A Voz de Minas na Voz de Milton1

CAMPELO, Wanir. (Mestre)2 Uni-BH/MG

RIBEIRO, Luciano. (Mestre)3 UNA/Izabela Hendrix- MG

Resumo: A “Voz de Minas” ecoou pelas Gerais em 1944, quando o escritor Alceu Amoroso Lima lançou o primeiro volume de uma coletânea idealizada para ser o ensaio geral da sociologia brasileira, que receberia o título de “As cinco vozes do Brasil”. Nesse livro singular, o autor procurou retratar o povo mineiro em sua psicologia, sociabilidade, em sua cultura e espiritualidade. Duas décadas depois, o cantor e compositor lançava o seu primeiro disco - Barulho de Trem -, iniciando a sua travessia, estrada afora. Na bagagem, a voz inconfundível desse cidadão do mundo que exala, em cada verso, a “mineirice” de seu cantar. Esse trabalho tem por objetivo identificar elementos que caracterizam o “ser mineiro” e as , na vida e na obra de Milton Nascimento, tendo por base o livro de Lima. Para tanto, buscamos decifrar os segredos guardados entre as montanhas que nos cercam para, em seguida, identificá-los em algumas das muitas canções estudadas.

Palavras-chave: Milton Nascimento, Alceu Amoroso Lima, Minas Gerais, música, ser mineiro.

A Voz de Minas

As montanhas que protegem as Minas Gerais personificam e caracterizam o mineiro de maneira singular. Desde que os primeiros desbravadores começaram a abrir caminhos e picadas por essas serranias tão distantes do infinito do mar, o Estado foi sendo, paulatinamente, desnudado, mas, graças a essa proteção geográfica natural que nos acolhe, Minas continua indecifrável, cercada de mistérios a nos desafiar.

1 Trabalho apresentado ao GT História da Mídia Sonora, integrante do 9º Encontro Nacional de História da Mídia, 2013 2 Mestre em Comunicação Social (Universidade de São Marcos), especialista em Língua Portuguesa (Fafi-BH), bacharel em Jornalismo (UFMG), coordenadora da webradio, do laboratório de rádio e professora de Radiojornalismo, Técnicas de Reportagem, Trabalho Interdisciplinar de Graduação, Orientação de Monografia, entre outras disciplinas dos cursos de graduação e pós graduação do Centro Universitário de (Uni-BH). [email protected] 3 Mestre em Mídia e Conhecimento (UFSC), especialista em Língua Portuguesa (UEMG), bacharel em Jornalismo (PUC-MG), professor de Legislação e Ética do Centro Universitário Izabela Hendrix e Tutor de EAD do programa de pós-graduação do Centro Universitário UNA. [email protected] 1

Segundo José Luiz de Vasconcelos Barros (1999), na medida em que a febre do ouro impulsionou os aventureiros a desbravarem o solo mineiro, iniciou-se a formação de uma ímpar civilização em Minas que tem, na fé, o seu sustentáculo mais sólido; no amor à terra, sua definitiva fixação histórica; e no culto à liberdade, a sua razão de ser.

Ainda que, de acordo com Alceu Amoroso Lima (1983), a montanha possa exercer em Minas o papel de limitadora de horizontes, impondo ritmo lento no andar de seu povo, ela faz com que seus habitantes vivam de forma serena e compassada, saboreando a vida devagar e revelando a qualidade, como outro traço mineiro. E a qualidade, diga-se de passagem, é filha da lentidão.

Outro aspecto da montanha em sua tradução humana e social é a concentração. Lima (1983) considera que o mineiro, como todo montanhês, é ensimesmado: vive para dentro, vive em si. A meditação é o seu clima habitual e a vida interior, o seu encanto. O mineiro sabe esperar, sabe escutar e é, naturalmente, inclinado ao saber. Por isso, tem grande vocação cultural.

Durante o século XVIII, foi Minas não só a mais rica, como a mais ilustrada das capitanias. Essa pluralidade pode ser traduzida na imponência de suas igrejas ornadas com o ouro que aqui brotava; nas liras de Tomás Gonzaga à sua bela Marília; nas esculturas de Aleijadinho ou nas pinturas de Ataíde; nas obras sacras e profanas que acabaram por transformar o estado, no centro intelectual da Colônia. Em função dessa configuração, onde o mineiro se formou depois de incansáveis caminhadas pelos vales auríferos, há de se destacar, também, a presença da música nesse cotidiano. Assim como as minas, a música corre nas veias das Gerais. Nas colinas de Minas, poetas e trovadores encontraram inspiração para, em suas canções, criar, além de uma sonoridade própria, versos que buscam a essência humana.

É algo que corre no sangue de nossa gente e está presente em todas as situações de sua existência. O mineiro respira notas musicais e com elas torna mais amena a sua batalha pela vida ao longo da história (BRANT, p. 131, 2007).

As primeiras manifestações musicais que chegaram a Minas foram trazidas pelos índios, cujas festas e rituais eram celebrados ao som da flauta, do chocalho e do tambor. Quando os jesuítas por aqui se estabeleceram, repassaram aos indígenas importantes

2 noções da música sacra. Os africanos também contribuíram com a música que se fazia em Minas, especialmente as folclóricas. As canções de além-mar trouxeram elementos que foram sendo incorporados às cantigas de roda e de temáticas rurais.

Os negros no serviço cantavam o dia inteiro. Tinham cantos especiais para a manhã, o meio dia e a tarde. Mesmo antes de o sol nascer, pois em regra, começavam o serviço alta madrugada, dirigiam-se à lua em uma cantiga de evidente teor religioso (MACHADO, p.62, 1944).

A chegada dos europeus, especialmente os de sotaque lusitano, também trouxe para a música de Minas outros elementos que a enriqueceram. No início do século, 50 músicos portugueses aqui desembarcaram e, cinco décadas depois, o Estado assumia o maior desenvolvimento produtivo e prático da música religiosa na América Portuguesa. Eram, sobretudo, mulatos, que acreditavam poder, por meio da música, ascenderem-se socialmente. A Igreja se fez cega diante da impossibilidade de fiscalização dado o tamanho do território que precisaria percorrer e, consequentemente, mesmo sem querer, acabou por abrir caminhos para a liberdade do canto mestiço. A colonização portuguesa trouxe, ainda, instrumentos musicais mais sofisticados como violão, violino, harpa e piano, além das cores e da alegria do “reisado” e do “bumba-meu-boi”.

No fim do século XVIII, a música que ecoava pelas montanhas de Minas encontrava-se já amalgamada por expressivas manifestações artísticas e culturais vindas de muito longe. Assumiu, assim, um caráter extremamente original, influenciada, ainda, pela arte barroca, de um lado, e pelas tramas obscuras dos Inconfidentes, do outro. Foi graças ao ecletismo que a qualidade musical transpôs barreiras e compôs a identidade das canções mineiras. O estilo construído por tantos povos foi responsável, assim, por esse perfil diferenciado, que foi sendo esculpido por aqui.

O compositor mineiro Fernando Brant (2007) afirma que a música que se faz em Minas Gerais é rica e diversificada não havendo, portanto, uma maneira única de se fazer canções: ela é plural em seus conhecimentos e criações. Assim é que os compositores vão surgindo de todas as Gerais, trazendo, do interior, a memória dos antepassados, os cheiros das terras, o sentimento amoroso das cidadezinhas plantadas entre vales.

A síntese que se realiza na capital montanhesa, lugar para onde se desloca a maioria dos músicos, entre o rural e o urbano, o histórico e o contemporâneo, faz da riqueza essa arte particular e universal. Minas

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Gerais é fonte. Assim como as águas brotam do ventre das terras mineiras para formar os rios que vão se dirigir ao mar e esse verter parece inesgotável, os sons jorram de todas as latitudes de Minas. É uma variedade impressionante de jeitos de ritmar e harmonizar, de construir versos e inaugurar temas Chegam devagar, cautelosos, tímidos, silenciosos e cheios de conteúdo (...). É um mistério sempre presente no canto que se canta nas alterosas (BRANT, p. 131, 2007).

Lapidado pelas serras e cerrados, o cantor e compositor Milton Nascimento, objeto de estudo deste artigo, buscou no repique dos sinos, na batida do tambor, no banzo escravagista do passado, a fusão de elementos que caracterizam, de maneira inequívoca, a “Voz de Minas”, especialmente aquela presente no ensaio de sociologia regional, escrito por Alceu Amoroso Lima. É o que veremos a seguir.

A VOZ DE MILTON

Predestinado à música, Milton nasceu na cidade do , a efervescente capital federal do início da década de 40.

Eram seis horas da tarde do dia 26 de outubro de 1942 quando a „Ave Maria‟ de Gounod soou no rádio do sobrado da Rua Conde de Bonfim, ultrapassou os umbrais das suas janelas e ganhou os ares das calçadas. No mesmo e exato instante, no bairro das Laranjeiras, o choro de um bebê venceu os corredores da casa de saúde, saltou pelas portas e jogou-se ao vento, formando com a música um dueto dissonante, marcado pelo compasso das badaladas do relógio. Foi assim, preenchendo o vazio com a força da sua voz, que nasceu o pequeno Milton Nascimento (DUARTE, p. 23, 2006).

Milton é filho de Maria do Carmo, uma empregada doméstica que engravidara ainda solteira. O pai, ele não conheceu, e a mãe, morreu quando ele ainda era bebê, acometida pela tuberculose, cujo tratamento inexistia na época. Com os patrões de Maria do Carmo - Dona Augusta e Sr. Edgard -, que se tornaram seus padrinhos de batismo, Milton achou aconchego, especialmente, na filha do casal, Lília.

Era Lília quem dava o banho, a comida,brincava, contava história e fazia dormir o pequeno. Milton era um menino tranquilo, obediente, chorava pouco, não dava mais trabalho do que qualquer criança poderia dar. Entretanto, tinha momentos de rebeldia quando ficava emburrado. Fechava a cara, armava o bico, e era preciso ter paciência até que voltasse ao normal. (...) Achando graça nesses “beiços”. Lília apelidou o garoto de Bituca. Um apelido que representava mais o dono do que o próprio nome. Durante anos e anos, até ganhar fama, Milton foi Bituca. Continua até hoje para os mais chegados - e não são poucos (DUARTE, p. 24, 2006).

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Bituca tinha apenas dois anos e meio quando Lília e Zino se casaram. O noivo, que saíra há alguns anos de Três Pontas, no sul de Minas, para estudar no Rio de Janeiro, onde conheceu a noiva, havia recebido uma ótima proposta de trabalho para voltar à sua cidade natal. Decidiram, assim, se mudar prá lá, onde iriam iniciar a nova vida conjugal.

Sem a filha para ajudar a cuidar de Bituca, Augusta e Edgar não tiveram alternativa a não ser levá-lo para a casa da avó biológica, mãe de Maria do Carmo, em Juiz de Fora. Mas a saudade do pequeno Milton assolou os corações de Lília e Zino. Mal sabiam eles que, a alguns quilômetros dali, havia uma criança que também sofria, à espera de um resgate.

Bituca estava no meio-fio quando o automóvel apontou no fim da rua. Logo reconheceu o motorista e a passageira. Lília saltou, pegou-o no colo e deu-lhe um longo abraço. „Para mim, foi como a Pietá, quando Maria pega nos seus braços o filho crucificado‟, disse Milton, sessenta anos depois, quando fez um disco em homenagem à mãe. Zino e sua esposa conversaram com a mãe de Maria do Carmo, explicaram suas intenções. Ela não fez objeções e deixou o casal levar o neto para criá-lo como filho. Foi exatamente o que fizeram (DUARTE, p. 30, 2006).

De Juiz de Fora, Zino, Lília e Bituca retornaram para o Rio de Janeiro e, em seguida foram de trem, para Três Pontas.

Lá vai o trem com o menino, lá vai a vida a rodar, lá vai ciranda e destino, cidade e noite a girar. Lá vai o trem sem destino, pro dia novo encontrar, correndo vai pela terra, vai pela serra, vai pelo mar. Cantando pela serra do luar, correndo entre as estrelas a voar.4

A simplicidade daquela pacata e pequena cidade, a harmonia do novo lar e o amor imensurável dos pais adotivos foram os ingredientes para uma feliz infância cercada de carinho e fantasia.

O fascínio pelos trens após a travessia do Rio para Minas tornou-o capaz de transformar tudo ao seu alcance em vagões e trilhos. Pedras, gravetos, folhas, latinhas, tudo servia para alguma parte da estrada de ferro ou dos vagões. Quão infinito pode ser o limite de um quintal para a imaginação de uma criança (DUARTE, p. 36, 2006).

Também fizeram parte do cotidiano de Bituca incansáveis brincadeiras com os dois cães da família, as pipas e o piões, as partidas de futebol com os amigos no descampado de terra batida e os circos que ali eram armados quando passavam pela cidade, encantando a todos que viviam em Três Pontas.

4 “Trenzinho Caipira”. Heitor Villa Lobos 5

Maria Dolores Duarte (2006) conta que, aos cinco anos, Milton ganhou seu primeiro instrumento musical: uma gaita de uma escala só. Depois vieram outros, dotados de sustenidos e bemóis que lhe proporcionaram novas possibilidades para suas experimentações. Antes de completar sete anos, Bituca já estava às voltas com uma sanfona Hering de quatro baixos, hoje guardada na casa dos pais, em Três Pontas, ao lado dos prêmios Grammy, recebidos ao longo da carreira. Inventando e musicando suas próprias histórias, passava horas sentado na varanda de casa tocando os instrumentos ou carregando todos eles a tiracolo, enquanto cantava. “Dizem, que quando era pequeno, engoliu um ovo de curió e o passarinho fez um ninho na garganta dele. É por isso que, quando ele canta, desperta todos os tons da manhã”.5

Quando adquiriu pleno domínio das técnicas que ele mesmo inventara, passou a acompanhar a mãe, pianista e ex-aluna de Villa-Lobos, nas quermesses da Igreja Matriz.

A entrada na adolescência trouxe novas possibilidades para Bituca, como a amizade com o músico trespontano Wagner Tiso e a criação do conjunto Luar de Prata, com o qual se apresentava nas festas da cidade; a matrícula no curso técnico da Escola de Comércio; o primeiro emprego na Alfaiataria Royal; e, posteriormente, o trabalho na Rádio Clube de Três Pontas, onde se tornara locutor e apresentador de programa. Em 1961, ao fazer o alistamento militar, acabou recrutado para servir à ESA – Escola dos Sargentos das Armas, na cidade de Três Corações. Por um ano, interrompeu os estudos e, em 1962, retornou a Três Pontas para concluir seu curso técnico. A cidade não era a mesma de sua infância e adolescência, mas ainda o encantava.

Em 27 de outubro de 1963, um dia após Milton ter completado 21 anos, os trilhos da estrada de ferro de Três Pontas foram arrancados e a estação ferroviária, desativada, dando lugar à sede moderna da prefeitura municipal. Doía o coração passar ali em frente e não ver a linha do trem, saber que a maria-fumaça nunca mais iria “chegar e partir, dois lados da mesma viagem”.6 Uma estrada vazia que, então, não levava a lugar nenhum, num vaivém de solidão (DUARTE, p. 116, 2006).

Mesmo sem o trem, mas com o diploma na mão, era chegada a hora de buscar novos caminhos. Bituca veio tentar a vida na capital mineira. Instalou-se na Pensão da Benvinda, no Edifício Levy, onde conheceu os irmãos Borges, que o acolheram como se

5 Grupo Ponto de Partida. Ser Minas Tão Gerais. Vevecos, panelas e canelas. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=r4RGhclG5tw Acessado em 29/03/2013 6 Trecho de “Encontros e Despedidas”, de Milton Nascimento e Fernando Brant. 6 fosse da família. Para se sustentar, Bituca, durante o dia, trabalhava como escriturário nas Centrais Elétricas de Furnas e, durante a noite, fazia shows e animava bailes, agendados em conversa com os amigos no cruzamento da avenida Afonso Pena com rua Tupinambás, bem no coração da cidade. Duarte (2006) explica que o local fora batizado por eles como o “Ponto dos Músicos”. Era prá lá que se convergiam os interessados no assunto; o cerne do escambo musical: local onde eram trocadas partituras, vendidos LPs e compactos, experimentados novos acordes e harmonias.

As amizades de Bituca se acumulavam. Conterrâneos, conhecidos, amigos, amigos de amigos, parceiros. Além dos Borges e Tiso, outros foram chegando: Pacífico Mascarenhas, Balona, Nivaldo Ornelas, , Nelson Ângelo, Marcinho Ferreira, Flávio Venturini, Ronaldo Bastos, Murilo Antunes, Tavinho Moura, , Fernando Brant e tantos outros.

As montanhas de Minas não limitaram novos voos de Milton, que deixou de lado a vida de escriturário e começou a viajar, levando a sua voz para outros cantos. Foi um período fecundo. Em 1964, gravou o primeiro compacto “Barulho de trem”.

Banco de estação, lugar de despedida e emoção. Comigo é diferente, apenas vim prá ver o movimento que tem barulho de trem. Parte um de cá, chegando um expresso vem de lá e para completar o original, há sempre a despedida fatal, abraço normal.7

No Rio de Janeiro, em 1966, conheceu Baden Powel, que o convidou para interpretar a canção “Cidade vazia”, no II Festival Nacional da Música Popular da TV Excelsior. Coube a Milton o prêmio de melhor intérprete. Mais tarde, como compositor, ouviu de Elis Regina, pedido para gravar “Canção do sal”; e um ano depois, em parceria com Fernando Brant, compôs Travessia, classificada em segundo lugar no Festival Internacional da Canção. Era chegada a hora de Bituca receber, enfim, o definitivo reconhecimento por seu talento.

No começo dos anos 70 a família Borges se mudou do Edifício Levy e se instalou de volta na antiga casa do bairro de Santa Teresa. Foi ali, na confluência das ruas Paraisópolis e Divinópolis que nasceu o Clube da Esquina, pedaço de calçada com

7 “Barulho de trem”. Milton Nascimento 7 espaço suficiente para acolher o talento e o coração daqueles jovens, dispostos a produzir uma nova safra musical.

O Clube da Esquina não é na verdade um movimento musical, tampouco tem (nunca teve) uma sede constituída. Trata-se, em essência, de uma espécie de “filosofia” de um grupo de amigos interessados em fazer música (e letra) que foi se reunindo ao redor da figura aglutinadora do artista Milton Nascimento (MOUTINHO, p.147, 2009).

A música Clube da Esquina foi composta em 1972, numa tripla e abençoada parceria entre Bituca e os irmãos Lô e Márcio Borges. O disco homônimo, lançado no mesmo ano, traduziu uma verdadeira celebração de amizade, que sempre norteou a vida de todos eles. Quarenta anos depois, Milton explicou que, muito mais do que um mero encontro de duas ruas, o Clube da Esquina foi um encontro da música, da poesia, da literatura e, sobretudo, de almas. “Penso que o clube não pertencia a uma esquina, a uma turma, a uma cidade, mas sim a quem, no pedaço mais distante do mundo, ouvisse nossas vozes e se juntasse a nós”.8

O Clube da Esquina alterou significativamente os rumos da canção popular brasileira oferecendo, à mesma, novas tonalidades que se reinventavam entre harmonias e notas musicais. Essa experimentação colocou em cena uma estrutura complexa e sofisticada, em que procedimentos sonoros distantes fluíam por um pacto refinado. A obra empreendida por esse grupo revelou sinais de uma fusão entre versos e sons, desenvolvida em torno de um equilíbrio dinâmico e espontâneo, nutrido a partir da conjugação de influências musicais tão diversas quanto irreconciliáveis (MARTINS, p. 12, 2009).

Depois vieram “Milagre dos Peixes"; “Minas” e “Gerais”, “Clube da Esquina II”; “Caçador de Mim”, “Ânima”, “Txai”; “Angelus”; “Amigo”; “Tambores de Minas”; “Crooner” – com o qual recebeu o Grammy Latino na categoria “melhor disco pop contemporâneo brasileiro”; “Pietá”, dentre tantos outros. Milton também compôs trilhas para ballet e cinema, gravou vários DVDs, e continua recebendo, mundo afora, incontáveis prêmios, além de medalhas, comendas, diplomas e títulos dos mais variados. Em 2010, ele lançou o álbum “E a gente sonhando”, trigésimo oitavo da sua carreira. No início deste ano, o cantor voltou a por o pé na estrada, com a turnê: “Milton Nascimento – uma travessia” 9. Anda cantando Minas em shows por todo o Brasil, América do Sul, Europa e Estados Unidos.

8 Entrevista ao jornal Estado de Minas. Clube da Esquina, 40 anos depois. Caderno EM Cultura, p.1 13/03/2012 9 www.miltonnascimento.com.br, Acesso em 10/04/2013 8

Miltons gerais: Minas se revela em canções.

Há meio século, a música cantada por Milton, garimpada nos trilhos, altares, esquinas e quintais, reflete Minas. Não é raro encontrar, a cada trabalho do artista, elementos que identificam a essência do ser mineiro em acordes e versos moldados com sensibilidade e talento pela reclusão das montanhas.

A montanha é, antes de tudo, limitação de horizonte. Limitação no sentido geográfico e no sentido psicológico do termo. A terra se levanta em grandes serranias que separam toda a região do resto do país. (...) A terra é áspera e deserta. O homem se sente pequeno e perdido. A montanha, a verdadeira montanha, é inabitável, inóspita, fechada. Levanta-se como um obstáculo. Como uma negação. Como um limite (LIMA, p.43, 1983).

Para Lima (1983), Minas é o centro sociológico do Brasil e o mineiro, o tipo mais humano e representativo das cinco regiões do país. Mesmo com seu jeito discreto, tímido e moderado, o montanhês traz na alma um profundo sentimento de mistério e paixão por sua terra. Ama seu povoado, a paisagem em que nasceu e leva seu arraial como um amuleto contra as conjurações do progresso.

Ê ê, boi, se eu contasse o que ninguém conhece do povo daí, iam dizer que é mentira, acabava a carreira e o que resta de mim. Ê ê boi, fez a fogueira, caiu dentro dela e o povo sorriu. No outro dia as beatas, de língua de fora, que o padre serviu (...). Ê, ê, boi, a porta aberta, bem-vindo à casa, prazer conhecer. Se a conversa acabar na cozinha, já é da família, melhor prá você. Tem o som de tudo, é absurdo, é mistério, libertas doce folia (...). Ê amor, ê amor, os namorados no meio da tarde começam a sorrir, e eu aqui nesse morro, na frente de um touro, falando de mim. 10

Na canção “Coisas de Minas”, o retrato que se revela está impresso não apenas em elementos como o boi, a conversa na cozinha, a família, mas também na hospitalidade, na religiosidade, na liberdade, no amor e na serenidade. Tudo entre as montanhas se faz sem pressa, o tempo parece generoso. Para Lima (1983), a vida escondida no vale tem ritmo mais tranquilo. Fazem-se as coisas para durar, para permanecer, como a sonoridade dos timbres da sinfonia mineira.

Água de beber, bica no quintal, sede de viver tudo. E o esquecer era tão normal, que o tempo parava. E a meninada respirava o vento até virar noite e os velhos falavam coisas dessa vida. Eu era criança, hoje é você e, no amanhã, nós. (...) Tinha sabiá, tinha laranjeira, tinha manga-rosa, tinha o sol da manhã. E na despedida, tios na varanda, jipe na estrada e o

10 “Coisas de Minas”. Milton Nascimento e Wilson Lopes 9

coração lá. 11

A canção “Fazenda” reflete, na voz de Milton, a delicadeza de uma paisagem onde não há espaço para a pressa, para o corre-corre do dia-a-dia. Trata-se, portanto, de um bucólico cenário onde é possível se viver mais lentamente.

E por isso mesmo é que tantos corações cansados pelo andamento prestíssimo do nosso século vêm aqui para readquirir forças de viver no meio dessas montanhas, que parece já terem adquirido a imobilidade das coisas eternas e junto a esses corações que não mudam e sabem o que é a suprema beleza da fidelidade (LIMA, p.21, 1983).

Também o cenário urbano se faz presente nas canções de Bituca; afinal, muito de sua história foi construída nas esquinas de Belo Horizonte, onde é possível “dividir a noite, a lua e até solidão” 12, em companhia de grandes amigos, que não são poucos e sempre lembrados como em “Canção da América” 13- “Amigo é coisa prá se guardar, no lado esquerdo do peito”; ou em “Solar” 14- “Saí de casa para ver outro mundo, conheci fiz mil amigos nas cidades de lá, amigo é o melhor lugar”; ou ainda em “Que bom amigo” 15- “Que bom, amigo, poder saber outra vez que estás comigo. Dizer outra vez, com certeza, a palavra amigo. Se bem que isso nunca deixou de ser”.

O mineiro é mais dócil, mais fácil de ser levado, mais inclinado à vida em grupo, mais fácil ao ambiente doméstico, mais do arraial, da fazenda, da profissão, do que qualquer outro brasileiro. Os grandes movimentos se fazem em Minas por coletividades, por massas, por agrupamento (LIMA, p.31, 1983).

O espaço urbano também cantado por Milton aparece em Credo – “Caminhando pela noite de nossa cidade, acendendo a esperança e apagando a escuridão” 16; ou em “Ruas da cidade”, cuja letra faz referência às tribos indígenas, que emprestaram os seus nomes para batizar importantes vias da região central de Belo Horizonte.

Guaicurus, Caetés, Goitacazes,Tupinambás, Aimorés, todos no chão. Guajajaras, Tamoios, Tapuias, todos Timbiras, Tupis, todos no chão. (...) a parede das ruas não devolveu os abismos que se rolou. Horizonte

11 “Fazenda”. Nelson Ângelo 12 “Clube da Esquina”. Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges 13 “Canção da América”. Milton Nascimento e Fernando Brant 14 “Solar”. Milton Nascimento e Fernando Brant 15 “Que bom amigo”. Milton Nascimento 16 “Credo” Milton Nascimento e Fernando Brant 10

perdido no meio da selva cresceu o arraial. Passa bonde, passa boiada, passa trator, avião, ruas e reis. 17

O homem das Gerais, ou geralista, cisma em conduzir o seu destino escorado no sentimento de que mais importante do que o achado acaba sendo a busca. É comum que ele traga na alma certa dosagem de utopia, marca deixada pelo sonho bandeirante das pedras preciosas encontradas nas zonas diamantíferas do estado. Mesmo ciente de que o garimpo nem sempre oferece as gemas cobiçadas, o imaginário ligado aos metais permanece acalentando o espírito desse homem que insiste em olhar para trás, antes de seguir em frente.

A mentalidade agrícola do homem do campo prevaleceu sobre a mentalidade extrativa do homem da mineração, mas, nas canções de Bituca, o magnetismo irradiado sobre as montanhas, divide o mesmo espaço destinado às raízes libertárias que brotam nas Minas.

Em “Saídas e bandeiras”, Nascimento e Brant equilibram a esperança advinda do ouro encontrado em abundância na Colônia e o fim do pesadelo advindo dos anos de chumbo, vividos em plena República.

Sair dessa cidade, ter a vida onde ela é. Subir novas montanhas, diamantes procurar, no fim da estrada e da poeira, um rio com seus frutos me alimentar. Andar por avenidas enfrentando o que não dá mais pé. Juntar todas as forças prá vencer essa maré, o que era pedra vira homem, e o homem é mais sólido que a maré. 18

Nesse equilíbrio entre os dois pesos, se posta a religiosidade, cujos elementos se evidenciam em “Paixão e fé”.

Já bate o sino, bate na catedral; e o som penetra todos os portais, a igreja está chamando seus fiéis, para rezar por seu Senhor, para cantar a ressurreição. E sai o povo pelas ruas a cobrir, de areia e flores as pedras do chão. Nas varandas vejo as moças e os lençóis, enquanto passa a procissão, louvando as coisas da fé. 19

Aqui, o cenário que se apresenta nos remete às manifestações que ocorrem em muitas cidades mineiras nas celebrações da Semana Santa e de Corpus Christi, quando os fiéis,

17 “Ruas da cidade” Lô e Márcio Borges 18 “Saídas e bandeiras”. Milton Nascimento e Fernando Brant 19 “Paixão e fé”. Tavinho Moura e Fernando Brant 11 em mutirão, se unem para confeccionar tapetes de serragem colorida pelas ruas e becos, especialmente de Ouro Preto, berço dos inconfidentes.

O povo mineiro é naturalmente religioso. (...) A fé católica é um dos dados fundamentais da civilização mineira, não só por tradição, mas por vocação. Exatamente porque o catolicismo concilia as duas tendências paradoxalmente concomitantes da alma mineira – o realismo e o misticismo (LIMA, p.111, 1983).

A fé católica está presente desde o início da civilização mineira, não apenas pela tradição, mas, também, pela vocação. A religião, para o mineiro, é uma condição normal da vida, afinal, já nasceu com um sino tocando no peito. “Sou homem, sou jovem, menino, sou eu. Por mais que me mate o amanhã, a fé me transborda esta manhã. O pão, mais um dia, o dom da vida. O sol da vida, eu quero acreditar”. 20

Em “Imagem e semelhança”, as manifestações de fé são assim demonstradas:

Pai do céu me manda alguma ajuda, a luz numa mensagem, careço de saber. Senhor, só preciso de um recado, há coisas nesta vida que não posso entender. Será sua imagem e semelhança. Não, meu pai do céu, não posso acreditar,não dá. 21

Lima (1983) afirma que o mineiro é o homem do passado. É a sua força. É a sua estabilidade. É a sua dignidade. Nenhum respeito maior no mineiro, do que pela sua estirpe. O mineiro não caçoa com os mortos. Tem um admirável sentido sacral da existência, consequência do senso de mistério que lhe alimenta as fontes da alma.

Morte, vela, sentinela sou, do corpo desse meu irmão que já se vai. Revejo nessa hora tudo que ocorreu, memória não morrerá. Vulto negro em meu rumo vem mostrar a sua dor plantada nesse chão. Seu rosto brilha em reza, brilha em faca e flor, histórias vem me contar. Longe, longe, ouço essa voz que o tempo não vai levar. 22

Lima (1983) explica que a morte não inova; não separa; ao contrário, une mais, cria novos vínculos. A vida mineira é, de certo modo, dominada pela morte e o passado tem um papel decisivo nisso. O respeito pelos mortos é um dos mais belos traços do caráter mineiro. Como afirma o autor, o que passou não passa em Minas, continua a viver.

20 “Sonho de moço”. Milton Nascimento e Francis Hime 21 “Imagem e semelhança”. Milton Nascimento 22 “Sentinela”. Milton Nascimento e Fernando Brant 12

Os antepassados, a história, os processos já utilizados imemorialmente, a lição do tempo, enfim, tudo isso é ouvido e conservado em Minas, com uma devoção, por vezes, excessiva. Continuidade, prosseguimento, repetição, preservação, é o que nos ensina a vida social mineira. Tudo o que se faz, faz-se em continuação do que foi feito. O filho não rompe as amarras com o pai. As novas gerações não se insurgem contra as passadas. O tempo continua a ser o grande mestre da sabedoria (LIMA, p.61, 1983).

Em “Testamento”, parceria de Milton Nascimento e Nelson Ângelo, isso é retomado, com ênfase no respeito que os mineiros têm pelos seus antepassados.

Um dia joguem minhas cinzas na corrente desse rio e plantem meu adubo na semente do meu filho. Cuidem bem da minha esposa, do amigo, do ninho, e do presente que foi prometido pro ano seguinte. 23

A composição “Canto Latino” de Milton Nascimento e Ruy Guerra mostra que o essencial em Minas é sempre não romper a continuidade.

Nasci com a minha morte, dela não vou abrir mão, não quero o azar da sorte, nem da morte ser irmão. (...) E se morre vai menino, montando na fome ufano, teus poucos anos de vida valem mais do que cem anos quando a morte é vivida e o corpo vira semente de outra vida aguerrida que morre mais lá na frente. 24

Mas há o que não morre, mesmo não existindo mais. A figura simbólica do trem, construída no imaginário de Bituca ainda na tenra infância, permanece presente em parte de sua obra. Afinal, foi debruçado na janela de uma locomotiva, que ele realizou a sua maior travessia. Do Rio para Três Pontas Milton encontrou, nos braços de Lília e Zino, um novo traçado para a sua vida.

Vinte anos depois dessa viagem, Milton fazia a sua estreia no mercado fonográfico brasileiro, lançando, em 1964, “Barulho de Trem”. Era o seu primeiro disco. Em 1967 ao fazer o seu segundo lançamento, mais uma vez, o trem se fez presente. A canção, denominada “Três Pontas”, homenagem à terra que o acolheu, foi composta em parceria com Ronaldo Bastos e descreve a alegria que o trem provoca quando chega à estação.

Anda minha gente, vem depressa, na estação, pra ver o trem chegar. É dia de festa e a cidade se enfeita para ver o trem. Quem é bravo, fica manso; quem é triste, se alegra. E olha o trem. Velho, moço e criança, todo mundo vem

23 “Testamento”. Nelson Ângelo e Tavinho Moura 24 “Canto Latino” Milton Nascimento e Ruy Guerra 13

correndo para ver, rever gente que partiu pensando um dia em voltar. Enfim, voltou no trem. E voltou contando histórias de uma terra tão distante do mar; vem trazendo esperança para quem quer nessa terra se encontrar. Gente se abraçando, gente rindo, alegria que chegou no trem. 25

Em 1975, porém, Milton Nascimento e Fernando Brant cantaram, em “Ponta de areia” 26, versos carregados de tristeza com o fim da estrada de ferro Bahia Minas.

Ponta de areia, ponto final, da Bahia-Minas estrada natural. Que ligava Minas ao porto, ao mar, caminho de ferro mandaram arrancar. Velho maquinista com seu boné lembra o povo alegre que vinha cortejar. Na praça vazia, um grito, um ai; casas esquecidas, viúvas nos portais.

Muitas outras canções interpretadas por Milton Nascimento enalteceram o trem tais como: “Trem azul” 27 - “você pega o trem azul, o sol, na cabeça”; “Trem de doido” 28 - “nada a temer, nada a conquistar, depois que este trem começa a andar”; “Trem de ferro” 29 - “Virgem Maria que foi isto maquinista? Agora sim, café com pão”; “Roupa nova” 30 - “Pinduca vai esperar o trem, todos os dias de manhã, ele sozinho na plataforma, ouve o apito, sente a fumaça”; “Encontros e despedidas” 31 - “são só dois lados da mesma viagem, o trem que chega é o mesmo trem da partida”; “Morro velho” 32 - “parte, tem os olhos tristes, deixando o companheiro na estação distante; não esqueça, amigo, eu vou voltar. Some longe o trenzinho ao deus-dará”.

Antes de ser ligado a qualquer coisa, Milton é ligado à terra. (...) Os sons de Milton, antes de serem voz e música, são coisas. Jogadas cara a cara, sem puder e sem violência. Antes tranquilamente. Mas com a angústia de quem tem os pés nus plantados em dois tempos, como raízes, os olhos vazados de paisagens de amanhã e na garganta o silêncio das multidões de agora. A música de Milton, antes de mais nada, abre a narina de cheiros. É uma música sem modas. Gritada com força animal de quem não foge do medo nem tem medo da alegria. Gritada em gestos largos, que não cabem nas grades das televisões. Um som que atravessa o tempo como uma raça. Um som sem metal, sofrido e contente como o grito de uma mulher no parto. Vindo de muito longe, da América do Sul. De Diamantina. De um beco perdido. A caminho da gente” (GUERRA apud DANTAS, p. 125, 1988). 33

25 “Três Pontas”. Milton Nascimento e Ronaldo Bastos 26 “Ponta de areia” Milton Nascimento e Fernando Brant 27 “Trem azul”. Lô Borges e Ronaldo Bastos 28 “Trem de doido”. Lô e Márcio Borges 29 “Trem de ferro”. Milton Nascimento e Manuel Bandeira 30 “Roupa nova”. Milton Nascimento e Fernando Brant 31 “Encontros e despedidas”. Milton Nascimento e Fernando Brant 32 “Morro velho”. Milton Nascimento 33 GUERRA, Ruy. Long-playng. Abril Cultural. São Paulo, número 39. 14

Considerações finais

Não há como negar, o fato é que, nos últimos 50 anos, a voz de Minas, na voz de Milton, tem ecoado para muito além das Gerais. Influenciado pelas montanhas, tenta desnudar, por meio de suas canções, a indecifrável alma de Minas, repleta de crença e mistério. Caminhando sobre as pedras seculares por onde conspiraram os inconfidentes, ou deslizando pelos trilhos de uma ferrovia qualquer, Milton Nascimento traz na alma uma necessidade férrea de cantar o seu amor à terra, revelar suas raízes, exaltar a sua fé e reafirmar a sua eterna fidelidade aos amigos.

Referências

ARRUDA, Maria Arminda. Mitologia da mineiridade: o imaginário mineiro na vida política e cultural do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1999.

BARROS, José Luiz Vasconcelos. O enigma da mineiridade. Característica antropológica, ou mera suposição? Porto Alegre:Editora dos Autores Médicos,1999.

BRANT, Fernando. Música e Mineiridade. In.: Cadernos de História, Belo Horizonte, v. 9, p.129-136, 1º semestre de 2007.

DANTAS, José Maria de Souza. O canto e a canção: MPB. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1988.

DUARTE, Maria Dolores. Travessia, a vida de Milton Nascimento. Rio de Janeiro: Record, 2007.

LIMA, Alceu Amoroso, 1944. Voz de Minas: ensaio de sociologia regional.São Paulo: Abril, 1983

MACHADO, Aires da Mata. O Negro e o garimpo em Minas Gerais. José Olímpio:Rio.1944.

MARTINS, Bruno Viveiros. Som imaginário: a reinvenção da cidade nas canções do Clube da Esquina. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.

MOUTINHO, Jorge. Canções do Clube da Esquina. In: Círculo Fluminense de Estudos Filológicos e Lingüísticos. Rio de Janeiro. P.147, 2009.

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