Novas Substâncias

Psicoativas em

Trendspotter Metodologia | Relatório Final

2018

Elsa Lavado Joana Leonardo Ludmila Carapinha

Marco Torrado Paula Frango Vasco Calado

Novas Substâncias Psicoativas em Portugal | Metodologia Trendspotter – Relatório Final

Ficha Técnica

Título: Novas Substâncias Psicoativas em Portugal. Metodologia Trendspotter / Relatório Final, 2018 Autor: Lavado, Elsa; Leonardo, Joana; Carapinha, Ludmila; Torrado, Marco; Frango, Paula; Calado, Vasco Editor: Serviço de Intervenção Comportamentos Aditivos e nas Dependências Morada: Parque de Saúde Hospital Pulido Valente, Alameda das Linhas de Torres, nº 117 | Edifício SICAD | 1750-147 Lisboa Edição: 10-10-2018 ISBN: 978-989-54145-5-0

Esta informação está disponível no sítio web do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências, http://www.sicad.pt .

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ÍNDICE

I. Introdução ...... 5 II. Metodologia ...... 7 IV. Prevalências de Consumo...... 11 V. Padrões e Perfis de Consumo ...... 14 1. Frequências de Consumo ...... 14 2. Continuidade de Consumo ...... 15 3. NSP e Consumo de Outras Substâncias ...... 15 4. Contextos de Consumo ...... 16 5. Vias de Administração ...... 16 6. Perfis de Consumidores ...... 17 6.1. Sociodemografia ...... 17 6.2. Categorias de Consumidores ...... 18 6.3. Intencionalidade ...... 19 7. Perceções, Crenças e Motivações ...... 19 VI. Acesso / Acessibilidade ...... 21 VII. Riscos Associados ao Consumo / Uso Problemático e Mortalidade ...... 22 VIII. Discussão e Recomendações ...... 24 IX. Agradecimentos ...... 28 X. Referências Bibliográficas ...... 29

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Novas Substâncias Psicoativas em Portugal | Metodologia Trendspotter – Relatório Final

Novas Substâncias Psicoativas em Portugal (2018):

Metodologia Trendspotter

I. INTRODUÇÃO

O termo “Novas Substâncias Psicoativas” número crescente de novos compostos, (doravante denominadas por NSP) foi adotado nomeadamente de origem sintética, oficialmente em Portugal no final de 2012, para maioritariamente fabricados na China e na Índia designar um conjunto de substâncias psicoativas (EMCDDA & EUROPOL, 2013) e mais potentes do que, por não constarem das tabelas das Convenções ponto de vista psicoativo (Ford et al. , 2016; UNODC, das Nações Unidas (aprovadas em 1961 e 1971), 2013). Entre estes, destacavam-se os canabinóides eram, à data, vendidas livremente em lojas sintéticos, agrupados na categoria Spice (EMCDDA, especializadas (conhecidas como smartshops ). 2009), e as catinonas e derivados. Apesar da Embora o fenómeno das NSP tenha surgido em designação, e da forma como eram apresentadas, Portugal e noutros países europeus com mais muitas das NSP foram sintetizadas há décadas, pelo relevância a partir de 2005, ele enquadra-se numa que a novidade residia apenas na sua chegada ao tendência histórica bem mais antiga de procurar mercado. compostos e substâncias psicoativas sem controlo legal, nomeadamente que possam substituir ou A abertura de um grande número de smartshops provocar, no consumidor, efeitos análogos aos das num curto espaço de tempo em diferentes cidades substâncias ilícitas (King & Kicman, 2011). São portuguesas foi simultaneamente causa e exemplo disso o que, nos anos 80 do século XX, consequência de um inegável crescimento do ficou conhecido como designer drugs (Perrone, fenómeno a nível nacional, consubstanciando-se 2015; Henderson, 1988; Godinho, 1995) ou a vaga num conquistar de novos grupos de consumidores. das chamadas “drogas sintéticas” (Carvalho, 2007; Por sua vez, a visibilidade do fenómeno e o facto de Calado, 2006; Silva, 2005; Henriques, 2003) na as drogas vendidas serem anunciadas como legais 1 década seguinte. promoveu um clima mediático de alarme social. Sobretudo a partir de 2011, multiplicou-se o A primeira smartshop abriu em Portugal no ano de número de notícias e reportagens produzidas nos 2007 e vendia sobretudo produtos naturais, como meios de comunicação portugueses, centradas cogumelos alucinogénios, salvia divinorum ou maioritariamente nos problemas de saúde kratom . Seis anos depois, existiam pelo menos 63 associados ao consumo. Foram descritas situações lojas nacionais deste tipo (Calado, 2013). Em críticas que necessitaram de assistência médica, Portugal, como na Europa, o crescimento incluindo internamentos e mesmo mortes. exponencial do número de smartshops foi acompanhado pelo surgimento no mercado de um

1 De facto, como forma de contornar a lei, muitas das substâncias plantas ou sais de banho, constando o aviso de que não se vendidas nas lojas eram apresentadas como fertilizantes de destinavam a consumo humano.

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Perante este cenário, no final de 2012, as perceções de risco, nomeadamente entre jovens autoridades de saúde procederam ao primeiro consumidores (Calado, Lavado & Dias, 2017; Ribeiro levantamento nos serviços de urgência hospitalar et al. , 2014). de casos graves registados, suspeitos de terem sido desencadeados pelo consumo de NSP. O relatório A partir dos dados disponíveis, designadamente daí resultante (Nogueira, 2012) sinalizava que a provenientes de estudos (Henrique & Silva, 2016; grande maioria dos casos era referente a uma Ribeiro et al. , 2014), tudo indica que o fenómeno de população abaixo dos 30 anos, comportando NSP terá diminuído consideravelmente em relação quadros clínicos de confusão aguda e episódios ao período anterior à publicação da legislação. No psicóticos. O relatório não confirmou casos fatais entanto, estes e outros estudos recentes (Balsa, mas concluiu que, à data, ao consumo de NSP Vital & Urbano, 2018; Carapinha & Calado, 2018; estavam associados problemas de saúde, Calado, Lavado & Dias, 2017; Calado & Lavado, nomeadamente junto de populações mais jovens. 2016) revelam que o consumo declarado de NSP permanece como relevante, provavelmente ao Reconhecendo-se o consumo de NSP como nível de outras substâncias ilícitas estimulantes que problema de relevo em termos sociais e de saúde não a cocaína e de alucinogénios. pública foi elaborada legislação específica com o objetivo de regular a sua comercialização: primeiro É reconhecida a disponibilidade destas substâncias na Região Autónoma da Madeira, ainda em 2012, e num mercado predominantemente desenvolvido depois a nível nacional, em 2013 2. A criação de um na Internet, designadamente na darknet (Soussan & regime jurídico que estabelece contraordenações e Kjellgreen, 2014), à qual diferentes públicos têm medidas sanitárias em relação à produção, acesso (Van Hout et al. , 2018), o que obsta a uma distribuição, venda e publicidade das NSP teve caracterização mais fiel da aquisição e utilização como consequência o encerramento das destas substâncias. Por outro lado, há uma smartshops , ou a sua reconversão noutro tipo de perceção empírica de que o consumo de NSP negócio. Dessa forma, o fenómeno deixou de ter poderá ser mais prevalente entre determinados visibilidade social e de ter atenção mediática, o que grupos que, frequentemente, os inquéritos poderá ter contribuído para a ideia de que o epidemiológicos não captam. Estes aspetos, problema se resolvera ou, pelo menos, se atenuara associados a uma fraca literacia sobre as NSP e a consideravelmente. uma multiplicidade de contextos de utilização, incorre num conhecimento diminuto sobre o Em Portugal, o conhecimento científico sobre NSP é fenómeno, porquanto a própria categoria de NSP se maior no que respeita à dimensão biológica e revela pouco delimitada e consensual (Abdulrahim farmacológica do que os aspetos sociais. De facto, & Bowden-Jones, 2015; Brandt, King & Evans- muita da investigação nacional sobre o assunto Brown, 2014). A importância de tal caracterização é tem-se focado na estrutura molecular, nos ainda mais premente face ao conjunto de riscos e mecanismos de ação e na toxicidade destes danos frequentemente associados à utilização de compostos, mas também nos danos para a saúde NSP, que têm vindo a ser reportados por alguma associados ao seu uso (Ventura, Carvalho & Dinis- literatura científica e validados pela intervenção Oliveira, 2018; Alves et al. , 2017; Valente et al. ; (Pirona et al. , 2017; Van Hout et al. , 2018). 2017; Moreno, 2016; Silva, 2013). Não obstante, alguns estudos recentes têm procurado ir além do Neste trabalho empregou-se uma definição de NSP apuramento de prevalências e frequências de lata, sem tomar como critério apenas o estatuto consumo de NSP, dando atenção também a legal. Assim sendo, as NSP são entendidas aqui motivações, representações sociais, crenças e como as substâncias que chegaram ao mercado

2 Portaria nº 154/2013 de 17 de abril, disponível em: https://dre.pt/application/file/a/260334

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com a abertura das smartshops ou que, embora já de consumo, as perceções e as representações disponíveis, ganharam maior visibilidade por esta sociais. via, bem como as que surgiram entretanto. Optou- se por esta abordagem metodológica porque um Concretamente, as questões de pesquisa que dos objetivos do presente estudo consiste orientaram o desenvolvimento do estudo foram: precisamente em explorar o conceito no contexto 1. Qual a utilização do termo “NSP” e que atual. substâncias são incluídas nesta categoria? Neste sentido, o presente estudo exploratório 2. Quais são os principais perfis dos procura traçar um retrato atual do fenómeno das utilizadores? NSP em Portugal, cinco anos depois da criação de 3. Quais são os principais padrões de legislação específica e reguladora que levou ao consumo? encerramento das smartshops . Para tal, um 4. Quais as formas de acesso utilizadas? conjunto de procedimentos que integram a 5. Que perceções e representações sociais metodologia Trendspotter (EMCDDA, 2011) foi estão associadas? adotado com vista a uma caracterização integrada 6. Quais são os principais danos? de várias dimensões envolvidas na utilização e intervenção nas NSP, com destaque para os padrões

II. METODOLOGIA

O presente projeto de investigação decorreu entre d) Focus group implementados na reunião de novembro de 2017 e maio de 2018, e seguiu a peritos. metodologia Trendspotter , desenvolvida pelo OEDT. Um estudo deste tipo contempla a A revisão bibliográfica incidiu essencialmente nas triangulação de informação, recolhida a partir de publicações registadas na base de dados de múltiplos métodos e técnicas de investigação investigação científica recente sobre CAD em combinados, com o objetivo de aumentar o Portugal, disponível na página web do SICAD, bem conhecimento sobre um determinado fenómeno como em publicações de organizações como o social de uma forma expedita, fiável e verificável OEDT, a OMS e a ONU. Foram igualmente (Ruiz et al. , 2017). consultados artigos publicados em revistas científicas entre 2014 e 2018 disponíveis nos Tendo em conta os objetivos do presente estudo e motores de busca Pubmed ® e Google Scholar ®, a especificidade do tema, os principais métodos utilizando as expressões ‘ New Psychoactive usados foram os seguintes: Substances ’; ‘ NPS ’; ‘ NPS portuguese situation ’. a) Recolha de informação bibliográfica e outra; Paralelamente, exploraram-se bases de dados que b) Inquéritos online (questionário dirigido a integram o Sistema Nacional de Informação sobre técnicos e profissionais do terreno e Substâncias Psicoativas, Comportamentos Aditivos questionário dirigido a consumidores de e Dependências (bases de dados de inquéritos NSP); epidemiológicos nacionais, bases referentes à c) Apresentações de peritos em contexto de procura de tratamento e às contraordenações por reunião; consumo de drogas), bem como a relativa ao Mecanismo de Alerta Rápido 3.

3 Mecanismo implementado nos Estados Membros no âmbito da nível nacional/internacional. Constitui uma forma de monitorização do fenómeno das Novas Substâncias Psicoativas a identificação rápida de novas substâncias presentes no mercado,

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Ao contrário de muitos estudos que usam a mesma ter tido contacto com consumidores de NSP na sua metodologia, não se provou útil fazer uma recolha atividade (n=58) 5. de informação adicional em determinados ciberespaços (como fóruns de discussão ou blogues , A reunião de peritos decorreu no dia 23 de fevereiro por exemplo), dado ter-se concluído que uma em Lisboa e contou com a presença de 12 grande parte da informação disponível na Internet profissionais que têm contacto direto ou indireto sobre o uso de NSP em Portugal está em espaços com o fenómeno das NSP e os seus consumidores, ocultos e/ou inacessíveis (como a darknet ou grupos em áreas que vão da investigação química, forense secretos no Facebook ®, por exemplo). e criminal à intervenção no tratamento e redução de riscos e minimização de danos. Cada especialista Os dois inquéritos foram lançados online na partilhou informação através de uma apresentação plataforma Google Forms® entre dezembro de 2017 individual e participou – de acordo como o seu e janeiro de 2018, combinando perguntas abertas e âmbito de expertise – num dos dois focus groups fechadas, que tiveram como base os tópicos da promovidos: um mais centrado no conhecimento pesquisa, designadamente os padrões de consumo farmacológico e em intervenções mais de NSP, perceções de risco e acessibilidade, bem especializadas e o outro mais centrado no como motivações e problemas relacionados com o conhecimento acerca dos utilizadores e dos consumo das mesmas. O convite à participação padrões de consumo. Os tópicos de discussão (anónima) nos inquéritos, no qual se incluíam as focaram-se em quatro questões fundamentais: a) o hiperligações para acesso aos mesmos, foi realizado que são NSP; b) quais são os seus consumidores e sobretudo com base na malling list do SICAD quais os seus padrões de consumo; c) como é o (composta maioritariamente por profissionais que acesso a este tipo de substâncias e d) uso trabalham em CAD nas ARS e no SICAD, incluindo as problemático e danos. Comissões para a Dissuasão da Toxicodependência: cerca de 500 profissionais) e publicitado nas suas O processo de triangulação da informação recolhida redes sociais, com o pedido adicional de os através dos diferentes instrumentos metodológicos participantes redirecionarem os mesmos no sentido permitiu elencar algumas conclusões que a seguir de ampliar a amostra. Foram considerados para se apresentam, categorizadas em diferentes análise apenas os consumidores que afirmaram o secções. uso de NSP no mínimo uma vez ao longo da vida

(n=21) 4, e os profissionais que afirmaram ter ou já

III. OFERTA DE NSP EM PORTUGAL

Atualmente, tanto a nível europeu como em apreensões registadas (EMCDDA, 2018). Em 2013, Portugal, os canabinóides e as catinonas sintéticas no contexto europeu, Portugal situava-se entre os são os grupos de NSP com maior número de países com menor número de apreensões de NSP

pelos Pontos Focais da rede REITOX, a par das já identificadas 5 Praticamente todos os participantes são profissionais de saúde anteriormente, tendo em conta a sua apresentação e (83%) e trabalham maioritariamente com jovens (69%), quantidade. Os Pontos Focais reportam esta informação ao consumidores problemáticos de drogas (66%), utentes em EMCDDA. Por sua vez, a nível nacional, o SICAD conta com programas de tratamento (62%), sendo também relevantes as serviços fonte, principalmente o Laboratório de Polícia Científica. percentagens dos que trabalham com frequentadores de 4 Três quartos do sexo masculino, com idades entre os 25-34 festas/bares (48%), indivíduos com processos de anos (43%) e 35-44 anos (29%), a maioria com licenciatura (62%), contraordenação (43%) e sem-abrigo (43%). empregados (86%) e residentes em Lisboa (76%).

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em geral e de canabinóides e catinonas sintéticas, CANABINÓIDES SINTÉTICOS IDENTIFICADOS NO ÂMBITO DO em particular, (EMCDDA, 2015a). MECANISMO DE ALERTA RÁPIDO (P ORTUGAL , 2017)

Segundo fonte do Laboratório de Polícia Científica CP47,497-C8 (LPC), nos últimos 10 anos foram identificadas 90 JWH-018 NSP distintas em Portugal, através de análises feitas JWH-122 JWH-210 a substâncias apreendidas. Embora estas JWH-018 adamantyl derivado / AB-001 substâncias não se destinem necessariamente a JWH-018 análogo consumo em território nacional, trata-se de um AM2201 MAM2201 importante indicador da existência e circulação das AMB-FUMINACA mesmas. AMB-CHMINACA ADB-FUMINACA Tendo em conta os dados reportados pelo AB-FUMINACA Laboratório de Polícia Científica, em Portugal, no UR-144 RCS-4 âmbito do Mecanismo de Alerta Rápido, foram 5FAKB48 identificados 16 canabinóides sintéticos distintos e SDB-005 15 no ano anterior. As substâncias predominantes nestes 2 anos consistem, respetivamente, na JHW- Fonte: LPC/SICAD 018 6 (2017) e na AB-CHMINACA (2016) 7. Por cá, a principal forma de apresentação destas duas As catinonas sintéticas destacam-se, em Portugal, substâncias é a mistura herbácea, embora seja de pela quantidade e variedade de substâncias referir a identificação de variantes em pó. A apreendidas. Em 2017, no âmbito do Mecanismo de apresentação dos canabinóides sintéticos em Alerta Rápido, foram reportadas 26 catinonas mistura herbácea, seja em Portugal seja no plano distintas, 11 em 2016. A alpha-PVP e variantes (4- internacional, compromete o controlo sobre a CL-alpha-PVP) têm sido predominantes, tal como a dosagem do produto, sendo um importante fator metilona 9,10 . Em Portugal, com exceção para a de risco de efeitos adversos 8 (EMCDDA, 2017). butilona (apresentada em comprimidos), as amostras analisadas apresentam-se exclusivamente Nos restantes canabinóides sintéticos identificados em pó. em 2017 no país predomina também a apresentação em mistura herbácea, sendo, contudo, seguida de perto pela apresentação em pó e identificando-se já a apresentação em micro-selos (caso da AMB-FUBINACA).

6 Entretanto colocada sob controlo na Tabela II-A anexa ao 8 No processo de pulverização da substância em matéria Decreto-Lei nº 15/93 de 22 de janeiro (Lei nº 7/2017 de 2 de herbácea, a sua distribuição é desigual, podendo haver material março). com uma particular concentração de produto, aspeto que o 7 Ambas as substâncias são agonistas dos recetores de consumidor não controla. canabinóides e produzem efeitos que mimetizam os efeitos da 9 Entretanto colocada sob controlo na Tabela II-A anexa ao cannabis . Sendo mais potentes que o THC, são necessárias doses Decreto-Lei nº 15/93 de 22 de janeiro (Lei nº 7/2017 de 2 de mais baixas para produzir efeito (2 a 5 mg no caso da JHW-018; março). 0,5 a 1mg no caso da AB-CHMINACA, quando fumadas). A nível 10 Tanto a alpha-PVP como a metilona são psicostimulantes internacional são apresentadas sobretudo em mistura herbácea potentes, sendo a metilona análoga do MDMA, com e em pó. Em relatórios sobre a AB-CHMINACA é também já propriedades farmacológicas semelhantes às da mefedrona. A referida a apresentação em líquido para consumo em cigarros principal apresentação a nível internacional é em pó (EMCDDA, eletrónicos e micro-selos, o que pode refletir evoluções na 2015; WHO, 2015) o que, segundo dados do Laboratório de preparação e formas de utilização destas substâncias. A principal Polícia Científica, também se verifica em Portugal. via de administração conhecida é a fumada (WHO, 2014, 2017; EMCDDA, 2017).

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divinorum , correspondendo a um número reduzido CATINONAS SINTÉTICAS IDENTIFICADAS NO ÂMBITO DO MECANISMO DE ALERTA RÁPIDO (P ORTUGAL , 2017) de apreensões e quantidade apreendida. A salvia divinorum é uma planta que, fumada, tem um efeito MPHP Bufedrona alucinogénio curto mas potente. É uma planta de Etilona Butilona uso ancestral no México, também usada em Efilona NEH PHP 3-CEC Portugal entre psiconautas, mesmo antes da PVP MDPHP abertura das smartshops em Portugal (Calado, 2-MMC PV9 2013). 4-MEC 4-MEAP 4-CEC Dibutilona Etilcatinona 4-CMC4-CMC Para além das já mencionadas categorias de Pentedrona 4-CMC substâncias, outras são reportadas no âmbito do Mefedrona 4-Cl-alpha-PVP Mecanismo de Alerta, embora com menor Pentilona Metilona expressão. É o caso das arilcicloexilaminas, 4-CMC triptaminas, piperazinas e, salienta-se, dos opióides sintéticos. Fonte: LPC/SICAD OUTRAS SUBSTÂNCIAS IDENTIFICADAS NO ÂMBITO DO No que respeita às feniletilaminas, foram MECANISMO DE ALERTA RÁPIDO (P ORTUGAL , 2017) identificadas, em 2017, 6 tipos distintos e 4 no ano Arilcicloexilaminas anterior. Nas substâncias analisadas predominam, Ketamina em quantidade, as da família 25x-NBOMe, em Metoxetamina particular a 25C-NBOMe, e a DOC 11,12 . Tendo em Triptaminas conta as apreensões realizadas, a principal 5-Meo-DPT apresentação destas substâncias em Portugal DMT parece ser também a de micro-selos. No entanto, Piperazinas identificam-se ainda alguns casos de apresentação mcPP em pó (DOC) e em comprimidos (2C-E e 6APB). Opióides Sintéticos ODT FENILETILAMINAS IDENTIFICADAS NO ÂMBITO DO MECANISMO Furanilfentanil DE ALERTA RÁPIDO (P ORTUGAL , 2017)

Fonte : LPC/SICAD 2C-E 6APB 25G-NBOMe 25C-NBOMe Numa análise diacrónica quanto às substâncias 25I-NBOMe apreendidas/analisadas em Portugal, constata-se DOC que 2011 e 2012 13 constituem os anos em que um

Fonte: LPC/SICAD maior número de amostras com NSP foi sujeito a análise pelo Laboratório de Polícia Científica,

diminuindo posteriormente. A partir de 2015, de As plantas analisadas pelo Laboratório de Polícia forma constante, o número de amostras tem de Científica consistem exclusivamente na salvia novo aumentado.

11 Sob controlo no âmbito do Decreto-Lei nº 15-93. também em pó e líquido (WHO, 2014a). Segundo utilizadores 12 A nível internacional, as 25x-NBOMe – tomando como (Energy Control, por exemplo), a DOC é uma substância que, para referência a informação sobre a 25I-NBOMe (entretanto além de um intenso efeito alucinogénio, que pode durar até 72 colocada sob controlo na Tabela II-A anexa ao Decreto-Lei nº horas, tem também um intenso efeito estimulante. 15/93 de 22 de janeiro (Lei nº 7/2017 de 2 de março)) para 13 Os anos de 2011 e 2012 correspondem ao período de maior caracterizar esta família de feniletilaminas) – são comercializadas crescimento do fenómeno das NSP em Portugal, altura em que sobretudo como alternativa ao LSD, intencionalmente ou não. abriu um grande número de smartshops em muitas cidades Apresentam-se essencialmente como micro-selos, existindo portuguesas.

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Quanto ao tipo de substâncias apreendidas, é de diminuído. Neste continente, o número de notar nos últimos anos (2015-2017) um aumento da notificações de novas substâncias nas categorias de sua diversidade e disponibilidade, considerando as canabinóides e catinonas sintéticas está a diminuir, principais categorias (canabinóides, catinonas e a par do aumento de notificações de opióides feniletilaminas), sobretudo no caso das catinonas sintéticos. Portugal não é alheio a esta evolução, (13 em 2015, 26 em 2017). É especificamente nas verificando-se apreensões de opióides sintéticos, categorias de canabinóides e de catinonas que se embora residuais (Mecanismo de Alerta Rápido). observa, também, uma maior flutuação quanto às substâncias apreendidas. Por fim, é de notar que, de acordo com o LPC, a percentagem de NSP apreendidas analisadas Segundo as Nações Unidas (UNODC, 2017), o corresponde a menos de 1% do total de amostras, desaparecimento de certas substâncias do mercado os restantes 99% correspondem a substâncias está associado à sua introdução apenas para fins de ilícitas, particularmente a cannabis , o que parece substituição temporária de ilícitas e/ou das que indicar que o fenómeno das NSP tem um peso produzem efeitos desagradáveis experienciados residual no mercado das drogas em Portugal. pelos consumidores. Em suma , as NSP têm vindo a constituir-se como Por outro lado, no quadro dos canabinóides e terreno específico e inovador no domínio do catinonas sintéticas, nas que se têm mantido nos vasto mercado das drogas, face à introdução e últimos 3 anos em Portugal, destacam-se as mutação permanente de (novas) substâncias. A substâncias da família alpha-PVP (catinonas) e as da diversidade destes compostos é muito elevada. família JHW (canabinóides sintéticos). Os canabinóides sintéticos e as catinonas sintéticas são os grupos de NSP mais A introdução permanente de novas substâncias é apreendidos no plano europeu e nacional. uma característica deste mercado. A nível mundial Outros grupos de NSP, tais como as feniletilaminas ou os opióides sintéticos, (UNODC, 2017) assiste-se a uma tendência geral de encontram-se igualmente em circulação, de aumento do número e diversidade de substâncias, modo crescente. embora na Europa (EMCDDA, 2018a) o número total de notificações de NSP e a quantidade de substâncias apreendidas em 2016 e 2017 tenham

IV. PREVALÊNCIAS DE CONSUMO

A estimativa do consumo de NSP através de inquéritos deve ser ponderada tendo em conta o Diversas fontes sugerem que uma característica nível de conhecimento e a interpretação que os distintiva do consumo de NSP face ao de outras respondentes fazem do termo Novas Substâncias substâncias psicoativas consiste no Psicoativas; quais as substâncias nele incluídas e desconhecimento deste, situação que não é qual a relação entre as substâncias apresentadas no particular à realidade portuguesa. Com efeito, parte inquérito e as designações usadas coloquialmente. das NSP produzidas é introduzida no mercado para Adicionalmente, os dados provenientes de substituir temporariamente substâncias ilícitas sem inquéritos refletem apenas o consumo que é do conhecimento do consumidor (caso das pastilhas conhecimento dos inquiridos e que estes com logotipos típicos do MDMA mas que contêm pretendem declarar. NSP) ou como adulterantes de substâncias ilícitas (EMCDDA & Europol, 2013).

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De acordo com os peritos portugueses auscultados alucinogénias, nomeadamente plantas e que participaram no âmbito do projeto feniletilaminas. transnacional NPS-t14 , atualmente a maior parte do consumo de NSP em Portugal é não intencional Com efeito, na pesquisa feita no âmbito do projeto (Benschop et al ., 2017; Silva & Henriques, 2017). transnacional NPS-t entende-se que, no quadro do São exemplos desta dimensão a disparidade entre a consumo intencional, predomina o consumo de declaração do consumidor e os resultados da alucinogénios, com ênfase para a 2C-B, da família análise da substância em dispositivos de drug 2C, procurada intencionalmente em contexto checking (Martins et. al, 2017), bem como face aos recreativo (Silva & Henriques, 2017). resultados da análise de metabolitos em serviços de Para além das já mencionadas categorias de urgência hospitalar, conforme corroborado por substâncias, é relatado pelos consumidores outras peritos (urgência hospitalar e medicina legal) categorias como as piperazinas, as participantes no presente projeto. arilcicloexilaminas, as novas benzodiazepinas e Tendo em conta estes considerandos, estima-se análogos de LSD, embora em percentagens que em 2016 cerca de 23 423 residentes em inferiores. Portugal (15-74 anos) já tenham alguma vez na vida consumido NSP, o que corresponde a uma Inquérito a consumidores de Novas Substâncias prevalência de 0,3%. Por sua vez, 15 615 terão Psicoativas 2017 No questionário online dirigido aos consumidores, consumido este tipo de substâncias nos 12 meses decorrente do presente projeto Trendspotter , foram anteriores ao inquérito (consumo recente), isto é, 9 os respondentes que declararam consumo recente 0,2% da população geral (Balsa, Vital & Urbano, de NSP. Destes, 4 referiram canabinóides sintéticos, 3 as catinonas sintéticas, 1 indicou plantas. As 2018). feniletilaminas foram apontadas por 4 (44.4%) destes respondentes. Os dados provenientes de estudos representativos nacionais (população em geral, jovens de 18 anos), de estudos internacionais dirigidos a consumidores Inquérito aos participantes no Dia da Defesa de substâncias e contemplando dados nacionais Nacional 2017 (Carapinha & Calado, 2018)) (Global Drug Survey), de estudos dirigidos a Prevalência de consumo recente: consumidores de NSP (público do Festival NOS Alive e questionário aplicado no âmbito do presente 18 projeto), bem como informação partilhada no Anos Canabinóides INQ 1,6 âmbito da reunião de peritos por investigadora do Sintéticos CONS 81,5 projeto europeu BAONPS 15 (Rolando & Beccaria, Catinonas INQ 1,3 2017), a categoria de NSP cujo consumo é mais Sintéticas CONS 66,6 reportado em Portugal pelos consumidores Plantas / INQ 1,5 Outras NSP portugueses parece ser a dos canabinóides CONS 80,1 INQ – Inquiridos; CONS – Consumidores de NSP nos sintéticos, embora não seja particularmente últimos 12 meses (N=1754) evidente a diferença face ao consumo de plantas e de outras substâncias com propriedades

14 O projeto NPS-t ( Transnational Study into New Psychoactive 15 O projeto BAONPS – Be Aware on Night Pleasure Safety Substances ) procurou traçar um retrato da situação referente às envolveu quatro países – Alemanha, Eslovénia, Itália e Portugal Novas Substâncias Psicoativas em seis países europeus: – e procurou identificar Novas Substâncias Psicoativas por meio Alemanha, Holanda, Hungria, Irlanda, Polónia e Portugal. Para de drug checking em contexto festivo e não só. No âmbito deste isso, a nível nacional, procurou-se triangular dados provenientes projeto, em Portugal foram inquiridos 174 frequentadores de da oferta e da procura com informação recolhida com peritos e contextos de diversão noturna. consumidores de NSP. Em Portugal, foram entrevistados 8 profissionais e 240 consumidores recentes.

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recente antes e após o encerramento das Inquérito ao público do Festival NOS Alive 2017 (Calado, Lavado & Dias, 2017) smartshops , numa amostra de cerca de 500 estudantes universitários, é evidente o decréscimo Prevalência de consumo recente: do consumo entre 2013 e 2014 (Ribeiro et al., 15-34 anos 2014). Canabinóides INQ 0,7 Sintéticos CONS 66,7 Segundo Henriques e Silva (2016) o encerramento Catinonas INQ .. das lojas terá levado a uma diminuição da Sintéticas CONS .. INQ 0,2 prevalência de consumo intencional mas a um Plantas CONS 22,2 aumento paralelo da adulteração de substâncias INQ 0,1 ilícitas com NSP e de consumo não intencional. Esta Feniletilaminas CONS 11,1 é também a perceção dos profissionais e INQ 0,1 Piperazinas consumidores inquiridos no âmbito do presente CONS 11,1 INQ 0,1 projeto. Ketamina CONS 11,1 INQ .. Num exercício comparativo com outros países, os Outras NSP a) CONS .. jovens portugueses com idades entre 15-24 anos a) Análogos de Cocaína, Outras NSP que participaram no Eurobarómetro em 2014 (DG INQ – Inquiridos (N=887); CONS – Consumidores de COMM, 2014) e os estudantes de 16 anos que NSP nos últimos 12 meses (N=9) participarem em 2015 no ESPAD (The ESPAD Group,

2016) reportaram um consumo com prevalência ao Relativizando a prevalência de consumo de NSP longo da vida igual ou inferior à média europeia. Por face ao de substâncias psicoativas ilícitas, constata- sua vez, dados preliminares do Global Drug Survey se como, nas várias fontes relativas ao consumo – 2017, recolhidos na reunião de peritos, indiciam intencional é consensual que a prevalência de que os consumidores recentes de NSP em Portugal consumo de NSP (considerando a categoria global se posicionam em 14º lugar num conjunto de 22 ou categorias mais específicas, consoante a fonte) é países a nível mundial. muito inferior à de consumo de cannabis e provavelmente inferior à das outras ilícitas que não Em dois projetos transnacionais já citados é cannabis , sobretudo considerando os estimulantes efetuada uma comparação entre países específicos e alucinogénios 16 (Balsa, Vital & Urbano, 2018; quanto ao consumo de substâncias psicoativas, Carapinha & Calado, 2018; Global Drug Survey concluindo-se que, em comparação com os 2017; Calado, Lavado & Dias, 2017; Silva & participantes de outros 5 países (Holanda, Polónia, Henriques, 2017; Feijão, 2016; Vavrincikova et al ., Hungria, Alemanha e Irlanda), os consumidores de 2016; informantes do presente projeto). NSP portugueses referem mais o consumo de NSP com efeitos alucinogénios (Benshop et al ., 2017) e Numa análise diacrónica baseada no inquérito à menos com efeitos estimulantes e de promoção da população geral (15-74 anos; 15-34 anos), observa- empatia (Van Hout et al ., 2018), enquanto, em se uma estabilidade na prevalência de consumo comparação com a Itália e a Eslovénia, os recente de NSP entre 2012 e 2016/17. O período participantes portugueses referem menos o temporal em causa não permite, contudo, detetar consumo de ketamina (Rolando & Beccaria, 2017). evoluções que se terão registado sobretudo entre 2013 e 2014. Assim, num trabalho focado em Lisboa, que analisou a prevalência de consumo

16 Note-se que existem algumas especificidades consoante estudos e grupos alvo no que reporta a esta comparação.

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Em síntese , a triangulação de dados neste domínio indicia que as prevalências de utilização de NSP em

Portugal são relativamente residuais, tendencialmente inferiores às das outras ilícitas que não cannabis e terão sofrido uma evolução em função da abertura e encerramento das smartshops . Os tipos de NSP com maior prevalência de consumo parecem ser o dos cana binóides sintéticos, mas também as plantas, as catinonas e as feniletilaminas. Em geral, a prevalência de consumos de NSP nos jovens portugueses é menor do que nos jovens europeus. Também quando comparado com outros países no plano internacional mais vasto, o consumo recente de NSP pela população portugue sa parece estar abaixo do valor mediano.

V. PADRÕES E PERFIS DE CONSUMO

1. FREQUÊNCIAS DE CONSUMO

Na população em geral, independentemente do INQUÉRITO AOS PARTICIPANTES NO DIA DA DEFESA NACIONAL grupo etário e da categoria de NSP, predomina o 2017 (C ARAPINHA & CALADO , 2018) consumo recente com frequência inferior a 1 vez Frequência de consumo recente (18-anos): por mês (Balsa, Vital & Urbano, 2018), tal como nos jovens de 18 anos, em que é reportada, Canabinóides Catinonas Plantas / Sintéticos Sintéticas Outras NSP predominantemente, uma frequência inferior a 10 ocasiões no ano (Carapinha & Calado, 2018). INQ INQ INQ INQ CONS CONS CONS CONS Na população em geral os utilizadores de 40+ 0,3 16,6 0,2 16,9 0,2 15,7 canabinóides sintéticos consomem com mais ocasiões frequência, seguindo-se os consumidores de 20 -39 0,1 8,7 0,1 10,4 0,1 8,6 catinonas e os de plantas, facto que não se verifica ocasiões 10 -19 0,3 18,4 0,3 21,5 0,3 19,4 nos jovens de 18 anos inquiridos no Dia da Defesa ocasiões 6-9 Nacional 2017. 0,2 14,0 0,2 14,6 0,2 12,4 ocasiões 3-5 0,2 12,6 0,2 11,9 0,2 13,3 Inquérito Nacional ao Consumo de Substâncias ocasiões Psicoativas na População Geral 2016/17 1-2 0,5 29,7 0,3 24,7 0,5 30,5 (Balsa, Vital & Urbano, 2018) ocasiões Frequência de consumo recente: INQ – Inquiridos; CONS – Consumidores da categoria Canabinóides Catinonas de NSP nos últimos 12 meses Plantas Sintéticos Sintéticas 15-74

INQ INQ INQ O consumo de NSP é, também,

Anos CONS CONS CONS Diário <0,1 11,9 ...... predominantemente reportado como ocasional, 4 – 6 vezes ...... quer por especialistas, quer por utilizadores / semana inquiridos no âmbito do presente projeto. Os 2 – 3 vezes ...... / semana profissionais inquiridos consideram ainda que esta 2 – 4 vezes <0,1 24,9 <0,1 7,3 <0,1 16,1 frequência não é linear ao longo do ano, sofrendo / mês 1 vez / variações em função das férias escolares e <0,1 8,3 <0,1 9,8 <0,1 22,9 mês ocorrência de festas (festivais de música, festas Mais 0,1 54,9 0,1 82,9 0,1 61,0 raramente académicas), períodos do ano em que será superior. INQ – Inquiridos; CONS – Consumidores da categoria de NSP nos últimos 12 meses

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No âmbito dos projetos internacionais BAONPS e 3. NSP E CONSUMO DE OUTRAS SUBSTÂNCIAS NPS-PWUDH 17 , os frequentadores nacionais de ambientes festivos caracterizam igualmente a Tal como noutros países (UNODC, 2017), os frequência de consumo como ocasional. consumidores de NSP portugueses parecem ser também consumidores de outras substâncias 2. CONTINUIDADE DE CONSUMO psicoativas, ilícitas (Carapinha & Calado, 2018; Silva & Henriques, 2017), o que está de acordo com as A taxa de continuidade do consumo de NSP 18 na referências à utilização de NSP sobretudo quando população em geral, jovem (15-24 anos) e jovem as substâncias de eleição não estão disponíveis, seja adulta (25-34 anos) (Balsa, Vital & Urbano, 2018), quanto aos consumidores em contexto recreativo nos jovens de 18 anos (Carapinha & Calado, 2018) e (Silva & Henriques, 2017), seja quanto aos nos estudantes de 13 a 18 anos (Feijão, 2016) é consumidores problemáticos 20 , conforme perita bastante elevada, sendo que, de forma transversal participante neste projeto. e independentemente do sexo, mais de metade dos consumidores de NSP ao longo da vida consumiu Considerando a literatura no domínio do consumo nos 12 meses anteriores à inquirição. intencional 21 e tendo em conta os participantes no presente projeto, é consensual que o consumo de Informação dos peritos sugere que o consumo NSP (considerando a categoria global ou categorias intencional de NSP em Portugal tende a ser mais específicas, consoante a fonte) é muito inferior experimental e/ou em substituição de substâncias ao consumo de cannabis , a substância ilícita mais ditas tradicionais ou na ausência destas, não sendo, consumida em Portugal (SICAD, 2018). de uma forma geral, uma primeira opção. Esta realidade é predominantemente encontrada junto Quanto ao padrão de consumo importa realçar dois dos frequentadores de ambientes festivos, como os aspetos em que o consumo de NSP se assemelha ao inquiridos no âmbito do projeto BAONPS e os que das substâncias tradicionais e outros dois em que se participaram em focus groups no contexto do distingue: 1) tal como nas tradicionais, sobretudo os projeto NPS-PWUD (Vavrincikova et al ., 2016). estimulantes, o consumo é predominantemente ocasional e realizado na companhia de terceiros, Por sua vez, perita de RRMD de intervenção de rua em ambiente de diversão; 2) por outro lado, a junto de consumidores problemáticos 19 , em Lisboa, probabilidade de um consumidor de substâncias corrobora também a utilização experimental de ilícitas consumir também NSP é muito inferior à NSP, sobretudo para substituir as tradicionais probabilidade de um consumidor de NSP consumir quando indisponíveis. também ilícitas, acrescendo-se ainda o consumo não intencional como fator particularmente distintivo no quadro das NSP.

17 O projeto NPS-PWUDH ( New Psychoactive Substances among minimização de danos, designadamente equipas de rua, People Who Use Drugs Heavily ) consistiu na aplicação de uma sobretudo consumidores de heroína e cocaína. metodologia RAR ( Rapid Assessment and Response ), que incluiu 20 Neste documento são descritos como consumidores focus groups com peritos (profissionais e utilizadores) para problemáticos os clientes de projetos de redução de riscos e caracterizar o consumo de consumidores intensivos de drogas minimização de danos, designadamente equipas de rua, em 5 países europeus. Dado o carácter residual do consumo de sobretudo consumidores de heroína e cocaína. NSP no grupo alvo do projeto em Portugal, a pesquisa incidiu em 21 Consideraram-se: 1. Estudos nacionais representativos (Balsa, frequentadores de ambientes festivos, com experiência de Vital & Urbano, 2018; Carapinha & Calado, 2018; Feijão, 2016); consumo de NSP. 2. estudos nacionais com consumidores (Global Drug Survey); 3. 18 Consumo de NSP nos últimos 12 meses/Consumo de NSP ao estudos focados em frequentadores de ambientes festivos longo da vida. (Calado, Lavado & Dias, 2017; Silva & Henriques, 2017; 19 Neste documento são descritos como consumidores Vavrincikova et al ., 2016) problemáticos os utentes de projetos de redução de riscos e

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4. CONTEXTOS DE CONSUMO cannabi s é de 41% e a de cocaína 12% (Torres et al ., 2015). Os dados analisados a partir das diversas fontes (estudos e peritos consultados) são consensuais Por fim, há que ter em consideração o caso dos quanto ao principal contexto de consumo de NSP psiconautas 22 (Orsolini, 2018), que, dadas as em Portugal: o ambiente festivo, nomeadamente motivações que subjazem ao seu consumo, incluem festas de música eletrónica, com destaque para o frequentemente como local de consumo a casa trance psicadélico, e na companhia de terceiros. própria, de outras pessoas ou outros espaços Neste particular, o caso das NSP é semelhante aos fechados. das outras drogas ditas tradicionais, no sentido em que o consumo está fortemente associado a 5. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO contextos recreativos e de sociabilidade, Tal como na utilização de substâncias ditas nomeadamente diversão noturna. Esta é, também, tradicionais, também no que concerne às NSP as a descrição feita predominantemente pelos jovens vias de administração variam de acordo com a europeus (DG COMM, 2014). substância. A literatura internacional (e.g. WHO, Paralelamente, outras fontes oferecem indicações 2014, 2017; EMCDDA, 2017) tem salientado como indiretas que suportam esta assunção. Em períodos principais vias de administração conhecidas as em que ocorrem festivais, como o , o seguintes: número de apreensões e de amostras em que se 1. nos canabinoides sintéticos – a via fumada; detetam estas substâncias aumenta. Por sua vez, 2. nas catinonas têm sido referidas diferentes segundo perito com experiência em serviços de formas de administração, designadamente urgência hospitalar, no Verão também aumenta o do alpha-PVP (snifada, fumada/inalada, número de episódios de urgência com quadros injetada, oral, sublingual e rectal); psicóticos e de ansiedade associados ao consumo 3. nas feniletilaminas (sobretudo apresentadas de substâncias psicoativas, possivelmente NSP. em micro-selos) a sua principal via de administração é a oral (sublingual / No entanto, apesar de predominante, o contexto mastigada); uma dose média de 500 - 800 µg festivo não é exclusivo para o consumo de NSP. produz efeitos duradouros, que podem Neste trendspotter , uma perita do trabalho de rua exceder o intervalo de 6 a 10 horas 23 ; partilhou como, dependendo da substância, há existem também relatos de utilização por via dados que apontam para alguma utilização por nasal, injetada, retal e fumada. consumidores problemáticos em contexto festivo (caso do DMT), enquanto outras substâncias são Relativamente a padrões de consumo em Portugal, consumidas nos contextos usuais de consumo da a informação disponibilizada por utilizadores em heroína e cocaína, frequentemente na rua. ambientes festivos, utentes de equipas de rua e profissionais que já tiveram contacto com O consumo de NSP está também presente em consumidores de NSP, a par dos dados relativos à contexto prisional, embora corresponda a uma forma de apresentação das substâncias percentagem residual dos consumidores de ilícitas apreendidas, sugerem várias vias de administração ao longo da vida. No último estudo nacional, 2,4% com alguma associação a diferentes subgrupos de destes consumidores declararam ter consumido consumidores. Os consumidores em ambientes NSP na prisão, na presente reclusão. Para efeitos festivos, com experiência de consumo exclusiva aos comparativos, a percentagem de consumo de canabinóides sintéticos mas reportando também a

22 Indivíduos que, por valorizarem o psicadelismo e procurarem 23 São classificados como feniletilaminas psicadélicas de média ter novas experiências sensoriais, têm geralmente grande duração em fóruns de utilizadores – Energy Control. conhecimento acerca das substâncias psicoativas.

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existência de consumo de salvia divinorum e de 6. PERFIS DE CONSUMIDORES ketamina, referem como principais vias de administração a fumada e a snifada, à semelhança No que se refere à caracterização de perfis, das substâncias ditas tradicionais (Vavrincikova et apresentam-se três eixos de análise que se al ., 2016). entrecruzam: aspetos sociodemográficos; categorias segundo motivações e contextos; e Por sua vez, segundo perito da área de RRMD em intencionalidade. equipas de rua, nas situações pontuais de utilização de NSP por parte dos consumidores problemáticos, os canabinóides sintéticos são usados tanto por via 6.1. SOCIODEMOGRAFIA fumada como snifada. Outras NSP, como as De acordo com estudos realizados (SICAD, 2018), na triptaminas, são consumidas quer por via fumada, população em geral e em grupos etários mais jovens snifada ou endovenosa. Nas várias fontes o consumo recente de NSP é praticamente o dobro consultadas, a referência à via endovenosa é no género masculino do que no feminino, sendo mencionada apenas a propósito deste subgrupo também mais frequente, aspeto em que não se populacional (Vavrincikova et al ., 2016, por diferencia do consumo de outras substâncias ilícitas exemplo). ou mesmo de consumos mais intensivos de bebidas Paralelamente, os profissionais inquiridos no alcoólicas e que será transversal aos vários âmbito do presente projeto, que recentemente contextos. trabalharam sobretudo com consumidores de Nos estudos representativos nacionais o consumo canabinóides sintéticos e catinonas referem com de NSP é mais prevalente entre os mais jovens mais frequência as vias fumada, snifada e também (Balsa, Vital & Urbano, 2018; Carapinha & Calado, oral, associando-as à utilização de substâncias em 2018; Feijão, 2017). Segundo peritos de RRMD, contextos recreativos. Pontualmente, alguns também a média de idades dos consumidores profissionais fazem a referência ao consumo problemáticos com experiência de consumo de NSP injetado mas sem o associarem a grupos ou é inferior à idade média dos consumidores contextos específicos. problemáticos em Lisboa (42 anos), embora não substancialmente (39 anos). Em síntese , no que concerne aos padrões de consumo de NSP, a utilização parece decorrer, Por outro lado, este consumo não se distribui de um modo geral, em substituição das igualmente pelo território português. Confrontando substâncias ditas tradicionais por os dados-fonte do Laboratório de Polícia Científica, indisponibilidade destas e sem carácter de com os provenientes de inquéritos e do projeto continuidade, pese embora nas faixas etárias mais jovens se verifique uma elevada taxa de NPS-t, comparativamente, as regiões autónomas, continuidade do consumo. Dado o carácter sobretudo a dos Açores, apresentam maior relativamente recente do consumo de NSP em percentagem de consumidores de NSP. Embora Portugal, é possível que tal reflita uma estes dados apontem para um maior consumo nos experiência recente do consumo, mais associada Açores, o fenómeno adquiriu uma maior a contextos festivos. visibilidade pública na Madeira, acompanhada de Tendo em conta a dimensão do consumo de produção legislativa. canabinóides sintéticos (apresentados predominantemente em mistura herbácea) e de Segundo os peritos contactados no âmbito do plantas, é provável que, em geral, a via fumada seja a mais utilizada, ainda que a via snifada seja referido projeto, o consumo de NSP nas regiões também mencionada por peritos e alguma autónomas é realizado, em grande medida, por literatura. consumidores problemáticos, numa proporção superior à das restantes regiões do país.

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Esta situação poderá ser explicada pelo preço mais minimização de danos do presente projeto e elevado e pela menor disponibilidade das consonante com os dados relativos à procura de substâncias ilícitas ditas tradicionais, a par da tratamento: em 2015 apenas 3 indivíduos em partilha de práticas de consumo por cidadãos que Unidades de Desabituação e 7 em Comunidades estiveram no Canadá e Estados Unidos da América, Terapêuticas declararam ter consumido NSP nos 12 em particular no caso dos Açores (Silva & meses anteriores, identificando 2 as NSP como Henriques, 2017). De facto, também a uma escala droga principal (SICAD, Administrações Regionais global, o preço é considerado um fator de relevo de Saúde, Unidades Licenciadas). No mais recente para os consumidores problemáticos utilizarem Trendspotter sobre utilização de NSP em NSP, usualmente mais vulneráveis consumidores problemáticos, a nível europeu, economicamente (UNODC, 2017). constata-se também que se trata de um fenómeno com uma dimensão restrita e focalizada em 6.2. CATEGORIAS DE CONSUMIDORES subgrupos específicos (EMCDDA, 2017a). Os consumidores problemáticos distinguem-se por Vavrincikova et al . (2016) propõem a categorização serem mais velhos e com maior vulnerabilidade dos consumidores de NSP em três tipos, tomando socioeconómica. essencialmente por base a motivação/contexto de consumo: consumidores em contextos festivos, Por sua vez, os psiconautas – indivíduos que consumidores problemáticos e psiconautas. Esta valorizam o psicadelismo e procuram ter novas categorização foi também mencionada nos grupos experiências sensoriais, nomeadamente através do focais do presente trendspotter 24 . Por sua vez, numa uso de drogas, de que procuram todo o tipo de análise a propósito do consumo de AB-CHMINACA, conhecimento (Van Hout et al ., 2018) – distinguem- o OEDT propõe uma quarta categoria, se por terem como principal motivação a pesquisa correspondente a consumidores que estão sob dos estados proporcionados por diferentes controlo quanto ao consumo de drogas (reclusos, substâncias, inferindo-se por isso a maior presença em tratamento de dependência, condutores), de intencionalidade no consumo. consumindo NSP por não serem detetadas através dos meios de controlo usuais (EMCDDA, 2017). Estas categorias de consumidores não são mutuamente exclusivas. Por exemplo, peritos na As fontes consultadas neste estudo permitem área de RRMD que participaram neste projeto sugerir que os consumidores em contextos festivos mencionam a frequência de consumidores serão provavelmente o grupo de maior dimensão problemáticos em ambientes festivos, onde em Portugal, o mais jovem e, provavelmente, utilizam NSP. Por outro lado, é também aventado aquele em que o consumo não intencional está mais que os psiconautas poderão consumir este tipo de presente. Entre estes, destacam-se as festas de substâncias tanto em contexto festivo como num música eletrónica, onde, aliás, algumas destas domínio privado. substâncias (de origem natural, sobretudo) já circulavam antes da abertura das smartshops Por sua vez, também os reclusos participantes no (Calado, 2006). último inquérito nacional mencionam o consumo de NSP no contexto de estabelecimento prisional A utilização de NSP por consumidores (Torres et al., 2015). problemáticos em Portugal é diminuta, mesmo em comparação com os consumidores em ambiente Finalmente, há alguns indicadores da presença de festivo. Esta referência (Vavrincikova et al ., 2016) é consumo de NSP no grupo de homens que têm sexo corroborada por peritos em redução de riscos e com homens. Contudo, estes dados remontam a

24 De notar que, numa abordagem de tendências emergentes do consumo , foram também mencionados os consumidores com motivações de potenciação cognitiva e/ou física.

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2010 no contexto do estudo European MSM que o consumo não intencional é menos comum. Internet Survey (EMIS). Neste, em 5187 Quanto aos consumidores problemáticos é possível respondentes portugueses a um questionário que exista também uma dimensão de consumo não online , 2% mencionaram o consumo de GHB/GBL, intencional, por via da adulteração da heroína ou da 1% o consumo de ketamina e 0.5% o consumo de cocaína. Estas são substâncias usualmente bastante mefedrona, nos 12 meses anteriores (Martins; adulteradas. A pureza média da cocaína vendida a Valente & Pires, 2015). Uma das limitações deste retalho em Portugal em 2016 situava-se entre os estudo consiste em não ter sido possível atualizar o 40% (cloridrato) e os 48% (base/crack), sendo de conhecimento a este nível junto de peritos, na 16% para a heroína (SICAD, 2018). Segundo fonte ausência de fontes adicionais. Algumas deste trendspotter , em Lisboa estas substâncias são investigações têm reportado como principais adulteradas, por exemplo, com Noostan (heroína) motivações do uso de NSP nestes contextos a ou com Xilocaína ou Aspegic (cocaína) pelo que é procura de desinibição e novas sensações, admissível a adulteração com NSP. melhoramento da performance sexual, assim como prolongamento e potenciação do prazer (Marillier Em síntese , no que concerne aos perfis de consumo et al ., 2017). de NSP, a literatura evoca categorizações que são consonantes com os dados obtidos neste estudo. Os 6.3. INTENCIONALIDADE contextos de uso, as variáveis sociodemográficas e a intencionalidade do consumo parecem constituir as dimensões de maior relevo, segundo as quais os A (não) intencionalidade do consumo de NSP é utilizadores de NSP têm sido categorizados. O sobejamente retratada na literatura (Martins et al ., cruzamento destas várias dimensões resulta em 2017; Soussan, Andersson & Kjerllgren, 2018; níveis de complexidade ainda pouco claros que no Brandt, King & Evans-Brown, 2014) e consistiu num futuro importa descortinar. Por exemplo, a maior dos elementos consensuais da reunião de peritos prevalência de uso entre os jovens poderá, eventualmente, associar-se a utilizações em do presente trendspotter . Os dados referentes à contexto recreativo, ou corresponder a utilização dos dispositivos de drug checking , de psiconautas, ou ambas. pesquisa de metabolitos em contexto hospitalar e a No que concerne à distribuição da utilização de NSP comparação entre os dados provenientes das em território português, a região dos Açores apreensões e os provenientes de inquéritos destaca-se nos inquéritos nacionais também pela maior prevalência de consumo de outras permitem sugerir que, também em Portugal, o substâncias ilícitas que não cannabis , onde poderão consumo não intencional terá uma importante estar incluídos os principais utilizadores de NSP. dimensão. Por exemplo, o consumo não intencional de catinonas tem sido identificado em dispositivos de drug checking em festas e festivais realizados em 7. PERCEÇÕES , CRENÇAS E MOTIVAÇÕES Portugal, designadamente produtos vendidos como Até 2013 (ao encerramento das smartshops ), os MDMA que contêm metilona ou mefedrona consumidores de NSP justificavam a opção por este (Martins, Valente & Pires, 2015) e ainda amostras tipo de substâncias sobretudo por serem de venda de LSD que, numa porção significativa, continham livre e de fácil acesso (Alves, 2013), mais do que pela NSP (Martins et al ., 2017). Este facto releva para a qualidade ou pelo preço (Vavrincikova et al ., 2016). importância de incrementar os dispositivos de Ainda que algumas populações consumissem análise de substâncias psicoativas in situ (drug determinadas NSP de forma regular, checking ou drug-testing ), mitigando o risco de uso nomeadamente em contexto recreativo, à data o de NSP de forma não intencional e potenciais danos consumo deste tipo de substâncias era percebido propiciados pelo mesmo. como tendencialmente esporádico e experimental, Tendo em conta os perfis de consumidores, é sendo a curiosidade, mais do que a procura do possível que os psiconautas constituam o grupo em prazer, a principal motivação para o consumo,

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enquanto a acessibilidade era o que mais favorecia técnicos têm dificuldade em definir ou delimitar a escolha por este tipo de substâncias em com clareza (Henriques, Silva & Hsu, 2018; detrimento de outras (Ribeiro et al ., 2014; Silva, Benschop et al ., 2017). 2014). Num inquérito realizado entre participantes de um Há evidência que, à parte de populações muito festival de música (Calado, Lavado & Dias, 2017), específicas, os consumidores de NSP eram também 71% dos inquiridos afirmou desconhecer o termo consumidores de outras drogas. Nesse sentido, ao NSP. Quando se consideram apenas os inquiridos contrário de outros países, em Portugal as NSP que consumiram NSP alguma vez na vida ou mais recentemente, a percentagem é de 50% e 33%, raramente eram a primeira escolha de consumo, respetivamente. antes uma opção de recurso. De facto, mesmo entre consumidores, a perceção geral era que de que os Os resultados dos dois inquéritos online lançados no produtos psicoativos vendidos nas smartshops âmbito do presente trabalho vão no mesmo sentido, revelando as dificuldades sentidas por técnicos e tinham menos qualidade e comportavam maiores consumidores com a própria noção de NSP. Uma riscos para a saúde do que as chamadas drogas percentagem muito relevante dos profissionais ilícitas tradicionais (Ribeiro et al .; 2014; Calado inquiridos inclui na categoria de NSP substâncias 2013). como metanfetaminas (53%), anfetaminas (36%) ou LSD (33%). Não se pode dizer que os consumidores Com a mudança legislativa e o fecho deste tipo de inquiridos estejam melhor informados, pois aqueles lojas, no que se refere às perceções e que não incluem na categoria de NSP substâncias como os derivados da catinona, os canabinóides representações sociais, o cenário não parece ter-se sintéticos ou plantas como a salvia divinorum perfaz alterado de modo significativo, refletindo um uso 19%, 43%, e 67%, respetivamente tendencialmente esporádico e traduzindo-se, consequentemente, num diminuto contacto e conhecimento acerca destas substâncias (Silva & Henriques, 2017). “Q UE TIPO DE SUBSTÂNCIAS /PRODUTOS CONSIDERA SEREM NSP?” (%) Do ponto de vista das perceções sociais, os vários participantes no questionário online dirigido aos consumidores, realizado no âmbito do presente estudo, assumem posicionamentos diferentes face à evolução dos consumos de NSP em Portugal nos últimos anos: cerca de 38% considera que há um decréscimo, mas aproximadamente 29% considera um fenómeno em crescimento. Cerca de 10% considera que a evolução do fenómeno é estável, enquanto 23% não soube responder.

De acordo com os especialistas, as NSP são hoje um fenómeno com pouca visibilidade social (Henriques, Silva & Hsu, 2018), sendo que, mesmo entre Fonte: SICAD consumidores, não há um grande conhecimento acerca do mercado e das próprias substâncias e De acordo com os dados publicados e com a opinião seus efeitos (Torres, 2015). geral dos técnicos do terreno, os consumidores de A isto acresce a dificuldade colocada pela própria NSP usam também outras drogas ilícitas (com designação, uma vez que NSP é um termo destaque para a cannabis ), tendendo a considerar reconhecidamente dúbio, que consumidores e as primeiras como de inferior qualidade e mais

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perigosas, por serem «artificiais» e produzidas em opiniões negativas do que positivas acerca das NSP, laboratório, por oposição às segundas, vistas como aquelas com propriedades alucinogénicas (como a «naturais» (Torres, 2015). Tal como antes (Ribeiro salvia divinorum ) são as que recolhem mais et al ., 2014), as NSP são hoje entendidas pela opiniões favoráveis (Vavrincikova et al ., 2016). população jovem e pelos próprios consumidores de uma forma tendencialmente pejorativa, como Por fim, importa ainda salientar o evitamento da substâncias químicas e sintéticas, facilmente deteção de utilização de substâncias psicoativas adulteráveis (Calado, Lavado & Dias, 2017). Por como motivação para a utilização de NSP em outro lado, a curiosidade permanece como a detrimento de outras. Em outros países, é o caso de principal motivação reportada para consumo de reclusos, condutores, militares ou indivíduos em NSP em Portugal (Vavrincikova et al ., 2016), o que tratamento, por exemplo. No entanto, face à vai ao encontro ao padrão de consumo vigente, escassez de dados, não é possível construir tendencialmente experimental e ocasional inferências para a realidade nacional. (Henriques & Silva, 2016). Em suma , a perceção geral em Portugal é de que Segundo alguns especialistas, o consumo regular de o fenómeno das NSP é pouco expressivo, tem NSP em Portugal ocorre primordialmente em vindo a decrescer e a perder visibilidade, contextos recreativos, com destaque para as festas nomeadamente após o encerramento das trance. Os participantes deste tipo de eventos smartshops . Mesmo entre consumidores de NSP, este tipo de substâncias tende a ser visto de destacam-se por um maior conhecimento acerca uma forma pouco positiva, essencialmente por destas e de outras substâncias psicoativas serem vistas como artificiais. Verifica-se que, (Benschop et al ., 2017; Calado, 2006), revelando-se seja entre consumidores, seja entre geralmente bem informados. Merecem destaque profissionais, a categoria NSP é pouco também os psiconautas que tendencialmente consensual quanto às substâncias que abrange, procuram determinados efeitos, sobretudo bem como quanto aos critérios de inclusão. alucinogénicos (Benschop et al ., 2017), com consumos intencionais. Efetivamente, se por um lado os consumidores tendem a expressar mais

VI. ACESSO / ACESSIBILIDADE

As constantes e rápidas mudanças dos mercados de De acordo com os dois questionários online lançado drogas, associadas à alteração das substâncias no âmbito do presente estudo, é opinião geral dos existentes e síntese de novas, convoca os respondentes que as NSP continuam a ser vendidas mecanismos de regulação a nível nacional e em Portugal. Se cerca de 2/3 dos consumidores internacional para a necessidade de maior inquiridos tem essa opinião, a mesma é partilhada adaptação e supervisão (Soussan, Andersson & por 85% dos profissionais inquiridos. Entre estes Kjerllgren, 2018; UNODC, 2017). É reconhecida a últimos, a partir da sua experiência profissional, disponibilidade destas substâncias num mercado 94% consideram que as NSP são vendidas na predominantemente desenvolvido na Internet, Internet em Portugal. designadamente na darknet (Soussan & Kjellgreen, 2014), à qual públicos diferenciados têm acesso Em contraponto, embora os dados provenientes de (Van Hout et al ., 2018). estudos nacionais confirmem a utilização da Internet para a aquisição de NSP, entre consumidores

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esta prática parece ter uma expressão mais Diversas fontes apontam para a existência de lojas reduzida. Cerca de um terço dos consumidores que, de forma clandestina, continuam a vender NSP recentes de NSP inquiridos no âmbito do inquérito em Portugal. Por exemplo, no inquérito à população à população geral (Balsa, Vital & Urbano, 2018) e em geral (Balsa, Vital & Urbano, 2018), 14% dos apenas 14% dos consumidores recentes de NSP no consumidores recentes continuam a mencionar as âmbito do inquérito aplicado no Dia da Defesa lojas como local de acesso às NSP. No mesmo Nacional 2017 (Carapinha & Calado, 2018) sentido, também os consumidores inquiridos em reportaram a utilização da Internet como meio de vários dos estudos citados referem aquisição nos 12 meses anteriores. Por sua vez, esporadicamente este meio de aquisição. Esta é também 25% dos consumidores inquiridos no também a opinião dos profissionais inquiridos e de presente estudo utilizaram a Internet para o mesmo peritos participantes no presente estudo, que fim no mesmo período temporal. Desta forma, esta relatam a comercialização em loja em Lisboa. não parece ser, portanto, a forma predominante de Em suma , e não obstante a relevância dos aquisição de NSP em Portugal. Na população em instrumentos em implementação que aferem a geral, por exemplo, metade dos consumidores circulação destas substâncias nos mercados deste tipo de substâncias refere a aquisição através europeus, em Portugal o domínio da de outros meios. acessibilidade das NSP parece constituir-se como dimensão do fenómeno ainda em défice de A maioria dos consumidores recentes de NSP conhecimento, requerendo um investimento inquiridos no festival NOS Alive destaca, em notório no aperfeiçoamento dos mecanismos de primeiro lugar, a aquisição através de identificação e regulação de mercado, assim como das políticas que os suportam. amigos/conhecidos, forma de acesso mencionada Contudo, os dados disponíveis apontam para que também por 7 dos 9 consumidores recentes deste os meios de acesso a NSP sejam semelhantes às tipo de substâncias inquiridos no presente estudo. formas de acesso a substâncias ilícitas, o que está Em ambos os estudos, ainda que de uma forma mais de acordo com o recurso a estas substâncias a par residual, os consumidores inquiridos fazem do das ilícitas. A utilização da Internet, também referência à aquisição de NSP em mercado crescentemente constatada no contexto de rua e/ou nos mesmos circuitos das substâncias internacional, parece começar a assumir alguma dimensão também em Portugal. ilícitas. Por seu lado, esta via de aquisição é mencionada por 79% dos profissionais inquiridos neste trendspotter .

VII. RISCOS ASSOCIADOS AO CONSUMO / USO PROBLEMÁTICO E MORTALIDADE

Os utilizadores de NSP que responderam ao ansiosos, alterações do sono e do humor e, de questionário online consideram que o uso destas modo menos frequente, sintomas psicóticos. Os substâncias comporta maiores riscos para a saúde profissionais que responderam ao questionário do que as drogas ilícitas tradicionais, ainda que online identificam os problemas de saúde mental considerem que tal dependa sobretudo da como os riscos mais associados à utilização de NSP substância em si (52,4%) e da quantidade utilizada (56%), seguindo-se riscos não conhecidos (28%) e (38,1%). problemas ao nível da saúde física (24%). De igual modo, em termos de danos concomitantes, os São referidas como consequências mais frequentes problemas de saúde mental são identificados de um associadas ao uso de NSP neste estudo os sintomas modo muito preponderante (cerca de 74%),

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seguindo-se os problemas de saúde física (28%) e os substância foi considerada causa ou como fator que de natureza social/familiar/legal (24%). contribuiu para a morte (WHO, 2014, 2017).

Quer o reportado pelos utilizadores, quer pelos Em Portugal, de acordo com os dados reportados profissionais, é consonante com os dados da pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências literatura (Van Hout et al ., 2018; Pirona et al ., 2017; Forenses, exames toxicológicos post-mortem Abdulrahim & Bowden-Jones, 2015; Karila et al ., realizados desde 2012 têm esporadicamente 2015) que salientam os riscos e danos nos domínios confirmado a presença de NSP no organismo, da saúde física e particularmente mental associados embora tal não queira significar necessariamente à utilização de NSP. que constituam a causa da morte. Em 2016, verificaram-se, pelo menos, 4 óbitos em território De igual modo, no âmbito dos focus groups os nacional com a presença deste tipo de substâncias especialistas participantes identificaram o risco de – nomeadamente ketamina, piperazinas e desenvolvimento / consolidação de perturbações triptaminas – em associação com outras, como psiquiátricas pelo uso de NSP, designadamente álcool, cannabis , morfina e benzodiazepinas. episódios psicóticos, sintomas maníacos, insónia, comportamentos auto-lesivos e perturbações da O grau de toxicidade destas substâncias em si não ansiedade. Foi ainda salientado, por um lado, o foi identificado pelos especialistas participantes facto de os utilizadores poderem vir a desenvolver neste estudo como causa principal de morte, mas défices nas funções executivas e de funcionamento antes os comportamentos e as circunstâncias cognitivo mais amplo, assim como outras condições associados à sua utilização. Efetivamente, os psicopatológicas; e, por outro, que o uso precoce próprios critérios de determinação das causas de destas substâncias parece mais relacionado com um morte são heterogéneos, dependendo a análise maior risco de morbilidade psiquiátrica. O toxicológica efetuada da requisição inicial que, por seguimento clínico e follow-up destes utilizadores, sua vez, depende da sensibilidade das equipas frequentemente impossibilitado por não adesão às forenses para a análise de indicadores específicos. respostas de saúde tradicionais disponíveis, Tal pode frequentemente conduzir à consideração dificulta a medida de potenciais impactos a de mortes que, podendo estar associadas à médio/longo prazo dos consumos de NSP. utilização de NSP, são declaradas como de ‘causa desconhecida’ (Elliott, Sedefov & Evans-Brown, A prevalência de mortalidade pelo uso de NPS não 2018). é reconhecida como elevada. A nível europeu, num relatório de 2014 foram identificadas 32 situações A relevância do despiste toxicológico das NSP, de intoxicações não fatais e 4 mortes em que a 25I- devidamente sinalizado no contexto dos focus NBOMe especificamente estava presente (1 das groups , detém também implicações no contexto de mortes devido à substância) (WHO, 2014a). No emergência hospitalar. A inexistência de análises âmbito dos canabinóides sintéticos têm sido rápidas de despiste de NSP em serviços de urgência reportados níveis de particular toxicidade, não promove intervenções mais específicas em nomeadamente da JHW-018 pela sua ação agonista função das substâncias realmente consumidas o no recetor CB1 e, por seu turno, o particular que, aliado à vacuidade de respostas terapêuticas potencial de abuso da AB-CHMINACA devido ao seu particulares para as NSP – o controlo sintomático efeito rápido e curto. A nível mundial, ambas as em termos médicos e psiquiátricos é o mais substâncias já foram identificadas em casos de comumente desenvolvido (Abdulrahim & Bowden- intoxicação aguda (com múltiplos efeitos adversos) Jones, 2015) – dificulta a acuidade diagnóstica e a e de morte. Em 7 dos 31 casos de morte em que foi adequada referenciação para cuidados identificada a presença de AB-CHMINACA esta especializados dos casos que o necessitem.

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É de salientar que tanto no inquérito online a Em suma , os dados obtidos apontam para uma consumidores de NSP, como num estudo recente a perceção relativamente consensualizada da participantes de um festival de música (Calado, perigosidade das NSP. A literatura e os dados Lavado & Dias, 2017), nenhum dos inquiridos obtidos neste estudo vão no sentido de associar reconheceu ter recorrido a um serviço de urgência sintomas físicos e psiquiátricos agudos ao uso de médica devido ao consumo deste tipo de NSP, em diferentes contextos, requisitando substâncias. Também a percentagem que declara competências particulares de intervenção em crise. que tal aconteceu a amigos ou conhecidos é Ainda que de aparente baixa prevalência, a residual. Contudo, no âmbito dos focus groups foi intoxicação por NSP requer avaliação e veiculada a existência de casos graves em contextos intervenções específicas, de momento recreativos (ex: Boom Festival) decorrentes do uso escassamente disponíveis. A concomitante de NSP, que requereram intervenção de vacuidade de informação impossibilita uma emergência pelos serviços de apoio existentes em comprovada associação entre o uso de NSP e RRMD, com apoio clínico de manejo específico. situações críticas de morbilidade, nomeadamente as que dão entrada em Em virtude destas constatações há um emergência hospitalares. Relativamente a mortes por uso de NSP, os reconhecimento da necessidade formativa / dados carecem de maior consistência, crendo-se informativa por parte dos profissionais que que algumas que tenham decorrido por uso de responderam ao questionário online no domínio NSP possam estar a declaradas como de ‘causa das NSP (35,7%), dado igualmente corroborado desconhecida’, dificultando a delimitação do pelos especialistas que integraram os focus groups problema. e que é consentâneo com a literatura neste tópico É consensual que as necessidades de informação (ex: Pompidou Group, 2017; Torrado et al ., 2017; e formação para a intervenção neste âmbito são elevadas. Wood, Ceronie & Dargan, 2016).

VIII. DISCUSSÃO E RECOMENDAÇÕES

Através da metodologia trendspotter tentou-se, por estabelecida, decorrendo provavelmente, em um lado, conseguir um retrato circunscrito e fiel da parte, dessa conceptualização ambígua. atualidade do fenómeno das NSP em Portugal e, por outro, subsidiar o conhecimento existente por meio Nos últimos anos têm sido desenvolvidos estudos da leitura dos achados deste projeto à luz de uma mais específicos com subgrupos da população revisão bibliográfica bem delimitada. portuguesa, alguns dos quais no contexto de consórcios internacionais, visando caracterizar a Tendo em conta os eixos de análise que se utilização destas substâncias, sobretudo no que definiram para caracterizar este fenómeno em concerne a prevalências, padrões e perfis de Portugal, constatou-se que, tal como sugerido pela consumo. literatura (ainda bastante restrita em torno de dados nacionais), a literacia sobre as NSP é pouco Fruto da discussão em torno deste termo, no qual consolidada, fruto por um lado do próprio conceito alguns incluem mesmo o uso de medicamentos não ser abrangente e difuso – perceção comungada por prescritos ou de substâncias que incrementem o profissionais e utilizadores – e, por outro, a desempenho cognitivo e/ou físico, identificou-se epidemiologia inerente à utilização destas como possível alternativa o conceito de tendências substâncias encontrar-se igualmente pouco emergentes de consumo, procurando-se refletir

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não apenas a utilização de novas substâncias mas mesmo discrepâncias entre as catinonas e as também de novos padrões de consumo. plantas quanto à dimensão do consumo não intencional. Esta investigação confirma como a categoria Novas Substâncias Psicoativas não só é pouco clara para os O caráter aparentemente residual, experimental e profissionais quanto às substâncias que engloba, volátil do consumo destas substâncias, bem como como, de uma forma geral, não é utilizada pelos as alterações nos padrões de consumo em função consumidores, que tendem a utilizar os nomes de das modificações observadas nas formas de substâncias específicas que, como se constata apresentação, sugerem ainda a particular também em Portugal, são, maioritariamente, de relevância da pesquisa qualitativa neste domínio. breve permanência no mercado. Relativamente aos indicadores de disponibilidade Face à realidade atual, importa ponderar a destas substâncias, constata-se como, à substituição do termo NSP por outro(s). Uma vez semelhança do que é observado a nível que a categoria NSP é reconhecidamente artificial, internacional, o mercado de NSP permanece como congregando substâncias de diferentes natureza, particularmente dinâmico, quer no que toca à composição e estatuto legal, futuros estudos introdução de novas substâncias, quer no que diz beneficiariam de uma abordagem centrada em respeito às suas formas de apresentação. Apesar de substâncias e padrões de consumo em concreto. se caracterizar pela volatilidade, algumas substâncias, porventura devido à maior aceitação Os dados provenientes de inquéritos quantitativos pelos consumidores, permanecem no mercado e qualitativos analisados reforçam a ideia de que a durante um período de tempo superior. Com efeito, prevalência de consumo de NSP em Portugal é substâncias como a salvia divinorum, a ketamina ou reduzida quando comparada com a das substâncias o GHB eram já consumidas em Portugal antes do ilícitas (mesmo excluindo a cannabis ) e inferior à fenómeno Novas Substâncias Psicoativas. média europeia. Contudo, tendo em conta os dados provenientes de amostras apreendidas e dos A aparente incipiente introdução deste grupo de serviços de drug checking , por exemplo, constata-se substâncias no mercado português aliada à a necessidade de considerar também a dimensão tendência recente de diminuição do mercado a do consumo não intencional, indo, portanto, para nível europeu, sugerem, que, porventura, além das prevalências estimadas a partir das globalmente não seja de antecipar um particular declarações de consumo em inquéritos incremento do consumo deste tipo de substâncias epidemiológicos. em Portugal. Contudo, a, também recente, tendência internacional quanto à oferta de opióides Neste contexto, o cruzamento de múltiplas fontes sintéticos e identificação recente dos mesmos em assume particular relevância na análise da Portugal, ainda que residualmente, é merecedora dimensão do consumo de distintos grupos de Novas de particular atenção no contexto português, tendo Substâncias Psicoativas. Neste estudo, o confronto em conta o número de consumidores e ex- de múltiplas fontes evidencia algumas consumidores de opiáceos. Neste âmbito, merecem discrepâncias entre os dados provenientes da especial atenção os consumidores problemáticos oferta e os provenientes do autorrelato. É o caso que, pela sua vulnerabilidade económica e das catinonas e das plantas, cujos dados de facilidade de acesso, poderão ser mais suscetíveis disponibilidade parecem superar os do autorrelato ao consumo quer intencional quer não intencional nas primeiras, sucedendo o contrário nas segundas. deste tipo de substâncias. Algumas hipóteses podem ser colocadas, desde logo, limitações metodológicas relacionadas com o autorrelato, a eventual maior integração das catinonas no circuito das substâncias ilícitas ou

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Os produtos legislativos que promoveram o fecho da investigação e desenvolvimento de análises das smartsh ops e as demais dimensões da oferta de rápidas de despiste de NSP é essencial para a NSP em Portugal parecem ter contribuído para uma criação de intervenções mais específicas em função diminuição da utilização destas substâncias. das substâncias consumidas assim como de terapêuticas ajustadas, que possam ir além da A perceção negativa de diferentes públicos sobre as simples atenuação de sintomas agudos e NSP parece não ter mudado substancialmente, promovam uma adequada continuidade de sendo que a sua utilização parece continuar a estar cuidados. mais associada a grupos específicos de consumidores para uso em contexto festivo. O Em termos de limitações, o projeto empreendido encerramento de lojas especializadas parece ter não obteve dados relativos a possíveis dimensões promovido uma diminuição da prevalência de de intervenção e a grupos particulares envolvidos consumo intencional. No entanto, a motivação para no fenómeno das NSP e que, em futuros estudos de a aquisição de NSP poderá ter encontrado espaço âmbito nacional, devem ser devidamente em mercados ocultos, mais difíceis de observar e contemplados. caracterizar, existindo também evidência que o consumo não intencional deste tipo de substâncias A área da prevenção e da qualidade da informação é uma realidade. A ação legislativa tem prosseguido a veicular junto da população, em geral, ou de neste domínio, com a contínua introdução de novas grupos potencialmente mais vulneráveis, em substâncias sob controlo, tendo em conta a especial, carece de uma reflexão e da avaliação internacional de riscos efetuada. implementação de medidas. Não é claro, nomeadamente através da literatura internacional, Um dos aspetos muito consensuais neste estudo que estratégias e metodologias devem ser prende-se com o consumo não intencional de NSP priorizadas em abordagens preventivas à utilização (e os concomitantes danos para a saúde). Os dados de NSP, devidamente adaptadas aos grupos-alvo e obtidos reforçam a necessidade premente de suficientemente inovadoras. Por outro lado, o tipo incrementar políticas que facilitem a de conteúdos informativos a veicular em disponibilização de dispositivos de RRMD, entre os plataformas de saúde, ou outras, deve ser quais se deverá conferir especial relevância aos de igualmente objeto de investimento. Alguns projetos drug checking em contextos festivos; como também para o aumento da literacia em NPS junto de faixas a investigação e desenvolvimento de instrumentos etárias específicas têm emergido em diferentes que facilitem a deteção de NSP em contexto de contextos – tendo a Internet uma importância emergência. Efetivamente, alguns estudos têm particular (ex: www.mindyourtrip.eu) – que salientado que os sujeitos que submetem a análise importa promover e monitorizar. as substâncias que ponderam consumir tendem a não utilizá-las quando o teste indica tratar-se de Um dos subgrupos cuja caraterização este estudo outra substância que não a pretendida (ex: Martins tentou abarcar, ainda que sem sucesso por ausência et al ., 2017). Estes dados reforçam a dimensão de fontes, prendeu-se com os utilizadores de NSP dissuasora destas estratégias e o contributo nas práticas de chemsex . A literatura, ainda que significativo para a gestão dos riscos e promoção da escassa, tem identificado alguns homens saúde dos utilizadores, com impacto positivo na utilizadores intencionais destas substâncias nestes saúde pública. contextos (Schmidt et al ., 2016). Os dados disponíveis encontram-se desatualizados, pelo que Um nível adicional consensualmente identificado esta realidade carece de um estudo continuado, como requerente de maior investimento é o seja através dos instrumentos existentes e redes de despiste toxicológico, com particular impacto no investigação em curso (European MSM Internet contexto de emergência hospitalar. O incremento Survey, EMIS) seja através de outras metodologias

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de análise qualitativa, designadamente nacionais. Em síntese, os considerandos supramencionados Neste âmbito, será de relevo a implementação de sugerem que as abordagens ao fenómeno das NSP estudos que possam caracterizar junto dos grupos em Portugal beneficiam largamente das seguintes já mencionados (e outros) as motivações ações: predominantes do uso de NSP em Portugal, assim - Incrementar o drug checking integrado em como os riscos e consequências para a saúde dispositivos de RRMD abrangentes decorrentes destas práticas. - Incrementar a formação / informação / literacia neste âmbito, designadamente Um outro subgrupo que neste estudo não foi junto de profissionais e em interface com igualmente abarcado é o dos reclusos. A assunção área da Saúde Mental de que este grupo utiliza NSP estritamente - Incrementar a continuidade de cuidados motivado pelo evitamento da deteção do uso de junto de indivíduos utilizadores com substâncias psicoativas ilícitas pode constituir um morbilidade, assim como a investigação equívoco, pelo que carece de melhor caracterização longitudinal de variáveis no âmbito da saúde visando aferir estratégias de intervenção física e psiquiátrica (estudo de impacto da específicas. utilização de NSP) - Promover diferentes níveis de investigação, Ainda no contexto das limitações importa salientar designadamente farmacológica, qualitativa as inerentes à identificação de consensos, e baseada na triangulação de informação tendências e conclusões a partir do cruzamento de - Dirigir a investigação a substâncias e padrões fontes muito diversas, designadamente quanto a de consumo específicos, em alternativa à metodologias, conteúdos e grupos alvo. categoria NSP - Reforço da colaboração entre parceiros, nomeadamente na definição de protocolos de procedimentos nas várias áreas de intervenção - Desenvolver políticas de prevenção ambiental abrangentes - Produção de informação online em Português dirigida a diferentes grupos da população.

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IX. AGRADECIMENTOS

Este projeto de investigação desenvolvido pelos - Inês Macedo (Centro Hospitalar de Lisboa profissionais do SICAD, com o suporte técnico e Ocidental, E.P.E. – Serviço de Psiquiatria e de financeiro do EMCDDA, foi possível em virtude do Saúde Mental) contributo muito significativo dos vários - Maria João Caldeira (Laboratório Cientifico participantes nos questionários online (utilizadores da Polícia Judiciária) de NSP e profissionais de diferentes áreas de - Mário João Dias (Instituto Nacional de intervenção), bem como das entidades abaixo Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P.) mencionadas, designadamente dos profissionais - Marta Borges (ARS Lisboa e Vale do Tejo, I.P. que de seguida se elencam: - DICAD) - Alessandra Bo, Alessandro Pirona e João - Miguel Talina (Centro Hospitalar de Lisboa Matias (EMCDDA) Ocidental, E.P.E. – Serviço de Psiquiatria e de - Álvaro Lopes (Egas Moniz – Cooperativa de Saúde Mental) Ensino Superior, C.R.L.) - Neide Urbano (Centro Hospitalar de Lisboa - António Malta (ARS Algarve, I.P. – Divisão de Central, E.P.E. – Área de Pedopsiquiatria do Intervenção nos Comportamentos Aditivos e Hospital D. Estefânia) nas Dependências, DICAD) - Rita Lopes (Associação Crescer) - Cristiana Pires (Cria/ Associação Kosmicare) - Joana Silva (Centro de Investigação e Estudos - Daniel Martins e Helena Valente de Sociologia, CIES-IUL) (Universidade do Porto)

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X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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