FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SISTEMAS E SERVIÇOS DE SAÚDE

HÉLIO TADEU DE SOUZA MARIA DO SOCORRO VIDAL DE OLIVEIRA VITÓRIA LÚCIA BRILHANTE VALGUEIRO

Educação Popular em Saúde no município de Venturosa-PE no Cotidiano da Estratégia de Saúde da Família

RECIFE 2009 HÉLIO TADEU DE SOUZA MARIA DO SOCORRO VIDAL DE OLIVEIRA VITÓRIA LÚCIA BRILHANTE VALGUEIRO

EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VENTUROSA -PE NO COTIDIANO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Monografia apresentada ao Curso de especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde do Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do título de especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.

Orientadora: Profª Ms. Bernadete Perez Coelho

RECIFE 2009 Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

S729e Souza, Hélio Tadeu de Souza. Educação popular em saúde no município de Venturosa -PE no no cotidiano da estratégia de saúde da família/ Hélio Tadeu de Souza, Maria do Socorro Vidal de Oliveira, Vitória Lúcia Brilhante Valgueiro. — Recife: H. T. de Souza, 2009. 33 f.

Monografia (Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde) – Departamento de Saúde Coletiva, Cen tro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.

Orientadora: Bernadete Perez Coelho

1. Educação. 2. Saúde da família. 3. Serviços de saúde. I. Coelho, Bernadete Perez. II. Título.

CDU 37 HÉLIO TADEU DE SOUZA MARIA DO SOCORRO VIDAL DE OLIV EIRA VITÓRIA LÚCIA BRILHANTE VALGUEIRO

EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VENTUROSA -PE NO COTIDIANO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Monografia apresentada ao Curso de especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde do Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do título de especialista em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde.

Aprovado em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

______Ms. Bernadete Perez Coelho Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz

______Ms. Agleildes Arichele Leal de Queirós Prefeitura Municipal do Recife - PE Chega de fazer para os empobrecidos. Chegou a hora de fazer a partir deles e com eles. Essa é a novidade que você traz na esteira de Paulo Freire e da Igreja da libertação. Leonardo Boff RESUMO

A Educação Popular não é o mesmo que “educação informal”. Ela busca trabalhar pedagogicamente o homem e os grupo s envolvidos no processo de participação popular, fomentando formas coletivas de aprendizado e investigação de modo a promover o crescimento da capacidade de análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento. A e ducação popular, trás a tona todos estes sentimentos e constrói junto com os atores sociais um compromisso de transformação nos setores locais, daí a importância da regionalização e da contemplação com vários olhares das equipes de saúde da família. Para isso é preciso aprender a olhar e escutar sem medo de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser, em harmonia, sem submissão. Um mundo em que respeitemos o mundo natural, que nos sustenta, no qual se desenvolva e que se tome emprestado da natureza para v iver. Ao sermos seres vivos, somos autônomos, no viver não somos. No município de Venturosa esta prática teve início em 1998, buscando romper com o modelo médico hegemônico e assistencialista que privilegia as ações curativas centradas no médico. A equipe de atenção básica implantou no município um novo modelo, com ações educativas através de oficinas de teatro e mamulengos. Este trabalho teve como objetivo investigar as práticas de Educação Popular em Saúde desenvolvidas no município de Venturosa -PE. Considerando a relevância do tema escolhido e pela oportunidade da produção de informação sobre a atuação dos atores sociais no processo de Educação Popular em Saúde, esperamos prestar esclarecimentos que possam ser usados no fortalecimento desta prática.

Palavras-chave: Educação; Estratégia de Saúde da Família; Transformação; Compartilhar; Atores Sociais. ABSTRACT

The Popular Education is not the same as "informal education". She seeks work pedagogically man and the groups involved in the proc ess of popular participation, promoting collective forms of learning and research to promote the growth of the capacity of critical analysis about the reality and development of strategies of struggle and confrontation. Popular education, behind the surfac e all these feelings and build the social actors with a commitment to transformation in local industries, hence the importance of regionalization and the contemplation of the eyes with several teams of family health. To do this we must learn to look and li sten without being afraid to leave without fear of letting the other be in harmony, without submission. A world in which respect the natural world that sustains us, which develops and that kind of loan is taken to live. When we are living beings, we are autonomous, not live in us. In the city of Ventura this practice began in 1998, seeking to break with the hegemonic medical model and supporting priority actions that focused on treating doctor. A team of primary care in the city implemented a new model, with education through workshops, theater and mamulengos. This study aimed to investigate the practices of popular education in health developed in the city of Ventura-PE. Considering the relevance of the theme and the chance of producing information on the activities of social actors in the process of Popular Education in Health, we hope to provide information that can be used to strengthen this practice.

Keywords: Education, Family Health Strategy, Manufacturing, Share, Social Actors. SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...... 08 2 REVISTA DA LITERATURA ...... 10 3 OBJETIVOS ...... 14 3.1 Objetivos Geral ...... 14 3.2 Objetivos Específicos ...... 14 4 MÉTODOS ...... 15 4.1 Aspectos Éticos ...... 16 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...... 17 5.1 Os Trabalhadores ...... 17 5.1.1 Do significado da Educação Popular ...... 17 5.1.2 Da aplicação da Educação Popular nos serviços de saúde ...... 20 5.1.3 Da importância da Educação Popular ...... 22 5.2 Os Usuários ...... 24 5.2.1 Do significado da Educação Popular ...... 24 5.2.2 Da aplicação da Educação Popular nos serviços de saúde ...... 26 5.2.3 Da importância da Educação Popular ...... 26 5.3 O Gestor ...... 28 5.3.1 Do significado da Educação Popular ...... 28 5.3.2 Da aplicação da Educação Popular nos serviços de saúde ...... 28 5.3.3 Da importância da Educação Popular ...... 28 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 29 REFERÊNCIAS ...... 30 APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista ...... 31 APÊNCIDE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...... 32 8

1 INTRODUÇÃO

A Educação Popular não é o mesmo que “educação informal”. Ela busca trabalhar pedagogicamente o homem e os grupos envolvidos no processo de participação popular, fomentando formas coletivas de aprendizado e investigação, de modo a promover o crescimento d a capacidade de análise crítica sobre a realidade e o aperfeiçoamento das estratégias de luta e enfrentamento. O Brasil teve um papel pioneiro no mundo na construção do método da Educação Popular, o que explica sua importância. Paulo Freire foi o pioneiro no trabalho de sistematização teórica da educação popular. Seu livro a Pedagogia do Oprimido (1966) ainda repercute em todo o mundo. Um elemento fundamental do seu método é o fato de tomar como ponto de partida do processo pedagógico, o saber anterior das classes populares. Este conhecimento fragmentado e pouco elaborado é a matéria prima da Educação Popular. O que nos motivou a discussão deste tema trazendo para a academia, o método Paulo Freire, foi às experiências vivenciadas nas equipes de Saúde da Família de vários Municípios e ter convivido com angústias e sofrimentos dos usuários e trabalhadores nos seus cotidianos, na busca de autonomia vivenciada até hoje, e pouco discutida nas capacitações e formação de profissionais que não se encontram preparados para assumir compromissos e mobilizações nos seus campos de trabalho. O paralelo que traçamos hoje ao método Paulo Freire usado no período de 1966 até 1988 é que havia naquela época uma crise de liberdade e expressão e o que vivemos hoje é uma profunda cr ise de conhecimentos, e isto se evidencia nas respostas principalmente dos usuários quando entrevistados e na escolha dos profissionais. No município de Venturosa esta prática teve início em 1998, buscando romper com o modelo médico hegemônico e assistenci alista que privilegia as ações curativas centradas no médico. A equipe de atenção básica implantou no município um novo modelo, com ações educativas através de oficinas de teatro e mamulengos. Essa prática inovadora na região contou com o apoio de um profissional com formação em teatro, contratado pelo município que fez a capacitação dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS). A capacitação se processou da seguinte forma, durante 06 meses e em 04 etapas: 1) o conhecimento do corpo; 2) a tomada do corpo express ivo; 3) o teatro como linguagem; 4) o teatro 9

em cena. Após essa capacitação os ACS’s, tornaram -se multiplicadores deste processo de transformação, onde foram abordados temas como: dengue, AIDS, saúde do idoso, higiene e saúde e doenças imunopreveníveis (té tano, sarampo, hepatite saúde bucal etc). Para Sales (1999) formar bons lutadores pela saúde, todas as pessoas, pelo que fazem ou deixam de fazer, interferem no sentir/pensar/agir de outras pessoas. Por isso todas as pessoas são educadoras. A proposta foi de averiguar o conhecimento e a prática das equipes de saúde, usuários e gestor sobre Educação Popular em Saúde, para a partir desta, de forma institucionalizada implantar as práticas aqui descritas de forma que possamos aprofundar e ampliar os conheciment os adquiridos, gerando conhecimentos e práticas que possam ser desenvolvidas por outras equipes, municípios, ambientes de trabalho e contribuam para uma sociedade digna, justa e solidária. Ao compreendermos que as pessoas são muito mais que apenas usuários dos nossos serviços, passamos a enxergar nossa atividade como algo mais além do que um modo de dizer verdades sobre a saúde e doença. Não pretendemos com nossa prática definir padrões de comportamento, dizer quais são as atitudes certas para cada situação, mas compreender que todo indivíduo carrega em si uma vontade e uma possibilidade de ir além, de superar limites, de atravessar pontes. Considerando a relevância do tema escolhido e pela oportunidade da produção de informação sobre a atuação dos atores so ciais no processo de Educação Popular em Saúde, esperamos prestar esclarecimentos que possam ser usados no fortalecimento desta prática. 10

2 REVISTA DA LITERATURA

Paim (1993) afirma que, "tendo em conta a natureza coletiva do objeto e a diversidade dos meios de trabalho pode-se afirmar, resumidamente, que o agente das práticas de saúde coletiva tende a ser simultaneamente um 'técnico de necessidades sociais de saúde' e um 'gerente de produção de serviços'. No geral, este profissional está em vinculação com o Estado, tendo suas "atividades básicas (voltadas) para: vigilância e controle das necessidades sociais de saúde; planificação, gestão, controle e avaliação de práticas de saúde; elaboração e difusão de concepções sobre saúde (consciência sani tária)". Para Schraiber (1991), o desempenho do trabalhador é um problema do "domínio em um saber -fazer dos problemas do trabalho", produzidos "na dinâmica de realização deste como intervenção técnica adequada às demandas sociais". L'Abbate (1997), baseada em Rios (1993), observa que esse saber fazer deve ser um saber fazer bem, no sentido de um saber que leve em conta o técnico, o político e o ético. Para o profissional de saúde, não basta saber, é preciso "articular responsabilidade, liberdade e compromi sso". Discutindo os novos paradigmas hegemônicos na forma de atendimento à saúde (uso maciço de tecnologia, concentração de profissionais, sobretudo médicos, nos grandes centros, de acordo com as diversas categorias), Machado (1995), defende a idéia de que "trabalhadores de saúde são um bem público, uma utilidade pública". Ou seja, se o setor público emprega maciçamente trabalhadores (52% do total de empregos no setor saúde), se "o trabalho em saúde não deixa ninguém impune, pois ele impõe, diferentemente de outros ramos da economia, um significativo envolvimento emocional e ético com a pessoa que busca assistência médica" e, acrescento assistência à saúde -, propor processos de capacitação cada vez mais eficientes e inovadores é também um dever das institu ições formadoras públicas: as universidades em associação com os serviços. Na mesma linha de raciocínio, Garrafa (1995) destaca a condição do concurso de profissionais íntegros como "pré -requisito indispensável para o bom desenvolvimento de qualquer progr ama sanitário, quando se considera o processo da Reforma Sanitária/SUS no contexto do novo paradigma da ética da 11

responsabilidade individual e pública, imprescindível nos dias atuais, frente a valores como justiça, cidadania e liberdade". Dessa forma, qualquer projeto de capacitação de profissionais de saúde no campo da saúde pública deve levar em conta esse conjunto de premissas e deve visar ao desenvolvimento de uma competência que construa uma instrumentalização técnica e política, articulada com a ética . O desenvolvimento desta tripla dimensão tem sido exatamente o propósito definido pelos sanitaristas que trabalham na conquista de uma nova saúde, baseada nos princípios éticos e cidadania. Uma educação centrada no ter, no consumir, no descartar e na comp etição alimenta “males” sociais, como a miséria, a marginalização, o descaso, a violência, a falta de solidariedade, paz e compaixão e “males” ecológicos como desertificações, extinções em massas de espécie da fauna e da flora, desequilíbrios de grandes proporções, epidemias, etc. Mas afinal, que educação queremos? Um tipo de educação que contribua para saúde de sermos quem somos e respeitamos o outro que é. Que alimenta o conviver saudável e a intereza do ser que não é meramente racional e sim repleto de emoções e banhado de desejos. A educação popular, trás a tona todos estes sentimentos e constrói junto com os atores sociais um compromisso, de transformação nos setores locais, daí a importância da regionalização; da contemplação com vários olhares, das eq uipes de saúde da Família. Para isso é preciso aprender a olhar e escutar sem medo de deixar de ser, sem medo de deixar o outro ser em harmonia, sem submissão. Um mundo em que respeitemos o mundo natural, que nos sustenta, no qual se desenvolva e que se tome emprestado na natureza para viver. Ao sermos seres vivos, somos autônomos, no viver não somos (MATURANA, 1999). Tem-se erroneamente associado o conceito de Educação Popular á educação informal dirigida ao público popular. O adjetivo “popular” presente n o nome Educação Popular se refere não a característica de sua clientela, mas à perspectiva política dessa concepção de educação: a construção de uma sociedade em que as classes populares deixem de ser atores subalternos e explorados para serem sujeitos altivos e importantes na definição de suas diretrizes culturais, políticas e econômicas. A experiência dos movimentos sociais tem mostrado que esse modo de conduzir o processo educativo pode ser aplicado com sucesso na formação profissional. Muitas iniciativa s educacionais nas universidades 12

(principalmente em projetos de expansão), nos treinamentos das secretarias de saúde de seus profissionais e nas organizações não -governamentais vêm sendo orientadas pela Educação Popular, descobrindo, aos poucos, os caminho s metodológicos de sua aplicação no novo contexto institucional. A educação dos trabalhadores de saúde nesta perspectiva é fundamental para ampliação de uma gestão participativa no SUS. Hoje um dos maiores desafios do movimento de Educação Popular em saúde é o delineamento mais preciso das estratégias educativas de sua incorporação ampliada nos cursos de graduação de todos os profissionais de saúde, na formação de agentes comunitários de saúde, na educação permanente dos trabalhadores do SUS. Gestores e dirigentes políticos, preocupados com os ganhos eleitorais e financeiros, cobram dos trabalhadores de saúde, situados em serviços precários, marcados pelo clientelismo político e por uma gestão autoritária a solução de complexos problemas da sociedade. Numa i magem figurada, pode-se dizer que os profissionais de saúde funcionam como pára -choques no embate entre a população carregada de problemas graves de saúde e exigências de um lado, e de outro as instituições de saúde esvaziadas pela crise fiscal do Estado e o descaso político. Do mesmo modo que a Educação popular nos movimentos sociais deve partir das situações de opressão e angústia ali vividas. A educação popular dos doutores pode fazer o mesmo. No mesmo campo da saúde, também há grande diversidade de movimentos sociais, importantes aliados nos processos educativos. Numa atitude reflexiva e crítica, diante da sociedade, da compaixão com o sofrimento humano, da sensibilidade com a sutileza das manifestações e dinâmicas subjetivas e engajamento com os movimen tos sociais que não podem ser ensinados maciçamente através das disciplinas teóricas. Mas se podem criar situações pedagógicas, orientadas pela experiência acumulada na Educação Popular, em que são problematizadas as vivências e indignações dos atores soci ais em sua relação com a realidade, compartilhadas iniciativas de enfrentamento e busca de entendimento das raízes das questões sociais mais importantes. Esta perspectiva se diferencia do imaginário de grande parte do imaginário do movimento sanitário brasileiro, ainda acreditando e se empenhando na possibilidade de construção de um sistema estatal único de saúde capaz de penetrar e ordenar, de modo organizado, as diversas instâncias da vida social, implicadas no processo de adoecimento e de cura (VASCONCEL OS, 1997). 13

Várias iniciativas de governos municipais têm caminhado neste sentido. (As experiências mais avançadas de incorporação da metodologia da Educação Popular como instrumento de reorientação da globalidade das políticas de saúde aconteceram nas administrações municipais das prefeituras de Recife (2000 -2004) e (1996-2004), ambas em e administradas pelo Partido dos Trabalhadores, e no governo estadual de Miguel Arraes (1994 -1998), também em Pernambuco. Em várias outras Administra ções municipais e estaduais, foram implementadas iniciativas menos abrangentes de fortalecimento da participação popular nos vários serviços, com a metodologia da Educação Popular. A partir dessas experiências, há hoje um saber significativo sobre os camin hos administrativos e as estratégias políticas para utilização da Educação Popular como instrumento de gestão de políticas sociais. 14

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Investigar as práticas de Educação Popular em Saúde desenvolvida no município de Venturosa-PE.

3.2Objetivos Específicos

a) Averiguar o conhecimento sobre Educação popular em Saúde pelos trabalhadores, usuário e gestor da Secretaria de Saúde do Município; b) Analisar a participação do usuário nas atividades desenvolvidas nas eq uipes de saúde da família; c) Verificar como se dá esta prática no cotidiano das Unidades de Saúde da Família e nos seus entornos. 15

4 MÉTODOS

Trata-se de um estudo qualitativo, analítico de fenômeno social. A pesquisa descritiva expõe características de um determinado fato ou fenômeno, observando -o e analisando-o sem manipulá-lo (ALMEIDA; ROUQUAROL, 1994). Foram entrevistadas 13 (treze) pessoas, sendo 06 profissionais de nível superior de cada unidade de saúde da família, 03 masculinos e 03 fem ininos com idade de 25 a 34 anos; 06 usuários com escolaridade que variava do nível Fundamental ao ensino Superior; sendo 04 femininos e 02 masculinos com idade de 21 a 52 anos e o gestor da secretaria de saúde do município. As entrevistas foram feitas a partir de um questionário (anexo 1) com as seguintes perguntas: 1) Qual o significado da Educação popular? 2) Como a Educação Popular é aplicada no(s) serviço(s) de Saúde? 3) Qual a importância da Educação Popular em saúde? Que foram gravadas e analisadas c onforme literatura pertinente para em seguida transcrevê-las. A análise foi feita baseada na comparação com a etnografia, que é a ciência que dá um relato honesto de todos os dados, é talvez mais necessária que todas as ciências, infelizmente nem sempre co ntou no passado com este grau suficiente de generosidade. A observação participante, baseada em dados de questionários e de informações, fruto da observação direta e resultado da demorada e íntima convivência do pesquisador com as práticas cotidianas da po pulação, que torna esta nova metodologia em um relato cheio de vida e emoção. A este fenômeno Social, chamado Educação Popular em Saúde, fundamental no fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente na Estratégia de Saúde da Família, para que seja plenamente reconhecida pelos seus trabalhadores e usuários, que convivem no seu cotidiano, com angústias, desejos e idéias reprimidos ou sem nenhuma autonomia para compartilhar como atores sociais de um processo em desenvolvimento. Esta pesquisa foi realizada no município de Venturosa -PE, nas unidades de Saúde da Família, das áreas rural e urbana, no total de 13 (treze) entrevistados. O município está localizado na meso-região do e na micro-região do vale do Ipanema no estado de Pernambuco, limitando-se a norte com , a Sul com Caetés, a leste com Pesqueira e Alagoinha e a oeste com Pedra. A área municipal ocupa 324,7 km e representa 0,33% do estado de Pernambuco; distando 243,4 Km 16

da capital, cujo acesso é feito pela BR 232 e PE 217. Tem uma população de 14. 492 hab., densidade demográfica 41.5 hab./km, renda per capita R$ 100,10, IDH: 0.633. As atividades econômicas são a agropecuária e cultivo de lavouras de subsistência.

4.1 Aspectos Éticos

Foi apresentado aos sujeitos do estud o o termo de consentimento livre e esclarecido, na ocasião da pesquisa, foi feita uma exposição da finalidade da pesquisa, solicitada a assinatura dos sujeitos, concretizando a condição de autorização para a participação do estudo. As informações serão tra tadas de maneira sigilosa, preservando a identificação dos sujeitos. Embasados nos aspectos éticos presentes na resolução n.196/96, que aprova as Diretrizes e Normas reguladoras da pesquisa envolvendo seres humanos, assegura aos sujeitos o direito da livre participação do estudo. 17

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Descreveremos as resposta de acordo com a seqüência descrita; trabalhadores, usuários, gestor, sexo e idade.

5.1 Os Trabalhadores

5.1.1 Do Significado da Educação Popular

É a maneira pela qual nós agimos como nos expressamos com as pessoas, não só no trabalho, como em outros ambientes, è ser elegante em todos as situações que nos são impostas diante de belas e desagradáveis situações, devemos ser sempre cordiais (t-1).

Necessárias e eternas como são as suas verdades, todas as Ciências interessam por certo tempo a toda a humanidade. No presente, como no futuro mais longínquo, deve ser da máxima importância para a regularização do seu proceder que os homens estudem a ciência da vida fís ica, intelectual e social, e que considerem todas as outras ciências como a chave para a ciência da vida. Parafraseando uma fábula oriental, podemos dizer que na família dos conhecimentos, a Ciência e a Educação são a gata borralheira que na obscuridade oculta perfeições ignoradas. A ela cometem -se todos os trabalhos; pela sua perícia pela sua inteligência, pela sua dedicação é que se obtiveram todas as comodidades e todos os prazeres, e enquanto trabalha incessantemente por todas as outras, conserva-se no último plano, para que suas irmãs possam ostentar os seus ouropéis aos olhos do mundo. O paralelo pode ser levado ainda mais longe. Porque à medida que caminhamos para o desenlace, as posições vão mudando; e enquanto essas irmãs altivas caem no merecido de sprezo, a Ciência e a Educação proclamada como as mais altas em valor e em beleza, reinarão á suprema (GADOTTI, 1996)

Meios de conscientizar a população leiga sobre aspectos que interferem no seu cotidiano (t-2). 18

Chamo exclusivamente de trabalho a essa at ividade que se sente tão intimamente ligada ao ser que se transforma em uma espécie de função, cujo exercício tem por si mesmo sua própria satisfação, inclusive se requer fadiga e sofrimento. A necessidade do trabalho seria necessidade orgânica de utilizar o potencial de vida numa atividade ao mesmo tempo individual e social. Na medida em que organizamos o trabalho, teremos resolvido os principais problemas de ordem e disciplina; não de uma ordem e uma disciplina formal e superficial, que não se matem senão por um sistema de sanções, previsto como camisa -de-força que pesa tanto a quem recebe como ao mestre que a impõe. A preocupação com a disciplina está em razão inversa com a perfeição na organização do trabalho e no interesse dinâmico e ativo dos atores sociais. A escola popular do futuro seria a escola do trabalho. O feudalismo teve sua escola feudal; a Igreja manteve uma educação a seu serviço; o capitalismo engendrou uma escola bastarda com sua verborréia humanista, que disfarça sua timidez social e imob ilidade técnica. Quando o povo chegar ao poder, terá a sua escola e sua pedagogia. Seu acesso já começou. Não esperemos mais adaptar nossa educação ao novo mundo que está nascendo. (FREINET apud GADOTTI, 1996)

Orientações sobre higiene, cuidados pessoais, auto cuidado, orientações que geram promoção e proteção de saúde (t -3).

É o meio pelo qual o serviço de saúde (não exclusivamente) tem de brindar informações de maneira clara e objetiva à população, com o objetivo de favorecer a promoção e proteção em saú de, esta educação consiste em difundir informações pertinentes á população, seja ela de baixo ou alto nível sócio-cultural (t-4).

O educador Carl R. Rogers (1902-1987), foi pai da não-diretividade, antes de mais nada um terapeuta. Segundo ele, o clima psi cológico de liberdade favorecia o pleno desenvolvimento do indivíduo. Ele valorizava a empatia, a autenticidade. Todo o processo educativo deveria então centrar -se na criança, não no professor, nem no conteúdo pragmático. Para Rogers, os princípios básicos do ensino e da aprendizagem são: confiança nas potencialidades humanas, pertinências do assunto a ser aprendido ou ensinado, aprendizagem participativa, auto -avaliação e autocrítica, aprendizagem da própria aprendizagem. A aprendizagem seria tanto mais profunda quanto mais importante para a totalidade da pessoa que se educa; não podemos ensinar a outra pessoa diretamente; só facilitar seu aprendizado. Daí a 19

importância das relações pessoais, da afetividade e do amor. Rogers atribui grande importância ao educador, ou facilitador da aprendizagem: ele deveria criar o clima inicial, comunicar confiança, esclarecer, motivar, com congruência e autenticidade. Ele chamava a isso “compreensão empática”. Segundo Rogers, o objetivo da educação seria ajudar os alunos a converterem-se em indivíduos capazes de ter iniciativa própria para a ação, responsáveis por suas ações, que trabalhassem não para obter a aprovação dos demais, mais para atingir seus próprios objetivos. (SKINNER, 1983).

Educar os pacientes para conservar a saúde (t-5).

Não precisamos de longas considerações para demonstrarmos que é esta aproximadamente a ordem verdadeira por que devemos fazer aquela subordinação. As ações e precauções pelas quais, de momento para momento, asseguramos a nossa conservação pessoal devem ocupar inegavelmente o primeiro lugar. (GADOTTI, 1996).

É o processo educativo que se estabelece entre profissionais e comunidade de uma forma geral onde os conhecimentos são recíprocos, um aprendem com o outro, não há espaço e tempo reserv ado para este tipo de processo, pois pode ocorrer através de consulta, palestra, entrevista, aula, conversa (bate-papo), atendimento em grupo, visita domiciliar, troca de conhecimentos (t-6).

Com relação à primeira pergunta, analisamos que o grupo respond e resumidamente a questão, que é tão relevante e complexa, direcionando -a apenas ao tipo do serviço prestado, não se preocupando com os entornos, justiça, cidadania e construção de redes para uma comunidade mais saudável e preparada para o enfrentamento da s diversidades do cotidiano familiar, dentro do processo saúde -doença. Pestalozzi (1746-1827) queria reforma da sociedade através da educação das classes populares. Ele próprio colocou-se a serviço de suas idéias criando um instituto para crianças órfãs das camadas populares, onde ministrava uma educação em contato com o ambiente imediato, seguindo objetiva, progressiva e gradualmente um método natural e harmonioso. O objetivo se constituía menos na aquisição de conhecimentos e mais no desenvolvimento psíqu ico da criança. Sustentava que a educação geral devia preceder à profissional, que os poderes infantis brotavam de 20

dentro e que o desenvolvimento precisava ser harmonioso. Na prática, Pestalozzi fracassou em seu intento. Não obteve resultados esperados, ma s suas idéias são debatidas até hoje e algumas foram incorporadas á pedagogia contemporânea (PESTALOZZI apud GADOTTI, 1996).

5.1.2 Da aplicação da Educação popular nos serviços de Saúde

Muitas vezes há desarmonia, devido à paciente que querem ultrapassa r limites, e pensam que é um direitos deles, mas o direito nosso começa, quando termina o do outro, então é regra e tem que ser respeitado, apesar de alguns empecilhos e eles (povo) acaba cedendo (t -1).

A África e a América Latina não podem ser compreendi do sem a Europa. A Europa colonizou os dois continentes, dividindo territórios segundo os seus interesses econômicos, políticos e ideológicos, tornando esses países cada vez mais dependentes e mantendo-os subdesenvolvidos. Os países da América Latina tiveram seu desenvolvimento limitado pelas políticas das metrópoles e, depois da independência, por tipo de desenvolvimento associado ainda aos interesses delas. Os três históricos “estadistas da Educação” (Juarez, Sarmiento e Varela) defenderam, em seus respectivos países, uma educação cujo centro será a formação do cidadão, na linha do pensamento pedagógico iluminista e liberal, bem como a extensão da escola para todos, como Varela defendeu em seu livro La Educación Del Pueblo (1874). Eles postulavam uma ordem social que permitissem superar o atraso econômico, ordem essa fundada na educação e na participação. A prática de enfrentamento da crise parece juntar duas fortes correntes: de um lado, os defensores da escola pública; e do outro, os educadores ligados ao s movimentos pela chamada educação Popular não escolar, uma síntese superadora dessas tendências pedagógicas encontra-se na perspectiva da “educação pública popular” que tem, entre outros inspiradores, o educador Paulo Freire e que também é sustentada pelo autor deste livro (GADOTTI, 1996) .

Palestras, visitas domiciliares, durante os atendimentos ambulatoriais e eventualmente nas feiras de saúde (t-2).

Através de palestras, durante a consulta, nas visitas domiciliares (t -3). 21

Por meio de palestras (educação em saúde), distribuição de folhetos explicativos, panfletos, peças teatrais educativas etc (t -4).

Através de palestras, consultas, visitas domiciliares, atendimentos aos grupos específicos (gestantes, adolescentes, hipertensos, etc. conversas informais (bate papo), entrevistas, feiras de saúde etc (t -5).

Palestras, demonstrações de higiene adequada, doenças (t -6).

Analisamos que os trabalhadores de alguma forma praticam o processo de educação, dentro do seu processo de trabalho, mas que falta a ele s uma diretriz, dentro de uma proposta concreta das necessidades de suas comunidades, para que possam criar redes de trabalho e desenvolvimento, e superar dificuldades vivenciadas nos seus cotidianos. Nossa praxe leva implícita uma concepção de sociedade e das relações humanas que se faz notar por ação ou por omissão. Explicitar essas idéias, que de qualquer maneira darão o colorido a nossa ação, é um ato de clareza para conosco, que deve ser acompanhado de uma atitude honrosa de respeito ao aluno e da cria ção de um ambiente que torne possível a pluralidade. Estas são as linhas gerais propostas: ser plenamente conscientes de que vivemos numa sociedade com profundos conflitos de classes, com situações cotidianas de injustiças social, de impotência frente aos privilégios de alguns.Nós, trabalhadores cujos atores pertencem precisamente a esses setores mais desfavorecidos, para os quais não se estende ainda a tão célebre “igualdade de oportunidades”, não somos nem podemos ser neutros, e devemos começar por esclarecer para nós mesmos de que lado estamos. Devemos perceber como nossas atitudes, as atitudes que ajudamos a desenvolver, a forma de organizar nosso trabalho e os conhecimentos que selecionamos ajudam a manter a ignorância, o acatamento e a derrota ou ajud am a formar indivíduos despertos, informados, críticos e com sã rebeldia que pode alimentar a vontade de mudar as coisa. O mesmo ocorre com respeito à preservação do meio ambiente. Trata -se de que aprendam a cuidar do que é pequeno, seu próprio ambiente, m as que também conheçam as reivindicações dos ecologistas, os grandes problemas da destruição do meio ambiente e suas causas. Aqui deveríamos ressaltar que não podemos formar consciência ecológica se não procuramos criar condições para deixá -los á vontade em um ambiente em que 22

possam se desenvolver, se expressar e trabalhar de forma relaxada. Isto nada tem em comum com uma sala de aula de nível secundário, superlotada, com as paredes nuas, como se não houvesse o que nelas expressar que os alunos vivenciam co mo uma prisão da qual querem escapar, com um ritmo de trabalho neurotizante.

5.1.3 Da importância da Educação Popular em Saúde

É importante para o município crescer de forma gradativa, se estruturando e se programando para que possa suprir todas as nec essidades da população, dando-lhes conforto, um bom atendimento e assistência, não somente a pessoas próximas, mas sim, a todos por igual, sempre ajudando e mostrando a nossa realidade (t-1).

Princípio do PSF (Programa de Saúde da Família), prevenção de doenças, agindo preventivamente, não apenas curativa.*tem resultado satisfatório (t - 2).

Promoção e prevenção de saúde (t-3).

Ajudá-los a tomar consciência do justo e do injusto, na vida cotidiana, mas, além disso, não lhes escamotear a discussão dos tem as importantes: a divisão dos bens e das oportunidades, as relações internacionais, a política nacional. Para formar esse senso de justiça no que se refere ao cotidiano, temos que começar por adquirir amplamente a crítica ao nosso trabalho, dar -lhes explicações sobre a nossa maneira de proceder e retificá-las, quando necessário, admitindo ante eles o que estamos fazendo. Procurar uma maneira para que sejam expressas as queixas; devemos ser sensíveis à problemática da mulher nas diferentes épocas que estudamos; impulsionar o debate sobre a questão; não repetir os estereótipos de condutas consideradas “próprias da mulher”, como arrumar a sala de aula, varrer, costurar; ajudá-las a descobrir em seus próprios livros revistas que lêem e na publicidade a imagem da mulher que se transmite e se reitera; estimular nas meninas a ocupação de espaços a elas vedados e a que não se deixe subestimar.

Como já foi mencionado, favorecer a promoção e a proteção em saúde, por meio de uma população melhor informada e preparada c om relação à comunidade, seus males e como preveni -las (t-4). 23

Ter uma constante atitude de inquietação em fomentar a criatividade. É nosso papel dar-lhe pistas, fazer-lhes propostas, abrir-lhes trilhas para que possam começar a caminhar. Introduzi-los nos diversos meios possíveis de expressão. È lamentável ver, como circunscreve tudo à expressão escrita e oral, deixando de lado a cor, a imagem, à mímica, os fantoches, a música etc. Falar em criatividade não implica menosprezar as atividades de reforço, ind ispensáveis a aquisição de técnicas e procedimentos. Como conseguir um equilíbrio entre criatividade e disciplina? Em torno desta questão deveríamos organizar nosso trabalho; valorizar de forma suficiente o aspecto lúdico: parece que em nosso afã de que as pessoas descubram e analisem a realidade, enfatizamos exclusivamente o que é sério, os aspectos duros e criticáveis, e não valorizamos suficientemente o prazeroso, o agradável, o divertido, o lúdico, como parte dos temas ou parte da relação no cotidiano e dos mil e um incidentes que nele ocorrem.

É de extrema importância, pois é através da troca de conhecimentos que chegamos a conscientizar as pessoas para a mudança de comportamento e adoção de ações para a melhoria da qualidade de vida (t -5).

Educar é ensinar a preservar a saúde. [...] a freqüência dos eventos deveria ser maior (t-6).

Com exceção de (t-5), que faz uma abordagem mais ampla e demonstra ter mais conhecimento do assunto, se envolvendo mais com as palavras, em uma atitude mais ativa do processo. (t-1) em suas respostas de maneira mais ampla mostrou interesse em procurar acertar, querer resolver de alguma forma as situações que lhe provocam. Os demais através de suas respostas mostram pouco envolvimento, pela falta de conhecimento do assunto o u de uma atitude mais ativa do processo. As mesmas perguntas foram feitas aos usuários para que pudéssemos conhecer os desejos e sentimentos com relação aos serviços prestados e como se dá o envolvimento dos trabalhadores quanto agentes de transformação e atores sociais 24

5.2 Os Usuários

5.2.1 Do Significado da Educação Popular

Deixar a população em geral informada, de acordo com as necessidades dos mesmos, e ter sempre pessoas capacitadas para que essa necessidade não venha deixar a desejar (U-1).

Ajuda a gente, ficar sabendo mais das coisas (U -2).

Educar a população com palestras e orientação em saúde (U -3).

Conscientizar a população sobre seus direitos, deveres, perante a sociedade (U-4).

Significa uma população bem informada e consciente, cap az de se prevenir para desfrutar de uma boa saúde (U-5).

Todos devem participar juntos, para ter acesso á educação, se houvesse a conscientização da população a participação seria maior, principalmente da população mais empobrecida (U-6).

Os educadores e teóricos da educação progressista defendem o envolvimento da escola na formação de um cidadão crítico e participante da mudança social. Também aqui, segundo as diversas posições políticas e filosóficas, encontramos correntes que defendem diferentes papéi s para a escola na formação de profissionais: para uns a formação da consciência crítica passa pela assimilação do saber elaborado; para outros o saber técnico científico deve ter por horizonte o compromisso político. Uns combatem mais a burocracia escolar e outros a auto sugestão pedagógica. Uns defendem maior autonomia de cada escola e outros intervenção do Estado. O pensamento pedagógico brasileiro é muito rico e está em movimento, e tentar reduzi-lo a esquemas fechados seria uma forma de esconder essa r iqueza e essa dinâmica. O pensamento pedagógico liberal teve grandes contribuições no Brasil, entre elas de Roque Spencer Maciel de Barros, João Eduardo R. Villa Lobos, Antonio de Almeida Junior, Laerte Ramos de Carvalho (1922 -1972), Moysés Brejon (1923) e Paul Eugéne Charbonneau (1925 -1987). Os católicos e os Liberais 25

representam grupos diferentes, correntes históricas opostas, porém não antagônicas. Os primeiros desejavam imprimir a educação um conteúdo espiritual e os segundos, um cunho mais democrático. Contudo, os dois grupos tinham pontos em comum. Apresentavam apenas facções da classe dominante e portanto, não questionavam o sistema econômico que davam origem aos privilégios e à e à falta de uma escola para o povo. A mudança apregoada pelos dois grupo s estava centrada mais nos métodos do que no sentido da educação. A análise da sociedade de classes com poucas exceções estava ausente da reflexão dos dois grupos. Só o pensamento pedagógico progressista, a partir das reflexões de Paschoal Lemme, Álvaro Vieira Pinto e Paulo Freire, é que coloca a questão da transformação radical da sociedade e o papel da educação nessa transformação. A contribuição maior de Paulo Freire deu-se no campo da alfabetização de jovens e adultos, mas sua teoria pedagógica envolve muitos outros aspectos, como a pesquisa participante e os métodos de ensinar. Seu método de formação da consciência crítica passa por três etapas que podem ser esquematicamente assim descritas: a) etapa de investigação, onde se descobre o universo vocabula r, as palavras e temas geradores da vida cotidiana dos alfabetizandos; b) etapa de tematização, em que são codificados e decodificados os tema levantados na fase anterior de tomada de consciência, contextualizando-os e substituindo a primeira visão mágica por uma visão crítica e social; c) etapa de problematização, em que se descobrem os limites, as possibilidades e os desafios das situações existenciais concretas, para desembocar na práxis transformadora. O objetivo final do método é a conscientização. Sua pedagogia é uma pedagogia para a libertação na qual o educador tem um papel diretivo importante, mas não é “bancário”, é problematizador é ao mesmo tempo educador e educando, é coerente com as suas práticas, é pacientemente impaciente mas pode também se i ndignar e gritar diante da injustiça. No pensamento pedagógico, Paulo Freire situa -se entre os pedagogos humanistas e críticos que deram uma contribuição decisiva à concepção dialética da educação. Não se cansa de repetir que a história é possibilidade e o problema que se coloca ao educador e a todos os homens é saber o que fazer com ela (GADOTTI, 1996). 26

5.2.2 Da aplicação da Educação popular nos serviços de Saúde

Para mim falta só mais acesso a esses serviços e ter conjuntos de pessoas que sejam capacitadas ou tenham o conhecimento e se voluntariem para capacitar-se quando lhe for oferecido e solicitado, deixando essa população sempre bem atendida e esclarecida de todas as dúvidas e procedimentos, que passa por essa experiência própria e que não tem a cesso, e pessoas que lhes tirem estas dúvidas (U-1).

Recebo a visita da enfermeira, médico e ACS e eles ensinam como evitar doenças. Quando meu filho teve diarréia, ficou desidratado, eles me ensinaram a fazer soro caseiro, ferver água antes de beber (U -2).

Através dos PSF(s), realizada por cada equipe em que são cadastradas as Famílias (U-3).

Orientar a população sobre determinadas patologias de forma preventiva e educativa (U-4).

Através de informações e métodos de prevenção (U -5).

Palestras no posto de saúde, na escola passando o que aprendeu para outras pessoas que não tiveram a mesma oportunidade (U -6).

Observamos nas falas dos usuários um desejo de envolvimentos entre eles e os trabalhadores, através de um processo construtivo, participativo onde houvesse a discussão do pensar e agir, da troca de saberes ou de necessidades e não apenas uma obrigação verticalizada sem o amparo da discussão popular.

5.2.3 Da importância da Educação Popular em Saúde

Dá espaço para que os populares estejam be m informados e que saibam todos os movimentos relacionados a eles. Criando e dando oportunidade para os mesmos tirar suas dúvidas, dá apoio no que lhe for solicitado, sempre promover palestras com os profissionais reunindo a população com o objetivo de solicitar suas dúvidas e continuar a dar oportunidade para que os mesmos se pronunciem e digam em que acham necessário acrescentar ou dá mais palestras sobre determinados assuntos (U -1).

Orientar na conduta para evitar doenças, ter uma associação para que as pessoas ficassem sabendo mais das coisas (U -2). 27

Orientar a população de como prevenir vários tipos de doenças, como também conhecer melhor as mesmas (U -3).

Reduzir os agravos de doenças endêmicas, dessa forma desafogando o sistema de saúde e ampliando outros serviços (U-4).

É de grande importância, pois as pessoas precisam está bem informadas para poder se prevenir das doenças e assim poder se cuidar melhor (U -5).

Para que as crianças, já pequenas, aprendam, quando adultas evitar passar por algumas situações de doenças (U-6).

Ferrer foi um revolucionário que acreditava no valor da educação como remédio absoluto para os males da sociedade. Considerava -se um professor que amava as crianças e queria prepará -las para, com liberdade de pensamento e ação, enfrentar uma nova era. Na Espanha conservadora, ele defendia a co -educação, não fazendo distinção entre sexo ou classes sociais. Argumentava que dessa forma ajudaria a nova geração a criar uma sociedade mais justa. Para materializar sua pedagogia racional e científica, ele necessitava de um corpo docente adequado. Daí a criação de uma “escola Professor”, a Escola Normal Racionalista, definida a seguir pelo próprio Ferrer: “o que tenciono fazer está tão longe do que se fez até aqui que, se não existem métodos aceitáveis, vamos criá-los. Nesta escola não será preciso glorificar nem Deus, nem Pátria, nem nada... O nome que darei ao estabelecimento será: A escola emancipadora do século XX”. O educador espanhol Ferrer Gurdia (1859-1909), fundador da escola modern a, racionalista e libertária, foi o mais destacado crítico da escola tradicional,reacionária e clerical (GADOTTI, 1996). Com relação às respostas deste grupo de usuários com formação do Ensino Fundamental incompleto a Superior incompleto, 04 femininos e 02 masculinos observaram o desejo de criar redes de discussões mais elaboradas e participativas. E da angustia para ver o seu desejo atendido e não apenas, o que é imposto sem observar sequer as suas necessidades. Este modelo verticalizado e pouco elaborado dentro das necessidades dos atores sociais, precisa ser pensado de forma regionalizada, nas discussões dos conselhos municipais que ainda pouco se estruturaram da forma como foram constituídos, pois ainda, não são instrumentos de participação popular, só servem de documento assinado para receber recursos. 28

5.3 O Gestor

5.3.1 Do Significado da Educação Popular

As mesmas perguntas foram feitas ao gestor, do sexo masculino, 40 anos de idade e nível superior completo.

É uma forma de levar informação de s aúde a população, buscando interagir o saber científico com o saber popular, levando a uma transformação da realidade encontrada.

5.3.2 Da Aplicação da Educação Popular nos serviços de saúde

Através da Estratégia de Saúde da Família de forma sistematiz ada e procurando trabalhar as necessidades das comunidades, através de palestras, oficinas de teatro e feiras de saúde.

5.3.3 Da importância da Educação Popular em Saúde

Melhorar a qualidade de vida da população, com relação à promoção e prevenção de saúde.

Estas respostas demonstram um caminho a ser construído, com envolvimento da população, condiz com os desejos dos mesmos, que ainda não foram concretizados. 29

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Descentralização da gestão setorial, integralidade da atenção à saúde e participação popular com poder deliberativo que constituem as diretrizes do SUS, configurando caminhos e formas para a rede definida pela Constituição Federal (art.196). Essas diretrizes devem indicar os processos, os modos de gestão e a organização do trabalho das práticas cotidianas. Pode-se estimar que, quando a linha da integralidade da atenção é cruzada com a participação popular, emerge uma terceira linha (transversal), com direção diversa, implicando em uma nova produção de sentidos e um n ovo acoplamento de novas e variadas possibilidades. Não se tratando somente de linhas que configurem uma rede, mas que potencialmente indicam aos atores sociais, possíveis linhas de fuga e práticas em saúde e em Educação em Saúde. Portanto, podem implicar também em novos territórios da produção de sentidos, subjetivação e aprendizados. O que aparece em uma rede como único elemento construtivo é o nó (KASTRUP, 1997). Para esta autora pouco importa as dimensões de uma rede, uma vez que “pode-se aumentá-la ou diminuí-la, sem que se percam suas características de rede”, portanto, a rede não pode ser caracterizada como uma totalidade fechada, dotada de superfície e contorno definido, mas sim como um todo aberto, sempre capaz de crescer. 30

REFERÊNCIAS

ALMEIDA FILHO, N.; ROUQUAROL, M. Z. Fundamentos Metodológicos da Epidemiologia. In: ROUQUAROL, M. Z. Epidemiologia & Saúde. Rio de Janeiro: Medsi, 1994. 527p, cap. 5, p.157 -183.

GADOTTI, Moacir. Histórias da Idéias Pedagógicas . 4. ed. São Paulo: Ática, 1996. 318p.

KASTRUP, Virgínia. A intervenção de si e do mundo : uma introdução do tempo e do coletivo no estudo da cognição. 1997. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1997.

GADOTTI, Moacir. Histórias da Idéias Pedagógicas. 4. ed. São Paulo: Ática, 1996. 318p.

PAIM, Jairnilson S.; ALMEIDA FILHO, Naomar. Saúde coletiva: uma “nova saúde pública” ou campo aberto a novos paradigmas? Revista de saúde pública, São Paulo, v. 32, n. 4, p. 299-316, 1998.

SKINNER, Burhus Frederic. O mito da liberdade. São Paulo: Summus, 1983.

VASCONCELOS, E. M. Educação Popular nos serviços de saúde . São Paulo: Hucitec, 1997. 31

APÊNDICE A – Roteiro da Entrevista

EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VENTUROSA -PE: NO COTIDIANO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Instrumento nº ______Idade: ______Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Grau de Escolaridade: ______( ) Usuário ( ) Trabalhador ( ) Ge stor

1) Qual o significado de Educação Popular em Saúde? ______

2) Como a Educação Popular é aplicada no(s) serviço(s) de saúde? ______

3) Qual a importância da Educação Popular em Sa úde? ______32

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Solicitamos por meio deste sua participação, respondendo a uma entrevista, que será gravada, na pesquis a EDUCAÇÃO POPULAR EM SAÚDE NO MUNICÍPIO DE VENTUROSA-PE: NO COTIDIANO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA. Esta pesquisa tem por finalidade i nvestigar as práticas de Educação Popular em Saúde desenvolvidas no município de Venturosa -PE. A Pesquisa será realizada pelos alunos Hélio Tadeu de Souza, Maria do Socorro Vidal de Oliveira e Vitória Lúcia Brilhante Valgueiro, sob orientação da Professora Bernadete Perez Coelho, do Curso de Especialização em Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde pelo Centro de Pesquis as Aggeu Magalhães CPqAM/FIOCRUZ. Podemos assegurar -lhe que neste estudo a sua identidade será preservada. Garantimos ainda o direito de o(a) senhor(a) participar ou não do estudo, retirando seu consentimento em qualquer fase da pesquisa sem ônus ou prejuízo para sua pessoa (resolução do Conselho Nacional de Saúde 196/96 do Ministério da Saúde). É importante informar que sua participação será de extrema importância que haja uma reflexão sobre as atividades de educação em saúde desenvolvidas nas Unidades de Saúde da Família.

Eu, ______certifico que li o documento acima exposto e, suficiente esclarecido(a), concordo em participar da pesquisa. Assinei em 02(duas) vias o presente Termo, ficando comigo uma cópia. Permitirei que os dados obtidos sejam utilizados para fins de pesquisa e estou ciente de que os resultados serão publicados para difusão do conhecimento cientifico e que minha identidade será preservada. Venturosa, _____ de ______de 2008

______(assinatura / RG)

______(nome completo em letra de forma)

Pesquisadora Responsável: Maria do Socorro Vidal de Oliveira Endereço: Rua Severiano José Freire, Centro – – PE Telefone para contato: (87) 9111.1851