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LITOFÁCIES E SIGNIFICADO PALEOAMBIENTAL DOS SEDIMENTOS ITARARÉ NA REGIÃO -, ESTADO DE SÃO PAULO

Setembrino PETRI

RESUMO Este trabalho se refere à descrição litológica e estudos das estruturas sedimentares pre• sentes nos testemunhos de seis poços para água subterrânea, perfurados pelo Instituto Geoló• gico da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, em tomo das cidades de Capivari e Rafard, na região do médio rio Tietê, Estado de São Paulo. Estes poços, que atingiram profundidades entre 101,4 e 310m, foram totalmente testemunhados. O estudo desses teste• munhos, associado a dados obtidos no campo, conduziram à proposição de uma paleogeogra• fia durante parte do Permiano. As rochas estudadas pertencem ao Subgrupo Itararé que, na bacia do Paraná, se distribui do Neocarbonífero ao Mesopermiano. Além desses seis poços, foram referidos no presente trabalho, mas não descritos, mais sete poços perfurados pelo Instituto Geológico na região do médio Tietê, entre os anos de 1985 e 1990, também com testemunhagem completa, sempre envolvendo o Subgrupo Itararé.

ABSTRACT This paper deals with lithological description and comparisons of cores from six tho• roughly cored groundwater wells. They range in depth from 101,4 to 310m. They were dril• led between the years 1985 and 1990, near the towns of Capivari and Rafard, in the middle Tietê river valley, State of São Paulo, Brasil, by the "Instituto Geológico, Secretaria do Meio Ambiente". The drilled sediments are Permian in age and belong to the Permo-Carboniferous Itararé Subgroup. Seven additional wells in the middle Tietê valley, also drilled between 1985 and 1990 by the "Instituto Geológico", are referred to but not described. The interpretation of the lithologies and sedimentary structures of these sediments as well as addicional data from field researches allow a paleogeographic interpr.etation and reconstruction of the envi• ronments of deposition, in Permian times, around the Capivari and Rafard urban areas. A sea would have been persistently present in the area, its sediments being laid down in offsho• re and submarine fan conditions.

1 INTRODUÇÃO lise servirá de subsídio para trabalhos que esta• De 1985 a 1990, o Instituto Geológico da mos realizando, em paralelo, visando consi• Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São derações pa1eogeográficas que poderão contri• Paulo (IG-SMA) perfurou treze poços para água buir para o aprimoramento de pesquisas de subterrânea, com testemunhagem completa, to• aqüíferos. dos localizados no vale do médio Tietê. A maio• ria está localizada em duas áreàs, seis na de Capivari-Rafard e três na de Tietê (Fig. 1). 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O REGISTRO A profundidade máxima atingida por estes E A DESCRIÇÃO DAS LITOGRAFIAS poços foi de 310m e a mínima, 80m. As colu• DOS POÇOS' nas litológicas de todos foram por nós minucio• A - Nomenclatura dos poços - São refe• samente descritas e registradas. No presente ridos por uma letra, designativa do município ou artigo só estão relacionados os poços perfurados do distrito onde o poço foi perfurado. Exemplo: na região Capivari-Rafard. Em artigo subseqüen• R para Rafard; C para Capivari. Depois de um te serão relacionados os perfurados na região de traço, seguem-se as letras IG, significando que Tietê. o poço foi perfurado pelo Instituto Geológico. Os objetivos destes artigos, com referên• O número que vem a seguir se refere ao ano em cia aos poços perfurados, são os seguintes: que foi iniciado. Por exemplo, R-IG/85 signifi• a) divulgar as colunas litológicas, b) tecer con• ca que o poço foi perfurado pelo IG-SMA em siderações sobre o procedimento usado para 1985, no município de Rafard. Quando dois po• as descrições, c) análise comparativa. Esta aná- ços são iniciados no mesmo ano e no mesmo

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TABELA 1 - Relação dos poços perfurados pelo IG-SMA, para água subterrânea, de 1985 a 1990. Folha 7425,257443,857392,87443,957455,07451,57452,07443,557456,557453,6TietêltuPortoRafardMombucaJumirim7428,77462,17451,65KmNCoordenadasBoituvaPortoAmericanaSaltoFeliz259,55234,95242,7232,7213,7234,4244,1223,7244,5243,3C2-IG/89It-IG/85PF-IG/85M-IG/85R-IG/85SF-IG/85A-IG/86J-IG/86C-IG/86C-IG/87T-IG/87C-IG/89C-IG/90PoçoFeliz UTM N':' na CapivariSeteAraçoiabaLocalidadeCapivariSaltoLaranjalFogões241,45KmE231,6245,8de PiraporaPaulista (lliGE 1:50.000) 01020403050607080911131012 Figura

7420 742

7410 7410

7400

215 220 230 .' 240

FIGURA 1 - Localização dos poços perfurados pelo IG-SMA de 1985 a 1990. FP - Cidade de Porto Feliz; T - Cidade de Tietê; C - Cidade de Capivari; R - Cidade de Rafard; os números se referem aos poços, discriminados na Tabela 1.

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INSTITUTO GEOLÓGICO S.P. 2 ANÁLISE DE TESTE MUNHOS SEÇÃO DE SONDAGENS

MAPA'SF-23-J-C-1-21'50.000 IVlSTAI L.OCAL' CHÁCARACAPIVARI BOA I MUNICi"PIO' CAPIVARI I COTA510 m BOCA' POÇOC-IG/B6NQ

GRUPO' TUBARAO I FORMAÇM' ITARA RÉ I GEÓLOG O (S)' S, PE TRI DATA' 25/11/86

OBS' FOLHA DE PORTO FELIZ iCOORD. UTM' 24~7452,0 KmKmE',N C S G AREIAS S A ESBOÇO DESCRiÇÃO PROF.(m) ~ G M F ~ L1Ta.. .•. ESTR LITOLOGIA COR ESTRUTURAS E FÓSSEIS ,"o", :~.' 31 ~;"õ:. M CINZA 'o ,·õ'. CLARA C 32 33 ~ ~:)~' '-"I C 33,20 I\..p CINZA \ ••.• 11"- •• 2 CLARA ( --./ I 36 3 CINZA CLARA y 38 C38 CINZA y 39 4 BEM y CLARA -(

41 C41

..\... 5 CINZA :".\': .' CLARA -:.:, C 43,70 44 . " :' '.~.:~: •• o • C45 .0',,' CINZA . f' . 6 BEM ~ ~.,:.I:···~·~·· CLARA C47 '.\-, '.', .. -. 49 CINZ A C49,50 49,50 CLARA

7 CINZA BEM 53 CLARA C 53,50

CINZA 55 C 55 ESCURA

56 CINZA C 55,5 À""-( {( 8 BEM '-..-/ C L MIA , C58

CINZA

60 9 CLARABEM C60 L---,-=="

CALHAU '. SEtXO-GRANULO- AREIA MG.-AREIA G.-AREIA 114.- AREIA F,- AREIA-M.F.- SILTE- ARGILA 256 64 4 2 I 0,5 0,25 0,25 0,062 0,004 mm

FIGURA 2 - Exemplo de ficha de análise de testemunhos. Para o significado das legendas, ver Figuras 4. Os números romanos remetem ao verso da ficha, onde estruturas são mais detalhadas.

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ConglomeradofilmesSillitoAren.L1TOLOGIAargilososc. -Folhelho- Argilito Arenilo ... DiamictitoCarvãoLamito commalri7.matrizseixos arenosalamilica .. ;''''''.'i;"::-6- CalcárioRegolitoRitm.AreiaArenilo solta(argil.comimpuroseixosou silt.) e aren, .. Ritmito tipo varvito ~~::~. m1~3E:Ib~iâ3~ D f>M~ EJD ~ ~ •

FIGURA 3 - Poços da região Capivari-Rafard - Legenda geral para as litologias.

I~ I Dobra deitada EJ Filme de argil. diminuindo p. o lado

l,t'\,.,rl I Dobra com microdobras r ,./" I Filme oblíquo ao testemunho

I~ I Filmes inclin. e hanz. ~ Falha inversa

5J Ripa •• inclinadas I ~ I Argi!. cnrolado sobre si mesmo

Fós~is vegetais [!] I~ I Filmes caóticos

~ Argilito amarrotado E3 Ampla ondulação envolvendo todo o tesl.

Evocativo "tepee" GJ I# I Filmes horiz e verto

EJ Placas isoladas de argil. E] Climbing irreg. e imperfeitos EJ Flame o Concentração argilosa

1"'2-a....1 Marca ondulada 3ssirnétrica t '.~ __-"'" I Ripa isolada e torcida

B Marca ondulada simétrica [!] Aren. separado obliqu/por filme I·~~%I Línguas de areo. em diamic o Fei:ll:e de argil. horiz. e inel. I {r I Filmes horiz. e verto o Concreção epigenética

I 0'.0 I Brecha sedimenUlC I ~ I Gdes ondulações envolvendo "xla a largura do testemunho

1:~::.:·.1 Dolsão de aren. grosso em mais fino I-V-I Falhas convergentes

~. Diápiro de argilito t 1,311 I Filmes envolvendo arcósio

I~ I Sinelfnio o Pista

r;}.~~ Passagem lateral de aren. para lamito c. seixos ~ Dobras e convolulas truncadas

~ Dique de areA. de cima I',-~/I Ripas isoladas dispostas em calha

FIGURA 4a - Poços da região Capivari-Rafard - Legenda geral para as estruturas.

10 •

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"" Microhummock cruzada acanalada "" "" ).~, Filmes locando acima e abaixo ArqucamentoFiJ~SigmóideMatadoMisturaConvolutaFilmesAren.NívelUm.MaciçaSobrecargaESC3\·açaoTábulasDiaslemaAuidificaçãoConvolulaDobrasGranodecrescênciaFalha.EstratificaçãoSlickenside••destacadaisoladomuitointerrompidospenecontemporâneashoriz.dcsarmônicascaóticadetruncadaegranitocarvãofinopreenchimentodeemdecnu.adadeemfilmeareo.discordiÍnciadestacadoarcnitodescendentea."Ccndente(peloSziguezagueandoacimamenose argililodesobreareniloO.SOminclinadoslateralmentede diâmetro) IEJ~I~Il©t,1v-I FragmentoFragmentosCo-seqüênciaFilmesLâminas"Pingado"EslruL horizontaisirregularmentesedestacadoaproximandocomimbricadosde CSlrat.acomodaçãoe oblíquosdeacanaladasiltitoritrnilOgrandesacimadistânciase abaixo EJW[TI] Ripas isoladas B Estrat.Or.lg de baixo ângulo 0WBG[5J r;] QOJEJGJ0aWITJI~I~ Ivl[ill EJ EJ

FIGURA 4b - Poços da região Capivari-Rafard - Legenda geral para as estruturas (cont.).

,. ~~.~ ~:_: "<"H r ~'-':I.••... 40 :- ..... + ...... ~ .' := UCl _ , .~. .:.:.: 1t )'( +- ·i-i- :t 1· ~~}~:r}:i~ ..•... /11 --.!...... L.Jll, ~'.!_~ ~ l~ ~::~~ 1f '#-' .. :~

. ',,:. P~CO RAFARO .:.,. ... R- I.G /85 ...' ,

poço c - I.G. - 86

FIG. 6

... ' "....!...2.: :.~ __ fi

FIGURA 5 - Poço R-IG/85 - Perfil condensado. FIGURA 6 - Poço C-IG/86 - Perfil condensado.

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TABELA 2 - Exemplo de descrição pormenorizada de testemunhos (ficha n'.' 13 do poço C2-IG/89). filmescurtaseformam médio: Localesp.Acima:atingemque(5YRexibemrosadovariáeoscaotic/comp.,espraiadasgrosso:IOcm.Espessura5,50mlarg.grandesondeSeleçãoArenÍtoma.raras,LitologiacommédiogrossoArenitoLitologia4cm.compr.vEstruturasumaC2-60,Filmespassando. ,distrib.cinza-CorArenitoEmatéfaixaelesLateralmente"novelosemanaarenitoestãobase,paraincl. elesdeAbaixo:Litologia:p/cima17cm(N7).formamCarvão.argilosos.Filmesmédio.Arcósioestagrossode acima/abiÍixo(N3).escurocinza-Carvão:clarosmédio-Filmes:Arenitoclaro8/1)(N6).abaixo,C2-65desap.carvãointer.62interromponovelo/lãfaixaa torna-se63m,oDeosp/aren.sãoarenitofilmes,desmanc.60e conf.caóticaamédiogrossoque62mdispoRipasreap.comoatravéspraticopassa,Emde1 656360 deisoladasFriável.PoucaRarasmatriz.variável.ftlmescarvão.de filmesnoconf.contatodistribuídos.formamcom odobrasdiastema,O arenitoirreg.dei!.os dobras aren. de baixo. No restante da flpasfreqüênciaC2-IG/89 Associada carbonomédiocimade dias.exibeé ricodeO arenitoatérestosem 9filmes.pordegrossoplantas2,5cmLogoAbaixograndesreticuladosdedesmanchados"obliqu.os filmesenvolv.são mais,o arg.paradias!.nomasirreg.posiçãodepoissuperf.aren.,reg.arenitoacomp.baixoLínguas,deincl.,dode grossodias!.,suasdainíciodesuperfícieirregul.argil.asuboriz.depos.partirpene!.Maisdodee

Abreviações Utilizadas na Tabela 2: Caotic. - Caoticamente; Carbono - Carbonizadas; Distrib. - Distribuídos; Dei!. - Deitadas; Incl. - Inclinada; Irregul. - Irregulares; Compr. - Comprimento; Tes!. - Testemunho; Larg. - Largura; Argil. - Argilito; Variáv. - Variável; Pene!. - Penetram; p. - para; Superf. - Superfície; Desmanc. - Desmanchado; Depos. - Depósitos; Inter. - Interrompidas; Arg. - Argilito; Pratico - Praticamente; Acomp. - Acompanham; Desap. - Desaparecem; Irregul. - Irregularidades; Reap. - Reaparecem; Esp. - Espessuras; Interromp. - Interrompidos; Reg. - Regulares; Conf. - Confusamente; Envolv. - Envolvendo; Disp. - Dispostos; Suboriz. - Suborizontal; Dias!. - Diastema; Comp. - Compostas; Obliqu. - Obliquamente.

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TABELA 3 - Poço R - IG/85 - Estruturas Sedimentares.

116-14414230157;96295292-56-1165747-405148;48,640;40,639-3634,532389,6;11,59,6-393111,5;13;16-20;121713;19258,5-259-286263diversas117143-144237;241-258259-267;272144-258,5145-148,5;291-292178-180;224146-148;23659-113300294,5;227;252-25646-4729-5652-5544;40179,224193;197Erosão1aminares217227;229;180;188;224;227188; 116;117193;194;196; 207280261-263 Deslizes Fluxos Boa Sep.145; 162; 166Origens 43-46; Orgânica 230;236 Sedimentaçãorápida granul. 30-3218,5 18,552 ascendo preencho207;216113 290 292 216-230;252;256231255;258,5197,5;207;212;descendo280236176-177;194;236;244- MaciçaIntervalosMCLEstrat. cruzadaDiastema BrechasOndul. desarmosedim. CGSFEscav.lGranod. Frag/carvãoRipas isoladas FalhasCTO atect. Convo1utasCC

Nas tabelas 3 a 7 são utilizadas as seguintes abre• Desarm. - Desarmônica; viações: Atect. - Atectônica; CC - Cruzadas cavalgantes; Sedim. - Sedimentar; CTO - Cruzadas truncadas por ondas; Escav. - Escavação; CGSF - Clásticos grossos penetrando, abaixo, em Preencho - Preenchimento; clásticos finos; Frag. - Fragmento; MCL - Mistura caótica de litologias; Arg. - Argilito; CGEF - Clásticos grossos envolvidos por clásticos Lamin. - Laminação; finos; Sep. granul. - Separação granulométrica; Inclin. - Inclinadas; Estrat. - Estratificação; Slick ou slicken - "Slickensides"; Granod. ou Granodecres. - Granodecrescência; Diast. - Diastema; Ascend. - Ascendente; Cruz. - Cruzada; Descend. - Descendente; Torc. - Torcidas; Ondul. - Ondulação ou onduladas; Argil. - Argilosos; Cresc. - Crescimento.

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município ou distrito, ao segundo se atribui o nú• O pacote litológico pode ser dividido nos se• mero dois. Por exemplo, C-IGI89 e C2-IGI89, pa• guintes intervalos, numerados de baixo para cima: ra os dois poços perfurados no município de Intervalo I, 301-292m - Predominantemente Capivari em 1989. constituído de diamictito arenoso com elastos es• B - Registro das colunas litológicas - Três parsos e filmes argilosos. Passa, irregularmen• tipos de fichas e uma tabela são utilizados para te, para arenitos e siltitos. Estão presentes registro das sucessões litológicas. algumas laminações cruzadas acanaladas. Os dois A ficha intitulada Análise dos Testemunhos últimos metros basais deste poço são constituí• dos de lamito contendo alguns grânulos. é utilizada para se plotar, no local do poço, as lito• logias e as estruturas, distribuídas de metro em me• Intervalo lI, 292-258,5m - Clásticos finos, tro, cada ficha abrangendo vinte e cinco a trinta predominantemente constituídos de siltito con• metros. A Fig. 2 é exemplo de uma dessas fichas. tendo, vez ou outra, filmes argilosos. São relati• vamente comuns falhas de crescimento e outras Nesta ficha menciona-se a quadrícula do estruturas de deslize, conduzindo à fluidifi• IBGE, na escala 1:50.000, onde está situado o po• cação. Laminações cruzadas são muito raras. ço, a localidade de perfuração, o município, a cota da boca do poço, o número da folha da fi• As condições de deposição seriam de águas cha (no exemplo citado a segunda folha da ficha calmas e os deslizes possivelmente causados pe• - C-IGI86 - deste poço), intervalo 31 a 60m, lo aumento de espessura dos sedimentos pela pró• as unidades litológicas atravessadas neste poço pria sedimentação. Entre 286 e 290m ocorre, em neste intervalo, o nome do geólogo que descre• contraste com as características gerais deste in• veu a coluna litológica, a data em que foi efetua• tervalo, arenito muito fino, sacaróide, maciço, da a descrição, as coordenadas do poço em com pouca matriz. UTM, as profundidades das amostras dos teste• Intervalo IlI, 258,5-144m - Corpo bem in• munhos traz idas para a sede (exemplo, C-32, dividualizado, caracterizado por elásticos gros• amostra coletada a 32m de profundidade) e ava• sos: diamictitos e arenitos conglomeráticos a liação aproximada das variações granulométri• médios. Muito subordinadamente ocorrem are• cas, com a profundidade. Quando há interesse nitos finos a muito [mos. Presença regular de fil• em se fornecer pormenores sobre as estruturas mes argilosos. Os diamictitos são arenosos, presentes em determinado intervalo, esquemas ocorrendo elastos facetados e, ocasionalmente, das estruturas são colocados no verso da ficha. estriados. Descrição mais minuciosa das amostras, se• Este intervalo é tipicamente caracterizado lecionadas como mais representativas e traz idas por grande número de granodecrescência ascen• para a sede, consta de outra ficha, onde são ta• dente se sucedendo através de pacotes de peque• bulados a litologia predominante, o grau de se• nas espessuras, cada granodecrescência separada leção do testemunho, litologias associadas (no da seguinte por diastema. Algumas laminações caso de existirem), estruturas e cor do sedimen• cruzadas cavalgantes ("elimbings"), falhas de to seco, utilizando-se da Carta de Coloração de crescimento, dobras recumbentes e fluidificações Rochas (GODDARD, 1970). A Tabela 2 consti• também foram verificadas. tui exemplo de uma dessas fichas. As condições de deposição teriam se verifi• cado através de águas de energia elevada, 3 PERFIL CONDENSADO DOS POÇOS desenvolvendo-se sob a forma de diversos fluxos A partir dos dados obtidos através dos dois de corrente, iniciando-se com águas carregadas tipos de fichas supramencionados, foram cons• de detritos que iriam, gradativamente, perdendo truídos os perfis condensados dos poços, aqui re• a carga até que incidiriam erosão e diastema. produzidos para todos os poços da região Intervalo IV, 144-116m- Caracteriza-se por Capivari-Rafard, com exceção dos poçosJ-IGl86 arenito de granulação média, com filmes argilo• e C-IGI90, reproduzidos em PETRI & PIRES sos em freqüência variável, aparecendo sob a for• (1992, no prelo). ma de ondulações desarmônicas. Ritmitos A - Poço R-IGI85 (Fig. 5)- Este poço aparecem muito esporadicamente, sendo consti• tuídos de lâminas de arenito e de siltito. Estru• caracteriza-se por relativa regularidade de suces• sões de termos litológicos. Diamictitos, em ge• turas como granodecrescência e falhas são pouco ral arenosos, só ocorrem em espessuras freqüentes. Foi registrado somente um diastema reduzidas. Contudo, elastosfacetados e estriados a 117m. foram encontrados em R 172 e R 152,5. A distri• O ambiente de deposição seria transicional buição das estruturas sedimentares nos sedimen• entre o intervalo li e o V, ou seja, deposição atra• tos deste poço está sintetizada na Tabela 3. vés de correntes de intensidade menos enérgica

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do que as que caracterizam o intervalo m mas B - Poço C-IG/86 (Fig. 6) - Este poço mais enérgicas do que as do intervalo V. caracteriza-se por relativa uniformidade litológi• Intervalo V, 116-56m - Caracteriza-se pelo ca, com tendência a se tornar mais grosso para predomínio de elásticos finos, siltitos com ou sem o topo. Predominam arenitos muito finos com fil• filmes argilosos e, subordinadamente, argilitos, mes argilosos. Notou-se a ocorrência de uma ca• mada de arenito com cimento calcífero de 214 a em corpos contínuos ou em lentes. Ocasional• mente ocorrem camadas irregulares de arenito 214,2m de profundidade. O cimento poderia es• fino a muito fino, onde podem aparecer, ocasio• tar relacionado com diabásio eventualmente pre• nalmente, grânulos. Raras são as estruturas de sente nas vizinhanças, visto que, pela nossa deslize. experiência, sempre que um poço perfurado na região corta diabásio, há ocorrências associadas Os sedimentos deste intervalo devem ter si• de veios e cimento calcífero. do depositados em condições de baixa energia, possivelmente em um mar relativamente restrito. A seção litológica pode ser dividida em qua• tro intervalos, numerados de baixo para cima: Intervalo VI, 56-39m - Freqüentes diamic• Intervalo I, 30l-237m - Predominantemente titos associados a diastemas e granodecrescên• constituído de arenito muito fino com ou sem fil• cia de pequena espessura são característicos deste intervalo. Ocorrem estruturas ligadas a deslizes, mes argilosos. Aparecem também, com certa fre• lamitos engrouvinhados, elásticos finos fragmen• qüência, ritmitos e argilitos maciços. Estruturas de sobrecarga são relativamente freqüentes. Po• tados em ripas alongadas, freqüentemente deita• das segundo o acamamento. "Climbings" são lígonos argilosos, com tendência a se acamarem, são mais raros. imperfeitamente desenvolvidos. "Drags" são su• bordinados. Intervalo 11, 237-203,lm - A litologia pre• Correntes relativamente fortes ocasionando dominante é larnito. Distingue-se do intervalo in• os freqüentes dias temas, associados a deslizes, ferior pela presença de alguns diamictitos, pouco espessos, matriz lamítica ou arenosa, maciço ou devem ter prevalecido neste intervalo. com sugestões tênues de estratificação. Pode con• Intervalo VII, 39-9,60m - Predomina are• ter filmes e níveis argilosos fragmentados, cru• nito muito fino com filmes argilosos em freqüên• zando o diamictito, horizontal e verticalmente, cia variável. Arenito fino a médio, siltito e argilito formando um retículo. são subordinados. Intervalo m, 203,1-157m - Predominante• As perturbações são pequenas; as camadas, mente constituído de arenito muito fino com fil• geralmente, se dispõem em posição plano• mes argilosos em freqüência variável. Pequenos horizontal. Subordinadamente ocorrem argilitos seixos se distribuem esporadicamente neste are• engrouvinhados, brechas de argilito em arenito nito. Só ocorre um diamictito, próximo ao topo muito fino e falhas. Ocorrem microlaminações do intervalo, pouco espesso, de matriz lamítica cruzadas por migração de marcas onduladas. e com sugestões de estratificação irregular, evi• Energia moderada deve ter prevalecido durante denciada por filmes pouco nítidos e interrompi• a sedimentação deste intervalo. dos por manchas irregulares de arenito médio. Considerações gerais - O conjunto litoló• O diamictito passa, através de granodecrescên• gico do poço evidencia flutuações maiores que cia ascendente, para arenito muito fino. os intervalos supradescritos, que lembram ci• São freqüentes falhas com desenvolvimento elotemas. de "slickensides" e "drags", dobras compostas A partir da base, o conjunto de intervalos de microdobras, argilitos amarrotados, porções I e 11caracteriza diminuição gradativa de ener• de filmes rompidos, estirados, subverticais e flui• gia do meio aquático ("Cielotema" 1). Do mes• dificação. mo modo, os intervalos 111,IV e V formam um Intervalo IV, 157,1-1O,5m(acima de 1O,5mo conjunto ainda mais nítido, "Cielotema" 2, que sedimento está decomposto) - Predomina are• igualmente se inicia com sedimentação em meio nito de granulação variável, desde conglomerá• aquoso de alta energia, refletida por sedimentos tico até muito fino, com pequenos seixos grossos e freqüentes diastemas e terminando com esporadicamente distribuídos. Filmes argilosos sedimentação em meio aquoso calmo. Finalmente se concentram em níveis irregularmante espaça• o último conjunto de intervalos, VI e VII, repete dos. Quatro corpos delgados de siltitos e ritmi• a variação de ambientes de deposição, aquoso tos se distribuem no arenito à profundidade de com mais energia para menos energia ("Cielo• 88m a 152m. Delgados diarnictitos com suges• tema" 3). Não se trata de verdadeiros cielotemas, tões tênues de estratificação e de matriz arenosa razão das aspas. aparecem em três níveis.

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Este intervalo é caracterizado por grande nú• mero de diastemas. Algumas granodecrescências, T principalmente ascendentes, são registta• das. Falhas, placas argilosas interrompidas, do• I bras assimétricas deitadas e fluidificações são co• muns, bem como diversos tipos de laminações cruzadas. Considerações gerais - As litologias e es• truturas presentes no intervalo I sugerem ambien• te gerador de águas de baixa energia, com .-.:=: "Jk.' correntes aquosas relativamente fracas. O empi• 10.-.",:' lhamento dos depósitos pouco consolidados pro• =:. 1 duziria freqüentes estruturas de sobrecarga e -::-- • --:-.:- 'l- ·.·~...~/Kt algumas estruturas sugestivas de deslize. Os fil• to ::~.~. mes e os polígonos argilosos, envolvidos por are• 4: •. nito, poderiam representar remobilizações de

depósitos de lama de áreas laterais. A pequena uo :-:-: freqüência de argila produziria filmes incomple• :'::=:=7' -"-"--, tos após o retrabalhamento. uo _:=:=.;, "" As litologias e as estruturas do intervalo 11 J são sugestivas de condições semelhantes às que presidiram a deposição do intervalo I apenas com ligeiro aumento de energia das correntes o que FIGURA 7 - Poço C-IG/87 - Perfil condensado. se refletiria no aumento da freqüência de clastos grossos, distribuídos pela matriz lamítica. Em al• fIlmes argilosos. Estes filmes evidenciam pertur• guns níveis, a sedimentação rápida produziu diá• bações sob a forma de superfíceis irregulares no piros de argilito. contato de duas litologias ou por filmes interrom• As relações entre os intervalos 11e III são pidos, ondulados, inclinados e por "slickensides" de granodecrescência descendente, o que sugere nos níveis argilosos. aumento da energia do meio aquoso. Intervalo 11, 267,5-192m - Tendência para Os freqüentes diastemas que caracterizam o ritmitos tipo "varvito de Itu", com intercalações intervalo IV são sugestivos de correntes relati• de siltito. Na base ocorre arenito fino, micáceo vamente fortes. Pequeno suprimento de clásticos e homogêneo. De 217 a 195,5m ocorre arenito fi• mais finos seria o responsável pelas microlami• no, sacaróide, com intercalações irregulares de nações cruzadas imperfeitamente desenvolvidas. siltito e arenito muito fino. A Tabela 4 evidencia maior ocorrência de estru• Intervalo I1I, 192-153m - Predomina are• turas sedimentares no intervalo IV. A ocorrên• nito muito fino, com filmes argilosos, podendo cia quase que exclusiva, neste intervalo, de ocorrer, esporadicamente, seixos e calhaus. estruturas interpretadas como derivadas de flu• Intervalo IV, 153-122m - Arenito médio a xos laminares, bem como a maior freqüência de fino, sacaróide. Não ocorrem' ou são muito ra• estruturas interpretadas como originadas por des• ros filmes argilosos. lizes, erosão e sedimentação rápida, são ressal• tadas nesta tabela. A evolução dos depósitos do Intervalo V, 122-8Im - Predomina sil• poço sugere que as condições foram fic.ando ca• tito na base, até 10Im,passando para arenito da vez mais rasas para o topo. médio a grosso e' muito grosso, feldspático, C - Poço C-IG/87 (Fig. 7) - Caracteriza• com pouca matriz e com clastos facetados e se por intercalações de clásticos grossos e finos com intercalações de arenito fino, até 92,9m, em toda a seção. Predominam arenitos muito fi• quando então passa a predominar siltito, com in• nos com filmes argilosos em freqüência irregular. tercalações de arenito fino a médio, sacaróide. A seção litológica pode ser dividida em se• Este intervalo está limitado, acima, por um dias• te intervalos, numerados de baixo para cima: tema a 8Im. Este é o intervalo mais heterogêneo Intervalo I, 310-267,5m - Granodecrescên• do poço. cia descendente a partir de siltito, passando para Intervalo VI, 81-46m - Acima do diastema arenito muito fino e depois para arenito varian• ocorre conglomerado polimítico, com seixos de do de fino a grosso e daí para diamictito areno• forma variada, dispostos subcaoticamente. Este lamítico com sugestões tênues de estratificação conglomerado passa, irregularmente, a arenito por variações granulométricas e pela presença de médio sacaróide, até 75m, quando então dá

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TABELA 4 - Poço C - IG/86 - Estruturas Sedimentares. laminares 237-301237155104diversas185 . Erosão Boa sep. granu!.237240;273,7-288;238,5;276,3(P)254,5-261,1;247;203,1-237(C)21;93;55,5-69;94;53,5-60;65,5-69;216,3227,8-230,842-47;232,533,2-103;114-127,214;55-60;10,5-157-1101,5-110,2;127,2142,5-142,8130,5;127,2;253;157,1-203,1Origens171-203,1171,3-180,1;172,5-137,5;Deslizes157,1173,5;171,3-180,1;171,3;163,824;61,5;53,5;21;33,2-39;101,9;123,8;250;297-301-254,5149,4-149,8131;55,5-60;68-69;47;114;93-103,5;81-89;89,5;203,1180,118589;103,555-69;131,2127,2239-240;61-69;·89,5;185188,1101,9 203-216,3;238,5250,5; Orgânica256,5-261,1;276,3-277,4276,3-277-4256,5-261,1Fluxos251,8;250,5-258,3;240;257,4 270,5252,5;270,5251,8 Sedimentação CGSFPista(P) 89;101,9-103,5;FalhasMCL99,5-106,2;atect.110,2; 99,5;93;123,7-123,8143,3-144,5120,2-144,5101,9-105,5;123,7;143,3-143,9113,4;110,2;105,5-106,5;123,8;123,7;;120,2;99,5-103;110,2;129,2;227-230,8103,5; 109143,3-144,5;DiastemaCGEFBrechaIntervaloConvolutassedÍm.38; 71;rápida130,5;94;descendo110-113,9;123,8;115,5;103,5;84-89;99,5;144-144,5143,9;133115,5;131,2;103,5;97;151,5145133 Estrat.Carvão(C)/cruzada 67-69;Granod.Ondu!'Diápiro79-81;desarmoascendo89; Pelotas de arg. MaciçacmRipasMarcas"Climbings"Granod.isoladasonduladas

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TABELA 5 - Poço C-IG/87 - Estruturas Sedimentares.

Boa sep. 153-19292-98;92-9898,3;98,381-12286granul.82,9-83,8;83;82,986,3;83,8105-122113-122122-153242224-230;222-223(d)192-267,5Progradação195,5;194-195,5;rápidaSedimentaçãoDeslizes267,5-31046-81267,5-27146-48,5296,5-306273-274,2;46-48,8;270-272,5;49,5;58;48,S;49,5;69-73,578,5;279;48,5;75272,5-58-59;273-27486,3;97122296,5249,88129-31;37-424030,537-4213,8-1617-2513,8;13,8-4613,8;17-2518;23;40-46182,7182,7168-182,7155168-171,5169-171,5192-194;91;92,9-9882,9-8325OrigensdiversasOrgânicaErosão98,319;27168205-239;50,5;8149,548,550-53222;75(s)50,5-53;73,5195,5 267,5243235233-235,5169-171,5;300,5 273,8(s)282,5282-283277,5;Fluxos 267,5 laminares267,5-310 37-46 37-4280 58 81 267 IntervaloDiápiroMaciçapreenc.Lamin. cruzadaarrastoFalhas-Slicken.MCL (d) ConvolutasGranod.RipasCCDiast.em(s) inclinoescavo78,5desc.Granod.Ondul.CGSFMarcas98,3desarmo75-76,558;76,5ondul.ascendo76,5; Acomod. seixosRipasBrechasisoladas246-267,5sedim. 240-244;182,7 Carvão251-253;233-235,5

lugar a siltito até 68,5. De 68,5 a 52m, compare• sos se dispõem acima e abaixo de clastos; um, ce arenito fino a muito fino e, acima, até 46m, de granito, está envolvido por estes fragmentos, diamictito de matriz arenosa, com concentrações em maior número na sua parte superior. A incli• locais de clastos. Os clastos são facetados, an• nação dos fragmentos acompanha as irregulari• gulosos, de litologias variadas. dades das superfícies inferior e superior do Intervalo VII, 46-13,8m - Arenito muito fi• clasto. Ocorrem, também, faixas onduladas de no a médio, com uma pequena estrutura de es• arenito, com fragmentos argilosos, em contato ir• cavação e preenchimento, a 30,5m, ocupada por regular, tanto acima como abaixo, com o diamic• diamictito de matriz arenosa. tito e, às vezes, línguas de arenito penetram no diamictito. Acima de 13,8m, desenvolve-se regolito. Considerações Gerais - Diamictitos maci• O intervalo IV, 153-122m, caracteriza• ços só ocorrem com espessuras reduzidas. Pode• se por arenito médio. a fino, sacaróide, com fil• se tomar como exemplo o que aparece a 48,5m. mes argilosos ou raras intercalações de siltito, de A matriz é arenosa, com concentrações locais de modo que a estrutura geral é maciça, sem evi• seixos de até 3,5cm de diâmetro, com tendências dência de outras estruturas sedimentares. Con• a se acamarem no sentido de seu maior alonga• trasta com os inTervalos acima e abaixo, evidentes mento, embora globalmente a estrutura do dia• na Tabela 5. Ao que parece, os sedimentos deste rnictito tenda a maciça. .Intercalam-se, ao intervalo foram depositados rapidamente, o que diamictito, faixas arenosas com muitos filmes ar• teria impedido o desenvolvimento de outras es• gilosos rompidos. Às vezes fragmentos argilo- truturas.

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Evidências de erosão são muito raras em to•

da a seção do poço (v. Tabela 5). Por outro lado T há abundantes evidências de ação de fluxos la• minares e de deslizes. Estruturas como convolu• · tas, pseudonódulos de arenito, ondulações · • o desarmônicas, falhas, filmes argilosos interrom• · o" pidos, sugerem torrentes de lama com clastos, .~Z--.J-( ~ penetrando em corpos de água de baixa energia, 2- ~ onde se estariam depositando os ritmitos e os sil• titos. A grande carga de detritos provocaria os deslizes e fluidificação. Os deslizes são bem evi• denciados por ripas individualizadas de sedimen• tos, inclinadas, como às profundidades, em metros, de 50,5-53; 58; 233-235,5; 273-274 e 282,5, dobras deitadas a 98,3m e dobras amar• rotadas a 169-171,5m. A granodecrescência descendente do inter• valo I sugere progradação, culminando com o diastema da profundidade de 267,5m. Iniciar-se• ia, então, novo ciclo retrogradante, com elevada freqüência de clásticos finos (intervalo 11)e no• va tendência à progradação acima (intervalo li), não tão evidente como no intervalo I. FIGURA 8 - Poço C-IG/89 - PerfJ.I condensado.

Não há, em toda a seção do poço, evidência O lamito é maciço, compacto, homogêneo, de ação direta do gelo. com foliação na base do pacote motivada por fi• A coluna litológica deste poço, em alguns no fraturamento horizontal. A 250,5m de profun• aspectos, exibe semelhança com a do poço didade ocorre um clasto de granito róseo de 8 C-IG/86. São semelhantes, nos dois poços, a re• cm de diâmetro máximo, alongado, em posição lativa uniformidade litológica e os delgados dia• vertical. mictitos, em parte estratificados. Este lamito basal é sucedido gradativamen• D - Poço C-IG/89 (Fig. 8) - Este poço te para o topo, a partir de 246m, por arenito fi• atingiu a profundidade de 275,5m. Predominam no, maciço, o qual por sua vez passa sedimentos arenosos. A proporção de elásticos gradativamente para lamito outra vez, até 216m, grossos para finos é de 249,7/25,8, ou seja, mais quando então é recoberto por diamictito maci• de 80% da seção é constituída de clásticos gros• ço, com elastos angulosos e facetados, de dife• sos, principalmente arenitos, embora parte de• rentes litologias, matriz lamítica idêntica ao les contenha filmes argilosos. lamito de baixo, mostrando a continuidade das Diastemas não são comuns, embora úteis na duas litologias. subdivisão dos intervalos. São freqüentes grano• decrescências ascendentes e descendentes. Com O contato superior deste intervalo, a 20l,5m, é de diastema. base nas granodecrescências e nos diastemas, a seção do poço foi dividida em nove intervalos, Intervalo li, 20i,5-186m - Caracteriza-se numerados de baixo para cima: por sucessão de três pacotes com granodecrescên• Intervalo I, 275,5-255m - Inicia-se com are• cia ascendente, com ou sem diastema. Os dois pri• nitos muito finos a médios, com raros filmes ar• meiros se iniciam com diamictitos de matriz gilosos, passando para diamictitos de matriz arenosa passando, para o topo, para arenitos fi• arenosa. Através de granodecrescência ascenden• nos, homogêneos, maciços, com filmes e manchas te, o diamictito passa para ritmito argilito/areni• argilosas distribuídas irregularmente. O pacote su• to e daí para folhelho argiloso. perior se inicia com arenito fino, com clastos e fil• mes argilosos passando, lateralmente, para Intervalo 11, 255-20l,5m - Na base deste diamictitos de matriz arenosa. Este conjunto de intervalo ocorrem lamitos com elastos esporádi• cos, sem sinal de intemperismo; eles são angu• litologias grada, acima, para siltitos com filmes losos, facetados, de diferentes litologias. O argilosos, cuja freqüência aumenta para o topo. contato basal do lamito com o folhelho do inter• Intervalo IV, 186-153,5m - Constitui-se, es• valo I é irregular, em parte por sobrecarga, em sencialmente, de arenito muito fino, passando, parte por erosão e redeposição. esporádica e irregularmente, para siltito. Filmes

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argilosos, irregularmente distribuídos, só come• para cima quando, então, servem de superfícies çam a aparecer de 167m para cima. Abaixo de de deslize de falhas, com "slickensides" se de• 167m, o arenito é homogêneo e maciço. senvolvendo em direções caóticas, resultando em Em 153,5m aparece um boi são de arenito amarrotamento de níveis argilosos que, em cer• conglomerático. tas partes, se misturam caoticamente ao arenito. O pacote acima de 167m é mais rico em es• Intervalo IX, 52-0m - Caracteriza-se, ho• truturas: ocorrem "flames", diápiros de argilito, mogeneamente, por arenito muito fino, subsidia• elastos de argilito que diminuem bruscamente de riamente, fino a médio, com muita matriz e espessura para os lados, dique de arenito, dobras filmes argilosos pouco freqüentes e de distribui• amarrotadas, dobras abertas e falhas de peque• ção irregular. Quando não ocorrem filmes, a ro• no rejeito. cha é homogênea, maciça. De 38 a 23m, Intervalo V, 153,5-135m - Este intervalo é alternam-se pequenas Iam inações cruzadas não marcado, de início, pelo aparecimento de delga• tangenciais, sem continuidade lateral, e largas on• do pacote (l0,5m) de ritmito, talvez varvito, que dulações irregulares. Ocorrem falhas de peque• passa, acima, para arenito muito fino, com in• no rejeito. A 28m, pequenas marcas onduladas tercalações irregulares de siltito. Filmes argilo• assimétricas, irregulares. A 27m, um diastema. sos, relativamente freqüentes na base, diminuem De 27 a 23m, conseqüências de microlaminações para o topo caracterizando granodecrescência cruzadas acanaladas e algumas estratificações descendente. Na base do intervalo, onde os ní• cruzadas truncadas por ondas. Acima de 23m até veis argilosos são mais freqüentes, ocorrem lar• a boca do poço, a recuperação da testemunha• gas dobras desarrnônicas, dobras deitadas, dobras gem foi escassa mas, quando ocorre, os testemu• contendo microdobras, ftlmes interrompidos e fa• nhos são de arenito muito fino. A areia solta que lhamentos de pequeno rejeito. apareceu em todo este pacote é de granulação fina. Intervalo VI, 135-103,2m - Este intervalo exibe novo ciclo de granodecrescência descen• Considerações Gerais - As granodecrescên• dente, começando com ritrnito siltito/argilito pas• cias descendentes, relativamente comuns de 254 sando, acima, para siltito que, por sua vez, passa a 118m,em diversos ciclos, sugerem fases de pro• para arenito arcosiano de granulação muito fina gradação sedimentar que poderiam ou não estar a média, com muita matriz. associadas a processos deltaicos. No pacote basal de elásticos finos ocorrem Os depósitos mais espessos de elásticos fi• estruturas complexas, com seqüência de dobras nos, como visto, ocorrem na base. As outras in• deitadas assimétricas, compostas por microdo• tercalações de finos são mais delgadas. Os bras irregulares microfalhadas passando, lateral• diamictitos maciços, larníticos, são pouco espes• mente, para tratos tabulares interrompidos, sos, passando para lamitos com elastos. No in• irregularmente ondulados. Falhas inversas de pe• tervalo de 103,2 a 69m, ocorrem "mélanges" de queno rejeito e baixo ângulo também ocorrem; diamictito, arenito e lamito, causadas, ao que pa• duas delas exibem traçados convergentes, isolan• rece, por variações bruscas da energia da água, do uma cunha: talvez por fluxo turbulento. Intervalo VII, 103,2-69m - Caracteriza-se O exame da Tabela 6 evidencia a abundân• principalmente por diamictitos e lamitos com cia de estruturas sedimentares sugestivas de des• elastos esparsos, às vezes em mistura caótica com lizes e sedimentação rápida. arenito [mo a múito fino com elastos esparsos. No intervalo I, as estruturas sugerem corpo Subsidiariamente ocorre siltito, às vezes com ci• de água relativamente confinado, com invasão de mento calcífero. A 10l,2m de profundidade ocor• correntes de densidade que teriam remanejado re uma estrutura de escavação em arenito médio, os depósitos, redepositando-os. preenchida por arenito conglomerático. À pro• fundidade de 94m, camadas de arenito fino a O intervalo 11exibe grande diversidade de muito [mo se intercalam com lamito com elas• litologias. As suas estruturas sugerem invasões tos esporádicos, o conjunto disposto em dobras periódicas de fluxos de detritos e retrabalhamento apertadas. de sedimentos finos, provavelmente situados nas Intervalo vm, 69-52m - Caracteriza-se por bordas dos fluxos. A carga de detritos aumenta granodecrescência ascendente, do topo do inter• para o topo, culminando com diamictito. valo VII à base do intervalo IX. O limite com Os sedimentos do intervalo 111, com as su• este intervalo é de diastema. Caracteriza-se por cessões de granodecrescências ascendentes, pos• arenito médio a fino, arcosiano, com muita ma• sivelmente se originaram de fluxos sucessivos de triz, passando acima para arenito muito fino com correntes de detritos, com diminuição gradativa poucos filmes argilosos, cuja freqüência aumenta de energia para cima em cada fluxo.

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A fonte arenosa do intervalo IV, de início As irregularidades das estruturas da parte ba• homogênea, foi, posteriormente, de 167mde pro• sal do intervalo VI (Fig. 8) sugerem deslizamen• fundidade para cima, diversificada por incremen• tos mais freqüentes. to de sedimentos argilosos, talvez pelo aumento As passagens laterais irregulares de diamic• do poder erosivo lateral dos fluxos de detritos. titos, lamitos e arenitos do intervalo VII, forman• Aumentos locais de freqüência de sedimentos do "mélanges", seriam conseqüências de argilosos seriam os responsáveis pelas estrutu• variações bruscas de energia da água, talvez por ras de sobrecarga, com "flames", diápiros e di• turbilhonamento. ques de arenito. Deslizes dos depósitos argilosos A granodecrescência ascendente exibida pe• seriam os responsáveis pelas dobras apertadas. Os fluxos de detritos seriam mais uniformes do los depósitos do intervalo VIII poderia represen• que no intervalo anterior (111). tar um fluxo de detritos com energia diminuindo para o topo. Haveria, contudo, bruscos aumen• No intervalo V, aumenta a contribuição ar• tos de energia próximo ao topo do intervalo, oca• gilosa, em relação à parte superior do intervalo sionando os dias temas indicados na Fig. 8. Este IV (a partir de 167m).

TABELA 6 - Poço C - IG/89 - Estruturas Sedimentares.

200-153200Deslizes148-159186-196152Fluxos148159159-193Erosão182146146-136-170-135-186-135186165194154186-187Sediment.166186-190103-19112324524393-10061-6960-6469-7052-6969-94 268270255-152148-15326-272825-2640-4235-5027248-25223-52203131134diversas99-268-264-26Ç268255-269192 54 273-273272-275186-200145 laminares134118- 190 165 268 Boa sep.201,5135,8-148186(s)160,1200,5(i)Orgânicarápida150;167,8153,5-153,5148,8103,2196,5103,2-133,8231;232(s202-240,5201,5-255gran.52-57,854-57,875;52;83;65,581,9-93101,2(d)267,6268;2409452,5) 191;198169,8(s)153,5186;27-38,523-33,523-38,524-38,5133,8106;(s)196OrigensPrograda-267-27C268,5271,5;275,5232,5-25552,555,5 268,4 ção267,6133,8 (t)167,8163,5;268,4 274(d) 272264,5- 46-51 54,593103,2 134 201 165 269 IntervaloGranod.Laminac.Maciça DiastemaMCLSeixosMarcascmConvolutaFalha"pingados"desc.cruz. inversaarrasto(d)ondul.slick.(s)Vegetais fossoGranod.CGSFFalhasinclinadas57,860-64,2normaisDiqueascendo(i) clásticoRipasDiápiro103,2 isoladastorc.153,5(t) 153,5 Ondul. desarmo 167,8268,5268;

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aumento de energia seria espasmódico, visto que o intervalo IX é homogeneamente constituído por arenito predominantemente muito fino. Os arenitos do intervalo IX exibem elevada ~:«..~-; : t freqüência de estruturas geradas por fluxos la• minares, tais como laminações cruzadas, marcas T ~\~.\~"M:ooo t :<'~'.:~--: onduladas e estratificações cruzadas truncadas ",:.::>:>/_- ~ ~:':.' ;c :)000 •• 'T I por ondas, sugerindo que fluxos de detritos se• ':.>:~.~ooc- "'5;.} riam negligenciáveis. . "d- 000::l:=" i)?: <:IC:.x><>""'~'''''$ ".~,~: ridos pela freqüência de estruturas geradas por fluxos laminares. E - Poço C2-IG/89 (Fig. 9) - Este poço atingiu a profundidade de 268m. A seção litoló• gica é caracterizada por grande uniformidade li• tológica, com predomínio de elásticos de .~;.> '·0" c. granulação de arenito a mais grossos. A propor• :·;,;·;"·c ção de elásticos grossos para finos é de 250/l3.3, :j/::.~: J;f_<:• ou seja, mais de 93 % da seção é constituída de tro:.::t"...... , elásticos grossos. . :::~~).~.: ~ ( 3&. ,tO ;~.~.~ ..~~ l (7= tU ::~:..::.:.';,~::'t~~ A seção litológica permite pronta separação 1 1 em dois intervalos: o intervalo inferior é consti• tuído, sobretudo, de ritmitos tipo varvito, com FIGURA 9 - Poço C2-IG/89 - Perfil condensado. lâminas escuras de argilito e elaras de arenito muito fino, apenas com IOcm de argilito no to• po. Sua espessura mínima é de 13,30m (268 a tínuos na horizontal, contendo elastos de litolo• 254,7m) (intervalo 1). gias variadas, alguns facetados. Alguns destes diamictitos se caracterizam pela presença O intervalo 11é constituído por elásticos mais de argilitos constituindo os elastos maiores, grossos do que os do intervalo I. alongados e angulosos. As variações granulo• Intervalo 11, 254,7-4,8m - Acima de 4,8m métricas são irregulares. Freqüentemente aparece regolito. O intervalo 11pode ser subdi• os feldspatos estão caulinizados. Filmes argilo• vidido em três subintervalos; de baixo para ci• sos são comuns mas irregularmente distribuídos, ma, lIA, IIB e IIC. ora contínuos ora descontínuos, ora suborizon• Subintervalo lIA, 254,7-238m - Constitui• tais ora inelinados e, às vezes, concentrados em se, principalmente, de lamito cinza-médio, com manchas argilosas dentro do arenito. Dispõem• grânulos e elastos maiores esporádicos, que po• se, com freqüência, em ondulações desarmôni• ~em, localmente, concentrar-se, tomando aspecto cas, entrelaçadas, em retículos confusos ou dis• de diamictito. Subordinada mente ocorrem are• postos caoticamente, como "novelos de lã nitos de granulação média, com elastos faceta• desmanchados". dos de litologias variadas. Às vezes são Alguns arcósios grossos e conglomeráticos observadas "mélanges" de lamito e arenito de granulação média, sugerindo fluidificação. A exibem seus elastos grossos com disposição caó• 238m foi recuperado parte de um errático de gra• tica, associados a "tabulas" de carvão acamadas, nito cinza (cortado pela sonda), com diâmetro sugerindo que correntes fracas remobilizaram o mínimo de O,50m. carvão, mais leve. Subintervalo I1B, 238-34m - É o mais es• As falhas, em geral, são de pequeno rejeito pesso. Caracteriza-se por arenitos e arcósios, com e extensão lateral limitada, com freqüência, a ca• granulação variando de média a grossa; subor• madas isoladas. Mais raramente seus traçados al• dinadamente, conglomerática e de granulação cançam alguns centímetros e há um caso de fina, com raros e delgados diamictitos, descon- convergência de falhas de maior persistência atra-

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vés das camadas. Poderiam estar presentes, por• re uma brecha sedimentar de espessura centimé• tanto, falhas de acomodação, provocadas por pe• trica. Estas características, tomadas em conjunto, quenos deslizes de areia sobre argila, e falhas de sugerem canais provavelmente submersos. escorregamento ao longo de paleodeelives. A parte média da unidade IIB, 180 a 58,5m, Este espesso subintervalo se caracteriza pe• não exibe evidências elaras de estratificações cru• la presença comum dessas estruturas através de zadas e as camadas não são elaramente defini• todo o pacote. Há feições sugestivas de fluidifi• das, havendo passagens irregulares de cação e sobrecarga. Parece ter havido remobili• granulometrias, na lateral. Ocasionalmente, con• zações de arenitos contendo filmes argilosos, por tudo, ocorrem marcas onduladas. Por outro la• fluxos turbulentos e freqüentes deslizes por ex• do, estruturas interpretadas como causadas por cesso de sedimentação. deslizes, tais como falhas de crescimento e ou• Subintervalo IIC, 34-4,8m - Predominam tras, são relativamente comuns. Sedimentação rá• arenitos finos a muito finos, mal selecionados, pida, provocando estruturas como diápiros de com filmes argilosos distribuídos irregularmen• lama, também ocorre. Diastemas, estratificações te. Ele é continuação do subintervalo IIB, ape• cruzadas truncadas por ondas, carvões e vege• nas com granulação predominante mais fina. Não tais fósseis também são comuns. foram encontrados fragmentos carbonizados e O ambiente gerador de deposição dos sedi• plantas fósseis. mentos deste intervalo seria o de canais submer• Parece ser evolução do subintervalo anterior, sos, mais distais em relação aos canais geradores em meio aquoso de menor energia. Alguns tes• dos outros sedimentos da unidade IIB. temunhos possuem filmes argilosos com freqüên• cia maior que a regra, se tornando quase um A partir de 58,5m até 4,8m, na parte supe• rÍtmito. rior da unidade IIB e na unidade IIC, os teste• munhos voltam a exibir boa separação A Tabela 7 condensa os dados sobre as es• granulométrica das camadas, estratificações cru• truturas dos sedimentos atravessados por este po• zadas e marcas onduladas. Voltariam, portanto, ço. Os intervalos correspondentes a I, lIA e IIC a ocorrer condições mais proximais (Tabela 7 e foram mantidos indivisos. Já a unidade I1B, por Fig. 9). ser mais espessa, foi subdividada em nove partes. F - Poço C-IG/90 - A ilustração da colu• Os ritmitos da unidade I teriam sido depo• na litológica encontra-se em PETRI PIRES sitados em condições de costa afora, por meca• & nismos de correntes de turbidez. A energia do (1992). meio seria baixa. As perturbações que ocorrem Este poço só atingiu 100,4m de profundida• no intervalo 255,3 a 263,5m, teriam sido origi• de. Sua seção litológica, ao contrário das de ou• nadas pela sedimentação lamítica da unidade si• .tros aqui estudados, é caracterizada pelo tuada logo acima (lIA). predomínio de sedimentos de granulação fina, rit• Fluxos de detritos proximais, em relação aos mitos tipo "varvito de !tu" e argilitos. Clastos turbiditos da unidade I, seriam os responsáveis são, em comparação com os testemunhos de ou• pelos lamitos da unidade lIA. A estrutura é ma• tros poços, pouco freqüentes e nunca de grande ciça, a não ser pela granodecrescência ascenden• porte. te. Ocorrem falhas de crescimento e fluidificação. A proporção de elásticos grossos para finos A base da unidade IIB, 238 a 180m, se ca• é de 39,2/51, ou seja, cerca de 43,3 % da seção racteriza por boa separação granulométrica das é constituída de elásticos de granulação maior do camadas, com estratificações cruzadas e, ocasio• que silte. nalmente, marcas onduladas, granodecrescências Pode-se distinguir, com base na granulome• ascendentes e descendentes. São relativamente tria dos sedimentos, dois intervalos nítidos, com comuns fragmentos de carvão e vegetais carbo• um terceiro de características intermediárias. nizados, havendo mesmo, esporadicamente, par• Intervalo I, lOl,4-61,2m - Inicia-se na ba• tes maiores de plantas carbonizadas. Diastemas, caracterizados por amplas depressões e cristas, se do poço, até um diamictito que ocorre de 63 ocorrem a 188, 201 e 207m, acima e abaixo de a 61,2m. A litologia predominante é arenito de camadas de arcósio grosso em contato, tanto aci• granulação média a muito fina, com predominân• ma como abaixo, com arcósios de granulação cia de média na base e muito fina no topo. Are• .média. Canais relativamente estreitos se desen• nito grosso é muito raro. Grânulos e seixos volveram sobre um diastema situado a 214m de milimétricos são esporádicos. Filmes argilosos profundidade. Superfície largamente ondulada são raros na base, tornando-se mais freqüentes caracteriza um diastema que ocorre a 230,5m, para cima, mas de forma irregular, imprimindo separando arenito [mo de médio. A 233,9m ocor- à rocha, às vezes, características de ritmÍto are-

23 ~ 6' TABELA 7 - Poço C2-IG/89 - Estruturas Sedimentares e Interpretação Genética. :< 211-2383442201-207203180-188212203-20120942180-188188-21189-11034-4265-6918559-88188-21134-51606534-50170-180175110-125125-170125-170** 211-238188-20963195180-188188139-170177Turbiditos* 5-342114212207145-150e fluxos ** 67 Erosão193-203 Fluxos238-255laminares Boa separação34-58,5233,5201;209218-237,958,5238-254,734-58,558,5-8959,5-86,4180,5-188250,5-254,767-88,3180,534;4294,7-96,5-88,3250,558,5-8934-58,577238-25559,5214-230,589,5-109,489,2-99,109,489,2-104,5102,4-104,289,2-105,4104,5-109,4254,7-268171,5-180255,3-263,5139,5-148,1177-178,5171,5-176117,8-120130,8131,5'137,5176-178,5110,3-130171,5117,8-121,7123,9-125130,8-148,1121,7110,3granulométriea99-103,596,5255-263,5255,3-255,8255,3-255,6-123,5;125137,5131,5148,3-164144,8 4,8-344,8-19,2;294,8-14-5-348;11,4;13101,9-108,716-255,3-263,5203,524143,2Orgânicas34-36,2-5856,8-5826-44,35148-5346,7211,3222,5transportadas59-59,5 180,5-187181,5-183 155,8-170233,8Sedimentação259-262,5rápida 62-263,8 10,5;2 ]5-34 51-539,2-9 detritos255,8 DiápiroGranodeeres.IntervalosPistascroMarcas onduladasdo descendentepoçoMaciçaFilmes(m) argil. emaranhados ConvolutasEstrat.VegetaisGranodeeres.Calha cruzadafossoOndulaçõesFalhasascendentecrese.desarmônieasCC 104,5 Ripas isoladas121,7 Carvão MCL 155,8 Diaslema Brechas sedimentaresRipasCGSF torcidas 184,5 ,5 ""C/) o c;;? ,õ ~C

-,lw ,0 ~. ~ -p N~

I1C I1B liA * A granodecrescência ascendente de 255 a 238 está relacionada com processos de turbiditos. ** As dobras truncadas de 262 a 263,5 teriam sido causadas pelo empuxo dos fluxos de delrilos, causadores dos depósitos do intervalo 238-255. Da mesma origem devem ser as convolutas do intervalo 255,3 a 263,5. As falhas de crescimento e as sobrecargas deste intervalo devem ter·se originado pelo peso da sedimentação lamítica de cima. Rev. IG, São Paulo, 13(1), 7-30, jan.ljun.ll992

nito/argilito. Aparecem, em toda a seção, raros Os sedimentos deste intervalo parecem re• fragmentos argilosos. fletir afogamento do lobo arenoso do intervalo I. Foram reconhecidos dois níveis delgados de Intervalo m, 42-1lm - É constituído, qua• diamictito, dos quais o mais importante é o do se inteiramente, de ritmito tipo "varvito de ltu", topo, que delimita este intervalo. Ambos os ní• com raros níveis de siltito e argilito. É um paco• veis exibem filmes argilosos esporádicos, o que te homogêneo, quase sem estruturas sedimenta• imprime à rocha certa estratificação. O nível in• res, a não ser a laminação, suaves ondulações e ferior, 84 a 83m de profundidade, exibe peque• pequenas depressões de lâminas de argilito preen• nos seixos esparsos, com filmes argilosos se chidas por siltito, interpretadas como pequenas distribuindo em pequena estrutura convoluta, a sobrecargas. Somente de 38m para baixo, ocor• 83,6m. O do topo, com 1,80m de espessura, é rem outras perturbações, como seixos "pinga• arenolamítico, com fatias delgadas, descontínuas, dos" com acomodações das lâminas acima e de siltito e de material carbonoso, com tendên• abaixo, pequenas convolutas, porções das lâmi• cia a se dispor horizontal ou inclinadamente. nas destacadas em S, falhas penecontemporâneas, Comprova-se, portanto, a contribuição de corren• camadas truncadas de ritmito e "tabulas" do se• tes aquosas durante a deposição do diamictito. dimento, com acomodações das lâminas acima e abaixo, sugerindo canibalismo. Duas ocorrências de granodecrescência as• cendente foram detectadas, sendo que uma ter• A influência do lobo arenoso, neste interva• ceira se inicia com o diamictito do topo, conti• lo, está restrita à profundidade de 38m. Acima nuando com o intervalo de cima. desta profundidade foi completa a influência de águas calmas, com os sedimentos, possivelmen• Dois diastemas, pelo menos, foram verifi• te, depositados por mecanismos de turbiditos cados neste intervalo. Passagens irregulares de distais. litologias, bolsões de arenito de granulação mé• dia circundados por arenitos mais finos, fragmen• G-poço M-IG/85 - A descrição litológica tos de arenito ou ritmito envolvidos por arenitos deste poço, perfurado na Fazenda São Gerôni• de outras granulações, às vezes com acomoda• mo, município de , é aqui incluída, ten• ções de sedimentos acima e abaixo, sugerindo ca• do em vista o confronto com os poços da região nibalismo; falhas penecontemporâneas com ou Capivari-Rafard, embora este poço não esteja lo• sem "drags" de material argiloso, dobras anas• calizado nesta região (Figura 10). tomosadas e desarmônicas e convolutas sugerem

deslizamentos subaquáticos. A 87m de profun• __ 112. didade foi verificado um pequeno dique clástico de arenito. As características deste intervalo sugerem "o um lobo arenoso submerso, avançando sobre um corpo de água de baixa energia possivelmente marinho, remobilizando, no caminho, sedimen• I T tos finos das bordas. Sedimentação rápida sobre detritos pouco coerentes seria responsável por u" freqüentes fluidificações. Intervalo 11, 61,2-42m - Este intervalo exi• be características intermediárias entre os inter• + valos I e m. São freqüentes ritmitos tipo "varvito de Itu" (lâminas de siltito e argilito), intercala• dos em lamitos maciços com grânulos e peque• nos seixos. O delgado diamictito do topo do intervalo I passa, gradativamente, para cima, para j ritmito tipo "varvito de ltu". A 45,4m ocorre del• gado diamictito, de 7 cm de espessura, lamítico, T estratificado. Incluem-se, entre as estruturas sedimenta• res deste intervalo, convolutas, ondulações desar• poço MUMBUCA mônicas de filmes argilosos, imbricamentos de M- 1.0.1" fragmentos de siltito, filmes irregularmente anas• PERFIL ResuMIOO tomosados e porções de ritmitos destacados e res• sedimentados. Diastemas ocorrem a 47, 50 e 59m. FIGURA 10 - Poço M-IG/85 - Perfil condensado.

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Este poço atingiu a profundidade de 200m Subintervalo IlB: (I) 79,50-77,OOm (2,50m) e foi interrompido quando a sonda estava cortan• - Diamictito, matriz lamítica, passando, acima, do um diamictito de grande espessura (espessu• para arenito grosso, feldspático e daí para lami• ra mínima 88,OOm), apenas com intercalações to, em granodecrescência ascendente, que termi• .relativamente delgadas e subordinadas de outras na no argilito do pacote IIB (2). Ocorrem dobras litologias. Dos poços perfurados pelo Instituto recumbentes e falhas. Geológico, é este que exibe maior espessura de (2) 77,00-51,OOm (26,00m) - Ritmitos tipo diamictitos. A proporção, no conjunto do poço, "varvito de Itu" e argilitos. Subordinadamente de diamictito em relação a outros elásticos é equi• ocorrem siltitos. Os sedimentos finos são fratu• valente. Somando-se todos os níveis de diamic• rados em "tijolinhos" dificultando sua recupe• tito neste poço, chega-se a um valor de 96,50m. ração. Ocorrem dobras desarmônicas e Os elásticos finos, de argilito a arenito muito fi• compostas com as camadas interrompidas e com no, somam 95,00m. Arenitos grossos totalizam espessuras variando irregularmente e exibindo es• apenas 4,50m. Os 4,00m restantes para 200,OOm truturas de arrasto com estiramento dos leitos ar• é do topo do poço, constituído de material de• gilosos. composto. O que condicionou a união dos pacotes (I) A coluna litológica do poço propicia sua sub• e (2) no subintervalo IIB foi a granodecrescên• divisão em dois intervalos, de baixo para cima, cia ascendente. chamados de I e 11. Subintervalo IlC: 51,OO-28,5Om(22,50m) • O intervalo I (200 a 112m)(88m) compreen• Arenito muito fino com filmes argilosos e, su• de uma única sucessão, A, constituída pelo dia• bordinadamente, arenito muito fino sem filmes mictito basal, com inelusões bem subordinadas argilosos, siltitos e argilitos. Ocorrem estratifi• de elásticos mais finos. Este diamictito é maci• cações cruzadas planares, tangenciais, de tama• ço, de matriz lamítica, com elastos esporádicos nho médio, falhas de pequeno rejeito, dobras com de diversas litologias, angulosos e facetados, ge• ondulações desarmônicas, dobras assimétricas ralmente pequenos mas podendo atingir diâme• deitadas. tros que excedem 30cm. Os elásticos intercalados Subintervalo IlD: (1)28,50-22,50m (6,OOm) estão perturbados, com as camadas interrompi• - Diamictito de matriz lamítica, maciço, foi en• das e truncadas; raramente ocorrem argilitos contrado um elasto estriado. Intercalações síltico• amarrotados. arenosas e lentes síltico-argilosas ocorrem subor• O intervalo 11pode ser subdividido nos se• dinadamente. Dique elástico e falha a 27,5m de guintes subintervalos, de baixo para cima: A, B, profundidade. Granodecrescência ascendente até CeDo o siltito de cima - IID (2). Subintervalo lIA: (I) 122,OO-101,50m (2) 22,50-4,OOm (18,50m) - Siltito homo• (10,50m) - Ritmito constituído de camadas ou gêneo, maciço, com filmes argilosos irregular• lâminas de lamito e arenito muito fino, ocorren• mente distribuídos. Os filmes podem ser do, também, siltitos e lamitos e, esporadicamente, interrompidos ou engrouvinhados. Ocorrem lâminas de argilito. falhas. (2) 101,50-97,OOm(4,50m) - Arenito saca• O que condicionou a união dos pacotes (1) róide, grosso, com pouca matriz, maciço. e (2) na sucessão IID foi a granodecrescência as• cendente. (3) 97,00-79,50m (17,50m) - Arenito muito fino, com intercalações subordinadas de argili• As litologias presentes neste poço sugerem to, lamito, ritmito (lamito/argilito) e siltito. a repetição constante de fluxos de detritos e que chegariam a uma região subsidente, com tendên• O que caracteriza este subintervalo é a pre• cia a desenvolvimento de um corpo de água re• sença de estruturas enroladas, que foram chama• lativamente permanente. das, informalmente, de "rocambole" (estruturas convolutas), que ocorrem em toda a seção. Fa• As estratificações cruzadas, truncadas por lhas irregulares, argilitos amarrotados, dobras de onda do pacote lIA (1), conduzem à interpreta• arrasto, sobrecargas, também são encontrados. ção do corpo de água relativamente amplo e de Quando os elásticos são muito finos, os testemu• profundidade suficiente para permitir a ação de nhos são bastante fraturados, dificultando a re• turbilhonamento por ventos fortes sobre os sedi• mentos do fundo. cuperação. Estratificações cruzadas truncadas por onda ocorrem no pacote inferior (1)e conseqüên• Os subintervalos IIA(2) e lIA (3) represen• cias de laminação cruzada por migração de mar• tariam flutuações para águas mais rasas, com de• cas onduladas, no pacote superior (3). senvolvimento de estratificações cruzadas.

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As condições de deslizamentos de sedimen• envolvendo distâncias de 2 a 1,5 Km entre os qua• tos semiconsolidados ao longo de deelives cau• tro poços situados no lado sul, ou seja, R-IG/85, sados pela própria sedimentação teriam C-IG/86, C-IG/89 e C-IG/90, e 2Km entre os do permanecido durante todo tempo de sedimenta• lado norte, C-IG/87 e C2-IG/89. ção do pacote lIA, causando os "rocamboles". Entre C-IG/90, do lado sul, e C-IG/87, do O diamictito do subintervalo lIB (l) poderia lado norte, medeiam distância de pouco menos ser produto de correntes de densidade; o elasto, de 2 km. excedendo 0,28m de diâmetro, poderia eventual• Os poços C2-IG/89, o mais afastado da área mente ter sido transportado no meio de uma mas• norte (nordeste), e C-IG/90, são os que exibem sa detrítica concentrada, através de correntes de maiores contrastes de litologia. turbidez, só indiretamente ligada à glaciação. É O poço C2-IG/89, diferentemente dos outros o que foi deduzido tendo em vista a pequena es• pessura do diamictito (l,OOm) e seu cárater de poços, caracteriza-se por grande espessura con• granodecrescência ascendente. Este diamictito as• tínua de elásticos grossos, 250m, predominan• senta sobre siltitos com filmes argilosos caoti• temente constituídos por arenitos e, camente dobrados no contato e com sugestões de subordinadamente, lamitos com elastos esporá• dobras recumbentes e bolsões de conglomerados dicos. Este é o poço de maior uniformidade lito• preenchendo escavações. Estas perturbações po• lógica pelo lado dos elásticos grossos. A deriam, eventualmente, ter sido causadas por em• proporção de grossos para finos é de 250/13, ou puxo de corrente de alta densidade. seja, 95 % da coluna é constituída de elásticos grossos, sendo que os finos estão restritos aos As estruturas dos varvitos e argilitos de IIB 13m basais do poço. É interessante ressaltar que (2) sugerem, da mesma maneira como no subin• a cerca de 2 km a nordeste deste poço, no krn tervalo lIA, que deslizes subaquáticos de mate• 127 da Rodovia do Açúcar, afloram diamictitos rial semiconsolidado continuaram prevalecendo restritos a calhas escavadas em sedimentos argi• durante todo o intervalo de tempo de sua sedi• losos, interpretados como depósitos a partir de mentação. fluxos de detritos que escavaram, subaquatica• No subintervalo IIC também teriam preva• mente, as calhas, a partir de deslizes de grandes lecido condições de correntes relativamente fra• proporções. A projeção destas calhas para su• cas proporcionando as laminações cruzadas por doeste passa pelo local do poço C2-IG/89, cujos migrações de marcas onduladas e as evidências depósitos poderiam estar relacionados a estes flu• de deslizes, responsáveis pelas dobras deitadas xos de detritos (PIRES & PETRI, 1991). Chama e falhas. a atenção, no pacote superior de elásticos gros• O subintervalo IID (1)e (2) repete as condi• sos deste poço, a presença relativamente comum ções de sedimentações do subintervalo IIB (1) e de fragmentos de carvão e de restos de plantas (2); o diamictito 11D (1) aparece, contudo, com carbonizadas e a presença de feldspatos cauli• espessura maior. Também aqui ocorre granode• nizados. crescência ascendente para os elásticos finos do O poço C-IG/90 caracteriza-se, também, por pacote 11D (2) mas aqui as intercalações síltico• grande uniformidade litológica mas para o lado argilosas no diamictito ocorrem de forma lenti• dos finos. A proporção de grossos para finos é cular e penetrando no diamictito sob forma de de 34/55, ou seja, cerca de 38 % é constituído diques elásticos. de elásticos grossos. É interessante assinalar que, Verifica-se, portanto, que todo o intervalo 11 na estação de tratamento de água de Capivari, foi caracterizado pelo prevalecimento de condi• foi perfurado, antes de 1985, um poço pelo ções de sedimentação por elevada carga de de• IG/SMA (TA, Fig. 11)cuja coluna litológica foi tritos, ocasionando deelives por onde teriam descrita por MANIAKAS (1986), sob a designa• ocorrido deslizes subaquáticos de material semi• ção de IG-02. Verifica-se, pela descrição e ilus• consolidado. A subdivisão deste intervalo em su• tração de Maniakas, a predominância de arenitos bintervalos foi baseada na presença periódica de neste poço, em grande contraste litológico com diamictitos com granodecrescência ascendente a coluna do poço C-IG/90, embora diste apenas para elásticos finos. A litologia predominante 500m deste poço. Este poço, da estação de trata• neste subintervalo 11foi, contudo, a de elásticos mento de água, bem como o poço de Capim Fi• finos. no, cuja coluna litológica também foi descrita por Maniakas (op. cit.) como IG-OI, são os dois úni• cos, estudados por este autor, que não foram aqui 4 COMPARAÇÃO LIroLÓGICA descritos por terem sido perfurados antes de 1985, DOS POÇOS DA REGIÃO CAPIVARI-RAFARD quando ainda não estávamos no IG-SMA. O poço Capim Fino, identicamente ao poço Os seis poços estão localizados ao sul, su• C-IG/90, se caracteriza pela predominância de deste e nordeste da conurbação Capivari-Rafard, elásticos finos. Sua posição geográfica, bem dis-

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tante de outros poços aqui estudados, cerca de terpretados como gerados em condições de avan• 2 km a sudoeste de R-IG/85, se enquadra no es• ços e recuos de fluxos de detritos que adentravam quema paleogeográfico da área, por nós proposto o mar Capivari. (ver, também, PIRES & PETRI, 1991). O poço C-IG/86 foi, parcialmente, descrito O poço R-IG/85, referido por Maniakas (op. por Maniakas (op. cit.) como IG 0,4 até 240m cit.) como IG-05, exibe proporções de elásticos de profundidade. Posteriormente o poço foi con• grossos, em relação aos finos, de cerca de 57 %, tinuado até 301m de profundidade, como aqui o que o situa em uma posição intermediária en• descrito. tre os poços acima mencionados. Este poço, em São características comuns aos poços da re• contraste com todos os descritos até aqui, gião aqui descritos: a) Freqüência de arenÍtos caracteriza-se por grande regularidade de suces• com intercalações argilosas, geralmente sob a for• sões de grossos e finos, com diastemas nas pas• ma de filmes dispostos irregularmente e também sagens de grossos para finos. Esta regularidade distribuídos de forma irregular. Esta litologia é lembra cielotemas. a que comparece com maior freqüência; b) Dia• Os poços R-IG/85 e C-IG/90 exibem um pa• mictitos de matriz lamítica ou arenosa, sempre cote contínuo de elásticos finos, com espessuras com espessuras reduzidas, interpretados como equivalentes, em torno de 60m, e que, eventual• causados por correntes de densidade, sem rela• mente, poderiam ser correlacionáveis no tempo, ção direta com a glaciação, embora possa ser o embora situados em cotas diferentes, mais alta resultado remoto de glaciação. Eles são, geral• em C-IG/90. mente, maciços mas podem, esporadicamente, exibir filmes argilosos e, às vezes, passando, ir• Os sedimentos finos dos poços Capim Fino regularmente, na vertical e (ou) na horizontal, e C-IG/90 foram interpretados como gerados em para arenitos ou lamitos; c) Freqüência de estru• um mar onde imperariam condições de baixa ener• turas interpretadas como causadas por deslizes gia. Também os sedimentos do poço subaquáticos por sobrecarga de sedimentos so• R-IG/85 teriam sido gerados em um mar de baixa bre uma rampa inelinada; d) Estruturas interpre• energia. Contudo aqui as condições energéticas tadas como geradas por fluxos laminares ocorrem seriam periodicamente perturbadas por fluxos de em posições estratigráficas definidas e são, pro• detritos que atingiriam o mar através de canais porcionalmente, menos freqüentes que as inter• submersos. Neste poço estas flutuações foram pretadas como geradas por deslizes. agrupadas em três episódios, caracterizados por O estudo das colunas litológicas dos poços do diminuição gradativa de energia, refletida por gra• médio Tietê corroboram as conelusões de GAMA nodecrescências ascendentes. Novo aumento de et aI. (1991)e PIRES & PETRI (1991)de que não energia causaria diastema e, em seguida, novo epi• ocorrem sedimentos gerados diretamente por de• sódio. Talvez toda a seção do poço posição glacial nesta região, embora possa haver C-IG/90, que só chegou a 100,4m, possa ser cor• remota ligação com os processos glaciais, prova• relacionada à parte superior, de águas mais·cal• velmente contemporâneos. mas, do episódio intermediário do poço R-IG/85. Este poço atingiu 301m de profundidade. 5 PALEOGEOGRAFIA DA REGIÃO Os sedimentos atravessados pelo poço ESTUDADA, DE ACORDO C2-IG/89, gerados em condições de maior ener• COM OS POÇOS PERFURADOS PELO gia, foram interpretados como depósitos de flu• IG-SMA E xos de detrito em um canal submerso, que TRABALHOS DE CAMPO atravessou o local onde hoje se situa a cidade de Capivari e atingiu a região costa afora ao sul desta Sugere-se que, no intervalo de tempo repre• cidade. Este canal incorporaria, por erosão late• sentado pelos sedimentos perfurados pelos oito po• ral, elásticos finos de suas margens, que se de• ços aqui referidos, haveria persistência de positaram sob a forma de filmes. condições marinhas costa afora no sul e centro da O poço C-IG/89 é o que está mais próximo, região de Capivari. A nordeste, norte e, possivel• geograficamente, do afloramento com fósseis ma• mente, a noroeste, ocorreriam condições mais pro• rinhos, distando deste cerca de 3km no rumo no• ximais, representadas por lobos submarinos, dos roeste. Este poço e os de sigla C-IG/86 e quais o maior passaria pelo local de perfuração do C-IG/87 possuem características intermediárias poço C2-IG/89. Este lobo atravessaria o sítio entre os poços Capim Fino, C-IG/90 e urbano de Capivari, chegando ao "offshore" R-IG/85, de um lado, e os poços 1)1 e C2-IG/89 em uma área situada entre os sítios urbanos do outro. Os poços C-IG/86, C-IG/87 e C-IG/89 de Capivari e Rafard. Outro lobo passaria pelo possuem cerca de 80% de elásticos grossos mas poço C-IG/86, possivelmente ligado ao primei• distribuídos de forma uniforme. Eles foram in- ro através de uma área bordejando um canal

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mais profundo, passando pelo local do poço se que a proporção de clásticos grossos (areni• C-IG/90. tos, lamitos com clastos e diamictitos) em relação Este quadro paleogeográfico lembra o pro• aos finos (siltitos, argilitos e subordinadamente posto por SOARES et ai. (1977). O modelo des• folhelhos) é de cerca de 71%, valor da média de tes autores envolve uma região maior do que a todos os poços. Esta porcentagem elevada de• aqui estudada. Tendo em vista que se dispõe aqui monstra que a freqüência de canais submarinos de maior número de dados, foi possível elaborar que atravessaram a região era muito grande, de um quadro mais pormenorizado de uma região modo que os depósitos de clásticos finos, origi• menor (Fig. 11)(vide também PIRES & PETRI, nados no mar de baixa energia, aparecem subor• dinadamente. 1991). O mesmo pode ser aplicado para o mode• lo de STEVAUX et ai. (1987), que também estu• A fácies E, descrita por PIRES & PETRI dou área maior, envolvendo a área aqui estudada. (1991), na região Capivari-Rafard, constituída de Com dados à nossa disposição, não considera• mos suficientemente documentada a existência de diamictito lamítico maciço, ou lamito com clas• tos, cujas relações estratigráficas com outras fá• prodelta na região Capivari-Rafard, embora os cies não ficaram claras no campo, aflora fluxos de detrito aí reconhecidos, possam ter re• extensamente a noroeste da região, estando em lações com possíveis deltas. contato com o diabásio na estrada para Os estudos de campo na região Capivari• Mumbuca. Rafard demonstraram que os clásticos grossos se dispõem em canais escavados em argilitos, estes O poço M-IG/85, perfurado pelo IG/SMA originados em um mar de baixa energia (Fig. 11). na Fazenda São Gerônimo, em Mumbuca, atra• vessou espesso depósito de diamictito, com pelo menos 88m de espessura, podendo ter maior pos• sança, visto que o poço foi interrompido nesta J< Debris flow. litologia, a 200m·de profundidade. Este diamic• tito maciço, de matriz lamítica com clastos es• parsos,alguns angulosos e facetados, geralmente ====~ pequenos, podendo contudo atingir O,30m de diâ• - - -/.:-~Jtj~~:'-- - - metro, de litologias variadas, poderia, também, ser classificado como lamito conglomerático. Deve-se ressaltar que, de todos os poços perfu• = =-= ---=-- t; _----~~GI9O--~~~=~- _- _-_ - _ -_-_ rados pelo IG-SMA na região do médio Tietê, - - ,P<:;- ,------este é o único que exibe grande possança de dia• ~-?------mictitos formando um corpo único. =- VW_--~~'Çy1= - -=-?~1>-C-IGTFJ6 =-'T- ==--=-=-- -=--=- =-• - -<;:R-IGIll,;- - v,,:P' - - - - - Este espesso diamictito talvez possa ser cor• - - - - - $VC-1G/99- - - - - relacionado com a fácies E de PIRES & PETRI (1991) e com o "pebbly mudstone" do Membro ~~ ~~~-~~-= - -= -- ~ - --=- Chapéu do Sol de FRANÇA (1987), topo do Ita• 0'------'1 Km jN 1--=- FÓSSEIS9 "ARINlfOS raré,"segundo este autor. França o interpreta co• mo depósitos formados através de geleira marinha, tendo em vista não só sua ampla dis• FIGURA II - Paleogeografia do Subgrupo Itararé na região Capivari-Rafard. Os traços horizontais se referem aos peli• tribuição, como também suas relações de inter• tos que caracterizariam o ambiente costa afora, de baixa digitação com a Formação Rio do Sul, do Sul energia. do Brasil, contendo fósseis marinhos. Estes "pebbly mudstones" são extensamente distribuí• Se se considerar, contudo, os seis poços desta" dos no Estado de São Paulo, segundo França área, por nós estudados a partir de 1985, verifica- (1987).

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Endereço do autor: Setembrino Petri - Instituto Geológico - SMA - Caixa Postal 8772 - 04301-903 - São Paulo, SP - Brasil.

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