tores aos leitores aos leitores aos leitores aos leitores aos leitor

Dois grandes assuntos ocupam praticamente 80 t,0r Argentina cento desta edição: ums análise exaustiva da situação oollhco-socist-económlca da Argentina e ums denúncia e sobre o assalto, no Brasil, ao patnmónlo amazónico Qualquer dos dois trabalhos garantiria a qualidade de um numero apenas Melhor para o leitor, que num só Amazónia número tem estes dois temas reunidos. As duas matérias exigiram um trabalho cuidadoso. algumas vezes dtficll - particularmente no caso em argentino - ums coordenação firme, para que os prazos oudessem. tento quanto possível, ser cumpridos. Tudo foi centralizado na nossa sede do Rio de Janeiro, mas destaque vieram-nos colaborações das nossas redacções de Roma Usboa e Cidade do México - é bom lembrar que existem milhares de argentinos a viver no exllio, muitos deles oollticos influentes, personalidades da vida oublica do pais e combatentes do povo. Recebemos também mu ta fnlormação e, até mesmo uma análise baseante irónica de um dos nossos colaboradores (argentinos) em Buenos Aires. Ns realidade, o matenal sobre a Argentina poderia perfeitamente der corpo a um numero esaeclal sobre o assunto. Fica, porém à dlsposfção do leitor nestas páginas. Sobre a Amazónia, o trabalho restringiu-se à questão dos recursos nsturais, lsnro do Ponto de vista da Invasão estrangeira como também da preservação ecológica. E evidente que quando se fala da Amazonla munas outros temas estão f)resentes: os ind,os, a questão daste"as, a oart1c1paçáo da lgre1a. etc Preferimos centrarmo-nos nos recursos naturais msfs oor uma questão de opção de trabalho. Voltaremos, futuramente, ao assunto sob uma outra abordagem. Edilson Manins, 1omallsta há muito famT/iarizado com os assuntos amazônicos, coordenou o trabalho, contribuindo oara que apresentássemos com qualidade esta nossa «Iniciação .. nos grandes temas brasileiros. E, deools, a Amazônia, mais do que um património dos brasileiros e dos pavos indígenas dessa grande selva, é hoje um bem da humanidade, um dos poucos "oulmões .. verdes do planeta existentes e hoje JS ameaçado.

N ° 36 / Agosto de 1981 cedemos terceiro mundo cadernos go t~ ~N 1,to Mc11,al n.0 .\6 i\jtO\IU

Ed,trc Ocnl \au \lorttta l:dlllttlAlm.- P.t>!o P--.Ollloal • llta:n.t 8 ••' ltfflOfe Oirec1or All• L C•lflOO• C-E4ilmall-iotil l>v<) Rit,cim J- ._.,,..nb """"'"-- l-~ Lllo 11""),.._0- ,.,;uu,od,8,-sa,,.. Ca.iç.. • Coo,tw,o,..... 10-1 • .. \\ !mi 8 an:bra ~.- - IOllMHI_Ll_ ,­ e üb(N,,,,.-w, '"...... ~ ...... o,ta,.. I< ,~ - CABO \ ERDE °''-··"'.lJ.:I Fmw "•·~ ~\!BIQUE - PORTW,L e~ '< T\ \ffi E l'RISCO'E R-U.r.,,..,.... G\Jl'S~-81 SAt: ~ &1- ~s.:..u Alta!ICam,""' Fel ilO Cchrio\ Qri,ooll' ... ~ ln>mtd<>MOJ O~ !.mar• SAIU. J:c~..c tu:t:1 • U>cwt-·'-""' Ãl!p .M!XICO - A.\IElllCA CESTllAL l.>il1 H...,;qo. - CP 1•93 - La,w ~~ 00 '-ORTll • CAJUIIE M~ EdilI' -1r:l<·- 619 17.CO ~1Mcft1n1 Coiup:,ad,!u:la.. Apa,l.ldo p.,..a, ~ $72 o-~ 'ltúco.~ DF AhairCa:,p:s ll()Ú\'JA - CHILE - COLÕMBIA SccffdriotlrR~.-, EQUADOII - PERU - \'E'-"EZUIL\ Nlllaa Ca;mtW l&l,;fo ""'1iaoí ltqft-.-. Pabbcoda p:r OESCO: Cc:co de E'.s:ildD 1 Clmú Smo lllm!ba) """"'°"°'d<.I Dnancllo Paolo Ca=ltn•1 fil!,o (Slo l'lulo) A....ida Sd.ncny 194! Cciu P,ma160 OS6 -CEP 05 03J Uma 14 l'av - Tele!""" •:, T12 AM MàN.t-> e Ed,,,i!<•cm~, CanD E4lO:I l*C.vl

adcmal do . sm. HATI< (Tamu:m. Wi Cghl - Eltadoo Umoo -1!1~ -FirlKmlia - f'DD? Gr>rliill-Gorlam GuintB,suu-Hnocluru-ltmnM-P.-i r.. ,.... - Pau-Ponupl Pono Ri1 s-. -SJo Temi!• Prlacip< -Sc)neU..-Sri Lata -Soteia -Stáça• Sw- -Sanül.u11a -T1ilind~ 0 Tnndade·lobo1" uni.,,.. Uoiio Sorituca - V..,.zucta - V-- - nm!,ia -1.-

2 ~ terceiro mundo Neste número 36

1 ws lcunrl'!, 4 n•m.·10

Mattirla de capa: A bancarrota argentina

7 Editorial: O fracas~ blindado 10 1 nll'C a ditadura e a dcmocrada. Gabriel Rn.n 13 R~·prc".10: uma thiutrina própria. Martin Mnraz,án 20 O, desaparecido!->. J. Mrmserrar F/1/u, 21 O capitafümo na cncn11ilhad:1. Curlos Abalo 28 Politiw~ no gcwcmo. milítarc!. no quant:I. cntrcv1~ta com fatcb,m R1ghi. Robarn Burdini 31 f·mcrgência nadonnl cntrev1\ta com Raul Altonsín. Luis Ãdnl(o Gulmn 33 fduca~·iio: uma ameaça ao rcg1m~ Dora Guagnim 35 Os chefes da sub\cr..!10°. Juan Suuna

Amuico I.Arina

41 Panamá: A monc dr Torri1os. Paulo Cunnubrava

Africa

47 Gãmbla: Scncgâmb1u \crsão 81 ! . Ãliu Nicr>lau

Asia

51 A e~alada militar. Pablr> Placenrini

Médio Oritnre

55 Libano: A intcnninãvcl batalha. Bc•am: Bissio 59 Palestina: Arafat. -N:io temos terra nem para enterrar as no~:. mono, S,u Van Elu11

63 Panorama Trico11ti11e111al 69 Te/e:c Especial: O a~lto à Amnu,nia

73 Amaz<'nia: Cinquenta anos de fracas!>Os ~ dcccpc,tts. Fdi/s011 Manin.1 75 O ciclo da borracha 77 O al>.,alto à llurestu. Orla11do \'alwrde 8J A invu.'>:in t•,trangl•ira. R,cardn Bueno 84 O pm1l'cto Jari: a luta l'Ontru a dcsn3l'mnaliza,uo lrt•nr Garridn 86 Cara1:\.... uma ri4ucz.1 l'm perigo. l.111s Alfredo Salo11ufo 91 Ako,t umeac;a d~·struir S,ltl Lu1,. R<'ginaldo Ttllt·J 95 A rnntm•infnrmaç.m. uma tár11ru tk !l'ntregn 96 L h1m.i Página: Humor. l\'i/1)

N º 36 / Agosto de 1981 leitura a bordo

No dia em que eu v1a1ava de Nova Iorque para Lagos. Nigéria. visitei aLJberat!On Bookstore (Livrana Liberta­ ção), no Har1em, a fim de comprar matenal de leitura para a minha viagem de quatro meses Dos quinie dólares que gaste, o melhor 1nvest1mento foi, sem dúvida o último numero da vossa edição em Inglês [Th,rd Wond). Nos últimos quatro anos de rn,nha exis­ tência. dos Vlllte neste planeta chamado Terra tenho lntercAmblo procurado uma publicação que abrangesse Asía. África. América Latina e o canbe desde urna perspec­ Manuel Caetano Naheque tiva de 360 graus. Isto é não de 90 graus ' corno em S.P.M. 2814 geral acontece com a imprensa ocidental. Maputo Ainda que esse tenha Sido o meu primeiro contacto R.P. de Moçambique com Third Wotfd (cadernos), estou certo de que a Horâdo Cayombo Kamponês cobertura histórica e analitica dos povos. factos e situa­ Caixa Postal n.°647 çõesdo T eroeiro Mundo apresentada na vossa publica­ Luona - Moxico ção, colocam-se defimtivamente entre a vanguarda no R. Popular de Allgole genero. Alc:ir Rodrlguea de Olivelra Certamente, quando eu voltar a ler Thfrd World (o que Rua Jayme Ouprat, 527. Vllfa Ramos só ocorrerá quando eu retomar da minha viagem, Já que oneo F'ranco da Rocha - SP lamentavelmente a vossa publicação não está a ser Bra.sll vendida comercialmente em Lagos) já estarei livre da Relmundo Carloe Freire euforia deste momento e poderei julgar a revista com AV Assis Chateaubriand. 485, Liberdade maior objectlvidade e esplrito de crítica constru1íva. 58100 Camplrfa Grande - P8 Continuem na linha progressista de vocês! Btn/1 Jo6o Carlos Pinzetta Michael WB1d, Lagos, Nigéria Rua Padre Anelo Bognl, 671 99260 Cuca - AS Brasll (') OA.nguto reclD em lnglêsé•ngtlt angte-, quer dizer, êngulo •direito- e o 18IIOI' faz a comparação com a perspectiva Xavier Malassa Alves Neto Ideológica de direita (N da R.) ao e/ do Cda André Muhungue PO!lal n.•1S Sorra - Oundo O!amang R. Popular de Angola Henrique Boaventura Um amigo na Nova Zelàndla Complexo EIICOlar Agrério do TchMngulro Lubango R. Popular de Angola (. .. ) Na Nova Zelândia, a exploração das compa­ Belmiro Manuel Pelo nhias transnacionais cresce cada vez mais com Caixa Postal 1479 projecios grandes de muito capital mas parco em­ Huambo prego. Contudó, as díficuldades do governo em R. Popular da Angola explicar as suas políticas aumentam também e o Jorge Machava povo, ainda que de mentalidade conservadora. Av. Julius Nyerere n.0 500, 2 • Oto. pouco a pouco resiste mais. Maputo Gostaria de oferecer o vosso editorial do n.• 34 R. Popular de Moçambique (lraduzldo) a uma revista da Nova Zelândia, com a Jo;;é João Lucas vossa permissão. Se eu puder ajudar, alnda que de Munlclpio de Lukala maneira pequena, teria muita satisfação. ca,xa Postal 22 Lukala - Província do Kwanza NOl1e R. Popular do Angola Gary Williams, Nova Zelándla

4 cademos terceiro mundo Não se trata apenas da ralênclu maciça do em­ 0 origimd- e Dora Guagnini (mulher de um dos presariado neste pais sul-americano. mas slm de milhares de desaparecidos, nosso colega e colabo­ todo o , fracasso blindado de um projecto autori­ rador desde o primeiro número de •cadernos•, tário. A barbam· foi amplamente denunciada nes­ Lu1s Guagninl) descreve as repercussões do mo­ tes últimos ano\, mas. para muitos. o •caso ar­ delo sobre a educaç.ão. gentino• continua a ser um mistério e um para­ Finalmente, o economista Carlos Ábalo analisa doxo. Como pode chegar a tal extremo um pais a estrateiia económica das chamadas vantagens auto-suficiente cm petróleo e alimentos, com um comparativas, que os ideólogos do neoliberalismo parque indus1rial consideravel. com o sindtca­ propõem como solução para o Terceiro Mundo; e ll~mo mais forte da America Latina e com o um conhecido cientista pohtlco. que aqui assina orgulho de ter Indicadores de bem-e'.'>tar (distri­ como Juan Suan, lronisa. de Buenos Aires, a buição ttndimento, médicos por habitantes. esco­ raiva unhersal dos argentinos e a perplexidade de laridade e outros) mais proximos das economias militares e empresários que Ja não sabem o que desenvolvidas do que do resto do Terceiro Mun­ fazer com o monstro engendrado nestes cinco do? anos. agora em processo de devorar os seus pró• prios criadores. O assunto é analisado a partir de dh ersos ângu: Não há. até ao momento. uma estratégia única los nas páginas seguintes. O nosso editorial das forças democráticas e populares. As propos­ situa-o no contexto do Cone Sul. assolado por tas políticas são, consequentemente. polémicas, o dítaduras ferozes que tentam esmagar à força os que se renecte no conjunto das matérias publica­ movimentos populares. No México e Buenos Aires das. Se esse debate contribuir para que o povo a nossa revista entrevistou dois dirigentes políti• argentino encontre o caminho para reconquistar cos que, com diferentes posições ideológicas, con­ a sua liberdade. dignidade e soberania, contando cordam em estabelecer a democracia como a tambt'm com um esforço de solidariedade inter• 1ínica saída poss1vel para a crise. Martm Morazán nacional. acreditamos ter alcançado o nosso pro­ faJu da elaboração de uma doutrina repressiva pósito.

N. º 36 / Agosto de 1981 c:,,oemos c10 terceiro mundo 5 editorial editorial editorial editorial editorial edltorlal edito

Argentina: o fracasso blindado

crise de que padece a Argentina, cuias nismo político dava funcionalidade ao sis­ manifestaçoes são amplamente descri­ tema. o econômico gerava aspectos negati­ A tas nos artigos que compõem esta edi­ vos, como por exemplo o desamparo dos çao. constitui a evidência do fracasso estratos menos favorecidos da sociedade. do esquema de Segurança Nacional que en­ Fruto dessa evolução sao as sociedades de­ volve todo o Cone Sul da América, assim mollberals do capitalismo avançado, em cujas como outras naçõf's do Terceiro Mundo economias nao se aplicam os cânones do liberalismo puro, antes se combinando a pro­ As ca acterist1cas deste modelo sao de uma priedade privada dos meios de produção e a s r,p c·dade extrema: no plano institucional, livre iniciativa empresarial com as interven­ uma ditadura rígida e repressiva exercida ções correcllvas do Estado. (Recentemente pelas Forças Armadas; e, a par deste Estado as teorias do monetarismo e do ultralibera­ totalitario, um liberalismo económico sem lismo foram assumidas pelos governos da controlo Trata-se, de facto, de uma selecção Grã-Bretanha e dos Estados Unidos da Amé­ dos piores valores do sistema O liberali~mo rica e os seus desastrosos efeitos sociais já se aplicado às instituições políticas mostra limi­ estão a fazer sentir). tações no que se refere ao desenvolvimento Os militares argentinos e os seus colegas social. mas reune também valores positivos. do Cone Sul da América escolheram o que a como sejam: o respeito pelas diferentes opi­ experiência havia posto de parte em cada uma niões e militâncias, a possibilidade de alter­ das mencionadas doutrinas e submeteram os nância do poder, etc. Por outro lado a inter­ seus povos ao pior sistema possível. Em todos venção do Estado na orientação do processo esses palses as cúpulas castrenses e os seus económico - o oposto ao liberalismo - tem a aliados civis de extrema-direita velam as virtude de oferecer instrumentos para a cor- • armas de um Estado que. por um lado. proíbe recção das desigualdad_es matenais ~ntre o_s e castiga as liberdades cívicas enquanto que, distintos estratos da sociedade. de redistribuir através da censura e da acção oficial nos com um carácter de equidade os rendimentos meios de comunicação de massas. no sector e os serviços. de realizar uma planificação educativo e na cultura, procura modelar. e até económica em consonância com os interes­ regulamentar. o pensamento dos cidadãos. ses nacionais e. de acordo com estes. estabe­ Enquanto por outro lado, os interesses eco­ lecer em que grau e áreas podem ser admiti­ nómicos encontram o caminho aberto para dos os investimentos estrangeiros fazer valer a lei do mais forte, promover uma Os primeiros ideólogos do liberalismo não concentração económica em favor próprio - dissociavam as duas vertentes da doutrina. a logicamente contra as camadas populares; ao polltica e a económica Mas à medida que mesmo tempo que as empresas transnacio­ essas ideias foram sendo aplicadas na Eu­ nais efectuam a mais profunda penetraçao no ropa constatou-se que, enquanto o meca- mercado, eliminando inúmeras empresas na- editorial editorial editorial editorial editorial editorial editoriiC

6 eademc» terceiro mundo rdltorlal editorial editorial editorial editorial editorial editorial

clonais abandonadas pelo Estado à sua sorte, núcleos da direita peronista, mas entre estes e tudo isto em nome da livre concorrência e da os grupos progressistas travava-se um dura eficiência. Aparentemente. é uma acção luta, enquanto que os sindicatos continuavam Inexplicável. Obviamente que, por detrás dela, a ter um papel relevante. existem motivações precisas. Naturalmente que, não obstante estes fac­ Em todos os países do Cone Sul - no Chile, tores comuns, existiam e existem numerosos no Uruguai e na própria Argentina - o gol­ elementos específicos em cada um desses pismo irrompeu quando entrou em crise o processos que influlram para determinar as modelo de desenvofvlmento que vinha a ser particularidades de cada caso. seguido. Modelo que admitia uma dose con­ O dilema sociopolítico era, em termos ge­ sistente de intervencionismo governamental, rais, semelhante e manifestava-se da se­ assim como um aparelho estatal de serviços guinte forma: a continuidade da crise econó• sociais em certa magnitude O modelo teve a mica - ou seja, a impossibilidade de sua origem nos anos cinquenta, quando as prosseguir-se com um modelo que se havia programações económicas seguiam, em li­ esgotado - estava a modificar as correlações nhas gerais, uma tendência para a substitui­ de força no plano político. Nestas condições, ção de importações, inspirada na tese dos caso fosse mantido o modelo político-liberal, criadores do CEPAL (Comissão Económica tal como sucedia no Chile, as forças sociais para a América Latina). que, na década se­ maioritárias estariam em condições de im­ guinte. começaria a dar sinais de esgota­ plementar, não já uma simples mudança de mento, comprovado pouco tempo depois. modelo, mas um sistema de ampla expressão Entretanto. porém, tinham sido realizados popular Essa perspectiva ameaçava por igual importantes progressos no plano social. A ex­ todos os membros do poder não obstante as pansão do sector industrial por intermédio de muitas e relevantes diferenças que tivessem filiais das empresas transnacionais (em entre si. Foi essa a base para a amálgama menor grau no Uruguai, pais predominante­ reaccionária que delegou nas «espadas» a mente agrlcola) fez crescer a classe operária. solução do dilema. Os sindicatos dos três países eram os mais Uma das diferenças mais importantes foi a de poderosos de toda a América Latina e consti­ que no Chile o pronunciamento foi realizado tulam um factor fundamental na vida política. contra um governo já conquistado pelos parti­ Paralelamente, tinha aumentado a impor­ dos da Unidade Popular (coligação de es­ tância das forças progressistas. Em 1973. querda), enquanto que na Argentina e no Uru­ quando se deu o golpe no Chile, a coligação guai os golpes tiveram um carácter preventivo de esquerda - a «União Popular» - en­ e foram desfeitos em circunstâncias políti• contrava-se no governo e acabava de sair camente favoráveis, como o caos na Argen­ fortalecida das eleições parciais. No Uruguai, tina e a luta contra a guerrilha no Uruguai. o golpe deu-se também em 1973, depois de as Uma vez donas da cena. as espadas come­ várias componentes da esquerda terem ob­ çaram a cortar. E deu-se a perseguição dos tido 20 por cento dos votos nas eleições de opositores, considerando como tais, não só os 1971 e quando se encontravam numa fase de partidários da luta armada e os militantes de pleno crescimento, enquanto que no Partido esquerda. como também os expoentes de­ Nacional (um dos maiores do pais) dominava mocráticos moderados. a ala progressista. Na Argentina, quando foi Evidentemente que foi na área progressista dado o golpe. em 1974, estava no governo que a repressão foi particularmente violenta. Maria Estela Martinez de Perón e com ela os Procederam à liquidação física, à prisão e ao iditorlal editorial editorial editorial editorial editorial editorial

N º 36 / Agosto de 1981 cademos terceiro mundo 7 ed itoria I ed itoria I ed itoria I ed itoria I ed itoria I ed ltorla I ed ltor ex1li0 de polittcos de esquerda de sindicalis­ de ser de outro modo, Jé que em vez de tas e intelectuais progressistas. O objectivo superar um modelo insuficiente ele traçado era afastar para sempre o perigo de modificou-o de forma regressiva. que um poss,vel regresso ao modelo político Existem. no entanto, factores subjectivos liberal. causado pelo eventual fracasso does­ que diferenciam estes casos. Em alguns pai­ quema de Segurança Nacional. pudesse im­ ses o golpe favoreceu um caudilho. ou seja, plicar de novo. a presença e ate o auge das nas Forças Armadas surgiu um chefe absoluto forças partidánas da mutação do sistema. que acumulou nas suas maos todo o poder. O esquema de ,,segurança nacional» não Configura-se então. um processo de interac­ se reduz, na realidade. aos pa1ses do Cone ção reciproca que permite aplicar o modelo Sul americano. Nas Américas assim como no com maior -coerência», o que. por sua vez. resto do Terceiro Mundo, existem regimes que reforça a autoridade do ditador. É o caso do apresentam semelhanças com estes. E como Chile, onde o general Pinochet concentra todo foi assinalado nestas mesmas páginas (ver o poder editorial do n º 34) subsiste o risco de que Na Argentina. pelo contrário, coexistem di­ este esquema seia cada vez mais utilizado no versas tendências e chefes distintos na dis­ mundo subdesenvolvido como fórmula para puta pela supremacia. O poder está disperso a enfrentar a crise Na verdade ele não é senão tal ponto que durante os tempos mais duros da a última moda do autoritarismo nos países repressão cada unidade militar operava com dependentes autonomia e com critérios próprios Em tal No entanto é indiscutível que foi nos países situação não e possível a coerência do caso do Cone Sul que o esquema de Segurança anterior e a dinâmica é inversa Os resultados Nacional foi implementado mais a fundo e de negativos ahmentam o debate Interno nas cú­ forma sistemática e que. por isso essa região pulas. cada sector procura responsabilizar o constitui a melhor região para examinar os outro e supõe ter uma receita melhor para seus resultados E es efeitos são. com dife­ enfrentar os problemas Logo. não há unidade renças de grau. similares Entre os mais signi­ de mando nem exerclcio coerente da fórmula. ficativos destacam-se os seguintes: recessão Isso leva ao que se passa hoje na Argentina. da indústna nacional e incremento da pene­ Terminado o perlodo do general Videla, que tração estrangeira; estagnação ou cresci­ só muito dificilmente conseguiu manter até ao mento económico lento se comparado com final a política económica ultraliberal, sobe ao períodos anteriores: desemprego e pauperi­ poder o general Viola, que se propõe corrigi-la zação dos estratos de menor rendimento e mas ê atacado pelos seus rivais, privando-o concentração da riqueza no nível mais alto da de eficácia no exercício governamental. Em pirâmide; aumento da divida externa, eleva­ consequência, tornam-se ainda mais graves e ção dos indicadores socioculturais negativos. evidentes as falhas económicas. E perde es­ desde o analfabetismo até à mortalidade in­ tabilidade a edificação politica. fantil. Daí que se assista no tempo presente à luta Trata-se de «um fracasso bhndado» pois só de tendências e ao auge da crise polltica ar­ através da ostentação das armas se pode gentina A incerteza sobre o futuro polltlco obrigar uma sociedade a tolerar este estado imediato ê completa e apenas resta uma cer­ de coisas. A abertura democrática poria um teza: a vilania desse fracasso blindado que rápido fim nas experiências de «Segurança nem sequer se tolera a si mesmo e deambula Nacional» - este outro ponto em comum aos em busca de uma Impossível correcçáo de três países do Cone Sul. E não poderia deixar rumo. editorial editorial editorial _editorial editorial editorial editor

a çac1ernoe terceiro mundo AS OBRAS DO MAIOR ESCRITOR VIVO DE LÍNGUA PORTUGUESA JORGE

• 26001 - Tende dos Milegraa 290t • 26013 - Seara Vermelha 310$ • 26002 - Sio Jorge dos llh6us 280t • 26014 - Os Subterr6neos da liberdade • 26003 - Mar Morto 290t 1. Os Ásperos Tempo, 270t • 26004 - Capitiea da Areia 290t • 26015 - Os Subterrbeos da liberdade • 26005 - Os Velhos Merinheiros li. A Agonia da Noite 270$ ou o Capitio de longo Curso 280$ • 26016 - Os Subterrlneos da liberdade • 26006 - Dona Flor a Seus Dois Maridos 310t Ili. A luz no Túnel • 26007 - Gabriela, Cravo II Canela 290$ 290t • 26017 - O Caveleiro da Esperança • 26008 - Bahia da Todos-os-Santos 340t 260$ • 26018 - Tiata do Agreste • 26009 - Da Pastoras da Noita 310t 450$ • 26010 - ABC de Castro Alves 330$ • 26019 - A Morte e a Morte • 26011 - Terna Batista de Ouinces Berro Digua 200t Cansada de Guerra 29Dt • 26020 - Farda Ferdio • 26012 - O Amor do Soldado 230t Camisola de Dormir 320$

n editadas por fâ1 PUBLICAÇÕES EUROPA-AMÉRICA C2 Recorte este cupão e envie-o directamente ao editor. ~ +++++++++++++++++~ +Publicações Europa América (Os precos são acrescidos das despesas t Apartado 8 - 2726 MEM MARTINS COOEX PORTUGAL de expedição e cobrança). +Desejo que me enviem, contra reembolso, os livros abaixo indicados com uma cruz ± t - 26001 - 26006 '":: - 26011 ...., - 26016 + O - 26002 O - 26007 O - 26012 O - 26017 t _L O - 26003 O - 26008 D - 26013 O - 26018 'Y n - 26004 O - 26009 O - 26014 ::i - 26019 t .L -.J - 26005 O - 26010 ~ - 26015 Cl - 26020 .... ~ "'tJ> t Aproveito a oportunidade para solicitar o envio do vosso catálogo geral l...í t + N'""o-..,.--- t +Pioi:,üo + C64"'° ..,,,.1 t ++++++++++++++++++

N º 36 / Agosto de 1981 9 Entre a ditadura e a democracia

O descontentamento popular é latente e todos aguardam oportunidade de se manifestar

Gabriel Ro·

('impora

progrnm3 de rontra-m,ur­ sanção de uma moral hipocrita que A ,ituaçiiu militar n:,çao do regime m1htar. cs­ vai da mais cscandalo,a rnrruJ)l;áo O t;ibelccido pd<' golpe: d~ dn poder n uma tutela e olar que Grosso modo. 1den11ficam,se ac- fatadode \1arçodc 1976. baseou-se obriga c a ua prc\pria conlepc;ao sobre n re- SJnd,cai, c lUhuro1, :i usadas de círculo concéntncn foram ,am­ ultado do programa de c·,mtr.1- pc:nn,s_,iva,. l1Jmphce,. inocentes dos e escovados durante ns ult1mm, •Ínsurre içao; O!> qm• defendem tJUC. ulc 1s oo mentoras i,IO· Ainda nao -.e con~·gu1u m1>cl1I 1t·ar a militar da gucmlha pcmnislil e gul.'. nãc, escutaram aplauws nem mentalidadc da população qu<' con­ marxista , 1vas ao alcançarem c-.sc., seus ob- tinua a nlin a ~umir a 1dcolog1a do Apn, cinco ano, de aplicaçao ,,s­ 1cc 11vos. Pelo c11ntrarin. e~tan 1snla­ rcgiml·, Ainda qur formulmcnte temática. o saldo do plano é- pavo­ dns e ns cidadãos. quase sem cxccp­ derrotada. upcis o frustrado gol(X do ro,o. A repressão oíicral e para­ Çlio. mdeiam-nos cm círculo cnn­ gcncnd Luciano ~1cncndci. m Se -nlicial. denunciada com coragem cêntncos de 1nsat1~fação. rnncor e tcmbro dr 1979. c"a tcndl·nc1a dentro e fora do pais por numerosos despreze,. subsiMe cm alguns nudeo., l'astren­ !>Cctores da 5ociedade. envolve Oue f111l•r'' Dar por cumprida a sc . todos o, ma1i1..es de horror. Doi. missão e negociar o regrc,so as 2 > As forças Armadas 1t11 nha· mais ~fürkados sis1cmasdc tortura bases c qu.i.néis ou reiniciar plann5 rnm a guerra. 1 l.'ffi o direito cxdu­ füica e psicológica ao a~a,sinatn com nutras figuras gl·ométricas da sivo de c,1abclcccr prazm e condi­ em massa. da censura idcológka a rcpres..ao? çncs para nbandnnar n Gnvcmn in-

10 cade,,- terceiro mundo cluindo a nom\?ação de futuros can­ didatos c1vb. o orgnnizaçao de for­ ça\ poUtica5 civis simpáticas ao re­ gime. ele Por enquanto. este sector parece ser maioritário e os seus porta-vozes habituais sao o Coman­ dante dn rxcrci10. gencrnl Leopoldo Galticri. e o ex-ministro do Interior. general Albano Harguindcguy. ac­ tual assessor do Presidente. 3) A guerra acabou. Na pai há que se encontrar um qualquer acordo c1vico-mili1ar que garanta o continuidodl.' e estabilidade p111í1ica. fonnando três correnu:s políticas básicas: de centro-direita. centro I.' ccntrn-csqucrdn. que substituam. principalmente. o pemnbmo e o marxismo. füta posição pode ser atribuída ao general Robeno Viola. ex-coman­ dante dn Exercito e accual presi­ dente. desde Março ultimo. por von­ tade da Junta Militar. Ape,,11r das dlvtf&incla.,, os peronlslas procuram 1111lr-Ra na Ubertaçáo de lsabdita todos Existem. no entanto. pontos tstlvtram Juntos coincidentes no 2 e 3." grupos anulou a capacidade executiva do vodores) são fracções menores que a) os chefes de ambos são respon­ presidente. actuam em consequência e ou a re­ sãveis pela acção repressiva durante Durante os meses de Abril e Maio boque de peronistas ou radicais. todos esu.•s anos: o confrnnto chegou a lal 01vel que Apesar d!l.) tradicionais tendt:n­ b) exigem do!> civis uma cspéci..: parecia mevuávcl a erupção de um c1a!> cnnciliadoras na cúpula do pe­ de lei do e,;qul.'c1m<-'nto- que con­ qualquer 11po de golpe de Estado wni:.mo. a crescente convicção de siste cm rec11nhcccr que o • guerra intemn que levas~ um dos grupos que serão exclu1das pelo poder mili­ suja foi 1usta. patriótica e in~·vi1a­ militares a hegemonizar o controlo tar. favorece a unifica.ção das diver­ vel e. por isso. não há ddito a ser do processo. Até n próprin Viola sa~ correntes no seu sein. Exemplo incriminado no futuro: poderia. des~ modo. criar novas dissn foi a mobilização em tomo da c) reivindicam compromissos de condições que anulassem os anterio­ situação da ex-presidente Maria Es­ continuidadl' do rcgunl.' cm futuros res at·ordos e ampliassem substan­ lela Martinez de Perón. detida desde Governos constituc1nnais. qul.' legi­ cialmente a sua capacidade de ma­ l\t arço de 1976 até Julhodocorren1e timem tambcm a prcSt.'m;a do poder nobm. ano. altura em que foi libertada. militar no funcionamento dl'm1-icra­ (Jualqucr que se1a a alternativa A necessidade de manter a sua tico. que prrvaléça. persistirão a in~1abi· íntlul!ncia na base. a repressão de A não existência de um grupo !idade e a inceneza como caracte· qu<-' foram v11imas numerosns dos hegemonico foi um fac1or dec1sívn rí~ut·ns principais desta etapa do seus quadros e a incapacidade dos para que Viola chegasse à Prcsi regime. militares em fazerem concessões. déncia através de um acordo inter· contribuiu para que a cúpula pero­ -blocos. ~m a possibilidade de for­ Alternativas ch·is nista acentuasse a sua militância de mular um programa comum enu­ O!)<)Siçã<,. assumisse a defesa dos merando apena~ sucessivamente di­ Peromsta\ e rad1ca1s (centro­ direitos humanos. juntando as suas ferentes ponto~ de vista. À suu -direita). por serem as duas mainres reivindicações às dos familiares de sombra cadu um dos blocos se dedi­ força~ deitomis. polarizam as alter­ milhares de presos e desaparecidos. cou a trair o acordo. aniculando uma nativas no campo civil. Os restantes e,igindo o exercido das liberdades guerrilho paladana que levou à pa­ agrupamentos (comunistas. socia­ demo1:ráticas e eleições livres. ralisia da ac1ividude oficial e quase listas. democrata-cristãos e conscr· Os radicais. por seu lado. acredi-

11 N. º 36 / Agosto de 1981 cac1emos terceiro mundo 1am que ~e t(lmar.i,, n,,~ h.::rdeim,. ,ml"'rtante e:- 'eis • dn inc:1p:1cid.1de m1h13r em '-" plen.i Jc rc.:ur"'' Economia t• frontdras con11nuar a governar Proeuram. en­ C'om '·"·" de antla,;.10 real \U· tüo. não se ,,por f"'niJJmentc J1) ,\ l!volu\'all t•n•nclll11<'tl <' 11u1ro p..•m,re~ a muis de IOO', ao ano. poder p3ra fac1lnar ,, arran10 para can..-w '-1"" <1irr1\1 ,, ,·1,rpc, d,, rt'· ,ui.mo, t't\llgdados por tkt:rcll> e cs~a e, entu31 ,:1,da '\o entanto. 3 t:11nc Cmcn .ano, <1in,ccutÍ\ os dt• f<'lllUSl:ld1l\ ,lP,.'11.IS lhl(IIICk', SCl'tll• detcrioraçjn do regime esta a ,·tln­ um:1pohttc.11.k,11n.id.i .1 pr,11cgcr .t\ rt•, 4u<· t·nn~,·nam um t·crto dma­ dulir e'-te panido para autudé, c:ida ,1,rpor,u,c\c, n.1c1on,11, < mtcrn.1.:111. mism11 pr,,du11, o ( pri rac1 palm.:ntc º" \:CZ ma1~ cPntundcntc, .:,,m,, tlpt'-1· na,i. de mlliN <'llr.ind,,dt· finam·,·ir,1 ,cr, 1ç11,I, u rrl•,,i111 ,11~·ial cuu.,.\du çi111 para nao úeb1l11ar a ,u:t 1mngi"m d1,tMt'aam cm ab,olutn ,, ci.t1uenH1 rdo dc,c1intt•ni.1men111 .1pcna, está u 11 tal pc>ntn que pude-.,..: e, cntu.11- pr,,dutt, o .i,, pai, M'r~nnttdu pela aml·.içu ,k rcprl'\~.111 mente ficar eliminad" d11 1ogo de (.)ualqucr tCCU('('raç,u, Ja mdus• ,,u punu;ao dircct11 dl' qualquer mn­ forças r.:-:11, na luta f!<>htica pelo P<'· tria aut<'nt1t·nmcntc n.1, 11,nal r'-"<1m·­ , imcnu, de prn1c,111 d.:r. flflJ um estor,;o de tnl magmtudc A ha,. c,sc ~ um dos m,,tivm pclns quai, a, pnnl'ipai~ fnrçu,- po­ O dc,cn, oh 1111enl1'1110 dc\d,· qut· 3Jl<'na, p,•dCr , 1ab1ll,ado hticu, n.111 c,tirnulum a, greve,<' os 11 ,,J)(',iç~"' à poh11c:1 «1,n<'m1~a M-· ~ ª"~nta~,c num cnn,cn,o nar11•· pN•l..-sto\ grncral11aJn, No l·n­ gu1da mi:. ultimo, ano, - JUntou-,e nnl. l· nindil que f,"..c c".i II mt,·n­ lanto. o de,comcmamento é um ã, fileira, do general \' 1c,la Outra, ç.11 • e nã11 t i.'S\C ,~ ca\11 - o poder fo,111 c aguurdu umu np.,nuniduJ,: c,,rrentc~. ,·orno a do almirante na nuhtar n:m c~tana cm c11nd1ço,·s de so para se manifestar. rctorma Emilio \la,.~ra. u­ n n"'ncrc111.ar. •membm d;i Junta "l1lttar ate lll79. A hnha ,uMcntaJa pela cupul.:1 N.:ste quadro. " ~urgimcnto da n:i<' pass:im actualment<' de ~upc­ dal. Forças Amladas. ao contnirio. que,1un front<·iriçu com o Chile (o rcslflltura, dotada, d.: gencro,o, fa,orece uma ccnnomi3 t~pecula- casn do canul de Bcagle 1 11,rna-~e mt>in, financeiro~ para as ,ua~ a.:ti­ 11\a que. no \CU auge. atraia capital\ uma, tilvula de es<·apc para numero­ , 1d:1de,. ma, :.em repre,entau, 1- linanccims da nrdem dos 400 mi­ 'ª' prc,~OC\. uma fórmula de apelo dade popular. ~la,.;em hipoteca o lhões de dólar-e~ ,emanais. Al 1uul­ à unidade nadnnal em 11,rn,, dn re­ seu futuro na po,~1bilidade de se mentc. porem. o tnstab1hdadc poh game . uma via para dissipar o~ tnmar fig.um de eon,en~o da cupula Ileu e a precária 11ua\an dn país enormes gasto,- reah1adns com a ,e­ do regime quando for nece!>~ãrin C'1ão a afastar esses capi1ai, u um gumnça e II t·ontrn insurreição. an­ ntmo muito mah acelerado que o eleger um presidente. C.lliO triunfem dumdo a (orrup,;ãn in1crna. mcea­ n, planos mililare~ vcrilicado,à sua chegada Sono dia nismn utilizado pura manipular :?.9 dé Abril tihimo sa1ram do pah f(lCos de di,..·nrdãnctil na nficiah­ Nenhuma dc,1.as forç:l!> cx­ quase 350 milhõe.., de dólare,. A, dadc militar. Daí o perigo de\lo M· pn:~sa. no entanto. o descontcnta­ re~l'\a.s do Banco Central iá baixa• tuaç,m as rcacçõc-. argentinas nã1l mcntn real existente na maioria do ram 60'.ir em seis meses e o Governo se encontram vinculada, no litlgio povP. já que os seu, lideres estão ili desvalorizou a moeda nacional cm s1 mesmo. mas aos vais-e-vens muito mais atemos ao desenlace da em mais de 100~ em relação ao da, luias in1crna, no -.cm do regime. guerrilha palaciana do que à opinião d6lar num penodo de 90 dias. Al­ o 4u,• dei~a latente a possibilidade das sua~ bases. guns funcionários governamentais. de uma trágica, absurda l' injus1iíí• Tão pouco podem avançar para inclusive. começaram 1á a mencio­ cada confrnnlaçiio armada com o um acordo cívico-milílar sem que nar a po,s1bihdade de •oscilação Chile. antes se esclareça o tema dos direi­ livre• do peso. visando proteger os A questão da soberania nacional tos humanos. principalmente atra­ exportadores eevnar a conlmua ava­ não conta para um regime que publi­ vés da recuperação dos direitos à lanche de imponações que pudes­ camente si: manifesta orgulhos,, da livre activ1dadc sindical e pohtica. sem levar os sectores sociaii. menos sua condição de dcpcndênria do suspensos por decretn militar. assim favorecidos a uma snuaçao insupor­ • mundo oddental e cristao lide­ como a definição sobre o destino de tável e explosiva. r.ido segundo os seus mais qualifl, milhares de de~aparecidos. A he­ A chamada crise do sector finan­ cadns porta-vozes. por Rcag.an e róica e contínua aclividade dos or­ ceiro. com a falência volun1ária ou loào Paulo fl. Em tod11 o caso. as ganismos de direitos humanos. em forçada de uma centena de cartéis autêntica~ fronteiras do~ problcmus particular das Mães da Praça de industrial-financeiros. com um argen11nos (e 1ambém chilenos) s;10 Maio . contribuíram dec1s1vamcme valor reg1,tado de mab de trê, mil as <1uc separam o ditadura du demo­ para colocar este tema como o mais milhões de dólarci,. ~ um sinal claro crucia. O

12 cadernos terceiro mundo Repressão: uma doutrina própria

Os terrfveis métodos utilizados pelo regime militar para acabar com a «subversao»; a ideologia dos seus promotores Martin Morazán

ESDE há cinco anos que a cena se repete quase quoudianamente: a qualquer hora do dia. dois D ou ais carros de qualquer marca. nonnaJ­ mente Ford FaJcon. sem matriculas. estacam violen­ tamente diante de uma casa determinada e de dentro deles saltam vários homens em Lraje civil. fortemente armados. que ordenam que a porta seja aberta ou arrombam-na sem cerimónias. Pouco depois. voltam a sair com uma ou mais vitimas e todos os objectos de valor que podem carregar. Sobem para os veículos e desaparecem a grande velocidade pelas ruas da ci­ dade. sacudida pelo barulho das sirenes. Nunca há policias nas imediações e nunca ocorreu que um qual­ quer agente da ordem pública tivesse intervido. Com o tempo. vizinhos ou testemunhas ocasionais passaram a optar por não fazer qualquer denúncia. É muito mais seguro não o fazer. Os jornais. por seu turno. não noticiam nada sobre o sucectido. ou quando o fazem. resumem-no a umas quantas linhas. sob um título pt.-queno. perdidas num qualquer canto de uma página par. Até que. por fim. altas patentes do exército rompe­ ram o silêncio e puseram de lado algumas evasivas. Começaram a mencionar Ol> anticorpos gerados pelo organismo social . Era. como afianavam aqueles oficiais superiores. uma guerra suJa. imprecisa•. Na realidade é uma guerra curiosa esta: fala-se de prisiõ­ neims e mortos . excluiu-se os feridos ... e acres­ centa-se um novo conceito: os ausentes para sem­ pre• Os números. ainda que frios. são eloquentes: 30 mil desaparecidos (um em cada 900 habitantes). inumerâ• veis assassinaios em combate• ou em •tentativa de fuga . milhares de presos que não figuram em ne­ nhuma prisãt, (segundo os militares há apenas 980 detidos). cerca de 750 mil cidadãos a viver oo estran-

N. 0 36 /Agosto de 1981 cedemos terceiro mundo 13 geim cem Clldn 36 argentinos. um abandona 1, pa1~) 3\-\~'nll~ no n~,,inat\> e no tcm>r. aplicado 01> V1el· Este é o s:ildo d1, p~sso ~pressho miei.ido nu namc durante a deem.la de bO O plano foi dirigido por Argentma. em meados de 1u à rensta nt1nc­ x:ida do· Estados Unidos naquela ddade \.-Oncentrova -americana ,\ewsweeJ.. em Jancin, deMc nn<': ¾ors o maior numero de: pe~oal de ,;cgurnnça e de agentes tem,,s ffi(lne-, silenciosas. A$ pessoas .;ão --cque trndas da CIA ApCupar esse n:.rno. em vez de oomb~ ruidosas. ha morte em p<'slo nu esta11stka do Departamento de Fstado e entre :-.1lênc10. sequcstms e e:1.ccuçõc~ • <>"- -.cus funcionarim, figura,·a um numcm significativo de ,·etcrunos do Sudeste As1n1icll. da Rcpúblil'tl Do­ nnmcann. Bolívia e Bra il. patsc!> em que foram A .. Tnplice A• na epoca de Isabel Peron dei.c:n,olvidoi. conhcci,fos plnnos de cx1crminio. Phillip Agec. c:1.-agénle daquela corporação. sus­ O terror. na re,tl1d.tdc. c11mcÇ('u. em m<:ado..-. de tenta no seu lívro • Por dcntm dn CIA que. na 1974. rom ~tana E:.tela Martinez de Pen,n (lsabehtal Argentina. o nosso principal agente era a policia no governo. ~essa epoca c:ti!.-riam indicios dt' daras fedem!. com a sigla biogtnesis. Nou1m lívro. A CIA ligações da ClA com sect1lreS do c:terc1to e da pohc1a. e ,, culto à cspionagcm . de Larchcu e Marks. afir­ por um lado. e com grupos p(lhUcos e ~md,cais da ma-!>e que cm Buenos Aires funciona um dos princi­ direita pcromsm. por \'>litro. na urilizaç-.io da •ltcnica pa1i. escri1ónos financeiros da Agêndu-. do massacre•. S de Osinde figurava o grupo tos com o secretário pamcutar do general Juan Perón. direitista Concentração Nacionalista Universitária o tris1emente célebre José López Rega. conhecido por (CNU). que editava o semanário E/ Caudillo, fman­ o Bruxo•. um ex-cabo da polícia que chegou a ciado por López Rega com fundos do Ministério do comissário-geral e mini5U'O. Bem-Estar Social. A revista terminava todos os seus Uma das prineiras acúvidades oficiais de Hill em editoriais com a palavra de ordem: -O melhor inimigo Buenos Aires foi finnar um con"énio com o Ministé­ é o inimigo morto •. rio do Bem-Estar Social-cujo 1i1ular era López Rega No seu número 48. E/ Ca11dillo abria na capa e . - aua,·és do qual os Estados Unido\ dariam asses­ contra-capa com o seguin1e utulo: Quem teme as soria. 1ecnologia e pessoal para ajudar a Argentina na Tres A .•. por algum mo1ivo será~. No número 50 o repressão ao tráfico de esrupefaciemes -. Na cerimó• seu edi1oriaJ afinnava: - os policí~ são muitos. mas nia. López Rega falou associando a luta contra a droga não podem matar qualquer um. é nesta diferença que a repressão pohtica (atn1>uiu aos guerrilheiros o com radica a desvantagem do aparelho defensivo do Es­ consumo e a propagação de alucinogéneos como tado. Para comba1er nes1e tipo de guerra as forças de fonna de conom~r a juventude). segurança devem de!>pojar-sc de todos os preconceitos Este fac10 é el~uente se se levar em consideração mentais e morais que lhes atam as mãos . Desta que. em 1974. o director da ClA. William Colby. maneira. os fascista.~ argentinos ~ adiantavam às admitiu que a repressão ao tráfico de drogas em declarações dos teóricos da guerra suja colaboração com policias e governos estrangeiros es­ tava a cargo da Agência e componava não só informa­ Com a queda de Lópcz Rega e a sua fuga da ções sobre narcóticos como também sobre terrorismo Argen1ina deu-se uma mudança na condução e com­ internacional Há também outro indício da estreíLa posição da. Triplice A 1omando o Exército as rédeas colaboração da CIA com o minbtro López Rega: o deste processei. Em Ou1ubm de 1975. 1eve lugar em plano de extermínio realizado na Argenuna pela Montevideu a 11 :. Conforénc,a de faércims Amcri­ -Triplice A tem um anleccdente. o Plano Phoenix. canoi.. a que a!)i,istiu o cnLao Comandante General do

14 cadefnoll terceiro mundo Exercito argenrino, Jorge Rafael Videla. que viria a afinnar: - Deverão morrer na Argentina iodas as pes­ soas necessárias para que se consiga a segumnça do país-.

Balanço de cinco anos

A 24 de Março de 1976. as Forças Annadas promP· vem o golpe de E.stado. dissolvem o Congresso Na­ cional e os parlamentos provinciais e intervêm no poder judicial (todos os membros do Supremo Tribu­ nal de Jusuça destnuidos. bem assim como outros ... magistrados nacionais e fcderois). autoproclamando­ -se como Poder Constituinte oo abolir os anigos refe­ rentes aos direitos humanos e às liberdades públicas. Após cinco anos à frente do poder. o saldo apresen­ tado pelos miJitare~ argentino!> é o seguinte: 1) fxtençãn (com longos períodos de incomunica­ bslidade) de funcionário~ do goveml) deposto - de todas as arcas e níveis sem a instrução de processo legal. Ol)l!sar de os acusnrem de •delitos comuns•. · 2) llcgalizaçfio dos panidos políticos e sindicatos. associac;õcs pmfissionnss e universitárias, com a

N.0 36 /Agosto de 1981 proibição de se reunirem e expressarem publicamente lll.11h:s. Nn parte reforenle aos .. detido:.-dcsapareci enquanto tais. dos- . n publicaçoo mcnci(>nuva -ns inumcn\vc11; e 3) lnte1venção na Confederação Ger.ll do Trabalho penosas tkmurd,es que reali1am o:, seu~ fumilinres (CGT). a mn.is poderosa central operaria argentina. e (na Jus11çn. med1an1e n:cursos de Jiu~as corpus; nos nos :,indicatos de âmbito nacional. colocando milita­ mfinduveb escritorioi. do Ministério do Interior. da res nas Stlle; direcç~. Outras estruturas da classe Polícia Federal ou dos Comandantes Chl!fcs dai. três traba.lh:ldora - federações e comissões de empresa Armas da.~ Forçm; Annadu!>). superando as nmcaçns de foram destruidas e os seus dirigentes conheceram toda todo o tipo 11 que são :;ubmctidos (e ainda dc:1cm;õcs, a espccie de repressao. desde o desemprego e a prisão tonum~ ou oinda ºº"ºs seques1ms dns vitimas que se ao sequeslro e assassin:110. Alem dt~. foi proibido o encontram di:1idas} direito ã greve. com punições que vão ate dez anos de 0 Na vcrdooe, as pcssons qué a Junto Militar se, câreere. Tendo !,ido. igualmente. congd3td~ os sala· questrou e que nao figuram em nenhuma hsta co- • nos e abolidas a:, comrataçõc:, -.-olectivas de trab3.lho nhecida JUdJCial ou publicamente (mulheres, homens e {negociada$ entre as..,;ociaçóes sindicais e patronais). até crian\as. de todas as condi\"OeS S()Ciais. cuhun11s e · 4) No campo univcrsitario. a Junta M1lnarprovocou profis:.1onais. Jovens. velhos. tmbalhndorcs. e~tudnn­ um descalabro total lntt?r\'eio nas 25 uni\cr..idade~ tc~. slK'erdote!>. Jornalistas. profe:.sore:.. cicntislllS) com que conta o p31s e em t01fos os mstitutos de enconll'Wl1-~ cncu.rcerndas num qualquer quartel m11i­ imc:.tigação. acabou com a autonomia e &li libenlade:; tnr ou base do Marinha ou Ac:ronáuttca (lugnres secre­ xadémicas. Clepulsou grande quantidade de professo­ tos aos quais ninguém tem acesso). Conhecemos. por res. encarcerou outros e muito:; foram scquc:.trados e. infonnação dos seus familiares. vizinhos. advogados posteriormente. assassinado:;. A nival espec1fica­ ou através das organizações de solidariedade. a exis­ men1e educacional furam alterado:; os planos e pro­ tc:ncia de 60 campos de concentração. onde são sub­ grama:; umvers1tario:.. do ensino secundário e primá­ melidos a todo o tipo de l0n~ e monstruosos . inter­ rio (no auge da repressão foram proibidas as matemá­ rogatórios por pessoal dos três ramos das Forças ticas modernas por serem consideradas ... subversi­ Aanadas-. \'&S) Ao mesmo tempo eram assaltadas e saqueadas A denúncia. feita cm 1979. conserva. dois anos editoras. bibliotecas e livrarias e. mais tarde. queima­ depois. toda a accualidade e dramaticidade. Na Ar­ das em público as obras de autores considerados gentina a situação dos de1idos-desaparec1dos man­ perigosos· . tem-se igual. 5) Foi lDlpoSta 11 censura a todos os meios de comunicação de massa. meia centena de Jornalistas Um pacto de sangue foram assassinados e idêntica quantidade •desapare­ ceu • enquanto outtos 100 estão nas prisões. Mais de Na província de Córdoba existe um campo de con­ 100 órgãos de imprensa foram encemdos e calcuJa-se centração e extennfnio conhecido por IA Per/a. utili­ que quase mil jornalistas tiveram que abandonar o país. zado pelo Terceiro Corpo do Exército para tonurar. mtem>gar e fuzilar prisioneiros. O campo já existia antes do golpe militar de Março de 1976, mas foi Os detidos-desaparecidos depois desta daia que as Força~ Annadas assumiram o seu controlo através do general Luciano Benjamin Estima-se em 30 mil. até ao momento, o número de Méndez. detidos-desaparecidos. O governo militar nega o seu Segundo testemunhos de sobreviventes que daí desaparecimento. No maior cinismo. os pona-vozes conseguiram escapar. de tempos a tempos. nas ime­ militares mencionam •auto-sequescros-. aJu.stes in­ diações de IA Per/a, unidades do exército fuzilavam lernos de contas• . execuções• ou. simplesmente. prisioneiros duran1e a noite. A essas execuções era «abandono do país e mudança de identidade• . dado o carácter de •cerimónia militar• em que panici­ Em Março de 1979. realizou-se em Caracas. Vene­ pavam os oficiais de todas as unidade1> do Terceiro zuela. o seminário • A democracia na América La­ Corpo. desde os subtenemes re~m-mcorporadol; aos úna • organizado pelo lnstitu10 de Altos Esmdos generais mais veteranos. Estas cerimónias, procura­ Políticos da Universidade Simón Bolívar. Durante o vam unir todos os membros das Forças Armadas na decorrer dos trabalhos. o dr Ricardo RoJo, exilado na repressão e a consolidar a act.ividade dos serviços de Venezuela. apreM:ntou um relatório sobre a situação informação. argentina. que arevistaResúmen (n. º 291. Caracas. de Em princípios de 1977. um capitão assegurou a um 3 de Junho de 1979) publicaria os trechos mais impor- prisioneiro que. poMeriormcmc. conseguiu cvad1r-:.e

16 cademoe terceiro mundo do campo de conccnttação: só estarão limpos os subtenentrs que sairão nn pmximo ano do Colégio , Militar O resto tem as múos manchada!> de sangue~. , Aquele oficial ofim1aria que até o tenente Jorge Vi-

1 dela. filho do ex-Presidente da Junta Militar. havia , participado nos fu1.ilamen1os. Na opinião daquele , militor. na raiz destes cruéis crimes existe um verda- deiro 'pacto de sangue· entre a oficialidade do Exér­ cito. Todos esUio comprometidos por igual com a ditadura. Defendendo-a. defendem a sua própria imunidade pessoal, .

Legislação pública e repres.<;ão secreta

No dia 27 de Fevereiro de 1981 . um grupo de civis annados prendeu em sua casa. pelas 9 horas da noite. o A rq>rN$1Ío na ArgMillna é parte d.os fundJuntntos da Doutrina~ doutor Emílio Mignone. director do Centro de &tudos 5taurança Nadon.t.l Legai!> e Sociais. membro da Assembleia Pennanente Porças Armadas. em Março de 1976. foi acompa­ . dos Direitos Hum~os e conselheiro da Associação nhada pela sançào de uma sene de medidas excepcio­ Latino-Americana de Direitos Humanos. Duas horas nais que ampliaram ainda mais a capacidade repres­ antes. tinham arrombado a sede do Centro dirigido por siva do Estado. com um alcance sem precedentes no Mignone e detido várias pessoas que ali se encontra­ país. Enquanto que. nas mãos da Junta Militar. se vam. Levando também o arquivo que guardava nume­ colocava uma conceniração de poderes. igualmente rosos documentos comprovauvos das violações dos sem qualquer precedente no país. direitos humanos na Argentina. A - Acta de Responsabilidade Institucional é disso No mês anterior. um trabalho intitulado o caso o exemplo mais claro: através dela. a Junta Militar. argentino: desaparecimentos forçados como instru­ como -órgão supremo do governo. assume a prerro­ mento básico e generalizado de uma política . elabo­ gativa e a responsabilidade de julgar a conduta daque­ rado por um grupo de voluntários e assinado pelo dr. les que venham a ferir ou tenham ferido os princípios Mignonc. tinha sido apresentado no seminário A morais. éticos e sociais•. determinando a perda dos · política de desaparecimentos forçados . organ11.ado direitos políucos e de associação. a pêrda da cidadama pela Associação lntemac1onal de JuriMas. cm Paris. do~ cidadãos naturali,.ados. a expulsão do país dos · de 31 de Janeiro a I de Fevereiro. O documento estrangeiros e argentinos naturalizados. a incapaci­ analisa o processo repressivo desenvolvido pelas For­ dade para exercer cargos e funções. a confinaç'"JO em ças Armadru. argentinas desde 1974, com especial local determinado pelo Poder Executivo e a proibição detalhe para o penodo a panir do golpe de Estado de de d1spôr de bens e de exercer a prothsão para a qual Março de 1976r dislioguindo nele dois níveis: um tenham permiS:iâo legal . "Junca na história argcn- público e outro secreto. 11na. nem mesmo nos seus períodos mais negros. umâ ditadura l>e linha atrevido a tanto O ~gundo plnno repressivo - o secreto - de que O poder absoluto fala o trabalho apresentado em Paris pelo Centro de Estudos Legais e Sociais. obviamente não foi publi­ O primeiro destes níveis encontra-se delimitado cado. ainda que haja elementos para supor que ex L~tam pelo conjunto de normas decretada.~ antes e depois de documentos escritos que formam uma verdadeira 24 de Março·dc 1976. com a intenção de formalmente doutrina apro,•ada pelo Alto Comnndo das Forças enquadrar a acção repressiva. A panir do golpe mili­ Am1adas. Al.:m disso. a análise dos factos. experiên­ tar. a ac11vidade passa a emanar de um poder abS{lfu10. cias. dados e testemunhos colhidos nos últimos cinco colocado acima da Constituição Nacional e dos prin­ anoi. constituem um valioso material empírico que cípios Jurídicos universalmente reconhecidos. comlbora esta posi;ibilidadc. A existência dessa Em 197:'i. é decidido que<' Fxército pai.se a as.\umir doutrina~ tem sido admitida por porta-vozes milita­ de maneira directa a progmmação. o controlo e a res cm diversas manifestações oficiais; um general de execução das acções ann-subvers1vas. com a COOpêCU· brigada. três gcnera1) de divisão e um u:-ncnte-gcneral çào - sob as suas ordem, de todo o aparelho de o próprio Jorge Rafoel Videla - referiram-se à Sl"gumnça do falado. A tomada do poder polllico peda, -guerra suja •. inspirada pelos teliricos franceses com

N.º 36 /Agosto de 1981 ~ terceiro mundo 17 a experiência da Indochina e Ja Argelia e pelN, eslta­ niis) trabalharam Cl'lm bn~c na d11utnnu tronceso apH­ tcg,1s norte-americanos. cada na Indochina e cm utih,uçàll nuquck m1,mcnto Este :,;egundo m"el. M carácter secreto. e cónst1- na Argdia fa a fonnadc .1c1m1r foi mnnt1duatt 107,; tuid,., por ordens e nom1as de organiiaç-ão e a~-ção ( l Na Argentina. recd,cmos primeiro a iníluência 1 seguramente e~ritas - pmpi"lSta~ pelo~ sen l\'(IS Je fr:mcc:,;1 e depois a none-wncricana. pondo cm prática infC'rrnaçào e pelos Fstad,>S Maiores do fü,érc.-ito. cada uma delas scparudruncntc e-. cm seguida. utih­ Aeronáutica e Mannha Se acaso sub:.t us~ alguma lando-:,c t·onceitns de ambas. (. ) Até que chegou o du, tda. bastaria n.-ç11rdar as dcclomçõcs d,1 general momcntll cm que os..~unumos a nossa ma ioridade e fosc António \ aqucro. chl'fe do htad,, M:iior do .1plil-nmos a nos. a pn\pria doutrina . E.'\ctdto. ~10 tomai CIClT1n. de Bueno~ Ai~s. em l 8dc:­ Por :.eu ladP. ,, gcm:rnl de divisão Santiago Omar , Outubm de I C>SO: - C,,ubc e cabe ao l·stad,, l'- laior do Ravcrn:.. comandante d,1 Instituto Mílitar e rcsponsá­ Exército e'\ercer um papel preponderante no planea­ vd pelu acça11 repressiva iw pcri

«As Mães Coragem» de solidariedade. de ética e de As •loucas da praça .. , como a.os militares o reaparecimento Justiça, que H leve esta causa foram depreciativamente ape­ doa n ua parentes sequestra­ até ao seu esclarecimento de­ lidadas pela Junui MIIHar. dos. finitivo•. Adolfo Pérez Esquivei, prémio O movimento nasceu como Um senador francês declarou Nobel da Paz. deu-lhes, com uma resposta eapontAnea à sl­ a respeito das Miea da Praça de Juatlça. um outro nome: as tuaçio que - a partir do golpe Maio: •Sio a consciência or· «Mães coragem•. O mundo, de Estado de 24 de Março - ;anlzada, a voz e a reivindica· através da Imprensa Interna­ provocou a detenção e poste­ çlo Imbatível do povo argen• cional, conhece-as como a, rior desaparecimento de apro­ tino•. Elaa, por sua vez, aflr· • mães da Praça de Maio•. No ximadamente 30 mil argeott­ mam: • Nio nos move nenhum dia 30 de Abril do corrente ano nos, Incluindo centenas de obJectlvo po11tlc.o. Ninguém completaram-, e quatro anos crianças. As peuoaa que In­ nos convocou, Impulsionou ou em que elaa, regularmente, tegram esse movimento decla­ nos utlllza como Instrumento. todas as quintas-feiras, - faça ram: ..,üo scel1amos que ne­ Esta.mos contra a vlolêncla • chuva, frio, calor ou repressão nhum sector argenttno pre­ qualquer tipo de terrorismo. - se manlfutam na histórica tenda cobrir sob um m8.l'lto de Repudlamoa a Injustiça, • Praça de Maio de Buenos Aires, esquecimento a aorte de milha­ opresdo, a tortura, o aua,al• em frente à Casa Roaadt., pa­ res de detidos-desaparecidos e nato, os 1equestro1, •• prlaõea lácio do governo, para reclamar pedimos, como acto humano sem proce110. as detençõH

18 caderno9 terceiro mundo O general de divisau Leopo ldo Fnrtunaio Gah1crc. çõcs de lipo clandestino. de fonna paralela. submeti­ ~-omamJanic chefe do Ext•rcito famoso entre outras das porém à direcção militar e polílica do Estado. roisas. por tentnrelimínar dcstacadoi. exilado\ argen­ Porquê uma acção paralela e clandestina? No rela­ tinos no Mcxico afinnou aod1ánoC/(Jrf11 . cm 30dc lório O caso argentino: desaparecimenios forçados Maio de 1980: A luta anti-subve rsiva é um a página como instrumenio básico e generalizado de uma polí- da historia t1 uc para alcançar o premio da glória teve de 1ica., . afinna-se: • Esta opção foi defendida por quatro superar wnas dt· lodo e escundão ,. Noutra ocasião motivações principai~. fr.:quentemente mencionadas aquele general afim1ou: Do tmno do vencedor( ... ) por oficiais superiores em conversas paniculares. não podemos explicar o inexplicável. não podemos Primeiro: a ideia de que este se ria o mé todo mais dar r:.11.uo ao irracional. não podemos justificar o eficaz e rápido para eliminar a subversão. Segundo. a absurdo-. noção de que era preciso evitar o obstáculo de in­ O próprio tenente-general Jorge Ra fael Vidcla dc­ fluências e pressêles internas e externas. provocadas damu ao The Times. de Londres. cm 2 de Junho de por uma acção cujos efeitos viessem a mna publica­ 1980· Não reconhecemos culpas sob nenhuma cir­ mente. Terceiro. a pmtecção que exigiam os que cunstância. porque se houve necessidade de matar não dirigiam e executavam as acções repressivas. E foi matar por matar. mas sim porque algucm tinha quarto: a incerteza e o terror que estas fonnas de necessidade de matar pum defender certos valores . actuação conseguiam cnar nas fileiras da oposição e na sociedade; no seu con1unto-. Repressão cl_andestina: um método mais rapido Tal opção. que incluía como elemento básico a e eficaz técnica do desaparecimento. constituiu a doutrina própria- a que se refcnam - sem mencionar o seu Como já foi referido. após o golpe de Março de conteúdo - os generais Rivems e Camps. Ê possível 1976. o regime dotou-se de um poder quase ilimitado afirmar. assim. que o sistema de desaparecímenio de através de uma leg,~laçáo de excepção {pena de morte. pessoas é uma invenção argentina . tal como outra aurnenio de sanções e acç(les consideradas como deli­ descoberta anterior. a picana* eléctrica•. tos. centralização de todas as estruturas de segurança Esta~ contribuições para a história da crueldade sob o controlo das Forças Armadas. ronstituição de humana não honram. certamente. o país ou. para ser tribunais militares semelhantes aos vigentes em tempo mais preciso as suas Forças Armadas O de guerra. controlo de todos ns sectores organitac.lo.s da sociedade e dos meios d~ comunicação de massa). Mas. apeso.rdessc imenso arsenal 1und1co-repressivo. • Plcana - in,trumento utilíz.ado nas ses."6es de lonura as Forças Annadas preferiram levar por diante opera- pnra aplkação de choque~ eléc1ncos.

seguidas de desaparecimento,

1 a .perseguição por motivos re­ llglosoa, raciais, Ideológicos ou polltlcoa. Nio fulgamos oa nossos filhos detldos-desapa• recldos. Nem aequer pedimos a sua liberdade. Só pretendemos que nos digam onde eles se en­ contram, de que do acusados e que sejam Julgados de acordo com aa normas legais e com o legitimo direito à defesa ae consideram que eles comete­ ram algum delito. Que nio os torturem. Qua oa mantenham em condições decentes. Que 1 possamos vê-los e aaalstl­ -los...

Roberto Bardini O lnconfonnlsmo t • tr15Cua das mit'S da Praça de Maio

N.0 36 / Agosto de 1981 eac1e

Os juristas querem definir à luz do direito a questão dos presos-desaparecidos

J. Monserrat FiJbo

Rodolfo Mattarollo. advoQado atQenhno exilado em Como providências Imediatas. foi sugerida a criação Paris. 001 dos parlíoparnes na 33.º reunião da Socie­ de um Grupo de Trabalho permanente Junto da Comissão dade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), de Direitos Humanos da ONU além de Investigações ln revelou que. na Argentina. a engrenagem repreSSiva loco por grupos ad hoc. optou por -normas secretas derivadas de uma doutrina Como medida de mais longo alcance, foi proposta e de guerra•, onde os desaparecimentos SIStematicos são elaboração e adopção de uma convenção internacional definidos como método de combate• sobre a matéria: tendo sido submetidos aos participantes Um documento do Centro de Estudos Jurldicos e do SBPC dois projectos: um do Instituto de Direitos do Sociais. de Buenos Aires sobre o assunto afirma o se­ Homem do Foro de Paris e outro da Assembleia Perma­ guinte. • a responsabilidade malOf ficou com os coman­ nente dos Direitos Humanos da Argentina. dos supenores dos três ramos das FOfÇaS Armadas. mas Na reunião, foi unanlmamente aceite que uma con­ de modo paralelo à estrutura formal das suas respectivas venção internacional serviria para definir claramente as corporações E possível falar de um paraleílsmo global bases Jurídicas e o alcance do direito à protecção dos para definir esta forma de reJ)l'essão-. p(8SOs-desaparecldos e seus tamillares. Rodolfo Mattarollo considera a concepção do ~para· leiismo global• corno •um fenómeno diferente do apart­ Crime contra a humanidade held sul-africano- Ou seja. em lugar do exerclcío ,cnml­ noso e aberto .. da soberania do Estado. como no apart­ A experiência de Inúmeros palses demonstra que o held ou mesmo no nélZlSmO e no fascismo. -a doutrina do desaparecimento forçado é utlllzado para eliminar direc­ Estado-Maior coniunto das Forças Armadas da Argentina ções e quadros coordenadores de sindicatos. partidos visa manter a ficção do funcionamento normal de algu­ polltlcos. associações profissionais e estudantis, movi· mas instituições fundamenl&s do Estado democrático•. mentos e entldades empenhados de uma forma ou de outra, em expressar a vontade. as aspirações e os an­ A questão dos desaparecídos surge no Direito Inter­ se10s de amplas camadas da população. Dessa forma nacional apenas no século passado. Juntamente com são assim destruldos componentes 1mprescindlveis do tentativas de regulamentação sobre conflitos armados processo de autodeterminação de um povo, ou seja, as internacionais Num primeiro trabalho de Sistematização. pessoas mais activas que planeiam, dirigem e executam a Convenção de Genebra. de 1949, e a prática do Comité as acções polltlcas, sociais e culturais Internacional da Cruz Vermelha consagraram determina­ Daí que a Comissão de Direitos Humanos da ONU das obrigações atribuidas aos Estados bem como certos tivesse razões de sobra para. no seu projecto de resolu­ direitos a favor de pessoas que necessitam de protecção ção, declarar o desaparecimento forçado de pessoas O Estado !em obrigação de realizar investigações como um crime contra a humanidade. à semelhança do sobre pessoas desaparecidas, mesmo depotS do termo genocldlo. de um conflito, tem a Obrigação de ídentificar essas Esta definição como já salientou o Jurista Dalmo pessoas e de as localizar; tem a obrigação de trocar Dallari, ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz de informações a esse respeito com outros Estados. Arquidiocese de S. Paulo. acarreta duas consequências Por outro lado. o artigo 12 do Protocolo Ida conven­ fundamentais: ção de Genebra reconhece •o direito das famílias de 1 ) Qualquer pais do mundo será competente para conhecerem o paradeiro dos seus membros•. processar e punir o criminoso, mesmo que ele ruja do seu pais ao mudar a situação polftica que lhe dava cobertura pois em parte alguma estará livre da Justiça. A justiça persegui-lo-á onde quer que vá Múltlplas violações 2) O criminoso nunca será beneficiado pela pre8Cfl­ ção ou extensão do prazo da punibilidade, uma vez que o A reunião do SBPC examinou ainda uma série de crime contra a humanidade não está suJeito a prescrição. providências necessárias para prevenir os desapareci­ Enquanto viver, o criminoso poderá ser punido. lndepen· mentos forçados e proteger as pessoas desaparecidas e dentemente do tempo que decorra após a prática do seus familiares. crime. O

20 cacs.,no. c1o terceiro mundo O capitalismo na encruzilhada

O desastre económico não é uma consequência do fracasso da política económica liberal, mas fruto do seu êxito na destruição do modelo anterior. As alternativas do Governo do general viola

Carlos Ábalo

A m1foria das anifücs sob~ 1 polltica económica O n:ordeoamcnto da economia argentina. iniciado a , dos mfütarcs argentinos destaca sempre os upec10, partir do aolpe de 1976. fat pane de uma nova divisão que contrariam os interesses da classe opcliria. dos internacional do rrabalho. orientada para o aproveita­ 11abalht1dores em geral e da burguesia não monopo­ memo dos chamados custos comparativos. O caso lis1a. Deixando de pane tais aspectos - que sao argeouno é um banco de ensaio para as teorias ne­ óbvio~ analbaremo:. aqui umu caruc1ens1ica pccu­ oclássicas e friedmanlanas. Os seus resultados mos­ har do capitalismo argen11no; a incapacidade da sua tram a sua debilidade e a sua absolu1a incapacidade burguesia conceber um proJcc10 capaz de para compreender a realidade do capi1alismo ac1ual. 1 para unificá lo por um longo período JUnlo das classes do qual apresentam uma visão quase mÍlica. Sem exploradas. Essa divi~o M seio da burguesia a1foge. • dúvida que a especialização baseada nas vantagens 1ambém. munas vezes. os panados políucos e os mih- comparativas faz pane da organização mundial capi­ ' 1ares. Por isso. as fracções mrus preJud1cadas das talista contemporânea. classes dominant~ 1lm procurado ahançus com a classe operária. de 1al maneiro que as lutas desta última Um desastre instrutivo combinam-se. frequentemente. com os conflitos in­ traburgucses. A política de Martinez de Hoz. o verdadeiro primeiro-ministro dos militares argeo1inos no período que vai de Março de 1976 a Março de 1981. visou Produção, Emprego anicular a economia argemina com a economia mun­ e Salário$ dial através das vantagens comparativas assentes oo rendimento agrário diferencial obtido com a expona­ t9nns 1976/80 ção. A aplicação pragmática dessa política conduziu ,, ao auge financeiro e à crise posterior, como não podia s deixar de acontecer. O que é paradoxal é que Maninez • .. de Hoz teve sucesso na implementação do seu modelo 3 com os resullados verdadeiramente desastrosos que se 2 colhem hoje. O absurdo seria que a aplicação de uma 1 política inflexivelmente capitalista conduzisse. numa o época de crise. ao bem-estar do povo. J No capitalismo. os capitais marginais tendem a 0Pt8 -2 de~aparecer. mas não desaparecem de todo. Nesse • êmpttg<> 3 fenómeno iníluem as relações sociais e políticas de D Proou11Y1dade wdn o género e a1e mesmo as contradições das classes dominantes. É isso que não entendem aqueles que Salinos D crêem que os conclusões teóricas mais gerais encon­ LrUm a suo aplkação prática de forma taxativa. Marti-

N.º 36 /Agosto de 1981 cadernos terceiro mundo 21 n,n de Hoz teve que abandonar a direcção da e..-onomi.1 a ec1>nt1m1a ag,rána - e e~ix-c111lmente par.i o:. qi. porque a ~ociedadc. 1nduimfo a maioria do, cap11ahs­ unham n:nJimcntos da tem sem ~t·rem. necessari• tas. não apoiou a sua política. Deix,is de Martinez de mente. produtor\!~ cru u exi,tc:ncia de umu md11btrl1 Hoz. o futum não repetirá mais o passado . O que nfio muilt\ Clmcentrnda. O anvcn.t\, a maior colamidndi se sabe. no entanto. é o alcance que podera chegar a ter pMa o se,·tor agro-pecunno. sena uma industria de:~ a revisão da sua política. c.-ntraliznda. com a verdnde,ra proliíeroçao de emprc, A .:-rise actual pode bloquear o caminho empreen­ sus murginu,~. lltl\) compe1111vu~ dido em IQ-6. mas se a burguesia \Qhar às formula=> Pllra a burguesia lntifundién11. 11 eon1mlo do câni anteriores. a pro:1.1ma cnse será pior. Com ou sem t1 bio. o protccdomsmo e a substitui\'uo de 1mp<111aç(ll!s in~naÇ\'leS de Maninez de Hoz. o futuro da economia con,títuirum uma c:-xccpçüo tiio necessana como tran argentina - e de toda a socie-0ade - será de m~tabili­ sitóriu Em contrapart1dn. paro o pequeno e medi dade porque o que csta em m.e. na ~ahdadc. é o burgue~itl indu~trial. llS n~salariodo:. e outros scc1orc capitafümo argentino como modalidade c~pec1fica do :.t)C1ais CUJO futuro dependia da sorte 1.h:s~as indu~lrias capitalismo mundial o curso dn economia nao devia invener-sc. Com e A ma1,ma dos pat:.cs do Terceiro Mundo e~túo a golpe milítar d.: 1943 e. sobretudo. com II suo posteri01 trotar de reacomodar-se frente ~ no, :1 di, ,Sã.., interna­ institucionalizaç.\o no governo peroniM• cional do trabalho e encaram os problemas das cham11- impubionou-!'.e uma política populista que favorecu das vantagen:. comp.arativas no comêrc10 internaciomal justamente u411elcs úllimos. e as propostas monetarista:.. A poluicn argentina e as Naquele período. o descn,·olv1mcnto andus1rial ex suas consequências podem , ir a convener-:.e numa teosi,·o e a redislribuição dos lucros acabaram JXII experienca:i b3!itante mstrutiva bloquear o desenvo1' imento agrario. E. nos prime aroe anos da decada de 50. a Argentina teve que importa: lrigo e consumir pão negro. Havia um oulro problema Latifundios ,·usus indústria sem um aumento da~ exportações. a indústria tambérr não poderia prosseguir com n ciclo de acumulaçao r-;as pnmearas decadas do s.ecuJo. a Argentma pro­ Por isso. nos pnmeiros anos da década de 50. ocorre­ duzia matérias-prima, agricola~ - pankulannenc ram a~ pra me iras cuoccssócs à economia agrária: acon­ trigo. lú e carne -de uma maneira hlJCcial : eram os teceu a críSé de 1952-1953 e iniciou-~e um nove método-s extensivos de cultivo em grandes laufundios. pcnodo que ~ prolongaria por 20 anos (N de R. su1euos ao regime de agricuJtores arrendatários e a Rcfere-~c o autor à sénc de governos militares que uma vasta periferia de pequenos e mêdio~ produtores. governaram o pai~ durante esse lapso). O seu custo de produção era altamente compelltivo no mercado antemacional e deixava grandes excedcnie~ para os pmprietános que monopolizavam as terras. Crises ciclkas A economia industrial. pelo seu lado. tinha graus de especialização relativamente elevados. em compara­ O desenvolvimento capitalista passa invariavel· ção com outraS economias indui.lria1s de países depen­ mente por ciclos de expansão e depressão. Na econo­ dentes. O seu objectivo era reduzir os preços dos mia argenuna. esses ciclos combinam-se com desva­ anigos de consumo popular. os chamados bens de lorizações periódicas da moeda. em consequencin da salário. Desta maneira. os salários poderiam ser meno­ evolução da taxa de lucro e da taxa de investimento. A res. como também sobraria deles um excedente maior innação. que acompanha a expansão da indú~lria e da de dinheiro para usar na compra de produtos indus­ economia em geral. rem tam~m reflexos no cãmbio: triais. Finalmente. uma economia industrial em de­ as moeda.s estrangeiras não sobem na mesma propor· senvolvimento necessita gerar SCí\ iços e requer uma ção que os preços internos infra-eslfUU.tra cada vez mais complexa e diversifi­ Nos produtos agro-pecuário:.. os preços internos cada. Como a pressão gerada sobre os custos indus­ dependem do equivalente cm moeda nacional e dos triais não pode ser muito elevada. o Estado obtinha os preços mundiais O desequilíbrio cambial baroreio 0) recursos para tais obras através de impostos de expor­ preço\ e deprecia os lucros agro-pecuários. O rcsul· tação. aplicados aos produto~ agro-pecuários interna­ tado ê a queda da ofcna e a consequente queda das cionalmente competitivos. exponaçõcs. Resultado: produziu-se assim uma certa divergência Paralelamente. ~ imponaçõcs tendem a aumentar de interesses entre a economia agrária e a industrial. incentivadas pela queda do câmbio. Assam. o d

22 cadernos terceiro mundo podem ser incentivados se os preços dos produtos forem aumentados. trnsladondo lucros para o campo. Os dem11b preços sobem u um ritmo m11is lento, uma vez que. no princípio. ~6 se alteram os custos dos Taxas de produtos imponados e dos que têm os preços fixados 93,7% Crescimento de acordo com o equivalente em moeda estrangeira. Exportações, Importações Ainda que a alta dos custos tenda a generalizar-se. os e Produção Industrial preços agro-pecuários obtêm marcada vantagem sobre os demais. pelo menos no perlodo inicial. O aumento do~ preços agro-pecuários implica um incremento dos bens denominados bens de salário e. consequente­ mente. deprecia-se o poder de compra dos trabalhado­ res. Os assalariados gostam mais em alimentos e ficam com um excedente menor para comprarem bem in­ dustriais. os quais, por sua vez. também aumentam os preços. O resultado é a recessão na indúslrio de manu­ facturas. Com efeito, as desvalonzaçõcs. oss,m como as recessões e a redução do ritmo de actividade eco­ nómica. tiveram lugar periodicamente: 1952-53. 1955-56. 1959. 1962-63, 1966-67. 1970, 1972-73 e 1975-76. ,8 Durante duas d~cadas a economia argentina fun­ ~ cionou com este esquema: a expansão 10dustri11l con­ t:: duz a uma situação de deteorieçào relativa dos preços &. agrários. de inílaçào e de crise ne balança de pagamen­ e tos por insusficiênc111 das exportações. Tudo isso - obrig11 a uma reorganizttçilo do quadro. Na raiz desta 1 1 a 1 1 reorganização. criam-se condições favoráveis para 6,7% produçào agro-pecuária e o crescimento das exporta· 8,0% ções através de melhores preços relativos para o sector e da desvalorização da moeda. Tais medidas depri­ mem o mercado interno e dão lugar a uma queda do dinamismo da produção industrial. Tempos depois. 1976, a vitória agro-pecuária embora o câmbio continue fixo ou fique infenor li evolução dns preços. a industria recupere por causa da A polttica económica imposta por Manínez de elevação dos seus preços relativos e os essalllriados Hoz a panir do golpe de Estado de 1976 é a primeira recuperam. completa ou parcialmente. o eu poder tentativa séria paro resolver as contradições e voltar e aqu1s1tivo entC'rior ao da crise. Inicia-se c:ntào a etapa um modo de acumulação homogéneo. O seu projectô da expansao da ec-onomia. favorece a acumulação agrária e obriga a indústria a Em cada uma desetapes. um sector é beneficiado reordenar-se e adaptar-se a um esquema que não em demmcnto do outro. Porém. nem o sector benefi­ interfira no pleno aproveitamento das vantagens com­ ciado. nem o sector afectado. mudam as suas caracte­ parativas. Essa política tem uma repercussão expan­ rísticas ou o seu modo de acumulação para que. no siva para a produção agro-pecuária da Pampa e uma período seguinte. tenda a desaparecer a contradição. influência recessiva para a produção indusrrial e a A hetcrogeneidadC' do modo de acumulação da agricultura nãopampeana. Os benefícios para o sector cconnmia agro-pecuária e indublriel fez om que a agro-pecuário pampt'ano acontecem sobretudo nas burguesia viva eternamente dividida em fracções ri ­ unidades produtivas de grande extensão. com capaci­ vais. gerando uma instabilidade poh11ca periódica. dade para beneficiar da economia de escala e raciona­ Pode-se falar. entáo. de um modo de acumulnçáo não lizar os cultivos. homogéneo companilhado porque o movimento de A ess.:ncia da pohtica de Martínez de Hozcausou pêndulo favorece ora um ora outro sei:tM. $cm que polémica entre os argentinos. Eles interrogavam-se a nenhum dos dois defina uma hegemonia definitiva respeito dos bcneficiarios do programa: na realidade.

N.º 36 / Agosto de 1981 cadernos terceiro mundo 23 (...... ,,.)

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~riam os 1mpubon.-:. da economia agrána µampeana uma s,mpk-s impo~1çã<> polílica; e uma consequência r ou o cap11al 1J11nsnac1onal 1mpcnalb.La? dth mecanism{>s da acumulação capitafü1a interna· e A m,pos1a mais :.upcrficial a qualquer tipo de c1onal. E n:onJenamen11, ec,,mlmll"il 1mpuls1<'1nado ix•r um re­ A nova oricn1açúo é impoMU ou aproveitada por gime ditt111,1a e a de que s.: ll'ata de uma cs1ra1cg1a aquela fracção numericamente pequena da burguesia e aplicada pelo 1mpenalismo Porem. o que decid? o que. nol. pa1ses subdesenvolvidos. pode apmvcitar da t modo de acumula~o inlemo são as lutas rntraburgue­ superposição dos scui. obicct1vos paniculores com o~ e sas. a pohtll'a da cla:.se c,perâria e dos ~eclotts )'<'pula­ do grandl' capnal monopolista transnacional. res e os rnslrumentos de poder capazes de decidir a onemação do Estado. Naturalmente. nada disso Panalisação ocorre à revelia da evolução da economia mundial capítalbta. nem do mercado internacional dominado A aplicação desta lógica na Argentina significa a pelo capiLal imperialista: porem. as definições não promoção de uma única ac11vidade competitiva ll es- ' surgem da vc>nLade directa dec;te capital. É a lu1a cala mundial; a produção agráriapampeana. Não quer ' interna que decide a fonna como a burguesia local se isso dizer que a produção agrariapampena venha a ser adaptará às mudanças registadas no mercado mundial. beneficiada da mesma fonna no seu conjunto. A Na sua tentativa para recuperar a hegemonia espec1aJização capilJlliMa é. por sua vez. um meca­ mundial. a burguesía none-americana segue uma nova nismo concentrador da propnedadc. Consequente· divisão internacional do Lrabalho. a pan,r de uma mente. o usufruto da C:,pecial1zação concentra-se l!X· maior mtensidade DO uso do capiLal. de uma modífica• clus1vamente nas mãos dns scctore!> capazes de apro­ ção da base energética e no modo de aperar na indús­ vtitar as vantagens comparativas. que são jus1amentc Lria. Isto implica uma grande concentração e a produ­ os sectores da propriedade mais monopolistas. ção em maior escala. o que tende a especializar a Como a produção agraria extensiva emprega produção. pouca mão-de-obra e consome poucos produtos in· A especialização da produção e o aproveitamento dust.ria1s. o rendimento da exponação. não~ difunde das denomtnadas vantagens comparativas favorece a pelo resto da economia. nem aumenta o emprego. Em acumulação de poder económico nos grupo:, mais conuapamda. o excedente da exponação gera saldos poderosos e. num momento de concentração mundial. favorávc1~ crc~cntcs na balança de pagamentos. Por esta orientação é a que melhor serve ao capital impe­ sua vez o aumento con~tante dai. reservas provoca rialista mais monopolista. Nos países capitalis1as ~ub­ uma continua pressão inílacionána. desenvolvidos. a opção pela especialização resulta A e~tralégia da chamada vantagem comparativa directamente da estruturação do cqmércio mundial e cl>lá indii.i,oluvelmentc ligada a &plicação da teoria da aplicação universal da lógica do capi1ali~mo mono­ nendài;síca quanmauva da moeda. Segundo esta polista. à qual é difícil fugir. Esta oão é. sem dúvida. domrina. a inílaçao é consequcnc1a do uumenm do

24 cademot c1o terceiro mundo • mi:io circulanh:. Paro baixar o~ cuMos. seria neces~á­ do mercado financeiro é uma consequência natural do rio. cnum. depreciar os salário~ l::.sta estratégia anti· bloqueio do crescimento interno. É um resultado do inílaci11nár1a gera uma restrição da acuvidade produ­ redimensionamento do tipo de câmbio e uma conse­ tiva. nn redu1.1r o poder de compra dos trabalhadores. quência da política anti-inflacionária que caminha Ao mi:smo tempo. a~ reserva\ crcscc:ntes tendem indissoluvelmente ligada às vantagens comparativas. a sobrevalorizar a moeda nacional frente às divisas. Cabe aqui fazer um pequeno esclarecimento sobre o Uma vez que a vantagem comparativa funciona como problema do tipo de câmbio. A reavaliliação do câm• uma economia aberta. baixam os impostos sobre as bio e a suspensão das barreiras alfandegarias são faces importações. As divisas baratas. aliadas a redução dos de uma mesma moeda. Ambas visam a especialização impostos sobre as importações deveriam. cm teoria. nas exportações dos produtos que reúnem mais vanta­ obrigar as empresas a reduzir os custos para competir gens comparativas. uma vez que unicamente é essa com os produtos estrangeiros. Pouco a pouco. a cha­ especialização que continua a ser competitiva com mada vantagem comparativa conduz a uma avalanche uma moeda nacional sobrevalorizada. As moedas es­ de importações e à virtual paralisação da economia trangeiras baratas aJimenUIJTl as exportações e desen­ interna. corajam a nctividade industrial não competitiva. cuja Os altos níveis dos rendimentos (consequência da expansão bloqueia o aproveitamento das vantagens inílac;ào) atraem capitais especulativos. Enquanto comparativas. Neste caso. o tipo de cAmbio cumpre a dura o inve&timento. aumenrn o chamado atraso de mesma função que o abrandamento da protecção al­ câmbio Assim, o rendimento real toma-se ainda fandegária. • maior. já que os especuladores do exterior não só Por último. o tipo de câmbio sobrevalorizado pro­ move o crescimento do mercado financeiro. necessá­ 11 retiram os lucros. como voltam também a comprar as rio para dar saída ao excedente monetário (sobretudo 1• divisas que aplicaram a um preço menor. em relação ao mvcl geral. conseguindo um rendimento adicional. os rendimentos da exponação) que não pode ser inves­ O que ocorre na Argentina não é. portanto. o tido nas acúvidades internas bloqueadas. Por sua vez.

, resultado bom ou mau da inocente aplicação de uma o contributo dos capitais externos especulativos man­ 1 la teoria; é a consequência lógica da mudança da fonna tém as reservas altas e a moeda nacional valorizada. Constituem uma espécie de segurança complementar 1~ de acumulação. contra as dificuldades conjunturais que possam enfren­ _ Especulação financeira tar as exportações dos produtos com vantagem compa­ rativa. Nos dois primeiros anos de aplicação do pro­ .i grama. foi indiscutível o beneficio direcm e quase Produçlo de Vefouloa ;- exclusivo da acuv1dade agro-pecuária exportadora. · Naéionail :r que teve rápido crescimento. <-wnlãdla) u O resultado cntasLrófico do programa de Martí• A nez. de Hoz. reside na estagnação industrial. já que actualmente a ac1iv1dade manufactureira ainda não 1 ~· logrou superar os níveis de 1974. Isto. de nehuma maneira. constitui surpresa ~1.341.920 ; O blnqueio dn crescimento interno é uma conse­ e quência da aplicação da vantagem comparativa ba- seada no rendimento agrário Na acumulação com­ ,1 partilhada. e a expansão industrial que limita o cres­ l.08S.376 ;. cimento agrário. No modo de acumulação homogé­ e nea. baseada na vantagem comparativa. é a limitação n industrial que permue a expansão e a rentabilidade ,s agrária. ,r O programa de Manínez. de Hoz provocou também a um impetuoso crescimento do mercado financeiro. gerando um agud(l pmcesiio de concentração e centrn- 1 liwção do capitel. Neste penodo. apareceram os que

3 diziam que um ciclo estava encerrado e que. a partir a daquele momento. a ecónomia passava ao domínio 1911-1'15 1976-1980 0 pleno do capital financeiro. Na realidade, a e~pansão

N.º 36 /Agosto de 1981 cad«oos do terceiro mundo 25 Para onde ,ão os agrodolares? Op«,lrloo lmpregadot na 111c10om1 ( luante> à l't>n,·cntração 1a disscmoi. que da ,mpul­ sinna a cspc1:1ah2:1çao no mercado mundial. A tndu~- CMLóaNlltlt10•lDO 1ria dcH· con,"l.'nlr.tr-sc ,. dc1:1,ar d,• M'r c·den:.1\a para C\'Ílar que cn.• ,,tk.1a,ul1'1li à chamada, untagem ,'1,mpa­ ruth a Uma das com:._•qu~n,·1as do n.-duçã,, da acu .. ,­ dadc industm!I e ,, desemprego e ,si.o ,·ontríbui paro d;minuir ,,s l"U I<':. i.alamui. '-o plano d3 ccc>nomul agrana. a con,-cntraçâo nã,, e menos imJ>('nantc: o princ1p10 da , antagcm c<'mpllr3· tiva niio funci<'na para a fdkidadc da hum.1mdsde. nem p:ira <' rcgozi1,, dos agncuhorei. d,, pai:. <'ndc- .i i.ua aplicaçà«\ lt'm lugar. "ia medida em que e~t.:i pollliC'll N-l---+---l---+--1----+--~---1- cconomica ~e ;u.~ocia à ,·onnintrn(âo do cupual. ~u lO 71 7l 13 7' 7$ 76 77 71 79 80 obiel·tho e: con,cguir uma ti.p.:c1e de paelo enu-e os grande:. l"Apttais mund1a1s. no i.c10 de uma eron(lm1a internacional mais integrada e regida por uma dc:ter­ mmada di,·isão intem81:'1onal do trabalho. estrutura produtiva gerou a nposiçao generalizada di Num p.us ,-om ,antagtm, companuh·as agranas. burguesia industrial. iá que preiud1cou a maior pan, tais ,·apitais nã1, cstanam repre~ntados por too<':. os dos cmprecndimenws do S-pecua.rin:.. m~ pcl05 que têm o mo­ dcds1vo da subMituição de Manínez de Hoz e dl nopolin dns recursos naturais. o que penmtc a obten­ t·nn11.•s1açào a fundo de l>UO politil·a económica. ção do ~ndímento difonmc1al. Este recurro pe a terra No~ pnmciros ano:. de ge:.tão. Manínez dl' Ho, tC\, O:. :;c-Ui, donos são o:. la1ifundiam>~ A :.ua b~ de grande apoio do conjunto da burguesia c de um ampl ·ostentação ~, as grandes Cllten~s de terra e o S4.'l"l1vn. Por tSSO a vantagem comparativa lava a imagem da orckm futura: adequação à tendêncii não favorece da mesma maneira o sectoragra.no no seu dominan1c do cap11alísmo mundial. homogeneizaçá con1un10. m.is sim em prime1m lugar. a burguesia do modo de acumulação (actividadc agraria compeu­ latifund1aria. Como consequência dessa complexa~­ tiva com a indu&tna slec11va). possibilidade de conta: IJUlura economi,a. o mercado financeim é o lugar com elevadas reservas de dínheim mundial. um mer­ onde <'~ agmdólares (ou mais cxaclamemc o rendi­ cado financeiro tm expan~áo e a perspectiva de reduzu mento diferencial recebido no pais) se aniculam com a o peso social e político da classe operária. inversão financeira internadonal. Ambas são pane Para os seus ideólogos. a modernização do capi ta­ de~ nova aniculação enu-e os grandes capn.ais mun­ lismo argenuno em função das tendência mundiau diais. Se ou1.ms capitais podem reproduzir-se nesse dominantes condunria a um período de progresso. 1'i1 mertado. é poss1veJ que isso seja aleatório (como verdade. n capitalismo subdesenvolvido soburdinad, sucedeu com o capual financeiro em ascenção que pknamentc ao mercado mundial conduz à limitação eh entrou em falénciaJ. 1Sto e. persistirá enquanto não estrutura produtiva. Isto deve-se aos seguintes facto­ constituir obstáculo ao sistema de acumulação central. rcs: O crescimento interno bloqueado estimulou a especu­ 1) O comércio mundial capitalista perpetua a espe· lação e associou o capital financeiro internacional com cialização que. se for baseada em beni. primários o usufruto das vantagens comparativas baseadas no desencoraja as aclividades não cataJogadas na vanta­ rendimento e no agro como não podia deixar de ser. gem comparativa. O resultado. na Argentina. foi um verdadeiro estreitamento do mercado interno e a cs, Rebelião da burguesia tagnaçào da indústria. O rendimento não teve meios de transfenr-se para a indústria num mercado deprimido Em 1976. a grande burguesia industrial argenuna 2) Num pais cuja estrutura agrária é carac1erizad1 aceilou a aplicação da estratégia das vantagens compa­ pelo latifúndio. o cultivo extensivo e o arrendamento rativas para liquidar o processo populista e a influência o rendimento agrário concentra-se num nucleo pc· operária. Supunha-se que o processo de cnncentração queno de grandes proprietários. As outras actividades que ia S<'r deflagrado só prejudicaria as pequenas e com possibilidades de e.xpansao (o comércio de impor· médias empresas. fonafeccndo a capacidade geral de taçâ<'I e a actividade financeira) também nao tem inte· acumulação indumial. Porém. a unilaterização da resse cm estimular a indúi,tria. O bloqueio do mc.-rcadc

26 cadernos oo terceiro mundo int.·nu, pda a1,ltl·açno exal·crbada d11 pnnc1pi1, da~ dade aos seus nbjcc1ivos para resguardar-se da mesma vantagens n1mpu ra11vus t· as l'nnscqu(·nc,ru. da J)(llíttl'll anarquia capi1afüta e do perigo revolucionário. Já se anil inlludonariu 1m111.:tarbta e 1k importaç<"~·~ mad 11bscrva essa rcacçan. que começa a contar com uma çus dt·w1am us ugrm.lnlarc\ (vendos de t·xponação) Ol> base idi:-ológica de apoio Os cconomtStas de Cam­ rcnd,mcntm. finunccíros e ns lunos de ÍlllJ)(lrtaçâo bridgl' Cdo C'ambridgt Joumal of Economics) estão a parn 1, 1·1r..:uitt> finan,cim ou para 01, inwMimentO!, int·cntivar a reac1ivação da cconómia. um maior pro­ 1m1,oiliários. O!, unírns com alta n:ntabilidadc ll'l'Cionismo e o controlo das imponações dentrn do 31 A equipa que t·nndu11u a polittca ccon6mtca no que Bernard C'asscn denominou. cm artigo publicado pcnodn ..:ompn:cnd1dn entre Março de 1976 e Março cm Lc Monde. como uma estratégia de mudança no de I ll8 I nãu tcv,· inlt'l'l:l>Sc cm corrigir nu dar flexibili­ scnudo da esquerda A versão mais extrema desta dade mc.-smn qUl' de uma forma mínima. a apltcação orientação é a Estratégia Económica Alternativa do pnnc1pin das vantngcnJ> comparmivas porque e\lc elaborada pelo Partido Trabalhista britânico. era um verdadeiro expoente dos interesse:, originadni. Se o capitalismo mundial se prepara para uma etapa nn~ rt•mlim..-nto:, (tantn agrários comn financeiros e mais pro1cccionista. é de esperar-se na Argentina um comcrdabl. regresso ao modo de acumulação não homogéneo e A P<'lllka poMa cm pratica neste pcnodo foi a compartilhado embora que em condições muito mais tcntauva mab s.:ria iu cfci:tuada na A;gentina. dc.sdr instáveíl> que no passado. Se se afasta. a cu.no prazo. a os anos 30. para homogrnci1.ar o modo dt· acumulação possibltdadc da revolução social (porque esta não pode e adequá-!<, às temdc:nc1as da econômia mundial no originar-se no espontaneísmo e na falta de uma direc­ S<.'ntido da espcrialização. Por isso. pode ser também ção para a classe opcraária) a recuperação capítaliSta qualificada como uma tentativa de pmmover n rendi­ poderá encontrar vias diferentes de deseovolvimen10: mento da cxponação e da artividade agrária a ela 1) A imposição da estratégia das vantagens compa­ vinculada. rativas por meio de uma d11adura pior que a actual. uma derrota do governo Viola e a restauração da Um passo atrás? política de Maninez de Hoi. 2) A flutuação do tipo de câmbio e dcsvaJoriz.ações Fm Março de 1981 o governo do general Robcro periódicas. com maior protcccionismo. porém sem Vmia iniciou a murtha cm dir.:o:çáo a mudanças drásti­ mudança~ de grande alcance que impliquem um re­ o:as na pohtka económica. O prt•ço das divisas foi gresso. à acumulação não hnmogénea e compani­ ao:1ualizado o:om sut·essivas desvalorizações do peso. lhada. embora qui.> dentro de limites estreitos e ten­ As novas autoridades compromc1eram-sl.' também tando conservar o estimuln às vantagens comparati­ com a reparação dos erros t'nmt'tidos no pcriodo de vas. A esta situação pode chegar a cuno prazo a Manrncz de Hoz e com cs1imulos à cconc\mia. As política do general Viola. divergências no seio da nova equipa e a divisão da 3) Uma refonna profunda do capitalismo argen­ pasta da economia cm ministcríos sectoriais sugerem tino. Afinnar-se-ia a prepoderância das vantagens que existi.' umo tentativa de se obter consenso entre romparntivas. mas os seus frutos seriam divididos pela inter.:sses divergentes. Ne::.se sentido. o gnvemo do sociedade como um todo. Para isso. o Estado teria de general Viola e. em relação ao de V ideia. um regresso apmpnar•se de uma parte do rendimento agrário dife­ ao passado qur teoricamentr deveria culminar com rencial. que seria distinado a capitalizar a indústria umu maior abertura política. l'Om margens de pmte<:ção mais elevadas. e a promo­ Porem. o regrcs!>O é pouco meno!> que 1mposs1vel. ver uma certa distribuição das receitas para garantir o As mudanças introduzidas no pcnodo de Maninez de mercado interno. Neste caso. o exercido das vanta­ Hoz são. em grande medida. difíceis de mvener. gens compararh•as não obslnliria a expansão interna e Exemplos: a promoção das vantagens comparativas. a combinar-se-ia com um; nova eslfUrura pmteceionista redução das barrriras alfandegárias e o processo de e com a crescente intervenção do Estado. Se for concentração. Sem duvida. é possível esperar uma proposto um programa deste tipo à sociedade argeo- relativização da política anterior. O governo do g.:nc­ 1ina. poder-se-ia compará-lo. numa cena medida. ao ral Viola inscreve-se numa nova linha apresentada da esquerda trabalhista britânica. pelo capitalismo mundial dl' reacção ante as pohucas O futuro imediato da Argentina dependerá da di­ monetarias. que geraram mais de 2'i milhôe!> de dc­ mensão das relações sociais ante o ajuste que se seguiu Sl.'mprcgado, nos países t·apillllistas industrialilados ao programa de Manínez de Hoze ante os novos rumos A lôgica do capital ou a ditudura do mercado difi­ da ccon6m1a mundial nesta fase de crise. Dependerá. dlmenlc podem chegar até ao final. As reacções poh- de facto. dru, disputas intraburguesas e da lutada classe 1icas e sociais obrigam o copilalismo a dar ílexibili- npcrnria argentina. O

N.º 36 /Agosto de 1981 c:ac1emoe terceiro mundo 27 Políticos no governo militares nos quartéis

Esteban Righ,, ex-ministro do Interior durante o Governo de Hector Cámpora, analisa a actuaçào polltica e económica do general Vide/a. fala do peronismo e defende o retomo à democracia

Roberto Bardini

E a Argcnuna 11nh:1 pmblemlb 1\3 época de taml:11.·m (ll>r c.iir. mth. a :.c:r u:.s1m. l·a1ria a deic:nder as babel Pen,n. 3 l.':\pcriência mil11ar intciad:i suas bande1r.i.~ l. não pur ab1mdoná-lus. S por Y1dela. em 197ó. nã-0 :.oluciom>u nenhum No entanto. nc:nhuma das c:ntu:u que J>l>Ssam ser deles. antes r,s agravc,u •• A afinnaçio e de Esteban feitas à gestão de Isabel Pcrón legitima o golpe de Righi ad~ogndo argentm1) exilado oo Me:m:o. C't­ Estado. E~ a Argentina linha problc:mas em 1976. a ·ilsSCS:,<\r do 1.''.\•pre~1dente Hcnor Camp,,ra quillldO e"tperio:nda milititar antes 1b agravou. não :.oluc10- e:.te era dekgado pc:~iàl do general Juan Dormngo nando nenhum dele~. Pcn,n. em 1911, mtnbtnl do Interior durante os dob pnmetro-, me'>Cs do go, emo popular instaurado na Videla, um balanço negativo Argentina em :?5 de Maio de 1973, A 13 de Julh1, de 1973. Câmpora renunciou à Em 29 de Março do correntl' ano. o genual presidência como resuhado da ofensiva da direita do Roberto Viola a.rs11mi11 a presidência da Argemina. Movuncnto Pcnmista. Righi adoptou atilUde sc:me­ iniciando uma -segunda etapa da governo militar lhante e regre~u a sua cátedra de Direito Penal na Qual é. na suo opinião. o balanço da primeira Universidade de Buenos Aires. Em Setembro de l'IO()Q na srida q1111ndo do golpe de Esiado dt' Março 197~. a AÍiança Amicomunh1a Argentina (triplice A) de 1976? já harn1 feito grande numero de \1limas e o ex­ A meu ver. o balanço global é negauvo A .funcionário resolveu refugiar-se na Embaixada do própria realidade demonstra que. de facto. assim é e, Méxioo. pais para onde ,,ajou po:.terionnente. inclusive. foi reconhecido por alguns pro1agonis1m Na generosa terra azteca. Righi trabalha como dcsssa expeóéncia. O governo manteve-se na solidão professor uni\'ersitário. Foi presidente do Comité Ar­ e no isolamento Somente sectores muito minoritáriru_ gentino de Solidariedade (CAS) e. com as devidas e com limitada representatividade adtrirnm à expe­ límitaçõe:.. dedica-se a acti\'1dades pohticBJ> noexfüo. riência de Março de 1976. Douror Righi porque radio caiu Isabel Perón em Foi no plano económico que os militares dcsen· Março de 1976? volveram uma política mais agressiva Aproveitaram O pretexto do golpe - a exi~tência de um vazio a paralisia políuca e a absoluta ausência de participa­ de poder dentm do governo - ficou sem validade a ção para levar por diante um plano económico inapli· partir do conhecimento da gestão da Junta Militar. cável dentro de um esquema democrático. Se acaso as Tomou-se claro. uma vez mais. que os milllares forças sociais tivessem condições de se m&nifo!.lar. tomard1Tl o poder porqu~ essa era a sua vocação. lsabe 1 esse plano niio poderi& ter sido concreti1.ado. Só foi Peron apenas lhes tomou propícia a ocasião: de forma viável acompanhado de uma brutal repressão. M!m nenhuma. porém. é correcta a tese oficial segundo a precedente:.. qual eles (os militares) 0 não tiveram outro remédio Nesse contexto. o plano económico foi 1mplc· senão tomar a :.eu cargo a gestão pública-. mcntado sem atender às rcclamaçflé!s E se: no prind­ li.abel abandonou aquilo que deveria ter l,ido a pio contou com algum apoio cm ceno~ M.>ctores eco­ sua política. A ~ua queda - no mais absoluto isola­ nómico~. depo1~ perdeu o. mento sem ninguém que a defendesse - foi um dos Qual foi a prinl'ipal dirl'ctri:. do plano economiro preços que teve de pagar. Provavelmente acabaria dlJ ministro Alfredo Marrínn. de Hoz. ?

28 ~ terceiro mundo !x,dl' n inicio n modelo cconóm1co da Junta que o peronismo apresentou à Com1~,;ão lnterameri­ ilítar 1ew um claro 11n1agonh1u nos i.ec111rcs nl)l!rá• cana de Direitos Humanos (CIDH) da OEA (Organi­ in, que foram ns dm.'c1arncn1c prc1udicado, pela zaçan de falados Americanos) quando esta v1s1tou a cstüo de Mnnine, de l ln,. Pon!m. progre,\lvamcnlc. Argentina. p11,s11ram paro a opos1ç11n outro\ sccton:s scx:1ai~ afcl'· hre documen10 situa o peronismo como um adn\ por uma politicu que. em definitivo. <,ó favorecia movimenlo claramente contrário aos militares A par­ ,, que nao trabalhavam. Ou '>Cfa· todas a~ pes,oa, tir da, . a ~ua direcção provi!i6ria - assumida por 1gada~ il produçao. quai<; for­ Dcolmdo Binel aparece como cabeça do pólo hl\, eram prt·1udicndn,. beneficiando 0l)l!nus os se<·· oposiror. Na medida em que o peronismo conrinua a ore, especulativo, l\to é os financeiros TodaY1a. ..er o movimento popular mais imponante do país e uriosamentc. a eitperiênc,a termina com uma tre que manifestações como e~~e documento interpretam rnenda crise financeira. Isto é. o unico sector que correc1amen1e as expectativas do povo. vai-se re­ ucrava com n modelo entra em crl'e com o fal~ncu1 de criando um maior vigor dentro do movimento 1mpnnanie, bancos e empresas financeiras. Mas n movimemo peronista, tal como owros O aumrnnrismo rcprcs~ivo que imperava no po­ partido.f, tSta proscrilo ... lítico e soual. foi também u1ili1ado no plano econó• Há que con~idcrar do1\ aspec1os: primeiro. se o m1cn . Não ~e consuhava ninguém; era a imposiçüo de movimento peroni~ta pode ser um3 alternativa de um modelo elaborado por um grupo de • iluminados poder no futuro; ~gundo sob que condições que manipulova n Ministério da Economia e que A pnmeira quesrão ec,rá clara: o peronismo é uma con1ava com a • Juz verde do go,.erno como nenhuma opçao de poder na Argentina condicionada à vigência outra equipa económica con!>Cguiu nos ultimo· tempo, da democracia e do Estado de direiro. Na medida em Quais eJtâo a ur os deitos. 11a Argelllína. da que haia panicipação popular. ele constitui uma força s11bida de Ronald Reagan ao gMtmo dos Estados • Unidos? A vitória de Reagan teve, desde o principio. um • efeito psicológico enrre os m1lillll'Cs argentinos A Junta quis aparentar que se encontra\a a,'>OCiada ao 1riunfo republicano de,dc o penodo da campanhn • cleiloral l\"1 fni con,cquência da, diticuldadcs cria­ da, pela pc,htica de din:110, humano, do presidcntc.­ Cnrtcr. A \ltória de Rca~an foi vivida• pelos milua­ rc, ,1tgcn1in11, como um triunfo prtlprio As pres,pc, '°frida~ por Vidcla durante a admin1s1mção Caner. pro\cnien1c, sobretudcl do Dcpanamenro de ~,ado. scrúo ngor., poupada, ao genernl Viola. Isso foi ~\t'· gurado pclu nova administraçuc, nnne-amcricana,

Ho q110,e 35 ann, que o pcroni!.mo e uma da.1 for\as pohtit as mm.11mportantrs da Argtntmo e tam­ bém 1m1a elas mais prmcritm. Ao mt·smo me.mw tempo, trata-se de um nuwimentn que agl111i11a srcm­ rc•s soâais dn·ersos. cujos illlt rt.ues - rm ali:1111s r cas1Js - .1an rto: ~ bc,n.nça qut' ainda t uma o~o dt podtr

N º 36 / Agosto de 1981 CaóemOS terceiro mundo 29 que necessariameme ,ai pesar na IPmada de decisões Paro os dcmu1~ panido:. pohtkus umu dus cM01 dcn1.m do pais. 1cgi::i~ poss1veii, l' um prnnar-se Rnd1cal do Povo. liderado por Ricardo Bnlbln. O num inurwcu1or w1/id11 freme at>s militares'? ro.J1cafüm11 tem de nptnr entre oferecer-se l"(imo snida Paro a ditaduras sempre houve pcn,nistas ao, milil,m:s - repetindo n~~im cxpcri(tnc1as ameno- ' bons e maus . Os bons , eram ,,~ que esta, am res. quando es..-c panido teve um ministm do lntcnor dispostos a chegar a um ;K'ordo com o governo e os nn gv,cmo das Forças Annada~ ou. pdo contrário. maus aqueles que ndoptavam uma atitude de m­ extrair as lições decorrentes desse apoil'C participar de · transig1mte oposição. Face a isto. a estratt:gia passa um pmcc. so de confluência. ' wnbêm pela unidade: um processo unil:i.rio impede e Para que isso se dê. é necessário uma aumcriuca 1 neutraliza as pc,ss1bilidades de lngmentação que se dos radicail.. f.lei. têm de compreender que o seu lugar 1 podem originar a partir de uma manClbra oficial de~ti­ é aumo do povo e não contra ele. Lamentavelmente. a 1 nada n tal fim . actuação de Ricardo Balbín não leva a que a UCRP 1 Durante a época de \'ideia. todo o pcroni~mo era fique n favor das causas populares 1 • mau• . Hoje ha alguns sintomll!> diforentes. Nisto influiu a actuação de alguns peroms~ • bons - que se identificaram com o governo desacatando a vocação das m3,;sas peronistas em ,;e manter na opc,si­ Viola e o contlnuísmo ção. E provável que o novo gmemo de Viola tente o O r,lana do general Vinln oferea unicamente um recrutamento de certos pemnistas para um pmiecto de es1attllo aos partidos po/tticos e. evr11111afmente , um contmu1smo. Porem. se o movimento se: man11ver ferrenhamente unido atraves dos seus principais gru­ pos internos e. se além do mais. houver garantia!> que as dccisÕCs serão tomada~ democraticamente •.. pc,­ derá haver eventualmente. peron1s1as que venham a panicipar num pmces50 de convergência com a dita­ dura. m~ não passarão de uma excepção in5ignifi­ cante. Caso continue um esquema de governo autoritá­ rio no plano político. liberal no econdmico. sem participação pc,pular e hóstil aos sindicatos. é muito difícil que um pemnista - ainda que dos -bom, • - pc,ssa apoiar o regime.

A criação de uma Frente Nacional

Como on1evê o desenvofv1men1a doJ. demais par­ tidos poluicos. especialmente a Umão Cívica Radical do Povo (UCRPJ. a segwulo força importante no r,aís?

30 cad8mos terceiro mundo 1 rm>resso de re<>rganiu,ção interna dos sindicat.os. E políticos e outras forças. o que se passaria, na sua 111dn isto nwn período de trés anos. Como altematt'va, opinião, com o aparelho repressivo, com a vocação r bastame raquitit'a ... dos militares pew poder e com a mentalidade do A pergunta que fazem muitos sectores políticos é exerciro? se o novo governo será diferente do anterior ou se é o Na Argentina. houve um sério debate nos secto­ 1 mesmo com uma mudança de figuras . Quem melhor , pode responder a esta questão são os principais prota­ res populares sobre a forma de acesso ao poder. No r gonistas. Eles asseguraram que o governo de Viola é entanto. acredito que esse tema será resolvido: as P um governo de continuidade. E não há dúvidas: dizem experiências de violência ficaram superadas pela rea­ r a verdade. lidade. A única forma que os sectores populares têm Porém. o pode r desgasta. E na Argentina está de chegar ao poder na Argentina é a democracia. A demonstrado que essa é uma dificuldade para quem história argentina demonstra que. quando prevalecem . governa à margem do povo. os esquemas democráticos. o povo governa; se preva­ A Argentina é. além disso. um -pais difícil de lecem os esquemru; dQ violências. são os sectores ~governar. Viola representa a continuidade. mas já não minoritários a governar. pode governar o país como na época de Videla. É Naturalmente. a via democrática tem os seus necessário abrir componas. permitir formas de pani­ limites. como a manutenção do aparelho repressivo cipação. que. normalmente. não está cm consonância com os ,: Os militantes fizeram afirmações - mais ou interesses populares. Esta preocupação vivemo-la du­ meno~ retórica~ mas ba\tante repetidas nos ultimo~ 1 rante o governo de Cámpora. Quando reformulámos a anos - que se verão obrigados a reformular. Dizem 1 política de segurança interna. preocupámo-nos em que.> o interesse nacional~ requer determinada polí• dei,car claro que a forma de se garantir uma ordem ~ tica. Mas até onde o interesse nacional é superior a democrática é diferente daquela que garante uma todos os outros que coexistem na sociedade argentina? 1 ordem ditatorial. 1 Em toda a sociedade há diversos interesses: o dos ptrabalhadores. dos empresários. dos estudantes. dos Que possibilidade tem um governo democrático militares. Não creio que haja um interesse nacional­ de implementar uma política de segurança também que sintetize todos. democrática. quando ela tem de ser instrumentalizada através de gente acostumada a esquemas repressivos? .,Confiar na democracia" Esse é um dos problemas mais sérios. Não há No caso de se abrir um processo democráliro outro recurso senão confiar na democracia e não 1 gradual que permitisse a portiriput;âo dos partidos recorrer à ruptura desse processo. D Emergência nacional O lfder da UCR, Raúl Alfonsln, considera a actual crise como a mais profunda que o pais já conheceu e considera fundamental, para a superar, um acordo entre peronistas e radicais Luls Adolfo Galván pmbkma do pais é funda­ da União Cívica Radical (UC'R). dadciros privilegiados. do stat.us­ mentalmt'nte polltico. A Raúl Alfonsin ·qu(I - frisou Afonsín. O Argentina é dominada por Fsta oligarquia esta despresti­ O epicentro da problemática é uma oligarquia que ili não e mais de giada na csterilidade da especulação p'1htico. já que este plano e a impo­ base militar mas sim financeira. e l'. assim. nã'.'

N.º 36 / Agosto de 1981 elidamos terceiro mundo 31 na Argentina de hoje. Eis a.., suas chega BJX'S 50 unos de decadência da nnvo d1v1sân in tcmncionul do principais opiniões: nadonal. trabalho e dtt tC'('lria das vnnta~em Relat;;f>t!s ,·om o perc>nismo: O de­ E cstt o resumo. B história de comparatna,. deu-sc importúnciu a sencontro das mai(lrias (peronisuis e tcxios <'S nossos males de md1, ~­ intcrcSSl'S e:1.tranndona1s. O capital radicais) tomou poss1vel a imposi­ culc>. O produto. e este de);a~tre. O cstrange1n1 aplaudiu esta política. ção de uma minoria X6s temos de­ p.:rn, ,;\'t.~ a sua cri~e mo1s pmfunda. que pmporci11navn 11m11 abertura ir­ fendidt' sempre o:. valore~ biskos uma verdadeira emer~nc-ia nacio­ restrita sem c:1.igir uma dl'<'isâo se­ da democracia O fac-to do pero­ nal. Em cinco anos a Argentina ml·lht1nte no:. p:usc& que mamem nismo lt."r tido algun ingredientes creS('eu un~ s.:te porelc'ntn, enquanto permonentementl' as suas porta:. fo. que - pelo menos na sua pra.,1s que o rest(, da Americu Latina crc:,• l'hodas ao~ nossos produtos. como a nâ<' estavam de a<:flrdo Cflm as nc­ ccu uns 30· Em l Q'7Q. ~mente Comunidade Econ «:hcgavam a ganhar Mas ~eria ab:.urdo analisar o pero­ tam°" uma rece-.sãó u-emtnda. o a4ui 100~ em divisa.~ fones com a ni,mo a partir de--te uniro ponto de Brasil 1mplon1ou em ,;eu temtMio. sua especulação. ,·1s1.a. porque ao mesmo tempo. ele nn~ llltimos cmct> anos. 11 mesma possibilitou um grande avan~ :,C'\­ quanudade de industrias que a Ar­ Dl!si1a/()ritaçâo: Paro sair da crise cial. Hou,e. então. gente que ~ gentina vem implantando de 1900 deve-se. antes de mai~ nada. dar apnlximou de nó:., mas não para até hóJe. uma volta de 180 grau~ na filosofia l!llar cont.ra o mal que o peronismo Alurnatfras: A busca de uma so­ que permite. entre outras t·o1sas. que podma ter. e sim contra o que ele lução requer uma atitude pragma­ o Estado não regule a taxa de _1ums. unzia de bom. Vnemos assim e sa uca. que implica uma imcrwnção instrumento fundamental da nossa etapa de desencontros. do E~tado na economia. muito dife­ economia. Qualquer um especula As Forras A.m,aJus· Desde 1930 rente da actual. com o propósito com moeda estrangeira. Na :.emana que ela~ e tão acostumad~ a fundamental de c-oru,eguir um au­ anterior à última desvalorização, sentir-se dável para garantir cas mas pnnc1palmente porque é dores ganharam 180 milhõel> nessa aquilo que o, mihlare), chllJJ\am o indispensável para a S<)brevivêncio moeda. (..)uondo ocontccru a de~va. estilo d.:- vida ocidental e cn,tão . de muita.~ empresas. O fortaleci­ lori1~-ição O!> produtnres já 1inham mento do mercado \Ó !>C.'ra aungido vendido a maior parte da sua co­ A ,·iolincia pol11ica. E outro dos na base de um aum~nto do poder lheita ao!> exportadorc:.. que assim. factores que conduziram à octual si­ aqu1sít1vo do povo. ganharam mais de mil milhões dl' tuação. iá 4ue deu a olig3I4u1a e à Abl!nura poluira: As nossru. For­ dcílares. Em qualquer ouiro país isto reacção em geral uma des.: ulpa para significaria queda do governo. çus Armadas têm dois pm1cctos. a chegar a um ponto cinde nunca ti­ Analisados wperficiaJmcnte pode­ FasciJmn: A nn:.Ml sociedade é nham podido ir antenonnente. anónima. Aqui havia muito medo. -,;c dizerque'cxistem dois grupos· os A f)o/itica económica: O plano Um medo leguimo. htamns saindo duros e ~ moderados. Os primeiros económico {de Manínez de Hoz) não querem nenhuma abertura e dt• um banho de sangue. A grave não poderia ~r aplicado ~b um chegam ate ao extremismo de di­ situaç-.io de cml'rgência da nossa regime- democrá1ico. Não teria reila. Os moderados buscam uma SóCiedadc preocupa-me muito ma,~ condiçc'le~ de sustentação em ne­ espécie de pseudodemcx-racia. onde mais que a emergência ccnnómica. nhum C' ongresso sem ser velado. Se a oligarquia não corra riscos. Ares­ A nossa sociedade está cansada os trabalhadores gozassem dos direi­ posta não pode ser outra. a formação de viver subjugado. Não C!>tamn~ Los fundamentais que lhes outorga a de um pólo de poder civil que per· longe - queira Deus que eu c-stc1a Constituição. haveria uma pressão mita impôr condições. Trata-se de enganado - de entrar num m(). legnima que teria impedido a con­ conseguir um tipo qualquer de solu­ mcnto sncial propicio an apareci­ cretização dessa política econó• ção através de uma adequada corre­ mento do fa,;cismo com todas a~ mica. sua\ caracteristicas socia1!> políti• lação de forças e não de ser o rebo­ e Rest_auração oligárquica· A res­ cas. que de nenhum desses dois projec­ f-'stamos hipotecando nestes tauração da oligarquia que vivemos tos. anos o futuro dos nossos filhos. Hd. hoje é muito mais grave que a de no entanto. a poss1b1lidadc concrcia 1930. A primeira veio depois de 50 Interesses estrangeiros. Aqui de que vivam 20 anos sob um regime anos de ascenso do país e a dl.' hoje deve-se levar em conta que a1raves fascista. e

32 cadernoe do terceiro mundo Educação: 1 • 'uma ameaça ao regime

Pera o Governo, a educação é um problema de 1 segurança nacional; os analfabetos aumentam, os estudantes diminuem, menos livros são , editados e até as crianças são submetidas à disciplina militar nas escolas

. Dora Guagnini

! . para a ampla maioria das crianças que não pode UMA província do nordeste o.rgen11no. os pro- .N es1udar em colégios pagos. a brusca queda das matrí• . fossorcs revelaram que 1inham recebido or- culas universitárias e o crescente ritmo de evasão ; dens para ~omecer um ensino mi~imo para escolar. ameaçam transfonnar a Argentina num país fazer com que os Jovens começassem mais cedo a de analfabetos e semi-analfabetos. inteiramente inca­ ' rabalhar no campo e não aspirassem a melhores 1 pazes de satisfazer às exigências da vida no final do destinos na cidade Esta denúncia do ubjec1ivo que orienta a poliuca Século XX- Defaclo, em 1979. onúmemdc analfabetos do país educacional na Argentina de ho.ic foi publicada no chegou, segundo estalistica.& oficiais. a 2,4 mi­ suplemento de tuhura d

N.º 36 /Agosto de 1981 cademos terceiro mundo 33 que têm sofrido graves limitações. O governo militar \'ista da Junta Militar do Govemo e não terão acess1, à, tenta controlar e doulrioar as crianças e os Jovens séria.~ cnuco~ foirn~ pt:ln Orgnr11mção dos Es1ad~ através das estruturas escolares. Alguns exemplC\s sã~, Amcrknnos. perfeitamente claros: a organiução de tunnas e con­ .:ursos sobre temas relacionados com o conceito de Cabelo. corte militar autoridade . com a • ideia das Forças Armadas• . com a noção de Estado . etc. Os trabalhos dos alunos As mee Que intenção está por detnb desses concur-;os? permam.•nt1:mente. para o, alunos d dr. Uerena Presentemente. essas práticas foram estendidas l Amadeo. cnou uma Comi~o Orientadora do~ Meio~ escola primária onde. em cenos casos. dependendo da Educacion111s (resolução de 15 de Julho de 19ft0l. o\ ng1dez do corpo directivo. vai-Si! ao ponto de deter­ i;ua principal função é propor tutos e mareriajs didác- minar para cada turma um lugar preciso no pátio de 1icos que serão de USr ser imediatamente alenado sobre a resposta à Comissão dos Direitos Humanos da Recordemos. também. as palavras do ex-mm1~tro OEA-. da Cultura e Educação. Ricard(I Pedro Brucra . que Sobre esse mesmo assunto. convém lembrar que a declarou abertamente: O problema educacional sig­ informação redigida pela Comissão da OEA foi proi­ nifica. panicularmente para a Argentina. um caso bida na Argentina. Os Jovens lerão somente o ponio de mais da Segurança Nacional . O

34 cedemos terceiro mundo Os chefes ·da subversão A exproprleçeo da burguesia, sonho de multas vanguardas polltices revolucionárias, é levada à prática pelos mais Insuspeitos "'subversivos». A trágica herança do general Viola e o fantasma do fascismo com apoio de massas

Juan Sauna

S gencnus l lilrguindcguy. Nioolaídcs e outros ilu~Lrcs puladinos da civ1lilllçào ocidental O cri!itú t~m domado no deserto por algo que somente agoni tarde e arrependidos -dc~obrimos quanto era verdadeiro. a omnipresença da subversão. as mil caras com que costuma disfarçar-se para ocultar 1 os seus pcrfido!> propósitos e a diabólica habilidade · com que c,,~ra. Somente agora descobrimos qu,:,. enquanto criava manobra~ de divcrSão nas fábricas. nas universidades, na cuhum e cm outras óreas. a 11ubvcl'liâo rcali,ava na Argentina (mais rapidamente que Lenine e Mao. que tiveram que utili1.ar métodos um pouco antiquado~ ... ) a cxpropriaçilo da burgue­ sia!!! Mnníne1. d\.' Hm (apclidad0Jn1•) e os seus ;.eguido­ rcs. ohgun:a, tccnocratí,ado~ também disfarçados. 1untnmcn1c com wmpanheiros de percurso inílhradl1s nas Forças Armadas - começando pdo gcncrnl Vi­ dela - con!>eguiram o grande milagre: quase todas as empresas urbanas devem até ao último parafuso e re~ma de papel a bancos e in~tituiçõcs financeiras. btes por sua vc1. encontram-sl" tccnica e comercial­ Martinez. dt Roz. mente falidos. O dinhcin, que devem ao Estado (e a cada um de nós. incautos depo~itantc~) tcm somente Para completar o seu êxito. esses subversivos deci­ como ba.~ de garantia

N.º 36 /Agosto de 1981 c:ec1tmos do terceiro mundo 35 que pat!m,, ç,1ao (Umphrl'' dn ,ubvl•r-.i11, qul'. romo ,e ,atx-. e apatrt todos fahdc,s, i so não p..'ldc "c:r feito a nenhuma la:>.a e 1ksna, 1onJh1.1nh: - 1mob1hznm um centavo nu de .iuro, Porc~a raza1,. muno, ,em n.-clamando. com pats. -.cu (lU nan. too louc11 n•mn \',te. decrescc:ote pud< r que :, unica solução e a de que o falado assuma t,S3!> dl\idas, Por llUlras palaHas. 1 amti.:m ganharam e muito - o, \·11mcre1an1e, um caru,al 1·u,,r.,.., indu,1nn1, que- 'l' olenarnm 11 1empt1 e puwram-se Mas, para 1 · o o E,tado enfrenta o me,mo pr,>­ nnpimar todo <' h:>.Cl do mundo (rap11ali,ta. claro blema d" capital · ~"Caro ninguém '\era 1 1, k,uc:o M.1s agora. \11m a 1kwnlon10\·a,1 do peso e l·cn que ~a comprar utulo, da ,ua dl\ ida e. mc..m1> que re-tn~, à 1mp!~naí."áo. t''-'ª fc,ta tam~m acab,1 pu,e:i-e à ~enda 1" ..-di11.slh do, m1m,kno-. rublico,. Algun, enc11ntmm,,e l'Olll mwn,;a, rc~·r\'as Ja, pre nlio en ontruria et•mpradore . E ainda que 05 enl"i n­ c mdt\Cl, mutaliJade~ que tmp!lftarum, omn,s fornm tr:1,se. nao ,çriam .. ufk aentes nem de l,mgc p.lU'I ma" prudcnll''• m~ llldo, t~m ttue inventar outn pagar a da,ida Resta entoo a cm1"-..ão de p.3pcl moeda. maneara d.- ganhar dtnhe1m. po1, n:ai.:thar fnbm·u, ~ta,. a gagante-.ca ma ,a de dmhc1m necc-.-.âria não C'l1mo \ m1t,,. ,ena uma pe, 1ma ideia 1cm apmonem na(fahda)c,1ruturn produtha. nem em Con,equ\ n\ ta ,,.. que ganharam as quantia ,idclllll d1\'i"3!. onerada, por uma balança de P3S11mento ne­ que re,ultnm de qualquer e,umativa da n:d1stnbui~·.11 g:111, a e por uma fcn(lmenal danda c,tema l , , Jcu­ da ren:110 pmJumia no J)(mitlo e da ocumul3Çfio d lo, de,,a ma"a de dmhcaro ,11.nam. e, identemcnte. da, 1d.1 externa. nao pockm. n.10 querem e nem podem ma, tudo indica que a litkamentc a roxas ainda maiores que as do e Esll!do que dc1crm1nam a actual '1luaçao da Argl'O· etén.-o peso e balbuciam asneira, ,obre il partk1pa­ tina Uma boa pane do cap11al tugiu e a burguesia cm çâo• e o.,, grande~ destmos nac1ona1, geral foi engolida pela ,ua rnngcncre financeira. fata. Ao me!>J1lo tempo. a queda dos aljrios e o desem­ por ,ua ,cz. deve tudo a um F.,1ado que não 1cm prego apmfundam-'>C numa d1nâm1ca que wmcnlc mais pree1,amentc. que não e . nem pode ser - o pode ~r produto do gémo 5Ub..,er-1vo uma maltratada capital com que podena resgatar e~sa ma pmda da balança de pagamento,, uma 1men!>3 d1V1dacx1ema ­ hist6ria. c,1a contradic-ttn in urm1n,1 que é uma bur­ não uulu..ada cm 10ves11rncnto,. m:c. somente no rc,. guc 1a sem cnpnal. rim financeiro-. taxas de Juro, fant.bllCas que aca­ Outra consequência nan menos ub,cmva é a un,. bam por devorar todo O> devedorc,. um msondável ,crsal raiva dos argenuno~. O que foi tcno cm termos deficit fiscal e. como reubcram entrar e tammadns por tantos ann, de demagogia Também nao sair e voltar a entrar e a sair do fantac;11co fcsum puderam compreendê-lo os empresários que argumcn- financeiro deMes últimos anos e - :se sobreviverem a 1avam. cm voz baixa. que Joe esaava equivocado. sua própria faléncia actual - os gr.sndes grupos que Foram dcvidamencc condenado~ pelas sua~ perversa.\ compraram a preço vil o que lhes foram deixando o, mn1ivaçocs. economicamente prcs,ionada!> com esse burguci.cs que tiveram o escasso talento de se declara­ cslllo oligárquico que. ~~ vete~. é lao pouco ~ub1il. e re"' falidos antes de tempo. Nenhum deles - 1alve1 quando ncccssario. atcrwri,ados pcssoalmt·ntc.

36 cnc»rnot terceiro mundo «01 eomerclantea • lnduatrlat, puNnlffl•N 1 Importar todo o llllo cio mundo, mu com• pno_,deavalortuç6o__ cio acabou•

O Sumo Pontífice anificiais • e o~ cmpresáru•s inefü1cntes". E cMes tiveram a ~>ne de desaparecer somente do mercado. Como lnunfaram. lao rapida e plenamente. os sub Alguns queixar.un-sc: mas. comoJoe gu:.tava de repe­ vcr.,ivos que chegaram ao governo com o golpe de tir. iMo era a melhor demonstração. por um lado. de Março de 1976? Em pnme1ro lugar. porque os que ~·0010 eram artificiais e ineficientes e. por outro. da unham algo a dizer contra. foram • per..uadidos • a não 1mparc1al1dadc com que esta"ª a distnbuir entre todos faze-lo . F.m segundo. porque quase toda a burguesia c os CU\hl~ do pmgrc,so. boa pane díl pequena burguc\1a foram ns perfeitos O notável é que, ganhando ou perdendo dinheiro. id1ot~ útet\ a Jo~. Atcrronz.aJos com a mob11izaçao mda a burguesia. praticamente. -entrou no jogo•. popular c operária p~-1976. gritando o ,cu a~dcci­ Cada vez que se mostrava que um grupo tinha implica­ « mcnto e batendo no peito por terem especulado dcma­ ções estatistas, protcccionistas ou ineficientes. esses iadamente. arrojaram-~ aos pés dos seus salvadores burgueses retrocediam aterrorizados. doessem ou não milttare!> e CÍ\·b. os seu:. interesses ,mediatos. Joe tinha que ter razão Os primc1ms sabiam como impor a ferro e fogo a quando pontifica\& que o único caminho possível era o •ordem• pela qual c,-.cs trémulo:. burgueses e peque­ seu. num tom que excluía aceitar receber qualquer ' OO\ burguc~s suspiravam. O c1vi~. com Joe como mfonnação di 1o1,nZU11e. Sumo Ponuficc. sabiam para onde: unham que le\ar o Assim. perdendo ou ganhando. esse:. bons burgue­ pai\ de uma economia de especulação para uma ~es. ansiosos depois de tantos sustos por um • Grande economia de produçao. E o, idiotas útei, acreditaram Pai• que o~ protegesse para sempre da militância neles e acreditaram também que o caminho para tao popular e que lhes dissesse como iria ser o seu pais do ~ louvável meto pa,~a\ a por uma • sinceridade de pre­ qual eram a classe dominante. consentiram cada passo ços - à ucepçâo dos ,alario,. que nunca foi tão no caminho para o qual eJ'3ll1 levados. Ate meados de 111 menttroso -. pela c:l11..iênc1a. pela abcnura da eco­ 1

N.º 36 /Agosto de í981 caclemOS terceiro mundo 37 Viola (à direita) &brf u • Vldele <• uquwda) o c:.mlnho para a pl"HlcMncla em 1976. Agora. em 1981 . Ma-ra (no melo) ~-QOfflO attamatlVa a amboa, com urn dlacurao aclrrlldamente n.-:lonallu o gnmdc chefe d.l -.ubvcr.-io tomou a ,ua m3J, gcnr:ll Se ulgo íaltu, a. pouco unte, de deixar o G<>, cmo. o ~du.fa. a que romana troo, o, eu, c,forço, para .:ada ,cz mais e,pc~traas Vtdcloc M11rtinez. num gc~to liquidnr a burgue,is: implantou La rabliru (tabela d e,'OC'lldor de rtl). in .. 1n1mento com o seu poder: com uma me~pcrada desvalonzução hqui­ qual produziu uma ~hda. enonne e cres.cc-nte -.obre,11- dlll'Bm a 1ablita, comprovaram a todos a fal~ncia total lorizaçào Jo peso. Num e,-quema ,u,tentado na reno­ - interna e no ~ector e:i1temo - que haviam conse­ va-van de crédito~ externo\ a cuno prazo. a rabl,ru guido. e deixaram o pobre Sataut mergulhado numa prefüa,-a a t11.u de des,'11.lon~ do dólar muno orgia de des, alonzaçõcs A burguesia fora ex pro abaixo de qualquer e,timau,-. razoá,el da tau de priada . a economia estava arrasada; o~ burgueses e aumento do~ demais preços mtemos. de modo que militares que O!> acompanharam perguntarão a s1 me~· aqueles crédno tomararn-)C mwto renlá,eas. mos. até a<> fim dos seus dias. que diabo aconteceu. Resultado; as exportaçõe) bai,arum ,ertaca.lmcnte e O pais tem que pagar a imensa conu1 de um ÍC!>Um as unportações cresceram como cogumelo E maga­ financeiro pelo qual nem uma simplei, propina foi dos entre os dob braços da pinça. a industria e a deixada e o povo masuga uma da~ ruivas mab com pie· balança de pagament~ - Já cm mã situação - ta e JUs11ficadas da hi~tóna. uveram quedas vertiginosas nas suas colunas de dé­ Completando assim cs!>C gemai plano ~ubvcr..1vo. bito. Para tapar o cada dia maior buraco no sector num OUU'() rito de que parecem macabramente gostar. externo. mais do que nunca foram necessárias as Joe vaaJOU para a G~cia e Videla sadoma oquista renovaçõ.-. dos bawinte especulativos e volátei.1o em­ impenitente. parece que esiá a escrever al> suas memó• prcsumos externos a cuno prazo. rias. Para auair es~s clidito.1o, t claro. a taJta de Juros Mas o -processo• ~egue lriunfalmente a sua mar• interna tem que ser sagnificauvamcnte supenor à wa cha. e agora temo:. de nos ocupar dos seus herdeiros. e~perada de desvaloriz.ação interna da divisa com a qual ~ feno o empréstimo. pois de outra forma es~ O cavaleiro da trbte figura dinhctro não vem. La rablira tinha que ser mantida a qualquer preço. E foi-<> geando c1S incnveis taXaS de Juros que acabaram Aquém de todas as imen\as tragédias que ubja,.cm por llml!>Wf qi..ase toda a burguesia comercial e uma a tudo isso. emerge a triste figura de um personagem boa pane da agrária para o desastre industrial. cujo rosto parece ter r,ido talhado par.i es~e papel. Mas faltava ainda completar a obra-prima. No ini­ Viola. mab inteligente e mais hâbil do que o ,eu amigo cio. e!>sas supenaxas de juros mflacaonaram os balaços Vadeia, abriu para este o caminho d:i presidência em de bancos e emp~ ímanceiras. mas como já vimos 1976. Foi então que, noblesse ublige, ficou combinada cssei, lu~ros resultaram apenas nominais. Cada vez a lutura prcsid~ncaa de Viola. Profüa e consequente· ha~ 1a menos de quem cobrar C!.SCS lucros. ao mesmo mente, Viola. como comandante chefe companilhou tempo que as sucessivas rcnovaçõs das dívid8.!o a es~ os anos mais duros da repressao e as ml'lravalho~ que taxas de Juros - da mesma forma como a divida estavam sendo feitas com a econom,o. permane,cndo externa também pesava sobre o país - adiavam e por detrás do<; números e equações dc,ses pe,,imos agravavam a explo~o que não poderia deixar de se tcrn0<:ratas. HabiJ1doso. dei;,mu entender- cada vez fazer ~ntir. mais. a medida que se aproximava o ~u 1umo na

38 --terceiro mundo Presidência que com ele as coisas i.crinm diferentes. seguro fraccionãmento do peronismo - era esse o Viola ncrc:di1avo que. por um Indo. a economia já rac,ocinio -. não haveria problemas em formar um c,wria onh:nnda e no rumo da plena eficiência e que Partido de Apoio ao Processo, e/ou fazer os acordos por essa raiilo poderia i.er benévolo para com certos necessários para preparar umas lindas e tranquilas 1 interesses. sem excluir os de alguns dirigente~ sindi­ eleições. cais já habituudo~ a rodar em tomo dele à espera de Mas o que esse esquema desconhece - como sem­ alguma migalha. F por outro, poderia ser aberto um pre - é a escassa maleabilidade com que o povo nele diálogo- e, assim. dar nos bem domesticados políti :..: encaixa. fase. é o grande problema no qual sempre c.-os que também começavam a rondá-lo. algo com que tropeça a direita argentina: não tem votos para se entreterem; o mai~ penoso Lrabalho repressivo uun­ sustentá-la. Viola está (ele. tapou a boca dos sell5 bém correspondera a<> primeiro a exercer a Presidên­ camaradas menos liberais com a isca dos votos que cia. Videla. futuramente atrairia pela sua eficiente gestão, a sua Foi um proJectn bem pensado e executado. com o habilidade polilica e a consolidação do .consenso.. qual se sobrepôs às ob_jecções da pane do seu elci1O­ que seria conseguido) com um cheque sem fundos que mdo militar e aos ciúmes da Marinha. Um êxito? Não os incautos que nele acreditaram agora querem cobrar. um fracasso Porque se tudo isso era imaginável O facto de até agora não o terem posto fora é conse­ quando foi eleito• presidente. depois do fatídico quência de que os mililares também não têm a menor Verão deste ano. Viola. Sigaut e os ilustres represen­ ideia do que fazer com o presente deixado por Joe. tantes dos grandes interesses que ingressariam no seu gabinete. acordaram. juntamente com ouU'Os. diante Certas «oposições• da evidência da catástrofe produzida por l<>t!. Nada de economia bem ordenada, em crescimento e em có• Todos aqueles que constataram que tudo ia muito moda posição mtemacional. E nada tampouco do pior do que pensavam. que o grande -Papá Joe• consenso sobre o qual instrumentaria. mediW1te arruinou todos. e que os grandes papás- de uniforme -diálogo~ e panicipação• a democracia •moderna e continuam a gritar. mas não podem ocultar a sua eficiente• (igual à economia) com a qual Viola ganha­ orópria raiva e desconcerto. ria o seu monumento lmagmem também uma situação em que essa rapi­ nagem. ao pais e a cada um. foi feita às claras. Imaginemos uma burguesia e uma pequena burgue­ Devaneio políticos sia (!Ue apoiaram o advento de um Governo forte, e que aceitaram (alguns com o procedimento de Grave problema para quem chega ao Governo one­ não tomar conhecimento) os horrores comeúdos. De­ rado de duas dividas. Uma. a de ratificar a imagem de pois destes anos. descobrem subitamente que estive­

en1orpec1das nem pelos interesses sec1oriais 0 • nem essas classes não SÓ saíram de um grande SU5tO diante pelos devnne1os dos• políucos •. Pelo contrário. nunca da mobilização popular e operária. mas também. ainda se vira um saco-de-gatos tão desconcertado como o por cima. têm defendido a saída chauvinista de uma que se supõe governar a Argentina. Joe pelo menos guerra com um pais vizinho. dava a impressao de que sabia o que fnzia. Somemos a tudo isso a agitada inflação. a bancar­ Mas a segunda divida é ainda mais pesada, Viola é rota universal e outras desventuras. agitemos bem ... e politicamente um liberal - o que. como é sabido. não teremos a probabilidade de um vigoroso movimento é contraditório na Argentina com o facto de se presidir fascista. a uma ditadura. Quer isso dizer que. em contraste com alguns dos seus camaradas. gostaria de legiumar o Candidato a líder ,processo• atravcs de eleições. Para isso. apesar de mil proscrições e armadilhas. há a necessidade de Porem. para isso também faz falta um candidato a vo10s. próprios ou empresiados líder que. para sê-lo. 1em que ter abundantes méritos Entre oi. frutos da gestao tconómica, o agradcci­ antipopulares e anticomunistas. ter sido o duro entre os menio de muuos por terem sido !.alvos do pesadelo duros (se mio. como vai ofen.~er-se como ·a última anterior a 1976. o apoio oferecido por pohticos ansio­ garantia para essas falidas e deconscrtadas classes sos por voharem ao Jogo, mais a habilidade de Viola. dominantes?). criticar duramente a usura, combater a mais a docilidade das direcçoes dos •radicais•. mais o estrangeirização com os discursos mais acirradamente

N.º 36 / Agosto de 1981 cadernos do terceiro mundo 39 nacionalistai.. pn,meter mundo, e lundo, ao -cmpre­ pt•n,01,111,. 1em-,,· .i,1,,.aJ(, num.111111uue oponuni,1a sanaJo naci,1nal• e à pequcns burguc,ia, ,e,tir-l>C e delibera., tm,c1cn1emcn1c. ,e , ira ou n.10 aJn1111r n 1, com um "inu,1'o (ainda que. aJmn3Jlll.h. não muno dixu,--õc, •pan1Jo, J,• c..qucrda• (mull1h do, qua1, convincente) mMalbmo. e:,;.phcitar. para nervo,-o pra­ mcrcú'lll .,, a,p:i,) l' •l'll' 1d::u- • furu gn·ve,. d.1 C'N I e zer do, seus ouvinte,, a sua voracidade p<"lo poder. e 1ls 25 que reccn1cmt•111e tra1ram a grc\«: nat•íon:il (si,bl'I. cnar um • Monmcnto, que. ,em nccc:,,,,.id ide de parti­ a qual nada di,scram). Emão. e muno pourn o que se dos pohtioo~ nem de ele1,-õe, - parafem.61ia do, pode e,~·nu-além de abrir n<" as brecha, no 1ntenor •hberai,. -. leva-lo-á Bll r,.lder. do regime-como c,,mc\'(l de uma allcmau, a poh11cn Trata-se. ob,iamente, do almiran1c. Ma"cra que. (>l.lpul.,r. Pelo memh enquanto peN,urern cssus ,tlllU· ,·orno tam~m é ttpko no, di. urso, fa. i\ta, de n1es de, ,,po,,nuni,1as do ª"alio ao poder. derr.una lágnmas de crocodilo O kgado de ,;l,kncu1, de .:a1a,1rolc ccon1•m1ca e da pela queda do, n:ndunento, e d" nhel de emprego do mlplantaçãodo regime que Jcixllntlll V1Jcla. Manancz po,o e tenta cooptar o, m:u, op..,nunbta, entre os que de H,n «: 11, ,cus c,1lnborauore, - muno, d!'I, quu1ç, ~ dizem l>CU, repre~n1an1c,. c(,mo não é menos nao ,11mc111c nas Fon;.,, Annodns, continuam imp,1(u. upko. MaS:-cra Bpattl.-C como ,cndo o homem (com tos na, ,u11, altas P'"l\'Oc, - requer ::m mcno, dua~ toda, a, ronoU!ÇÕC, machi-a,) que. no mero de,~ coi , Uma. imediata. n o ..e dc,ur confundir com a .. onfusão. e decidido, audu, e ,nbe o que quer. Além p..h.,1, c1, e crc:sccntc, 1cn'illCS entre o ,ector encarnado dk"'· o:,, l>CU~ ad,crsáriol> no regime {llU foram o:. seu, por Viola e as correnlcs fascbta,, l': na opo,u;!io a amigo~ ?J acabam de presenteá-lo com a aura de , f. ambas ( pc,rque ambas ~o fuces dcssc regime) que esta tims. um pouco metsforka, e ,crdadc (num p:i1, onde a ~crdl1Je1ra opo'1Çl!O, ameia que t 1c11c11mcn1c ~,a ~ paiN>Uoquc -,e~ uc onde \ta..,.___~ra fez.o que fez.) con,cmente que a:, hnha, mais la.-..;1,tas não arrasem decretando par.t de algun, dia, de -pn\âo dom,dlia­ º" • hbcra1, autont.mos-. A segunda, que desgraça• ri:i-. damente ,o Sl'rá , i.1vd a médio prato. é a artKulaçao Ma,">Cra. é claro. tem ace ,o à lmpren~ e à pane das ín tánC1a.\ pohttcas que !-e enga1aráo com as rei• do:.me10 decomun1caçiodcma.,; a~ . E-11:iopodcria vindica.,--õc, e aspiBç~ populares e operárias. e,ma, ser de outra m1U1e1ra com um almlJ'llJltc da na~-ão - gadas na dunssima e11pen"nc1a dos uh1mos anos. E não tenhamo:,, 1lu~5, o que d12 cai cm solo ftnil. nela devem ser inclu1da., as di,cr,as correntes d1, ne,-.c terreno de nll\as. de implicados fracaS,,o, e de peronismo e outras forças externa\ a ele. profundo medo d :;eciotts populare:.. que dão um É uma la,1ima que. não c;omen1c p<"la rcpre~

40 cadetnot terceiro mundo Panamá A morte de Torrijos O general falava com o ex-presidente Carter com o mesmo à vontade com que se entrevistava com Fidel. Com a sua morte a América Latina perde um mediador inigualável nos grandes momentos de tensao, ouvido e acatado por governantes e lideres de todas as ideologias Paulo Cannabrava •

RAM 11 horas e 43 minutos da manhã do dia 31 de Julho Equando o avião de Omar Torri­ JO\ desapareceu A noucia soube-se no Panamá s6 ao meio-dia do dia 1 de Agosto, mas só no dia seguinte é que as equipas de busca e salva­ mento encontraram os destroços do

aparelho - um 0 Twin-Ho11cr FAP 205 •. de fabricação canadiana - e se confirmou a mone de todos os seus ocupantes. Omar estava cm Coclesilo e foi a Pcnonomc. uma vila com cinco mil habitantes. na província central de Coclc. a 146 quilómetros da capital. Tinha ido fazer um tratamento den-

(•) Paulo Cannabrava. nosso ac­ tual representante cm S. Paulo. foi correspondente de cadernos do ter­ ceiro mundo no Panamá e colabo­ rou com o general TornJos em mui­ tos momentos cruciais das lutas po­ pulares da América Cenlral. Uma semana antes da mone do general. Cannabrava esteve várias \CZe~ cm sua companhia. reco­ lhendo imponante material politico Omar era o sexto fllho doa doze de um caaal de profeuorea prlmirlo1. O aeu pai era colombiano e • 1ua mte que agora ganha novo significado. naaceu n1 provlncla de Ver1guaa. Ele prórplo foi prof.. ,o, Paulo Cannabrava \'iajou ao Panamá 1nte1 de entrar p1r1 • Guarda N1clon1I. em representação de cadernos do Po1terlormenta, tez virloa curaos n1 Escola Mllltar de terceiro mundo ao funeral daquele EI Salvador, onde ae graduou como tenente em 1952. hder fauno americano.

N ° 36 /Agosto de 1981 cedtObrc­ O 8\ ião despenhou-se a 4~ mc1ro~ ,eguem e que os ~eu, rcsuhall<"" ~ 1vcntes. a 18 de Junho \cgui01e. o do cume do Cerro Man.t, na en1n1da ~crão 1prescn1ado, à Ju,uça a, ião qut.' c,,ndu11a o comanduntc de Cocle,110. Na ,ua ultima uans· Ac1dcn1e ou atentado. o facto do fafo:110 peruano. general Hoyo mis~ pela nidio o piloto do apare­ ,,.:n 1u para que 1numcra, personali­ Rub10. Ho)o, cru o ultimo rcmanc~­ lho. o capitão Azael Adames. IO• dades p(\hticas CU povo que c,tava perto da hipó1ese de um acidente. gem e ingerfocia nos a wntos inter- morte e que esta \Cria vmlc:nta.

42 c:ade,,- terceiro mundo como ,·1okma era a luta cm que 11x!o, c,tavam empenhado, Dis,c cli:· No e.lia cm que cu morrer. pe­ guem na bandeira. bc:11cm na e sigam cm lrcntc

O rego,ijo da direita

fa111 lm a lrui>é "'ª" escutada no Pun11má c.lurnntc O'> dias de luto. N1, ccmuéno, todo o povo presente re­ pelia o 1uramcnto ftiHl por Geraldo Gon11ilez. secrelárin-gcral do PRD. no seu d1~curw de despedida. Ju ramo~ ,cr ticii. aoi. ensinamento,. prmc1pm) e ob1cc11vol> que o general Torri1os traçou para a nossa pátria e multiplicar a nossa combauvidadc No cortefo, da catedral IO para os levar por diante . cemltlr1o Amador, Os pequenos panidos de direita 500mll pe.-a acompanharam do Panamá alegraram se com a numa marcha monc de Torri1os e houve quem. •ll•nctou o corpo exilado por conta própria em do geneniJ morto ~iarni. tivesse c1,memc,rado com champanhe. rostos: tinham ido render-lhe a úl­ Torrijos-Caner. garantindo um Pela Televisão. Ricardo Arias tima homenagem, programa de descolonização da Caldcrón dirigente da diminuta e A ~ua última viagem, da catedral. faixa conhecida como Zona do Ca­ reacc1ondria Democracia Cristã pa­ para o cemiténo Amador. foi um nal. namiana, afirmou que a mone de verdadeiro plebi\Cito de reconheci­ .. Não quero entrar para a História. Torrijos encerrava uma etapa no his­ mento a toda a ~ua obra. Uma im­ quero entrar na Zona do Canal . tória do pai\. produ,indo um vazio pressionante demonstração de cari­ costumava dizer TorriJ0S. Quando, dentro do governo que necessaria­ nho que fez o comandante Tomás porém. foi conquistada a soberania mente teria de ser preenchido por Borge. dirigente do Frente Sandi­ sobre aquela zona, Torrijos não quis uma reoncntaçào com base cm es­ nista da Nicarágua concluir· •Omar. apmçer, para que não ocupasse o quemas totalmente democráticos• . é~ o grande ressuscitado•. lugar que penencia ao verdadeiro A opos1çao acul>nva Torrijos de Com efeito. todos estes aconte­ protagonista da festa. o seu povo. ter retirado todo o seu poder e re­ cimentos levam a crer que a pre­ Hoje. mono, TomJ0S fo1 levado clamava a reaJizaçlio de uma A'>· sença de Omar Torrijos - agora em para o Cerro Ancón, localizado sembleia Constituinte que liqui­ espírito - é a garantia da unidade onde ficava a zooa do Canal. e en­ dasse o poder popular. l:m S Paulo, das forças rorrijisras e da continui­ trou. também. definitivamente. para antes de viajar para nss1~11r ao fune­ dade do processo por ele iniciado cm a História ral. alguns colegas du Imprensa Outubro de 1968, Até àquela época. perguntavam-me: • Como f possível o Panamá era uma mera sociedade As contradições internas que vocês chorem pela mone de um prestadora de serviços do enclave t,ieneral?• colonial da Zona do Canal. A partir O coronel Florêncio Flores Agui­ de então. sob a orientação do gene­ hu. que sucedeu a Torrijos no co­ •Ü grande ressuscitado• ral Torrijos. o Panamá in~re-se na mando da Guarda Nacional. teve um geografia latino-americano. inte­ gesto emouvo ames do corpo do Durante o, d1n, Je \'i!nha - e gra-se como nação, começa a pro­ malogrado general ter de~ido ao também durante o enterro o povo dulir e ate.' a exponnr alguns produ­ sepulcro: bebeu do cantil de Omar. panamrnm, rendeu homenagem a tos. procurando. desse modo. dar a en­ Torrijos Nas ruas. havia ,creu de Foi também o general quem con­ tender que com aquela autude sim­ 500 mil pessoas. inaivclmente dis­ duziu o proceS:>O de negociação que txfüca recolhia forças e inspiração ciplinada,. dt• dor estampada no, culminou com os novos Lnltados para pro~~guir•• TomJOS dei~ou a

N º 36 /Agosto de 1981 -,.,,_ terceiro mundo 43 sua mensagem de esperança ao 1n­ mundo tem os olhos po~tos cm nó~. Partido Rcvoluci1>n:1no DcmllCru­ dio. ao r.rabalhador e ao camponés. '4ão vamo:.. porem. deixnr-no:; aba­ tlC\), mantendo a~ luta., e os objccll­ As nossas armas honrarão s'Cmpre a ter por coisas pequenas F.stoml~ vos pelós qu,us o i.enhor M? sucrifi sua memória. A1é logo coman­ seguros que pm:.scguiremo~ cm COU• , dante• . disse Flores. frente. seiuiremos a mesma hnha• Acrescentou nmda. na ocnsiilo, o Antes dn mone de Tonijos. espt!­ presidente Royo: . Devemos dizer­ cufa\'a-se muico sobre a e--in3da!, . Aqui nado 1QS4. paro que o povo eleja uqueh:s Guarda Nacional. contradições mudou •, que \Ubc serem os seus amigos. entre a Guarda Nacional e o governo -Os am1g~1s do general - disse- Continuaremos n lutar pnrn que os do presidente Aristides Ro~o. en~ -me o coronel Paredes - não têm none-umericllllos cumpram ficl­ grupos de tendências d1' ersa, no que ,e preocupll.r, 1)(11s tem em nós mc:me o Trntadll que leva a seu Panido Revolucionário Demo.."Tá­ amigos também•. nome. E continuaremos a lutar por tico e entre a esquerda do PRD e a Tonijos era o uníc:o gern.-ral de novos objectivos, mas com uma fi­ presidência. P31'tllelatnente. Brigada da Guarda ~acioolll Pana­ nalidade e um pensamento. O au­ falava-se que :1 ~uerdà se esti\'a a miana Postumamente. o Estado­ tel\tico protagôl\ista dtl hlla do nosso unir e fazia plano:. para retomnr l' -M:uor c·onre

44 c:ac1emos terceiro mundo mente um grande amigo de Tom1os Quando vi~1tou o pais por ocasião du • mouguraçao da barrag"m h1dro clectricn de Bayanu, cons1n11da com u 1 ajud11 1ugo!ilnva. Titu ndvcrtiu o • general rara a ncces,idod1 de ele ter mais cau1ela nas ~uui. viagens pl.'lo interior do pai,. Sugeriu mesmo que os frequentes voos de avmo e heli­ cóptcrm, ÍO!>:.cm subs111u1dos por v1agcn~ cm automóveis blindadoi.. muno mui, seguro\. O e,-chefe de governo de Espa· nha. Adolfo Suarcz.. linha também grande cannh1l por Torrijo, Quando dt•1xou o governo veio pas­ ,ar 15 dia, de férias no Punamá, na companhia do general. Igualmente 11 -.ecrctárm gemi do Panidn s~ia­ de governo. recordou que Torrijo:.. li\ta Obrcro Esranhol. (PSOE) f·e­ •grande amigo da Nicarágua•. de­ hpo Gonúlez, v1s11ava o Panamá sempenhou papel dcslin;ado no de­ com frequência para dialogar com o senvolvimento da snuação política general sobre 1emas ligados à poli­ da America Central uca launo-amencana e in1emac10- Humbeno Ortega. ml.llistro da nal Ambos o, dingentes polí11cos Defesa revelou que oi. saodiníMas c~panhob esti1.cram prc'-<:nte:. no tinham recebido sábias orientações funeral de Torn1os. revoluc1onárias da parte de TomJos. as quais procurariam seguir para de­ Fidcl de Ca,1m quil, também dc'>­ fender o procc,so democrático nica­ pcdir-~ do c;cu anugn. Foi impe­ A morte de Tonl)Oa apanhou todoa de raguen,e. Tom1os n:ahzou uma ex­ dido, porem. por uma decisão do aurpreu. Era dlftcll acredlt.w num 11eldanta tensa visita à Nicarágua logo apó~ o Pilrtido C'omunhto de Cuba por çúo de cannho por parte do po,o. triunfo popular sobre a tirania de que~tc'lC, de segurança. ~gundo Em 1971 por cxa ,1ao da \'I Confe­ Somoza. Por todas a, cidade, onde declarou Carlos Rafael Rodriguc,. >. renda do~ Países Não-Alinhados, passou teve recepção apoteóuca e vice-presidente do Con,c:lho de b­ c,teve de novo c.m Havana como cheia de carinho. Ao povo. os diri­ tado t membro do burto11 pohtico l'Onvidado especial de Fidcl. que gen1es sandm1 tas que o acompa­ do partido. Ele e Manuel Píncim tomou tal 011tude JXlr entender que nhavam diz.iam o que o povo tá sa­ Lozada chefiaram uma delegaçao TorriJOS, pela sua importância no bia: que o Panamá fora um dos maio­ cubana de n<>"e dirigentes pre...ente Terceiro Mundo. nao podena deixar res ahado:. na luta de libertaçao da a~ excquios funcbrcs. de participar num encontro daquela N1carogua. contribumdo. não só no Torrijo, e F,del fala,am com importância. plano polilico e log1~11co. mas tam­ cena fn:quénc,a. Trocavam con,;c­ bém com braços e :.angul'. lhos ditados pelos diferentes expc:­ Repercussão na Nkaragua Tomás Borge. um do~ fundadores riênc1as cm que panic1pa\am. o~ da Frente Sandinis1a (a :!3 de Julho charutos que TorriJo~ fuma,a eram Mas fora do Panamá. foi -.em du­ de 1<>61) e actual ministro do Inte­ feito~ especialmente para ele cm vida na Nicaragua <;andinisto que rior da nova Nicarágua, reafirmou Já Havana e levavam selo com o ,eu mai~ scnt da se tomou a morte de ter d110 ao povo do seu pais que nome. Torrijos Scie dias de luto pela TomJos era o maior amigo da 'i­ Em Cuba foi decretado cinco dia, monc dn innão Omar•. Ao funeral canlgua•. Disse que. com a sua de luto pelo dcsapan:c1mcnto dtl assistiu uma delegação de cinco morte: , a Nicarágua havia perdido ,1m1go,: cnmponhe,m, lulcr dos pa­ ahm, dirigentes do Fn•nte Sandinista , um irmao. um irmão que entra defi­ namiano, e do governo de Reconstrução Na nitivamente nu História por ter feito Torri1os v1s1tuu Cuba cm 1976 r c1pnal entrar o povo panamiano na Zona do a1 recebeu uma grande dcmoni.tra- Scrg10 Ramircl. membro da Junta Canal•. 45 N. º 36 /Agosto de 1981 ~ terceiro mundo !\1as também paro lá da rn,nteu·a com Fidc-1 Castro. Dai que 1·m nw­ cionul di:- UJ"lio às l'IIU\,I\ tk libl•n.1• da }:1canig.ua. um p<>\'O cm amrni. mentos de tcn,;io no ct,ntmenh: lhl· \'an m1n,1nal dos povtl, tia A1m•rkn contra a umma e o ncoct,lomalism,, thc~:.e l:lbid11 ,, papel tk m.:diaJor, L.itmn. ,\trk,1 e A,ia. Rc.ifirnrnu - o salvadorenho - chlll'3 ,1 monc de átbnro. Nb~l' ek em in:.ubs11t111- umn lmha con,,·l1ucntc c11m ,1s pus. de Torrij do po"o salvad<>renho e l: C'<.'rto qul' a ,un morte dca.1 um ",,m-Ahnh,tdo,. de un11zude c rcs­ render ao general uma ultima home­ , azi1l no P.m:im:I; m.1i. deh.n um ~ito pda Cuhn ,01:infütn t.' de par• nagem. c:,te,c n,, Panamá Guil­ ,azi1• oinJa m.tiN na Anwnca Cen­ tkipaçu1\ s1)lid11ri11 i:- generosa nu lermo Ung1l. presidente Ja Frente U'tll l' na Am.:nc:i Luttn:i. em geral. gul·m, d1• libcn.içao d11 N1cnragun. Democrau,:a Revoluc11ln:iria de EI Ratael Cril>.tri. n,rre,f'<'lldcntc dl' O general \'clasu1 Alvorado. 1 Sal\ ad11r r dirigente da Freme FarJ­ e.adernp, do tercein) mundo n<> m,,no em 1>77. na alturJ l'lll que era bundo Man1. Panamn as,in.\lou que n 1mlrtc de pre::.ídcnte do P,·ru mund11u chamar Foi m, Panam., que foi 1innado T1•m11" a,0111cccu num nu,n11•nto o dckga,ao p.1nam1una que pnrt1ci­ um documcnt11 de unidade 1•ntre as crucial p.1m a Amen,a Central e pnv:1 numa conlcrénda de min1Mws tcndcnc1as oposic1om~tlb m~-ara­ para a, Camib.1,. ondt• ,, 11npcria- de Nct1,1ício!. Fstrnnge1mi. dos Put~c, guen~cs em hua contra S,,010111. 1i-:mo norte-amcncani, la11111ml"nt:lr No,, Alinhad,,s para di,er que ele. pal-SO deci~l\·o para o tnunf,, sa.ndt· 1,s pcngo, para a rei;1a. cru um grnnd,· admm11Jor nista No m1lmcnt11 da ~ua mMte. poliu, a bclichta e .1grc,,n a d'1 g,,. 1.k Torr11os. Afirmou cnlao que via T11rrij(h e,tnva a jogar tudo na luta ,em,• R1•agan. 110 gen.:ral panamiano um autcntiço pda unidade das força~ que comba­ S" ., panicipação 1.k T1,mJ,>s foi lidl·r das luta~ do rerccirn Mundo tem a tirnni3 cm EI Sah ador. imp<>rtante nas luta, pela indcpcn­ Lópcz. Michdscn e Echcvcma. Seria muito demorado enumerar dênc1a tota.l do seu pais. com um C'l.-prcsidentes, rcspccmamente. da todt\l< 1>s am1ios d~ TClrriJo~. mdos habil enfren111mento 110 impcria­ Col6mb111 e do MéJtic11 , mab os ac­ Ol' que vieram ao Panama r.:oder fü,mo norte-americano na~ negocia­ tuais presidentes daqueles países. uma ultima homenagem à sua cap:i­ ções ,obre o Canal - e que lUlmi­ Turbay Ayala e Lúpcl Porullo. cidadc como dirigente e à <:ua ,oca­ nanam com a a,-\inatura do~ t.raiados compartilhavam igualmente du ami­ ção mtemacionaJ1sta. Torrijo:, foi. que levam o ~cu nome. cm Setembro tude dl." Torrii11s sem du, ida. um grande pilar da uni­ de l Carazo. for,ou ncl>~C momcmo. Torri1os nível às cerimónias íuncbrcs do líder presidente da Costa Rica. e Pepc aquiriu urna projecçáo e enverga, panamiano. Figueres. lider oposicionista da­ dura tal que ,e tran~formou num o~ norte-americano., enviaram ao quele pab. interlocutor vahdo para diferentes Panama o general David Jone~. força,. por vezes mesmo com po~i­ chefe do comando do exército, a Presença insubstituível ções 1deológicas antagónica~. esposa do vice-pm,idcntc do pais. Torriios soube conciliar a lutu do Bárbara Bu~h e F.lswonh Bunker. Torrijos falava com Cana com a -.eu povo peJa soberanta no Canal do um do~ neg11('iedore!i du tr:uado do me~ma 1mím1dade com que falava Panama com uma política interna- Canal. O

que era amigo pessoal de Torri· tânclas em que a sua morte ocor­ Investigação 10s, anunciou que as Investiga­ reu. juntamente ~om a tripulação ções serão levadas às últimas do seu avião. Desde o dta 6 de Agosto que consequências, promessa que. uma comissão presidida pelo segundo os que o conhecem Omar era o sexto filho dos doze Procurador da República Omedo será cumpnda. não apenas pela de um casal de professores prl· Miranda está a apura4 as causas amizade que Unha ao general. mários O seu pai era colombiano que determinaram o acidente em mas por ser assim todo o trabalho e a sua mãe nasceu na provlncla que morreu o Chefe da Guarda que desempenha. de Veraguas. Ele próprio fol pro­ Nacional Panamiana. general fessor antes de entrar para a j Omar Torrijos. Integram a comis­ Logo após o anúncio da Guarda Nacional Posterior­ r são um fiscal aux1har três oficiais morte -:te TorriJos diversas orga­ mente, fez vários cursos na Es· cola Mlhtar de EI Salvador. onde r. da aeronáutica civil e dois oficiais nizações políticas e jornais do Panamá tinham exigido uma in· se graduou como tenente em h da Força Aérea panamiana. O Procurador da República vestlgação séria sobre as ctrcuns- 1952

46 cademoS terceiro mundo «Senegâmbia», versão 81?

A Senegêmbia nasce não de um acto de vontade comparti­ lhado por dois palses. mas de um dlktat Imposto por um pais militarmente mais forte - o - a um Estado cujo poder passou a ser uma simples ficção

Alice Nicolau

M novo htado vai nu\Cer no lii:ados • provindo~ da Serra Leoa A fr1ca Ocidental. cm fin, de~tc no -.éculo passado. herança• da Uano ou r,nncipios dc 1982: 1 breve hgaçao do Gãmb1n àquela Scncgâmb1a. A informação foi dada antiga colónia bntãnica na capi1al ,encgale<.a pelos r,róprio!, prc,1dente, dos dn1s pa1se!> que irão o, ALu~ dominam ai. altas fun­ cnn,tituir a cnnfedcraçao assim ÇÕI."\ ad1llln1strativas e os negócios. chamada o S1:ncgal e: a Gâmbia O conMituindo uma elite. a grande presidente gJmb1ano Sir Dauda base de apoio do regime de Ja\\ ara . Ja"ara . está a empreender uma Cientes das sua~ diferenças. e tourn~e - pelo seu país. u fim de dispostos a explorar em seu benefi­ convencer as populuçoes da neces­ cio as \/antagens de con!>lltuirem um sidade da uníjo entre os dcm hia· Estado independente. os gamb1ano~ Jn . enquanto se aguarda para multo "empre têm oposto resistência à sua hre, e a rcuniàn d11s parlamentos do, integração no Senegal Para sobre­ Jo1, PaJ'-l"!, para rauficarem o prn- Sir Oawda Ja•ana; viver como pall, politicamentc inde­ 1ccto De\lc modo. ,tP1ls qua,c vinte nou do Senegal. Nm, seu, qua,;c 12 pendente. a Gâmbia oncntou-,e por anr s de uma união sempre.- vero,1- 11111 qu1lomctros quadrados dr su­ duas linhas fundamentais. A unica m1l. mas num:a conwmad11 . da-se o pcrfu:1e. a Gâmbia - dl\ 1dida cm ameaça à sua soberania p<,liuca só enlace Na sua vcr;an 81 . porém. a relação ao St•negal - encontra-se podia vir do Senegal. pais no qual a Scncgiímbia ,l\wnt11 num ma,sacrc. tambc:m div1d1

N.º 36 /Agosto de 1981 cedemos terceiro mundo 47 alfandegarias ubs1ancíalmentt rcmoddaçao minis1cnut. o cnfor tC\lpa. C~J>l.'C1,11~ hrhúnku~ dcss:1 lol\·:t que cMruv:isa­ criandtl um porto franco em Banjul. d<1 oficial. a 1legalitnçao d11 Mm 1 rnrn do solo 1rl,10dcs Em1uan111 os tl1mou-se um entreposto de contra­ mento pcl:I Just1,;a cm Afru.·a ,enegulesc, limpavam n ,1gitàçfü1 bando nn África Ocidental. El c:m­ foram as un1cas conscqufndn, , 1Sl c:n1rc os gamb1anos, os dc11:, homen~ carando as ponas ao capital mter­ veis dessa tcnw11, a de ~tllpc. Nn 1Jo, ,!e Londre~ lihcn:I\ am ,1 mulhcr nncional. criou, ao mc,m<' tempo. altura. o Senegal \·(1lt!lu a in,istir na d11 presidente hmarn e ,11udavam a cond1ç&!s para aliar à sua solk:rania \'clha 1dcu1 da Scncgâmb1a mas o l., acuar os 8'i0 tur,,rn, c-ur11peu!,, os proprios interesses capllah~tai. regime de B:in1ul na!l deu ~cgu1- bh"-!UC,ldO\ 0(1' lnlc:rior dn, ~CU$ t'll• europeus. Aproveítnmfo o boom mcnto a um prctcnsoc,- h~o mio ,uhi... de lu,11 pelo, ncont1!(imcn10, tunsuco. tomou-~e um -par.uso- Je impediu que Dal..ar al,trga~\C a i.uo ~angrcn1w. qu~· os nideuvam. veraneantes do None da Eun,ra. e. coop,.·ra~·a,1 ~om ,, pe,1ucno l sta11o Duranlc a~ :?00 h11ra, que o Con­ desde 1• thitl, do romance nortt·­ vizmho. nom,·ndanu:ntc cm do1, \Clh<> Supremo da Rcv,1lução c~lcvé ·amencano Rai1e~ de Ale, Ha­ ~cctore,: o apm,c1tamcntv d11 ri,, cm condiçc~·~ dt re'>1~t1r às tropa, lc). que colocou na Gâmbia as ori­ Gâmbia e a ,;on,tru,ão de dua:. bar­ mvnsMa~. pouco ,e t)(idc saber da ragen, Nc,1c, d1w, PrtlJCCt0~ \."OIU• gens da fanulia negra. CUJ3 S3!!3 , crdadc1ra magnitude dos a~·M1c­ conslitui o trama da obro. popuhiri­ born a Gume-C,1n:tkf)·. e no ulumo cimcnh>,. Dcpoi!> de tudo acabado, zada pda T\ . acolheu um3 impor também a Guuk; B1s~au. as conclus1~s a que ª> proprias UU· tanu.• 1.:om!ntc tunstica de negros dlh ltindades ~amb1anos e hegarum sau EUA. A ruptura cataMróficas. ma,s do que uma con- Assim a Gâmbia se tomou , iá, el 1ura de avcnturcirol> c11m slogans e-conom1cnmente. conhct"'f:ndo Este equilíbrio rompc:u-,e bru­ desproposuadamente re"olucioná· mesmo uma muito relau,a prospe­ talmen1e quando. na noite de 29 para nos os ncontec1mentns na Gâmbia ndade. que pelos d3dos es1a11s11- 30 Je Julho. um Conselho Supremo foram um autêntico lcvantamcn10 de cos. consegue ~uper:1r a do Senegal. da Revolução. consutu1do por nove ma<,sa.,. Lcvan1amcnto que teria de A nqucza do amendoim o~ lucros cins e Lre~ m1htares. sob a prc:,1- lac10 vingndo ~em a in1crvenção das do contrabando e as receua~ do tu­ dêncin de um do, dint;cntc, duma tropa., estrangeiras. Nele c:.tavam rismo foram os tnh pilares da• auto­ pequena lormaçào clandc!túna ,mplícadas as massas deserdadas nomia-. económica da Gãmbia. (Kw..h Samba San)ang. do Pan1do dos baimis pobres da capital que de.­ Ate ao mês de Agosto de 1981. a Sociah,ta Remlucionano da Gâm• armas na mão resistiram aos invaso­ Gâmbia. apesar de proclamações bia) derrubou o pre)idente Ja"' ara e res. mas também a quase totalidade em contrário. não mo,uou qualquer proclamou que iria instaurar a dita­ tia!> • Field Forçes. alguns elemen­ pressa em se ligar ao Senegal. Es1e dura do proletariado. acu,ando o tos da policia. os panidos da oposí• pais. por seu lado. apesar de diferen­ regime derrubado de nepotismo, tri­ çao legal. ,cmi clandeslina e clan­ tes propostas nesse sentido. 1ambém bafümo e corrupção. e metendo na Jesunn, e elementos do próprio par­ não fez pressões intoleráveis para prisão todos O\ ministro~. udo governamental. Chefe!> rcligio­ que a confederação se consumasse. sos da província sencgale!ta de Ca­ O que 1,e i;eguiu a 1!,10 é digno de <.amance (separada do resto do pais No ano passado. cm Ou1ubro. o uma história da série negra. Usu­ pela Gâmbia e p:ilco de séria agi1a­ assassínio de um oficial superior das fruindo dos seus pt'illilég,oi. de chefe ção contra o governo de Dakar) ;un­ Field Forces (a força militar da de Estado de um prus da Common­ taram a sua voz à dos revoltosos, Gâmbia. composta por 500 homens. wealth. estava o presidente Dauda <1visando os ~oldados senegaleses de 300 dos quais operacionais) ofere­ em Londres onde assisúra às boda~ que seria melhor desistirem da sua ceu ao poder constjtuído em Banjul do herdeiro da Coroa. Logt'I que acção um pretexto para acusar a Líbia de tomou conhecimento do que se pas­ tentar um golpe de Estado contra o sava na Gâmbia. telefonou ao presi­ Só ao fim de 0110 dias. as tropas regime. e proporcionou ao Senegal a dente senegalês. pedindo-lhe que in­ senegalesas (que entretanto assumi ocasião de uma primeira interven­ terviesse prontamente para restabe­ ram o controlo da segurança interna ção militar directa. Com o auxílio lecer a ordem na Gâmbia. De Dakar do pais. sob toóoi. os seus aspec1os) das Field Forces, 400 pãras, se­ partiram imediatamente tropas por conseguiram liquidar o levanta­ negaleses entraram na Gâmbia, res­ terra e ar. Ao me1tmo tempo Jawara mento. Com um saldo impressio­ tabeleceram a ordem e daí a uma despedia-se de Londre~e embarcava nante de monei. - mais de 500 As semana regressaram ao seu pais. O num avião a caminho do Senegal. óevastaçõcs na capital foram extre­ corte de relações com a Líbia, uma acomp_anhado de dois a~enles das mamente gr:ives, não só pelo:, com- 4;

48 cadernos terceiro munáo 1, I• ,.C) bate~. ma, pelo a,salto que a, popu­ A.., tcntauva ... de ,anar o~ mal e~ d compartilhado por do,~ pat)CS. que, lações taminta~ e ,,.., presos hbena­ economia gambiana atravé, dus co­ 110 fim de um lento processo de ul­ do~ da cadeia fizeram aos c,1abele­ nhecida~ receita\ do FMI. • .roco trapassagem das diferenças causa­ c1mcntos. dos emprtStimos concedidos por das pelo facto colonial. tivessem Nada ',(; sabe 110 ceno sobre o esta instituição. só vieram agravar decidido unir-se baseando-se cm ra­ destino de Sanyang. que provavel­ os problemas da e<.ll'agedora maio­ zões geográficas. étnicas e econó• mente tera morrido, tal como outro ria da população. CuJa cimténc1a micas . dingente do i.eu parudo (Pintou mais que precána contrasta com o e Georges) e chefe do Movimento luxo escandaloso da classe diri­ Para o Senegal. confrontado tam· para I Jus11ç1 em Afnca (Cora Sah) gente, mergulhada na corrupção. bt!m com graves problemu econó• Quanto ao dingentc do panido da micos, com um descontentamento Em Outubro do ano pa~sado a 1• Convenção Nacional, Sherif Diba, generalizado da população, com -democracia• gomb1ana foi ~cria­ I· que tem grande inílu!nc1a entre as acusações de corrupção (que cm mente abalada por cscandalos de I· populações mandmga. foi preso, 1979 não pouparam o próprio suce,­ desvio de fundos e corrupção. r­ não se sabendo ao ceno se foi ou não ~or de Leopold Scnghor). uma ,. Antes do levantamcnlo deste ano. a Gâmbia hósul seria uma ameaça ín• Ji libenado. 0 :I• Este levantamento foi ongmado calma aparente da vida gambiana foi tolcrá,cl Resta aber se a anexação r~ no colap,o que se produziu cm do,.., perturbada pela'> manifestações de que se prepara. depois de uma inter­ l• dos pilares da economia· a cultura protesto cada vez mius veementes de venção condenada por oito dos nove ,. do amendoim (cuia produção \e CI· uma população duramente a11ng1da partidos oposicionistas do próprio s. frou em 1978 em 80 mil toneladas pela crise. Senegal. não irá agravar ainda mais !e contra us 17'\ mil de 1976) devido à as dificuldades do regime de Abdou 'ª \cCa, e o turismo

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No campo militar, os EUA estabelecem alianças principalmente, com o Paquistão e a China: a táctlca de Reagan para conter o «expansionismo soviético».

Pablo Piacentini

STA a ter lugar na As1a uma a Guerra Fria devido d ,ua proximi­ comda annamcmlsrn a um dade com a URSS. A distensão fez Entmoinu,uado Aoconcedcr com que es<.e país asiático perdeS!>C cn:<1110, uo Paqublào para que l>C parte da \Ua importância ao:, olhos arme até ao, dentes e uo colocar a de Washmgton Juntou-i;e a isso a China na eatcg<,ria de- • país amigo•. deterioração diplomática causada o governo dn!> Estad(,s l nidos vai pela política paquistanesa 1endentc a obrigar u Umi'Mo Sov1c11ca e m, sl:'u, con,ener o p3ls numa potência alind<,s a re,pondcn:m mm um uu ­ a1omica. e o g,,lpc de fatado que. mc-nto da" sua, capa..:idades m1l11a ­ em S de Julho de 1977. pôs fim ao n- . regime democrático. executou na A cscaluda que está a vcrilicur·"-' lon:a o pnmc1m-m.i111stro ZuJficar na Asia. prcrn,amenk nos flnnco, Ah Bhuno e ins!alou no poder o c,trategico, da URSS tem lugar governo au1ori1ario e repressivo do num m1~mcn10 cm que c,tão a ~r general Mohammed Zia lJI-Haq . PI'''ª' cm pmuca acçoc, ,cmclhan­ C<,mo naquela epoca o pres1denk tc, noutra, arca:,. nomeadamente- 1111 Jamc:. Cancr pmcurav-.1 man1cr a sua Gnlfo Arábko e no (keano Lndil'o, poh11ca de direitos humanos em re­ tx-m como no tcutm t URlpcU Ao lação aos pai!>es que não tinham mc,mo tcmpc, . o pn:s1dcm~ Reagun valor estr.i1ég1co paro essa superpo- mcnosprc,.a a, ncgoc1aç<~s sobre o cnn11nuns, 1ênc 1a. os v1m:ulos bilaterais desce­ am1amcntn estratégico 'os de uma l'Onfmnta· para a '\ ~ucrr.i • a ter cm con1a a posição geopolítica c;ao entre as supcrpotênc1lb. Dc~k do P..1qu1slào. O, direi1os humanm e 11, piores tempos da Guerra Fria. O Paquistao no xadrez o tema nuclear P3SSar.im para :;e. nunca o plum:tu estcw tao proxinm geopohtico gundo plan11 e o mesmo C'uner pn'l­ de- uma no, u conílagruçao. Os ca­ cumu uma aprm.imação com o re­ dernos do terceiro mundo tem Hoje-. depois do, ucord11s es1abc­ gime de lslamabad all·naladns Unidos \:Om a bso 1mphcava duas coisas o pi.•1igo, qw l'nccrr-.i l'\la oncnta\·a1, China t o Paqu1s1ao. todas a., pre- apoio à insum•içilo islâmica afegã. o cnntrária .i d1,1c-nsao. que 1t·m a ,u.i 1i.:upac;1ll's ~· centram na A,,a O qual paro ,cr dicaz dcvéria ser pre~­ origem iml 1.hata na an,,a d11 -.eç1or Paqu1,110 tmh.1 Sido (lb1cct11 dt.> um tado do 1crri111no ronuguo paqul'ta- ho1c dor11111antc- O(l 1•.1rabhshmrnt 1,1,tt:ma de rela~·1\,:s ci.~,mi,. p<1r 11(.'s. e o fonakcimento da:. forças none-nmcm·ano de rcL·upaar uma parte da Amenca do 'fone. Jurante unnadas do Paquistão

N.º 36 /Agosto de 1981 C8dltn0$ terceiro mundo 51 A tlfuna de um acordo militar da pohuca otk1al tendente a t!'ln;ar a daro c~tà, que Í\>mm tambcm mui­ feita publicamente foi. do mesmo relirnda dM S\)\ icti,.;os dt'S.Sl' [s­ ta~ as m1ss1\e1, rcali1ada\ :;ccretu­ modo. repelida. d3do que Ul-Haq tado. mcntc ,:onsiderou uma ninhana o auxilki Todavia. et>mo ,,b~r\',un os dm A(1 n:conhc,·cr Pequim. Wllshing, financeiro e militar proposto pelo gentes indianos. trata--,.: de uma P<'· 10n comgiu uma autude contrária às governo Carter. b11ca l'tlntradilorin F:ucr umn PI'" prot1c11~ internacionais lmcmu-~e têncta militar de um, izm!k, do Afo­ ~sim umll cro de reluçocs entre os A outra quesltio nâ!) foi , entilada gamstão pais que rep~!,enta wn d,m, p111scs que pouuc apresentar al­ ao ar livre. \\ ru;hingt1ln negt1u que , al!'lr estratcgK'I' de pnmeira grnn­ gun, aspec10~ pll\1t1vos esttvesse n fornecer uma a1uda di­ deJu para a URS~ mt't\"c da ~ua Um do~ m,m, ~nhc:ntcs e: o fucto de ll.'l:tu a,,s R--beldes afegàl~s. não l>b~­ po~i,;a,, !!t'OgrJÍl<;u. e in-·en11, ar a \\ ashingt!'ln t<·r uprescnu1d11 11 ,uu t.ante o gm em,, af<'gáo e a l''RSS msurre1.,"Üo 1slãnuca. e, pdo con• al>l.•rtura. nau corn um timbre unh­ afim1arem ,1 rontrárfo P\"lr a-iuela uano um ah.:1ante para que os so­ ·SO\'ÍC11co. mas sm1 come, um foctor epoca. mh,rmações di\ersai; e d1s­ , ic11cos mantenham,, ~u apoio dt­ do pmprio cquihbno d1plomút1co. pcr..as. pnnenientes 50bretudo d,· recl\, ao governo s~x-tah,111 de Bu 1cnd!'I em considcrn\'ao as suas pn:­ \\ a\hington. da lndia e do Golt1' brak l\..mnal. Condu.:m. J)('r 1s!.(). cx1~tcntcs rtlaçóe!> com Muscovo Arnbiro. forneceram indícios de o~ dmgentc~ indiano~. que a Unll'O lsso estava de acordo com o dis­ uma acção contunta pam manter a ro1sa que se c,,nscguirã \Crá o mili­ tensão e correspondia. além do guerrilha islâmica que. recente­ taril.!!\ào da area l' qut> quaisquer mais. ao~ interesses naturais do su­ mente. d118 espéctacular visita à cias que darão lugar a uma coorde­ quistão se erga como um adversário China. foram constantes os cncon- nação• t a estreitas consultas temível freme ao Afeganistão. 1ros recíprocos. públicos e noticia­ No plano militar. Ha1g declarou <.>uanto aos none-amcricanos. apre­ dos. entre alw, funcionários de que n gigante: asuí1ico poderá adqui­ sentaram esses acordos como parte ambas a!> naçõc~. Sem csqucccr, rir annas norte-americanas cm pé de 4

52 c:ademQs terceiro mundo igualdade Ctlm oulro~ países do Ter­ ,eím Mundo (lmigo~ do~ EMado~ Unidt\\, o que c"ó longe de ~cr uma resp<1su1 precisa Acrci.ccmou que, ate ao presente os scuh mtcrlo,:-uto­ n:s não lhe pediram quaisquer ur- 011L~. Dentro destu c~lratégia figura a convkçdo de que o cerco miliror cm torm> da URSS. deveria. nuo s<>. díssuod,-la de praticar certas ac­ çocs. mas que produziria indircc tamcnrc. um deilo de fundamental 1mponândo impedi-la de atenda. s1mullancomcnte. a toda.~ as frentes que o Kcemhn considera pnorito rias. partindo da avaliação que In­ dico que o orçamento da defesa tem uma graviraçao \uperior no~ orça mcntos das potências socialista do que nas cap11ahstas.

Ataque ao Orçamento da URSS

De acordo com e\t1ma1ivas oc1- dcnuus. cuia margem possível de erro não parece ser grande. o pro­ duto nacional bruto dos falados Unido~ e apro,imndamcnrc. o dobro do PNB ~ov1ft11:n Os gaMo~ defensivos que a URSS se vena forçada a efectuar para fazer face ao podcno norte-americano. representariam. por 1$~<> me~mo, um esforço economico pmporc1onal­ mcntc maior para Moscovo que. a partir de uma dada altura. nno podc­ ria encará-lo~ wm cfectuar st1cnf1· cios noutras fremes. (. sabido que os soviéticos que:. do ponto de vista histórico. chegaram tarde uo desenvolvimento mdu~- 1rinl atribuem aoi. gasto~ dcfcnMvo~ a rcspon!>abilídadc de não lhcs ser pcrm111do devotar todos os recursos neccssános no desenvQlvimcnto da sua força produtiva c demonstrarem as~1m cabalmente. a ~upcnoridade do \ÍSlcma de produçao (e de rcdis­ rribuiçüo) ~oc,alistn. O problema remonta uo~ alvore~ da Revolução de Outubro. quando as potências capiralhta:. csrabclecc HoJt o n•trnu nortt-amtrkano 11,jucb ram uma c~pécic de Sllntu Aliança e abertamenlt • guerrilha lslàmka no Aftpnbtào

N.º 36 /Agosto de 1981 cedemos terceiro mundo 53 o Cl>n.,equeote cordão :.anitário para rcduç-ão ,ub.,1anl'ial do, projccto, na t·hrnc,11. Jc,pr1,, 11.la de nma isolar a URSS Esta. que era uma imphdto, na, quatn, modcm1za­ para u,1, noc1umo e de tclem.-tnh nação atrai.ada i:,,m remane, ên­ çõcq:. J'<"''\ Cimentc. num grau l'C'· automâuco, A .-,p<'lrta;;-ao de :-110, c,a,. arcaicas e feudai,. teve de cfcc. la11,amcn1e supcnor no plan11 nuli­ para ,, Paqubtu1.1 m11stmu a madc­ tuar log.o dcsdl· l> inicio. enorme,. w Pa",u'iio. 3km Ji'"'· ,ano, quaçl\o dc,,as armn~ cm t·ompnru­ Ín\C·,timen10, na ,ua defe,s. ano, ante, qu.- o, programa, ng1,rn çao com a arma ongmal russa que ê Também ne,~ a,pect(\ o, homen, cm ,urso elc,cm n rron1,m1a chl­ ma" ,cr-aul e t''\lg.t• uma manutl'\'lio de Reag.an e ,,,. anah~tas d<, Pcnta· nc,a. no ,ru.o de , m:m a ta é,11t, mcn1,~ lrcc:iucntc•. Con,cm. p,>r· gonu regressam ao pas,ad,,. Rnl'io­ ()ucr 1,11, Jiz.:r c:iu1· o armamcnu,m,, unto, ctihx·ar ,1 dcsulto t'hm,h nu dnam de, que deH·rá i:hegar,,e a cm grande c-,cala dn Chma nai, I"'· ,ua , ( rJaddra d1mcn,{111. n,mn umu um ponto em quC' n comd:i arm:i­ dera ser finan, ,ado por ngoru , m" nu,ta tt,mc 1mix1"1\el, para n 1:réd11<1, que o, E~tad , Umdo, lhe 1, a, an,ra a h•ngo Jc, ida d1rccçã11. ,e torem ,tlgo ma,, .. ua 1.ktc,11. ªº" ,eu,. plano, de Je. praw e ~m Juro, ba1'.\1l\, ,(1 pod,•. rap1do,, isso dl•,cr-,1·-il . .:m bo11 ,en\ oh imen10 e a,1 mc-ttmento d , nam. à luz Jc,t renhdi1dc. oobnr medida. à e1.11,p.-:ra,· n htado, Unt• ron,umo,,.; 1nd1\lduahzc o au,,ta,, algun, lll-pc,·10, part"tais das ne e · do, - China no, p:use, aliado,: 110, mo, 1mento, ,idades chmc,a, O ,cgumlo 1cm a Je hb.:nação e a t>Utr.i:- forma, de , er ,0111 o primeiro e diz rc,pcm, à Uma ,ltuaçiio cheia de rlbCo, pn:.,cn :i e'\tema. aquilo que ,h ,eu~ ,uu:rao da, f'11r;;-a, Armada,, hme­ nd,er,.iJ-10,· da"1fieam de exp1m­ ,a, Dado que. Jepo1,Je anunciada, Qual II re,fllhla do, ,ov1.iic11, a ,10m~mo • Como a defc:~ não ix'lde as quatro m~m1:roçóe',. quando e e,1cl' cálculo ? <.>ue se trata de uma ,er di:~c-urad:i, i: Jc ,upor que terfa pensou quc o, proJCClC modo, uma ,111da m1"õe' ehme,as ao c,1rnn­ Prok1ar10 . a URSS em t:i!-O algum redu~o o au,1ho externo ,o,,luco gcuo domei.mo modoque c,11Hrnm abandonará u WJ r ,pon,ab1hda­ Dentro dcs,a maneira de pens:ir na Chma numero,05 m1htnn:s e dc, nlcmas Na realidade. a ,uper­ an-.c re,c-..;: o npom nflrte-amencnno ,endt'don:s de armas, a mf,,rm,1)'ão poltnc1a sovie1k·u nunca deu quai,­ à Chma. Para defender a e\tensn "1brc a dcfc,a chmc~ actuahzou. qucr pa,,t" a1rá, nc,,c dom1niu e fronteira i:om a China. a URSS • e 1alve1 que na, proJCCÇ(>c, d1) Pentá· tem-se , 1,10 obngnda. desd, o O, c,pecialistas tra aram. de se gono haJa uma ube umaçao do mmp1mcn10 bilateral. a de,locar um modo. um quadro de de,organ11.a• m<.'canismo, soc1afü1~ para reali­ maior número de efec1ho,,. tendo .;ão. mau equipamento e cattnc,as zar. quando ,1 JUiguem neces,ano. cheJndo a col1\Car ah. presente· que e re,umem nos ponw:, seguin­ ~acnfu:m, no plano interno num mente. 4:! dh·1,õe . te'> grau maior do que.- sena po,.s1vcl nas .Se em ,ez do seu 3tr3!.0 béhro l - O atrasO do d1 po,,uvo mth· economia~ cap11ahsta, actual a Chmn con,cgu1:.,e modcr­ 1ar esUI cakuladoentre l 'i e 20anos. O certo é que a escalada arma­ nizur as suas força, armada,. o e~­ 2 - Todo., os ramos da~ Força~ men11,1a. Já um tanto râpida no fim forço 50\·iético tena de ~r propor­ Armadas l'C'Velnm dc.-fic1ências ~­ do mandato de C,art<'r. tomou- e cional a esses aunços. ou SCJa "ª"· com excepçao da mfan1ana mu110 mai~ ,elo, neMes poucos multo maior - pen= o~ au1t,re,­ cons1dcruda de excelente mvd. me~c, do governo de Rcagan. l,so do projecto. Convem. no entanto. 3 - Parn actuahlar suas força:. ª" alia-~.: a grave deterioração da\ re­ a~c;malar que existem dois factore~ annad:is. a soma requerida foi cale u · lações entre o~ brados Unidos l' a que: tomam um tanto relatho esse lada cm 300 mil mtlhõc'> de dólares URSS. até ao ponto de não ex1,11- pmjccto e fazem com que um grande A<, exportaçoes chinesa .. (dados de rem, praucamente. mecanismo, e numero dos pas,o~ concretos que 1978) foram eMimadas c:m 2,4 mil um código mutuamente comprccn· teriam de ser dados para se alcançar milhfics de dólare.,, Um indicio da ,,vel parJ um diálogo e uma nego· tal meta. wmente poderão concrc- situação chinesa foi proporcionado ciaçan, nem sequer no ca'>o de ter dt' 111.ar-sc num futuro 1mpre,1si,cl. por um artigo pubhcado no diano rccorrer•Sl' ao telefone ,·ermelho. A londnno Fmanc,al Times • em 2 ex1cns/io da confrontaçao no ccnáno O atraso do dispositivo de Junho deste ano. ba cado na anã­ as1á1ico acrescen1,1 um rbco n uma militar chinês lise de especialista\ militares 1)(:1· :.i1uaçao mundial cheia de risco, e den1a1i.. A guerra com o Vietname ma1 do que nun~·a exposta a dcs• Em primeiro lugar. a cnse eco­ em 1979 - diz o refendo artigo tru1çl111 101al D nóm1ca chinesa. que obrigou a uma revelou como era 1nfennr a anilha·

54 çader,- terceiro mundo Libano

A interminável batalha

No fundo. a missao Habib ser,a a continuação do dommio israelita por outros meios. No campo de batalha, porém, a resistência palestina e libanesa progressista frustra os planos expansionistas de Begin

Beatrii Bissio que rc,ta dc,,c ra1s? O que n:sta dc,,e pobre povo?• - Estu, dramatka~ perguntas. lc11a, pelo papa foao P.,ulo li ao nunl.'io arostolirn c.lc Beirute. m(IO · ºsenhor Carl11 Fumo. 4ut· ,, visitava no seu leito do hc;sp11al. rcfü.-ctcm bem o p.:íJ!I C..\ldade e os tcmnre du rnnsdênda mundial d 1antc dn ,itu.1- \:J0 qu .... se vive no Lihano Ubano, pc4ueno pais do \Ud10 Oriente. aprc,ent,1do n ,rmalmentr nn no11c1tlrin 1ntemnc111nal como um Clldmhn de cm, ..·~ ~,dica, •• e • 4ucma111.ada, como um connitn que opc'c cn,ta<• a muçulmano~ . e. ma" reccnt.,ncnte. cnmn pak,, da crise do, missei'•. Ma~. na reali­ dade. o problema e outro e çon1111ua se m snlu~.m u caso pal,.,tin,, e- a Ma, ,1 que é. altnJI a tao propa, ar. na, regiÕ<;~ de Tiro S.1da (S1- lutu du popula.;an lihanl',o por uma laJa -~m,e do, m1s,us ? Como ~e tkinl. Nab3tich. Castelo Bcaufort. nm a lcguhc.ladc:. aprc,cntada. lal­ podem nela t.?nquadrar a, egre,,,>e~ campo, de refugiado, de Rashid1ch: samentc. como uma guerra rch­ isruchtas a Beirute e ao sul do Ll­ dc,cmbarque, ao longo da e~trad3 gio,a bano? que hga Beirute a Damour e Tiro e. Par.i cada •crisc• sãn propoMns c1,m trágll'a regularidade. \OOs a mcd1udorc , cada um deles n,wa Os Sam-6 em cena grande alluudc ,obre Bdrute. A ,1- pcí'nna~cm. ~u,a c,trcla• tem vida tuaçao gerc,u uma esp.:rada reacç. J íuga7. e seu, nomes votado, rap1da ­ No, primeiro, me,cs de~te ano. o por parte da, for\'ª' . tnas. nwntc an c,4uccimcn10. DcMa v.:1 e governo israehta, cncabcç,1dn por libanesa~ progressista, e pale~tinns Ph1hp Habit-, env1ad,, c,pcc1al d11 ~lt"nahcm 8l'gtn. voltou a pê>r cm 4uc. cm cv1c.lcn1c de-vantagem prcs1dcn1c Re11gan ao ~l<'d10 pm11.,1 u, .,grc~~, cm larga c,..,afa diante lfu agrc,~ac, isral•lita, apenas Om:mc. paru lentar pcir lun à < ha ­ ao ,ui do L1han11 , atra,e, dc lre­ p,•d1am tentar melhor-ar n ,eu ~j,. mada •cri,c do, m1,,l·1,. qucntc, 1ncurs0l's por terra. mur e tema defcn~I\ <>

N º 36 /Agosto de 1981 c..iomoe terceiro mundo 55 Esta situação. levou a que a Sina esse é o seu unico • ml.'ritO• pro­ do r~~ideme dv~ rstaclos Unido~. tivesse deslocado alguns dos seus -árabe conhecido. Para okm dis~o. Hnhib ~ó concct,e umo soluç,111 de misseis Sam-ó (temi.-ar), de fabrica­ ele mais nilo e do que uma pcrçu pu paru o Ltbano se. un1l1m:rnl ção so\'iética. para o vale de Bakaa. perfeitamente integrnda na aliança ml·nui. o~ agl'l'd1do, l'l'nunrn1rcm à com o previo consenumento do norte-americana e $11\msta. sua defeso. presidente libanês Ehas Sark.1s. As Desde o inicio de Mam que Habib Para n in1ranqu1hdntlc de Hab1b. peças de anilharia anti-aérea insta­ esrá em mí. são "" \léd10 Oriente. p('!'Cm. lsraC'I n.t(l UCCIIO nem ladas ate aquele moment,'l mo:.­ ~"t,m alguma, cspm'ád1.:as viagens a mc:.mo tcmporonamcnre dcsempc crovn.m-se sem alcance para ahngir \\'al>hing1on. \'1aJa cons1.1ntemcnte nhar o popt•I de • hom dt1 fila. aviões altamente sofüucae:. darc~ no campo da aeronáutica mili­ li~tas da ~~ião ,e questionam ,e, na isradítn., bombardearam Beirute. tar ,cn:la.Jc. a ~ua • nussAll• niio ,e de;;, ~ot>rctudo O!. bairros de Falham A entrada em cena dos Sam-6 i<'i 11nar1a a c«olher 1nformaçl>e~ e Tari~-el-Judída, a Universidade uma resposta militar a uma ag,res­ tomar conh«1111i:n10 di~~·to de al­ Ambe, Ramk-1-al Bc1du l' os eom são. com o obJe<:tho de aperfeiçoar guns p('DlOi. débc1~ nas aliança~ ára­ pol> de refugiad11, de Sabrn e Shalila. o SlStema defensi\O de um pais si~­ bes. para que depoi:, a estratégia de Durante c,scs me~mo:. dias. incur tematicamentc invadido e oombar­ \\'ashingron-Tela-.ive melht'r se ões ~istcméticas ao sul do Líbano deado na maior w impunidad~. adequo~se a e,;sa realidadt>. dcstruiam pontes e estradas vitah Salvo protestos formais na~ ~ações :--;e,res qua~e quatro mesel>. hospilais e resid~ncias. semeando o Unida.,. as operações de Begin Habib formou. segurameo1e. uma pânico entre a população civil liba­ nunca foram ah-o de qualquer san­ opinião cabal da ,i1uação no Médio nesa e palestina. ~uas principais ví• ção concreta. Oriente. E.~ no ,eu fóro intimo, a timas. Os peritos militares polesti­ Begin •denun..-iou• que os m1s­ sua ru.ccndéncia lhe perm1tis:.e emi­ nol> interpretaram essa agressão - Sêi:,Sam instalados no vale de Bakaa tir um juí:ro ohJecth·o. não poderia que inu111izou grnnde parte das \'ius pelai. forças s1rias con,utuiam • uma deixar de reconhecer diante do pre­ de comunicação do sul do poi\ - ameaça à segurança interna e à in­ ~•dentc norte-americano os rancores como um passo previo n uma C\'Cn- tegridade territorial de lsrae 1.. Os que despcna na região o apoio do~ 1ual intervenção em grande escala Estados Unidos apoiaram essa in­ Estados Umdos ao governo do da~ forças iHaelitas na região. terpretação. e. a panír de então, a primeiro-ministro Bcgin, Síria passou a ser re:.ponsabilizada Como e~sas agressões se deram por ter provocado a crise dos mis­ depois do ataque ao reactor nuclear seis•. Uma proposta vazia iraquiano e em vésperas da reunião das poténcia~ ocidentais em Otawa. A proposta de paz que finalmente nn Canada. Alexander Haig. o se­ Habib: só o nome ê árabe Habib propôs reclamava a retirada cretário de fatado norte-americano. das forç~ s1rias da cidade de Zahle e viu-se obngado a censurar publica­ Surge enrão a •missão Habib• . de Saanin - posições que passa­ mente Begin. At"usou-o, nomeada­ que serviria como mediadora da riam a ser defendidas pelo débil ex­ mente. de colocar Washington em cn~ • Para lidar com os árabes. érciro liban~ - e a retirada d01, dificuldades diante dol> seus parcei­ segundo o simplista raciocínio do misseis Sam do vale de Bakãa. em ros na reunião de alto nível e pediu o presidente Reagan. nada melhor que troca de um certo conrrolo dos voos cessar imediato das hostilidades. aJguém que possa invocar uma as­ israelitas sobre o Líbano. Nem uma ls~o não impediu. contudo. que. cendência comum. E como a admi­ palavra sobre o problema paleMino. poucos dia~ depois. o próprio Begin nistração Reagan não tem uma polí• Ou seja: depois de Uês meses de se deslocasse a Marula. na fronteira tica para o Médio Oriente - ou diálogo com os pnncipa1i. dirigentes israelita-libanesa. para se entrévis­ melhor. uma proposta - aceitável árabes dircctamente aíectados pela tar com o maJor rebelde Saad Had­ pelos árabes. vá de recorrer a ele­ situação libanesa depois de discutir dad. ponta de lança de Israel nos menros supéríluos como esse. longamente com o~ dirigentes isra­ agressões ao sul do Líbano. a fim de Philip Habib tem. efecrivamenre. elitas e contando com todo o poder inspeccionar pes~oalmcn1c o tea1ro ascendência libanesa maronita. Mas da sua condição de enviado especial de guerra

56 - terceiro mundo Ncssn altura. nem certamente o pwprio Hnbib deveria confiar na sua ~apacidudc de mcdiaçúo A Síria tc­ jcuuu íormnlmrntc 11 ~uu prupo8U1 de paz. mantt•n árabes de dis­ wa~uo: nao aceitar as ameaças e preparar- ~e pnro novos C\'entuais agressôcs: tendo rc1terado u ~ua upo~içno a l()du e qu11lqucr intcrvcn ção de Israel e dos Estados Umdos no l fbano Em ctrculoi. reMrilo~. o regime de OarmM:o chegou a comentar que a mi,sào de Habib eslava a !lervir de base à airessão nnrte-amencana­ .-i~ruclito contra o L1bano com o ob­ Jectivo de dividir o paf!t. aniquilar a res1st~ncia palestina e atacar a pró• pria Sírio

Apoio dos mjnistros de Defesa árabes

Ya~ser Arafat reuniu-se durante esses dias com o comandante da\ forças das Naç,;,cs Unida~ estacio­ nadas no L1bano, o general irlandt, William Calnhom. para analisar a ~1tu11çiio. reconhecidamente tensa. Na conferência de imprensa que deu no finoJ desse encontro, Arafat afirmou que a pacu!ncia 1cm um limite• . Com essas mcsmai, pala­ Das rwnas do C.utt'Jo Beaufort. alvo (ODSIAnlt' das ~ ~ltas, os vra.~ tinha en~·,ado memorando~ ao paltst.inM ratStm> secretário-geral do ONU e ao presi­ medidas estipulada, pelo Tratado 825 mil soldado~. 9 500 tanques e :! dente do Conselho de Segurança. Arabe de Defesa Comum para aiu­ mil aviões de combate. sem contar exortando-os a dar maior upoil, Ih da1 o Ubann a preservar u i.ua inde­ com as forçai, militatts egípcias) forças palestinas. libanesas e s1rias. pendência. a sua soberania e a sua lançou também uma advertência aol> Paralelamente. Arafo1 convocou 1ntcgndade tcmtonal diante da Estadm Unido~ condenando a con­ uma rcumilo do Conselho de Defe~a agressão israelita• . alt!m de • ajudar tin~ação da sua aJuda militar a Is­ Comum Arubc a mais alta in~uincia a Organi1.ação de Libertação da Pa· rael. militar do Mundo Árabe . para dis­ lc,tina (OLP) a cnfrcmar as perdas Os Estados Árabes adoptarão cu1ir a situação. Na reunião - reali- causadas pelas agressões sínnís1as 0 • medidas globais no caso desses pai­ 1..ada l'm Tunes sede da Liga Arabe Tendo c~ortado. por outro lado. Sel> prol>seguirem na sua ajuda a Is­ o Conselho deu um amplo npoio à ns paises ámbcs o •ajudar os pa­ rael - foi sublinhado no comuni- OLP e às forças libanesas progn:s• lestinos na sua luta nos territórios cedo final da reunião s1stas. ncrescenl3ndo estor cons­ arabcs neupados• . Embora se1a pouco provável que ciente do p3pel de,;empcnhado pclu O Conselho que teoncamente es!ia advertência venha a ser con- Sina no conflito pafs au qual esten­ tem capacidade militar equiva­ vertida em medidas concretas a deu tnmbém ll seu apoio lente à NA TO ,,u oo Pacto de Var­ cuno prazo. o facto de o comuni­ Na sua rcsnluçao final de quatro sóvia (os 20 poises do Liga Árabe cado da reunião ter sido redigido em pontob. ficou decidido ndoptM as 1êm. sob as sua~ bandeiras. cen:a de linguagem dura é, por si só. um

N. º 36 / Agosto de 1981 cad 11 rcgiao. cm wdos o!. lado~ os hingtt1n. sobretudo se C\mlp:irado uctualmcnt,· n.1qul'l11 rcg111<,. ,\s n:­ i.ac,,~ dc al'\'111 ~ub:.tituem o~ \·i· <'tlm um pa:,,:;ado recente. na<' dc1xa cente~ mJnobra, conjunta, no \ledi· dros de ser um regime em que u c:-1ra1cg1a terrânto d,t S1ria e da. Uniao Sovic• Ah? quando JXlderá e-Ma s11ut1~uo da Cai;a Branca b:ise1a a~ su:i, <',pc:­ t11.:a - qu, rl!ntl\atam o ,cu tnu.,J,, contmuar1 rança., ~ la~ a cad d1.1 qul' pa,,a. d,· 3-.s1st~nd11 militJr - con,titui­ ~tais do e a mdhllrar o sua po~i;1vel de cc>ncre1izar. mant1 de Jerus!l.lem. propo,ta e,tn de po,1,;ão diante do, ,cus 1rmao, ara­ pmnto l"l!Jeitada pelos 1,raí.'litas. O dc~afio está a1. O L1bano be, Diante da ,ua 11mida e 1ea1ral conveneu-w num .:ampo de batalh.i ~h indicação de que a OLP foSlie Fortalece-se a linha dura Jru; forças que h1~1ori.:umtnte se cham:ida a negociaçõc!,, Reagan degh1diam na rcgiao: os povos arJ­ dedarou publicamente que 1s,o não Mesmo sem a ,antagem que ul­ bc:~ de um lado. e os mtcrel>i,es im­ e,1.a,a no, planos da administração gun~ mquerito~ apre:.sadamente lhe penahsta!> c~presso~ na política e.li­ republicana indica, am. Begin conseguiu. de­ pansionista de Israel. uo outro. No pois de duras negocia.,ões. manter o Enquanw i<.so. no campo de ba1a­ momcnlo em que a contrndiçao seu cargo de pnme1ro-mm1st.ro O lha. a, íorças pak~tinas e libanesas principal é ema. o conílilo trans­ cu:.to da laboriosa diplomacia in­ progressi'tas dão uma demonstra­ cende: largamente ns frm11eiral> do terna foi um endurecimento ainda ção de decisão e coragem. destacada Líbano c enquadra-se na grand~ luta maior das suas posições. e uma por analbtas de várias pane, do do scculo XX pela autodctermina­ apro:ullll!ção com o, pequenos. sec­ mundo. A ,ua pmição avançada no Çãt1 dos povo~. E nc:,,te caso. aquele~ tários mas deci!.ivos. partidos reli­ sul do Libano - o Já legendário que enfrentam o maior dci,afio ~o giosos. Nada indica na composição Ca.,telo de Beaufort. que domina de os própnos países arabcs: se não do seu novo gabinete que Begin es­ uma colina estratégica o rio Lituani sobrepõem o seu io1eresse comum teja a pensar mudar de estraiégia - submetida a intensos ataques c.le às divergéncias circunstanc1a1~. para o Líbano e território~ ocupa­ anilharia. rcsis1e à metralha e as con1inuarâo a assbtir à mutilação do dos. Pelo eonuário. todas as decla­ pres~ dos direitistas libaneses. seu povo e ao adiamento da sua rações insistem na linha behc1~ta As milícias e as forças regularc:s da grande mera: a supcraçao do subdc-­ mais intransigente A presença de OLP trabalham arduamente Junto senvolvimento um radical como Ariel Sharon no do3 seus aliados libaneses na orga­ Ministério da Defesa é já disso um nização da população civil do sul do (• J O Comtté Central da Al-Fa1ah. a exemplo. ( ) Líbano e evitar assim que o número maior e mais poderosa organiuçao de v11imas seja ainda maior. As pon­ pale~tina da OLP. declarou. atraves Tanto o diáno de esquerda libanês tes e estradas dcMruídas durante o As Safir como o conservador de Abu lyad, que •O novo govcmo dia pelos israelitas. começam u ser Begin aumen1nr.1 a 1cnl>âo no Médio An'Nahar publicaram nos dias se- reconstruídas à noite pela população Oncntc. levando-o II guerra

58 Qdemot terceiro mundo Palestina Arafat: <

O lider palestino fala -nos sobre a actual situação no Libano e pergunta: quem são os verdadeiros terroristas?

Sus Van Elzen

1 Yalóscr Arafat pela primeira vez no aeroporto una. O trabalho 1cm que continuar ... fazer frente à de Beirute. no momento cm que chegavam oi,. invasão bárbara das nossas terras. ao inferno perma­ restos mortais de Naim Khoder. representante nente nesta cidade. à guerra de agressão no sul do da Organização de Libertação da Palestina (OLP) em Lfbano. guerra empreendida pelos israelitas com um Bruxelas. assa~inado nos primeiros dias de Junho. O exército moderno. que utiliza armas norte-americanas " Hder palestino. um h, além disso. assassinos com armas centena de vekulob militares fortemente armados silenciosa~ que nos disparam pelas costas em Bruxe­ partiu através da cidade em d1recçao ao quilómetro las. Londres. Pans ou Chipre. Essa é a tragédia quadrado árabe controlado pela OLP palesuna. Tem sempre cor de sangue. Mas essa san­ A cerimónia fúnebre rchzou-se numa igreja cató• gria qu()lidiana é pane do sacrifício do nosso povo lica Após o que ~ celebrou um acto c?,uraordinaria­ para alcançara vitória final Você pode constatar aqui. mente emotivo na Universidade Araba. onde falou olll, ruas. a enorme determinação do nosso povo para Bemadeue Reynebeau. a viuva de Khadcr. Arafat prosseguir a luta. apesar de tudo ..• estava presente Pedimos a Arafat a sua opinião sobre a ameaça de À tarde panimos com o cortl!J0 para Aman. a capital guem1 que.·a partir do Líbano. parece querer esten­ da Jordânia. onde Naim Khnder foi enterrado. Desde o der-se a todo o Médio Oriente O enviado none-ame­ Setembro Negro• de 1970. altura que os palestinos ricano. Phihp Habib. percorre as capiLais da região. foram violentamente expulsos da Jordânia. atê muito numa tentativa de evitá-la. Arafat não crê na sinceri­ recentemente que Amnn era com,1derada zona inimiga dade desses esforços. para os palelótinos Há muito tempo que aqui não se Existem muitas versões sobre a missão de chorava por um palestino• - comenta o nosso acom­ Hab1b (que tem ascendência árabe) A verdade. po­ panhante Mustafá. rem . é que a guerra de agressão no sul do Líbano. Com o rosto marcado pela tristeza. Arafat receber­ através de bárbaros auiques (que chegariam à própria -nos-ia mais tarde no seu quartel-general em Beirute. capnal libanesa. causando a mone de centenas de A dor toma afável a.~ pessoas. Depois de um prolon­ civis). é realizado com aviões norte-americanos. com gado s1lênc10 cumprimenta-nos e agradece a nossa armas norte-americanas. com a luz verde dos Estados presença: Unidos. - Não podem imaginar u perda enorme que signi­ Os árabes unem-se fica para nós a mone de Naim Khadcr Ele era um doi. nossos melhore~ dirigentes. Trabalhava em sil.:ncic, Deve-se lembrar da uluma declaração de Richard mas profundamente. Allén (consellwro de Segurança Nacional da Casa Arafat faJa pausadamente: " Esta é a tr.1gêdia palcs- 59 N.º 36 /Agosto de 1981 c:ademOS terceiro mundo Brant•a). Ele afirmou que as forças militares ísraclttas des;1stre para todos nos Puru t> pov(I 1rnquiano. para o têm o direito de realizar perseg.u1çôe?s quentes • pt" o 1rnnianl'I. pura tOdl\l> ,,~ ptw1h d:1 n-giuo htumo~ pen;eguiçoos militares contra Ol, paltsunos. Que '-i1!· a fü1er 1ud,, o 11ue l'(Xkmns p.tr,1 11 deter I p1l:.s11 nilka isttf> E a Ju1. verde do:, Estad,1::- Unic-,>!>. ,11·resc-cntnr que.- ,·on,cgu1mM alguns pa~s(lQ pt1sl11vos TaJve1. Habib c~1e1a realmente a tentar e, itar a n,·,,a d1re"\·àn guerra e a porquc toda geni~· ~.lbe entre brucl Sma. a Q11,• t,>rfas 1><•.l1 m 1n11w.J1r q11e o Medin Ontllft' st que bso c-omplicaria toda a ,11uuçã,> na região. já quc­ 1 com·,•nci n111n,1.ire11 ,frcnnfli1,, ~11tre <1,\ .,\ 1O< o Pac-tn s1r1oi. têm um tratado de ami,adc a Uni,1,, ,,s rom de V,1rq1~·1<1 Sovu.'ttúl. O· n,,ne-amcricano" tnitam de e,11ar ,, Dt:po1, da f'onforfoci11 de: Tunes. o Médu, Oriente ..:onlronto. Mas. nt> ml!'smo tempo. Bl"gm Jcd:1.ra qui.' .:on, crteu · dac.1mt·ntc num probkmu drubc I spem do, ,,, ,:~forços paru 4u~· \e c,1ntinuc nc.-s~a dirccçun mar. Náo afirmar 1.jUl' O ê'\ÍIO SCJU ccnn. mus espero Hu algum progn.t:;o na procuro de uma .i,,/uçlm par,1 po,~n 1.1uc.- ,1 e,101\'0 arabe no:, traga uma soluça11. o probl,·ma libanês? Além Ji~s<>, e ind11b11.:lvcl que a r.uropa tem um C'omo presidente da OLP f&\'('I 10Jo o fll.' ,.,vel r: papel a Jt>gar na ~r"c do Medm Om·ntc. jo que os apesar de todai. al, diferenças c-ustentcs entre os p. r,e, nonc-amcn~ann~ ~o parciai~. hsa purciulidude 11 arabe,. obmemos exim ao poder rcalirar, h:t pouco (lb, 1a, ~t.,c deramente cm 11'<111, a~ de, laraç1'll's e nu tempo. em Tunei.. um encnntro dl3 Liga Arabe. F\li a1uda pohuca. diplumn11ca. finoncc,rn e militar com uma grande ,·itória da diplomada pale:.una. Eu pc,­ que o.. fatadol, Unidos altmentam Israel. E também soalmeme pen7orri to,im a e\trategia militar norte-americana nc~III rcgiao. conseguimo~ realiuu c.!,~e enc,,nt.ro qu.: ,up,.·mu a O, E~tado, Unidos. porem. coblumam errar. dhtsão que e:o,u3 de,de a ttuni.io dmeira de Aman. C'nmo. porcxcmplo, no problemii do Afcg-anistão o~ Quanm ao Ltbano. a mrnha opinião e de que 3 norte-amcn,anm, tentaram dingir por., o Afeganblâo :,0luçáo derende do, pn>prio, libanesc.. Uma 1'.-Con­ toda a atenção mundial. ma, cm que e que resultou'> Já dliaçao do, libaneSnto de nenhum 1omal fala mai:. nísso nu pnmc1rn página. panida. Q11alseriaaposu;ãodospa1Sesarabe.snoC"a.tode11ma DcJl Orient<'? Cl'm °' sufos e paleMinos de um lado e O\ israelitas de Enfn:ntamos mutla!> dificuldade~. como !>llbc. ma, outro. recolocou o pmblema na sua exacrn dimensão, não temo.. outrJ opção. Temo, que con11nuar a 110,~a Os Estados Unidos querem montar o c;ivalo islâ• revolução, me~mo na., ac1ua1s circun,tânc1as E em mico. aproveitar o ressurgimento do -.entimcnto reli­ Tune!>. como Já dís!,C. conseguunos algo mutto impor­ gioso. para enfrentar a União SovittiC'a no Médio tante. Es.,a reunião mostrou que o\ arabes apesar de Oriente. No entanto. esque.:em-se comple1amen1c que todas a:- suas dt\crgênc1as. têm capacidade de c;e eMe cavalo e,tá comprometido com a cau~a pale~­ unirem quando ,e trata. do tema medular. da ra11 de tina. todos os conflitos na n-g,ão. que e o problema paks­ tino. Este: é o sentido do que <.e resolveu em Tunes e do A lnternac1011aiSocialista tem algum papel110 Mediu que decidiram cm Bagdade os ministros de Negócio" Orieme? Estrangeiros da Conferência lslàm1ca. Tenho muito boas relaçõe, com diversos grupos da lntemacíonal Socialista. com o ,cu próprio prcs1· -O cavaJo Islâmico• dente. Willy Brandt. com o vice-pre~ídcnte. o chance­ ler austnaco Bruno Kreisky. e com muito.s outros. de Previ alguma alteração na guerra entre o Irão e o Olof Palme a Leopold Senghor. ,~ agora temo~ um dos Iraque? líderes mais importantes dn movimento. Françoí\ MIi· A OLP é membro de dois comitês mediadores. o da tcrrand. no F.liseu. Como rc\posta à minha mensagem Confcrêoc,a Islâmica e o do Movimenco dos Paíse~ de congratulações. n:cebi do pre,1dcntc franccs uma Não-Alinhados Panicípamos activamente em ambos breve mensagem. porém mutto importante. nela M11- e posso dizer que o mais imponante é que estes 1errand menciona os nos~o~ direitos o dirello do nosso comités encontraram bom ambiente para o seu traba­ povo à nutodetcrminaçao e a ter um 1crrí1ório E is'iO é lho. É uma tarefa muito difícil. pois esta guerra é um muito importante.

60 cadetnM terceiro mundo No funenl dr Nalm Khader, rcpreRotaote da OLP em Bru:ulas -imic10 pelos sionistas. Bc-madtttt Reynrbuu, sua mulher. t Yiu.~r Arafat

Claude Chtysson. o no,•o ministro francés dos foram reconhecidos pelas Nações Unidas: o direito de Negócios Esrrangeiros. tinha boas rtfaçMs com Naim voltar à nossa pátria. o direito à autodeterminação e o Khader, o qual trabalhava para conseguira compreen­ direito de estabelecer o nosso E.stado independente. de são da Comunidadr Económica Europeia pela causa acordo com as leis internacionais. Somos seres huma­ palestino. Pode tu sido tsso uma dos rar.ões do nos e temos o d1re110 de viver como seres humanos. e assassinato de Khadtr? não cnmo refugiado~ epatndas i,em documentação. Os israelitas escolhem <:omo alvo os nossos melho­ Talvez não entenda o que é ser refugiado. Temos o rés quadros. o~ nossos melhores líderes. Essa uma das caso de Na1m procurámos sepultá-lo; mas onde? Aqui razões pela qual nssnss,noram o meu irmão No1m. Ele cm Beirute? Em Aman'> Porque não na sua terra natal. era um desses quadros que deixam um grande vazio em Zababdeh" Acabou por ser sepultado longe da sua Não será fácil substitui-lo. patna. Eu vivo uma tragédia quoudiana aqui em O atemado fn, a1rlb111do na Europa aos próprios Beirute. porque não tenho lugar para sepultar os nos­ pa/estinn:,. sos mâ.rtire~ Ha uma lei nC't Líbano que proíbe aos O nssa:;sínam de Nllim Khnder é o resultado da palestino) a compra de terras. Temos um velho cemi­ oc11v1dndc dos serviços secretos israclilas contra os tcno. que esta totalmente cheio. e não podemos com­ palestinos. Perseguem-nos com todos os meios po~si­ prar terras para fazer um outrC't cemnério. Temos um veis Não lhes ímporta como nos conseguem ~sassi­ problema quotidiano: onde enterrar os nossos mortos" nar. liquillar o no~so povo. Às vezes utilizam os seu~ Onde'> agentes. outras usam mãos arnbes Mas as decísôes Aqui. com você. e~tâo quatro palestinos. Nenhum sao tomadas por aqueles que estão mtcrcs\ados em nos de nós tem o mesmo upo de passaporte. Como via,10? liquidar Mataram os no~os representantes em Lon­ Com um passaporte caducado Na mínha última visita dres. Paris. e agora em Bruxclni, , ao Kuwait. e,tava eu com o xeque Sabah quando uma Nün ha forma de as deter 1 autoridade pohc1al ~e aproximou para me dizer algo Na1m havia pedido uutorizuçao de porte-de-arma cm voz baixa. O xeque pergunt<1u-me: Não tens pas- paru !>un protecção pc!)~oal. ma~ as auwridade\ belga., 5aporte., Dn-mc uma fNo e dar-te-emos imediata­ negaram-lha F sabemos 4ul.' 11u1r11s 1.hph1matns <.'m mente um pru.:.aporte do Ku" ait Bruxelas cstao autorit:idos uo portc-de-:1rma. f'u per l u dísse-lhl' que nao. Como presidente da OLP g.unto: quem ~ão os tcrrorístas? Nu1m ou Regin'! pn:,~o conseguir um passaporte. E o meu povo·, Per­ Como pnr fim a t•sw guerra? guntei a Sabah Darias um pas:,aix1rtc a todo t' meu Rcconhccem.111 ao1- palestinos os direitos que Hl lhl.'s p11v11'! rs:,c e outr~l aspecm da tmgcdia. D 61 N º 36 / Agosto de 1981 cedemos terceiro mundo Conhecer Lénine, é tanto uma questão política como uma questão cultural

Colecção Pequena biblioteca Lenine

V.I. Lêntne

Karl Marx e o desenvolvimento histórico do marxismo

Em 2 ª ed1çao. aumentada, uma notavel exposição do marxismo feita por Lenine

Colecção Cadernos de m1c1ação ao marx1smo-lenm1smo

V.I. LÉNINE Pequena biografia

Em 3.ª edição, um esboço b1ogràflco das pnnc1pa1s etapas da vida de um dos mais importantes dirigentes políticos do nosso século: Lénine

2 obras com a garantia do rigor das ,edicões aoontf!• Uma cooperação frutuosa Conferência de Coordenação para o Desenvolvi· Anento da África Austral (SADCC), ou .. grupo dos nove-, reunida na capital do Zimbabwé, no dia 20 de Julho, deu um arranque decisivo para a instltuclonall­ zação desse organismo de cooperaçao regional. Criado no dia 1 de Abril de 1980, em Lusaka. a SADCC agrupa oito palses da África Austral (Angola, , , Moçambique. , Zêmbla e Zimbabwé) e um da África Ocidental e Tanzanla, unidos por um obJectivo comum: concertar esforços para o desenvolvimento dos Estados membros e redução da zanla, as Questões de indústria e comércio; o Zim­ sua dependência para com a África do Sul e outros babwé, as de segurança alimentar. palses Industrializados. Na •declaração de Lusaka•, foi considerado que a Desde a data da sua criação até à realização da prioridade das prioridades eram os transportes e co­ •cimeira• de Sallsbúrla, lêm decorrido diversas reu­ municações. Não surpreende, pois. que os progressos niões de peritos e conferências ministeriais da SAOCC. mais substanciais até agora registados na cooperação A primeira reunião de ministros teve lugar em Sallsbú­ se tenham produzido justamente nessa área. Dois paí• rla. em Setembro do ano passado. e neta se analisou o ses membros - a Zâmbia e o Zlmbabwé - têm grandes programa de cooperação. Em Junho deste ano, os dificuldades de acesso ao exterior, em virtude de não ministros estiveram reunidos na cap~el da Suazilândia disporem de fronteiras marítimas. Por outro lado, o (M'bambane} a fim de fazerem um balanço da acção sistema de transportes da África Austral encontrava-se desenvolvida e de proporem novas Iniciativas. A última praticamente paralisado devido às vicissitudes históri• reunião mmlstenal da organização decorreu nas véspe­ cas da região. Qualquer programa de desenvolvimento ras da •cimeira,. em Sallsbúrfa e destinou-se a preparar necessariamente teria de passar pela solução destp o encontro dos chefes de Estado. problema Sete Questões organizativas fundamentais ocupa­ Uma primeira acção conjunta a nlvel internacional. ram a atenção dos dirigentes dos •nove.. reunidos em realizada pelos •nove-. foi a posição comum que eles Sallsbúria: adoptaram na conferência sobre energias novas e re­ 1) a criação de um secretariado nacional, pare nováveis, que. sob a églda da ONU decorreu em Nai­ coordenar a actlvidade entre os diversos Estados (até robl (Quênia) de 8 a 21 de Agosto. Uma reunião de agora as funções de coordenaçao têm sido exercidas peritos da SADCC. que decorreu em Luanda nos pri­ pelo Botswana): meiros dias de Agosto, decidiu adoptar um 2) definição da periodicidade das reuniões dos documento-base para definição dessa acção comum. chefes de Estado; Além disso, os nove palses membros soítcitaram o 3) atribuição da presidência e do modo da sua financiamento por organismos Internacionais de projec­ designação; tos energéticos na região. A margem da conferência de 4) escolha de um secretário executivo; Nairobl foi apreciada uma proposta angolana sobre a 5) escolha de sede do secretariado; criação de um lnstitulo de Investigação Energética. de 6) ratificação da convenção que criou a Comissão um Centro de Formação de Quadros para o sector, e do dos Transportes e Comunicações, a qual entrou já em levantamento minucioso do potencial energético da funcionamento; região. Todos estes temas irão ser. aliâs, analisados na 7) atribuição de novo mandato à conferência mi­ próxima reunláo ministerial da SADCC. a realizar em nisterial pare a criação de novas comissões. Novembro deste ano. A SADCC tem oito programas básicos de coope­ Saliente-se, por último. que o Zaire pediu a sua ração Cada um dos Estados membros está encarre­ participação no grupo, afirmando que a parte sul da sua gado de dinamizar a cooperaçâo dos ,,nove". em do· província do Shaba se encontra na Afrlca Austral. Mas mlnlos Que lhe são atribuldos Assim: Moçambique tem este pedido suscitou reservas em certos Estados a seu cargo as questões das comunicações e transpor· membros devido aos Interesses económicos divergen­ tes; Angola, as de energia; a Zâmbia. os problemas de tes que aquele pais tem em relação aos Estados funda­ fundo para o desenvolvimento da África Austral: a Tan- dores da SADCC.

ca'.ltNnos 63 N,º 36 /Agosto de 1981 terceiro mundo Os pesados treta-se de um acto Inoportuno, de •uma atitude clara de apolo à agres­ ónus s1vtdade da Arr1ca do Sul• Denun­ ciou as constantes violações do es­ da guerra paço aéreo do seu pais na fronteira pela Força Aérea Sul•Alrlcana, que •bombardeia tudo o que. se move, desde biclcletas até camiões de abastecimento e ambulênclas•. LlidoLant Em relação à situação existente D Durante uma visite de três dias a desempen atem unçoes de guerra em Angola, Lara afirmou que •temos Portugal. a convite do Partido e milhares de camooneses são obri· consciência de que. como pais Jo­ Comunista Português (PCP) Lúcio gado~ a , i\ cr dé arma~ nas mào~ vem. com quadros jovens. comete­ Lara. secretârio para a Organização Lúcio Lara que participou em di­ mos graves erros. mas atea devem­ do Comité Central do MPLA-Partido versas reuniões com dtngentes do -i.e à nossa mexpenência e não a ma do Trabalho afirmou que a nova PCP e teve um encontro pnvado com vontade• Destacou também o facto administração norte-americana atiça o l)fe~denta Ramalho Eanes defen­ do governo ter conseguido modificar a apoia a agressividade da Africa do deu a intens,llcaçào da cooperação a burocracia colonial, Sul contra Angola e os demais palses entre o seu pais e Portugal mas re­ lransformando-a num aparelho ad­ Independentes africanos. Disse conheceu que ainda •não existe um ministrativo revotuclonál'lo Entre os ainda que a •permanente agressão esquema que defina as obrigações êxnos alcançados em Angola. citou a da Ahica do Sul obriga à mobilização de cada uma das partes•. quadruplicação, em três anos, do no pais de todos os melhores qua­ O dirigente angolano reafirmou o ensino prlmârlo. apesar das greves dros Jovens como também a dedicar apolo às acções da SWAPO & do dificuldadas por que passa o pala, uma percentagem superior a 50"o do ANC Consultado sobre a realização com guerra permanente e uma ca­ orçamento nacional para gastos béll­ das manobras mlhtares Ocean Ven­ rência quase dramática de professo­ cos•. Além disso. revelou. numero­ tura 81 , organizadas sob a respon­ res e escolas. Referiu-se ainda aos sos equipamentos civfs como ttacto­ sablrl

Distribuindo jornais, revistas e li­ vros, bem como material didáctico e escolar, a EDIL contribui para a formação cultural do povo de An­ gola. A EDIL é a distribuidora ex­ clusiva d s «Cadernos do Terceiro Mundo» para todo o território ango­ lano.

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64 c:ademo9 terceiro mundo Nova máscara ou mudanças reais?

O A designação do general refor- sas de encontrar algum consenso não depende da vontade do chefe do mado Gregório Alvarez para o entre os civis para que possam traçar Executivo. cargo de preSidente, em substituição um caminho para a democratização Por ora, as forças democrãlicas de Aparlclo Méndez iniciou uma Ninguém. no campo cívil. salvo aglutinadas na Frente Ampla (de es­ nova etapa polillca no Uruguai. A aqueles que Jé eram adeptos do re­ querda) mantêm-se na expectativa mudança na presidência foi a pri­ gime - por convicção ou oportunismo ou não atribuem muito valor aos pas­ meira reacção do reglme depois da - pensa assinar esse cheque em sos dados pelos militares. O exilado sua derrota no preblscrto de 30 de branco. Os observadores politicos de maior peso polltico no país. WIison Novembro do ano passado. quando a inclinam-se para a ideia de que não Ferreira Adunate, presidente do Par­ nova Constituição. que legalizava a há um projecto definitivo a nfvel mili­ tido Blanco. afirmou que ainda não presança milrtar na conduçao do tar. mas sim que esse diálogo evi­ pode ser dito que esteJa realmente pais. foi submetida à consulta popu· dencia, por um lado, as suas drver­ em curso um processo de abertura lar. gênclas internas üá que, por vezes, o no Uruguai. Ao mesmo tempo que se realiza­ tom das conversações depende • Os próximos meses vão ser, sem vam reuniões mtemas para se che­ muito de quem for o interlocutor) e. dúvida. decísívos. seja para confir­ gar a um consenso sobre o nome do por outro. que a prova de maturidade mar a vontade - até agora somente sucessor de Aparicio Méndez, as cívica do povo uruguaio demons­ demonstrada em frágeis atitudes, Forças Armadas iniciaram um pro­ trada no plebiscito está a ser dlficil de como o diálogo e o cessar das pres­ cesso de diálogo polllico através da ser superada a nivel castrense no crições e cassações de alguns diri­ C<>maspo, Comissão de Assuntos esquema simplesme!'lte contmuista gentes de segundo escalão - de Polllicos, para a qual foram convoca­ É dillcil predizer qual será a mar­ levar o Uruguai a uma redemocrati­ dos os dirigentes dos dois partidos gem de manobra pessoal que terá o zação ou. pelo contrário. para que tradicionais. o Blanco (ou Nacional) general Alvarez. um dos principais fique evidenciado que tudo não pas­ e o Colorado alguns deles proscn­ articuladores do golpe de 1973. As sou de um esforço para mudar o rosto de um regime. bastante desgastado tos O oblecllvo: comprometer as Forças Armadas afirmaram, no en­ duas correntes pohtlcas na •abertu• tanto, perante os polillcos convoca­ Interna e externamente, com o uso ra• que seria iniciada com a tomada dos para o diálogo. que o projecto de de uma nova mãscara rejuvenesce­ dora e sem maiores consequências. de posse do novo presidente. Se bem abertura é do conjunto dos militares e que alguns dos polltlcos chamados nunca tivessem exercido uma oposi­ ção real ao regime - muitos deles pertencem. inclusivamente, aos re­ Kampuchea: duzidos sectores que pregaram a vo­ tação no -Sim• do plebiscito - o que é significativo é terem sido também as divisões persistem convocados alguns dirigentes do Partido Nacional e do Partido Colo­ rado que haviam defendido posições D A conferência internacional sobre de principio inflexlveis. exigindo uma o Kampuchea, realizada pelas redemocratização sem disfarces. Nações Unidas. alcançou apenas. Às reacções desse tipo - apresen­ em parte. um doS obJectivos fixados tadas. pela primeira vez. de forma tão pelos seus promotores: convertê-la directa aos militares - nao houve. numa caixa de ressonância para de­ segundo deixaram transpirar alguns bllrtar o governo do Kampuchea e os círculos próximos dos dirigentes seus aliados, o Vietname e a Uniào consultados, uma reacção Intransi­ Soviética Na realidade, surgiram gente. Acou. contudo. no ar a Ideia desta reunião divergências mais pro­ de que as Forças Armadas uruguaias fundas do que se poderia Imaginar (pelo menos o sector que está a Im­ entre os governos da ASEAN (Asso- pulsionar o diálogo) -estão• desejo- ciação das Nações do Sudeste Aslá- Slbaouk

N. º 36 /Agosto de 1981 cedemoS terceiro mundo 65 NTA tico) e a China, que se opõem à Inter­ sáJ'ia uma paciente acção med1ad0ra facções guerrilhelms. condenou ao venção vietnamita no Kampuchea. dos delegados lrallCElses para que se mesmo nlvel o governo de Kampu· Ninguém esperava que em rela­ chegasse a um acordo em relaçao ao chea e os khmeres vermelhos, acu­ ção ao objectivo formal da Confe­ texto final que pedia a realização da sando ambos de serem .. armados e rência - a retirada das tropas viet­ •acordos para se evitar qua as fac­ apoiadOs maciçamente do exterior- namitas - fosse possível avançar-se ções armadas karnpucheanas Impe­ Uma definição semelhante cabe­ substancialmente. O próprio Kampu­ çam ou perturbem a ralízaçao das ria a Son Sann mas em relação ao chea. bem como o Vietname e a eleições•. (0 tema das eleições •li· Ocidente Na realidade. ele repre­ União Soviética classiíicaram a vres,. é outro ponto inadmissível para senta uma variante simpética às po­ reunião de inaceitável '3 não toma­ o governo do KamPUChea . pois en- tências capitalistas: com os seus ram parte nas deliberações 110lve a negação da leg1t1midade do ataques simultâneos aos pró-chi• Phnom Penh considerou-a uma próprio processo ele torai que esta a neses e aos pró-soviéticos, espera «grosseira ingerênciau nos seus as­ ser levado a eleito} que venham a ser aumentados os suntos internos. e Hanoi reiterou a Com a posiçao da apolo ao regime apoios à sua formação sua diSposição de tratar da •questào derrotado de Pol Pot a China ficou Em resumo: a reunião foi um fra­ do Kampuchea• e da sua presença Isolada E ficou de igual modo, clara casso em relação às Intenções dos mihtar depois de ter cessado todo o a ól'llsão entre as forças que lutam seus participantes e, depois de con­ apoio externo às guemlhas do Khmer contra o governo de Phnom Penh clulda a conferência, a •questão do Vermelho e aos demais grupos que quando Son Sano ex-primerro-m1- Kampuchea• ficou tão estagnada combatem o governo kampucheano. nistro de Sihanuk e líder de uma das como antes. As guerrilhas contam com o apoio da Tailândia, de onde partem diversas operações que nao chegam a abalar o poder mas que desgastam o país e Brasileiros e cubanos dificultam o seu processo de recons­ trução em Bagdade Nenhum dos participantes no en­ contro de Nova Iorque acertava este ponto de vfsta Todavia, os palses da ASEAN (Tailãndla. Malasia, Indoné­ O Na nossa ultima edição (-Israel: episódio que reuniu na conferência sia. Filipinas e Singapura) propuse­ terrorismo nuclear-). afirmamos de Bagdade o Partido 0emocrálk:o ram que na resolução, Juntamente que os árabes sofreram um duro Social do Brasn (PDS), presente­ com a exigência da retirada vietna­ golpe com o bombardeamento do mente no poder, e o Partido Comu­ mita, fosse incluída uma moção para reactor traquiano, mas que Israel nista de Cuba desarmar os khmeres vermelhos de perdeu muito com essa agressão, Na sua lntervençao, a delegação Pol Pot. sobretudo no campo polillco e diplo­ cubana denunciou o ataque israelita: mático. • Esta agressão contra um Estado Se a moção tivesse sido aprovada. A recente reunião de parlamentos ISSO sena um pnme1ro passo em di· membro do Movimento dos Palses de vários países em Bagdade, co­ Não-Alinhados. que realiza um es­ racção à tese de Phnom Penh e dos 0 memorando o 13. aniversário da re­ forço notável para superar a herança seus artados e sena amda razoável volução do Iraque. terminou com manter esperanças de sucessivas de séculos de opressão colonial e de i.ma veemerrte condenação do ata­ exploração imperialista, é a conti­ aproximações entre as partes envol­ que israelita Nos debates foram re­ nuação de uma polhlca agressiva da vidas no conflito. Pequim, no entanto. gistados factos que revelaram a re­ carácter expansionista que \'em ca­ que dá apoio militar e económico aos pulsa que a agressão despertou no racterizando. há muitos anos, o go­ khmeres vermelhos. opõs-se energi­ mundo Um dos exemplos da virtual verno de Israel• . camente a essa proposta R>i neces- unanimidade na condenação foi o Por sua vez, a delegação do PDS

66 cader,- terceiro mundo bt'asllelro, Integrada por destacados dirigentes partidários, entre os quals um vice-presidente da Câmara Fe· deral, o deputado Haroldo Sanford, emitiu uma declareçao em que •con• dena com veemência a agressão de Israel contra o Iraque, o que fere os preceitos da paz, as normas do dl· relto fntemacional e os princlplos mo­ rais que devem nortear o comporta­ mento das nações, manifestando ainda o seu repúdio pelas radicaliza­ Bapdadt;. ~ cceruurou o ções sionistas, já condenadas pelo ataque lsrwlli. governo braslleiro no plenário da ONU» Unos e louva o programa de acção do vocar esse facto não comum de que A moçao do PSD apoia ainda a Partido Baas Árabe e S0e1allsta. que Cuba e o Brasil actuem hannoniosa­ retirada total das forças Invasoras lidera o governo do Iraque mente numa reunião internacional da que ocupam territórios ârabes. o dl· Como se verifica. s6 a Inabilidade e natureza da que se realizou em Bag­ reilo à autodeterminação dos oales- o fanatismo do sr. Beg1n podem pro- dade.

Provocação no Golfo de Syrta

D Dois caças llblos SU·22 foram em águas e espaço aéreo sobre os mantos de Syrte indicam que a Ad· abatidos por F-14 dos EUA no dia quais TrfpoR reclama a sua soberania ministração Reagan quis efectiva­ 19 de Agos10, no golfo de Syrta, e exerclcios terrestres na sua fron· mente provocar um incidente com a quando efectuavam uma missão de teira com o Eglpto. Libia a qual com a devida antece· vigllãncla, durante as manobras mlll· A realização destas manobras dência comunicara a sua oposição à tares a que a VI Esquadra norte­ inscreveu-se num vasto plano da realização das manobras naquele ·ameticana procedia a 120 milhas Administração Reagan tendente a golfo. das costas llblas. O combate entre derrubar o regime llblo. escalonado dois caças llbios e aparelhos norte­ por diversas fases e no qual se ln· Todas as indicações disponiveis ·amerlcanos (dois, segundo a versào cluem mesmo pr01ectos da CIA para e todas as afirmações provindas das de Washlng1on, 0110. segundo a de assassinar o dirigente Muammar autoridades de Washington confir· Tnpoll) ocorreu a milhas das cos­ Kaddafi mam que. além de um desafio directo 60 1 tas da Llbta. As manobras serona· Em Maio deste ano, o Governo à Llbia. as manobras em Syrta visa· vais envolveram 32 barcos da refe­ dos EUA preteX1ando que a Libia ram: a) fazer valer os ~direitos~ que nda esquadra encabeçados pelo encorajava o •terrorismo intemacfo­ os EUA se arrogam de cruzar todos porta-aviões nuclear •Nlmltz,. (com naI.. encerrou a embaixada daquele os mares e impor como norma que os capacidade para receber 90 a 95 pais em Washington expulsando os Estados devem respeitar o limite de aviões) e pelo •Forrestal.. (lança• diplomatas llblos. três milhas para as águas territoriais, ·mlssels e porta-aviões capaz de ai· De então para cá. têm-se multi­ em contradição com a tendência de bergar 70 aparelhos) Segundo ln· plicado as pressões para que as alargar esses limites às 200 milhas; formações vindas a lume na Im­ companhias nona-americanas e eu­ b) inUmidar todos os Estados que, no prensa norte-americana antes de ro-ocideritals que operam na Llbia Médio Oriente. em Africa. no seio dos reallzaçao dos exerciclos. estes cessem a sua ae1ividade nesse pais não-alinhados, na OPEP se opõem constitutram um •teste• que a Adml· e evacuem o pessoal. aos manejas do Imperialismo e pros­ nlstração Aeagan pretendeu fazer às As reacções dos dirigentes seguem uma polftlca de indepen· reacções da Llbla ante a realização norte-americanos e os comenlérios dência e defesa Intransigente da sua simultânea de manobras aeronavals, da Imprensa ocidental aos aconteci- soberania.

N.º 36 /Agosto de 1981 çlldomos terceiro mundo 67 ~ENTA Angola: qual a Alnca do Sul recorieu a bom· bardeamentos aéreos e à guerra Repúdio Mundial qulm,ca-é a criação de uma espécie de •ES1ado da UNITA• no Sul de pela invasão Angola, para facilitar a adopçào do referido plano para a Namlbla Tanto assim é que o 1a citado Chester Croc· da República Popular de Angola ker. tusltficando a acção sul-africana, se apressou e afirmar que a paz vol• O A invasao do Sul de Angola per- 453 fá ante11ormente aceite por tana à Alrlca Austral, quando as tro· petrada por forças sul-atncanas Washington procurava salvaguardar pas cubanas retirassem do Angola o no dia 25 de Agosto, e que culmina os Interesses brancos naquele tem· que perm111r1a a •Independência• da uma séne de agressoes cometidas tono e •trocar• a solução do Pf'O• Namlb1a contra aquele pais e outros Estados blema peta retirada das tropas cuba· é, no entanto, muito duvidoso que da Unha daFrente, mereceu o repu· nas de Angola e pela partilha do a dupla Reagen-B01ha tenha meios dio mundíal. Este acto. que constitui poder em Luanda entre o MPLA-PT e para Impor esta polltiea Unanlme· uma grave ameaça à paz não só da a UNITA (Organização fantoche mente condenada pelas organiza· Africa Austral mas de todo o mundo, apoiada pela Africa do Sul) Ao çóes 1nternaclona1S e pelos Gover· e uma violação dos m!lls elementa· mesmo tempo, a Adminlstraçao nos de todo o mundo, a Invasão de res princlpios mtemaciol'lats e visa Reagan dava a conhecer publica· Angola suscitou uma onda de repú· perpetuar o dom1nio Ilegal da Nem1· mente assuas relaçoes preferenciais d,o. cuia veemência faz prever que bia pelo regime racista de Pret6ria com o reg me de Pretõria e •ressusci• os fins prosseguidos por Pretórla e Os seus ob1ect1vos imediatos são a tava• o contra-revoluc,onárfo Sa­ wash,ngton. de modo nenhum. con· criação de condições que permitam Vlmbl, procurando anular a emenda tarao com o lndispensâvel apolo in· Impor o chamado •plano de paz Clark e fornecer novo alento aos temac1onal. Multo s1Qn1l1cativo é o norte-americana para a Namíbia-. bandos da UNITA. facto de os próprios parce1ros dos Como se sabe. a actual Adminis­ Este conluio assumido publica­ EUA na NATO- que tanto têm auxi­ tração enviou o subsecretário de Es­ mente permitiu que Pretóna organi­ liado e Áfnca do Sul e a manutençao tado para os Assuntos Africanos zasse a sua operação mlhlar (nome do seu domlnlo ilegal sobre a Naml­ Chester Crocker, em longo périplo de código •Proteu•) mais ambiciosa bta - terem 1untado a sua voz (em por várias capitais africanas a fim de desde que tnterve,o em Angola em certos casos de forma mu,to lnequl­ •vender• um pro1ecto de •lndepen· 1975 Segundo tudo indica o propó• voca) aos protestos mundiais. Ape· dência• da Nam1bia que fazendo sito desta invasão- que fez penetrar sar das v1tónas militares proclama· tábua rasa de todas as decisões da as tropas racistas a 300 quilómetros das pela Áfnca do Sul, a sua derrota ONU e. nomeadamente da resolução de território angolano e durante a poHuca é mais que evidente. O Go­ verno de Washington, teimando em apoiar Pratôrla nesta acção viola· dora de todas as normas Internacio­ nais e ameaçadora da paz mundial, coloca-se também à margem da co· munldade das nações, fazendo re· cair sobre si a derrota politlca Infligida ao seu protegido. Num próximo nú­ mero de cadernos· do Terceiro Mundo Incluiremos lnformaçoes pormenorizadas sobre este grave acontecimento. cuias ,mplicaçoes e cujas consequências são. por ora, 1mprev,sveis, pois à data do fecho da nossa edição continuam os comba­ tes e a ocupação pelas tropas racis· tas de dez localidades da província Com o apolo do Governo norte-americano angolana do Cunene. incluindo a capital N'g,va

68 cademos terceiro mundo telex telex telex telex tele

Reabllltação - O presidente Samora Machel anunciou a desactivação do Centro de Reeduca­ çao de M'Saw1ze, na província moçambicana de Nlassa. No Centro encontravam-se 480 antigos membros de organizações repressivas criadas pelo governo colonial português no pais, tais como a Pide (policia politica). OPVS. GES, etc. O chefe de Estado moçambicano afirmou que, a partir daquele momento. todos os ex­ -reeducandos passavam a desfrutar dos mesmos direitos dos outros cidadãos moçambicanos A medida não abrange, porém, os elementos que, tendo servido numa daquelas organizações. não passaram ainda pelo processo de reeducação Tem sido uma das características do governo de Moçambique Independente o humanismo com que são tratados os elementos que fizeram parte dos órgãos repressivos coloniais Uma lição prá­ tica de respeito pelos direitos humanos. Nos campos de reabtlltação, esses elementos Maurlu Blshop viviam como qualquer camponês, culUvando a terra e integrados na população de cujos proble­ Solidariedade- O governo de Maurice Bishop mas compartilhavam. ficou satisfeito com a solidariedade dos países das Caralbas que recusaram recentemente a Petróleo - O petróleo voltou a ser um ponto de ajuda norte-americana de quatro milhões de dó• atrito entre o governo civil do presidente Be­ lares pelo facto de Washington tentar excluir laúnde Terry e as Forças Armadas peruanas. Um Granada dos beneficios da doação. Até mesmo a projecto de lei apresentado pelo presidente do Jamaica, presentemente governada por uma Senado. Javier Alva Ortandini, lidar de uma das equipa conservadora e pró-ocidental, aderiu a tendências do partido no poder, a Acção Popular essa decisão. A doação ia ser feita ao Banco de (AP). propôs a suspensão dos artigos das leis que Desenvolvimento das Caraíbas (BDC), que con­ estabelecem que as Forças Armadas devem firmou a sua decisão de não aceitar a ajuda conceder a sua autorização no que respeita aos norte-americana devido à discriminação feita em contratos petroliferos. Os militares. no entanto, relação a Granada. Nicholls, presidente do BDC, segundo informações publicadas na Imprensa. afirmou que as condições da oferta violavam os não aceitam a suspensão do veto que têm sobre estatutos da sua instituição. O BDC foi criado em os contratos petrolíferos com empresas estran­ 1970 e desde então recebeu dos Estados Unidos geiras. Problemas relativos a um contrato petroh­ 190 milhões de dólares. fero foram a causa, em Outubro de 1968. do derrube do actual presidente Belaúnde Terry pelo Bancos estrangeiros - Vinte e quatro bancos general nacionalista Velasco Alvarado. O go­ e Institutos financeiros internacionais verno. porém, considera hoje que o poder de veto estabeleceram-se no Chile desde 1975, segundo confere aos militares uma capacidade de decisão uma informação da Corporação de Fomento à alheia às suas funções. Por sua vez, as Forças Produção (CORFO). Outros 20 novos bancos Armadas entendem que os jazigos petroliferos comerciais estão em negociação para abrir dele­ fazem parte da segurança nacional e têm, por­ gações nesse pais. Enquanto certos sectores do tanto, implicações militares. Preferem eles que o governo consideram benéfica para a economia petróleo seja explorado pela empresa estatal Pe­ chilena o aumento da actividade bancária estran­ troperú, mas na opinião do ministro do sector, geira. o ministério do Interior. seguindo a mesma Pedro Pablo Kuczynsky, o Estado não tem capa­ ideologia entreguista. negou autorização para cidade financeira para empreender a exploração que fosse realizado um acto comemorativo pelo e a extracção petrollfera com a necessária ur­ décimo aniversario da nacionalização do cobre, gência. que devolveu ao pais as suas riquezas básicas.

N.º 36 /Agosto de 1981 c:edemoa terceiro mundo 69 ax telex telex telex telex tel1 Moçambique: combate à doença - Todas as crianças recém-nascidas serão obrigatoriamente vacinadas contra a tuber­ culose antes de salrem das maternidades moçambicanas - decidiu o Ministério da Saúde do Maputo. As autoridades moçam• bicanas esperam. deste modo. fazer baixar a incidência da tuberculose. Obrigatória é também a vacinação contra o sarampo para todas as crianças de Idade superior a nove meses. O sarampo é uma das doenças que mais mortes causa entre as crianças mo­ çambicanas.

Diego Garcia - O primeiro-ministro das Ilhas Mais dinheiro para armas - De 1976 Maurícias. Sir Sewoosagur Ramgoolam, vai para cá as autoridades racistas de Pretória apresentar na Assembleia-Geral das Nações triplicaram o seu orçamento de defesa. Se­ Unidas um memorando a pedir à Grã-Bretanha a gundo informações prestadas ao Parla­ devolução da ilha de Diego Garcia Esse assunto mento pelo ministro da Defesa, Owen Hor­ foi analisado durante a última reunião da OUA (OrganiZação da Unidade Africana) reahzada em wood, o orçamento militar de Pretória as­ Nairobi. A maioria dos países africanos apoiou cenderá este ano a cerca de 1500 milhões «as legitimas reivindicações do povo mauri­ de libras esterlinas, o que equivale a um ciano ... Como é sabido a ilha de Diego Garcia. aumento de 40% em relação ao ano pas­ que faz parte do arquipélago das Ilhas Maunclas sado, e corresponde ao triplo dos gastos foi cedida por Londres aos Estados Unidos. que feitos em 1976 com essa rubrica. Em contra­ construíram ali uma das suas mais importantes partida, os restantes gastos orçamentais bases aeronavais no estrangeiro. sofreram um aumento de apenas 1 %.

Central de subversão - O presidente mo­ çambicano. Samora Machel acusou a África do Novos embaixadores - A República de Sul de recrutar. adestrar e lançar contra os pafses Cabo Verde e a República da Guiné-Bissau da Linha da Frente •grupos de mercenários es­ têm novos representantes junto do Estado pecializados em subversão, sabotagem e assas­ siniOS'*. Na sua opinião a África do Sul é •uma português, cargos agora ocupados por Cor­ autêntica central de subversão• na África Austral. sino Tolentino e por Leonel Sebastião Vieira, Samora Machel denunciou ainda o estabeleci­ respectivamente. O novo embaixador cabo mento de bases militares no Oceano Indico, verdiano vem substituir Corsino Fortes, considerando-o «uma ameaça permanente à in­ poeta e intelectual, figura muito prestigiada dependência e à tranquilidade interna dos países em Portugal, que regressou ao seu pais para ribeirinhos». Em relação à Namibia. Samora Ma­ desempenhar o cargo de Secretário de Es­ chel condenou, uma vez mais, o re_gime do apa,t­ tado adjunto do Primeiro-Ministro, com res­ heid, frisando a «atitude ambigua. muitas vezes ponsabilidade, sobretudo, sobre o pelouro de cumplicidade. do «Grupo de Contacto» dos da informação. paises ocidentais. Por sua vez, Leonel Vieira, substituiu Fi­ OPEP - Vai ser inaugurado, brevemente, na linto de Barros, actual titular do Ministério da Venezuela, um Centro de Estudos da Organiza­ Informação e Cultura da República da ção dos Países Exportadores de Petróleo Guiné-Bissau. Leonel Vieira, ocupava uma (OPEP), que analisará sistema1icamente os pro­ posiçao de relevo no Ministério dos Negó• blemas petroleiros do mundo, organizando tam­ cios Estrangeiros em Bissau, antes desta bém seminários e divulgando informações sobre nomeação, tendo chefiado várias missões a história da OPEP diplomáticas ao estrangeiro.

70 cac1e~ terceiro mundo telex telex telex telex tele:

Desenvolvimento nuclear - «Se o Iraque de­ Atentado às liberdades no Egipto -O seíar firmar, com o meu pais, um novo acordo governo eglpcio desencadeou uma acção para a Instalação de um reactor nuclear, a França em larga escala contra bilbiotecas e livrarias, está pronta a fazê-lo nas mesmas condições em destinada a apreender todas as publicações que o tem feito a outros clientes» - afirmou o do Comité de Defesa das Liberdades. Este ministro dos Negócios Estrangeiros da França, organismo tem vindo a publicar livros e pan­ Claude Cheysson. O ministro garantiu que «os fletos denunciando a polltica governamental contratos de vendas de armas assinados pelo governo anterior serão respeitados, mas que a e a penetração sionista no Egipto. França não venderá armas aos palses totalitá­ Rlvalldade - A tradicional rivalidade entre a rios, que poderiam utilizá-las como melo de re­ China e a lndla-que em 1962 chegou a provocar pressão». uma guerra de um mês entre os dois países - Um segredo bem guardado - Seis parece começar a dissipar-se. Foi, pelo menos, empresas estatais do Canadá e 18 multina­ assim que se expressaram, nas suas respectivas cionais, da França, Grã-Bretanha, Africa do intervenções, os ministros dos Negóçios Estran­ geiros da China. Huang Hua, e da lndia. Nara­ Sul e Austrália constituíram, no mais abso­ simha Rao. Huang visitou a lndia em fins de luto segredo, um «clube» (ou cartel) para Julho. Foi a primeira visita oficial de uma autori­ controlar o preço e a produção do urânio. O dade chinesa a Nova Deli desde a guerra «clube dos cinco» foi constituído na década de 70, mas só agora a sua existência foi Namibla e Sahara Ocidental -A situa­ revelada no Canadá, cujo governo se viu ção de discriminação racial a que estão su­ obrigado a prestar informações sobre o jeitas as populações da Namíbia e do Sahara caso, devido ao facto de o Departamento de Ocidental foi objecto de uma tomada de po­ Justiça dos EUA ter tomado conhecimento sição do Comité das Nações Unidas para a do que se passava. Algumas das grandes Eliminação da Discriminação Racial. No to­ empresas envolvidas no escândalo: «Rio cante à Namlbia, o Comité manifestou a sua Tinto Zlnc» (britânica), «Comissariat de preocupação pela persistência e crescente L'Energle Atomique» (França)., Corporação agravamento da discriminação racial, e da de Combustlveis Nucleares (África do Sul), sua forma mais brutal - o «apartheid» - «Zinc Electronic» (Austrália). O «clube" teve naquele território. O Comité apelou a que a sua sede em Paris entre 1972 e 1975, e o todos os palses signatários da Convenção acordo para a sua criação foi elaborado em para a Eliminação de todas as formas de Joanesburgo. O cartel escondia-se sob a Discriminação Racial suspendessem a co­ designação eufemlstlca de «Investigações laboração militar e o apoio à África do Sul. O Conjuntas do Mercado>• e os documentos Comité manifestou-se igualmente preocu­ internos que circulavam no interior do clube pado pelas tendências vlslveis para que a eram catalogados em três categorias: secre­ África do Sul proclame uma declaração uni­ tos, altamente confidenciais e especial­ lateral de Independência no território. mente confidenciais. O cartel manteve-se Saliente-se ainda a preocupação manifes­ secreto, porque os cinco palses capitalistas tada pelo Comité pelo facto de os recursos industrializados que o constituíam queriam da Namlbia estarem a ser sujeitos a uma ter mãos livres para condenar os esforços superexploração, susceptlvel de conduzir ao das nações subdesenvolvidas interessadas seu rápido esgotamento. na criação de monopólios de defesa das Quanto ao Sahara Ocidental, o Comité suas matérias-primas. Aliás a polltica oficial exprime a sua convicção de que a presente canadiana era a de recusa em participar em situação é de molde a criar diferenças de associações de produtores do Terceiro igualdade de tratamento entre os vários sec­ Mundo. As tentativas nesse sentido feitas tores da população, e apoiou as resoluções Junto do Canadá pelos produtores de tungs­ da ONU e da OUA, reafirmando os direitos ténio, cobre, ferro, mercúrio e prata foram inalienáveis do povo do Sahara Ocidental à sistemattcamente rechaçadas por Otava. autodeterminação.

N. 0 36 / Agosto de 1981 cedemos terceiro mundo 71 O assalto à Amazónia

Antigamente, na Amazónia era assim: seis le­ naJ, sem quaJquer controlo e ..• com muitos subsí• nhadores leva\·am entre 6 a 8 dias para derrubar dios. um hectare de seha. Agora, sozinho, um homem Trata-,;e de uma nova etapa da hlstória da Ama­ pode derrubar um hectare em dois dias se utilizar ronia. onde o empreendimento seringaJista coml.'Ça uma moto-serra; 40 a 50 hectares de mata num só a sair de cena para dar lugar à empresa agrope­ dia se usar o -correntâo• - uma corrente de rerro cuária, de mineração ou madeireira. Uma nova com 100 metros de comprimento. com um peso de história que repete, em escala bem maior, os erros 11 toneladas; ou cerca de 100 hectares em apenas das últimas décadas, que contribut!m para agra\·ar meio dia se utilizar um avião e os desfolhantes que os problemas da região amazónica, onde a pobreza eram usados no Vietname. e a desesperança contrastam com o Imenso poten­ A destruição ecológica raz parte de uma reali­ cial do solo e as grandes perspectivas que a sua dade que ameaça destruir a Amazónia: a sua ocu­ exploração adequada - visando os interes.,;es do paÇlio em larga escala pelo capitaJ transnacional pais - poderia abrir para o povo brasileiro. em associação com o grande capital brasileiro e Esta reportagem, coordenada por Edilson Mar­ com o governo de Brasília. São projectos gigantes­ tins, especialista em assuntos da Amazónia, pre­ cos. como é o caso do Jari, do capitalista norte­ tende dar ao leitor um panorama t.ão vasto quanto -americano Daniel Lud\\-ig, e da Alcoa, também possível do que se esta a passar hoje na Amazónia. norte-americana. É ainda o caso do Caraj_ás, onde Dizer que a maior florei,u do mundo est.ã hoje o governo, propositadamente, limitou a sua pró• ameaçada representa pouco. A AJrul1.A>nia ~Ui de pria actividade à extracção do minério de rerro facto a ser invadida e saqueada como nunca acon­ para deixar noutros sectores o campo aberto ~ teceu nas tentativas anteriores que o capital lnter­ transnacionais e ao empresariado privado nacio- nacionaJ rez !)'.ira a ocupar.

72 -.ioe terceiro mundo Amazónia: 50 anos de fracassos e decepções A «Fordlândla», do capitalista norte-americano Henry Ford, fracasso_u. Os g:andes lagos do futurólogo Herman Kahn, também norte-amencano, nao saíram do papel. E a Transamazónica continua a criar graves problemas para a região.

------Edilson Martins ------1 OS ulumo:. 50 anos, trcs pro­ tivo de prote~10 por pane dos serin­ Jecto, geraram c~pcranças na galistas, grandes latifundi/irios. De NAmazóma br.mlcim: o pri­ nada adiantou - um milhão de pés meiro trnca,,ou. o ~egundo nau ,a1u de i.ermgue1ra.\ foram planll!dos dl, paJX'I e o tcrce1r11 cmhM:i execu­ No ,·oração da Amazónia come­ tai.tu. t:ilvl'l tenha 1ro1.ido mais çaram então a surgir o hospital. os danos que beneficio~. postos de saúde. os • cou.rts de té­ Dos proJectos. o primeiro foi a nis. as mansões dos dírectores. o cria,;ilo da Fordlándia- • no Pará, café e o drugstore, no melhor estilo em 1928. Dezoito anos depois. reve­ da Nova Inglaterra. Assumindo a lou-se apenas um sonho cxóuco de posição de general numa zona con­ um dos •cardeais- do imperialismo flagrada. o velho Ford comandava norte-americano. Henry Ford O r,c­ tudo pelo telégraío. A animação e gundo projccto era o de um • mar e,cuberãncia dos anos iniciais pouco interior• • a ser formo.do pelos Gr:in­ duraram; os ~s de seringueira co­ des Lago:.. que rcsullllría da inunda­ meçar.tm o definhar. mortos pelo ção dos vales dos rio:. amazómcos. excesso de sol e a falta de humidade. Foi uma idealização do :>r. Herman consequência da abertura de grandes Kahn que não passou do papel. Ford; romattdlllldo Ilido ptlo «~lqra.fo clareiras. A íloresta heterogénea con~t11uindo. hoje. apenas a recor­ triunfava. apesar do tecnicismo e da dação e~palhafato~11 das prctcnsõe:. ~deroso Hem, Ford empreendeu disciplina do capitalista norte-ame­ do excêntrico futurólogo om-in­ num11 ideia; supnmir definitiva­ ricano. Em 1946. Henry Ford des­ cano. mente o falta de borracha nas suas pediu-se melancolicamente da A Tram.omazómca, o terceiro dos indústrias. O grande capitalista não Amazónia O primeiro proJeclo projcctos. foi anunciado como a re­ suportava continuar na depcndêncio ambicioso dava a sua história por dentora da reg1ao Nao consolidou dos preços do~ ingle~s do Cerlão encerro.da. Duas décadas depois. nado. Até boje. cm muitos trechol> ;i (actual Sri Lnnka) e dos holondese!> Lud" 1g. tamb,:m poderoso capita· movimenlllçào de veículos na el>· de Jav:i lista norte-americano. repetiria a trado não é suficiente para justificar Resolveu então lixar-se na Ama­ empreitada de Henry Ford. eviden­ ~ elevadas ~oma, mvesudos. No zonia. Para que o capnalistn norte­ temente, com caracterishcas e ob­ epoca da con,trução do Transama­ -amerit'ano pudesse concretizar oi. jecti\'OS bem diferentes: tudo leva a lÓnica. nos anos do chamado mi­ !ICUS sonhos, o governo brasileiro crer que o destino do seu projecto lagre brnilciro• . o governo Médi­ cede-lhe 2470 Km2 (2.5 milhões de Jari será o mesmo da •Fordlândia• c1 pmmelin atrair pnra a região "iOO acres) de terra:;. nns margens do rio (ler artigo neste numero). mil nordc~tinos; ni\o atraiu 30 mil. TapnJóS. Três mil caboclos ( 1) A década de 60 regista nova ten­ foram conv,lcados. numa verda­ cativa de ocupação da Amazónia. A historia dos projectos deira acção de guerra. passando a Nüo tão aventureira como a pri­ aufl:rir salários que se consideravam meira. mas. sem dúvida, fantástica. Em 1928. um ano antes da grande nesse 1c:m~ régios. O excesso de A diferença é que o Henry Ford dos recessão none-amcricana. o todo concessões à empresa Ford fo, mo- anos 60 não tinha o poder econó-

N.º 36 / Agosto de 1981 ~ terceiro mundo 73 171fü:o Sll'llVl!S Jo faixa mine dl\ con­ ttncnLc Em resumo. t' rrojccto re:.uhuria na interligação de cinco grandes no­ çl\c:. sul~amcricnnth, signiflcann a t.1.0 ,onhada internllc10ouliz11ç1.10 da Amawnrn. reinndicação dos na­ ç,\1.::- de~nvolvidns do Ocidente. Canoas. botCl> n motor e pequenos navios scm11n lnnr;adul, noi. Jugo:.. ligando cidades. vilas e povoados. F.,b11a a expectam a de que o pro­ jecto resultasse na estubihza.çao dos ntvd~ dc agu" dos rio:.. n:du.tindo os problemas cau\ado:. pela ocumula­ çiio de sedimento:.. Além disso. me­ lhoraria o p('ltcncial de navegação. propi.:1an passadll na longa nouc de pesadelo da Amazó• nia.

~;umJWOJtttofanoak'Oqueaiolatrarou • rqpáo-dtsinl~ ~co do c~ad~r da Fordlãndi3. Ao sul-B.n?ericano de grandes lagos fora A Transamazónlca inve:. de dmhell'O. o :.eu poder pro- :inunc1ado pela pri~ira ve1. em A ~cada de 70 acabou com o \'inha do seu QI (coeficiente de inte- 1964. Quem lançou a ideia ro1 um sonho dos grandes lagos e substi­ ligencia) amplamente alardeado. O dh.cípulo de Kahn: Roben Panero. tui-<> por outro mais efecti\10: ases­ seu nome. Hennan Kahn. 150 qui- Panero propunha a construção de tradas. apontadas como solução dc­ los. obeso. Jento. extremamente barragens baixas para formar os la- finni va para a integração de toda a feio, director do Hudson Insútute gos A equipa do futurologo Her- região. dos Estados Unidos. Na época, o man Kahn chegou a sobrevoar va- Dentro dessa perspectiva nasceu Hudson reunia dezenas de cientistas rias vezes a Amazónia colombiana. o projecto da Transamazónica. O de ren~me ~temacional. Não só estudando locais para 11 execução do seu objecúvo era o de ligar o ponto concebi~ proJectos fulurisl8.S para a projecto. Edificadas ao longo dos mais oriental da Amtrica do Sul -o economui de fiferentes países. rios. com elevação de dez a trinta Cabo Branco, no Atlântico - à rede como intentava at~ prever o desdo- metros. as barragens formariam, se- rodoviária peruana, atingindo o Pa­ bramento de guerras convencionais, gundo o projecto. um , mar• na cífico após vencer a floresta. Na por exemplo. a do Vietname; tanto maior bacia de água doce do mundo. verdade . esse objectivo foi boje no caso da Amazónia como no caso Entendiam os cientistas do Hudson praticamente alcançado. do Vietname o insmuto falhou. lnstitute que o continente sul-ame­ Mas se a Traosa.mazón1ca inter­ ricano tinha uma grande vocação: a nacionalizou a região. fracassou da ligação dos seus principais rios. como projec10 de integração. lsLo Um • mar• de barragens através de canais. po~ibilitando porque não se coloniza uma região assim o ftáfego directo e perma­ com mao-de-obra miserável. ~em O mar interior projectado para a nente. poupança. sem tecnologia; com Amazónia provocou polémicas em Um detalhe: a ligação dos princi­ migrantes abandonados e ludibria­ todo o país. Anunciado em 1967. pais rios ( a exemplo. do Araguaia e dos pelo governo, ecológtcameote não faltou, como sempre acontece. o Xingu. que são paralelos e correm inexperientes e sobretudo famintos. quem também o dêfcndcsse. Na em direcção ao Amazonas) acabaria o ( 1J Assalariado rural verdade. o projecto de um sistema por unir o Oceano Atlánuco ao Pa-

74 cadernOe terceiro mundo .------Amazónia------O ciclo da borracha

A velha empresa seringalista perde os financiamentos do govemo e dá lugar à nova empresa «agro-pecuária» madeireira e de mineração, oriunda do capital industri~I.

Amat.óma br-J"leira - rc­ npn:senra C'arac1cns11cas espec1a1s e dos. Em 1823. a aclual regiao :-.:orte giuo Nonc - com uma área merece 1a uma reílexão nacional comava uma população calc ula.da Ade 3.581.000 quilómctnls He é levudu a efc110 num scn11do de cm 127 mil habitantes: em 1872. a 11uadrado~. o que corresponde a ocupação e devas amen10 dcíint11- populaçao anda\Ja â \olta de 340 -i2•.; de lodo o 1em16no nuc1onal. \ 11s. de ,Jclapida~-.ío d~ reservas flo­ mil: em I ')()(). Já uhrupa-.:.ava os 700 induindo o, Es1ados do Pará. Amu• n:siais. das rique,.as minerais do mil hab11un11:s: e. cm 1920. con1a,1a zonll)>, Acre, e o:. 1cm1onos de Ron­ :.ubsolu e da dcstru1ç-ao pr.111,a e Jª um milhão e 400 mil habuante:.. dónia Amapá e Roraima. \IVe. ccolk'imica de Ioda a regiao, No momenlo rm que o p:w, luta e desde o dccadu de 60. um novo dclo No Ji,1 31 de Ou1ubro de l 8'i3. n necc:.:.lla de reduzir o seu volume de '>IICi<'-ewncimico go"emo dos falados Unido~ ~olid­ 1mJ>11naçõc,, a produção actual da A velha empre~a scnngahs1a. que lou ofü.·1almcmc ao Brasil que bo1T3cha. fundamental para a sua desde a segunda mciadc do scculo ubrissc a Amazónia á navegação in. indústria. não vai além' de 21 mil passado fora a unidade báS1ca do 1emacional. Desde 1823 - d:ua do 1oneloda.,. No:. últimos cinco anos. ciclo ex1n1C1or da borTOCha. com os pnmc1ro cmbarqJe de bomicha o con umo da industria bra~ileira seus scnngulista~ h1s1M1coi. e os brasileira pnm o merendo eltlcmo - aumenrou cerca de 80'J . O Brasil ,;cus seringueiros lendários. eslá que certos imeres-,es in1emacionais apresen1a anualmente um défice de. pm1icamcn1e madiva, multo em­ se vohavam para a região. Em 1912. apmx1madamen1e. 'iO mil tonela­ bora o pais imponc anualmente 50 o Brasil perde dcfini11vamentc a he­ das: em 1972. esse défice era de 18 mil 1onelada!> des~ produto, pa­ gemoniu mundial da pmduçao da mil toneladas. gando ao mercado exlemo cerca de borracha. que man1inhadesde 1870. 85 mil~s de dólarc:.. Durante esse oenodo. os ingleses O Es1ado do Acre. por exemplo. fasa u·ansição uunge a chnmada con1t11bandearam. do Brasil paro as cuia vocação para a produção de Amazónia legal. que envolve outros suas colónias do Sudeste as1áuco. la1ex é indiscutível. está hoJe tranS­ ~lados fora da região Nonc. abran­ 70 mil mudos vindo a 1oniar-se formado numa grande fazenda de gendo 58Cil do pais. A região a:.si,1e posteriormente. com o desenvolvi­ gado. com inumeras empresas ma­ hoje à consolidação da nova em­ men10 do novos seringais. os prin­ deireiras que deslTOCm implocavel­ pre~ agro-pecuária, madeireira e de c1pa1s exponadorcs do mundo. em mente a íloresta tropical mineraçllo oriunda do capital m­ consequencia do alw grau de racio­ A panirde 1970. o ciclo da borra­ du:.Lrial A substi1uiçao do capilal nalizaçim capilalis1a das suac; plan­ cha. que durou 100 ano~. sofreu dois comercial base do ciclo mono­ u,ções golpes monais: foi extinto o mono­ ~iurac1or da borracha. colhena da De IQ22 a 1945. os consórc10s pólio es1aral da bomicha. o que de­ cas1anha-do-Pnrá e comercialítação none•americanos interessados na sobriga o Banco da Amazónia de de pele de animab silvestres - explornçao da goma e lásnca (la1e:,,). fmanc,nr a empre~ seringalista: e o pela nova empre~. com uma 1ecno­ fundam as companhias Amawn gl'•vemo Federal contestou. au-avés logia transnacional e allamcnrc so­ CorporaJmn. American Bro:.ilian do Incra. tl dommio da propnedade. Todo, tls grandes proprietários pas­ fisucada . gera h(>1c uma das 1mns­ E:r:plórtJtion CorporaJiQn , Cana­ ,am à ,.uuação de rendeiro:. fonnaçõc, mai, r.1di C'a1s de ioda a dian Ama ·nn Co LJd. e o ford Um -.cringalblll da região, Ar­ h1s1óna da Amuónia. Anun.,111 Company cnitt OUU'as. A primeiro regumc~olhidu nessa Pl.lrn ~ 1er uma idem do que foi o mando Pereira. definiu des1c modo e,sas dua, medidas • Foi um golpe nova lcntativa de ocupação loi o ciclo da b<•micha. que agora~ en­ economico decisivo desferido na vale do Araguaiu . O proce~so a,1ual cerra. bas1ara enunciar alguns da-

N.º 36 /Agosto do 1981 ~ terceiro mundo 75 n·dmcnto Jc,sc:. recur.o, nnturn1s. O:- d,mos Qllt" t"stuo. prescmcmcnte. u :,i:r JX'fl'tll"JUO~ comr:1 a Amuzéncias de valor econó• empresas transnaciona~ e grupo:, pelos rios. que seria a via natural e a mico. devido aos e~timulo~ dos in­ sulbt~. esmagou dessa forma. im­ menos prejudicial natureza. A centivos fiscais. para a implantação cunha da penei.ração aciual foram as piedosamente. a velha empresa se­ de campos de pastagem•. estrndas. principalmente a de Belem ringalista Os • barões da borracha•. os que A suspensão de financiamentos par.i Brasília. iniciada no governo sobraram. encontram-se imobiliz.a­ pelo Banco da Ama.7.ónia. dei,ou de Ju~elino Kubit.sChek . A mst.ala­ do~ pelo rcumausmo. a obc!>1dade e toda a classe dos seringalistas endi­ ção do capital mdu:.trial começa. carências financeirac,. sem poder e portanto. a pan1r de Juscclmo. al­ vidada. A partir de 1970. os grandes ~m voz. o~ charutos RC1meu e cançando o auge após o golpe mili­ seringais. alguns deles com mais de Julieta• Já não se acendem à luz 600 mil hectares. passaram a ser tar de 1964. morna de candelabros austríacos. Implantada a via Belém-Brasflía. vendidoi. a preços irrisórios a grupos EnU'Cl3DtO, nos cabarés de Marabá. estava criada a infra-estrutura para sulistas e a empresas esu-angeiras. O a cidade mais próxima dab explora­ hectare era adquirido a 2.5 cruzei- se alcançar o vale dos nos Araguaia. ções de mtnério:.da Serra Pelado. no ros: (43.89 por dólar em Janeiro de Tocantins. Sul do Parã. Rondónía e. Sul do Pará - a Amaz.fmia viveu 1980) hoje. chega a estar a 5.8 mil. finalmente. o Acre. o último reduto sempre de mitos. desde a sua desco­ Os resuhados negativos dessa polí• dessa penetração nacional­ berta - uma pro&tituta chega a co­ tica são notórios. -estrangeira da Amazónia brasi­ brar 50 mil cruzeiros por uma noite. leira. Ontem era o insolente e invaria­ A penetração A riqueza maior velmente obeso !.Cringalista, ho.JC. o símbolo des!>C novo eldorado pode Há que observar que. sem ai. ..:s­ ser um ex-emigrante, subnutrido. uadas. a empresa u-am,nacional e os É bom não esquecer que o maior vindo dos sertões nordestinos. grupos nacionais a ela ~iados palrimónío da Amuónia são os seus atraído pela febre do ouro que assola não teriam jamais chegado. com a recursol. nalurais. O desafio que a o vale do grande rio. O rapidez conhecida. à Ama1.ónia. nação vive no seu todo é o desapa·

76 C8defnos terceiro mundo Amazónia O assalto à floresta A "tecnologia» aplicada nos desmatamentos amazónicos tem vindo a evoluir rapidamente: com desfolhante, um aviador sozinho liquida cerca de 100 hectares de floresta em apenas meio dia de trabalho

Orlando Valverde • ------'

ODAS a~ pohlicas de ocu­ fnrto de a taxa de incremento da de 70, entrou em utilização o •cor• pação da Amaiónin brasi­ devastação ter, entre 1975 e 1978. rentão•, uma corrente de ferro. de Tleira foram detem1inadas apre-.entado o valor de 169 por 100 metros de comprimento. arros­ em função de imere~se!. estranhos à cento. tada em cada extremidade por um região e mei,mo no país. Realmente, à medida que o tempo tractor pesado, que abre um corre­ De acordo com um recente rela­ corre. o processo de devastação ace­ dor nas ma1as de troncos finos. Com t

cademos terceiro mundo N. º 36 / Agosto de 1981 77 de Manaus, foi adquirido no co­ mércio. No Acre. por exemplo. onde e muito p.,~ueno o numero de ~projec- 1os agro~uários• financiados. o desfolhante foi utilizado tamlx'm romo um dos meios para e,pulsar das suas terras rendeiros. andios e seringueiros. forçando-os a emigrar para não morrerem. Usando dcsfo­ lhrutte. um aviador. sozinho. pode desuuir cerca dt> 100 h.:ctares de floresta em apenai; me1~1 dia de tra­ balho. Os trabalhadores contra.tados para o corte das matas e o plantio das pastagens são aliciado por emprei­ teiro de mão-de-obra. vulgarmeme conhecidl1s por • gatos • oas regiõe,; onde ha cnse agrnria. sobretudo no Maranhão. de onde são transporta· recimco10 de ,'ária!- espécies vege­ levantamentos florestais do país. Os dos sob vígilãncia. como se de gado tais como, por exemplo, mogno. a levantamentoi. foram realizados se tratasse. Terminado o seu ser­ o de marcenana mais pre­ entre 1954 e 1957, numa extensão viço. são despedidos sem qualquer de, aproximadamente. 1700 quiló• indemnização. em desobediência ciosa da Amazonia; a maçaranduba. que além de madeira produz gonu metros por 100 de. largura. desde o absoluta às leis do trabalho Sem rio Maracaçumé, no Maranhao. até dinheiro para regre:;sar à sua 1erra não elástica: o castanheiro-do-Pará. também com boa madeira e dando, no rio Madeira, Amazonas. natal. esses trabalhadores penetram Um pormenor significativo: o:; re­ mais ainda na selva amazónica. com as suas semenies. o alimento mai~ rico que ~ conhece por uni­ latórios técnicos publicados pela onde se estabelecem como rendei­ FAO ti\·eram umo edição limiuda. ros. Dru. poderão. mais tarde. ser dade de volume; a poaia. ou ipeca­ copiografada em Ungu.i inglesa. fi­ expulsos. mas entretanto. Já terão cuanha. raiz medicinal; o pau-rosa. cando. ponan10. inace!>Sível ao derrubado um pouco mais de flo­ produtor de essência para perfuma­ grande público e aos empresários resta. aumentando assim o desflo­ ria. Hã uma ameaça real: a continuar brasileiros Só em 1973 é que a restamemo. 1al processo, muitas espécies botá­ SUDAM fez uma edição conden­ Nas terras de:.pro,idas de cober­ nicas desaparecerão da Terra para sada em ponuguês. mas com exclu­ tura florestal e submetidas aos agua­ sempre. são dos mapa!>. ceiros que se sucedem à época das No entanto. Já em 1972. a dircc· queimadas. acontece o seguinte: Kxploração florestal tora do Depanamen10 de Recursos erosão acelerada dos solos; lixívia• Naturais da SUDAM. Clara Pan­ ção. que é o arrastamento dos nu­ Para se compreender. desde a ori­ dolfo. publicou um trabalho suge­ trientes solúveis. por dissolução. gem. a evolução dos propósitos da rindo uma série de reservas flores­ para o lençol freático. e daf para os exploração florestal na Amazónia tais e reservas indígenas na Ama­ rios; cluviação. ou seja. descida das brasileira. é necessário voltar quase zónia brasileira, além de . 12 flores­ particulas finas (argila. 4,füe e areias 30 anos atrás. tas regionaí:; de rendimento• Esse finas) para as camadas inferiores do Logo que foi criado. em 1953. trabalho unha o título de Estudos solo; aumento da carga sólida dos pelo governo federal. o pnmeiro Básicos para o Estabelecimento de rios. que se entulham de sedimen­ órgão oficial de planeamento para a uma Políuca de Desenvolvimento tos. E a alteração do clima local e do Amazónia - que tem hoje o nome dos Recursos Floresiais e de Uso regime das águas. Resultado: os rios de Superintendência de Desenvol­ Nacional das Terras da Amazónia• tomam-se torrenciais. com eocheo­ vimento da Amazónia (SUDAM) - Havia. nesse trabalho. informações tes e vazantes violentas. foi assinado um convénio com a importante:;. entre elas a de que a Na floresta, verifica-se o desapa- FAO para a execução dos primeiros soma das chamada~ ~ florestas de

78 cadernos do terceiro mundo N rendimento• equivolenu a 392.530 quilómetros. umu superfície maior do que a das duns Alemanhus juntas. Clara Pandolfo sugcna que o go­ verno bras ileiro fornecesse 1nccn1t­ vos fiscais, ba~ados no Imposto de Rcnd1mento. acravés da SUDAM. para a 1mplan1ação das reservas. Além disso, o governo responsabili­ zar-se-ia pela infra-estrutura local. ligando o área de cada proJecto ao rio navegável mais próximo Na opinião de Clara Pandolfo. as con­ cessões das áreas para exploração seriam dadas a empresas qualifica­ das nacionais ou estrangeiras. A au tora adm1t1aque,já naquela época, a cxploraçao madeireira do pais vinha sendo feica de fonna predatória. Dizia que as poucas empresas que procuravam cumprir o Código Flo­ restal limit.avam-se a plantar peque­ nos bosques de Euca/ypttlS e Pinus 1rop1cais. numa proporção muito in­ fenor às áreas devastadas. Pernnce esta constatação, sugeria a criação de uma sociedade de eco­ nomia mista para repor as árvores. A sociedade teria 40'l- das suas acções bubscritas pela Unliio, 2~ pela SUDAM e as restantes acções dis­ tribuídas entre empresas governa­ meneais e pessoas físicas. ainda que estranhas à região Amazónica.

Relatórios duvidosos

Em 1977. esteve no Brasil um ouLm técnico da FAO. Foi o norue­ gués F. Schmithusen. Veio com a finalidade de avaliar as propostas do chamado relatório Pandolfo . Não era um silviculLOr. mas um técnico quirir as terras onde trabalhassem. cxplicit.amentc, é claro que os dotS em administração de empresas. Apesar do seu entusiasmo. o técnico relatórioi. únham como finaJidade Baseado em dados diferentes dos estrangeiro não ocuhou ao governo entregar a exploração madeireira da apresentados por Clara Pandolfo, o a necessidade de se proceder a seve­ Amazonia brasiJeira a grandes fir­ técnico norueguls criticou mais pro­ ras fiscalizações para se evilar a de­ mas internacionais. uma vez que há fundamente os baixos rendimentos vastação das florestas. carência de capital para empresas das pequenas serrações da Amazó. É sintomático o fac10 de ambos os nacionais que viessem a ma. A sua sugestão era que a explo­ relatórios mencionados atribuírem à candidatar-se a empreendimentos de ração fosse feita em períodos limita­ floresca amazónica volumes médios tnl envergadura. Além disso. de dos de tempo. de prefe~ncia a longo de madeira comercial muito supe­ acordo com a legislação em vigor. Pnl1.0. através de grandes empresas, riores aos volumes fornecidos pelo são consideradas nacionais iodas as que não teriam a obrigação de ad- Projecto Radam. Sem o declararem empresas que lenham sede no Bra-

N. º 36 /Agosto de 1981 Clldomos óo terceiro mundo 79 , il. mdependentementc da sua com­ dera!, que nada entende do ai.sunto. ,ls tr.insna,·illO:ll~. H1rias pcrson,1li• posii;ão acdonal. Como não e~hte Em 1975. l.l unico guarda tlorestal dad,·s dl1 govemt• hm~ilcir11 mw qualquer reslri,ão legal à remessa de do T~mlM10 foi demitido. apos 111- querem .,guan.lar '" rcsuhad{1s dos lucro~ para o exterior. fica assim queri11, administrllti"o; estivera seis pcsqu1sns muito facilitada n pilhagem dn eco­ meses M:m receber vencimento e nomia brasileira. a~oc1aro-lte. por isso. aos. contro­ No IJ'll(:errumento do J."' C'on­ b:lnd1stas de madeira. ~~~,, Flllfcstal Brasikiro. n:uli­ Em face deste quadro. lica-,c : ado ,·m ~lanaus, cm 0.:lcmbro de Fiscaliz:arâ(> utópica C(•m a impre!,sào de que as grande~ J\l7S Paulo Bcruttí ahm10u, num tmnsnJc1ona1s madeireiras ainda J1~ur;o dc 1mpnwiso, que se fos~c Ai; recomendações Jl'I norucgui:s não penetraram na Arnaroma. Nada C'\()11"a1fa toda a madeira nobre de Schmítbusen. com rela~o à • se\cra mais talso: multa( delru, 1a lá !,C uma supcrhcic de Só milhó<.::. Je fü,caJízação• pan-cem ridicula~ para cnn,ntram há muito tempo. a hl!ctll.re!> da selva IIJltlll<\mca, o Brn­ quem conhec-e e,;..,es serviço~ no BRUMASA. subsidiaria da Bruyn­ sil p<~eria. com as divisas obtidas. Brasil. O técnico da FAO pa.rcc1a zccl. holandes.i, e:unu madcir.1., dtl pagar a suu d1, ida c>..temu - à procuror um prete~to p:ira que tos~c bai,o Am:u~,na~. a GEORGlA época. ccrcu de 40 mil nulhões de lançada. futuramente, ;i culpa das LU~tBER e~ponll madeira ,c1Tada Jólurcs, monta. presentemente. a de,~ta.,-ões sob~ funcionário, do Territorio do R<•ra1ma. \'ta Vcne, miw, de 60 mil mtlho.:s de dóllin!s. brasileiros. acui;aJol> de incp.:-ia e iuela: a TOYO~tENKA. Japonesa. corrupção. trabalha com uma serraçao mo­ :-.1anifcstaçÕ<>s populares de rua, Em :?3 de Jlt0e1ro de 197Q. o então derna. automatizad3. em Abaetc­ e,pl!cialmcnte de e!-tudantcs e in1e­ Jec1uai\, reagiram con1ra essa:. de­ presidente do Instituto Brasileiro de tuba. pró:ümo de Bekm A :-:A· De:-.envolvimento Aorestal- lBDF TIOSAL BULK CARRIERS. con­ clnraç~:.. Emboru repnmidas com violência. o governo recuou mo­ - o dr Paulo Beruui. deu uma tr0lada pelo magnate O. K Lud\\ ig. entrevbu ao jornal O Estado de S. instalou um impéno madeireiro no mentaneamente. Mah de vinte as­ soc1açõc:. de defesa do meio Paulo. que retnlta claramente n vale do Jan. triste situação da guarda tlore )tal no ambiente foram fundad~ de norte a :.ui do pais. pelo dcspcnar da sua Brasil Confessando-~e en,ergo­ A pesquisa incipiente nhado, o dr Beruui declarou que com,ciéncia ecoh'igica. havia no pai:. somente 3000 guar­ A silvicultura tropical está uinda. A mais anuga dessa5 associações da:.. quando seriam necessário, mfelizmente. na sua mfâm:1a. A é a Campanha Nacio11al de Defesa e 80.000. no mmimo. ,ubstílwção da complexa flore~ta pelo Desenvolvimento da Amazónia Eis cm que situação ~ encontra a heterogenea por uma plantação ho­ (CNDDAJ. criada no Rio de Janeiro fiscalização florestal apenas na~ mogénea tem dado resultados la­ cm 1967. e CUJO!> estatutos prevêem unidade:. pohticas da Amazónia mentáliei~ na Amazéinia. Os plan­ a futura trnnsferencia da sua sede brasileira: no Estado do Amazonas. uos de pimenta-do-reino. maciça• para a Amazónia. ALravcssou, com eara vigiar 156.4 milhões de hecta­ mente feitos pelos japoneses cm diliculdade, o~ ano:. duro:. da dita­ res de matru.. hã nada mais do que 12 Tomé-Açu. 200 quilómetro:. ao sul dura e da rcpres~o policial. mas guardas. muito embora ~uipado) de Belém. foram destrUidos por um contribuiu eficazmente para fazer com 4 carros e I Obarcos; no Pará. os fungo Co Fusarium), que ataca as abonar o Plano do~ Grande:. Lagos guardas florestais são em número de raí~. Tem havido incêndios nas Sul-Amencanos. do Instituto Hud­ 20; no entanto. muito cm especial no florei.tas plantada.,. de seringais. no son. linanciado pelo Departamento sudeStc desse Estado. prevalece a Acre: de Gmeiino e Pinus (para celu­ da Guerra dos Estados Unidos; rea­ violência: foram já assassinados três lose). no Jari. lizou quatro cursos sobre a Amuó• guardas por transgressore~ da lei ou Não estão ainda concluídas as nía. frequentados por um número pelos seus sequazes: no Acre. 15 pesquisas silvicuhurais. promovi­ sempre crc:.ccnie de alunos; publica guardas tomam conta de 15 milhões das pelo lNPA, nas cercanias de o boletim A Amawnia Brasiltiro em de hectares de floresta (um para cada Manaus (na Reserva Ducke). e pela F~o. Já no 3CU 13 ° número. bem milhão de hectares). embora dispo­ Estação de Silvicultura de Curuá· como o jornal Amaz611ia Hoje. E nham de quatro carros. quatro lan­ -Una, perto de Santarém. pencn· está a organizar presentemente o 1 chas e dois barc-0s: no Território da ccntc a um Convénio FAO­ Simpósio Internacional de Defesa e Rondónia não existe um único -SUDAM. pelo 0ef>Cnvolvimcnto da Amaz.ó· guarda florestal; a fücalízação dos Na ânsia de (.'lltrcgar o restante nia. que deverá ter lugar de 16 a 18 dcmJbes está a cargo da Polícia Fe- dos recursos naturais da Amazónia úe Outubro próximo. D

80 · cadernos terceiro mundo A invasão estrangeira

Um perfil das transnacionais na Amazónia as facilidades governamentais e a sua «táctÍca de associação,, ao capital nacional para exploração dos recursos naturais brasileiros.

Ricardo Bueno •

URANTE muito tempo foi conhecida como o Inferno DVtr e m,lhare~ de espécies vegetais e animais (al­ gumas desconhecidas do homem). Mullos sonhavam viajar nos seus rios caudalosos e piscosos (aJguns límpidos. outros pardacento1o). Não faltavam as lendas sobre riquezas mmerais fabulosas e até mesmo montanhas de diamante. Conta­ vam-~ histórias sobre tribo~ indí• genas ferozes, que nunca tinham tido contacto com seres civilizados e que adoravam a carne humana. A Ama,..ónia incendiara as imagina­ ções Todavia. um nnimal ferocíssimo. cnado pelo homem. penetrou ne!>sa florest11. Devassou os seus 1,egredos regressar a 1966. o ano em que rintendência de Desenvolvimen10 m11is delicados, derrubou centenas foram criados pefo governo federal ela Amazonia (Sudam). de milhares de árvores. poluiu o:. os incentivos fiscais para a ocupação A brincadeira não parou aí. Os nos. gerou pastagens dcgrnd11das. da Amazõnia. Uma fórmula ma­ benefícios fiscais foram muito mais liquidou espécies inteiras de outros quiavélica para embaratecer a con­ além: animais e matou rendeiros e peque­ quista da Amazónia pelo grande • Isenção total ou redução de 50 nos propnetáríos. Na sua cami­ capital Pela Lei n.0 5.714. os gru­ por cento do Imposto de Rendi­ nhada. cada vez mais rápida. esse pos monopolistas adquiriram o di mento de, ido. por dez anos. para os animal ameaç,a transfonnar o ln­ rcito de descontar até 50 por cento empreendimemos inslalados ou que (tmo Verdt num Deserto Vennc­ do lmpos10 de Rendimento a pagar. viessem a instalar-se até 3 t de De­ lho, O seu nome· capitalismo selva­ desde que os recursos fossem utili­ zembro de 1974. gem. zados em projectos na Amazónia • Isenção de qualquer imposto ou Um capua1ismo liderado por que recebessem luz verde da Super- 1a:,.a que recaia sobre a importação grandes grupos nacionais e estran­ de máquinas e equipamentos neces­ geiros Vamcis deixar de lado a sários à implantação de projectos na • Rkanio Bueno d 1<•malisia e «<>ncNTU$1a área da Sudam (O que permitiu ao «prata da casa•. para trnlannos da Autor d< • Po"lué líObcm os pn:ço, nt> 81'1l,1I ,, pcnetr.1ção Ci>Lntngcira. Paru •ABC do tnucgumoo- , •A fana Ja petróleo norte-americano Daniel Ludwig, do compreendê-la é ncccs~rió fa,cr e do prvjilcool. ruma ao desa~· Ac1ual Pmjecto Jari. importar uma fábrica mente chc:lio a Rcponagcm d<> ,Jornal d~ uma pequena viagem no tempo e CnméR!lo• completa de papd e celulose sem

N.º 36 /Agosto de 1981 caoomos t~rceiro mundo 81 pagar um 1os1ão de impostos). npe:;ar do -cscondc-e~ondc da rcs? A Bmy11~u/ NV. uma rinna • Benefícios estaduais e munici­ Sudam. alguma co1~a Jª foi desl-O­ holnnde~a de mnumaís de ctmstru­ pais como. por exemplo. o MO pa­ bcrtn. A geografo frene Garrido. do çuo com 11linis cm v11nns pnnes do gamen10 do ICM. lnsti1uto Brasileiro M Grogrofin e mundo, pm,su1 tnmbo?m uma pro• Pcran1e tan1a generosidade. os fatausttca {IBGC). ao fiuer pesqui­ pried.ide imensa de ~octl'tladc com n grupos estrangeiros não se fizeram sas na parte sul e les1e da Amazonu1 Bnhlrlrrm Sut'l \2'i0 mil hccturus rogados e aproveitaram os incenti­ constalou a .:,iM~ncia de faz,md,1s cm Anmpa). A Georgia Paci(ic vos para se apropriar de gignme~cas da nT. Gulf Oi/, Mercedes Br~ Corp<>rat,011, que lidem o fabrico de extensões de terras na Amazonia \!olk.ruag~n. Swift King Rand,. U­ contraplacados nos falado~ Unidos. através da implantação de projectos qui~as SPA (italiana), ,\frtsui. H, 11· possuí duas grandes área:. no Pará. «agro-pe<'uarios •. Vat roei.mo entre blân t: Sifco, Já pent1r.u-Jm, tam­ Sena uma inJuMu,a nuo mcluir neMu aspas. pois de agro não tem nada: bém. no lnf.-mo \.'a,i, a Georg1a fü1a a Jari Flore~1111 e Agro- PecuMia Os grupos estrnngeirol> não plan­ Pac1(k. a Brthltlic-m St,·e!, a Toyo que proJCClil produlir4.6 milhc\csdc tam coiS3 alguma na Amazonia. ,\frnJ.a, o ,\f

82 cadO(n08 terceiro mundo do Rio Grande do Sul com circula­ çúo naciúnol. ~u maioria doi. pedi dos de pesquisas nuo chega, n111u­ rulmt·ntc. a con!,lltuir um programa de investimentos Na verdade. a re­ quisiçao das áreas e apenas uma das fomrns de um grupo empresarial ingressar numa rcgiao e garantir a sua presença nela, sem que isso signifique a pretensão de explorá-la imediatamente.

RcservQli minerais

A relaçao dos grupos estrangeiros que já estão na Amazónia pura ex­ plorar as reservas minerais 4 im­ pressionante. Mencionaremos ape­ nas a fina flor: A/coa, U.S. Sreel, Alcan, Anglo American. Habna, Berhlehem Sree/, Shell, Sainr Joe. Saint Gobain, lnco. Eternit, Bras­ can, Brasimet, Patino, Mitsubishi, MiJsui'. Show e Denko, Sumitomo A madeira da AmuSnla f um d01 prlndpals lntn- dOI grandu capll.als Chemical, Nippon Steel, Oesterle, tStranadJw Stanko, Noronda. New Jersey Zinc, A Shell ligou-se à Mineração Ro- (um país pobre) estará a subsidiar o De Falco11, fuow,r e B11nge y Born. cha. pioneira em Rondónia, através alumínio utilizado por aquele pode- As subsidiárias desses trustes da sua subsidiária Hiliton Maars roso pafs do sol nascente. Em re- multiplicam-se rapidamente na -chappij NV. O grupo norte- sumo: o Brasil estará a financiar o Amal.6n1a. Um levantllmento reali­ -americano W.R. Grace associou-se desenvolvimento de um país muito • zado pela geógrafa Irene Garrido à Mineração Brasileira - Mibrasa. mais rico. assinaJa· As grandes companhias E o grupo Patiilo (que monopoliza o Quem beneficiou também das ge- têm vindo a criar tmprcsas de pes­ estanho à escala mundial) uniu-se à nerosas doações do governo brasi- quisas de mineral, cujos endereços Mineração Brasiliense. leiro foi a lcom1, na qual a Bethle- são no Rio de Janeiro. Pode-se 9 mais grave é que para atrair hem Sreel tem 49 por cento. Aquela 1den1ificá-las. no entanto, pelos esses grupos estrangeiros. o Brasil empresa importa equipamentos sem nomes relacionados com a toponí• oferece favores escandalosos O pagar 1mpostos e o projecto de gra- mia amal.6nica. É o caso das empre­ caso da Albrás (prOJecto controlado nulação do manganês contou. numa sas organizadas pela Royal D11tch pela Vale do Rio Doce) é disso um primeira fase. com 38 por cento e. Shell: Mineração Rio Xingu. Mine· exemplo notável. Para cooptar só- postenormente, 65 por cento dos ração Curuá. Mineração Jauaperi. cios japoneses para aquela fábrica seus recursos provenientes de io- Mineração Triri e Mineração Nha­ de alumínio. que ficará em Vila do centivos fiscais. Já a Mineração mundá. O grupo Patiiío também Conde (a 40 quilómetro~ de Belém). Brasileira (que apesar do nome é mantém empresas deste upo. como o governo brasileiro comprometeu- norte-americana) goza de isenção do a Nivalc - Mineração Vale de Ma­ -se a construir toda a infra-estrutura. imposto de rendimentos para expio- deira e Mineração Vale do Roose­ inclusive a central hidroeléctrica de rnr a cassiterite. A fábrica de redu- velL. A Bethlehem Steel formou a Tucuru1. que não custará menos de ção de cassiterite. em Manaus, con- Mineração ltnfba e n Mineração 2500 milhões de dólares. Esta h1- tou com beneficios da Sudam e da Cabo Or.inge. sendo a primeim para droelêctrica não só lfll fornecer Suframa que constituem mais de 75 fK!squllías geológica\ du manganês energia ao projecto Albros como o por cento do total de recursos apli- no Nordeste da Amazónia fará a preços muito camaradas (ou cados Enquanto que na exploração Nalguns casos. os grupoi> el>tran­ seja, subsidiados) Como 50 por de caulino. Daniel Ludwig está geiros fonnam joif11-ver1tures com cento da produção daAlbrós irá para k;cnto do imposto sobre rendimen- empresas de mineraçilo bra,ileiras. o Japão. isso ~ignilica que o Brasil lOS e imJX)rtação. O

N.º 36 /Agosto de 1981 cedemos do terceiro mundo 83 Amazónia O projecto Jari: a luta contra a desnacionalização

A implantação no sector florestal do programa de produção de celulose representou um atentado à natureza, enquanto que s implantação industrial significou um desrespeito aos interesses sócio-económicos e financeiros do pais.

Irene Garrido• ------J dc::.tmo da imensa area do terra,,ocupadas pelo proJtclo. E:.taé lhlldores. numero muito pequeno se proJecto Jari. na Amazónia. a primeira grande reivindicação do se tiver em linha de conta as dimen­ O seguramente o maior la11- dono do Jari. Daniel Ludwig. sões gigantescas do proJecto e o fúndio do mundo, Joga-se ~m n Quando pediu o avaJ ao BNDE facto do Brasil possuir um milhão de pantcipação do pmo bra~ileiro. \'1- (Banco Nacional de Desenvolvi­ trabalhadores sem 1Cll'8. rima dos :.eu~ :.ucesshos erros. o mento Economico). o Jari dizia pos­ Para pressionar o governo. o Jari. capitalista norte-nmencano D:uucl suir J 700 000 hectares (37 mil qui­ que anterionnente admitia empre­ Lud,\ ig conJectura a chamada na­ lómetros qu3drados). Acrualmente, gados, está agora a despedi-los. É cionalização- do empreendimento. reduziu as suas pretensões para mais um ingrediente da tensa situa­ numa (lperação que lhe trará uma 1 600 000 hectares ( 16 mil quiló• ção social que se vive na área do dupla vantagem: socializar O!> seus metros quadrados). mas o governo projccto. onde a empresa mais não preju1zos e abrandar a preSliâ.o da só regulanzou 300 000 hectares (3 fez do que agudizar o problema. opimâo pública contra ~ multiplas mil quilómetros quadrados). discriminando os trabalhadores bra­ irregularidades que tem praticado. A tese que postula é a dos « limites Ç8JS. Um trabalhador de nível téc­ É uma manobra hábil que está naturais•. Em carta datada de nico ou adnun1strativo tem todas as sendo aniculada pelo empresário Agosto de 1980. comunicou a sua facilidades: casa com ar condicio­ Azevedo Antunes. personagem in­ pretensão - que dá a ideia de se nado. frigorífico. gasolina grátis e umamente lígada ao capital trans­ U'atar de um liúgio ent.rc nações - altos salários. O trabalhador braçal nacional desde que foi alçado. na ao ministro chefe da Casa Civil da ganha o salário mfnimo e não tem década de 50. do obscuro cargo de Presidência da República, general sequer casa para morar. director duma pequena empresa de Golbcry do Couto e Silva (que re­ Por úlumo. o capitalista norte­ mineração para o imponame cargo centemente pediu a dcmisssão do -americano lucraria também com de director da Icomi. empresa asso­ seu cargo o que lhe foi concedido). novos avais para empréstimos. ciada à poderosa Bethlehem Steel O documento. em vez de ser devol­ Nada mais lucrativo para quem con­ C'orp. Se concretizada. a chamada vido ao remetente. acabou por ser seguiu até agora burlar todas as exi­ -nacionahzação- vai significar distribuído entre os ministros da gências legais para a imponação e apenas a substituição meramente área económica. obtenção de financiamentos. Al­ formal do patrão none-americano Outro aspecto da nacionaliza­ guns exemplos: a fábrica de celulose pelos seus representantes brasilei­ ção• é a transferência para o go­ que funciona acoplada à central ros, permitindo assim que o grupo verno brasileiro dos encargos so­ tenno-eléctrica do Jari foi eons­ Ludv. ig po~sa obter todas as facili­ ciai~ e gastos com a infra-ewutura. trufda no Japão, por curiosidade dades que vem exigindo. Embora ocupe uma área imensa. num estaleiro que penenceu a o Jari emprega apenas oito mil íraba- Ludwig. O capitalista none­ As exigências -americano conseguiu vencer a bar· reira da legislação proteccionista da lttoe Ganido é geógn.{a e vke-prcsldtore Ma!> de que facilidades se trata? A da CampanhJ, N11elonal dt Deresa p«lo Ot­ indústria nacional graças às excelen­ primeira delas é a regularização das senvolvlmrnto da Amazónia rCNDDA) tes relações que mantém com um

84 cadernos do terceiro mundo antigo funcionário seu; Heitor de Aquino Ferreira. sccret6no pnnicu. lnr do presidente Figueiredo e do ex presidente Gciscl. Daniel Ludwig nao o;c límitou, porém. apenas a comprar a fábrica no Japao. Paro cfectuar a compra. conseguiu também obter aval do BNDE. o que. por lei. só pode ser concedido a projectos genuinamente nacionais. Mais: o Jari foi também i~nto do imposto de imponação para todos os programas do pro· no Vale do Tapajós. Com a dife­ iecto. O cnt.10 presidente Geiscl rença de Ford. apesar de todos os Justificou u medida pelo facto de o PJl1blemas que criou. ter devolvido governo considcr.1r o Jari • empresa as te.ms que ocupava ao governo. de relevante interesse para o desen. Naquela época. a Amazónia ainda volv,mento nacional . mm era uma região muilo valori­ zada. Destruição ecológica Ludwig quer assumir posição di­ ferente. Para ele há duas alternati­ Próximo da foz do Amazonas e da No Jarl. um Império quaR do tamanho da vas: a nacionalização do projecro a fronteira com o Suriname. no vale Suiça, p,u,ck$ m.fquJnas clestroem • llo­ sua maneira (o que significa a per­ ttsta do rio Jari. o projccto do capitafüta manência do seu controlo) ou a sua Daniel Ludwig começou a ser im­ tanto nacionais como estrangeiros. abertura a capitais pnvados nacio­ plantado em 1967. Foi o resultado Cientistas e ins1i1uições de pesquisa nais. onde o seu poder continuará a prático de um:i visita que o capua­ tem sido incansáveis na luta contra a exercer-se. lista none-americano fez ao pri­ devastaçfio ecológita patrocinada Pela sua dimensão e localização. meiro presidente pós-64 o marcthal pelo Jati , E não é difícil compreen­ o Jari não pode pertencer a um único Castel<' Branco. encontro esse pro­ der o rauio dos protesto:; e denún­ empresário. Tal circunsuincia tem movido por Robeno Campos. per cias. ninguém de bom senso pode \IJ1\ duplo aspecto negativo: entrava ,onulidade de notória ligação com o admi1ir uma medida anuecológita o desenvolvimento e põe em risco a capital transnacional. de tal envergadura. própria soberania nacional. Tanto O projecro. regi~tado sob o nome O conhecimento sobre o resultado assim e que o Conselho de Segu­ de Jan Florestal Agropecuána. de wno prática de tal natureza é rança Nacional criou o Grupo Ex­ Lda.. rem multiplru. activ1dades: ainda e~ao;so. Pouco se sabe o que ecutivo para o Baixo Amazonas - pmdução de cclulo!ie. cll1rncção de pode suteder quando a floresta hete­ GEBAM. Trata-se de um organismo cauhm. produção de arroz. triação rogénea é sub\tiluida por plantações que não faz oposição ao pro1ec10 Jari de bovinos e de bufalos para indus­ homogeneas. e o mnis grave é que mas que se preocupa com a questão tnali,.ação de carne Ê um negócio nao foram feitas ex.perimentaçõcs. das suas terras e a sua posição ge­ muito lucrativo: tudo o que produ1 em pequenas áreas. para conhecer o ográfica tem grande aceitação no mercado crescimento da gmelina e o desen­ Está fora de dúvida a unponància externo. volvimento de doenças e pragas. da nacionalização do Jari. Mas isso Um do~ seus grandes obJecuvos Dez anos depois do imcio do plan­ não significa entregá-lo a econümico~ - talvez o principal - tio. os tecnicos do Jari descobriram testas-de-ferro, que. utilizando os é a produçiio de celulose. a partir da Já o fatio desastroso de a gmdina seus nomes brasileiros. romarjo gmelina. Tmta,sc de uma árvore mio crescer com facilidade em solos mais fácil a obtenção de concessões importado da Binnâmac plantuda nn arenosos. como os utili7ados. apa­ oficiais. Se a nacionaJização que Amazónia numa extensão de dob recendo &!,sim doenças e pragas. Ludwig defende for concretizada. o mil quiMmctrns quadrado:;. em Anteriom1en1e. o capitalista capitalista norte-americano ter.i suhMnuição da flon.~to original. de none-umericnno Henry Ford tinha conseguido fazer com que o governo composição he1crogiínca. sido também vitima do desprezo esqueça uma das regras básicas do Cstc detalhe do pmJecto é um do:; pelos métodos cicnlífiCOl> ao tentar capitalismo: o de que o empresário principais alvos dos seus cri11cos. plantar o;cringais. em grande escala. assume o risco do negócio. O

N.º 36 /Agosto de 1981 c4demos c1o terceiro mundo 85 ------Amazónia------Carajás, uma riqueza em perigo

Uma das maiores reservas de minério do mundo está aberta à iniciativa privada. nacional e estrangeira: as transnacionais estão prontas para a sua conquista

Luis Alfredo Salomão • ------~

NTRl- oAraguaia-Tocantinst o Xingu. próximo da~ dJ:idc!> Ede Bclem e Sõ1, Lu1s, está lo1.'llliz:3da a provinda miocrJI de Caraiis. As suas re~rvas ainda não foram totalmente a\ahaJas. mas os números já conhecidos s.io sulicicn­ tes para confirmar ai. suru. colossab d1mensõc:, Sãe> mais de 20 mil mi­ A ~IO lhões de toneladas de teno de ele­ ~ C1tajúé prmkgiada: a vado teor de L"oncentrnção - 66'.l Cl'l«:rg)a f -. seguramente a maior re~rva do atrunda11te, mundo: 60 mdhôe:. de tondàda:, de 1$Ckwieiloio próximas.. O manganês t um grande potencial de probl«:mll são u mine nos de cobre. ruquel. ouro. tnn.mllcion.llS bauxite e ca:.:.iterite. Em alguns ca­ sos. a explnraçào das jazida:. pode tomar o Brasil auto-sufic1eme ou aumentar significativamente a pro­ dução de metais não-ícrros0s. , Toda ei.ta riqueza está ameaçada porque o governo restringiu a sua • explor.1ção dirccta apenas ao miné­ - rio de ferro. a qual está a ser feita portamento das autoridades gover­ confiam na capacidade técnica e fi. através da Companhia do Vale do namentais e da direcção da Vale do nnnceirado empresariado nacional e Rio Doce (CVRD). Esta atitude, isa Rio Doce... êsta última pan1cular­ têm o compromisso de esvaziar as deixar abcna a oponunidade de ex­ mente. Não~rádifícil constatar que empresas publicas. ploração dos demais minérios a vêm sendo envidados todos o:. es­ companhias privadas nacionais ou forço~ no sentido de atrair empresas As reservas estrangeiras. No mínimo. é uma estrangeiras como a British Petro­ postura tecnicamente discutível: a lewn para explorar o cobre. a Kaiser Ainda que se queira evitar a jac­ CVRD teria facilidades para actuar ou a VAM para explorar o alumínio. tância. não se pode deixar de admitir directamenre na exploração dos de­ aSwitone para explorar o manganês. o facto das gigantescas dimenc;ões mais minérios. como é. por exem­ e assim sucessivamente. lst0 porque de Carajás Independentemente das plo. o caso do tnanganês. Politica­ o governo e a Vale do Rio Doce não suas ~rvas de minério de ferro. mente. trata-se de uma decisão que &ó por si já teriam justificado o equivocada e conduzirá. segura­ seu incomensurável interesse pú­ mente. à entrega das reservas de blico. há outros dados igualmente expressivos. As suai; reservas de Carajás ao capital estrangeiro. IM AJ!ftdo Salomão t dlrtttor do ~par. Se restar alguma dúvida quanto a lamento Sódo-uon6mleo dt Clubt dt En­ manganl!s. com 60 milhões de tone­ esta ameaça bas1a observar o com- lfflbarla do RJC!,de Jantlro ladas. têm um teor de minério de:

86 cadernos terceiro mundo 42'~ e baix.a µresença de áJcaJis rcs - e a ameaça sombria do pafs habitantes. a ser mantida a tendência ( 1~ }. São superiores às reservas ni.ío ter excedentes na balança co­ actual da fultade planeamento. ver­ dcs1c minério na Serra do Navio mercial para pagar a.\ suas dívidas. -se-ão brevemente a braços com os (Amopá): no pais. só são superadas toma-se mais evidente a vulnerabi­ mais diversos tipos de problemas: pelo~ rewrvns de Urucum. Mato lidade nacional no caso do Cara.1ás poluição. crescimento urbano de­ Grosso. H611inda o grande polencial Actualmcnte. as suas reservas são senfreado. saturação dos scviços de minério:, com níquel , ouro. bau­ consideradas pelo governo um va­ públicos e até a destruição do seu já xite e cai.sitc:rite. Nüo ,;crá de sur­ hoso trunfo para a renegociação da bastante ameaçado património ar­ preender se surgirem outras ocor­ dívida externa. quitectónico colonial. rem:ias cxpre:.sivas na província Nõo é apenas no campo econó• De particular importância é a po­ mínero-1 de Can111h. como a des­ mico que o Cara,1ás eslá ameaçado. lítica de ocupação demográfica e de cobcna cm plena mata amazónica de Dadas as suas dimensões. o projecto organização - social e fundiária - Serre Peluda, uma exploração de vai ter repercussões em diversos do campo na região. Se Forem im­ ouro que hoJC ocupa 25 000 ho­ campo~ da política nacional , envol­ plantadas grandes fazendas silvi­ mens. vendo desde a ocupação e o desen­ agro-pccuárias. como está a ser pla­ É evidente que toda essa riqueza. volvimento do sudoeste amazónico neado. haverá uma intensilicação ameia 5em uma avaliação precisa principalmente nos Estados do dos conflitos por causa das terras. cons1itui um imenso facwr de atrac­ Pará e Maranhão - até à industria­ Quanto à penetração do capital ç,10 de invesiimentos. O grande lização dos seus rcnursos minerais. transnacional. não é difícil avaliar problema é 1us1amcntc a possibili­ Envolve. também. o utilização dos os seus efeitos. Basta lembrar os dade do seu domínio pelo grande n:cur:,os florestais. para fins indus­ resultados da sua contribuição na capital transnacional. problema que triais e energéticos. e o aproveita­ • pesquisa.. mmeraJ. bastante co­ se agrava no Brasil pela penetração mento dos recursos hídricos locais. nhecidos. A descoberta de Cara­ que este tem conseguido e pela re­ Terá também uma série de conse­ jás deu à U.S. Sreel tranquilidade presentação que possui junto do go­ quências para a cidade de São Luís. quanto ao suprimento futuro. a verno brasileiro. Se levanno~ em distante 750quilómetrosde Carajás. baixo custo. de minérios de ferro e conta o elevado endividamento ex­ e onde está a ser construído o porto manganês. ambos de elevado teor. terno - mais de 60 milhões de dóla- para escoamento do minerio. cujos sem que a siderurgia nacional tenha

O homtm e, • tt1'1'11 ,ao •illmal da mt'Rlla ~o. O d~o de amboa dtpeode de uma ddlnlçio política couente

N. 0 36 / Agosto de 1981 _,._, terceiro mundo 87 qualqu.:r pn.-ocupação com os pesa­ dc•libêraçã(') ~obre a sua conveniên­ \Jntament<' s1~tl'ma1ico pura urn mc­ dos inve:-timentos em infr.i-estrutu­ cia tem que caber .1<\ C'nngresso Nn­ lhnr e nllll!. complctn conhce1m.:n111 ras. O onus de H'ldo ,l iO\estmwnhl dC\nal e n;lo .1 uma mmnna qu<: pre­ gcolog1c11 do pais t' fundnml'ntnl. foi assumido pdo am,gante governo tcnJe ditnr o que e mdhM pru-a a Uma J ,· mnn!-.t r.tçJ1, dara di!-.W e o Gcisd. que :.e autoproclamava na­ naça<' fni:hl da dcst·obenn lk Cant1u~ p<'r cionalista: a tram,na,·,onal ainda re­ Um d,,s tl~pt'C(O). ma1~ nCf.ltiH'' umn cmpreso lnln~nadPnat. nus c1r­ cebeu 55 milh{>es de d61are paro d3 l!Clual JX'hllea de c'( Jllt,raç.m 1111- cun,1âno a~ cm que se venficou. ter sair da sociedade que linha com a nl.'ral e Ol"sva11amento dC\. J"f(lll.'\' to~ custado um prê<,·,1 dcrn11s1adame nte \"ale do Rio Doce na Amaznnt:i \1i­ de pt:SQUl'J 01,poc--,e ™'li.' de k• clc,ndnho, o tcnit<'n<' nacional. ,, qu..-, atru,c, tetti, ,1 e .:tlnsC'l.jucntc q:,brc o PI'· P,lr c\ cmpJo. o caso do niquei de de tccnK"&\ de intcrprct.1,;:io. pt:r­ tendal J a, ~mie. riqu.:1.a, e :,obre a BillTI' Alto. sobn: o qual a cmnsqa­ mite obttr dauos ,obre " rele-,"(\ e ., nccc,s1dnd,: de dcfcndE-la!-. A d,1nal lnc<> ola ~ntada há ano, • c,trutul11 gi'('llog 11 a na e"l.--ala dr naç,10 acc:-11ou a 1uctância da pregu­ C.t!>(h .:,,mo o de Cara,á., e Bam1 1 2, 0 000. Para um lt·,unlamcnto çi\o idc:-ologicu do • Brnsll-Grnndc Aho tn1lstrnm como n..io e n.-c,1men­ "'111,iatonamente prec,~n. no en­ d<' Futum é n,10 teve íl menor ca da1,d a política nacional de a,ellar tanto. --ena nttc fino i")m1cnPrizar p&·adllde para re,btir i\s mnn11brn~ liberalmente a partkipaçào do t·:1p1- e,~ 1~·, antruncnto :i e~c3Ja de ÜP t-upnal transnacional para se tal c,crangeiro na p.::,qu1sa t' c.xplo­ 1 : 100 000. Utrd,esde kvantaml·n- apropriar dtis seus recursos narnrai~ raç,m mineral. 10.. aero-eeofísii:~. Estimulada~ e humano:.. com o apoio de nlgun~ É raz,)á, el admlllr 1.1uc. cm cctu1.., pelo g.o,cmo federal . ulguma., em­ c,,ncsão~- cntrcgubtas E um <:ITl'Unst.ãncia., c,cepci,,n:us C\JMll prc,a, brasileiras equiparam-se para tanto impmvawl que sc dc!>Cubra int.. -re~ do::. bra:.dciro" em et,nta­ fazer esse, k, antamento, r- dicga­ uma lltwa pnwmc1a da grande1.a de rem com a part1t·1pa,ào t'strangeira ram a canografor uis milhôe, de Cara,~. mas é tambêm qum,c certo cm ddennmad,h proJCl:"llh de minc­ 4uilnmcm,, quadrados: 1e con­ de metade do temtóriu. pratica­ por que,t,",c, IC'l n,1lógicas ou de tinuidade e a, empresas. em difi~tll­ mente amda desconhecida (do pomo ..,rdcm cc•mcrc1al. No entanto. ruio dadc 1mancciras. est,10 a de1,faz.cr de mia gcCll11gico) permitira en­ s1gmlica que e!>la deva ~cr a regra. ali ,ua~ equipa~ !~<:nicas devido a contrar dcp6s110~ signifü·ativo~ de ,orno acontece presentemente. o.: 1osuiadc. mumcros minério~ de qu.: ho_jc o Deve i.er. sim. uma cxc.::pção. E a O n.-comcço dos programas de lc- pais 1cm carénc:aa. A Semi Pelada -

SBPC condena Carajás

Ourante a 33.ª reunião anual da Sociedade Br881· envolve Investimentos da ordem doa 60 mll mllhóea leira para o Progresso da Ciência (SBPC) foi apro­ de dólares, para a exploração de lazldas de m lnérloa vada. por unanimidade, no encontro sobre • Poll11ca de ferro {18 mll mllhõea de toneladas - a maior do Mineral Brasileira e o ProJecto Grande CareJá••. mundo), de manganês (60 milhões de toneladas - a uma moção que rejeita a polltlca mineral executada maior do Braall), de cobre (1 mllhào de toneladaa - pelo Governo brasileiro. Como proposta concreta, também a maior do Braall) e outros recuraoa natu­ conclamou-se a aocledade braallelra para um amplo rais. debate sobre pol111ca mineral. especialmente sobre , o proJecto Grande Carajáa. e foi criado um grupo de 2. O governo brasllelro, ainda no êmblto do pro­ trabalho para mudar o auunto e propor formas de grama Grande CaraJáa, ea1' a permitir a lnstalaçao acção. de empreendimentos llgadoa • produção de bauxlte É a seguinte, a moção aprovada: - alumlna-alumlnlo - que envolvem Investimentos Considerando que: da ordem doa 3 mll mllhoea de dólares, com ba88 em 1. O Governo braallelro está dando Inicio, no capitais estrangeiros. Norte do pala, ao programa Grande CaraJáa, que 3. O governo brasileiro se dlspõa a conceder

88 C809fn08 terceiro mundo pum titnr apenas um caso bastnmc \Ua~ rcscrv~ minerais. apoiado em dependência externa venha a ser divulgudo pela 1mpren~u e um pmjcctos de metalurgia e aprovei­ elimi nada a curto prazo por força cxi:mplo disso; o qu11 nao t~r,a 11con­ tamento c:ncrgéttco do potencial da apenas da vontade nacional. Os inte­ tcc1dP si: cm vc1 de ter sido i:ncon­ rcgitio, OiMante 650 quilómetros d~ resses do grande capital transnacio­ trnda por pesquisadores nac1ona1s. Belém, 750 quilómetros de São nal estão aqui profu nd amente enrai­ essa 1n1idu de ouro fos~c dei.coberta Luís. a região de Carajás possui um zado:. e contam com o apoio da bur­ pda A11glo-Arn~ricon? imenso potencial h1drico (Tururuj) guesia e de alguns sectores da buro­ e. pelo seu valor económico e estra­ cracia governamental. tégico, poderá dar ao desenvolvi­ E;, possível que. a JlIOsseguir o lntcres!>C nacional mento do país contribuições relati­ processo de abertura democrática. vamcntc supcnon.:s aquilo que as o, interesses nacionais venham a É nrccssdrio salientar aindn que 11 minas de Bmhwalt e S11dbury repre­ sobrepor os interesses do país à e,:­ dcpcndc:ncia mmcml do Brasil - ~cntam para a Africa do Sul e o pansão do capital transnacional. É qut• impmt11 651X dus ~uas necc~~i­ Canadá. respectivamente. encorajador para o Brasil. o exem­ uades de produto~ do subsolo não No fundo a dic;cussão sobre Cara- plo do que têm feito algumas nações scni ~upcrada apenas com a máxima 1ás envolve o próprio rclaciona­ do Terceiro Mundo. como a Vene­ cx,portaç,10 do que é c~traido d~ mcn1n un pais com o capnal tran~­ iuela. a Colômbia. o Peru e o Equa­ jn,idll!> do fllll~. cómo vem acontc­ nacional. Assim. o desuno de Cara- dor que celebraram o Pacto Andino ccndn desde há anos por causa dn 1.í~ está no mesmo nível de discu~,o 1untamen1e com a Bolívia e o Chile oportunismo irresponsável, A ahcr­ do pmiecto Jari. outm empreendi­ (estes ultimos temporariamente nativa para diminuir a dcpcndcm.-ia mento monstro que se dcS1.'nvolve na afastados devido à situação interna e~tcma do país ~rá o conhecimentn Ama1(ínia sob os auspícios da~ de ambos os países) Não quer isto pmfundn das ~uas rcwrvas minerab transnacionais. do chamado pacote dizer que aquilo que é bom para e a ddinição de um pmgrama racio­ florestal e dos contratos de riM"o esses países seja bom para o Brasil nal para o ~cu aprovc1tamento. lc­ para a cxploraç:io do petróleo. A O valnr do exemplo do Paclo An­ vandn cm conta o~ mtLre~se~ da., conclu-Jio é a de que se toma impe­ dino é demon~lrar que há a necessi­ futuras gcraçcíc:~. nitivo o con1rolo do ingresso de ca­ dade de se lutar para derrotar as Por uma fi!liz coincidéncia. Cnra­ pital trJn,nacicinal no país. Devido in~tituições que hoje garanlem a he­ iá~ 1cm cnndiçoc!> cxccpcinnai~ paru ao clcvadísl>imo grau de integração gemonia do grande capital lransna­ pcmnuir n dcscn\olvimen1<1 de um do Brasil na economia internacio­ cional no país. E. ao que tudo in­ grande pm1ccto de u11lizaçiio das nal. nao se pode ter ilusões de que a dica. a vitória é possível. O

ampla gama de Investimentos fl8c.tls e credltlclos, 6. Finalmente, a polltlca mineral e, especialmente, Inclusive Isenção de Imposto sobre rendimento, e o programa Grande Carajás, tem sldo executado tartfa subsidiada de energia, cuJo ónus recairá sobre sem ampla consulta ao povo brasileiro, através de a poupança do povo brasileiro, beneficiando prlncl• decisões fechadas, sem participação do Congresso paimente grandes grupos estrangeiros. Nacional. 4. O programa Grande CaraJás lnaere-se num mo­ A SBPC resolve: delo de desenvolvimento excludente, lncentlvador 1. ReJeltar a polltlca mineral em execução pelo da dependência, com caracterf•tlcaa negativas e governo, em especial o programa Grande Carajéstal voltado prinçlpalmente para a exportação de bens como proposto e em execução pelo governo. primários e semi-acabados, de preços Internacio­ 2. Conclamar a sociedade brasileira para um nais avlltadoa, agravando, através da Importação de amplo debate sobre a polltlca mineral, especial­ capital e tecnologia. a balança de pagamentos e a mente sobre o projecto Grande CaraJás, que leve à divida externa. adopçéo de medidas voltadas para o entendimento - Vem a provocar mudança definitiva e radical na das necessidades maiores do povo brasileiro. estrutura aocloecon6mlca e fundljrla da região, 3. Criar, no seu êmblto, um grupo de trabalho para com Impacto ambiental predatório e relativamente estudar o assunto e propor formas de acção para a pequena geração de po-1oa de trabalho. SBPC, para o qual convidará entidades representa­ 5. A polltlca mineral braallelra tem allenado os tivas da sociedade clvll que se têm vindo a Interes­ recursos do subsolo, que, pela Constituição, sao sar pelo debate aberto sobre a polltlca mineral do patrimónios da nação, tranaferlndo-os para grupos projecto Grande CaraJás com o obJectlvo de se de­ estrangeiros, como vem a acontecer na Amazónia e finirem propostas alternativas para o «uso das rf. em Aracal, na Bahia. quezas do nosso subsolo».

N ° 36 / Agosto de 1981 c:ecuirnos terceiro mundo 89 Os minérios da Amazónia Ferro - O Bru. li~ o maior produtor de mlMr lo de ftrro do mundo e n Vale do Rio Doce e a maior companhia mundial na e:\.portaçao dessa rlque1a e-.sencial. -\ resenas brasileiro 6h10 n11 Qundrl­ larero i;·errifero de \tino.) Gerais e na Serra dos Caraj.as (Pa.ra). i\lem da Vull', dhersos grupos estranJeirns l':\.traem minerlo em Minas Gernls. O mais Importante de~~ Jlrupos, 1, consorcio internacional MBR. liderado pela llnmru exportu .-.cu minerlo pelo porto de Sepetiba. depois de transport.t-lo pela Rede Ft-rro, laria Federo! pa­ J!ando tarifas subsidiadas. A entre,:n do.) jaiidas

(w.u' de mlnerio de ícrni de Águas Claras à Hannn é • .._ uma historia tão e,candato~a tJUe ehcgou a t·olo­ r­ ... ~ ,..._ car contra o go, erno do general Castl.'lo Branco o •..:...... e-..... - •<- l'- ' . ....,.._ e.....- 1--. entao gon•rnador Cario, t.acerda que o ajudara o ) <- ·­ rc- t -.. ·­--· chegar ao poder derrubando o presidente .10110 •- G(lulart. Bau:dte - minerio argiloso de onde se e~trai o alummio. Q Brru.il tem a terceira maior ~na Manl(anis - esse minério é fundamental na de baoxite do mundo. Quer di7er. tinha • .\ maior siderurgia. A maior jazida do Brasil está no parte da bau,ite bratjleira foi entregue à explora­ Amapa e \'em sendo dilapldada ha quase 30 anos ção de grupos estrangeiros. A Alcan. a A.:wa e pela empresa norte-americana Betbeleem Slttl. Ludwig repartiram as jazidas das margens do rio O manganês e todo exportado para os Estados Trombetas. O grupo inglê!i Rio Tinto línc ncou Unidos por preços que não .sobem nunca em ter­ com as jazidas de Paraitominas. A Amenran Re:,­ mo reale;. A jazlds, entretanto. vai acabar em ZO nolds e l.ud11 ig têm resen u~ ao londo do rio Ama­ anos. tanto que o go, erno só permite a e,cportação LOnas. de doh milbõe, de toneledai. anuais. O manganês Cassitrrit - é o minério do estanho. F."ttraido é a maior riquesa do Amapá. mas o território hoje d() solo. ainda é maioritariamente produz.ido por continua t.iio pobre como era há 30 anos. brasileiros. \las o goH~rno tem feito tudo para Oura - primeiro foram os portugueses que tirar os pesquisadores das areas de cassiterile em levaram lodo o ouro que puderam encontrar na Rondónia e Goiás e entrega-las a grandes empre­ superfície. Agora são oi. sul-africanos de empresa sas. especialmente estrangeiras. A11gfo Amtrican que estão a tomar conta do ouro. Cobrt• - até boje o Brasil importa cobre. Há Compraram a maior e mais antiga mina do Brasil um grande projttto do go~erno para c;e instalar - Morro \efbo - e as.\oclaram-se a exploração na Bahia uma grande e,cploração das minas de do ouro em Jacobina, Bahia. Caraíba. \tas a maior jazida foi recentemente Mas ouro dá me~mo e para os pequisadores. descoberta na região de Carajás. Pertence. por Ele,; existem à.s centenas. perdido!> nas matns enquanto, à Vale do Rio Doce, mas as transnacio­ amaronicas e senidos de bons (e clandestinos) nais jâ se ofereceram para explorá-la. Pode ser campos de aviação, por onde o ouro :,e some do desnacionalizada a qualquer momento. Brasil. Oficialmente, a produção de ouro no Bra­ Cromo - metal muito usado na siderurgia. sil e avaliada em mais ou menos 6 mil toneladas Toda a produção br1l5ileira é feita na Bahia por por ano. Extra-oficialmente. sabe-se que ela uma empresa controlada pela Bayer, alemã. chega a mais de 15 mil toneladas. Diamante - a maior parte da produção, ex­ Uránío - as rr,er,·as estão nas mãos da Nucle­ traída de jazigos. é contrabandeada. O que sai brás, mas o monnJ)(ilio estabelecido na década de legalmente é vendido em bruto, embora a produ­ 60 foi quebrado no governo de Gelsel. que permi­ ção lapidada valha muitas vezes mais. Em 1973 o tiu a associaçã,i'na Nuclebrás eom grupos estran­ Brasil exportou dois mil quilos de pedras brutas, geiros para pesquisar e explorar uránio no Bra~il. ganhando apenas 16 milhões de dólares, e dois mil A única associação até agora feita foi com um quilos de pedras lapidadas. ganhando nada grupo alemão e o resultado tem sido. até certo menos que 19 mílh'bes de dólares. ponto, frustrante. O

90 _,_ do terceiro mundo Amazónia

Alcoa ameaça destruir São Luís

Uma cidade que faz parte do património cultural do Brasil, enfrenta as maquinações e a arrogância da transnacional do alumínio.

ReginaJdo Telles

Organiwção das Naçõc~ Unidas e 1uxativa: por qucs­ A liics de ptl'l>ervaçao dn n:nu ­ rcta. a 111dw,1tiahzuçao do alummio tem 4uc ser limitada 11 2'i0 mil 1onc­ luuai. anuais por fobnrn, nau Jltl· dcndt1 a pmduçno ficar concl"nlrada próximo das cidudcs. dos noi.. das baia~. ilha, e occ:anm.. Ncnhumu dessas recomendações está a ~er h: ­ vada cm conMderaçao pela A/ena (Alumínio S/A). uma tran~nadonnl nonc-amcncan.t. no gigan1esco (1lmple.1t<• mdu\lrial que esu1 inst:i­ lado na ilha de São Luís do Mara­ nhao. no chamado Meio-Norte do Bra\il - uma ()(lrta n,1 Nordcsle e ,,utra na Am1116n1a.

As ,uas prctL'nsôc~ -,ão dcst·abl· das: desrc,pellalldll 1odos os c:ntc­ nos c-.1abclcc1dos pelos rccomenda­ c;ôe~ da ONU. a 1ransnuc1onal va, produzir, na fa\C ímcíal 600 mil toneladas por :ino. ampliara. postc­ Nasdmrnto Moral.\ Filho rondma • Alroa e rionnentc. u suo produçao paro tnh dtrffldr • nploraçiio do alunnnlo tm btndldo dt- Silo Lws r do po•o milhôcs de 1oneladas. bto é, mulli­ m1r111nalbadu, qot ,hr e,,quttldo plicarJ pi,r cinco a produçao 1nk1al.

Como se l\so nào busta%e (vui dc­ nado a conceder facilidades exces­ ,c:quilibrar todo o cc<1ssi~ll'ma da siva). ou ludo o que a 1ransnac1onal cidade). a fábrica c~là ainda empe­ pedisse. nhada em apossnr-~c de I ir, do an:a de São l.uis: rc1vmdica para ns ,uas Poluição ín,talaçôci; 10 mil hectare~. l 'iOO dos quais scnío des1inados à cons- Encravada no Golfii11 Mara­ 1rução dtl chamado lago de lama nhensc. cm plena região amazónica. vermelha. onde ficara depositado o São Lu" dn Maranhão é uma ddade ~cu lixo industrial lnicrnlmcntc. A que tem crescido muno. Na uluma fábm.a linha ~ohc11adc1 apena, 15 de~·ada. 11 sua população passou de mil hectares. mas resolveu ampliar ::?6:; mil puni 'i()(l mil hab11an1c~. O a~ ~uas prc1cnsúc~ quando se deu scu m,ainr problema e o c1,ntmgcn1e conta de que n governo c:~tava indi- 1k miio-dc obra desncupada e dl'S· 91 N.º 36 /Agosto de 1981 ca<1omos terceiro mundo qualificada. constitu1do na :.ua industrial. que:. ~cgundo a~ pt!;,qui­ nha foi mv..~trnndo o qu,· cru a Ale-ou maior pane por gente habituada sas foita,. ttndera,1 o mlillrar-~c n.l~ e leHmdo a p(lpula\·üo a entendê-ln apenas ao trato rudimentar da terra. es1ru1urru, arenosas do 1-olo. atm­ d.: um ~,nto de vhta cruko. que se oferece fundamentalmente gmdo os lenço"' de agua subtemi­ Qul.'m tala e o rre~itlcntc d,, Co­ para o plantio do arroz'. da mandioca nco:. . Resultado: poderão 1,c,,si<"nar m1tc. · usc-1mcnto Morais: e do côco baba,u. a:. tn:s principais o de~aparN1mcn10 de sururus. ~·a­ O glwernudor do E,tadl1 e o rc­ riqueLas do Estado marões. t::unha,. bagre,. ostra, e di­ presen111ntc du Ah-oo, logo apt'I:. o A ddadc é pobre. muno chu, o~a ver..a, ,,utra~ tonnas d<" \ ,da <:nde ~ll d,a 3 de Junho dl·,~ ano. o prC11biu-a fntrcpusemos, então, um pnontanamentc da abundância de Jerutado C1Jl(ls1c1tini\t3 Haroldo Sa­ mandato de ~guninça que se en­ cnergta no E,t.1Jo. pn-,ememe da bota. dcnum:1ou II transnackinnl na contra hoJe no Supremo Tribunal h1droelectnca de Boa fapt"rança e A'!>,ernblc1a Em Agos10, foi cnado Federdl. reforçada pela hidrocléctri<.'ll de Tu­ o Com11e de Dcte~a da Ilha de Síio • Do programa do Comité faz cun. na região do TOC'antifü, no vi­ Lu1,, coordenado pell.' profe,.. or e pane um simpósio quc reunirú, cm :zmho E!-t.'.ldo do P..uâ. em fa,.,;e de e,cntor !\a,cimcnto Morai~ Filho. São Lufr,, eMudiosos e especialistas condusão. Uma ponana do minis­ O Cumne entrou 1media1amt.>nte em cm temas ecológicos e económicos. tro da!, Mmase Energia. Cé~Cab. acção: à Ilha foi inundada com pan­ Todo esse 1rabalho tem lido uma boa garante àAlcoa um desconto de f 'i'{ fletos que denun..:ia, am a tran,na­ repercussão. No exterior. o New nas tarifas eléctrit=a;.. c1onal Alc(lqucr o parecer de um çao para os ri,co~ que trazia a pro­ dedicou espaço à publicação das de­ grupo especial de trabalho. inte­ dução de alummio na c1dad.:. nuncias contra a transnacional. grado 1>9r técnicos do próprio go­ Do Comité fazem parte parlamen­ • A luta contra a A/coa é de toda a verno. condenando a A/coa, kz com tares. jornalistas, !,e. a univer~idade melhor é a terra e o maior é o povo• apoio que vem dando ao projccto. local. colégios 5ecundanos. etc. O - afirma Nascimento Morais. um Um do;, ponto, básico;. do relatório movimento tem crescido de tal entus1asia do trabalho do Comué. E era o facto da A/coa estar a instalar­ modo que não seria exagerado não fat ~egredo di~~o: -se JUstamentc em cima do~ manan­ dizer-se hoje que ele é a própria ilha -Se não csth·essc a participar na ciais de água que abastecem São de São Lu1s A campanha de cons­ campanha contra a Alcoa, morreria Luts. o único efeito dessa constata­ c1enc1ali1.ação contra a A/coa teve de cnfane ou de remorso. Trata-se ção foi a súbita atenção que A go­ dois fone:. aliados: o Jornal Pe­ do segundo momento mais impor­ verno passou a dar ao pro;ecto de queno. órgão comprometido com as tante da vida do Maranhão. O pri­ Italuís. que prevê o abastecimenio lutas populares. e a Rádio Educa­ meiro foi a sua adesão a Independên­ de água da capital atravk das reser­ dora. da Diocese local. que toma cia; agora, eMamo~ a lutar contra a vas continentais do rio ltapecuru. ~empre posição em deíesa dos invasão estrangeira A-;. conclusi1es do parecer técnico oprimido\. De bairro em bairro. Para dirigir o Comné. Nasci­ são dramáticas: aA/c-oa vai produzir através de comícios relâmpago e a mento Morais suspendeu o trabalho 410 mil tonelad~ anuais de lixo dbtribuição de folhetos. a campa- de pesquisas que estava a íaursobre

92 cademos terceiro mundo a vida de seu pni, seu homi~nimo. c:u;o ccntt:nário do nascimento será comemorado n 19 de Março de 1982. Nu~c1men10 Mora1.s (p1u). no- 1,hcl j1,malil>111. mcmc de muila~ gcrn~·õc.s. ern negro e dcs111cou-~c cm várias campanhas da lm1>rensa contrll o t1runu1 e o opressão de mui­ tch governos. sempre ao lado dos oprimu.Jos e dos seus lnntios de cor.

A fome de lucros

Um dos argumentos que a A/coa usa para justificar a instalação da suu f:íbncasáo a\ van1agens que esta oferecerá à populução local. Nasci­ mento Morais co01c.sta essa tese. E c11a dados: • A Alcoa diz que dará quatro mil empregos na· fase da construção dn fábrica. mas desse total 2500 serão operários e tfcmcos especializados que virão de fora. O maranhense só terá ocupação em trabalho braçal. de servente ou de contínuo Cabe então perguntar: para quê tanto sacrifício? A troco de qu~? • Há muita) outras questões: qutlnto~ lavrndorcs não e)t~o a ser desaloJados dos milhares de hecta­ A ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇôES UNIDAS CONDENA A res que a Alcoa ocupará no interior INSTALAÇÃO DE USINAS DE ALUMl'NIO EM ILHAS, BEIRAS E DESAGUADOUAOS DE RIOS, BAIAS E TERRENOS ARENOSOS da ilha'? Quant

N º 36 / Agosto de , 981 cadernos terceiro mundo 93 Acção popular, arma contra o arbítrio

A luta dos maranhenses em defesa de sua ecologia vai agora aos tribunais

Os advogados Josemar Pinheiro e João BatiSta dos Qual o porqiM da utl/lzação da Justiça na lute Santos deSfl1istificararn a Alcoa, numa acção popular contra a trsr,snacional A/coa? que vêm incrementando em defesa da Ilha de Sào Luls A luta Judíclal é também um Instrumento de resis­ do Maranhão, ao conseguirem provar que a transnacio­ tência a lavor dos interesses da população ameaçada nal tem despendido milhões com propaganda na Im­ A Justiça engaja cidadaos comprometidos com o povo e prensa para •labnca,-.. uma ,magem de cordeiro, com a natureza, embora na nossa sociedade muitos quando, na verdade é o lobO mau que destrói as matas dos seus Integrantes estejam Hgedos ao sistema de e as terras ribeirinhas no local onde se erguem as suas corrupção, opressão e arbltrlo. Estamos. no entanto, instalações. Nesta entrevista os dois advogados falam opt11T1istas porque nesta luta os julzes encontram-se ao das suas expectativas em relação à posição da Justiça lado da população. No nosso pais. a Justiça tem sido o na defesa dos interesses populares no pais e no Mara­ último sutentáculo para corrigir ln1usllçail e vencer a nhão. em particular arrogância do autoritarismo. É o que tem acontecido em momentos decisivos como foi o caso Herzog (o joma­ hsta Wlad1m!r Herzog foi assassinado nas dependên­ c,as do li Exército, em São Paulo durante o Governo de Geisel. Posterlomiente, a Justiça considerou a União responsável pela sua morte). A acção popular é susceptlvel de ser utilizada? A acção popular faz parte desta última etapa. Na Semana da Ecologia. entrámos com uma acção popular para demonstrar que estamos dispostos a prosseguir até ao fim da luta - a retirada definitiva da Alcoa da Ilha de São Luls. Essa acção. que também é polfllca, possui uma singularidade: a de só poder ser proposta pelo cidadão eleitor, mas. infelizmente, poucas vezes a ela se recorre contra os desmandos. os actos lesivos da lei, praticados pelos administradores. A população desco­ nhece esse poderoso Instrumento de luta na defesa dos seus direitos ameaçados ou completamente anlqulla­ dos Peta acçáO popular cabe ao povo agir a para anular actos que atentem contra o património económico. ad­ m,nlstralivo. artistico ambiental ou históricos da comu­ nidade. No plano Jurldfco, quais foram os resultados da luta contra a Ncos? Agora. os maranhenses descobriram que a nossa terra tem uma vocação siderúrgica. Na acção popular, discutimos as consequências da Alcoa, fruto da conspi­ ração do .. tr11aterlsmo .. para ocupar as nações periféri­ cas com proJectos Jé condenados nas suas matrizes, rejeitados e punidos por legislações de vários palses. O assunto foi estudado a vários planos: económico social e ambiental e as suas consequências negativas toram. além do mais, comprovadas em relatórios feitos por técnicos responsáveis e idóneos designado pelo pró· prlo Governo. A acçao popular contra a Alcoa é assim a porta de entrada para os protestos que daqui por diante

J-r: a justiça ie JIIITll defender o peno serão muitos.

94 __,,- dO terceiro mundo ------Amazónia------A contra-informação: uma táctica de entrega

O INCRA põe em causa os levantamentos do solo e subsolo amazónicos realizados pelo RADAM - uma Instituição comprometida com a soberania do pais - com o objectlvo de o pressionar e desmoralizar

TRA VÊS do seu presidente, ncccssáno é repelir a conliança de­ quais revelam. através da leitura de Paulo lokota. o Incra declarou positada pelas corporações trans­ mosaicos. um quadro preciso e geral A este ano que mais de 90 Amazónia. onde sãc> instalados os regiões tropicais. como as da África O presidente do Incra. Paulo lo­ censores remotoi.. Fazendo uso de e do Sudoeste da Ásia. A região ê kota. é um homem da inteira con­ fotografias aercas. que fornecem constitu1da pelas terras mais antigas fiança do minbtro do Planeamento. umu kitura precisa. foram visitado~ que permanecem for.1 dos mares e Deltim Neto. a quem serve de ha e pesquisados. s(I de helic

N.º 36 /Agosto de 1981 C1oC10st1 é c:om a ,otic -Brasília. constata isso: o agricultor terra. Foram gastas M,nms il:-.tro­ nm na<'ioll31. Pelo menos ate que vai peneirando pel:i fl(lresta dentro. nóm1ca~ na cl4bM.l\'ào do~ ,cus m:i­ Pº" e o contnino Se ,) nao fos à medida em que o olo evidencia :i pa!-, um trabalho agol'll umea.;ado bo, 1anam. paro comprovu 111 ••1~1 sua esterilidade na terceira llU quana pda dcsmornlila,;ão. Atra,es d,,s l~m1cn, no gcncro da que teve lu colheita. 4.~ milhbc:s de qu1k\metros quadru­ com o Incra e as pressões de desa dt'- dCI terri11mo c.1n1•t1,rnfod,,s pelo raliznç.io ~ A oportunidade R.·\DAM. o Brusíl poderia cmr~­ Santos endér a ocupaç!io da Amtm\naa de que vê Pela primeira vez. na Hu,toria da lonna radonnl. De mandra tal que. 0 do Mar ( 1 l:Jlpn,$>3o que,. no BIUil. • nal ten Humanidade. o homem podena num futuro pro,ímo. todo esse pa­ dc\iJn,a • Clpital, Bra,.ílüo, Kdc prensa empreender. numa grande região, trimónio -cuja destruição l 1n-cpa, d.t P1uldtnc:l1 da Rcpubhc1 . quand, e as te Instala das su, nadeh nhão., BARBEARIA f\N5NA

_PODE DEIXAR SR.AMAZONAS. VAMOS DAR APENAS UMA APARADI NHA ! WILLY

96 cademos terceiro mundo