dos gols contrários (Barbosa, Bigode e Juvenal), e não sobre , e , todos representantes da mesma etnia, jogadores mais localizados no setor médio do campo de acordo com o sistema tático da época. A explicação que se poderia formular é que os ‘bodes expiatórios’ eram todos jogadores da defesa brasileira que participaram direta ou indiretamente (no caso de Juvenal12) dos gols sofridos. Cabe ressaltar, que esta observação está presente em segundo plano no NFB, mas é quase desconsiderada pelos leitores de Mário Filho. Além disso, qualquer jogador de pelada sabe que é comum no futebol imputar a culpa da derrota aos defensores e ao goleiro. Também sabemos que assim como um empate pode transformar o goleiro em herói, a derrota pode transformá-lo em vilão. No futebol o mercado indica que os valores se diferenciam de acordo com a especialidade ou posição, em média os atacantes são mais valorizados e circulam mais no mercado do que os defensores; também são, na maioria das vezes, candidatos naturais a ocuparem a posição de ídolos das torcidas. Na história do futebol os goleadores são mais lembrados do que os defensores salvem-se raras exceções. A própria narrativa épica do NFB seleciona seus heróis com base no critério da raça e da posição, lembremos que os heróis de Mário Filho são quase todos atacantes: Friedenreich, Leônidas, Pelé e Garrincha, a exceção de Domingos da Guia que era defensor. Por outro lado, o recrudescimento do racismo perde força quando Mário Filho retrocede afirmando que o povo acusando Barbosa, Juvenal e Bigode, acusava-se a si mesmo e ao mesmo tempo elegia como herói da copa o capitão uruguaio Obdúlio Varela, cuja característica étnica era semelhante a dos nossos ´bodes expiatórios` (Rodrigues Filho, 1964). O povo teria chamado a si próprio e aos jogadores, principalmente os afro-brasileiros, de sub-raça e ao mesmo tempo teria invejado um afro- descente ou mestiço como herói e modelo de raça, determinação e vigor. O racismo descrito por Mário Filho torna-se no mínimo complexo e contraditório para pensarmos a partir do modelo do politicamente correto. Naquele mulato o povo teria identificado o que faltou ao brasileiro para tornar- se campeão do mundo, isto é, raça. Por que os ´mulatos` estrangeiros teriam fibra e os nossos não? Mário Filho acabou por construir um ‘Obdúlio Varela’ como mais um dos ‘santos de barba e cabelo carapinhos’ para dar continuidade à narrativa (Soares, 2000). Se o mulato uruguaio foi elevado à condição de herói pelo próprio povo brasileiro, como entender a acusação a Barbosa, Bigode e Juvenal como recrudescimento do racismo? Observe-se que não se está questionando a existência de racismo no Brasil, tanto nos processos de segregação ou quanto no imaginário brasileiro, o que está em foco é que a narrativa histórica da Copa de 1950 a partir de Mário Filho não é adequada e nem sustenta a visão politicamente correta que se reflete nas análises periféricas sobre o racismo no futebol.

O imaginário da derrota e a manutenção da auto-estima É produtivo que se retome o argumento que os esportes, em determinadas competições internacionais, transformam ritualisticamente o país numa comunidade imaginada. O conceito de nação traz, entre outras coisas, a representação da etnia e da raça. O que estava em jogo naquela final, além do futebol, era a afirmação da nacionalidade e, conseqüentemente, as imaginadas comunidades. Se as vitórias trouxeram a unidade, o sentimento de superioridade, de realização da nação, a derrota veio como morte social e trouxe o sentimento de inferioridade, de frustração, de decepção ou

12 Jornal dos Sports, 29 abr. 1951, p. 5. Juvenal só viria a aparecer como culpado em abril de 1951, numa crônica que tinha por título: “Uma nova visão da grande derrota”. Nesta crônica Mário relata uma conversa que tivera com Flávio Costa, que afirmara que os culpados visíveis teriam sido Barbosa e Bigode, mas a culpa mesmo seria de Juvenal, que não teria dado cobertura a Bigode. de ‘falta de fibra’ daquele time que representava o povo. As generalizações sobre as diferentes nacionalidades indicam a socialização ou resíduo do conceito de caráter nacional ainda está presente em nosso cotidiano. O povo é pensado como um indivíduo, com personalidade própria ou com um caráter que se sintetiza na imagem da raça ou da cultura. A raça assim assume uma polissemia e polifonia nas narrativas indicando várias coisas, além do frouxo e caro conceito de raça no sentido biológico. Contudo, no campo das narrativas sobre o futebol, esse conceito, ainda presente no cotidiano, é também traduzido como falta de disposição e amor na luta pela vitória da ‘comunidade imaginada’. Nas crônicas que se seguiram ao 16 de julho de 1950 (inesquecível dia da derrota no Brasil) as idéia de raça e fibra aparecem associadas à de morte social da comunidade principalmente nos textos de Mário Filho. Mário Filho escreve em sua coluna “A lição da derrota no melhor momento do football brasileiro”, analisando os motivos de elegerem os culpados: “Eu também senti a derrota como torcedor. Fui, durante os noventa minutos de jogo, um torcedor. Igual a cada um dos duzentos mil que encheram o Estádio. Quando jogam dois clubes, quaisquer que sejam, vejo o match friamente! Como um estranho! Não entro na partida, não participo dela. Apesar disso só gosto de escrever passadas vinte e quatro horas. Depois de rever o match uma porção de vezes e a cada vez mais friamente. A memória guardou os lances. Faço-os desfilar quase em câmara lenta para melhor compreendê- los [...] Só quando domino o match, quer dizer, quando julgo dominá-lo, compreendo inteiramente, é que sento a escrever. Sempre procuro afastar-me de influência. Quem assiste a um match não pode fugir a certas influências. Por mais que se isole nunca se está só. [...] Culpava bigode, culpava Barbosa, culpava o scratch que não vencera o match que não podia perder. E o que mais me revoltava era o fato de ter o scratch brasileiro perdido para um adversário que normalmente tinha de ser batido. Diante da indiscutível superioridade do scratch brasileiro o torcedor não encontrava outra explicação a não ser a falta de fibra. O torcedor brasileiro não podia acusar os jogadores do scratch brasileiro de desinteresse. Eu também participei dessa opinião quando enfrentei a derrota. Foi preciso que deixasse passar horas, revendo o match, e o match todo começou na manhã seguinte à grande vitória contra à Espanha[...] Para vencer o Uruguai, foi isto que o match da decisão mostrou, bastaria que Bigode não falhasse duas vezes. Bastaria inclusive, que Bigode só falhasse num dos goals ou que Barbosa, mesmo Bigode falhando, não falhasse num dos goals. Bigode e Barbosa não falharam por falta de fibra. Falharam porque sentiram demasiadamente a carga da responsabilidade de dar ao Brasil o título de campeão do mundo. (Jornal dos Sports, 22-jul-1950, p.5) (grifos nossos)

Observe-se que Mário Filho coloca que a falta de fibra relacionada com o peso da responsabilidade atribuída aos jogadores da equipe e a suposta superioridade do nosso selecionado em relação ao uruguaio. Poderíamos especular que Mário Filho ao compartilhar, inicialmente, com os demais torcedores a idéia de falta de fibra poderia estar revelando seus próprios sentimentos racistas que afloraram? Dezessete anos depois, o recrudescimento do racismo no NBF teria sido denúncia e ao mesmo tempo mea-culpa? Não podemos a partir da narrativa acima realizar este tipo de inferência a partir do instrumental analítico que possuímos. Mário Filho racionalizou também a comparação internacional em prol de seu país. Na crônica chamada “O segredo da Vitória dos Uruguaios”, diz que “Os brasileiros foram traídos pelo coração. Os Uruguaios foram salvos pelo coração” (Jornal dos Sports, 19-jul-1950, p. 8). O excesso de confiança traiu o coração brasileiro, mas isto não significava que o brasileiro fosse “menos do que o uruguaio”. Isto porque o que os uruguaios fizeram aqui os brasileiros fizeram em Montevidéu, referindo-se a vitória brasileira na Copa Roca de 1932 (Ibidem). O Brasil também teria vencido o Uruguai, quando este estava em pleno apogeu pela vitória olímpica. Mário consola a si e aos seus leitores concluindo a crônica: Embora perdêssemos o campeonato do mundo ganhamos o Estádio que é uma prova da capacidade de realização do brasileiro, ganhamos a admiração do mundo por termos realizado o mais brilhante campeonato do mundo de todos realizados, por termos oferecido aos disputantes do campeonato do mundo um ambiente de segurança ainda não oferecido em nenhum outro campeonato do mundo e por termos exibido o melhor football do mundo. Temos também muitos motivos de orgulho. Orgulhemo-nos do que orgulharia a qualquer povo do mundo (Ibidem).

Em outras crônicas, Mário insiste que o Brasil teria apenas perdido uma partida, mas não o conceito. “O Brasil ganhou mais do que perdeu com a derrota”, mostrou ao mundo que somos um país esportivamente adulto como “uma Inglaterra” (Jornal dos Sports, 20-jul-1950, p. 5). Noutro trecho desta mesma crônica diz que o futebol brasileiro consagrou-se definitivamente e que se tornou internacionalmente respeitado. Outra crônica tinha como título: “Vamos defender o melhor football do mundo que é nosso”, (Jornal dos Sports, 27-jul-1950, p.5). Observe-se a necessidade constante de buscar referência nos países desenvolvidos (no outro) para afirmar positivamente a identidade nacional. Mário Filho continuou militando para explicar a fatídica derrota e em defesa da construção do Maracanã durante algum tempo. Em 1951 escreveu artigos que se referiam à fatídica derrota: “O adeus do football brasileiro ao 16 de julho” (Jornal dos Sports, 24-jul-1951, p. 5); “Uma nova visão da grande derrota” (Jornal dos Sports, 29-abr-1951, p.5); “Fato indiscutível: a superioridade do football brasileiro” (Jornal dos Sports, 25-abr-1951, pp.5;8); “Vamos esquecer o dia 8 de abril para lembrar apenas aquele 16 de julho” (Jornal dos Sports, 15-abr-1951, pp.5;8); “A vitória que o Vasco precisava e o Brasil também” - o artigo referia-se a vitória do Vasco sobre o Nacional do Uruguai em Montevidéu quase um ano depois (Jornal dos Sports, 10-abr.-1951, pp.5;8). Em 1954 foi possível encontrar artigos sobre a mesma temática: “A culpa da vitória” - referindo à influência da vitória sobre a Espanha na final contra o Uruguai (Jornal dos Sports, 11-mai-1951, p.5); “Antes e depois de 16 de Julho” (Jornal dos Sports, 25-mai-1954, pp.5); “A justiça que se deve fazer aos brasileiros” (Jornal dos Sports, 29-jun-1954, pp.6). Além desses artigos, outros foram publicados sempre resgatando a auto-estima do futebol brasileiro e também expressando o sentimento de lamento ou ‘morte coletiva’, mas em nenhum consultado até 1954 achamos aquilo que Mário Filho chamou de ‘recrudescimento do racismo’ no NFB. O que se encontra explicitamente nos jornais consultados é que ao brasileiro faltou raça, faltou fibra em 1950. No futebol brasileiro e sul-americano a palavra “raça” é corrente com o significado de fibra. Se se perde o jogo a unidade é quebrada, buscam-se os culpados e as justificativas: faltou fibra, raça, coração, sorte, empenho ou paira a desconfiança do sobre a adesão e os vínculos do jogador em relação à comunidade que representa. Isto sugere que as categorias ‘raça’ e ‘fibra’ no futebol ainda demandem mais estudos empíricos para que afinemos o conceito em termos históricos e sociológicos e para que não incorramos em generalizações espúrias.13 A ambivalência da expressão “raça” no Brasil confirma-se nas relações sociais. Por exemplo, aqueles identificados como negros (digo identificados porque a identificação racial em nosso país é problemática como demonstram os censos, Folha de São Paulo/ Data Folha, 1995), quando bem sucedidos, apesar de todo handicap que a estrutura social lhes impõe, são admirados e ‘embranquecidos’, isto é, a ‘raça’ (vista negativamente) pode ser esquecida em função das qualidades

13 Um exemplo deste tipo de generalizações espúrias pode ser vist o no artigo de Carlos Alberto Figueiredo DaSilva (1998) A linguagem racista no futebol brasileiro. ou super-enfatizada em função da origem se saída do indivíduo. As narrativas sobre os bem sucedidos talvez dizem: ‘este resistiu à seleção social apesar de sua origem étnica estampada em seu corpo. Entretanto, quando ‘mal-sucedidos’, a raça também pode ser utilizada como critério de explicação ou desqualificação. No Brasil, os afro-brasileiros são ao mesmo tempo admirados por sua condição étnica e rejeitados pelo mesmo critério. É bom que isto se relativize no sentido de dizer que todas as narrativas sobre o tema são construídas em contextos particulares e podem variar de acordo com natureza pública ou privada de onde são geradas as ações e opiniões. Se existiram injúrias racistas apenas contra Barbosa e Bigode, foram a partir desta perspectiva. Porque falharam no jogo, a raça pode ter se tornado um desqualificativo; se tivessem ganhado, a raça seria também enaltecida. Contudo, as narrativas e os indícios que nos sobraram para realizarmos tal interpretação nos parecem insuficientes no contexto específico. O racismo brasileiro deve ser estudado com mais fineza analítica a partir dos diferentes campos e espaços sociais onde emerge.

A continuação de estudos e debates. Estamos diante de narrativas complexas e contraditórias sobre a derrota de 50 que ainda alimentam o debate sobre o futebol e sobre o Brasil no presente. Moraes (2000) trata da memória dos jogadores que protagonizaram a derrota de 50. Como sabemos a memória representa o processo de seleção e edição de fatos e significados do passado no presente. Os depoimentos comentam sobre a fatídica derrota imagens e interpretações já conhecidas, com variações de quem tem a autoridade de ter participado diretamente do cenário em questão, tais como: a falha normal de Barbosa, Bigode e Juvenal — essa interpretação varia entre os depoentes --, dos conflitos e confusões na concentração que antecederam a grande final, do contexto de euforia e quando solicitados, pelo jornalista, sobre a interpretação da culpa dos jogadores estar associada ao racismo. Barbosa indigna-se contra Mário Filho afirmando que o jornalista havia inventado várias destas histórias: o suposto tapa de Obdúlio Varela em Bigode; que teriam tremido em função da raça; e que Barbosa havia ´sujado` o calção noutro contexto (Moraes 2000, p. 49-50).14 Barbosa continua seu depoimento afirmando o seguinte: “talvez tenha existido racismo no fato de culparmos a mim e a Bigode. Mas não acredito que tenha existido: se existisse racismo, eu não teria voltado à Seleção Brasileira, como titular, como voltei, no Sul-americano de 53. Só não fui a Copa do Mundo de 54 porque estava com a perna quebrada” (Ibidem, p. 50).

[Juvenal afirma] “Culparam Bigode e Barbosa porque houve falha. Barbosa, grande goleiro, tinha como reserva Castilho, um goleiro mais firme. Barbosa era apelidado de ´garoto preto`, mas as críticas que foram feitas depois não tinha nada de racismo” (Ibidem, p. 72).

Estamos diante de memórias onde o debate do racismo foi possivelmente colocado por Moraes.15 As memórias desses jogadores foram construídas ao longo de quase 50 anos, todavia, não podemos tomar tais depoimentos como prova da não existência de sentimentos racistas em torno dos eventos de 50. Poderíamos especular que o aparecimento de uma narrativa racista nos eventos de 50 indicaria continuidade com as narrativas racistas, do final séc. XIX e do início do XX, que apontavam como pretexto do atraso do país a forte influência negra e a mestiçagem em larga escala em nossa formação. Sabemos que a historiografia apresenta que a idéia de condenação biológica/cultural da nação estava

14 Moraes (2000) destaca entre colchetes, no meio do depoimento produzido por Barbosa, que o entrevistado teria se confundido em relação a Mário Filho, pois, ele não teria acusado os jogadores e sim denunciado. 15 O roteiro de entrevista não é apresentado no corpo do texto. presente nas narrativas de intelectuais brasileiros e estrangeiros (Gould, 1999; Skidmore, 1994). Contudo, não podemos afirmar que essa foi à narrativa dominante e hegemônica na época. Narrativas de natureza otimista e denunciadora também estavam presentes no palco dos debates e no imaginário popular. As narrativas de cunho denunciador apontavam para o descaso e ausência de políticas econômicas e educativas para o povo, assim deslocavam os argumentos de culpabilização étnica para os argumentos que evidenciavam o descaso de nossas elites como motivo do atraso (Hochman, 1993; Trindade & Hochman, 1996). Podemos afirmar, com base, na historiografia que existia uma tensão política e cultural entre diferentes narrativas que analisavam os obstáculos ou causas que impediam o desenvolvimento da nação: a) narrativas de fobia racial em relação ao negro, ao índio e ao mestiço; b) narrativas de elogio a pluralidade racial e cultural e a miscigenação; c) narrativas de crítica ao contexto e a política, tornando a idéia de raça secundária para explicação do atraso da nação. Outras variações narrativas também estavam presentes e apresentavam aproximação ou distância com as diferentes perspectivas narrativas descritas acima. Entretanto, essa tensão apenas coloca o problema da existência de narrativas opostas em confronto no mesmo espaço sócio-cultural. De fato, há de se considerar que uma espécie de constrangimento cultural não cedeu espaço para afirmação do racismo desde o início do século XX. Podemos observar tal constrangimento no livro Ordem e Progresso ao apresentar uma série de depoimentos que revelam uma espécie de vergonha e ambivalência em relação ao racismo em nossa sociedade (Gilberto Freyre, 1959). A tensão no futebol entre narrativas segregadoras de raça e classe social e narrativas democráticas e contrárias à acepção de raça, embora muitas das vezes carregadas do valor da distinção social, estiveram também em cena (Pereira, 2000).16 Observe-se que as ligas de futebol em 1907 eram 77 clubes de diferentes perfis sociais e em 1915 já apareciam 216 clubes, mesmo num contexto, onde a liga principal era pautada ainda pelos valores da distinção social (Pereira, 2000, p. 121). Os estatutos dos clubes quase todos do Rio de Janeiro apresentavam que não podiam realizar acepção de cor ou classe ou nacionalidade, exceções existiam tal como o Sport Club Americano que assumia explicitamente e exclusão de pessoas de ´cor` (Pereira, 2000, p. 127). Notas nos jornais da época denunciando a restrição a ´pessoa de cor` na formação do selecionado nacional de 1919 espalharam-se nos jornais envolvendo o presidente da confederação e o da república, entretanto, o presidente da confederação envia nota pública aos jornais desmentindo tal política. O que importa não é se o presidente da República ou da Confederação emitiram ou não tal opinião racista, a questão é que a nota pública indica o constrangimento de assumir-se racista como indivíduo e como entidade, além do que numerosos protestos foram feitos na imprensa da época. O que estamos argumentando é que o racismo no Brasil se transforma num paradoxo: isto é existe racismo e práticas racistas, mas mesmo no passado a cultura reprimiu a manifestação ou assunção explicita do racismo. Voltando a Copa de 50, estamos diante de fracos e insustentáveis indícios para afirmarmos que a acusação de três afro-brasileiros representa a parte visível do iceberg e que sua base submersa tem como natureza o racismo, para usarmos uma figura de Veyne (1995). O que temos são duas narrativas: uma que afirma que a derrota trouxe a tona o corpo do iceberg do racismo mais visível e claramente identificado principalmente a partir da narrativa de Mário Filho no NFB, e outra, tal como jogadores citados acima que não existiu racismo apenas culpados que participaram direta ou indiretamente dos lances dos gols uruguaios. O que parece importar, neste ambiente de raridade ou da inexistência de provas ou argumentos consistentes sobre opiniões ou acusações racistas, é o fato de estarmos diante da complexidade da cultura brasileira onde existência do racismo convive com uma espécie de repressão dos mesmos sentimentos racistas.

16 O livro de Pereira apresenta o jogo tenso entre as diferentes perspectivas que habitam o espaço do futebol em relação à raça e a distinção social. Podemos ver que num curto espaço de tempo, em termos históricos, a popularização do futebol saiu vitoriosa em relação aos que preconizavam a segregação racial ou de classe neste espaço. A questão do racismo deve ser encarada com mais sutileza analítica no espaço do futebol que parece ser uma área mole da manifestação do racismo como os dados historiográficos indicam (Sansone, 1996).17 Por fim, resta salientar que essa postura crítica e ao mesmo tempo construtiva indica um caminho metodológico para melhor pensarmos a singularidade do racismo brasileiro, no futebol e no esporte em geral e em nossa sociedade. Caso isto não ocorra, estaremos solidificando no seio da sociologia dos esportes uma pedagogia anti-racista não legitimada diante dos fenômenos esportivos populares.

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17 Parte das idéias contidas neste texto pode ser pensada com o reformulação da hipótese original que guiou meus escritos sobre o futebol brasileiro e produto do debate que travei e continuo travando com Cesar Gordon e Ronaldo Helal. Sacher, A. & Palomino H. (1988) Fútbol: pasión de multitudes y elites: un estudio institucional de la Asociación de Fútbol Argentino (1934-1986). Buenos Aires: CISEA (Centro de Investigaciones Sociales sobre el Estado y la Administración). Sansone, L. (1996). As relações raciais em Casa Grande & Senzala revisitadas à luz do processo de internacionalização e globalização. In: Marcos Chor Maio e Ricardo Ventura Santos (orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ e CCBB. Skidmore, Thomas. (1994). O Brasil visto de fora. Rio de Janeiro: Paz e Terra. Soares, A. J. (2000). A tradição freyreana na interpretação do Brasil e de seu futebol. In: A. Ferreira Neto (ed.), Pesquisa Histórica na Educação Física (pp. 53-72) Aracruz: FACHA. ______. (1999). História e a invenção de tradições no campo do futebol. Estudos Históricos FGV- CPDOC, vol.13, n. 23, 119-146. Soares, A. J. & Mourão, L. (1999). Mário Filho: romancista, jornalista e inventor de tradições no esporte. In: Otávio Tavares e Lamartine P. DaCosta (Orgs.) Estudos Olímpicos. Rio de Janeiro, UGF. Trindade, N. & Hochman, G. (1996). Condenado pela raça, absolvido pela medicina: o Brasil descoberto pelo movimento sanitarista da primeira República. In: Marcos Chor Maio e Ricardo Ventura Santos (orgs.). Raça, ciência e sociedade. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ e CCBB. Vogel, A. (1982). O momento feliz, reflexões sobre o futebol e o ethos nacional. In: R. Da Matta, (Ed).Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira (90-112) Rio de Janeiro: Pinakotheke. Veyne, P. Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. Brasília: UNB, 1995. Watt, I. (1997). Mitos do individualismo moderno. Rio de Janeiro, Jorge Zahar. Fontes: Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, 1950-1954. Diário de Pernambuco, 1938.