UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – CAMPUS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

ESTUDO COMPARATIVO DA PESCA ARTESANAL EM DOIS GRANDES RESERVATÓRIOS DO ALTO PARANÁ: BARRA BONITA (RIO TIETÊ) E JURUMIRIM (RIO PARANAPANEMA)

José Luís Costa Novaes

Tese apresentada ao Program a de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista – Campus Botucatu (UNESP), como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Doutor em Ciências Biológicas, Área de Concentração: Zoologia.

Orientador: Prof. Dr. Edmir Daniel Carvalho

Botucatu 2008

Livros Grátis

http://www.livrosgratis.com.br

Milhares de livros grátis para download.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA SEÇÃO DE AQUIS. E TRAT. DA INFORMAÇÃO DIVISÃO TÉCNICA DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - CAMPUS DE BOTUCATU - UNESP BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: ROSEMEIRE APARECIDA VICENTE Novaes, José Luís Costa. Estudo comparativo da pesca artesanal em dois grandes reservatórios do alto Paraná: Barra Bonita (Rio Tietê) e Jurumirim (Rio Paranapanema) / José Luís Costa Novaes – 2008.

Tese (doutorado) – Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista, 2008. Orientador: Prof. Dr. Edmir Daniel Carvalho Assunto CAPES: 20400004

1. Zoologia. 2. Pesca artesanal.

CDD 590

Palavras -chave: Hoplias malabaricus ; Oreochromis niloticus ; Pesca artesanal; Reservatório de Barra Bonita; Reservatório de Jurumirim.

Dedicatória

Aos meus pais, que deixaram de realizar seus sonhos, para realizarem os meus e ao meu filho Paulo Victor pela alegria de sua companhia.

PREFÁCIO

Dentro de uma nova concepção de usos múltiplos dos reservatórios hidroelétricos, a pesca artesanal vem se destacando como um dos principais usos desses ecossistemas. A pesca artesanal nos reservatórios é realizada em diversos níveis de esforço e finalidades, como subsistência e comercial, sendo a principal fonte de renda para uma parcela da população socialmente excluída, e que tem na pesca sua única forma de emprego ou de obtenção de proteína animal. Além disso, a pesca artesanal em reservatórios vem se constituindo em uma das principais fontes de pescado de água doce. Assim, a necessidade de entendimento da dinâmica da pesca nesses ecossistemas torna-se de grande importância para a elaboração de planos de manejo, visando à conservação e à preservação dos estoques pesqueiros, com o intuito de manter em equilíbrio os pilares dos paradigmas da conservação - produtividade/performance econômica - qualidade de vida das comunidades. Dessa forma, este trabalho pretendeu contribuir para o conhecimento da pesca artesanal em dois reservatórios da bacia hidrográfica do alto Paraná (Barra Bonita, rio Tietê, e Jurumirim, rio Paranapanema), com diferentes características limnológicas e níveis de impacto antrópico. Portanto, no presente estudo foi realizada uma breve dissertação sobre o perfil sócio-econômico dos pescadores artesanais (e de suas artes de pesca) de ambos os reservatórios da bacia do Alto Paraná e, ainda, foram elaborados três capítulos distintos, seguindo-se as normas da redação científica.

Capítulo I – Características da pesca artesanal em dois reservatórios da bacia do Alto Paraná: recursos pesqueiros e produtividade.

Este capítulo teve como objetivo analisar a dinâmica da pesca nos dois reservatórios, quanto à produtividade e à captura por unidade de esforço (CPUE), à composição em biomassa do pescado, à variação temporal da CPUE, à variação espacial da CPUE – apenas no reservatório de Barra Bonita (médio rio

Tietê) – e, analisar possíveis correlações entre algumas variáveis limnológicas e a CPUE que baliza a produtividade pesqueira desses ecossistemas.

Capítulo II – Dinâmica populacional de Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) (tilápia-do-Nilo) oriunda da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita, médio rio Tietê (SP) e avaliação do seu estoque.

Neste capítulo são abordados aspectos da dinâmica reprodutiva e alimentar, bem como, a avaliação do estoque pesqueiro da espécie Oreochromis niloticus , o principal pescado em biomassa do reservatório de Barra Bonita. Ainda, são apresentadas informações sobre a proporção entre os sexos, período reprodutivo, caracterização da dieta, estrutura em comprimento, crescimento, taxas de mortalidade e sobrevivência, longevidade e avaliação do estoque através do modelo de Beverton & Holt.

Capítulo III – Dinâmica populacional de Hoplias malabaricus , traíra (Bloch, 1794) (Characiformes, Erythrinidae) e avaliação do seu estoque no reservatório de Jurumirim, alto rio Paranapanema.

Este capítulo apresenta a mesma abordagem do capítulo anterior, contudo, para a espécie Hoplias malabaricus , principal pescado em termos de biomassa no reservatório de Jurumirim (alto do rio Paranapanema).

AGRADECIMENTOS:

Ao programa de pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual Paulista – Campus Botucatu

À CAPES pela concessão da bolsa.

Ao Prof. Dr. Edmir Daniel Carvalho pela a amizade e desafio de me orientar.

Ao Prof. Dr. José Vanderli Andreata da Universidade Santa Úrsula por te me iniciado na ecologia de peixes.

A Prof. Dra. Érica Caramaschi da Universidade Federal do pelos seus ensinamentos e sua amizade nos momentos de dificuldade e nos momentos alegres.

Ao Prof. Dr. Fernando Starling da Universidade Católica de Brasília pela identificação dos exemplares das carpas de Barra Bonita.

A Prof. Dra Lídia Raquel Carvalho do Departamento de Bioestatística, do Instituto de Biociências de Botucatu – UNESP, pelas sugestões na parte de estatística.

A todos os professores do Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas AC: Zoologia.

Aos funcionários da secretária de pós-graduação por terem cuidado da minha vida acadêmica e pela paciência em esclarecer as dúvidas.

Aos funcionários do Departamento de Morfologia pelo apoio logístico na execução do trabalho, aos técnicos Ricardo Teixeira, Renato Devidè, e a secretária Luciana Montes.

Ao Prof. Dr. Raoul Henry por permitir o uso das dependências do laboratório de limnologia para a realização das análises dos nutrientes da água e ao técnico Hamilton Antonio Rodrigues pelo auxílio em todas as etapas das análises.

Aos amigos veterinários Leandro, André, Dú, Vicente, pelo companheirismo nesses quatro anos em Botucatu.

Aos inúmeros amigos veterinários que com alegria e companheirismo tornaram a estadia em Botucatu bem mais agradável.

Ao professor de inglês Leandro Agati pela revisão do abstract .

A toda a equipe do Laboratório de Ecologia de Peixes: Ana Paula, Igor, Heleno, Augusto, Marina, Camila, Rosângela.

A colega Jaciara e ao amigo João pela amizade durantes esses anos.

A todos os amigos do Departamento de Morfologia pelos momentos de descontração na sala do café.

A minha esposa Fernanda Antoneli pelo companheirismo e incentivo nessa reta final.

A todos os pescadores dos reservatórios de Barra Bonita e Jurumirim que responderam espontaneamente e com gentileza os questionários, sem essa ajuda não seria possível à realização deste trabalho. Um agradecimento especial, ao Sr. João Assano (Bairro da Mina), Sr. Francisco “Chiquito” (), Sr. José do Ó e o Sr. José “Crente” (Porto Said), no reservatório de Barra Bonita e ao Sr. Joel Marques, no reservatório de Jurumirim.

Aos meus pais muito obrigado por tudo.

RESUMO

A bacia do alto rio Paraná caracteriza-se pelo grande número de reservatórios construídos para a geração de energia elétrica, o que transformou essa bacia hidrográfica em uma sucessão de lagos artificiais, com efeito direto na composição e produção pesqueira. O reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê) e o reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) são dois reservatórios que possuem distintas características limnológicas, devido às diferentes formas de ocupação e uso de suas bacias hidrográficas. Este estudo analisa a pesca em ambos os reservatórios, tendo os seguintes objetivos: 1) caracterizar o perfil sócio-econômico dos pescadores artesanais; 2) comparar a pesca artesanal quanto à composição em biomassa do pescado, produtividade pesqueira e influência de variáveis limnológicas na produção pesqueira; e 3) avaliar o aspecto da dinâmica populacional e do estoque pesqueiro das espécies mais importantes para a pesca: Oreochromis niloticus (tilápia-do-Nilo) no reservatório de Barra Bonita, e Hoplias malabaricus (traíra) no reservatório de Jurumirim. Para a caracterização do perfil sócio-econômico foram realizadas entrevistas padronizadas com os pescadores dos referidos reservatórios. Informações sobre os desembarques pesqueiros foram amostradas mensalmente, entre julho de 2004 a junho de 2006 no reservatório de Barra Bonita, e entre janeiro de 2005 a dezembro de 2006 no reservatório de Jurumirim. Para o estudo populacional, os exemplares foram provenientes de amostras mensais (de julho de 2004 a junho de 2005 – O. niloticus , e de janeiro a dezembro de 2005 – H. malabaricus ), fornecidos aleatoriamente pelos pescadores artesanais. O estudo do perfil sócio-econômico dos pescadores revelou uma classe de baixa renda nos dois reservatórios, porém, com problemas mais críticos no reservatório de Barra Bonita, devido aos acampamentos, como o de Porto Said, nas margens do mesmo. A atividade de pesca artesanal em ambos os reservatórios revelou-se bastante distinta. No reservatório de Barra Bonita, a pesca foi concentrada nas tilápias, especialmente, O. niloticus , que representou 82,5% do total de biomassa pescada, com produtividade média estimada em 245,4 kg/ha -1/ano -1 e captura por unidade de esforço (CPUE) de 62,4 kg/pescador -1/dia -1. As variáveis limnológicas que mais influenciaram nos valores da CPUE foram: temperatura da água, fósforo total, nitrogênio total, cota

altimétrica (correlação positiva) e precipitação pluviométrica (correlação negativa). No reservatório de Jurumirim, a pesca artesanal foi concentrada em cinco tipos de pescados: traíra ( H. malabaricus ), piavas ( Leporinus spp.) e curimbatá (Prochilodus lineatus ), que representaram, respectivamente, 24,5%, 22,1%, 17,6% da biomassa total pescada. A produtividade média desse reservatório foi estimada em 15,7 kg/ha -1/ano -1 e CPUE de 10,5 kg/pescador -1/dia -1. Os valores da CPUE não apresentaram relação com as variáveis limnológicas. Os valores de CPUE do reservatório de Barra Bonita foram aproximadamente sete vezes superiores que os valores do reservatório de Jurumirim. A população de O. niloticus oriunda da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita caracterizou- se por: predominância de machos; período reprodutivo longo, com maior intensidade no inverno e na primavera; seu principal agente indutor da reprodução foi o aumento do nível d’água do reservatório, sendo a dieta da espécie caracterizada como fitoplanctófoga; o tipo de crescimento foi alométrico negativo; os parâmetros da curva de crescimento foram determinados L ∞ = 33,60 cm e K = 0,63 ano -1; a taxa de sobrevivência foi estimada em 6% ano e a longevidade em 4,7 anos; o recrutamento para a pesca teve os seus maiores valores entre outubro a dezembro; a mortalidade por pesca foi a principal causa de mortalidade; o referido estoque encontra-se próximo ao limite máximo sustentável para a pesca. A população da H. malabaricus oriunda da pesca artesanal no reservatório de Jurumirim caracterizou-se por: predominância de fêmeas; atividade reprodutiva longa, com maior intensidade no verão e na primavera; a reprodução ocorreu no período de maior temperatura da água, quando ocorreu uma maior precipitação pluviométrica; a espécie foi caracterizada como ictiófaga; o crescimento foi alométrico negativo; os parâmetros da curva de crescimento foram determinados L ∞ = 35,18cm e o k = 0,32 ano -1; a longevidade foi estimada em 9,3 anos e a taxa de sobrevivência em 29% ano; o recrutamento para pesca teve seus maiores valores de março a maio; a mortalidade natural e por pesca foram equivalentes e o estoque da espécie não se encontra em sobrepesca. Com efeito, pode-se concluir que a diferença entre a produção pesqueira nos dois reservatórios refletem os diferentes tipos de impactos que suas bacias hidrográficas sofreram ou sofrem pela forma de ocupação e uso dos seus recursos. Recomendações aos gestores e usuários em geral, são feitas para melhor aproveitamento desses importantes recursos pesqueiros de águas continentais.

ABSTRACT

The basin of the upper Paraná River is characterized by the great number of reservoirs built for the electric power generation, which had transformed that hydrographic basin in a succession of artificial lakes, with direct effect in the composition and fishery yield. Barra Bonita reservoir (middle Tietê River) and Jurumirim reservoir (upper ) are two reservoirs that possess different limnological characteristics, due to the different occupation forms and use of their hydrographic basins This study analyzes the fishing in these two reservoirs, attending to the following objectives: 1) to characterize the socioeconomic profile of the artisanal fishermen; 2) to compare the artisanal fishing among the two reservoirs as for the composition in biomass of the fish, fishing yield and its influences on limnological variables in the fishing yield and; 3) to evaluate aspect of the population dynamics and fishing stock of the most important species in the fishery: Oreochromis niloticus (Nile tilapia) of Barra Bonita reservoir and Hoplias malabaricus (traira) of Jurumirim reservoir. For the characterization of the socioeconomic profile standardized interviews were accomplished with the fishermen from the two reservoirs. Information about fishing landings were recorded monthly, among July of 2004 to June of 2006 in Barra Bonita reservoir and January of 2005 to December of 2006 in Jurumirim reservoir. For the population study, specimens were received of monthly samples (among July of 2004 to June of 2005 - O. niloticus and January to December of 2005 - H. malabaricus ), supplied randomly by artisanal fishermen. The socioeconomic profile from the fishermen revealed a class of low income in both reservoirs, with more critical problems in Barra Bonita reservoir, due to the camps, as the one of Porto Said in the margins of this reservoir. The activity of artisanal fishing in both reservoirs revealed to be quite different. In Barra Bonita reservoir the fishing was concentrated in the tilapias, especially O. niloticus that represented 82,5% of the total of fished biomass, mean yield in this reservoir was 245,4 kg/ha -1/year -1 and with capture per unit of effort (CPUE) of 62,4 kg/fishman -1/day -1. The limnological variables that had influenced more the values of CPUE were: temperature of water, total phosphorus, total nitrogen, quotes altimetric (positive correlation) and pluviometric precipitation (negative correlation). In Jurumirim reservoir, the

artisanal fishing was concentrated in five types of fish: traira ( H. malabaricus ), piavas ( Leporinus spp.), curimbatá ( Prochilodus lineatus ) that acted respectively, 24,5%, 22,1%, 17,6% of the total fished biomass. The mean yield of that reservoir was estimated in 15,7 kg/ha -1/year -1 and CPUE of 10,5 kg/fishman -1/day -1. The values of CPUE didn't present relationship with the limnological variables. The values of CPUE of Barra Bonita reservoir were approximately seven times superior to those values of the Jurumirim reservoir. The population of O. niloticus originated from the artisanal fishing Barra Bonita reservoir was characterized for: predominance of males, long reproductive period, with larger intensity in the winter and spring, the main inductor agent of reproduction was the increase in the level of the reservoir, the diet of the species characterized as fitoplanktovore, the growth type was negative alometric, the parameters of the growth curve were determined L ∞ = 33,60 cm and K = 0,63 year -1; the survival rate was estimated in 6% year and the longevity in 4,7 years; the recruitment for the fishing had their largest values among October to December; the fishing mortality was the main mortality reason and the species is close to the maximum sustainable yield limit fishing. The population of the H. malabaricus originated from the artisanal fishing of Jurumirim reservoir was characterized for: predominance of females; long reproductive activity, as larger intensity in the summer and spring; the reproduction occurred in the period of larger water temperature, larger reservoir precipitation; species was characterized as piscivore; the growth was negative alometric; the parameters of the growth curve were determined L ∞ = 35,18cm and k = 0,32 year -1; the longevity was estimated in 9,3 years and the survival rate in 29% year; the recruitment for fishing had their largest values on March to May, the natural mortality and for fishing they were equivalent and the stock of the species is not in overfisheries. It can be concluded that the difference among the fishing production in both reservoirs show us two different types of impacts that their hydrographic basins suffered or still suffer from the occupation form and use of their resources. Recommendations to the managers and users in general, have been done for better use of these important fishing resources of continental waters.

ÍNDICE

Introdução 1

Área de estudo 14

Ictiofauna e pesca 31

Perfil dos pescadores e características 36 da pesca

Capítulo I 71

Capítulo II 138

Capítulo III 176

Considerações finais e recomendações 200

Referências bibliográficas 208

Anexos 232

Introdução

Pesca continental

Enquanto a produção pesqueira marinha foi de 85 milhões de toneladas (59,8% da produção global total), e a aqüicultura, de 48,4 milhões de toneladas (34,1%), o rendimento global da pesca em águas interiores foi de 9,6 milhões de toneladas (6,1%), em 2006, e mostra que ocorreu um aumento em relação aos anos anteriores (FAO, 2007).

Dentro deste cenário, o Brasil ocupou o 10º lugar entre os países em termos da pesca em águas interiores, contribuindo apenas com 2,7% desse total (Figura 1). Dados de órgãos do Governo Federal mostraram, para 2005, uma produção pesqueira no Brasil de aproximadamente um milhão de toneladas, sendo a pesca continental responsável por 24,1% desta produção (243 mil ton.) (Figura 2) (IBAMA, 2007).

Em termos ecológicos, a pesca é uma atividade antrópica orientada à captura de um recurso vivo que, como tal, é renovável e limitado. Pode-se comparar a pesca à ação dos predadores sobre suas presas, na qual cada captura implica na imediata redução do estoque dessas presas (Krebs, 1994). Assim, aplica-se o modelo teórico de forrageio ótimo para a atividade de pesca, principalmente a artesanal, considerando as áreas específicas de pesca como manchas de recursos. Sendo assim, pode ser utilizado como variável independente o tempo até o local de pesca e, como variáveis dependentes, o peso (Kg) de pescado obtido e o esforço de pesca (Silvano & Begossi, 2001).

Uma outra abordagem ecológica na relação predador/presa seria a pesca causando impactos no ecossistema, pois a remoção da biomassa de um complexo de espécies poderá afetar toda a dinâmica da teia alimentar e, por conseqüência, toda a homeostase do ecossistema em questão (Pauly et al., 2000).

3.500 40,0

35,0 3.000

30,0 2.500

25,0 2.000

20,0 %

1.500

Milhões de toneladas de Milhões 15,0

1.000 10,0

500 5,0

0 0,0

a a a í sh ar da ia ito j m g bo rasil Ind de an nési E China a o B gl Ug am n Myan Ind Tanzân C Ba Outros Paises Milhões de toneladas % Figura 1 - Os dez países com melhor produção na pesca continental no ano de 2005. (Fonte: FAO - El estado mundial de la pesca y la acuicultura - 2007).

250.000,0

200.000,0

150.000,0

100.000,0 Produção de toneladas de Produção

50.000,0

0,0 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Figura 2 - Produção total (ton) da pesca continental no Brasil entre 1997 e 2005 (Fonte: IBAMA, 2007).

Segundo vários autores, as modalidades de pesca continental podem ser divididas em cinco categorias:

1) Pesca industrial: realizada por pescadores profissionais e destinada à exportação, com barco de grande porte e equipamentos para localização

e captura do pescado. No Brasil, esse tipo de pesca é realizado apenas na região amazônica, principalmente, na região estuarina, no qual são usadas redes em parelha. É uma pesca bastante seletiva, pois está focada nos grandes bagres Brachyplatystoma vaillanti (piramutama), B. rousseauxii (dourada), B. filamentousum (piraíba), Pseudoplatystoma fasciatum (surubim), Phractocephalus hemilipterus (pirarara) e, secundariamente, nos pargos (Lutjanidae) e camarão de água doce (Farfantepenaeus subtilis ) (Petrere Jr. et al. , 2004; Santos & Santos, 2005; Freitas & Rivas, 2006). 2) Pesca artesanal/profissional: executada única e exclusivamente pelo trabalho manual do pescador. É multiespecífica, sendo praticada, principalmente, em reservatórios, rios, pequenos lagos naturais e planícies de inundação, por pescadores autóctones, que visam especialmente os mercados local e regional. São efetuadas em pequenas embarcações, utilizando-se de redes de espera, tarrafas, espinhéis, dentre outros, de acordo com as espécies-alvo (Borghetti & Ostrensky, 2002; Agostinho & Gomes, 2006). 3) Pesca de peixes ornamentais: focada nas espécies de aquariofilia, com grande importância econômica na região amazônica (Santos & Santos, op. cit. Freitas & Rivas, op. cit ). Este tipo de pesca é realizado em pequenas canoas, utilizando-se de puçás e peneiras, próprias para o uso na vegetação aquática. 4) Pesca de subsistência: realizada por populações ribeirinhas, com o intuito exclusivo de alimentação familiar. Eventualmente, quando bem sucedida, pode ser repassada a intermediários. Em muitos casos, esse tipo de pesca é a única fonte de proteína animal disponível para os que dela fazem uso (Oliveira & Nogueira, 2000). 5) Pesca esportiva ou recreativa: realizada por turistas (e aposentados) em finais de semana, férias, ou torneios de pesca; tem se tornado uma importante fonte de renda em muitas regiões do Brasil. Ainda, existem as modalidades “pesque e solte” ou “pesque e leve” em rios,

reservatórios e pesqueiros particulares (Borghetti & Ostrensky, op cit ; Agostinho & Gomes, op. cit ).

Historicamente, e numa escala global, a pesca em águas interiores vem sofrendo diversos impactos antrópicos, tais como alterações físicas e hidrológicas dos rios, decorrentes da formação de reservatórios e canais de irrigação, atividades de garimpo, contaminação por efluentes orgânicos e inorgânicos que, em muitos casos, inviabiliza o consumo do pescado por populações humanas. Ainda, a forma de uso e ocupação do solo na bacia hidrográfica, como a destruição de nascentes, os assoreamentos, as derrubadas de matas ciliares e a agricultura de alta tecnologia, contribuem para a redução da pesca (Borghetti & Ostrensky, 2002; Agostinho et al ., 2005; Deka, et al ., 2005). Essas atividades antrópicas vêm causando a redução das populações de peixes selvagens e dos estoques pesqueiros em todas as bacias hidrográficas brasileiras. Como exemplo, tem-se a redução dos estoques pesqueiros na bacia do rio Cuiabá, Pantanal do Mato Grosso, onde as capturas atuais são bem inferiores às registradas no início da década de 1980 (Mateus et al. , 2004). Mais recentemente, conflitos com a pesca esportiva (Silvano & Begossi,2001) e com produtores de pescado em tanques-rede (Carvalho & David, 2007), podem ser considerados fatores que contribuem para a queda da produção na pesca artesanal.

A partir da década de 1950, com a opção brasileira pela hidroeletricidade, foram (e estão) sendo construídos grandes reservatórios em todas as bacias hidrográficas brasileiras. Dessa forma, esses novos ecossistemas aquáticos artificiais implicaram em mudança na forma da pesca artesanal (Sazima, 2007) e, em alguns casos, tornaram-se importantes fontes econômicas em suas bacias hidrográficas (Carvalho & David, 2007). De modo geral, a pesca artesanal é a única fonte de sustento para as famílias de baixa renda que vivem em condições sub-humanas no entorno destes reservatórios, recebendo pouca assistência do poder público constituído. Porém, com a transformação da paisagem dos grandes rios em reservatórios, num sistema de

cascata – caso do rio Tietê – estes vêm se destacando como uma das mais importantes fontes de pescado de água doce.

Reservatórios e a atividade de pesca

Apesar da construção da maioria dos grandes reservatórios brasileiros estar fundamentada para a geração de energia hidroelétrica, o poder público confere outras finalidades, como o abastecimento, a irrigação, a pesca, a navegação, a aqüicultura, etc (Paiva, 1982; Esteves, 1998; Tundisi, 1999, 2003). Em termos ecológicos, esses ecossistemas artificiais são ambientes heterogêneos e complexos, sendo considerados híbridos entre rios e lagos, apresentando, em diferentes posições, gradientes desses dois sistemas ecológicos (Margalef, 1983; Esteves, op. cit. ; Tundisi, op. cit ; Straskraba & Tundisi, 2000). Além disso, sofrem influências antrópicas diretas em seu funcionamento, relacionadas às necessidades operacionais da usina, o que provoca perturbações não-cíclicas nesse ecossistema.

Especificamente, as atividades de pesca artesanal e esportiva vêm se estabelecendo nesses ecossistemas artificiais, em diferentes graus e escalas, de forma não ordenada e, muitas vezes, conflituosas com a complexa e contraditória legislação vigente e com os órgãos fiscalizadores.

Por outro lado, no Brasil, existem mais de 1000 reservatórios de todos os portes (Esteves, 1998), nos quais estudos sobre a biologia pesqueira são, ainda, incipientes e faltam informações que embasem a elaboração de modelos matemáticos para a estimativa do rendimento máximo sustentável (MYS) de seus estoques pesqueiros. Tal problemática é bem discutida por Agostinho et al. (2007), que reportam a escassez e a inconsistência de dados sobre a pesca nos reservatórios brasileiros.

A atividade de pesca nesses reservatórios pode apresentar variações espaço-temporais. Diversos estudos mostram que nos primeiros anos após o represamento ocorre uma elevada produção biológica, devido à inundação do solo e à morte da vegetação original remanescente, liberando grande quantidade de nutrientes decorrentes da decomposição vegetal, ou de nutrientes que estavam presentes no solo inundado. Este fato reflete o aumento da produção primária e dos demais níveis tróficos, com conseqüente incremento da produção pesqueira (Lowe-McConnell, 1999). Após essa fase, ocorre decréscimo dos níveis de nutrientes por outras vias, como sedimentação, pesca e/ou exportação pelo vertedouro, levando à queda na produção pesqueira até alcançar um estado de equilíbrio (Agostinho et al ., 1999a). No Brasil, esse fenômeno foi bem registrado no reservatório de Tucuruí (baixo rio Tocantins) que, após o início do enchimento do mesmo, houve um aumento significativo na abundância de peixes, com imediato benefício econômico para os pescadores artesanais da região (Petrere Jr. & Ribeiro, 1994; Petrere Jr., 1996).

Em termos espaciais, o estudo de Okada et al. (2005) no reservatório de Itaipu (alto Paraná) mostrou diferenças na composição e produção do pescado entre os distintos trechos limnológicos do reservatório (fluvial, de transição e lacustre). A tendência é que no trecho fluvial ocorra uma maior captura de espécies de peixes consideradas migradoras, que são de maior porte e, também, de maior valor econômico, enquanto que, no trecho lacustre, a tendência é ter poucas espécies e de baixo valor comercial para a pesca. Já, o trecho de transição tende a apresentar uma captura maior que a dos outros trechos, com espécies migradoras (de presença moderada) e não migradoras (em abundância). Além disso, alguns trechos da região litorânea dos reservatórios tendem a ser mais produtivos, devido à presença de macrófitas aquáticas, maior aporte de nutrientes, menor profundidade e maior estruturação dos habitats (Smith et al ., 2002, 2003).

Além dessas variáveis, a área do reservatório pode ter uma influência muito grande na produção pesqueira. Uma revisão da literatura sobre a pesca em 709 corpos de águas continentais do mundo (em regiões temperada e tropical) revelou a existência de uma relação inversa entre a produção pesqueira e a área do reservatório, independentemente da região analisada (Quirós & Boveri, 1999). Dessa forma, os ambientes aquáticos de menor porte tendem a ser mais produtivos que os de grande porte. Assim, nos grandes reservatórios brasileiros, principalmente nos das regiões Sul e Sudeste, essa característica provavelmente tem reflexo no baixo rendimento e produção pesqueira. Em escala mundial e nacional, são poucas as informações relativas às mudanças ocorridas na composição e produção pesqueira em trechos lóticos que foram transformados em reservatórios. No Lago Kainji, localizado no rio Níger (África), o rendimento que era de 10.000 toneladas de pescado ano -1 antes do represamento, aumentou para 28.000 toneladas ano -1 pós- represamento (1970/1971), mas por um curto espaço de tempo, pois, em 1978, a produção reduziu-se para 4.500 toneladas ano -1 (Lowe-McConnel, 1999). Ainda, neste rio, a pesca era sustentada por espécies da família mormirídeos (40%) e bagres mocoquídeos (25%). Com a formação do reservatório, a captura dos mormirídeos declinou imediatamente para 1%, muito provavelmente, devido às condições ecológicas desfavoráveis para as suas estratégias de vida. Por outro lado, ocorreu um aumento na captura de Citharinus citharinus e Lates , seguido do aumento de pequenos clupeídeos e bargres esquilbeídeos. Atualmente, a pesca é dominada por tilápias (ciclídeos), das espécies Sarotherondon galilaeus , Oreochromis niloticus e Tilapia zilli , na proporção de 16:5:1, que são bem adaptadas ao ambiente lacustre (Lowe- McConnell, op. cit. ). Na China, a construção da usina hidroelétrica de Sijin causou a redução da população de carpas – especialmente, Cirrhinus molitorella – a níveis tão baixos, que tornou a pesca economicamente inviável nesse rio. Carpa-capim ( Ctenopharyngodon idella ), carpa preta (Mylopharyngodon piceus ), carpa prateada ( Hypophthalmichthys molitrix ) e a carpa cabeça grande ( Aristichthys nobilis ) são espécies bem adaptadas ao

ecossistema lacustre e são predominantes na pesca nos reservatórios chineses (Jackson & Marmulla, 2001).

No Brasil, estudos no alto rio Paraná pré e pós-represamento de Itaipu, mostraram uma considerável alteração na composição do pescado. Durante a fase pré-represamento (1977), as oito espécies mais importantes para a pesca foram os grandes migradores, que podem alcançar mais de 1 metro de comprimento. Nos anos subseqüentes (1987 e 1997), após o represamento, a produção pesqueira passou a ser dominada por espécies não-migradoras como: Hypophthalmus edentatus (mapará) e Plagioscion squamosissimus (pescada-do-piauí ou corvina), espécies alóctones e Pterodoras granulosus (Agostinho et al ., 1999a). Entretanto, Agostinho et al . (1999a) salientam que o maior impacto não ocorreu somente sobre o rendimento pesqueiro, mas também, sobre o valor do pescado, uma vez que os peixes migradores têm preços que oscilam entre 2 a 4 vezes mais que o pescado atual. De maneira geral, a formação dos reservatórios provoca um declínio no rendimento e na produção pesqueira, devido à redução da biodiversidade lato sensus e à diminuição dos estoques, principalmente, das espécies consideradas migradoras (Carvalho et al., 2005; Agostinho et al., 2007a).

Confrontando a produtividade pesqueira de alguns reservatórios brasileiros com a de outros da região tropical, verifica-se que, em geral, os reservatórios brasileiros são menos produtivos (Tabela 1). Entretanto, cabe ressaltar que muitos desses reservatórios tropicais (africanos e asiáticos), principalmente aqueles de pequeno porte, são manejados com estocagens maciças e periódicas de peixes (Jackson & Marmulla, 2001; De Silva et al. , 2004). Algumas hipóteses são aventadas para explicar a baixa produtividade dos reservatórios brasileiros, dentre elas: os baixos esforços de pesca; as restrições e técnicas inadequadas de pesca; a baixa produção primária; a cadeia alimentar longa; o grande número de espécies piscívoras e a ausência de espécies ajustadas aos ambientes lacustres (Fernando & Hol čik, 1982,

1991; Agostinho et al ., 1995; Petrere Jr., 1996; Gomes & Miranda, 2001; Gomes et al., 2002).

Além das causas citadas, outra explicação para o baixo rendimento pesqueiro em reservatórios seria a interrupção das rotas migratórias dos peixes reofílicos, cujos processos de migração reprodutiva e trófica são fundamentais (Godoy, 1975). Assim, a ictiofauna brasileira e sul-americana tem sua história evolutiva relacionada a ambientes de rios e a forças vigentes nesse ambiente, principalmente, a sazonalidade dos pulsos de inundação (Wootton, 1990; Lowe-McConnell, 1999), que servem de gatilho para os processos reprodutivos e/ou migratórios (Vazzoler, 1996). Com o barramento dos rios, essa dinâmica é parcial ou totalmente destruída, pois os peixes migradores de valor econômico têm suas rotas migratórias bloqueadas, não alcançando os sítios de desova ou de alimentação, o que pode provocar drástica redução na densidade populacional ou mesmo a extinção local dessas espécies.

Tabela 1 – Produção pesqueira de alguns reservatórios do Brasil, África, Ásia. (1 – copilados de Jackson & Marmulla, 2001).

Região Produção Rio Referência (kg/ha -1/ano -1) Brasil Tucuruí 5 - 18 baixo rio Petrere Jr. (1996) Tocantins Camargo & Petrere Jr. (2004). Açudes nordestinos 18 - 667 Paiva et al. (1994) Três Marias 6,25 alto rio São Sato & Sampaio (2006) Francisco Billings 63 rio Tietê Minte-Vera & Petrere Jr. (2000) Barra Bonita 9,83 rio Tietê ECO – AES Tietê (2001) Ibitinga 1,16 rio Tietê ECO – AES Tietê (2001) Promissão 5,64 rio Tietê ECO – AES Tietê (2001) Nova Avanhandava 3,49 rio Tietê ECO – AES Tietê (2002) Três Irmãos 2,0 rio Tietê CESP (1998) Jurumirim 28,4 rio Carvalho & Silva (1999) Paranapanema Água Vermelha 2,12 rio Grande ECO – AES Tietê (2002) Jupiá 3,7 rio Paraná CESP (1998) Ilha Solteira 1,5 rio Paraná CESP (1998) Itaipu 12 rio Paraná Agostinho et al . (1999; a, b) Agostinho et al . (2004) Agostinho & Gomes (2006). Salto Santiago 1,1 rio Iguaçu Okada et al . (1997) Salto Osório 4,9 rio Iguaçu Okada et al . (1997) Lago Paranoá 16,4 rio São Walter & Petrere Jr. (2007) Bartolomeu África Reservatórios pequenos 329 Jackson & Marmulla (2001) 1 Reservatórios médios 80 - 90 Jackson & Marmulla (2001) 1 Reservatórios grandes 3,5 - 65 Jackson & Marmulla (2001) 1 Ásia China 127 - 152 Jackson & Marmulla (2001) 1 Índia Jackson & Marmulla (2001) 1 Reservatórios pequenos 49,5 Jackson & Marmulla (2001) 1 Reservatórios médios 12,3 Jackson & Marmulla (2001) 1 Reservatórios grandes 11,4 Jackson & Marmulla (2001) 1 Malásia 15 Jackson & Marmulla (2001) 1 Sri Lanka 40 - 650 Jackson & Marmulla (2001) 1 Sri Lanka (reservatórios 26,7 – 362,6 Nissanka et al . (2000) pequenos)

Entretanto, algumas espécies neotropicais da ordem Perciformes são capazes de colonizar esses ambientes lênticos artificiais, destacando-se Plagioscion squamosissimus , várias espécies de ciclídeos autóctones ( Cichla spp. – os tucunarés) ou alóctones (as tilápias africanas dos gêneros Oreochromis e Tilapia ). Também, o siluriforme amazônico e filtrador zooplanctófago Hypophthalmus edentatus é uma espécie bastante ajustada às novas condições dos ambientes lênticos (Petrere Jr., 1996). Atualmente, essas espécies estão entre os principais recursos pesqueiros dos reservatórios do alto Paraná (Agostinho et al. , 2007a). Em especial, a tilápia-do-Nilo ( O. niloticus ) tem sido importante recurso para os açudes nordestinos (Paiva et al. , 1994) e para alguns reservatórios isolados como o Billings (Minte-Vera & Petrere Jr., 2000) e o de Barra Bonita, ambos na Bacia do rio Tietê, (David et al. , 2006), e para o lago Paranoá, em Brasília (Walter & Petrere Jr., 2007).

Na tentativa de minimizar (restabelecer a produção e manter os estoques) esses efeitos negativos sobre os recursos pesqueiros, duas principais medidas mitigadoras foram usadas por força legal: (i) construção de mecanismos de transposição, permitindo a passagem dos peixes entre a jusante e a montante da barragem; e (ii) a estocagem, nos reservatórios, de juvenis de peixes provenientes de estações de piscicultura. No entanto, essas medidas não tiveram o sucesso esperado. Erros de planejamento, falhas metodológicas, negligência e/ou desconhecimento das informações sobre o ambiente e a falta de embasamento científico, dentre outros fatores, vêm contribuindo para o fracasso dessas medidas em reservatórios brasileiros (Agostinho et al. , 2004, 2007a, 2007b; Britto & Sirol, 2006).

Com relação às espécies migradoras autóctones, o mandi ( Pimelodus maculatus ) e o corimbatá ( Prochilodus spp.) são as mais importantes na pesca nos reservatórios (Agostinho et al. op. cit. ). No caso de Prochilodus spp., migradores de longa distância, reservatórios que possuem regiões a montante bem preservadas com áreas de desova e crescimento para as larvas e juvenis, o estoque pesqueiro consegue se manter a um nível explorável na pesca comercial. Prochilodus lineatus do rio Paraná, no sistema reservatório de Itaipu

– planície de inundação e tributários bem preservados – tem mantido seus estoques exploráveis tanto no reservatório, como nas áreas de sua influência (Agostinho et al. , 2002; Gubiani et al. , 2007).

Em suma, a produtividade e o rendimento da pesca comercial em reservatórios brasileiros encontram-se em níveis bastante baixos quando comparadas aos outros reservatórios tropicais (ver Tabela 1). Algumas hipóteses reforçam essa idéia: (i) a falta de espécies brasileiras adaptadas ao ambiente lacustre dos reservatórios, com exceção de alguns perciformes que representam em torno de 15% da ictiofauna brasileira de água doce, sendo que a maior parte delas estão concentradas na região amazônica e do Pantanal (Reis et al., 2003); (ii) a existência de um grande número de reservatórios de médio e de grande porte, uma vez que, há indícios de relação inversa entre produção pesqueira e área do reservatório; (iii) o mal planejamento e execução de medidas de mitigação da pesca e dos efeitos deletérios das barragens sobre os peixes reofílicos mostraram ser pouco eficientes, como por exemplo, os mecanismos de transposição inspirados no modelo americano para os salmões, cujo ciclo de vida é bem distinto ao da ictiofauna brasileira. Com exceção dos açudes nordestinos, os programas de estocagem foram ineficientes, principalmente, pelo baixo esforço de estocagem; e (iv) o sistema de cascata de reservatórios (sucessão de lagos) presente nos principais rios da bacia do alto rio Paraná, que alterou de forma profunda e definitiva o ambiente lótico.

Objetivos gerais

Dessa forma, os objetivos gerais do presente trabalho foram: 1) caracterizar os recursos pesqueiros, em termos quali-quantitativos, provenientes da pesca artesanal nos dois reservatórios limnologicamente distintos do alto Paraná, em associação com dados de algumas variáveis limnológicas que poderiam estar interferindo no rendimento pesqueiro, e 2) caracterizar os aspectos da biologia populacional das espécies mais

representativas deste tipo de pesca em ambos os reservatórios, sendo a tilápia-do-Nilo ( O. niloticus ) para o reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê), e a traíra ( H. malabaricus ) para o reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema). Ressalta-se que os objetivos específicos destas abordagens serão detalhados nos capítulos pertinentes.

Área de estudo

Bacia do alto Paraná

O rio Paraná, juntamente com os rios Paraguai e Uruguai, são os maiores formadores da Bacia do Prata, com aproximadamente 3.100.000 km 2, de grande importância econômica e social para o continente sul americano. Uma característica bastante importante dessa bacia foi à construção de grandes reservatórios para a produção de hidroeletricidade, que mudou drasticamente a paisagem desta bacia. Além da hidroeletricidade, outros usos têm se intensificado nos últimos anos para ampliar seu potencial hídrico, tais como atividades de recreação, turismo, pesca, aqüicultura e navegação para transporte de cargas a longas distâncias (Tundisi et al. , 2002). O Rio Paraná drena 48,7% (891.000 km 2 em território brasileiro) da área total da bacia; nasce na Serra da Mata da Corda (MG) e desemboca no rio do Prata, na altura da foz do rio Uruguai, percorrendo aproximadamente 3.809 km. O trecho do alto rio Paraná, da confluência dos rios Paranaíba e Grande, até as antigas Sete Quedas, possui 619 km, com uma declividade média de 0,8 cm/km em uma direção geral norte-sul/sudoeste. Tem leito de largura variável que pode chegar a 14 km, sendo acompanhado por extensa planície de inundação, especialmente em sua margem direita (Agostinho & Julio Jr., 1999). Além do rio Paraná, tributários de grande porte como Grande, Tietê, Paranapanema e Iguaçu fazem parte da bacia do Alto rio Paraná (Figura 1).

0º N

23º

49ºW

Escala 23ºS 150 km

Figura 3 - Localização geográfica da bacia do alto rio Paraná. No detalhe o sistema de reservatórios da bacia. ▲ = usinas hidroelétricas.

A bacia do alto Paraná drena uma área com grandes centros urbanos, industriais e agrícolas, e se constitui na região mais intensivamente explorada e impactada do país. Nos centros urbanos do Estado de , os maiores e mais populosos, estima-se que o uso de água é por volta de 87m 3/s, com apenas 50% retornando aos corpos d’água, sendo que somente 8% retorna com algum tipo de tratamento. Na irrigação, estima-se que no Estado de São Paulo, 470.000 ha utilizam-se da água desses corpos hídricos, não se tendo números precisos sobre a quantidade de água usada. A agricultura intensiva, com uso de técnicas de manejo do solo inadequadas, eliminação de pesados agentes químicos e o desflorestamento da vegetação ripária, tem contribuído para a perda da qualidade da água dos rios desta bacia (Agostinho et al., 1995).

Devido a essas ações antrópicas contundentes, a bacia do alto Paraná se encontra, hoje, quase que totalmente descaracterizada das suas condições naturais. Atualmente, apenas o trecho entre a barragem da UHE Porto

Primavera e o reservatório da UHE Itaipu, encontra-se sem represamento e ainda mantendo bem preservadas as suas características originais. É uma área de 230 km que contêm várias lagoas marginais (temporárias ou não), canais anastomosados com o rio principal ou por cheias sazonais. A redução do nível da água durante o período seco contribui para criar algumas lagoas. Assim, o pulso de inundação é considerado a principal força controladora dos processos ecológicos da planície de inundação (Agostinho et al., 2002).

A geomorfologia e biogeografia da Cuesta de Botucatu, como divisor de águas de grandes rios

Do ponto de vista geomorfológico, o Estado de São Paulo pode ser dividido nas seguintes unidades: (i) Província costeira : inclui as baixadas litorâneas, as serras da costa (Serra do Mar, de Paranapiacaba e de Itatins) e os morros da costa e do Vale do Ribeira; (ii) Planalto atlântico: abrange a faixa de rochas cristalinas que vai da região sul do Estado (Guapiara) até a região nordeste, na divisa com o Estado de (Campos de Jordão); (iii) Depressão periférica: está localizada quase que totalmente nos sedimentos Paleo-mesozóicos da bacia do Paraná. Apresenta vários modelados devido à ação do tectonismo, diversidade de litologias e diferenciações paleoclimáticas. No geral, as altitudes oscilam entre 600 e 750 metros, possui densa rede de drenagem que apresentam curso conseqüente em direção ao rio Paraná; (iv) Cuestas Basálticas: formadas pelos remanescentes erosivos das camadas de rochas vulcânicas basálticas da bacia do Paraná, na faixa que vai desde Ituverava e , a nordeste, até Botucatu e Avaré, a sudoeste; (v) Planalto ocidental: inclui os planaltos das regiões de Marília, e Monte Alto (Almeida, 1964).

Com relação as Cuestas Basálticas, elas são formadas por antigos derrames de lava intercalados com camadas de arenito; apresentam-se sinuosas e descontínuas. São linhas de escarpas esculpidas em estruturas monoclinais, seccionadas por extensos rios, como o Tietê, Paranapanema e

Grande, em altitudes respectivamente de 420, 540, 520 metros. Apresentam-se como faixas montanhosas, separando a Depressão Periférica da região igualmente deprimida do Planalto Ocidental (Almeida, 1964).

A região do município de Botucatu (SP), engloba parte da Cuesta Basáltica – regionalmente denominada “Cuesta de Botucatu”, que se encontra a 900 metros de altitude – e parte da Depressão Periférica, sendo constituída, portanto, por partes altas e baixas, com desníveis de 300-400 metros (Almeida, 1964). Nessa região, a Cuesta representa um importante divisor de águas (barreira geográfica) entre os trechos da bacia do médio Tietê e do alto Paranapanema (Caramaschi, 1979), juntamente na área ocupada por dois grandes reservatórios (Barra Bonita e Jurumirim) (Figura 4).

Figura 4- Representação da Cuesta de Botucatu. (Extraída de Caramaschi, 1979)

Reservatório da UHE Barra Bonita, rios Tietê e

A descrição abaixo segue: Castro (1997); Valente, et al. (1997); Barbosa et al. (1999); Valêncio et al. (1999); Ferraz (2000); Straškraba & Tundisi (2000); UNEP-IETC (2001); Calijuri et al. (2002); Barrella & Petrere (2003); Cavenaghi et al. (2003); Rodgher et al. (2003, 2005); Costa (2004); Matsumura-Tundisi & Tundisi (2005); www.bibliotecavirtual.gov.sp.br (acesso: 07/09/2007).

O reservatório da UHE Barra Bonita está situado no eixo principal do rio Tietê, mas além deste, o reservatório também ocupa os trechos finais e desembocadura do rio Piracicaba.

O rio Tietê, conhecido como o único rio genuinamente Paulista, nasce na Serra do Mar, a 1.027 metros de altitude no Parque Nascentes do rio Tietê; e segundo pesquisas, tem entre 10 e 15 milhões de anos. Apesar de nascer a apenas 22 km do litoral, as escarpas da Serra do Mar em Salesópolis (SP) obrigam-no a caminhar sentido inverso, rumo ao interior, atravessar o Estado de São Paulo, percorrendo 1136 km, no sentido leste-oeste até desaguar, onde hoje é o lago formado pela barragem de Jupiá, no rio Paraná, na divisa entre os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Apresenta um desnível de 860 metros com uma declividade média de 74 cm/km.

O rio Tietê drena uma área de 71.988 km 2 e é composta por seis sub- bacias hidrográficas: Alto Tietê; /Médio Tietê; Piracicaba-Capivari- Jundiaí; Tietê/Batalha, Tietê/Jacaré e Baixo Tietê, em uma das regiões mais ricas e industrializadas do hemisfério sul. Ao longo de sua extensão, suas margens banham 62 municípios, englobando uma população de aproximadamente 25 milhões de habitantes.

Ainda no trecho superior, o rio Tietê é impactado na região metropolitana de São Paulo, com uma população de aproximadamente 20 milhões de habitantes e centenas de indústrias, recebendo grandes descargas,

principalmente de resíduos domésticos in natura . Assim, estima-se que 134 toneladas de lixo orgânico e inorgânico são despejadas diariamente em seu leito. O processo de degradação deste trecho de rio agravou-se na década 1940, quando houve um forte processo de urbanização e industrialização, afetando também, os principais afluentes na região, como os rios Tamanduateí (. que carreia efluentes in natura da região do ABC), Aricanduva e Pinheiros. Além disso, o crescimento desordenado da Grande São Paulo levou à ocupação irregular de suas margens e várzeas provocando grandes enchentes e esgotamento hídrico de seus mananciais.

No início da década de 1990, o Governo do Estado de São Paulo, via SABESP (empresa de saneamento básico do Estado), montou um projeto de despoluição e recuperação do rio Tietê, com financiamento do Banco Internacional de Desenvolvimento (BID). Mais de uma década após o início do projeto, alguns resultados já podem ser vistos: ampliação da capacidade de tratamento de esgoto da estação de , a 20 km a jusante do município de São Paulo e inaugurou as estações de tratamento de esgoto do Parque Novo Mundo, São Miguel e ABC. Segundo a SABESP, hoje, 63% do esgoto é tratado, quando do início do projeto eram apenas 20%. Também, o lançamento de efluentes industriais está próximo a zero.

Outro grande impacto que o rio Tietê sofreu na região metropolitana foi à retificação de seu leito. São 26 km, em um canal com largura de 45 metros, aumentando para 56 metros após receber as águas do rio Tamanduateí; a profundidade média “normal” deste canal é de 5,7 metros. Os objetivos principais do projeto, proposto pelo sanitarista Saturnino de Brito entre as décadas de 20 e 30 foram: defesa contra as inundações periódicas e aproveitamento da área alagadiça; afastamento, para jusante, das descargas dos esgotos, feitas em locais de grande densidade demográfica, navegação mais rápida entre os pontos extremos da cidade. Sobre o projeto de retificação Mello Nóbrega escreveu: “ A execução do plano de retificação do rio Tietê foi inicializada em dezembro de 1938, com assinatura do contrato para a abertura

do canal de , e continuou nas bases assentadas, sendo de esperar que em breve esteja São Paulo definitivamente livre da preocupação das enchentes. O velho rio não se perderá mais em curvas inúteis nos campos turfosos das várzeas sem paisagem, correrá retilíneo, entre renques de árvores floridas, com eixo das avenidas que lhe serão paralelas, contemplando o progresso a rolar vertiginosamente em automóveis e trens, que chegarão, muito antes dele aquele sertão longínquo outrora devassado pelas canoas aventureiras dos paulistas ” (Denis Ferraz, Tietê: imagens que o Brasil não. Pág, 16).

Ao sair da região metropolitana de São Paulo, o rio Tietê entra pelo interior do Estado. Entre as cidades de Santana do Parnaíba e Laranjal Paulista, são aproximadamente 250 Km, em um trecho onde o rio é bastante encaixado, com pequenas quedas d’águas e corredeiras, oxigenando a água e provocando uma ligeira melhora na sua qualidade da água. Ainda nas proximidades de Laranjal Paulista, o rio Tietê recebe águas de um importante afluente: o rio Sorocaba. Esse rio trena a região de Sorocaba, que também é densamente habitada, e recebe toda a carga de efluentes da região, sendo boa parte in natura que, por fim, é despejada no rio Tietê. Embora em menor quantidade, quando comparado com a região metropolitana, muitos municípios da bacia hidrográfica do Tietê, despejam efluentes in natura no rio Tietê ou em seus afluentes, além de substâncias utilizadas na agricultura, como fertilizantes e agrotóxicos. Ao chegar ao município de , o rio Tietê sofre outro tipo de impacto: abastece o reservatório da UHE Barra Bonita, o primeiro reservatório hidroelétrico da “cascata” de reservatório no trecho do médio e baixo Tietê. Ao longo desse trecho são seis reservatórios: Barra Bonita, , Ibitinga, Promissão, Nova Avanhandava e Três Irmãos (Tabela 2), o que transformou esse trecho do rio Tietê em uma sucessão de lagos, destruindo quase que totalmente o curso original do rio.

Tabela 2 - As Usinas hidroelétricas do trecho médio e baixo rio Tietê, capacidade de produção e área dos reservatórios. (Fontes 1 = AES Tietê S.A: www.aes.com.br ; 2 = Companhia elétrica de São Paulo: www.cesp.com.br). Usinas Hidrelétricas Capacidade de Área do reservatório produção (MW) (km2) UHE Barra Bonita 1 141 325 UHE Bariri 1 143 63 UHE Ibitinga 1 131,5 114 UHE Promissão 1 264 530 UHE Nova Avanhandava 1 347 210 UHE Três Irmãos 2 807,5 817

Outro rio formador do reservatório de Barra Bonita, rio Piracicaba, é formado pela confluência dos rios Jaguari e na altura do município de Americana (SP), sendo o maior afluente do rio Tietê em volume de água. O Rio Jaguari tem suas nascentes no Estado de Minas Gerais e o rio Atibaia é formado pela confluência dos rios Atibainha e Cachoeirinha com seus nascedouros na Serra da Mantiqueira na divisa dos Estados de São Paulo e Minas Gerais. O rio Piracicaba inicia numa altitude de 522 metros dividindo os municípios de Americana e , percorrendo uma extensão de 177 km com um desnível de 59 metros. A Bacia hidrográfica do rio Piracicaba estende-se por uma área de 12.000 km 2, situada no sudeste do Estado de São Paulo e extremo sul de Minas Gerais. O rio Piracicaba é desde sua formação um rio bastante encorpado com largura média de 70 metros, em certos pontos como no Salto e Tanquã atinge de 100 a 120 metros. O Piracicaba é bastante acidentado com corredeiras e saltos que podem atingir 10 metros.

Assim como a bacia do rio Tietê, a bacia do rio Piracicaba, localiza-se em uma das regiões mais desenvolvidas do Estado de São Paulo, abrangendo importantes municípios do interior paulista como Bragança Paulista, , Limeira, Americana, Atibaia, Rio Claro, Santa Bárbara d’Oeste e Piracicaba, o que tem provocado problemas similares de poluição como os do rio Tietê. Outro impacto que o rio Piracicaba sofre e a transposição de suas águas para abastecimento da região metropolitana de São Paulo.

Os residentes mais antigos da cidade de Piracicaba relatam uma controvérsia antiga: “ ...os moradores mais antigos da região, aqueles que navegam por suas águas há 50 anos ou mais, diziam que nas barrancas de Barra Bonita percebia-se claramente o rio Tietê entrando quase que perpendicularmente no Piracicaba, que seguia em linha reta. Os pescadores eram mais categóricos e davam como prova a própria natureza: os peixes, tanto em qualidade como em quantidade, preferem sempre subir pelo curso principal e é por isso que o rio Piracicaba sempre foi muito mais piscoso que o Tietê” (Rui Oehlmeyer Costa, As águas do Piracicaba Século XIX. Pág, 55). Com o barramento do encontro dos rios e sua conseqüente “inundação” o tema caiu no esquecimento. Atualmente nos termos do disposto em norma constitucional, está qualificado como um rio de domínio da União por ser considerado prolongamento do rio Jaguari que nasce no Estado de Minas Gerais. Já o rio Tietê por ter sua nascente e foz dentro dos limites territoriais do Estado de São Paulo é considerado um rio Estadual. Desta forma, o rio Tietê no concerne à utilização dos recursos hídricos e à preservação do meio ambiente, vê-se submetido à preponderância da legislação deste Estado, e o Piracicaba está legalmente sob o controle da União.

Os estudos para o aproveitamento hidroelétrico do rio Tietê, teve início em 1945 na Inspetoria de Serviços Públicos, órgão ligado ao Estado de São Paulo, em virtude da escassez de energia que se previa para a década seguinte e que, de fato, ocorreu. Com a criação do Serviço do Vale do Tietê, em 1951 – órgão vinculado ao Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) – esses estudos foram aprofundados, prevendo-se a implantação de conjunto de reservatórios ao longo do rio Tietê com finalidades múltiplas, tal como para a navegação, o controle das enchentes, irrigação e energia elétrica. Esta última finalidade era vista como “a coluna mestra de fatores básicos necessários ao desenvolvimento e descentralização do sistema econômico paulista”.

O projeto para a construção da UHE Barra Bonita foi aprovado em 1956 e no ano de 1963 entrou em funcionamento. O reservatório da usina tem nos rios Tietê e Piracicaba os seus principais formadores, mas outros rios de médio e pequeno porte como os rios Conchas, Peixe, Capivara, também contribuem na formação, as coordenadas geográficas da barragem são: 22º29’S e 49º34’W (Figura 5). O reservatório de Barra Bonita é o primeiro da “cascata” de reservatórios do médio/baixo Tietê, com área de 325 km 2. Sua área de influencia abrange em torno de 90 municípios, sendo os municípios de Barra Bonita, Igaraçu de Tietê, Mineiros do Tietê, Dois Córregos, São Pedro, Piracicaba, Anhembi, Santa Maria da Serra, Botucatu e São Manuel, estão na área de influência direta do reservatório. Os principais usos do solo são: 30% floresta, 50% agricultura intensiva e 20% pasto. Os dados morfométricos do reservatório são apresentados na Tabela 3.

49ºW N

R io T ietê

22ºS

Escala

250km

LAGOAS MON BAR

barragem TRA UHE barragem UHE Rosana

Figura 5 - Localização geográfica do reservatório de Barra Bonita médio Rio Tietê: 22º29'S e 49º34' W.

Tabela 3 - Parâmetros morfométricos do reservatório de Barra Bonita médio rio Tietê. Área 325 km 2 Volume 3,6 x 10 6 m 3 Largura máxima Profundidade máxima 25 m Profundidade média 10 m Perímetro 525 km Vazão (média anual) 1.500 m 3/s (verão) – 200 m 3/s (inverno) Área da bacia hidrográfica 324,84 km 2 Tempo de residência 100 dias

Em termo limnológico o reservatório da UHE Barra Bonita é classificado como hipertrófico. Essa classificação reflete os processos de toda a área de captação, a qual conta com uma população de aproximadamente 23 milhões de habitantes em áreas urbanizadas, incluindo a região metropolitana de São Paulo, Campinas e Sorocaba e regiões com cultivo extensivo de cana-de- açúcar. Um bom exemplo para ilustrar o descaso com a água na região é no município de Botucatu: com cerca de 100 mil habitantes, cerca de 50% de todo o esgoto sanitário da cidade é lançado no ribeirão Lavapés sem tratamento, sendo despejado por dia o equivalente a 25.840 m 3. Todo esse efluente é lançado diretamente no reservatório de Barra Bonita. A composição do sedimento do reservatório de Barra Bonita também apresenta valores elevados de fertilizantes, bem acima dos valores recomendados para culturas anuais em solo agrícolas, como P 173,63 mg dm -3, Ca 33,44 mmol dm -3 e Mg 18,20 mmol dm -3 (valores recomendado são P 41 a 80 mg dm -3, Ca 4 a 7 mmol dm -3, Mg 5 a 8 mmol dm -3). Além desses elementos traços, metais pesados como cádmio, cromo, cobre e zinco, são encontrados na água e no sedimento, em valores superiores ao estabelecido pela resolução CONAMA 20/1986 para categoria dois, na qual o reservatório está enquadrado.

A biota planctônica do reservatório de Barra Bonita reflete as atuais condições ambientais da região. A comunidade de fitoplâncton é formada por 131 taxa, distribuídos em 9 classes taxonômicas, com predominância de Chlorophyceae (53), Bacillariophyceae (26) e Cyanophyceae (19). Em termos

de abundância ocorre predomínio de Cyanophyceae sendo a espécie Mycrocystis aeruginosa a mais abundante no reservatório, esse predomínio e ainda mais evidente no verão. A comunidade de zooplâncton apresenta um predomínio de espécies de Rotifera (37), seguido por Cladocera (17) e Copepada (8). O reservatório de Barra Bonita apresenta um dos maiores níveis de macrófitas aquáticas, entre os reservatórios da “cascata”. São 23 espécies, com predominância de Brachiaria mutica , B. sabquadripara , e plygonum lapathifolium .

Reservatório da UHE Jurumirim e rio Paranapanema

A descrição abaixo segue trabalho de Carvalho & Silva (1999); Henry e Nogueira (1999); Valêncio et. al.; (1999); Nogueira et. al. (1999); Carvalho et. al. (2003); Carvalho et al., (2005); Henry (2003); Hoffmann et. al., (2005); Feitosa et. al., (2006); Henry et. al. (2006); Nogueira et . al .,(2006); e www.bibliotecavirtual.gov.sp.br (acesso: 07/09/2007).

O rio Paranapanema é um importante afluente da margem esquerda do rio Paraná, participando do sistema hidrográfico da bacia do alto Paraná. As nascentes do rio estão localizadas na serra Paranapiacaba, no município de Capão Bonito, na Área de Proteção Ambiental da Serra do Mar, no sudeste do Estado de São Paulo, a aproximadamente 100Km da costa Atlântica, na latitude 24º51’ S e longitude 048º10’ W, e a cerca de 900m acima do nível do mar. O rio Paranapanema percorre sentido leste-oste com uma extensão total de 929 km e com uma bacia hidrográfica de 100.800 km 2 drenando a região sudoeste do Estado de São Paulo e noroeste do Estado do Paraná, servindo como divisor entre os dois Estados, a partir da foz do rio Itararé. Além do rio Itararé, outros tributários de maior porte são rios Cinzas, Tibagi e Pirapó, todos no Estado do Paraná e rio Pardo no Estado de São Paulo, além de vários outros rios de médio e pequeno porte. Da nascente á foz ocorre um desnível de 570m, sendo a declividade média total de 61 cm/km, desembocando no rio Paraná numa altitude aproximadamente de 239m e divide-se em três trechos:

a) Alto Paranapanema: Das nascentes na serra de Paranapiacaba até o reservatório de Salto Grande, englobando os reservatórios de Jurumirim e Chavantes;

b) Médio Paranapanema: Do reservatório de Salto Grande até o reservatório de Taquaruçu. Nesse trecho são quatro reservatórios: Salto Grande, Canoas I e Canoas II (Complexo Canoas) e Capivara;

c) Baixo Paranapanema: Do reservatório de Taquaruçu até a foz no rio Paraná. Nesse trecho são dois reservatórios: Taquaruçu e Rosana.

Os estudos de exploração econômica do rio Paranapanema datam do Império, sendo realizado em 1886 pela Comissão Geográfica e Geológica da Província de São Paulo. Tais estudos descreviam as características geográficas e condições de navegabilidade. Somente no final da década de 50 seu aproveitamento foi pensando em termos hidroelétricos. Através do Decreto 27.769 de fevereiro de 1950, foi outorgada pelo Estado a concessão para o aproveitamento hidrelétrico de Jurumirim. Atualmente, o desnível de 570m ao logo de seu curso, o rio Paranapanema, foi intensamente aproveitado para a exploração de energia hidroelétrica (Tabela 4). Hoje, a concessão para a exploração de todas as usinas hidrelétricas deste rio é de domínio privado e cujo gerenciamento é feito pela empresa Duke Energy Geração Paranapanema.

Tabela 4 - As Usinas hidroelétricas do rio Paranapanema, capacidade de produção e área dos reservatórios. (Fonte Duke Energy Geração Paranapanema: (www.duke-energy.com.br) Usinas Hidrelétricas Capacidade de Área do reservatório produção (MW) (km 2) UHE de Jurumirim 98 449 UHE Chavantes 414 400 UHE Salto Grande 74 12 UHE Canoas I 72 22,5 UHE Canoas II 81 30,85 UHE Capivara 691 576 UHE Taquaruçu 526 80,1 UHE Rosana 353 220

O reservatório de Jurumirim é o primeiro da série do sistema de cascata no rio Paranapanema, também o mais estudado em termos limnológicos, tendo sido classificado como oligotráfico. O reservatório está localizado na parte sudeste do Estado de São Paulo, entre as latitudes 23º08’S e longitudes 48º30’W (Figura 6). Além do rio Paranapanema, o rio Taquari, um outro grande tributário alimenta o corpo de reservatório. A extensão do primeiro na área inundada é de aproximadamente 95km, enquanto que o segundo tem cerca de 40km. Além desses dois rios, existe uma série de pequenos cursos de água cujas nascentes estão localizadas principalmente na região montanhosa da Cuesta de Botucatu e que desembocam no reservatório. Esses corpos de água têm outros usos de grande importância na economia regional como irrigação, atividades de lazer, tanques de piscicultura. Algumas informações morfométricas do reservatório estão apresentadas na Tabela 5.

48ºW

N

R io P ara nap ane ma 23ºS

Escala

250 km

LAGOAS MON BAR

barragem TRA UHE barragem UHE Rosana

Figura 6 - Localização geográfica do reservatório Jurumirim Alto rio Paranapanema: 23º08’S e 48º30’W.

Tabela 5 - Dados morfométricos do reservatório de Jurumirim alto rio Parnapanema. (Henry e Nogueira, 1999). Área 484 km 2 (quota 579m) Volume 7,9 x 10 9 m 3 Comprimento máximo 30,75 km Largura máxima 10,50 km Profundidade máxima 40,00 m Profundidade média 12,90 m Perímetro 1.115 km Vazão (média anual) 268,1 m 3 s -1 Área da bacia hidrográfica 17.800 km 2 Tempo de residência 334 dias

Os principais usos do solo na bacia de drenagem do reservatório são: florestas e áreas de reflorestamento (35,2%), pastagem (30,3%), áreas agrícolas (17%), culturas temporárias (10%) e outros (7,5%). A bacia inclui 28 municípios entre os quais 10 cidades (, Avaré, Cerqueira César, Arandu, Piraju, Tejupá, Itaí, Taquarituba, Paranapanema e Angatuba) estão

diretamente associadas com a área do lago, com uma população total estimada em 250.000 habitantes.

Uma característica importante na região de desembocadura do rio Paranapanema no reservatório de Jurumirim e a presença de lagoas marginais ao longo das margens da calha, algumas com conexão direta e permanente com o rio (exceto em período de grande seca) e outras com conexão via lençol freático ao através de cheias extremas. Elas apresentam características meândricas (do tipo oxbow ) formadas por isolamento do rio devido à intensa ação erosiva e de sedimentação. Esses ecossistemas rasos, com profundidade média variando entre 1,58 e 3,2 metros no período de seca, contêm mosaico e bancos de macrófitas aquáticas representadas principalmente por Echinochloa polystachya , Polygonum spectabile , Salvinia sp., Scirpus sp. e Eichornia azurea .

Com relação à biodiversidade, o reservatório de Jurumirim possui 102 taxa de organismos fitoplanctônicos com predominância de Chlorophyta (25 espécies). A assembléia de zooplâncton é composta por 117 espécies, os Rotífera constitui o grupo dominante com 82 taxa. A comunidade de macrófita no reservatório é formada por 19 taxa, sendo que na zona de desembocadura dos dois rios (Paranapanema e Taquari) no reservatório são encontrados a maior riqueza e abundancia das macrófitas constituindo nestas áreas um importante elemento para a diversidade de habitats. A fauna de macro- invertebrados bentônica é composta por 10 taxa, com o grupo Chironomidae representando 32% da abundância, com maiores densidades encontradas próximas à desembocadura dos rios. A comunidade perifítica apresenta uma biomassa significativa encontrada nos rizomas de Echinochloa polystachya , são 70 gêneros identificados com uma concentração de clorofila-a variando de 0,5 a 16,5 mg m -2 ao longo do ano.

Ictiofauna e pesca

Reservatório da UHE Barra Bonita

Nos trechos rio Tietê e Piracicaba que foram transformados no reservatório da UHE Barra Bonita, há apenas um registro científico no que toca aos peixes e à pesca, antes do represamento (Monteiro, 1953). Num levantamento realizado entre 1949 e 1952, no rio Piracicaba, as espécies mais importantes eram, em ordem decrescente: curimbas ( Prochilodus scrofa , atual P. lineatus), pintados ( Pseudoplatystoma corruscans ), jaús ( Paulicea luetkeni , atual Zungaru zungaru ), dourados ( Salminus maxillosus , atual S. brasiliensis ) e mandis ( Pimelodus maculatus ). Ainda, Monteiro (1953) relata que a pesca no rio Piracicaba era sustentada por espécies de peixes que realizavam migrações desde o baixo Tietê até as proximidades da cidade de Piracicaba.

Também, alguns jornais da época traziam informações sobre a piracema e a pesca no rio Piracicaba. E diziam: “ À proporção que a estação do ano vai- se tornando mais quente, os peixes vêm subindo do sertão pelo Tietê: chegando à barra do Piracicaba, tomam por esse por encontrarem melhor fundo, (...) sendo ahi o Tietê, baixo e espraiado. É por esse motivo que o salto desta cidade é muito mais piscoso que o de Ytu ”. No tocante da qualidade (nome popular) dos peixes, os relatos citam a presença de dourados, piavas, piaparas, piracanjubas, curimbas, pintados, jaús, surubins e jurupocas, entre outros de menor porte, como lambaris e tambiús, no trecho do salto de Piracicaba, no município de Piracicaba, (Costa, 2004).

Especificamente, estudos de pesca experimental sobre a fauna de peixes do reservatório de Barra Bonita identificaram de 27 (Barrela & Petrere Jr., 2003) a 35 espécies (Castro, 1997; Petesse et al. , 2007), pertencentes às ordens Characiformes (65,7%), Siluriformes (20,0%), Perciformes (8,6%) e Gymnotiformes (5,7%), sendo as espécies Cyphocarax modesta , Astyanax altiparanae , Steindachnerina insculpta , Plagioscion squamosissimus e Moenkhausia intermedia , as mais abundantes em termos numéricos (Castro, op cit. ). Smith et al . (2002), numa revisão sobre esse tema, e em associação

com novos estudos da pesca experimental, definiram a ocorrência de 59 espécies para o reservatório de Barra Bonita até o ano de 2000.

Deste total dessas espécies, ao menos sete foram introduzidas: Triphorteus angulatus , Metynnis maculatus , Liposarcus anisitsi , Satanoperca jurupari , Oreochromis niloticus , Tilapia rendalli e Plagioscion squamosissimus . (Smith et al. , 2005).

O rio Tietê apresenta um longo histórico de introdução de espécies de peixes alóctones e exóticas. Em 1909, ocorreu a introdução do “blackbass” (Micropterus salmoidses ), na represa de Ponte Nova. Posteriormente, em 1938, introduziu-se o apaiari ( Astronotus ocellatus ), espécie de origem amazônica. No começo da década de 50, iniciou-se a introdução de tilápias no Estado de São Paulo, com a chegada da tilápia do Congo ( T. rendalli ) e, posteriormente, a tilápia-do-Nilo ( O. niloticus ) (Smith et al. , 2005). No médio e baixo Tietê, as introduções tiveram início na década de 60, principalmente nos reservatórios, com o objetivo de incrementar a pesca, uma vez que, várias espécies tiveram seus estoques reduzidos (Smith et al., op. cit ). No reservatório de Barra Bonita, entre 1975 e 1997, 12.495.464 juvenis de 11 espécies foram introduzidos oficialmente pela empresa estatal concessionária (CESP), mantenedora de uma Estação de Piscicultura no município de Barra Bonita (SP) para produção e repovoamentos. Dessas espécies, seis eram autóctones, e cinco exóticas/alóctones: A. ocellatus (apaiari, bacia amazônica), Cyprinus carpio (carpa comum, asiática), T. angulatus (sardinha de água doce, bacia amazônica), O. niloticus (tilápia-do-Nilo, africana), Hoplias lacerdae (trairão, bacia amazônica) (CESP, 1998). Atualmente, das espécies introduzidas, a tilápia-do-Nilo, é a única que está bem estabelecida e com alta captura na pesca comercial no reservatório de Barra Bonita (David et al. , 2006).

Apesar da condição de estresse do reservatório, devido ao seu estado trófico, a assembléia de peixes pode ser considerada bem adaptada a essa

condição, com dominância de espécies oportunistas, de corpo pequeno e alta resiliência (Petesse et al., 2007).

Após a formação do reservatório, os primeiros levantamentos sobre a produção pesqueira foram feitos pela antiga concessionária estatal da usina hidroelétrica CESP, sob a forma de relatório. O levantamento mostrou que entre os anos de 1989 e 1991, a corvina ( P. squamosissimus ) e o corimba ( P. lineatus ) foram os principais pescados capturados no reservatório. O rendimento variou entre 122 a 254 toneladas por ano, com produtividade média de 9,39 kg/ha -1/ano -1 e Captura de Unidade de Esforço (CPUE) de 40,40 kg/pescador/dia (Torloni et al. , 1993). Com a privatização das usinas hidroelétricas, a nova concessionária da usina de Barra Bonita, publicou um relatório, em 2002, sobre a produção pesqueira no reservatório. Segundo este relatório, a tilápia-do-Nilo ( O. niloticus ) passou a ser o principal pescado no reservatório, representando 25,43% do total desembarcado. O rendimento foi de 304,80 toneladas/ano, com uma produtividade de 9,83 kg/ha -1/ano -1 e CPUE de 54,43 kg/pescador/dia (ECO Consultoria Ambiental e Comércio Ltda., 2002).

Reservatório da UHE Jurumirim

No rio Paranapanema, na região do reservatório da UHE de Jurumirim, não há informações sobre a assembléia de peixes, antes do represamento. A assembléia ictiofaunística e seus atributos no reservatório e da área de ecótono com o rio Paranapanema foram descritos pelo Laboratório de Biologia e Ecologia de Peixes – UNESP – Botucatu (Carvalho et al. , 1998, 2003, 2005; Carvalho & Silva, 1999; Castro et al. , 2003). De acordo com os autores citados foram registradas 49 a 51 espécies, pertencentes a 17 famílias de seis ordens (Characiformes, Siluriformes, Gymnotiformes. Synbranchiformes, Perciformes e Cypriniformes). Em termos numéricos, os curimatídeos ( Steindachnerina insculpta e Cyphocharax modesta ), os tetragonopterídeos ( Astyanax altiparanae e Astyanax fasciatus ), a piranha ou pirambeba ( Serrasalmus maculatus ), o ximborê ( Schizodon nasutus ), a mandiúva ( Pimelodus maculatus )

e a caborja ( Hoplosternum littorale ) constituem as espécies predominantes. Em termos de biomassa, Galeocharax knerii (peixe-cadela), P. lineatus (curimba ou curimbatá) e Hoplias malabaricus (traíra) são os mais importantes. Também, um complexo de espécies de pequeno porte, conhecidas como pequiras (Cheirodon stenodon , Serrapinus notomelas , Bryconamericus stramineus , Piabina argentea , Hyphessobrycon anisitsi ) foram abundantes na captura com peneirão e rede de arrasto.

Da mesma forma que no reservatório de Barra Bonita, o processo de estocagem de peixes no reservatório de Jurumirim, também, teve como objetivo o incremento da produção pesqueira. Entre 1975 e 1997, a CESP (antiga concessionária da usina) introduziu 15.090.719 juvenis de 11 espécies, sendo 6 autóctones e 5 exóticas/alóctones: T. angulatus (sardela, bacia amazônica), H. lacerdae (trairão, bacia amazônica), A. acellatus (apaiari, bacia amazônica) e C. carpio (carpa capim, asiática), O. niloticus (tilápia-do-NIilo, africana) (CESP, 1998). Diversos estudos (Carvalho et al. , 1998, 2003, 2005; Carvalho & Silva, 1999; Castro et al. , 2003) mostraram que as introduções dessas espécies não tiveram o sucesso esperado para este reservatório.

Não há informações sobre rendimento e produtividade pesqueira para o reservatório de Jurumirim, apenas simulações com dados oriundos de pesca experimental. Essas simulações inferiram que a produção pesqueira total do reservatório varia entre 17,0 a 28,0 kg/ha -1/ano -1, porém esse valor decresce para 12,0 kg/ha -1/ano -1, quando considerada apenas a produção das espécies dominantes (Carvalho et al ., 1998; Carvalho & Silva, 1999).

Perfil sócio-econômico dos pescadores e características da pesca

Nos estudos de biologia pesqueira, o perfil sócio-econômico dos pescadores quase sempre é negligenciado. A falta de informações sobre esse tema foi discutida por Agostinho et al. (2007), que salientam a necessidade de uma abordagem integrada do meio ambiente, dos peixes e dos pescadores, para o ordenamento da atividade de pesca em reservatórios. Ainda, estes autores alertam que a negligência do perfil sócio-econômico dos pescadores torna ineficaz o ordenamento e o controle das atividades de pesca. Walter e Petrere Jr. (2007) reforçam essas afirmações e acrescentam que o conhecimento da realidade sócio-econômica dos pescadores é de grande importância para o desenvolvimento social dessas populações ribeirinhas.

Neste trabalho, o perfil sócio-econômico dos pescadores foi traçado através de entrevistas dirigidas a pescadores artesanais/profissionais de janeiro a julho de 2006. Bayley e Petrere (1989) e Ramires e Barrella (2003) recomendam entrevistas baseadas em questionários como método prático, rápido e barato de analisar comunidades de pescadores. O questionário utilizado baseou-se no modelo de Okada et al. (1997) (anexo 1). Nesse questionário, foram obtidos dados pessoais, familiares, econômicos e sobre a atividade de pesca. Cada pescador foi entrevistado uma única vez. O universo amostral constou de 121 entrevistas com pescadores no reservatório de Barra Bonita, em três diferentes localidades: Rio Bonito (município de Botucatu); Anhembi (município a aproximadamente 50 km de Botucatu), e Ponte de Santa Maria da Serra (ponte sobre o rio Piracicaba, na rodovia SP-191). Contudo, somente 115 entrevistas foram consideradas válidas. No reservatório de Jurumirim, foram entrevistados 11 pescadores artesanais no núcleo de pescadores do Bairro da Ponte, tendo sido todas consideradas válidas. Ainda que não tenham sido objeto desta entrevista, deve-se ressalvar a presença de mais 4 ou 5 pescadores aposentados que vivem eventualmente da pesca nas proximidades do Bairro da Ponte.

Contingente e dedicação à pesca

No núcleo de pescadores do Bairro da Ponte, no reservatório de Jurumirim, o contingente de pescadores foi estimado em 11 indivíduos. Considerando a área de pesca de aproximadamente 8 km 2 (Henry et al ., 1997; Carvalho et al ., 1998a, b), a densidade de pescadores no local é de 1,3 pescadores/km 2. Todos exercem a função de pescador a mais de 10 anos e, em média, trabalham 5,2 dias da semana. Todos os pescadores desse núcleo declaram a pesca como atividade econômica exclusiva, sendo outras atividades exercidas para complementar a sua renda apenas durante o período de defeso (de 1º de novembro a 28 de fevereiro). As atividades complementares exercidas nesse período foram: agricultura, 63,6% (n = 7), pedreiro, 18,2% (n = 2), um pescador (9,1%) declarou consertar material de pesca e apenas um não declarou qualquer atividade.

No reservatório de Barra Bonita, foram cadastrados 115 pescadores nos três núcleos de pesca avaliados, demonstrando um aumento considerável no contingente de pescadores que, na década de 1990, era em torno de 80 (Torloni et. al., 1993). Entretanto, nos dias de hoje, estima-se que este contingente esteja entre 360 (Maruyama, 2007) a 500 pescadores (David et al., 2006) para toda a abrangência do reservatório. Isso porque muitos pescadores encontram-se dispersos ao longo das margens do reservatório, dificultando um levantamento preciso sobre o seu número. Contudo, se considerar os outros núcleos de pesca (Igaraçu do Tietê, Água Nova e Barra Bonita, por exemplo), calcula-se que o número de pescadores atuando no reservatório esteja entre 400 a 500 pescadores. Considerando um número médio de pescadores (430) e a área de 325 km 2, a densidade relativa deve estar próxima de 1,3 pescadores/km 2, densidade bem superior à estimada na década de 1990: 0,12 pescadores/km 2 (CESP, 1998). Parte desse contingente foi atraída para a região devido à abundância de tilápia-do-Nilo na pesca, principalmente pescadores do sul do Estado de Minas, que atuavam nos reservatórios do rio

Grande e no reservatório de Billings, na região metropolitana de São Paulo (Maruyama, 2007). Dos pescadores artesanais residentes no reservatório de Barra Bonita 83% (n = 95) declararam pescar a mais de 10 anos, sendo que em média esses pescadores trabalham 6,2 dias da semana.

Apenas três pescadores (2,7%), pai e filhos, que vivem da pesca na localidade da Ponte de Santa Maria da Serra, declararam que além da pesca possuem outra atividade paralela. São donos de um pequeno estabelecimento comercial, onde vendem, principalmente nos finais de semana, porções do pescado de pequeno porte (lambaris). Os demais entrevistados têm na pesca sua única fonte de renda, sendo outras atividades complementares exercidas apenas no período de defeso. Nesse período, 12,2% (n = 14) dos pescadores declararam trabalhar na agricultura; 19,1% (n = 22) que não exercem outras atividades, e 68,7% (n = 79) declararam pescar ilegalmente.

Origem dos pescadores

No reservatório de Barra Bonita, 54 pescadores (47%) declararam ser do Estado de São Paulo, sendo os 61 demais (53%) de outros Estados. Cinqüenta e três pescadores (33,9%) declararam ser de Estados do Nordeste, e 14 deles, (12,2%) do Estado de Minas Gerais. No reservatório de Jurumirim, 100% (n = 11) dos pescadores declararam ser natural do Estado de São Paulo. (Tabela 6).

A alta porcentagem de pescadores de origem mineira no reservatório de Barra Bonita confirma as informações sobre o processo migratório dos pescadores do sul do Estado de Minas para o referido reservatório. Já os pescadores de origem nordestina vieram de regiões distintas, seja do Nordeste propriamente ou de outros reservatórios paulistas, como por exemplo, do reservatório de Billings. Este fato também confirma a migração deste (Billings)

para o de Barra Bonita, por ocasião da fuga da violência urbana local (Minte- Vera & Petrere Jr., 2000; Petrere Jr. et al., 2006).

Tabela 6 - Estado de origem dos pescadores artesanais dos reservatórios de Barra Bonita (médio rio Tietê) e Jurumirim (alto rio Paranapanema). Estado de Origem Nº Barra Bonita (%) Nº Jurumirim (%) Alagoas 2 (1,7) - Bahia 2 (1,7) - Brasília 5 (4,3) - Ceará 13 (11,3) - Mato Grosso 1 (0,9) - Minas Gerais 14 (12,2) - Paraíba 18 (15,7) - Paraná 2 (1,7) - Pernambuco 3 (2,6) - São Paulo 54 (47,0) 11 (100) Rio Grande do Norte 1 (0,9) -

Sexo, estrutura etária e estrutura familiar

No reservatório de Barra Bonita 93% (n = 107) dos pescadores entrevistados eram homens e, apenas 7% (n = 8), mulheres. Já no reservatório de Jurumirim, 100% (n = 11) dos pescadores entrevistados eram homens. Não houve registro de mulheres participando diretamente da pesca nessa colônia. Entretanto, elas (mulheres e/ou filhas) participam da comercialização primária que, há mais de dez anos, é realizada em barracas de alvenaria, construídas pela prefeitura do município de Paranapanema às margens da rodovia Raposo Tavares, naquele local.

A composição etária dos pescadores no reservatório de Barra Bonita apresentou uma amplitude de 15 a 65 anos (média = 35,5), sendo 10,5% dos pescadores fora da idade ativa economicamente (menos de 18 anos ou idade superior a 60 anos). No reservatório de Jurumirim, essa amplitude foi menor, de 32 a 59 anos (média = 47,2), estando todos os pescadores em idade ativa economicamente. (Tabela 7).

Tabela 7 - Composição etária dos pescadores artesanais dos reservatórios de Barra Bonita (médio rio Tietê) e Jurumirim (alto rio Paranapanema). Nº Barra Bonita (%) Nº Jurumirim (%) até 16 anos 1 (0,9) 0 (0) 16 – 18 anos 7 (6,1) 0 (0) 18 – 60 anos 103 (89,5) 11 (100) + de 60 anos 4 (3,5) 0 (0)

Do total de entrevistados, 66,0% (n = 76) no reservatório de Barra Bonita, e 81,8% (n = 9) no reservatório de Jurumirim, declararam ser casados, oficial ou informalmente.

O número de dependentes por pescador (esposas, filhos e, eventualmente, pais), no reservatório de Barra Bonita, variou entre zero e 11 pessoas (média de 2), enquanto no reservatório de Jurumirim, o número de dependentes variou entre 0 e 4 pessoas (média de 1,4). Esses baixos valores podem ser atribuídos, ao fato dos solteiros não possuírem dependentes (filhos) e, no caso de Jurumirim, onde os pescadores eram, em média, mais velhos, os filhos serem economicamente independentes.

Nível de escolaridade

O nível de escolaridade dos pescadores no reservatório de Barra Bonita foi baixo: 85,2% (n = 98) dos entrevistados declararam não possuir estudo ou não terem concluído o ensino fundamental. Dos que declararam ensino fundamental incompleto, aproximadamente 70% possuem no máximo a 4ª série (atualmente 4° ano). No reservatório de Jurumirim, o nível de escolaridade foi ainda menor: 100% (n = 11) dos pescadores não possuem estudos ou tem apenas o ensino fundamental incompleto (Tabela 8). Os presentes resultados não se diferiram dos diagnosticados em núcleos de pesca de outros reservatórios como o de Billings (Minte-Vera, 1997), os reservatórios do rio Iguaçu (Okada et. al., 1997), o reservatório de Itaipu (Agostinho et al., 1999b; Carvalho, 2004; Carvalho et al. , 2006), o lago Paranoá (Walter & Petrere Jr., 2007), e os reservatórios do médio e baixo Tietê (Maruyama, 2007).

É consensual que a atividade de pesca nos reservatórios é exercidas por populações de baixa escolaridade e excluídas socialmente, o que faz da pesca uma das poucas atividades econômica legais passível de ser exercida (Agostinho et al ., 2007; Carvalho et al., 2007) por esse contingente populacional. Os resultados dessa pesquisa vêm reforçar essa tese da grave situação social no contexto dos grandes reservatórios, priorizados para geração de energia hidroelétrica.

Tabela 8 - Grau de instrução dos pescadores artesanais dos reservatórios de Barra Bonita (médio rio Tietê) e Jurumirim (alto rio Paranapanema). Grau de Instrução Nº Barra Bonita (%) Nº Jurumirim (%) Sem Estudo 15 (13,0) 3 (27,3) Ensino Fundamental 83 (72,2) 8 (72,7) Incompleto Ensino Fundamental 7 (6,1) 0 (0) Completo Ensino Médio Incompleto 5 (4,3) 0 (0) Ensino Médio Completo 3 (2,6) 0 (0) Ensino Superior Incompleto 1 (0,9) 0 (0) Ensino Superior Completo 1 (0,9) 0 (0)

Renda financeira

A declaração de renda mensal dos pescadores artesanais de Barra Bonita variou de 2 a 10 salários mínimos, sendo que a maioria, 57,4% (n = 66), declarou uma renda de três salários mínimos por mês. No reservatório de Jurumirim, 100% (n = 11) dos pescadores artesanais declararam renda de dois salários mínimos mensais (Tabela 9). Também, pôde-se simular a renda média diária desses pescadores utilizando-se o seguinte cálculo:

RFD = (SM x RFM)/DTM ,

Onde: RFD – Renda financeira média diária; SM – Valor do salário mínimo (R$ 350,00);

RFM – Renda financeira mensal em salários mínimos declarado pelo pescador; DTM – nº médio de dias trabalhados por mês que o pescador declarou

Desta forma, a renda financeira média estimada por dia foi de R$ 47,45 (U$ 22,68, considerando-se U$ 1.00 = R$ 2,00) no reservatório de Barra Bonita, e de R$ 33,94 (U$ 16,97) em Jurumirim.

Tabela 9 – Renda mensal (e diária calculada em R$) em salário mínimo, declarada pelos pescadores artesanais neste estudo para os reservatórios de Barra Bonita (médio rio Tietê) e Jurumirim (alto rio Paranapanema). (1 salário mínimo = R$ 350,00) Nº de Salários Mínimos Nº Barra Bonita (%) Nº Jurumirim (%) 1 Salário 0 (0) 0 (0) 2 Salários 21 (18,3) 11 (100,0) 3 Salários 76 (66,1) 0 (0) 4 Salários 10 (8,7) 0 (0) 5 Salários 6 (5,2) 0 (0) 6 Salários 0 (0) 0 (0) 7 Salários 1 (0,9) 0 (0) 8 Salários 0 (0) 0 (0) 9 Salários 0 (0) 0 (0) 10 Salários 1 (0,9) 0 (0) Total 100 11 Renda financeira média R$ 47,45 (R$ 23,33 – R$ R$ 33,94 (R$ 46,67 – diária (min – máx) 145,83) R$23,33).

Pôde-se constatar que, nos dias atuais, a pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita é uma das mais lucrativas da bacia do alto rio Paraná (Tabela 10). Apenas, no reservatório do Lago Paranoá (DF), os pescadores artesanais tiveram lucros semelhantes aos pescadores de Barra Bonita: R$ 46,58 (U$ 24,9) (Petrere Jr. et al., 2006; Walter & Petrere Jr., 2007). Segundo Petrere Jr. et al. (2006) e Walter e Petrere Jr. (2007), a atividade de pesca no lago Paranoá é exercida sem a utilização de motores de propulsão, fato que elimina o grande gasto com combustível e manutenção do motor, restando apenas o baixo investimento nos aparatos de captura para tal atividade. Também, os pescadores do reservatório de Jurumirim apresentaram lucratividade superior aos dos outros reservatórios da bacia hidrográfica, exceto o lago Paranoá. O elevado lucro dos pescadores de Jurumirim pode

estar relacionado a dois fatores: (i) diversidade de habitats nos quais os pescadores atuam (rio, ambiente de transição e lagoas marginais), o que possibilita uma pesca mais diversificada em termos de composição, o que, por sua vez, permite abranger um mercado maior de vendas; (ii) a pesca sustentada por espécies nativas (como por exemplo: Hoplias malabaricus e Pimelodus maculatus , Prochilodus lineatus e Leporinus spp.), com maior aceitação no mercado consumidor local e, conseqüentemente, com maior valor econômico.

Tabela 10 - Renda financeira média diária dos pescadores artesanais em reservatórios da bacia do alto rio Paraná. No presente trabalho U$ 1.00 = R$ 2,00. Local Renda financeira Fonte diária Reservatório Barra Bonita R$ 47,45 (U$ Este trabalho 22,68) Reservatório Jurumirim R$ 33,94 (U$ Este trabalho 16,68) Reservatórios de Jupiá e Ilha R$ 13,10 (U$ Ceregato & Petrere Jr. (2003) Solteira 11,30) Reservatório Itaipu U$ 4,09 Agostinho et al., (1999) Reservatórios no rio Iguaçu U$ 12,00 Okada et al., (1997) Reservatório de Billing R$ 17,75 (U$8,4) Minte-Vera & Petrere Jr. (2000); Petrere Jr. et al., (2006) Lago Paranoá R$ 46,58 (U$ Petrere Jr. et al., (2006); Walter & 24,90) Petrere Jr. (2007)

Equipamentos de pesca

Com relação aos equipamentos de pesca (redes, barcos, remo e motor), 91,5% (n = 105) dos pescadores de Barra Bonita declararam ser donos dos próprios equipamentos, e 8,5% (n = 10) declararam ter algum tipo de equipamento emprestado por amigo, parente ou financiado pelo intermediário (peixeiro). Já no reservatório de Jurumirim 100% (n = 11) dos pescadores declararam ser donos dos seus próprios equipamentos.

A maioria dos pescadores do reservatório de Barra Bonita declarou usar barco de alumínio para a pesca (89,4%, n = 103). Barcos de madeira (6,4%, n

= 7) e de fibra (4,3%, n = 5) também foram declarados. No reservatório de Jururmirim, 10 (90,9%) pescadores declararam o uso de barco de alumínio e apenas 1 (9,1%) pescador declarou usar barco de madeira. O motor de popa foi o meio de propulsão mais utilizado pelos pescadores. No reservatório de Barra Bonita, 88,7% (n = 102), e 54,5% (n = 6) no reservatório de Jurumirim, declararam o uso de motor de popa como meio de propulsão. Remo (11,3%, n = 13, em Barra Bonita; 18,2%, n = 2 em Jurumirim) e motor de rabeta (27,3%, n = 3 em Jurumirim) também foram citados. Dos que declararam o uso de motor de popa como meio de propulsão, 84,1% (n = 93) dos pescadores do reservatório de Barra Bonita e 83,3% (n = 5) do reservatório de Jurumirim, informaram usar motor de 15 HP de potência.

Este fato sugere que os pescadores mantêm um constante investimento na atividade, tanto na aquisição, como na manutenção e reposição de equipamentos, principalmente redes e peças do motor. A utilização de embarcações de alumínio e o uso do motor de popa são bons indicativos sobre o investimento dos pescadores. Hoje, uma embarcação de alumínio custa em torno de R$ 1.400,00 (U$ 700,00) e um motor de popa 15HP (o mais utilizado pelos pescadores), em torno de R$ 1.000,00 (U$ 550.00). Além da aquisição, existe o custo com a manutenção, principalmente com o motor, que na região custou em torno de R$ 30,00 a R$ 50,00 por mês.

Atividades de pesca

As atividades de pesca no reservatório de Barra Bonita, em sua grande maioria, foram realizadas em duplas (89,5%, n = 103), formadas por parentes (pais e filhos, irmãos, marido e esposa), amigos (quase sempre sócios na atividade), ou por ajudante (que recebia por porcentagem, quase sempre 20%). A pesca ocorreu quase que exclusivamente na área do reservatório, em seu compartimento lêntico (Rio Bonito) e de transição (Anhembi e Ponte de Santa Maria da Serra).

As seguintes modalidades de pesca foram registradas no reservatório de Barra Bonita:

1) Pesca da batida: é realizada utilizando-se rede de emalhe e de uma haste de madeira (bambu ou similar) entre 2,0 a 2,5 metros com um pequeno peso arredondado na sua ponta (normalmente de cimento). Entretanto, alguns pescadores cortam a parte superior de garrafa PET e encaixam na madeira (normalmente um cabo de vassoura) para fazer este aparato. Essa atividade é realizada em duplas, um dos pescadores se posiciona na proa do barco para a colocação das redes, e um segundo pescador (piloteiro) se posiciona na popa para o controle do barco com remo ou motor. São colocadas entre 4 a 6 redes, emendadas ou não, a uma distância de aproximadamente 10 metros das margens e, preferencialmente, próximo a bancos de macrófitas. Após a colocação das redes, o pescador da proa se posiciona em pé com este aparato de madeira e bate diversas vezes na água. Concomitantemente, o pescador da popa manobra o barco com o motor ligado “zigue-zagueando” entre a margem e as redes, de maneira a cobrir a maior área possível deste trecho. No fim dessa operação, as redes de emalhe são recolhidas para a retirada dos peixes (Figura 7). Essa técnica afugenta os peixes, aumentando a sua probabilidade de encontro com as redes espalhadas. As malhas dessas redes variam entre 9 e 12 cm entre nós opostos da malha esticada, com predominância da malha 10 cm, com comprimento de 50 metros cada rede. Essa técnica foi praticada nas localidades do Rio Bonito e Anhembi, sendo O. niloticus a espécie-alvo dessa técnica. Porém, espécies nativas como os cascudos e curimbatás também são capturados, principalmente na região de Anhembi. Cabe ressaltar que essa técnica de captura é proibida pela legislação (Instrução Normativa MMA nº 36, de junho de 2004). Essa técnica também foi usada para a captura da tilápia no reservatório de Marimbondo (Câmara et al., 1988) e reservatório de Billings (Minte-Vera, 1997).

a b

c

Figura 7 - Seqüência da pesca da batida realizada no reservatório de Barra Bonita: a) pescador com o equipamento preparando-se para realizar a batida na água; b) momento em que o pescador realiza a batida na água com o equipamento; c) retirada dos peixes capturados após a pesca da batida.

2) Pesca do arrasto: Essa técnica de captura é realizada com rede de emalhe, na qual os pescadores encostam o barco perpendicular à margem e lançam uma ponta da rede de arrasto na margem com uma bóia amarrada. Em seguida, o piloteiro sai com o barco em marcha ré (com o remo ou com o motor de popa) e o pescador na proa do barco vai lançando a rede na água, formando um semicírculo até encostar novamente na margem. Após alguns minutos, os pescadores, na margem, começam a puxar pelas pontas a rede de arrasto, sendo um em cada ponta, fechando o círculo. Na medida em que vão arrastando a rede, os peixes são malhados e retirados imediatamente (Figura 8). A rede de arrasto é formada por três redes emendadas podendo apresentar uma extensão de 150 metros, com malhas 9 a 12 cm entre nós opostos da malha esticada, sendo a rede de malha nove a mais utilizada. A tilápia, O. niloticus , é a espécie-alvo dessa técnica que é efetuada nos trechos de pesca

das localidades de Anhembi e, principalmente, no Rio Bonito. Também, essa técnica de captura é proibida pela legislação (Instrução Normativa MMA nº 36, de junho de 2004).

a b

c d

Figura 8 - Seqüência da pesca de arrasto realizada no reservatório de Barra Bonita: a) início da soltura da rede pelo pescador; b) soltura da rede pelo pescador c) um dos pescadores na margem arrastando a rede; d) pescador retirando o pescado da rede. Fotos: Jaciara Paes.

3) Rede de emalhe : é uma técnica de captura passiva, nas quais as redes de emalhe ou de espera, com cerca de 35 metros de comprimento, são armadas em “cordões”, ou seja, várias redes amarradas juntas. Essas redes são armadas no fim da tarde, por volta das 16:00/17:00 horas, sendo retiradas na manhã seguinte por volta das 5:00/6:00 h, permanecendo em média 11 a 12 horas na água. Essas redes podem ficar na superfície ou mais no fundo, dependendo das espécies-alvo da captura. As malhas usadas variam de acordo com a espécie-alvo: malhas 2 e 3 cm entre nós opostos da malha esticada para a captura de lambaris; malha 5 cm para a captura de sardela; malhas 8, 9 e 10 cm para a captura de mandi, tilápia-do-Nilo e corvina, e

malhas 16 e 20 cm para dourado, pacu e outros peixes de grande porte. Essa técnica foi usada exclusivamente pelos pescadores artesanais da localidade da Ponte de Santa Maria da Serra.

4) Pesca da batida e rede de emalhe: é uma combinação das duas técnicas acima descritas, nas quais as redes de emalhe são armadas no fim da tarde e retiradas no começo da manhã. Depois da retirada dessas redes, os pescadores iniciam no mesmo trecho a pesca da batida. As malhas utilizadas nessa combinação de pescaria são 9, 10, 11 e 12 cm entre nós opostos da malha esticada, com o intuito de capturar a tilápia-do-Nilo. Esse tipo de pesca é realizado pelos pescadores das localidades do Rio Bonito e Anhembi, onde a captura não é exclusiva da tilápia-do-Nilo, mas também, de outros peixes, como por exemplo, cascudos e curimbatás.

6) Tarrafa: técnica usada apenas na localidade de Anhembi, normalmente associada com pescadores solitários, mais pobres, que não tem motor de popa, utilizando, dessa forma, os remos como meio de propulsão. Os pescadores procuram margens e lagoas de empréstimos (cavas em que foi retirado barro para a indústria de cerâmica) com bastantes macrófitas aquáticas para o local de pesca, e operam a tarrafa, em média, por 5 a 6 horas, iniciando o trabalho pela manhã e terminando no começo da tarde. A principal malha usada é a 9 cm entre nós opostos da malha esticada, porém malhas 8 e 10 cm também são usadas. As espécies-alvo foram tilápia-do-Nilo e cascudos.

A Tabela 11 mostra as técnicas de captura, o tamanho da malha e os pescados-alvos da pesca artesanal, para o reservatório de Barra Bonita.

Tabela 11 - Técnicas de captura, seletividade (malhagem do aparato) e os principais pescados capturados nos três núcleos de pescadores artesanais do reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê). Apetrecho Malha (cm entre nós Principal pescado opostos) capturado Tarrafa 8 e 9 tilápia-do-Nilo Rede de emalhe 2 e 3 lambari Rede de emalhe 5 sardela Rede de emalhe 8 e 9 tilápia-do-Nilo, mandi Rede de emalhe 10, tilápia-do-nilo Rede de emalhe 16, 20 dourado, pacu Pesca da batida 9,10,11,12 tilápia-do-Nilo Rede de emalhe e pesca 9,10,11 e 12 tilápia-do-Nilo e cascudos da batida Rede de arrasto 9 e 10 tilápia-do-Nilo

No reservatório de Jurumirim, os pescadores atuam sozinhos na armação e na retirada das redes, que permanecem na água durante a noite. Esporadicamente, os pescadores contaram com o auxílio de um ajudante, que quase sempre possuía parentesco com o pescador.

A técnica de captura empregada pelos pescadores do núcleo do Bairro da Ponte foi exclusivamente a rede de emalhe. As colocações das redes seguiram o mesmo padrão da descrição feita para o reservatório de Barra Bonita, e foram usadas redes com malhas entre 3 e 18 cm entre nós opostos da malha esticada, de acordo com as espécies-alvo da pescaria. As malhas de tamanho pequeno (3 e 4 cm) foram utilizadas, principalmente, para a captura de peixes de pequeno porte, como os lambaris e sagüirus. As redes de emalhe de tamanho médio, 8, 9, 10 e 11 cm, foram usadas para a captura de pescado de porte médio, como traíra, piavas, curimbatá, mandi, piranha e outros de menor importância. A utilização de malhas grandes, como de 18 cm foi usada para a captura de exemplares de grande porte, principalmente pacu-caranha (Tabela 11). As redes usadas pelos pescadores possuíam 50 metros de comprimento e altura variou de 1,5 a 2,5 metros. O número de redes armadas por pescaria variou de 12 a 50, dependendo do tipo de ambiente (rio, lagoas marginais ou área de transição rio-reservatório) e das condições ambientais do momento como, período de seca ou período de cheia.

A pesca na região foi desenvolvida em três tipos de ecossistemas aquáticos: 1) na calha do rio Paranapanema, no trecho final de sua desembocadura no reservatório de Jurumirim (da Ponte da rodovia Raposo Tavares - Km 270, até aproximadamente 13 km a montante), até próximo à localidade conhecida como Setias (equivalente na região que tinha Sete Ilhas). Neste trecho, os principais pescados capturados foram piavas e curimbatás; 2) Paralelamente a este rio, existem inúmeras lagoas marginais, tipo “öxbow” (Esteves, 1998), com diferentes graus de conexão com sua calha (permanente, temporária e sem conexão). A atividade de pesca ocorre nas lagoas de conexão permanente e nas temporárias quando estão “abertas”. O principal pescado nesse tipo de ambiente são as espécies de pequeno porte, principalmente lambaris e sagüirus; e, 3) no trecho abaixo (a jusante) da ponte da rodovia Raposo Tavares, considerado ambiente de transição rio- reservatório, que se estende até as proximidades da desembocadura de um pequeno tributário no reservatório (o rio Santa Helena). Os principais pescados capturados nesse trecho são as traíras, os mandis e as piranhas (Tabela 12).

Tabela 12 - Técnica de captura, seletividade (malhagem) e os principais pescados capturados por ecossistema aquático no reservatório Jurumirim (alto rio Paranapanema). Apetrecho Malha Tipo de pescado Ambiente Rede de emalhe 3,0 e 4,0 Lambaris e Lagoas marginais Saguirus Rede de emalhe 8,0 a 11,0 Piavas e Calha do rio Curimbatá Rede de emalhe 8,0 a 11,0 Traíra, Transição rio - mandi,piranha e reservatório curimbatá Rede de emalhe 18,0 Pacu-caranha Calha do rio e transição rio - reservatório

Um tipo de pescado que representa uma grande fonte de renda aos pescadores da região de Jurumirim, são as piquiras, um complexo de peixes de

pequeno porte (anexo 5) e que possui uma técnica de captura particular (Carvalho et al ., em preparação). Para a captura, os pescadores utilizaram uma armadilha feita com tela de nylon, com abertura de 0,5 cm, que reveste uma armadura de madeira com aproximadamente 1m 3. Os locais de captura são as áreas litorâneas da calha do rio/reservatório, onde o pescador arma o aparato de captura, com carretilhas e cordas com um tipo de isca, as principais são: quirera de milho, ou miúdo de frango. Em seguida, o pescador afunda o aparato de captura por cerca de dois metros na coluna d’água e aguarda por alguns instantes. No momento em que o pescador considera ideal, o aparato é erguido rapidamente (Figura 9). A captura média desse pescado foi de 3 toneladas/ano.

Figura 9 - Técnica de captura da piquira no reservatório de Jurumirim, Bairro da Ponte.

Conservação e manuseio do pescado

A conservação e o manuseio do pescado mostraram ser muito precário, principalmente no reservatório de Barra Bonita, onde 92,2% (n = 106) dos pescadores declararam que conservam o pescado fresco e 7,8% (n = 9) declararam que conservam em gelo, da pesca até o desembarque. Após a captura, o pescado permanece sem qualquer tipo de proteção em caixas plásticas ou no assoalho do barco. Efeitos sinérgicos como a temperatura ambiente elevada e o tempo em que o pescado permanece exposto até a entrega, agravam o estado de conservação do mesmo.

Quanto à questão da limpeza do pescado no reservatório de Barra Bonita, 77 pescadores (66,0%) declararam não limpar o pescado, 30 pescadores (27,7%) declararam limpar no reservatório, 5 (4,3%) em casa e 3 (2,1%) em acampamento.

Na localidade de Anhembi e de Ponte de Santa Maria da Serra, o pescado é entregue limpo (sem vísceras), excetuando-se os de pequeno porte, mandi e tilápias. Um caso particular ocorre na localidade de Anhembi, onde, por orientação do “peixeiro”, em determinado dia, os pescadores entregavam as tilápias na forma denominada “porquinho” (sem cabeça, vísceras e nadadeiras) A limpeza do pescado é feita nas margens do reservatório nessas duas localidades, sem qualquer cuidado higiênico, no qual os resíduos oriundos dessa limpeza são descartados no próprio reservatório ou em suas margens.

Na localidade do Rio Bonito, onde apenas tilápias foram desembarcadas, os núcleos de Porto Said e Bairro da Mina apresentaram diferenças quanto à questão da limpeza e higiene. No núcleo de Porto Said, os pescadores entregavam o pescado na forma eviscerado, conforme exigência do “peixeiro”. No Bairro da Mina, o pescado, também, é desembarcado eviscerado, sendo transportado até a residência do pescador. Na residência, as tilápias são processadas na forma de “porquinho” e vendidas ao intermediário,

que também é pescador. Em um galpão improvisado, o pescado é transformado em filé por empregados deste pescador. Após a “filetagem” das tilápias, o produto, com cerca de 01 kg, é embalado em filme plástico sendo mantido congelado até a venda.

Especificamente em Anhembi, após o desembarque, o pescado é acomodado em caixas plásticas, com no máximo vinte quilos de peixe, coberto por uma camada de gelo e conservado em “câmaras-frias” sem refrigeração, por um ou dois dias até a sua distribuição aos revendedores (atacadistas).

No reservatório de Jurumirim, o pescado é retirado das redes pela manhã naqueles ecossistemas aquáticos e mantido a fresco até a chegada no ponto de desembarque (casa do pescador), nas margens do reservatório/rio. A limpeza do pescado é realizada na própria casa por nove pescadores (81,8%), sendo que dois (18,2%) declararam limpar os peixes em acampamentos junto às margens do reservatório. Assim, este processo de limpeza também não apresenta condições mínimas de higiene exigidas pela vigilância sanitária. Após a limpeza do pescado, 72,7% (n = 8) dos pescadores declararam que conservam o pescado em congelador ou freezer até o momento da venda, e 27,3% (n = 3) declararam que conservam o pescado no gelo.

Também, como se puderam constatar, essas condições precárias de higiene no manuseio e na conservação do pescado em ambos os reservatórios constitui-se uma característica geral para outros reservatórios do Estado de São Paulo (Castro et al ., 2004) e, em grande parte, dos reservatórios brasileiros (Agostinho et al., 2007). Por conseguinte, a melhoria dessas condições se faz imprescindível e urgente, uma vez que esse pescado abastece não só o mercado local e regional, como também, mercados mais distantes.

Qualidade de vida

No âmbito da qualidade de vida, os pescadores do reservatório de Barra Bonita podem ser divididos em dois grupos: (1º) reúne os pescadores dos núcleos de Anhembi, Ponte de Santa Maria da Serra e Bairro da Mina (pertencente ao núcleo do Rio Bonito) e (2º) pescadores de Porto Said (que pertence ao núcleo do Rio Bonito).

O primeiro grupo representa 45,2% (n = 52) dos pescadores entrevistados e, com exceção do Bairro da Mina, localizado na zona rural de Botucatu, os pescadores de Anhembi e Ponte de Santa Maria da Serra, residem na zona urbana dos respectivos municípios. Todos os pescadores desse grupo residem em casas de alvenaria, abastecidas de água (SABESP – Serviço de Abastecimento de São Paulo) e energia elétrica por rede pública e com coleta de lixo permanente. O esgoto desses pescadores é recolhido pela rede pública, com exceção do Bairro da Mina, onde as residências possuem fossas.

Com relação à assistência médica, os pescadores e seus familiares de Anhembi e de Santa Maria da Serra são atendidos em postos de Saúde do Município. Casos mais graves e que necessitam de médicos especialistas são encaminhados a centros maiores, como o Hospital das Clínicas da UNESP, no município de Botucatu, ou hospitais da cidade de Piracicaba. Nenhum desses municípios possui atendimento odontológico público, e talvez, em conseqüência disso e de outros fatores, muitos pescadores apresentem problemas dentários. No Bairro da Mina, os pescadores e seus familiares possuem atendimento médico de rotina e odontológico no distrito de Vitoriana, a aproximadamente 15 km de distância. Os casos graves são encaminhados para o Hospital das Clínicas, em Botucatu.

Quanto ao acesso ao ensino formal, são oferecidas aos filhos dos pescadores de Anhembi e de Santa Maria da Serra pelo poder público, creche e uma escola com ensino fundamental e médio, inclusive no horário noturno. Entretanto, há necessidade de deslocamento até as escolas, por ônibus daquelas prefeituras. No Bairro da Mina, a escola pública mais próxima fica localizada no distrito de Vitoriana, e o transporte dos alunos é realizado por ônibus da prefeitura de Botucatu. No entanto, para um aluno cursar o ensino médio é mais difícil, pois é necessário o deslocamento até o município de Botucatu.

O núcleo do Porto Said é caracterizado por pescadores oriundos de outras regiões que foram atraídos pela abundância das tilápias. Esses pescadores, 54,8% (n = 63) dos entrevistados, estabeleceram-se na localidade de Rio Bonito (município de Botucatu), caracterizada por ser área de lazer da população do município, onde existem casas de veraneio e clubes de campo. Os pescadores instalaram-se nas margens do reservatório, em terras particulares, onde construíram moradias precárias de lonas ou madeira. A água utilizada pelos moradores é captada diretamente do reservatório, sem que haja qualquer tratamento para seu consumo. Não há coletas periódicas do lixo, que se acumula em um local determinado pelos próprios pescadores. O esgoto corre por pequenos canais construídos pelos próprios pescadores até o reservatório. O uso da energia elétrica é feito através de uma única ligação que é distribuída para todas as residências, sendo o pagamento da conta rateado por residência. O acesso à assistência médica que teria de ser feita no distrito de Vitoriana é inexistente, pois como os pescadores não possuem residência “formal”, torna-se impossível a aquisição da carteira do SUS, documento necessário para o atendimento nos postos de saúde. Pelo mesmo motivo, os filhos dos pescadores que residem no local, também ficam impossibilitados de ter acesso ao ensino formal.

Na colônia de pescadores do Bairro da Ponte, no reservatório de Jurumirim, todos possuem residência de alvenaria, com luz mantida por

concessionária. As casas são abastecidas de água por meio de poços artesianos (54, 5%, n = 6), ou por mina (45,5%, n = 5), sendo o esgoto lançado em fossas (100%, n = 11). Com relação a assistência médica, uma vez por mês, é realizado o atendimento por médicos itinerantes no local. Caso haja a necessidade de consultas, o pescador e sua família necessitam ir até o município de Paranapanema, à aproximadamente 10 km de distância. Os atendimentos com médicos especialistas e casos graves são transferidos para hospitais da região, como o Hospital das Clínicas da UNESP de Botucatu, a cerca de 120 km, ou para os hospitais do município de Sorocaba, a 140 km. O acesso ao ensino formal pelos filhos dos pescadores é fornecido pelo poder público, e o transporte dos alunos até a escola na cidade de Paranapanema é feito pela prefeitura municipal em ônibus próprio.

Conflitos sociais

A propagação do mito de que são os pescadores os principais responsáveis pela redução dos estoques pesqueiros, tem levado a um conflito entre os pescadores e demais usuários dos ambientes aquáticos, em especial, com pescadores amadores/esportivos (Agostinho et al., 2007; Carvalho et al., 2007) e outros turistas. Dentro desse contexto, questões sobre a manutenção e conservação dos recursos aquáticos naturais e o desenvolvimento das comunidades de pescadores artesanais geram conflitos regionais (Salayo et al., 2006) em menor ou maior escala.

No reservatório de Barra Bonita, o principal tipo de conflito ocorre entre os pescadores artesanais e os órgãos fiscalizadores, representados pela Polícia Militar Ambiental do Estado de São Paulo. A pesca no reservatório de Barra Bonita é centrada quase que exclusivamente nas tilápias e, devido a grandes dificuldades de captura desse pescado por técnicas passivas, como rede de emalhe, os pescadores adotam as outras técnicas já descritas (pesca da batida e arrasto, por exemplo) que conforme já comentadas são proibidas pela legislação atual (Instrução Normativa MMA nº 36, de 29 de junho de

2004). Além disso, no período de defeso (1º de novembro a 08 de fevereiro), que tem como objetivo proteger os estoques de peixes nativos, a pesca da tilápia também é proibida por portaria específica. Essas medidas têm levado a conflitos que são mais intensos na localidade do Rio Bonito, devido ao município de Botucatu ter um efetivo eficiente (quatro policiais) da polícia militar ambiental.

Entre os conflitos registrados durante este estudo, dois foram bastante tensos. O primeiro ocorreu em agosto de 2005, quando a policia militar ambiental, com mandado judicial de busca e apreensão invadiu a residência de um pescador no Bairro da Mina, onde foram apreendidos, segundo o pescador, 500 Kg de filé de tilápia. O outro ocorreu no mês de abril de 2006, quando em uma operação mais ostensiva, a fiscalização ocorreu durante todo o mês, impossibilitando a pesca e o sustento de sua família. Na tentativa de trabalhar e escapar da fiscalização, alguns pescadores se arriscavam a pescar durante a noite, quando a fiscalização era menos rigorosa.

Segundo o relato dos pescadores, quando eles são flagrados na ilegalidade (pesca da batida, arrasto ou no período do defeso = crime ambiental), ocorrem detenções de forma severa, pois são até algemados. Seus equipamentos de pesca (e produção) são apreendidos, e sua liberação ocorre mediante pagamento de advogados e fianças. Ainda, para a liberação de seus equipamentos é necessário o pagamento de multas. Nessas detenções, segundo os pescadores, são tratados como marginais, por vez são colocados em cárceres junto com traficantes e outros presos de maior periculosidade. Todo esse conflito faz com que a revolta entre os pescadores aumente e provoque um clima de tensão. Aliás, esse é o clima também vivido pelos policiais militares ambientais do município de Botucatu, evidente em uma conversa informal durante um encontro no campo.

Na região de estudo do reservatório de Jurumirim, não há registro recente de nenhum tipo de conflito entre pescadores e demais usuários desse

ecossistema aquático. Esse clima de tranqüilidade pode ser atribuído ao fato da região não estar entre os principais do pólo turístico do reservatório de Jurumirim, por cumprimento do período de defeso e o histórico daquele núcleo de pesca. Apesar de sutis diferenças no perfil sócio-econômico dos pescadores de Barra Bonita e Jurumirim, de modo geral, o perfil foi semelhante, conforme se pôde elencar: 1) a atividade é realizada quase que exclusivamente por homens em idade economicamente ativa; 2) nível de escolaridade baixa, com a grande maioria tendo cursado até a 4ª série do ensino fundamental; 3) pesca como atividade exclusiva e baixo rendimento financeiro; 4) qualidade de vida baixa; 5) precariedade no manuseio e conservação do pescado; e, por fim, 6) a ausência do Estado nas questões de saúde, previdenciária e alternativa de renda. Essas características também não diferem das registradas em muitas outras regiões brasileiras, onde ocorre a pesca artesanal continental, como nos reservatórios de Billings (Minte-Vera, 1997; Petrere Jr. et al., 2006 .), nos da bacia do rio Iguaçu (Okada et al., 1997), Itaipu (Agostinho et al., 1999b; Carvalho, 2004), na região do médio rio Tocantins (Cetra & Petrere Jr., 2001), ,a região do médio rio São Francisco (Franco de Camargo & Petrere Jr., 2001; Valencio, 2007), na região do médio (Ruffino & Isaac, 2000) e baixo rio Amazonas (Almeida et al., 2001) e, também, nas comunidade de pescadores no Rio Grande do Sul (Garcez & Botero, 2005), nos reservatórios do médio e baixo rio Tietê (Castro, 2004; Maruyama, 2007), no Lago Paranoá (Petrere Jr. et al., op cit , Walter & Petrere Jr., 2007) e no reservatório de Ilha Solteira, no rio Paraná (Carvalho & David, 2007).

Anexo Fotográfico

Registro fotográfico relativo às questões sócio-econômicas da pesca artesanal.

Figura 10 - Processo de corte da tilápia “em porquinho” nas margens do reservatório de Barra Bonita, em Anhembi (SP).

Figura 11 - Processo de filetagem de tilápias às margens do reservatório de Barra Bonita, Anhembi (SP).

Figura 12 - Processo de filetagem da tilápia em um frigorífico improvisado na região de Rio Bonito, Botucatu (SP), reservatório de Barra Bonita.

Figura 13 - Processo de embalagem do filé de tilápia na região de Rio Bonito, Botucatu (SP), reservatório de Barra Bonita.

Figura 14 – Em detalhe, processo de embalagem do filé de tilápia na região de Rio Bonito, reservatório de Barra Bonita.

Figura 15 - Porto Said, reservatório de Barra Bonita: local de conservação do pescado desembarcado.

Figura 16 - Detalhe de uma moradia típica dos pescadores no núcleo do Porto Said, reservatório de Barra Bonita.

Figura 17 - Ponte de Santa Maria da Serra, reservatório de Barra Bonita: local de conservação do pescado desembarcado.

Figura 18 - Anhembi (SP), reservatório de Barra Bonita: local de conservação do pescado desembarcado.

Figura 39 - Pescadores do núcleo de Anhembi, reservatório de Barra Bonita, acondicionando o pescado em caixa com cobertura de gelo para a conservação do pescado em câmaras frias.

Comercialização do pescado

Pôde-se observar que toda a produção de pescado do reservatório de Barra Bonita é vendida para intermediários de menor ou maior poder de barganha, conhecidos como “peixeiros”. Assim, nos três núcleos de estudo, foram identificados esses “peixeiros” atuando na compra do pescado e intermediando a venda em pequena escala (varejo) ou em maior escala, para grandes centros urbanos, principalmente São Paulo e grande São Paulo, além dos Estados do Sul, sobretudo, Paraná e Santa Catarina. Ainda, de acordo com as informações coletadas junto aos grandes intermediários, a maior parte do pescado do reservatório de Barra Bonita é comercializada diretamente para o CEAGESP e, ao que consta, sem nenhum controle sanitário. Especificamente no município de Anhembi, uma parte das tilápias oriunda da pesca artesanal é comercializada sob a forma de “porquinho” para frigoríficos no Paraná e Santa Catarina. Segundo os “peixeiros”, esse pescado é “filetado” nos frigoríficos e distribuídos às cidades nesses Estados. No Bairro da Mina, na localidade do Rio Bonito, boa parte da produção das tilápias é vendida, inteira ou sob a forma de “porquinho”, para um pescador que também atua como comerciante (peixeiro). Em sua residência, as tilápias são “filetadas”, embaladas em bandejas de isopor contendo aproximadamente um quilo, com filme de plástico e comercializadas para um cliente exclusivo (peixaria) do grande ABC, São Paulo, que, pó sua vez, redistribui para outras peixarias da região. Outros peixeiros (do Porto Said, no Rio Bonito) informaram que as tilápias do reservatório de Barra Bonita são distribuídas até para alguns Estados do Nordeste, como Ceará e Pernambuco, além do tradicional CEAGESP. O fluxograma abaixo mostra os possíveis caminhos desse pescado de Barra Bonita até o consumidor final (Figura 20).

Pescador

Peixeiro

Frigorífico em Consumidor Peixaria da grande CEAGESP Outros Estados São Paulo (PR, SC, CE, PE

Peixarias, Supermercados e Peixarias e Feiras livre supermercados

Consumidor

Figura 20 - Fluxograma dos possíveis caminhos da comercialização do pescado do reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê) até o consumidor final.

Com relação aos preços praticados, são os “peixeiros” quem os determina, seguindo a lei de mercado da oferta/procura. Assim, conforme informações coletadas, nesta comercialização primária os preços praticados ao longo do período do presente estudo estão apresentados na Tabela 13.

Tabela 13 - Preços vigentes dos principais pescados do reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê) vendidos aos peixeiros (comercialização primária) ao longo do período de estudo. Pescado Preço kg/R$ Tilápia inteira 0,50 – 1,00 porquinho 0,90 – 1,60 Curimbatá 0,50 – 0,90 Cascudo filé 1,50 – 2,00 Traíra 1,00 – 1,20 Mandi 1,00 Corvina 1,00 Lambari 0,80 – 1,00 Sardella 0,40 – 0,70

Na localidade de Anhembi, além do preço, o “peixeiro” determina a forma em que as tilápias têm de ser entregue naquele dia: inteira ou na forma de “porquinho”, dependendo do destino final do pescado. Também, é comum o “peixeiro” financiar materiais de consumo aos pescadores artesanais como, gasolina, óleo, gelo e, às vezes, peças para motor, sendo o valor pago posteriormente, como a entrega de pescado, criando, dessa forma, um vínculo de dependência pescador/peixeiro e assegurando ao comerciante o produto obtido na pesca. Esse vínculo de dependência vai além do material de consumo fornecido ao pescador. Outras formas de dependência em relação ao intermediário (peixeiro) foram observadas, como; pagamento de cheques sem fundo, aval para aluguel de imóveis e abertura de conta corrente na agência bancária local. Esse vínculo de dependência entre pescador/peixeiro também foi registrado nos reservatórios do rio Iguaçu (Okada et al., 1996), Itaipu (Agostinho et al., 1999b) e na pesca artesanal no Rio Grande do Sul (Garzes & Botero 2005). No entanto, a presença do peixeiro, especialmente no município de Anhembi, é essencial para a atividade de pesca artesanal, suprindo, nestas e em outras situações, as falhas e/ou ausência do Estado em diferentes níveis.

Os preços de comercialização do pescado ao consumidor final (varejo) ou a outros intermediários não são declarados, mas foi possível estimar um acréscimo mínimo de 100% no preço pago ao pescador (comercialização

primária). Contudo, essa informação foi obtida junto aos pescadores do Bairro da Mina, no qual o preço do filé da tilápia é vendido a R$ 5,00 o quilo no varejo e de R$ 3,00 para o intermediário (peixaria local).

No reservatório de Jurumirim, a cadeia produtiva do pescado foi mais simplificada quando comparada com a do reservatório de Barra Bonita. Isso muito provavelmente ocorreu devido à diferença na produtividade e perfil dos pescadores entre os dois reservatórios. A comercialização do pescado, segundo os pescadores, foi feita diretamente com o consumidor ou com os peixeiros. A partir dos atravessadores, o pescado foi vendido a peixarias da região e a feirantes, sendo então disponível aos consumidores (Figura 21).

Pescador

Consumidor Peixeiro

Peixaria Feirantes

Consumidor

Figura 21 - Fluxograma dos possíveis caminhos da comercialização do pescado do reservatório de Jurumirim (Rio Paranapanema), do pescador até o consumidor final.

O preço dos principais pescados, segundo os pescadores desse local, varia de acordo com o comprador. Quando vendido aos peixeiros (atacado), o preço variou entre R$ 0,60 e R$ 2,00. Quando vendido ao consumidor (varejo),

o quilo do pescado sofreu um acréscimo que variou de 20% a 400% (R$ 0,50 a R$ 5,00) (Tabela 14).

Tabela 24 - Preços vigentes dos principais pescados do reservatório de Jurumirim (Rio Paranapanema) praticados ao longo deste estudo no varejo e atacado. Pescado Preço R$/kg (atacado) Preço R$/kg (varejo) Piquira 1,00 5,00 Lambaris 1,00 3,00 Traíra 2,00 3,50 Piavas 2,00 3,50 Curimbatá 2,00 3,50 Piranha 0,80 1,50 Mandi 2,00 3,50 Outros 0,60 0,50 - 2,50

Os pescadores artesanais do Bairro da Ponte apresentaram menor dependência dos intermediários (peixeiros), quando comparado com os pescadores de Barra Bonita. Em Jurumirim, os peixeiros algumas vezes podiam custear algum tipo de material de consumo, mas sem a mesma intensidade observada no reservatório de Barra Bonita. Além disso, foi constatada a presença de um peixeiro com residência fixa no município de Paranapanema, cujos fornecedores usuais são pescadores do Bairro da Ponte, comprando tilápias em Anhembi (no reservatório de Barra Bonita) para revender no varejo (em feiras-livres) e/ou peixarias na região do Jurumirim (cidade de Paranapanema).

Capítulo I

CARACTERÍSTICAS DA PESCA ARTESANAL EM DOIS RESERVATÓRIOS DA BACIA DO ALTO PARANÁ: RECURSOS PESQUEIROS E PRODUTIVIDADE.

Introdução

Atualmente a bacia hidrográfica do alto rio Paraná, encontra-se descaracterizada de sua paisagem original, sendo hoje a bacia formada por sucessivos lagos artificiais (Agostinho et al., 1995). Essa drástica mudança provocou uma série de alterações, não apenas no ambiente aquático, mas em seu entorno terrestre, clima, problemas de saúde publica, valores culturais, deslocamento e emigração populacional decorrente a construção dos reservatórios e às vezes conflitos locais (Tundisi, 1999, 2003; Tundisi et al., 2004).

No que se refere à pesca, a substituição do ambiente lótico dos rios para lêntico ou semi-lêntico dos reservatórios, provoca profundas alterações. Espécies reolíficas de grande porte, que sustentava a pesca artesanal no ambiente lótico, são substituídas por espécies sedentárias de médio e pequeno porte (Agostinho et al., 2007a) No geral, a nova composição desses recursos pesqueiros têm menor valor econômico, exigindo dos pescadores a substituição e adaptação às novas técnicas de captura (de anzol para as redes de emalhes) como também a mudança de seus hábitos culturais, que às vezes, não é bem aceita. Um bom exemplo sobre essas alterações é o trecho do médio e baixo Tietê. Antes dos sucessivos represamentos, a pesca era sustentada por espécies reofílicas, como dourado ( Salminus brasiliensis ), e pintado ( Pseudoplatystoma corruscans ) (Monteiro, 1953) e nos dias de hoje ela é sustentada por espécies alóctone e/ou exótica introduzidas principalmente na década de1970, como corvina ( Plagioscion saqumossisimus ), tucunaré ( Cichla spp.) e tilápia ( Oreochromis niloticus ) (Smith et al., 2003; David et al., 2006; Sazima, 2007).

Atualmente, a atividade de pesca nos reservatórios é exercida de forma artesanal e em pequena escala, constituindo em uma importante fonte de renda, geração de emprego e produção de proteínas para as populações socialmente menos favorecidas (Berkes et al., 2006). São multi-específicas, sendo exercidos de forma geral com a utilização de redes de emalhe, barcos pequenos de madeira ou alumínio a remo ou a motor; e ainda sua relação com o mercado é caracterizada pela presença de intermediários (Okada et al., 1997; Cetra & Petrere Jr. 2001; Agostinho et al., 2007; Carvalho et al., 2007). Dentro desse contexto, estudos sobre a dinâmica da pesca nestes ecossistemas são necessários, para que propostas de manejo e conservação dos estoques possam ser elaborados, de forma concisa a otimizar a produção de pescado por longo período de tempo, para conciliar aspectos sociais, econômicos, de sustentabilidade ambiental.

Objetivos

Devido à importância da atividade de pesca, que reune centenas de pescadores no reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê), e para um pequeno grupo de moradores ribeirinhos no reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) e os diferentes graus de impacto antrópico nesses ambientes, o objetivo geral desse trabalho foi caracterizar a dinâmica das atividades de pesca artesanais nesses dois reservatórios. Desta forma, realizou-se as seguintes abordagens:

1º - Avaliação da dinâmica da pesca artesanal nos reservatórios de Barra Bonita e Jurumirim quanto: a) composição dos recursos pesqueiros; b) estimativa do rendimento e produtividade pesqueira (em kg/ha - 1/ano -1; c) a captura por unidade de esforço (CPUE) em kg/pescador -1/dia - 1; d) variação sazonal de CPUE enfocando produção e composição do pescado;

e) relacionar a biomassa dos pescados com as técnicas de capturas usadas pelos pescadores (apenas para o reservatório de Barra Bonita);

2º - Ainda, por suas características especiais, pode-se avaliar as atividades de pesca no reservatório de Barra Bonita em termos espaciais, abrangendo três núcleos de pescadores (e desembarque pesqueiro): Anhembi (rio Tietê), Ponte de Santa Maria da Serra (rio Piracicaba) e Rio Bonito (região lêntica do reservatório, no município de Botucatu);

3º - Relacionar a CPUE com as variáveis limnológicas: pH, temperatura, oxigênio, condutividade, transparência, clorofila a, alcalinidade, fósforo total, nitrogênio total, precipitação pluviométrica e cota altimétrica do reservatório.

Material e métodos

Escolha dos locais de coleta dos dados

Uma das dificuldades para implementação de programas de estudos relativo aos desembarques em pescarias artesanais é o fato desses serem realizados de forma difusa na região (Cetra & Petrere Jr., 2001; Berkes et al .,2006). Além disso, quando a amostragem é realizada em uma vila de pescadores, é necessário ter agentes locais que conheçam pessoalmente os pescadores, de maneira a ganhar a sua confiança (Minte-Vera & Petrere, Jr. 2000) ou adquirir a confiança destes e mostrando com o tempo a importância do estudo no contexto sócio-econômico e ambiental.

Reservatório da UHE Barra Bonita: (Figura 1.1; Figura 1.2)

No início de 2004, visitas exploratórias aos possíveis locais de desembarque foram realizadas para o estabelecimento dos pontos de coletas dos dados. Após essas visitas, três núcleos foram selecionados usando os seguintes critérios: (i) escolha de um ponto de desembarque que abrangesse os principais rios formadores do reservatório, rio Tietê e, rio Piracicaba (áreas de transição entre rio e reservatório), e um terceiro ponto em ambiente com característica lêntica (corpo do reservatório); (ii) questões de logística de trabalho no campo; (iii) questões econômicas para o deslocamento, uma vez que, os recursos para a realização do projeto foram extremamente escassos; (iv) segurança pessoal da equipe de trabalho, uma vez que, um dos possíveis pontos de coleta (ponte do Jaú, no rio Tietê na divisa dos municípios de Botucatu e Anhembi pela rodovia Geraldo de Barros - SP 191) que atendia os requisitos citados, teve que ser descartado, pois havia informações sobre ocorrência de brigas, alcoolismo, prostituição infantil; consumo de drogas, etc. Desta forma foram selecionados três locais para coletas de dados.

Trecho conhecido como Rio Bonito: (Figura 1.3; Figura 1.4)

Localizado no município de Botucatu, tem característica lêntica. Recebe o aporte de alguns rio da região como: Capivara, Lavapés e Araquã. Nesse local distinguiram-se dois núcleos de pescadores que se distanciam por aproximadamente 2 Km e que apresentam características bem distintas:

1º) Bairro da Mina: um condomínio fechado, com inúmeros ranchos utilizados por veranistas e com alguns moradores permanentes, que desenvolvem atividade pesqueira artesanal/profissional. Nessa localidade pode-se estabelecer contato com um pescador e seu filho, que além de pescarem no reservatório, possuem um pequeno entreposto onde alguns pescadores artesanais entregam o produto da pesca. As coordenadas geográficas deste local são 22º40’52,1” 48º18’16,2”.

2º) Porto Said: caracterizado por ser um grande acampamento de pescadores artesanais cujas moradias são improvisadas (restos de madeirite e lonas pláticas) numa área particular as margens do reservatório. Ele foi instalado por pescadores proveniente de outras regiões (sul de Minas Gerais e do reservatório de Billing). Neste local, também foi estabelecido um contato com esses pescadores, por intermédio de um pequeno comerciante local, que possibilitou a realização desta amostragem. As coordenadas geográficas deste local são 22º40’43“ S e 48º21’27” W.

Município de Anhembi: (Figura 1.5)

O município de Anhembi, localizado aproximadamente 60 km da cidade de Botucatu, fica no trecho de transição entre rio (rio Tietê) e o corpo principal do reservatório de Barra Bonita. Na seca esse trecho mostra um leito bem definido e recebe água de afluentes de médio porte com rio do Peixe e o rio das Conchas. A agricultura é a principal fonte de renda do município, sendo a cana-de-açúcar e a plantação de eucalipto suas principais culturas, e possui aproximadamente 4 mil habitantes. A atividade de pesca na região é praticada por moradores do município, que trocaram o trabalho na agricultura pela pesca, considerando essa atividade uma espécie de “emprego liberal”. Além disso, pescadores artesanais provenientes de outros municípios e Estados foram atraídos pela fartura das tilápias. Nesse local de desembarque pesqueiro tivemos o apoio de um comerciante de pescado local que possui o maior entreposto improvisado de desembarque da cidade. As coordenadas geográficas deste local são 22º47’10” S e 48º07’27” W.

Ponte de Santa Maria da Serra: (Figura 1.6)

O núcleo de pescadores da Ponte de Santa Maria da Serra localiza-se na ponte do rio Piracicaba na rodovia Geraldo de Barros (SP 191) divisa dos

municípios de Anhembi e Santa Maria da Serra. Essa área é caracterizada como de transição entre o rio (rio Piracicaba) e o reservatório. O local apresenta residências de veraneio e atividade de turismo para pesca esportiva especialmente aos fins de semana, com aluguel de barcos e venda de iscas, e estabelecimentos comerciais (bares). Os pescadores, alguns são moradores locais donos de estabelecimentos comerciais e outros são moradores da cidade de Santa Maria da Serra localizada a aproximadamente 5 km do local. As coordenadas geográficas deste local são 22º37’21” S e 48º09’59” W.

48º W

fluxo

fluxo rio Piracicaba

Ponte de Santa Maria da Serra 22º S Rio Bonito

rio Tietê

fluxo Escala

120 km

Figura 4.1 - Reservatório de Barra Bonita (médio Rio Tietê) com as localidades de amostragem nos núcleos de pesca artesanal neste estudo.

a b

c

Figura 1.2 - Detalhes dos núcleos de pesca do reservatório de Barra Bonita (médio Rio Tietê): a) Porto Said, mostrado o local do acampamento dentro docirculo; b) Bairro da Mina - seta indica o local onde os barcos atracam; c) Ponte de Santa Maria da Serra - seta indica o local onde os barcos atracam.

Figura 1.3 - Vista de rancho de veraneio na localidade do Rio Bonito - Bairro da Mina, reservatório de Barra Bonita (médio Rio Tietê). Foto Edmir Daniel Carvalho.

Figura 1.4 – Vista parcial da localidade Rio Bonito no acampamento do Porto Said, reservatório Barra Bonita (médio Rio Tietê).

Figura 1.5 – Visita do entreposto de pesca localidade de desembarque pesqueiro no município de Anhembi, reservatório de Barra Bonita (médio Rio Tietê).

Figura 1.6 – Vista parcial dos ranchos de veraneio na localidade Ponte Santa Maria da Serra, reservatório Barra Bonita (médio Rio Tietê). Fonte: Google earth

Reservatório da UHE Jurumirim (Figura 1.7, Figura 1.8)

Devido à ausência de outros pontos de desembarque de pesca significativo no reservatório de Jurumirim, foi estabelecido apenas um único ponto de coleta, no local conhecido como Bairro da Ponte na rodovia Raposo Tavares (SP 270), na divisa dos municípios de Paranapanema e Angatuba. Nesse local foi estabelecido um coletor de dados, um ex-pescador e líder comunitário local que também é um antigo colaborador do Laboratório de Ecologia de Peixes – UNESP, da Duke Energy – geração Paranapanema nos trabalhos relativos aos recursos pesqueiros e pesca naquela região. As coordenadas geográficas deste local são 23º30’10” S e 48º42’35” W.

48º W

Escala fluxo 120 km

Bairro da Ponte f 23º S l rio Paranapanema u x o

Figura 1.7. - Reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) com a localidade de amostragem do desembarque pesqueiro: Bairro da Ponte (divisa dos municípios de Paranapanema e Angatuba, SP).

Figura 1.8 – Vista parcial da localidade Bairro da Ponte, reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema).

Coleta de dados

Os desembarques pesqueiros foram amostrados mensalmente, nos períodos entre julho de 2004 a junho de 2006 nos locais selecionados no reservatório de Barra Bonita e entre janeiro de 2005 a dezembro de 2006 no Bairro da Ponte no reservatório de Jurumirim.

Por dificuldades em estabelecer um coletor fixo de dados nos locais selecionados do reservatório de Barra Bonita, as coletas de dados foram realizadas um dia por mês em cada local, sempre por volta do 15º dia do mês. Durante os trabalhos de campo, o coletor de dados permaneceu no local de desembarque antes da chegada dos pescadores, geralmente após o meio-dia (Anhembi e Rio Bonito) e pela manhã (Ponte de Santa Maria da Serra). Na chegada dos pescadores, os peixes capturados eram pesados (em Kg) e depois os pescadores eram entrevistados por ordem de chegada, com uso de ficha de campo (anexo 2). Para cada desembarque pesqueiro foram anotadas as seguintes informações: o peso total de peixes (em Kg) e o peso separado por tipo de pescado (em kg), técnica de captura utilizada, esforço de pesca (padronizado em horas), tempo de deslocamento até o local do inicio da pesca e o combustível gasto para a execução deste trabalho.

Para reservatório de Jurumirim, foi contratado um coletor de dados (líder comunitário local), que registrou, diariamente, em uma ficha (anexo 3) essas mesmas informações relativas à pesca obtidas no outro reservatório. Essas fichas foram recolhidas mensalmente, checadas no local com o coletor para possíveis esclarecimentos de duvidas, sendo que os dados não esclarecidos foram descartados.

Especificamente, a biomassa do pescado (em Kg) foi obtida da seguinte forma: 1º - no reservatório de Barra Bonita:

a) pescado de médio e grade porte como curimbatá, piavas, traíra, corvina eram comercializados pelos pescadores sem vísceras, uma vez que já chegavam nos locais de desembarque limpos. Desta forma, não foi realizado nenhum ajuste para a estimativa do peso total (bruto de captura); b) o pescado de pequeno porte, como os lambaris e sardela e também mandi foram pesados com suas vísceras; c) cascudos eram comercializados na forma de filé pelos pescadores, não sendo possível pesar o peixe inteiro entes de seu processamento. Mas, pode-se aplicar um fator de correção para estimar o peso do peixe inteiro conforme técnica de Silvano (1997). O autor estimou que o file de cascudo corresponde a 35% da biomassa total do peixe, desta forma, o peso do filé neste trabalho foi dividido por 0,35 a fim de se estimar o peso do cascudo total; d) para as tilápias, foi obtido o peso total (eviceradas), porem algumas vezes o peso foi obtido na forma denominado “porquinho” sem as vísceras, as nadadeiras dorsal e anal e a cabeça. Pescadores informaram que para se obter um quilo de “porquinho” eram necessários dois quilos de tilápia não eviscerada. O processamento das tilápias em “porquinho” foi acompanhado em algumas ocasiões (no núcleo Bairro da Mina), sendo a perda de peso, em média 47% após o processo. Para corrigir essas incongruências de dados utilizou-se o mesmo procedimento de Minte-Vera (1997) que mostrou resultado similar para esse processo nas tilápias ( Oreochromis niloticus ) no reservatório de Billings. Assim o peso do “porquinho” foi multiplicado por dois para estimar a biomassa total de tilápias.

2º - no caso do reservatório de Jurumirim, todos os pescados foram pesados com vísceras, portanto não se fez necessário nenhum ajuste de dados. Cabe ressaltar que por apresentar uma técnica de captura especial, os dados de produção pesqueira das piquiras não foram incluídos nas análises.

Também alguns exemplares-testemunhos foram adquiridos e fixados em formol a 10% e posteriormente identificados utilizando-se de consulta a chaves taxonômicas e bibliografia especializada (Britski et al. ,1999 Nelson, 1984, Reis

et al., 2003; Graça & Pavanelli; 2007; FishBase – www.fishbase.org ). Esses exemplares-testemunho estão sendo depositados na Coleção de Peixes do Departamento de Morfologia do Instituto de Biociências –UNESP – Campus Botucatu, sob a guarda de seu curador, Prof. Dr. Cláudio de Oliveira.

Concomitantemente a esse trabalho foram coletadas amostras da água (em galões com 2 litros) e medidas algumas variáveis limnológicas nas localidades selecionadas destes reservatórios. Selecionou-se, assim, um ponto fixo de coleta de água numa distância entre 5 à 15 metros da margem dependendo do local (Tabela 1.1). Os dados de precipitação pluviométrica e cota altimétrica dos reservatórios foram compilados das empresas concessionárias que administram os reservatórios (Jurumirim – Duke Energy / Barra Bonita – AES Tietê).

Tabela 3.1 - Lista das variáveis mensuradas e métodos aplicados nesse estudo. pH Horiba U22 Temperatura Horiba U22 Condutividade Horiba U22 Oxigênio Horiba U22 Transparência Disco de Secchi Clorofila a Filtragem em membrana Millipore AP20, extração acetona fria (90%) (Golterman et al ., 1978) Alcalinidade total Titulação potenciométrica (Golterman et al ., (1978). Nitrogênio total Água não filtrada, espectrofotometria (Valderrama, 1981). Fósforo total Água não filtrada, espectrofotometria (Strickland & Parsons (1960)

Análise dos dados

Para as análises, os pescados desembarcados foram agrupados da seguinte forma: 1º - reservatório de Barra Bonita: tilápias ( Oreochromis niloticus e Tilapia rendalli ), cascudos ( Liposarcus cff. anisitsi e Hypostomus spp.), curimbatá

(Prochilodus lineatus ), mandi ( Pimelodus maculatus ), sardela ( Triprotheus angulatus ) e outros (demais tipos de pescados);

2º - reservatório de Jurumirim: traíra ( H. malabaricus ), piavas ( Leporinus octofasciatus , Leporinus obtusidens , Leporinus friderici ), curimbatá ( P. lineatus ), mandi ( P. maculatus ), piranha ( Serrasalmus maculatus. ) e outros (demais tipos de pescados).

Composição em biomassa do pescado

Para avaliar a composição do pescado desembarcado, a biomassa total e a proporção relativa (%) dos pescados utilizarou-se da forma gráfica os quais foram “plotadas” no eixo das abissicas o tipo de pescado e nos eixos das ordenadas a biomassa total e relativa conforme Silvano & Begossi (2001); Vermulm Jr. et al., (2001)

Estimativa de produtividade e captura por unidade de esforço (CPUE)

A estimativa da produtividade média (kg/ha -1/ano -1) e rendimento do reservatório de Barra Bonita foram obtidos utilizando-se da análise de regressão linear entre número de pescadores (variável independente) entrevistados nos três núcleos por mês e produção em quilo (variável dependente), transformados em log (x+1) conforme Carvalho et al., (2007). Após a obtenção da equação da reta, foi aplicado teste t para testar a hipótese nula de que b (valor da inclinação da reta) é igual a zero. Rejeitada a hipótese nula ( t = 6,25, p < 0,00009; R 2 0,6542) (Figura 1.9), pode-se então inferir que produção em quilo é função do número de pescadores. Assim, a equação Log (kg+1) = 1,4685 + 1,1588*Log+ (nº de pescadores+1), foi usada para estimar a produtividade do reservatório, onde o número de pescadores foi considerado 430 pescadores, um valor médio factível, pois as estimativas de David et al., (2006) foram 500 pescadores e Maruyama (2007) de 360 pescadores. Ainda,

considerou-se 240 dias trabalhados em média no ano e área total do reservatório de 32.500 ha.

3,90

y = 1,1588x + 1,4685 3,70 R2 = 0,6542

3,50

3,30

3,10 Log peso total +1 total peso Log

2,90

2,70

2,50 1,20 1,30 1,40 1,50 1,60 1,70 1,80 1,90 2,00 Log número de pescadores +1

Figura 1.9 – Regressão linear entre os dados transformados (log+1) do número de pescadores (entrevistados no mês) e a biomassa de peixe capturado (em KG) para o reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê). R 2 = coeficiente de determinação.

Para o reservatório de Jurumirim, como os dados de produção foram diários, pode-se dividir a produção total no ano pela área de pesca na região. A área de atuação dos pescadores, que envolve a região de desembocadura do rio Paranapanema no reservatório Jurumirim (trecho do Bairro da Ponte propriamente dito), várias lagoas marginais e a própria calha do rio Paranapanema, foi calculado segundo informações obtidas em Carvalho et al ., (1998 a,b) e Henry et al ., (1997) em uma área de 800 ha para a execução da pesca artesanal neste trecho do reservatório.

Os dados de rendimento da pesca artesanal foram convertidos para captura por unidade de esforço (CPUE) que foi considerada medida de

produtividade pesqueira, na forma kg/pescador -1/dia -1. Esses dados fora, tabulados para as análises posteriores.

Variação espacial e temporal da CPUE

Para analise sazonal nos dois reservatórios, optou-se por agrupar os meses em estações do ano: verão (janeiro, fevereiro e março), outono (abril, maio e junho), inverno (julho, agosto e setembro), primavera (outubro, novembro e dezembro). Foram realizadas duas abordagens: 1ª - a variação da CPUE total; 2ª - variação da CPUE por tipo de pescado.

A análise espacial comparativa foi realizada apenas para o reservatório de Barra Bonita entre os núcleos de pesca (Anhembi, Ponte de Santa Maria da Serra e Rio Bonito que inclui o bairro da Mina + Porto Said). Os dados de CPUE total e por tipo de pescado foram analisados por núcleos de pescadores.

Técnicas de captura

No reservatório de Barra Bonita, pôde-se constatar diferentes técnicas de captura (arrasto, pesca da batida, tarrafa, rede de espera e combinação entre pesca da batida e rede de espera), sendo que as possíveis relações entre elas e a biomassa dos principais pescados foram analisadas. Os dados de captura da biomassa por tipo de pescado por técnicas de captura foram agrupados e analisados utilizando-se de técnicas estatísticas do tipo multivariada.

CPUE e variáveis limnológicas

Os valores das variáveis abióticas (limnológicas e ambientais) obtidas foram utilizados para verificar possíveis correlações com os valores CPUE usando de testes estatísticos que serão descritos na seção de análise estatística.

Comparativo da pesca (em CPUE) entre os reservatórios de Barra Bonita e de Jurumirim

Para uma analise comparativa da pesca entre os dois reservatórios, os valores médios de CPUE (kg/pescador -1/dia -1) dos reservatórios para o ano de 2005 foram apresentados na forma de histogramas.

Análises estatísticas

Todas as análises estatísticas foram realizadas com os dados transformados em log (x+1), porém, para as visualizações gráficas são apresentados em escalas originais. A distribuição normal e a homogeneidade das variâncias dos dados foram testadas com uso dos testes de Kolmogorov- Smirnov e Bartlett, respectivamente. Para avaliar a ocorrência de variações da CPUE total e por pescado (kg/pescador -1/dia -1), em termos sazonais, no reservatório de Jurumirim, foi aplicado à estatística ANOVA one-way. No reservatório de Barra Bonita, os valores da CPUE (kg/pescador -1/dia -1) por estação do ano e núcleo de pescadores (fatores) foram comparados utilizando- se da ANOVA two-way, que verifica há existência de interação entre os dois fatores. Todos os testes aplicados tiveram nível de significância de p < 0,05. Para avaliar variações espacial e temporal nos valores da CPUE (kg/pescador - 1/dia -1) para os principais pescados no reservatório de Barra Bonita, ANOVAs two-way foram aplicadas usando fatores núcleo e estação do ano. Para minimizar o erro do Tipo I análise de variância multivariada two-way (MANOVA) foi aplicada considerando os principais pescados, antes das ANOVAs, assim se a MANOVA é significativa, então as ANOVAs podem ser aplicadas. Para mais detalhes dos testes aplicados consultar Vieira (1991); Zar, (1996).

A técnica de ordenação analise de correspondência com remoção do efeito do arco (DCA), foi aplicado com o objetivo de verificar possíveis relações entre as variáveis. Esta técnica foi utilizada entre a CPUE por tipo de pescado e estações do ano para os dois reservatórios. No reservatório de Barra Bonita a DCA também foi aplicada com a CPUE dos tipos de pescado por núcleo de pescadores. Além disso, essa estatística foi aplicada com a biomassa total dos pescados e as técnicas de capturas para verificar as tendências de captura dos pescados com as técnicas de captura. Para detalhes da técnica da DCA consultar Valentin (2000); Bini (2004); Mingoti, (2005).

O modelo matemático de análise de regressão múltipla foi aplicado para verificar possíveis existências de relações entre os valores da CPUE e variáveis limnológicas nos dois reservatórios, consultar Zar (1996); Valentin (2000);Vieira (2003).

Para esses testes estatísticos foram utilizados os seguintes “softwares”: Statistica 6.0, GraphPad Instat e Bio Estat 3.0.

Resultados

Reservatório de Barra Bonita Espécies capturadas na pesca artesanal

Foram registradas 33 espécies (excluído as espécies do gênero Hypostomus de difícil identificação) nos desembarques oriundos da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita, distribuídas em cinco ordens e 13 famílias. A ordem Characiformes foi a mais representativa em número de espécies (18), Perciformes foi representado por sete espécies, Siluriformes por quatro, Gymnotiformes e Cypriniformes foram representadas por duas espécies. Destaca-se também que foram registradas sete espécies introduzidas (alóctones ou exóticas) que foram: Triportheus angulatus (sardela, bacia amazônica), Lipossarcus cff. anisitsi (cascudo preto; bacia amazônica),

Astronotus ocellatus (apaiari ou oscar, bacia amazônica), Oreochromis niloticus (tilápia-do-Nilo, africana), Tilapia rendalli (tilápia do Congo, africana), Plagioscion squamossisimus (corvina ou pescada de água doce, bacia amazônica), Hypophthalmichthys molitrix (carpa prateada, asiática) e Hypophthalmichthys nobilis (carpa cabeça-grande, asiática) (anexo 4).

Composição em biomassa do pescado

Durante o período do estudo foi acompanhado o desembarque pesqueiro referentes a 745 viagens de pescarias artesanais (314 no Rio Bonito, 271 em Anhembi, 160 na Ponte de Santa Maira da Serra), sendo desembarcado 86.691,9 kg de pescado, com rendimento médio de 116,3 kg/viagem. O pescado mais representativo em biomassa desembarcada nos três núcleos amostrados foram as tilápias, compostas por duas espécies: Oreochromis niloticus (tilápia-do-Nilo) e Tilapia rendalli (tilápia), que totalizaram 71.513,5 Kg, o que corresponde a 82,5% da biomassa total desembarcada. Cabe salientar a forte predominância da tilápia-do-Nilo que representou acima de 98% do total das tilápias capturadas. O segundo pescado mais capturado em biomassa foram os cascudos, formados pelas espécies do gênero Hypostomus spp.e Liposarcus cff . anisitsi , com 6.151,6 Kg, o que representou 7,1% da biomassa. Outros pescados desembarcados de relativa importância na composição da pesca foram: Pimelodus maculatus , mandi (3.020,3 Kg - 3,5%), Triportheus angulatus , sardela (2.214,7Kg - 2,6%) e Prochilodus lineatus , curimbatá (1.650,6 Kg - 1,9%) (Figura 1.10). Esses cinco tipos pescados representaram 97,6% do total da biomassa desembarcada na pesca artesanal, nos três núcleos estudados.

90,0 80000

80,0 70000

70,0 60000

60,0 50000

50,0

40000

40,0 Biomassa(%) Biomassa total (kg) total Biomassa 30000 30,0

20000 20,0

10000 10,0

0,0 0 Tilápias Cascudos Curimbatá Mandi Sardella Outros

Biomassa (%) Biomassa total (kg)

Figura 1.10 – Distribuição em biomassa total (Kg) e biomassa relativa (%) dos recursos pesqueiros da pesca artesanal em três núcleos de pescadores do reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê) no período de estudo.

Produtividade e Captura por unidade de esforço (CPUE)

A produtividade pesqueira deste reservatório foi estimada utilizando-se da equação da expressão matemática Log (Kg+1) = 1,4685 + 1,1588 * Log (nº de pescadores+1) obtida na regressão linear onde a variável X foi o número de pescadores e a variável Y foi a biomassa de pescado (em Kg). Assim, pode se inferir que a produtividade foi de 245,4 kg/ha -1/ano -1 para uma população de pescadores artesanais estimada em 430 pescadores, com um rendimento de aproximadamente 7.948 toneladas de pescado/ano. Considerando que as tilápias representaram 82,5% da biomassa total desembarcada, podemos estimar que a produtividade desse pescado foi 202,5 kg/ha -1/ano -1. Em termos de captura por unidade de esforço (CPUE), a média foi de 62,4 kg/pesc -1/dia -1.

Também o pescado com os maiores valores de CPUE foram as tilápias com valor médio de 51,5 kg/pesc -1/dia -1 (Tabela 1.2).

Tabela 1.2 – Biomassa total (Kg), freqüência relativa (%) e captura por unidade de esforço (kg/pescador -1/dia -1) para os principais de pescado obtidos na pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê) no período de estudo. Pescado Biomassa total % CPUE Tilápias 71.513,5 82,5 51,5 Cascudos 6151,5 7,1 4,4 Curimbatá 1650,6 1,9 1,2 Mandi 3020,3 3,5 2,2 Sardela 2214,7 2,6 1,6 Outros 2141,3 2,4 1,5 Total 86.691,9 100 62,4

Variação sazonal e espacial da captura por unidade de esforço (CPUE) total

A análise espaço-temporal mostrou que os três núcleos de pescadores apresentaram grandes variações nos valores médios da CPUE. Essas variações foram mais acentuadas no núcleo do Rio Bonito, que obteve o valor máximo no verão/2005 (106,1 kg/pesc. -1/dia -1), seguido de queda no valores nas estações subseqüentes do ano até atingir o valor mínimo que foi no outono/2006 (35,8 kg/pesc. -1/dia -1). As variações nos valores médios da CPUE nos núcleos de Anhembi e Ponte de Santa Maria da Serra foram de menor magnitude. No núcleo da Ponte de Santa Maria da Serra observou-se um pico da CPUE nos dois verões (verão/2005 - 53,1 kg/pesc.-1/dia -1, verão/2006 - 42,5 kg/pesc. -1/dia -1) e o menor valor de CPUE ocorreu no outono/2006 (20,5 kg/pesc. -1/dia -1). O núcleo de pescadores de Anhembi apresentou um pico de CPUE no inverno/2004 (87,0 kg/pesc. -1/dia -1 ) e outro no inverno e primavera de 2005 (76,2 e 78,8 kg/pesc. -1/dia -1, respectivamente) e os menores valores primavera/2004 e verão/2005 (58,2 e 58,1 kg/pesc. -1/dia -1, respectivamente) (Figura 1.4 e Tabela 1.3).

180,0

160,0

140,0

120,0

-1 100,0 /dia -1

80,0 kg/pesc

60,0

40,0

20,0

0,0 Inverno/04 Primavera/04 Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05 Verão/06 outono/06

Rio Bonito Anhembi Ponte de Sta Maria da Serra

Figura 1.11 - Variação sazonal (estação do ano) e espacial (núcleo de pescadores) da captura por unidade de esforço (kg/pescador -1/dia -1) no reservatório de Barra Bonita (médio Rio Tietê) no período de estudo. Barras verticais indicam o desvio padrão.

Tabela 1.3 – Captura por unidade de esforço (kg/pescador -1/dia -1) por estação do ano e por núcleos de pesca artesanal em no reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê), no período de estudo. Rio Bonito -CPUE Anhembi - CPUE P. Santa Maria da Serra - CPUE Inverno 2004 72,8 87,0 45,9 Primavera 2004 77,7 58,2 37,6 Verão 2005 106,1 58,1 53,1 Outono 2005 90,3 65,6 44,8 Inverno 2005 79,1 76,2 28,9 Primavera 2005 48,0 78,8 36,4 Verão 2006 37,7 72,1 42,5 Outono 2006 35,8 65,3 20,5

A análise ANOVA two-way mostrou-se estatisticamente significante entre os núcleos de pescadores (F (2:721) = 21,81), as estações do ano (F (7:721) =

3,35) e a interação núcleos x estações do ano (F (14:721) = 3,76), todos com p < 0,001.

Variação espaço-temporal da CPUE dos principais pescados

A MANOVA aplicada para analisar a produção dos principais pescados em função dos núcleos de pescadores e das estações do ano como fatores independentes, mostraram-se significativamente diferentes: núcleo (10:1434) =

150,7; estação do ano (35:3019) = 12,2; núcleo x estação do ano (70:3418) = 9,0; todos com p < 0,000, indicando a relevância de se aplicar ANOVA two-way para cada tipo de pescado. Para as ANOVAs separadas todos os pescados apresentaram significativo para os núcleos: tilápias F (2:721) = 239,5; curimbatá F

(2:721) = 54,25; cascudo F (2:721) = 119,5; mandi F (2:721) = 398,9 e sardela F (2:721) = 73,16, todos com p < 0,000. Por estação do ano foi significativo para tilápias F

(7:721) = 4,0; mandi F (7:721) = 46,7 e sardela F (7:721) = 13,64, todos com p < 0,000 e interação núcleo x estação do ano foi significativo para tilápias F (14:721) = 4,5; curimbatá F (14:721) = 1,91; mandi F (14:721) = 36,9 e sardela F (14:721) = 10,35, com p < 0,000, (Tabela 1.4).

Tabela 1.4 - Analise de variância two-way (ANOVA) aplicada para a captura por unidade de esforço (kg/pescador -1/dia -1) para os principais pescados, por núcleos de pescadores, estação do ano e interação nucleo x estação do ano, para o reservatório de Barra Bonita (édio rio Tietê) no período de estudo. Núcleo Estação Interação do ano F (2:721) p F (7:721) p F (14:721) p Tilápias 239,5 0,000 4,0 0,000 4,6 0,000 Curimbatá 54,25 0,000 1,45 0,182 1,91 0,023 Cascudo 119,5 0,000 1,4 0,198 0,9 0,515 Mandi 398,9 0,000 46,7 0,000 36,3 0,000 Sardella 73,16 0,000 13,64 0,000 10,35 0,000

As tilápias predominaram em todos os núcleos e nas estações do ano como o principal pescado em termo de biomassa desembarcada. No Rio

Bonito, foi o único pescado de importância com valores máximo de CPUE de 106,0 Kg/pesc. -1/dia -1 Entretanto no segundo ano do estudo a CPUE apresentou uma forte queda com valor mínimo de 34,4 kg/pesc -1/dia -1. Em Anhembi os valores de CPUE das tilápias oscilaram entre 69,1 kg/pesc -1/dia -1 e 46,6 kg/pesc -1/dia -1. A Ponte de Santa Maria, foi o núcleo com os menores valores de CPUE das tilápias, com capturas expressivas a partir do outono/2005 (34,1 kg/pesc -1/dia -1). Os cascudos apresentaram importância para a pesca apenas no núcleo do Anhembi, com valores de CPUE, oscilando entre 21,9 kg/pesc -1/dia -1 na primavera/2005 e 8,2 kg/pesc -1/dia -1 no verão/2005. O mandi foi capturado apenas no núcleo da Ponte de Santa Maria, com CPUE no inverno/2005 de 41,0 kg/pesc -1/dia -1, seguido de forte queda, apresentando valores de CPUE estáveis no fim do período de estudo. A sardela foi outro pescado com captura apenas no núcleo da Ponte de Santa Maria da Serra, com um pico de captura no verão/2005 com CPUE acima dos 40,0 kg/pesc -1/dia -1. O curimbatá apresentou os maiores valores de CPUE no núcleo de Anhembi, com seus valores variando entre 0,7 kg/pesc -1/dia -1 (inverno/2004) e 5,2 kg/pesc -1/dia -1 (verão/2006) (Figura1.12)

tilápias

120 a)

100

80 -1 /dia -1 60 Kg/pesc.

40

20

0 I/04 P/04 V/05 O/05 I/05 P/05 V/06 O/06

Sta. Maria da Serra Anhembi Rio Bonito

Curimbatá

6 b)

5

4 -1 /dia -1 3 kg/pesc.

2

1

0 I/04 P/04 V/05 O/05 I/05 P/05 V/06 O/06

Sta. Maria da Serra Anhembi Rio Bonito

cascudos

25

c)

20

15 -1 /dia -1

Kg/pesc. 10

5

0 I/04 P/04 V/05 O/05 I/05 P/05 V/06 O/06

Sta. Maria da Serra Anhembi Rio Bonito

Mandi

45 d) 40

35

30 -1 25 /dia -1

20 kg/pesc.

15

10

5

0 I/04 P/04 V/05 O/05 I/05 P/05 V/06 O/06

Sta. Maria da Serra Anhembi Rio Bonito

Sardela

50

45 e)

40

35

30 -1 /dia -1 25

kg/pesc. 20

15

10

5

0 I/04 P/04 V/05 O/05 I/05 P/05 V/06 O/06

Sta. Maria da Serra Anhembi Rio Bonito

Figura 1.12 – Variação espacial e temporal da captura por unidade de esforço (kg/pescado -1/dia -1) dos principais pescados do reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê) no período de estudo. (a) tilápias; (b) curimbatá, (c) cascudos; (d) mandi e (e) sardela.

Na análise de correspondência (DCA), entre os tipos de pescados e as estações do ano, o primeiro eixo (63,55% da variância explicada) correlacionou-se positivamente com verão/2005 onde ocorreu o maior valor de CPUE para sardela e negativamente relacionou-se com inverno/2004 onde ocorreu maior CPUE para mandi. O segundo eixo (17,84% da variância explicada) correlacionou-se positivamente com a primavera/2005, verão e outono/2006 as quais ocorreram CPUE altas para o curimbatá e correlacionou- se negativamente com a primavera/2004 que apresentou baixos valores de CPUE para os pescados, exceção para as tilápias. A posição das tilápias nessa análise, no centro do plano, mostra a importância desse pescado em todas as estações do ano, embora tenha se relacionado mais com o mês de outubro/2005. (Figura 1.13).

DCA 2 DCA

DCA 1

Figura 1.13 - Escores dos dois primeiros eixos derivados da análise de correspondência (DCA), realizada a partir da matriz de captura por unidade de esforço dos pescados (kg/pescado -1/dia -1) dos principais pescado pelas estações do ano no reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê) no período de estudo. I/04 (inverno/2004), P/04 (primavera/2004), V/05 (verão/2005), O/05 (outono/2005), I/05 (inverno/2005) P/05 (primavera/2005), V/06 (verão/2006), O/06 (outono/2006), Ti (tilápias), Cas (cascudos), Cb (curimbatá), Ma (mandi); Sa (serdela).

Na análise de correspondência (DCA) entre núcleos e tipos de pescado, o primeiro eixo (69,33%) correlacionou-se positivamente com o núcleo Ponte de Santa Maria da Serra, onde ocorreu o maior valor de CPUE para mandi e sardela. Contribuíram negativamente para o primeiro eixo os núcleos de Rio Bonito e Anhembi onde ocorreram os maiores valores de CPUE para tilápias, cascudos e curimbatá. O segundo eixo (30,67% da variância) correlacionou-se positivamente com o núcleo do Rio Bonito relacionado com capturas exclusivas de tilápias e negativamente, correlacionou-se ao núcleo de Anhembi, onde ocorreu o maior valor de CPUE para cascudos e curimbatá (Figura 1.14).

DCA 2

DCA 1

Figura 1.14 – Escores dos dois primeiros eixos derivados da análise de correspondência (DCA), realizada a partir da matriz da captura por unidade de esforço (kg/pescado -1/dia -1) dos principais pescados para os três núcleos de pescadores do reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê), no período de estudo. RB (Rio Bonito), AB (Anhembi), SMS (Ponte de Santa Maria da Serra), Ti (tilápias), Cas (cascudos), Cb (curimbatá), Ma (mandi); Sa (serdela).

Técnicas de captura

A análise de correspondência (DCA) entre as técnicas de captura utilizadas e a biomassa dos pescados mostrou que o primeiro eixo (84,18% da variância explicada) foi positivamente correlacionada a rede de emalhe, a qual ocorreu os maiores biomassa de sardela e mandi. Negativamente o primeiro eixo correlacionou-se com as demais técnicas de capturas (pesca do arrasto, pesca da batida, tarrafas e combinação da pesca da batida com rede de emalhe), correlacionadas com tilápias, cascudos e curimbatás. O segundo eixo (15,73% da variância explicada) correlacionou-se positivamente com a técnica da pesca do arrasto e rede de emalhe e negativamente com tarrafa, pesca da batida e combinação pesca da batida com rede de emalhe. Esses resultados mostram que as técnicas de capturas ativas foram efetivas para captura das

tilápias, enquanto que as técnicas de capturas passivas foram efetivas para os demais pescados. (Figura 1.15).

DCA DCA 2

DCA 1

Figura 1.15- Escores dos dois primeiros eixos derivados da análise de correspondência (DCA), realizada a partir da matriz da biomassa dos principais pescados capturados por técnicas de capturas no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê), no período de estudo. Ti (tilápias), Cas (cascudos), Cb (curimbatá), Ma (mandi); Sa (serdela).

Captura por unidade de esforço e variáveis limnológicas

A Tabela 1.5 mostra os resultados da estatística descritiva com os valores médio, mínimo e máximo das variáveis limnológicas e ambientais mensuradas ou compiladas para os três núcleos de pescadores do reservatório de Barra Bonita, onde se pode notar que esses valores mostram uma grande amplitude de variação ao longo do período de estudo.

Tabela 1.5 - Variáveis limnológicas e ambientais mensuradas (valores médios, mínimo e máximo) em três núcleos de pescadores no reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê), no período de estudo. Negrito significativo p < 0,05 na análise de regressão múltipla. Variáveis Valor médio (mínimo – máximo) pH 6,7 (2,98 – 8,86) Temperatura da água(ºC) 24,6 (18,0 – 30,2) Oxigênio dissolvido(mg/l -1) 5,8 (0,8 - 12,5) Condutividade elétrica(µs/cm -1) 333,0 (154,0 – 630,0) Transparência da água(m) 0,7 (0,15 – 1,23) Alcalinidade (mEQ x l -1) 1,0 (0,5 – 2,2) Clorofila a ( µg/l -1) 382,7 (21,9 – 1629,6) Fósforo total ( µg/l -1) 69,3 (14,3 – 242,8) Nitrogênio total ( µg/l -1) 2434,4 (211,2 – 4930,2) Precipitação pluviométrica (mm)* 87,7 (0,6 – 239,7) Cota altimétrica (m)* 449,5 (447,5 – 451,3)

Obs: * dados compilados da AES - Tietê.

A análise de regressão múltipla realizada para detectar as possíveis correlações entre os valores da CPUE e das variáveis limnológicas e/ou 2 ambientais mostrou-se significativa (F (11:734) = 9,3007; R = 0,122; p < 0,000). As variáveis explicativas do modelo foram a temperatura da água (p = 0,000); o nitrogênio total (p = 0,000); o fósforo total (p = 0,015) e a cota altimétrica (p = 0,048) sendo todas positivas; enquanto que a precipitação pluviométrica (p = 0,000) apresentou correlação negativa.

O modelo matemático ajustado pode expresso por: log (CPUE+1) = - 81,2339 + (2,1431* log temperatura da água+1) + (0,1540 * log fósforo total+1) + (0,2796 * log nitrogênio total +1) - (0,1738 * log precipitação pluviiométrica+1) + (16,8589 * log cota altimétrica+1).

Reservatório Jurumirim Espécies capturadas na pesca artesanal

Foram registradas 26 espécies desembarcadas na pesca artesanal, distribuídas em cinco ordens e 12 famílias. A ordem mais representativa em

número de espécies foi Characiformes com 17 espécies, Siluriformes foi representado por seis espécies, e as ordens Perciformes, Gynmotiformes e Cypriniformes foram representadas por apenas uma espécie. Uma espécie introduzida foi registrada, a exótica Cyprinus carpio (carpa comum) (anexo 5).

Composição em biomassa do pescado

Durante o período de estudo foram desembarcados 25.112,6 kg de pescado, proveniente de 2.401 viagens de pescaria artesanal, com rendimento médio de 10,5 kg/viagem. Em termos de biomassa, foi observado um equilíbrio entre a traíra ( Hoplias malabaricus ) que foi o pescado mais importante em biomassa com 6.158,5 Kg, representado 24,5%, e as piavas, que inclui espécies do gênero Leporinus ( Leporinus octofasciatus , Leporinus obtusidens , Leporinus friderici ) totalizaram 5.541,5 Kg, que representou 22,1%, da biomassa desembarcada. Outros importantes pescados em termos de biomassa foram: curimbatá ( Prochilodus lineatus com 4.409,0 Kg equivalente a 17,6%), piranha ( Serrasalmus maculatus 2,133,0 equivalente à 8,5%) e mandi (Pimelodus maculatus com 2.018,5 equivalente a 8,0%), respectivamente, 3º, 4º e 5º pescado mais desembarcado em biomassa (Figura 1.16). Esses cinco pescados representaram 81,0% da biomassa do total de peixes desembarcado nesse núcleo do Jurumirim.

30,0 7000,0

6000,0 25,0

5000,0 20,0

4000,0

15,0

Biomassa(%) 3000,0 Biomassa total (Kg) total Biomassa

10,0 2000,0

5,0 1000,0

0,0 0,0 Traíra Piavas Curimbatá Piranha Mandi Outros

Biomassa (%) Biomassa total (kg) Figura 1.16 – Distribuição em biomassa total (Kg) e biomassa relativa (%) dos recursos pesqueiros da pesca artesanal no núcleo de pescadores do Bairro da Ponte, reservatório de Jurumirim, (alto rio Paranapanema) no período de estudo.

Captura por unidade de esforço (CPUE) e produtividade

A produtividade pesqueira média desse núcleo com relação à área de atuação dos pescadores (800 hectares) nos diversos ambientes da região (rio, lagoas marginais e transição rio-reservatório) foi estimada em 15,7 kg/ha -1/ano - 1 e um rendimento médio de 12,5 toneladas/ano. A captura por unidade de esforço (CPUE), foi de 10,5 kg/pesc -1/dia -1, sendo que entre os principais pescados a CPUE variou de 2,6 kg/pesc -1/dia -1 para a traíra a 0,8 kg/pesc -1/dia- 1 para mandi (Tabela 1.6).

Tabela 1.6 - Biomassa total (Kg) e relativa (%) e captura por unidade de esforço (CPUE) (kg/pescador -1/dia -1) para os principais de pescado obtidos na pesca artesanal no núcleo de pescadores do Bairro da Ponte reservatório de Jurumirim, (alto rio Paranapanema) no período de estudo. Pescado Biomassa total % CPUE Traíra 6.158,5 24,5 2,6 Piavas 5.541,5 22,1 2,3 Curimbatá 4.409,0 17,6 1,8 Piranha 2133,0 8,5 0,9 Mandi 2018,5 8,0 0,8 Outros 4.852,1 19,3 2,0 Total 25.112,6 100 10,5

Variação sazonal da captura por unidade de esforço (CPUE)

A CPUE ao longo do período de estudo variou do maior valor no verão de 2005 (14,6) ao menor valor na primavera de 2006 (9,0 kg/pesc -1/dia -1) (Tabela 1.7).

Tabela 1.7 – Biomassa total (kg), captura por unidade de esforço (CPUE) (kg/pescador -1/dia -1) por estação do ano da pesca artesanal no núcleo de pescadores do Bairro da Ponte, reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) no período de estudo. Estação do ano Biomassa total (Kg) CPUE Verão/05 2.428,0 14,6 Outono/05 5.021,0 10,2 Inverno/05 5.372,0 10,4 Primavera/05 701,0 13,2 Verão/06 1.529,6 9,9 Outono/06 4.333,5 10,5 Inverno/06 4.479,0 9,6 Primavera/06 1.248,5 9,0 Total 25.112,6 10,5

A análise estatística (ANOVA one-way) mostrou que os valores da

CPUE diferiram estatisticamente entre as estações do ano, (F (7,2395) = 12,48; p < 0,0000); (Figura 1.17).

25,0

a ac

20,0 bc bc b bc b b

15,0 -1 /dia -1 kg/pesc 10,0

5,0

0,0 Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05 Verão/06 Outono/06 Inverno/06 Primavera/06 Figura 1.17 – Variação sazonal da captura por unidade de esforço (CPUE) (kg/pescador -1/dia -1) da pesca artesanal no Bairro da Ponte no reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) no período de estudo. As barras verticais indicam o desvio padrão e letras diferentes indicam diferenças estatísticas, p < 0,05.

A composição do pescado desembarcado, em termos de CPUE, nesse local de estudo mostrou uma marcante sazonalidade, pois, nos dois períodos de verão (2005 e 2006) houve predominância de curimbatá ( Prochilodus lineatus ) com CPUE de 6,9 e 6,2 kg/pesc -1/dia -1, respectivamente. Entretanto, nos períodos subseqüentes ocorreram fortes quedas nos valores da CPUE. As piavas (espécies do gênero Leporinus ) foram as mais capturadas nos outonos de 2005 e 2006, com valores médios da CPUE de 2,4 e 2,3 kg/pesc -1/dia -1, respectivamente. Porém, a maior CPUE desse pescado ocorreu no verão/2005 (3,6 kg/pesc. -1/dia -1) e também esse pescado foi o que apresentou as menores oscilações ao longo do estudo. Nos dois períodos de inverno e primavera (2005 e 2006), a traíra ( Hoplias malabaricus ) foi o pescado mais capturado com valores médios de CPUE variando de 3,0 a 4,0 kg/pesc -1/dia -1. Cabe ressaltar aqui, a elevada CPUE de outros tipos de pescado no outono de 2006, com valor de 3,5 kg/pesc -1/dia -1, provocado especialmente pela elevada captura de piavinha pintada ( Leporellus pictus ), ximborê ( Schizodon nasutus e S. intermedius ) e lambari do rabo-vermelho ( Astyanax fasciatus ) (Figura 1.18).

8,0

7,0

6,0

5,0 -1 /d ia -1 4,0 kg/pesc

3,0

2,0

1,0

0,0 Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05 Verão/06 Outono/06 Inverno/06 Primavera/06

Traíra Piavas Curimbatá Mandi Piranha Outros

Figura 1.18 – Variação sazonal da captura por unidade de esforço (CPUE) (kg/pescador -1/dia -1) dos principais pescados oriundos da pesca artesanal no Bairro da Ponte, reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) no período de estudo.

As ANOVAs one-way aplicadas para analisar a CPUE dos principais pescados em função das estações do ano, mostraram-se significativamente diferentes para todos os pescados: traíra F (7:2393) = 42,7; Piavas F (7:2393) = 6,2; curimbatá F (7:2393) = 155,6; piranha F (7:2393) = 14,6; mandi F (7:2393) = 40,8, todos com p = 0,000.

Na análise de correspondência (DCA), o primeiro eixo (57,61% da variância explicada) foi negativamente ligado ao verão/2005 e verão/2006, onde ocorreram os maiores valores de CPUE para o curimbatá e primavera/2005, com a maior CPUE de mandi. Em oposição, projeta-se positivamente no eixo 1 outono/2005 e 2006, inverno/2005 e 2006 e primavera 2006, relacionados com as CPUE de traíra, piranha e outros pescados. O segundo eixo (19,59 % da variância explicada) correlacionou-se positivamente

com altos valores de CPUE dos curimbatás nos verões 2005 e 2006, ao passo que no outono/2006 e inverno/2006, correlaciona-se com altos valores de CPUE de outros pescados e negativamente com inverno/2005 relacionado com a traíra e primavera/2005 com relacionado com captura de mandi (Figura 1.19).

DCA 2

DCA 1

Figura 1.19 - Escores dos dois primeiros eixos derivados da análise de correspondência (DCA), realizada a partir da matriz da captura por unidade de esforço (kg/pescado -1/dia -1) pelas estações do ano para o núcleo de pescadores do Bairro da Ponte, reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema), no período.V/05 (verão/2005), O/05 (outono/2005), I/05 (inverno/2005) P/05 (primavera/05), V/06 (verão/2006), O/06 (outono/2006), I/06 (inverno/2006), P/06 (primavera/2006), Tra (traíra), Cb (curimbatá), Pia (piavas), Ma (mandi), Pi (piranha).

Captura por unidade de esforço e variáveis limnológicas

A Tabela 1.8 mostra os resultados da estatística descritiva com os valores médio, mínimo e máximo das variáveis limnológicas e ambientais mensuradas ou compiladas para o trecho do reservatório de Jurumirim junto ao núcleo de pescadores do Bairro da Ponte.

Tabela 1.8 - Variáveis limnológicas e ambientais mensuradas (valores médios, mínimo e máximo) no trecho do Bairro da Ponte, reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) no período de estudo. Variáveis Valor médio (mínimo – máximo) pH 5,8 (4,2 – 7,0) Temperatura da água (ºC) 21,5 (17,0 – 25,5) Oxigênio dissolvido (mg/L -1) 5,6 (9,1 – 2,2) Condutividade elétrica ( µs.cm -1) 91,3 (50,0 – 211,0) Transparência da água (m) 0,7 (0,4 – 1,4) Alcalinidade da água (mEQ/L -1) 0,45 (0,36 – 0,61) Clorofila a ( µg/L -1) 55,5 (17,6 – 169,2) Fósforo total ( µg/L -1) 30,5 (14,5 – 79,1) Nitrogênio total ( µg/L -1) 71,2 (24,8 – 197,0) Precipitação pluviométrica (mm)* 108,0 (469,4 – 0,2) Cota altimétrica (m)* 565,4 (563,1 – 566,9)

Obs: * dados compilados da Duke Energy – geração Paranapanema.

Uma análise estatística exploratória (de regressão múltipla) mostrou que não houve correlação significativa para essas variáveis limnológicas e ambientais em relação aos valores de CPUE.

Comparativo da pesca (em CPUE) entre os reservatórios de Barra Bonita e de Jurumirim

Quando se comparou os valores médios das CPUEs obtidas para esses dois dos reservatórios nota-se claramente que no reservatório de Barra Bonita a CPUE foi seis (6) vezes maiores que no reservatório de Jurumirim, sendo de 66,4 contra 11,0 kg/pesc -1/dia -1 no ano de 2005. Também, ao longo do ano a maior diferença entre as CPUEs ocorreu no outono, sendo de 71,8 contra 10,2 kg/pesc -1/dia -1 (7,1 vezes maior em Barra Bonita em relação a Jurumirim,) enquanto que a menor diferença ocorreu na primavera, sendo de 55,3 contra 13,4 kg/pesc -1/dia -1 (4,2 vezes maior em Barra Bonita em relação a Jurumirim) (Figura 1.20).

160,0

140,0

120,0

100,0 -1 /dia -1 80,0 kg/pesc

60,0

40,0

20,0

0,0 Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05 Total

Barra Bonita Jurumirim

Figura 1.20 – Comparação da captura por unidade de esforço (CPUE) (kg/pescador-1/dia-1) entre os reservatórios de Barra Bonita (médio rio Tietê) e Jurumirim (alto Paranapanema) no período de estudo. As barras verticais indicam o desvio padrão.

Discussão

Composição em biomassa do pescado

A pesca artesanal do reservatório de Barra Bonita esteve concentrada principalmente na tilápia-do-Nilo, O. niloticus responsável por mais de 80% das capturas em biomassa. Esse resultado mostra uma drástica alteração na composição do pescado neste reservatório com relação ao inicio da década de 1990. A corvina Plagioscion saquamossisimus era o principal pescado desembarcado, representando entre 50% a 60% do peso total capturado (Torloni et al., 1993), a captura da tilápia-do-Nilo foi insignificante. No inicio da década de 2000, a tilapia-do-Nilo passou a ser a mais captura em biomassa, representando 25,8% do peso total capturado (ECO – Consultoria Ambiental e

Comercio Ltda, 2001) encontrando-se, atualmente, acima de 80%. O momento do aparecimento dessa espécie na pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita é incerto e não existem relatos na literatura sobre esse evento. Contudo, em conversas informais os pescadores mais antigos relatam um crescimento na captura de tilápia-do-Nilo entre os anos de 1998 e 2000. Algumas hipóteses podem ser levantadas para explicar essa substituição (corvina por tilápia) na composição na pesca artesanal.

Primeira hipótese: Agostinho et.al., (2007) sugerem que o programa de estocagem realizado na década de 1980 pela empresa concessionária da usina (CESP), que liberou durante quase dez anos aproximadamente 40 mil alevinos (CESP, 1998), não teve resultados práticos na pesca artesanal. Os autores acreditam que o atual rendimento pesqueiro da tilápia-do-Nilo é conseqüência dos massivos e constantes escapes de estabelecimentos de pesque-pague da região. A partir desses escapes populações de tilápia-do-Nilo teriam então invadido, proliferado e estabelecido no reservatório. Em contraposição a essa hipótese, são raros empreendimentos de piscicultura no entorno de Barra Bonita considerando que é mais fácil e econômico pescar no reservatório, visto que são bastante intensos as atividades de pesca esportiva e turismo náutico. Há informação que apenas um grande empresário investiu nessa modalidade de pesca, no município de a mais de cinco anos passados, porem nos dias de hoje o estabelecimento encontra-se fechado.

A segunda hipótese estaria relacionada ao aumento da eutrofização desse ecossistema. Dados coletados neste trabalho mostram elevados teores de nitrogênio e fósforo total, clorofila a, e condutividade elétrica, e superiores ao da década de 1990 (CESP, 1998), especialmente nas localidades de Anhembi (braço do rio Tietê) e Rio Bonito (ambiente lêntico), locais de maior captura da tilápia-do-Nilo. A queda da qualidade da água pode ter provocado a depleção de estoque das espécies pouco tolerantes a essas condições, como a alóctone corvina Plagioscion squamossisimus . Essa espécie é um predador por acuidade visual (Bennemann et al., 2006), que pode ter apresentado

dificuldade na captura de presas, devido à diminuição da transparência, em decorrência ao aumento da turbidez da água provocado pela eutrofização ou as próprias presas pouco tolerantes as novas condições ambientais tiveram sua densidades reduzida e conseqüentemente a sua disponibilidade para os predadores. Por outro lado, a tilápia-do-Nilo é uma espécie oportunista, com excepcional capacidade de se ajustar às condições ambientes inóspitos a outras espécies, podendo direcionar mais de seus recursos para reprodução do que crescimento (Lowe-McConnell, 1999; Duponchelle et al., 2000). Segundo esses autores, a espécie pode apresentar grandes variações de suas características reprodutivas.

A terceira hipótese se relacionaria com a técnica de captura dos pescadores artesanais. Na década de 1990 pescadores do reservatório de Barra Bonita utilizavam as redes de emalhe como principal técnica de captura (Torloni et al., 1993). Contudo, a técnica efetiva usada para a captura da tilapia- do-Nilo e outros ciclideos devem ser técnicas ativas, como tarrafa e principalmente a pesca da batida e do arrasto. A pesca da batida foi empregada em outros reservatórios brasileiros, na captura de tilápias como em Marimbondo (rio Grande) (Câmara, et al., 1998), e Billings (região metropolitana de São Paulo) (Minte-Vera & Petrere Jr. op cit .). Outra técnica ativa usada pelos pescadores de Barra Bonita para captura da tilápia-do-Nilo, foi o arrasto. Essa técnica foi usada com sucesso pelos pescadores, principalmente na região lêntica do reservatório, apresentando valores de captura (CPUE) semelhante à pesca da batida.

Pode-se afirmar que essas duas ou três hipóteses não excludentes, e assim, podem ter contribuído para o estabelecimento efetivo da espécie no reservatório. Contudo, parece mais lógico que as técnicas de captura ativa (pesca da batida, arrasto e tarrafa) e a piora na qualidade da água contribuíram para a dominância da tilápia-do-Nilo na pesca artesanal do reservatório de Barra Bonita. Isso porque, conforme já comentado, essa espécie tem capacidade de ajustar-se a ambientes inóspito a outras espécies, aliado aos

seus atributos ecológicos como: cuidado parental bem desenvolvido, período reprodutivo prolongado, desovas repetidas (Duponchelle et al., 2000).

As tilápias, e em especial a tilápia-do-Nilo, tem sido o principal pescado em vários reservatório e lagos. No Brasil a tilápia-do-Nilo foi o principal pescado, no lago Paranoá (Walter & Petrere Jr., 2007); do reservatório de Billings (Minte-Vera & Petrere Jr., 2000; Petrere Jr. et al., 2006) e nos açudes nordestinos, junto com a Tilapia rendall (Paiva et al., 1994). Em reservatórios e lagos de outros paises como: paises do sudeste asiático (Nissanka et al., 2000; Amarasinghe, 2002; De Silva, 1994), Costa do Marfim (Duponchelle et al., 1999 e 2000); Uganda (Bwanika et al., 2004); Lago Victória (Njiru et al., 2006); Colômbia (Cala & Bernal, 1997), Cuba (Averhoff, 1999); Nicarágua (MaCrary et al., 2007).

Resultados de Agostinho et al ., (2007), mostram que cinco anos após os primeiros registros da tilápia-do-Nilo nos desembarques na pesca artesanal em Barra Bonita, houve um decréscimo no rendimento pesqueiro do reservatório. Contudo, esses resultados são bastante divergentes dos apresentados neste trabalho. Assim, a produtividade no reservatório de Barra Bonita cresceu em uma ordem de grandeza em relação à década de 1990 (Torloni et al., 1993; CESP, 1988) e no inicio da década de 2000 (ECO – Consultoria Ambiental e Comercio Ltda, 2001), passando de 300 toneladas ano para aproximadamente 7.000 toneladas ano neste estudo.

Ao contrario do reservatório de Barra Bonita, a pesca no reservatório de Jurumirim, mostrou-se mais diversificada e com menor dominância e sem participação de espécies exóticas ou alóctones. A traíra Hoplias malabaricus , foi o principal pescado desembarcado nesse período, seguido pelas piavas, que reuni três espécies do gênero Leporinus ( L. octofasciatus , L. obtusidens e L. friderici ), entre essas espécies L. obtsidens foi a mais capturada em número e biomassa na pesca experimental na região (Carvalho et. al., 2003), sendo muito provavelmente que na pesca artesanal seja também a principal pescado

do grupo. Curimbatá ( Prochilodus. lineatus ), mandi ( Pimelodus maculatus ) e piranha ( Serrasalmus maculatus ), também apresentaram importância para a pesca na região. Algumas hipóteses podem ser levantadas para explicar esses resultados:

1ª - Boa qualidade ambiental: essa região, embora sofre com impacto do represamento, mantém-se bem preservada e como já mencionado apresentam condições de oligo a mesotrófica (Henry & Nogueira, 1999; Nogueira et al., 199), com presença de lagoas marginais e matas riparia preservadas. A presença de espécies de pequeno porte, que se alimentam principalmente de fitoplâncton, zooplâncton e insetos aquáticos e bem adaptados ás pequenas flutuações ambientais, (características de reservatórios), são boas indicadoras da qualidade da água, tendo em vista as suas exigências em relação aos níveis de oxigênio dissolvido, pH e condutividade elétrica (Castro et al., 2003). Essas espécies de pequeno porte são de importância para sustentar os demais níveis tróficos da teia alimentar nesse ecossistema, especialmente as espécies piscívoras como H. malabaricus , P. maculatus e S. maculatus

2ª - Presença de tributários e trecho a jusante livre do rio Paranapanema: Os tributários como rio Santa Helena e Guareí e rio Paranapanema a jusante do reservatório encontra-se livre de represamentos com trechos relativamente bem preservados, possibilitando as espécies migradoras locais apropriados para realizaram desovas, durante o período reprodutivo, como os curimbatás, piavas, mandi entre outras espécies de menor importância para pesca.

3ª - Presença de lagoas marginais ao longo do leito do rio Paranapanema: as lagoas marginais são de grande importância para o desenvolvimento das larvas e juvenis dos peixes, local onde encontram abrigo e alimentação para crescerem (Godoy, 1977). Está região apresenta inúmeras lagoas marginais com diferentes graus de conexão com o rio Paranapanema e que servem de abrigo para ovos, larvas e juvenis das espécies de peixes

(Carvalho et al., 2003). Estudos de ovos e larvas de peixe em duas lagoas marginais (Camargo e Coqueiral) próximo desembocadura do rio Paranapanema no reservatório, registrou presença de larvas de espécies migradoras na lagoa do Camargo nos meses em que houve entrada lateral do rio Paranapanema na lagoa, indicando que esta lagoa esta sendo usado como local de desenvolvimento de suas fases larvais (Siuberto, 2005). A mesma autora mostrou, que na a lagoa do Coqueiral não apresentou larvas de espécies migradoras em sua composição, servindo como berçário para as larvas de espécies sedentárias. Desta forma a presença desses ambientes tem suma importância na manutenção dos estoques das espécies importantes para a pesca.

4ª - Alta heterogeneidade de habitats: Presença de ambientes lótico e lêntico, lagoas marginais, planície de inundação, locais de refúgio para peixes de pequeno porte, como macrófitas, presença de tributários conservados, são fatores que aumentam a diversidade de espécies. Estudos com pesca experimental demonstraram que essa região tem altos valores de diversidade de espécies de peixe, (2,07 índice de Shannon-Wiener) com equitabilidade moderada (Carvalho & Silva, 1999; Carvalho et al., 2003), o que reflete na composição pesqueira.

Contudo, cabe ressaltar que a espécie mais importante para pesca foi H. malabaricus . Uma das prováveis razões que explique esse resultado, e o fato dessa espécie se ajustar bem a vários tipos de ambientes, como rios, lagoas e reservatórios (Carvalho et al., 2002). Como a região de estudo, caracteriza-se por alta heterogeneidade de ambientes, rios, reservatório, transição, lagoas marginais, está espécie tem potencialmente um maior número de nichos para ocupar. Outras características como biologia reprodutiva e plasticidade alimentar, também contribuem para o sucesso dessa espécie na região, e serão discutidas no capítulo III.

Produtividade pesqueira nos reservatórios

A dinâmica da pesca nos reservatório de Barra Bonita e Jururmirim mostraram-se bastante distintas, em quase todos os seus aspectos, com exceção ao perfil socioeconômico dos pescadores, que revelou uma classe de baixa renda nos dois reservatórios, cuja situação mais crítica é no acampamento de Porto Said, em Barra Bonita.

Um dos primeiros levantamentos sobre a potencialidade pesqueira em reservatórios brasileiros, com base empírica inferida em fatores ambientais e limnológicos, estimou uma produção anual teórica de pescado nos reservatório de Barra Bonita e Jurumirim como sendo equivalente à 75 kg/ha -1/ano -1 nos dois ecossistema (Paiva, 1977). Contudo, Carvalho & Silva (1999) já questionaram esses valores, mas sem dados de pesca artesanal (ou que o valha) para os dois reservatórios. Segundo esses autores, às suas distintas características limonológias (grau de trofia, sensu Carlson e produção primária, etc.), a composição e diversidade de suas faunas de peixe sugeriam uma produção pesqueira bastante divergente. Isso porque balizado na tendência do estado trófico de cada ecossistema aquático podia supor uma maior produção pesqueira no reservatório eutrófico de Barra Bonita. Desta forma, os resultados do presente estudo vêm confirmar a hipótese dos autores acima com dados que dimensionaram uma maior produção pesqueira no reservatório de Barra Bonita, com valores de 245,4 kg/ha -1/ano -1 e CPUE média de 62,4 kg/pesc. - 1/dia -1, contra 15,7 kg/ha -1/ano -1 e CPUE média de 10,5 kg/pesc. -1/dia -1, do reservatório de Jurumirim.

Ainda, os valores obtidos para o reservatório de Barra Bonita são bastante superiores quando comparados com levantamentos anteriores no reservatório: 9,3 kg/ha -1/ano -1 (Torloni et al., 1993) e 9,8 kg/ha -1/ano -1 (ECO – Consultoria Ambiental e Comercio Ltda, 2001), com outros reservatórios da

bacia do rio Tietê: Billings (63,0 kg/ha -1/ano -1, Minte-Vera & Petrere Jr., 2000), Ibtinga, (1,1 kg/ha -1/ano -1), Promissão (5,6 kg/ha -1/ano -1), Nova Avanhandava (3,4 kg/ha -1/ano -1) (ECO – Consultoria Ambiental e Comercio Ltda op cit) e Três Irmãos (2,0 kg/ha -1/ano -1, CESP, 1998), com reservatórios da bacia do rio Paraná (a qual está inserida): Lago Paranoá (16,4 kg/ha -1/ano -1, Walter & Petrere Jr, 2007), Água Vermelha (2,1 kg/ha -1/ano -1 ECO – Consultoria Ambiental e Comercio Ltda, 2001), Júpia e Ilha Solteira (3,7 e 1,5 kg/ha -1/ano -1, respectivamente, CESP, 1998), Itaipu (11,2 kg/ha -1/ano -1 Agostinho et al., 1999a,b), e Salto Santiago e Salto Osório (1,1 e 4,9 kg/ha -1/ano -1, respectivamente, Okada et al., 1997) e com reservatórios de outras bacias hidrográficas brasileiras, como: Sobradinho (7,1 kg/ha -1/ano -1, Agostinho et al., 2007) e Três Marias (6,2 kg/ha -1/ano -1 Sato e Sampaio, 2006) na bacia do rio São Francisco; Balbina (3,1 kg/ha -1/ano -1, Santos & Oliveira Jr, 1999.) bacia do rio Amazonas, Tucuruí (18 kg/ha -1/ano -1, Franco de Camargo & Petrere Jr., 2004), bacia do rio Tocantins. Pode-se enfatizar que os valores de produtividades estimados para Barra Bonita são similares e compatíveis apenas com os valores encontrados nos açudes nordestinos que variam entre 18 a 667 kg/ha -1/ano -1 (Paiva et al .,1994).

Para o reservatório de Jurumirim não foram encontradas na literatura informações sobre sua produtividade pesqueira em função da pesca artesanal, anterior a este trabalho. Mas, alguns estudos e ensaios com de pesca experimental estimaram uma produção pesqueira no reservatório de Jurumirim entre 17,0 kg/ha -1/ano -1 (Carvalho et al., 1998) e 28,4 kg/ha -1/ano -1. (Carvalho & Silva, 1999). Os últimos autores também estimaram para a região do Bairro da Ponte, uma das áreas de abordagem desse estudo, uma produção pesqueira teórica de 47,0 kg/ha -1/ano -1. Entretanto, o longo rio Paranapanema (903 Km) com mais de 10 reservatórios e pesca artesanal incipiente, apresentou um rendimento pesqueiro de 48 toneladas por ano de pescado (desconsiderando a captura das pequiras, que neste estudo não foi considerada) (Vermulm Jr. & Giamas, 2007). Desta forma podemos inferir que o núcleo de pescadores do Bairro da Ponte contribui com aproximadamente 26% desse total (12,5

toneladas/ano). Ainda, a CPUE no rio Paranapanema foi de 12,0 kg/pesc -1/dia -1 (Vermulm Jr. et al., 2001), sendo este valor ligeiramente superior ao encontrado neste trabalho (10,5 kg/pesc. -1/ano -1). No contexto dos reservatórios da bacia do Paraná e de outras bacias hidrográficas brasileiras (citadas no parágrafo anterior), constata-se que a produção pesqueira de Jurumirim não foge aos valores estimados para esses outros reservatórios do Brasil. Cabe ressaltar, que as atividades de pesca artesanal/profissional no corpo e nos principais tributários do reservatório de Jurumirim também é muito incipiente, pois há poucos pescadores de subsistência, concentrados no Bairro da Ponte e outro núcleo ainda menor (remanescente) no trecho do rio Taquari (grande tributário do Alto Paranapanema) na divisa dos municípios de Itaí e Taquarituba. Muitos desses pescadores artesanais tornam-se guias turísticos ou caseiros dos ranchos de veraneio nos condomínios fechados que vêm cada vez mais predominando no Jurumirim.

Comparando a produtividade dos dois reservatórios objetos desse estudo, com o observados em diversos ambientes tropicais (Jackson & Marmulla, 2001), verificamos que a produtividade do reservatório de Jurumirim foi compatível com o encontrado para reservatórios profundos (10-50 kg/ha - 1/ano -1), enquanto o de Barra Bonita foi compatível com reservatórios rasos e manejados (110-300 kg/ha -1/ano -1). Contudo a produtividade no reservatório de Jurumirim ficou bem abaixo, quando comparados com reservatório de grande porte, (como pode ser considerado esse reservatório), africano (Volta, Kariba e Kainji), que é em média de 80 kg/ha -1/ano -1 (Jackson & Marmula op. cit. ). Já o reservatório de Barra Bonita teve sua produtividade superior aos grandes reservatórios africanos e dentro dos valores encontrados para pequenos e médios reservatórios do Sri Lanka (Nissanka et al ., 2000) e Índia (Sugunan & Katiha, 2004) que são manejados com processos de estocagem com espécies exóticas (tilápias), remoção dos predadores e no caso do Sri Lanka plano de manejo da pesca no processo de construção dos reservatórios.

Possíveis razões para a baixa produtividade nos reservatórios brasileiros quando comparado com outros do mundo incluem os seguintes fatores: baixa produtividade primária, ausência de espécies adaptadas a ambientes lacustres, cadeia alimentar longa, técnicas e legislação de pesca inadequada; baixo esforço de pesca e elevado número de piscívoros (Fernando & Hol ćik, 1982; Agostinho et al., 1999a,b; Gomes & Miranda, 2001; Gomes et al ., 2002, Agostinho et al ., 2007). Essas hipóteses podem ser usadas para justificar a diferença entre a produtividade pesqueira entre dos dois reservatórios em estudo, bem como entre Barra Bonita e os outros reservatórios já elencados.

Com relação a produtividade primária e a produção pesqueira, Gomes et al., (2002) discutem que pouca importância tem sido dada à produção primária com relação ao rendimento pesqueiro, pois, em estudo realizado por estes autores em sete reservatórios da bacia do alto Paraná puderam concluiu que a produção pesqueira apresentou correlação positiva com o teor de clorofila a, que é uma forma indireta de inferência da produtividade primária em ambientes aquáticos continentais.

Sabe-se que o aumento da produção primária é impulsionado pelo aumento de nutrientes do ambiente, especialmente fósforo e nitrogênio. Em grandes quantidades esses nutrientes podem, além de aumentar a produtividade primária, deteriorar a qualidade do ambiente no processo de eutrofização artificial (Esteves, 1998). O reservatório de Barra Bonita tem sido considerado um reservatório hiper-eutrófico, com altas concentrações de fósforo, nitrogênio e clorofila a (UNEP-IETC, 2001; Tundisi, 2003). Em contraste, o reservatório de Jurumirim foi classificado em termos de trofia como oligotrófico no geral, mas como meso-oligotrófico no local de atuação dos pescadores artesanais na região do Bairro da Ponte (Henry & Nogueira, 1999; Nogueira et al., 1999). Grandes diferenças na concentração dos valores de fósforo total, nitrogênio total e clorofila a, também foi observado no presente estudo. Dados sobre produtividade primária no reservatório de Jurumirim revelam valores de 25ton/ha -1/ano -1 para o trecho de desembocadura do rio

Paranapanema no reservatório, isto é, na área do Bairro da Ponte (Pompeo, 1996), infelizmente não se pode realizar a comparação porque não se encontrou na literatura essa informação para o reservatório de Barra Bonita.

O processo de autodepuração que ocorre ao longo da cascata de reservatórios no eixo do médio e baixo Tietê tem reflexos na grande diminuição dos níveis de clorofila a, fósforo total e nitrogênio total (Barbosa et al ., 1999). Nos reservatórios a jusante de Barra Bonita, Ibitinga, Promissão, Nova Avanhandava e Três Irmãos a produção pesqueira registrada tem sido historicamente inferior a Barra Bonita (Torloni et al., 1993; ECO – Consultoria Ambiental e Comercio Ltda, 2002, Barrela & Petrere Jr. 2003), é a diminuição da produtividade primária acarretada pelas baixas concentrações de nutrientes, pode estar sendo um dos fatores limitante para a produtividade pesqueira nesses reservatórios. Também corrobora essa hipótese, o reservatório de Billings, que possui uma produtividade pesqueira elevada, para os padrões brasileiros (65 kg/ha -1/ano -1), e tem sido classificado como reservatório eutrófico (Minte-Vera. 1997; Minte-Vera & Petrere Jr. 2000). Em suma, pode-se concluir que para o reservatório de Barra Bonita a alta produção primária deve estar sustentando a teia trófica com ressonância na produção de peixes.

Entretanto, essa tese do aumento da produção pesqueira relacionada com o aumento da produtividade primária em altos níveis pode também induzir aos processos de eutrofização artificial que têm serias conseqüências ambientais, sociais, econômicas e culturais (Esteves, 1988, Tundisi, 2003). Para pesca a eutrofização pode provocar a simplificação da assembléia de peixes, com baixa riqueza de espécies, alta dominância de algumas e desaparecimento de outras (Magurran, 1988), além de mortandades de peixes, especialmente em períodos mais quentes do ano que implicam nos baixos teores de oxigênio dissolvido. Por exemplo, o processo de eutrofização em lagos finlandeses tem provocado um decréscimo na pesca, aumento na população de ciprinídeos de pequeno porte e de baixo valor econômico para a pesca comercial e turística (Tammi et al., 1999). Desta forma, não é

aconselhável o aumento artificial da produtividade primária, pois as conseqüências negativas tende a graves e de difícil reversão.

Em termos da ausência de espécie ajustada aos ambientes lênticos artificiais pode-se discutir que a fauna de peixes brasileira evoluiu em ambientes característicos de rios (lóticos), possuindo assim poucos elementos ajustados aos ambientes lênticos de reservatório, que se concentram principalmente na região da Amazônia e Pantanal (Britski,1972). Uma importante espécie brasileira pré-adaptada ao ambiente lêntico é a sardela ou mapará Hypophthalmus edentatus (natural da bacia do amazônas) (Petrere Jr., 1996) e é muito abundante na pesca nos reservatórios de Itaipu, embora seu rendimento venha apresentando declínio (Agostinho et. al., 1999a,b) e Tucuruí (Franco de Camargo e Petrere Jr., 2004). Para mitigar os efeitos dos barramentos sobre a ictiofauna, conforme legislação ambiental vigente, as concessionárias das hidroelétricas vêm utilizando a estocagem de peixes como meio de incrementar a produção pesqueira. Contudo, isso é realizado de forma equivocada. Por exemplo, uma das principais espécies utilizadas neste processo de estocagem em reservatórios brasileiros foi a tilápia-do-Nilo ( O. niloticus ), originária da África Oriental e bem adaptada ao ambiente lêntico dos lagos africanos (Lowe-McConnell, 1999). Esta espécie foi em décadas passada largamente utilizada em projetos de estocagens nos reservatórios de São Paulo (Carvalho et al. , 2005; CESP, 1998), e hoje, em alguns reservatórios da bacia do alto Paraná, se encontra bem estabelecida, tornando-se bastante importante para a pesca nos reservatórios eutróficos de Barra Bonita e Billings (Minte-Vera & Petrere Jr.; 2000; Gomes & Miranda, 2002; Agostinho et al ., 2007; este estudo). Introdução de espécies bem “adaptadas” aos ambientes lênticos, tem incrementado a produção pesqueira em nos açudes do nordeste brasileiro (Paiva et al., 1994) e em reservatórios do sudeste asiáticos Fernando & Hol čík, 1982).

No reservatório de Jurumirim a tilápia-do-Nilo, também foi introduzida em programas de estocagem realizada pela concessionária hidroelétrica (Cesp,

1998). Contudo, a espécie não estabeleceu e o resultado foi um fracasso absoluto do ponto de vista pesqueiro (Carvalho et al., 2005). Segundo hipóteses destes autores, o insucesso foi decorrente da ausência de estudos prévios sobre a limnologia do ecossistema (aspectos físico-químicos e hidrológicos, produção primária e secundária, etc.) associada à biologia, ecologia e genética desta espécie que poderiam dar subsídios a esta forma equivocada de manejo. Atualmente, a instalação de piscicultura em sistemas de tanques-redes nesse reservatório, com a criação quase que exclusiva de tilápia-do-Nilo (Zanatta, 2006) e os inúmeros pesqueiros da região, potencializam os riscos de escapes para o ambiente natural, e o seu possível retorno ao reservatório de Jurumirim. Monitoramento contínuo e efetivo dos desembarques pesqueiros associados a estudos sobre sua comunidade de peixes seria necessário para se verificar esse perigo potencial no ecossistema.

Outra questão que pode refletir na produtividade pesqueira é a cadeia alimentar longa. De acordo com a segunda lei da termodinâmica, alguma energia sempre se dispersa em energia térmica não disponível, nenhuma transformação espontânea de energia é 100% eficiente. Na cadeia trófica em cada transferência (de um nível para outro) a energia potencial perde-se sob forma de calor, muitas vezes de 80% a 90%. A clássica lei dos 10%. Portanto, quanto menor a cadeia alimentar maior a energia disponível para a população (Odum, 1988). Assim, espécies de peixes de topo da ”pirâmide” trófica potencialmente apresentam biomassa menor. Pode-se constatar essa situação na costa peruana, uma das maiores áreas de ressurgência do Oceano Pacífico, com alta produtividade primária, mas o principal pescado, de grande importância na economia do Peru, são os clupeiformes (sardinhas e anchovas) são de baixo nível trófico (FAO, 2007). Também, alta produção pesqueira registrada no nordeste brasileiro, África e sudeste asiático são sustentadas por ciclídeos e clupeídeos que ocupam níveis tróficos em cadeias curtas (Paiva et al., 1994;; Lowe-McConnell, 1999; Nissanka et al., 2000; Gomes & Miranda, 2001; Jackson & Marmulla, 2001; Amarasinghe, 2002; Nathanael, & Ediridinghe, 2002; De Silva, 2004; Susgunan & Katiha, 2004). Na bacia do alto

Paraná, a cadeia alimentar das espécies alvo das pescarias tende em ser longas nos reservatórios, aparentemente devido à baixa densidade de herbívoros e fitplanctófagos (Gomes & Miranda, op. cit. ). As exceções nessa bacia são os reservatórios de Billings e o lago Paranoá (Minte-Vera & Petrere Jr., 2000; Petrere Jr. et al., 2006; Walter & Petrere Jr., 2007).

A outra exceção que tem sido evidenciada é o reservatório de Barra Bonita, cujo O. niloticus classificada como fitoplanctófoga mostra capacidade de explorar a variações desse recurso ao longo do ano (capitulo II). Por outro lado, no reservatório de Jurumirim, o principal pescado foi Hoplias malabaricus um predador de topo, com alimentação exclusiva de peixes na fase adulta e ocupando a posição no topo da cadeia alimentar, variando como predador de segunda e terceira ordem (Capítulo III). Outras espécies importantes na pesca no reservatório de Jururmirim ocupam posições mais baixas na cadeia trófica do que H. malabaricus : 1) Leporinus spp.(piavas) tem sido classificada como ominívora, com tendência a insetívora (Albrecht & Caramaschi, 2003; Albrecht & Caramaschi, 2003a; Balassa, et al., 2004; Mendonça et al., , 2004), e às vezes como piscívoro (Braga, 1990); 2) Prochilodus lineatus (curimbatá) tem sido classificada como uma espécie detritívora (Vaz et al., 1999) e que poderiam dentro dessa hipótese ser mais abundante, entretanto outros motivos, como destruição do habitat para a formação do reservatório, e a pouca capacidade de se ajustar ao ambiente semi-lêntico do local, podem estar limitando a população. Deve relatar que nos últimos 10 anos, técnicos responsáveis por aquela estação de hidrobiologia de Salto Grande têm realizado estocagem com espécies nativas, em especial com juvenis de curimbatá nas lagoas marginais do Bairro da Ponte, conforme orientação do pesquisador Edmir D. Carvalho.

Nesta temática também devem ser enfocadas as técnicas de captura usadas pelos pescadores artesanais em diferentes partes do mundo. A pesca da batida tem sido usada como a principal técnica de captura de tilápias em outros reservatórios do Brasil e no Sri Lanka (Amarasinghe, 2002). Essa

técnica de pesca ativa parece ter se iniciado no reservatório de Billings, onde foi descrita por Minte-Vera (1997). Câmara et al., (1988) descreve o uso dessa técnica na pesca da tilápia no reservatório de Marimbondo, no rio Grande (SP), sugerindo que essa técnica foi difundida no reservatório por pescadores de Billings. No reservatório de Barra Bonita, também há indícios de que a pesca da batida tenha sido difundida por pescadores proveniente do reservatório de Billings, como está descrita no capítulo de socioeconômia e características da pesca. Contudo, os pescadores de Barra Bonita, desenvolveram outra técnica de captura ativa das tilápias, que foi a pesca do arrasto (também descrita naquele capítulo), que se mostrou bastante eficiente na captura desse pescado, especialmente na região lêntica do reservatório (Rio Bonito). Cabe reforçar que as técnicas são ilegais pela legislação vigente, ficando os pescadores sujeitos aos rigores da lei, como já comentado.

Outra variável importante com reflexo na produção é o esforço de pesca. Neste estudo os dois reservatórios apresentaram um esforço de pesca igual (1,3 pescadores/km 2), o que reforça que as hipóteses discutidas acima como as causada da diferença entre a produtividade pesqueira desses dois reservatórios.

Variações espaço-temporal da CPUE no reservatório de Barra Bonita

Na abordagem espacial, estudo realizado no reservatório de Itaipu, mostrou para aquele reservatório que a distribuição das espécies de peixe foi influenciada pelo zoneamento espacial, região lacustre, transição e fluvial, e que esta distribuição ao longo do reservatório influencia na composição da pesca (Okada, et al., 2005). Segundo os autores, a pesca na região lêntica do reservatório foi dominada por espécies alóctones, Hypophthalmus edentatus e Plagioscion squamisissimus , ambas de origem amazônica e bem ajustadas a ambientes lênticos (Petrere Jr., 1996; Graça & Pavanelli, 2007). Na região fluvial a pesca concentrou-se em espécies que preferencialmente habitam o fundo e com características migratórias e na região de transição por espécies

pouco associadas com hábitos bentônicos, Prochilodus lineatus , Pinirampus pirinampus e Pimelodus maculatus .

Neste estudo, os núcleos de pesca amostrados podem ser caracterizados como lêntico (Rio Bonito) e dois de transição rio-reservatório, Anhembi (rio Tietê) e Ponte de Santa Maria da Serra (rio Piracicaba), porém estudos para caracterização dos estratos longitudinais (lacustre, transição e fluvial), através da taxa de sedimentação (Thornton et. al., apud. Okada et al., 2005) são necessários. A composição do desembarque nesses três núcleos apresenta diferenças até certo ponto marcantes, contudo, a tilápia foi o principal pescado desembarcado nos três núcleos.

O sucesso das tilápias, especialmente a tilápia-do-Nilo, no reservatório de Barra Bonita pode ser atribuído a uma combinação de fatores: (1) a um ambiente altamente eutrofizado, que em determinadas épocas apresentam baixa concentração de oxigênio e que pode ser suportado por essa espécie, (Lowe-McConnell; (2) Alto potencial reprodutivo (Duponchelle et al., 1999), período reprodutivo longo (ver capítuloII); (3) disponibilidade de recursos alimentares, a tilápia-do-Nilo, apresentou uma dieta alimentar no reservatório de Barra Bonita, fitoplanctófoga (ver capítuloII); (4) ausência de predadores. A baixa captura de piscívoros no reservatório (corvina e traíra), sugere que não há predadores no ambiente; (5) técnicas de capturas ativas que são ilegais, mas muito eficientes na captura desse pescado.

Contudo, uma queda nos valores de CPUE foi observado no segundo ano de amostragem. A explicação para essa queda nos valores da CPUE foi à redução na captura das tilápias, especialmente na primavera/2005 e verão e outono 2006. Dois fatores podem ter sido os causadores da queda nos valores de CPUE das tilápias.

1ª - Aumento da fiscalização que foi observado com o objetivo de coibir a pesca ilegal (pesca da batida e arrasto e no período da piracema),

especialmente no período de abril de 2006 até o fim dos trabalhos em junho de 2006. Essa fiscalização foi mais rigorosa na região do Rio Bonito, no município de Botucatu, sede da polícia ambiental da região. Rondas diárias, em dois períodos (manhã e tarde) eram feitas da região do Rio Bonito até a localidade conhecida como ponte do Jaú. Essa fiscalização foi mais efetiva no mês de abril, quando a atividade pesqueira parou completamente nesse mês. Nos meses subseqüentes a fiscalização continuou, porém menos ostensiva. Como nesse núcleo de pesca a única captura são as tilápias e pelas técnicas ilegais (alvo da fiscalização), uma redução nos valores da CPUE desse pescado foi observada nestas estações do ano, provocando uma queda nos valores totais da CPUE. Essa hipótese é corroborada pelo fato dos valores da CPUE de Anhembi, onde não houve esta fiscalização ostensiva, não apresentaram queda nessas estações do ano (primavera/2005 e verão e outono 2006). Assim, pode concluir que a fiscalização intensiva, ocorrida na região do Rio Bonito pode ter sido uma das causas da redução nos valores da CPUE.

2ª - Redução do estoques: O capítulo II mostrou que o estoque da tilápia (Oreochromis niloticus ) está próximo do limite máximo sustentável, o que pode ter causado essa redução nos valores da CPUE nos últimos meses do trabalho. Desta forma, essa conseqüência teria sido maior no núcleo do Rio Bonito, uma vez que, no núcleo de Anhembi os valores de captura das tilápias não apresentaram quedas.

Entre as espécies de hábito migratório, duas apresentaram importância para a pesca: Pimelodus maculatus (mandi) e Prochilodus lineatus (curimbatá) que juntas tiveram 6% da biomassa total capturada. As espécies dos gêneros Pimelodus , Prochilodus são os migradores de maior ocorrência na fauna dominante dos reservatórios (Agostinho et. al., 2007), o que sugerem que são tolerantes aos impactos provocados por esse tipo de empreendimentos. Entretanto, a captura dessas espécies não foi homogênea no reservatório, sendo o mandi com captura somente na localidade da Ponte de Santa Maria da

Serra e o curimbatá com maiores capturas na localidade de Anhembi. A localidade do Rio Bonito não apresentou captura de espécies migradoras

Sabe-se que na bacia do alto rio Paraná, a espécie Prochilodus lineatus possui movimentos migratórios rio acima (fins reprodutivos) entre novembro a março (primavera e verão) no período de cheias podendo migrar de 1200 a 1400 km. Após a reprodução, migra rio abaixo (rodada) para locais à jusante para fins alimentares, onde ficarão até o próximo ciclo reprodutivo (Godoy, 1975; Lowe-McConnell, 1999; Barbieri et al., 2000a; Capeleti & Petrere Jr., 2006; Graça & Pavanelli, 2007). No reservatório de Itaipu, curimabatá esta entre as espécies de maior importância na pesca artesanal (Agostinho et al., 1999a,b). Esse reservatório se caracteriza por apresentar a montante uma grande planície de inundação e tributários bem preservados que são utilizados por essa espécie para efetuarem suas desovas, retornando a porção superior do reservatório para fins de alimentação (Agostinho et al ., 2002; Gubiani et al ., 2007). Desta forma reservatórios que possuem áreas a montante livre de barramento, preservadas e com dinâmica dos pulsos de inundação, podem manter estoque de espécies migradoras, segundo esses autores.

O rio Tietê próximo a Anhembi, possui um tributário de médio porte, que é o rio do Peixe, que ainda se mantém preservado, com presença de lagoas marginais com conexão permanente ou temporária com esse rio, mata ciliar conservada e baixo grau de poluição antrópico. Esse tributário pode estar servindo como local de reprodução para a espécie, seguindo o modelo do reservatório de Itaipu, e mantendo estoque pesqueiro de P. lineatus na área do reservatório de Barra Bonita. Essa hipótese esta sendo testada por Paes ( in prep .), mas já há indicativos reforçando esse modelo. Assim, a necessidade de conservação e preservação desse rio (e de seus pulsos de inundação) são essenciais para a conservação e manutenção do estoque pesqueiro de P. lineatus nessa localidade do reservatório de Barra Bonita.

Os valores da CPUE dessa espécie mostraram-se baixo no inicio do estudo (inverno e primavera/2004), seguido de aumento do verão ao inverno de 2005, quando do retornou ao reservatório após a época de reprodução (fim do verão) e sua permanência no local para alimentação. A forte queda na primavera/2005 sugere que os cardumes da espécie iniciaram sua migração para as áreas de reprodução, não estando disponíveis para captura no reservatório. Novamente ocorre um aumento nos valores da CPUE no verão/2006 com o fim do período reprodutivo. Essa dinâmica de captura da espécie reforça a hipótese sugerida acima, além disso, mostra a capacidade da espécie em tolerar um ambiente altamente eutrofizado.

No núcleo da Ponte de Santa Maria, esperava-se que a espécie apresentasse valores da CPUE similares ao encontrado em Anhembi. Estudo anterior, no braço do Piracicaba que forma o reservatório, mostrou que a espécie foi a mais desembarcada em biomassa na década de 1990 (Silvano & Begossi, 2001). Os baixos valores de CPUE encontrados nesse estudo podem estar relacionados a alguns fatores: 1) sobrepesca e 2) ausência de sítios reprodutivos, 3) falhas no recrutamento.

O mandi ( Pimelodus maculatus ) foi capturado em alta freqüência na pesca comercial em alguns reservatórios da bacia do alto rio Paraná, como Volta Grande (Braga & Gomeiro, 1997), Itutinga (Alves et. al., 1998); Igarapava (Maia et al., 2007), todos no rio Grande, além do reservatório de Yacyretá, no trecho argentino do rio Paraná (Hirt et. al., 2005). No reservatório de Barra Bonita, P. maculatus foi capturado na pesca artesanal apenas na Ponte de Santa Maria da Serra. Nesse trecho, P. maculutus foi a terceiro pescado em biomassa na década de 1990 (Silvano & Begossi, 2001), indicando que a espécie encontra-se estabelecida no local. P. maculatus é um migrador de curta distância que necessita de segmentos curtos de fluxos livres de rios para desovar, ao contrario de outros migradores (Maia et al., op . cit .); como por exemplo, Prochilodus lineatus . Na região existem alguns rios de porte pequeno e médio, que poderiam servir de sítios reprodutivos, além disso, na região

conhecida como Tanquã, a montante da Ponte de Santa Maria da Serra, existem inúmeras lagoas marginais, conectadas ao rio Piracicaba, servindo como local de reprodução, e desenvolvimento das larvais e juvenis (Silvano & Begossi, 2001). Essa espécie caracteriza-se também por exibir plasticidade nas suas estratégias reprodutivas e de crescimento para se ajustar às condições ambientais dos reservatórios (Hirt et. al op cit ). Essas duas características, curta migração e plasticidade podem explicar em parte a capacidade da espécie manter um estoque viável para a pesca, por um longo período de tempo. Entretanto, estudos mais detalhados sobre sua biologia e de seu deslocamento reprodutivo são necessários para estabelecer planos de manejo do estoque de P. maculatus .

Os cascudos, formados principalmente por Liposarcus cff . anisitsi (cascudo preto) e espécies de gênero Hypotomus . L . cff. anisitsi é originário da bacia do amazonas e não se sabe sobre sua introdução no reservatório. Esse pescado foi o segundo mais capturado no reservatório, com capturas concentradas no núcleo de Anhembi, sendo comercializado já na forma de filé pelos pescadores artesanais devido ao seu bom preço de comercialização. Membros desse grupo (sub-família Hypostominae), em geral são de médio porte (Graça & Pavanelli) com importância na pesca comercial no médio amazonas (Ferreira et al., 1998). No núcleo da Ponte de Santa Maria da Serra esse pescado apresentou importância na pesca artesanal na década de 1990, como o 4º mais capturado (Silvano & Begossi, 2001). Neste estudo sua captura neste núcleo foi bastante reduzida, e talvez isso seja explicado, pelo pouco interesse no pescado, conforme conversas informais desses pescadores.

A sardela, Triportheus angulatus , originária da Amazonas, foi introduzida no reservatório de Barra Bonita na década de 1970, por meio de programas oficiais de estocagens pela concessionária do reservatório (CESP, 1998). Sua captura restringiu-se apenas ao núcleo da Ponte de Santa Maria da Serra com alto de CPUE no verão/2005. A captura apenas nesse núcleo pode estar relacionada com o emprego correto do aparato de captura, rede de emalhe

com malha 5 cm, para esse grupo de pescado e com uma maior disponibilidade nesta região do reservatório.

Os resultados mostram que um único pescado teve importância na região mais lêntica do reservatório foram as tilápias. Esse é o único grupo de peixes do reservatório bem ”adaptado” ao ambiente lêntico. Espécies migradoras foram capturadas apenas na região considerada de transição rio- reservatório. Esse padrão espacial encontrado na pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita foi similar ao descrito para o reservatório de Itaipu, como mencionado acima. Contudo, cabe ressaltar o baixo número de espécies exploradas na pesca, muito provavelmente devido as atuais condições ambientais do reservatório, especialmente o alto nível de eutrofização.

A captura de espécies migradoras na pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita foi baixa, sendo registradas, além de curimbatá e mandi, piavas, dourado e pacu, sendo os dois últimos registrado apenas no núcleo da Ponte de Santa Maria da Serra. Dados pré-represamento no rio Piracicaba entre os anos de 1949 e 1952 mostra a importância das espécies migradoras na composição da ictiofauna e produção pesqueira na região (Monteiro, 1953). Este autor Identificou, além de curimabtá e mandi, pintados ( Psedoplatystoma corruscans ), jaús ( Paulicea luetkeni ) e dourados ( Salminus brasiliensis ) como as principais espécies pescadas na região e outras menos importantes como piavas, pacu-guaçu e piracanjubas, além de uma serie de peixes pequenos. Segundo o autor, estas espécies realizavam migrações do baixo Tietê até as proximidades da cidade de Piracicaba, sendo o salto de Piracicaba uma barreira intransponível para a subida de cardumes para a parte superior.

Sazonalidade da CPUE no reservatório de Jurumirim

Para o reservatório de Jurumirim, variações significativas estatisticamente, foram observadas, com maiores valores de CPUE nas estações do verão e primavera/2005. Os altos valores das CPUE nessas

estações do ano relacionam-se com altos valores de CPUE de curimbatá no verão/ 2005 e de curimbatá, traíra, piavas e mandi na primavera/2005. Apesar de ter sido estatisticamente diferente, as oscilações nos valores da CPUE não foram de grande magnitude, o que pode estar indicando que a pesca nessa localidade do reservatório de Jurumirim encontra-se bem equilibrada.

A traíra, Hoplias malabaricus , espécie caracterizada como piscívora apresentando o seu período reprodutivo na primavera e verão (capítulo III), foi o pescado que apresentou o maior valor de CPUE total (bem como na primavera de 2005 e 2006). Por apresentar preferências por ambientes mais lêntico, como lagoas e remansos (Winemiller, 1989; & Zuanon, 1998; Carvalho et. al. , 2002) poderia esperar que este pescado fosse um dos principais na pesca artesanal. Também, pode-se notar que há uma estreita relação entre os valores da CPUE desse pescado com a dinâmica da pesca do curimbatá. Como será discutida, a pesca do curimbatá parece estar relacionada com o retorno dos indivíduos adultos para o reservatório. Assim, empiricamente o pescador procura instalar seus aparatos de captura em ambientes mais lótico (calha do rio), onde a captura de traíra é, geralmente, menor. Nas estações subseqüentes, os pescadores direcionam menos as capturas para curimbatá, instalando seus aparatos de captura, em outros tipos de ambientes, como lagoas, e na região de transição, ambientes preferências da traíra.

Os valores da CPUE para P. lineatus foram maiores verão no 2005 e 2006. Como discutido, os indivíduos dessa espécie realizam a migração reprodutiva (a famosa piracema, sensu Godoy, 1975) rio acima, entre novembro e março e depois descem rio abaixo, recuperando suas energia até os sítios de alimentação (migração trófica). Tudo indica que no reservatório de Jurumirim a captura desta espécie por pesca artesanal segue esse padrão migratório. Na bacia do Paraná, com o final do período de defeso (em março) os pescadores retornam as suas atividades quando os cardumes de curimbatá “desovantes” estão retornando para os sítios de alimentação. Assim, os

maiores valores da CPUE para curimbatá no final do verão, devem estar relacionados com o movimento descendente (rio abaixo) com o retorno dos cardumes para os sítios de alimentação já neste trecho do reservatório, próximo ao Bairro da Ponte. Outro indicativo deste processo foi dado pela análise, no verão, de alguns indivíduos desta espécie cujas gônadas de encontravam-se no estádio de regressão, portanto, pós-período reprodutivo.

Por outro lado, as piavas e piaparas (espécies do gênero Leporinus ) que também realizam migrações reprodutivas (Godoy, 1975, Graça & Pavanelli, 2007), não apresentaram grandes variações nos valores da CPUE, ao longo do estudo. Aparentemente sua captura parece estar mais relacionada com a sua disponibilidade no ambiente, do que com as características comportamentais relacionadas à migração.

O mandi P. maculatus foi outro migrador importante como recurso para a pesca nessa região. Como já discutido, ajusta-se bem as condições ambientais vigentes em reservatórios. No reservatório de Jurumirim possui crescimento isométrico, podendo atingir 36 cm de comprimento padrão, com período reprodutivo de dezembro a fevereiro e habito alimentar omnívora, com predominância de insetos e encontra-se bem estabelecido neste reservatório (Carvalho, 1991). Apresentou maior captura no primeiro ano do estudo (em 2005), com queda no segundo ano (em 2006).

Serrasalmus maculatus é uma espécie ictiófaga, alimentando-se de nadadeiras e músculos de peixes e se ajusta bem às condições lacustre dos reservatórios (Almeida et al., 1997). Durante o período de estudo, apresentou o maior valor de CPUE no verão de 2005, mas a sua captura foi relativamente constante ao longo do período de estudo.

Técnicas de captura

O tipo de aparelho usado na pesca pode interferir na quantidade capturada, uma vez que cada aparelho tem diferente eficiência de pesca (Isacc et al., 1996). Desta forma, embora as inferências feitas possam incorrer em alguns erros, a análise estatística de correspondência aplicada neste estudo teve como objetivo verificar a existência ou não de correlação entre o volume (ou espécie) de pescado com as técnicas e aparatos de captura.

Os métodos ativos de captura, como as tarrafas e uso de redes de arrasto, correlacionaram positivamente com a biomassa das tilápias, e o grande volume deste pescado no desembarque demonstra que praticamente toda atividade de pesca no reservatório de Barra Bonita está voltado para a sua captura. Também, as técnicas de captura ativa, especialmente a pesca da batida têm sido empregada em outros reservatórios como Marimbondo (Câmara et al., 1988) e Billings (Minte-Vera & Petrere Jr., 2000) para a captura das tilápias. Além, disso, a pesca do arrasto foi adaptada pelos pescadores de Barra Bonita, visando também a captura das tilápias e são muito usadas na região do rio Bonito, no trecho do corpo principal do reservatório.

Entretanto, a rede de emalhe, uma técnica passiva, foi aplicada apenas no núcleo da Ponte de Santa Maria da Serra, utilizada na captura dos não ciclideos, como mandi, sardela, lambaris e corvinas.

Uma técnica mista, isto é, aquela que usa a pesca da batida (ativa) e rede de emalhe (passiva) tem sido utilizada pelos pescadores deste reservatório, nas regiões de Anhembi e Rio Bonito para maximizar o esforço de pesca. Nessas regiões os lotes de redes de emalhe são instalados no período vespertino (início da noite) visando à captura de outros pescados, principalmente curimbatá e cascudos, no caso dos pescadores do núcleo de Anhembi, e para captura de tilápias, no caso dos pescadores do Rio Bonito. Na parte da manhã, os lotes dessas redes são retirados e em seguida inicia-se a pesca da batida, visando as tilápias.

A CPUE e variáveis limnológicas

Estudos em reservatórios do Alto Paraná (Gomes et al., 2002) e em reservatórios do Sri Lanka (Nissanka et al., 2000) mostraram a existência de relação entre a produção pesqueira com a produtividade primária, representada pelo teor clorofila a no fitoplâncton. Ainda, no Sri Lanka, os autores citados acima, encontram correlações da produção pesqueira com fósforo (total e dissolvido) que é o principal fator limitante da produtividade primária.

Para o reservatório de Barra Bonita, o modelo matemático de regressão múltipla, não detectou relação entre os valores da CPUE com a clorofila a, medida pelo fitoplâncton, mas, apresentou relação positiva com fósforo total e nitrogênio total, nutrientes necessários para a produtividade primária e também com a temperatura da água, um fator abióticos importante que influencia na produção primária (Esteves, 1988). Desta forma, a combinação de altos nutrientes (fósforo e nitrogênio) e alta temperatura, favorecem o aumento da produção primária, realizada não só pelo fitoplâncton, mas também pelas macrófitas aquáticas. Assim, os resultados sugerem que a produtividade primária pode ser um dos principais fatores que controla a produção pesqueira (produção secundária). A CPUE também apresentou correlação positiva com a cota do reservatório e negativa com precipitação pluviométrica.

Entretanto, para o reservatório de Jurumirim pode-se perceber que nenhuma das variáveis limnológicas mensuradas correlacionou-se com a CPUE.

Comparativo da pesca (em CPUE) entre os reservatórios de Barra Bonita e de Jurumirim

Os resultados desse estudo mostraram que a dinâmica da pesca nos dois reservatórios são bastante distintas, sendo que essas diferenças são reflexos de suas condições ambientais, dos diferentes usos e ocupação do solo

em bacias hidrográficas, além da introdução e estabelecimento da tilápia-do- Nilo no reservatório de Barra Bonita que promoveu movimentos migratórios do pescador artesanal e aplicação de novas técnicas de captura. A tabela 1.9 mostra sinteticamente as principais diferenças entre a dinâmica da pesca nos dois reservatórios em pauta.

Tabela 1.9 – Comparação entre alguns fatores relacionados com a atividade de pesca artesanal nos reservatórios de Barra Bonita (Médio rio Tietê) e Jurumirim (Alto rio Paranapanema).. Barra Bonita Jurumirim Produtividade (Kg/ha-1/ano -1 245,4 15,7 CPUE (kg/pesc-1/dia-1) 62,4 10,5 Esforço de pesca Principal pescado (origem) Oreochromis niloticus Hoplias malabaricus (exótica – África) (nativa) Dominância do principal forte fraca pescado

Sazonalidade na ausente presente composição do pescado Técnicas de captura ativa passiva Locais de pesca Corpo do reservatório e calha do rio, áreas de áreas de transição entre transição entre rio- rio-reservatório reservatório e lagoas marginais. Contribuição dos baixa alta migradores na composição do pescado

Conclusões

Com relação à pesca artesanal nos reservatório de Barra Bonita e Jurumirim (Alto do Rio Paraná), os dados permitem concluir que:

1º - O reservatório de Barra Bonita apresentou produção pesqueira de 245,4 kg/ha -1/ano-1 e captura por unidade de esforço (CPUE) de 62,4 kg/pesc. - 1/dia -1 , sendo bem superior ao reservatório de Jurumirim que foi 15,7 kg/ha - 1/ano -1 e CPUE de 10,5 kg/ha -1/ano -1.

2º - As prováveis razões para a essa grande diferença na produção pesqueira são: maior produtividade primária, espécie “adaptada” à ambientes lênticos (exótica Oreochromis niloticus ); cadeia alimentar curta (fitoplâncton – tilápia); técnicas de captura apropriadas para tilápias no caso do reservatório de Barra Bonita;

3º - A pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita está concentrada na espécie exótica Oreochromis niloticus (tilápia-do-Nilo) representando mais de 80% da biomassa total dos pescados. Enquanto que, no reservatório de Jurumirim a pesca está concentrada em espécies nativas, principalmente Hoplias malabaricus (traíra), Leporinus spp. (piavas) e Prochilodus lineatus (curimbatá);

4º - No reservatório de Barra Bonita, o núcleo de Rio Bonito (Porto Said e Bairro da Mina) foi que apresentou os maiores valores de CPUE entre inverno de 2004 a inverno de 2005, e o núcleo de Anhembi apresentou os maiores CPUE entre primavera de 2005 a outono de 2006;

5º - O núcleo de Rio Bonito apresentou maiores valores de CPUE no primeiro ano do trabalho com forte queda no segundo ano. Variações nos valores de CPUE nos núcleos de Anhembi e Ponte de Santa Maria da Serra ocorreram ao longo do estudo, mas em magnitude menores;

6º - Há diferenças entre os núcleos de pesca artesanal do reservatório de Barra Bonita em termos da composição dos pescados. Na região lêntica do reservatório, núcleo do Rio Bonito, o principal pescado foram as tilápias (mais que 99 %). No núcleo de Anhembi, além das tilápias, cascudos e curimbatá

foram importantes para a pesca artesanal; enquanto que no núcleo da Ponte de Santa Maria da Serra, mandi e sardela foram outros pescados importantes além das tilápias;

7º - Para o reservatório de Jurumirim, os maiores valores de CPUE foram registrados no verão e primavera 2005; sendo a traíra o principal pescado.

8º - Em termos sazonais, curimbatá foi o pescado mais importante (CPUE) nos verões, as piavas nos outonos e a traíra nos invernos e primaveras no reservatório de Jurumirirm;

9º - As técnicas de captura utilizadas no reservatório de Barra Bonita foram principalmente às ativas (pesca da batida, tarrafa e pesca do arrasto) visando a captura das tilápias;

10º O valor de CPUE no reservatório de Barra Bonita, correlacionou positivamente com temperatura da água, nitrogênio total, fósforo total e cota altimétrica do reservatório e negativamente com precipitação pluviométrica. Enquanto que no reservatório de Jurumirim não constatou correlações entre variáveis limnológicas e CPUE.

Capítulo II

DINÂMICA POPULACIONAL DE Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) (TILÁPIA-DO-NILO) ORIUNDA DA PESCA ARTESANAL NO RESERVATÓRIO DE BARRA BONITA, RIO MÉDIO TIETÊ (SP) E AVALIAÇÃO DO SEU ESTOQUE.

Introdução

A família Cichlidae tem uma ampla distribuição geográfica sendo encontrada na América do Sul e Central, África, sudeste da Índia e Sri Lanka, sendo predominantemente de águas doce (Kullander, 2003). Hoje, são conhecidas mais de 1000 espécies de ciclídeos, sendo a grande maioria distribuída no continente africano (Kullander, op. cit. ). Na América do Sul são conhecidas aproximadamente 500 espécies inclusas em 50 gêneros (Kullander, op cit. ), sendo que a bacia Amazônica contém o maior número de espécies desta família (Lowe McConnell, 1999).

A tribo Tilapiini, originária da África, reúne um grande número de espécies pertencente a três gêneros, Oreochromis , Tilapia e Sarotherodon (De Sillva et al., 2004) que são conhecidas genericamente por tilápias. Devido a sua excepcional capacidade de ajustar as condições ambientais (Duponchelle et al., 2000) e o seu potencial para aqüicultura (Peña-Mendonza et. al., 2005), espécies dessa tribo foram largamente dispersadas em quase todos os continentes, como em diversas bacias hidrográficas africanas (Duponchelle et al., 1999; Bwanika et al., 2004; Njiru et al., 2004; Njiru et al., 2006) asiáticas (Amarasinghe & De Silva , 1992; De Sillva et al., op cit. ), da oceania (Arthington & Milton, 1986); da América do Norte (Peterson et. al.; 2004; Peña-Mendoza et. al., op cit. ), da América Central e Caribe (McMcrary et. al., 2005; Averhoff, 1999); sul-americano (Cala & Bernal, 1997; Carvalho et. al., 2005, Colômbia e Brasil, respectivamente).

No Brasil, as primeiras introduções propositais de tilápias ( O. niloticus ) com objetivo de incrementar a produção pesqueira ocorreram nos açudes

nordestino na década de 1930 (Lovshin et al., 1976). No alto rio Paraná, as introduções equivocadas das tilápias aconteceram na década de 1950, no Estado de São Paulo, com a chegada da espécie T. rendalli , via institucional (DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca) também para aumentar a produtividade pesqueira (Castro & Arcifa, 1987) e cumprir a dúbia legislação ambiental. Segundo Smith et al. (2005), as primeiras introduções de tilápias ( T. rendalli , O. niloticus ) no alto do rio Tietê (alto da Serra do Mar) foi realizada pela Cia. São Paulo Ligth, em 1952, enquanto que nos trechos médio e baixo Tietê, esse grupo de peixes foi introduzido, também por via oficial (concessionárias de energia elétrica), na década de 1960. Cumprindo normas legais a Companhia Elétrica de São Paulo (CESP), iniciou na década de 1970, o programa de estocagem de peixes nos reservatórios sob sua concessão, introduzindo as espécies de tilápias citadas e outras espécies alóctones/exóticas em dez reservatórios das bacias do Tietê, Paranapanema e Grande (CESP, 1998). Hoje, a tilápia ( O. niloticus ) encontra-se bem estabelecida apenas no reservatório de Barra Bonita, onde sua produção pesqueira está estimada em 5 toneladas por dia (David et. al ., 2006).

Desta forma, embora introduzida nos reservatórios do alto rio Paraná há mais de 50 anos, os estudo sobre a bioecologia e efeitos provocados por essas espécies exóticas nestes ecossistemas aquáticos são poucos na literatura. Destacam-se os estudos de Barbieri & Barbieri (1988) sobre idade, crescimento e reprodução de T. rendalli no reservatório de Monjolinho, SP; Starling (1993) sobre os efeitos da T. rendalli na estrutura da comunidade de plâncton no lago Paranoá (DF); Arcifa & Meschiatti, (1999) estudaram a alimentação de T. rendalli no lago Monte Alegre; Barbieri et. al., (2000a, 2000b, 2000c) sobre reprodução, alimentação e crescimento, de O. niloticus no reservatório de Guarapiranga (SP); Starling et. al., (2002) sobre os efeitos da T. rendalli e O. niloticus na eutrofização do lago Paranoá (DF); e Figueredo & Giani (2005) sobre a alterações de O. niloticus sobre a comunidade de fitoplâncton e qualidade da água no reservatório de Furnas (MG). Objetivos

Devido à importância sócio-econômica para pesca da tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus ) e o seu alto rendimento pesqueiro no reservatório de Barra Bonita (capitulo I), os objetivos gerais deste trabalho foram caracterizar a dinâmica da reprodução, alimentação, crescimento em comprimento e avaliação do estoque desta espécie, oriunda da pesca artesanal. Assim, realizaram-se as seguintes abordagens: 1º - determinação da proporção entre os sexos e período reprodutivo; 2º - caracterização da dieta e hábito alimentar; 3º - estimativa da estrutura populacional e dos seguintes parâmetros do crescimento e avaliação do estoque pesqueiro a) relação peso/comprimento;

b) curva de crescimento em comprimento (L ∞ e k), c) recrutamento para pesca; d) taxas de sobrevivência e longevidade; e) taxas de mortalidade instantânea total, natural e por pesca; e f) rendimento relativo por recruta (Y’/R)

Materiais e métodos

Coleta de dados

Os exemplares de O. niloticus foram provenientes de amostragens mensais durante um ano (entre julho de 2004 a junho de 2005), em dois núcleos de pesca (Bairro da Mina em Botucatu e cidade de Anhembi) do reservatório de Barra Bonita. Nesses núcleos de pesca foi fornecido aleatoriamente no desembarque pesqueiro caixa contendo cerca de vinte quilos de tilápias capturadas, utilizando-se da pesca da batida. Todos os exemplares foram analisados em termos biométricos determinando-se o comprimento padrão (em cm) utilizando-se de ictiômetro e pesados com balança analítica digital (em gramas) e depois dissecados por uma incisão abdominal, determinação o sexo (a vista desarmada), o estádio de maturação

gonadal e pesagem das gônadas (em gramas). Também, os estômagos com conteúdo (parcialmente cheio e cheio) foram retirados, pesados e fixados em formol a 5% para análise posterior.

Analise de dados

Para as análises da dinâmica reprodutiva (proporção entre os sexos e período reprodutivo) e alimentação (dieta e hábito alimentar) os dados foram agrupados por trimestre, de acordo com as estações do ano: inverno/2004 (julho, agosto e setembro), primavera/2004 (outubro, novembro e dezembro), verão/2005 (janeiro, fevereiro e março) e outono/2005 (abril, maio e junho)

Dinâmica Reprodutiva

Para o estudo da dinâmica reprodutiva o universo amostral foi de 1687 exemplares.

A proporção entre os sexos foi determinada, em termos sazonais, utilizando-se a informação do sexo de todos os indivíduos amostrados nos quais aplicou-se teste de χ2 com o objetivo de testar a hipótese nula (proporção entre os sexos de 1:1), com significância p < 0,05 (Zar, 1996; Vieira, 2003).

Para a determinação do período reprodutivo utilizou-se das seguintes técnicas: a) caracterização macroscópica dos estádios de desenvolvimento gonadal: os ovários e testículos foram classificados conforme Vazzoler (1996) com base em suas características morfológicas (forma, coloração, transparência, volume ocupado na cavidade, grau da evidência da irrigação sangüínea e, nos ovários, presença, tamanho e coloração dos ovócitos). Assim, os machos e fêmeas puderam ser separados em estádios imaturo, em maturação, maduro, esvaziado (machos) / desovada (fêmeas); e repouso. (Vazzoler, op. cit.) e em seguida determinou-se à freqüência de distribuição sazonal dos estádios de maturação das gônadas; b) cálculo da relação gonadossomático (RGS) conforme Vazzoler ( op. cit ). Com esses dados foram construídos gráficos com valores médios de RGS em função do tempo e aplicado o teste estatístico, ANOVA one-way, com objetivo de testar a hipótese nula dos valores médios de RGS como sendo iguais entre as estações do ano (nível de significância, p < 0,05).

Considerando que os valores médios do RGS das fêmeas são um dos melhores indicadores do período reprodutivo (Vazzoler, 1996) aplicou o modelo matemático de análise de regressão múltipla (Zar, 1996; Valentin, 2000, Vieira, 2003) visando determinar as possíveis existências

de relações entre variáveis bióticas e abióticas. Assim, os dados brutos da variável biótica (RGS) em função de variáveis limnológicas (pH, clorofila a, alcalinidade, temperatura, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, transparência da água e nível do reservatório, alem da precipitação mensal acumulada) foram transformados logaritmicamente e submetidos a este modelo matemático.

Alimentação (dieta e hábito alimentar)

Para este estudo foram analisados os conteúdos de 180 estômagos. O volume dos estômagos foram previamente determinados utilizando-se da técnica descrita em Zavala-Camin (1996) que foi o deslocamento do volume da coluna d’água em uma proveta de graduada (1 em 1ml) para o cálculo do volume do estomago. Em seguida, os conteúdos foram retirados e diluídos em 10 ml de água destilada em um tubo de ensaio para proceder à análise quantitativa e qualitativa dos itens alimentares usando de forma adaptada da câmara de Neubauer (Koblitz e Andreatta, 1996), normalmente utilizada para contagem de células. Em seguida aplicou-se a técnica descrita por Tavares & Rocha (2001) consiste em: 1) Preencher a câmara de Neubauer após sua limpeza com álcool, com amostra homogeneizada do conteúdo estomacal; 2) Aguardar 3 a 5 minutos para o material sedimentar; 3) Verificar a distribuição (e homogeneização) do material na câmara, e se ocorreu má distribuição, o procedimento anterior deve ser repetido. Se bem distribuído procede-se à contagem quantitativa e qualitativa dos itens alimentares. 4) A contagem procede-se no bloco A da câmara e iniciando-se no topo do quadrado esquerdo e contando-se somente o material que estão dentro da linha ou tocando em sua borda. Esse procedimento de contagem deve ser repetido na segunda câmera da lâmina. 5) Após a contagem do material nas duas câmaras calcula-se o coeficiente de variação (razão entre o desvio padrão e a média) dado pela fórmula CV = (dp/média) x 100. No caso do CV ser igual ou maior que 20%, despreza-se a contagem e repete-se todo o procedimento.

Após essa contagem quantitativa e qualitativa dos itens alimentares calculou-se a freqüência relativa de ocorrência das presas e então se

extrapolou para todo o conteúdo estomacal, sendo considerada a quantidade das presas ingeridas pelo predador.

A classificação das algas microscópicas seguiu o sistema de Round, (Bicudo & Menezes, 2006) sendo taxonomicamente identificadas apenas em termos de Divisão.

Estrutura populacional e estimativa do crescimento

Para o estudo populacional e estimativa de crescimento foi utilizado o comprimento padrão e o peso total de 1715 indivíduos.

Estrutura em tamanho: A estrutura em comprimento foi avaliada em histograma freqüência independente do sexo em classes de comprimento padrão (intervalos de um em um centímetro) (Mateus e Penha, 2007). Enquanto que para os dados do peso total (em gramas) foram aplicadas as estatísticas descritivas no qual apresenta a amplitude de variação, média, desvio padrão (Vieira, 1991; Zar, 1996).

Relação comprimento-peso: Essa relação que descreve as modificações no peso do corpo de acordo com o aumento no comprimento foi obtida utilizando- se da seguinte expressão matemática, após a transformação logarítmica dos dados (Santos, 1978)

LN Wt = a + b LN Lp

Sendo, Wt é o peso total, Lp o comprimento padrão, a é uma constante e b é a inclinação da reta que geralmente varia entre 2,5 e 4,0 (Lê Cren, 1951). Os parâmetros a e b foram estimados pelo método dos mínimos quadrados (Zar, 1996; Vieira; 2003). Teste t foi aplicado para testar a hipótese nula b = 0 e b = 3 (condição isométrica), significância p < 0,05.

Crescimento em comprimento: Com base nas distribuições mensais de freqüência de comprimentos padrão, os seguintes parâmetros de crescimento foram obtidos conforme o modelo de Von Bertalanffy (1939) sendo o L ∞ = comprimento padrão assintótico (cm) e o K = coeficiente de crescimento (ano -

1). Entretanto, esses parâmetros foram estimados utilizando-se da rotina do ELEFAN I (Pauly, 1986) dentro do programa FiSAT II (Gayanilo et al ., 2005), fundamentada na equação de Von Bertalanffy (VBGF):

– k (t – t0) Lt = L ∞∞∞ [ 1 – exp( )] ;

onde, L t = comprimento na idade t, L ∞ = comprimento padrão assintótico , k = coeficiente de crescimento e t 0 = parâmetro relacionado com o comprimento do peixe ao nascer.

Índice da performance do crescimento: Foi quantificado usando o modelo proposto por Pauly e Munro (1984).

Φ` = 2 logL ∞ + log K

Comprimento e estrutura etária: A estrutura comprimento-idade foi estimada pela equação de Von Bertalanffy (descrita acima), usado os parâmetros estimados (L ∞ e k) e idade determinada. O parâmetro t 0 foi considerado zero, uma vez que, biologicamente esse parâmetro não tem significado (Sparre & Venema, 1997)

Potencial de longevidade: O potencial de longevidade para a espécie foi estimado de acordo com a seguinte equação (Pauly, 1980).

Tmax ≈ 3/K

Taxa de mortalidade: A da taxa de mortalidade natural foi estimada usando o modelo empírico de Pauly (1980):

ln M = - 0,0152 – 0,279ln L ∞∞∞ +0,6543 ln K + 0,4634 ln T;

onde, L ∞ e k = parâmetros de crescimento e T = temperatura (ºC) média da água, que no caso utilizou-se o valor de 24,6ºC.

A taxa de mortalidade total (Z) foi estimada por duas técnicas (Beverton & Holt, 1957; Ault & Ehrhardt, 1991), com objetivo de diminuir a incertezas associadas a essa estimativa.

1) Beverton & Holt (1957):

Z = k*(L ∞ - L m)/(L m – Lc)

onde, L m = comprimento médio a partir de Lc e Lc = comprimento médio da primeira captura, quando os peixes então são recrutados para a pesca, O Lc foi considerado 15,0 cm. Esse valor foi determinado, pois a partir desse comprimento a pesca passou a incidir sob as demais classes de comprimento, em todos os meses da amostragem. L m = 18,7, L ∞ = 33,60 e k = 0,63.

2) Ault & Ehrhardt (1991):

z/k [(L ∞ - L max )/(L ∞ - Lc)} = Z (Lc - L) + k (L ∞ - L m)/Z (L max - L m) + k (L ∞ - L m)

Lmax = maior indivíduo da amostra (31,2cm); L ∞, Lc, L m são os mesmo parâmetros descritos acima.

A taxa de mortalidade por pesca (F) foi estimada pela diferença entre a taxa de mortalidade total (Z) pela taxa de mortalidade natural (M), assim F = Z- M.

Taxa de sobrevivência: a taxa de sobrevivência (ano -1) foi estimada por:

S = e-z ou S (%) = 100 x e-z

Recrutamento para pesca: A distribuição de freqüência de classes de comprimento e os parâmetros de crescimento estimados (L ∞ e K) foram utilizados para identificar o padrão de recrutamento por ano, conforme a rotina incluída no FiSAT II (Gayanilo et al ., 2005).

Rendimento relativo por recruta (Y’/R): Foi calculado pelo método de Beverton & Holt (1966), modificado por Pauly & Soriano (1986) dentro do programa FiSAT II, opção Knife Edge (Gayanilo et al ., 2005), segundo o modelo:

Y’/R = EU M/K [1 – (3U/1 + m) + (3U 2/1 + 2m) – U 3/1 + 3m)];

onde, m = (1 – E)/(M/k) = k/Z; U = 1 – (Lc/L ∞∞∞) e E = F/Z (taxa de exploração);

Como os valores de Z e F determinados pelas duas técnicas foram quase similar, optou-se por usar os resultados obtidos pela técnica de Beverton & Holt.

Também foram estimados usando o programa FiSAT II Emax (taxa de exploração do rendimento máximo sustentável); E 0.1 (taxa de exploração na qual o incremento marginal de Y’/R é 10% de seu estoque virgem) e E 0.5 (taxa de exploração na qual irá resultar na redução de 50% da biomassa não explorada).

Biomassa por recruta (B’/R ): É a biomassa média de sobreviventes como função da mortalidade por pesca sendo estimada pela expressão matemática:

B’/R = (Y’/R)/F

Onde; Y’/R = rendimento relativo por recruta F = mortalidade por pesca

Para maiores detalhes sobre a metodologia consultar Sparre e Venema (1997).

Resultado:

Dinâmica Reprodutiva:

No período de estudo, os machos representaram 56,1% das capturas (n = 946) e as fêmeas 43,9% (n = 741) (Figura 2.1), com uma proporção entre os sexos (M:F) de 1,3:1 ( χ2 = 24,911, d.f. = 1, p < 0,000). Sazonalmente, as fêmeas predominaram no inverno/2004, (fêmeas = 251 (61,5%); machos = 157 (38,5%) taxa sexual M:F = 0,6:1; χ2 = 21,657, d.f. = 1, p < 0,0000). Os machos predominaram nas demais épocas do ano: primavera/2004 (machos = 246 (62,6%); fêmeas = 147 (37,4%), taxa sexual M:F = 1,7:1, χ2 = 24,939, d.f. = 1, p < 0,0000); verão/2005 (machos = 316 (69,5%), fêmeas = 139 (30,5%), taxa sexual M:F = 2,3:1, χ2 = 68,855, d.f. = 1, p < 0,0000) e outono/2005 (machos = 227 (52,7%), fêmeas = 204 (47,3%), taxa sexual M:F = 1,1:1, χ2 = 1,227, d.f. = 1, p < 0,2893).

100% 0,6:1* 1,7:1* 2,3:1* 1,1:1 1,3:1*

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% Inverno/04 Primavera/04 Verão/05 Outono/05 total

Macho Fêmea

Figura 2.1 - Proporção entre os sexos de Oreochromis niloticus no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) oriundos da pesca artesanal entre julho de

2004 e junho de 2005. Os números ao lado das barras indicam a taxa sexual (M:F) * diferença estatística p < 0,05.

A freqüência de distribuição dos estádios de desenvolvimento gonadal mostrou indivíduos maduros ao longo de todo o ano, tanto para machos quanto para fêmeas. Entretanto, uma maior predominância de indivíduos maduros ocorreu nos períodos de inverno e primavera de 2004 (inverno/2004: Fêmeas n = 148, 59,0%; machos n = 60, 38,2%; primavera/2004: Fêmeas n = 89, 60,5%; machos n = 93, 38,0%) (Figuras 2.2a, 2.2b).

100%

a

80%

60%

40%

20%

0% inverno/04 primavera/04 verão/05 outono/05

100%

b

80%

60%

40%

20%

0% inverno/04 primavera/04 verão/05 outono/05

imaturo maturação maduro esvaziado repouso

Figura 2.2 - Freqüência dos estádios de desenvolvimento das gônadas de fêmeas (a) e machos (b) de Oreochromis niloticus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) entre julho de 2004 a junho de 2005.

Os valores da relação gonadossómatica (RGS), para machos apresentou maior valor médio na primavera/2004, sendo estatisticamente maior que os outros períodos (ANOVA F (3,941) = 39,309, p < 0,0000). Para as fêmeas os valores da relação gonadossómatica foram similares no inverno e primavera de 2004, sendo estatisticamente diferentes do verão e outono de 2005 (ANOVA

F(3,733) = 30,754, p < 0,0000) (Figura – 2.3a, 2.3b). Esses resultados sugerem que a espécie reproduz durante todo o ano, com uma intensidade reprodutiva maior no inverno e primavera.

3,5

a a 3,0 a

2,5

b

2,0

b RGS

1,5

1,0

0,5

0,0 Inverno/04 Primavera/04 Verão/05 Outono/05

0,8 b a 0,7

b 0,6

0,5 b b

0,4 RGS

0,3

0,2

0,1

0,0 Inverno/04 Primavera/04 Verão/05 Outono/05

Figura 2.3 - Relação gonadossómatico (RGS) por época do ano para fêmeas (a) e machos (b) de Oreochromis niloticus oriundos da pesca artesanal do reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) de julho de 2004 a junho de 2005. Letras diferentes indicam as diferenças estatísticas (p<0,05). A análise de regressão múltipla realizada para detectar as possíveis correlações entre os valores do RGS das fêmeas com as variáveis limnológicas mostrou-se significativo (p<0,0081) sendo que o modelo explicou 99% da 2 variância do RGS das fêmeas (R = 0,998 e F (9,2) = 122,51). As variáveis que mais correlacionaram positivamente com o RGS foram condutividade elétrica (p

= 0,0036) e a cota altimétrica do reservatório (p= 0,0094), e negativamente, a transparência da água (p=0,0064) e pH (p=0,0145) (Tabela 2.1)

Tabela 2.1 - Resultado da análise de regressão múltipla entre os valores de RGS (relação gonadossomática) de Oriochromis niloticus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) e variáveis limnológicas. Negrito significativo p < 0,05. Fatores a b t (2) p Intercepto -546,302 -10,267 0,0093 pH -0,7739 -2,726 -8,2093 0,0145 Temperatura -0,3809 -0,951 -3,429 0,0755 Oxigênio 0,6060 0,511 7,430 0,0176 Condutividade 1,4900 2,563 16,614 0,0036 elétrica Transparência -1,1877 -1,719 -12,465 0,0064 da água Clorofila a 0,0428 0,028 0,627 0,5946 Alcalinidade 0,4901 0,946 9,491 0,0109 Precipitação -0,0825 -0,019 -1,429 0,2890 Cota 0,9919 116,701 10,241 0,0094

Alimentação (dieta e hábito alimentar)

A alimentação de O. niloticus foi composta quase que exclusivamente por alagas fitoplanctônica e perifítica (99,6%), com baixa ocorrência de organismos zooplanctônico (0,4%). Algas da Divisão Crysophyta tiveram forte predomínio no inverno (64,9%), e um moderado predomínio primavera (39,1%). As algas da Divisão Cyanophyta, especialmente as filamentosas; predominaram no verão (41,3%) e mais fortemente no outono (62,9%). A Divisão Chlorophyta não predominou em nenhuma estação, mas representou uma parcela importante da alimentação, principalmente na primavera/2004 (33,3%) (Figura 2.4).

70,0

60,0

50,0

40,0

%

30,0

20,0

10,0

0,0 Inverno/04 Primavera/04 Verão/05 Outono/05

Cyanofícea Chlorophyta Chrysophyta Outros

Figura 2.4 - Freqüência da distribuição dos itens alimentares de Oreochromis niloticus oriundas da pesca artesanal, por época do ano no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) entre junho de 2004 e julho de 2005.

Cabe ressaltar a detecção de grande quantidade sedimento nos estômagos, sugerindo que a espécie também pode estar buscando o seu alimento junto ao fundo do reservatório. Assim, além das algas identificadas, outros organismos devem compor sua alimentação como bactérias, protozoários e fungos, que devido a limitação da técnica não puderam ser detectada.

Estrutura populacional e estimativa do crescimento

O comprimento padrão dos exemplares capturados variou entre 11,0 e

31,2 cm (Lp médio = 18,3 cm; SD = 2,1), sendo os indivíduos entre 17,0 a 17,9 cm os de maiores freqüência na captura (Figura 2.5). O peso total dos exemplares amostrados variou entre 29,0 e 1129,4g (Wt médio = 264,1g SD = 100,1).

30,0

25,0

20,0

% 15,0

10,0

5,0

0,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 16,0 17,0 18,0 19,0 20,0 21,0 22,0 23,0 24,0 25,0 26,0 27,0 28,0 29,0 30,0 31,0 Comprimento padrão (cm)

Figura 2.5 - Distribuição da freqüência de comprimento padrão de Oreochromis niloticus oriundos na pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) entre julho de 2004 a junho de 2005.

Relação peso/comprimento:

A relação entre peso e comprimento pode ser descrita pela seguinte equação LN Wt = - 2,8532 + 2,8835 LN Lp e R 2 = 0,8941 (Figura 2.6). O resultado do teste t rejeitou a hipótese nula de b (inclinação da reta) igual a zero ( t (1:1713) = 119,28; p = 0,00), é rejeitou também que o valor de b (2,8995) igual a 3 (condição de crescimento isométrico) ( t (1:1713) = 75,76, p = 0,00) indicando um crescimento alométrico negativo para a espécie no reservatório de Barra Bonita.

7,5 y = 2,8835x - 2,8532 R2 = 0,894 7,0

6,5

6,0

5,5

5,0 ln peso total (g) total peso ln 4,5

4,0

3,5

3,0

2,5 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 ln comprimento padrão (cm)

Figura 2.6 - Relação peso/comprimento dos exemplares, independente do sexo, de Oreochromis niloticus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê), entre julho de 2004 a junho de 2005.

Crescimento em comprimento:

Os parâmetros (L ∞ e k) que descrevem o crescimento em comprimento de O. niloticus oriundos da pesca artesanal foram: L ∞ = 33,60 cm e k = 0,63 ano -1. Assim, a equação de crescimento em comprimento pode ser descrita da seguinte forma:

- 0,63 (t-t0) Lt = 33,60[1 – exp ( )]

Conforme pode ser visualizado na Figura 2.7, a curva de crescimento em comprimento sugere a presença de 2 coortes bem definidas. Mas, pode-se também inferir a presença de uma 3ª coorte representadas por indivíduos com tamanho próximos ao L∞.

Figura 2.7 – Distribuição da freqüência de comprimento e curva de crescimento estimada para Oreochromis niloticus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê), entre julho de 2004 a junho de 2005.

Índice de performance de crescimento:

O índice de performance de crescimento da O. niloticus neste estudo foi, Φ’ = 2,85 indicando que os parâmetros L ∞ e k obtidos do modelo de von Bertalanffy foram coerentes.

Potencial de longevidade:

Nesta modelagem, o potencial de longevidade pode ser estimado em tmax = 4,76 anos.

Comprimento e estrutura etária:

A análise estimada da estrutura comprimento-idade mostrou que a captura de O. nilotiucs na pesca artesanal foi concentrada nos indivíduos de um a dois anos, que representaram 98,5%, sendo a idade de 1,5 ano a mais

representativa na pesca, pois contém 81,2% dos indivíduos capturados (Tabela 2.2).

Tabela 4.2 - Estrutura idade - comprimento de Oreochromis niloticus oriundos na pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) entre julho de 2004 a junho de 2005. Idade relativa Comprimento N % (anos) médio (cm) 0 0 0 0,0 0,5 9,08 0 0,0 1,0 15,70 88 5,1 1,5 20,54 1392 81,2 2,0 24,07 210 12,2 2,5 26,64 18 1,0 3,0 28,52 4 0,2 3,5 29,90 2 0,1 4,0 30,90 0 0,0 4,5 31,63 1 0,1

Taxas de mortalidade:

A taxa de mortalidade natural (M) foi estimada em 1,20 ano -1. A taxa de mortalidade total (Z) foi obtida por duas técnicas: técnica de Beverton & Holt (1957) cujo valor foi de 2,81 ano -1 e de Ault & Ehrhardt (1991) com valor de 2,80 ano -1. Assim, a taxa de mortalidade por pesca (F) foi estimada 1,61 ano - 1 (Z = modelo Beverton & Holt) e 1,60 ano -1 (Z = modelo Ault & Ehrhardt). Comparando os valores de M e F foi possível concluir que a mortalidade por pesca é mais importante que as outras fontes de mortalidade (F>M).

Taxa de sobrevivência:

A taxa de sobrevivência calculada os valores de Z (Beverton & Holt, 1957; Ault & Ehrhardt, 1991) foi de 6% ano, para os dois modelos.

Recrutamento para pesca:

A curva de recrutamento por pesca revelou que este recrutamento ocorreu durante 11 meses do ano, sendo que o período de maior intensidade ocorreu em outubro, novembro e dezembro de 2005, sendo o pico anual em dezembro (Figura 2.8).

18

16

14

12

10

%

8

6

4

2

0 jul/04 ago/04 set/04 out/04 nov/04 dez/04 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05

Figura 2.8 – Intensidade do recrutamento para o estoque de Oreochromis niloticus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê), entre julho de 2004 a junho de 2005.

Rendimento (Y’/R) e biomassa (B’Y) por recruta:

Os valores encontrados para E atual (0,670) e E max (0,776) indicam que ainda não há sobrepesca no estoque da O.niloticus (E atual > E max ) do reservatório de Barra Bonita (Figura 2.9). No entanto, o valor de E atual já superou o valor de E 0,5 = 0,349 (nível de exploração que resulta na redução de

50% da biomassa não explorada), e estando bem próxima de E 0,1 = 0,604 (taxa de exploração na qual o incremento marginal de Y’/R é 10% do seu estoque virgem).

0,04 0,9

E0.1 Emax Eatual 0,8 0,035

0,7 0,03 E0.5

0,6 0,025

0,5

0,02

0,4

0,015 Biomassa por recrutapor Biomassa (B'/R)

Rendimento por recrutapor (Y'/R) Rendimento 0,3

0,01 0,2

0,005 0,1

0 0 0,01 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 0,99 Taxa de exploração (E)

redimento por recruta (Y'/R) Biomassa por recruta (B'/R)

Figura 2.9 – Produção por recruta (Y’/R) e biomassa por recruta (B’/R) de Oreochromis niloticus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê), entre julho de 2004 a junho de 2005. As setas indicam a taxa atual de exploração (E atual ) e taxa de exploração máxima (E máx ),, além do E0.1 e E 0.5 estão indicadas no gráfico.

Discussão:

Dinâmica reprodutiva

A proporção entre os sexos da maioria das espécies de peixes tende a ser 1:1, entretanto desvios podem ocorrer; e variações sazonais são comuns nas populações (Nikolsky, 1963). A razão sexual é governada por diversos fatores entre eles, mortalidade, longevidade e taxa de crescimento, que levam a diferenças nas taxas de capturabilidade (King & Etim, 2004). Diferenças na proporção entre os sexos em tilápias foram verificadas tanto em populações introduzidas: O. niloticus , no México, (Peña-Mendoza et. al., 2005) e no Lago Victória, Quênia (Njiru et. al., (2006), como populações naturais. Tilapia mariae ,

Nigéria, (King & Etim op. cit. ); O. esculentus , lago Victoria e Kyoga, (Nagayi- Yawe 2006).

Duas hipóteses podem explicar a diferença na proporção entre os sexos determinada neste estudo:

1ª) pode estar relacionada a suas táticas reprodutivas e diferenças na dispersão dos machos e fêmeas após a efetivação do processo reprodutivo.

Especificamente, Lowe-McConnell (1999) discute que durante o processo, machos constroem ninhos em águas rasas; sendo que após a desova, as fêmeas abocanham imediatamente os ovos (eles são, em muitos casos, fertilizados em sua boca) e permanecem no local ou dispersam para outros locais mais protegidos para incubação e proteção da prole. Entretanto, os machos ficam mais vulneráveis a captura, pois se dispersam em busca de alimento. Essa hipótese também foi apontada para explicar as diferenças na proporção entre os sexos em O. niloticus no Lago Victória (Njiru et al., 2006) e no reservatório Emiliano Zapata, no México (Peña-Mendoza et al., 2005).

2ª) diferentes taxas de crescimento entre os sexos (Wootton, 1995; King & Etim, 2004), com as maiores taxas nos machos sendo então susceptíveis aos aparatos de captura primeiro que as fêmeas. Entretanto, análises exploratórias dos dados de crescimento não mostraram diferenças significativas entre os sexos de O. niloticus do reservatório de Barra Bonita. Enfim, pode-se concluir da mesma forma que Lowe McConnell ( op cit. ) que os machos e fêmeas crescem similarmente.

Desta maneira, as diferenças na proporção entre os sexos caracterizados neste estudo sugerem estar mais relacionadas com o comportamento reprodutivo que com as taxas de crescimento.

Análise conjunta dos valores médios RGS e da distribuição da freqüência dos estágios de maturação indicou que O. niloticus no reservatório de Barra Bonita reproduziu durante todo o ano, com pico reprodutivo em meses do inverno e primavera, principalmente entre agosto e dezembro. Período reprodutivo longo também é característica marcante dessa espécie em outros ecossistemas, porém com variações sazonais no pico reprodutivo. Na Costa do Marfim (África), o pico reprodutivo da espécie variou entre três reservatórios estudados de abril a julho (reservatórios de Samabakaha e Ayamé) e de outubro a janeiro (reservatório de Kossou) (Duponchelle et al., 1999). No lago Victória o pico reprodutivo estendeu-se de janeiro a abril (Njiru et. al., 2006). Na América do Norte, bacia do rio Mississipi, o pico reprodutivo foi registrado de março a maio e outro de agosto a setembro para alguns rios costeiros no Mississipi (Peterson et al., 2004) e agosto, no reservatório de Emiliano Zapata, México (Pena-Mendonza et al., 2005). No reservatório de Betania, Colômbia, não houve um pico reprodutivo, sendo os valores de RGS e de freqüência dos estádios similares ao longo do ano (Cala e Bernal, 1997). No Brasil estudos no reservatório de Guarapiranga, São Paulo, o pico reprodutivo estendeu de setembro a dezembro (Barbieri et. al., 2000b), sendo este resultado semelhante ao encontrado nesse estudo. Esses resultados mostram a alta capacidade desta espécie em colonizar e estabelecer em novos ambientes principalmente, de águas lênticas, com atividade reprodutiva longa e picos de acordo com as condições do ecossistema.

Além dos fatores endógenos, fatores exógenos também interferem nos processos reprodutivos, sendo que alguns servem de “gatilho” para a reprodução dos peixes tropicais. São os principais, fotoperíodo, temperatura, fluxo e nível da água, precipitação (Wootton, 1995; Lowe-McConnell, 1999). O. niloticus em reservatórios da Costa do Marfim teve seu período reprodutivo associados temperaturas elevadas no verão, precipitação, nível da água e fotoperiodo (Duponchelle et al., 1999). Nos rios do Estado Mississipi (Estado Unidos da América) o pico reprodutivo ocorreu na primavera, quando temperatura foi acima de 22ºC. No reservatório de Guarapiranga, o período de

maior atividade reprodutiva foi associado ao período de chuva e maiores temperaturas (Barbieri et al., 2000b).

Os resultados deste estudo, não mostraram correlações significativas entre valores médios do RGS de fêmeas com temperatura da água e pluviosidade, mas mostrou correlações positivas com condutividade elétrica e nível da água e negativa com a transparência. Contudo, pode-se inferir que o aumento do nível do reservatório deve ser um dos principais “gatilhos” para desencadear o pico reprodutivo da espécie no reservatório de Barra Bonita. Isso porque, como bacia de acumulação, o reservatório de Barra Bonita controla os demais reservatórios do sistema em cascata, funcionando de maneira inversa ao ambiente natural. Tanto que os menores níveis de água no reservatório foram registrados entre setembro a dezembro, justamente durante grande parte do período chuvoso. Em janeiro de 2005, o nível do reservatório começou a subir até o máximo, entre junho e julho de 2005. Coincidentemente, como pode ser observado na Figura 2.10, os valores do RGS tiveram sempre uma resposta nesse ciclo de hidrológico com um atraso de dois meses, tanto para aumento como na diminuição de seus valores.

2,5 452

451

2

450

1,5 449 RGS

448 (metros) Cota 1

447

0,5

446

0 445 jul-04 ago-04 set-04 out-04 nov-04 dez-04 jan-05 fev-05 mar-05 abr-05 mai-05 jun-05

RGS Fêmeas Cota do reservatório

Figura 2.10 - Relação entre os valores médios do RGS das fêmeas de Oreochromis niloticus oriundos da pesca artesanal e a cota altimétrica do reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê) entre julho de 2004 a junho de 2005.

Por se tratar de uma espécie sedentária, com cuidado parental, a com construção de ninhos, e reprodução em ambientes de pouco profundidade, visibilidade razoável, e próximo às margens, pode ser danoso para espécie. Oscilações bruscas do nível da água no reservatório, com retração e expansão das margens teriam efeitos letais sobre os ovos e larvas, o que poderia prejudicar o recrutamento de indivíduos na população (Suzuki & Agostinho, 1997), e que conseqüentemente afetariam a pesca.

Devido às técnicas de amostragem, não foi possível a determinação do tamanho de primeira maturação da espécie no reservatório, que é uma informação relevante no conhecimento da estrutura da população e no manejo dos estoques pesqueiros, que evita a exploração dos indivíduos jovens e a conseqüente redução do estoque desovante (Mateus & Penha, 2007). Alguns dados de primeira maturação desta espécie ( O niloticus ) estão disponíveis na

literatura, como para os lagos satélites da bacia lago Victória, cuja primeira maturação variou entre 12,5 a 20,5 cm (Nagayi-Yawe et al., 2066); no lago Vitória alcançou sua maturação gonadal com 21,0 e 22,7 cm, respectivamente, para machos e fêmeas (Njiru et al., 2004); no lago Kyasanduka (Uganda) a primeira maturação foi 12,0 cm para ambos os sexos (Bwanika et al., 2004); no México (reservatório de Emeliano Zapata), a espécie alcançou a maturidade com 15,0 cm (Pena-Mendoza et al., 2005) e Colômbia (reservatório de Betania) foi atingida com 16,1 e 18,1cm para fêmeas e machos, respectivamente. No Brasil, Barbieri et al., (2000b) mostram a precocidade reprodutiva desta espécie, ao estimarem em 7,6 cm a primeira maturação da espécie no reservatório de Guarapiranga (SP), e que a partir dos 14,0 cm (dois anos de vida), todas as fêmeas estavam aptas reprodutivamente.

Desta forma, percebe-se que a idade de primeira maturação pode variar muito dentro da mesma espécie, na qual essas variações podem refletir diferenças genéticas, e também ambientais, como por exemplo, disponibilidade de alimentos (Wootton, 1995). Ainda, a atividade de pesca também pode influenciar na estrutura populacional e especificamente na idade (tamanho) da primeira maturação. Por exemplo, a população de linguado ( Hippoglossoides platessoides ) dos Estados Unidos (USA) diminuiu a idade de primeira maturação de 14 (1961/65) para 11 anos (1969/72) devido a forte pressão de pesca, embora o tamanho não tenha mudado significativamente (Pitt 1975 apud. Wootton op. cit. ).

Neste estudo, a captura de indivíduos imaturos foi irrelevante. Isso foi decorrente da seletividade dos aparatos de capturas na pesca artesanal (uso autorizado de rede de espera com malhas superior a 8 cm entre nós opostos da malha esticada). Assim, a amostragem continha apenas exemplares adultos que já deveriam ter alcançado o comprimento de primeira maturação gonadal, indicando que os valores de comprimento de 1ª maturação da população no reservatório de Barra Bonita, devem estar bem próximo ao determinado por Barbieri et al. (2000b .) no reservatório de Guarapiranga.

Alimentação (dieta e hábito alimentar)

A espécie O. niloticus tem sido caracterizada como fitoplanctófaga em reservatórios e lagos, asiáticos, Sri Lanka (Weliange & Amarasinghe, 2003) e africanos Uganda (Bwanika et al., 2004). No lago Victória, além do fitoplâncton, zooplâncton, insetos, material vegetal e peixes fizeram parte da dieta da espécie quando adulto (Njiru et. al., 2004). Os resultados encontrados neste trabalho indicam o habito alimentar também como fitoplanctófago desta espécie no reservatório de Barra Bonita. Entretanto, a presença de grande quantidade de sedimento em seu estomago, sugere que O. niloticus também retira alimento do fundo, onde matéria orgânica acumulada está disponível, muitas vezes em grande quantidade. Desta forma, além de fitoplâncton e das algas perifíticas, os detritos (bactérias, protozoários e fungos) contidos no sedimento devem ser fontes complementares de energia para a realização de suas atividades metabólicas vitais. O resultado da análise da dieta mostrou haver diferenças sazonais na alimentação, com predomínio de algas da Divisão Chrysophyta na dieta durante o inverno e primavera de 2004 e as algas da Divisão Cyanophyta no verão e outono 2005. A sazonalidade na dieta e causada pela disponibilidade dos alimentos no ambiente, e pode variar por diversas razões, como: mudanças no clico de vida das presas, mudanças devida ação de predadores sobre o item alimentar, mudanças no habitat de forrageio (Wootton, 1995). Espécies de Oreochromis ( O. niloticus e O. mossambicus ) em reservatórios do Sri Lanka exibiram mudanças na dieta entre fitoplanctófago, zooplanctófago e detritívoros, dependendo da disponibilidade dos itens no ambiente (Weliange & Amarasinghe, 2003).

A estrutura da comunidade de fitoplâncton no reservatório de Barra Bonita é composta principalmente por algas das Divisões Chrysophyta, Cyanophyta e Chlorophyta, com variações sazonais na densidade desses grupos (Calijuri et al., 2002; Matsumura-Tundisi & Tundisi, 2005).. O. niloticus

explorou bem as variações sazonais de seus itens, mostrando sua capacidade de ajustar-se as condições ambientais no aspecto alimentar.

Desta forma, pode-se inferir que a população de O. niloticus explorou bem os recursos alimentares disponíveis nas estações do ano no reservatório de Barra Bonita e podendo ser classificada como fitoplanctófaga.

Estrutura populacional, estimativa do crescimento

Os dados de comprimento apresentados foram oriundos da pesca artesanal controlada por legislação específica, não sendo esses valores representativos para o universo populacional, mas apenas para o extrato sujeito as ações deste tipo de pesca. No entanto para o principal propósito do trabalho, que foi avaliar os estoques pesqueiros do reservatório de Barra Bonita, pode-se considerar que esta amostragem foi satisfatória (Gayanilo et al., 2005).

Os indivíduos capturados na pesca, em sua grande maioria foram adultos, que muito possivelmente já reproduziram uma única vez, assim a pesca de O. niloticus não incidiu sobre jovens. Deste ponto de vista, pode-se considerar que a pressão de pesca não é, ainda, uma ameaça aos estoques. Por outro lado, a pressão de pesca sobre os indivíduos de maiores tamanhos pode implicar numa degradação genética da população. Isso porque, a retirada de indivíduos maiores favorece a sobrevivência dos indivíduos menores e de crescimento mais lento, alterando a variabilidade genética da população, pois elimina os genes que promovem o crescimento rápido da população e favorecendo peixes menores que crescem mais lentamente (Conover & Munch, 2002). Além desse estudo, pesquisas com Sebastes malanops (peixe-pedra), mostraram que as fêmeas mais velhas e maiores tendem a desovar mais cedo e por mais ovos, sendo que, as larvas nascidas desses ovos cresciam três vezes mais depressa e resistiam mais a períodos de baixa disponibilidade de alimentos do que as larvas nascidas de fêmeas jovens (Berkeley et al., 2004). Segundo estes autores, fêmeas mais velhas tendem a ter em seu corpo

maiores quantidades de triaciglicerol, um lipídio altamente energético e que são transferidos em quantidades maiores para os filhotes. Desta forma, a conservação de indivíduos maiores, que hoje são o alvo decorrente da legislação equivocada da pesca, é de vital importância para a manutenção dos estoques pesqueiros e não só os juvenis.

A relação peso-comprimento

A relação peso-comprimento tem sido intensamente utilizada em biologia pesqueira com o objetivo de fornecer informações biológicas da espécie alvo visando: (i) possibilitar a estimativa de peso de exemplares através do conhecimento de seu comprimento e vice-versa; (ii) indicar tipo de crescimento em peso; (iii) incorporar informações aos modelos para estimativa de curva de biomassa, curva econômica, curva de otimização e curva de crescimento em peso pelo método dedutivo; (iv) medir a variação do fator de condição (Barbieri et al., 2000a).

A espécie O. niloticus apresentou valor de b 2,8838, (estatisticamente diferente de 3 – padrão isométrico) indicando um tipo de crescimento alométrico negativo, ou seja, a espécie cresceu em comprimento mais rápido que o ganho de peso. Estudos no lago africano Victória, a espécie apresentou crescimento alómetrico positivo (valores de b acima de 3) (Njiru et al., 2006). Nos reservatórios de Betania, Colômbia (Cala e Bernal, 1997) e Guarapiranga, Brasil (Barbieri, et al., op cit ) foram encontrados valores de b igual a 2,8 e 3,1 respectivamente, sendo esse valores estatisticamente igual a três, portanto nesses ambientes a espécie apresentou crescimento do tipo isométrico.

Valores deste parâmetro ( b) oscilam freqüentemente entre 2,5 e 3,5 (Le Cren, 1951) dependendo da espécie, mas também há variações intra- específica, conforme o sexo, idade, época do ano e tipo de alimentação (Koç et al .,2005, Lalèyè, 2006). Além disso, mudanças na forma do corpo, condições fisiológicas, diferenças na disponibilidade de alimentos, período de reprodução

e incremento no crescimento também influenciam no valor de b (Koç et al ., op cit. ; Lalèyè op cit. ). Por essas razões é recomendável ser cauteloso na interpretação desse valor, pois variações temporais podem ocorrer no coeficiente b.

Santos et al ., (2004) estudando Geophagus brasiliensis (Cichlidae) no reservatório de Lages (RJ), concluíram que a característica oligotrofica e a conseqüente falta de recursos alimentares e o stress provocado pela variação do nível do reservatório poderia estar contribuindo para um crescimento alométrico negativo da espécie. O reservatório de Barra Bonita foi caracterizado como sendo hiper-trófico, com altos valores de clorofila a, fósforo total e nitrogênio total (UNEP-IETC, 2001; Tundisi, 2003) o que também foi constado neste estudo. Desta forma, não há escassez de recursos alimentares (fitoplâncton) para a espécie nesse ecossistema, além disso, como verificado neste estudo, a espécie explorou bem os recursos disponíveis no ambiente. Com relação à oscilação do nível do reservatório, os dados mostraram oscilações de aproximadamente cinco metros, entre retração e subida do nível da água. Assim a hipótese do stress causado por variação no nível do reservatório seria mais plausível neste caso. Outro fator que pode estar contribuindo para o crescimento alométrico negativo da espécie é o período reprodutivo longo apresentado neste estudo. Desta forma, mais recursos estaria sendo alocado para reprodução do que para crescimento, uma vez que, as condições ambientais deste ecossistema parecem ser favoráveis à reprodução da espécie. Uma vez que a espécie atinge a maturidade, um potencial conflito entre a alocação de recursos entre sobrevivência, crescimento e reprodução passam a existir (Wootton, 1995).

O modelo matemático encontrado no estudo para relação peso/comprimento apresentou alta associação entre as variáveis (R 2 = 0,89), com b estatisticamente diferente de zero. Assim, esse modelo mostrou um bom ajuste para estimativas das variáveis peso e comprimento para a espécie neste ecossistema.

Crescimento em comprimento

Os parâmetros de crescimento estimados pelo pacote FiSAT foram biologicamente bons, pois índice de performance de crescimento ( Φ’ = 2,85) está dentro da amplitude estimada para populações de ciclídeos em lagos africanos (Moreau et al., 1986) e para outros do grupo Tilapiine em ambiente natural (King & Etim, 2004) ou introduzidos (Amarasinghe & De Silva; 1992; De Silva et al., 1988; Amarasinghe, 2002);

As variáveis do parâmetro de crescimento estimado para a espécie, indicaram um comprimento assintótico de 33,6cm, rápido crescimento (k = 0,63), e longevidade estimada em 4,76 anos, indicando que a espécie tem um ciclo de vida curto neste reservatório. Espécies de vida curta atingem os valores próximos ao L ∞ em um ou dois anos e têm um elevado valor de k, ao passo que as espécies de longa vida apresentam padrão contrario (Sparre & Venema, 1997). Além disso, os parâmetros de crescimento podem variar de um estoque para o outro, dentro de uma mesma espécie e até mesmo, entre coortes sucessivas e entre sexos (Sparre & Venema, op. cit. ). Uma analise exploratória dos dados mostrou que para O. niloticus a diferença entre esses parâmetros de crescimento não foram pronunciadas entre machos e fêmeas, como também entre as duas localidades amostradas (Rio Bonito e Anhembi) no reservatório de Barra Bonita.

Estudos dos parâmetros de crescimento de O. niloticus no reservatório de Tabbow, Sri Lanka, encontrou um valor de L ∞ = 50,7 cm, embora k tenha sido igual (Amarasinghe, 2002). Nos reservatórios de Kaudulla e Minneriya em Sri Lanka os valores de L ∞ foram 54,9 e 52,0cm respectivamente (Amarasinghe & De Silva, 1992). Diversos fatores interferem no crescimento do peixe, o que dificulta determinar os fatores que possam estar influenciando na diferença entre os valores de L ∞ entre os dois ecossistemas. Uma das influencias pode ser a diferença no esforço de pesca entre os reservatórios,

que seria maior no reservatório de Barra Bonita, retirando indivíduos e impedindo assim de alcançarem maiores comprimentos. No reservatório de Guarapiranga, São Paulo, os valores de L ∞ estimados por leitura dos anéis em escamas variaram de 28,7 cm para fêmeas e 33,0 para machos (Barbieri et al., 2000a), estando esses valores próximos ao encontrados nesse trabalho.

Recrutamento para a pesca

O processo de recrutamento representa uma interação dinâmica entre a regulação populacional e a variabilidade ambiental (Mateus & Penha, 2007). Para os estoques de ciclídeos é bem conhecido que existe mais de um pulso de recrutamento por ano (Amarasinghe, 2002). No reservatório de Tabbowa o autor citado encontrou dois picos de recrutamento para as espécies O. niloticus e O. mossambicus , que foi de dezembro a janeiro e um menor de maio a junho. Essas duas espécies também apresentaram dois picos de recrutamento em outros reservatórios do Sri Lanka (De Silva et al., 1988; Amarasinghe & De Silva, 1992). Para a espécie Tilapia mariae no rio Iba Oku (Nigéria) os picos de recrutamento foram abril e maio e outro maior em outubro a novembro (King & Etim, 2004).

Neste estudo, O. niloticus apresentou nítido período de recrutamento nos meses de outubro a dezembro, embora os valores mais elevados foram de outubro a março com duração de seis meses. Talvez este longo período, seja a explicação para que a espécie tenha apresentado apenas um pico de recrutamento neste ecossistema.

Exploração do estoque

O conhecimento das taxas de mortalidade, total (Z) e natural (M) é de grande importância para a biologia pesqueira, tanto para determinação de F como para as estimativas nos modelos que descrevem as taxas de exploração dos estoques (Sparre & Venema, 1997). Cabe salientar que, M é um dos

parâmetros mais difícil de se obter uma boa estimativa, sendo freqüentemente a maior fonte de incerteza na avaliação dos estoques (Pauly, 1980; Mateus & Petrere, 2004).

As técnicas usadas para determinar Z são com base nos parâmetros de crescimento L ∞ e k da equação de crescimento de Von Bertalanffy. Estas técnicas assumem que a partir de certo comprimento (Lc) os indivíduos são recrutados para a pesca (Sparre & Venema, 1997). Apesar de algumas incertezas essas técnicas vêm sendo aplicadas em diversos estudos publicados nos últimos anos, tanto para ambientes de água doce como marinho (Mateus & Estupiñan, 2002; Jutagate et al., 2003; Mateus & Petrere, Jr., 2004; Araya et al., 2005; King & Etim, 2005; Grandcourt et al., 2006; Matic- Skoko et al ., 2006; Koç et al., 2007; Mateus & Penha 2007; Penha & Mateus, 2007a).

Muitos procedimentos têm sido sugeridos na literatura para estimar a mortalidade natural (M). Porém, todos permitem apenas uma estimativa aproximada ou uma suposição qualificada (Sparre & Venema, 1997). A formula empírica de Pauly (1980) é uma das mais utilizadas para estimativas de M, pois, com uma análise de regressão linear múltipla de M (mortalidade natural) função do k, L ∞ e temperatura média do ambiente, em 175 diferentes estoques de peixes propôs um modelo matemático empírico. Esse modelo supõe que M é constante em todas as classes etárias, o que muito provavelmente não corresponde o que ocorre no ambiente. Para peixe, o mais provável é que altas taxas de M ocorram durante os estágios iniciais de vida, e valores menores em idades adultas (Conover & Munch, 2002). Ainda, a formula indica que: (i) peixes pequenos têm mortalidade natural alta; (ii) peixes com crescimento rápido têm mortalidade alta; (iii) quanto mais quente a água, maior a mortalidade natural (Pauly op. cit ). Segundo Sparre & Venema, ( op cit. ) somente para mananciais virgens, não explorados, (M = Z) é que estamos em condição de estimar M, com certa segurança. Mateus & Penha (2007), estudando a dinâmica populacional de pimelodídeos no Pantanal Mato-

grossense discutem a questão da mortalidade natural. Esses autores salientam que a pesca está interessada em indivíduos pós-recrutamento pesqueiro, que são animais de tamanho relativamente grande, e supõe-se que a mortalidade não varie muito com o tamanho a partir da entrada da coorte na pesca. Desta maneira o valor de M constante pode não ser tão inconsistente para os indivíduos recrutados para a pesca.

Informações sobre a mortalidade de O. niloticus são encontradas na literatura. No reservatório de Tabbowa no Sri Lanka as taxas de mortalidade foram 1,96, 1,17 e 0,79 ano respectivamente Z M e F (Amarasinghe, 2002). Outros dois reservatórios apresentaram as seguintes estimativas: reservatório de Kaudulla 1,95, 0,75 e 1,07 ano respectivamente Z M e F; reservatório de Minneriya 3,57, 0,87e 2,61 ano respectivamente Z M e F (Amarasinghe & De Silva, 1992). Embora esses valores estejam abaixo dos encontrados para o reservatório de Barra Bonita, as comparações desses valores não são recomendadas, pois diferentes causas podem estar atuando em M, tais como densidade de predadores ou competidores; stress ambiental, doenças, além de diferentes níveis de esforço de pesca, técnica. No caso do reservatório de Tabbowa, o autor supracitado, salienta que o estoque de O. niloticus , e menos explorada do que O. mossambicus , que certamente interfere nos valores de mortalidade.

A gestão pesqueira necessita das informações básicas que são fornecidas pelas avaliações dos estoques. Essas levam em conta os processos de dinâmica populacional que afetam a biomassa das populações, tais processos são: taxas de crescimento, mortalidade natural e por pesca, recrutamento, determinação da abundância, migração, reprodução, alimentação e outros. Entretanto os modelos de avaliação sofrem algumas limitações teóricas e práticas como: não incorporam as flutuações biológicas, assumem estados de equilíbrio, não interagem adequadamente os componentes sócio-econômicos das pescarias, os parâmetros de modelo possuem um grau de incerteza (Merona, 1995; Castello, 2007). Por outro lado,

a obtenção dos parâmetros biológicos de todas as populações e suas relações, exigiria um investimento em tempo e dinheiro incompatível com uma exploração econômica. De outro lado, o número de parâmetros necessários para a construção de um modelo matemático cresce de maneira exponencial junto com o número de elementos inter-relacionados cujo comportamento se pretende modelar (Merona op. cit. ).

Um dos modelos mais usados na biologia pesqueira é o de captura relativa por recruta de Beverton e Holt (Y/R) (1966), sendo considerado uma função de Lc/L ∞ e E, com um único parâmetro M/K. porém, como qualquer outro modelo (que são abstrações da realidade) possui suas limitações e incertezas, e deve-se tomar cuidado ao interpretá-lo.

Os valores encontrados de Y/R’ indicam que o estoque não se encontra no estado de sobrepesca. No entanto, o valor E atual , já superou E 0,5 e encontra- se bem próximo a E 0,1 sugerindo que o impacto atual do esforço de pesca pode atingir e ultrapassar o máximo sustentável em um curto espaço de tempo, caso a demanda por pesca artesanal continue aumentando. Hoje, o esforço da pesca artesanal abrange um continente de aproximadamente 430 pescadores (David et al., 2006; Maruyama, 2007) e 200 barcos (considerando dois pescadores por barco), o que parece ser o limite máximo de esforço para a pesca artesanal nesse reservatório, conforme suas técnicas e aparatos. A tendência é que a pesca artesanal de O. niloticus neste reservatório entre em declínio, a não ser que haja novas medidas adequadas de manejo.

Embora se trate de uma espécie exótica, e com toda a sua problemática ecológica, a sua importância econômica regional é inquestionável. E para reforçar esta tese, estima-se que nos últimos anos, aproximadamente metade da população (2000 habitantes) do município de Anhembi, tenha nas atividades de pesca artesanal (e no seu principal recurso pesqueiro - O. niloticus ), de forma direta ou indireta, a principal fonte de renda e sustento familiar.

Em suma, espera-se que as diretrizes biológicas e ecológicas deste trabalho possam nortear os órgãos gestores para o aprimoramento da legislação pesqueira, a segurança alimentar e a sustentabilidade dos estoques pesqueiros sob forte influência antrópica. Enfim, buscar soluções mitigadoras para essa importante questão socioeconômica e ambiental.

Conclusão:

Com relação à dinâmica populacional e ao estoque pesqueiro de O. niloticus oriundo da pesca artesanal em duas localidades do reservatório de Barra Bonita, os dados permitem concluir que:

1º - A população de O. niloticus apresentou uma proporção entre os sexos desigual com ligeira predominância dos machos; 2º - A atividade reprodutiva ocorreu ao longo de todo ano, com mais intensidade no inverno e primavera; 3º - O principal agente indutor (gatilho) da reprodução foi o aumento nível do reservatório; 4º - Com base em seu regime alimentar, a espécie foi caracterizada como fitoplânctofaga, apresentando variações sazonais na composição desses grupos; 5º - O crescimento da espécie foi ligeiramente alométrico negativo (2,899); 6º - Os parâmetros da curva de crescimento em comprimento foram 33,60 cm para o L∞ e 0,63 ano -1 para k; 7º - A taxa de sobrevivência foi estimada em 6% e a longevidade em 4,7 anos; 8º - O recrutamento para pesca teve os seus maiores valores entre outubro, novembro e dezembro, sendo os indivíduos recrutados em torno dos 15,0 cm e idade estimada 1,0 anos; 9º - As atividades de pescas foram as principais causas da mortalidade do estoque;

10º - Com base no modelo de produção por recruta, o estoque desta espécie ainda não se encontra em sobrepesca, porém, está próximo ao limite máximo sustentável.

Capítulo III

DINÂMICA POPULACIONAL DE Hoplias malabaricus, TRAÍRA (BLOCH, 1794) (CHARACIFORMES, ERYTHRINIDAE) E AVALIAÇÃO DO SEU ESTOQUE NO RESERVATÓRIO DE JURUMIRIM, ALTO RIO PARANAPANEMA (SP).

Introdução

A família Erythrinidae (Ordem Characiformes) compreende três gêneros, Hoplias , Hoplerythrinus , Erythrinus , que são caracterizados por corpo grosso, nadadeira caudal arredondada (nunca bifurcada), dantes caniniformes na maxila superior e inferior; dentes muito pequenos no palato e, às vezes, sobre a língua. Não possuem nem fontanela nem nadadeira adiposa (Britski et al., 1999). O gênero Hoplias possui várias espécies nominais de taxonomia complexa que são geralmente conhecidas como traíras ou traírões (Buckup, 1999). O grupo possui ampla distribuição na região Neotropical ocorrendo desde a Costa Rica até a Argentina (Buckup op cit. ).

A espécie Hoplias malabaricus (Bloch, 1794), é um predador de topo da cadeia alimentar que apresenta tática de tocaia, habitando preferencialmente o fundo dos rios, lagoas e várzeas, principalmente em ambientes de águas rasas e próximas à vegetação submersa marginal (Winemiller, 1989; Sabino & Zuanon, 1998; Carvalho et. al. , 2002). Por apresentar valor econômico, uma boa aceitação no mercado (Lourenço & Hahn, 1996), e se ajustar bem ao ambientes lênticos (Suzuki & Agostinho, 1997; Prado et. al., 2006) pode ser uma alternativa para pescadores. Isso porque eles utilizavam os recursos pesqueiros dos rios e que, com o represamento tiveram uma redução drástica na pesca e conseqüentemente no seu rendimento econômico em virtude da redução do estoque dos peixes reofílicos. Assim, uma elaboração de programa de manejo para a espécie poderia manter uma pesca economicamente viável para pequenas comunidades ribeirinhas, amenizando os danos provocados por esses empreendimentos em termos locais. Além disso, seria alternativa ecológica viável em relação à prática preocupante das introduções de espécies

alóctones e/ou exóticas, que foram largamente difundidas em décadas passadas e sem resultados satisfatórios (Carvalho et al ., 2005).

Apesar de bem estudada nos seus aspectos biológicos (Godoy 1975; Caramaschi et. al. , 1982; Barbieri, 1989; Winemiller, 1989; Loureiro & Hahn 1996; Sabino & Zuanon 1998; Quagio-Grassiotto et al., 2001; Carvalho et. al. , 2002; Prado et. al., 2006), a espécie carece de estudos que avaliem a sua dinâmica populacional e o seu potencial em termos de recursos pesqueiros em reservatórios.

Objetivos

A traíra Hoplias malabaricus por ser a principal espécie em importância para pesca artesanal na região de transição do reservatório de Jurumirim (capitulo II) foi estudada neste capitulo, que teve como objetivos gerais caracterizar a dinâmica da reprodução, alimentação, crescimento em comprimento e avaliação do estoque desta espécie oriunda da pesca artesanal. Assim, em termos de objetivos específicos realizaram-se as seguintes abordagens: 1º - caracterização da dinâmica reprodutiva e alimentar; 2º - determinação da estrutura em tamanho e a relação comprimento- peso; 3º - estimativa do crescimento em comprimento da população, comprimento padrão assintótico (L ∞), o coeficiente de crescimento (k) e performance de crescimento ( Φ); 4º - estimativa das taxas de mortalidade instantânea total (Z), natural (M) e por pesca (F), taxa de sobrevivência; longevidade; 5º - caracterização do recrutamento para pesca; da situação atual do estoque utilizando-se do modelo de captura relativa por recruta (Y’/R) e biomassa por recruta (B’/R).

Materiais e métodos

Coleta de dados

Os exemplares de H. malabaricus , entre 40 e 50 indivíduos por mês, foram obtidos durante o ano de 2005 com os pescadores artesanais do núcleo de pesca do Bairro da Ponte na divisa dos municípios de Paranapanema e Angatuba (Carvalho et al., 2003 e 2005). Este núcleo localiza-se no trecho de desembocadura do rio Paranapanema no reservatório de Jurumirim (Alto do rio Paranapanema, SP) no qual a sua jusante contém várias lagoas marginais do tipo oxbow (Carvalho et al. , 1998). Os peixes foram transportados para o laboratório de Ecologia de Peixes, do Departamento de Morfologia da Universidade Estadual Paulista, sendo submetidos às analises biométricas, determinando-se o comprimento padrão (em cm) utilizando-se de ictiômetro e pesados com balança analítica digital (em gramas) e depois dissecados por uma incisão abdominal, determinação o sexo (a vista desarmada), o estádio de maturação das gônadas e pesagem das gônadas (em gramas). Também, os estômagos com conteúdo (parcialmente cheio e cheio) foram retirados, pesados e fixados em formol a 5% para análise posterior. Paralelamente, com o intuito de determinar possíveis influências de variáveis limnológicas na dinâmica reprodutiva desta espécie foram mensuradas as seguintes variáveis: pH, temperatura da água, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica, transparência da água, alcalinidade da água, clorofila a, precipitação pluviométrica e cota altimétrica. As duas últimas cedidas pela concessionária da usina hidroelétrica: Duke-Energy.

Análise de dados

Para as análises da dinâmica reprodutiva (proporção entre os sexos e período reprodutivo) e alimentação (dieta e hábito alimentar) os dados foram agrupados por trimestre, de acordo com as estações do ano: verão/2005

(janeiro, fevereiro e março), outono/2005 (abril, maio e junho), inverno/2005 (julho, agosto e setembro) e primavera/2005 (outubro, novembro e dezembro).

A análise de dados da dinâmica reprodutiva, estrutura populacional, estimativa do crescimento e avaliação do estoque foi à mesma aplicada no Capítulo II. Desta forma, nesse Capitulo será descrito apenas o procedimento adotado para o estudo da alimentação, pois, utilizou-se de técnicas diferentes as aplicadas no estudo descrito no capítulo anterior.

Alimentação (dieta e hábito alimentar)

Os estômagos depois de retirados foram devidamente pesados e fixados em formol a 5% para posterior análise. Os conteúdos estomacais (presas) foram contados, medidos, pesados (em gramas) e identificados no nível taxonômico mais baixo possível, conforme a literatura especializada (Nelson, 1994; Britski et al., 1999; Carvalho et al., 2003; Reis et la., 2003) e especialista (Dr. Ricardo Benine, Pós-Doutorando do Departamento Morfologia - Instituto de Biociências UNESP Botucatu), sendo agrupados no nível de família ou ordem. A freqüência de ocorrência e o peso dos itens (Hyslop, 1980 e Zavala-Camin, 1996) foram usados para calcular o índice proposto por Kawakami & Vazzoler (1980).

IAi = (Fi x Vi/ Σ (Fi x Vi))

Onde: IAi = índice alimentar; i = itens alimentares 1,2,...n; Fi = freqüência de ocorrência (%); Vi peso úmido das presas (%). O índice alimentar foi transformado em freqüência relativa.

Para a ponderação desses resultados, o material composto por peixes não identificados e resto de peixes (por exemplo, espinhos e escamas), teve o seu IAi dividido, proporcionalmente, entre os grupos de peixes com o IAi de cada grupo, por estação do ano.

Resultados

Dinâmica reprodutiva

Para o estudo da dinâmica reprodutiva foram utilizados 432 exemplares.

No período de estudo, os machos representaram 43,7% das capturas (n = 186) e as fêmeas 56,3% (n = 240) (Figura 3.1), com uma proporção entre os sexos (M:F) de 0,8:1 ( χ2 = 6,594, d.f. = 1, p < 0,0102). Sazonalmente, os machos predominaram no verão, (machos = 38 (51,4%) proporção entre os sexos M:F = 1:0,6; χ2 = 0,014, d.f. = 1, p < 0,9075). As fêmeas predominaram nas demais estações do ano: outono (fêmeas = 68 (57,1%); proporção entre os sexos M:F = 0,7:1, χ2 = 2,151, d.f. = 1, p < 0,1425); inverno (fêmeas = 64 (52,0%), proporção entre os sexos M:F = 0,9:1, χ2 = 0,23, d.f. = 1, p < 0,7183) e primavera (fêmeas = 72 (65,5%), proporção entre os sexos M:F = 0,5:1, χ2 = 9,90, d.f. = 1, p < 0,0017).

100,0 1,6:1 0,7:1 0,9:1 0,5:1* 0,7:1*

90,0

80,0

70,0

60,0

% 50,0

40,0

30,0

20,0

10,0

0,0 verão outono inverno primavera total

Macho Fêmea

Figura 3.1 - Proporção entre os sexos de Hoplias malabaricus no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema) oriundos da pesca artesanal entre janeiro. Os números ao lado das barras indicam a taxa sexual (M:F) * diferença estatística p < 0,05.

A freqüência de distribuição dos estágios de desenvolvimento das gônadas mostrou ocorrências fêmeas maduras em todas as estações do ano, sendo que à freqüência foi maior no verão (n = 26 - 72,2%) e primavera (n = 53 - 73,6%). Já os machos, apresentaram baixas freqüências de indivíduos maduros ao longo do tempo, a primavera apresentou a maior freqüência de machos maduros (n = 2 – 5,3%).

100%

a 90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05

imaturo maturação maduro esvaziado repouso

100% b 90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05

imaturo maturação maduro esvaziado repouso

Figura 3.2 - Freqüência dos estádios de desenvolvimento das gônadas de fêmeas (a) e machos (b) de Hoplias malabaricus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema) entre janeiro a dezembro de 2005.

Os valores médios da relação gonadossomática (RGS), para as fêmeas foram maiores no verão e primavera. A análise estatística rejeitou a hipótese

nula da igualdade dos valores médio da relação gonadossomática para as fêmeas (ANOVA one-way F (3,236) = 43,979, p < 0,0000), sendo, verão e primavera estatisticamente diferente o outono e inverno. . Para os machos os valores da relação gonadossomática (RGS) foram similares ao longo das estações, e estatisticamente iguais (ANOVA one-way F (3,181) = 1,6186, p < 0,18664).

8,0

a) a

7,0

6,0 a

5,0

b

4,0 RGS

3,0

2,0 c

1,0

0,0 Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05

0,45 b) a a 0,4

a

0,35

0,3 a

0,25 RGS 0,2

0,15

0,1

0,05

0 Verão/05 Outono/05 Inverno/05 Primavera/05

Figura 3.3 - Relação gonadossómatico (RGS) por época do ano para fêmeas (a) e machos (b) de Hoplias malabaricus oriundos da pesca artesanal do

reservatório de Jurumirim (alto rio Paranapanema) de janeiro a dezembro de2005. Letras diferentes indicam as diferenças estatísticas (p<0,05). A análise de regressão múltipla entre os valores médios do RGS das fêmeas e variáveis abióticas mensuradas indicaram que não houve uma 2 correlação estatisticamente significativa (R = 0,917; p < 0,3216; F (9,2) = 2,4677).

Alimentação (dieta e hábito alimentar)

Para o estudo da dieta e do hábito alimentar foram avaliados 101 conteúdos estomacais.

A alimentação de Hoplias malabaricus foi quase que exclusivamente de peixes, porém, os itens como Anuro, insetos terrestres, insetos aquáticos, material vegetal apresentaram uma freqüência de IAi pouco expressiva. Entre os itens peixes pode se observar claramente uma variação sazonal nos valores IAi, sendo que no verão, o item Pimelodidae foi o mais freqüente (39,12%); no outono o item Curimatidae predominou (58,92%); no inverno e primavera o item Characidae foi o mais freqüente (36,68%. 50,48%, respectivamente) (Figura 2.4).

70,0

60,0

50,0

40,0 IAi (%) 30,0

20,0

10,0

0,0 Verão Outono Invermo Primavera Pimelodidae Characidae Curimatidae Parodontidae Outros Characiformes Gymnontiformes Outros Figura 3.4 - Freqüência da distribuição dos itens alimentares de Hoplias malabaricus oriundas da pesca artesanal, por época do ano no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema) de janeiro a dezembro de 2005.

Estrutura populacional e estimativa do crescimento

Foram obtidos o comprimento padrão e peso total de 432 exemplares. O comprimento padrão dos exemplares capturados variou entre 11,1 e 33,3 cm

(Lp médio = 22,0 cm; SD = 2,2), sendo os indivíduos entre 21,0 a 21,9 cm os de maior freqüência de captura (Figura 3.5). O peso total dos exemplares amostrados variou entre 29,59 e 722,01g (Wt médio = 209,7; SD = 67,4).

30,0

25,0

20,0

% 15,0

10,0

5,0

0,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 16,0 17,0 18,0 19,0 20,0 21,0 22,0 23,0 24,0 25,0 26,0 27,0 28,0 29,0 30,0 31,0 32,0 33,0 Comprimento padrão (cm)

Figura 3.5 - Distribuição da freqüência de comprimento padrão de Hoplias malabaricus oriundos na pesca artesanal no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema) de janeiro a dezembro de 2005.

Relação comprimento-peso

A relação entre peso/comprimento para a espécie pode ser descrita pela seguinte equaçãoLN Wt = - 3,1663 + 2,7456 LN Lp e R2 = 0,9012 (Figura 3.6). O resultado do teste t rejeitou a hipótese nula de b (inclinação da reta) igual a zero ( t (1,430) = 62,62; p = 0,00), é rejeitou também que o valor de b (2,7456) igual a 3 (condição de crescimento isométrico) ( t (1,430) = 5,90, p < 0,01) indicando um crescimento alométrico negativo para a espécie no reservatório de Jurumirim.

7,0

6,5 y = 2,7456x - 3,1663 R2 = 0,9012

6,0

5,5

5,0

4,5

LN peso total (g) LNtotal peso 4,0

3,5

3,0

2,5

2,0 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 LN comprimento padrão (cm)

Figura 3.6 - Relação peso/comprimento dos exemplares, independente do sexo, de Hoplias malabaricus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema) de janeiro a dezembro de 2005.

Crescimento

Os parâmetros que descrevem o crescimento em comprimento de H. malabaricus , L ∞ e k obtidos pelo ELEFAN I foram respectivamente 33,60 cm e 0,63 ano -1. Assim a equação de crescimento von Bertalanffy pode ser descrita da seguinte forma:

- 0,32 (t-t0) Lt = 35,18[1 – exp ( )]

Conforme pode ser visualizado na Figura 3.7, a curva de crescimento em comprimento sugere que a presença de três coortes bem definidas Mas, pode-se também inferir a presença de uma 4ª coorte representadas por indivíduos com tamanho próximos ao L ∞.

Figura 3.7 – Distribuição da freqüência de comprimento e curva de crescimento estimada para Hoplias malabaricus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema), entre janeiro e dezembro de 2005.

Índice de performance de crescimento

O índice de performance de crescimento da traíra neste estudo foi, Φ’ = 2,58.

Comprimento e estrutura etária

A análise estimada da estrutura comprimento-idade mostrou que a captura de H. malabaricus na pesca artesanal foi concentrada nos indivíduos de 2,5 a 4,5, de idade, que representaram 96,1%, sendo as idades de 3,0 e 3,5 as mais representativas na pesca, com 41,3% e 35,6% dos indivíduos capturados, respectivamente (Tabela 3.1).

Tabela 3.1 - Estrutura idade - comprimento de Hoplias malabaricus oriundos na pesca artesanal no reservatório Jururmirim (Alto rio Paranapanema) entre janeiro a dezembro de 2005. Idade relativa Comprimento N % (anos) médio (cm) 0 0 0 0,0 0,5 5,20 0 0,0 1,0 9,63 0 0,0 1,5 13,41 1 0,2 2,0 16,63 2 0,5 2,5 19,37 15 3,5 3,0 21,71 186 43,1 3,5 23,70 154 35,6 4,0 25,40 46 10 4,5 26,84 14 6 5,0 28,08 8 3,2 5,5 29,13 3 1,9 6,0 30,02 1 0,2 6,5 30,78 0 0,0 7,0 31,43 0 0,0 7,5 31,99 0 0,0 8,0 32,46 0 0,0 8,5 32,86 1 0,2 9,0 33,21 0 0,0 9,5 33,50 1 0,2

Potencial de longevidade

O potencial de longevidade foi estimado em tmax = 9,3 anos.

Taxas de mortalidade

A taxa de mortalidade natural (M) foi estimada em 0,63 ano -1. Para estimativa da taxa de mortalidade total (Z), os dados de entrada foram: Lc =

19,0cm, L ∞ = 35,18cm; k = 0,35; e L m = 33,3. A estimada feita pelas técnicas, Beverton & Holt (1957) e Ault & Ehrhardt (1991), foram respectivamente; 1,25 ano -1 e 1,24 ano -1. A taxa de mortalidade (F) por pesca foi estimada em , 0,62 ano -1 (Z = modelo Beverton & Holt) e 0,61 ano -1 (Z = modelo Ault & Ehrhardt). Comparando os valores de M e F foi possível concluir que a mortalidade por pesca foi ligeiramente menor que a mortalidade natural (F>M). Taxa de sobrevivência

A taxa de sobrevivência calculada com os dois valores de Z obtidos pelas técnicas de Beverton & Holt e Ault & Ehrchardt foram semelhantes, 29% ano..

Recrutamento para pesca

A curva de recrutamento revelou que o recrutamento para pesca ocorreu durante 11 meses do ano, sendo que a intensidade maior foi nos meses de fevereiro a maio de 2005 e com apenas um pico anual, (Figura 2.12).

20

18

16

14

12

% 10

8

6

4

2

0 jan/05 fev/05 mar/05 abr/05 mai/05 jun/05 jul/05 ago/05 set/05 out/05 nov/05 dez/05

Figura 3.8 – Intensidade do recrutamento para o estoque de Hoplias malabaricus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema), entre janeiro a dezembro 2005.

Rendimento (Y’/R) e biomassa (B’Y) por recruta

A análise da curva da produção por recruta indicou que não ocorreu sobrepesca no estoque da traíra. O atual nível de exploração do estoque E =

0,192, foi menor que E max = 0,708 (Figura 2,9).

0,04 0,9

Emax

E 0,8 0,035 0,1

Eatual 0,7 0,03

E0,5 0,6 0,025

0,5

0,02

0,4

0,015 Biomassa por recrutapor Biomassa (Y'B)

Rendimento por recruta (Y'/B) recruta por Rendimento 0,3

0,01 0,2

0,005 0,1

0 0 0,01 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 0,99 Taxa de exploroação (E)

Rendimento por recruta (Y'/B) Biomassa por recruta (B'/Y)

Figura 3.9 – Produção por recruta (Y’/R) e biomassa por recruta (B’/R) de Hoplias malabaricus oriundos da pesca artesanal no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema), entre janeiro a dezembro de 2005. As setas indicam a taxa atual de exploração (E atual ) e taxa de exploração máxima (E máx ),, além do E0.1 e E 0.5 estão indicadas no gráfico.

Discussão

Dinâmica reprodutiva

A proporção sexual para H. malabaricus , oriunda da pesca artesanal na colônia de pescadores do Bairro da Ponte, desviou-se significativamente da proporção 1:1, com predomínio de fêmeas. As mesmas hipóteses levadas para

explicar a diferença na proporção sexual para O. niloticus também podem justificar a diferença encontrada para H. malabaricus ;

1ª - diferenças comportamentais entre os sexos, fazendo que fêmeas sejam mais vulneráveis a captura: Machos da espécie são mais territorialista (Barbieri, 1989; Prado et al., 2006), além disso, os machos são responsáveis pelo cuidado da prole tomando conta do ninho e podendo permanecer até seis dias no local da construção dos ninhos (Prado et al ., op cit. ). Embora o autor tenha relatado que fêmeas podem auxiliar no cuidado parental, esse foi exercido em sua maioria por machos. Os ovos são depositados no fundo, em pequenas depressões, trocos de arvores, sob folhas ou outras superfície. Após a postura as fêmeas tende a deixar o local, enquanto os machos permanecem cuidando do ninho. Desta forma as fêmeas tende a ser mais vulnerável a captura pelo aparato de pesca do que os machos.

2 ª - diferenças entre taxas de crescimento e mortalidade. Devido ao tamanho amostral (n = 426), os dados de crescimento e mortalidade não foram analisados separadamente entre os sexos, impossibilitando considerações sobre a segunda hipótese. Porém cabe ressaltar que no reservatório de Monjolinho, São Carlos (SP), não foi detectada diferenças no crescimento entre machos e fêmeas dessa espécie (Barbieri, 1989).

O período reprodutivo de H. malabaricus , determinado pela análise simultânea entre valores médios do RGS e a distribuição da freqüência dos estádios de maturação, indicou um período reprodutivo bastante longo, abrangendo o fim do inverno, a primavera e todo o verão. Embora, os valores do RGS médio das fêmeas não tenham apresentado correlação estatisticamente significativa com nenhuma variável limnológica o período de maior atividade reprodutiva coincidiu com período das águas (verão) o qual a temperatura e a precipitação pluviométrica são maiores. Prado et al., (2006),

estudaram padrões de postura e cuidado parental da espécie do rio Miranda, Corumbá, na região do Pantanal brasileiro, observaram que a desova teve inicio aproximadamente 30 dias após, a cheia alcançar esta região. Outros autores também observaram relação direta entre desova da espécie e o período chuvoso: Caramaschi (1979) no reservatório do rio Pardo, Botucatu (SP), Barbieri (1989) reservatório de Monjolinho São Carlos (SP); Suzuki & Agostinho (1997) no reservatório de Segredo (PR) e Marques et al., (2001) no reservatório de Alhandra (PB).

Devido às técnicas de amostragem não foi possível estimar o tamanho mínimo da primeira maturação na área de estudo. A seletividade decorrente dos aparatos de captura na pesca artesanal, da mesma forma como O. niloticus , a captura de indivíduos imaturos da população de H. malabaricus , foi baixa, apenas três indivíduos foram observados, sendo o maior de 17,1 cm. Estudos em bacias hidrográficas do Estado de São Paulo, o tamanho mínimo de primeira maturação desta espécie foi estimado 13,5 cm para exemplares originários do rio Pardo (SP), bacia do Alto Paranapanema (Caramaschi,1979) e em 16,7 cm, correspondendo o 2º ano de vida para exemplares do reservatório de Monjolinho, bacia do rio Mogi Guaçú (SP) (Barbieri 1989). Por outro lado, o menor indivíduo maduro determinado no presente estudo, foi com 16,6 cm. Desta forma, seria razoável inferir que o tamanho mínimo de primeira maturação de H. malabaricus deve estar próximo aos valores estimados pelos referidos autores.

Assim como mencionado para O. niloticus , as variações bruscas do nível do reservatório em decorrência do sistema operacional da UHE podem causar efeitos negativos para as populações de H. malabaricus do reservatório de Jurumirim, pois, esta espécie possui cuidado parental, como discutido acima, e essas oscilações artificiais podem aumentar as taxas de mortalidade dos ovos e larvas, com conseqüências no recrutamento de novos indivíduos na população e por fim refletindo na produção pesqueira.

Dieta e hábito alimentar

A alimentação de H. malabaricus no reservatório de Jurumirim foi quase que exclusivamente de peixes, pois os registros de insetos aquáticos e terrestres, material vegetal e anuro foram em percentuais inexpressivos, sendo, portanto considerados acidentais. O hábito piscívoro dos adultos é típico desta espécie sendo citado na literatura por diversos autores (Caramaschi, 1979; Winemiller, 19889; Loureiro & Hahn, 1996; Hahn et al., 1997; Carvalho et al., 2002; Pereira et al., 2004; Andrade & Braga, 2005; Luz-Agostinho et la., 2006).

Dentro do espectro ictiófago, foi observado um padrão bem evidente de sazonalidade na alimentação, isso porque se notou a predominância de pimelodídeos no verão, curimatídeos no outono e caracídeos (lambaris e piquira) na primavera. O caráter oportunista, na escolha do alimento, parece ser uma das características da espécie (Hahn et al., 1997; Carvalho et al., 2002), explorando de forma eficiente os recursos disponíveis no ambiente em determinados momentos. Um bom exemplo do hábito oportunista da espécie foi demonstrado por Pompeu & Godinho (2001) que estudaram a dieta da espécie em lagoas com ou sem piscívoros introduzidos, no vale do rio Doce (MG). Esses autores mostraram que houve uma mudança na dieta de H. malabaricus com a diminuição do consumo de peixes e substituição por invertebrados aquáticos nas lagoas que tinham outras espécies de peixes piscívoros introduzidos (tucunaré – Cichla sp. e piranha – Pygocentrus nattereri ) A plasticidade na dieta é uma característica de boa parte dos peixes tropicais (Lowe-McConnell, 1999), sendo de grande importância para H. malabaricus , pois permite a ela ajustar-se às condições ambientais vigentes em determinados momentos sem grandes alterações na biomassa da população.

Com relação ao local de estudo enfatiza-se a necessidade da conservação da região litorânea com sua vegetação. Isto porque, parte das

presas consumidas por H. malabaricus , especialmente lambaris e piquiras utiliza essa área como abrigo, para se alimentarem ou reprodução, sendo assim importantes para o ciclo de vida dessas espécies (Castro et al., 2003) Atualmente, essa região ainda encontra-se relativamente bem conservada.

O fato de H. malabaricus ser um predador de topo da cadeia, (segunda, e às vezes, de terceira ordem), no reservatório de Jurumirim, tem conseqüências negativa para a pesca. Como discutido no capitulo I, em cadeias tróficas longas a energia é perdida na passagem de nível para outro, e assim, a biomassa sustentada no topo da cadeia tende a ser menor. Longas cadeias alimentares em reservatórios tropicais e especialmente brasileiros é uma das causas apontadas para a baixa produtividade pesqueira (Fernando & Holcik, 1982; Petrere Jr., 1996; Miranda et al., 2000; Gomes & Miranda, 2001). E no reservatório de Jurumirim, H. malabaricus (predador de topo) foi principal espécie na pesca artesanal/comercial (capitulo I), e talvez seja uma das causas da baixa produtividade do reservatório de Jurumirim.

Estrutura populacional e estimativa do crescimento

Da mesma forma que O. niloticus , os dados de comprimento mensurados foram dos indivíduos oriundos da pesca artesanal, portanto, com aparatos de captura controlados por legislação específica. Assim sendo, esses valores não são representativos da estrutura populacional como um todo, mas apenas parte do extrato sujeito às ações deste tipo de pesca e aparatos. A despeito do número amostral baixo (N = 432), justifica-se pela baixa produtividade da pesca no local (Capitulo I), estando a amostra abaixo dos valores indicados para metodologia aplicada nesse estudo (Gayanilo et al., 2006), o que leva a uma análise mais cautelosa, porém, não invalidando os resultados aqui apresentados.

A captura pela pesca artesanal na população de H. malabaricus incidiu quase em sua totalidade sobre indivíduos adultos e que possivelmente já

reproduziram pelo menos uma única vez, preservando desta forma, os jovens. Conforme o discutido no capitulo anterior, os paradigmas estabelecidos em relação ao tamanho mínimo de primeira maturação devem revistos, uma vez que, a preservação dos indivíduos de maior comprimento e de vital importância na manutenção de um estoque pesqueiro viável economicamente e podem ter relação direta com o aumento da resiliência dos estoques (Agostinho et al., 2007)

Relação peso-comprimento

A espécie apresentou valor de b = 2,7455, estatisticamente diferente de 3 indicando o crescimento do tipo alométrico negativo, ou seja, a espécie cresceu em comprimento de forma mais rápida que o peso. Esse resultado difere do encontrado para a espécie do Lobo (SP) b = 3,0 (Barbieri et al., 1982) e no reservatório de Monjolinho (SP) b = 3,1, (Barbieri, 1989) indicando crescimento isométrico nesses dois ambientes. Contudo, o valor de b ficou dentro da faixa de oscilação determinado por Le Cren, (1951) que é entre 2,5 a 3,5, além disso, a relação mostrou uma boa correlação (R 2 = 0,90), provendo um bom modelo de para estimativas das variáveis peso e comprimento.

Como discutido no capítulo anterior, fatores como grau de trófia e stress provocado pela oscilação do nível da água do reservatório, influenciar o crescimento dos peixes (Santos et al ., 2004). O reservatório de Jurumirim é multi-compartimentalizado, apresentando compartimentos que podem ser sazonalmente oligotróficos ou/e meso-oligotróficos, embora atualmente venha sofrendo um gradativo processo de eutrofização devido a diferentes ações antrópicas (Nogueira et al., 1999). A área de coleta dos peixes (estudo) localiza-se na região de desembocadura do rio Paranapanema no reservatório, com seu estado trófico variando entre oligotrófico e meso, dependendo da estação do ano (Henry & Nogueira, 1999; Nogueira et al ., op. cit. ). Assim, é razoável supor que a disponibilidade de recursos alimentares no meio aquático também possa variar ao longo do ano, e podendo estar refletindo no coeficiente

de crescimento ( b). Aliado asse fator, o stress provocado pela variação do nível de água do reservatório, que durante o período de estudo foi de quatro metros entre retração e subida, também pode ter contribuído para o crescimento do alométrico negativo.

Crescimento em comprimento

Não foi encontrado na literatura estudos que apresentassem índice de performance de crescimento ( Φ’) para H. malabaricus e/ou espécies congenéricas.

Os parâmetros de crescimento estimados para a espécie (L ∞= 35,18; k = 0,32 e longevidade 9,3 anos), indicam uma espécie de crescimento lento. De acordo com alguns autores, espécies com alimentação especializada e de nível trófico elevado, tende a ter crescimento mais lento, grande longevidade e maturação atrasada (Wootton, 1995; Winnemiller, 1989; Lowe-McConnel, 1999). Desta forma, H. malabaricus no reservatório de Jurumirim pode ser enquadrada dentro dessa categoria, apresentou uma alimentação especializada (piscivória), nível trófico elevado para o reservatório (consumidor de 2ª e/ou 3ª ordem) e grande longevidade.

Estudos dos parâmetros de crescimento de H. malabaricus no reservatório de Monjolinho (SP) encontrou os seguintes valores: L∞ = 40,5; k = 0,24, e longevidade = 7 anos (Barbieri, 1989). Já no reservatório de Itaipu e na planície de inundação do rio Paraná os parâmetros de crescimento obtiveram os seguintes valores : L ∞ = 55,0; k = 0,45 (reservatório) e L ∞ = 44,0; k = 0,51 (planície de inundação) (Angelini & Agostinho 2005). Como discutido no capitulo anterior, diversos fatores interferem no crescimento dos peixes, o que dificulta determinar fatores que possam estar causando esta diferença.

Recrutamento para a pesca

A espécie em estudo apresentou único pico anual de recrutamento, em março, embora valores também altos tenham sido registrados em abril e maio, com esses valores declinando rapidamente até dezembro. Apesar das limitações impostas pela técnica de analise do padrão de recrutamento, algumas inferências podem ser feita. Considerando que os exemplares são recrutados para a pesca com aproximadamente 19,0 cm, pode-se estimar que os indivíduos levam aproximadamente dois anos para serem recrutados. Ainda, levando-se em consideração o evento reprodutivo foi mais intenso nos períodos do verão e primavera, esse período de recrutamento mostra-se coerente com a dinâmica reprodutiva da espécie no reservatório de Jurumirim.

Exploração do estoque

As taxas de mortalidade natural (M) e pesca (F) foram equivalentes para a espécie. Mateus & Penha, (2007a) discutem a relação de M e F, considerando o valor de F como MSY igual a M. Estes autores comentam que embora existam poucas evidências de tal relação entre M e F, de modo que

FMSY poderia se maior que M em alguns casos. Assim, se M for considerado como o ponto de referência biológico na exploração do estoque pesqueiro de H. malabaricus , já atingiu seu objetivo, pois este está sendo explorado no nível máximo sustentável.

Por outro lado, a análise do rendimento relativo por recruta indicou que

Eatual (0,496), encontra-se abaixo dos valores de E 0,1 (0,701) e E max (861) e superou o E 0,5 (0,378), o que significa que F reduz a biomassa do estoque virgem a 50%. Assim, assumindo uma posição mais conservadora, não é aconselhado um aumento no nível de esforço de pesca para H. malabaricus , mesmo que o valor de E atual encontra-se abaixo do E 0,1 e E max

Conclusões

Com relação aos resultados obtidos no estudo sobre a dinâmica populacional e ao estoque pesqueiro de H. malabaricus oriundo da pesca artesanal, pode-se concluir: 1º - A população apresentou uma proporção entre os sexos desigual com predominância de fêmeas; 2º - A atividade reprodutiva apresentou um período longo, como maior intensidade no verão e primavera; 3º - Apesar de não ter apresentado nenhuma relação estatística com as variáveis limnológicas mensuradas, o período de maior atividade reprodutiva coincidiu com período das águas (verão) o qual a temperatura e a precipitação pluviométrica são maiores; 4º - A espécie foi caracterizada como ictiófaga, na fase adulta; 5º - O tipo de crescimento foi alométrico negativo (2,7456); 6º - O comprimento assintótico foi 35,18cm (L ∞) e o k foi de 0,32 ano -1; 7º - a longevidade foi estimada em 9,3 anos e a taxa de sobrevivência em 29%; 8º - O recrutamento para pesca teve seus maiores valores de março a maio, com indivíduos sendo recrutados com 19,0 cm e idade estimada em 2 anos; 9º - A mortalidade natural e por pesca foram equivalentes; 10º - Com base no modelo de produção por recruta, o estoque da espécie não se encontra em sobrepesca, entretanto, não é recomendável o aumento no esforço de pesca.

Considerações finais e recomendações

A pesca artesanal nos reservatórios de Barra Bonita e Jurumirim apresentaram semelhanças com relação ao perfil dos pescadores, porém foram bem diferentes com relação à produtividade e os recursos pesqueiros disponíveis para a exploração.

No reservatório de Jurumirim, o trecho de desembocadura do rio Paranapanema, é uma região que, embora impactada pela formação do reservatório, ainda mantém condições ambientais, aquáticas e terrestres adjacentes em bom estado de conservação. Desta forma a pesca artesanal na localidade tem sido sustentada por mais de 30 anos, por espécies nativas, sendo algumas destas espécies migradoras. Além disso, a produção pesqueira não sofre grandes variações ao longo do tempo. Isso demonstra que a pesca nesta região parece estar equilibrada, garantido a sustentabilidade para um pequeno bairro (Bairro da Ponte) onde vivem os pescadores artesanais autóctones com seu núcleo familiar. Contudo, para que a pesca possa continuar sendo realizada dentro de níveis de segurança, garantido a manutenção e renovação dos recursos naturais explorados, seguem algumas recomendações:

1º - manter o atual nível de esforço de pesca próximo ao universo amostral (11 pescadores). Embora haja carência de estudos que determine o esforço de pesca ótimo para a região, historicamente, esse esforço de pesca tem se mantido próximo do nível atual com algumas variações temporais ao longo dos vários anos. Assim, seria recomendável estudos neste enfoque visando determinar o nível máximo de esforço sustentável, em termos de pescadores artesanais;

2º - preservação dos ecossistemas adjacentes à montante (lagoas marginais e vegetação ciliar) na calha do rio Paranapanema para que as espécies migradoras possam completar seus ciclos de vida neste complexo rio Paranapanema/reservatório de Jurumirim. Especificamente, a conservação das matas ciliares, manutenção das características do leito atual, e a preservação

das lagoas marginais associadas ao rio que são ecossistemas importantes para as larvas e juvenis das espécies, migradoras e sedentárias se desenvolverem. Assim, a construção de pequenas barragens (PCH) nos últimos trechos lóticos deste rio, como algumas propostas existentes, pode ser prejudicial aos ciclos migratórios, dificultando ou mesmo impedindo o processo reprodutivo dessas espécies migradoras;

3º - a região da desembocadura do rio Paranapanema no reservatório de Jurumirim é classificada como um ambiente oligo-mesotrófico. Contudo, tem se observado um aumento da carga orgânica na região o que pode desencadear um processo de eutrofização (Nogueira et al., 1999). A eutrofização pode provocar efeitos, como a redução da biodiversidade e modificar a composição da comunidade. Embora, o hipereutrofizado reservatório de Barra Bonita mantém uma elevada produção pesqueira, ela é concentrada em uma espécie exótica e com valor econômico menor que as espécies nativas comercializada no núcleo de pescadores do Bairro da Ponte.

4º - Monitoramento sistemático produção pesqueira na região utilizando- se do potencial de pesquisa e fomento das instituições de pesquisa (Universidade e Institutos de pesquisas), da concessionária da usina hidroelétrica, prefeituras municipais da região. E ainda, contar com a colaboração dos lideres comunitários dos núcleos de pesca para obtenção de serie temporal de dados, que permitam elaborar plano de manejo sustentável da pesca artesanal;

5º - Avaliação dos estoques pesqueiros de outras espécies, como Prochilodus lineatus , Pimelodus maculatus , Serrasalmus maculatus , Leporinus obtusedens que são importantes recursos pesqueiros da pesca artesanal;

6º - Medidas que visem não apenas a conservação dos jovens, mas também dos adultos dessas e outras espécies relacionadas com a pesca, para

que matrizes de qualidades, possam reproduzir-se mantendo desta forma a diversidade e características genéticas das populações;

7º - Investimento na melhoria da infra-estrutura da região, como: locais apropriados para desembarque, limpeza, conservação e comercialização do pescado.

8º - Manter a pesca interditada no período de piracema. Embora questionável e em parte ineficiente, esse período provoca uma redução do esforço de pesca. Porém, para que essa medida seja efetiva há a necessidade de que o seguro desemprego pago pelo governo federal aos pescadores artesanais seja feito na época certa, e não após o fim da interdição da pesca, conforme relato de alguns pescadores.

Por outro lado, a situação da pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita é bem mais critica que a do reservatório de Jurumirim. Isso por que o estabelecimento e a proliferação das tilápias, em particular a tilápia-do-Nilo ( O. niloticus ) atraiu pescadores de diversas regiões do Estado de São Paulo (principalmente do reservatório de Billings) e de outros Estados (especialmente sul de Minas Gerais) para este reservatório. Com baixa renda financeira e sem moradia fixa ou digna, esses pescadores artesanais acabam construindo acampamentos às margens do reservatório, com precárias condições sanitárias e de higiene. A região de Botucatu tem dois desses acampamentos, Porto Said, que foi alvo dessa pesquisa e na Ponte do Jaú (ponte na rodovia SP 191 - sobre o rio Tietê na divisa dos municípios de Botucatu e Anhembi). Esse estado de desordem em que se encontra a atividade de pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita aumenta, ainda mais, o preconceito já arraigado na sociedade, contra os pescadores artesanais. Por exemplo, são eles os responsáveis pela redução de peixes, pela degradação ambiental e isso têm gerando graves conflitos entre pescadores, outros usuários desses recursos aquáticos e órgãos fiscalizadores (policia militar ambiental).

Além da questão da desordem, a pesca artesanal de Barra Bonita induz situações de conflitos entre as questões de conservação ambiental e a social e econômica. Esses conflitos são gerados pelo fato da pesca artesanal ser sustentada pelo pescado exótico, as tilápias ( Tilápia rendalli e O. niloticus ), introduzidas, há décadas, neste ecossistema artificial equivocadamente por questões política dos gestores (concessionárias de energia e órgãos governamentais) respaldada por legislação ambiental, sem embasamento científico desta problemática. Desta forma, qual decisão tomar? Liberar a pesca indiscriminadamente? De forma que possam ser retiradas as maiores biomassas possíveis de tilápias... Na tentativa de restaurar o ambiente? Ou manejar a pesca desse grupo para evitar o colapso e manter estoques de forma sustentável, gerando emprego e renda para uma parcela da população excluída socialmente? Entre os pescadores artesanais existe até o anseio da manutenção das tilápias e de sua pesca no reservatório, o que incluí além da conservação, programas de estocagem (um neologismo “tilapiamento”, segundo orientador) pelo menos uma vez por ano.

Do ponto de vista ecológico, a retirada das tilápias seria a medida mais correta como forma de gestão dos recursos aquáticos, visto que esforços de conservação não devem ser direcionados às espécies não-nativas (Agostinho et al., 2007). Segundo esses autores, a pesca de espécies não-nativas nos reservatórios do Sul e Sudeste, como as corvinas, tucunarés, entre outros, mesmo durante o período de defeso pode ser considerado um grande avanço na área de conservação da nossa combalida biodiversidade.

Dentro dessa linha, as medidas de manejo adotadas no reservatório de Barra Bonita, estão em desacordo com as medidas adequadas de gestão dos recursos aquáticos. Isso porque ha três anos (2005/06; 2006/07; 2007/08) a pesca das tilápias foi interrompida durante o defeso. Além disso, a proibição do uso das técnicas de pesca (da batida e arrasto) voltada para a captura das tilápias pela atual legislação e que são fortemente repreendidas pelos fiscais do meio-ambiente (polícia militar ambiental), deveriam ser liberadas. Aliás, a

liberação dessas técnicas de captura é uma das principais reivindicações dos pescadores.

A erradicação das tilápias no reservatório de Barra Bonita é algo improvável de ser efetivado, ha curto prazo, pois o que pode ocorrer é a sua redução populacional, como vêm acontecendo com a corvina ( Plagioscion squamossisimus ) nos últimos 8-10 anos. Na década de 1990 esta espécie era o principal pescado no reservatório, desta forma, a pesca é o meio mais efetivo de controle populacional. Assim, as medidas atuais de manejo pesqueiro para o reservatório devem ser revistas, de forma a liberar a pesca das tilápias mesmo no período de defeso e permitir o uso das técnicas de captura direcionadas para tilápias como a batida e do arrasto. Ainda, dentro dessa visão, Espíndola et al., (2005) sugeriram algumas proposta de manejo para espécies introduzidas no médio e baixo Tietê, de curto, médio e longo prazo e que pode ser adotadas neste caso:

1º - Ampla divulgação de informações cientifica sobres espécies exóticas e alóctones, junto à sociedade civil, órgãos ambientais, administrativos e organizações não governamentais, possibilitando a transferência dos resultados das pesquisas em diferentes setores e permitindo o estabelecimento de uma rede integrada de gerenciamento da introdução de espécies.

2º - Incentivar e fortalecer a formação de associações de pescadores na região, visando a capacitação mais direta, a transferência tecnológica e a agregação de novos valores (processamento e industrialização) ao pescado nativo produzido;

3º - Ampliar a fiscalização em relação ao estabelecimento de sistemas produtivos, pesque-pague, buscando de forma prioritária a utilização de espécies nativas, minimizando o risco da introdução de espécies exóticas ( O. niloticus ) por escapes acidentais ou não;

4º - Estabelecer programas de monitoramento contínuo e integrado (universidade, prefeituras, órgãos ambientais e associações) da estrutura da comunidade de peixes, permitindo acompanhar as interações entre O. niloticus as e as espécies nativas.

Com relação à atividade de pesca artesanal existe a necessidade urgente de uma reorganização no reservatório, identificando os núcleos e pontos de desembarque pesqueiro e a realização de um censo para um levantamento preciso do atual contingente de pescadores. Em um levantamento recente realizado por Maruyama (2007), identificou-se 11 pontos de desembarque de pescados em seis municípios da região do reservatório, que já pode ser considerado um ponto de partida. De posse dessas informações, um ordenamento da pesca poderá ser realizado com a participação de Instituto de pesquisas (Universidade e institutos de pesquisas), órgãos fiscalizadores (Estaduais e Federais), prefeituras dos municípios envolvidos, concessionária hidroelétrica e principalmente os pescadores, através de seus lideres comunitários e da colônia de pescadores. Desta forma pode-se chegar a um senso comum onde resoluções de conflitos são mais fáceis de solucionar e as decisões tomadas tem mais legitimidade e conseqüentemente são mais respeitadas.

Porém, algumas medidas devem ser adotadas para a conservação e manutenção de estoques pesqueiros destes ecossistemas artificiais:

1º - Acompanhamento sistemático da pesca artesanal dessas espécies;

2º - Estudos sobre biologia e ecologia são imprescindíveis para a conservação das espécies importantes com recursos pesqueiros, tais como conhecimento de seu comportamento reprodutiva (época, tamanho mínimo de primeira maturação, fecundidade), identificação dos sítios de desova das espécies, dieta alimentar, crescimento;

3º - medidas que visem não apenas a conservação dos jovens, mas também dos adultos, como citado para o reservatório de Jurumirim;

4º - conservação imediata e urgente de áreas onde possivelmente ocorrem os processos reprodutivos dessas espécies. Para P. lineatus, o rio do Peixe, afluente do rio Tietê, é de grande importância, uma vez que há fortes indícios de que esse rio é um sítio de reprodução da espécie (Paes, em preparação). Para P. maculatus um importante sítio de reprodução, alimentação e crescimento, são lagoas marginais existentes na localidade conhecida como Tanquã, e que são interconectadas com o rio (Silvano & Begossi, 2001).

5º - estudos complementares como, por exemplo, a qualidade do pescado;

6º - Melhorias na infra-estrutura devem ser feitas como as citadas para o reservatório de Jurumirim.

Além disso, medidas mais efetivas no combate a eutrofização artificial devem ser exercida pelos órgãos gestores como os comitês de bacia hidrográfica do reservatório, em especial, rede de tratamento de esgotos e dos fertilizantes utilizados na agricultura.

Terminando, lembro da frase de Petrere Jr. (1996): “ o pescador é uma minoria profissional e nós como democracia devemos preservar a cultura e a profissão”

Palestra proferida no Encontro do Instituto de Pesca, maio de 1996, por Prof. Dr. Miguel Petrere Jr. – consultor da FAO para assuntos relacionados a pesca continental. (extraído de Minte-Vera, 1997).

Referências bibliográficas

AES Tietê S/A. ( www.aes.com.br ). Acesso 12/08/2007.

Agostinho, A.A., Vazzoler, A.E.A.de M. & Thomaz, S.M. The high river Paraná basin: Limnological and ichthyological aspects. In: Tundisi, J.G., Bicudo, C.E.M. & Matsumura-Tundisi, T. Limnology in . Rio de Janeiro: ABC/SBL. p. 59- 104. (1995).

Agostinho, A.A. & Julio Jr.H.F. Peixes da bacia do alto Paraná. In: Lowe- McConnell, R.H. Estudo ecológico de comunidade de peixes tropicais.; Tradução Ana Emília A. de M. Vazzoler, Ângelo Antônio Agostinho, Patrícia T.M. Cunnhingham. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. p. 345- 373. (1999).

Agostinho, A.A.; Miranda, L.E.; Bini, L.M.; Gomes, L.C.; Thomaz, S.M.; Suzuki, H.I. Patterns of Colonization in Neotropical Reservoirs, and Prognoses on Aging. In: Tundisi, J.G. & Straškraba, M.(eds.). Theoretical Reservoir Ecology and its Applications. São Carlos: Internacional Institute of Ecology. p. 227- 267. (1999a).

Agostinho, A.A.; Okada, E.K. 7 Gregoris, J. A pesca no reservatório de Itaipu: Aspectos sócio-econômico e impactos de represamento. In Henry, R. (ed.). Ecologia de reservatórios: Estrutura, função e aspectos sociais. Botucatu: FUNDIBIO; FAPESP. p. 279-320. (1999b).

Agostinho, A.A., Gomes, L.C.; Fernandez. D.R. & Suzuki, H.I. Efficiency of fish ladders for neotropical icththyofauna. River Research and Applications, v. 18, nº3 May-June . p. 299-306. (2002).

Agostinho, A.A.; Gomes, L.C. & Latini, J.D. Fisheries management in Brazilian reservoir: Lessons from/for South America. Interciências. v.29, nº 6, p. 334- 338. June. (2004).

Agostinho, A.A.; Thomaz, S.M. & Gomes, L.C. Conservation of the biodiversity of Brazil’s inland waters. Conservation Biology. v. 19, nº 3, p. 646-652. (2005).

Agostinho, A.A. & Gomes, L.C. Manejo da pesca em reservatórios da bacia do alto rio Paraná: Avaliação e perspectivas. In: Nogueira, M.G.; Henry, R. & Jorcin, A. (eds.) Ecologia de reservatórios; Impactos potenciais, ações de manejo e sistema em cascata. 2ª edição – São Carlos: Editora RiMA, p. 23- 56. (2006).

Agostinho, A.A.; Gomes, L.C. & Pelicice, F.M. Ecologia e manejo de recursos pesqueiros em reservatórios do Brasil. Maringá: Eduem, 501p. (2007a).

Agostinho, A.A.; Marques, E,E.; Agostinho, C.S.; de Almeida, D.A.; de Oliveira R.J. & de Melo, R.B. Fish ladder of Lageado dam: migrations on one-way routes? Neotropical Ichthyology. v. 5, nº2. p. 121-130. (2007b).

Albrecht, M.P. & Caramaschi, E.P. Feeding ecology of Leprinus friderici (Teleostei: Anostomidae) in the upper Tocantins river, Brazil Central, before and after installation of a hydroelectric plant Brazil. Studies on Neotropical Fauna and Environment. v.38, p. 33-40. (2003).

Albrecht, M.P. & Caramaschi, E.P. Feeding ecology of Leprinus taeniofasciatus (Characiformes: Anostomidae) before and after installation of a hydroelectric plant in the upper rio Tocantins, Brazil. Neotropical Ichthyology. v.1, nº1, p. 53-60. (2003a)

Almeida. F.F. Fundamentos geológicos do relevo paulista. Boletim do Instituto Geográfico e Histórico. v. 14, p. 169-263. (1964).

Almeida, V.L.L.de; Hahn, N.S. & Vazzoler, A.E.A. de M. Feeding patterns in five predatory fish of the high Paraná river floodplain (PR, Brazil). Ecology Freshwater Fish. v.6, p. 123-133. (1997).

Almeida, O.T.; McGrath, D.G. & Ruffino, M.L. The commercial fisheries of the lower Amazon: an economic analysis. Fisheries Management and Ecology v. 8, p. 253-269. (2001).

Alves, C.M.; Godinho, A.L.; Godinho, H.P. & Torquato, V.C. The ichthyofauna of the Itupiranga reservoir, Grande river (Minas Gerais – Brazil). Revista Brasileira de Biologia. v.58, p.121-129. (1998).

Amarasinghe, U.S. & De Silva, S.S. Population dynamics of Oreochromis mossambicus and O. niloticus (Cichlidae) in two reservoir in Sri Lanka. Asian Fisheries Science. v. 5, p. 37-61.(1992).

Amarasinghe, U.S. The fishery and population dynamics of Oreochromis mossambicus and Oreochromis niloticus (Oesteichthyes, Cichlidae) in a shallow irrigation in Sri Lanka. Asian Fisheries Science. v. 15, p. 7-20. (2002).

Andrade, P.M. & Braga, F.M.S. Diet and feeding of fish from Grande river, located below the Volta Grande reservoir, MG-SP. Brazilian Journal Biology. v.65, nº3, p. 377-385. (2005).

Angelini, R. & Agostinho, A.A. Parameter estimates for fishes of the Upper Paraná river floodplain and Iatipu reservoir (Brazil). NAGA, WorldFish Center Newslatter. v.28, nº 1& 2 Jan-Jun, 53-57. (2005).

Araya, P.R.; Agostinho, A.A. & Bechara, J.A. The influence of dam costruction on a population of Leporinus obtusidens (Valenciennes, 1847) (Pisces, Anostomidae) in the Yacyretá reservoir (Argentina). Fisheries Research. v 74, p. 198-209. (2005).

Arcifa, M.S. & Meschiatti, A.J. Tilapia rendalli in the lake Monte Alegre, a case of planktivory. Acta Limonologica Brasiliensia. v. 8, 221-229. (1996).

Arthington, A.H. & Milton, D.A. Reproductive biology, growth and age composition of the introduced Oreochromis mossambicus (Cichlidae) in two reservoirs, Brisbane, Australia. Environmental Biology of Fish. v.16, nº4, p. 257-266. (1986).

Averhoff, O.R.L. Fish yields in Cuban reservoir and relationships with some morphometric and edaphic parameters. Lakes & Reservoir: Research and Management. v. 4, p.75-83.(1999).

Ault, J.S.& Ehrhardt, N.M. Correction to Beverton and Holt Z-estimator for truncated catch length-frequency distribution. ICLARM Fishbyte. v. 9. p. 37-39. (1991).

Balassa, G.C.; Fugi, R.; Hahn, N.S. & Galina, A.B. Dieta de espécies de Anostomidae (Teleostei: Characiformes) na área de influência do reservatório de Manso, Mato Grosso, Brasil. Iheringia. Série Zoologia. v.94, nº1, p.77-82. (2004).

Barbieri, G.; Verani, J. & Barbieri, M.C. Dinâmica quantitativa da nutrição de Hoplias malabaricus (Bloch, 1974), na represa do Lobo (Brotas-Itirapinas/SP.). (Pices, Erythrinidae). Revista Brasileira de Biologia. v.42, nº2, p. 295-302. (1982).

Barbieri, G. & Barbieri, M.C. Age, growth and reproduction of Tilapia rendalli (Boulenger, 1896) (Osteichthyes, Cichlidae) in the Monjolinho reservoir, São Paulo State, Brazil. Revista Ceres. v. 35, nº 202, p. 578-585. (1988).

Barbieri, G. Dinâmica da reprodução e crescimento de Hoplias malabaricus (Bloch, 1974) (Osteichthyes, erutrhynidae) da represa do Monjolinho, São Carlos/SP. Revista Brasileira de Zoologia. v.6, nº2, p. 225-233. (1989).

Barbieri, G. Salles, F.A. & Cestarolli, M.A. Influências de fatores abióticos na reprodução do dourado, Salminus maxillosus e do curimbatá, Prochilodus lineatus do rio Mogi-Guaçu (Cachoeira de Emas, Pirassununga/SP). Acta Limnologica Brasiliensia. v. 12, p. 85-91. (2000).

Barbieri, G.; Vermulm Jr., H.; Giamas, M.T.D.; Teixeira Filho, A.R. & Campos, E.C. Biologia populacional da tilápia, Oreochromis niloticus , da represa de Gurapiranga, São Paulo – I. Estrutura da População, Idade e Crescimento. Boletim do Instituto de Pesca. v. 26, nº 1, p. 1-7. (2000a).

Barbieri, G.; Teixeira Filho A.R.; Campos, E.C.; Vermulm Jr.,H, & Giamas, M.T.D. Biologia populacional da tilápia, Oreochromis niloticus , da represa de Gurapiranga, São Paulo – II. Dinâmica da reprodução. Boletim do Instituto de Pesca. v. 26, nº 1, p. 9-13. (2000b).

Barbieri, G.; Vermulm Jr., H.; Giamas, M.T.D.; Teixeira Filho, A.R. & Campos, E.C. Biologia populacional da tilápia, Oreochromis niloticus , da represa de Gurapiranga, São Paulo – III. Atividade alimentar. Boletim do Instituto de Pesca. v. 26, nº 1, p. 15-17. (2000c).

Barbosa, F.A.R., PadisáK, J.; Espíndola, E.L.G.; Borics, G. Rocha, O. The cascading reservoir continuum concept (CRCC) and its application to the river Tietê-basin, São Paulo State, Brazil. . In: Tundisi, J.G. & Straškraba, M.(eds.). Theoretical Reservoir Ecology and its Applications. São Carlos: Internacional Institute of Ecology. p. 425-438. (1999)

Barrella, W. & Petrere Jr., M. Fish community alterations due to pollution and damming in Tietê and Paranapanema rivers (Brazil). River Research and Applications. v. 19, p. 59-76. (2003).

Bayley, P.B. & Petrere Jr., M. Amazon fisheries: assessment methods, current status and management options. Canadian Special of Fisheries and Aquatic Sciences. nº 106. p. 385-398. (1989)

Bennemann, S.T.; Carpa, L.G.; Galves, W. & Shibatta, O.A. Dinâmica trófica de Plagiosgion squamossisimus (Perciformes, Scieanidae) em trechos de influência da represa Capivara (rio Paranapanema e Tibagi). Iheringia Série Zoologia. v.96, nº1, p. 115-119. (2006).

Bertalanffy, L. von. A quantitative theory of organic growth. Human Biology. v. 10, p. 181-213.(1939).

Berkeley, S.A.; Chapman, C. & Soagard, S.M. Maternal age as a determinant of larval growth and survival in a marine fish, Sabastes melanops . Ecology. v. 85, nº 5, p. 1258-1264. (2004).

Berkes, F.; Mahon, R.; McConney, P; Pollnac, R. & Pomeroy. (autores da versão original em inglês). D.C. Kalikoski (Org. edição em português). Gestão da pesca de pequena escala: diretrizes e métodos alternativos. Rio Grande: Ed. Furg. 360p. (2006).

Beverton, R.J.H. & Holt, S.J. On the dynamics of exploited fish populations. London: Chapman & Hall. 533p. (1957).

Bibllioteca Virtual do Governo do Estado de São Paulo. Hidrografia do Estado de São Paulo. Acesso 07/09/2007

Bicudo, C.E. de. M. & Menezes, M. Gêneros de algas de água continental do Brasil. Chave para identificação e descrições. 2ª Edição. São Carlos: RiMA. 502p. (2006).

Bini, L.M. Análise multivariadas e limnologia: exploração, síntese e inferências de um mundo aquático complexo. In: Bicudo, C.E. deM. & Bicudo, D. de C. (eds.). Amostragem em limnologia. São Carlos: RiMa. p. 73-108. (2004).

Borghetti, J.R. & Ostrensky, A. Panorama atual, problemas e perspectiva para a pesca e para a aqüicultura continental no Brasil. In: Rebouças, A. da C.; Braga, B. & Tundisi, J.G.(eds.) Águas doces do Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 2ª edição – São Paulo: Escrituras Editora, p. 451-471. (2002).

Braga, F.M. de S. Aspectos da reprodução e alimentação de peixes comuns em um trecho do rio Tocantins entre Imperatriz e Estreito, Estado do Maranhão e Tocantins, Brasil. Revista Brasileira de Biologia. v.50, p. 547-558. (1990).

Braga, F.M. de S. & Gomeiro, L.M. Análise da pesca experimental realizado no reservatório de Volta Grande, Rio Grande (MG-SP). Boletim do Instituto de Pesca. v.24, p.131-138. (1997).

Brito, A.G. de C. & Sirol, R.N. Transposição de peixes como forma de manejo: As escadas do complexo Canoas, médio rio Paranapanema, Bacia do alto Paraná. In: Nogueira, M.G.; Henry, R. & Jorcin, A. (eds.) Ecologia de reservatórios; Impactos potenciais, ações de manejo e sistema em cascata. 2ª edição – São Carlos: Editora RiMA, p. 285-304. (2006)

Britski, H. Peixes de água doce do Estado de São Paulo – sistemática. In: Poluição e Piscicultura. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo – Instituto de Pesca. São Paulo . p.79-108. (1972).

Britski, H.; Silimon, K.Z. de S. de & Lopes, B.S. Peixes do Pantanal. Manual de identificação. Brasília: Embrapa-SPI; Corumbá: Embrapa-CPAP. 184p. (1999).

Buckup, P.A. Sistemática e biogeografia de peixes de riachos. In: Caramaschi, É. P.; Mazzoni, R. & Peres-Neto, P.R. (eds.). Ecologia de peixes de riachos. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Ecologia – Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Oecologia Brasiliensis, v.6. p. 91-138. (1999).

Bwanika, G.N.; Makanga, B.; Kizito, Y.; Chapman, L.J. & Balirwa, J. Observations on the biology of Nile tilápia, Oreochromis niloticus L., in two Ugandan crater lakes. African Journal of Ecology. v. 42 (suppl. 1), p. 93-111. (2004)

Cala, P. & Bernal, G. Ecologia y adaptaciones de la tilapia nilotica (Oreochromis niloticus ) en ambientes naturales – Caso embalse de Betania y cienaga de chilloa, sistema del rio Magdalena, Colômbia. DAHLIA Revista Associação Colombina de Ictiologia. v. 2, p. 3-29. (1997).

Caliju, M.C.; dos Santos, A.C.A. & Jati. S. Temporal changes in the phytoplankton community structure in a tropical and eutrophic reservoir (Barra Bonita, SP – Brazil). Journal of Plankton Research. .v 24, nº 7. p 617-634. (2002)

Câmara, J.J.C.; Santos, R.A.; Campos, E.C. & Barbosa, J.M. Pesca de batida: um método eficiente para a captura de tilápias preta e do Nilo, utilizado na represa de Marimbondo, Rio Grande, limite centro-oeste do Estado de São Paulo. Boletim Técnico do Instituto de Pesca nº11. (1988).

Capeleti, A.R. & Petrere Jr., M. Migration of the Curimbatá Prochilodus lineatus (Vlenciennes, 1836) (Pisces, Prochilodontidae) at the waterfall “Cachoeira de Emas” of the Migi-Guaçu river – São Paulo, Brazil. Brazilian Journal of Biology. v.66, nº2B, p. 651-659. (2006).

Caramaschi, E.P.; Reprodução e alimentação de Hoplias malabaricus (Bloch 1794) na represa do rio Pardo (Botucatu, SP.) (Osteichthyes, Erythrynidae). Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. 144p. (1979).

Caramaschi, E.P.; Godinho, H.M. & Foresti, F. Reprodução de Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) (Teleostei: Erythrinidae) na represa do rio Pardo (Botucatu, SP). I Histologia e escala de maturação do ovário. Revista Brasileira de Biologia. v.42, nº3, p. 635-640. (1982).

Caramaschi, E.P. Distribuição da ictiofauna de riachos das bacias do rio Tietê e do Paranapanema, junto ao divisor de águas (Botucatu, SP). Tese (doutorado) – Universidade Federal de São Carlos, Departamento de Ciências Biológicas. Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais. 245p. (1986).

Carvalho, E.D. Estudo da composição da ictiofauna da represa de Jurumirim (rio Paranapanema, SP): Aspectos da diversidade, abundância e a dinâmica de populações (crescimento, reprodução e nutrição). Relatório Técnico Cientifico. Auxílio FUNDUNESP – Processo nº 041/88.100p. (1991).

Carvalho, E.D.; Fujihara, C.Y. & Henry, R. A study of the ichthyofauna of the Jurumirim reservoir (Paranapanema River, São Paulo, Brzil): fish production and dominant species at three sites. Verh. Internat. Verein. Limnol. v. 26 , p 2199-2202. (1998).

Carvalho, E.D. & Silva, V.F.B. Aspectos ecológicos da ictiofauna e da produção pesqueira do reservatório de Jurumirim (Alto do Paranapanema, São Paulo). In Henry, R. (ed.). Ecologia de reservatórios: Estrutura, função e aspectos sociais. Botucatu: FUNDIBIO; FAPESP. p 769-800. (1999).

Carvalho, L.N.; Fernandes, C.H.V. & Moreira, V.S.S. Alimentação de Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) (Osteichthyes, Erytrinidae) no rio Vermelho, Pantanal Mato-grossense. Revista Brasileira de Zoociências. v.4, nº2, p. 227- 236. (2002).

Carvalho, E.D.; Castro, R.J. de; Silva, V.F.B. da & Vidotto, A.P. A estrutura das assembléias de peixes nas zonas de ecótono da represa de Jurumirim (Alto rio Paranapanema, SP). In: Henry, R. (ed.). Ecótonos nas interfaces dos ecossistemas aquáticos. São Carlos: RiMA. p. 249-278. (2003).

Carvalho, A.R. Social and structural aspects of artisanal fishing in the Upper Paraná River floodplain (Brazil). Boletim do Instituto de Pesca. v.30, nº1, p.35-42. (2004).

Carvalho, E.D.; Britto, S.G. de C. & Orsi, M.L. O panorama das introduções de peixes na bacia hidrográfica do rio Paranapanema, Alto Paraná, Brasil. In: Rocha, O.; Espíndola, E..L.G.; Fenerich-Verani, N.; Verani, J.R. & Reitzler, A.C. (eds.). Espécies invasoras em águas doces – estudo de caso e propostas de manejo. São Carlos: Editora da Universidade São Carlos. p. 253-274. (2005).

Carvalho, E.D.; Paes, J.V.K.; Feitosa, M.F. & Paiva, I.R. Diagnóstico e mapeamento das atividade de pesca profissional e amadora no reservatório da UHE Rosana, Baixo Rio Paranapanema. Relatório Técnico/Científico. (projeto Duke Energy/FUNDIBIO). p. 101. (2006).

Carvalho, E.D. & David, G.S. Levantamento da biologia pesqueira da capacidade suporte ambiental. Relatório técnico cientifico. Projeto Parque Aqüícola FEIS (Ilha Solteira)/IBB (Botucatu). Convênio SEAP/PR nº 0080/2005 – UNESP/FEPISA. P. 56. (2007).

Castello, J.P. Gestão sustentável dos recursos pesqueiros, isto é realmente possível? Pan-American Journal of Aquatic Sciences. v.2, nº1, p. 47-52. (2007).

Castro, A.C.L. de. Aspectos ecológicos da comunidade ictiofaunística do reservatório de Barra Bonita, SP. Revista Brasileira de Biologia. v. 57, nº 4. p. 665-676. (1997).

Castro, P;M.G.; Vermulm Jr., H.; Campos, E.C.; Mercante, C.T.J.; Barbieri, G. Esteves, K.E. & Gimas, M.T.D. A pesca artesanal profissional extrativista continental no Estado de São Paulo: uma análise crítica. Textos Técnicos do Instituto de Pesca. São Paulos (SP). Acesso em 05 de maio de 2006.

Castro, R.J. de; Foresti, F. & Carvalho, E.D. Composição e abundância da ictiofauna na zona litorânea de um tributário, na zona de sua desembocadura

no reservatório de Jurumirim, Estado de São Paulo, Brasil. Acta Scientiarum: Biological Sciences. v. 25, nº1. p. 63-70. (2003).

Castro R.M.C. & Arcifa, M.S. Comunidade de peixes de reservatórios no sul do Brasil. Revista Brasileira de Biologia. v. 47, nº 4, p. 493-500. (1987).

Cavenaghi, A.L.; Velini, E.D.; Galo, M.L.B.T.; Carvalho, F.T.; Negrisoli, E.; Trindade, M.L.B. & Simionato, J.L.A. Caracterização da qualidade de água e sedimento relacionados com a ocorrência de plantas aquáticas em cinco reservatórios da bacia do rio Tietê. Planta Daninha. v. 21, Edição Especial. P. 43-52. (2003).

Ceregato, S.A. & Petrere Jr., M. Financial comparisons of the artisanal fisheries in Urubupungá Complex in the middle Paraná River (Brazil). Brazilian Journal Biology. v. 63 nº4, p. 673-682. (2003)

CESP. Conservação e manejo nos reservatórios: limnologia, ictiologia e pesca. Série Divulgação e Informação, 220. Companhia Elétrica de São Paulo, Departamento de Estudos e Planejamento Ambiental. São Paulo, Brasil. 166p. (1998).

CESP. (http// www.cesp.com.br ). Acesso 12/08/2007.

Cetra, M. & Petrere Jr. M. Small-scale fisheries in the middle river Tocantins, Imperatriz (MA) Brazil. Fisheries Management and Ecology. v 8, p. 153-162. (2001).

Conover, D.O. & Munch, S. Sustaining fisheries yields over evolutionary time scales. Science. v. 297, p. 94-96. (2002).

Costa, R.O. As águas do rio Piracicaba. Século XIX. Piracicaba: Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba/SEMAE. 240p. (2004).

David, G.S., Carvalho, E.D., Novaes, J.L.C. & Biondi, G.F. A tilápia do Tietê: Desafios e contradições da pesca artesanal de tilápias nos reservatórios hipertróficos do médio rio Tietê. Panorama da aqüicultura. v 16, nº97 Setembro/Outubro. p. 24-27. (2006).

De Silva, S.S.; Moreau, J. & Senaratne, K.A.D.W. Growth of Oreochromis mossambicus (Pisces, Cichlidae) as evidence of its adaptability to Sri Lankan reservoirs. Asian Fisheries Science. v. 1, p. 47-156. (1988).

De Silva, S.S.; Subasinghe, R.P.; Bartley, D.M. & Lowther, A. Tilapias as alien aquatics in the Asia and the Pacific: a review. FAO Fisheries Technical Paper. Nº 453. Roma, Italia. 65p. (2004).

Deka, T.K., Goswami, M.M. & Kakati, M. Causes of depletion – A factor analysis approach. NAGA, World Fish Center NewsLetter. v. 28, nº 1 & 2 Jan-Jun, p. 37- 42. (2005).

Duke Energy Geração Paranapanema S/A. (http// www.duke-energy.com.br ). Acesso 12/08/2007.

Duponchelle, F.; Cecchi, P.; Corbin, D.; Nuñez, J. & Legendre, M. Spawning season variations of female Nile tilapia, Oreochromis niloticus , from man-made lakes of Côte d’Ivoire. Environmental Biology of Fish. v. 56, p. 375-387. (1999).

Duponchelle, F.; Cecchi, P.; Corbin, D.; Nuñez, J. & Legendre, M. Variations in fecundity and eggs size of female Nile tilapia, Oreochromis niloticus , from man- made lakes of Côte d’Ivoire. Environmental Biology of Fish. v. 57, p. 155- 170. (2000).

ECO – Consultoria Ambiental e Comercio Ltda. Programas de gestão ambiental AES Tietê S/A. : Limnologia, ictiologia e recursos pesqueiros: período de junho 2000 a julho de 2001.Promissão. p. 81. (2001).

Espíndola, E.L.G.; Rocha, O.; Reitzer, A.C.; Verani,J.R. & Fenerich-Verani, N. Uma proposta de manejo para as espécies introduzidas nos reservatórios do Médio e Baixo rio Tietê, SP. In: Rocha, O.; Espíndola, E..L.G.; Fenerich-Verani, N.; Verani, J.R. & Reitzler, A.C. (eds.). Espécies invasoras em águas doces – estudo de caso e propostas de manejo. São Carlos: Editora da Universidade São Carlos. p. 275-278. (2005).

Esteves, F. de A. Fundamentos da limnologia. 2ª edição – Rio de Janeiro: Ineterciência. (1988).

FAO. El estado mundial de la pesca y la acuicultura 2006. Departamento de Pesca y Acuicultura de la FAO, Roma, Itália. 198 p. (2007).

Feitosa, M;F.; Nogueira, M.G. & Vianna, N.C. Transporte de nutrientes e sedimentos no rio Paranapanema (SP/PR) e seus principais tributários nas estações seca e chuvosa. In: Nogueira, M.G.; Henry, R. & Jorcin, A. (eds.) Ecologia de reservatórios; Impactos potenciais, ações de manejo e sistema em cascata. 2ª edição – São Carlos: Editora RiMA, p. 434-459. (2006).

Fernando, C.H. & Hol čík, J. The nature of fish communities: A factor influencing the fishery potential and yields of tropical lakes and reservoirs. Hydrobiologia. v. 97, p. 127-140. (1982).

Fernando, C.H. & Hol čík, J. Fish in reservoirs. Int. Revue ges. Hydrobiol. v. 76, nº2, p. 149-167. (1991).

Ferraz, D. Tietê: (imagens que o Brasil não vê). , SP: 96p. (2002)

Ferreira, E.J.G.; Zuanon, J.A.S. & Santos, G.M. dos. Peixes comerciais do Médio Amazonas: região de Santarém, Pará. Coleção Meio Ambiente, IBAMA, Brasília, Brasil. 211p. (1998).

Figueiredo, C.C. & Giani. A. Ecologial interactions between Nile tilapia (Oreochromis niloticus , L.) and the phytoplanktonic community of the Furnas Reservoir (Brazil). Freshwater Biology. v.50, p. 1391-1403. (2005).

FishBase. (http//www.fishbase.com.org).

Franco de Camargo, S.A. & Petrere Jr, M. Social and financial aspects of the artisanal fisheries og middle São Francisco river, Minas Gerais, Brazil. Fisheries Management and Ecology, v. 8, p. 163-171. (2001).

Franco de Camargo, S.A. & Petrere Jr. M. Análise de risco aplicada ao manejo precaucionário das pescarias artesanais na região do reservatório da UHE- Tucuruí (Pará, Brasil). Acta Amazônica. v.34, nº3, p.473-485. (2004).

Freitas, C.E.de C. & Rivas, A.A.F. A pesca e os recursos pesqueiros na Amazônia Ocidental. Ciência e Cultura. v. 58, nº 3 , p. 1-7. (2006).

Garcez, D.S. & Botero, J.I.S. Comunidade de pescadores artesanais no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Atlântica. v. 27, nº1, p. 17-29. (2005).

Gayanilo, F.C.Jr.; Sparre, P. & Pauly, D. FAO-ICLARM stock assessment tools II (FiSAT II). Revised version. User’s guide. FAO Computerized Information Serie (Fisheries) . Nº 8, Roma, Italia. p. 268. (2005).

Godoy, M.P., Peixes do Brasil. Subordem Characoidei. v. 4 . 846p. 1975.

Golterman, H.L.; Clymo, R.S & Ohntad, M.A.M. Method for chemical analysis of freshwater. 2ª ed. Oxford: Blackwell. 213p. (1978).

Gomes, L.C. & Miranda, L.E. Riverine characteristics dicate composition of fish assemblages and limit fisheries in reservoirs of the Upper Paraná river basin. Regulated River: Research & Management. v. 17, p. 67-76. (2001).

Gomes, L.C.; Miranda, L.E. & Agostinho, A.A. Fishery yield relative to chlorophyll a in reservoirs of the Upper Paraná river, Brazil. Fisheries Research, v. 55, p. 335-340. (2002).

Graça, W.J. da & Pavanelli, C.S. Peixes da planície de inundação do alto rio Paraná e áreas adjacentes. Mringá: EDUEM, 241p. (2007).

Grandcourt, E.M.; Al Abdessalaam, T.Z. & Francis, F. Age, growth, mortality and reproduction of the blackspot snapper, Lutjannus fluviglamma (Forsskål,

1775), in the Southern Arabian Gulf. Fisheries Research. v. 78, 203-210. (2006).

Gubiani, É.A., Gomes, L.C., Agostinho, A.A. & Okada, E.K. Persistence of fish populations in the upper Paraná river: effects of water regulation bay dams. Ecology of Freshwater. v. 16, p. 191-197. (2007).

Hahn, N.; Fugi, R.; Almeida, V.L.L.de; Russo, M. & Loureiro, V.E. Dieta e atividade alimentar de peixes do reservatório de Segredo. In: Agostinho, A.A. & Gomes, L.C. (eds.). Reservatório de Segredo: bases ecológicas para o manejo. Maringá: Eduem, p. 141-162. (1997).

Henry, R.; Foresti, F. & Carvalho, E.D. Biodiversidade, estrutura das comunidades e processos ecológicos na zona de ecótonos rio/lago na região de desembocadura do rio Paranapanema na represa de Jurumirim. In: Projeto Temático FAPESP (nº97/04999-08). 70p. (1997).

Henry, R. & Nogueira, M.G. A represa de Jurumirim (São Paulo): Primeira síntese sobre o conhecimento limnológico. In Henry, R. (ed.). Ecologia de reservatórios: Estrutura, função e aspectos sociais. Botucatu: FUNDIBIO; FAPESP. p. 651-686. (1999).

Henry, R. Os ecótonos nas interfaces dos ecossistemas aquáticos: Conceitos, tipos, processos e importância. Estudos de aplicação em lagoas marginais ao rio Paranapanema na zona de desembocadura na represa de Jurumirim. In: Henry, R. (ed.). Ecótonos nas interfaces dos ecossistemas aquáticos. São Carlos: RiMA. p. 1-29. (2003).

Henry, R.; Panarelli, E.A.; Casanova, S.M.C.; Siuberto, M.R. & Afonso, A.A. de O. Interações hidrológicas entre lagoas marginais e o rio Paranapanema na zona de sua desembocadura na represa de Jurumirim. In: Nogueira, M.G.; Henry, R. & Jorcin, A. (eds.) Ecologia de reservatórios; Impactos potenciais, ações de manejo e sistema em cascata. 2ª edição – São Carlos: Editora RiMA, p. 57-82. (2006).

Hirt, L.M.; Flores, S.A. & Araya, P.R. Reproduction and growth of Pimelodus clarias maculates (Lac. 1830) Pimelodidae, Pisces, in the upper Paraná river, Argentina: Reservoir effect. Acta Limnologica Brasiliensia. v 17, p. 301-315. (2005).

Hoffmann, A.C.; Orsi, M.L. & Shibatta, O.A. Diversidade de peixes do reservatório da UHE Escola Engenharia Mackenzie (Capivara), Rio Paranapanema, bacia do alto rio Paraná, Brasil, e a importância dos grandes tributários na sua manutenção. Iheringia, Série Zoológica. v. 95, nº 3. p. 319- 325. (2006)

Hyslop, E.J. Stomach Contents Analysis – a Review of Methods and their Application. Journal Fish Biology.v 17 , p. 411-429. (1980).

IBAMA. Instrução Normativa MMA nº 36, de 29 de junho de 2004. Dispõe sobre normas gerais para a pesca na Bacia do Rio Paraná. Acesso em 05 de maio de 2006.

IBAMA. Estatística da pesca 2005 Brasil grandes regiões e unidades da Federação . Ministério do Meio Ambiente, Brasília-DF, Brasil. 136p. (2007).

Isaac, V.J.; Milstein, A. & Ruffino, M.L. A pesca artesanal no baixo amazonas: Análise multivariada da captura por espécie. Acta Amazônica. v.26, nº3, p. 185-208. (1996).

Jackson, D.C. & Marmulla, G. The influence of dams on river fisheries. In: Marmulla, G. (ed.) Dam, fihs and fisheries: Opportunities, challenges and conflict resolution. FAO Fisheries Department: Roma, Itália. p. 1-44. (2001).

Jutagate, T.; De Silva, S.S. & Mattson, N.S. Yield, growth and mortality rate of the Thai River sprat, Clupeichthys aesarnensis , in Sirinthorn reservoir, Thailand. Fisheries Management and Ecology. v. 10, p. 221-231. (2003).

Lalèyè, P.A. Length-weight and length-length relationships of fish from the Ouémé River in Bénin (West Africa). Journal Application Ichthyology. v. 22, p. 502-510. (2006).

Le Cren, E.D. The length-weight relationship and seasonal cycle in gonad weight and condition in Perch ( Percafluviatilis ). Journal Animal Ecology. v 20, nº2, p. 201-219. (1951).

Loureiro, V.E. & Hahn, N.S. Dieta e atividade alimentar da traíra, Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) (Osteichthyes: Erythrinidae), nos primairos anos de formação do reservatório de Segredo – PR. Acta Limnologica Brasiliensia. v 8, p. 195-205. (1996).

Lovshin, L.; Peixoto, J.T. & Vasconcelos, E.A. Considerações ecológicas e econômicas sobre Tilápia sp. no Nordeste do Brasil. In:Vargas, J.I., Loureiro, C.G.C. & Andrade, R,M, de (eds.). Anais do I encontro nacional sobre limnologia, piscicultura e pesca continental. Fundação João Pinheiro, Centro de recursos naturais. Belo Horizonte, Brasil. p. 227-237. (1976).

Lowe-McConnell, R.H. Estudo ecológico de comunidade de peixes tropicais. Tradução Ana Emília A. de M. Vazzoler, Ângelo Antônio Agostinho, Patrícia T.M. Cunnhingham. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo. 534p. (1999).

Luz-Agostinho, K.D.G.; Bini, L.M.; Fugi, R.; Agostinho, A.A. & Júlio Jr., H.F. Food spectrum and trophic structure of the ichthyofauna of Corumbá reservoir, Paraná river basin, Brazil. Neotropical Ichthyology. v.4, nº1, p.61-68. (2006).

Kawakami, E. & Vazzoler, G. Método gráfico e estimativa de índices alimentares aplicado no estudo de alimentação de peixes. Boletim do Instituto de Oceanografia.v 29, nº 2, p. 205 –207. (1980).

King, R.P. & Etim. L. Reproduction, growth, mortality and yield of Tilapia mariae Boulenger 1899 (Cichlidae) in a Nigerian rainforest wetland stream. . Journal Application Ichthyology. v. 20, p. 502-510. (2004).

Koblitz, J.L. & Andreata, J.V. Análise dos itens alimentares de Jenynsia lineata , Jenyns, 1842 (Osteichthyes, Anablepidae) da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rio de Janeiro, Brasil. Acta Biológica Leopoldensia. v. 18, nº 2, p. 119-127. (1996).

Koç, B.T.; Erdogan, Z.; Tinkci, M. & Treer, T. Age, growth and reproductive characteristics of chub, Leuciscus cephalus (L., 1758) in the Ikizcetepeler dam lake (Balikesir), Turkey. Journal Application Ichthyology. v. 23, p. 19-24. (2007).

Krebs. Ecology: the experimental analysis of distribution and abundance. 4th ed - New York: Harper Collins College Publishers. 801 p. (1994).

Kullander, S.O. Cichlidae. In: Reis, R.E.; Kullander, S.O. & Ferraris Jr., C.J. (eds.). Check list of the freshwater fish of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS. 742 p.(2003)

Maia, B.P.; Ribeiro, S.M.F.; Bizzotto, P.M.; Vono, V. & Godinho, H.P. Reproductive activity and recruitment of the yellow-mandi Pimelodus maculates (Teleostei: Pimelodidae) in the Igarapava reservoir, Grande river, Southeast Brazil. Neotropical Ichthyology. v.5, nº2, p. 147-152. (2007).

Magurran, A.E. Ecological diversity and its measurement. New Jersey: Princeton University Press. 179p. (1988).

Margalef. R.. Limonoligía. Editora Omega: Barcelona. 1009p. (1983).

Marques, D.K.S.; Gurgel, H. de C.B. & Lucena, I. Época de reprodução de Hoplias malabaricus Bloch, 1794 (Osteichthyes, Erythrinidae) da barragem do rio Gramame, Alhandra, Paraíba, Brasil. Revista Brasileira de Zoociências. v.3, nº1, p. 61-67. (2001).

Maruyama, L. A pesca artesanal no Médio e Baixo Tietê (São Paulo, Brasil): Aspectos estruturais, sócio-econômico e de produção pesqueira. Dissertação (mestrado) – Instituto de Pesca do Estado de São Paulo – APTA - SAA, São Paulo (SP). Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura e Pesca. 110p. (2007)

Mateus, L.A. de F. & Estupiñán, G.M.B. Fish stock assessment of piraputanga Brycon microlepis in the Cuiabá River basin, pantanal fo Mato Grosso, Brazil. Journal Brazilian Biology. v. 61, nº 1, p. 167-170. (2002).

Mateus, L.A.F.; Penha, J.M.F. & Petrere Jr. M. Fishing resources in the rio Cuibá basin, Pantanal do Mato Grosso, Brazil. Neotropical Ichthyology. v. 2, nº 4, p. 217-228. (2004).

Mateus, L.A.F. & Petrere Jr. M. Age, growth and yield per recruit analysis of the pintado Pseudoplatystoma corruscans (Agassiz, 1829) in the Cuiabá River basin, pantanal matogrossense, Brazil. Journal Brazilian Biology. v. 64, nº 2, p. 257-264. (2004).

Mateus, L.A.F. & Penha, J.M.F. Dinâmica populacional de quatro espécies de grandes bagres na bacia do rio Cuiabá, Pantanal norte, Brasil (Siluriformes, Pimelodidae). Revista Brasileira de Zoologia. v. 24, nº1, p. 87-98. (2007).

Mateus, L.A.F. & Penha, J.M.F. Avaliação dos estoques pesqueiros de quatro espécies de grandes bagres (Siluriformes, Pimelodidae) na bacia do rio Cuiabá, Pantanal norte, Brasil, utilizando alguns pontos de referência biológicos. Revista Brasileira de Zoologia. v. 24, nº1, p. 144-150. (2007a).

Mati ć-Skoko, S.; Kraljevi ć, Dul čić, J. & Jardas, I. Age, growth, mortality and yield-per-recruit for annular sea bream ( Diplodus annularis L.) from the eastern middle Adriatic Sea. Journal Application Ichthyology. p. 1-6. (2006).

Matsumura-Tundisi, T. & Tundisi, J.G. Plankton richness in a eutrophic reservoir (Barra Bonita, reservoir, SP, Brazil). Hydrobiologia. v. 542. p 367- 378. (2005).

McCrary, J.K.; Murphy, B.R.; Stauffer Jr., J.R. & Hendrix, S.S. Tilapia (Teleostei: Cichlidae) status in Nicaraguan natural waters. Environmental Biology of Fish. v. 78, p. 78-107. (2007).

Mendoça, F.P. de; Hahn, N.S. & Lourenço-Crippa, V.E. Feeding aspects of Leporinus amblyrhynchus (Characiformes: Anostomidae) in the first stages of formation of a Neotrpical reservoir, Brazil. Neotropical Ichthyology. v. 2, nº 3, p. 145-150. (2004).

Mérona, B. de. Ecologia da pesca e manejo pesqueiro na região amazônica. Boletim do Museu Paranaense Emílio Goeldi. Série Antropologia. v.11, nº2, 167-183. (1995).

Mingoti, S.A. Análise de dados através de métodos de estatística multivariada: uma abordagem aplicada. Belo Horizonte: Editora UFMG, 297p. (2005).

Minte-Vera. A pesca artesanal no reservatório de Billings (São Paulo). Dissertação (mestrado). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia. Campinas (SP). Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Ecologia). 86p. (1997).

Minte-Vera, C.V. & Petrere Jr., M. Artisanal fisheries in urban reservoirs: a case study from Brazil (Billings Reservoir, São Paulo metropolitan region). Fisheries Management and Ecology. v. 7, p. 537-549. (2000).

Miranda, L.E.; Agostinho, A.A. & Gomes, L.C. Appraisal of the selective properties of gill nets and implications for yield and value of the fisheries at the Itaipu reservoir, Brazil-Paraguai. Fisheries Research. v.45, p. 105-116. (2000).

Moreau, J. Bamboni, C. & Pauly, D. Indices of overall growth performance of 100 tilapia (Cichlidae) population. In: Maclean, J.L.; Dizon, L.B. & Hosillo, L.V. (eds.). The First Asian Fisheries Forum. Asian Fisheries Society, Manila, Philippines. p. 201-206. (1986).

Monteiro, F.S. Contribuição ao estudo da pesca no rio Piracicaba. Tese (doutorado) Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba (SP). 76p. (1953).

Nathanael, S. & Edirisinghe, U. Developing co-management in an artisanal gill net fishery of a deep hydro-electric reservoir in Sri Lanka. Fisheries Management and Ecology. v.9, p. 627-276. (2002).

Nagayi-Yawe, K.J.; Ogutu-Ohwayo, R; Kizito, Y.S. & Balirwa, J.S. Population characteristics of Oreochromis esculentus in the Victoria and Kyoga lake basins. Implications for conservation and improvement of the stocks. African Journal of Ecology. v. 44, p. 423-430. (2006).

Nelson, J.S. Fish of the World. New York:: 2ª ed. Jonh Wiley & Sons. 523p. (1984).

Nikolsky, G.V. The Ecology of Fishes. London: Academic Press, 352p. (1963).

Njiru,M.; Okeyo-Owuor. J.B.; Muchiri, M. & Cowx, I.G. Shifts in the food of Nile tilapia, Oreochromis niloticus (L.) in Lake Victoria, Kenya. African Journal of Ecology. v. 42, p. 163-170. (2004).

Njiru,M.; Ojuok, J.E.; Okeyo-Owuor. J.B.; Muchiri, M.; Ntiba, M.J. & Cowx, I.G. Some biological aspects and life history strategies of Nile tilapia Oreochromis niloticus (L.) in Lake Victoria, Kenya. African Journal of Ecology. v. 44, p. 30- 37. (2006).

Nissanka, C.; Amarasinghe, U.S & De Silva, S.S. Yield predictive models for Sri Lankan reservoir fisheries. Fisheries Management and Ecology. v.7. p. 425- 436. (2000).

Nogueira, M.G.; Henry, R. & Maricatto, F.E. Spatial and temporal heterogeneity in the Jurumirim reservoir, São Paulo, Brazil. Lakes & Reservoir: Research and Management. v. 4, 107-120. (1999).

Nogueira, M.G.; Jorcin, A.; Vianna, N.C. & Britto, Y.C.T. Reservatórios em cascata e os efeitos na limnologia e organização das comunidade bióticas (fitoplâncton, zooplâncton e zoobentos) – um estudo de caso no rio Paranapanema (SP/PR). In: Nogueira, M.G.; Henry, R. & Jorcin, A. (eds.) Ecologia de reservatórios; Impactos potenciais, ações de manejo e sistema em cascata. 2ª edição – São Carlos: Editora RiMA, p. 83-125. (2006).

Odum, E.P. Ecologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan. 434p. (1988).

Oliveira, R.D. de & Nogueira, F.M. de B. Characterization of the fishes and of subsistence fishing in the pantanal of Mato Grosso, Brazil. Revista Brasileira de Biologia. v. 60, nº 3 , p.435-445. (2000).

Okada, E.K.; Gregoris, J.; Agostinhos, A.A. & Gomes, L.C. Diagnóstico da pesca profissional em dois reservatórios do rio Iguaçu.In: Agostinho, A.A. & Gomes, L.C. (eds.). Reservatório de Segredo: bases ecológicas para o manejo. Maringá: Eduem, p. 293-318. (1997).

Okada, E.K.; Agostinho, A.A. & Gomes, L.C. Spatial and temporal gradients in artisanal fisheries of a large Neotropical reservoir, the Itaiou Reservoir, Brazil. Canadian Journal Fisheries and Aquatic Sciences. v. 62 : p. 714-724. (2005).

Paiva, M.P. Estimativa do potencial da produção de pescado em grandes represas brasileiras. In:Seminários slternativas de desenvolvimento: pesca, coleta e cultivo. Série Documentos, 7. v.2. Secretária de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo. p.29-41. (1977).

Paiva, M.P. Grandes represas do Brasil. Brasília: Editerra. 292p. (1982).

Paiva, M.P., Petrere Jr.; Petenate, A.J. & Nepomuceno, F.H. Relationship between the number of predatory of species and fish yield in large North- eastern Brazilian reservoirs. In: Cowx, I.G. (ed.) Rehabiliation of Freshwater Fisheries. London: Fishing News Books. p. 120-129. (1994).

Pauly, D. On the interrelationships between natural mortality, growth parameters and mean environmental temperature in 175 stocks. Journal Conservation CIEM. v. 39, nº 3, p. 175-192. (1980).

Pauly, D. & Munro, J.L. Once more on the comparison of growth in fish and invertebrates. Fishbyte. v.2, nº1, p. 21. (1984).

Pauly, D. On improving operation and use of ELEFAN programs. Part II. Improving the estimation of L-infinity. ICLARM Fishbyte. v. 4. nº1, p. 18-20. (1986).

Pauly, D. Soriano, M.L. Some pratical extensions to Beverton and Holt’s relative yield-per-recruit model. In: Maclean, J.L.; Dizon, L.B. & Hosillo, L.V. (eds.). The First Asian Fisheries Forum. Asian Fisheries Society, Manila, Philippines. p.491-496. (1986).

Pauly, D.; Christensen, V.; Froese, R. & Palomares, M.L. Fishing down aquatic food webs. American Scientist. v.88, p. 46-51. (2000).

Peña-Mendonza, B.; Gómez-Márquez, J.L.; Salgado-Ugarte, I.H. & Ramírez- Noguera, D. Reproductive biology of Oreochromis niloticus (Perciformes: Cichlidae) at Emiliano Zapata dam, Morelos, Mexico. Revista de Biologia Tropical. v. 5, nº 3-4, p. (2005).

Peterson, M.S.; Slack, W.T.; Brown-Peterson, N.J. & McDonald, J.L. Reproductive in nonnative environments: Establishment of Nile tilapia, Oreochromis niloticus , in Coastal Mississippi watersheds. Copeia. v. 4, p. 842- 849. (2004).

Pereira, C.C.G.F.; Smith, W.S.; Espíndola, E.L.G. Hábito alimentício de nueve espécies de peces del ambalse de Três Irmãos, São Paulo, Brasil. Nº especial I, p. 33-38. (2004).

Petesse, M.L.; Petrere Jr., M. & Spigolon, R.J. Adaptation of the reservoir fish assemblage index (RFAI) for assessing the Barra Bonita reservoir (São Paulo, Brazil). River Research and Applications. v. 23, p. 595-612. (2007).

Petrere Jr., M. & Ribeiro, M.C.L. de B. The impact of a large tropical hydroelectric dam: The case of Tucuruí in the middle river Tocantins. Acta Limnologica Brasiliensia. v. 5, p. 123-133. (1994).

Petrere Jr., M. Fisheries in large tropical reservoirs in South America. Lakes & Reservoirs: Research and Management. .v 2, p. 111-133. (1996).

Petrere Jr., M.; Barthem, R.B.; Córdoba, E.A. & Gómez, B.C. Review of the large catfish fisheries in the Upper Amazon and the stock depletion of piraíba (Brachyplatystoma filamentosum Lichtenstein). Review in Fish Biology and Fisheries. v. 14, nº 4, p. 403-414. (2004).

Petrere Jr., M.; Walter, T. & Minte-Vera, C.V. Income evaluation of small – scale fishers in two Brazilian urban reservoir: Represa Billings (SP) and Lago Paranoá (DF). Brazilian Journal of Biology. v. 66, nº 3. p. 817-828. (2006).

Pompeu, P.dos S. & Godinho, A.L. Mudança da dieta da traíra Hoplias malabaricus (Erythrinidae, Characiformes) em lagoas da bacia do rio Doce devido a introdução de peixes piscívoros. Revista Brasileira de Zoologia. v.18, nº4, p. 1219-1225. (2001)

Pompeu, M.L.M. Ecologia de Echinochloa polystacha (H.B.K.) Hitchcock na represa de Jurumirim (zona de desembocadura do rio Paranapanema). Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. Programa de Pós-Graduação em Engenharia. 153p. (1996).

Prado, C.P.A.; Gomeiro, L.M. & Froehlich, O. Spawning and parental care in Hoplias malabaricus (Teleostei, Characiformes, Erytrinidae) in the Southern pantanal, Brazil. Brazilian Journal Biology. v. 66, nº2B, p. 697-702. (2006).

Quagio-Grassiotto, I.; Negrão, J.N.C.; Carvalho, E.C. & Foresti, F. Ultrastructure of spermatogenic cells and spermatozoa in Hoplias malabaricus (Teleostei, Characiformes, Eritrhynidae). Journal Fish Biology. v.59, p. 1494- 1502. (2001).

Quirós, R. & Boveri, M. B. 1999. Fish Effects on Reservoir Tropical Relationships. In: Tundisi, J.G. & Straškraba, M.(eds.). Theoretical Reservoir Ecology and its Applications. São Carlos: Internacional Institute of Ecology. p. 529-546. (1999).

Ramires, M & Barrella, W. Ecologia da pesca artesanal em populações caiçaras da Estação Ecológica de Júréia-Itatins, São Paulo, Basil. Interciências. v. 28, nº 4, p. 208-213. (2003).

Reis, R.E.; Kullander, S.O. & Ferraris Jr., C.J. (eds.). Check list of the freshwater fish of South and Central America. Porto Alegre: EDIPUCRS. 742 p. (2003)

Rodgher, S., Espíndola, E.L.G., Rocha, O., Fracácio, R., Pereira, R.H.G. & Rodrigues, M.H.S. Ecotoxicological analysis of the water and sediment from middle and low Tietê River cascade reservoir (State of São Paulo, Brazil). Acta Limnologica Brasiliensia. ,v. 15, nº3. p. 81-93. (2003)

Rodgher, S., Espíndola, E.L.G., Rocha, O., Fracácio, R., Pereira, R.H.G. & Rodrigues, M.H.S. Limnological and ecotoxicological studies in the cascade of reservoirs in the Tietê river (São Paulo, Brazil). Brazilian Journal Biology. v. 65, nº4. p. 697-710. (2005).

Ruffino, M.L. & Isaac, V.J. A pesca artesanal no Médio Amazonas. In: Recursos pesqueiros do médio Amazonas: biologia e estatística pesqueira. Coleção meio ambiente. Série estudo pesca; 22. Edições IBAMA, Brasília (DF), p. 317-348. (2000).

Sabino, J. & Zuanon, J. A stream fish assemblage in central Amazonia: distribution, activity patterns and feeding behavior. Ichthyological Exploration Freshwaters. v. 8, p. 201-210. (1998).

Santos, E.P. dos. Dinâmica de populações aplicada à pesca e piscicultura. São Paulo: Editora Universidade de São Paulo. p. 129. (1978).

Santos, G.M. & Oliveira Jr. A pesca no reservatório hidroelétrico de Balbina (Amazonas, Brasil). Acta Amazônica. v.29, nº 1, p.145-163. (1999)

Santos, A,F.G.N. dos; Santos, L.N. dos & Araújo, F.G. Water level influences on body condition of Geophagus brasiliensis (Perciformes: Cichlidae) in a Brazilian oligotrophic reservoir. Neotropical Ichthyology. v. 2, nº3, p. 151-156. (2004).

Santos, G.M. & Santos, A.C.M. Sustentabilidade da pesca na Amazônia. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, nº 54, p. 165-182. (2005).

Sato, Y. & Sampaio, E.V. A ictiofauna da região do Alto São Frascisco, com ênfase no reservatório de Três Marias, Minas. In: Nogueira, M.G.; Henry, R. & Jorcin, A. (eds.) Ecologia de reservatórios; Impactos potenciais, ações de manejo e sistema em cascata. 2ª edição – São Carlos: Editora RiMA, p. 251- 274. (2006).

Salayo, N.D.; Ahmed, M.; Garces, L. & Viswanathan, K. An overview of fisheries conflicts in South and Southeast Asia: Recommendations, challenges and directions. NAGA, WorldFish Center Quarterly. v. 29, nº 1 & 2 Jan-Jun. p. 11-20. (2006).

Sazima, S.P.B. As espécies de peixes oriundas da pesca artesanal num trecho do baixo rio Tietê: Composição, rendimento e avaliação empírica da sustentabilidade da pesca. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Botucatu, Botucatu (SP). Programa de Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia).141p. (2007).

Silvano, R.A.M. Ecologia de três comunidades de pescadores do rio Piracicaba (SP). Dissertação (mestrado) Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Biologia. Campinas (SP). Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Ecologia). 147p. (1997).

Silvano, R.A.M. & Begossi, A. Seasonal dynamics of fishery at the Piracicaba river (Brazil). Fisheries Research. v. 51, p. 69-86. 2001.

Smith, W.S.; Espíndola, E.L.G., Pereira, C.C.G.F. & Rocha, O. Impacto dos reservatórios do médio e baixo rio Tietê (SP) na composição das espécies de peixe e na atividade de pesca. In: Programa de Pós-graduação em Ciências de Engenharia Ambiental. (ed). Recursos hidroenergéticos: Usos, impactos e planejamento integrado. São Carlos: RiMa. p. 57-76. (2002).

Smith, W.S.; Pereira, C.C.G.F.; Espíndola, E.L.G. & Rocha, O. Importância da zona lateral para a disponibilidade de recursos alimentares à comunidade de peixes em reservatórios. In: Henry, R. (ed.). Ecótonos nas interfaces dos ecossistemas aquáticos. São Carlos: RiMA. p. 213-232. (2003).

Smith, W.S.; Espíndola, E.L.G. & Rocha, O. As espécies de peixes introduzidas no rio Tietê. In: Rocha, O.; Espíndola, E..L.G.; Fenerich-Verani, N.; Verani, J.R. & Reitzler, A.C. (eds.). Espécies invasoras em águas doces – estudo de caso e propostas de manejo. São Carlos: Editora da Universidade São Carlos. p. 165-180. (2005).

Sparre, P. & Venama, S.C. Introdução à avaliação de mananciais de peixes tropicais. Parte 1: Manual. FAO Documento Técnico sobre as Pescas. Nº 306/1, Roma, Itália. 404p. (1997).

Starling, F.L.R.M. Análise experimental dos efeitos da tilápia do Congo ( Tilápia rendalli ) e carpa prateada ( Hypophthalmichthys molitrix ) sobre a estrutura da comunidade planctônica do Lago Paranoá, Brasília (DF). Acta Limnologica Brasiliensia. v. 6, p. 144-156. (1993).

Starling, F.; Lazzaro, X.; Cavalcanti, C. & Moreira, R. Contribution of omnivorous tilápia to eutrophication of a shallow tropical reservoir: evidence from a fish kill. Freshwater biology. v. 47, p.2443-2452. (2002)

Straškraba, M. & Tundisi, J. G. Diretrizes para o gerenciamento de lagos: Gerenciamento da qualidade da água de represas. Série Gerenciamento da qualidade da água de represas, volume 9. Tradução Dino Vannucci; Editor da série em português José Galizia Tundisi. São Carlos: ILEC; IIE. 280p. (2000).

Strickland, J.D.H. & Parsons, T.R.A manual of sea water analysis. Bull. Fish. Res. Bel. Can. v.125, p.1-185. (1960).

Sugunan, V.V. & Kathia, P.K. Impact of stocking on yield in small reservoirs in Andhra Pradesh, Índia. Fisheries Management and Ecology. v.11, p. 65-69. (2004).

Suiberto, M.R. Distribuição especial e temporal do ictioplâncton em lagoas laterais e no rio Paranapanema na sua zona de desembocadura na represa de Jurumirim, SP. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Botucatu. Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia). p.96. (2005).

Suzuki, H.I. & Agostinho, A.A. Reprodução de peixes do reservatório de Segredo. In: Agostinho, A.A. & Gomes, L.C. (eds.). Reservatório de Segredo: bases ecológicas para o manejo. Maringá: Eduem, p. 163-182. (1997).

Tammi, J.; Lappalainen, A.; Mannio, J.; Rask, M. & Vourenmaa, J. Effects of eutrophication on fish and fisheries in Finnish lakes: a survey based on random sampling. Fisheries Management and Ecology. v.6, p. 173-186. (1999).

Tavares. L.H.S. & Rocha, O. Produção de plâncton (fitoplâncton e zooplâncton) para a alimentação de organismos aquáticos. São Carlos: RiMa. p. 106. (2001).

Torloni, C.E.C.; Corrêa, A.R.A.; Carvalho Jr., A.A.de; Santos, J.J.V.; Gonçalves, J.L.; Gereto, E.J.; Cruz, J.A.; Moreira, J.A.; Silva, D.C. da; Deus, E.F. de & Ferreira, A.S. Produção pesqueira e composição das capturas em reservatórios sob a concessão da CESP nos rios Tietê, Paraná e Grande no período de 1986 a 1991. Série Produção Pesqueira, 001. Companhia Elétrica de São Paulo, Departamento de Estudos e Planejamento Ambiental. São Paulo, Brasil. p. 73. (1993).

Tundisi, J.G. Reservatórios como sistemas Complexos: Teoria, aplicações e perspectivas para usos múltiplos.In Henry, R. (ed.). Ecologia de reservatórios: Estrutura, função e aspectos sociais. Botucatu: FUNDIBIO; FAPESP. p. 19-38. (1999).

Tundisi, J.G.; Matsumura-Tundisi, T. & Rocha, O. Ecossistema de águas interiores. In: Rebouças, A. da C.; Braga, B. & Tundisi, J.G.(eds.) Águas doces do Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 2ª edição – São Paulo: Escrituras Editora, p. 153-194. (2002).

Tundisi, J.G. Água no século XXI. São Carlos: RiMA. IIE. 248p. (2003).

UNEP-IETC. Planejamento e gerenciamento de lagos e represas: Uma abordagem integrada ao problema de eutrofização. Tradução Dino Vannicci. Editor responsável pela edição em português: José Galizia Tundusi. 385p. (2001).

Valderrama, J.G. The simultaneous analysis of total nitrogen and phosphorus in natural waters. Mar. Chem. v.10, p.109-122. (1981).

Valencio, N.F.L.S.; Gonçalves, J.C.; Vidal, K.C., Martins, R.C.; Rigolin, M.V.; Lourenço, L.C.; Mendonça, S.A.T. & Leme, A.A. Papel das hidrelétricas no processo de interiorização paulista: O caso das usinas hidroelétricas de Barra Bonita e Jurumirim. In Henry, R. (ed.). Ecologia de reservatórios: Estrutura, função e aspectos sociais. Botucatu: FUNDIBIO; FAPESP. p. 185-218. (1999).

Valencio, N. Pescadores do Rio São Francisco: a produção social da inexistência. São Carlos: RiMA. 212p. (2007).

Valente, J.P.S.; Padilha, P.M. & Silva, A.M.M. da. Contribuição da cidade de Botucatu – SP com nutrientes (fósforo e nitrgênio) na eutrofização da represa de Barra Bonita. Eclética Química. v. 22, . (1997).

Valentin, J.L. Ecologia numérica: Uma introdução à análise multivariada de dados ecológicos. Rio de Janeiro: Interciências. 117p. (2000).

Vaz, M.M.; Petrere Jr, M.; Martinelli, L.A. & Mozeto, A.A. The dietary regime of detritivorous fish from the river Jacaré Pepira, Brazil. Fisheries Management and Ecology. v.6, p. 121-132. (1999).

Vazzoler, A.E.A.de M. Biologia da reprodução de peixes teleósteos: Teoria e Prática. Maringá:Eduem; São Paulo: SBI. 169p. (1996).

Vermulm Jr. H.; Giamas, M.T.D.; Campos, E.C.; Câmara, J.J.C. da & Barbieri, G. Avaliação da pesca extrativista em alguns rios do Estado de São Paulo, no período entre 1994 e 1999. Boletim do Instituto de Pesca, v.27, nº2, p.209- 217. (2001).

Vernulm Jr., H & Giamas, M.T.D. Levantamento da pesca profissional continental, no Estado de São Paulo, em 2005. Dados preliminares: Bacias dos rios Paranapanema, Paraná e Grande. Série Relatórios Técnicos, Instituto de Pesca, São Paulo. nº25, 13p. (2007).

Vieira, S. Introdução a bioestatística. Rio de Janeiro: Campus. 203p. (1991).

Vieria, S. Bioestatística: Tópicos avançados. Rio de Janeiro: Campus. 212p. (2003).

Walter, T. & Petrere Jr., M. The small-scale urban reservoir fisheries of Lago Paranoá, Brasília, DF, Brazil. Brazilian Journal of Biology, v. 67, nº1. p. 9-21. (2007).

Weliange, W.S. & Amarasinghe, U.S. Seasonality in dietary shifts in size- structured freshwater fish assemblages in three reservoirs of Sri Lanka. Environmental Biology of Fishes. v. 68, p. 269-282. (2003).

Winemiller, K.O. Ontogenetic diet shifts and resource portioning among piscivorous fishes in the Venezuela ilanos. Environmental Biology of Fishes. v. 26, p. 177-199. (1989).

Wootton, R.J. Ecology of teleost fishes. London: Chapman & Hall. 404p. (1995).

Zanata, A.S. Tilapicultura em ecossistemas aquáticos abertos: Desenvolvimento sustentável ou degradação ambiental? Estudo de caso em represas oligotrófica. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Botucatu, Botucatu (SP). Programa de Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia).109p. (2007).

Zar, J.H. Biostatistical analysis. 3ª edição, New Jersey: Prentice-Hall. 662p. (1996).

Zavala-Camin, L.A. Introdução aos estudos sobre alimentação natural em peixes. Maringá (PR): EDUEM. 129p. (1996).

Anexo 1 – Modelo da ficha utilizada na caracterização do perfil sócio econômico dos pescadores nos reservatórios de Barra Bonita (Médio rio Tietê) e Jurumirim (Alto rio Paranapanema).

Anexo 2 – Modelo da ficha utilizada para a estatística de desembarque de pescado no reservatório de Barra Bonita (Médio rio Tietê).

Anexo 3 – Modelo da ficha utilizada para a estatística de desembarque de pescado no reservatório de Jurumirim (Alto rio Paranapanema).

Anexo 4 – Lista das espécies de peixes capturados na pesca artesanal no reservatório de Barra Bonita (médio rio Tietê). * Espécies introduzidas

Ordem Família Nome vulgar Chraraciformes Anostomidae Leporinus friderici piava Leporinus obtusidens piava Leporinus elongatus piava Schizodon intermedius ximborê Acestrorhynchus lacustris peixe-cachorro Characidae Astyanax altiparanae lambari do rabo amarelo Astyanax fasciatum lambari do rabo vermelho Salminus brasiliensis dourado Salminus hilarii tabarana Serrasaulmus maculatus piranha Piaractus mesopotamicus pacu Triportheus angulatus * sardela Galeocharax knerii peixe cadela Apareiodon piracicabae canivete Parodontidae Cyphocharax modesta sagüiru do rabo vermelho Curimatidae Steindachinerina insculpta papa terra Hoplias aff.malabaricus traíra Erythrinidae Prochilodus lineatus curimbatá Prochilodontidae Gymnotus carapo tuvira Gymnotiformes Gymnotidae Eingenmannia sp. tuvira Hoplosternum littorale camboja Siluriformes Callichthyidae Hypostomus spp. cascudo Loricariidae Lipossarcus cff.anisitsi * cascudo preto Pimelodus maculatus mandi Pimelodidae Rhinodoras cf. dorbignyi botoado Doradidae Astronotus ocellatus * oscar Perciformes Cichlidae Geophagus brasiliensis acará Crenicichla sp joaninha Oreochromis niloticus * tilápia-do-Nilo Satanoperca sp. Tilapia rendalli tilapia Plagioscion corvina squamossisimus Scieanidae Hypophthalmichthys carpa prateada molitrix * Hypophthalmichthys carpa cabeça nobilis * grande

Anexo 5 – Lista das espécies de peixes capturados na pesca artesanal no reservatório de Jurumirim (ato rio Paranapanema). * Espécie introduzida

Ordem Família Nome Vulgar Characiformes Anostomidae Leporinus octofasciatus piava Leporinus obtusidens piava Leporinus friderici piava Schizodon nasutus ximborê Schizodon intermedus ximborê Leporellus pictus piavinha pintada Characidae Astyanax altiparanae lambari do rabo amarelo Astyanax fasciatus lambari do rabo vermelho Galeocharax Knerii peixe cadela Salminus hilarii tabarana Serrasalmus maculatus piranha Piaractus pacu mesopotamicus Odontostilbe piquira michocephala Bryconamericus piquira stramineus Bryconamericus piquira iheringi Bryconamericus sp. piquira Cheirodon notomelas piquira Cheirodon sp. piquira Cheirodon stenodon piquira Parodontidae Apareiodon affinis bicudinho Apareiodon piracicabae bicudinho Curimatidae Steindachnerina sagüiru do rabo insculpta amarelo Cyphocharax modesta sagüiru do rabo vermelho Erythrinidae Hoplias aff malabaricus traíra Prochilodontidae Prochilodus lineatus curimbatá Gymnotiformes Gymnotidae Gymnotus sylvius tuvira Siluriformes Callichthyidae Hoplosternum littorale camboja Loricariidae Hypostomus sp. cascudo Hypostomus regani cascudo Pimelodidae Pimelodus maculatus mandi Iheringichthys labrosus mandiuvinha Rhandia sp. bargre Perciformes Cichlidae Geophagus brasiliensis acará Cypriniformes Cyprinidae Cyprinus carpio* carpa

Livros Grátis

( http://www.livrosgratis.com.br )

Milhares de Livros para Download:

Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil Baixar livros de Direito Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física Baixar livros de Geociências Baixar livros de Geografia Baixar livros de História Baixar livros de Línguas

Baixar livros de Literatura Baixar livros de Literatura de Cordel Baixar livros de Literatura Infantil Baixar livros de Matemática Baixar livros de Medicina Baixar livros de Medicina Veterinária Baixar livros de Meio Ambiente Baixar livros de Meteorologia Baixar Monografias e TCC Baixar livros Multidisciplinar Baixar livros de Música Baixar livros de Psicologia Baixar livros de Química Baixar livros de Saúde Coletiva Baixar livros de Serviço Social Baixar livros de Sociologia Baixar livros de Teologia Baixar livros de Trabalho Baixar livros de Turismo