Duas novas espécies de Taillandsia L., subgênero Anoplophytum (Beer) ... 89

Duas novas espécies de L., subgênero Anoplophytum (Beer) Baker ( , ) para a fl ora sul brasileira

Henrique Mallmann Büneker1, 2, , Rodrigo Corrêa Pontes1, 2 & Kelen Pureza Soares 3

1 Herbário do Departamento de Ciências Florestais, Universidade Federal de Santa Maria, Av. Roraima, 1000, CEP 97105-900, Camobi, Santa Maria, RS, Brasil. [email protected] 2 Universidade Federal de Santa Maria , Colégio Politécnico, Av. Roraima, 1000, CEP 97105-900, Camobi, Santa Maria, RS, Brasil. 3 Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-graduação em Engenharia Florestal, Centro de Ciências Rurais, Av. Roraima, 1000, CEP 97105-900, Camobi, Santa Maria, RS, Brasil.

Recebido em 22.VI.2013. Aceito em 27.V.2014

RESUMO - Duas novas espécies saxícolas de Tillandsia ( Bromeliaceae, Tillandsioideae ), Tillandsia witeckii sp. nov. e Tillandsia chasmophyta sp. nov. , são descritas e ilustradas. São fornecidos dados sobre fenologia, distribuição geográfi ca e habitat, assim como comentários sobre afi nidades morfológicas e estado de conservação dos novos táxons. Palavras-chave: Tillandsia witeckii sp. nov., Tillandsia chasmophyta sp. nov. , plantas saxícolas, taxonomia

ABSTRACT - Two new of Tillandsia L. subgenus Anoplophytum (Beer) Baker (Bromeliaceae, Tillandsioideae ) for the southern Brazilian fl ora. Two new saxicolous species of Tillandsia ( Bromeliaceae, Tillandsioideae ), Tillandsia witeckii sp. nov. and Tillandsia chasmophyta sp. nov. , are described and illustrated. Data on phenology, geographical distribution and habitat, as well as comments on their morphological affi nities and conservation status are provided in this manuscript. Key words: Tillandsia witeckii sp. nov., Tillandsia chasmophyta sp. nov. , saxicolous ,

INTRODUÇÃO série de novas ocorrências de outras espécies ou descreveram novas (Ehlers 1997, Rauh 1984, Strehl O gênero Tillandsia L., dentre as Bromeliaceae , é 2000, 2004, Winkler 1982). As mais recentes, descri- o que apresenta o maior número de espécies, cerca de tas por Strehl (2000, 2004), T. afonsoana, T. bella, T. 610 (Luther 2010), distribuídas em seis subgêneros: itaubensis, T. jonesii, T. winkleri e T. rohdenardini Tillandsia , Allardtia (A. Dietr.) Baker, Anoplophy- pertencem, assim como as novas espécies propostas tum (Beer) Baker, Diaphoranthema (Beer) Baker, neste artigo, ao subgênero Anoplophytum, são saxí- Phytarrhiza (Vis.) Baker e Pseudalcantarea Mez colas e possuem ocorrência restrita. (Barfuss et al . 2005). Dispersas pelas três Américas Atualmente são citadas 25 espécies de como epífi tas ou saxícolas, habitam os mais diver- Tillandsia para o Rio Grande do Sul, pertencentes sos ambientes, podendo ocorrer em regiões secas ou aos subgêneros Anoplophytum, Diaphoranthema e também em fl orestas úmidas, desde o alto das mon- Phytarrhiza. Dessas, 18 são consideradas ameaçadas tanhas frias até os vales nebulares e da beira do mar de extinção neste Estado (Forzza et al . 2013 , Rio até o interior do continente (Leme & Marigo 1993). Grande do Sul 2003). No Rio Grande do Sul (Brasil), os primeiros le- vantamentos do número de espécies de Bromeliaceae MATERIAL E MÉTODOS foram organizados por Rambo (1967) e Reitz (1967), os quais citavam 14 espécies do gênero Tillandsia Este estudo foi realizado através da revisão da para esse Estado. Estudos posteriores revelaram uma literatura especializada e de descrições originais

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 89 14/07/2014 18:45:50 90 BÜNEKER, H.M.; PONTES, R.C. & SOARES, K.P..

(Baker 1878, 1887, 1889, Ehlers 1981, 1997, Grise- inconspicuus, 1,2-1,7 cm longus; Bracteae scapales bach 1874, 1879, Hassler 1919, Hooker 1861, 1866, imbricatae, basales subfoliaceae, caeterae elipticae, 1893, Ker Gawler 1816, Lindley 1830, 1848, Mez ambae facies lepidotae, apex longe acuminatus; 1895, 1896, 1916, 1935, Rauh 1984, Reitz 1982, Infl orescentia simplex, 2-4 fl ora, ca. 2 cm longa; Smith 1956, Smith & Downs 1977, Solander 1813, Bracteae fl orales ellipticae ad suborbiculares, 1,2- Strehl 2000, 2004, Tardivo 2002, Till 1981 , Till & 1,8 x 0,8-1,3 cm, pauca infl atae, roseae, ambae Till 1995, Weber 1982, Winkler 1982 ). Também facies lepidotae, apex acuminatus; Flores sessili, foram consultados os acervos dos herbários HAS, polystiche dispositi; Sepala lanceolata ad stricto- HDCF, ICN, MPUC, PACA, PEL, RB, SMDB, SP, elliptica, aequaliter concrescita in base ab 0,2-0,3 SPF e os acervos digitais dos herbários B, K, NY, P, cm, anterior ecarinatum, posteriora carinata, apex US e WU (acrônimos segundo Thiers 2013). lepidotus; Petala 1,4-2 x 0,4-0,5 cm, lamina obovata Foram coletados espécimes para estudo em labo- ad ellipticam, violacea; Stamina inclusa; Filamenti ratório, cultivo e herborização. Os exemplares vivos plicati in regione media; Ovarium ellipticum, viride; foram incluídos na coleção de bromélias do Jardim Stylus violaceus in portione superiore. Botânico do Colégio Politécnico da Universidade Fe- Tipo: BRASIL, RIO GRANDE DO SUL, Cambará deral de Santa Maria (Rio Grande do Sul), mantidos do Sul, saxícola em cânion, 10.XI.2012, fl ., H.M. em estufa climatizada e ao ar livre. Amostras her- Büneker 111 & R.C. Pontes (Holótipo: SMDB 13922; borizadas de material fértil foram incorporadas aos Isótipos: HDCF 6508; SMDB 13923). herbários HDCF e SMDB ambos da Universidade Planta saxícola, caulescente, delicada, fl orida Federal de Santa Maria. A variação morfológica das 6-12 cm de altura, 2-4 cm de diâmetro. Raízes novas espécies foi observada tanto no habitat, quan- desenvolvidas. Rizoma desnudo. Folhas 20-35, to nos espécimes cultivados ao ar livre e em estufa polísticas, densamente dispostas, eretas ou suberetas, climatizada, onde também foram comparadas com as nunca refl exas; bainhas conspícuas, ovadas, 0,6- espécies morfologicamente próximas, sendo observa- 0,9 x 0,3-0,9 cm, lepidotas, branco-esverdeadas, dos seu desenvolvimento, fl oração e frutifi cação. Os translúcidas na base; lâminas estreito-tringulares, dados morfobiométricos quantitativos e qualitativos foram obtidos de material coletado de plantas in situ . canaliculadas, margens por vezes involutas, 1,2- As medidas das fl ores e peças fl orais foram tomadas 3 x 0,4-0,6 cm, verdes, algumas vezes rosadas, da segunda ou terceira fl or da base da infl orescência, densamente lepidotas em ambas as faces, escamas levando em conta que as fl ores basais são sempre adpressas. Escapo ereto ou levemente arqueado, maiores que as apicais. Para as descrições morfoló- inconspícuo, curtíssimo, cerca de 1,2-1,7 cm de gicas usou-se terminologia usual para Bromeliaceae , comprimento, verde, glabro ou esparsamente lepidoto baseando-se no modelo Smith & Downs (1977), com abaixo da inserção das brácteas. Brácteas escapais adaptações. Os dados das espécies afi ns, citados nas 2,1-3,2 cm de comprimento, imbricadas, as basais observações, foram obtidos na literatura especializa- subfoliáceas, lepidotas, verde-rosadas, as restantes da e nas descrições originais. As fotografi as foram elípticas, róseas, face externa densamente lepidota, tiradas de plantas em seu ambiente natural e, as pran- face interna lepidota em faixa centro-longitudinal, chas, desenhadas a partir da visualização de material ápice longamente acuminado, densamente lepidoto. vivo a olho nu ou com o auxílio de estereomicroscó- Infl orescência simples, compacta, com cerca de 2 cm pio. A avaliação do estado de conservação das novas de comprimento, 2-4 fl ora. Brácteas fl orais elípticas espécies foi baseado nos critérios da IUCN (2010). a suborbiculares, 1,2-1,8 x 0,8-1,3 cm, um pouco infl adas, cobrindo as sépalas, róseas, face externa RESULTADOS E DISCUSSÃO lepidota, face interna esparsamente lepidota em faixa centro-longitudinal, ápice acuminado. Flores sésseis, Tillandsia chasmophyta H. Büneker, R. Pontes & polisticamente dispostas. Sépalas lanceoladas a K. Soares sp. nov. estreito-elípticas, 0,25-0,4 x 1,2-1,3 cm, igualmente (Figs. 1 e 3 A-C, E) concrescidas na base por 0,2-0,3 cm, ás posteriores Planta saxicola, caulescens, delicata, fl orida carenadas, a anterior ecarenada, base esverdeada, 6-12 cm alta; Rhizoma desnudus; Folia 20-35, porção central branca, porção apical róseo-lepidota. polysticha, dense disposita, erecta vel suberecta, Pétalas 1,4-2 x 0,4-0,5 cm, espatuladas ou longamente nunquam refl exa; Vaginae ovatae; Laminae stricto- obovadas; unhas lineares, brancas na base, violáceas triangulares, canaliculatae, 1,2-3 x 0,4-0,6 cm, no ápice; limbo subereto a patente, obovado a adpresso-lepidotae; Scapus erectus, paucus arcuatus, elíptico, violáceo, ápice arredondado a obtuso.

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 90 14/07/2014 18:45:50 Duas novas espécies de Taillandsia L., subgênero Anoplophytum (Beer) ... 91

Figs. 1 A-G . Tillandsia chasmophyta (H.M. Büneker 111 & R.C. Pontes ). A. Aspecto geral da planta quando fértil; B. Face externa da bráctea escapal; C. Face externa da bráctea fl oral; D. Face externa das sépalas; E. Face interna da pétala; F. Estame; G. Pistilo. Barras = 1,5 cm.

Estames inclusos; fi letes brancos, plicados na região são encontradas outras espécies de Bromeliaceae mediana. Pistilo com 0,9-1,2 cm de comprimento, (Tillandsia geminifl ora Brongn., T. cf . recurvata alcançando a mesma altura que os estames; ovário (L.) L., Dyckia reitzii L.B.Sm., Vriesea platynema elíptico, verde; estilete branco na base, violáceo na Gaudich. e Vriesea sp.), Cactaceae ( Parodia spp.) e porção superior. Cápsula com cerca de 1,5 cm de Gesneriaceae ( Sinningia sp.). comprimento, subcilíndrica. Observações: Morfologicamente T. chasmophyta Etimologia: O epíteto específi co faz referência ao possui afi nidade com T. carminea W. Till e T. stricta ambiente onde é encontrada a espécie, chasma = Solander. A nova espécie diferencia-se de T. carminea abismo e phyto = planta em latim, ou seja, planta de pelas folhas com bainhas conspícuas e discolores abismo. em relação às lâminas (vs . bainhas indistintas e Dados fenológicos: Floresce de outubro a dezembro, concolores) e lâminas menores, mais estreitas (1,2-3 frutifi ca de novembro a janeiro. x 0,4-0,6 cm vs . 4-5 x 1,2 cm), fl exíveis e levemente Distribuição geográfi ca e hábitat: Habita abismos secundas (vs . folhas rígidas e secundas), assim como rochosos basálticos da região dos Aparados da pelas brácteas fl orais lepidotas em ambas as faces Serra no Rio Grande do Sul, na divisa com o Estado (vs . brácteas fl orais lepidotas apenas no ápice da de Santa Catarina, onde, provavelmente, ocorra face externa) e infl orescência menor com número também (Fig. 3 A, C). Nesses mesmos abismos, onde reduzido de fl ores (ca. 2 cm compr., 2-4 fl ora vs . ca. 3 vegetam as populações de T. chasmophyta também cm compr., 9-11fl ora), essas também com sépalas de

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 91 14/07/2014 18:45:50 92 BÜNEKER, H.M.; PONTES, R.C. & SOARES, K.P..

menor tamanho (1,3 cm compr. vs . 1,4 cm compr.). Tipo: BRASIL, RIO GRANDE DO SUL, Piratini, A forma e cor das brácteas e a cor das pétalas, assim saxícola em escarpa rochosa às margens do rio como o nível de concrescência das sépalas da nova Camaquã, 31.VIII.2012, fl . e fr., H.M. Büneker 86, espécie lembram T. stricta , porém desta se distingue S. Frasson, A.S. Lima, R.C. Pontes & L. Witeck polo menor porte quando fl orida (até 12 cm alt. vs . (Holótipo: HDCF 6279; Isótipos: SMDB 13924, até 22 cm alt.), folhas menores (até 3,9 cm compr. RB). Parátipos: idem 16.X.2010, fl ., R.C. Pontes vs . até 18 cm compr.), pelo escapo também menor e 390, L.T.B. Greff, K.P. Soares & L. Witeck (HDCF); inconspícuo (até 1,7 cm compr. vs . até 3 cm compr. e idem 8.VIII.2013, fl . e fr., H.M. Büneker 187, R.C. conspícuo), pela infl orescência menor e com menos Pontes, D.M. Stopp & L. Witeck (HDCF) fl ores (ca. 2 cm compr., 2-4 fl ora vs . ca. 5 cm compr., Planta saxícola, caulescente, fl orida 17-41 cm de 8-20 fl ora), pelas brácteas escapais e fl orais lepidotas altura. Raízes 0,8-1,6 mm de diâmetro, desenvolvidas, em ambas as faces e com tamanho inferior (brácteas ramifi cadas. Rizoma desnudo ou coberto por bainhas escapais 2,1-3,2 cm compr., brácteas fl orais 1,2- mortas remanescentes. Folhas 11-17, suculentas, 1,8 cm compr. vs . brácteas escapais 3-9 cm compr., polísticas, eretas ou suberetas, levemente curvadas brácteas fl orais glabras na face interna com 1,3-2 cm do centro da lâmina ao ápice; bainhas 2,4-4,1 x 2,3- compr.) e pétalas em geral mais largas (0,4-0,5 cm 3 cm, ovadas, brancas, hialina nas bordas laterais larg. vs . 0,2-0,45 cm larg.). inferiores, face adaxial glabra, face abaxial branca A espécie é possivelmente endêmica da localidade, ou prateada, com escamas conspícuas, densamente formando pequenas populações no Parque Nacional tomentoso-lepidota no ápice, margens ciliadas a partir da Serra Geral (Rio Grande do Sul). Porém apesar de de 1/3 da base; lâminas triangulares, canaliculadas, vegetar também em área de preservação, por serem 13,8-24 x 1,1-2,3 cm, velutino-lepidotas, verde- encontradas apenas populações pontuais em apenas cinéreas, quando jovens conspicuamente rosado- uma região restrita do Estado, ca. 20 Km², se sugere, avermelhadas, bordas próximas da base com de acordo com o critério B2 (área de ocupação) da escamas de maior tamanho, que excedem a margem IUCN (IUCN 2010), que a nova espécie seja anexada foliar, ápice agudo. Escapo ereto, ou levemente a lista de fl ora ameaçada de extinção do Rio Grande arqueado, 10,2-24,7 cm de comprimento, cilíndrico, do Sul e Brasil, na categoria EN (em perigo). branco na base, verde em direção ao ápice. Brácteas escapais, as da base foliáceas, densamente lepidotas, Tillandsia witeckii H. Büneker, R. Pontes & K. as restantes estreito-elípticas, 2,2-4,6 x 1-1,5 cm, Soares sp. nov. excedendo os entrenós, amareladas com base (Figs. 2, 3 D, F, G) esverdeada, paleáceas, algumas vezes translúcidas, Planta saxicola, caulescens, fl orida 17-41 cm ápice lepidoto atenuado a acuminado. Infl orescência alta; Rhizoma desnudus vel copertus ab vaginis simples 3-10 fl ora, 3,5-7,2 cm de comprimento, mortis remanescentibus; Folia 11-17, polysticha, algumas vezes laxa, com raque interfl oral aparente, erecta vel suberecta; Vaginae ovatae, facies na maioria das vezes bem compacta; raque achatada, adaxialis glabra, facies abaxialis dense lepidota in verde. Brácteas fl orais 1,9-3,4 x 0,8-1,5 cm, apice; Laminae triangulares, 13,8-24 x 1,1-2,3 cm, ovadas a estreito-elípticas, amarelas ou amarelo- velutino-lepidotae, virides vel roseo-rubescentes; esverdeadas, glabras ou inconspicuamente lepidotas, Scapus erectus, arcuatus, 10,2-24,7 cm longus; base esverdeada, ápice agudo-atenuado. Flores Bracteae scapales basis foliaceae, dense lepidotae, polisticamente dispostas, quando com poucas fl ores caeterae stricto-ellipticae, fl avescentes, apex subdísticas, suberetas a eretas, pediceladas; pedicelos atenuato-acuminatus, lepidotus; Infl orescentia 0,2-1 cm de comprimento, subcilíndricos, branco- simplex 3-10 fl ora, 3,5-7,2 cm longa; Bracteae esverdeados a verdes. Sépalas lanceoladas a estreito- fl orales ovatae ad strito-elipticas, 1,9-3,4 x 0,8-1,5 elípticas, amareladas, glabras, base esverdeada, cm, fl aveolae, subglabrae, apex atenuatus; Flores ápice atenuado, geralmente livres, 1,5-2,6 x 0,5-0,7 polystiche dispositi, pedicellati; Pedicelli 0,2-1 cm cm, a anterior ecarenada, as posteriores carenadas longi; Sepala libera, 1,5-2,6 x 0,5-0,7 cm, lanceolata e eventualmente concrescidas pela base por até 0,2 ad stricto-elliptica, glabra, anterior ecarinatum, cm. Pétalas 2,5-3,7 cm de comprimento, glabras, posteriora carinata; Petala 2,5-3,7 cm longa, lamina curvadas no limbo, espatuladas, unha sublinear, obovata ad ellipticam, violacea; Stamina inclusa; branca; lâmina obovada a elíptica, violácea, ápice Filamenti plicati in portione centro-superiore; cuneado a arredondado, algumas vezes emarginado. Ovarium obovatum. Estames inclusos; fi letes plicados na porção centro-

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 92 14/07/2014 18:45:52 Duas novas espécies de Taillandsia L., subgênero Anoplophytum (Beer) ... 93

Figs. 2 A-H . Tillandsia witeckii (H.M. Büneker et al. 86 ). A. Aspecto geral da planta quando fértil; B. Face externa da bráctea escapal; C. Face externa da bráctea fl oral; D. Face externa das sépalas; E. Face interna da pétala; F. Estame; G. Pistilo/Pedicelo. Barras = 3 cm.

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 93 14/07/2014 18:45:52 94 BÜNEKER, H.M.; PONTES, R.C. & SOARES, K.P..

Figs. 3 A-G. A-C, E . Tillandsia chasmophyta (H.M. Büneker 111 & R.C. Pontes ). A. Aspecto geral do cânion onde vegeta a nova espécie; B. Detalhe da infl orescência; C. Aspecto geral da população em período de fl oração; E . Aspecto da planta quando fértil. D, F, G . Tillandsia witeckii ( H.M. Büneker et al. 86 ). D. Detalhe da infl orescência; F. Aspecto da planta quando fértil; G . Visão geral do hábitat em escarpa rochosa às margens do rio Camaquã. Barras = 2 cm.

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 94 14/07/2014 18:45:56 Duas novas espécies de Taillandsia L., subgênero Anoplophytum (Beer) ... 95

superior. Ovário obovado, branco-esverdeado. bráeacteas amarelas ou amarelo-esverdeadas, Cápsula cerca de 2 cm de comprimento, robusta, sépalas amareladas e pétalas com limbo violáceo vs. ápice apiculado. T. winkleri e T. bergeri ambas com brácteas e sépalas Etimologia: o epíteto específi co presta homenagem róseas e pétalas com limbo azul-claro), pelas sépalas ao descobridor da espécie, o professor e naturalista livres ou as posteriores breve-concrescidas pela Leopoldo Witeck Neto, Engenheiro Florestal e base por até 0,2 cm (vs. concrescidas até próximo docente no Colégio Politécnico da Universidade ao ápice) e também por uma característica peculiar, Federal de Santa Maria (Rio Grande do Sul). os longos pedicelos que podem medir até 1 cm ( vs. Dados fenológicos: fl oresce de julho a dezembro, fl ores sésseis ou com pedicelos menores que 0,1 frutifi ca de agosto a janeiro. cm compr.), caracterizando-se como os maiores Distribuição geográfi ca e hábitat: até o momento já identifi cados dentre as espécies de Tillandsia é conhecida sua ocorrência apenas em uma escarpa subgênero Anoplophytum em comparação a dados de rochosa localizada às margens do rio Camaquã, no Tardivo (2002). município de Piratini, no sudeste do Estado do Rio Por ser encontrada em apenas uma escarpa Grande do Sul (Brasil), onde é encontrada como rochosa, sendo possivelmente endêmica da casmófi ta e saxícola (Fig. 3 G). Sua população localidade, sugere-se que a nova espécie, de acordo coabita com outras espécies saxícolas das famílias com o critério D1 (população muito pequena ou Bromeliaceae ( Aechmea recurvata (Klotzsch) restrita) da IUCN (IUCN 2010), seja anexada a lista L.B.Sm., Dyckia sp. e Tillandia lorentziana Griseb.), de fl ora ameaçada de extinção do Rio Grande do Cactaceae ( Parodia spp. e Cereus hildmannianus K. Sul e Brasil sendo considerada EN (em perigo) por Schum.) e Gesneriaceae ( Sinningia sp.). apresentar ca. 200 indivíduos na única população Observações: em seu ambiente natural Tillandsia conhecida. witeckii, quando em estado vegetativo, muito se assemelha com T. lorentziana. Porém uma análise AGRADECIMENTOS mais acurada das características vegetativas das duas espécies revelam suas diferenças: T. witeckii possui Ao Colégio Politécnico da Universidade Federal folhas eretas ou suberetas, nunca refl exas e as folhas de Santa Maria, e aos coordenadores do Curso jovens possuem tom rosado. Já T. lorentziana possui Técnico em Paisagismo, Marcelo Antônio Rodrigues as folhas mais externas refl exas e as folhas jovens e Leopoldo Witeck Neto, que proporcionaram as cinéreas. Quando férteis são facilmente distinguidas viagens até os ambientes naturais das espécies do pelas fl ores disticamente dispostas e com pétalas gênero Tillandsia encontradas no Estado, além de brancas de T. lorentziana em oposição às fl ores também cederem espaço para abrigar a coleção polisticamente dispostas e com pétalas violáceas de de Bromeliaceae . À professora de latim Leila T. witeckii . Maraschin pela contribuição na diagnose. E também A espécie possui difícil posicionamento às professoras Isis Samara Ruschel Pasquali, pela taxonômico dentre as possíveis afi nidades colaboração e contribuição nas saídas de campo, pela notória morfologia fl oral, relacionando-se Jumaida Rosito e Thais Scotti Dorow pelas morfologicamente com T. ramellae W. Till & S. contribuições na organização do artigo. Till, que ocorre no Chaco (Paraguai), pela cor e forma das brácteas, sépalas e pétalas, assim como o porte e o aspecto vegetativo geral, se diferenciando REFERÊNCIAS desta por possuir sempre infl orescência simples ( vs. infl orescência às vezes composta), fl ores dispostas Baker, J.G. 1878. A synopsis of the species of de forma polística (vs. fl ores dispostas de forma Diaphoranthema. Journal of Botany 16:236-241. dística), sépalas glabras (vs. sépalas lepidotas) e Baker, J.G. 1887. Synopsis of Tillandsieae . Journal of fi letes plicados ( vs. fi letes não plicados). Contudo, Botany 25:211-214. apesar da discrepante morfologia, T. witeckii também Baker, J.G. 1889. Handbook of the Bromeliaceae . London. 264 p. possui afi nidade com as sinpátricas T. winkleri e T. aff. bergeri Mez, que ocorrem respectivamente nos Barfuss, M.H.J., Rosabelle, S., Till, W. & Stuessy, T.F. 2005. Phylogenetic relationships in subfamily municípios Gaúchos de Riozinho (Strehl 2000) e Tillandsioideae ( Bromeliaceae ) based on DNA Bagé (I. Fernandes 886, ICN!), diferindo destas pela sequence data from seven plastid regions. American coloração das brácteas e do perianto (em T. witeckii : Journal of Botany 92:337-351.

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 95 14/07/2014 18:46:01 96 BÜNEKER, H.M.; PONTES, R.C. & SOARES, K.P..

Ehlers, R. 1981. Tillandsia rosea ? – Tillandsia neglecta ? Vegetabilis Conspectus (A. Engler, ed.). Leipzig, v.4, Die Bromelie 1981:69-73. p. 1-682. Ehlers, R. 1997. Tillandsia polzii R. Ehlers spec. nov. Die Rambo, B. 1967. Bromeliaceae Riograndenses. Pesquisas. Bromelie 1997:11-15. Serie Botânica 25:1-27. Forzza, R.C., Costa, A.F. da, Leme, E.M.C., Versieux, L. de Rauh, W. 1984. Bromelienstudien, Tillandsia toropiensis . M., Wanderley, M. das G.L., Louzada, R.B., Monteiro, Tropische und Subtropische Planzenwlt 50:10-13. R.F., Judice, D.M., Fernandez, E.P., Borges, R.A.X., Penedo, T.S. de A., Monteiro, N.P., Moraes, M.A. Reitz, R. 1967. Lista das Bromeliáceas da região sul. 2013. Bromeliaceae. In Livro Vermelho da Flora do Sellowia. Anais botânicos do Herbário Barbosa Brasil (G. Martinelli & M.A. Moraes, orgs.). Instituto Rodrigues 19:101-107. de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Reitz, R. 1982. Bromélias de Santa Catarina e o problema Janeiro, p. 315-396. da malária-endêmica. In Flora Ilustrada Catarinense Grisebach, A.H.R. 1874. Plantae Lorentzianae. (R. Reitz, org.). Itajaí, p. 1-808 . Abhandlungen der Gesellschaft der zu Königlichen Rio Grande do Sul. 2003. Decreto nº 42.009, de 1º de Wissenschaften Göttingen 19:49-279. janeiro de 2003. Lista fi nal das espécies ameaçadas da Grisebach, A.H.R. 1879. Symbolae ad Floram argentinam. fl ora do estado do Rio Grande do Sul. Disponível em: Göttingen. 362 p. http://www.fzb.rs.gov.br/downloads/fl ora_ameacada. Hassler, E. 1919. Bromeliacearum paraguariensiam pdf. Acesso em 19.07.2012. conspectus. Annuair du Conservatoire et du Jardin Smith, L.B & Downs, R.J. 1977. Tillandsioideae Botaniques de Genèves 20:1-536. (Bromeliaceae ). In Flora Neotropica, Monogr. 14(2). Hooker, W.J. 1861. Tillandsia recurvifolia , recurved- Hafner Press, New York. p. 1-1401 leaved Tillandsia . Botanical Magazine 87: tabula 5246. Smith, L.B. 1956. The Bromeliaceae of . Hooker, W.J. 1866. Tillandsia xiphioides . Buenos Ayres Smithsonian Miscellaneous Collections 126(1):1-450. Air-plant. Botanical Magazine 92:tabula 5562. Solander, D.C. 1813. Tillandsia stricta . Frosted stiffl eaved Hooker, W.J. 1893. Tillandsia microxiphion . Native of Tillandsia . Botanical Magazine 37: tabula 1529. Monte Video. Botanical Magazine 119: tabula 7320. Strehl, T. 2000. Novos táxons de Tillandsia subgênero IUCN (2010) Guidelines for Using the IUCN Red List Anoplophytum ( Bromeliaceae ) do Rio Grande do Sul, Categories and Criteria. Version 8.1. Prepared by the Brasil. Iheringia. Série Botânica 54:19-44. Standards and Petitions Sub–Committee in March 2010. Disponível em: http://intranet.iucn.org/webfi les/ Strehl, T. 2004. Novas espécies de Bromeliaceae do Rio doc/SSC/RedList/RedListGuidelines.pdf. Acesso em Grande do Sul, Brasil. Vidalia 2(2):19-25. 15.02.2013. Tardivo, R.C. 2002. Revisão taxonômica de Tillandsia L. Ker Gawler, J.B. 1816. Tillandsia xiphioides , Buenos subgênero Anoplophytum (Beer) Baker ( Bromeliaceae ) Aires or aire-plant. Botanical Register 2: tabula 105. 238 f. Tese de doutorado, Universidade de São Paulo, Leme, E.C. & Marigo, L.C. 1993. Bromélias na natureza. São Paulo. Marigo Comunicação Visual. Rio de Janeiro. 183 p. Thiers, B. 2013, and continuously updated. Index Lindley, J. 1830. Tillandsia rosea . Pink-Headed Tillandsia . Herbariorum: a global directory of public herbaria and Botanical Register 16: tabula 1357. associated staff. New York Botanical Garden’s Virtual Lindley, J. 1848. Tillandsia rubida . Madder-cloured Herbarium. Disponível em: http://sweetgum.nybg.org/ Tillandsia . Botanical Register 28: tabula 63. ih/. Acesso em: 06.04.2014. Luther, E.H. 2010. An alphabetical list of bromeliad Till, W. & Till, S. 1995. Tillandsia ramellae W. Till & binomials. Bromeliad Society International, Sarasota, W. Till ( Bromeliaceae ), a new endemic species from ed. XII, p. 1-114. northwestern . Contribution to the study of the fl ora and vegetation of the Chaco. Candollea Mez, C. 1895. Bromeliaceae . In Flora Brasiliensis (C.F.P. Martius, A.G. Eichler & I. Urban, eds.). Leipzig, v.3, 50(2):453-456. part. 2, p. 577-114. Till, W. 1 981. Tillandsia carminea - A new bromeliaceous Mez, C. 1896. Bromeliaceae . In Monographiae species from the Serra dos Órgãos near Rio de Janeiro phanerogamarum (A.P.P. de Candolle & A.C.P. de in Brazil. Plant Systematics and Evolution 138:293- Candolle, eds.). Paris, v. 9, p. 1-990. 295. Mez, C. 1916. Adittamenta monographica 1916. Weber, W. 1982. The Mysterious Tillandsia rosea. Journal Repertorium specierum novarum regni vegetabilis of the Bromeliad Society 32(6):239-246, 271. 14(400):248-254. Winkler, S. 1982. Die Bromeliaceae von Rio Grande do Mez, C. 1935. Bromeliaceae . In Das Pfl anzenreich, Regni Sul. Documenta Naturae 3:1-90.

IHERINGIA, Sér. Bot., Porto Alegre, v. 69, n. 1, p. 89-96, julho 2014

6 artigo henrique e kelen.indd 96 14/07/2014 18:46:01