5.2. IDENTIFICAÇÃO DE FÓSSEIS DE

Filo

Classe Gastropoda

Subclasse Prosobranchia Ordem Archaeogastropoda

Patella LINNAEUS, 1758 Fig. 5.1 Fig. 5.1 - Patella Patella sp. A - Vista apical; B - Lateral; C - Interna. BLACK (1970: 57). Lapa. Concha média a grande (até 10 cm), pateliforme i.e., com forma de prato invertido, com contorno da base ovalado a subcircular, relativamente espessa. Ápice subcentral, sem orifício apical. Ângulo apical obtuso. Ornamentação constituída por fortes costilhas radiais. Face interna ostentando cicatriz, ou impressão, muscular em U, com abertura dirigida para diante. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis, herbívoros. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos (médio a infralitoral), sobre substrato rochoso. Salinidade normal e temperatura variável. Distribuição estratigráfica: Cretácico à actualidade.

Ordem

Turritella LAMARCK, 1799 Fig. 5.2 A - Turritella incrassata Sowerby; B - T. communis Risso. Pliocénico. Extraído de COX (1960: est. 39). Fig. 5.2 - Turritella Concha média a grande (até 15 cm), turriculada, medianamente espessa, com espira muito elevada, aguda, holostomada. Voltas muito numerosas, aplanadas a convexas, ornamentadas com cordões espirais e com sutura pouco profunda. Última volta baixa, cilíndrica a ovóide. Abertura pequena, subcircular. Labro simples, fino. Paleoecologia: Organismos endobentónicos superfi- cias, filtradores. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos (infralitoral), de substrato móvel. Salinidade normal e temperatura variável. Distribuição estratigráfica: Cretácico à actualidade.

Xenophora FISCHER VON WALDHEIM, 1807 Fig. 5.3 - Xenophora Fig. 5.3 Xenophora agglutinans (Lamarck). Eocénico. A - Vista apertural; B - Vista apical; C - Vista basal. Extraído de COX (1960: est. 18). Concha média a grande (até 10 cm), troquiforme, i.e., cónica deprimida, espessa, com espira baixa, holostomada. Voltas aplanadas, ornamentadas ou quase lisas, apresentando corpos estranhos aglutina- dos, na região da sutura. Última volta grande, discoidal. Abertura grande, oval, muito inclinada. Labro simples. Base aplanada ou suavemente côncava. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis, detritívoros. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos a profundos (infra a circalitoral), sobre substrato móvel. Salinidade normal, águas quentes, subtropicais a tropicais. Distribuição estratigráfica: Cretácico à actualidade.

Departamento de GEOLOGIA

GASTROPODA Fig. 5.4 - Natica Natica SCOPOLI, 1777 Fig. 5.4 Natica sp. Pliocénico. Extraído de PIVETEAU (1952: 377). Fig. 5.5 Marca de predação (estrutura bioerosiva) de naticídeo sobre bivalve. Perfuração atribuída ao icnogénero Oichnus. NIELD (1987: 58). Concha pequena a média (até 3 cm), globosa, medianamente espessa, com espira muito baixa e obtusa, holostomada. Voltas levemente convexas, lisas, com sutura pouco profunda. Última volta muito grande, ovóide, correspondendo à quase totalidade da concha. Abertura grande, oval a semicircular. Labro simples, muito fino. Presença de umbílico amplo e profundo, com forte funículo umbilical. Paleoecologia: Organismos endobentónicos cavícolas superficiais, predadores activos. Euritérmicos. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos (infralitoral), de substrato móvel e salinidade normal. Distribuição estratigráfica: Cretácico à actualidade.

Fig. 5.5 - Oicnhus (estrutura bioerosiva)

Ampullina BOWDICH, 1822 Fig. 5.6 A - Ampullina sp. Cretácico, Cen. Vista abapertural; B - Idem, vista apical. Adaptado de AYOUB-HANNAA & FÜRSICH (2011: Fig. 8); C - Ampullina sp., vista apertural. Adaptado de PIVETEAU (1952: 377). Concha média a grande (até 20 cm), globosa a ovóide, medianamente espessa, com espira mediana a baixa, holostomada. Voltas levemente convexas, lisas, com sutura pouco profunda. Última volta muito grande, ovóide, correspondendo à quase totalidade da concha. Abertura grande, piriforme a oval alongada. Labro simples, medianamente espesso. Paleoecologia: Organismos epibentónicos a ?endoben- tónicos cavícolas superficiais. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos (infralitoral) de salinidade normal a ambientes aquáticos de transição com salinidade reduzida. Substrato móvel. Temperatura variável. Distribuição estratigráfica: Jurássico ao Miocénico.

Fig. 5.6 - Ampullina Tylostoma SHARPE, 1849 Fig. 5.7 Tylostoma sp. Cretácico. A - Vista apertural da concha; B - Molde interno. Extraído de LÓPEZ-MARTÍNEZ (1986: 204). Concha média a grande (até 10 cm), ovóide, espessa, com espira baixa e cónica, holostomada. Voltas levemente convexas, lisas, com sutura pouco profunda. Última volta grande, ovóide, correspondendo a cerca de 2/3 da altura total. Abertura grande, oval. Labro simples ou espessado por vezes denteado. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos, de substrato móvel. Distribuição estratigráfica: Jurássico superior (Kim) a Cretácico. Observações: O género Tylostoma foi formalizado por Sharpe com base em material português oriundo do Cretácico da região de Figueira da Foz e de Condeixa-a-Nova. Fig. 5.7 - Tylostoma

31 GASTROPODA

Harpagodes GILL, 1870 Fig. 5.7 Harpagodes nodosus (Sowerby, 1823). Cretácico. A - Vista apertural; B - Esquema interpretativo. De AYOUB-HANNAA & FÜRSICH (2011: 131). Concha média a grande (até 13 cm), obcónica a globular, com espira medianamente elevada nos juvenis e muito baixa nos adultos, sifonostomada. Voltas levemente convexas, com ombro pronunciado e cinco ou mais costilhas espirais fortes (muito atenuadas em moldes internos), com sutura profunda, canaliculada. Última volta muito grande, obcónica, correspondendo à quase totalidade da concha. Abertura grande. Labro arqueado, apresentando (?) expansões ou digitações aliformes na continuação das costilhas, terminando em digitações encurvadas e, por vezes, bifurcadas. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos (infralitoral), de substrato móvel. Salinidade normal, temperatura variável. Distribuição estratigráfica: Jurássico médio (Bat) a Cretácico superior (Cen). Fig. 5.7 - Harpagodes Observações: O género Harpagodes engloba, actualmente, os exemplares antes atribuídos ao género Pterocera.

Ordem Neogastropoda

Conus LINNAEUS, 1758 Fig. 5.8 Conus. A - C. edwardsi (Cossmann). Eocénico médio. De Cox (1960: est. 27); B - C. marmoreus (Linnaeus). Actual. De BONDARENKO & MIKHAILOVA (1984: 211). Concha pequena a grande (normalmente, até 15 cm de altura), cónica invertida a bicónica, espessa, lisa, com espira baixa a muito baixa. Voltas aplanadas a levemente côncavas, normalmente lisas, com sutura superficial. Última volta muito grande, cónica. Abertura estreita e alongada, apresentando chanfros anal (subsutural) e sifonal (na base). Labro simples, fino. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis, carnívoros, predadores activos, alguns muito venenosos. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos, de substrato móvel a rochoso, tropicais a subtropicais e de salinidade normal. Fig. 5.8 - Conus Distribuição estratigráfica: Eocénico à actualidade.

Strombus LINNAEUS, 1758 Fig. 5.9 Strombus gigas Linnaeus. Actualidade, Caraíbas. A - Exemplar adulto; B - Juvenil. Adaptado de PIVETEAU (1952: 423). Concha média a grande (até 30 cm de altura), bicónica, espessa, com espira mediana a baixa. Voltas levemente côncavas, com sutura superficial. Última volta muito grande, cónica. Abertura estreita e alongada. Labro espessado, alargado, expandido, sobretudo adapicalmente (nos indivíduos adultos). Ornamentação constituída por fortes costilhas espirais - patentes na última volta - e por um alinhamento espiral (supra- sutural) de grandes tubérculos, elevados afilados. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis, herbívoros a detritívoros. Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos (infralitoral), de substrato móvel, arenoso a pelítico, tropicais e de salinidade normal. Distribuição estratigráfica: Eocénico à actualidade. Fig. 5.9 - Strombus

32 GASTROPODA

Bolinus PUSCH, 1837 Fig. 5.10 Murex (Bolinus) brandaris Linnaeus. Actualidade, Mediterrâneo. Adaptado de PIVETEAU (1952: 423). BONDARENKO & MIKHAILOVA (1984: 209). Concha de dimensões médias, clavada (em forma de maça), medianamente espessa, com espira muito baixa. Voltas levemente covexas, com sutura superficial. Última volta muito grande, clavada. Abertura grande, oval. Labro medianamente espesso, fortemente Fig. 5.10 - Bolinus ornamentado por espinhos. Ornamentação da última volta constituída por inúmeros filetes espirais e fortes pares de espinhos dispostos transversalmente (o adapical mais proeminente). Canal sifonal muito longo e afilado. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis, carnívoros (alimentam-se de bivalves). Ambientes marinhos bentónicos, pouco profundos (infralitoral), de substrato móvel, arenoso a pelítico, subtropicais a tropicais e de salinidade normal. Distribuição estratigráfica: Miocénico à actualidade. Fig. 5.11 - Nerinea Família Nerineidae

Nerinea DEFRANCE, 1825 Fig. 5.11 Nerinea tuberculosa Defrance. Jurássico. A - Aspecto exterior. B - Corte longitudinal. BONDARENKO & MIKHAILOVA (1984: 203). Concha média a grande (até 20 cm), turriculada, medianamente espessa, com espira muito elevada, sifonostomada. Voltas muito numerosas, côncavas, lisas a pouco ornamentadas, com um alinhamento espiral – supra-sutural – de pequenos tubérculos, e com sutura superficial. Voltas, internamente, apresentando nume- rosas pregas espirais columelares, parietais e labrais. Última volta baixa, cilíndrica. Abertura pequena, subcircular. Labro simples, fino. Canal sifonal curto. Paleoecologia: Organismos epibentónicos vágeis. Ambientes marinhos bentónicos, muito pouco profundos, de laguna marinha carbonatada (“back-reef and lagoon environments”), substrato móvel, em vasa carbonatada, de temperaturas tropicais e de salinidade A normal. Distribuição estratigráfica: Jurássico médio (Baj) a Cretácico (Mas). Observações: A identificação genérica de gastrópodes das famílias Nerineidae e Nerinellidae em amostra de mão é problemática devido ao facto de, frequentemente, não se poder observar as pregas diagnósticas da estrutura interna da concha. Em identificações informais, em amostra de mão, estes fósseis de gastrópodes são, muitas vezes, apelidados apenas de “Nerinea” (senso lato).

B Neoptyxis PCHELINTSEV, 1934 Fig. 5.12 Neoptyxis olisiponensis (Sharpe). Cretácico, Cen. A - Morfologia das pregas internas (labral, parietal, columelar, basal). Adaptado de SIRNA & MASTROIANNI (1993: 144); B - Cortes axiais. Cenomaniano de Lisboa. Concha similar à de Nerinea, ver acima, mas com voltas aplanadas e pregas internas com morfologia distinta (Fig. 5.12 A). Paleoecologia: Ver Nerinea, acima. Fig. 5.12 - Neoptyxis Distribuição estratigráfica: Cretácico (Cen).

33 GASTROPODA

Subclasse? Heterobranchia

Actaeonella D’ORBIGNY, 1842 Fig. 5.13 Actaeonella A - A. laevis (Orbigny). Cretácico superior. BONDARENKO & MIKHAILOVA (1984: 212). B - A. dolium Roemer. Cretácico. MOORE et al. (1952: 312). Concha pequena a média (até 5 cm), subfusiforme a piriforme (em forma de pêra), espessa, lisa, convoluta, em que a última volta envolve todas as anteriores, sifonostomada. Não apresenta espira. Última volta muito desenvolvida, constituindo toda a concha visível. Abertura estreita e alongada, com bordos paralelos. Columela apresentando, na base, 3 fortes pregas. Canal sifonal curto. Paleoecologia: Ver Nerinea, acima. Fig. 5.13 - Acteonella Distribuição estratigráfica: Cretácico (Bar-Mas).

Trochacteon MEEK, 1863 Fig. 5.14 Trochacteon cumminsi Stanton. Cretácico. MORE et al. (1952: 312). Difere de Actaeonella por apresentar espira baixa, cónica, constituída por voltas aplanadas a levemente convexas, lisas. Paleoecologia: Ver Nerinea, acima. Distribuição estratigráfica: Cretácico. Fig. 5.14 - Trochacteon

Subclasse? Pulmonata

Helix LINNAEUS, 1758 Fig. 5.15 Helix pomatia Linnaeus. Quaternário. BONDARENKO & MIKHAILOVA (1984: 216). Caracol, caracoleta. Concha pequena a média (até 2 cm de altura), globosa, fina, com espira muito baixa, holostomada. Voltas convexas, lisas e com sutura pouco profunda. Última volta muito desenvolvida, subesférica, globosa. Abertura grande, subcircular. Labro simples, fino. Paleoecologia: Gastrópode continental, terrestre. Fig. 5.15 - Helix Distribuição estratigráfica: Miocénico à actualidade.

Planorbis MÜLLER, 1774 Fig. 5.15 Planorbis planorbis (Linnaeus). Plistocénico. COX (1960: est. 41). A - Vista apical; B - Vista apertural. Concha pequena a média (até 3 cm de diâmetro), sinistrógira, planispiralada, discoidal, com espira afundada, fina, holostomada. Voltas convexas, lisas e com sutura medianamente profunda. Última volta muito desenvolvida, englobando todas restantes, por vezes algo carenada. Abertura mediana, circular a trapezoidal. Labro simples, fino. Paleoecologia: Gastrópode continental, dulciaquícola. Fig. 5.15 - Planorbis Distribuição estratigráfica: Oligocénico à actualidade.

34 GASTROPODA

BIBLIOGRAFIA AYOUB-HANNAA, W. & FÜRSICH, F.T. 2011. Revision of Cenomanian-Turonian (Upper ) gastropods from . Zitteliana, 51: 115-152. BLACK, R.M. 1970. The Elements of Palaeontology. Cambridge Univ. Press, Cambridge, 2nd edition, 1988, 404 pp. COX, L.R. 1960. British Caenozoic Fossils. British Museum (Natural History), Londres, 5ª edição, 1988, 132 pp. LÓPEZ-MARTÍNEZ, N. 1986. Guía de campo de los fósiles de España. Ediciones Pirámide, Madrid, 479 pp. MOORE, R.C.; LALICKER, C.G. & FISHER, A.G. 1952. Invertebrate Fossils. McGraw-Hill Book Comp. Inc., New York, 766 pp. NIELD, E.W. 1987. Drawing and Understanding Fossils. A theoretical and pactical Guide for Beginners with self- assessment. Pergamon Press, Oxford, 790pp. PIVETEAU, J. 1952. Traité de Paléontologie. Tome II. Masson et comp., Paris, 790 pp. SIRNA, G. & MASTROIANNI, F. 1993. -Cretaceous Nerineids of Campoli Appenino (Latium). Geologica Romana, 29: 139-153.  2015/16

NOTAS / OBSERVAÇÕES:

35