Revista Brasileira de Geomorfologia

v. 15, nº 4 (2014) www.ugb.org.br ISSN 2236-5664

FATORES CONDICIONANTES DA CONFIGURAÇÃO DE FUNDOS DE VALE COLMATADOS NA BACIA DO ALTO-MÉDIO , LESTE DE

CONDITIONING FACTORS OF THE ALLUVIAL BOTTOM VALLEYS CONFIGURATION AT THE HIGH-MIDDLE POMBA RIVER BASIN, EAST OF MINAS GERAIS STATE Letícia Augusta Faria de Oliveira Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha, Belo Horizonte/MG, Cep: 31270-901, Brasil E-mail: [email protected]

Antônio Pereira Magalhães Junior Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha, Belo Horizonte/MG, Cep: 31270-901, Brasil E-mail: [email protected]

Laura Bertolino de Souza Lima Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha, Belo Horizonte/MG, Cep: 31270-901, Brasil E-mail: [email protected]

Alex de Carvalho Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais Avenida Antônio Carlos, 6.627, Pampulha, Belo Horizonte/MG, Cep: 31270-901, Brasil E-mail: [email protected]

Informações sobre o Artigo Resumo:

Data de Recebimento: O estudo das formações aluviais na reconstituição de eventos geomorfológicos 28/01/2014 é uma ferramenta metodológica importante para a compreensão dos processos Data de Aprovação: de esculturação dos vales fl uviais, da confi guração espaço-temporal da rede 04/11/2014 hidrográfi ca e, consequentemente, da confi guração do modelado do relevo no Quaternário tardio. Este trabalho investiga hipóteses sobre os fatores Palavras-chave: Dinâmica fl uvial quaternária; condicionantes que levaram à confi guração de expressivos depósitos aluviais Vales colmatados; Lumines- resultantes da colmatação de fundos de vale na bacia do Alto-Médio Rio Pomba, cência Opticamente Estimulada região leste de Minas Gerais. Os fundos de vale apresentam espessos depósitos (LOE). de terraço nos quais as planícies, por vezes com grandes amplitudes, encontram- se embutidas ou encaixadas. O quadro geológico e geomorfológico regional, as Keywords: idades obtidas para os sedimentos via técnica de Luminescência Opticamente Quaternary fl uvial dynamics; Alluvial bottom valleys; Opti- Estimulada (LOE) e a disposição de trechos de corredeira no médio Rio Pomba cally Stimulated Luminescence sugerem que a gênese dos depósitos fl uviais esteve condicionada por uma (OSL). tectônica diferencial de blocos durante o Quaternário tardio. A morfologia das Oliveira L. A. F. et al. planícies se deve a fatores tectônicos e, em menor grau, também a fatores antrópicos, além de ser infl uenciada pela morfologia da bacia do Rio Pomba. A datação dos depósitos aluviais via LOE se mostrou útil e adequada para mensurar a idade de episódios recentes de deposição aluvial. Cinco dentre os seis depósitos de planície datados obtiveram entre 1.500 (± 250) e 6.000 (± 750) anos de idade, sendo as planícies de baixo curso mais velhas que as de alto curso. Nesse período, o encaixamento do canal no trecho próximo ao ponto de coleta foi nulo ou inferior a 1 m. A idade de 16.000 (± 1.500) anos obtida para um dos depósitos de planície do Rio São Manuel (bastante divergente, portanto, das demais) pode ter sido ocasionada pelo zeramento parcial da luminescência dos grãos de quartzo anteriormente à deposição, em decorrência da proximidade entre o local da coleta e a escarpa da Serra da Mantiqueira. Para o nível de terraço datado, foi obtida a idade de 11.800 (± 1.000) anos, durante os quais houve um encaixamento de 4 m do curso d’água.

Abstract: The study of the alluvial formations on the reconstitution of geomorphological events is an important methodological tool for the comprehension of the origin of the fl uvial valleys, the temporal-space confi guration of the hydrographical system and, consequently, the relief confi guration in the late Quaternary. Such work investigates hypotheses about conditional factors that brought to the confi guration of expressive alluvial deposits resulted from the catchments aggradation in the bottom of valleys in the high-middle Rio Pomba basin, which lies in the east region of Minas Gerais. The valley bottoms present thick terrace levels in which alluvial plains, sometimes with great amplitudes, have been found nested or cut-in-bedrocks. The regional geological and geomorphological framework, the ages of alluvial sediments (obtained by Optically Stimulated Luminescence – OSL technique) and the spatial distribution of rapids at the fl uvial beds of the middle Rio Pomba suggest that the genesis of fl uvial deposits was conditioned by a differential block tectonics during the late Quaternary. The morphology of the plains is due to tectonic factors and, in a lower degree, also to anthropic factors, besides being infl uenced by the morphology of Rio Pomba basin. The dating of alluvial deposits by OLS has showed itself useful and appropriated to dating recent episodes of alluvial deposition. Five out of the six deposits of dated plain obtained were between 1.500 (± 250) and 6.000 (± 750) years old. The plains of low courses were older than the high courses ones. At this period, the downcutting of the channel in the distance near the collection points was null or shallower than a meter deep. The age of 16.000 (± 1.500) years obtained for one of the deposits of the plain of the Rio São Manuel (plenty divergent, therefore, of those ones) may have been caused by the partial bleaching of the luminescence of quartz grains previously the deposition, resulting from the proximity between the local of the collection and the Serra da Mantiqueira scarp. For the dated terrace, it was obtained the age of 11.800 (± 1.000) years, during those years there was a downcutting of four meters of the water course.

Introdução consequentemente, na confi guração do modelado do relevo. A dinâmica fl uvial é bastante sensível ao compor- tamento das variáveis geológicas e exógenas, fazendo Na Zona da Mata de Minas Gerais, a bacia do com que, não raro, depósitos aluviais guardem registros Alto-Médio Rio Pomba (afl uente de margem esquerda das condições tectônicas e climáticas vigentes nos pe- do baixo curso do Rio Paraíba do Sul) apresenta amplos ríodos sin e pós deposicionais. A adoção das formações fundos de vale entulhados que podem atingir 500 m de aluviais na reconstituição de eventos geomorfológicos largura, com expressivos níveis deposicionais recentes é, portanto, uma ferramenta metodológica importante (terraços e planícies). Considerando-se o dinamismo para a compreensão dos fatores condicionantes da tectônico da faixa atlântica brasileira durante o Ceno- evolução da rede de drenagem no Quaternário tardio. zoico e os refl exos do evento Sul-Atlantiano na estru- Os registros aluviais também são elementos tradicio- turação do relevo do Brasil oriental (Almeida, 1976; nalmente empregados na reconstituição dos processos Summerfi eld, 1991; Saadi, 1993; Salvador e Riccomini, de esculturação dos vales fl uviais, na compreensão da 1995; Santos, 1999; Hiruma et. al., 2001; Salamuni et. confi guração espaço-temporal da rede hidrográfi ca e, al., 2004; Hartwig e Riccomini, 2009), não é difícil

Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 640 Fatores Condicionantes da Confi guração de Fundos de Vale Colmatados na Bacia do Alto-Médio Rio Pomba pressupor um importante condicionamento neotectônico Área de Estudo na dinâmica fl uvial cenozoica na Zona da Mata mineira. A bacia do Alto-Médio Rio Pomba, tributário do Segundo Salvador e Riccomini (1995), no Alto Estrutu- Rio Paraíba do Sul, se situa na Zona da Mata mineira, ral de Queluz (SP-RJ), a mudança no regime de esforços tendo como limite norte o divisor entre as bacias dos ocorrida durante o Holoceno ocasionou a formação de rios Doce e Paraíba do Sul (Figura 1). Abrange parte pacotes sedimentares de até 30 m de espessura. da Depressão Escalonada dos Rios Pomba e Muriaé Neste trabalho, são propostas hipóteses sobre os (neste trabalho denominada Depressão do Rio Pomba), fatores condicionantes que levaram à confi guração dos bem como a sua transição para o Planalto dos Campos expressivos fundos de vale colmatados na bacia do Alto- das Vertentes (PROJETO RADAMBRASIL, 1983) e Médio Rio Pomba, região leste de Minas Gerais. Estes parte deste, e o Horst da Serra da Boa Vista (Noce et. fundos de vale apresentam espessos níveis de terraços al., 2003). Foram contemplados os vales do próprio Rio (média de 10 m) nos quais as planícies, por vezes com Pomba e de seis de seus afl uentes: Ribeirão Espírito grandes amplitudes (superiores a 500 m de largura), Santo, Rio São Manuel, Ribeirão Ubá, Rio Paraopeba, encontram-se embutidas ou encaixadas. O quadro Rio Xopotó e Rio dos Bagres. geológico e geomorfológico regional, as idades obtidas A área apresenta unidades litológicas de idades via LOE para os sedimentos aluviais e a disposição de predominantemente paleoproterozoicas a neoprotero- trechos de corredeira no Médio Rio Pomba e em seus zoicas, localmente recobertas por sedimentos alúvio- afl uentes auxiliaram as refl exões.

Figura 1 - Localização dos vales estudados

641 Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 Oliveira L. A. F. et al. coluvionares cenozoicos (Figura 2). No Complexo metassienitos cálcio-alcalinos, metassienitos alcalinos Mantiqueira predominam biotita-hornblenda gnaisses e granada-biotita gnaisses. (Brandalise e Viana, 1993; cinzentos, bandados, de composição tonalítica a grano- Noce et. al., 2003). As principais estruturas regionais diorítica. O Complexo Juiz de Fora corresponde a um possuem direção NE-SW e idade pré-cambriana. Como complexo plutônico que engloba rochas máfi cas a félsi- refl exos das deformações, as maiores unidades litoló- cas, metamorfi sadas na fácies granulito. No setor oeste gicas tendem a orientar-se segundo faixas de direção da área ocorrem rochas do Complexo Mercês, prin- SW-NE e, secundariamente, E-W, a exemplo da falha cipalmente metagranitos alcalinos a cálcio-alcalinos, na qual se instala o Alto Rio Pomba.

Figura 2 - Quadro geológico regional

Em termos morfológicos, a Depressão do Rio canal principal. Já o Planalto de Campo das Vertentes, Pomba representa o setor mais rebaixado e suave da a noroeste da área, correspondente a área intensamente área de estudo, localizado no setor central e nordeste dissecada em formas mamelonares, com presença de da mesma (Figura 3). É caracterizada por relevo coli- escarpas acentuadas e vales estruturais profundos (PRO- noso, com topos convexos ou tabulares, dissecado pelos JETO RADAMBRASIL, 1983). Rodrigues (2011), ao cursos d’água pertencentes à bacia do Alto Rio Pomba. encontrar valores semelhantes de densidade de drena- Raposo e Salgado (2010) destacam a topografi a suave gem e densidade hidrográfi ca para bacias hidrográfi cas da Depressão do Rio Pomba e ressaltam o predomínio de ambos os compartimentos morfológicos menciona- de amplas planícies nos fundos dos vales de afl uentes do dos, atribuiu a semelhança à similaridade litológica das

Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 642 Fatores Condicionantes da Confi guração de Fundos de Vale Colmatados na Bacia do Alto-Médio Rio Pomba bacias. Uma vez que não há condicionante litológico et. al., 2003). Em relação ao quadro tectônico regional, ou estrutural que delimite o contato entre as unidades Noce et. al. (2003) destacam o dinamismo tectônico do geomorfológicas, o autor atribuiu à Depressão do Rio Horst da Serra da Boa Vista durante o Cenozoico. Os Pomba uma gênese relacionada a processos erosivos trabalhos de Riccomini (1989), Saadi (1993), Salvador controlados pela dinâmica fl uvial, que responde, por (1994), Mello (1997), Ferrari (2001), Sarges (2002), sua vez, à diferença de potencial erosivo da rede de Silva e Limeira Mello (2011) salientam a alternância drenagem regional, advinda dos diferentes níveis de do regime de esforços ao qual o Sudeste brasileiro está base que a controlam. O Horst da Serra da Boa Vista sujeito ao longo do Cenozoico. tem cerca de 20 km de extensão e direção NE-SW (Noce

Figura 3 - Principais unidades do relevo regional

Procedimentos Metodológicos e de mapas geológicos na escala 1:100.000 (folhas Ubá e Rio Pomba). Após trabalhos de campo para reconheci- As feições morfológicas, os aspectos geológicos mento da área, foram selecionados afl uentes de margem e o padrão de drenagem dos vales estudados foram pre- esquerda do Alto-Médio Rio Pomba que apresentam viamente analisados por meio de imagens de satélite de fundos de vale colmatados, com signifi cativos níveis alta resolução no Google Earth®, de cartas topográfi cas deposicionais aluviais e com indícios de condiciona- do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística) mento estrutural, sobretudo pelos grandes lineamentos na escala 1:250.000 (folhas Ponte Nova e Juiz de Fora) brasilianos (padrão retilíneo do canal, cotovelos, rede de

643 Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 Oliveira L. A. F. et al. drenagem com padrão retangular). A área foi delimitada soterramento do mineral. com o auxílio da confi guração dos perfi s fl uviais longi- A leitura do sinal luminescente via LOE pode tudinais e da confi guração dos fundos de vale. ser feita via dois protocolos: o protocolo de alíquotas Após as etapas de revisão bibliográfi ca e de defi ni- múltiplas (multiple aliquot regenerative-dose – MAR) ção dos vales a serem estudados, foram realizadas tem- e o protocolo de alíquotas únicas (single aliquot re- poradas de campo para a identifi cação e caracterização generative-dose – SAR). Pelo MAR, as medições são dos níveis e sequências aluviais, incluindo a tipologia feitas em cerca de 20 a 40 grãos minerais, nos quais são dos níveis, a sua posição em relação à calha atual e o aplicadas diferentes doses de radiação e os resultados contexto espacial nos vales, a textura dos sedimentos permitem delinear uma “curva de crescimento”, que (verifi cada em campo por meio do tato), a presença representa a resposta da luminescência do material à de estruturas deposicionais, a espessura das fácies e o radiação (Le e Wintle1 1992 apud Sallun et. al., 2007). tipo de transição entre elas. As sequências aluviais de Pelo SAR, são feitas muitas medidas de luminescência cada nível deposicional foram representadas em perfi s sobre grãos individuais, o que possibilita diminuir o estratigráfi cos. Feições de leito foram descritas e a sua erro e identifi car se o sinal de luminescência foi com- ocorrência foi espacializada de modo que se visualize pletamente zerado em todos os grãos (Sallun et. al., a localização das sequências de poços e corredeiras. 2007), sendo, portanto, o protocolo que atribui maior Para a datação absoluta dos sedimentos, foi es- confi abilidade e precisão aos resultados. Por estes colhida a técnica LOE – Luminescência Opticamente motivos, o protocolo SAR foi adotado neste trabalho. Estimulada, via protocolo SAR - single aliquot rege- A técnica de datação por LOE permite obter idades que neration (Sallun e Suguio, 2006; Sallun et. al., 2007). variam de poucas dezenas de anos até cerca de 1,5 Ma Esta escolha ocorreu em função desta técnica ser mais anos (Sallun e Suguio, 2006). adequada à datação de grãos de quartzo, já que a fra- A datação foi realizada no Laboratório de Vidros ção arenosa é a textura predominante nos depósitos de e Datação da Faculdade de Tecnologia de São Paulo interesse (Missura e Corrêa, 2007). A técnica de LOE (FATEC). Os depósitos datados foram selecionados permite a datação do último evento deposicional que tendo em vista a sua relevância e representatividade expôs o sedimento à luz do dia. O sinal luminescente para as interpretações sobre a origem dos espessos é armazenado no mineral durante todo o intervalo de pacotes sedimentares de fundos de vale, bem como a tempo em que este se encontra ao abrigo de luz solar e disponibilidade de material datável e as condições de em contato com as radiações ambientais. Sendo trans- coleta no depósito. Foram coletadas amostras da fração portado em meio aquoso ou aéreo, o mineral é exposto arenosa basal, visando-se obter as idades do início dos à luz ou ao calor e o sinal de luminescência adquirido processos de entulhamento. Ademais, a parte superior anteriormente à erosão do mineral é “zerado”. Portanto, dos depósitos foi mais alterada por processos erosivos uma nova acumulação começa após a deposição do e pedológicos. Para a coleta, foram utilizados amostra- sedimento, quando este for recoberto e mantido fora dores de tubos de PVC com 30 cm de comprimento, do alcance da luz solar (Corrêa et. al., 2008). Como tomando-se o cuidado da não exposição das amostras o sinal luminescente, dentro de certos limites, cresce à radiação solar. Os tubos, previamente identifi cados proporcionalmente com a dose de radiação incidente e envoltos por sacos plásticos pretos, foram inseridos e com o tempo de irradiação, é possível determinar o horizontalmente nos sedimentos por meio de percussão tempo transcorrido desde que a população aprisionada utilizando-se uma marreta de borracha, em conformi- de elétrons foi liberada pela última vez (Wallinga, 2002), dade com procedimentos detalhadamente descritos por medindo-se em laboratório a luz emitida em resposta Sallun et. al., (2007). As amostras foram enviadas para o ao estímulo óptico fornecido (Sallun e Suguio, 2006). Laboratório Datação, Comércio e Prestação de Serviços Desde que haja a adequada eliminação do sinal de LOE Ltda. (LVD - SP), onde foram preparadas e analisadas durante o transporte do sedimento, pode-se assegurar, de acordo com a técnica LOE - via protocolo SAR. portanto, que a idade calculada corresponde à idade do

1 LI S-H. e WINTLE A.G. 1992. Luminescence sensitivity change due to bleaching of sediments. Nucl. Tracks Radiat Meas., 20(4):567-57.

Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 644 Fatores Condicionantes da Confi guração de Fundos de Vale Colmatados na Bacia do Alto-Médio Rio Pomba

Descrição dos Resultados Já nos trechos nos quais os canais cruzam o Horst da Serra da Boa Vista (Figura 3), os vales e as planícies Níveis e sequências deposicionais de fundos de vale são estreitos, não se observa níveis deposicionais aban- Os canais que drenam o Planalto de Campos das donados e as calhas são rochosas. Embora os cursos Vertentes (Pcv2a e Pcv2b Figura 3), a saber, Ribeirão d’água preservem seu padrão meandrante, a morfologia Espírito Santo e Rio São Manuel apresentam, predo- dos vales nesse trecho é muito diferente das que se minantemente, padrão meandrante. Ao longo de todo observa à montante e à jusante do horst. o fundo de vale, observa-se um nível de terraço (N2) A descrição detalhada dos depósitos de N2 e dos escalonado em relação ao nível fl uvial imediatamente depósitos de N1 de cada vale é apresentada na Figura 4, mais antigo (N3). O N3 não se encontra mais em contex- permitindo a comparação das características de cada um to de fundo de vale e sua morfologia original de terraço desses níveis nos diferentes vales. Por meio da fi gura, já foi descaracterizada por processos de vertente. O N2 pode-se observar que as características faciológicas e a tem espessura variando entre 10 e 20 m e, nele, amplas distribuição espacial dos níveis deposicionais de fundo planícies (N1) ocorrem embutidas ou encaixadas. Nesse de vale apresentam similaridades entre os diferentes setor da área de estudo, os vales são abertos, de fundo vales investigados. Via de regra, em toda a área de es- plano, preenchidos predominantemente pelos depósitos tudo os terraços (N2) ocorrem escalonados em relação de terraço e, por vezes, são observáveis trechos da calha ao nível deposicional aluvial mais antigo (N3) e não em corredeira. Morfologia semelhante de vale e leito apresentam exposição do substrato rochoso no contato ocorre nos vale dos altos cursos dos Rios Xopotó e com as planícies (N1), a não ser nos altos cursos dos Paraopeba, e do Ribeirão Ubá, à montante dos municí- canais, onde a fácies basal das mesmas está depositada pios de São Geraldo, Tocantins e Ubá, respectivamente sobre substrato rochoso. Os terraços correspondem a (Figura 3). pacotes amplos em ambas as margens do canal, espessos Já os cursos d’água que drenam a Depressão do (espessura frequentemente superior a 10 m) e formados Rio Pomba (Rios Xopotó e Paraopeba, e Ribeirão Ubá, por fácies de seixos intercaladas com fácies fi nas. Já as Figura 3), em seus médios e baixos cursos, apresentam planícies apresentam pacotes de cerca de 2 a 3 m de es- apenas depósitos de planície (N1), que chegam a atingir pessura, compostos por fácies basal de seixos, à qual se 500 m de largura e nos quais meandros abandonados são sobrepõe fácies fi na frequentemente arenosa. Uma vez frequentes. Níveis deposicionais aluviais mais antigos que os depósitos de um mesmo nível são semelhantes não são encontrados. Seus vales são abertos (ainda entre os vales quanto à espessura do pacote e, no caso mais abertos que os vales que drenam o Planalto de dos terraços, à alternância entre fácies grosseiras e fácies Campos das Vertentes). Quedas d’água e trechos enca- fi nas, foi possível elaborar um perfi l síntese do nível choeirados no médio-baixo Rio Xopotó e no baixo Rio de planície e um perfi l síntese do nível de terraço, que Paraopeba têm atuado como soleiras geomorfológicas, serão detalhadamente descritos a seguir. Cabe ressaltar estabilizando o nível de base e permitindo a esses cursos que cada perfi l síntese expressa as características de um d’água e ao Ribeirão Ubá intenso meandramento. O nível deposicional em todas as suas ocorrências e é o Rio dos Bagres, embora também drene a Depressão do resultado da sobreposição das informações adquiridas Rio Pomba, apresenta forte controle estrutural, o que com a análise de seus diversos perfi s encontrados. interfere em seu processo de migração lateral. Neste vale é possível observar depósitos de terraço ao longo Descrição do perfi l-síntese dos depósitos de terraço (N2) de toda a extensão do canal, que apresenta padrão pre- dominantemente retilíneo. Níveis deposicionais aluviais Os terraços são lateralmente extensos e bastante mais antigos, atualmente pertencentes a um contexto de recorrentes em ambas as margens dos cursos d’água. vertente, também são encontrados ao longo de todo o Nos altos cursos, observa-se fácies basal de seixos, de vale. Trata-se de um vale mais estreito que os demais, espessura variando entre 0,5 e 1 m, composta predo- no qual o fundo de vale, também menos desenvolvido, minantemente por seixos de quartzo e esparsos seixos concede ao vale características de vale em “V”. de granito, arredondados a subangulosos, mal selecio-

645 Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 Oliveira L. A. F. et al. nados, com comprimento médio de 5 cm, suportados Descrição do perfi l-síntese dos depósitos de planície (N1) entre si. Comumente, entretanto, trata-se de um depósito Em todos os vales, as planícies ocorrem embutidas formado por intercalações de camadas arenosas, com ou encaixadas no nível de terraço (geralmente não há ou sem a presença de grânulos e pequenos seixos, com a exposição dos contatos) e apresentam fácies basal de camadas areno-argilosas, ou argilo-arenosas. Cada ca- cerca de 50 cm de espessura, composta por seixos e mada tem, em média, entre 1 e 2 m de espessura. Seixos grânulos subarredondados a angulosos (comprimento de quartzo ou rochas ígneas máfi cas, arredondados médio de 3 cm), predominantemente de quartzo e rochas a subangulosos, ocorrem esparsos em fácies arenosa ígneas máfi cas, suportados por matriz arenosa maciça. comumente estratifi cada (estratifi cação planar) (Figura O limite superior do nível de seixos encontra-se a cerca 5). Os depósitos têm, em média, 10 m de espessura e de 50 cm da lâmina d’água, enquanto a base frequente- tornam-se mais espessos nos médios e baixos vales do mente não pode ser visualizada. A fácies superior das Ribeirão Espírito Santo e do Rio São Manuel, canais planícies é arenosa, com estruturas planares e espessura que drenam o Planalto de Campos das Vertentes (Pcv2a média 3 m (Figura 5). As planícies são lateralmente e Pcv2b Figura 3). Este nível também ocorre nos altos amplas, sobretudo nos baixos cursos dos canais que cursos dos vales dos Rios Paraopeba e Xopotó, e do drenam a Depressão do Rio Pomba, onde alcançam até Ribeirão Ubá, bem como ao longo de todo o vale do 500 m de extensão. Conforme já mencionado, nessas Rio dos Bagres, os quais drenam a Depressão do Rio porções dos vales, os amplos depósitos de planície cor- Pomba (Figura 3). respondem a todo o fundo de vale, não sendo observados os espessos depósitos de terraço nem quaisquer outros níveis fl uviais abandonados.

Legenda dos perfi s estratigráfi cos Terraço (N2) – Perfi l estratigráfi co síntese, Planície (N1) – Perfi l estratigráfi co Curso tipologia e descrição faciológica (da base para síntese, tipologia e descrição Perfi l transversal síntese do vale 2 d’água o topo) faciológica (da base para o topo)

Nível deposicional escalonado em Nível deposicional relação ao N3. escalonado em rela- Fácies basal sobre elúvio, distante ção ao N2. verticalmente cerca de 2 m da lâmi- Base sob a lâmina na d’água. d’água. 1 - Fácies composta por seixos de quartzo (predominantes) e granito 1 - Fácies arenosa (esparsos), arredondados a suban- com estratifi cação gulosos, mal selecionados, compri- planar, com cerca de mento médio de 5 cm, suportados 3 m de espessura. entre si. Espessura da fácies: 70 cm. 2 - Fácies argilo-a- 2 - Fácies arenosa estratifi cada (es- renosa maciça, com tratifi cação planar), com presença

Ribeirão Espírito Santo cerca de 1 m de es- de grânulos. Espessura de aproxi- pessura. madamente 5 m. 3 - Fácies superior argilosa maciça, Trata-se de um pacote de cerca de 4 m de espessura. aluvial de cerca de 4 Trata-se de um pacote aluvial de m de espessura cerca de 10 m de espessura.

2 Por tratar-se do perfi l transversal síntese do vale, os níveis deposicionais mais antigos (N3 e N4), que não pertencem mais ao contexto de fundo de vale mas sim ao contexto de vertente, foram, também, representados. A exibição desses níveis no perfi l transversal se justifi ca, ainda, por possibilitar a compreensão da tipologia dos depósitos de N2: sempre escalonados em relação ao N3.

Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 646 Fatores Condicionantes da Confi guração de Fundos de Vale Colmatados na Bacia do Alto-Médio Rio Pomba

Nível deposicional escalonado em relação ao N3. Base sob a lâmina d’água ou lateral- mente recoberta pela planície. 1 - Fácies argilo-arenosa maciça de cerca de 2 m de espessura. Nível deposicional em- 2 - Fácies arenosa estratifi cada com butido no N2. presença de grânulos, de cerca de 2,5 m de espessura. Fácies basal sob a lâmi- 3 - Fácies argilo-arenosa maciça de na d’água. cerca de 1,5 m de espessura. 4 - Fácies composta por seixos de 1 - Fácies composta quartzo (predominantes) e granito por seixos arredonda- (esparsos), arredondados a sub-an- dos a subangulosos de gulosos, com comprimento médio de quartzo (predominan- 10 cm, com ocorrência de matacões tes), gnaisse e granito (raros), de até 25 cm de comprimen- (esparsos), mal sele- to. Os clastos se tocam, e a matriz é cionados, com com- arenosa. Espessura da fácies: cerca primentos alcançando de 1 m. 30 cm e expressiva 5 - Fácies argilo-arenosa maciça de ocorrência de grânulos. Rio São Manuel cerca de 1,5 m de espessura. Os clastos se tocam e 6 - Fácies areno-argilosa maciça de a matriz é arenosa. Es- cerca de 1,5 m de espessura. pessura da fácies: cerca 7 - Fácies argilosa maciça de cerca de 0,5 m. de 1 m de espessura. 2 - Fácies arenosa es- 8 - Fácies arenosa estratifi cada de tratifi cada de cerca de 3 cerca de 3,5 m de espessura. m de espessura. 9 - Fácies argilo-arenosa maciça de cerca de 2 m de espessura. Trata-se de um pacote 10 - Fácies arenosa estratifi cada com aluvial de espessura presença de lentes de grânulos, de variando entre 3 e 4 m. cerca de 2,5 m de espessura. 11 - Fácies argilo-arenosa maciça de cerca de 1 m de espessura. Trata-se de um pacote aluvial de até 20 m de espessura. Nível deposicional escalonado em rela- ção ao N2. Nível deposicional escalonado em Fácies basal sobre relação ao N3. substrato rochoso, Fácies basal sobre elúvio, distante distante verticalmen- verticalmente cerca de 1 m da lâ- te até 30 cm da lâmi- mina d’água. Depósitos recobertos na d’água. por vegetação, o que impossibilita a visualização das fácies basal e in- 1 - Fácies composta termediárias. por seixos de quart- 1 - Fácies argilo-arenosa maciça de zo (predominantes) cerca de 0,5 m de espessura. e granito (espar- 2 - Fácies areno-siltosa maciça de sos), arredondados cerca de 1 m de espessura. a subangulosos, mal 3 - Fácies argilo-arenosa maciça de

Rio Paraopeba selecionados, com cerca de 0,5 m de espessura. comprimento entre 4 - Fácies arenosa estratifi cada de 2 e 20 cm suporta- cerca de 0,8 m de espessura. dos entre si. Espes- 5 - Fácies argilo-arenosa maciça de sura da fácies: cerca cerca de 1 m de espessura. de 0,5 m 6 - Fácies arenosa estratifi cada de 2 - Fácies arenosa es- cerca de 0,5 m de espessura tratifi cada de cerca Trata-se de um pacote aluvial de de 1 m de espessura. até 9 m de espessura. Trata-se de um paco- te aluvial de cerca de 2 m de espessura.

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Nível deposicional embutido no N2. Base sob a lâmina d’água.

Nível deposicional escalonado 1 - Fácies basal em relação ao N3. composta por sei- Base sob a lâmina d’água. xos e grânulos de 1 - Fácies argilosa maciça de quartzo e rochas cerca de 1 m de espessura. ígneas máfi cas, 2 - Fácies arenosa estratifi cada subarredondados a com ocorrência de grânulos e angulosos, supor- pequenos seixos (até 2 cm de tados por matriz comprimento). Espessura da arenosa. Os seixos fácies: cerca de 2 m. possuem compri- 3 - Fácies argilosa maciça de mento médio de cerca de 1,3 m de espessura. 2 3 cm. Espessura 4 - Fácies arenosa estratifi ca- 1 da fácies: cerca de da com ocorrência de lentes 0,5 m.

Ribeirão Ubá de grânulos e pequenos seixos 2 - Fácies arenosa (até 3 cm de comprimento). estratifi cada, com Espessura da fácies: cerca de a presença de len- 1,5 m. tes de grânulos e 5 - Fácies argilo-arenosa ma- pequenos seixos ciça de cerca de 2,5 m de es- de quartzo (predo- pessura. minantes) e rochas 6 - Fácies arenosa estratifi cada ígneas máfi cas de cerca de 1,5 m de espessura (esparsos). Espes- Trata-se de um pacote aluvial sura da fácies: cer- de cerca de 10 m de espessura. ca de 1,5 m.

Trata-se de um pacote aluvial de cerca de 2 m de espessura.

Nível deposicional escalonado Nível deposicional em relação ao N3. escalonado em Fácies basal sobre rocha, relação ao N2. distante verticalmente cerca de 1,5 m da lâmina d’água. Base sob a lâmina d’água. 1 - Fácies composta por grânulos e pequenos seixos de quartzo, 1 - Fácies areno-ar- granito e gnaisse (comprimen- gilosa, ora maciça, to médio de 2 cm), angulosos a ora com presença subarredondados e suportados

Rio Xopotó de estratifi cação. entre si, embora haja abundân- Espessura da fá- cia de matriz arenosa. Espes- cies: cerca de 3 m. sura da fácies: 0,5 m. 2 - Fácies argilo-arenosa maciça, Trata-se de um de cerca de 4,5 m de espessura. pacote aluvial de cerca de 3 m de Trata-se de um pacote aluvial espessura. de cerca de 5 m de espessura.

Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 648 Fatores Condicionantes da Confi guração de Fundos de Vale Colmatados na Bacia do Alto-Médio Rio Pomba

Nível deposicional escalonado em relação ao N2.

Nível deposicional escalonado Base sob a lâmina em relação ao N3. d’água. Fácies basal sobre elúvio, distante verticalmente 4 m da 1 - Fácies argilosa lâmina d’água. maciça de cerca 1 - Fácies arenosa estratifi cada, de 0,5 m de com ocorrência de grânulos espessura. e seixos esparsos de quartzo. 2 - Fácies arenosa Espessura da fácies: cerca de maciça de cerca 1,8 m. de 1,5 m de

Rio dos Bagres 2 - Fácies areno-siltosa maciça espessura. de cerca de 2,5 m de espessura. 3 - Fácies arenosa 3 - Fácies argilosa maciça, de estratifi cada de cerca de 1,5 m de espessura. cerca de 1 m de Trata-se de um pacote aluvial espessura. de cerca de 6 m de espessura. Trata-se de um pacote aluvial de cerca de 3 m de espessura. Nível deposicional escalonado em relação ao N3. Nível deposicio- Fácies basal sobre elúvio, dis- nal escalonado em tante verticalmente entre 3 a 6 relação ao N2. m da lâmina d’água. 1 - Fácies basal de seixos de Base sob a lâmina quartzo arredondados a su- d’água bangulosos, comprimento médio de 10 cm. Ocorrem 1 - Fácies arenosa matacões esparsos. Espessu- estratifi cada de Rio Pomba ra da fácies: cerca de 0,5 m. cerca de 1,5 m de 2 - Fácies areno-argilosa maci- espessura. ça de cerca de 3,5 m de es- pessura. Trata-se de um pa- Trata-se de um pacote aluvial cote aluvial de 1 a de cerca de 3 a 5 m de espes- 2 m de espessura. sura. Figura 4 - Descrição síntese dos depósitos fl uviais de terraço e planície por vale estudado

As fi guras 6 e 7 apresentam os resultados da data- obtidas para planícies morfologicamente semelhantes. ção via LOE – protocolo SAR dos sedimentos fl uviais Motivos possíveis para essa divergência entre a idade da área. A amostra 3 apresenta-se como a mais relevante da planície do Rio São Manuel e as demais planícies do ponto de vista das interpretações deste trabalho, uma datadas serão apresentados adiante. vez que baliza a taxa de encaixamento do alto curso do O controle estrutural de alguns segmentos fl uviais Ribeirão Ubá, bem como o início do processo de entu- é evidenciado pelos padrões retilíneos, inclusive com lhamento que resultou nos espessos depósitos fl uviais. alternância de poços e corredeiras. Exemplos ilustrati- As idades obtidas para as planícies variam entre 1.500 vos deste controle ocorrem no padrão de drenagem de (± 250) e 6.000 (± 750) anos, durante os quais não houve trechos do Alto Rio Pomba e do Médio-Baixo Rio dos encaixamento do canal no trecho próximo ao ponto de Bagres. As corredeiras correspondem a pequenas irre- coleta, ou o encaixamento foi igual ou inferior a 1 m. gularidades na calha, que geram convexidades no perfi l A idade de 16.000 (± 1.500) obtida para a planície do longitudinal dos canais por vezes pequenas, da ordem de alto curso do Rio São Manuel diverge muito das demais, 1 a 2 m. (Figura 8). Porém, sequências de corredeiras

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Figura 5 - Síntese da distribuição espacial transversal dos níveis deposicionais de fundos de vale e dos perfi s estratigráfi cos dos terraços e planícies

Figura 6 - Síntese das informações sobre os pontos de coleta de amostras para a datação via LOE e resultados obtidos

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Figura 7 - Localização dos pontos de coleta de amostras para a datação via LOE e resultados obtidos em calhas rochosas, com fl uxos de alta energia e caráter Discussão dos Resultados erosivo, também ocorrem no baixo curso do Rio Xopotó Considerações sobre os eventos de entulhamento dos e no médio curso do Rio Pomba, nos trechos desses fundos de vale e os indícios de condicionamento tectônico vales nos quais os canais atravessam o Horst da Serra da dinâmica fl uvial regional da Boa Vista. Em situações menos frequentes, as cor- redeiras também ocorrem em calhas aluviais detríticas A área estudada é marcada por vales abertos e (seixos e matacões). Como visualizado em campo, nas de fundo plano, predominantemente preenchidos por calhas rochosas, as corredeiras ocorrem em diferentes espessos terraços que podem atingir mais de 10 m de litologias (não necessariamente nas mais resistentes) e a espessura, ou, nos baixos cursos dos canais, por amplas maior parte não está associada às estruturas geológicas planícies com até 500 m de largura. mapeadas, podendo ocorrer, inclusive, paralelamente O nível de terraço (N2) apresenta evidências de (Rio Pomba à montante de Astolfo Dutra), perpendi- uma gênese a partir de processos de acresção lateral e cularmente (Rio Pomba à jusante de Astolfo Dutra) vertical, denotando intenso entulhamento do fundo de ou obliquamente (segmento do Rio Xopotó) à direção vale. Um dos elementos mais ilustrativos deste processo principal das estruturas (NE-SW). No restante da área, de entulhamento é a existência recorrente, nos mesmos as corredeiras são raras, sobretudo nos médios e baixos perfi s, de fácies de seixos sobrepostas a fácies de fi nos cursos dos rios Paraopeba e Xopotó e do Ribeirão Ubá. e intercaladas a estas, evidenciando a elevação da calha A fi gura 9 traz a localização dos trechos da calha em à medida que o canal migrava lateralmente no fundo do corredeira, bem como a espacialização dos terraços e vale. Os eventos de agradação responsáveis pela origem planícies nos fundos de vale, associada à compartimen- do nível de terraço têm suas idades balizadas pela data- tação regional do relevo.

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Figura 8 - Corredeira no médio Rio Pomba

Figura 9 - Distribuição dos depósitos aluviais de fundo de vale e dos trechos de calha em corredeira nas principais unidades regionais do relevo.

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ção dos sedimentos do terraço do Ribeirão Ubá (amostra os complexos Mantiqueira e Juiz de Fora, podem ter 3), a saber, de 11.800 (± 1.000) anos. Essa idade coincide gerado o barramento dos eixos de drenagem, embora com a transição climática ocorrida entre o Pleistoceno não necessariamente por meio de reativação da falha de e o Holoceno. Porém, apesar de vários trabalhos apon- empurrão que estabelece o contato entre essas unidades tarem a infl uência climática nos processos de erosão e geológicas. A ocorrência de movimentações tectônicas entulhamento dos fundos de vale neste período (Meis & recentes no Horst da Serra da Boa Vista foi proposta Moura, 1984; Moura et al., 1991; Queiroz Neto, 2001; por Noce et al. (2003) e pode estar evidenciada pela Liccardo et al., 2003; Missura & Corrêa, 2007; Paisani morfologia dos vales (estreitos, com características et al., 2012; Xavier & Coelho Netto, 2014), a própria de vale em “V”), pela ausência de depósitos aluviais organização estratigráfi ca das fácies dos perfi s descritos e pela concentração de corredeiras em calhas rochosas não indica uma gênese associada a mudanças climáticas, nos trechos dos vales que drenam o horst. nem relacionada às condições de vazão atuais dos cursos A ascensão do Horst da Serra da Boa Vista não d’água. Nos atuais regimes fl uviais, os fl uxos não são parece ter se iniciado no Holoceno, uma vez que, se o capazes de gerar pacotes sedimentares tão espessos início fosse recente e precedido de uma quiescência porque, ainda que as condições climáticas atuais estejam desse bloco em relação aos limítrofes, os rios Xopotó dentre as mais úmidas do Holoceno (Barros et al., e Pomba tenderiam a expandir os fundos de vale e 2011), mesmo durante eventos de inundação, os canais gerar planícies amplas, como ocorre nos demais vales não conseguem recobrir depósitos cujos topos distam estudados e em outros segmentos desses próprios vales. 10 m da lâmina d’água. Para tal, é necessário que haja Uma movimentação tectônica iniciada no Holoceno uma suspensão da calha, resultante do entulhamento do também resultaria em depósitos aluviais abandonados canal. Esse processo é denotado, nos perfi s de terraço, ainda preservados, possivelmente como terraços. Isso pela alternância entre fácies geradas tipicamente por não se observa: os vales dos rios Xopotó e Pomba, na acresção lateral e as geradas por acresção vertical. passagem epigênica pelo Horst da Serra da Boa Vista, Em busca de explicações para os eventos de sus- são estreitos, com planícies pouco desenvolvidas e pensão das calhas e entulhamento dos fundos de vales, total ausência de registros de terraços ou de níveis pode-se partir das possibilidades de atuação pretérita de deposicionais mais antigos já descaracterizados mor- soleiras litológicas, apesar da não existência de bases fologicamente e incorporados ao contexto de vertente. cartográfi cas que comprovem a difusão de diques ou Cabe ressaltar que o padrão morfológico dos cursos outras faixas de litologias mais resistentes em meio às d’água na passagem pelo horst não é retilíneo e não há maiores unidades. Nessa hipótese, soleiras na calha do evidências cartográfi cas da existência de lineamentos baixo Rio Pomba poderiam ter propagado seus efeitos antigos controlando a abertura do corte epigênico. ao longo das calhas dos tributários. Entretanto, neste A morfologia dos vales sugere, portanto, que nos segmento, o fundo de vale do Rio Pomba não se apre- trechos citados, os períodos erosivos predominariam senta colmatado como os de seus afl uentes, sugerindo há mais tempo e estariam associados à movimentação que o barramento teria se estabelecido no Médio Rio do horst (ainda que não contínua) e não à propagação Pomba ou mesmo nos vales dos próprios tributários. de eventos erosivos iniciados à jusante (no vale do Rio Porém, na busca de explicações para a colmatação dos Paraíba do Sul, por exemplo). Corrobora para tal hipó- fundos de vales, fatores locais como soleiras litológicas tese o fato do Rio Pomba em seu baixo curso (à jusante difi cilmente ocasionariam a formação sincronizada de do horst) ter vale aberto com planície e terraço amplos, pacotes sedimentares estratigrafi camente semelhantes não denotando constante submissão a eventos erosivos. e com espessuras superiores a 10 m. A explicação a Essas movimentações tectônicas seriam as respon- partir dos aspectos tectono-estruturais torna-se mais sáveis pelo represamento da drenagem, que culminou consistente, já que trata-se de uma região diretamente no entulhamento dos fundos de vale em toda a bacia afetada pelo dinamismo tectônico da faixa atlântica do alto-médio Rio Pomba. Conforme a datação da brasileira no Cenozoico. base do depósito de terraço no alto curso do Ribeirão A análise da distribuição espacial dos elementos Ubá, o evento de colmatação iniciou-se, no alto curso fl uviais descritos permite inferir que as movimentações dos afl uentes do Rio Pomba, há cerca de 11.800 anos. tectônicas, possivelmente próximas ao contato entre Conforme Hartwig e Riccomini (2009), a Serra dos

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Órgãos no estado do esteve sob com- qual os canais erodem depósitos aluviais abandonados e pressão holocênica de direção E-W. Portanto, a área de formam amplas e espessas planícies. As idades obtidas estudo pode ter sofrido infl uência destes movimentos, para os depósitos de planície indicam uma propagação sofrendo a reativação de lineamentos transcorrentes remontante do evento deposicional ao qual a formação de regime dextral e direção E-W durante o Holoceno, das planícies está associada, na medida em que as dos com ascensão de blocos responsáveis pelo represa- baixos cursos são mais velhas que as dos altos cursos mento da drenagem. Segundo Salvador e Riccomini (Ribeirão Ubá: a planície do alto curso tem 1.500 (± (1995), as mudanças no regime de esforços durante o 250) anos, já a planície do baixo curso tem 6.000 (± Holoceno (passando estes a extensionais, com direção 750) anos; Rio dos Bagres: a planície do alto curso WNW-ESE) foram responsáveis pela geração de feições tem 1.700 (± 200) anos, já a planície do baixo curso marcantes no relevo do Alto Estrutural de Queluz, nos tem 3.000 (± 500) anos). A exceção seria o Rio São estados de São Paulo e Rio de Janeiro, com formação Manuel, no qual a planície do alto curso apresentou de pacotes sedimentares com espessuras superiores a idade bastante superior à das demais planícies (16.000 30 m, em grabens de direção N-S. ± 1.500 anos), incluindo a planície de baixo curso do A concentração de corredeiras nos segmentos mesmo canal, que apresentou idade de 4.900 (± 550) fl uviais dos rios Xopotó e Pomba que drenam o horst anos. Não havendo indícios geomorfológicos que in- sugerem uma continuidade das movimentações tec- diquem um comportamento diferenciado do Rio São tônicas durante o Holoceno. Considerando-se que a Manuel que justifi que a formação de sua planície no alternância de poços e corredeiras é mais frequente nos alto curso anteriormente à formação da planície no altos cursos fl uviais (Montgomery e Buffi ngton, 1997), baixo curso e anteriormente, ainda, à formação do onde o gradiente é maior e os canais transportam carga nível de terraço (o qual, no Ribeirão Ubá, apresenta de leito mais grosseira (portanto, com maior capacidade a idade de 11.800 ± 1.000 anos), é possível que tenha de abrasão), a concentração de corredeiras em leitos ocorrido superestimação da idade da amostra datada rochosos nos baixos cursos dos rios Xopotó e Pomba (amostra 1). O depósito no qual foi realizada a coleta apresenta-se como relativamente anômala. Diante do está situado bastante próximo da escarpa da Serra da regime fl uvial e do poder erosivo dos fl uxos nesses Mantiqueira, o que pode ocasionar o zeramento parcial trechos, seria de se esperar que já houvesse ocorrido a da luminescência dos grãos de quartzo anteriormente à regularização das calhas caso houvesse uma estabilidade deposição, uma vez que o transporte dos mesmos pelo tectônica local no Holoceno. O alto curso do Ribeirão curso d’água teria ocorrido por pequena distância. O Ubá, com vazão consideravelmente menor que a dos zeramento parcial da luminescência, decorrente da rios Pomba e Xopotó (embora com maior gradiente), exposição insufi ciente à luz solar durante o transporte encaixou cerca de 4 m durante os últimos 11.800 anos fl uvial, teria ocasionado a superestimação da idade da (± 1.000), conforme idade obtida para a amostra 3, amostra dessa planície do Rio São Manuel. É possível correspondente ao terraço do Ribeirão Ubá (Figura 9). que, tendo ocorrido o zeramento parcial de todos os Não é simples, portanto, supor que os baixos cursos grãos de quartzo da amostra (ou da maior parte deles), dos canais principais da área não conseguiriam atingir nem mesmo o protocolo SAR tenha possibilitado a o pequeno encaixamento necessário para a eliminação identifi cação desse problema, mesmo sabendo-se que das corredeiras no mesmo intervalo de tempo. A ma- foi realizada a leitura do sinal luminescente dos grãos nutenção da irregularidade das calhas parece, portanto, de quartzo individualmente. ter motivação tectônica bastante recente. Observa-se, ainda, que houve pequeno ou nenhum Atualmente, a dinâmica erosiva parece ter sido encaixamento da drenagem após o início da formação freada por níveis de base locais representados por que- das planícies, indicando um longo período de esta- das d’água ou trechos encachoeirados no médio-baixo bilização do nível de base, durante o qual os canais Rio Xopotó e no baixo Rio Paraopeba, que estabelecem predominantemente meandraram, destruindo depósitos o contato do horst com os blocos adjacentes à montante aluviais mais antigos. Duarte et. al. (2010) verifi caram e estão associados a contatos litológicos. A estabilização que a morfologia das planícies do Rio Pomba e de seus do nível de base vem permitindo a esses cursos d’água afl uentes deve estar associada a evento de intenso en- e ao Ribeirão Ubá intenso meandramento, por meio do tulhamento dos fundos de vale, processo resultante do

Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 654 Fatores Condicionantes da Confi guração de Fundos de Vale Colmatados na Bacia do Alto-Médio Rio Pomba aporte sedimentar excessivo oriundo da desestabilização uma vez que teria represado a drenagem e provocado das vertentes. Embora atualmente a contribuição antró- o intenso entulhamento dos fundos de vale e a elevação pica para o elevado fornecimento sedimentar às calhas das calhas. Esse entulhamento culminou em espessos fl uviais seja inegável na Zona da Mata mineira (onde o depósitos aluviais cuja gênese está associada a proces- uso do solo inadequado potencializa a susceptibilidade sos de acresção tanto lateral quanto vertical. Diante da natural aos voçorocamentos, por exemplo), os sedi- posterior estabilização do horst, a rede de drenagem, mentos fornecidos infl uenciam fortemente o aumento submetida ao soerguimento contínuo do Escudo Bra- da espessura das planícies: já a amplitude das mesmas sileiro, passou a encaixar nos sedimentos e atualmente nos vales dos rios Paraopeba e Xopotó e do Ribeirão há pequenos trechos de calhas rochosas em diversas Ubá exige outro viés de explicação. Os amplos fundos porções de todos os vales. Após o encaixamento, as de vale são mais facilmente correlacionáveis a estágios marcantes quedas d’água confi guradas no contato entre de estabilidade do nível de base, os quais permitiriam o horst e os blocos adjacentes à montante passaram a uma dinâmica de meandramento e migração lateral dos atuar como níveis de base que controlam a dinâmica canais. Tal dinâmica fi ca evidenciada pela recorrência fl uvial, freando os processos de encaixamento, mesmo de meandros abandonados e pelo fato dos depósitos de em uma área sob epirogênese positiva. A redução da terraços terem sido removidos nos médios-baixos Ribei- energia dos fl uxos levou à migração lateral dos canais, rão Ubá e Rio Paraopeba. O arrasamento dos fundos de sobretudo daqueles que drenam a Depressão do Rio vale promovido por este intenso processo de migração Pomba. O intenso meandramento abriu os fundos de lateral dos canais tende a avançar em direção à mon- vale e destruiu depósitos aluviais mais antigos: este tante, à medida que os perfi s longitudinais dos canais seria o motivo pelo qual, nos baixos cursos do Ribeirão forem sendo regularizados. Como consequência, a área Ubá e dos Rios Paraopeba e Xopotó, o fundo de vale é de ocorrência dos espessos depósitos de terraço tende e composto apenas por planícies amplas nas quais mean- limitar-se cada vez mais à alta bacia do Rio Pomba, na dros abandonados são abundantes. qual as características morfológicas do Planalto Disse- No contexto de evolução e abertura da Depressão cado da Bacia do Rio Pomba minimizam a atuação de do Rio Pomba, a ampliação lateral dos fundos de vale um nível de base local bem marcado. tem migrado em direção aos segmentos fl uviais superio- res (altos cursos), em processos de avanço remontante, Conclusões conforme corroborado pelas datações das planícies de alto e baixo curso do Ribeirão Ubá e do Rio dos Bagres. A reconhecida atividade neotectônica da borda Até mesmo nos altos cursos, o encaixamento da drena- leste brasileira parece infl uenciar a organização espacial gem nos últimos 1.500 anos foi nulo no Ribeirão Ubá; e da drenagem e a individualização de domínios morfo- de apenas 0,5 m em 1.700 anos no Rio dos Bagres. Estes lógicos na região. A geomorfologia da área de estudos processos de arrasamento dos fundos de vale provocam parece refl etir uma dinâmica de pulsos temporais e a desestabilização das vertentes e, consequentemente, a períodos de estabilidade de estruturas mais localizadas, intensifi cação de processos de encosta, que fi cam evi- como o Horst da Serra da Boa Vista, além das possíveis denciados pela presença de rampas coluviais nas bordas infl uências da ativação de macroestruturas regionais, dos fundos de vales, recobrindo os sedimentos aluviais. como o Sistema de Rifts da Serra do Mar e os grabens A abertura e a confi guração dos fundos de vales têm associados. A colmatação dos fundos de vale, a dispo- reforçado as características morfológicas da Depressão sição dos trechos de calha rochosa com corredeiras, a do Rio Pomba, já que têm comandado os processos de amplitude das planícies nos baixos cursos dos canais suavização do relevo regional. que drenam a Depressão do Rio Pomba e a morfologia A datação de sedimentos aluviais via LOE – pro- dos vales no horst sugerem uma dinâmica de pulsos tocolo SAR auxiliou a formulação de hipóteses sobre a de ascensão do Horst da Serra da Boa Vista, decisiva confi guração da rede hidrográfi ca e do relevo regional. na confi guração dos eventos erosivos e deposicionais Diante da utilização ainda pouco frequente da LOE, é ocorridos à montante. válido ressaltar a importância da utilização do protocolo Uma ascensão do horst há cerca de 11.800 anos SAR, de modo a reduzir a possibilidade de superesti- teria provocado a colmatação dos vales à montante, mação das idades. Sobretudo em áreas nas quais sejam

655 Revista Brasileira de Geomorfologia, São Paulo, v.15, n.4, (Out-Dez) p.639-657, 2014 Oliveira L. A. F. et al. comuns processos de vertentes e nos casos de a amostra Recife : ABEQUA, 2003. a ser datada situar-se nas proximidades da área fonte, MEIS, M.R.M. & MOURA, J.R.. Upper Quaternary deve-se optar pelo protocolo SAR, de modo a aumentar sedimentations and hillslope evolution. Am. Journal Science. as chances de identifi cação do problema de zeramento 284:241- 254, 1984. parcial da luminescência durante o transporte do grão de quartzo, caso ele ocorra. MELLO, C. L. Sedimentação e Tectônica Cenozóicas no Médio Vale do Rio Doce (MG, Sudeste do Brasil) e suas implicações na evolução de um sistema de lagos. Tese Referências Bibliográfi cas (Doutorado) - Instituto de Geociências, Universidade de São ALMEIDA, F. F. M. The system of continental rifts bordering Paulo, São Paulo, 1997, 275p. the Santos Basin, Brazil. Anais Acad. Bras. Cienc, (supl.) p. MISSURA, R.; CORREA, A. C. B. Evidências Geomorfológicas 15-26. 1976. como Ferramentas para a Reconstrução Paleogeográfi ca na BARROS, L. F. P.; LAVARINI, C.; LIMA, L. S.; MAGALHÃES Mantiqueira Ocidental- MG. Revista de Geografi a (Recife), v. JÚNIOR, A. P. Síntese dos cenários paleobioclimáticos 24, p. 262-278, 2007. do Quaternário tardio em Minas Gerais/Sudeste do Brasil. MONTGOMERY, D. R.; BUFFINGTON, J. M. Channel-reah Uberlândia: Revista Sociedade e Natureza. V 23, n. 3, p. 371- Morphology in Mountain Drainage Basins. The Geological 386, 2011. Society of America Bulletin, v. 109, n. 5, p. 596-611, 1997.

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